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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Programa de Pós-Graduação em Educação
Dissertação
AS RELAÇÕES AFETIVAS NA APRENDIZAGEM
EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
ADRIANE PIRES RODRIGUES
Pelotas, 2008.
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1
ADRIANE PIRES RODRIGUES
AS RELAÇÕES AFETIVAS NA APRENDIZAGEM EM
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Pelotas, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Ciências da Educação.
Orientador : Profª. Dra. Magda F. Damiani
Pelotas, 2008
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Banca examinadora:
Profª. Drª. Magda Floriana Damiani
Profª. Drª. Marly Mallmann
Profª. Drª.Rosária Sperotto
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, meu amigo, autor de minha
vida.
Aos meus pais João Carlos e Nancy pelos valores que sempre
me ensinaram e pela ótima educação que me deram, a quem
dedico está dissertão.
Ao meu amor Luciano o grande incentivador para que eu
fizesse o mestrado, pela paciência e dedicação.
À todos os meus familiares e em especial aos meus sobrinhos
Lucas, Samanta, Andressa, Marcela e Nikole meus amados, por
existirem, fonte de vida e inspiração para mim.
A instituição Dalmanue em especial ao Pe. German Varela
pela sua dedicação e auxílio no decorrer da caminhada.
A minha Orientadora Magda por toda a aprendizagem e
carinho.
Aos amigos, Adriana, Maria da Glória, Nara, Itturriet, Simone
Garcia, Marilda, Fabiane, Rafael, pela amizade.
Ao CEFET-RS, em especial, aos colegas do Curso Técnico de
Sistemas de Informação, por toda a ajuda.
4
SUMÁRIO
RESUMO....................................................................................VI
ABSTRACT.................................................................................VII
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 08
2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA...................................................................... 17
2.1 Por que “Educação a Distância” e Não “Ensino a Distância”?....... 17
2.2 O que é EAD? ............................................................................... 18
2.3 Histórico sobre a EAD ................................................................... 20
2.4 Aprendizagem em EAD................................................................. 23
2.5 O perfil do Professor e o do Aluno na EAD ................................... 27
3 AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO ................................................................. 31
3.1 Afetividade e Educação a Distância .............................................. 40
4 CAMINHO METODOLÓGICO.................................................................. 44
4.1 Estudo Piloto ................................................................................. 44
4.2 Estudo Principal............................................................................. 52
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS................................................... 55
5.1 Os pontos fracos da EAD.............................................................. 57
5.2 Os pontos fortes da EAD............................................................... 60
5.3 Percepção da presença de trocas afetivas na EAD....................... 62
5.4 Percepção da importância das trocas afetivas na EAD................. 67
5.5 Percepção acerca das relação afetividade e aprendizagem ......... 71
5.6 Percepção da relação entre motivação para permanecer no curso e
realizar as tarefas e as trocas afetivas ........................................................ 73
6 REFLEXÕES FINAIS................................................................................ 79
7 REFERÊNCIAS........................................................................................ 83
APÊNDICE .................................................................................................. 87
Apêndice A.......................................................................................... 88
Apêndice B.......................................................................................... 89
5
ANEXOS...................................................................................................... 90
Anexo A............................................................................................... 91
Anexo B............................................................................................... 98
6
RESUMO
Esta dissertação tem o objetivo de investigar a percepção de um grupo de
tutores e alunos de EAD sobre: a) a ocorrência de trocas afetivas nessa
modalidade de educação; b) a importância a ela atribuída pelos sujeitos
entrevistados; e c) a influência dessas trocas na aprendizagem. Como a EAD é
importante, porque contribui para a democratização da educação,
possibilitando que mais alunos possam ingressar no ensino superior, é
essencial fazê-la com qualidade. Com esta pesquisa, pretendo trazer
contribuições que promovam essa qualidade. A revisão teórica que deu suporte
à pesquisa incluiu uma discussão breve sobre a EAD, sobre afetividade e
educação e sobre a importância da afetividade na EAD. Para isso forma
utilizadas as idéias de autores como Belloni, Kenski, Vigotski, Freire, Arantes e
Moran. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas,
com três tutores e quatro estudantes envolvidos em cursos a distância e
selecionados visando a compor um grupo de sujeitos que apresentasse
variabilidade, conforme as diretrizes que guiam os processos de amostragem
nas pesquisas qualitativas. Os resultados, baseados em categorias teóricas e
empíricas provenientes da análise dos dados das entrevistas, foram
complementados pelas informações obtidas em um estudo piloto que serviu
também para orientar a coleta de dados do estudo principal. As trocas afetivas,
segundo os participantes da pesquisa, ocorrem na EAD. Elas aparecem entre
os alunos e tutores, presenciais ou a distância, e entre os alunos, em especial
nos trabalhos em grupo. A presença das trocas afetivas é considerada
importante para impulsionar a aprendizagem e a motivação dos alunos.
7
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to investigate the perception of a group of tutors
and pupils of EAD about: a) the occurrence of affective exchanges in this
modality of education; b) the importance attributed to it by the individuals
interviewed; and c) the influence of these exchanges in learning. Since the EAD
is important because contributes for the democratization of education, allowing
that more pupils can attend university, it is essential to do it with high quality
standards. With this research, I intend to contribute with information that can
lead to this quality. The theoretical revision which supported this research
includes a short debate about the EAD, about affection and education and
about the importance of affection in the EAD. For this reason, it has been used
the ideas of authors such as Belloni, Kenski, Vigotski, Freire, Arantes and
Moran. The data was collected by semi-structured interviews, with three tutors
and four pupils enrolled in distance learning courses aiming to make a group of
individuals that could present variety, according to the rules which guide the
processes of sampling in the qualitative researches. The results, based in
theoretical and empirical categories come from the analysis of data of the
interviews, it has been complemented by the information obtained in a model
study that also contributed to orientate the collection of data of the main
investigation. The affective exchanges according to the individuals who have
participated in the research, took place in the EAD. They are showed among
the pupils and tutors, in presencial and distance learning, and among the pupils,
especially in group work. The presence of affective exchanges is considered
important in order to develop the learning and the motivation of the pupils.
8
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo investigar a ocorrência de relações
afetivas na Educação a Distância (EAD) e como essas podem auxiliar o
processo de aprendizagem nesta modalidade de ensinar. Como há, na
educação presencial, inúmeras evidências da importância da afetividade, nas
relações aluno-professor e aluno-aluno, parece ser tarefa relevante se essa
importância também se verifica na EAD.
No meu início de docência, refletia muito sobre o que é ser professora.
Essa reflexão levou-me a perceber que a palavra professora não me agradava.
Quando ouvia essa palavra, me vinha a idéia de que ser professora era
somente se preocupar com o conteúdo, com o cronograma, com a sala de
aula. Parecia que ser professora implicava em repassar informações, como
se o aluno fosse um banco de dados e a relação professor-aluno fosse algo
meramente burocrático. Eu não aceitava essa idéia e queria dar a devida
importância ao aluno, como pessoa que é. A partir dessas reflexões, percebi
que, como professora, queria ser mais do que aquilo quem em geral, as
pessoas pensam sobre o ser professor. Foi então que me deparei com a
palavra Educador no livro de Paulo Freire, “Pedagogia da Autonomia” (1996).
Embora ele utilize a palavra Educador como sinônimo de professor, no meu
interior, a palavra educadora deixava-me mais realizada. Perguntei-me, por
quê? Por que educadora me parecia ser uma palavra com sentido mais amplo.
Para mim, educar é interferir nas atitudes do aluno, na sala de aula, tanto em
relação a si próprio como em relação aos colegas. Educar é exigir
responsabilidade e pontualidade nas tarefas que devem ser realizadas, mas
também é ter flexibilidade para perceber quando o aluno não pode realizá-las
9
por motivos justos, inclusive afetivos; é considerar o outro como uma pessoa
digna; é amar e dar exemplo e, principalmente, é tentar ao máximo não exigir
do aluno aquilo que o próprio professor não faz, pois, do contrário, o professor
torna-se hipócrita. Educar é perceber que o aluno é um todo, é razão, é
afetividade, é espiritualidade, ou seja, ele não é apenas intelectualidade.
Educar é ter muita paciência com os alunos. Educar, então, começou a ter o
meu significado, que implica em pensar no aluno como um ser humano, como
aquele que tem qualidades, defeitos, limites, experiências boas e más em suas
relações inter-pessoais, nas suas aprendizagens, no contexto em que vive.
Portanto, importam-me suas atitudes, não apenas sua avaliação com uma
nota. Importam-me, seus sentimentos, sua motivação na sala de aula, sua
responsabilidade. Então, para mim, ser educadora é olhar os alunos como
pessoas e comprometer-me com elas ajudando-as a ultrapassar suas
limitações, podendo até, em algumas ocasiões, auxiliá-las em suas vidas fora
da escola; é, muitas vezes, dialogar sobre assuntos que surgem na sala de
aula (e que podem estar afora do conteúdo da disciplina) sobre os quais é
necessário conversar, discutir, levando os alunos a desenvolver um
pensamento crítico sobre eles. Esses assuntos envolvem aspectos afetivos e,
em geral, situações pelas quais os alunos estão passando - na sua família, na
sua escola, na sua vida - e sobre a os quais torna-se necessário falar, senão
nem conseguem prestar atenção na aula.
Educar é olhar para todos sem distinção e isso não é fácil, pois temos
nossas afinidades com determinados alunos e com outros não e necessitamos
que aprender a lidar com isso. Sempre que entramos em uma nova turma,
devemos reconhecer nossos preconceitos para lidar com os alunos e tentar
fazer com que tais preconceitos não nos atrapalhem, pois o professor também
tem defeitos e muitas vezes acaba olhando o aluno conforme as
representações criadas ao longo de sua experiência de vida e não como o
aluno é. Ao olhar um aluno com o cabelo comprido, por exemplo, o professor
pode pensar que esse aluno é malandro, que não irá aprender. Porque
equaciona cabelo comprido com desleixo em relação à aparência, pode ampliar
tal equação relacionando desleixo pessoal com desleixo nos estudos, quando,
possivelmente, o aluno tem cabelo comprido simplesmente porque gosta. O
professor pode também olhar uma aluna toda “arrumadinha” e pensar que ela
10
não é estudiosa, porque relaciona a preocupação demasiada com a aparência
com a despreocupação com o estudo. Pode, ao contrário, pensar que ela,
porque está vestida assim, é estudiosa, associando o bem-vestir com a
preocupação com o estudo. Assim, acredito que temos, também, que nos
conhecer bem como pessoas e entendermos nossos vieses, não deixando que
prejudiquem nosso processo de conhecer o aluno como ele é, não nos
deixando levar pela sua aparência, maneira de se expressar, ou outras
características que apresente. Assim, comecei a entender que o Educador,
como escreve Moran,
[...] é um especialista em conhecimento, em aprendizagem. Como
tal, espera-se que, ao longo dos anos, aprenda a ser um profissional
equilibrado, experiente, evoluído, que construa sua identidade
pacientemente, integrando o intelectual, o emocional, o ético, o
pedagógico (2007, p.74-75).
Acredito que devemos ser responsáveis por esse espaço que
designamos Escola, fazendo com que nossos educandos se sintam bem nele e
aprendam não apenas para si, e para sua profissão, mas para a sua vida
cotidiana, na sua família ou no ambiente onde estiverem. Penso que algumas
pessoas podem ainda não ter entendido que quando nós professores
educamos, devemos buscar fazer com que nossos alunos utilizem o que
aprenderam em suas vidas e também que se tornem capazes de usar suas
aprendizagens em favor de outros, da humanidade.
Quando comecei a pensar que ser Educadora é muito bom, percebi que
minha prática deveria ser aprimorada a partir de minha reflexão sobre ela e
nela. Como diz Freire (1996, p.38), “a prática docente crítica, implicante de
pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar
sobre o fazer”. Dessa forma, acredito que pensando, repensando, ouvindo os
alunos, observando e analisando a nossa prática hoje é que podemos melhorar
nossa prática de amanhã.
A partir desse momento, senti a necessidade de obter formação
pedagógica, uma vez que meu curso de graduação, por ser em Ciência da
Computação, não tem em seu currículo disciplinas que discutam o aprender e o
ensinar. E eu queria saber mais sobre Educação. Perguntava-me: qual a
melhor maneira de ensinar para que o aluno aprenda?
11
Assim, logo após a conclusão desse meu curso, fui fazer o de Formação
Pedagógica, na Universidade Católica de Pelotas (UCPEL). Nessa época, era
professora substituta no Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas
(CEFET-RS), no Curso de Eletrônica. Nesse período, participei também do
Curso de Educação Especial a Distância, promovido pela Universidade
Católica de Pelotas (UCPEL), que tinha como objetivo a preparação para o
trabalho com Pessoas com Necessidades Educativas Especiais (PNEEs), algo
que eu considerava importante. Esse curso era por correspondência. Recebia
em casa todo o material didático, que consistia em volumes relativos aos os
temas a serem discutidos. Cada volume continha também as tarefas a serem
realizadas. Eu lia e respondia as questões propostas e enviava os textos para
os professores, que as devolviam corrigidas. O curso também previa um
estágio em escolas de Pelotas que trabalhavam com PNEEs.
Eu gostei do curso, sentia-me incentivada para fazer as tarefas,
considerava os textos bem elaborados. Foi uma das minhas primeiras
experiências com o ensino a distância. Com ele, dei continuidade a minha
formação de educadora. Entretanto, dentro de mim, desejava algo mais.
Sempre quis unir as duas áreas, Educação e Informática, e assim fui fazer
curso de especialização em Informática na Educação, na Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Apesar desse gosto pela Informática, o que mais amo é ver um aluno
aprender. É muito gratificante. Por isso, penso que esses dois gostos podem se
unir. Eu sempre busquei uma Informática “humanizada”. Acredito que a
tecnologia tem que ajudar o ser humano e não o escravizar, ou seja, a
tecnologia tem que ser um instrumento bem utilizado para que as pessoas
cresçam e se ajudem e não um meio de alienação ou exclusão.
Voltando ao curso de especialização realizado na UFRGS, é interessante
observar que era a distância, embora tivéssemos encontros presenciais, no
início e no fim de cada semestre. Tive disciplinas relacionadas à Educação e
também disciplinas ligadas às Tecnologias - ferramentas para suporte à
Informática Educativa e Educação a Distância. Tais ferramentas possibilitavam
a utilização de Webcam, o compartilhamento de editor de texto,
videoconferências com os professores, o que criava oportunidades para uma
comunicação on-line agradável. Nessa especialização, pude perceber o quanto
12
é importante a comunicação on-line e como é possível efetivar uma nova
maneira de ensinar e aprender, mesmo a distância. Isso despertou meu
interesse por essa modalidade educativa.
A experiência vivenciada nesse curso de especialização, para mim, foi
muito importante. O grupo de colegas ajudava-se bastante as pessoas também
aprendiam umas com as outras.
Recordo-me que nesse curso tivemos um momento muito interessante, ao
utilizarmos o Programa Netmeeting: foi possível compartilhar o uso do
programa Powerpoint em um trabalho organizado a partir de eslaides que
nosso grupo havia produzido. Tanto nós, as alunas, como as professoras,
podíamos modificar os eslaides que estavam sendo mostrados nas telas de
todas as participantes da reunião. Esses eslaides haviam sido criados para a
apresentação de um trabalho de uma disciplina, por mim e mais três colegas.
Essa apresentação ocorreu por meio de uma conexão discada com nossas
professoras em Porto Alegre. As professoras podiam ouvir nossas vozes
enquanto, íamos passando os eslaides, como se fosse uma apresentação
presencial. Alguns problemas ocorreram: a conexão caiu uma vez e, em
nossos microfones, não podíamos fazer comentários entre nós sem que as
professoras nos ouvissem, mas o resultado foi bastante satisfatório.
Nesse curso, tínhamos tutores de suporte, para tirar eventuais dúvidas em
horário integral. Esses técnicos eram fundamentais quando o professor não
estava on-line porque, muitas vezes, tínhamos apenas um determinado tempo
para fazer as tarefas e, se não conseguíamos devido a algum recurso que não
sabíamos usar, então pedíamos explicação on-line e conseguíamos fazer a
tarefa. O que percebi de especial e positivo, tanto nesse curso de
especialização a distância on-line, como ao curso da UCPEL, que era a
distância por correspondência, foi que disponibilizaram tempo para ler e fazer
as tarefas em casa. Os professores corrigiam as tarefas e me enviavam de
volta com observações sem que isso envolvesse dispêndio de tempo e energia
em deslocamentos. Durante os dois cursos, comecei a desenvolver minha
habilidade de escrita e isso foi fundamental, pois ela é uma importante
ferramenta para desenvolver o pensamento, segundo a perspectiva cio-
histórica.
13
O que observei de negativo nesses cursos foi a maneira como, muitas
vezes, os professores se expressavam. Penso que o trabalho com alunos a
distância deveria iniciar, por exemplo, com uma saudação os comentários, dos
professores acerca dos trabalhos dos alunos. A meu ver, também deveriam
incluir elementos extra-conteúdo, manifestações pessoais, pois são uma
maneiras de aproximar aluno e professor.
Outro aspecto importante, que tive que aprender como aluna de EAD, foi a
organização do tempo de resolução das tarefas para que elas não se
acumulassem. Aprendi tamm que era possível uma comunicação a distância
divertida e que a distância tornava-se menor quando o professor tinha um laço
de amizade com seus alunos. Ali comecei a ter interesse por essa modalidade
de ensino.
Quando me efetivei como professora no CEFET-RS, no curso de Técnico
em Sistemas de Informação, existia um núcleo chamado NEAD Núcleo de
Educação a Distância
1
. Nessa época, por estar mais diretamente ligado às
tecnologias e também porque vários de seus professores participavam do
núcleo antes existente, nosso curso resolveu convidar todos os seus
professores para trabalharem nesse núcleo. A partir daí, integrei-me, junto com
meus colegas, no Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação,
projetado na modalidade a Distância, pelo MEC/SEED, em parceria com as
Universidades Federais e Centros Federais de Educação Tecnológica. Esse
programa tem como objetivo, conforme o portal do MEC
2
, proporcionar
formação continuada aos profissionais de educação para o uso das diferentes
tecnologias da informação e da comunicação, de forma integrada ao processo
de ensino e aprendizagem, contribuindo para a formação de um leitor crítico e
criativo, capaz de produzir e estimular a produção nas diversas mídias.
As mídias envolvidas neste programa são: a televisão, o rádio, a
informática e o material impresso. O Rio Grande do Sul ficou com o Módulo da
mídia informática - coordenado pela Prof.ª Liane Tarouco, da UFRGS - tendo
várias subdivisões, de acordo com os temas a serem desenvolvidos e os
materiais didáticos. Nós, do CEFET-RS, ficamos com o Módulo 5, que se
1
Esse núcleo passou a denominar-se CEAD - Coordenação de Educação a Distância, em
2005.
2
http://portal.mec.gov.br/default.htm.
14
intitulava “Ferramentas de Autoria para a Produção de Hipertexto na
Educação”. Participei, portanto, da elaboração do material desse módulo e
percebi, ao realizar tal atividade, que gostaria de investigar temas relacionados
à aprendizagem na EAD, que eu estava montando o material didático para
alunos que iriam se envolver ela.
Aos poucos, fui percebendo que tinha duas preocupações: a
aprendizagem e a afetividade na EAD. A aprendizagem começou a me
preocupar ao elaborar material para o curso de Mídias na Educação, que
comentei antes. Ao desenvolver esse material, muitas vezes, perguntava-me:
qual a melhor forma para este conteúdo? Um texto, um tutorial animado, um
tutorial não animado, um vídeo ou um material de outro tipo? O que poderá
ajudar o aluno em seu processo de aprendizagem? Embora se encontre
artigos, tutoriais e informações na Internet que apresentam diretrizes para o
desenvolvimento de material didático para EAD, eles ainda são poucos e não
oferecem subsídios suficientes. A montagem dos materiais, então, fica a critério
de cada professor. Daí ficam as perguntas: ao elaborar um material para EAD,
o conteudista
3
pensa nos processos cognitivos implicados nas aprendizagens
que pretende promover? Ele reflete acerca de todos os fatores que podem
influenciar na aprendizagem? Os passos que o conteudista coloca no tutorial e
que para ele são claros, podem não sê-lo para outras pessoas. Talvez nem
todos consigam aprender determinado conteúdo apenas por meio de um
tutorial, sendo necessário muito mais. Nessa perspectiva, creio que a
aprendizagem a distância precisa ser estudada, discutida e muito bem
planejada, também porque essa aprendizagem não depende apenas das
informações organizadas pelos professores e recebidas pelos alunos. Ela
depende do modo como são desenvolvidas as aulas e outras atividades.
Portanto, está também relacionada com o segundo aspecto que me interessa
estudar, a afetividade. Por que me preocupo com isto? Porque fui aluna a
distância e senti, muitas vezes, a diferença entre as aulas dos diferentes
professores. Em algumas aulas aprendi mais, senti-me mais valorizada e
incentivada do que em outras. Qual seria o motivo? Para mim, eram as atitudes
3
Conteudista é a pessoa que elabora, planeja o material didático para EAD. Esta pessoa
poderá também ser o professor ou não da Disciplina para qual está montando o material.
15
dos professores, a maneira de responder as vidas, a maneira de corrigir os
erros. Penso que a forma como que o professor lida com esses procedimentos
faz com que o aluno queira ou não continuar ou refazer a tarefa, se necessário.
Havia, na minha experiência, professores que apenas se manifestavam por
meio de frases do tipo: “Refaz novamente que, está ruim”. Isto falado
presencialmente, olho no olho, muitas vezes pode ser até bom, mas apenas
escrito, chegava a dar um choque. Primeiro porque, freqüentemente, nem
sabia o que estava errado. Outras vezes, porque embora sabendo, não sabia
como fazer para corrigir o erro. Esses tipos de atitude fria também era notada
nos tutores, que ficavam em tempo integral on-line, conosco: alguns sabiam
como explicar e tinham paciência e sensibilidade; outros não. Vi muitos colegas
desistirem por causa dessas maneiras de agir por parte de professores e
tutores.
Os cursos e as experiências que experimentei despertaram-me a vontade
de estudar mais a fundo a importância da afetividade na EAD, explorando as
percepções de outros alunos relativas a essa modalidade de ensino. Minha
vontade de estudar os efeitos da afetividade sobre seus processos de
aprendizagem foi crescendo cada vez mais.
Como a EAD é importante, porque contribuir para a democratização da
educação, possibilitando que mais alunos possam ingressar no ensino
superior, é essencial fazê-la com qualidade. Percebo que são criados vários
cursos a distância sem a preocupação com a metodologia a ser utilizada,
simplesmente transferindo o material usado nos cursos presenciais para o
computador. Isso é preocupante. Acredito que não se pode simplesmente
fazer essa transferência, porque os contextos em que as duas modalidades
ocorrem são imensamente diferentes. Conforme explica Kramer:
[a Educação a Distância] terá que ser encarada como parte de um
sistema que, embora conservando semelhanças com os sistemas
tradicionais de educação, particularmente quanto aos objetivos que
pretende realizar, se organiza de forma diferente e original para
suplantar as dificuldades decorrentes do distanciamento entre o
professor e o aluno (1999, p.36)
Assim, com esta pesquisa, pretendo trazer contribuições para
professores, tutores e “conteudistas” Minha contribuição será no sentido de
16
trazer dados e reflexões acerca da importância das trocas afetivas para o
processo de aprendizagem dos alunos de EAD. Como educadora, acredito
nessa importância, pois penso que, por meio das relações afetivas, é possível
criar uma ponte entre a informação e a aprendizagem. Se a afetividade é
essencial na educação presencial, penso que, mais importante ainda se torna
na educação a distância, onde o aluno trabalha isolado, necessitando assim de
maior auxílio, motivação e interatividade com seus professores e colegas.
Expressas minhas intenções nesta dissertação, passo a descrever como
ela se organiza.
Depois desta introdução, apresento o referencial teórico sobre Educação a
Distância - EAD (capítulo 2), para que se tenha uma visão geral do que vem a
ser esta nova forma de Educação e da aprendizagem que possibilita,
discutindo também o perfil do professor e do aluno de EAD. No capítulo 3,
incluo um referencial teórico básico sobre a Educação e Afetividade, principais
temas enfocados pela pesquisa. No capítulo 4, apresento o caminho
metodológico desta pesquisa, apresentando também o estudo piloto realizado
para uma primeira aproximação empírica da realidade a ser estudada. No
capítulo 5, descrevo a análise e a discussão dos dados coletados. No capítulo
6 são apresentadas minhas reflexões finais acerca do estudo realizado.
17
2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Neste capítulo, antes de explicar o que é Educação a Distância,
apresentar as várias definições utilizadas pelos autores que com ela trabalham
e em histórico dessa modalidade de ensino, discuto a diferença entre
Educação a Distância e Ensino a Distância. No final do capítulo, discorro sobre
a aprendizagem em EAD e sobre os perfis de professores e alunos dessa
modalidade.
2.1 Por que “Educação a Distância” e não “Ensino a Distância”?
A palavra Educação é mais abrangente do que a palavra Ensino. Esta
muita ênfase ao professor, como se ele e suas práticas fossem os únicos
elementos responsáveis pela aprendizagem dos alunos. Educação engloba
ensino e aprendizagem - portanto aluno e professor - estrutura física dos
cursos, materiais utilizados didaticamente, valores morais e éticos, entre outros
aspectos (MORAN, 2006c). Ensino e educação são conceitos diferentes,
conforme explica Moran:
No ensino organiza-se uma série de atividades didáticas para ajudar
os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento
(ciências, história, matemática). Na educação o foco, além de
ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética,
reflexão e ação, a ter uma visão da totalidade. Educar é ajudar a
integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho
intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua
para modificar a sociedade que temos (2000, p.12).
18
Educar, então, é preparar professores e alunos para que a sua vida seja
uma aprendizagem através de cada texto que leiam, música que ouçam,
situação de que participem, imagem que vejam.
quem pense ser difícil educar, tanto em um ambiente presencial como
a distância, devido à essa abrangência do conceito. Como escreve Kenski
(2003, p.12): “educação é algo imenso e muito complexo, dificilmente é
possível alcançar e refletir sobre todo o seu universo”, acrescentando que “o
momento restrito que a pessoa de todas as idades dedica ao estudo, em
situações formais ou não-formais de ensino, na escola ou fora dela, é [...] uma
parte muito pequena do que vem a ser educação” (p.12).
A educação tem maior valor do que o ensino na medida em que o ensino
é uma parte da educação. O ensino é algo mais imediato e a educação algo
mais prolongado. Em relação à modalidade a distância, Polak e Martins (2000,
p.1) alertam: ”pode ser que, ao querermos fazer educação a distância nos
limitemos a uma prática de ENSINO A DISTÂNCIA. Isso seria uma
preocupação essencialmente em transmitir conteúdos, numa desvinculação do
ensino com a necessária busca da aprendizagem” (grifo das autoras). Tal
postura considera o aluno como um mero banco de informações e isto não
condiz com o papel do educador. O pensar apenas em ensinar, por parte dos
professores, leva os alunos a pensar apenas em ser aprovados, não
considerando o aprender como algo a utilizar na sua vida. Nesse sentido,
prefiro utilizar a expressão Educação a Distância e não Ensino a Distância.
2.2 O que é EAD?
Moran (2006b) descreve a educação presencial como aquela que
acontece nos cursos regulares, em qualquer nível, onde professores e alunos
se reúnem num local físico, a sala de aula. Temos ainda a educação
semipresencial, que acontece parte em sala de aula e parte a distância,
auxiliada pelas devidas tecnologias. Por fim, a educação a distância, onde
os alunos e professores estão separados fisicamente no espaço e no tempo,
podendo interagir por meio de ferramentas e ambientes de aprendizagem que
permitam a comunicação. A educação a distância poderá ter ou não momentos
presenciais, mas diferencia-se da semipresencial, pois envolve apenas alguns
19
momentos com esta característica; a característica semipresencial é definida
pelo percentual de horas presenciais em relação às horas a distância.
Conforme Belloni (2006), que realizou um amplo estudo sobre o assunto,
diferentes e variadas definições para EAD.Vejamos alguns exemplos, entre
os vários que a autora apresenta.
O termo educação a distância cobre várias formas de estudo, em
todos os níveis, que não estão sob a supervisão contínua e imediata
de tutores presentes com seus alunos em salas de aula ou nos
mesmos lugares, mas que não obstante beneficiam-se do
planejamento, da orientação e do ensino oferecidos por uma
organização tutorial (HOLMERG, 1977).
Educação a distância é uma relação de diálogo, estrutura e
autonomia que requer meios técnicos para mediatizar esta
comunicação. Educação a distância é um subconjunto de todos os
programas educacionais caracterizados por: grande estrutura, baixo
diálogo e grande distância transacional. Ela inclui também a
aprendizagem (MOORE, 1990)
Educação a distância é um método de transmitir conhecimento,
competências e atitudes que é racionalizado pela aplicação dos
princípios organizacionais e de divisão do trabalho, bem como pelo
uso intensivo de meios técnicos, especialmente com o objetivo de
reproduzir material de ensino de alta qualidade, o que torna possível
instruir um maior número de estudantes; ao mesmo tempo, onde
quer que eles vivam. É uma forma industrializada de ensino e
aprendizagem (PETERS, 1973).
Nas diversas definições transcritas por Belloni (2006), a EAD é definida a
partir de uma perspectiva baseada no ensino convencional presencial. Um dos
argumentos comuns em todas elas é a distância concebida em termos de
espaço e não de separação entre professores e alunos no tempo, o que Belloni
denomina “comunicação diferida” (p.27) que, na EAD, é uma característica
fundamental. Esta comunicação diferida é importante para os processos de
ensino e de aprendizagem a distância e, segundo Belloni, talvez seja mais
importante do que a não-contigüidade espacial.
Muitas das definições apresentadas pela autora também têm como
parâmetro a EAD do país onde foram elaboradas, estando de acordo com
estrutura dos cursos realizados, com influências de todo o tipo. Por esse
motivo, penso ser interessante investigar o que a legislação de nosso país
defini como Educação a Distância:
20
Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-
aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos
sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes
de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados
pelos diversos meios de comunicação (Decreto de Brasília, nº 2494,
Art.1998).
No decreto citado acima, percebemos que a definição de Educação a
Distância apresenta ênfase na auto-aprendizagem, mediada pelos recursos
didáticos sistematicamente organizados por um professor mediador.
É importante saber qual meio será utilizado, quando se for definir a
metodologia de um curso a distância, pois, dependendo do tipo de meio, muda
a estrutura do curso, muda a maneira como professores e alunos irão interagir,
muda a forma de ensinar e de aprender. Poderá um meio de transmissão, ser
mais utilizado do que os outros, também poderão ser utilizados vários meios
em um mesmo curso. Esses meios de transmissão, segundo Kramer (1999,
p.87-p.98), são: material impresso, correspondência, rádio, televisão,
videocassete, audiocassete, telefone, fax-simile, computador. Hoje em dia,
temos outros meios mais avançados, como vídeo e teleconferência.
2.3 Breve histórico da EAD
A breve história da EAD no Brasil, que aqui apresento, foi baseada no
livro de Kramer (1999).
A EAD começou, entre os séculos XVIII e XX, com cursos por
correspondência e tinha por objetivo atender ao mercado de trabalho,
possibilitando uma formação profissional, capacitando pessoas para o exercício
de certas atividades e para desenvolver determinadas habilidades
profissionais. Nessa época, havia o Instituto Universal Brasileiro e também o
Instituto Radiotécnico Monitor, que organizavam esses cursos a distância. Os
alunos procuravam tais cursos com o interesse de verificar se haviam
aprendido os conteúdos adequados ao exercício profissional durante a
formação formal adquirida. A metodologia dessa época induzia ao
aperfeiçoamento continuado e dispensava a presença do professor, no caso de
ser um curso de autoverificação, como era o caso dos cursos de eletrônica e
21
contabilidade. Ao professor, cabia apenas a correção das tarefas e o
correspondente retorno aos alunos.
Nas décadas de 60 e 70 do século XX, o rádio foi muito utilizado na
educação. No meio rural, foram formados núcleos de recepção radiofônica,
levando as pessoas a se reunirem em locais determinados para acompanhá-
los, com orientação de um monitor local. Um exemplo de curso desta época é o
organizado pelo Movimento de Educação Base (MEB), formado através de um
convênio entre a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o
ministério da Educação, implantado no Nordeste. Por meio dele, eram levadas
instruções e noções religiosas às pessoas daquela região.
Um dos mais conhecidos cursos transmitidos pela TV, o Telecurso de
Segundo Grau, lançado através da Fundação Roberto Marinho, associado à
Rede Globo de Televisão, tinha como objetivo preparar os alunos para exames
desse nível de ensino. Hoje ele ainda existe, mas passou a chamar-se
Telecurso 2000, podendo ser acompanhado por fascículos comprados em
bancas de jornais. Nessa mesma linha, o serviço de Ensino a Distância da
Universidade de Brasília (UNB), desde 1981, também oferece vários cursos,
tanto em fascículos impressos como em videocassetes, e material a ser
trabalhado no computador.
Em 1995, foi criada a Secretaria de Educação a Distância (SEED), no
Ministério da Educação e da Cultura (MEC), que atua como um agente de
inovação tecnológica nos processos de ensino e aprendizagem, fomentando a
incorporação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e das
técnicas de educação a distância aos métodos didático-pedagógicos. Além
disso, essa secretaria promove a pesquisa e o desenvolvimento voltados para
a introdução de novos conceitos e práticas nas escolas públicas brasileiras.
A Secretaria de Educação a Distância, segundo o seu próprio sítio
4
,
representa a clara intenção do atual governo de investir nessa modalidade de
ensino e nas novas tecnologias como uma das estratégias para democratizar e
elevar o padrão de qualidade da educação brasileira. A Secretaria desenvolve
hoje vários programas e projetos, a saber: ProInfo - Programa Nacional de
Informática na Educação -, Rived - Rede Interativa Virtual de Educação -, TV
4
http://portal.mec.gov.br/seed/
22
Escola, Salto para o Futuro, Proinfantil, Proformação, Domínio Público, Rádio
Escola, Mídias na Educação, Paped, Prolicenciatura, Proletramento.
Hoje, no Brasil, temos Cursos de Graduação a Distância gratuitos,
organizados pelo (MEC) com apoio da SEED, juntamente com municípios
brasileiros. Eles compõem a UAB
5
- Universidade Aberta do Brasil.
Para finalizar este brevíssimo histórico da EAD, penso ser também
interessante rever como esta modalidade de ensino foi regulamentada no
Brasil.
Conforme o sítio SEED, as leis, os decretos e as portarias que
regulamentam a EAD no Brasil são: lei 9394 de 1996, Decreto nº 5.622, de
2005, decreto 2.561, de 1998, decreto 2.494, de 1998, Portaria 4.363,
de 2004 e portaria 301 de 1998. Também regulamentam a EAD as
resoluções e pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE), que são as
seguintes: resolução 1 de 2001, que estabelece normas para o
funcionamento de cursos de pós-graduação; e resolução nº 1 de 1997, que fixa
normas para a validade de diplomas de cursos de graduação e de pós
graduação oferecidos em instituições brasileiras ou estrangeiras nas
modalidades semipresenciais ou a distância.
No decreto n° 5.622, que regulamenta o art. 80 da lei 9.394, o artigo
informa que a educação a distância poderá ser ofertada nos seguintes níveis e
modalidades: educação sica, educação de jovens e adultos, educação
especial, educação profissional, cursos técnicos de nível médio e de
tecnólogos de nível superior. No nível superior, a educação a distância pode
ser ofertada nos seguintes cursos e programas: seqüenciais, de graduação, de
especialização, de mestrado e doutorado. Ainda, é informado no art. n° 3 desse
decreto, que os cursos e programas a distância deverão ser projetados com a
mesma duração definida para os cursos na modalidade presencial. A avaliação
do desempenho do estudante, para fins de promoção e conclusão de estudos e
obtenção de diplomas ou certificados, dar-se-á mediante o cumprimento das
atividades propostas e a realização de exames presenciais. Seus certificados
terão validade nacional.
5
http://www.uab.mec.gov.br/
23
2.4 Aprendizagem em EAD
Para ensinar e aprender em ambientes virtuais e, em especial, na EAD, é
necessário mudar de atitude e dar-se conta de que precisamos utilizar uma
abordagem pedagógica diferente daquela adotada em uma sala de aula
tradicional. Muitas vezes, os professores que se deparam com uma situação
pedagógica totalmente nova, têm dificuldade para adaptar-se e a situação os
deixa inseguros. Os que não têm sensibilidade pedagógica, não percebem que
é preciso novos pré-requisitos e condições de aprendizagem na EAD e
continuam trabalhando do mesmo modo como trabalhariam no ensino
presencial. Outros podem tentar adaptar os modos convencionais de ensinar à
nova realidade, mas acabam replicando o modo antigo. Mas um número cada
vez maior de professores está começando a compreender que os espaços
virtuais de aprendizagem requerem novas abordagens (PETERS, 2003a).
Para que estas novas abordagens aconteçam, é preciso refletir sobre
alguns aspectos, como explica Moran:
a tecnologia apresenta-se como meio, como instrumento para
colaborar no desenvolvimento do processo de aprendizagem. A
tecnologia reveste-se de um valor relativo e dependente desse
processo. Ela tem sua importância apenas como um instrumento
significativo para favorecer a aprendizagem de alguém (2000, p.139).
A tecnologia (recursos) a ser utilizada na sala de aula, tanto presencial
como virtual, será apenas o meio, instrumento, pelo qual se irá desenvolver o
processo de aprendizagem. Portanto, essa tecnologia não pode, por si ,
resolver os problemas de aprendizagem, nem tampouco fazer com que os
alunos aprendam apenas por que estão usando algo novo. Conforme escreve
Peters:
o mais poderoso ambiente informatizado de aprendizagem, equipado
com os dispositivos mais modernos, continua não passando de uma
aparelhagem vazia se for utilizado apenas para transportar dados ou
informações. Ambos têm que ser convertidos em “conhecimento”.
(2003a, p.157)
O que irá fazer da tecnologia um elemento de mediação da aprendizagem
é a maneira como iremos utilizá-la. Também é importante que se escolham
técnicas apropriadas para cada caso, conforme apresenta Moran:
24
As técnicas precisam ser escolhidas de acordo com o que se
pretende que os alunos aprendam. Como o processo de
aprendizagem abrange o desenvolvimento intelectual, afetivo, o
desenvolvimento de competências e de atitudes, pode-se deduzir
que a tecnologia a ser usada deverá ser variada e adequada a esses
objetivos (2000, p.143).
Em primeiro lugar, é importante percebermos que as técnicas, conforme é
explicado na citação acima, precisam ser variadas porque nem todos os alunos
aprendem da mesma maneira. Assim, a variedade possibilita abranger mais
alunos no aprender. Em segundo lugar, é igualmente importante percebermos
que o recurso mal empregado poderá atrapalhar o processo de aprendizagem
e desmotivar o aluno. Muitas vezes o professor dá uma aula utilizando a
Internet para pesquisa por exemplo. O aluno pode, nessas circunstâncias,
apenas copiar o que encontra, sem produzir nada seu. Se o professor não
auxiliar o aluno no processo, ensinando o que tem que fazer com as
informações que achou, o uso do computador e da internet poderá ser um
recurso mal utilizado. Ao escolher e utilizar um recurso, temos que ter uma
concepção pedagógica bem definida, saber onde queremos chegar com a sua
utilização. Não se trata de, simplesmente, utilizar computador para que a aula
seja moderna, mas utilizar o computador como um mediador do processo de
aprendizagem. Se bem utilizado, ele poderá despertar a motivação para o
processo do aprender.
Na EAD, existe uma diversidade de ambientes de aprendizagem, de
ferramentas, que permitem que se constituam diferentes espaços de
aprendizagem. Mas é preciso ter noção de como a aprendizagem acontece no
ensino virtual, para bem escolher softwares e ferramentas de acordo com o
objetivo que cada curso pretende.
Um dos conceitos que é utilizado na educação convencional e que poderá
ser transferido para EAD é a da Mediação Pedagógica. Conforme escreve
Moran:
Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento
do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou
motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de
ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem - não uma ponte
estática, mas uma ponte “rolante”, que ativamente colabora para que
o aprendiz chegue aos seus objetivos (2000, p.144).
25
Segundo esta perspectiva, professor deve ser aquele que auxilia, media, o
processo de aprendizagem do aluno, até mesmo porque a metodologia
utilizada na EAD sefocada no aluno, pois este semais responsável pelo
seu processo de desenvolvimento e aprendizagem do que o professor. Esse
processo de aprendizagem centrado no aluno, entretanto, conforme escreve
Belloni,
significa o apenas a introdução de novas tecnologias na sala de
aula, mas principalmente uma reorganização de todo o processo de
ensino de modo a promover o desenvolvimento das capacidades de
auto-aprendizagem (2006, p.102).
Percebe-se que a estrutura do curso e o processo de ensino deverão
levar o aluno a ser o mais autônomo possível, mostrando a ele o caminho e
não a chegada. Isto significa que o material didático construído, as tarefas, as
atividades, as palestras, enfim, tudo que é necessário um curso de EAD, têm
que ter esta concepção.
Neste processo onde o aluno é o protagonista da sua aprendizagem, ele
precisa também refletir sobre sua própria maneira de aprender e esta é uma
faceta importante e valiosa da EAD, se bem aproveitada. É o que chamamos
de metacognição, ou seja, como definem Damiani, Gil e Protásio (2006, p.2),
em revisão da literatura relativa ao assunto, “um processo que envolve a
simultaneidade da tomada de consciência e do controle da própria cognição
(autocontrole)”. Em relação a esse aspecto, argumenta Peters:
Quanto mais os estudantes aprendem a aprender
independentemente de seus professores para se tornarem
autônomos, mais cumprem tarefas que tradicionalmente foram
destes professores. Acima de tudo, devem adquirir a habilidade e o
hábito de observar e avaliar sua própria aprendizagem. Psicólogos
da aprendizagem chamam a isso de “metacognição” (2003a, p.201).
Para que o aluno aprenda a realizar a metacognição, é necessário que ele
observe a si mesmo na aprendizagem. Outro fator para o desenvolvimento do
processo de metacognição é o feedback do professor nas tarefas, provas e
atividades realizadas pelos alunos, pois, por meio desse procedimento, o aluno
26
poderá observar o que aprendeu e o que não aprendeu. (PETERS, 2003b,
p.146)
A auto-aprendizagem do aluno poderá acontecer com a metacognição,
mas, antes de chegar nela, o aluno precisa se desvincular da posição que
ocupava no processo do ensino tradicional, de modo que não fique esperando
as informações serem transmitidas pelo professor. O aluno tem que entender
que é necessário pesquisar, buscar, aprender a aprender e mudar de atitude
para que a autonomia aconteça. Portanto, nesse primeiro momento, torna-se
importante que professor motive o aluno. Conforme Peters (2003a), quando um
aluno está acostumado com aulas presenciais e com o ensino tradicional, ao
mudar de modalidade de ensino, deve ser motivado, pois, até se adaptar, terá
dificuldades em administrar seu tempo, os recursos, a maneira de construir o
conhecimento e de interagir com professores e colegas. Esta realidade, o autor
acrescenta, constitui um paradoxo porque, se os alunos tiverem autonomia, a
promoção da motivação, por parte do professor, não necessitará ser intensa.
Entretanto, o que se percebe é que os alunos são dependentes dos
professores, herança de um ensino tradicional e ainda não estão acostumados
a andarem sozinhos o que mostra que, neste primeiro momento de transição, é
necessária essa promoção de motivação.
Outra característica da aprendizagem do aluno a distância é envolver um
processo coletivo, distribuído na rede, no qual cada aluno está em um lugar
diferente, mas suas opiniões e reflexões estão disponíveis para todos os que
participam desse processo. Segundo vy (1999, p.158), na EAD, “o essencial
se encontra em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mesmo tempo
as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva na rede”. Assim,
nota-se que é importantíssimo, para o crescimento pessoal e profissional dos
alunos, os trabalhos em grupos, tanto a distância como nos pólos. Tais
trabalhos, além de ajudar em os alunos na superação do isolamento em que se
encontram, ajuda-os também a se relacionarem e a trabalharem em
colaboração: o que um não sabe o outro sabe e a reflexão, o pensar para
resolver um problema feita em conjunto mostra as diversas formas de construir
um raciocínio lógico e isso é altamente pedagógico (DAMIANI, 2007). Segundo
o que Palloff e Pratt argumentam, o professor deve criar este sentido de grupo
e de comunidade on-line:
27
O professor, então deve ter três prioridades on-line: incentivar e
desenvolver um sentido de comunidade, manter os alunos
envolvidos com o curso e com os colegas e capacitar os alunos a
adotar e manter o processo de construção da comunidade (2004,
p.141)
A importância do diálogo com colegas e professores é enfatizada também
por Kenski:
Local em que se partilham fluxos e mensagens para a difusão dos
saberes, o ambiente virtual de aprendizagem se constrói com base
no estímulo à realização de atividades colaborativas, em que o aluno
não se sinta isolado, dialogando apenas com a máquina ou com
um instrutor, também virtual. Ao contrário, construindo novas formas
de comunicação, o espaço da escola virtual se apresenta pela
estruturação de comunidades on-line em que os alunos e
professores dialogam permanentemente, mediados pelos
conhecimentos (2003, p.55).
Na EAD é fundamental que haja interação entre os participantes do
processo de aprendizagem, pois, segundo Carvalho (2007), “a complexidade
no processo de ensino-aprendizagem na modalidade a distância reside na
interação entre professores, tutores, ferramentas tecnológicas e alunos” ( p.1).
Essa idéia da importância do trabalho colaborativo vem sendo defendida por
Vigotski (1982) muitos anos, embora voltado ao ensino presencial
escrevia sobre a importância do trabalho colaborativo uma vez que esse
oferece aos componentes de um grupo o que uma aprendizagem solitária não
é capaz de oferecer. Cada componente do grupo, por meio do auxílio tuo,
estará, em seus pensamentos e aprendizado, sendo influenciado pela relação
com os outros. Também Wells (2001) escreve que, quando elementos de um
grupo têm um objetivo em comum, são capazes de criar um elo entre eles que
permite se superarem em suas capacidades para chegar em sua meta.
Segundo este autor, é de suma importância este processo para a
aprendizagem.
2.5 O perfil do professor e do aluno de EAD
Na EAD, professores e alunos são artífices de seu próprio
desenvolvimento, dentro de um processo interativo de trocas de
saberes (KRAMER,1999, p.40).
28
Quem ensina a distância? O professor a distância têm múltiplas faces
que, muitos que participam desta modalidade de ensino, não conhecem. O
professor que ensina a distância não é o mesmo professor que ensina
convencionalmente e nem poderia sê-lo, devido ao contexto em que se
encontra: um contexto que depende das tecnologias, de material pré-
elaborado, que envolve separar textos e imagens para o ensino, preparar
material para uso em multimídia, para facilitar a auto-aprendizagem do aluno e
o suporte técnico para que as aulas assíncronas aconteçam, por exemplo.
Segundo Belloni (2006, p.79), “o uso mais intenso dos meios tecnológicos
de comunicação e informação torna o ensino mais complexo e exige a
segmentação do ato de ensinar em múltiplas tarefas, sendo esta segmentação
a característica principal do ensino a distância”. Assim, o professor poderá
selecionar o conteúdo a ser trabalhado, mas não ser a pessoa que o prepara
para uso em multimídia, ou que o aplique, embora isso fosse o ideal. Ele
poderá, também, ser o regente da disciplina, mas não, necessariamente, o que
tira as dúvidas do aluno, presencialmente ou a distância, pois pode haver
tutores que fazem isso. Pelo que foi apresentado, pode-se entender que todos
os papéis tradicionais de um professor, agora, o divididos com outras
pessoas e o trabalho é feito coletivamente, necessitando sincronicidade, para
que a aprendizagem aconteça. O professor convencional não poderia abranger
todas estas áreas sozinho. Também com relação ao professor na EAD, ele
sempre será importante. Ao contrário do que alguns pensam, os recursos
tecnológicos nos cursos a distância não poderão substituí-los. Como escreve
Carvalho, “os professores que atuam na educação a distância desempenham
múltiplos papéis e ao contrário do senso comum, são imprescindíveis para o
sucesso na aprendizagem do aluno”. (2007, p.1).
É a estrutura do curso a distância que irá definir as diversas faces deste
novo “professor coletivo” (BELLONI, 2006). As funções docentes, no trabalho
em EAD, poderiam ser organizadas em três grupos, conforme Belloni :
o primeiro é responsável pela concepção e realização dos cursos e
materiais; o segundo assegura o planejamento e organização da
distribuição de materiais e da administração acadêmica (matrícula,
avaliação): e o terceiro responsabiliza-se pelo acompanhamento do
estudante durante o processo de aprendizagem (tutoria,
aconselhamento e avaliação) (2006, p.84).
29
Devido a essa multiplicidade de funções, o trabalho docente em EAD
necessita ser realizado em colaboração entre os professores, o que é
importante para o desenvolvimento tanto pessoal como profissional dos que
trabalham na construção do curso (BELLONI, 2006). Esse trabalho
colaborativo, entretanto, não se restringe apenas aos professores. Ele se
estende também aos alunos. O professor de EAD necessita abdicar da postura
de quem ensina e passar a fazer parte de um grupo de aprendizagem.
Segundo Belloni (2006, p.81), esse professor necessita tornar-se “parceiro dos
estudantes no processo de construção do conhecimento, isto é, em atividades
de pesquisa e na busca da inovação pedagógica”. Dessa forma, em EAD,
alunos e professores trabalham em conjunto, em colaboração, fazendo de seus
saberes trocas que levam todos a caminhar com um mesmo objetivo: o
conhecimento.
No tocante à relação professor-aluno no ensino tradicional, supõe-se que
o professor tenha facilidade em perceber quando um aluno está com
dificuldades na aprendizagem ou com os colegas, por estar mais diretamente
ligado a ele, presencialmente. Entretanto, embora envolva processos mais
complexos também com os alunos on-line, na EAD, é possível perceber
quando o aluno está com dificuldades, embora eles apresentam
comportamentos específicos e diferentes daqueles de um aluno presencial.
Palloff e Pratt (2004, p.27) apresentam exemplos desses sinais que podem
indicar problemas nos alunos: “mudanças no nível de participação; dificuldade
em começar o curso; inflamar-se com outros alunos ou com o professor pela
expressão inadequada de emoções, especialmente raiva e frustração; dominar
a discussão de maneira inadequada”.
Assim como o papel do professor de EAD é distinto daquele do docente
convencional, também distinção entre os papéis dos alunos nessas duas
modalidades de ensino. Os cursos de EAD, ao contrário do que pensamos, não
foram feitos para qualquer tipo de aluno. Aquele que se inscreve em um curso
a distância deverá ter um perfil diferente daquele de um aluno presencial. Esse
perfil deve ser tal que lhe garanta uma maior possibilidade de continuidade no
curso e potencialidade para concluí-lo. Não podemos afirmar que um aluno que
não tenha este perfil irá desistir, apenas se pode afirmar que um aluno que
30
quiser ser bem sucedido em EAD, deverá desenvolver atitudes específicas
para poder se adaptar ao curso.
Segundo Palloff e Pratt (2004), a Illinois On-line Network (2002) publicou
uma lista de qualidades que, em seu conjunto, descrevem o perfil do aluno
virtual de sucesso. Qual seria este perfil? O aluno virtual precisa: ter acesso a
um computador e a um modem ou à conexão de alta velocidade e saber usá-
los; ter a mente aberta e compartilhar a vida, o trabalho e outras experiências
educacionais; não se sentir prejudicado pela ausência de sinais auditivos ou
visuais no processo de comunicação; ter automotivação e autodisciplina;
desejar dedicar quantidade significativa de seu tempo semanal a seus estudos;
saber como trabalhar com os colegas para atingir seus objetivos de
aprendizagem e os objetivos do curso; ter capacidade de refletir, ler os textos,
discutir e analisar as opiniões dos colegas e professores; pensar criticamente;
e, por fim, acreditar na possibilidade de uma aprendizagem de alta qualidade
acontecer em lugar diferenciado dos tradicionais.
