Download PDF
ads:
1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE ENGENHARIAS, ARQUITETURA E
TECNOLOGIA
NOEMIE NELLY NAHUM
PAISAGISMO PRODUTIVO NA PROTEÇÃO E
RECUPERAÇÃO DE FUNDOS DE VALE URBANOS
CAMPINAS
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
NOEMIE NELLY NAHUM
PAISAGISMO PRODUTIVO NA PROTEÇÃO E
RECUPERAÇÃO DE FUNDOS DE VALE URBANOS
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO
Dissertação apresentada como exigência para obtenção do
Título de Mestre em Urbanismo do Programa de Pós-
Graduação na área de Arquitetura. Pontifícia Universidade
Católica de Campinas.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Moretti
PUC-CAMPINAS
2007
ads:
3
BANCA EXAMINADORA
Presidente e Orientador Prof. Dr. Ricardo Moretti – PUC-Campinas
1º Examinador Prof. Dr. Eugênio Queiroga – PUC-Campinas
2º Examinador Prof. Dr. Nilson Antonio Arraes – UNICAMP
Campinas, 14 de Fevereiro de 2007
4
...à terra mãe,
à água alimento,
ao céu pai,
para todos os que atuam para um mundo melhor,
pelos filhos da terra...
5
AGRADECIMENTOS
Anos atrás eu dizia que jamais realizaria uma pesquisa de mestrado, acovardada frente ao sofrimento
pelo qual via meus colegas passarem pela mesma situação. Nas contingências da vida, há dois anos,
obtive o título de Especialista em Arquitetura e Projeto Urbano e logo depois engajei-me no curso de
pós-graduação em urbanismo, dispondo-me a aproveitar a oportunidade que estava se apresentando.
Como todos que passam por isso, também tive meus momentos difíceis e inseguros. Nestas horas, os
colegas me socorreram dizendo:- Seu eu fiz, você também pode!Levo para a vida essa dica, num
misto da confiança que me foi depositada, e da auto-estima que me exigiu diariamente um impulso de
renovação.
Desenvolvi o curso de mestrado rodeada de alunos contemporâneos e ex-alunos da FAU, esses
últimos, colegas nessa retomada de vida estudantil. Nada disso eu consegui sozinha, senão com os
professores colegas de trabalho, amigos e familiares que me acompanharam e me deram todo o
apoio afetivo e a moral para superar as dificuldades.
Deixo aqui registrado meu especial agradecimento a Beatriz Brandão e Fernando F. Cabral pelo
companheirismo , Mirtes, Verinha, Bia, Tomtom, Maria Elisa, Jane, assim como os funcionários que
represento por Ângela do CAV, Berna do CEATEC, Paulinha do Habitat e, Davi do CRAV, Debora do
PA, Paula e Rose da Pós, e todos os patrulheiros que me deram apoio sempre que foi preciso.
Agradeço especialmente a Laura, Lena, Vladi, Nelson, Juleusa, Suely, Ari, Sônia Moraes, Dionete
Santin, Emilia Rutkowsky, Elson, e demais pessoas entrevistadas pelo apoio entusiasmado com que
responderam ao questionário e contribuíram para a pesquisa; a querida e sempre presente Camilla,
ex-aluna, colega, amiga e batalhadora, pelas horas dedicadas na formatação final da dissertação; a
minha querida irmã Ketty que contribuiu com a revisão, às tradutoras Renné e Fernanda, à vizinha
Simone que me passou muitos chocolates e guloseimas pela cerca, além de várias e boas dicas
pertinentes à pesquisa.
Sou muito grata pela receptividade e harmonia com os integrantes da Banca Examinadora, Eugenio
Queiroga, prof da casa e Nilson Arraes, prof convidado, e especialmente a Ricardo Moretti, orientador
e presidente da banca, registro toda a minha a minha admiração por ser especialmente único com
cada um de seus orientados e a gratidão por confiar em minha autonomia.
Por fim agradeço a minha querida filha Lana, que pra do Atlântico, mandou doces e animadoras
palavras e boas energias para seguir em frente com otimismo.
6
“Eu sou o homem lobo
devoro-me a mim mesmo
Ao amanhecer corto a floresta
onde pousou a Lua
Ao meio dia queimo as pastagens
onde corre o veado
Ao anoitecer vou à praia esquartejar tartarugas
Subo a montanha para caçar águias
O que Deus fez em seis dias
desfaço em um
Eu sou o homem lobo
devoro-me a mim mesmo
Homero Aridjis
7
RESUMO
A busca de alternativas para a proteção e recuperação dos bens naturais, em especial, a
água em seu local de origem, tem sido temática de discussão sob diferentes enfoques, nas
diversas áreas de conhecimento. Neste estudo, que se insere na temática do Paisagismo
Produtivo, questiona-se a respeito de riscos e vantagens no plantio de espécies frutíferas na
proteção e recuperação de fundos de vale urbanos.
Esse questionamento foi feito a partir da análise de trabalhos técnicos que abordam temas
correlatos e a partir dos resultados de entrevistas realizadas com profissionais de diversas
áreas de conhecimento. Nestas entrevistas, os profissionais foram solicitados a apresentar
suas interpretações quanto às possibilidades e limitações da adoção de técnicas de
paisagismo produtivo, como estratégia para proteção e recuperação dos terrenos situados
junto aos corpos de água urbanos.
Tem-se, como objetivo geral, contribuir para a melhoria da qualidade da água e das
condições ambientais dos cursos de água inseridos no tecido urbano e, como objetivo
específico, contribuir para a formulação de projetos de proteção e recuperação de micro-
bacias hidrográficas urbanas, em que estão previstos as qualificações paisagísticas dos
terrenos de fundo de vale.
8
ABSTRACT
PRODUCTIVE LANDSCAPE IN PROTECTION AND RECOVERY OF THE BOTTOM OF
URBAN VALLEYS
The search for alternatives for environmental protection and recovery with special focus on
water, in its original site, has been the theme of debate in diverse areas of knowledge under
different points of view.
This study, inserted in the realm of productive landscape, analyses the risks and
advantages of growing fruit trees for the protection and recovery of the bottom of urban
valleys.
This questioning has been done by the analysis of technical works that approach
correlated subjects and from results of carried through interviews with professionals in
diverse areas of knowledge. In these interviews professionals had been requested to present
their interpretations according to the possibilities and limitations of the adoption of techniques
of productive landscape, as and strategy to protect and recovery of lands located on the
border of the urban’s waters.
It has as general objective, to contribute for the improvement of the water quality and
the environment conditions of the water’s courses insert into urban mesh, and, as an specific
objective, contribute for the formulation of landscape’s projects a of protection and recovery
of urban hydrographic basis where are foreseen the landscapes qualifications of the lands in
the bottom of valleys.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ······································································································11
1 PAISAGISMO PRODUTIVO···············································································16
1.1 Antecedentes históricos···············································································18
1.2 Os fundos de vale urbanos ··········································································23
1.3 Proteção e recuperação de áreas degradadas ············································30
1.4 Paisagismo produtivo e sustentabilidade·····················································31
2 FORMAS DE PAISAGISMO PRODUTIVO ························································35
2.1 Agricultura Urbana ( AU) e periurbana(AUP ················································35
2.1.1 AU no mundo e no Brasil – Experiência no Canadá ··························39
2.1.2 O papel da AU nas cidades ································································48
2.1.3 Hortas comunitárias em áreas ociosas – Experiência
em São Paulo ·····························································································49
2.2 Agricultura familiar ·······················································································59
2.3 Arborização urbana ·····················································································60
2.4 Coberturas verdes ······················································································65
2.5 Ecovila ·········································································································70
2.6 Floresta Urbana ···························································································75
3 SISTEMAS SUSTENTÁVEIS DE PAISAGISMO PRODUTIVO – LINHA
AGROECOLOGICA ······························································································77
4 DESAFIOS DA RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS DEGRADADAS EM FUNDO DE
VALE URBANO ····································································································81
4.1 Áreas degradadas e sua recuperação ························································79
4.2 Métodos alternativos (e sustentáveis) para a recuperação de áreas degradadas
···························································································································88
5 O TRATAMENTO DADO OAS RIOS URBANO·················································99
5.1 APP e controvérsias ····················································································99
5.2 Experiência em Campinas – Horta Comunitária Santa Genebra···············108
5.3 O Plantio de espécies frutíferas em fundo de vale urbano
na visão das diversas áreas·············································································114
CONCLUSÕES ···································································································129
REFERÊNCIAS···································································································136
ANEXOS ·············································································································141
10
pomar do bem
no chão claro da alma
plantar palavras
saborear depois os doces frutos com todos
da amiga e poeta Tereza Vignoli
11
INTRODUÇÃO
Os antecedentes históricos mostram que, a partir da Revolução Industrial
na Inglaterra, as primeiras configurações urbanísticas que vislumbraram a
convivência entre a produção industrial, a vida quotidiana das comunidades e suas
necessidades sicas de alimentação foram qualificadas como propostas utópicas. A
partir do desenvolvimento tecnológico, não a indústria manufatureira progrediu,
como a matéria prima basicamente agrícola passou a ser mecanizada e cada vez
menos dependente da mão de obra campesina, que passou a habitar as cidades
antes mesmo que elas estivessem estruturalmente prontas para receber esse
contingente populacional crescente. Ao longo dos últimos dois séculos, a vida nas
cidades passou a ser a forma privilegiada de se viver no planeta. Os reflexos da
densidade populacional assim como os da urbanização produziram marcas e
cicatrizes nas condições dos recursos naturais, sendo urgente o enfrentamento de
questões como o aquecimento global, a condição finita da água e da energia, e a
conseqüente necessidade de suprir as necessidades básicas alimentares da
população mundial.
No Brasil, paradoxalmente, a abundância de terras e de água em grande
parte do território, levou e ainda leva, ao desperdício destes bens preciosos. A
cultura da indiferença é denotada no desconhecimento e cuidados ambientais da
população que, em geral, além de não conhecer, não convive com a natureza e nem
tem noção de como o fruto magicamente se transforma em sorvete, suco ou goma
de mascar. Há no nimo duas gerações, parte significativa dos consumidores não
conhece a origem e o processo envolvido na produção do alimento que “colhe” na
prateleira dos supermercados. São as aves transformadas em e cubos de caldo,
os legumes disfarçados nos macarrões coloridos, as frutas e cereais transformadas
em fibras encaixotadas em embalagens sedutoras. Não se questiona de onde, como
ou o que foi necessário para que esse “milagre” acontecesse. A água sem dúvida foi
um, senão o elemento fundamental para qualquer um dos processos de
industrialização. No Brasil, a relação da população com a água foi pouco valorizada
no processo do crescimento das cidades. Atualmente, muitos rios que passam pelas
cidades sofrem pela poluição, contaminação, despejo de entulhos e lixo, quando não
canalizados, retificados, ou invadidos por uma população ribeirinha que nas suas
margens encontram o único solo “livre” para se acomodar e iniciar um processo que
12
se transformará em favela. Da mesma forma, em conseqüência de usos indevidos, o
solo desnutrido e compactado perdeu grandes áreas férteis e produtivas. Os fundos
de vales urbanos das grandes cidades brasileiras são exemplos característicos
desses cenários e pior, lamentavelmente passam a tornar-se modelo a ser seguido
pelas médias e pequenas cidades.
A motivação dessa pesquisa está na busca de alternativas para reverter
essa situação. Nesse estudo, buscam-se pistas para uma convivência mais
harmoniosa da população com os rios e a contribuição com o saber científico dirigido
para a implementação dos projetos paisagísticos que possam incluir espécies
frutíferas na previsão de proteção e recuperação de matas ciliares urbanas.
Iniciativas nesse sentido devem considerar as dificuldades associadas às exigências
legais, em especial, do Código Florestal Brasileiro (Lei Federal n. 4.771, de 15.09.65)
que regulariza o uso (ou não uso) dos rios, e que ainda o diferencia com
transparência as situações urbanas ou rurais.
Pelo caráter abrangente dessas questões, procurou-se articular os
aspectos da sustentabilidade no sentido da recuperação pelos meios naturais e de
uma proteção permanentemente regida pela relação sócio-espacial, aliados aos
valores de autonomia e fortalecimento cultural da sociedade.
Para atingir os objetivos, a pesquisa conta com a opinião de profissionais
de várias especialidades, como o arquiteto, urbanista, planejador regional,
paisagista, engenheiro ambiental, agrônomo, botânico, biólogo e direito.
Felizmente, a preocupação com o futuro das próximas gerações tem
despertado interesse em todo o mundo. Cada vez mais o grau de conscientização
em relação aos usos (e abusos) dos recursos naturais aponta para a necessidade de
se buscar alternativas para proteger o que ainda existe e recuperar o que foi
brutalmente danificado, apesar de tantos avanços tecnológicos conquistados pela
ciência. Se por um lado a industrialização aumentou a capacidade de produção, e
depois, a informática alcançou a globalização (e está a passos firmes para a
interplanetareidade), nem as populações do mundo puderam atender às suas
necessidades básicas de sobrevivência, nem as condições ambientais naturais
13
foram poupadas, a começar pela degradação do solo cultivável e a poluição dos
recursos hídricos, que levaram respectivamente à desertificação e morte dos rios.
Essa pesquisa tem como objetivo específico a investigação sobre as
vantagens e os riscos no plantio de espécies frutíferas em fundos de vales urbanos
na implantação de projetos paisagísticos.
O estudo se desenvolve em cinco capítulos, correlacionando questões
interdisciplinares e interdependentes, fundamentadas nos aspectos econômicos,
sociais e culturais na relação da sociedade humana com o meio ambiente.
No primeiro capítulo, é feita uma explanação teórica conceitual do
paisagismo produtivo, dos antecedentes históricos considerados, dos fundos de vale
urbanos, da proteção e recuperação de áreas degradadas e do paisagismo produtivo
relacionado à sustentabilidade. O sentido dado ao “produtivo” será visto não só como
produção de alimento, mas também como a produção de um bem estar saudável,
prazer estético e desenvolvimento cultural, atributos do equilíbrio nas trocas entre o
homem e o ambiente.
Na busca de antecedentes históricos, tomou-se como base um breve
relato sobre as comunidades sustentáveis (ou utópicas) que surgiram como resposta
às conseqüências da Revolução Industrial, manifestadas espacialmente nas cidades
industriais enfumaçadas e insalubres. mais de duzentos anos, a preocupação
de alguns planejadores (ou visionários) incluíam além da produtividade industrial, a
saúde ambiental e humana. As comunidades sustentáveis que nasceram a partir de
ideais europeus encontraram na América um lugar para serem implantadas e
experimentadas e algumas existem até os dias atuais. As comunidades Hippies do
século passado, assim como as ecovilas (genuínas), existentes em vários locais do
mundo, também têm raízes nessas comunidades, onde um equilíbrio entre o homem
e a natureza resulta no ecossistema ambiental harmônico e sustentável.
O comportamento da sociedade em relação aos rios que abasteceram de
água as populações das cidades que cresceram no seu entorno, foi o de
acondicioná-los aos interesses urbanos, aos poucos, absorvendo e até mesmo
enterrando esses mesmos rios. Atualmente, a proteção e a recuperação de áreas em
fundos de vale o fundamentais para reverter e contribuir para a proteção e
14
recuperação da qualidade da água, assim como para o controle da erosão,
assoreamento de rios, enchentes e demais conseqüências prejudiciais provenientes
dos usos abusivos e inadequados que ocorreram durante as últimas décadas.
No segundo capítulo, são abordadas as formas que o paisagismo
produtivo é desenvolvido, entre elas, a agricultura urbana, que aparece com maior
destaque ao redor do mundo, como forma de garantia de alimento e da segurança
alimentar, associados a geração de trabalho e renda. As atividades de agricultura
urbana e periurbana têm a propriedade de ocupar espaços ociosos e a recuperação
de áreas degradadas urbanística e ambientalmente. Nas áreas rurais no entorno das
cidades, a agricultura familiar mantém as famílias e a sua cultura no campo,
produzindo grande parte do alimento consumido na mesa das famílias urbanas.
Dois exemplos de agricultura urbana no Município de São Paulo e uma
experiência Canadense ilustram os trabalhos de recuperação de áreas degradadas
tanto do ponto de vista ambiental como urbanístico.
Ao paisagismo produtivo são também atribuídos os programas de
arborização urbana, especialmente com espécies frutíferas, e a ampliação de áreas
vegetais urbanas através das coberturas verdes e as florestas urbanas.
A linha agroecológica e suas diversas escolas são apresentadas no
terceiro capítulo, a fim de enfatizar a sustentabilidade do paisagismo produtivo, do
ponto de vista ambiental, social e econômico, com suas particularidades nos
tratamentos de recuperação de solos e ecossistemas sustentáveis.
O quarto capítulo dedica-se especificamente aos fundos de vales urbanos
quanto a recuperação de áreas degradadas. Também nesse capítulo são
apresentados os processos alternativos de recuperação de solos degradados, entre
eles, o uso do lodo, a adubação verde, as bolas de sementes, e a agrofloresta, que
permite além da recuperação dos solos degradados, a produção concomitante de
alimentos e do reflorestamento.
No quinto, o tratamento dado aos rios urbanos, uma análise quanto às
restrições da legislação florestal nas áreas de proteção permanente, APP são
apresentados. Por último, é desenvolvida a análise de riscos e vantagens no plantio
15
de espécies frutíferas em fundos de vales urbanos, a partir da percepção dos vários
especialistas: arquiteto, paisagista, urbanista, planejador, agrônomo, engenheiro
ambiental, botânico, biólogo, profissional do direito agrário. A colaboração desses
profissionais foi tabulada na intenção de extrair informações tipicamente técnicas e
específicas do olhar de cada especialidade, buscando-se assim os pontos de
intersecção das áreas de conhecimento. Alem dos riscos e vantagens, os potenciais
para evitar os riscos e aumentar as vantagens são complementados pelas maiores
dificuldades e melhores recomendações.
Finalmente, a pesquisa encerra com a conclusão da autora.
16
1 PAISAGISMO PRODUTIVO
Nesta pesquisa, o significado dado ao paisagismo produtivo refere-se a
produção de alimento associada a fatores da vida urbana como o lazer, a terapia
ocupacional, a interação entre gerações através da experiência vivenciada e a
cultura regional, a auto-realização e auto estima, a possibilidade de geração de
renda e a produção de uma paisagem de produção inserida no contexto urbano.
Além dos fatores citados, esta pesquisa buscará respostas quanto ao
impacto gerado pela paisagem produtiva, especialmente com as espécies frutíferas,
em fundos de vale, na tentativa de dar subsídios para projetos para a proteção,
recuperação e revitalização de áreas degradadas ao longo dos cursos d’água
urbanos.
Paisagismo é um termo genérico no Brasil, e costuma ser utilizado
para designar as diversas escalas e formas de ação e estudo sobre a
paisagem, que pode variar do simples procedimento de plantio de um
jardim até o processo de concepção de projetos completos de
arquitetura paisagística como parques e praças. (ALVES, 2005,
p.34).
Nessa variação de escalas, no contexto urbano, são vários os locais que
podem ser objeto para estudos paisagísticos, sendo ainda agregados por outros
valores, como a requalificação ambiental, a recuperação de áreas degradadas, e a
produção de alimentos para consumo humano. Esses locais podem ser privados
(clubes, escolas, hospitais), ou públicos, como faixas ao longo de linhas de força, ao
longo de canteiros avenidas, em escolas, centros de saúde, fundos de vales isentos
de vegetação natural, e até mesmo em estacionamentos e calçadas quando se trata
de uma arborização específica de árvores frutíferas. Quanto maior a diversidade de
espécies, mais garantida a biodiversidade e a manutenção do ecossistema. Uma
relação entre terra, planta, polinização, evaporação e água oferece ao homem além
de alimento, uma maior qualidade do ar nas cidades.
Em contrapartida, com a urbanização, o homem rompeu o equilíbrio
existente dentro dos sistemas naturais através da devastação de grandes áreas
atendendo a interesses de uma minoria que priorizou a comercialização e lucro
sobre o uso do solo. As queimadas, a poluição do ar e dos rios, as ilhas de calor, as
mudanças de temperaturas, aliadas a falta de incentivo para a educação ambiental e
17
a preservação dos recursos naturais são evidências da desqualificação da vida nas
cidades. O bem estar humano está diretamente relacionado com a qualidade
ambiental, que depende por sua vez, diretamente da ocupação do ambiente pelo
próprio homem. No ritmo atual de crescimento populacional, a urbanização aumenta,
e com ela, a interferência na natureza é cada vez maior e acumulativa em riscos e
perigos de degradação ambiental.
Entre todas as substâncias existentes no planeta, a água é a mais
significativa. Segundo MORANDI:
Ela é indispensável à vida vegetal e animal, promove o transporte de
sedimentos que darão origem a novas formas de relevo e fertilização
dos vales. Nos seus diferentes estados, líquido, sólido ou gasoso, a
água é um elemento fundamental na composição do ecossistema
terrestre. Apesar da sua necessidade intrínseca, a sociedade,
especialmente a moderna, não lhe tem reconhecido a real
importância, e a história da apropriação e uso da água tem ocorrido
numa desproporção comprometedora. (MORANDI & GIL ,2000,p.47).
A qualidade das águas disponíveis no planeta é determinada pelos
diferentes usos e ocupação dos solos no entorno das bacias hidrográficas e nas
áreas dos mananciais tendo seu comprometimento na prática de atividades
poluidoras, na aplicação de defensivos agrícolas e na criação de animais.
O inadequado tratamento dado ao solo das cidades é testemunhado pelas
grandes áreas impermeabilizadas, que na impossibilidade de absorver o volume de
águas de chuva em determinadas épocas do ano, levam a enchentes de ordem
catastróficas com altos prejuízos econômicos e perda de vidas humanas. Por outro
lado, a canalização e retificação de rios e córregos através de obras de alto custo,
além dos impactos ambientais e do empobrecimento paisagísticos, apenas
transferem para jusante os problemas de enchentes que aconteciam nos locais em
que foram executadas as obras.
O paisagismo produtivo é desenvolvido em outros paises onde a terra e os
espaços livres o menos disponíveis e a atividade é incentivada para promover a
sociabilidade e a cidadania. No Brasil, a abundância e o desperdiço são comuns, o
que afeta a preservação dos recursos naturais. A prática do paisagismo produtivo é
restrita à iniciativas privadas, isoladas, ou aos programas governamentais que
dificilmente são sustentáveis, conforme será visto mais adiante.
18
1.1 Antecedentes históricos
É fato que os seres humanos precisam de alimento para a sua
sobrevivência, é fato também, que a produção agrícola necessita da terra.
A primeira conquista do homem sobre a natureza, além do fogo,
aconteceu na agricultura. A forma como o homem foi apropriando-se da terra para
fins de plantio agrícola transformou-se ao longo das civilizações onde ele descobriu e
explorou uma maneira de sobrevivência e domínio sobre o ambiente. Através da
observação da transformação das sementes jogadas ao solo, aleatoriamente, viu
pela primeira vez, germinar o que seria para todas as gerações futuras, o
desenvolvimento da agricultura. Aliava-se à terra, à semente e à água, o trabalho
braçal do homem que descobria novas formas de produção de alimentos cada vez
mais eficazes. Com o avanço das ciências, a cada nova tecnologia aplicada
associavam-se novos instrumentos, ferramentas e transportes, que levaram a
mudanças na produção agrícola.
A Revolução Industrial, ocorrida na Europa, entre os séculos XVIII e XIX,
trouxe consigo a base de toda a modernização, e com ela o crescimento das cidades
precisou adaptar-se às novas necessidades para a subsistência humana. Grande
parte da população rural, que produzia o alimento para a população urbana, veio
para as cidades em busca de trabalho nas fábricas que surgiam a largos passos. Ao
mesmo tempo, os campos abandonados pelos campesinos, davam lugar para o
desenvolvimento de uma agricultura mecanizada, em grandes áreas, e em grande
escala de produção, que garantia parte das necessidades de alimentos como os
cereais e a matéria prima para a indústria.
Entre as alternativas apresentadas em contraposição à agressiva forma
de produção das cidades desse período, têm-se as “Cidades Jardins” inspiradas em
ideais das comunidades sustentáveis, também chamadas de “utópicas” (quadro
abaixo), surgidas na Inglaterra, no final do século XIX, das quais muitas vieram se
instalar na América, sendo que algumas sobrevivem até os dias atuais.
19
Quadro 1. Comunidades utópicas nos EUA.
Fonte: NAHUM,N.N, 2005.Adaptado pela autora com base em Liselotte &Ungers, 1977).
Comunidade
Hermanos
Moravos
Shakers
Rappistas
Owenistas
Amaná
Fourisristas
Perfeccio-
nistas
Icarianos
Hutteristas
Período
1740-
1850
1770-em
extinção
1805-
1905
1825-
1828
1842-
1932
1842-
1858
1842-
1880
1848-
1898
1874/até
dias
atuais
Nacionalidade de
origem
Alemães
Ingleses Norte-
americanos
Alemães
Ingleses
Franceses
Norte-americanos
Alemães
Norte-americanos
Norte-americanos
Franceses
Alemães
Base
Ideológica
Religiosa
Religiosa
Religiosa
Socialista
Religiosa
Socialista
Religiosa -
Socialista
Socialista
Religiosa
membros
5000
6000
920
1000
1800
600
306
500
17500
Localização
Cidades da
Pensilvânia
18 sociedades
em diversos
estados
Harmony
New Harmony
Economy
NewHarmony
(Indiana)
Amana
(Iowa)
7 aldeias
40 grupos em
vários estados
Oneida
(Nova York)
6 colônias
172 colônias
no Canadá e
EUA
Fundador
Nos EUA:
Zinzedorf
Ann Lee
Georg Rapp
Robert Owen
Christian Metz
e Barbara
Heinemann
Charles
Fourier
John H.
Noyes
Etienne Cabet
Jakob Hutter
Propriedade
Comunitária nas
primeiras décadas
Comunitária
Comunitária
Financiada por
Owen e McLure
Comunitária
Distribuída em
ações
Comunitária
Comunitária
Comunitária
Estrutura
Social
Família
nuclear
Celibato
Celibato
Família
nuclear
Família
nuclear
Família
nuclear
Matrimonio
Complexo
Família
nuclear
Família
nuclear
20
Em 1902, Ebenezer Howard (1850-1929), estenógrafo das cortes judiciais
inglesas, publicou “Cidades Jardins do Amanhã”, estabelecendo uma síntese
conciliadora entre as ricas tradições culturais inglesas relativas a valores políticos e
sociais com o amor a natureza, que, na época, caracterizavam uma contradição.
Colocava em questão a função do Estado e na direção das sociedades, propondo
um sistema de cooperados que em coletividade, estabeleceriam os processos de
gestão da terra urbana.
A visão utópica de Howard foi uma tentativa de resolver os problemas de
insalubridade, pobreza e poluição das cidades, causadas pela incessante
industrialização, por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma estreita
relação com o campo. “Há uma solução na qual todas as vantagens da vida mais
ativa na cidade e toda a beleza e as delícias do campo podem estar combinadas de
um modo perfeito” (CHOAY,1997,p. 220).
Uma zona agrícola agiria para amortecer e controlar o crescimento
populacional, e quando a cidade atingisse a sua capacidade de suporte estrutural,
novas cidades seriam formadas, e em conjunto estariam em torno de uma cidade
central, que seria núcleo cultural. Desta maneira, vários destes conjuntos seriam
interligados por redes de transportes.
Quanto ao desenho destas cidades, acreditou-se que os conjuntos
habitacionais junto das fábricas e implantados no campo poderiam ter um efeito
saudável sobre os trabalhadores e o retorno seria sentido na indústria. As habitações
teriam seus jardins recuados dos alinhamentos formando blocos isolados entre si, o
que possibilitava a existência de uma maior quantidade de áreas verdes e o cultivo
de hortas domésticas.
Com o rápido crescimento da classe operária, o jardim torna-se um
“remédio” para a miséria do povo, trazendo para a classe trabalhadora um
complemento de recursos, como o lazer saudável, e um elemento de estruturação
familiar. Em 1896, o abade Jules Auguste Lemire, fundou na França a “Liga do canto
da terra e do lar”, militando por melhores condições de vida da classe operária e
dizia: “A terra é o meio, a família é o objetivo.”
21
Após a primeira Guerra Mundial (1914-1918), os jardins produtivos mais
uma vez foram solução para a escassez alimentar, surgindo os jardins militares,
escolares, hospitalares, de patronos, de antigos combatentes, criando-se em 1926 o
Escritório Internacional do Canto da Terra, agrupando vários paises membros da
Europa. A reconstrução da Inglaterra foi planejada em novas cidades com base no
modelo das Cidades Jardins, precisando, no entanto atender um maior número de
habitações, e deixando de lado os princípios abrangentes de qualidade ambiental.
Nos Estados Unidos, em 1928, Clarence Stein(*), planejou Radburn,
inspirado em Howard, com casas individuais e jardins agrupados em quadras, mas
desta vez, longe das indústrias e sem a existência do cinturão agrícola, o que induziu
a divisão em zoneamentos de áreas, industriais, residências e comerciais,
promovendo vários impactos ambientais, entre eles, uma maior dependência de
transporte, o aumento da poluição, a devastação de terras agrícolas e a
concentração da pobreza nas áreas centrais, além dos altos custos da urbanização.
O individualismo levou ao enfraquecimento do espírito comunitário porém, mais
tarde, durante a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente em
Estocolmo (1972)
,
as idéias de Howard foram relembradas e motivadas pelos
movimentos ambientalistas.
A crise econômica de 1930 levou aos primórdios da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), e os jardins operários entraram em declínio com a
reconstrução das cidades. No pós-guerra a urbanização galopante e o rápido
crescimento populacional ampliaram as necessidades de produção de alimentos.
rios países latino-americanos engajaram-se na implantação da auto-
intitulada Revolão Verde, um ideário produtivo proposto e implementado nos
países centrais após o término da Segunda Guerra Mundial, cuja meta era o
aumento da produção e da produtividade das atividades agropecuárias,
_______________
(*)Clarence Stein - Arquiteto, planejou Radburn, New Jersey, fundada em 1929, idealizando o convívio
entre automóveis e pedestres, desenhou quadras em blocos permitindo a circulação de carros e
caminhos de pedestres, ao mesmo tempo, esse desenho foi precursor dos zoneamentos e o
isolamento entre as atividades urbanas, o que levou ao início da fragmentação social-espacial –
Fonte: CHOAY,1997; Wikipédia, adaptado pela autora.
22
assentando-se para tanto, no uso de insumos químicos, variedades geneticamente
melhoradas de alto rendimento, expansão dos sistemas de irrigação e, também, na
intensa mecanização das ações produtivas.
Infelizmente, esta aventura inicialmente bem-sucedida daria lugar a sérios
problemas como a perda do solo avel, manuseio inadequado do solo e poluição, a
falta de aceso dos produtores menos favorecidos a insumos caros, e questões
básicas de desigualdade socioeconômica. O uso dos recursos não renováveis como
se fossem ilimitados, encontrou um numeroso contingente de críticos, incentivando a
proposta de alternativas de organização tecnológica dos sistemas produtivos
agrícolas.
No Brasil, a década de 80, é um marco de novo crescimento urbano,
quando a população rural, que ainda trabalhava na lavoura e nas fazendas,
abandona os campos e uma nova e mais eficiente tecnologia agrícola é dominante
em imensas áreas de monocultura. Parte dos alimentos hortifrutigranjeiros passa a
ser produzida nas zonas periféricas às cidades, em áreas ainda rurais. Mas o
processo de crescimento demográfico nos centros urbanos é rapidamente o
resultado de um descontrole de políticas de desenvolvimento. Se por um lado, os
centros urbanos das grandes cidades brasileiras crescem em infra-estrutura e
tecnologia, por outro a população mais pobre aglomera-se onde consegue,
ocupando áreas na maior parte das vezes, dentro da ilegalidade.
No contexto da paisagem urbana, construída pelas diversas formas de
ocupações do homem, as transformações descontroladas podem levar a prejuízos
ambientais irrecuperáveis. Ao mesmo tempo em que se tem a perda de qualidade
ambiental da cidade e o empobrecimento da paisagem tem-se o aumento da
pobreza urbana, da insegurança alimentar e da desnutrição.
Como dizia Nelson Rodrigues, “subdesenvolvimento não se improvisa, é
obra de séculos”. (Nelson Rodrigues, jornalista, escritor e dramaturgo, 1912-1980).
23
1.2 Os fundos de vales urbanos
A água que corre nos vales, entre montanhas ou suaves campinas, seja
qual for a superfície, rugosa ou não, é nos locais mais baixos que vai encontrar o seu
leito. O leito dos rios.
Figura 01. Primeiras casas de imigrantes no Vale do Rio dos Sinos – RS, séc XIX.
Fonte: www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1158846,00.html
O Homem e A Água
Composição: J.M.Serrat / Tradução: a autora
Se o homem é um gesto, água é a história.
Se o homem é um sonho, a água é o rumo.
Se o homem é um povo, a água é o mundo.
Se o homem é lembrança, a água é
memória.
Se o homem está vivo, a água é vida.
Se o homem é criança, a água é Paris.
Se o homem nela pisa, a água salpica.
Cuida dela, como ela cuida de ti.
Brinca, molha, voa, lava, água que vêm e vai.
Rio, espuma, chuva, neve, nuvem, fonte,
gelo, mar.
Água, barro no caminho, água que esculpe
paisagens, água que move moinhos.
Ah água! Que me dá sede dizer o teu nome,
água que enfrenta o fogo, que fura a pedra,
que está nos céus, como na terra.
Brinca, molha, lava, água que vem e vai.
Rio, espuma, chuva, neve, nuvem,fonte,
gelo, mar...
El Hombre y El Água
Composição: Joan Manoel Serrat
Si el hombre es un gesto, el agua es la historia.
Si el hombre es un sueño, el agua es el rumbo.
Si el hombre es un pueblo, el agua es el
mundo.
Si el hombre es recuerdo,el agua es memoria.
Si el hombre está vivo, el agua es la vida.
Si el hombre es un niño, el agua es París.
Si el hombre la pisa, el agua salpica.
Cuídala, como cuida ella de ti.
Brinca, moja, vuela, lava, agua que vienes y
vas.
Río, espuma, lluvia, niebla, nube, fuente, hielo,
mar.
Agua, barro en el camino, agua que esculpes
paisajes, agua que mueves molinos.
Ay agua!, que me da sed nombrarte,
agua que le puedes al fuego, agua que
agujereas la piedra,
agua que estás en los cielos como en la tierra.
Brinca, moja, vuela, lava, agua que vienes y
vas.
Río, espuma, lluvia, niebla, nube, fuente, hielo,
mar...
24
Desde sempre, a história das civilizações foi acompanhada pela presença
das águas, seja para a subsistência, para a mobilidade ou ainda encontrando na
mística a tentativa de entender os fenômenos da natureza. Ao longo dos tempos, o
leito dos rios e suas margens foram símbolos da fertilidade e da possibilidade de
provimento do alimento, associando-se também a idéia de referência de localidade e
de determinação do território geográfico.
Figura 02. Praias cultivadas com milho e feijão (Rio Envira)-Estado do Acre
Fonte: COSTA, M. L. da; et al. Sobre a fertilidade das praias dos rios que drenam o Estado do Acre
Access, www.scielo.br/img/revistas/rem/v56n2/0028i02.gif doi: 10.1590/S0370-44672003000200014.
Não é a toa que muitas cidades se desenvolveram iniciando a ocupação
das margens dos rios, fazendo o uso inexorável de suas águas. Além da
acessibilidade ao acesso da água doce, o curso dos rios em movimento contínuo,
indicam uma mobilidade que por sua vez a possibilidade de transporte. Por outro
lado, o solo rico e úmido das margens dos rios é o testemunho de fertilidade e
abundância de alimento. Não é a toa também, que muitos dos valores e cuidados
com os rios, aos poucos, foram absorvidos pelo descuido, pela transformação das
paisagens bucólicas em invisíveis tubulações de esgotos, ou obedecendo a
canalização retificada em favorecimento das vias expressas de transportes. Com o
crescimento da urbanização e o aumento da densidade populacional das cidades, a
relação do homem com os rios transformou-se sob domínio da força do homem
sobre a natureza, chegando à descaracterização e perda muitos de seus benefícios.
O percurso através dos vales, no topo das cotas mais altas, nas suas
encostas, margens e leitos aqüíferos, praticamente desapareceu, dando lugar às
edificações massivas que aboliram o contato com a paisagem original.
No texto de Maria Rosília Guerreiro - A Lógica Territorial na Gênese e
Formação das Cidades Brasileiras: o caso de Ouro Preto, “Um outro tipo de
25
percurso, é o percurso de meia encosta ou contra cumeada, que pode ser definido
como aquele percurso natural que segue o andamento altimétrico do terreno,
mantendo-se sempre que possível na mesma linha de cota[...]Temos também o
percurso de fundo de vale que é aquele que tende a subir ao longo dum curso de
água.”
Figura 03. Pequenas melhorias em córrego retificado
Fonte: BINDER, W. Rios e Córregos Preservar, Conservar, Renaturalizar A recuperação de Rios
– Possibilidades e Limites da Engenharia Ambiental. 2ª. edição. PROJETO PLANAGUA/GTZ de
Cooperação Técnica Brasil-Alemanha: junho 2000.
Hoje, o fundo de vale é assunto de preocupação dado o valor da água
como um recurso natural esgotável, “toda a água do planeta é toda a água que
existe no planeta”. Nada mais lógico do que proteger, recuperar e controlar os usos
dos cursos d’água, assim como as suas margens, que dentre suas funções, está
hierarquicamente a proteção das águas e a manutenção do microssistema, e em
rede, do macrossistema.
26
Esta pesquisa se limitará aos fundos de vale urbanos, onde as margens
dos rios assumem diferentes categorias de análise: urbanístico, ambiental, cultural,
sócio-econômico-político.
Assim:
do ponto de vista urbanístico:
Ao se discutir a inserção do rio na paisagem urbana e no cotidiano
das pessoas pela convivência nestes espaços;
Nas questões de conforto ambiental em relação a qualidade do ar,
da temperatura(*), da umidade e da minimização do efeito estufa;
Na inserção das margens ao conjunto verde da cidade;
No destino das águas pluviais.
do ponto de vista ambiental:
Ao se discutir questões de preservação da mata ciliar co-
relacionada com o ecossistema;
Na preservação do micro-clima, da flora e fauna, a qualidade do
solo e da água que abastece as cidades.
do ponto de vista cultural:
Na relação da sociedade com os cursos d’água, através da
educação em relação ao meio ambiente, o respeito pelos recursos
naturais, o sentido de pertencimento da paisagem, tanto do
homem, como da água e de todos os seus componentes naturais
da flora e da fauna.
_______________
(*)Os dados mostram a diferença de 5 entre os bairros de menor e maior quantidade de verde.
Temperatura aparente dominante:
BARRA FUNDA 30,5 A 31Cº / JARDINS 27,5 A 28 Cº / PARELHEIROS 25,5 A 26 Cº
Comparação de temperaturas- São Paulo
Fonte: Prefeitura São Paulo- 2006 - SMA
27
do ponto de vista sócio – econômico- político:
Na construção social do sentido de desenvolvimento, como
sentido conservacionista que constatou a condição finita da
natureza e que “o crescimento da reprodução humana em
sociedade é maior do que a reposição necessária dos recursos
naturais, o que obriga a humanidade a um crescimento regulado
e/ou à conservação de sua base natural” (OSEKI, 2004. p.485-
524).
Na busca de caminhos para a sustentabilidade ambiental,
relacionado com o desenvolvimento econômico
[...] a sustentabilidade ampliada, novo conceito que está sendo utilizado
especialmente por órgãos oficiais e que se refere tanto às novas formas de
gestão parcerias, co-responsabilidades, reestruturação institucional
quanto à integração entre políticas ou ações governamentais nas áreas de
saúde, educação, saneamento etc” (MACHADO, 2000. p.81)
A análise destas categorias pressupõe conceitos do ponto de vista da
geografia física (tradicional) e da geografia miltoniana “Nova Geografia”. Pela
geografia física o fundo de vale pode ser entendido sob o ponto de vista dos tipos de
leito, de canal e de drenagem. Cada uma dessas fisiografias possui uma dinâmica
peculiar das águas correntes, associada a uma geometria hidráulica específica,
gerada pelos processos de erosão, transporte e deposição dos sedimentos
fluviais.(CUNHA; GERRA,1995)
.
Pela geografia miltoniana, “o espaço é o objeto de
estudo da geografia”,e, “a natureza”, como paradigma, se “encontra em estado de
movimento permanente e cada um de seus momentos é fugaz” (SANTOS, 2002,
p.196). Isto quer dizer, definir o presente é sempre difícil, cada vez que há uma
mudança profunda, seja tecnológica, social organizacional, os modelos de
percepção mudam substancialmente. Com base nas colocações de Milton Santos,
se os cursos d’água em fundos de vale fazem parte desta natureza mutante, “porque
as águas de um rio não correm duas vezes pelo mesmo lugar”, então, a mudança de
paradigma de atuação da sociedade em relação às reservas naturais é emergente,
“a construção do espaço é obra da sociedade em sua marcha ininterrupta”.
O fundo de vale, em suas margens, regulado por leis governamentais e
considerado propriedade da marinha e de uso público é pois um espaço público e,
28
a importância do espaço público está em referir entre si os espaços privados
fazendo também deles patrimônio coletivo,...dar caráter urbano, público, aos
edifícios e lugares que sem isso seriam somente privados, ... urbanizar o
privado, quer dizer, convertê-lo em parte, em público.
(MORALES,
2001,p.103)
.
Sobre o mesmo assunto Jaime Lerner completa: “Digo sempre: na cidade humana,
misturam-se moradia, trabalho, lazer, renda. Misture tudo e você tem uma cidade
humana. Quanto mais separada for mais desumana ela é. (LERNER, 2001, p.48).
