Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CONTRIBUIÇÕES DO PIT– PROGRAMA DE
INCENTIVO AO TALENTO NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE UM
ALUNO COM ALTAS HABILIDADES
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Caroline Corrêa Fortes
Santa Maria, RS, Brasil
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
CONTRIBUIÇÕES DO PIT- PROGRAMA DE
NCENTIVO AO TALENTO NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE UM
ALUNO COM ALTAS HABILIDADES
por
Caroline Corrêa Fortes
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Educação Especial, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Educação.
Orientadora: Profª. Drª. Soraia Napoleão Freitas
Santa Maria, RS, Brasil
2008
ads:
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
CONTRIBUIÇÕES DO PIT– PROGRAMA DE
INCENTIVO AO TALENTO NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE UM
ALUNO COM ALTAS HABILIDADES
elaborada por
Caroline Corrêa Fortes
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Educação
COMISSÃO EXAMINADORA
Soraia Napoleão Freitas, Drª. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
Denise de Souza Fleith, Profª. Drª. (UNB)
Maria Alcione Munhóz, Profª. Drª. (UFSM)
Maria Inês Naujorks, Profª. Drª. (UFSM)
(Suplente)
Santa Maria, 25 de março de 2008.
Aos meus pais Antônio e Inajá. O amor e o carinho de vocês foram
indispensáveis para que eu conquistasse essa vitória. Vocês são os meus mestres e
companheiros da escola da vida. Obrigada pelas palavras, por todos os momentos
dedicados a mim, pelos conselhos, afeto, honestidade, amizade, segurança,
conforto e por todos os ensinamentos e exemplos. Eles são valiosíssimos! A vocês
dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
A concretização da presente dissertação não teria sido possível sem o
precioso apoio e contributo de algumas pessoas, da Universidade Federal de Santa
Maria - UFSM e de outras instituições e entidades, às quais aproveito para
expressar publicamente o meu profundo agradecimento, em especial:
A Deus, pela vida e por ter me dado saúde e coragem para enfrentar esse
desafio.
Entre as pessoas que contribuíram diretamente para realização de minha
dissertação destaco, com especial apreço, a minha orientadora, a professora Soraia,
que teve paciência e dedicação comigo, desde a graduação até o mestrado.
Obrigada por me “acolher” e me apoiar neste desafio. Sou grata pelas inúmeras e
diversas possibilidades acadêmicas, à senhora devo a oportunidade de realizar este
trabalho. A experiência, os conselhos e as vossas intervenções foram
indispensáveis para a efetivação desta pesquisa. Assim, agradeço imensamente por
ter me conduzido, estimulado e orientado nos momentos difíceis e decisivos, mas
todos bem-vindos. Muito obrigada pela brilhante forma como incentivou e orientou
esta dissertação, e pela ascendência exercida sobre o meu crescimento e formação,
em termos acadêmicos e pessoais.
Aos meus pais, Antônio e Inajá, pelas imensas horas de conforto e sabedoria
a mim dispensados dando-me força para a continuidade desta pesquisa. Obrigada
pela vida e sinto inveterado orgulho de ter sido gerada por vocês. Eu agradeço pai e
mãe pelos abraços, pelos beijos, alegrias, os momentos especiais de cada dia e por
todas as maneiras que vocês demonstraram o quanto me amam e importam-se
comigo. Não existem palavras suficientes para expressar a importância da presença
de vocês na minha vida, e o quanto foram fundamentais para a concretização deste
mestrado.
Aos meus irmãos, Clarissa e Toinho, obrigada pelo ombro amigo, o apoio e a
confortante presença nas minhas decisões. Amo muito vocês!
A minha afilhada Isabela, por toda a sua doçura e pureza de alma. Suas
freqüentes manifestações de carinho e amor foram um ótimo estímulo para finalizar
esse trabalho. A dinda te ama muito!
Ao meu namorado Alexandre, por suas constantes demonstrações de amor,
pelo sorriso querido, carinho, incentivo, confiança, orgulho e dedicação de todos os
dias. Sem você, certamente, o transporia diversos obstáculos que surgiram ao
longo da realização deste trabalho. Nos momentos de tensão e dúvidas, ou quando
me senti à deriva, você foi meu porto seguro. Credito a você grande parte desta
vitória, pois nunca deixou de olhar para o meu futuro, acolheu minhas dificuldades
com amor e carinho, ouviu desabafos e lamentações sempre que precisei, como
somente as pessoas que amam podem fazer. Obrigado pela oportunidade de viver o
amor. Eu te amo muito!!!
Às queridas tia Mia, tia Nenê, tia Mi e tia Inara, obrigada pelas palavras de
apoio e motivação e pelas orações de vocês que foram fundamentais para esta
empreitada.
Ao PIT Programa de Incentivo ao Talento, pelas experiências e a
oportunidade de discutir sobre a temática das altas habilidades, que levaram ao
meu crescimento profissional e pessoal.
Ao aluno Rodrigo, que me ensinou a aprender a ensinar e ainda, que me
inspirou e motivou a concluir esta dissertação.
Expresso meu agradecimento às colaboradoras desta pesquisa, professoras
Margarida e Rosa, o empenho e a colaboração de vocês foram essenciais para a
realização da pesquisa de campo e das análises, o que tornou possível a
concretização desta dissertação.
Ao professor Valdir, que me acompanha desde o semestre da graduação.
Expresso aqui, toda a minha gratidão e reconhecimento pela amizade e pelas
palavras sempre oportunas e de conforto que me dedicou. Você contribuiu muito
para o meu crescimento profissional. Não podia deixar de agradecer também, pelas
frases irreverentes que sem dúvida me auxiliaram a descontrair nos momentos de
tensão. Muito Obrigada!
Às examinadoras desta pesquisa, professoras: Drª. Alcione Munhóz, Drª. e
Drª. Denise Fleith, obrigada pelas importantes recomendações para o
amadurecimento desta dissertação.
Agradeço aos amigos e colegas da UFSM pelo estímulo e encorajamento. Em
especial, às colegas Bárbara, Tatiane, Sinara, Cleonice e Sabrina pelas discussões
que ajudaram, sem dúvida, a aprofundar meus conhecimentos.
“Na filosofia educacional dos mais dotados, regras, regulamentos e programas pré-
fabricados não têm vez. É necessário dar-lhes oportunidades para descobertas,
experiências e confrontações, e haverá então o inverso daquilo que se faz até hoje:
serão eles que mostrarão através de suas manifestações aquilo que devemos
oferecer-lhes [...]”.
Helena Antipof – 1971
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Educação
Universidade Federal de Santa Maria
CONTRIBUIÇÕES DO PIT-PROGRAMA DE INCENTIVO AO TALENTO NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE UM ALUNO COM
ALTAS HABILIDADES
Autora: Caroline Corrêa Fortes
Orientador: Soraia Napoleão Freitas
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 25 de março de 2008.
A presente pesquisa está inserida na Linha de Pesquisa Educação Especial do Curso de
Mestrado do Programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM. O interesse em realizar este trabalho surgiu a partir das experiências
pedagógicas vivenciadas no Projeto de Extensão “PIT Programa de Incentivo ao Talento”,
momento que se observou, embora informalmente, que a escola não apresentava as
condições reais para promover um processo de educação de qualidade aos alunos com
altas habilidades. Destarte, urge a necessidade de refletir e discutir os processos de
mudanças que ocorrem na aprendizagem e no desenvolvimento dos alunos, como resultado
da participação no PIT. Assim, a temática é relevante e instiga o interesse em investigar se
as estratégias educacionais realizadas no PIT contribuem para a aprendizagem e o
desenvolvimento de um aluno com altas habilidades, no contexto escolar. Os objetivos que
direcionam essa investigação são os seguintes: estabelecer relações entre as estratégias
educacionais do PIT e aquelas que ocorrem no contexto de sala de aula; verificar como as
estratégias educacionais adotadas no PIT contribuem para o aluno revelar suas habilidades
em sala de aula; identificar o entendimento dos professores acerca da contribuição do PIT
na aprendizagem e no desenvolvimento do aluno, no contexto escolar; e verificar como a
motivação e a criatividade do aluno no contexto escolar relacionam-se com as atividades
propostas pelo PIT. A efetivação desses objetivos exigiu um contato direto com a escola em
que o aluno está matriculado. Assim esta pesquisa configura-se como descritiva, com
análise qualitativa e enquadrada no perfil das características de um Estudo de Caso. Os
instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada com as
professoras do aluno e as observações sistemáticas realizadas na sala de aula regular. É
importante destacar que, o reconhecimento e a atenção aos alunos com altas habilidades,
mediante a adoção de estratégias educacionais especificas, são sistematicamente
sustentados pelos dados desta pesquisa, os quais evidenciam que, sem um estímulo
adequado e estratégias educacionais implementadas na programação escolar, ou em outros
espaços, como exemplo, os programas de enriquecimento, esses alunos estão sujeito ao
risco de fracassar em suas pretensões escolares e ter seu potencial adormecido. Portanto, a
presente investigação pretendeu contribuir no sentido de empreender uma tentativa de
elucidar as questões referentes à temática das altas habilidades e dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento desses alunos, apresentando as estratégias educacionais
realizadas no PIT como uma alternativa de ação prática que favorece o desenvolvimento do
potencial do aluno com altas habilidades, que, por vezes, nem sempre consegue expressá-
lo e desenvolvê-lo plenamente no contexto escolar.
Palavras-chave: Altas habilidades, programa de enriquecimento, aprendizagem,
desenvolvimento
ABSTRACT
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Educação
Universidade Federal de Santa Maria
CONTRIBUTIONS OF TIP – TALENT INCENTIVE PROGRAM INTO LEARNING
PROCESS AND DEVELOPMENT OF A HIGH ABILITY STUDENT
Autora: Caroline Corrêa Fortes
Orientador: Soraia Napoleão Freitas
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 25 de março de 2008.
This research is inserted in the Special Education Research Lineup from the Master Program
of education at the Federal University of Santa Maria - UFSM. The interest in doing this work
came from educational experiences lived in Extension Project "TIP Talent Incentive
Program," that allowed me to observe, although informally, that the school did not have
conditions to promote a process of education, with quality to high abitity students. Therefore,
is really urgent to reflect and discuss the change of this process that happened at learning
and development stages of students as a result of participation in the TIP. Thus, the theme is
relevant and the interest in investigating the educational strategies undertaken in the TIP,
contribute to the learning and development processes of a student with high abitity in the
school’s context? The goals that guide this research are: to establish relations between the
educational strategies of TIP and those that occur in the context of the classroom; see how
the educational strategies adopted in TIP contribute to the student prove their abitity in the
classroom; identify teachers understanding about the contribution of the TIP in learning and
development of the student in the school’s context, and examine how the motivation and
creativity of the student in the school’s context relate to the activities proposed by TIP. The
effectiveness of these goals required a direct contact with the school in which the student is
enrolled. So this research sets itself as descriptive, qualitative analysis and framed in the
profile of the characteristics of a Case Study. The instruments used to data collection were a
semi-structured interview with the student’s teachers and systematic observations made in
the classroom regularly. It is important to emphasize that, recognition and attention up to
students with higher abitity, through the adoption of specific educational strategies, are
systematically supported, by the data obtained from this research, which showed that without
a stimulus and appropriate educational strategies implemented in the school’s programming,
or in other spaces, as an example the programs of incentive, these students are subject to
the risk of failure in school and have their claims its potential asleep. Therefore, the present
investigation sought to contribute to undertake an attempt to clarify the issues relating to the
theme of high abitity and processes of students’ learning and development, presenting the
strategies undertaken in the educational TIP as an alternative to practical action that favors
the potential’s development of high skills’ students, which sometimes cannot express it and
develop it fully in the school context.
Keywords: High Abitity, Talent Incentive Program, Learning, Development.
SUMÁRIO
PRIMEIRAS PALAVRAS ................................................................................ 12
CAPÍTULO I
1
Altas habilidades: discutindo conceitos e práticas educacionais para
alunos com altas habilidades ....................................................................
25
1.1 Altas Habilidades: discutindo conceitos .....................................................
26
1.2 Programas de Enriquecimento .................................................................. 37
1.3 PIT – Programa de Incentivo ao Talento ................................................... 42
CAPÍTULO II
2 Aprendizagem e Desenvolvimento: uma abordagem sócio-histórica ...
52
2.1 Aprendizagem e desenvolvimento na perspectiva sócio-histórica .... 53
2.2 As contribuições da teoria sócio-histórica para aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos com altas habilidades .................................
61
CAPÍTULO III
3
Considerações Teórico-Metodológicas da pesquisa ..............................
68
3.1 Problema de pesquisa .............................................................................
69
3.2 Participante do estudo ............................................................................ 70
3.3 Procedimentos ......................................................................................... 74
3.4 Instrumentos ............................................................................................ 75
3.5 Análises dos Dados .................................................................................
77
3.6 Resultados e Discussões ........................................................................
77
3.6.1 Relações entre o PIT e a sala de aula regular: uma análise das
estratégias educacionais implementadas nesses espaços .............................
78
3.6.2 As possibilidades que Rodrigo tem de revelar suas habilidades em
sala de aula .....................................................................................................
88
3.6.3 O olhar das professoras acerca das contribuições do PIT na
aprendizagem e desenvolvimento de Rodrigo .................................................
91
3.6.4 Motivação e criatividade: as contribuições do PIT neste processo .. 102
PALAVRAS FINAIS ........................................................................................ 118
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 125
ANEXOS ..........................................................................................................
134
ANEXO A Portifólio de Talento ........................................................................ 135
ANEXO B Termo de Consentimento ............................................................... 146
ANEXO C Roteiro de Entrevista ...................................................................... 150
PRIMEIRAS PALAVRAS
Cuidar e assistir o superdotado é de certo modo predestinar os rumos da sociedade
futura”.
Helena Antipof – 1971
13
PRIMEIRAS PALAVRAS
A inclusão educacional é atualmente uma das temáticas discutidas com
significativa relevância no cenário educacional brasileiro. Nesse contexto, debate-se
sobre o princípio constitucional de igualdade de condições de acesso e de
permanência na escola. Nessa perspectiva, valoriza-se e reconhece-se a presença
da diversidade nos espaços escolares como condição para construção/estruturação
de um sistema educacional inclusivo. O direito à diferença nas escolas “desconstrói
o sistema de significação excludente, normativo, elitista da escola atual, com suas
medidas e mecanismos de produção da identidade e da diferença”, afirma Mantoan,
(2004, p. 20).
O debate resgata uma questão essencial à constituição da escola inclusiva:
ele revela a forma como o ser humano vê e trabalha as diferenças. Sob essa ótica, é
importante que se fique atento o fato de que, mesmo sob a garantia do direito à
diferença presentes na igualdade de direitos regulamentada nas políticas públicas
que vigoram atualmente, “é possível se lançar o conceito de diferença na vala dos
preconceitos, da discriminação, da exclusão, como acontece com a maioria de
nossas propostas pedagógicas”, (Ibid., p.21).
Essa discussão torna-se relevante quando refletimos acerca dos caminhos
que se fazem necessários traçar para a construção de escolas inclusivas. Os
avanços nos fundamentos teóricos e no desenvolvimento conceitual sobre os
processos de aprendizagem impulsionam-nos a pensar, a refletir, reconhecer e
considerar a diversidade existente nos espaços escolares, pois o exercício de
respeito e de valorização da diferença talvez seja ainda uma prática incipiente nas
escolas. O entendimento acerca da educação inclusiva aponta para
[...] a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em
sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de
acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças, de esforço
coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, em todas as
dimensões da vida, (CASTRO et al, 2003, p.144).
Para consolidar as bases concretas para a efetivação de práticas
educacionais inclusivas, é imperiosa a necessidade de viabilizar algumas
alternativas pedagógicas que possibilitem a todos os alunos o direito social à
14
aprendizagem. Sob esse prisma, entende-se Educação Especial como uma
modalidade da educação escolar, a qual é definida nas Diretrizes Nacionais para
Educação Especial na Educação Básica como uma:
[...] proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais
especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar,
suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais
comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o
desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam
necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades
da educação básica, (BRASIL, 2001, 17).
Nesse sentido, presume-se que cabe à escola oferecer oportunidades de
aprendizagens segundo as habilidades, os interesses e estilos de aprendizagem dos
alunos, identificando a melhor maneira de atender as suas necessidades
educacionais especiais durante o processo de ensino-aprendizagem. Frente a esse
pressuposto, FREITAS (2006, p. 39) afirma que
A responsabilidade da inclusão de um estudante com necessidades
educacionais especiais é da comunidade escolar e representa uma
oportunidade, um objetivo para que a escola não caminhe para um grupo de
pessoas homogêneas, para uma padronização de comportamentos e
atitudes ditas pedagógicas.
Em conseqüência, a escola, ao assumir o papel de propiciar estratégias que
atendam às necessidades educacionais especiais de seus alunos, desempenha a
sua função social no sentido de colocar-se à disposição do aluno, configurando-se
assim, num espaço educacional inclusivo. Nesse contexto, a educação especial é
concebida na perspectiva de possibilitar ao aluno, com necessidades educacionais
especiais, alcance os objetivos da educação geral, notadamente no que tange,
sobretudo, à possibilidade do acesso ao conhecimento historicamente produzido
pela humanidade e na capacidade de se utilizar desse conhecimento, tanto para a
construção de novos saberes, como para o exercício da cidadania, respeitando as
diferenças existentes nos espaços escolares.
Nesse sentido, a educação possibilita atender e acolher todos os alunos,
tanto os que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem, quanto os que
possuem desempenho acima da média, como no caso dos alunos com altas
habilidades. Estes, por apresentarem um potencial superior, pensamento divergente,
15
criativo e com interesses diferenciados, se depararam com barreiras para
desenvolver plenamente suas habilidades, e, por efeito, necessitam de serviços
especiais ou de atividades diversificadas, uma vez que o considerados pessoas
com necessidades educacionais especiais.
Alencar (2007) pontua que nem sempre os alunos com altas habilidades
tornam-se adultos produtivos. Muitos desses sujeitos, em função de suas
características pessoais, aliadas às de seu contexto familiar, educacional e social,
apresentam um baixo desempenho. Isso porque necessitam de uma variedade de
experiências de aprendizagem enriquecedoras, que favoreçam e estimulem a
realização de seu potencial, respeitando o seu ritmo e estilo de aprendizagem.
Afirma essa autora que
[...] o ensino regular é direcionado para o aluno médio e abaixo da média, e
o superdotado, além de ser deixado de lado neste sistema, é visto com
temor por professores que se sentem ameaçados diante do aluno que
muitas vezes os questiona, pressionando-os com suas perguntas,
comentários e mesmo críticas (2007, p. 17).
Tal afirmação sugere que o desempenho do professor para atender às
necessidades educacionais especiais dos alunos com altas habilidades está muito
aquém da demanda existente. É imperativo que sejam criadas, então, estratégias
diferenciadas que propiciem um ambiente desafiante e estimulador do potencial
desses sujeitos, enfatizando a construção de práticas pedagógicas que considerem
as diferenças individuais no tocante aos interesses, aos estilos de aprendizagem e
às habilidades, na perspectiva de desenvolver o pensamento crítico e criativo dos
alunos em tela.
É importante destacar incialmente que as características que figuram nas
pessoas com altas habilidades estão circunstanciadas por inúmeros elementos, os
quais variam de acordo com a maneira de ser, de pensar, de aprender, de agir e de
desenvolver o potencial de cada indivíduo. Por isso, não uma definição
consensual de superdotação apesar de as diversas definições sugeridas por
pesquisadores da área, (Alencar, 1986; Alencar e Fleith, 2001; Fleith, 1999;
Guenther, 2000; Renzulli, 2004; Rech e Freitas, 2005).
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial, o aluno com altas
habilidades é aquele que apresenta
16
Notável desempenho e elevadas potencialidades em qualquer dos
seguintes aspectos isolados ou combinados: capacidade intelectual geral,
aptidão acadêmica específica, pensamento criativo ou produtivo,
capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade
psicomotora, (BRASIL/MEC/SEESP, 1994, p.7).
Portanto, pode-se afirmar que o aluno com altas habilidades destaca-se de
forma original e criativa quando da resolução de problemas referentes ao processo
de aquisição de conhecimento, sejam eles circunscritos na área acadêmica, prática
e social.
No caso das Diretrizes Gerais do Ministério da Educação, a definição de altas
habilidades
[...] referem-se a comportamentos observados e/ou relatados que
confirmam a expressão de “traços consistentemente superiores” em relação
a uma média (...) em qualquer campo do saber ou do fazer. Deve-se
entender por “traços as formas consistentes, ou seja, aquelas que
permanecem com freqüência e duração no repertório dos comportamentos
da pessoa, de forma a poderem ser registradas em épocas diferentes em
situações semelhantes, (BRASIL/MEC/SEESP, 1995, p.13).
Com base nessas definições, planejar os sistemas de ensino e efetivamente
executá-los significa ser receptivo aos alunos com altas habilidades e atendê-los
adequadamente em relação as suas necessidades educacionais especiais. Para tal,
um desafio posto, tanto em termos de construção teórica quanto a sua efetivação
prática. Rech e Freitas (2005), referindo-se às dificuldades que os alunos com altas
habilidades enfrentam na escola, manifestam-se no sentido de que não como
não lembrar do professor, o qual, através do processo pedagógico, exerce grande
influência na trajetória acadêmica dos alunos. A grande maioria dos professores
talvez o tenha uma concepção precisa sobre altas habilidades, e o que sugere
também que eles se sentem despreparados por não possuir formação docente para
favorecer o desenvolvimento pleno do potencial; além de não serem informados a
respeito dos programas de atendimento a alunos com altas habilidades.
Diante disso, é desejo ampliar a discussão em relação ao atendimento a
alunos com altas habilidades, com o intuito de proceder a uma análise quanto a essa
questão. E foi a partir das experiências pedagógicas vivenciadas no Projeto de
Pesquisa “Da identificação à orientação de alunos com características de altas
17
habilidades” e no Projeto de Extensão “PIT Programa de Incentivo ao Talento”,
que se observou, embora informalmente, que a escola não apresentava as
condições reais no que tange ao processo de promover uma educação de
qualidade, considerando a diversidade dos alunos e estimulando o desenvolvimento
de habilidades diversas.
Nesse enfoque, estabelecer ações pedagógicas adequadas que venham ao
encontro das necessidades educacionais, sociais e emocionais dos alunos com altas
habilidades significa pensar em provisões dinamizadas pelo sistema de ensino, “a
fim de assegurar o seu desenvolvimento pleno, na direção desejável a uma vida
satisfatória para o indivíduo, o grupo e a sociedade”, (GUENTHER, 2006, p. 70). No
entender dessa autora, existem pelo menos duas formas de ação para o trabalho
educacional com os alunos com altas habilidades: uma ocorre pelo plano
educacional sediado no espaço da própria escola; a outra através de programas de
enriquecimento escolar organizados fora da escola.
Segundo Rech e Freitas (2005), o ideal comportaria a implantação na escola
regular de programas de enriquecimento escolar, pois se todos os alunos fossem
estimulados na proporção condizente com suas particularidades, não haveria
necessidade de um espaço próprio para os alunos com altas habilidades. Dessa
forma, afirma Renzulli, que
[...] a nossa expectativa é que, aplicando bons princípios de aprendizagem
para todos os alunos, diluiremos as críticas tradicionais aos programas para
superdotados e faremos das escolas locais onde o ensino, a criatividade e o
entusiasmo por aprender sejam valorizados e respeitados, (2004, apud
RECH e FREITAS, 2005, p.61)
Pesquisadores apontam que os alunos com altas habilidades não têm sido
identificados e, por efeito, tampouco estimulados a protagonizar seus espaços
específicos através de processos pedagógicos nas escolas brasileiras. Eles chamam
a atenção para o fato de que esse assunto traz polêmica, revelando, em
conseqüência, a falta de informações a seu respeito, ocasionando barreiras
atitudinais, preconceitos e falsas inclusões. Eles ainda ressaltam a necessidade de
pesquisas mais apuradas e a implementação de programas de incentivo do
potencial desse tipo de aluno para que desenvolvam plenamente suas habilidades e
competências, (GUENTHER, 2002; ALENCAR e FLEITH 2001; RECH, 2004).
18
Conforme Alencar e Fleith (2006), no Brasil os alunos com altas habilidades
constituem um grupo que é pouco assistido e, por isso, é negligenciado. poucos
programas direcionados para atender as suas necessidades e favorecer o seu
desenvolvimento. Assim, é relevante pontuar alguns estudos realizados nesse
domínio, focalizando os programas de enriquecimento localizados fora da escola
regular.
Olszewski-Kubillus e Lee (2004) realizaram um estudo com base numa
amostra de 187 pais de alunos com altas habilidades, que freqüentaram o programa
“Saturday Enrichment Program” na Universidade de Northwestern. O resultado
indicou que a maioria dos pais tem opiniões favoráveis face às vantagens do
programa no estímulo das habilidades dos seus filhos, principalmente no que se
refere às habilidades acadêmicas. Esses pais revelaram que os benefícios desse
programa foram relevantes no concernente ao desenvolvimento de habilidades e
conhecimentos escolares; assim como uma maior motivação para aprendizagem e
envolvimento com conteúdos curriculares.
Maia-Pinto e Fleith (2004) verificaram a influência exercida por um programa
de atendimento aos alunos com altas habilidades no rendimento acadêmico e
criatividade de seus participantes; além de investigar a percepção de professores,
alunos e mães acerca das atividades e estratégias educacionais propostas nesse
programa. Ademais examinaram a extensão em que tais atividades e práticas
educacionais se diferenciam das utilizadas em sala de aula regular. Fizeram parte
dessa pesquisa 77 (setenta e sete) alunos, do ensino fundamental e médio, que
participavam do programa; 11 (onze) professores que atuavam no programa; 6 (seis)
professoras de sala de aula regular e 6 (seis) mães de alunos do programa.
As análises desse estudo apontaram que alunos com altas habilidades em
áreas acadêmicas apresentaram desempenho acadêmico superior aos da área
artística, os quais, por sua vez, obtiveram escores superiores nos testes de
criatividade. A opinião dos professores, alunos e mães, acerca das atividades
empregadas no programa, era positiva. As práticas educacionais utilizadas no
programa diferenciavam-se moderadamente das propostas na sala de aula regular.
Também Melo (2005) realizou pesquisa para investigar se as práticas
pedagógicas e atividades de matemática desenvolvidas pelos professores
mediadores das salas de recursos atendem às necessidades educacionais dos
alunos que participavam do Programa de Atendimento a alunos portadores de Altas
19
Habilidades e Talentos da Secretária de Educação do Distrito Federal. Essa
pesquisadora analisou também se as atividades de matemática implementadas na
sala de recurso diferem das utilizadas nas salas de aula regular; além de analisar a
percepção dos professores, alunos e suas mães, acerca do Modelo Enriquecimento
Escolar adotado no referido programa. De acordo com a autora, os resultados
apontaram que a percepção dos professores, alunos e suas mães, sobre o
programa, de forma geral, era positiva. Entretanto, o estudo apontou a inexistência
de informações a respeito dos objetivos e das atitudes desenvolvidos nas salas de
recurso, por parte dos professores das salas de aula regular.
Essa mesma autora identificou também que hávia diferenças entre as
estratégias pedagógicas utilizadas nas salas de recurso e as trabalhadas nas salas
de aula regular. Ademais, os resultados sinalizaram que as atividades matemáticas
desenvolvidas pelos professores nas salas de recurso atendiam parcialmente às
necessidades educacionais dos alunos com habilidades superiores em matemática.
Maia-Pinto (2002) visualizou em suas pesquisas que não foram encontradas
informações acerca das avaliações sistemáticas dos programas brasileiros para
alunos com altas habilidades, ressaltando, inclusive a necessidade de
constantemente implementar estratégias avaliativas nos distintos níveis de
atendimento, de forma que os resultados desse tipo de estudo possam contribuir
significativamente a qualificação dos programas.
Renzulli (1975) pontuou que avaliar os programas para alunos com altas
habilidades é um processo que envolve a análise das informações referentes aos
seus objetivos e estratégias educacionais. Essa iniciativa e as práticas de avaliação
devem visar à qualificação dos programas, não sendo suficiente apenas estabelecer
escores e categorizações que expressem sucesso e lacunas, e sim uma forma de
visualizar circunstâncias e condições, que resultem em mudanças e melhorias para
os programas de enriquecimento.
Entendo relevante, por todos os motivos acadêmicos, descrever o caminho
percorrido por mim, como aluna do Curso de Graduação em Educação Especial
Habilitação em Deficientes Mentais da Universidade Federal de Santa Maria, no
período de 2002 a 2006, notadamente relatando as experiências pedagógicas
vivenciadas no projeto de pesquisa “Da Identificação à Orientação de Alunos com
20
características de Altas habilidades
1
” e no de extensão “PIT – Programa de Incentivo
ao Talento
2
”. Ressalto que o trabalho desenvolvido nesses projetos é pioneiro no
interior do Rio Grande do Sul.
Quanto a esses projetos e a todas atividades desenvolvidos no referido curso,
é imperativo explicitar que o trilhar de um percurso acadêmico envolve a construção
de aprendizagens, a apropriação de conhecimento e a produção de saberes. É um
cenário no qual estão em jogo as normas e os contextos particulares, onde cada um
encontra o seu “companheiro”. Porém, não teria se efetivado da forma como se
concretizou sem a presença de algumas inquietudes manifestadas durante minha
participação nesses projetos.
A oportunidade de participar, portanto, desses projetos, caracterizados como
de iniciação científica, pelo viés de pesquisa e extensão, e no Grupo de Pesquisa:
Educação Especial: interação e Inclusão Social, coordenado pela Professora
Doutora Soraia Napoleão Freitas, propiciou-me uma feliz e privilegiada oportunidade
de estabelecer uma ponte acadêmica entre a universidade e a escola,
desenvolvendo ações com alunos, professores e a comunidade escolar. Essas
experiências me levaram a ter os primeiros contatos com a temática das altas
habilidades, as quais indicavam e indicam a construção de uma escola inclusiva,
visando tanto a uma articulação de todos os envolvidos, quanto ao desenvolvimento
de ações coletivas e à ampliação dos espaços educativos, oportunizando aos alunos
com altas habilidades o desenvolvimento máximo de seu potencial e talento.
Nesse contexto, encontrei um aporte teórico para as questões que haviam se
tornado alvo de minhas instigações, visto que pessoas com altas habilidades são
aquelas que se caracterizam por apresentar elevada potencialidade, aptidões,
talentos e habilidades, evidenciando alto desempenho nas diversas áreas do
conhecimento. É possível inferir que nas escolas, quando um aluno tem uma
habilidade acima da média de seus colegas e não é estimulado, podem, por conta
1
- Esse projeto está sendo desenvolvido desde 2002 por alunas dos cursos de Educação Especial e
Pós Graduação da UFSM/CE, sob a orientação da professora Drª. Soraia Napoleão Freitas, do
Departamento de Educação Especial, com a finalidade de identificar e mapear as crianças
matriculadas nas séries iniciais do Ensino Regular das redes estadual, municipal e particular de Santa
Maria/RS.
2
- Esse programa teve início no segundo semestre do ano de 2003, pela equipe do projeto supra
citado, com o objetivo de proporcionar aos alunos identificados com altas habilidades o acesso a
trabalhos que estimulem e desenvolvam seus talentos.
21
disso, aparecer alterações em seu comportamento como resposta à frustração que o
mesmo está vivenciando, (ALENCAR e FLEITH, 2001).
Sendo assim, a forma como esses indivíduos interagem com o mundo,
representada por uma maneira peculiar de agir, questionar e organizar os seus
conhecimentos, pode gerar dificuldades no seu processo educacional. Por vezes, a
escola não dispõe de apoio pedagógico que sustente as suas reais necessidades,
como também são precários os serviços de identificação prestados por ela. É
oportuno fazer referência ao que afirmou Fleith (2007), quanto à necessidade de
“instrumentalizar o aluno a prever problemas, romper barreiras, reformular conteúdos
e desenvolver formas de investigação mais produtivas”, (p.10).
Perpassando todas essas limitações e fragilidades que a escola vem
enfrentando quanto ao atendimento dessa população, faz-se necessário
implementar alternativas diferenciadas, como exemplo, os programas de
enriquecimento. Uma vez que esses programas contemplam atividades que
possibilitam experiências de aprendizagem que incentivam o aluno a perceber seus
pontos fortes em um ambiente social rico em estímulos e desafios, é imperiosa a
necessidade de reconhecer o potencial e competência de cada um, através de
relações de tolerância às divergências, de respeito e confiança na capacidade de
todos. (NEVES-PEREIRA, 2007; VIRGOLIM, 2007a; SABATELLA e CUPERTINO,
2007)
Nesse sentido, a experiência no PIT revelou-se proeminente, na medida em
que contribuiu para evidenciar os múltiplos elementos que influenciam os processos
de aprendizagem e desenvolvimento do aluno com altas habilidades. Assim, urge a
necessidade de refletir e discutir os processos de mudanças que ocorrem na
aprendizagem e desenvolvimento desses alunos, como resultado da participação no
programa de enriquecimento.
