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Figura 21 - Selo dos Correios –
Sete Quedas 1982.
Fonte: Museu Municipal de Guaíra
Figura 22 – Selo dos Correios – Sete
Quedas 1982.
Fonte: Museu Municipal de Guaíra
Em matéria do Jornal do Brasil, no suplemento Caderno B, publicada em 09
de setembro de 1982, o ícone da literatura brasileira Carlos Drummond de Andrade
manifestou seu desalento pelo afogamento das Sete Quedas.
Sete quedas por mim passaram, e todas sete se esvaíram. Cessa o estrondo das
cachoeiras, e com ela a memória dos índios, pulverizada, já não desperta o mínimo
arrepio. Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de
Ciudad Real del Guairá vão juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por
mão do homem, dono do planeta. Aqui outrora retumbaram vozes da natureza
imaginosa, fértil em teatrais encenações de sonhos aos homens ofertadas sem
contrato. Uma beleza-em-si, fantástico desenho corporizado em cachões e bulcões
de aéreo contorno mostrava-se, despia-se, doava-se em livre coito à humana vista
extasiada. Toda a arquitetura, toda a engenharia de remotos egípcios e assírios em
vão ousaria criar tal monumento. E desfaz-se por ingrata intervenção de tecnocratas.
Aqui sete visões, sete esculturas de líquido perfil dissolvem-se entre cálculos
computadorizados de um país que vai deixando de ser humano para tornar-se
empresa gélida, mais nada. Faz-se do movimento uma represa, da agitação faz-se
um silêncio empresarial, de hidrelétrico projeto. Vamos oferecer todo o conforto que
luz e força tarifadas geram à custa de outro bem que não tem preço nem resgate,
empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la.Sete boiadas de água, sete
touros brancos, de bilhões de touros brancos integrados, afundam-se em lagoa, e no
vazio que forma alguma ocupará, que resta senão da natureza a dor sem gesto, a
calada censura e a maldição que o tempo irá trazendo? Vinde povos estranhos, vinde
irmãos brasileiros de todos os semblantes, vinde ver e guardar não mais a obra de
arte natural hoje cartão-postal a cores, melancólico, mas seu espectro ainda rorejante
de irisadas pérolas de espuma e raiva, passando, circunvoando, entre pontes pênseis
destruídas e o inútil pranto das coisas, sem acordar nenhum remorso, nenhuma culpa
ardente e confessada. (“Assumimos a responsabilidade! Estamos construindo o
Brasil grande!”). E patati patati patatá.... Sete quedas por nós passaram, e não
soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas,
e todas sete somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida
que nunca mais renascerá.
A poesia de Drummond expressa de forma melancólica o sentimento popular
pelo desapego capitalista sobre as coisas belas e sobre a importância do patrimônio natural. O
valor histórico das coisas que ficaram submersas nas águas do lago. Valor histórico para o