Considerando os conceitos de “fundo de vale urbanoacima colocado e o
grau de conhecimento e compreensão dos processos históricos que foram geradores
da realidade no contexto atual brasileiro, cumpre avançar na análise dos usos
existentes e desejáveis desses espaços.
Quanto ao uso existente deve-se destacar o uso efetuado pelas
populações muito pobres, que pela ausência de alternativas habitacionais são
levadas a ocupar espontaneamente as áreas públicas e desocupadas definindo em
curto prazo regiões de grande adensamento de ambiente construído, sem qualquer
condição de infra-estrutura e de saneamento. A intervenção dos poderes
governamentais acontece, prioritariamente, na perspectiva de defesa civil, com
ações de remoção da população em áreas de risco decorrentes de enchentes e de
desmoronamento em encostas. Alternativas para recuperação em áreas de
preservação de mananciais (APM), são relatadas nos Anais do Seminário de
Avaliação de Projetos do IPT “buscando conciliar a recuperação ambiental com a
manutenção da população que ocupa as áreas”,quando possível e sem risco de
vida. Nestes mesmos Anais, a Proposta de Intervenção em cleos de Favelas
Localizados em APM em Santo André, define entre seus objetivos,
“integrar a paisagem natural com a construída, diminuindo os possíveis
impactos das intervenções, mantendo a visualização dos elementos
referenciais da paisagem”, e, manter, criar e conectar espaços livres
públicos, manchas de vegetação, parques e áreas de recreação, manter e
melhorar o acesso público aos cursos d’água e seus corredores de
vegetação, onde for ambientalmente sustentável”, ainda, viabilizar a
eficiência de projetos que protejam e recuperem áreas ambientalmente
sensíveis e/ou degradadas como fundos de vale...” (SCARAMBONE- 2002
p. 99, in Anais)
Nem sempre o fundo de vale onde foi realizada a remoção é recuperado,
quando concluída a ação de defesa civil. A área muitas vezes fica abandonada e
29
mais grave, proibida de qualquer tipo de intervenção pelas restrições da legislação
específica às áreas de mananciais atribuídas às áreas de APPs.
Por outro lado, quanto à ocupação das populações de maior renda
aquisitiva, a persistente força do setor imobiliário encontra nestas áreas de fundo de
vales urbanos um atrativo para seus empreendimentos e “merchandise” de uma vida
saudável em paisagem bucólica. Neste caso, os fundos de vale tendem a ser mais
preservados, mas é o privilégio exclusivo dos habitantes locais porque a
acessibilidade pública é usualmente restringida.
Tanto pela ocupação de populações mais pobres ou pelas mais ricas, o
tratamento dado aos fundos de vale não fazem parte de um programa de
preservação, recuperação e revegetação mais abrangente que vise uma
continuidade do ecossistema ambiental. Ao contrário, são tratados isoladamente,
negando a continuidade natural dos cursos d’água e de toda a complexidade que
pode garantir a sua existência.
O segundo aspecto, relacionado à definição de usos desejáveis nos
fundos de vales urbanos estão interelacionados e interdependentemente vinculados
à legislação vigente que impõem regras restritivas e uniformes às distintas situações.
Além dessas dificuldades, o uso “desejável” encontra ressonância em programas
implantados isoladamente e de forma pontual, atendendo a expectativas de
comunidades voluntárias e preocupadas com a preservação e a recuperação do
meio ambiente. Em geral, são ações realizadas através de associações de bairro,
mais restritas aos moradores locais, formadas por interesses comuns dos moradores
da região e suas abrangências, mas podem ter problemas de falta de conexão, ou
seja, resultarem em ações isoladas e desconectadas.
O desejável de fato, é traduzido pelas possibilidades de eixos verdes,
corredores verdes, interligados e interdependentes, conectados pelo próprio
ecossistema e alimentados pela biodiversidade característica da bio-região, fauna,
flora e possibilidades de convivência com as circunstâncias urbanísticas.
Aplicado à “Urbanização de Favelas”, o texto de Laura Machado pode ser
um parâmetro para o tratamento dos fundos de vale em geral, e diz,
30
Ao contrário da procura de padronização de soluções e parâmetros técnicos,
recomenda-se a sistematização de avaliações de outros programas e obras,
e a disponibilização dos resultados por meio da formação de redes de
profissionais e pesquisadores da área. Essas redes devem ser abrangentes,
e o setoriais,isto é, especializadas, para que haja um avanço na adoção
de procedimentos de projeto, operação e manutenção integrados...
(BUENO-2002,p.92)
1.3 Proteção e recuperação de áreas degradadas
Proteger, recuperar, conservar, regenerar, reabilitar, revitalizar o meio
ambiente: são todas ações preventivas da degradação ambiental. Cada uma, com
suas características e diretrizes. No que se refere aos fundos de vale, os impactos
ambientais relacionados a essas ações, é imprescindível considerar a presença dos
cursos d’água, a função de suas margens, e a sua inserção no controle da bacia
hidrográfica onde está inserido.
A recuperação dessas áreas pode ser vista por duas óticas: de caráter
ambiental ou urbanístico. Esta pesquisa pretende levantar a discussão quanto às
espécies vegetais frutíferas para aplicação em projetos de revegetação nas margens
dos cursos d’água, considerando a amplitude da interface entre os aspectos
ambientais e urbanísticos, através da paisagem urbana. “A revegetação pode ser um
elemento de atuação e utilização nos programas de recuperação de áreas
degradadas, assumindo diferentes funções, de acordo com a situação encontrada”.
(FONSECA, 1989). Desta forma, GRIFFITH (1980) afirma “que os objetivos de
recuperação de uma determinada área degradada deva atender requisitos
individuais e que o plano estabelecido deve deixar claro, previamente, o nível
desejado de recuperação”. (Fonte: www.portalbrasil.com).
Como o objetivo desta pesquisa vem ao encontro dos aspectos de
proteção e recuperação de áreas degradadas, no capítulo 3 estas questões serão
apresentadas detalhadamente.
31
1.4 Paisagismo Produtivo e Sustentabilidade
Para entender a relação do paisagismo produtivo e o conceito de
sustentabilidade, é necessário percorrer o processo pelo qual o conceito de
desenvolvimento sustentável passou nas últimas décadas.
Até 1970, o desenvolvimento foi atribuído ao crescimento econômico,
significando para a sociedade que o maior poder aquisitivo e o enriquecimento
levaria a melhoria de padrão social. Neste momento, FURTADO definiu “O
desenvolvimento econômico é o mito do progresso, elemento essencial na ideologia
diretora da revolução burguesa, na qual se criou a atual sociedade industrial"
(Furtado, 1974:15-16). Em contrapartida, a qualidade de vida discutida no primeiro
Relatório sobre Desenvolvimento Humano -1990 (divulgado no Brasil em 1996),
mostra que o crescimento econômico não se traduz automaticamente em benefícios
para a população, seria necessário definir qual a natureza do desenvolvimento
almejado, portanto partindo do princípio que não só do econômico.
Em 1995, em conferencia em Washington, o Presidente Fernando H.
Cardoso discursou sobre as novas dimensões do desenvolvimento, que se
transformam de acordo com as estruturas das relações sociais e inclui as dimensões
éticas e ecológicas. "Desenvolvimento deve ser entendido como processo de
transformação da sociedade, não em relação aos meios, mas também aos fins",
acontecendo quando o projeto social prioriza a verdadeira melhoria de condição de
vida da população. (FURTADO, 2000)
Se a pobreza parece ser uma idéia essencialmente econômica, ela é
indissociável da dimensão cultural. A cultura estabelece uma relação entre os
rendimentos relativos e as capacidades humanas absolutas e elementares: vida
longa e saudável, instrução, acesso a recursos necessários para uma vida digna,
participação da vida da comunidade. Todas elas o básicas para o verdadeiro
desenvolvimento que é o de alargar as liberdades humanas e de expandir as suas
capacidades através de suas escolhas para ter uma vida plena e criativa
(FURTADO, 2000- Fonte : Relatório Desenvolvimento Humano 2004)
O conceito de sustentabilidade está relacionado ao conceito de
32
desenvolvimento sustentável. Para entender o desenvolvimento sustentável, é
preciso entender três ordens de problemas: desenvolvimento econômico,
crescimento com distribuição de renda, desenvolvimento humano (VEIGA, 2005,
pp243, 266)
Para Amartya Sen, que criou o IDH, Índice de Desenvolvimento
Humano,“a desigualdade reside na desigualdade de oportunidades pela privação de
liberdades básicas, na desigualdade do indivíduo isolado, na ausência de condições
iguais básicas de existência (acesso à saúde, educação, saneamento sico,
alimentos, etc.), únicos elementos capazes de serem proximamente igualados entre
os indivíduos empiricamente tão diversos. É a constituição dessas ‘liberdades’ (por
exemplo, liberar o indivíduo da fome) que são capazes de dar às pessoas sua
“condição de agentes” para atuarem livremente e construir seu futuro como queiram”
(www.lead.org.br)
Libertar-se da ignorância é como livrar-se da escravidão da dependência.
A pobreza é indissociável da dimensão cultural. A cultura estabelece uma relação
entre os rendimentos relativos e as capacidades humanas absolutas, assim, o
desenvolvimento sustentável requer que se removam as principais fontes de
privação da liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e
destruição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou
interferência de Estados repressivos. (Fonte: Relatório Desenvolvimento Humano
,2004).
Para Richard Rogers, em “Cidades para um Pequeno Planeta”, (1997-
cap.1-5) o conceito do desenvolvimento sustentável é apoiados em três
condicionantes estruturadores: o aumento da conscientização ecológica, o aumento
da tecnologia das comunicações o aumento e da produção automatizada; e, o
conceito de desenvolvimento sustentável estabelece a inclusão do “capital natural”
na redefinição do padrão de riqueza, ou seja, garantir instrumentos normativos e
financeiros para que as próximas gerações tenham um patrimônio ambiental igual ou
maior do que o herdado. Questiona-se neste conceito a possibilidade de realização
do homem através de sua produção, quando mais adiante, Rogers afirma que a
modernidade faz parte desta estrutura.
33
Foi o padrão do comportamento humano frente às suas necessidades de
sobrevivência que historicamente estabeleceu a cultura depredadora do ecossistema
natural. Se historicamente a sobrevivência fazia com que houvesse a necessidade
da exploração indiscriminada da natureza, hoje são os padrões de consumo
impostos pelo mercado aliados à cultura de que este patrimônio é ilimitado, que
desequilibram o meio ambiente cada vez mais, sobretudo nos grandes aglomerados
urbanos.
Segundo o filósofo social-ético-político Michael Walzer, o cotidiano na vida
das cidades brasileiras tem se aproximado de um cenário de espaços cada vez mais
delimitados por muros que segregam as funções que classifica como um fenômeno
de duas formas: Monofuncional e multifuncional. “Os espaços monofuncionais
preenchem uma única função, produzidos por empreendedores, incorporadores e
pelo mercado imobiliário; e os espaços multifuncionais são aqueles pensados para
uma variedade de usos, para participantes e usuários.”
No contexto do espaço multifuncional de Walzer, os espaços públicos
seriam de uso democrático, caracterizados pela multifuncionalidade, como a
promoção da participação, a convivência entre os usuários, a divulgação cultural e a
valorização do meio ambiente.
Voltando a Rogers, o planejamento urbano sustentável é a única
oportunidade real de criar cidades dinâmicas ideais que sejam, ao mesmo tempo,
equilibradas ambientalmente e justas socialmente. “Desta forma, cidade sustentável
é a cidade socialmente justa, fisicamente bonita, ambientalmente correta, moderna e
eficiente, democrática.” (ROGERS, 1997)
Fritjof Capra, explica que a mudança decisiva que esteve ocorrendo ao
longo das três últimas décadas foi o reconhecimento de que a natureza[...] é
inflexivelmente não linear[...]. Enquanto nos sistemas lineares , pequenas mudanças
produzem pequenos efeitos, e grandes efeitos se devem a grandes mudanças[...],em
sistemas não lineares, ao contrário, pequenas mudanças podem ter efeitos
dramáticos, pois podem ser amplificadas repetidamente por meio de realimentação e
auto-esforço. Capra fala em não-linear, referindo-se a processo, enquanto Rogers
fala em circular, referindo-se a metabolismo. Mas ambos tratam da mudança de
34
paradigma, da qualidade, no lugar da quantidade. “Os processos de realimentação
não-lineares (ou circulares, segundo Rogers), constituem a base das instabilidades e
da súbita emergência de novas formas de ordem, tão típicas da auto-organização”
(CAPRA,1996,p.107)
Em discurso realizado em 1990, Dalai Lama disse as seguintes palavras:
“Ao plantar árvores frutíferas em suas terras, não só asseguramos que a
terra permaneça produtiva, mas também que vocês terão frutas para comer.
Em suma, gostaria de enfatizar mais uma vez que é extremamente
importante plantar árvores novas e proteger as que já crescem ao seu
redor”.(Discurso de 6 de dezembro de 1990, em uma cerimônia especial
realizada no Assentamento Tibetano Doeguling, em Mundgod, no sul da
Índia. Adaptado de Boletim Informativo Tecnologia Apropriada para
Tibetanos - ApTibet, Boletim Informativo 5, setembro de 1991. Traduzido
por Marly Ferreira.)
Procurou-se através desses conceitos de ideologias aparentemente
distintas, buscar um ponto em comum para uma reflexão e discussão sobre o
conceito de sustentabilidade, termo inicialmente associado ao desenvolvimento
sustentável, que em si, encerra a continuidade nos processos de proteção,
manutenção e recuperação dos recursos naturais.
Em Israel é costume plantar árvores, para aproximar as pessoas da terra
e para o reflorestamento, como uma das mais antigas práticas ecológicas.
“O plantio de árvores em Israel é uma das 613 mitzvot (*), parte importante do
preceito de povoar a Terra de Israel. No Midrash (**) é dito: O Santo
Abençoado disse ao Povo de Israel: 'Ainda que a encontrardes repleta de
tudo que é bom, não digais: sentemo-nos e não plantemos; ao contrário, sede
cuidadosos e plantai'. Pois é dito: 'E plantareis toda árvore frutífera'. Do
mesmo modo que entrastes na Terra de Israel e ali encontrastes cultivos
feitos por outros, devereis plantar para vossos filhos'.
http://www.riototal.com.br/comunidade-judaica
_____________
_
(*) MITZVOT: São 613 mandamentos que determinam as ações do homem segundo maimônides.
(**) MIDRASH: Produção litúrgica baseada na tradição oral copilada no séc. I DC, constituindo a
primeira parte do Talmud.
35
2 FORMAS DE PAISAGISMO PRODUTIVO
2.1 Agricultura Urbana (AU) e Periurbana (AUP)
A paisagem resultante do desenvolvimento do paisagismo produtivo
configura-se em diferentes formas, tendo como elemento comum, a produção de
alimento. A Agricultura Urbana e Periurbana é a forma que mais tem sido
desenvolvida em muitos paises como Cuba, Canadá, México, Japão, China e outros,
tendo como prioridade atender às necessidades de consumo dos próprios produtores
dentro das cidades e em suas periferias, na forma de hortas comunitárias em
comunidades, assim como em núcleos familiares. No entorno de centros urbanos
consolidados, surgem as ecovilas que buscam através de metodologias
sustentáveis, um modo de vida comunitário e produtivo. É o caso do Jikenti
Yamaguishi(*) e a Comunidade Mokiti Okada(**), ambas comunidades de origem
japonesa, instaladas no estado de São Paulo.
Outras formas de paisagismo produtivo como a arborização urbana em
ruas, praças, e parques, ou ainda como ajardinamentos produtivos e coberturas
verdes, são inseridos nesta atividade. Cada forma de desenvolvimento da atividade
tem como características aspectos próprios e relativos ao ambiente físico, social e
econômico, além de se traduzir nas intenções e cultura própria.
Figura 6: Jikenti Yamaguishi
Jaguariúna-SP
Fonte: Site www.yamaghuishi.com.br
Figura 7: Comunidade Mokiti Okada
Mogi das Cruzes-SP
Fonte : Site www.mokitiokada.com.br
_______________
(*)Jikenti Yamaguishi: Comunidade com base nos princípios naturalistas que iniciou no Japão logo
após a primeira Guerra Mundial para resolver o problema de alimentação. Existe em alguns lugares
do mundo. No Brasil, é localizada em Jaguariúna-São Paulo
(**)Em Mogi das Cruzes, SP, a Fundação Mokiti Okada, ligada a Igreja Messiânica, instituída no Brasil
em 1971 pela Igreja Messiânica Mundial do Brasil, tem como princípio desenvolver projetos que
viabilizam a formação de uma sociedade harmoniosa e progressista e objetiva assistir o ser humano
nas suas necessidades de evolução educacional, cultural, de saúde, ambiental e social.
36
A agricultura urbana e periurbana aparecem com destaque em textos de
origem nacionais e internacionais que se referem ao paisagismo produtivo,
vinculadas às questões sociais, ambientais e econômicas para as quais estão
voltadas as atenções do desenvolvimento sustentável. A atividade de agricultura
urbana vem assumindo crescente reconhecimento na medida em que se cristaliza a
visão de que o modelo produtivista que caracterizou o desenvolvimento da
agricultura, desde a Revolução Verde, tem se mostrado incapaz de responder ao
problema mundial da fome. Diversas organizações internacionais têm apresentado
evidências de que o problema da fome mundial não é de insuficiência de produto,
mas de sua má distribuição, afetando principalmente a população marginalizada do
mercado nas grandes cidades dos países de desenvolvimento tardio.
Geralmente os envolvidos na atividade não se dedicam com exclusividade
ao plantio, pois dependem de outros serviços para garantir a renda mensal. O
abastecimento alimentar é imprescindível para a comunidade, que vive o drama do
desemprego ou do subemprego. Resgatar os hábitos culturais daqueles que ainda
mantém sua origem agrícola, incentivando-os a cultivar pequenas hortas, é fator de
inserção social e segurança alimentar atingindo de permeio, outro alvo, que é a
integração das velhas gerações, oriundas da terra, com as novas gerações nascidas
nas metrópoles.
Segundo MONTEIRO, existem diversas definições para a AUP e para a AU,
que se diferenciam pela situação e mesmo pela explicação dos limites do urbano e
periurbano assim como pelo tipo de atividade que englobam, incluindo ou não a
comercialização. Conceitualmente, “a AUP caracteriza-se por dinâmicas sócio-
econômicas e práticas agrícolas distintas, formada tanto pela produção hortícola
estruturada para o abastecimento do mercado”, denominado por NUGENT e EGAL
(2000) como “indústria hortícola e graneleira, sendo situada em grande parte nas
áreas periurbanas”, onde a existência de terra e a pobreza criam a oportunidade e a
necessidade”, essa agricultura de subsistência, por vezes é realizada em quintais,
mas tamm em áreas públicas ou privadas ocupadas de formas diversas.
(MONTEIRO,A.V.V., in, Informações Econômicas,SP,V.32 N.6 Jun 2002, fonte:
www.iea.sp.gov.br
37
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação, a atividade é definida como aquela referente ao cultivo dentro da
cidade. Quando realizada ao redor do perímetro urbano, é denominada periurbana.
Ambas são desenvolvidas principalmente por ex-camponeses, trabalhadores da terra
que, devido ao êxodo rural, vieram para os centros urbanos em busca de emprego.
A produção agcola, que é desenvolvida em torno dos grandes centros
urbanos, es voltada geralmente para o abastecimento de produtos hortícolas,
destinados às classes sociais urbanas que podem pagar por dieta alimentar rica e
variada. Essa produção tem ganhado nova dimensão, que incorpora o avao e as
necessidades originárias de uma agricultura urbana (AU), materializada como alternativa
para populões excluídas.
Conceitualmente, a AUP caracteriza-se por dinâmicas sócio-econômicas e práticas agrícolas distintas, formadas pela
produção hortícola estruturada para o abastecimento do mercado hortícola e graneleiro, sendo situada em grande parte nas áreas periurbanas,
onde a existência de terra e a pobreza respondem respectivamente a oportunidades e necessidades. A AUP refere-se, portanto, às unidades
agrícolas próximas e internas às cidades que fazem inclusive exploração intensiva podendo ser empreendimento comercial ou semicomercial
em granjas e/ou hortas.
Do ponto de vista urbanístico, o desenho urbano pode contribuir para a
construção de uma paisagem onde a produção de alimentos faça parte integrante
das soluções espaços-ambientais. Atualmente no Brasil, as escolas de Arquitetura e
Urbanismo ainda não tratam do assunto como conteúdo disciplinar, sendo até agora
interpretado como uma alternativa sedutora porém não científica. No entanto, como
veremos, a agricultura urbana e periurbana tem mostrado provas por todo o mundo,
que sinalizam para a importância desta prática, não só por questões de produção
mas principalmente por proporcionar um campo para a educação ambiental
integrada a todas as áreas do conhecimento. Nesse sentido, a AU e AUP engloba
questões interdisciplinares, relativas ao habitat humano, merecendo estudos mais
aprofundados para serem integradas à paisagem contribuindo culturalmente com o
desenvolvimento sustentável.
Conceitualmente, além da horticultura, a agricultura urbana pode
desenvolver a criação de animais domésticos como galinha, peixe, ganso, assim
como o plantio de flores, plantas ornamentais e ervas medicinais e as espécies
frutíferas. A agricultura urbana também é caracterizada pela variedade de ambientes
onde pode ser praticada, podendo ser cultivada diretamente no solo, em canteiros
38
suspensos, em vasos, em apartamentos com luz natural ou artificial, oi ainda pelo
sistema de hidroponia.
Figura 8: 10m² de horta é suficiente para uma
pessoa
Fonte: VITORINO, 2005.Fac. Cantareira - SP
Figura 9: Horta Comunitária Alvorada,
Sumaré-SP
Fonte: a autora, 2006.
Figura 10: Hortaliças plantadas em zimbras de diâmetro = 1,20m
Fonte e produção – a autora – 2006
Figura 11: Hidroponia:
Fonte: www.jardineriafamiliar.com/images/hidroponia
2.1.1 AU no mundo e no Brasil – Experiência no Canadá
Para poder garantir a necessidade imediata de alimentos e uma renda
extra, durante tempos econômicos e sociais difíceis ou de guerra, a populações de
todo o mundo buscam soluções, utilizando os recursos disponíveis, em suas próprias
habitações, em comunidades ou em programas governamentais.
SALSINHA MOSTARDA MORANGO
39
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento ,em
1996, 800 milhões de pessoas já estavam engajadas na prática da agricultura
urbana ao redor do mundo, sendo a maioria delas habitantes de cidades asiáticas.
Nos bairros populares de Montevidéu, Uruguai, a AU desenvolve-se
fundamentalmente para o auto consumo, e os agricultores conservam as variedades
locais, cultivando-as de modo ecológico com um uso mínimo ou inexistente de
produtos químicos na adubação e no controle de pragas e doenças. Na mesma
cidade, foi identificada a presença de plantas medicinais em 48% das residências
que praticam alguma forma de AU. A prática de plantio em quintais é desenvolvida
para o plantio de numerosas espécies de hortaliças, plantas medicinais e árvores
frutíferas que não são cultivadas nos estabelecimentos agrícolas comerciais.
(SANTANDREU, 2000).
Segundo o Instituto Polis, em São Petersburgo, na ssia,
aproximadamente 2,5 milhões de habitantes são participantes de atividades
agrícolas e a área total cultivada pela população urbana é de aproximadamente 560
mil hectares; Jacarta, na Indonésia numa experiência recente, as pessoas
começaram a produzir alimentos em pequenos lotes e espaços abertos em toda a
cidade inclusive transformando os parques públicos em hortas e os organismos
governamentais passaram a estimular os habitantes a cultivarem seus próprios
alimentos.
Segundo o Plano de Ação para Alimentos e Nutrição Urbanos, OMS -
EURO 2000, outras experiências exemplificam a intensidade com que esta atividade
é desenvolvida: Na Rússia, produtores urbanos chegam a produzir 88% das batatas
consumidas nas cidades. As batatas são cultivadas em áreas medindo em média
entre 0,2 e 0,5 ha, que somam cerca de 4% das terras agrícolas; na Polônia foram
produzidas mais de 500.000 toneladas de frutas e hortaliças (1/6 do consumo
nacional) em cerca de 8.000 hortas comunitárias em 1997; nas cidades da Geórgia,
que integrava a ex-União Soviética, os produtos agrícolas domésticos geram até
28% das rendas das famílias; na Romênia, a cota de produtos domésticos
consumidos pela população aumentou de 25 para 37% entre os anos de 1989 e
40
1994;em 1998, na Bulgária, 47% da população era auto-suficiente quanto a frutas e
hortaliças, e 90% das famílias preparam conservas para consumir no inverno.
As cidades de Havana (Cuba) e Vancouver (Canadá) , no continente
americano, são também referencia importante na atividade de Agricultura urbana.
Havana, após a queda do comunismo, e do conseqüente apoio financeiro da
Rússia, deixou de utilizar os insumos químicos para a agricultura, tendo que
encontrar solução para a produção de alimentos. Em poucos anos, hortas
comunitárias começaram a fazer parte da paisagem de conjuntos habitacionais
urbanos. Já no Canadá, a prática já está inserida nos programas governamentais, de
segurança alimentar e educação ambiental, fazendo parte do quotidiano e da cultura
canadense.
Figura 12: Agricultura Urbana em Havana- Cuba
Fonte: City Farmer,
Canada's Office of Urban
Agriculture
41
Em Vancouver, Canadá, segundo BENTLEY (*)em visita à Campinas em
Programa de Intercâmbio pela British Columbia/Brasil, a experiência de algumas
hortas foram assim relatadas :
EXPERIENCIA NO CANADÁ
A Horta Comunitária Strathcona:
Uma área que era originalmente da mata nativa do Pacífico, e também
parte da planície marítima, foi transformada em depósito de lixo industrial, até os
anos 30, quando a Prefeitura do Município de Vancouver decidiu construir um
parque. Em 1985, depois de muito conflito sobre o futuro da área, a Diretoria de
Parques concedeu um arrendamento a um grupo comunitário e a Horta Comunitária
Strathcona foi estabelecida. Na área de 1, 4 hectare com 200 lotes, foi construído um
pavilhão ecológico que utiliza energia solar, reaproveitamento dos resíduos
domésticos como adubo, e um sistema de reaproveitamento da água usada. Há um
pomar, uma área para abelhas, e uma área com vegetação nativa, e uma área de
manancial que servem de apoio à fauna que vive na cidade. A horta atende à
comunidade em geral, às escola, universidade e aos clubes de jardinagem.
Um Viveiro comunitário de plantas e sementes foi criado para facilitar o
acesso à comunidade considerando a relevância para o controle ambiental na
redução de emissões de dióxido de carbono e de metano. A Horta Strathcona,
também objetiva reduzir as emissões de gás de estufa” pelo conversão de lixo
orgânico em adubo. Por ano, 200 toneladas de resíduo orgânico são compostadas
neste projeto sendo que o impacto na redução de emissões de gás de estufa tem
sido estimado equivalente à eliminação de 100 veículos nas estradas.
Este o projeto comunitário de compostagem de resíduos orgânicos é uma
parceria com a Sociedade Quest, que recupera alimentos de supermercados e os
redistribui para pessoas de baixa renda; os alimentos que não são mais
_______________
(*) Stephen Bentley Mestre em Planejamento Comunitário e Regional, EYA (Alliança da Juventude
pelo Meio-Ambiente – Vancouver- Canadá)
42
comestíveis são coletados pela Quest e são compostados através deste projeto;
outra parceira importante da Strathcona é a Aliança da Juventude pelo Meio
Ambiente -EYA-Environment Youth Alliance, organização de desenvolvimento
comunitária que se dedica a melhorar o ambiente físico e social através de projetos
práticos que envolvem, treinam e empregam pessoas jovens.
A Horta da Juventude:
Criada em 1993, com o apoio da Strathcona, os jovens são treinadas na
produção orgânica de alimentos, na preservação de sementes, e na propagação de
plantas, com o objetivo de estimular a autonomia econômica dos jovens e de
prepará-los para carreiras no setor ambiental. A horta é utilizada também para
desenvolver as habilidades necessárias para o estabelecimento de “empresas
ambientais”, como por exemplo, o "O Projeto das Sementes Urbanas", uma empresa
que produz as sementes de plantas para serem vendidas à comunidade de
Vancouver .
O Sítio Urbano UBC (University of British Columbia)
O sítio UBC é uma área cultivada, para produção de alimentos, dirigida
por estudantes que integram a gerência da área com práticas de produção de
alimentos sustentáveis e orgânicos, desenvolvendo pesquisa, inovação, e educação,
e estabelecendo vínculos com a comunidade.
A partir dessas hortas, derivam os programas:
A Horta de Mercado – Inspirada num projeto de estudantes das
Ciências Agrícolas da British Columbia University, em 2001, a produção de uma
horta em área da universidade abastece a própria comunidade interna e faz a venda
dos produtos de horticultura numa feira livre e na cooperativa de alimentos da UBC.
Estudantes voluntários ganham experiência prática na horta, enquanto a
comunidade universitária esta sendo abastecida com alimentos de alta qualidade,
produzidos localmente.
43
A Horta dos Mayas Promove a sustentabilidade e a educação da
comunidade dos povos indígenas Maya. Neste programa uma área designada a
ao ensino do uso tradicional das ervas na cultura Maya
Projeto de Aprendizagem Ambiental entre Gerações Iniciativa da
Faculdade de Ciências Agrícolas que integra crianças, educadores, e fazendeiros
locais aposentados para explorar a participação em um projeto de agropecuária
dentro de uma fazenda urbana, com o objetivo de promover a conscientização
ambiental, o respeito para com a natureza, e uma maior compreensão dos assuntos
relacionados entre o alimento e o solo.
Programa Fazenda-Escola O Sítio UBC oferece excursões para
grupos escolares, para que estudantes recebam informações sobre a procedência e
a produção dos alimentos, oferecendo também oportunidade a voluntários para
participar da cultura da horta.
Agricultura Urbana em Toronto – Canadá:
Como em Vancouver, Toronto tem Inúmeras hortas comunitárias e
diversos projetos de agricultura urbana ligados a ONG’s locais. Um exemplo de
projeto é o The Stop, que é um Centro de Alimentação Comunitária. Tem como
objetivo aumentar o acesso aos alimentos saudáveis de uma maneira que mantenha
a dignidade dos indivíduos, ajude a construir laços comunitários e combater a
desigualdade.
Outros programas inovadores são:
“Healthy Beginnings”/Começos saudáveis é um programa de
nutrição e apoio para mulheres grávidas de baixa renda;
Banco de Alimentos usado por 8.000 pessoas anualmente, que
recorrem ao banco para se abastecer de alimentos, uma vez por mês; este banco é
único, pois oferece escolha de alimentação aos usuários que estão sendo atendidos;
a equipe de apoio entrevista cada membro/cliente do banco e os refere a outras
agências do serviço social municipal;
44
Centro “Drop-in” fornece refeições gratuitas, informação, permite
chamadas de telefone locais, e promove atividades sociais para pessoas de baixa
renda.
Cozinhas comunitárias fornecem refeições saudáveis, reduzem a
exclusão social, coletam informação sobre a comunidade atendida e oferecem a
oportunidade de compartilhamento de idéias sobre como comer de forma saudável
dentro de um orçamento limitado; oferece programas especiais para mulheres,
imigrantes africanos e latino-americanos
Agricultura Urbana – Em uma horta de 740 metros quadrados, dentro
de um parque próximo ao Centro The Stop, onde se promove: a segurança alimentar
através do aumento da produção de alimentos frescos e saudáveis à disposição no
banco de alimentos e para outros programas (mais de 1.100 kg de produtos
orgânicos são colhidos anualmente e distribuídos através destes programas);a
proteção ambiental, através da cultura orgânica local, é reduzida a energia
consumida e a poluição originada pelo transporte dos alimentos vindos de lugares
distantes, melhorando a saúde do solo e a recuperação de espécies vegetais
nativas. Em 2004, 750 crianças de escolas da região aprenderam sobre a AU e
sustentabilidade, potencializando a formação de multiplicadores; confrontando o
modelo de caridade em relação aos alimentos, promove a participação ativa dos
membros da comunidade em todos os aspectos do programa, o que ajuda
desenvolver habilidades, auto-estima e apoio a criação de redes sociais; a educação
comunitária através da divulgação dos assuntos sociais e ambientais para as mais
diversas idades, culturas e classes socioeconômicas.
Figura 13:Hortas comunitárias
Fonte; Stephen Bentley – 2003
45
Outra organização é a Foodshare, maior organização de segurança
alimentar comunitária no Canadá, que promove políticas progressistas de nutrição
escolar e contra a fome; também coordena vários projetos práticos de segurança
alimentar, como:
A Caixa de Bons Alimentos (“The Good Food Box”) um serviço de
distribuição de alimentos, sem fins lucrativos, que fornece alimentos saudáveis a
preços que são justos tanto para com os consumidores quanto para os agricultores
Focando na Alimentação – estagio de seis meses que educa e treina
"a juventude de risco" (jovens quem não completaram a escola, e/ou
desempregados, por exemplo), em habilidades de trabalho relacionadas à
alimentação.
Hortas Comunitárias e Agricultura Urbana FoodShare coordena a
Associação de Jardinagem Comunitária de Toronto, e defende, junto à Prefeitura o
melhor apoio às hortas da cidade; FoodShare opera também a sua própria estufa
sobre a cobertura do predio-sede, e a Horta do Sol”, onde são produzidos
Alimentos Locais Culturalmente Apropriados , para os residentes da área, muitos
dos quais vem do Caribe, do sul e sudeste da Ásia.Numa parceria com Serviços de
Instrução Vocacional e Reabilitação do Centro pela Dependência e a Saúde Mental -
CAMH cria oportunidades para as pessoas com problemas mentais e para a
juventude oferecendo seis meses de emprego pago, um dia por semana, para
pacientes do CAMH. A qualificação da paisagem nas de horta ajudam a diminuir as
barreiras entre a instituição e a comunidade; os jovens que participam no programa
de FoodShare, Foco no Alimentação têm oportunidades para trabalhar na horta e na
feira, e dessa maneira, aprendem também habilidades de trabalho em áreas
relacionadas à sustentabilidade.
No Brasil, alguns municípios brasileiros vêm procurando fortalecer a
produção agrícola na cidade partindo da elaboração de legislações que dêem conta
da diversidade da AU e AUP. Entre eles se destacam Governador Valadares e Belo
Horizonte (MG), Teresina (PI) e São Paulo, e demais cidades onde a necessidade de
alimento é crescente. Como exemplos, em São Paulo, o Programa de Agricultura
Urbana e Periurbana - PROAURP, vinculado à Secretaria do Verde e do Meio
46
Ambiente, apoio às NAU’s, Núcleos de Agricultura Urbana. Em Belo Horizonte, o
Programa Armazém da Roça(*) apoio à comercialização direta dos produtores
familiares, urbanos, periurbano e rurais e têm por objetivo ampliar o acesso entre os
produtores e consumidores urbanos, através da supressão dos intermediários, além
de oferecer a assistência técnica, o empréstimo de equipamentos e obtenção de
licenças de comercialização para os produtores.
Em entrevista realizada com o Coordenador do PROAURP- São Paulo,
Eng. Agrônomo Luis Eduardo Galletti (mar/2006), ele afirma que “O Programa de
Agricultura Urbana e Periurbana, é um programa de âmbito municipal, criado e
regulamentado através da Lei 13.727/04 que cria o Programa de Agricultura Urbana
e Periurbana do Municipal de São Paulo e do Decreto 45.665/04, sendo constituído
por quatro secretarias municipais: Verde, Meio Ambiente, Coordenação das
Subprefeituras, Serviços e Trabalho.” O PROAURP tem como objetivos: Inclusão
sócia ambiental, geração de trabalho e renda, incentivo à agricultura familiar
paulistana, combate à fome, com incentivo à produção local, aproximação de
produtores e consumidores, uso de áreas ociosas viáveis à produção agrícola,
resgate cultural das atividades de cultivo e contato com a terra, incentivo ao
associativismo e agroturismo.
As NAUs apoiadas pelo PROAURP, o distribuídas no território paulista
segundo mapa a seguir.
Figura 14: Horta Comunitária Saponemba SP
Foto: Ibirá Machado, 2006.
Figura 15: Horta Comunitária Guaianazes- SP
Foto: Ibirá Machado, 2006.
_______________
(*)Armazém da Roça -O programa Armazém da Roça, traz produtos caseiros, artesanais e de
agricultura familiar do interior de Minas, para a comercialização em Belo Horizonte. A Secretaria
Municipal Adjunta de Abastecimento, em parceria com as associações de produtores de Minas
Gerais, realiza a venda dos produtos de agricultura familiar, in natura, sem o uso de produtos
químicos, a preços acessíveis, nos espaços geridos pela Secretaria e em diversos eventos municipais
FONTE-site-www.bh.gov
47
Figura 16: Localização dos NAUs no Município de SP – (sobre carta imagem)
Fonte: SVMA, Atlas Ambiental do Município de São Paulo, 2004. Elaborado por Ibirá Machado
As NAUs Guaianazes e Saponemba mostram como a prática da
agricultura é viável em área urbana, inclusive como ferramenta para a superação da
segregação sócio-espacial-econômica.Mais que uma prática vinculada à segurança
alimentar, a agricultura urbana acesso à uma mobilização comunitária capaz de
enfrentar restrições de ordem social, ocupacional e financeiras dos sujeitos da
comunidade, contribuindo com o meio ambiente com a possibilidade de recuperação
do solo de áreas desocupadas e improdutivas.
48
Em Campinas, SP, numa forma de amenizar o problema do desemprego e
aproveitar as áreas livres do município, foi elaborado o Projeto Lei 9.9549 de 10
de
Dezembro de 1997, criando o Programa de Hortas Comunitárias. O projeto foi
aprovado, mas nunca entrou em vigor por falta de regulamentação.
O Governo democrático Popular publicou o Decreto 14.288 de 11 de
Abril de 2002, Regulamentando a Lei, que também veio para colaborar com o Projeto
Fome Zero do município Em 2003 foi elaborada uma cartilha apresentando a Lei com
a Regulamentação, para a população de Campinas conhecer o Programa de Horta
Comunitária. (anexo 01)
No dia 24 de Agosto de 2004 alguns beneficiários das hortas foram
convidados a regularizar a sua situação junto à Prefeitura, a convite do coordenador
do GDR – Grupo de desenvolvimento Rural. (anexo 02)
2.1.2 O papel da AU nas cidades
A produção horti-fruti-granjeira nas cidades, desenvolvida pelos
programas de Agricultura Urbana e Periurbana, tem papel fundamental na
acessibilidade da população urbana a esses alimentos, uma vez que são facilmente
perecíveis e a atividade pode ser realizada praticamente em qualquer local,
reduzindo as distâncias de transporte e consequentemente o custo de mobilidade e
conservação.
O artigo da Revista de Agricultura Urbana “RUAF” (07/ 2002) destaca os
seguintes aspectos que justificam a potencialidade da Agricultura urbana nas
cidades:
Aproveitamento dos espaços ociosos, evitando o acúmulo de lixo e entulhos
ou o crescimento de plantas daninhas, onde poderiam abrigar-se insetos
peçonhentos ou animais prejudiciais à saúde humana, como escorpiões,
ratos, baratas e outros.
Produção de alimentos e incremento da qualidade e da quantidade de
alimentos disponíveis para consumo próprio.
49
Utilização de resíduos orgânicos e rejeitos domésticos, diminuindo seu
acúmulo, tanto na forma de composto orgânico para adubação, como na
reutilização de embalagens e pneus para formação de mudas.
Educação ambiental através da atividade, aumentando a consciência da
conservação ambiental.
Segurança alimentar favorecendo o controle total de todas as fases de
produção em sistema agro ecológico.
Desenvolvimento local, valorizando a produção local de alimentos e outras
plantas úteis como medicinais e ornamentais, fortalecendo a cultura popular e
criando oportunidades para o associativismo.
Formação de micro-clima e drenagem diminuindo o escorrimento da água das
chuvas nas vias públicas.
Atividade ocupacional evitando o ócio, contribuindo para a educação social e
ambiental, diminuindo a marginalização na sociedade
Possibilidade de produção em escala comercial, especializada e/ou
diversificada tornando-se uma opção para geração de renda.
2.1.3 Hortas comunitárias em áreas ociosas – Experiência em São Paulo
É muito comum, a transformação das áreas desocupadas e ociosas em
locais de risco para a população, sujeitas ao despejo de lixos e entulhos, inseguras
pelo mau uso, como esconderijo, ou local perigoso para as crianças que podem ali
encontrar algum atrativo para brincar.
Podem ser lotes urbanos em bairros ou em áreas centrais, entre
quarteirões ou vazios de maiores dimensões entre núcleos construídos mais
consolidados e que em geral estão a espera de valorização imobiliária. Áreas
desocupadas também podem ser classificadas como aquelas ao longo de linhas de
força, canteiros de avenidas e fundos de vale, essa último sendo o enfoque desta
pesquisa. Do ponto de vista ambiental, todas essas terras sem uso, não contribuem
de acordo com as suas potencialidades, pelo contrário, estão sujeitas à degeneração
ambiental e urbana. A implementação de programas de plantio de alimentos, não
50
contribui para o abastecimento alimentar, como também para a melhoria do meio
ambiente, regenerando o solo, aumentando a sua permeabilidade, reduzindo
erosões e substituindo terrenos ociosos por geração de atividades produtivas.
Um exemplo dessa possibilidade está em Sete Lagoas, cidade de Minas
Gerais, onde uma horta foi implantada no canteiro central de uma avenida onde
uma série de postes de linha de força. A horta, além de produzir alimento e otimizar
o uso da área ainda é abastecida por água pluvial recolhida em sistema alternativo
de “lago de plástico”, idealizado por Luciano Cordoval (*), “buscava uma solução
para manter a água ao lado das lavouras em lugar de solo poroso, no caso da
avenida seria impensável construir um grande reservatório de concreto por conta dos
f i o s d e a l t a t e n s ã o e o s c u s t o s s e r i a m b e m m a i s a l t o s .
