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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM
DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO, NÍVEL DE
MESTRADO
SANDRA REGINA DA SILVA PINELA DALMÁS
A LOGÍSTICA DE TRANSPORTE AGRÍCOLA MULTIMODAL DA REGIÃO
OESTE PARANAENSE
TOLEDO - PR
2008
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SANDRA REGINA DA SILVA PINELA DALMÁS
A LOGÍSTICA DE TRANSPORTE AGRÍCOLA MULTIMODAL DA REGIÃO
OESTE PARANAENSE
Dissertação apresentada como requisito parcial
de avaliação para a obtenção do título de
Mestre do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio, nível de mestrado, da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
campus de Toledo, com área de concentração
em Gestão e Desenvolvimento Agroindustrial.
Orientadora: Profª. Dra. Débora da Silva Lobo.
TOLEDO – PR
2008
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Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca Universitária UNIOESTE/Campus
de Toledo.
Bibliotecária: Marilene de Fátima Donadel - CRB – 9/924
1.1 Dalmás, Sandra Regina da Silva Pinela
D148L A logística de transporte agrícola multimodal da Região Oeste
paranaense / Sandra Regina da Silva Pinela Dalmás .– Toledo, PR : [s. n.], 2008.
115 p.
Orientadora: Drª. Débora da Silva Lobo
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio) -
Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
1.1.1 Campus de Toledo. Centro de Ciências Sociais Aplicadas
1. Logística agroindustrial - Paraná, Região Oeste 2. Agribusiness 3.
Logística empresarial 4. Engenharia de transporte 5. Transporte hidroviário 6.
Transporte multimodal I. Lobo, Débora da Silva, Or. II. T
2 CDD 20. ed. 388.047
SANDRA REGINA DA SILVA PINELA DALMÁS
A LOGÍSTICA DE TRANSPORTE AGRÍCOLA MULTIMODAL DA REGIÃO
OESTE PARANAENSE
Dissertação de mestrado apresentada como
requisito parcial de avaliação para a obtenção
do título de Mestre do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em
Desenvolvimento Regional e Agronegócio,
nível de mestrado, da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná, campus de Toledo, com
área de concentração em Gestão e
Desenvolvimento Agroindustrial.
Data de aprovação: 26 de fevereiro de 2008
BANCA AVALIADORA
Prof. Roberto Max Protil
Doutor em Administração
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)
Prof. Weimar Freire da Rocha Júnior
Doutor em Engenharia da Produção
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE-TOLEDO)
Prof.ª Débora da Silva Lobo
Doutora em Engenharia da Produção
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE-TOLEDO)
DEDICATÓRIA
Às minhas filhas Amanda e Camila, que representam a razão de minha vida e a fonte
de inspiração para que eu possa melhorar cada vez mais.
Ao meu marido Sérgio Dalmás, que sempre me incentivou e proporcionou mudanças
significativas em minha vida.
Aos meus familiares, especialmente à minha mãe, por estar presente e me auxiliar em
mais essa etapa da vida.
À força divina que sinto presente em minha vida e que me proporcionou coragem para
enfrentar todos os obstáculos durante a pós-graduação.
AGRADECIMENTOS
À professora Débora da Silva Lobo, pela orientação, paciência e dedicação.
Ao professor Amarildo Jorge da Silva, por acreditar em meu sonho e mostrar o
caminho para alcançá-lo.
Aos professores Neron Alípio Berghauser e João Maria Ferreira, pelo
companheirismo.
Ao professor Roberto Cayetano Lotero pela grande contribuição na construção da
estrutura deste trabalho de pesquisa.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento
Regional e Agronegócio, nível de mestrado, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
campus de Toledo, que contribuíram para o enriquecimento de meus conhecimentos. Em
particular, ao professor Weimar Freire da Rocha Júnior, pela disponibilidade e pelas palavras
de incentivo em momentos cruciais da minha produção.
Aos colegas de mestrado, que souberam contornar os momentos de dúvidas e
diferenças, com carinho e amizade.
A todos aqueles que, direta e indiretamente, me auxiliaram durante o curso.
RESUMO
Este trabalho de pesquisa compara as opções de monomodalidade, intermodalidade e
multimodalidade para o transporte de granéis agrícolas da região Oeste do Paraná. O
propósito foi identificar as razões da pouca utilização da hidrovia em comparação à rodovia e
ferrovia, nessa região. Para isso, foram levantadas as principais características dos transportes
de carga, por meio de cada um desses modais, e o desempenho dos portos marítimos de
Santos (SP) e Paranaguá (PR), considerados como destinos mais apropriados para exportação
dessa produção. Os dados foram coletados de fontes primárias, a partir da técnica de
observação in loco, realizadas nos terminais fluvial e ferroviário, e de entrevistas não
estruturadas, guiadas, com alguns profissionais responsáveis pela logística de empresas
atuantes na comercialização de grãos da região. Utilizou-se de pesquisa documental para a
coleta de dados secundários, referentes às características dos transportes e preços dos fretes. A
análise do conteúdo foi feita por comparação entre os preços de fretes, perdas, e impacto nos
custos relacionados aos problemas ambientais, de cada arranjo simulado. Constatou-se que a
preferência na região pelo modal rodoviário ocorre principalmente devido à falta de infra-
estrutura logística para os outros modais. Na comparação de desempenho portuário, o Porto
de Santos apresenta menor tempo médio de espera para atracamento dos navios, do que o
Porto de Paranaguá. Concluiu-se que a utilização da hidrovia é uma alternativa para redução
dos custos de transporte na região e há uma demanda latente na região por esforços conjuntos
da iniciativa pública e privada para a solução das deficiências existentes no escoamento da
produção agrícola da região Oeste do Paraná.
Palavras-chave: Logística. Transporte. Multimodalidade. Hidrovia.
ABSTRACT
This research work compares the options of monomodality, intermodality and multimodality
to the transport of bulk grains from the western region of Paraná. The purpose of the
research was to identify the reasons for the low utilization of waterways in comparison with
the highways and railways, in this region. In order to do this, were found the main features of
the load transport through each of these modal ones, and the performance of the maritime
ports of Santos (SP) and Paranaguá (PR), regarded as the most suitable for export such
production. The data has been collected from primary sources, by the technique of in situ
observation made in river and raiwayl terminals and guided unstructured interviews with
some professionals responsible for the logistics of companies engaged in the marketing of
grain in the region. It has been used some documentary research to gather secondary data,
concerning the characteristics of transport and freight prices. The analysis of content was
made through comparison between prices of freight, losses, and the impact in the costs
related to the environmental costs, of each simulated arrangement. It found out that the
preference in the region for road modal occurs mainly due to the lack of infrastructure
logistics for the other modal ones. In the comparison of performance, the Port of Santos
presents minor average time of wait to moor a ship than the Port of Paranaguá. It was
concluded that the waterway is an alternative to the costs reduction of transport in the region
and that there is a latent demand for joint efforts of public and private initiative to reach the
solution of the existing deficiencies for the transport of agricultural production of the western
region of Paraná.
Key-words: Logistic. Transports. Multimodality. Waterway.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Percursos das principais ferrovias do Brasil ...........................................................36
Figura 2 - Mapa da bacia do Tietê-Paraná................................................................................45
Figura 3 - Mapa de intermodalidade hidro-ferroviária.............................................................49
Figura 4 - Mapa do Anel de Integração Rodoviário no Paraná................................................51
Figura 5 – Rede ou grafo direcionado ponderado ....................................................................65
Figura 6 - Trecho de navegação entre o reservatório de Porto Primavera e o de Itaipu...........76
Figura 7 - Mapa dos percursos configurados............................................................................94
Figura 8 - Rede direcionada para os percursos de transporte de grãos da região Oeste do
Paraná......................................................................................................................95
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Matriz de transporte de cargas – Brasil e EUA.......................................................23
Tabela 2 - Municípios componentes da mesorregião Oeste paranaense - 2006.......................26
Tabela 3 - Frete rodoviário de soja a granel: 24.3.2007 – 03.8.2007.......................................34
Tabela 4 - Trechos da malha ferroviária paulista com destino ao Porto de Santos..................36
Tabela 5 - Tarifas de frete ferroviário: 24.3.2007 – 20.7.2007 ................................................37
Tabela 6 - Rede hidroviária brasileira - por bacias...................................................................42
Tabela 7 – Preços dos fretes hidroviários: 24.03.2007 – 20.07.2007.......................................43
Tabela 8 - Terminais de cargas na Hidrovia do Paraná............................................................47
Tabela 9 - Movimentação de carga na Hidrovia do Paraná: janeiro - dezembro 2006 ............48
Tabela 10 – Tarifas de pedágio – percurso entre Toledo e Paranaguá.....................................50
Tabela 11 - Tarifa por quilômetro no trecho de Foz do Iguaçu a Paranaguá - maio 2007.......52
Tabela 12 – Empresas entrevistadas e períodos das entrevistas...............................................60
Tabela 13 – Preços médios do frete para transporte de soja a granel: 24.3.2007 – 20.7.2007.67
Tabela 14 – Dimensões de comboios na hidrovia Tietê-Paraná...............................................74
Tabela 15 – Índices de perdas no transporte de cargas.............................................................82
Tabela 16 – Acidentes com cargas nas rodovias e ferrovias do Brasil: 2000 - 2004...............84
Tabela 17 – Acidentes na Hidrovia Tietê-Paraná: 2000 - 2004 ...............................................85
Tabela 18 – Participação dos modais de transporte nos custos ambientais – em %.................86
Tabela 19 - Participação dos modais de transporte nos custos de construção e manutenção de
vias.........................................................................................................................87
Tabela 20 – Consumo de combustível pelos modais de transporte..........................................87
Tabela 21 - Indicadores de desempenho operacional dos portos de Santos e Paranaguá para a
soja e farelo a granel - 2004...................................................................................88
Tabela 22 – Configuração da modalidade de transporte para os granéis agrícolas da região
Oeste paranaense ...................................................................................................90
Tabela 23 – Produção de milho, soja e trigo na região Oeste paranaense em toneladas: safra
2004-2005..............................................................................................................91
Tabela 24 – Preço do frete para o arranjo multimodal: rodo-hidro-ferroviário........................96
Tabela 25 – Preço do frete para o arranjo intermodal: rodo-ferroviário ..................................97
Tabela 26 – Preço do frete para o tranporte monomodal: rodoviário.......................................98
Tabela 27 – Resumo dos indicadores utilizados na análise de cada arranjo. ...........................99
Tabela 28 – Comparação entre modais nos percursos efetuados pela hidrovia e rodovia .....103
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................11
1.1 TEMA E PROBLEMA.............................................................................................................12
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA........................................................................................13
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA...................................................................................................14
1.3.1 Objetivo Geral........................................................................................................................14
1.3.2 Objetivos Específicos.............................................................................................................14
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO..............................................................................................15
2 REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................................16
2.1 VISÃO PANORÂMICA DA LOGÍSTICA..............................................................................16
2.2 HISTÓRICO DE LOGÍSTICA.................................................................................................17
2.3 SISTEMA LOGÍSTICO............................................................................................................18
2.4 A EFICIÊNCIA LOGÍSTICA COMO VANTAGEM COMPETITIVA..................................20
2.4.1 Características de desempenho dos serviços logísticos .........................................................21
2.5 A LOGÍSTICA NO BRASIL....................................................................................................21
2.6 A LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL...............................................................24
2.7 A LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NO PARANÁ ............................................................25
2.8 A LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ........................26
2.9 O SISTEMA DE TRANSPORTE.............................................................................................28
2.9.1 Modais de transporte no Brasil ..............................................................................................30
2.9.2 O transporte para granéis agrícolas da região Oeste do Paraná .............................................50
2.10 TRANSPORTE MULTIMODAL DE CARGAS...................................................................56
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................................58
3.1 TIPO DE PESQUISA ...............................................................................................................58
3.2 AMOSTRA E SELEÇÃO DE SUJEITOS ...............................................................................59
3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS.....................................................................61
3.3.1 Dados Primários.....................................................................................................................61
3.3.2 Dados Secundários.................................................................................................................62
3.4 ENFOQUE DA PESQUISA.....................................................................................................63
3.5 MODELO DE ANÁLISE.........................................................................................................64
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS ...............................................................................................65
4 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA................................................................................66
4.1 CRITÉRIOS DE ESCOLHA PELO MODAL DE TRANSPORTE.........................................66
4.1.1 Preço do frete .........................................................................................................................66
4.1.2 Rapidez na entrega.................................................................................................................68
4.1.3 Confiabilidade nos serviços ...................................................................................................70
4.2 CARACTERÍSTICAS QUE AFETAM O DESEMPENHO DO TRANSPORTE ..................71
4.2.1 Transporte rodoviário.............................................................................................................71
4.2.2 Transporte ferroviário ............................................................................................................72
4.2.3 Transporte hidroviário............................................................................................................74
4.3 OPÇÕES DE TRANSPORTE PERCEBIDAS PELOS PROFISSIONAIS DE LOGÍSTICA
NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ.......................................................................................77
4.4 PRINCIPAL ESTÍMULO PARA INVESTIMENTO NA FERROVIA...................................78
4.5 UTILIZAÇÃO DA HIDROVIA...............................................................................................79
4.6 PERDAS ...................................................................................................................................81
4.7 SEGURANÇA ..........................................................................................................................82
4.8 IMPACTO AMBIENTAL ........................................................................................................85
4.9 DESEMPENHO DOS PORTOS DE SANTOS E PARANAGUÁ..........................................88
5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS....................................................................90
5.1 DISTÂNCIA E TEMPO DE PERCURSO ...............................................................................90
5.1.1 Determinação dos percursos ..................................................................................................90
5.1.2 Parâmetros para a determinação dos percursos......................................................................91
5.1.3 Cálculo das distâncias e do tempo de percurso......................................................................93
5.1.4 Cálculo do frete para cada percurso.......................................................................................96
6 CONCLUSÃO ..................................................................................................................104
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................107
ANEXOS ..................................................................................................................114
11
1 INTRODUÇÃO
A região Oeste do Paraná, assim como outras regiões do Brasil, enfrenta grandes
dificuldades para o escoamento de sua produção agrícola. Isso ocorre por diversas razões, mas
principalmente por problemas de infra-estrutura logística, o que gera muitas desvantagens em
relação a custos.
A região obteve o terceiro lugar no Valor Bruto de Produção entre as seis regiões do
Estado do Paraná, referente à produção agrícola das safras de 2003/2004, o que demonstra sua
importância para a economia estadual. Existe, atualmente, a preferência pela utilização do
modal rodoviário para o transporte de granéis agrícolas, apesar da possibilidade de utilização
de outros modais mais eficientes para esse tipo de transporte, como o ferroviário e o
hidroviário.
No desenvolvimento deste trabalho, busca-se compreender as razões para essa escolha
e se faz um levantamento das características dos principais modais de transporte de cargas.
A previsão de investimentos para infra-estrutura logística do Plano de Aceleração do
Crescimento (PAC) é de R$ 44,9 milhões para o período entre os anos de 2008 e 2010. A
rodovia receberá 56% desse montante; a ferrovia, 15% e a hidrovia, apenas 1%. Esse perfil é
decorrente de um círculo vicioso no qual se priorizou a construção de rodovias para o acesso
às diversas regiões do Brasil e que, para sua utilização, demanda grandes investimentos em
manutenção. Como os recursos são escassos, os demais modos de transporte deixam de
receber recursos suficientes para serem competitivos e ficam dependentes de ações privadas
para sua construção e manutenção.
A escolha dos modais de transporte para a movimentação de cargas torna-se essencial
para a minimização dos custos logísticos, tendo em vista que o principal componente desses
custos é o transporte, apontado por Wanke e Fleury (2006) como o responsável por 64% dos
custos logísticos organizacionais. Essa decisão está condicionada à configuração da matriz de
transporte existente. No Brasil, o modal rodoviário lidera a composição da matriz de
transporte de cargas, o que inclui a preferência para o transporte das safras agrícolas nas
diversas regiões do país. O transporte ferroviário detém pouca participação, apresentando
problemas, como, por exemplo, a falta de investimentos para expansão e recuperação de sua
malha. O transporte hidroviário, considerado o mais indicado para a movimentação dos
granéis agrícolas, encontra-se em fase de incubadora quanto aos projetos de construção e
implementação.
12
Baseado na carência de infra-estrutura e devido à grande participação nos custos
logísticos, este trabalho de pesquisa teve como pressuposto a certeza de que o transporte é a
atividade de valor, por excelência, para o escoamento dos grãos da região Oeste do Paraná. O
interesse para a pesquisa foi despertado pelo fato de serem escassos os trabalhos voltados para
a análise de utilização do modal hidroviário para o escoamento da produção agrícola da
região, por meio da Hidrovia Tietê-Paraná, com destino à exportação. Entendeu-se como mais
adequada para a complementação desse percurso a utilização do porto marítimo de Santos.
1.1 TEMA E PROBLEMA
A logística tornou-se um dos maiores problemas enfrentados pelas organizações e
tema de muitas discussões. Ela procura desenvolver infra-estrutura adequada aos fluxos do
comércio e de pessoas e, assim, promover maior acesso aos produtos e serviços de uma
economia. Essa facilidade favorece o desenvolvimento da região em questão e,
conseqüentemente, o aumento do padrão de vida de sua população.
Nos países desenvolvidos, onde os sistemas logísticos são mais eficientes, pode ser
mantido um alto padrão de vida, além de se deterem as vantagens competitivas alcançadas
pela especialização produtiva e a exportação de seus produtos.
A disponibilidade de oferta para o transporte da produção agrícola da região Oeste do
Paraná, de forma otimizada, é comprometida principalmente pela falta de infra-estrutura
logística. A utilização do modal ferroviário está condicionada à solução de vários problemas,
entre os quais podem-se destacar: a falta de disponibilidade de vagões oferecidos pela
Ferroeste, principalmente nas épocas de safra; os contratos de exclusividade efetuados com as
grandes empresas, o que provoca atrasos na entrega, devido às interrupções do fluxo para a
recomposição das cargas; e os trechos com restrição de capacidade. Quanto ao modal
rodoviário, há grandes oscilações no custo do frete, o que promove aumentos de quase 100%
nos períodos de safra. Sobre a questão da hidrovia, a falta de infra-estrutura para a
interconexão com outros modais, a carência de terminais de transbordo e armazenagem nos
portos fluviais são fatores importantes para o desinteresse por essa opção de transporte.
Além dos problemas acima destacados, os produtores de grãos da região enfrentam a
falta de capacidade para armazenagem. Segundo estudo feito pelo BRDE (2005), pode-se
dizer que, de um modo geral, os armazéns de grãos do Paraná não são capazes de atender à
13
demanda por armazenamento. Devido a essa deficiência, a maioria dos produtores escoa os
produtos conforme eles vão sendo colhidos, não sendo possível elaborar um planejamento
mais adequado para os carregamentos. Esse comportamento provoca a necessidade de maior
controle no fluxo da produção, em que se buscam continuamente melhorias quanto à
movimentação.
Segundo Ballou (1993), a coordenação eficiente é um problema enfrentado pela
logística, que busca diminuir o hiato entre a produção e a demanda, de modo que o mercado
tenha seus bens e serviços quando e onde quiser, e na condição física que desejar. Além disso,
os custos logísticos devem ser minimizados para a manutenção da competitividade.
Existe uma tendência na região pela escolha do modal rodoviário para o transporte de
granéis agrícola, seguido do modal ferroviário. Esses produtos apresentam algumas
características condizentes com a especificidade do transporte hidroviário, como o grande
volume a ser transportado e o baixo valor agregado.
A partir dessas constatações, o presente trabalho de pesquisa busca responder à
seguinte questão:
O levantamento das opções de transporte para os granéis agrícolas da região Oeste
paranaense e, também, das deficiências quanto à infra-estrutura e dos custos dos fretes pode
auxiliar na compreensão da opção de escolha pelo modal de transporte dos embarcadores da
região e apontar as potencialidades para a multimodalidade?
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA
A competitividade de uma região tem origem nas inúmeras atividades distintas que são
desenvolvidas pelas organizações a ela pertencentes. Segundo Porter (1989), cada uma destas
atividades pode contribuir para a posição dos custos relativos das empresas e,
conseqüentemente, afetar o desempenho competitivo da região onde atuam. A execução das
atividades estrategicamente importantes de uma forma mais barata e melhor do que a
concorrência, ou seja, de forma mais eficiente, leva a uma vantagem competitiva.
A logística desponta como uma das principais áreas a ser analisada, por representar
uma fonte de custos que afetam negativamente o desempenho organizacional. Os custos
logísticos são apontados como fator-chave no desempenho do comércio, e o transporte é uma
atividade logística que envolve a maior parte desses custos. Por este motivo, esta pesquisa
14
está focada na atividade de transporte, pois se presume assim contribuir para a minimização
dos custos logísticos, os quais afetam a competitividade da região, que é produtora de
quantidades expressivas de grãos destinados ao comércio internacional.
Com o propósito de levantar possibilidades de melhoria no desempenho logístico da
produção agrícola da região Oeste paranaense, foram especificados os objetivos deste
trabalho, descritos na seção a seguir.
A análise dos dados levantados nesta pesquisa deverá apontar fatores relevantes que
afetam a economia regional e poderá apresentar vantagens potenciais que a multimodalidade
de transporte oferece.
Dessa forma, espera-se que os resultados possam mostrar a relevância do tema e
contribuam para a complementação de outras pesquisas, e, também, que possam oferecer
informações necessárias ao apoio do planejamento de políticas públicas voltadas ao
atendimento das necessidades e potencialidades do setor.
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.3.1 Objetivo Geral
Analisar a modalidade hidroviária para o transporte de cargas agrícolas da região
Oeste do Paraná, com o propósito de identificar as potencialidades da multimodalidade e
compreender a opção de escolha pelos embarcadores da região.
1.3.2 Objetivos Específicos
a) Identificar as características e disponibilidades das modalidades de transporte para
a movimentação dos granéis agrícolas da região Oeste paranaense;
b) levantar dados referentes aos percursos pela hidrovia, ferrovia e rodovia da região
Oeste do Paraná até os portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP);
15
c) comparar o desempenho das alternativas de transporte de carga rodoviário,
ferroviário e hidroviário para a movimentação de grãos destinados aos portos de
Paranaguá (PR) e de Santos (SP).
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho de pesquisa está dividido em seis seções, incluindo esta, introdutória. Na
seção a seguir é considerada a visão panorâmica da logística, pela qual se busca trazer o
histórico de sua evolução e os conceitos de eficiência no sistema logístico, com foco no
desempenho brasileiro, especialmente nas atividades do agronegócio, no qual se destaca a
região Oeste do Paraná. Dessa maneira, tornou-se necessária a descrição dos modais de
transportes para a compreensão da composição da matriz de transporte de cargas no Brasil e o
reflexo desse arranjo na região Oeste paranaense. Na seção 3, é apresentada a metodologia de
pesquisa utilizada. Na seção 4, se faz a caracterização do problema de pesquisa, o que permite
se fazer a análise e interpretação dos dados, na seção 5, da logística de transporte da região
Oeste paranaense para a movimentação de granéis agrícolas. Finalmente, as conclusões e
recomendações para trabalhos futuros fazem parte da seção 6.
16
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 VISÃO PANORÂMICA DA LOGÍSTICA
As organizações estão inseridas em um mercado altamente competitivo, que é
influenciado pelo impacto sócioeconômico e cultural, provocado por diversos fatores, estando
entre eles o crescimento demográfico e a difusão da informação promovida pelo
desenvolvimento tecnológico. A interação desses fatores é essencial para que a sociedade
permaneça viva (DASILVA, 2004).
O fenômeno da globalização alterou os negócios para um ritmo mais ágil e dinâmico.
Houve um crescimento explosivo no comércio global e na competição internacional. Esse
processo amplifica o comércio e o fluxo de informações e pessoas, exigindo maior
flexibilidade e habilidades para respostas rápidas ao mercado. Percebe-se nesse ambiente que
nenhum país pode permanecer isolado da economia mundial. Caso queira manter-se fechado à
concorrência estrangeira, os cidadãos pagarão muito mais por bens e serviços de qualidade
inferior. Porém, se abrirem seus mercados, irão enfrentar concorrência severa e muitas
empresas locais sofrerão. É sabido que as empresas de setores globais precisam competir em
base global para obterem economia de escala e manterem-se atualizadas com os avanços
tecnológicos (KOTLER, 1998; PORTER, 1980).
Neste contexto, Lotero (1999) argumenta que os novos custos de comunicação e
transporte estimulam o comércio internacional, no qual firmas multinacionais procuram
mercados mais amplos, disponibilizando seus produtos e serviços globalmente. Ao mesmo
tempo, o acesso dos países pobres a esses produtos provoca mudanças no comportamento de
consumo e promove a busca por padrões de vida mais elevados. Esse processo se resume ao
que Kotler (1998) aponta como forças globais: o elevado grau de exigência dos compradores
se deve à maior disponibilidade de variedades de produtos e serviços podendo ser comparados
em relação a vários critérios competitivos, o que promove uma proliferação de informações
que, por sua vez, sustentam a mudança de comportamento do consumidor, tornando-o muito
mais exigente.
As alterações nos padrões e atitudes da demanda dos consumidores adicionadas à
pressão por custos menores de produção e ao avanço na tecnologia de computadores
17
consistiram, segundo Ballou (1993), em algumas das condições econômicas e tecnológicas
que encorajaram o desenvolvimento da logística.
2.2 HISTÓRICO DE LOGÍSTICA
No passado, os exércitos comumente se mantinham por meio de pilhagens dos
territórios conquistados, o que muitas vezes tornava-se uma armadilha, por encontrarem os
lugares saqueados antes da chegada das tropas. Esses problemas fizeram com que os
comandantes da Grécia Antiga percebessem a necessidade de planejamento para o
abastecimento de suas tropas, que avançavam em mais territórios a cada dia e se distanciavam
dos suprimentos. As providências, a partir desta percepção, podem ser consideradas como os
primeiros indícios dos estudos da logística. Entretanto, o tempo passou e o problema persistiu.
Napoleão, durante a campanha de domínio da França contra a Rússia, no século XIX,
constatou a necessidade de apoio logístico aos seus exércitos, que estavam severamente
acometidos pela falta de suprimentos.
O interesse pela logística, além dos problemas militares, aconteceu a partir do início
do século XX, época em que a concentração urbana exigiu ações de melhorias para o
escoamento da produção agrícola dos campos para as cidades. Devido ao crescimento
industrial, a partir de 1940, essa preocupação migrou para as atividades de movimentação e
armazenagem de materiais nas indústrias, sendo chamado de período das funções
segmentadas. De acordo com Ching (2001), essa concepção consistia em tratar os problemas
logísticos somente para as atividades internas às firmas.
A visão mais ampla de logística desencadeou-se somente a partir de 1950, com a
inclusão de custo total e abordagem de sistemas. O foco direcionou-se às atividades de
transportes, distribuição, armazenagem, estoque e manuseio de materiais. O conceito de custo
total, definido a partir dos estudos realizados por Lewis et al. (1956 apud BALLOU, 1993),
norteou a necessidade de reagrupamento lógico das atividades tradicionais no ambiente
interno da firma, principalmente em torno das atividades de distribuição, que promoveu o
surgimento de aperfeiçoamentos gerenciais das atividades logísticas.
Somente por volta de 1970 é que essa visão contemplou o conceito de logística
integrada, defendida por Gomes e Ribeiro (2004) como o fluxo de materiais e de informações
18
referentes ao relacionamento entre o fornecedor, suprimentos, produção, distribuição e
cliente.
2.3 SISTEMA LOGÍSTICO
A logística pode ser definida de muitas maneiras, porém Christopher (2002) apresenta
uma definição bastante abrangente, na qual a logística é considerada como um processo de
gerenciamento estratégico para a aquisição, a movimentação e a armazenagem de insumos,
componentes e produtos acabados, incluindo os fluxos de informações correlatas. De acordo
com o autor, o processo ocorre por meio da organização de seus canais de marketing, que
procuram atender aos pedidos a um custo baixo, de forma a maximizar as lucratividades
presente e futura.
Ballou (1993) procura destacar as funções básicas do administrador no esforço de
planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades de movimentação e armazenagem, no
intuito de facilitar o fluxo de produtos para o alcance de nível mais alto de rentabilidade nos
serviços de distribuição aos clientes e consumidores. É possível conseguir níveis de serviços
adequados a um custo razoável por meio da coordenação das atividades de movimentação e
armazenagem, que envolve o fluxo de informação responsável pela movimentação dos
produtos, desde o ponto de aquisição de matéria-prima até o ponto de consumo final.
