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Na década de 1990, entrei em contato com o budismo e iniciei meus estudos sobre ele
por intermédio de um grupo de praticantes da escola tibetana Kagyu Dak Shang Choling,
representante em São Paulo da linhagem Karma Kagyu
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, para desenvolver minha dissertação
de mestrado, procurando elementos sincréticos na prática religiosa dos freqüentadores do
Jardim do Dharma (MARCUCCI, 2000). Naquele período, entendi que o budismo, embora
possa ser estudado sob o ponto de vista religioso, não se reduz a esse aspecto. À medida que
estudava os textos compatíveis com meu nível, passei a compreendê-lo como uma filosofia.
Com o fim da pesquisa, encantada com os ensinamentos e já um tanto confortável com as
práticas de meditação, continuei freqüentando a escola. Concomitantemente, em minha vida
acadêmica, entrei em contato com o pensamento complexo e, muitas vezes, transportei
ensinamentos e textos deste para a filosofia budista e vice-versa. Para mim, esse trânsito foi
decisivo e confirmou o budismo como um conhecimento profundo dos fenômenos humanos,
um método introspectivo e subjetivo para a exploração das experiências, ações e
pensamentos, isto é, uma complementação importante para a “objetividade” científica. O
budismo pode dar uma explicação de mundo bem mais próxima das mais recentes teorias
científicas que a própria mecânica clássica.
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Dentre as quatro escolas originais que surgiram da tradição Dakpo Kagyu (linha de ensinamentos transmitidos
por Gampopa, 1079-1153) é a mais popular e difundida entre os tibetanos. O nome brasileiro deste centro de
difusão do budismo tibetano é Jardim do Dharma, fundado em 1993 pelo Ven. Lama Trinle Drubpa e pelo Prof.
Roque E. Severino, representantes das linhagens Karma e Shangpa Kagyu. Situa-se em Cotia, à R. das Cerejas,
333, bairro de Caputera, São Paulo. O diretor é o prof. Roque Severino (Naljorpa Karma Zopa Norbu), sob a
direção espiritual do Mui Ven. Kalu Rimpoche, o principal mestre da linhagem e do Mui Ven. Bokar Tulku
Rimpoche, falecido em 2004. Há também um local para estudos, práticas e meditações em São Paulo, à R. José
Maria Lisboa, 577, apto. 2. Em junho de 1996, foi inaugurada a Primeira Grande Stupa Dharmakaya da América
Latina, onde estão guardadas as relíquias dos maiores mestres de meditação e do próprio Buda. Foi consagrada
pelo Mui Ven. Lama Bokar Tulku Rinpoche. Em junho de 2007, o Mui Ven. Yongey Mingyur Rinpoche, que
desenvolve um trabalho importante em conjunto com cientistas ocidentais, consagrou mais oito stupas em Cotia,
que também levam as relíquias de muitos mestres e do próprio Mui Venerável Bokar Tulku Rinpoche. Os
interessados poderão obter mais informações e atualizações sobre a linhagem e o Jardim do Dharma no site
www.jardimdharma.org.br.