Essa horta que emprega 122 famílias, existe graças aos lagos artificiais
feitos em cada ponta da avenida dentro de lona plástica comum que armazena a
água da chuva.
Figura 17: Horta no meio da avenida - Sete Lagoas - MG
Fonte : Premio Super Ecologia - 2004
Foto: Pedro Motta
_______________
(*)Luciano Cordoval- EMRAPA- SeteLagos, reportagem Revista Super Interessante, Edição 202-
Julho 2004
51
Em fundos de vale, o desenvolvimento de programas de parques lineares
como em Campinas o Parque Linear Ribeirão das Pedras, ao mesmo tempo que
objetiva proteger e preservar as margens dos cursos d’água, recupera o potencial
paisagístico e regulariza o uso pela população. Outras experiências são realizadas
através de hortas comunitárias, desenvolvidas em regiões onde as condições sócio-
econômicas e ambientais favorecem a atividade, porém, a legislação atual sobre os
cursos de água ainda gera controvérsias.
As margens dos mananciais em estado natural são compostas pela mata
ciliar que tem um papel fundamental no ecossistema ambiental, protegendo o solo da
erosão, promovendo a biodiversidade, e promovendo um filtro protetor das águas.
Porém, não é esta a condição encontrada na maioria das margens de rios e córregos
urbanos, das cidades brasileiras. Pelo contrário, pelo fato de serem locais de
preservação permanente, APPs, são impedidos de uso para construção, e
paradoxalmente são invadidas por populações pobres. Outro destino dado às
margens dos rios urbanos, como já foi dito, é a ocupação para despejo de entulhos e
lixo de qualquer espécie gerando áreas de mato criatório de animais peçonhentos,
pontos de venda de drogas, áreas de ocupação irregular ou clandestina, sem
qualquer condição de uso ou habitabilidade.
Figura
18
:
Urbanização da Favela Icaraí - SP
Córrego já canalizado durante as obras de
urbanização em mutirão
Fonte: Cadernos PÓLIS nº 15 -1994
Figura 19
:
São Paulo
Fonte: Atlas ambiental do município de São
Paulo .
52
As contradições entre a legislação que limita o uso das margens e o real
destino a que são submetidas serão tratadas no item “APPs” e exemplificadas pelas
“Horta Comunitária Santa Genebra” em Campinas e a “Horta Comunitária Alvorada”
em Sumaré, assunto que será tratado mais adiante.
Outros espaços desocupados tornam-se produtivos como a implantação
de hortas, como em escolas, centros de saúde e comunitários, exército, instituições
de reabilitação, e outros.
Os Núcleos de Agricultura Urbana NAUs, integrantes do Programa de
Agricultura Urbana e Periurbana PROAURP do Município de São Paulo, tem entre
seus objetivos, o uso de áreas ociosas viáveis à produção agrícola. Entre os dez
NAUs, estão o NAU Saponemba e o NAU Guaianazes, que utilizam parte da área
de interesse social da comunidade para o desenvolvimento da horta comunitária.
Figura 20: parte do folder do PROAURP- SP
EXPERIENCIA EM SÃO PAULO
Núcleos de Agricultura Urbana
O NAU Saponemba, esta situado à Rua Aquilânio, no Conjunto Prómorar
II, em terreno de propriedade da Petrobrás, por onde passam dutos subterrâneos. A
horta ocupa um terreno estreito,em torno de 10 metros, entre a rua e o colégio
estadual do local.
53
Figura 21: NAU Saponemba ( 1 )- SP
Foto Ibirá , 2006
Figura 22: NAU Saponemba ( 1 )- SP
Foto Ibirá , 2006
Na entrevista com a moradora, Sra Perseverança Maria dos Reis Silva, 53
anos, ela diz “O terreno era muito lixo, muito rato, muito escorpião, até cobra tinha.
Agora diminuiu bastante os ratos, porque a gente cuida de tudo, o joga mais os
lixos assim.A horta produz almeirão, couve, alface, coentro, pepino, abobrinha,
chuchu, beterraba, mostarda, acelga, rabanete, jiló, quiabo, pimentão, pimenta,
cebolinha, salsa, tomate cereja (o normal não deu certo porque ele precisa de
agrotóxico e nós não usamos isso). Tem banana, mandioca. Tem muita erva
medicinal também.
Pelo depoimento da Sra Perseverança, o valor da recuperação dessa área
está intimamente ligada a à valorização sócio-espacial da área. A possibilidade de
plantar e colher o próprio alimento e ver o local cuidado e limpo, parece ter
despertado um sentimento de pertencimento, ao apropriar-se das responsabilidades
sobre a manutenção da horta, sem no entanto ter a necessidade de ser a
proprietária, quando ela diz: “Mas a gente sabe que a terra não é nossa, que se eles
precisarem a gente devolve. Tem tanta fome nesse país, e esse país é muito rico.
Então a agricultura urbana foi a melhor coisa que aconteceu aqui.”
Quanto a plantar numa cidade como São Paulo, o contraste da vida na
cidade e no campo, Quando eu dentro da horta eu não penso que eu na
cidade, eu penso que tô na lavoura. Quando eu volto para casa fico com saudade da
horta. Eu gosto muito da horta e eu penso, puxa vida, isso tudo é concreto, não
poderia ter terra também?
54
Figura 23: NAU Saponemba ( 2 )- SP
Foto Ibirá , 2006
Figura 24: NAU Saponemba ( 2 )- SP
Foto Ibirá , 2006
Quanto à despoluição e contribuição para o meio ambiente e para as
gerações futuras ela diz: “Com a horta, não é eu, mas todo mundo passa para o
outro a conscientização do meio ambiente. O que a gente produz também é o meio
ambiente. Lá tinha muito lixo, hoje limpo. Vieram vários ssaros novos que
vieram cantar que a gente nunca tinha visto. Por mais pequeno que é o nosso
espaço, até os pássaros vieram mostrar que ficaram felizes.Eu penso assim, se
melhorar mais a horta, eu penso que a gente ajudando as crianças, para eles
aprenderem desde cedo para não destruírem o meio ambiente. A gente essas
crianças que estão melhores hoje com a horta e todo mundo sabe que a horta
ajudou muito aqui, com a saúde, com as doenças, os bichos... A gente teve visita
de escolas aqui, que vieram ver como funciona. Eles aprenderam a importância do
meio ambiente.”(entrevista - anexo 3).
O NAU Guaianazes, segundo local visitado em trabalho de Iniciação
Científica de Ibirá, foi apontado como antigo local de “desova” pela entrevistada,
Sra. Guaraciaba Elena Aparecida de Araújo,53. Imigrante, de Minas Gerais, desde
1986,ela diz:”Aqui era um local que tava tendo desova” de carro e a comunidade foi
até a sociedade e pediu que se faça alguma coisa”.
Numa área pública, do município, segundo Sra Guaraciaba, existem duas
minas d’água, mas uma delas “fugiu” com a passagem da tubulação do mutirão” e
acabou secando.”Ela complementa, “tinha peixe mas depois estourou um cano de
esgoto do mutirão e vazou no lago e matou os peixes.”
55
A horta Guaianazes tem o apoio da associação de bairro porém, não
constancia na participação dos ajudantes, pois às vezes têm que lavar roupa para
um, passar para outro, pelo menos uma vez por semana, por que senão não tem
como sobreviver.” E complementa, “A mudança é alimentar, financeira não,então
quer dizer que nós ainda não tivemos essa experiência de mudança financeira”. A
Prefeitura também apóia oferecendo cursos e em 2005 “o secretário veio aqui para
sentar e ver o que poderia fazer para melhorar as condições das parceiras nossas,
para que elas pudessem se dedicar mais na horta, mas nada acontece.” São poucas
as pessoas que conseguem dedicar-se ao manejo da horta, fazendo revezamento, e
em geral trabalhando meio turno. Enquanto desempregadas, os moradores da região
trabalham na horta mas assim que um emprego aparece, elas deixam a horta para
segundo plano. Porem a entrevistada exclama: ”Eu sou apaixonada por isso,
abandonar é difícil! Tem hora que vem desânimo, com a questão do adubo a gente
tem muita dificuldade e a chuva lava muito, a gente tem que tá adubando
constantemente. Tem hora que a gente desanima, mas a paixão é maior, o amor
pela terra, pela natureza, é maior que tudo.”
A atividade de plantio dentro da cidade, para a entrevistada “é
apaixonante, tem gente que vem aqui só para visitar, vem de longe. Outro dia
conheci uma senhora no banco e essa semana ela teve aqui e ela saiu apaixonada,
dizendo que tinha se sentido como se tivesse na roça. A gente tem um pouco de
árvore, tem os bichinhos e as vezes a gente liga o rádio e uns “lairila” que paz
prá gente.
Figura 25 : Produtores da NAU Guaianazes
Foto; Ibirá, 2006
56
A diferença em plantar no campo e na cidade se dá pelo tipo de
socialização que acontece entre a divisão de trabalho e da produção, “se eu
morasse no campo, mesmo, eu não tinha que dividir a horta com a minha casa. A
gente tem que se dividir entre a casa da gente e a horta. Acho que no campo a
dedicação seria maior, o prazer seria maior, porque você vive ali, dentro da sua
área mesmo, o seu habitat é a própria roça.” Quanto à contribuição da horta para a
comunidade e meio ambiente, responde: “ali em cima era tudo verde e formou o
mutirão, que passou a tubulação no meio da horta e atrapalhou um pouco e ainda
algumas dificuldades para gente, mas tinha muito verde. Agora o único verde que
sobra é esse. Eu acho que pro meio ambiente isso aqui é muito importante, é uma
coisa que me sustenta aqui dentro;eu ouvi falar do meio ambiente, porque eu
participando da Agenda 21 que é sobre o meio ambiente e parece que eu comecei a
entender. Eu acredito que é porque no futuro esse espaço vai ser um pedacinho do
pulmão; porque hoje as casas o têm mais, os quintais estão sendo todos
cimentados, quase ninguém tem mais quintal. Eu acho que é uma coisa que valeu a
pena em 86 e continua valendo a pena”.
O grau de consciência ambiental é de formação e cultural, a ligação com a
terra é emblemática, Ponha a semente na terra, não será em vão; mesmo que a
colheita plantas para o irmão”, essas foram as palavras que estimularam a Sra
Guaraciaba, que ainda concluiu:” então eu fiquei pensando que quem sabe é o verde
que a gente vai deixar.” (entrevista - anexo 4).
Na ocasião da elaboração do questionário para as entrevistas nas NAUs,
a autora pode dar a sua contribuição ao estudante de Iniciação Científica, a fim de
direcionar as questões também para os interesses desta pesquisa.
O quadro a seguir, apresenta uma síntese elaborada a partir das
entrevistas nasa NAUs Guaianazes e Saponemba
57
Quadro 02: RESUMO DAS ENTREVISTAS DAS NAUs EM SÃO PAULO -2006
Fonte: Com base nas entrevistas realizadas por Ibirá, e adaptado pela autora.
Levantamento
nas entrevistas
NAU GUAIANAZES OBSERVAÇÕES NAU SAPONEMBA OBSERVAÇÕES
Inicio da horta Ano 1986 Secretaria da
Agricultura de SP
Ano 2003
Condição dos
terrenos
original
Uso para “desova de
carros”
Existência de lixo,
ratos, escorpião,
cobras
A proliferação de
ratos atingia toda
a comunidade
Proprietário do
terreno
Área pública para
uso social
Petrobrás Passagem de
dutos de óleo sob
o terreno
Organização
da comunidade
Sociedade de
Amigos desde 1980
Foi importante
para a realização
da horta
Não foi mencionado Liderança de
família da Igreja
Católica Apost.
Romana
Insumos –
adubo e
sementes
Cedido pela
prefeitura no início
dos trabalhos,
atualmente falta
Esporadicamente,
há doações e
contribuições
Cedido pela
prefeitura no início
dos trabalhos,
atualmente falta
Esporadicamente,
há doações e
contribuições
Capacitação Oferecido na
comunidade pela
prefeitura
Há a contribuição
de pessoas
idosas
Não foi mencionado Há uma família
que veio da roça e
domina a prática
Patrocínios CEF – para
alambrado
Com a sobra, foi
comprado mais
sementes
Contribuição da
comunidade e da
Igreja
Uma família
exerce liderança e
auxilia os mais
necessitados
Uso de adubo Composteiras com a
coleta da com., e
esterco de coelho,
galinha e pato
Já usou esterco
de cavalo
Não foi mencionado
Água Bombeada do lago,
para uma caixa que
fica no chão
Lago feito pelos
agricultores a
partir de duas
minas
A água é bombea-
da de uma caixa,
não foi mencionada
a procedência
Existe pouca
pressão, a horta é
molhada com
regadores
Produção Hortaliças,leguminos
as, frutas,
tubérculos, café
Hortaliças,
leguminosas, frutas,
tubérculos,
plantas medicinais
Animais Coelho,cabrito, gali-
nha, ganso, peru,
galinha d’angola
Uso do esterco
destes animais
Não foi mencionado
Renda com a
venda
Irrelevante,
esporádica, o que
mais vende é alface,
3/R$1,00
Mas a produção
ajuda na
alimentação da
comunidade
Irrelevante,
esporádica, o que
mais vende é alface,
3/R$1,00
Mas a produção
ajuda na
alimentação da
comunidade
Tempo
dedicado
2 a 3 vezes por se-
mana com reveza-
mento, 1 turno/dia
Se faltar gente,
deve ir todos os
dias
Revezamento com o
marido e filhos,
familiares
Quantidade de
famílias
envolvidas
10 No início
começou com 20
8 pessoas No início começou
com 20
Participação
dos filhos
Sim, até sair para
trabalhar fora
Sim
Mudança na
qualidade de
vida com a
horta
Uniu mais a família
pela necessidade de
revezamento para
manutenção da
horta
Vieram familiares
de fora para
ajudar
Melhorou a
alimentação das
crianças
Havia muita
doença como
anemia e diarréia
Quadro 02: RESUMO DAS ENTREVISTAS DAS NAUs EM SÃO PAULO -2006
58
Fonte: Com base nas entrevistas realizadas por Ibirá, e adaptado pela autora.
CONTINUAÇÃO...
Identificação
com a horta
É como se estivesse
no campo, sente paz
e tranqüilidade
É como se estivesse
na lavoura, gosta
muito
Diferenças no
plantio entre
campo e
cidade
Na cidade é coletivo,
de todos, e fica
longe da casa
Contribuição da
horta com o
meio ambiente
É u único pedaço
verde, pequeno
pulmão
Construímos o meio
ambiente e no lugar
do lixo, vieram
pássaros
Maiores
dificuldades
Falta mão de obra e
adubo
Ferramentas,
mangueira
Necessidades
prioritárias
Bomba de água
mais potente
Hoje são usadas
5 bombas
caseiras
Irrigação e adubo
Quanto ao
incentivo?
É muito irregular É muito irregular
Outros
problemas
Vazamento do
esgoto do mutirão
rumo à horta
Há perigo do
morro ceder
Em entrevista realizada na Secretaria do Verde e Meio Ambiente da
Prefeitura de São Paulo, junto com a interpretação das entrevistas, é possível
considerar:
Que na data da entrevista, em Março 2006, a coordenação do
PROAURP, estava em fase de análise e avaliação da situação, podendo elencar um
inventário de ações realizadas e/ou a realizar ou a buscar melhorias;
Que o PROAURP conta com quatro Secretarias : do Verde, do Meio
Ambiente, da Coordenação das Sub-Prefeituras, e a de Serviços e trabalhos e que
tem como um dos objetivos a articulação com outros setores que promovam a
integração e maiores resultados em sua atuação.
E conveniente observar que:
É preciso encontrar uma metodologia de implementação dos
programas para AU, aproveitando o potencial humano existente e disposto nas
comunidades, de maneira incentivadora, para dar continuidade e sustentabilidade à
proposta.
59
A Merenda Escolar Orgânica é de valor cultural, levando a criança
desde pequena a lidar com os valores humanitários e de necessidade de saúde e de
preservação de recursos naturais, podendo se estender à atividade curricular, teórica
e prática.
Para a sustentabilidade das hortas existentes ,os recursos como água,
adubo e sementes ou mudas, devem fazer parte de um cronograma mais estável de
controle de permanência
As associações e instituições colaboradoras são potencial de liderança
pouco aproveitada.
Não falta terra para plantar. Faltam, sim, recursos que incentivem o
plantio .
A identificação da pessoa que planta, com a terra, é de valor
gratificante e traz benefícios psicológicos de bem estar.
O objetivo de trabalho e renda, de modo geral ainda não é alcançado.
2.2 Agricultura familiar
“Uma família atua como um grupo, com grande freqüência, quando seus
membros estão em interação psicológica. É uma unidade de pessoas
vinculadas por laços institucionais e de intercâmbio mental, o que lhes
confere uma forma aparentemente permanente” (ROCHA,
PADILHA,2004,p.37)
Nas áreas periurbanas e, ou rurais(*), ao redor das cidades, as atividades
da agricultura familiar é a provedora do abastecimento dos produtos horti-fruti-
granjeiros que são comercializados, em feiras livres e demais pontos de venda na
cidade.
_______________
(*), Cabe salientar a possível discrepância entre os conceitos de “rural” e “periurbano”,
respectivamente, o campo e a periferia das áreas urbanas cujo fenômeno da conurbação acrescenta
uma nova categoria de lugar: o rurbano, ou seja, o rural e o urbano juntos, reunindo características
das duas: a infra-estrutura do urbano e a qualidade bucólica de vida rural.
60
No Brasil, a agricultura familiar busca estímulo de subsistência através da
reforma agrária que, enquanto não acontece, leva muitas famílias a buscar nas
periferias das cidades , as chances de estudo para os filhos, empregos e benefícios
que a estrutura urbana pode oferecer.
Esta realidade coloca estas famílias em contato com um ambiente distinto
do anterior, onde o cultivo da terra passa a ser resultado de uma comunidade e não
mais de uma família. Hábitos e costumes precisam ser adaptados num contínuo
processo de ambientação e novos enfrentamentos.
No Brasil, 85% da população é urbana, enquanto na estimativa mundial, o
percentual é de 50%. Ainda assim, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA) e o Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO) apresentaram dados que revelam que aproximadamente 85% do total de
propriedades rurais, no Brasil, pertencem a grupos familiares. São 13,8 milhões de
pessoas que têm na atividade agrícola praticamente sua única alternativa de vida,
em cerca de 4,1 milhões de estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77%
da população ocupada na agricultura.
A maior parte dos alimentos da população urbana brasileira, segundo
INCRA, é procedente das áreas rurais, ou periurbanas, cultivadas através da
agricultura familiar, distribuindo-se como mostra o quadro .
Na década de 90,a agricultura familiar aumentou em 3,8% ao ano, o bom desempenho ocorreu mesmo em condições
adversas para o setor, quando nesse período sofreu uma queda de 4,7% ao ano nos preços recebidos. Esses resultados positivos foram
alcançados mesmo tendo a agricultura familiar um histórico de baixa cobertura de crédito rural(Fonte:siteCATI regional Votuporanga)
Segundo Luiz Fernando Toscano (Planejamento Sócio -Economia,
Ambiental do PEMBH e Agricultura Familiar - CATI Regional de Votuporanga), “os
países desenvolvidos têm na agricultura familiar um sustentáculo do seu dinamismo
econômico e de uma saudável distribuição da riqueza nacional e, em algum
momento da história, promoveram a reforma agrária e a valorização da agricultura
familiar.”
2.3 Arborização urbana
Na configuração da paisagem urbana, a arborização é tema específico de
estudo que aqui será abordado no que se refere à espécies frutíferas.
61
De modo geral, arborização contribui com a qualidade ambiental em
vários aspectos, tendo mais um valor agregado quando frutífera , possibilitando
ainda, o fornecimento de alimento humano. Neste caso, é necessária uma pesquisa
mais aprofundada no campo da botânica a respeito das espécies frutíferas, suas
características e propriedades em relação aos locais de plantio e seus usos do ponto
de vista urbanístico. As espécies de frutos grandes por exemplo devem ser evitadas
em estacionamento para evitar danos. De maneira geral, dependendo das
características das espécies, elas contribuem para:
a contenção de terra em terrenos inclinados, evitando o deslizamento e
para isso precisam ter raízes radiculares;
na redução de ruído quando inserida em maciços criando barreiras
acústicas na direção dos ventos;
nos níveis de poluição, absorvendo os gases nocivos ao homem;
na formação de micro clima local mais ameno, proporcionando a
umidificação e o frescor do ar;
na abordagem paisagística, quando inserida nas áreas públicas ou
privadas ;
no entretenimento em parques e jardins, fazendo parte da convivência,
da cultura, e da educação ambiental e alimentar;
na alimentação e abrigo da avifauna urbana;
na formação de áreas de sombra em geral.
As áreas de estacionamentos, linhas de força, canteiros de avenidas,
margem de estradas, margem de linhas de trem, margens de rios e córregos, sendo
locais públicos, podem ser usufruídas por todos os cidadãos. As características
locais irão determinar as espécies frutíferas mais apropriadas. O clima, o solo e
demais condições físicas regionais são condições básicas para o crescimento de
espécies nativas ou domesticadas. No Nordeste brasileiro, por exemplo, as
62
condições naturais são propícias para o crescimento de coqueiros; no Oriente Médio,
as tamareiras crescem nas ruas e praças.
Ao determinar as espécies a serem plantadas, além das características de
adaptabilidade ao local, a finalidade pode estar relacionada ao aspecto do ponto de
vista volumétrico das plantas. Em geral, as árvores tendem a uma volumetria de
copa horizontal ou vertical.
Segundo ABBUD (2006, p.60),”a árvore de copa horizontal forma um teto,
uma sombra, um lugar aconchegante para quem se senta sob seu dosse.” Em geral,
o diâmetro da copa destas árvores é maior do que a sua altura. “A árvore de copa
vertical praticamente não proporciona nenhum espaço sob sua copa, mas a sua
forma à distância pode ser um importante ponto focal”. Ao contrário da horizontal, a
altura da árvore vertical é bem maior que o diâmetro de sua copa. As árvores de
copa vertical, quando alinhadas em maciços, servem para criar uma barreira com
algum objetivo, que pode ser de ordem, visual, acústica ou como ponto de
referencia.
Figura 26: Tipos básicos de copas : verticais, grandes e pequenas
Fonte: ABBUD, 2006, p. 61
63
Figura 27 : Tipos básicos de copas: horizontais, grandes e pequenas
Fonte: ABBUD, 2006, p. 61
Recomendações para plantio das várias espécies:
É imprescindível que o plantio se faça em condições de solo fértil.
Segundo ABBUD (2006- p. 174), “solo fértil é a camada mais superficial, onde as
plantas se desenvolvem”. É necessário que durante a terraplanagem, antes de
qualquer intervenção, não se jogue este extrato misturando-o com as demais
camadas. Para tanto, antes de efetuar cortes e aterros, a superfície do solo deve ser
raspada amontoando-a em local de depósito para depois ser adubado de preferência
com material orgânico e .espalhado sobre o local terraplanado.
64
Em geral as dimensões mínimas necessárias de covas para o plantio das
categorias é a seguinte:
Quadro 03: Recomendação de dimensões de covas para plantio
Fonte: ABBUD,2006 ,adaptado pela autora
CATEGORIA DIMENSÕES ( em cm)
Árvores 80 x 80 x 80
Arbustos altos 40 x 40 x 40
Arbustos baixos (herbáceas) 25 a 30 x extensão do maciço
Forrações e gramados 10 a 20 x área a ser plantada
Outras referencias para o plantio, apontadas pelo site Portal Ambiente
Brasil,(regulamentação da arborização - UNICAMP), podem ser verificadas no
quadro abaixo.
Quadro 04: Recomendação de dimensões de covas para plantio
Fonte: ABBUD,2006 ,adaptado pela autora
Recuo mínimo da muda em relação ao meio-fio 0,50m
Distâncias mínimas entre árvore e entradas de garagem 1,00
Vão livre entre a copa das árvores e a rede de baixa tensão 1,00
Vão livre entre a copa das árvores e a rede de alta tensão 2,00
Altura máxima das árvores de pequeno porte 4,00
Altura máxima das árvores de médio porte 6,00
Distância mínima entre árvores de pequeno porte e placas de sinalização 5,00
Distância mínima de árvores de médio porte e placas de sinalização 7,00
Distância mínima das esquinas 7,00
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão Preto, SP, tem
publicado a Apostila de Arborização Urbana (1996), da qual foi extraido o quadro
abaixo.
Quadro 05: Recomendações segundo dimensões e condições do local
Fonte : Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão Preto- apostila de arborização urbana –
1996 – adaptado pela autora
PORTE ALTURA COPA (DIAMETRO) ADEQUADO PARA OBS
PEQUENO
De 4 A 5 m De 1 A 6 m Calçadas <2,5m
Presença de fios e
ausência de recuos
MÉDIO De 5 a 8 m De 8 a 10 m Calçadas >2,5
Ausência de fios e
presença de recuo
GRANDE Maior que 8m Maior que 10m
Inadequado para
calçadas
Adequado para
praças e parques
65
Na conformação paisagística, a árvore é elemento fundamental da
presença da natureza nas cidades. “...por sua força de presença na paisagem e pelo
elo natural que estabelecem com o ser humano;a presença das árvores na cidade é
uma forma de reaproximar o ser humano da natureza aliando praticidade à
poesia,retomando a ligação existente desde seus ancestrais”.(FARAH, 2004,p. 104).
A arborização urbana com espécies frutíferas, em espaços públicos é
regulamentada e incentivada pelos governos municipais, que incluem em seus
programas a arborização frutífera.
A seguir,alguns exemplos de legislação municipal que incluem a
arborização frutífera:
Município de Campinas – Lei nº 12.325 de 25 de Julho de 2005
“Determina a Obrigatoriedade de Plantio de Árvores Frutíferas nos Parques,
Praças, Bosques e Jardins Públicos do Município de Campinas.”
Art. - Fica o Poder Executivo Municipal obrigado a incluir nos projetos de
arborização de parques, praças, bosques e jardins do Município o plantio de
árvores frutíferas na proporção de, pelo menos, 30% (trinta por cento) do
total de árvores a serem plantadas.
Art. 2º- Esta lei entra em vigor a partir da data de sua publicação- Campinas,
25 de julho de 2005 (Fonte: PROT: 05/08/06549 - SMAJ - Coordenadoria
Setorial de Documentação - Biblioteca Jurídica - 14/09/2005.).
Câmara Municipal de São Bernardo do Campo- Leis VII do Meio
Ambiente.
Art. 241. O Município, mediante lei, criará um sistema de administração da
qualidade ambiental, proteção, controle e desenvolvimento do meio
ambiente e uso adequado dos recursos naturais, para organizar, coordenar
e integrar as ações de órgãos e entidades da administração pública direta e
indireta, assegurada a participação da coletividade, com fim de:
XVI - estimular e contribuir para a recuperação da vegetação em áreas
urbanas, com plantio de árvores, preferencialmente frutíferas, objetivando
especialmente a consecução de índices nimos de cobertura vegetal;
(Fonte : Prefeitura de São Bernardo do Campo- mara Municipal de São
Bernardo do Campo- Leis – VII do Meio Ambiente)
2.4 Coberturas Verdes
A busca de alternativas para a recuperação de maiores superfícies de
áreas verdes nos meios urbanos é cada vez mais importante a fim de potencializar a
permeabilidade do solos em benefício da preservação dos lençóis freáticos.
Segundo FEIJÓ (www.ecotelhado.com.br), as áreas de cobertura das
edificações são em geral superfícies planas, horizontais ou inclinadas, que permitem
ser tratadas com um paisagismo que fornece uma série de outras vantagens como:
66
Conforto térmico, pelo seu poder de isolação rmica no inverno e
arrefecimento por evapo-transpiração das plantas no verão, diminuindo
sensivelmente os gastos com energia para aquecimento e resfriamento dos
ambientes
Conforto acústico, pela característica de rugosidade, que absorve
ruídos
Valorização paisagística tornando útil um espaço desocupado,
integrado na paisagem.
Segundo Sylvia Rola, do Instituto de Ciências Agrárias e Projetos em
Ecologia Urbana da Universidade Humboldt de Berlim, '”a naturação (dos espaços
construídos) no Brasil ainda é tímida.As vantagens dos "telhados verdes" para o
espço urbano são diversas, diz Rola:
O sistema de naturação vem como uma alternativa real para sanar não
problemas como as ilhas de calor, mas também de poluição atmosférica,
redução do calor transmitido para o interior das edificações. A naturação
urbana trata de transformar em biótopos os edifícios e espaços urbanos, a
fim de que, unidos através de corredores verdes, eles facilitem a circulação
atmosférica e melhorem o microclima da cidade.
Um procedimento amplamente disseminado em países escandinavos, os
"telhados verdes" têm uma longa história também na Alemanha. E vão, aos
poucos,conquistando adeptos na América Latina. O México, por exemplo, é um país
onde a implantação de jardins nos telhados das edificações das grandes cidades
desperta enorme interesse e aceitação.
67
Além do México, os telhados verdes começam a surgir também na Bolívia
(em La Paz, os primeiros projetos estão em andamento) e em Cuba, onde
pesquisadores buscam soluções específicas para a naturação sob condições
tropicais.
Figura 28: Telhado experimental, Faculdade de Agricultura e Ciências da Alimentaçãol-1994
Laval University- Quebec- 998Canadá
Fonte: Canadian Architect,-1998
68
Figura 29: Sítio em Viamão RS
Fonte: site wwwecotellados.com.br Foto: Allan Elly
69
Na cidade de Quebec, Canadá, em 1994, foram realizados estudos
para a utilização de lajes para suporte de jardins produtivos. Na foto acima a amostra
de uma experiência de plantio de mais de 100 espécies comestíveis foram plantadas
sobre uma laje em edifício do complexo da Faculdade de Agricultura e Ciências da
Alimentação.
No Brasil, os jardins sobre lajes, assim como em outras cidades grandes e
médias, é uma solução para as regiões de alta densidade ocupacional onde restam
poucas áreas para plantio diretamente no solo. Segundo ABBUD, Para lidar com
essa situação, o paisagismo sobre laje é uma alternativa vantajosa. Não é invenção
nova, pois desde a antiguidade se conheciam jardins sobre tetos planos, como na
Babilônia” (ABBUD, 2006,p.149).
Nas coberturas em lajes planas, do subsolo à cobertura mais alta, a
instalação de jardins desempenha papel importante na climatização do ambiente
além das outras vantagens como a produção de alimentos e favorecimento da
biodiversidade da fauna urbana. Abaixo, desenho esquemático e detalhe construtivo
de canteiro elevado.
Figura 30: Canteiro elevado, sobre laje de estacionamento no subsolo de um edifício.
Fonte: ABBUD(2006,p.153). Adaptado pela autora.
70
2.5 Ecovilas
"A grande tarefa de nossa geração nos próximos anos é a aplicação de
conhecimento ecológico e pensamento sistêmico no redesenho fundamental de
nossas tecnologias e instituições sociais, criando uma ponte entre o projeto humano
e os sistemas ecológicos sustentáveis da Natureza." (CAPRA, 2002)
As ecovilas, ou, vilas ecológicas, têm origem a partir das comunidades
utópicas pós Revolução Industrial. Ao longo dos dois últimos séculos, muitas destas
comunidades desapareceram mas outras sobreviveram e deram origem às
comunidades Hippies a partir dos anos 60, quando a condição de vida nas cidades
européias e americanas levaram uma parte da população urbana a procura de uma
alternativa de vida à sociedade de consumo eminente. O movimento social
Hippie,iniciado nos Estados Unidos e convencionado como “contracultura”, adotou
um modo de vida comunitário que negou o nacionalismo e a Guerra no Vietnã,
abraçando religiões do oriente ou as nativas americanas.
Por volta de 1970, muito do estilo hippie se tornou parte da cultura
principal, porém muito pouco da sua essência como modo de vida.
Concomitantemente, na Europa, outros movimentos alternativos buscaram
outras formas de susbsitência, opondo-se também a sistemática “way of life”
baseada no consumismo das novas conquistas tecnológicas que por sua vez
contribuíram em grande parte com a degradação ambiental do planeta.
Comunidades se organizaram formando as ecovilas que buscaram a auto-suficiência
através da economia de recursos e busca de soluções preservacionistas. As
tecnologias alternativas e experimentais foram se aprimorando ao longo das
décadas, sendo reunidas, sistematizadas e relatadas como metodologia aplicável na
vida humana em harmonia com o meio ambiente, buscando o equilíbrio entre o que
se obtém da natureza oferecendo-lhe em dobro, para as gerações futuras. Bill
Mollison, australiano de origem, foi a primeira pessoa a documentar o método
chamado Permacultura, a cultura permanente.
De modo geral, as ecovilas são conceituadas como assentamentos
humanos, rurais ou urbanos, de comunidades de 50 a 2.000 pessoas, unidas por um
71
propósito comum, que buscam a criação de modelos de vida sustentável e
autônoma. Elas surgem de acordo com as características de suas próprias bio-
regiões e englobam quatro dimensões: a social, a ecológica, a cultural e a espiritual,
combinadas numa abordagem que estimula o desenvolvimento humano. A
perspectiva biorregional recria um sentido amplamente compartilhado de identidade
regional, baseado numa renovada consciência critica do entorno e no respeito pela
integridade das comunidades ecológicas.
O termo “ecovila” é utilizado atualmente para empreendimentos
imobiliários caracterizados por condomínios horizontais que oferecem algumas
condições de infra-estrutura auto-sustentável, como o uso da energia solar ou o
reuso de águas pluviais e outros.
Com a Permacultura estabelecida como forma de vida baseada na
harmonia e equilíbrio com a natureza, utilizando alternativas tecnológicas que
potencializam os recursos naturais e renoveis, a rede Ecovilas Network cresceu
aos longo dos últimos trinta anos, sendo que em 1988, as primeiras ecovilas foram
oficialmente incluídas na lista das 100 Melhores Práticas (Best Practices) da ONU
Habitat como excelentes modelos de vida sustentável.
A maior parte dos grupos de pessoas que seguem um modo de vida de
subsistência mais autônomo, atualmente, fazem parte de uma rede internacional
chamada “Rede Global Ecoville Network”, tendo como sede a Ecoville Findhorn, na
Escócia, que historicamente é a primeira comunidade auto denominada ecovila.
Atualmente essas ecovilas desenvolvem trabalhos de grande relevância
para o controle da qualidade ambiental, oferecendo cursos técnicos e material
didático para todos os graus de educação, do infantil ao superior. Mesmo que
instaladas em geral, nas áreas rurais, têm a preocupação na busca de soluções para
adaptar os conhecimentos na vida urbana.
Baseado nos dados do site, o quadro a seguir remonta cronologicamente
o desenvolvimento da rede.
Quadro 06: Linha do tempo, histórico da Ecovila Network
Fonte : site www.ecoville network.org – adaptado pela autora
72
_______________
(1)Luiz Gonzaga de Paula - arquiteto, urbanista, escritor, educador holístico e codificador da
Amasofia.
(2)Projeto Aurora:Documentação, Estudos Comparados, Ensino, Difusão e Vivência Integral da
AMASOFIA –Cosmovisão holística para o Terceiro Milênio
(3)Robert Guilman-Astrofísico, ex-investigador da NASA
(4)GEN- Siglas das três regiões da Rede Global Ecoville Network
ENA – Ecovillage Networks of the America
GEN- Europe, Africa and the Middle East
GENOA – Oceania And Asia
(5)ENA Rede das Américas- Formada em 1999- Foram estabelecidas 8 regiões, com base às
características bio-regionais:1. Canadá, 2.EEUU Leste, 3.EEUU Oeste, 4.América Central, 5.Norte da
América do Sul, 6.Sul da América do Sul, 7.Caribe, 8. Brasil.
Ano
Local
Instituição Fundadores Objetivos
1975
Brasil
Projeto Aurora
(2)
Luiz Gonzaga
de Paula (1)
Documentação, Estudos Comparados,
Ensino, Difusão e Vivência Integral da
AMASOFIA –Cosmovisão holística para o
Terceiro Milênio
1987
Dinamarca
Gaia Trust Ross
e Hildur Jackson
Dar suporte a comunidades que desejam
fazer a transição para uma futura sociedade
sustentável.
1991
Estados
Unidos
Context
Institute
Robert Guilman
(3)
Instituto para pesquisa e investigação sobre
a sustentabilidade global e estratégias para
economias sustentáveis, tecnologias
apropriadas e conservação dos recursos.
1992
Estados
Unidos
Context
Institute
Robert Guilman Lançamento do Livro: “Ecoaldeias e
Comunidades sustentáveis
1993
Dinamarca
Gaia Trust Ross e Hildur
Jackson
Intercambio entre 20 comunidades
1995
Escócia-
Findhorn
Conferenciadas
Comunidades
Sustentáveis
Encontro
de comunidades
Fundação da GEN – Rede Global
Ecoville Network com três regiões: ENA,
GEN, GENOA (4)
1998
ONU As primeiras ecovilas foram oficialmente
incluídas pela ONU na lista das 100
Melhores Práticas (Best Practices) como
modelos excelentes de vida sustentável.
2000
Colômbia
ENA ENA(5) Funda a 4ª região: Ecovilas Moveis
73
Segundo o site Ecoville Network, e comprovado per curso realizado pela
autora(*), a Rede Global tem como princípios básicos,”não tirar da Terra mais do
que podemos devolver a ela; promover a continuidade das gerações na terra;estar
inserido no contexto cultural e ambiental local e acessibilidade a todos os integrantes
”e como prioridades “ a produção local e orgânica de alimentos;a utilização de
sistemas de energias renováveis e o uso de materiais de baixo impacto ambiental
nas construções; a criação de esquemas de apoio social e familiar;diversidade
cultural e espiritual;governança circular, incluindo experiência com novos processos
de tomada de decisão e consenso;a socio-economia solidária; a educação
transdisciplinar e a saúde integral.
A Rede Global Ecoville Network é distribuída através do mundo, seguindo
os mesmo princípios da permacultura promovendo encontros internacionais bianuais
como objetivo de trocar novas experiências. A seguir, os quadros mostram onde as
comunidades se localizam.
Quadro 07: Quadro de Localização e nº de ecovilas no mundo
Fonte : Elaborados pela autora a partir de pesquisa no site da rede
_______________
(*)Curso Bioconstruindo, IPEC,Instituto de Permacultura do Cerrado, Pirinópolis,Goiás – 2003
Outras Localidades Nº de Ecovilas
Canadá 19
Caribe 1
EUA Leste 43
EUA Oeste 35
América central 20
América do Sul- Norte 15
América do Sul- Sul 4
Europa/º Médio e África 83
Oceania e Ásia Dado não encontrado
74
Quadro 08: Ecovilas no Brasil Quadro de localização das ecovilas integrantes da rede no Brasil
Fonte : Elaborados a partir de pesquisa no site da própria rede pela autora
Figura 31: Tecnologia desenvolvida na permacultura para represar água - IPEC-Instituto de
Permacultura do Cerrado- 2003
Foto: a autora
Nome Cidade Estado
Céu do Planalto Acre Acre
Abra 144 Presidente Figueiredo Amazonas
Fundação terra Mirim Simões Filho Bahia
Lothlorien Palmeiras Bahia
Comunidade Lar Nicanor Brasília DF
Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC) Pirinópolis Goiás
Comunidade Vale Dourado Pirinópolis Goiás
Ecovila Corcovado Ubatuba São Paulo
Parque Visão do Futuro Porangaba São Paulo
Total de Ecovilas no Brasil, integrantes da rede 09
75
2.6 Florestas urbanas
Finalizando este capítulo, o conceito de florestas urbanas, no contexto
mais amplo , segundo PAIVA, contrapondo-se ao velho conceito de arborização
urbana.
Deve-se observar que a floresta urbana é um termo mais condizente quando
queremos nos referir a uma cobertura vegetal que possa trazer melhorias na
qualidade de vida urbana, em contraposição à arborização urbana, cujo
conceito se prende mais ao indivíduo árvore, muitas vezes como mera
composição estética do tecido urbano (PAIVA, GONÇALVES, 2002, p. 10).
De acordo com esse conceito, a floresta urbana, portanto, é composta de
toda a área verde produtiva, área de preservação ou conservação, área de parques,
praças e jardins e demais manifestações paisagísticas compostas por vegetação.
Para que a floresta urbana seja efetiva, a distribuição dos maciços é fundamental,
para estabelecer um ecossistema em rede.
Segundo PAIVA,atualmente, a distribuição das áreas verdes atende a
diferentes lógicas que contribuem para a configuração paisagística resultante. A
lógica do loteador, a lógica do administrador, a lógica política, a lógica paisagística e
a lógica das sobras, conseqüência das outras sobras. Enquanto o loteador busca a
valorização imobiliária através das maiores taxas de aproveitamento do solo,
produzindo “bicos verdes” de quadras; a lógica administrativa visa a maior
arrecadação de IPTU, que aumenta conforme a área construída e o custo de
manutenção das áreas públicas verdes, privilegiando a primeira situação; a lógica
política resulta na distribuição das áreas verdes uma vez que o interesse
maior sobre algumas em particular; a lógica do paisagismo deve obedecer aos
aspectos legais dos planos diretores que concentram as áreas verdes naquelas que
por lei já são áreas de conservação permanente. Resta a lógica das sobras, que em
geral são como foi dito, a sobra das sobras, e que, portanto são inadequadas para a
implantação de área verde integrante de floresta urbana saudável e sustentável pela
própria condição de fragmentação.
Os elementos que compõem a floresta urbana em conjunto, determinam
corredores ecológicos que tem a função principal de planejar a conservação da
biodiversidade compatível à escala territorial para assegurar a conectividade entre as
unidades de conservação.