O projeto adequado para um sistema logístico, segundo Alves (2001), deve buscar a
integração das áreas de suprimento, apoio à produção e distribuição física para o alcance da
meta estratégica da logística, que busca a melhoria na movimentação e armazenagem de
materiais e produtos. O objetivo essencial da logística, portanto, é evitar rupturas no
suprimento de diferentes produtos nos pontos-de-venda e o excesso de materiais e/ou
produtos em toda a cadeia de suprimentos, ou seja, reduzir o hiato entre a produção e
demanda, sendo este um dos problemas enfrentados pela logística. A conciliação permite que
os bens e serviços sejam oferecidos no momento e local esperados e nas condições físicas
adequadas. A devida compreensão da necessidade de coordenação logística significa uma
evolução do pensamento administrativo e consiste em agrupar conjuntamente as atividades
relacionadas ao fluxo de produtos e serviços para administrá-las de forma coletiva.
Um sistema logístico eficiente permite que uma região geográfica explore suas
potencialidades por meio da especialização de seus esforços produtivos e pela exportação de
19
seus produtos para outras regiões. Esse esforço permite facilidades para as trocas de
mercadorias conduzindo a melhorias no padrão de vida da população pertencente àquela
região.
As atividades essenciais à coordenação e ao cumprimento da tarefa logística são as de
transporte, de manutenção de estoques e de processamento de pedidos. O transporte é
considerado, pela maioria das empresas, como a atividade logística mais importante por
absorver, em média, de um a dois terços dos custos logísticos. A atividade de manutenção de
estoques também tem grande relevância por ser responsável pela mesma proporção dos custos
logísticos quando em uso extensivo. Já a atividade de processamento de pedidos tende a ter
custos bem menores comparados com as outras atividades primárias. Sua importância deriva
do fato de ser um elemento crítico em termos do tempo necessário para levar bens e serviços
aos clientes. De acordo com Ballou (1993), essas atividades são consideradas primárias por
contribuírem com a maior parcela do custo total da logística e são identificadas como
atividades-chave para o alcance dos objetivos logísticos de custo e nível de serviço. Para o
autor, outras atividades também fazem parte do sistema logístico, porém são consideradas de
apoio. São elas: as de armazenagem, de manuseio de materiais, de embalagem de proteção, de
obtenção, de programação de produtos e de manutenção de informação.
Apesar de a atividade de transporte ser considerada a mais importante, até por volta de
1950 encontrava-se sob o comando gerencial da produção, resultando em situações
conflituosas entre objetivos e responsabilidades. Naquela época a ineficiência na distribuição
dos produtos podia ser tolerada, pois havia uma escassez de capacidade industrial e
imperavam a produção e a venda para uma demanda reprimida. A tendência posterior foi de
adequação da capacidade produtiva e de competição crescente, ocorrendo uma mudança
natural na área de administração de marketing, que começou a crescer em importância e na
administração, mudando o foco da produção para o consumidor. Porém, segundo Converse
(1954 apud BALLOU, 1993), muito mais atenção era dispensada às atividades de compra e
venda do que à distribuição física, muitas vezes subestimada e relegada a segundo plano,
como uma atividade de pouca importância.
A distribuição física tornou-se tema dominante nas décadas de 1950 e 1960, porém a
função de compras passou a ser inserida num contexto mais amplo da administração de
materiais, tornando-se um elo de apoio à distribuição física eficiente. Dessa maneira, a
logística passou a ser entendida como a integração tanto da administração de materiais como
da distribuição física, tendendo a uma ligação mais estreita com a função de produção ou
operação de serviços.
20
2.4 A EFICIÊNCIA LOGÍSTICA COMO VANTAGEM COMPETITIVA
A busca pela inserção no ambiente global exige das organizações um exame de todas
as suas atividades, bem como de suas interações, com o propósito de compreender as fontes
de vantagem competitiva. Portanto, a ampliação ou o estreitamento dos mercados geográficos
pode afetar a vantagem competitiva, e a extensão da integração nas atividades desempenha
uma função-chave na vantagem competitiva.
A integração das atividades exige uma competência logística que, de acordo com
Bowersox (2001), pode ser alcançada por meio da coordenação e do inter-relacionamento de
diversas atividades funcionais, como: a) gerenciamento das instalações por meio de um
projeto de rede; b) disponibilidade de informação em tempo real; c) análise do custo,
velocidade e consistência do transporte; d) manutenção do nível ótimo do estoque e; e)
armazenagem. A mensuração da eficiência logística exige a avaliação do desempenho de cada
uma dessas atividades.
A eficiência logística é medida pelo grau de disponibilidade dos produtos e serviços e
a falta de disponibilidade é uma das preocupações nos estudos do campo da logística, sendo
ressaltada por Ballou (2001, p. 25), quando ele explica que “produtos e serviços não têm
valor, a menos que estejam sob a posse dos clientes quando e onde eles desejam consumi-
los”.
A falta de infra-estrutura para a movimentação de uma produção pode afetar a
disponibilidade dos produtos, além de provocar alterações importantes nos custos logísticos,
que estão inseridos no conceito de custo total, em que são congregadas conjuntamente as
atividades de transportes, de estoques e de processamento de pedidos. A idéia de custo total,
segundo Ballou (1993), foi importante para decidir quais atividades da firma deveriam ser
agrupadas conjuntamente e chamadas de distribuição física, além de servir de argumento para
o gerenciamento coletivo das funções logísticas.
A melhoria do desempenho logístico é alcançada pela utilização dos recursos
disponíveis de forma eficiente, de maneira que os resultados operacionais sejam eficazes para
os negócios. A execução das atividades estrategicamente importantes de uma forma mais
eficiente do que a concorrência leva uma organização a criar valor para seus compradores, de
maneira que seus custos de fabricação sejam ultrapassados. Assim, essa organização
desenvolve as bases para obter a vantagem competitiva.
21
2.4.1 Características de desempenho dos serviços logísticos
São cinco os modais básicos de transporte e eles dispõem de vários serviços aos
usuários, que podem escolher a alternativa de serviço com melhor balanceamento entre
qualidade e custo (BALLOU, 1993). O autor apresenta alguns critérios que auxiliam na
escolha dos serviços, sendo eles: o custo, o tempo médio de entrega, sua variabilidade, as
perdas e os danos.
O custo do serviço de transporte varia conforme os modais. No caso de contratação de
terceiros, esse custo é resultante do frete cobrado pelo transportador - que envolve o custo do
transporte, acrescidos das taxas de acessórios ou de terminais para serviços adicionais
executados -, mais quaisquer outras taxas adicionais, tais como responsabilidade de recolher
cargas na origem e entregar no destino final, seguros ou preparação e acondicionamento das
mercadorias para transporte, que compõem o custo total do serviço realizado.
O tempo médio para entrega e sua variabilidade são fatores muito importantes na
tomada de decisão por transportes. Segundo Ballou (1993), o tempo médio de entrega é
geralmente considerado como aquele necessário para transportar a carga do ponto de origem
até seu destino. A variabilidade refere-se às diferenças normalmente encontradas entre os
carregamentos e afeta a certeza no desempenho do transportador.
Perdas e danos são fatores que devem ser levados em conta na escolha do
transportador. Terá maior chance de ser escolhido aquele que demonstrar maior habilidade de
proteger a carga. Ballou (1993) aponta que a atitude de providenciar procedimentos de
segurança é uma reação para grandes possibilidades de perdas e danos em cargas, porém é um
custo adicional que deve ser coberto pelo cliente.
2.5 A LOGÍSTICA NO BRASIL
A logística no Brasil atravessa um período de mudanças pela busca de eficiência. Com
a abertura de mercado, a partir da década de 1990, e a expansão do comércio internacional, o
país se deparou com uma realidade muito diferente daquela na qual estava inserido desde o
início do século XX, em que vigorava uma política protecionista seguida de uma economia
22
inflacionária. A proteção inibe a competitividade e a inflação mascara as ineficiências,
impede as tentativas de integração na cadeia de suprimentos e impossibilita a administração
mais eficiente de recursos devido às incertezas, entre outras conseqüências negativas.
O processo de mudança que envolve a logística do país está vinculado principalmente
a termos burocráticos e de infra-estrutura, que exigem, para o alcance dos resultados
esperados, uma rápida absorção daquilo que é praticado em países mais desenvolvidos.
O modal rodoviário predomina como opção mais utilizada para o transporte de cargas
no Brasil e as ações planejadas para a melhoria do sistema logístico priorizam a manutenção
desse modal como principal meio de transporte no país.
Algumas estratégias adotadas, a partir de meados do século XX, contribuíram para
reforçar essa tendência; Uma delas foi a criação do Fundo Rodoviário Nacional, em 1946,
pelo qual foi estabelecido um imposto sobre combustíveis líquidos e que deu grande impulso
à construção de rodovias pavimentadas, pois o fundo era utilizado no financiamento de
construções de estradas rodoviárias executadas pelos estados e pela União. A criação do Plano
de Metas, do governo Juscelino Kubitschek, abrangia cinco setores básicos da economia
nacional, para os quais os investimentos públicos e privados deveriam ser canalizados:
energia, transportes, alimentação, indústria de base e educação. Fazia parte desse processo a
mudança da capital brasileira, do Rio de Janeiro para Brasília, o que levou à criação de um
plano rodoviário para ligar a nova capital a todas as regiões do país. Com o incentivo à
implantação de indústrias, no ano de 1954, fundou-se a Petrobras, que passou a produzir
asfalto em grande quantidade e, estimulada pelo potencial de crescimento no país, foi
implantada, a partir de 1957, a indústria automobilística nacional.
O Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), desenvolvido pelo Ministério
dos Transportes (2007c), apresenta um planejamento estratégico para o setor até o ano de
2023. A priorização pelo transporte terrestre permanece, pois os investimentos em hidrovias
correspondem a 3% do total dos investimentos em infra-estrutura de transportes no período
entre os anos de 2008 e 2011 e representa apenas 6% do total a ser investido em rodovias.
Considerado o total de investimentos previstos para o final de 2023, verifica-se a participação
de investimentos nas rodovias em 43% e apenas 7,4% para as hidrovias
Em análise da chamada Matriz de Transporte de Cargas no Brasil, constatou-se que
em 2005 permanecia a liderança pelo transporte rodoviário, com uma média alcançada nos
últimos anos de 58% dos transportes efetuados. O transporte ferroviário que participava no
ano de 2000, com 20% dos transportes de carga, aumentou sua participação em 2002 para
23% e, em 2005, alcançou 25% de participação. O transporte hidroviário que ao redor do ano
23
2000 participava com quase 20% dos transportes, reduziu sua participação em 2005 para
apenas 13%, seguido dos modais dutoviário e aéreo, que obtiveram juntos 4% de participação
(MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2006b).
O custo logístico brasileiro pôde ser comparado por Lima (2006), que utilizou como
referência os dados apresentados por Wilson e Delaney (2000) sobre o desempenho
americano. Nesse estudo, Lima (2006) apontou que o custo total do transporte de cargas no
Brasil, em 2004, foi de R$ 109,2 bilhões para o modal rodoviário, R$ 7,5 bilhões para o
modal ferroviário, R$ 7,3 bilhões para o modal aquaviário (não inclusos o custo portuário de
importações e exportações de R$ 5,2 bilhões), R$ 2,1 bilhões para o modal dutoviário e R$
1,9 bilhão para o modal aéreo. Considerando o custo de transporte para cada modal, incluindo
o custo portuário, o custo de armazenagem e o custo administrativo, que constituem o custo
logístico, o Brasil obteve o montante de R$ 222 bilhões. Este resultado equivale a 12,6% do
Produto Interno Bruto (PIB) que, comparado com o atingido pelos Estados Unidos, de 8,1%,
aponta a vantagem do desempenho americano com uma diferença de 4,5%.
Na Tabela 1 são descritas as diferenças entre as matrizes de transporte de cargas do
Brasil e dos Estados Unidos.
Tabela 1 - Matriz de transporte de cargas – Brasil e EUA
BRASIL EUA
US$ US$
(2)
MODAL
% de carga
(1)
1.000 Ton.Km
% de carga
1.000 Ton.Km
Aéreo 0,1 602 0,4 898
Dutoviário 4,5 18 15,1 9
Aquaviário 12,2 24 15,5 9
Rodoviário 59,3 73 29,5 274
Ferroviário 23,8 12 39,5 17
1
Percentual de carga calculado em TKU (tonelada/quilômetro útil), com valores estimados nos dados do Geipot,
atualizados pelos percentuais de variação de toneladas da FIPE, (exceto modal aéreo, dados do DAC e Infraero).
2
Pesquisa de Custos Logísticos referente aos valores praticados em 2004 (dólar médio: R$ 2,93).
Fonte: Lima (2006)
A matriz de transporte de cargas nos Estados Unidos é definida, segundo Lima (2006),
com a liderança pela opção ao modal ferroviário de 39,6%, seguido pelo modal rodoviário
com 29,5%, aquaviário em 15,5%, dutoviário com 15,1% e aéreo com 0,4%.
Nos Estados Unidos, o modal rodoviário é mais utilizado na integração ao sistema
multimodal de transporte, por meio de: carregamento e distribuição de ponta; terminais de
integração e transbordo; transporte de cargas com maior valor específico; transporte para
24
pequenas e médias distâncias; e distribuição urbana e metropolitana. No Brasil, predomina a
utilização desse modal para a maioria das cargas, inclusive a de produtos agrícolas,
percorrendo distâncias relativamente longas e também para distribuição urbana e
metropolitana.
2.6 A LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL
O agronegócio se destaca nas exportações brasileiras, tendo a economia agroindustrial
brasileira, nas últimas décadas, apresentado uma verdadeira revolução em seu arranjo
espacial, o que interfere nas decisões de localização das agroindústrias. Os negócios
agropecuários ocuparam as áreas de fronteiras no decorrer dos anos passados. Em geral, essa
ocupação se deu por meio de atividades que incorporam modernas tecnologias de produção.
Paralelamente, ocorre uma aglomeração de fornecedores de insumos, armazenadores e
indústrias de processamento ao redor das zonas de produção. Esse movimento visa
principalmente à minimização dos custos de transporte envolvidos nas transações, com o
propósito de atender aos princípios de racionalidade econômica (CAIXETA-FILHO, 2001).
Conforme dados obtidos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA, 2004), o Brasil é cotado como o país de maior potencial de crescimento em
agronegócio do mundo, por possuir um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar
abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta. Além disso, no território
brasileiro, 388 milhões de hectares são de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade,
dos quais 90 milhões ainda não foram explorados. Esse potencial de crescimento vem sendo
confirmado por meio dos resultados obtidos na produção agropecuária do país. De acordo
com Floriani (2005), a produção de grãos no Brasil cresceu de 40 milhões de toneladas em
1974/75 para 113,5 milhões de toneladas em 2004/05, o que significa um incremento médio
de 73,5 milhões de toneladas em trinta anos. Há perspectiva de continuar crescendo em média
12 milhões de toneladas ao ano, significando mais de 180 milhões de toneladas a serem
produzidas na safra de 2009/10.
O Brasil apresentou, em 2006, um saldo positivo na balança comercial correspondente
a US$ 46 milhões e um valor total das exportações de quase US$ 137 milhões, sendo 54,3%
referentes a produtos manufaturados, 29,3% a produtos básicos, 14,2% a produtos
semimanufaturados e 2,2% a operações especiais. Na composição desses valores, se destaca o
25
agronegócio com 18,7% de participação na base das exportações brasileira. O complexo soja
deteve o 5º lugar no ranking dos principais produtos exportados, perdendo posição para
materiais de transporte, produtos metalúrgicos, petróleo e combustíveis, e minérios. A carne
ocupou o 7º lugar e o açúcar e álcool o 8º lugar, perdendo posição para os produtos químicos
que ficaram em 6º lugar (SECEX, 2007).
Apesar de toda essa dinâmica, o Brasil enfrenta grandes desafios logísticos e entre os
principais problemas estão os gargalos provocados por falta de infra-estrutura para a
distribuição da produção. De acordo com Ballou (1993), quando um mercado experimenta
rápido crescimento, a distribuição ineficiente pode ser tolerada, pois ainda assim as empresas
mantêm-se rentáveis. Entretanto, quando se compete por maior participação no mercado, a
distribuição eficiente e eficaz pode ser a vantagem necessária para se tornar competitivo. Este
argumento reforça a necessidade da identificação de alternativas que possam amenizar as
deficiências reveladas na infra-estrutura de transportes do país. A eficiência no emprego dos
escassos recursos disponíveis é fundamental para o bom desempenho logístico da economia.
O crescimento do agronegócio brasileiro vem se mantendo por meio de iniciativas de
investimentos públicos e privados, que permitem algumas melhorias na movimentação dos
produtos, porém longe do ideal para a minimização dos custos logísticos.
2.7 A LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NO PARANÁ
O Estado do Paraná tem influência nos bons resultados do agronegócio brasileiro. Sua
participação no saldo da balança comercial brasileira, segundo o Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES (2004) é de 15% desse saldo. De acordo
com o IBGE (2005), o Paraná participou com 6,15% do PIB a preços correntes do Brasil no
ano de 2004.
O Estado do Paraná está convergindo para uma nova configuração em seu arranjo
espacial devido às instalações de várias agroindústrias. Essa mudança teve origem no
deslocamento das fronteiras agrícolas para outras regiões do país. Além do crescimento dessas
indústrias, percebe-se a diversificação das culturas agrícolas, favorecidas pelas diferentes
características físicas e climáticas que o Estado apresenta. Também se verifica um grau de
desenvolvimento econômico favorável para a utilização de avançadas técnicas agrícolas,
podendo oferecer inovações quanto às novas culturas.
26
No ano de 2007, ocorreu a pesquisa do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 1997), no entanto até o término deste trabalho os dados não
estavam disponíveis. Por esse motivo, utilizaram-se os dados de 1995-1996, para o
apontamento do número de estabelecimentos agropecuários no Paraná, que totalizavam
aproximadamente 370 mil. Com relação à produção agrícola, os últimos dados apresentados
pelo IPARDES (2007) revelam uma produção, em 2005, de mais de 29 milhões de toneladas
de cana-de-açúcar, quase 9,5 milhões de toneladas de soja e cerca de 8,5 milhões de toneladas
de milho, sendo esses seus principais produtos agrícolas.
2.8 A LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ
Segundo o Censo Demográfico do IBGE (2000), os municípios da região Oeste
representavam 12,5% do total dos municípios do Estado do Paraná. Esta região se destacou na
economia estadual, em 2004, por ter participado com 13,16% do PIB a preços correntes do
Estado. Em relação à produção agrícola, as informações sobre as safras de 2003/2004 foram
levantadas por Andretta (2006), por meio da Seab/Deral em que indica a participação da
região com 18,63% do Valor Bruto de Produção (VBP) do Paraná, detendo o terceiro lugar
entre as seis regiões paranaenses. O grupo das principais culturas do Estado é composto pelos
grãos de verão: soja, milho, café e feijão.
De acordo com o IPARDES (2006), a Mesorregião Geográfica Oeste Paranaense é
composta pelas Microrregiões de Cascavel (MGR 023), Toledo (MRG 022) e Foz do Iguaçu
(MRG 024), constituídas por 50 municípios, expostos na Tabela 2.
Tabela 2 - Municípios componentes da mesorregião Oeste paranaense - 2006
MESORREGIÃO GEOGRÁFICA OESTE PARANAENSE (Continua)
Toledo (MRG 022) Cascavel (MRG 023) Foz do Iguaçu (MRG 024)
Assis Chateaubriand
Diamante D'Oeste
Entre Rios do Oeste
Formosa do Oeste
Guaíra
Iracema do Oeste
Jesuítas
Marechal Cândido Rondon
Maripá
Anahy
Boa Vista da Aparecida
Braganey
Cafelândia
Campo Bonito
Capitão Leônidas Marques
Cascavel
Catanduvas
Corbélia
Céu Azul
Foz do Iguaçu
Itaipulândia
Matelândia
Medianeira
Missal
Ramilândia
Santa Terezinha de Itaipu
São Miguel do Iguaçu
27
MESORREGIÃO GEOGRÁFICA OESTE PARANAENSE (Conclusão)
Toledo (MRG 022) Cascavel (MRG 023) Foz do Iguaçu (MRG 024)
Mercedes
Nova Santa Rosa
Ouro Verde do Oeste
Palotina
Pato Bragado
Quatro Pontes
Santa Helena
São José das Palmeiras
São Pedro do Iguaçu
Terra Roxa
Toledo
Tupãssi
Diamante do Sul
Guaraniaçu
Ibema
Iguatu
Lindoeste
Nova Aurora
Santa Lúcia
Santa Tereza do Oeste
Três Barras do Paraná
Serranópolis do Iguaçu
Vera Cruz do Oeste
Fonte: IPARDES (2006)
Entre os municípios listados na Tabela 2, quinze são limítrofes ao reservatório de
Itaipu e recebem royalties da Itaipu Binacional (em itálico), como compensação financeira
pela utilização do potencial hidráulico do Rio Paraná para a produção de energia elétrica. Esse
repasse promove, principalmente, a melhoria dos serviços públicos sem o aumento de
impostos, o que facilita o desenvolvimento regional.
A região apresenta diminuição da área plantada para a maioria das culturas, entretanto,
sua produtividade continua aumentando devido à modernização do setor agrícola. A
expressiva produção de milho promove uma produção significativa de carnes e derivados na
região. O bom desempenho se deve ao milho e ao farelo de soja disponíveis para as indústrias
de ração locais: os dois ingredientes mais importantes no fabrico de ração para alimentação
animal. A soja é grande responsável pelo desempenho positivo da região no que diz respeito à
produção de proteína animal e tem como uma de suas características ser mecanizada por
excelência e estar voltada essencialmente para exportação. Os grãos, em sua grande parte, são
processados na região e vendidos na forma de óleo e farelo, com o excedente comercializado
para outras regiões e exterior (ARAÚJO, 2002).
A busca por projetos de incentivos às agroindústrias, em que grande parte dos insumos
é transformada em produtos industrializados, permite maior agregação de valor nos produtos,
facilitando a armazenagem e o transporte pela redução dos volumes, além de serem criadas
novas frentes de trabalho. Entretanto, este processo depende de transformações dos ambientes
organizacional, institucional e principalmente tecnológico e demandaria um estudo específico
para o alcance da eficiência no longo prazo.
A região tem dificuldades para a movimentação de sua produção agrícola e isso se
deve aos problemas de infra-estrutura que afetam os custos logísticos e provocam incertezas.
28
Segundo Corrêa e Corrêa (2004), estas restrições levam a super-utilização e subutilização,
alternadamente, de capacidade numa cadeia produtiva, aumentando ainda mais os custos da
cadeia no geral. Esses custos fatalmente serão repassados de elo em elo até o consumidor
final, fazendo com que o produto perca competitividade.
Conforme argumentam Martins e Lobo (2005), os custos de transporte se tornam mais
significativos nas cadeias agroindustriais devido à interdependência entre a produção
agropecuária e demais atividades ex-ante e ex-post. Eles também consideram esses custos
como a composição dos fretes associados às características de qualidade dos serviços, que
incluem, além de outros indicadores da logística, a confiabilidade, a flexibilidade, as rotas, a
velocidade e o tempo total de entregas.
Os resultados dos estudos de Martins e Lobo (2005) sinalizaram para uma
preocupação bastante significativa em relação ao cumprimento dos contratos com os clientes
e com os compromissos nos portos e navios, isso quer dizer que os embarcadores buscam
mais garantias de que o serviço contratado seja cumprido.
É clara a importância quanto à observação dos aspectos relativos aos custos e às
questões relacionadas com a prestação do serviço de transporte. No entanto, é extremamente
relevante a escolha do modal de transporte que irá determinar os custos logísticos e
conseqüentemente a competitividade empresarial. Esta é a razão para a análise das possíveis
opções de transporte para a produção da região Oeste paranaense, sendo indispensável o
tratamento e entendimento de cada modal indicado para a movimentação de grãos, o que será
desenvolvido no decorrer deste trabalho.
O entendimento do arranjo desses modais como um sistema irá favorecer a
interpretação dos fatores condicionantes para a escolha entre os modais. Por esse motivo, na
subseção a seguir serão tratados os elementos que compõem esse sistema.
2.9 O SISTEMA DE TRANSPORTE
O sistema de transporte implica na movimentação de cargas e pessoas. De acordo com
Ballou (1993), uma economia é dinamizada pelo sistema de transporte doméstico. Este é
formado de um arranjo composto por trabalho, facilidades e recursos que compõem a
capacidade de movimentação. É incluído nessa movimentação, o sistema de distribuição de
intangíveis, tais como as comunicações telefônicas e energia elétrica.
29
As nações em desenvolvimento começam a ter sua estrutura econômica semelhante à
de uma economia desenvolvida quando os serviços de transporte mais baratos são
disponibilizados. Serviços de transportes eficientes promovem uma concorrência direta mais
encorajada, pois os custos dos produtos colocados em mercados mais distantes podem ser
competitivos com aqueles de outros produtores que disputam os mesmos mercados. Além
disso, promove uma concorrência indireta com o aumento da disponibilidade geral de bens
adicionais à produção local, podendo ter efeito estabilizador nos preços das mercadorias.
Segundo Ballou (1993), a desvinculação dos sítios de produção e de consumo, causada
pelos transportes mais eficientes, gera liberdade para a escolha de localização industrial mais
adequada para usufruir vantagens geográficas.
A tomada de decisão sobre a modalidade de transporte mais adequada exigirá
entendimento das opções disponíveis para a escolha. De acordo com Bertaglia (2003), as
decisões estratégicas para definir qual modalidade de transporte utilizar dependem de vários
fatores ou características vinculados ao desempenho de cada tipo de transporte no que se
relaciona ao preço, ao volume de carga, à capacidade, à flexibilidade, à rapidez, aos terminais
de carga e descarga, à legislação e às regras governamentais, entre outras.
No Brasil, as funções relativas à construção, manutenção e operação de infra-estrutura
dos segmentos do Sistema Federal de Viação, sob administração direta da União, nos modais
rodoviário, ferroviário e hidroviário, são desempenhadas pelo Departamento Nacional de
Infra-estrutura de Transportes (DNIT), que é o órgão executor da política de transportes,
determinada pelo Governo Federal brasileiro e é uma autarquia vinculada ao Ministério dos
Transportes, implantada em fevereiro de 2002, conforme Decreto nº 4.129 de 13 de fevereiro
de 2002. Esse órgão é dirigido por um Conselho Administrativo e por sete diretores nomeados
pelo Presidente da República e conta com recursos da União para a execução das obras.
Wanke e Fleury (2006) apontam cinco modais de transporte de cargas, sendo eles, o
rodoviário, o ferroviário, o aquaviário, o dutoviário e o aéreo. Cada um deles possui uma
estrutura de custos e características operacionais específicas que os tornam mais adequados
para determinados tipos de produtos e de operações.
Todos esses modais estão disponíveis na matriz de transporte brasileira, porém neste
trabalho não serão abordados os modais dutoviário e aeroviário por não serem indicados para
o transporte de cargas sólidas, de grande volume e baixo valor agregado, como é o caso dos
granéis agrícolas. Em função disso, os modais rodoviário, ferroviário e hidroviário receberão
um tratamento mais específico por serem considerados de grande relevância para a pesquisa.
30
Assim, a seguir serão levantados os modais de transportes que compõem a matriz de
transporte de cargas a granel no Brasil.
2.9.1 Modais de transporte de carga no Brasil
A disponibilidade de diversos modais de transportes traz flexibilidade para a tomada
de decisão logística, pois cada modal apresenta características distintas que devem ser
exploradas convenientemente.
Conforme Caixeta-Filho (2001), algumas referências de caráter mais prático sinalizam
para as chamadas “distâncias econômicas universais”, como é o caso dos estudos elaborados
pela Associação Brasileira de Logística – Aslog (1997), em que foi recomendado que, para
distâncias inferiores a 500 quilômetros, o modal rodoviário seria o mais adequado, para
distâncias entre 500 e 1.200 quilômetros, o recomendado seria o ferroviário e para distâncias
superiores a 1.200 quilômetros, o mais indicado seria o hidroviário.
O transporte de carga rodoviário, por caminhão, apresenta maior adaptação às
variações da demanda, pois pode-se escolher o mercado que mais se adapta aos investimentos
efetuados. Essa facilidade resulta na estabilidade do custo fixo por unidade transportada em
relação ao volume de carga, que não é encontrada no modal ferroviário, por exemplo, em que
os investimentos são efetuados para absorver determinados volumes, muitas vezes não
atendidos.
