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redação. Foi aí que nos contaram que tinham policiais liberais
vestindo uniforme azul marinho de tergal do colégio se infiltrando
aqui, mas por causa do tráfico de drogas, já naquela época. Tinham
consciência sim, a grande maioria tinha consciência sim, de que a
ditadura era de outra direita, tinha os fascistas, entre aspas, que
gostavam dos militares porque eles colocavam todos os tupiniquins
na cadeia como no caso uma professora se expressou, quando
começou a abertura, eu lembro que alguns diziam: - “Ai mais agora
nós vamos ver, a bandidagem vai tomar conta”. Então era uma
época de grande repressão. A gente penava pelas pessoas
conhecidas nossas que eram pegas, isso tudo uma loucura.
Entrevistadora - Mas e essas pessoas que não estavam dentro da
escola?
Essas pessoas não sei se tinha consciência, mas a parte
intelectualizada da nação tinha bastante consciência da repressão,
porque a repressão dos anos 70 foi terrível. Não foi de brincadeira. O
AI-5 é de dar arrepios, ele é curtinho, mas se você lê, você se
arrepia. Agora, por outro lado, não faltou fascista, porque eu lembro
que faziam passeata por Deus, pela pátria, e pela liberdade, que
começou com as mulheres, meninas e aí a elite vai pedir uma
ditadura, porque as ditaduras no Brasil não foram gratuitas, as elites
políticas brasileiras é que pediram, as elites sociais gostavam, desde
que não me afete eu tô numa boa, os outros que se danem.
Pelas falas, foi possível notar que as disciplinas de Organização Social e
Política do Brasil (OSPB) e de Moral e Cívica eram direcionadas segundo as
ideologias do regime instaurado. Isso fica evidente no relato do entrevistado 4:
Olha, na época eu era professor de Moral e Cívica e OSPB. Todo
início de ano letivo nós precisávamos vir a Curitiba e pegar a
autorização pelo DOPS para ministrar essas aulas. Então isso é pra
essa área, como professor tínhamos essa pressão. O professor
dentro da sala de aula ele tinha que ter a postura do que podia e do
que não podia falar. Tinha que ter o pé no chão e cuidados com a
sua profissão e na formação do estudante, dos seus estudantes.
[para dar aula] Você tinha que ter ficha limpa, era uma ficha da
polícia federal, pra você ser autorizado a ministrar aulas em Moral e
Cívica e OSPB, da época da ditadura. Ah, tinha o planejamento,
tinha livros publicados na época dentro do que você podia trabalhar.
A gente fazia um trabalho dentro da sala de aula, de conscientização
e tudo mais, mas realmente era uma época diferente da de hoje.
Entrevistadora - E a população em geral? Como a senhora via? Eles
sentiam que era um período onde a democracia estava extinta?
Entrevistado - A sociedade sentia, nossas famílias sentiam sim,
apesar que, na época de 64, eu era estudante em Curitiba. Eu tinha
uma vida normal, 64, 68, então a gente acompanhava, via noticiários,
a imprensa era menor e era uma época preocupante, mas quem
tinha sua vida normal levava, estudantes mesmo, sala de aula, foi
uma fase da sociedade brasileira que a gente passou.