76
Nos corredores ecológicos deve-se buscar a formação de um mosaico de
usos dos recursos naturais, com enfoque na conectividade das áreas
naturais com os núcleos ambientais existentes, objetivando garantir a
manutenção dos processos ecológicos de maneira a proporcionar
facilidades para o fluxo gênico entre as espécies que vivem na região
(BRITO, 2006,p.127).
No quadro abaixo, esquema idealizado por BRITO, mostrando como os
corredores ecológicos podem ser uma estratégia integradora na gestão de
ecossistemas.
Figura 32: Corredores ecológicos, uma estratégia integradora
1- UC isoladas e sem corredor ecológico, sujeitas a efeitos de borda(*), os animais o preservados
isolados , as espécies tem cruzamento consangüíneo sob risco de empobrecimento biológico local e a
diminuição da riqueza da diversidade pela não imigração de outras espécies externas. 2- UC
interligadas por conectividade entre os fragmentos florestais, possibilitando novas UC. (FF- floresta
fragmentada / UC-Unidades de conservação)
Fonte : BRITO, 2006, p.129, 130, adaptado pela autora
_______________
(*) Efeito de borda: fenômeno degenerativo perto da borda da floresta onde mais luz , calor e
menos umidade, compromentendo o equilíbrio natural com a perda de algumas espécies . O avanço
da borda para o interior representa grande perigo para a sobrevivência da floresta.
Fonte:www.ambientebrasil.com.br/ unidades de conservação
3 SISTEMAS SUTENTÁVEIS DE PAISAGISMO PRODUTIVO- LINHA
AGROECOLOGICA
77
A temática dessa pesquisa que enfoca no paisagismo produtivo, a
proteção e recuperação de áreas em fundo de vale urbano, avaliando riscos e
vantagens no plantio de espécies frutíferas, conta com os conhecimentos da
agroecologia e nas suas estratégias de proteção e recuperação de áreas
degradadas, através das diferentes escolas conforme será detalhado adiante.
A busca de alternativas sustentáveis na implantação de projetos de
paisagismo produtivo, está diretamente vinculada ao estabelecimento de sistemas
agrícolas ecologicamente equilibrados e estáveis, economicamente produtivos em
grande, média e pequena escalas, de elevada eficiência quanto a utilização de
recursos naturais de produção e socialmente bem estruturados. A diversificação de
culturas é o ponto chave para a manutenção da fertilidade dos sistemas e para a sua
estabilidade porque dificulta a multiplicação de determinadas pragas e permite que
haja um melhor equilíbrio ecológico através da proliferação de inimigos naturais e
outros organismos benéficos. Segundo SOUZA & RESENDE (2003,p.47) “Assim, é
fundamental a preocupação em diversificar a paisagem geral, de forma a estabelecer
a cadeia alimentar entre todos os seres vivos, desde microrganismos até animais
maiores, pássaros e peixes.”(SOUZA & RESENDE 2003, p.47).
Apesar da agricultura convencional ainda ser a mais praticada, cada vez
mais são justificadas as pesquisas e aplicações de sistemas menos nocivos ao meio
ambiente (ainda chamados de alternativos). O processo de modernização que
ocorreu a partir dos anos 50, após Segunda Guerra Mundial, se expandiu através de
um pacote tecnológico que elevou sobremaneira a produtividade das culturas, mas
ao mesmo tempo, gerou problemas ambientais como a degradação do solo e a
perda de recursos naturais , a erosão, a perda de matéria orgânica, a contaminação
de alimentos e dos trabalhadores rurais, o aumento da resistência de pragas,
doenças e ervas daninhas, a compactação, desertificação e salinização do solo, o
alto consumo de energia na utilização de insumos sintéticos como combustível
adubos e agrotóxicos,o que representa um desequilíbrio energético na ordem de 2,9
/1.
A saída de energia, na colheita de uma plantação convencional de milho,
nos Estados Unidos, é de 24.333.175 Kcal/ha, sendo respectivamente o
aporte de energia igual a 8.390.750kcal/ha (PIMENTEL,1984; apud
GLEISSMAN, 2000; apud SOUZA; RESENDE, 2003, p. 20).
78
A tendência mundial para a preservação ambiental é irreversível, sendo a
agricultura como um dos alicerces mais representativos. Mas as intervenções
paisagísticas em geral também podem contribuir para a qualidade ambiental, evitando
o uso de pesticidas e outros produtos nocivos à natureza. Tratando-se do paisagismo
produtivo, e mais especificamente, na produção de alimentos para consumo animal e
humano, os cuidados com a proteção das plantas no uso de fertilizantes e adubos é
ainda é mais importante, não só pela qualidade dos alimentos como para a proteção
das águas dos lençóis freáticos e dos rios.
A agroecologia tem sido difundida na América Latina, e no Brasil em
especial, como sendo exatamente o padrão técnico-agronômico capaz de
orientar as diferentes estratégias de desenvolvimento rural sustentável,
avaliando as potencialidades dos sistemas agrícolas com uma perspectiva
social, econômica e ecológica (ALTIERI, 1998 apud SOUZA E RESENDE,
2003, p. 38)
No Brasil, a agroecologia tem sido difundida como sendo o padrão
técnico-agronômico capaz de orientar as diferentes estratégias de desenvolvimento
rural sustentável, avaliando as potencialidades dos sistemas agrícolas com uma
perspectiva social, econômica e ecológica. A agroecologia é fundamental para dar
suporte técnico às atividades de plantio de todo tipo, servindo como estratégia de
proteção dos recursos naturais, e também para a recuperação de áreas degradadas,
tendo como princípio alcançar a sustentabilidade dos resultados.
Ao utilizar adubo orgânico, a agricultura urbana também incrementa os
processos de reciclagem. Mais da metade dos resíduos produzidos nas cidades são
orgânicos provenientes de restos de alimentos que podem ser transformados em
adubo orgânico com o uso de composteiras. Assim, uma solução simples e de baixo
custo sustentabilidade ao processo, produzindo os alimentos e reutilizando os
resíduos na produção de mais alimentos. A compostagem a partir dos resíduos
orgânicos não produz adubo em quantidade e qualidade, como a exemplo da
Horta Strathcona contribui para a redução das emissões de “gás de estufa”.
Em Cuba, as hortas urbanas ganharam nova dimensão após o fim da
URSS, principal fornecedor de agrotóxicos e fertilizantes químicos para o país. A
falta desses produtos obrigou o país a partir para a fertilização orgânica, sem
pesticidas e usando adubo verde . A agricultura urbana em Havana produziu, em
1999, 65% de todo o arroz consumido no país e 46% dos vegetais frescos. Além do
aumento da produção de alimentos, esses agricultores observaram que o ataque de
79
pragas diminuiu significativamente devido à diversidade de plantas cultivadas, o que
é um dos princípios da agroecologia.
As escolas da Linha Agroecologia , segundo SOUZA e REZENDE, se
diferenciam nos processos mas tem em comum a sustentabilidade ecológica do
ambiente, baseada no uso de recursos naturais, sem o emprego de adubos químicos
e agrotóxicos, nem fertilizantes sintéticos.
Em particular, a permacultura adota princípios que englobam os aspectos
das escolas agrosecológicas e podem ser adaptados facilmente pelas populações
urbanas, desde as ribeirinhas, até os moradores de apartamentos em centros
urbanos. O que diferencia é o fato de caracterizar também uma forma de vida em
que não só a produção de alimentos, mas também as construções do espaço da vida
contribuem para a proteção, a recuperação e a revitalização de áreas. A
permacultura, como o nome indica, é o ato da cultura permanente, onde a
reciclagem, a reutilização, a recuperação, e todas as formas de racionalização do
uso de energia são levadas em conta e os recursos naturais são protegidos visando
a sua possibilidade de renovação, dentro dos princípios de sustentabilidade do
sistema.
A seguir, o quadro apresenta as escolas e suas características:
80
Quadro 09 : ESCOLAS DA LINHA DE AGROECOLOGIA
Fonte: SOUZA e RESENDE, 2003, p. 38,39 , Adaptado pela autora
As especificidades da agricultura na cidade colocam desafios do ponto de
vista teórico, metodológico e tecnológico. O enfoque agroecológico deve dar conta
dessas especificidades além de interagir com as dinâmicas existentes e relacionar a
agricultura com as outras questões do meio urbano, como as legislações relativas ao
uso do solo e da água, o acesso à terra para o plantio, a degradação ou o abandono
de muitas áreas a espera de valorização imobiliária. Aliadas a essas questões, a
segregação sócio-espacial e os contrastes culturais.
A linha agroecologica através das características de cada escola e das
condições ambientais desenvolve alternativas de sistemas recuperação de áreas
degradadas que serão detalhadas mais adiante.
ESCOLAS/
Fundadores
CARACTERÍSTICAS
Agricultura orgânica
Índia, 1931,
Sir Albert Howard
Aproveitamento da potencialidade dos resíduos orgânicos para a
produção de adubo rico em matéria orgânica
Agricultura Biológica ou
Agrobiologia
França, década 60,
Claude Aubert
Uso de rochas moídas como fertilizantes, sendo a saúde da planta
depende de seu equilíbrio nutricional.
Agricultura Ecológica ou
Agroecologia
EUA, década 70,
William Albbrecht, Stuart
Hill e FGritz Schumacher
Movimento que incorpora ideais ambientais e sociais na agricultura,
busca equidade na distribuição de renda e bens adaptando a
agricultura ao ambiente e as condições sócio-econômicas, promove
o múltiplo uso da terra
Agricultura Natural
Japão,década 30,
Mokiti Okada
Sem movimentar a terra, após a colheita, usa o composto deixado
pelos restos da cultura e palhada, sem esterco animal.
Agricultura biodinâmica
Alemanha, 1924,
Rudolf Steiner
Adota a cnica da agricultura orgânica acrescida do emprego de
preparos biodinâmicos e a adoção de um calendário lunar.
Permacultura
Austrália, década de 60
Bill Mollison
Defende a manutenção de sistemas agro, silvo-pastoris, sendo
especialmente adequada a regiões tropicais e subtropicais. Não
permite nenhuma intervenção no solo. Não utiliza adubação mineral
e nem composto orgânico, alternado o cultivo entre gramíneas e
leguminosas deixando sempre uma palha sobre o solo deixando-o
sempre coberto
81
4. DESAFIOS DA RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS DEGRADADAS EM FUNDO DE
VALE URBANO
4.1 Áreas degradadas e sua recuperação
As áreas degradadas urbanas podem ser analisadas na ótica de dois
enfoques: urbanístico e ambiental, sendo que, do ponto de vista paisagístico ambos
enfoques se interligam pela próprios elementos formais e perceptivos que constituem
a paisagem.
Do ponto de vista urbanístico, são áreas degradadas aquelas que não
correspondem a sua vocação, ou seja, não estão correspondendo com a sua
potencialidade, em relação a suas características geográficas, topográficas,
climáticas, social, ambiental, paisagística, ou mesmo sob ponto de vista econômico.
Ao contrário, estão ociosas, desocupadas e desintegradas do contexto urbano. São
áreas onde nada acontece” no sentido urbano, locais sem uso definido, sem
tratamento, abandonadas, e com o tempo, transformadas em cenário de lixo,
entulho, vandalismo, proliferação de animais peçonhentos, enfim, degradadas. Do
ponto de vista urbanístico, as áreas degradadas podem ser construídas ou não.
Nesta pesquisa estaremos enfatizando as áreas não construídas, as áreas livres, e
mais precisamente as margens ao longo dos rios urbanos.
Áreas degradadas construídas ou livres, são recuperadas
urbanisticamente , pelo processo de revitalização. Esse processo depende de
intervenção que envolve os vários setores da sociedade. Nos últimos anos, por
exemplo, os grandes centros das capitais brasileiras sofreram intervenção
urbanística, como o centro do Rio de Janeiro, com o Projeto Viva o Rio, e o centro de
São Paulo, com o Projeto Viva o Centro. rios desses exemplos estão registrados
no livro “Os Centros das Metrópoles, reflexões e propostas para a cidade
democrática do século XXI”( Imprensa Oficial do Estado, SP 2001)
No caso de São Paulo, a Associação Viva o Centro SP completou
qui n ze a n o s e m 2 0 0 6 , c o m o f r u t o d a i n t er v enção, c om o s eg u e :
82
“a reversão do processo de degradação do Centro da cidade, retomando
seu papel articulador da metrópole e a visão de uma área central que em
vez de problema começa a ser pensada como território fecundo a cidade” .
(in Centros das Metrópoles- 2001, p.9)
Outro aspecto em relação às áreas degradas urbanas, de modo geral, é o
fato de repercutirem numa despesa pública contínua e “jogada pelo ralo” pois elas
geralmente estão inseridas na malha urbana e servidas pela infra-estrutura de
transporte e saneamento, sem oferecer nada em troca para a população, nem por
uso, nem pela paisagem, ao contrário, as vezes ampliando distâncias, outras,
incentivando ao vandalismo e à customização pela indiferença quanto aos valores
relacionados à cidadania. Igualmente, “tendo fisionomia, a paisagem é dotada de
expressão, cumprindo ao estudioso interpretá-la, o que pressupõe uma
hermenêutica paisagística.” (BARTALINI, 2005, p. 121).
Do ponto de vista ambiental, as áreas degradadas assumem valores
diferenciados dependendo de sua localização geográfica. Os locais de nascentes,
fundos de vale ou topo de morros, quando degradados , têm uma repercussão
maximizada em relação às demais áreas. Além dos problemas urbanísticos, podem
trazer sérias conseqüências negativas do ponto de vista de saneamento, ecológico,
e conectividade. A legislação relativa a esses locais é especialmente restritiva quanto
a tratamento e/ou usos. Em vista dessas restrições, essas áreas estão sujeitas ao
abandono, e sem uso, tendem à degradação. Nas cidades, os topos de morro assim
como os fundos de vale obedecem a mesma legislação, mas as condições atuais de
adensamento populacional acabam resultando na deterioração e degradação de
muitas dessas áreas, tanto do ponto de vista urbanístico como ambiental. Essas são
as denominadas Áreas de Preservação Permanente APPs que obedecem o
princípio de intangibilidade, sendo que nas margens de rios urbanas, segundo
MELLO, “redunda em afastar o elemento água da população, o que acaba tendo o
efeito inverso ao da proteção” (MELLO – 2005,P.51)
83
Figura 33:
Fonte:www.reflexionesydebates.com
Do ponto de vista da recuperação ambiental, segundo a EMBRAPA
”LINHAS DE PESQUISA em Meio ambiente, área degradada é aquela que sofreu,
em algum grau, perturbações em sua integridade, sejam elas de natureza física,
química ou biológica. A recuperação, por sua vez, é a reversão de uma condição
degradada para uma condição não degradada (MAJOER,1989), independentemente
de seu estado original e de sua destinação futura (MAJOER,1989- EMBRAPA/Meio
Ambiente)
A recuperação de uma dada área degradada deve ter como objetivos
recuperar sua integridade física, química e biológica (estrutura), e, ao mesmo tempo,
recuperar sua capacidade produtiva (função), seja na produção de alimentos e
matérias-primas ou na prestação de serviços ambientais.
O site do portal “Ambiente Brasil”, classifica a degradação de uma área
quando:
84
a) a vegetação e, por conseqüência, a fauna, são destruídas, removidas ou
expulsas;
b) a camada de solo fértil é perdida, removida ou coberta, afetando a vazão e
qualidade ambiental dos corpos superficiais e/ou subterrâneos d’água.
Quando isso ocorre, reflete-se na alteração das características
físicas,químicas e biológicas da área, afetando seu potencial sócio-econômico.
A recuperação se através da definição de um plano que considere os
aspectos ambientais, estéticos e sociais, de acordo com a destinação que se
pretende dar à área, permitindo um novo equilíbrio ecológico. Nesse sentido, de
acordo com a natureza e a severidade da degradação, bem como do esforço
necessário para a reversão deste estado, podem ser considerados os seguintes
casos: (ARONSON, 1995 e RODRIGUES&GANDOLFI, 2001).
A restauração
A reabilitação
A redefinição (ou redestinação)
A tabela a seguir foi adaptada pela autora pelo texto de Aronson, 1995 e
Rodrigues & Gandolfi, 2001.
Quadro 10: Tipos de recuperação de áreas degradadas.
Fonte: Adaptado pela autora, segundo Aronson, 1995 e Rodrigues & Gandolfi, 2001, do site
www.ambientebrasil.com.br
Do ponto de vista ambiental, a recuperação da vegetação e a
consideração dos aspectos ecológicos é imprescindível. Neste sentido, segundo
CARPANEZZI (1990),a revegetação pode ser classificada para dois estágios de
degradação de ecossistema:
Recuperação Forma
Retorno Obs
Restauração Natural ( resiliência)
Completo ou
intermediário
estável
As causas da
degradação devem
ser totalmente eliminadas
Reabilitação Intervenção antrópica Intermediário
Redefinição
Forte intervenção antrópica
com vista ao reuso
De acordo com a
redestinação
Para uso diferente
do original
85
ecossistema degradado- aquele que após distúrbios, teve eliminado,
juntamente com a vegetação, os seus meios de regeneração bióticos como o banco
de sementes, banco de plântulas, chuvas de sementes e rebrota; apresenta baixa
resiliência, isto é,seu retorno ao estado anterior pode não ocorrer ou ser
extremamente lento;a ação antrópica para a recuperação é necessária, pois eles
não dispõem daqueles eficientes mecanismos de regeneração.
ecossistema perturbado- aquele que sofreu distúrbios, mas manteve
meios de regeneração bióticos. A ação humana não é obrigatória, mas somente
auxilia na sua recuperação, pois a Natureza pode se encarregar da tarefa.
Como foi visto, nos processos de revegetação, na recuperação de áreas
degradadas podem ser usadas duas técnicas distintas: restauração e reabilitação.
Esses conceitos são de vital importância para se definir a estratégia da recuperação,
onde o nível de degradação e o custo pesam na escolha da técnica, sendo:
Restauração: tratamento que visa recuperar a forma original do
ecossistema, ou seja, a sua estrutura original, dinâmica e interações biológicas, é
geralmente recomendada para ecossistemas raros e ameaçados e demandam mais
tempo e resultando em maiores custos. Muitos preservacionistas "defendem" o
emprego exclusivo das chamadas espécies nativas em reflorestamento de proteção
ambiental, demandando maiores estudos, monitoramento e isolamento da área.
Reabilitação: tratamento que busca a recuperação de uma ou mais
funções do ecossistema, que podem ser basicamente econômica e/ou ambiental. A
reabilitação do ecossistema, é indicada para as áreas mais degradadas e através da
rápida formação de uma cobertura florestal, o que a longo prazo, pode reverter até
na restauração do ecossistema.
Resumindo, os processos de recuperação de áreas degradadas podem
ser vistas no diagrama a seguir, conforme interpretação da autora:
86
Quadro 11:: Esquema de adequação para recuperação de áreas degradadas
Fonte : adaptado e desenvolvido pela autora a partir dos textos.
Os processos de degradação ambiental estão intimamente ligados á
“saúde” de solo. A matéria orgânica é a base da sua riqueza, quanto mais
alimentado, mais “vivoe contendo húmus. Segundo PALAZZO nos solos ricos em
húmus é possível encontrar vida própria, são a microfauna e a microflora, ditas
endogéias, que significa “interior da terra”. Os micro seres da fauna e da flora são
seres que constituem um microssistema no qual interagem continuamente
transportando e transformando matéria orgânica, garantindo a sustentação da
fertilidade do solo. PALAZZO & BOTH(2006,p.85).
Nas florestas, mantêm-se o equilíbrio ecológico do solo, com o
permanente processo metabólico da matéria orgânica e do húmus. Já em áreas de
cultura e de pastagens, assim como no meio urbano, a camada de solo é totalmente
dependente de cuidados para a sua sustentação. Exposto ao calor do sol e seu
efeito de desidratação, e também à chuva direta, que golpeia o solo sem a proteção
de árvores que detenham e absorvam a água, ela escorre levando consigo a matéria
orgânica cavando valetas e iniciando um processo de erosão. Os danos causados
ao solo, ao repercutir na erosão, desencadeia em sérias conseqüências que
chegarão aos assoreamentos, aumentando a possibilidade de transbordamento de
cursos d’água, gerando enchentes.
Segundo PALAZZO, na prática, os indicadores para a recuperação de
áreas de solo degradado, são basicamente a textura do solo, a declividade do
terreno e a umidade disponível. Sendo a textura relativa à sua composição (arenoso,
87
argiloso, pedregoso), a declividade relativa ao potencial de retenção de cobertura
vegetal, e a umidade disponível ao longo do ano. A partir daí, o processo de
recuperação pode ser acelerado se baseado numa sucessão ecológica que segundo
Palazzo, incrementa a alteração positiva do solo modificando o microclima causado
pelas espécies implantadas e que vão favorecendo o estabelecimento de outros
organismos vivos. O processo de sucessão ecológica onde a implantação gradativa
de diversas espécies de plantas compõe um ecossistema diversificado atrai
novamente a fauna e o recondicionamento para os ciclos sucessivos de
sustentabilidade ecológica.
Segundo a Profa. Ozilea Bezerra, do texto “Revegetação: da Teoria à
Prática técnicas de Implantação”, na faixa tropical do planeta, onde também se
encontram problemas de ordem social e econômica, cerca de 650 milhões de
hectares usados como áreas de cultivo e quase 2 bilhões de hectares em múltiplos
estágios de degradação. Se a elas, adicionamos as outras localidades do resto do
mundo nessas condições, ter-se-á uma dimensão mais próxima do peso deste
agravo. Isto se torna mais complexo, ao identificarmos que a degradação ocorre
sempre em decorrência das atividades antrópicas inadequadas nos recursos naturais
e ao levarmos em conta, que o poder de alteração do homem aumentou
exponencialmente nos últimos 50 anos, sem que medidas contundentes fossem de
fato efetivadas.” No Brasil, é recorrente o exemplo observado na reportagem do
Jornal Mossorense, de Natal, onde professor Rafael denuncia :
88
Figura 34:
Fonte: reportagem Jornal Mossorense, Natal,26/12/2006
Copyright,© 2000-2006 - Editora de Jornais Ltda –
Todos os direitos reservados
Águas são poluídas em virtude de lixo doméstico, diz especialista:
"Há algum tempo cheguei a ministrar aula nas proximidades do rio Mossoró,
porém atualmente ele está totalmente assoreado. Em médio prazo
começaram a fazer uma dragagem, mas parou. O que podemos observar
são detritos jogados nas encostas", alerta o professor de Ciências e ex-
coordenador do Colégio Geo, Rafael Figueiredo.
Rafael Figueiredo enfatiza que Mossoró não possui grandes indústrias para
despejar lixo químico no rio Mossoró, e sim, pessoas jogando sujeira de
suas próprias residências, matando o rio. "O acúmulo dos detritos orgânicos
pode estar no lençol freático, prejudicando toda a região", conta. (Fonte:
reportagem Jornal Mossorense, Natal,26/12/2006 / Copyright,© 2000-2006 -
Editora de Jornais Ltda – Todos os direitos reservados)
Exemplo como esse de Mossoró, em Natal, onde o despejo de lixo e
entulho polui e /ou contamina rios e córregos urbanos, desqualificando seus leitos e
a qualidade das águas, denota a urgência na tomada de medidas não só para
recuperar essas áreas no sentido físico, como principalmente, integrá-las à paisagem
do quotidiano urbano. Enquanto áreas desocupadas são abandonadas e
degradadas, áreas de ocupação definida tentem a ser preservadas pelo próprio uso
e beneficiamento da população.
À recuperação das margens dos rios e córregos, quando degradadas,
primam por um estudo de revegetação, concomitante com planejamento de
paisagismo urbanístico, qualificando as margens “permitindo a configuração de
espaços que promovam o convívio social e o sentido de pertencimento por parte da
coletividade como instrumentos estratégicos de proteção mais efetiva dos cursos
d’água” (MELLO, 2005,p. 57)
89
A seleção de espécies de plantas para a revegetação de áreas
degradadas, de modo geral deve ter como ponto de partida estudos da composição
florística da vegetação remanescente da região. As espécies pioneiras e secundárias
iniciais deverão ter prioridade na primeira fase da seleção de espécies. Pode-se
buscar três opções que poderão ser utilizadas isoladamente ou em conjunto:
a) Utilização de espécies florestais para aplicação no modelo de sucessão
secundária.
b) Espécies florestais para formação de povoamentos puros.
c) Utilização de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas. O ponto de
maior importância a ser considerado com relação ao revestimento vegetal de áreas
mineradas é a sobrevivência das plantas nas condições extremamente adversas do
local. A escolha da espécie deve considerar: valor econômico potencial da espécie; a
influência da planta sobre a fertilidade do solo; a utilidade da planta como abrigo e
alimento para fauna; e o efeito estético. As espécies gramíneas bem adaptadas
produzem rápida cobertura protetora para o solo.
Quanto a tipologia de arborização para recuperação e proteção margens
dos rios, segundo MELLO, “uma certeza que tenho, com base no que estudei até
agora, é que o caminho correto para tratar as margens, no que tange às espécies
vegetais, é a utilização de espécies autóctones, próprias do ecossistema local“
(trecho em correspondência com a autora), (MELLO, S.PPG-FAU/UnB).
MELLO aponta a experiência francesa de gestão de cursos d’ água,
alertando para o cuidado em utilizar espécies cujo sistema radicular favoreça a
sustentação das margens, com “raízes âncora", e explica que os franceses evitam e
até mesmo retiram as espécies exógenas, especialmente aquelas com raízes
“pivotantes”, que são desestabilizadoras das bordas, e aquelas que se desenvolvem
rapidamente, impedindo o nascimento das espécies nativas das zonas ripárias.
Algumas espécies exóticas, nas bordas dos cursos d’água podem
constituir riscos à estabilidade das barrancas ou à biodiversidade local além de
apresentar um interesse biológico medíocre e contribuir para o empobrecimento da
flora nativa pois possuem um sistema radicular superficial e basculante que descalça
o solo sendo freqüentemente causa das origens mais importantes de degradação
90
das bordas. As coníferas não são espécies típicas de beira-rio e sim introduzidas
pelo homem, sendo inadequadas à estabilização das bordas, formam uma cobertura
vegetal muito densa, que impede o desenvolvimento de espécies autóctones e
perturba a qualidade biológica das águas (diminuindo a flora e a fauna aquática);
empobrecem e acidificam o solo. No Brasil ainda são necessárias pesquisa sobre as
espécies, que são muito mais numerosas que as européias, ainda mais se
considerarmos a multiplicidade dos biomas brasileiros. (MELLO, S,PPG-FAU/UnB).
4.2 Métodos alternativos (e sustentáveis) para a recuperação de áreas
degradadas
Figura 35 : Ciclo da vida na natureza – (KIEHL,1985)
Fonte: SOUZA & RESENDE, Manual de agricultura Orgânica,2003
91
A figura acima sintetiza o fenômeno de interação entre a atmosfera e o
solo, entre os quais o ciclo da natureza acontece de maneira auto-sustentável, desde
que se dê condições para isso.
Em vista, das dificuldades na sustentação dos trabalhos de recuperação
de áreas, e do evidente interesse na continuidade demonstrado pelos participantes,
em foco, os moradores locais, é de grande importância a busca de alternativas que
ao serem implantadas, tenham como premissa a sua sustentabilidade, seja pelo
enfoque econômico, social ou ambiental, como exemplificado a seguir:
O uso de “lodo de esgoto”, é uma alternativa para a recuperação de áreas
para a restauração, reabilitação, ou redefinição, devido ao seu alto potencial
fertilizante e condicionador das propriedades físicas do solo dada a grande
quantidade de matéria orgânica que comporta. Segundo pesquisa realizada na
EMBRAPA - Meio Ambiente, o lodo de esgoto apresenta as seguintes vantagens:
Redução dos custos do uso de fertilizantes em áreas geralmente
extensas
Capacidade de imobilizar grandes quantidades de nutrientes e de
metais pesados pela grande produção e distribuição de carbono orgânico
Na associação, com a produção de alimentos, propiciando baixos
riscos à saúde pública.
A pesquisadora Aline Moraes, afirma que no processamento do lodo de
esgoto, o fósforo é 100% removido depois de ter sido usado no tratamento da água
dos rios; o lodo transforma-se de "resto" e fonte de nutrientes, pois fica rico em
fósforo e pode ser aproveitado na agricultura para fertilização do solo. Esse dado é
relevante quando se tem em mente que as fontes naturais de fósforo "estarão
exauridas até 2035, segundo estudo internacional", alerta a pesquisadora.
Além de ser benéfico para o meio ambiente, o tratamento terciário com
aplicação de lodo é mais barato, pois utiliza matéria-prima reaproveitada.
(MORAES,2006)
92
Complementando a vantagem dessa alternativa, segundo a engenheira
civil Iara Soares Chao “o fósforo é apontado como o principal responsável pelo
enriquecimento nutricional de mananciais de abastecimento público, a presença
excessiva de nutrientes, como o fósforo, na água leva à proliferação de algas
(eutrofização), muitas delas capazes de liberar toxinas que podem ser fatais, e
resulta numa água com gosto e odor. Assim, "a remoção de fósforo passa a ter
grande significado para a saúde pública e para o meio ambiente”
Figura 36: Aplicação de lodo de esgoto em plantio florestaL de Eucalyptus, em faixas.
Fonte: Fotos EMBRAPA
Figura 37: Aplicação de lodo de esgoto em solo degradado em área total.
Fonte: Fotos EMBRAPA
93
O SAF- Sistema Agro florestal, indicado para as áreas degradadas a
serem destinadas para a revegetação de florestas e matas ciliares, reúne
agricultura, preservação e recomposição ecológica.
No final da década de 80, os problemas ligados à degradação dos
recursos naturais adquiriram acentuada importância e, com isso, surgiram propostas
de racionalização do uso do solo dentre elas a de geração de sistemas agroflorestais
(SAF’s) que combina benefícios de produção, econômicos, sociais e ambientais.
Os SAF's apresentam várias vantagens, frente a sistemas de
monocultivos, tais como: utilização mais eficiente do espaço, redução efetiva da
erosão, sustentabilidade da produção, e estímulo a economias de produção com
base participativa. Dado ao caráter de múltiplo propósito das árvores, com os SAF’s
se pode aproveitar as vantagens dos diferentes estratos da vegetação para
diversificação da produção, do uso da terra, da utilização da mão-de-obra e da
renda, agregação de valor econômico e a produção de serviços ambientais.
A Embrapa Florestas iniciou trabalhos com SAFs em 1981 e a partir daí
vários experimentos foram conduzidos gerando subsídios para a composição de
SAF’s que promoveram a diversificação de produtos e de receitas aumentando o
interesse e o entusiasmo com a agrofloresta pois é mais lucrativo enriquecer os
sistemas do que explorá-los.
94
Figura 38: EROSÃO -1
Solo nu, monocultura e esgotamen-to do solo,
toneladas de solo são perdidas no
assoreando rios, lagos, açudes.
Foto: site ECOVIVER
Figura 39: EROSÃO-2
Faixas de contenção e matéria orgânica:
cobrem o solo, retém nutrientes, aumentam a
fertilidade e evitam a erosão.
Foto: site ECOVIVER
Figura 40: RECUPERAÇÃO-1
Recuperação da fertilidade do solo: adubação
verde e matéria orgânica
Foto: site ECOVIVER
Figura 41: RECUPERAÇÃO-2
Biodiversidade: este é o segredo da vida. solo
vivo = solo fértil
Foto: site ECOVIVER
Fonte: site www.ecoviver.org
Segundo Ernest Götsh(*), em entrevista Jornal da Biosfera 11/22/2002
“Tecnicamente a agrofloresta é viável, de menor custo e maior lucro.” As técnicas
tradicionais de agricultura, como o fogo, a capina e o arado são substituídas por uma
convivência harmoniosa e criativa com as espécies, que cria um sinergismo lucrativo.
O que regra as relações é que cada escie aumenta a quantidade e qualidade de
vida se cada uma cumprir a função prevista para ela. Trata-se simplesmente de criar
plantações com dinâmica parecida com os ecossistemas locais.
_______________
(*)Ernest Götsh: agricultor e pesquisador, nasceu na suíça e percorreu várias partes do mundo
implantando reflorestamentos, estabelecendo-se no Brasil, mais de 20 anos vem pesquisando e
desenvolvendo Sistemas Agro Florestais em sua fazenda em Pirai do Norte, sul da Baia, tornando-
se referencia máxima em SAF’s no Brasil o no mundo.
95
Outra vantagem, é que os sistemas agroflorestais regenerativos e de alta
biodiversidade podem ser feitos em areia, em solos ácidos, pobres e degradados e
o controle se naturalmente em condições de ambiente em equilíbrio dinâmico,
com a sucessão natural das espécies no desenvolvimento de um sistema de
sustentabilidade cujo impactos são positivos do ponto de vista ambiental.
Figura 42: Foto: Vila Yamaguishi -Jaguariúna-SP)
Fonte: ONG WWF – AGROFLORESTA
O adubo verde é conhecido como uma prática de se incorporar ao solo a
massa vegetal não decomposta. O processo é feito através do cultivo de plantas do
local ou importadas com a finalidade de preservar ou restaurar as qualidades
produtivas do solo. A adubação verde pode ser implantada em cultivo exclusivo ou
em consórcio. Na escolha do adubo verde, é preciso estar atento ao fato de que as
condições pedoclimáticas interferem diferentemente sobre o rendimento das
espécies. Esta é uma das razões por que diferenças entre o comportamento das
espécies de adubo verde quando plantadas em diferentes locais. Outro fator
importante a considerar é a taxa de decomposição do adubo verde, que irá regular a
intensidade da liberação dos nutrientes imobilizados na fitomassa e que serão
absorvidos, na seqüência, pela cultura já em crescimento ou cultivada na sucessão.
Destaca-se entre as funções do adubo verde, o fato de promover a
introdução de microvida em profundidade no solo, alcançando de 70 a 80 cm para
dentro do solo, o que é difícil de ser conseguido com a tecnologia convencional de
práticas mecânicas e uso de fertilizantes químicos. A essa função está associada a
recuperação de solos degradados, através da grande produção de raízes, mesmo
que em condições restritivas, pois elas podem romper as camadas adensadas e
96
promover a aeração e estruturação, preparando o solo biologicamente. (SOUZA E
RESENDE, 2005,p.150,151) .
Os sistemas agroecológicos têm por sua vez, a possibilidade de lidar com
as pragas e doenças, com mais ênfase na prevenção, conseguida pelo próprio
equilíbrio sistêmico. Assim, pragas e doenças podem ser evitadas pelas:
Quadro 12 : agroecologia, pragas e doenças, adaptado pela autora
Fonte:SOUZA E RESENDE,2005 Fonte:SOUZA E RESENDE,2005 p. 207-233
AÇÕES PREVENTIVAS AFASTAR/EVITAR/ELIMINAR
Tratamento biológico do solo Armadilhas luminosas
Matéria orgânica Armadilha de Cor
Rotação cultural / Diversificação Armadilha com feromônios
Aeração do ambiente Eliminação de hospedeiros
Manejo de água e umidade
Limpeza manual
Sementes e mudas sadias Eliminação de restos culturais
Espaçamento Solarização
Controle biológico
Termoterapia
Época de plantio Inundação do solo
Associação de cultivos Quebra ventos
Variedades resistentes Biofertilizantes, Caldos e extratos
As técnicas de produção orgânica são destinadas a incentivar a
conservação do solo e da água e reduzir a poluição. Ao se implantar um sistema
orgânico de produção, devem ser observadas práticas que vão desde o manejo
adequado do solo até a integração da produção vegetal e animal, passando pelo
manejo correto da biodiversidade e respeito aos ciclos naturais. O produtor que
segue estas práticas, além de contribuir para a conservação do meio ambiente,
garante a obtenção do selo de certificação necessário para comercializar seus
produtos nos mercados interno e externo.
97
A adão de princípios e práticas básicos utilizados na agricultura
orgânica visam a proteção e recuperação do solo e podem ser aplicadas em solos de
fundo de vale, com os seguintes cuidados:
Plantio em curvas de nível com a formação de canteiros evitando
desnecessárias perdas de solo. (*)
Pequeno declive com 2% de inclinação máxima para evitar o acúmulo
de água
Evitar o uso de arados que revolvem o solo e tem por consquencia a
degradação da matéria orgânica, principalmente em regiões tropicais e sub-
trobicais(*)É recomendado o plantio direto com o emprego de equipamentos como
rolo-faca, rolo-disco, triturador e roçadeiras.
Adotar barreiras de árvores para a retenção de ventos ( erosão eólica)
e melhora de micro-clima plantio direto com o emprego de equipamentos como rolo-
faca, rolo-disco, triturador e roçadeira, evitando não evasivos
Promover a diversidade de espécies vegetais, adaptadas às condições
edafo-climáticas da região, diversificando a paisagem e estabelecendo a cadeia
alimentar entre os seres vivos desde microrganismos até animais maiores e
pássaros.
Figura 43: plantio em curvas
Fonte :http://www.abra144.org
_______________
(*)Uma primeira análise de parâmetros como morfologia e declividades indica que a urbanização de
setores em que ocorram formas côncavas com declividades superiores a 7o pode acelerar processos
morfogenéticos tais como erosão linear, especialmente se associados com a prática de remoção da
cobertura vegetal. Os setores com declividades superiores a 17o podem ser considerados críticos e
devem ser evitados.
Fonte: Parâmetros Ambientais como Suporte ao Planejamento Urbano Fabiano Antonio de Oliveira /
aluno de pós-graduação - Departamento de Geografia - Universidade de São Paulo anexar
bibliografia fabiano_oliveir[email protected]m
98
Outra técnica aplicada para recuperação de solos degradados, é a
"seedballs". Criada por, Masanobu Fukuoka, no Japão, e muito difundido na Índia,
consiste na produção de “bolas de sementes”, o que equivale a um coquetel de
sementes armazenadas numa bola de barro. O sistema é usado para reflorestar
áreas grandes com um mínimo gasto de energia e custos. A idéia é a de manter as
sementes, escolhidas entre variadas espécies nativas, envoltas em terra (barro) e
assim impedir a ação depredadora dos pássaros e outros insetos, ao mesmo tempo
em que as conserva até o momento da primeira chuva, quando o barro (misturado ao
composto) úmido oferece os recursos necessários para sua germinação. As bolas
são feitas num diâmetro aproximado de 15mm, o que motiva o trabalho coletivo e a
sociabilização. Podem ser usadas imediatamente ou secas à sombra e armazenadas
em local seco, para serem jogadas posteriormente sobre a superfície sem enterrá-
las. Na Grécia, o relato de uma recuperação florestal em 10 000ha com esse sistema
pode ser encontrado no site www.tve.org/ho/doc.
Figura 44: Bolas de sementes para recuperação de solos florestais- 1- bolas prontas para uso, 2-
bola seccionada , 3- bolas espalhadas no solo, 4- brota após a primeira chuva
Fonte : Natural Farming with “seed balls”
www.pathtofreedom.com/pathproject/gardening/seedballs.shtml
1 2
3
4
99
5 O TRATAMENTO DADO OAS RIOS URBANO
5.1 APP e Controvérsias
Ao longo dos séculos, a humanidade precisou encontrar soluções para os
problemas gerados por ela mesma, e fatalmente, as soluções geraram outros novos
problemas numa progressão imensurável. Neste processo, os recursos naturais
foram uma das grandes vítimas.
Os rios fizeram parte da vida das sociedades que atendendo suas
necessidades imediatas, modificaram as suas propriedades transformando até
mesmo a suas características fisiográficas. Se os rios das áreas rurais foram
invadidos por produtos químicos e tóxicos, redutos das tecnologias adotadas pela
revolução verde, contaminando as suas águas, os rios urbanos sofreram não só com
a poluição industrial e cloacal, como também foram eliminadas vastas áreas de
matas ciliares que lhe serviam como filtro e proteção. Apesar dessas
transformações, os rios continuam a fazer parte do sistema global aquático,
transportando a duras penas, a vida através de seus cursos.
Associado aos desmatamentos e devastações, está a perda da
biodiversidade e a conseqüente morte de rios. Por outro lado, no processo de
urbanização, rios e córregos foram retificados e canalizados, com graves
conseqüências como as enchentes e catástrofes repercutindo em danos às
populações. Exemplo extremado se verifica em São Paulo, nas Marginais dos Rios
Pinheiros e Tietê ou na periferia urbana, com trechos embutidos em tubulações ou
vazando em calhas de concreto. Córregos estão por debaixo de ruas, os
monitoramentos de resíduos despejados é ineficiente. Neste cenário, a população
muito pobre que se acomoda precariamente nas áreas desocupadas públicas,
impedidas de ocupação pela legislação, como em margens de rios e córregos
urbanos. Nessas condições, os mananciais ficam passíveis de não serem vistos
acabando no esquecimento e mesmo no desconhecimento de sua existência por
parte da população. A falta da convivência com os cursos d’água e a da sua inserção
no contexto paisagístico das cidades, decorre em seu abandono e exposição à
degradação.
100
Figura 45: Rio Tietê, retificado, eixo estrutural na cidade de São Paulo
Foto: Marginal Tietê,SP- 13/abril/2006© This photos are public
Figura 46: Favela Mandela- RJ
Foto: Rubem Anjos, Julho 2006
O produto das soluções”: desmatamentos das florestas, em nome da
exploração da agricultura, da pecuária e da exploração de suas riquezas minerais; e
a retificação dos rios urbanos, por conta da acessibilidade das vias de transportes de
massa, assim como pelo uso do solo e exploração imobiliária, promoveu em
conjunto, grave repercussão no meio ambiente como o aquecimento global e a
101
escassez da água. Dessas manifestações resultam outros prejuízos para a vida no
planeta, como o mar em ascensão devido aos degelos, invasões marinhas e
inundações, nova padrões de temperatura, ciclones, seca e enchentes, extinções de
espécies da fauna e da flora, colapso e extinção das florestas residuais.