Em relação à capacidade de carga, os modais ferroviário e hidroviário são os de
melhor desempenho, por transportar grandes volumes, com elevada eficiência energética,
principalmente em casos de deslocamentos de TKU (tonelada/quilômetro útil), se comparado
com o rodoviário (ANTT, 2007a; ANTT, 2007b). Apesar de, conforme expõe Martins (2001),
já estarem sendo utilizadas novas tecnologias para o setor rodoviário que favorecem no ganho
de produtividade por veículo, como é o caso do Bi-trem. Este tem capacidade para transportar
até 36 toneladas, com o mesmo cavalo mecânico e motorista, aumentando o valor final do
frete recebido e mantendo a mesma relação unitária (R$/t).
O transporte hidroviário tem como característica a movimentação de cargas volumosas
de baixo valor agregado a baixas velocidades. Por isso é indicado para percursos de longas
distâncias, em que obtém menor consumo de combustível em relação aos outros modais em
condições semelhantes de cargas e distâncias. Apresenta grande diferencial em relação à
31
preservação do meio ambiente devido à capacidade de movimentação com baixa emissão de
poluentes. Dessa forma, esse modal se assemelha com o ferroviário. Entretanto, segundo
Caixeta-Filho (2001), um conjunto de barcaças consome menos da metade do combustível
requerido por um comboio ferroviário. A partir desta argumentação, é possível prever a
economia em relação ao modal rodoviário.
Quanto à flexibilidade, o modal ferroviário apresenta um desempenho oposto ao do
rodoviário. Enquanto o modal rodoviário tem como vantagem a entrega ponto-a-ponto, o
modal ferroviário tem seus percursos estabelecidos de acordo com a malha instalada, que nem
sempre atende às exigências do cliente, necessitando de complementação por outro modal. O
mesmo ocorre em relação ao modal hidroviário, que depende de vias fluviais naturais para sua
navegação.
O arranjo adequado dos transportes promove a competição e eficiência dos produtos
transportados e fornece condições para o crescimento econômico. A adoção de estratégias
para a integração entre os modais de transporte se torna muito importante, mas há de se
consolidarem como efetivamente competitivas e integradas às alternativas ferroviária e
hidroviária à opção rodoviária.
A seguir serão detalhadas algumas características dos modais rodoviário, ferroviário e
hidroviário, utilizados para o transporte de cargas no Brasil.
Modal rodoviário
De acordo com Melo (2007), o transporte rodoviário é o principal sistema de
transporte no Brasil. A predominância desse modal se deve a diversos fatores como: a
legislação vigente, que facilita a entrada no mercado devido ao baixo investimento, se
comparado aos outros modais; a falta de investimentos nas ferrovias e nas hidrovias; a
fragilidade da administração pública, muito presente nas duas últimas modalidades e ausente
na rodoviária. Além desses fatores, até meados da década de 50, eram bastante incipientes os
esforços para a coordenação de sistemas de transportes no Brasil. O PIB não chegava a US$
30 bilhões e as exportações se limitavam praticamente ao café. A partir daquele período, o
desenvolvimento se acentuou, o que possibilitou a implantação da indústria automobilística e
a diversificação da pauta de exportações, em que ocorre a predominância crescente para os
manufaturados. Daqueles anos para os atuais, o PIB cresceu 30 vezes e estimulou ainda mais
a expansão da malha de transportes, principalmente a rodoviária.
32
Conforme a Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT (2007b), o transporte
rodoviário de cargas brasileiro opera em regime de mercado livre, sem exigências para
entrada e saída do mercado. Não existe no país legislação específica no campo dos transportes
para o exercício dessa atividade, em que prevalece a ausência das figuras de autorização,
permissão e concessão dos serviços. A falta de barreiras de entrada e saída nesta atividade
pode ser a causa de maior utilização deste modal para o transporte de todo o tipo de produto
no país, principalmente quanto às cargas agrícolas, em que sua participação é muito
expressiva.
A falta de regulamentação promove uma dinâmica de entradas e saídas que, em
conseqüência, provoca uma concorrência desse modal com os demais de forma predadora e
insustentável no longo prazo. Caixeta-Filho (2001) alerta que os transportadores rodoviários
mal conseguem cobrir suas despesas operacionais com as remunerações obtidas com os fretes,
o que torna inviável constituir reservas para o ressarcimento dos custos fixos envolvidos na
atividade.
O livre acesso à atividade de transporte rodoviário e também as facilidades de
financiamento oferecidas pelo mercado financeiro para a aquisição de veículos e
equipamentos permitem aos autônomos a exploração desses serviços sem planejamento e
controle adequados do capital investido, o que promove a fixação de tarifas menores do que o
mercado suporta. Esse comportamento prejudica a rentabilidade do modal rodoviário e afeta o
desempenho de outros modais concorrentes.
A eficiência desse modal de transporte exige rodovias com plenas condições de uso e,
conforme apontado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA (2005), o
estado das estradas no país é precário. Além disso, segundo Reis (2007), prevalece o costume
de os caminhões transportarem cargas acima do peso na busca de melhores rendimentos.
Algumas das conseqüências do excesso de carga são: o transbordamento do produto e o
desgaste do veículo, além de multas nos postos de pesagem. Esses inconvenientes geram
perdas expressivas durante todo o percurso. O problema pôde ser comprovado por meio de
estudos elaborados pelo IBGE (2004), em que ficou constatado pelos Indicadores
Agropecuários referentes ao período entre os anos de 1996 e 2003, que 67% das cargas
brasileiras são deslocadas pelo modal rodoviário, sendo apontadas perdas com relação à
produção agrícola e, conforme a CNA (2005), ocorreu um prejuízo no valor aproximado de
R$ 2,7 bilhões com o derrame de grãos durante o transporte rodoviário, a cada safra.
O Brasil é um país de grandes dimensões territoriais e, de acordo com a ANTT
(2007b), a extensão da malha rodoviária brasileira é de 1,75 milhão de quilômetros, sendo
33
aproximadamente 93 mil quilômetros de rodovias federais, 276 mil quilômetros de rodovias
estaduais e 1,3 milhão de quilômetros de rodovias municipais.
A dificuldade de manutenção das rodovias pelo Governo Federal provocou, no início
de 1995, o desenvolvimento do Programa de Concessões de Rodovias. Neste processo foram
transferidos 13,7 mil quilômetros de rodovias, concedidos pelo Ministério dos Transportes e
governos estaduais, mediante delegações com base na Lei nº 9.277/96 e pela ANTT. Em
decorrência desse evento, estes serviços de utilidade pública puderam ser operados pela
iniciativa privada, permitindo a descentralização das atividades estatais na área de transporte.
A idéia principal dessa transferência de responsabilidade era possibilitar ao Estado a alocação
de maiores verbas para as atividades sociais, que não podem ser delegadas à iniciativa
privada.
A extensão total de rodovias pedagiadas, em 2005, era de 10,7 mil quilômetros, em
que 9,7 mil quilômetros estão concedidos para a administração da iniciativa privada, o que
perfaz um total de 37 trechos, equivalentes a 163 praças de pedágio. No dia 9 de outubro de
2007, o Governo Federal promoveu o leilão de concessão de estradas, que contemplou mais
2.600 quilômetros, dividido em sete lotes. No estado do Paraná foram arrematados alguns
trechos ainda não validados pelo Ministério dos Transportes e que antes não estavam
disponibilizados para a operação da iniciativa privada, que compreendem a BR-116, que liga
Curitiba a São Paulo e Porto Alegre, a BR-376 e a BR-101 entre Curitiba e Florianópolis.
Segundo o Governo Federal, essas concessões têm como propósito minimizar os gargalos de
infra-estrutura.
Com o propósito de posteriormente se fazer comparações, foram relacionadas na
Tabela 3 as tarifas de fretes para o transporte rodoviário da soja a granel. Foram apontadas
algumas rotas das principais regiões produtoras desses produtos no país, disponíveis pelo
Sistema de Informação de Frete (Sifreca), do Departamento de Economia, Administração e
Sociologia da ESALQ/USP, que realiza pesquisas sobre o transporte de cargas diversas, com
destaque para produtos agrícolas, disponibilizados eletronicamente pela Internet ou por meio
de contratos específicos. As faixas de distâncias foram estratificadas em 100 quilômetros para
facilitar a análise.
34
Tabela 3 - Frete rodoviário de soja a granel: 24.3.2007 – 03.8.2007
Preço de frete no Brasil para cada origem e destino
Faixa
Distância
(Km)
Km R$/t
R$/
(t.Km)
Origem UF Destino UF Período
79 15 0,19 Terra Boa PR Maringá PR 24/03 a 20/04
75 15 0,20 Quirinópolis GO São Simão GO 27/07a 03/08
0 a 99
52 12 0,23 Almerindonópolis GO Itumbiara GO 23/06 a 20/07
143 14 0,10 Montividiu GO Jataí GO 23/06 a 20/07
178 26 0,15 Rio Verde GO São Simão GO 24/03 a 20/04
100 a 199
158 30 0,19 Unaí MG Brasília DF 04/05 a 11/06
270 28 0,10 Balsas MA Porto Franco MA 04/05 a 11/06
270 28 0,10 Balsas MA Porto Franco MA 27/07a 03/08
222 28 0,13 Icaraíma PR Maringá PR 24/03 a 20/04
200 a 299
263 45 0,17 Guiratinga MT Alto Garças MT 24/03 a 20/04
300 a 399 ... ... ... ... ... ... ... ...
400 a 499 484 36 0,07 Posto Guaiba MS Maringá PR 23/06 a 20/07
493 50 0,10 Unaí MG Uberlândia MG 27/07a 03/08
419 50 0,12 Ituverava SP Mairinque SP 24/03 a 20/04
475 62,5 0,13 Colina SP Guarujá SP 24/03 a 20/04
500 a 599 ... ... ... ... ... ... ... ...
709 54 0,08 Taporã MS Rondonópolis MT 23/06 a 20/07
715 60 0,08 Aral Moreira MS Clevelândia PR 23/06 a 20/07
690 60 0,09 Sinop MT Cáceres MT 04/05 a 11/06
721 66,2 0,09 Lucas do Rio Verde MT Alto Araguaia MT 24/03 a 20/04
600 a 799
743 75,5 0,10 Almeida MG Santos SP 27/07a 03/08
800 a 899 ... ... ... ... ... ... ... ...
940 69,5 0,07 Campos de Júlio MT Porto Velho RO 23/06 a 20/07
940 74,08 0,08 Campos de Júlio MT Porto Velho RO 24/03 a 20/04
900 a 999
993 120 0,12 Maracaju MS Paranaguá PR 24/03 a 20/04
1010 70 0,07 Balsas MA São Luís MA 27/07a 03/08
1000 a 1099
1035 95 0,09 Roda Velha BA Aratu BA 27/07a 03/08
1100 a 1199 ... ... ... ... ... ... ... ...
1200 99,5 0,08 Deciolândia MT Porto Velho RO 04/05 a 11/06
1200 a 1299
1200 97 0,08 Deciolândia MT Porto Velho RO 23/06 a 20/07
1300 a 1399 ... ... ... ... ... ... ... ...
1400 a 1499 ... ... ... ... ... ... ... ...
1573 78 0,05 Luís E. Magalhães BA Feira de Santana BA 04/05 a 11/06
1600 a 1699 ... ... ... ... ... ... ... ...
1700 a 1799 1731 130 0,08 Barreiras BA Fortaleza CE 04/05 a 11/06
1800 a 1899 ... ... ... ... ... ... ... ...
1900 a 1999
... ... ... ... ... ... ... ...
2180 162 0,07 Sorriso MT Paranaguá PR 04/05 a 11/06
2000 a 2199
2180 162 0,07 Sorriso MT Paranaguá PR 23/06 a 20/07
Fonte: Sifreca (2007)
35
O preço médio do frete rodoviário até cem quilômetros é de R$ 0,21 por tonelada/
quilômetro. Na faixa entre cem e quinhentos quilômetros, o preço cai para quase 30%. A
partir de quinhentos quilômetros o preço médio do frete cai para R$ 0,09 por tonelada/
quilômetro, variando em até dois centavos para as faixas acima de mil quilômetros.
Percebe-se a ocorrência de algumas diferenças na cobrança de fretes entre regiões e
distâncias. Esse fenômeno pode existir devido à falta de planejamento e regulamentação para
entradas e saídas na atividade, conforme mencionado anteriormente, o que provoca forte
concorrência entre os transportadores, e que afeta o desempenho dos preços dos fretes. Outro
fator relevante para essa oscilação é o estado precário das estradas em cada região, que exige
maiores esforços em manutenção e conserto dos veículos.
Modal ferroviário
O sistema ferroviário brasileiro possui mais de 29 mil quilômetros de extensão, em
que são concedidos para a iniciativa privada aproximadamente 28,8 mil quilômetros. Na sua
implantação, teve como principal objetivo interligar vários estados do país, principalmente as
regiões próximas aos portos de Parati, Angra dos Reis e de Santos.
O processo de transferência para a iniciativa privada ocorreu a partir da inclusão da
Rede Ferroviária Federal S.A. no Programa Nacional de Desestatização (PND), pelo Decreto
473/92. Essa concessão é por um período de trinta anos, prorrogáveis pelo mesmo tempo.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que está vinculada ao
Ministério dos Transportes (MT), é responsável por esse sistema ferroviário e atua na
exploração da infra-estrutura e na prestação do serviço público de transporte ferroviário de
cargas e de passageiros.
A partir do início do processo de desestatização, a quantidade de cargas movimentadas
nas ferrovias brasileiras aumentou em torno de 26%. Os investimentos permitiram um
incremento da capacidade a ser transportada em 68% entre 1996 e 2001. As melhorias
decorrentes da desestatização também contribuíram para a redução de acidentes.
As principais ferrovias que operam na malha ferroviária brasileira estão ilustradas na
Figura 1, sendo elas: América Latina Logística (ALL), Companhia Ferroviária Nordeste
(CFN), Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) - que opera a Estrada de Ferro Carajás (EFC)
e a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) -, Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA),
Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. (Ferroeste), Ferrovia Tereza Cristina S.A. (FTC), MRS
Logística S.A., Ferrovia Novoeste S.A. e Ferrovias Bandeirantes S.A. (Ferroban).
36
Figura 1 – Percursos das principais ferrovias do Brasil
Fonte: Ministério dos Transportes (2007b)
A composição da malha ferroviária paulista interliga o estado a diversas regiões do
país. De acordo com Lacerda (2005), os principais trechos ferroviários têm acesso ao Porto de
Santos e por isso, é interessante detalhar esses percursos, constantes na Tabela 4.
Tabela 4 - Trechos da malha ferroviária paulista com destino ao Porto de Santos
TRECHOS KM LINHA CONTROLADORA DEPENDENTES
Rubião Júnior a Mairinque 209 bitola métrica Novoeste ALL
Campinas a Mairinque 89 três trilhos Ferroban FCA
Mairinque a Evangelhista de
Souza
103 três trilhos Ferroban FCA, Novoeste e ALL
Evangelhista de Souza a
Paratinga
41 dupla Ferroban FCA, Novoeste e ALL
Paratinga a Perequê 19 três trilhos Ferroban FCA, Novoeste e ALL
Perequê a Conceiçãozinha 25 três trilhos MRS
Ferroban, FCA, Novoeste e
ALL
Perequê a Valongo 16 bitola larga MRS
Ferroban, FCA, Novoeste e
ALL
Valongo a Ponta da Praia MRS e Ferroban FCA, Novoeste e ALL
Fonte: Lacerda (2005)
37
Um resumo das tarifas praticadas por algumas empresas ferroviárias para o transporte
de cargas, especificamente de soja a granel, está demonstrado na Tabela 5.
Tabela 5 - Tarifas de frete ferroviário: 24.3.2007 – 20.7.2007
Origem UF Destino UF km R$/t R$/t.Km Período
Maringá PR Paranaguá PR 497 35,00 0,07 24/03 a 20/04
Porto Franco MA São Luís MA 713 40,15 0,06 24/03 a 20/04
Porto Franco MA São Luís MA 713 40,15 0,06 23/06 a 20/07
Pederneiras SP Santos SP 520 41,00 0,08 23/06 a 20/07
Fonte: Sifreca (2007)
Levando-se em consideração a Tabela 5, são verificadas diferenças nas tarifas, por
tonelada/quilômetro, praticadas pelo modal ferroviário, em comparação com as do modal
rodoviário, constantes na Tabela 3. O preço do frete rodoviário, para distância de 493
quilômetros, é de R$ 0,10, enquanto o frete ferroviário, para a distância equivalente, de 497
quilômetros, é de R$ 0,07, o que significa 30% a menor do que o rodoviário.
Neste trabalho de pesquisa serão tratadas com maiores detalhes as características das
ferrovias ALL, Ferroeste, MRS, Novoeste e Ferroban, por fazerem parte dos percursos em
análise.
- América Latina Logística (ALL)
A ALL, que anteriormente era denominada de Ferrovia Sul Atlântico S.A., obteve a
outorga de concessão para a operação da Malha Sul no início de 1997 e iniciou a operação de
serviços públicos de transporte ferroviário de cargas em março de 1997. Desde então, a
Ferrovia atua na área dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com uma
extensão aproximada de 6,5 mil quilômetros em bitola
1
métrica (1,00 metro). Suas principais
cargas são: farelo de soja, soja, arroz, adubo, álcool e derivados de petróleo.
Em maio de 2006 assumiu o controle das ferrovias Ferroban, Ferronorte e Novoeste e
conforme a empresa, a malha estava em condições precárias de uso e manutenção, pois 42%
de vagões estavam sem possibilidade de uso, o que representava 5,3 mil vagões parados em
oficinas e ao longo do trecho. Por isso, foi lançado um programa para reparos nos vagões,
locomotivas e trilhos, com o intuito de reduzir o número de acidentes e aumentar a
disponibilidade para o transporte naquelas malhas.
1
Distância padrão entre os trilhos.
38
Em seu percurso ocorrem várias conexões com outras empresas ferroviárias, como
com a Ferroeste em Guarapuava (PR), com a Ferrovia Argentina em Paso de Los Libres e
com a Ferrovia Uruguaia em Riviera, possuindo também conexão intermodal com os Portos
de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC), Porto Alegre e Rio Grande (RS).
-Ferrovia Novoeste S.A.
A outorga de concessão para a Ferrovia Novoeste S.A. operar os serviços públicos de
transporte ferroviário de cargas foi concedida em junho de 1996. Suas operações foram
iniciadas em julho de 1996 e, conforme mencionado anteriormente, a partir de maio de 2006,
o controle dessa ferrovia foi assumido pela ALL.
A extensão dessa malha é de 1,6 mil quilômetros, que atende aos estados de São Paulo
e Mato Grosso do Sul em bitola métrica. As principais cargas transportadas são: o minério de
ferro e manganês, derivados de petróleo, soja, produtos siderúrgicos e farelo de soja. Ela faz
conexão com a Ferroban em Bauru (SP) e com a Ferrovia Boliviana em Corumbá (MS). Há
também a conexão com o Porto Esperança e com o Terminal Hidroviário de Ladário, ambos
no rio Paraguai (MS).
-Ferrovias Bandeirantes S.A. (Ferroban)
A Ferroban pertence à Rede Ferroviária Federal S.A. e recebeu a outorga de concessão
para operar o serviço público de transporte ferroviário da malha ferroviária paulista em
dezembro de 1998. Suas operações se iniciaram em janeiro de 1999 e abrangem os estados de
São Paulo e Minas Gerais, com extensão aproximada de 4,2 mil quilômetros, sendo 2,4 mil
quilômetros com bitola métrica, 1,5 mil quilômetros com bitola de 1,60 metro e 301
quilômetros com bitolas mistas de 1,00 metro e de 1,60 metro. O controle dessa ferrovia
também foi assumido pela ALL, a partir de maio de 2006.
Essa ferrovia faz interconexões em Uberaba (MG) com a FCA, nos municípios
paulistas de Jundiaí, Lapa e Perequê com a MRS Logística S.A., nos municípios de
Pinhalzinho (PR) e Ourinhos (SP), com a ALL e em Bauru (SP), com a Ferrovia Novoeste
S.A.. Também faz interconexão com o Porto de Santos (SP), com os terminais fluviais de
Pederneiras (SP), de Panorama (SP) e de Presidente Epitácio (SP).
39
-MRS Logística S.A.
A MRS Logística S.A. obteve a outorga da concessão da Malha Sudeste em novembro
de 1996. Iniciou suas operações de serviços públicos de transporte ferroviário de cargas em
dezembro de 1996. A extensão da malha é de 1,6 mil quilômetros de ferrovia e atua nos
estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais em bitola de 1,60 metro e mista (1,60 e
1,00 metro). A ferrovia tem a participação acionária da Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN) e suas principais cargas transportadas são: o minério de ferro, coque, enxofre, calcário,
containeres, cimento, produtos siderúrgicos, carvão e ferro-gusa.
A interconexão nessa ferrovia ocorre com a FCA em Engenheiro Lafaiete Bandeira,
Ferrugem e Miguel Burnier (MG) e Três Rios (RJ), com a EFVM no pátio intermediário da
Açominas (MG), com a Ferroban em Jundiaí, Lapa e Perequê (SP). Os portos interligados à
ferrovia são os do Rio de Janeiro (RJ), Sepetiba (RJ) e Santos (SP).
-Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. (Ferroeste)
A Ferroeste é uma empresa do estado do Paraná que detém concessão para construir e
operar estradas de ferro entre as cidades de Guarapuava (PR) e Dourados (MS). A outorga de
concessão ocorreu em outubro de 1988. Em março de 1997, a Ferroeste subconcedeu sua
malha à empresa privada Ferrovias do Paraná S.A. (Ferropar) para explorar o serviço público
de transporte ferroviário de carga entre Guarapuava e Cascavel (PR), perfazendo 249,4
quilômetros na ferrovia. A partir do segundo semestre de 1998, a Ferroeste e o Ministério dos
Transportes autorizaram a empresa ALL a participar do consórcio formado para constituir a
Ferropar, em igualdade de condições com os demais controladores. Em dezembro de 2006 foi
decretada a falência em primeira instância da Ferropar e em junho de 2007 a sentença foi
confirmada, sendo reassumida pela Ferroeste a malha ferroviária. As principais cargas
transportadas são: soja, farelo de soja, calcário, cimento, adubo e trigo.
Existem dois trechos que estão sendo estudados para a ampliação da malha Ferroviária
da Ferroeste. Um deles interliga Cascavel a Guaíra e o outro interliga Cascavel a Foz do
Iguaçu. O primeiro percurso possui um projeto de engenharia concluído, porém está
aguardando a obtenção de recursos para a implantação.
Os principais pátios para a movimentação de mercadorias transportadas pela ferrovia
localizam-se nos extremos da ferrovia, ou seja, em Cascavel e Guarapuava.
40
Modal hidroviário
De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2006a), o transporte
aquaviário é dividido em dois subsistemas, o fluvial e o marítimo, e se caracteriza por utilizar
rios, lagos e oceanos para o deslocamento de pessoas e mercadorias dentro do mesmo país ou
entre diferentes nações.
Este trabalho enfoca a hidrovia, que é um subsistema do transporte aquaviário e utiliza
os rios para a navegação. A hidrovia interior é uma denominação utilizada para designar as
vias navegáveis por rios, lagos ou lagoas que foram balizadas e sinalizadas, dispondo de
cartas de navegação para um determinado tipo de embarcação (comprimento, largura e
altura). O balizamento pode ser entendido como a demarcação da via aquática por meio de
colocação de bóias que auxiliam a navegação, a sinalização é feita pelas placas colocadas às
margens dos rios para orientação dos navegantes e as cartas de navegação são mapas
delimitadores das rotas de navegação (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2007a). Existem
hidrovias interiores de tráfego apenas diurno e outras franqueadas para a navegação noturna.
Estas restrições ocorrem em função do tipo de balizamento e de sinalização adotados.
O órgão que supervisiona e fiscaliza as atividades de prestação de serviços de
transporte aquaviário e de exploração da infra-estrutura portuária e aquaviária no Brasil,
exercida por terceiros, é a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), criada
pela Lei nº 10.233, de 5 de junho de 2001 e vinculada ao Ministério dos Transportes (MT).
Essa agência que autoriza a navegação tem como responsabilidade a arbitragem dos conflitos
de interesse, impedindo situações que configurem competição imperfeita ou infração contra a
ordem econômica (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2006a).
O transporte efetuado pelo modal hidroviário promove, desde tempos imemoriais,
integração física, econômica e cultural de regiões de um país, bem como a integração de
países e de continentes. Contudo, o surgimento de outros modos eficientes de transporte,
como as ferrovias e posteriormente as rodovias, ofuscou a ênfase nas vantagens do transporte
hidroviário, o que não ocorreu em países como os Estados Unidos, a China, e alguns países da
União Européia, em que esse modal desempenha papel fundamental na matriz de transportes.
Na visão de Caixeta-Filho (2001), esse transporte pode ser, resumidamente,
caracterizado pela movimentação de cargas volumosas de baixo valor agregado, a baixas
velocidades, sendo o mais indicado para movimentações em longas distâncias e apresentando
o menor consumo de combustível, comparado aos outros modais de transporte.
41
No Brasil, há pouca utilização do modal hidroviário, devido a fatores culturais,
provocados pela forma como as políticas de interiorização dos transportes foram traçadas e
também, pelos rios brasileiros, com exceção do sistema Tietê-Paraná, não estabelecerem
ligações entre centros econômicos importantes, promovendo a necessidade de várias
operações de transbordo até o destino final. Essas operações provocam custos operacionais e
perdas, que servem de desestímulo para programas de investimentos para o uso da hidrovia.
Para se ter uma idéia da importância desse modal na matriz de transporte de cargas, é
interessante trazer exemplos de países desenvolvidos que apresentam bom desempenho em
logística. Um desses casos é o dos Estados Unidos da América, em que esse modal de
transporte é muito utilizado, apesar das distâncias percorridas, até os portos marítimos, serem
superiores a mil quilômetros.
Nos Estados Unidos, o transporte hidroviário é efetuado principalmente por meio dos
rios Alto Mississippi e Illinois, em que quantidades importantes de milho, soja e trigo,
destinados à exportação, são movimentadas para a área do porto no rio baixo Mississippi
(FULLER, 1998). Nesses casos, são efetuadas grandes composições a um baixo custo. Em
análises feitas pela Universidade de Missouri em 2004, verificou-se que os rendimentos de
produtores de milho, soja e trigo, no norte central dos Estados Unidos, podem declinar quase
350 milhões de dólares por ano, caso aquelas hidrovias fiquem indisponíveis para o transporte
desses produtos. Segundo o estudo, o declínio desses rendimentos é conseqüência dos
carregamentos efetuados por modalidades mais caras, como por caminhão e trem, e também
pelas quantidades crescentes que são enviadas para o mercado doméstico, com preços mais
baixos.
Em avaliação aos programas de manutenção das hidrovias brasileiras, efetuada pelo
Tribunal de Contas da União – TCU, foram apontadas deficiências na manutenção das
hidrovias, como inexistência de balizamento ou má localização, trechos com placas
danificadas, mal localizadas ou sem sinalização. Além disso, a sinalização foi considerada não
confiável e relatou-se a ocorrência de trechos sem condições de navegação, por falta de
desassoreamento e dragagem, o que leva à não-utilização de todo o potencial das hidrovias
(BRASIL, 2006).
Cada hidrovia demanda intervenções e atividades de manutenção distintas, devido às
suas características e necessidades diferenciadas, como as variações dos níveis de água entre
os períodos de cheia e estiagem, existência de paliteiros
2
, pedras e bancos de areia. Na
2
Grandes troncos de madeira que se soltam das matas ciliares nas cheias e que podem provocar acidentes.
42
avaliação do TCU verificou-se que, exceto a hidrovia Tietê-Paraná, todas as outras
apresentam deficiências nas atividades que visam garantir as condições de navegação. O TCU
acredita que a atuação deficiente do Estado, na manutenção das hidrovias, faz com que a
iniciativa privada invista por conta própria, o que leva a compreender como a concessão e a
parceria público-privada tornam-se importantes para a viabilização das hidrovias.
De acordo com o Ministério dos Transportes (2007a), o transporte aquaviário ou
hidroviário, no Brasil, é composto por cinco principais hidrovias, sendo elas: a do Madeira, do
São Francisco, do Tocantins-Araguaia, do Paraná-Tietê e do Paraguai-Paraná. Estas hidrovias
transportam passageiros, veículos e cargas. As hidrovias estão inseridas nos rios pertencentes
às bacias hidrográficas brasileiras, constantes na Tabela 6.
