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bastante comum nos adeptos do Neodruidismo. Quase sempre se apresenta
como uma religião incutida pela família, depois, ao atingir certa independência de
escolha há uma vacância que, no caso destes entrevistados, culmina no
Druidismo Moderno. Não se abandona a possibilidade de que voltem àquilo que
Leila Amaral definiu como a errância religiosa do movimento Nova Era, mas para
eles, no momento da entrevista, o Druidismo Moderno é que é a correta, pois nele
imprimem sua territorialidade sem demarcar território. Gwaine exemplifica de
maneira clara esse trânsito:
“Eu sou católico por formação, estudei em colégio de padres,
sempre questionei um pouquinho os dogmas da Igreja e nem
tinha essa conexão tão grande, né! Mas, hoje eu identifico três
ciclos mágicos de minha vida, então eles foram interrompidos
duas vezes e, na terceira vez eu resolvi pesquisar um pouco mais
e me aprofundar. Como eu sou engenheiro de formação, então é
muito difícil de conciliar uma visão um pouco mais cartesiana da
vida...com uma visão de um Outro Mundo. Isso foi muito difícil
para mim, né, então, eu tive o primeiro ciclo mágico..o de ser
criado com minhas avós, de ser criado com a terra ou seja dentro
da colheita dentro de toda essa festividade. De festejar uma
colheita, festejar o natal, o dia de Nossa Senhora das Candeias,
que é Candelária...que é Brigit. Ah.. Páscoa, mas com alguns
elementos celtas ou seja de sempre festejar a coisa da
semente...na Páscoa. Tudo isso foi meio que cerceado...esse foi o
meu 1
o
. ciclo mágico que foi meio cerceado quando eu entrei
nesse colégio católico, lá em Portugal. Acabei abandonando um
pouco essa idéia, pois isso não era o correto. Então eu acabei
não relegando, nem renegando, mas simplesmente colocando de
lado. Quando eu vim para o Brasil...fiz a universidade de
engenharia química, então eu tenho todo esse lado de
alquimia...de ser cozinheiro...de costurar um monte de coisas que
nem sempre tem explicação e eu acabei trabalhando numa
empresa que me enviou para trabalhar numa região ao norte do
Estado do Rio de Janeiro, bem próximo a Minas Gerais e do
Espírito Santo. E, lá como eu era solteiro, morava na antiga casa
da fazenda. A fazenda era da empresa, e nessa casa moravam
duas senhoras já de idade que cuidavam de todos os afazeres
inclusive a alimentação para os solteiros que residiam ali. E de
repente acabei me aproximando de um culto afro-brasileiro e
freqüentando assiduamente, num dia eu ouvi a seguinte frase:
‘Você não é daqui’ – Perguntei: ‘Como assim não sou daqui? Eu
não sou daqui como? Por que eu não sou daqui?’ A pessoa me
respondeu: ‘Você tem uma espiritualidade muito forte, mas você
não pertence a isso aqui.’ E por contingências da vida eu acabei,
mais uma vez, negando isso, por que eu saí dali e acabei