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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE QUÍMICA
Programa de Pós-Graduação em Química
Gisela Ferraz Almada
Estudo da proteção à corrosão pelo uso de
polímeros condutores
São Paulo
05/12/2007
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2
GISELA FERRAZ ALMADA
Estudo da proteção à corrosão pelo uso de
polímeros condutores
Dissertação apresentada ao
Instituto de Química da
Universidade de São Paulo
para obtenção do Título de
Mestre em Ciências (Físico-
Química)
Orientador: Prof. Dr. Roberto Manuel Torresi
São Paulo
2007
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3
Gisela Ferraz Almada
Estudo da proteção à corrosão pelo uso de polímeros condutores
Dissertação apresentada ao Instituto
de Química da Universidade de São Paulo
para obtenção do Título de Mestre em Físico-
Química
Aprovado em: ____________
Banca Examinadora
Prof. Dr. _________________________________________________________
Instituição: _______________________________________________________
Assinatura: _______________________________________________________
Prof. Dr. _________________________________________________________
Instituição: ________________________________________________________
Assinatura: ________________________________________________________
Prof. Dr. _________________________________________________________
Instituição: ________________________________________________________
Assinatura: ________________________________________________________
4
Dedico este trabalho a meu
esposo Róbison, a meus pais Luiz
Carlos e Ana Maria, e aos meus
irmãos Luiz Carlos e Ricardo Luiz,
que compartilharam comigo todas as
minhas dificuldades, incertezas, me
dando total apoio, compreensão e
paciência, em todos os momentos,
desde o início até o fim desta
dissertação.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Professor Roberto, pela sua infinita paciência, orientação
exemplar, solidariedade e pela dose extra de compreensão e tolerância extrema
com os meus horários confusos.
Agradeço à Professora Susana pela amizade e dicas quanto à parte
burocrática do programa de pós-graduação.
Aos amigos do Laboratório de Materiais Eletroativos (LME) do Instituto de
Química da USP: Ana Paula, Andrés, Bárbara, Fernanda, Lírian, Luiz Marcos,
Marcelo, Márcio, Mariana, Pablo, Renan, Renato, Rosângela, Simone, Suelen,
Tânia, Vinícius, Vinícius Simões, Viviane e Wendel, por todo apoio, pela amizade
e ajuda no manuseio de alguns (praticamente todos) equipamentos.
Ao Laboratório de Espectroscopia Molecular (LEM) e, em especial, ao
Leozito pela ajuda e paciência na utilização do Renishaw Raman Imaging
Microscope.
Ao comando do 21° Depósito de Suprimento, na figura do ex-chefe Cel.
Olschowsky e da atual chefia Cel. Giambartholomei e Cel. Camillo, pela
cordialidade e consentimento da minha liberação durante o horário de trabalho,
permitindo a realização e conclusão do meu mestrado.
Aos funcionários da secretaria de pós-graduação, da biblioteca da Química
e aos técnicos dos laboratórios do Instituto de Química da USP, por todo o auxílio
prestado.
E a toda minha família.
6
SUMÁRIO
Lista de Figuras..........................................................................................................i
Lista de Tabelas.......................................................................................................vi
Lista de Abreviaturas e Siglas.................................................................................vii
Resumo....................................................................................................................ix
Abstract.....................................................................................................................x
1. Introdução
...........................................................................................................1
1.1. Polímeros condutores.........................................................................1
1.1.1. Poli(anilina)...............................................................................2
1.2. Proteção à corrosão metálica pela poli(anilina)................................5
1.3. Deposição eletroforética: definição e mecanismos.........................14
1.3.1. Revestimentos eletroforéticos protetores à corrosão..............20
1.3.2. Deposição eletroforética de polímeros condutores.................23
2. Objetivos
............................................................................................................27
3. Parte Experimental
...........................................................................................28
3.1. Reagentes, materiais e soluções.......................................................28
3.2. Eletrodos..............................................................................................29
3.3. Preparação da dispersão de PANI utilizada nos estudos de
deposição eletroforética...............................................................32
3.4. Preparação da tinta cataforética à base de PANI.............................35
3.5. Soluções utilizadas nos testes eletroquímicos para análise de
corrosão................................................................................................37
7
3.6. Métodos experimentais......................................................................37
3.6.1. Medição da corrente galvânica....................................................37
3.6.2. Medições eletroquímicas.............................................................41
3.6.3. Caracterização.............................................................................42
4. Resultados e Discussões
.................................................................................44
4.1. Voltametria Linear...............................................................................44
4.1.1. Curvas potenciodinâmicas em soluções ácidas......................45
4.1.2. Curvas potenciodinâmicas em soluções neutras....................51
4.2. Medições de potencial de circuito aberto.........................................55
4.2.1. Soluções ácidas.......................................................................57
4.2.2. Soluções neutras.....................................................................59
4.3. Medição de corrente galvânica..........................................................61
4.3.1. Soluções ácidas.......................................................................61
4.3.2. Soluções neutras.....................................................................66
4.4. Deposição eletroforética de partículas de PANI..............................70
4.4.1. Caracterização da dispersão de PANI.....................................70
4.4.1.1. Potencial zeta.............................................................70
4.4.1.2. Cinética de deposição eletroforética de partículas de
PANI........................................................................................72
4.4.2. Estudo da performance anticorrosiva de uma tinta cataforética
à base de PANI..................................................................................79
5. Conclusões
........................................................................................................98
6. Referências......................................................................................................103
7. Súmula Curricular...........................................................................................116
i
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Esquema da fórmula geral da PANI.........................................................3
Figura 2: Esquema dos três estados de oxidação da Polianilina............................4
Figura 3: Esquema da protonação da base esmeraldina com ácido clorídrico.......4
Figura 4: Esquema dos três diferentes mecanismos pelo qual a PANI pode
fornecer proteção à corrosão..................................................................................12
Figura 5: Esquema de uma deposição eletroforética............................................14
Figura 6: Esquema da partícula central carregada cercada pela dupla camada e a
evolução do potencial elétrico desde o potencial superficial,
ψ
0
, passando pelo
potencial zeta,
ψ
ζ
, até o valor zero, localizado no bulk da suspensão...................17
Figura 7: Esquema do mecanismo de deposição eletroforética de distorção da
liosfera e afinamento da dupla camada..................................................................19
Figura 8: Esquema da montagem do eletrodo auto-suportado de PANI...............31
Figura 9: Suspensão de PANI dopada com ácido fórmico, dispersada em
acetonitrila. (A): Suspensão de 50mgL
-1
e (B): Suspensão de 25mgL
-1
.................34
Figura 10: Esquema da célula de EPD utilizada nos estudos de cinética de
deposição eletroforética..........................................................................................34
Figura 11: Tinta cataforética de: (A) epóxi-uretano, (B) epóxi/PANI (5%) e (C)
epóxi/PANI (15%)...................................................................................................36
Figura 12: Esquema da célula de EPD utilizada na deposição da tinta cataforética
à base de PANI.......................................................................................................36
ii
Figura 13: Esquema da ligação entre o potenciostato e a célula galvânica e do
circuito eletrônico de um amperímetro de resistência zero. (WE = eletrodo de
trabalho, CE = contra-eletrodo, RE = eletrodo de referência, Terra = eletrodo
aterrado e ARZ = Amperímetro de resistência zero)..............................................39
Figura 14: (A): Esquema da ligação entre o potenciostato e o sistema Zn/Cu em
HCl 0,1 molL
-1
. (B) Resultado da medição da corrente galvânica do sistema Zn/Cu
em HCl 0,1 molL
-1
...................................................................................................40
Figura 15: Curvas de polarização anódica dos eletrodos de Zn (), Fe (), Ni() e
Cu () em (A) H
2
SO
4
1,0 molL
-1
, (B) HCl 0,6 molL
-1
, (C) HCSA 0,9 molL
-1
e (D)
HPPN 0,1 molL
-1
,
ν
= 10 mVs
-1
...............................................................................45
Figura 16: Curvas de polarização anódica dos eletrodos de Zn (), Fe (), Ni() e
Cu () em (A) NaCl 0,1 molL
-1
, (B) HCSA 0,1 molL
-1
(pH = 7) e (C) HPPN 0,1 molL
-
1
(pH = 7), v = 10 mVs
-1
..........................................................................................53
Figura 17: Diagrama de fase da PANI como função do potencial redox e pH, onde
I é a PANI leucoesmeraldina, II é a PANI sal esmeraldina, III é a PANI base
esmeraldina e IV é a PANI pernigranilina.............................................................. 56
Figura 18: Medição de corrente galvânica do par PANI-metal em (A) HCl 0,6
molL
-1
, (B) H
2
SO
4
molL
-1
, (C) HCSA molL
-1
e (D) HPPN molL
-1
para os pares
galvânicos PANI- Zn (), PANI-Fe (), PANI-Ni() e PANI-Cu ().........................62
Figura 19: Valores de densidade de corrente (A) PANI-Zn, (B) PANI-Fe, (C) PANI-
Ni, (D) PANI-Cu nas soluções ácidas estudadas...................................................64
Figura 20: Medição de corrente galvânica do par PANI-metal em (A) NaCl, (B)
HCSA o,1 molL
-1
pH = 7,0 com adição de NaCl 0,1 molL
-1
e (C) HPPN 0,1 molL
-1
iii
pH = 7,0 com adição de NaCl 0,1 molL
-1
, para os pares PANI-Zn (), PANI-Fe (),
PANI-Ni() e PANI-Cu ().......................................................................................67
Figura 21: Valores de densidade de corrente dos pares (A) PANI-Zn, (B) PANI-Fe,
(C) PANI-Ni e (D) PANI-Cu nas soluções neutras estudadas................................68
Figura 22: esquema de estabilização da suspensão de PANI/AcF em
Acetonitrila..............................................................................................................71
Figura 23: Aparência de um filme de PANI depositado eletroforeticamente sobre
um eletrodo de Pt....................................................................................................72
Figura 24: Voltamograma dos filmes de PANI eletroforeticamente depositados
sobre o eletrodo de Pt à 8 V (), 10 V (), 12 V (), 14 V (о), 16 V (), 18 V () e
20 V () em HCl 1,0 molL
-1
,
ν
= 5mVs
-1
..................................................................73
Figura 25: Voltamograma cíclico dos filmes de PANI depositado à (A) 200 Vcm
-1
,
(B) 160 Vcm
-1
, (C) 100 Vcm
-1
e (D) 80 Vcm
-1
, com os seguintes tempos de
deposição: 5 min (), 10 min (), 20 min (), 30 min () e 60 min (),
ν
= 5mVs
-1
...............................................................................................................74
Figura 26: Esquema da análise da quantidade de massa de PANI depositada em
cada filme................................................................................................................75
Figura 27: Gráfico da carga de PANI vs tempo de posição, para depósitos feitos
para os seguintes campos elétricos: 200Vcm
-1
(), 160 Vcm
-1
(), 100 Vcm
-1
() e
80 Vcm
-1
()............................................................................................................76
Figura 28: Esquema da cinética de um processo de EPD, onde A é EPD à
corrente e concentração constante, B é EPD à corrente constante e concentração
iv
variável, C é EPD à voltagem e concentração constante e D é EPD à voltagem
constante e concentração variável.........................................................................78
Figura 29: Aparência do substrato de ferro antes da deposição eletroforética.....80
Figura 30: (A) Aparência do revestimento de tinta cataforética de epóxi, (B)
aparência do revestimento de epóxi/PANI (5%) e (C) aparência do revestimento
epóxi/PANI (15%) sobre o eletrodo de ferro...........................................................81
Figura 31: (A) Superfície do eletrodo de ferro sobre o filme de epóxi/PANI (5%) e
(B) Superfície do eletrodo de ferro sobre o filme de epóxi/PANI (15%).................82
Figura 32: Espectro Raman do filme de PANI 15%,
λ
0
= 632,8 nm......................83
Figura 33: Esquema da microcélula utilizada nos estudos de proteção contra à
corrosão sobre o eletrodo de ferro..........................................................................84
Figura 34: Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi/PANI (5%) sobre o
ferro imediatamente após exposição ao meio (
), após 2 horas (
), após 24 horas
(
), após 48 horas (
), após 96 horas (
), após 144 horas (
) e após 168 horas
(
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
.......................................................................................85
Figura 35: Circuito equivalente para os diagramas de Nyquist obtidos para tinta de
PANI 5% sobre o ferro, onde R
s
= Resistência da solução, C
c
= Capacitância do
Revestimento, C
dc
= Capacitância da dupla-camada, R
c
= Resistência do
revestimento e R
tc
= Resistência de transferência de carga..................................86
Figura 36: (A) Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi/PANI (15%)
sobre o ferro imediatamente após exposição(
) e após 24 horas (
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
. (B) Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi/PANI (15%)
v
sobre o ferro após 48 horas (
), após 72 horas (
) após 120 horas (
), após 144
horas (
) e após 168 horas (
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
..........................................87
Figura 37: Circuito equivalente para os diagramas de Nyquist obtidos para a tinta
de PANI 15% sobre o ferro.....................................................................................88
Figura 38:Esquema da dupla-camada responsável pelo comportamento capacitivo
observado nos diagramas de Nyquist para o sistema ferro/epóxi-PANI 15%........89
Figura 39: (A) Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi-uretano sobre o
ferro, imediatamente após exposição em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
(
). (B) Diagrama de
Nyquist para o revestimento de epóxi-uretano sobre o ferro após 24 horas (
),
após 48 horas (
), após 72 horas (
), após 96 horas (
), após 144 horas (
) e
após 168 horas (
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
...............................................................90
Figura 40: Potencial de circuito aberto dos sistemas para os sistemas (
)
ferro/epóxi-PANI 5%, (
) ferro/epóxi-PANI 15% e (
) ferro/epóxi em H
2
SO
4
1,0
molL
-1
......................................................................................................................94
Figura 41: Imagens em microscópio óptico da superfície do eletrodo de ferro, em
H
2
SO
4
1,0 molL
-1
, por 7 dias, após (A) a retirada do revestimento de epóxi-
uretano, (B) a retirada do revestimento de epóxi-PANI 15% e (C) a retirada do
revestimento de epóxi-PANI 5%.............................................................................96
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Lista dos reagentes utilizados................................................................28
Tabela 2: Lista da fórmula estrutura dos reagentes utilizados na polimerização
oxidativa da PANI...................................................................................................30
Tabela 3: i
c
e i
p
para as seguintes soluções aquosas: H
2
SO
4
1,0
molL
-1
, HCSA 0,9 molL
-1
e HPPN 0,1 molL
-1
..........................................................51
Tabela 4: Medidas de E
ca
do eletrodo de PANI em soluções ácidas.....................57
Tabela 5: Medidas de E
ca
dos eletrodos metálicos em soluções ácidas...............58
Tabela 6: Medidas de E
ca
do eletrodo de PANI em soluções neutras...................60
Tabela 7: Medidas de E
ca
dos eletrodos metálicos em soluções neutras..............60
Tabela 8: Dados obtidos pela simulação feita a partir do circuito equivalente da
figura 65 para o sistema ferro/epóxi-PANI15% ......................................................91
Tabela 9: Dados obtidos pela simulação feita a partir do circuito equivalente da
figura 61 para o sistema ferro/PANI 5%.................................................................92
Tabela 10: Dados obtidos pela simulação feita a partir do circuito equivalente da
figura 65 para o sistema ferro/epóxi.......................................................................93
vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DBSA – ácido dodecilbenzenosulfônico
BE – base esmeraldina
C
c
– capacitância do revestimento
C
dc
– capacitância da dupla-camada
E
ca
– potencial de circuito aberto
E
corr
– potencial de corrosão
EIS– espectroscopia de impedância eletroquímica
E
pa
– potencial passivo
EPD – deposição eletroforética
EtOH – etanol
HCSA – ácido canforsulfônico
HPPN – ácido fenilfosfônico
i
corr
– corrente de corrosão
j
c
– densidade de corrente crítica
j
pa
– densidade de corrente passiva
LE – leucoesmeraldina
PA – poli(acetileno)
PANI – poli(anilina)
PANI/AcF – pani dopada com ácido fórmico
R
c
– resistência do revestimento
R
s
– resistência da solução
R
tc
– resistência de transferência de carga
viii
SCE – eletrodo de calomelanos saturado
SE – sal esmeraldina
[(SN)x] – poli(nitrito de enxofre)
ix
RESUMO
Almada, G. F., Estudo da proteção à corrosão pelo uso de polímeros
condutores, 2007, 119 p. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Química, Instituto de Química, Universidade de São Paulo, São Paulo.
As propriedades protetoras à corrosão dos polímeros condutores,
especialmente da poli(anilina) (PANI), têm sido amplamente explorada. Entretanto,
o mecanismo pelo qual esta proteção é efetuada ainda não foi completamente
elucidado. Evidências mostram que a habilidade protetora à corrosão da PANI
está ligada à formação de um par galvânico entre o polímero e o metal. Neste
trabalho, foi feito um estudo sobre a formação de um par galvânico entre a PANI e
diferentes substratos metálicos (zinco, ferro, níquel e cobre) em meios ácidos e
neutros. Medidas de potencial de circuito aberto mostram que há a possibilidade
de formação de um acoplamento galvânico e medidas de corrente galvânica
mostram que há uma corrente galvânica fluindo entre todos os pares PANI-metal.
Durante este trabalho, foi sintetizada uma suspensão à base de epóxi e PANI, a
qual foi eletroforeticamente depositada sobre um eletrodo de ferro. Medidas de
potencial de circuito aberto e impedância em uma solução aquosa de ácido
sulfúrico mostraram que o revestimento à base de PANI protegeu o substrato
metálico em questão através da formação de um par galvânico entre o metal e o
polímero
Palavra chave: acoplamento galvânico, corrosão, deposição eletroforética,
polianilina, polímeros condutores.
x
ABSTRACT
Almada, G. F., Study of corrosion protection using conducting polymers,
2007, 119 p. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Química,
Instituto de Química, Universidade de São Paulo, São Paulo.
The corrosion protection properties of conducting polymers, especially
poly(aniline) (PANI) ones, have been widely exploited. However, the mechanism
by which this protection is made has not been completely cleared yet. Evidences
show the ability of PANI’s corrosion protection is connected to the building of a
galvanic couple between the polymer and the metal. In this work, a study about the
building of a galvanic couple between PANI and distinct metallic substrates (zinc,
iron, nickel and copper) in acid and neutral environment was done. Measurements
of open circuit potential showed the possibility of the building of a galvanic coupling
and measurements of galvanic current showed the flux of a galvanic current
between all the couples PANI-metal. In the course of this work, a suspension
based on epoxy and PANI was synthesized and electrophoretically depositated on
a iron electrode. Measurements of open circuit potential and impedance in a
aqueous sulfuric acid solution showed that the revestiment based on PANI
protected the metallic substrate by the building of a galvanic couple between the
metal and the polymer.
Keywords: conducting polymers, polyaniline, galvanic coupling, corrosion,
electrophoretic deposition.
1
1. Introdução
1.1. Polímeros Condutores
A pesquisa sobre polímeros condutores iniciou-se em 1973, quando foi
observado que o polímero poli(nitrito de enxofre), [(SN)x], se torna supercondutor
a baixas temperaturas.
1,2
Entretanto, a maior descoberta na área de polímeros
condutores aconteceu em 1977, quando foi verificado que o poli(acetileno) (PA),
um polímero orgânico isolante, se tornou condutor, após exposição a agentes
oxidantes ou redutores, como I
2
ou AsF
5
. Foi observado que a condutividade do
PA aumentou de 10
-9
Scm
-1
para 10
5
Scm
-1
.
3
A exposição de filmes de PA a um
agente oxidante X (ou agente redutor M) leva à formação de um complexo
polimérico carregado positivamente (ou negativamente) e de um contra-íon, que é
a forma reduzida X
-
(ou a forma oxidada M
+
) do agente oxidante (ou redutor).
4
Conseqüentemente, polímeros que podem se tornar condutores são
aqueles que contêm ligações duplas conjugadas (ligações simples e duplas
alternadas). Este sistema confere ao polímero a possibilidade de ser oxidado ou
reduzido através de seus elétrons π, tornando-se um íon polimérico, sem, no
entanto, destruir as ligações σ que são responsáveis em manter a estabilidade da
macromolécula. Assim como nos filmes de PA, a passagem de um polímero do
estado isolante para o estado condutor ocorre através da oxidação ou redução da
cadeia polimérica. Estes processos são conhecidos como dopagem do tipo p ou n,
respectivamente. Estes processos resultam na formação de cargas, positivas ou
2
negativas, deslocalizadas ao longo da cadeia polimérica, que são neutralizadas
pela incorporação de ânions ou cátions, respectivamente.
4
A principal qualidade dos polímeros condutores intrínsecos é a possibilidade
de passar, de forma reversível, do estado reduzido (isolante) para o estado oxidado
(condutor). Polímeros condutores são uma nova classe de ‘metais sintéticos’, pois
combinam propriedades químicas e mecânicas de polímeros convencionais com
propriedades elétricas, eletrônicas, magnéticas e ópticas de metais. As
propriedades elétricas dos polímeros condutores podem ser reversivelmente
transformadas de isolantes para condutoras.
5
Os polímeros condutores são utilizados nas mais diversas áreas, como, por
exemplo, em baterias orgânicas recarregáveis, blindagem eletromagnética,
dispositivos eletrônicos moleculares, células fotovoltaicas, litografia, transdutores
para robótica, dispositivos microeletrônicos, proteção ativa contra corrosão,
dispositivos eletrocrômicos, diodos emissores de luz, eletrodos para equipamentos
eletrocardiográficos, recobrimento condutor para fibras têxteis, etc.
7-10
1.1.1. Poli(anilina)
Dentre os polímeros condutores, a poli(anilina) (PANI) tem atraído especial
interesse devido a sua estabilidade ambiental, condutividade elétrica controlável,
facilidade de síntese e monômero de baixo custo. A PANI refere-se a uma classe
de polímeros condutores, cuja forma base, ou não-condutora, está descrita na
figura 1.
3
Figura 1: Esquema da fórmula geral da PANI
A fórmula é composta por y e (1-y) unidades repetitivas das espécies
reduzidas (benzenóides) e oxidadas (quinóides), respectivamente. A PANI existe
em três estados de oxidação bem definidos (Figura 2) : Pernigranilina (y = 0),
Esmeraldina (y = 0,5) e Leucoesmeraldina (y = 1). Esses termos, Pernigranilina,
Esmeraldina e Leucoesmeraldina, referem-se, respectivamente, à PANI no estado
completamente oxidado, parcialmente oxidado e completamente reduzido. Essa
denominação é dada tanto à forma base, como por exemplo, Base Esmeraldina
(BE), ou à forma sal protonada, Sal Esmeraldina (SE).
11, 12
A forma condutora da PANI, SE, pode ser sintetizada por via química ou
eletroquímica. A síntese eletroquímica pode ser feita, mantendo-se o potencial fixo
com um valor entre 0,7 e 1,1 V (vs SCE), ou por voltametria cíclica, com o
potencial sendo ciclado entre –0,2 e 0,8 - 1,1 V (vs SCE). Neste caso, o
monômero de anilina é oxidado, formando um filme sobre a superfície do eletrodo
de trabalho. A síntese química é feita através de polimerização oxidativa do
monômero de anilina, resultando em PANI SE na forma de pó. A síntese da PANI
é feita em meio ácido, em pH entre 0 e 1, pois em meios menos ácidos, há o
aparecimento de fenilenoquinoniminas, que não são eletronicamente
condutores.
13,14
N
*
N
H
H
N
N
*
y
y
1-y
y
y
y-1
4
Figura 2: Esquema dos três estados de oxidação da Polianilina.
A PANI SE também pode ser facilmente obtida pela oxidação da
leucoesmeraldina em meio ácido (dopagem redox) ou pela protonação da base
esmeraldina com ácidos protônicos (dopagem por reação ácido base). O esquema
de uma dopagem ácido-base da base esmeraldina por ácido clorídrico está
mostrada na figura 3.
Figura 3: Esquema da protonação da base esmeraldina com ácido clorídrico.
N
*
N N N
*
n
H H H H
N
*
N N N
*
n
N
*
N
H
H
N
N
*
y
y
y
Leucoesmeraldina
Pernigranilina
1-y
y
Esmeraldina
y y-1
N
H
N
H
N
N
*
*
n
N
H
N
H
N
N
*
*
n
..
..
..
..
Dopagem por protonação
HCl 1,0 molL
-1
..
.
..
.
+
5
Neste caso, o conceito de dopagem envolve a transição de um polímero
orgânico isolante para um íon polimérico condutor. A dopagem é um processo
reversível, pois não causa danos ao esqueleto polimérico. No processo de
protonação da base, os nitrogênios imina podem ser totalmente ou parcialmente
protonados, resultando em um radical cátion relativamente estável com orbitais p
deslocalizados e ligações
π conjugadas. O radical cátion é responsável pela
condutividade elétrica, e sua carga é compensada pelo ânion do ácido protônico.
Este radical cátion é o íon polimérico na forma sal (dopada e condutora). O grau
de protonação do polímero na forma base depende de seu estado de oxidação e
do pH da solução ácida dopante. A forma parcialmente protonada da PANI, SE,
pode ser desdopada por uma solução aquosa de hidróxido de amônio, fornecendo
PANI na forma Base Esmeraldina, semi-condutora.
11,12
1.2. Proteção à Corrosão Metálica pela Poli(anilina)
É necessário entender o processo corrosivo que afeta metais e ligas
metálicas para, então, desenvolver materiais que inibem ou retardem o processo
destrutivo da corrosão. Corrosão é o resultado de reações químicas, não
desejadas, que ocorrem entre o metal, ou liga, e o ambiente, causando a
deterioração da superfície e de propriedades estruturais. A corrosão abrange, pelo
menos, um processo de oxidação (oxidação do metal) e um processo de redução
(envolvendo oxigênio, hidrogênio e/ou água, dependendo das condições).
15
Para
manter um material com sua aparência e performance originais, é preciso proteger
6
a superfície exposta do ambiente corrosivo. Geralmente, isto é feito através de
técnicas de modificação de superfície ou pela aplicação de um revestimento
protetor e/ou resistente à corrosão.
16
No presente momento, a estratégia mais comum de proteção à corrosão
envolve a aplicação de um ou mais revestimentos orgânicos sobre o metal. Estes
revestimentos agem reduzindo a taxa de corrosão ao dificultar ou impedir o
acesso de componentes essenciais (O
2
, H
2
O e H
+
) à superfície metálica.
Eventualmente, água, oxigênio e íons de ambiente penetram no revestimento e
atingem o metal. Defeitos na cobertura aceleram esse processo. Um sistema de
revestimento tipicamente utilizado é aquele em que um “
primer” é aplicado sobre o
metal, seguido de um “
topcoat”, o qual possui a barreira desejada. Os
componentes ativos do ”
primer” variam, entretanto, os componentes mais comuns
incluem metais pesados como o cromo, pois este possui um potencial de equilíbrio
positivo em relação a metais, como o ferro e o alumínio, o que permite a anulação
das reações catódicas, como a redução do O
2
, as quais levam o metal a sofrer
reações anódicas. O desejo em se eliminar metais pesados de uma maneira geral,
e o cromo em particular, desses sistemas de revestimentos anti-corrosivos, é um
interesse tanto da área ambiental como da área de saúde.
15
Polímeros condutores têm se mostrado como um revestimento anti-
corrosivo alternativo em relação aos revestimentos de compostos de cromo VI
(cromatos). Assim como os cromatos, os revestimentos à base de polímeros
condutores possuem um potencial de equilíbrio positivo, além de oferecem
excelente desempenho ambiental, sendo aprovados em vários testes toxicológicos
exigidos pela comunidade européia.
15,17,18
7
As primeiras pesquisas realizadas sobre proteção à corrosão utilizando
polímeros condutores foram feitas por DeBerry,
19
em 1985. De Berry descobriu
que a PANI eletropolimerizada sobre aço inoxidável ferrítico, pré-passivado com
uma camada de óxido formada pela primeira varredura de potencial durante a
eletropolimerização, fornecia uma espécie de proteção anódica, reduzindo
significantemente a taxa de corrosão do aço em soluções de ácido sulfúrico. A
camada de PANI em contato com o aço estabilizou a camada passiva de óxido
contra a dissolução. Embora a PANI estivesse depositada sobre a camada de
óxido, houve transferência de elétrons entre a PANI e o metal, e essa
transferência pode ter sido parcialmente responsável pela habilidade da PANI
manter a passividade do aço inoxidável. Camadas de óxidos podem ser boas
protetoras à corrosão, mesmo sendo muito finas (20 nm). Um metal pode
permanecer no estado passivo e protegido da corrosão enquanto a camada de
óxido passivadora permanecer intacta.
Até então, o mecanismo de proteção à corrosão efetuado pela PANI ainda
não havia sido elucidado. Através de pesquisas realizadas por Wessling et al.,
20
envolvendo estudos sobre a deposição de dispersões de PANI (Versicon
®) sobre
metais como ferro, aço inoxidável, cobre e alumínio, dois fenômenos responsáveis
pela proteção anticorrosiva da PANI foram descobertos: deslocamento no
potencial de corrosão de 800 mV na direção mais nobre e passivação, através da
formação de um óxido de ferro. Durante esses estudos, foi observado que a
corrente de corrosão havia sido significantemente reduzida ou completamente
eliminada e que a camada de óxido havia se formado entre o revestimento de
8
PANI e a superfície do metal. Lu et al.
21
observou que filmes de PANI SE e PANI
BE com defeito (descontinuidade) sobre aço também eram capazes de proteger o
metal da corrosão. Medições eletroquímicas como medidas de potencial de
circuito aberto e medições de corrente de corrosão indicaram um deslocamento
em direção de potenciais mais positivos e uma redução da corrente de corrosão
para filmes de PANI SE em solução diluída de ácido clorídrico e filmes de PANI
EB em solução diluída de cloreto de sódio, o que mostra que o nível de proteção
depende da forma da PANI e do ambiente corrosivo. Este grupo de trabalho
examinou a superfície de um eletrodo de aço após a remoção da camada de PANI
SE (Versicon
®) por Espectroscopia Fotoeletrônica de Raio-X (XPS) e
Espectroscopia Auger. Seus resultados mostraram a presença de uma multi-
camada de óxidos sobre a superfície metálica, consistindo, predominantemente,
de
γ-Fe
2
O
3
sobre a parte externa e Fe
3
O
4
na parte interna.
Diversas pesquisas com relação à proteção anticorrosiva efetuada pela
PANI foram realizadas, não somente em substratos de ferro e em ligas ferrosas.
Racicot et al.
22
reportou que revestimentos de um complexo molecular de PANI e
um poliânion sobre uma liga de alumínio de alta resistência, AA7075, fornece
elevada proteção à corrosão em testes de “
salt-spray” em comparação com
revestimentos de cromato, além de resultar em menos pites, quando imersos em
solução de cloreto de sódio. Os autores atribuíram esse comportamento a uma
reação interativa entre a PANI e o alumínio, já que o potencial de equilíbrio da
PANI (0,3 V vs SCE) é suficientemente anódico para oxidar o alumínio (-0,7 V vs
SCE). Brusic et al.
23
testou o uso de filmes de PANI depositados por “spin coating
9
sobre substratos de cobre e prata utilizados em microeletrônica. Testes
eletroquímicos realizados com esses substratos revestidos com PANI BE, tendo
como eletrólito, uma gota de água, apresentaram reduzidas taxas de corrosão.
Houve corrosão localizada em áreas que não foram completamente revestidas. Os
autores atribuíram essa proteção anticorrosiva a um efeito de barreira exercido
pela PANI BE.
A seqüência de reação responsável pela proteção à corrosão induzida pela
PANI e pela formação da camada passiva de óxido de ferro foi descrita por
Wessling et al.
24
Através de Espectrofotometria UV/vis, foi mostrado que PANI SE
em contato com ferro na presença de 1 molL
-1
de NaCl ou 0,1 molL
-1
de ácido p-
toluenosulfônico era rapidamente reduzida à PANI LE, enquanto o ferro se
oxidava, formando uma camada passiva de óxido. A PANI LE foi reoxidada
novamente à PANI SE em 24 horas. Essa reoxidação foi facilitada por
borbulhamento de oxigênio no meio. Dessa forma, a PANI age como um mediador
redox e como um metal nobre com relação ao ferro.
McAndrew et al.
25
publicou uma revisão sobre a proteção anticorrosiva
metálica efetuada por revestimentos à base de polímeros condutores, em especial
pela PANI. Neste artigo, foi postulado que a proteção à corrosão efetuada por um
polímero condutor, tanto em substratos ferrosos como não-ferrosos, consiste em
deslocar o potencial do substrato para um regime passivo, mantendo uma camada
de óxido protetora sobre o mesmo. A redução do oxigênio sobre o polímero
recupera a carga consumida pela dissolução do metal, tendendo a estabilizar o
valor do potencial do metal na região passiva, reduzindo a velocidade da
dissolução metálica. Assim, a PANI, em seus vários estados de oxidação, atua
10
como mediador da corrente anódica entre a camada passiva e a redução de
oxigênio sobre o filme polimérico. A PANI faz com que a reação catódica (redução
de oxigênio) ocorra sobre a sua superfície, ao invés de ocorrer na interface
polímero/metal, o que levaria a um aumento local do pH (pela liberação dos íons
OH
-
) e um subseqüente descolamento do revestimento. Em ambientes ácidos, a
PANI na forma SE é reduzida, reversivelmente, à BL, e em ambientes básicos, a
PANI na forma BE, é reduzida, reversivelmente, à BL.
Apesar da PANI apresentar excelentes propriedades anticorrosivas, não é
uma tarefa fácil obter um filme à base de PANI sobre uma superfície metálica, pois
a PANI é insolúvel em água, quebradiça, apresentando infusibilidade até mesmo
após aquecimento na temperatura de decomposição. Esta difícil processabilidade
pode ser contornada pela seleção de um agente protonante apropriado. Dopagem
com ácidos protônicos funcionalizados facilitam a dissolução do polímero, em seu
estado condutor, em solventes apolares ou em solventes orgânicos
moderadamente polares, possibilitando a fabricação de poliblendas condutoras
entre a PANI e polímeros solúveis nos mesmos solventes. Este processamento é
possível, pois a dopagem é feita com ácidos protônicos funcionalizados (H
+
M
-
-R),
onde os contra-íons (M
-
-R), contêm um grupo funcional R que é compatível
líquidos orgânicos apolares ou moderadamente polares.
26, 27
A eficácia da proteção anticorrosiva da PANI dopada com ácidos orgânicos
foi estudada por Kinlen et al.
28
Este grupo estudou revestimentos de PANI sobre
aço carbono através da técnica “
Scanning reference electrode technique”,
fornecendo informações sobre o processo redox ocorrendo na camada polimérica.
Medições foram realizadas com revestimentos com defeitos (descontinuidades) à
11
base de PANI, dopada com ácido sulfônico e ácido fosfônico. Foi observado,
através destas medições, que as partes metálicas expostas pelos defeitos do filme
de PANI apresentaram atividade anódica, enquanto que, sobre a superfície
polimérica, foi observada atividade catódica, através da redução do oxigênio. Com
o tempo, as partes metálicas expostas foram sendo passivadas e atividade
galvânica foi diminuindo.
O acoplamento galvânico entre a PANI e substratos de zinco, ferro, níquel e
cobre, foi mostrado por Torresi et al.
29
Foi observado, a partir de medições de
curvas potenciodinâmicas, que o revestimento de PANI impediu a dissolução
metálica, e estudos de espectroscopia Raman mostraram que os filmes de PANI
sofreram redução, após imersão em meio corrosivo durante 12 dias, devido a uma
reação redox com a superfície metálica. A camada passiva formada entre a
superfície de um substrato de ferro e o revestimento de PANI foi caracterizada por
Souza et al.,
30
como sendo um complexo insolúvel formado pelo cátion metálico,
oriundo da oxidação do substrato, e pelo ânion dopante da PANI. Os resultados
relativos ao acoplamento galvânico mostrados por Torresi et al.,
29
indicam que
esse complexo insolúvel também deve ter se formado para os substratos de
níquel, zinco e cobre. Silva et al.
31
demonstrou que a proteção à corrosão metálica
efetuada pela PANI depende da natureza química do contra-íon do polímero
condutor. Medidas de espectroscopia Raman em substratos de zinco, ferro, níquel
e cobre, revestidos com blendas acrílicas de PANI dopada com ácido
fenilfosfônico, imersos em solução de ácido sulfúrico por 15 dias, mostraram que o
estado redox da PANI permaneceu praticamente inalterado, enquanto que,
espectros Raman desses mesmos substratos revestidos com blendas acrílicas de
12
PANI dopada com ácido canforsulfônico, mostraram uma sensível redução da
camada de PANI e esta redução estava ligada com o poder redutor do metal.
Seegmiller et al.
32
demonstraram, através de estudos de “Scanning
Electrochemical Microscopy” (SECM) sobre ligas de alumínio AA2024-T3
revestidas com blenda acrílica à base de PANI, que não havia produção de
espécies reduzidas, como a geração de H
2
e OH
-
, devido ao potencial de equilíbrio
ser positivo.
De uma maneira geral, a PANI pode proteger os metais de três maneiras:
através da formação de uma camada passiva de óxidos (A), através da formação
de uma segunda camada protetora de sais metálicos insolúveis (B), ou através da
repressão de reações indesejáveis que dariam origem à dissolução metálica (C).
Os três mecanismos podem ser visualizados na figura 4.
Figura 4: Esquema dos três diferentes mecanismos pelo qual a PANI pode
fornecer proteção à corrosão.
32
Filme Polímero Condutor
Risco
Substrato Metálico
Crescimento da camada
protetora de óxido via E
ca
A
Filme Polímero Condutor
Substrato Metálico
Crescimento da camada
protetora de sal metálico
B
A
-
M
+
Filme Polímero Condutor
Substrato Metálico
Prevenção de reações
catódicas via E
ca
positivo
C
OxRed
X
Filme Polímero Condutor
Risco
Substrato Metálico
Crescimento da camada
protetora de óxido via E
ca
A
Filme Polímero Condutor
Substrato Metálico
Crescimento da camada
protetora de sal metálico
B
A
-
M
+
Filme Polímero Condutor
Substrato Metálico
Prevenção de reações
catódicas via E
ca
positivo
C
OxRed
X
13
Os mecanismos pelo qual a PANI protege os diferentes metais e ligas
metálicas dependem da natureza do metal. O primeiro mecanismo é bastante
observado em metais como o ferro e ligas ferrosas. Neste mecanismo, a PANI
equilibra o potencial do metal em sua região passiva, devido à formação de uma
camada protetora de óxidos, a qual diminui a dissolução metálica. Em certos
casos, o ânion dopante da PANI pode formar sais insolúveis com os íons do
substrato metálico que sofreram corrosão. Essas camadas tanto podem ser
formadas na interface polímero/metal como em regiões do metal expostas ao meio
corrosivo. Em metais ativos, como o alumínio, os quais não formam camadas
passivantes, a PANI equilibra o potencial do metal em uma faixa onde a
dissolução metálica é reprimida. Para todos os casos demonstrados, a proteção à
corrosão efetuada pela PANI está relacionada com a formação de um par
galvânico entre o substrato metálico e o filme polimérico.
32
A principal vantagem em se utilizar polímeros condutores na proteção à
corrosão metálica é a tolerância a defeitos estruturais, ou seja, descontinuidades
no revestimento polimérico, tais como poros, fissuras, trincas etc. Como o
polímero é um condutor eletrônico, o recobrimento favorece a passivação de áreas
expostas do metal. O revestimento polimérico estabiliza do valor do potencial do
metal na região de passivação da curva de polarização, devido à manutenção de
uma camada de óxido passivante sob a superfície metálica. Existem, ainda, outras
vantagens em se utilizar polímeros condutores em revestimentos anti-corrosivos,
como o fato de possuírem baixa densidade, o que possibilita a aplicação na forma
de spray, e o fato de possuírem estabilidade térmica e química, mesmo estando
em blendas com polímeros convencionais.
21,24,33,34
14
1.3. Deposição Eletroforética: definição e mecanismos
A deposição eletroforética (EPD) (figura 5) é uma técnica antiga e muito
utilizada na fabricação de materiais cerâmicos, pois combina resistência à alta
temperatura e à fratura, tolerância a danos, a choque térmico e resistência à
oxidação. Durante este processo, os eletrodos (ou substratos) estão imersos em
uma suspensão, na qual as partículas estão carregadas e dispersas. Um campo
elétrico de corrente contínua faz com que as partículas carregadas se movam e se
depositem na superfície do eletrodo de carga oposta. EPD é uma combinação de
dois processos: eletroforese e deposição. O primeiro processo é a eletroforese,
onde as partículas carregadas são forçadas a se movimentar em direção a um
eletrodo de carga oposta, devido à aplicação de um campo elétrico, e o segundo
processo é a coagulação de partículas sobre o eletrodo.
Geralmente, a EPD
requer uma última etapa de aquecimento (sinterização), para densificar o depósito
e reduzir a porosidade.
35-37
Figura 5: Esquema de uma deposição eletroforética
V
-
+
Catodo Anodo
Partícula
15
A técnica EPD pode ser aplicada a qualquer sólido que esteja disponível na
forma de um pó fino (< 30
μm) ou suspensão coloidal. Materiais de várias classes
podem ser depositados eletroforeticamente, como, por exemplo, metais,
polímeros, carbetos, óxidos, nitritos, vidros, etc.
37-39
Através deste processo,
podem ser obtidas tanto peças auto-suportadas como filmes ou revestimentos,
podendo ser utilizada na fabricação de revestimentos anticorrosivos,
40
produção
de materiais cerâmicos monolíticos e laminados,
41
primer” em automóveis,
42
equipamentos de microeletrônica,
43
materiais biomédicos,
44
materiais
luminescentes,
45
filmes de nanotubos de carbono,
46
supercondutores,
47
materiais
piezoelétricos
48
e filmes espessos de sílica.
49
Entre os fatores que influenciam uma EPD, existem dois grupos de
parâmetros que determinam as características do processo: aqueles relacionados
com a suspensão e aqueles relacionados com o processo incluindo parâmetros
físicos tais como natureza elétrica dos eletrodos, condições elétricas (relação
voltagem/intensidade, tempo de deposição, etc.).
50
O primeiro passo para uma EPD bem sucedida é obter uma suspensão
estável. É preciso haver algum mecanismo que impeça as partículas de entrarem
em contato direto, onde as forças de atração London – Van der Waals as
manteriam unidas. A suspensão precisa se manter estável, apenas, entre o fim do
processo de dispersão (sonicação, agitação) e o fim do processo de deposição,
podendo levar alguns minutos. A forma de estabilização das partículas pode ser
através da densidade, onde o número de partículas na dispersão é bem pequeno
e somente uma pequena fração de partícula entra em contato no bulk;
16
estabilização eletrostática, onde uma barreira impede as partículas de entrarem
em contato; e estabilização estérica, onde polímeros carregados ou polieletrólitos
adsorvem na interface sólido-solução e estabilizam a dispersão eletrostaticamente
e por efeitos poliméricos.
51,52
As partículas precisam possuir cargas, para que possa haver movimento
em resposta ao campo elétrico e, também, para garantir a estabilidade da
suspensão. São quatro os mecanismos pelos quais uma partícula pode se tornar
carregada: dissociação ou ionização de grupos superficias da partícula,
readsorção de íons determinantes de potencial, adsorção de surfactantes
ionizados e substituição isomórfica. Em suspensões não aquosas, somente os
mecanismos dissociação/ionização de grupos superficiais e adsorção de
surfactantes iônicos são significantes. Partículas carregadas atraem íons de
cargas opostas (contra-íons). Esta atmosfera de contra-íons juntamente com a
partícula central, é chamada de liosfera. Sob a influência de um campo elétrico, os
contra-íons e a partícula central se movem em direções opostas, entretanto,
alguns contra-íons são atraídos pela partícula central, movendo-se junto com ela,
dando origem a um plano de cizalhamento. O potencial resultante entre este plano
e um ponto qualquer no bulk, é o potencial zeta. O esquema da liosfera,
juntamente com a evolução do potencial elétrico é mostrado na figura 6.
36,37,41
Como as partículas para uma EPD estão carregadas, o solvente deve, por
definição, suportar íons dissolvidos. Sobre a superfície do eletrodo, devem ocorrer
reações químicas que irão inibir a criação de uma blindagem eletrostática, caso
contrário, essa camada irá bloquear a carga do eletrodo, de tal forma que o
campo elétrico no bulk da suspensão caia à zero.
51
17
Figura 6: Esquema da partícula central carregada cercada pela dupla camada e a
evolução do potencial elétrico desde o potencial superficial,
ψ
0
, passando pelo
potencial zeta,
ψ
ζ
, até o valor zero, localizado no bulk da suspensão.
41
As partículas são levadas até o eletrodo por eletroforese, mas se não
houver diferença entre a suspensão no bulk e a suspensão no eletrodo, partículas
que são estáveis no bulk, permanecerão estáveis no eletrodo, não ocorrendo
deposição. O mecanismo de depósito de uma EPD tem sido objeto de intensa
pesquisa e, muito embora, mecanismos têm sido propostos para explicar os
resultados experimentais, um completo entendimento ainda é deficiente. De
acordo com Zhitomirsky et al.,
53
os mecanismos de deposição podem ser divididos
em três categorias: a) acumulação de partículas, b)neutralização de carga ou
eletrocoagulação, c) redução do potencial zeta, ou coagulação eletroquímica.
51
A acumulação de partículas foi a primeira tentativa em se explicar o
fenômeno EPD, relatada por Hamaker e Verwey.
54
Eles sugeriram que o
fenômeno da EPD e o fenômeno da sedimentação são idênticos em sua natureza,
+
-
-
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+
-
+
-
+
-
+
-
+
-
+
ψ
0
ψ
ζ
Plano de Cizalhamento
Potencial
distância
18
e que a função primária do campo elétrico na EPD é apenas mover as partículas
em direção ao eletrodo e acumular. Partículas acumuladas próximas ao eletrodo
se depositam devido à pressão exercida sobre elas pelas camadas externas.
Foi sugerido por Grillon et al.
55
que as partículas sofrem neutralização de
carga conforme atingem o eletrodo de depósito, tornando-se estáticas. Esse
mecanismo explica o estágio inicial de suspensões muito diluídas, mas não é
válido em certos casos como EPD com tempos de duração muito longos, inibição
do processo de interação partícula-eletrodo (a introdução de uma membrana semi-
permeável entre os eletrodos induz a deposição sobre a mesma) e para reações
de depósito que alteram o pH nas proximidades do eletrodo.
56
O mecanismo de coagulação eletroquímica de partículas implica a redução
de forças repulsivas entre as partículas. Esse mecanismo foi apresentado por
Sarkar e Nicholson
36
e é baseado na teoria DLVO (Derjaguin, Landau, Verwey e
Overbeek), que descreve as forças atuantes entre partículas carregadas
interagindo em um meio líquido. De acordo com esses autores, existe uma força
eletroforética (F
e
) atuando sobre as partículas, que é o produto da velocidade
eletroforética e da resistência viscosa. Essa F
e
modifica a força total (F
t
), que é a
força total de interação entre duas partículas, formada apenas pela combinação
dos efeitos da força de atração de Van der Waals e pela força de repulsão da
dupla camada. A força modificada (F
m
) é o somatório de F
e
e F
t
. Admitindo-se que,
durante uma EPD, uma certa partícula A já tenha alcançado o eletrodo de
depósito e que uma partícula B esteja se aproximando, se o campo elétrico
aplicado for maior do que a força de repulsão entre essas duas partículas, a
19
partícula B coagula com a partícula A. Esse mecanismo pode ser melhor
visualizado no esquema demonstrado na figura 7.
Figura 7: Esquema do mecanismo de deposição eletroforética de distorção da
liosfera e afinamento da dupla camada.
56
Pelo esquema mostrado acima, um sistema partícula de óxido carregada
positivamente/liosfera (por exemplo, [(M–OH
2
)
+
–X
-
]) se move em direção ao
catodo em uma célula de deposição eletroforética. A dinâmica dos fluidos e o
campo elétrico aplicado distorcem a dupla camada, afinando-a na frente e
tornando-a mais larga na parte de trás. Cátions que estão no líquido também se
movem para o catodo. Os contra-íons que estão na parte de trás, tendem a reagir
-
-
-
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-
-
Distorção da Liosfera pela EPD
Afinamento local da liosfera
-
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Coagulação
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Distorção da Liosfera pela EPD
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+
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++
++
++
-
--
--
--
--
--
Distorção da Liosfera pela EPD
Afinamento local da liosfera
-
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+
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+
+
+
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+
Afinamento local da liosfera
-
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+
+
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+
+
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+++
Coagulação
-
-
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-
++++
-
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-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
++
++
++
++
--
--
--
-
20
com esses cátions que acompanham o sistema e que estão em grande
concentração em seu redor. O ânion do sistema (X
-
em [(M–OH
2
)
+
–X
-
]) vem de
uma reação de dissociação, como YX Y
+
+ X
-.
Longe da superfície da partícula
central, contra-íons (X
-
) da dupla camada são atraídos pela partícula central com
menos fortemente e, por isso, reagem com os cátions (Y
+
) que acompanham o
sistema. O produto XY, por difusão, se movimenta para o bulk da suspensão.
Como resultado dessa reação química, a dupla camada afina, tal que a próxima
partícula, que também possui uma dupla camada distorcida e fina pelos mesmos
motivos anteriores, pode se aproximar o suficiente, tal que, forças atrativas de Van
der Waals dominam, resultando em coagulação/deposição sobre o eletrodo.
Esses mecanismos de deposição não são exclusivos, ou seja, dois
mecanismos podem acontecer ao mesmo tempo. Além disso, existem efeitos
secundários além da eletroforese e da deposição que ocorrem em sistemas reais.
1.3.1. Revestimentos eletroforéticos protetores à corrosão
A tecnologia de revestimento tem sido bastante pesquisada devido a sua
aplicação em setores como construção civil, automomotivo, aeronáutico, e
aparelhos eletrônicos domésticos.
57
O setor automotivo tem contribuído em grande
escala para se adequar a legislações de restrição ambiental no campo de
tratamento de superfície e revestimentos anti-corrosivos, através da introdução do
processo de pintura eletroforética de carcaças de automóveis, na década de 60.
Este processo de revestimento é feito através da aplicação de um potencial
21
elétrico entre o catodo e o anodo, ambos imersos em um tanque de pintura. A
função primária de uma tinta eletroforética é proteger o metal contra corrosão, ao
fornecer uma barreira contínua e uniforme, livre de bolhas e de defeitos, contra os
agentes corrosivos presentes no meio ambiente. Além da alta proteção à
corrosão, o processo de pintura eletroforética ainda possui vantagens como baixo
custo do processo e alto poder de penetração, o que possibilita a formação de
revestimentos homogêneos sobre objetos com formas complexas, como juntas
entre metais diferentes e de juntas soldadas.
57-60
Na década de 70 a pintura eletroforética deixou de ser anaforética, onde o
objeto revestido é o anodo, para ser cataforética, onde o objeto revestido é o
catodo. A pintura cataforética possui uma melhor proteção corrosiva, porque, ao
contrário da pintura anaforética, não há dissolução do substrato metálico e
oxidação do polímero pelo oxigênio. Revestimentos cataforéticos são mais
resistentes à corrosão filiforme, que é considerado um ataque cosmético, pois
afeta apenas a superfície, não comprometendo a estrutura metálica, e são mais
estáveis à variação de temperatura. A proteção anticorrosiva de quase todas as
carcaças de automóveis inclui um primer cataforético.
42,57,60
No início dos anos 90, a composição das pinturas cataforéticas utilizadas
eram à base de resinas epoxis modificadas contendo grupo amino. Através da
protonação por ácidos orgânicos dos grupos amino, as resinas podiam ser
dispersas em água. As reações de entrecruzamento entre as resinas eram feitas
com isocianatos, reações de Mannich ou re-esterificação. A partir do início do
século 21, a maior parte das tintas cataforéticas com proteção à corrosão
22
utilizadas como revestimentos automotivos são materiais à base de epóxi que são
internamente ligados através de entrecruzamento com uretano.
59, 61
Tradicionalmente, a tinta utilizada em uma pintura cataforética
(revestimentos orgânicos dispersos em água) consiste em uma resina básica e um
pigmento. A resina é, inicialmente, insolúvel em água, e se torna solúvel após
protonação com ácidos orgânicos fracos como fórmico ou acético, conforme
reação 1:
N
R1
R2
N
R1
R2
H
AH +
+
+ A
-
(1)
Durante o processo, ocorre a eletrólise da água no catodo, dando origem
aos íons hidroxilas (H
2
O OH
-
+ H
+
) e geração de H
2
. As partículas carregadas
positivamente são atraídas para o catodo, conseqüentemente, aumentando o pH
nas suas vizinhanças. Esse aumento de pH causa a coagulação da resina sobre o
catodo, formando o revestimento cataforético, de acordo com a reação 2:
N
R1
R2
H
N
R1
R2
+
+ OH
-
+
H O
2
(2)
Este mecanismo ocorre como conseqüência da baixa solubilidade da base
amina em comparação com o seu sal. Neste caso, a formação de OH
-
é
responsável pela eletrodeposição, sem a ocorrência de nenhuma outra reação
colateral. Devido a seu mecanismo, a cataforese é um processo auto-limitante em
termos de espessura. O estágio final do processo consiste em aquecimento à,
mais ou menos, 170
º C, para que seja feita a cura do polímero. Nesta etapa,
23
ocorre a densificação do depósito através da formação de ligações entre as
cadeias poliméricas.
1.3.2. Deposição eletroforética de polímeros condutores
Dispositivos funcionais tais como “
light emitting devices” (LED), dispositivos
fotovoltaicos e transístores são fabricados a partir de semicondutores, metais,
nanotubos de carbonos e, mais recentemente, polímeros condutores.
Nanodispositivos à base de polímeros condutores têm como vantagem um baixo
custo.
Procedimentos como “
spin coating” e “electrospinning” surgiram como
sendo técnicas bastantes atrativas para a modelagem de polímeros condutores. A
técnica “s
pin coating”, embora possua um baixo custo, consome grandes
quantidades de soluções de polímero para se obter filmes de qualidade. A técnica
electrospinning” é um método capaz de extrair fibras através de soluções de
polímeros e simultaneamente integrá-las em estruturas microfabricadas. Zhou et
al.
64
demonstraram que, através desta técnica, nanofibras podem ser extraídas
através de blendas PANI/óxido de polietileno, entretanto, o caráter isolante do
óxido de polietileno fornece uma baixa condutividade ao material, em comparação
com a condutividade da PANI pura. A técnica “
electrospinning” não é muito
prática, pois é necessário voltagens muito alta (4000 – 25000 V) para extrair um
jato líquido polimérico a partir da solução de blenda de PANI.
62-64
24
Recentemente, alguns métodos baseados em suspensão de polímeros, e
não em solução de polímeros, têm sido desenvolvidos. Foi reportado por Tada et
al.
62
que, a dispersão de poli(3-octadeciltiofeno) em acetonitrila resulta em uma
suspensão estável de onde podem ser obtidos filmes por EPD. A deposição
eletroforética é um método rápido de se obter filmes com um molde pré-definido,
pois a área a ser depositada pode ser especificada pela eletrificação das partes
selecionadas do eletrodo, além de garantir um gasto mínimo de polímero condutor
a ser utilizado, resultando em um processo industrial de baixo custo.
65
As propriedades condutoras da PANI são úteis tanto para aplicações em
deposições eletroforéticas como para mecanismos anticorrosivos, por este motivo,
a PANI pode ser utilizada como um aditivo de proteção à corrosão em suspensões
de pinturas eletroforéticas. Por exemplo, Calvo et al.
66
revelaram um método para
proteger uma superfície metálica sujeita à “
galling” e à corrosão. O fenômeno
galling” é uma forma severa de desgaste adesivo, que acontece em superfícies
metálicas que estão em contato e que são submetidas a altas pressões. Durante a
aplicação da pressão, os filmes de óxido protetor se rompem e os pontos de
interface metálica deslizam ou se “agarram”. A conseqüência cumulativa dessa
ação de deslizar/agarrar é uma adesão crescente. No extremo, o desgaste
adesivo leva ao travamento da peça e ao arrancamento do material. Uma forma
de se controlar o fenômeno “
galling” é a utilização de lubrificantes entre as
superfícies. Nesta patente, é apresentada uma formulação de um compósito
líquido à base de dissulfeto de molibdênio, que é comumente utilizado como
lubrificante de superfície metálica, e polímero condutor. A preparação do
compósito líquido inclui a polimerização química de anilina com persulfato de
25
sódio como oxidante na presença de ácido sulfúrico ou fosfórico. Quando a
polimerização é completa, a PANI, que se encontra em seu estado de oxidação
sal esmeraldina (forma dopada), é desdopada pela reação com hidróxido de
amônio. Após a desdopagem com hidróxido de amônio, a solução é filtrada, e o pó
azul escuro (PANI base esmeraldina) é secado em estufa a vácuo. Então, com
agitação intensa, a PANI BE é lentamente dissolvida em n-metil pirrolidona.
Lubrificantes sólidos são adicionados à solução polimérica com contínua agitação.
A massa do lubrificante é ajustada na razão de 1:4 por peso em relação ao
polímero. O filme seco pode ser aplicado por deposição física do compósito líquido
ou por EPD. A análise da habilidade de proteção à corrosão do filme obtido foi
feita através de testes “
ring-on-disk” que consiste monitorar o torque aplicado na
peça metálica com o tempo. Através da técnica Microscopia Eletrônica de
Varredura, a imagem obtida da superfície não tratada, mostra um severo “
galling
após o referido teste, enquanto que as imagens obtidas de uma peça metálica
fosfatizada e tratada com filme seco de PANI/dissulfeto de molibdênio mostram
que não havia nenhum “
galling” após várias horas de teste.
A deposição eletroforética de polímeros condutores visando a proteção à
corrosão metálica ainda é pouco explorada na literatura. Shengguang et al.
67
relatou que uma blenda de resina epóxi/poliamida, que é uma resina cataforética,
e PANI/Montmorilonita, fornece resistência à corrosão metálica. A performance de
resistência à corrosão dos filmes foi estudada por espectroscopia de impedância
eletroquímica. Plots de Nyquist mostraram que os revestimentos de blenda
epoxy/polianilina têm melhor propriedade protetora após imersos em uma solução
de NaCl 3,5 w% por 10 dias. Racicot et al
68
relatou o uso de um complexo
26
molecular PANI e Poli(ácido acrílico) como aditivo em um primer de epóxi à base
de água sobre ligas de alumínio através de EPD. Foram obtidos revestimentos
uniformes, de 0,8 milímetros de espessura sobre ligas AA-7075, AA-2024 e AA-
6061. Como testes de corrosão foram feitos “
salt-spraye imersão em água do
mar. Foi observado que os polímeros condutores são efetivos em inibir a corrosão
mesmo com pequenas quantidades de polímero condutor como aditivo ao primer
de epóxi.
27
2. Objetivos
O objetivo deste trabalho é mostrar a eficiência da proteção anti-corrosiva
da PANI, através de evidências diretas de um acoplamento galvânico entre o
polímero e o metal a ser protegido. A constituição de um par galvânico entre a
PANI e diferentes metais (Zn, Fe, Ni e Cu) foi avaliada para estabelecer a
natureza do acoplamento e sua dependência dos estados de oxidação da PANI.
Para demonstrar a efetividade deste acoplamento e a conseqüente
proteção à corrosão, foi sintetizada uma tinta cataforética à base de PANI e epóxi,
a qual foi eletroforeticamente depositada sobre o ferro, e a performance
anticorrosiva desta tinta, foi monitorada, em solução agressiva, com relação ao
tempo.
28
3. Parte Experimental
3.1. Reagentes, Materiais e Soluções
Os reagentes listados a seguir (tabela 1), foram utilizados conforme
recebidos, com exceção do monômero de anilina, que foi destilado para que
fossem removidas impurezas oxidadas.
Tabela 1: Lista dos reagentes utilizados
Nome do Composto
Fórmula
Molecular
Teor Procedência
Anilina C
6
H
5
NH
2
99,5 % Aldrich
Acetonitrila CH
3
CN 99 % Synth
Ácido Canforsulfônico C
10
H
16
O
4
S 98 % Aldrich
Ácido Clorídrico HCl 37 % Quimex
Ácido
Dodecilbenzenosufônico
C
18
H
30
O
3
S 97% Tokyo Kasei P.A.
Ácido Fenilfosfônico C
6
H
7
O
3
P 98 % Aldrich
Ácido Fórmico CH
2
O
2
85 % Synth
Ácido Sulfúrico H
2
SO
4
98 % Synth
Álcool Etílico C
2
H
5
OH 99,5 % F. Maia
Hidróxido de Amônio NH
4
OH 28 – 30 % Synth
Resina Acrílica - - Arotec
Persulfato de Potássio K
2
S
2
O
8
99 % Merck
Primer Catiônico de Epóxi-
Uretano (Cormax V)
- - DuPont
69
29
Todas as soluções eletrolíticas foram preparadas com água ultra pura
obtida a partir de um sistema de purificação Elga System UHQ.
3.2. Eletrodos
Para os estudos sobre acoplamento galvânico entre a PANI e os eletrodos
metálicos de zinco, ferro, níquel e cobre, foi utilizado um eletrodo auto-suportado
de PANI. Primeiramente, foi obtida uma suspensão de PANI (SE), por meio de
polimerização oxidativa, conforme procedimento descrito a seguir: 30 ml de DBSA
foi adicionada à 2000 ml de 0,05 molL
-1
de uma solução aquosa de anilina, sob
agitação constante, por, aproximadamente, 1 hora, até que se formasse uma
suspensão homogênea; em seguida, o sistema foi levado à 0º C e então, foi
adicionado, gota à gota, 200 ml de 0,5 molL
-1
de uma solução aquosa de K
2
S
2
O
8
.
Foi obtida uma suspensão de coloração verde de pH = 3,0 após doze horas de
reação.
A fórmula estrutural dos reagentes utilizados na polimerização da PANI está
descrita na tabela 2.
A suspensão de PANI foi filtrada a vácuo e lavada. O resíduo da filtração foi
colocado em um cadinho de porcelana e secado em uma estufa à 60
o
C por 24
horas e, depois, secado em uma estufa a vácuo, por 24 horas, à 60º C. O resíduo
da filtração da PANI, após seco na estufa, apresentava-se na forma de pó. Esse
pó de PANI foi misturado a uma Resina Acrílica na proporção 65% / 35% em
massa de PANI/Resina. Como forma para o eletrodo, foi utilizado um pequeno
30
cilindro de teflon, com 10 mm de diâmetro, 5 mm de espessura e com um orifício
de 3 mm, localizado no meio da forma. O pó de PANI/Resina foi colocado neste
orifício e o contato elétrico foi feito através de um fio de platina. A prensagem foi
feita a frio, até que toda a forma estivesse saturada com o pó, e a última
prensagem fosse feita à quente. (A prensa foi aquecida sem o eletrodo, por 10
minutos. Após o aquecimento, a prensa alcançou a temperatura de 70 º C). O
esquema da montagem do eletrodo auto-suportado de PANI está mostrado na
figura 8.
Tabela 2: Lista da fórmula estrutura dos reagentes utilizados na polimerização
oxidativa da PANI.
Nome do Composto Anilina
Ácido
Dodecilbenzenosulfônico
Persulfato de
Potássio
Fórmula Estrutural
Os eletrodos metálicos utilizados nos estudos de acoplamento galvânico
foram zinco, ferro, níquel e cobre. Esses substratos apresentam procedência da
Goodfellow Cambridge Limited, com 99,99 % de pureza e área igual à 0,75 cm
2
,
0,20 cm
2
, 0,03 cm
2
e 0,20 cm
2
, respectivamente. As medições de voltametria
linear e potencial de circuito aberto (E
ca
) foram feitas utilizando-se como contra-
eletrodo e eletrodo de referência, os seguintes materiais:
NH
2
SO
3
H
C
12
H
25
KO S
O
O
O O S
O
O
OK
31
Figura 8: Esquema da montagem do eletrodo auto-suportado de PANI
Contra-eletrodo: eletrodo circular de platina, procedência Goodfellow
Cambridge Limited, com 99,95% de pureza e área igual à 1,2 cm
2
,
Eletrodo de referência: eletrodo de calomelanos saturado em KCl (SCE)
confeccionado no Laboratório de Materiais Eletroativos, do IQUSP.
Os eletrodos utilizados no estudo sobre deposição eletroforética de
partículas de PANI foram:
Eletrodos de Trabalho:
Chapa de ferro, procedência Goodfellow Cambridge Limited e área 3,8 cm
2
,
Disco de platina, procedência Goodfellow Cambridge Limited, com 99,95% de
pureza e área 7,0 cm
2
.
Contra-Eletrodo:
+
PANI (SE) Resina Acrílica
65% PANI/35% Resina
(m/m)
Fio de Platina e Forma de
Teflon
Eletrodo
auto-suportado
de PANI
Prensa
32
Chapa de platina, com procedência Goodfellow Cambridge Limited, com
99,95% de pureza e área 1cm
2
.
Os eletrodos utilizados nos estudos de proteção à corrosão efetuada pela
tinta eletroforética à base de PANI foram:
Eletrodo de referência: eletrodo de prata cloreto de prata (Ag/AgCl),
confeccionado no Laboratório de Materiais Eletroativos, do IQUSP.
Contra-eletrodo: fio de platina de área 0,1 cm
2
confeccionado no Laboratório
de Materiais Eletroativos, do IQUSP.
3.3. Preparação da dispersão de PANI utilizada nos estudos de deposição
eletroforética
A dispersão de PANI utilizada nos estudos de cinética de deposição
eletroforética e na avaliação de potencial zeta foi feita conforme a literatura
63
.
PANI foi obtida, a partir de polimerização oxidativa, conforme procedimento
experimental descrito a seguir: uma solução aquosa ácida (HCl 1,0 molL
-1
) do
agente oxidante K
2
S
2
O
8
foi lentamente adicionada à solução de anilina dissolvida
em meio aquoso de HCl 1,0 molL
-1
. As concentrações de monômero e agente
oxidante foram iguais a 0,54 molL
-1
e 0,17 molL
-1
. A PANI SE foi desprotonada
utilizando-se solução aquosa de NH
4
OH 0,1 molL
-1
, à temperatura ambiente e sob
agitação constante, durante 4 horas, resultando na suspensão de PANI BE (base
esmeraldina). A suspensão de PANI BE foi filtrada e secada à temperatura de 50º
C por 24 horas e a vácuo, à temperatura de 50º C por 24 horas, obtendo-se um pó
33
azul escuro com brilho metálico. Foi preparada uma solução de PANI,
dissolvendo-se o pó de PANI BE em Ácido Fórmico (1 mg / 1 ml). O ácido fórmico
além de solubilizar a PANI na forma BE, convertendo-a na forma condutora, PANI
SE.
Para o estudo da mobilidade eletroforética, foi adicionado 250
μl da solução
PANI/ácido fórmico em 10 ml de acetonitrila, resultando em uma suspensão de
25mgL
-1
de PANI em acetonitrila. De acordo com a literatura, a acetonitrila não
dissolve a PANI, mas é miscível com ácido fórmico, conseqüentemente, as
gotículas de ácido fórmico contendo PANI encolhem e se dissipam no meio,
fornecendo uma suspensão coloidal de PANI estável. Para o estudo da cinética de
deposição eletroforética, foi adicionado 500
μl da solução PANI/ácido fórmico em
10 ml de acetonitrila, resultando em uma suspensão de 50mgL
-1
de PANI em
acetonitrila. A figura 9 mostra a suspensão de PANI/ácido fórmico em acetonitrila.
O processo EPD foi realizado à voltagem constante, em uma célula
simples. O eletrodo de trabalho e o contra eletrodo utilizados foram,
respectivamente, eletrodo circular de Pt e eletrodo de chapa de Pt. A distância de
separação entre os eletrodos foi de 1 mm. A figura 10 mostra o esquema da célula
utilizada na EPD.
34
Figura 9: Suspensão de PANI dopada com ácido fórmico, dispersada em
acetonitrila. (A): Suspensão de 50mgL
-1
e (B): Suspensão de 25mgL
-1
.
Figura 10: Esquema da célula de EPD utilizada nos estudos de cinética de
deposição eletroforética
-
Contra-
Eletrodo
Eletrodo
de
Trabalh
o
A
B
35
3.4. Preparação da tinta cataforética à base de PANI
Foi preparada uma dispersão de partículas positivas de PANI. De início, foi
preparado pó de PANI BE, conforme procedimento descrito no item 3.3. Em
seguida, o pó polimérico final foi novamente dopado com uma solução 1,0 molL
-1
de HPPN em EtOH, sob agitação constante durante 8 horas e sob sonicação
durante 3 horas. As quantidades utilizadas de PANI BE e de solução de HPPN
foram ajustadas de modo a fornecer uma dispersão de partículas positivas de
PANI. A verificação do sinal das partículas foi feita por experimentos de
eletroforese através da diluição de 100 microlitros da dispersão de PANI em 10 ml
de acetonitrila, em uma célula onde o anodo e o catodo eram, respectivamente,
eletrodos de platina e de ferro. O objetivo de se conseguir um depósito sobre o
catodo foi atingido com uma dispersão cuja proporção era de 3 mg de PANI EB e
1 ml de solução alcóolica de HPPN.
Foi obtida duas tintas cataforéticas à base de PANI, utilizando-se
proporções distintas da dispersão de partículas positivas de PANI dopada com
ácido fosfônico (PANI/HPPN). Primeiramente, a tinta cataforética epóxi-uretano foi
diluída em água deionizada, utilizando-se 2 ml de tinta em 10 ml de água
deionizada. As tintas foram confeccionadas, adicionando-se 5% e 15% de
PANI/HPPN, em relação à quantidade em volume de tinta epóxi-uretano, sob
agitação mecânica constante. As tintas possuíam uma aparência esverdeada e pH
= 2,1 (figura 11), o que comprova que a PANI estava na forma condutora, sal
esmeraldina.
36
Figura 11: Tinta cataforética de: (A) epóxi-uretano, (B) epóxi/PANI (5%) e (C)
epóxi/PANI (15%)
A tinta cataforética à base de PANI e a tinta cataforética de epóxi-uretano
foram aplicadas em uma chapa de ferro, com área superficial de 1 cm
2
, à 40 V,
com tempo de deposição de 2 minuto, sob agitação mecânica. O processo EPD foi
realizado em uma célula simples, onde o contra-eletrodo utilizado foi eletrodo de
chapa de Pt. A distância de separação entre os eletrodos foi de 3 cm. A figura 12
mostra o esquema da célula utilizada na EPD. A amostra foi curada à 160º C por 1
hora.
Figura 12: Esquema da célula de EPD utilizada na deposição da tinta cataforética
à base de PANI
A B C
Contra-
Eletrodo
Eletrodo de
Trabalho
-
37
3.5. Soluções utilizadas nos testes eletroquímicos para análise de corrosão
Foram utilizadas soluções ácidas e neutras nos testes eletroquímicos
realizados para analisar o acoplamento galvânico entre a PANI e os diferentes
metais. As soluções ácidas utilizadas foram H
2
SO
4
1,0 molL
-1
(pH = 0,2), HCl 0,6
molL
-1
(pH = 0,2), HCSA 0,9 molL
-1
(pH = 0,2), HPPN 0,1 molL
-1
(pH = 1,6) e as
soluções neutras utilizadas foram NaCl 0,1 molL
-1
, HCSA 0,1 molL
-1
pH =7,0
ajustado com NaOH 1,0 molL
-1
e com adição de NaCl 0,1molL
-1
e HPPN 0,1 molL
-
1
pH =7,0 ajustado com NaOH 1,0 molL
-1
e com adição de NaCl 0,1molL
-1
.
Nos estudos de cinética de deposição eletroforética da dispersão de
partículas positivas de PANI, foi utilizada, como meio eletrolítico, uma solução de
1,0 molL
-1
de HCl, para a avaliação da eletroatividade do filme de PANI.
Nos estudos sobre a performance anticorrosiva da tinta cataforética à base
de PANI, foi utilizado uma solução de 1,0 molL
-1
de H
2
SO
4
.
3.6. Métodos experimentais
3.6.1. Medição da corrente galvânica
Neste tipo de medida, o par galvânico é imerso em um determinado meio
corrosivo e o contato elétrico entre os dois componentes do par é feito através de
um fio externo. Desta forma, os elétrons, liberados na corrosão do componente
anódico e que são utilizados nas reações que ocorrem no componente catódico,
38
são forçados a fluir por esse fio. A corrente que passa pelo fio externo é a corrente
galvânica ou corrente de corrosão (i
corr
). Essa corrente é medida por um
amperímetro de resistência zero. A medida do sentido e da magnitude desta
corrente fornece informações sobre qual é o componente anódico do par e sobre a
intensidade da corrente de corrosão galvânica.
71
O equipamento utilizado nas medições de corrente galvânica foi o
potenciostato Model 362 Scanning Potentiostat da Princeton Applied Research.
Para que este potenciostato funcionasse, de forma adequada, como um
amperímetro de resistência zero, o botão da célula foi posicionado na posição
OFF, os eletrodos referentes ao par galvânico foram conectados ao eletrodo de
trabalho e ao eletrodo aterrado. A figura 13 mostra como deve ser o esquema de
ligação entre o potenciostato e a célula galvânica e a configuração eletrônica de
um potenciostato funcionando como um amperímetro de resistência zero.
Figura 13: Esquema da ligação entre o potenciostato e a célula galvânica e do
circuito eletrônico de um amperímetro de resistência zero. (WE = eletrodo de
trabalho, CE = contra-eletrodo, RE = eletrodo de referência, Terra = eletrodo
aterrado e ARZ = Amperímetro de resistência zero).
CE WE RE Terra
Catodo
Anodo
RE
WE
CE
i
Range
39
Para que fosse observada a relação entre o sentido da corrente e qual
eletrodo funcionaria como anodo, foi realizada uma medição de corrente galvânica
no sistema Zn/Cu em HCl 0,1 molL
-1
. O anodo é o eletrodo com o potencial mais
eletronegativo, que neste caso é o zinco, enquanto que o catodo é o eletrodo com
o potencial mais eletropositivo, que neste caso é o cobre. A figura 14 mostra como
foram feitas as conexões entre o potenciostato e o sistema em questão, e o
resultado dessa medição.
Pode ser observado que, para uma corrente positiva, o anodo (eletrodo de
zinco), estava conectado ao eletrodo de trabalho e o catodo estava conectado ao
eletrodo aterrado.
Para todas as medições de corrente galvânica realizadas neste trabalho, o
eletrodo metálico foi conectado ao eletrodo de trabalho e o eletrodo auto-
suportado de PANI foi conectado ao eletrodo aterrado. Para essas medições,
foram utilizadas as soluções citadas no item 3.5 e como eletrodos, foram utilizados
os seguintes pares galvânicos: Zn-PANI, Fe-PANI, Ni-PANI e Cu-PANI.
O objetivo do estudo da corrente galvânica entre os pares metal-PANI foi
prever as tendências gerais de se formar células galvânicas, a magnitude da
corrente que fluía entre os pares e a provável direção das reações que estariam
ocorrendo no meio.
40
Amperímetro
i
a
i
c
ē
ē
Cu
ē
H
2
H
+
Zn
Zn
2+
H
+
Cl
-
Cl
-
H
+
catodo
anodo
A
Figura 14: (A): Esquema da ligação entre o potenciostato e o sistema Zn/Cu em
HCl 0,1 molL
-1
. (B) Resultado da medição da corrente galvânica do sistema Zn/Cu
em HCl 0,1 molL
-1
.
B
41
3.6.2. Medições eletroquímicas
As técnicas eletroquímicas utilizadas foram:
Medição de potencial a circuito aberto (E
ca
): o objetivo desta técnica foi
determinar o potencial apresentado pelos eletrodos metálicos e pelo eletrodo
de PANI nos eletrólitos de interesse, verificando a tendência desses eletrodos
à corrosão e avaliar os valores de E
ca
com relação ao tempo apresentados
pelas tintas cataforéticas depositadas sobre um substrato de ferro imerso em
solução agressiva. Foram utilizados, nesta medição, como eletrodos de
trabalho, os eletrodos de PANI, zinco, ferro, níquel e cobre e como eletrodo de
referência, SCE. As soluções utilizadas foram citadas no item 3.5. As medidas
de potencial de circuito aberto em função do tempo foram obtidas utilizando-se
um potenciostato Modelo 362 Scanning Potentiostat.
Voltametria linear: esta técnica foi utilizada com o objetivo de caracterizar o
comportamento dos metais estudados em potenciais diferentes do potencial de
corrosão, em meios ácido e neutro, e comparar parâmetros de corrosão.
As
curvas de polarização foram obtidas por voltametria linear para os eletrodos de
zinco, ferro, níquel e cobre. O eletrodo de referência utilizado foi SCE e o
contra-eletrodo utilizado foi o eletrodo circular de platina. As soluções utilizadas
foram citadas no item 3.5. As medidas foram feitas utilizando-se um
potenciostato Modelo 362 Scanning Potentiostat.
Voltametria Cíclica: a técnica voltametria cíclica foi utilizada com o objetivo
de se verificar a eletroatividade dos filmes à base de PANI e, também, para
42
analisar a quantidade de massa de PANI depositada nos estudos de cinética
de deposição eletroforética. Para essas medições, foram utilizados os
eletrodos SCE, eletrodo de folha de Pt e eletrodo circular de Pt como,
respectivamente, eletrodo de referência, contra-eletrodo e eletrodo de trabalho.
As medidas de voltametria cíclica foram obtidas utilizando-se um potenciostato/
galvanostato Eco Chemie-Autolab PGSTAT30.
Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS): esta técnica foi utilizada
com o objetivo de se investigar a performance protetora à corrosão da tinta
cataforética à base de PANI em soluções agressivas. Gráficos de Nyquist
foram registrados após certos períodos de tempo em H
2
SO
4
1 molL
-1
, a vários
potenciais de circuito aberto. As medições foram obtidas na janela de
freqüência de 0,01 à 10000 Hz, utilizando uma amplitude de 10 mV, utilizando-
se potenciostato/ galvanostato Eco Chemie-Autolab PGSTAT30.
3.6.3. Caracterização
As técnicas listadas a seguir foram utilizadas para caracterizar a dispersão
de partículas de PANI e a tinta cataforética à base de PANI:
Microeletroforese: o objetivo da utilização desta técnica foi verificar a carga
das partículas da dispersão de PANI utilizada nos estudos de cinética de
deposição eletroforética, através do valor do potencial zeta calculado a
partir dos resultados de mobilidade eletroforética. As medidas de
mobilidade eletroforética foram obtidas utilizando-se um instrumento Rank
Bros. Mark II, equipado com uma célula cilíndrica de 2 mm de diâmetro. As
43
medidas foram feitas na Faculdade de Ciências Químicas, da Universidade
Nacional de Córdoba, em Córdoba, Argentina.
Espectroscopia Raman: a técnica de espectroscopia Raman foi utilizada
para verificar a presença das bandas características do sal esmeraldina da
tinta cataforética à base de PANI. As medidas de espectroscopia Raman
foram obtidas utilizando-se um instrumento Renishaw Raman Imaging
Microscope System 3000 com um microscópio metalúrgico Olympus, um
detector CCD e um lase He-Ne (
λ
0
= 632,8 nm, Spectra Physics mod. 127)
como radiação incidente. As medidas foram feitas no Laboratório de
Espectroscopia Molecular – Hans Stammreich, do Instituto de Química,
Universidade de São Paulo.
Microscopia Óptica: a aparência morfológica do filme de tinta cataforética à
base de PANI e da interface eletrodo de trabalho/filme de tinta cataforética
à base de PANI após 7 dias de imersão em H2SO4 1,0 molL
-1
foi
observada por meio de um microscópio modelo Olympus BX51M.
44
4. Resultados e Discussões
4.1. Voltametria Linear
Este método permitiu avaliar a influência dos meios aquosos ácidos e
neutros nos metais estudados. O meio ácido constituiu-se de dois ácidos
inorgânicos (H
2
SO
4
1,0 molL
-1
e HCl 0,6 molL
-1
, de pH = 0,2) e dois ácidos
orgânicos (HCSA 0,9 molL
-1
, de pH = 0,2 e HPPN 0,1 molL
-1
, de pH = 1,6), e o
meio neutro constituiu-se de NaCl 0,1 molL
-1
e dos ácidos HCSA e HPPN 0,1
molL
-1
, com pH ajustado para o valor 7,0 através da adição de NaOH 1,0 molL
-1
,
com adição de NaCl 0,1 molL
-1
.
A técnica Voltametria Linear permite obter curvas potenciodinâmicas
através da varredura de potencial, feita em uma única direção, iniciando-se a partir
do potencial de corrosão inicial (E
corr
), que é o potencial de circuito aberto
apresentado pelo substrato metálico sem aplicação de um potencial externo, e
parando em um valor de potencial determinado. Através das curvas de
polarização, é possível obter dados com relação ao comportamento eletroquímico
de um metal num potencial de eletrodo diferente do potencial de corrosão.
45
4.1.1. Curvas potenciodinâmicas em soluções ácidas
A figura 15 mostra a curva potenciodinâmica de polarização anódica para
os eletrodos de Zn, Fe, Ni e Cu em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
, HCl 0,6 molL
-1
e HCSA 0,9
molL
-1
, todos de pH = 0,2, e HPPN 0,1 molL
-1
, de pH = 1,6.
Figura 15: Curvas de polarização anódica dos eletrodos de Zn (), Fe (), Ni() e
Cu () em (A) H
2
SO
4
1,0 molL
-1
, (B) HCl 0,6 molL
-1
, (C) HCSA 0,9 molL
-1
e (D)
HPPN 0,1 molL
-1
,
ν
= 10 mVs
-1
.
A
B
C D
46
Para o eletrodo de ferro () em H2SO4, a taxa de dissolução anódica aumenta
até atingir uma densidade de corrente crítica (j
c
= 0,45 Acm
-2
), que é a densidade de
corrente de dissolução máxima. A partir deste ponto máximo, inicia-se uma região de
densidade de corrente limitada por difusão. Provavelmente, neste região, a vizinhança
da superfície do eletrodo deve ficar supersaturada com FeSO
4, e a migração do íon
dissolvido Fe
2+
para longe da superfície do eletrodo não deve ser rápida o suficiente,
pois alguns cristais deste sal devem se depositar na superfície do eletrodo, retardando
a taxa de dissolução do ferro.
70-72
O mesmo comportamento eletroquímico apresentado pelo eletrodo de ferro em H2SO4
é observado para o eletrodo de cobre () e níquel (). Para ambos os eletrodos, há
um pico de corrente seguido de uma região onde a densidade de corrente é limitada
pela difusão. Provavelmente, isto ocorre devido a uma interação entre os íons
metálicos (M
2+
) provenientes da dissolução do eletrodo com o ânion SO
4
2-
-, resultando
no sal (MSO
4
) na superfície do eletrodo, o qual dificulta a migração dos íons M
2+
para
longe da superfície do eletrodo, ocasionando um decréscimo na densidade de
corrente.
Pode ser observado que o eletrodo de zinco () não apresentou região de
densidade de corrente limitada por difusão na solução de H
2SO4, apenas se dissolveu
continuamente conforme o potencial atingia valores mais positivos.
O fenômeno da passividade está ausente na presença de soluções com
altas concentrações de Cl
-
. Este fato pode ser observado pelas curvas
potenciodinâmicas da figura 15 B. Esta ausência de passividade é devido a ânions
de ácidos fortes mais comuns formarem complexos de fraca interação com metais.
47
Em cinética de eletrodo, mesmo uma fraca complexação pode ser de grande
importância, pois, freqüentemente, o íon complexo reage com mais facilidade do
que o íon metálico livre. Este é o caso dos eletrodos metálicos complexados com
íons cloreto.
72
Em relação ao eletrodo de zinco (), se existir uma alta concentração de
cloreto, o íon Cl
-
forma um complexo com o cátion Zn
2+
, aumentando a taxa de
dissolução do zinco metálico. Nesta concentração de cloreto (0,6 molL
-1
), a maior
parte dos cátions Zn
2+
se apresenta na forma ZnCl
+
. O sal ZnCl
2
também pode
existir, porém em menor quantidade. Outros complexos também pode ter sido
formados, como ZnCl
3
-
e ZnCl4
2-
.
72
Quanto ao eletrodo de ferro (), foi proposto um mecanismo para a
dissolução por íons Cl
-
em duas etapas. A primeira etapa é uma quimissorção
eletroquímica reversível do cloreto (reação 3):
Fe + Cl
-
Fe(Cl)
ads
+ 1ē (3)
seguida de uma adsorção química de prótons, a qual é a etapa determinante
(reação 4):
Fe(Cl)
ads
+ H
+
Fe(ClH
+
)
ads
(4)
Após a formação do complexo Fe(ClH
+
)
ads
, a dissolução como FeCl
-
é proposta
para interpretar o efeito de aceleração do H
+
sobre a taxa de dissolução.
72, 77
No caso do eletrodo de níquel (), a corrente aumenta até um valor
máximo. Neste ponto, a superfície do metal está saturada de Ni
2+
e há a formação
de NiCl
2
. A alta solubilidade deste sal resulta em um aumento da taxa de
dissolução do eletrodo de níquel, retardando a sua passivação.
72, 76, 77
48
A curva de polarização do eletrodo de cobre () apresentou dois picos,
indicando, que a reação de dissolução anódica pode ser representada por uma
seqüência de duas etapas. O primeiro pico apareceu em 0,02 V, devido à
formação de um filme de CuCl poroso, e o segundo em 0,2 V, devido à adsorção
de íons Cl
-
no filme e a sua posterior dissolução como o complexo CuCl
2
-
. Após o
segundo pico, a corrente diminuiu, voltando a aumentar, atingindo um valor
máximo em 0,6 V e aumentando suavemente até 1,5 V. Este aumento deve Ter
sido ocasionado pela formação de Cu
2+
.
72,78,79
A figura 15 C mostra as curvas potenciodinâmicas para os eletrodos
metálicos em ácido canforsulfônico. Ácido sulfônico e surfactantes a base do ânion
sulfonato são conhecidos por sua ação inibidora à corrosão em metais como
alumínio e aço. A eficiência da proteção à corrosão apresentada por estes
inibidores é atribuída ao átomo de enxofre presente no grupo funcional destes
compostos, tornando o grupo eletroativo e, desta forma, interagindo em uma maior
extensão com a superfície metálica. Quando a concentração destes inibidores
atinge a concentração micelar crítica, uma monocamada é formada na superfície
metálica e a eficiência da proteção à corrosão se torna máxima, neste caso. Não
há informações descrevendo o comportamento eletroquímico de alguns metais,
como, por exemplo, o cobre, durante a dissolução anódica em ácido
canforsulfônico, por isso não há dados sobre o mecanismo de dissolução ou a
composição do filme passivador.
80-82
Para a solução de HCSA 0,9 molL
-1
, pode ser observado que apenas os
metais ferro () e níquel () apresentam comportamento ativo-passivo, com
densidade de corrente passiva (j
pa
) em torno de 10
-4
Acm
-2
, e potenciais de
49
passivação em torno de – 0,07 e 0,12 V, respectivamente. Para estes metais,
após o pico de corrente, foi observada uma região de corrente estacionária, cujo
valor independia da variação do potencial. Essa dissolução mínima observada,
provavelmente, era o resultado da transformação do sal insolúvel em um óxido
metálico hidratado.
Para a curva de polarização do eletrodo de cobre (), é observado que a
dissolução anódica deste metal ocorre em duas etapas. O primeiro pico aparece
em 0,4 V e o segundo em 0,6V. Entre 0,6V e 0,8V, há uma região de oscilação de
corrente. Oscilações de correntes são, geralmente, associadas com polarização
anódica e a instabilidade dos filmes anódicos formados. No caso do cobre (),
oscilações de correntes foram observadas por Nobe
et al.
83
para eletrodos
rotativos em soluções de ácido clorídrico com concentrações muito baixas. Para
explicar o comportamento oscilatório, foi proposto um mecanismo baseado na
formação-dissolução de um filme muito espesso de CuCl na superfície do
eletrodo. Quando a reação de formação do filme é mais rápida do que a
dissolução, a espessura do filme aumenta e quando a reação de dissolução é
mais rápida que a de formação, a espessura do filme diminui, ocasionando a
oscilação de corrente.
Tanto para o eletrodo de cobre (), como para o eletrodo de zinco (), após
o pico de corrente, foi observada uma região de redução de densidade de
corrente. Nesta região, a corrente é limitada pela difusão das espécies metálicas
oxidadas da superfície para o âmago da solução.
A figura 15 D mostra as curvas potenciodinâmicas para os eletrodos
metálicos em ácido fenilfosfônico. Para a solução de HPPN 0,1 molL
-1
, os
50
eletrodos de ferro (), níquel () apresentaram comportamento ativo-passivo, com
densidade de corrente de passivação em torno de 10
-4
Acm
-2
. Nesta região, o
eletrodo está protegido, sofrendo apenas uma dissolução mínima. Esta
significante inibição da taxa de corrosão, provavelmente, é proveniente de sais
insolúveis formados entre os cátions metálicos e o ânion fenilfosfonato, que se
depositam na superfície do eletrodo metálico.
Já os eletrodos de cobre () e zinco () apresentaram, após o pico de
densidade de corrente crítica, uma região onde a corrente apresentou um valor
estacionário devido ao processo difusional.
Para as soluções de HCSA e HPPN, foram observadas, para todos os
metais, j
c
muito menores do que as soluções de H
2
SO
4
e HCl. Embora tenha sido
observado reduzidas densidades de correntes para todos os metais nas curvas
potenciodinâmicas obtidas para as soluções de HCSA e HPPN, somente os
eletrodos de ferro () e niquel () apresentaram comportamento ativo-passivo
nessas soluções.
A tabela 3 mostra, para os metais Zn (
), Fe (), Ni () e Cu (), os
valores de j
c
(densidade de corrente crítica) e j
pa
(densidade de corrente passiva),
obtidos durante as curvas de polarização potenciodinâmicas, nas soluções
aquosas ácidas estudadas.
51
Tabela 3: i
c
e i
p
para as seguintes soluções aquosas: H
2
SO
4
1,0 molL
-1
, HCSA 0,9
molL
-1
e HPPN 0,1 molL
-1
.
Metal H
2
SO
4
HCSA HPPN
j
c
/Acm
-2
j
pa
/Acm
-2
j
c
/Acm
-2
j
pa
/Acm
-2
j
c
/Acm
-2
j
pa
/Acm
-2
Zn 1 - 10
-1
- 10
-2
-
Fe 1 - 10
-1
10
-4
10
-2
10
-4
Ni 10
-2
- 10
-2
10
-4
10
-3
10
-4
Cu 1 - 10
-1
- 10
-2
-
Através da tabela 3, pode ser claramente observado o decréscimo do valor
de j
c
para todos os metais, e o aparecimento de j
pa
para os eletrodos de ferro e
níquel nas curvas potenciodinâmicas em soluções aquosas de HCSA e HPPN.
Este fato evidencia que estas soluções não são tão agressivas a esses metais
como as soluções de H
2
SO
4
e HCl, além mostrar o forte caráter passivante dos
produtos de corrosão formados durante as curvas potenciodinâmicas dos
eletrodos de ferro e níquel nessas soluções.
4.1.2. Curvas potenciodinâmicas em soluções neutras
A figura 16 mostra as curvas potenciodinâmicas para os eletrodos de Zn,
Fe, Ni e Cu em NaCl 0,1 molL
-1
, em HCSA 0,1 molL
-1
pH = 7,0 com adição de
NaCl 0,1 molL
-1
e em HPPN 0,1 molL
-1
pH = 7,0 com adição de NaCl 0,1 molL
-1
.
Devido às características complexantes do íon Cl
-
, que impedem a
passivação de metais como zinco, ferro e níquel, e que foram comentadas durante
a discussão sobre os experimentos realizados em HCl 0,6 molL
-1
, pode-se
52
observar o mesmo comportamento destes eletrodos em NaCl 0,1 molL
-1
(figura 16
A)
. Não são observados picos de corrente crítica nem a região de passividade
para os eletrodos de zinco(
), ferro () e níquel (). Somente o eletrodo de cobre
(
) apresentou um pico de densidade de corrente crítica, em, aproximadamente,
1,1 V.
As figuras 16 B e C mostram o comportamento dos eletrodos metálicos em
soluções de HCSA e HPPN, ambas com pH = 7,0 e com adição de íons cloreto. A
presença destes íons, além de acelerarem a taxa de dissolução metálica e impedir
a passivação de metais, também podem resultar na quebra da camada passiva e
na iniciação da corrosão por pite. São três os principais mecanismos de corrosão
por pite:
mecanismo de penetração, que envolve a transferência de ânions através
do filme de óxido para a superfície metálica;
mecanismo de quebra do filme passivo, que requer a quebra do filme,
dando direto acesso dos ânions ao metal desprotegido; e
mecanismo de adsorção, que começa com a adsorção de ânions
agressivos na superfície do óxido, o qual aumenta cataliticamente a
transferência de cátions metálicos do óxido para o eletrólito, levando ao
afinamento e a possível remoção total da camada passiva e ao início de
uma intensa e localizada dissolução.
70,88
53
Figura 16: Curvas de polarização anódica dos eletrodos de Zn (), Fe (), Ni() e
Cu () em (A) NaCl 0,1 molL
-1
, (B) HCSA 0,1 molL
-1
(pH = 7) e (C) HPPN 0,1 molL
-
1
(pH = 7), v = 10 mVs
-1
.
A
B
C
54
A figura 16 B mostra o comportamento dos eletrodos metálicos em uma
solução de ácido canforsulfônico pH = 7,0 com adição de cloreto de sódio. As
curvas de dissolução para esta solução são curvas típicas de soluções que
contém íons cloreto, ou seja, não há região de passividade para nenhum eletrodo.
Os valores de densidade de corrente observados foram, praticamente, os mesmos
observados para a solução de NaCl 0,1 molL
-1
.
Este fato sugere que a camada passiva formada por sais de cátions
metálicos e pelo ânion canforsulfonato não foi suficiente para proteger o ataque
dos íons cloreto.
Na solução de HPPN 0,1 molL
-1
pH = 7,0, mostrada na figura 16 C, foi
observado para os eletrodos de ferro (
) e níquel () uma curva típica de
ocorrência de pites instáveis, ou seja, com oscilação de corrente crescente. Em
relação aos eletrodos de cobre (
) e zinco (), a curva de dissolução anódica
seguiu o mesmo padrão de comportamento apresentados por estes eletrodos nas
outras soluções que possuíam íons cloreto, ou seja, não havia nenhuma região de
passividade e a densidade de corrente aumentava continuamente. Foi observado
o aparecimento de uma pequena quantidade de um precipitado viscoso branco
sobre o eletrodo de cobre (
) e ferro () e uma grande quantidade deste mesmo
precipitado sobre o eletrodo de zinco (
). Foram observadas, também, pequenas
cavidades na superfície destes eletrodos evidenciando a ocorrência de corrosão
por pite. O precipitado observado, provavelmente, deve ser o resultado da
interação entre o ânion fenil fosfonato e o cátion metálico proveniente da
55
dissolução anódica, resultando em um sal que forneceu uma camada protetora a
estes metais. Este sal demonstrou ser um bom agente passivador, pois a corrosão
por pite é um tipo de ataque localizado que só ocorre em superfícies metálicas
altamente passivadas. As densidades de corrente apresentadas por todos os
eletrodos foram menores em quase uma ordem de grandeza se compararmos
com as soluções de ácido canforsulfônico pH = 7,0 com adição de íons cloreto.
Estas observações somente confirmam o caráter passivante do ânion fenil
fosfonato, pois suas propriedades protetoras são mantidas mesmo em soluções
que contém íons agressivos como os íons cloreto.
88
4.2. Medições a Potencial de Circuito Aberto
O estudo de Potencial a Circuito Aberto (E
ca
) permitiu conhecer os valores
de potencial de corrosão dos metais estudados, bem como do eletrodo auto-
suportado de PANI, nas soluções ácidas e neutras em questão, após os mesmos
terem alcançado a estabilidade com o tempo.
Cushman et al.
89
estabeleceram um diagrama do potencial redox da PANI
em função do pH da solução eletrolítica. O diagrama está mostrado na figura 17,
juntamente com as reações envolvidas entre cada domínio.
56
Figura 17: Diagrama de fase da PANI como função do potencial redox e
pH, onde I é a PANI leucoesmeraldina, II é a PANI sal esmeraldina, III é a PANI
base esmeraldina e IV é a PANI pernigranilina.
89
No diagrama de fase da PANI, pode ser observada a faixa de pH para a
qual a PANI encontra-se na forma SE, bem como seu respectivo potencial de
circuito aberto. Nas soluções ácidas, a PANI está na forma dopada, condutora,
pois tanto as unidades reduzidas (amina) e oxidadas (iminas) se tornam
protonadas na presença de ácidos. Entretanto, o aumento de pH causa uma
redução das atividades eletroquímicas da PANI. A desprotonação total para um
filme de PANI eletrossintetizado em H
2
SO
4
0,1 molL
-1
ocorre por volta do pH 3-4,
57
conforme o relato de Diaz et al.
90
Zhu et al.
91
citaram que, em soluções neutras,
ocorre a desprotonação da PANI com a expulsão do H
+
.
O potencial de circuito aberto é o potencial do metal no meio de interesse,
podendo também ser designado como potencial de corrosão. Este potencial é um
potencial misto, já que as reações catódicas e anódicas são processos diferentes.
As medições de potenciais de circuito aberto avaliam se um sistema apresenta ou
não tendência a sofrer corrosão. Quanto mais positivos forem estes valores,
menor é esta tendência do sistema.
92,93
4.2.1. Soluções Ácidas
O potencial de circuito aberto (E
ca
) foi medido, após ter sido atingido a
estabilidade com o tempo, para o eletrodo de PANI em todas as soluções ácidas
citadas anteriormente. Os valores encontrados estão mostrados na tabela 4:
Tabela 4: Medidas de E
ca
do eletrodo de PANI em soluções ácidas.
Eletrodo H
2
SO
4
1,0 molL
-
1
HCl 0,6 molL
-
1
HCSA 0,9 molL
-
1
HPPN 0,1 molL
-
1
PANI 0,36 V 0,36V 0,37 V 0,30 V
De acordo com a literatura
94
, o potencial característico do estado de
oxidação sal esmeraldina é 0,43 V (vs SCE) em HCl 0,1 molL
-1
. Neste ponto, a
PANI atinge a máxima condutividade. Mattoso
94
mostrou que, em um
voltamograma cíclico característico da PANI em HCl 0,1 molL
-1
, o primeiro pico
anódico, localizado por volta de 0,2 V, está relacionado com a conversão do
58
estado de oxidação LE para o estado de oxidação ES. A variação de cor em
função do potencial mostra que o estado de oxidação esmeraldina é alcançado
por volta de 0,30 V. Portanto, o E
ca
observado pela PANI em todas as soluções
ácidas indica que a PANI apresentava-se na forma condutora sal esmeraldina.
Através do diagrama de fases estabelecido por Cushman et al.
89
, a faixa de
potencial redox da PANI para uma solução aquosa de pH ~ 0,2 (H
2
SO
4
1,0 molL
-1
,
HCl 0,6 molL
-1
e HCSA 0,9 molL
-1
) é, aproximadamente, entre 0,2 – 0,55 V (vs
Ag/AgCl) e para uma solução aquosa de pH ~ 1,6 (HPPN 1,0 molL
-1
) é,
aproximadamente, entre 0,25 – 0,4 V (vs Ag/AgCl), portanto, todos os valores de
E
ca
encontrados para o eletrodo auto-suportado de PANI mostram que a PANI
realmente encontrava-se em sua forma SE, condutora.
Os valores das medições de E
ca
dos eletrodos metálicos para as soluções
ácidas estão mostrados na tabela 5. Os valores de E
ca
foram registrados após a
estabilidade ter sido alcançada.
Tabela 5: Medidas de E
ca
dos eletrodos metálicos em soluções ácidas.
Metais H
2
SO
4
1,0 molL
-
1
HCl 0,6 molL
-
1
HCSA 0,9 molL
-
1
HPPN 0,1 molL
-
1
Zn -0,94 V -1,00 V -0,86 V -0,92 V
Fe -0,50 V -0,50 V -0,47 V -0,46 V
Ni -0,23 V -0,25 V -0,18 V -0,10 V
Cu 0,05 V 0,l4 V 0,02 V 0,01 V
A comparação sobre a facilidade de dissolução de metais em uma
determinada solução eletrolítica é feita entre os seus potenciais de equilíbrio. Se o
59
potencial de corrosão de um certo metal for mais negativo o potencial de corrosão
de um outro metal, o primeiro terá mais facilidade de sofrer dissolução que o
segundo. Pelos valores obtidos pelas medições de potencial de circuito aberto,
pode ser feita uma série galvânica. A PANI, apesar de ser um polímero, possui
características metálicas, isto é, possui elétrons livres em uma banda de
condução, podendo, então, ser incluída na série. Portanto, de acordo com a
facilidade com a qual os materiais se dissolvem, em todas as soluções ácidas
apresentadas, a série cresce na seguinte direção: PANI < Cu < Ni < Fe < Zn.
93
Pela diferença de potencial entre a PANI e os metais, é possível
estabelecer uma série sobre a facilidade da ocorrência do par galvânico, pois
quanto maior for a diferença entre os potenciais, maior será a força eletromotriz
para a ocorrência do acoplamento galvânico. A facilidade da ocorrência do par
galvânico cresce na seguinte direção: PANI-Cu < PANI-Ni < PANI-Fe < PANi-
Zn.
93,95
4.2.2. Soluções Neutras
O pH do meio eletrolítico é determinante no tipo de espécie de PANI obtida.
Em meios neutros, a PANI apresenta-se desprotonada e, portanto, isolante. O E
ca
medido para o eletrodo de PANI em soluções neutras está mostrado na tabela 6.
O E
ca
foi medido após a estabilidade do potencial ter sido atingida com relação ao
tempo de imersão do eletrodo nas soluções aquosas.
O valor de E
ca
observado para soluções neutras foi em torno de 0,24 V, o
qual é 0,10 V menor do que o valor de E
ca
encontrado para as soluções ácidas.
60
Este fato acontece porque neste meio, ocorre a expulsão do H
+
e a conseqüente
desprotonação do polímero. Dependendo do pH da solução, as formas base da
PANI podem estar mais ou menos protonadas.
96
Tabela 6: Medidas de E
ca
do eletrodo de PANI em soluções neutras.
Eletrodo NaCl 0,1 molL
-1
HCSA 0,1 molL
-
1
pH
= 7,0 + Cl
-
HPPN 0,1 molL
-
1
pH =
7,0 + Cl
-
PANI 0,24 V 0,26 V 0,23 V
Os valores de medições de potencial de circuito aberto dos metais estão
mostrados na tabela 7
.
Tabela 7: Medidas de E
ca
dos eletrodos metálicos em soluções neutras.
Metais NaCl 0,1 molL
-1
HCSA 0,1 molL
-
1
pH
= 7,0 + Cl
-
HPPN 0,1 molL
-
1
pH =
7,0 + Cl
-
Zn -1,00 V -0,95 V -0,98 V
Fe -0,66 V -0,51 V -0,68 V
Ni -0,26 V -0,20 V -0,27 V
Cu -0,06 V -0,06 V -0,12 V
A mesma série galvânica feita entre a PANI e os metais para as soluções
ácidas, pode ser repetida para as soluções neutras, ou seja, a facilidade com a
qual os materiais se dissolvem cresce na seguinte direção: PANI < Cu < Ni < Fe <
Zn e a facilidade da ocorrência do acoplamento galvânico cresce da seguinte
forma: PANI-Cu < PANI-Ni < PANI-Fe < PANI-Zn.
61
4.3. Medição de corrente galvânica
Polímeros condutores protegem metais da corrosão ao estabilizar um filme
de óxido passivo sobre o metal. Para este mecanismo eletroquímico operar, o
potencial redox do polímero deve estar dentro da janela de potencial de região
passiva do metal no meio corrosivo de interesse. Para manter o potencial passivo
sobre o metal, o polímero é lentamente reduzido. A reoxidação do polímero é feita
pela redução do O
2
sobre o polímero, o qual compensa a corrente anódica e
coloca o potencial do par na região passiva.
As medições de corrente galvânica entre os pares PANI-metal foram feitas
com o objetivo de verificar se havia a formação de par galvânico nos diversos
meios corrosivos, inclusive, em meios neutros, onde a PANI perde a
eletroatividade.
4.3.1. Soluções ácidas
Nas soluções ácidas, o E
ca
da PANI é mais nobre que o E
ca
dos substratos
metálicos em questão, por isso, em um par galvânico, a PANI age como catodo e
os metais agem como anodo. A figura 18 mostra as medições de corrente
galvânica entre o par galvânico PANI-metal nas soluções ácidas.
62
Figura 18: Medição de corrente galvânica do par PANI-metal em (A) HCl 0,6
molL
-1
, (B) H
2
SO
4
molL
-1
, (C) HCSA molL
-1
e (D) HPPN molL
-1
para os pares
galvânicos PANI- Zn (), PANI-Fe (), PANI-Ni() e PANI-Cu ().
A
B
C
D
63
A facilidade da formação do par galvânico PANI-metal é dada pela
magnitude da corrente galvânica. Neste caso, a formação do par galvânico é feita
na ordem: PANI-Cu (
)< PANI-Ni () < PANI-Fe () < PANI-Zn (), assim como
foi previsto nas medições de potencial de circuito aberto.
Foram observados para os pares PANI-Cu (
) e PANI-Ni () densidades
de corrente galvânica de 2,5
μA/cm
2
e 25 μA/cm
2
para as soluções de HCl (A) e
H
2
SO
4
(B), respectivamente, e 1,7μA/cm
2
e 17 μA/cm
2
para a solução de HCSA
(C) e 3,0
μA/cm
2
e 21 μA/cm
2
para a solução de HPPN (D). Para o par PANI-Fe
(
), foram observadas densidades de corrente galvânica por volta de 1 mA/cm
2
nas soluções de HCl (A) e HCSA (C), 12 mA/cm
2
para a solução de H
2
SO
4
(B) e
2,6 mA/cm
2
para a solução de HPPN (D). Para o par PANI-Zn (), a menor
densidade de corrente galvânica observada foi para a solução de HCl (A), 1
mA/cm
2
, e a maior densidade de corrente galvânica foi observada na solução de
H
2
SO
4
(B), 18 mA/cm
2
, e para as soluções de HCSA (C) e HPPN (D), as
densidades de corrente galvânica observadas foram, respectivamente, 2,4
mA/cm
2
e 5,6 mA/cm
2
.
A figura 19 mostra os gráficos das medições de corrente galvânica de cada
par nas soluções ácidas estudadas.
64
Figura 19: Valores de densidade de corrente dos pares (A) PANI-Zn, (B)PANI-Fe,
(C) PANI-Ni, (D) PANI-Cu nas soluções ácidas estudadas.
A B
C D
65
Em todos os pares PANI-metal, para todas as soluções ácidas, foi
observada a evolução de uma corrente galvânica, entretanto, para promover a
passividade de um metal, é necessário uma grande quantidade de corrente, para
produzir suficiente cátion metálico para formar um filme passivo sobre a superfície.
Nas medições em questão, a corrente galvânica dos pares PANI-Fe e PANI-Zn na
solução de HCl apresentou um valor muito pequeno, sugerindo que o catodo
(PANI) não possui densidade de corrente catódica suficiente para produzir e
manter um filme passivo sobre esses metais nesta solução.
Nestas soluções ácidas, as reações redox observadas são a oxidação do
metal (M M
n+
+ ne) e a redução da PANI. De acordo com o mecanismo
estudado por Neudeck et al.
99
, durante a polarização catódica da PANI em uma
solução ácida, a qual equivale a um acoplamento onde o polímero funciona como
catodo, a PANI protonada captura um elétron e, simultaneamente, libera uma
contra-íon, conforme o processo descrito a seguir (reação 5):
A
-
·H
+
·P·H
+
·A
-
+ ē A
-
·H
+
·P—H + A
-
(5)
Onde P representa o segmento oxidado da cadeia de PANI, A
-
·H
+
·P·H
+
·A
-
representa o estado protonado da PANI, A
-
é o contra-íon, e A
-
·H
+
·P—H
corresponde a um estado parcial reduzido ou uma desprotonação parcial da PANI.
66
4.3.2. Soluções Neutras
Nas soluções ácidas, o valor de E
ca
da PANI é por volta de 0,25 V. Este
valor é mais nobre do que os valores de E
ca
dos substratos metálicos
apresentados em qualquer uma das soluções neutras estudadas. Por isso, em um
par galvânico, nestas condições, a PANI age como catodo e os metais agem como
anodo. Como o pH do meio eletrolítico determina o grau de oxidação da PANI, em
soluções neutras a PANI perde eletroatividade devido à desprotonação pela
expulsão do H
+
, fazendo com que o polímero exista na forma base esmeraldina.
A figura 20 mostra as medições de corrente galvânica entre o par galvânico
PANI-metal nas soluções neutras.
Para estas soluções neutras, a formação do par galvânico também segue a
mesma ordem mostrada para as soluções ácidas, confirmando a previsão feita
pelas medições de potencial de circuito aberto.
Foram observados para os pares PANI-Cu (
) e PANI-Ni () densidades
de corrente galvânica de 2,0
μA/cm
2
e 20 μA/cm
2
para todas as soluções neutras,
respectivamente. Para o par PANI-Fe (
), foi observada uma densidade de
corrente galvânica de 9,2
μA/cm
2
para a solução de HPPN pH = 7,0 (C) e 0,1
mA/cm
2
para as soluções de HCSA pH = 7,0 (B) e NaCl (A). Para o par PANI-Zn
(
), foi observado 0,3 mA/cm
2
para as soluções de HPPN pH = 7,0 (C) e NaCl (A)
e 2,6 mA/cm
2
para a solução de HCSA pH = 7,0 (B).
67
Figura 20: Medição de corrente galvânica do par PANI-metal em (A) NaCl, (B)
HCSA o,1 molL
-1
pH = 7,0 com adição de NaCl 0,1 molL
-1
e (C) HPPN 0,1 molL
-1
pH = 7,0 com adição de NaCl 0,1 molL
-1
, para os pares PANI-Zn (), PANI-Fe (),
PANI-Ni() e PANI-Cu ().
A
B
C
68
Os gráficos da figura 21 mostram as medições de corrente galvânica de
cada par nas soluções neutras estudadas. Assim como nas soluções ácidas, estas
figuras auxiliam em uma comparação sobre o comportamento dos metais,
acoplados à PANI, imersos nestas soluções.
Figura 21: Valores de densidade de corrente dos pares (A) PANI-Zn, (B) PANI-Fe,
(C) PANI-Ni e (D) PANI-Cu nas soluções neutras estudadas.
69
Pode ser observado que, para todas as soluções neutras, houve a
formação de par galvânico entre os metais e a PANI. Como a PANI na forma BE é
má condutora, suas propriedades protetoras à corrosão têm sido atribuídas a um
efeito barreira a íons, oxigênio e água
23,100,101
, porém, a evolução de uma corrente
galvânica sugere que a PANI, em soluções neutras, tem capacidade de trocar
elétrons com materiais condutores.
Pode ser observado que a corrente galvânica para o par PANI-Zn (
) em
NaCl (A) é da mesma ordem que a corrente galvânica observada em HPPN (C), o
que não era esperado, pois a solução de NaCl (A) é muito mais agressiva que a
solução de HPPN (C) devido aos íons Cl
-
, os quais formam complexos com os
íons metálicos, impedindo a passivação. Este fato sugere que a formação e a
manutenção de uma camada passiva sobre a superfície de um substrato de Zn
pela PANI em soluções de NaCl (A) não será efetiva, pois é preciso uma grande
quantidade inicial de corrente galvânica para que haja a produção suficiente de
cátion metálico para formar um filme passivo.
Nestas soluções ácidas, as reações redox observadas são a oxidação do
metal (M M
n+
+ ne) e a redução da PANI à forma LE, que, na presença de
oxigênio e em meio neutro, é oxidada à PANI na sua forma esmeraldina base
(EB).
102
70
4.4. Deposição eletroforética de partículas de PANI
4.4.1. Caracterização da dispersão de PANI
4.4.1.1. Potencial Zeta
A partir das medições realizadas através da técnica de microeletroforese,
foi obtido um valor de mobilidade eletroforética (
μ
e
) igual à 4,5 x 10
-8
m
2
s
-1
V
-1
, o
que resulta em um potencial zeta igual à 53 mV, calculado pela equação de
Smoluchowski (equação 6):
ζ
=
μ
e
η
ε
o
ε
(6)
onde
ζ: potencial zeta,
η: viscosidade do meio,
ε
o
: permissividade do vácuo,
ε: constante dielétrica do meio.
Durante o cálculo do potencial zeta, os valores utilizados para a viscosidade
do meio (
η) e a constante dielétrica do meio (ε) foram valores obtidos a partir da
literatura para acetonitrila.
Pode ser observado que o valor do potencial zeta para a suspensão de
PANI dopada com ácido acético (PANI/AcF) em acetonitrila é positivo, o que
significa que a superfície das partículas está carregada positivamente. Esses
71
valores são maiores do que 25 mV, o que mostra que o sistema é estável,
devido à repulsão eletrostática, confirmando o mecanismo de estabilização da
suspensão mostrado na literatura
63
, o qual está demonstrado na figura 22.
Figura 22: esquema de estabilização da suspensão de PANI/AcF em
Acetonitrila
63
De acordo com a literatura, a PANI BE é solúvel em ácido fórmico, o qual
separa as cadeias do polímero, protonando os sítios amina, convertendo a PANI
BE em PANI SE, sua forma condutora. A acetonitrila não dissolve a PANI SE, mas
é miscível com ácido fórmico. Conseqüentemente, as gotas de ácido fórmico irão
se encolher e se dispersar na acetonitrila. Conforme as gotículas de ácido fórmico
encolhem, a PANI que está contida dentro delas é comprimida na forma de
partículas esféricas. A PANI SE, por sua vez, irá se dissociar em íons na
acetonitrila. Isso resulta em colóides de PANI SE carregados positivamente. Como
não há nenhuma sedimentação após o preparo da suspensão, supõe-se que a
PANI SE está suficientemente dissociada na acetonitrila, promovendo uma
suspensão com forças repulsivas de intensidade adequada para manter a
estabilidade.
63
+
-
-
+
Ácido
Fórmico
+
-
-NH
+
HCOO
-
Pó de PANI BE
PANI SE
1
+
-
+
-
+
-
+
-
+
-
+
-
2
Acetonitrila
3
+
+
+
+
-
+
+
+
-
-
-
-
-
-
-
72
4.4.1.2. Cinética de deposição eletroforética de partículas de PANI
O filme de PANI/AcF sobre o eletrodo de Pt possuía a aparência verde
escura e possuía algumas rachaduras. A cor verde indica que o filme de PANI
estava na forma condutora, SE. A figura 23 mostra a aparência do filme de 50
mgL
-1
de PANI sobre um eletrodo de Pt.
Figura 23: Aparência de um filme de PANI depositado eletroforeticamente
sobre um eletrodo de Pt
Para verificar a eletroatividade do filme de PANI/AcF, foram feitos vários
depósitos sobre o eletrodo de Pt, em diferentes voltagens (8, 10, 12, 14, 16, 18 e
20V) em um tempo de 20 minutos de deposição. Para cada filme, foi feito um
voltamograma cíclico em HCl 1,0 molL
-1
. Os voltamogramas dos filmes de PANI
estão mostrados na figura 24.
Pode ser observado que o voltamograma cíclico dos filmes de PANI/AcF
em HCl 1,0 molL
-1
apresenta par de processo redox entre –0,2 e 0,4 V, o qual se
refere à conversão do estado reduzido da PANI sal esmeraldina para o estado
oxidado da PANI sal esmeraldina.
73
Figura 24: Voltamograma dos filmes de PANI eletroforeticamente
depositados sobre o eletrodo de Pt à 8 V (), 10 V (), 12 V (), 14 V (о), 16 V
(), 18 V () e 20 V () em HCl 1,0 molL
-1
,
ν
= 5mVs
-1
.
É importante considerar a taxa com a qual um depósito é formado durante
uma EPD, pois assim, a espessura da camada depositada pode ser controlada.
36
No estudo sobre cinética de deposição eletroforética de partículas de PANI, o
depósito foi feito a partir de uma suspensão de 50 mgL
-1
de PANI/AcF em
diferentes voltagens (8, 10, 16 e 20 V) e em diferentes tempos de deposição (5
min, 10 min, 20 min, 30 min e 60 min). Para cada filme depositado sobre o
eletrodo de Pt, foi feito um voltamograma cíclico, em HCl 1,0 molL
-1
, cujos
resultados estão mostrados na figura 25.
74
Figura 25: Voltamograma cíclico dos filmes de PANI depositado à (A) 200 Vcm
-1
,
(B) 160 Vcm
-1
, (C) 100 Vcm
-1
e (D) 80 Vcm
-1
, com os seguintes tempos de
deposição: 5 min (), 10 min (), 20 min (), 30 min () e 60 min (),
ν
= 5mVs
-1
.
A análise da quantidade de massa de PANI depositada, para cada
voltamograma cíclico, foi feita conforme o esquema demonstrado na figura 26.
A
B
C
D
75
Figura 26: Esquema da análise da quantidade de massa de PANI depositada em
cada filme
De acordo com o esquema da figura 26, a análise da quantidade de massa
de PANI de cada depósito foi feita obtendo-se o valor da carga de PANI
encontrada em cada voltamograma cíclico, a qual é proporcional à massa, através
da integração do valor da densidade de corrente versus o tempo (área). A
integração jdt fornece a carga de PANI encontrada em cada voltamograma
cíclico, pois :
[Área] = [jdt] = (Ampère/cm
2
)*(s) = Coulomb/cm
2
A figura 27 mostra o gráfico correspondente à carga de PANI, a qual é
proporcional à massa de PANI depositada em cada filme, com relação ao tempo
de deposição.
As curvas da figura 27 foram calculadas a partir da equação da cinética de
deposição eletroforética sob as condições de voltagem e concentração
constantes. Sob estas condições, o potencial entre os eletrodos é mantido
constante e a taxa de deposição decresce com o tempo.
76
Figura 27: Gráfico da carga de PANI vs tempo de posição, para depósitos feitos
para os seguintes campos elétricos: 200Vcm
-1
(), 160 Vcm
-1
(), 100 Vcm
-1
() e
80 Vcm
-1
().
As curvas utilizadas foram calculadas conforme procedimento descrito a
seguir.
As equações 7 e 8 referem-se à cinética de deposição eletroforética sob
voltagem e concentração constantes:
R’w
2
(t) + Lw(t) – k’w
0
V
ap
t = 0 (7)
R’ = (R
r
– 1)
rs
(8)
77
onde
R
r
: razão entre a resistividade do depósito e a resistividade da suspensão,
L: distância entre os eletrodos,
K’: parâmetro cinético, k’ = Sf
μ
e
/V (S = área depositada, f = fator de eficiência,
V = volume da suspensão),
w
0
= massa inicial de sólidos em suspensão,
V
ap
= campo elétrico aplicado e
w(t) = massa depositada em função do tempo.
36
A relação entre a massa depositada em função do tempo e a carga de PANI
em cada voltamograma é dada pela equação 9.
Q = nF = mF
W
(9)
onde
n = número de elétrons,
F = constante de Faraday,
m = massa e
W = massa molar.
Logo, a equação final utilizada para o cálculo da curva que melhor se
reproduziu nos pontos encontrados é a equação 10:
R’
α
2
q
2
(t) + Lαq(t) – k’q
0
V
ap
t = 0
(10)
onde
α = mol/F, e
78
q
0
= carga inicial.
A figura 28 mostra os gráficos esquemáticos da massa do depósito em
função do tempo de deposição.
103
Figura 28: Esquema da cinética de um processo de EPD, onde A é EPD à
corrente e concentração constante, B é EPD à corrente constante e concentração
variável, C é EPD à voltagem e concentração constante e D é EPD à voltagem
constante e concentração variável.
103
Na figura 28, as condições de EPD à voltagem e concentração constantes
está representada pela curva C. Neste caso, a relação entre a massa depositada e
o tempo de deposição não segue a equação de uma reta, mas sim de uma curva,
pois o depósito possui uma resistência elétrica maior que a resistência elétrica da
suspensão. Conseqüentemente, conforme o depósito cresce com o tempo de
deposição, a força motriz elétrica disponível, ou seja, a voltagem por unidade de
comprimento da suspensão, decresce com o tempo. Isso resulta em um
decréscimo da velocidade das partículas, reduzindo, assim, o rendimento e a taxa
de deposição das partículas com o tempo.
Tempo de Deposição
Massa do Depósito
79
4.4.2. Estudo da performance anticorrosiva de uma tinta cataforética à base de
PANI
A avaliação da performance anticorrosiva de uma tinta cataforética à base
de PANI foi feita a partir de testes em uma tinta anticorrosiva à base de
PANI/epóxi-uretano, confeccionada conforme o item 3.4, a qual foi
eletroforeticamente depositada sobre um eletrodo de ferro.
Filmes depositados eletroforeticamente sobre substratos de ferro a partir de
uma suspensão composta, somente, por partículas de PANI, conforme descrito no
item 3.3, não forneceram uma boa proteção à corrosão, pois apresentaram muitas
rachaduras, o que facilitava a penetração do eletrólito e o conseqüente
descolamento da tinta. Por esta razão, foi sintetizada uma suspensão de
PANI/Epóxi-uretano, onde a PANI foi dopada a partir de uma solução de HPPN
(item 3.4), cujo revestimento obtido por EPD apresentou-se homogêneo, sem
nenhum defeito visível.
A figura 29 mostra a aparência da superfície do eletrodo de ferro antes da
deposição eletroforética, onde pode ser observado a rugosidade do substrato
devido ao tratamento com lixa abrasiva.
80
Figura 29: Aparência do substrato de ferro antes da deposição eletroforética
Pode ser observado pela figura 30 A, a homogeneidade do filme obtido a
partir da tinta de epóxi, sobre o eletrodo de ferro. Os filmes formados pelas tintas
epóxi/PANI (figura 30 B e C) apresentaram aglomerados de PANI, com tamanho
médio em torno de 30 micrômetros.
Durante o depósito, o eletrodo de ferro permanece imerso em uma
suspensão aquosa de epóxi e PANI durante 2 minutos. Entretanto, através de
micrografias obtidas da superfície dos eletrodos de ferro sob os revestimentos de
epóxi/PANI 5 e 15 % (figura 31 A e B), pode ser observado que não há sinais de
corrosão metálica, a qual poderia ter acontecido pela ação da água durante a
deposição eletroforética. As figuras mostram apenas a rugosidade do substrato,
conseqüência do tratamento do eletrodo com lixa abrasiva, antes da deposição.
A
81
Figura 30: (A) Aparência do revestimento de tinta cataforética de epóxi, (B)
aparência do revestimento de epóxi/PANI (5%) e (C) aparência do revestimento
epóxi/PANI (15%) sobre o eletrodo de ferro.
A
B
C
A
82
Figura 31: (A) Superfície do eletrodo de ferro sobre o filme de epóxi/PANI
(5%) e (B) Superfície do eletrodo de ferro sobre o filme de epóxi/PANI (15%)
As medidas de espectroscopia Raman foram feitas para verificar a
presença de PANI nos filmes depositados eletroforeticamente. A figura 32
apresenta o espectro Raman do filme de epóxi/PANI (15%) sobre o eletrodo de
ferro, antes da imersão no meio corrosivo. Não foi possível obter um espectro
Raman do filme de epóxi/PANI (5%) com excitação de 632,8 nm devido a um
acentuado fundo de fluorescência.
B
A
83
Figura 32: Espectro Raman do filme de PANI 15%,
λ
0
= 632,8 nm
O espectro mostrado na figura 32 corresponde à PANI na forma Base
Esmeraldina (BE), desprotonada, onde as bandas em 1166 cm
-1
, 1225 cm
-1
, 1466
cm
-1
e 1596 cm
-1
são atribuídas às ligações do tipo βC-H, νC-N, νC=N e νC-C,
respectivamente
98
. Embora a tinta tenha sido confeccionada com PANI na forma
condutora, durante a eletrocoagulação da tinta epóxi, ocorre a eletrólise da água
sobre o catodo, dando origem a íons hidroxilas e, assim, ocasionando um
aumento local de pH. O aumento de pH causa a desprotonação da PANI, fazendo
com que o filme sobre o eletrodo seja à base de PANI BE. É importante ressaltar
84
que, durante os testes de avaliação de proteção à corrosão, foi utilizado, como
meio eletrolítico, H
2
SO
4
1 molL
-1
, cujo valor de pH é baixo o suficiente para
protonar novamente os revestimentos de epóxi/PANI.
As técnicas espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS) e medições
de potencial de circuito aberto foram utilizadas para estudar a habilidade anti-
corrosiva dos revestimentos de epóxi/PANI com relação ao ferro e compará-los
com os revestimentos de epóxi. Foi utilizado, nestas técnicas, uma célula circular,
de 0,5 cm de diâmetro, conforme o esquema mostrado na figura 33.
Figura 33: Esquema da microcélula utilizada nos estudos de proteção contra à
corrosão sobre o eletrodo de ferro.
A figura 34 mostra os diagramas de Nyquist para o revestimento de
epóxi/PANI 5% sobre o eletrodo de ferro obtidos no potencial de circuito aberto.
Eletrodo de
Revestimento
Referência
-
Trabalho
Célula
Eletrodo de
Contra Eletrodo
85
Figura 34: Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi/PANI (5%) sobre o
ferro imediatamente após exposição ao meio (
), após 2 horas (
), após 24 horas
(
), após 48 horas (
), após 96 horas (
), após 144 horas (
) e após 168 horas
(
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
.
A figura 34 mostra dois semicírculos a altas e médias freqüências, os quais
se tornam mais evidentes após 48 horas de exposição em H
2
SO
4
. Estes dois
semicírculos podem ser atribuídos a reações de transferência de carga nas
interfaces metal/polímero e polímero/eletrólito, respectivamente. Este tipo de
comportamento, geralmente, é analisado pelo circuito equivalente mostrado na
figura 35.
104
86
Figura 35: Circuito equivalente para os diagramas de Nyquist obtidos para tinta de
PANI 5% sobre o ferro, onde R
s
= Resistência da solução, C
c
= Capacitância do
Revestimento, C
dc
= Capacitância da dupla-camada, R
c
= Resistência do
revestimento e R
tc
= Resistência de transferência de carga.
104
O primeiro semicírculo (em altas freqüências) está relacionado com a
resistência de transferência de carga (R
tc
) para processos ocorrendo na base dos
poros do revestimento. C
dc
é a capacitância da dupla-camada, a qual é formada
devido à separação de carga na interface metal/eletrólito. O segundo semicírculo
(em médias e baixas freqüências) é atribuído à soma das resistências do filme
polimérico e da camada de óxido poroso. C
c
é a capacitância fabricada a partir da
troca iônica para compensação de carga na interface polímero/eletrólito e da
difusão de íons através dos poros do revestimento na interface
metal/polímero.
100,105
A figura 36 mostram os diagramas de Nyquist para o revestimento de
epóxi/PANI (15%) sobre o eletrodo de ferro, obtidos no potencial de circuito
aberto.
87
Figura 36: (A) Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi/PANI (15%)
sobre o ferro imediatamente após exposição(
) e após 24 horas (
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
. (B) Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi/PANI (15%)
sobre o ferro após 48 horas (
), após 72 horas (
) após 120 horas (
), após 144
horas (
) e após 168 horas (
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
.
A
B
88
Pode ser observado, através dos diagramas de Nyquist mostrados na figura
36, que há apenas uma única região de resposta eletroquímica, representada
apenas pela por um único arco capacitivo. O circuito equivalente para este
processo está representado na figura 37, onde R
c
representa a resistência do
filme, e C
c
é a capacitância atribuída à interface eletrólito/polímero. Tanguy et
al.
106
atribuiu este comportamento capacitivo à interface dentro da camada
polimérica onde os contra-íons estão em contato com o polímero. Neste caso, a
capacitância resulta da dupla-camada formada pela acumulação na superfície da
cadeia polimérica de contra-íons que estão presos apenas superficialmente dentro
da camada polimérica. Os contra-íons que estão profundamente presos nas
cadeias poliméricas representam os íons necessários para passar o polímero da
sua forma isolante para o seu estado condutor e eles não contribuem para a
capacitância. A figura 38 mostra o esquema da formação da dupla-camada
responsável pelo comportamento capacitivo observado nos diagramas de Nyquist.
Figura 37: Circuito equivalente para os diagramas de Nyquist obtidos para a tinta
de PANI 15% sobre o ferro.
89
Figura 38:Esquema da dupla-camada responsável pelo comportamento capacitivo
observado nos diagramas de Nyquist para o sistema ferro/epóxi-PANI 15%.
A figura 39 mostra os diagramas de Nyquist obtidos para o revestimento de
epóxi-uretano sobre o ferro, no potencial de circuito aberto.
Os diagramas de Nyquist para o ferro revestido com epóxi-uretano
apresentam dois arcos capacitivos, um menor à alta freqüência e um maior à
baixa freqüência. Os arcos se tornam mais definido quanto maior for o tempo de
exposição ao eletrólito. A maior parte dos metais recobertos com revestimentos
orgânicos imersos em uma solução eletrolítica de resistência R
s
, não apresentam
um comportamento ideal de um dielétrico, fornecendo um espectro de impedância
caracterizado por um arco capacitivo. Esse desvio é o resultado do
desenvolvimento de caminhos com condutividade iônica. Esses espectros podem
ser descritos pelo circuito equivalente mostrado anteriormente na figura 35.
107, 108
90
Figura 39: (A) Diagrama de Nyquist para o revestimento de epóxi-uretano sobre o
ferro, imediatamente após exposição em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
(
). (B) Diagrama de
Nyquist para o revestimento de epóxi-uretano sobre o ferro após 24 horas (
),
após 48 horas (
), após 72 horas (
), após 96 horas (
), após 144 horas (
) e
após 168 horas (
) em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
.
A
B
91
Os parâmetros para os sistemas ferro/epóxi-PANI 15% estão mostrados na
tabela 8:
Tabela 8: Dados obtidos pela simulação feita a partir do circuito equivalente da
figura 65 para o sistema ferro/epóxi-PANI15%
Tempo/horas
R
s
/kcm
2
R
c
/kcm
2
C
c
/μFcm
-2
0 101,6 26400 108,45 x 10
-
6
24 140,8 2174 79,4 x 10
-
6
48 46,9 1,7 1017 x 10
-
3
72 43,0 1,1 2,125
120 31,8 0,7 25,85
144 31,9 0,4 47,35
168 40,5 1,0 40,9 x 10
-
3
Pode ser observado, na tabela 8, que há uma redução do valor de R
c
com o
tempo. Esta redução pode ter acontecido devido à penetração do eletrólito através
de defeitos no revestimento. A partir do último dia, R
c
começou a aumentar. Ao
mesmo tempo, houve uma redução considerável de C
c
entre o penúltimo e o
último dia de teste. Esse aumento de R
c
ocorreu devido à passivação do metal
pela PANI presente no sistema. Durante a passivação, a PANI sofre redução,
passando da forma sal esmeraldina, condutora, para a forma leucoesmeraldina,
isolante, aumentando, assim, a resistividade do sistema. Esta camada passivante
foi observada por Souza et al.
30
, onde sais insolúveis são formados através da
reação dos íons metálicos do ferro, que sofreram oxidação, e os contra-íon
liberados durante a redução da PANI.
92
Após o término das medições de EIS para o sistema ferro/epóxi-PANI 15%,
o filme foi retirado e foi observado que a superfície do ferro estava coberta por um
óxido cinza escuro. Nesse caso, o ânion SO4
2-
(dopante da PANI durante a
imersão em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
), liberado pela redução da PANI na forma sal
esmeraldina, condutora, para leucoesmeraldina, isolante, e o íon metálico,
proveniente da oxidação do ferro, podem ter sido os responsáveis pela provável
formação do filme passivante, provando que houve a formação de um
acoplamento galvânico entre a tinta à base de PANI e o metal a ser protegido.
Os parâmetros para os sistemas ferro/epóxi-PANI 5% e ferro/epóxi estão
mostrados nas tabelas 9 e 10:
Tabela 9: Dados obtidos pela simulação feita a partir do circuito equivalente da
figura 61 para o sistema ferro/PANI 5%
Tempo/horas R
s
/kcm
2
R
c
/kcm
2
R
tc
/kcm
2
C
c
/nFcm
-
2
C
dc
/nFcm
-
2
0 0,4 53 19,9 1485,5x 10
-
3
15,4
2 6,9 364,4 120,8 350 x 10
-
3
50,4
24 7,8 86,6 77,6 564,5 x 10
-
3
535,5
48 8,8 69 58,1 853 x 10
-
3
862
96 6,9 11,4 31,4 2,865 460,5
144 6,1 11,9 24,5 3,085 1387
168 6,0 13,2 21,2 2,765 1,9
93
Tabela 10: Dados obtidos pela simulação feita a partir do circuito equivalente da
figura 65 para o sistema ferro/epóxi
Tempo/horas R
s
/kcm
2
R
c
/kcm
2
R
tc
/kcm
2
C
c
/nFcm
-2
C
dc
/
μ
Fcm
-2
0 3,7 358,4 289 589,5 x 10
-
3
4,7 x 10
-
3
24 5,5 14,2 25,4 5,0 1,7
48 3,3 5,7 9,2 38,6 3
72 3,4 4,8 7,8 19,3 3
96 3,5 4,7 7,3 18,0 4,4
144 1,2 6,8 6,1 23,3 7,6
168 1,8 5,1 5,9 26,4 4,3
Pode ser observado, através das tabelas 10 e 11, valores de R
tc
muito
maiores para o sistema ferro/epóxi-PANI 5% do que o sistema ferro/epóxi. Este
aumento está relacionado com a taxa de transferência de carga entre o metal e a
solução. As reações de transferência de carga ocorrem na interface
metal/polímero. Conseqüentemente, os altos valores de R
tc
são atribuídos à
formação de uma camada passiva sobre a superfície metálica. Para o sistema
ferro/epóxi-PANI 5%, há, inicialmente, um aumento no valor de R
tc
(entre 0 e 2
horas de imersão), porém, este valor decresce com o tempo.
Para ambos os sistemas, houve um decréscimo em R
c
com o tempo. Este
decréscimo é devido à entrada de água pelos microporos do polímero.
Comparando-se o sistema ferro/epóxi-PANI 5% com o sistema ferro/epóxi-PANI
15% e ferro/epóxi, após de um dia de imersão no eletrólito, os valores de R
c
são
94
maiores em uma ordem de magnitude, o que significa que estes dois últimos são
sistemas mais porosos do que o sistema ferro/epóxi-PANI 5%.
109
As medições de espectroscopia de impedância eletroquímica foram
realizadas no potencial de circuito aberto, após o sistema ter atingido a
estabilidade. A figura 40 mostra o gráfico com a evolução do potencial de circuito
aberto com relação ao tempo, para os sistemas ferro/epóxi-PANI 5 e 15% e
ferro/epóxi.
Figura 40: Potencial de circuito aberto dos sistemas para os sistemas (
)
ferro/epóxi-PANI 5%, (
) ferro/epóxi-PANI 15% e (
) ferro/epóxi em H
2
SO
4
1,0
molL
-1
.
95
Pode ser observado na figura 40, que o eletrodo de ferro recoberto com
tinta cataforética de epóxi apresentou um valor de E
ca
em torno de –0,6, após 1
dia de imersão. Este valor está na região ativa do ferro, como pode ser observado
na figura 15 A, que mostra a curva potenciodinâmica do eletrodo de ferro em ácido
sulfúrico. Este fato mostra que somente o revestimento de epóxi não é suficiente
para proteger o eletrodo de ferro da corrosão. O valor do E
ca
para o eletrodo de
ferro recoberto com PANI 5% e 15% ficou estabilizado em torno de –0,58 e –0,46
V, respectivamente. Este valor ainda continua na região ativa do sistema, porém,
através dos resultados de impedância, há evidências de que o revestimento de
epóxi/PANI é menos poroso que o revestimento de epóxi, além de permitir a
formação de uma camada passiva entre o revestimento e o metal. Resultados que
serão mostrados a seguir, sobre a avaliação visual da superfície do eletrodo de
ferro após imersão em ácido sulfúrico, através de micrografias, mostram que os
revestimentos de epóxi/PANI fornecem maior proteção à corrosão do que o
revestimento de epóxi.
Este valor de E
ca
pode estar ligado à formação de um par galvânico entre o
metal e a PANI. Neste caso, ocorre a oxidação do metal, e a redução da PANI do
estado sal esmeraldina para leucoesmeraldina.
Após 7 dias de imersão em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
, foram feitas imagens, por
microscopia óptica, da superfície do eletrodo de ferro após a retirada dos
revestimentos de epóxi e epóxi-PANI utilizados nos experimentos de
espectroscopia de impedância eletroquímica.
A figura 41 mostra as imagens da superfície do eletrodo de ferro imerso em
H
2
SO
4
1,0 molL
-1
por 7 dias, após a retirada do recobrimento de epóxi-uretano.
96
Figura 41: Imagens em microscópio óptico da superfície do eletrodo de
ferro, em H
2
SO
4
1,0 molL
-1
, por 7 dias, após (A) a retirada do revestimento de
epóxi-uretano, (B) a retirada do revestimento de epóxi-PANI 15% e (C) a retirada
do revestimento de epóxi-PANI 5%.
Pode ser observado, na figura 41 A, que o eletrodo de ferro revestido
apenas com a tinta cataforética à base de epóxi-uretano, apresentou fortes sinais
500 μm
250 μm
A
500 μm 250 μm
500 μm
250 μm
B
C
97
de corrosão após imersão em meio corrosivo, com vários pontos de ferrugem
(hematita, Fe
2
O
3
).
Através das figura 41 B e C, pode ser observado que os eletrodos de ferro
recobertos com as tintas cataforéticas à base de PANI apresentou poucos sinais
de corrosão, ao se comparar com o eletrodo de ferro revestido com a tinta à base
de epóxi-uretano, após imersão em meio agressivo por 7 dias. O eletrodo
revestido com a tinta epóxi/PANI 5% foi o substrato que, visualmente, apresentou
menos sinais de corrosão sobre sua superfície.
Após a retirada do filme de epóxi/PANI 15%, o eletrodo de ferro apresentou
sobre sua superfície um óxido cinza escuro, sendo identificado pela literatura
21
como Fe
3
O
4
/Fe
2
O
3
, enquanto que, após a retirada do filme de epóxi/PANI 5%, não
foi observado nenhum tipo de óxido sobre a superfície do eletrodo de ferro,
apenas alguns sinais de leve corrosão.
98
5. Conclusões
Durante o estudo sobre a formação de um par galvânico entre a PANI e o
metal, foi observado, através de medidas de potencial de circuito aberto, que pode
haver a formação de um acoplamento galvânico entre a PANI e o metal, pois a
PANI possui um potencial de circuito aberto mais positivo que os metais
estudados (zinco, ferro, níquel e cobre), tanto em soluções neutras como ácida.
Foi mostrado que, em um par galvânico, a PANI se reduziria e o metal se oxidaria.
As medidas de potencial de circuito aberto mostraram que, havendo a
formação de um par galvânico entre a PANI e os metais utilizados, a facilidade de
formação deste par se cresceria de acordo com a seguinte ordem: PANI-Cu <
PANI-Ni < PANI-Fe < PANI-Zn.
As medidas de corrente galvânica entre o eletrodo auto-suportado de PANI
e os eletrodos metálicos mostraram que havia uma corrente fluindo entre os pares
PANI-metal e que a magnitude dessa corrente dependia do meio em questão.
Para os eletrodos de zinco e ferro (que são os mais ativos dentre os metais
estudados), foi observado um baixo valor de corrente galvânica para a solução
agressiva de HCl. Este mesmo comportamento apresentado pelos pares PANI-Zn
e PANI-Fe em HCl foi observado para o par PANI-Zn em NaCl, ou seja, foi
observado um baixo valor de corrente galvânica para este par em NaCl, quando
esta deveria ser maior, já que a solução de NaCl é agressiva para o zinco,
conforme mostrado pelas curvas potenciodinâmicas. Estes resultados mostram
que a proteção à corrosão do zinco e ferro em HCl e do zinco em NaCl fornecida
pela PANI seria insuficiente, já que a PANI demonstrou não possuir densidade de
99
corrente catódica o suficiente para produzir e manter um filme passivo sobre os
eletrodos de zinco e ferro nas soluções em questão.
Durante as medições de corrente galvânica dos pares PANI/metal em
soluções ácidas, a magnitude das correntes observadas foram maiores para as
soluções de H
2
SO
4
e menores para as soluções de HCSA e HPPN. Este fato
ocorreu pois as soluções aquosas de HCSA e HPPN são menos agressivas a
estes metais do que a solução aquosa de H
2
SO
4
, conforme foi obervado no estudo
das curvas potenciodinâmicas dos metais nas soluções ácidas, onde foi verificado,
em praticamente todos os metais, valores menores de j
c
e j
p
, E
pa
mais positivo e
uma janela de região passiva mais ampla. Durante as medições de corrente
galvânica dos pares PANI/metal em soluções neutras, as correntes observadas
estabilizaram-se em torno do mesmo valor, para todos os pares, com exceção do
par PANI-Zn e PANI-Fe para a solução de HPPN. Este baixo valor de corrente
galvânica pode ter ocorrido pois a solução neutra de HPPN é menos agressiva
que as soluções neutras de NaCl e HCSA, então, é necessário apenas uma
pequena corrente galvânica para criar e manter uma camada passiva sobre estes
metais.
Para provar a capacidade da proteção à corrosão metálica efetuada pela
PANI, foram obtidos filmes de PANI por EPD sobre um eletrodo de ferro. Durante
os estudos de EPD, foi demonstrado que é possível fazer uma suspensão estável
de partículas positivas de PANI dopada com ácido fórmico (PANI/AcF), de tal
forma que, durante a eletroforese, possa ser formado um filme sobre um eletrodo
metálico, sob as condições de voltagem e concentração constantes, sem que o
100
mesmo sofra dissolução anódica, o que aconteceria caso a suspensão fosse
formada por partículas de carga negativa.
O filme de PANI/AcF obtido por EPD apresentou-se contínuo sobre a
superfície do eletrodo de ferro, sendo que todas as ranhuras do eletrodo,
provenientes do tratamento com lixa abrasiva, foram revestidas pelo filme, devido
ao alto poder de penetração próprio da técnica de deposição eletroforética.
Entretanto, a forma como foi sintetizada a suspensão teve que ser modificada,
pois o filme obtido a partir desta suspensão possuía muitas rachaduras, o que
facilitava a penetração do eletrólito, favorecendo a corrosão.
Com relação ao estudo sobre proteção à corrosão metálica efetuada pela
PANI, foi sintetizada uma nova tinta cataforética a partir de uma suspensão de
partículas positivas de PANI (dopada com solução alcóolica de HPPN) e de uma
tinta cataforética de epóxi-uretano utilizada em indústrias automotivas para a
proteção à corrosão. Esta nova tinta, além de fornecer um filme contínuo sobre o
eletrodo de ferro, por EPD, revestindo por igual toda a superfície do eletrodo, não
possuía defeitos nem rachaduras, devido às propriedades mecânicas da tinta de
epóxi-uretano.
A função primária de uma tinta eletroforética é proteger o metal da corrosão
ao fornecer uma barreira uniforme contra os agentes corrosivos presentes no meio
ambiente. Entretanto, uma tinta cataforética que contém como aditivo um polímero
condutor, como a PANI, além de aumentar as propriedades protetoras à corrosão,
ainda fornece uma proteção extra quando este filme possui defeitos em sua
superfície.
101
Foi observado, durante os estudos de espectroscopia Raman que os
revestimentos de epóxi/PANI depositados sobre o eletrodo de ferro, que a PANI
apresentava-se na forma base esmeraldina, desprotonada, mesmo a suspensão
tendo sido sintetizada com a PANI na forma sal esmeraldina. Entretanto, durante
os estudos de proteção à corrosão, o contato do revestimento com a solução
ácida de H
2
SO
4
, faz com que a PANI seja novamente protonada, voltando à forma
sal esmeraldina.
Durante o estudo sobre proteção à corrosão, foi observado que o
revestimento de epóxi/PANI 5% e 15% forneceram melhor proteção à corrosão ao
ferro do que o revestimento de epóxi-uretano, o qual já é conhecido por suas
propriedades protetoras à corrosão e é bastante utilizado em vários setores
industriais, principalmente, no setor automotivo.
As medições de EIS mostraram que o revestimento de epóxi/PANI 5% é
menos poroso que o revestimento de epóxi-uretano, além de possuir R
tc
maior em
uma ordem de magnitude do que o revestimento de epóxi-uretano. Altos valores
de R
tc
são atribuído à formação de uma camada passiva. As medições de EIS
também mostraram que o revestimento de epóxi/PANI 15% apresentou um
aumento no valor de R
c
no último dia de medição, o que pode ter sido causado
pela formação de uma camada passiva entre o metal e o revestimento.
Os valores de E
ca
encontrados, após a estabilização com o tempo, do
eletrodos revestidos com PANI em H
2
SO
4
, sugerem a formação de um par
galvânico entre o metal e o polímero. Embora o valor de E
ca
encontrado para
ambos os sistemas, ferro/epóxi-PANI 5 e 15%, esteja na parte ativa do eletrodo,
102
este valor pode ser proveniente da formação de um acoplamento galvânico onde o
metal sofreu oxidação e a PANI, redução, passando da PANI sal esmeraldina para
leucoesmeraldina.
As micrografias ópticas mostraram aparência da superfície dos eletrodos de
ferro sobre os revestimentos estudados. A superfície do ferro sobre o revestimento
de epóxi/PANI 5% apresentou leves sinais de corrosão; já a superfície do eletrodo
de ferro sobre o revestimento de epóxi/PANI 15% apresentou um óxido escuro
sobre sua superfície e alguns sinais de corrosão; e a superfície do eletrodo de
ferro sobre o revestimento de epóxi-uretano apresentou forte corrosão. Isso
demonstra a capacidade da proteção da corrosão da PANI. Entretanto, ao ser
utilizada em grandes quantidades, a PANI pode prejudicar o revestimento por não
possuir as propriedades mecânicas necessárias de uma tinta, assim como foi
observado nas medições de EIS do revestimento de epóxi/PANI 15%, pelo valor
de R
c
que, durante as primeiras vinte e quatro horas, se mostra maior do que o
R
tc
do sistema ferro/epóxi-PANI 5% e ferro/epóxi, e, após isto, decresce de tal
forma que se torna menor do que o valor de R
tc
do revestimento de epóxi.
Foi concluído, neste trabalho, que há a formação de um par galvânico entre
o metal e a PANI, tanto em meio ácido como em meio neutro, e que este par
galvânico é o responsável pelas propriedades anticorrosivas da PANI. Porém,
para que uma tinta à base de PANI seja eficiente, tem que ser levado em conta a
quantidade de PANI a ser utilizada, para que não se perca as propriedades
mecânicas da tinta, o que pode resultar em um filme com defeitos, que seja
facilmente atacado pelo meio, prejudicando, assim, a performance anticorrosiva.
103
6. Referências
[1] Greene, R.L., Street, G.B., Suter, L.J.,
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7. Súmula Curricular
DADOS PESSOAIS
Gisela Ferraz Almada
Data do Nascimento: 17 de Setembro de 1977
Local: Rio de Janeiro, RJ – Brasil
EDUCAÇÃO
Graduação: Instituto Militar de Engenharia – IME – Rio de Janeiro
Engenharia Química
(1997-2001)
Pós-Graduação: Universidade de São Paulo – Instituto de Química
Mestrado em Química – Área: Físico-química (2005-2007)
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Fevereiro 2007 – Julho 2007 Estágio no Programa de Apoio ao Ensino (PAE),
junto à disciplina: QFL 3200 – Princípios de Análise
Química – IQ/USP
Fevereiro 2004 – Gerente de Qualidade
Empresa: 21° Depósito de Suprimento – Exército
Brasileiro, São Paulo, SP - Brasil
Fevereiro 2002 – Fevereiro 2004 Chefe de Oficina de Fosfatização
Empresa: Arsenal de Guerra de São Paulo – Exército
Brasileiro, Barueri, SP - Brasil
PARTICIPAÇÃO EM CONGRESSO
Almada, G.F., Torresi, R.M., “Estudo da proteção à corrosão pelo uso de
polímeros condutores
”, XVI Simpósio Brasileiro de Eletroquímica e
Eletroanalítica – SIBEE, Águas de Lindóia, São Paulo, Brasil. Abril de 2007.
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