Tabela 6 - Rede hidroviária brasileira - por bacias
BACIA
EXTENSÃO
(KM)
PRINCIPAIS HIDROVIAS
Amazônica 1.056 Hidrovia do Madeira
Tocantins / Araguaia 2.250 Hidrovia do Tocantins-Araguaia
São Francisco 1.371 Hidrovia do São Francisco
Paraná 2.400 Hidrovia Tietê-Paraná
Paraguai 3.442 Hidrovia Paraguai-Paraná
Fonte: Ministério dos Transportes (2007a)
A readequação do sistema de transportes irá auxiliar os esforços para a obtenção de
redução de custos logísticos. Por suas características de transporte para grandes volumes e
grandes distâncias, o sistema hidroviário agrega vantagens quanto à preservação ambiental e
na manutenção de custos inferiores aos demais modais.
O Brasil possui nove bacias, com 40 mil quilômetros de vias navegáveis e, conforme
demonstrado na Tabela 6, as cinco principais hidrovias são responsáveis pela navegação de
10,52 mil quilômetros. Esses números indicam que o transporte hidroviário deve ser
considerado como estratégia importante para a competitividade do país, que está inserido num
acelerado processo de globalização da economia mundial.
Apesar das dificuldades de implementação, o Governo Federal passou a desenvolver
planos para investimentos em infra-estrutura, o que permitirá a implantação de um sistema
hidroviário interior, com a integração multimodal. Alguns deles são a implementação das
hidrovias do Madeira, do Tapajós, do Marajó, do Capim, do Tocantins-Araguaia, do São
43
Francisco, do Tietê-Paraná, do Paraguai, do Mercosul e as eclusas
3
de Tucuruí e de Lajeado.
Esses projetos procuram atender parte da política de interiorização dos transportes, traçada
pelo Governo Federal.
Os preços dos fretes, praticados pela hidrovia, podem ser verificados na Tabela 7,
referentes ao período entre 24 de março de 2007 e 20 de julho de 2007.
Tabela 7 – Preços dos fretes hidroviários: 24.03.2007 – 20.07.2007
Origem UF Destino UF km R$/t R$/t.Km Período
São Simão GO Pederneiras SP 635 29,00 0,05
São Simão GO Anhembi SP 751 34,00 0,05
23/06 a 20/07
Porto Velho RO Itacoatiara AM 1116 42,98 0,04 24/03 a 20/04
Porto Velho RO Itacoatiara AM 1116 42,98 0,04 23/06 a 20/07
Fonte: Sifreca (2007)
Para distâncias acima de 600 quilômetros, a hidrovia apresentou o preço do frete, por
tonelada/quilômetro, inferior em quase 56%, relativo ao preço médio do frete rodoviário e em
comparação com a ferrovia, verificou-se uma diferença de quase 17%.
Entre as principais hidrovias, destaca-se como a de melhor condição quanto ao
balizamento e adequação à navegação, a hidrovia Tietê-Paraná. A seguir as principais
características dessa hidrovia serão apresentadas.
-Hidrovia Tietê-Paraná
A hidrovia do Rio Paraná, juntamente com a hidrovia do rio Tietê, constituem a
Hidrovia Tietê-Paraná. O sistema hidroviário Tietê-Paraná possui 2,4 mil quilômetros de vias
navegáveis, desde os municípios paulistas de Piracicaba e Conchas, até a divisa com os
estados de Goiás e Minas Gerais, ao norte. Ao sul, faz divisa com os estados de Mato Grosso
do Sul e Paraná. Adentrando nesse último Estado, faz divisa com o Paraguai e, a partir de Foz
do Iguaçu, o rio Paraná toma a direção leste até a confluência com o Rio Paraguai e, desse
ponto, percorre a Argentina até o rio da Prata, que deságua no Oceano Atlântico. Para a
continuidade da hidrovia, a partir de Foz do Iguaçu deverá ser construído um canal de desvio
ou eclusa, para a passagem de nível na Usina Hidrelétrica de Itaipu. Por causa de seu
percurso, a hidrovia é popularmente denominada hidrovia do Mercosul.
3
Instalação que permite a embarcação vencer o desnível de uma barragem no leito do curso d'água.
44
A Administração da hidrovia Tietê-Paraná é desempenhada pela Administração das
Hidrovias do Paraná (AHRANA), órgão da sociedade de economia mista federal, vinculada
ao Ministério dos Transportes, Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP). Ela é
responsável pelo desenvolvimento das atividades de execução e acompanhamento de estudos,
obras e melhoramentos, serviços de manutenção, conservação e exploração das vias
navegáveis interiores, bem como dos portos fluviais e lacustres, que lhe sejam atribuídos pelo
DNIT. As ações referentes à infra-estrutura no rio Tietê estão sob o encargo do Departamento
Hidroviário (DH), da Secretaria dos Transportes do estado de São Paulo.
Caixeta-Filho (2001) destaca que o sistema de hidrovia Tietê-Paraná é de grande
importância para a solução de problemas de transporte, por estabelecer ligação entre centros
econômicos importantes. Apesar de o modal hidroviário ser mais vagaroso que os modais
rodoviário e ferroviário, apresenta, em média, um custo de transporte quase 50% menor do
que o transporte terrestre. Segundo Ballou (1993), o transporte hidroviário opera
principalmente com granéis, que por sua característica de baixo valor específico e não-
perecível, utiliza serviço lento e sazonal em troca de fretes baixos. Em estudo realizado pela
Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (2005), por meio do projeto de Portos
Intermodais, verificou-se a alta capacidade do transporte fluvial: considerou-se que uma
barcaça pode carregar mil e quinhentas toneladas, o que corresponde a 15 vagões ferroviários
de cem toneladas e 58 carretas rodoviárias de vinte e seis toneladas.
A hidrovia Tietê-Paraná apresenta particularidades distintas de outras hidrovias
brasileiras. Enquanto a maioria das hidrovias no Brasil opera sua navegação em trechos
naturais dos rios, ainda não transformados pela ação humana, os trechos navegados nos rios
Paraná e Tietê são constituídos por rios canalizados, correspondendo a uma sucessão de
reservatórios artificiais, construídos para a produção de energia hidrelétrica. O conceito de
exploração de usos múltiplos das águas originou-se nos projetos de melhoria dos rios da bacia
hidrográfica do Paraná na década de 1950, que procuravam estabelecer a prioridade no
desenvolvimento e interiorização da economia regional, baseado em energia elétrica e em
transporte baratos. O processo de integração das hidrovias do rio Tietê e do rio Paraná
dependeu da construção de eclusas, que consistiam em canais de transposição para a
continuidade do tráfego das embarcações.
O rio Tietê é afluente do rio Paraná e tem seu curso inteiramente no estado de São
Paulo. A bacia do rio Tietê é uma unidade hidrográfica da Bacia do Paraná e é composta por
seis sub-bacias: Alto Tietê, onde está inserida a região metropolitana de São Paulo;
Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha; e Baixo Tietê.
45
O mapa da hidrovia Tietê-Paraná está ilustrado na Figura 2, em que é possível
visualizar os percursos realizados nos rios Tietê e Paraná.
Figura 2 - Mapa da bacia do Tietê-Paraná
Fonte: Ministério dos Transportes (2007a)
No percurso da hidrovia do Tietê, ilustrado na Figura 2, verifica-se, de montante a
jusante, a presença de seis eclusas: 1) Barra Bonita; 2) Bariri; 3) Ibitinga; 4) Promissão; 5)
Nova Avanhandava; e 6) Três Irmãos. A extensão da hidrovia, a partir da eclusa de Barra
Bonita (SP) até a confluência com o rio Paraná, na barragem de Ilha Solteira, é de,
aproximadamente, 475 quilômetros.
Os terminais para desembarque de grãos instalados no rio Tietê para o atendimento da
hidrovia são: Terminal da Sartco, no Município de Piracicaba (SP); Terminal da Empresa
Paulista de Navegação Ltda., no Município de Anhembi (SP); Terminal da CNA, no
Município de Barra Bonita; Terminal Intermodal de Pederneiras, da Empresa Louis Dreyfus
Commodities, no Município de Pederneiras (SP); Terminal Intermodal de Conchas no
46
Município de Conchas (SP); Terminal Intermodal da Empresa CNA, no Município de
Araçatuba (SP); Terminal de Pereira, no Município de Pereira Barreto.
Os terminais instalados no rio Paraná para atendimento da hidrovia são: os Terminais
de Grãos da Empresa Sartco, localizados nos municípios de Presidente Epitácio e Panorama,
ambos no estado de São Paulo.
No Rio Paraná, o percurso realizado pela hidrovia do Paraná pode ser verificado na
Figura 2. No sentido de montante a jusante, a hidrovia inicia-se na barragem da Usina
Hidrelétrica (UHE) de São Simão, em São Simão (GO), no rio Paranaíba e na barragem da
UHE de Água Vermelha em Iturama (MG), no rio Grande, percorrendo estes dois rios, que
em sua confluência dão origem ao rio Paraná. O percurso continua até a foz do rio São José
dos Dourados, em que é necessário adentrá-lo para contornar a barragem da UHE de Ilha
Solteira, por não possuir eclusa para a transposição das embarcações.
Entre o rio São José dos Dourados e o rio Tietê, foi construído um canal denominado
Pereira Barreto, utilizado como eixo de ligação entre o tramo norte e tramo sul da hidrovia.
Após percorrer este canal, a hidrovia retorna ao rio Paraná por meio da transposição da eclusa
de Três Irmãos. No rio Paraná, realiza-se a transposição da eclusa de Jupiá e posteriormente a
de Porto Primavera. A partir desse ponto, não há mais eclusa alguma, seguindo a navegação
até a barragem da UHE de Itaipu em Foz do Iguaçu (PR).
A extensão navegável da hidrovia é de, aproximadamente, mil quilômetros, sendo
composta por sinais flutuantes (bóias cegas e luminosas) e fixos (placas de margens e torres
com faroletes para referência de margem). A AHRANA elaborou um Caderno de Navegação
aos usuários e segmentou as rotas em quatro trechos.
O trecho 1 está situado entre a Usina Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR) e a
entrada do canal de navegação, sob a ponte rodoviária de Guaíra (PR), apresentando
profundidades que variam entre 10 e 180 metros, com extensão de 170 quilômetros.
O trecho 2 estende-se desde o canal de navegação sob a ponte rodoviária de Guaíra até
a barragem da UHE de Porto Primavera, com a extensão de 245 quilômetros. Esse trecho é de
“corrente livre”, ou seja, não houve interferência humana.
O trecho 3 está situado na área de abrangência da Usina Hidrelétrica de Porto
Primavera, com extensão de 270 quilômetros. Adicional a este trecho, adentrando o rio Pardo
na margem direita do rio Paraná, são considerados 23 quilômetros como pertencentes à
hidrovia.
O trecho 4 apresenta boas condições de navegação, desde a foz do rio São José dos
Dourados até o Terminal de São Simão (GO), com um percurso de 55 quilômetros no rio
47
Paraná e 170 quilômetros no rio Paranaíba. Adicionalmente a este trecho, a hidrovia considera
80 quilômetros do rio Grande até Iturama (GO).
De acordo com o DH (2005), as lâminas d’água mínimas para embarcações que
navegam nos rios Paraná, Paranaíba e Grande, são de quatro metros, considerando a cota
mínima de navegação. Entretanto, nos trechos entre a Usina de Porto Primavera (SP) e o canal
de passagem sob a ponte de Guaíra (PR), as lâminas d’água poderão ser inferiores a dois
metros, dependendo das condições hidrológicas, devido à formação de bancos de areia e à
presença de rochedos nesse trecho.
Na hidrovia do Paraná, estão instalados onze terminais para o recebimento de cargas,
porém somente os terminais instalados em São Simão possuem infra-estrutura necessária para
o transbordo. Esses terminais estão relacionados na Tabela 8.
Tabela 8 - Terminais de cargas na Hidrovia do Paraná
Terminal Município (Estado) Carga Empresa Operadora
1 ADM Tubarão / S.Simão (GO) Grãos ADM Armazéns Gerais Ltda.
2 Caramuru S.Simão (GO) Grãos Caramuru Óleos Vegetais Ltda.
3 N. Roseira S. Simão (GO) Grãos Armazéns Gerais Nova Roseira
4 Coinbra S. Simão (GO) Grãos COINBRA Com. Exportação
5 Granol S. Simão (GO) - Grupo da GRANOL
6 Três Lagoas T. Lagoas (MS) Grãos Cargil Agrícola S.A.
7 Panorama Panorama (SP) Grãos Prefeitura Municipal
8 Pres. Epitácio P. Epitácio (SP) Grãos Prefeitura Municipal
9 Guaíra Guaíra (PR) Grãos Sartco Ltda/ Prefeitura e outras
10 T. Internacional Guaíra (PR) Diversos Prefeitura / F. Andreis Ltda.
11 Sta. Helena Santa Helena (PR) Diversos Prefeitura / Parceria
Fonte: AHRANA (2006b)
Na hidrovia Tietê-Paraná ocorre o escoamento da produção de soja da região Centro-
Oeste brasileira que se inicia em São Simão (GO) e termina em Conchas (SP). De acordo com
a Agência de Desenvolvimento Tietê-Paraná - ADTP (2006), a falta de infra-estrutura
adequada para a navegação, faz com que, ao longo de uma viagem neste percurso, cada
comboio sofra doze desmembramentos para passar com segurança nas pontes e eclusas. Além
disso, no terminal hidroviário de São Simão (GO), todos os comboios precisam ser
vistoriados pela Anvisa, por ser um procedimento padrão nos portos do país. Esse
procedimento não ocorre para os carregamentos efetuados em caminhões e trens, refletindo
um tratamento diferenciado para o carregamento fluvial, o que implica em ficar retido mais
tempo e ser onerado com taxas extras.
48
A movimentação de cargas, pela hidrovia do Paraná, durante o período compreendido
entre janeiro e dezembro de 2006, está ilustrada na Tabela 9, em que foram estratificadas as
quilometragens percorridas entre os portos de origem e de destino, com a indicação das
empresas transportadoras, de seus principais produtos e, das respectivas quantidades
transportadas, em toneladas.
Tabela 9 - Movimentação de carga na Hidrovia do Paraná: janeiro - dezembro 2006
Origem Destino KM Tonelada Produção/KM Principais Produtos
Anhembi (SP) 759 135.490 102.836.910 Soja e Farelo
Perdeneiras (SP) 640 764.953 489.569.920 Soja e Farelo
Sta. Maria da Serra (SP) 740 79.079 58.518.460 Soja
Panorama (SP) 411 0 0 -
São Simão (GO)
Terminais Privativos:
Caramuru, ADM,
Coinbra/LDC, Nova
Roseira, DNP
Pres. Epitácio (SP) 475 0 0 -
Três Lagoas(MS) Sta.Maria da Serra (SP) 400 73.404 29.361.600 Farelo de Soja
Paulicéia (SP) Panorama (SP) 18 33.000 594.000 Areia
Panorama (SP) Pres. Epitácio (SP) 25 69.450 1.736.250 Cascalho/Areia 95%
Naviraí (MS)/Rio Ivaí Icaraíma (PR) 15 78.000 1.170.000 Areia
Rosana/Rio Paraná São Pedro 5 121.360 606.800 Areia
Mundo Novo/R. Paraná Terra Rocha (PR) 10 70.304 703.040 Areia
Mundo Novo/R. Paraná Guaíra (PR) 12 130.072 1.560.864 Areia
S.Terezinha de Itaipu (PR) 180 157.146 28.286.280 Areia
Salto Del Guayrá (PY) 10 7.266 72.660 Pneus e máquinas
Guaíra (PR)
Salto Del Guayrá (PY) 10 101.915 1.019.150 Calcário / Fertilizante
Sta. Helena (PR) Porto Itaipú Porã 30 53.491 1.604.730 Calcário/ Fertilizantes/ Semente 0,5%
Panorama (SP) 405 0 0 -
Pres. Epitácio (SP) 341 0 0 -
Salto Del Guayrá
Tedesa (PY)
Guaíra (PR) 10 349.937 3.499.370
Soja, Milho, Trigo, Madeira/Carvão,
Carne,Arroz
Porto Itaipu Porá (PY) Sta. Helena (PR) 30 242.516 7.275.480
Soja,Milho,
Mad./Carv.,Trigo,Mandioca,Arroz,Alg.
São Simão (GO) 1100 0 0 Trigo
Sta.Maria da Serra (SP) 1100 11.850 13.035.000 Soja e Trigo
Panorama (SP) 590 0 0 -
Hernandárya
La Paz / Xuxa (PY)
Pres. Epitácio (SP) 526 0 0 -
Total Geral de Ton. Movimentadas Rio Paraná 2.479.233 741.450.514
Total Ton. Mov. Origem e Destino Rio Tietê 1.500.000 82.500.000 Cana /Madeira/Areia e outro
TOTAL GERAL TIETÊ-PARANÁ - 3.979.233 823.950.514 -
Notas:
Não incluídas mov. de areia do leito do rio até a margem de até 9 km (aprox. 1.600.000 ton/ano)
Não incluídas mov. das travessias nacionais. Estimativa de mov. de aprox. 1.000.000 ton/ano (diversos, incluindo veículos)
Fonte: AHRANA (2006b)
49
No ano de 2003, a hidrovia movimentou 2,24 mil toneladas de produtos e em 2006,
esse volume aumentou para 3,98 mil toneladas. Houve, portanto, um crescimento em mais de
56% na movimentação, nos três anos, ou ainda, um crescimento de mais de 18% ao ano. O
total movimentado no rio Paraná, em 2003, foi de 1,54 mil toneladas e no rio Tietê, foi de 699
toneladas. No ano de 2006, perfizeram 2,48 mil toneladas e 1,5 mil toneladas,
respectivamente, indicando uma movimentação superior, no período, no leito do rio Paraná.
Verifica-se pela Tabela 9, que a soja a granel e o farelo tiveram uma movimentação
expressiva advindas do Paraguai, do Mato Grosso do Sul e de Goiás, com destino aos
terminais portuários de Santa Maria da Serra, Panorama e Porto Epitácio, percorrendo longos
trechos da hidrovia Tietê-Paraná.
A Figura 3 permite demonstrar as interconexões possíveis entre a hidrovia Tietê-
Paraná e os portos fluviais que possuem ferrovias e acesso às rodovias.
Figura 3 - Mapa de intermodalidade hidro-ferroviária
Fonte: AHRANA (2006b)
50
2.9.2 O transporte para granéis agrícolas da região Oeste do Paraná
Os modais utilizados para o transporte da produção de granéis agrícolas, da região
Oeste paranaense, são, predominantemente, o rodoviário e o ferroviário. A região possui rio
navegável pertencente ao sistema hidroviário Tietê- Paraná e, apesar de ser este considerado o
mais adequado para navegação, comparado aos outros sistemas existentes, ainda enfrenta
sérios problemas com restrições de profundidade e na falta de portos fluviais, necessários para
a operação de cargas, como as de granéis agrícolas. Algumas características desses modais de
transporte, na região, estão descritas a seguir.
Modal Rodoviário
A principal rodovia de ligação do extremo Oeste paranaense ao porto de Paranaguá, é
a BR-277, com 735 quilômetros de extensão. Ela pertence à malha rodoviária do Paraná, que
possui uma extensão aproximada de 15,8 mil quilômetros de rodovias, desmembradas em
rodovias pavimentadas, que perfazem, aproximadamente, 13,5 mil quilômetros e 2,3 mil
quilômetros de rodovias não pavimentadas. As concessionárias que operam nesses trechos são
responsáveis pelo melhoramento, recuperação, conservação, manutenção e prestação de
serviços aos usuários dessas rodovias. O conjunto de rodovias federais e estaduais, que forma
o principal corredor de transporte de bens econômicos do Paraná, é denominado de Anel de
Integração e faz a interligação aos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa
Catarina.
Na Tabela 10 estão demonstrados os valores dos pedágios cobrados pelas
concessionárias do Anel de Integração, nos percursos de interesse para este trabalho.
Tabela 10 – Tarifas de pedágio – percurso entre Toledo e Paranaguá
Trecho da Rodovia - Concessionária Km
Caminhão
6 eixos
R$/Km
Total R$
Toledo a Cascavel (BR-467) 45 0 0,00
Cascavel a Guarapuava – Rodovia das Cataratas (BR-277) 238 0,43 102,34
Guarapuava a Curitiba – Caminhos do Paraná 252 0,71 178,92
Curitiba a Paranaguá - Ecovia 86 0,61 52,46
Total 621 0,53 333,72
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
51
Os trechos pertencentes ao Anel de Integração estão ilustrados na Figura 4, em que o
trajeto entre Cascavel e o porto de Paranaguá, é administrado pelas concessionárias Rodovia
das Cataratas, Caminhos do Paraná e Ecovia, com 26 praças de pedágio que abrangem,
aproximadamente, 2,5 mil quilômetros de rodovias.
Figura 4 - Mapa do Anel de Integração Rodoviário no Paraná
Fonte: Rodovia das Cataratas (2007)
A Rodovia das Cataratas tem como área de abrangência o trecho de Guarapuava a Foz
do Iguaçu, onde são percorridos 381 quilômetros, com cinco praças de pedágios. O percurso,
sob a responsabilidade da Rodovia Caminhos do Paraná, está compreendido entre os
municípios de Guarapuava e Araucária, perfazendo, aproximadamente, 245 quilômetros,
tendo quatro praças de pedágio. A Ecovia administra o trecho entre Curitiba e Paranaguá,
perfazendo um percurso aproximado de 90 quilômetros, encerrando o caminho que liga a
região Oeste do Paraná ao porto de Paranaguá e possui uma única praça de pedágio.
A partir dos valores cobrados em cada praça de pedágio, a Tabela 11 pôde ser
construída. Nela são demonstrados os valores gastos, aproximadamente, por quilômetro, para
cada tipo de caminhão ou carreta, em cada trecho administrado pelas três empresas
concessionárias.
52
Tabela 11 - Tarifa por quilômetro no trecho de Foz do Iguaçu a Paranaguá - maio 2007
Veículo (Eixo) – R$
Administradora
3 4 5
6
Rodovia das Cataratas 0,21 0,29 0,36 0,43
Rodovia Caminhos do Paraná 0,35 0,47 0,59 0,71
Ecovia 0,31 0,41 0,51 0,61
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Nos valores cobrados por cada administradora, verifica-se que os da Rodovia das
Cataratas são bem inferiores aos cobrados pelas demais concessionárias. A maior diferença de
é R$ 0,28 por quilômetro rodado, para veículos de seis eixos, cobrados, a mais, pela Rodovia
Caminhos do Paraná, em relação à Rodovia das Cataratas. Esses valores, pagos pelo
transportador, referem-se somente às tarifas de manutenção, cobradas para trafegar na
rodovia, não consideradas as despesas com desgaste do veículo, salário do motorista e
despesas de frete.
Modal ferroviário
A malha ferroviária, pertencente ao trecho que liga a região Oeste do Paraná com o
porto de Paranaguá, é constituída por dois trechos. De Cascavel a Guarapuava, é operada pela
Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. (Ferroeste) e, a partir de Guarapuava até o porto de
Paranaguá, é operada pela América Latina Logística (ALL), que atua em outros trechos no
estado do Paraná, promovendo a interligação com os estados de São Paulo, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. Na região Oeste do Paraná, o modal ferroviário apresenta grande
potencial para maximizar suas operações, apesar de ainda serem necessárias várias ações para
melhorias na infra-estrutura. Segundo o Ministério dos Transportes (2007c), há
empreendimentos em análise de atração a investimentos privados para o atendimento às
demandas de infra-estrutura ferroviária, no trecho de 130 quilômetros da variante
Guarapuava-Ipiranga, que apresenta sérias restrições operacionais. A obra destina-se à
construção de um novo trecho ferroviário, em substituição ao atual, e, provavelmente
dependerá de parceria público-privada para sua realização. Apesar desse cenário, a
administração da estrada de ferro sofre de diversos problemas, que podem ser ilustrados por
alguns resultados negativos, como o apresentado pela ANTT (2003), quanto ao relatório anual
da operadora ferroviária de 2003, no qual foram previstos investimentos, para aquele ano, em
53
máquinas, equipamentos, telecomunicações e treinamentos, no montante R$ 11,6 milhões,
porém realizados somente R$ 52 mil, o equivalente a 0,45% do previsto.
No pátio de Cascavel, são movimentadas cargas que utilizam o terminal de transbordo
próprio da ferrovia e aquelas que utilizam os terminais dos clientes, instalados dentro do pátio
ferroviário. Também, foram instalados silos para armazenagem de produtos a granel, que
aguardam a transferência para os vagões ferroviários, denominados silos “pulmões”. Em
parceria com a Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (CODAPAR), a
operadora da ferrovia, então responsável pela operação do terminal ferroviário, instalou uma
Estação Aduaneira Interior (EADI), no pátio de Cascavel (PR), para o recebimento das cargas
a granel oriundas do Paraguai. São várias as empresas instaladas no terminal ferroviário de
Cascavel. As empresas Moinho Iguaçu e Imcopa formaram a Cascavel Comércio de Grãos
Ltda., para atuar no pátio da Ferroeste. Essa empresa dispõe de dois silos, para armazenagem
de 120 mil toneladas de soja a granel, que são enviadas para suas indústrias de moagem e
processamento de soja, nos municípios de Araucária (PR) e Guarapuava (PR) e também, para
a exportação, no porto de Paranaguá. A empresa Cimento Rio Branco, que faz parte do Grupo
Votorantin, possui um depósito para o recebimento de cimento, a ser distribuído na região. A
Cooperativa Agropecuária Cascavel Ltda. (Coopavel), possui um armazém para recebimento
e armazenagem de calcário a granel e de fertilizantes. Também, possui uma moega ferroviária
para a recepção destes produtos e, por toda esta estrutura estar inoperante, tem projetos para
instalar, no futuro, uma misturadora de fertilizantes, podendo assim, efetivamente, explorar o
local. A Cargill Agrícola S.A. possui, no pátio da ferrovia, quatro silos para armazenar soja
em grãos, que serão transferidos para sua indústria, no município de Ponta Grossa (PR). A
Bunge Alimentos S.A., tem um silo graneleiro e dois silos denominados “pulmões”, para a
armazenagem da soja a granel, que será transferida para sua indústria de moagem, no
município de Ponta Grossa (PR). A empresa também opera, desde 2004, uma fábrica de
fertilizantes, no terminal ferroviário de Cascavel.
Em Guarapuava, as operações de carga e descarga ocorrem no terminal ferroviário da
Cooperativa Agrária Entre Rios, que envia, para o porto de Paranaguá, o farelo de soja
produzido por sua unidade industrial em Guarapuava (PR) e recebe insumos, a granel, para
suas indústrias.
A partir de Guarapuava, a operação da ferrovia está sob a responsabilidade da ALL
Logística, que perfaz, até o porto de Paranaguá, mais de 490 quilômetros de estrada de ferro.
O percurso efetuado pela ferrovia, a partir de Cascavel (PR) até o porto de Paranaguá (PR), é
de, aproximadamente, 741 quilômetros.
54
Modal hidroviário
A opção pelo modal hidroviário, na região Oeste paranaense, apresenta a mesma
tendência nacional, de necessidade de “aculturação” hidroviária, conforme proposto por
Caixeta-Filho (2001), dependendo de operacionalização de terminais hidroviários, melhor
avaliação e redimensionamento de sistemas de eclusas e, após esse processo, uma redefinição
das chamadas “cargas hidroviárias”, normalmente de baixo valor agregado, em que podem ser
incluídas as cargas conteinerizadas. Esse processo pode ser contemplado com a
implementação eficaz dessa modalidade de transporte, na região Oeste do Paraná, tendo como
forte impulsionadora a abundância de leitos navegáveis do rio Paraná. Para isso, devem ser
promovidas adequações, principalmente em relação à navegação, no trecho de Guaíra até o
Porto Primavera. No tramo norte dessa hidrovia, ocorre uma movimentação considerável de
cargas, oriundas do Terminal de São Simão (GO) e destinadas ao Terminal de Pederneiras ou
Anhembi (SP).
De acordo com a Administração das Hidrovias do Paraná - AHRANA (2006a), a
prestação de serviços de manutenção e conservação no sistema de sinalização e balizamento,
fixa e flutuante, existente no rio Paraná e de seus formadores e afluentes, dos trechos do
reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu até a Usina Hidrelétrica de porto Primavera,
começou a ser realizada desde o processo de licitação, concorrido em novembro de 2004. O
trecho entre Guaíra (PR) e a UHE de porto Primavera é de 245 quilômetros, que permanece
em corrente livre e, em épocas de estiagem, há restrição do calado para apenas 1,5 metro,
como acontece no baixio
4
Morumbi, baixio Dom Carlos, baixio do Amambaí e porto Floresta.
Conforme exposto em literatura, o calado ideal para navegação é de 3,0 metros. Além disso,
em alguns trechos ocorrem desmembramentos das embarcações para as passagens em pontes,
como a de Guaíra, por exemplo, e nas eclusas, das diversas barreiras hidrelétricas construídas
ao longo do rio.