Baseada nessas informações, acredito que, ao criar um curso a distância,
devemos deixar claro aos alunos como eles devem se portar, suas
responsabilidades e deveres; como o curso irá funcionar, sua metodologia.
31
3 AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO
Começo discutindo a afetividade, que é o foco desta pesquisa, passando
depois a discutir seu papel na EAD.
Gabriel Chalita, em seu livro “Educação: a solução está no afeto” sugere
que os três pilares da educação são a habilidade cognitiva, a habilidade social
e a habilidade emocional, sendo esta última a mais importante por aprimorar as
anteriores. Segundo o autor, o afeto impulsiona a aprendizagem e faz a
felicidade do educador e do educando. O autor argumenta ainda que “não é
possível combater a insensibilidade, o desrespeito, a falta de solidariedade, a
apatia, a não ser pelo afeto” (CHALITA, 2004, p.260).
O Dicionário de Filosofia de Abbagnano designa afeto como sendo
o conjunto de atos ou atitudes como a bondade, a benevolência, a
inclinação, a devoção, a proteção, o apego, a gratidão, a ternura e
etc., que, no seu todo podem ser caracterizados como a situação em
que uma pessoa “toma cuidado de” ou nutre solicitude por” uma
outra pessoa ou em que esta outra responde, positivamente, ao
cuidado ou à solicitude de que foi objeto (1962 p.19).
Muitas vezes, somente esse lado positivo do afeto é levado em conta.
Entretanto, não podemos esquecer de seu lado negativo.
O dicionário Aurélio, apresenta esse lado, definindo afeto como um
conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de
emoções sentimentos e paixões, acompanhados sempre da
impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado
ou desagrado, de alegria ou tristeza (1993, p.55)
32
O afeto pode ser negativo, então, quando for relacionado a algo que não
está bem, manifestando-se sob a forma de insatisfação, medo, ansiedade,
desmotivação, raiva, ciúmes, frustração, tristeza.
Em nosso meio social, estamos sempre rodeados de pessoas em relação
às quais exercitamos nossa afetividade. No meio escolar, isso ocorre, da
mesma forma. Penso que a afetividade é fator importante na educação e pode
ter efeitos marcantes nos alunos, tanto potencializando suas capacidades e
sua motivação se for positiva quanto levando-os à desmotivação e ao
fracasso – se for negativa. Em relação a isto, escreve Fernandes:
Se os educadores fossem argüidos sobre a importância da área
afetiva, não hesitariam em enfatizá-la. O professor, cônscio da
responsabilidade formativa de que foi investido, não emprestará
papel secundário a um campo que é grandemente responsável pelos
comportamentos que integram o homem no universo das relações
psicossociais (1978, p.16).
Segundo Vigotski, as lembranças mais marcantes que temos estão
relacionadas com vivências afetivas a elas ligadas. Trazendo esta idéia para a
sala de aula, podemos pensar que os alunos se recordarão mais efetivamente
dos conhecimentos que forem trabalhados, construídos em ambientes
marcados por uma afetividade positiva. Conforme esse autor escreve,
Se quisermos que nossos alunos recordem melhor ou exercitem
mais seu pensamento, devemos fazer com que essas atividades
sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm
demonstrado que um fato impregnado de emoção é recordado de
forma mais sólida, firme e prolongada que um feito indiferente. Cada
vez que comunicarem algo ao aluno tentem afetar seu sentimento
(2003, p.121).
Acredito que é o professor quem deve propiciar o aparecimento do afeto
na sala de aula, para que o aluno possa recordar o que foi ensinado. Isto pode
ocorrer por meio de práticas que estimulem as realizações, as conquistas, as
trocas, fazendo com que o aluno possa sentir que é capaz de aprendizagens e
realizações. Isso pode aumentar sua auto-estima.
O professor, em suas aulas, deve investir na afetividade, mas não em uma
afetividade banal, do tipo “tapinha nas costas”. Penso que o professor que
deixa o aluno fazer o que quiser, não lhe exigindo um comportamento sério,
33
comprometido e estudioso, não é afetivo, mas irresponsável. Paulo Freire
descreve que ter afeto em relação ao aluno não significa fugir dos deveres e
responsabilidades para com ele, como educador:
o que não posso obviamente permitir é que minha afetividade
interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no
exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação
do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor bem querer que
tenha por ele (1996, p.160).
Ter afeto é preparar uma aula de modo que nela seja criado um clima
amistoso, mas que leve à aprendizagem, conforme descreve Saltini:
O educador não pode ser aquele indivíduo que fala horas a fio a seu
aluno, mas aquele que estabelece uma relação de diálogo íntimo
com ele, bem como uma afetividade que busca mobilizar sua energia
interna. É aquele que acredita que o aluno tem essa capacidade de
gerar idéias e colocá-las ao serviço de sua vida (1997, p.62).
Utilizar o afeto no trabalho com os diferentes conteúdos é essencial. Se
conseguirmos isso, tanto para dar significado a esses conteúdos, quanto para
prender a atenção dos alunos, poderemos beneficiar a todos. Paulo Freire
(1996) chama a atenção para a importância que, muitas vezes, um pequeno
gesto do professor pode ter. Vigotski explicava que
As reações emocionais devem constituir o fundamento do processo
educativo. Antes de comunicar algum conhecimento, o professor tem
de provocar a correspondente emoção do aluno e se preocupar para
que essa emoção esteja ligada ao novo conhecimento. Este pode
se solidificar se tiver passado pelo sentimento do aluno (2003,
p.121).
Lafortune e Saint-Pierre (1996) descrevem a expressão “domínio afetivo”
como sendo uma categoria geral formada por outros componentes que servem
para compreender e definir esse domínio. Entre esses componentes e
subcomponentes elas destacam os seguintes: atitude, emoção, ansiedade,
motivação, atribuão. A esses, acrescentam a confiança em si mesmo,
afirmando a é primordial para a aprendizagem. Para as autoras, a atitude é um
estado de espírito, uma disposição interior em relação a si ou ao seu contexto,
de maneira a estar ou a agir favorável ou desfavoravelmente; emoção é uma
34
reação afetiva, feliz ou triste, que se manifesta de diversas formas; ansiedade é
um estado afetivo, que tem como característica um sentimento de inquietação,
de perturbações físicas difusas e insegurança com relação a um perigo
perante o qual nos sentimos impotentes; motivação é uma somatória de desejo
e de vontade que leva a pessoa a realizar uma tarefa ou objetivo de acordo
com uma necessidade; atribuição é um processo pelo qual o indivíduo
relaciona um comportamento, seu ou de outra pessoa, a causas internas ou
externas; confiança em si mesmo é um sentimento pelo qual um indivíduo dará
provas de sua ousadia e de segurança ao sucesso de uma experiência.
As autoras descrevem ainda outras emoções como medo, cólera, alegria,
tristeza, surpresa, desgosto e angústia e também as relacionam com a
aprendizagem. Segundo escrevem, os alunos sentem prazer, satisfação,
quando conseguem realizar um exercício, cólera e desgosto, quando percebem
que seus escorços não deram em nada, e inquietação, mal estar e medo, antes
de uma avaliação ou teste. as manifestações de ansiedade em relação à
aprendizagem. Quando entram em pânico, podem ficar paralisados e ocorrer a
desorganização mental. Ao estudar, o aluno necessita compreensão para
organizar suas idéias e esforço para organizá-las na memória. Assim, ao
deixar-se dominar pela ansiedade, um momento de tensão e uma
diminuição da confiança.
Freitas, Costa e Faro (2003) escrevem que a motivação é a força que
coloca a pessoa em ação. Estes autores fazem uma ligação entre afeto e
motivação, demonstrando que, se não existe afeto não existe interesse,
necessidade e motivação. Eles afirmam que, nos processos de ensino e de
aprendizagem, o afeto em relação ao professor é indispensável para que o
aluno se envolva com um projeto, por exemplo. Esses autores afirmam que,
nas salas de aula onde os professores interagem com seus alunos de forma
próxima e afetiva, aumentam as possibilidades de construção de conhecimento
e de desenvolvimento do gosto por aprender.
Os alunos podem demonstrar uma motivação para determinados
trabalhos porque neles existe um investimento afetivo. Esse investimento
poderá ser a sua vontade de aprender, a sua curiosidade, o prazer em exercer
sua habilidade para realizar determinada tarefa. Quando o aluno tem dentro
de si a motivação, torna-se mais fácil para o professor continuar alimentando-a.
35
Mas, quando o aluno não a tem, cabe ao professor tentar despertar essa
motivação e o afeto pode ser um caminho para isso.
Um incentivo do professor podedespertar a razão que está faltando
para que o aluno realize uma tarefa com mais energia e vontade. Um exemplo
disto seria um aluno que precisa desenvolver determinada tarefa para a qual
está preparado, mas não consegue realizá-la porque, em seu pensamento, não
acredita ser capaz. Ao ouvir o professor dizer que ele é capaz, pois é um bom
aluno, um aluno inteligente, a relação do aluno com a tarefa poderá modificar-
se.
Mas o que muda? Muda o afeto, pois o aluno antes tinha um pensamento
negativo, estava dominado por um afeto negativo em relação a sua capacidade
de realizar a tarefa. Isso ocasionava desmotivação e o deixava sem causa
interior para realizá-la. Com o incentivo do professor, ele passa a ver-se de
forma diferente, começando então a motivar-se para a ação. As palavras do
professor podem assim despertar uma causa no interior do aluno. Aqui
percebemos a importância do estímulo, pois neste caso em especial, ele fez
com que o aluno passasse a ter disposição de realizar sua ação. Se, ao
contrário, o professor dissesse as seguintes palavras: “você nunca faz nada na
aula”, “não presta atenção”, “nunca faz as tarefas”, a reação do aluno
provavelmente seria diferente e ele, talvez, nem conseguisse desenvolver a
tarefa.
Com relação à motivação, Lafortune e Saint-Pierre (1996) distinguem dois
tipos: a motivação intrínseca e a motivação extrínseca. A extrínseca é aquela
que produz resultados mais rápidos, podendo-se dizer que uma pessoa está
motivada desta maneira quando “executa o que uma outra pessoa lhe pede; é
recompensado por ter feito alguma coisa; quer impressionar alguém e agradá-
lhe” (p.35). a motivação intrínseca é aquela que produz resultados mais
duradouros e permanentes. Pode-se dizer que uma pessoa está assim
motivada quando “faz alguma coisa porque realmente quer; retira prazer
daquilo que faz; considera a atividade em que trabalha como um fim em si; está
suficientemente interessada para que sejam inúteis pressões exteriores” (p.35).
Quando falam de auto-confiança, as autoras explicam que ela surge da
representação que o indivíduo tem de si mesmo em relação a sua capacidade
de realizar uma ação. Este aspecto afetivo está ligado à estima por si mesmo,
36
que resulta do auto-conceito, sendo que este último pode ser positivo ou
negativo ou mesmo apenas um conceito aproximado, devido à falta de
conhecimento de si.
Segundo Oliveira e Rego (2003), Vigotski aconselha que se atente para a
relação entre o pensamento e a dimensão afetiva, mas isto não basta: é
necessário que esta relação seja examinada ao longo da história do
desenvolvimento humano. Segundo a visão da psicologia histórico-cultural,
devemos considerar o ser humano como “produto do desenvolvimento de
processos físicos e mentais, cognitivos e afetivos, internos (constituídos na
história anterior do sujeito) e externos (referentes às situações sociais de
desenvolvimento em que o sujeito está envolvido)” (p.19).
Segundo as autoras, Vigotski também faz, através de suas reflexões
sobre os macacos, a diferenciação qualitativa entre as emoções dos animais e
as dos seres humanos, das crianças e dos adultos. Explica que as crianças
teriam emoções inferiores e os adultos emoções superiores. As emoções
primitivas originais seriam medo, raiva, alegria e as emoções superiores o
despeito e a melancolia. Neste contexto, Vigotski ainda traz uma novidade: a
de que as emoções primitivas podem se transformar em emoções superiores,
acontecendo de acordo com o aumento consciência e dos processos cognitivos
da criança. As mudanças qualitativas que acontecem também dizem respeito
ao aumento de controle do homem sobre si e este controle Vigotski atribui à
razão e ao intelecto. A afetividade humana é construída culturalmente e isso
pode ser visto por meio do medo da morte, que teuma articulação diferente
dependendo da cultura onde a pessoa estiver inserida. No ocidente, por
exemplo, chora-se a morte; no oriente ela é comemorada.
Também a linguagem é importante como instrumento para a constituição
da afetividade, uma vez que precisamos dispor de palavras para dar nome às
emoções e para expressar nossos sentimentos aos outros. As palavras,
dependendo de sua natureza e de como são pronunciadas, podem
desempenhar reações diferentes nas pessoas. Se uma palavra for pronunciada
com carinho, paciência e atenção, muitas vezes, poderá veicular mais efeito do
que um gesto, uma ação de ajuda. Como escreve Vigotski (2003, p.117), “as
palavras pronunciadas com sentimento, agem sobre nós de maneira diferente
que as pronunciadas sem vida”.
37
No contexto escolar, podemos pensar que as palavras têm grande
influência na motivação e na ação dos alunos em geral: elas tanto podem
edificar como destruir, de acordo como as interpretamos e também de acordo
com o sentido que damos a elas. Entretanto, devemos considerar que o sentido
que lhes é dado dependerá da experiência de cada pessoa. Uma mesma
palavra poderá ter sentidos diferentes para duas pessoas, de acordo com suas
experiências em relação a essa palavra ou ao que ela revela. Por exemplo,
uma palavra pode remeter diferentes pessoas a lembranças, situações,
imagens diferentes. Conforme escreve Oliveira (1997, p.50): “O sentido da
palavra liga seu significado objetivo ao contexto de uso da língua e aos motivos
afetivos e pessoais de seus usuários”.
Cada palavra tem seu significado, que está nos dicionários das diferentes
línguas, e um sentido, que é particular e depende de como cada um de nós a
interpreta a partir de as nossas experiências. Conforme descreve Oliveira:
O significado propriamente dito refere-se ao sistema de relações
objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da palavra,
consistindo num núcleo relativamente estável de compreensão da
palavra, compartilhado por todas as pessoas que a utilizam. O
sentido, por sua vez, refere-se ao significado da palavra para cada
indivíduo. Composto por relações que dizem respeito ao contexto de
uso da palavra e às vivências afetivas do indivíduo (1997, p.50).
O sentido dado a uma palavra, por uma pessoa, faz com que, ao ouvi-la,
a pessoa seja remetida à vivência vinculada a essa palavra: uma situação
indesejada, triste ou uma situação alegre e de felicidade. Ele pode também ser
neutra. A palavra seria como uma flecha que remete a uma situação, momento,
lembrança. Percebemos, pois, que o sentido é recordado porque tem ligação
afetiva com a pessoa.
Penso que, na relação professor-aluno, as palavras têm suma importância
e devem ser escolhidas cuidadosamente para que não venham a atrapalhar o
desenvolvimento do aluno e a relação afetiva existente entre ele e seus
professores. Não se pode esquecer que o afeto tem como efeito a motivação
para a realização de uma ação. Também a afetividade, na relação com o
professor, ajuda o aluno a gostar da disciplina e fazer as tarefas com vontade.
Poderia se dizer que essa é uma das causas de motivação. Uma das coisas
38
que mais motiva o aluno é gostar do que faz e ter um sentido para o que está
fazendo (FREITAS, COSTA, FARO, 2003).
A maior parte das propostas educacionais da atualidade fazem a
separação do aluno em duas partes, a cognitiva e a afetiva, dando prioridade
ao que se relaciona diretamente com o intelectual, com a razão
(VASCONCELOS, 2007). Paulo Freire também concorda com essa idéia e
escreve “a afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade” (1996, p.160).
Em seu artigo acerca da relação entre afetividade e cognição Arantes
(2007) começa fazendo uma reflexão acerca da natureza dos conhecimentos
cognitivos e afetivos e vai-se posicionando no sentido de dizer que eles não
são apenas de um desses tipos. Nessa perspectiva Arantes assume a
intrínseca relação entre os dois tipos de processos no funcionamento psíquico
humano e utiliza a expressão conhecimentos cognitivo-afetivos para referir-se a
eles. Descreve duas razões para esta relação cognitivo-afetiva. A primeira é de
cunho psicológico: “acreditamos que o conhecimento dos sentimentos e das
emoções requer ações cognitivas, da mesma forma que tais ações cognitivas
pressupõem a presença de aspectos afetivos” (p.1). A segunda razão aparece
no campo educacional: se os aspectos afetivos e cognitivos da personalidade
constituem universos opostos não há como afirmar a idéia de que existem
saberes vinculados à racionalidade ou à sensibilidade.
partimos da premissa de que no trabalho educativo cotidiano não
existe uma aprendizagem meramente cognitiva ou racional pois
alunos e alunas não deixam os aspectos afetivos que compõem sua
personalidade do lado de fora da sala de aula, quando estão
interagindo com os objetos de conhecimento, ou o deixam
“latentes” seus sentimentos, afetos e relações interpessoais quando
pensam (ARANTES, 2007, p.1)
Arantes (2007) ainda acrescenta que, desde a Grécia antiga, Platão e
outros filósofos, tais como Descartes e Kant, sugeriram a possibilidade de
separação entre a razão e a emoção, ou, melhor definiram uma relação
hierárquica entre a elas, na qual o pensamento tinha maior valor. Também na
psicologia, por influência da filosofia, durante décadas estudou-se
separadamente os processos cognitivos e afetivos. Existiam os cientistas
comportamentais, que centralizavam seus estudos apenas nos
comportamentos externos dos sujeitos e colocavam em segundo plano as
39
emoções. Havia, por outro lado, as teorias que privilegiavam os aspectos
afetivos nas explicações dos pensamentos humanos, dedicando um papel
secundário aos aspectos cognitivos.
Segundo Arantes (2007), tanto no campo da neurologia como no campo
da psicologia, algumas perspectivas teóricas e cientificas questionam os
tradicionais dualismos do ocidente e apontam caminhos e hipóteses que
prometem inovar as teorias sobre o funcionamento psíquico humano, na
direção de integrar dialeticamente cognição e afetividade, razão e emoções. A
autora acrescenta que Piaget, Vigotski e Wallon, em seus escritos, se aliam no
que diz respeito à razão e à emoção estarem intrinsecamente ligadas.
Arantes (2007) ainda referencia, no campo da neurologia, Joseph LeDoux,
que tem como premissa a indissociação dos processos afetivos e cognitivos.
No campo da psicologia, os autores que compartilham da mesma idéia são:
Greenberg que, ao escrever sobre esquemas emocionais, explica que eles não
levam em conta apenas as emoções, mas o afeto, cognição, motivação e ação.
Greenberg diz que, enquanto a emoção evidencia o que está nos afetando e
mostra a meta a alcançar, a cognição ajuda a dar sentido a essa experiência e
também ajuda-nos a escolher o melhor caminho para que possamos alcançar a
meta. Arantes autor, a seguir, Howard Gardner, com a idéia de inteligências
múltiplas, ou seja, a idéia de que a inteligência é composta por uma
diversidade de competências e linguagens. Depois, aparecem Daniel Goleman,
com seu trabalho sobre inteligência emocional; Nico Fridja, que explica a forte
influência que as emoções exercem sobre as crenças, escrevendo que
“enquanto o pensamento racional não é suficiente para a ação, as emoções
induzem as pessoas a atuarem de uma determinada maneira” (ARANTES,
2007, p.7). Por último, apresenta a teoria dos Modelos Organizadores do
Pensamento - Moreno, Sastre, Bevet e Leal - que defendem a idéia de que “o
sujeito elabora e organiza sínteses complexas de significados a partir de
processos afetivos e cognitivos” (ARANTES, 2007, p.7).
Os modelos organizadores do pensamento, seriam conjuntos de
representações mentais que as pessoas fazem de situações e que as levam a
entender a realidade, bem como discernir o que está acontecendo, agindo a
partir de sua conclusão. Eles incluem os desejos, as representações sociais, os
sentimentos, os afetos e os valores de quem os constrói.
40
Segundo Veiga e Weiduschat (2007) descrevem em seu artigo, até a
maneira como a sala de aula está arrumada influencia os aspectos afetivo e
cognitivo. ”A aula precisa ser um lugar bonito e aconchegante” (p.1), escreve o
autor.
3.1- Afetividade e Educação a Distância
Na educação a distância, quando iniciamos um curso, geralmente os
participantes se conhecem no início ou no encontro presencial ou ainda nos
pólos presenciais, existentes em alguns dos cursos desse tipo. Mas é difícil
manter um contato mais próximo com todos os colegas que estão fazendo o
curso e com eles criar elos de amizade. Uma das estratégias para fomentar os
contatos entre colegas na EAD é criar, nos ambientes de aprendizagem, um
perfil do aluno, com sua foto. Este perfil é como se fosse uma apresentação da
pessoa aos outros. Quanto a isso, comenta Kenski:
um ponto importante é a necessidade existente no ensino a
distância, baseado em ambientes virtuais, de que os alunos se
apresentem, mostrem suas personalidades, seus interesses, e
possam estabelecerem elos e relações sem se conhecerem
fisicamente [...] as descrições sobre si mesmos são formas de
incorporar informações e estabelecer relações entre o que os alunos
dizem textualmente e suas imagens e jeitos de ser. Essa
compreensão da personalidade e da imagem “virtual” de cada um
facilita o diálogo entre todos. Ajuda a entender melhor o
posicionamento de cada um nos debates virtuais (2003, p.67)
Conforme escreve Borba (2006), as instituições que trabalham com EAD
estão preocupando-se muito com os aspectos tecnológicos, com a qualidade
estética dos cursos on-line, mas dando pouca importância às relações afetivas.
Ele acrescenta ainda que os professores dão respostas intelectualizadas aos
alunos sem demonstrarem preocupações com a parte afetiva e com as
necessidades destes. Para solucionar este problema, Borba aconselha aos
professores conhecerem a história de seus alunos, bem como aprenderem a
ouvi-los para então descobrir como motivá-los.
Martins e Batista (2006) argumentam que as novas tecnologias estão
criando outras formas de relações sociais mediadas pelos recursos e não por
uma comunicação oral direta. Como as pessoas não ocupam mais o mesmo
41
espaço físico, nos espaços virtuais “buscam formas de fazer com que o outro
perceba, do outro lado de uma máquina, afetos e sentimentos” (p.2).
Ao comunicar-se por meio da forma escrita, os sujeitos criam símbolos
gráficos para expressarem o que gostariam de dizer ou comunicar por meio de
gestos. Muitas vezes, novas maneiras de se expressar vão sendo criadas pelos
grupos de pessoas que interagem a distância. Nesta perspectiva, participantes,
alunos e professores, de ambientes virtuais, também tentam demonstrar seus
afetos nos textos e materiais construídos, bem como nas mensagens postadas
ou enviadas. Hoje em dia, nos ambientes virtuais, temos maneiras gráficas e
muitas vezes até uma linguagem específica para tal expressão na a
comunicação on-line, como os emoticons ou smileys
6
.
Com escrita, pode-se expressar sentimentos, mas é preciso experiência e
habilidade, para que o texto, em suas entrelinhas, demonstre isso. Este é um
desafio para os professores que são chamados a construir material didático
para EAD. Como comenta Moran,
alguns professores, chamados para escrever textos [conteudistas],
percebem que não basta serem especialistas em sua área; precisam
aprenderem a escrever de forma coloquial para os alunos, a
comunicar-se afetivamente com eles, a preparar atividades
detalhadas (Moran, 2007, p.138).
Segundo Palloff e Pratt (2004) na EAD podemos encontrar muitos alunos
que não sabem escrever direito e, segundo a experiência que tiveram, editar ou
comentar as mensagens escritas por esses alunos pode diminuir a participação
dos mesmos no curso, pois gera neles o que os autores denominam “angústia
do desempenho”. Isso não quer dizer que não devemos exigir dos alunos
textos com boa qualidade em termos de gramática, formatação, ortografia e
tudo o que seja necessário para que o trabalho seja considerado bem
realizado. Devemos, entretanto, entender que as mensagens escritas
equivalem à oralidade, conforme explicam, e que isso deve ser levado em
conta
da mesma forma que a maior parte dos professores não pensaria em
corrigir a gramática de um aluno que estivesse falando na sala de
aula presencial, nós não corrigimos a ortografia e a gramática de
6
Emoticons ou smileys o pequenos ícones que representam as emoções. Em bate-papos e
mensagens, com eles, demonstramos o que estamos sentindo.
42
uma mensagem, porque ela é o equivalente à fala no curso on-line
(PALLOFF e PRATT, 2004, p. 79).
Carvalho e Alves (2006) ao escreverem sobre os aspectos motivacionais
dos alunos com relação a EAD mencionam fatores como a flexibilidade de
tempo, que permitem a pessoas que não dispõem de tempo para fazer o curso
presencialmente, o uso de tecnologias, a entrada no curso superior como forma
de oportunidade de trabalho futuro, a facilidade por realizarem o curso em
casa, são fatores motivacionais na escolha do curso a distância, ou seja, são
fatores motivacionais iniciais. Mas, para manter o aluno no curso um dos
fatores a ser trabalhado, segundo os autores é a interação, que “passa a ser a
base, tanto da aprendizagem, quanto da motivação pelo curso. O aluno pode
sentir-se bem, criar laços afetivos e empenhar-se nos estudos motivado pelas
interações com os colegas e com o professor” (p.5). Outro aspecto da interação
professor – aluno que eles julgam importante, em especial no início do curso, é
a possibilidade de respostas dos professores aos alunos em tempo hábil
“principalmente no início de um curso o aluno sente-se inseguro quanto a suas
respostas e espera por um feed-back do professor” (p.5). É interessante notar,
segundo Carvalho e Alves, que
cada pessoa se sentirá motivada por diferentes aspectos
dependendo de suas experiências de vida, de suas necessidades e
valores. À medida que o planejamento do curso puder diversificar as
atividades interativas, estabelecer relação entre teoria e prática e
demonstrar interesse pelo aluno em suas necessidades individuais o
curso vai estar mais propenso a atingir o interesse de um número
maior de alunos diminuindo a possibilidade de evasão (2006, p.6)
Serra (2007) comenta nas reflexões finais de sua dissertação que tem
como título “Afetividade, Aprendizagem e Educação Onlineque, independente
da forma de educação presencial - ou a distância -, a afetividade é um
importante elemento do processo de ensino-aprendizagem. Também descreve
que, em um ambiente virtual de aprendizagem, é mais difícil perceber e cultivar
as relações pedagógicas cheias de afetividade, devido aos sentidos não
estarem presentes. Afirma, entretanto, que nem por isso são impossíveis ou
indesejadas. Em suas investigações, observou que os professores que dão
importância à afetividade conseguem estabelecer relações pedagógicas mais
proveitosas nos ambientes da aprendizagem.
43
Criar um espaço onde o conhecimento e o reconhecimento sejam mútuos,
de forma que os sujeitos do processo sintam que naquele espaço existe uma
comunidade de aprendizagem, é fundamental. Serra também demonstra
preocupação em relação aos cursos que são somente on-line. Ela acredita
serem importantes os momentos presenciais, não apenas para a avaliação,
mas para o desenvolvimento de relações afetivas. Pois segundo a autora o
ciberespaço não parece ser um lugar capaz de propiciar a construção da
afetividade.
Nascimento (2008) foi outro pesquisador que investigou as relações que
ambientes de educação a distância permitem e como construir o diálogo e a
interação onde não se tem a interação face-a-face. Seu estudo tinha como
objetivo investigar a presença de uma dimensão sócio-afetiva na interação de
grupos analisando as mensagens postadas em fóruns de discussão do
ambiente virtual de aprendizagem. Os resultados encontrados sugerem que os
fóruns de discussão favorecem trocas de experiências na qual está presente a
dimensão sócio-afetiva. Os participantes estudados não trocavam apenas
informações a respeito das tarefas ou de questões técnicas, mas seus
sentimentos relacionados aos orientadores, colegas, trabalhos, dificuldades,
além de reflexões sobre sua aprendizagem. Assim, escreve Nascimento,
“pode-se considerar ainda que essa forma de interação é capaz de
proporcionar um contexto de relações onde um ambiente de apoio e incentivo e
de estabelecimento de vínculos afetivos é possível” (p.9).
Neste trabalho foi possível perceber que existem ainda algumas
dificuldades relacionadas com a tecnologia e com a manutenção da
comunicação ficando evidente a necessidade de encontrar novas ferramentas
que auxiliem na melhora da comunicação, e da troca entre grupos de forma on-
line.
44
4 CAMINHO METODOLÓGICO
Neste capítulo apresento a metodologia da pesquisa que embasou está
dissertação.
Para aproximar-me mais da realidade da pesquisa que iria realizar,
resolvi, no início do desenvolvimento desta dissertação, fazer um estudo piloto
de maneira que pudesse me auxiliar a definir, mais especificamente a forma de
investigar a opinião dos participantes dessa modalidade de ensino sobre a
existência da afetividade na EAD e sua influência na aprendizagem. Assim,
antes de apresentar o estudo principal, descrevo esse estudo piloto.
4.1 Estudo piloto
No estudo piloto, apliquei um questionário (Apêndice B) a um grupo de
alunos de um curso semipresencial a distância da área de ciências exatas. O
questionário foi aplicado presencialmente, por uma tutora do curso. Esse curso
conta com aulas a distância, com professores formadores, e encontros
presenciais, em pólos que se localizam em cidades próximas a Pelotas. Os
sujeitos deste estudo piloto foram os 12 alunos, que compareceram à aula no
dia da aplicação do questionário. Eram 5 homens e 7 mulheres, de uma turmas
de 35 alunos, com idade entre 18 anos e 35 anos.
O contato com a tutora foi feito durante evento no qual se discutia
Educação a Distância. Ela era uma das organizadoras do evento e se
apresentou como tutora presencial de um curso a distância. Entrei em contato
com ela, depois do evento, e lhe enviei o questionário por e-mail. Ela, então,
45
aplicou-o em aula presencial, em um dos pólos do curso, aos alunos acima
descritos. Tal aplicação ocorreu ao final de uma aula presencial.
O questionário era composto por uma pergunta fechada e três perguntas
abertas e versava sobre a percepção dos estudantes acerca da importância
das relações afetivas nos cursos a distância. A seguir, apresento os resultados
da análise realizada a partir dos dados coletados por meio desse questionário.
O foco da primeira questão, que era fechada, era saber se os alunos
percebiam a presença do afeto na Educação a Distância. Considero esta
pergunta de extrema importância para esta investigação, porque penso
expressar uma das dúvidas existentes entre as pessoas envolvidas nesta
modalidade de ensino.
Todos os 12 alunos responderam que percebem a presença de afeto na
EAD, embora haja diferenças entre suas respostas. Sete alunos acrescentaram
comentários as suas respostas, embora a pergunta não solicitasse isso. Não se
tem elementos para explicar tal comportamento, mas se pode pensar que ele
signifique uma dificuldade de dar uma resposta única, taxativa, que escolhesse
apenas umas das alternativas. Nesses comentários, observa-se que uma
tendência a especificar as situações em que as relações afetivas aparecem ou
não aparecem. Os comentários dão ênfase à presença do afeto entre os alunos
e entre estes e os tutores, com quem têm um contato presencial. Os trechos
que seguem, ilustram os comentários espontaneamente acrescentados
7
, à
questão:
Eu acho que é bem formal, pois não há um vínculo entre professor X
aluno, mas se pensarmos em relação aos colegas e professores do
pólo, ai sim uma relação de afeto, até pelo fato de convivência
diária entre alguns.
(Estudante 7)
Existe uma grande presença de afeto entre a turma (pólo), pois, com
os professores é puramente formal. Não sei, se é por causa do pouco
tempo que tem com os alunos ou por pouco tempo para preparar à
matéria a ser dada.(Estudante 8)
Na segunda pergunta, aberta, cujos resultados estão expressos na Figura
1, o interesse era saber em que situações os alunos percebem que há troca de
afetos ou interações afetivas. Cabe ressaltar que, ao analisar estas respostas,
7
As transcrições dos depoimentos mantém-se fiéis à escrita original dos alunos.
46
os alunos foram inseridos em mais de uma categoria, que alguns citaram
mais de uma situação.
Figura 1: Situações em que os sujeitos percebem existir trocas afetivas em
suas experiências em EAD
Na categoria na aula ou durante a resolução de exercícios, 7 alunos
forma incluídos. Entre eles, estão os que apresentaram as seguintes respostas:
Professor que auxilia na resolução dos exercícios (tarefas) mesmo
sem dizer a resposta mas mostrando o caminho nos chamando
atenção necessária. (Estudante 3)
Em aula, temos liberdade de conversar sobre assuntos além da sala
de aula, temos liberdade de brincar... aqueles professores que se
preocupam em trazer o melhor, preocupam-se com nossa
aprendizagem, o que mostra que eles preocupam-se conosco.
(Estudante 2)
No pólo, principalmente nas resoluções das tarefas e no auxílio nas
dúvidas sobre as diversas matérias. (Estudante 8)
Cinco dos alunos responderam que percebem trocas afetivas nos
trabalhos em grupo entre alunos. Como exemplos das respostas incluídas
nesta categoria, temos:
[Nas] trocas na resolução das tarefas e estudos em grupos.
(Estudante 12)
Na realização das tarefas com uma integração de nós alunos.
(Estudante 10)
7
5
4
3
na aula ou durante a resolução de exercícios
nos trabalhos em grupo entre alunos
em conversas sobre outros assuntos
em contatos pelo MSN ou Moodle
47
Ao trabalharmos em grupo e estudarmos juntos; Na troca de
experiências e ajuda em alguns trabalhos. (Estudante 7)
Esta categoria menciona o aparecimento do afeto apenas entre alunos. As
próximas já incluem também os professores ou tutores, além dos alunos.
Na categoria em conversas sobre outros assuntos forma classificados
as respostas de 4. Como exemplo das respostas, incluídas nesta categoria,
temos:
Em algumas aulas tivemos oportunidades de falar sobre assuntos
não referentes as aulas fazemos brincadeiras, etc... (Estudante 6)
Com os tutores já criamos um grande vínculo de amizade, me sinto a
vontade para conversar outros assuntos (pessoais) com a [...]. Mas
com os professores a relação é puramente formal, sem muita
aproximação. (Estudante 4)
Na categoria em contatos pelo MSN ou Moodle, foram incluídas as
respostas de 3 alunos que ali perceberam a presença de afeto. Nota-se, assim,
a importância de ferramentas como o MSN, de comunicação em tempo real, e
do Moodle, que é um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), como meios
para possibilitar as trocas afetivas, conforme mostram os extratos,
apresentados a seguir:
Em várias situações. Por exemplo em consultas através do MSN.
(Estudante 1)
Seguidamente converso com professores pelo MSN e não sobre
assuntos de aula. (Estudante 9)
Nas resoluções das tarefas, no Moodle e também nas dúvidas
através do MSN. (Estudante 11)
Quando se analisa os dois conjuntos de respostas: as emitidas em
relação à pergunta 2 e os comentários espontâneos que apareceram junto à
pergunta 1, nota-se que, no primeiro caso, 9 dos 12 alunos mencionam
situações ligadas ao pólo, para exemplificar momentos em que as relações
afetivas estão presentes. No segundo caso, isso aparece em 5 dos 7
comentários espontâneos.
Estes depoimentos parecem fortalecer a idéia de que as relações afetivas
aparecem não durante os contatos com os colegas, mas também entre
alunos e professores tutores. Talvez isso se deva ao fato do contato com os
48
professores da disciplina, também chamados de “professores formadores”,
serem somente virtuais. São os tutores que vão até os los, tiram dúvidas e
assim mantém um contato presencial e pessoal com eles.
Na terceira pergunta, interessava-nos examinar a opinião dos alunos
acerca da importância das relações afetivas na Educação a Distância (Figura
2). Aqui, também, os alunos foram incluídos em mais de uma categoria e a
maioria das respostas, de 4 alunos, foi classificada na categoria para ajudar
no aprendizado. Como exemplo das respostas classificadas nesta categoria,
escolhemos:
É importante para criar um vínculo de confiança e confiando o aluno
aprende mais e melhor. (Estudante 9)
É importante por que incentiva os alunos, e torna a aprendizagem
mais dinâmica. (Estudante 7)
Figura 2: Determinantes da importância as relações afetivas na EAD, conforme
a opinião dos sujeitos.
Foram incluídos na categoria não responderam. Os três comentários que
não responderam à pergunta como deveriam. Como exemplo desta categoria,
escolhemos:
É primordial para o desenvolvimento do curso (Estudante 11)
Dois estudantes deram respostas que foram incluídas na categoria para
ter maior liberdade de se expressão. Como exemplo dela, temos o seguinte:
4
3
2
2
2
para ajudar no aprendizado
o responderam
para maior liberdade de expressão
supera o isolamento
para motivação dos alunos
49
A importância das relações afetivas no Ensino é muito grande,
quanto mais amigos nos tornamos, nos sentimos mais à vontade e
com mais liberdade de nos expressar. (Estudante 4)
Respostas como a que segue foram incluídas na categoria supera o
isolamento na EAD:
Temos nesse método um certo grau de isolamento, mas ai é
importante o relacionamento afetivo ou até mesmo de confiança
principalmente entre os colegas. (Estudante 3)
O depoimento do estudante 3 mostra bem a importância de comunidades
on-line, formadas por colegas e professores, ou seja, a importância da
comunicação dos alunos entre si e com os professores para que não se sintam
sós e isolados nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem.
Dois alunos deram respostas enquadradas na categoria, para a
motivação dos alunos. Uma delas foi a seguinte:
Acredito que é muito importante o nculo, porque estamos nos
adaptando a esse tipo de ensino e precisamos muito de apoio e
motivação por parte tanto de nós mesmos quanto dos professores.
(Estudante 5)
É interessante observar que três dos entrevistados equacionaram afeto
com confiança, não no sentido de dizer que um gera o outro, mas parecendo
entender que são a mesma coisa, como mostram os extratos a seguir:
É muito importante que tenhamos uma relação afetiva, que os
professores e alunos tenham confiança entre si pois ajuda muito o
nosso aprendizado. (Estudante 2)
Temos nesse método um certo grau de isolamento mas ai é
importante o relacionamento afetivo ou até mesmo de confiança
principalmente entre colegas. (Estudante 3)
Na quarta questão (Figura 3), queríamos saber se os alunos percebiam
alguma relação entre as trocas afetivas e a motivação para permanecer no
curso e realizar tarefas. Nas respostas, 5 estudantes foram incluídos na
categoria relação direta e importante. Para exemplificar esta categoria,
escolhemos as seguintes manifestações:
Na minha opinião a motivação é importante para continuarmos a
nossa caminhada e as trocas afetivas nos ajudam a ter vontade de
permanecer. (Estudante 5)
50
Devido o bom relacionamento dos colegas e professores, pois se não
fosse o bom relacionamento e o apoio dos colegas e alguns
professores já teria desistido. (Estudante 6)
Figura 3: Relação entre trocas afetivas e motivação dos alunos para
permanecer no curso e realizar suas tarefas, conforme percepção dos sujeitos.
Quatro alunos foram classificados na categoria não responderam. Nesta
categoria está o estudante 4, que não escreveu nada, e outros 3, que
desviaram sua resposta da pergunta, como no exemplo que segue:
Meu relacionamento com professores é bom, mas presencial
porque virtual não tenho muito relacionamento é precário por não
acessar muito o ambiente. (Estudante 3)
O que o aluno quis dizer é que tem um bom relacionamento com o tutor
do pólo, mas não com os professores a distância, aqueles com os quais ele se
relaciona através das ferramentas de comunicação no ambiente de
aprendizagem. Isso reforça o que foi mencionado sobre a relação de alguns
alunos ser melhor no ambiente presencial, mas não responde a pergunta feita.
É interessante notar que os alunos que não responderam à questão
advertiram para o acúmulo de tarefas em semanas de provas em seus relatos.
Como exemplos dessas respostas escolhemos as seguintes:
Nas semanas de provas se torna difícil fazer tarefas pois o tempo
para se deixar os estudos se torna muito reduzido. (Estudante 10)
Quando somos imbuídos a realizar tarefas em semana de prova; as
tarefas ficam em plano, para termos tempo para a prova.
(Estudante 11)
5
5
2
relação direta e importante
não respondeu
não respondeu diretamente, mas sugere que há relão direta
51
Entender o conteúdo; por exemplo tarefas em (dia de prova) digo,
semana de prova se torna impossível estudar levando em conta as
atividades paralelas entre trabalho e estudo. (Estudante 12)
Cabe aqui perguntar por que os alunos resolveram não responder a
questão, escrevendo sobre tarefas e provas. Isto me leva a pensar que talvez
eles quisessem dizer que o houve diálogo para resolver o problema que
citam ou mesmo que o houve trocas afetivas suficientes para que os
professores e organizadores do curso percebessem que não era possível
realizar tudo ao mesmo tempo.
Dois estudantes não responderam diretamente a pergunta feita, mas
sugerem que há uma relação direta entre trocas afetivas e a tendência a
permanecerem no curso e realizar as tarefas. Entre os classificados nesta
categoria - não respondeu diretamente, mas sugere que relação -
chamou atenção este depoimento de um dos alunos:
É sempre bom ter um amigo nas horas difíceis e como o curso é (um
pouco) difícil uns incentivam os outros (Estudante 9)
Neste relato, percebe-se a importância atribuída à da amizade, que é uma
troca afetiva, para que o trabalho e o desenvolvimento pessoal e profissional se
desenvolvam.
Os resultados do estudo piloto indicam que o grupo pesquisado percebe a
existência de relações afetivas na aula durante a resolução de exercícios, nos
trabalhos em grupo entre alunos, em conversa sobre outros assuntos, em
contatos pelo software MSN ou no ambiente virtual de aprendizagem Moodle.
Nas respostas ao questionário, observei que os alunos confundem muito o
professor da disciplina com o tutor a distância e por essa razão, tive o cuidado
de investigar, no estudo principal, a quem os entrevistados se referiam quando
falavam em professor.
Pelas respostas dos alunos à questão 4 ( relação entre trocas afetivas e
motivação para permanecerem no curso e realizar tarefas), notei que ela não
ficou bem formulada. Não consegui extrair o que queria das respostas, de
nenhum dos alunos. Muitos não a responderam, talvez por não a terem
entendido. Assim, ao abordar esse tema na entrevista, preocupei-me em
52
verificar se haviam entendido bem o foco da pergunta e se o haviam abordam
de forma adequada.
O estudo piloto também me fez perceber a importância da entrevistar um
tutor a distância e um professor da disciplina, além do tutor presencial, pois os
dados indicam que os alunos percebem marcadas diferenças entre esses três
tipos de professores em termos das relações afetivas que com eles
estabelecem.
Embora os dados coletados nesse estudo tenham sido úteis para uma
primeira aproximação à temática, percebi, por meio deles, que não eram
suficientes para abranger a multiplicidade de formas que podem tomar os
cursos a distância. Assim, como o objetivo desta pesquisa era analisar as
relações afetivas na EAD, independentemente do tipo ou da estrutura do curso
em que elas ocorrem, pensei que seria conveniente trabalhar com diferentes
alunos e professores de cursos a distância, dando conta, na medida do
possível, da diversidade que apresentam.
4.2 Estudo Principal
Para realizar a pesquisa que, recordando, tem o objetivo de investigar a
existência de trocas afetivas na EAD e, em caso positivo, a importância que os
sujeitos atribuem a ela e a sua influência na aprendizagem, optei por uma
abordagem qualitativa. Esta opção ocorreu porque, neste tipo de abordagem,
não intenção de enumerar ou medir eventos, não se emprega instrumento
estatístico para a análise dos dados, seu foco é mais amplo e parte de uma
perspectiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos. Dela faz
parte a obtenção de dados descritivos mediante o contato direto e interativo do
pesquisador com a situação e o objeto de estudo. Portanto, na pesquisa
qualitativa, geralmente, o pesquisador procura entender os fenômenos,
segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, a partir daí,
situa sua interpretação dos fenômenos estudados (MINAYO, 1992).
Os dados, portanto, foram coletados através de entrevistas presenciais
semi-estruturadas (Apêndice A) voltadas para investigar a opinião de alunos,
professores e tutores sobre a temática em foco. Seus dados foram gravados
em áudio e depois transcritos. Os entrevistados, formam 4 alunos e 3
professores/tutores, escolhidos a partir do critério de variabilidade, isto é, na
53
possibilidade de apresentarem caractesticas distintas relativas ao que se
supõe sejam fatores que podem influenciar a presença das relações afetivas na
EAD. Como a pesquisa qualitativa não está preocupada em construir um
corpus representativo da população que investiga, a variabilidade dos sujeitos,
mais do que seu número é um aspecto a ser levado em conta (BAUER e
GASKELL, 2002). A pesquisa, pois, não tem ambições de generalização.
As variáveis (relativas à variabilidade acima mencionada) que balizaram a
escolha dos alunos foram: idade; sexo; curso que envolva interação
professor/aluno; existência (ou não) de contato presencial para além dos
momentos de avaliação dos alunos. Quanto aos professores, a variabilidade
buscada relativa aos seguintes aspectos: tipo de professor (tutor presencial,
tutor a distância e professor da disciplina); sexo; e tempo de experiência em
EAD. Foram, então, selecionados, um professor ou professora de cada tipo e,
pelo menos um deles, deveria ter mais do que dois anos de experiência em
EAD.
Quanto às questões (Apêndice A) do roteiro da entrevista cada uma tinha
seu objetivo especifico que aqui iremos expressar: a primeira questão tinha
como objetivo capturar os dados pessoais dos entrevistados. A segunda
questão tinha como objetivo saber em que curso a distância o aluno ou
professor estava envolvido, (área e o nível - extensão, graduação, curso
básico) e também como era a estrutura do curso, que os cursos a distância
variam muito quanto à estrutura e metodologia. Esta informação visava a
contextualizar as respostas que seriam dadas no desenvolver da entrevista.
a questão terceira questão tinha como objetivo capturar a percepção dos
entrevistados sobre os pontos fortes e fracos da EAD. A questão foi formulada
dessa forma porque se queria saber se os aspectos afetivos e sua importância
seriam espontaneamente mencionados. Caso isso acontecesse, sua
importância, como ponto fraco ou ponto forte ficasse bem demarcada.
O objetivo da quarta questão era saber se os entrevistados percebiam a
presença de trocas afetivas no curso com o qual estava envolvido,
descrevendo situações e exemplos onde ela se manifestava. A quinta questão
voltava-se à percepção da importância das trocas afetivas na Educação a
Distância numa visão geral e não apenas em seu curso, enquanto a sexta
54
investigava opinião dos entrevistados sobre a relação entre aprendizagem e
afetividade de forma geral. A sétima questão, investigava essa relação na EAD.
Por último, a oitava questão investigava a opinião dos alunos e professores
sobre a relação existente entre a motivação para permanecer no curso e
realizar as tarefas e as trocas afetivas que nele acontecem.
Os dados coletados nas entrevistas foram analisados a partir de um
procedimento de análise conteúdo (GIL, 1999; MINAYO, 1992), “uma técnica
de investigação que, através de uma descrição objetiva, sistemática e
qualitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a
interpretação destas mesmas comunicações” (GIL, 1999, p.165).
55
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Antes de apresentar e discutir os achados desta pesquisa relativos à
percepção dos sujeitos participantes referentes à: a) ocorrência de trocas
afetivas na EAD; b) importância a elas atribuída; e c) sua influência na
aprendizagem descrevo esses sujeitos (3 professores e 4 alunos) e forneço
algumas informações acerca da estrutura dos cursos que realizaram/realizam,
como forma de contextualizar os dados analisados. Essas informações foram
fundamentais para entender as opiniões por eles formuladas durante as
entrevistas e podem ser resumidas da seguinte maneira:
Tutor A (presencial): sexo masculino, 35 anos, graduado em
Administração de Empresas, tendo pós-graduação em Marketing e trabalhando
aproximadamente dois anos na EAD. Atualmente, desempenha sua função
em curso de graduação.
Tutor B (a distância): sexo feminino, 44 anos, licenciada em Matemática,
trabalhando aproximadamente cinco anos em EAD. Atualmente, trabalha
em curso de formação continuada.
Tutor C (presencial, a distância e professor formador): sexo feminino, 37
anos, licenciada em Matemática, com mestrado e doutorado em Engenharia da
Produção e trabalhando aproximadamente três anos na EAD. Atualmente,
exerce todas suas funções em curso de graduação.
Aluno A: sexo masculino, 23 anos. Faz o curso de Administração de
Pequenas e Médias Empresas a distância. Está no terceiro dos 5 semestres do
curso. Nesse curso, o aluno tem um tutor de sala - que podemos considerar
como um tutor presencial e um tutor eletrônico - que podemos considerar
como um tutor a distância. Os alunos encontram-se uma vez por semana,
56
presencialmente, para assistir a uma vídeoaula (gravada), apresentada pelo
tutor de sala, que está à disposição para tirar suas dúvidas. Isso também pode
ser feito pelo tutor eletrônico, através de e-mail. Após a vídeo aula, são feitos
trabalhos em grupos, presencialmente. Trabalhos individuais também são
realizados e enviados ao tutor eletrônico.
Aluno B: sexo feminino, 56 anos. É pedagoga aposentada, formada
também em Ciências Sociais Licenciatura Curta e trabalha 20 horas no
laboratório de informática de uma escola estadual. Fez o curso a distância de
Mídias na Educação - Ciclo Básico. Nesse curso, os alunos têm um encontro
presencial no início e outro no término; contam com tutor a distância, mas o
com tutor presencial.
Aluno C: sexo feminino, 39 anos. Formada em Português e Inglês e
respectivas Literaturas. Fez curso de extensão, a distância, que tinha como
objetivo a aprendizagem do uso dos recursos da internet e das mídias do
computador para utilização em aulas de língua estrangeira. Nesse curso, o
aluno tem um encontro presencial no início e outro no término e conta com
tutores a distância. Também é relevante saber que o Aluno C utilizou
recursos como o MSN e Orkut com seus alunos.
Aluno D: sexo masculino, 42 anos. Bacharel em Teologia e também
Técnico em Eletrônica. Está fazendo curso de Computação a distância. Nesse
curso, os alunos contam apenas com tutores a distância (cada disciplina tem o
seu) e não têm tutor presencial.
Nos cursos a distância de graduação, como por exemplo o curso do Aluno
A e do Tutor C, por norma da Secretaria de Educação a Distância do MEC,
pelo menos uma das avaliações de cada disciplina tem que ser presencial.
Assim, não podemos dizer que esses cursos são totalmente a distância, porque
não podemos considerar essas avaliações como encontros presenciais.
O Tutor A e o Aluno A o do mesmo curso de graduação: Administração
de Pequenas e Médias Empresas. O Tutor B e o Aluno B também são do
mesmo curso: Mídias na Educação - Ciclo Básico. O Tutor C e os Alunos C e D
são de cursos distintos, não havendo nenhuma relação entre eles.
É relevante saber que os alunos B, C, e o D, embora alunos em cursos a
distância, são também professores no ensino presencial. Dessa forma, por
mais que tenham sido entrevistados na posição de alunos, o ser professor deve
57
ter igualmente influenciado suas respostas.
Tendo apresentado as características básicas dos sujeitos da pesquisa,
passo a discutir os pontos fortes e pontos fracos da educação a distância, na
opinião desses sujeitos. Cabe observar, antes de apresentar o conteúdo dos
depoimentos dos entrevistados, que houve muita diversidade de opiniões
acerca desses pontos fracos e fortes e que ninguém mencionou diretamente
aspectos relativos às trocas afetivas. Tais aspectos, entretanto, a meu ver,
estão implicados, ainda que indiretamente, nas falas de alguns sujeitos.
A seguir, apresentarei os dados relativos a esse tópico do roteiro de
entrevista, antes de apresentar os dados substantivos da investigação, que
estão focados nas trocas afetivas e sua importância para a aprendizagem na
EAD. Devido à referida diversidade de opiniões (que resultou em um
conjunto de dados extenso) e também ao fato destas informações não serem o
foco da pesquisa, considerei inadequado incluí-las integralmente. Assim, os
pontos fracos e forte da EAD, na opinião dos sujeitos entrevistados, serão
trazidos de forma resumida e voltada para sua relação com as trocas afetivas.
5.1 OS PONTOS FRACOS DA EAD
As opiniões de tutores e alunos foram agrupadas segundo categorias
empíricas, isto é, provenientes dos próprios dados (MINAYO, 1992). Essas
categorias tinham dois focos principais: um relativo aos alunos e outro relativo
aos cursos.
O principal ponto fraco, apontado por dois tutores e por um aluno, foi a
dificuldade de administração do seu tempo de estudos enfrentada pelos
envolvidos na EAD, como exemplifica a fala que segue:
quanto ao aluno, é a questão de organização: eles têm que
planejarem o tempo deles, organizarem uma hora por dia. Eu vou me
dedicar para aquilo ali ou, se eu não vou usar uma hora por dia, eu
vou na segunda, na quarta e na sexta, eu vou pegar duas horas por
dia, dar uma revisada no domingo. Se não, não tem como ir o curso.
Tem que estar com um planejamento, umas datas, aonde algumas
atividades têm que serem concluídas naquele período. (Tutor B).
Quanto a esse aspecto, também mencionado pelo Aluno C, a idéia é que
os professores devem cobrar sistematicamente os trabalhos dos alunos, pois
58
essa cobrança pode sinalizar para estes que aqueles valorizam e dão atenção
ao seu trabalho.
Os aspectos relacionados aos cursos foram bastante variados. Os tutores
apontaram os seguintes: problemas na estrutura e/ou no planejamento;
falta de qualificação dos profissionais para atuarem na EAD; resistência
e/ou falta de confiança nessa modalidade de ensino; e perda da
privacidade por parte do tutor. Os alunos, por seu turno, mencionaram:
dificuldades na utilização dos recursos tecnológicos necessários à EAD
(em especial a internet e os ambientes de aprendizagem); dificuldades
para organizar encontros on-line com os colegas; falta de interação com
os professores; e alto índice de evasão.
A seguir, apresento e comento os dados referentes aos pontos fracos da
EAD que, a meu ver, por sua relação com as trocas afetivas, indicam que os
entrevistados atribuem importância a elas.
O Tutor B, por exemplo, falando sobre um curso do qual estava
participando como aluno, apontou problemas de estrutura que ele acredita
dificultarem a organização dos alunos, as interações entre as pessoas nele
envolvidas e as aprendizagens:
tem material impresso, tem material em CD... o ambiente é bem legal
de ver, a aparência dele: um ambiente claro. Só que a maneira como
eles estão organizando é a seguinte: foram disponibilizados todos os
módulos, desde o primeiro dia do curso, e as atividades, todas elas,
são previstas: as entregas, para o último dia do curso.[...] porque as
pessoas ficam deixando, deixando para o final, porque aquilo não
tem uma agenda, não tem uma organização. Ainda, eu questionei
algumas coisas, mas elas me disseram: “Não, mas é ensino a
distância! Pode fazer a qualquer hora, a hora que ele quiser”. Mas,
quer dizer, se perde até a questão da interação: tu não tem como
interagir, não tem como ir acompanhando, dia-a-dia, aquele aluno. A
tutora, particularmente, tem feito poucas intervenções: alguns e-
mails, fórum, mesmo. Como está até o dia quinze, tá aberto, o
pessoal só vai colocando, assim, informações, mas não há uma
interferência, um questionamento dentro, uma sugestão de fazer
que aquele pessoal interaja um pouco entre eles. (Tutor B).
No curso citado pelo Tutor B, o aluno faz atividades e as posta no
ambiente, sem que ninguém faça intervenções relativas ao trabalho realizado.
A fala desse Tutor aponta para a falta de interação aluno/tutor e também
aluno/aluno, aspecto que considera de fundamental importância. Sem essas
interações, cada aluno acaba trabalhando sozinho e eu me pergunto: Como um
59
aluno consegue chegar até o final de um curso com esta estrutura? Onde fica a
sua motivação para realizar as tarefas? Não seriam as interações importantes
para motivar os alunos a continuar no curso? Quando os colegas trocam idéias,
quando os tutores emitem seus comentários acerca das atividades feitas pelos
alunos, quando os alunos e tutores participam de chats e de fóruns, a
motivação para continuar no curso não é incrementada? Parece que a fala do
Tutor B traz implícita estas idéias.
O Aluno C, ao discorrer sobre sua percepção com relação aos pontos
fracos da EAD, não se manifestou como aluno, mas falou como professor,
que também atua como tal. Como ponto fraco ele apontou que o professor
perde a privacidade, caso não se cuide, em conseqüência da intensa procura
de contato por parte dos alunos:
a gente entra em algumas questões, assim, que o ensino a distância,
por um lado, ele é bom, por um lado... Mas, por outro, ele vai te sugar
bastante, sabe? Ele tira a tua privacidade, que eu acho essencial, e tu
levas mais trabalho para casa também. Que tu estas ali. Vários
alunos já disseram para mim: professora tu tens orkut? Não, não
tenho. E MSN? Ah! Também o meu não está funcionando. Não é que
eu não tenha, eu tenho vários recursos... aíi tu chegas em casa tu
acessas, tu queres falar com alguém teu, assim, mais próximo, a
pessoa... Aí, quando tu vês, ta aquela lista de pessoal, de aluno,
sabe, com assuntos que não são de teu interesse... Nenhum sabe...
(Aluno C)
Se essa acentuada busca de comunicação com os tutores e
professores, pode-se pensar que é porque, por meio dessa comunicação
ocorrem coisas importantes para os alunos – talvez as trocas afetivas. É
possível pensar que, se não fossem importantes e não trouxessem algum
ganho, tais contatos informais não seriam buscados.
O Aluno B, ao apontar, como ponto fraco, as dificuldades para organizar
encontros on-line com os colegas, também mostra dar importância a contatos e
trabalhos em grupo, possivelmente porque neles ocorrem processos de troca
que são valorizados:
ponto fraco: a falta de tempo. É muito pouco tempo e dificuldade de
poder conversar com os colegas, no mesmo horário. Porque, às
vezes, não coincidia. Porque, às vezes, eu estava livre na quarta e o
meu colega não estava [...] Essa dificuldade da gente entrar em
contato com os colegas, né? Porque a gente trocava, através do
MSN, através do bate-papo, que era marcado, ? Mas, às vezes,
60
por exemplo, marcava às 21 horas e tinha alguém que trabalhava à
noite, tu entendes? Então... aí já fica difícil... (Aluno B).
A importância das interações aparece, da mesma forma, no depoimento
do Aluno D:
o ponto fraco - não sei se para dizer fraco - é toda essa interação
com o professor, que tu não tem, né? Numa sala de aula, tu recebes
a disciplina. Tudo bem! Depois, tu vais para a casa para fazer
exercício. Mas, em um curso a distância, o início de uma disciplina é
contigo e uma apostila. Então, para mim, é o ponto mais crítico. O
pessoal desiste bastante e a evasão se dá bastante porque o pessoal
não acompanha, não consegue. Tem muita gente, que eu vi, algumas
colegas, eu vi, postaram: eu sou dona de casa, queria ter contato
com a informática e entraram em uma área de programação, que é
complicado. Então, muita gente, muitos evadiram em função disso.
[...] a falta do início da disciplina com o professor. O ideal seria uma
aula, nem que fosse a distância, nem que fosse uma
videoconferência. Então o professor estaria ali, nem que fosse um
final de semana, sei lá, ou, então, até uma aula gravada dessa
videoconferência, que tu pudesse acessar. Bom, foi feito assim,
assim, assim... Você não tem isso, você segue a apostila (Aluno D).
Infelizmente, existem cursos que se organizam a partir da idéia de que,
sendo a distância, o aluno pode ser deixado sozinho e acredito que isto deve
ser repensado. Em seu relato, o entrevistado explica que, no início das
disciplinas, o aluno conta apenas com uma apostila, o que não lhe parece
adequado. Concordo com a sua opinião quando argumenta que uma disciplina
deve ser iniciada em encontro presencial ou, se isso não for possível, deve
haver uma apresentação por meio de uma videoconferência ou, até mesmo, de
um vídeo motivacional. Acredito que esse tipo de procedimento é importante
para que o aluno não se sinta sozinho e tenha maior motivação para começar a
disciplina.
Tendo examinado o que os entrevistados apontaram como pontos fracos
e sua relação com a efetividade na EAD, passo agora às suas opiniões sobre
os pontos fortes dessa modalidade educacional.
5.2 OS PONTOS FORTES DA EAD
As opiniões dos entrevistados sobre os pontos fortes da EAD também não
mencionaram as relações afetivas diretamente. Essas opiniões foram,
igualmente agrupadas em categorias relativas ao aluno e ao curso. Os pontos
61
fortes relativos ao aluno apontados pelos professores foram: flexibilidade
(relativas ao tempo, às possibilidades de acesso aos cursos, à escolha do
tutor) e aprendizagens para além dos conteúdos das disciplinas que a
EAD fomenta (escrita, comunicação, domínio das tecnologias e dos
recursos comunicacionais disponíveis e auto-didatismo). Em relação ao
curso, os pontos citados foram: participação e interação, não dispersão da
atenção, avaliação interdisciplinar.
O ponto forte citado por todos os tutores foi a flexibilidade. O excerto que
segue exemplifica suas falas:
A questão da liberdade de horário. Acho que isto é bastante
importante, né? Para os alunos, principalmente os que trabalham,
estas coisas todas [...] Outra vantagem do ensino a distância [...] é
exatamente ter essa liberdade de até ter a quem recorrer, de acordo
com o teu perfil. Porque, no presencial, tu tens uma disciplina com
tal professor e tu vais ter que recorrer a ele e, muitas vezes, os
gênios dos dois não são compatíveis e não vai dar certo. Aconteceu,
eu vi. Isto é normal acontecer. E na distância, como tu tens uns
tutores que geralmente atuam em todas as disciplinas, na
matemática, para todas, eles atuam, eles acabam recorrendo
àqueles que eles têm mais afinidade, que eles conseguem se
comunicarem legal. E isso eu acho interessante. (Tutor C).
Penso que o Tutor C, embora fale em liberdade, se refere à flexibilidade,
relacionando-a com a possibilidade, que se apresenta ao aluno, de escolher o
horário de trabalho e o tutor com o qual quer se comunicar escolha feita de
acordo com a afinidade do aluno. O depoimento desse tutor sugere que ele
atribui importância às relações afetivas na EAD, embora isso não tenha sido
dito diretamente.
O Tutor B, que aponta a participação e a interação como pontos fortes,
explica que, diferentemente do que acontece na educação presencial, na qual
os alunos podem permanecer inertes na sala de aula, na EAD eles
necessariamente têm que participar. Em relação a essa idéia, explica:
Um dos pontos fortes que eu acho, assim, o principal, é a questão da
possibilidade da interação que ambiente, que o ensino a distância
possibilita [...] da interação não só do professor tutor, dos outros
colegas. Possibilita que ele tenha um crescimento bem maior.[...] não
é a questão do professor que ajuda; os colegas se ajudam entre
si muito e, normalmente, em uma aula presencial, não vejo muito
isso, porque aquele que... no momento a distância, tem um aluno
que não se manifestar, ele não está sendo visto; ele tem que chegar
62
ali e ele tem que escrever, ele tem que digitar, ele tem que se
colocar à posição dele. Porque senão, é como se ele não estivesse
na sala de aula, ao passo que, numa aula presencial, o professor
entra e sai; o aluno está ali, marcando presença, e a presença no
a distância é tu participar. Se tu não participar... (Tutor B)
Embora se referindo principalmente à possibilidade de ajuda implicada na
interação, pode-se pensar que, a fala do Tutor B sugira também a importância
das relações afetivas porque, sem elas, parece não ser possível a ocorrência
dessas trocas que ele valoriza.
As opiniões dos alunos acerca dos pontos fortes da EAD, também foram
agrupadas em duas categorias: a relativa ao aluno incluía o seguinte aspecto,
também mencionado pelos tutores: aprendizagens para além dos conteúdos
das disciplinas (escrita e comunicação); a relativa ao curso, apontava:
flexibilidade (em termos de tempo e espaço) e disponibilização de
material para estudo.
5.3 PERCEPÇÃO DA PRESENÇA DE TROCAS AFETIVAS NA EAD
Todos os tutores e três alunos percebem a existência de trocas afetivas
na EAD. Apenas o aluno D diz não percebê-las, pelo menos em seu curso. No
que diz respeito à exemplificação de ocasiões em que essas trocas ocorrem,
os dados coletados mostram o seguinte: tanto os tutores como os alunos,
apontam a ocorrência delas entre os alunos, nos encontros presenciais e
em trabalhos em grupo, em situação presencial e a distância, e entre os
tutores presencial e a distância e os alunos.
Os alunos, no entanto, apontaram mais uma situação que os professores
não mencionaram: a presença das trocas afetivas entre colegas, a
distância. Claro que é uma situação vivida pelos alunos uma vez que,
dependendo da estrutura do curso, os alunos fazem trabalhos em grupo ou a
mesmo se correspondem virtualmente quando têm afinidades. Isso os
aproxima e fomenta as trocas de afeto. Talvez os professores não atentem
muito para esse aspecto.
O Tutor A, por exemplo, assim se manifesta:
63
Então uma família, vamos dizer, de acadêmicos, onde troca-se
experiências, onde não se copia muito material divulgado. Nós
trocamos experiências, agregamos afetividade para que o ensino saia
de uma forma efetiva (Tutor A).
Esse tutor compara, aos encontros de uma família, os encontros
presenciais na EAD, nos quais ocorrem trocas de experiências e enfatiza que,
a essas trocas, é agregada afetividade, o que parece levar a um bom ensino.
Ainda acrescenta:
Forma-se ali relacionamentos profissionais, forma-se ali grandes
negócios, grandes empresas se formam, fortalecem-se as empresas
porque é a função da Educação no ensino superior (Tutor A).
Com esse depoimento, o Tutor A sugere que essas trocas de experiências
nos grupos ajudam o aluno a crescer e a se desenvolver para futuramente
saber como lidar com as empresas e seus negócios.
A fala do Tutor C, no exemplo que apresenta sobre a ocorrência de trocas
afetivas, ressalta a importância da motivação, em especial dos tutores
presenciais, para incitar que o aluno também se motive e portanto tenha uma
aprendizagem mais eficaz, levando-o a permanecer no curso.
Eu acho que as trocas ocorrem assim, com bastante naturalidade. É
necessário, a gente percebe isso, a presença dos tutores nos pólos.
A motivação delas [tutoras] é extremamente importante para que os
alunos se motivem [...] A questão relação tutor/aluno do pólo é
extremamente importante de ver. O grupo que vai bem é aquele
grupo que está sempre unido, que está trabalhando em grupo, que a
tutora chama. Aquele grupo onde o tutor não está vestindo a camisa
de fato, não está desenvolvendo tanto, isso reflete nos alunos. (Tutor
C).
Esse tutor acrescenta outro exemplo de situação na qual as relações
afetivas estão presentes: nos vínculos estabelecidos, por cada aluno, com um
tutor em especial, que seo seu ponto de referência no curso. Esse tutor,
segundo o entrevistado, é escolhido por afinidade, por facilidade de
comunicação (ver fala do Tutor C citada na página 54 desta dissertação):
Tem aqueles alunos que acabam elegendo um tutor para eles, vamos
dizer assim. Então, sempre eles procuram um ou outro, dependo do
perfil, né? de cada aluno, né? procuram um ou outro professor, ou um
ou outro tutor. (Tutor C).
64
A opinião do Tutor C, possivelmente, sugere que as afinidades entre
alunos e tutores influenciam na aprendizagem dos alunos, pois ter afinidade
com alguém implica em ter algo em comum com esse alguém: algo que une,
que envolve sentimentos, que está relacionado ao afeto. Freitas, Costa e Faro
(2003) escrevem que nos processos de ensino aprendizagem é necessário o
afeto em relação ao professor para que o aluno se envolva. O Tutor B, por sua
vez, também percebe a possibilidade de que existam afinidades entre
tutor/aluno, mesmo a distância
porque tu consegues assim perceber alguns alunos... vamos dizer [...]
como no presencial tem alguns alunos com os quais tu te identificas
mais, na questão a distancia também. Até tem alguns alunos que
antes de tu veres, ali, que ele assinou, tu sabes quem é o aluno
que está escrevendo aquilo ali para ti. Então, tu consegues assim
estabelecer uma relação com eles. Tu podes até olhar o conteúdo
e, se não tiver assinado, tu podes até identificar a pessoa. (Tutor B)
Mas ele pensa que é o professor tutor que tem que ir atrás daqueles
alunos que têm mais dificuldade de participação. Possivelmente, ele esteja
querendo evidenciar que é o professor tutor que deve criar oportunidade,
aproximação, diálogo para que as troca afetivas aconteçam. O professor tutor,
em parte, é o responsável pela criação de vínculos.
Porque o professor tutor tem que sempre estar atento,
buscando aqueles alunos. [...] o tutor que eu acho que poderia, umas
duas ou três vezes por semana, estar mandando um e-mail, estar
entrando no fórum, postando, assim, estar dialogando com aquelas
pessoas que participaram do curso, colocando algumas
observações sobre o que eles postaram, estar instigando sobre novas
questões, chamando aqueles que não participaram para que
participem do fórum... Então, esta questão aí, vai muito, acho, do
professor tutor. (Tutor B)
Penso ser importante atentar para o fato de que se deve ter cuidado com
as idealizações que a EAD favorece. Numa comunicação a distância, onde o
contato é restringido pela ausência física, é fácil criarem-se afinidades entre
professores e alunos, bem como é fácil criarem-se animosidades.
No que diz respeito às relações entre os alunos, o Tutor B assim se
manifesta:
65
[...] mas eles, assim, os alunos entre si é a questão da afetividade
apurada. Assim, a gente nota que, se tu marcas um bate-papo,
assim, para trocas de dúvidas, assim, de necessidades que eles
tenham, ou até de angústias que eles tenham com relação à alguma
dificuldade no ambiente ou dificuldade até em relação a algumas
atividades, eles se ajudam, sabe? [...] Eles se ajudam, eles enviam
material... “Olha, eu já tenho o material” ou “Eu posso te ajudar
nisso”. Eles se ajudam bastante e é uma coisa assim, que parece
que, no encontro presencial, tu o percebe tanto. As pessoas ficam
mais isoladas, mas isto aí... é importante que o tutor esteja atento a
isso aí (Tutor B).
Os exemplos de situações nas quais os alunos identificam o aparecimento
de trocas afetivas são semelhantes àqueles produzidos pelos tutores, isto é,
nos trabalhos em grupo entre alunos, em situação presencial e a
distância, e nas interações entre tutores e alunos também, tanto
presenciais quanto à distância.
O Aluno A, por exemplo, assim se expressa:
A nossa turma é muito unida. Fazemos muitas atividades em grupos ,
as atividades em aula, as presenciais. Todo mundo se bem em
aula, todo mundo brinca. É uma vez por semana, mas todo mundo se
conhece, todo mundo se bem. Por que todo mundo se bem?
Por causa dos trabalhos. Às vezes tu faz um grupo com um colega
diferente, outro dia com outros colegas. Então, tu vai sendo
conhecido e fazendo amizade (Aluno A).
O Aluno B é de opinião que as trocas afetivas são mais fáceis no
ambiente de aprendizagem e no contato com os colegas a distância, do que
presencialmente, como podemos ver a seguir:
Eu acho até que é mais fácil essa troca afetiva no ambiente
[referindo-se ao ambiente virtual de aprendizagem], eu acho que a
gente tem mais liberdade de colocar para o colega [...] Eu o sei
porque. Eu acho que a gente é mais aberta nesse sentido. Tu
colocares para a colega... porque tu colocas. Mesmo que a pessoa
não tenha entendido, ela consegue te responder, entendeu? “Ah! isto
eu não gosto!”. Eu acho que deveria ser assim e, às vezes, no
presencial, as pessoas não dizem [...] eu acho que, no ambiente, é
mais fácil. Tu colocas, tu não estás olhando no olho... Eu sinto isso,
ao menos eu não tive problema nenhum [...] (Aluno B)
O Aluno C, no começo de seu relato, faz referência às relações afetivas
ao descrever suas tutoras como “as gurias”, como se fossem suas amigas.
Com relação às trocas afetivas entre aluno e tutor a distância, diz:
66
as gurias [tutoras] que deram o curso são muito legais, as duas que
orientaram são muito afetivas. Até uma delas me convidou para ser
amiga dela no orkut e elas entravam ali, na discussão. Quando a
gente entrava, elas marcavam um dia para a discussão no MSN.
Então, todo mudo entrava e ficava ali, na sala de bate-papo do
curso. E aí tá, as gurias eram bem legais, assim, bem afetivas, assim,
com a gente. Sempre tentavam ver qual era o problema, se tu estás
com dificuldade para acessar. (Aluno C)
O Aluno A também fala da relação aluno/tutor, mencionando os dois tipos
de tutores: de sala
8
e eletrônicos
9
:
eu nunca tive problema com tutor, eu acho que eles tentam
solucionar os problemas o mais breve possível e sempre eles
solucionam. Eles sempre mandam respostas, sempre te resolvem o
problema que a gente tem. Eles 99% são eficaz na resposta, mas
eles ajudam muito no teu trabalho. Se tiver dúvida no trabalho, eles te
ajudam, tiram a tua dúvida, mandam e-mail. Às vezes, sem tu
perguntares, eles já te mandam dicas para o trabalho: “Para o
trabalho tal, vai uma dica para este trabalho”. Então, acho que é
muito afetivo, tem bastante relacionamento com o tutor de sala e o
tutor on-line, no caso, tutor eletrônico (Aluno A).
O Aluno A parece equacionar a ajuda do tutor em relação as suas
dúvidas, o de dicas para seu trabalho e a eficácia nas respostas, com as inter-
relações afetivas.
No relato abaixo, o Aluno D afirma que não interação (e,
conseqüentemente, trocas afetivas) em seu curso, em especial com os tutores,
ao responder a pergunta sobre a percepção de trocas afetivas nesse curso:
Não. Eu vou te dizer assim: nessa etapa [programação] a gente
quase não tem interação. Chat, por exemplo: eu não vi nenhum tutor
marcar chat. Então fica difícil até os próprios alunos marcarem. Eu
tenho visto, assim, o pessoal usando muito o MSN, usando fora do
ambiente. Por exemplo, eu tenho uma colega de Santa Catarina. A
gente troca mais informações por MSN de alguma prova, de algum
exercício... Então, é mais, realmente, MSN. Não tem usado ambiente,
até porque o chat é difícil tu marcares, saber que a pessoa está ali,
naquele momento. Então, no MSN, é bem mais fácil: sabe que a
pessoa está conectada. Então, tu acessas a qualquer momento
(Aluno D).
Esse aluno D, afirma, claramente, que não tem contato com o seu tutor a
distância. Entretanto, é interessante perceber que procura entrar em contato
com os colegas para a realização de exercícios e trocas de informações sobre
8
Tutor de sala seria o mesmo tutor presencial, aquele que fica na sala enquanto acontecem as
vídeoaulas.
9
Tutor eletrônico é o mesmo que tutor a distância.
67
as provas. Aqui se percebe uma menção à necessidade de interação e de
trocas afetivas talvez para promover a motivação, para ser ajudado, para
partilhar as dificuldades. A ajuda da colega no exercício, que seria a função do
tutor a distância parece, no caso do Aluno D, ter sido exercida pela colega de
curso.
5.4 PERCEPÇÃO DA IMPORTÂNCIA DAS TROCAS AFETIVAS NA EAD
No tópico que tinha como objetivo investigar a percepção da importância
das trocas afetivas na Educação a Distância, em termos gerais, os dados
mostram que os todos entrevistados – alunos e tutores – percebem essa
importância.
As respostas referentes às razões pelas quais os tutores entrevistados
atribuem importância a essas trocas foram organizadas em termos dos
seguintes aspectos: fortalecimento da motivação para melhorar a
aprendizagem, diminuição da evasão, auxílio aos alunos que apresentam
problemas, maior liberdade de expressar pensamentos e sentimentos.
Ilustrando as falas referentes ao fortalecimento da motivação para
melhorar a aprendizagem, é interessante observar o que diz o tutor A:
[em encontros semanais] essa troca afetiva fortalece a motivação, o
conhecimento, a força de vontade de estudar, principalmente a força
de vontade de aprender! Isso é fundamental, o que não ocorre,
muitas vezes, em métodos tradicionais (Tutor A).
Nesse comentário, o Tutor A explica que a importância da afetividade na
EAD está relacionada ao fortalecimento da motivação e acrescenta que é nos
momentos presenciais que ocorrem as trocas afetivas, que geram motivação.
Nessa fala está implícita a idéia de que em grupos, nas trocas de experiências
e ajuda mútua, os alunos crescem e aprendem.
Em relação à importância das trocas afetivas para a diminuição da
evasão, como conseqüência do aumento da motivação, o Tutor B escreve:
[...] se tu não fizeres muitos contatos, tu não tiveres alguns momentos
de cordialidade, até, com eles, de procurar ouvir, no sentido do que
está acontecendo... “Por que tu não estás acessando? Em que eu
posso te ajudar? Quem sabe outros colegas podem te ajudar?” Se tu
68
deixares muito, assim, na vontade deles, provavelmente, no final,
muitos tenham desistido. Tem que estar sempre puxando, puxando
no sentido de estar sempre mandando incentivo, elogiando - claro
que quando realmente merecido - mas incentivando, motivando, para
que eles continuem. Se não... É porque, senão, o nível de desistência
é bem alto, a pessoa se sente muito sozinha, muito isolada. Tem que
sentir a presença dos colegas e do tutor (Tutor B).
O tutor deixa clara a importância das trocas afetivas no resultado final dos
alunos, possivelmente se referindo à evasão dos mesmos, gerada pela
ausência de contato com o tutor.
É interessante notar que o Tutor C equaciona as relações afetivas na EAD
com a possibilidade de auxiliar alunos que apresentem problemas de
diferentes ordens. Na fala que segue, ele se refere aos alunos cuja estrutura
familiar lhes induz a uma “deficiência na afetividade”:
é extremamente importante, eu acho. Principalmente para aqueles
que já tem uma deficiência dessa afetividade, né? Porque aquele
aluno que tem uma boa estrutura familiar por trás, percebo isto até no
presencial, é bem nítido isto, o aluno parece que vai embora, né? Às
vezes uma pequena conversa com o aluno, paralela ao conteúdo, faz
uma diferença extremamente significativa no processo de
aprendizagem dos alunos. Então, eu acho que tem tudo a ver,
principalmente para os alunos que têm uma certa carência afetiva,
que vêm com alguma carência familiar do passado, ou do
momento, sei lá! Uma pequena conversa, depois da aula, totalmente
informal, sem grandes coisas, uma repercussão grande no
aprendizado do aluno. Eu vi acontecer isto no presencial. No a
distância é a mesma coisa e o que eu percebo é exatamente a
questão da estrutura familiar (Tutor C).
Ainda com relação a isso, o Tutor C comenta a importância do resgate dos
alunos “desvirtuados e desmotivados”, embora seja difícil um relacionamento
mais próximo com todos os alunos do curso:
Infelizmente, a gente não consegue conhecer todo mundo a ponto de
intervir, porque, se a gente conseguisse fazer isso com todos, porque
nem todos se abrem... Para começar, é difícil também andar apenas
meio caminho. Tu anda um pedaço, ele tem que andar outro, eu
acho, nesta história. E às vezes o aluno não se abre. Acho que isso
às vezes impede um pouco mais a melhora e se conscientizar do
processo, nessa linha [...] o professor, hoje, nessa parte afetiva - não
que não precisasse ter afetividade - acho que este processo tem que
ter afetividade, o aluno e o professor tem que gostar do que faz, tem
que estar motivado para isso e tem que demonstrar isso, né? Porque,
senão, o aluno vai acabar se desmotivando, né? Mas, hoje em dia, eu
percebo que há... que o professor tem que ir um pouco além de
simplesmente isso, ele tem que ir um pouco mais pro lado afetivo,
para resolver, para poder resgatar um aluno meio desvirtuado, vamos
dizer assim, meio desmotivado. Mas é difícil! Isso não é uma coisa
trivial e tem que ter abertura dos dois lados (Tutor C).
69
O Tutor C, mais adiante, ressalta também que, em alguns casos, os
alunos se abrem mais quando estão on-line do que presencialmente, situação
em que apresentam maior liberdade de expressar pensamentos e
sentimentos.
em alguns casos, a distância pode facilitar pelo fato que é mais fácil
você se abrir conversando via MSN do que cara a cara. Por isso que
hoje a rede ORKUT, esse negócio de MSN, conversas desse tipo
tão em alta. Tem jovens que nem saem mais para a rua. Não sei é
uma opinião minha, nunca pesquisei, mas é que eu acho que é mais
fácil o ser humano se abrir com outra pessoa, desabafar, colocar para
fora o que ele sente a distancia não olhando olho no olho. Então, por
esse motivo, no ensino a distância, talvez essa relação
[professor/aluno] melhore... talvez (Tutor C).
As explicações encontradas nas falas dos alunos a respeito da
importância das trocas afetivas na EAD foram o fato de elas gerarem: maior
liberdade de expressar pensamentos e sentimentos, melhorar a
comunicação (por meio das trocas com o tutor), entre colegas para
facilitar a realização dos trabalhos, motivação e na aprendizagem.
No tocante à maior liberdade de expressar pensamentos e
sentimentos, o Aluno B falou o seguinte:
Eu acho assim, eu acho que até é mais fácil essa troca afetiva no
ambiente. Eu acho que a gente tem mais liberdade de colocar para o
colega, ? [Por que tu sentes assim?]. Eu não sei porque. Eu acho
que a gente é mais aberta nesse sentido, né? Tu colocares para a
colega. Porque tu colocas, mesmo que a pessoa o tenha
entendido, ela consegue te responder, entendeu? Ah, isto eu o
gosto”, né? Eu acho que deveria ser assim e as vezes no presencial
as pessoas não dizem, né? E isso eu tenho experiência, porque
como a gente sempre esteve envolvida com projetos na escola eu
sinto isso (Aluno B).
As trocas afetivas na EAD são importantes para a Aluno B porque ele diz
se sentir mais à vontade e com mais liberdade para se expressar. Essa
liberdade é percebida como ocorrendo mais facilmente no ambiente a distância
porque ali as manifestações se efetivam por meio das palavras, sem implicar
em uma relação olho no olho que poderia gerar constrangimentos. Entretanto
não se pode generalizar, porque também alunos que têm dificuldade em
expressar suas idéias e sentimentos por meio de palavras, na EAD.
70
Em relação às possibilidades de melhorar a comunicação (por meio
das trocas com o tutor), o Aluno A explica:
Tu tens um bom relacionamento com o teu tutor, o teu tutor vai te tirar
todas as tuas dúvidas, ele vai ser preciso contigo, ele vai te responder
sem nenhum problema. Como tu tens um bom relacionamento com
ele, vai sempre ser eficaz na tua resposta, não te xingando e sendo
grosseiro. [...] Às vezes é imediata a resposta, chega a vir em menos
de quatro horas, a resposta. Porque nem sempre eles estão on-line,
também. Eles dão aula, eles têm outras atividades, também. [E se
não tem um bom relacionamento com o tutor tu achas que não vem
tão eficaz a resposta?] Eu acho que não vem tão eficaz, às vezes tu
és grosseiro e tu vais ser o último que ele vai ler o teu e-mail (Aluno
A).
O Aluno A descreve a importância do bom relacionamento principalmente
com o tutor e isso implica em interações afetivas positivas. A partir desse bom
relacionamento, diz que percebe que o que o aluno consegue ser melhor
atendido em suas dúvidas, dificuldades. Ao sentir que o tutor está atendo às
suas necessidades, o aluno talvez fique mais motivado para aprender e investir
nos estudos.
O aluno C faz observações sobre a importância das trocas afetivas entre
colegas para facilitar a realização dos trabalhos
É que eu acho assim: quando tu tens alguma afetividade com a
pessoa, tu consegues fazer mais coisa no trabalho, é melhor. Tanto
que tudo que eu conseguia fazer tinha a ver com o meu colega,
porque a gente trocava idéias. Mas é porque a gente mora na mesma
cidade, trabalha na mesma escola. Então, o que a gente fazia,
trocava, ele comentava: “Tu vistes tal assunto, que legal?”. [Tá, então
esta questão da importância das relações afetivas na educação a
distância?] Eu acho que é importante porque a relação de
aprendizagem precisa ter isso (Aluno C).
Com relação à influência das trocas afetivas na motivação e na
aprendizagem,o aluno escreve:
Eu me auto-motivo, mas tem pessoas que não têm essa capacidade
de auto-motivação. Qualquer trancada ela é capaz de desistir. Então
eu acredito que uma turma, um encorajando o outro: Não, não
desiste, eu te ajudo! Acho que facilita bastante. [E o que te motiva?]
Eu fiquei muitos anos com o meu curso técnico. Eu trabalhava
manhã e tarde e dava aula à noite. Nunca consegui fazer
universidade. Aí, quando alguns anos atrás...bom agora está na hora
de parar e me preocupar com a minha formação, então eu tenho
alguns projetos nessa área de Educação a Distância. Por isso que eu
71
fico tão envolvido aqui com a EAD. Eu trabalho há muitos anos nessa
área de Desing e de programação e eu não tinha nenhum curso
válido e isso é uma coisa que dificulta até uma relação com a
empresa. Isso me motiva bastante, terminar rápido esse curso. E a
outra é que eu estou pagando (Aluno D).
O Aluno D, embora não vivencie isso, pensa que as trocas afetivas são
importantes na EAD para a motivação dos alunos.
5.5 PERCEPÇÃO ACERCA DA RELAÇÃO AFETIVIDADE E
APRENDIZAGEM
Ao investigar a opinião dos entrevistados especificamente sobre a relação
entre aprendizagem e afetividade, em geral, as respostas foram unânimes
tanto entre os tutores, quanto entre os alunos: todos percebem que as duas
são interdependentes, como mostram os extratos a seguir.
Os tutores assim se manifestaram:
Para mim, a relação, ela é mútua, uma depende da outra, né? (Tutor
A)
relação entre as duas: aprendizagem e afetividade. Bom, tanto
com relação ao ensino a distância ou o ensino presencial, que elas
não conseguem estar distantes, né? Porque eu acho assim... o
professor, tanto o professor como o colega, se tu não tiveres aquela
disposição, aquela vontade de estar ensinando, de estar buscando
coisas que possam estar enriquecendo o teu aluno, o teu colega, se a
afetividade não estiver presente tu o vais conseguir avançar,
conseguir o teu objetivo: a construção do conhecimento do aluno.
Tudo aquilo que tu fazes tem que fazer com dedicação, com amor,
com vontade. Eu acho muito difícil estas duas coisas andarem
separadas. (Tutor B)
Elas estão extremamente ligadas, eu acho, principalmente naqueles
casos onde o aprendiz tem essa carência. O aluno que tem uma
estrutura familiar boa por trás, não têm tanta necessidade disso,
porque ele próprio está bem estruturado e tu não precisas interferir
muito, porque ele já sabe o que ele quer, ele já sabe, entendeste? [...]
É uma coisa bastante complexa. Isso não é uma coisa tão trivial, mas
que existe essa relação aprendizagem e afetividade, eu não tenho a
menor dúvida. É uma relação forte e é necessária existir na
educação. Não adianta o professor frio ir lá, claro que a
demonstração da afetividade pode ocorrer de várias formas [...]. Mas
o jeito dele atuar deixa transparecer isso, a forma de demonstrar essa
afetividade. Ela tem várias formas, cada um tem o seu jeito. (Tutor C)
Penso ser interessante comentar que, embora a relação tenha sido
72
reconhecida como importante pelos três tutores, o Tutor C acrescenta um
elemento não mencionado pelos outros: a importância da afetividade para os
alunos que ele denomina “carentes”, ou seja, aqueles que não têm uma
“estrutura familiar boa por trás”, aspecto que havia sido exposto anteriormente.
O Tutor B descreve que a relação da aprendizagem com a afetividade
ocorre em três situações, são elas: por parte do professor, ao buscar
informações que enriqueçam seu aluno provavelmente esse professor tem
prazer em ver seu aluno aprender e isso o move no seu trabalho; e por parte
do aluno, ao buscar ajudar o colega, influenciando sua aprendizagem.
As opiniões dos alunos são apresentadas a seguir. Note-se, novamente,
que os alunos B e D manifestam-se como professores:
Eu acho que é muito importante. O aluno, ele tem muito mais
possibilidades de aprender, né? aquilo que realmente ele estendo
interesse, né? [...] porque, às vezes, tu ensinas e eles não aprendem,
né? e hoje a gente tem, assim, convicto que eles, além de não
estarem motivados, eles são muito desinteressados, mal educados,
né? Então esta parte desse relacionamento afetivo professor-aluno é
de suma importância, porque eles têm que gostar do professor,
sentirem o professor como um amigo. A gente sabe, a gente também
gosta disso e isso é muito difícil hoje [...] Então esta parte afetiva é
muito importante: tu sentires, tu chegares perto do teu aluno, né?
para a aprendizagem dele. (Aluno B)
é essencial, sabe. O aluno, ele tem que gostar do professor, de
alguma maneira, ele gostar... Quando eu digo gostar, é esse
envolvimento afetivo, de alguma coisa que o professor falou e ele se
lembrou, de algo da vida dele, da casa dele, de alguém, de alguma
coisa importante para ele emocionalmente. (Aluno C)
Eu tenho uma amizade muito grande aqui com os meus alunos, então
tudo o que eu peço eles fazem. Até uma coisa que eu acho
importante: aqueles professores que não têm essa interação, essa
amizade, tudo que o professor faz eles levam à ponta de faca: o
professor fez isso, o professor fez aquilo. Eles acabam te
considerando um conselheiro deles. Então a minha relação afetiva
com eles é assim, é grande. [...] Eles podem até não gostarem da
matéria que eles estão vendo, mas se eles gostam do professor eles
acabam interagindo muito bem. [...] Então essa relação, com certeza,
influencia sim nas notas deles. (Aluno D)
eu acho que sempre tem que ter um ambiente bom para tu
aprenderes, teu ambiente tem que ser o melhor possível, porque
senão, tu não consegues aprender. [...] tu tens uma dúvida; se não
tens relacionamento, tu não chegas e pergunta para a pessoa, tu vais
querer tentar resolver sozinho e, às vezes, tu demoras mais para
aprender tendo que resolver sozinho. E com tutor é a mesma coisa:
se tu não tens um bom relacionamento com ele, tu não queres
perguntar para ele, tu queres tentar resolver o problema individual,
ou tu não consegues, ou tu custa a responder, né? Às vezes no
trabalho tu queres uma dica ali, às vezes é um colega que te a
dica, ou o tutor de sala ou o tutor eletrônico. (Aluno A)
73
Percebe-se que os quatro alunos acreditam que, se uma ligação de
afetividade entre professor-aluno, isso influencia de maneira positiva a
aprendizagem. É interessante notar, na fala do Aluno D, que ele aponta
também para o inverso: se a ligação de afetividade entre professor e aluno for
ruim, há reflexos negativos sobre a aprendizagem.
Ao investigar a opinião dos entrevistados acerca da relação entre
aprendizagem e afetividade especificamente na Educação a Distância, obtive
respostas semelhantes às dadas à questão anterior. Elas não incluem
elementos novos. O Tutor A é o único que parece acreditar que a afetividade é
mais importante na EAD do que na educação presencial, chegando mesmo a
quantificar a influência da afetividade sobre o sucesso dos alunos.
[afetividade] na Educação a Distância se torna fundamental, né?
porque o encontro é uma vez por semana, principalmente. Então se
torna fundamental o relacionamento ou a afetividade dos colegas.
Dali, 10, 15 % depende desse fator para progredir com o sucesso no
mercado de trabalho e isso é fundamental nesse nível de ensino a
distância (Tutor A).
5.6 PERCEPÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE MOTIVAÇÃO PARA
PERMANECER NO CURSO E REALIZAR AS TAREFAS E AS TROCAS
AFETIVAS
Ao opinar sobre esta relação, os três tutores responderam que ela existe.
Entretanto, os tutores A e C acrescentaram que motivação para permanecer no
curso e realizar tarefas depende do aluno também. Inclusive, o Tutor C parece
considerar a motivação intrínseca do aluno como o principal fator. O Tutor A,
da mesma forma, refere-se à importância da estrutura do curso para a
motivação do aluno, enquanto que o Tutor C enfatiza, na segunda parte de sua
fala, a importância das trocas afetivas para a motivação mútua entre os alunos:
motivação é um critério individual, né? Nós sabemos que a
motivação, ela pode existir tanto a distância como no ensino
presencial. O que eu acredito é que, no ensino a distância, por ser um
encontro semanal, por ter um relacionamento distante, mas ao
mesmo tempo próximo, né? via tecnologia, eu acredito que a
motivação depende desse sistema de aprendizado e interação dentro
da sala de aula. E, outra coisa, depende também, para permanecer,
depende que o aluno saiba que aqui o ensino não é brincadeira.
(Tutor A)
74
O maior motivo [para os alunos permanecerem no curso] é eles
aprenderem, terem uma profissão. Acho que é esse um dos motivos
maiores: eles quererem ser mais, eles quererem melhorar, evoluir,
vamos dizer assim, entendeste? (Tutor C)
um motiva o outro. O trabalho em grupo, um motiva o outro. Quando
um está desanimado, o outro vem: Vamos lá!” Os tutores também,
quando vêem que a coisa meia... “Vamos lá! Que dia vai ser? Que
grupo vai vir estudar? Vamos ajudar vocês! Vamos, que dúvidas há?
Vamos tentar sanar!”, né? Então, por isso que eu acho importante
aquelas tutoras. Porque todos estão desanimados, a tutora é que vai
levantar a moral deles. Porque acontece, foram mal em uma prova,
ou têm muita coisa para fazer. A maioria deles trabalham, chegam lá,
estão cansados. Se não tem algo que motive, que cutuque, vamos
dizer assim, vão desanimar. Sozinho é difícil. Acho que isso é natural.
Sozinho é muito difícil continuar em um curso a distância. Tem
exceções, tem alunos que realmente gostam de estar sozinhos, estar
no canto deles e conseguem se organizar, mas a maioria das
pessoas não gostam de estarem sozinhas Eles precisam do outro, da
motivação do outro, para se motivar e, de repente, amanhã o outro
está desmotivado, mas ele esno pique. Isso passa, é contagioso
isso. (Tutor C)
O Tutor B também relevância à função dos tutores como
incentivadores dos alunos:
tu mandares um e-mail no fim de semana: “Opessoal, tenham
um bom início de semana!” não adianta nada. Só para tu te lembrares
que tu és tutora. Acho que tu tens que levantar algumas questões:
“Aí, como estão realizando as atividades?” Claro, tu pode até falar
que tenham uma boa semana, mas tu tens que puxar por questões,
tentar descobrir, ver se o grupo precisando de algum bate-papo,
porque isso ai eles adoram (Tutor B).
Ainda em relação a isso, o Tutor B acredita que os alunos necessitam de
um espaço nos cursos a distância para conversarem sobre outros assuntos e
expressarem suas dificuldades e angústias. Nesse contexto ele argumenta, em
relação aos “bate-papos” na EAD:
porque ali é o momento que eles têm, vamos dizer assim, para
colocar as angústias, as dificuldades deles e ter um contato mais
direto com os colegas (Tutor B).
Tenho ouvido professores de EAD dizer, ao se referirem às ferramentas
de tipo “bate-papo”, que elas são importantes para que os alunos possam se
conhecer e conhecer os seus professores. Eles dizem isso porque percebem,
em suas experiências durante as sessões de “bate-papo”, que, muitas vezes,
75
os alunos acabavam conversando sobre outras coisas que não eram o
propósito da comunicação que se estabeleceu. O Tutor B, relata que, para criar
um espaço de conversa e de encontro on-line para os alunos, criou o que
chama de “momento do cafezinho”
tanto que agora, no [Mídias na Educação] a gente colocou um fórum,
assim, especifico, para deixar para eles usarem para qualquer dúvida,
para qualquer coisa que eles queiram. a gente sentiu a necessidade
de eles terem um momento para eles. Teve um fórum tipo cafezinho,
separado, que a gente criou... teve um módulo que a gente criou
dentro dele, estilo cafezinho. Deixou assim: “Aqui é o horário do
recreio, horário do cafezinho. Aqui vocês podem conversar, tirar
dúvidas, mandar mensagem”. Ali sempre tinha mensagens, ali tinham
mensagens de alunos que às vezes não participavam diretamente
nas atividades. É aquela coisa: dentro da sala de aula, tu não
quieto. não está a fim de participar, ou não leu o conteúdo, não
quer falar porque acha que, de repente, tu não vais contribuir... ao
passo que tu sais para o horário do recreio, está todo mundo
tagarelando, né? Contando uma novidade, isso ou aquilo. Então isso
tem que ter no... esses momentos o ambiente tem que propiciar.
Se não tiver, a gente tem que fazer (Tutor B).
Também acredito que o tutor deve saber como lidar com seus alunos on-
line de forma afetiva para que as trocas aconteçam e para que os alunos
realizem suas atividades. O Tutor B explica como fazer isso, principalmente
com os alunos que têm dificuldades. Sua fala alerta, assim, para a importância
da tutoria
[...] o aluno que tem dificuldade eu procuro sempre, vou vendo os
trabalhos que são desenvolvidos, tento sempre que eles consigam
enviar todas as atividades. Mas o que não es dentro do que foi
solicitado, eu costumo dizer: “olha, teu trabalho não está totalmente
errado”, ou “não era isto que foi previsto, não”. Eu sempre tento
enviar ou às vezes devolver: “Olha, estou te enviando novamente.
Acho que tu tens condições de acrescentar alguns pontos que a
gente discutiu, tu tens condições de melhorar o teu trabalho, porque
já em outras participações eu vi que tu colaborou com isso, com
aquilo”. Então eu procuro despertar nele alguns pontos positivos,
como forma de incentivar a melhorar e elaborar o trabalho. Mas
nunca dizendo: “Olha, teu trabalho não é dentro do que foi previsto”.
Sempre eu vou colocar assim, que aquilo que foi recebido, vamos
dizer de uma maneira sem tentar lembrar o aluno, não desmotivar
ele, porque a gente sabe que o ensino a distância é uma questão
muito difícil, assim. Eles às vezes não têm persistência. Então enviam
a atividade, não era isso, então não vou enviar mais. Então, eu
sempre procuro dar uma orientada. Às vezes aoriento: Ah! tem o
fulano e o sicrano, os colegas, que enviaram o trabalho. Que tal
trabalho é bem legal. Quem sabe uma olhada. Acho que tu tens
condições de fazer um bom trabalho, tu tens condições de elaborar
um trabalho de forma mais completa e tal”. Dessa forma, eu oriento.
E aqueles que o fazem o trabalho eu estou sempre mando e-mail.
76
Se não tiver e-mail, tiver telefone, eu entro em contato pelo telefone
quando há possibilidade, assim, de fazer um encontro presencial.
(Tutor B).
O cuidado que o tutor mostra ter ao fazer seus comentários com relação
às tarefas dos alunos é algo saliente e, na minha opinião, bastante importante,
principalmente na EAD em que se enfrenta, constantemente, o problema da
evasão.
Ainda sobre a relação entre as trocas afetivas e a motivação para
permanecer no curso e realizar as tarefas, apareceram as seguintes idéias, por
parte dos alunos, em relação à sua própria situação: os alunos A, B e C
disseram que têm como objetivo chegar ao fim do curso devido a metas que
eles próprios estabeleceram interiormente e que não dependem das trocas
afetivas que venham a ocorrer nos cursos que freqüentam. O aluno A quer
continuar seus estudos, fazer um mestrado; o Aluno B tem interesse em ter
formação continuada, por ser licenciado em pedagogia; aluno D quer realizar
projetos de trabalho para os quais a graduação que realiza a distância é pré-
requisito. Entretanto, apesar de salientar a motivação intrínseca como fator de
permanência no curso, o Aluno B fala que em educação nada se faz sozinho e
que é preciso ter alguém com o mesmo objetivo para que o processo tenha
êxito. Assim, ele ressalta a importância de ter um outro que ajude.
Bom, eu acredito assim que a gente conclui aquilo que tu estás
com o interesse em concluir, está motivado e que tu tens alguém...
Porque a gente não faz nada sozinha, é muito difícil, né? Todo mundo
com o mesmo objetivo para alcançar e essa motivação é muito
importante. Se tu também não estás motivado, aí tu não vais chegar a
lugar nenhum. Então eu acredito que existe esta relação da
motivação e da afetividade e do interesse. A gente tem que ter um
objetivo, uma meta a alcançar. Isso é importante. (Aluno B)
O Aluno A também faz comentários acerca do valor das trocas afetivas, ao
descrever sua turma, no contexto da questão que está sendo discutida, embora
ele atribua a motivação principalmente à causas internas:
eu acho que a minha turma é bem harmoniosa, no caso, a gente tem
bastante afetividade com todo mundo, troca idéias. Às vezes a gente
se reúne no intervalo vai ali, toma um refrigerante, uma cervejinha,
um cafezinho. No final da aula também. Então, quer dizer que eu me
relaciono bem com todo mundo. Faço as minhas atividades porque
eu quero seguir, depois, na área de administração (Aluno A).
77
O Aluno C, por seu lado, mostra a relevância de ter um colega presencial
em um curso a distância, para compartilhar experiências e auxílios.
Eu terminei o curso conclui porque o meu colega estava junto.
Porque aí, como eu estava travada em algumas coisas, eu não sabia
o que fazer. Eu perguntava: “e aí! Tu lestes tal texto? Não, eu não
consegui” Eu não sabia o direcionamento de algumas coisas, como
fazer. Ele me ajudou bastante eu realmente terminei o curso porque a
gente fez junto e foi importante. Ele acabava [as atividades] ele
comentava alguma coisa. Fica bom quando tu estás em um curso a
distância e tem o presencial, que tu tens alguém para compartilhar.
Essa é a diferença. Se eu tivesse fazendo sozinha, não sei se eu teria
terminado (Aluno C).
Os quatro alunos mencionaram a importância das manifestações afetivas
por parte dos tutores, sugerindo a importância de sua relação com a
permanência no curso e realização das atividades
Eu achei o curso das meninas [tutoras] muito... pela parte delas
elas foram afetivas sabe assim todo o possível depois no final a gente
tirou foto e elas sempre muito abertas no primeiro dia não foi tanto
mais ao longo do tempo que elas mandavam algum e-mail algum
comentário sabe as vezes tu estavas meio devagar no curso elas
mandavam alguma coisa te incentivando tu vias que aquilo era uma
coisa afetiva também e até quando o curso terminou a gente pediu
que se elas fizessem um outro a gente faria com elas se tivesse uma
continuidade para aquele curso, porque o curso assim a liderança do
curso que foram essas meninas do mestrado foi muito boa essas
coisas assim [...] mas elas foram bem legais muito corretas assim
(Aluno C).
acho assim que o papel da tutora, nessa parte afetiva, ela manda
mensagem. Se ela dá um incentivo: “Ah não desistam! isso ai é
importante (Aluno B).
mas tem professores assim que são eficientes, por exemplo, com
relação ao retorno de mensagens. Aquele “bom dia, quase todos os
dias manda mensagens para os alunos e ”obrigado”. Acho que isso
desperta bastante essa parte afetiva com o professor eu noto que as
mensagens que mandam no final do curso: “Professor você foi o
melhor professor” e você nem conhece pessoalmente (Aluno D)
a afetividade influencia. Como eu te disse, é tu teres um bom afeto
com o teu tutor eletrônico. Às vezes faz a diferença, né? [...] Se tu
não tens dúvidas, tu não perguntas para ninguém, faz o teu trabalho
ali, normal. Aí, se tu tens dúvidas, no meio do trabalho apareceu uma
dúvida, aí tu falas com o tutor eletrônico ou com o tutor de sala (Aluno
A)
O Aluno D ao descrever a troca afetiva on-line, relata que ela pode
acarretar em representações das pessoas que estão a distância e que, muitas
vezes, tais representações não são reais
78
Quando tu estas fazendo uma comunicação com uma pessoa via
internet tu traças todo um perfil que as vezes não é nada daquilo,
mas é essa visão que tu tens naquele momento até do próprio
professor. Tem professores que a gente acha assim que sujeito
antipático sabe quando tu detestas o professor no primeiro dia, a
primeira mensagem que ele te manda assim tu já monta o perfil do
sujeito e as vezes não é nada disso (Aluno D).
Esse aspecto parece interessante porque, possivelmente, é baseado
nesse perfil criado tanto pelo aluno como pelo professor, que as afinidades
serão estabelecidas. Na educação presencial também muitas vezes criamos
perfis sobre nossos professores e colegas que não são reais, mas acredito que
na EAD é mais fácil imaginar características de alguém que não são reais.
Dependendo da identificação do aluno com o perfil criado, haverá maior ou
menor facilidade de interações e laços afetivos, o que sabemos que facilita a
aprendizagem.
79
6 REFLEXÕES FINAIS
Nesta dissertação, em primeiro lugar, descrevi minha trajetória até chegar
a Educação e à EAD. Sou formada em Ciência da Computação e me envolver
mais a fundo na área da Educação e principalmente fazer uma dissertação
nessa área foi um desafio. Este desafio contribuiu para meu crescimento, pois
mesmo atuando na área do ensino técnico e tecnológico presencial, também
estou envolvida com a EAD, que trabalho como professora conteudista e
tutora nessa modalidade de ensino, tanto em cursos de graduação como de
extensão.
Penso que os resultados da pesquisa realizada (estudo piloto e estudo
principal), embora não possam ser generalizados para todos os tutores, alunos
e cursos de EAD, trouxeram contribuições importantes para quem está
envolvido nessa modalidade de educação, na medida em que enriqueceram as
informações sobre alguns dos aspectos relacionados às trocas afetivas e sua
importância na aprendizagem e permanência nos cursos a distância, aspectos
esses pouco estudados pelos pesquisadores da área.
Ao contrário do que as pessoas que não estão envolvidas com a EAD
possam pensar, as trocas afetivas são possíveis nessa modalidade, embora,
como comentam Martins e Batista (2006) e Serra (2007), essas trocas o
produzidas de maneira diferente daquela que ocorre em situações presenciais
(atualmente, isso é principalmente feito por meio das diferentes formas
escritas, do uso de símbolos - como emoticons -, por exemplo, entre outras
80
formas). Na percepção de todos os entrevistados (assim como dos
participantes do estudo-piloto), as trocas afetivas ocorrem sim, nos cursos a
distância, em diferentes situações. Os tutores e alunos entrevistados disseram
que essas trocas acontecem entre os alunos - nos encontros presenciais e em
trabalhos em grupos - e entre os alunos e os tutores - tanto presencialmente
como a distância. A essa percepção, os alunos acrescentaram a da presença
das trocas afetivas entre colegas a distância, talvez por ser esta uma
experiência vivida, e portanto percebida, pelos alunos e mais significativa para
eles. Embora a possibilidade de trocas afetivas nos ambientes virtuais tenha
sido apontada, parece que, tanto no estudo piloto quanto em algumas
entrevistas, os contatos presenciais foram os mais enfatizados como geradores
de tais trocas, dado que aparece também na pesquisa de Serra (2007). Talvez
isso ocorra porque a EAD é uma modalidade nova, em que as formas de
comunicação virtual estão ainda em desenvolvimento e transição, enquanto
que a realização dessas trocas em contados presenciais é algo comum.
Nota-se a importância atribuída aos tutores presenciais ou a distância,
percebidos como responsáveis pela promoção das interações interpessoais
que ocorrem na EAD, envolvendo trocas afetivas positivas e,
conseqüentemente, a criação de vínculos com e entre os alunos. Esta idéia
não consta nos trabalhos sobre o assunto e é importante no contexto da
multiplicidade de funções docentes exigidas pela EAD e que são divididas entre
vários profissionais, apontada por Belloni (2006). Os achados desta pesquisa
parecem valorizar o trabalho do tutor, para além de organizar atividades e tirar
dúvidas dos alunos. Portanto, acredito que os tutores devem ter especial
cuidado em relação as suas atitudes frente aos alunos, refletindo sobre as
mesmas, pois se pode pensar que elas têm grande potencial para influenciar
as atitudes dos alunos em relação ao curso. Os tutores devem sempre atentar
ao grau de participação de cada aluno, buscando resgatar aqueles menos
motivados, mais distantes, menos participativos. É possível que esse
comportamento seja entendido pelo aluno como sinal de afeto, de interesse,
por parte do tutor e isso é fundamental para a motivação, impulsionando a
aprendizagem discente. Em um ambiente marcado pelo afeto positivo, é mais
fácil, também, expressar sentimentos e pensamentos com liberdade. Por outro
81
lado, um comportamento que denote falta de interesse, pode ter efeito
negativo, inibindo a expressão e desmotivando o aluno.
Os entrevistados percebem que as trocas afetivas são importantes na
EAD, assim como o são na modalidade presencial. Ao referirem-se aos pontos
fracos da EAD, alguns entrevistados apontaram dificuldades de organizar
trabalhos em grupo on-line e falta de interação entre professores e alunos,
ocasionando o isolamentos destes, o que é considerado um fator de evasão
nos cursos. Quando explicam as razões dessa importância, apontam em
primeiro lugar, o fortalecimento da motivação para melhorar a aprendizagem.
Em relação a isso, constata-se, que as idéias de Vigotski (2003) sobre a
relação entre afetividade e aprendizagem ainda se mantém atuais, bem como o
que escreveu Paulo Freire (1996) sobre esse mesmo tema. A extensa revisão
de literatura realizada por Arantes (2007) também indica a importância da
relação afetividade/aprendizagem. Um aluno motivado se envolve mais no que
está aprendendo e, conforme os dados desta pesquisa, essa motivação é
influenciada pelo bom relacionamento entre tutor e alunos e entre alunos. Esse
bom relacionamento, gerado por intercâmbios positivos e permeados de
afetividade, possibilitam a realização de trabalhos em grupo tanto presenciais
quanto on-line -, cujo papel na aprendizagem vem sendo também enfatizado
por autores como Vygotsky (1982), Wells (2001), Lévy (1999), Palloff e Pratt
(2004), Carvalho (2007), Kenski (2003), por permitir trocas de idéias e
experiências, além de ajuda mútua.
Um segundo fator relacionado com a importância das trocas afetivas na
EAD, mencionado pelos entrevistados e pelos participantes do estudo piloto, foi
a motivação para permanecer no curso e a realização de tarefas. Todos os
entrevistados percebem que é importante o aluno estar motivado para se
manter nos cursos de EAD, pois estes exigem disciplina e esforço discente.
Entretanto, é interessante observar que a grande maioria dos deles (tutores e
alunos) aponta as motivações internas dos estudantes como o principal fator
para a permanência. A idéia da importância da motivação interna ou intrínseca
como fator que influencia os alunos a se manterem em seus cursos a distância
foi apontada por Carvalho e Alves (2006) como fator inicial. As autoras
acreditam, no entanto, que trocas afetivas (fatores extrínsecos), que criam um
ambiente marcado por interações e laços de amizade seriam os fatores
82
principais nessa manutenção. Neste sentido, os dados desta investigação
contrastam com os de Carvalho e Alves, pois o ênfase às motivações
intrínsecas.
Penso ser interessante comentar um dado que apareceu nos depoimentos
corroborando os achados de Nascimento (2008). Sobre a importância da
criação de espaços para as atividades tipo “bate-papo”: uma das pessoas
entrevistadas mencionou também a importância desses espaços. Esse fato,
ainda que apenas relacionado indiretamente com as trocas afetivas, confirma a
importância delas na medida em que alerta para a necessidade de criação de
um espaço onde elas podem acontecer.
Ao terminar e refletindo sobre o trabalho realizado, julgo que minha
pesquisa talvez tomasse um rumo diferente se ao invés de professores e
alunos de cursos distintos, tivesse dirigido minha coleta de dados a
comunidade virtual de aprendizagem, pois, talvez, em tal comunidade fosse
mais fácil investigar as trocas afetivas. Entretanto, por dificuldades de acesso,
isso não foi possível de ser realizado. Pela limitação de tempo, não foi possível
trabalhar com um número maior de sujeitos, o que também poderia ter
enriquecido mais os achados desta pesquisa. Apesar dessas limitações,
considero que a pesquisa trouxe elementos significativos para a discussão
acerca da importância da afetividade na EAD, assunto que, por sua relevância,
merece ser mais investigado em trabalhos futuros.
83
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87
APÊNDICES
88
Apêndice A - Roteiro de entrevista de professores/alunos
1 Dados pessoais (sexo, idade, formação)
2 Falar sobre a estrutura do curso no qual está envolvido (área, nível).
3 Pontos fortes e fracos da EAD
4 Percepção sobre a presença de trocas afetivas no curso no qual está
envolvido (situações/exemplos)
5 Percepção da importância das relações afetivas na EAD.
6 Relação entre aprendizagem e afetividade
7 Relação entre aprendizagem e afetividade em EAD.
8 Relação entre motivação para permanecer no curso e realizar as tarefas e as
trocas afetivas que nele acontecem
89
Apêndice B - Questionário Piloto
1 Com a tua experiência na Educação a Distância percebes alguma presença
de afeto ou o processo é puramente formal:
( ) Sim ( )Não
2 Se caso positivo dê exemplos de situações em que houve a troca de afetos,
de interações afetivas.
3 Qual a importância das relações afetivas na Educação a Distância?
4 Qual a relação entre motivação, para permanecer no curso e realizar as
tarefas, e as trocas afetivas que nele acontecem?
90
ANEXOS
91
ANEXO A - ENTREVISTA DO ALUNO B
1- Então tu poderias dizer a tua idade e formação?
Cinqüenta e seis anos. Sou pedagoga, tenho o curso de Ciências Sociais
Licenciatura Curta e Sou aposentada em 40 horas e estou na ativa em 20
horas que trabalho no laboratório de informática.
2- Fala um pouco da estrutura do curso a distância do qual participaste.
Já tinhas feito algum curso de Educação a Distância?
Não eu não fiz, nunca tinha feito até achei interessante o que eu achei de
difícil foi o tempo, né? Que eles dizem que são cinco horas aulas semanais,
que na verdade são bem mais, né? Para a gente estudar realmente, né? Se
aprofundar a gente precisa de mais horas. Como é o nome do curso que tu
fizeste? Mídias na Educação, o ciclo básico. Como era a estrutura do curso?
Eu tinha uma tutora e tinha a coordenadora geral e nós éramos divididas em
turmas, né? E a tutora é que coordenava o nosso trabalho e a gente entrava
em contato com os colegas, né? Muitas vezes fazia trabalhos em grupos, né?
Tudo através da internet. E tiveram encontros presenciais? Tivemos um, no
início e, depois, um no final do curso, né? Que é uma das coisas assim que a
gente também tem mais dificuldade porque... porque eu encontrei isto, porque
no final do curso que eu tive que montar um projeto, né? Eu fiquei com uma
moça de Herval e três de Santa Catarina, entendesse? Então às vezes não
coincidem os teus horários disponíveis e os horários deles, né? Para tu
poderes entrar em um bate-papo, né? E poder trocar idéias, fica aquela
história, tu mandas recado e as pessoas mandam de volta. A gente montou o
projeto, assim, essa é a dificuldade, se tu tivesses uma pessoa mais perto, tu
poderias assim eu vou ter um encontro presencial com o grupo, né? Vamos
discutir, né? Esta foi a dificuldade, mas deu tudo certo, né? Claro que aí
demora bem mais tempo para a gente fazer isso. E as atividades como eram,
tu colocavas lá no ambiente? Eles te passam a tarefa, eles te dão o conteúdo
do módulo, tu estuda, né? Têm vídeos também que a gente assistiu os
vídeos, têm os textos, né? E a gente estuda aqueles textos e depois têm as
92
atividades relacionadas aquele assunto né? Muitas vezes a gente tinha que
montar projeto e também aplicar esses projetos na escola né? No início foi
mais assim, atividades depois a gente começou a montar o projeto e aplicar o
projeto. Foi uma das coisas que também eu tive um pouquinho de dificuldade,
porque como eu não tenho sala de aula, eu trabalho no laboratório de
informática, também não que fosse tão difícil encontrar parceiras na escola,
né? Que não estavam fazendo o curso para que eu conseguisse montar o meu
projeto. Por que aqui no laboratório os alunos vêm quando querem é
assim ou eles vêm aplicar trabalhos? Aqui no laboratório é assim: o
professor programa alguma atividade né, da sua sala de aula e complementa
com a tarefa no laboratório ou eles vem também como pesquisa né? Eles vêm
montar trabalhos coisa assim aqui no laboratório. Mas é independente do meu
trabalho, que eu estava fazendo a distância, entendesse? Então eu tinha que
ter alguém parceira que tivesse sala de aula para eu executar o meu projeto.
Não foi assim muito difícil até porque eu estou bastante tempo aqui na escola,
entendeu? que... se tu estás na tua sala de aula é muito mais fácil né?,
Porque tu conheces o teu aluno, tu sabes como tu vais aplicar o quê ...só que
eu não conhecia os alunos, então ficou um pouco difícil.
3- No teu ponto de vista, quais são os pontos fortes e pontos fracos da
Educação a Distância?
Eu acho assim que os conteúdos são assim muito bons né? A parte de
bibliografia que eles nos fornecem né? Muito bom só o ponto fraco eu acho que
é o tempo realmente né? Até porque a distância poderíamos ter mais tempo
né? E também essa dificuldade da gente entrar em contato com os colegas né?
Porque ai a gente trocava através do MSN, através do bate-papo que era
marcado né? Mas às vezes por exemplo marcava às 21:00 horas e tinha
alguém que trabalhava à noite, tu entendes? então ...aí fica difícil...andaram
marcando às 16 h, mas também 16 h? Então fica meio complicado. Como as
dificuldades eram por parte da tutora, sem problemas de ... ela tu podias
passar um e-mail. Eu tive uma ocasião em janeiro que ou melhor dezembro eu
quebrei os pulsos, os dois pulsos e a gente ainda estava em curso não teve
problema, eles me deram mais prazo de entrega, né? Até o médico deixar que
93
eu pudesse mexer com os dedos, tinha um período que eu não podia nem
fazer isso...eles me deram prazo de entrega, né? De trabalhos só que claro ...e
ela foi excelente assim, né? Ela me passava e-mail, me incentivava que eu não
desistisse, nesse ponto eu acho assim que o papel da tutora é muito
importante, né? E eu acho assim que agora todo mundo esta fazendo esses
cursos a distância e a gente ouve assim comentários “ah cursos a distância
isso não aprende nada” isso se ouve muito, mas eu acho assim que eu cresci
muito como pessoa, inclusive, assim ...a maneira de tu escreveres, de tu te
expressar, eu acho que isso para mim foi muito bom, porque o que faz o
curso a distância, tens que ler, né? Sozinha tu tens que elaborar o texto de
resposta ou para a tua colega ou para a tua tutora, né? Ou para uma tarefa e
tu tens que ir a busca, né? Como que tu vais desenvolver isso então ai te
leva a estudar, porque se tu não estuda, se tu não lês os teus conteúdos, como
é que tu vais ter embasamento di...então eu acho que neste sentido eu cresci
muito e gostei, mas não sei se isto vai depender de cada aluno né, não sei
como é que funciona. Lembras de mais algum ponto forte ou ponto fraco?
Ponto fraco, a falta de tempo é muito pouco tempo e dificuldade de poder
conversar com os colegas no mesmo horário porque às vezes não coincidia,
porque às vezes eu estava livre na quarta e o meu colega não estava. Tu dizes
em relação aos grupos? Aos grupos, porque as atividades muitas eram feitas
individuais, mas por exemplo, é o último, os últimos mesmos todos em grupos,
entendeu? Então dificulta...aí dificulta. Aqui na escola nós éramos sete,
quando começamos a fazer o curso e ficou eu, todo mundo foi desistindo.
Desistindo porque as pessoas ou trabalhavam 40 horas e não conseguiam, né?
Fiquei eu e outra colega e eu aajudei bastante ela e ela nem era da minha
turma, era de uma outra turma, né? E a gente se reunia assim para debater e
montar as respostas juntas, mas ela não conseguiu, ela desistiu disse que não
dava né? eu fiquei sozinha na escola, entendesse? Então isso dificulta
inclusive no projeto final, até para montar os grupos, né? Porque nós
precisávamos de um grupo que montasse um projeto e executasse o projeto
nas diferentes realidades, esse foi o projeto final do ciclo básico, então tu tinhas
que ter contato com as pessoas. Aqui o pessoal foi muito parceiro, porque duas
colegas elas se engajaram comigo no projeto, montei o projeto, elas estavam
interessadas e a gente concluiu, né? Inclusive a gente continua, a gente vai
94
até o fim do ano com o projeto, né? Com as outras colegas. E essa moça de
Herval também ela fez alguma coisa, mas o pessoal de Santa Catarina, eles
tiveram problema de paralisação, né? Mas também fizeram, parece que agora
eles iam continuar o projeto. Ficaram de nos mandar alguma coisa para a
gente concluir, ? Ver como é que ficou, ? Porque na verdade a gente
entregou o trabalho todo, né? E a parte de apresentação foi feito em Santa
Catarina primeiro do que aqui, então aí eu troquei imagens e o PowerPoint e tal
e uma das dificuldades que a gente encontrou no programa do curso foi a
gente colocar as imagens, sabe ele tinha um limite, então, a gente tinha que
mandar aos poucos, sabe, claro que para nós aqui é fácil, porque a gente
colocou num cd, chegou e apresentou, né? Na nossa apresentação, no
encontro presencial, né? Só que para o pessoal que estava lá em Santa
Catarina eu tive que mandar aos poucos e mandei apor e-mail, porque eu
não consegui mandar e enviar pelo ambiente, né? Alguma coisa ficou no
ambiente. Na verdade o curso que orientava que a gente tinha vários espaços
no ambiente que era para fazer essas trocas só que isso a gente teve
dificuldades do ambiente, inclusive, agora, uma das coisas ...que está
começando o intermediário, todos também encontraram essas dificuldades no
ambiente que eles dizem que agora vai ser melhor, vamos ver. É que a
máquina, tu sabes, não é muito fácil, né? Inclusive agora a gente tem um
cafezinho que eles chamam então é assim é onde é uma coisa mais
descontraída onde a gente pode conversar e fica conhecendo um ao outro. E é
chat ou é fórum? Não. É fórum. Então às vezes aparece o que tu colocas com
a fotografia da outra então é um problema do ambiente do recurso, de vez
enquanto tu perdes alguma coisa, daí eles conseguem recuperar, mas eu achei
bem interessante eu até disse que não ia continuar, né? O curso até porque eu
com 56 anos né, meu marido me cobra muito nesse sentido assim é o
horário que eu fico em casa, porque às vezes as 5 horas semanais que eu
procuro fazer as tarefas não dá, ou ambiente não está funcionando...mas ele
cobra, ele incentiva, faz parte.
4- A percepção que tu tens das trocas afetivas no teu curso
(situações/exemplos).
95
Eu acho assim, eu acho que até é mais fácil essa troca afetiva no
ambiente eu acho que a gente tem mais liberdade de colocar para o colega né?
Por que tu sentes assim? Eu não sei o porquê. Eu acho que a gente é mais
aberta nesse sentido, né? Tu colocares para a colega, porque tu colocas
mesmo que a pessoa não tenha entendido, ela consegue te responder,
entendeu? “ah isto eu não gosto” né? Eu acho que deveria ser assim e às
vezes, no presencial, as pessoas não dizem, né? E isso eu tenho
experiência porque como a gente sempre esteve envolvida com projetos na
escola eu sinto isso inclusive nesse projeto que é o mesmo que a gente fez e
que está dando continuidade né? s tivemos mais pessoas que quiseram
participar e nós abrimos, né? Interdisciplinar todas as pessoas que podem que
estão dispostos a gente acolhe, né? e às vezes nós fizemos as reuniões e aí as
pessoas não colocam tudo o que pensam, né? Inclusive várias vezes eu digo
“e porque tu não colocou isso, se tu estavas pensando isso” eu acho que no
ambiente é mais fácil, né? Tu colocas, tu não estás olhando no olho, eu sinto
isso, ao menos eu não tive problema nenhum com o pessoal do grupo, até
porque eu nem conhecia o pessoal de Santa Catarina também, mas eles foram
assim excelentes, mandavam idéias, né? colocavam quem sabe tu fazes
assim, diferente né? E a moça aqui de Herval ela me chama a a Senhora”
então eu disse para ela não é mais para me chamar de senhora e agora nós
nos encontramos em um outro curso e ela disse “eu não posso te chamar de
senhora”. Mas eu acho que é mais cil essa abertura no ambiente. Bom
respondi as duas ai. A percepção da importância das relações afetivas na
EAD.
6- Qual a relação que tu vês entre aprendizagem e afetividade sem ser na
EAD?
Eu acho que é muito importante o aluno, ele tem muito mais
possibilidades de aprender né? Aquilo que realmente ele está tendo interesse
né? E no momento que o professor é transmite ou através da sua afetividade, a
importância daquilo para o aluno com certeza a aprendizagem vai ser bem
mais certo que ele vai aprender, porque às vezes tu ensinas e eles não
96
aprendem, né? E hoje a gente tem assim convicto que eles além deo
estarem motivados eles são muito desinteressados, mal educados, né? Então
essa parte desse relacionamento afetivo professor-aluno é de suma
importância porque eles têm que gostar do professor, sentirem o professor
como um amigo, a gente sabe, a gente também gosta disso e isso é muito
difícil hoje. Agora uma pena é que eu acho que na escola pública falta esse
trabalho com os professores, né? Para o professor tomar conhecimento de
novas técnicas sabe, eles ficam muito apegados ao que aprenderam 30
anos ou 20 né? E têm dificuldade de entender o nosso aluno e a gente sabe
que, na nossa escola pública, nós temos várias realidades, né? E isso ai
má...às vezes a gente se depara, agora mesmo nesse projeto nós nos
deparamos com um menino que ele estava pedindo socorro no texto dele e aí a
professora achou um horror ele ter feito aquele texto nós tentamos mostrar
para a professora que ele, na verdade, o texto dele não estava como ela queria
que estivesse escrito né? Mas era o que ele tinha para passar, né? E ele
estava pedindo socorro então esta parte afetiva é muito importante, tu sentires,
tu chegares perto do teu aluno, né? Para a aprendizagem dele.
7- Qual a relação que tu vês entre aprendizagem e afetividade na EAD?
Eu acho que é importante, né? Até porque isso é bem claro porque aquela
que tu te identificas melhor né? Aquela colega, né? Que tu te identificas
melhor, tu tens mais facilidade de trocar experiência né? Do que a que é mais
fechada, eu particularmente sou muito até parece que eu sou muito falante,
mas eu não sou, eu fico meio constrangida às vezes, né? Então tenho
dificuldades depois que eu começo e que eu entroso ai tudo bem, né? Mas eu
custo um pouquinho, eu sou um pouquinho antipática como dizem as minhas
filhas, né? Assim no primeiro momento, né? Mas depois sim tudo bem. E acho
assim que o papel da tutora, nessa parte afetiva, ela manda mensagem se ela
um incentivo “ah não desistam” isso ai é importante. Ainda mais tu que
tiveste problemas nos pulsos? Com certeza, até porque eu estava
emocionalmente eu estava bem abalada eu até estava em casa tinha todo o
tempo do mundo, né? Para fazer as coisas, mas emocionalmente era meio
complicado porque eu o conseguia fazer nada sozinha, né? Até que depois
97
eu comecei a digitar, deu digitava um pouco cansava e a tutora mandava
dizer assim “faz assim quem sabe”, então eu acho que foi bom.
8- E relação entre motivação para tu permaneceres no curso e realizar as
tuas tarefas com as trocas afetivas que tu tiveste?
Bom eu acredito assim que a gente conclui aquilo que tu estás com o
interesse em concluir, está motivado e que tu tens alguém porque a gente não
faz nada sozinha é muito difícil né? Até porque como é que eu vou desenvolver
um projeto, imaginar um projeto se eu o tenho alunos, se eu não tenho um
colega que vai fazer parceria comigo né? Então Educação se faz em conjunto
todo mundo com o mesmo objetivo para conseguir alcançar e essa
motivação é muito importante se tu também não estas motivado ai tu não vais
chegar a lugar nenhum então eu acredito que esta relação da motivação e da
afetividade e do interesse. A gente tem que ter um objetivo uma meta a
alcançar isso é importante. Qual era a tua meta nesse Curso? Sabe que eu
gosto, ? A verdade assim eu gosto, eu não tenho pós-graduação, né? Eu fiz
estudos sociais eu trabalhei muitos anos com história aí depois eu fiz
pedagogia porque eu senti assim a necessidade desse relacionamento desta
descoberta com o aluno, sabe eu senti essa necessidade e aí eu fiz pedagogia.
Realmente foi onde eu me realizei como pedagoga e depois eu trabalhei vários
anos como professora de História onde eu montava projetos sempre
incentivava os alunos eles descobriam quais os talentos que eles tinham então
isso foi importante para mim. E como eu tinha as crianças pequenas e
trabalhava sessenta horas então eu nunca fiz uma pós-graduação, né? Então
como agora eu estou com 20 horas então surgiu a oportunidade que eu
possa fazer o intermediário e depois... às vezes até eu fico pensando assim eu
vou me aposentar em em seguida porque, mas eu acho que é uma
realização pessoal, né? E é uma coisa assim que eu gosto, eu gosto de
trabalhar com o computadores por exemplo: filmes passar filmes e trabalhar
com o aluno, né? o que ele viu de bom, o que aquele filme mostrou-se. Então
todos esses recursos audiovisuais que a gente pode utilizar na sala de aula e
também ajudar os outros colegas, né? Que estão na sala de aula.
98
ANEXO B - ENTREVISTA DO PROFESSOR C
1- Podes dizer a tua idade e a tua formação?
Tenho trinta e sete anos e sou Licenciada em Matemática e mestre e doutora
em Engenharia da Produção na área de Inteligência Artificial.
2- Fala um pouco da estrutura do curso que tu trabalhas em Educação a
Distância, o que tens de professores, atividades?
Temos professores que produzem materiais didáticos, que são professores da
própria UFPel e de outras Universidades conveniadas com o projeto
aqui.Temos os tutores que trabalham na sede, que são os tutores a distância, e
temos os tutores que trabalham nos pólos, que o os tutores presenciais,
cada pólo tem um coordenador de lo, né? E os professores que aqui atuam
diretamente na execução das disciplinas dai não na produção de material
didático, eles atuam diretamente com tutores sem haver esta assim uma
discriminação, entendesse? Eles trabalham da mesma forma, eles vão para o
pólo dar aula, no caso videoconferência têm assim o mesmo nível de atuação
praticamente assim. A única diferença é que os tutores têm que corrigirem as
provas, eles elaboram, a gente revisa, mas no contexto geral eles têm as
mesmas funções, vamos dizer assim está no mesmo nível de hierarquia,
vamos dizer assim. Como são as atividades e avaliações dos alunos? As
avaliações seguem semelhantes ao presencial, no mínimo, duas avaliações
presenciais em cada disciplina. No Pólo mesmo? No pólo mesmo. Quem
assiste, cuida as provas são as tutoras de elas lacram, mandam de volta, a
gente corrige, manda as notas para eles, têm as atividades que são cobradas
também que tem uma porcentagem na nota e mais uma avaliação que as
tutoras locais fazem que valem um por cento da nota também como elas estão
direto em contato com os alunos também conhecem um pouco melhor o
processo como um todo, então, tem uma nota que elas dão que considera 10%
da nota do aluno se passar tem a média se não passar tem exame. A estrutura
99
geral é a mesma da UFPel do presencial. E vocês trabalham com qual
ambiente? Moodle desde o começo.
3- Na tua visão, quais seriam os pontos fortes e pontos fracos da
Educação a Distância no geral, que tu vês?
Bom os pontos fracos, eu diria talvez seja ainda a questão da capacitação
ainda não temos profissionais com consciência suficiente para trabalhar em um
curso a distância, nós temos aqui no curso professores que já vestem a camisa
sabem como lidar com o curso a distância, mas ainda têm aqueles que não
são tão presentes vamos dizer assim e eu acho que o ensino a distância requer
um professor mais presente porque tem que estar abrindo o ambiente todos os
dias ver se algum aluno deixou alguma mensagem se tem alguma dúvida, mas
têm professores que ainda não fazem isto, a gente consegue contornar isto via
tutores cada disciplina tem um tutor que fica 24 horas, 24 não, mas entre aspas
todo o tempo monitorando isto, mas alguns professores ainda não entenderam
este processo ainda que é extremamente importante.
Na parte dos alunos, também ainda têm alunos que não caiu ainda a ficha de
que eles têm que estudar, porque não é porque é a distância que o curso ele
vai e não precisa estudar. Ele precisa estudar igual ter uma dedicação mínima
de quatro horas por dia que a gente tem que exigir dele, se ele segunda não
estudou às quatro horas na terça ele tem que estudar oito para não acumular
então m alunos que ainda não entenderam isto aqueles que entenderam
estão indo super bem no curso. Então eu acho ainda o ponto fraco ainda é a
conscientização de que o ensino a distância o objetivo é o mesmo do ensino
presencial que a aprendizagem do aluno e aqui requer um professor mais
presente, não que no presencial não queira agora que no fato que no
presencial o professor é obrigado la estar apto para cumprir os horários da aula
presencial né no a distância tem alguns professores que ainda não entenderam
que eles também têm que estarem ali, que precisam de um tempo dedicado a
isto e talvez um pouco maior a dedicação do professor eu acho, tem que ser
maior que no presencial porque na realidade o aluno pode colocar dúvida a
qualquer momento e é bom que ele não leve mais que vinte e quatro horas
para receber uma resposta senão ele vai desanimar como no ensino a
100
distância respeita mais o tempo do aluno né, então alguns professores não
entenderam isto ainda e alguns alunos também não entenderam que tem que
estudar, que não é brincadeira que não é um curso cil. E o ponto forte
então? Eu acho assim que o ponto forte é exatamente esta liberdade. Ao
mesmo tempo que tem mais liberdade ele é mais controlado. Todo o material
está disponível no ambiente de aprendizagem as pessoas têm acesso, os
tutores têm acesso tudo escrito o que o professor falou a resposta no fórum
está escrita então tem que ter mais cuidado com o que ele fala, o aluno tem
que ter mais cuidado com o que escreve, né? Vai estar tudo registrado isto eu
acho interessante, né? Que o professor toma mais cuidado e o aluno toma
mais cuidado também, né? A questão da liberdade de horário acho que isto é
bastante importante, né? Para os alunos principalmente os que trabalham
estas coisas todas. Outro ponto forte é levar o ensino a distância para pessoas
que jamais poderiam fazer um curso a distância, um curso de graduação se
não chegasse o curso lá, ? Eu vejo assim hoje no presencial nós temos 120
alunos no curso a distância começamos com 120 alunos, hoje nós temos
600 alunos, lógico nem todos vão se formar não vai ter uma grande
desistência, vai por quê? Porque ainda não tem esta consciência dos alunos
que tem que estudar estas coisas todas e nem todo mundo nasceu para fazer o
curso de matemática e talvez o se encontre estas desistências tem vários
motivos a gente percebe a desistência que aconteceu a hoje é porque
realmente não era o curso que queria, porque tem que trabalhar e não tem
tempo para se dedicar mesmo tendo esta liberdade de horário, de estudo têm
pessoas que trabalham e não têm condões de achar este horário para
estudar e não vai para frente ou não sabe se organizar e este é um outro ponto
extremamente necessário no ensino a distância o aluno tem que ser muito
organizado, disciplinado para montar seu horário porque senão passa a
semana e ele não faz nada e como ele não tem que cumprir horário presencial
certo ele que tem que fazer seu horário e ele fazer cumprir este horário que ele
determinou que às vezes não acontece. Então estás dizendo que por isso
que aconteceram as desistências, por causa desses fatores? É por esses
fatores. Aagora foi o que a gente percebeu, alguns que se mudaram de
cidade, por exemplo, teve alunos excelentes que se mudaram complicado até a
gente tentou manter o acompanhamento, mas não funcionou por o apoio das
101
aulas presenciais acabam motivando o aluno. O aluno foi lá para o Mato
Grosso e perdeu o contato com o grupo e tudo isso é importante no processo,
ficou sozinho teve que estudar sozinho embora tivesse todo o apoio daqui a
distância ele acabou eu acho se desorganizou eu acho, era um cara muito
bom e acabou desistindo por causa disso. Tem aqueles que ficaram doentes e
não puderam mais voltar, outros tiveram filhos não teve mais como arranjar
tempo, têm alguns fatores assim e têm aqueles que não se encontraram
mesmo pensaram que era um passeio e falaram isso mesmo pensaram que
era isso e desistiram. Tem mais algum ponto forte ou fraco que tu te
lembres assim? Um dos pontos não que isso não possa ser levado para o
presencial, mas aqui o aluno sai mais autodidata, acho que o que ele aprende
ele aprende melhor eu acho, os alunos estão assim me surpreendendo assim
os alunos que estão levando a sério realmente, eu estou dando uma disciplina
agora em bacharelado de matemática e eles têm que participarem de fóruns e
eu vejo que eles estão escrevendo bem, eles estão pegando o espírito do
curso, entendesse? Bem eles estão no quarto semestre já pegaram assim
coisa o que é ser professor o cuidado que eles têm que ter, eles vão
aprendendo, tem uma resposta bem positiva, então ele aprende a escrever e a
se comunicar melhor, ele tem que escrever, ele tem que colocar em palavras o
que ele pensa e o que ele sente, o que ele pensa das coisas sobre o ponto
crítico e isso eu acho que ajuda bastante no desenvolvimento do aluno, né? O
domínio das tecnologias, porque ele sai dominando as tecnologias então é
outro ponto forte do curso a distância e não necessariamente...poderia ter no
presencial também, né? Até esta questão do aluno ser autodidata a gente
percebe que tem aluno que busca, que vai atrás, que resolve, que pesquisa
que vai além da sala de aula, porque tem aluno na sala de aula que também se
destaca. que aqui no curso a distância isto é necessário não é para que
ele possa seguir adiante.
4- E qual a percepção que tu tens sobre a presença das trocas afetivas no
curso no qual tu estás envolvida e me diz algumas situações em que
aconteceram isto?
102
Eu acho que as trocas ocorrem assim bastante ...com naturalidade é
necessária a gente percebe isso a presença dos tutores nos pólos a motivação
delas é extremamente importante para que os alunos se motive a gente
percebe isto claramente nos três pólos tem características próprias de cada
pólo a questão relação tutor aluno do pólo é extremamente importante de ver o
grupo que vai bem é aquele grupo que está sempre unido que está trabalhando
em grupo que a tutora chama, aquele grupo onde o tutor não está vestindo a
camisa de fato não está desenvolvendo tanto isso reflete nos alunos a gente
percebe isso. Tem aqueles alunos que acabam elegendo um tutor para eles
vamos dizer assim então sempre eles procuram um o outros depende do perfil,
né? De cada aluno, né? Procuram um ou outro professor ou um ou outro tutor
tem alunos que procuram mais tem alunos que procuram menos, tem alunos
que procuram mais o João, tem alunos que procuram mais a Taís, tem alunos
que procuram a Silvia ah tem aluna presencial manda a Silvia a outra a não
manda a Taís entendesse porque tem essa afinidade maior então aqui outra
vantagem do ensino a distância agora que eu me toquei falando isso é
exatamente ter essa liberdade de até ter a quem recorrer de acordo com o teu
perfil, porque no presencial tu tens uma disciplina com tal professor e tu vais
ter que recorrer a ele e muitas vezes os gênios dos dois não são compatíveis e
não vai dar certo aconteceu eu vi isto é normal acontecer e na distância
como tu tens um tutores que geralmente atuam em todas as disciplinas na
matemática para todas eles atuam eles acabam recorrendo a aqueles que eles
tem mais afinidade que eles conseguem se comunicarem legal e isso eu acho
interessante. E tu te lembras de alguma situação assim que te chamou
atenção ba, mas aconteceu comigo assim alguma situação de troca?
Várias vezes, eu tinha um aluno que ele desistiu do curso porque ele
fazia um outro curso o curso de letras em Santa Maria e trabalhava e tinha um
monte de atividade e depois foi transferido da cidade onde ele morava, que era
militar e que também saiu tipo assim de madruga a gente discutindo coisa de
matemática, filosofando, discutindo outras coisas, né? Era muito interessante
de madrugada isto acontecia, pois logo que começou o curso eu trabalhava
bem mais do que hoje que a coisa estava sendo estruturada ainda então eu
103
ficava muitas vezes até mais tarde e ele entrava de madrugada para estudar
então a gente ficava discutindo assim era bem interessante.
Outro dia mesmo eu tenho um aluno que é bastante carente assim todo
mundo percebe ele tem a Silvia como professora dele predileta assim, né?
Acho que ela dava mais atenção era carinhosa ele mora sozinho ele tem mais
de 25 anos já, mas ele é carente tu percebes e outro dia eu conversando com
ele, ele perguntou uma coisa e eu comecei a conversar com ele perguntou do
meu filho como é que ele estava porque ele tem diabete e eu falei normal com
ele assim e ele disse sabia que eu tenho uma filha e eu não sabia que ele tinha
uma filha é um aluno nosso e eu não sabia que ele tinha uma filha, né? Olha
que legal daí ele foi me falando e tal e ai ele agradeceu por ter falado comigo e
que tinha chorado falando comigo no MSN e agradeceu muito por eu ter dado
atenção para ele e tu percebes que ele é carente, né? E ele vivia tentando
sabotar a videoconferência assim que ele entrou no curso ele era o problema
ele dizia que era o Hacker e queria saber de tudo e na verdade ele não era
tudo isso, mas ele estava querendo chamar a atenção e tentou boicotar a
videoconferência ele tenta boicotar algumas coisas e eu comecei a conversar
com ele depois que ele começou a sabotar algumas coisas, comecei a
conversar com ele mais ah não faz mais isso esse é um curso teu é como se
fosse a tua casa, ele disse ta bom professora não vou fazer mais depois
daquele dia que a gente conversou bastante e que ele falou da filha dele e
perguntei o nome dela e ele me mandou uma foto e ele agradeceu muito e
depois outro dia ele me mandou um e-mail para mim, para o João, para o
Mauricio, pedindo desculpas por tudo o que ele tinha feito quer dizer que o fato
de ter ficado umas duas horas conversando com ele isto já deu um reflexo dele
mandar um e-mail pedindo desculpas por tudo o que ele tinha feito no curso foi
muito interessante assim e todos sabiam dessa falta de afeto essa carência
dele todos percebiam isso.Ele vai para um congresso e ficou todo o tempo do
lado de um professor que conversou com ele por alguns momentos ele ficou
todo o tempo do lado dele o tempo todo conversando às vezes até ele é meio
chato, mostra a carência dele.
Têm alunos que entram e dizem “oi professora tudo bem?” e eu digo “oi
tudo bom, bom dia” e pára por ai, quer dizer é para dar um oi; também tem
bastante disso. Tem aqueles que no começo tinham vergonha e entrar no MSN
104
e começar colocar as dúvidas conversei com ela e ela a que legal professora
foi muito bom eu tinha vergonha, agora não vou ter mais vergonha.Tem alunos
que até hoje ainda não entram porque tem vergonha os que estão indo bem
são os que entram e não tem vergonha, então é bem interessante.
Agora que começamos com as videoconferências os alunos dizem
está muito legal a videoconferência, mas eu estou com saudades dos
encontros presenciais e dos bate-papos paralelo a aula ou no intervalos das
aulas porque acaba a gente trocando...a gente fez churrasco em todos os pólos
em cada pólo a gente foi os pólos mais unidos, foram bons outros que estavam
mais desintegrados não aconteceu com tanto sucesso em Jaguarão
fizemos duas vezes.
E a videoconferência permite a interação? É mais uma
teleconferência, mas permite que eles lá no momento sincronamente eles
possam perguntar, perguntando mesmo falando mas não todos ao mesmo
tempo um cada vez, a gente não os alunos todos assim, mas está
funcionando é difícil para eles no começo eles levaram um choque, mas eles
estão se acostumando com a idéia e a gente também fazer uma
videoconferência é bastante difícil porque tu estás dando aula para as paredes,
tu tens que realmente ...como se fosse uma representação, mas é interessante.
5- Qual a percepção que tu tens das relações afetivas na Educação a
Distância?
É extremamente importante eu acho principalmente para aqueles que tem
uma deficiência dessa afetividade, né? Porque aquele aluno que tem uma
estrutura familiar por traz percebo isto até no presencial é bem nítido isto o
aluno que tem uma estrutura familiar por traz ele parece que vai embora, né?
Agora aquele que ...e hoje em dia tem a questão familiar está muito destruída
eu acho em muitos casos, né? E às vezes uma pequena conversa com o aluno
paralela ao conteúdo faz uma diferença extremamente significativa no processo
de aprendizagem dos alunos então eu acho que tem tudo a ver principalmente
para os alunos que têm uma certa carência afetiva que vem com algum
carência de familiar do passado ou do momento, sei esses alunos faz uma
diferença bastante grande porque eu não sei se aquilo motiva eu o sei que
105
efeito causa nele, mas dependendo de cada caso talvez seja uma situação,
mas eu vi situação assim mesmo no presencial de uma pequena conversa
depois da aula totalmente informal sem grandes coisas dar uma repercussão
grande no aprendizado do aluno, eu já vi acontecer isto no presencial, no a
distância é a mesma coisa e o que eu percebo é exatamente a questão da
estrutura familiar se o aluno tem uma estrutura familiar por traz no presencial
também a gente percebe ... aqueles casos que mesmo casado que fala dos
filhos, que fala da esposa ta ele vai embora e tem aqueles que estão meio
perdidos como esse menino que eu falo que é carente os pais moram em Porto
Alegre me parece que ele tem um irmão que mora com ele em Jaguarão, mas
tem uma carência tu percebes isso.
Infelizmente a gente não consegue conhecer todo mundo, né? A ponto de
intervir porque se a gente conseguisse fazer isso com todos porque nem todos
se abrem para começar e difícil também chegar e meio caminho tu andas um
pedaço ele tem que andar outro eu acho nesta história e às vezes o aluno não
se abre acho que isso as vezes impede um pouco mais a, melhora,
coeficiência do processo nessa linha. Acho que se todos viessem como uma
estrutura familiar boa de casa talvez não precisasse tanto. Hoje, do professor
nessa parte afetiva, não que não precisasse ter afetividade, acho que este
processo tem que ter afetividade, mas o aluno e o professor têm que gostar do
que fazem, tem que estarem motivados para isso e têm que demonstrar isso,
né? Porque senão o aluno vai acabar se desmotivando, né? Mas hoje em dia
eu percebo que ...que o professor tem que ir um pouco além de
simplesmente isso ele tem que ir um pouco mais por lado afetivo para resolver,
para poder resgatar um aluno meio desvirtuado vamos assim, meio
desmotivado, mas é difícil isso não é uma coisa trivial e tem que ter abertura
dos dois lados, têm aluno que se abrem mais comigo, tem alunos que se
abrem mais com o Artur ou com outro professor. Conseguir fazer essa
comunicação a mais é bem interessante isso.
6- Qual a relação que tu fazes entre aprendizagem e afetividade sem ser
na educação a distância?
106
Elas estão extremamente ligadas eu acho, principalmente naqueles casos onde
o aprendiz tem essa carência. Os alunos que tem uma estrutura familiar boa
por traz não têm tanta necessidade disso porque ele próprio já está bem
estruturado e tu não precisas interferir muito, porque ele já sabe o que ele quer,
ele sabe, entendesse fato talvez não seja este o fator é a falta do afetivo.
Eu acredito que, quando tem uma estrutura familiar por traz que esteja bem,
né? A afetividade dele ta legal também não é a questão afetiva o fato de ter
alguém com quem conversar alguém que dê apoio pra ele, ele tamm está
sabendo onde ele quer chegar e às vezes o aluno está ali perdido talvez nem
por carência, mas às vezes por não ter alguém que o caminho. É uma
coisa bastante complexa isso não é uma coisa tão trivial, mas que existe essa
relação aprendizagem e afetividade eu não tenho a menor dúvida. É uma
relação forte e é necessária existir na educação. o adianta o professor
frio ir lá, claro que a demonstração da afetividade pode ocorrer de várias
formas o professor às vezes pode parecer frio, mas não é, ele pode vir aqui dar
aula falar ...falar virar as costas e dar tchau para os alunos, mas o jeito dele
atuar, deixa transparecer isso, a forma de demonstrar essa afetividade ela é
..têm várias formas cada um tem o seu jeito.
7- E a relação afetividade e aprendizagem na Educação a Distância?
É a mesma coisa não vejo diferença no ensino a distância no presencial em
qualquer processo de ensino seja ensino a distância objetivo principal e a
aprendizagem do aluno então não tem diferença entendesse talvez tenha
diferença nos meios nos métodos, mas o fim é o mesmo. E tu achas que ela
facilita a afetividade facilita em qualquer um dos dois? Em alguns casos, a
distância pode facilitar pelo fato que é mais fácil você se abrir conversando via
MSN do que cara a cara por isso que hoje a rede ORKUT, esse negócio de
MSN conversas desse tipo ai tão em alta tem jovens que nem saem mais para
a rua, não sei é uma opinião minha nunca pesquisei, mas é que eu acho que é
mais fácil o ser humano se abrir com outra pessoa desabafar colocar para fora
o que ele sente a distancia não olhando olho no olho.Então por esse motivo o
ensino a distância talvez essa relação melhore...talvez.
107
8- E a relação entre motivação para a pessoa permanecer no curso e
realizar as tarefas que ela tem que realizar com a trocas afetivas?
Essa afetividade do professor tem que estar a fim daquilo que ele está fazendo,
tem que estar motivado, isso vai refletir no aluno, a organização do curso como
um todo, as coisas não podem estar jogadas tem que ter organização se vai
mudar uma programação tem que avisar com antecedência tem que respeitar
todos envolvidos no processo professor, tutores, alunos todos, né? Então esta
questão toda ...a organização é importante até para não quebrar todo este
ciclo. E o que motiva o aluno a permanecer no curso tu achas assim? O
maior motivo é eles aprenderem terem uma profissão acho que é esse um dos
motivos maiores eles querem ser mais eles querem melhorar, evoluir vamos
dizer assim entendesse ...porque tem muitos alunos que continuam no curso
embora tenha outros que digam assim porque que eu vou me matar estudando,
eu ouvi, eu vou me matar estudando vou vir aqui todos os sábados tem que
estudar...se eu posso la pagar um curso e saber que daqui a quatro anos eu
tenho certeza que eu tenho o diploma aqui eu não tenho eu tenho que estudar
muito, posso reprovar...sei o que lá. Porque então tem alunos que sabendo que
tem aquele curso barato, 200 reais tem condições de pagar por que não vão lá,
por quê? Porque eles sabem que eles vão ter um diploma e que vão ter uma
profissão e vão ser algo diferente, vão fazer diferença na sociedade, né? Não é
simplesmente ter diploma e ser mais um eles vão ter o diploma, mas não vão
ser simplesmente mais um. Eu acho que isso motiva eles também o fato de ter
um ...eles falam assim nós somos alunos da UFPel, eles falam assim nós
somos alunos da Universidade Federal, eles falam isso com muito orgulho tu
percebes isso entendesse então acho que é isso muitos alunos que acho que
seria o principal para eles se formarem e serem o diferencial na sociedade. E
tu achas que essas trocas afetivas ajudam a fazerem as tarefas? Claro.Até
vai além das trocas afetivas é a questão de que um motiva o outro o trabalho
em grupo um motiva o outro quando um está desanimado o outro vem, vamos
lá, os tutores também quando vem que a coisa meio ...vamos que dia vai
ser que grupo vai vir estudar, vamos ajudar vocês, vamos que vidas há,
vamos tentar sanar, né? Então por isso que eu acho importante aquelas tutoras
porque todos estão desanimados a tutora é que vai levantar a moral deles, por
108
que acontece foram mal em uma prova ou tem muita coisa para fazer a maioria
deles trabalham chegam estão cansados se o tem algo que motive que
cutuque vamos dizer assim vão desanimar sozinho é difícil acho que isso é
natural sozinho é muito difícil continuar em um curso a distância. Têm
exceções, têm alunos que realmente gostam de estar sozinhos, estar no canto
deles e conseguem se organizar, mas a maioria das pessoas não gostam de
estarem sozinhas, eles precisam do outro, da motivação do outro para se
motivar e de repente amanhã o outro está desmotivado, mas ele está no pique
isso passa é contagioso isso. Vocês fazem trabalhos em grupos nos pólos?
As atividades são feitas em grupos, na maioria das vezes, e tem a
porcentagem das atividades que são feitas em grupo que, no começo, eram
feitas individual cada um fazia o seu lês podiam se reunir em grupo. No início,
foi bastante incentivado o trabalho em grupo.Exatamente para a questão da
motivação para quando um está desanimado o outro levantar a peteca e tocar
adiante, né? Mas o que começou a acontecer é que os alunos que eram
melhores começaram a fazer e os outros copiavam e mandavam a tarefa.
Então a gente cortou isso agora a atividade é feita no pólo diante dos tutores
podem ainda serem em grupos um ou dois mais não se aceita. Depois então
a troca entre o grande grupo, porque senão acabava dois ou três fazendo
era cópia no ambiente todos os trabalhos, estou cortando é em grupo ainda vai
continuar o trabalho em grupo para motivar para ajudar para motivar o aluno
cria motivação eu acho porque no grande ...no no presencial mas no
ensino a distância o grande gargalo da Educação hoje da aprendizagem que é
o objetivo é a questão da motivação se a pessoa está motivada ela vai embora.
Por isso que é importante que todos os que estejam envolvidos estejam
motivados e ter esta organização e o respeito por isso que eu acho importante
ter essa estrutura bem organizada porque não estão trabalhando com 10 ou 20
alunos em uma turma, né? São 30 em Jaguarão, 30 em Canguçu e 30 Turuçu
e isso é hoje a realidade a partir do ano que vem nós vamos ter 17 pólos.
Então se tu não estiveres extremamente organizado e respeitando os tutores
locais, os tutores daqui e os alunos em hipótese alguma vai funcionar, furar a
programação é a pior coisa que tem e muito ruim mesmo então a organização
é extremamente importante para motivação ainda para mim influencia na
motivação. Eu não sabia como é que mudaram a data da prova e eu não fiquei
109
sabendo porque não é uma coisa que tu podes fazer de um dia para o outro
num instante é diferente do presencial que tu muda de um dia para o outro e
não tem problema nenhum, mas a distância não é assim, então a organização
e o planejamento é extremamente importante também para evitar a
desmotivação.
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