O desenvolvimento humano e a aprendizagem são temas centrais nos
trabalhos de Vygotsky (1989, 1988, 1987a). Esse autor buscou compreender a
origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da
espécie humana e da história individual, enfatizando sobremaneira a importância
dos processos de aprendizagem no desenvolvimento do sujeito.
22
De acordo com Vygotsky (1989), o aprendizado “é um aspecto necessário e
universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente
organizadas e especificamente humanas” (p.101), pois possibilita o despertar de
processos internos de desenvolvimento, o que se efetiva através do contato do
sujeito com o contexto sócio-cultural.
A aprendizagem, sob a ótica de Vygotsky (1989), tem um significado amplo,
envolvendo a interação social e a interdependência dos indivíduos envolvidos no
processo, que, a partir de seu contato com o ambiente, adquire informações,
habilidades, atitudes, valores etc.
Nesse enfoque, o sujeito influencia e é influenciado por seu contexto sócio-
cultural. Por isso, cada ambiente no qual a criança interage é importante para o seu
aprendizado e desenvolvimento. Assim, se o aluno encontra um ambiente
privilegiado onde “se lhe for dada a oportunidade de fazer escolhas significativas
sobre sua própria aprendizagem, de explorar livremente, manipular um ampla
variedade de materiais e receber estímulos variados, terá uma aprendizagem muito
mais efetiva”, (VIRGOLIM, 2007a, p.37).
Com isso, para a presente pesquisa, o problema foi assim elaborado: as
estratégias educacionais realizadas no PIT contribuem para a aprendizagem e
o desenvolvimento do aluno com altas habilidades no contexto escolar?
A partir dessa questão de pesquisa, o objetivo geral que direcionou as ações
desta pesquisa consistiu em proceder uma investigação avaliativa acerca da
contribuição do PIT no processo de aprendizagem e de desenvolvimento do aluno
com altas habilidades, na escola. A partir desse objetivo, pontuei outros espeficos
para melhor compreensão do problema de pesquisa, tais como: a) estabelecer
relações entre as estratégias educacionais do PIT e aquelas que ocorrem no
contexto de sala de aula; b) verificar como as estratégias educacionais adotadas no
PIT contribuem para o aluno revelar suas habilidades em sala de aula; c) identificar
o entendimento dos professores acerca da contribuição do PIT na aprendizagem e
no desenvolvimento do aluno, no contexto escolar; e d) verificar como a motivação e
a criatividade do aluno no contexto escolar relacionam-se com as atividades
propostas pelo PIT.
23
Pontuados os objetivos, é importante destacar que o processo de ensino-
aprendizagem se constrói a partir das interações do sujeito em todos os ambientes
que está inserido. Assim sendo, fundamentei a explicação teórica do valor das
interações sociais no desenvolvimento cognitivo do indivíduo, no conceito
desenvolvido por Vygotsky (1989). Para esse autor, existe uma “zona de
desenvolvimento proximal”, que está circunscrita pela distância composta entre o
nível de desenvolvimento atual, determinado através da solução de problemas de
forma independente, isto é, sem a mediação de outra pessoa, e o nível de
desenvolvimento potencial, verificado através da solução de problemas, sob
orientação de um adulto ou em colaboração de crianças mais experientes. Nessa
concepção, Vygotsky (1989) enfatiza a capacidade que o indivíduo tem de aprender
com o outro.
Dessa forma, a aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo a
abertura nas zonas de desenvolvimento proximal. A compreensão desses conceitos
me permitiu visualizar a singularidade e diversidade entre aprendizagem e
desenvolvimento e a importância da educação nesse processo. Vygotsky (1989)
postulou que as relações existentes entre aprendizagem e desenvolvimento se
interligam com as interações do indivíduo no contexto sócio-cultural e que, portanto,
uma intervenção transformadora do “outro” no desenvolvimento da criança. Essa
transformação ocorre na zona de desenvolvimento proximal onde a mediação
externa é estimuladora dos processos de desenvolvimento que estão
desencadeados, mas que precisam ser consolidados.
Nesse enfoque, as implicações para a educação escolar o imediatas, em
virtude de a aprendizagem escolar ser algo essencial no desenvolvimento da
criança. Por isso, é fundamental que essas aprendizagens estejam em sintonia com
o nível de desenvolvimento retrospectivo e prospectivo do aluno, orientando-se para
os estágios de desenvolvimento ainda não conquistados, mas em estado
“embrionário”. Com isso, pode-se inferir que aprendizagens significativas e ações
educacionais desafiantes constituem um contexto favorável ao desenvolvimento
humano (cognitivo, social, afetivo, motor etc.).
Considerando a importância da temática das altas habilidades e as raras
pesquisas que ponderam sobre as contribuições dos programas de enriquecimento
na aprendizagem e desenvolvimento dos alunos com altas habilidades, é relevante o
24
interesse em investigar qual a contribuição do PIT na aprendizagem e
desenvolvimento do sujeito desta pesquisa, pois se entende a educação inclusiva
como um processo, que tem suas etapas a serem superadas, e por isso necessitam
serem avaliadas em seu curso com olhar crítico para a efetiva qualificação dos
processos de ensino-aprendizagem.
Dessa forma, o PIT, é um programa que objetiva dinamizar as oportunidades
para o desenvolvimento do potencial dos alunos com altas habilidades, por meio de
atividades que propiciem novas aprendizagens de acordo com seus interesses; bem
como facilitar a aprendizagem e a adaptação desses alunos na escola. Por esses
motivos, o PIT precisa ter sua contribuição avaliada, em termos de eficiência e
eficácia, e, por efeito, possa ser pensado e repensado o seu fazer, para que suas
ações venham garantir, na medida do possível, a concretização plena de seus
objetivos.
CAPÍTULO I
ALTAS HABILIDADES: DISCUTINDO CONCEITOS E PRÁTICAS
EDUCACIONAIS PARA ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES
“O apoio bibliográfico se deve buscar na hora de escrever, para que seja inspiração,
ajude a sair dos impasses, a descortinar novos horizontes e caminhos, não em
simples cópia, ajustamento de citações artificialmente arranjadas para ostentar
erudição. As leituras de apoio devem ser pontuais e pontuadoras, isto é,
circunscrever-se ao assunto da conversa, com o destaque do que parecer pertinente
ao caso”.
- MARQUES, 2003, p. 22
26
ALTAS HABILIDADES: DISCUTINDO CONCEITOS E PRÁTICAS
EDUCACIONAIS
1.1. Altas habilidades: discutindo conceitos
Pretendo discutir neste capítulo o conceito de altas habilidades, com o intuito
de compreender quem são esses indivíduos, quais as dificuldades que enfrentam na
sua trajetória escolar, e discorrer sobre as práticas educacionais realizadas no PIT
Programa de Incentivo ao Talento.
A preocupação com os indivíduos que se destacam por possuir algum talento
especial existe desde os tempos antigos. Atualmente, a atenção dada a esses
indivíduos constitui-se numa das temáticas da Educação Especial. Sendo assim,
uma escola inclusiva deve oferecer oportunidades de aprendizagens que estejam
afinadas com as habilidades, os interesses e estilos de aprendizagem dos alunos.
Nesse sentido, a escola está encarregada de proporcionar possibilidades
que atendem a todos, tanto aos que apresentam alguma deficiência, quanto aos que
demonstram desempenho acima da média, tangenciado por pensamentos
divergente e criativos, de modo a que todos sejam desafiados constantemente com
situações didáticas que os levem a construir aprendizagens significativas.
Para garantir o sucesso na concretização dessas intencionalidades aos
alunos com altas habilidades, devem ser oportunizadas a eles, igualdade de
oportunidade, segundo suas características e necessidades, o que significa
considerar os fatores sócio-culturais e suas respectivas história de vida, bem como
suas características pessoais.
Conhecer o aluno é uma das tarefas primordiais do professor para lograr êxito
em seus empreendimentos pedagógicos. Todo planejamento educacional tem maior
eficácia e, conseqüentemente, obtém melhores resultados, na proporção direta em
que é adequado às necessidades individuais, concretas, mediatas e imediatas de
cada aluno em particular, (GUENTHER, 2000; 2006).
27
As características das pessoas com altas habilidades estão circunscritas num
universo de variedades significativas, em virtude de cada sujeito apresentar uma
maneira de ser, de pensar, de aprender, de agir e de desenvolver seu potencial e
interagir com o mundo, de maneira sui generis. A despeito disso, uma série de
características a serem consideradas, que permitem vislumbrar a possibilidade
desses alunos serem efetivamente identificados.
Fleith (1999) sinaliza para a perspectiva de que não uma definição
consensual aos alunos com altas habilidades, e que esta questão torna-se mais
desafiadora quando se considera que um aluno superdotado pode apresentar um
desempenho superior em uma área específica do conhecimento humano
(intelectual, social, artística etc.), em detrimento de outras. Nesse sentido, é
oportuno fazer referência a Alencar e Fleith, quando afirmam que
Não concordância entre diferentes autores no que concerne à definição
de superdotado. Assim, alguns fazem distinção entre o indivíduo
superdotado e o talentoso, utilizando o primeiro termo para fazer referência
apenas aos indivíduos com uma habilidade excepcional na área intelectual
ou acadêmica e os segundo termo para aqueles indivíduos com habilidades
excepcionais nas artes, música ou teatro, outros discriminam ainda o
indivíduo altamente criativo como parte de um grupo especial (2001, p.57-
58).
Virgolim (2007b) argumenta que as nomenclaturas referentes às “pessoas
com altas habilidades” e ao “superdotado” são mais adequadas para designar
aqueles alunos que demonstram sinais ou indicações de habilidade superior em
alguma área do conhecimento, quando comparados a seus pares, e que não
necessidade de ser uma habilidade excepcional para que esse aluno, no caso, seja
identificado. Segundo a autora, essa distinção torna-se relevante, uma vez que a
palavra superdotado “[...] vem carregada de conotações que nos remetem
erroneamente ao super-herói, ao indivíduo com capacidades excepcionais e,
portanto, às habilidades raras inexistentes no ser humano comum”, (Ibid. , p.27).
Assim, pesquisadores da área optam por terminologias alternativas, como “talento”
ou altas habilidades.
É por essa razão que no decorrer desse trabalho utilizo o termo “altas
habilidades” para me referir a esta parcela da população brasileira, que de acordo
com Renzulli (1988, 2004) constitui cerca de 15 a 20%. Entretanto, não vou medir
28
esforços no sentido de tentar ser fidedigna à terminologia que os diferentes autores
adotaram ao fazer referência a esses indivíduos.
O entendimento de quem são os alunos com altas habilidades envolve a
compreensão do conceito de inteligência, e é relevante ressaltar a mudança que
ocorreu em sua concepção, qual seja, de uma visão unidimensional para uma visão
multidimensional. A inteligência passou a ser compreendida como tendo múltiplos
elementos e dimensões, podendo um sujeito ter determinados elementos mais
desenvolvidos, enquanto em outro indivíduo outras dimensões estariam presentes
em maior grau.
Com relação à inteligência, Gardner (1994) afirma que diversos fatores
que concorrem para sua composição. A partir da Teoria das Inteligências Múltiplas,
o autor propugna a compreensão da inteligência como um potencial biopsicológico,
usado “[...] para processar informações, que pode ser ativado num cenário cultural
para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura”,
(Id. , 2000, p.47). Nesse sentido, a inteligência envolve um processo criativo, uma
vez que ele é de fundamental importância para o desenvolvimento de idéias e/ou
produtos em uma sociedade. Esse autor ainda ressalva que algumas inteligências
são mais valorizadas em uma determinada cultura em relação a outras. Por efeito, a
consideração de sua inteligência é valorizada se for levado em conta o seu
contexto sócio-cultural.
Gardner, citado por Virgolim (2007b, p. 54), assevera que as inteligências
[...] dependem de variáveis do contexto, da cultura, da genética e das
oportunidades de aprendizagem de uma pessoa, o que faz com que os
indivíduos manifestem suas competências em diferentes graus. Além disso,
as habilidades e inteligências se combinam para que o indivíduo possa
desempenhar os diversos papéis exigidos na sua cultura ou para
desenvolver produtos culturais. Normalmente uma criança não apresenta
apenas um tipo de inteligência; ela pode combinar muitas delas para
desempenhar determinado papel ou desenvolver algum produto.
A compreensão acerca da inteligência é importante para estribar a concepção
de sujeitos com altas habilidades. Alencar e Fleith (2001, p.52) destacam que a “[...]
superdotação é um conceito ou construto psicológico a ser inferido a partir de uma
constelação de traços ou características de uma pessoa”, de modo que as
29
condições ambientais são fundamentais para o desenvolvimento potencial daqueles
sujeitos que se destacam através de uma habilidade superior.
Dessa forma, “[...] a superdotação deixou de ser considerada uma
característica imutável, mas, antes, fortemente influenciada por fatores ambientais”
(ALENCAR, 2007, p. 20). Sob esse prisma, a visão da superdotação como sendo
altamente influenciada pelo fator ambiental foi enriquecida e articulada através da
inserção, não apenas das características do ambiente, mas também pela motivação
pessoal, pela energia e por determinados traços de personalidade, como
autoconfiança e persistência. A criatividade também passou a ser um dos
componentes presentes em distintas concepções de superdotação.
A definição brasileira de superdotação, proposta pelas Diretrizes Gerais para
o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades/superdotação
e talentos (BRASIL, 1995), considera os alunos com altas habilidades aqueles que
apresentam grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente
conceitos, procedimentos e atitudes. Essa definição ressalta características
marcantes, portanto, como a rapidez com que ocorre o processo de aprendizagem e
a facilidade com que esses sujeitos se engajam em sua área de interesse. E mais,
pontua seis tipos de superdotação, que passarei a descrevê-los: o intelectual,
social, acadêmico, criativo, psicomotricinestésico e os talentos especiais.
A superdotação do tipo intelectual se caracteriza por envolver flexibilidade,
independência e rapidez de pensamento e ainda, curiosidade intelectual, habilidade
de pensamento abstrato, compreensão e memória elevadas e capacidade para
resolver problemas.
O físico inglês Stephen William Hawking (1942 atual), doutor em
Cosmologia e um dos mais renomados físicos teóricos do mundo, apesar de sofrer,
desde os 21 anos, de esclerose amiotrófica lateral, - uma doença rara degenerativa,
que paralisa um a um os músculos do corpo -, não parou de produzir. Conhecido
pela ousadia de seus pensamentos e pelo humor e lucidez com que os expressa, ele
publicou o livro “O Universo em uma casa de noz” (2001), demonstrando sua
habilidade excepcional de abstração, a grandeza de seu pensamento lógico-
matemático e sua capacidade ímpar de ver problemas sob ângulos inusitados.
Publicou mais de 180 trabalhos, entre artigos, livros e ensaios científicos. Esse
pesquisador demonstra bravura, perseverança em atingir suas metas, além de uma
30
enorme força para suplantar as adversidades com que foi acometido, por conta das
vicissitudes da vida. Por possuir essas características, Hawking se encaixa no perfil
de uma pessoa com superdotação do tipo intelectual, aliados as características
mencionadas acima. Por efeito, ressaltam-se nele aspectos da personalidade como
a persistência em atingir seus objetivos, coragem e resilência, (VIRGOLIM, 2007b).
A superdotação do tipo social está presente naqueles sujeitos que
demonstram sensibilidade interpessoal, capacidade de liderança, jeito cooperativo,
poder de persuasão e de influência no grupo, sociabilidade expressiva, capacidade
de desenvolver uma interação produtiva com os outros.
Como exemplo desse tipo de superdotação, cito o líder indiano Mohandas
Karamchand Gandhi (1869 - 1948), conhecido como um dos idealizadores e
fundadores do moderno Estado Indiano, e um influente defensor do princípio da não-
agressão, que é a forma não-violenta de protesto como um meio de revolução.
Gandhi mostrou sua grande habilidade de resolver problemas sociais complexos
quando propôs que a Índia poderia ganhar sua independência por meios não
violentos e por via da ego-confiança. O líder se destacou por sua capacidade verbal
de linguagem, por sua sensibilidade interpessoal e atitude cooperativa, mas o que o
consagrou como um grande der foi sua capacidade de descobrir e destacar o que
de melhor nas pessoas, estimulando-as a atingir aquilo que elas imaginavam ser
impossível. (VIRGOLIM, 2007b)
No tipo de superdotação acadêmica, as características que se manifestam
privilegiam os aspectos relacionados à atenção, concentração, motivação, todos por
áreas específicas do conhecimento humano, redundando em ótimo rendimento
escolar e capacidade de produção.
Outro tipo de superdotação definido pelas diretrizes do MEC (1995) é o
psicomotricinestésico, que se destaca naquelas pessoas que têm um desempenho
superior em atividades físicas e esportes, caracterizando-as por sua agilidade de
movimento, velocidade, força e resistência, controle e coordenação motoras.
Para ilustrar esse tipo de superdotação, cito Edson Arantes do Nascimento
(1940-atual), o nosso eminente Pelé, o mais famoso e conhecido jogador de futebol
do mundo. Em virtude de isso, lhe foram outorgados os títulos de Atleta do Século
em todos as modalidades de esportes, em 1981, e em 1999, de Atleta do Século,
31
por meio uma votação internacional, entre todos os Comitês Olímpicos Nacionais
Associados. O atleta Pelé apresentava força, resistência, flexibilidade corporal,
bravura e o controle total do toque na bola. São muitas as suas características e
qualidades, que o elevam ao grupo de superdotado, notadamente por suas
habilidades psicomotoras; além de sua capacidade de visualizar o campo de futebol
em sua totalidade e perceber a exata posição de cada jogador em um determinado
momento da partida, o que lhe permitia estar comumente no lugar certo e na ocasião
certa, (VIRGOLIM, 2007b).
O talento criativo está presente naqueles indivíduos que possuem
originalidade de pensamento, habilidade de resolver problemas seguindo caminhos
não usuais, e a capacidade de perceber um tópico de diferentes maneiras.
Um exemplo desse tipo de superdotação, Leonardo da Vinci (1452-1519), que
ficou conhecido pela ousadia com que resolvia as mais variadas situações em áreas
diferentes, como também, por sua habilidade de vislumbrar de inúmeras maneiras
determinado assunto. Para ele, a pintura era como uma ciência e a desenhava com
precisão matemática, explorando ao máximo a capacidade que a visão tem de
perceber a luz e as sombras, a disposição e a distância, o movimento e o repouso
de um evento. A habilidade criativa de Da Vinci, aliado a suas características
pessoais, como percepção, estética, agudeza de observação e desejo de perfeição,
bem como o ambiente social propício ao desenvolvimento das ciências e das artes,
foram significativamente relevantes para uma produção de alto nível em sua vida
adulta, (VIRGOLIM, 2007b).
Por último, os talentos especiais envolvem as artes plásticas, musicais,
dramáticas e literárias, que notadamente se manifestam através do alto
desempenho para expressar idéias visualmente (desenhos, pinturas, poesias etc.),
assim como pela sensibilidade ao ritmo musical, entre outros.
Heitor Villa-Lobos é um exemplo de talento especial na área da música, o que
o tornou um dos maiores músicos do nosso tempo. Sua produção atualmente se
incorpora ao patrimônio artístico cultural. Esse exemplo de talento criativo
caracteriza-se sobretudo pela presença constante de ousadia criativa que conduz o
indivíduo no caminho de sua área de interesse, seja compondo, dançando, pintando,
dramatizando, escrevendo, (VIRGOLIM, 2007b).
32
Após expor os tipos de superdotação definidas nas Diretrizes Gerais para o
atendimento educacional a alunos portadores de altas habilidades/superdotação e
talentos (BRASIL, 1995) e apesar desta, englobar diferentes tipos de superdotação,
em 1999, a Secretária de Educação Especial (BRASIL/SEESP, 1999) publicou um
manual sobre superdotação e talento que reitera o que foi publicado em 1995,
incluindo apenas considerações referentes à terminologia. A saber, “superdotação
caracteriza-se pela elevada potencialidade de aptidões, talentos e habilidades,
evidenciadas pelo alto desempenho nas diversas áreas de atividade” (BRASIL,
1999, p.35), devendo ser observadas essas habilidades e aptidões em nível
significativo de atuação ao longo do tempo.
Além disso, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica definem os alunos com altas habilidades com aqueles que possuem
[...] grande facilidade de aprendizagem que os levem a dominar
rapidamente os conceitos, os procedimentos e as atitudes e que, por terem
condições de aprofundar e enriquecer esses conteúdos, devem receber
desafios suplementares em classe comum, em sala de recurso ou em
outros espaços definidos pelo sistema de ensino, inclusive para concluir, em
menor tempo, a série ou etapa escolar, (BRASIL, 2001, p. 39).
Virgolim (2007b) argumenta que, em geral, as pessoas com altas habilidades
não apresentam, simultaneamente ou ainda em graus similares, as habilidades
descritas anteriormente e apontadas na definição brasileira de superdotação.
Concordo com a autora de que uma das características mais acentuadas das altas
habilidades relaciona-se a seu traço de heterogeneidade. “Alunos superdotados
diferem um dos outros também por seus interesses, estilos de aprendizagem, níveis
de motivação e de autoconceito, características de personalidade, e principalmente
por suas necessidades educacionais”, (Ibid., p.34).
Mettrau e Almeida (1994) alegam ter dificuldades em escolher uma definição
para caracterizar quem é o aluno com altas habilidades. Entretanto, consideram
esse aluno como aquele que se destaca pela “[...] maneira original e criativa com a
que resolve um problema ou situação, seja acadêmica, prática ou social” (Ibid. , p.
70).
A despeito das várias definições apresentadas anteriormente, a abordagem
utilizada neste trabalho é a do pesquisador Joseph Renzulli (1986, 2000, 2004),
33
cujas contribuições teóricas articulam práticas de identificação e programas de
enriquecimento que m sendo implementados em diferentes países do mundo.
Pela sua relevância, a concepção que o autor as altas habilidades deve ser aqui
pontuado. Esse autor aponta que, independente da concepção de altas habilidades
que se adote, é relevante que exista uma estreita articulação entre esta e os
procedimentos de identificação, como também com os programas de atendimento a
esses indivíduos, pois “[...] uma definição de superdotação é uma declaração formal
e explícita que eventualmente poderá tornar-se parte de políticas ou orientações
oficiais”, (RENZULLI, 1986, p.3).
O meu entendimento se afina com as idéias do autor quando salienta que a
pessoa com altas habilidades apresenta características singulares, e que portanto,
“[...] os comportamentos de superdotação são manifestações do desempenho
humano que podem ser desenvolvidas em certas pessoas, em determinados
momentos e sob determinadas circunstâncias“ (Id. , 1988, p. 20). Nesse sentido, se
faz urgente à necessidade de haver uma mudança no entendimento do aluno com
altas habilidades, pois muitos são os fatores que intervém na sua manifestação;
assim dever-se-ia considerar aqueles alunos que apresentam “comportamentos
superdotados”.
Dessa forma, e com a intenção de flexibilizar os procedimentos de
identificação de altas habilidades, Renzulli (1986) propôs a concepção de altas
habilidades/superdotação, a partir do conceito dos Três Anéis da Superdotação
(Figura 1), definindo uma concepção flexível, considerando que, para a expressão
da habilidade superior, é necessário o apoio do contexto social do sujeito.
34
Figura 1. Representação gráfica do conceito de
superdotação para Renzulli (1986, p.
8)
Segundo esse autor, o comportamento superdotado consiste na interação
entre os três grupamentos básicos dos traços humanos: habilidades gerais e/ou
específicas acima da média, elevados níveis de comprometimento com a tarefa e
elevados níveis de criatividade. Cada um desses fatores exerce um papel importante
na identificação de comportamentos superdotados. Logo, a superdotação, conforme
Renzulli (1986), se manifesta quando ocorre o entrelaçamento dos três anéis, ou
seja, um anel apenas não corresponde a superdotação. Os três anéis podem ser
descritos da seguinte forma:
a) habilidade acima da média. Divide-se em duas: habilidade geral e
habilidade específica. A habilidade geral consiste na capacidade de processar
informações, de integrar experiências, que resultem em respostas apropriadas e
adaptadas a novas situações. Exemplos dessa habilidade são: o raciocínio verbal e
numérico, relações de espaço, memória e fluência verbal. a habilidade específica
consiste na capacidade de adquirir conhecimento e habilidades para atuar em uma
ou mais atividades de uma área específica. Exemplos: química, balé, matemática,
composição musical, entre outras, (RENZULLI, 1986);
35
b) envolvimento/comprometimento com a tarefa. Este anel refere-se à
motivação, uma energia canalizada para uma tarefa em particular ou uma área
específica; assim como a perseverança, persistência, dedicação e autoconfiança.
Renzulli (2000) aponta que essas características se relacionam com os fatores de
personalidade e que são aspectos determinantes para o êxito das tarefas;
Nessa concepção, Renzulli (1986, 2004) enfatiza a motivação, pois este
aspecto inclui diversos traços, como a perseverança, dedicação, esforço,
autoconfiança, além de uma crença na sua própria habilidade de resolver um
trabalho importante.
c) criatividade. Este envolve fluência, flexibilidade e originalidade de
pensamento, abertura a novas experiências, curiosidade, sensibilidade e coragem
para correr riscos. Renzulli (1986), acentua que este terceiro grupo de traços é
característico em todos os sujeitos com altas habilidades, e que a criatividade tem
sido apontada como um dos aspectos determinantes na personalidade dos sujeitos
que se destacam em uma alguma área do conhecimento humano.
Nessa concepção, Renzulli (1986, 2004) enfatiza a motivação, pois este
aspecto inclui diversos traços, como a perseverança, dedicação, esforço,
autoconfiança, além de uma crença na sua própria habilidade de resolver um
trabalho importante.
Alencar e Fleith (2001) pontuam que a criatividade possui uma diversidade de
posições em relação a sua concepção. No entanto, comentam que um aspecto é
comum às diferentes concepções: a criação de algo novo, reconhecido como
satisfatório ou adequado à cultura do criador.
É importante ressaltar que os três anéis não precisam estar interagindo ao
mesmo tempo, e nem com a mesma intensidade, mas é necessário que interajam
em algum grau que possam resultar em um alto nível de produtividade.
Renzulli (1999) destaca dois tipos de superdotação como sendo os tipos
característicos mais encontrados. O primeiro se refere à superdotação acadêmica,
que se refere como sendo aquela do contexto escolar; o segundo, é denominado de
produtivo-criativa. O autor ressalva que ambos os tipos de superdotação são
importantes, e que normalmente existe uma correlação entre os dois tipos
36
mencionados; e ainda, que os programas especiais deveriam estimular os dois tipos,
assim como, há ocasiões que ambos os tipos interagem entre si.
A superdotação acadêmica é aquele tipo apresentado pelos sujeitos que têm
ótimos rendimentos na escola, demonstram rapidez para aprender, nível de
compreensão mais elevado e têm sido os sujeitos tradicionalmente selecionados
para participar de programas de enriquecimento.
“É o tipo mais facilmente mensurado pelos testes padronizados de
capacidade [...] As competências que os jovens apresentam nos testes de
capacidade cognitiva são exatamente os tipos de capacidades mais
valorizados nas situações de aprendizagem escolar tradicional, que
focalizam as habilidades analíticas em lugar das habilidades criativas ou
práticas” (RENZULLI, 2004, p.82).
A superdotação do tipo criativo-produtiva enfatiza os aspectos presentes
naqueles indivíduos que se destacam por criar produtos inovadores. Esses
indivíduos, de acordo com Perez (2000), utilizam o pensamento divergente, são
pessoas curiosas, imaginativas e criativas. Para Renzulli (2004), esse segundo tipo
de superdotação “descreve aqueles aspectos da atividade e do envolvimento
humanos nos quais se incentiva o desenvolvimento de idéias, produtos, expressões
artísticas originais e áreas do conhecimento que são propositalmente concebidas
para ter um impacto sobre uma ou mais platéias-alvo”, (Ibid., p.83).
Embora tenha apresentado os perfis separadamente, entendo o aluno com
altas habilidades não como aquele que possui um conjunto de características e
qualidades, em si, mas sim pela forma como estas características e qualidades
interagem entre si e com o contexto social.
Renzulli (1986, 1999, 2004) ressalva a importância de se entender a
superdotação como uma condição ou um comportamento que pode ser
desenvolvido em algumas pessoas (naquelas que apresentam alguma habilidade
superior à média da população). Ao considerar a superdotação como um
comportamento a ser desenvolvido, ele desloca a discussão da questão de se
rotular a criança como superdotada ou não, para enfocá-la na necessidade de se
oferecer oportunidades educacionais fundamentais e variadas para que um maior
número de alunos possa desenvolver e apresentar “comportamentos superdotados”.
37
Nesse enfoque, o propósito da identificação dessas pessoas não tem por
finalidade rotulá-las, mas sim estabelecer ões pedagógicas adequadas, que
venham de encontro às necessidades educacionais especiais, sociais e emocionais
dos alunos com altas habilidades.
1.2. Programas de Enriquecimento
A atenção aos alunos com altas habilidades, mediante a adoção de práticas
educacionais espeficas, que favoreçam o seu desenvolvimento e a estimulação de
seu potencial tem sido amplamente discutida por pesquisadores na área, apontando
para a necessidade de criar um ambiente educacional que acolha e estimule as
habilidades promissoras desses alunos.
Alencar e Fleith (2001) argumentam que o aluno com altas habilidades
precisa de uma variedade de experiências de aprendizagens enriquecedoras, que o
incentivem a resolver problemas. Isso ocorre na medida em que ele vai construindo
conhecimento através de práticas que envolvam, notadamente, o pensamento critíco
e criativo, juntamente com o estímulo de características de personalidade, como a
persistência, autoconfiança, autonomia de pensamento, fatores esses
indispensáveis à realização plena do potencial desse aluno.
Assim, a partir dos princípios da educação inclusiva, e do direito de todos os
alunos a uma educação de qualidade, Fleith chama a atenção para “a necessidade
de criar um ambiente educacional que acolha e estimule o potencial promissor de
alunos com altas habilidades/superdotação”, (2007, p.9).
Dessa forma, é importante destacar que uma orientação pedagógica
inadequada pode gerar problemas para o aluno com altas habilidades, tanto de
ordem cognitiva, quanto psicológica e social. Portanto, proporcionar um atendimento
que estimule o desenvolvimento das habilidades dos alunos, contribui para que
tenham suas necessidades educacionais especiais assistidas, favorecendo-os a
serem mais confiantes em suas decisões, inclusive no que tange ao exercício de
uma respectiva profissão, no futuro.
38
Todavia, esses alunos, na maioria das vezes, não são reconhecidos em suas
respectivas performances potenciais, redundando em problemas para eles, pois o
alto grau de expectativa de uma habilidade superior à média do grupo, quase nunca
encontra ressonância em um ambiente, cujo padrão de desempenho é
médio/comum (GHENTHER, 2000).
A escola é o lugar onde uma parte significativa dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento da criança acontece por meio de interações com
professores e colegas; no entanto, “a maioria das escolas regulares não apresenta
um currículo flexível, onde o pensamento, a criatividade, a imaginação tenham
espaço no planejamento do professor torna-se muito complicado para o aluno com
altas habilidades ter um espaço, um momento para ampliar e aprofundar seu
potencial, (RECH, 2007, p. 31).
Diante disso, medidas educacionais especiais são necessárias, como no caso
dos programas de enriquecimento fora do espaço escolar, que permitem ampliar e
diversificar as aprendizagens dos alunos de acordo com seus interesses,
habilidades e necessidades educacionais. Em geral, os programas de
enriquecimento caracterizam-se por oferecer experiências para além do currículo
regular, priorizando mais o processo de aprendizagem do que o conteúdo, como
também, estimulando outras áreas do desenvolvimento humano que não
exclusivamente a cognição.
A implantação de programas de enriquecimento escolar para alunos com
altas habilidades é uma das maneiras de se dinamizar as possibilidades para o
desenvolvimento de suas potencialidades. varios anos, diferentes países vêm
implementando programas para alunos com altas habilidades, esses programas são
resultados do reconhecimento dos benefícios para o país que investe em sua elite
intelectual, (ALENCAR e FLEITH, 2001).
Wu (2000), citado por Alencar e Fleith pontua que
“o interesse por esta área em Taiwan, surgiu do reconhecimento de que uma
ilha com poucos recursos naturais, como é o caso daquele país, necessita
desenvolver de forma intensa os seus recursos humanos e, entre estes,
devem receber uma atenção diferenciada aqueles alunos que se sobressaem
pelo potencial intelectual superior, com maiores chances de contribuir para o
desenvolvimento daquele país”, (2006, p.52).