Figura 47: Rio Pinheiros, retificado, eixo estrutural na cidade de São Paulo
Foto: Marginal Pinheiros-SP-Julho 2003- Foto:Gutemberg Brito
No Brasil, é muito comum ver ao longo das rodovias que interligam áreas
conurbadas ou intermunicipais, a presença de várzeas, ocupadas por favelas, onde
os cursos d’água são um cenário de despejo de lixo e entulhos. Em Campinas, São
Paulo, o processo de urbanização das áreas rurais de antigas fazendas promoveu
grandes vazios entre áreas urbanisticamente consolidadas. Também nesses locais
podem-se encontrar despejo de entulhos e lixo, e ao mesmo tempo, a existência de
nascentes, riachos e rios, o que leva muitas vezes à ocupações irregulares,
paradoxalmente proibidas de uso pela legislação. Este cenário é recorrente em
todas as capitais e grandes cidades brasileiras, sendo motivo de intervenções como
a “urbanização de favelas”, “remoção das áreas de risco”, ou “despejo” para
reintegração de posse. Para cada caso, a complexidade de problemas dificilmente é
abordada num contexto holístico, sendo encontradas soluções pontuais, correndo o
risco de promover a formação de mais uma área abandonada e sujeita à
degradação, após a sua desocupação.
Nessa marcha devastadora estão presentes os processos de controle,
proteção, preservação, recuperação e regeneração das propriedades dos
fenômenos naturais, assim como a revitalização urbana e a conquista de direitos de
vida digna de todos os cidadãos.
102
O Prof. Walter de Paula Lima, da ESALQ/USP, escreve:
“As cidades são os espaços onde vive a maioria da população, mas não é
por causa disso que podem ficar alheias às necessidades de conservação
das microbacias, que a urbanização é o segundo maior fator de
degradação hidrológica, depois da agricultura.” E já existe mesmo no mundo
um forte movimento de resgate destes valores hidrológicos nas áreas
urbanas, com ações que visam, por exemplo, "desenterrar" os córregos
canalizados e integrá-los na paisagem com seus atributos inerentes, como a
mata ciliar por exemplo, que além da importância hidrológica agrega,
também, valor estético ao ambiente urbano, devendo também contribuir
para mudanças de percepção dos cidadãos para a necessidade de
conservação dos riachos e de suas microbacias”. (Fonte: “O Eucalipto seca
o solo?” site Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais/Sociedade
Brasileira de Ciências do Solo - Volume 29 – Número 1 – janeiro/abril 2004)
O PLANAGUA busca na interação entre atividades antrópicas e o meio
ambiente, as estratégias dirigidas à renaturalização de rios e córregos, valorizando
as condições naturais dos cursos hídricos, levando em conta a proteção das zonas
urbanas e das vias de transporte. (PLANAGUA/GTZ de Cooperação Técnica Brasil-
Alemanha – Publicação 1998)
A figura 48 mostra esquematicamente a proposta de transformação de um
perfil retificado em perfil natural. O principal critério adotado é a propriedade de
autosustentabilidade do rio, avaliada e recondicionada segundo três elementos
fundamentais:o mapeamento da morfologia fluvial, a vazão e aqualidade da água,
espaço e tempo para a implementação.
Figura 48 : Proposta para a transformação
de perfil regularizado em perfil natural de córregos.
Fonte: PLANAGUA, AGO 1998, p.16
7
6
5
4
3
2
1
LEGENDA:
1- Córrego canalizado
2- Início de plantio de arvores um lado do
canal
3- Retirada do muro de contenção do mesmo
lado do canal
4- Inicio do plantio de árvores do outro lado
do canal
5- Retirada do outro muro de contenção do
canal
6- As águas redesenham o curso
7- A vegetação e a biodiversidade criam
condições sustentáveis.
103
A renaturalização dos rios é lenta e gradativa, resultante das respostas às
intervenções antrópicas, porém, o processo é totalmente dependente das condições
ambientais locais (temperatura, precipitações de chuvas, condições do solo e
espaço físico) para possibilitar a recomposição do curso de água.
Neste contexto, algumas experiências tendem a contribuir para a
recuperação de áreas em estado de degradação ambiental, entre elas, estão os
parques lineares que têm como objetivo a renaturalização dos cursos d’água e a sua
inserção na paisagem e convívio da população urbana. Em situações específicas, a
implantação de hortas comunitárias também incentivam a proteção e recuperação
dessas áreas. Programas de Agricultura Urbana Municipais dão o incentivo para
esta atividade em forma de custeio mínimo da água para irrigação e a permissão do
uso da terra (lote) aos cuidados das famílias que se cadastram.
A experiência de Campinas, na Horta Comunitária Santa Genebra,
localizada à margem do Ribeirão das Pedras, mais de 50 lotes são explorados com a
horticultura, sendo que algumas revertem em renda. O cultivador Isael de Cruz
(entrevista em anexo 5) comentou que estariam sujeitos a desocupar o local por se
tratar de APP. O mesmo acontece em Sumaré, na Região Metropolitana, na Horta
Comunitária Alvorada, nas margens do Riacho Pinheirinho, afluente do Rio Quilombo
onde os produtores são ameaçados de ser retirados por conta da legislação da APP.
Ali são produzidas hortaliças para consumo familiar além de garantir parte da renda
para várias famílias.
O Programa AGRIURB, Programa de Agricultura Urbana, Modalidade
Descentralizada de Fomento às Atividades Agrícolas em Áreas Urbanas e
Periurbanas para o Combate à Fome e Geração de Trabalho e Renda, é uma
proposta do INCRA em consórcio com as Prefeituras Municipais, Organizações
Governamental e Organizações Não Governamentais. Apesar do INCRA ser um
instituto de esfera federal, atualmente também se preocupa em atuar nos municípios
a fim de estimular a agricultura urbana, aproveitando o potencial humano e cultural
campesino que vem para as cidades. O programa que tem portaria (ANEXO 26)
está em fase de implantação de projeto piloto.
104
Figura 49: Horta Comunitária Alvorada em Sumaré – RMC
Plantio de hortaliças em um dos lotes
Foto: da autora – 2006
Figura 50:Horta Comunitária Alvorada em Sumaré – RMC
Rua paralela à margem, atrás do córrego
Foto: da autora – 2006
Figura 51: Horta Comunitária Alvorada em Sumaré – RMC
Caminho ao longo do córrego, lado que não tem horta.
Foto: da autora – 2006
105
A discussão sobre as Áreas de Preservação Permanente, as APPs, a
partir da Resolução do CONAMA(1), vem tomando novos rumos. A regulamentação
das APPs quanto às margens de rios , que obedeciam o Código Florestal, no que se
refere a proibição de qualquer tipo de intervenção, dentro de determinados limites
(2) e que não fazia distinção entre os rios em áreas urbanas ou rurais, hoje busca
solução para a diferenciação de tratamento entre as duas categorias, discutindo a
possibilidade do usos diferenciados tratando-se de utilidade pública e de interesse
social.
A questão fica na interpretação do “uso de utilidade pública e de de
interesse social. No artigo Morte Anunciada (4), Maria Tereza Pádua
(3),diz;”trocando em miúdos, esta resolução fez foi abrir o uso das APPs, sob as
justificativas de utilidade pública e interesse social[...].Passaram a ser de utilidade
pública ou interesse social:
Atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais (mineração)
Extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade
competente
Agrosilvicultura em pequena propriedade ou posse familiar
Implantação de áreas verdes em zona urbana, com locais para piqueniques,
mirantes, ciclovias, bancos, rampas para lançamento de barcos
E pequenos ancoradouros, banheiros
Flexibilização de uso para regularização fundiária sustentável de área urbana
Na resolução CONAMA, ainda, as atividade podem ser autorizadas
enquanto “não descaracterize a cobertura vegetal nativa, ou impeça a sua
recuperação, e não prejudique a função ecológica da área”. E, “a intervenção e a
supressão eventual e de baixo impacto ambiental de vegetação em APP não pode,
em qualquer caso, exceder ao percentual de 5% (cinco por cento) da APP impactada
localizada na posse ou propriedade”. Em áreas urbanas essa determinação é
bastante restritiva. Por outro lado, a atividade de Agricultura urbana, que protege as
margens de invasões e despejo de lixo e entulho, tem uma regularização genérica e
pouco esclarecedora.
106
Segundo a botânica Jeanine Maria Felfili (5), “é uma questão delicada
porque a cobertura vegetal por espécies perenes, arbóreas e arbustivas recobre o
solo, estabilizando os barrancos com a camada de raízes enquanto que a atividade
agrícola, a não ser por plantio mínimo em covas, implica em revolvimento e
desnudamento do solo". De acordo com a especialista, em recuperação de matas
ciliares, “é realizado um trabalho de recuperação de APPs em áreas cultivadas com
horticultura onde são plantadas as mudas consorciadas com o objetivo final de
formar mata com o abandono da horticultura na borda dos córregos assim que as
mudas crescerem”.
A legislação mais recente, sobre as APPs, baseada na Resolução
CONAMA 369 de 2/2006, é o início para a discussão quanto a caracterização de
alguns itens sujeitos a controvérsias, entre eles: as atividades de segurança
nacional, as atividades de proteção sanitária, as obras essenciais de infra-estrutura
destinadas a serviços públicos de transportes, saneamento e energia,a implantação
de áreas verdes públicas, as atividades de proteção da integridade da vegetação
nativa como prevenção, combate ao fogo, controle de erosão, e regularização
fundiária sustentável de área urbana, atividades de baixo impacto ambiental como
pequenas vias de acesso interno, pontes e pontilhões, implantação de trilhas para
desenvolvimento do eco turismo.
_______________
(1) Resolução CONAMA 369 de Março de 2006 - Na 46ª Reunião Extraordinaria do CONAMA,
realizada em 21 e 22 de Fevereiro de 2006, foi aprovada a regulamentação do uso das APPs- Areas
de Preservação Permanente. A reunião discutiu a Resolução CONAMA que dispõe sobre os casos
excepcionais, de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto que possibilitam a
suspenção da vegetação,ou a intervenção em Area de Preservação Permanente
(2) Código Florestal - Lei 4.771/65 Áreas de preservação permanente - artigo FONTE: © IAP/PR-
Mata ciliar é a formação vegetal nas margens dos nos, córregos, lagos, represas e nascentes.
Também é conhecida como mata de galeria, mata de várzea, vegetação ou floresta ripária.
Considerada pelo Código Florestal Federal como rea de preservação permanente", com diversas
funções ambientais, devendo respeitar uma extensão específica de acordo com a largura dos rios,
córregos, lagos, represas e nascentes.
(3) Maria Tereza Jorge Pádua- Fundadora da Funatura, membro do Conselho da Fundação O
Boticário de Proteção à Natureza e da comissão mundial de Parques Nacionais da UICN.
(4) Morte Anunciada-artigo editado em 23 de Fevereiro de 2006, “O Eco”, site de jornalismo ligado ao
meio ambiente
(5) Jeanine Maria Felfili - Fazenda Agua Limpa UNB- A Fazenda Água Limpa (FAL) da
Universidade de Brasília (UnB) está distante 28 Km da sede do Campus Universitário da Asa Norte e
faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA), Bacia do Gama, Cabeça de Veado. Possui uma área
de aproximadamente 4.340 há destinado a preservação (2.340 ha) a conservação (800 ha) a
produção (1.200 ha). Possui uma infra-estrura básica voltada para o processo de ensino, pesquisa e
extensão com ênfase às áreas de Agronomia, Biologia, Engenharia Florestal, Ecologia, Botânica,
Zoologia, Fisiologia, Zootecnia e Fitologia.
107
Vale parafrasear as palavras de Edésio Fernandes: “Não falta de lei
mas falta de interpretação” (EDÉSIO FERNANDES- Direito Ambiental- Instituto
POLIS)
As legislações sobre as APPs são instrumentos utilizados pelo poder
público para proteger parte do território segundo objetivos específicos da
preservação ambiental. No entanto, segundo Servilla, as diferentes legislações como
o Código Florestal /1965, Lei Lehman /1979 e as Resoluções CONAMA/2002,
desencadearam em conflitos interpretativos, prejuízos que principalmente atingiram a
própria qualidade de vida das populações nas cidades. (SERVILLA- 2003)
Quadro 13: Elementos de conflito nas legislações .
Fonte: elaborado pela autora com base na pesquisa de Elson Servilla ( Unicamp, 2003)
Considerando que as legislações:
Atendem a diferentes objetivos e contextos espaços-temporais
Não consideram a dinâmica da urbanização
Restringem-se à preservação física reforçando um princípio de intangibilidade
É preservacioniosta sem princípios de sustentabilidade
Restringem o contexto dinâmico da APP como se fosse um contexto fixo.
Temos como conseqüências:
A alteração das estruturas espaciais das paisagens dos rios urbanos
As alterações dos processos ecológicos das várzeas
A conversão de espaços naturais para usos urbanos (como o transporte)
A extração mineral e deterioração de recursos naturais
O despejo dos resíduos urbanos, industriais e domésticos, sem fiscalização
Os usos e costumes da população excluem o convívio com os recursos hídricos
A vegetação dos rios não desempenha mais a função de corredor ecológico
A degradação das APPs nas áreas urbanas são maiores do que nas áreas rurais
Os impactos comprometem todo o ecossistema da APP em questão
Avalia-se que:
Os objetivos preservacionistas não atingiram a eficácia desejada
A preservação exclusivamente física compromete outras relações socioespaciais
APP urbana não pode mais ser considerada e tratada como natureza intocada
A abordagem vocacional da APP diferencia as possibilidades de seus usos
A legislação é inaplicável em alguns casos
108
5.2 Experiência em Campinas – Horta Comuniria Santa Genebra
Em Campinas, a experiência de preservação e recuperação ambiental foi
desenvolvida ao longo do Ribeirão das Pedras, situado em Barão Geraldo, no Bairro
Santa Genebra. Ali, numa das margens do ribeirão foi desenvolvido o Parque Linear
Ribeirão das Pedras, e na outra margem, a Horta Comunitária Santa Genebra, onde
a autora realizou uma pesquisa de campo, fotografando e entrevistando alguns de
seus usuários produtores. Com a colaboração dos entrevistados, documentos
institucionais fornecidos gentilmente pelo Sr. Isael da Cruz ,aposentado, ex
profissional como torneiro mecânico, supervisor em indústria automotiva e atual
ocupante de um dos lotes da horta comunitária, foi possível elaborar o que segue.
O Projeto de Lei 9.9549 de 10
de Dezembro de 1997 criou o Programa de
Hortas Comunitárias em Campinas com o objetivo de diminuir o problema do
desemprego e aproveitar as áreas livres do município porém a falta de
regulamentação impedia que fosse implementado.
O Governo Democrático Popular publicou o Decreto 14.288 de 11 de
Abril de 2002, Regulamentando a Lei, que também veio para colaborar com o Projeto
Fome Zero do município. Em 2003 foi elaborada uma cartilha apresentando a Lei
com a Regulamentação, para a população de Campinas conhecer o Programa de
Horta Comunitária. (cartilha no anexo 01)
Segundo conta Adelino dos Santos, 73 anos, mineiro, aposentado e ex
tratorista da PMC, em 1978, quando trabalhava na prefeitura com terraplanagem,
usou de sua “autoridade”, para proibir o uso da área (onde hoje é a horta) para jogar
entulho ou construir barracos. Ele mesmo destruiu cercas e princípios de barracos
onde algumas famílias pretendiam se instalar. Com o apoio da vizinhança e da
prefeitura, iniciaram a demarcar algumas áreas para hortas, para algumas pessoas
que se comprometiam a cuidar e deixar limpo. A idéia era ocupar a área para impedir
jogar entulho ou a construção de barracos. Seria de uso preferencial de pessoas
aposentadas.(entrevista anexo 6 ) Esse dado indica que foram necessários mais de
25 anos para que essa comunidade tivesse uma situação regulamentada e de posse
de uma cartilha para o desenvolvimento da horta.
109
No dia 24 de Agosto de 2004 os beneficiários das hortas foram
convidados a regularizar a sua situação junto à Prefeitura, a convite do coordenador
do GDR – Grupo de desenvolvimento Rural. (anexo 2)
Figura: 52: StaGenebra
Foto: da autora – 2006
Figura: 53: Foto Sta Genebra
Foto: da autora - 2006
A Secretaria da Horta Comunitária, órgão vinculado à Associação dos
Moradores considerou a necessidade de se disciplinar em regulamento as condições
de utilização dos lotes destinados ao desenvolvimento de hortas. A horta é dividida
em três grandes áreas que por sua vez é dividida em lotes, numerados, sendo
proibida a comercialização ou permuta do lote, sem comunicação prévia com o órgão
secretariado. (declaração de transferência de responsabilidade no anexo 25).
O regulamento foi lavrado em 30 de Novembro de 1992 e revisado nos
anos seguintes, em 1994, 1995 e 2000, sendo o que permanece até os dias atuais.
110
As atas das reuniões demonstram que é desejo dos agricultores assim como dos
moradores, a busca de melhorias na qualidade do lugar, assim como a necessidade
de proteção do Ribeirão das Pedras. (cadastro dos agricultores no anexo 24)
A reunião ordinária no dia 21 de agosto de 2000 (anexo 07) aprovou
novo regulamento, adaptado à construção do Parque Shopping Dom Pedro na
Fazenda Santa Genebra. Nesta reunião foi determinado que as árvores devessem
ser retiradas de todos os dos lotes, a fim de se caracterizar como horta, visível, e
limpa. As árvores poderiam ser plantadas ao fundo do lote, perto do rio. Não
poderia haver a criação de animais para evitar problemas sanitários. Neste
momento, foi negociada a instalação de alambrados e a construção de calçadas de
3 metros em frente aos lotes. As construções para guardar ferramentas seriam
padronizadas para melhorar o aspecto visual da horta. Essas questões estavam
diretamente relacionadas com a qualificação e melhoramento do bairro uma vez
que seria instalado um shopping de grande porte. Em entrevista, o produtor, Edio
Buscaratti, 71 anos, ex operador de máquina em indústria de beneficiamento de
açúcar, originário de Monte Santo, MG, confirma “O Shopping Dom Pedro valorizou
muito a região, poucas pessoas vem aqui comprar verduras pois o próprio shopping
tem um supermercado, até eu vou comprar lá. Mas tem os clientes fixos.
(ENTREVISTA anexo 08 )
Figura 54: Edio e clientes
Foto: da autora - 2006
111
O CONDEMA – Conselho Municipal do Meio Ambiente manifestou parecer
sobre os impactos ambientais com a implantação do Parque Dom Pedro Shopping,
onde o trecho das hortas mereceu destaque. Nesta reunião, Isael da Cruz (*)
apresentou à diretoria do Shopping e ao representante da Prefeitura de Campinas
uma carta de sugestões alertando para problemas a serem evitados. Alertava para o
risco de fogo no depósito de grama seca do serviço de manutenção da prefeitura em
frente aos lotes. Sugeriu que os produtores usassem o resíduo para composto
orgânico. Foi verificado também que o aumento da vazão de águas drenadas
estava desenvolvendo um processo de erosão nas margens de sua horta, os bueiros
transbordavam e invadiam a horta. Outro problema apontado foi em relação à
manutenção das árvores das calçadas cujas folhas contribuem a tampar os bueiros
que transbordam abrindo valas no solo dentro da horta, em direção ao córrego,
essas valas aumentam ano a ano. Finalmente apontou a gravidade da falta de
fiscalização e controle. (carta em anexo 09).
Figura 55: Isael mostrando o bueiro
Foto: da autora – 2006
_______________
(*)Isael da Cruz- Produtor entrevistado na Horta Comunitária Sta Genebra-2006
112
Figura 56: Horta e Shopping D Pedro
Fonte: GOOGLE. Adaptado pela autora.
No decorrer das entrevistas foram verificadas questões relevantes quanto
ao espírito comunitário, que praticamente o existia, sendo que os interesses
individuais estão sempre na frente e mesmo é possível perceber que enquanto
alguns produtores o amigos, outros preferem não se falar. Todos os entrevistados
são aposentados e em geral passam meio turno nas lidas com a horta, alguns,
revezando com ajudantes ou sócios.
Os familiares não participam das atividades da horta, os entrevistados são
todos muito satisfeitos com a ocupação, dizendo que seria muito ruim ficar em casa
“sem fazer nada e ficando deprimido”.
Foi possível verificar que as margens do córrego estão de fato protegidas
pelas hortas, mas a vegetação ciliar nativa é quase inexistente. bananeiras e
algumas frutíferas plantadas. Os 30 metros de margens restritas pela legislação não
são tratados pelos produtores e elas acabam ficando no abandono ou usadas para
colocar caixotes, e bagulhos. alguns produtores que capricham mais e até usam
esses trinta metros para colocar caixas de abelhas para produzir mel.
113
Figura 57: Margens Edio
Foto: da autora - 2006
Figura 58: Caixas de abelha
Foto: da autora - 2006
Segundo os entrevistados, a regulamentação, o controle, as limitações, e
o espírito comunitário estão aquém do desejável. A realidade mostra, entretanto, que
o grau de experiência de alguns mostra o potencial que a horta comunitária
apresenta para a melhoria da qualidade ambiental do local, contribuindo para a
proteção e preservação das margens do ribeirão, dentro dos objetivos a que ela se
propõe, impedir a invasão e o despejo de lixo.
O Projeto PLANAGUA, citado anteriormente, propõe algumas medidas de
intervenção que podem renaturalizar os rios e córregos urbanos, partindo do
princípio que deve ser permitido o acesso da população aos cursos de água,
favorecendo elementos de lazer nas suas margens. Além disso, entre outros
114
aspectos, os leitos dos rios precisam ser ampliados ou criar alternativas de
barramento para reter e controlar as enxurradas evitando enchentes e erosões; o
fluxo migratório dos animais aquáticos devem ser recuperados por escadarias e
pedras associadas à engenharia ambiental de proteção das margens; o
restabelecimento da mata ciliar de acordo com condições e usos locais (PLANAGUA
,1998- p. 21)
Segundo TAUK, a qualidade ambiental é constituída de vários fatores (ou
bens) ambientais constituintes da estrutura de um ecossistema. “Um fator ambiental
é um sistema em si mesmo, que sobrevive em uma estrutura de ordem estratificada
mediante relações que mantém com outros fatores, isoladamente, e com a totalidade
do sistema do qual faz parte.” (TUAK, 1990,p. 19) Tratando-se de rios e córregos
urbanos, há uma referencia direta com a qualidade de vida da população, que
expressa a qualidade ambiental. Neste sentido, a verificação de riscos e vantagens
no plantio de espécies frutíferas em fundos de vale urbano, pressupõe interatividade
com a população, qualidade ambiental, e, portanto a qualidade de vida nas cidades.
5.3 O Plantio de espécies frutíferas em fundo de vale urbano na visão das
diversas áreas
A avaliação dos riscos e vantagens relacionados ao plantio de espécies
frutíferas em fundo de vale requer a utilização de equipe disciplinar, uma vez que a
complexidade de fatores e agentes são inerentes à esse tipo de intervenção. Isso
pode dificultar alguns aspectos de gerenciamento em virtude das especializações
envolvidas. Segundo TAUK, “Na prática, a interdisciplinaridade das questões
ambientais não foi ainda alcançada, e muito menos a transdisciplinariedade. Cada
analista tende a enfocar o quadro típico de sua especialidade, esclarecendo a
respeito de fatores condicionantes da transformação ambiental, o que deve reverter
em prol de um objetivo comum”. A integração dos fatores de forma holística é o que
se pretende apresentar, a partir de um questionário aplicado a diversos especialistas.
(TAUK, 1990,prefácio).
Para realizar as entrevistas foi elaborado um formulário constituído por
uma introdução com breve esclarecimento sobre a sua finalidade, e três blocos com
perguntas qualitativas e quantitativas. O primeiro bloco refere-se aos riscos no
plantio de espécies frutíferas e como não potencializá-los; o segundo refere-se às
115
vantagens e como potencializá-las; o terceiro refere-se à importância da atividade,
suas maiores dificuldades e recomendações para implementação de projetos e
programas.
O quadro a seguir apresenta a relação dos profissionais que foram
entrevistados durante o segundo semestre de 2006, as entrevistas foram transcritas
na íntegra e são apresentadas em anexo. ( anexos de 10 a 23)
Quadro 14: Especialistas entrevistados nesta pesquisa durante o 2º semestre de 2006
Fonte: elaborado pela autora.
Metodologia de aplicação da entrevista
NOMES Especialidade profissional Instituição
1 Ari Vicente Fernandes Arquiteto/urbanista
ANEXO 10
PUC- Campinas
2 Emília W. Rutkowski Biólogo/Limnólogo
ANEXO 11
UNICAMP/ FLUXUS
3 Elson Roney Servilha Engº Civil/Saneamento Ambiental
ANEXO 11
UNICAMP/FLUXUS
4 Maria Helena Ferreira
Machado
Sociólogo/Planejamento
ANEXO 12
PUC- Campinas
5 Laura Bueno Machado Arquiteto/Planejamento
ANEXO 13
PUC- Campinas
6 Juleusa Maria
Theodoro Turra
Geógrafo/Sociólogo
ANEXO 14
PUC- Campinas
7 Nelson Marques da
Silva Fº
Arquiteto/Meio Ambiente
ANEXO 15
PUC- Campinas
8 Renato Pequeno Arquiteto/Comunidades/Meio
Ambiente
ANEXO 16
DAU - UFC
9 Suely Bettini Engº Ambiental
ANEXO 17
PUC- Campinas
10 Vladimir Bartalini Arquiteto Paisagista
ANEXO 18
PUC- Campinas/USP
11 Stephen Bentley Planejamento Comunitário Regional
ANEXO 19
EYA / Vancouver-
Canadá
12 Sônia Helena Novaes
Guimarães Moraes
Advogada Agrartisa
ANEXO 20
ABRA- Associação
Brasileira de Reforma
Agrária
13 Giulio Cesar Stancato Engº agrônomo
ANEXO 21
IAC – Pesquisador
14 Dionete Aparecida
Santin
Engª agrônoma
ANEXO 22
UNiCAMP - NEPAM
15 Julie Henriette
Antoinette Dutilh
Botânica
ANEXO 23
UNICAMP -
Pesquisadora
116
Todos os especialistas entrevistados contribuíram no preenchimento de um
mesmo formulário, tendo como objetivo as suas diferentes visões quanto ao mesmo
assunto. As perguntas iniciam com a possibilidade de respostas teóricas de onde
são destacados itens para a formulação de respostas quantitativas com a finalidade
de tabulação posterior. É prevista nas entrevistas, o incentivo para que as questões
teóricas apontadas por exemplo como riscos” ou “vantagens”, sejam em seguida
complementadas com as perguntas sobre como podem ser “potencializados”(as).
A quantificação foi estabelecida em número par para que se evite o valor
mediano. Foram colocadas quatro possibilidades de respostas para classificação,
como por exemplo: “muito importante, importante, pouco importante, nada
importante”.
Outro dado do formulário está relacionado a duas situações de riscos e
vantagens no plantio de espécies frutíferas : em áreas públicas e em áreas privadas,
tendo como objetivo verificar se há ou deve haver uma distinção de tratamento entre
elas.
Metodologia de tabulação
Como a finalidade específica da pesquisa está direcionada aos riscos e
vantagens no plantio de espécies frutíferas na proteção e recuperação de fundos de
vales urbanos, na tabulação, julgou-se prioritário colocar em primeiro lugar a
referencia quanto à população. Ou seja, em quais aspectos os riscos e vantagens
que envolvem a população, quanto a segurança no sentido da defesa civil, à
segurança alimentar, ou de contatos em geral com o ambiente paisagístico nas
condições propostas. Em segundo lugar, foram quantificados os riscos e vantagens
relacionados ao meio ambiente, considerando o meio físico, questões de erosão,
drenagem, fauna, flora, qualidade do solo e da água. Em terceiro lugar, foram
quantificados os fatores relacionados aos riscos e vantagens na gestão ambiental
na manutenção, fiscalização e controle público. Para a tabulação quanto às
vantagens e dificuldades foram acrescentados fatores relacionados aos projetos de
intervenção paisagística. Na tabulação das recomendações, os fatores apresentados
foram organizados em: recomendações quanto a população, recomendações quanto
ao meio ambiente.
117
A tabulação foi organizada da seguinte maneira: Tabelas quanto aos riscos, a
análise desta tabulação; tabelas das vantagens, análise; tabela de dificuldades e
recomendações.
118
Tabulação
Tabulação Tabulação
Tabulação
TABELA A1
SÍNTESE DOS RISCOS APONTADOS como MI ou I “muito importantes e/ou importantes”
Quanto à segurança da população...........................................Incidência de vezes citado
- Arvores próximas ao rio, risco de afogamento ....................................................................2
- Segurança pública, ataque de bandidos..............................................................................4
- Falta de costume, resistência da população .......................................................................3
- Alcance de frutos em árvores altas .....................................................................................3
- Uso de sementes como armas.............................................................................................2
- Danos com queda de frutos grandes ...................................................................................4
- A atração de fauna nociva....................................................................................................3
- Usos indevidos e problemas sociais....................................................................................3
- Ingestão de frutos contaminados..........................................................................................5
Quanto à proteção ambiental
- Degradação do solo com o pisoteio intensivo.....................................................................3
- Inadequação das espécies...................................................................................................3
- Poluição................................................................................................................................1
- Erosão..................................................................................................................................1
- Perda da serrapilheira .........................................................................................................3
- Perda da biodiversidade associada a monocultura.............................................................4
- Uso de produtos químicos e descaracterização do solo......................................................2
- Substituição de elementos remanescentes por exóticas ....................................................2
- Atração de animais competidores, atropelamento de animais.............................................1
- Falta de esclarecimento da população quanto a preservação ambiental ............................5
- Decomposição de frutos, mau cheiro, produção de bactérias ............................................4
- Falta de viveiro de mudas....................................................................................................2
- Ação fitossanitária................................................................................................................3
- Deposição localizada de grande quantidade de sementes..................................................1
- Criação de ambiente hostil para a fauna e flora ..................................................................1
- Mudança do microclima .......................................................................................................1
- Atração de animais competidores , atropelamento dos animais...........................................1
- Malha espessa de folhas principalmente de bananeiras, que recobrem o
solo impedindo a germinação de outras .................................................................................2
- Emissão de rizomas em densidade ......................................................................................1
Quanto à gestão ambiental de manutenção, fiscalização e controle públicos
-Não é assunto de prioridade administrativa............................................................................1
- Descontinuidade no manejo...................................................................................................3
- Falta de fiscalização de controle e sanções...........................................................................1
- Atitude e comportamento social.............................................................................................4
- Desatualização da capacitação dos funcionários públicos.....................................................3
- Desarticulação das gerencias.................................................................................................2
119
TABELA A1 - ANÁLISE
TABELA A2
SÍNTESE DOS CUIDADOS PARA NÃO POTENCIALIZAR OS RISCOS como MI ou I “muito
importantes e/ou importantes”
Quanto a segurança da população Incidência de vezes citado
- Nos espaços públicos, plantar frutíferas mais afastadas dos cursos de água
evitando afogamentos................................................................................................................1
- Espaçamento das plantas, evitando os maciços para permitir o domínio visual
da área, é preferível plantas baixas...........................................................................................3
- Acessibilidade ao fruto.............................................................................................................1
- Acessos seguros,percursos e trilhas com segurança.............................................................5
- Evitar frutíferas grandes e/ou de sementes grandes...............................................................3
Quanto a proteção ambiental
- Incentivando a continuidade do ecossistema, e, considerar o território urbano
numa lógica do verde como um todo. ........................................................................................2
- as espécies mais espaçadas entre si e entre as diferentes espécies......................................3
- Diversificar os tipos de raízes para garantir maior fixação do solo, alternar
entre raízes profundas, espalhadas, etc.....................................................................................2
- Valorização da consciencia ambiental da população ..............................................................4
- Evitar a inserção de espécies exóticas e preferir as silvestres.................................................4
- Fazer uso de técnicas agroflorestais ........................................................................................4
- Respeito à capacidade de carga do setor trabalhado................................................................1
- Garantir a infra-estrutura de saneamento, de drenagem e esgoto............................................1
- Impedir uso de produtos químicos e/ou nocivos ......................................................................5
Quanto a gestão ambiental de manutenção, fiscalização e controle públicos
-Inserir nos programas a f igura de zeladoria efetiva ..................................................................1
-Atualização da infraestrutura de saneamento de esgoto e águas pluviais................................1
-Monitoramento e controle com fiscalizaçãoe sanções ...............................................................3
- Esclarecimento da população quanto a importância da proteção ambiental ............................7
- Discutir a prioridade do assunto.................................................................................................3
- Nas áreas privadas, submissão de plano de plantio à aprovação de poder
público, sendo lote ou gleba.........................................................................................................2
-Definição de usos permitidos ......................................................................................................2
-Nas áreas privadas, submissão de plano de plantio à aprovação de poder
público, sendo lote ou gleba.........................................................................................................2
-Adoção de programa de educação ambiental e conscientização da comunidade ....................6
Quanto a projetos de intervenção paisagística
- Conscientização dos órgãos públicos quanto a relevância do assunto.....................................3
- Aplicação do conhecimento técnico-científico pelos poderes públicos......................................5
- Desenho do espaço de fácil entendimento garantindo a segurança pública.............................4
- Caracterização dos espaços e definição de usos ....................................................................3
- Vinculação do projeto a um processo de planejamento de recuperação ambiental
da área no médio prazo.............................................................................................................. 2
120
Os maiores riscos considerados estão relacionados com o plantio de
espécies frutíferas comerciais como manga, banana, abacate e outras em geral
encontradas no comércio. Por outro lado, segundo as pesquisadoras Dionete Santin
e Jolie Duthil, da UNICAMP, as frutas silvestres não apresentam riscos em geral.
Classificação segundo Dionete : Espécies frutíferas nativas
silvestres /
Espécies exóticas – frutíferas comerciais
Os riscos que foram considerados muito altos, e altos foram somados,
considerada a sua relevância, tanto para áreas públicas como para áreas privadas,
sendo ainda sintetizados em alguns itens, como segue:
Riscos quanto à segurança pública: A vegetação em maciços pode se
tornar esconderijo de pessoas mal intencionadas além de impossibilitar a visão do
entorno, causando insegurança e medo de andar no local; a arborização alta pode
ser perigosa quanto à queda de pessoas, principalmente crianças; a queda de frutos
grandes podem causar danos materiais ou machucar pessoas, determinados frutos
podem atrair fauna nociva à população como bichos peçonhentos.
A ingestão indevida de frutos nos casos em que se tem contaminação do
solo ou utilização de água contaminada, ou então, por falta de esclarecimento da
população quanto ao ponto de maturidade e coleta dos frutos.
A ação fitossanitária, com o uso de venenos e produtos nocivos à saúde
humana, na desinfestação e limpeza de áreas verdes ,pode também causar danos à
saúde pública.
Riscos quanto ao meio ambiente:O manejo e manutenção inadequados
(como retirada da serrapilheira) ou descontínuo e conseqüente abandono de uso e
degradação ambiental. O risco apontado destaca a descontinuidade de gestão na
mudança de governo.
A falta de esclarecimento da população, seja pelos hábitos e costumes,
seja pelo desconhecimento do manejo da vegetação frutífera em seu local de origem
ou como lidar com a microfauna evitando depredações.
A atração de grande número de pessoas pode levar ao pisoteio intenso e
conseqüente compactação do solo, além de conflitos sociais na apropriação dos
121
frutos. O solo também está em risco de empobrecimento se houver plantio intenso
que tenda á monocultura, trazendo como conseqüência a perda da biodiversidade.
A inexistência de grande escala de mudas de reposição.
TABELA A2 – ANÁLISE
Os cuidados para o potencializar os riscos foram classificados somente
em “muito importantes” e “importantes”, pois não houveram cuidados respostas
menos importantes. Os cuidados são em geral relacionados à algum risco. Assim,
uma correspondência entre as tabelas A1 e A2. Ou seja, para cada risco é apontada
uma possibilidade de solução. Por exemplo, para o risco de maciços de vegetação, o
cuidado é fazer o plantio separado, possibilitando visibilidade mais transparente e
com isso uma sensação de maior segurança; para o risco de contaminação da água,
contar sempre com a linha agroecológicas de plantio, no caso de mata ciliar, o ideal
seria o sistema agroflorestal.
TABELA B1
SÍNTESE DAS VANTAGENS como MI ou I “muito importantes e/ou importantes
Vantagens para a população Incidência de vezes citado
Convivência com os frutos da terra, o ambiente vegetal e a água .............................................4
Diversidade visual .......................................................................................................................3
Desenvolvimento cultural, ampliação de valores.........................................................................4
Abastecimento alimentar fresco e local ......................................................................................5
Potencial para programas de educação sócio-ambiental............................................................7
Potencial para processamento de frutos e renda........................................................................1
Apropriação democrática dos locais públicos pela população....................................................4
Qualidade ambiental ...................................................................................................................5
Vantagens ambientais
Fixação da camada de solo evitando a erosão..........................................................................4
Enriquecimento da biodiversidade ............................................................................................7
Aumento de área de pouso da fauna silvestre e de polinização................................................5
Aumento de drenagem ...............................................................................................................3
Aumento de massa verde e oxigenação do ar ...........................................................................4
Contribuição para o impedimento de futuros problemas de enchente .....................................5
122
TABELA B1 - ANALISE
Quanto às vantagens do plantio de frutíferas em fundo de vale urbano, a
maior concentração de respostas está para as áreas públicas, fato coerente, uma
vez que a maior incidência de terrenos ao longo dos rios e córregos está em áreas
públicas. Um aspecto, porém, vale ressaltar: a importância do plantio em áreas
privadas para aumentar a área permeável e de drenagem ajudando a evitar
enchentes futuras.Outra dado que a tabela mostra é que as vantagens favorecem
em grande parte a população e o meio ambiente. Dado importante, que levanta uma
nova questão a ser investigada: o plantio de espécies frutíferas oferece
TABELA B2
COMO POTENCIALIZAR AS VANTAGENS como MI ou I “muito importantes e/ou
importantes”
Para a população INCIDÊNCIA de vezes citado
Com o resgate do imaginário da comunidade........................................................................3
Na relação sócio-ambiental.....................................................................................................5
Na compreensão do espaço público como local de convivência............................................3
Com incentivo ao aculturamento e educação ambiental.........................................................5
Com o estímulo à participação e a noção de pertencimento.................................................3
Pela possibilidade de geração de renda.................................................................................2
Pelo desenvolvimento da segurança alimentar ........................................................................5
Para o meio ambiente vegetal
Na associação correta da seleção de espécie inclusive quanto às disposições de plantio.....5
No monitoramento da diversificação da fauna..........................................................................5
Com a referência a inventários florísticos e paisagísticos........................................................2
Incentivo a formação de bosques.............................................................................................1
Com a Inserção das questões ambientais nos processos de planejamento do município.......3
Com a elaboração de um projeto com visão holística...............................................................2
Para a gestão ambiental de manutenção, fiscalização e controle públicos
Associar os projetos de intervenção paisagística aos demais projetos públicos ..................3
Incentivar a zeladoria pela tutoria da comunidade ................................................................1
Articular as gerências de controle e fiscalização ...................................................................3
Promover programas de capacitação dos funcionários .........................................................2
Discussão da prioridade do assunto......................................................................................2
Para os projetos de intervenção paisagística
Aplicação do conhecimento técnico-científico pelos poderes públicos..................................5
Desenho do espaço de fácil entendimento garantindo a segurança pública.........................3
Caracterização dos espaços e definição de usos..................................................................3
123
TABELA B2 - ANÁLISE
Nesta tabela também as classificações ficaram em ‘muito importante” e
“importante”,e mais uma vez, a potencialização das vantagens se em relação à
população e meio ambiente. Dado importante é a interseção entre os aspectos
citados, compreensão do espaço público e o processo de participação da população
em projetos desta ordem, potencializando as vantagens para os três fatores:
população, meio ambiente e gestão.
TABELA C
PRINCIPAIS DIFICULDADES
Com a população
- Conflitos de uso e ocupação como a favelização às margens dos rios, riachos e
lagoas e expansão de muros e cercas até as margens dos recursos hídricos,
inclusive com espaços edificados..............................................................................................3
- Baixo grau de conscientização da população......................................................................... 5
- Resistência quanto à segurança .............................................................................................8
- Preferência da população por locais “limpos” de vegetação...................................................3
- Sociedade civil desorganizada.................................................................................................3
- ONGs ambientalistas ainda não despertaram para a importância do tema.............................2
Para o meio ambiente vegetal
Na associação correta da seleção de espécie inclusive quanto às disposições de plantio......2
No monitoramento da diversificação da fauna...........................................................................4
Com a referência a inventários florísticos e paisagísticos .........................................................2
Incentivo a formação de bosques................................................................................................1
Com a Inserção das questões ambientais nos processos de planejamento do município.........4
Com a elaboração de um projeto com visão holística.................................................................2
Para a gestão ambiental de manutenção, fiscalização e controle públicos
Apoio financeiro-técnico..............................................................................................................4
Capacitação e gestão atualizada ................................................................................................3
Descontinuidade da manutenção.................................................................................................3
Alteração da regulamentação de uso das margens de rios urbanos............................................3
Manutenção de viveiro de mudas..................................................................................................3
Sucessão de plantio / expansão da mata......................................................................................4
Para os projetos de intervenção paisagística
Apropriação do conhecimento técnico-científico pelos poderes públicos....................................4
A incorporação ao processo de planejamento urbano do município............................................3
Inexistência de plano de sistema de áreas livres nas diferentes escalas.....................................1
A discussão sobre o grau de prioridade no planejamento de programas.
124
TABELA C - ANÁLISE
A tabela mostra que todos as dificuldades são muito importantes ou
importantes, tanto para as áreas públicas como para as privadas, sendo que a
maioria das dificuldades está atrelada aos aspectos da gestão pública, em
contrapartida, a sociedade em geral, a sociedade organizada e as ONGs se
apresentam como uma dificuldade por falta de motivação e incentivo, seja
financeiro, seja pelas regulamentações sobre as APPs.
TABELA D A- AMBIENTE B- POPULAÇÃO
RECOMENDAÇÕES
A
Conhecimento da bacia hidrográfica
A
Conhecimento das espécies frutíferas quanto a fixação do solo e necessidades hídricas
B O controle do uso e o esclarecimento em relação às condições específicas dos fundos de
vale são importantes e merecem a maio
r atenção
A Preferir as espécies frutíferas nativas locais(regionais) em conjunto com as demais
específicas de AP . As espécies que podem ser usadas podem ser encontradas nos
resultados das pesquisas em Santin (1999).
A
Evitar as espécies de sombre
amento muito forte e grande quantidade de sementes
A A fixação do solo, a biodiversidade e a recuperação do solo dependem das espécies a
serem plantadas.
A
Partir de um projeto paisagístico.
B
Envolver a comunidade vizinha
inclusive na seleção de e
spécies
A
Manter livres os espaços de transição.
A
Monitorar o escoamento de águas pluviais e o efeito da enxurrada.
A
Impedir usos “consorciados” indevidos
B Valorizar a compreensão do sistema de espaços livres desde a escala regional até a
micro-escala, tirando partido da conectividade entre estes espaços e ampliando as
possibilidades de sucesso do projeto;
B A integração de espaços públicos e privados, evitando-se possíveis rupturas e
descontinuidades
B Estabelecer mecanismos de responsabilidade compartilhada e gestão participativa
envolvendo a população e instituições público e privadas das vizinhanças;
B Incorporar escolas próximas ao projeto, adotando as áreas como laboratórios para
práticas de ensino que extrapolem a educação ambi
ental;
B Adotar princípios como:a recuperação da biodiversidade, a manutenção dos processos
naturais na sua complexidade, a contemplação da natureza, a presença e uso de
espaços de convivência comunitários;
A Realização de estudo de viabilidade ambiental
B Realização de projeto paisagístico interdisciplinar a partir da contratação de assessoria
técnica capacitada e a participação da comunidade local e de entorno ao longo do
B Vinculação do projeto a um processo de planejamento de recuperação ambiental da
área no médio prazo
125
TABELA D - ANÁLISE
As recomendações desta tabela mostram aspectos tecnicamente de
domínio científico, (A), e os aspectos que ainda precisam ser discutidos do ponto de
vista sócio-ambiental-político, considerando o meio ambiente urbano, (B).
TABELA E - ANÁLISE
Todos os entrevistados viram a importância deste tipo de intervenção,
sendo que a maioria achou muito importante, desde que sejam considerados todos
os fatores de cuidados quanto a potencialização dos riscos. Existe também um
equilíbrio de gênero em relação às considerações.
53,33 % - responderam muito importante
46,66 % - responderam importante
Nenhum entrevistrado achou pouco importante ou nada importante.
Entre os MI - 3 mulheres 5 homens
Entre os I - 4 mulheres 3 homens
TABELA E Muito
importante
Importante Pouco
importante
Nada
importante
Grau de relevância no plantio de árvores
frutíferas em fundo de vale
MI I PI NI
Total dos entrevistados = 15 8 7 0 0
126
Seleção de espécies frutíferas silvestres
Uma pequena seleção de espécies frutíferas silvestres foi fornecida nas
entrevistas:Segundo DUTILH, Toda a família das Myrtaceae pode ser plantada nas
margens de rios e córregos, pois não são tóxicas. As espécies nativas das
Myrtaceae são pequenas e carnudas, o que favorece na segurança quanto à queda
do fruto.
Entre elas recomenda as hidrófitas, por ter a característica de se
desenvolver bem em áreas mais úmidas, como as goiabas, araçá do mato, cambuci,
gabiroba, jaboticaba, cereja, pitanga, siriguela, amora branca. Para a construção de
caramanchões, o fruto nativo indicado é a passiflora (maracujá). (DUTILH,2007-
entrevista com a autora).
Segundo SANTIN, as espécies silvestres recomendadas são: pitangueira,
cerejeira-do-rio-grande, uvaia, jaracatiá, cabeludinha, araçá, araticum-cagão,
pimenta-de-macaco, catiguá, jerivá, e ingazeiro,araticum-do-mato, pau-pombo e
jatobazeiro entre outras . Com essas espécies não existem riscos para a própria
flora, para a fauna, para o solo e para a qualidade das águas, tanto em áreas
públicas quanto em áreas privadas. “É importante utilizar a diversidade de espécies
frutíferas silvestres locais (regional) juntamente com as demais específicas de APP
independente de ser comestível pela fauna ou humanos. Na entrevista, SANTIN
recomenda” Na minha tese cito que um dos grandes entraves para o
desenvolvimento de projetos corretos de recomposição nos municípios é a ausência
de informação da flora local. Campinas foi a primeira cidade a ter esse levantamento
de flora que foi a minha tese (Santin,1999). Falta a produção em escala dessas
espécies. (SANTIN,2007, entrevista com a autora). Concordando, STANCATO
afirma que a primeira coisa a ser realizada é a produção de viveiros de mudas de
frutíferas silvestres pois ele desconhece a existência de algum. O viveiro é
importante para garantir a reposição e o manejo em maior escala.(STANCATO,2007
entrevista com a autora)
Em consulta realizada a Maurício Alexandre Menella, biólogo da Sabesp,
Vargem, SP, a respeito das melhores espécies para plantio a beira do rio ,ele
respondeu que se o objetivo do reflorestamento for de conservação ambiental,
127
melhor será se as espécies forem nativas da região onde fica a área em questão,
para isso, a verificação vegetação do entorno pode dar uma pista na seleção das
espécies. Uma lista de sugestões foi fornecida para terrenos alagados e outra lista
de espécies tolerantes a alagamentos temporários.
AS ÁRVORES IDEAIS PARA A BEIRA DO RIO.
Espécies para terrenos
alagados
Quadro 15:
Fonte : Consulta realizada com Maurício Alexandre Menella, biólogo da Sabesp, Vargem, SP,
Nome popular Nome científico
Açoita-cavalo-miúdo Luehea divaricata
Angico Anadenanthera colubrina
Crista-de-galo Erythrina crista-galli
Imbaúbas Cecropia hololeuca e Cecropia pachystachya
Guanandi Calophyllum brasiliensis
Ingá Inga spp
Ipê-amarelo-do-brejo Tabebuia umbellata
Jenipapo Genipa americana
Jeri Syagrus romanzoffiana
Palmito Euterpe edulis
Pau viola Cytharexillum myrianthum
Peito-de-pombo Tapuira guaianensis
Peroba poca Aspidosperma cylindrocarpon
Pindaiba Xylopia emarginata
Pinha-do-brejo Talauma ovata
Salgueiro Salix humboldtiana
Sangra d’água Croton urucurana
Suína Erythrina falcata
Tapiá Alchornea glandulosa
128
AS ÁRVORES IDEAIS PARA A BEIRA DO RIO /
tolerantes a inundação
temporária
Quadro 16:
Fonte : Dados cedidos pelo biólogo Maurício Alexandre Menella - Consulta à SABESP – Vargem -SP
Nome popular Nome científico
Aroeira
-
vermelha
Schinus terebenthifolius
Cabriúva
Myroxylon perniferum
Canela
-
batalha
Cryptocarya aschersoniana
Capixing
ui
Croton floribundus
Capororoca
Rapanea ferruginea
Copaíba
Copaifera langsdorfii
Figueira
Ficus spp
Goiabeira
Psidium guajava
Guaiuvira
Patagomela americana
Jabuticaba
Myrciaria trunciflora
129
CONCLUSÔES
Apesar das diferentes especialidades nas áreas de conhecimento, um
consenso entre os profissionais consultados nas vantagens em integrar os cursos
d’água na paisagem urbana.
A pesquisa indica uma forte tendência de apoio às alternativas de
renaturalização dos rios e córregos urbanos. O uso de plantas frutíferas nestes
projetos oferece vantagens tanto na recuperação ambiental como na revitalização
urbana. Segundo os profissionais especialistas das áreas consultadas, as situações
de riscos são passíveis de serem evitadas, e as vantagens podem ser
potencializadas principalmente a partir da valorização e da consciência ambiental.
A idéia da inserção dos rios na paisagem urbana, como local de encontro
e de lazer, assim como a presença dos cursos de água e de suas margens no
conjunto das áreas verdes das cidades é o desejo e sonho da população, reforçado
pelas lembranças das gerações anteriores que rememorizam a paisagem bucólica
vivenciada e a qualidade de vida neste contexto. Leonardo da Vinci já dizia “Só se
ama aquilo que se conhece a fundo”. Atualmente, a formação de valores ambientais
não pode calcar-se no saudosismo ou no conservacionismo, mas encontrar
alternativas modernas e apoiadas sobre os estudos científicos desenvolvidos que
alertam desde o século passado para uma revisão de mentalidade quanto a
preservação dos recursos naturais especialmente indicadores da qualidade
ambiental em geral.
O crescimento populacional das cidades e os modelos urbanísticos
adotados transformou locais de lazer e de indicadores da qualidade ambiental, em
cenário de despejo de lixo ou de ocupações inadequadas e degradadoras. Se por
um lado essas soluções privilegiaram a especulação imobiliária e mesmo foram por
ela estimuladas, por outro lado houve grande perda na qualidade ambiental urbana e
a decorrente costumeirização das novas gerações a essa situação.
130
Atualmente, a renaturalização de rios e córregos urbanos exige um
esforço de toda a população tanto no sentido de recuperação como no de proteção,
sendo fundamental a compreensão de sua relevância pelo poder público e a inclusão
de programas mais eficientes de educação ambiental. Esses programas ou projetos
são factíveis de acontecer nas escolas, centros de saúde, nos espaços públicos
como no interior dos meios de transportes públicos e suas instalações, nas salas de
espera das instituições públicas e privadas, nas áreas de lazer, enfim, com
criatividade e apoio técnico, a educação ambiental leva à qualidade ambiental e por
conseqüência à melhor qualidade de vida.
A existência de frutos comestíveis no paisagismo público pode ser um
incentivo e motivação para a educação ambiental, facilitando o trabalho de
conscientização quanto à importância dos cuidados com o meio ambiente e com os
mananciais.
Parte da legislação ambiental que regulamenta o uso e ocupação do solo
em fundos de vale é proveniente do Código Florestal, concebido genericamente para
qualquer condição de mananciais, sejam rurais ou urbanos. Apesar dos esforços
para revisão desse arcabouço legal, ainda predomina uma abordagem restritiva, que
ilumina as proibições de uso, e não consegue enfatizar a construção de alternativas
de uso ambientalmente sustentáveis, em especial quando se trata de ambientes que
já foram fortemente impactados pela urbanização
Nas hortas comunitárias em terrenos ociosos e fundos de vale visitados
encontrou-se uma situação positiva, em especial quando se compara com aquela
encontrada nos terrenos sem uso e manutenção. Porém, no decorrer da pesquisa,
em especial na fase de entrevistas, foi possível identificar uma série de restrições à
adoção das hortas como uma política pública para uso dos terrenos de fundo de
vale. Sua utilização nas demais categorias de terrenos ociosos é plenamente
justificada.
Na Horta Comunitária Santa Genebra, em Campinas, os produtores são
aposentados e mantém a atividade diariamente, com uma renda considerável.
nas NAUs (Núcleos de Agricultura Urbana), em São Paulo, em geral, os
desempregados encontram nas hortas uma atividade digna, porém de renda
131
insuficiente para a sobrevivência da família. O manejo nas hortas muda de mão em
mão numa rotatividade correspondente ao desemprego isto é, logo que encontra
trabalho assalariado, o trabalhador abandona a horta
Os especialistas confirmam a necessidade da recuperação e ampliação
das áreas verdes urbanas e na proteção dos mananciais, sem com isso deixá-los
isolados da população. Pelo contrário, a convivência com os cursos d´água pode
levar à reconstrução de valores perdidos nas últimas gerações. A reapropriação do
espaço público como local de encontro e lazer, em parques lineares ,é também local
de renovação da percepção e ampliação do sentido estético da natureza e o sentido
de pertencimento ao lugar.
os especialistas entrevistados mostram-se favoráveis ao plantio de
espécies frutíferas em fundos de vale urbanos, desde que sejam estabelecidas,
programadas, através de projetos específicos, e respeitadas as diretrizes indicadas
em relação aos fatores relacionados. As espécies frutíferas destacam-se como
atrativos para a reabilitação e uso urbanístico das margens de rios urbanos
integrados à paisagem
As espécies frutíferas silvestres destacam-se como atrativos para a
reabilitação e uso urbanístico das margens de rios urbanos integrados à paisagem.
Segundo os especialistas, não oferecem qualquer tipo de risco, tanto do ponto de
vista ambiental, como paisagístico. Também para a população não oferece riscos de
acordo com as suas características por serem de frutos, pequenos, carnudos,
abundantes, acessíveis e de sementes pequenas. Alerta-se que a implementação de
intervenções paisagísticas sejam estabelecidas e programados através de
projetos específicos, e respeitadas as diretrizes indicadas em relação aos fatores
relacionados.
Os frutos sempre atraem os pássaros e a cadeia alimentar, o que
caracteriza um ecossistema mais equilibrado. Na entrevista com SATIN, ela adota a
definição da “biodiversidade” como termo empregado para designar o conjunto de
132
formas de vida animal e vegetal, desde as formas mais simples, como indivíduos
unicelulares, fungos, protozoários, bactérias, até indivíduos mais complexos como
plantas, insetos, peixes, mamíferos, incluindo todos os níveis da diversidade
biológica, desde a diversidade genética, diversidade de espécies, de ecossistemas e
de paisagens. Inclui também os milhares de processos, caminhos e ciclos que fazem
a ligação dos organismos vivos entre populações e ecossistemas, dentro da biosfera
. Dessa forma , do modo geral, a idéia de existir plantio de qualquer espécie, nas
circunstâncias atuais de degradação e perda de áreas verdes, é befica e pode ser
ainda mais eficaz se for planejada, acompanhada por técnicos da área e partir de um
projeto paisagístico.
Entre as silvestres as várias frutíferas que alimentam a fauna e
também servem para o consumo humano. Caso da pitangueira, araçá, ou
jabuticaba, que nem sempre são conhecidas pela população urbana que conhece
e consome o fruto comercial encontrado no mercado. Além de ampliar os horizontes
da cultura alimentar e a consciência ambiental, o uso das espécies silvestres
contribui para a formação da biota local. O consórcio das espécies silvestres com a
flora da mata ciliar local vem a enriquecer a biodiversidade, contribuindo para a
qualidade das águas, a preservação das margens, o aumento da área arborizada, a
drenagem e a recuperação do solo.
Os benefícios ambientais mais relevantes acontecerão segundo alguns
princípios:
Erosão : A fixação do solo com o plantio de espécies de raiz âncora nas
margens dos rios, essas espécies abraçam um grande volume de solo impedindo
que aconteça o assoreamento; as espécies de raízes pivotantes, que em carreira e
na beira dos cursos d’água , ao contrário, contribuem no assoreamento, podem
beneficiar se estiverem espaçadas e entre espécies de rias tipos de raízes, com
isso enriquecendo a rede subterrânea de fixação do solo. Próximo as margem do rio
são indicadas as espécies que se desenvolvem em locais alagados e, na parte mais
seca, as que suportam inundações temporárias. Indicado também, espaçamento
entre as espécies em geral, e o plantio de gramíneas entre as árvores, de forma a
evitar grandes áreas sombreadas que descobrem o solo deixando-o exposto, com o
risco de degradação e erosão.
133
Drenagem: A drenagem natural nas bacias hidrográficas obedece a força
da gravidade levando as águas das chuvas diretamente aos rios e córregos. As
declividades das margens dos mananciais tendem à erosão com as enxurradas.
Quanto maior a declividade com mais força a água chega ao cursos. Neste caso, o
terreno em forma escalonada torna-se mais indicado adotando também o plantio de
espécies de gramíneas com raízes mais profundas e uma arborização de raízes
bem diversificada e esparsa. A diversidade de raízes contribuem para que parte da
água seja drenada antes de chegar aos cursos depositando-se nos lençóis de água
dd o subsolo.
Uso: A partir da acessibilidade da população às margens de determinados
mananciais urbanos, parte-se do pressuposto que a vivência com este ambiente, em
condições apropriadas ao uso, favorece tanto a população como ao meio ambiente.
Toma-se como base as possibilidades de aculturamento e apropriação sócio-
espacial, assim como a proteção e a qualidade ambiental, que será sustentável
quando atender aos condicionantes próprios da biocomplexidade(*) O plantio de
espécies frutíferas comestíveis inserido nestas áreas , são mais um elemento para
compor a paisagem e forte atrativo de interação com as pessoas.
_______________
(*)Segundo Emilia Rutkowski, a biocomplexidade é a biodiversidade urbana, é a biodiversidade de
horizontes mais amplos.
Segundo o Prof. Dr. José Galízia Tundisi, Pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IIE) e
Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA) São Carlos, SP a
biocomplexidade é uma propriedade inerente aos sistemas biológicos levando em consideração os
sistemas e seus componentes em todas as escalas, o entendimento dos componentes do sistema é
fundamental assim como a sua relação com os demais componentes que se relacionam em todas as
escalas. Dessa relação surgem as propriedades emergentes, aquelas que não podem ser previstas a
partir da simples soma das partes. A biocomplexidade traz consigo contribuições de todas as
disciplinas, tendo uma abordagem inteiramente interdisciplinar.
134
O paisagismo produtivo inserido nas iniciativas de programas de proteção
e recuperação de áreas ociosas nos centros urbanos atuais merece mais atenção
dos órgãos públicos, pois constitui uma possibilidade emergente de requalificação
ambiental. Dentre essas áreas, os fundos de vale se destacam pela complexidade
associada a fatores de ordem social, econômica, ambiental, e principalmente legal,
por incluírem Áreas de Preservação Permanente (APPs), onde se tem um conjunto
de restrições às intervenções.
Nas hortas comunitárias em terrenos ociosos e fundos de vale visitados
encontrou-se uma situação positiva, em especial quando se compara com aquela
encontrada nos terrenos sem uso e manutenção. Porém, no decorrer da pesquisa,
em especial na fase de entrevistas, foi possível identificar uma série de restrições à
adoção das hortas como uma política pública para uso dos terrenos de fundo de
vale. Sua utilização nas demais categorias de terrenos ociosos é plenamente
justificada.
Em geral, quem trabalha nas hortas são pessoas aposentadas, além de
pessoas que desempregadas, encontram nas hortas uma atividade produtiva. Os
especialistas confirmam a necessidade da recuperação e ampliação das áreas
verdes urbanas e na proteção dos mananciais, sem com isso deixá-los isolados da
população. Pelo contrário, a convivência com os cursos d´água pode levar à
reconstrução de valores perdidos nas últimas gerações. A reapropriação do espaço
público como local de encontro e lazer é também local de renovação da percepção e
ampliação do sentido estético da natureza e o sentido de pertencimento ao lugar.
O desafio está na complexidade de uma intervenção interdisciplinar, quando todos
os fatores e aspectos são igualmente importantes e partes de um sistema interativo
de forças. Outro grande desafio está na concepção de uma intervenção que
considere e ênfase às etapas de manutenção e gestão, considerando a
freqüência da casos de projetos de arborização que fracassaram pelo ênfase
exclusivo à fase de plantio.
Finalmente, no desdobramento dos trabalhos dessa pesquisa, considera-
se recomendável a implantação de um projeto-piloto de plantio de espécies frutíferas
em área de fundo de vale, que deve contemplar, em sua fase inicial, a constituição
135
de um viveiro de mudas das espécies que serão usadas para manejo e remanejo.
Esse projeto piloto deve constituir uma oportunidade importante para verificar as
estratégias mais adequadas para contornar os riscos citados pesquisa e para avaliar,
em campo, a eficácia dos fatores de vantagens.
136
REFERÊNCIAS:
__________. Plano Local de Gestão Urbana de Barão Geraldo -1996. Campinas:
Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente - SEPLAMA - PREFEITURA
MUNICIPAL DE CAMPINAS, 1996.
ABBUD, B. Criando Paisagens Guia de Trabalho Paisagístico. São Paulo - SP:
SENAC, 2006.
AKAOUI, F. R. V. Apontamentos acerca da aplicação do código florestal em áreas
urbanas e seu reflexo no parcelamento do solo. Revista de Direito Imobiliário do
Brasil, São Paulo, n.303, p.15-25, Agosto 2002.
ALVES, J. N. da S. Contribuição ao estudo do projeto paisagístico para habitações
de Interesse Social. 2005. Dissertação de Mestrado, IPTU – SP, São Paulo, 2005.
BALDUSCO, L. Trabalho apresentado na Semana de Atividades Programadas
“Richard Rogers (cão 1/5) – Mestrado em Arquitetura e Urbanismo UPM – 2004
BARRS, R. Sustainable urban food production in the city of Vancouver: an analytical
and strategy framework for planners and decision-makers. Vancouver, Canada: City
Farmer Canada’s Office of Urban Agriculture, 1999. Disponível em:
<http://www.cityfarmer.org/barrsUAvanc.html>. Acesso em: 4 fev. 1999.
BARTALINI, V. A Paisagem Vivenciada. Oculum Ensaios Revista de Arquitetura e
Urbanismo, Campinas, n. 04, p.117-123, dez. 2005.
BINDER, W. Rios e Córregos – Preservar, Conservar, Renaturalizar – A recuperação
de Rios Possibilidades e Limites da Engenharia Ambiental. 2ª. edição. PROJETO
PLANAGUA/GTZ de Cooperação Técnica Brasil-Alemanha: junho 2000.
BRITO, F. B. Corredores ecológicos Uma estratégia integradora na gestão de
ecossistemas. Florianópolis - SC: UFSC, 2006. p.10-28.
BUENO, L. Anais do Seminário de Avaliação de Projetos do IPT Habitação e Meio
Ambiente Assentamentos Urbanos Precários coord. Ros Mari Zenha e Carlos
Luz de Freitas/ IPT/ Programa de Tecnologia da Habitação - Coleção Habitare
2002
CAPRA, F. A teia da Vida – Uma Nova Compreensão Científica Dos Sistemas Vivos.
São Paulo - SP: Cultrix, 1996.
CAPRA, F. As Conexões Ocultas Ciência para uma vida sustentável. o Paulo -
SP: Cultrix, 2002.
CHOAY, F. O Urbanismo. 4ª. Edição. São Paulo - SP: Perspectiva,1997. Coleção
Estudos.
CUNHA; GUERRA. In: QUEIROZ, D. R. E. Departamento de Geografia.
Universidade Estadual de Maringá, 1995.
137
FARAH,I.M.C. Árvores e população: as relações que se estabelecem no contexto da
cidade. Paisagem e Ambiente, São Paulo, FAU USP, n.18, 2004.
FELFILI, J. M. et al. Recuperação de Matas de Galeria.Planaltina - DF: Embrapa
Cerrados, dez. 2000. p.1-45. n.21.
FREITAS, C. G. L. de (Coordenador) et al. Habitação e Meio Ambiente - Abordagem
Integrada em empreendimentos de interesse social. São Paulo - SP:Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, 2001. Coleção Habitare.
HEYNITZ, K. V. Le Compost au Jardin. Paris: Terre Vivante, 2000. Collection Les
Quatre Saisons du Jardinage
JACOBS, J. Morte e Vida das Grandes Cidades. São Paulo - SP: Martins Fontes,
2001.
MACEDO, S.S. Arvores e população: as relações que se estabelecem no contexto
da cidade. Paisagem e Ambiente, São Paulo, FAU USP, n.18, 2004.
MACHADO, M. H. F. Urbanização e Sustentabilidade Ambiental: Questões do
Território. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Recife, v.3, p. 81-95,
nov. 2000.
MACHADO, M.H. Urbanização e Sustentabilidade Ambiental: Questões de Território.
Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, n.3, nov. 2000.
MARTINS, S. V. Recuperação de Matas Ciliares. Viçosa - MG: Ed. Aprenda Fácil,
2001.
MELLO, S. As funções ambientais e as funções de urbanidade das margens de
cursos d’água. Oculum Ensaios Revista de Arquitetura e Urbanismo, Campinas, n.
04, p.49-61, dez. 2005.
MOLLISON, B.; SLAY, R. M. Intrudução à permacultura. Tyalgum - Austrália: Tagari
Publications, 1994.
MONTEIRO, A.V.V. Informações econômicas. Instituto de economia agrícola, São
Paulo, v.32, n.6, junho de 2002. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso
em: dez. 2006.
MORANDI, S.; GIL, I. Tecnologia e Ambiente. São Paulo - SP: Copidart, 2000.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do Futuro. São Paulo - SP: Ed.
Cortez, 2001.
NAHUM,N.N. - “ Comunidades Sustentáveis” In: Disciplina Corpus Disciplinar do
Urbanismo. Programa de Pós Graduação em Urbanismo CEATEC PUC-
Campinas, 2005.
OSEKI, J. H.; PELLEGRINO,P. R. M. Paisagem, Sociedade e Ambiente. In:
PHILIPPI, A.; et al.(org.) Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Ed. Manole, 2004.
p. 485-524.
138
PAIVA, H.; WANTUELFER, G. Florestas Urbanas Planejamento para Melhoria de
Qualidade de Vida. Coleção Jardinagem e Paisagismo. Viçosa - MG: Ed. Aprenda
Fácil, 2002. Série Arborização Urbana.
PALAZZO JR, J. T.; BOTH, M. C. Guia Prático de Jardinagem Ecológica e
Recuperação de Áreas Degradadas. Porto Alegre - RS: Ed. Dora Luzzatto, 2006.
ROCHA, F. E. de C.; PADILHA, G. de C. Agricultura Familiar: dinâmica de grupo
aplicada às organizações de produtores rurais. Planaltina - DF: EMBRAPA, 2004.
ROGERS, R. Cidades para Um Pequeno Planeta. Barcelona: Gustavo Gili, 2001.
cap. 1-5.
RYKWERT,J. A Sedução do Lugar A história e o Futuro da Cidade. São Paulo -
SP: Martins Fontes, 2004.
SANTANDREU, A.; Biodiversidade, pobreza e agricultura urbana. Revista de
agricultura urbana, Equador, n.5, p 4, 2000.
SANTOS, F. de J. R. dos. Áreas de Preservação Permanente e Áreas de Reserva
Legal. Revista de Direito Imobiliário do Brasil, São Paulo, n.303, p.4-13, Agosto
2002.
SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. São Paulo - SP: EDUSP, 2002.
SERVILLA, E. As Áreas de preservação permanente dos cursos d’água urbanos
para a ordem pública. 2003. Dissertação de Mestrado, UNICAMP, Campinas - SP,
2003.
SOUZA, J. L. de; RESENDE, P. Manual de agricultura Orgânica. Viçosa - MG:
Editora Aprenda Fácil, 2003.
TAUK, S. M. (organizadora). Análise Ambiental:Uma visão Multidisciplinar. Rio Claro
- SP: Editora UNESP, 1990.
TEPERMAN, S. Sustentabilidade. Revista AU, São Paulo, n.151, p.78-79, Outubro
2006.
VEIGA, J. E. . O prelúdio do desenvolvimento sustentável. In: OLIVA, P. M. (Org.).
Economia Brasileira - Perspectivas do Desenvolvimento. S.Paulo - SP: Centro
Acadêmico Visconde de Cairu, 2005. v. 1, p. 243-266.
ZENHA,R.M.; FREITAS,C.G.L. (cord.) Anais do seminário de Avaliação de Projetos
do IPT: Habitação e Meio Ambiente Assentamentos Urbanos Precários. São Paulo
- SP:Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, 2002.
Coleção Habitare.
ZENHA,R.M.; FREITAS,C.G.L. (cord.) Anais do seminário de Avaliação de Projetos
do IPT: Habitação e Meio Ambiente Assentamentos Urbanos Precários. São Paulo
- SP:Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, 2002.
Coleção Habitare.
139
BIBLIOGRAFIA:
(www.fomezero.org/ 14/05/2003)
FAO. Comitê de Agricultura. La agricultura urbana y periurbana. In: Documento do
Tema 9 del Programa Provisional. Roma, 25-29 jan. 1999a. Disponível em:
<http://www.fao.org/unfao/bodies/coag/coag15/x0076s.htm.>
. Questines de la agricultura urbana. In: FAO AG21. Revista Enfoques, jan.
1999b.
NUGENT, R.; EGAL, F. La agricultura urbana y peri-urbana, seguridade alimentaria y
nutrición domestica. In: Documento de discusión para la Conferência Electrónica de
FAO-ETC/RUAF sobre la Agricultura Urbana y Peru-urbana, 21 ago.-30set. 2000.
Disponível em: <http://www.fao.org/urbanag>.
Plano de Ação para Alimentos e Nutrição Urbanos, OMS - EURO 2000
IANNI, Octavio. AS CIÊNCIAS SOCIAIS NA ÉPOCA DA GLOBALIZAÇÃO. Rev.
bras. Ci. Soc. [online]. 1998, vol. 13, no. 37 [cited 2006-12-27], pp. 33-41. Available
from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
MORAES, A. , SOARES,I. C. - Agencia USP-16/11/2006
LIMA, W.P., PROF,DR. ESALQ/USP (in “O Eucalipto seca o solo?”site Instituto de
Pesquisas e Estudos Florestais/Sociedade Brasileira de Ciências do Solo - Volume
29 – Número 1 – janeiro/abril 2004)
MACHADO, 2005, Carlos José Saldanha Machado é doutor em antropologia social
pela Sorbonne, pesquisador do Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fundação
Oswaldo Cruz e Membro do Comitê Local de Organização do Congresso Mundial
de Centros de Ciências – abril 2005.
MACHADO,I.P.T. Agricultura, Estado e Metrópole - O Programa de Agricultura
Urbana no Município de São Paulo. In: Pesquisa de Iniciação Científica, Faculdade
de Filosofia Letras e Ciências-Dep. Geografia - USP - PIBIC-CNPq-Orientador: Prof.
Dr. Julio César Suzuki- SP-2006
www.onu.org
NEWS FROM THE FIELD Noticias do Campo The 26th Bienale de São Paulo
2004 Hong Kong Press 15
Autor.Artigo???The ecologist Brasil. Brasil, Primavera 2005
THE ECOLOGIST – Brasil – Outono 2006-10-28
MAJOER,1989, MAJOER,1989- EMBRAPA/ pesquisa meio ambiente
140
Relatório do desenvolvimento Humano 2004, - Mensagem, Serviço de Recursos
Editoriais, Lisboa, tradução -Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD)
Programa das Nações Unidas
Instituto Polis
A DIMENSÃO ECONÔMICA DA AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA (AUP) -
www.endabrasil.org.br/naup/AUP
COSTA, M. L. da; et al. Sobre a fertilidade das praias dos rios que drenam o Estado
do Acre Access, www.scielo.br/img/revistas/rem/v56n2/0028i02.gif doi:
10.1590/S0370-44672003000200014.
141
ANEXO 1
142
143
144
145
146
ANEXO 2
147
ANEXO 3
NAU SAPOPEMBA
Rua Aquilânio – Conjunto Prómorar II
Ár e a:
Ter r en o : d a P etrobr ás , por ond e p ass am d ut o s s ub t err âne os . No
lo c al da ho rt a o trec ho é relat ivame nte est reito (em tor no de de z
m et ros , e nt r e a ru a e um c olé gio e stad ua l) em r elaç ão a o ut r as
pa r tes por o nd e o d uto p assa, e o terr eno é l igeir ame nt e inc li n ad o
em dir eç ão à r ua .
E ntorn o: reg ião de p oder a qu i sit iv o m uito baixo , onde pred omi nam
as aut o- c onst r uçõe s e os con junt os ha bit aci onais . E m b ora a
oc u pa ç ão sej a dens a, ex i st em t er re nos vazio s pel a reg ião, algu ns
gr a nd es , po s si velment e da pr ef ei t ur a.
E ntre v ist a r ea li zad a por Ibirá P errucc i T ol edo Ma cha do.
Da t a: 20/ 03/ 20 06.
--- -- - -- - -- -- - -- --- -- --
No m e : Per sever anç a Ma r i a dos Reis S il v a
Idad e: 53
Instru ção : Inici ou os est udos ao s vi nt e três ano s e tev e o E ns i no
Fun dam e ntal c o nc luí do n o s upl etiv o, a os t ri nta an os de idade.
A gor a es t á c ur sando o p ri m ei ro ano d o E nsi no Médi o.
E sta do ci vil : C asa da
Fil hos: Um hom em c as ado e um a m e nina ado tad a de oit o a nos.
Re n da famil i ar : R$700 , 00
Residência: Casa confortável de auto-construção em frente ao NAU.
Ori g em : Nas c i da em B o a E s per ança, Mi nas Ger a is , aos do is ano s
m udou- s e com os p ais par a Bor r azóp ol i s, no i nt erior do Par a ná,
on de m or ou na r oç a até os d ezess et e ano s, qu and o c aso u-s e. A os
de zenov e m udo u-se p ara F a xi nal , P R, pa ra t ra bal ha r num a f irm a
de con st r uçã o civil. P ela m esm a f irm a, m uda ram-s e d epo is par a
G ua rap uav a, PR, de o nd e pa rt ir am d ep ois pa ra C al o ré, P R,
148
tra bal har n um a olar ia. F ina lm e nt e , a os vi nte e t r ês anos , ret orno u
a B o rr azópo li s . Com a m esm a ida de
pa r tiu p ara S ão P aulo, onde m oro u por ci nc o a nos em um ba r rac o
na fa v ela Vi la Uni ão , onde hoje p ass a a Av e ni d a Lu í s Ig na c io
A nhai a Mel o . Qu ando a f a vel a fo i de sap ro pri ada p ara a c on st ruçã o
da ave nid a, ela se i nscre veu pa ra m or ar onde es t á m or and o hoj e.
1. C o mo er a a r e gi ão qua ndo a s enho ra se mu dou para cá?
A r eg i ão t inh a um es t ad o de m i sé ri a m u it o grav e, a ex cl usã o
s oc i al e ra m uit o g ra v e. Me u mar ido era m eta lúr gi co m a s nã o d ava
pa r a s us t en t ar a ca s a. Eu era co s t ur eira, de nt ro de c as a, po r
c inc o an os . T iv em os um p ro blema de de s pejo, vie ram al gun s
po líti cos d ar apo io , ent r e el es o A driano Diog o (na épo ca ver ead or
pe lo P T , e f oi S ec t retár io d o V erde e do Meio A m bi en t e n a gestã o
Ma rta S upl ic y) , que deu o t el ef one para e u ent ra r em con t at o s e
pr e cis as s e. Ma s dep ois e l e desapa rec e u e e u nã o ent r ei em
c on tat o. Um a hora eu sofri uma aç ão de de spe jo e eu pe di aj uda a
m i nha am iga, que e u não sa bia q ue co nh ec i a ele,
c oi nc ide nt emen te. Aí ele d is pon ibilizo u su a ad v ogad a, e o m eu
c as o f oi re solvi do e eu n ão f ui des pejad a. A í eu fiq uei am iga de le
e el e sem p re vi nha m e vi sitar . Aí eu di zi a para ele que ti nha um
s on ho , que eu achav a im possí vel ter es se ter r eno aqu i em frente
s em a g ent e f a ze r um a hor t a. En t ão ele f al o u que i a fa ze r o
po s s ív el . E le f ez u m d ocum ento para a P et robr ás, qu e d e in í ci o
rec uso u. Aí el e di s se par a a gen te ocu par m es m o a ssi m, com a
c on s ci ênc ia de que o d i nhei ro nã o ser ia m eu, que na da s eria m eu ,
m as da comun id ade. Isso foi em 20 03, no meio do an o. Em 2004
nó s p l antam os o ano intei ro, m as em 200 5 cai u po r qu e e u f ui
tra bal har na O n g C D HS ( C entr o de D ir e it o H um ano) de incl u são
s oc i al. A Pet r obrá s ac abo u ve nd o que nó s fazí amo s as c oi sas
di r ei t o, que a gent e res peitav a. P as se i po r vári a s ent rev is tas com
a P et robr ás par a e les ve rem qu e o
149
A nex o 9
tra bal ho é c er to m e sm o. Dep ois q ue v ei o a l ei m e lho rou
ba s tan te. Mas a gent e sab e que a terra nã o é no ss a, que se el e s
pr e cis a rem a gent e dev olve. T em t a nta fom e n ess e país, e e ss e
pa í s é m u it o ric o. E nt ã o a ag r ic u lt ura u rba na f oi a m elh or co i sa
qu e ac ont ec eu a qui.
2. Q u e ti p o de s ervi ç o s o ci al vo c ê faz?
Na m i nha c asa e u at end o 5 0 f amí l ias em estad o g rav e de
ex c l us ão so c ial. Eu sou d a I greja Cat ól ica Ap os t ólic a Rom a na, da
li d er anç a, e as pess oas m e c o nh ec e m. Ent ão as fam í l ias m e lig am.
S e a situa ção for muito gra ve, nós f a ze m os r eun iões na Ig re j a c om
as f amí lia s, com a utor ida des da igr eja , qua nd o a ge nte d i st r ibui o
qu e p re c isa r. N a O ng a gent e f a z t rab al h o de inc lu s ã o socia l , a
ge nte faz pal e str a c om as f am í l ias s obr e i nc lus ão socia l.
3. C o mo er a o te rr en o a n tes d a h or ta?
O terreno era muito lixo, muito rato, muito escorpião, até cobra tinha. Os
ratos moravam junto com as famílias. Agora diminuiu bastante os ratos, porque a
gente cuida de tudo, não joga mais os lixos assim.
4. Q u e ti p o de aju da vo cês r e ceb em ho j e par a a h orta?
Ah, hoje difícil. A prefeitura não dando nada. A última vez que a gente
recebeu alguma coisa foi no ano passado, uma vez só, um adubo que não valeu
para nada, parecia um de carvão, não serviu. Mas em 2004 a gente recebeu
bastante coisa, a horta produziu bastante. Hoje a gente não deve ter nenhuma
semente e quando eles mandaram da última vez veio os saquinhos quase vazios.
5. Q u an d o a pre feitu r a ajudou m ais, q u e tipo d e aju d a eles
ofe recer am ?
Em 2003 eles mandaram um trator para limpar o terreno, ficou tudo
arrumado. Depois eles deram bastante adubo, semente, deram para a gente as
ferramentas, perfuraram a mina, colocaram as caixas d’água, um monte de coisa.
Ane xo 10
6. O qu e v o cês costu m am pr o du zi r ?
A horta produz almeirão, couve, alface, coentro, pepino, abobrinha, chuchu,
beterraba, mostarda, acelga, rabanete, jiló, quiabo, pimentão, pimenta, cebolinha,
150
salsa, tomate cereja (o normal não deu certo porque ele precisa de agrotóxico e nós
não usamos isso). Tem banana, mandioca. Tem muita erva medicinal também.
7. V o cês v en d em a pro duçã o?
V ende . P or ex em plo , a gent e v en de t rê s pé de alf ac e a um r eal.
S e a p es soa n ão tem um rea l e tem ci nqu ent a centa vos , a g ent e
v en de tam bém, po rqu e a gent e n ão po de ex c luir n ing u ém . A g ent e
s em pre p ens a no núm er o de p es s oas q ue vi v em na casa , na
c on di ç ão soc i al d el e s. Se e les qui s er em tr aba lhar na h ort a, a
po r ta est á ab erta pa ra a co lhe it a. Nó s ch egam os a junt a r 7 00 r eais
po r m ês em 2004. Nós ér amos v i nt e pess o as tr aba lh and o. Com o
di nhe iro , nós com pramos vár i as coi sas pa ra a h or ta . O q ue fi cou
em caixa nós aj udam os pesso as n a c o ns t ru ç ão da s ca sas , a
c om pra r g ás par a as f amí li a s, c ons cie nt iza nd o q ue es s e din hei ro
er a da ho rt a.
8. Q u an tas pe sso as tr aba lh a m hoj e n a hort a?
Ho j e s ó t ra bal ham nov e p es s oa s na h orta, d es ses, o ito já
tra bal har am n a roç a e i sso a jud a m uito, po rq ue e les s a bem com o
fazer m e lho r, né? A m u lher q ue n ão mor ou n a roça e tr a balh a com
a g ent e t em a m ão m uit o p es ad a.. .
9. D es d e qu e t r abalh a na horta, o que m udo u na sua fa mília? E
na com uni da d e?
Na m i n ha c as a ago ra a gente com e c om i da f resca , n é? N a
c om uni dade ti nha muit as cri an ç as ra qu í tic a s, com anem ia, e tu do
is so fico u mu it o m elho r. Eles sã o mu it o po bre s e nã o conseg ue m
ne m com p rar a c om i d a. Car n e nem pens ar. Ent ão eles pagam
qu ant o de r p ara com p ra r a s coi s as d a h ort a e isso tá
A nex o 11
m elhor and o a sa úde da qui . Me sm o a go ra que a ho rt a t á
pr o du zind o be m m e nos.
151
10 . Q u anto tempo você fic a tr a bal h ando na ho r ta ?
Então, ano passado eu parei por causa da Ong, né? Mas agora que eu vou
voltar eu vou ficar todos os dias! Antes, quando a gente começou a horta, eu ia para
lá todos os dias.
11 . V o cê te m aju d a da sua fa mí lia?
Me u m a ri d o ajuda , a gen te troca ent re o bar e a hor ta , um a h or a
eu f ic o l á e el e a qui e d epo is i nverte . S e não f o sse ele n enh um
tra bal ho socia l que e u faço não ac ont e ceri a , por qu e el e t em o
c ar ro tam bém , ent ã o q uando t em qu e busc ar algu m a cois a ou
le v ar , ag ent e v ai de ca rr o. S e t em que lev ar alg ué m do ent e d a
c om uni dade, es sas coisa s, me u m a ri do l ev a a ge nt e de ca rro.
Mi nha m ãe às v eze s a jud a na h orta e m inh a f ilh a pe que na
tam bém .
12 . V o cê fa lou d o b ar . É a úni ca fo n te d e re nd a d e voc ês?
Nó s tem os o bar, que a ge nt e v en de pri ncipa lm e nte doc e, al ém
de al gum as outr as co is a s, é um a m erc earia, nã o te m b ebi da n a
v er dad e. N ós v ende m os o pã ozinh o tam bém, que a gent e compr a a
oi t o cen t avos num a pad ari a gr a nde e ven dem os a dez cen t av o s. É
no s s a ún ic a f o nt e de rend a, que d á mai s ou me nos 600 , 700 re ais,
nã o s ei dire it o , por qu e a ge nte n ão fech a o cai xa . Q u an do va i
da ndo dinh eiro a g ent e já va i pag ando o q ue prec is a.
13 . O qu e f al t a p ar a m elhorar o tr a b alho de vo cê s na h orta?
E u gostar ia qu e tiv es s e um a i rri gação m e lho r, nós regam o s com
reg ad or . A bom ba q ue e nch e a ca ixa é m ui t o f rac a e dem or a. F a lt a
o a dub o q ue eu f ale i que t á sem ago ra. ..
14 .
Anexo 12
15 . C omo é, par a voc ê, p l an tar n um a c id a de tã o gr and e co mo
S ão P a ul o ?
Q ua ndo eu t ô d ent ro da hor ta eu não pe nso que eu t ô na
ci d ad e, eu penso qu e t ô na lavo ura. Qu and o eu vo lt o par a cas a
152
fic o c om s a ud ade d a hor t a. E u gos t o muito da hort a e eu pe nso,
pu xa vid a, is s o t udo é c onc r et o, não pod eri a t er t erra também ?
16 . N a su a opi ni ão, a ag ri c ul t ur a urba n a aj ud a na d e spol uição
e n a q u alid a de do me io am b ien te?
Co m a hor ta, nã o é s ó eu, m as t od o m und o p as s a pa ra o out r o a
c on s ci ent ização do m e io am bie nt e . O que a gent e pr odu z t am bém
é o me io am b ient e. Lá t i nha m ui to lix o, hoj e tá lim po. Vier am
v ár i os pássar os novo s que vie ram c a nt ar que a ge nte nu nc a t inh a
v isto. P or m a is pe que no qu e é o no s s o es p aç o, até o s p ás s aros
v ier am m o st r ar que fi c a ram fel i zes.
17 . V o cê ac h a q ue a a g ric ul tur a u r ban a con t ri bui par a a s
ger a çõ es futur as?
E u pen s o ass im , se m el h or ar mais a ho rt a, e u pen so que a
ge nte tá aju dando as cria nç a s, par a e l es ap ren derem desd e c e do
pa r a nã o de st r uírem o mei o am b ient e. A ge nte vê es sas cria nç as
qu e es t ão m e lhore s h oj e c om a hor t a e t od o m undo s a be qu e a
ho r ta aj ud ou m uit o a qui, c om a saúd e, c om as doe nç a s, os
bi c ho s .. . A g ent e já t ev e vis it a de esc olas aq ui, q ue vi eram v e r
c om o f unc i on a. Ele s ap ren der am a im p ort ânc ia do mei o am bi e nt e .
153
ANEXO 4
O NAU GUAIANAZES
Nome: Guaraciaba Elena Aparecida de Araújo
Idade: 53
Instrução: 4ª Série do Primário
Estado Civil: Casada
Filhos: 7 (o mais velho 36, a mais nova 18)
Renda Familiar: R$800,00 (provedores: Elena , o marido, uma filha
solteira e mais dois filhos casados)
Residência: Próxima ao NAU
Origem: Poços de Caldas, MG. Em São Paulo desde os 3 meses de idade. A família veio à
“cidade grande” por falta de condições em Minas, à procura de emprego
1. A senhora já havia mexido com a terra antes de trabalhar com
AU?
Só em casa, onde já havia uma horta caseira. E aqui a gente tá
desde 1986.
2. Como foi que surgiu essa horta?
Aqui era um local que tava tendo desova de carro e a comunidade
foi até a sociedade e pediu: faça alguma coisa. Era necessário que se
fizesse, porque o ambiente tava muito ruim. Aí, através acho que da
televisão a gente ficou sabendo que tava tendo um programa de hortas
comunitárias e a partir daí a gente conversou com o Albertinho Nobre e
ele adiantou tudo e nós iniciamos a nossa horta.
3. Quem era esse Albertinho Nobre?
Ele era um vereador na época, da gestão do Jânio.
4. Vocês têm que tipo de ajuda da prefeitura?
No momento a mínima... no momento tá precário, a gente tá carente
de muitas coisas, né? Promessa de adubo, semente é pouquinho. Nós
tivemos um curso muito bom ano passado, um curso de hortas
comunitárias, foi ótimo, mas de ajuda mesmo foi pouco.
5. Mas vocês já tiveram mais ajuda?
É, na gestão da Marta nós conseguimos a cerca, nós conseguimos
um patrocínio da Caixa. Nós fizemos essa cerca de alambrado, que
antes era muito precário, era uma cerca de arame. Nós conseguimos
um pouco de adubo, foi ótimo, conseguimos mudas, mas no final já
ficou precário.
6. Como a horta sobrevivia antes?
De início, nós ganhávamos sementes da Secretaria de Agricultura do
Estado, adubo, ferramentas... mas depois nós começamos a caminhar
sozinhos; a gente que lutava com composteira, com ajuda da
comunidade, né? E depois a prefeitura envolveu de novo.
154
7. Só a prefeitura que ajuda ou vocês têm ajuda de alguma Igreja,
Ong...?
Não, nada, nada, nada.
8. Vocês têm alguma associação ou cooperativa?
Nós somos uma sociedade de amigos do bairro e foi pela sociedade
que nós conseguimos a horta. É a Sociedade Amigos de Vila Nancy,
que a gente faz parte desde 1980. Tem outros parceiros, como o seu
Carlos que é de outra entidade, e a Ana Cleide que também é de outra
entidade, mas eles não vêm constante porque eles trabalham e a
entidade deles é distante da nossa. Às vezes tem uns idosos que
querem vir participar, mas a gente têm essa dificuldade de transporte,
né, de distância. Mas quando é possível eles tão aqui com a gente, dão
uma força no mutirão, traz algumas sementes...
9. De quem era este terreno? E como está sua situação hoje?
Era uma área municipal e é até hoje.
10. O que vocês produzem na horta?
Alface, escarola, couve, almeirão, catalônia, repolho salsa, coentro,
cebolinha, acelga, chás, ervas medicinais, ervas de cheiro, erva doce,
açafrão, limão, batata iacon, milho, banana, almeirão branco, beringela,
goiabeira, mexirica, pêssego, riticum, ciriguela, café, chuchu,
jabuticaba, cana, feijão, jaca (que não produz), pinhão (que não
produz), graviola (que não produz), taioba, inhame, fruta do conde,
coqueiro, pitanga... um bocado de coisas.
11. E os animais?
Coelho, casal de cabrito, galinha, pato, ganso, peru, galinha
dangola. Tem peixe também no lago, mas não dá para ver, porque no
último ano da Marta eles vieram limpar e dava para ver os peixes, mas
agora eles não vêm mais e a água ficou embaçada. Mas tem carpa,
cascudo, lambari. Um senhor veio um dia com uma varinha e pescou
um lambari grandinho, mas a gente ainda não come, não.
A gente têm duas minas dágua. Era mais, mas infelizmente umas
duas fugiram com a passagem da tubulação do mutirão, elas secaram.
De início, a gente contou cinco carpas, quando tava bem limpinho.
Mas aí depois estourou um cano de esgoto do mutirão e vazou no lago
e matou os peixes. Quando a gente foi ver tinha dezessete mortos e
restaram uns dois ou três. Aí nós ganhamos mais e colocamos lá.
12. Vocês vendem a produção?
A gente vende bem pouco, porque a gente não tá conseguindo ter
aquela produção contínua, porque a gente tá sem adubo desde o ano
passado. Então a gente vai levando com a composteira que a gente
Anexo 15
155
têm; tem uma aqui dentro e tem outra lá fora. Esses dias a gente
pegou um pouco de esterco de cavalo que uma pessoa jogava lá em
cima, então eu trouxe e fizemos uma nova plantação num canteiro. Mas
a gente não tá conseguindo ter rotatividade, né? Hoje mesmo veio um
pessoal querendo alface e coentro e a gente não teve. O que mais sai é
alface de vários tipos, coentro, couve, cebolinha, beterraba... as outras
culturas, tipo almeirão, sai bem pouco.
13. Você saberia me dizer quanto por mês vocês arrecadam com
essas vendas?
É difícil, a gente não têm essa base ainda. Eu até coloquei para a
Helen no final do curso que, como a gente não têm plantação contínua,
então não dá para saber, porque um mês sai uma quantia e outro mês
sai outra. E como a gente vende mais aqui para a comunidade local,
então tem dia que a gente vende cinco reais, tem dia que é três, às
vezes até dez ou um real... então a gente não têm essa base.
14. O pé de alface sai por quanto?
Geralmente, dependendo se o pé tá bonito, a gente vende três pés
por um real. A couve por cinquenta centavos, um real, depende do que
pedem.
15. Desde que foi criada a horta, em 1986, mudou a vida da sua
família?
Olha, a nossa família mesmo nunca dependeu da horta. Mas o que
mudou é a família que mora aqui, porque eles não tinham moradia e
vieram para cá, para tomar conta e nos ajudar e deu uma boa mudança.
Para nós, o que mudou é que nós temos uma verdura saudável, eu
economizo de não ter que comprar na feira a maior parte do tempo. A
mudança é alimentar, financeira não. Até a gente tá com uma certa
dificuldade e esta semana nós perdemos uma pessoa importante, que
ajudava bastante, porque foi trabalhar.
A Lucinda e a Lucila, que ajudam bastante também, às vezes têm
que lavar roupa para um, passar para outro; elas são diaristas e
trabalham pelo menos uma vez por semana, por que senão não tem
como sobreviver. Então quer dizer que nós ainda não tivemos essa
experiência de mudança financeira. O Zé também tá desempregado,
então se alguém tiver um servicinho de pedreiro ele vai. A nossa
esperança é que este ano a gente vá Ter uma mudança, não para mim,
porque a gente tá tendo como sobreviver, mas pro pessoal que
participa.
16. Quantas horas você dedica para a horta?
Umas duas ou três vezes por semana é o dia todo e alguns dias
depende, porque a gente trabalha com a entrega do leite prefeitura, do
Viva Leite. Quando tem a menina que entrega ela fica, mas quando não
tem eu que tenho que entregar. Tem dia que eu fico de
Anexo 16
manhã e volto à tarde, tem dia que só venho de manhã e o Tadeu
fica à tarde, a gente fica revezando.
156
17. Os seus filhos ajudam na horta?
Ajudavam bastante, mas agora trabalham. A maioria é casado, só
uma é solteira e que também trabalha fora. Mas quando eles eram
pequenos eles ajudavam muito e tinha muita gente da comunidade.
18. Hoje quantas pessoas trabalham na horta?
No Domingo é mais os homens que vêm, fica uma média de cinco
homens. Durante a semana eu fico, a Lucinda, a Lucila, a Ivonete, a
Severina tá voltando agora, porque ela tinha outro trabalho, mas tá
voltando para ajudar. Tínhamos mais três pessoas que saíram para
trabalhar, por necessidade. Tem uma outra que trabalha com
reciclagem que quando tem condições ela vem. Nós éramos umas
dezessete famílias trabalhando, mas agora tá na faixa de dez famílias e
constante mesmo umas sete ou oito famílias.
19. Quais são as dificuldades que vocês têm com a horta?
Mão-de-obra e adubo. A mão-de-obra a gente têm esse problema
porque o pessoal tem que fazer os seusbicos, tudo que surge eles
pegam para fazer e a mão-de-obra fica difícil. Tem um menino que tá
vindo aí para carpir, mas ele não pode sempre e precisa, né, porque
nessa época o mato cresce muito.
20. Se tivesse oportunidade, você também abandonaria a horta
para trabalhar em um outro emprego?
Não, não! Eu sou apaixonada por isso, abandonar é difícil! Tem hora
que vem desânimo, porque ano passado nós tivemos o curso, o
secretário veio aqui para sentar e ver o que poderia fazer para melhorar
as condições das parceiras nossas, para que elas pudessem se dedicar
mais na horta, mas nada acontece. Com a questão do adubo a gente
tem muita dificuldade e a chuva lava muito, a gente tem que tá
adubando constantemente. Tem hora que a gente desanima, mas a
paixão é maior, o amor pela terra, pela natureza, é maior que tudo.
21. Então você pretende continuar na luta?
Com certeza!
22. Para você, como é plantar dentro da cidade de São Paulo?
Apaixonante.
23. Você se identifica com os moradores do campo ou você se
sente moradora da cidade?
Ah, do campo. Embora eu nunca vivi na roça, a gente pegou um
amor tão grande que na hora que na mesma hora que o desânimo
ameaça passar a gente consegue segurar. A gente sente uma
tranquilidade... tem gente que vem aqui só para visitar, vem de longe.
Anexo 17
157
Outro dia conheci uma senhora no banco e essa semana ela teve
aqui e ela saiu apaixonada, dizendo que tinha se sentido como se
tivesse na roça. A gente tem um pouco de árvore, tem os bichinhos e as
vezes a gente liga o rádio e tá uns lairila que dá paz prá gente. Tem
hora que a gente tá em casa preocupada com a mínima coisa, tem o
filho casado e vem uma preocupaçãozinha daqui, outra dali, e
preocupação com vizinho, mas quando a gente vem prá cá esquece,
sabe? A gente sente realmente como se tivesse na roça, num lugar
tranquilo, com paz. A gente consegue separar o dia-a-dia e a vivência
aqui.
24. Você saberia me dizer quais seriam as principais diferenças
entre plantar na roça e na cidade?
Eu acho que se eu morasse no campo, mesmo, eu não tinha que
dividir a horta com a minha casa. Como a minha casa é lá em baixo, às
vezes eu abandono a minha casa para viver aqui. Essa semana mesmo
minha filha falou que daqui a pouco o pai e a mãe vão levar a rede e já
dorme por lá mesmo!. A gente tem que se dividir entre a casa da gente
e a horta. Acho que no campo a dedicação seria maior, o prazer seria
maior, porque você já vive ali, dentro da sua área mesmo, o seu habitat
é a própria roça.
O seu Paulino ontem mesmo tava conversando comigo. Ele fez 82
anos e ele veio aqui carpir, mas ele mastigou, porque as forças dele já
não tão aguentando, mas ele falou assim para mim: quando eu vivia na
roça eu queria vir para a cidade e agora eu daria tudo para estar na
roça.
Agora mesmo minha casa tá lá sozinha, sem ninguém, se o telefone
toca ninguém atende...
25. Na sua opinião, a horta ajuda com o meio ambiente da
comunidade?
Eu me perguntei assim, o ano retrasado: o que é que eu estou
fazendo aqui?. A gente não ganha nenhum centavo, a gente já passou
muito aborrecimento com o pessoal que mora aqui, que a gente procura
esquecer. Mas eu perguntei para Deus: o que é que o Senhor quer com
a gente ali?. Porque eu abandono a casa para ficar aqui! E eu tive
olhando ao redor; ali em cima era tudo verde e formou o mutirão, que
passou a tubulação no meio da horta e atrapalhou um pouco e ainda dá
algumas dificuldades para gente, mas tinha muito verde. Agora o único
verde que sobra é esse.
A gente fez uma proposta junto à Prefeitura de plantar árvores
nativas... tem uma mina lá fora que a gente já perdeu, porque ela tá
contaminada. Então a gente tenta preservar o máximo que dá a mina
daqui de dentro. Eu acho que pro meio ambiente isso aqui é muito
importante, é uma coisa que me sustenta aqui dentro, porque você olha
ao redor e tem uma chácara ali em cima que os donos tão
Anexo 18
mudando e tá para vender, só resta os eucaliptais e os bambus. O
pedaço verde que resta é esse aqui.
158
Eu fiquei olhando e pensei: meu Deus... até quando que eu vou
continuar nessa luta? Por quê?. E aí eu ouvi falar do meio ambiente,
porque eu tô participando da Agenda 21 que é sobre o meio ambiente e
parece que eu comecei a entender. Eu acredito que é porque no futuro
esse espaço vai ser um pedacinho do pulmão; porque hoje as casas
não têm mais, os quintais estão sendo todos cimentados, quase
ninguém tem mais quintal. Eu acho que é uma coisa que valeu a pena
em 86 e continua valendo a pena. Depois que eu tive esse pensamento,
querendo entender, a irmã Elza, que trouxe essa família para morar
aqui, ela vinha aqui e cantava para a gente: Ponha a semente na terra,
não será em vão; mesmo que a colheita plantas para o irmão. Então eu
fiquei pensando que quem sabe é o verde que a gente vai deixar.
O Paulinho veio na segunda-feira, ele é um jovem que vem toda
segunda ajudar, e ele tava carpindo e parou. Eu perguntei o que que foi
que aconteceu e ele falou assim: eu tava pensando uma coisa, dona
Elena. O seu Paulino já não tem mais força, e quando a senhora e o
seu Tadeu parar de mexer, como é que vai ser?. E eu falei: e
quem sabe que não é você que vai tocar?. Os jovens de hoje em
dia já não querem muito isso...
26. O que precisa ser melhorado na horta?
A gente já falou bastante com o pessoal da secretaria, com a Helen,
várias pessoas já vieram aqui e perguntaram quais seriam as nossas
necessidades. Aí eu falei que em primeiro lugar a gente precisa de uma
bomba mais potente, que eu tirei do poço da minha casa. Depois nós
compramos mais três bombas de poço, porque da outra de mais
potência nós não temos condições de comprar. Nós pedimos há uns
quinze dias para o pessoal da subprefeitura para ver se eles poderiam
comprar para a gente. Nós temos 92 canteiros, e quando tá tudo
produzindo fica difícil de molhar tudo. A Helen veio e disse que a gente
poderia continuar usando a água, então fartura de água a gente tem, o
que precisa é facilitar o nosso dia-a-dia. Precisa de algumas
ferramentas, falta sacho, carrinho, mais enxadas, mangueira, porque a
mangueira que tá aí é a mangueira de nossa casa, também. Nós já
fizemos o pedido duas vezes, fizemos um documento, porque parece
que tinha uma verba do Incra, no ano retrasado, para ajudar nas hortas,
para comprar as necessidades da horta. Para as meninas que estão
desempregadas, parece que não poderia dar dinheiro para elas, mas
poderia dar cesta básica para ajudar. Quem sabe a gente conseguisse
criar a cooperativa, dar condições financeiras para as meninas... mas
ninguém sabe, parece que tá parado em Brasília. Ano passado a
secretaria falou que tinha uma verba para vir que não veio, mas tinha
um parceiro que conseguiu a cerca para nós, ele era da secretaria mas
não é mais, ele se propôs a ajudar, mas tem toda uma burocracia,
porque o terreno é da Prefeitura...
Anexo 19
Falta adubo, como a gente já falou. Uma vez a gente conseguiu um
adubo de esterco de galinha com palha de arroz, que foi o melhor ano
159
que a gente teve. Tudo cresceu muito, ficou muito bonito. A tonelada de
adubo tá R$300,00, e a gente não consegue juntar tudo isso...
Tem os bichos para cuidar também, a gente vende ovos também. Os
bichos a gente vai sempre ganhando...
Na gestão passada, a subprefeitura se tornou parceira da horta, a
gente fez até um documento. Eu perguntei agora para essa nova
administração se eles são parceiros e eles disseram que sim. Por isso
pedi adubo, pedi uma equipe, só por um dia, para ajudar a carpir, como
essas equipes que carpi as praças, e assim seria uma verdadeira
parceria. Eles disseram que iriam ajudar, mas até agora nada. O
subprefeito veio aqui, tiramos foto com cacho de banana, ele disse que
ia fazer uma feijoada aqui, achou tudo muito agradável, mas no vamos
ver, a coisa tá muito difícil.
A prioridade nossa é o morro ali do lado, onde ao lado passa um rego, e
frequentemente estoura o esgoto do mutirão, de cima, e os homens têm que ir
para abrir um novo rego para fazer aquela água não descer na horta, mas ela desce
nesse rego, do lado do morro, bem do lado da horta, então a gente tem a
preocupação da contaminação. A outra preocupação é com o morro mesmo, porque
ele tá descendo. A defesa civil vem aí, tira foto, mas nada. A gente precisava que se
fizesse uma tubulação ali no córrego e no morro a geóloga que acompanha disse
que dava para fazer uma escada no morro para segurar o morro. Ali no morro é um
aterro e antigamente o pessoal jogou muito lixo ali, e a terra o une e o morro vai
descendo. A gente se preocupa até das casas ali em cima não caírem. Se
trouxerem os tubos a gente faz em mutirão, e a gente pode até limpar o morro, mas
não pode tirar as bananeiras, que falaram para tirar, porque senão acaba de descer
o morro. Parece que a prefeitura quer interditar aquelas casas dali de cima, mas se
tirar aquelas casas vai vir molecada, eles vão fazer bagunça... é melhor proteger
para preservar as casas. A prioridade é com a tubulação.
A gente fica com dificuldade... é um lugar que dava para tirar renda
e a gente fica com essas dificuldades... o pessoal gosta de comprar as
coisas daqui. O pessoal da secretaria falou para a gente colocar uma
placa lá na frente falando o que tem para vender, mas a gente não sabe
se nós somos um núcleo de agricultura ou se somos uma horta
comunitária, que reza no papel que não pode gerar renda. A gente fez
uma documentação e mandamos para o Galletti, porque quando a Marta
fez essa mudança, foi passado para nós que poderíamos vender, então
tem que mudar isso. Na gestão do Maluf a gente ia fazer uma creche
aqui, porque tem deficiência de creche aqui, só que o pessoal fez um
projeto e viu que tinha a tubulação do mutirão que atrapalharia para a
creche. A gente queria criar uma creche comunitária, que desse
emprego para a comunidade, ajudasse, e no espaço que sobrasse a
gente também faria a horta. Depois teve uma invasão aqui, a família
que mora aqui quis a posse do terreno, mas nós conseguimos reaver...
depois tem outra creche lá em cima que foi roubada algumas vezes,
então a gente ficou com medo de fazer uma creche e ela ser roubada,
ia ser ruim para as crianças... então a gente suspendeu a criação da
creche e na gestão da Marta aqui virou uma a´rea social, que a gente
vai mantendo como uma horta, que é melhor, né? Falta gerar renda...
160
ANEXO 5
ENTREVISTA
Horta Comunitária Sta Genebra
Sr. Isael da Cruz - fone : 9178 0573
Idade:
Profissão: Torneiro Mecânico, Supervisor em Indústria automotiva
Origem: Galha- São Paulo
Horta: Rua Marques de Abrantes, na altura do nº 839, nos lotes 14 e 15
Em Campinas há 15 anos, no bairro Sta Genebra desde 2005.
Três filhos, vieram para Campinas para o estudos dos filhos, os três tem estudo
superior: engenharia eletrônica, sociologia e psicologia.
A esposa é do lar.
Horta:
Comprou a permissão de uso da horta há 8 anos ( tem documento),é uma concessão
de uso, que foi instituída através da associação de bairro para garantir a não invasão
da área. O preço das benfeitorias em média é de R$2000,00 incluindo o barraco, as
mudas,
Tem hidrômetro e gasta em média de 20 a 30 reais /mês.
Os lotes tem 10 metros de frente e a partir da rua, a profundidade depende da
localização do rio.
Toda a área das hortas foi aterrada com entulho pois era mais íngreme.
Ainda existe desbarrancamento pois as árvores tem suas raízes no entulho, o que
dificulta a “´pega” na terra.
O aterro tem em média de 10 a 15 metros de superfície e de 5 a to metros de altura.
161
1. Como a comunidade do bairro vê as hortas?
R: tem reclamações e existe até um abaixo assinado para eliminar as hortas e a
2. Qual a principal reclamação?
R: bandidos podem se esconder nas hortas, a criação de animais é proibida mas
alguns poucos criam galinha
3. As hortas contribuem para a proteção das margens do rio?
R: como as hortas foram feitas em cima de um aterro de resíduos de obras, para
este tipo de plantio ( horta) funciona pois não exige uma grande camada de terra
mas para as árvores que estão mais à beira do rio, o aterro não permitiu que elas
se fixassem totalmente à base do solo e aos poucos estão sendo arrancadas e a
erosão vai abrindo brechas e desbarrancando.
4. o que é plantado em geral?
R: hortaliças, algumas árvores frutíferas. Mas tem os que preferem a roça e
plantam mandioca, batata, milho, cana.
5. Quanto custa manter uma horta como a sua ?
R: em torno de R$40,00 por mês entre água e mudas
6. E tira quanto?
R: Nada. Mas tem quem tire até uns R$ 600,00 / mes
7. Existe algum insentivo ou ajuda da prefeitura?
R: A única coisa é o caminhão que roça as praças que traz as sobras de corte de
grama, e alguns usam como cobertura.
8. Que adubo ou esterco é usado em sua horta?
R: eu faço o meu próprio esterco num sistema de rodízio de grama cortada, que
faço de 20 em 20 dias e tenho sempre material orgânico para plantar. ( foto)
9. Alem de plantar, a horta lhe traz outros benefícios?
R:Eu tenho meu hobby. Faço vasos com reciclando algumas peças ou materiais.
Também faço minhas experiências como a que estou fazendo agora, uma cola
ecológica que não necessite de nenhum gasto.
10. Quantas hortas têm aqui?
R: de 50 a 60
11. Como é tratado o esgoto na região?
162
R: ao longo do rios onde estão as hortas não despejo de esgoto deste lado, o
Shopping trata o seu esgoto, do outro lado, há um projeto de bombeamento para
a estação de tratamento Anhumas
12. Na sua opinião poderia haver horta e parque convivendo?
R: Tudo é possível, mas é caro, deveria ter um isolamento entre os dois, depois
aqui tudo é muito individualizado, não espírito de comunidade, cada um faz o
que quer, uns queimam, outros não.
13. Que animais se vêem por aqui?
R: gambá, gato, coelho do mato ( preá), muito passarinho.
163
ANEXO 6
Horta Santa Genebra -- entrevistas
ENTREVISTA
Sr. Adelino dos Santos
73 anos
Origem: Minas
Antes da Campinas trabalhava em , com cana de açúcar, na usina, em Barra Bonita.
Saiu dali mais ou menos em 1960, pois estava com 5 filhos e o trabalho havia
na época da safra.
Chegou em Campinas e trabalhou com terraplanagem na empresa Irmãos Prata. A
empresa cedeu um barraco para a família, nas proximidades, no Jardim Olina.
Em Campinas nasceram mais 4 filhos. Hoje Sr. Adelino mora no bairro Sta Genebra,
junto ao Parque Dom Pedro, na Rua Matias Aires, em terreno e casa própria, com a
esposa, uma filha e um filho casado com esposa e neta.
Sr. Adelino conta:
Foi com muita dificuldade que comprou um terreno logo no início da terraplanagem
para a formação do bairro. Local onde na época havia começado a trabalhar. O
bairro Costa e Silva existia neste tempo. Era tudo terra, mato, tinha porcos, vacas
e outros animais de criação soltos, da propriedade de um fazendeiro. Com o
arruamento ainda de terra, sem água e sem energia elétrica ele mudou para o
terreno num barraco que construiu com 4 x4 metros e todos moraram ali por um
tempo. Depois de alguns anos ele fez a permuta deste terreno por outro, onde hoje
reside e construiu desta vez uma casinha , a renda como funcionário público na
Prefeitura de Chico Amaral. “eu ganhava três vezes menos do que na empresa mas
era garantido”
Sr. Adelino foi a primeira pessoa a ter a iniciativa de começar a limpar as terras que
margeavam o Rio das Pedras, que está há uns 50 metros da sua.
164
Em 1978, trabalhando na prefeitura, com terraplanagem, usou de sua “autoridade”,
para proibir o uso da área para jogar entulho ou construir barracos. Ele mesmo
destruiu cercas e princípios de barracos onde algumas famílias pretendiam se
instalar. Com o apoio da vizinhança e da prefeitura, iniciaram a demarcar algumas
áreas para hortas, para algumas pessoas que se comprometiam a cuidar e deixar
limpo, podendo usar para o local para horta. A idéia era ocupar a área para impedir
jogar entulho ou a construção de barracos. Seria de uso preferencial de pessoas
aposentadas.
Aos poucos, alguns passaram o direito de uso para o plantio para outros, sem a
posse da terra mas com a negociação das benfeitorias. Na prefeitura existe o
registro do lugar como “horta comunitário”ver com Joana em ...data...desenho?
áreas?
Sr Adelino é aposentado desde 2001, é respeitado por toda vizinhança que o
cumprimenta ao passar na frente da sua casa, mas ele diz” só que ninguém convida
para tomar um café...”
Ele está afastado das hortas e pedaço onde ele começou a cuidar e plantar, passou
para o Sr. Miguel que hoje tem a sua horta ali, e também éaposentado.
165
ANEXO 7
166
ANEXO 8
ENTREVISTA
Horta Comunitária Sta Genebra - Rua Marques de Abrante, lotes 5,6,7
Edio Buscaratti – 71 anos
Profissão: trabalhou no Açúcar Pérola e operador de máquina na Bosh, onde aposentou com
57 anos
Origem: Monte Santo, Minas Gerais
Formação – 4º ano primeiro grau
Chegou em Campinas dia 22 de março de 1962, com 27 anos, solteiro
Mora na região desde 1982 na Vila Miguel Vicente Cury, ao lado do sta Genebra
Tem 4 filhas e 1 filho, 8 netos
Cuida da horta que era da irmã que mora em frente a horta.
1. Como é feito o cadastro na prefeitura?
R: só por nome
2.Qual é área de sua horta?
R: o terreno tem uns 1500m² mas a horta mesmo tem uns 400m²
2. Quais os benefícios que a horta traz para o rio?
R: Ela impede de jogarem entulhos no rio e a invasão de barracos e conseqüente
favela
3. Há amizade entre os vizinhos de horta?
R: não muito, é cada um por si.
4. Como é o abastecimento de água e energia?
R: a água cada um tem seu hidrômetro e energia não tem
5. Usa semente?
R: Não, compro mudas em Sumaré, na Terra Nova.
6. Qual a sua despesa?
R: em torno de R$ 40 entre água , mudas e algum adubo.
7. Quais animais se vê por aqui?
R: quati, que gosta de pão e fuça canteiro. Gambá, jpão de barro, piriá, gavião,
pomba
8. Como influenciou o Shopping D. Pedro?
R: ah, valorizou.
167
ANEXO 9
Sr. João Lopes Rodrigues – fone 9268 0934
Idade: 61 anos
Profissão: trabalhou como funileiro na CCTC( antiga Companhia Campineira de
Transporte Coletivo)
Origem: Cosmorama- São Paulo
1. Como começaram as hortas?
R: Foi a associação que organizou, antes cada um pegava um pedaço e plantava.
2. No que a formação da horta comunitária ajudou?
R: tem reuniões mas é confusão e nada se resolve, sai até discussão . se
falou em no Orçamento Participativo para colocar um alambrado para todas as
hortas e ficar mais bonito. Foi aprovado mas nada se fez.
3. Além de hortaliças, o que o sr. Vende aqui?
R: vendo mel muito puro, mas nem sempre é daqui, tenho cx de abelha mas
a enchente de 2002 levou várias, quando abriram as comportas da represa. Também
vendo mandioca que não é minha mas é uma sociedade que tenho com um amigo
que traz coisas de outra horta, como o mel.
4. Quem são os seus fregueses?
R: a maioria não é da rua aqui, eles vem de outros bairros. Os daqui preferem ir
ao Shopping D. Pedro e comprar tudo no super mercado dali.
5. E quanto as ervas medicinais?
R: vou lhe dizer o que tenho aqui, minha mãe que foi benzedeira que me ensinou
para que servem as ervas
168
Relação de Plantas medicinais e seu uso (informado pelo Sr.João, que aprendeu
tudo com a mãe que foi benzedeira).
Planta
Para que serve?
1 Poejo Resfriado de nenê
2 Artemisa Cólicas mestruais
3 Hortelã Digestivo
4 Malva Pressão alta
5 Alfazema Banho
6 Marcelinha Diarréia
7 Alecrim Pressão alta
8 Arruda Banho ( é tóxica)
9 Confrei Cicatrizante
10 arnica Contusão
11 Alfavaquinha Catarro do peito
12 Alfavacão
13 Erva doce Prisão de ventre
14 carqueja Intestino
15 Espada de ogum
16 Comigo ninguém pode Olho gordo
17 Capim rosario Para limpar o rim
18 Quebra pedra Calculo renal
19 balsamo Catarata no lho
20 Erva de bicho Hemoroide
21 losna Dor de estomago
22 Hortelã do norte
23 Cânfora
24 Erva de Sta Maria
25 Rubin
26 Guaco
27 Melissa Calmante
28 Insulina Diabete
29 Sete sangria Circulação
30 Manjericão
31 Folha do feijão andú Corrimento
32 Girubeba Fígado
169
33 Folha da pitanga Afrodisíaco
34 Alecrim do brejo
35 Ficão branco Hepatite
36 Boldo
37 Guiné Banho espiritual
38 Mentruz Bronquite
39 Agrião Bronquite
40 Quina Curtido em cachaça / abre o apetite
41 Cana do brejo Rim
42 Erva terrestre Pneumonia
43 Levante Estimulante
44 Gengibre Tempero e friagem
45 Açafrão Tempero e calorífico
170
ANEXO 10
Nome: Ari Vicente Fernandes
Especialidade: Arquiteto e urbanista
Instituição: PUCCAMP
Data: 27/12/06
1. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Nos espaços públicos a atração de pessoas pode ser atenuada plantando as
frutíferas mais longe do curso d’água.
A adequação depende da assessoria que a Prefeitura deve receber de
profissionais da área e de seguir normas adequadas de plantio em função de
relevo, tipo de solo, outras árvores não frutíferas, vegetação de menor porte
combinada, etc.
Nos espaços privados (urbanos) deve-se submeter o plano de plantio à
aprovação do poder público, seja junto com a edificação do restante do lote,
seja ainda com o cadastro do lote ou gleba.
O controle de usos indevidos depende de fiscalização local e/ou de
rastreamento de fotos aéreas ou de satélite (precário ainda).
Em áreas públicas
1. Atração muito grande de pessoas
2. Inadequação das espécies em
função das características físicas do
local e da vegetação em geral
Em áreas privadas
1. Perda de diversidade – tendência à
monocultura
2. Pretexto para dar usos indevidos à
APP (quiosques, bancos, pavimentos,
etc.).
1.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Atração de pessoas X
Inadequação das espécies X
Perda de diversidade X
Usos indevidos X
171
2. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA - muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
De um modo geral (áreas públicas e privadas) procurar associar corretamente
a seleção de espécies arbóreas frutíferas e não frutíferas, inclusive quanto às
disposições de plantio.
Monitoramento da diversificação da fauna.
Referência a inventários florísticos – e paisagísticos – de agrupamentos
similares, ou seja, experimentação e repetição de associações arbóreas bem
sucedidas.
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Em áreas públicas
Ampliação do nº de árvores nas APPs,
somadas às não frutíferas.
2. Refúgio de pássaros com maior
diversidade da fauna
Em áreas privadas
Promover mais a arborização e o
volume de mata ciliar
2. Maior diversidade da fauna
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Ampliação do nº de árvores X
Maior diversidade X X
Promover mais massa arbórea X
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x x
172
Método, planejamento, manutenção dos fundos de vale já arborizados.
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa ?
Considero pouco importante a promoção do plantio de frutíferas em áreas
particulares, pois na maioria dos casos o problema é de ausência de árvores
em geral nas APPs.
Por outro lado, os proprietários de glebas (não edificadas) alegam que a
presença de frutíferas atrai vizinhos (e estranhos) na época de colheita.
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Manutenção no crescimento das mudas X
Transição (rua/calçada – mudas) X
Rotinas de limpeza de mato (adultas) X
Sucessão de plantio / expansão da mata X
Em áreas públicas
Partir de um projeto paisagístico.
Envolver a comunidade vizinha –
inclusive na seleção de espécies
Manter livres os espaços de transição.
Monitorar o escoamento de águas
pluviais e o efeito da enxurrada.
Em áreas privadas
Impedir usos “consorciados”
indevidos
173
ANEXO 11
Nome: Emília W. Rutkowski
Especialidade: Bióloga- Limnóloga (M1C) DAS/FEC, Coord. do FLUXUS
Instituição: UNICAMP- FEC – FLUXUS – Laboratório de Estudos em
Sustentabilidade Ambiental e Redes Sociotécnicas
e,
Nome: Elson Roney Servilha
Especialidade: Civil, Tem Cel. Res. PM, Mestre em Saneamento e Ambiente
Instituição:UNICAMP- FEC – FLUXUS- Laboratório de Estudos em Sustentabilidade
Ambiental e Redes Sociotécnicas
Data: 10/11/2006
Obs: Esta entrevista foi realizada com os dois profissionais concomitantemente,
sendo as respostas, resultado de um diálogo e de comum acordo.
Data: 10/11/2006
3. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
plantas (árvores) frutíferas em fundo de vale urbano?
Os frutos podem trazer riscos pela conectividade. Os frutos atraem além da
fauna, animais e aves migratórias que desencadeiam numa cadeia alimentar
podendo atrair também animais peçonhentos e muitos insetos nocivos ao
homem pois podem ser vetores de infecção e de doenças.
A cada reprodução de uma espécie de vegetai, nasce um fruto com um
animal correspondente.
A ação fitosanitária: a pulverização não é permitida nos vales urbanos pois
pode elevar ao grau de poluentes nos cursos d’água
Nas regiões de trafego intenso, as águas pluviais lavam os vales
encaminhando poluentes como metais pesados para as margens, a paisagem
tende a ser vista como um quadro, entretanto, os metais pesados são
menos preocupantes pois tendem a se alojar nas na raízes, não chegando
ao fruto.
A perda das “serrapilheiras”(*) pois com a deterioração dos frutos no solo se
estabelece um problema de ordem de saúde pública e é necessária a limpeza
do local.
Risco de segurança pública, onde a vegetação maciça de plantas de médio ou
grande porte pode impedir a visualização do entorno.
174
Quando os frutos podem ser motivos de invasão a áreas privadas provocando
distúrbios sociais e riscos às crianças e adolescentes.
Quando as frutas podem se tornar problemas como: armas de estilingue com
determinados caroços, problemas de mancha nas roupas das crianças,
atração de bichos perigosos para as crianças
(*)serrapilheiras- camada de solo constituído da decomposição de matéria orgânica,
galhos, folhas e frutos
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Em relação à segurança pública: - espaçamento das plantas, evitando os
maciços que podem impedir o domínio visual da área, é preferível plantas
baixas.
Em relação às questões sociais – o reaprendizado e a convivência com o novo
contexto que pode admitir riscos, desde que conhecidos, sem “medo” pelo
desconhecido, mudança de paradigma, aculturamento.
Em relação à proteção ambiental- a continuidade entre as partes, incentivando
a continuidade do ecossistema, e, considerar o território urbano numa lógica
do verde como um todo.
Comentários:
Incentivar a produção de bosques, espaços mais apropriados ao convívio do
homem.
Estimular o sentido de pertencimento, mesmo que sendo a manutenção feita
pelo poder público.
É melhor e mais apropriado o termo “plantas frutíferas” pois existem frutos
de arvores, arbustos e de outras espécies como trepadeiras e rasteiras,
O sentido de segurança no Brasil segue o “modelo campina”, de base
cultural européia. Uma analogia é feita com a Estória do Chapeuzinho
Vermelho, quando a “mãe”, lembra a “Chapeuzinho” que não deve entrar
na floresta, com risco de encontrar o “lobo mau”, ou seja, a floresta é
175
perigosa, não possibilita o domínio da paisagem. No Brasil, a paisagem
fechada por arborização leva à insegurança das pessoas uma vez que ela
não visualiza o entorno e se sente sujeita ao ataque por algum observador.
Por outro lado, é de se considerar que o “modelo floresta”, no Brasil, é
muito mais “indígena, africano, dado a formação étnica do povo brasileiro e
às características de um país tropical”. O aculturamento e apropriação da
paisagem florestal seriam benéficos para a sustentabilidade ambiental
assim como o despertar da população para o sentido de pertencimento à
paisagem nativa.
Atualmente o termo “biocomplexidade” (*)é atribuído à biodiversidade no
meio urbano.
(*) Segundo o Prof. Dr. José Galízia Tundisi, Pesquisador do Instituto Internacional
de Ecologia (IIE) e , Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental
(IIEGA) São Carlos, SP, a biocomplexidade é uma propriedade inerente aos
sistemas biológicos levando em consideração os sistemas e seus componentes em
todas as escalas. O entendimento dos componentes do sistema é fundamental assim
como a sua relação com os demais componentes que se relacionam em todas as
escalas. Dessa relação surgem as propriedades emergentes, aquelas que não
podem ser previstas a partir da simples soma das partes. A biocomplexidade traz
consigo contribuições de todas as disciplinas, tendo uma abordagem inteiramente
interdisciplinar. Nos sistemas biológicos, a capacidade de adaptação e
transformação levam a modificações no ambiente físico com o tempo. Os sistemas
estão organizados em estruturas hierárquicas, com mecanismos de retroalimentação
ligando todas elas. Tais mecanismos produzem estabilidade tornando-os capazes de
suportar a perturbações, mas de forma não linear. Se por um lado grandes
perturbações podem ser absorvidas pelo sistema, por outro lado pequenas
perturbações podem produzir efeitos catastróficos.
Por fim, a biocomplexidade pode dar subsídios a um estudo aprofundado dos
sistemas, mostrando-se uma ferramenta extremamente útil para o entendimento da
Biodiversidade, ampliando seus horizontes.
4. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
A convivência com os frutos da terra
A diversidade visual, motivando a diversidade cultural, a ampliação de
conceitos sobre riscos e cuidados, nem sempre os riscos são armas e
portanto, o cuidado pode ser o respeito e a convivência com os riscoso e não
a sua eliminação.
176
4.1. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
Resgatar no imaginário da comunidade, a idéia de “rio”: como vê o curso
d’água, quais seria as expectativas? (esta foi uma experiência realizada em
comunidade pobre e moradora em fundo de vale, o surpreendente é que
crianças desenhavam pessoas sentadas à beira do rio, pescando...)
A longo prazo, o que pode potencializar as vantagens do plantio de frutas em
fundos de vales é a relação sócio-ambiental
A mudança de paradigma: a natureza como local de convivência, não mais
como objeto mercadológico.
O desenvolvimento do sentimento e compreensão do significado do “espaço
público” como local que pertence a todos e é responsabilidades de todos.
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x
177
ANEXO 12
Nome: Maria Helena Ferreira Machado
Especialidade: Socióloga - Planejadora Urbana Regional
Instituição: PUC-Campinas
Data: 14/12/2006
5. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Estudos específicos sobre o tipo de árvores frutíferas quanto a porte, poda,
frutificação, época de plantio, consorciamento, polinização, etc.
Inserção em projeto de paisagismo
Definição dos beneficiários em áreas públicas
Manutenção em áreas públicas
6. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
Em áreas públicas
Porte de determinadas frutíferas, como
abacateiro, tamarindeiro, mangueiras
Em áreas privadas
idem
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Queda de frutas – danos (telhados, carros,
pessoas)
x
Invasão de domicílio, roubo x
Queda da própria árvore x x
Em áreas privadas
Permeabilidade de quintais e jardins
Embelezamento, perfume,etc
Melhoria na alimentação
Ampliação da fauna silvestre
Em áreas públicas
Possibilidades de projetos
comuns entre
ONGs,cooperativas, grupos de
moradores
Molhoria da qualidade da
paisagem
Ampliação da fauna silvestre
178
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
Sem resposta
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Convencimento da população
Políticas públicas municipais para esse fim (projetos)
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa
2.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Pássaros x x
Paisagem x x
Organização comunitária x x
Melhoria da permeabilidade
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x x
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Convencimento da população x x
Políticas públicas municipais para esse fim
(projetos)
x x
Em áreas públicas
Seleção das espécies, conforme
resposta da primeira questão
Em áreas privadas
Idem
179
ANEXO 13
Nome: Laura Bueno Machado
Especialidade: Arquiteta Urbanista especialista em Planejamento
Instituição: PUC-Campinas
Data: 14/12/2006
7. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Sem resposta
8. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
Em áreas públicas
Nenhum risco
Em áreas privadas
Nenhum risco
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
x x
Em áreas públicas
Para a biodiversidade: alimentação da
fauna;
Para a população: as populações
urbanas conhecerão as árvores que
dão o fruto, seu crescimento, etc.
Em áreas privadas
O mesmo
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Alimentação da fauna x x
Formação geral do ser humano que vive no
meio urbano
x x
180
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
Uso das áreas plantadas para atividades educativas, formais ou não.
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Convencer os proprietários e os gestores públicos
O pessoal da manutenção pode achar que dá trabalho na época da
frutificação ou que junta bichos (insetos)
Pode haver interpretação duvidosa entre consumir ou comercializar o fruto,
gerando conflitos administrativos
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa ?
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x x
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
manutenção x x
Achar que a plantação tem que ser
produtiva(comercialmente)
x x
Em áreas públicas
Sensibilizar os gestores e pessoal de
manutenção sobre o objetivo, ou
vantagem
Em áreas privadas
181
ANEXO 14
Nome: Juleusa Maria Theodoro Turra
Especialidade: Geógrafa Socióloga
Instituição: PUC- Campinas
Data: 16/11/2006
9. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Acessos seguros
Percursos de trilhas com segurança
Aproximação da produção
Compromisso da manutenção e manejo
Figura do zelador para a atividade
Em áreas públicas
Atração de animais competidores
Alteração do pisoteio pela atratividade
Decomposição de frutos na água dos
cursos
Desconforto eventual com a presença
de animais como morcegos
Atropelamento de animais
Em áreas privadas
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Segurança da população em relação ás
características do ambiente
x x
Taludes inclinados x
Degradação x x
182
10. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
10.1. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
Vinculação do projeto a atividades com experiências semelhantes ao redor do
mundo;relação terra x local e referencia da atividade no mundo, é um reforço
positivo para a comunidade quando se conhece a experiência acumulada, o
oposto também é válido, quando a experiência é nova, pode ser menos
motivador.
Plantio-terra-tempo = legação afetiva intergeracional
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Visão restrita do que é APP- sendo a largura do curso a única referencia que
dificulta as opções para as situações em fundo de vale urbano, faltando
especificidade na legislação
Em áreas públicas
Produtividade da área em função das
características da sociedade
contemporânea
Recuperação da qualidade do
ambiente através da promoção da
utilização social que incorpora o risco
Envolvimento da comunidade local
com o espaço público(sentido de
pertencimento
Em áreas privadas
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Produtividade x
Recuperação da qualidade ambiental x x
Utilização social x
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x
183
Os legisladores desconhecem os conceitos da formação vegetal e da vida
animal
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa ?
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Legislação APP genérica
Falta de especificidade na APP
Em áreas públicas
Atividade de caráter científico-político
como : investigação quanto APP na
atividade de agricultura urbana
Está em tempo de sair do diagnóstico,
o comitê de bacias já possui
metodologia de diagnóstico.
Desenvolvimento de projeto piloto em
4 ou 5 áreas diferentes
Em áreas privadas
184
ANEXO 15
Nome: Nelson Marques da Silva Fº
Especialidade: Arquiteto Urbanista
Data: 14/12/2006
11. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Controle social e privado
Fiscalização
Conscientização da comunidade lindeira
12. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
Em áreas públicas
Não há riscos em geral, podem,
contudo atrair populações das
comunidades lindeiras e dependendo
da quantidade e controle gerarem
conflitos com o sentido de
preservação.
Em áreas privadas
nenhum
1.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Usufruto pela comunidade lindeira x
Em áreas públicas
Atração da fauna
Diversidade de espécies nativas
ausentes em geral
Em áreas privadas
idem
185
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
Sem resposta
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Preconceito quanto a utilidade social
Recursos específicos
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Atração da fauna x x
Diversidade de espécies nativas x x
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x x
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Preconceito quanto a utilidade social x x
Recursos específicos x x
Em áreas públicas
Trabalho de informação e
conscientização junto as comunidades
lindeiras
Em áreas privadas
Informação e conscientização dos
proprietários
186
ANEXO 16
Nome: Renato Pequeno
Especialidade: Arquiteto
Instituição: DAU - UFC
Data:
13. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Acredito que a realização de estudos de viabilidade ambiental, assim como a contratação de
técnicos capacitados para a elaboração do projeto possam amenizar os riscos supracitados. A
valorização de princípios como a preservação da biodiversidade, inserção de espécies não
exóticas, prática de técnicas agro-florestais, respeito à capacidade de carga do setor
trabalhado e um projeto vinculado a um processo de planejamento que considere as
possibilidades de recuperação ambiental da área no médio prazo podem ser elencados como
alguns cuidados a serem tomados.
Em áreas públicas ( considerou o mesmo para as áreas privadas)
Contaminação das águas no caso de uso de defensivos agrícolas;
Degradação do solo em caso de plantio intensivo e / ou Exposição do solo sem cobertura
nas partes inferiores à copa de algumas árvores com folhagem muito densa;
Substituição de elementos remanescentes da cobertura natural não exóticos;
Perda de biodiversidade associada à monocultura;
Descontinuidade e abandono do projeto por conta de problemas associados à gestão do
solo
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Contaminação das águas no caso de uso de
defensivos agrícolas;
A A
Degradação do solo em caso de plantio
intensivo;
A A
Substituição de elementos remanescentes da
cobertura natural não exóticos;
A A
Perda de biodiversidade associada à
monocultura;
MA MA
Descontinuidade e abandono do projeto por
conta de problemas associados à gestão do solo;
MA MA
187
14. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
- Inserção das questões ambientais nos processos de planejamento do município;
- Elaboração de um bom projeto
- incorporação da população usuária no processo de elaboração do projeto (p.e. na definição
do programa de necessidades)
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
- a inexistência de plano de sistema de áreas livres nas diferentes escalas, bem como a sua
incorporação ao processo de planejamento urbano do município;
- desconsideração do poder público sobre a importância da intervenção;
- carência de pessoal capacitado nos quadros técnicos das prefeituras;
- conflitos de uso e ocupação como a favelização às margens dos rios, riachos e lagoas e
expansão de muros e cercas até as margens dos recursos hídricos, inclusive com espaços
edificados;
Em áreas públicas ( considerou o mesmo para áreas privadas)
- Possibilidade de implantação de sistema de áreas livres com acessibilidade garantida e
pública;
- Preservação da área com cobertura vegetal amenizando futuros problemas de enchente;
- Atração de pássaros recuperando a biodiversidade da área;
- Valores estéticos e sensoriais associados às árvores em floração e com frutos;
- Enquanto bem a ser preservado, pode ser um excelente instrumento de educação
ambiental;
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
- Possibilidade de implantação de sistema de
áreas livres com acessibilidade garantida e
pública
A A
- Preservação da área com cobertura vegetal
amenizando futuros problemas de enchente
MA MA
- Atração de pássaros recuperando a
biodiversidade da área
A A
- Valores estéticos e sensoriais associados às
árvores em floração e com frutos
A A
- Enquanto bem a ser preservado, pode ser um
excelente instrumento de educação ambiental
A A
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
MI MI
188
- a sociedade civil organizada e as ONGs ambientalistas ainda não despertaram para a
importância do tema
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a implementação
de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
As recomendações abaixo listadas valem para ambos os casos: áreas públicas ou privadas.
- Valorizar a compreensão do sistema de espaços livres desde a escala regional até a micro-
escala, tirando partido da conectividade entre estes espaços e ampliando as possibilidades de
sucesso do projeto;
- A integração de espaços públicos e privados, evitando-se possíveis rupturas e
descontinuidades
- Estabelecer mecanismos de responsabilidade compartilhada e gestão participativa
envolvendo a população e instituições público e privadas das vizinhanças;
- Incorporar escolas próximas ao projeto, adotando as áreas como laboratórios para práticas
de ensino que extrapolem a educação ambiental;
- Adotar princípios como:a recuperação da biodiversidade, a manutenção dos processos
naturais na sua complexidade, a contemplação da natureza, a presença e uso de espaços de
convivência comunitários;
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa ?
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
- a inexistência de plano de sistema de áreas
livres nas diferentes escalas, bem como a sua
incorporação ao processo de planejamento
urbano do município;
A A
- desconsideração do poder público sobre a
importância da intervenção;
A A
- carência de pessoal capacitado nos quadros
técnicos das prefeituras;
MA MA
- conflitos de uso e ocupação como a favelização
às margens dos rios, riachos e lagoas e
expansão de muros e cercas até as margens dos
recursos hídricos, inclusive com espaços
edificados;
MA MA
- a sociedade civil organizada e as ONGs
ambientalistas ainda não despertaram para a
importância do tema;
A A
Em áreas públicas
Em áreas privadas
189
ANEXO 17
Nome: Suely Bettini
Especialidade: Engenheira Ambiental
Instituição: PU_ Campinas – Diretora da Faculdade de Eng Ambiental
Data: 08/11/2006
15. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
-cuidados com o manejo, que deve ser adequado e constante,
-não usar fertilizantes químicos que podem levar metais pesados para a água dos
cursos
-ter conhecimento do ponto de vista do comportamento do rio
-Ter conhecimento do comportamento das espécies arbóreas, para plantio em locais
estratégicos
-ter conhecimento dos programas de despejo de resíduos
16. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
Em áreas públicas
-Quanto poluição dos cursos d’água
se houver o uso de fertilizantes pois
levam metais pesados à água.
-Quanto a segurança alimentar, se o
subsolo estiver contaminado
Em áreas privadas
idem
1.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Fertilizantes (riscos para a água dos cursos)
x x
Segurança alimentar (riscos de
contaminação)
x x
Probabilidade de nanejo inadequado X X
Probabilidade de monocultura X X
190
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
- os cuidados técnicos adequados, dos profissionais envolvidos;
-a tendência ao abandono dos programas, pois há preferência em programas
pontuais, que não exigem a continuidade da manutenção.
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
Em áreas públicas
- qualidade paisagística
-inserção do lugar à paisagem urbana
-contato das pessoas com os cursos
d’água
-acessibilidade ao alimento
Em áreas privadas
Idem
2.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
paisagísticas X
Acessibilidade a alimento X
Contato com os cursos de água X
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de
vale
X
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Cuidados técnicos X
Descontinuidade da manutenção X
191
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa ?
Em áreas públicas
Conhecimento da bacia hidrográfica
Conhecimento das espécies quanto a
fixação do solo e necessidades
hídricas
Em áreas privadas
idem
192
ANEXO 18
Nome: Vladimir Bartalini
Especialidade: Arquiteto Paisagista
Instituição: FAU- USP e FAU-PUC-Campinas
Data: 03/10/2006
17. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
18. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
O grau de poluição da água é fator importante para o desenvolvimento da
vegetação, podendo haver risco dela não se desenvolver.
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública
Riscos
MA A B MB
Contaminação da água X
Consumo dos frutos X
Erosão X
Alimentação da fauna aquática
Fixação do solo
A utilização de espécies adequadas para esse tipo de plantio valoriza o ambiente
paisagisticamente.
Obs: A fixação do solo, a biodiversidade e a recuperação do solo dependem da
espécies a serem plantadas.
Vantagens
MA A B MB
Drenagem X
Fixação do solo X
Biodiversidade X
Recuperação do solo X
193
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
MA-muito importantes, I-Importantes, Pouco importante NI-Não importante
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de
vale
X
3.2. Síntese/ quantificação Área Pública
Maiores dificuldades
MI I PI NI
Alteração da regulamentação de uso das
margens de rios urbanos
X
Programas de educação ambiental X
Programas de capacitação X
O controle do uso e o esclarecimento em relação às condições específicas dos
fundos de vale são importantes e merecem a maior atenção.
194
ANEXO 19
Nome: Stephen Bentley
Especialidade: Planejamento Comunitário e Regional
Instituição: EYA (Aliança da Juventude pela Meio-Ambiente)
Data: 29 de Novembro, 2006.
19. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA - muito alto, A-alta, B-baixo, MB - muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
Implementação de infra-estrutura efetivo para manejar os esgotos e águas das
enchentes, plantação das árvores frutíferas só em áreas do proteção
ambiental
20. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
Em áreas públicas
Contaminação das frutas produzidas
por causa de poluição das águas em
fundo do vale (resultando do esgoto
mal-controlado, depósitos do lixo, etc.)
Em áreas privadas
Contaminação das frutas produzidas
por causa de poluição das águas em
fundo do vale
1.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Contaminação x x
195
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale?
A importância do plantio de árvores frutíferas em fundo de vale é igual do
plantio de árvores frutíferas em áreas urbanas em geral: contribuir a paisagem
urbana, e promover a segurança alimentar e educação socio-ambiental em
áreas urbanas.
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Em áreas públicas
Abastecimento da população urbano
(inclusive as pessoas de baixa renda)
com frutas frescas, produzidas
localmente, melhorando a qualidade de
alimentação.
Potencial para geração de renda e
empregos para a população (na coleta
e processamento das frutas através
cooperativas o associações)
Potencial para programas de educação
social-ambiental
Em áreas privadas
Abastecimento de famílias individuais
com frutas, melhorando a qualidade
de alimentação.
2.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Abastecimento de alimentos x
Geração de renda x x x
Educação x x
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de
vale
x
196
Falta de apoio financeiro e técnico dentro dos municípios por causa da falta
de conscientização o acordo dos políticos e técnicos sobre a importância do
projeto;
O plantio de árvores frutíferas pode ficar fora dos mandatos das Secretarias
existentes
Falta da conscientização sobre a importância do plantio de tal árvores em
proprietários particulares
Falta de apoio financeiro é técnico sobre a importância do plantio de tal
árvores em proprietários particulares
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI” ,em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa ?
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Falta de apoio x x
Falta de conscientização x x
Em áreas públicas
Educar pessoal do poderes
executivo, e legislativo, e dos
conselhos gestores municipais
(de educação, meio ambiente,
segurança alimentar, etc.) que
plantio de árvores frutíferas é
uma causa importante
Em áreas privadas
Educar propriatários que plantio de
árvores frutíferas nas quintais é uma
causa importante
197
ANEXO 20
Nome: Sônia Helena Novaes Guimarães Moraes
Especialidade: Advogada Agrarista, Mestre em Direito do Estado pela Faculdade
de Direito da USP.
Instituição:
Associação Brasileira de Reforma Agrária - ABRA
Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais – FEPAF
Botucatu/SP, (Programa de convênio entre o INCRA e a FEPAF, para
Consultoria Técnica junto aos Projetos de Assentamentos no Estado de São
Paulo)
.
Data: 08/01/2007
21. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
Nelly, no meu ponto de vista não vejo qualquer risco, (pelo contrário), podem existir
apenas dificuldades de implantação, como é próprio de qualquer tipo de
reflorestamento, com ou sem plantas frutíferas, em áreas urbanas, periurbanas ou
rurais, em razão de:
Em áreas públicas
- Falta de conhecimento e
conscientização da população quanto
aos cuidados com o meio ambiente;
- Resistência da população quanto à
segurança, pois imagina que uma
mata ciliar fechada, ou qualquer outro
local sem muita visibilidade, poderá ser
vulnerável à prática de crimes e
ocultação.
Em áreas privadas
- Falta de conscientização dos
proprietários;
- Falta de fiscalização e aplicação de
sanções por parte do poder público
quanto ao descumprimento das leis
ambientais em geral;
- Compreensão distorcida e
gananciosa da especulação
imobiliária que vê as áreas de
proteção como perda de terreno
aproveitável para venda em
loteamentos urbanos ou rurais. A
comercialização de terrenos em áreas
de várzea, ocorre com maior
freqüência, quando se tratam de
loteamentos irregulares ou
clandestinos, e principalmente quando
são vendidos para a população de
baixa renda que desconhece a
legislação do meio ambiente;
- Questões de segurança;
198
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
21.1. Educação ambiental para a conscientização da sociedade;
21.2. Discussão com a população local e do entorno a respeito da
necessidade dos projetos de restauração ambiental e organização das
comunidades para que participem ativamente, desde o início da
apresentação das propostas, durante sua execução e na sua posterior
gestão;
21.3. No caso específico de restauro com plantas frutíferas, é importante
resgatar com a população a questão das origens históricas da ocupação do
território local, bem como promover seu resgate cultural;
21.4. Cumprimento da Legislação Ambiental por parte do poder público
em (suas) áreas públicas e rígida fiscalização e aplicação de sanções
aos proprietários privados urbanos ou rurais que descumprem as leis que
protegem o meio ambiente ou que promovem parcelamentos ou
loteamentos urbanos irregulares e clandestinos, sem aprovação nos órgãos
competentes e sem observância da legislação competente, municipal,
estadual ou federal;
22. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
1.1. Síntese/ quantificação Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Falta de esclarecimento da população x x
Resistência quanto à segurança x x
199
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
Amplo estudo para diagnosticar:
1. os locais e regiões onde haja necessidade de restauro ambiental;
2. a situação das populações vizinhas e lindeiras das margens dos rios,
córregos e mananciais, com suas principais carências, (saneamento
básico, educação, saúde, alimentação, habitação, segurança e
emprego);
3. qual a tipologia de proposta concreta e conjunta de soluções – tanto
para os projetos de restauração ambiental como para as demais
questões estruturais que envolvem a população local.
Certamente, as carências identificadas em determinados espaços urbanos ou
rurais, que afetam negativamente uma comunidade moradora, também afetam
negativamente o meio ambiente. Essa situação é resultante de uma série de
Em áreas públicas
Maior interesse das comunidades locais pela
idéia da novidade das árvores frutíferas e
comestíveis;
Restauração de mata ciliar com paisagismo
que possa trazer uma idéia de “jardins da
alimentação”, com recreio e lazer;
Resgate da história e do território local com as
plantas frutíferas que fizeram parte da
memória e do desenvolvimento de uma cidade
e de sua população;
Preservação da cultura ancestral,
através da proteção ambiental.
Em áreas privadas
Em propriedades agrícolas na zona rural ou
em propriedades de destinação agrícola em
perímetro urbano, o plantio de árvores
frutíferas da flora local, com paisagismo mais
atraente (nas áreas de recuperação de
matas ciliares) - pode dar ensejo à realização
de projetos de Turismo Rural” de visitação,
lazer e recreio que traga boa renda
complementar ao pequeno e médio agricultor
de modo a viabilizar sua permanência
saudável no entorno e na periferia das
grandes cidades. Ou ainda, até mesmo de
forma a garantir a permanência de quem vive
da produção de alimentos em áreas urbanas
ou periurbanas, sob a forte pressão da
especulação imobiliária e sob a mira dos
interesses de investidores em grandes
projetos de loteamentos residenciais de alto
padrão, idealizados ou abençoados por
falsos ambientalistas do asfalto.
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
200
fatores, mas principalmente de um sistema econômico neo-liberal, perverso e
desigual em oportunidades, onde predominam a concentração da renda e da
propriedade da terra.
O afluxo de grandes contingentes da população do campo para os centros
urbanos - acrescidos da falta de planejamento, da ocupação caótica dos
espaços especulativos, vazios e ociosos das grandes cidades - torna a
questão ambiental ainda mais complexa.
Não creio na viabilidade de se estabelecer um programa de preservação do
meio ambiente, ainda que tenha aspectos de atendimento à alimentação,
(plantio de árvores frutíferas), ao lazer (criação de paisagismo e Parques
Públicos), ou à geração de trabalho, (nas tarefas de implantação), se o
mesmo estiver desconectado e distante da realidade presente.
É extremamente difícil ou quase impossível sensibilizar a opinião pública pela
necessidade de investimentos orçamentários na proteção dos recursos
naturais, onde não infra-estrutura mínima de proteção ao desenvolvimento
da população, com garantia de vida digna e cidadã.
Criação de órgãos públicos de gestão local, voltados à fiscalização do
cumprimento das normas ambientais nas propriedades privadas urbanas e
rurais e ao desenvolvimento dos programas de recuperação de matas ciliares,
com a preferência de que haja uma atuação de forma participativa em
relação à comunidade, e de forma multidisciplinar no que se refira aos
demais serviços da administração pública.
Propostas de projetos de restauração de matas ciliares em áreas públicas,
(pelo próprio poder público), com parcerias de demais instituições
governamentais e não governamentais e que sejam, por sua vez, voltadas ao
meio ambiente ou à agricultura sustentável, ou que tenham por objetivo a
inclusão social, a melhoria de vida nos assentamentos urbanos, periurbanos e
rurais, principalmente em se tratando de locais onde predomina a
concentração da população de baixa renda;
Efetiva utilização das normas do Estatuto da Cidade, inserindo no respectivo
Plano Diretor Municipal os princípios, as coordenadas e as áreas prioritárias
onde deverão ser realizados os projetos, com a devida organização da
comunidade para sua plena participação.
23. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale?
Vejo como uma forma mais atraente e útil para colocar em destaque e debater o
conhecido assunto da necessidade da preservação das matas ciliares, dos
recursos naturais e, principalmente, das reservas hídricas para as aglomerações
urbanas e para as áreas de produção agrícola.
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x
201
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
As principais dificuldades são:
O assunto não faz parte da agenda de prioridades na gestão pública, nem
pontualmente falando; menos ainda, em se tratando de programa de
plantios em larga escala.
Geralmente, o assunto da recomposição das matas ciliares é incluído
em pauta quando ocorrem desastres ambientais, como enchentes ou
secas prolongadas;
A população é pouco esclarecida quanto às vantagens e necessidades de
cuidados com o meio ambiente.
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a implementação
de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Assunto não prioritário para gestores
públicos
x
Falta de conscientização da sociedade x x
Em áreas públicas
A maior aposta está na
conscientização da sociedade,
na organização das
comunidades e na pressão
dos movimentos sociais por
políticas públicas integrais de
desenvolvimento sustentável
tanto no que se referem ao
meio ambiente, quanto
relativamente à dignidade e à
qualidade de vida da
população como um todo.
202
3.4. No caso da resposta acima ter sido “PI” ou “NI”, em quais a circunstâncias se
justificaria este tipo de iniciativa?
Sempre que houver identificação da necessidade e um amplo diagnóstico
sobre a realidade local, com projeto abrangente que possa garantir o sucesso
da empreitada;
Quando houver aceitação da população da região, organização da
comunidade e atuação participativa desde o início do projeto;
Quando houver iniciativa ou pressão dos movimentos sociais para a
implantação de programas de restauração de áreas de preservação ambiental
ou de cultivo de mata ciliar.
Em áreas privadas
Fiscalização rígida do Poder Público pelo
cumprimento da legislação ambiental em áreas
de propriedade privada, urbanas e rurais;
Divulgação de projetos e alternativas para a
recuperação de mata ciliar localizada em
terrenos particulares, incluindo discussões
técnicas sobre as possibilidades da utilização
de árvores frutíferas no seu paisagismo.
Indicação das espécies permitidas para cada
região.
Indicação dos locais para a aquisição das
espécies e mudas, que poderiam ser
produzidas através de programas sociais de
geração de trabalho e renda, com a prática da
agricultura urbana, ou em parceria com os
Assentamentos Rurais nos Projetos de
Reforma Agrária.
A modalidade de geração de trabalho e renda,
através da prática da agricultura urbana (em
gestão compartilhada), foi criada em 2006 no
Programa AGRIURBE do INCRA/SP, e está em
fase de estruturação de um “projeto-piloto”
inicial.
203
ANEXO 21
Nome: Giulio Cesar Stancato
Especialidade: Micropopagação de plantas ornamentais
Instituição: Instituto Agronômico de Campinas-IAC Pesquisador Científico Nível IV
Data: 09/01/2007
24. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
-Evitar espécies com frutos grandes.
-Conscientizar a população quanto aos cuidados com as plantas que não tem como
se defender pelas suas próprias características, a planta é sessil, um organismo vivo
que não tem capacidade de buscar seu próprio alimento e proteção dependendo
exclusivamente do ambiente.
- Cuidados com a manutenção para evitar o mau aproveitamento das plantas
2.No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
Em áreas públicas
Segurança com a população – com
queda de frutos de grande porte
Em áreas privadas
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Segurança (queda de frutos grandes) x
Em áreas públicas
-Atração de pássaros
-Atração de outros animais, da cadeia
alimentar, promovendo a biodiversidade.
Em áreas privadas
idem
204
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
-Educação ambiental e conscientização da população quanto a importância das
plantas no meio ambiente e os cuidados que se deva ter com a vegetação em geral.
-A educação deve ser de base, com as crianças do ensino fundamental, como fator
de multiplicação.
-Esclarecimento quanto às alternativas de proteção e aproveitamento da mata ciliar.
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
- obtenção de mudas de frutas nativas em grande quantidade. São frutas pouco
conhecidas e de pouca procura pela população.
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Aumento da quantidade de pássaros x
Aumento de polinização e da diversificação
de sementes escarificadas
x
Aumento da microfauna x
Promove a migração de pássaros e a
biodiversidade
x
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Obtenção de mudas x
205
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
Em áreas públicas
-Criação de um viveiro de plantas de
espécies frutíferas nativas para agilizar
o remanejo e a manutenção das
espécies
-Conhecimento do perfil das espécies
par melhor apropriação no plantio.
Em áreas privadas
206
ANEXO 22
Nome: Dionete Aparecida Santin – Engenheira Agrônoma
Especialidade: Pesquisadora Científica / área Biologia Vegetal
Instituição: Universidade Estadual de Campinas -NEPAM
Data: 08/01/2007
1. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
1A - Se as árvores frutíferas a que a pergunta se refere são frutíferas silvestres, ou
seja, as de ocorrência natural nas áreas de preservação permanente (APP) e/ou fora
delas, e são as espécies que estão diretamente ligadas à dieta alimentar da fauna,
como por exemplo: pitangueira, cerejeira-do-rio-grande, uvaia, jaracatiá,
cabeludinha, araçá, araticum-cagão, pimenta-de-macaco, catiguá, jerivá, entre outras
- não existem riscos para a própria flora, para a fauna, para o solo e para a
qualidade das águas, tanto em áreas públicas quanto em áreas privadas.
1B- Se as árvores frutíferas a que a pergunta se refere são frutíferas comerciais
(FC), destinadas ao consumo humano, ou seja, aquelas que podem ser encontradas
em mercados, quitandas, supermercados e na maioria das vezes são espécies
exóticas e produtoras de grande quantidade de frutos, como por exemplo:
mangueira, bananeira, goiabeira, abacateiro, laranjeira, entre outras, de se
considerar o que segue.
As frutíferas comerciais são selecionadas geneticamente visando grande produção
de frutos por planta. Tanto na comercialização como no consumo direto grande parte
Em áreas públicas
As respostas foram classificadas em :
A-
Espécies frutíferas nativas
(silvestres)
B- Espécies exóticas frutíferas
comerciais
Em áreas privadas
idem
207
é perdida no campo devido a queda espontânea de frutos ou ocasionada por ventos,
apodrecimento, ataque de pragas, descarte, e acabam apodrecendo nos solos.
- Tanto em áreas públicas quanto em áreas privadas existem vários riscos para a
própria flora, para a fauna, para o solo, e para a qualidade das águas, citados a
seguir:
ocupação de nicho específico que deveria ser colonizado por espécies nativas
adaptadas a esses locais e capazes de desencadear o processo de sucessão
e de restabelecer a função ambiental das APP;
pisoteamento constante nas áreas para coletas de frutos e o conseqüente
impedimento de germinação de sementes e/ou destruição de indivíduos
jovens de espécies nativas arbóreas, herbáceas e arbustivas;
poluição do solo devido ao apodrecimento e a fermentação de grande
quantidade de frutos e a conseqüente infiltração;
dificuldade de formação de serapilheira;
modificação das características físicas e químicas do solo;
mudança do ph do solo;
possível diminuição na infiltração de águas de chuvas;
deposição localizada de grande quantidade de sementes principalmente de
espécies com sementes grandes como mangueira, abacateiro;
fechamento e/ou inutilização de diversas porções de solo devido a emissão de
rizomas (reprodução vegetativa de bananeiras, por exemplo);
formação de “malha espessa de folhas” principalmente de bananeiras, que
recobrem o solo impedindo a germinação de outras;
criação de ambiente hostil para a fauna e flora;
mudança do microclima;
descaracterização das áreas de preservação permanente cuja função é
Preservar Permanentemente a biodiversidade* existente nessas áreas.
* Biodiversidade: termo empregado para designar o conjunto de formas de
vida animal e vegetal, desde as formas mais simples, como indivíduos
unicelulares, fungos, protozoários, bactérias, até indivíduos mais complexos
como plantas, insetos, peixes, mamíferos, incluindo todos os níveis da
diversidade biológica, desde a diversidade genética, diversidade de espécies,
de ecossistemas e de paisagens. Inclui também os milhares de processos,
caminhos e ciclos que fazem a ligação dos organismos vivos entre
populações e ecossistemas, dentro da biosfera (Szaro 1996).
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Frutíferas comerciais -FC x x
Frutíferas silvestres – sem risco
208
Substituir plantas FC por frutíferas silvestres.
2. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
Frutíferas silvestres - tanto em áreas públicas como privadas as maiores vantagens
são: infiltração de águas das chuvas e a conseqüente diminuição de enchentes;
diminuição de erosão superficial; abastecimento dos lençóis freáticos; captação de
CO
2
, aumento de áreas verdes, oferta de alimento e locais de pouso para a fauna,
transformação da paisagem, revitalização de áreas “abandonadas” ou não cuidadas.
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
2.2. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
A revitalização de áreas abandonadas ou, não cuidadas, permite congregar a
conservação de APP e a sua possível utilização para diferentes atividades, como o
lazer, a educação e o esporte, conseqüentemente, ocorre mudança de qualidade de
vida para considerável parcela da população. Resulta, inevitavelmente na agregação
de valor nas áreas do entorno.
3. Em sua opinião, como a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
Se frutíferas silvestres conjuntamente com outras nativas:
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
Falta de interesse, apoio, e iniciativa política no caos das áreas públicas.
Em áreas privadas, ainda tem alto custo, principalmente, para o pequeno e médio
agricultor.
Em áreas públicas
Em áreas privadas
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Todas as apontadas x x
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
frutíferas silvestres com outras nativas
x
209
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a implementação
de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Em áreas públicas e privadas
- Elaborar projeto técnico conforme recomendações da Secretaria de Meio
Ambiente.
- Trabalhar com grande diversidade de espécies.
- Observar os fatores de interferência ou de perturbação nas áreas de influência
e/ou do entorno imediato que precisem ser tratados e ou removidos antes do
início dos plantios. Exemplos: cercamento da área; contenção de erosões e de
desbarrancamentos, terraceamento, remoção de lixo, entulhos, produtos tóxicos,
etc..
210
ANEXO 23
Nome: Julie Henriette Antoinette Dutilh
Especialidade: Biossistemática vegetal
Instituição: Pesquisadora voluntária no Dpto Botânica IB UNICAMP
Data: 08/01/2007
25. No seu ponto de vista, quais os maiores riscos que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alto, A-alto, B- baixo, MB- muito baixo
1.2.Quais os cuidados para não potencializar os riscos?
-Plantar as espécies mais espaçadas entre si e entre qualidades
-diversificar os tipos de raízes para garantir maior fixação do solo, alternar entre
raízes profundas, espalhadas, etc.
26. No seu ponto de vista, quais as maiores vantagens que vc aponta no plantio de
árvores frutíferas em fundo de vale urbano?
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
26.1. Quais os aspectos que podem potencializar as vantagens?
Em áreas públicas
A grande concentração de pessoas em
função dos frutos pode levar a riscos
de compactação e conseqüente
erosão do solo
Em áreas privadas
1.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Riscos
MA A B MB MA A B MB
Atração de grande nº de pessoas x
compactação e erosão do solo pelo uso x
Em áreas públicas
Grande atração de pássaros e outros
animais que favorecem a
biodiversidade, com o ciclo alimentar.
A otimização no aproveitamento das
águas de chuva absorvidas pelo solo.
Em áreas privadas
idem
2.1. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Vantagens
MA A B MB MA A B MB
Favorecimento da biodiversidade x x
Aproveitamento das águas da chuva x x
211
Educação ambiental e participação da população nos processos de plantio,
cuidados, proteção, uso das áreas para educação e lazer.
3. Em sua opinião, como vê a importância do plantio de árvores frutíferas em fundo
de vale ?
MI- muito importante, I- importante, PI- pouco importante, NI-não é importante
3.1. No caso da resposta acima ter sido “MI” ou “I” , quais as principais dificuldades
para implementar programas de plantio de árvores frutíferas em fundos de vale em
larga escala?
A resistência da população quanto aos aspectos de segurança pública e a cultura da
“limpeza do quintal” como sinônimo de higiene e saúde.
MA-muito alta, A-alta, B- baixa, MB- muito baixa
3.3. Quais recomendações, no seu ponto de vista, você daria para a a
implementação de programas de plantio de árvores frutíferas em fundo de vale?
OBS: Julie forneceu os seguintes dados: Toda a família das Myrtaceae pode ser
plantada nas margens de rios e córregos, pois não são tóxicas. As espécies nativas
das Myrtaceae são pequenas e carnudas, o que favorece na segurança quanto à
queda do fruto.
Entre as nativas recomendadas estão as hidrófitas, que se desenvolvem bem em
áreas mais úmidas, como as goiabas, araçá do mato, cambuci, gabiroba, jaboticaba,
cereja, pitanga, siriguela, amora branca. Para a construção de caramanchões, o fruto
nativo indicado é a passiflora.
Área Pública Área Privada
MI I PI NI MI I PI NI
Plantio de árvores frutíferas em fundo de vale
x x
3.2. Síntese/ quantificação
Área Pública Área Privada
Maiores dificuldades
MA A B MB MA A B MB
Resistência da população quanto a
segurança
x x
Resistência da população quanto a
“limpeza”
x x
Em áreas públicas
Esclarecimento da população,
educação ambiental.
Participação nos processos de
revegetação e cuidados na proteção.
Em áreas privadas
212
ANEXO 24
213
214
ANEXO 25
215
ANEXO 26
ANEXO 26
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE SÃO PAULO – SR(08)
PORTARIA/INCRA/SR(08)GAB Nº 003 /06 São Paulo, 20 de janeiro de 2006.
O SUPERINTENDENTE REGIONAL DO INSTITUTO NACIONAL DE
COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA INCRA, NO ESTADO DE SÃO PAULO,
no uso da competência que lhe foi delegada pela portaria/INCRA/P 686, de 06 de
agosto de 2002, publicada no Diário Oficial do dia 07 seguinte, e conforme as
Portarias nº. 321 e 322, que respectivamente, cria e regulamentam o Projeto Casulo,
ambas de 11 de setembro de 1977,
CONSIDERANDO a atual concepção de desenvolvimento territorial nas ações do INCRA, com
modelos específicos de política governamental compatíveis com cada região do país;
CONSIDERANDO as especificidades do desenvolvimento agrícola e urbano no Estado de São Paulo,
bem como, as experiências positivas com a agricultura urbana junto a prefeituras municipais,
instituições governamentais e junto a organizações não governamentais;
CONSIDERANDO os objetivos e as demandas do INCRA, definidos pelo Estatuto da Terra, em
ampliar as ações do poder público, inclusive, através da consolidação de parcerias entre prefeituras
municipais, instituições governamentais e organizações não governamentais;
CONSIDERANDO a exigência de combater a fome e de garantir a segurança alimentar e nutricional,
gerar trabalho, emprego e renda com o incentivo à prática da atividade agrícola nas áreas urbanas e
periurbanas das cidades - tal como preconiza o Programa Fome Zero do governo federal;
CONSIDERANDO que o aproveitamento produtivo de terrenos ociosos, públicos ou privados, nas
áreas urbanas e periurbanas das cidades pode contribuir para a integração e complementaridade entre
as atividades urbanas e rurais - conforme definido pelo Estatuto da Cidade objetivando o
desenvolvimento socioeconômico, a preservação e o equilíbrio ambiental do território sob sua área de
influência;
CONSIDERANDO a importância e a oportunidade de se considerar a questão da fuão social da
propriedade, seja urbana ou rural, e desse modo, evidenciar a necessidade do aproveitamento produtivo
e sustentável do território e do combate aos usos especulativos da terra;
CONSIDERANDO o precedente do Projeto CASULO, criado em 1997, como modalidade
descentralizada de atuação nas áreas no entorno dos núcleos urbanos;
216
CONSIDERANDO que, sobretudo a parceria entre o INCRA e o Ministério do Desenvolvimento
Agrário, determinará a viabilidade, a implementação e a consolidação do Programa AGRIURBE;
CONSIDERANDO, finalmente, que todas as ações de parceria entre os demais poderes públicos e a
sociedade civil organizada - para a geração de emprego, trabalho e renda - contribuem para a
conscientização das comunidades sobre a urgência e compatibilidade das Reformas Agrária e Urbana
no Estado de São Paulo e no país, RESOLVE:
I. Criar o Programa de AGRICULTURA URBANA AGRIURBE, destinado ao combate
à fome, à geração de trabalho e renda, através do desenvolvimento de atividades agrícolas
em áreas urbanas e periurbanas;
II. Condicionar que a instituição governamental ou a organização não governamental que se
habilite ao Programa, através de convênio, seja proprietária ou detentora por justo tulo,
de áreas a serem destinadas à Agricultura Urbana - entre outras condicionantes
estabelecidas no Manual de Operação e Seleção do Programa AGRIURBE;
III. Designar a Divisão de Assentamento da Superintendência Regional, como responsável
pela interlocução, recebimento, aprovação e acompanhamento das propostas dos projetos
de agricultura urbana; e
IV. Orientar o setor competente a orçar, provisionar e controlar os recursos e sua aplicação
efetiva, destinados aos convênios através de fomento (Verba de Apoio à Instalação), no
valor de dois mil e quatrocentos reais (R$ 2.400,00), por cada beneficiário selecionado do
Programa AGRIURBE.
V. A presente Portaria entrará em vigor a partir de sua assinatura.
RAIMUNDO PIRES SILVA
Superintendente Regional
INCRA/SP
217
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE SÃO PAULO – SR(08)
PORTARIA/INCRA/SR(08)GAB Nº 004 /06 São Paulo, 20 de janeiro de 2006.
O SUPERINTENDETE REGIONAL DO INSTITUTO NACIONAL DE
COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA INCRA, NO ESTADO DE SÃO PAULO,
no uso da competência que lhe foi delegada pela Portaria /INCRA/P 686, de 06 de
agosto de 2002, publicada no Diário Oficial do dia 07 seguinte, e conforme
PORTARIA/INCRA/SR(08)GAB 003, que cria o Programa de Agricultura Urbana
AGRIURBE de 20 de janeiro de 2006, que requer metodologia específica para o seu
desenvolvimento, RESOLVE:
I. aprovar o “Manual de Operação e Seleção de Beneficiários do Programa
AGRIURBE” (anexo 1), que dispõe sobre a implantação do referido programa,
destinado ao combate à fome, geração de trabalho e renda, através do
desenvolvimento de atividades agrícolas em áreas urbanas e periurbanas;
II. Autorizar o responsável pela Divisão de Assentamento da Superintendência
Regional a promover as modificações e adaptações que, no curso da implantação
do Programa, se fizerem necessárias à consecução dos objetivos propostos.
III. A presente Portaria entrará em vigor a partir de sua assinatura.
RAIMUNDO PIRES SILVA
Superintendente Regional
INCRA/SP
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo