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A) O cenário noturno
Trocando Olhares Livro de “Sóror Saudade” Charneca em Flor
O cenário noturno está
marcadamente presente nessa
antologia, retratando a extrema
necessidade do eu-lírico de
sonhar e de buscar a satisfação
de seus desejos expressos em
seus devaneios.
A identificação do eu-lírico
com a Lua, que nunca encontra
o Sol, é relevante, porque o
espaço interage com os
sentimentos de solidão e de
tristeza que não podem ser
revelados nem reconhecidos em
seu olhar.
A noite representa a solidão, o
acolhimento e compartilha da
dor do eu-lírico, libertando-o de
suas angústias por meio do
sonho, além de criar um clima
propício para refletir sobre o
sofrimento da alma.
Observamos, nos sonetos, a
simbologia da cor branca na
presença da lua, dos lírios
brancos, da neve, das asas de
anjos, das flores de laranjeira.
As cores escuras, como o negro
e o preto, também estão
presentes em contraste de
cenário, não menos belo, mas
triste, como o canto das
cigarras, imagem puramente
saudosista presente nos sonetos.
O cenário noturno, nessa
antologia, enfatiza, de forma
especial e evidente, a noite,
principalmente, no momento de
sua chegada, o crepúsculo, o
entardecer. Esse é o momento
mágico de encontro do eu-lírico
consigo mesmo, em um espaço
de exílio, momento em que se
distancia totalmente dos demais
seres reais do espaço exterior.
A escolha
nesse caso, decorre do espaço
fechado, no qual, de forma
idêntica, a alma do eu-lírico
revela, principalmente, um
constante estado de espírito
melancólico. Daí a extrema
dificuldade de retratar a
claridade do dia.
O cenário noturno, na maioria
das vezes, refere-se à estação do
Outono e a toda sua simbologia,
seu colorido já esmaecido, que
torna os dias tristes,
melancólicos e cinzentos.
O Livro de “Sóror Saudade”
pode ser considerado uma obra
de transição à esperança de vida
revelada nos versos de
Charneca em Flor.
Os sonetos desvendam, por
meio da paisagem outonal, um
estado de espírito que anuncia
uma atmosfera própria do
sujeito, agora mais envolvido
pela sedução dos caminhos da
felicidade, declaradamente
desejada.
Nessa antologia, o cenário
noturno identifica-se com as
imagens da noite acolhedora,
anteriormente revelada em sua
primeira obra poética Trocando
Olhares.
O entardecer, diferentemente,
não é cinzento, mas apresenta
uma claridade ímpar, portadora
de graça e de tranqüilidade.
O Outono também compõe o
cenário, mas, diferentemente de
Sóror Saudade, a escuridão que
ele provoca não traz tristeza,
mas sim atribui um tom
misterioso ao poema, deixando
transparecer as características
do movimento simbolista na
poesia florbeliana.
A presença do dia, a alegria e a
esperança que ele confere ao
eu-lírico, incita-o a contemplá-
lo, desde o momento do
alvorecer, passando pelo meio-
dia, quando o sol queima com
seu calor as casas brancas da
planície, vislumbrando a
possibilidade de um eterno
recomeço.