39
O exemplo dos Estados Unidos parece significativo, porque se destaca pelo
número de programas de enriquecimento para atender aos alunos que manifestam
habilidades superiores. Gallagher (2000), revela o interesse pelo reconhecimento
desses alunos, relatando que nesse país se investe nos alunos com altas
habilidades com o intuito de manter a sua liderança na indústria, no ensino superior,
nas ciências, entre outras áreas.
Países da Europa, da Ásia e da Oceania, também vêm implementando
programas de enriquecimento, através de atividades extracurriculares. Estes
programas visam a incentivar habilidades e a possibilitar a identificação de distintos
interesses de alunos que manifestam habilidades superiores.
Nesse enfoque, cito também o Programa para educação e Talento,
implementado na Alemanha, organizado pela Associação de Colaboradores à
Promoção da Ciência, em cooperação com o Ministério da Educação e Ciência do
referido país. Esta iniciativa mantém ligação com a Câmara Européia de altas
habilidades. As atividades desenvolvidas nesse programa têm o objetivo de
possibilitar, aos alunos com altas habilidades, as condições para que alcancem um
bom nível educacional em matemática, conforme seus interesses e ritmos de
aprendizagem; e mais, prepará-los para participar de competições relativos a
conteúdos de matemáticas e de línguas estrangeiras. São implementados também
programas no período de verão, nas áreas acadêmicas; e ainda, exercícios
vocálicos, estudos relacionados aos alunos com altas habilidades; publicações e
congressos ocorrem nessas ocasiões, (WAGNER, 2003; MELO 2005).
No Brasil, a realidade dos programas de enriquecimento, de acordo com
Alencar (2001), pode ser caracterizada pelo contraditório contraste entre a
continuidade e descontinuidade de iniciativas governamentais e não
governamentais.
Um dos programas mais conhecidos no Brasil é o implementado pelo Centro
para Desenvolvimento do Potencial e Talento (CEDET), criado em 1993, localizado
em Lavras, Minas Gerais. Esse programa é coordenado pela pesquisadora brasileira
Zenita Guenther.
O CEDET é um espaço de apoio, complementação e suplementação
educacional ao aluno com altas habilidades, matriculado em escolas públicas e
particulares. É sua finalidade desenvolver o autoconceito, cultivar a sensibilidade e o
40
respeito aos outros. Suas práticas educacionais voltam-se para identificação e o
recrutamento dos alunos, a fim de desenvolver suas capacidades e habilidades,
(GUENTHER, 2000).
Conforme Alencar e Fleith (2001), existem outros programas brasileiros em
funcionamento para atender às necessidades educacionais desses alunos, como os
implementados nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul. Além disso, desde 1994, os Colégios Militares dos municípios de
Porto Alegre, Rio de Janeiro, Juiz de Fora, Santa Maria e Brasília têm oferecido um
programa de enriquecimento focado na metodologia “Aprender a Pensar”, baseada
em atividades e resolução de problemas, com o objetivo de favorecer o
desenvolvimento intelectual. Recentemente este programa foi desativado. Ainda,
destacam-se outros programas de enriquecimento, como o Projeto Objetivo de
Incentivo aos Talentos (POIT) em o Paulo, e o Programa Especial de
Treinamento (PET), coordenado pelo Ministério da Educação.
No Distrito Federal, destaca-se o Programa de Atendimento Educacional aos
Alunos Portadores de Altas Habilidades e Talentos, implementado pela Secretária
de Estado de Educação do Distrito Federal, e vinculado à Diretoria de Ensino
Especial e Gerência de Apoio à Aprendizagem do Superdotado. O atendimento
educacional oferecido aos alunos com altas habilidades, matriculados nos diferentes
níveis da educação infantil, educação fundamental e médio caracteriza-se como
complementar ao da escola regular. Esses alunos são atendidos em salas de
recurso como modalidade de serviço educacional próprio da Educação Especial. O
objetivo do programa é oferecer aos alunos condições favoráveis de
desenvolvimento pleno, visando ao benefício da coletividade. As salas de recurso,
onde o programa foi implementado, situam-se em espaços nas escolas blicas do
ensino regular, em Brasília e em algumas regiões, (MELO, 2005).
Este programa tem como base o Modelo de Enriquecimento Escolar (The
Schoolwide Enrichment Model SEM), proposto por Renzulli e Reis (1985). Este
programa inclui objetivos que visam ao desenvolvimento de experiências de
aprendizagem diferenciadas e estimulantes, conforme as habilidades, interesses e
ritmos de aprendizagem, e expressão de cada aluno. As atividades porpostas nesse
programa destinam-se àqueles alunos que apresentam “comportamentos
superdotados” em uma ou mais áreas do conhecimento humano. Logo, as
41
experiências de aprendizagem não são iguais para todos, e sim elaboradas de
acordo com as singularidades apresentadas pelos alunos.
Chagas, Maia-Pinto e Pereira (2007), relatam que esse programa - Modelo de
Enriquecimento Escolar - é democratico e flexível,
[...] o que viabiliza a sua adaptação a qualquer realidade escolar e sua
aplicação em qualquer série ou modalidade de ensino, independente do
contexto social [...] não se trata de um pacote instrucional pronto, fechado,
mas sim um plano de organização a ser adaptado conforme as
necessidades do professor e do aluno e as características do ambiente
escolar, (p.57).
Nesse sentido, o Modelo de Enriquecimento Escolar pode ser implementado
de acordo com o contexto de cada região, sendo possível também ser organizado
em outros formatos. Importa considerar que “toda a iniciativa nessa direção seja
encorajada, todos os recursos e materiais sejam passíveis de captação e todo
potencial criativo seja utilizado na busca de soluções de problemas que surgirem ao
longo do processo de implementação do modelo”, (CHAGAS; MAIA-PINTO;
PEREIRA, 2007, p.57).
Os programas de enriquecimento para alunos com altas habilidades objetivam
estimular o desenvolvimento de suas habilidades, visando também ao seu
desenvolvimento global, ao fortalecimento de um autoconceito positivo e à formação
de indivíduos capazes de colaborar com a sociedade. Nessa ótica, Arn e Frierson,
citado por Alencar, analisaram os objetivos comumente observados em diferentes
programas de enriquecimento e pontuaram que
Melhores oportunidades para crescimento acadêmico através da provisões
de condições que favoreçam o desenvolvimento de habilidades nesta área;
desenvolver bons hábitos de trabalho e estudo; incrementar um clima de
aprendizagem que resulte em maior produtividade; incrementar a
motivação; favorecer o ajustamento pessoal e emocional; promover o
desenvolvimento social; oferecer melhores oportunidades que atendam ao
nível ritmo individual de crescimento e
aprendizagem; possibilitar a
expansão dos interesses; desenvolver valores estéticos,
(2001, p. 126 ).
42
1. 3. PIT – Programa de Incentivo ao Talento
No Brasil, apesar dos esforços governamentais e da inciativa privada, o
poucas as iniciativas organizadas para atender aos alunos com altas habilidades.
Credita-se essa situação, talvez, em virtude de idéias equivocadas que estão
enraizadas no pensamento popular, entre elas, a de que esses alunos possuem
recursos suficientes para desenvolver, por si, suas habilidades, sendo, por efeito,
desnecessária a análise da intervenção e influência do contexto para a sua efetiva
compreensão. Isso presume que os aspectos genéticos seriam os únicos
responsáveis para o desenvolvimento de habilidades e competências. Corrobora
esse entendimento, também, a falsa noção proveniente de preconceito e
desinfomação, dificultando a implantação de serviços educacionais que atendam às
necessidades desses alunos, (Alencar e Fleith, 2001).
A partir do que foi exposto, é importante descrever a proposta de
enriquecimento, organizada e desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Educação
Especial Interação e Inclusão Social, GPESP/CNPq, da Universidade Federal de
Santa Maria UFSM. Este programa existe desde agosto de 2003, no município de
Santa Maria/RS, e funciona como um projeto de extensão universitária denominado
PIT – Programa de Incentivo ao Talento.
Os alunos selecionados para participar do PIT são identificados pelo projeto
de Iniciação Científica “Da identificação à orientação de alunos com características
de altas habilidades”, executado também pelo GPESP/CNPq. Essa identificação é
feita em escolas das redes estadual, municipal e particular, da cidade de Santa
Maria/RS, com alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental.
O processo de identificação desse grupo de alunos obedece a um plano
multidimensional, delineado por várias etapas e estratégias: a) preparação da
comunidade envolvida no trabalho, através de leituras discutidas; b) palestras de
conscientização e esclarecimentos sobre a temática das altas habilidades,
ministrada pela equipe executora do programa, com a finalidade específica de
identificar os alunos com características de altas habilidades nas salas de aula; c)
aplicação de um questionário com 26 (vinte e seis) itens aos professores,
contemplando nele as características comumente observadas em alunos com altas
43
habilidades. Para a construção desse questionário utiliza-se a lista de indicadores
elaborada pela pesquisadora Zenita Guenther, (2000).
Além dessas etapas e estratégias, e com a finalidade de coletar dados
referentes à história de vida escolar desses alunos, são realizadas entrevistas semi-
estruturadas com os professores atuais e os que anteriormente trabalharam com os
estudantes. Em seguida apresenta-se o projeto aos pais dos alunos, a fim de
conscientizá-los sobre a importância de estimular e desenvolver as habilidades de
seus filhos, e obter deles o consentimento para trabalhar diretamente com estes
alunos.
Para a identificação e com a intenção de avaliar pedagogicamente os
discentes indicados, é desenvolvida, na sequência, atividades de enriquecimento
escolar (VIRGOLIM; FLEITH; NEVES-PEREIRA, 1999), nas quais características
como criatividade, senso de humor, motivação, persistência em realizar a tarefa, são
ingredientes observados. Por fim, e após vencer esses vários momentos de
identificação, encaminha-se os alunos com características de altas habilidades ao
PIT.
A seguir, apresento os objetivos e a fundamentação teórica que norteia essa
proposta de trabalho, que se justifica pela necessidade de ações educacionais que
visam ao estímulo e desenvolvimento das habilidades dos alunos com altas
habilidades, no município de Santa Maria. Nesse sentido, as Diretrizes Nacionais
para Educação Especial na Educação Básica (2001), não só apóiam a parceria entre
as escolas e a universidade, mas sobretudo recomendam às escolas regulares
a constituição de parcerias com instituições de ensino superior com vistas à
identificação de alunos que apresentem altas habilidades/superdotação,
para fins de apoio ao prosseguimento de estudos no ensino médio e ao
desenvolvimento de estudos da educação superior, (BRASIL, 2001, p.49).
Diante disso, o PIT visa a coordenação das ações, recursos e outros
elementos que venham a integrar-se no sistema de ensino e na comunidade,
colocando esse conjunto de fatores em ações integradas e consistentes, para
melhor respaldar e assistir ao desenvolvimento de alunos com características de
altas habilidade.
Atualmente, o Programa de Incentivo ao Talento funciona todos os sábados,
pela manhã, em um espaço de uma Escola Estadual. Cada encontro tem a duração
44
de uma hora e trinta minutos. Participam do PIT 22 (vinte e dois alunos) do Ensino
Fundamental das escolas de Santa Maria, com idade entre 6 e 14 anos. A equipe
executora do programa é composta de 14 (quatorze pessoas): 2 (duas) mestrandas
do Programa de Pós Graduação em Educação da UFSM/PPGE; 2 (duas)
acadêmicas do curso de Pedagogia/UFSM; 9 (nove) acadêmicas da graduação em
Educação Especial/UFSM; e a coordenadora, professora Doutora Soraia Napoleão
Freitas, docente da UFSM. Conforme os desdobramentos das atividades propostas
no PIT, e para suprir eventuais necessidades, são convidados acadêmicos de outros
cursos da UFSM, que organizam atividades para esses alunos.
O PIT é configurado a partir da filosofia geral de Educação e dos princípios
que orientam a Educação Especial buscando estabelecer, de maneira sólida, suas
bases estruturais, considerando as características e necessidades locais, tendo
como objetivo geral, atender alunos com características de altas habilidades, com o
intuito de ampliar, aprofundar e enriquecer o conteúdo curricular. Dentre os objetivos
específicos do PIT, destacam-se: oportunizar a esses alunos atividades e
experiências significativas com orientações sistemáticas, incentivando a área de
interesse de cada um, assim como do grupo; estimular o auto-conhecimento, o
cultivo das relações sociais entre os pares , bem como um convívio orientado para o
alcance das metas comuns.
Para consolidar essas metas foi necessário solicitar parcerias com os outros
centros de ensino da UFSM, os quais através dos recursos técnicos e humanos
(acadêmicos) têm muito contribuido para incentivar as habilidades desses alunos.
Através de oficinas temáticas, acadêmicos dos cursos da UFSM, como exemplo,
letras, espanhol, matamática, geografia, história, informática, educação física,
ciência, teatro, entre outros, dão o privilégio de suas contribuições. É importante
pontuar que essas oficinas temáticas estimulam a promoção sobretudo da
criatividade dos alunos, além de oportunizar o contato com diferentes áreas do
conhecimento e o desenvolvimento de habilidades, de acordo com o interesse de
cada um.
Destaco um exemplo, a manifestação de interesse de um grupo de alunos
quando da apresentação de dramaturgia. Nesse caso, e para qualificar as
experiências de aprendizagem aos alunos, contamos com a participação de
acadêmicos de letras/português e artes cênicas da UFSM, que programaram
45
diferentes atividades envolvendo desde leituras de roteiro de peças teatrais,
linguagem corporal, pesquisa de temas para compor o roteiro da peça, até a
realização de um estudo mais aprofundado sobre como se constrói uma peça
teatral, vindo eles a produzirem personagens e conflitos de forma criativa e original.
A peça produzida por esse grupo de alunos do PIT foi apresentada aos pais e
colegas, em dezembro de 2007, por ocasião da festa de encerramento das
atividades do programa.
Além disso, o PIT proporciona aos pais dos alunos, palestras e discussões
mensais sobre a temática em questão, a fim de que eles reúnam as melhores
condições possíveis para compreender seus respectivos filhos; como também apoiar
e incentivar o desenvolvimento de suas habilidades.
Essa aproximação é relevante e em, alguns casos, até imprescindível, pois
possibilidade de a família, ao perceber que o seu filho apresenta uma habilidade
acima da média em relação a outras crianças, da mesma faixa eria, muitas vezes,
venha a sentir “um certo orgulho, levanta o nível de expectativas e esperanças no
futuro, o que pode tanto ser um exemplo positivo como um problema sério, no
cômputo geral”, (GUENTHER, 2006, p.108). Por efeito, situações de infelicidade e
angústias podem vir a acontecer em razão dos pais transferirem expectativas e
sonhos não realizados para os filhos, dificultando que eles trilhem seu próprio
caminho, estribado em suas próprias expectativas e em suas vivências, declinando
da influência e sonhos de outras pessoas.
Por vezes, o peso que recai sobre a criança, pelo fato de ter que responder
constantemente a altas cobranças, pode impedí-la de aceitar a sua singular
condição de vida, e desista nos primeiros obstáculos de sua caminhada para
escapar das pressões que está submetida. Nesse caso, tanto a escola quanto os
programas de enriquecimento têm de estar atentos no sentido de auxiliar a família a
pensar sobre a intensidade de suas cobranças para com seus filhos, e se essa
postura estaria funcionando como estímulo ou como uma ameaça ao
desenvolvimento da criança. GUENTHER, pontuou de maneira pertinente esta
questão ao afirmar que
46
É dever dos pais acompanhar o trabalho escolar dos filhos. Acompanhar
como forma de orientação, implica em caminhar lado a lado, olhando na
mesma direção em que a criança está olhando, prevenindo, e buscando
evitar erros e distorções [...] interessando-se genuinamente pelo que
acontece na Escola, compartilhando a experiência da criança com
comentários e perguntas sinceras, de interlocutor, diferentes de perguntas
do tipo policiamento” que parece querer desvelar algo oculto, ou
dissimulado, que em geral levanta defesas no interrogado e interrompe o
fluxo de comunicação, (2006, p.109-109).
Assim, a família sempre se constitui em uma das fontes primeiras e
constantes que permeiam o processo de estímulo para a aprendizagem e o
desenvolvimento dos alunos com altas habilidades, pois é dela que os filhos devem
receber suporte afetivo e educacional para superar as dificuldades que, por vezes,
poderão encontrar no seu caminho escolar. “Propiciar um ambiente acolhedor, em
casa e na escola, oferecer a estas crianças atenção, amor, compreensão, entre
outros ‘ingredientes’, são de extrema importância para que elas se desenvolvam de
uma forma sadia”, afirma RECH, (2007, p.37).
A partir dos objetivos estabelecidos para circunstanciar a efetivação do PIT, é
relevante destacar que estratégias e atividades são elaboradas de acordo com os
três tipos de enriquecimento proposto pelo Modelo de Enriquecimento Escolar
(Renzulli & Reis, 1985). Esse modelo propõe uma variedade de experiências
enriquecedoras aos alunos com altas habilidades, planejadas tanto para a execução
em sala de aula regular quanto em programas especiais fora do contexto escolar,
denominados Enriquecimento do tipo I, II e III.
Enriquecimento do Tipo I. Nas atividades propostas nesta abordagem, os
alunos têm a oportunidade de explorar uma grande variedade de áreas ou tópicos
do conhecimento, como pessoas, locais, acontecimentos, os quais, geralmente, não
são contemplados no currículo da escola regular. Nessas atividades devem estar
presentes fatores como a criatividade e a inovação, a fim de despertar nos alunos o
interesse para com as novas áreas de exploração, que poderão, num outro
momento, aprofundá-las com atividades produtivas e criativas.
Virgolim (2007b, p. 64) ressalva que uma das vantagens desse tipo de
enriquecimento é “permitir que os alunos se engajem em níveis mais avançados de
interesse em tópicos ou áreas de estudo que podem ser usados em atividades que
envolvam maior criatividade, investigação e pesquisa”.
No PIT, as atividades dessa abordagem são oferecidas através das oficinas
47
temáticas, visitas de estudo. Exemplos disso são os laboratórios da UFSM, filmes,
palestras, apresentações de peças teatrais, exercícios de raciocínio gico,
contruções de maquete, uso de sofwares educativos, jogos pedagógicos, além do
uso de recursos audiovisuais.
Enriquecimento do Tipo II. Nas atividades propostas nesse tipo de
enriquecimento são utilizados métodos, materiais e cnicas de pesquisa, que
favorecem o desenvolvimento de habilidades superiores, e que podem ser de âmbito
geral, como o pensamento criativo, a solução de problemas, a atitude de analisar,
sintetizar e avaliar, ou mais específicas, como desenvolver habilidades avançadas
para aprendizagem da ciência, criando experimentos, analisando os dados e
característica do tópico de seu interesse, além de estimular os processos de
desenvolviemento pessoal e social, tais como, liderança, comunicação e o
desenvolvimento de um autoconceito positivo.
Nesse sentido, as atividade planejadas para esse tipo de abordagem
objetivam desenvolver nos alunos habilidades de como eles devem fazer,
oferecendo alternativas de instrução para que possam pesquisar problemas reais,
utilizando metodologias adequadas a sua área de interesse. Assim,
[...] os alunos são encorajados a aplicar os conhecimentos adquiridos, como
possíveis fontes e alternativas de instrução para elaboração dos projetos,
produtos ou serviços que caracterizam o enriquecimento do tipo III. As
atividades do tipo II nem sempre são direcionadas para o aprofundamento e
elaboração de projetos, elas podem gerar a necessidade de outras
atividades do tipo II ou ainda atividades do tipo I. A ênfase do
enriquecimento do tipo II é na oferta de atividades que desenvolvam
habilidades de ‘como fazer’ e características pessoais, como autonomia,
para desenvolver com produtividade atividades de interesse, (CHAGAS;
MAIA-PINTO; PEREIRA, 2007, p.61).
Enriquecimento do Tipo III. Para o efetivo desenvolvimento de atividades
realizadas nessa abordagem, supõe necessariamente o uso de técnicas e
estratégias anteriomente estudadas, o que permite a investigação de problemas
reais envolvendo os alunos no desenvolvimento de projetos de pesquisa numa área
de seu interesse. Essas atividades são planejadas para contemplar aqueles alunos
que demonstram altos níveis de envolvimento em uma determinada área do
conhecimento, dedicando parte de seu tempo para a aquisição de um conhecimento
48
mais avançado, de forma a elaborar idéias e produções autênticas nesse tópico de
estudo.
No PIT, as atividades geralmente são realizadas em pequenos grupos,
formados de acordo com as áreas de seus interesses. Por exemplo, aqueles alunos
que se interessam por animais nas atividades do tipo I, podem se engajar em
pesquisas aprofundadas sobre as diferentes classificações dos animais, mamíferos,
herbívoros, répteis, aves e animais aquáticos. Aprendem um elenco de elementos,
como definições, características, alimentação, caça, filhotes, espécies existentes,
extinção, e uma classificação científica deste tópico de conhecimento, reunindo,
assim, condições para mais tarde elaborar produções de enriquecimento do tipo III,
havendo, neste caso, uma conexão das atividades desenvolvidas entre as
abordagens tipo I, II e III de enriquecimento.
É importante ressaltar, que o foco das atividades de enriquecimento
propostas pelo programa, não focalizam apenas os conteúdos mas sobretudo, o
desenvolvimento de habilidades e técnicas de como fazer pesquisa.
Virgolim (2007b) destaca que as atividades desse tipo de enriqueciemento
possibilita ao aluno:
[...] a) aplicar seus interesses, conhecimentos, idéias criativas e motivação
em um problema ou área de sua escolha; b) adquirir um conhecimento
avançado a respeito do conteúdo e metodologia próprios a uma disciplina,
área de expressão artística ou estudos interdisciplinares em particular; c)
desenvolver produtos autênticos, com o objetivo de produzir determinado
impacto em uma audiência pré-selecionada; d) desenvolver habilidades de
planejamento, organização, utilização de recursos, gerenciamento de
tempo, tomada de decisões e auto-avaliação; e e) desenvolver
motivação/envolvimento com a tarefa autoconfiança e sentimentos de
realização criativa [...], (Ibid., p. 64-65).
Além disso, os alunos têm a oportunidade de interagir diretamente com os
colegas, professores e pessoas com níveis mais avançados de interesse e
conhecimento em uma área comum de envolvimento. É por esse motivo que no PIT
a aprendizagem e o desenvolvimento de cada atividade de enriquecimento do tipo III
são personalizadas e organizadas individualmente ou em pequenos grupos.
É relevante destacar que as atividades do tipo I, II e III nem sempre
correspondem a um processo linear, por vezes, uma atividade do tipo I pode
desencadear uma atividade do tipo III, assim como uma do tipo III pode requerer
uma atividade do tipo II ou necessitar de atividades exploratórias do tipo I. O
49
importante é que esses tipos de enriquecimento favorecem o pensamento criativo,
possibilitando a vivência de experiências diversificadas baseadas nos interesses e
necessidades de cada aluno em particular. Por isso, o PIT propõe e é imperativo que
as atividades estejam sempre de acordo com a dinâmica do processo de construção
de um novo conhecimento ou a criação de um produto.
Dessa forma, o PIT é um programa flexível, na medida em que organiza e
planeja suas atividades de acordo com os recursos disponíveis e as características
do contexto de seus respectivos protoganistas, criando sobretudo, um ambiente
desafiante conforme as habilidades e os interesse dos alunos. Os grupos de alunos
formados durante as atividades de enriquecimento são heterogêneos, com níveis de
escolaridade diferentes, mas partilham das mesmas áreas de interesse.
A partir das experiências pedagógicas vivenciadas no PIT, Fortes e Freitas
(2007) descreveram a opinião de alunos que participam do PIT, acerca das
atividades de enriquecimento proposta pelo programa. Assim, vale apresentar
algumas desses opiniões, o que vem a dar maior envergadura ao trabalho que está
sendo realizado pelo PIT:
Para Rodrigo
3
, “as atividades desenvolvidas no programa de
enriquecimento nos ajudam muito, porque nos encontros, nos interrogam
com questões que o importantes e fundamentais no nosso dia-a-dia, e,
além disso, nos ajudam a resolver problemas com muito mais criatividade”
(4ª série, 9 anos). A aluna
Patrícia participa do PIT desde 2003 e está
matriculada na serie do Ensino Fundamental. Para ela o
programa é
muito
importante ao seu desenvolvimento acadêmico, pois, “aprendi coisas
novas, como saber ouvir e respeitar a opinião dos colegas e a ser ouvida,
expressando o que eu acho que é certo e o que não é, ou seja, penso que
hoje me posiciono de forma crítica na escola, em casa e até mesmo nas
discussões com minha turma de amigos. A cada ano, o PIT me proporciona
novas aprendizagens que são importantes para a minha vida cotidiana”.
Fabrício, 12 anos, freqüenta a 7ª série do Ensino Fundamental, afirma que o
PIT “me auxiliou a ter mais concentração nas aulas da escola, a ter mais
paciência com os colegas que possuem um ritmo de aprendizagem mais
lento que o meu, como também tem me ajudado a organizar meu
pensamento na hora de resolver as atividades, principalmente de história e
geografia, que são as disciplinas que possuo
maior dificuldade no colégio”.
Cássio, matriculado na série do Ensino Fundamental, gosta de participar
do programa de enriquecimento, porque as atividades nos ensina a termos
mais atenção, concentração, reflexão e observação, além de em cada
encontro, termos oportunidade de realizar atividades que na escola, muitas
vezes não é possível, como por exemplo, teatro, pintura, além dos desafios
de matemática e dos passeios que realizamos de acordo com o que
estamos estudando no PIT. Eu adorei ir à Feira de Profissões, fiquei
encantado com o museu da PUC exposto num dos pavilhões da feira”.
3
Fortes e Freitas (2007) utilizaram nomes fictícios para preservar a identidade dos alunos.
50
Considerando essas manifestações, é possível perceber que o trabalho
educacional realizado pelo PIT goza de um nível de reputação e qualidade
significativas. Guenther (1995) comenta a relevância de programas de
enriquecimento para as crianças com altas habilidades, ressaltando que
Os melhores e mais expressivos programas de atendimento especial para
bem dotados são geralmente aqueles programas iniciados por alguém
ligado a uma instituição acreditada, como uma associação ou uma
universidade quando conseguem estabelecer boa conexão entre as escolas
e a instituição patrocinadora. Uma universidade é um forte centro de
influência, reúne boas cabeças e conta com uma potente estrutura de
trabalho, portanto quando se consegue que algum setor da universidade se
interesse pela educação de bem dotados, o resultado é sempre o
aparecimento de um bom programa para as crianças, (p. 19).
Contudo, entre muitos benefícios de um programa que atenda às
necessidades educacionais de alunos com altas habilidades está a utilização da
própria estrutura do sistema escolar, visto que a escola é o espaço da educação
desses indivíduos, é nela que se encontram os dados e as informações dos alunos,
razão pela qual procura-se integrar os programas com a escola regular na qual os
alunos estão matriculados.
Nesse sentido, o PIT estendeu suas atividades durante o ano letivo de 2006,
desenvolvendo um trabalho de tutoria nas escolas em que os alunos estão
matriculados. Essa tutoria foi realizada através de visitas mensais, onde foi possível
conversar com a coordenação pedagógica e os professores dos alunos atendidos no
PIT. Essa iniciativa motivou e criou condições de esclarecimento sobre as dúvidas
acerca da temática das altas habilidades, como também indicou sugestões de
estratégias educacionais facilitadoras do desenvolvimento potencial dos alunos com
altas habilidades, e ainda, permitiu nos colocar à disposição para auxiliá-los naquilo
tudo que estaria ao nosso alcance. (FORTES e FREITAS, 2007)
Com a realização desse trabalho de tutoria, tivemos a oportunidade de ter
uma aproximação maior com a realidade educacional no que tange à situação em
que se encontram os alunos com altas habilidades, que participam do PIT, e numa
atitude mais criteriosa e com esmero, criou-se convicção de que, a maioria das
escolas visitadas, muitos dos seus professores desconhecem a temática em
questão, como também se sentem despreparados para lidar com as necessidades
educacionais especiais, que os alunos com altas habilidades apresentam.
51
Dessa forma, reitera-se a importância da tutoria nas escolas regulares dos
alunos, uma vez que, observamos que os alunos encontram-se incluídos no sistema
regular de ensino e não são reconhecidos como tendo necessidades educacionais
especiais. Assim, o PIT preocupa-se em vislumbrar a posssibilidade de sucesso para
esses alunos incluindos no sistema escolar, orientando os professores da sala de
aula regular, para que as ações pedagógicas oportunizem aos alunos com altas
habilidades situações favoráveis ao desenvolvimento potencial, ampliando a área de
seus interesses.
Relatar as experiências vivenciadas nos projetos supracitados é relevante,
porque vem mostrar que ações pedagógicas com alunos com características de
altas habilidades são possíveis, pois, “o importante é reconhecer que esses sujeitos
existem, estão nas nossas salas de aulas, e cabe a nós, enquanto professores,
ajudá-los no desenvolvimento de seus talentos”. (CORRÊA; SIQUEIRA; SILVEIRA,
2006, p.220)
Nessa ótica, identificar e estimular o potencial dos alunos com altas
habilidades e “apostar” no seu desenvolvimento, pressupõe encorajá-los a participar
de atividades investigativas, que resultem em projetos ou contribuições criativas e
originais. Para isso é necessário alternativas metodológicas diferenciadas que
atendam as suas necessidades educacionais especiais. Tenho convicção de que,
motivar os alunos a realizarem determinada atividade, a pesquisarem sobre um
tópico específico de seu interesse, incentivando-os a construírem conhecimentos,
isso tudo concorre para que eles tornem-se sujeitos produtivos, confiantes em suas
decisões, e sobretudo criem perspectivas plausíveis para o desempenho efetivo de
uma futura atividade profissional.
CAPÍTULO II
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO: UMA ABORDAGEM
SÓCIO-HISTÓRICA
“É precisamente a atividade criadora do homem, a que faz dele um ser
projetado para o futuro; um ser que contribui com a criação e que modifica seu
presente”.
L.S. Vygotsky, 1987, p. 9
53
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO: UMA ABORDAGEM
SÓCIO-HISTÓRICA
2.1 A
prendizagem e desenvolvimento na perspectiva sócio-histórica
A Teoria Histótico-Cultural elaborada por psicólogos soviéticos, tendo como
principal representante Lev Seminovich Vygotsky (1896-1934), foi a escolhida para o
embasamento teórico desse estudo, no que se refere à aprendizagem e ao
desenvolvimento do indivíduo.
Esta abordagem tem como principal foco a compreensão da gênese dos
processos psicológicos que determinam o comportamento consciente do sujeito.
Essa concepção destaca a importância da cultura
4
, das relações sociais e do modo
de produção de vida, com suas características e signos como mediadores no
processo de aprendizagem e desenvolvimento. Nessa perspectiva, o sujeito
influencia e é influenciado pela família e pela qualidade das interações com o
ambiente em que vive.
Nesse sentido, a Teoria Histórico-Cultural não declina do aspecto biológico,
mas prioriza o contexto social como fator de maior influência na constituição do
comportamento do indivíduo, pois “as propriedades biologicamente herdadas do
homem não determinam as suas aptidões psíquicas”, (LEONTIEV, 1978, p. 257),
somente lhes conferem as condições para a gênese destas.
Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança suas atividades
adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e
sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do
ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto
passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o
produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas
ligações entre história individual e historia social, (VYGOTSKY, 1989, p. 33).
4
- A idéia postulada por Vygotsky (1989; 1991) sobre a cultura é que esta proporciona aos sujeitos
um sistema de significados e símbolos, que o permitem entender e representar a realidade. Nessa
perspectiva, o termo cultural compreende o que é produzido através do uso de signos e instrumentos,
desempenhando um papel significativo na aprendizagem e desenvolvimento do homem.
54
Portanto, são os instrumentos técnicos e os signos
5
construídos
historicamente, que fazem a mediação dos sujeitos entre si e deles com o mundo.
Assim, a aprendizagem e o desenvolvimento humano são fruto da interação dialética
do indivíduo e o seu contexto cio-cultural. Desse modo, a aprendizagem e o
desenvolvimento resultam de duas linhas qualitativamente distintas, que diferem em
relação à sua origem. De um lado, os processos elementares, que são de origem
biológica, e de outro, as funções psicológicas superiores, de origem sócio-cultural.
Nessa ótica, o comportamento humano nasce do entrelaçamento dessas duas
linhas, (VYGOTSKY, 1989).
Sob esse prisma, os aspectos sicos do comportamento humano são parte
do desenvolvimento histórico geral da humanidade, pois os próprios homens
influenciam sua interação com o ambiente e através desse ambiente, pessoalmente,
transformam seu comportamento colocando-o sob seu domínio. Leontiev pontua
que
O processo de apropriação do mundo dos objetos e dos fenômenos criados
pelos homens no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade é o
processo durante o qual teve lugar a formação, no indivíduo, de faculdades
e de funções especificamente humanas [...]. O processo de apropriação
efetua-se no desenvolvimento de relações reais do sujeito com o mundo.
Relações que não dependem nem dom sujeito nem da sua consciência,
mas são determinadas pelas condições históricas concretas, sociais, nas
quais ele vive e pela maneira como a sua vida se forma nessas condições,
(1978, p.257).
Dessa forma, o comportamento humano é uma ação transformadora da
natureza. Por isso a concepção de Vygotsky (1989) é considerada uma teoria
histórico-social, que explica a aprendizagem e o desenvolvimento como a
internalização
6
mediada pelo contexto social em que o sujeito está inserido e,
5
De acordo com Vygotsky (1989), o instrumento e o signo mediam a atividade humana de diferentes
maneiras. O instrumento serve como um condutor de influência do sujeito sobre o objeto; ele é
orientador externo que deve necessariamente levar as mudanças nos objetos para o controle e
domínio do ambiente. O signo, por sua vez, não modifica em nada o objeto da operação psicológica;
ele constitui um mediador da atividade interna dirigido para o controle do próprio sujeito. Portanto, o
signo tem a função de um orientador interno.
6
Vygotsky (1989) entende esse processo como a reconstrução interna de uma operação externa. A
internalização consiste numa série de transformações no comportamento do sujeito: por um lado,
toda atividade externa deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, modificando o
próprio processo e transformando sua estrutura e funções (reorganização individual, contrária a uma
transmissão automática dos instrumentos fornecidos pela cultura); por outro lado, é uma atividade
interpessoal que passa a ser intrapessoal, e este último processo resulta em desenvolvimento. Assim,
55
portanto, considera um sujeito social, que o é somente ativo, mas sobretudo
interativo nas trocas com o ambiente.
Para esse autor, a aprendizagem e o desenvolvimento estão intimamente
ligados ao meio social, sendo este o estimulador desses processos, ou seja, a
aprendizagem e o desenvolvimento caminham juntos e, por vezes, de forma não
linear. Diante disso, pode-se questionar: como lidar com o desenvolvimento natural
do indivíduo e estimulá-lo através da aprendizagem? E ainda: como a aprendizagem
pode ser incentivada de modo a contribuir para o desenvolvimento do sujeito?
Face a essas questões, é relevante pontuar que, ao longo do ciclo vital, o ser
humano desenvolve-se em diversos campos de sua existência, tais como, o afetivo,
o cognitivo, o social e o motor. Como já foi dito anteriormente, esse desenvolvimento
não é determinado apenas por processos biológicos, mas é favorecido pelas trocas
que o indivíduo estabelece com o meio. Vygotsky (1989) inferiu claramente que a
qualidade das trocas com o contexto sociocultural é de máxima importância no
desenvolvimento humano.
Sendo assim, o indivíduo, desde o seu nascimento, está inserido numa
cultura, e esta é o cenário das principais transformações e evoluções durante todo o
ciclo vital. Através das trocas sociais, o indivíduo aprende e se desenvolve criando
novas maneiras de atuar no mundo, expandindo seus mecanismos de ação através
das relações que estabelece com outros indivíduos no seu contexto social.
É imperativo nessa concepção que o desenvolvimento do indivíduo
acontece na perspectiva de um contexto sócio-histórico. Na visão de Vygotsky
(1989, 1991), o contexto sócio-histórico não corresponde à história passada do
indivíduo, não diz respeito a seu histórico social ou seu meio cultural atual, mas sim
à gênese do desenvolvimento humano, ou seja, é um cenário atemporal onde
passado presente e futuro se unem para promover a aprendizagem e
desenvolvimento do indivíduo. Este indivíduo, conforme foi apontado, é interativo,
age sobre o meio com o aulio de instrumentos e signos, transformando ou
alterando o curso de seu desenvolvimento.
a internalização das atividades socialmente produzidas e historicamente construídas constitui o
aspecto característico do desenvolvimento humano. Em suma, a aprendizagem e o desenvolvimento
se processam através da internalização da interação social com os instrumentos e signo de um
contexto social.
56
Nessa ótica, compactuo com a compreensão de Vygotsky (1991) acerca do
desenvolvimento humano, quando afirma que ele é “um processo dialético
complexo, multifacetado, marcado por um esquema de periodicidade, por
desproporções de funções, metamorfose, conversões qualitativas, combinações
complexas, processos de evolução e involução, interação de fatores externos e
internos e busca constantemente de adaptação ao meio” (Ibid, p. 33).
Ainda segundo esse autor, o processo de desenvolvimento não acontece de
forma linear, ou seja, a partir da evolução de estágios determinados. Ele é um
processo revolucionário, por vezes intenso, onde novas formas aparecem, a partir
dos desequilíbrios que o organismo sofre durante as trocas com o ambiente em
busca de equilíbrio e adaptação. Dessa forma, o desenvolvimento proposto por
Vygotsky (1989,1991) é explicado a partir da interação do sujeito em um
determinado contexto e cultura, condição sine qua non para o indivíduo
necessariamente aprender e se desenvolver.
Nesse enfoque, a aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo
sua abertura nas zonas de desenvolvimento proximal, nas quais as relações sociais,
o contexto sócio-cultural são fundamentais para o desenvolvimento do sujeito.
Assim,
O aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que
são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em
seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez
internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do
desenvolvimento independente da criança, (VYGOTSKY, 1989, p. 101).
Nesse prisma, a aprendizagem o é sinônimo de desenvolvimento. Uma
aprendizagem adequadamente organizada determina o desenvolvimento cognitivo,
como também impulsiona o desenvolvimento afetivo, social e motor. Assim, a
aprendizagem é um aspecto essencial do processo de desenvolvimento das
habilidades do indivíduo. Ao estabelecer a relação entre aprendizagem e
desenvolvimento, Vygotsky afirma que “[...] a aprendizagem organizada converte-se
em desenvolvimento mental e coloca em funcionamento uma série de processos
evolutivos que nunca poderiam ocorrer à margem do aprendizado”, (1989, p. 139).
Sendo assim, o autor enfatiza a inter-relação entre os processos de
aprendizagem e desenvolvimento, justificando que a aquisição de habilidades de
57
pensamento envolve a mediação do indivíduo com o contexto sócio-cultural. O
próprio entendimento de aprendizagem remete a um processo de ensino-
aprendizagem, apontando quem aprende, quem ensina e a relação social existente
nesse processo. Essa interação entre quem aprende e quem ensina, e sua relação
com a aprendizagem e desenvolvimento do sujeito, pode ser melhor compreendida
quando se reporta ao conceito de “zona de desenvolvimento proximal”.
O conceito de zona de desenvolvimento proximal, definido por Vygotsky
(1989), evidencia o caráter orientador da aprendizagem e sua conexão com o
desenvolvimento, ou seja, são as aprendizagens que ocorrem na zona de
desenvolvimento proximal que fazem com que o sujeito se desenvolva com mais
sucesso, daí porque tais processos são indissociáveis.
Vygotsky define a zona de desenvolvimento proximal como a “distância entre
o nível de desenvolvimento real que se costuma determinar através da solução
independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração
com companheiros mais capazes”, (1989, p. 97).
A partir dessa definição, é possivel inferir que a aprendizagem deve ser
combinada com o nível de desenvolvimento do sujeito. Portanto, para entender as
relações reais entre o processo de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado
do sujeito, é necessário compreendermos também a zona de desenvolvimento real,
o qual segundo Vygotsky (1989) corresponde àquelas habilidades “[...] que
amadureceram, ou seja, os produtos finais do desenvolvimento. Se uma criança
pode fazer tal e tal coisa, independentemente, isso significa que as funções para tal
e tal coisa amadureceram nela”, (Ibid., p 97). Dessa forma, o nível de
desenvolvimento real permite caracterizar o nível de desenvolvimento mental
retrospectivamente; enquanto a zona de desenvolvimento proximal define o
desenvolvimento mental prospectivamente.
Com isso, Vygotsky (1989) permite que se entenda o curso do
desenvolvimento a partir dos processos de maturação, que foram concluídos,
além de aqueles processos que estão em estado de formação, isto é, que estão
somente iniciando a amadurecer e a se desenvolver. Por isso, o desenvolvimento
cognitivo de uma criança pode ser apontado se considerado os seus dois níveis
de desenvolvimento: o nível de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento
58
proximal. Portanto, o entendimento desses conceitos pode “[...] aumentar de forma
acentuada a eficiência e a utilidade da aplicação de métodos diagnósticos do
desenvolvimento mental a problemas educacionais”, (Ibid., p.98).
Nesse enfoque, o desenvolvimento da criança e a subseqüente consolidação
das habilidades de pensamento estão precedidos pela aprendizagem. Por isso, a
intervenção de outras pessoas (professores, adultos, amigos) favorece e organiza o
desenvolvimento rumo à apropriação simbólica dos instrumentos de mediação
cultural.
Por essa razão, quando Vygotsky (1989) define o caráter orientador da
aprendizagem, com relação ao desenvolvimento, está ele postulando a idéia de que
a atividade educacional é essencial no curso do desenvolvimento. Na escola, por
vezes o aprendizado é orientado para os níveis de desenvolvimento, que foram
alcançados, sendo ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global do sujeito,
pois “[...] não se dirige para um novo estágio do processo de desenvolvimento, mas,
ao invés disso, vai a reboque desse processo”, (Ibid.,p. 100). Para elaborar as
dimensões do aprendizado escolar é preciso compreender o conceito de zona de
desenvolvimento próximal, que permite pensar em uma nova fórmula, a de que “[...]
o bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento”, (Ibid.,p.
101).
Dessa forma, o desenvolvimento do sujeito depende da aprendizagem na
medida em que se por processos de internalização de conceitos, que são
promovidos pela aprendizagem social (trocas com o contexto sócio-cultural) e
também por aquela planejada no meio escolar. Portanto, existe uma influência
mútua entre desenvolvimento e aprendizagem, onde a criança com seu aparato
biológico e através das trocas com seu contexto sócio-cultural, se desenvolve. Esse
desenvolvimento é impulsionado por mecanismos de aprendizagens provocados por
mediadores culturais.
Conforme Vygotsky (1989), o processo de aprendizagem deve ser
vislumbrado prospectivamente, isto é, não deve focalizar o que a criança aprendeu,
mas sim, o que ela está aprendendo. Nesse sentido, a ação educacional deve ser
pensada e enfocada nos tipo de aprendizagens que serão úteis para as crianças,
não considerando somente o que é fornecido no seu nível de desenvolvimento real,
59
mas para além dele, ou seja, para a zona de desenvolvimento proximal, visto que a
aprendizagem é um processo de transformação constante na trajetória das crianças.
Essas implicações, de que a aprendizagem ocorre na zona de
desenvolvimento proximal, coloca o professor na função de mediador da
aprendizagem e do desenvolvimento da criança, pois é no cerne das interações com
o contexto sócio-cultural que a criança constrói as estruturas fundamentais de
pensamento e linguagem. Dessa forma, o desenvolvimento que ocorre por conta da
aprendizagem escolar “[...] transforma e desenvolve os processos cognitivos das
pessoas, fazendo tais processos ultrapassarem os limites da existência do indivíduo”
(FACCI, 2004, p. 192).
Portanto, as crianças aprendem e se desenvolvem através da mediação
cultural com o “outro”. Nessa perspectiva, é necessário que se atue com a estimativa
das potencialidades da criança, e para essas obterem o efetivo desenvolvimento
humano (intelectual, afetivo, social, moral etc.), exige-se que o processo de
aprendizagem, os mediadores e os instrumentos estejam distribuídos
adequadamente no contexto sócio-cultural.
Para Vygotsky e Luria (1996), o conhecimento adquirido na escola e nas
experiências em outros ambientes sociais, por meio das interações socioculturais,
favorece o desenvolvimento das habilidades e funções mentais superiores, e a ação
educacional, particularmente a do professor, tem grande responsabilidade na
eficácia deste processo. Para os autores, o desenvolvimento cultural favorece o
desenvolvimento humano, porque,
O grau de desenvolvimento cultural de uma pessoa expressa-se o
pelo conhecimento por ela adquirido, mas também por sua capacidade de
usar objetos em seu mundo externo e, acima de tudo, usar racionalmente
seus próprios processos psicológicos [...] o talento cultural significa, antes
de mais nada usar racionalmente as capacidades de que se é dotado,
(VYGOTSKY; LURIA 1996, p. 237).
Sob essa ótica, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie
humana para realizar uma atividade, pois a criança não vai aprender e se
desenvolver sozinha com o passar do tempo, pois ela não tem, por si só,
instrumentos para trilhar absolutamente o caminho do desenvolvimento, que por
sua vez, depende das experiências de aprendizagem, que a criança foi exposta.
60
Nesse enfoque, a criança torna-se capaz de vincular sua ação à representação de
mundo, que constitui seu contexto sócio-cultural, e a escola é um lugar e um tempo
onde esse processo é vivenciado envolvendo diretamente a interação socio-cultural.
Vygotsky (2004a) observou a dinâmica de desenvolvimento mental da criança
em função da aprendizagem escolar, e revelou que “[...] a aprendizagem da criança
começa muito antes da aprendizagem escolar”, (Ibid., p. 514). Ele se refere que
qualquer situação de aprendizagem, que a criança se defronta na escola, tem
sempre uma história prévia. O autor citou o exemplo relativo ao período das
primeiras perguntas da criança, quando assimila os nomes dos objetos do seu
contexto sócio-cultural, ela está aprendendo, contudo, a aprendizagem escolar se
diferencia da anterior por trabalhar com conteúdos científicos, mas não deixa de
destacar os aspectos cio-culturais do contexto de vida da criança. Assim,
Vygotsky (Ibid.) apontou que as crianças que chegam à escola e se destacam em
relação aos demais de sua classe por apresentarem habilidades superiores,
certamente, o as que cresceram em condições favoráveis de desenvolvimento
cultural.
Dessa forma, o aprendizado e o desenvolvimento da criança são favorecidos
por meio das suas interações socioculturais com o ambiente. Beyer (2005) pontuou
que “a criança tem acrescentada as suas competências atuais novas competências
por causa da aproximação aos outros sociais, esses outros entendidos, por um lado,
como as novas apropriações semióticas que a criança faz no grupo cultural, e, por
outro, o adulto ou o par mais desenvolvido como mediador das novas
competências”, (Ibid. , p. 77) .
Portanto, todo o ser humano, quando mediado por estímulos adequados,
pode desenvolver mais e melhor o seu potencial. Por exemplo, a criança que
cresceu em um contexto sócio-cultural rico em estímulos e desafios, com
mediadores que possibilitam o acesso ao conhecimento e a novas aprendizagens,
tem seu desenvolvimento (cognitivo, afetivo, motor, etc.) favorecido. Por vezes, essa
mesma criança, que se desenvolveu em um ambiente social rico em estímulos, ao
chegar à escola, encontra outros meios de acesso ao conhecimento, - ou seja, a
instituição escolar ensina com outros mediadores, nem sempre desafiantes e
estimulantes -, com isso, essa criança, em resposta a essa nova situação, sofre os
61
efeitos de um processo de diminuição de seu rendimento escolar, a ponto de, em
alguns momentos, ela se desinteressar pela escola.
Nesse sentido, a aprendizagem escolar deve estar de acordo com as
expectativas da criança e com exigências superiores e desafiantes em relação ao
seu desenvolvimento consolidado. Isso impõe um planejamento para que a
aprendizagem tenha desafios e informações relevantes, cuja a utilidade a criança
perceba. Ater-se a um análise mais profunda do desenvolvimento mental do
indivíduo no processo de aprendizagem escolar, é um imperativo pedagógico. A
partir disso, Vygotsky (1989, p. 99) afirmou que, “o aprendizado humano pressupõe
uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram
na vida intelectual daqueles que as cercam”.
Assim sendo, um ambiente privilegiado onde o sujeito tenha a chance de
fazer escolhas significativas sobre sua aprendizagem, de descobrir, manipular uma
ampla variedade de objetos e receber estímulos variados, são fundamentais para a
sua aprendizagem e desenvolvimento. Por efeito, o conhecimento adquirido na
escola e na experiência de vida em outros contextos por meio das interações sócio-
culturais favorece o desenvolvimento potencial das crianças. A qualidade dessas
interações com o meio contribuem para o excelente desenvolvimento e
manifestação desses potenciais.
2.2 As contribuições da teoria sócio-histórica para aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos com altas habilidades
A partir do que foi exposto, entende-se que, quando a criança manifesta uma
habilidade superior à média de seu grupo, essa manifestação é resultado das suas
interações com o ambiente. Desse modo, Vygotsky (1989) valoriza a educação
escolar, destacando que é um espaço de interações sociais, que beneficiam o
desenvolvimento das habilidades superiores nos alunos. Entretanto, isso
acontece quando o ensino se adianta ao desenvolvimento.
Nesse enfoque, uma proposta educacional para alunos, que se destacam por
possuir um potencial superior, deve ser pautada em ações que vão além do
62
conteúdo curricular mínimo, priorizando sobremaneira o incentivo da investigação e
a produção criativa desde os primeiros anos da escolarização desses alunos.
Assim, quando o aluno manifesta na escola altas habilidades, não se deve
considerar que o seu potencial se desenvolve por si só, e que ele possui recursos
suficientes para desenvolver suas habilidades sozinho. Pelo contrário, precisa ser
estimulado, orientado e assistido para atualizar seu potencial promissor. Neste
sentido, Clarke, citado em Alencar (2007, p. 20), pontua que
Nenhuma criança nasce superdotada somente com o potencial para
superdotação. Embora todas as crianças tenham um potencial
surpreendente, apenas aquelas que tiveram sorte de terem oportunidades
para desenvolver seus talentos e singularidades em um ambiente que
responda a seus padrões particulares e necessidades, serão capazes de
atualizar de forma mais plena suas habilidades.
Por vezes, a escola não proporciona a esses alunos um atendimento que
além do conteúdo curricular programado e, apesar da legislação brasileira
reconhecer o direito desses alunos a serem atendidos na sua especificidade, sob
pena de perda desse potencial humano, ainda assim, os sistemas educacionais
permanecem impermeáveis, e pouco ou nada estão fazendo para estimular e
desenvolver o potencial dos alunos com altas habilidades.
Delinear ações práticas neste domínio de atuação da educação especial
representa um desafio, pois “[...] não é qualquer atividade extracurricular, embora
bem intencionada, que alcança o ponto de estimulação, amplitude e profundidade
apropriada para desenvolver potencial superior, nos diversos domínios de
capacidade e talento”, (GHENTHER, 2006, p. 27).
O reconhecimento e a identificação dos alunos com altas habilidades
correspondem ao primeiro passo para tornar a educação escolar mais interessante,
além de orientar a prática pedagógica de forma que esses alunos tenham pelo
menos a oportunidade de aprender e se desenvolver com o privilégio de suas
habilidades e não apenas realizar um processo pedagógico, apesar delas.
Nesse sentido, ações educacionais que proporcionem aos alunos
oportunidades de aprofundamento de conhecimentos, que incentivem a pesquisa,
possibilitando a eles construir novos conhecimentos e favorecendo o processo
63
criativo, são fundamentais no processo de ensino-aprendizagem. A existência de
habilidades variadas e extraordinárias pode ser observada na sociedade e no
contexto escolar em particular, visto que a escola é também o lugar onde os
potenciais se manifestam de diferentes formas. Vygotsky (1989) enfatiza a
importância das experiências sociais, destacando a educação escolar, com sua
função mediadora no processo de desenvolvimento e aprendizado, que pode, a
partir de suas práticas pedagógicas, beneficiar o desenvolvimento de habilidades
superiores e a expressão de altas habilidades no contexto educacional.
Importante lembrar, que a manifestação de altas habilidades nos alunos é um
fenômeno multidimensional, que agrega as características de aprendizagem e
desenvolvimento do indivíduo, abrangendo tanto os aspectos cognitivos, quanto
características afetivas, psicomotoras, sociais e a criatividade. Essas características
podem ser potencializadas em um contexto sócio-cultural acolhedor, que incentive o
potencial promissor desses sujeitos através de práticas, que “estimulem o aluno a
resolver problemas, romper barreiras, reformular conteúdos e desenvolver formas de
investigação mais produtivas. Portanto, precisa estar inserido em um contexto que
valorize e encoraje a criatividade”, (ALENCAR e FLEITH, p. 58, 2001).
Vygotsky (1987b, 1990) compreendeu o processo criativo como a produção
de algo novo a partir da combinação de idéias existentes. Por isso, é essencial a
mediação do ambiente para que o sujeito construa conhecimentos adequados, para
assim combinar idéias e produzir algo original e criativo. Nesse sentido, a
criatividade é uma característica presente de maneira potencial em todos os
indivíduos, visto que os aspectos que compõem o pensamento criativo são
materializados pelas experiências de vida de cada indivíduo em seu contexto sócio-
cultural.
Para o autor, a criatividade é um fenômeno psicológico, como também é a
inteligência, a memória, a afetividade. Assim, o sujeito desenvolve esses potenciais
de acordo com o seu contexto sócio-cultural. Nessa ótica, o conceito de criatividade
se amplia e rompe com a idéia trivial de que ele é um fenômeno de apenas alguns
poucos iluminados, o que neste caso veria a desconsiderar o potencial criativo
presente nos homens comuns. Superando esse adverso entendimento, a
criatividade passa a ser entendida como um potencial a ser desenvolvido no sujeito,
pois o foco da teória sócio-histórica não está no indivíduo criativo, mas nas
64
interações que o indivíduo tem com o seu contexto sócio-cultural, que darão as
nuances da aprendizagem, desenvolvimento e expressão da criatividade. Vygostsky
(1982, p11) , neste sentido afirmou que
Existe criação não apenas onde têm origem os acontecimentos históricos,
mas também onde o ser humano imagina, combina, modifica e cria algo
novo, por insignificante que esta novidade
possa parecer se comparada
com as realizações dos grandes gênios. Se
somarmos a isso a existência
da criação coletiva que reúne todas essas pequenas descobertas
insignificantes em si mesmas da criação individual, compreenderemos quão
grande é a parte de tudo o que foi criado pelo gênero humano e que
corresponde à criação anônima coletiva de inventores desconhecidos.
Dessa forma, a criatividade emerge do contexto sócio-cultural como resultado
da interação do indivíduo com seu ambiente, impulsionado neste caminho pelos
processos de aprendizagem e desenvolvimento. Por isso, o indivíduo é ativo nessa
construção, uma vez que vai atuar no sentido de produzir algo novo e reconhecer
com original. Nas palavras de Vygotsky (1987b, p. 9), “é precisamente a atividade
criadora do homem a que faz dele um ser projetado para o futuro; um ser que
contribui com a criação e que modifica seu presente”. Portanto, criatividade do
indivíduo e o contexto sócio-cultural fazem parte de um mesmo sistema, pois “tudo o
que nos cerca e que tenha sido criado pela mão do homem, todo o mundo da
cultura, a diferença do mundo da natureza, tudo isso é produto da imaginação e da
criação humana, baseado na imaginação”, (Ibid., p. 10).
Nessa ótica, o autor enfatiza a imaginação como uma atividade de
pensamento flexível, que permite ao ser humano fantasiar idéias, lugares e pessoas,
numa atividade mental conectada com a realidade, uma vez que seus conteúdos
são retirados do contexto social e posteriormente modificados e recombinados pela
imaginação, o que resultam em novas idéias ou produtos. Por isso, a imaginação
assume papel significativo no pensamento criativo, pois é a base para qualquer
atividade criativa, e “é elemento componente da vida cultural assim como a arte, a
ciência e a tecnologia”, (Ibid., p.86).
Em consequência, a criatividade é fruto da imaginação, pois permite o sujeito
combinar idéias a partir da interpretação das experiências sócio-culturais objetivas e
subjetivas a que foi exposto, tornando-se a essência do processo criativo na
65
concepção de Vygotsky (1987b), pois ressignifica a realidade, devolvendo à
sociedade produtos criativos.
Nesse enfoque, a criatividade pode ser entendida a partir das dimensões
que ele denominou de “sócio-cultural”. Esta concepção situa o pensamento criativo
na dimensão de um potencial que pode ser desenvolvido em toda a espécie
humana, podendo se diferenciar em alguns indivíduos, mas existente em todos. Nas
palavras do autor, “necessitamos reconhecer a criatividade como regra e não como
exceção”, (VIGOTSKY, 1990, p. 87). Ela necessita principalmente de mediações
sócio-culturais para desenvolver-se. Portanto, as características que compõem o
processo criativo são oriundas das vivências do sujeito em seu cenário sócio-
cultural. Desse modo, o desenvolvimento do pensamento criativo é determinado pelo
contexto sócio-cultural, fruto das interações desse sujeito com o seu ambiente.
Diante da concepção vygotskiana de aprendizagem e desenvolvimento
exposta a aqui, fica evidenciada a relevante função e importância da educação
escolar na formação do indivíduo. Por isso, o planejamento e a organização dos
ambientes educacionais devem ser pensados na perspectiva de estimular o
desenvolvimento de idéias, propiciando condições favoráveis à aprendizagem e ao
desenvolvimento, de tal modo a gerar a necessidade e a possibilidade para
expressão de potencialidades nos alunos. Por efeito, quanto mais ricas forem as
mediações educacionais, tanto maior será o potencial expressado pelos alunos.
No entanto, o que ocorre no Brasil é que as ações educacionais oferecidas ao
aluno, que apresenta um potencial superior, são limitadas. Com exceção em alguns
municípios brasileiros, pouco se faz no sentido de promover um espaço com
condições de desenvolver atividades que atendam aos alunos com altas habilidades
nas suas singularidades. Existem poucos programas direcionados para atender as
suas necessidades e beneficiar a sua aprendizagem e desenvolvimento. Entretanto,
a escola não pode mais ignorar estes alunos, o que impõe a necessidade de
reconhecê-los e oferecer-lhes possibilidades para produzirem novos conhecimentos
ao invés de formar meros reprodutores de informações existentes na sociedade,
(ALENCAR e FLEITH, 2006).
Reconhecer nos alunos com altas habilidades um potencial promissor é uma
das perspectivas atuais da educação com vistas à inclusão educacional. Isso
representa uma possibilidade de atenção diferenciada para esses alunos, a fim de
66
favorecer o pleno desenvolvimento e expressão de seu potencial. Um dos fatores
que têm contribuído para a disseminação de ações educacionais para esses alunos
é o reconhecimento das vantagens para a sociedade, que “aposta” no potencial
deles. Exemplos disso são as idéias ou produtos criativos que essas pessoas mais
competentes e capazes do ponto de vista intelectual e criativo podem elaborar para
solucionar os problemas sociais. Outro fator que merece destaque, segundo Alencar
e Fleith (2006, p.52) e que também tem contribuído de forma significativa para
ampliar o interesse pela educação do aluno com altas habilidades, é
[...] a maior comunicação entre educadores e especialistas de diferentes
países, que vêm se organizando em distintas associações, como o
Conselho Mundial para o Superdotado e Talentoso, Eurotalent, Conselho
Europeu para Alta Habilidade, e no Brasil, o Conselho Brasileiro para
Superdotação, criado em 2003
.
Concordo com as autoras quando pontuam que esses conselhos chamam a
atenção das autoridades educacionais acerca da necessidade de elaborar e
implementar políticas direcionadas à educação do alunos com altas habilidades.
Além disso sinalizam para a importância de programas de formação de professores
para ampliação de ações educacionais que promovam aprendizagem e
desenvolvimento conforme as condições do aluno com altas habilidades.
Nesse sentido, ressalto que não bastam apenas políticas blicas, que
“garantam” um atendimento educacional especializados para esse alunos, pois o
que garantirá o pleno desenvolvimento das potencialidades deles é a efetivação da
legislação em ações educacionais, que promovam uma educação de excelência.
Assim, estaremos assegurando a inclusão educacional e o pleno exercício da
cidadania dos alunos com altas habilidades
.
Delinear ações práticas para os alunos com altas habilidades representa um
desafio. Tornar a educação escolar enriquecedora e interessante aos alunos com
altas habilidades pode ser também, uma possibilidade de torná-la interessante para
todos os alunos, pois o desenvolvimento potencial do ser humano depende de sua
interação com o meio social, que possibilita seu crescimento como sujeito cultural:
produto e produtor de cultura. Nesse sentido, Vygotsky, citado por Oliveira (1997, p.
78-79), afirma que
67
"[...] a inserção do indivíduo num determinado ambiente cultural, é parte
essencial de sua própria constituição enquanto pessoa. É impossível pensar
o ser humano privado do contato com um grupo cultural, que lhe
proporcionará os instrumentos e signos que possibilitarão o desenvolvimento
das atividades psicológicas, tipicamente humanas”.
Sob essa perspectiva, como deve ser e como pode contribuir a comunidade,
as escolas em geral para estimular o potencial dos alunos com altas habilidades?
Sabe-se que inúmeras formas para isso acontecer. O importante é que esses
alunos estejam inseridos num ambiente que os estimulem, sejam por meio de
atividades intelectuais e lúdicas, sejam por meio de muita atenção e carinho. Por
isso, destaco a importância dos marcos sociais (família, escola e amigos), de modo
a validar a influência que o ambiente social exerce sobre o desenvolvimento
humano, contituindo um meio propício de estimulação e acompanhamento, para
potencializar o desenvolvimento, principalmente daqueles alunos que apresentam
“comportamentos superdotados”. Deste modo, é necessário que a comunidade
escolar e os pais instiguem as crianças a ”descobrirem” os assuntos que lhes são de
maior interesse, favorecendo assim, o desenvolvimento da curiosidade e do senso
de investigação desses indivíduos.
Nesse sentido, fui a campo para analisar as contribuições do PIT Programa
de Incentivo ao Talento na aprendizagem e desenvolvimento de um aluno com altas
habilidades. Na seqüência, o capítulo acerca dos procedimentos para a
sistematização e a analise dos dados coletados nas entrevistas semi-estruturadas
com as professoras do aluno, sujeito desta pesquisa, e as observações realizadas
na escola regular em que o mesmo está matriculado.
CAPÍTULO III
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA
69
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA
3.1 Problema de pesquisa
Propiciar condições favoráveis à aprendizagem e ao desenvolvimento dos
alunos é a tarefa primordial da escola. Por isso, é imprescindível que seja priorizada
a formação de um ambiente escolar planejado na perspectiva de se vislumbrar a
possibilidade de potencializar constantemente as oportunidades de aprendizagem
dos educandos. Este é um postulado que se presume relevante e imprescindível
para delinear o processo pedagógico a todos os alunos, pois proporciona um espaço
que os estimula a aprender e a desenvolver suas habilidades. No atual momento,
em que se discute e articulam-se movimentos em prol de uma educação inclusiva é
fundamental conforme Freitas (2006) que a escola se organize para promover uma
educação de qualidade, considerando as diversidades presentes na sala de aula e
incentivando o desenvolvimento de habilidades diversas, conforme os interesses de
cada aluno.
Conforme relatado nos capítulos anteriores, há motivos e evidências que
indicam que os ambientes escolares o estão ainda preparados para atender às
necessidades educacionais especiais dos alunos com altas habilidades. E muitos
dos problemas observados nos alunos com essas características têm muito a ver
com o desestímulo e frustração. Eles estão inseridos em contexto escolar pouco
desafiante, que prima muitas vezes pela repetição e monotonia, e portanto, não
responde de forma adequada aos interesses e às necessidades desses alunos.
Nesse sentido, conhecer o que vem sendo discutido e implementado em
termos de estratégias educacionais, no que se referem a criar condições adequadas
para favorecer a aprendizagem dos alunos com altas habilidades, torna-se uma
questão desafiadora, da qual emergiu o problema desta investigação. Pois, no dizer
de Minayo, “é a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à
realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula
pensamento e ação”, (2004, p.17).
70
manifestei anteriormente, que o problema desta investigação é fruto de
minha trajetória acadêmica, notadamente pela participação em projetos citados nas
considerações iniciais. As questões e os conhecimentos emanados da temática
referentes às altas habilidades, articulados com a relevância científica deste trabalho
me propus a investigar “se as estratégias educacionais realizadas no PIT contribuem
para a aprendizagem e para o desenvolvimento do aluno com altas habilidades, no
contexto escolar”?
3.2 Participante do estudo
Em razão da amplitude e complexidade da temática, optei por construir esta
investigação a partir de uma análise sobre um determinado aluno com altas
habilidades, entre outros mais que freqüentam o programa de enriquecimento
escolar. A escolha foi aleatória, através de um sorteio, que incluiu alunos com base
nos seguintes:
- estar freqüentando o PIT por um período de no mínimo um ano;
- ter idade mínima de 6 anos e máxima de 12 anos e estar freentando as
séries iniciais do Ensino Fundamental;
- freqüentar regularmente as atividades do programa;
- e, por fim, ter o envolvimento dos respectivos pais e participação periódica
nas reuniões realizadas pelo projeto.
Portanto, foi com base nesses critérios que se realizou o sorteio do aluno que
compõe este estudo. Para preservar a sua identidade, foi denominado de Rodrigo,
um nome fictício, conforme os procedimentos éticos de pesquisa.
É relevante descrever algumas características de Rodrigo, as quais são
interessantes para a finalidade desta pesquisa. Por meio de conversas informais, os
seus pais relataram as dificuldades enfrentadas por ele, no seu cotidiano escolar,
por apresentar algumas características que o tornam diferentes dos demais, como a
facilidade para aprender, a flexibilidade de pensamento, a habilidade para resolver
71
situações problemas, a produção criativa, entre outras peculiaridades que
configuram as altas habilidades.
Rodrigo foi identificado por meio do trabalho desenvolvido no projeto de
pesquisa “Da Identificação à Orientação de Alunos com características de Altas
habilidades”, no ano de 2006 (dois mil e seis), e ingressou no projeto de extensão
“PIT Programa de Incentivo ao Talento”, no mesmo ano, após consentimento dos
pais.
A implementação do Modelo de Enriquecimento Escolar (RENZULLI, 1986),
adotado no PIT, inclui também a utilização do Portifólio de Talentos (ANEXO A), o
que segundo Renzulli e Reis (1997), é um instrumento que propicia uma forma
concreta de divulgação do trabalho realizado pelos alunos. O portifólio incentiva o
envolvimento do aluno, de sua família e da equipe que atua no programa, como
também permite conhecer os interesses e a forma como ocorre o processo de
aquisição do conhecimento dos alunos. Ainda, auxilia no planejamento de atividades
e metas desafiantes, incentivando a auto-avaliação do aluno, bem como a avaliação
das estratégias empregadas no PIT.
Nesse sentido, as informações que apresento sobre o aluno foram obtidas
através do Portifólio de Talentos
7
e das conversas informais realizadas com os seus
pais, por ocasião dos encontros propostos pelo PIT.
Rodrigo nasceu no dia 12 de junho de 1997. Atualmente, freqüenta a série
do Ensino Fundamental, em uma escola
8
de Santa Maria-RS. Primogênito da
família, ele manifesta em suas respostas no Portifólio de Talentos ter um ótimo
relacionamento com seus pais, os quais, embora separados, freqüentemente
participam juntos das reuniões no PIT. Rodrigo mora com a mãe e as duas irmãs e
informa ter com elas também um ótimo relacionamento.
De acordo com suas respostas no “Auto-Inventário” (CHAGAS, MAIA-PINTO,
PEREIRA, 2007) , Rodrigo percebe suas habilidades na comunicação, expressão
escrita, música e raciocínio lógico. Suas áreas de conhecimento preferidas estão
relacionadas à música, à história, às ciências e ao português.
7
Para a descrição do aluno Rodrigo, foi utilizado como referência o “portifólio do talento total”,
(CHAGAS, MAIA-PINTO, PEREIRA, 2007, p. 67- 77).
8
A escola do aluno em estudo não permitiu que fossem revelados dados quanto a sua
caracterização.
72
Rodrigo verbaliza que as características da sua personalidade são facilmente
observadas, pois apresenta curiosidade expressiva, flexibilidade de pensamento,
perseverança, gosto por desafios e independência para julgar idéias. No entanto,
uma vez solicitado, preferiu não relatar as suas possíveis realizações mais
importantes.
Considerando as informações trazidas pelo portifólio acerca das pessoas, por
exemplo, mais importantes que se somam a sua vida, ele simplesmente declina da
resposta, justificando o ter apreço por atitudes que manifestam essa “mania” das
pessoas querem saber quem é o melhor ou o pior. Rodrigo se considera uma
pessoa que entende que tal coisa não é a melhor, ou que as pessoas são melhores.
Prefere descobrir essas questões todas a partir de suas experiências.
Nas questões referentes ao tópico “Explorando Minhas Habilidades”
(CHAGAS, MAIA-PINTO, PEREIRA, 2007), o aluno explicita as coisas que sabe
fazer muito bem,: tocar bateria, manejar o computador e argumentar seus pontos de
vista. Rodrigo acredita que se tivesse a possibilidade de tentar fazer alguma coisa,
escolheria uma atividade que pudesse expressar as suas idéias, mas não sabe dizer
ao certo qual seria essa atividade, quem sabe poderia ser um pesquisador. E
segundo Rodrigo, tocar muito bem bateria e guitarra é uma das suas pretensões.
Em relação ao que mais gosta de se envolver quando está na escola, ele
destaca duas: a primeira, desafiar os professores, porque manifesta não ser nada
afeito às coisas triviais; e a segunda, o recreio, porque pode conversar com os
colegas. Sobre as coisas que faz bem na escola, ou seja, com bom desempenho,
Rodrigo revela que é de contribuir com uma idéia e que gostaria também de
aprofundar seus conhecimentos sobre religião, política e outros assuntos
sarcásticos. Ainda revela não ter muitos amigos, mas apesar disso, os poucos com
quais ele bem se relaciona, considera-os como verdadeiros.
Nas questões relativas a “Meus Interesses” (CHAGAS, MAIA-PINTO,
PEREIRA, 2007), esse aluno responde que na escola as coisas que mais gosta são
o recreio e a atividade de resolver tudo aquilo que se apresenta como complicado.
E o que menos gosta, no caso, é dos conteúdos de matemática, porque segundo
ele, os exercícios são muito fáceis, “eles não têm graça alguma”!
73
As ocupações que configuram seus passatempos em casa estão relacionadas
às atividades de tocar bateria, ler e mexer no computador. O que menos lhe é afeto
em sua casa dizem respeito às brigas fraternais. No caso dos filmes, suas
preferências são os de terror, aventura e guerra. Quanto aos livros, afirma que
adora ler sobre os mais variados assuntos.
No aspecto sobre “Minhas áreas de Interesse” (CHAGAS, MAIA-PINTO,
PEREIRA, 2007), Rodrigo revela que na escola tem interesse em literatura, história,
ciências biológicas, geográfica, música, computadores, fotografias, desenhos, porém
“odeia” a matemática, reiterando as atividades propostas são muito fáceis.
Nas questões “Sobre minhas Preferências” (CHAGAS, MAIA-PINTO,
PEREIRA, 2007), ele manifesta preferência pelos estilos de aprendizagem que
impõem necessariamente discussões em grupos pequenos. E no caso do que é
concernente ao estilo de pensamento, afirma suas prioridades pelas atividades de
planejar, elaborar, criar, compor, inventar, especificar, simplificar, interpretar e
contextualizar as idéias e o pensamento.
Nas questões acerca de suas preferências quanto à formação de um
ambiente (físico) agradável, e, portanto, que reúne as melhores condições para o
processo de aprendizagem, Rodrigo indica aqueles que contemplam fatores
musicais, (som ligado - Metal), sobretudo se for com o fito de construir um texto
(redação). Some-se a isso uma temperatura predominantemente com um clima frio,
e os móveis, no caso, têm de estar distribuídos de tal forma que haja muita
incidência de luminosidade. Ele revela, ainda, não ter problemas com os horários de
estudo, pois tem o habito de ler e revisar os conteúdos que são de seu interesse,
diariamente.
Sobre o ambiente social, prefere que tenha condições de aprendizagens auto
orientadas e com combinação de técnicas e metodologia de trabalho.
No aspecto sobre “Meu estilo de Expressão” (CHAGAS, MAIA-PINTO,
PEREIRA, 2007), ele estabelece os tipos de produtos que gostaria de criar. Suas
escolhas foram: discutir sobre o que aprendeu, elaborar um programa de
computador, construir uma invenção, tocar um instrumento musical, escrever para
um jornal, uma revista e para uma página de Internet. Gostaria, ainda de compor
uma música, gravar e editar um jogo no computador e comercializar uma idéia.
74
Acerca do “Inventário sobre o que eu sinto (CHAGAS, MAIA-PINTO,
PEREIRA, 2007), relata ser um menino alegre, que demonstra impaciência para
esperar os colegas terminarem as atividades na escola. Cultiva um sentimento de
raiva ao ouvir algumas adversidades como gritos e berros, e, por efeito, diz que
essas situações lhe impõem a “esbravejar”, mas de imediato busca retomar as
condições de calma e tranqüilidade de espírito.
Por fim, nas perguntas sobre o que deixa “você alegre”, Rodrigo indica as
brincadeiras, palhaçadas e a possibilidade de construir uma idéia nova e diferente.
Nas situações em que cria expectativas, ele admite ficar muito agitado, e possui
dificuldades para lidar com opiniões contrárias as suas, pois essas o deixam irritado,
por demais, e com sentimento de raiva com os que discordam dele. Ressalta que há
situações em que o deixam envergonhado. Essas ocorrem quando ele protagoniza
cenas, as quais não têm sentido algum para alguém.
3.3 Procedimentos
Após a descrição do aluno, é importante relatar os procedimentos que foram
necessários adotar, antes mesmo de se iniciar a coleta de dados. O primeiro passo
para a realização desta pesquisa foi obter de seus pais, por meio do Termo de
Consentimento (ANEXO B), a autorização para que Rodrigo pudesse participar
desta investigação. A seguir, realizei contato com a escola do aluno, ocasião em que
apresentei os objetivos do estudo, os procedimentos metodológicos da pesquisa e o
Termo de Consentimento dos pais de Rodrigo. A escola foi informada também
sobre os instrumentos de coleta de dados: observações sistemáticas na classe de
Rodrigo e entrevista semi-estruturada envolvendo as professoras da turma do aluno.
Realizei contatos pessoais com essas professoras, para informá-las da pesquisa, e
sobretudo solicitar a elas o desejo de vê-las participando deste empreendimento
investigativo. Essa solicitação foi de pronto aceita e acolhida, tanto pela escola
quanto pelas professoras, o que se tornou possível delinear uma agenda de
atividades de observações em sala de aula e de entrevistas, de acordo com a
disponibilidade de tempo e horário.
75
No primeiro contato nessa escola, me foi permitida a coleta de alguns dados
desse aluno referentes a sua freqüência na quarta série do Ensino Fundamental, e o
nome das duas professoras que ministram aulas, uma, responsável pelos conteúdos
do currículo e, a outra, pelas aulas de informática.
Ademais, ficou assegurado à Escola e às professoras o total sigilo quanto as
suas identificações. Vale contudo ressaltar, e o faço com orgulho, a eminente e
louvável colaboração da instituição e o total desprendimento dessas docentes para
a realização deste estudo, na sua forma mais plena possível.
3.4 Instrumentos
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-
estruturada e as observações sistemáticas, através do diário de campo.
De acordo com Bogdam e Biklen (1994), durante a realização da entrevista
semi-estrurada transcorre um encontro entre duas ou mais pessoas, momento em
que os sujeitos de pesquisa são encorajados a falar com liberdade sobre a área de
interesse do investigador, descrevendo situações, comportamentos, idéias, valores e
sentimentos, fornecendo dados completos para a análise de dados.
O roteiro da entrevista foi construído pela pesquisadora a partir do referencial
teórico adotado neste estudo. Composta de 11 (onze) questões, as entrevistas
foram aplicadas às professoras, pela pesquisadora, na própria escola, em um
ambiente reservado, com a mais absoluta relação de cordialidade e desprendimento,
entre as partes, fluindo para a efetivação do intento. Segundo Lüdke e André,
(1986, p. 34), “[...] na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma
atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde”, ou ainda,
“... a entrevista ganha vida ao se iniciar o diálogo entre o entrevistador e o
entrevistado”. Por tudo isso, a entrevista é considerada uma das principais técnicas
de pesquisa utilizada em temáticas que configuram conteúdos referentes à
educação.
76
Com a devida autorização prévia dos sujeitos entrevistados foi utilizado um
gravador para fins de registro desses dados coletados, cada entrevista teve duração
de aproximadamente uma hora e trinta minutos. Após, foi realizada a transcrição das
manifestações das professoras e, por fim, a respectiva análise.
No que tange às observações, elas ocorreram no período de agosto a
dezembro do corrente ano, uma vez por semana, com duração de uma hora e trinta
minutos para cada sessão. Foram realizadas 20 (vinte) observações, somando um
total também de 30 (trinta) horas observadas, tanto no contexto da sala de aula do
Rodrigo quanto também durante o recreio e no laboratório de informática.
Durante as observações foram analisados diversos aspectos relacionados as
possibilidades de Rodrigo revelar suas habilidades em sala de aula, as estratégias
que ele utiliza em sala de aula para aprender, as suas habilidades para resolver
problemas, além da motivação, criatividade e envolvimento dele durante realização
das atividades propostas na sala de aula.
De acordo com Lüdke e André (1986), para que as observações tornem-se
um instrumento válido e fidedigno de pesquisa, precisa ser sistemática e planejada,
determinando com antecedência “o que” e “como” observar, pontuando claramente o
foco da investigação e sua configuração espaço-temporal. Dessa forma, aliada as
entrevistas à observação permitiu “um contato pessoal e estreito do pesquisador
com o fenômeno pesquisado na medida em que o observador acompanha in loco as
experiências diárias dos sujeitos, isto é, o significado que eles atribuem à realidade
que os cerca e as suas próprias ações”, (Ibid., p.26).
O “Diário de Campo” foi outro recurso utilizado nessa atividade de
observação, permitindo que se registrassem elementos relevantes e pertinentes,
uma vez que “nele diariamente podemos colocar nossas percepções, angústias,
questionamentos e informações que não são obtidas através da utilização de outras
técnicas” (NETO, 2004, p. 63). Através das observações foi possível contextualizar
as informações coletadas nas entrevistas semi-estruturadas, para posterior análise e
discussão dos dados coletados.
77
3.5 Análise de Dados
Desvelar os aspectos intrínsecos na relação ensino-aprendizagem do aluno
em estudo e como se reflete a contribuição do PIT nesse processo, exigiu um
contato direto com a Escola em que Rodrigo está matriculado. Portanto esta
pesquisa configura-se como descritiva, com análise qualitativa e enquadrada no
perfil das características de um Estudo de Caso.
Bogdan e Biklen (1994) afirmam que a investigação qualitativa é descritiva.
Caracteriza-se pela riqueza de descrições originárias dos dados recolhidos no
trabalho de campo, que incluem transcrição de entrevistas, registro de campo,
vídeos, documentos... Esses dados são usados para ilustrar e embasar a
apresentação dos resultados.
A investigação qualitativa propõe o estudo do fenômeno em seu ambiente
natural, considerando a multiplicidade de elementos presentes que interagem e se
influenciam mutuamente. Ou seja, [...] ela trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que correspondem a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de varáveis, (MINAYO, 2004, p. 21-22).
Diante disso, entendo que com esse enfoque, que considera a imersão no
dia-a-dia do fenômeno a ser revelado, busquei retratar a realidade, que é complexa
e profunda. Portanto, os princípios do Estudo de Caso, aliados ainda ao foco dessa
investigação, tornaram-se adequados para o possível desvelar do problema em tela.
Segundo André (1995), “o interesse do pesquisador ao selecionar uma determinada
unidade é compreendê-la como uma unidade. Isso não impede, no entanto, que ele
esteja atento ao seu contexto e às suas inter-relações como um todo orgânico, e à
sua dinâmica como um processo, uma unidade de ação”, (p.31).
3.6 Resultados e Discussões
78
Para iniciar as discussões acerca das contribuições do PIT na aprendizagem
e desenvolvimento de um aluno com altas habilidades, apresento a sistematização e
análise das entrevistas com as professoras
9
e as observações realizadas na
respectiva turma do aluno Rodrigo.
No roteiro das entrevistas (ANEXO D) e durante a realização das
observações foram estabelecidos quatro tópicos, pontuados a partir dos objetivos
dessa pesquisa, constituindo-se em fatores circundantes para delinear o processo
de análises dos dados coletados:
1. Relações entre o PIT e a sala de aula regular: uma análise das
estratégias educacionais implementadas nesses espaços;
2. As possibilidades de Rodrigo de revelar suas habilidades em sala de
aula e a relação destas com as estratégias educacionais
implementadas no PIT ;
3. O olhar das professoras acerca da contribuição do PIT na
aprendizagem e desenvolvimento desse aluno;
4. Motivação e Criatividade: as contribuições do PIT nesse processo;
3.6.1 Relações entre o PIT e a sala de aula regular: uma análise das estratégias
educacionais implementadas nesses espaços
Para iniciar as discussões acerca das relações estabelecidas entre as
estratégias educacionais implementadas no PIT e aquelas organizadas na sala de
aula regular, é importante ressaltar que existem atualmente, em várias escolas
brasileiras, alternativas de atendimento aos alunos com necessidades educacionais
especiais, Porém, essas alternativas, na sua grande maioria, estão destinadas a
alunos com déficit cognitivo, dificuldades de aprendizagem, entre outras.
9
- Utilizei nomes fictícios para denominá-las, assim a professora do currículo foi denominada de
Margarida e a professora de informática foi chamada de Rosa. Ambas as professoras possuem
somente a formação inicial em Pedagogia. A colaboradora Margarida, atua no magistério 10 anos
e a professora Rosa possui 20 anos de experiência na docência.
79
Conforme Fleith (1999), a idéia de que o aluno com altas habilidades tem
instrumentos suficientes para desenvolver habilidades e construir conhecimentos, é
um entendimento um tanto quanto adverso às pretensões de todo e qualquer
processo pedagógico, o que enseja o reflexo do uso limitado de estratégias
educacionais a esta parcela da população. Entretanto, é imperativo que se
desenvolvam práticas educacionais que atendam aos alunos com altas habilidades
nas suas respectivas singularidades.
Nesse prisma, algumas alternativas têm sido freqüentemente apontadas para
o desenvolvimento de trabalhos com alunos com essa performance. Dentre essas
alternativas, destaco sobremaneira o enriquecimento escolar tangenciado pelo PIT,
o qual propõe o aprofundamento curricular por meio de estratégias educacionais
conforme as características dos alunos que participam do programa, visando a
favorecer a qualidade das aprendizagens desses sujeitos, como também possibilitar
o enriquecimento às experiências escolares.
Com a finalidade de saber a opinião das professoras a respeito do aluno em
estudo, lhes foi perguntado: “no seu entendimento, esse aluno possui altas
habilidades? Por quê?”
Foi assim o relato da professa Margarida:
“Eu não tenho um conhecimento específico sobre o assunto das altas
habilidades, nem quais são os comportamentos de uma criança
superdotada. Mas o que eu visualizo nele (Rodrigo) são habilidades bem
mais desenvolvidas do que as dos colegas. Ele não apresenta dificuldades
em resolver as atividades propostas em aula. No entanto ele
freqüentemente demonstra interesse em aprofundar alguns conteúdos
curriculares. Posso dizer, também, que a argumentação e a interpretação
na resolução das atividades são sempre bem articuladas e criativas. Mas o
que me deixa na dúvida em afirmar se o aluno tem ou não altas habilidades
é o fato de que não é em todas as áreas do conhecimento que ele
apresenta habilidades mais avançadas em relação aos colegas. O que eu
posso dizer é que ele é um aluno inteligente, com facilidade para aprender,
mas no decorrer das aulas ele não se manifesta muito. O que normalmente
acontece é ele esperar os intervalos do recreio ou do término das aulas
para vir me questionar ou expor sua opinião sobre determinado assunto,
porque dificilmente ele expõe suas dúvidas ou interesse na frente dos
colegas”.
No caso da Professora Rosa, ela verbalizou que não considera esse caso um
exemplo de alguém com altas habilidades, porém
80
“o aluno é uma criança bastante inteligente, mas eu não afirmaria que ele
tem altas habilidades, porque o interesse dele é possível visualizar em
qualquer outro aluno, o que ele demonstra é saber manusear os
instrumentos ou os termos técnicos sobre informática, e alguém que gosta
desse assunto teria condições de ter o mesmo nível de aprendizagem. A
informática é uma área de seu interesse, por isso ele sempre procura se
interar sobre esse assunto tomando-o entendido, além de utilizar o
computador com fonte de pesquisas de seu interesse”.
Alencar (2007) aborda a questão de quem é o aluno com altas habilidades,
destacando que muitas são as concepções existentes que esse termo sugere, por
conta da complexidade com que está circunstanciada esta temática. Para algumas
pessoas, diz ela,
[...] o superdotado seria o gênio, aquele indivíduo que apresenta um
desempenho extraordinário e ímpar em uma determinada área do
conhecimento, reconhecida como de alto valor pela sociedade; para outros,
seria um jovem inventor que surpreende pelo registro de novas patentes;
para outros ainda, seria aquele aluno que é o melhor da classe o longo de
sua formação acadêmica, ou a criança precoce, que aprende a ler sem a
ajuda e que surpreende os pais por seus interesses e indagações próprias
de uma criança mais velha, (ALENCAR, 2007, p. 15).
Dessa forma, ao se falar de alunos com altas habilidades não se está falando
de um grupo único, homogêneo e facilmente identificável em qualquer situação. Está
se falando, isto sim, de indivíduos com características e traços singulares,
provenientes não apenas de sua constituição genética, mas também e sobretudo
dos resultados das suas interações com o contexto sócio-cultural ao qual pertencem.
Portanto, o ambiente sócio-cultural e o próprio desenvolvimento humano contribuem
para que esses sujeitos tenham características proeminentes constituindo-se em
pessoas revestidas de significativas peculiaridades perceptíveis.
Nessa ótica, Renzulli (2004) ressalta que os educadores devem se preocupar
em estimular aqueles alunos que apresentam “comportamentos superdotados”, que
demonstram ou têm potencial para desenvolver os aspectos da Concepção dos Três
Anéis “[...] ajudando a abolir a abordagem da superdotação do tipo você-tem ou
você-não-tem(p. 90) [grifos do autor]. Por isso, é fundamental propiciar a esses
alunos espaços ricos em desafios e estímulos, assim, se está favorecendo a sua
aprendizagem e o seu desenvolvimento, como também atendendo às suas
necessidades educacionais especiais.
81
Na escola regular, o professor, em especial, desenvolve o seu trabalho com o
intuito de transmitir para os alunos os conhecimentos historicamente produzidos pela
humanidade. A ação educacional compreende a organização dos conteúdos
curriculares necessários para os alunos construírem conhecimentos. Essa meta é
atingida quando o aluno torna-se capaz de apropriar-se desse conhecimento e
aplicá-los em algum campo do saber e do fazer.
Nesse enfoque, é fundamental que os espaços educacionais promovam
relações pedagógicas centradas nos modos de aprender dos alunos, valorizando a
diversidade em todas as atividades, contextos e interações sociais. Logo, se sugere
que a aprendizagem deve ocorrer centrada no aluno e não no professor, o que
nesse viés torna-se o educador apenas um facilitador das aprendizagens dos
alunos, para que adquiram confiança em suas habilidades, construindo novas idéias
e respostas. Isto representa, um momento ímpar aos alunos em seus processos de
ensino-aprendizagem, pois é uma condição sine qua non para eles atuarem de
forma independente, não sofrendo qualquer tipo de manipulação, por parte do
professor. Dessa forma, o sucesso da aprendizagem, no caso do aluno Rodrigo,
acontece como resultado de seus próprios esforços em sistematizar e construir os
conhecimentos.
Durante as observações realizadas na turma de Rodrigo, pude visualizar
dificuldades apresentadas pelas professoras no sentido de propor para esse aluno
atividades desafiantes, que o incentivassem a buscar soluções diferenciadas e
criativas para a resolução de problemas. Exemplo disso está nas situações em que
o aluno revelou curiosidade acentuada sobre determinado tópico em estudo. Nessas
circunstâncias elas poderiam ter sugerido atividades suplementares para ele, que o
incentivassem a pesquisar e a se envolver em investigações, que favorecessem a
realização de seu potencial.
Considerando as atitudes dessas professoras, parece pertinente lembrar de
Renzulli (et al, 2000 apud CONBRASD, [200]) e Winner (1998), cujas idéias fazem
constar que, como os alunos com altas habilidades apresentam facilidade para
aprender e, em função disso, demandam diminuta orientação de seus professores,
porque aprendem os conteúdos rapidamente, muitos educadores encontram
dificuldades em planejar estratégias educacionais que atendam aos interesses
desses alunos. Por vezes, expressam, “[...] seu desconforto ignorando o aluno
82
superdotado e preferindo dar atenção aos estudantes com dificuldades, talvez para
evitar o desafio representado pela criança que apresenta habilidades superiores”,
(SABATETELLA e CUPERTINO, 2007, p. 80).
Alencar (2007) relatou como os professores se sentem quando tomam
conhecimento de alunos com altas habilidades em sua turma. Segundo a autora,
alguns explicitaram que “[...] se sentiam inseguros por desconhecer como conduzir o
processo de ensino-aprendizagem junto a esses alunos, além de salientar que
preferiam não -los em sala de aula, uma vez que os superdotados podem
constituir um problema em classe”, (Ibid., p.17). De acordo com essa autora, tal
afirmação é um indicador do despreparo de alguns professores para atender às
necessidades educacionais especiais dos alunos com altas habilidades.
Diante disso, as professoras de Rodrigo responderam à seguinte questão: “o
contexto de sala de aula proporciona ao aluno um currículo flexível, no qual os
interesses, estilos de aprendizagem e habilidades são levados em consideração”?
A professora Margarida verbalizou que,
“isso não acontece. É muito difícil realizar um estudo direcionado de acordo
com os interesses que cada aluno demonstra, pois a turma é muito grande
e eu tenho um conteúdo programado para seguir e dar conta até o final do
ano”.
A professora Rosa relatou que,
“nem sempre é possível flexibilizar o currículo e as atividades programadas
no laboratório de informática, pois os conteúdos são limitados e não nos é
permitido ir além dessas possibilidades”.
A partir desses relatos, é imperativo que cada professor reflita a respeito do
que poderia fazer no sentido de operacionalizar uma educação de qualidade para
todos os alunos, no caso dos alunos com altas habilidades, por exemplo, é
fundamental que o educador tenha conhecimento sobre as suas habilidades para
então, planejar atividades e experiências de aprendizagem, que estimulem esses
alunos a perceberem seus pontos fortes e expandir seus interesses. Assim, “bons
resultados são obtidos quando as estratégias de ensino do professor são adequadas
83
às preferências de aprendizagem do aluno”, (CHAGAS; MAIA-PINTO; PEREIRA,
2007, p. 59).
Vale destacar ainda, que os ambientes escolares necessitam ser planejados
de maneira a potencializar as oportunidades de aprendizagem dos alunos,
desencadeando processos de ensino-aprendizagem que permitam ao aluno
aprofundar tópicos de seu interesse, em áreas específicas de estudo,
proporcionando-lhes instrumentos para resolver problemas, através de novos
conhecimentos e pela criação de produtos.
No entanto, o que se registra, em grande parte das instituições escolares, é
que as características dos ambientes escolares “[...] refletem uma postura
educacional voltada para o passado, cuja principal preocupação se refere ao
acúmulo de conhecimentos”, (NEVES-PEREIRA, 2007, p. 25), prevalecendo a
concepção conservadora, na qual não reconhece a necessidade de desafiar os
alunos a explorarem novos caminhos, a desvelarem novos padrões e a investigarem
diversos tipos de assuntos para construírem idéias e aplicá-las em algum campo do
conhecimento e da cultura.
Concordo com Virgolim, ao comentar que
No movimento atual de uma educação inclusiva, torna-se essencial
entendermos que todo aluno tem direito a um ambiente educacional flexível
e responsivo, adaptado ao seu nível e ritmo de aprendizagem, que permita
certo nível de escolha de tópicos de seu interesse e que promova a
excelência no estudo, (2007b, p. 57).
Dessa forma, esforços devem ser feitos para circunstanciar a flexibilização e
as mudanças no currículo oferecido para esses alunos na escola regular, de modo a
satisfazer suas curiosidades e seus interesses, por meio de atividades dinâmicas,
que os estimulem a perceberem-se como sujeitos interativos na construção do
conhecimento, oportunidades essas que podem resultar na viabilização de projetos
de pesquisa, sendo eles próprios os protagonistas da criação de novas idéias.
Em relação às estratégias educacionais implementadas no PIT e as
observadas no contexto da sala de aula de Rodrigo, é importante destacar que as
ações educacionais propostas no programa de enriquecimento diferenciam-se das
organizadas na sala de aula regular, motivado, sobretudo, pela oportunidade dada
84
ao aluno no sentido de desenvolver projetos de pesquisa de acordo com seus
interesses em aprofundar um assunto. Por isso o PIT se torna desafiante,
responsivo quanto ao desejo do aluno em enriquecer seus conhecimentos. Desta
forma, o aluno tem a oportunidade de “ultrapassar o tradicional papel de reprodutor
de conhecimento para assumir o papel de investigador em primeira-mão,
absorvendo paulatinamente o papel de agentes de mudança, com impacto no
mundo que os rodeia”, (VIRGOLIM, 2007c, p. 65).
Buscando pontuar as possibilidades de Rodrigo assumir o papel de
investigador no contexto da sala de aula, destaco mais uma vez a manifestação das
professoras ao serem questionadas se “o aluno tem a oportunidade de desenvolver
suas próprias idéias? Você propõe situações de aprendizagem que desafiem os
alunos conforme seus interesses e habilidades?”
De acordo com a professora Margarida,
“ele tem espaço para opinar e desenvolver suas idéias; eu percebo que ele
possui facilidade em lidar com os conteúdos novos, transformando e
adaptando as informações de maneira original e criativa. Por exemplo,
quando eu estou passando as atividades no quadro, freqüentemente ele
copia no seu caderno de forma diferente, ou ele sintetiza as informações ou
altera as palavras, no entanto sempre mantém o sentido da atividade; se a
tarefa é identificar qual o pronome deve ser usado em determinada frase,
ele utiliza o mesmo pronome, mas muda os termos e as palavras das
orações. Ele é sempre muito criativo nas suas produções”.
A professora Rosa verbalizou que,
“o aluno tem a oportunidade de desenvolver suas próprias idéias, pois
normalmente utilizo softwares interativos no laboratório de informática, onde
a criatividade é a maior aliada”.
Ambos os relatos revelam que Rodrigo não se prende a um padrão
estabelecido, e sim está constantemente modificando, inventando, imaginando
outras possibilidades que resultem na construção de uma nova idéia, e esta se torne
produtiva em seu contexto sócio-cultural.
Com isso se depreende a importância dos professores estimularem os alunos
a fazer emergir a imaginação, a intuição, o pensamento crítico e a habilidade de ir
85
além dos limites pré-estabelecidos, motivando-os a buscar novas alternativas para
construir suas argumentações. A sociedade de hoje clama por boas idéias, por
transformações em nossas atitudes, sobretudo quando os velhos hábitos não
resolvem novos problemas. Essa concepção determina uma combinação de
habilidades para resolvermos problemas e criarmos novas idéias e produtos
imperativos ao desenvolvimento de nossa sociedade, (VIRGOLIM, 2007d). Segundo
a autora, demanda também, a “integração de ações que devem se iniciar no lar e
progredir com a ajuda da escola, a fim de que possamos preparar nossos jovens
para enfrentar os desafios de uma sociedade onde as transformações constantes
são a única certeza”, (Ibid., p.15).
Nesse sentido, o PIT procura desenvolver ações educacionais que estimulem
os alunos a buscarem soluções eficientes para problemas reais, a agir e pensar
criativamente, a fim de auxiliá-los a dominar as habilidades essenciais para o
sucesso futuro. Dessa forma, as atividades propostas no programa de
enriquecimento oferecem informações que estimulam a curiosidade do aluno a
aprender, num ambiente desafiante, onde o aluno pode praticar e aperfeiçoar suas
habilidades, incentivando-o a manter-se motivado a aprender a aprender.
Conforme Alencar e Fleith (2001), quando se discute os programas de
enriquecimento escolar fora da sala de aula regular, sempre a referência de
algumas características do ambiente que podem favorecer tanto a implementação
do conteúdo, quanto estimular o entusiasmo do aluno e a sua motivação a
prosseguir na pesquisa em determinado assunto, proporcionando-lhe ainda,
construir conhecimentos de uma maneira confortável e prazerosa.
Por esse motivo, o PIT procura implementar características de ambientes e
estratégias educacionais favoráveis e direcionadas à aprendizagem dos alunos que
participam do programa. Uma das características presentes no PIT é a liberdade que
os alunos têm de escolher o que estudar. Essa postura incentiva à autonomia deles
e a capacidade de avaliarem suas próprias aprendizagens. Assim, o aluno que é
estimulado a empenhar-se na busca de soluções para um problema, é ao mesmo
tempo motivado a ter iniciativa.
No decorrer das observações realizadas na sala de aula regular de Rodrigo,
visualizei que, na maioria das vezes, as atividades eram expositivas, e o nível de
exigência dos exercícios propostos não atuava na sua zona de desenvolvimento
86
proximal do aluno (VIGOTSKY, 1989), pois ele resolvia as atividades de forma
independente sem necessitar da mediação da professora.
Sem oportunidades desafiadoras de aprendizagem é muito difícil que as
habilidades superiores se manifestem, porque de acordo com as teses de Vygotsky
(2004a), aquilo que o aluno resolve com independência, ele não revela o seu
potencial, e sim o seu nível de desenvolvimento real. Nesse sentido, é imperativo
que as estratégias educacionais sejam organizadas para que o aluno aprenda aquilo
que ele ainda não domina, sob mediação do professor, pois, condições favoráveis
de aprendizagem estimulam o desenvolvimento e a manifestação de habilidades
superiores. As minhas convicções a respeito encontram afinidade como as idéias de
com Vygotsky ao comentar que “[...] quantas inteligências estéreis existem que não
produzem nada! Quantas inteligências que pensam, mas que não agem! Todos se
lembram dessa situação quando sabemos como é preciso atuar de outra maneira”,
(2004b, p. 133).
A partir disso, é possível inferir que aquele aluno que no PIT age de maneira
investigativa, escolhendo com liberdade os tópicos de suas pesquisas e optando por
atividades de seu interesse, na sala de aula regular, acaba, por vezes, tendo uma
postura com características conformistas em relação ao processo de ensino-
aprendizagem.
Isso é devido ao fato de o aluno com altas habilidades necessitar
constantemente de desafios e novidades, para que seu rápido ritmo de
aprendizagem não seja desestimulado. Por isso é fundamental que os espaços
escolares flexibilizem o currículo, no sentido de que o pensamento, a criatividade, a
imaginação, estejam presentes no planejamento e nas estratégias educacionais do
professor, e, sobretudo, que esse aluno tenha espaço para ampliar e aprofundar o
seu potencial.
Com o intuito de verificar se Rodrigo relaciona os conhecimentos construídos
no PIT em relação às atividades desenvolvidas em sala de aula regular, descrevo o
relato das professoras quando questionadas se “o aluno demonstra relacionar os
conteúdos curriculares às suas experiências e interesses”?
Ambas as professoras relataram que seguidamente o aluno estabelece essas
relações, e que por isso apresenta facilidade para dominar os conteúdos
87
curriculares. Segundo elas, mesmo as estratégias educacionais implementadas no
PIT diferenciarem-se daquelas adotadas na sala de aula regular, os projetos
traçados por Rodrigo no PIT possibilitam-lhe o desenvolvimento de atividades mais
concretas e práticas, e isso tem influenciado de maneira positiva a sua
aprendizagem no contexto escolar. Revelaram também, que Rodrigo apresenta
atitudes diferenciadas dos demais colegas da turma, mostrando-se mais interessado
em desenvolver atividades que o desafiem.
A fala das professoras indica que Rodrigo constrói novos conhecimentos e
aprende a partir das suas experiências e das trocas que estabelece com os
ambientes em que interage. Por isso tanto as estratégias educacionais propostas
pelo PIT, quanto às ações educacionais adotadas na sala de aula regular devem
focalizar a elaboração de atividades que potencializem as habilidades que o aluno
apresenta, de modo a auxiliá-lo a se manter motivado e interessado na perspectiva
de querer aprender sempre mais.
Para finalizar esta etapa de análise, apresento o entendimento dessas
professoras sobre a questão: “como o PIT Programa de Incentivo ao Talento se
relaciona com a sala de aula?”
A professora Margarida relata que há, sim, uma relação entre o PIT e a sala
de aula regular, pois
“as atividades propostas no programa visam enriquecer o conteúdo
curricular para que o aluno não perca o gosto pela escola, além de
oportunizar a ele a construção de processos de aprendizagem que
favoreçam o desenvolvimento de suas habilidades. Por isso, eu acredito
que o PIT se relaciona com a escola na medida em que oferece um
ambiente rico em estímulos e oportunidades que atendam aos seus
interesses e as suas necessidades, que nem sempre são possíveis de
serem supridas no contexto da sala de aula, em função da própria
organização curricular”.
Em consonância com o entendimento de Margarida, a professora Rosa
também relatou que
“que essas relações se estabelecem na medida em vão sendo traçadas no
sentido de facilitar a aprendizagem do aluno e a atendê-lo nas suas
singularidades, e principalmente na oportunidade que o aluno tem de
partilhar o conhecimento nos diferentes espaços educacionais que atua”.
88
De acordo com Renzulli e Reis (1997), um dos objetivos dos programas de
enriquecimento escolar é estabelecer relações de parcerias nos diferentes
ambientes em que o aluno com altas habilidades interage, construindo uma rede de
cooperação entre os professores da sala de aula regular e a equipe que atua no
programa de enriquecimento, para que as estratégias educacionais de ambos os
espaços educacionais atendam, de fato, às necessidades dos alunos com altas
habilidades.
3.6.2 As possibilidades que Rodrigo tem de revelar suas habilidades em sala de aula
e a relação destas com as estratégias educacionais implementadas no PIT
Na seqüência, apresento as possibilidades, que Rodrigo tem de manifestar
suas habilidades no contexto escolar. É necessário transformar os espaços
escolares em ambientes desafiadores, com oportunidades que criem expectativas
favoráveis ao potencial promissor dos alunos com altas habilidades.
Para refletir sobre o papel das estratégias educacionais implementadas no
PIT e a relação destas com as oportunidades que o aluno tem de revelar seu
potencial, as professoras responderam à questão: “quais as possibilidades que o
aluno têm de revelar e desenvolver suas habilidades no contexto escolar?”
Segundo a professora Margarida,
“o aluno tem liberdade de expressar suas habilidades, dizer o que pensa,
por exemplo, na área da linguagem, percebo que as respostas dele nas
atividades de interpretação de texto são sempre críticas, com idéias e
argumentos que vão além do conteúdo abordado. Nas tarefas de
matemática o aluno também se destaca, principalmente pela forma com que
resolve os problemas, utilizando novos caminhos e estratégias de raciocínio
diferentes dos demais alunos. Em função disso, muitas vezes ele demonstra
impaciência com os colegas que o possuem a mesma rapidez de
pensamento, e por isso demoram mais tempo para terminar as tarefas.
Nessas situações noto que o aluno fica inquieto e insatisfeito”.
89
A professora Rosa também afirmou que o aluno tem possibilidades de
manifestar suas habilidades, e segunda ela, quando o assunto é do interesse do
aluno, ele revela e desenvolve ainda mais suas potencialidades.
A partir das falas das professoras e das observações que realizei na sala
regular de Rodrigo, verifiquei que o aluno manifesta habilidades superiores durante
as aulas e apesar de o aluno ter uma forma de pensar independente, em muitos
momentos, demonstrou frustração com a inatividade e a falta de desafios no
ambiente escolar, evidenciando a necessidade de ações educacionais que o
instigassem a descobrir e a criar novas idéias.
Para favorecer a aprendizagem do aluno com altas habilidades é imperativo
considerar alguns aspectos no planejamento das atividades educacionais, pois
conforme se discutiu anteriormente, a pessoa com essa performance apresenta
um perfil heterogêneo, com interesses e habilidades variadas e necessita,
sobretudo, se envolver em atividades que a estimulem a pensar criativamente. Isso
implica na promoção de um ambiente desafiante e na implementação de estratégias
educacionais que ofereçam uma variedade de possibilidades de aprendizagem, para
que possa desenvolver plenamente seu potencial.
Nesse vs, o PIT procura organizar e implementar atividades que venham a
suprir e atender, na medida do possível, as necessidades do aluno, que por vezes, o
contexto escolar não dá conta. Por isso, as estratégias educacionais do programa de
enriquecimento visam possibilitar o amplo desenvolvimento pessoal do sujeito,
criando espaço para que o aluno encontre desafios e estímulos compatíveis com
suas habilidades e interesses.
Portanto, planejar atividades de enriquecimento para o aluno com altas
habilidades e oportunizar condições para o desenvolvimento do seu potencial são
alternativas que precisam ser implementadas, não somente nos programas
especiais, mas sobremaneira na escola regular, uma vez que o sucesso da
aprendizagem e desenvolvimento do aluno depende das características do ambiente
e da qualidade das interações que estabelece com os diferentes meios em que atua.
Nessa perspectiva, compactuo com o pensamento de Sabatella e Cupertino ao
comentarem que os alunos com altas habilidades
90
[...] se beneficiam tanto das modalidades de ensino formal como o do não
formal e atingem seu maior aproveitamento em um ambiente estimulante,
que favoreça o seu desenvolvimento e expansão de suas habilidades, tanto
quanto a ampliação de seus interesses. Para isso, encontrar desafios que
girem em torno de temas importantes e úteis, enriquecendo seu
conhecimento e oferecendo oportunidades para alargar seus horizontes
pessoais, projetar objetivos maiores e desenvolver sendo de
responsabilidade e independência intelectual, (2007, p.69-70).
No caso de Rodrigo, infere-se que ele necessita também de metodologias
adequadas em virtude de sua rapidez de pensamento e de sua grande habilidade de
abstração, através de atividades dinâmicas de aprendizagem, planejadas e
oportunizadas tanto na escola regular como no PIT. Conforme explica Alencar
(2003), os problemas evidenciados pelos alunos com altas habilidades estão
relacionados à frustração e à falta de estímulos diante de estratégias educacionais
monótonas e repetitivas as quais não são motivos para desencadear um processo
de incentivo para a expressão das suas habilidades superiores.
Nesse sentido, é plausível reiterar o trecho do relato anterior da professora
Margarida: “muitas vezes ele (Rodrigo) demonstra impaciência com os colegas que
não possuem a mesma rapidez de pensamento, e por isso demoram mais tempo
para terminar as tarefas, nessas situações noto que o aluno fica inquieto e
insatisfeito”. Essa postura do aluno pode ser justificada, segundo Alencar (2003)
pelo clima de sala de aula, que é pouco favorável e responsivo quanto aos seus
interesses em buscar, aprofundar e enriquecer o conteúdo curricular.
Daí as razões de se invocar a relevância no que tange à criação de
estratégias educacionais que visem a uma aprendizagem mais profunda em tópicos
selecionados pelo aluno em áreas específicas de estudo. Desse modo, o aluno terá
experiências de aprendizagens enriquecedoras, que lhe favoreçam o
desenvolvimento de comportamentos produtivos e criativos.
Nesse enfoque, a própria organização curricular seria mais produtiva para
todos os alunos, pois a aprendizagem e o desenvolvimento contam com fatores
favorecidos por meio do estímulo das habilidades manifestadas pelos alunos, como
exemplo a linguagem, os interesses, o raciocínio, a resolução de problema, a
imaginação e a criatividade. É nesta perspectiva que busco analisar os relatos das
professoras à resposta da pergunta: “o aluno utiliza estratégias diferenciadas na
hora de resolver problemas em sala de aula? Como?”
91
A professora Margarida informou que o aluno em pauta seguidamente acha
soluções para as atividades propostas, com resoluções próprias e fora dos
esquemas pré-estabelecidos pelos conteúdos ou atividade. E mais, “ele sabe a
forma padrão, mas ele sempre busca novos caminhos”. Em consonância com a
opinião da professora Margarida, Rosa diz que,
“as atividades propostas no laboratório de informática servem de ferramenta
para contextualizar os conteúdos aprendidos em sala de aula e por isso,
a possibilidade do aluno desenvolver suas próprias estratégias durante a
realização das tarefas”.
As evidências verificadas em relação às estratégias que o aluno utiliza em
sala de aula para resolver problemas são as de que, embora o contexto da sala de
aula seja pouco desafiante, no sentido de instigar Rodrigo a pesquisar, enriquecer o
conteúdo e construir novas idéias, o aluno, mesmo assim, opta por atitudes ousadas
e criativas na hora de resolver as atividades proposta em sala de aula.
É possível que essa postura investigativa apresentada pelo aluno seja
influenciada pela sua participação no PIT, pois no programa de enriquecimento
Rodrigo tem a oportunidade de realizar atividades de pesquisa de acordo com seus
interesses e escolhas por tópicos de estudo, podendo utilizar um maior número de
fontes de informação para dominar e conhecer um determinado conteúdo,
exercitando o pensamento crítico e criativo.
3.6.3 O olhar das professoras acerca da contribuição do PIT na aprendizagem e
desenvolvimento de Rodrigo
O ser humano influencia e é influenciado pelas interações que ele estabelece
na família, na escola, nos seus relacionamentos com as demais pessoas. De
acordo com Vygotsky (1989), o contexto sócio-cultural impulsiona a aprendizagem e
o desenvolvimento do sujeito, dessa forma, cada ambiente onde o indivíduo interage
é importante para o seu processo de desenvolvimento.
92
Nesse enfoque, a educação escolar e a intervenção do professor são
fundamentais, pois existe uma forte ligação entre os processos de aprendizagem e
desenvolvimento com as trocas que o ser humano estabelece no seu contexto sócio-
cultural. Em conseqüência, o sujeito não se desenvolve plenamente sem a mediação
de outros indivíduos da sua espécie. Portanto, quando o sujeito tem a oportunidade
de conviver em um ambiente de aprendizado criativo, que o encoraje a explorar suas
habilidades e exercitar sua capacidade de aprender te um desenvolvimento
potencial desejável, (VYGOTSKY, 1989).
Assim, é imprescindível que o processo de ensino-aprendizagem seja
pensado e tomado, tendo como ponto de partida o nível de desenvolvimento real
apresentado pelo aluno, relacionando-o com os conteúdos a serem abordados, de
modo a fazer com que os objetivos estabelecidos nas ações educacionais atuem na
zona de desenvolvimento proximal, para então promover a construção de
conhecimentos e o desenvolvimento de suas habilidades. Desse modo, “o percurso
a ser seguido nesse processo estará balizado também pelas possibilidades das
crianças, isto é, pelo seu nível de desenvolvimento potencial”, (OLIVEIRA, 1997, p.
62).
É nesse contexto que as estratégias educacionais propostas pelo PIT atuam
na perspectiva de aprofundar e diversificar as oportunidades de aprendizagem dos
alunos em função dos seus interesses, aptidões e necessidades educacionais.
Nesse prisma, as atividades de enriquecimento são estratégias necessárias não
para os alunos com altas habilidades, como para todos os alunos, na proporção em
que elas procuram elevar em níveis plausíveis o desenvolvimento potencial de cada
aluno.
A partir de esse viés, o PIT caracteriza-se por fornecer experiências para
além do currículo regular, enfatizando mais o processo de aprendizagem do que a
assimilação do conteúdo, além de promover o desenvolvimento de outras áreas, que
não exclusivamente a cognição. Manifesto minha sintonia com as idéias de Acereda
e Sastre (1998) porque indicam que uma das principais vantagens, dos programas
de enriquecimento, residem na possibilidade de incluir objetivos de desenvolvimento
global dos alunos, proporcionando o equilíbrio nos vários eixos de desenvolvimento,
sobretudo em termos pessoais e emocionais, traduzindo-se num melhor
93
autoconceito
10
dos alunos, e em melhores atitudes face à aprendizagem e ao
sucesso acadêmico.
A seguir, as respostas das professoras acerca da questão: “no seu
entendimento, as estratégias educacionais realizadas no PIT contribuem para
aprendizagem e desenvolvimento do aluno em sala de aula?”
Para a professora Margarida, essa contribuição existe
“Com certeza, pois as atividades propostas no programa vão além do
conteúdo curricular, e acredito que a principal contribuição está em
proporcionar atividades orientadas com objetivos específicos para atender
aos interesses do aluno. Esse direcionamento permite ao aluno a
enriquecer aqueles conteúdos que já foram trabalhos na sala de aula
regular, favorecendo então a aprendizagem escolar”.
Também para a professora Rosa o entendimento a respeito é sim,
“principalmente nas estratégias que vão sendo traçadas no sentido de
desenvolver o pensamento crítico e criativo, no autoconceito, na construção
do conhecimento e isso retorna para a sala de aula regular positivamente
em termos de rendimento acadêmico e atitudes mais produtivas frente ao
processo de ensino e aprendizagem”.
Além disso, ambas verbalizaram que o reduzido número de alunos atendidos
no programa, em comparação com a demanda da sala de aula regular, permite o
desenvolvimento de um trabalho mais direcionado, proporcionando experiências
desafiantes que figuram um número maior de trocas de informações e de
conhecimentos de interesses dos alunos. Nestas circunstâncias, elas relataram que
o PIT favorece a aprendizagem do aluno pelo fato de se constituir em um ambiente
pedagógico rico em desafios, onde ele tem a liberdade de escolher os assuntos de
acordo com suas curiosidades, podendo desenvolver projetos de pesquisas que
estimulem o seu pensamento crítico e a sua autonomia. Deste modo, retorna para
sala de aula, pois todas as experiências que o aluno tem nos diferentes espaços de
aprendizagem que interage são importantes e favorecem o seu aprendizado escolar.
10
- De acordo com Alencar (1993) e Virgolim (2007a), o autoconceito se refere à imagem que
cultivamos de nós mesmos, concorrendo para isso todas as crenças e atitudes que temos a nosso
próprio respeito, como também a percepção que temos dos outros sobre nós. O autoconceito
constitui um fator determinante naquilo que fazemos e o que acreditamos que podemos fazer,
funcionando como uma espécie de filtro, aperfeiçoando nossas escolhas e influenciando o modo que
reagimos dentre aos outros e ao mundo.
94
A partir de os relatos dessas professoras, e de acordo com Fleith (1999), é
possível afirmar que as atividades de enriquecimento encorajam o aluno a
desenvolver habilidades necessárias à construção de projetos, possibilitando-o a
usar metodologias típicas de um profissional de uma área específica para criar
produtos originais de acordo com o seu interesse, além de desenvolver
características afetivas associadas à criatividade, independência, autonomia,
persistência e curiosidade.
Nesse enfoque, as estratégias educacionais implementadas no PIT
favorecem o processo de ensino-aprendizagem de Rodrigo na escola, pois permitem
ao aluno expandir seus interesses, amadurecer suas idéias em um ambiente onde
suas opiniões e ações são valorizadas e estimuladas de forma positiva, contribuindo
também para torná-lo consciente de seu próprio desenvolvimento, uma vez que, [...]
“todo ser humano tem a tendência para colocar em ação todas as suas capacidades
e potencialidades, estando à espera das condições adequadas para se exprimir e se
manifestar”, (VIRGOLIM, 2007a, p. 39).
Todavia, para que isso ocorra, é mister criar um contexto de relações
positivas, favoráveis à valorização do potencial do aluno, pois a confiança e o
estímulo que são depositados nele, proporciona-lhe confiança em sua própria
capacidade de aprender e desenvolver suas habilidades.
Nessa ótica, é fundamental que os espaços educacionais, - e aqui me refiro
tanto à escola regular quanto ao PIT -, promovam atitudes favoráveis à realização do
aluno, para que ele possa ser estimulado a potencializar ao máximo suas
habilidades. Assim se configuram as contribuições para a realização de uma
aprendizagem e desenvolvimento que satisfaçam seus interesses, promovendo
condições para a expressão criativa e produtiva.
Em se tratando de um aluno com altas habilidades, cujas características o
levam a agir, aprender, raciocinar e reagir, de forma singular, por si elas o
motivos suficientes para justificar a necessidade de se criar um ambiente que atenda
as suas necessidades educacionais especiais, com oportunidades de aprendizagem
diferenciadas e com níveis de dificuldades, que se transformem em desafios,
condição sine qua non para que o aluno venha a aprender e a lograr êxito figurado
em uma vida produtiva, feliz e auto-realizada.
95
Assim sendo, quando as estratégias educacionais são adequadas às
preferências de aprendizagem do aluno, este tem a oportunidade de expressar e
desenvolver seu potencial positivamente, alimentando a sua participação crítica no
mundo, tornando-se produtor de conhecimento e não mero consumidor. Além disso,
essa situação contribui para o desenvolvimento de habilidades, para o
fortalecimento de características produtivas, como exemplo, o autoconceito, a
capacidade do indivíduo de se adaptar constantemente ante as circunstâncias
adversas, e a lidar e superar os desafios, enfim, ter sua aprendizagem e
desenvolvimento favorecidos.
Logo, intensificando e diversificando as experiências de aprendizagem, não
apenas os alunos com altas habilidades terão a oportunidade de construir novos
conceitos e idéias, mas também, nesse caso, todos os estudantes poderão ser
encorajados a pensar criativamente e ter o seu desenvolvimento potencializado. Por
efeito, cada aluno terá possibilidade e oportunidade de atingir o seu potencial
máximo, de forma inclusiva.
Entretanto, para que essas estratégias sejam possíveis de serem
implementadas, é necessário considerar a realidade das escolas, a maioria das
quais, por vezes, evidências a respeito de possuir uma estrutura organizacional
tradicional. Refiro-me às ações educacionais que estão circunstanciadas em
universo em que “[...] o cotidiano escolar é, ainda, predominantemente organizado
em séries, com disciplinas isoladas, oferecidas por meio de aulas com duração
definida, articuladas em grades dentro das quais o conteúdo de cada ano letivo é
transmitido aos alunos por um professor de um domínio específico do
conhecimento”, (SABATELLA e CUPERTINO, 2007, p. 70).
Diante disso, é imperativo se transformar os espaços escolares em contextos
que atendam às reais necessidades dos alunos, de forma inclusiva, articulando os
objetivos de ensino com as alternativas práticas possíveis de serem implementadas,
para então, promover de fato, uma formação ao alcance da plenitude das
potencialidades do indivíduo. Renzulli exprime de forma pertinente esse desafio ao
questionar:
Como é que os educadores podem encontrar tempo para realizar atividades
de aprendizagem estimulantes que tornem as escolas lugares mais
agradáveis para os alunos (e para o pessoal), face a duas realidades: as
96
pressões para aumentar o nível no desempenho de testes e de um currículo
demasiado extenso, resultantes de orientações estaduais, assim como as
listas cada vez mais longas de normas, conteúdos e recomendações para
aumentar o nível de letramento, (2002, p. 5).
Nesse enfoque, delinear estratégias educacionais necessárias ao ensino
adequado dos alunos com altas habilidades depende, “[...] da luta constante dos
educadores para modificar esse cenário. Seja na área das políticas públicas, seja na
de pesquisa sistemática e, acima de tudo, em suas atividades cotidianas na sala de
aula”, afirmam SABATELLA e CUPERTINO, (2007 p, 70). Portanto, aceitar o desafio
de transformar essa realidade depende, sobremaneira, da disponibilidade dos
profissionais envolvidos no sentido de encarar esse desafio, além disso, é preciso
conhecer melhor as características desses alunos para então ampliar as alternativas
educacionais e atender as suas necessidades educacionais especiais.
No caso de alunos com altas habilidades que participam de programas de
enriquecimento escolar fora da escola regular, como no caso de Rodrigo, é
fundamental que haja uma integração do ensino regular com o programa, para que
todos os profissionais envolvidos com a educação do aluno se responsabilizem em
promover o desenvolvimento do seu potencial.
Reis (1986) discute essa questão apontando que, por vezes, a escola regular
não assume a responsabilidade de promover um ensino de qualidade. Nesse
sentido, há um hiato entre a escola regular e o programa de enriquecimento, o que
redunda, de certa forma, em prejuízos ao aluno, porque é visto como alguém que
pode expressar suas habilidades superiores e ter seu potencial estimulado, apenas
no programa. Ainda segundo o autor, isso acontece, quando o professor do ensino
regular não tem o devido conhecimento da participação do aluno no programa de
enriquecimento, ou quando declina da responsabilidade para desencadear
processos de estímulo das habilidades desse aluno, deixando a efetivação dessa,
talvez hercúlea, tarefa apenas aos profissionais envolvidos no programa.
Entretanto, tanto o programa de enriquecimento quanto a escola regular
devem promover ações educacionais com vistas ao pleno desenvolvimento dos
alunos com altas habilidades, pois esses sujeitos necessitam de estímulos em todos
os espaços educacionais, cujos elementos circundantes determinam a feitura de seu
construto existencial. Deste modo, o programa de enriquecimento tende a ser mais
97
eficiente e eficaz, na medida em que se estabelecem vínculos sintonizados com
outras medidas organizadas na sala de aula regular, medidas essas que devem ser
planejadas a partir das características e necessidades particulares do aluno com
altas habilidades.
No caso de Rodrigo, importa considerar, por um lado, a sua rapidez com que
ocorre a desenvoltura de seu pensamento, o que demanda, por efeito, em
vislumbrar estratégias educacionais que aprofundem o currículo de forma
diversificada, com acessos a conteúdos mais avançados e complexos, permitindo a
ele vivenciar experiências de aprendizagem com um nível de desafio apropriado.
Por outro lado, implica em atender primordialmente às suas habilidades singulares,
aos seus interesses e ritmo de aprendizagem no seu nível de desenvolvimento
proximal, com foco na aprendizagem e na promoção do desenvolvimento de
habilidades, contextualizando-as na perspectiva das experiências cotidianas do
aluno.
Portanto, se um possível modelo a se configurar, esse seria o de integrar
as atividades realizadas no PIT com as da sala de aula regular, a fim de permitir a
utilização de medidas educacionais de apoio e estímulo as suas potencialidades,
para que esse aluno não seja tomado de sentimentos que o levem ao desestímulo e
a se descomprometer com os possíveis motivos de encantamento produzidos e
tangenciados pelo contexto escolar.
Nesse sentido, o importante é que a escola e o programa de enriquecimento
escolar respeitem as necessidades educacionais especiais, diferenciando suas
estratégias educacionais, no que tange aos seus conteúdos e as suas metodologias,
proporcionando atividades diversas em função das próprias características do aluno.
Dessa maneira, cada ambiente educacional deve ser planejado em repostas às
características e necessidades do aluno, devendo para tanto equipar-se de recursos
técnicos e humanos necessários a uma efetiva diferenciação das suas estratégias
educacionais, o que estará respeitando e atendendo às diferenças individuais dos
alunos.
Nesta perspectiva, os alunos com altas habilidades têm a oportunidade de
aprender e desenvolver seu potencial de forma inclusiva, com condições
apropriadas para a expressão criativa e produtiva, com experiências de
98
aprendizagem que satisfaçam seus interesses e estimulem suas potencialidades.
Deste modo, Sabatella e Cupertino, asseveram
Mantidos em suas classes regulares, onde encontram seus amigos, com os
quais brincam, fazem esportes e desenvolvem sua vida social, os alunos
experimentam a inclusão e aprendem, ao mesmo tempo, a conviver com a
desigualdade. Por outro lado, ao participarem de atividades especiais,
dentro e fora da sala de aula, convivendo com iguais, se diferenciam.
Podem, ainda, satisfazer suas curiosidades particulares, buscar desafios
compatíveis com seus potenciais e trabalhar seus afetos e emoções,
aprendendo sobre si mesmos, (2007, p. 70).
Neste contexto, ratifica-se a idéia de que é fundamental que a escola adote
uma postura favorável em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento, para que
os alunos com altas habilidades possam ser estimulados a ter suas habilidades
potencializadas ao máximo. Nesse sentido, as estratégias educacionais mais
adequadas para esses alunos o aquelas obtidas pelas combinações entre as
alternativas de atendimento implementadas no programas e aquelas organizadas na
sala de aula regular, o que impõe uma demanda que integre o ensino regular com o
programa de enriquecimento.
Perguntado a cada uma das professoras: “você percebe pontos positivos no
que diz respeito às estratégias educacionais realizadas no PIT se comparadas com
as planejadas na sala de aula regular?”, elas verbalizaram que, pelo fato do PIT
tratar-se de um programa qualitativamente diferente do previsto no currículo da
escola, com o intuito de complementar e diversificar o processo de ensino-
aprendizagem do aluno, as estratégias educacionais implementadas são positivas,
pois podem ampliar o conteúdo e adotar metodologias de ensino baseadas nas
características dos alunos aos quais se destinam.
Relataram ainda que o PIT se configura como um programa de
enriquecimento com estratégias educacionais que favorece a aprendizagem e o
desenvolvimento do aluno por organizar medidas educacionais especiais que
permitem aprofundar e diversificar as experiências dos alunos em função dos seus
interesses, aptidões e necessidades educacionais. Em síntese, são estratégias de
caráter prático, que beneficiam o aluno, na medida em que fornecem atividades para
além do currículo regular, tendo em vista o desenvolvimento de atividades de
99
aprendizagem diferenciadas e estimulantes, de acordo com as preferências e estilos
de expressão de cada aluno.
A partir da fala das professoras, é possível inferir que as estratégias
educacionais adotadas no programa favorecem o processo de ensino-aprendizagem
de Rodrigo, por não serem iguais a todos os alunos, mas por serem adaptadas e
planejadas, levando em conta as suas características, o seu nível de conhecimento,
o seu estilo de aprendizagem e expressão, e por isso atingem a escola de maneira
positiva.
Nessa ótica, a premissa fundamental que deveria nortear o planejamento de
intervenções mais adequadas para esse tipo de aluno é as que contemplam as
características e necessidades particulares apresentadas por ele.
De acordo com Peres, Rodriguez e Fernandéz “os contextos educacionais
devem estar preparados e contar com configurações prévias de atenção à
diversidade”, (1998, p. 127). No caso de Rodrigo, foram as estratégias educacionais
flexíveis que lhe possibilitaram aprofundar tópicos de seu interesse, desenvolver
habilidades e encarar desafios, tornando sua aprendizagem e desenvolvimento mais
prazeroso.
Com relação às estratégias educacionais implementadas no PIT, a equipe de
atendimento propõe atividades que privilegiam a prática do pensamento crítico, no
que concerne à originalidade e ao aprofundamento na abordagem de um assunto.
Por efeito, ancorado na liberdade são oferecidas a Rodrigo as condições de escolher
os temas que despertam mais curiosidade em pesquisar, podendo potencializar
suas habilidades na medida em que utiliza o seu próprio estilo de aprendizagem
para construir uma idéia ou um produto.
Conforme apresentado no capítulo I, as estratégias educacionais estão
organizadas a partir Modelo de Enriquecimento Escolar proposto por Renzulli
(1986). Este modelo contempla o desenvolvimento de atividades de enriquecimento
do tipo I, II e III, através de experiências que expõem o aluno a tópicos e áreas do
conhecimento que, por vezes, não fazem parte do currículo escolar, ou não são
enriquecidas, mas é do seu interesse aprofundar tal conhecimento.
Nesse sentido, as atividades de enriquecimento do PIT auxiliam o aluno a
aprender a “como fazer”, a usar metodologia adequada ao que pretende pesquisar,
100
possibilitando o uso de instrumentos e materiais que favoreçam o desenvolvimento
de seu pensamento crítico e criativo, de investigação e de habilidades pessoais
como liderança, comunicação, autoconceito. Ademais, o PIT visa ao
desenvolvimento global dos alunos, através de atividades que combinam o que o
aluno sabe e o seu interesse com aquilo que pretende conhecer ou pesquisar.
Nesse viés, o PIT possibilita a Rodrigo desenvolver e expressar suas
habilidades, mas também identificar suas dificuldades e os seus limites, sem sofrer
pressão no sentido de manter um rendimento superior constante, podendo fazer
escolhas a partir daquilo que ainda não sabe, mas que tem curiosidade e potencial
para aprender; além de ter a oportunidade de envolver-se com um ou mais assuntos
do seu interesse. Portanto, o que o aluno almeja conhecer e pesquisar é fruto do
que ele sabe, de seu interesse e de sua capacidade de pensar e decidir.
Assim as estratégias educacionais implementadas no PIT oportunizam ao
aluno a engajar-se em pesquisas e a aprender por meio de experiência, estimulando
suas habilidades que, por vezes, são negligenciadas pela escola, ao mesmo tempo
em que propõe atividades vinculadas com a realidade do aluno. Essas condições
fazem do PIT um contexto de aprendizagem desafiante, porque se caracterizam por
ações educacionais que consideram as características e potencialidades individuais.
Assim, as experiências desenvolvidas nesse programa favorecem o pensamento
criativo, a resolução de problemas e atitudes positivas face às atividades
pedagógicas desenvolvidas na escola, como também um maior envolvimento com
as tarefas e interesses pela aprendizagem, em geral.
Entretanto, não é suficiente apenas a participação do aluno no programa, é
necessário que as estratégias educacionais sejam articuladas com o contexto
escolar, pois o enriquecimento tende a ser mais eficaz quando combinado com
outras medidas ou alterações curriculares implantadas na própria escola em que o
aluno está matriculado.
A eficácia do programa de enriquecimento também está condicionada a sua
articulação com projetos de pesquisa e trocas de conhecimentos. Essas são razões
plausíveis e convincentes que estão levando o PIT a ter sua contribuição avaliada,
pois “[...] se esses programas são alvos de pesquisas e m a possibilidade de
serem discutidos em encontros científicos, a credibilidade que adquirem pode
101
favorecer sua continuidade e alicerçar as necessárias reformulações”, (SABATELLA
e CUPERTINO, 2007, p. 79).
Nesse sentido, esta pesquisa é uma oportunidade de contribuir para a
qualificação do programa, além de ser uma possibilidade de ressignificar idéias e
concepções a respeito das alternativas oferecidas para os alunos com altas
habilidades. Promovendo ainda a reflexão sobre a função da escola regular e do
programa de enriquecimento, principalmente, na construção e implementação de
estratégias viáveis para esses alunos, sem perder de vista, sobretudo a idéia de que
é imperiosa a existência de práticas educacionais mais ousadas, que favoreçam, de
fato, o desenvolvimento do potencial do aluno com características de altas
habilidades.
Tecer considerações acerca da inclusão educacional representa a
possibilidade de se estabelecer igualdade de oportunidades entre os pares, e se
materializa nas ações e práticas inclusivas centradas na diversidade dos alunos,
especialmente, no reconhecimento e atendimento as suas necessidades
educacionais especiais. Nessa perspectiva, promover o acesso dos alunos com
altas habilidades a programas especiais, como também a implantação de estratégias
educacionais no contexto escolar, é a possibilidade de se vislumbrar e garantir um
nível de excelência na educação, além de ser uma alternativa de impedir que esses
sujeitos vivenciem o fracasso escolar e tenham a sua aprendizagem e o seu
desenvolvimento comprometidos, em conseqüência de não realizar plenamente o
seu potencial.
Reveste-se, portanto, de especial importância a busca da compreensão de
quem são esses alunos, onde se encontram e como podem ter suas necessidades
educacionais especiais atendidas, para então, ampliar as medidas educacionais
para essa população e proporcionar estratégias educacionais baseadas nas
necessidades e interesses apresentados pelo aluno.
Para tal, são necessárias políticas públicas que viabilizem a formação
continuada dos professores, como também medidas educacionais que assegurem
as oportunidades de aprendizagem por meio de diferentes ações, materiais e
recursos, e ainda, que procedam as modificações curriculares e a criação de
espaços verdadeiramente inclusivos, os quais abarquem os mais diversos estilos de
aprendizagem.
102
3.6.4 Motivação e Criatividade: as contribuições do PIT neste processo
Uma das principais vantagens dos programas de enriquecimento reside na
possibilidade de incluir objetivos de desenvolvimento global dos alunos. Esse
aspecto permite um equilíbrio nas várias áreas de desenvolvimento (cognitivo,
emocional, social, psicomotor), favorecendo, também, o autoconceito e auto-
realização deles, redundando em melhores atitudes em relação à aprendizagem e
ao sucesso escolar.
Nesse sentido, a motivação do aluno tende a ser influenciada por esses
fatores, como também pela promoção de experiências de aprendizagem mais
enriquecedoras e desafiantes e pela possibilidade de interagir com colegas com
características e necessidades similares.
Portanto, incrementar um clima de aprendizagem que resulte em maior
produtividade e criatividade possibilitará a expansão dos interesses do aluno e
estimulará o seu nível de motivação. Nesse enfoque, apresento a percepção das
professoras de Rodrigo ao serem questionadas se: “o aluno apresenta envolvimento
com a tarefa, no que diz respeito à motivação para executar uma atividade ou à
resolução de um problema? No seu entendimento, as estratégias implantadas no
PIT contribuem nesse processo?”
A professora Margarida relata que ele demonstra envolvimento com as
atividades em aula e que
“a motivação do aluno é maior durante a realização das atividades que
apresentam níveis de dificuldades e desafios que o instiguem a descobrir a
melhor maneira de resolvê-las. Nessas circunstâncias, ele sempre opta por
um caminho diferente dos demais colegas, às vezes, ele demora mais
tempo para resolver um exercício por ter o hábito de questionar a idéia de
uma versão única para a solução do problema, apresentando maior
atenção e concentração, canalizando as suas energias para construir uma
idéia original, demonstrando não se conformar com respostas e soluções
óbvias. Entretanto, nem sempre as atividades possuem um grau de desafio,
pois eu tenho que seguir o programa estipulado pelo currículo regular e
também porque o são todos os alunos que apresentam o mesmo
desempenho dele durante as atividades.”
103
A partir de o relato da professora e das observações realizadas na turma de
Rodrigo, é possível afirmar que o aluno apresenta motivação e envolvimento com as
atividades escolares que o desafiem, e essa postura, de certa forma, está
relacionada com as experiências proporcionadas ao aluno durante as atividades
realizadas no PIT. No programa ele tem a oportunidade de analisar, interpretar e
ressignificar um assunto ou tema, desenvolvendo o hábito da pesquisa, que, por
vezes, no contexto escolar não é estimulada, pois conforme a fala da professora,
não são em todas as atividades que surgem desafios, como a chance de trabalhar
com diferentes idéias.
Portanto, o aluno demonstra estruturar e construir suas idéias a partir de as
possibilidades que surgem para exercitar o pensamento criativo e produtivo. Por
isso, as atitudes de Rodrigo em relação à aprendizagem escolar resultam das suas
vivências nos diferentes contextos em que interage e das oportunidades que tem
para desenvolver plenamente seu potencial.
Nessa perspectiva, encorajar o aluno a desenvolver as suas habilidades,
demanda sempre a formação de um ambiente com liberdade para o aluno
experenciar, expressar suas idéias e opiniões. Para que isso ocorra, é necessário
criar um contexto de relações positivas, no qual se leve sempre em conta a idéia de
que todos os alunos podem aprender e manter-se motivados a buscar
conhecimentos se encontrar estímulo e lugar para desenvolver e expressar o seu
pensamento criativo.
Nesse sentido, a professora Margarida comenta que as estratégias
educacionais propostas no PIT expõem o aluno a experiências, materiais e
conhecimentos que extrapolam o currículo da escola, por isso, o aluno tem a
oportunidade de aprofundar aquilo que é de seu interesse e desenvolver produtos
originais, por meio de atividades acadêmicas mais avançadas e desafiadoras. Nesse
contexto, ela verbaliza que Rodrigo,
“é incentivado a produzir conhecimento e desenvolver características como:
perseverança, dedicação, autoconfiança e esses fatores, contribuem para
que o aluno tenha mais energia para concluir as atividades em aula, pois as
ações organizadas no programa estimulam o aluno a desenvolver o hábito
do estudo”.
104
A professora relata também que essas possibilidades favorecem o sentimento
de auto-realização no aluno, pois trabalham diretamente com as áreas de
desempenho onde o seu potencial superior está presente e com isso, ele aprende a
estabelecer relações entre as atividades trabalhas no PIT e aquelas trabalhadas na
sala de aula regular, suplantando os limites que os conteúdos curriculares muitas
vezes impõem.
Compactuo com as idéias de Renzulli e Reis (2003), que apontam que
seguidamente, no ensino regular, os alunos se envolvem nas mesmas atividades,
independentemente de suas habilidades e interesses. Em contrapartida, nos
programas de enriquecimento, as estratégias educacionais são organizadas e
praticadas com base nos interesses, preferências, estilos de aprendizagem e
expressão das habilidades dos alunos.
Nessa perspectiva, as atividades propostas no PIT se tornam facilitadoras do
desenvolvimento potencial de Rodrigo, pois propõem atividades nas quais ele tem
autonomia para decidir sobre os assuntos, tópicos e técnicas que tem interesse em
pesquisar, podendo aplicar e ampliar seus conhecimentos, criticar, analisar e
examinar passos e soluções, que o leve a propor novos caminhos e alternativas
para resolução de determinada atividade. Dessa forma, o aluno se sente
entusiasmado e motivado em participar, escolher e desenvolver os assuntos ou
projetos com os quais quer trabalhar.
Essas possibilidades permitem ao aluno uma aprendizagem e um
desenvolvimento significativos, pois as estratégias organizadas no PIT consideram
as experiências, interesses e estilos de aprendizagem de Rodrigo, proporcionam-lhe
sentimentos de felicidade e auto-realização com o resultado de suas produções.
Sendo assim, ao planejar suas atividades a partir dos interesses pontuais do aluno,
o PIT passa a favorecer, não somente os aspectos cognitivos de desenvolvimento,
mas também os aspectos afetivos e motivacionais deste, além de estimular a
autonomia e a produtividade do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, a professora Rosa, em relação à motivação de Rodrigo
durante a realização das atividades de informática, afirma,
“ele apresenta muito envolvimento com as tarefas que contemplam
assuntos de seu interesse; a curiosidade faz com que ele pergunte e fique
atento a tudo sobre o tema. Com certeza, a sua participação no programa
105
estimulá-o a desenvolver atitudes investigativas, e a buscar um espaço para
expressar suas idéias”.
A partir de os relatos das professoras e das observações realizadas no
contexto da sala de aula, é possível afirmar que as atividades de investigação e
construção de projetos propostas para Rodrigo no PIT favorecem a postura
investigativa desse aluno na escola, sobretudo, nas situações de aprendizagem que
o desafiam a pensar, sentir, fazer e desenvolver idéias criativas, elaborando
alternativas para a solução de problemas e conflitos emanados do cotidiano escolar.
Deste modo, é imperativo encorajar os alunos a aprofundar o conhecimento e
a utilizar novas metodologias de trabalho e pesquisa na sala de aula regular. Para
isso, é necessário transformar a rotina e as práticas escolares em espaços com
oportunidades para os estudantes se envolverem em atividades diversas, com
dinâmicas flexíveis, onde todos possam opinar sobre o andamento das atividades, a
seqüência dos assuntos e novas abordagens, ao longo do processo de ensino-
aprendizagem.
A partir de esses aspectos, é essencial organizar o contexto educacional de
modo a gerar a necessidade e a possibilidade do aluno se expressar e potencializar
suas habilidades para resolver problema, Nesse sentido, a motivação tem
significativa relevância, e por isso se propõe que seja priorizada para ser bem mais
aproveitada e estimulada na educação escolar. Vygotsky (1982) explica essa
questão, pontuando que a energia que o sujeito canaliza para desempenhar uma
função é o que nutre a atividade investigativa e faz com que o individuo possa
projetar-se no futuro, transformar a realidade e modificar o presente. Nessa
perspectiva, o papel da motivação tem influência significativa nesse processo, assim
sendo, deveria ser um proeminente postulado na construção do processo
pedagógico, no contexto escolar.
Analisando a motivação e a atividade investigativa do aluno sob esse prisma,
é possível compreender a relevância de estimular esses aspectos no âmbito escolar,
devido a sua importância para a aprendizagem e desenvolvimento do sujeito. Esse
entendimento tem afinidade com as idéias de Vygotsky (1982), ao comentar que é a
partir da experiência vivida pela pessoa e pelas suas interações com o contexto
sócio-cultural que esta (re)elabora o seu pensamento, constrói conhecimentos,
106
edificando novas possibilidades de acordo com seus desejos, necessidades e
motivações.
Nesse sentido, quanto mais ricas forem as experiências humanas e as trocas
do sujeito com o meio, tanto maior será o material colocado à disposição para
estimulação do pensamento criativo e produtivo. Portanto, ampliar as oportunidades
do aluno no contexto escolar é fundamental para lhe fornecer instrumentos para
desenvolver plenamente a sua capacidade criadora.
É oportuno ressaltar também, que para Vygotsky (1982) a atividade criadora é
uma capacidade comum em todos os sujeitos, independente de habilidades ou da
maturação precoce de uma determinada capacidade mental especial. Assim, “se
considerarmos que a criação consiste, em seu verdadeiro sentido psicológico, em
fazer algo novo, é cil chegar à conclusão que todos podemos criar em maior ou
menor grau e que a criação é acompanhante normal e permanente do
desenvolvimento infantil”, (Ibid., p. 46).
Compactuo com as idéias de Vygotsky (1882) quanto à existência de
potencialidades criativas em cada um de nós - seres humanos. Por isso a
necessidade de implementar estratégias educacionais que possibilitem ao aluno o
pleno exercício do pensamento criativo. Além disso, a criatividade permite ao
indivíduo exercitar seus desejos, formar hábitos de pesquisa, formular e transmitir
suas idéias favorecendo também, a sua aprendizagem e o desenvolvimento global.
Portanto, o exercício da criatividade é um comportamento tipicamente
humano, que auxilia na compreensão da condição sócio-cultural, historicamente
determinada pelos nossos processos de interação e construção, que caracteriza a
todos nós, como seres de um contexto cultural, criador e transformador.
Nesse sentido, passo a analisar as habilidades criativas de Rodrigo alicerçada
na perspectiva sócio-histórica do desenvolvimento proposta por Vygotsky (1989,
1982). Essa concepção permite compreender a criatividade como um potencial
situado no pensamento do sujeito, num processo através do qual ele produz novos
conhecimentos.
Dessa forma, é possível afirmar que a relação existente entre criatividade,
sujeito e o ambiente, faz parte de um mesmo sistema, no qual o indivíduo aprende e
se desenvolve por meio das interações com o meio, desenvolvendo suas
107
habilidades criativas num contexto sócio-cultural e devolvendo para esse cenário o
produto de sua habilidade criativa.
Ao serem questionadas se “O aluno se expressa criativamente nas situações
de aprendizagem? Ele utiliza o pensamento criativo durante a execução de
problemas?”, as professoras explicitaram que durantes as atividades escolares, o
aluno imagina, combina, modifica e cria novas idéias, realizando significativas
descobertas notadamente na hora de resolver uma tarefa. Elas verbalizaram que
essas habilidades se expressam em diferentes situações, tanto em atividades de
matemática, como exemplo, na forma que organiza o raciocínio para solucionar um
problema, quanto na área da linguagem, na maneira com que utiliza as palavras
para escrever textos e comunicar suas idéias.
A duas professoras entrevistadas deram relevância à habilidade e
desenvoltura com que esse aluno consegue combinar seus conhecimentos prévios
com os conteúdos novos para produzir uma nova idéia ou conceito bem elaborado e
original.
A partir de esses relatos, é oportuno realizar a seguinte reflexão: Rodrigo
pode ser considerado um sujeito criativo? O que o diferencia dos outros colegas?
Por que ele consegue produzir novas idéias com significativa relevância, quando
comparado aos outros alunos da sua sala de aula regular?
Concordo com Neves-Pereira (2007) quando explicita que definir quem é o
sujeito criativo é uma tarefa complexa, parecendo ser mais fácil identificar uma
produção criativa, que, uma obra de arte, uma teoria científica ou um produto
inovador, costumam ser reconhecidos pelas pessoas dentro de um contexto sócio-
cultural. Porém, se se almeja conhecer sobre criatividade, não é plausível deixar de
compreender quem é o sujeito criativo. É relevante saber o que diferencia esse
indivíduo das outras pessoas e investigar quais as principais características de
personalidade compõem esse sujeito.
Nessa perspectiva, a professora Margarida, quando questionada sobre as
características do aluno, verbalizou que,
“ele (Rodrigo) tem a habilidade de gerar múltiplas idéias nas situações em
que tem liberdade para criar, mostrando todo o seu potencial criativo,
principalmente nas atividades que há desafios, expressando senso
investigativo e inteligência para resolver as tarefas escolares”.
108
Com base, no seu relato, Rodrigo apresenta características comuns aos
sujeitos que se destacam por uma produção criativa. O quadro abaixo ilustra os
principais traços personológicos identificados em pessoas com alto desempenho
criativo.
O SUJEITO CRIATIVO TEM
Senso de humor elevado;
Independência para julgar suas próprias idéias;
Flexibilidade mental;
Pensamento metafórico;
Abertura para novas idéias;
Muita indignação;
Habilidades de pensamento lógico;
Preferências por situações e pensamentos complexos;
Coragem;
Foco na tarefa;
Compromisso com a tarefa;
Curiosidade;
Perseverança;
Disposição para correr riscos;
Auto-estima positiva;
Abertura a novas experiências;
Tolerância a ambigüidade;
Interesses amplos por diferentes campos do saber;
Gosto pela aventura;
Percepção de si mesmo como criativo;
Resistência a seguir regras
(NEVES-PEREIRA, 2007, p. 19)
109
A partir de as características citadas nesse quadro, é possível perceber que o
indivíduo criativo possui traços de personalidade bem específicos. Todavia,
identificar um aluno como altamente criativo, considerando apenas essas
características, pode-se auferir resultados imprecisos, pois conforme pontuei nos
capítulos anteriores, cada sujeito apresenta as suas singularidades, portanto, suas
características de desenvolvimento e comportamento, as quais o resultados de
sua trajetória pessoal, exclusiva e intransferível.
Destarte, identificar as características que compõem os indivíduos criativos
representa também uma opção de atuar pedagogicamente com esses sujeitos, no
sentido de promover o desenvolvimento dos aspectos que figuram nas pessoas com
habilidade criativa, pois conhecendo as características presentes no individuo, com
potencial criativo, pode-se estimular a todos os alunos a desenvolverem esses
traços e, por conseguinte, a abrirem possibilidades para a promoção desse
respectivo pensamento.
A partir do que foi exposto e balizado nos relatos das professoras e nas
observações realizadas na sala de aula regular de Rodrigo é possível afirmar que o
aluno apresenta “elementos” que compõem o fenômeno da criatividade, entretanto,
a presença dessas características enseja ser fator indicativo e não garantia de que
ele seja, de fato, criativo. Nesse sentido, faço coro às idéias de Neves-Pereira
(2007) que compreende a criatividade com um potencial complexo de ser
identificado, exigindo maior trabalho e dedicação para avaliá-lo. Essa autora afirma
que
Avaliar a criatividade de um sujeito demanda, também, compreender sua
história de vida a sua construção de rotas de desenvolvimento, seus
processos de aprendizagem e sua produção criativa. A história do sujeito
tem muito a nos informar sobre sua criatividade, por isso a relevância em
investigarmos os traços biográficos que se relacionam com um perfil
criativo, (Ibid. , p. 20).
Na fala das professoras de Rodrigo, encontrei alguns indicadores biográficos
que se relacionam com um perfil criativo. Como exemplo, quando a Margarida
explicitou “o desempenho do aluno durante as atividades escolares, no que
concerne imaginar, combinar e criar novas idéias, apresentando descobertas
significativas para resolver problemas”, ou ainda quando Rosa revelou que, “as
habilidades criativas do aluno se expressam em diferentes campos do
110
conhecimento, destacando também a capacidade que o aluno apresenta em
combinar seus conhecimentos prévios com os conteúdos novos para produzir uma
nova idéia ou conceito bem elaborado e original”.
A partir de esses comentários, é possível perceber a presença de algumas
variáveis que se relacionam com a expressão criativa, como exemplo, elas
explicitarem, a habilidade de Rodrigo em combinar conhecimentos e formular
conceitos originais. Em relação a esse aspecto, compactuo com a idéia de Alencar
(1992), ao pontuar que, sem algum conhecimento prévio sobre um assunto, torna-se
pouco provável produzir algo que possa ser estimado como inovador e original.
Nesse sentido, a necessidade de uma bagagem cultural para a expressão da
criatividade, assim, quanto maior os conhecimentos, maior o número de
comportamentos, combinações ou idéias que o indivíduo pode desenvolver.
Nesse prisma, a motivação desempenha papel essencial na trajetória do
aluno na construção de produtos ou idéias criativas. Torrance (1987) citado por
Neves-Pereira (2007), realizou estudos sobre o potencial criativo, o autor, verificou
que se pode esperar altos níveis de expressão criativa nas pessoas que possuem
motivação e habilidades imperativas à criatividade. Por isso, os alunos que têm a
oportunidade de interagir em ambientes ricos em estimulação e diversidade de
informações, com oportunidades educacionais de qualidade, possuem melhores
condições de desenvolver seu potencial criativo, do que outros indivíduos,
desprovidos destes fatores sociais.
Ao considerar a expressão da criatividade na perspectiva sócio-cultural do
desenvolvimento do sujeito em suas interações com o ambiente, Neves-Pereira
(2004, 2007) chama atenção para fatores como:
a)as barreiras sociais presentes no ato de criar; b) as dimensões social e
cultural que outorgam a chancela de criativo para determinados produtos
e/ou idéias e c) a relevância do suporte social para que a criatividade se
desenvolva [...], (NEVES-PEREIRA, 2007, p. 21)
Concordo com a autora, ao considerar que, compreender a expressão criativa
como um potencial que só existe em uma relação de interdependência com o
contexto sócio-cultural é relevante no sentido de nos permitir entender quem é o
aluno criativo e o que o incentiva a produzir algo novo e original.
111
foi pontuado, que para o aluno manter-se motivado a produzir
conhecimento é necessário um contexto de relações favoráveis e propícias para o
desenvolvimento do seu potencial criativo. Nesse sentido, é imperativo refletir sobre
as oportunidades que Rodrigo têm na sala de aula regular e no PIT para
desenvolver o pensamento criativo e produtivo.
Um produto ou uma idéia é reconhecido como criativo e original quando
exposto ao julgamento de outras pessoas. Nessa perspectiva, foi apresentada a
opinião das professoras a respeito do perfil do aluno e às suas características
relacionadas ao seu desempenho criativo. Portanto, Cskszentmihalyi (1988b, p.
325,) argumenta:
Não podemos estudar a criatividade isolando indivíduos e suas obras do
contexto social e histórico onde estas ações ocorrem. Isto porque o que
chamamos criatividade nunca é resultado da ação individual do sujeito. É,
isto sim, o produto de três domínios principais que delineiam o fenômeno: o
grupo das instituições sociais (Campo) que selecionam entre os vários
produtos individuais aqueles que serão preservados; um aspecto cultural
estável (Domínio) que preserva e transmite os produtos selecionados para
as próximas gerações e, finalmente, o sujeito (Indivíduo) que promove
mudanças no domínio que devem ser criativas pelo Campo.
Conforme as idéias do autor a compreensão da criatividade diz respeito aos
fatores referentes ao campo social, ao domínio específico de cada esfera social e ao
sujeito que organiza as informações transmitidas das instâncias anteriores. Portanto,
a expressão criativa é definida como “atributo não só de indivíduos, mas também de
sistemas sociais que fazem julgamentos sobre esses indivíduos”,
(CSKSZENTMIHALYI, 1988a, p. 13).
Nesse sentido, é propósito dessa pesquisa investigar a relação dialética de
Rodrigo com as estratégias educacionais implementadas no PIT e as organizadas
na sala de aula regular, e como a interação do aluno nesses dois espaços se reflete
e se expressa no ato criativo.
Tendo como base as observações feitas na sala de aula regular de Rodrigo,
foi possível identificar que o contexto escolar poderia realizar um trabalho
pedagógico direcionado ao estímulo das características apontadas anteriormente
pelo aluno, consideradas como indicativos do potencial criativo de Rodrigo.
112
Promover a expressão criativa do aluno no contexto escolar, por meio da
prática educacional, pode ser pensada, através da analogia entre os fenômenos da
criatividade e eletricidade sugerida por Vygotsky (1990). A eletricidade está
presente em ocasiões de diferentes intensidades. durante as grandes
tempestades, com seus raios e trovões, mas também acontece nas pequenas
luminárias, quando acendemos o interruptor. A eletricidade é a mesma, o fenômeno
o mesmo, entretanto, expresso com magnitude diferente. A expressão criativa se
manifesta da mesma maneira. Todos apresentamos essa energia criativa, porém,
necessitamos de condições adequadas para desenvolvê-las plenamente.
A partir da relação entre criatividade e eletricidade, fica claro, que o estímulo
da expressão criativa é possível de ser viabilizado no contexto escolar, entretanto, o
ambiente educacional pode tanto favorecer como inibir o potencial criativo dos
alunos. Geralmente, as escolas não se organizam de modo a promover ou mesmo
incentivar seus estudantes a serem criativos.
No caso de Rodrigo, as possibilidades e estímulos que o contexto escolar
proporcionam-lhe para desenvolver a criatividade o limitadas, mesmo
expressando uma postura transformadora, modificando as regras e as soluções das
atividades, inovando, estas características, por vezes, o são aproveitadas e,
portanto, pouco estimuladas no ambiente escolar. Nesse sentido, concordo com
Neves-Pereira (2007) ao afirmar a necessidade de a criatividade ser vista como
ferramenta que promove o progresso e a adaptação à vida, mas, ao mesmo tempo,
tememos o desconhecido, porque ele transforma as estruturas já conhecidas.
Diante disto, a escola pode inibir a expressão criativa, como medida de
conservação da “ordem e da estabilidade” educacional. Nesse sentido, os
impedimentos ao desenvolvimento do potencial criador surgem no cerne da cultura
de cada grupo e agem no sentido de evitar atitudes desviantes da “norma social”.
Como exemplo, cito as escolas que trabalham para educar os alunos e moldá-los a
partir de modelos estabelecidos de acordo com as ideologias dominantes. (NEVES-
PEREIRA, 2007)
No decorrer das observações realizadas na sala de aula regular de Rodrigo,
pude perceber que o aluno encontra-se incluído num contexto escolar com poucas
oportunidades que favorecem a sua expressão criativa. Porém, de certo modo, esse
aspecto é compensado através da oportunidade que o aluno tem de participar do
113
PIT. Pois no programa, o aluno tem a possibilidade de realizar atividades que visam
à promoção da aprendizagem e do desenvolvimento humano, através de estratégias
educacionais que potencializam a habilidade criativa do aluno.
Nessa perspectiva, é importante lembrar o seguinte trecho retirado da fala da
professora Margarida a despeito das estratégias educacionais implementadas no
PIT e a relação destas com a expressão criativa do aluno apresentada em sala de
aula. Ela relata que
“as atividades realizadas no programa, proporcionam ao aluno utilizar
metodologias diferenciadas para pesquisar e aprender, por isso influenciam
o desenvolvimento da autonomia, autoconfiança e criatividade. Essas
características, muitas vezes, não são tão estimuladas durante as tarefas
organizadas no cotidiano escolar, pois tenho que assumir e dar conta de um
programa curricular extenso, entretanto, sou consciente de que poderia
incentivar melhor o desenvolvimento das competências apresentadas pelo
aluno, ao invés de priorizar atividades que privilegiam a transmissão do
conhecimento e a reprodução de informações, mas nem sempre é possível,
a demanda da escola e dos alunos é imensa, e eu sou apenas uma para
atender quase trinta alunos....Ah, se todos os outros (alunos) apresentasse
o mesmo desempenho dele (Rodrigo)”.
Entretanto, é na escola que parte significativa dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento do aluno acontecem, por meio das trocas que
estabelece durante as interações com professores e colegas. Por isso, a despeito
dos programas pedagógicos adotados no contexto escolar, como a professora
mesmo comentou, acabam somente transmitindo conhecimento, privilegiando
apenas os conteúdos estabelecidos no currículo. Assim, é imprescindível
transformar esse cenário num espaço com condições adequadas para o
desenvolvimento do sujeito, de forma que as ações educacionais atuem da maneira
mais competente, pois é notável o desperdício do potencial existente nos ambientes
escolares com relação ao desenvolvimento de habilidades criativas.
Essa realidade, perpassa os diferentes níveis de ensino em nosso país,
formando alunos mal preparados para enfrentar ao mercado de trabalho, com uma
visão reprodutivista de conhecimento e sem motivação necessária para transformar
ou apontar soluções originais para os velhos problemas. São fatores que indicam
que a escola talvez careça ainda de uma postura promotora da criatividade dos seus
estudantes, como também de um ensino criativo, (VIRGOLIM, 2007a; 2007b).
114
Ao refletir sobre a forma de delinear alternativas práticas para se efetivar a
organização do ambiente educacional, visando à excelência da educação dos
sujeitos, torna-se imperiosa a necessidade de considerar o potencial criativo como
promotor desse objetivo. Esse potencial criativo também é gerador de técnicas,
conhecimentos e habilidades essências, a serem estimulados em todos os atores
escolares (alunos e professores). Entretanto, o cenário educacional é marcado por
idéias contraditórias, que na prática diferenciam-se desse desejo, sobretudo, quando
se trata da promoção da criatividade do ensino.
Nesse sentido, alguns questionamentos se fazem necessários e são
oportunos: a escola está preparada para o aproveitamento pedagogicamente da
criatividade? Ela reúne as condições desejáveis para encarar e promover esse
desafio? E ainda, é competente para preparar seus professores para serem também
pessoas criativas em suas ações no contexto da sala de aula e fora dela?
Conforme o relato da professora Margarida, “sou consciente de que poderia
incentivar melhor o desenvolvimento das competências apresentadas pelo aluno, ao
invés de priorizar atividades que privilegiam a transmissão do conhecimento e a
reprodução de informações”. A partir de essa manifestação é possível asseverar que
a professora compreende a importância de promover a criatividade durante as
atividades escolares. No entanto, ela continua atuando na direção oposta dessa
evidente necessidade, no que concerne ao estímulo do pensamento criativo, não
modificando, por efeito, esse cenário, cujas características estão nele imbricadas
evidências de reprodução e acúmulo de conhecimentos.
Segundo Neves-Pereira (2007), essa realidade é registrada na maioria das
instituições de ensino e importa destacar, que essa atitude, que se reveste, talvez,
de ingredientes depreciativos em relação às habilidades do aluno, resulta em
desperdício de potencial, recursos e possibilidades disponíveis, mesmo encontrados
em estado latente nos estudantes.
Em relação a isso, a autora comenta acerca das metodologias utilizadas no
contexto escolar, explicitando que “[...] em geral, reforçam o conservadorismo e
estimulam a obediência. A criança perde a oportunidade, dentro da escola, de
desenvolver suas habilidades de pensamento criativo assim como sua capacidade
de julgamento e avaliação”, (Ibid. , p.25).
115
Nesse sentido, o PIT procura criar um ambiente propício para o
desenvolvimento do pensamento criativo, proporcionando estratégias educacionais
geradoras de novos comportamentos, não apenas nos alunos, mas também na
própria equipe que executa essa proposta de enriquecimento, por meio da
organização de grupos de estudos, os quais têm o intento de abordar, entre outros
temas relacionados a esse contexto, o fenômeno da criatividade e seu
desdobramento em termos de possíveis estratégias pedagógicas para promover um
ensino criativo. As leituras sobre essa temática e as experiências levadas a efeito no
decurso da minha vida acadêmica me levaram a criar convicções que, aceitar o
desafio para trabalhar e ensinar na perspectiva da promoção da criatividade,
representa abrir-se para o desconhecido, para a possibilidade de trabalhar,
verdadeiramente, com a diversidade presente nos indivíduos. Essas são
competências que imperiosamente se coloca a todos os espaços educacionais,
tanto para o PIT, como para a sala de aula, quando se pretende implementar
estratégias educacionais que facilitem a promoção da criatividade do aluno.
Assim, promover a criatividade, nos espaços escolares, é uma tarefa um tanto
quanto complexa. Neves-Pereira (2004) identificou aspectos relevantes para que o
professor possa atuar, no contexto escolar, de forma a promover a criatividade dos
estudantes, que são os fatores que compõem os conceitos específicos desse
campo, destacando, sobremaneira, o domínio de conhecimentos pedagógicos
consistentes e progressistas.
Nesse sentido, quando o educador tem clareza e possui conhecimentos
consubstanciados dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano, a
possibilidade do docente entender a criatividade como constituinte dos processos de
formação do aluno, é por demais significativa. Por esse motivo é uma atividade que
merece estímulos, sempre.
Por parte da equipe que organiza as atividades propostas no PIT,
demonstrações que conferem uma constante preocupação no sentido de aprofundar
seus conhecimentos teóricos sobre essa temática, que o sinalizados pela
organização do ambiente e de atividades que favoreçam mediações e interações
relevantes para os alunos, o que projeta expectativas de florescimento da
expressão criativa. Assim sendo, a formação continuada é fator de significativa
importância, também, no caso desse processo.
116
Portanto, é mister que a criatividade seja considerada como um ingrediente
pedagógico proeminente, sobretudo, nos espaços escolares, e, em conseqüência,
deve constituir–se de tema de estudos nas reuniões pedagógicas, transformando-se
em atividades práticas, que somado a outros fatores, venha circunstanciar o
desenvolvimento do aluno.
Pois a promoção de um ensino orientado para o desenvolvimento do potencial
criativo, segundo NEVES-PEREIRA (2007), “[...] exige uma formação de qualidade
do professor, em aspectos diretamente relacionados à sua prática pedagógica [...]”,
e para que o educador possa, de fato, proporcionar atividades de ensino que
privilegiem o desenvolvimento da criatividade em sala de aula, “[...] é necessário que
ele domine conhecimentos construídos sobre estratégias de ensino e fomento do
potencial criativo no contexto escolar”, (p. 28).