Conforme relatórios de navegabilidade disponíveis pela hidrovia Tietê-Paraná, estas
restrições de navegação, somente poderão ser eliminadas por meio de operações de reparos no
leito do rio, como já estão sendo desenvolvidas em outros trechos da hidrovia. De acordo com
o Ministério dos Transportes (2006a), já está sendo preparado para navegação, o trecho desde
a confluência dos rios Grande e Paranaíba, que formam o Rio Paraná, até a barragem da Usina
Hidrelétrica de Itaipu, numa extensão de 800 quilômetros. As ações referentes à infra-
4
Baixio significa um lugar raso ou com movimentação de banco de areia ou ainda com rochedo oculto sob a
água, perigoso para a navegação.
55
estrutura da via navegável como, por exemplo, o melhoramento das condições de navegação,
a manutenção da via, ou mesmo, a implantação da hidrovia, exceto as alusivas ao rio Tietê,
estão ao encargo da Administração das Hidrovias do Paraná (AHRANA) Esta é um órgão da
sociedade de economia mista federal, vinculado ao Ministério dos Transportes e Companhia
Docas do Estado de São Paulo (CODESP).
O problema enfrentado na região Oeste é conseqüência daqueles sofridos no contexto
nacional. Na avaliação feita pelo Tribunal de Contas da União dos programas de manutenção
das hidrovias, foi constatado que os superintendentes das administrações hidroviárias
encontram dificuldades no relacionamento com o DNIT. Eles citaram que os principais
problemas decorrem da morosidade no ressarcimento de recursos às companhias docas, da
falta de capacidade técnica da autarquia, das condições de fiscalização deficientes, do
departamento e da falta de política definida para o setor aquaviário. Segundo os entrevistados
na avaliação, deveria ser proposta uma política pelo Ministério dos Transportes (BRASIL,
2006).
Quanto à fiscalização ambiental, o TCU destacou a dificuldade de interação entre o
Ibama e as administrações hidroviárias. Dentre as principais reclamações, estão: a alta
rotatividade do pessoal do Ibama; a falta de trabalhos conjuntos com as gerências regionais; a
morosidade no atendimento de solicitações de autorizações e as dificuldades para a aprovação
de projetos de licenciamento ambiental.
Estes e outros projetos, que propiciem, sem prejuízo para a segurança ou o meio
ambiente, condições para elevar a produtividade, poderão permitir a ampliação da capacidade
para as cargas transportadas e melhorar o escoamento da produção agrícola da região Oeste
paranaense. Projetos parecidos foram concretizados, por meio de parcerias entre empresas
produtoras, de transportes, e o governo, as chamadas Parcerias Público-Privadas (PPP´s),
atuantes em algumas regiões do país, a exemplo das instalações do terminal fluvial de
Pederneiras, pela antiga empresa operadora, a Quintella.
Na região Oeste do Paraná, estão localizados três portos fluviais. O município de
Guaíra (PR) possui dois terminais portuários, sendo um deles o Terminal Internacional de
Guaíra, que é operado pela prefeitura municipal e pela empresa F. Andreis Ltda. Esse terminal
é utilizado para o embarque e desembarque de veículos, com embarcação do tipo Roll-
on/Roll-off, que possui rampas na proa, na popa e/ou nas laterais, para o deslocamento das
cargas sobre rodas. A movimentação média, por mês, neste terminal, é de 4,5 mil toneladas,
com capacidade operacional de 30 mil toneladas mensais. Ele está em bom estado de
conservação, porém não possui silos para armazenagem, moegas, guindastes e outros
56
equipamentos para o transbordo. Além disso, não possui outorga de autorização, para
exploração, fornecida pela ANTAQ. O outro terminal fluvial é o Terminal Portuário de
Guaíra, que está inoperante por muitos anos, devido à falta de calado e por apresentar
péssimas condições de conservação. Este terminal está utilizado como ponto de apoio
logístico para a empresa SARTCO Ltda.
No município de Santa Helena (PR), opera o terminal fluvial administrado pela
prefeitura municipal e fiscalizado pela Receita Federal. Sua movimentação média, mensal, é
de 3 mil toneladas de cargas, transportadas por carretas que embarcam e desembarcam no
porto, percorrendo mais de 20 quilômetros na travessia internacional entre Paraguai e Brasil.
O terminal está inoperante para cargas a granel, por não possuir silos para armazenagem,
moegas, guindastes e outros equipamentos para o transbordo. Entretanto, diferente do
terminal de Guaíra (PR), possui contrato de adesão com o Ministério dos Transportes e
agência de Transportes Aquaviário (ANTAQ).
Em seu relatório anual, a AHRANA (2006a) apresentou a intenção de promover ações
que priorizem obras de ativação da movimentação de cargas nestes terminais. Com os portos
ativados, espera-se haver uma transferência do transporte de grãos da região, do modal
rodoviário para o modal hidroviário. Dessa maneira, a movimentação de cargas, para o porto
de Guaíra, é prevista em 300 mil toneladas de grãos (soja, milho e trigo) e a movimentação no
porto de Santa Helena, está prevista em 400 mil toneladas de soja.
2.10 TRANSPORTE MULTIMODAL DE CARGAS
O Transporte Multimodal de Cargas é aquele que, regido por um único contrato,
utiliza duas ou mais modalidades de transporte, desde a origem até o destino, e é executado
sob a responsabilidade única de um Operador de Transporte Multimodal (OTM), podendo ser
transportador ou não, desde que esteja habilitado e registrado pela ANTT e em caso de
atuação em âmbito internacional, estar licenciado pela Secretaria da Receita Federal. O OTM
deve assumir a responsabilidade pela execução dos contratos firmados para todo o transporte,
pelos prejuízos resultantes de perda, por danos ou avaria às cargas, sob sua custódia, e por
aqueles decorrentes de atraso na entrega, quando houver prazo acordado. Além do transporte,
são incluídos os serviços de coleta, unitização, desunitização, consolidação, desconsolidação,
movimentação, armazenagem e entrega da carga ao destinatário (DEMARIA, 2004).
57
De acordo com Ballou (1993), nem todas as combinações multimodais mostram-se
práticas e, algumas delas, mesmo viáveis, não foram bem aceitas. Um dos motivos para esse
comportamento pode ser devido ao intercâmbio de equipamentos de um modal para outro,
que exige infra-estrutura adequada para calibrar as cargas em relação ao volume e tipo de
produto. Uma das alternativas mais populares para resolver esse problema é a utilização de
contêineres, que facilitam as combinações multimodais.
A possibilidade do arranjo multimodal, no sistema de transporte, é uma opção válida
para o alcance da eficiência logística. Entretanto, essa alternativa depende de alguns fatores,
como a disponibilidade de vagões e locomotivas na ferrovia, a manutenção e o aumento da
extensão da malha, instalações de terminais de carga e descarga, inclusive nos portos fluviais,
reparos no leito do rio em trechos com restrição de navegação e a efetivação da emissão do
Conhecimento de Transporte Multimodal de Cargas (CTMC), por apenas um operador
logístico, que permitirá o acompanhamento da carga, desde a origem, até o destino final.
A necessidade dessas ações é reforçada por Ballou (2001), quando explica que o
serviço fluvial doméstico está confinado aos sistemas de vias aquáticas internas e isso exige
que os embarcadores estejam localizados nas vias aquáticas ou que usem outro modal de
transporte em combinação com o fluvial.
58
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A compreensão dos fenômenos em uma pesquisa depende da abordagem adotada pelo
pesquisador sobre o objeto de pesquisa, isto é, o método de pesquisa. Por este motivo, nesta
seção será tratado o delineamento metodológico escolhido para essa compreensão.
A idéia orientadora, para a construção do pressuposto desta pesquisa é de que a
utilização da hidrovia, como alternativa de transporte, poderá permitir uma competitividade
maior, no mercado externo, para a produção de granéis agrícolas da região Oeste paranaense.
3.1 TIPO DE PESQUISA
De acordo com Gil (1999, p. 65), “o elemento mais importante para a identificação de
um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados”. Dessa maneira, para a
classificação desta pesquisa, toma-se como base a taxionomia apresentada por Vergara
(2004), que classifica uma pesquisa em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos
meios. Quanto aos fins, a pesquisa é exploratória, devido à existência de pouco conhecimento
acumulado e sistematizado sobre o assunto e a necessidade de conhecer as características
desse fenômeno. Esse tipo de investigação é recomendado por Richardson (1999), que a
considera mais adequada para tal propósito. Os estudos existentes apontam algumas
deficiências em relação à infra-estrutura para o escoamento da produção agrícola da região
Oeste do Paraná, porém não apresentam informações suficientes que possam sustentar a
opção pelo modal hidroviário, no percurso da hidrovia Tietê-Paraná.
Quanto aos meios de investigação, a pesquisa é bibliográfica, documental e de campo.
Bibliográfica, porque para a fundamentação teórica do trabalho, foi realizada uma
investigação por meio de coleta de dados secundários, referentes aos seguintes assuntos:
identificação das atividades de valor na cadeia de valor, como vantagem competitiva; a
evolução da logística; a logística no Brasil, no agronegócio brasileiro, no Paraná e na região
Oeste paranaense; o sistema logístico de transporte e os modais básicos. Estes assuntos estão
disponibilizados em livros, artigos científicos, revistas, periódicos, anais, teses, dissertações e
hipertextos da internet.
59
A investigação deu-se, também, por meio de pesquisa documental, porque se baseou
em relatórios, hipertextos da internet e informações diretas, fornecidos pela Administração da
Hidrovia do Paraná (AHRANA), Agência Nacional de Transporte Aquaviário (ANTAQ) e
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em que puderam ser levantados os
dados secundários desta pesquisa.
A pesquisa de campo se deu em duas formas. Uma delas foi pela investigação
empírica, realizada por meio da técnica de observação simples in loco, nas instalações de um
porto fluvial intermodal, localizado no município de Pederneiras (SP) e nas instalações do
terminal ferroviário da Ferroeste, situado no município de Cascavel (PR). A outra forma de
pesquisa de campo foi a realização de entrevistas não estruturadas, guiadas, aplicadas em
alguns profissionais de logística que atuam em empresas de comercialização de granéis
agrícolas, destinados à exportação.
3.2 AMOSTRA E SELEÇÃO DE SUJEITOS
A amostra, segundo Vergara (2004), é uma parte do universo ou população escolhida
como objeto de estudo, segundo algum critério de representatividade. Neste trabalho de
pesquisa, foi definida uma amostra não probabilística, selecionada por tipicidade, que,
segundo a autora, é constituída pela seleção de elementos que o pesquisador considere
representativos. Os elementos considerados, nesta pesquisa, podem ser traduzidos em algumas
características, conforme descritas a seguir.
a) atuar no agronegócio, com a comercialização e/ou processamento de granéis
agrícolas da região Oeste do Paraná;
b) atuar na atividade de exportação de grãos;
c) utilizar a intermodalidade rodo-ferroviária, para o transporte dos grãos;
d) investir em instalações e equipamentos para recepção, transbordo, armazenagem e
expedição de granéis agrícolas, que permita a intermodalidade no transporte.
No município de Cascavel, está localizado o terminal ferroviário da Estrada de Ferro
Paraná Oeste S.A. (Ferroeste), em que estão instaladas algumas organizações comerciais, que
operam nas atividades de recepção, transbordo, armazenagem e expedição de produtos
agrícolas, a granel, em parceria com a Ferroeste. Outras empresas possuem projetos que
60
contemplam a construção de silos de armazenagem, instalação de terminal de transbordo e
aquisição de equipamento rodante, para também atuarem em parceria com a operadora da
ferrovia.
As entrevistas foram aplicadas nos períodos indicados na Tabela 12, em que as
empresas foram caracterizadas sob a forma das letras A, B, C, D, E, F, G e H, com o
propósito de manter-se sigilo quanto à origem das informações, conforme solicitado pelos
entrevistados. A escolha das empresas se deu em função de apresentarem preocupação em
melhorar as formas de movimentação de seus produtos.
Tabela 12 – Empresas entrevistadas e períodos das entrevistas.
Entrevista
Empresa
Forma de
Organizar
Abrangência Atividades
Data Local Entrevistado
A
Empresa de
Economia
mista.
Cascavel a
Guarapuava
(PR)
Administração de
ferrovia
26/07/2007 Cascavel – PR
Gerente
operacional
B
Holding
Multinacional
Industrialização,
comércio e
exportação de
farelo, óleo e outros
derivados de soja.
25/07/2007
Pederneiras -
SP
Gerente
operacional
e de
expedição
C
Holding
Multinacional
Industrialização,
comércio e
exportação de
farelo, óleo e outros
derivados de soja.
16/08/2007 Cascavel - PR
Gerente
de grãos
D
Holding
Multinacional
Industrialização,
comércio e
exportação de
farelo, óleo e outros
derivados de soja.
02/07/2007 Cascavel – PR
Gerente
de grãos
E Cooperativa Nacional
Industrialização,
comércio e
exportação de
farelo, óleo e outros
derivados de soja.
21/08/2007 Cascavel - PR
Gerente de
transportes
F Cooperativa Nacional
Recepção e
movimentação de
grãos.
Industrialização e
comercialização de
trigo.
16/08/2007 Palotina - PR
Gerente de
transportes
G Cooperativa Nacional
Comércio e
exportação de
farelo, óleo e outros
derivados de soja.
23/03/2007
Medianeira -
PR
Gerente de
logística
H
Empresa
privada
Nacional
Comércio e
exportação de
farelo, óleo e outros
derivados de soja.
21/07/200/ Cascavel – PR
Gerente
operacional
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
61
Como sujeitos de pesquisa deste trabalho, foram escolhidos os profissionais
responsáveis pela logística das empresas descritas na Tabela 12, por serem aqueles que
tomam as decisões sobre o modal mais adequado para o transporte dos granéis agrícolas
comercializados. Foram efetuadas oito entrevistas, agendadas antecipadamente, por telefone
ou por e-mail, em que se deu prioridade aos dados qualitativos. Dessa maneira, houve maior
liberdade para os entrevistados responderem, conforme sua interpretação sobre o tema.
3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Nesta subseção, serão apresentados os procedimentos adotados quanto aos meios de
investigação, que permitiram obter os dados necessários para responder ao problema de
pesquisa.
3.3.1 Dados Primários
A coleta de dados primários, por meio da pesquisa de campo, se deu em duas formas:
observação não participante e entrevistas. A observação não participante ocorreu nas
instalações do porto intermodal de Pederneiras (SP), em que foram verificados os processos
de recepção, via modal fluvial, transferências, armazenagem e expedição, via ferrovia, de
grãos agrícolas, oriundos do terminal fluvial de São Simão (GO). No terminal ferroviário, da
Ferroeste, no município de Cascavel (PR), foram acompanhados os processos de recepção,
pesagem e descarga, dos granéis agrícolas, trazidos pelo modal rodoviário e a forma de
armazenagem, desses produtos, nos silos e armazéns. Posteriormente, foram acompanhados
os processos de expedição, efetuados via modal ferroviário.
A entrevista não estruturada foi a forma mais indicada para o propósito da pesquisa,
pois é definida por Richardson (1999), como aquela que visa obter do entrevistado o que ele
considera como aspectos mais relevantes para o problema de pesquisa que, neste caso, busca
descobrir as razões da não utilização do modal hidroviário para o transporte dos granéis
agrícolas da região. De acordo com Roesch (1999), as entrevistas sem estrutura apresentam
62
certa dificuldade no tratamento e análise dos dados, por permitir que o entrevistado fale
livremente, sem interrupções ou intervenções. Por esse motivo, é importante listar tópicos
para conduzir a pesquisa ou transformá-los em questões que orientem a entrevista.
A partir do que os autores sugerem, aplicou-se, nesta pesquisa, a técnica de entrevista
guiada, o que permitiu apresentar, aos entrevistados, os propósitos da pesquisa e resgatar,
quando necessário, o tema de logística referente ao transporte de granéis agrícolas, pelo modal
hidroviário. Dessa maneira, buscou-se obter, de cada entrevistado, respostas para as seguintes
questões:
a) qual o principal critério que determina a escolha do modal de transporte de granéis
agrícolas;
b) quais são as opções de transporte, que os profissionais de logística percebem
disponíveis, para a movimentação de granéis agrícolas na região;
c) qual o principal fator de estímulo para investimentos na ferrovia;
d) qual a possibilidade de utilização do modal hidroviário e suas implicações na
eficiência logística da região Oeste paranaense.
As informações, advindas desses questionamentos, auxiliaram na resposta à questão de
pesquisa deste trabalho.
3.3.2 Dados Secundários
Gil (1999) argumenta que os dados secundários são aqueles que ainda não receberam
tratamento analítico e a pesquisa documental vale-se destes dados, ou ainda, os elabora,
novamente, de acordo com os objetivos da pesquisa. Da Silva (2001) complementa que os
dados disponíveis na organização, contidos em atas, manuais, organogramas, fluxogramas,
normas e regimentos, leis e estatutos e demais documentos organizacionais, são considerados
secundários.
Os dados secundários, deste trabalho de pesquisa, puderam ser levantados a partir de
relatórios, hipertextos da internet e informações diretas, fornecidos pela AHRANA, ANTAQ
e ANTT, que forneceram informações das principais hidrovias do país, principalmente na
composição e movimentação da hidrovia Tietê-Paraná.
63
Dessa maneira, foram identificadas as principais características das ferrovias
brasileiras, tendo ênfase a malha ferroviária que atende ao terminal de Pederneiras (SP), pela
intermodalidade com a hidrovia Tietê-Paraná. A Ferroeste teve tratamento diferenciado, por
ser considerada como a opção de transporte ferroviário da região Oeste Paranaense ao Porto
de Paranaguá (PR).
Com relação às rodovias, foi possível levantar algumas características importantes da
malha pertencente ao percurso entre a região Oeste e o porto de Paranaguá, como sua
composição e preços de pedágio. O desempenho entre os portos de Santos e Paranaguá pôde
ser comparado, por meio de levantamento do relatório anual da ANTAQ (2005).
Os valores dos fretes dos modais rodoviário, ferroviário e hidroviário foram
levantados, por meio das informações obtidas pelo Sistema de Informação de Frete (Sifreca)
do Departamento de Economia, Administração e Sociologia, da ESALQ/USP. Este realiza
pesquisas sobre o transporte de cargas diversas, com destaque para produtos agrícolas,
disponibilizados mensalmente, pela internet ou por meio de contratos específicos.
3.4 ENFOQUE DA PESQUISA
Apesar de a análise procurar compreender o contexto no qual os principais
embarcadores atuam, na região Oeste paranaense, em que a trajetória do sistema logístico da
região tem grande relevância, a pesquisa de campo não procura identificar a dinâmica da
evolução e, logo, não é uma pesquisa longitudinal. Tem-se, portanto, nesta pesquisa, um corte
transversal. Foram utilizados os dados relacionados aos percursos da hidrovia Tietê-Paraná,
referentes aos meses de setembro de 2005, de outubro de 2006 e de maio de 2007. Também
foram utilizados os dados relativos aos percursos das rodovias e ferrovias, referentes ao mês
abril de 2007 e os dados relacionados às tarifas de fretes rodoviários, ferroviários e
hidroviários, referentes ao período entre os meses de março e agosto de 2007. As entrevistas
foram efetuadas entre os meses de março e agosto de 2007, conforme especificação constante
na Tabela 12.
64
3.5 MODELO DE ANÁLISE
Para melhor compreensão dos percursos realizados para o escoamento dos granéis
agrícolas da região Oeste paranaense, com destino ao porto de Paranaguá, efetuados por meio
de rodovias e ferrovias, bem como o percurso alternativo possível, por meio da hidrovia
Tietê-Paraná, utilizou-se da modelagem baseada no método dos grafos ou redes, classificada
como direcionada e ponderada. A modelagem é indicada em pesquisa operacional, devido ao
que Lachtermacher (2004, p. 204) argumenta, de que, “os modelos de rede facilitam a
visualização das relações entre os componentes do sistema, aumentando o entendimento do
problema e de seus possíveis resultados”. O autor explica que os problemas de distribuição
utilizam os modelos de rede para serem solucionados.
Segundo Lachtermacher (2004), redes são diagramas compostos por círculos, que
representam pontos de junção chamados de nós ou vértices, interligados por linhas que
representam as relações entre os pontos de junção, denominadas de arcos. As redes são
entendidas, por Gomes e Ribeiro (2004) como grafos, em que são vistos como uma estrutura
de abstração, que representa um conjunto de pontos chamados vértices (também denominados
nodos ou nós). Estes mantêm relações de interdependência, conectados por linhas, chamadas
de arestas. Se o sentido das ligações entre os vértices for importante, o grafo é classificado
como orientado e as arestas passam a ser denominadas arcos. O autor define um grafo
ponderado ou rotulado como aquele em que existem valores (rótulos) numéricos ou
atribuições alfabéticas associadas à suas arestas ou nós.
Conforme exemplifica Lachtermacher (2004), em problemas de transportes modelados
como redes, os números relacionados aos nós podem representar suas quantidades de oferta
ou demanda de produtos e os valores dos arcos podem refletir o custo de transporte (ou o
tempo, ou a distância) entre um nó e outro.
A Figura 5 ilustra os componentes de uma rede ou grafos, em que são atribuídos
valores aos nós e arcos, constituindo no que Gomes e Ribeiro (2004) classificaram como
grafo direcionado e ponderado.
65
Figura 5 – Rede ou grafo direcionado ponderado
Fonte: Adaptado de Lachtermacher (2004) e Gomes e Ribeiro (2004)
Neste trabalho de pesquisa, a modelagem irá auxiliar na ilustração de alguns
elementos, que irão compor a análise, sendo eles, o tempo gasto e as distâncias percorridas,
por cada percurso.
3.6 TRATAMENTO DOS DADOS
Por se tratar de um assunto ainda pouco conhecido e por seu caráter exploratório, esta
pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa e tem, como propósito, a busca de
esclarecimentos sobre a não utilização do modal hidroviário para o escoamento dos granéis
agrícolas da região Oeste do Paraná.
A transcrição das entrevistas, na qual foi possível anotar as respostas, ocorreu de
forma resumida, quanto ao original e aquelas que puderam ser gravadas foram transcritas,
conforme o original e, posteriormente, de forma resumida, para a análise.
A análise dos dados foi realizada a partir do que propõe Roesch (1999) como Análise
de Conteúdo, que é constituída por um conjunto de técnicas, adaptadas aos tipos de
documentos e objetivos dos pesquisadores. A utilização desta ferramenta de análise prevê três
fases fundamentais, sendo elas: a pré-análise, a exploração do material (ou exposição dos
dados) e o tratamento dos resultados (ou extração de conclusões) (Godoy, 1995; Miles e
Huberman, 1984; Bardin, 1977). De acordo com Weber (1991), este método busca classificar
palavras, frases, ou mesmo parágrafos em categorias de conteúdo.
1
3
5
Nós
Arcos
4
2 6
8
7
30 5
10
25
20
155
10
2
6
2
4
6
8
2
6
66
4 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Nesta seção, serão apresentados os dados de maior relevância obtidos por meio das
entrevistas realizadas com os responsáveis pela logística de transporte das organizações
escolhidas para o estudo, pela observação in loco, realizada em terminais fluvial e ferroviário
e pela pesquisa bibliográfica e documental. Esses dados estão agrupados e relacionados, com
o propósito de servirem de apoio para a análise.
Os fatores considerados mais importantes para o alcance dos objetivos deste trabalho,
estão condicionados ao conceito de eficiência logística e aos atributos apontados como de
maior importância pelos responsáveis pelos embarques, entrevistados nesta pesquisa, tratados
a seguir.
4.1 CRITÉRIOS DE ESCOLHA PELO MODAL DE TRANSPORTE
A partir das questões apresentadas aos entrevistados, foi possível levantar os fatores
mais importantes para a tomada de decisão quanto ao modal a ser utilizado: a) preço do frete;
b) rapidez e; c) confiabilidade nos serviços prestados.
4.1.1 Preço do frete
O principal critério de escolha, apontado pelos entrevistados, é o preço do frete. A
soja, in natura, recebida pelas unidades de recepção da região, é direcionada, em sua maioria,
para o processamento nas plantas localizadas próximo a Guarapuava, Ponta Grossa e
Araucária. Segundo os gerentes de logística das empresas, o valor do frete torna-se um fator
fundamental para a redução nos custos da matéria-prima dessas processadoras, o que se
reflete no preço de venda e na lucratividade. Parte da produção de grãos é destinada à
exportação, tendo o preço do frete efeito direto no custo logístico e, conseqüentemente, na
competitividade com outros países, que apresentam melhor infra-estrutura para o transporte
desses grãos. Segundo a Cargill (1995), os Estados Unidos praticam o preço do frete
correspondente a 59% do frete brasileiro. Nessa concepção, Caixeta-Filho (1996) argumenta
que os custos logísticos, para a soja, chegam a 25% do valor do produto e, como base de
comparação, o autor expõe que o café representa 2% e o suco de laranja 1%.
67
Os preços médios, por tonelada/quilômetro, praticados no período entre 24 de março
de 2007 e 20 de julho de 2007, para o transporte de soja a granel, estratificados por cada cem
quilômetros e para cada modal de transporte, estão descritos na Tabela 13, a seguir.
Tabela 13 – Preços médios do frete para transporte de soja a granel: 24.3.2007 – 20.7.2007
Preço Médio - R$ / (t.Km)
Distância (Km)
Rodoviário Ferroviário Hidroviário
0 a 99 0,21 0,13 ...
100 a 199 0,15 ... ...
200 a 299 0,13 ... ...
300 a 399 ... ... ...
400 a 499 0,11 0,07 ...
500 a 599 0,09 0,08 ...
600 a 699 0,09 ... 0,05
700 a 799 0,09 0,06 0,05
800 a 899 ... ... ...
900 a 999 0,09 ... ...
1000 a 1099 0,08 ... ...
1100 a 1199 0,08 ... 0,04
1200 a 1299 0,08 ... ...
1300 a 1399 ... ... ...
1400 a 1499 ... ... ...
1500 a 1599 0,05 ... ...
1600 a 1699 ... ... ...
1700 a 1799 0,08 ... ...
1800 a 1899 ... ... ...
1900 a 1999 ... ... ...
2000 a 2199 0,07 ... ...
Fonte: Adaptado do Sifreca (2007)
Existem diferenças nos preços dos fretes entre os modais de transporte. Porém,
conforme esboçado na Tabela 13, para algumas faixas de distâncias não foi possível obter as
informações dos valores médios dos fretes, principalmente referentes aos modais ferroviários
e hidroviários. A escassez de dados dificulta a análise comparativa, porém, baseado nas
informações disponíveis pelo Sifreca (2007), foi possível identificar os valores praticados no
período entre 23 de junho de 2007 e 23 de setembro de 2007, nos percursos de interesse para
este estudo, em que o preço do frete ferroviário entre Pederneiras (SP) e Santos (SP) é de R$
0,1085, por tonelada/quilômetro e, o do frete hidroviário, na hidrovia Tietê-Paraná, relativo ao
percurso de São Simão (GO) a Pederneiras (SP), é de R$ 0,0457, por tonelada/quilômetro.
68
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICM’s) afeta o preço do frete,
porém não incide sobre as operações de mercadorias destinadas ao exterior, inclusive sobre os
produtos primários e industrializados semi-elaborados, ou serviços, como forma de incentivo
às exportações. Como este trabalho enfoca a movimentação de grãos enviados aos portos de
exportação, esse imposto não afetará os custos logísticos e, por esse motivo, não será
considerado.
4.1.2 Rapidez na entrega
Em épocas de safra ou super-safra, a prioridade é por maior agilidade na entrega dos
grãos. A falta de capacidade para armazenagem não é um problema somente da região Oeste
do Paraná, mas do Brasil, o que contribui para a ineficiência quanto à rapidez de entrega e
qualidade dos grãos. Nos Estados Unidos, eles são estocados nas propriedades produtivas, o
que representa possibilidade de aguardar o momento oportuno de preço no mercado
internacional.
Como estratégia para evitar a transformação do porto de Paranaguá em uma central de
armazenagem de grãos, o que era muito comum no passado e que acarretava a formação de
filas, o Governo do Estado do Paraná determinou que o recebimento de cargas somente seria
liberado após a ocorrência da nomeação para embarque no navio. Assim, os produtos devem
chegar no tempo estabelecido para o carregamento, o que acarreta a procura por um transporte
de melhor desempenho quanto à rapidez. Nesse sentido, o transporte pelo modal rodoviário
ganha destaque.
O tempo médio e a variabilidade no tempo de entrega são fatores importantes, levados
em conta para medir o desempenho do transporte e podem ser decisivos na tomada de decisão
por um determinado modal de transporte. O apontamento desses fatores, pelos gestores de
logística entrevistados nesta pesquisa, foi unânime.
Segundo Ballou (2001, p. 121), “o tempo de entrega refere-se, geralmente, ao tempo
médio que um carregamento leva para se deslocar, do seu ponto de origem até o ponto de
destino”. Para o autor, é importante considerar todo o tempo em trânsito, mesmo que mais de
um modal esteja envolvido. Entretanto, o autor destaca que as estatísticas de desempenho do
transportador não são abrangentes, devido aos negócios não utilizarem o sistema de transporte
na sua totalidade, o que seria necessário para fazer comparações úteis, em larga escala.
Estudos referentes ao tempo médio de deslocamentos no transporte coletivo são mais comuns,
69
tendo em vista serem eles necessários como parâmetros na adoção de políticas públicas que
envolvem investimentos em infra-estrutura logística.
O modal rodoviário apresenta maior desempenho do que os demais modais, em
relação ao critério rapidez, apesar do estado precário das estradas. De acordo com os
entrevistados das empresas E, G e H, a velocidade média percorrida pelos caminhões, na
rodovia BR 277 é de 50 km/h. Esses entrevistados alegam que a rapidez do modal rodoviário
é maior do que o modal ferroviário. Esse desempenho se deve, em parte, à existência de
terrenos montanhosos, através dos quais a rodovia foi construída. O maior problema está
relacionado ao estado de manutenção das malhas ferroviárias e pelos trechos de passagens de
níveis críticos, existentes em diversos pontos.
Segundo entrevistas nas empresas A e G, um dos fatores que afetam a rapidez na
entrega, pelo modal ferroviário, na região Oeste do Paraná, é a falta de investimentos para a
compra de vagões e locomotivas. A retomada de operação da malha, pela Ferroeste, por meio
de processo judicial, acarretou em pedido de devolução das locomotivas e vagões, por
empresas credoras daquela que operava, anteriormente à Ferroeste, a ferrovia. No ano de
2007, a justiça determinou que esses equipamentos devam permanecer à disposição da
Ferroeste, mediante a remuneração por sua utilização. No período desta pesquisa, dirigentes
da Ferroeste declararam operar a ferrovia com 13 locomotivas e 50 vagões.
A conseqüência da escassez de equipamentos rodantes é a necessidade de
recomposição dos comboios de cargas, que acontece no terminal ferroviário de Guarapuava,
sob a responsabilidade da operadora ALL. Segundo os entrevistados, muitas vezes, os vagões
carregados no terminal de Cascavel ficam até três dias aguardando uma composição que
atenda aos requisitos necessários para a eficiência exigida pela ALL, como cargas de retorno e
cumprimento de contratos considerados prioritários, por exemplo.
A utilização do transporte hidroviário prevê, empiricamente, mais lentidão que os
demais modais e, em função disso, não foi citado como opção de transporte por nenhum dos
entrevistados. Por falta de obras, o calado máximo permitido pela hidrovia Tietê-Paraná é de
três metros. Além de composições maiores e, como conseqüência, maiores volumes
transportados, a eliminação das restrições quanto à navegação e o aumento de calado
permitiriam um tempo de viagem menor. Segundo o presidente da companhia de navegação
DNP, que opera a movimentação de embarcações no trecho entre São Simão e Pederneiras,
esse tempo seria reduzido em 20%. São comuns os comunicados feitos pela Capitania Fluvial
sobre a redução de calado em alguns trechos da hidrovia Tietê-Paraná, devido,
principalmente, à falta de chuvas.
70
Dessa maneira, o modal percebido como de maior rapidez, nesta pesquisa, é o
rodoviário. O ferroviário ficou como segunda opção, caso seja modificada a forma de operar
existente no momento desta pesquisa, o que irá depender de investimentos para aumentar a
velocidade, a capacidade de carga, o transbordo, a armazenagem e a aquisição de
locomotivas, vagões e equipamentos rodantes. Todos os entrevistados consideraram o modal
hidroviário mais lento do que os demais modais de transporte.
4.1.3 Confiabilidade nos serviços
A preservação da qualidade dos produtos transportados, desde a origem até o destino
final, é um requisito considerado muito importante, pela maioria dos gerentes entrevistados,
para a escolha por determinado modal de transporte. Para o gerente da empresa G, no caso de
os grãos apresentarem certo grau de umidade, e serem considerados inadequados para o
processamento, devem ser enviados para o processo de secagem, o que, muitas vezes, exige
deslocamentos fora das indústrias. Com o propósito de atender aos requisitos exigidos para a
comercialização no mercado externo, esses grãos também sofrem o processo de triagem, em
que são selecionados para o envio aos portos de exportação.
Constatou-se nesta pesquisa que o escoamento da produção, na maioria das vezes, é
efetuado na medida em que a soja é colhida, na propriedade do produtor. Isso ocorre devido à
falta de armazéns, tanto nas propriedades agrícolas, como nas indústrias de processamento e
entrepostos de recepção dos grãos. Dessa maneira, o custo dessas adequações pode tornar-se
alto, principalmente quando envolve a contratação de serviços de silagem para a secagem dos
grãos e aluguéis de armazéns de terceiros.
No Paraná, ocorre a proibição de plantio, comercialização e armazenagem de soja
geneticamente modificada (transgênicos). No segundo semestre de 2007, um embarque
experimental de soja para a Austrália foi promovido, com a finalidade de testar se a forma de
embarque e o controle de riscos no porto de Paranaguá atendem às condições fitossanitárias
da soja. O compartimento do navio que recebeu o produto foi previamente higienizado para a
retirada de qualquer fragmento de outros grãos, que não sejam os do Paraná. Existe uma
expectativa, por parte do Governo do Estado do Paraná, de que a procura por esses produtos
deve aumentar no mercado internacional e o porto estará preparado para atender a essa
demanda.
A empresa G declarou possuir certificado de produtor de soja não transgênica,
fornecido por uma renomada empresa alemã, o que exige cuidado adicional no
71
armazenamento e transporte, para evitar a contaminação das cargas, como por exemplo, o
acondicionamento adequado dos produtos, a limpeza dos vagões ferroviários, das chatas
hidroviárias e das carrocerias dos veículos rodoviários.
A conservação da qualidade dos granéis agrícolas, durante o transporte, depende muito
dos procedimentos de embarque e desembarque. A utilização do modal hidroviário implica
em arranjos intermodais ou multimodais, para a entrega dos produtos no destino. Dessa
maneira, ocorrem várias operações de transbordo de um modal para outro, o que exige maior
cuidado com relação à manutenção da qualidade dos produtos. Da mesma forma, isso ocorre
no modal ferroviário, porém em menor número de vezes.
A confiabilidade quanto à manutenção da qualidade e volume dos produtos, em todas
as etapas de carga e descarga, até o destino final, é uma exigência indiscutível para a
manutenção dos contratos.
4.2 CARACTERÍSTICAS QUE AFETAM O DESEMPENHO DO TRANSPORTE
A seguir, são consideradas algumas características relevantes que afetam o
desempenho do transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário.
4.2.1 Transporte rodoviário
A restrição de velocidade, em diversos trechos das rodovias, provoca a variabilidade
nas entregas e as maiores perdas de velocidade ocorrem nos veículos de carga, devido à
deficiência na fiscalização em relação ao peso. Também contribui para essa deficiência a falta
de adequação, em grande parte das rodovias, ao tráfego de novos caminhões com capacidade
de carga maior. Verifica-se uma grande ocorrência de problemas funcionais, relacionados à
manutenção das pistas, que inviabilizam o uso das faixas adicionais, sobretudo quanto às
ondulações geradas por trilhas de rodas (CNT, 2006b).
As condições das vias pavimentadas são de grande importância para o bom
desempenho do transporte rodoviário. Neste estudo, são considerados alguns trechos a serem
realizados por esse modal de transporte, o que torna importante a compreensão do estado das
rodovias no Paraná e São Paulo. Constatou-se, por meio da Pesquisa Rodoviária,
desenvolvida pela CNT (2006b), que 95,4% das rodovias do estado do Paraná e 96,4% das
72
rodovias do estado de São Paulo não obrigam reduções de velocidade devido ao pavimento
existente. Entretanto, no Paraná, 43% dos percursos são de terrenos ondulados ou
montanhosos e 14% dos percursos apresentam trechos deficientes, com ondulações,
afundamentos ou buracos. Também verificou-se que 34% das rodovias paranaenses obrigam a
redução de velocidade, devido ao traçado horizontal. No estado de São Paulo, esse percentual
decresce para 12,5%. As reduções de velocidade influenciam no tempo médio de trânsito,
bem como na variabilidade de entrega.
Conforme a Pesquisa Rodoviária da CNT (2006b), a BR 277 obteve 87,7 pontos
favoráveis, em relação ao estado de manutenção e, a BR 467 apresentou um resultado
desfavorável, com 43,5 pontos, considerada ruim para o tráfego. Entretanto, no final do ano
de 2006, a BR 467 terminou suas obras de duplicação e o conceito, apontado pela pesquisa,
provavelmente foi alterado para melhor. A BR-116, que liga o Paraná ao estado de São Paulo,
recebeu 73,9 pontos, o que implica ser considerada como regular para o tráfego. Não foram
detalhadas, naquele estudo, as rodovias estaduais, o que não permitiu verificar as condições
da rodovia SP-160, que liga São Paulo a Santos. Entretanto, durante viagem recente por essa
rodovia, pôde ser percebido o estado precário da pavimentação, pois em grande parte dos
trechos, a velocidade média ficou reduzida para 40 Km/h.
4.2.2 Transporte ferroviário
A velocidade média comercial de 25 Km/h, no transporte de carga ferroviário
brasileiro, é considerada baixa. A variabilidade na entrega de mercadorias transportadas pelo
modal ferroviário pode ser causada por alguns fatores que influenciam sua eficiência. De
acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT, 2006c), um dos principais
problemas de restrição desse modal, são as passagens de níveis críticas, que ocorrem em
diversos pontos do percurso de uma malha ferroviária. Os critérios e fatores que caracterizam
uma passagem de nível crítica são: 1) segurança; 2) localização e interferência frente ao
tráfego urbano de veículos, inclusive paralisações e interrupções; 3) risco provocado pelo
trânsito de pessoas; 4) sinalização deficiente ou inadequada; 5) avaliação de estatísticas de
acidentes ocorridos no local; e 6) irregularidades/clandestinas. Foram apontadas, no Paraná,
onze passagens de nível críticas, representando 35% da região Sul e 8 % em relação ao Brasil.
O estado de São Paulo apresenta vinte e nove passagens de nível críticas e a circulação dos
trens na cidade de São Paulo representa um gargalo logístico, em que ocorre o
73
compartilhamento de linhas entre concessionárias. Outros gargalos logísticos encontram-se
nos acessos aos portos de Paranaguá e de Santos.
O estado de São Paulo possui três ferrovias de extrema relevância, que fazem ligação
com os estados do Paraná, do Mato Grosso do Sul, de Goiás e de Minas Gerais. Elas são a
Ferroban, Ferrovia Novoeste e MRS Logística. A ALL Logística assumiu o controle das
ferrovias Ferroban e Novoeste em maio de 2006. Conforme entrevista com a empresa B, a
malha ferroviária possui deficiências no fluxo devido às diferenças nas bitolas. Por causa
dessas diferenças, muitas cargas são desviadas e obrigadas a percorrer distâncias maiores.
Após a assunção da ALL, as negociações dos fretes se tornaram mais difíceis, pois os
embarcadores ficam vinculados aos termos exigidos pela operadora, relacionados a preços e
prazos de entrega. Esse fato também foi mencionado pelos embarcadores da região Oeste do
Paraná.
Na região Oeste paranaense, o transporte ferroviário é operado pela Ferroeste e
existem alguns pontos de estrangulamento crítico no percurso entre Cascavel e Paranaguá.
Um desses trechos está compreendido entre Guarapuava e Desvio Ribas, em que o traçado é
muito sinuoso e impede a composição de muitos vagões. Além da redução de capacidade, a
velocidade do trem é menor, o que implica em demora na entrega. De acordo com as
empresas entrevistadas C, D e G, o tempo médio de tráfego de Cascavel a Paranaguá, pela
ferrovia, é de aproximadamente 5 dias ou 120 horas. Porém, o sistema de carga e descarga,
nas operações de transbordo, leva em média 30 horas para ser realizado, o que eleva o tempo
de transporte para 150 horas ou 6,25 dias.
A elaboração de uma programação mais eficaz fica comprometida pela variabilidade
na liberação de carregamentos oriundos da região Oeste, com destino ao porto de Paranaguá,
que depende da disponibilidade de vagões, a partir do terminal de Guarapuava. Esse problema
foi apontado pelos entrevistados C, D e G que, segundo suas percepções, são decorrentes da
operação da malha, executada de maneira inadequada pela Ferropar, subconcedida pela
Ferroeste até dezembro de 2006. Conforme apontado pelo Governo Estadual, não houve
esforços suficientes para a aquisição e manutenção de vagões, materiais rodantes, locomotivas
e outros equipamentos, necessários para o bom desempenho da ferrovia, provocando atrasos e
deficiências no atendimento da demanda por este modal na região Oeste paranaense.
Existem projetos prioritários das concessionárias para solucionar gargalos logísticos e
que poderão contribuir para a redução de variabilidades no tempo de entrega. Alguns desses
projetos estão voltados para as malhas de interesse neste estudo, como o desvio Guarapuava–
Ipiranga (Parceria Público Privada com o Governo do Paraná), o contorno ferroviário de
74
Curitiba (PR), a segregação de linha de carga, na região metropolitana de São Paulo, a
implantação do Ferroanel, em São Paulo (Tramo Norte, com Parceria Público Privada),
remoção de invasões de faixa de domínio, no estado de São Paulo e em Santos (SP),
sinalização de passagens de nível municipais, no estado de São Paulo. Entretanto, para a
execução desses projetos, são exigidos grandes investimentos, que podem chegar a R$ 1,66
milhão.
4.2.3 Transporte hidroviário
As restrições no transporte hidroviário, que afetam o tempo de percurso e a
variabilidade na entrega, estão basicamente ligadas às transposições de eclusas, pontes e na
manutenção do leito do rio, para adequação ao calado ideal para navegação.
De acordo com o relatório de Normas de Tráfego, da hidrovia Tietê-Paraná e
considerando os níveis máximos de navegação, desde a eclusa de Barra Bonita, no rio Tietê,
até a barreira de Itaipu, no rio Paraná, ocorre um desnível de aproximadamente 231 metros,
que é auxiliado pela transposição em eclusas.
As restrições físicas, impostas pelas obras de engenharia, estabelecem, segundo as
Normas de Tráfego na hidrovia Tietê- Paraná e seus Canais (DH, 2005), dimensões máximas
permissíveis para os comboios, conforme descritas na Tabela 14.
Tabela 14 – Dimensões de comboios na hidrovia Tietê-Paraná
Comboio Tipo
Especificação da Embarcação
Tietê
1
Tietê-Duplo
2
Paraná
3
Paraná Extendido
4
Comprimento Total (m) 137,0 137,0 200,5 257,5
Boca (m) 11,0 22,0 16,0 22,0
Calado (m) 2,7 2,7 3,7 3,7
1
formado por grupo de chatas em linha, mais 01 (um) empurrador.
2
formado por grupo de chatas em linha, lado a lado, mais 01 (um) empurrador.
3
formado por grupo de chatas em linha, lado a lado mais (um) empurrador.
4
formado por grupo de chatas em linha e lado a lado, mais 01 (um) empurrador.
Fonte: DH (2005)
A passagem pelas eclusas, na hidrovia Tietê-Paraná, obedece a uma ordem de
prioridade, estabelecida pela administração da hidrovia, em que são consideradas,
respectivamente, as embarcações de órgãos oficiais, de passageiros, de manutenção e reparos,
de mercadorias perecíveis e/ou suscetíveis a perdas e embarcações de lazer. Na ausência
75
dessas embarcações, são consideradas as ordens de chegada das embarcações, nos pontos
obrigatórios de parada das eclusas. Entretanto, se o operador julgar necessário alterar a ordem,
para agilizar os processos de eclusagem, poderá fazê-lo. Nas áreas de segurança das eclusas, a
velocidade média não deve ultrapassar a 7,32 quilômetros por hora.
Desde a área do reservatório de Bariri, até a área do reservatório de Três Irmãos, é
permitida a navegação do comboio tipo Tietê-Duplo. Porém, as restrições de navegação
ocorrem em alguns pontos desse trecho, em que o comboio deve ser desmembrado e adaptado
ao comboio do tipo Tietê. Os pontos de restrição da hidrovia no rio Tietê, a partir do terminal
Intermodal de Pederneiras, são:
eclusa de Bariri;
eclusa de Ibitinga;
ponte da SP-333;
eclusa de Promissão;
ponte SP-425;
eclusa de Avanhandava;
ponte SP-463;
A partir da Ponte SP-463, até a eclusa de Três Irmãos, além do comboio tipo Tietê-
Duplo, também é permitido o comboio tipo Paraná para a navegação, exceto nos trechos
indicados abaixo:
ponte SP-563;
eclusa de Três Irmãos;
ponte SP-595.
Na travessia da ponte SP-595, o comprimento do comboio é reduzido para, no
máximo, 79 metros. Neste caso, se o comboio formado for o do tipo Tietê-Duplo, as chatas,
lado a lado, deverão ser desmembradas, tornando-as como as do tipo Tietê e, novamente
desmembradas, o que implica no empurrador transpor somente uma chata. Este procedimento,
além de perder capacidade, desperdiça a potência do empurrador.
Em observação ao fluxo nas eclusas, verificou-se que a passagem do comboio ocorre
em várias etapas. Inicialmente, no trecho montante, é preciso separar o comboio, amarrar as
chatas nas margens ou em lugares específicos para esse fim, antes de fazer a eclusagem. Para
a passagem do comboio, pela câmara da eclusa, é preciso amarrar as embarcações a jusante,
76
retornar pela câmara, para pegar as outras chatas, repetir o procedimento e, só então, seguir
viagem.
No rio Paraná, a navegação é menos restritiva em relação ao tipo de comboio. A
eclusa de Jupiá, por exemplo, não impõe restrição de comboio e permite a transposição dos
tipos Tietê-Duplo e Paraná. Os pontos de restrição e as imposições existentes no rio Paraná
são:
canal de transposição da ponte Maurício Joppert, em que o comboio deve ser
desmembrado da composição lado a lado, pela restrição de boca em 11 metros,
devido à configuração existente, de dois vãos, de 45 m;
na eclusa de porto Primavera é permitida a navegação somente para o comboio tipo
Paraná;
no canal de transposição da ponte Camargo, o calado permitido é de apenas 2
metros, devido ao trecho sinuoso e aos bancos de areia;
no canal sob a ponte de Guaíra, o vão de navegação é de apenas 46 metros, além da
restrição de calado, que é de 2 metros.
O trecho entre a UHE de Porto Primavera e o canal de navegação, sob a ponte de
Guaíra, é de livre corrente e está protegido como área de proteção ambiental. Esse trecho e
aquele que leva até a barreira de Itaipu, estão ilustrados na Figura 6.
Figura 6 - Trecho de navegação entre o reservatório de Porto Primavera e o de Itaipu
Fonte: Ahrana (2007)
Na Figura 6 está demonstrado o nível de água, por meio de medidas efetuadas pela
Ahrana (2007). O canal sob a ponte de Guaíra possui uma profundidade de 2,5 metros e
calado máximo de 2,0 metros, em condições hidrológicas normais. A maior restrição quanto
77
ao calado está na cota de 220,15 metros, demonstrada na Figura 6, em que a leitura na régua
de Guaíra é de 1,70 metro. Não há projeto algum de construção de barreiras para geração de
energia elétrica que venha a permitir o aumento do nível de água. Dessa maneira, o trecho
deve receber obras de conformação no canal de navegação, para a navegação com calado de
3,00 metros, o que permite compatibilizar os comboios que operam nos rios Tietê e Paraná.
De acordo com estudos de Gontijo e Campos (2005), o tempo de eclusagem para a
eclusa de Barra Bonita, que tem um desnível máximo de 27 metros, é de aproximadamente 12
minutos para subir e 12 minutos para descer, com capacidade para transportar 2000 toneladas
por vez. Na eclusa de Porto Primavera, em que o desnível é de, no máximo, 22 metros, o
tempo de eclusagem é de 10 minutos, para a mesma capacidade.
Em entrevista com o gerente da empresa B, levantou-se que o tempo médio para uma
embarcação, carregada de soja a granel, navegar desde São Simão (GO) até Pederneiras (SP)
é de cinco dias e, depois de ocorrer a transferência da carga para vagões graneleiros, leva, em
média, dois dias para chegar no porto de Santos. O percurso de São Simão a Pederneiras é de
634 quilômetros, obtendo-se, dessa maneira, uma velocidade média para o trajeto de 5,28
Km/h.
4.3 OPÇÕES DE TRANSPORTE PERCEBIDAS PELOS PROFISSIONAIS DE
LOGÍSTICA NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ
Para a movimentação de granéis agrícolas da região Oeste paranaense, os profissionais
de logística entrevistados foram unânimes em responder que percebem, como opção de
transporte disponível, em primeiro lugar o rodoviário, seguido do ferroviário.
O modal hidroviário não foi indicado por nenhum gerente. Alguns operadores que
atuam na região com o transporte de areia explicam que as restrições de navegação, a partir de
Guaíra até o terminal de Pederneiras ou Anhumas, ocorrem devido às travessias das pontes e
eclusas, o que inviabiliza as operações. Esse é um dos motivos que, juntamente com a falta de
investimentos para a intermodalidade com o modal ferroviário e até mesmo com o rodoviário,
a hidrovia não é percebida como opção para uma logística mais eficiente na região.
A preferência pelo modal rodoviário é devida a sua rapidez e flexibilidade, na coleta e
entrega. Os entrevistados das empresas E e H comentaram que existe falta de infra-estrutura,
por parte das unidades de recepção e transbordo, para o recebimento de produtos em outros
78
modais. Os entrevistados das empresas C, D e G, que operam com a ferrovia, denunciam a
precariedade do terminal ferroviário, no que se refere à pequena capacidade para
armazenagem e a falta de locomotivas e vagões para o fluxo adequado à demanda por esse
modal.
O gerente da empresa H afirmou utilizar o modal rodoviário devido à ordem de
atendimento na ferrovia ser por aqueles que possuem máquinas e equipamentos rodantes
disponíveis para uso, o que provoca maior demora no atendimento aos demais usuários.
4.4 PRINCIPAL ESTÍMULO PARA INVESTIMENTO NA FERROVIA
Uma das questões desta pesquisa é investigar o motivo pelo qual as empresas optam
por determinado modal de transporte para suas cargas agrícolas. Em parte, a resposta pode
estar no entendimento das razões que as levam a investir em instalações de transbordo, na
ferrovia, não apresentando interesse por investimentos na hidrovia.
Dessa maneira, levantou-se pelas entrevistas com as empresas B, C, D e G, que o
principal fator de estímulo para investimentos na ferrovia é a independência alcançada para o
transbordo, que pode ser realizado de acordo com a conveniência da empresa usuária, além da
preferência de atendimento pela ferrovia. A busca por um transporte mais barato, em relação
ao rodoviário, que é o mais utilizado por apresentar um sistema mais estruturado que os
demais, também é considerada muito importante para o ganho de competitividade. Dessa
maneira, as empresas procuram um retorno do investimento, em frete mais barato.
Outro fator mencionado por esses gerentes é a maior capacidade de transporte
oferecida pelo modal ferroviário, o que permite maior economia nos custos, principalmente
relacionados com a mão-de-obra para carregar, descarregar, dirigir ou operar as máquinas e
equipamentos.
Todos os entrevistados declararam acreditar que o transporte rodoviário é muito
perigoso, em relação ao número de acidentes que ocorrem nas estradas. Também apontaram
as dificuldades para a obtenção de cargas de retorno, que permitem diluição de alguns custos
do transporte. De acordo com os entrevistados das empresas B, C, D e G, há maior freqüência
de retorno das cargas no modal ferroviário, caracterizadas por insumos destinados ao
agronegócio, como fertilizantes e adubos e aqueles destinados à construção civil, como o
cimento, por exemplo.
79
4.5 UTILIZAÇÃO DA HIDROVIA
Conforme é apontado pelo gerente da empresa B, a hidrovia Tietê-Paraná sofre
concorrência direta com a rodovia e a ferrovia, para o transporte de grãos, advindos do Mato
Grosso do Sul e de Goiás. Todo o percurso dessa hidrovia é acompanhado pelas rodovias, SP-
300 e SP-310 (Anhanguera), pelas ferrovias, Ferroeste e Ferronorte, vias consideradas como
corredores de exportação muito importantes no país. Apesar disso, há muitas expectativas
para a utilização da hidrovia, baseadas no crescimento obtido nos últimos anos das
movimentações de cargas pela hidrovia Tietê-Paraná, que apresenta boa estrutura para
navegação, comparada às outras hidrovias.
As entrevistas realizadas nesta pesquisa mostraram que a possibilidade de utilização
da hidrovia, como meio de transporte da produção de soja da região Oeste paranaense, nas
condições atuais, é muito pequena. Uma das razões para isso é a localização das empresas que
atuam na comercialização desses grãos na região, pois exceto as empresas A e B, todas as
outras enviam a maior parte de sua produção para o suprimento das indústrias de
processamento, que estão instaladas na região de Guarapuava, de Araucária e de Ponta
Grossa. Essa localização está no sentido contrário e muito distante dos rios que perfazem a
hidrovia Tietê-Paraná.
A empresa F processa somente o trigo e o fluxo de suprimento para sua planta
industrial, que está localizada no município de Palotina (PR), ocorre num raio de, no máximo,
duzentos quilômetros. O transporte fluvial e ferroviário não está disponível para essa empresa
pela sua localização. A farinha de trigo produzida por essa indústria é enviada para outras
regiões do Paraná e outros estados, pelo modal rodoviário. Essa empresa é uma cooperativa
central, constituída por quatro cooperativas e possui infra-estrutura para recebimento e
armazenagem de grãos dessas cooperativas no porto de Paranaguá.
Todos os profissionais entrevistados alegaram que a utilização da hidrovia fica
comprometida devido ao rio navegável estar distante do principal centro de distribuição, que é
o município de Cascavel (PR), e sem ligação com outro modal. Não há via férrea instalada no
trajeto entre Cascavel e o rio Paraná, o que exigiria utilização do modal rodoviário para
completar esse percurso. Esse modal é considerado o de maior custo, o que impactaria
negativamente no custo total. Além disso, os entrevistados mencionaram a falta de
flexibilidade da rota e a morosidade na entrega que o modal hidroviário oferece.
80
O percurso da hidrovia também foi um fator relevante, apontado pelos entrevistados.
Eles mencionaram que o trecho entre Cascavel e Paranaguá, percorrido pela rodovia, é bem
menor do que aquele percorrido pela hidrovia Tietê-Paraná, até o porto de Santos. Por isso,
acreditam que o custo de frete e a demora na entrega, pelo uso do modal hidroviário, afetam a
eficiência logística. Quando mencionada a hipótese de instalação de portos fluviais com
terminal de transbordo, obras para melhorar a navegabilidade e a implementação do projeto,
já existente, para estender a malha ferroviária até Guaíra, os entrevistados das empresas A, E,
F, G e H externaram a preocupação quanto à eficiência do sistema hidroviário. Eles
comentaram sobre a possibilidade de faltar empurradores ou chatas para o transporte e de
ocorrer atrasos na entrega devido às passagens das eclusas e pontes.
O entrevistado da empresa B alertou para o sentido do curso do rio Paraná que,
segundo ele, a partir da região Oeste paranaense, é considerado “contra-frete”, ou seja,
contrário ao fluxo de exportação e incoerente com o propósito das estratégias voltadas para a
logística de distribuição.
O gerente da empresa C apontou os modais ferroviário e hidroviário como os mais
indicados para o transporte de seus produtos, porém afirma estarem eles subutilizados no país.
Esta empresa efetua parcerias com ferrovias e outros grupos atuantes no agronegócio e investe
em terminais portuários.
De acordo com o entrevistado da empresa G, a falta de apoio e de investimentos pelo
governo na implementação de infra-estrutura hidroviária, são alguns dos fatores que impedem
a prática de movimentação por esse modal. Essa empresa possui terminal de transbordo na
Ferropar. Segundo seu gerente, a estratégia mais indicada para a inserção da hidrovia como
opção de transporte disponível para os produtores da região é a união dos produtores em
forma de cooperativa e a criação de uma associação que possa representar os interesses de
seus associados junto aos órgãos do poder público.
O entrevistado da empresa E apontou a falta de esclarecimento que a maioria das
empresas cooperativadas têm para responder a questões sobre o modal hidroviário. Segundo
ele, isso ocorre devido à cultura dessas organizações estar voltada para a integralização
vertical. Além disso, suas estratégias de recursos humanos incorporam a aplicação de
recrutamento interno, o que possibilita o desenvolvimento de planos de carreira para a
promoção de seus funcionários ao alcance de níveis hierárquicos mais altos, reforçando a
característica de internalização das ações. Dessa forma, as políticas adotadas promovem
alienação dos propósitos organizacionais a um sistema fechado, o que inibe a percepção de
81
novas técnicas administrativas, como o desenvolvimento da logística pela multimodalidade,
por exemplo.
4.6 PERDAS
As empresas que atuam na movimentação de granéis agrícolas, segundo Caixeta-Filho
(2001) e Martins e Lobo (2005), consideram importante a garantia de confiabilidade do
serviço, para o usuário. Este fator refere-se ao cumprimento dos prazos contratados e o baixo
nível de perdas. Por este motivo, torna-se relevante a apuração das perdas que cada modal de
transporte apresenta.
Apesar da escassez de estudos publicados sobre os índices de perdas no modal
rodoviário, conforme exposto por Jardine (2002), as maiores perdas ocorrem durante o
transporte de longa distância, geralmente entre o embarcador e o exportador, sendo que essa
quebra oscila entre 5 e 10%, conforme o produto. As perdas durante o transporte, conforme
Ângelo (2005), são de 0,75% para longa distância e 0,4% para curtas distâncias, chamadas de
ponta rodoviária.
De acordo com a Pesquisa Ferroviária, desenvolvida pela CNT (2006c), o modal
ferroviário possui uma malha sem flexibilidade e apresenta um índice de perda de carga de
aproximadamente 0,2 %. Esse percentual decorre das operações de transbordo, efetuadas nos
terminais intermodais e portuários.
No modal hidroviário, as perdas no transporte são consideradas nulas, conforme
informação obtida de relatos fornecidos pelo responsável da expedição dos grãos da empresa
B. Estudos de Ângelo (2005) reforçam essa característica do modal hidroviário.
Cada modal de transporte irá exigir um número necessário para operações de
transbordo. Por este motivo, o percentual de perdas para essas operações deve ser
considerado. De acordo com Ângelo (2005) e em entrevistas com os operadores logísticos das
empresas A, B, C, D e G, as operações de transbordo, nos terminais intermodais, podem
apresentar até 0,25 % de perdas nas cargas. Em terminais portuários, o índice de perda no
transbordo cai para 0,2%.
A Tabela 15 apresenta, de forma resumida, os percentuais de perda durante o
transporte, para cada modal apresentado neste estudo.
82
Tabela 15 – Índices de perdas no transporte de cargas
Modal / Terminal Perda no
transporte (%)
Perda no
transbordo (%)
Rodoviário:
longa distância
curta distância (ponta rodoviária)
0,75
0,40
0,25
0,25
Ferroviário 0,20 0,25
Hidroviário 0,00 0,25
Fonte: Ângelo (2005), CNT (2006c) e dados da pesquisa (2007)
Além das perdas no transporte, destaca-se, nesta pesquisa, a preocupação quanto aos
aspectos relacionados à segurança da carga. Por esse motivo, eles serão tratados na sub-seção
a seguir.
4.7 SEGURANÇA
Em relação aos riscos no transporte, várias ações podem ser buscadas para minimizar
os impactos relacionados às perdas de cargas, avarias nos equipamentos e outros danos que
afetam a rentabilidade em uma comercialização. Entre essas ações, está a transferência do
risco, por meio da contratação dos serviços de seguro.
Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2006b), em 2003 o roubo de
carga causou prejuízos de R$ 800 milhões e o transporte rodoviário é responsável por 60,5%
de toda movimentação de carga no Brasil. De acordo com a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI), que investigou no ano de 2000 o roubo de cargas, ocorreu um aumento de
40% no custo do seguro, o que inviabiliza, em parte, o lucro das empresas transportadoras.
Como forma de proteção aos veículos e equipamentos contra acidentes, existe a opção
de seguro de casco e de mercadorias, que envolve custo adicional ao frete. Os transportes
realizados pelo modal rodoviário dinamizam o mercado de seguros. Na avaliação das
seguradoras, uma série de fatores acaba pesando no cálculo final do seguro de um caminhão,
por exemplo: o perfil da transportadora (número de veículos, tempo no mercado, regiões onde
atua), o histórico de sinistros, a idade média da frota e os produtos que a empresa transporta,
entre outros aspectos. Além disso, na maioria dos casos, a seguradora exige daqueles que
decidem proteger seu patrimônio a contratação de uma terceira empresa para fazer o
gerenciamento de risco da frota. Dessa maneira, além do seguro do casco ou da carga, devem
83
ser considerados os custos do serviço de gerenciamento de risco, que visa reduzir as chances
de perda do veículo por meio de ações preventivas e procedimentos como, por exemplo, o
rastreamento contínuo da frota, a vigilância interna dos veículos, por meio de câmeras, e a
instalação de travas para rodas e para o baú.
Os seguros de transporte de carga, segundo Gameiro e Caixeta-Filho (2001),
geralmente são estabelecidos por um contrato aberto, em que não há exigências de contrato
específico para cada carregamento, ocorrendo averbações do segurado à seguradora. Os
autores alegam a existência de prêmios que variam em uma série de aspectos, sendo alguns
deles o valor, o tipo de carga, a distância percorrida ou o local de origem e destino da carga.
Uma opção bastante utilizada para proporcionar maior segurança às cargas é a
implantação do sistema de Posicionamento Global por Satélite (GPS), que é uma tecnologia
de comunicação avançada e bastante utilizada pela logística e segurança de cargas. Este
sistema oferece condições para o monitoramento do trajeto, do desempenho e localização dos
veículos.
De acordo com o cálculo realizado por Quatro Rodas (2007), com base na Pesquisa
Anual de Serviços do IBGE, os custos das operações de segurança no transporte de carga, em
2004, refletem entre 2,5% e 10% sobre o valor da carga e, segundo a Federação Nacional das
Empresas de Seguros Privados e Capitalização (Fenaseg), estes custos geralmente são
repassados para o cliente na cobrança do frete.
Existem alguns seguros básicos de cargas disponíveis no Brasil, para o transporte
rodoviário, em que se destacam os especificados a seguir.
O seguro obrigatório destinado ao transportador rodoviário é o de Responsabilidade
Civil do Transportador Rodoviário de Carga (RCTR-C), que cobre perdas ou danos sofridos
pelos bens ou mercadorias pertencentes a terceiros, decorrentes de acidentes com o veículo
transportador, tais como: colisão, capotagem, abalroamento, tombamento, incêndio ou
explosão. Cobre também incêndio ou explosão nos depósitos, armazéns ou pátios usados pelo
segurado.
O seguro de Responsabilidade Civil Facultativa do Transportador Rodoviário por
Desaparecimento de Carga (RCF-DC) é facultativo e destinado ao transportador rodoviário,
podendo ser contratado somente em conjunto com o seguro de RCTR-C. Cobre o
desaparecimento da carga, juntamente com o veículo transportador, em conseqüência de
apropriação indébita, estelionato, furto, extorsão simples ou mediante seqüestro, roubo
durante o trânsito, no depósito do transportador, ou durante viagem fluvial. A cobertura obtida
por meio deste seguro é relativa ao que foi previamente negociado e estipulado ao contratar a
84
seguradora, em que é necessário indicar tipo, quantidade e valor dos bens e mercadorias
integrantes da carga a ser transportada.
Para as diversas modalidades de transporte, tem-se o seguro de Transporte Nacional
que é utilizado pelos proprietários (embarcadores) de mercadorias, transportadas em seus
veículos e/ou entregues para terceiros (autônomos ou transportadores), a fim de serem
transportadas por vias terrestres, aéreas e aquaviárias, no território nacional. Este seguro visa
proteger o produto ou bem durante o seu transporte, e pode cobrir perdas ou danos sofridos
pela mercadoria transportada, decorrentes de: colisão, capotagem, descarrilamento,
tombamento, incêndio e explosão no veículo transportador, roubo proveniente de assalto à
mão armada, desaparecimento do carregamento total do veículo, avarias, entre outras
coberturas.
O seguro de Cascos Marítimos é destinado às embarcações marítimas, fluviais e
lacustres, aos proprietários e passageiros, com coberturas básicas abrangendo a perda total, a
assistência, salvamento, danos materiais e embarcações de terceiros. As taxas variam de
acordo com o tipo, idade, utilização e limite de navegabilidade da embarcação, em que é
necessário um laudo de vistoria prévia da embarcação.
Na Tabela 16 são demonstrados os números de acidentes ocorridos nas rodovias e
ferrovias brasileiras relativos ao período entre os anos 2000 e 2004, em que poderá ser
efetuada uma comparação entre os modais, referente ao critério relativo aos danos.
Tabela 16 – Acidentes com cargas nas rodovias e ferrovias do Brasil: 2000 - 2004
ANO RODOVIA FERROVIA
2000 50.342 3.502
2001 Não informado 2.672
2002 50.597 2.674
2003 45.796 2.245
2004 50.498 2.211
Fonte: ANTT (2005)
Na hidrovia, apesar da dificuldade na obtenção de dados estatísticos e informações
sobre acidentes, verifica-se, por meio do DH (2006), que o número de acidentes, por ano, é
muito pequeno em relação aos modais rodoviário e ferroviário.
Na Tabela 17 estão relacionados os números de acidentes na hidrovia Tietê-Paraná,
referentes ao período entre os anos de 2000 e 2004, bem como as causas de sua ocorrência.
85
Tabela 17 – Acidentes na Hidrovia Tietê-Paraná: 2000 - 2004
Ano
Colisão
Eclusas
Colisão
Pontes
Encalhe/Colisão
leito do rio
Chatas
(deriva/desgarrada)
Nº Acidentes
2000 2 2
2001 2 1 1 4
2002 2 1 3
2003 4 1 5
2004 8 1 1 10
Total 18 3 1 2 24
Fonte: DH (2006)
Verifica-se que a maior incidência de acidentes ocorre nas transposições de eclusas e
que, no período, não ocorreu nenhuma colisão entre embarcações. Conforme relatos de
entrevista com a empresa B, os acidentes com as chatas, em que foram desgarradas do
comboio e/ou ficaram à deriva, as cargas puderam ser recuperadas.
De acordo com o DH (2006), na hidrovia Tietê-Paraná ocorreram 10 acidentes, no ano
de 2004 e esse número diminuiu, em 2005, para 8 acidentes. Entretanto, a movimentação de
cargas por este modal ainda é muito pequena, em relação aos demais meios de transporte.
4.8 IMPACTO AMBIENTAL
A participação, em percentual, de cada modal de transporte nos custos referentes aos
problemas ambientais pode ser verificada na Tabela 18, que foi construída pelo Departamento
de Transportes dos Estados Unidos (USDT, 1994).
Para a denominação como custos sociais, foram consideraram aspectos variados, em
que se contempla desde o uso e ocupação do solo até os ruídos que são provocados pelos
equipamentos de transporte. Esses aspectos são de extrema importância para a compreensão
da necessidade de conciliar a redução de custos com responsabilidade ambiental. A
competência nessa conciliação permitirá vantagem competitiva no ambiente organizacional.
Em relação aos aspectos quanto ao meio ambiente, a hidrovia oferece menor impacto
ambiental, comparativamente às demais opções de transporte e isso pode ser verificado na
Tabela 18, a seguir.
86
Tabela 18 – Participação dos modais de transporte nos custos ambientais – em %
Participação dos Modais nos custos ambientais
Problemas Ambientais
Aéreo Ferroviário Hidroviário Rodoviário Total %
Poluição atmosférica 2 4 3 91 100
Poluição sonora 26 10 0 64 100
Ocupação do Solo 1 7 1 91 100
Construção/ manutenção 2 37 5 56 100
Total (%) 7,7 14,5 2,3 75,5 100
Fonte: USDT (1994)
A partir da Tabela 18, constata-se que o modal hidroviário é responsável por apenas
2,3% dos custos relacionados ao ambiente, enquanto o modal rodoviário é responsável por
75,5%. Considerados os custos pagos pela sociedade pelo combate à poluição sonora, a maior
participação é do modal rodoviário, responsável por 64% desses custos, enquanto o modal
hidroviário não é responsável por nenhum dos custos relativos a esse item.
Em relação aos custos advindos da ocupação do solo, o modal rodoviário é
responsável por 91% desses custos e o modal hidroviário, apenas 1%. A ocupação do solo
pela hidrovia, por exemplo, não impede a produção de alimentos para a população, devido à
permanência da produção de peixes e outras fontes alimentares. Isso não ocorre com o modal
rodoviário, que exige pavimentação e túneis para o tráfego dos veículos, ocupando áreas de
terra consideráveis. Ademais, quando o aproveitamento do leito do rio ocorre de forma não
planejada, gera problemas graves ao meio ambiente, como o fenômeno do assoreamento, que
são depósitos de sedimentos nos leitos dos rios, causados pela erosão.
Quanto aos custos relativos à poluição atmosférica, o transporte rodoviário tem
participação de 91%. De acordo com estudos realizados pela ANTAQ (2007), existe uma
vantagem expressiva em relação à emissão de gases no ar pelo modal hidroviário, pois no
sistema rodoviário a emissão de gás carbônico, para cada mil toneladas por quilômetro útil
(TKU), é de 116 quilos. Nas ferrovias, a emissão é de 34 quilos e no sistema hidroviário, a
emissão é de 20 quilos. Em relação ao monóxido de carbono, o sistema hidroviário emite no
ar 254 gramas, a cada mil TKUs, o modal ferroviário emite até 831 gramas e o modal
rodoviário, até 4.617 gramas.
Para a demonstração dos custos relativos à construção e manutenção das vias, foi
estruturada a Tabela 19, com os valores e a participação de cada modal.
87
Tabela 19 - Participação dos modais de transporte nos custos de construção e manutenção de
vias
Modal
Custos de construção e manutenção
(R$/Km)
1
Participação
%
Rodoviário 773.960,00 56
Ferroviário 2.462.600,00 37
Hidroviário 59.806,00 5
1
Valores obtidos da ANTAQ (2007) e convertidos à taxa oficial de câmbio de 07/12/2007 de R$ 1,759 por dólar
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio dos valores resultantes da Tabela 19, verifica-se que para a construção de
hidrovias são necessários investimentos muito menores, em relação ao demais modais, além
de sua vida útil ser mais alta, com um custo de manutenção baixo. O custo de construção e
manutenção da hidrovia representa 7,7% dos custos das rodovias e, 2,4% da ferrovia.
Além dos fatores expostos acima, o consumo de combustível no modal rodoviário é
muito maior do que nos ferroviário e hidroviário. Esses valores estão descritos na Tabela 20.
Tabela 20 – Consumo de combustível pelos modais de transporte
Modal
Consumo de Combustível
L / t / 1.000 Km
Rodoviário 96
Ferroviário 10
Hidroviário 5
Fonte: ANTAQ (2007)
É notória a necessidade de cuidados para a preservação das vias navegáveis nos rios e
lagos, como ações de conscientização dos usuários e proteção contra acidentes ambientais.
Entretanto, os impactos em relação ao meio ambiente, causados pela devastação na
implantação de rodovias e ferrovias, são muito maiores do que na hidrovia.
Os fatores que influenciam o desempenho de cada modal de transporte foram expostos
de maneira que possam servir para a análise comparativa entre os modais. Este trabalho tem
como foco o transporte de grãos agrícolas e foram estabelecidos como destino para esses
produtos os portos de Santos e de Paranaguá. Dessa maneira, na sub-seção a seguir será feito
um levantamento de alguns aspectos inerentes ao desempenho de cada um desses portos.
88
4.9 DESEMPENHO DOS PORTOS DE SANTOS E PARANAGUÁ
Em análise sobre o desempenho portuário, a ANTAQ (2005) realizou um estudo
comparativo dos principais portos do Sistema Portuário Brasileiro, tomando como base o ano
de 2004, procurando determinar indicadores operacionais para medir a economicidade,
eficiência e a qualidade dos serviços oferecidos pelos portos aos seus usuários. Foram
incluídos no estudo 19 portos, dos 46 participantes das cargas movimentadas no Sistema
Portuário Brasileiro, estando entre eles os portos de Paranaguá (PR) e de Santos (SP), objetos
desta pesquisa.
Os portos de Santos e Paranaguá movimentam, além de outras cargas, os granéis
sólidos e apresentam a soja como um produto comum a ambos. Segundo Caixeta-Filho
(2006), esses portos são considerados os que possuem terminais mais eficientes para o
agronegócio da soja. Os 19 portos estudados movimentaram em 2004 mais de 369 milhões de
toneladas de granéis sólidos, tendo o porto de Santos uma participação de 7,55% deste total e
o porto de Paranaguá uma participação de 5,7%. Neste mesmo ano, no porto de Santos houve
uma freqüência de 203 navios carregados de soja a granel e no porto de Paranaguá esta
freqüência foi de 127 navios. Estes resultados indicam que no porto de Santos, foram
atracados 63% a mais de navios do que o porto de Paranaguá.
Os indicadores de desempenho operacional em 2004, apresentados pela ANTAQ
(2005), para a soja e farelo são apresentados na Tabela 21.
Tabela 21 - Indicadores de desempenho operacional dos portos de Santos e Paranaguá para a
soja e farelo a granel - 2004
PORTO/Terminal
Tempo Médio de
Espera (h)
Consignação Média
(t/navio)
Prancha Média
Diária (t/dia)
SANTOS 20 38.389 13.697
PARANAGUÁ 138 32.122 13.003
Fonte: ANTAQ (2005)
Conforme os indicadores da Tabela 21, o tempo médio de espera para atracação dos
navios no Porto de Paranaguá é de 138 horas, enquanto no porto de Santos este tempo é de 20
horas, indicando uma demora significativa no porto de Paranaguá. Em relação à Consignação
Média, ou seja, o total da quantidade média de carga movimentada por navio, é verificado um
89
equilíbrio para os dois portos. O mesmo ocorre quanto à Prancha Média Diária, que significa
a produtividade no atendimento ao navio, considerando o início e término da atracação.
A partir dos resultados destes indicadores, pode-se afirmar que o tempo para o navio
atracar e ter sido descarregado, nos terminais, é de 3 dias. Considerando-se a quantidade
média das cargas movimentadas por navio e o tempo médio de espera para atracar, esse tempo
é de 3 dias e 15 horas, para o porto de Santos, e 8 dias e 5 horas, para o porto de Paranaguá,
ou seja, neste último o tempo é mais do que o dobro do realizado pelo porto de Santos.
Entretanto, o indicador Atendimento ao Tráfego, que significa o percentual da carga ou
produto que cada terminal ou conjunto de berços atendeu, em relação à movimentação total
dos produtos, apresentou um resultado favorável para o porto de Paranaguá que, em média,
teve melhor desempenho.
O preço médio total cobrado nos portos, para o manuseio, para as tarifas portuárias e
para as taxas de entrada e saída de granéis sólidos, é de aproximadamente R$ 6,00, para o
porto de Santos e de R$ 11,00, para o porto de Paranaguá. Estes valores foram resultantes da
média da somatória dos serviços acima citados, praticados pelos terminais de granéis sólidos
de cada porto. Verifica-se, portanto, que entre estes dois portos, o de Santos apresenta maior
eficiência, quanto aos custos portuários.
Segundo informação em entrevista com o gerente de logística da empresa H, existe um
valor cobrado pelo porto de Paranaguá aos transportadores para permanência, a partir da
quinta hora, que equivale a R$ 1,00, por tonelada, a cada hora adicional em espera no porto.
O porto de São Francisco do Sul (SC) tem apresentado, nos últimos anos, números
crescentes relacionados ao recebimento de granéis agrícolas, principalmente quanto aos
carregamentos de soja. Segundo a ANTAQ (2005), admite-se que, em parte, esse volume se
deve aos reflexos da transferência da movimentação que ocorria no porto de Paranaguá e que,
pela restrição imposta pelo Governo do Estado do Paraná, quanto às operações com produtos
geneticamente modificados – transgênicos –, as cargas estão sendo deslocadas para o porto
catarinense. Entretanto, os resultados apresentados no relatório da ANTAQ (2005), apontam
deficiência desse porto para a movimentação de cargas, que apresenta a média de 294 horas
para os navios atracarem.
90
5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Após a caracterização do problema de pesquisa, em que foram apontados os principais
fatores componentes da logística de escoamento dos granéis agrícolas da região Oeste do
Paraná, os dados puderam ser interpretados e analisados, conforme os tópicos a seguir.
5.1 DISTÂNCIA E TEMPO DE PERCURSO
Para este trabalho de pesquisa, foi necessário levantar os possíveis percursos para o
escoamento dos granéis agrícolas da região Oeste do Paraná, destinados aos portos de
Paranaguá (PR) e de Santos (SP), detalhados a seguir.
5.1.1 Determinação dos percursos
As configurações constantes na Tabela 22, representam um arranjo entre os modais de
transporte, os percursos e os destinos possíveis de serem realizados, para atender aos
propósitos desse trabalho.
Tabela 22 – Configuração da modalidade de transporte para os granéis agrícolas da região
Oeste paranaense
ARRANJO MODAL DESTINO
Multimodal Rodoviário-Hidroviário-Ferroviário Porto de Santos (SP)
Monomodal Rodoviário Porto de Santos (SP)
Intermodal Rodoviário-Ferroviário Porto de Paranaguá (PR)
Monomodal Rodoviário Porto de Paranaguá (PR)
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
A configuração dos percursos, constantes na Tabela 22, permite o cálculo das
distâncias, que resultará em indicadores de desempenho, a serem comparados posteriormente.
Não será considerada a inexistência de infra-estrutura para os transbordos, em cada um dos
91
elos da rede. Dessa maneira, as principais distâncias dessas composições poderão ser
calculadas.
É essencial que seja definido um ponto de partida para o transporte. Para isso, foi
verificada a produção dos três principais grãos, produzidos na região Oeste paranaense: o
milho, a soja e o trigo. Os dados da produção foram disponibilizados por Manfio (2007),
referentes ao relatório de produção agrícola da safra 2004/2005, da Secretaria da Agricultura e
do Abastecimento (SEAB), Departamento de Economia Rural (DERAL) e, resumidos na
Tabela 23.
Tabela 23 – Produção de milho, soja e trigo na região Oeste paranaense em toneladas: safra
2004-2005
MICRORREGIÃO MILHO SOJA TRIGO TOTAL %
Toledo 452.926 1.922.145 463.403 2.838.474 62,38%
Cascavel 548.394 223.813 206.638 978.845 21,51%
Foz do Iguaçu 177.970 371.042 183.881 732.893 16,11%
TOTAL 1.179.290 2.517.000 853.922 4.550.212 100,00%
Fonte: Manfio (2007)
A partir da Tabela 23, verificou-se maior produtividade na microrregião de Toledo,
composta pelos municípios relacionados na Tabela 2, com mais de 60% da produção, em
relação às demais microrregiões que compõem a região Oeste paranaense. Apesar de a
microrregião de Cascavel ter superado as demais microrregiões, quanto à produção de milho,
o município de Toledo obteve maior produtividade, em sua microrregião.
Com o propósito de delimitar a abrangência da análise a ser desenvolvida neste
trabalho, foi necessário determinar parâmetros, expostos a seguir.
5.1.2 Parâmetros para a determinação dos percursos
A configuração estabelecida na Tabela 22, permitirá combinações entre os modais de
transporte. As comparações a serem realizadas entre as configurações exigirão o
estabelecimento de alguns critérios quanto à eficiência logística. Em decorrência disso, neste
estudo, foram adotados um conjunto de critérios, sugeridos por Bowersox (2001), Ballou
(1993) e Martins e Lobo (2005), sendo eles: o preço do frete, o tempo médio de entrega, a
92
variabilidade do tempo em trânsito, as perdas e os danos. A descrição de cada um desses
critérios será efetuada a seguir, em que serão incluídos os aspectos relacionados ao meio
ambiente e economia de energia, a partir da determinação de parâmetros para análise.
Cada percurso traçado na configuração constante na Tabela 22 exigirá algumas
considerações necessárias, que serão especificadas a seguir:
a) a soja será o produto escolhido para o cálculo do transporte, com o propósito de
uniformizar e facilitar a análise;
b) conforme a Tabela 23, a produção de grãos está concentrada na microrregião de
Toledo, sendo estabelecida a origem do transporte no município de Toledo;
c) nos preços médios de fretes, praticados pelos transportadores dos modais
rodoviário, ferroviário e hidroviário, estão considerados custos de transporte, como
por exemplo, o consumo de combustível e lubrificantes, a depreciação, a
manutenção, o seguro, as taxas de juros e pessoal (motorista, maquinista e
tripulação).
d) apesar de não existir terminal de transbordo no porto fluvial de Guaíra, será
considerado como existente, para a realização das configurações;
e) o terminal de Pederneiras foi escolhido como interligação da hidrovia, por estar em
operação e apto a receber a soja a granel.
f) a capacidade de transporte estabelecida neste estudo para cada modal será de:
30 toneladas, por carreta de seis eixos, para o transporte rodoviário;
50 toneladas, por comboio de 25 vagões, em bitola métrica, equivalente a
1.250 toneladas, para o transporte ferroviário;
70 toneladas, por comboio de 25 vagões, em bitola larga (1,6 metro),
equivalente a 1.750 toneladas, para o transporte ferroviário;
5.600 toneladas, por comboio hidroviário, composto de 4 chatas de 1.400
toneladas cada.
A partir do estabelecimento dos parâmetros e do levantamento dos fatores que afetam
o desempenho de cada modal de transporte, poderão ser simulados os percursos, referentes às
configurações constantes na Tabela 22, em que o ponto de partida se dará no município de
Toledo, pelo modal rodoviário.
93
5.1.3 Cálculo das distâncias e do tempo de percurso
Primeiramente, serão consideradas apenas as distâncias percorridas em cada trajeto. A
primeira configuração se dará pelo transporte rodoviário, no trecho entre Toledo (PR) e
Guaíra (PR), pela BR 163, e a distância percorrida será de, aproximadamente, 114
quilômetros. Em Guaíra, ocorrerá o transbordo da carga para o modal hidroviário e esta
seguirá até o porto intermodal de Pederneiras (SP), percorrendo, aproximadamente, 924
quilômetros. Em Pederneiras, ocorrerá o transbordo para o modal ferroviário, que seguirá até
o porto de Santos (SP), num percurso de, aproximadamente, 463 quilômetros. Dessa maneira,
a distância total percorrida será de 1.501 quilômetros.
A segunda configuração, apesar de não ter sido verificada sua utilização, tornou-se
interessante para a análise, devido ao tempo de espera dos caminhões para descarregar no
porto de Paranaguá. Sendo assim, o percurso simulado será efetuado pelo modal rodoviário,
de Toledo (PR) a Santos (SP). O trecho de Toledo a Curitiba, pela BR-277, irá perfazer 537
quilômetros; de Curitiba a Pedro Barros (SP), pela rodovia BR-116 (Régis Bittencourt), serão
274 quilômetros. A partir desse ponto, pela SP-055, até o porto de Santos, serão percorridos
117 quilômetros. A distância total percorrida será de, aproximadamente, 928 quilômetros.
A terceira configuração se dará pela intermodalidade entre o transporte rodoviário e
ferroviário, de Toledo (PR) a Paranaguá (PR). No trecho entre Toledo (PR) e Cascavel (PR),
pela BR 467, a distância percorrida será de, aproximadamente, 45 quilômetros. Em Cascavel,
ocorrerá o transbordo para o modal ferroviário e, a partir daí, seguirá até o porto de Paranaguá
(PR), perfazendo um percurso de, aproximadamente, 741 quilômetros. Dessa maneira, a
distância total percorrida será de 786 quilômetros.
A quarta configuração se dará somente pelo transporte rodoviário, de Toledo (PR) a
Paranaguá (PR). O percurso entre Toledo e Cascavel será realizado pela BR 467, e o percurso
entre Cascavel e o porto de Paranaguá (PR), será feito pela BR 277. A distância percorrida,
nesses percursos, será de, aproximadamente, 621 quilômetros.
Essas configurações foram desenvolvidas com o propósito de serem comparados os
arranjos de transportes, para as cargas de granéis agrícolas, da região Oeste do Paraná. Dessa
maneira, poderão ser identificadas as potencialidades da multimodalidade.
A Figura 7 ilustra o mapa no qual constam os trajetos a serem realizados pelos modais
rodoviário, ferroviário e hidroviário, a partir do município de Toledo (PR), com destino aos
portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP). Os percursos foram arranjados, considerando-se a
94
monomodalidade, realizada pelo transporte rodoviário, a intermodalidade, realizada entre os
transportes rodoviário e ferroviário e a multimodalidade entre os transportes rodoviário,
hidroviário e ferroviário.
Legenda:
. . . . . . . . . . Rodoviário
___________
Ferroviário
- - - - - - Hidroviário
Figura 7 - Mapa dos percursos configurados
Fonte: Adaptado de Ahrana (2005)
Para a determinação do tempo, deverão ser levados em consideração alguns fatores,
que irão afetar o desempenho de cada percurso, conforme a seguir.
A velocidade média do transporte rodoviário é de 50 quilômetros por hora,
considerando o peso e volume das cargas e as condições das rodovias, pertencentes aos
trechos especificados para esta pesquisa.
O transporte ferroviário apresenta variações de velocidade, pois, baseado na Pesquisa
Ferroviária da Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2006c), a velocidade média
95
comercial, no percurso de Cascavel a Guarapuava, é de 37,5 quilômetros por hora de
Guarapuava a Desvio Ribas, é de 15,95 quilômetros por hora, e de Desvio Ribas a Paranaguá,
é de 15,43 quilômetros por hora. No percurso de Pederneiras a Campinas, a velocidade média
comercial é de 30 quilômetros por hora; de Campinas a Jundiaí, é de 20 quilômetros por hora,
e de Jundiaí a Santos, é de 16 quilômetros por hora.
O transporte hidroviário apresenta uma velocidade média de 12 quilômetros por hora,
indicado por Caixeta-Filho (2001) e as entrevistas com operadores de transporte hidroviário,
para comboio duplo, que é composto de quatro barcaças de 1,4 mil toneladas, dispostas em
linha e movimentadas por empurrador, dotado de dois motores de 470 hp. Entretanto, devido
aos diversos trechos para transposição de pontes e eclusas, demonstrados na seção anterior,
esse modal também apresenta variações quanto à velocidade.
O método dos grafos pôde ser utilizado, representado pela rede direcionada,
configurada para os percursos de transporte da produção de grãos da região Oeste do Paraná,
com a indicação das distâncias percorridas e do tempo gasto, em cada arranjo. Essa
configuração está constante na Figura 8.
Figura 8 - Rede direcionada para os percursos de transporte de grãos da região Oeste do Paraná
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Na configuração da Figura 8, os nós estão representando os municípios de ocorrência
da interconexão entre os modais de transporte. A eles são atribuídos valores, que significam o
1
2
3
6
7
8
11
114
924
621
45
250
12,5 h
621 Km
99,1 h
1501 Km
260
1 - Toledo
2 - Guaíra
3 - Pederneiras
4 – Campinas
5 – Jundiaí
6 – Santos
7 – Cascavel
8 - Guarapuava
9 – Desvio Ribas
10 – Curitiba
11 - Paranaguá
9
100
10
131
38,8 h
786
Km
4
295
5
40
128
18,6h
928 Km
96
tempo, em horas, que o percurso será realizado. Nos destinos finais, de cada percurso, os nós
receberão um valor adicional, representando o total de horas para a realização de todo o
trajeto daquele arranjo. Os arcos representam as distâncias percorridas, em quilômetros, para
cada trecho do percurso. Em cada arranjo, estão indicadas as distâncias de cada percurso.
Dessa maneira, para a realização do percurso, em que ocorrerá a multimodalidade, o
tempo médio gasto será de 99,11 horas, o arranjo intermodal ocorrerá em 38,84 horas e o
transporte, por apenas um modal, o rodoviário, no percurso de Toledo a Paranaguá, ocorrerá
em 12,52 horas e de Toledo a Santos, em 18,56 horas.
5.1.4 Cálculo do frete para cada percurso
Em cada percurso ocorrerão gastos relativos ao transporte e, por serem os arranjos do
modo de transporte serem diferentes para cada configuração, os valores deverão ser
estratificados e posteriormente calculados, em conformidade a cada arranjo. Com esse
propósito, os preços médios dos fretes, por tonelada e por quilômetro, foram considerados,
conforme dados disponíveis no Sifreca (2007).
Na Tabela 24 estão demonstrados os dados para a composição do arranjo multimodal,
que resultará no valor do frete, por tonelada/quilômetro.
Tabela 24 – Preço do frete para o arranjo multimodal: rodo-hidro-ferroviário
Frete
Trecho Modal
Dist.
km
km/h
Tempo
(h)
Capaci-
dade
(t)
Viagem
R$/t.km R$/t
Desembolso
Total R$
1 Toledo-Guaíra Rodo 114 50 2,3 30 187 0,15 95.760,00
2 Guaíra-Pederneiras Hidro 924 12 77,0 5600 1 0,05 17,10 236.470,08
3 Pederneiras-Campinas Ferro 295 30 9,8 1750 42,23
4 Campinas-Jundiaí Ferro 40 20 2,0 1750
5 Jundiaí-Santos Ferro 128 16 8,0 1750
6 Pederneiras-Santos Ferro 463 19,8 1750 3 0,11 281.318,80
Total 1501 25,6 99,1 5600 0,07 109,56 50,24
Notas:
No cálculo do frete considerou-se o embarque de 5.600 toneladas.
A carga líquida dos vagões é correspondente à bitola de 1,60 metro (bitola larga).
A composição do comboio é de 25 vagões, de 70 toneladas cada.
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Os valores constantes na Tabela 24 foram calculados a partir da Equação 1, a seguir.
97
(
)
=
+=
n
i
iiiii
TNPCDTotalDesembolso
1
(1)
em que:
T
i
= Tarifa de pedágio no trecho i.
D
i
= Distância percorrida no trecho i (km).
C
i
= Capacidade de carga (t).
P
i
= Preço do frete no trecho i (R$/t.km).
N
i
= Número de viagens no trecho i.
n = Número de trechos do arranjo
Aplicada a Equação 1, tem-se que o arranjo multimodal exigiria um desembolso total
de R$ 613,55 mil. A Tabela 24 demonstra que esse valor corresponde ao transporte de 5.600
toneladas, num percurso de 1.501 quilômetros. Para esse percurso ser realizado seriam
necessárias 99,1 horas.
O arranjo intermodal, em que está considerado o transporte rodoviário e ferroviário, é
demonstrado na Tabela 25.
Tabela 25 – Preço do frete para o arranjo intermodal: rodo-ferroviário
Frete
Trecho
Moda
l
Dist
.
Km
Km/
h
Temp
o (h)
Capacidad
e (t)
R$/t.K
m
Desembols
o
Total R$
R$/t
Viagen
s
1 Toledo-Cascavel Rodo 45 50 0,9 30 0,21 11.812,50 9,45 41,67
2 Cascavel-Guarapuava Ferro 250 38 6,7 1250
3
Guarapuava-Desvio
Ribas
Ferro 260 16 16,3 625
4 Desvio Ribas-Paranaguá Ferro 231 15 15,0 625
5 Cascavel-Paranaguá Ferro 741 37,9 0,07 64.837,50
51,8
7
1,00
Total 786 38,84 1250 76.650,00
61,3
2
Notas:
No cálculo do frete considerou-se o embarque de 1.250 toneladas.
A carga líquida dos vagões é correspondente à bitola de 1,00 metro (bitola métrica).
A composição do comboio é de 25 vagões, de 50 toneladas cada.
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Aplicada a Equação 1, tem-se que o arranjo intermodal exigiria um desembolso total
de R$ 76,65 mil, equivalente a R$ 61,32 por tonelada. A Tabela 25 demonstra que esse valor
98
corresponde ao transporte de 1.250 toneladas, num percurso de 786 quilômetros. Para a
realização desse percurso seriam necessárias 38,84 horas.
Para a verificação do valor do frete no transporte rodoviário elaborou-se a Tabela 26, a
seguir.
Tabela 26 – Preço do frete para o tranporte monomodal: rodoviário
Trecho Modal
Dist.
km
Km/h
Tempo
(h)
Capacidade
(t)
Frete
R$/t.km
Frete
Total
R$
Pedágio
Desembolso
Total
R$
R$/t R$/t/km
1
Toledo a
Paranaguá
Rodo 621 50 12,4 30 0,09 1.676,70 333,72 2.010,42 67,01 0,108
2
Toledo a
Santos
Rodo 928 50 18,6 30 0,09 2.505,60 281,26 2.786,86 92,90 0,10
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Em cada percurso indicado na Tabela 26, foram considerados os valores dos pedágios.
No trecho da BR-116 e SP-055, não há cobranças dessa tarifa, porém, com o arremate feito no
leilão para a concessão das rodovias federais, ocorrido no mês de outubro de 2007, na BR-
116, a tarifa poderá ser cobrada a partir de meados de 2008, conforme previsão da empresa
arrematante. Ainda assim, a previsão para o valor de pedágio a ser cobrado nessa rodovia,
pode variar entre R$ 1,02 e R$ 2,80, muito inferior aos cobrados em outros trechos das
rodovias paulistas.
De acordo com informações prestadas pelos entrevistados, no caso da contratação dos
serviços de transporte de empresa terceirizada ou de autônomo, o valor do pedágio é
negociado separadamente e geralmente é pago antecipado.
Aplicada a Equação 1 para o arranjo monomodal, no trecho 1, demonstrado na Tabela
26, tem-se que o desembolso total exigido para essa configuração seria de R$ 2,01 mil,
equivalente a R$ 67,01 por tonelada. Nesse trecho considerou-se 30 toneladas a serem
transportadas, num percurso de 621 quilômetros, realizados em 12,4 horas.
Da mesma maneira, para o arranjo monomodal, no trecho 2, o desembolso total
exigido seria de R$ 2,79 mil, equivalente a R$ 92,90 por tonelada. Para esse percurso
considerou-se 30 toneladas a serem transportadas, numa distância de 928 quilômetros em 18,6
horas.
A tabela 27 permite maior visualização dos principais indicadores utilizados para a
análise do problema de pesquisa.
99
Tabela 27 – Resumo dos indicadores utilizados na análise de cada arranjo.
Frete
Trecho Modal
Dist.
km
Tempo
(h)
Capaci-
dade
carga
(t)
R$/t R$/t.km
Desembolso
R$
Perdas
R$
(*)
Consumo
Combustível
R$
(**)
1
Toledo a
Santos
Rodoviário
Hidroviário
Ferroviário
1.501 99,1 5600 109,56 0,07 613.548,88 23.162,31 212.602,43
2
Toledo a
Paranaguá
Rodoviário
Ferroviário
786 38,8 1250 61,32 0,078 76.650,00 158,21 27.565,50
3
Toledo a
Paranaguá
Rodoviário 621 12,4 30 67,01 0,108 2.010,42 5.301,88 3.362,34
4
Toledo a
Santos
Rodoviário 928 18,6 30 92,90 1,10 2.786,86 158,21 5.024,56
(*)
Calculadas de acordo com dados da Tabela 15, baseado no preço da soja a R$ 42,19 por saca de 60 quilos,
disponibilizado pelo Relatório Agromensal CEPEA/ESALQ - out. 2007.
(**)
Calculado com os dados da Tabela 20 no preço do óleo diesel a R$ 1,880/L, conforme ANP (ago. 2007).
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Em análise aos trechos 1 e 4, destinados ao porto de Santos, constantes na Tabela 27,
verifica-se que a capacidade maior de acondicionamento da carga, disponibilizada pelo modal
hidroviário, por cada viagem, depende de grande desembolso imediato, o que pode ser
considerado bastante expressivo pelos pequenos produtores da região, apesar da vantagem de
diluição dos custos, por tonelada transportada, que o modal oferece. Verificou-se, nesta
pesquisa, que existe uma cultura entre esses produtores e profissionais entrevistados de
preferência para o envio das cargas em pequenas quantidades devido à falta de capital de giro
para cobrir grandes valores e pela necessidade de abastecer as agroindústrias instaladas na
região Oeste e naquelas próximas a Guarapuava e Ponta Grossa. Esse comportamento acarreta
maior utilização do modal rodoviário, já que o valor desembolsado para o envio pelo
transporte rodoviário representa apenas 0,39%, do desembolsado para o arranjo multimodal.
A oportunidade de utilização do modal hidroviário, com o propósito de diluir os custos
por tonelada transportada, é beneficiada com a estratégia de se organizar por meio de
cooperativas. Esse modelo de organização é muito comum na região Oeste do Paraná,
entretanto, são recentes as ações para a busca de eficiência logística. Em entrevista ao
responsável pela empresa E, foi ressaltado que raramente são analisadas as necessidades dos
cooperados quanto à infra-estrutura logística, que poderiam ser discutidas nas reuniões
periódicas ou assembléias anuais.
100
Um fator que afasta as vantagens de custo, por utilização do modal hidroviário, é o
preço do frete rodoviário estar muito abaixo do que deveria, para cobrir os custos desse
transporte. Fica evidente o problema enfrentado pelos transportadores na Tabela 27. Tomando
como exemplo a configuração monomodal, com destino ao porto de Paranaguá, verifica-se
que o consumo de combustível, para o percurso, seria de R$ 3,3 mil e, o valor pago pelo
embarcador, seria de R$ 2,01 mil, o que significa um prejuízo de R$ 1,35 mil por viagem. Um
prejuízo maior ocorre na configuração monomodal, com destino ao porto de Santos, que seria
de R$ 2,24 mil.
Oportunamente, durante o acompanhamento das descargas dos caminhões, no terminal
ferroviário de Cascavel, pôde ser constatada a insatisfação dos transportadores rodoviários
quanto ao preço dos fretes desse modal. Todos reclamaram que a remuneração recebida mal
cobre as despesas com a viagem e, muito menos, cobrem a depreciação do veículo e
equipamentos. Para eles, o ideal seria conseguir cargas de retorno, que geralmente são de
insumos e fertilizantes, porém, nem sempre essa coordenação é alcançada e, quando ocorre, o
frete de retorno representa em torno de 40%, do valor do frete de ida. O preço do frete
rodoviário sofre as influências da quantidade de oferta disponível. Além das frotas próprias
das empresas, que comercializam os grãos agrícolas, há uma quantidade muito grande de
transportadores autônomos operando na região.
A tendência é que o quadro acima se agrave, pois o BNDES criou um programa de
financiamento a caminhoneiros, denominado Programa Procaminhoneiro, o qual disponibiliza
crédito para financiamento de caminhões, carretas, sistema de rastreamento e seguro do
equipamento, incluindo veículos e equipamentos usados. O financiamento pode ser pleiteado
por pessoas físicas (autônomos) e jurídicas, que operam no transporte de cargas, e é
negociado em organizações financeiras credenciadas. A taxa de juros prevista é de 13,5%, a.a,
incluída a remuneração das empresas credenciadas para o financiamento. Os prazos de
carência e de amortização serão definidos em função da capacidade de pagamento do
beneficiário ou do arrendatário, respeitado o prazo total, máximo, de 84 meses. Dessa
maneira, muitos trabalhadores, vinculados ao regime trabalhista vigente no país, estão
procurando mudar sua situação de emprego, aderindo ao programa, para atuar nesse segmento
como autônomo, o que aumenta ainda mais a competição e a guerra por preços de fretes mais
baratos.
Comparando os trechos 2 e 3, com destino ao porto de Paranaguá, constantes na
Tabela 27, verifica-se que o desembolso imediato, efetuado pelo modal rodoviário,
representaria 2,62% do valor a ser desembolsado pelo arranjo intermodal. Entretanto, a
101
capacidade de carga desse último, oferece oportunidade para diluição do custo, por tonelada
transportada.
O modal ferroviário apresenta perfil de ser o mais apropriado para a utilização dos
carregamentos destinados às indústrias de processamento. Porém, sofre com o problema da
falta de disponibilidade de locomotivas e vagões e, também, com os trechos com restrições de
peso e velocidade. Para as cargas destinadas à exportação, o problema é a descontinuidade da
operação da malha pela Ferroeste, até o porto de Paranaguá. A partir do terminal de
Guarapuava, a operação fica sob o encargo de outra empresa. Uma das reclamações mais
freqüentes é de que as cargas oriundas de Cascavel, com destino ao porto de Paranaguá, ficam
retidas por horas ou dias no terminal de Guarapuava, para nova composição ou para o aguardo
de cargas provenientes de outras regiões, que antecedem a ordem de programação para
embarque a partir de Guarapuava.
A paralisação das cargas na fila de espera em Guarapuava causa custos de estoque em
trânsito, que representariam o ganho sobre aplicações do valor da mercadoria em alguma
operação financeira, durante o período em que esta é transportada. Esses custos também
ocorrem pela necessidade de desmembramento dos comboios ferroviários nos trechos com
restrição de capacidade e velocidade, citados neste trabalho. O tempo estimado de 38,8 horas,
para a realização do percurso relativo ao arranjo intermodal é afetado por esses problemas e,
pode levar até 8 dias para um comboio sair de Cascavel e chegar ao porto, segundo dados
levantados durante a pesquisa.
Verifica-se que uma das possíveis causas da não utilização do modal hidroviário é a
falta de ligação ferroviária e de infra-estrutura para a intermodalidade com os demais modais
nos portos fluviais. Também, ficou constatado que o arranjo multimodal exige maior
desembolso do produtor para o transporte da carga, o que implica na necessidade de capital de
giro, muitas vezes não disponível, para as operações. Esse problema pode ser resolvido por
meio da estratégia de os produtores se organizarem em forma de cooperativa.
Existe desconhecimento, por parte dos embarcadores, das práticas operacionais dos
transportadores hidroviários e da disponibilidade de barcaças e empurradores. Em alguns
períodos do ano, a hidrovia sofre interrupções no fluxo, para manutenção das eclusas, como as
previstas pela Capitania Fluvial do Tietê-Paraná, para o período de 03 de janeiro de 2008 a 01
de fevereiro de 2008, na eclusa de Barra Bonita. Esse tipo de paralisação, com períodos
equivalentes, também foi programada para as eclusas de Bariri, Ibitinga, Três Irmãos e Jupiá.
Enfim, o preço do frete e a rapidez de entrega do modal rodoviário tornam-no mais atrativo.
102
Em relação ao desempenho portuário, o porto de Santos apresenta melhor
desempenho, em relação ao tempo de espera para carregar e descarregar, o que evita os custos
de estoque em trânsito. Esse fato pode compensar as despesas adicionais, relacionadas às
maiores distâncias percorridas. Diferente do porto de Paranaguá, o porto de Santos recebe
produtos transgênicos, o que permite escoamento das cargas oriundas do Paraguai, onde
grande parte dos grãos cultivados são geneticamente modificados, como tentativa de ganho de
produtividade, os chamados transgênicos. Essa produção era enviada para o porto de
Paranaguá, para serem exportadas, porém, com a barreira aos transgênicos, imposta pelo
Governo do Estado do Paraná, muitos produtores paraguaios estão utilizando os portos da
Argentina, para a exportação de suas safras. Diante disso, vê-se o desperdício de recursos com
a instalação, na Ferroeste, da EADI, que ocorreu com o propósito de facilitar a elaboração e
os trâmites dos documentos, para essas cargas.
Os portos de São Francisco e de Itajaí, situados no estado de Santa Catarina, seriam
alternativas para o embarque dos granéis agrícolas da região Oeste e também da produção do
Paraguai, porém apresentam problemas de capacidade para a movimentação de grãos e acesso
a outros modais, que não sejam o rodoviário, o que dificulta o fluxo no porto e encarece os
custos logísticos.
A ferrovia pode se tornar mais competitiva com investimentos para a aquisição de
máquinas e equipamentos rodantes, a adequação dos trechos com restrição de capacidade e
velocidade, bem como o aumento da malha ferroviária até os portos fluviais no Rio Paraná.
Dessa maneira, a utilização da hidrovia torna-se mais viável e com os investimentos
necessários para propiciar melhor navegação no Rio Paraná, onde seria implementado um
corredor de exportação bastante importante para o desenvolvimento da região Oeste
paranaense.
A falta de armazenagem dos grãos em locais estratégicos para o recebimento da
produção agrícola, ou mesmo dentro das propriedades rurais, afeta a tomada de decisão dos
embarcadores da região, pois exige o transporte imediato da produção, no momento em que é
colhida. Esse problema gera maiores riscos de perdas na comercialização devido à queda de
preços do produto e preços mais elevados dos fretes nas épocas de safras. Além disso,
ocasiona longas filas nos portos, o que significa riscos de roubos e avarias das cargas.
Na Tabela 28 é feita uma comparação entre os modais de transporte rodoviário e
hidroviário. Para a comparação, foi estabelecido como destino o porto de Santos, em que se
considerou o carregamento de 5.600 toneladas de soja, a granel, a ser transportada no percurso
de Guaíra a Pederneiras, pela hidrovia e, no percurso de Toledo a Santos, pela rodovia.
103
Tabela 28 – Comparação entre modais nos percursos efetuados pela hidrovia e rodovia
Trecho Modal Km Km/h
Tempo
(h)
Capaci-
dade
(t)
Frete
R$/t.Km
Viagens
Frete Total
R$
Pedágio
Desembolso
Total R$
R$/t
Guaíra a
Pederneiras Hidro 924 12 77,0 5.600 0,05 1 236.470,08 0,00 236.470,08 42,23
Toledo a
Santos Rodo 928 50 18,56 30 0,09 186,67 467.712,00 52.501,87 520.213,87 92,90
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Em análise comparativa entre os modais rodoviário e hidroviário, com distâncias a
serem percorridas equivalentes e volume de carga balanceado, verifica-se que o preço do frete
rodoviário, por tonelada/quilômetro, é 80% maior do que o hidroviário. O valor total a ser
desembolsado, no modal rodoviário, para o volume de 5.600 toneladas, que é a capacidade de
carga do modal hidroviário, seria de R$ 520,21 mil, equivalente a mais do que o dobro do
valor que seria desembolsado pelo modal hidroviário. No curto prazo, a decisão de fracionar a
carga seria uma solução para os problemas de desencaixe dos produtores que, no longo prazo,
traria grandes prejuízos, tanto para os produtores, quanto para os usuários das rodovias, que
pagam tarifas e impostos para a sua conservação e construções que facilitem o fluxo intenso
dos caminhões.
A Tabela 28 demonstra a vantagem que o transporte hidroviário apresenta para a
movimentação de cargas de grandes volume e distância. Além disso, a participação do modal
rodoviário nos custos relativos à construção das vias e sua manutenção, é de 56%,
comparados aos outros modais. Esses custos são claramente percebidos pela população,
devido às cobranças de taxas e impostos, como os pedágios nas rodovias e o Imposto sobre
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), por exemplo, além dos custos advindos da
taxa de ocupação do solo que o modal rodoviário detém, com 91% de participação.
Diante do exposto, pode-se afirmar que há potencialidades para a implementação da
multimodalidade, com o propósito de escoar a produção agrícola da região Oeste do Paraná.
Entretanto, são necessárias diversas ações para contornar os principais gargalos logísticos
existentes, estando entre eles: a ineficiência de operação da malha ferroviária; a falta de
conhecimento da alternativa de transporte hidroviário, como conseqüência da falta de
investimentos em infra-estrutura e incentivo para sua implementação; a falta de regulação
para o transporte rodoviário, o que poderá acarretar caos e falência do setor no longo prazo e;
a falta de planejamento estratégico das empresas, exceto as de grande porte, atuantes na
104
comercialização dos grãos, que propiciem ações para o atendimento das necessidades
logísticas da região.
6 CONCLUSÃO
Neste trabalho de pesquisa foram levantadas as opções de transporte dos embarcadores
de granéis agrícolas da região Oeste do Paraná. Foram encontradas algumas restrições para a
coleta de dados que, no entanto, puderam ser contornadas no decorrer da pesquisa. A partir da
compreensão dessas opções, foram estabelecidas quatro configurações de transporte com o
propósito de se comparar o desempenho entre os arranjos monomodal (rodoviário),
intermodal (rodo-ferroviário) e multimodal (rodo-hidro-ferroviário), com ponto de partida no
município de Toledo e com destino aos portos de Paranaguá e de Santos.
Apesar de os produtores da região utilizarem, com maior freqüência, o modal
rodoviário para o escoamento dos granéis agrícolas da região, a configuração intermodal seria
a mais indicada para esse transporte, pois o frete por tonelada apresentou o menor valor,
comparado com as demais configurações. Entretanto, a composição multimodal torna-se mais
eficiente, se considerada a capacidade de carga do modal hidroviário, que permite maior
diluição dos custos, o que já resulta em menor valor desembolsado por tonelada/quilômetro,
mesmo sem considerar os custos relacionados ao meio ambiente, as perdas durante o
transporte, os riscos com acidentes e os roubos de cargas.
O valor a ser desembolsado, previsto para a configuração monomodal com destino ao
porto de Paranaguá, é o menor entre os demais arranjos. Isso se deve ao volume de carga
considerado, que representa 0,54% da capacidade de carga do modal hidroviário, por
exemplo. Dessa maneira, compreendeu-se que uma das razões da preferência pela utilização
do modal rodoviário é a possibilidade de envio das cargas em pequenos lotes, o que permite o
fracionamento do desembolso para o pagamento de fretes. Essa possibilidade auxilia na
solução do problema da falta de capital de giro que afeta muitos produtores da região. Apesar
disso, o desembolso total efetuado pela utilização do modal rodoviário seria mais do que o
dobro do que pela utilização do modal hidroviário, o que implica em pior desempenho
logístico.
Constatou-se que o baixo valor do frete cobrado pela utilização do modal rodoviário,
para o transporte de granéis agrícolas, ocorre devido à concorrência acirrada no setor,
principalmente entre os motoristas autônomos. Neste estudo verificou-se que o consumo de
combustível para a realização do percurso entre Toledo e Paranaguá, pelo modal rodoviário,
105
seria superior ao valor do desembolso para o pagamento de frete, ou seja, há uma
remuneração deficiente para a sustentação da atividade no médio e longo prazo.
Os investimentos efetuados por alguns embarcadores da região em terminais de
transbordo e armazéns da ferrovia administrada pela Ferroeste são motivados principalmente
pela possibilidade de diluição dos custos em função da capacidade de carga transportada, e
por acarretarem preferência de atendimento pela administradora da ferrovia. Entretanto, esses
investimentos poderiam ser direcionados para o transporte mais indicado à movimentação de
granéis agrícolas, que é o hidroviário.
As principais razões para a não utilização do modal hidroviário pelos embarcadores da
região são diversas. Estão entre elas: as restrições para a navegação por falta de calado; a falta
de infra-estrutura para a intermodalidade; a ausência de instalações para o transbordo e
armazenagem dos grãos nos portos fluviais; a desconfiança, pelos embarcadores, das práticas
dos transportadores e da disponibilidade de barcaças na hidrovia; a localização das indústrias
de processamento, receptoras dos grãos da região, distantes da hidrovia; e o curso do Rio
Paraná, contrário ao fluxo para os portos marítimos de exportação.
Percebeu-se neste trabalho de pesquisa que há um grande potencial de utilização da
hidrovia com o propósito de escoar a produção agrícola da região Oeste do Paraná.
Entretanto, caso não sejam executadas as obras para a adequação de profundidade em alguns
trechos do Rio Paraná, as restrições de navegação impedirão a exploração desse modal de
transporte para a exportação dos produtos desta região para outras regiões do país e para o
mercado externo, com custos menores e, conseqüentemente, maior competitividade.
A possibilidade de execução das obras que permitam a navegabilidade da hidrovia e
operação de terminais fluviais depende de maior representatividade dos produtores da região
no desenvolvimento de políticas públicas que contemplem seus interesses. Para isso, o
caminho mais adequado é a organização desses produtores em forma de cooperativa e/ou
associação, como é o caso da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos
(ABEF), que freqüentemente conseguem vantagens para a comercialização de seus produtos.
Como recomendação para trabalhos posteriores, fica indicado o estudo de viabilidade
operacional e financeira para a adequação da transposição da ponte de Guaíra e também para
os trechos de “corrente livre”, nos quais ocorrem a movimentação de bancos de areia e a
presença de rochedos submersos perigosos para a navegação.
Dessa maneira pode-se concluir que os resultados deste trabalho de pesquisa defendem
a utilização da hidrovia como alternativa de redução dos custos de transporte, e indicam a
106
possibilidade de ações conjuntas, da iniciativa pública e privada, na busca de criar e
desenvolver soluções para os problemas encontrados.
107
REFERÊNCIAS
ADMINISTRAÇÃO DA HIDROVIA DO PARANÁ (AHRANA). Normas de tráfego nas
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114
ANEXOS
ANEXO A – Trechos da Hidrovia do Rio Paraná: São Simão (GO) a UHE Itaipu (PR)
115
ANEXO B – Eclusagem de embarcação fluvial
116
ANEXO C – Embarcações da Hidrovia Tietê-Paraná
Comboio tipo Tietê
Comboio duplo
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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