Nesse sentido, não é somente o aluno que tem a incumbência de desenvolver
o hábito da pesquisa, da investigação e da busca por conhecimentos que permitam
a suplantação de desafios impostos no seu caminho. Também ao professor se lhe
impõe, em virtude da natureza de sua atividade profissional, necessariamente, o
desenvolvimento de atividades imbuído do espírito desse tipo de postura, o
professor-pesquisador, a fim de transformar a sua sala de aula em espaços de
relações positivas, desafiantes, motivacionais para o processo de aprendizagem e
desenvolvimento e promoção do pensamento criativo.
Nessa perspectiva, faço coro a Neves-Pereira (2007), ao comentar que
quando o professor se percebe como criativo, valoriza esse potencial, e acaba se
interessando por atividades e assuntos diversos, o que vai sensibilizá-lo para
possibilitar também a criatividade de seus alunos.
É possível inferir que a possibilidade de Rodrigo interagir e realizar
experiências de aprendizagens significativas, num contexto que valoriza a
criatividade, no caso do PIT, favorece a sua aprendizagem e desenvolvimento, como
também a expressão criativa, pois esses processos se originam a partir das
interações sociais do sujeito com os diferentes contextos que atua. Dessa forma, as
estratégias educacionais implementadas no PIT auxiliam Rodrigo a ter melhor
desenvoltura para expressar suas habilidades no ambiente escolar.
117
Portanto, é condição essencial para a promoção da aprendizagem e
desenvolvimento desse aluno especial que seja possibilitado a ele a vivência de
experiências adequadas, notadamente que encontre um ambiente de liberdade para
criar, descobrir, expressar suas idéias e opiniões, e mais, que lhe proporcione
confiança em seu potencial, para se sentir acolhido, valorizado e apreciado
positivamente, sobretudo, respeitado como pessoa com características e
necessidades singulares.
Desse modo, as atividades de enriquecimento desenvolvidas no PIT têm
contribuído positivamente em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento de
Rodrigo, pois a partir do constante nas falas das professoras, nos relatos das
observações realizadas no contexto escolar do aluno, e tudo isso aliado à
fundamentação teórica desse estudo, as análises sobre as estratégias implantadas
no programa indicam que elas são fatores relevantes para favorecer o desempenho
e a expressão de suas habilidades superiores, como também para circunstanciar a
motivação e a criatividade de Rodrigo face á aprendizagem escolar.
PALAVRAS FINAIS
119
PALAVRAS FINAIS
O reconhecimento e a atenção aos alunos com altas habilidades, mediante a
adoção de estratégias educacionais especificas foi sistematicamente sustentada
pelos dados desta pesquisa, os quais assinalam que, sem um estímulo adequado e
estratégias educacionais implementadas na programação escolar ou em outros
espaços, como exemplo, os programas de enriquecimento, estes alunos estão
sujeito ao risco de não desenvolverem plenamente o seu potencial. Assim sendo, a
concepção generalizada de que esse aluno demonstrará sucesso independente de
suas experiências de aprendizagem revela-se, assim, inconsistente e
comprometedora, em se tratando de considerar os resultados empíricos fornecidos
por esta pesquisa.
inegáveis evidências no sentido de que os alunos com altas habilidades
encontram oportunidades limitadas no contexto escolar, notadamente no que
concerne às possibilidades de desenvolver plenamente o seu potencial e de
alcançar um nível satisfatório de auto-realização. Nesse sentido, os programas de
enriquecimento escolar constituem uma opção de atendimento às necessidades
educacionais especiais desse grupo de alunos.
Nesse prisma, importa considerar que o PIT- Programa de Incentivo ao
Talento visa uma ação mais abrangente no tocante ao atendimento de seus
educandos, objetivando ir além do enriquecimento curricular, favorecendo o
desenvolvimento global, de tal forma que eles possam ter uma aprendizagem
significativa, podendo prestar contribuições de maneira plausível para sociedade.
Nesse sentido, os bons resultados do PIT, na percepção das professoras do aluno,
foram obtidos em virtude das estratégias educacionais implementadas no programa
apresentarem resultados satisfatórios, pois são bem adequadas às preferências de
aprendizagem de Rodrigo.
É importante destacar, que as intervenções realizadas nesse programa não
possuem como meta exclusiva o desenvolvimento de habilidades cognitivas dos
alunos. Pelo contrário, toda a ação educacional proposta visa o desenvolvimento
global deles. Por isso, o PIT se configura como uma alternativa educacional
inclusiva, visto que consegue adequar sua prática às características e às
120
necessidades particulares de Rodrigo, no caso. Nesse sentido, as estratégias
educacionais desenvolvidas no programa levam em consideração as
potencialidades dele, em particular as de cunho criativo, como também aos seus
interesses e estilo de aprendizagem.
Nesse contexto, o PIT se configura como um espaço “aberto” que favorece o
surgimento de novas idéias e discussões possibilitando o desenvolvimento do
pensamento criativo, além de proporcionar aos alunos construírem novos
conhecimentos a partir de suas experiências pessoais e das interações com o
ambiente.
Dessa forma, considera o processo de ensino-aprendizagem, com sendo
singular, interativo, continuo e focado no aluno. Por isso, realiza adaptações e
atividades mais flexíveis e enriquecidas, contemplando conhecimentos acadêmicos
mais avançados de acordo com os próprios interesses e necessidades apresentadas
por Rodrigo. Talvez por esse motivo, as estratégias educacionais organizadas e
desenvolvidas no programa indicam, de maneira insofismável, uma positiva e
significativa contribuição no processo de aprendizagem e desenvolvimento desse
aluno na escola, e evidencia, entre outras coisas, que as suas singularidades
pessoais são consideradas.
Reitero que, o meu olhar centrou-se nas contribuições do PIT em relação às
respostas do aluno na percepção das professoras, circunscritas no contexto escolar.
Nesse sentido, um dos pontos positivos da participação do aluno no programa de
enriquecimento consiste em proporcionar-lhe um espaço de autonomia, onde ele
exerce a liberdade para escolher os assuntos que deseja aprofundar, podendo
desenvolver pesquisas e produtos criativos. Essas possibilidades favorecem a
construção de um autoconceito positivo e um sentimento de auto-realização, com
desdobramentos na escola através de postura menos conformista face à
aprendizagem e ao desenvolvimento.
Deste modo, as estratégias educacionais implementadas no PIT são
operacionalizadas de maneira a ter como base os assuntos abordados na escola
regular. Porém esses o enriquecidos com níveis de desafios de acordo com as
possibilidades do aluno. Portanto, as atividades estimulam o aluno a exercitar o
pensamento crítico e produtivo. Esses fatores proporcionam ao aluno o
121
desenvolvimento de novas alternativas de resolução de problemas, como tamm
um funcionamento mais criativo.
Assim, essas alternativas exercem uma influência positiva no percurso
acadêmico de Rodrigo, refletindo em um desempenho escolar elevado, o qual se
manifesta expresso através de suas habilidades criativas na resolução de
problemas, na autonomia e motivação quando inserido em um processo de ensino-
aprendizagem.
De acordo com o entendimento de suas professoras, as estratégias
educacionais propostas no PIT favorecem a aprendizagem e o desenvolvimento do
aluno, pois essas proporcionam atividades que estimulam não as habilidades
cognitivas, como também a criatividade e o hábito de pesquisar, uma louvável
contribuição para uma aprendizagem mais significativa.
Apesar das vantagens explicitadas pelas professoras, é um tanto quanto difícil
emitir uma avaliação mais precisa para saber se a participação de Rodrigo no PIT é
uma medida educacional suficiente para atender as suas necessidades
educacionais especiais. Esse entendimento emana da tese, segundo a qual, o
sujeito constrói conhecimentos e aprende a partir das suas experiências e das trocas
que estabelece nos ambientes em que interage. Portanto, necessidade de que,
tanto as estratégias educacionais propostas no programa de enriquecimento, quanto
as ações adotadas e desenvolvidas na sala de aula regular do aluno, priorizem a
elaboração de atividades que potencializem as habilidades que o aluno apresenta,
de forma a mantê-lo motivado e interessado a aprender, sempre mais.
Entretanto, a realidade do aluno na escola regular é caracterizada por poucas
oportunidades no sentido de ir além do conteúdo curricular, com rotinas acadêmicas
padronizadas e com poucos desafios nas atividades escolares. Diante dessa
realidade, é pouco provável que o aluno adquira o hábito de pesquisar, tampouco de
sentir-se motivado a buscar conhecimentos e a desenvolver seu potencial
plenamente.
Por isso, é imperativo que os espaços escolares flexibilizem o currículo e
incorporem nas suas metodologias atividades, que contemplem o uso da pesquisa,
do pensamento criativo, sobretudo, de estratégias educacionais que proporcionem
ao aluno espaço para ampliar e aprofundar seus conhecimentos. Nessa perspectiva,
122
parece fundamental a adoção de posturas mais preventivas e ativas diante das
necessidades educacionais especais apresentadas pelo aluno em tela.
Nesse sentido, os dados desta pesquisa apontam que, uma maior conexão
entre as estratégias educacionais desenvolvidas no programa de enriquecimento
com as atividades desenvolvidas na sala de aula regular, poderia trazer maiores
benefícios ao aluno. Sendo assim, necessidade de se estabelecer relações de
parcerias entre o PIT e a sala de aula regular. É necessário constituir uma rede de
cooperação entre esses dois espaços, a fim de que as ações de ambos atendam, de
fato, às necessidades educacionais do aluno, preparando-o para enfrentar os
desafios impostos pela nossa sociedade, a qual se encontra em constantes
transformações.
Na consolidação desta investigação, espero que esta dissertação possa,
modestamente, contribuir para aprimorar o aporte teórico da temática em tela, e,
sobretudo que os seus resultados redundem em possíveis medidas práticas e
eficazes. Para tal e com base nos resultados, ouso recomendar que o PIT organize
oficinas temáticas para os professores que atuam nas escolas regulares onde
alunos com altas habilidades matriculados, com a finalidade de contribuir com
possíveis esclarecimentos a respeito do tema, incluindo desde informações sobre a
metodologia utilizada no programa, sobre o ensino criativo até a apresentação de
sugestões de enriquecimento que poderão ser implantadas na própria estrutura da
escola.
Essa sugestão tem em vista a oportunidade de disponibilizar aos professores
conhecimentos essenciais a sua prática, para que possam, na medida do possível,
organizar e desenvolver atividades, que atendam, de fato, às necessidades
educacionais especiais apresentadas pelos alunos com altas habilidades, no
contexto escolar.
Sabe-se que, o potencial humano é observado ao longo da história da
humanidade, sendo a escola um dos lugares onde as habilidades do ser humano
expressam suas diferentes maneiras de ser. Assim, é imprescindível a necessidade
de operacionalizar um ensino que valorize e estimule o desenvolvimento desse
potencial, ampliando os conhecimentos dos alunos e buscando constantes caminhos
para a realização plena de seus projetos de vida. Isso representa palmilhar na
123
perspectiva de vislumbrar a formação de sujeitos produtores de conhecimento, com
possibilidades de contribui para a edificação de uma sociedade melhor para todos.
Essas são as principais idéias e conclusões a que cheguei, convicta que fora
cumprido com o que os objetivos inicialmente propunham. Desejo, que as
implicações desse trabalho possam apontar novas reflexões e que novas idéias
surjam no sentido da realização de novas pesquisas sobre as contribuições de
programas de enriquecimento escolar na aprendizagem e desenvolvimento dos
alunos com altas habilidades, domínio ainda incipiente nos meios acadêmicos de
nosso país.
Portanto, a presente pesquisa pretendeu contribuir no sentido de empreender
uma tentativa de elucidar as questões referentes à temática das altas habilidades e
dos processos de aprendizagem e desenvolvimento desses alunos, apresentando as
estratégias educacionais realizadas no PIT como uma alternativa de ação prática
que favorece o desenvolvimento e o potencial dos estudantes com altas habilidades,
que por razões já comentadas, nem sempre conseguem expressá-lo e desenvolvê-lo
plenamente no contexto escolar.
Entretanto, o compromisso com um ensino de qualidade, exige envolvimento,
conhecimento e ações adequadas às necessidades do aluno em todos os ambientes
educacionais nos quais ele participa. A escola não pode mais preterir seus atos, e
tampouco declinar de imperiosas incumbências pedagógicas, responsabilizando
apenas as modalidades de atendimento da educação especial, no caso desta
pesquisa, o PIT, por ser um programa, cujas atividades circunstanciam um
proeminente processo pedagógico para potencializar, na medida do possível, as
habilidades dos alunos com altas habilidades.
É indispensável, portanto, que todos os professores se lancem na perspectiva
que lhes possibilitem a ensinar e aprender com os alunos, uma tarefa pedagógica
notável em termos de constituir o real do ser humano. É desejo que as contribuições
desta pesquisa se traduzam em potencial criativo em cada um dos leitores,
educadores e educadoras, para que os incentive a desenvolver e expressar a
criatividade, produzindo novos olhares que sejam solidificados em estratégias
educacionais em consonância com as demandas dos alunos com altas habilidades,
para que logrem pleno êxito em seus processos de aprendizagem e
desenvolvimento.
124
Em conclusão, tenho convicção, por todos os motivos constantes citados,
que é possível, sim, desenvolver o potencial dos alunos com altas habilidades, e,
vislumbrar a possibilidade de estimular as habilidades criativas do professor, para
que ele proporcione um ensino criativo, parece ser também um desafio viável.
REFERÊNCIAS
126
REFERÊNCIAS
ACEREDA, A.; SASTRE, S. La superdotación: Personalidad, evaluación y
tratamiento psicológico. Madrid: Síntesis, 1998.
ALENCAR, E. M. L. S. Psicologia e educação do superdotado. São Paulo: EPU,
1986.
_______.Criatividade e educação de superdotados. Petrópolis: Vozes, 2001.
______. O aluno com altas habilidades no contexto da educação inclusiva. In:
Revista Movimento. 7, 2003, p. 61-78.
______.Indivíduos com altas habilidades/superdotação: clarificando conceitos,
desfazendo idéias errôneas. In: FLEITH, D. S. (Org). A construção de práticas par
alunos com altas habilidades/superdotação: Orientação a professores. Volume 1.
Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Especial, 2007a, p. 15-23.
ALENCAR, E. S.; FLEITH, D. S. Superdotados: determinantes, educação e
ajustamento. 2. ed. São Paulo: EPU, 2001.
_______. A atenção ao aluno que se destaca por um potencial superior. In: Revista
Educação Especial. Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação,
Departamento de Educação Especial. N.27, Santa Maria 2006, p.51-59.
ANDRÉ, M. Etnografia da Pesquisa Escolar. Campinas: Papirus, 1995
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Especial.
Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP,1994.
_______. Diretrizes gerais para o atendimento educacional dos alunos portadores de
Altas Habilidades/Superdotação e talentos. Brasília, MEESC/SEESP,1995.
_______. Programa de capacitação de recursos humanos do ensino
fundamental: superdotação e talento. Brasília: MEC/SEESP, Vol. 1, 1999.
127
_______. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.
Brasília, MEC/SEESP 2001.
BORGDAN, R. & BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação:uma
introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto, 1994.
CASTRO, A. M; RIBEIRO, M. L. S. ; BAUMEL, R, C. R.(Org). Educação Especial:
do querer ao fazer. São Paulo: Avercamp, 2003.
CHAGAS, J. F; MAIA-PINTO, R. R.; PEREIRA. V. L. Modelo de Enriquecimento
Escolar. In: FLEITH, D. S. (Org). A contrução de práticas educacionais para
alunos com altas habilidades/superdotação: atividades de estimulação de alunos.
Volume 2. Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Especial, 2007,
p. 55-77.
CONBRASD. Conselho Brasileiro para superdotação. Altas
Habilidades/superdotação. [200-]. 36p.
CORRÊA, M. L; SIQUEIRA, N. A.; SILVEIRA, S. T. Reflexões sobre práticas
inclusivas que podem atender os alunos com Altas habilidades/superditação. In:
FREITAS, S. N. (Org). Educação e altas habilidades/superdotação: a ousadia de
rever conceitos e práticas. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2006. p. 213-229.
CSIKSZENTMIHALYI, M. The domain of creativity. In: Trabalho apresentado no
Congresso de Criatividade. Pitzer, Claremont, EUA, 1988a.
_______. Society, culture, and person: asystems view of creativity. In: STERNBERG,
R. J. (Org.). The nature of creativity-Contemporary psychological perspectives.
Cambridge: Cambridge University Press, 1988b, p. 325-339.
FACCI, M. G. D. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um
estudo crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo
e da psicologia vygotskiana. Campinas?SP: Autores Associados, 2004.
FLEITH, D. S. Psicologia e educação do superdotado: Definição, sistema de
identificação e modelo de estimulação. IN: Cadernos de Psicologia da Sbp,
Ribeirão Preto, v. 5, n. 1, p. 37-50, 1999.
128
_______. (Org). A contrução de práticas educacionais para alunos com altas
habilidades/superdotação: atividades de estimulação de alunos. Volume 2.
Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Especial, 2007.
FORTES, C. C.; FREITAS, S. N. PIT - Programa de Incentivo ao Talento: um relato
das experiências pedagógicas realizadas com alunos com características de altas
habilidades. In: Revista Educação Especial. Universidade Federal de Santa Maria,
Centro de Educação, Departamento de Educação Especial. V. 29, Santa Maria,
2007, p. 95-105.
FREITAS, S. N. Uma Escola para todos: reflexões sobre a prática educativa. IN:
Inclusão: Revista da educação Especial - Ministério da educação, Secretária de
Educação Especial. V. 1, n. 1 (out.2005). Brasília: 2005, p.37-40.
GALLAGHER, J. J. Changing paradigmis fo gifted education in the United States. In:
HELLER, K, A. ; MONKS, F. J. STERNBERG & SUBOTNIK, R.F. (Org.).
International handbook of giftdness and talent. 2ª Ed. Oxford: Elsevier, 2000, p.
581-694.
GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. (Tradução: Veronese,
M.V.)Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
_______. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
GUENTHER, Z. C. Um Programa de Atendimento ao Bem Dotado no Brasil.
CEDET - UFLA/ Lavras/MG, 1995.
_______. Desenvolver capacidades e talentos: Um conceito de Inclusão.
Petrópolis: Vozes, 2000.
_______. O aluno bem dotado na escola regular: celebrando diversidade, incluindo
diferenças. In: I Seminário de Inclusão de Pessoas com Altas
Habilidades/Superdotados, II Seminário de Inclusão da Pessoa com Necessidades
Especiais no Mercado de Trabalho, VI Seminário Capixaba de Educação Inclusiva.
Setembro, 2002, Vitória/ES. Anais... Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo,
2002, CD-ROM.
_______. Capacidade e Talento – Um Programa para Escola. São Paulo: EPU,
2006.
_______. Way beyond the IQ. Guide to improve intelligence and creativity.
Buffalo, NY: The Creative Education Foundation, 1979.
129
HAWKING, S. O universo em uma casca de noz. São Paulo: Mandarim, 2001.
LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizontes, 1978.
LÜDKE, H. , A. , M. ; ANDRÉ, M . Pesquisa em educação: abordagens
qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. 110 p.
MAIA-PINTO, R. R; FLEITH, D. S. Avaliação das práticas educacionais de um
programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos. In: Psicologia
Escolar e Educacional, v. 8, p. 55-66, 2004.
MAIA-PINTO, R. R. Avaliação das práticas educacionais implementadas em um
programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos, Dissertação de
Mestrado, Universidade de Brassília, Brasília, 2002.
MANTOAN, T. E. O direito à diferença nas escolas: questões sobre a inclusão
escolar de pessoas com e sem deficiência. IN: Revista Educação Especial.
Universidade Federal de Santa Maria. Centro de Educação/Departamento de
Educação Especial. Vol. 1 – Nº 23, 2004, Santa Maria.
MARQUES, M. O. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. 4. ed. Ijuí: Unijuí,
2003. 168p.
MELO, M. A. Avaliação das práticas pedagógicas desenvolvidas em Matemática em
um programa de atendimento a alunos portadores de altas habilidades. 2005. 91 f.
Dissertação (Mestrado em Mestrado de Educação) - Universidade Católica de
Brasília, 2005.
METRAU, M. ; ALMEIDA. L. A educação da criança sobredotada: a necessidade
social de um atendimento diferenciado. In: Revista Portuguesa de Educação,
Braga, n. 1, 1994, p. 5-13.
MINAYO, M. C. de S. Ciencia, técnica, e arte: o desafio da pesquisa social. In:
______. (Org). Pesquisa social: teoria método e criatividade. 23. ed. Petrópolis, Rio
de Janeiro: Vozes, 2004, p. 9-24.
NETO, O. C. O. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, M. C.
de S. (Org.). Pesquisa social: teoria método e criatividade. 23. ed. Petrópolis, Rio
de Janeiro: Vozes, 2004, cap. IV, p. 51-66.
130
NEVES-PEREIRA, M. S. Criatividade na Educação Infantil: Um estudo
sociocultural construtivista de concepções e práticas de educadores. Tese de
Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, 2004.
______. Estratégias de Promoção a Criatividade. In: FLEITH, D. S. (Org). A
contrução de práticas educacionais para alunos com altas
habilidades/superdotação: atividades de estimulação de alunos. Volume 2.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um procesoo sócio-
histórico. São Paulo: Scipione, 1997.
OLSZEWSKI-KUBILIUS, P. ; LEE
,
S. Parent perceptions of the effects of the
Saturday enrichment program on gifted students' talent development. In:
Roeper
Review. 26
(3), 156-165, 2004.
PÉREZ, S. G. P. B. Criatividade e altas habilidades: um desafio para o professor. In:
ABSD/RS. Manual de orientação para pais e professores. Porto Alegre: ABSD/RS,
2000, Anexos, p. 37-44.
______. Mitos e crenças sobre as pessoas com altas habilidades: alguns aspectos
que dificultam o seu atendimento. Cadernos de Educação Especial. Santa Maria,
v. 2, n. 22, p. 45-59, 2003.
______. Gasparzinho vai à escola: um estudo sobre as características do aluno
com altas habilidades produtivo-criativo. Porto Alegre: PUCRS, 2004.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.
PÉREZ, L. F; RODRÍGUEZ, P.D; FERNÁNDEZ, O. D. El dessarrollo de los mas
capaces: guia para educadores. Salamanca, Espanha: Ministério de Educación y
Cultura, 1998.
RECH, A. J. D. Uma análise dos mitos que envolvem os alunos com altas
habilidades: a realidade de uma escola de Santa Maria/RS. 2004. 119 f.
Especialização (Especialização em Educação Especial) – Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, 2004.
RECH , A. D; FREITAS, S. N. O papel do professor junto ao aluno com altas
habilidades. In: Revista Educação Especial. Universidade Federal de Santa Maria,
131
Centro de Educação, Departamento de Educação Especial. N.26, Santa Maria 2005,
p.49-71.
RECH , A. D. Estudo de caso de uma criança com características de altas
habilidades: problematizando questões referentes à inclusão escolar.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Maria, Centro de
Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Rs, 2007.
REIS, S. M. Creating ownership in gifted and talented programs. In:. Renzulli, J. S.;
REIS, S. M. (Orgs.). The triad reader Mansfield Center, CT: Creative Learning
Press, 1986, p. 184-187.
RENZULLI, J. S. Talent potencial in minority group students. In: BARBE, W. S.
RENZULLI, J. S (Eds.). Psychology and education of the gifted. 2ed., pp. 411-
423. New York: Irvington, 1975.
______. The three-ring conception of giftedness: A developmental model for creative
productivity. In: RENZULLI, J. S. ; REIS. The triad reader. Mansfield Center (CT) :
Creative Learning Press, 1986.
______. A decade of dialogue on the The three-ring conception of giftedness. In:
Roeper Review, v. 11, n. 1. October, 1988, p. 19-25.
______. What is this thing called giftedness, and how do we develop it? A twenty-five
year perspective. In: Journal for the Education of the Gifted. V. 23, n. 1. 1999, p.
3-54.
______. El concepto de los tres anillos de la superdotación: un modelo de desarrollo
para una produtividade creativa. In: BENITO MATE, Y. Intervención e
investigación psicoeducativas en alumnos superdotados. Salamanca: Amarú,
2000.
______. Os módulos de enriquecimento são oportunidades de aprendizagem
autêntica para crianças sobredotadas. In: Boletim APEPICTa, 2002, 6, p. 5-13.
______. O que é esta coisa chamada superdotação, e como a desenvolvemos?
Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. In: Educação. Tradução de Susana
Graciela Pérez Barrera Pérez. Porto Alegre – RS, ano XXVII, n. 1, p. 75 - 121,
jan/abr. 2004.
132
RENZULLI, J. S.; REIS, S. M. The schoolwide enrichment model: A comprehensive
plan for educational excellence. Mansfield Center, CT: Creative Learning, 1985.
______. The schoolwid enrichment model: New direction for developing high and
learning. In: COLANGELO, N; DAVIS, G.A. (Org.). Handbook of gifted education.
2ª Ed. Boston, Allyn and Bacon, 1997.
______. Que es el enriquecimiento escolar? Como se relacionan los programas para
superdotados con la mejora escolar total? In. ALONSO BRAVO, J. A. RENZULLI, J.
S.; Mate, Y. B. (Org.), Manual international de superdotacion. Madrid: EOS, 2003,
p. 243-257.
SABATELLA, M. L.; CUPERTINO, C. M.B. Práticas educacionais para alunos com
altas habilidades/superdotação. In: FLEITH, D. S. (Org). A construção de práticas
par alunos com altas habilidades/superdotação: Orientação a professores.
Volume 1. Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Especial,
2007a, p. 67-80.
VIRGOLIM, A. M. R.; FLEITH, D. S.; NEVES-PEREIRA, M. S. Toc, Toc...Plim, plim!
Lidando com as emoções, brincado com o pensamento através da criatividade.
Campinas, 1999.
VIRGOLIM, A. M. R. Desenvolvimento do autoconceito. In: FLEITH, D. S. (Org). A
contrução de práticas educacionais para alunos com altas
habilidades/superdotação: atividades de estimulação de alunos. Volume 2.
Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Especial, 2007a, p. 37-53.
______. Altas habilidades/superdotação: encorajando potenciais. Brasília:
Ministério da Educação, Secretária de Educação Especial, 2007b.
YGOTSKY, L.S. El arte e la imaginación em la infancia. Madrid: Akal, 1982.
_______. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martind Fontes, (1ª edição
brasileira), 1987a.
_______. Imaginacion y El arte en La infancia. México: Hispanicas, 1987b.
_______. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo,
ìcone/Edusp, 1988.
_______. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
133
_______.Imagination and creativity in childhood. In: Soviet Psychology. 28 (1),
1990, p. 84-96.
_______.gensis of the higher mental functions. In: LIGHT, P. E. ; SHELDON, S. ;
WOODHEAD, M. (Org.). Learning to think. New York: Routledge, 1991, p. 32-41.
_______.Psicologia pedagógica. 3 Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004a.
_______. Teoria e método em psicologia. 3 Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004b.
VYGOTSKY, L.S. ; LURIA, A. R. Estudos sobre a história do comportamento:
símios, homem primitivo e criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
WAGNER, H. Bildung und Begabund & V. A. National Agency for Talented
Development in Germany. Word Gifted, 22, p. 1-12, 2003.
WINNER, E. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Tradução de Sandra
Costa. Porto alegre: Artes Médicas, 1998.
WU, W. T. Gifted policies in Tawian. In: Gifted International International, 15, p.
59-65, 2000.
ANEXOS
135
ANEXO A – PORTIFÓLIO DO TALENTO
TOTAL
11
11
Fonte:
CHAGAS, J. F; MAIA-PINTO, R. R.; PEREIRA. V. L. Modelo de Enriquecimento Escolar. In:
FLEITH, D. S. (Org). A contrução de práticas educacionais para alunos com altas
habilidades/superdotação: atividades de estimulação de alunos. Volume 2. Brasília: Ministério da
Educação, Secretária de Educação Especial, 2007, p. 66 -77.
136
137
138
139
140
141
142
143
144
145
146
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO
147
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCÃO
Mestranda: Caroline Cora Fortes
Orientadora: Soraia Napoleão Freitas
TERMO DE CONSENTIMENTO
Eu, Caroline Corrêa Fortes, Educadora Especial e acadêmica do Curso
de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Santa Maria,
desejo por meio deste, informar-lhe que estamos realizando um trabalho de
pesquisa intitulado: “uma análise avaliativa acerca das contribuições do PIT –
Programa de Incentivo ao Talento no processo de aprendizagem e desenvolvimento
de um aluno com altas habilidades”, matriculado na quarta série do Ensino
Fundamental, em uma escola de Santa Maria/RS.
Esta pesquisa objetiva: proceder uma investigação e análise avaliativa
acerca da contribuição do PIT no processo de aprendizagem e de desenvolvimento
do aluno com altas habilidades, na escola. Ela se justificada pela necessidade de
estudos da temática, em virtude de uma demanda real existente e porque são raras
também as pesquisas que ponderam a seu respeito.
A fim de que essa pesquisa se efetive, necessitamos da colaboração dos pais
e/ou responsáveis pelo aluno, como também, da Escola e dos professores da classe
regular na qual o aluno, sujeito desta pesquisa, encontra-se incluído. Por essas
razões, solicitamos a sua participação e contamos com seus privilegiados préstimos
para a realização deste estudo.
Caso os pais e a escola queiram participar, deixamos claro que esta
pesquisa consta de uma entrevista semi-estruturada com os professores do
aluno participante da pesquisa, onde constarão perguntas referentes a sua
aprendizagem e desenvolvimento. Outro instrumento de coleta de dados será
as observações sistemáticas em diferentes ambientes e situação de
aprendizagem, entre os quais a sala de aula.
De acordo com princípios éticos e morais que norteiam essa pesquisa,
garantimos a privacidade da identificação da Escola e dos sujeitos (aluno, pais
148
e professores), evidenciando que o resultado deste estudo visa, sobretudo, a
trazer benefícios para a comunidade, às escolas regulares, aos professores,
alunos e familiares.
Os resultados e conclusões obtidas na pesquisa além de serem
publicados na Dissertação de Mestrado podeo ser apresentados em forma
de artigo ou de resumo em Congressos, Seminários e publicados em
diferentes meios.
Por fim, eu ......................................................................................
portador da carteira de identidade nº .........................................., expedida por
..............., em ..../..../....., estou ciente do que me foi exposto e concordo com
os procedimentos que serão realizados, participarei da pesquisa, bem como
autorizo que sejam feitas entrevistas, gravações, observações, apenas para a
coleta de dados, não sendo possível à divulgação da minha identificação.
A escola ciente da autorização dos pais do aluno em participar desta
pesquisa, concorda com os procedimentos que serão realizados e participará
da pesquisa, bem como autoriza que sejam feitas entrevistas, observações no
ambiente escolar e gravações, apenas para a coleta de dados, não permitindo
também a identificação da Escola.
Santa Maria, ____ de _______________ de 2007.
Assinatura dos Pais ou Responsável pelo aluno
149
Assinatura do(a) Diretor(a) da Escola
Assinatura da professora do Currículo
Assinatura da professora de Informática
Assinatura da mestranda
Assinatura da Orientadora
150
ANEXO C – ROTEIRO DE ENTREVISTA
151
1) No seu entendimento, esse aluno possui altas habilidades? Por quê?
2) O contexto de sala de aula proporciona ao Rodrigo um currículo flexível,
no qual os interesses, estilos de aprendizagem e habilidades são levados em
consideração?
3) O aluno tem a oportunidade de desenvolver suas próprias idéias? Você
propõe situações de aprendizagem que desafiem os alunos conforme seus
interesses e habilidades?
4) O aluno demonstra relacionar os conteúdos curriculares às suas
experiências e interesses?
5) Como o PIT Programa de Incentivo ao Talento se relaciona com a
sala de aula?
6) Quais as possibilidades que o aluno tem de revelar e desenvolver suas
habilidades no contexto escolar?
7) O aluno utiliza estratégias diferenciadas na hora de resolver problemas
em sala de aula? Como?
8) No seu entendimento, as estratégias educacionais realizadas no PIT
contribuem para aprendizagem e desenvolvimento do aluno em sala de aula?
9) Você percebe pontos positivos, no que diz respeito às estratégias
educacionais realizadas no PIT se comparadas com as planejadas na sala de
aula regular?
10) O aluno apresenta envolvimento com a tarefa, no que diz respeito à
motivação para executar uma atividade ou à resolução de um problema? No seu
entendimento, as estratégias implantadas no PIT contribuem nesse processo?
11) O aluno se expressa criativamente nas situações de aprendizagem?
Ele utiliza o pensamento criativo durante a execução de problemas?
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo