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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
FERNANDA FAISTEL
RESÍDUOS SÓLIDOS E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: O CASO
DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS
Ijuí (RS)
2008
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1
FERNANDA FAISTEL
RESÍDUOS SÓLIDOS E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: O CASO
DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Desenvolvimento, Linha de Pesquisa: Direito,
Cidadania e Desenvolvimento, da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul - UNIJUÍ, como requisito para obtenção do
título de Mestre.
Profª Orientadora: Doutora Noëlle Marie Paule Lechat
Ijuí (RS)
2008
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2
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento
A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação
RESÍDUOS SÓLIDOS E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: O CASO
DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS
Elaborada por
FERNANDA FAISTEL
Como requisito final para a obtenção do grau de
Mestre em Desenvolvimento
Banca Examinadora:
Prof. Dra Noëlle Marie Paule Lechat (UNIJUÍ):________________________________
Profª. Drª. Suzana Maria De Conto (UCS): ____________________________________
Profª. Drª. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _________________________
Ijuí (RS), 22 de abril de 2008
3
Dedico este trabalho aos meus pais, Carlos e
Cleusa e aos meus irmãos Franciele e Juliano, que
como eu, amam o planeta “Terra” e lutam por um
mundo melhor.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Carlos e Cleusa, pelo suporte financeiro e, muito mais importante do
que isso, pelo incentivo ao estudo, por me deixarem trilhar meu próprio destino, acreditando
sempre de que eu venceria.
À professora Dra. Noëlle Marie Paule Lechat, pelo incentivo, pela orientação, pelas
palavras sábias, pela sempre disposição em ajudar e por compartilhar seu saber.
À professora Dra. Raquel Fabiana Lopes Sparemberger, pela sua pronta disposição em
ajudar, por todo incentivo e apoio desde o início da jornada, que começou já na graduação....
Aos colegas de Mestrado, em especial, minha irmã Franciele, Déia, Ká, Pati e Josi,
que se tornaram muito além do que meras colegas, mas sim amigas, pelo companheirismo,
incentivo, troca de idéias e apoio nas horas mais difíceis desse caminho.
Aos meus amigos, que souberam compreender as minhas ausências e continuaram me
apoiando e incentivando para que concluísse este trabalho.
À todos(as) os(as) entrevistados(as) que colaboraram com a presente pesquisa, que me
receberam com muito carinho e foram essenciais para a conclusão da mesma.
À CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo
apoio financeiro, a qual permitiu que eu realizasse o sonho de ser Mestre, estando entre os
brasileiros privilegiados que podem aprender e que através de suas pesquisas tentam mudar a
realidade do país, ensinando.
A todos vocês muito obrigada!
5
“Tudo que a mente do homem pode conceber, pode
também alcançar.” (Wiliam Clement Stone)
6
RESUMO
A urbanização não é o único motivo que fez os resíduos tornarem-se um problema. O sistema
capitalista que exacerba o consumo e a produção de objetos descartáveis é também uma das
causas do aumento dos resíduos. Em decorrência desse fenômeno aliado ao aumento da
população, os resíduos urbanos produzidos aumentaram e aumentam a cada ano, traçando um
grande desafio para a sociedade em relação ao que fazer com esses resíduos e com quem
sobrevive deles, sem contar com as conseqüências ambientais. Grande parte da população que
“migra” para as cidades não consegue inclusão no mercado de trabalho e acabam sendo
excluídas vivendo em condições de miséria. Como forma de lutar pela sobrevivência, algumas
pessoas que vivem dos resíduos se organizam e formam cooperativas de seleção,
transformação e comercialização de materiais recicláveis, para que desta maneira possam
sobreviver e tentar mudar a situação desumana na qual se encontram. Uma das políticas
públicas municipais em relação aos resíduos urbanos deve ser a implementação da coleta
seletiva de material reciclável. Por outro lado, é necessário haver políticas públicas de
inclusão social dos catadores. É importante que, essas duas políticas sejam pensadas de
maneira integrada pelo poder público municipal, o que infelizmente não é sempre o que
acontece. Diante deste contexto, o presente estudo tem como objetivo compreender como a
cidadania dos catadores pode ser resgatada, associando políticas públicas municipais e
associações cooperativas. Para analisar a questão e entender a problemática, desenvolveu-se
uma investigação qualitativa, com pesquisa bibliográfica e documental (com buscas na
internet, utilizando-se de livros, leis, artigos em periódicos, revistas e jornais) completadas de
um estudo de caso. Pretende-se assim compreender como, no caso da Associação Ecos do
Verde de Santo Ângelo/RS, se estabeleceu a parceria entre o poder municipal e a sociedade
civil organizada, bem como analisar os avanços e percalços desta relação. Com a finalidade
de verificar quem que medida estão presentes as políticas públicas municipais em prol dos
catadores, no Município de Santo Ângelo/RS, mais especificamente na Associação Ecos do
Verde, realizou-se entrevistas semi-estruturadas com membros da Associação, pessoas da
sociedade civil, apoiadores desta iniciativa e responsáveis do poder público municipal. O
tratamento dos dados fundamentou-se na técnica de análise de conteúdo. Os resultados
evidenciam que políticas públicas municipais voltadas para a geração de trabalho e renda de
trabalhadores informais ou excluídos, podem resgatar a sua cidadania e inclusão social,
recuperando-lhe a dignidade e auto-estima. A inclusão se daria principalmente através do
trabalho associado, devolvendo a dignidade à pessoa e à sua família por seu próprio trabalho e
não a partir de programas assistencialistas. O resgate da cidadania dessas pessoas se daria com
o auxílio dos movimentos sociais incentivando a conquista do espaço público via ação
coletiva. Portanto, a conclusão do estudo fortalece a idéia de que uma das alternativas para o
gerenciamento de resíduos sólidos nos municípios, é através da implantação de políticas
públicas de gestão integrada e compartilhada de resíduos sólidos. Essas políticas devem ter
caráter permanente e devem ter como prioridade o objetivo de geração de trabalho e renda
para os catadores e recicladores, como, por exemplo, o incentivo para a formação de
associações e cooperativas de reciclagem, como forma de inclusão social e cidadania ativa,
sem esquecer de que o trabalho deve se dar de forma integrada com diversos setores da
sociedade tais como, movimentos sociais, ONGs, empresas privadas e a própria população.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos. Políticas Públicas. Ecos do Verde. Associação de
Catadores. Desenvolvimento Sustentável. Inclusão Social.
7
ABSTRACT
The urbanization is not the only reason that made the residues to turn into a problem.
Moreover, the capitalist system that aggravates the consumption and the production of
disposable objects is also one of the causes of the increase in the amount of residues. In
consequence of that phenomenon being allied to the increase of the population, the produced
urban residues increased and it increases every year, being a great challenge for the society in
relation to what to do with those residues and with people who survives from them, besides of
the environmental consequences. Accordingly, the great part of the population that “migrates”
to the cities does not get inclusion in the job market and they are excluded, living under scarce
conditions. As form of struggling for the survival, some people that live from the scavenging
are organized and they form selection cooperatives, transformation and commercialization of
recyclable materials, thus they can survive and try to change their ruthless situation. One of
the municipal public policies in relation to the urban residues should be the implementation of
the selective collection of recyclable material. On the other hand, it is necessary there to be
public policies of social inclusion for the pickers. Is important that, those two policies should
be thought in an integrated way by the municipal public power, which unfortunately it hardly
ever happens. According to this context, the present study has as objective to understand how
the citizenship of the waste pickers can be rescued, associating municipal public policies and
cooperative associations. In order to analyze the subject and to understand the problem a
qualitative investigation has been made, through a bibliographical and a documental research
(searching in the internet, books, laws, papers in academic publications, magazines and
newspapers) followed by a case study. It is intended to understand how, in the case of the
Ecos do Verde Association in Santo Ângelo/RS, they made the agreement of the partnership
between the municipal power and the organized civil association as well as to analyze the
progresses and profits of this contract. With the purpose of verifying in which extent they are
present the municipal public policies on behalf of the waste pickers, in the town of Santo
Ângelo/RS, more specifically in the Ecos do Verde Association, it was been organized semi-
structured interviews with members of the Association, people of the civil association,
supporters of this initiative and members responsible for the municipal public council. The
processing of the data was based on the technique of content analysis. The results evidence
that municipal public policies regarded to the creation of jobs and informal or excluded
workers' income can rescue their citizenship and social inclusion, recovering their dignity and
self-esteem. The inclusion would be accomplished mainly through the associated work,
returning the dignity to the person and his/her family for his/her own work and not by
assistance programs. Hence the improving of the citizenship of those people would be done
with the help of social movements. And the social movements have such a role; of motivating
the achievement of the public space through the collective action. Therefore, the conclusion of
the study reinforces the idea that one of the alternatives for the administration of solid
residues in the municipal districts, is through the implantation of public policies of integrated
administration and sharing of solid residues. Those policies should have permanent character
and they should have as focus the jobs and income creation for the waste pickers and waste
recyclers, for instance, the incentive for the formation of associations and recycling
cooperatives, as form of social inclusion and dynamic citizenship, without forgetting that the
work should occur in an integrated way with several branches of the society such as social
movements, NGOs, private companies and the population themselves.
Index Terms: Solid Residues. Public Policies. Ecos do Verde. Waste Pickers Association.
Sustainable Development. Social Inclusion.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Estrutura organizacional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis................................................................................................................................51
Figura 2 – Símbolo da reciclagem de vidro .............................................................................59
Figura 3 – Símbolo da reciclagem de plástico..........................................................................60
Figura 4 - Símbolo da reciclagem de papel..............................................................................61
Figura 5 – Selo Amigo do Catador de Materiais Recicláveis ..................................................79
Figura 6 – Foto da atual Sede da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do
Verde ......................................................................................................................................109
Figura 7 – Foto da Usina de Reciclagem da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental
Ecos do Verde.........................................................................................................................110
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - As cinco dimensões do desenvolvimento sustentável ...........................................28
Quadro 2 – Atores, mobilizações e redes ................................................................................39
Quadro 3 – Papel reciclável X papel não-reciclável ................................................................58
Quadro 4 - Código de cores para os diferentes tipos de resíduos ............................................58
Quadro 5 - Tempo de decomposição dos materiais .................................................................71
Quadro 6 - Classificação dos resíduos segundo a fonte geradora ...........................................73
Quadro 7 - Classificação das ocupações pela CBO 94 ............................................................76
Quadro 8 - Classificação das ocupações pela CBO 2002 ........................................................77
Quadro 9 – Diferenças entre associação e cooperativa ...........................................................97
LISTA DE SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACISA - Associação Comercial e Industrial de Santo Ângelo
ABREMPLAST - Associação Brasileira de Recicladores de Materiais Plásticos
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAP - Comissão de Avaliação de Projeto
CASA - Centro de Apoio Sócio-ambiental
CBO - Classificação Brasileira de Ocupações
CEMPRE - Compromisso Empresarial para a Reciclagem
CEP - Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUÍ
CF/88 - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNS - Conselho Nacional de Saúde
CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
COREDEs - Conselhos Regionais de Desenvolvimento
CPF – Cadastro de Pessoas Físicas
DEMAM - Departamento Municipal de Meio Ambiente do Município de Santo Ângelo
EPI - Equipamento de Proteção Individual
ES - Economia Solidária
EES - Empreendimentos Econômicos Solidários
FBES - Fórum Brasileiro de Economia Solidária
FEPAM - Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler – RS
FIDENE - Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado
FÓRUM PARTICIPA - Fórum Permanente de Articulação de Parcerias
FUNDIMISA – Fundição e Usinagem LTDA
GET - Grupo Especial de Trabalho
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IES - Incubadora de Economia Solidária
MCidades - Ministério das Cidades
MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
11
MEC – Ministério da Educação
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis
MS – Ministério da Saúde
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
ONGs - Organizações Não-Governamentais
PETROBRAS - Petróleo Brasileiro S/A
RSD - Resíduos Sólidos Domésticos
RS - Rio Grande do Sul
SEDH – Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República
SENAES - Secretaria Nacional de Economia Solidária
SICREDI S.A – Sistema de Crédito Cooperativo
SIES - Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária
SINPLAST - Sindicato das Indústrias de Material Plástico
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
URI - Universidade Regional Integrada de Santo Ângelo – RS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................13
1 POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO....................................................... ...16
1.1 Função social do Estado Contemporâneo........................................................................16
1.2 Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado....................................................25
1.3 Movimentos sociais e cidadania......................................................................................34
1.3.1 Movimento da Economia Solidária em relação ao meio ambiente........................41
1.3.2 Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis..............................48
2 A QUESTÃO DA RECICLAGEM DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS E A
LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA...........................................................................................52
2.1 Resíduos sólidos domésticos (RSD) e resíduo comercial ...............................................52
2.1.1 Materiais que podem ser reciclados.......................................................................57
2.2 A cadeia da reciclagem, componentes e o perfil dos seus profissionais.........................63
2.3 Legislação ambiental no Brasil sobre resíduos sólidos domésticos................................72
2.4 Os direitos de cidadania dos catadores e recicladores.....................................................76
3 METODOLOGIA DA PESQUISA.......................................................................................85
3.1 Método.............................................................................................................................85
3.2 Implicações éticas da pesquisa........................................................................................87
3.3 Sujeitos da pesquisa.........................................................................................................88
3.4 Técnicas e instrumentos de coleta de dados....................................................................89
3.5 Análise e interpretação dos dados ...................................................................................91
4 A EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE SANTO ÂNGELO/RS – ASSOCIAÇÃO DE
RECICLAGEM E EDUCAÇÃO AMBIENTAL ECOS DO VERDE.....................................92
4.1 Diferenças entre associação e cooperativa e suas legislações respectivas ......................92
4.2 Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde...............................100
4.2.1 Algumas informações sobre a cidade de Santo Ângelo – RS...............................100
4.2.2 A história de formação da Ecos do Verde............................................................102
4.2.3 Perfil da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde,
hoje ........................................................................................................................................109
4.3 Importância das políticas públicas municipais nos processos associativos: o caso da
Associação Ecos do Verde no Município de Santo Ângelo/RS.............................................112
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................131
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................134
APÊNDICES..........................................................................................................................141
ANEXOS................................................................................................................................150
13
INTRODUÇÃO
Com a modernidade, vem sendo imposta à sociedade, de maneira geral, a idéia de um
padrão de vida a ser seguido/alcançado, no qual o mercado é o princípio da auto-regulação da
esfera econômica e social. A universalização da tecnologia, de hábitos culturais e de
consumo, constitui um padrão referencial de elementos indispensáveis à expansão da
produção econômica e a conquista de novos mercados consumidores e de matéria-prima.
O que deve ser considerado é que para alcançar tal “padrão” de vida, muitos recursos
estão sendo utilizados, causando conseqüências para a humanidade e para o meio ambiente,
em diversos aspectos. Analisando, primeiramente, os aspectos sociais, podem-se citar
inúmeras conseqüências negativas, dentre elas, destaca-se a exclusão social, que abarca um
contingente cada vez maior de “excluídos” que lutam diariamente pela sobrevivência. Em
específico, na questão dos resíduos sólidos, que é um dos temas desta pesquisa, a
necessidade de reflexão sobre as pessoas que sobrevivem dos mesmos, ou seja, os catadores.
em relação aos problemas ambientais, a complexidade é enorme. Alguns exemplos
podem ser citados, tais como enchentes, furacões, erosões, desmatamento, elevação da
temperatura no planeta etc. No contexto urbano brasileiro, os problemas ambientais têm se
multiplicado, e a sua lenta solução tem se tornado de conhecimento público pelo seu impacto
quase que diariamente notícias relatam o aumento das enchentes nas grandes cidades. Em
específico, entre os problemas relacionados com os resíduos sólidos, pode-se destacar o
aumento desmensurado de enchentes, bem como dificuldades na sua gestão, com o crescente
despejo de resíduos sólidos em áreas inadequadas. Tudo isso acaba causando impactos cada
vez maiores de contaminação das águas, na quantidade e qualidade de recursos hídricos
disponíveis e agrava a qualidade do ar.
Diante de tal contexto, procura-se encontrar alternativas de desenvolvimento
sustentável que visem à inclusão social dos catadores individuais e associados ou
cooperativados e que alterem a situação degradante do meio ambiente. Acredita-se que o
Estado, através de políticas públicas, tem um papel fundamental como articulador e mediador
de políticas que busquem incluir socialmente e possibilitem melhores condições de vida à
população carente.
14
Essa pesquisa se propõe a analisar o papel do Estado no resgate da cidadania dos
catadores, via sua inserção em associações de recicladores. O estudo de caso será a
Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, de Santo Ângelo RS,
mais conhecida como “Ecos do Verde.”
A presente dissertação está estruturada em quatro capítulos. O primeiro capítulo
procura discutir como temática central a questão das políticas públicas e do desenvolvimento.
Nesse sentido, procura-se abordar a função do Estado contemporâneo relacionado com a
cidadania, incluindo a discussão do desenvolvimento sustentável, finalizando com
delineamentos sobre os movimentos sociais, dando maior ênfase para o Movimento da
Economia Solidária e o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.
Num segundo momento, ou seja, no segundo capítulo, aborda-se a questão da
reciclagem dos resíduos sólidos domésticos e a luta dos catadores pela sobrevivência.
Procura-se traçar algumas informações relacionadas à temática específica dos resíduos, tais
como conceituação de resíduos sólidos domésticos e resíduo comercial, materiais que podem
ser reciclados, a cadeia da reciclagem e perfil dos seus profissionais, legislação ambiental no
Brasil sobre resíduos sólidos, e, por último, tratar diretamente a questão dos catadores,
apresentando os seus direitos de cidadania.
A metodologia da pesquisa, que compreende explicitar o método, implicações éticas
da pesquisa, sujeitos da pesquisa, técnicas e instrumentos de coleta de dados, bem como
análise e interpretação dos dados, é apresentada no terceiro capítulo.
No quarto capítulo, a título de conclusão, será abordada a experiência da Associação
de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, de Santo Ângelo RS. Inicialmente
discutem-se as diferenças entre as associações e cooperativas, que o estudo empírico se
refere a uma associação. Em seguida, procura-se apresentar um histórico da Associação Ecos
do Verde, iniciando por um breve comentário sobre a cidade de Santo Ângelo - RS. Em
continuidade, é feito um relato sobre a história da associação e o perfil atual dos associados,
finalizando com a discussão sobre a importância das políticas públicas municipais nos
processos associativos.
15
Por fim, expressam-se as considerações finais, e apresentam-se as referências e os
anexos.
Salienta-se que, longe de ser um trabalho conclusivo, pretende-se apenas contribuir
para melhor compreensão da temática, através de um estudo teórico/prático, utilizando-se de
bibliografias científicas, de documentos públicos e de dados coletados por ocasião de um
estudo de caso prático.
16
1 POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO
Não que tenhamos perdido a humanidade, o encanto e o calor que era fácil
de ser alcançado por nossos ancestrais; antes, é que nossas dificuldades são
de um tipo que só em raras ocasiões podem ser curadas ou aliviadas pela
partilha de sentimentos mesmo os mais calorosos. Os sofrimentos que
costumamos experimentar a maioria das vezes não se somam e portanto não
unem suas vítimas. Nossos sofrimentos dividem e isolam, nossas misérias
nos separam, rasgando o delicado tecido das solidariedades humanas.
(Sygmunt Bauman)
1.1 Função social do Estado Contemporâneo
Com a modernidade, vem sendo imposto à sociedade, de maneira geral, a idéia de um
padrão de vida a ser seguido/alcançado, no qual o mercado é o princípio da auto-regulação da
esfera econômica e social. A universalização de um certo nível tecnológico, de hábitos
culturais e de consumo, constitui um padrão referencial de elementos indispensáveis à
expansão da produção econômica e a conquista de novos mercados consumidores e de
matéria-prima.
O que deve ser considerado é que para alcançar tal “padrão” de vida, muitos recursos
estão sendo utilizados, causando conseqüências para a humanidade e para o meio ambiente
em diversos aspectos. Analisando, primeiramente, os aspectos sociais, podem-se citar
inúmeras conseqüências, dentre elas, destaca-se a exclusão social, que abarca um contingente
cada vez maior de “excluídos” que lutam diariamente pela sobrevivência.
Nesse sentido concorda Caldera (2005), afirmando que os problemas sociais,
econômicos, culturais e políticos, enfrentados atualmente, ensinam, com evidência, os limites
do mercado, que, por sua própria ação, destrói as forças que utiliza para sustentar e
reproduzir-se, ou seja, os recursos humanos e os da natureza.
Diante de tal contexto, procura-se encontrar alternativas sustentáveis que visem à
inclusão social destas pessoas e que alterem a situação degradante do meio ambiente.
Acredita-se que o Estado, através de políticas públicas, tem um papel fundamental como
articulador e mediador de políticas que busquem incluir socialmente e possibilitar melhores
condições de vida para a população carente.
17
De acordo com Boneti (2006, p. 78),
[...] o Estado
1
se exime da responsabilidade pelas diferenças persistentes
e/ou a exclusão, jogando sobre os sujeitos sociais a culpa de sua não-
homogeneização e a conseqüente exclusão, direcionando as políticas
públicas para a produção do conhecimento tecnológico e a viabilidade
econômica.
Segundo o autor, pode-se dizer que políticas blicas são as “ações que nascem do
contexto social, mas que passam pela esfera estatal como uma decisão de intervenção pública
numa realidade social, quer seja para fazer investimentos ou para uma mera regulamentação
administrativa.” (BONETI, 2006, p. 74).
Assim sendo, política pública pode ser entendida como o resultado do jogo de forças
provenientes das relações de poder, relações estas compostas pelos grupos econômicos e
políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade civil. Tais relações determinam
ações estatais, no sentido de direcionamento das ações de intervenção administrativa do
Estado na sociedade. Nesse caso, o papel que incumbe ao Estado é de um agente repassador à
sociedade civil das decisões oriundas das relações de força travada entre os agentes do poder.
Ao se falar em políticas públicas, há a necessidade de se compreender a relação
existente entre o Estado, as classes sociais e a sociedade civil, pois é desta relação que se
originam os agentes que irão definir as políticas públicas. Portanto, a seguir será feita a
conceituação de Estado, classes sociais e sociedade civil, sublinhando a ressemantização que
estes conceitos estão tendo atualmente.
Segundo Pinheiro Filho e Chut (2006), a palavra Estado deriva do latim status e
significa a condição ou o específico modo de ser de alguma coisa, ou seja, como esta se situa
ou qual é a situação. Mas, modernamente
2
é definido como um grupo social que vive em
determinado território, sob a égide de um sistema de leis e governado por representantes
políticos. Segundo Jellinek (1914 apud PINHEIRO FILHO; CHUT, 2006, p. 286), Estado “é
1
Salienta-se que uma meta do governo atual é acabar com a fome e, em tese, promover a inclusão social.
2
A palavra Estado tem 19 significados no Dicionário Aurélio. Um deles sendo: “organismo político
administrativo que, como nação soberana ou divisão territorial, ocupa um território determinado, é dirigido por
governo próprio e se constitui pessoa jurídica de direito público, internacionalmente reconhecida.”
18
a corporação de um povo assentada num determinado território e dotada de um poder
originário de mando.”
De acordo com Gramsci (apud COUTINHO, 1981, p. 91, grifo nosso),
O Estado, em sentido amplo, com novas determinações, comporta duas
esferas principais: a sociedade política que é formada pelo conjunto dos
mecanismos através dos quais a classe dominante detém o monopólio legal
da repressão e da violência, e que se identifica com os aparelhos de coerção
sob controle das burocracias executivas e policial-militar; e a sociedade civil,
formada precisamente pelo conjunto das organizações responsáveis pela
elaboração e/ou difusão das ideologias, compreendendo o sistema escolar, as
igrejas, os partidos políticos, os sindicatos, as organizações profissionais, a
organização material da cultura (revistas, jornais, editoras, meios de
comunicação e massas) etc.
Para Caldera (2005, p. 108),
é impostergável uma transformação da estrutura econômica do Estado e da
própria sociedade civil, na qual se garanta a solução aos graves problemas
sociais que afligem a maior parte da população, e sem a qual não existe
desenvolvimento, paz, nem democracia possível.
Continua o referido autor dizendo que o Estado possui um papel essencial na
sociedade contemporânea, no que diz respeito à eficiência administrativa, na busca da justiça
social e no estabelecimento de mecanismos reguladores que garantam a comunicação entre os
diferentes setores que conformam a sociedade.
Para que o Estado cumpra com esse papel “ideal”, a necessidade de se colocar em
prática políticas públicas e instrumentos que favoreçam a redefinição do papel do Estado
como parte fundamental de um novo modelo econômico e social.
Nesse sentido, Kliksberg (2003, p. 85) diz que:
Parece haver um amplo espaço para uma revalorização do papel que podem
desempenhar políticas públicas no mundo em desenvolvimento em face dos
problemas sociais. Não se trata de voltar às visões onipotentes do Estado,
mas de pensar num modelo estatal diferente, muito articulado em redes
produtivas com a sociedade civil, em todas as suas expressões, e com as
próprias comunidades pobres, tratando em seu conjunto de encontrar
soluções realmente válidas para os problemas.
19
Segundo Petersen (1998, p. 68),
[...] o Estado capitalista convive com a profunda contradição de ser
responsável por garantir as condições de extração de mais-valia das classes
dominadas e, ao mesmo tempo, precisar atender a algumas de suas demandas
para permitir a reprodução da força de trabalho e a sua própria legitimação.
Dessa dupla responsabilidade resulta que o Estado capitalista necessita
colocar limites à exploração das classes dominadas, através de legislação
social e trabalhista e de políticas sociais na área do trabalho, da saúde,
educação, habitação, previdência social. Obviamente, o cumprimento dessa
tarefa, com muita freqüência, desagrada setores das classes dominantes, os
quais nem sempre compreendem que o objetivo do Estado capitalista é, em
última análise, a reprodução do capitalismo.
Para Castel (2006), ao se falar em classes sociais, de ser feita uma referência à
concepção clássica da Sociologia, que prevaleceu até meados da década de 70 do século XX,
que entende que a “chave” da questão social é o conflito que opõe grupos sociais homogêneos
em luta pela repartição dos benefícios do crescimento. Esta é a visão de Marx (1984), que,
como salienta Ianni, demonstra uma grande preocupação com o caráter das classes sociais, ou
seja, com as condições e conseqüências dos seus antagonismos e lutas na sociedade
capitalista. Para Marx, o confronto pelo meio do qual o capitalismo entra em colapso final é o
confronto entre o proletariado e a burguesia, pois, para ele, essas são as duas classes
substantivas do regime.
A teoria da luta de classes formulada por Marx é uma contribuição revolucionária. Isso
pode ser demonstrado quando o mesmo escreve uma carta à J. Weydemeyer em março de
1852:
[...] No que a mim se refere, não me cabe o mérito de haver descoberto a
existência das classes na sociedade moderna nem a luta entre elas. Muito
antes de mim, alguns historiadores burgueses haviam exposto o
desenvolvimento histórico dessa luta de classes e alguns economistas
burgueses a sua anatomia econômica. O que eu trouxe de novo foi a
demonstração de que: 1) a existência das classes se liga a determinadas
fases históricas de desenvolvimento da produção; 2) a luta de classes
conduz, necessariamente, à ditadura do proletariado; 3) esta mesma
ditadura não é por si mais que a transição para a abolição de todas as classes
e para uma sociedade sem classes [...]. (MARX, 1984, p. 99, grifo do autor).
Segundo Castel (2006), pode-se falar em conceito de classes sociais antes e depois da
“exclusão”. Até os anos 1960-70, a noção de classes sociais representava, sem dúvida, um dos
conceitos principais da sociologia clássica. Até então, as classes sociais representavam uma
realidade massificada e objetiva que estruturava amplamente a sociedade moderna. Uma
20
forma de vida coletiva organizada, portadora de objetivos comuns à totalidade dos seus
membros, e de uma consciência comum.
Hoje, os indivíduos estão isolados das suas pertenças coletivas, desafiliados. Pode-se
imaginar formas de pertença coletiva que reúnem mais características negativas, tais como a
pobreza, a estigmatização, a inutilidade social etc., do que positivas. Ou seja, o conceito de
classe social continua a ser útil para a análise científica, mas seu conteúdo mudou.
Quanto à sociedade civil, Gohn (2005), em sua obra O Protagonismo da Sociedade
Civil: movimentos sociais, ONGs e redes solidárias, procura trazer algumas considerações
sobre esta categoria. A referida autora afirma que o termo comporta várias interpretações. Os
liberais utilizam este conceito como processo de privatização, com a expansão do mercado e
conseqüente limitação do Estado; os liberais, da corrente humanista, atrelam espaço da
sociedade civil o aumento da participação comunitária em projetos públicos, contribuindo,
desta forma, para uma maior aceitação pública do governo. Outros a têm como sinônimo de
civilidade. No ocidente é crescente a interpretação da sociedade civil como aperfeiçoamento
dos processos deliberativos democráticos, para criar mais espaço público.
Inicialmente, Gohn (2005) delineia uma trajetória histórica do termo sociedade civil,
afirmando que sua origem está associada a Aristóteles. A separação sociedade civil Estado
ocorre na Idade Moderna, com os escritos de Ferguson e Paine. para Hobbes, Locke e
Kant, a sociedade civil é entendida como oposição à natureza. Rousseau pensa diferente. Para
ele, a sociedade civil é a sociedade civilizada, no sentido da não barbárie.
A partir de Hegel, no culo XIX, o conceito de sociedade civil assume um estatuto
teórico efetivo. Para Hegel, a sociedade civil está localizada entre as esferas da família e do
Estado. Karl Marx não concorda com a concepção de Hegel. Para ele, a sociedade civil vai
estar reduzida ao sistema das necessidades, ou seja, à economia capitalista da sociedade
burguesa.
O espaço da sociedade civil, entendido como o espaço de organização da cultura, é
defendido por Gramsci, que entra na história das idéias políticas como sendo o primeiro autor
com essa concepção. Para ele, a dominação de uma classe sobre outra não se apenas no
plano econômico, mas em diversas instâncias, como nos campos cultural e comunicacional.
21
Para Gramsci, o Estado se ampliou e adquiriu novas determinações que não existiam no
tempo de Marx. Houve uma “socialização da política” (nascimento de sindicatos, formação de
partidos de massa, conquista do sufrágio universal etc.), ocorrida, sobretudo, a partir de 1870.
Tal socialização leva à criação de uma nova esfera do ser social, que Gramsci chamou
precisamente de sociedade civil (COUTINHO, 2003). Com isso, o Estado deixou de ser o
simples “poder de opressão” de uma classe sobre outra, deixou de agir apenas através da
coerção, mas passou a buscar o poder pela persuasão, obtendo o consenso de classes sociais
não formuladoras inicialmente de seus valores, e sua legitimação. “É a essa direção intelectual
e moral que Gramsci chamou de hegemonia” (COUTINHO, 2003). A hegemonia não é uma
construção monolítica, e sim o resultado das medições de forças entre blocos sociais atuantes
em determinado contexto histórico.
Na segunda metade do século XIX entra em cena as considerações feitas por um autor
francês que viveu na América: Alexis de Tocqueville, o qual foi fundamental na implantação
do modelo de democracia norte-americana. Ele descreve a sociedade civil como uma
associação cívica, ou seja, uma legião de entidades assistenciais, de caridade, fraternais, ligas
cívicas, associações religiosas etc. A discussão sobre a sociedade civil, a partir da matriz
filiada às origens de Tocqueville, parte da análise do micro, do local, da comunidade e olha as
relações entre os indivíduos, como se formam os grupos, como se comportam as lideranças.
Ao se falar em sociedade civil no debate contemporâneo, Gohn (2005) faz também
referência a Jeffrey C. Alexander, o qual considera este um dos conceitos que se impuseram
ao longo dos tempos, ocorrendo, desta forma, sua secularização. O referido autor sugere que a
sociedade civil pode ser concebida em três formas típicas, as quais se sucederam, uma após a
outra, na História Moderna. A primeira forma, chamada de pós-medieval ou hobesiana, é
compreendida por pensadores, como: Locke e Harrington; Ferguson e Smith, Rousseau e
Hegel e, nos últimos tempos, por Tocqueville. Para estes, a sociedade civil era compreendida
como um guarda-chuva para a gama de instituições fora do Estado.
A segunda forma histórica do conceito de sociedade civil nasce em virtude do
desenvolvimento do capitalismo no século XIX, que alterou a imagem do mercado capitalista,
que passou a ser visto como egoísta. Desta maneira, a sociedade civil passou a ser vista como
um campo de interesses privados.
22
a terceira forma decorre dos acontecimentos históricos das últimas décadas do
século XX. Cria-se um consenso de que a sociedade civil não é apenas espaço para ações
individuais, mas ela deve construir um senso coletivo de obrigações sociais, de
responsabilidade social, que declinaram na segunda etapa. A sociedade civil passa a ser
concebida como um tipo de comunidade civil, uma esfera solidária na qual certo tipo de
comunidade universal cresce gradualmente; ela possui códigos e narrativas próprios expressos
em idiomas democráticos.
Acredita-se que cada fase da história produz, no contexto da relação econômica,
cultural e de interesses das classes dominantes, idéias que tornam-se hegemônicas. E essas
idéias construídas ideologicamente em cada sociedade, tornam-se referências às ações
institucionais e, em particular, a elaboração das políticas públicas.
Atualmente, em virtude do processo de globalização da economia, há uma nova
visão/entendimento sobre o papel desempenhado pelo Estado. Os tradicionais limites
nacionais são atingidos pela universalização das relações sociais e econômicas.
Nesse sentido,
Num mundo em que o capital não tem domicílio fixo e os fluxos financeiros
estão bem além do controle dos governos nacionais, muitas das alavancas da
política econômica não mais funcionam. [...] a nação-estado parece que se
está desgastando ou talvez definhando. As forças erosivas são
transnacionais. Uma vez que as nações-estados continuam sendo as únicas
estruturas para um balanço e as únicas fontes de iniciativa política efetiva, a
“transnacionalidade” das forças erosivas coloca-as fora do reino da ação
deliberada, proposital e potencialmente racional. (BAUMAN, 1999, p. 64).
No cabaré da globalização, o Estado passa por um strip-tease e no final do
espetáculo é deixado apenas com as necessidades básicas: seu poder de
repressão. Com sua base material destruída, sua soberania e independência
anuladas, sua classe política apagada, a nação-estado torna-se um mero
serviço de segurança para as mega-empresas. Os novos senhores do mundo
não têm necessidade de governar diretamente. Os governos nacionais são
encarregados da tarefa de administrar os negócios em nome deles.
(BAUMAN, 1999, p. 74).
Continua ainda o autor dizendo que,
as nações não estão seguras no abrigo que foi a soberania política do
Estado, outrora tida como garantia de vida perpétua. A soberania não é o
que costumava ser; a base de auto-suficiência econômica, militar e cultural e
23
de quase autarquia em que se apoiava foi completamente destruída [...].
(BAUMAN, 2000, p. 47).
A globalização está na ordem do dia; uma palavra da moda que se
transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha
capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros. Para
alguns, “globalização” é o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para
outros, é a causa da nossa infelicidade. Para todos, porém, “globalização” é
o destino irremediável do mundo, um processo irreversível; é também um
processo que afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira.
(BAUMAN, 1999, p. 7).
Em decorrência dessa nova configuração mundial, não se pode entender o Estado
simplesmente como mera instituição a serviço da classe dominante ou como uma instituição
regida pela lei. Tal configuração impôs novos elementos na relação entre o Estado e a
sociedade civil.
Não se pode considerar que a formulação das políticas públicas é articulada somente a
partir de uma determinação jurídica, fundamentada em lei, tendo o Estado como se fosse uma
instituição neutra. Também não se pode pensar que as políticas públicas são formuladas
unicamente a partir dos interesses de uma classe, como se o Estado fosse uma instituição a
serviço da classe dominante.
No atual contexto da sociedade foram introduzidos novos elementos na estrutura
social os quais mascaram os limites e os interesses das classes, deixando-os não tão visíveis.
Para Boneti (2006), existe uma afinidade entre as políticas públicas e os interesses das
elites econômicas, de tal forma que mesmo que no plano local exista uma correlação de forças
envolvendo os movimentos sociais e demais organizações da sociedade civil, a definição das
políticas públicas é condicionada aos interesses das elites por força do sistema capitalista.
Os interesses das elites globalizadas aparecem claramente determinados nas
políticas de expansão das relações capitalistas mundiais por instituições
como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização Mundial do
Comércio (OMC), ou pelo próprio poder de força que têm os grupos
econômicos mundiais de impor as regras que lhes interessa etc., mas seus
interesses podem ser questionados por agentes nacionais, estaduais ou locais,
constituindo-se assim, uma correlação de forças que influenciam no processo
da elaboração e aplicabilidade das políticas públicas. (BONETI, 2006, p.
14).
24
Boneti (2006) destaca que as instituições públicas e suas ações se fundamentam e se
movem não apenas por determinações legais, mas também por outros fatores que envolvem a
organização da sociedade civil, os interesses de classes, os partidos políticos e demais agentes
determinantes na elaboração e gestão das políticas públicas que têm origem na sociedade
civil.
Fica claro, portanto, que a elaboração e o estabelecimento de políticas públicas
dependem de alguns fatores, os quais pode-se citar: os interesses do capitalismo internacional;
interesses oriundos no contexto nacional, os das classes dominantes e dos vários segmentos
que compõem a sociedade civil. Mas, em virtude da pluralidade política atual, outros agentes
oriundos da sociedade civil, tais como as ONGs, os movimentos sociais, etc., se constituem
em novos agentes confrontantes com os projetos da classe dominante.
Segundo Bauman (1999, p. 74),
A única tarefa econômica permitida ao Estado e que se espera que ele
assuma é a de garantir um “orçamento equilibrado”, policiando e
controlando as pressões locais por intervenções estatais mais vigorosas na
direção dos negócios e em defesa da população face às conseqüências mais
sinistras da anarquia de mercado
.
Cabe, portanto, ao Estado a obrigação de, ao se pensar um “orçamento equilibrado”
como citou Bauman, incluir medidas ou políticas que tenham cunho sustentável, ou seja, que
além de beneficiar economicamente a sociedade como um todo, privilegie a questão
ambiental.
Diante de tal contexto, pode-se afirmar que a política neoliberal acarreta
conseqüências diversas. Na medida em que prioriza o econômico sobre o social, a mesma
acaba por incentivar o Estado mínimo, corroborando, desta maneira, para o aumento da
exclusão social.
A utilização do termo exclusão social é bastante recente. Segundo Estivill (2006), a
exclusão está relacionada à insatisfação, quando o ser humano não consegue
satisfazer/realizar os seus desejos ou ambições particulares ou coletivas.
25
Desta forma, a exclusão social pode ser entendida como uma acumulação de
fenômenos convergentes que se traduzem em rupturas sucessivas
despoletadas no centro da economia, da política e da sociedade, e vão
afastando e ou diminuindo o estatuto de pessoas, grupos, comunidades e
territórios em relação aos centros de poder, aos recursos e aos valores
dominantes. (ESTIVILL, 2006, p. 120).
Para Estivill (2006, p. 112), não é somente o Estado, mas sim a própria sociedade que
culpa os excluídos por estarem nessa condição, ao afirmar que:
A sociedade tende a considerar os excluídos como culpados ou responsáveis
pela sua exclusão, censurando-lhes as condutas e a sua indiferença na
relação com o pacto social. Os excluídos tentam, por sua vez, encontrar uma
posição no seu próprio leque de relações ou se decidem a lutar contra as
circunstâncias da sua exclusão, criticando a falta do seu reconhecimento por
parte da sociedade.
Para Castel (2006, p. 70), a exclusão traduz uma inquietação geral diante da
degradação das estruturas da sociedade salarial e sublinham a necessidade que em assumir
a situação das vítimas de tais transformações. Continua o autor afirmando que “referir-se a
exclusão, de fato, é ater-se a uma concepção negativa e abstrata dos fenômenos de dissolução
social. O ‘excluído’ é unicamente qualificado pela falta, pela ausência de inscrição nos
circuitos habituais de trocas sociais.”
Na presente pesquisa, pretende-se estudar uma associação de pessoas que, excluídas
economicamente da sociedade, uniram-se com um objetivo comum, o da sobrevivência
através dos resíduos lidos, daquilo que a sociedade de uma forma geral consome e refuga.
Pretende-se investigar em que medida o poder público se faz presente em situações em que as
pessoas aliam a sua sobrevivência a uma prática propícia à sustentabilidade ambiental.
1.2 Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado
Ao se falar em desenvolvimento, a primeira grande questão a ser esclarecida é de que
desenvolvimento se está falando. Com base no pensamento de Sachs (2004), afirma-se que
desenvolvimento não é sinônimo de crescimento econômico, muito pelo contrário, os
objetivos do desenvolvimento são muito superiores a mera multiplicação de riqueza material.
Cabe salientar que não se está eliminando por completo a idéia de crescimento econômico
para alcançar uma vida melhor, pois ele é condição necessária, mas sozinho não é suficiente.
26
Segundo Sachs (2004, p. 71), o desenvolvimento
é um conceito multidimensional: os seus objetivos são sempre sociais e
éticos (solidariedade sincrônica). Ele contém uma condicionalidade
ambiental explícita (solidariedade diacrônica com as gerações futuras); o
crescimento econômico, embora necessário, tem um valor apenas
instrumental; o desenvolvimento não pode ocorrer sem crescimento, no
entanto, o crescimento não garante por si o desenvolvimento; o
crescimento pode, da mesma forma, estimular o mau desenvolvimento,
processo no qual o crescimento do PIB é acompanhado de desigualdades
sociais, desemprego e pobreza crescentes.
O desenvolvimento surge num contexto histórico no qual a idéia de desenvolvimento
traz consigo a necessidade de reparação de desigualdades passadas, ou seja, entre as minorias
ricas modernizadas e a maioria de trabalhadores pobres.
O objetivo maior é o de promover a igualdade e melhorar as condições de vida
daqueles que vivem em situação de miséria, de forma a reduzir a pobreza.
A noção de desenvolvimento como é conhecida na atualidade, começou nos anos 40
do século XX. Surgiu no contexto da preparação dos anteprojetos para a reconstrução do pós-
guerra, no intuito de reconstruir a Europa devastada.
Segundo Sachs (2004), os problemas que estes países enfrentavam não eram diferentes
de outras periferias, tais como: estrutura fundiária anacrônica, agricultura camponesa atrasada,
condições adversas de comércio para as commodities
3
primárias, industrialização incipiente,
desemprego e subemprego crônicos, e necessidade de um Estado desenvolvimentista ativo
para enfrentar o desafio de estabelecer regimes democráticos capazes simultaneamente de
conduzir a reconstrução do pós-guerra e de superar o atraso social e econômico.
Ainda hoje, uma das grandes questões que perpassam o problema do desenvolvimento
é saber como lidar com a heterogeneidade estrutural, tanto econômica quanto social. Existe
uma grande dificuldade de se empregar toda a força de trabalho disponível mediante a adoção
de tecnologias avançadas, por falta de capital suficiente. a necessidade de se alcançar um
equilíbrio entre as metas de modernização e industrialização e, de outro lado, a promoção do
pleno emprego e/ou auto-emprego sem esquecer, ainda, da necessidade de aumentar
3
Commodities são títulos correspondentes a negociações com produtos agropecuários, metais, minérios e outros
produtos primários nas bolsas de mercadorias.
27
continuamente a produtividade do trabalho, ou seja, a fonte de progresso econômico.
Salienta-se que desde os anos 70, a atenção dada à questão ambiental levou a uma
ampla reconceitualização do desenvolvimento, em termos de ecodesenvolvimento,
recentemente renomeado desenvolvimento sustentável. Portanto, com a intensificação da
degradação do meio ambiente por ação humana, aumentou nos últimos anos a preocupação de
grande parcela da população com o meio ambiente. Em meados dos anos 60 emerge o
movimento ambientalista mundial, o qual se expande para hoje constituir-se em um
ambientalismo complexo. A partir dos anos 80, este movimento adota o desenvolvimento
sustentável como seu paradigma.
O desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da
solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a explicitação de
critérios de sustentabilidades social e ambiental e de viabilidade econômica.
Estritamente falando, apenas as soluções que considerem estes três
elementos, isto é, que promovam o crescimento econômico com impactos
positivos em termos sociais e ambientais, merecem a denominação de
desenvolvimento. (SACHS, 2004, p. 36).
A seguir, serão apresentados alguns conceitos do termo desenvolvimento sustentável.
A preocupação com a preservação do meio ambiente conjugada com a melhoria das condições
socioeconômicas da população fez surgir o conceito de ecodesenvolvimento, depois
substituído pelo de desenvolvimento sustentável (MONTIBELLER FILHO, 2004).
Segundo Montibeller Filho (2004), a partir da cada de 80, o termo desenvolvimento
sustentável é difundido. É uma expressão de influência anglo-saxônica, utilizada
primeiramente pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN). Na
conferência mundial sobre a conservação e o desenvolvimento, da IUCN (Ottawa, Canadá,
1986), o conceito de desenvolvimento sustentável e eqüitativo foi colocado como um novo
paradigma, tendo como princípios: a) integrar conservação da natureza e desenvolvimento; b)
satisfazer as necessidades humanas fundamentais; c) perseguir equidade e justiça social; d)
buscar a auto-determinação social e respeitar a diversidade cultural e e) manter a integridade
ecológica.
Montibeller Filho (2004, p. 51) elabora um quadro baseado nos princípios citados
acima e nos requisitos de sustentabilidade apresentados por Sachs:
28
DIMENSÃO COMPONENTES OBJETIVOS
SUSTENTABILIDA-
DE SOCIAL
- Criação de postos de trabalho que permitam a obtenção de
renda individual adequada melhor condição de vida; à
maior qualificação profissional).
- Produção de bens dirigida prioritariamente às
necessidades básicas sociais.
REDUÇÃO DAS
DESIGUALDADES
SOCIAIS
SUSTENTABILIDA-
DE ECONÔMICA
- Fluxo permanente de investimentos públicos e privados
(estes últimos com especial destaque para o
cooperativismo).
- Manejo eficiente dos recursos.
- Absorção, pela empresa, dos custos ambientais.
- Endogeneização: contar com suas próprias forças.
AUMENTO DA
PRODUÇÃO E DA
RIQUEZA SOCIAL,
SEM DEPENDÊNCIA
EXTERNA
SUSTENTABILIDA-
DE ECOLÓGICA
- Produzir respeitando os ciclos ecológicos dos
ecossistemas.
- Prudência no uso de recursos naturais não renováveis.
- Prioridade à produção de biomassa e à industrialização de
insumos naturais renováveis.
- Redução da intensidade energética e aumento da
conservação de energia.
- Tecnologias e processos produtivos de baixo índice de
resíduos.
- Cuidados ambientais.
MELHORIA DA
QUALIDADE DO MEIO
AMBIENTE E
PRESERVAÇÃO DAS
FONTES DE
RECURSOS
ENERGÉTICOS E
NATURAIS PARA AS
PRÓXIMAS
GERAÇÕES
SUSTENTABILIDA-
DE
ESPACIAL/GEOGRÁ
-FICA
- Desconcentração espacial (de atividades; de população).
- Desconcentração/democratização do poder local e
regional.
- Relação cidade/campo equilibrada (benefícios
centrípetos).
EVITAR EXCESSO DE
AGLOMERAÇÕES
SUSTENTABILIDA-
DE CULTURAL
- Soluções adaptadas a cada ecossistema.
- Respeito à formação cultural comunitária
EVITAR CONFLITOS
CULTURAIS COM
POTENCIAL
AGRESSIVO
Quadro 1 - As cinco dimensões do desenvolvimento sustentável
Fonte: MONTIBELLER FILHO (2004, p. 51).
Para Sachs (2002 apud VEIGA, 2005), o desenvolvimento pode permitir que cada
indivíduo revele suas capacidades, seus talentos e sua imaginação, na busca da auto-
realização e da felicidade, mediante esforços coletivos e individuais, combinação de trabalho
autônomo e heterônomo e de tempo gasto em atividades não econômicas.
Para Veiga (2005, p. 81), “o desenvolvimento tem a ver, com a possibilidade de as
pessoas viverem o tipo de vida que escolheram, e com a provisão dos instrumentos e das
possibilidades para fazerem as suas escolhas”.
Na concepção de Sen e de Mahbud, só há desenvolvimento quando os
benefícios do crescimento servem à ampliação das capacidades humanas,
entendidas como o conjunto das coisas que as pessoas podem ser, ou fazer,
na vida. E são quatro as mais elementares: ter uma vida longa e saudável, ser
29
instruído, ter acesso aos recursos necessários a um vel de vida digno e ser
capaz de participar da vida da comunidade. (VEIGA, 2005, p. 85).
Segundo Veiga (2005, p. 113), “o que está claro é que a hipotética conciliação entre
o crescimento econômico moderno e a conservação da natureza não é algo que possa ocorrer
no curto prazo, e muito menos de forma isolada, em certas atividades, ou em locais
específicos.”
Continua ainda Veiga (2005, p. 171) dizendo que “a sustentabilidade ambiental é
baseada no duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e de
solidariedade diacrônica com as gerações futuras”. Ela direciona a trabalhar com escalas
múltiplas de tempo e espaço e impele ainda a buscar soluções triplamente vencedoras (termos
sociais, econômicos e ecológicos), eliminando o crescimento selvagem obtido ao custo de
elevadas externalidades negativas, tanto sociais quanto ambientais.
Mesmo que ainda esteja longe o surgimento de uma medida mais consensual
de sustentabilidade ambiental, é imprescindível entender que os índices e
indicadores existentes exercem papel fundamental nas relações de
fiscalização e pressão que as entidades ambientalistas devem exercer sobre
governos e organizações internacionais. (VEIGA, 2005, p. 182).
O desenvolvimento é determinado como a realização de um sistema coerente
com o aumento da produtividade, distribuição eqüitativa de renda social,
modos de utilização sustentáveis dos recursos e gerenciamento inteligente
dos riscos. [...] Sem dúvida, a observação deste complexo de elementos nos
conceitos das modernas políticas de desenvolvimento é uma expressão de
avanço teórico e de realismo político. (ALTVATER apud DERANI, 1997, p.
143).
Está claro que o desenvolvimento sob a nova ótica é inseparável da gestão de recursos
naturais. Coloca em primeiro plano a questão da reprodutibilidade das relações entre as
sociedades humanas e seu meio ambiente. Segundo Montibeller Filho (2004), o novo
paradigma pressupõe, portanto, um conjunto de sustentabilidades, sintetizadas no seguinte
trinômio: eficiência econômica, eficácia social e ambiental. O cumprimento simultâneo desses
requisitos significa atingir o desenvolvimento sustentável.
São vários os conceitos de desenvolvimento, conforme foram citados. O termo
desenvolvimento é uma noção das mais freqüentes e está ligado a um conceito universalmente
30
desejado e traz em si a idéia de progresso
4
, melhoria. Sustentável é um rótulo ou adjetivo
afixado ao conceito de desenvolvimento. Desta maneira, pode-se afirmar que
desenvolvimento sustentável é definido como um processo contínuo de melhoria das
condições de vida da humanidade, com uma equilibrada utilização dos recursos naturais,
garantindo, desta forma, o futuro da presente e futuras gerações.
O crescimento, mesmo acelerado, não é desenvolvimento se não ampliar o emprego ou
o trabalho, provedores de renda. Segundo Sachs (2004), algumas condições são necessárias
para se alavancar o crescimento induzido pelo emprego, destacando a capacidade local de
planejamento e estímulo à capacidade de mobilizar recursos e iniciativas locais. Destaca que o
objetivo máximo é promover o emprego decente e/ou auto-emprego para todos, visando
assegurar, simultaneamente, a sustentabilidade social e o crescimento econômico.
Para o referido autor, isso pode ser alcançado com a combinação de algumas políticas
complementares, na qual, para esse estudo, destaca-se a de empregos ligados à conservação
de energia e de recursos e à reciclagem de materiais (em outras palavras, ao aumento da
produtividade dos recursos), à melhor manutenção do estoque existente de infra-estrutura,
equipamentos e prédios, de forma a ampliar o seu ciclo de vida e, dessa forma, poupar o
capital necessário à sua reprodução.
Segundo Magera (2003, p. 102),
A reciclagem vem se apresentando como uma alternativa social e econômica
à geração e concentração de milhões de toneladas de lixo produzido
diariamente pelos grandes centros urbanos espalhados pelo mundo;
entretanto sua maior importância se no campo do desenvolvimento
sustentável, visto que proporciona uma economia de recursos naturais do
planeta, com 74% a menos de poluição do ar; 35% a menos de poluição de
água; um ganho de energia de 64%. [...].
4
John Gray (2005 apud CHACÓN, 2005) critica a crença no progresso, marca da modernidade, apontando
sua inexistência em outros sistemas de pensamento fora do mundo ocidental ou anteriores ao século 19. Para o
autor, “A fé no progresso é filha de um casamento celebrado na Europa, no início do século 19, entre a influência
declinante do cristianismo e o poder crescente da ciência. Das esperanças escatológicas do cristianismo
herdamos a crença de que a história pode oferecer não apenas sentido, mas a própria salvação. É uma versão
laica da escatologia cristã.”
31
Na medida em que as desigualdades morais
5
resultam da organização social,
elas podem ser superadas mediante atos de voluntarismo responsável -
políticas blicas que promovam a necessária transformação institucional e
ações afirmativas em favor dos segmentos mais fracos e silenciosos da
nação, a maioria trabalhadora desprovida de oportunidades de trabalho e
meios de vida decentes, e condenada a desperdiçar a vida na luta diária pela
sobrevivência. (SACHS, 2004, p. 27).
É justamente neste sentido que se acredita num desenvolvimento que vise muito além
da sustentabilidade entendida aqui nas suas 5 dimensões, ou seja, que seja principalmente
includente.
A inclusão se daria, principalmente, através do emprego, devolvendo a dignidade à
pessoa e à sua família, por seu próprio trabalho, e não a partir de programas assistencialistas.
Considera-se uma forma de valorização do ser humano perante si mesmo e os demais, tendo
assim o trabalho como valor. Sabe-se que, atualmente, o desemprego
6
é alarmente não
somente no Brasil, país considerado do terceiro mundo, como também em países ditos do
primeiro mundo.
O desenvolvimento includente visa, principalmente, tudo o que é oposto ao padrão de
crescimento perverso ou excludente, ou seja, incluir os trabalhadores que hoje vivem, em sua
grande maioria, em atividades informais (como exemplo, os catadores ou recicladores) ou que
vivem precariamente da agricultura familiar. Visa, também, dar possibilidade de participação
à vida política dessa parte excluída da população, promovendo, além de um maior acesso à
educação na busca da instrução e qualificação profissional, um maior acesso ao exercício
efetivo de todos os direitos humanos, tais como: políticos, civis, e cívicos, econômicos,
sociais e culturais, bem como os direitos coletivos ao desenvolvimento e ao meio ambiente.
Uma das maneiras de se proporcionar um trabalho decente aos excluídos seria através
das cooperativas, ou seja, através de um conjunto de pessoas que se unem voluntariamente e
constituem uma empresa, de propriedade comum, para satisfazer aspirações econômicas,
sociais e culturais. Destaca-se aqui, um tipo de cooperativas ou associações em específico,
5
Sachs (2004) utiliza o termo “desigualdades morais” baseado em Rousseau, que pode ser entendido hoje como
sendo aquela desigualdade que depende de um tipo de convenção, ela é estabelecida e autorizada pelo
consentimento do ser humano. Essa desigualdade consiste em diferentes privilégios dos quais uns gozam em
detrimento dos outros, tais como: ser mais rico, mais honrado, mais poderoso.
6
As taxas de desemprego mais elevadas, segundo o DIEESE, são entre 18 e 24 anos. Elas foram de 25% para
esta categoria, em 2006 na cidade de Porto Alegre/RS (ANUÁRIO DOS TRABALHADORES, 2007).
32
que são aquelas voltadas à reciclagem de resíduos sólidos.
Sachs (2004, p. 46-47, grifo nosso) corrobora com essa idéia ao afirmar que o
crescimento impulsionado pelo emprego deve ser amplamente explorado, recorrendo-se a
algumas esferas da produção ainda não exploradas ou pouco exploradas, e dentre elas sugere:
ativar, mediante métodos intensivos em emprego, fontes de crescimento
independentes de investimento, prestando mais atenção à produtividade dos
recursos naturais, por meio da conservação da energia e da água, reciclando
o lixo e usando produtivamente os resíduos agrícolas.
O autor afirma ainda que outro desafio do desenvolvimento includente é o de
transformar pequenos produtores que são aqueles envolvidos em atividades de pequena
escala realizadas fora do universo das empresas modernas em empresas organizadas de
pequena escala, para que sejam capazes de competir no mercado capitalista. Essa visão do
autor poderia ser interpretada no sentido de que os trabalhadores teriam muito a ganhar se
estivessem organizados, e uma das maneiras, citada anteriormente, seria através da
organização em cooperativas e associações.
Atualmente, o mercado de trabalho está bastante segmentado, havendo muitas
desigualdades no emprego, tais como: desigualdades salariais, falta de aplicação das leis
trabalhistas, trabalho informal. Além de combater essas desigualdades sociais, é preciso
políticas públicas para estimular o acesso do trabalho à economia formal.
O cooperativismo ou associativismo podem ser uma boa alternativa para a diminuição
do desemprego, sendo que o empreendedorismo coletivo
7
pode ser útil no sentido de facilitar
o alcance de algumas vantagens que o trabalhador, por si só, não conseguiria, tais como:
microcrédito
8
, obtenção de melhores preços, tanto para venda como para a compra de
mercadorias, financiamentos etc. Cabe salientar que esses requisitos poderão ser mais
7
Empreendedorismo coletivo pode ser aqui definido como sendo “os empreendimentos econômicos solidários
que compreendem as diversas modalidades de organização econômica, originadas da livre associação dos
trabalhadores, com base em princípios de autogestão, cooperação, eficiência e viabilidade”. (GAIGER, 2003, p.
135).
8
Segundo o SEBRAE-SC, microcrédito é a concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos empreende-
dores informais e microempresas, com dificuldades de acesso ao sistema financeiro tradicional, principalmente
por não terem como oferecer garantias reais. É um crédito destinado à produção (capital de giro e investimento)
e é concedido com o uso de metodologia específica. Tem como característica a desburocratização, a rapidez e a
eficiência na concessão (O QUE É MICROCRÉDITO?, 2007).
33
facilmente alcançados se estiverem presentes políticas públicas desenhadas e implementadas
por um Estado desenvolvimentista pró-ativo e organizado.
Segundo Sachs (2004, p. 55), para ajudar os pequenos produtores, e, em específico
neste caso, os trabalhadores organizados em cooperativas ou associações de reciclagem, na
sua transformação gradual de microempresários e sua posterior integração na economia
formal, algumas medidas e/ou políticas são recomendadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), tais como:
simplificar os procedimentos burocráticos e reduzir os custos
administrativos do registro de novos negócios;
simplificar o regime fiscal, com a redução significativa da carga
tributária em todos os níveis (federal, estadual e municipal);
diminuir os encargos e simplificar o acesso aos serviços de saúde e
proteção social;
dar tratamento preferencial aos micros e pequenos empresários nos
mercados institucionais e fortalecer os vínculos entre as grandes empresas e
os pequenos negócios, mediante práticas eqüitativas de subcontratação,
terceirização e franquias destinadas a proteger o interesse dos parceiros mais
fracos;
e, por último, proporcionar crédito em base preferencial.
Em decorrência da diversidade socioeconômica e cultural que existem nas diferentes
regiões de um país, não se pode pensar em aplicação de estratégias/políticas de
desenvolvimento, de forma generalizada. Para que essas estratégias sejam aplicadas
eficazmente, devem promover uma integração de rios atores sociais, tais como
trabalhadores, empregadores, Estado e sociedade civil organizada. Concomitantemente, deve-
se pensar em um planejamento que valorize as iniciativas locais, de maneira a agrupar setores
pela identidade cultural e por interesses comuns.
Sachs (2004) acredita que uma das categorias de atividades intensivas em trabalho,
que leva à liberação de recursos adicionais para o desenvolvimento e o investimento são as
fontes de crescimento que não exigem investimento, ou seja, aquelas que visam poupar
recursos naturais, reciclar resíduos e reutilizar materiais. Esse tipo de atitude contribui para
uma taxa maior de crescimento e para a sustentabilidade ambiental de tal crescimento.
Portanto, as estratégias de desenvolvimento devem visar a saída progressiva dos pequenos
produtores da informalidade, proporcionando o pleno emprego ou emprego que acarreta a
conquista dos demais direitos de cidadania.
34
1.3 Movimentos sociais e cidadania
É sabido que o Estado sozinho não consegue desempenhar as suas funções junto à
população, a qual enfrenta diversos problemas, tanto de ordem econômica (baixa renda,
inflação, altos juros, pouco poder aquisitivo, altos impostos) quanto social (desemprego,
emprego informal, saneamento básico, acesso à saúde, condições de moradia, analfabetismo,
falta de capacitação profissional).
Muitos direitos básicos da população, conferidos pela Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988) estão, na verdade, somente no papel, porque na
prática não são efetivados. É neste contexto que surgem os movimentos sociais que estavam
anteriormente de “costas para o Estado”, para retomar a expressão de Gohn (1997), se voltam
para este, com o escopo de buscar políticas blicas para que os direitos de cidadania sejam
realmente efetivados. O aperfeiçoamento da cidadania passa pela participação nos
movimentos sociais.
Na maioria das vezes, fora das políticas públicas não recursos financeiros para
desenvolver projetos com a comunidade organizada, porque os financiamentos internacionais,
atualmente, são muito escassos. A questão financeira é um dos nódulos principais da
complexa relação dos movimentos com o Estado.
Para Telles (1994), os movimentos organizados passaram a estabelecer com o Estado
relações que deslocam práticas tradicionais de mandonismo, clientelismo e assistencialismo
em formas de gestão que proporcionam a participação popular, nas quais as reivindicações e
demandas acabam por estabelecer as prioridades na distribuição dos recursos públicos.
Os direitos podem ser atendidos via políticas públicas, principalmente porque existem
muitas pessoas que não tem como serem ouvidas pelo poder público e opinião pública,
servindo os movimentos sociais organizados como porta vozes dessas pessoas. É quase
impossível atender as necessidades que os movimentos populares reivindicam em nome da
população, fora da esfera de apoio financeiro do Estado.
35
Nesse sentido aponta Telles (1994, p. 45, grifo nosso):
A aposta no futuro exige, como nunca, saber ler os signos do novo em
práticas emergentes que apontam alternativas à perversa equação Estado vs.
Mercado. Nos movimentos sociais, nos grupos organizados, nas associações
civis que, em meio às dificuldades, não deixaram de se fazer presentes e
ativos na sociedade brasileira, será preciso enxergar mais do que um
potencial defensivo contra o conservadorismo excludente da sociedade
brasileira.
Para enfrentar o modelo privativista de mercado, a sociedade civil emerge via
movimentos sociais organizados, como alternativa capaz de revalorizar as práticas de auto-
ajuda, mutualismo e da cooperação solidária. É quase impossível compreender os movimentos
e lutas sociais dos últimos tempos sem a sua base nas dimensões comunitárias e solidárias da
vida social.
Em Teorias dos movimentos sociais, Gohn sublinha a importância das
utopias sociais transformadoras como fatores de motivação e de mobilização
das ações coletivas. Comenta a sua reconstrução nos anos noventa a partir de
uma nova concepção de cidadania, não mais simplesmente enquanto
categoria individual, mas coletiva. E Emir Sader [...] assevera que, desde o
primeiro Fórum Social Mundial, surgiram movimentos por uma globalização
solidária. [...] Ficou evidente o quanto a noção de economia solidária está
prenhe de esperança numa nova sociedade onde a economia é entendida
como partilha social da riqueza, do poder e do saber, na qual os
trabalhadores libertados das relações capitalistas de produção administram
seus empreendimentos coletivamente e de maneira autogestionária em vista
de um desenvolvimento sustentável. (LECHAT, 2004, p. 296, grifo da
autora).
Souza (2003), apoiando-se em Scherer-Warren, escreve que: a categoria movimentos
sociais foi criada por volta de 1840 para designar o surgimento do movimento operário
europeu. por volta de 1960 houve uma explosão de movimentos sociais na Europa, como
forma de contestação dos regimes socialistas do Leste europeu e pelo esvaziamento das
teorias marxistas de caráter estruturalista.
Os novos movimentos sociais têm uma composição e reivindicações distintas das do
movimento social tradicional, operário, que se traduzia em sindicatos e partido. Os chamados
“novos movimentos sociais” são caracterizados pela diversidade, formados por negros,
36
mulheres, ambientalistas etc. Significa a entrada da classe trabalhadora para o cenário
político.
na América Latina, nos anos 60 e 70, os novos movimentos sociais são os
movimentos urbanos, que surgem no contexto dos regimes militares repressivos. Tais
movimentos surgem com base nas associações de bairro, grupos de moradores, clubes de
mães, comunidades de base etc., organizados independentemente de partidos políticos.
Surgiram com o intuito de afirmar novas identidades sociais, com carências comuns.
De acordo com Souza (2003), tais movimentos foram influenciados ideologicamente
pela Teologia da Libertação, ou seja, setores progressistas da Igreja Católica. Fora o caráter
reivindicativo, lutando por melhoria nas condições de vida urbana, os movimentos latino-
americanos continham ainda lutas feministas, ecológicas e anti-racistas.
Os movimentos sociais abraçaram a questão universal dos direitos humanos. Com a
redemocratização, a defesa dos direitos humanos aparece em contraposição à repressão
empreendida aos pobres e negros. A luta pela defesa dos direitos humanos foi ampliada para a
defesa dos direitos de cidadania (direitos civis, políticos e sociais).
Após o processo de redemocratização na América Latina, mais precisamente nos anos
90, os movimentos sociais passam por algumas mudanças. Com a queda do muro de Berlim e
o massacre da praça Tien Amen, ou seja, com a derrocada do “socialismo real”, foi necessário
repensar os paradigmas. No Brasil, como escreve Lechat (2004, p. 80),
A perspectiva revolucionária que norteava as ações dos movimentos sociais
transforma-se em proposta de reforma do Estado. Os movimentos sociais
acumularam um certo capital político e apresentaram-se como protagonistas
da luta pela transformação da sociedade. Mas a situação econômica, fruto da
política neoliberal, leva a uma regressão social, o desemprego se alastra,
muitos direitos adquiridos vão se perdendo, a insegurança cresce sob todas
as suas formas. O Estado de direito se enfraquece, os sindicatos e os
movimentos sociais vão se desmobilizando.
As ONG’s que anteriormente “realizavam uma série de atividades de assessoria aos
movimentos sociais, [...] passam, então, de assessoras a parceiras dos movimentos sociais”
(LECHAT, 2004, p. 81). Nos anos noventa do século passado, surgiram novas ONGs,
constituindo o assim chamado terceiro setor. Essas organizam-se em redes, trabalham em
37
parceria e com voluntariados. O próprio setor empresarial começa a criar ONG’s sociais,
culturais, ambientalistas e outras.
Afirma Souza (2003, p. 33-34) que:
no Brasil, após a Constituinte de 1988, que valorizou o poder público local, e
também após a eleição de governos com características democráticas e
progressistas, foram abertos canais para a participação das ONGs e
movimentos sociais nas decisões quanto a políticas públicas.
Se no passado a dimensão do conflito entre grupos opostos (ou situação
sistêmica) tendia a ser o principal recurso ideológico legitimador de uma
ação de mobilização coletiva, hoje o apelo à solidariedade passa a ser
crescentemente um recurso legítimo para mobilizações sociais e,
especialmente, para a criação de novas formas de associativismo e ampliação
da participação do voluntariado. (SCHERER-WARREN, 2002, p. 63).
Atualmente, não se pode falar em movimentos sociais sem se falar em cidadania. O
desafio da cidadania é construir um sentido de pertencimento, sem o qual homens e mulheres
não podem se reconhecer como cidadãos. Os movimentos sociais têm esse papel, de
incentivar a conquista do espaço público via ação coletiva.
Segundo Gohn (2005), dentre os conceitos utilizados pelos intelectuais, políticos,
administradores públicos, mídia etc., cidadania é o que tem maior uso de significados.
De acordo com Corrêa (1999), o conceito de cidadania está ligado ao direito, ou aos
direitos, confundindo-se com o referente a direitos humanos.
A cidadania enquanto vivência dos direitos humanos é uma conquista da
burguesia: direitos de cidadania são os direitos humanos, que passam a
constituir-se em conquista da própria humanidade. A cidadania, pois,
significa a realização democrática de uma sociedade, compartilhada por
todos os indivíduos ao ponto de garantir a todos o acesso ao espaço público e
condições de sobrevivência digna, tendo como valor-fonte a plenitude da
vida. Isso exige organização e articulação política da população voltada para
a superação da exclusão existente. (CORRÊA, 1999, p. 217).
De acordo com Gohn (2005, p. 28),
A cidadania planetária surge como elaboração teórica na era da globalização,
decorrente da prática de grupos sociais que não se referenciam mais a um
Estado/nação específico, a uma identidade determinada, mas a valores
universais do ser humano que devem ser defendidos. O movimento
antiglobalização é um exemplo deste tipo de cidadania. Composto por uma
38
rede de redes, ele tem inovado as práticas e discursos dos grupos,
associações e movimentos que lutam pela igualdade de condições de acesso
ao mercado, contra os oligopólios, monopólios, etc., contra as injustiças
sociais e discriminações identitárias.
Pode-se dizer que para a definição de cidadania deve-se utilizar um processo no qual
sejam contempladas diversas dimensões, onde se encontram conjuntos de práticas sociais,
econômicas, políticas e culturais, através das quais possam ser redefinidas as relações dos
indivíduos e grupos com o Estado. Salienta-se que o Estado tem fundamental importância
nessa relação, pois é através dele que se asseguram os direitos e sanções cabíveis pelo
descumprimento dos direitos institucionalizados.
Segundo Scherer-Warren (2003), os movimentos sociais podem ser classificados em
quatro categorias de atores coletivos, que, ao interagirem entre si, desenvolvem ações de
solidariedade e redes estratégicas com o intuito de construir um novo movimento cidadão
mundial. Segundo a referida autora, por movimento cidadão mundial
entende-se esta ampla rede de ONGs e organizações de movimentos, ora
virtual, que se comunica e forma ações de resistência via Internet e outros
meios técnicos modernos [...] ora tem formas concretas de denúncia e
resistência, que vão das manifestações públicas, às ocupações de espaços
públicos ou privados quando emblemáticos da exclusão, da miséria (como
com as ocupações de terras); ou ainda, de ocupação da praça pública, nos
locais dos Fóruns das Corporações transnacionais, da Organização Mundial
do Comércio, do G-7 e atualmente G-8 e outros encontros de defesa da atual
política global. (2003, p. 81-82).
A autora elabora um quadro exemplificativo (Quadro 2), no qual evidencia os vários
movimentos sociais existentes, destacando seus respectivos atores e as redes nos quais estão
envolvidos. Salienta-se ainda que tais atores coletivos estão engajados no tripé: luta de
superação de igualdades; de respeito e reconhecimento às diversidades e às diferenças; e
inclusão na esfera pública, por meio de processos democráticos de participação.
39
ATORES ESTRATÉGIA DE
SOBREVIVÊNCIA/
RESISTÊNCIA
IDENTIDADE REDES TIPO DE
MOBILIZAÇÃO
(TEORIAS)
“Excluídos
subintegrados”:
- Trabalhador
informal
- Sem terra
- População sem
moradia fixa
“Subcidadania”
- Trabalho informal (não
legalizado)
------------------------
- Ocupação de
propriedades
improdutivas
- Ocupação de espaços
públicos
- Identidade
comum dos
indivíduos
atomizados
------------------
- Identidades
construídas (sem
teto)
- Redes passivas
de subcidadãos
-----------------
- Redes políticas
ativas
- “Política de rua”
----------------------
- “Movimento de
massas politizadas”
Moradores e
Trabalhadores
“Fixos”
Cidadania Regulada:
- Assalariados
- Cooperativados
- Autônomos
(Legais)
- Identidade
comunitária
- Identidade de
trabalhador
- Ident. coletivas
múltiplas
- Redes sociais
locais
- Redes de
múltiplas
identidades
- Associativismo civil
- Sindicalismo
cidadão
Segmentos Sociais
Específicos
(Sujeitos dos
NMSs)
Cidadania dos
direitos
de 3ª Geração
- Contra discriminação
(salariais e simbólicas)
- Pelo reconhecimento
- Gênero
- Étnica/racial
- Culturais
- Ecológicas, etc.
- Redes
identitárias
- Redes
transidentitárias
(politicamente
construídas)
- Novos movimentos
sociais
(Feminismo popular,
ecologia dos pobres,
mov. de mulheres
negras, etc...)
Mediadores
Políticos Solidários
Cidadania planetária
- Militantes de ONGs
- Sind. Cidadão
- Intelectuais orgânicos
- Identidades
solidarísticas e
multiculturais
(anti-exclusão,
anti-
neoliberalsimo e
global. Econ.,
etc.)
- Ações de
solidariedade
- Redes de
estratégias
- Movimentos
transnacionais pela
cidadania
(Redes
identitárias/solidarísti
cas e Manifestações
simbólicas massivas)
Movimento
Cidadão Mundial
40
Quadro 2 - Atores, mobilizações e redes
Fonte: SCHERER-WARREN (2003, p. 83).
A interação entre as quatro categorias de atores acaba por criar novas redes
solidarísticas, que lutam por uma cidadania em escala planetária. Segundo Scherer-Warren
(2003), quando as redes sociais locais cruzam-se com as múltiplas redes associativistas vai
sendo construída uma rede de movimentos sociais e se configurando o chamado
“associativismo civil e sindicalismo cidadão”, indo muito além de seus interesses corporativos
para unir-se na sociedade de forma mais ampla.
para Gohn (2005), neste novo milênio pode ser traçado um panorama dos
movimentos sociais, compreendidos em torno de treze eixos temáticos que envolvem as
seguintes lutas e demandas: I) Movimentos sociais ao redor da questão urbana, pela inclusão
social e por condições de habitabilidade na cidade; II) Mobilização e organização popular em
torno de estruturas institucionais de participação na gestão político-administrativa da cidade;
III) Movimentos pela educação; IV) Movimentos ao redor da questão da saúde; V)
Movimentos de demandas na área dos direitos; VI) Mobilizações e movimentos sindicais
contra o desemprego; VII) Movimentos decorrentes de questões religiosas de diferentes
crenças, seitas e tradições religiosas; VIII) Mobilizações e movimentos dos sem-terra; IX)
Movimentos contra as políticas neoliberais; X) Grandes Fóruns de mobilização da sociedade
civil organizada contra a globalização; XI) Movimento das cooperativas populares; XII)
Mobilizações do Movimento Nacional de Atingidos pelas Barragens, hidroelétricas,
implantação de áreas de fronteiras de exploração mineral ou vegetal etc.; XIII) Movimentos
sociais no setor das comunicações.
Nos apontamentos da referida autora, destaque deve ser dado ao Movimento das
cooperativas populares, que envolve questões relacionadas a materiais recicláveis, produção
doméstica alternativa de alimentos, produção de bens e objetos de consumo, produtos agro-
pecuários etc. Trata-se de uma grande diversidade de empreendimentos, heterogêneos, unidos
ao redor de estratégias de sobrevivência (trabalho e geração de renda), articulados por ONGs
que têm propostas fundadas na economia solidária, popular e que se organizam em redes
solidárias, autogestionárias. Muitas dessas ONGs têm matrizes humanistas, propõem a
construção de mudanças socioculturais de ordem ética, a partir de uma economia alternativa
que se contrapõe à economia de mercado capitalista.
41
Salienta-se que tal movimento é de fato o movimento da economia solidária, e que no
momento da categorização de Gohn não tinha ainda ganhado muita visibilidade entre os
intelectuais.
1.3.1 Movimento da Economia Solidária em relação ao meio ambiente
Conforme discussão realizada no item anterior da presente pesquisa, os movimentos
sociais desempenham hoje, um importante papel com o Estado, no sentido de criar novas
formas de gestão, proporcionando a participação popular, nas quais as reivindicações
estabelecem prioridade na distribuição dos recursos públicos.
Portanto, como o foco de estudo dessa pesquisa é uma associação, procurou-se dar
destaque aqui ao Movimento Nacional da Economia Solidária - MNES, que é um movimento
social que possui, dentre outras características, a cooperação, ou seja, característica esta,
também presente nas associações e cooperativas.
O atual modelo capitalista traz a necessidade de se buscar formas alternativas de
desenvolvimento, que visem à geração de trabalho, de renda e de inclusão social, de forma
sustentável. Uma dessas alternativas é a economia solidária, que pode ser entendida como
diferentes práticas econômicas e sociais que se organizam sob forma de associações,
cooperativas, clubes de troca, redes de cooperação, empresas autogestionárias, entre outras,
realizando atividades econômicas, tais como: produção, distribuição, consumo, poupança e
crédito, organizadas de forma autogestionária pelos próprios trabalhadores.
Não existe, na verdade, um único conceito para a economia solidária. Atualmente, o
debate sobre a economia solidária vem ganhando espaço no contexto nacional e internacional,
sendo uma temática de estudos e pesquisas. Portanto, na seqüência seguem alguns
posicionamentos sobre o tema.
Para Brum e Heck (2002, p. 8, grifo nosso),
A teoria da economia solidária é uma das teorias das organizações com
objetivo não-lucrativo. Ela se inspira nos trabalhos de Karl Polanyi. Este
autor identifica quatro princípios econômicos: o mercado; a redistribuição; a
42
reciprocidade e a administração econômica. A economia solidária tem por
ambição combinar a reciprocidade, o mercado e a redistribuição em um
quadro legal fundado sobre a liberdade de adesão e a igualdade. Se a
economia doméstica privilegia a família como local de solidariedade, a
economia solidária privilegia a reciprocidade, ou seja, a ação coletiva. A
economia solidária procura acumular as vantagens da economia monetária,
fonte de liberdade individual para o mercado, e fator de igualdade para a
redistribuição, com àquelas da economia não-monetária, que tira as trocas do
anonimato.
Para a Secretaria Nacional de Economia Solidária,
Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e
trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar
vantagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada
um pensando no bem de todos e no próprio bem. (O QUE É ECONOMIA
SOLIDÁRIA, 2008).
Segundo Lechat et al. (2007, p. 177),
Existe um projeto ideológico que entende a economia solidária como uma
proposta socioeconômica, política e cultural que busca o desenvolvimento
humano dentro dos princípios democráticos e de respeito ao meio ambiente,
a partir de relações sociais de produção autogestionárias, democráticas e
solidárias, antagônicas às do sistema capitalista.
Segundo a SENAES (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2004), a Economia Solidária
também pode ser entendida como um conjunto de organizações que realizam atividades
econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de comercialização, de consumo e
de fundos de crédito, formadas por trabalhadores/as ou famílias de trabalhadores, na sua quase
totalidade proprietários/as ou co-proprietários/as, exercendo a gestão coletiva das atividades e
da alocação dos seus resultados.
Novamente, a Secretaria Nacional de Economia Solidária entende que essa possui as
seguintes características:
a. Cooperação: existência de interesses e objetivos comuns, a união dos
esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos
resultados e a responsabilidade solidária. Envolve diversos tipos de
organização coletiva: empresas autogestionárias ou recuperadas (assumida
por trabalhadores); associações comunitárias de produção; redes de
produção, comercialização e consumo; grupos informais produtivos de
segmentos específicos (mulheres, jovens etc.); clubes de trocas etc. Na
maioria dos casos, essas organizações coletivas agregam um conjunto grande
de atividades individuais e familiares.
43
b. Autogestão: os/as participantes das organizações exercitam as
práticas participativas de autogestão dos processos de trabalho, das
definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da direção e
coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses, etc. Os apoios
externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação e assessoria, não
devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da
ação.
c. Dimensão Econômica: é uma das bases de motivação da agregação de
esforços e recursos pessoais e de outras organizações para produção,
beneficiamento, crédito, comercialização e consumo. Envolve o conjunto de
elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e
efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais.
d. Solidariedade: O caráter de solidariedade nos empreendimentos é
expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos resultados
alcançados; nas oportunidades que levam ao desenvolvimento de
capacidades e da melhoria das condições de vida dos participantes; no
compromisso com um meio ambiente saudável; nas relações que se
estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos processos de
desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; nas
relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter
emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e
consumidores; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
(O QUE É ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2008, grifo nosso).
Considerando essas características, a economia solidária focaliza para uma nova visão
sobre o desenvolvimento sustentável, no qual inclui a geração de trabalho e distribuição de
renda, mediante um crescimento econômico que visa a proteção dos ecossistemas. Cabe
salientar que os seus resultados, tanto econômicos como políticos e culturais, são
compartilhados pelos participantes, ou seja, a cooperação e a solidariedade são conceitos
fundamentais presentes nessa nova proposta socioeconômica, diferentemente do que está
sendo proposto pelo sistema capitalista, implicando, desta maneira, em alternativa contra a
lógica capitalista, considerando, assim, o ser humano na sua integralidade como sujeito e
finalidade da atividade econômica.
Assim, os partidários da economia solidária formam um movimento social
que se organiza em redes e fóruns para reivindicar políticas públicas de
apoio ao novo cooperativismo e de definição de um novo marco legal. Um
movimento que se organiza para ganhar a solidariedade da sociedade civil e
sua adesão ao comércio solidário. Na tentativa de ganhar força, este
movimento forma parcerias com organizações, governamentais ou o,
susceptíveis de fomento e ou apoio a esses empreendimentos. (LECHAT et
al, 2007, p. 177-178).
Por ser um movimento, a Economia Solidária não tem estrutura rígida, vai se
construindo da base para cima e está em discussão sua formalização. Segundo informações
44
obtidas no Fórum Brasileiro de Economia Solidária
9
(FBES) (O MOVIMENTO DE
ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL, 2005), simultaneamente à criação da Secretaria
Nacional de Economia Solidária (SENAES
10
) foi criado, na III Plenária Nacional de
Economia Solidária, o FBES, que atualmente representa este movimento no país. Com estas
duas instâncias, somadas ao processo de construção de um campo da Economia Solidária no
interior da dinâmica do Fórum Social Mundial, pode-se afirmar que a Economia Solidária no
Brasil passou por um crescimento e estruturação muito grandes.
O Fórum passou a ter o papel de interlocutor com a SENAES, no sentido de apresentar
demandas, sugerir políticas e acompanhar a execução das políticas públicas de economia
solidária.
Para nortear as ações do FBES, existem e estão permanentemente em construção a
Carta de Princípios da Economia Solidária (Anexo A) e a Plataforma da Economia Solidária
(Anexo B). Enquanto a Carta de Princípios fornece elementos de fundamentação para o
movimento, a Plataforma apresenta as principais metas que devem ser alcançadas, além de
servir como documento para subsidiar a interlocução junto ao poder público e outros
movimentos sociais. Os eixos de ação do FBES (detalhados na Plataforma) são sete: “1)
Organização Social do Movimento de Economia Solidária; 2) Redes de Produção,
Comercialização e Consumo; 3) Finanças Solidárias; 4) Marco Legal; 5) Educação; 6)
Comunicação; 7) Democratização do Conhecimento e Tecnologia.” (O FÓRUM
BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA (FBES), 2005).
Para apoiar as experiências em economia solidária, o Governo Federal, a partir de
2003, instituiu a SENAES, junto ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Esta
secretaria, com o apoio do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, iniciou um amplo
9
O FBES é hoje a instância nacional de articulação, debates, elaboração de estratégias e mobilização do
movimento de Economia Solidária no Brasil. O FBES representa também o movimento de Economia Solidária
frente ao poder público (nas esferas federal, estadual e municipal através da sua Coordenação Nacional e dos
Fóruns Estaduais e Municipais) e frente a entidades, redes e articulações nacionais e internacionais. O FBES
estrutura-se de forma a garantir a articulação entre três segmentos do movimento de Economia Solidária:
empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento, e gestores públicos. (O FÓRUM BRASILEIRO
DE ECONOMIA SOLIDÁRIA (FBES), 2005).
10
A Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES - foi criada no âmbito do Ministério do Trabalho e
Emprego com a publicação da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e instituída pelo Decreto 4.764, de 24 de
junho de 2003, fruto da proposição da sociedade civil e da decisão do Presidente Luís I. Lula da Silva
(APRESENTAÇÃO, 2008).
45
processo de identificação das experiências que poderiam ser caracterizadas de Economia
Solidária, visando constituir um Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária
(SIES). Esse processo é conhecido sob o nome de Mapeamento.
Criou-se em todo o país 27 Equipes Gestoras Estaduais para realizar o mapeamento
dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) e das Entidades de Apoio, Assessoria e
Fomento a esses EES e, desta forma, conhecer a realidade dos empreendimentos e criar um
banco de dados nacional SIES (Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária),
sendo a Secretaria Nacional de Economia Solidária e o Fórum Brasileiro de Economia
Solidária responsáveis por esse processo.
O resultado desse mapeamento está concretizado no Atlas da Economia Solidária no
Brasil 2005
11
(2006, p. 15), o qual apresenta, dentre diversas informações, o perfil da
Economia Solidária no Brasil. No referido mapeamento
foram identificados 14.954 Empreendimentos Econômicos Solidários em
2.274 municípios do Brasil (o que corresponde a 41% dos municípios
brasileiros). Considerando a distribuição territorial, uma maior
concentração dos EES na região Nordeste, com 44%. Os restantes 56% estão
distribuídos nas demais regiões: 13% na região Norte, 14% na região
Sudeste, 12% na região Centro-oeste e 17% na região Sul.
Desde sua criação, a Secretaria tinha a proposta de realização de um levantamento
amplo de informações e a criação de um banco de dados nacional sobre a Economia Solidária.
Tratou-se do primeiro censo que se tem, em âmbito nacional, dos Empreendimentos
Econômicos Solidários - EES e das Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento (EAF). Num
novo censo, realizado em 2007, foram identificados 21.578 EES (2.085 somente no Estado do
Rio Grande do Sul), formados por 1.687.035 trabalhadores, entre eles, 630.083 mulheres e
1.056.952 homens. Os EES, com até 20 sócios, são em maior número, 9.244, e, nestes, a
maioria são mulheres, 53.061, contra 39.934 homens (LECHAT, 2008).
Salienta-se que as atividades que mais apareceram estão ligadas à agropecuária, depois
à produção de artefatos artesanais têxteis e outros. Na reciclagem de resíduos, encontram-se
224 EES. Por ordem de importância, o milho, o feijão, o arroz, a farinha de mandioca, a
confecção, o leite, os artigos de cama, mesa e banho e os hortigranjeiros são os produtos mais
11
A íntegra do Atlas da Economia Solidária no Brasil 2005 pode ser obtido pelo site:
http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/sies_atlas.asp.
46
freqüentes da Economia Solidária brasileira. É obvio que são também os produtos de base do
consumo popular (LECHAT, 2008).
Os empreendimentos econômicos solidários (EES) contam com as entidades de apoio,
assessoria e fomento, tais como: ONGs, Cáritas, Pastorais, Universidades, Incubadoras etc.,
que constituem redes para o seu fortalecimento. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego
(2004), as entidades de apoio, assessoria e fomento à ES são organizações que desenvolvem
ações nas várias modalidades de apoio direto junto aos EES, tais como: capacitação,
assessoria, incubação, assistência técnica, entre outros.
De acordo com Varanda e Cunha (2007, p. 16), “na região Sul os empreendimentos
ligados às atividades de Reciclagem e Coleta Seletiva são os que predominam, respondendo
por 25% dos grupos incubados
12
.”
Em específico, na região de abrangência da Associação Ecos do Verde, que será objeto
de estudo no quarto capítulo da presente pesquisa, e está localizada na região Noroeste do RS,
de maio a agosto de 2005 a FIDENE/UNIJUÍ através da Incubadora de ES
ficou responsável pelo mapeamento de EES, idealizado pela Secretaria
Nacional de Economia Solidária, nas regiões gaúchas dos Conselhos de
Desenvolvimento (COREDEs) Alto Jacuí, Noroeste Colonial, Fronteira
Noroeste e Missões, em que 54 municípios foram visitados e 271 grupos
mapeados. (RITTER; LECHAT, 2006, p. 1).
No formulário aplicado para realização do mapeamento dos EES, uma das perguntas
analisadas e que tem relação direta com a presente pesquisa refere-se ao tratamento e/ou
destino dado aos resíduos gerados nos EES. De acordo com Ritter e
Lechat
(2006, p. 7),
A maioria dos grupos, 54%, disseram gerar algum resíduo. Em relação ao
tratamento e/ ou destino dado aos resíduos gerados, 36% dos grupos
responderam coleta de lixo normal. Em seguida com 24% aparece o
reaproveitamento dos resíduos no grupo, e com 3% a coleta de lixo especial
outros destinos. As alternativas “despeja em esgoto sem tratamento” e
“despeja em rios, riachos ou córregos sem tratamento” não foram citadas por
nenhum grupo, demonstrando de certa forma uma consciência, mesmo que
não desenvolvida, de preservação ambiental.
12
Os empreendimentos que são assessorados pelas Incubadoras de Economia Solidária são chamados de
incubados.
47
A I Conferência Nacional de Economia Solidária Economia Solidária como
Estratégia e Política de Desenvolvimento, que ocorreu em junho de 2006, foi convocada em
conjunto pelos Ministérios do Trabalho e Emprego MTE, do Desenvolvimento Agrário
MDA, e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS.
A Conferência Nacional foi precedida por Conferências Estaduais em todas as
Unidades da Federação, que elegeram delegados estaduais segundo critérios proporcionais
estabelecidos na Portaria Interministerial de Convocação, representando três segmentos:
empreendimentos econômicos solidários e suas entidades de representação (50% dos
delegados), entidades e organizações da sociedade civil (25% dos delegados) e poder público
(25% dos delegados). Além dos delegados estaduais, participaram da Conferência delegados
nacionais (membros do Conselho Nacional de Economia Solidária e outros representantes
indicados pela Comissão Organizadora Nacional). Ao todo, 1.073 delegados compareceram à
Conferência Nacional (CONFERÊNCIA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2008).
Durante a Conferência, delegados (com direito a voz e voto) e convidados (com direito
a voz), divididos em Grupos de Trabalho, debateram três eixos temáticos, o que resultou no
documento final
13
do evento, que distribui em três eixos temáticos 112 itens contendo
afirmações, propostas e recomendações relacionados à Economia Solidária. O eixo temático I
apresenta “Os fundamentos da Economia Solidária e seu papel para a construção de um
desenvolvimento sustentável, democrático e socialmente justo”, o eixo temático II “O balanço
do acúmulo da Economia Solidária e das políticas públicas implementadas” e o eixo temático
III “Prioridades e estratégias de atuação para as políticas e programas de Economia Solidária
e mecanismos de participação e controle social.” (CONFERÊNCIA NACIONAL DE
ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2008).
Sendo a Economia solidária uma prática econômica e social e uma alternativa de
desenvolvimento, não poderia deixar de refletir sobre o meio ambiente. Ao analisar o
documento final, pode-se observar que o mesmo contém várias afirmações, propostas e
recomendações da Economia Solidária relacionada com o meio ambiente. Em específico, os
itens 9, 36, 50, 74, 77, 96, 97, 98 e 99 (Anexo C) discutem a questão do meio ambiente com
algumas temáticas, tais como: incentivo à prática do consumo consciente; políticas públicas
13
O documento final da I Conferência Nacional de Economia Solidária pode ser obtido na íntegra através do
site: http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/conf_anais.pdf.
48
que visem o desenvolvimento sustentável; incentivo à criação de linhas de fomento às
cooperativas e empreendimentos que impactem positivamente a preservação do meio
ambiente; incentivo fiscal às empresas que utilizam, na sua atividade principal, produtos
gerados por organização solidária que tragam benefícios ao meio ambiente e sustentabilidade
ambiental, o que evidencia a preocupação da economia solidária com as questões ambientais e
com o desenvolvimento sustentável.
1.3.2 Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis
Em virtude de a presente pesquisa ter como foco uma associação de catadores,
pertinente apresentar a forma de apresentação dessa categoria de trabalhadores, através de um
movimento social que os representa, ou seja, o Movimento Nacional dos Catadores de
Materiais Recicláveis – MNCR.
O MNCR é um movimento social, que organiza os catadores e catadoras de materiais
recicláveis por todo o Brasil. Para compreender melhor o que esse movimento significa,
primeiramente, é necessário conhecer a sua história, seus princípios e objetivos
14
.
O Movimento Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis (MNCR) surgiu
em meados de 1999, em decorrência do Encontro Nacional de Catadores de Papel. em
junho de 2001, ocorreu o Congresso Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis,
em Brasília, evento que reuniu mais de 1.700 catadores e catadoras.
Mesmo antes da realização do Congresso, em 2001, os catadores impulsionavam a
luta da categoria por seus direitos, em diversas regiões do Brasil. A realização do congresso é
um marco importante na história dos catadores(as), pois neste evento é lançada a Carta de
Brasília (Anexo D), documento que expressa as necessidades do povo que sobrevive da coleta
de materiais recicláveis.
Cerca de mais ou menos dois anos mais tarde, ou seja, em 2003, acontece o 1º
Congresso Latino-americano de Catadores em Caxias do Sul RS, que reuniu catadores(as)
de diversos países.
14
Esses dados podem ser obtidos pelo site: http://www.movimentodoscatadores.org.br.
49
O Congresso Latino-americano divulga, então, a Carta de Caxias (Anexo E), que
difunde a situação dos catadores da América Latina, unificando a luta entre os países. Nesse
momento, o MNCR começa a mostrar sua força, nacionalmente, com as articulações
regionais. Muitas lutas foram travadas em todo o Brasil e muitas conquistas alcançadas.
Em 2005 ocorreu o Congresso Latino-americano de Catadores(as). De 2001 (ano
em que ocorreu o Congresso Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis) até
2005, cerca de quatro anos de luta se passaram, período esse durante o qual os catadores(as)
do Brasil discutem a sua problemática em diversos espaços e têm também a sua voz ampliada
no Movimento Nacional dos Catadores.
Com o surgimento do MNCR ampliou-se a luta dos catadores(as) por uma vida digna.
Essa categoria de trabalhadores é, historicamente, excluída da sociedade e muitos
catadores(as) ainda sobrevivem de forma precária em lixões e nas ruas. O trabalho de coleta
de materiais recicláveis significa a garantia de alimentação, moradia e condições mínimas de
sobrevivência para uma parcela significativa do povo brasileiro.
O Movimento Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis, como todo
movimento organizado, possui princípios e objetivos (Anexo F), que, através da promoção de
Encontros Regionais, objetivam o fortalecimento e a formação dos catadores organizados no
MNCR.
A partir destes encontros, foram constituídos Comitês Regionais que têm como
propósito:
1. dar condições aos catadores de discutir e trocar experiências sobre as suas diversas
realidades e planejar ações conjuntas;
2. Efetivar a relação da Comissão Nacional com os diferentes grupos de catadores das
regiões visando o estabelecimento das Bases Orgânicas;
3. Potencializar a articulação estadual com a criação de uma Coordenação Estadual de
Catadores(as) de Materiais Recicláveis a partir dos Comitês Regionais.
50
Alguns objetivos do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável
(MNCR) são:
- A coleta de materiais recicláveis feita por catadores;
- O pagamento aos catadores pelos serviços de coleta de materiais;
- O controle dos catadores sobre a cadeia produtiva de materiais recicláveis;
- A conquista de moradia, saúde, educação, creches para os catadores e suas famílias;
- O fim dos lixões e sua transformação em aterros sanitários, com o devido desloca-
mento dos catadores para galpões que garantam a sobrevivência digna de todos.
Portanto, o Movimento Nacional dos catadores é um movimento social que busca a
valorização dessa categoria, que é um trabalhador como outro qualquer. O principal objetivo é
garantir o protagonismo popular da classe, que é oprimida pelas estruturas do sistema social.
Tem por princípio garantir a independência de classe, que dispensa a fala de partidos
políticos, governos e empresários em nome da categoria. Acreditam na prática da ação direta
popular, que é a participação efetiva do trabalhador em tudo que envolve sua vida, algo que
rompe com a indiferença do povo e abre caminho para a transformação da sociedade.
Desenvolvem ações na busca de uma sociedade mais justa e melhor para todos,
promovendo a organização da categoria na solidariedade de classe, que reúne forças para lutar
contra a exploração, conquistando, assim, a sua liberdade. Esse princípio é diferente da
competição e do individualismo, busca o apoio mútuo entre os companheiros(as)
catadores(as) e outros trabalhadores. Lutam pela autogestão do seu trabalho e o controle da
cadeia produtiva de reciclagem, garantindo que o trabalho que realizam não seja utilizado em
benefício de poucos (os exploradores), mas que sirva a todos. Nesse sentido, procuram
organizar bases orgânicas do Movimento em cooperativas, associações, entrepostos e grupos,
nas quais ninguém pode ser beneficiado às custas do trabalho do outro.
51
A estrutura organizacional do movimento está hierarquizada, exemplificadamente,
segundo o organograma (Figura 1):
Figura 1: Estrutura organizacional do Movimento Nacional dos Catadores de
Materiais Recicláveis
Fonte: ESTRUTURAS REGIONAIS (2006).
O MNCR tem como prática a democracia direta, na qual os espaços deliberativos do
movimento são as bases orgânicas e os comitês regionais. Dessa forma, os debates vêm e
voltam, possibilitando a participação de todos os catadores. Cada Comitê Regional indica dois
representantes para a Coordenação Estadual, que, por sua vez, indica dois delegados para a
Comissão Nacional.
Para a execução de tarefas, em nível Nacional, criou-se a Equipe de Articulação
Nacional. Sua tarefa é agilizar a execução de ações e articulações, criando um laço Nacional
entre o movimento. A equipe é composta por 5 catadores das regiões: Sul, Sudeste, Centro-
Oeste e Nordeste.
Para fazer parte de qualquer instância do movimento, o catador ou catadora têm de
estar ligado(a) a uma base orgânica do movimento e a um Comitê Regional.
52
2 A QUESTÃO DA RECICLAGEM DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS E A
LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
O BICHO
“Vi ontem um bicho
na imundice do pátio
catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa
não examinava nem cheirava:
engolia com voracidade
Bicho não era um cão,
não era um gato,
não era um rato.
Bicho, meu Deus,
era um Homem.”
(Manuel Bandeira)
2.1 Resíduos sólidos domésticos (RSD) e resíduo comercial
No Brasil, alguns autores utilizam as expressões “lixo” ou “resíduo” como sinônimos,
dentro dos quais podem ser citados Fiorillo (2005) e Machado (2005). Já outros autores como
Magera (2003) e Calderoni (1996) entendem que o conceito de lixo ou resíduo pode variar
conforme a época e o lugar. Entendendo o termo lixo como tudo aquilo que não serve mais,
resto, entulho, e, resíduos sólidos como materiais heterogêneos, (inertes, minerais e
orgânicos) resultantes das atividades humanas e da natureza, os quais podem ser parcialmente
utilizados, incorreta é a utilização dos dois termos como sinônimos.
Portanto, na presente pesquisa utilizar-se-á o termo resíduo sólido como sendo os
resíduos provenientes das atividades humanas ou gerados pela natureza, descartados na
maioria das vezes, após a sua utilização, mas que podem e devem ser reciclados.
Na concepção de Fiorillo (2005, p. 177),
Lixo e resíduo tendem a significar a mesma coisa. De forma genérica, pode-
se afirmar que constituem toda substância resultante da não-interação entre o
meio e aqueles que o habitam, ou somente entre estes, não incorporada a
esse meio, isto é, que determina um descontrole entre os fluxos de certos
elementos em um dado sistema ecológico. Em outras palavras, é o resto”, a
“sobra” não reaproveitada pelo próprio sistema, oriunda de uma desarmonia
ecológica.
53
Machado (2005) é mais preciso na definição do termo, entendendo também que
resíduo significa lixo, mas inclui, em sua definição, outros resíduos sólidos, tais como os
industriais, comerciais, agrícolas, excluindo os provenientes de esgotos domésticos, a lama,
resíduos sólidos dissolvidos ou suspensos na água etc.
O termo “resíduo sólido”, como o entendemos no Brasil, significa lixo,
refugo e outras descargas de materiais sólidos, incluindo resíduos lidos de
materiais provenientes de operações industriais, comerciais e agrícolas e de
atividades da comunidade, mas não inclui materiais sólidos ou dissolvidos
nos esgotos domésticos ou outros significativos poluentes existentes nos
recursos hídricos, tais como a lama, resíduos sólidos dissolvidos ou
suspensos na água, encontrados nos efluentes industriais, e materiais
dissolvidos nas correntes de irrigação ou outros poluentes comuns na água.
(MACHADO, 2005, p. 546).
Segundo o minidicionário Aurélio (FERREIRA, 1977), lixo é o que se varre da casa,
da rua, e se joga fora; entulho. 2. Coisa imprestável que se joga fora.
Lixo é todo e qualquer resíduo proveniente das atividades humanas ou
gerado pela natureza em aglomerações urbanas. Comumente, é definido
como aquilo que ninguém quer. Porém, precisamos reciclar este conceito,
deixando de enxergá-lo como uma coisa suja e inútil em sua totalidade.
Grande parte dos materiais que vão para o lixo podem (e deveriam) ser
reciclados. (O QUE É LIXO, 2007).
Denomina-se lixo os restos das atividades humanas, considerados pelos
geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis. Normalmente,
apresentam-se sob estado sólido ou semilíquido (com conteúdo líquido
insuficiente para que este possa fluir livremente) [...]. (LIXO MUNICIPAL,
2002, p. 29).
De acordo com Magera (2003, p. 36), “a palavra lixo origina-se do latim lix, que
significa cinzas ou lixívia. O conceito de lixo ou resíduo pode variar conforme a época e o
lugar.”
A definição e a conceituação dos termos “lixo”, “resíduo” e “reciclagem”
diferem conforme a situação em que sejam aplicadas. Seu uso na linguagem
corrente, com efeito, distingue-se de outras acepções adotadas consoante a
visão institucional ou de acordo com seu significado econômico. Na
linguagem corrente, o termo resíduo é tido praticamente como sinônimo de
lixo. Lixo é todo material inútil. Designa todo material descartado posto em
lugar público. Lixo é tudo aquilo que se “joga fora”. É o objeto ou a
substância que se considera inútil ou cuja existência em dado meio é tida
como nociva. (CALDERONI, 1996 apud MAGERA, 2003, p. 36).
54
Diversas informações relacionadas aos resíduos podem ser encontradas em sites
15
da
internet, tais como: código de cores, coleta e disposição dos resíduos, estatísticas, reciclagem,
etc. Em um dos sites, encontra-se a seguinte definição:
Resíduos sólidos são materiais heterogêneos, (inertes, minerais e orgânicos)
resultantes das atividades humanas e da natureza, os quais podem ser
parcialmente utilizados, gerando, entre outros aspectos, proteção à saúde
pública e economia de recursos naturais. Os resíduos sólidos constituem
problemas sanitário, ambiental, econômico e estético. (RESÍDUOS
SÓLIDOS, 2007).
Outro site que possui várias informações relacionadas à reciclagem e ao meio
ambiente é o da Recicloteca
16
, que também define o que é lixo:
Chamamos de lixo tudo aquilo que não nos serve mais e jogamos fora. Os
dicionários de língua portuguesa definem a palavra como sendo: coisas
inúteis, imprestáveis, velhas, sem valor; aquilo que se varre para tornar
limpa uma casa ou uma cidade; entulho; qualquer material produzido pelo
homem que perde a utilidade e é descartado. (AFINAL O QUE É LIXO?,
2008).
No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através da
Resolução nº 5/93 (BRASIL, 1993), no seu art. 1º, estabelece o que são resíduos sólidos. Esta
definição, por sua vez, entra em contradição com a de Machado, que exclui os poluentes
existentes nos recursos hídricos, tais como: a lama, resíduos sólidos dissolvidos ou suspensos
na água, do conceito de resíduos sólidos.
Para os efeitos desta Resolução definem-se:
I – resíduos sólidos: conforme a NBR n. 10.004, da Associação Brasileira de
Normas Técnicas ABNT – Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que
resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de variação. Ficam incluídos
nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso
soluções técnica e economicamente inviáveis, em face da melhor tecnologia
disponível.
15
Site é um conjunto de ginas Web, isto é, de hipertextos acessíveis geralmente pelo protocolo HTTP na
Internet.
16
A Recicloteca é um Centro de Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente criado pela ONG
Ecomarapendi. Foi planejada com o objetivo de difundir informações sobre as questões ambientais, com ênfase
na redução, reaproveitamento e reciclagem de resíduos.
55
Em 2004, a Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT publicou a ABNT
NBR 10.004/2004 – Resíduos Sólidos – Classificação, a qual foi elaborada em 1987 e
revisada em 2004. Essa revisão foi baseada no Regulamento Técnico Federal Norte-
americano denominado Code of Federal Regulation (CFR) Title 40 Protection of
environmental – Part 260-265 – hazardous waste management. O objetivo da NBR 10.004 é o
de classificar os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde
pública, para que possam ser gerenciados adequadamente.
O que mudou em relação a NBR 10.004/1987 (substituída pela atual NBR
10.004/2004) é em relação as classes dos resíduos. A antiga classificação dos resíduos em
resíduo classe I (perigoso), resíduo classe II (não inerte) e resíduo classe III (inerte) sofreu as
seguintes alterações:
Resíduos Classe I: Resíduos perigosos classificados:
D001: inflamável
D002: corrosivo
D003: reativo
D004: patogênico
Resíduos Classe II: resíduo não perigoso
Resíduos classe II A: não inertes (são biodegradáveis, combustíveis, solúveis em água)
Resíduos classe II B: inertes (não são solúveis à água à temperatura ambiente, ou solúveis até
concentrações máximas do anexo G; podem alterar a cor, turbidez, dureza e sabor).
Magera (2003) propõe outra forma de classificar os resíduos, ou seja, conforme os
mesmos são originados, diferentemente da NBR 10004 que classifica os resíduos quanto aos
seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública.
1) Lixo doméstico: aquele originado na vida diária, produzido nos domicílios,
residências e consiste basicamente de restos de alimentos, cascas de frutas, verduras, metal,
vidro, papel etc.;
2) Lixo comercial: aquele originado nos diversos estabelecimentos comerciais e
de serviços, tais como: bancos, instituições financeiras, supermercados, hotéis etc. e compõe-
se, na maior parte, de material inorgânico;
56
3) Lixo industrial: consiste geralmente de aparas de fabricação, rejeitos de
diversos ramos da indústria;
4) Lixo hospitalar: originário de ambulatórios, hospitais, laboratórios de exames
clínicos; constitui-se de resíduos sépticos, tais como: seringa, gazes, tecidos removidos, luvas
descartáveis, remédios etc.;
5) Lixo público: aquele originado dos serviços de limpeza pública urbana,
varrição das vias públicas, limpeza de praia etc.;
6) Lixo agrícola: composto de resíduos sólidos das atividades agrícolas e
pecuária, podendo incluir também as embalagens de fertilizantes e defensivos agrícolas;
7) Lixo nuclear: composto de bastões de combustível radioativo que sobram das
usinas nucleares, aos quais, ainda hoje, não se sabe que destino dar.
8) Lixo entulho: formado por resíduos normalmente originados na construção
civil, composto por materiais de demolição ou restos de materiais de construção, tais como:
pisos, azulejos, metais, cimento, tijolos etc.
Na presente pesquisa, como o foco de estudo do capítulo será a Associação de
Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, a qual utiliza resíduos domésticos e
comerciais para realização de seu trabalho, procurar-se-á destacar neste item os resíduos
sólidos domésticos (RSD) e resíduos comerciais.
O resíduo sólido doméstico é aquele proveniente da vida diária do homem, ou seja,
produzido nas residências e consiste, em sua grande maioria, em restos de alimentos, cascas
de frutas, verduras, plásticos, metal, vidro, papel etc.
Resíduo doméstico é aquele produzido nos domicílios residenciais. Compreende
papel, jornais velhos, embalagens de plástico e papelão, vidros, latas e resíduos orgânicos,
como restos de alimentos, trapos, folhas de plantas ornamentais e outros (RESÍDUOS
SÓLIDOS, 2007).
o resíduo comercial é aquele originado nos diversos estabelecimentos comerciais e
de serviços, tais como: bancos, instituições financeiras, supermercados, hotéis etc. e compõe-
se, na maior parte, de material inorgânico, ou seja, papel, papelão, isopor, plástico, madeira
etc.
57
Resíduo comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de serviços,
tais como: supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes, etc.
(CLASSIFICAÇÃO, ORIGEM E CARACTERÍSTICAS, 2007).
Neste capítulo e no capítulo subseqüente, o chamado Resíduo Municipal, ou seja,
aquele gerado no ambiente urbano é constituído pelos materiais de origem domiciliar e de
estabelecimentos do comércio em geral.
Os resíduos sólidos produzidos nas cidades o os que exigem uma preocupação
especial. Esses resíduos constituem-se em um dos maiores problemas ambientais, sociais e
sanitários, pois, na maioria dos municípios brasileiros, não é gerenciado adequadamente.
Sobre os materiais que podem ser reciclados, este será o tema a ser discutido no item a seguir
da presente pesquisa.
2.1.1 Materiais que podem ser reciclados
Há dúvidas, em grande parte da população, sobre quais são os materiais que podem ser
reciclados. Aquilo que muitas vezes acredita-se poder ser reciclado não pode e, por diversas
vezes, descarta-se material que poderia ser reciclado e que não se reaproveita por falta de
informações.
Neste sentido, procura-se aqui elucidar, quais são os principais materiais que podem
ser reciclados, os quais são: Papel, jornais e revistas, folhas de caderno, formulários de
computador, caixas em geral, aparas de papel, fotocópias, envelopes, provas, rascunhos,
cartazes velhos, papel de fax; Metal, lata de folha de flandres (lata de óleo, salsicha, leite em
etc), lata de alumínio, sucatas de reformas; Vidros, embalagens, garrafas de vários
formatos, copos; Plástico, embalagem de refrigerante, embalagem de material de limpeza,
copinho de café, embalagem de margarina, canos e tubos, sacos plásticos em geral.
Pode-se observar que os grandes grupos de materiais recicláveis são os papéis, os
metais, os plásticos e os vidros. Dentre estes materiais, o papel é um dos materiais recicláveis
que mais comumente encontra-se no dia-a-dia da população em geral. O Quadro 3,
demonstra a diferença entre os papéis recicláveis e não recicláveis.
58
Reciclável Não-reciclável
Caixa de papelão Papel sanitário
Jornal Copos descartáveis
Revista Papel carbono
Impressos em geral Fotografias
Fotocópias Fitas adesivas
Rascunhos Etiquetas adesivas
Envelopes
Papel timbrado
Embalagens longa-vida *
Cartões
Papel de fax
*papel + plástico + alumínio
Quadro 3 - Papel reciclável x papel não-reciclável
Fonte: RECICLAGEM DE PAPEL, 2007.
Salienta-se que a separação dos materiais na fonte, ou seja, do local onde são
descartados, é de suma importância para a cadeia da reciclagem, pois quando os materiais
descartados no lixo não são separados adequadamente, poderão chegar sujos ou contaminados
aos centros de triagem e reciclagem, diminuindo a sua qualidade e, às vezes, inviabilizando o
seu re-processamento. A separação prévia no local onde os resíduos são produzidos tende a
minimizar as perdas no reaproveitamento de materiais.
A Resolução do CONAMA 275, de 25 de abril de 2001 (BRASIL, 2001) (Anexo
G), estabelece o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na
identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a
coleta seletiva, conforme representação no quadro 4:
Padrão de Cores
AZUL papel/papelão
VERMELHO plástico
VERDE vidro
AMARELO metal
PRETO madeira
LARANJA resíduos perigosos
Continua...
59
BRANCO resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde
ROXO resíduos radioativos
MARROM resíduos orgânicos
CINZA resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado não
passível de separação
Quadro 4 - Código de cores para os diferentes tipos de resíduos
Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir dos dados da Resolução CONAMA 275/2001 (BRASIL, 2001).
Portanto, segundo a referida Resolução, uma forma padrão de separação dos
resíduos, e, para tanto, deve ser seguido um código de cores que identifica o tipo de resíduo,
tanto para sua coleta (descarte) como para utilização em campanhas sobre a coleta seletiva.
Salienta-se que, algumas embalagens registram os mbolos de chamada para a
reciclagem de alguns grupos de materiais de largo reaproveitamento na cadeia produtiva,
destacam-se aqui, o vidro, o plástico e o papel.
Figura 2: Símbolo da reciclagem de vidro
O Brasil produz em média 890 mil toneladas de embalagens de vidro por ano, usando
cerca de 45% de matéria-prima reciclada na forma de cacos. Parte deles foi gerado como
refugo nas fábricas e parte retornou por meio da coleta. Daí a importância da coleta seletiva
nos municípios (VIDROS..., 2007).
As embalagens de vidro são usadas para bebidas, produtos alimentícios,
medicamentos, perfumes, cosméticos e outros artigos. Garrafas, potes e frascos superam a
metade da produção de vidro do Brasil. Usando em sua formulação areia, calcário, barrilha e
feldspato, o vidro é durável, inerte e tem alta taxa de reaproveitamento nas residências. A
metade dos recipientes de vidro fabricados no País é retornável. Além disso, o material é de
fácil reciclagem: pode voltar à produção de novas embalagens, substituindo totalmente o
60
produto virgem sem perda de qualidade. A inclusão de caco de vidro no processo normal de
fabricação de vidro reduz o gasto com energia e água. Para cada 10% de caco de vidro na
mistura economiza-se 4% da energia necessária para a fusão nos fornos industriais e a
redução de 9,5% no consumo de água.
Figura 3: Símbolo da reciclagem de plástico
Leve, resistente e prático, o plástico rígido é o material que compõe cerca de 77% das
embalagens plásticas no Brasil, como garrafas de refrigerantes, recipientes para produtos de
limpeza e higiene e potes de alimentos. É também matéria-prima básica de bombonas, fibras
têxteis, tubos e conexões, calçados, eletrodomésticos, além de baldes, utensílios domésticos e
outros produtos. O Brasil consome 3,9 milhões de toneladas de plástico por ano. Dessas,
aproximadamente 40% é com vida útil curta. O plástico pode ser reprocessado, gerando novos
artefatos plásticos e energia (PLÁSTICO RÍGIDO, 2007).
O principal mercado consumidor de plástico reciclado na forma de grânulos são as
indústrias de artefatos plásticos, que utilizam o material na produção de baldes, cabides,
garrafas de água sanitária, conduítes e acessórios para automóveis etc.. Mas, os avanços
técnicos da identificação e separação das diversas resinas, bem como equipamentos e
tecnologias mais modernas de reprocessamento, vêm abrindo novos mercados para a
reciclagem do plástico.
O Brasil ocupa o lugar na reciclagem mecânica do plástico, ficando atrás apenas da
Alemanha, Áustria e EUA, ou seja, 20% dos plásticos rígidos e filme consumidos no Brasil
retornam à produção como matéria-prima, o que equivale a cerca de 200 mil toneladas por
ano. Deste total, 60% provêm de resíduos industriais e 40% do lixo urbano, segundo
estimativa da Associação Brasileira de Recicladores de Materiais Plásticos (ABREMPLAST)
(PLÁSTICO RÍGIDO, 2007).
61
Cabe salientar que existem sete diferentes famílias de plásticos, que muitas vezes não
são compatíveis quimicamente entre si. Ou seja, a mistura de alguns tipos pode resultar em
materiais defeituosos, de baixa qualidade, sem as especificações técnicas necessárias para
retornar à produção como matéria-prima. Os plásticos rígidos mais comuns no mercado
brasileiro são os seguintes:
a) polietileno tereftalato (PET), usado em garrafas de refrigerantes;
b) polietileno de alta densidade (PEAD), consumido por fabricantes de engradados de
bebidas, baldes, tambores, autopeças e outros produtos;
c) cloreto de polivinila (PVC), comum em tubos e conexões e garrafas para água
mineral e detergentes líquidos;
d) polipropileno (PP), que compõe embalagens de massas e biscoitos, potes de
margarina, utilidades domésticas, entre outros;
e) poliestireno (PS), utilizado na fabricação de eletrodomésticos e copos descartáveis.
Figura 4: Símbolo da reciclagem de papel
No Brasil, a disponibilidade de aparas
17
de papel é grande. Mesmo assim, as indústrias
precisam, periodicamente, fazer importações de aparas para abastecer o mercado. Quando
escassez da celulose e o conseqüente aumento dos preços do reciclado, as indústrias recorrem
à importação de aparas em busca de melhores preços. No entanto, quando maior oferta de
celulose no mercado, a demanda por aparas diminui, abalando fortemente a estrutura de
coleta, que volta a se normalizar vagarosamente. No Brasil, pouco incentivo para a
reciclagem de papel (PAPEL ESCRITÓRIO, 2007).
Alguns dados relevantes devem receber destaque, tais como: 49,5% do papel que
circulou no País, em 2005, retornou à produção através da reciclagem. Esse índice
corresponde à aproximadamente 2 milhões de toneladas. A maior parte do papel destinado à
17
Aparas é o nome genérico dado aos resíduos de papel, industriais ou domésticos - classificados pelo Instituto
de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo e pela Associação Nacional dos Fabricantes de Papel e Celulose.
62
reciclagem, cerca de 86%, é gerado por atividades comerciais e industriais (PAPEL
ESCRITÓRIO, 2007).
No Brasil, existem 22 categorias de aparas, as mais nobres são as “brancas de
primeira”, que não têm impressão ou qualquer tipo de revestimento. As aparas mistas são
formadas pela mistura de vários tipos de papéis. No Brasil, as indústrias consumiram 2,8
milhões de toneladas de papel reciclado em 2005.
A intensidade do processo de reciclagem de papel é acentuadamente diferente, de
acordo com as regiões brasileiras onde se realiza. Nas regiões Sul e Sudeste, onde se
concentram as principais indústrias do País, as taxas de recuperação são altas, da ordem de
64% e 44%, respectivamente, e nas demais regiões, de 16%.
Outro tipo de papel são as caixas feitas em papel ondulado que são facilmente
recicláveis, consumidas, principalmente, pelas indústrias de embalagens, responsáveis pela
utilização de 64,5% das aparas recicladas no Brasil. Em 2005, 35,7% das aparas foram
consumidas para fabricação de alimentos e 14,24% destinadas a chapas de papel ondulado. O
papel ondulado é o material que, atualmente, mais usa material reciclado no País.
No Brasil, a estimativa da distribuição geográfica da expedição de produtos de papel
ondulado por região são: Sudeste 1.058.709 toneladas (49,9%); Sul 659.143 toneladas
(30,57%); Nordeste – 200.105 toneladas (9,28%); Centro-Oeste 132.043 toneladas (6,12%);
Norte – 97.047 toneladas (4,5%). Os 0,44% restantes são exportados.
O papel ondulado é classificado em três categorias, conforme sua resistência e teor de
mistura com outros tipos de papel.
O papel ondulado, também conhecido como corrugado, é usado, basicamente, em
caixas para transporte de produtos para bricas, depósitos, escritórios e residências.
Normalmente chamado de papelão, embora o termo não seja tecnicamente correto, este
material tem uma camada intermediária de papel entre suas partes exteriores, disposta em
ondulações, na forma de uma sanfona.
63
A taxa de reciclagem do papel ondulado, no Brasil, representa forte contribuição da
indústria brasileira de papelão ondulado ao meio ambiente. Essas embalagens são 100%
recicláveis e biodegradáveis e causam baixo impacto ambiental em todos os estágios de seu
ciclo de vida. Este ciclo de vida constitui uma cadeia praticamente fechada na qual a
embalagem usada é reciclada e novamente utilizada na fabricação de novas embalagens.
2.2 A cadeia da reciclagem, componentes e o perfil dos seus profissionais
A questão da reciclagem e a separação de materiais na fonte, através da coleta seletiva,
representam uma saída alternativa para a problemática dos resíduos sólidos. Integrando
aspectos ambientais, sociais e econômicos, através da destinação sustentável e apropriada dos
resíduos sólidos, a reciclagem possibilita a inclusão social dos catadores e a geração de renda.
Segundo Alencar (2007), a atividade de catação de materiais recicláveis tem sua
gênese em tempo e local incertos. No início do Século XX, a atividade de catação de papéis,
garrafas e utensílios domésticos no Brasil era desempenhada por imigrantes portugueses.
A catação de materiais recicláveis como atividade contemporânea intensificou-se após
a Revolução Industrial, com produção de objetos de consumo em larga escala e sua
conseqüente introdução de embalagens no mercado, aumentando bastante a quantidade e a
diversidade dos resíduos sólidos gerados pela população urbana.
A Revolução Industrial foi o grande marco impulsionador do fenômeno da
urbanização. No Brasil, o fenômeno da urbanização intensificou-se na década de 60. Na
década de 70 a população brasileira tornou-se majoritariamente urbana. Mas, a urbanização
não é o único motivo que fez os resíduos tornarem-se um problema. O projeto capitalista que
exacerba o consumo e a produção de objetos descartáveis é também uma das causas do
aumento dos resíduos. O crescimento econômico tem por base a ampliação das necessidades
via publicidade, gerando novas demandas.
De acordo com Alencar (2007, p. 5), No Brasil o problema do lixo está relacionado
ao modelo de desenvolvimento urbano-industrial (em seus aspectos econômicos, políticos e
sociais) implantado, inicialmente, a partir das décadas de 1940-1950, em oposição ao modelo
agrário-exportador.”
64
A evolução dos movimentos migratórios campo-cidade nos últimos cinqüenta anos se
efetivou através da intensa ocupação das populações nas periferias dos centros urbanos. Em
decorrência desse fenômeno, aliado ao aumento da população, os resíduos sólidos urbanos
produzidos aumentaram e aumentam a cada ano, traçando um grande desafio para a sociedade
em relação ao que fazer com esses resíduos e com quem sobrevive do mesmo, sem contar
com as conseqüências ambientais.
A aparição de catadores em lixões ocorre a partir da década de 1950, com maior
intensidade em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Na metade da
década de 1960, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já conviviam com grandes
contingentes de catadores em lixões e nas vias e logradouros.
Segundo Alencar (2007, p. 7),
Em 1986 foi fundada em São Paulo a primeira cooperativa de catadores no
Brasil, a COOPAMARE - Cooperativa dos Catadores de Papel, Aparas e
Materiais Reaproveitáveis, formada a partir da luta contra a perseguição do
então prefeito da capital paulista, o qual havia proibido a atuação dos
catadores nas ruas da cidade.
A atividade de catação é um fenômeno que resulta de uma prática do cotidiano pela
sobrevivência que o modelo econômico adotado no Brasil não possibilitou à maioria das
pessoas.
De acordo com dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem CEMPRE
(CEMPRE, 2007), numa pesquisa realizada em 2006, no Brasil a coleta seletiva é realizada
em 327 municípios (Anexo H). Dessa forma, cerca de 25 milhões de brasileiros têm acesso a
programas de coleta seletiva e 43.5% dos programas tem relação direta com cooperativas de
catadores.
Os catadores de materiais recicláveis, portanto, se integram ao espaço
urbano brasileiro a mais de 50 anos, mas somente nos últimos anos vêm
conquistando visibilidade na sociedade, inclusive apresentando soluções
sustentáveis possíveis para problemas sociais e ambientais crônicos das
cidades brasileiras, como a geração de trabalho e renda com baixos
investimentos e a reciclagem do lixo, p.ex. (ALENCAR, 2007, p. 4).
65
Para melhor compreender esse processo, é necessário entender como funciona a cadeia
da reciclagem e seus principais componentes.
Iniciando pelas questões de nomenclatura, pode-se afirmar que existem vários nomes
relacionados aos agentes dessa cadeia, tais como: catador, reciclador, agente ambiental, entre
outros. Salienta Gonçalves (2003) que, de acordo com a classificação brasileira de ocupações
e com as diretrizes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR),
todos são denominados catadores, mesmo aqueles que se encontram organizados em
cooperativas e associações. Essa opção escolhida pelo movimento considera a construção de
uma identidade que unifique as iniciativas de segmentos populares inseridos na atividade de
reciclagem, visando a configuração de políticas públicas que beneficiem a categoria.
Continua ainda a autora, dizendo que o MNCR estabelece a classificação dos
catadores em quatro tipos: o catador do lixão, o de usina, o catador de rua e o catador de
cooperativa.
O catador de lixão é considerado como aquele que garimpa materiais no espaço do
aterro ou descarga municipal. Já o catador de usina faz parte de grupos que operam no espaço
da usina, um lugar onde o trabalho é organizado para proporcionar melhores condições na
realização das tarefas. Infelizmente, mesmo com a coleta seletiva os resíduos chegam na usina
muitas vezes misturados (resíduo in-natura
18
), o que diminui seu valor comercial. Caso a
prefeitura realize a coleta seletiva, o material contaminado encontrado é menor, porém não
ausente. O catador de rua age por conta própria, sem nenhum processo de organização,
muitas vezes rasga os sacos de lixo nas ruas, comprometendo a limpeza urbana, sendo
marginalizado e discriminado. Este trabalhador leva para a sua casa estes materiais para
vender a um pequeno atravessador que, por sua vez, revende a uma indústria maior.
E finalmente, o catador de cooperativa. Para caracterizá-lo, é importante fazer uma
diferenciação, pois existem dois tipos de cooperativa: 1) as cooperativas que recebem o
material coletado pela administração pública, ou seja, os catadores não coletam, fazem a
triagem ou beneficiamento primário; 2) as cooperativas que fazem a coleta (através de
caminhão, carrinhos ou qualquer outro veículo) para, posteriormente, fazer a triagem. Em
18
A expressão in-natura é utilizada para descrever os alimentos de origem vegetal ou animal que são
consumidos em seu estado natural, como as frutas, por exemplo.
66
ambas as formas, os catadores encontram-se organizados de forma autogestionária, trabalham
em galpões, devem usar equipamentos de proteção individual e lidar apenas com material
reciclável, não com o lixo in-natura.
O catador de lixo, também conhecido como andarilho ou carroceiro, é um dos agentes
mais importantes envolvidos na coleta dos resíduos. Mas, os catadores não são os únicos
envolvidos na cadeia da reciclagem, como alerta Gonçalves (2003), ao dizer que a cadeia
produtiva da reciclagem tem diferentes atores e etapas que, por enquanto, ainda recebem
nomes variados. A autora afirma ser interessante uma política nacional de universalização
dessas nomenclaturas. Na cadeia produtiva da reciclagem do plástico, por exemplo, os termos
e etapas seriam
19
:
- recuperador – que coleta, prensa, enfarda e vende;
- revalorizador que mói, depois granula, torna o plástico flocado em pelets (grãos)
através da extrusão e depois vende para o transformador final;
- transformador – transforma os grãos em produto final: baldes, cerdas, etc..
No caso da cadeia produtiva da reciclagem do plástico, a palavra reciclagem ou
reciclador sequer aparece. Na verdade, todos são recicladores, inclusive os cidadãos que
geram os resíduos, ao separá-los na fonte.
No caso das cooperativas de coleta seletiva a atividade é: coleta, beneficiamento
primário
20
e comercialização de materiais recicláveis. A reciclagem é a próxima etapa. Isso
não significa, todavia, que as cooperativas não possam chegar à etapa de produção do produto
final. Já existe cooperativa reciclando plástico.
Gonçalves (2003) apresenta o círculo “perverso” da reciclagem, ou seja, a situação
atual em que é desenvolvida a cadeia da reciclagem e seus componentes ou atores:
19
Cadeia produtiva da reciclagem do plástico, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Material Plástico no
Estado do Rio Grande do Sul - SINPLAST (SINPLAST, 2007).
20
Beneficiamento primário: início do processo de reciclagem, a fase de classificação do material e, depois, do
enfardamento, ou seja, prensar em fardos (GONÇALVES, 2003).
67
1- O consumidor: muitos não praticam o consumo responsável; alguns não separam os
materiais recicláveis na fonte. A etapa entre o consumidor e o catador é muito ineficiente na
maioria das cidades brasileiras. Seja porque o consumidor não busca alternativas de
destinação para seus resíduos, seja porque a cooperativa não está articulada dentro de sua
comunidade.
2 - O catador ou associações: leva sacos de lixo com conteúdo não separado na fonte;
cata sozinho nas ruas ou lixões; rasga sacos de lixo nas ruas; pega latinha ou papelão;
não tem força política; não estabelece parcerias ou as estabelece de maneira paternalista e
impositora de condições que inviabilizam a auto-suficiência e independência; vende pouca
quantidade e barato; freqüentemente tem alguma dependência química; não tem ética
ambiental; não desenvolve seu empreendedorismo; mantém-se marginal. Esse catador não
atende às leis de mercado (quantidade, qualidade, freqüência), vendendo para o primeiro
atravessador, dentre uma série de outros atravessadores, a um preço muito baixo.
Normalmente, vende o necessário para comer.
3 - O intermediário: constitui uma cadeia de rios atravessadores (desde pequenos
sucateiros até grandes cartéis), desvaloriza o material vendido pelo catador que não tem
escala; por não ter uma preocupação ético social e ambiental.
4- A indústria: em sua grande maioria não tem políticas sócio-ambientais, algumas
possuem por força da lei ou interesse comercial; não utiliza matéria-prima reciclável; não se
sente responsável pelo destino final de suas embalagens; não acredita no desenvolvimento dos
critérios de compra de seu cliente final; não contribui com a cadeia produtiva da reciclagem,
pois não vende o reciclado como valor; não divulga o material reciclado para o consumidor
final; como compradora final de matéria-prima reciclável, atua através de oligopólio (junto
com mais duas ou três indústrias define os preços).
O resultado desse ciclo perverso é uma taxa de reciclagem muito baixa. Os resíduos
não são separados na fonte, a coleta seletiva não acontece, a exclusão social persevera e os
recursos naturais não são poupados. A indústria chega, em alguns casos, a omitir que em seu
produto ou embalagem matéria-prima reciclada por crer que o consumidor pode julgar seu
produto negativamente, omitindo-se na responsabilidade e capacidade de formar a opinião do
seu público a respeito da reciclagem através de campanhas publicitárias e comunicação
institucional (GONÇALVES, 2003).
68
De acordo com Gonçalves (2003), o círculo virtuoso da reciclagem deveria ser da
seguinte maneira:
1 - O consumidor: separa na fonte; realiza o consumo responsável; entende a
importância do catador; destina para a reciclagem; é multiplicador.
2 - O catador: é organizado em cooperativa autogestionária; tende a organizar redes
ou centrais de cooperativas; possibilidade de chegar ao produto final, dentro da própria
cooperativa ou através de redes; tem ética ambiental e força política (com organização e
articulação); estabelece parcerias libertadoras não paternalistas; coleta todos os recicláveis e
apenas os separados na fonte; tem responsabilidade ambiental; não cata em lixão, nem rasga
sacos nas ruas.
3 - O intermediário: também é autogestionário e propõe ao catador parcerias
interessantes para os dois lados; pratica preços melhores porque também é cooperativa e
promove o fortalecimento da rede; tem capacidade (área de acúmulo e/ou equipamento para
chegar ao produto final) para ultrapassar pequenos sucateiros; chega ao produto final; tem
compromissos, tanto econômicos quanto sociais e ambientais.
4 - A indústria: atua com responsabilidade social e ambiental; acredita no
desenvolvimento dos critérios de compra de seus clientes; contribui para o fortalecimento das
cooperativas, pois compreende que elas são atores importantes no fluxo reverso de suas
embalagens; utiliza matéria-prima reciclável; investe em ecodesign; ocupa-se de informar aos
clientes o valor ambiental e social dos produtos reciclados.
Como resultados, têm-se maiores taxas de reciclagem e uma cadeia produtiva mais
justa. Essa mudança ocorre através da articulação entre os macro-atores da cadeia produtiva
da sociedade: sociedade civil (organizada em fóruns, representantes do terceiro setor,
associações de moradores, escolas etc.); iniciativa privada (indústrias, comércio,
atravessadores e sucateiros, transformadores, produtores de embalagens etc.); cooperativas de
coleta e beneficiamento (cooperativas ou associações de catadores, qualquer outro sistema
autogestionário e empreendedor de coleta seletiva); e poder público (administração pública,
Governo Federal, Governos Estaduais e Municipais, Parlamentares etc.).
O perfil dos catadores no Brasil não traz grandes surpresas, visto que no país as
desigualdades sociais aumentam consideravelmente com o passar dos anos. Segundo Alencar
(2007), estudos efetuados na cidade do Recife permitiram constatar que o sistema informal de
69
reciclagem estrutura-se de forma análoga em qualquer média e grande cidade de país
subdesenvolvido. Seguem alguns dados:
São constatados inúmeros problemas sociais na atividade, sobretudo dentro de
lixões, tais como a violência (sexual, conflitos internos, homicídios), uso de drogas (maconha,
cola de sapateiro e remédios), elevado consumo de bebidas alcoólicas e de acidentes (cortes,
perfurações e traumatismos);
O perfil sócio-econômico dos trapeiros
21
apresenta, como esperado, alto índice
de analfabetismo, famílias com elevado número de filhos e dependentes (acima de 4 pessoas),
renda pessoal entre 1/2 e 1 salário mínimo para 8 a 10 horas/dia de trabalho (renda menor em
lixões do que nas ruas);
O desemprego
22
, principal motivo para estarem catando materiais recicláveis, e
o trabalho, uma necessidade que os dignifica;
Pode-se identificar em lixões razoável índice de desnutrição e ainda um
elevado consumo de restos de comida;
O número de crianças e adolescentes (12) ainda é bastante significativo, assim
como ainda é bastante expressiva a população jovem na catação (entre 18 e 35 anos);
A grande maioria dos catadores e trapeiros não dispõe da documentação
mínima exigida ao cidadão brasileiro;
A maioria dos catadores quer sair do lixão;
Os catadores e trapeiros desorganizados desconhecem o significado e a
importância da atividade de catação nos contextos sócio-econômico e ambiental, bem como
não têm a dimensão do seu poder, enquanto grupo.
Segundo Magera (2003), estima-se que o número de catadores de materiais recicláveis
no Brasil seja de aproximadamente 300 mil, como referenciado anteriormente, estando 2/3
deles no Estado de São Paulo. Antes de se tornarem andarilhos, a maior parte deles trabalhava
no emprego formal e, hoje, vive nas ruas das grandes metrópoles.
21
Os trapeiros, badameiros ou mesmo catadores constituem o grupo que atua em lixões. Estão mais
susceptíveis a problemas de saúde e sociais, por atuarem na catação em condições totalmente insalubres e
sujeitos a conflitos sociais e problemas operacionais os mais diversos. Vinculam-se aos balanceiros ou
deposeiros, intermediários de médio porte que normalmente controlam os lixões.
22
O desemprego é acentuado, muitas vezes, pela falta de qualificação e dificuldades de relacionamento e
disciplina.
70
Segundo Juncá, Gonçalves e Azevedo (2000), homens, mulheres e crianças repetem,
diariamente, a rotina de catador, em busca de alguma renda capaz de suprir, pelo menos, suas
necessidades emergenciais. Se não podem dispor de opções no mercado de trabalho para a
garantia de sua sobrevivência, resta-lhes, porém, ainda uma escolha: ficar no lixo ou viver nas
ruas com a mendicância, a “venda do corpo” ou o roubo.
A dificuldade de se inserir no mercado formal, única fonte de obtenção de renda, leva
esses indivíduos à economia informal, trazendo como conseqüência seu rompimento familiar
e social e encontrando na rua seu sustento e moradia.
Para Juncá, Gonçalves e Azevedo (2000, p. 110),
Constituindo-se em passageiros de um modo de (des)iguais, os catadores de
lixo, como tantos outros excluídos na realidade brasileira, vão realizando
uma travessia pela margem, mas também têm algo a dizer, também se
expressam, de forma verbal ou não, e o seu saber, sem ser supervalorizado,
não pode jamais ser ignorado.
Os catadores são os intermediários neste sistema que possibilita resgatar parte dos
recursos aproveitáveis disponíveis nos lixos das cidades, pois é com seu trabalho que tem
início todo um processo de reciclagem de resíduos no país. Após a coleta, é preciso realizar
um trabalho de classificação destes materiais, separando, por exemplo, as garrafas pet
23
de
suas tampas e dos seus rótulos, por serem plásticos de qualidade diferente. São estes materiais
classificados que vão ser revendidos para as usinas de reciclagem. O problema está no grande
número de intermediários pelos quais passam estes materiais.
Sobre a atual cadeia da reciclagem pode se afirmar que o catador, como principal ator
nesse processo, acaba sendo o menos beneficiado, pois o espaço econômico - a margem de
lucro - das vendas entre o que foi coletado no lixão e o seu último revendedor (o mais
próximo da indústria) é muito grande. O catador do lixão pode vender a R$ 0,10 o kg,
enquanto o último atravessador vende a R$ 1,60 o kg, aproximadamente. Um dos objetivos da
organização no processo de geração de trabalho e renda é atender as leis de mercado
quantidade, qualidade e freqüência -, o que pode permitir a racionalização do processo e, com
o aumento de valor agregado, o aumento da renda dos trabalhadores. Daí a importância das
23
PET é o nome dado a um tipo de garrafa de plástico utilizada para engarrafamento de refrigerantes e
derivados.
71
políticas públicas que visem à inclusão social e geração de trabalho e renda para essa
categoria de trabalhadores.
Importante salientar que a reciclagem é a etapa final do processo de beneficiamento do
dos resíduos, através do reaproveitamento. Antes dela, de se considerar a possibilidade de
reutilização daquilo que, em um primeiro momento, pode ser classificado como lixo.
Um ponto de destaque na reciclagem de resíduos sólidos é em relação ao tempo de
decomposição desses resíduos produzidos no dia-a-dia. O Ambiente Brasil (2007) apresenta
uma tabela com o tempo de decomposição dos materiais, ou seja, o tempo que a natureza
necessita para eliminar o que o homem produz diariamente:
Material Tempo de degradação
Aço Mais de 100 anos
Alumínio 200 a 500 anos
Cerâmica Indeterminado
Chicletes 5 anos
Cordas de nylon 30 anos
Embalagens Longa Vida Até 100 anos
(alumínio)
Embalagens PET Mais de 100 anos
Esponjas Indeterminado
Filtros de cigarros 5 anos
Isopor Indeterminado
Louças Indeterminado
Luvas de Borracha Indeterminado
Metais (componentes de equipamentos) Cerca de 450 anos
Papel e papelão Cerca de 6 meses
Plásticos (embalagens, equipamentos) Até 450 anos
Pneus Indeterminado
Sacos e sacolas plásticas Mais de 100 anos
Vidros Indeterminado
Quadro 5 - Tempo de decomposição dos materiais
Fonte: TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO DOS MATERIAIS, 2007.
Portanto, um grande problema da sociedade, atualmente, com relação aos resíduos,
que vai muito além da destruição do meio ambiente, e sim com uma população que
“sobrevive” deles. É responsabilidade de todo cidadão manter um meio ambiente
ecologicamente equilibrado e o mais importante é que soluções para o problema existem,
bastando orientação e educação para que se efetivem políticas que beneficiem a todos.
72
2.3 Legislação ambiental no Brasil sobre resíduos sólidos domésticos
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988) é a
primeira Constituição Brasileira em que a expressão “meio ambiente” é mencionada. Nela, as
disposições sobre meio ambiente estão inseridas em diversos títulos e capítulos. O Título VIII
(“Da Ordem Social”), em seu Capítulo VI, trata do meio ambiente, mais específico no art.
225, que contém seis parágrafos.
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.
(BRASIL, 1988,
grifo nosso).
O caput do artigo 225 da CF/88 é claro ao responsabilizar não somente o poder
público, mas também a sociedade como um todo no dever de preservar o meio ambiente.
Portanto, a população deve também fazer a sua parte para buscar uma sadia qualidade de vida
e meio ambiente equilibrado.
Apesar da CF/88 ser inovadora, no sentido de inserir a temática do meio ambiente em
um capítulo à parte, ao se falar em resíduos, infelizmente ainda não no Brasil uma lei de
abrangência federal tratando dos resíduos como um todo, que organiza a forma adequada de
tratamento e destinação final dos resíduos sólidos produzidos diariamente, ou seja, uma
Política Nacional de Resíduos.
Salienta-se que desde 1991 tramita na Câmara dos Deputados (Anexo I) o Projeto de
Lei (PL) 203/91 (BRASIL, 2001) (Anexo J), que conta hoje com 73 anexos, todos tratando de
resíduos sólidos, e que, em 2006, foi apresentado à Comissão Especial destinada a dar parecer
ao PL e anexos, uma minuta que sintetizava todas as propostas, nomeada de Substitutivo ao
Projeto de Lei n. 203, de 1991, Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Apesar da Lei sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos estar mais de 16 anos
em tramitação, algumas mudanças em relação à destinação dos materiais recicláveis podem
ser vistas, como por exemplo, o Decreto 5.940, de 25 de outubro de 2006 (BRASIL, 2006)
(Anexo K), que institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e
entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua
73
destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras
providências.
Embora exista a obrigatoriedade da separação dos resíduos recicláveis descartados
pelos órgãos e entidades da administração pública federal, direta e indireta, na fonte geradora,
e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis são
poucos os órgãos que cumprem a legislação.
De acordo com a NBR 10.004/2004, apresentada no item 2.1 da presente pesquisa,
os resíduos são classificados quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde
pública, e estes terão um responsável específico pelo seu gerenciamento, conforme o quadro
6:
Origem Possíveis Classes Responsável
Domiciliar II A
Prefeitura
Comercial II A, II B
Prefeitura
Industrial I, II A, II B Gerador do resíduo
Público II A, II B
Prefeitura
Serviços de saúde I, II A, II B Gerador do resíduo
Portos, aeroportos e terminais ferroviários
I, II A, II B Gerador do resíduo
Agrícola I, II A, II B Gerador do resíduo
Entulho II B Gerador do resíduo
Quadro 6 - Classificação dos resíduos segundo a fonte geradora
Fonte: CLASSES DOS RESÍDUOS, (2007), grifo nosso.
Analisando o quadro, pode-se concluir que as Prefeituras são exclusivamente
responsáveis no gerenciamento, desde a coleta até a destinação final, do chamado “resíduo
sólido urbano”, ou seja, aquele gerado no ambiente urbano, composto pelos resíduos
domiciliar, comercial e público, já analisados no item 2.1 da presente pesquisa.
No Estado do Rio Grande do Sul, em específico sobre a questão dos resíduos sólidos,
o Decreto Estadual 38.356/98
24
regulamenta a Lei 9921/93 sobre a gestão dos resíduos
sólidos. Destaque para o Art. que estabelece: “A gestão dos resíduos sólidos é
responsabilidade de toda a sociedade e deverá ter como meta prioritária a sua não-geração,
24
O Decreto Estadual 38.356/98 pode ser obtido na íntegra pelo site
http://www.fepam.rs.gov.br/legislacao/arq/leg0000000029.pdf.
74
devendo o sistema de gerenciamento destes resíduos buscar sua minimização, reutilização,
reciclagem, tratamento ou destinação adequada.” (RIO GRANDE DO SUL, 1998).
a Lei 11.520, de 03 de agosto de 2000 (RIO GRANDE DO SUL, 2000), instituiu o
Código Estadual do Meio Ambiente. Conforme apresentação do referido Código, o mesmo
elenca, em seus 246 artigos, uma série de assuntos de grande relevância ambiental,
sistematizando em uma única lei temas, como proteção da flora, da fauna, do solo, do ar,
licenciamento ambiental, penalidades por infrações ambientais, entre outros.
O Título IV do Código Estadual do Meio Ambiente (RIO GRANDE DO SUL, 2000),
trata da Gestão dos Recursos Naturais e da Qualidade Ambiental. O Capítulo XII do referido
título trata dos resíduos, em específico dos artigos 217 a 225, conforme transcritos abaixo:
Art. 217 - A coleta, o armazenamento, o transporte, o tratamento e a
disposição final de resíduos poluentes, perigosos, ou nocivos sujeitar-se-ão à
legislação e ao processo de licenciamento perante o órgão ambiental e
processar-se-ão de forma e em condições que não constituam perigo
imediato ou potencial para a saúde humana e o bem-estar público, nem
causem prejuízos ao meio ambiente.
§ 1º - O enfoque a ser dado pela legislação pertinente deve priorizar critérios
que levem, pela ordem, a evitar, minimizar, reutilizar, reciclar, tratar e, por
fim, dispor adequadamente os resíduos gerados.
§ - O Poder Público deverá prever, nas diversas regiões do Estado, locais
e condições de destinação final dos resíduos referidos no "caput" deste
artigo, mantendo cadastro que os identifique.
Art. 218 - Compete ao gerador a responsabilidade pelos resíduos produzidos,
compreendendo as etapas de acondicionamento, coleta, tratamento e
destinação final.
§ 1º - A terceirização de serviços de coleta, armazenamento, transporte,
tratamento e destinação final de resíduos não isenta a responsabilidade do
gerador pelos danos que vierem a ser provocados.
§ - Cessará a responsabilidade do gerador de resíduos somente quando
estes, após utilização por terceiro, licenciado pelo órgão ambiental, sofrer
transformações que os descaracterizem como tais.
Art. 219 - A segregação dos resíduos sólidos domiciliares na origem,
visando ao seu reaproveitamento otimizado, é responsabilidade de toda a
sociedade e será gradativamente implantada pelo Estado e pelos municípios,
mediante programas educacionais e projetos de reciclagem.
Art. 220 - Os produtos resultantes das unidades de tratamento de gases,
águas, efluentes líquidos e resíduos deverão ser caracterizados e
classificados, sendo passíveis de projetos complementares que objetivem
reaproveitamento, tratamento e destinação final sob as condições referidas
nos artigos 218 e 219.
Art. 221 - É vedado o transporte de resíduos para dentro ou fora dos limites
geográficos do Estado sem o prévio licenciamento do órgão ambiental.
Art. 222 - A recuperação de áreas degradadas pela ação da disposição de
resíduos é de inteira responsabilidade cnica e financeira da fonte geradora
75
ou na impossibilidade de identificação desta, do ex-proprietário ou
proprietário da terra responsável pela degradação, cobrando-se destes os
custos dos serviços executados quando realizados pelo Estado em razão da
eventual emergência de sua ação.
Art. 223 - As indústrias produtoras, formuladoras ou manipuladoras serão
responsáveis, direta ou indiretamente, pela destinação final das embalagens
de seus produtos, assim como dos restos e resíduos de produtos
comprovadamente perigosos, inclusive os apreendidos pela ação
fiscalizadora, com a finalidade de sua reutilização, reciclagem ou
inutilização, obedecidas as normas legais vigentes.
Art. 224 - É vedada a produção, o transporte, a comercialização e o uso de
produtos químicos e biológicos cujo princípio ou agente químico não tenha
sido autorizado no país de origem, ou que tenha sido comprovado como
nocivo ao meio ambiente ou à saúde pública em qualquer parte do território
nacional.
Art. 225 - No caso de apreensão ou detecção de produtos comercializados
irregularmente, o transporte para seu recolhimento e destinação adequada
deverá ser avaliado e licenciado pelo órgão ambiental. (
RIO GRANDE DO
SUL, 2000)
.
Destaque na referida legislação deve ser dado ao artigo 219, que faz referência aos
resíduos sólidos domiciliares ou domésticos, destacando a importância do reaproveitamento e
a sua separação na origem, responsabilizando, desta maneira, a sociedade pela sua execução e
deixando em aberto para os municípios e o Estado a implementação da segregação dos
resíduos através de programas educacionais e projetos de reciclagem.
Segundo o Manual de Gerenciamento Integrado do CEMPRE (LIXO MUNICIPAL,
2002), a legislação ambiental no Brasil sofreu alguns avanços nos últimos anos. No aspecto
institucional, destaque pode ser dado à atuação do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), criado pela Lei 6.938/81, representando um conjunto articulado de órgãos,
entidades, regras e práticas da União, do Distrito Federal, dos estados e dos municípios,
responsáveis pela proteção da qualidade ambiental.
A questão central é posicionar os municípios em relação à legislação
ambiental vigente e quanto à sua participação no SISNAMA. A grande
maioria dos prefeitos e vereadores brasileiros ignora o fato de todo
município ser um integrante do SISNAMA. Desconhece, também, as
atribuições e possibilidades que resultam dessa participação formal. (LIXO
MUNICIPAL, 2002, p. 317).
A CF/88 (BRASIL, 1988), em seu artigo 23, incisos III, IV, VI e VII, confere aos
municípios a competência para a proteção ambiental, em comum com a União e os Estados. O
artigo 30, inciso II, do referido diploma legal, reconhece aos municípios a competência para
suplementar a legislação federal e a estadual, em matéria ambiental, mas, atualmente, mesmo
76
com a competência outorgada, os municípios somente executam a legislação em vigor ao
invés de criar leis sobre o assunto.
Assim sendo, conforme a Carta Magna, os municípios têm competência para organizar
e prestar os serviços públicos de interesse local, inserindo-se as tarefas de limpeza pública:
coleta, transporte, tratamento e disposição dos resíduos sólidos urbanos.
Acredita-se que a partir do momento em que houver uma lei a ser cumprida em
relação ao gerenciamento dos resíduos, obrigatoriamente haverá uma sanção para aqueles que
não a cumprirem, fazendo com que tanto o poder público como a coletividade levem mais a
sério a questão dos resíduos sólidos e do meio ambiente “ecologicamente equilibrado”.
2.4 Os direitos de cidadania dos catadores e recicladores
Apesar de no Brasil ainda existirem milhares de pessoas que sobrevivem dos lixões e
da catação nas ruas, em condições desumanas, os catadores de materiais recicláveis obtiveram
algumas conquistas ao longo de todos esses anos de luta pela inclusão social e direitos de
cidadania. Um primeiro exemplo é a conquista em relação à regulamentação da profissão de
catador de material reciclável, obtida através da CBO
25
94. Atualmente, está em vigor a CBO
2002, aprovada pela Portaria 397, do Ministério do Trabalho e Emprego MTE (BRASIL,
2002) (Anexo L), que revogou a CBO 94.
Ao realizar uma pesquisa na CBO 94, a mesma trazia a seguinte classificação:
Código
CBO:
Titulo:
7-19.20 Catador de ouro (Garimpeiro)
9-91.90
Catador de papel e papelão (Outros trabalhadores braçais não-classificados sob
outras epígrafes)
Quadro 7 - Classificação das ocupações pela CBO 94
Fonte: BASE DE DADOS DA CBO 94 (2007).
25
A Classificação Brasileira de Ocupações CBO é o documento normalizador do reconhecimento, da
nomeação e da codificação dos títulos e conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. É ao mesmo
tempo uma classificação enumerativa e uma classificação descritiva (O QUE É A CBO2002, 2007).
77
Enquanto a CBO 94 classifica como catador somente aquele que catava papel ou
papelão, a CBO 2002 inova trazendo a denominação de catador de material reciclável, ou
seja, considerando um grupo de trabalhadores que trabalham com todo o tipo de material
reciclável.
Resultados de títulos encontrados (17) Códigos Tipo
Catador - na cultura 6220-20 Sinônimo
Catador de algodão 6222-05 Sinônimo
Catador de café 6226-10 Sinônimo
Catador de caranguejos 6310-05 Sinônimo
Catador de caranguejos e siris 6310-05 Ocupação
Catador de crustáceos 6310-05 Sinônimo
Catador de ferro-velho 5192-05 Sinônimo
Catador de mariscos 6310-10 Ocupação
Catador de material reciclável
5192-05 Ocupação
Catador de ouro 7114-05 Sinônimo
Catador de papel e papelão 5192-05 Sinônimo
Catador de piaçava 6323-65 Sinônimo
Catador de pinhão 6324-15 Sinônimo
Catador de siris 6310-05 Sinônimo
Catador de sucata 5192-05 Sinônimo
Catador de vasilhame 5192-05 Sinônimo
Catadores de material reciclável 5192 Família
Quadro 8 - Classificação das ocupações pela CBO 2002
Fonte: TIPOS DE BUSCA, 2007.
Outro avanço é em relação à criação do Comitê Interministerial de Inclusão Social de
Catadores de Materiais Recicláveis. São exemplos de formalização de políticas públicas que
têm o desafio de contribuir para a inclusão social e econômica dos catadores de materiais
recicláveis: a constituição do Comitê Interministerial de Apoio à Inclusão Social dos
Catadores, o Decreto 5.940/06 (Anexo K) e a Lei 11.445/07(Política Nacional de
Saneamento)
(COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA, 2007).
O Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis,
criado por Decreto Federal, em 11/09/2003 (BRASIL, 2003) (Anexo M), é coordenado pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e Ministério das Cidades. O
Comitê é formado por órgãos do governo federal, parceiros Fome Zero, e ainda conta com a
participação deorganizações não governamentais e entidades do setor da reciclagem, a seguir
elencados:
78
1. MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
2. MCidades - Ministério das Cidades;
3. MMA – Ministério do Meio Ambiente;
4. MTE – Ministério do Trabalho e Emprego;
5. MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia;
6. MEC – Ministério da Educação;
7. MS – Ministério da Saúde;
8. MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio;
9. SEDH – Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República;
10. Casa Civil da Presidência da República;
11. Caixa Econômica Federal;
12. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);
13. Fundação Banco do Brasil;
14. Petrobrás.
Convidados, conforme a pauta das reuniões: Movimento Nacional dos Catadores de
Materiais Recicláveis, Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) e Governo
do Distrito Federal.
O Decreto 5.940/06 (BRASIL, 2006) (Anexo K), citado no item 2.3 da presente
pesquisa, também pode ser considerado uma conquista por parte da categoria dos catadores.
Desde 25 de outubro de 2006, o Decreto Federal 5.940/06 institui a separação dos resíduos
recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e
indireta determinando que a sua destinação seja para as associações e cooperativas de
catadores de materiais recicláveis.
Para conduzir a implementação das medidas estabelecidas pelo Decreto 5.940/06,
foram criadas as Comissões da Coleta Seletiva Solidária, que devem apresentar, semestral-
mente, ao Comitê Interministerial a avaliação do processo de separação dos resíduos
recicláveis descartados em suas unidades. Para acompanhar esse processo e apoiar os órgãos
públicos federais, o Comitê estruturou uma Secretaria Executiva.
A Secretaria Executiva do Comitê é composta por servidores do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Ministério das Cidades, com o apoio da Caixa
79
Econômica Federal. O objetivo da constituição da Secretaria Executiva é agilizar as ações que
efetivarão as determinações do governo federal em relação à inclusão dos catadores de
materiais recicláveis.
Outra conquista por parte dos catadores de materiais recicláveis é o Selo Amigo do
Catador. O Selo Amigo do Catador é uma campanha criada pelo Movimento Nacional dos
Catadores, que visa incentivar a doação de materiais recicláveis aos catadores organizados em
cooperativas, associações, entrepostos e grupos ligados ao MNCR. A campanha tem vários
parceiros e pretende, em todo o Brasil, conscientizar a sociedade para o trabalho que os
catadores desenvolvem (CONHEÇA O SELO AMIGO DO CATADOR, 2007).
O referido
selo foi lançado em 2004, na presença do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo este
uma ponte dos catadores com a sociedade. Abaixo segue modelo do selo:
Figura 5: Selo Amigo do Catador de Materiais Recicláveis
Fonte: CONHEÇA O SELO AMIGO DO CATADOR (2007).
Segundo informações obtidas no referido site, para a obtenção do selo, alguns
critérios a serem seguidos. Os comitês regionais do MNCR devem credenciar as bases
legítimas do MNCR que podem certificar os estabelecimentos que doam seus materiais para
os catadores. Quem é certificado pode usar o Selo em embalagens, publicações e nos locais de
trabalho.
Ser amigo do catador é reconhecê-lo como um trabalhador que presta um
importante serviço à sociedade. É reconhecer esse serviço de agente
ambiental, que gera matéria prima para a indústria, destinando corretamente
os materiais, encaminhando-os para a reciclagem.
O Selo Amigo do Catador é um símbolo que pode ser usado por aqueles que
promovem e garantem inclusão do catador na coleta seletiva. Um Selo de
80
responsabilidade social que será entregue a empresas, instituições (escolas,
universidades etc), comunidades (bairros e condomínios) e outras iniciativas
que promovam a participação direta dos catadores na coleta seletiva. A
campanha pretende premiar todos os anos as iniciativas destaques que
contribuam com os catadores e suas organizações. (CONHEÇA O SELO
AMIGO DO CATADOR, 2007).
Outro destaque em relação aos direitos dos catadores pode ser observado com a Lei
11.445, de 05 de janeiro de 2007 (BRASIL, 2007), que estabelece diretrizes nacionais para o
saneamento básico e altera a Lei 8.666, de 1993, que institui normas para licitações e
contratos da Administração Pública.
A Lei nº 11.445/07, em seu artigo 57, traz a seguinte redação:
Art. 57. O inciso XXVII do caput do art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho
de 1993, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 24.
É dispensável a licitação:
.......................................................................................................................
XXVII - na contratação da coleta, processamento e comercialização de
resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema
de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas
formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda
reconhecidas pelo poder público como catadores de materiais
recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com as normas
técnicas, ambientais e de saúde pública. (BRASIL, 2007, grifo nosso).
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
26
aprovou,
em 2006, nova linha de financiamento a projetos na área social. Trata-se do apoio a
cooperativas de catadores de materiais recicláveis, com recursos não-reembolsáveis,
provenientes do Fundo Social. A linha foi lançada, no dia 25 de outubro de 2006, pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia no Palácio do Planalto.
A linha foi criada a partir de proposta conjunta dos Ministérios do Trabalho e
Emprego, das Cidades e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, com o objetivo de
financiar investimento em infra-estrutura física, aquisição de equipamentos, assistência
técnica e capacitação dos cooperados em todo o país.
26
O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e tem
como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do país. Desta ação resultam a
melhoria da competitividade da economia brasileira e a elevação da qualidade de vida da sua população. Maiores
informações podem ser obtidas junto ao site: http://www.bndes.gov.br/empresa/default.asp.
81
O objetivo principal do Apoio a Projetos de Catadores de Materiais Recicláveis
27
é a
inclusão de trabalhadores da cadeia produtiva da reciclagem no Brasil, por meio do
atendimento das necessidades de financiamento de suas cooperativas, utilizando-se de
instrumentos de crédito e fomento característicos de um banco de desenvolvimento e de uma
política inclusiva (APOIO A PROJETOS DE CATADORES DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS, 2007).
No referido site ainda podem ser obtidos dados referentes ao I Ciclo de apoio a
projetos de estruturação produtiva de cooperativas no âmbito da iniciativa “Apoio a Projetos
de Catadores de Materiais Recicláveis”. Em 2007 foram apresentados 127 projetos, dos quais
67 foram julgados elegíveis para fins de enquadramento. Dentre estes, foram enquadrados 44
projetos, dos quais 34 foram aprovados, no valor de R$ 23 milhões. Estima-se que estas
operações resultarão em incremento de cerca de 2.300 postos de trabalho nas cooperativas e
de 45% na renda médias dos cooperados.
Outro destaque pode ser dado a Petróleo Brasileiro S/A (PETROBRAS)
28
, que lançou,
em novembro de 2007, o Programa Desenvolvimento & Cidadania Petrobrás e também abriu
a seleção pública de projetos. O programa Desenvolvimento & Cidadania Petrobras é
resultado de um conjunto de esforços. Elaborado com a participação de membros das
diferentes áreas da Petrobrás, representantes da sociedade civil e do governo, seu conteúdo
reflete o compromisso da empresa em contribuir com o desenvolvimento local, regional e
nacional, gerando a inserção social, digna e produtiva, de pessoas e grupos que vivem em
risco social no Brasil (DESENVOLVIMENTO E CIDADANIA PETROBRAS, 2007).
No período de 2007 a 2012, serão investidos recursos da ordem de R$ 1,2 bilhões em
projetos que promovam desenvolvimento com igualdade de oportunidades e valorização das
potencialidades locais.
O programa Desenvolvimento & Cidadania Petrobras prevê a continuidade das ações
bem sucedidas no Programa Petrobrás Fome Zero, com um horizonte de atuação ampliado e
um processo de gestão dos investimentos sociais aprimorado pela empresa. São temas
27
Maiores informações sobre a linha de financiamento podem ser obtidas junto ao site:
http://www.bndes.gov.br/linhas/catadores.asp.
28
Maiores informações sobre a Petrobras podem ser obtidas pelo site:
http://www2.petrobras.com.br/portugues/index.asp.
82
transversais: gênero, igualdade racial, pessoas com deficiência, pescadores e outros povos e
comunidades tradicionais. O programa tem como meta atender 4 milhões de pessoas,
diretamente, e outros 14 milhões, indiretamente, em todo o território nacional e pretende
alcançar, ainda, com ações de comunicação e difusão da cidadania, outros 27 milhões de
pessoas.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO)
29
, agência especializada das Nações Unidas, lançou edital 0790/2007
UNESCO, em 2007, chamado capacitação e pesquisa junto aos catadores de materiais
recicláveis, PROJETO 914BRA3026, com a perspectiva de consolidar ações que vêm sendo
desenvolvidas com os catadores. Uma dessas ações é o fortalecimento institucional dos
catadores, propiciando encontros nacionais, articulação nos estados, capacitação e também
realização de pesquisa. O objetivo do edital é fazer uma pesquisa sobre custo da coleta
seletiva, realizada pelos catadores em comparação com a coleta realizada pela prefeitura e
pelas empresas. Verificar o impacto do trabalho dos catadores para a cadeia produtiva da
reciclagem; são R$ 2,5 milhões para os catadores, caracterizados como despesas de custeio.
O Fórum Permanente de Articulação de Parcerias - FÓRUM PARTICIPA
30
(FÓRUM
PARTICIPA, 2008) foi criado em maio 2007, como um espaço de articulação entre as
principais redes de ações sociais constituídas e parceiros estratégicos do MDS (Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) para construir vínculos em torno de ações
concretas que possam dar escala à inclusão social pelo mundo do trabalho.
O Fórum conta com representantes do Governo Federal, empresas públicas e privadas,
sociedade civil e instituições sem fins lucrativos. A iniciativa privada está apoiando
organização de catadores, conforme exemplos a seguir:
• Coca-Cola – 28 cooperativas;
29
Maiores informações podem ser obtidas no site:
http://www.unesco.org.br/unesco/sobreaUNESCO/index_html/mostra_documento.
30
Maiores informações sobre o FÓRUM PARTICIPA podem ser obtidas pelo site:
http://www.mds.gov.br/institucional/secretarias/secretaria-de-articulacao-institucional-e-parcerias/articulacao-
de-parcerias-forum-participa.
83
Wal-Mart apoio a 2 redes estaduais (Pernambuco e Bahia) e interesse em
estabelecer Acordo de Cooperação Técnica com o MDS para ampliação dessa parceria nos 16
estados em que atuam;
NATURA com a utilização de material oriundo das cooperativas para a fabricação
de suas embalagens, bem como retorno das mesmas pósconsumo às cooperativas.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, tornou
público o Edital CT-AGRO/CT-HIDRO/MCT/CNPq n.º 18/2005, para Seleção Pública de
Propostas para Apoio a Projetos de Tecnologias Sociais para Inclusão Social dos Catadores de
Materiais Recicláveis. O objetivo é o de estimular a execução de projetos de extensão e
disponibilização de tecnologias sociais para os catadores de materiais recicláveis,
apresentados por grupos de extensão autorizados pelas Instituições de Ensino Superior
Públicas, Comunitárias e Confessionais, Instituições Públicas de Pesquisa e Extensão e
organizações do terceiro setor (OTS), de forma articulada com as organizações de catadores,
outras instituições públicas e organizações não-governamentais
31
.
Como foi referido, são várias as conquistas dos catadores de materiais recicláveis ao
longo de anos de luta, mas muito ainda pode ser feito, principalmente pelos governos locais,
ou seja, pelos municípios que são os principais responsáveis na organização e prestação dos
serviços públicos, de interesse local, inserindo-se as tarefas de limpeza pública: coleta,
transporte, tratamento e disposição dos resíduos sólidos municipais.
Para Fiorillo (2005), não há como negar que, diariamente, milhares de pessoas tiram o
seu sustento dos resíduos sólidos urbanos. Mas, de se questionar se o fato dessas pessoas
garantirem a sua subsistência a partir desses resíduos transforma este um direito desses
sobreviventes. O art. 225 da CF/88 dispõe sobre a garantia de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida. Tutela-se uma vida com qualidade, e não somente um direito à sobrevivência. Portanto,
não há como admitir que se esteja exercitando um direito à vida, porque, ao buscar a
sobrevivência nos lixões, seja se alimentando ou buscando material reciclável, um sem-
número de doenças estaria minando os indivíduos que ali estão. Dessa forma, em momento
31
O Edital pode ser obtido na íntegra no site:
http://acessibilidade.mct.gov.br/index.php/content/view/9922.html?cod=10226&fundo=CT%20-
%20Hidro&categoria=vigentes&viewEdital=yes&chamadas=transversais
84
algum, os catadores ou recicladores estariam exercendo os seus direitos de cidadania, e sim
lutando para sobreviver, em decorrência de um problema social oriundo de uma política
urbana deficiente, que não foi capaz de efetivar a função social da cidade.
[...] A grande verdade é que o Estado, responsável majoritário por esses
problemas de política urbana, na qual a temática do lixo está inserida, deve
encontrar soluções justas e eficazes, num plano fático-jurídico, de modo a
eliminar as agressões oriundas do lixo urbano, e, ao mesmo tempo, conceder
àqueles dependentes o direito não só a um meio ambiente sadio, mas à
própria sobrevivência. (FIORILLO, 2005, p. 182).
Apesar de existirem leis que obriguem o cumprimento de determinadas condutas, tanto
pelo poder público como pela sociedade, ainda assim existem milhares de brasileiros
marginalizados, excluídos da sociedade, que encontram nos resíduos sólidos a única forma de
sobrevivência. São brasileiros que lutam diariamente, em um ambiente de precariedade das
relações e condições de trabalho, mas que, acima de tudo, se reconhecem como trabalhadores
e lutam para serem reconhecidos como cidadãos brasileiros, e por seus direitos de cidadania.
Salienta-se que um trabalho digno de reciclagem presupõe uma coleta seletiva de
verdade, com boas condições de trabalho, ou seja, onde a infra-estrutura permite um trabalho
decente. Mas, infelizmente não é o que existe, na maioria dos casos.
Acredita-se que o trabalho associativo ou cooperativado seria um caminho, mas
trabalhar de maneira associada não é nada fácil. Exige dos associados equilíbrio psico-social,
formação para administrar, conhecimento mínimo de contabilidade etc. Mas, segundo Jacobi
(2006, p. 14),
também é importante estar consciente das dificuldades que hoje existem para
viabilizar, por exemplo, propostas que articulam redução da degradação
ambiental com geração de renda. Trata-se de programas que exigem um
período de amadurecimento e cuja legitimação é bastante lenta por parte dos
diversos estratos sociais [...].
Deve-se levar em consideração a possibilidade de que sempre haverá também pessoas
que preferem trabalhar de maneira autônoma, e que para estas também é preciso pensar
algum tipo de assistência.
85
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Este capítulo tem por objetivo apresentar os elementos metodológicos constituintes de
um processo de investigação, como forma de dar um caráter científico à pesquisa sobre a
história de formação da Associação Ecos do Verde. Essa tem por objetivo compreender como
a cidadania dos catadores pode ser resgatada, associando políticas blicas municipais e
associação cooperativa. Ainda, compreender como, no caso da Associação Ecos do Verde de
Santo Ângelo, se estabeleceu a parceria entre o poder municipal e a sociedade civil
organizada e analisar os avanços e percalços desta relação.
De acordo com Minayo (1994, p. 16), a metodologia é “o caminho do pensamento e a
prática exercida na abordagem da realidade”. Ela está sempre referida à teoria e permite
articular conteúdos, pensamentos e existência.
3.1 Método
A investigação científica requer uma estrutura metodológica adequada para a
resolução do problema envolvido na pesquisa, indicando o modo mais apropriado de atender
aos objetivos propostos.
Na presente pesquisa, optou-se por utilizar a pesquisa qualitativa que pode ser
entendida, segundo Neves (1996), como uma pesquisa direcionada, que não busca enumerar
ou medir eventos e quase nunca emprega instrumental estatístico para análise de dados.
Através dela, se busca a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do
pesquisador com a situação objeto de estudo. Nesse tipo de pesquisa é comum que o
pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da
situação estudada e, a partir daí, situe sua interpretação dos fenômenos estudados.
Para Glazier (1992 apud DIAS, 2000, p. 1),
talvez a melhor maneira de entender o que significa pesquisa qualitativa é
determinar o que ela não é. Ela não é um conjunto de procedimentos que
depende fortemente de análise estatística para suas inferências ou de
métodos quantitativos para a coleta de dados.
86
Com base na escolha do método que fundamentou a investigação pela abordagem da
pesquisa qualitativa, adotou-se entre as formas distintas de realização: dados secundários e
dados primários.
Entre os delineamentos com dados secundários, estão: a) pesquisas bibliográficas; b)
pesquisa documental. Entre os delineamentos com dados primários, estão: a) pesquisa de
campo; b) estudo de caso.
Segundo Luna (1999 apud BONI; QUARESMA, 2005, p. 71, grifo nosso):
Em linhas gerais a pesquisa bibliográfica é um apanhado sobre os
principais trabalhos científicos realizados sobre o tema escolhido e que
são revestidos de importância por serem capazes de fornecer dados atuais e
relevantes. Ela abrange: publicações avulsas, livros, jornais, revistas, vídeos,
internet, etc. Esse levantamento é importante tanto nos estudos baseados em
dados originais, colhidos numa pesquisa de campo, bem como aqueles
inteiramente baseados em documentos.
Sobre a pesquisa documental Godoy (1995 apud NEVES, 1996, p. 3, grifo nosso)
discorre:
A pesquisa documental é constituída pelo exame de materiais que ainda
não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reexaminados com
vistas a uma interpretação nova ou complementar. Pode oferecer base útil
para outros tipos de estudos qualitativos e possibilita que a criatividade do
pesquisador dirija a investigação por enfoques diferenciados. Esse tipo de
pesquisa permite o estudo de pessoas a que não temos acesso físico
(distantes ou mortas). Além disso, os documentos são uma fonte não-reativa
e especialmente propícia para o estudo de longos períodos de tempo.
Segundo Harley (1994 apud DIAS, 2000), o estudo de caso consiste em uma
investigação detalhada de uma ou mais organizações, ou grupos dentro de uma organização,
com vistas a prover uma análise do contexto e dos processos envolvidos no fenômeno em
estudo. O fenômeno não está isolado de seu contexto (como nas pesquisas de laboratório), já
que o interesse do pesquisador é justamente essa relação entre o fenômeno e seu contexto. A
abordagem de estudo de caso não é um método propriamente dito, mas uma estratégia de
pesquisa.
O método de estudo de caso é um método específico de pesquisa de campo. Estudos
de campo são investigações de fenômenos à medida que ocorrem, sem qualquer interferência
87
significativa do pesquisador. Seu objetivo é compreender o evento em estudo e ao mesmo
tempo desenvolver teorias mais genéricas a respeito dos aspectos característicos do fenômeno
observado (FIDEL, 1992 apud DIAS, 2000).
Para Minayo (1994), o trabalho de campo consiste no recorte de uma realidade
empírica a ser estudada a partir de concepções teóricas que a fundamenta como objeto de
investigação.
3.2 Implicações éticas da pesquisa
Quanto às implicações éticas da pesquisa, salienta-se que, ao tratar de uma pesquisa
envolvendo seres humanos, a necessidade de firmar compromissos éticos com os sujeitos
envolvidos.
Neste sentido, conforme prevê as orientações do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da UNIJUÍ
32
, baseadas na Resolução CNS 196/1996
33
(BRASIL, 1996), a presente
pesquisa foi submetida junto ao referido Comitê no dia 20 de novembro de 2007.
O Comitê de Ética em Pesquisa tem a responsabilidade de fazer cumprir, nas
atividades de pesquisa da Universidade, as determinações, os requisitos e as condições éticas,
estabelecidos na Resolução nº 196/1996 e complementares do Conselho Nacional de Saúde
(CNS), para atividades de pesquisa que envolvem seres humanos e de manter uma atenção
ética sobre a produção de pesquisa na Universidade.
De acordo com as orientações do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUÍ, a
Resolução CNS 196/96, item II.2, considera pesquisa em seres humanos as realizadas em
qualquer área do conhecimento e que, de modo direto ou indireto, envolvam indivíduos ou
coletividades, em sua totalidade ou partes, incluindo o manejo de informações e materiais.
Assim, também são consideradas pesquisas envolvendo seres humanos as entrevistas,
aplicações de questionários, utilização de banco de dados e revisões de prontuários.
32
O Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUÍ foi criado em 12 de abril de 2002, através da Resolução do Comitê
Científico e de Ética na Pesquisa nº. 01/02. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) aprovou o
registro do CEP/UNIJUÍ em 7 de janeiro de 2004.
33
Maiores informações sobre a da Resolução CNS 196/1996 podem ser obtidas no site:
http://conselho.saude.gov.br/comissao/conep/resolucao.html.
88
O Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUÍ, através do Parecer Consubstanciado nº
185/2007, datado de 14 de dezembro de 2007, aprovou o protocolo de pesquisa com
recomendações.
Salienta-se que para a realização das entrevistas a pesquisadora se comprometeu em
entregar ao entrevistado uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
(Anexo N), no qual constam os objetivos da pesquisa, a autorização ou não da gravação da
entrevista, a utilização, ou o, do nome do pesquisador, telefone e e-mail da pesquisadora e
e-mail da orientadora da pesquisa.
3.3 Sujeitos da pesquisa
Estabeleceu-se que os sujeitos da pesquisa seriam alguns membros da Associação
Ecos do Verde, responsáveis pela administração comunal, e pessoas do Município de Santo
Ângelo que tiveram alguma atuação junto a esta Associação, para retraçar seu histórico e
definir o impacto das políticas e intervenções públicas que favoreceram, ou não, tal
associação.
Inicialmente, decidiu-se realizar as entrevistas, primeiramente, com os membros da
Associação. Foram realizadas entrevistas com três associados: Jeferson Volmir Nicoletti,
Adair Jacinto Tomazi e um terceiro associado que preferiu ficar no anonimato, e, portanto, no
decorrer de sua fala na presente pesquisa, será utilizado o pseudônimo Pedro. Salienta-se que
a escolha dos entrevistados deu-se pela utilização dos seguintes critérios a) associados com
maior tempo na associação e, b) com cargos de direção.
A partir das suas falas, foram sendo contatados os demais entrevistados, Alexandre
Hüller, Diretor do Departamento Municipal do Meio Ambiente do Município de Santo
Ângelo (RS) (DEMAM); Tânia Clecy Pfeifer Biacchi, Secretária Municipal de Assistência
Social, Trabalho e Cidadania do Município de Santo Ângelo (RS); Márcio Zanoello, cidadão
Santoangelense e representante da sociedade; Gilberto Corazza, Coordenador Institucional da
ONG Políticas Públicas Outro Mundo é Possível, e Luis Fernando Rockenbach, Gerente de
Meio Ambiente e Qualidade, da Vonpar Refrescos S/A.
89
Na seqüência, apresentam-se as técnicas e instrumentos de coleta de dados que foram
utilizados para desenvolver a pesquisa.
3.4 Técnicas e instrumentos de coleta de dados
Para que os objetivos da presente pesquisa fossem alcançados, a coleta de dados foi
constituída de fontes secundárias e primárias.
Os dados secundários versam da pesquisa bibliográfica, realizada em livros,
dissertações, teses, monografias, artigos científicos, leis, que tratam da temática em estudo,
mais especificamente de resíduos sólidos, meio ambiente, inclusão social, cooperativas de
reciclagem, políticas públicas, economia solidária, associação de catadores, direitos sociais,
desenvolvimento sustentável.
As ferramentas de busca na internet, também consideradas fontes terciárias, foram
consultadas para levantamento de dados e informações entendidas como relevantes à
pesquisa.
Os dados primários foram colhidos diretamente pela pesquisadora mediante
entrevistas semi-estruturadas, ou seja, uma técnica adotada para a coleta de dados. De acordo
com Boni e Quaresma (2005, p. 75, grifo nosso),
As entrevistas semi-estruturadas combinam perguntas abertas e fechadas,
onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. O
pesquisador deve seguir um conjunto de questões previamente definidas,
mas ele o faz em um contexto muito semelhante ao de uma conversa
informal. O entrevistador deve ficar atento para dirigir, no momento que
achar oportuno, a discussão para o assunto que o interessa fazendo perguntas
adicionais para elucidar questões que não ficaram claras ou ajudar a
recompor o contexto da entrevista, caso o informante tenha “fugido” ao tema
ou tenha dificuldades com ele. Esse tipo de entrevista é muito utilizado
quando se deseja delimitar o volume das informações, obtendo assim um
direcionamento maior para o tema, intervindo a fim de que os objetivos
sejam alcançados.
As entrevistas foram todas agendadas previamente através de um contato telefônico ou
encaminhamento de um e-mail, com prévias explicações da pesquisa aos entrevistados. As
entrevistas foram realizadas nos meses de dezembro de 2007 e janeiro de 2008.
90
A pesquisadora, ao ser recebida para a realização da pesquisa, retomou as explicações
do objetivo da pesquisa antes da realização da entrevista, a fim de garantir a qualidade da
interlocução e a credibilidade do processo, entregando ao entrevistado em seguida o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A), em duas vias, após lido e assinado
uma via ficou de posse de cada entrevistado e a outra com a pesquisadora.
Sete, do total de oito entrevistas, foram realizadas in loco”, com a realização de
visitas na sede da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, no
Departamento Municipal de Meio Ambiente de Santo Ângelo (RS), Secretaria Municipal de
Assistência Social, Trabalho e Cidadania do Município de Santo Ângelo (RS), na residência
do entrevistado Márcio Zanoello, em Santo Ângelo, e na sede da ONG Políticas Públicas
Outro Mundo é Possível.
Em virtude do entrevistado Luis Fernando Rockenbach, Gerente de Meio Ambiente e
Qualidade da Vonpar Refrescos S/A, estar residindo e trabalhando, atualmente, em Porto
Alegre (RS), a entrevista foi realizada em forma de questionário escrito, enviado ao
entrevistado via endereço eletrônico e respondido de igual maneira.
A forma de realização das entrevistas foi de natureza individual, gravadas digitalmente
em Pen Drive/MP4 Player DVR com o consentimento dos atores sociais entrevistados. Para a
realização das entrevistas, utilizou-se um roteiro semi-estruturado, com categorias de análise
já estabelecidas:
a) Roteiro de entrevista nº 1: Associados Ecos do Verde (Apêndice B);
b) Roteiro de entrevista nº 2: Poder Público Municipal (Apêndice C);
c) Roteiro de entrevista nº 3: Cidadão Santoangelense (Apêndice D);
d) Roteiro de entrevista nº 4: Secretaria de Assistência Social (Apêndice E);
e) Roteiro de entrevista nº 5: ONG Políticas Públicas (Apêndice F);
f) Roteiro de entrevista nº 6: VONPAR/Coca-Cola (Apêndice G).
Todas as falas foram transcritas e, posteriormente, interpretadas e correlacionadas,
seguindo o método de análise de conteúdo, tema discutido no próximo item deste capítulo.
91
3.5 Análise e interpretação dos dados
Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é complexo,
de natureza social e não tende à quantificação, ou seja, são processos de investigação
elaborados para possibilitar uma melhor compreensão de uma problemática social em
contexto local, que permitiu à pesquisadora esboçar um retrato da situação, analisando
narrativas e depoimentos dos atores sociais, conduzindo o estudo à interpretação de realidade
concreta.
Para análise das entrevistas realizadas na presente pesquisa, utilizou-se o método de
análise de conteúdo.
Segundo Rodrigues (2002, p. 179), a análise de conteúdo
constituirá (ou parece constituir-se como) uma etapa do processo de
elaboração dos “dados”, em princípio (mas apenas em parte) posterior à fase
da sua produção em entrevista, que visará “transformá-los” em “informação”
teoricamente significativa, ou esclarecedora face à problemática em questão.
A técnica de análise de conteúdo, de acordo com Freitas e Jenissek (2000), é utilizada
para tornar replicáveis e validar inferências de dados que se apresentam na forma textual,
envolvendo procedimentos especializados para processamentos de dados na forma científica.
A técnica permite ainda a identificação da idéia por respondente, em que é observada a ênfase
dada a cada resposta durante as entrevistas. A freqüência de repetição das respostas é a parte
do processo de análise, permitindo analisar com profundidade uma informação a partir do
comportamento, opiniões e idéias, apresentadas na forma verbal ou escrita.
Os dados obtidos na pesquisa de campo foram organizados em análises textuais,
objetivando a explicitação de informações geradas na pesquisa.
No próximo capítulo será feita a exposição e análise dos resultados da pesquisa sobre a
Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde.
92
4 A EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE SANTO ÂNGELO/RS ASSOCIAÇÃO DE
RECICLAGEM E EDUCAÇÃO AMBIENTAL ECOS DO VERDE
4.1 Diferenças entre associação e cooperativa e suas legislações respectivas
Não se pode esquecer que o lema da sociedade atual é o do consumo. O que se
incentiva hoje, de forma geral, é que os cidadãos sejam substituídos por consumidores. Claro
que nem todas as pessoas se enquadram nessa categoria, por diversos fatores, mas o lema
atual é comprar, gastar, consumir.
Em virtude dessa política consumista, aliada à questão do aumento populacional e
crescimento econômico, os resíduos produzidos mundialmente aumentaram e continuam
aumentando significativamente, gerando um desafio: “Como resolver esse problema para as
presentes e futuras gerações?
Uma das alternativas “sustentáveis” para o problema dos resíduos sólidos seria a
reciclagem, que se daria através da formação das associações ou cooperativas de reciclagem
de resíduos, como forma de fortalecimento dos catadores ou recicladores na condição de
trabalhadores organizados, de inclusão social e como alternativa de geração de trabalho e
renda.
[...] a reciclagem do lixo é de suma importância às futuras gerações do
planeta, por se apresentar nas principais áreas de decisões com relevância
ambiental, econômica e social, com muitos desdobramentos fragmentados,
mas interdependentes entre si: organização espacial, preservação e uso
racional dos recursos naturais, conservação e economia de energia, geração
de empregos, desenvolvimento de produtos, finanças públicas, saneamento
básico, geração de renda e redução de desperdício. (CALDERONI, 1996
apud MAGERA, 2003, p. 27).
No mesmo sentido, segundo Gonçalves (2003, p. 3),
A organização em cooperativas pode se configurar como uma alternativa
para a solução dos problemas dos catadores, seja pela perspectiva de
encerramento do lixão, seja por tencionar melhorias de condições de
trabalho. A partir deste referencial este processo de organização fortalecerá o
grupo, através do estabelecimento de práticas autogestionárias, com foco no
protagonismo dos catadores.
93
Um fato relevante sobre os resíduos, no Brasil, é o destino de milhares de toneladas
diárias produzidas. Segundo Magera (2003), somente 15% tem seu destino em aterros
sanitários; em aterros controlados são depositados 13% deste total; os outros 67% vão para
lugares a céu aberto e menos de 0,5% acabam sendo reciclados.
Continua o autor dizendo que os resíduos, quando jogados em lixões, demoram a se
decompor e esta decomposição varia de acordo com os diferentes componentes da massa de
resíduos. Como exemplo, pode-se citar: papel, de 2 a 4 semanas; pilhas, 500 anos; lata de
alumínio, 100 a 500 anos; sacos e copos plásticos, 200 a 450 anos; lata de conserva, 100 anos;
casca de frutas, 3 meses; tecido de algodão, 1 a 5 meses; garrafas de vidro, plásticos e pneus,
tempo indeterminado (LIXO MUNICIPAL, 2002).
Para Magera (2003), a reciclagem de todos esses resíduos propiciaria às prefeituras
brasileiras uma economia na ordem de 5% a 12% de seu orçamento anual, dinheiro que
poderia ser melhor aproveitado em políticas públicas direcionadas à escolas, merenda escolar,
transporte, saúde. Além da geração de emprego que esta prática de gestão ambiental traria,
visto que, a cada 2 toneladas de resíduos reciclados cria-se um emprego com renda mensal em
torno de R$ 350,00.
As cooperativas de reciclagem de resíduos são associações de pessoas que se unem,
voluntariamente, para alcançar objetivos comuns, nas áreas econômica, social e cultural. A
criação dá-se de forma informal e acaba institucionalizando-se com o apoio de instituições
sociais e governamentais. São catadores de rua que são incentivados a organizarem-se para
obter mais força ou poder de barganha para negociar seus produtos no processo da reciclagem
dos resíduos e, desta maneira, poderem melhorar as
suas condições de vida, deixando de
armazenar o que coletam no pátio de sua casas, ganhando respeito da população e melhora da
auto-estima.
Diante de tal contexto, a problemática dos resíduos sólidos produzidos diariamente
acaba por introduzir uma nova forma de tratá-lo, através das cooperativas de reciclagem. Elas
recebem parte dos resíduos secos, às vezes sob forma de coleta seletiva, e estão se formando
por todo o país, como forma de geração de trabalho e renda.
94
Cabe salientar que as dificuldades encontradas pelos catadores para se organizarem em
associações ou cooperativas fazem parte de um processo histórico no Brasil, pois as camadas
menos favorecidas não têm acesso ao crédito/financiamento, dependendo, dessa forma, das
instituições sociais, religiosas ou assistenciais que tentam ajudar, mas, muitas vezes, na falta
de uma visão mais profissional em relação aos resíduos e com a própria gestão da
associação/cooperativa, fracassam por não atender as expectativas econômicas, sociais ou
ambientais da reciclagem de resíduos.
As cooperativas ou associações de reciclagem, muito mais do que trazer benefícios
para o meio ambiente, de uma forma geral, proporcionam para uma camada pobre e/ou
excluída da população uma forma de inclusão social e oportunidade de grupos marginalizados
se organizarem para lutar por uma vida digna, mediante estratégias econômicas coletivas.
Segundo Rodríguéz (2002), o qual realizou um estudo de caso com cooperativas de
recicladores de resíduos na Colômbia, os excluídos resistem diariamente através de ações
individuais e coletivas muito diversas, que vão desde estratégias de sobrevivência a projetos
nacionais e globais de oposição, passando por um grande número de iniciativas locais.
Para Rodríguéz (2002, p. 334-335), a busca de alternativas face aos efeitos
excludentes do capitalismo inspirada nas teorias e experiências baseadas na associação
econômica entre iguais e na propriedade solidária não é uma descoberta recente”. As
cooperativas de trabalhadores visam, de forma geral, superar a divisão entre capital e trabalho,
características das empresas convencionais. Continua ainda o autor, afirmando que o
cooperativismo continua ainda hoje sendo um projeto contra-hegemônico, baseado em
princípios de solidariedade e democracia participativa.
Uma das preocupações de Rodríguéz (2002) com as cooperativas de recicladores, de
forma geral, é que as organizações econômicas populares se defrontam cada vez mais com a
necessidade de concorrer com o capital transnacional para sobreviver e atingir os seus
objetivos emancipatórios. Desta maneira, a articulação das organizações econômicas com o
Estado e entidades nacionais e internacionais apresenta-se como uma estratégia essencial para
que essas organizações possam inserir-se aos poucos nos mercados nacional e global.
95
[...] Se o trabalho integra o trabalhador na esfera pública da construção da
sobrevivência comum e se a cidadania é o acesso a esse espaço público,
torna-se redundante falar em cidadania dos trabalhadores. O que deve ser
ressaltado aqui é o fato de que, na sociedade capitalista, o exercício da
cidadania se de forma conflitiva na relação capital/trabalho,
caracterizando-se avanços e recuos em termos de direitos sociais de acordo
com a relação de forças das classes e poderes sociais dentro dos aparelhos de
Estado. (CORRÊA, 1999, p. 229).
A lógica capitalista predatória coloca-se em oposição à questão do cooperativismo,
que se apresenta como uma prática social de dimensão econômica, política e cultural, tendo
como fator fundamental o sentido do humano. O cooperativismo aparece como um
instrumento que visa devolver aos indivíduos o espaço da participação, da decisão solidária e
responsável e da busca por melhores condições de vida, enfim, o resgate da cidadania. Sendo
assim, o cooperativismo acaba por realizar a tentativa de inclusão social de grande parte de
excluídos, através do trabalho e objetivos comuns.
Nesse sentido, segundo Perius e Schmidt (2003, p. 71, grifo nosso):
Diante da atual conjuntura econômica, cultural e social do país, em que se
acentua o desemprego e as dificuldades nas relações trabalhistas entre
empregado e empregador, não será justamente o cooperativismo uma
solução de fonte de renda e trabalho para a população desempregada? O
cooperativismo diferencia questões de emprego das questões de trabalho,
garantindo trabalho e renda digna para os trabalhadores marginalizados pela
sociedade capitalista, altamente competitiva e movida pelo consumo e
aceleração tecnológica.
Na mesma linha, Frantz (2005) afirma que, no contexto da globalização, onde o
trabalho, como núcleo importante da estrutura social, sofre grandes transformações
tecnológicas e organizativas, ampliam-se os espaços para as organizações cooperativas, com
instrumentos de organização das pessoas, como formas de enfrentamento do desemprego,
constituindo-se em possibilidades de resistência à exclusão social.
De acordo com Albuquerque (2003, p. 15), por associativismo entende-se:
o processo pelo qual uma ou mais pessoas e/ou grupo(s) decidem reunir-se
de forma regular, mas não necessariamente contínua, para dar conta de
demandas comuns. [...] o associativismo se apresenta como um conjunto de
práticas sociais datadas e localizadas historicamente, que propõe a
autonomia do “nós”, qualificando a cooperação entre as pessoas, porque
baseia estas práticas sociais na reciprocidade, na confiança, na pluralidade e
96
no respeito mútuo. [...] Ele afirma um modo de agir coletivo, segundo o
qual os princípios da ação social se formam na experiência concreta e
derivam do significado dado às intenções ou às idéias que fundamentam o
grupo; e sinaliza um conjunto de ações realizadas por pessoas mobilizadas, a
partir de um projeto, que busca superar dificuldades em função de um
interesse comum e que, na maior parte das vezes, revela-se sem fins
lucrativos.
Assevera ainda que:
o associativismo projeta um modelo de regulação alternativo na medida em
que se fundamenta no exercício da cidadania, buscando propor modos
plurais de atuação e instaurar um movimento de interação dos espaços
econômicos, sócio-político e cultural numa perspectiva mais ampla. Nesta
medida se oferece como um agir coletivo diferenciado, que pode ser
interessante para a outra economia. (ALBUQUERQUE, 2003, p. 20).
Salienta-se que essas ações as quais o autor se refere são aquelas que buscam construir
critérios mais gerais e universais, ou seja, que buscam afirmar a cooperação pelo ato imediato
de reunir pessoas e forças individuais para produzir uma força maior. O agir coletivo
diferenciado que o associativismo oferece é interessante para a “outra economia”, entendida
aqui como a “economia solidária”.
Segundo Perius e Schmidt (2003), o cooperativismo busca orientar-se nas suas
atividades, de caráter social e econômico, em um conjunto de valores, de princípios e normas,
que devem orientar a sua atuação na economia e na sociedade. Salientam os autores que tais
valores devem complementar-se, na concepção dos pioneiros de Rochdale, que correspondem
às seguintes atitudes: viver melhor, pagar a dinheiro, poupar sem sofrimento, suprimir os
parasitas, combater o alcoolismo, integrar as mulheres nas questões sociais, educar
economicamente o povo, facilitar a todos o acesso à propriedade, reconstituir uma
propriedade coletiva, estabelecer o justo preço, eliminar o lucro capitalista, abolir os conflitos.
Os princípios do cooperativismo atual estão inspirados em Rochdale.
A experiência de Rochdale surgiu em 1844, na Cidade de Rochdale, na Inglaterra.
Para grande parte dos autores foi que nasceu o cooperativismo moderno, diante de vários
problemas, tais como: desemprego, falta de alimentos e salários baixos. Depois de um
fracasso de greve, nasceu a idéia de organização de uma cooperativa. A iniciativa dos tecelões
97
de Rochdale
34
é considerada como a experiência matriz do cooperativismo moderno.
Os termos associativismo e cooperativismo se confundem, visto que ambos os
conceitos utilizam expressões comuns, sendo que as maiores diferenças estão na finalidade,
formação, patrimônio e capital social.
Albuquerque (2003) apresenta uma tabela evidenciando as principais diferenças e/ou
semelhanças entre a composição e funcionamento de associações, cooperativas e sindicatos.
Como a presente pesquisa trabalha com os termos associação e cooperativa, optou-se por
apresentar a tabela sem o item sindicado.
ASSOCIAÇÃO COOPERATIVA
Definição técnica normativa
Sociedade civil sem fins lucrativos
cuja finalidade é representar e
defender os interesses dos cidadãos
associdados, buscando estimular a
melhoria técnica, profissional e
social dos associados.
Sociedade civil/comercial sem fins
lucrativos cuja finalidade é desenvolver
atividades de consumo, produção,
crédito, prestação de serviços e
comercialização, de acordo com os
interesses dos participantes e
cooperantes.
Condições legais:
legitimadoras
Sua ação está garantida pela
Constituição Federal (artigo 5º,
incisos XVII a XXI, artigo 174, §
2º) e no Código Civil.
Sua atuação está garantida na
Constituição (artigo 5º, incisos XVII a
XXI, e artigo 174, § 2º) e no Código
Civil e na Lei 5.764/71 (CLT, Decreto-
Lei 5.452/43)
Formação, patrimônio e
capital social
Pode se formar tendo no mínimo
duas pessoas. Seu patrimônio será
formado por taxas pagas pelos
associados, doações, fundos e
reservas. Como não possui capital
social, a inexistência do mesmo
dificulta a obtenção de
financiamento junto às instituições
financeiras e órgãos de fomento.
Só poderá formar-se tendo no mínimo 20
pessoas. Seu patrimônio será formado
por quotas partes ou pode ser constituído
por doações, empréstimos e/ou outros
processos de capitalização.
Como possui capital social, este fator
facilita, portanto, o financiamento junto
às instituições financeiras.
Representação
É importante destacar que pode
representar os associados em ações
coletivas de seu interesse.
Politicamente são representadas por
federações e confederações.
É importante que como organização
pode representar os associados em ações
coletivas de seu interesse. Politicamente
são representadas em nível nacional,
pela organização das cooperativas
brasileiras e em nível estadual pela
organização das cooperativas estaduais.
Continua...
34
Cabe
d
estacar que os associados de Rochdale eram todos operários ou artesãos, o que não é o caso dos
catadores brasileiros, atualmente, que, muitas vezes, são oriundos do meio rural, vivem de biscate e, em geral,
nunca tiveram um trabalho formal (com carteira assinada).
98
Participação, tomada de
decisão e área de
abrangência
As decisões se dão através da
assembléia geral, onde cada pessoa
tem direito a um voto. Sua área de
atuação limita-se aos seus objetivos
e os resultados das suas atividades
são de inteira responsabilidade dos
associados.
Quem decide são as assembléias de
sócios, onde cada pessoa tem direito a
um voto. A área de atuação limita-se a
seus objetivos.
Responsabilidades
Os dirigentes não têm remuneração
pelo exercício de suas funções,
recebem apenas o reembolso das
despesas realizadas para o
desempenho de suas funções. As
possíveis sobras das operações
financeiras não são divididas entre
os sócios, sendo aplicadas na
própria associação.
Os resultados financeiros assim como as
dívidas são responsabilidades dos
associados e divididos conforme o
volume de negócios dos associados. É
obrigatória a destinação de 10% para os
fundos de reserva e 5% para fundos
educacionais. Os dirigentes são
remunerados através de retiradas
mensais (“pro labore”), definidas pela
assembléia.
Tributação
Deve fazer anualmente uma
declaração de isenção de imposto de
renda.
Não paga imposto de renda sobre suas
operações com os associados, mas deve
recolher imposto de renda na fonte sobre
operações com terceiros. Assim como
pagar taxas e impostos decorrentes das
ações comerciais.
Dissolução
Definida pela assembléia ou
mediante intervenção judicial
realizada por representante do
ministério público.
Definida em assembléia geral ou
mediante processo judicial. Neste caso
nomeia-se um liquidante.
Quadro 9 – Diferenças entre associação e cooperativa
Fonte: ALBUQUERQUE, 2003.
Albuquerque (2003) assegura que os modelos associativos descritos devem ser
entendidos como processos pelo qual a sociedade civil assume os espaços públicos e tentam, a
partir de uma noção de controle democrático, estabelecer um outro tipo de sociabilidade,
fundada no discurso argumentativo da solidariedade.
A busca de espaços democráticos, realizada por organizações associativas, seja as
mesmas corporativas assistencialistas ou espaços de resistência, sinalizam estratégias sociais
que permitem o gerenciamento do bem comum, tais como: eleição como princípio de acesso e
permanência no poder; controle de baixo para cima; transparência pública e vigilância
organizada (ALBUQUERQUE, 2003).
Conclui Albuquerque (2003, p. 20) que:
o associativismo projeta um modelo de regulação alternativo na medida em
que se fundamenta no exercício da cidadania, buscando propor modos
plurais de atuação e instaurar um movimento de interação dos espaços
econômicos, sócio-político e cultural numa perspectiva mais ampla. Nesta
99
medida se oferece como um agir coletivo diferenciado, que pode ser
interessante para a “outra economia”.
O associativismo e/ou cooperativismo é uma alternativa nos dias de hoje para incluir
socialmente os excluídos e resgatar a cidadania. Há de se esperar que a associação cooperativa
possa recriar um meio de socialização coletiva, de identificação, conquista da auto-estima e
sentido para a vida em sociedade de pessoas que buscam no coletivo o mínimo para sua
sobrevivência.
Na maioria das vezes, os catadores preferem formar associações ao invés de
cooperativas. Isso se justifica pela forma mais simplificada, mas não menos importante, de
formar associações, como por exemplo, na quantidade dos membros: a associação pode se
formar com, no mínimo, duas pessoas; já a cooperativa terá que ter, no mínimo, vinte.
O documento final da I Conferência Nacional de Economia Solidária, discutido na
presente pesquisa no item 1.3.1, apresenta algumas afirmações, propostas e recomendações da
Economia Solidária para diversos setores. As características do movimento da ES podem ser
resumidas em: cooperação, autogestão, dimensão econômica e solidariedade, indo de encontro
aos princípios do cooperativismo.
As recomendações, propostas e afirmações da ES em relação ao cooperativismo estão
presentes no documento final, em específico, nos itens 60 a 66 (Anexo N), e destacam, entre
outras relevantes questões, a importância de uma nova Lei Geral do Cooperativismo,
salientando que:
O cooperativismo brasileiro está em processo intenso de crescimento e
mudança, o que torna obsoleto o marco legal vigente que deve regulá-lo. A
Lei Geral do Cooperativismo em vigor é de 1971, quando a ditadura militar
estava em seu auge autoritário. É necessário substituí-la por uma Lei
adequada às necessidades de todos os empreendimentos econômico
solidários e que assegure, antes de mais nada, a liberdade de representação
de todas as correntes que formam o cooperativismo nacional, em especial as
minorias organizadas. A Lei deve assegurar mecanismos públicos e
desburocratizados de registro dos empreendimentos econômico solidários.
(SENAES/MTE, 2006).
Salienta-se que três propostas estão em tramitação no Senado Federal e que visam
regulamentar o sistema cooperativista nacional. São os projetos de lei (PLS) 171/99, 605/99 e
100
428/99, dos senadores Osmar Dias (PDT-PR), Eduardo Suplicy (PT-SP) e do então senador
José Fogaça, respectivamente, e aguardam votação da Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ). (PÁGINA INICIAL MUNICRED POA, 2008).
4.2 Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde
4.2.1 Algumas informações sobre a cidade de Santo Ângelo – RS
Primeiramente busca-se contextualizar historicamente a cidade de Santo Ângelo-RS,
apresentando alguns dados de sua história e também informações técnicas da cidade onde está
localizada a Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, ou seja, o
objeto de estudo da última parte da presente pesquisa.
A cidade de Santo Ângelo tem suas origens profundamente ligadas à história das
reduções jesuíticas. Segundo dados obtidos no site da Prefeitura Municipal de Santo Ângelo
35
,
o nome de origem da cidade é Sant’Angel Custódio e Santo Ângelo Custódio, tendo sido
fundada no dia 12 de agosto de 1706, pelo Jesuíta Diogo de Haze, Padre Belga de nascimento
(Época da Redução Jesuítica 1706/1707). A Redução de Santo Ângelo foi consagrada ao Anjo
Custódio das Missões (aquele que tem a custódia, a guarda), o protetor de todos os povos
missioneiros.
Santo Ângelo fazia parte de mais de trinta povoados, que os missionários
jesuítas implantaram, em um trabalho de expansão e evangelização, junto
aos índios guaranis. Os chamados Sete Povos das Missões, cujas
remanescentes estão situados na região Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul, constituem-se num dos conjuntos de arqueologia histórica mais
importantes, situados em terras brasileiras. (FRIEDRICH , 2006, p. 35).
Na época da fundação, o povo de Santo Ângelo Custódio (cerca de 700 famílias
guaranis) prosperou muito economicamente e se tornou um grande produtor de erva mate e
algodão, destacando-se também em trabalhos de tecelagem, fiação, metalurgia e artes
diversas, apreendidas com os Padres Jesuítas que dominavam diversas técnicas, cuja produção
visava à exportação.
35
O site da Prefeitura Municipal de Santo Ângelo é: http://www.santoangelo.rs.cnm.org.br/.
101
O destino dos Sete Povos foi traçado com a assinatura do Tratado de Madrid, em
1750, entre Portugal e Espanha, desencadeando a trágica Guerra Guaranítica (1754-1756).
Nesta guerra, os índios guaranis lutaram comandados pelo índio Sepé Tiarajú. Os sonhos da
República Guarani acabam numa batalha desumana entre dois exércitos demarcadores e os
índios. Nesta chacina, morre Sepé e mais 1500 índios e os sobreviventes fogem, incendiando
tudo.
A partir de 1831, os campos missioneiro começam a ser repovoados por famílias
paulistas (portugueses), as quais adquiriram extensos latifúndios, desencadeando o processo
de concessão das Sesmarias. Dois desses pioneiros, Antônio Manuel de Oliveira e Alfredo
Pinheiro Machado, resolveram restaurar o antigo povoado de Santo Ângelo Custódio, o qual a
mata havia tomado conta.
A partir de 1891, a vida socioeconômica do Município começou a registrar
importantes modificações com a chegada de alemães, poloneses, suecos, belgas e búlgaros. A
vinda destes e, mais tarde, de outros europeus, contribuiu, decisivamente, para o seu
desenvolvimento, uma vez que eram trabalhadores autônomos e conhecedores de diversos
ofícios e novas técnicas. Assim, Santo Ângelo começou a desenvolver-se lentamente. Naquele
período, a maioria da população localizava-se no interior do Município, formando uma grande
área rural.
Quanto ao panorama estrutural do município, hoje, segundo os dados obtidos no site
da Prefeitura Municipal, conta, conforme dados do IBGE (Contagem da População 2007)
36
com uma população de 73.800 habitantes. O município está localizado na Encosta Ocidental
do Planalto Médio Rio-Grandense, Região Noroeste do Estado, Zona Fisiográfica das
Missões a uma altitude de 286m acima do nível do mar.
O Município de Santo Ângelo constitui-se de uma área superficial de 677 Km², cuja
distribuição é de 60 Km² na zona urbana e 617 Km² na zona rural. Os seus limites são: ao
NORTE - Giruá, ao SUL - Entre-Ijuis, ao LESTE - Catuípe, e ao OESTE - Guarani das
Missões. A economia do município está baseada na agricultura (soja, milho e trigo), pecuária
36
Maiores informações sobre contagem da população 2007 podem ser obtidas no site:
http://www.ibge.gov.br/home/.
102
(suínos, ovinos e bovinos), comércio e serviços, tendo como principal atividade a
agropecuária.
4.2.2 A história de formação da Ecos do Verde
a) Como tudo começou...
A atual Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, localizada
no município de Santo Ângelo (RS), Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, tem uma
história interessante, que demonstra que boas idéias podem surgir de onde menos se imagina
e, com muita perseverança, grandes objetivos e sonhos podem ser alcançados, transformando
para melhor a realidade de quem pouco tem.
Inicialmente, antes de se falar em Associação Ecos do Verde, a necessidade de se
voltar um pouco no tempo. Segundo o Sr. Gilberto Corazza, Coordenador Institucional da
ONG Políticas Públicas, Outro Mundo é possível, por meados de 1992-1993, a atual Ecos do
Verde foi constituída como a Associação dos recicladores da Zona Sul de Santo Ângelo.
Gilberto participou desse processo na condição de vereador do Partido dos
Trabalhadores. Ele teve uma relação direta com esse grupo de pessoas dos bairros da zona sul
da cidade, ou seja, mais precisamente o bairro Harmonia, realidade das cidades de porte
médio que acaba por abrigar muitas pessoas desempregadas. Foi nessa realidade que começou
a amadurecer a idéia de que reciclar os resíduos poderia ser um fator de geração de trabalho e
renda, enfim, de perspectiva de inclusão desse grupo significativo de pessoas.
O Sr. Adair Tomazi, primeiro presidente da Ecos do Verde e atual associado da
mesma, salienta que nesse período a associação não possuía sede. As reuniões eram realizadas
na sua própria casa e no núcleo do bairro Harmonia e a fundação da associação se deu
embaixo de uma árvore de sua casa.
Em 1996, a então associação foi transformada na Cooperativa dos Coletores de
Materiais Recicláveis de Santo Ângelo Ltda, e seu nome fantasia Ecos do Verde. A transição
de associação para cooperativa deu-se em razão de uma exigência da prefeitura de Santo
Ângelo na época, na fala de Adair Tomazi: “nós estávamos com contrato com a prefeitura
103
para trabalhar na usina de reciclagem e a prefeitura teria dito pra nós que teria que ser uma
cooperativa pra eles manterem convênio com nós e não uma associação que o jurídico deles
entendia assim.”
Nesse período de transição, Adair comentou que o grupo estava um pouco
desanimado, sem saber se organizava ou não a cooperativa. É justamente nesse período que a
Coca-Cola, atual Vonpar Refrescos S/A inicia seus trabalhos junto a Ecos do Verde. De
acordo com o Sr. Luis Fernando Rockenbach, Gerente de Meio Ambiente e Qualidade da
Vonpar Refrescos S/A, em maio de 1996, realizou-se um evento na ACISA (Associação
Comercial e Industrial de Santo Ângelo) onde palestrou o Gerente de Meio Ambiente da
Coca-Cola Brasil, Sr. Márcio Amazonas. O convite da Coca-Cola foi direcionado para o
público em geral, e obteve a participação de 170 pessoas. O tema da palestra foi sobre o Lixo.
No final da palestra, Luis Fernando convocou as pessoas que quisessem formar um
time de trabalho para tratar a questão do lixo de Santo Ângelo. Voluntariamente 12 pessoas se
apresentaram e iniciaram-se os trabalhos. Na época, foram elaborados 4 planos de ação:
- Levantamento da situação atual;
- Formação de uma Cooperativa para reciclar o lixo;
- Elaboração e aprovação de uma lei de limpeza urbana; e
- Coleta seletiva de lixo.
Formou-se então o Grupo Especial de Trabalho (GET) que se autodenominou “O
Time do Lixo”. Após realizar todo o levantamento da situação do município de Santo Ângelo
na época, em relação ao lixo, trabalho este que durou 6 meses (todos os integrantes do time
tiveram tarefas a cumprir), partiu-se para a legalização de uma cooperativa.
A Vonpar então contratou um profissional de Porto Alegre/RS que tinha experiência
em formação de Cooperativas para fornecer algumas informações sobre como formar uma
Cooperativa. Registrou-se, então, a Cooperativa Ecos do Verde, que iniciou os seus trabalhos
com os resíduos na Usina de Reciclagem de Resíduos Sólidos, mesmo sem ter ainda
implementada a coleta seletiva no município.
104
Adair salientou que as atividades da Ecos do Verde na usina de reciclagem iniciaram
em 1997, com o lixo todo misturado. Somente em novembro de 1998 é que inicia-se a coleta
seletiva em Santo Ângelo.
A Cooperativa Ecos do Verde foi registrada com 20 sócios e toda a documentação
necessária. Sobre a documentação, Adair salientou que o Time do Lixo ajudou a Ecos do
Verde a terminar de se legalizar, inclusive na digitação do Estatuto da Cooperativa e
encaminhamento da documentação dos próprios associados, tais como CPF e Carteira de
Identidade.
Atualmente, a Ecos do Verde está registrada novamente como associação. A transição
de cooperativa à associação ocorreu por problemas de ordem trabalhista. A cooperativa
resolveu ampliar o seu trabalho, firmando convênio com a Prefeitura do município de Santa
Rosa-RS, mas alguns associados desse município não entenderam os objetivos da cooperativa
e ajuizaram reclamatórias trabalhistas contra a cooperativa, vendo a entidade como uma
empresa privada onde existiam patrões e empregados, diferentemente dos princípios do
cooperativismo.
Tais ações trabalhistas acabaram inviabilizando a continuidade da entidade
Cooperativa Ecos do Verde, havendo a necessidade de criar uma nova entidade jurídica para
continuar com o mesmo projeto, mesmos objetivos e assim, em 2004, foi legalizada a atual
Associação Ecos do Verde.
b) Sobre a escolha do nome
Ao ser indagado sobre a escolha do nome da associação, Pedro
37
respondeu: “a
história do nome essa foi o Adair que inventou esse nome, o Adair tava acho que num dia
iluminado quando ele inventou esse nome.”
Segundo Adair Tomazi (associado da Ecos do Verde), esse nome foi adotado pelo
grupo por sugestão sua, que sugeriu a idéia na época, porque verde tinha tudo a ver com a
reciclagem, com o meio ambiente, com a natureza, e ecos no sentido do que ecoa, que vai se
37
Pedro é o pseudônimo utilizado para um associado que preferiu ficar no anonimato, conforme já descrito na
página 88 da presente pesquisa.
105
propagando, que é uma idéia que vai indo adiante. Adair salientou que foi um nome muito
bem escolhido, pois hoje é sinônimo de reciclagem na cidade. Quando se fala em Ecos do
Verde, logo vem à lembrança reciclagem e meio ambiente, sendo uma referência na
comunidade.
c) Parceiros
A Ecos do Verde, ao longo dos seus quase 11 anos de existência, se formou e cresceu
também com o apoio externo, aqui denominado de parceiros.
Em decorrência dos relatos dos entrevistados, um dos primeiros parceiros que podem
ser citados foi a Coca-Cola, atualmente denominada Vonpar Refrescos S/A, através da pessoa
do Sr. Luis Fernando Rockenbach. Adair salientou que a Vonpar ajudou na legalização da
Cooperativa Ecos do Verde, como já referido, e também destacou a importância do trabalho
realizado pelos sócios fundadores apoiadores, salientando, em específico, o trabalho realizado
por Luis Fernando em uma das primeiras dificuldades encontradas na cooperativa, ou seja, o
auxílio no encaminhamento da documentação de Carteira de Identidade e CPF para alguns
dos 20 membros da cooperativa, na época.
Outro apoio dado pela Vonpar, no início da formação da cooperativa, foi em relação
ao fornecimento de frete para o envio de material reciclável da cooperativa a ser vendido para
empresas de Porto Alegre-RS. Adair salientou que, no início, a Coca-Cola de Santo Ângelo
precisava buscar, em Porto Alegre, produtos da empresa e se deslocavam até lá com os
caminhões vazios, surgindo essa possibilidade e firmando-se, dessa forma, uma parceria. A
Coca-Cola, por um determinado período, levou material reciclável da Ecos do Verde para ser
vendido em Porto Alegre sem custo algum para a cooperativa, diminuindo,
consideravelmente, as despesas da iniciante cooperativa.
Ao ser indagado sobre os principais apoios na formação da associação, Pedro também
destacou o apoio da prefeitura municipal de Santo Ângelo quando da cedência da usina de
reciclagem para os associados trabalharem. Salientou que a usina estava desativada algum
tempo quando iniciaram as atividades no local.
106
Outro nome bastante lembrado pelos entrevistados é o de Gilberto Corazza (atual
coordenador da ONG Políticas Públicas), que participou da história da Ecos do Verde desde
os seus primórdios, como já referido, quando exercia o mandato de vereador ligado aos
movimentos sociais comunitários. Gilberto salientou que participou ativamente do processo,
sendo persistente no sentido de fazer o convencimento dos associados de que a questão da
reciclagem dos resíduos poderia ser um fator importante para a geração de trabalho e renda e,
de um modo mais geral, de inclusão social.
Gilberto destacou que quando a entidade ONG Políticas Públicas foi criada, o trabalho
de parceria com a Ecos do Verde teve seqüência. A ONG Políticas Públicas foi criada,
formalmente, no final de 2002, e, enquanto entidade formada, teve uma permanente relação
com a Ecos do Verde, de orientação e desenvolvimento de alguns projetos de
acompanhamento.
O primeiro destaque dessa parceria foi em relação à conquista da atual sede da Ecos
do Verde. De acordo com Gilberto, por intermédio da ONG conquistou-se a cedência do
espaço (terreno) onde está localizada atualmente a sede da Ecos do Verde com seu escritório
administrativo. Esse terreno foi cedido pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, em
2002, no final do mandato do governo Olívio Dutra.
Gilberto salientou que a cedência desse espaço foi muito importante para a associação,
tendo em vista que no decorrer dessa negociação havia uma rejeição da cidade e muitas
autoridades se posicionaram contra, pelo fato de o terreno estar localizado na área urbana da
cidade. A associação sofreu bastante preconceito e houve mobilização de todos para que a
cedência do terreno se efetivasse. Isso foi decisivo pra continuar viabilizando a Ecos do
Verde. Após a conquista do espaço físico, ainda a ONG teve participação na ampliação da
antiga sede, com a construção de uma sala onde hoje é o escritório administrativo da
associação e também onde funciona o recebimento de material reciclável dos catadores
individuais da cidade.
Outro destaque pode ser dado ao projeto de inclusão digital. A ONG Políticas Públicas
intermediou a doação de alguns microcomputadores usados por parte da Eletrosul e Caixa
Federal. O projeto foi iniciado, mas houveram dificuldades na captação de recursos e o
projeto foi cancelado, temporariamente.
107
Adair (associado da Ecos do Verde) salientou que a Incubadora de Economia Solidária
da UNIJUÍ, em 2006, assessorou a associação, e conseguiu, com a Universidade Regional
Integrada de Santo Ângelo RS (URI), uma parceria para a realização de uma oficina de
informática com os interessados. Houve essa necessidade porque os computadores da
associação não seriam suficientes para toda turma de interessados.
Destaca-se ainda que, em 2006, a IES da UNIJrealizou ainda outras atividades
junto a Ecos do Verde, tais como: diagnósticos sócio-econômicos, análise financeira e
planejamento, dinâmicas de grupo com associados coletores e recicladores para melhorar a
auto-estima e a valorização mútua entre essas duas categorias de trabalhadores, intervenção
junto à Administração Municipal de Santo Ângelo para efetivar melhorias no alojamento da
usina de reciclagem e encaminhamento de sócios para programas sociais.
d) Principais dificuldades enfrentadas
Não diferentemente de outras associações, a Ecos do Verde, durante os seus anos de
existência enfrentou, e ainda enfrenta algumas dificuldades. Para Adair, uma das dificuldades
iniciais da cooperativa foi a falta de credibilidade por parte dos próprios membros, destacando
que muitos não acreditavam na idéia. Outro problema, já citado anteriormente, foi em relação
à falta de documentação por parte de alguns associados, sendo que um dos requisitos para a
formação de uma cooperativa é a necessidade de ter 20 membros, maiores de 21 anos de
idade, que tenham Carteira de Identidade e CPF. Para resolver esse problema, a Ecos do
Verde contou com o apoio de pessoas voluntárias da comunidade, através do Grupo Especial
de Trabalho (GET), que foram sócios fundadores apoiadores.
Outra dificuldade levantada por Adair é em relação ao programa de inclusão digital
38
,
que, na verdade, até hoje não alcançou o seu objetivo. Após a aquisição dos
microcomputadores houve dificuldade para conseguir monitor, ou seja, alguém para ministrar
as aulas. Portanto, continua sendo até hoje uma necessidade da associação o trabalho de
inclusão digital dos catadores e seus familiares.
38
Inclusão digital é a democratização do acesso às tecnologias da Informação, de forma a permitir a inserção de
todos na sociedade da informação. Entre as estratégias inclusivas estão projetos e ações que facilitam o acesso de
pessoas de baixa renda às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
108
Na opinião de Gilberto Corazza (ONG Políticas Públicas), um dos problemas
enfrentados pela Ecos do Verde e que trouxe grandes dificuldades financeiras para a entidade
foi no período em que a associação ampliou o seu trabalho para o município de Santa Rosa,
resultando em causas trabalhistas, fato esse já narrado. Esse problema acabou inviabilizando a
continuidade da entidade cooperativa Ecos do Verde e houve a necessidade de criar uma nova
entidade jurídica para continuar com o mesmo projeto e objetivos e que, mais tarde,
transformou-se em Associação Ecos do Verde.
Ao ser indagado sobre as principais dificuldades que a Ecos do Verde enfrentou, Luis
Fernando Rockenbach (Vonpar) afirmou que, no início foi a aceitação do poder público
municipal. Salientou que o poder público, mesmo tendo conhecimento que a Ecos do Verde
estava fazendo um belo trabalho para a prefeitura, impôs muitas resistências em ajudar e se
envolver mais nos trabalhos efetuados pela associação.
Posteriormente, salientou que foram as dificuldades financeiras. O aumento do volume
de separação dos resíduos melhorou o faturamento, porém ainda existem dificuldades neste
sentido. Para Luis Fernando, os resíduos sólidos dão resultado se houver volume, pois os
valores de venda são baixos. Destacou ainda que outra dificuldade está relacionada a custos.
Nesse sentido, complementa: “os impostos que ainda são cobrados de associações são
ridículos. Pagar imposto sobre uma mercadoria que já pagou a sua parcela é um absurdo.”
Já Pedro (associado da Ecos do Verde) destacou como uma das principais dificuldades
encontradas ao longo da existência da Ecos do Verde a oscilação de preço dos materiais.
Salientou que desde o início da associação a hoje continua do mesmo jeito. muita
dificuldade em determinar os preços dos produtos, pois é a indústria que dita os preços. Outra
dificuldade observada por Pedro e também por Adair Tomazi (ambos associados da Ecos do
Verde) foram os dois incêndios que ocorreram na usina de reciclagem, sendo que um deles
danificou bastante os equipamentos e também houve perda de material reciclável, que seria
vendido pela associação.
Pedro salientou também que quando iniciaram-se as atividades, na usina de
reciclagem, o transporte dos associados até a mesma deveria ser realizado com um ônibus da
prefeitura municipal, porém o referido ônibus estava quebrado e levou cerca de três meses
para se consertado. Durante todo esse período, os associados tinham que fazer o percurso
109
diariamente até a usina, cerca de 10 km do centro da cidade, de bicicleta, o que desanimou
muitos associados.
Pedro lembrou também que, no início, o lixo que era recebido na usina de reciclagem
vinha todo misturado, conseqüentemente, o rendimento era muito baixo, sendo superado esse
problema somente 2 anos depois com a coleta seletiva. Outra dificuldade encontrada foi
quando a VONPAR terceirizou o transporte e não pode mais levar os materiais da associação,
uma vez que os caminhões da VONPAR não faziam mais o percurso antes realizado, ou seja,
até a capital gaúcha.
4.2.3 Perfil da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, hoje
a) Localização
A sede da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde está
localizada na Rua São João Batista, 764, Bairro Oliveira, na cidade de Santo Ângelo/RS. A
Usina de Reciclagem de Resíduos Sólidos, na qual os associados da Ecos do Verde também
desempenham suas atividades está localizada aproximadamente a 10 km do centro da cidade,
mais precisamente na RS 344, Km 89, junto ao aterro sanitário controlado e a usina de asfalto
da Prefeitura do Município de Santo Ângelo.
Figura 6: Atual Sede da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde.
Fonte: Fotógrafa Fernanda Faistel (2006).
110
Figura 7: Usina de Reciclagem da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde.
Fonte: Fotógrafo Jacques Wets (2006).
b) Legalização
A Ecos do Verde está, atualmente, registrada como associação e, como tal, possui
alvará de licença para o seu funcionamento. A associação possui inscrição municipal nº
031633, código geral 069559, inscrição estadual 113/0136520. Sua razão social é
Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde, o seu nome fantasia é Ecos
do Verde; possui CNPJ 07.020.846/00001-32, atividade: associação. A Associação ainda não
possui licenciamento ambiental, tal solicitação foi encaminhada para a FEPAM e está sob
análise.
A Ecos do Verde possui um Estatuto Social (Anexo O), aprovado em 26 de agosto de
2004, o qual norteia as atividades da associação, estabelecendo a denominação, função, sede,
fins e duração da Ecos do Verde.
c) Perfil dos associados
Segundo as informações obtidas com o associado Pedro, a Ecos do Verde possui,
atualmente, 47 associados. Destes, 26 trabalham na usina de reciclagem; 9 na sede e 12 são
catadores associados que trabalham na cidade e somente entregam o material coletado na
associação. Dos 47 associados, 16 são mulheres e o restante, 31, são homens. Ao ser indagado
111
sobre a existência de algum associado portador de necessidades especiais
39
, Pedro respondeu
que a associação nunca teve nenhum associado nessas condições e também nunca foi
procurada nesse sentido. A idade dos associados varia entre 20 e 60 anos.
d) Composição da diretoria da Associação
A composição da atual diretoria da Ecos do Verde está assim estabelecida:
Presidente: Edison Nicoletti;
Vice-presidente: Oscar Lisboa Fortes;
Tesoureiro: Alexandre de Freitas;
Segundo Tesoureiro: Lorena de Lima;
Secretário: Gilmar Tavares;
Segundo Secretário: Angélica Rieth;
Conselho fiscal (3 titulares): Inácio Jacson Almeida , Adair Tomazi e João Barbosa;
(3 suplentes): Alceu Dorneles, Geni da Rosa e Everson Almir Nicoletti.
A sede da Associação ainda possui uma secretária, Carla Martiane Nicoletti, que
também é associada e, além das atividades diárias da associação, assessora ainda a secretaria.
e) Material comercializado
A comercialização dos materiais recicláveis na Ecos do Verde é realizada através de
compra de materiais e também de doações. Os materiais são comprados dos catadores,
associados ou não; da comunidade; de empresas (VONPAR e Frigorífico Alibem, ambas de
Santo Ângelo) e, demais interessados, para, posteriormente, revender às indústrias e demais
interessados. As doações provêm da Polícia Federal, Banco Cooperativo SICREDI S.A e
Fundição e Usinagem LTDA - FUNDIMISA, também de Santo Ângelo.
39
O portador de necessidades especiais deve ser entendido aqui como sendo as pessoas que possuem alguma
deficiência (a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica), tais como: mental,
física, auditiva ou visual.
112
Os materiais recicláveis comercializados são o plástico, papel branco, papel misto,
papelão, lata de aço, vidro, alumínio, cobre, metal. Em 2007, a média mensal de material
reciclado comercializado pela Ecos do Verde, foi de 90 toneladas.
A Ecos do Verde vendeu seus materiais em 2007, para as seguintes indústrias
Trombini Papel e Embalagens S/A de Canela/RS (papel); Indústria CALDEIA de Porto
Alegre/RS (papel); Indústria GENUÍNO também de Porto Alegre (papel). a lata de aço é
vendida para a GERDAU, região de Porto Alegre; o vidro e cacos de vidro são vendidos para
Sucata Sanchez de Passo Fundo/RS.
f) Requisitos para ser associado
De acordo com o associado Pedro, o principal atributo para ser associado da Ecos do
Verde é ter disponibilidade para trabalhar, e, ainda assim, na condição de associado, porque
nessas condições não terá direito à férias e nem 13º salário remunerados.
g) Remuneração
Em 2007, a remuneração média de cada associado foi de R$ 420,00. A remuneração
mais baixa, em 2007, foi de R$ 380,00 e o máximo foi de R$ 450,00. Essa oscilação deve-se
em função do volume de material que é arrecadado na sede e na usina e também conforme a
venda do material para os compradores.
4.3 Importância das políticas blicas municipais nos processos associativos: o caso da
Associação Ecos do Verde no Município de Santo Ângelo/RS
a) O papel do poder público municipal
O poder público possui grandes responsabilidades em relação à população que se
encontra em situação de vulnerabilidade social. Portanto, é dever do poder público, através de
políticas blicas, aqui entendidas segundo Boneti (2006, p. 74) como “ações que nascem do
contexto social, mas que passam pela esfera estatal como uma decisão de intervenção pública
numa realidade social, quer seja para fazer investimentos ou para uma mera regulamentação
administrativa”, a inclusão social dos mesmos e o resgate de sua cidadania.
113
Acredita-se que uma das maneiras para se alcançar este objetivo, em relação à
categoria dos trabalhadores que vivem do lixo, ou seja, os catadores, se daria no apoio à
formação e acompanhamento de associações e cooperativas de reciclagem. A Ecos do Verde,
foco desta pesquisa, serve de exemplo para demonstrar que o investimento, seja ele por parte
do poder público ou até mesmo do setor privado, é capaz de gerar trabalho e renda e propiciar
cidadania e inclusão social a pessoas que estão à margem da sociedade.
A partir dos relatos dos entrevistados, pôde-se traçar a participação do poder público,
do setor privado, da sociedade civil e das ONGs, na formação e acompanhamento da
Associação Ecos do Verde, conforme relatado a seguir.
De acordo com o Sr. Alexandre Hüller, Diretor do Departamento Municipal de Meio
Ambiente do Município de Santo Ângelo (DEMAM), o município não possui legislação
específica sobre a coleta seletiva na cidade. A coleta seletiva foi instituída na cidade, em
1998, através de uma parceria com a comunidade e não determinada por lei.
O Município possui várias leis e decretos relacionados ao meio ambiente, que podem
ser consultados livremente, por qualquer interessado no site da Prefeitura Municipal de Santo
Ângelo
40
, no pico Legislação sobre o meio ambiente. Em específico, sobre a questão do
lixo, pode-se destacar algumas leis, como por exemplo, a Lei nº 1.907, de 28 de abril de 1995,
que regulamenta sobre a destinação final do lixo em aterros sanitários e outras
providências; a Lei 2.204, de 16 de junho de 1998, que dispõe sobre atos lesivos à limpeza
pública e outras providências e a Lei 2.340, de 16 de fevereiro de 2000, que autoriza a
participação do consórcio para recebimento de embalagens de agrotóxicos (Anexo P). O atual
Plano Diretor do Município de Santo Ângelo (Anexo Q) está em processo final de
reformulação e ainda não foi votado e aprovado pelo município.
Ao ser questionado sobre a existência de alguma política pública em vel municipal,
estadual e federal para as associações de materiais recicláveis ou de catadores, no Brasil,
Alexandre Hüller diz ter conhecimento, em nível federal, da existência de linhas de
financiamento, salientando que o DEMAM encaminhou dois projetos, um para o Ministério
da Justiça e outro para o Ministério das Cidades, buscando recursos para investir em infra-
40
O site da Prefeitura Municipal de Santo Ângelo é: http://www.santoangelo.rs.cnm.org.br/.
114
estrutura de usina de reciclagem. Salientou também que a Vonpar disponibilizou uma linha de
recursos para projetos nessa área.
Segundo Alexandre, as políticas públicas no município de Santo Ângelo, voltadas para
os catadores que existem atualmente, são via Secretaria de Assistência Social, salientando
uma parceria da prefeitura no projeto Gente cuidando de Gente.
De acordo com Adair Tomazi, fundador da Ecos do Verde e atual associado, o projeto
Gente Cuidando de Gente surgiu em 2003, por iniciativa da Ecos do Verde, com o objetivo de
agregar os catadores de materiais recicláveis de Santo Ângelo, para que os mesmos pudessem
ter melhores condições de trabalho. Com base em um cadastro de 100 catadores que a
Secretaria de Assistência Social possuía, fez-se um convite a esses. Inicialmente, 25 catadores
aceitaram participar do projeto e passaram por um treinamento sobre relações humanas,
reciclagem, associativismo e cooperativismo, saúde, meio ambiente e trânsito. Após,
receberam um carrinho padronizado para a coleta, Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) e uniformes.
Todos estes catadores se associaram na Ecos do Verde, tornando-se assim sócios,
atuando diretamente nas ruas da cidade, coletando nas residências, lojas, mercados e vias
públicas. A coordenação deste projeto, atualmente, é da Associação Comercial e Industrial de
Santo Ângelo (ACISA) e, para a sua execução, conta com a parceria de algumas entidades,
entre elas, a Vonpar, que é uma das patrocinadoras mais fortes.
Em contrapartida, o catador deve assumir alguns compromissos, entre eles, entregar os
materiais coletados na Ecos do Verde; não fazer lixões em suas casas; não espalhar lixo pelas
ruas; usar o uniforme, entre outros. Nesses anos de existência do projeto, muitos catadores
desistiram e outros foram integrados ao projeto. Atualmente, são 12 os catadores que
participam e os que estão desde o início demonstram um bom resultado e satisfação. Adair
salientou que uma das dificuldades que enfrentam é que muitos catadores não querem
participar do projeto, porque querem estar “livres”, trabalhar quando e quanto quiserem e
vender para quem quiser; não querem compromisso.
115
Tânia Clecy Pfeifer Biacchi, Secretária Municipal de Assistência Social, Trabalho e
Cidadania do município de Santo Ângelo, destacou o trabalho realizado pela Secretaria de
Assistência Social junto a Casa do Papeleiro.
O projeto Casa do Papeleiro foi criado em 2003 e contempla 16 famílias de
papeleiros, cuja renda provém especificamente da coleta de material
reciclável. O Município, por meio da Secretaria de Assistência Social,
disponibiliza um Coordenador e uma funcionária para acompanhar e
incentivar o andamento dos trabalhos do grupo. Cabe também à prefeitura
arcar com as despesas advindas de recursos materiais (como água, luz,
telefone, produtos de limpeza e higiene), bem como locar um espaço
adequado para o depósito, classificação e entrega dos materiais recicláveis
para comercialização adequando-o a estrutura deste local, no intuito de
viabilizar a execução do projeto. Este espaço constitui-se de um prédio
alugado, com área de 1400 e a construção de box” individual, medindo
aproximadamente 3m², em ripões de madeira e tela com porta e cadeado,
assegurando o espaço individual aos papeleiros (FRIEDRICH, 2006, p. 47).
Segundo Tânia, a casa do papeleiro procura evitar, entre outras questões, problemas de
vizinhança entre os papeleiros e seus vizinhos, pois, antes do projeto, muitos papeleiros
armazenavam o material que catavam nas suas residências. Esse é um problema muito grande,
porque quando a reciclagem é realizada nas residências muito lixo vai junto com o material
reciclado, o que acaba sendo fonte de proliferação de muitas doenças.
Como política pública voltada à usina de reciclagem, Alexandre Hüller (DEMAM)
destacou a realização da coleta seletiva e também os projetos citados anteriormente, via
governo federal, que visam a reforma e ampliação do espaço da usina. Disse ainda que não
tem nenhum projeto protocolado, mas existem as plantas para a construção de uma unidade
de educação ambiental no aterro sanitário controlado do município.
Quanto às políticas públicas relacionadas à coleta seletiva, Alexandre falou sobre a
divulgação e conscientização da coleta seletiva no município, pois, como a coleta existe desde
1998, tem que ter um trabalho permanente de conscientização. Todos os meses algum
trabalho tem que ser feito. Salientou ainda que a maior política pública adotada pela
administração, não na coleta seletiva, mas em toda a questão do lixo foi a remediação do
aterro sanitário. De acordo com Alexandre, foram gastos mais de R$ 500.000,00 da
administração municipal, transformando o que era um lixão a céu aberto em um aterro
sanitário controlado. Com isso, conseguiu-se, mais tarde, uma nova licença ambiental da
FEPAM, pois, desde 2002, estava operando sem licença, e, ainda, tinha um inquérito civil do
116
Ministério Público contra o município por causa do estado de abandono que se encontrava o
aterro e também tinha uma multa do IBAMA e da polícia ambiental.
O associado Adair Tomazi, ao ser questionado sobre a existência de políticas públicas
voltadas aos catadores, cooperativas ou associações de reciclagem, em Santo Ângelo,
respondeu que desconhece a existência de alguma política pública em nível municipal. Já em
nível estadual, salientou que em 2007 a Ecos do Verde conseguiu a aprovação de um projeto
41
pela fundação Vonpar, vinculado ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, para construir
um galpão na sede. Em nível federal, destacou alguns projetos do BNDES de financiamento a
fundo perdido, salientando que são somente para as cooperativas, ficando de fora as
associações. Outro destaque, em nível federal, segundo Adair, é o decreto do presidente Luis
Inácio Lula da Silva, ou seja, o Decreto 5.940/2006, no qual todas as repartições públicas
têm que fazer a coleta seletiva e destinar os materiais recicláveis para as cooperativas e
associações de reciclagem. Em Santo Ângelo, somente a Polícia Federal está cumprindo o
decreto.
Com o relato dos entrevistados, foi possível, no item 4.2 da presente pesquisa, delinear
alguns contornos históricos que ajudaram a reconstituir a história de formação da Associação
de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde. Observou-se que desde a formação da
associação, até hoje, o papel dos associados foi fundamental, mas não se pode esquecer a
importância que o apoio dos “parceiros” tiveram para que a Ecos do Verde persistisse perante
as adversidades encontradas durante os quase 11 anos de luta. Neste contexto, apresenta-se
uma questão bastante interessante: “Qual foi o papel do poder público na formação e
acompanhamento da associação? Qual é o papel do poder público na formação das
associações de reciclagem?”
Diante deste contexto, os entrevistados, além de outras questões pertinentes à
pesquisa, foram indagados sobre qual seria o papel do poder público na formação e
acompanhamento de uma associação de catadores. Na seqüência, seguem suas falas.
41
A Fundação Vonpar, a empresa Vonpar e a Rede de Parceria Social, integrada pela Secretaria Estadual da
Justiça e do Desenvolvimento Social do RS, disponibilizaram, em 03 de setembro de 2007, o edital público
Inclusão Produtiva de Populações em Situação de Alta Vulnerabilidade. Foram inscritos no referido concurso 40
projetos de todo o Estado do RS. A Comissão de Avaliação de Projeto (CAP) realizou estudo detalhado e
avaliação, tendo qualificado 13 projetos, dentre os quais está o da Associação Ecos do Verde.
117
Segundo Márcio Zanoello, cidadão santoangelense:
Acredito que o Poder Público é fundamental em qualquer iniciativa da
sociedade que se organiza em busca de um mundo melhor. Principalmente
na questão do meio ambiente, o Poder Público deve incentivar a formação de
associações, promovendo cursos e propiciando espaços para que a sociedade
civil possa atuar conjuntamente na busca de soluções para o problema do
lixo, que cresce a cada dia.
Na opinião de Adair Tomazi, o papel hoje do poder público municipal, em relação às
associações de reciclagem deve ser de um apoio
técnico efetivo, de assessoria, como por
exemplo, a oferta de cursos de formação. Adair salientou que, se a Ecos do Verde não tivesse
pessoas mais esclarecidas, com um certo conhecimento na área, o caminho teria sido muito
mais difícil. Disse que um grupo, com pessoas muito humildes, não tem condições de
organizar uma associação por conta própria. Citou a legalização como um exemplo da
necessidade de apoio técnico.
Outro apoio que destacou ser fundamental é em relação à infra-estrutura da
associação. Quando o grupo não possuir a infra-estrutura adequada, Adair acha que a
prefeitura tem que propiciar as condições. Também é a favor de que os municípios ajudem
financeiramente as associações, ou seja, que seja destinado, mensalmente, por parte dos
municípios, um valor para que as associações paguem custos fixos, tais como: água, luz, frete,
ou EPI.
Segundo Adair as associações estão ajudando o município a reciclar e economizando a
vida útil dos aterros dos municípios. A partir do momento que os catadores coletam material
reciclável nas ruas, a prefeitura economiza cerca de um caminhão de lixo por dia.
Para o associado Pedro, no caso da Ecos do Verde, a prefeitura não teve muito apoio
na formação, uma vez a associação formada, a prefeitura forneceu transporte para usina de
vários pontos da cidade, diariamente. Mais tardiamente, a prefeitura construiu um galpão, na
usina de reciclagem, para armazenamento dos materiais recicláveis. Atualmente, a prefeitura
ainda fornece o deslocamento dos trabalhadores até a usina de reciclagem.
Em específico, no caso da Ecos do Verde, Adair comentou sobre a participação do
poder público municipal. Disse que, inicialmente, depois da prefeitura tomar conhecimento da
118
existência da associação, foi oferecida a usina de reciclagem para que o grupo de associados
trabalhassem e gerenciassem a mesma. A participação da prefeitura se resumiu em um
convênio inicial, através do qual a prefeitura além do terreno cedido fornecia o transporte para
o deslocamento dos trabalhadores, água e luz, e a entrega dos resíduos coletados na cidade.
Esse convênio inicial é mantido até hoje.
Para Gilberto Corazza (ONG Políticas Públicas), para se estabelecer políticas públicas
municipais voltadas à questão do lixo, deve haver um planejamento integrado, ou seja, uma
política integrada, articulada, que integre vários setores. Destaca que esta é uma
responsabilidade, principalmente do governo municipal, mas é também uma responsabilidade
da sociedade, das organizações e das escolas. Essa política dever estar congregada num plano
permanente de educação ambiental, que, atualmente, não existe no município. Salientou que
entra governo, sai governo, e não há um programa permanente de educação ambiental,
embora isso é decisivo para qualificar o trabalho dos recicladores. Realizar um processo de
conscientização ambiental das pessoas sobre a necessidade da separação do lixo permitiria a
valorização do material que a Ecos do Verde recebe, que é o lixo seco. Gilberto salientou que
a Ecos do Verde também realiza um trabalho de educação ambiental junto às escolas,
realizando palestras, o que acaba trazendo um certo reconhecimento por parte da cidade e da
região, mas não tem o apoio efetivo do governo municipal, não uma política pública que
valorize os recicladores, que coloque uma questão estratégica para questão ambiental no
município.
Nesta mesma linha de pensamento, De Conto (2006) afirma que os problemas
relacionados ao gerenciamento dos resíduos sólidos domésticos não são considerados, ou o
são de forma parcial, nos programas de manejo de resíduos sólidos domésticos nos
municípios. Isso se deve à falta de planejamento desses programas, que, por diversas vezes,
tem escassez de recursos humanos e também pela falta de continuidade dos programas
implantados, nas mudanças da administração pública.
Problemas que são de economia, de marketing, de engenharia de materiais,
de processos produtivos, de agências de publicidade e de pessoas no âmbito
das residências passam a ser, no momento do descarte desses resíduos para a
via pública, responsabilidade do poder público. A falta de interlocução entre
os diferentes agentes responsáveis pelo ciclo dos resíduos sólidos
(concepção, produção e uso dos bens de consumo, descarte dos resíduos
sólidos, coleta, tratamento e destino final) contribui para a manutenção dos
atuais problemas que decorrem do processamento dos resíduos sólidos
119
domésticos. um problema sério quando isso se configura: não clareza
do papel dos diferentes agentes responsáveis por esse processamento. Um
problema, talvez ainda maior, é a definição do papel do poder público, uma
vez que o mesmo está numa posição de ¨resolver problemas¨ localizados e
não o de gerenciar o sistema como um todo. (DE CONTO, 2006, p. 64).
Na opinião de Gilberto, o papel do poder público municipal, em relação a Ecos do
Verde, deveria consistir num apoio em relação à infra-estrutura, para que os associados
pudessem melhorar as condições de trabalho, como por exemplo, um galpão em condições
adequadas para armazenar o material reciclado. Hoje, também seria fundamental um aporte
financeiro, uma destinação de recurso financeiro para ser utilizado como capital de giro para
associação. Gilberto também destaca a necessidade de colaboração de outros órgãos públicos,
que poderiam priorizar uma relação mais solidária com a Ecos do Verde, pois muitos órgãos
públicos produzem muito material reciclável e poderiam destiná-los, com prioridade, para a
Ecos do Verde. Teria que haver o convencimento dos gestores desses órgãos, através de uma
política pública permanente de conscientização de educação ambiental na divulgação de uma
solidariedade com os recicladores que estão organizados de forma cooperativa ou associativa.
Já Tânia Biacchi (Secretaria de Assistência Social) tem uma opinião diferenciada. Para
ela, uma associação deve se formar quando tiver uma organização própria. O poder público
deve auxiliar, pois tem uma tarefa, ou seja, aquilo que não é feito nem pela família, nem pela
sociedade, tem que ser abraçado pelo poder público, mas as associações devem se organizar,
ter uma base própria autônoma.
b) A importância da coleta seletiva
Um dos primeiros passos que o município deve tomar, em relação ao gerenciamento
dos resíduos e também no auxílio das associações ou cooperativas de reciclagem, é a
implementação da coleta seletiva. Nesse sentido afirma Jacobi (2006, p. 11):
A implementação de programas de coleta seletiva é fundamental para o
equacionamento dos impactos que os resíduos sólidos provocam no
ambiente e na saúde dos cidadãos. A produção de resíduos sólidos é
crescente, e a sua destinação ainda é inadequada em grande parte dos
municípios brasileiros. A coleta seletiva promove a redução do lixo na fonte
geradora, o reaproveitamento e a reciclagem de matérias-primas, a geração
de renda com inclusão social, assim como também minimiza o impacto
ambiental causado pelo aterramento dos resíduos.
120
De acordo com o Manual de Gerenciamento Integrado do CEMPRE (LIXO
MUNICIPAL, 2002, p. 81), “a coleta seletiva de lixo é um sistema de recolhimento de
materiais recicláveis, tais como papéis, plásticos, vidros, metais e ‘orgânicos’, previamente
separados na fonte geradora. Estes materiais são vendidos às indústrias recicladoras ou aos
sucateiros.”
Para Gilberto Corazza (ONG Políticas Públicas), a coleta seletiva no município de
Santo Ângelo é decisiva para poder qualificar o trabalho dos recicladores, porque melhora a
qualidade do material reciclado, agregando um maior valor no material que os recicladores
recebem na usina ou catam nas ruas. Além disso, segundo Gilberto:
reeduca hábitos e atitudes do cidadão, parece coisa elementar fazer a
separação do lixo, mas isso começa a mudar práticas e as pessoas acabam
tendo uma outra concepção de compromisso ético, moral de cuidar melhor
da natureza, do ambiente. A coleta seletiva, ela acaba destinando uma
quantidade de material reciclado enormemente superior do que se fosse feita
a coleta tradicional e isso aumentou a renda dos associados.
Na opinião de Márcio Zanoello (cidadão santoangelense), a coleta seletiva é
satisfatória no município de Santo Ângelo, estando a população bem informada de como
selecionar o lixo. Salientou que ainda falta um pouco mais de consciência ecológica para
algumas pessoas, mas, de uma forma geral, acredita que a coleta seletiva esteja funcionando
bem. Para Márcio, a partir da implantação da coleta seletiva no município de Santo Ângelo,
ganharam a sociedade, os catadores e também a Ecos do Verde. A sociedade, porque preserva
o meio ambiente através da reciclagem. Os catadores e a Associação, porque a coleta seletiva
facilita o serviço e a obtenção de matéria prima (lixo reciclável).
Já para Alexandre Hüller (DEMAM), a implantação da coleta seletiva em Santo
Ângelo gerou um emprego formal para os separadores do lixo, no caso a Ecos do Verde, que
vendem o material que pode ser reciclado.
Em decorrência da fala dos associados da Ecos do Verde, pode ser constatado que
ainda falta conscientização por parte da população do Município de Santo Ângelo em relação
à correta separação dos materiais recicláveis na fonte, ou seja, nas residências. Isso é tão
verdadeiro que se a coleta seletiva fosse satisfatória, muitas imundícias que vem junto com o
material reciclável não seriam encontradas no fim da esteira usada na usina de reciclagem. No
121
local, há montanhas de lixo formadas pelo rejeito. Além de se tratar de um problema
ambiental, é prejudicial à saúde dos recicladores e o mau cheiro também é muito forte.
c) O papel da sociedade civil
Não cabe somente ao poder público o dever de preservar o meio ambiente, segundo a
CF/88, devendo ser também estendido à coletividade. É claro que o poder público, como
detentor de grandes quantias de dinheiro público, ou seja, da própria população, tem a
obrigação de empregar esses valores e administrá-lo com zelo. Sabe-se que, atualmente,
infelizmente, o é essa realidade que se evidencia no país, portanto, deve a sociedade, como
um todo, além de fiscalizar as atividades desenvolvidas pelo poder público, fazer a sua parte
na preservação ambiental, para que não as presentes, mas as futuras gerações possam viver
em um ambiente equilibrado.
Sendo assim, a sociedade também tem um papel importante a desempenhar em relação
aos resíduos que são gerados diariamente. O exercício da cidadania vai além dos direitos do
cidadão, e, em contrapartida, existem obrigações a serem cumpridas. Nesse sentido, De Conto
(2006, p. 65) afirma: “O exercício da cidadania ocorre quando são estabelecidas relações entre
o poder público e o privado, sem deixar que os problemas individuais sejam transferidos para
o público.”
Nesse sentido, para Gilberto Corazza (ONG Políticas Públicas), o papel da sociedade
em relação às associações de reciclagem deveria ser o de apoiar, de todas as formas possíveis,
pois a reciclagem se torna fundamental para poder ter uma melhor qualidade de vida na
cidade. Segundo Gilberto, a forma fundamental da sociedade colaborar seria, em primeiro
lugar, exercendo práticas ambientais adequadas, como por exemplo, a separação do lixo,
cumprir o cronograma da coleta seletiva de lixo que existe no município, ou seja, respeitar os
dias em que o caminhão irá recolher o lixo seco e o lixo úmido em cada bairro da cidade. Em
segundo lugar, a sociedade deveria colaborar, na compostagem do lixo orgânico, para poder
utilizar na sua própria horta de fundo de quintal.
Gilberto salientou ainda que, para que a coleta seletiva, em Santo Ângelo, tenha um
maior aproveitamento, necessidade de investir em uma política pública permanente de
educação ambiental, envolvendo, desde cedo, as crianças, que, atualmente, tem uma enorme
122
sensibilidade com a questão ambiental. Elas são decisivas, pois convencem a unidade
familiar, como os pais e os outros membros da família. Há a necessidade de se ter um trabalho
consistente na educação pré-escolar e nas séries inicias, envolvendo o governo municipal e
também outras esferas, como as escolas públicas, particulares e outras organizações da
sociedade civil, pois este é um compromisso de todos. Todos têm uma parcela de
responsabilidade. A diferença é que quem está governando o município tem instrumentos e
responsabilidades maiores para poder traçar esse programa permanente de educação
ambiental.
Para Márcio Zanoello (cidadão santoangelense), o papel da sociedade é contribuir na
seleção do lixo, da melhor maneira possível, bem como ajudar e dar apoio à Associação.
Tânia Biacchi (Secretaria de Assistência Social) também acredita que esse seja o papel
da sociedade, ou seja, tem que ter mais consciência da importância da correta separação do
lixo. Nas suas palavras:
As pessoas não sabem que não adianta separar o plástico se ele não estiver
limpo, [...] mas é uma mudança de consciência da sociedade como um todo,
e isso vai acontecer não só com o trabalho da Ecos do Verde, eu penso
que deveria ter muitas cooperativas, tem como reciclar todo esse material, a
humanidade tem que caminhar para isso eu penso que deveria ser muito mais
valorizado esse pessoal que está fazendo esse trabalho da coleta.
A sociedade, juntamente com o poder público, empresas privadas, ONGs e
movimentos sociais, pode e deve desempenhar o seu papel junto ao meio ambiente,
principalmente no apoio à coleta seletiva que diretamente contribui com o trabalho realizado
pelos catadores e recicladores.
d) O papel das ONGs
Para Gohn (2005), a emergência dos movimentos sociais e populares, no Brasil, nos
anos 70 e 80, possibilitou o ingresso de novos atores em cena e criou novos sujeitos coletivos.
Tal processo demarcou um novo campo de atuação na sociedade civil, no que se refere à
participação dos cidadãos na vida pública, e explica, em parte, a emergência e o
desenvolvimento das ONGs naquele período na cena pública.
123
Continua ainda a referida autora, afirmando que as ONGS são diferentes dos
movimentos sociais, ou seja, elas se estruturam como organizações, possuem quadros
hierárquicos, mesmo havendo o trabalho voluntário, assalariamento, trabalham segundo
projetos.
De acordo com Sérgio Haddad (apud GOHN, 2005, p. 95), “uma ONG tem uma
estrutura mais fluida, o é representante de ninguém. É um grupo de pessoas que produz um
certo tipo de conhecimento e ajuda a sociedade civil a produzir novos direitos.”
Segundo Gilberto Corazza, a ONG Políticas Públicas, Outro Mundo é Possível:
é uma entidade modesta que tem um trabalho ainda muito espontâneo, de
desprendimento de vários integrantes nossos que acreditam naquilo que
estão fazendo, muito trabalho na cara e na coragem, o trabalho de agricultura
urbana em Santo Ângelo nós estamos fazendo todo ele por conta própria,
não captamos nenhum recurso específico. No nosso caso a nossa ONG ela se
caracteriza pra construir alternativas que ataquem a questão da pobreza e
miséria e promova a inclusão social dos excluídos, nós temos um
compromisso claro, nossa identificação, nosso compromisso político-
ideológico, e a partir disso é que nós damos seqüência ao nosso trabalho
efetivo e a questão dos recicladores sempre temos tido uma atenção muito
especial, nós usamos uma expressão que, os catadores são os verdadeiros
profetas de uma sociedade nova, de fato eles ajudam a construir um amanhã
melhor, uma sociedade nova a partir dessas ações de reciclar quem ta
degradando o ambiente, vamos continuar tendo esse compromisso direto,
seria bom que outras ONGs tivessem o mesmo compromisso.
De acordo com Gilberto, atualmente, a ONG desenvolve dois programas importantes
relacionados à Associação Ecos do Verde. O primeiro deles é o programa de promoção da
segurança alimentar e nutricional que ocorre desde 2007. O referido programa visa a
aquisição de alimentos da agricultura familiar para doação simultânea, sendo, popularmente,
conhecido como PAA-CONAB, que é um programa do governo federal apoiado pelo
Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) de combate à fome e do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA). A ONG articula as cooperativas de pequenos agricultores,
do interior do meio rural, cadastra-as e, posteriormente, faz a articulação com entidades
urbanas as quais possuem cadastros de famílias que enfrentam a insegurança alimentar.
Atualmente, são 520 famílias beneficiadas em Santo Ângelo, e, dentre essas, 60 famílias
diretamente ligadas a Ecos do Verde.
124
Outro programa desenvolvido pela ONG Políticas Públicas em parceria com uma
ONG do Mato Grosso, chamada Centro de Apoio Sócio-ambiental (CASA), direcionado para
a Ecos do Verde, é o projeto “reciclagem de óleos de cozinha”. Na primeira etapa do projeto
foi realizada uma oficina com a Ecos do Verde, reciclando os óleos de 20 restaurantes da
cidade e transformando em sabão em barra e sabão líquido. Gilberto salientou que a
perspectiva, para o segundo semestre de 2008, é a produção de biodiesel, a partir dos óleos
reciclados, o qual será utilizado como combustível do caminhão da Ecos do Verde, para que a
associação possa dessa maneira reduzir custos com o frete.
e) O papel do setor privado
Na fala dos entrevistados pode ser observada a importância que o setor privado, mais
especificamente a Vonpar, teve na formação e, posteriormente, no decorrer da existência da
Ecos do Verde.
Na opinião de Luis Fernando Rockenbach (Vonpar):
O setor privado, em primeiro lugar deve cumprir com as legislações vigentes
as quais obrigam a separação e destinação correta de todos os resíduos
gerados em seus processos. O passo seguinte é promover a reciclagem. Este
passo, porém não é obrigatório por força de lei, mas sim pela própria
conscientização e responsabilidade ambiental de cada empresa. A Vonpar é
geradora de resíduos, tem responsabilidade por isso e ainda assim, promove,
treina e divulga ações que contemplam o processo de reciclagem de seus
resíduos.
Atualmente, a Fundação Vonpar, que foi formada no ano de 2006, estabelece, em seu
planejamento estratégico, que o foco será o de apoiar Galpões de Reciclagem. Foi assim que
os primeiros trabalhos da Fundação foram realizados. Através de uma licitação pública
apoiada pela Secretaria da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, publicou-se o edital
solicitando a todas as cooperativas do Estado a participar de uma espécie de concurso, onde as
cooperativas poderiam apresentar seus projetos e, assim, concorrer a uma verba disponível
cedida pela Fundação.
O processo foi realizado e foi formada uma comissão para eleger quais as cooperativas
ou associações seriam beneficiadas. Os projetos foram analisados e 13 entidades foram
beneficiadas, sendo a Ecos do Verde uma delas, que apresentou um projeto de expansão da
125
área de armazenamento e prensagem de resíduos em sua sede. Portanto, atualmente, a
Fundação VONPAR está auxiliando a Associação Ecos do Verde, financiando, a fundo
perdido, a construção de um galpão, sendo que o investimento será em torno de R$ 80.000,00.
f) O papel desempenhado pela Associação Ecos do Verde
A Ecos do Verde, muito mais do que ser uma opção de geração de trabalho e renda
para muitas pessoas, que excluídas da sociedade não encontraram outra alternativa a não ser
viver do lixo, desenvolve outro papel tão importante quanto este, ou seja, através da
reciclagem de materiais, a Ecos do Verde contribui para manter o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, a cidade mais limpa, aumentando a vida útil do aterro sanitário,
dentre vários outros benefícios.
Para Gilberto Corazza (ONG Políticas Públicas), um ponto positivo fundamental no
trabalho desenvolvido pela Associação Ecos do Verde é que a associação acabou sendo uma
instituição que colocou na agenda da cidade de Santo Ângelo a necessidade de fazer a
reciclagem do lixo seco. Na opinião de Gilberto, a reciclagem é o caminho para melhorar a
qualidade de vida das pessoas e, por isso, é que a Ecos do Verde fez um esforço para vencer
preconceitos, para vencer resistências e, hoje, ela é uma entidade legitimada na cidade.
Segundo Gilberto, o público da Associação Ecos do Verde é um público muito
vulnerável, e, com muitas dificuldades, a associação conseguiu fazer quase que verdadeiros
milagres, em termos de promoção de cidadania dessas pessoas. Os associados são pessoas que
foram resgatadas, muitas até já estavam envolvidas na dependência do álcool, não tinham
perspectiva de vida. A Ecos do Verde resgatou essas pessoas para viver e promoveu a
cidadania. Isso é muito importante porque demonstrou que as pessoas podem ser resgatadas,
mesmo estando em condições de maior miserabilidade ou de vulnerabilidade. A Ecos do
Verde provou que se deve acreditar que as pessoas podem se transformar para melhor. Não
pessoas boas ou más, por natureza. Não natureza humana em si, mas nossa especificidade
como ser humano é justamente nossa capacidade de transformar a nós mesmos e ao mundo,
segundo as palavras de Barreto (2003).
126
g) Parcerias entre associações de catadores, o poder público e a sociedade civil
Acredita-se que, uma das primeiras alternativas para os municípios, em relação a um
adequado tratamento dos resíduos sólidos municipais, é a implantação da coleta seletiva.
Após promover a coleta, cabe ainda ao município o tratamento e a destinação ambiental e
sanitária, de forma correta e segura.
De acordo com o Manual de Gerenciamento Integrado do CEMPRE (LIXO
MUNICIPAL, 2002, p. 10), esta tarefa não é fácil, devido a alguns fatores, tais como:
inexistência de uma política brasileira de limpeza pública;
limitações de ordem financeira, como orçamentos inadequados, fluxos de
caixa desequilibrados, tarifas desatualizadas, arrecadação insuficiente e
inexistência de linhas de crédito específicas;
deficiência na capacitação técnica e profissional do gari ao engenheiro-
chefe;
descontinuidade política e administrativa;
ausência de controle ambiental.
Porém, se todos esses problemas acima elencados forem aceitos passivamente, o
resultado será inúmeros problemas na saúde e no ambiente. A administração pública
municipal, na condição de principal responsável para organizar e prestar os serviços públicos
de interesse local, inserindo-se as tarefas de limpeza pública, deve adotar políticas públicas
que visem além de um correto tratamento dos resíduos municipais, ou seja, uma política
permanente de educação ambiental, políticas que visem alternativas de geração de trabalho e
renda para os catadores e recicladores, como, por exemplo, o incentivo para a formação de
associações e cooperativas de reciclagem.
Salienta-se que este não é um dever somente das administrações municipais, e sim um
dever da sociedade como um todo. As empresas privadas e as ONGs também estão fazendo a
sua parte, mas acredita-se que uma parceria entre o poder blico, as associações e a
sociedade civil é possível.
Na opinião de Gilberto Corazza, a melhor forma de estabelecer parcerias entre
associações de catadores, o poder público e a sociedade civil, é todos os órgãos que tem
materiais recicláveis destinarem seus materiais para as associações ou cooperativas, que a
matéria-prima deles é o material reciclado. Em segundo lugar, todos podem fazer a sua parte
127
em relação à conscientização da comunidade, é possível que os três setores trabalhem juntos e
o órgão que poderia coordenar isso é a prefeitura municipal, com os órgãos administrativos do
meio ambiente.
para Alexandre Hüller (DEMAM), a parceria entre associações de catadores, o
poder público e a sociedade civil acaba existindo com o envolvimento dos três setores em
ações, como por exemplo, a coleta seletiva dos resíduos sólidos, deve haver o envolvimento
das comunidades e, principalmente, a comunidade escolar.
O que pode se observar é que o Estado está se tornando cada vez menos eficaz para
enfrentar os problemas sociais. E, em relação aos catadores, essa realidade não é diferente.
Cabe salientar que na maioria das vezes, mesmo havendo legislação, ela não é cumprida e
também não fiscalização que obrigue o seu cumprimento, como por exemplo, no caso do
Decreto que obriga os órgãos públicos federais a entregarem seu material reciclável para as
cooperativas e associações. No caso da Ecos do Verde, somente a Polícia Federal é que está
cumprindo tal norma.
Outro problema evidenciado é em relação aos problemas econômicos vivenciados
pelos recicladores, pois o preço do material reciclável oscila muito, dependendo o valor de
alguns materiais, como o alumínio, do dólar. A questão da localização das usinas de
transformação da matéria-prima longe dos municípios interioranos é outro problema que deve
ser considerado, pois, desta maneira, o custo do frete encarece o que acaba diminuindo o valor
do material. Em específico no caso da Ecos do Verde, como se pode evidenciar no item 4.2.3,
letra “c” da presente pesquisa, o material é vendido para indústrias da serra e capital gaúcha,
muito distantes da sede da associação, confirmando a problemática ora discutida.
Uma das alternativas para o gerenciamento de resíduos sólidos nos municípios, é
através da implantação de políticas públicas de gestão integrada e compartilhada de resíduos
sólidos. Essas políticas devem ter caráter permanente e contemplar diversas questões tais
como:
Correta maneira de realizar a coleta, o tratamento e a destinação ambiental e
sanitária dos resíduos sólidos domésticos;
128
Projetos permanentes de educação ambiental, que envolvam a sociedade como um
todo, através do qual a população seja permanentemente informada sobre a importância e os
benefícios da coleta seletiva tanto para a sociedade como para o meio ambiente e também da
responsabilidade na geração dos resíduos no sentido de garantir a minimização dos mesmos;
Composição de um quadro técnico e profissional capacitado, com atuação
permanente, vinculado à administração pública municipal;
Obrigatoriedade política e administrativa, através de leis municipais que façam
cumprir os objetivos do plano permanente de educação ambiental, no tocante ao
gerenciamento integrado de resíduos sólidos;
Destinação de parte do orçamento público municipal para investimentos em
projetos relacionados ao gerenciamento dos resíduos sólidos e geração de trabalho e renda;
Incentivo à formação de associações e cooperativas de reciclagem, visando à
organização e inclusão social dos catadores, participando desde sua formação, através de
auxílio na aquisição de terrenos e edificação de galpões (para a instalação da sede das
cooperativas), aquisição de equipamento e máquinas, cursos de formação e capacitação
técnica e de educação cooperativa, cuidados com saneamento e saúde dos trabalhadores, etc;
Cumprimento da legislação existente nos níveis federal, estadual e municipal sobre
a matéria, como por exemplo, o Decreto Federal 5.940/2006, que institui a separação dos
resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal
direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos
catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências;
Realizar estudo de mercado para verificar a viabilidade de montar verdadeiras
usinas de transformação do material reciclável, agregando valor ao produto e para isso os
Coredes e o próprio Estado deveriam ser envolvidos.
O estudo da Associação Ecos do Verde pôde demonstrar que, muito ainda a ser
feito, em relação às políticas públicas relacionadas com a questão dos resíduos sólidos, e
especificamente, com as associações e cooperativas de reciclagem. O que se pode observar é
que as propostas, quando existem, ficam também muito localizadas (visão muito estreita e
imediatista) e não trazem preocupações regionais e estaduais, pois o problema é o mesmo em
todos os municípios. É importante que redes de cooperação sejam criadas entre associações e
cooperativas. Com o incentivo à formação e assessoramento de associações e cooperativas de
reciclagem, os municípios só têm a ganhar. Nesse sentido:
129
Desde 1989 multiplicam-se no Brasil as experiências de gestão
compartilhada de resíduos sólidos através de programas municipais de
coleta seletiva em parceria com catadores de materiais recicláveis
organizados em associações e cooperativas. Trata-se de experiências que
devem ser valorizadas, apesar da sua pequena escala, porque geram
benefício econômico (garantia de renda estável às famílias envolvidas);
benefício ambiental (reciclagem de diversos materiais) e benefício social,
pois esse trabalho proporciona possibilidades de integração social de pessoas
que sempre foram marginalizadas. (JACOBI, 2006, p. 11, grifo nosso).
Na obra “Gestão compartilhada dos resíduos sólidos no Brasil: inovação com
inclusão social”, organizada por Pedro Jacobi, são apresentados 5 casos emblemáticos das
possibilidades que se abrem para iniciativas pautadas pelo conceito de economia solidária,
baseadas numa proposta de gestão compartilhada dos resíduos sólidos urbanos e de inclusão
social, e da ampliação da cidadania.
Jacobi (2006, p. 12-13) ainda afirma que:
Diversas experiências bem-sucedidas de parceria entre o Estado e os
catadores organizados revelam o potencial de mudança nas práticas
prevalecentes, na medida em que o poder público se mostra sensível às
demandas por uma administração mais flexível e que contempla os valores
assentados na solidariedade e gestão compartilhada.
O primeiro texto “Da vanguarda à apatia, com muitas suspeitas no meio do caminho
gestão de resíduos sólidos domiciliares em São Paulo entre 1989 e 2004”, mostra exatamente
o caso explicitado no título do trabalho.
O texto “Coleta Seletiva e Inserção Cidadã: a parceria Poder Público/ASMARE em
Belo Horizonte”, apresenta uma experiência que se tornou grande exemplo de impacto social
e organização de catadores, que é o caso da ASMARE. o texto “Trabalhadores na
reciclagem e na gestão de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Porto Alegre:
dinâmicas econômicas, sócio-ambientais e políticas”, apresenta uma outra experiência no qual
o destaque deve ser dado a continuidade administrativa, fato pouco comum no Brasil, e
também a forte adesão social ao processo de coleta seletiva em Porto Alegre.
O texto “Programa de Coleta Seletiva de Londrina - caminhos inovadores rumo à
sustentabilidade”, apresenta uma experiência inovadora de gestão compartilhada, com um
exemplo muito claro das possibilidades de se obter altos índices de coleta seletiva com a
integração de catadores autônomos ao programa, e o estabelecimento de uma parceria efetiva
130
com a empresa privada, a partir de uma nova forma de contrato para a coleta de resíduos
sólidos domiciliares.
O último texto “Consórcio Quiriri: Programa Intermunicipal de Tratamento
Participativo de Resíduos Sólidos da Região do Alto Rio Negro Catarinense”, mostra uma
experiência que revela como o capital social representa o conjunto das características da
organização social, ao englobar as redes de relações entre indivíduos, e como o
desenvolvimento na região tem tornado possível a multiplicação de ações colaborativas que
resultam em melhoria das condições socioambientais para quatro municípios.
Os problemas ambientais estão fazendo, atualmente, a sociedade dialogar sobre temas
até então tidos como não prioritários. Não adianta pensar em novas tecnologias ou novas
invenções científicas, sem considerar a sustentabilidade e conseqüências dessas ações para as
presentes e futuras gerações. O desenvolvimento “sustentável” coloca a questão dos alcances
e limites dessas ações para reduzir o impacto dos danos no dia-a-dia da vida do homem,
possibilitando alternativas de ação numa perspectiva de sustentabilidade.
131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por muito tempo, a coleta e destinação dos resíduos sólidos não apresentaram maiores
problemas, uma vez que o lixo era depositado em regiões afastadas e distantes. No entanto,
com a crescente urbanização ficou cada vez mais difícil encontrar áreas adequadas que
absorvessem a demanda em expansão e o problema ganhou visibilidade. Outra questão
importante é que, na última década, como conseqüência dos índices alarmantes
de desemprego, muitos excluídos sociais encontraram nos resíduos uma forma de
sobrevivência.
Estes milhares de trabalhadores informais geram uma macroeconomia que beneficia a
sociedade como um todo. Apesar disto estes trabalhadores continuam marginalizados e sem
leis que os beneficiem. Portanto, as questões ambiental e operacional não são únicas na busca
de uma solução para o problema que envolve os resíduos sólidos. As ações devem ser
escolhidas visando incluir também a população que sobrevive destes resíduos, ou seja, os
catadores.
Preservar o meio ambiente e adotar políticas de desenvolvimento sustentável deixaram
de ser um modismo ou ideologia de ecologistas tornando-se uma necessidade universal na
preservação da espécie humana. O conceito de desenvolvimento sustentável e eqüitativo pode
ser considerado como um novo paradigma, tendo como princípios: integrar conservação da
natureza e desenvolvimento; satisfazer as necessidades humanas fundamentais; perseguir
eqüidade e justiça social; buscar a auto-determinação social respeitando a diversidade
cultural e manter a integridade ecológica. O novo paradigma pressupõe, portanto, um
conjunto de sustentabilidades sintetizadas no seguinte trinômio: eficiência econômica,
eficácia social e ambiental, visando assegurar simultaneamente a sustentabilidade
socioambiental e o crescimento econômico.
Diante deste contexto, a necessidade de se pensar e colocar em prática um
desenvolvimento includente, visando principalmente um crescimento que absorva os
trabalhadores que hoje vivem em sua grande maioria em atividades informais (como os
catadores ou recicladores) ou que vivem precariamente da agricultura familiar. Visando
também, dar possibilidade de participação à vida política dessa parte excluída da população,
132
promovendo, além de um maior acesso à educação para busca da instrução e qualificação
profissional, um maior acesso ao exercício efetivo de todos os direitos humanos.
A administração pública municipal, na condição de principal responsável para
organizar e prestar os serviços públicos de interesse local, inserindo-se as tarefas de limpeza
pública, deve adotar políticas públicas que visem além de um correto tratamento dos resíduos
municipais, com uma política permanente de educação ambiental, políticas que visem
alternativas de geração de trabalho e renda para os catadores e recicladores, como, por
exemplo, o incentivo para a formação de associações e cooperativas de reciclagem.
Através do estudo da Associação de Reciclagem e Educação Ambiental Ecos do Verde
de Santo Ângelo RS ficou clara a precária participação do poder blico municipal na
formação e acompanhamento de associações e cooperativas de reciclagem. Acredita-se que é
possível realizar políticas públicas de desenvolvimento a partir da parceria entre o Estado e as
associações e cooperativas na questão da reciclagem do lixo doméstico. Uma das alternativas
propostas é através da implantação de políticas públicas de gestão integrada e compartilhada
de resíduos sólidos, com o intuito de criação de cooperativas e associações de reciclagem
como forma de inclusão social e efetivação de cidadania dos catadores.
Constatou-se ainda que, algumas políticas públicas em nível federal existem, mas
ainda a necessidade de uma legislação que regulamente a questão dos resíduos sólidos no
Brasil, ou seja, a Lei sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos que ainda encontra-se em
tramitação na Câmara dos Deputados. Em relação aos catadores de materiais recicláveis,
algumas políticas em nível federal, que priorizam os catadores que estão organizados em
cooperativas, sendo deficiente algumas vezes por deixar de fora os catadores organizados em
associações, como por exemplo, linhas de financiamento do BNDES (item 2.4 da presente
pesquisa).
Salienta-se que não cabe somente ao poder público o dever de preservar o meio
ambiente, segundo a Constituição Federal de 1988, esse dever também é estendido à
coletividade. As empresas privadas e as ONGs também estão fazendo a sua parte, mas
acredita-se que uma parceria entre o poder público, as associações e a sociedade civil é
possível.
133
Os movimentos sociais, atualmente estabelecem com o Estado, relações que deslocam
práticas tradicionais de clientelismo e assistencialismo em formas de gestão que
proporcionam a participação popular, nas quais as reivindicações e demandas acabam por
estabelecer as prioridades na distribuição dos recursos públicos. Daí a importância do
Movimento da Economia Solidária e do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis, como representantes das cooperativas e associações de reciclagem e dos
catadores respectivamente.
É preciso que redes de associações de catadores se formem, para os associados
reforçarem-se mutuamente, trocarem experiências e manifestarem-se junto à sociedade. É
necessário que os próprios associados cresçam como categoria (classe) de trabalhadores. Eles
devem ter uma representação ativa para reivindicar os seus anseios e, por isso, os movimentos
sociais são importantes, senão a velha prática do assistencialismo continuará prevalecendo e
as ações vindo de fora para dentro, comandado pelas ONGs, empresas e poder público.
Nesse sentido, o desafio da construção de uma cidadania ativa depende da parceria
entre o poder público, sociedade civil, ONGs, setor privado e movimentos sociais. Isto pode
ser alcançado com a ampliação da participação destes setores através da criação de espaços
públicos e plurais de participação, vinculados aos governos locais.
A presente pesquisa, longe de ser um trabalho conclusivo, contribuiu no sentido de
apresentar uma temática de grande importância não na área ambiental, mas também social,
que é a questão dos resíduos sólidos e daqueles que sobrevivem dos mesmos, ou seja, os
catadores de materiais recicláveis.
Em decorrência disso, alguns desafios são apresentados para a sociedade de maneira
geral, como por exemplo, o desenvolvimento de políticas permanentes de educação
ambiental, que englobem questões como: de que maneira efetivar práticas de consumo
consciente e coleta seletiva nos municípios? como incentivar os catadores individuais a
fazerem parte de cooperativas e associações de reciclagem nos municípios? a importância da
gestão compartilhada de resíduos sólidos; o papel do cidadão frente as questões ambientais.
Os problemas existes, mas, o mais importante é que na sua grande maioria possuem solução,
porém, cabe a cada cidadão realizar o seu papel assumindo posturas para efetivas mudanças.
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141
APÊNDICES
142
APÊNDICE A
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE
Eu, __________________________________________________________________,
(profissão) _________________________________________________, (entidade)
______________________________________________, na Cidade de Santo Ângelo/RS,
autorizo a Fernanda Faistel, estudante do curso de Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUÍ
- Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, de Ijuí/RS, a utilizar a
entrevista realizada na data ___/____/___ para fins de estudo e reflexão sobre a temática
“Lixo e políticas públicas de inclusão social. O caso da Associação Ecos do Verde, Santo
Ângelo RS.” A pesquisa tem caráter meramente informativo, sendo utilizada para tal a
técnica de questionário com perguntas abertas. Visa resgatar dados históricos que contribuam
para entender a formação, desde o surgimento até o presente momento, da Associação Ecos
do Verde e a sua relação com a comunidade e com o poder público. Poderei em qualquer fase
da pesquisa recusar-me, ou retirar meu consentimento, a participar desta pesquisa, sem
nenhuma pena ou prejuízo.
Quero ficar no anonimato ( )
Autorizo a citação de meu nome ( )
Autorizo a gravação ( )
Não autorizo a gravação ( )
______________________________________________
Pesquisadora: Fernanda Faistel
e-mail: nanda[email protected]om fone: (55) 8116-1727
Orientadora: Dra. Noëlle Marie Paule Lechat
e-mail: noelle_lechat@hotmail.com
143
APÊNDICE B
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
Título da Pesquisa: LIXO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL. O
CASO DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS.
Mestranda: Fernanda Faistel
Orientadora: Noëlle M. P. Lechat
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados cadastrais do entrevistado:
Nome: ________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Data da entrevista: ____/_____/_____
Local da entrevista: _____________________________________________________
Bairro: ________________ Cidade: ___________________________ Estado: _______
Profissão: ______________________________________________________________
Local de trabalho: _______________________________________________________
Há quanto tempo faz parte da Associação? ____________________________________
1- Fale sobre a história de formação da Ecos do Verde. (De onde surgiu a idéia? Em que
ano? Quais foram os principais envolvidos?)
2- Quais os apoios que foram importantes para a Associação?
3- Que tipo de apoios?
4- Este número se modificou com o passar do tempo?
5- De que maneira e quais seriam as causas?
6- Qual o espaço físico da Associação?
7- Qual o papel do poder público na formação e acompanhamento da Associação?
8- De que forma a Associação foi e está atualmente registrada?
9- Quais as principais dificuldades encontradas, como foram superadas, com a ajuda de
quem?
10- Quais dificuldades persistem?
11- Quantos associados têm atualmente a Associação?
12- Este número sofreu variações ao longo dos anos?
13- Como foi esta variação?
14- Quantos são homens e quantas são mulheres?
15- A partir de que idade tem associados?
16- Qual a proporção de jovens?
17- Qual a proporção de idosos?
18- Houve ou há atualmente algum associado portador de necessidades especiais?
19- Qual(is) o(s) critério(s) para ser associado
20- Qual a renda mensal do classificador? Houve variações deste valor durante o ano de
2007? E em relação aos anos anteriores, a renda era superior ou inferior?
144
21- E em relação aos catadores que entregam o material na associação uma
diferenciação nos valores?
22- Qual o tipo de material comercializado?
23- Qual a composição (cargos) da associação?
24- Quais as recomendações (dicas) para uma associação que estaria iniciando?
145
APÊNDICE C
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
Título da Pesquisa: LIXO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL. O
CASO DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS.
Mestranda: Fernanda Faistel
Orientadora: Professora Noëlle M. P. Lechat
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados cadastrais do entrevistado:
Nome: ________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Data da entrevista: ____/_____/_____
Local da entrevista: ___________________________________________
Bairro: ________________ Cidade: ___________________________ Estado: _______
Local de Trabalho ______________________________________________________
Função na Administração Municipal: ________________________________________
25- Qual o papel do poder público na formação e acompanhamento da Associação?
26- Você conhece algumas políticas públicas em nível municipal, estadual e federal
para as associações de materiais recicláveis ou de catadores, no Brasil? Cite
alguns exemplos.
27- Na sua opinião, qual é a melhor forma de estabelecer parcerias entre
associações de catadores, o poder público e a sociedade civil?
28- Quais as políticas públicas municipais voltadas para os catadores, usina de
reciclagem e coleta seletiva no município de Santo Ângelo que já existiam e que
existem atualmente?
29- Quais as secretarias municipais envolvidas atualmente (na sua época) com a
Ecos do Verde?
30- Na sua opinião, a partir da implantação da coleta seletiva no município o que
mudou (em relação à sociedade, aos catadores e a Ecos do Verde)?
31- Você gostaria de fazer um outro comentário a respeito do tema da minha
pesquisa?
146
APÊNDICE D
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
Título da Pesquisa: LIXO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL. O
CASO DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS.
Mestranda: Fernanda Faistel
Orientadora: Professora Noëlle M. P. Lechat
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados cadastrais do entrevistado:
Nome: ________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Data da entrevista: ____/_____/_____
Local da entrevista: ___________________________________________
Bairro: ________________ Cidade: ___________________________ Estado: _______
Local de Trabalho ______________________________________________________
Profissão: ________________________________________
32- Você poderia me falar da coleta seletiva no Município de Santo Ângelo?
33- Você conhece ou ouviu falar na Associação Ecos do Verde? Quando? De que
maneira?
34- A partir da implantação da coleta seletiva no município de Santo Ângelo, o que,
segundo você, mudou (em relação à sociedade, aos catadores e a Ecos do Verde)?
35- Qual seria o papel do poder público na formação e acompanhamento de uma
Associação de catadores?
36- Qual o papel da comunidade ou sociedade em relação às associações de reciclagem?
37- Qual seria a melhor forma de estabelecer parcerias entre associações de catadores, o
poder público e a sociedade civil?
38- Você gostaria de fazer um outro comentário a respeito do tema da minha pesquisa?
147
APÊNDICE E
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
Título da Pesquisa: LIXO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL. O
CASO DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS.
Mestranda: Fernanda Faistel
Orientadora: Professora Noëlle M. P. Lechat
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados cadastrais do entrevistado:
Nome: ________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Data da entrevista: ____/_____/_____
Local da entrevista: ___________________________________________
Bairro: ________________ Cidade: ___________________________ Estado: _______
Local de Trabalho ______________________________________________________
Profissão: ________________________________________
39- A Secretaria de Assistência Social teve alguma relação com a implantação da coleta
seletiva no Município de Santo Ângelo? Se sim, como foi?
40- A Secretaria de Assistência Social teve ou têm atualmente alguma relação com a
Associação Ecos do Verde?
41- O que você acha sobre o trabalho desenvolvido pela Ecos do Verde? Pontos positivos
e negativos?
42- Qual o papel da comunidade ou sociedade em relação as associações de reciclagem?
43- Qual o papel do poder público na formação e acompanhamento da Associação?
44- Na sua opinião, qual é a melhor forma de estabelecer parcerias entre associações de
catadores, o poder público e a sociedade civil?
45- Na sua opinião, a partir da implantação da coleta seletiva no município de Santo
Ângelo o que mudou (em relação à sociedade, aos catadores e a Ecos do Verde)?
46- Você gostaria de fazer um outro comentário a respeito do tema da minha pesquisa?
148
APÊNDICE F
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
Título da Pesquisa: LIXO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL. O
CASO DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS.
Mestranda: Fernanda Faistel
Orientadora: Professora Noëlle M. P. Lechat
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados cadastrais do entrevistado:
Nome: ________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Data da entrevista: ____/_____/_____
Local da entrevista: ___________________________________________
Bairro: ________________ Cidade: ___________________________ Estado: _______
Local de Trabalho ______________________________________________________
Profissão: ________________________________________
1- A ONG Políticas Públicas teve ou têm atualmente alguma relação com a Associação
Ecos do Verde?
2- O que voacha sobre o trabalho desenvolvido pela Ecos do Verde? Pontos positivos
e negativos?
3- Qual o papel da comunidade ou sociedade em relação as associações de reciclagem?
4- Qual o papel do poder público na formação e acompanhamento da Associação?
5- Na sua opinião, qual é a melhor forma de estabelecer parcerias entre associações de
catadores, o poder público e a sociedade civil?
6- Na sua opinião, a partir da implantação da coleta seletiva no município de Santo
Ângelo o que mudou (em relação à sociedade, aos catadores e a Ecos do Verde)?
7- Qual o papel das ONGs em relação às associações de uma forma geral e em específico
com associações de reciclagem?
8- Você gostaria de fazer um outro comentário a respeito do tema da minha pesquisa?
149
APÊNDICE G
UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO
Título da Pesquisa: LIXO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL. O
CASO DA ASSOCIAÇÃO ECOS DO VERDE, SANTO ÂNGELO – RS.
Mestranda: Fernanda Faistel
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados cadastrais do entrevistado:
Nome: ________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Data da entrevista: ____/_____/_____
Local da entrevista: ___________________________________________
Bairro: ________________ Cidade: ___________________________ Estado: _______
Local de Trabalho ______________________________________________________
Profissão: ________________________________________
1- Fale sobre o envolvimento da Fundação VONPAR na formação e manutenção da Ecos
do Verde.
2- Em que sentido, ou, de que maneira a Fundação VONPAR auxilia a Associação
atualmente?
3- Na sua opinião, qual é o papel do setor privado na área da reciclagem?
4- Como você visualiza cada ator: poder público, setor privado, sociedade civil como
apoiadores de associação de recicladores?
5- Existem outras associações, na área da reciclagem com as quais a Fundação VONPAR
mantém parceria no RS?
6- Como você analisa a evolução da Associação Ecos do Verde, desde a sua fundação?
7- Quais as principais dificuldades que ela encontrou?
8- Como foram superadas estas dificuldades?
9- Que dificuldades subsistem atualmente?
10- Quais são as vantagens de uma associação deste tipo?
150
ANEXOS
151
ANEXO A
Carta de
princípios
Em junho de 2003, a III Plenária Nacional da Economia Solidária, após debates em 18
estados brasile
iros, aprovou a Carta de Princípios, abaixo. Essa carta pretende ser a
identidade do Fórum Brasileiro da Economia Solidária, criado naquela ocasião. Ela tem 3
partes distintas que se complementam: a história e o momento atual; os princípios gerais e
específicos; o que a economia solidária não é.
1.Origem e cenário atual
A Economia Solidária ressurge hoje como resgate da luta histórica dos(as) trabalhadores(as),
como defesa contra a exploração do trabalho humano e como alternativa ao modo capitalista
de organizar as relações sociais dos seres humanos entre si e destes com a natureza.
Nos primórdios do capitalismo, as relações de trabalho assalariado
principal forma de
organização do trabalho nesse sistema
levaram a um tal grau de exploração do trabalho
humano que os(as) trabalhadores(as) organizaram-
se em sindicatos e em empreendimentos
cooperativados. Os sindicatos como forma de defesa e conquista de direitos dos/as
assalariados/as e os empreendimentos cooperativados, de auto-
gestão, como forma de
trabalho alternativa à exploração assalariada.
As lutas, nesses dois campos, sempre foram complementares; entretanto a ampliação do
trabalho assalariado no mundo levou a que essa forma de relação capitalista se tornasse
hegemônica, transformando tudo, inclusive o trabalho humano, em mercadoria.
As demais formas (comunitárias, artesanais, individuais, familiares, cooperativadas, etc.)
passaram a ser tratadas como “resquícios atrasados” que tenderiam a ser absorvidas e
transformadas cada vez mais em relações capitalistas.
A atual crise do trabalho assalariado, desnuda de vez a promessa do capitalismo de
transformar a tudo e a todos/as em mercadorias a serem ofertadas e consumidas num
mercado equalizado pela “competitividade”. Milhões de trabalhadores/as são excluído
s dos
seus empregos, amplia-
se cada vez o trabalho precário, sem garantias de direitos. Assim, as
formas de trabalho chamadas de atrasadas” que deveriam ser reduzidas, se ampliam ao
absover todo esse contingente de excluídos.
Hoje, no Brasil, mais de 50%
dos trabalhadores/as, estão sobrevivendo de trabalho à margem
do setor capitalista hegemônico, o das relações assalariadas e “protegidas”. Aquilo que era
para ser absorvido pelo capitalismo, passa a ser tão grande que representa um desafio cuja
superação
pode ser enfrentada por um movimento que conjugue todas essas formas e que
desenvolva um projeto alternativo de economia solidária.
Neste cenário, sob diversos títulos -
economia solidária, economia social, socioeconomia
solidária, humanoeconomia, econ
omia popular e solidária, economia de proximidade,
economia de comunhão etc, têm emergido práticas de relações econômicas e sociais que, de
152
imediato, propiciam a sobrevivência e a melhora da qualidade de vida de milhões de pessoas
em diferentes partes do mundo.
Mas seu horizonte vai mais além. São práticas fundadas em relações de colaboração
solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e
finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral
e de
capital em particular.
As experiências, que se alimentam de fontes tão diversas como as práticas de reciprocidade
dos povos indígenas de diversos continentes e os princípios do cooperativismo gerado em
Rochdale, Inglaterra, em meados do século XIX, ap
erfeiçoados e recriados nos diferentes
contextos socioculturais, ganharam múltiplas formas e maneiras de expressar-se.
2. Convergências - O que é a Economia Solidária
Princípios gerais
Apesar dessa diversidade de origem e de dinâmica cultural, são pontos de convergência:
a valorização social do trabalho humano,
a satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade tecnológica e
da atividade econômica,
o reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia
fundada na solidariedade,
a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza, e
os valores da cooperação e da solidariedade.
A Economia Solidária constitui o fundamento de uma globalização
humanizadora, de um desenvolvimento sustentável, socialmente
justo e
voltado para a satisfação racional das necessidades de cada um e de todos
os cidadãos da Terra seguindo um caminho intergeracional de
desenvolvimento sustentável na qualidade de sua vida.
O valor central da economia solidária é o trabalho, o saber e a criatividade humanos
e não o capital-dinheiro e sua propriedade sob quaisquer de suas formas.
A Economia Solidária representa práticas fundadas em relações de colaboração
solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e
finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em
geral e de capital em particular.
A Economia Solidária busca a unidade entre produção e reprodução, evitando a
contradição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade mas
exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso aos seus benefícios.
A Economia Solidária busca outra qualidade de vida e de consumo, e isto requer a
solidariedade entre os cidadãos do centro e os da periferia do sistema mundial.
Para a Economia Solidária, a eficiência não pode limitar-se aos benefícios materiais
de um empreendimento, mas se define também como eficiência social, em função da
qualidade de vida e da felicidade de seus membros e, ao mesmo tempo, de todo o
153
ecossistema.
A Economia Solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social,
pois apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a
satisfação direta das necessidades de todos, provando que é possível organizar a
produção e a reprodução da sociedade de modo a eliminar as desigualdades materiais
e difundir os valores da solidariedade humana.
Princípios específicos
Por um sistema de finanças solidárias
Para a Economia Solidária o valor central é o direito das comunidades e nações à
soberania de suas próprias finanças. São alguns dos elementos fomentadores de uma
política autogestionária de financiamento do investimento do nível local ao nacional:
A nível local, micro, territorial: os bancos cooperativos, os bancos éticos, as
cooperativas de crédito, as instituições de microcrédito solidário e os
empreendimentos mutuários, todos com o objetivo de financiar seus membros e não
concentrar lucros através dos altos juros, são componentes importantes do sistema
socioeconômico solidário, favorecendo o acesso popular ao crédito baseados nas suas
próprias poupanças.
A nível nacional, macro, estrutural: a descentralização responsável das moedas
circulantes nacionais e o estímulo ao comércio justo e solidário utilizando moedas
comunitárias; o conseqüente empoderamento financeiro das comunidades; o controle
e a regulação dos fluxos financeiros para que cumpram seu papel de meio e não de
finalidade da atividade econômica; a imposição de limites às taxas de juros e aos
lucros extraordinários de base monopólica, o controle público da taxa de câmbio e a
emissão responsável de moeda nacional para evitar toda atividade especulativa e
defender a soberania do povo sobre seu próprio mercado.
Pelo desenvolvimento de Cadeias Produtivas Solidárias
A Econo
mia Solidária permite articular solidariamente os diversos elos de cada cadeia
produtiva, em redes de agentes que se apóiam e se complementam:
Articulando o consumo solidário com a produção, a comercialização e as finanças,
de modo orgânico e dinâmico e do nível local até o global, a economia solidária
amplia as oportunidades de trabalho e intercâmbio para cada agente sem afastar a
atividade econômica do seu fim primeiro, que é responder às necessidades produtivas
e reprodutivas da sociedade e dos próprios agentes econômicos.
Consciente de fazer parte de um sistema orgânico e abrangente, cada agente
econômico busca contribuir para o progresso próprio e do conjunto, valorizando as
vantagens cooperativas e a eficiência sistêmica que resultam em melhor qualidade de
vida e trabalho para cada um e para todos.
A partilha da decisão com representantes da comunidade sobre a eficiência social e
os usos dos excedentes, permite que se faça investimentos nas condições gerais de
vida de todos e na criação de outras empresas solidárias, outorgando um caráter
dinâmico à reprodução social.
A Economia Solidária propõe a atividade econômica e social enraizada no seu
contexto mais imediato, e tem a territorialidade e o desenvolvimento local como
154
marcos de referência, mantendo vínculos de fortalecimento com redes da cadeia
produtiva (produçáo, comercialização e consumo) espalhadas por diversos países,
com base em princípios éticos, solidários e sustentáveis.
A economia solidária promove o desenvolvimento de redes de comércio a preços
justos, procurando que os benefícios do desenvolvimento produtivo sejam repartidos
mais eqüitativamente entre grupos e países.
A economia solidária, nas suas diversas formas, é um projeto de desenvolvimento
destinado a promover as pessoas e coletividades sociais a sujeito dos meios, recursos
e ferramentas de produzir e distribuir as riquezas, visando a suficiência em resposta
às necessidades de todos e o desenvolvimento genuinamente sustentável.
Pela construção de uma Política da Economia Solidária num Estado Democrático
A Economia Solidária é também um projeto de desenvolvimento integral que visa a
sustentabilidade, a justiça econômica, social, cultural e ambiental e a democracia
participativa.
A Economia Solidária estimula a formação de alianças estratégicas entre
organizações populares para o exercício pleno e ativo dos direitos e
responsabilidades da cidadania, exercendo sua soberania por meio da democracia e
da gestão participativa.
A Economia Solidária exige o respeito à autonomia dos empreendimentos e
organizações dos trabalhadores, sem a tutela de Estados centralizadores e longe das
práticas cooperativas burocratizadas, que suprimem a participação direta dos
cidadãos trabalhadores.
A economia solidária, em primeiro lugar, exige a responsabilidade dos Estados
nacionais pela defesa dos direitos universais dos trabalhadores, que as políticas
neoliberais pretendem eliminar.
Preconiza um Estado democraticamente forte, empoderado a partir da própria
sociedade e colocado ao serviço dela, transparente e fidedigno, capaz de orquestrar a
diversidade que a constitui e de zelar pela justiça social e pela realização dos direitos
e das responsabilidades cidadãs de cada um e de todos.
O valor central é a soberania nacional num contexto de interação respeitosa com a
soberania de outras nações. O Estado democraticamente forte é capaz de promover,
mediante do diálogo com a Sociedade, políticas públicas que fortalecem a
democracia participativa, a democratização dos fundos públicos e dos benefícios do
desenvolvimento.
Assim, a Economia Solidária pode constituir-se em setor econômico da sociedade,
distinto da economia capitalista e da economia estatal, fortalecendo o Estado
democrático com a irrupção de novo ator social autônomo e capaz de avançar novas
regras de direitos e de regulação da sociedade em seu benefício.
3. A Economia Solidária não é:
A economia solidária não está orientada para mitigar os problemas sociais gerados
pela globalização neoliberal.
A Economia solidária rejeita as velhas práticas da competição e da maximização da
lucratividade individual.
A economia solidária rejeita a proposta de mercantilização das pessoas e da natureza
às custas da espoliação do meio ambiente terrestre, contaminando e esgotando os
155
recursos naturais no Norte em troca de zonas de reserva no Sul.
A economia solidária confronta-se contra a crença de que o mercado é capaz de
auto-regular-se para o bem de todos, e que a competição é o melhor modo de relação
entre os atores sociais.
A economia solidária confronta-se contra a lógica do mercado capitalista que induz à
crença de que as necessidades humanas podem ser satisfeitas sob a forma de
mercadorias e que elas são oportunidades de lucro privado e de acumulação de
capital.
A economia solidária é uma alternativa ao mundo de desemprego crescente, em que
a grande maioria dos trabalhadores não controla nem participa da gestão dos meios e
recursos para produzir riquezas e que um número sempre maior de trabalhadores e
famílias perde o acesso à remuneração e fica excluído do mercado capitalista.
A economia solidária nega a competição nos marcos do mercado capitalista que
lança trabalhador contra trabalhador, empresa contra empresa, país contra país, numa
guerra sem tréguas em que todos são inimigos de todos e ganha quem for mais forte,
mais rico e, freqüentemente, mais trapaceiro e corruptor ou corrupto.
A economia solidária busca reverter a lógica da espiral capitalista em que o número
dos que ganham acesso à riqueza material é cada vez mais reduzido, enquanto
aumenta rapidamente o número dos que conseguem compartilhar a miséria e a
desesperança.
A economia solidária contesta tanto o conceito de riqueza como os indicadores de
sua avaliação que se reduzem ao valor produtivo e mercantil, sem levar em conta
outros valores como o ambiental, social e cultural de uma atividade econômica.
A Economia solidária não se confunde com o chamado Terceiro Setor que substitui
o Estado nas suas obrigações sociais e inibe a emancipação dos trabalhadores
enquanto sujeitos protagonistas de direitos. A Economia Solidária afirma, a
emergência de novo ator social de trabalhadores como sujeito histórico.
Última Atualização ( 02 de maio de 2005 )
Fonte:<http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=63&Itemid=60>. Acesso em:
10 jan. 2008.
156
ANEXO B
Plataforma
A construção da Plataforma da Economia Solidária foi iniciada na I Plenária Nacional (em
dezembro d
e 2002 em o Paulo), até chegar à versão que apresentamos abaixo, em 7 eixos,
que é resultado da III
Plenária Nacional de Economia Solidária, a mesma que criou o Fórum
Brasileiro de Economia Solidária. O I
Encontro Nacional de Empreendedores Solidários,
o
corrido em agosto de 2004, enriqueceu e aprofundou aspectos dessa Plataforma, que está
disponível nos Fóruns Estaduais e na secretaria executiva nacional.
Finanças Solidárias
1. O Estado deve, no âmbito de suas políticas públicas, criar um fundo nacional par
a o
fortalecimento e apoio dos empreendimentos da Economia Solidária, com uma gestão
descentralizada, participação popular, respeito às diferenças regionais e sobre controle
social. O Fundo deve ser constituído por fontes diversas: local, regional, naciona
l,
internacional com recursos públicos e privados.
2.
Destacar linhas que apõem as comunidades de baixa renda, negras, indígenas,
mulheres em risco social e portadores de necessidades especiais. Fortalecer ainda
linhas especiais para empreendimentos de autog
estão em sua fase inicial ou
estruturado, bem como para comercialização de produtos.
3.
Consolidar e ampliar as experiências dos fundos rotativos no Brasil, tendo o crédito
solidário como um dos modelos incentivadores dos empreendimentos solidários com
ba
se na devolução de pagamentos não financeiros (banco de horas, equivalência
produto/serviços etc).
4.
Fortalecer uma rede de instituições financeiras locais como cooperativas de créditos,
Bancos Cooperativos, ONGs, OSCIPs, Banco do Povo e programas govername
ntais
com base em serviços financeiros adequados as realidades dos empreendimentos de
caráter popular e solidário, destacando as moedas sociais, clubes de trocas,
modalidades de aval comunitário e solidário.
5. Revogar as limitações legais impostas às instit
uições operadoras de crédito popular,
como ONGs e OSCIPs, para que possam oferecer outros serviços financeiros além do
crédito, tais como seguros, poupança, títulos de capitalização, entre outros.
6. Possibilitar o recolhimento de poupança por parte das ONGs
de crédito,
potencializando as atividades de microfinanças solidárias e viabilizando que as
comunidades utilizem seus próprios recursos para promover seu desenvolvimento.
7.
Ampliar o repasse de fundos públicos para instituições de finanças
solidárias/micro
finanças, inclusive de crédito popular solidário, visando fomentar o
desenvolvimento local com um sistema que assegure autonomia para os
empreendimentos.
8. Alterar a política de concessão de créditos para empresas em situação pré-
falimentar
condicionando mu
danças na gestão, facilitando assim, a participação de trabalhadores
e trabalhadoras no controle do passivo dessas empresas.
9.
Criar linhas de crédito adequado e ajustado culturalmente para empreendimentos de
Economia Solidária, facilitar aos empreendimento
s populares o acesso ao crédito e,
particularmente, a empreendimentos autogeridos que surgem de processos
falimentares, abolindo exigências que são impraticáveis para a Economia Solidária.
10. Assegurar que partes dos recursos dos bancos públicos e privados s
ejam destinados à
Economia Solidária.
157
11.
Possibilitar a organização aberta e o fomento de cooperativas de crédito, revendo
restrições legais sobre a mesma e ampliando sua articulação em complexos e redes.
12. Modificar as regras de acesso ao Pronaf (Programa Na
cional de Agricultura Familiar)
e do Proger (Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda), reduzindo os
valores que são consumidos pelas taxas de transação bancárias.
13.
Criar programa de fomento à constituição e fortalecimento de instituições de
microfi
nanças e finanças solidárias, assegurar maior volume de recursos para os
bancos populares e outras formas de microfinanças solidárias.
14.
Que o crédito solidário seja articulado de maneira transversal nas diversas políticas,
disponibilizando mais recursos do
sistema financeiro "oficial" as microfinanças
solidárias.
15.
Apoio do poder público para iniciativas de empreendimento solidário, sob a forma de
uma renda nima para grupos que estão começando suas atividades de produção,
comércio ou serviço.
16. A dimensão d
as finanças solidárias deve ser incorporada ao Projeto Fome Zero como
um elemento fundamental a permitir a necessária vinculação entre as imprescindíveis
políticas compensatórias e políticas estruturais, por trazer em sua concepção, além do
acesso ao crédi
to, elementos decisivos a democratização da pequena produção, à
consolidação do trabalho cooperativo, ao estímulo à autogestão e às formas
diferenciadas de produção de riquezas voltadas ao interesse comum.
17. Constituir um sistema nacional de Finanças Solidárias, relacionando-
o com uma
política voltada ao desenvolvimento territorial local.
18.
Construir programas que fortaleçam e ampliem a rede nacional de trocas solidárias
com critérios definidos de paridades e lastros baseado nas moedas sociais.
19. Garantir crit
érios de financiamentos, valores, juros, carências, prazos, garantia e
sistema de cobrança e devolução, adequando as condições socioeconômicas e
culturais dos empreendimentos de caráter popular e solidário, ampliando os critérios
por limites de créditos es
tabelecidos em cálculo per capita por posto de trabalho
gerado e não por empreendimento.
Marco Legal
1.
Que o Fórum Brasileiro de Economia Solidária articule, junto ao governo e a
sociedade civil, políticas de interesse do movimento da Economia Solidária na
s
diversas reformas que se seguirão, a Tributária, Previdenciária, Trabalhista, Fiscal etc,
criando e/ou atualizando leis específicas nestas áreas.
2.
Reconhecer legalmente e promover a difusão das diversas formas de Economia
Solidária , tais como compras co
letivas, lojas solidárias, cartões de crédito solidários,
feiras, sistemas de trocas com moeda social, agricultura familiar orgânica, comércio
justo etc.
3.
Tributação específica para os empreendimentos de Economia Solidária, considerando
a escala de produçã
o, número de trabalhadores envolvidos, tipos de produtos e bens,
classificando-os como essenciais, semi essenciais e não essenciais.
4. Isenção de impostos municipais, estaduais e nacionais para a compra de matéria-
prima, equipamentos, máquinas, veículos etc.
5.
Rediscutir a legislação em vigor que incide sobre algumas iniciativas solidárias,
criando condições especiais de sustentação e apoio para esses empreendimentos,
através de ações como a alteração da Lei das Licitações, 8.666, que impossibilita a
compra e
venda de produtos da Economia Solidária e estabelecer critérios
diferenciados para os empreendimentos de Economia Solidária.
6. Estabelecer um marco jurídico adequado para a Economia Solidária, pensando-
a
158
como um sistema próprio, reconhecendo legalmente sua
s diferenças frente o setor
estatal e o setor privado mercantil.
7.
Conceituar normativamente empresas de autogestão, cooperativas populares, bem
como aquelas organizações de economia familiar.
8. Elaboração de uma nova legislação para o cooperativismo (lei 5.
764) e empresas
autogestionadas, considerando aspectos como o número de participantes, não-
obrigatoriedade da unicidade da representação, acesso ao crédito, diferenciação
tributária, mudança no caráter do benefício do INSS para quem é cooperado e ao
mesmo tempo respeitando as diferentes concepções de cooperativismo.
9.
Que o Estado reconheça formalmente as outras formas de organização para o
trabalho, fundadas em princípios populares e solidários, elaborando Projeto de Lei
que facilite a o apoio e desenvolvim
ento de experiências no campo da Economia
Solidária.
10.
Aperfeiçoamento da fiscalização dos empreendimentos autogestionários, buscando
evitar fraudes que visam terceirização de mão-de-obra e redução de encargos legais.
11. Assegurar o cumprimento efetivo no Bra
sil das Convenções No. 100 e No. 111 da
OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a ratificação da Convenção No. 156
(Trabalhadores com responsabilidades familiares) pelo governo brasileiro.
12. Definir zonas especiais de interesse e de implantação de pro
jetos de Economia
Solidária a serem definidos no Plano Diretor Urbano – PDU e Estatuto das Cidades.
13.
Que o Estado garanta a contratação de cooperativas para prestação de serviços nas
esferas municipais, estaduais e nacional.
14. Regularização das atividades d
os empreendedores populares com a emissão de um
CNPJ e nota de venda especial para viabilizar a participação em licitações.
15.
Pressionar os poderes competentes para que a Lei de Falências favoreça a aquisição
das empresas por parte dos trabalhadores sem obt
er as dívidas da empresa (passivo da
massa falimentar).
16.
Criar legislação sobre políticas de cotas para o acesso ao mercado de trabalho,
visando combater as discriminações de gênero, raça, etnia e promover a igualdade no
acesso e na permanência no emprego.
Educação
1.
Promover a educação de novas gerações através da incorporação de programas sobre
a Economia Solidária junto ao MEC, da pré-
escola, passando pelo ensino
fundamental, médio, superior e pós-
graduação, introduzindo valores da cultura
solidária e pe
dagogias que favoreçam a solidariedade e a construção de um novo
modelo de sociedade.
2.
Financiar com linhas especiais de créditos, estudos e pesquisas mais gerais sobre o
tema da Economia Solidária, além de trabalhos voltados ao desenvolvimento de
metodologias de gestão e outras tecnologias apropriadas à realidade da mesma.
3.
Estímulo à extensão universitária junto ao MEC, com atuação frente às questões da
Economia Solidária, privilegiando a pesquisa, a formação e também trabalhos
interdisciplinares que envolvam todos os conteúdos da Economia Solidária.
4.
Formação e capacitação de profissionais membros ou não de iniciativas solidárias
para a sua atuação na Economia Solidária, com financiamento público (convênios)
destinadas àquelas entidades que possuem profic
iência na área de Economia
Solidária.
5.
Subordinar o Sistema S a mecanismos de controle e estratégias tripartites, revendo
suas prioridades, redirecionando recursos para a produção e sistematização de
conhecimentos e tecnologias adequadas à perspectiva da Economia Solidária.
159
6.
Adequar os programas de formação e qualificação profissional às necessidades das
mulheres, tanto em termos de locais e horários de realização, como também de
oferta/conteúdo de cursos oferecidos, de forma a oferecer novas perspectivas
profissionais para as mulheres.
7.
Elaborar uma política específica que vise estimular as meninas e as jovens para as
carreiras científicas e tecnológicas, bem como garantir o apoio social e material para
assegurar a permanência das mulheres pesquisadoras nas
comunidades científicas em
condições de equidade.
8.
Garantir centros de referência públicos, onde sejam ofertados cursos e meios de
treinamento e aprendizagem específica para agentes e atores do
associativismo/cooperativismo na perspectiva da Economia Soli
dária, assegurando
formação, capacitação e assistência técnica adequada às características
organizacionais dos empreendimentos e práticas de Economia Solidária.
9.
Utilizar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador para realização de cursos
profissionalizan
tes, com a participação não de técnicos e empreendedores, mas
também de multiplicadores e agentes da Economia Solidária, bem como obter apoio
do SEBRAE como agente formador.
10. Estimular os trabalhadores e trabalhadoras da Economia Solidária a entrarem no
s
programas de capacitação e alfabetização de jovens, adultos e comunidades que não
tenham acesso ao ensino formal.
11.
Criação de um grupo de formadores para conscientização do cooperativismo e sua
importância na atualidade.
12. O ensino da Economia Solidária d
eve contemplar temas transversais como gênero,
raça, etnia e fazer parte dos programas de Ministérios como o da Saúde, Trabalho e
Meio Ambiente.
13.
Adotar uma estratégia de formação e capacitação articulando as atividades da
Economia Solidária, com estrutura
metodológica que leva em consideração as
diversidades culturais e o acompanhamento das novas tecnologias.
14. Criação de uma Escola Nacional de Cooperativismo.
Comunicação
1.
Utilização dos meios de comunicação existentes ou a criação de um sistema de
comu
nicação que cubra, divulgue e sensibilize a sociedade para os valores da
Economia Solidária, utilizando linguagem apropriada através de recursos como o
ensino à distância, vídeos, cartilhas informativas, livros didáticos, criação de sites na
internet, a cr
iação de um disque Economia Solidária etc, garantindo a horizontalidade
da informação.
2.
Criar um banco nacional de políticas públicas e experiências bem sucedidas na área
da Economia Solidária, de fácil acesso na internet, a ser alimentado por
administrado
res que desenvolvem programas de Economia Solidária, facilitando a
organização e extensão dessas políticas.
3.
Difusão das experiências e intercâmbio de informações entre os agentes da Economia
Solidária e a sociedade, mostrando as experiências que obtiveram
êxito nas diversas
áreas de atuação.
4.
Facilitar a concessão de rádios e TVs comunitárias e autogestionárias, jornais,
revistas etc., melhorando o acesso da população às informações sobre a Economia
Solidária, bem como o estímulo à produção de programas, p
elas TVs e rádios
comunitárias com o tema da Economia Solidária.
5.
Divulgar continuamente a cultura, as idéias e práticas da Economia Solidária junto à
população, particularmente no que se refere ao consumo solidário (como modelo de
160
educação), das vantagens
sociais e éticas deste consumo quando os produtos são
oriundos de empreendimentos solidários.
Redes de Produção, Comercialização e Consumo
1.
Desenvolver, fortalecer e articular as redes de produção e consumo em nível local,
regional, nacional e internacio
nal, com base nos princípios da Economia Solidária,
propiciando auto-
sustentabilidade as mesmas, respeitando a regionalidade dos
empreendimentos e estabelecendo a equidade entre os pares, como a igualdade de
gênero, raça, etnia, idade etc., garantindo a em
ancipação dos grupos que ainda são
descriminados dentro da Economia Solidária.
2.
Na implementação do programa Fome Zero, priorizar ações regionalizadas de
Economia Solidária na produção e comercialização de bens e serviços a serem
consumidos com recursos di
sponibilizados pelo programa, projetando a produção
para atender ao conjunto das demandas reais de consumo popular, entre as quais se
incluem alimentação, higiene, limpeza e vestuário.
3. Criar o portal brasileiro de Economia Solidária, apoiando a estruturaç
ão de redes
nacionais de comercialização e de intercâmbio de informações, localização de
produtos e serviços, diagnósticos de cadeias produtivas e transferência de tecnologia,
facilitando parcerias, negócios e investimentos coletivos entre os empreendiment
os de
Economia Solidária, dando-
lhes visibilidade e projeção nacional e internacional,
facilitando a elaboração de catálogos e o contato mais direto entre produtores e
consumidores e a integração entre cidade/campo.
4. Garantir recursos para a construção, ar
ticulação e monitoramento das redes de
Economia Solidária, viabilizando assim, sua integração, inclusive entre cidade e
campo.
5.
Aprofundar o debate sobre marcas e selos de certificação em sistemas participativos
e o seu emprego, adaptável às realidades loc
ais e regionais do país, facilitando o
processo de identificação dos produtos e serviços da Economia Solidária para
consumidores e consumidoras em seu ato de compra alavancando a comercialização
desses produtos no mercado nacional e internacional.
6. Criar m
ecanismos que possibilitem compras governamentais dos produtos e serviços
solidários e regionalizados, com preferência em licitações e estabelecendo cotas para
compras governamentais de produtos da Economia Solidária, como forma de
incentivo a Economia Solidária e possibilitando maior distribuição de renda.
7.
Defender a produção familiar da competição desigual , por meio de uma adequada
política de preços mínimos e de compras privilegiadas da produção familiar
agroecológica e solidária.
8. Organização de cooperativas de consumo e central de compras coletivas.
9.
Investir na formação de redes regionais de comercialização e consumo que
congreguem os vários tipos de cooperativas, como exemplo, central de cooperativas
coletivas.
10. Utilização de espaços públicos ocioso
s ou a construção de espaços como locais de
trocas, comercialização de produtos da Economia Solidária e armazenamento de
materiais reciclados.
Democratização do Conhecimento e Tecnologia
1. Promover o desenvolvimento de tecnologias apropriadas à Economia So
lidária, com
vistas ao desenvolvimento e qualificação contínua de produtos, respeitando a cultura e
os saberes locais agregando-
lhes maior valor, e a melhoria das condições de trabalho,
de saúde e de sustentabilidade ambiental dos empreendimentos.
161
2. Orienta
r as ações de pesquisa e os programas de extensão das Universidades para a
produção de tecnologias alternativas adequadas à Economia Solidária, bem como para
a difusão e qualificação das suas diversas práticas e saberes, avaliando o trabalho
realizado nest
as áreas, mensurando acertos e erros, visando ao seu aperfeiçoamento
na perspectiva do desenvolvimento sustentável.
3.
Orientar Ministérios e organismos federais (Ciência e Tecnologia, Educação,
Trabalho, FAT, Finep, BNDES, CNPq etc.) a fomentarem o desenvol
vimento,
qualificação e expansão da Economia Solidária.
4.
Descentralização da tecnologia e da informação resgatando e valorizando o
conhecimento acumulado pelas experiências de Economia Solidária, bem como
mapeando e sistematizando esse conhecimento.
5. Criar
programas de financiamentos voltados as ONGs, ITCPs, Rede Unitrabalho e
outras organizações que atuam na área de formação e capacitação tecnológica de
empreendimentos de Economia Solidária.
6. Criar centros solidários de desenvolvimento tecnológico, visando
à promoção de
processos produtivos que sejam adequados a como produzir, considerando as
diversidades regionais do país, sua necessária sustentabilidade social e ecológica, às
peculiaridades do público a quem se destinam essas tecnologias e às finalidades
para
as quais são desenvolvidas, gerando produtos, serviços, processos, máquinas,
equipamentos e técnicas adequados aos desafios atuais da Economia Solidária no
país, visando superar as dificuldades dos empreendimentos de Economia Solidária em
ser eficientes, terem viabilidade e sustentabilidade.
7. Ampliar Fóruns de ciência e tecnologia para contemplar os desafios da autogestão.
8.
Redefinir política de assistência técnica para os empreendedores da área urbana e da
área rural.
9. Mobilizar o potencial criativo d
e inventores (as) e pesquisadores (as), orientando a
organizarem-
se em cooperativas para trabalhar a Economia Solidária e colaborar em
suas áreas específicas, como vem ocorrendo no campo das tecnologias da agricultura
orgânica, das cisternas e preservação de recursos hídricos, dos softwares livres etc.
10.
Proporcionar meios para que as novas tecnologias sejam acessíveis aos
empreendimentos solidários, valorizando sua função social em relação à visão
predominante que é dada a sua função econômica.
11. Garantir qu
e Estados e Municípios possam desenvolver discussões temáticas e
conceituais sobre a Economia Solidária.
12.
Difundir e ampliar a troca de experiências entre os grupos participantes da Economia
Solidária, garantindo a transversalidade dessas ações, através de
uma rede de
articulação utilizando, por exemplo: materiais didáticos de apoio, conhecimentos
técnicos específicos ao cooperativismo, como noções na área de comercialização,
contábil, jurídica, administrativa etc.
Organização Social de Economia Solidária
1. Criar uma Secretaria Nacional de Economia Solidária, responsável por
em diálogo
com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária
elaborar políticas de forma
interdisciplinar, transversal, intersetorial, adequadas à expansão e fortalecimento da
Economia Solidária no país e executá-
las de maneira estratégica, particularmente no
que se refere ao marco legal, finanças solidárias, redes de produção, comercialização
e consumo, democratização do conhecimento e tecnologia, educação e comunicação.
2. Assegurar a repr
esentação da Economia Solidária no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Econômico e nos conselhos estaduais e municipais que vierem a
serem organizados.
162
3.
Sistematizar os mecanismos institucionais implementados em diversos âmbitos
que possuem interface com a Economia Solidária, visando divulgá-los e aprimorá-
los.
4. Fortalecer as bases através de redes por segmentos e por territórios.
5.
Organizar fóruns por unidades federativas como formas de mobilização social para
criar as condições socioeconômicas e juríd
icas que venham a fortalecer a Economia
Solidária.
Última Atualização ( 02 de maio de 2005 )
Fonte: <http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=62&Itemid=59>. Acesso em:
10 jan. 2008.
163
ANEXO C
9. Além de geradora de trabalho emancipado, a Economia Solidária promove o resgate de
saberes tradicionais e a construção e a difusão de novos saberes, bem como, o fortalecimento
e a prática do consumo consciente, ético, solidário e justo. Leva a sociedade a perceber que o
ato de consumir não é apenas uma questão de "gosto", mas, é, também, um ato ético e
político. Ao consumirmos um produto originado de um processo em que se explora o trabalho
alheio, degrada-se o meio ambiente e as relações comunitárias, aprofunda-se as desigualdades
sociais de gênero e classe. A Economia Solidária deve buscar a articulação entre produtores e
consumidores, potencializada por uma comunicação de base solidária, dialógica e educativa.
36. No âmbito Federal, além da contribuição das ações da Secretaria Nacional de Economia
Solidária, há um avanço importante, porém ainda insuficiente, de participação de outros
Ministérios e órgãos governamentais, e de movimentos sociais em ações de apoio e
fortalecimento da Economia Solidária. Deve-se ressaltar a sua articulação com as políticas de
enfrentamento à pobreza; de transferência de renda; de segurança alimentar; de fortalecimento
da agricultura familiar e da reforma agrária; da agricultura urbana; da regularização fundiária
das comunidades quilombolas, indígenas e campesinas; de qualificação social e profissional;
de educação de jovens e adultos; de ciência e tecnologia; de desenvolvimento urbano e rural;
de desenvolvimento territorial; de promoção da saúde mental, da saúde do trabalhador e da
saúde da família; de meio ambiente; de promoção de igualdade de nero, raça e etnia, entre
outras. No âmbito dos Estados e Municípios, diversas iniciativas comunitárias,
governamentais e não governamentais, foram fundamentais para a construção da Economia
Solidária no Brasil e para o fomento às iniciativas de empreendimentos econômico solidários.
50. Por ser política de Estado para o desenvolvimento sustentável de toda a sociedade, dando
ênfase aos setores que sofrem crescentes graus de pobreza, de violência urbana e rural,
exclusão social e racial, por conta das transformações do capitalismo, esta política deve
permitir a participação popular em sua elaboração para demandar ações transversais e
estabelecer parcerias com várias áreas (educação, saúde, trabalho, habitação, desenvolvimento
econômico, tecnologia, crédito, cultura, comunicação, promoção de igualdade, gênero e raça,
meio ambiente, entre outras) com o fito de criar um contexto de emancipação social e
sustentabilidade do desenvolvimento e segurança alimentar.
74. No âmbito da política de financiamento, poupança e crédito à Economia Solidária, requer-
se, igualmente, estruturar linhas subsidiadas e não-reembolsáveis, em função do público
envolvido ou do perfil da atividade desenvolvida. Por exemplo, empreendimentos
constituídos por egressos do sistema penitenciário, portadores de necessidades especiais ou
outras minorias. Também linhas específicas de crédito com condições apropriadas em função
do perfil da atividade. Assim, linhas de fomento às cooperativas e empreendimentos
autogestionários e aos empreendimentos que impactem, positivamente, a preservação do meio
ambiente; ou empreendimentos com impacto na preservação ou difusão da cultura, tais como
os artesãos. Em todos os casos, importa que o sistema opere com os mais flexíveis modelos de
avaliação dos projetos e a menor burocracia para o acesso ao financiamento, considerando,
por exemplo, o calendário agrícola na concessão de crédito para a agricultura familiar. Esses
financiamentos devem contemplar principalmente os empreendimentos em fase de
implantação e maturação.
164
77. O incentivo fiscal às empresas que utilizam, na sua atividade principal, produtos gerados
por organização solidária que tragam benefícios ao meio ambiente, deve ser utilizado como
estímulo econômico ao seu desenvolvimento, a exemplo de usinas de reciclagem que
estimulam o trabalho e renda das cooperativas de catadores, importantes agentes de
preservação ambiental.
Em específico à sustentabilidade ambiental:
96. A Economia Solidária deve ser incentivada como estratégia de produção apropriada, de
manejo sustentável da natureza, de tratamento e reciclagem de resíduos sólidos e líquidos nos
espaços urbanos e rurais, de fortalecimento da agroecologia, articulando as ações de
preservação e conservação da natureza em todos os biomas e ecossistemas.
97. É necessário estabelecer regras para a conservação e a utilização de forma sustentável dos
recursos genéticos e para a distribuição eqüitativa dos benefícios gerados a partir do seu uso e
garantir que os recursos fitogenéticos para a agricultura, o extrativismo e a alimentação,
considerados vitais para a sobrevivência humana, sejam conservados e sejam utilizados de
forma sustentável e que os benefícios derivados do seu uso sejam distribuídos de forma justa
e equilibrada.
98. Além disso, é preciso implementar políticas de defesa do patrimônio genético e da
biodiversidade, aprimorando os instrumentos de combate à biopirataria, respondendo às
necessidades das comunidades que se sentem ameaçadas pela exploração indiscriminada do
meio ambiente.
Institucionalidade e papéis dos Entes Federados na Política de Economia Solidária
99. Para viabilizar as prioridades acima descritas é necessário garantir a articulação e
integração com outras políticas setoriais, tais como: políticas públicas de trabalho e emprego;
de transferência de renda; de reforma agrária (inclusive com a regularização fundiária de
territórios quilombolas e indígenas, dos fundos de pasto e faxinas); de agricultura familiar
rural e urbana; de saúde; de educação; de comunicação; de cultura; de igualdade racial; de
reconhecimento e garantia de direitos dos povos indígenas; de meio ambiente; de pesca e
aqüicultura; de reforma urbana e habitação; de mineração; ciência e tecnologia; e tributária,
entre outras.
Fonte: SENAES/MTE. I Conferência Nacional de Economia Solidária. Documento final. Brasília, 2006.
165
ANEXO D
CARTA DE BRASÍLIA
Os participantes do CONGRESSO NACIONAL DOS CATADORES DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS, realizado em Brasília nos dias 4, 5 e 6 de junho de 2001, que contou com a
participação de 1.600 congressistas, entre catadores, técnicos e agentes sociais de dezessete
estados brasileiros, e os 3.000 participantes da 1
ª
MARCHA NACIONAL DA
POPULAÇÃO DE RUA, no dia 7 de junho do mesmo ano, apresentam a toda a sociedade e
às autoridades responsáveis pela implantação e efetivação das políticas públicas, as
reivindicações e propostas que seguem. E o fazem contando com a força nascida de um longo
processo de articulação, apoiado pelo Fórum Nacional de Estudos sobre População de
Rua, que teve seu ponto alto no Encontro Nacional de Catadores de Papel, realizado em
Belo Horizonte, MG, em novembro de 1999, onde decidiu-se pela organização do presente
Congresso.
Conscientes da nossa cidadania e da importância do trabalho que desenvolvemos e das
tecnologias por nós elaboradas, qualificadas em mais de cinco décadas de atuação
cotidiana, tomamos a iniciativa de apresentar ao Congresso Nacional um ante-projeto de lei
que regulamenta a profissão catador de materiais recicláveis e determina que o processo de
industrialização (reciclagem) seja desenvolvido, em todo o país, prioritariamente, por
empresas sociais de catadores de materiais recicláveis.
Em relação ao Poder executivo, propomos:
1.1 - Garantia de que, através de convênios e outras formas de repasse, haja destinação de
recursos da assistência social para o fomento e subsídios dos empreendimentos de Catadores
de Materiais Recicláveis que visem sua inclusão social por meio do trabalho.
1.2 - Inclusão dos Catadores de Materiais Recicláveis no Plano Nacional de Qualificação
Profissional, priorizando sua preparação cnica nas áreas de gestão de empreendimentos
sociais, educação ambiental, coleta seletiva e recursos tecnológicos de destinação final.
1.3 - Adoção de políticas de subsídios que permitam aos Catadores de Materiais Recicláveis
avançar no processo de reciclagem de resíduos sólidos, possibilitando o aperfeiçoamento
tecnológico dos empreendimentos com a compra de máquinas e equipamentos, como balança,
prensas etc.
1.4 - Definição e implantação, em nível nacional, de uma política de coleta seletiva que
priorize o modelo de gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos, colocando os mesmos sob
a gestão dos empreendimentos dos Catadores de Materiais Recicláveis.
1.5 - Garantia de que a política de saneamento tenha, em todo o país, o caráter de política
pública, assegurando sua dimensão de bem público. Para isso, sua gestão deve ser
responsabilidade do Estado, em seus diversos níveis de governo, em parceria com a sociedade
civil.
1.6 - Priorização da erradicação dos lixões em todo o país, assegurando recursos públicos para
a transferência das famílias que vivem neles e financiamento para que possam ser implantados
projetos de geração de renda a partir da coleta seletiva. E que haja destinação de recursos do
programa de Combate à Pobreza para as ações emergenciais.
2 - Em relação à cadeia produtiva:
2.1 - Garantir nas políticas de financiamentos e subsídios, que os recursos públicos sejam
aplicados, prioritariamente, na implantação de uma política de industrialização dos materiais
recicláveis que priorizem os projetos apresentados por empresas sociais de Catadores de
Materiais Recicláveis, garantindo-lhes acesso e domínio sobre a cadeia da reciclagem, como
estratégia de inclusão social e geração de trabalho e renda.
166
3 - Em vista da cidadania dos Moradores(as) de Rua
3.1 - Reconhecimento, por parte dos governos, em todos os níveis e instâncias, da existência
da População de Rua, incluindo-a no Censo do IBGE e garantindo em lei a criação de
políticas específicas de atendimento às pessoas que vivem e trabalham nas ruas, rompendo
com todos os tipos de discriminação.
3.2 - Integração plena da População de Rua na política habitacional que garanta e subsidie a
construção de casas em áreas urbanizadas, e que parta da recuperação e desapropriação dos
espaços ociosos nos centros das cidades, garantindo-lhes o direito à cidade.
3.3 - Priorização da geração de oportunidades de trabalho, com garantia de acesso a todos os
direitos trabalhistas, aos Moradores de Rua, superando especialmente as discriminações
originadas na falta de domicílio e/ou na indicação de endereços de albergues.
3.4 - Promoção de políticas públicas de incentivo às associações e cooperativas de produção e
serviços para e com os Moradores de Rua.
3.5 - Garantia de acesso à educação de todos os Moradores de Rua, especialmente das
crianças, em creches e escolas, independente de comprovante de residência, possibilitando
também a inclusão das famílias que moram nas ruas no programa Bolsa-Escola.
3.6 - Inclusão dos Moradores de Rua no Plano Nacional de Qualificação Profissional, como
um segmento em situação de vulnerabilidade social, garantindo seu encaminhamento a formas
de trabalho que geram renda.
3.7 - Garantia de atendimento no Sistema Único de Saúde - SUS aos Moradores de Rua,
abrindo também sua inclusão nos programas especiais, como ?saúde da família? e similares,
?saúde mental?,DST/AIDS/HIV e outros, instituindo ?casas-abrigo? para apoio dos que estão
em tratamento.
Frente à significativa representação destes eventos, não temos mais dúvidas quanto à força e
importância de nosso movimento e acreditamos que a transformação da realidade atual, será
progressiva e crescente.
Acreditamos que a partir deste momento o Estado e a sociedade brasileira não terão condições
de negar o valor do nosso trabalho. Lutaremos para alcançar maior autonomia e condições
adequadas para exercer nossa profissão, comprometendo Estado e sociedade na construção de
parcerias com nossas associações e/ou cooperativas de trabalho.
Trabalharemos cotidianamente pela erradicação do trabalho infantil e do trabalho nos lixões,
colocando nossa força e nossas tecnologias à serviço da preservação ambiental e da
construção de uma sociedade mais justa.
Pelo fim dos lixões!
Reciclagem feita pelos catadores, já!
Brasília, junho de 2001
Fonte: <http://www.movimentodoscatadores.org.br/cartadebrasilia.aspx> Acesso em: 15 out. 2007.
167
ANEXO E
CARTA DE CAXIAS DO SUL
Somos 800 Catadoras e Catadores e representamos milhares de companheiras e companheiros
do Brasil, do Uruguai e da Argentina. Queremos compartilhar com todas as pessoas a rica
experiência de lutas, dificuldades, sonhos e conquistas vividas neste Congresso.
Esta luta não começou agora. Ela é fruto de uma longa história de mulheres e homens que,
com seu trabalho de Catadores, garantiram a sobrevivência a partir do que a sociedade
descarta e joga fora.
É uma história em que descobrimos o valor e o significado do nosso trabalho: coletando e
reciclando materiais descartados, somos agentes ambientais e contribuímos com a limpeza das
cidades. A organização de associações e cooperativas criou a possibilidade de trabalho e
renda para os setores mais excluídos da sociedade.
Por tudo isso, o trabalho e as organizações dos Catadores são uma luz que aponta na direção
de um novo modelo de desenvolvimento para nossas cidades e para nossos povos. Nossa
experiência mostra que todas as pessoas podem ser muito mais felizes e saudáveis. Basta dar
valor a tudo e reciclar tudo o que for possível, reciclando a própria vida.
Por que há, no entanto, tanta gente que não vê isso e não se junta a nós?
O Congresso nos ajudou a entender o que vivemos no dia-a-dia: fazemos parte de sociedades
em que valem mais as mercadorias do que as pessoas e a natureza. Só se valor às coisas
que se pode vender para aumentar os lucros. Tudo que sobra - até mesmo as pessoas - é
jogado fora. Não se presta atenção ao que é tirado da natureza para fazer as coisas que
compramos, e menos ainda ao que acontece com a natureza a partir do que se joga fora.
A mesma dominação capitalista que gerou essa mentalidade está exigindo, nos últimos anos,
uma liberdade total para as grandes empresas e bancos fazerem negócios em todo o mundo.
Ela não respeita nada, nem mesmo a cultura e a soberania dos povos. Usa até mesmo a guerra
para consumir armas e como instrumento para se apropriar do resto das riquezas naturais do
Planeta.
Em nossa América, a ALCA é o caminho escolhido para colocar nossos povos sob o domínio
do império econômico e militar estadunidense. Sua implantação retirará de nossas mãos o
poder de decidir sobre o nosso destino. Perderemos o poder de decidir sobre o melhor uso das
riquezas existentes, como a água e a biodiversidade, bem como o de escolher a melhor
maneira de reciclar os resíduos sólidos, reciclando, ao mesmo tempo, a nossa vida e a vida de
toda a sociedade.
Não aceitamos esse projeto dos capitalistas. Ele é portador de exclusão e de morte para a
maioria da humanidade. Nossa experiência de Catadoras e Catadores nos mostra que é
possível e já estamos abrindo um caminho novo e diferente, portador de vida para todas as
pessoas e para o meio ambiente da vida.
Olhando para o futuro e com grande esperança, os participantes do Congresso
Latinoamericano de Catadores assumem e convidam as pessoas e povos a assumirem com
eles os seguintes compromissos:
1. lutar em favor da organização de todos os Catadores e Catadoras em associações ou
cooperativas, reforçando os Movimentos dos Catadores existentes, superando a fome e a
exclusão por meio de iniciativas que gerem trabalho e renda;
2. intensificar o intercâmbio e a articulação entre as iniciativas e organizações de Catadores de
recicláveis dos países do Mercosul e de toda a América Latina, visando a construção de redes
de cooperativas, associações e empresas comunitárias e uma futura criação de um movimento
latinoamericano deste setor.
168
3. trabalhar em favor de uma maior integração das comunidades de nossas cidades com as
organizações de Catadores através de políticas e programas de educação ambiental,
garantindo sua cooperação na separação e entrega dos recicláveis, no controle das ações dos
governos, na valorização
do trabalho dos Catadores, na participação em Fóruns de Gestão das políticas públicas;
4. conquistar, junto aos governos, o reconhecimento do trabalho dos Catadores na limpeza
pública e a regulamentação da nossa profissão;
5. garantir programas de alfabetização e de formação para os Catadores que não tiveram
oportunidades;
6. lutar pela revisão da legislação do cooperativismo para facilitar a implementação e o
funcionamento do sistema no processo de organização dos Catadores;
7. lutar por novas formas de acesso dos Catadores aos benefícios da Previdência Social;
8. lutar contra a privatização do setor e garantir que os programas de coleta seletiva sejam
implementados prioritariamente em parceria com as organizações de Catadores;
9. garantir que os investimentos do governo federal brasileiro para o setor de resíduos sólidos
urbanos sejam condicionados à implantação da coleta seletiva em parceria com as
organizações dos Catadores;
10. lutar pela erradicação dos lixões e implantação de aterros sanitários e pela garantia de
investimentos para a implantação de infra-estrutura para o trabalho dos Catadores através de
suas organizações;
11. lutar por uma legislação que exija que as empresas geradoras de resíduos sólidos assumam
com responsabilidade o seu destino correto;
12. dar passos concretos para garantir o domínio da cadeia produtiva por parte das
organizações dos Catadores, articulando-se com outros movimentos sociais para garantir que
as propostas de leis e de políticas públicas referentes à coleta, triagem e industrialização de
resíduos sólidos, elaboradas pelos Catadores, sejam assumidas pelos governos;
13. lutar por políticas públicas de fomento e incentivo para a capacitação e formação, com
autonomia pedagógica das organizações de Catadores;
14. lutar pela criação de linhas de crédito específicas para grupos organizados de Catadores;
15. exigir a garantia da integração dos Catadores na política de saneamento ambiental;
16. lutar em favor de políticas de meio ambiente e de investimento em tecnologias adequadas
de industrialização;
17. lutar em favor de nova modalidade de contrato de prestação de serviços entre as
prefeituras e as organizações de Catadores na Coleta Seletiva;
18. mobilizar nossas organizações contra a guerra ao Iraque e contra a militarização do
Continente Americano com bases estadunidenses, reforçando a luta pela paz.
Caxias do Sul, 20 a 23 de janeiro de 2003.
Fonte: <http://www.movimentodoscatadores.org.br/cartadebrasilia.aspx>.Acesso em: 15 out. 2007.
169
ANEXO F
DECLARAÇÃO DE PRINCIPIOS E OBJETIVOS DO MNCR
ARTIGO 1
° -
O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR,
trabalha pela 'auto-gestão e organização'
1
dos catadores através da constituição de Bases
Orgânicas, em que a 'participação' de todos os(AS) catadores(AS) que querem ajudar a
construir a luta de seus direitos, seja um direito internamente garantido, mas também um
dever do catador com o Base Orgânica, com um critério de democracia direta
2
em que todos
tem voz e voto nas decisões, conforme critérios constituídos nas bases de acordo;
ARTIGO 2
°
- O MNCR tem na 'ação direta popular'
3
bem como em outras formas
organização um princípio e método de trabalho, que rompe com a apatia, a indiferença e a
acomodação de muitos companheiros(as), que parta desde a construção inicial dos galpões e
sua manutenção, não esperando que caia tudo pronto do céu, e até as mobilizações nas
grandes lutas contra a privatização do saneamento básico e do lixo, contribuindo para a
preservação da natureza, mas também lutando pelo devido reconhecimento e valorização da
profissão dos catadores ;
ARTIGO 3
°
- O MNCR busca garantir a 'independência de classe'
4
em relação aos partidos
políticos, governos e empresários, mas também lutando pela gestão integrada dos resíduos
sólidos com participação ativa dos catadores organizados, desde a execução da coleta seletiva
com catadores de rua, até a triagem e o beneficiamento final dos materiais, buscando
tecnologias viáveis que garanta o controle da cadeia produtiva, firmando com os poderes
públicos contratos que nos garantam o repasse financeiro pelo serviço prestado a sociedade, e
cobrando das empresas privadas, produtora industrial dos resíduos o devido pagamento pela
nossa contribuição na reciclagem.
ARTIGO 4
°
- No MNCR, ao contrário do individualismo e da competição, buscamos o 'apoio
mútuo'
5
entre os companheiros(as) catadores(as) , e praticando no dia a dia das lutas a
'Solidariedade de Classe'
6
com os outros movimentos sociais, sindicatos e entidades
brasileiras e de outros países. E desta forma ir conquistando "o direito à cidade", local para
trabalho e moradia digna para todos, educação, saúde, alimentação, transporte e lazer, o fim
dos lixões e sua transformação em aterros sanitários, más com a transferência dos catadores
para galpões com estruturas dignas, com coleta seletiva que garanta a sustentação de "todas
as famílias", com creches e escolas para as crianças.
O catador organizado, jamais será pisado!
Pela construção do Poder Popular!
Viva o MNCR !!!
Significado dos nossos princípios:
1
"Auto-gestão" é a prática econômica em que os trabalhadores são os donos das ferramentas
equipamentos de produção. Auto-gestão é o modo de organizar o trabalho sem patrões, tendo
a decisão, o planejamento e a execução sob controle dos próprios trabalhadores.
2
"Democracia direta" é forma de decisão tomada pela participação coletiva e responsável da
base. Uma decisão pode ser feita por consenso ou por maioria de votos, mas sempre deve
respeitar antes de tudo a exposição das idéias e o debate.
3 "
Ação direta" é um princípio e método que carrega o sentido do protagonismo do povo auto
organizado, ou seja é o povo que deve fazer diretamente as transformações, com o exercício
de suas próprias forças, união, organização e ação, sem viver esperando para que os outros
façam por nós, que caia do céu como um milagre ou um presente, sem que nos esforcemos
para isso;
A ação direta pode ser da pessoa para o grupo, do grupo para a base, da base para o
movimento, e do movimento para a sociedade;
170
4
"A independência de Classe" é o principio histórico que orienta a luta do povo na busca pela
nossa verdadeira emancipação das estruturas que nos dominam; Significa que a união do
povo, nossa luta e organização, não pode ser dividida por diferenças partidárias, nem se deixar
manipular ou corromper pelas ofertar que vem das classes dominantes, governos e dos ricos;
Não significa ignorar as diferenças, sabemos que elas existem e são saldáveis, porem estas,
não podem ficar acima do movimento a ponto de dividido. O acordo com este princípio é o
que pode contribuir para que não sofreremos manipulações futuras;
5
O "Apoio Mútuo" ou Ajuda Mútua é o principio que orienta nossa atitude para a prática que
contribui para a construção da solidariedade e da cooperação, é contrario aos princípios da
competição, do egoísmo, do individualismo e da ganância;
6
A "Solidariedade de Classe" é o principio histórico da união de todos os pobres. Sabemos
que a sociedade que vivemos está dividida em classes: pobres e ricos, Opressores e oprimidos,
os que mandam e os que obedecem. Nosso povo faz parte das classes Oprimidas, somo um
setor dentro delas, porem existem vários outros setores de classes oprimidas pelo sistema
capitalista, como: os sem terra, os sem teto, os índios, os negros e quiilombolas, os
trabalhadores assalariados, etc.... É importante compreendermos isso pois em nossa luta
sozinhos, não venceremos, a verdadeira vitória pode ocorrer com uma profunda
transformação da sociedade, ou seja, onde não existam mais ricos ou pobres, opressores e
oprimidos, mas sim liberdade e igualdade. Para construirmos essa nova sociedade temos que
construir na luta a "solidariedade com todos os setores das classes Oprimidas".
Fonte: <http://www.movimentodoscatadores.org.br/cartadebrasilia.aspx>. Acesso em: 15 out. 2007.
171
ANEXO G
RESOLUÇÃO No 275 DE 25 DE ABRIL 2001
O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das atribuições que
lhe conferem a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e tendo em vista o disposto na Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e no Decreto no 3.179, de 21 de setembro de 1999, e
Considerando que a reciclagem de resíduos deve ser incentivada, facilitada e expandida no
país, para reduzir o consumo de matérias-primas, recursos naturais não-renováveis, energia e
água;
Considerando a necessidade de reduzir o crescente impacto ambiental associado à extração,
geração, beneficiamento, transporte, tratamento e destinação final de matérias-primas,
provocando o aumento de lixões e aterros sanitários;
Considerando que as campanhas de educação ambiental, providas de um sistema de
identificação de fácil visualização, de validade nacional e inspirado em formas de codificação
já adotadas internacionalmente, sejam essenciais para efetivarem a coleta seletiva de resíduos,
viabilizando a reciclagem de materiais, resolve:
Art.1o Estabelecer o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na
identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a
coleta seletiva.
Art. 2o Os programas de coleta seletiva, criados e mantidos no âmbito de órgãos da
administração pública federal, estadual e municipal, direta e indireta, e entidades paraestatais,
devem seguir o padrão de cores estabelecido em Anexo.
§ 1o Fica recomendada a adoção de referido código de cores para programas de coleta seletiva
estabelecidos pela iniciativa privada, cooperativas, escolas, igrejas, organizações não-
governamentais e demais entidades interessadas.
§ 2o As entidades constantes no caput deste artigo terão o prazo de até doze meses para se
adaptarem aos termos desta Resolução.
Art. 3o As inscrições com os nomes dos resíduos e instruções adicionais, quanto à segregação
ou quanto ao tipo de material, não serão objeto de padronização, porém recomenda-se a
adoção das cores preta ou branca, de acordo a necessidade de contraste com a cor base.
Art. 4o Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ SARNEY FILHO
Presidente do CONAMA
ANEXO
Padrão de cores
AZUL: papel/papelão;
VERMELHO: plástico;
VERDE: vidro;
AMARELO: metal;
PRETO: madeira;
LARANJA: resíduos perigosos;
BRANCO: resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde;
ROXO: resíduos radioativos;
MARROM: resíduos orgânicos;
CINZA: resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado não passível de
separação.
Publicado DOU 19/06/2001
Fonte: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res01/res27501.html>. Acesso em: 15 out. 2007
172
ANEXO H
Brasil - Cidades que têm coleta seletiva (2006)
AC Rio Branco
AL Maceió
AM Manaus
BA Alagoinha
BA Camaçari
BA Feira de Santana
BA Morro de São Paulo
BA Salvador
BA Valença
BA Vitória da Conquista
CE Crato
CE Jijoca de Jericoacoara
CE Juazeiro do Norte
CE Pacajus
CE Paraipaba
CE Quixadá
CE Santana do Acaraú
CE Viçosa
DF Brasília
ES Aracruz
ES Cachoeiro do Itapemirim
ES Castelo
ES Colatina
ES Conceição da Barra
ES Guarapari
ES Vila Velha
ES Vitória
GO Goiânia
GO Planaltina
MA São Luís
MG Araguari
MG Belo Horizonte
MG Betim
MG Careaçu
MG Delfim Moreira
MG Divinópolis
MG Elói Mendes
MG Goianá
MG Governador Valadares
MG Inconfidentes
MG Itabira
MG Itaúna
MG Ituiutaba
MG Juiz de Fora
MG Lagoa da Prata
MG Lagoa Santa
MG Lavras
MG Monte Carmelo
MG Montes Claros
MG Nova Era
MG Nova Lima
MG Pará de Minas
MG Passos
MG Ribeirão das Neves
MG São Lourenço
MG Timóteo
MG Uberaba
MG Varginha
MS Brasilândia
MS Caarapó
MS Iguatemi
MS Jateí
MS Paranhos
MT Campo Verde
MT Primavera do Leste
PA Belém
PE Rio Formoso
PE Cabo de Santo Agostinho
PE Camucin de São Félix
PE Olinda
PE Palmares
PE Recife
PE Rio Formoso
PE Sairé
PE Salgueiro
PE Toritama
PI Teresina
PR Almirante Tamandaré
PR Apucarana
PR Arapongas
PR Arapoti
PR Aruarama
PR Araucária
PR Astorga
PR Borrazópolis
PR Campo Largo
PR Cascavel
PR Colombo
PR Coronel Vivida
PR Curitiba
PR Floraí
PR Foz do Iguaçu
PR Lapa
PR Lidianapólis
PR Londrina
PR Lunardelli
PR Mandaguari
PR Marechal Candido Rondon
PR Marilândia do Sul
PR Maringá
PR Medianeira
PR Nova Esperança
PR Ortigueira
PR Palmeiras
PR Paraíso do Norte
PR Ponta Grossa
PR Pontal do Paraná
PR Realeza
PR Ribeirão Claro
PR Rio Branco do Ivaí
PR Rosário do Ivaí
PR São João do Ivaí
PR São Pedro do Ivaí
PR Sertanópolis
PR Rolândia
PR Toledo
RJ Areal
RJ Barra Mansa
RJ Duque de Caxias
RJ Iguaba Grande
RJ Niterói
RJ Nova Friburgo
RJ Nova Iguaçu
RJ Paracambi
RJ Paraíba do Sul
RJ Petrópolis
RJ Rio Bonito
RJ Rio de Janeiro
RJ Santa Maria Madalena
RJ Sapucaia
RJ Três Rios
RJ Vassouras
RJ Volta Redonda
RN Alexandria
RN Areia Branca
173
RN Bento Fernandes
RN Natal
RN Pau dos Ferros
RR Boa Vista
RS Alvorada
RS Braga
RS Barra do Ribeiro
RS Campinas do Sul
RS Canoas
RS Carazinho
RS Carlos Barbosa
RS Caxias do Sul
RS Crissiumal
RS Dois Irmãos
RS Estância Velha
RS Esteio
RS Farroupilha
RS Garibaldi
RS Gravataí
RS Igrejinha
RS Ivoti
RS Lagoa Vermelha
RS Lajeado
RS Nova Petrópolis
RS Nova Prata
RS Novo Hamburgo
RS Panambi
RS Passo Fundo
RS Pelotas
RS Porto Alegre
RS Presidente Lucena
RS Rio Grande
RS Santa Cruz do Sul
RS Santa Maria
RS Santo Ângelo
RS Santo Augusto
RS Sapiranga
RS Sapucaia do Sul
RS Torres
RS Três Coroas
RS Três Passos
RS Uruguaiana
RS Vacaria
RS Viamão
SC Água doce
SC Arabutã
SC Araquarí
SC Arvoredo
SC Balneário Camboriú
SC Blumenau
SC Caçador
SC Catanduvas
SC Chapecó
SC Concórdia
SC Criciúma
SC Faxinal do Guedes
SC Florianópolis
SC Forquilinha
SC Garopaba
SC Gaspar
SC Indaial
SC Ipumirim
SC Ituporanga
SC Jaraguá do Sul
SC Joaçaba
SC Joinville
SC Lajes
SC Lindóia do Sul
SC Nova Trento
SC Passos Maia
SC Peritiba
SC Pomerode
SC Praia Grande
SC São Bento do Sul
SC Timbó Grande
SC Três Barras
SC Tubarão
SC Vargem Bonita
SE Aracaju
SP Adamantina
SP Americana
SP Angatuba
SP Aparecida
SP Araçatuba
SP Araçoiaba da Serra
SP Araraquara
SP Assis
SP Atibaia
SP Bariri
SP Barueri
SP Batatais
SP Bauru
SP Bebedouro
SP Birigui
SP Boituva
SP Botucatu
SP Caconde
SP Caieiras
SP Cajati
SP Campinas
SP Campos do Jordão
SP Capão Bonito
SP Capivari
SP Caraguatatuba
SP Carapicuíba
SP Catanduva
SP Cerquilho
SP Charqueada
SP Conchas
SP Cordeirópolis
SP Corumbataí
SP Cubatão
SP Diadema
SP Espírito Santo do Pinhal
SP Eldorado
SP Embu
SP Franca
SP Garça
SP Guaratinguetá
SP Guarulhos
SP Hortolândia
SP Ilhabela
SP Ilha Solteira
SP Indaiatuba
SP Iracemápolis
SP Itapevi
SP Itapira
SP Itatiba
SP Itatinga
SP Itu
SP Jaboticabal
SP Jacareí
SP Jales
SP Jandira
SP Jundiaí
SP Leme
SP Limeira
SP Linhares
SP Lins
SP Louveira
SP Marília
SP Matão
SP Mauá
SP Mirassol
SP Mogi Mirim
SP Mongaguá
SP Monte Mor
SP Nhandeara
SP Nova Odessa
SP Osasco
174
SP Paulínia
SP Pederneiras
SP Pedregulho
SP Penápolis
SP Piracicaba
SP Pirapora do Bom Jesus
SP Pitangueiras
SP Potirendaba
SP Praia Grande
SP Presidente Epitácio
SP Presidente Prudente
SP Ribeirão Pires
SP Ribeirão Preto
SP Rio Claro
SP Salto
SP Santa Bárbara do Oeste
SP Santa Gertrudes
SP Santa Rita D´Oeste
SP Santo André
SP Santos
SP São Bento do Sapucaí
SP São Bernardo do Campo
SP São Caetano do Sul
SP São Carlos
SP São José do Rio Preto
SP São José dos Campos
SP São Lourenço da Serra
SP São Manuel
SP São Paulo
SP São Sebastião
SP São Vicente
SP Socorro
SP Sorocaba
SP Sumaré
SP Taquaritinga
SP Tatuí
SP Taubaté
SP Tietê
SP Tupã
SP Ubatuba
SP Valinhos
SP Vinhedo
SP Votorantin
Fonte: <http://www.cempre.org.br/ciclosoft_2006.php>. Acesso em: 22 nov. 2007
175
ANEXO I
Consulta Tramitação das Proposições
Proposição: PL-203/1991 -> Íntegra disponível em formato doc
Autor:
Senado Federal - Francisco Rollemberg - PFL /SE
Data de Apresentação: 01/04/1991
Apreciação: Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário
Regime de tramitação: Urgência art. 155 RICD
Proposição Originária: PLS-354/1989
Situação: PLEN: Pronta para Pauta.
Ementa: Dispõe sobre o acondicionamento, a coleta, o tratamento, o transporte e a destinação
final dos resíduos de serviços de saúde.
Indexação: -
Normas, acondicionamento, coleta, tratamento, transporte, destinação, disposição final, lixo, residuos sólidos, lixo hospitalar,
laboratorio, analise biologica, farmacia, drogaria, consultorio medico,
dentista, serviço de veterinaria, medicina legal, medicina nuclear, material
radioativo, drogas, medicamentos, toxico, embalagem, aerosol, incineração, inspeção, instalações, equipamentos, limpeza publica, vigilancia
epidemiologica, treinamento, pessoal, utilização, equipamento de proteção individual. -
Requisitos, reaproveitamento, residuos sólidos, material
hospitalar, agricultura, pecuaria. -
Proibição, lançamento, residuos solidos, serviço de saude, curso d'agua, lago, lagoa, rio, mar, ar livre.
Defini
ção, responsabilidade, prefeitura, municipios, manutenção, serviço, coleta, transporte, lixo, serviço de saude, cobrança, tarifas, penalidade,
infrator, descumprimento, legislação ambiental. -
Fixação, prazo, fabricante, equipamentos, residuos solidos, ser
produção, peças, reposição. -
Autorização, empresa privada, concessionaria, serviços publicos, coleta, tratamento, lixo.
administração municipal, administração estadual, saneamento basico, preservação, meio
ambiente, inspeção, fiscalização, controle,
processamento, lixo, serviço de saude.
Despacho:
14/4/2000 - DESPACHO À CSSF, CDUI, CDCMAM, CEIC E CCJR (ARTIGO 54 DO RI) -
CONSTITUA
ARTIGO 34, INCISO II, DO RI. (NOVO DESPACHO).
Pareceres, Votos e Redação Final
- PL020391 (PL 203/91 - POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS)
PAR
1 PL020391 (Parecer de Comissão)
PRR 1 PL020391 (Parecer Reformulado) - Cezar Silvestri
Substitutivos
- PL020391 (PL 203/91 - POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS)
SBT 1 PL020391 (Substitutivo) - Comissão Especial destinada a proferir parecer
ao Projeto de Lei 203, de 1991, que "dispõe
sobre o acondicionamento, a coleta, o tratamento, o transporte e a destinação dos resíduos de serviços de saúde", e apensados.
Apensados
PL 1610/1999
PL 1814/1991
PL 4344/1993
PL 1094/1995
PL 1259/1995
PL 2272/1996
PL 2949/1997
PL 3750/1997
PL 4344/1998
PL 4730/1998
PL 722/1999 PL 1677/1999
PL 1720/1999
PL 1724/1999
PL 1756/1999
PL 1857/1999
PL 1917/1999
PL 2075/1999
PL 2251/1999
PL 2815/2000
PL 3606/2000
PL 3878/2000
PL 3883/2000
PL 4029/2001
PL 4136/2001
PL 4307/2001
PL 5194/2001
PL 5336/2001
PL 5349/2001
PL 5543/2001
PL 5649/2001
PL 5695/2001
PL 5757/2001
PL 5765/2001
PL 5974/2001
PL 6080/2002
PL 6149/2002
PL 6298/2002
PL 6483/2002
PL 6518/2002
PL 6970/2002
PL 13/2003 PL 121/2003 PL 449/2003 PL 822/2003
PL 1072/2003
PL 1169/2003
PL 1619/2003
PL 1724/2003
PL 1760/2003
PL 1787/2003
PL 1805/2003
PL 1980/2003
PL 2120/2003
PL 2439/2003
PL 2761/2003
PL 2929/2004
PL 3387/2004
PL 3576/2004
PL 4137/2004
PL 4173/2004
PL 5231/2005
PL 5745/2005
PL 6014/2005
PL 6402/2005
176
PL 6508/2006
PL 7047/2006
PL 1966/2007
PL 1991/2007
PL 2143/2007
PL 2373/2007
PL 2388/2007
PL 2659/2007
Requerimentos, Recursos e Ofícios
- PLEN (PLEN )
REQ 101/2003 (Requerimento) - Edson Duarte
REQ 901/2003 (Requerimento) - José Carlos Aleluia
REQ 1045/2003 (Requerimento) - Ronaldo Vasconcellos
REQ 1759/2004 (Requerimento) - Lobbe Neto
REQ 2927/2005 (Requerimento de Constituição de Comissão Especial de Projeto) -
Marcos Abramo
REQ 3145/2005 (Requerimento de Apensação) - Luciano Zica
REQ 3423/2005 (Requerimento de Apensação) - Max Rosenmann
REQ 3471/2005 (Requerimento de Apensação) - Max Rosenmann
REQ 338/2007 (Requerimento de Inclusão na Ordem do Dia) - Max Rosenmann
REQ 427/2007 (Requerimento de Inclusão na Ordem do Dia) - Max Rosenmann
REQ 1670/2007 (Requerimento de Apensação) - Fernando Ferro
REQ 1851/2007 (Requerimento de Inclusão na Ordem do Dia) - Luciano Castro
Publicação e Erratas
Errata de 15/04/2000
Errata de 22/05/1999
Fonte:http://www2.camara.gov.br/internet/proposicoes/chamadaExterna.html?link=http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=15158,
acesso em 30 de janeiro de 2008.
177
ANEXO J
PROJETO DE LEI
Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e
dá outras providências.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dispõe sobre
diretrizes gerais aplicáveis aos resíduos sólidos no País.
Art. 2 º São diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I - proteção da saúde pública e da qualidade do meio ambiente;
II - não-geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento de resíduos sólidos,
bem como destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos;
III - desenvolvimento de processos que busquem a alteração dos padrões de produção
e consumo sustentável de produtos e serviços
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias ambientalmente
saudáveis como forma de minimizar impactos ambientais;
V - incentivo ao uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e
reciclados;
VI - gestão integrada de resíduos sólidos;
VII - articulação entre as diferentes esferas do Poder Público, visando a cooperação
técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;
VIII - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
IX - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação de
serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, com adoção de
mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços
prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira;
X - preferência, nas aquisições governamentais, de produtos recicláveis e reciclados;
XI - transparência e participação social;
XII - adoção de práticas e mecanismos que respeitem as diversidades locais e
regionais; e
XIII - integração dos catadores de materiais recicláveis nas ações que envolvam o
fluxo de resíduos sólidos.
XIV – educação ambiental.
Art. O Poder Público e a coletividade são responsáveis pela efetividade das ações
que envolvam os resíduos sólidos gerados.
Art. 4º Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei e na Lei no
11.445, de 5 de janeiro de 2007, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do
Meio Ambiente - SISNAMA, Sistema Nacional de Vigilância Sanitária - SNVS e pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO.
178
Art. Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito
público ou privado, responsáveis direta ou indiretamente pela geração de resíduos sólidos e as
que desenvolvam ações no fluxo de resíduos sólidos.
Art. Os resíduos sólidos de pesquisas e atividades que envolvam organismos
geneticamente modificados observarão, além do disposto nesta Lei, as normas, padrões e
procedimentos disciplinados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio.
Art. Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, os quais deverão reger-se por
legislação específica.
Seção Unica
Das Definições
Art. 8º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
I - análise do ciclo de vida do produto: técnica para levantamento dos aspectos e
impactos ambientais potenciais associados ao ciclo de vida do produto;
II - avaliação do ciclo de vida do produto: estudo das conseqüências dos impactos
ambientais causados à saúde humana e à qualidade ambiental, decorrentes do ciclo de vida do
produto;
III - ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem a produção, desde sua
concepção, obtenção de matérias-primas e insumos, processo produtivo, até seu consumo e
disposição final;
IV - coleta diferenciada: serviço que compreende a coleta seletiva, entendida como a
coleta dos resíduos orgânicos e inorgânicos, e a coleta multi-seletiva, compreendida como a
coleta efetuada por diferentes tipologias de resíduos sólidos, normalmente aplicada nos casos
em que os resultados de programas de coleta seletiva implementados tenham sido
satisfatórios;
V - consumo sustentável: consumo de bens e serviços, de forma a atender às
necessidades das atuais gerações e permitir melhor qualidade de vida, sem comprometer o
atendimento das necessidades e aspirações das gerações futuras;
VI - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à
sociedade informações, representações técnica e participações nos processos de formulação de
políticas, de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de manejo de
resíduos sólidos;
VII - destinação final ambientalmente adequada: técnica de destinação ordenada de
rejeitos, segundo normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde
pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais adversos;
VIII - fluxo de resíduos sólidos: movimentação de resíduos sólidos desde o momento
da geração até a disposição final dos rejeitos;
IX - geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, blicas ou privadas,
que geram resíduos sólidos por meio de seus produtos e atividades, inclusive consumo, bem
como as que desenvolvem ações que envolvam o manejo e o fluxo de resíduos sólidos;
X - gerenciamento integrado de resíduos sólidos: atividades de desenvolvimento,
implementação e operação das ações definidas no Plano de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos, a fiscalização e o controle dos serviços de manejo dos resíduos sólidos;
XI - gestão integrada de resíduos sólidos: ações voltadas à busca de soluções para os
resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões políticas, econômicas, ambientais,
179
culturais e sociais, com a ampla participação da sociedade, tendo como premissa o
desenvolvimento sustentável;
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social,
caracterizada por um conjunto de ações, procedimentos e meios, destinados a facilitar a coleta
e a restituição dos resíduos sólidos aos seus geradores para que sejam tratados ou
reaproveitados em novos produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos, visando a não geração de rejeitos;
XIII - resíduos sólidos: resíduos no estado sólido e semi-sólido, que resultam de
atividades de origem urbana, industrial, de serviços de saúde, rural, especial ou diferenciada;
XIV - reutilização: processo de reaplicação dos resíduos sólidos sem sua
transformação biológica, física ou físico-química;
XV - manejo de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente,
com vistas à operacionalizar a coleta, o transbordo, o transporte, o tratamento dos resíduos
sólidos e a disposição final ambientalmente adequada de rejeitos;
XVI - limpeza urbana: o conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, pelo
Distrito Federal e pelos Municípios, relativa aos serviços de varrição de logradouros públicos;
limpeza de dispositivos de drenagem de águas pluviais; limpeza de córregos e outros serviços,
tais como poda, capina, raspagem e roçada, bem como o acondicionamento e coleta dos
resíduos sólidos provenientes destas atividades;
XVII - tecnologias ambientalmente saudáveis: tecnologias de prevenção, redução ou
eliminação de resíduos sólidos ou poluentes, propiciando a redução de desperdícios, a
conservação de recursos naturais, a redução ou eliminação de substâncias tóxicas presentes
em matérias-primas ou produtos auxiliares, a redução da quantidade de resíduos sólidos
gerados por processos e produtos e, conseqüentemente, a redução de poluentes lançados para
o ar, solo e águas;
XVIII - tratamento ou reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos,
dentro de padrões e condições estabelecidas pelo órgão ambiental, que envolve a alteração de
suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, tornando-os em novos produtos, na
forma insumos, ou em rejeito.
CAPÍTULO II
DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Art. A Política Nacional de Resíduos Sólidos será desenvolvida em consonância
com as Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Educação Ambiental, de Recursos
Hídricos, de Saneamento Básico, de Saúde, Urbana, Industrial, Tecnológica e de Comércio
Exterior e as que promovam a inclusão social, de acordo com o disposto nesta Lei.
Art. 10. As Políticas de Resíduos Sólidos dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios deverão estar compatíveis com as diretrizes estabelecidas nesta Lei.
Seção Única
Dos Instrumentos
Art. 11. São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I - Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos;
II - Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produto;
III - Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, nos
termos do art. 9o, inciso VIII, da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981;
180
IV - inventários de resíduos sólidos em conformidade com o disposto pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente - CONAMA;
V - Avaliação de Impactos Ambientais, nos termos do art. 9o, inciso III, da Lei no
6.938, de 1981;
VI - Sistema Nacional de Informações Ambientais - SISNIMA e o Sistema Nacional
de Informações em Saneamento Básico - SINISA;
VII - logística reversa;
VIII - licenciamento ambiental;
IX - monitoramento e fiscalização ambiental;
X - cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o
desenvolvimento de pesquisas e de novos produtos;
XI - pesquisa científica e tecnológica;
XII - educação ambiental;
XIII - incentivos fiscais, financeiros e creditícios;
XIV - Fundo Nacional do Meio Ambiente e Fundo Nacional de Desenvolvimento
Cientifico e Tecnológico; e
XV- Conselhos de Meio Ambiente.
CAPÍTULO III
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
Seção I
Da Classificação dos Resíduos Sólidos
Art. 12. Os resíduos sólidos serão classificados:
I - quanto à origem:
a) resíduos sólidos urbanos: resíduos sólidos gerados por residências, domicílios,
estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços e os oriundos dos serviços públicos de
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, que por sua natureza ou composição tenham as
mesmas características dos gerados nos domicílios;
b) resíduos sólidos industriais: resíduos lidos oriundos dos processos produtivos e
instalações industriais, bem como os gerados nos serviços públicos de saneamento básico,
excetuando-se os relacionados na alínea “c” do inciso I do art. 3o da Lei no 11.445, de 2007;
c) resíduos sólidos de serviços de saúde: resíduos sólidos oriundos dos serviços de
saúde, conforme definidos pelo Ministério da Saúde em regulamentações técnicas pertinentes;
d) resíduos sólidos rurais: resíduos sólidos oriundos de atividades agropecuárias, bem
como os gerados por insumos utilizados nas respectivas atividades; e
e) resíduos sólidos especiais ou diferenciados: aqueles que por seu volume, grau de
periculosidade, de degradabilidade ou outras especificidades, requeiram procedimentos
especiais ou diferenciados para o manejo e a disposição final dos rejeitos, considerando os
impactos negativos e os riscos à saúde e ao meio ambiente; e
II - quanto à finalidade:
a) resíduos sólidos reversos: resíduos sólidos restituíveis, por meio da logística
reversa, visando o seu tratamento e reaproveitamento em novos produtos, na forma de
insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos; e
b) rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperação por processos tecnológicos acessíveis e disponíveis, não apresentem
outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.
181
Seção II
Da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Art. 13. Incumbe ao Distrito Federal e aos Municípios a gestão dos resíduos sólidos
gerados em seus respectivos territórios.
Art. 14. É condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos da
União destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo
de resíduos sólidos a elaboração de Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos,
executados em função dos resíduos sólidos gerados ou administrados em seus territórios,
contendo, no mínimo:
I - caracterização do Município;
II - visão global dos resíduos sólidos gerados de forma a estabelecer o cenário atual e
futuro no âmbito de sua competência;
III - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos identificados no âmbito de sua
atuação, contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos sólidos gerados e formas
de destinação e disposição final praticadas;
IV - identificação de regiões favoráveis para disposição final adequada de rejeitos;
V - identificação das possibilidades do estabelecimento de soluções consorciadas ou
compartilhadas, considerando, nos critérios de economia de escala, a proximidade dos locais
estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais;
VI - identificação dos resíduos sólidos especiais ou diferenciados;
VII - procedimentos operacionais e especificações mínimas, que deverão ser adotados
nos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, inclusive quanto aos
resíduos sólidos especiais ou diferenciados identificados e à disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos;
VIII - critérios que deverão ser adotados para a operacionalização dos serviços
públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;
IX - estabelecimento de indicadores de desempenho operacional e ambiental;
X - definição das atribuições de todos aqueles que participem de sua implementação e
operacionalização;
XI - estabelecimento de programas e ações de capacitação técnica, voltadas à
implementação do Plano;
XII - programa social, contendo as formas de participação dos grupos interessados,
inclusive com a indicação de como serão construídas as soluções para os problemas
apresentados;
XIII - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda, mediante a
valorização dos resíduos sólidos;
XIV - programa econômico, contendo o sistema de cálculo dos custos da prestação dos
serviços públicos de manejo de resíduos sólidos, a forma de cobrança desses serviços,
incluindo os excedentes e a recuperação total dos custos;
XV - descrição das formas de sua participação na logística reversa no âmbito local;
XVI - meios que serão utilizados para o controle dos geradores de resíduos sólidos
sujeitos ao sistema de logística reversa no âmbito local e os instrumentos financeiros que
poderão ser aplicados para incentivar ou controlar as atividades dele decorrentes;
XVII - procedimentos dos geradores dos resíduos sólidos que requeiram manejo
especial ou diferenciado, em função das suas características e do porte de sua geração e ainda
a descrição dos resíduos sólidos urbanos considerados quando aplicado o disposto no art. 6o
da Lei no 11.445, de 2007;
XVIII - ações preventivas e corretivas nos procedimentos adotados, incluindo o
respectivo programa de monitoramento;
182
XIX - estrutura de comunicação necessária, para ciência da população quanto à
quantidade de resíduos sólidos gerados no âmbito local e aos problemas ambientais e
sanitários derivados do manejo inadequado de resíduos sólidos e estabelecimento de canal de
comunicação direto com a sociedade local;
XX - periodicidade de sua revisão, considerando o período máximo de quatro anos de
vigência do Plano; e
XXI - identificação e monitoramento dos passivos ambientais.
§ Para o caso de resíduos sólidos urbanos gerados pelos órgãos da administração
pública deverão ser desenvolvidos procedimentos que contemplem a utilização racional dos
recursos e o combate a todas as formas de desperdício.
§ Os Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos deverão ser elaborados em
consonância com o disposto na Lei no 11.445, de 2007, bem como atender às particularidades
regionais e locais de sua área de abrangência.
§ Decreto do Poder Executivo Federal estabelecerá normas específicas sobre o
acesso aos recursos da União de que dispõe o caput.
Art. 15. Os geradores dos resíduos sólidos industriais, de serviços de saúde, rurais,
especiais ou diferenciados, classificados no art. 12, inciso I, alíneas “b”, “c”, “d” e “e”, desta
Lei, deverão elaborar e dar publicidade aos seus Planos de Atuação para os Resíduos Sólidos,
com base nos seguintes requisitos mínimos:
I - descrição do empreendimento;
II - visão global das ações relacionadas aos resíduos sólidos, de forma a estabelecer o
cenário atual e futuro de seus resíduos;
III - diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados;
IV - objetivos e metas que deverão ser observados nas ações definidas para os resíduos
sólidos;
V - procedimentos operacionais de segregação, acondicionamento, coleta, triagem,
armazenamento, transbordo, transporte, tratamento de resíduos sólidos e disposição final
adequada dos rejeitos, em conformidade com o estabelecido no Plano de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos do Distrito Federal ou do Município em que a atividade geradora de
resíduos sólidos estiver instalada;
VI - previsão das modalidades de manejo e tratamento que correspondam às
particularidades dos resíduos sólidos e dos materiais que os constituem e a previsão da forma
de disposição final ambientalmente adequada dos respectivos rejeitos;
VII - considerações sobre a compatibilidade dos resíduos sólidos gerados;
VIII - estabelecimento de indicadores de desempenho operacional e ambiental;
IX - descrição das formas de sua participação na logística reversa e de seu controle, no
âmbito local;
X - identificação das possibilidades do estabelecimento de soluções consorciadas ou
compartilhadas, considerando, nos critérios de economia de escala, a proximidade dos locais
estabelecidos para estas soluções e as formas de prevenção de possíveis riscos ambientais;
XI - ações preventivas e corretivas a serem praticadas no caso de situações de manejo
incorreto ou acidentes;
XII - definição dos instrumentos e meios para possibilitar a recuperação de áreas
degradadas por seu processo produtivo;
XIII - determinação de cronograma para o desenvolvimento de ações de capacitação
técnica, necessárias à implementação do Plano;
XIV - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda mediante a
valorização dos resíduos sólidos;
183
XV - programa social, contendo as formas de participação dos grupos interessados,
inclusive com a indicação de como serão construídas as soluções para os problemas
apresentados;
XVI - procedimentos e meios pelos quais divulgará aos consumidores os cuidados que
devem ser adotados no manejo dos resíduos sólidos reversos de sua responsabilidade,
incluindo os resíduos sólidos especiais ou diferenciados;
XVII - periodicidade de sua revisão, considerando o período máximo de quatro anos; e
XVIII - adoção de medidas saneadoras dos passivos ambientais.
§ 1º O Plano de Atuação para os Resíduos Sólidos deverá atender ao disposto no Plano
de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município ou Distrito Federal, sem prejuízo das
normas editadas pelo SISNAMA e pelo SNVS.
§ 2º O Distrito Federal e os Municípios, com base no respectivo Plano de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos, poderão dispensar a elaboração do Plano de Atuação para os
Resíduos Sólidos em razão do volume, periculosidade e degradabilidade dos resíduos sólidos
gerados.
Art. 16. Para a elaboração, implementação, operacionalização e monitoramento de
todas as etapas do Plano de Atuação para os Resíduos Sólidos e ainda, para o controle da
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, deverá ser designado profissional
técnico responsável habilitado, com atribuições para tanto.
Parágrafo único. Os responsáveis pelo Plano de Atuação para os Resíduos Sólidos
devem manter atualizadas e disponíveis para consultas as informações completas sobre a
implementação do Plano de sua responsabilidade.
Art. 17. O Plano de Atuação para os Resíduos Sólidos é parte integrante do processo
de licenciamento ambiental.
Seção III
Das Responsabilidades
Art. 18. Compete ao gerador de resíduos sólidos a responsabilidade pelos resíduos
sólidos gerados, compreendendo as etapas de acondicionamento, disponibilização para coleta,
coleta, tratamento e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos.
§ A contratação de serviços de coleta, armazenamento, transporte, tratamento e
destinação final ambientalmente adequada de rejeitos de resíduos sólidos, não isenta a
responsabilidade do gerador pelos danos que vierem a ser provocados.
§ Somente cessará a responsabilidade do gerador de resíduos sólidos, quando estes
forem reaproveitados em produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos.
Art. 19. O gerador de resíduos sólidos urbanos terá cessada sua responsabilidade com
a disponibilização adequada de seus resíduos sólidos para a coleta.
184
Art. 20. No caso de dano envolvendo resíduos sólidos, a responsabilidade pela
execução de medidas mitigatórias, corretivas e reparatórias será da atividade ou
empreendimento causador do dano, solidariamente, com seu gerador.
§ A responsabilidade disposta no caput somente se aplica ao gerador de resíduos
sólidos urbanos quando o dano decorrer diretamente de seu ato ou omissão.
§ O Poder Público deve atuar no sentido de minimizar ou cessar o dano, logo que
tome conhecimento do evento lesivo ao meio ambiente ou a saúde pública.
§ Caberá aos responsáveis pelo dano ressarcir o Poder Público pelos gastos
decorrentes das ações empreendidas para minimizar ou cessar o dano.
CAPÍTULO IV
DO FLUXO DOS RESÍDUOS
Seção Única
Da Logística Reversa
Art. 21. A instituição da logística reversa tem por objetivo:
I - promover ações para garantir que o fluxo dos resíduos sólidos gerados seja
direcionado para a sua cadeia produtiva ou para cadeias produtivas de outros geradores;
II - reduzir a poluição e o desperdício de materiais associados à geração de resíduos
sólidos;
III - proporcionar maior incentivo à substituição dos insumos por outros que não
degradem o meio ambiente;
IV - compatibilizar interesses conflitantes entre os agentes econômicos, ambientais,
sociais, culturais e políticos;
V - promover o alinhamento entre os processos de gestão empresarial e mercadológica
com os de gestão ambiental, com o objetivo de desenvolver estratégias sustentáveis;
VI - estimular a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e
recicláveis; e
VII - propiciar que as atividades produtivas alcancem marco de eficiência e
sustentabilidade.
Art. 22. Os resíduos sólidos deverão ser reaproveitados em produtos na forma de
novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, cabendo:
I - ao consumidor:
a) acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados,
atentando para práticas que possibilitem a redução de sua geração; e
b) após a utilização do produto, disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos
reversos para coleta;
II - ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos:
a) adotar tecnologias de modo a absorver ou reaproveitar os resíduos sólidos reversos
oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;
b) articular com os geradores dos resíduos sólidos a implementação da estrutura
necessária para garantir o fluxo de retorno dos resíduos sólidos reversos, oriundos dos
serviços de limpeza urbana; e
c) disponibilizar postos de coleta para os resíduos sólidos reversos e dar destinação
final ambientalmente adequada aos rejeitos;
185
III - ao fabricante e ao importador de produtos:
a) recuperar os resíduos sólidos , na forma de novas matérias-primas ou novos
produtos em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos;
b) desenvolver e implementar tecnologias que absorva ou elimine de sua produção os
resíduos sólidos reversos;
c) disponibilizar postos de coleta para os resíduos sólidos reversos aos revendedores,
comerciantes e distribuidores, e dar destinação final ambientalmente adequada aos rejeitos;
d) garantir, em articulação com sua rede de comercialização, o fluxo de retorno dos
resíduos sólidos reversos; e
e) disponibilizar informações sobre a localização dos postos de coleta dos resíduos
sólidos reversos e divulgar, por meio de campanhas publicitárias e programas, mensagens
educativas de combate ao descarte inadequado; e
IV - aos revendedores, comerciantes e distribuidores de produtos:
a) receber, acondicionar e armazenar temporariamente, de forma ambientalmente
segura, os resíduos sólidos reversos oriundos dos produtos revendidos, comercializados ou
distribuídos;
b) disponibilizar postos de coleta para os resíduos sólidos reversos aos consumidores;
e
c) informar o consumidor sobre a coleta dos resíduos sólidos reversos e seu
funcionamento.
Art. 23. Os resíduos sólidos reversos coletados pelos serviços de limpeza urbana, em
conformidade com o art. 7o da Lei no 11.445, de 2007, deverão ser disponibilizados pelo
Distrito Federal e Municípios em instalações ambientalmente adequadas e seguras, para que
seus geradores providenciem o retorno para seu ciclo ou outro ciclo produtivo.
§ O responsável pelos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos
sólidos poderá cobrar pela coleta, armazenamento e disponibilização dos resíduos sólidos
reversos.
§ 2o Para o cumprimento do disposto no caput deste artigo, o responsável pelos
serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos deverá priorizar a
contratação de organizações produtivas de catadores de materiais recicláveis formadas por
pessoas físicas de baixa renda.
Art. 24. A implementação da logística reversa dar-se-á nas cadeias produtivas,
conforme estabelecido em regulamento.
Parágrafo único. A regulamentação priorizará a implantação da logística reversa nas
cadeias produtivas, considerando a natureza do impacto à saúde pública e ao meio ambiente
dos resíduos sólidos gerados, bem como os efeitos econômicos e sociais decorrentes de sua
adoção.
CAPÍTULO V
DOS INSTRUMENTOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS
Art. 25. O Poder Público atuará no sentido de estruturar programas indutores e linhas
de financiamentos para atender, prioritariamente, às iniciativas:
I - de prevenção e redução de resíduos sólidos no processo produtivo;
186
II - de desenvolvimento de pesquisas voltadas à prevenção da geração de resíduos
sólidos e produtos que atendam à proteção ambiental e à saúde humana;
III - de infra-estrutura física e equipamentos para as organizações produtivas de
catadores de materiais recicláveis formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa
renda, reconhecida como
tal pelo Poder Público;
IV – de desenvolvimento de tecnologias aplicadas aos resíduos sólidos; e
V – de desenvolvimento de projetos consorciados de logística reversa.
Art. 26. Quando da aplicação das políticas de fomentos ou incentivos creditícios
destinadas a atender diretrizes desta Lei, as instituições oficiais de crédito podem estabelecer
critérios diferenciados que possibilitem ao beneficiário acessar crédito do Sistema Financeiro
Nacional para seus investimentos produtivos, tais como:
I - cobrança da menor taxa de juros do sistema financeiro; e
II - concessão de carências e o parcelamento das operações de crédito e financiamento.
Parágrafo único. A existência do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é
condição prévia para o recebimento dos incentivos e financiamentos dos órgãos federais de
crédito e fomento.
Art. 27. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no âmbito de suas
competências, poderão editar normas com o objetivo de conceder incentivos fiscais,
financeiros ou creditícios, respeitadas as limitações da Lei de Responsabilidade Fiscal, para as
indústrias e entidades dedicadas à reutilização e ao tratamento de resíduos sólidos produzidos
no território nacional, bem como para o desenvolvimento de programas voltados à logística
reversa, prioritariamente em parceria com associações ou cooperativas de catadores de
materiais recicláveis reconhecidas pelo poder público e formada exclusivamente por pessoas
físicas de baixa renda.
Art. 28. Os consórcios públicos, constituídos com o objetivo de viabilizar a
descentralização e a prestação de serviços públicos que envolvam resíduos sólidos, terão
prioridade na obtenção dos incentivos propostos e de recursos disponibilizados pelo Governo
Federal.
CAPÍTULO VI
DAS PROIBIÇÕES
Art. 29. Ficam proibidas as seguintes formas de disposição final de rejeitos:
I - lançamento nos corpos hídricos e no solo, de modo a causar danos ao meio
ambiente, à saúde pública e à segurança;
II - queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados
para esta finalidade; e
III - outras formas vedadas pelo Poder Público.
Parágrafo único. No caso de decretação de emergência sanitária, a queima de resíduos
a céu aberto poderá ser realizada, desde que autorizada e acompanhada pelo órgão ambiental
competente.
Art. 30. Ficam proibidas, nas áreas de disposição final de rejeitos, as seguintes
atividades:
187
I - utilização dos rejeitos dispostos, como alimentação;
II - catação em qualquer hipótese;
III - fixação de habitações temporárias e permanentes; e
IV - outras atividades vedadas pelo Poder Público.
Art. 31. Fica proibida a importação de resíduos sólidos e rejeitos cujas características
causem danos ao meio ambiente e à saúde pública, ainda que para tratamento, reforma, reuso,
reutilização ou recuperação.
Parágrafo único. Os resíduos e rejeitos importados que não causem danos ao meio
ambiente e à saúde pública serão definidos em regulamento.
CAPÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 32. A ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importem
inobservância aos preceitos desta Lei e a seus regulamentos sujeitam os infratores às sanções
previstas em lei, em especial as dispostas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e seus
decretos regulamentadores.
Art. 33. Esta Lei entrará em vigor cento e oitenta dias após a data da sua publicação.
Brasília,
188
ANEXO K
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO Nº 5.940, DE 25 DE OUTUBRO DE 2006.
Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados
pelos órgãos e entidades da administração pública
federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua
de
stinação às associações e cooperativas dos catadores
de materiais recicláveis, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,
inciso VI, alínea “a”, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1
o
A separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da
administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às
associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis são reguladas pelas
disposições deste Decreto.
Art. 2
o
Para fins do disposto neste Decreto, considera-se:
I - coleta seletiva solidária: coleta dos resíduos recicláveis descartados, separados na
fonte geradora, para destinação às associações e cooperativas de catadores de materiais
recicláveis; e
II - resíduos recicláveis descartados: materiais passíveis de retorno ao seu ciclo
produtivo, rejeitados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direita e
indireta.
Art. 3
o
Estarão habilitadas a coletar os resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e
entidades da administração pública federal direita e indireta as associações e cooperativas de
catadores de materiais recicláveis que atenderem aos seguintes requisitos:
I - estejam formal e exclusivamente constituídas por catadores de materiais recicláveis
que tenham a catação como única fonte de renda;
II - não possuam fins lucrativos;
III - possuam infra-estrutura para realizar a triagem e a classificação dos resíduos
recicláveis descartados; e
IV - apresentem o sistema de rateio entre os associados e cooperados.
Parágrafo único. A comprovação dos incisos I e II será feita mediante a apresentação
do estatuto ou contrato social e dos incisos III e IV, por meio de declaração das respectivas
associações e cooperativas.
Art. 4
o
As associações e cooperativas habilitadas poderão firmar acordo, perante a
Comissão para a Coleta Seletiva Solidária, a que se refere ao art. 5
o
, para partilha dos resíduos
recicláveis descartados.
§ 1
o
Caso não haja consenso, a Comissão para a Coleta Seletiva Solidária realizará
sorteio, em sessão pública, entre as respectivas associações e cooperativas devidamente
habilitadas, que firmarão termo de compromisso com o órgão ou entidade, com o qual foi
realizado o sorteio, para efetuar a coleta dos resíduos recicláveis descartados regularmente.
§ 2
o
Na hipótese do § 1
o
, deverão ser sorteadas a quatro associações ou
cooperativas, sendo que cada uma realizará a coleta, nos termos definidos neste Decreto, por
189
um período consecutivo de seis meses, quando outra associação ou cooperativa assumirá a
responsabilidade, seguida a ordem do sorteio.
§ 3
o
Concluído o prazo de seis meses do termo de compromisso da última associação
ou cooperativa sorteada, um novo processo de habilitação será aberto.
Art. 5
o
Será constituída uma Comissão para a Coleta Seletiva Solidária, no âmbito de
cada órgão e entidade da administração pública federal direita e indireta, no prazo de noventa
dias, a contar da publicação deste Decreto.
§ 1
o
A Comissão para a Coleta Seletiva Solidária será composta por, no mínimo, três
servidores designados pelos respectivos titulares de órgãos e entidades públicas.
§ 2
o
A Comissão para a Coleta Seletiva Solidária deverá implantar e supervisionar a
separação dos resíduos recicláveis descartados, na fonte geradora, bem como a sua destinação
para as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis, conforme dispõe este
Decreto.
§ 3
o
A Comissão para a Coleta Seletiva Solidária de cada órgão ou entidade da
administração pública federal direita e indireta apresentará, semestralmente, ao Comitê
Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo, criado pelo Decreto de 11 de
setembro de 2003, avaliação do processo de separação dos resíduos recicláveis descartados,
na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais
recicláveis.
Art. 6
o
Os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta
deverão implantar, no prazo de cento e oitenta dias, a contar da publicação deste Decreto, a
separação dos resíduos recicláveis descartados, na fonte geradora, destinando-os para a coleta
seletiva solidária, devendo adotar as medidas necessárias ao cumprimento do disposto neste
Decreto.
Parágrafo único. Deverão ser implementadas ações de publicidade de utilidade
pública, que assegurem a lisura e igualdade de participação das associações e cooperativas de
catadores de materiais recicláveis no processo de habilitação.
Art. 7
o
Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 25 de outubro de 2006; 185
o
da Independência e 118
o
da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Patrus Ananias
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5940.htm>. Acesso em 30 jan.
2008
190
ANEXO L
PORTARIA Nº 397, DE 09 DE OUTUBRO DE 2002
Aprova a Classificação Brasileira de Ocupações -
CBO/2002, para uso em todo
território nacional e autoriza a sua publicação.
O MINISTRO DE ESTADO DO TRABALHO E EMPREGO, no uso
da atribuição que
lhe confere o inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição Federal, resolve:
Art. - Aprovar a Classificação Brasileira de Ocupações -
CBO, versão 2002, para uso
em todo o território nacional.
Art. - Determinar que os tít
ulos e códigos constantes na Classificação Brasileira de
Ocupações - CBO/2002, sejam adotados;
I.
nas atividades de registro, inscrição, colocação e outras desenvolvidas pelo
Sistema Nacional de Emprego (SINE);
II. na Relação anual de Informações Sociais - (RAIS);
III. nas relações dos empregados admitidos e desligados -
CAGED, de que trata a Lei
Nº 4923, de 23 de dezembro de 1965;
IV. na autorização de trabalho para mão-de-obra estrangeira;
V.
no preenchimento do comunicado de dispensa para requerimento do benefício
Seguro Desemprego (CD);
VI. no preenchimento da Carteira de Trabalho e Previdência Social -
CTPS no campo
relativo ao contrato de trabalho;
VII.
nas atividades e programas do Ministério do Trabalho e Emprego, quando for o
caso;
Art. - O Departamento de Emprego e Salário -
DES da Secretaria de Políticas Públicas
de Emprego deste Ministério baixará as normas necessárias à regulamentação da
utilização da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
Parágrafo único. Caberá à Coordenação de Identificação e Registro Pr
ofissional, por
intermédio da Divisão da Classificação Brasileira de Ocupações, atualizar a Classificação
Brasileira de Ocupações -
CBO procedendo às revisões técnicas necessárias com base na
experiência de seu uso.
Art. - Os efeitos de uniformização pr
etendida pela Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO) são de ordem administrativa e não se estendem às relações de
emprego, não havendo obrigações decorrentes da mudança da nomenclatura do cargo
exercido pelo empregado.
Art. - Autorizar a publicação da Classificação Brasileira de Ocupação -
CBO,
determinando que o uso da nova nomenclatura nos documentos oficiais a que aludem os
itens I, II, III e V, do artigo 2º, será obrigatória a partir de janeiro de 2003.
Art. 6º - Fica revogada a Portaria nº 1.334, de 21 de dezembro de 1994.
Art. 7º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
PAULO JOBIM FILHO
Ministro de Estado do Trabalho e Emprego
Fonte:<http://www.mtecbo.gov.br/legislacao.asp>. Acesso em: 20 dez. 2007.
191
ANEXO M
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO DE 11 DE SETEMBRO DE 2003.
Cria o Comitê Interministerial da Inclusão Social de
Catadores de Lixo.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso
VI, alínea "a", da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º Fica criado o Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo,
com a finalidade de:
I - implementar o Projeto Interministerial Lixo e Cidadania: Combate à Fome Associado
à Inclusão de Catadores e à Erradicação de Lixões, visando garantir condições dignas de vida
e trabalho à população catadora de lixo e apoiar a gestão e destinação adequada de resíduos
sólidos nos Municípios;
II - articular as políticas setoriais e acompanhar a implementação dos programas voltados
à população catadora de lixo;
III - definir mecanismos de monitoramento e avaliação da implantação das ações
articuladas que deverão atuar de forma integrada nas localidades.
Art. 2º O Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo será composto
por um representante, titular e suplente, de cada órgão e entidade a seguir indicados:
I - Casa Civil da Presidência da República;
II - Ministério da Educação;
III - Ministério da Saúde;
IV - Ministério do Trabalho e Emprego;
V - Ministério da Ciência e Tecnologia;
VI - Ministério do Meio Ambiente;
VII - Ministério da Assistência Social;
VIII - Ministério das Cidades;
IX - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
X - Gabinete do Ministro de Estado Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à
Fome;
XI - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
XII - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; e
XIII - Caixa Econômica Federal.
§ 1
o
O Comitê poderá convidar representantes de órgãos da administração federal,
estadual e municipal e de entidades privadas, inclusive organizações não-governamentais,
para o acompanhamento dos trabalhos.
§ 2
o
A coordenação do Comitê será exercida em conjunto pelos representantes do
Ministério das Cidades e do Gabinete do Ministro de Estado Extraordinário de Segurança
Alimentar e Combate à Fome.
§ 3
o
Os membros do Comitê serão indicados pelos titulares dos órgãos e entidades
representados e designados pelo Ministro de Estado das Cidades.
192
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 11 de setembro de 2003; 182º da Independência e 115º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
José Graziano da Silva
Olívio de Oliveira Dutra
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/DNN/2003/Dnn9975.htm> Acesso em: 30 jan. 2008.
193
ANEXO N
Marco Jurídico
60. O cooperativismo brasileiro está em processo intenso de crescimento e mudança, o
que torna obsoleto o marco legal vigente que deve regulá-lo. A Lei Geral do Cooperativismo
em vigor é de 1971, quando a ditadura militar estava em seu auge autoritário. É necessário
substituí-la por uma Lei adequada às necessidades de todos os empreendimentos econômico
solidários e que assegure, antes de mais nada, a liberdade de representação de todas as
correntes que formam o cooperativismo nacional, em especial as minorias organizadas. A Lei
deve assegurar mecanismos públicos e desburocratizados de registro dos empreendimentos
econômico solidários.
61. Faz-se necessário elaborar o marco jurídico da Economia Solidária nas três esferas de
governo, que facilite o registro dos empreendimentos econômico solidários e de seus produtos
e serviços, garantindo a possibilidade de emissão de documento fiscal, antes da conclusão
deste processo; que normatize um sistema tributário e previdenciário diferenciado e
simplificado para os empreendimentos solidários; que regule a normativa do SUASA
Serviço Unificado e Avaliação Sanitária e Ambiental; que reconheça suas formas específicas
de organização social e econômica e do direito do trabalho associado, garantindo o acesso à
seguridade social e à proteção social e que regule a lei de falência, favorecendo a aquisição
dos empreendimentos falidos pelos trabalhadores. Além disso, é preciso que se elabore
emendas à Constituição Federal, principalmente ao artigo 37, para que autorize ao Poder
Público dar tratamento diferenciado ao conjunto da Economia Solidária.
62. É essencial conquistar reconhecimento na lei para as cooperativas de trabalhadores/as
rurais e urbanos, artesãos, etc, e facilitar o registro dos grupos informais, reduzindo o número
mínimo de sócios para cinco e reduzindo as exigências burocráticas, que requerem muito
dinheiro e tempo para sua formalização.
63. Além disso, faltam leis para regular a diversidade das cooperativas de acordo com
suas especificidades. As cooperativas de trabalho sofrem sob uma tripla opressão: a presença
desmoralizadora das “coopergatos” (que se utilizam da denominação e do registro de
cooperativa com o objetivo de espoliar os trabalhadores de seus direitos), a ação fiscalizadora,
que impede os trabalhadores de se organizar em cooperativas para disputar o mercado de
serviços terceirizados e as elevadas taxas dos órgãos reguladores. É necessária uma legislação
e uma estrutura de fiscalização com controle social e em parceria com o Ministério Público,
que elimine as falsas cooperativas e garanta as verdadeiras. Para tanto, propomos um
Programa Nacional de Fomento das Cooperativas de Trabalho, para que elas se tornem
viáveis e passem a gerar renda digna e suficiente visando que cada associado obtenha,
mensalmente, ganhos não inferiores ao salário mínimo vigente ou o mínimo profissional.
64. Igualmente, propomos uma legislação específica e/ou a regulamentação da Lei de
Cooperativas Sociais que dará oportunidade às pessoas com deficiência, com transtornos
mentais, adolescentes e jovens, pessoas da terceira idade, presos e egressos do sistema
prisional e psiquiátrico, dependentes químicos - de se organizarem solidariamente.
65. Não caberá a qualquer entidade representativa do cooperativismo interferir no
processo de formalização e/ou funcionamento de cooperativas legalmente constituídas, a não
ser no caso de adesão aos seus quadros societários. Por Empreendimento Econômico
Solidário, organizado sob a forma jurídica de cooperativa, entende-se as empresas sociais cujo
modelo de autogestão seja assumido como princípio e que a capacitação econômica com
obtenção de retorno financeiro seja dada apenas para os associados, na proporção do capital
social e transações realizadas no exercício fiscal.
194
66. Revisão da legislação que impede aos beneficiários de BPC (benefício de prestação
continuada) a participação em cooperativas.
Fonte: SENAES/MTE. I Conferência Nacional de Economia Solidária. Documento final. Brasília, 2006.
195
ANEXO O
196
197
198
199
200
201
202
ANEXO P
LEI Nº 1.907
De 28 de abril de 1995.
Dispõe sobre a destinação final do lixo em aterros sanitários e dá
outras providências.
Dr. ADROALDO MOUSQUER LOUREIRO, prefeito Municipal Santo Ângelo – RS.
FAÇO SABER, que o Poder Legislativo aprovou e eu sanciono a
seguinte:
LEI:
Art. 1º A destinação final do lixo, através utilização de aterros
sanitários, nos territórios do Município de Santo Ângelo, será executado com a aplicação de
técnicas que em:
I Evitar a contaminação do sistema hídrico, seja das águas
superficiais (rios e córregos), seja, das águas subterrâneas, por líquidos de decomposição;
II – impedir o escape de gases de decomposição;
III Evitar condições para a proliferação de insetos e roedores,
potencialmente transmissores de moléstias;
IV – impedir a atividade de catadores de resíduos no local;
V – Evitar que os resíduos sejam queimados céu aberto;
Art. Os aterros sanitários, no município de Santo Ângelo, serão
adotados como medida complementar à destinação final dos resíduos sólidos, os quais
deverão ser tratados previamente por sistema que visem a reciclagem e compostagem, com a
finalidade de reduzir-se ao máximo o volume para depósito final.
Art. Para efeito do disposto nos incisos I, II, III do artigo 1º,
deverão ser tomadas as seguintes medidas preventivas:
I com finalidade de proteger o aqüífero subterrâneo, o lençol
d’água da área que receberá o aterro sanitário deverá estar a mais de 2 metros de
profundidade;
II a área que receberá o aterro sanitário, deverá ser
impermeabilizada de forma a evitar a infiltração de líquidos de decomposição e percolados no
solo;
III deverá estar instalado na área do aterro num sistema de
drenagem que proteja do escoamento de águas superficiais e pluviais impedindo-se de
infiltrar-se no corpo do aterro;
IV - deverá ser previsto o recobrimento a cada três dias do aterro
com o solo, visando a proteção da massa de lixo, de procriação de vetores e da ação dos
acatadores e queima a céu aberto.
Art. a execução de aterros sanitários observará distância mínima
de 1.000 metros de área classificado como zona Residencial, ou zona em que habitação,
coletivas ou unifamiliares sejam permitidas, permissíveis ou toleradas pela Legislação de uso
e ocupação do solo.
Art. os aterros sanitários serão circundados por cercas de
segurança e as vias de acesso a eles deverão suportar tráfego pesado em qualquer condições
de tempo.
Art. 6º ficam proibidos os Depósitos de lixo a céu aberto.
203
§ único Os aterros ou depósitos de lixo existentes, que não atendam
o disposto nesta lei, serão desativados, ou sendo possível adaptados, no prazo de 60 dias.
Art. será vedada a execução de aterros sanitários em áreas
contribuintes ao manancial de abastecimento d’água e à distância inferior a 600 metros de rios
ou córregos de escoamento permanente.
Art. 8º esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogando
as disposições em contrário.
REGISTRE-SE, PUBLIQUE-SE E CUMPRA-SE.
GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE SANTO
ÂNGELO, em 28 de abril de 1995.
Dr. ADROALDO MOUSQUER LOUREIRO,
Prefeito Municipal.
LEI Nº 2.204
De 16 de junho de 1998.
Dispõe sobre atos lesivos à limpeza pública e dá outras providências.
Dr. LÓI ROQUE BIACCHI, Vice-prefeito no exercício do cargo de Prefeito Municipal de
Santo Ângelo, no uso das atribuições que lhe confere a lei Orgânica Municipal.
FAZ SABER, que o Poder Legislativo aprovou e sanciona a
seguinte
LEI
Art. 1º constituem atos lesivos à limpeza pública:
I depositar ou lançar papéis, latas, plásticos, restos ou lixo de
qualquer natureza, fora dos recipientes apropriados, em vias, calçadas, praças e demais
logradouros públicos;
II depositar ou lançar em quaisquer áreas públicas ou terrenos,
edificados ou não, de propriedade pública ou privada, resíduos sólidos de qualquer natureza;
III sujar logradouros ou vias públicas, em decorrência de obras,
podas ou desmatamento;
IV depositar, ou lançar em riachos, córregos, lagos, rios, ou às
suas margens, resíduos de qualquer natureza que causem prejuízo a limpeza pública ou ao
meio ambiente.
Art. os mercados, mercearias, supermercados, açougues,
matadouros, peixarias e estabelecimentos similares deverão acondicionar o lixo produzido em
sacos plásticos manufaturados para este fim, deixando-os em local e horário determinado pelo
Poder Público para recolhimento.
Art. os bares, lanchonetes, padarias e outros estabelecimentos de
venda de alimentos para consumo imediato serão dotadas de recipientes de lixo, colocados em
locais visíveis e de fácil acesso ao público para recolhimento.
Art. 4º Nas feiras, instaladas em vias ou logradouros públicos, onde
haja a venda de gêneros alimentícios, produtos hortigranjeiros ou outros pontos de interesse
do ponto de vista do abastecimento público, é obrigatório a colocação de recipientes de
recolhimento de lixo em local visíveis r acessíveis ao público, em quantidade mínima de um
recipiente por banca instalada.
204
Art. os vendedores ambulantes e veículos de qualquer espécie,
destinados à venda de alimentos de consumo imediato, deverão ter recipiente de lixo neles
fixados, ou colocados no solo, ao seu lado.
Art. Os estabelecimentos geradores de resíduos sólidos de
serviços de saúde são obrigados, às suas expensas, a providenciar a destinação dos resíduos
contaminados neles gerados, de acordo com as normas sanitárias e ambientais existentes e
recomendados pela FEPAM.
Art. 7º fica proibido, em todo território do município, o transporte e
o depósito ou qualquer forma de disposição de resíduos que tenham sua origem na utilização
de energia nuclear e de resíduos tóxicos ou radioativos, quando provenientes de qualquer
parte do território nacional ou de outros países.
Art. todas as empresas que comercializem agrotóxicos e
produtos fitossanitários terão responsabilidade sobre os resíduos por eles produzidos, seja pela
comercialização ou em seu manuseamento.
Art. a coleta regular, transporte e destinação final do lixo
ordinário domiciliar ou comercial são de exclusiva competência do serviço de limpeza urbana
municipal.
Parágrafo Único define-se como lixo ordinário, para fins de coleta
regular, os resíduos sólidos ou pastosos produzidos em imóveis residenciais ou não, que
possam ser acondicionados em sacos plásticos.
Art. 10º o acondicionamento, coleta e transporte do lixo especial
gerado em imóveis residenciais ou não, são de exclusiva responsabilidade de seus
proprietários.
Parágrafo Único define-se como lixo especial os resíduos sólidos
ou pastosos que por sua composição, peso ou volume, necessitam de transporte específico.
Art. 11º compete exclusivamente ao poder Executivo, definir os
locais próprios par colocação de recipientes para apresentação do lixo à coleta, bem como as
áreas destinadas a depósito final de qualquer espécie de lixo.
Art. 12º as empresas particulares ou prestadores de serviços de frete
ou transporte de lixo especial devem ser cadastrados junto ao setor de fiscalização de posturas
Municipal, que definirá previamente as áreas próprias para depósitos desse lixo.
Art. 13º O poder Executivo, juntamente com a comunidade
organizada, desenvolverá uma política de ações que visem a conscientização da população
sobre a importância da adoção de hábitos corretos em relação a limpeza pública.
Parágrafo Único para cumprimento do disposto neste artigo, o
Poder Executivo deverá:
I) Realizar regularmente programa de limpeza urbana,
priorizando mutirões e dias de faxina no município;
II) Promover campanha educativas através dos meios de
comunicação de massa;
III) Realizar palestras e visitas a rede escolar, promover mostras
itinerantes, apresentar audiovisuais, editar folhedos e
cartilhas explicativas;
IV) Desenvolver programas de informação, através da educação
formal e informal, sobre matérias recicláveis e
biodegradáveis;
V) Celebrar convênios com entidades públicas ou particulares,
objetivando a viabilidade das disposições previstas nestes
artigos.
205
Art. 14 Os veículos coletadores de lixo terão estampados os números de telefone de três
dígitos domínio e conhecimento público, para auxiliar a fiscalização direta a ser exercida
pela população.
Art. 15 O poder Executivo, no prazo de 60 dias a contar da
publicação desta lei, estabelecerá, por decreto, a regulamentação e normatização dos valores
financeiros e aplicação de penalidades aos infratores da mesma.
Art. 16 nos quatro primeiros meses, a contar da publicação desta
lei, cabe ao Poder Executivo dar ampla divulgação e ação fiscalizadora será exclusivamente
educativa e esclarecedora, não se podendo lavrar, neste período, auto de infração.
Art. 17 revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em
vigor na data de sua publicação.
REGISTRE-SE, PUBLIQUE-SE E CUMPRA-SE
GEBINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO,
em 16 de junho de 1998.
Dr. LÓI ROQUE BIACCHI,
Vice-prefeito no exercício do cargo de
Prefeito Municipal.
DECRETO Nº 2.670
De 15 de agosto de 1998.
Regulamentação e normatiza a lei 2.204 de 16 de junho de 1998,
que dispõe sobre anos lesivos à limpeza pública e dá outras
providências.
José Lima Gonçalves, Prefeito Municipal de Santo Ângelo, no uso das atribuições que lhe
confere o art. 84, inciso IV, da lei orgânica Municipal, e em conformidade com o que
determina o artigo 15 da lei nº 2.204 de 16/06/98.
DECRETA:
SEÇÃO I
DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES
Art. considera-se infração todos os atos lesivos à limpeza pública, toda ação ou omissão
que importe inobservância dos preceitos da lei 2.204/98, deste Decreto, bem como de
todas as normas técnicas que deles se originem, inclusive quanto ao horário da coleta.
Art. sem prejuízo das sanções civis e penais cabíveis, as infrações às normas indicadas
no art. 1º serão punidas com a seguinte penalidades:
I – Notificação preliminar
II – Multa
A notificação preliminar será aplicada com fixação de prazo máximo até 5 dias, para
que seja corrigida a irregularidade.
A multa poderá ser expedida, imediatamente, através da lavratura do auto de infração,
nos casos de infrações graves ou gravíssimas, infrações com caráter irreparável ou quando
da reincidência de infrações leves.
Art. as penalidades previstas neste Decreto serão impostos pelo setor de Fiscalização e
Posturas da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos .
Art. As multas serão aplicadas conforme a gravidade da infração. Tendo por base a
UFIR ou outro indexador que vier a substituir, obedecendo a classificação e os valores que
seguem:
206
I INFRAÇÕE LEVES São aquelas cujos danos decorrentes forem de pequeno
significado para a limpeza pública, para o meio ambiente e para o patrimônio público,
previsto no inciso I art. 1º, artigos 2º, 3º, 4º, e (quanto ao horário de coleta, da lei
2.204/98, às quais serão aplicadas multas de valor entre 20 UFIR e 100 UFIR.
II IFRAÇÕES GRAVES São aquelas cujos danos decorrentes forem de grande
significado para a limpeza pública, para o meio ambiente e para o patrimônio público,
previstos nos incisos I, III e IV art. 1º, artigos 6º, 8º e art. (quanto ao transporte e
destinação final do lixo), da lei 2.204/98, às quais serão aplicadas multas valor entre
501 UFIR e 5.000 UFIR.
§ 1º As multas serão aplicadas em dobro, ao infrator reincidente.
§ quando o infrator praticar, simultaneamente duas ou mais infrações, aplicar-se-á a
penalidade prevista para a infração de maior gravidade.
SEÇÃO II
DO PROCESSO
Art. o auto de infração será lavrado pela autoridade que houver constatado o fato,
devendo conter o seguinte:
I nome do infrator, seu endereço, bem como os demais elementos necessários à sua
aplicação civil;
II - local, data e hora da infração;
III - descrição da infração e menção do dispositivo legal ou regularmente transgredido;
IV – penalidade a que está sujeito o infrator e o respectivo preceito legal que autoriza a sua
imposição ;
V – ciência do autuante;
VI - assinatura do autuante ou seu representante, e à ausência ou recusa, de duas
testemunhas e do autuante;
VII prazo para o recolhimento da multa, quando aplicada caso o infrator abdique do
direito de defesa.
Art. 6º as omissões ou incorreções na lavratura do auto de infração não acarretarão
nulidade do mesmo quando o processo constarem os elementos necessários à identificação
da infração e do infrator.
Art. 7º o infrator será notificado para ciência da infração.
I – pessoalmente
II – pelo correio ou via postal
III – por edital, se estiver em lugar incerto ou não sabido.
§ se o infrator for notificação pessoalmente e se recusar a exarar ciência, deverá essa
circunstância ser mencionada expressamente pela autoridade que efetuou a notificação.
§ o edital referido no inciso III deste artigo, desde que se justifique economicamente,
será publicado em jornal de circulação local, considerando-se efetivada a notificação 15
dias após a publicação.
Art. 8º notificando, o infrator deverá recolher a multa no prazo de 15 dias.
§ do auto de infração caberá recurso, no prazo de 10 dias, contados da ciência da
autuação ao Prefeito Municipal, que decidirá, após parecer da procuradoria geral do
Município.
§ no caso de imposição da penalidade de multa, se o infrator abdicar expressamente do
direito de defesa ou recurso, poderá recolhê-la com redução de 50%, no prazo de 10 dias
úteis a contar do auto de infração.
Art. o recurso interposto, não terá efeito suspensivo relativamente ao pagamento da
penalidade pecuniária, não impedindo que o recorrente, a qualquer tempo, quite o
respectivo débito, ponto desta forma, fim ao processo.
207
Art. 10º negado provimento ao recurso, o infrator recolherá, em favor do município, o
valor da multa (a crescido das combinações legais), no prazo de 5 dias contados da data do
recebimento da notificação.
§ A notificação para o pagamento da multa será feita mediante registro postal, ou por
meio de edital publicado na imprensa oficial, se não localizamos o infrator.
§ 2º o não recolhimento da multa, no prazo fixado neste Decreto, implicará em inscrição na
dívida ativa e cobrança judicial, na forma da legislação pertinente.
§ As despesas com publicação previstas no § do art. e § 1º do art. 10, acrescerão à
multa.
Art. 11 os veículos coletores de lixo terão estampado o número do telefone 156, para uso
da população, em auxílio à fiscalização e bom desempenho do serviço.
Art. 12 os fatos decorrentes da dinâmica do serviço de limpeza urbana e os não previstos
neste Decreto serão definidos em portaria a ser expedida pelo Prefeito Municipal.
Art. 13 este Decreto, observadas as disposições previstas no artigo 16 da lei 2.204/98,
entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
REGISTRE-SE, PUBLIQUE-SE E CUMPRA-SE
GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO, em 15 de agosto de
1998.
JOSÉ LIMA GOÇALVES,
Prefeito Municipal.
Lei nº 2.340
de 16 de fevereiro de 2000.
AUTORIZA A PARTICIPAÇÃO DO CONSÓRCIO PARA RECEBIMENTO DE
EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS.
O PREFEITO MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO,
no uso das atribuições que lhe são conferidas pela lei Orgânica do
Município.
FAÇO SABER que o Poder Legislativo aprovou e eu sanciono a seguinte:
LEI:
Art. Fica o Poder Executivo autoizado a participar,por adesão, do CONSÓRCIO
INERMUNICIPAL PARA DESTINAÇÃO FINAL DE EMBALAGENS DE
AGROTÓXICOS CINBALAGENS -, Associação Civil, inscrita no CNPJ sob
02.976.896/0001-74, com sede na localidade de São João Batista de Bela Vista, Município
de Passo Fundo (RS), em imóvel cedido por este.
Art. A organização administrativa e funcional do CINBALAGENS se em
conformidade com o que foi estabelecido pelo Conselho de Administração, órgão
deliberativo, constituído pelos Prefeitos nomeados em Assembléia Geral ou por seus
representantes oficialmente designados.
Art. A área de abrangência do CINBALAGENS é formada pelos municípios que o
integram, e se propõe às finalidades seguintes:
I manter as atividades de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos, tríplice
lavadas, oriundas dos municípios que integram o consórcio;
II representar os municípios que o integram em assuntos de interesse comum perante
outras entidades privadas e órgãos gorvernamentais;
208
III executar programas e projetos destinados a promover e conscientizar os comerciantes
e usuários de agrotóxicos, em parceria com associações, sindicatos, cooperativas, entidades
públicas e/ou privadas, relacionadas ao manejo, cuidado e destino corretos das embalagens
vazias de agrotóxicos;
IV – promover a administração e funcionamento do CINBALAGENS, coordenando e
controlando as atividades que desenvolve, bem como a comercialização dos produtos
resultantes da industrialização das embalagens.
Art. a participação dos municípios aderentes no capital social do CINBALAGENS
se dará mediante contribuição anual, conforme cota aprovada pelo Conselho de
Administração.
Parágrafo Único Os valores repassados serão utilizados nas despesas de manutenção
da Central de Embalagens.
Art. Fica o Poder Executivo autorizado a abrir Crédito Especial no valor de R$
1.500,00 (Hum mil e quinhentos reais), para atender as despesas decorrentes da aplicação
da presente lei.
17.07. PARTICIPAÇÃO NO CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DE RECEBIMENTO
DE EMBALAGENS VAZIAS DE AGROTÓXICOS
04171032.132 – Participação em consórcio municipal para destino de embalagens de
agrotóxicos.
Transferências para instituições multigovernamentais.
Art. 6º Revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em vigor na data de sua
publicação.
REGISTRE-SE E PUBLIQUE-SE.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO, em 16 de fevereiro de 2000.
JOSÉ LIMA GONÇALVES,
Prefeito Municipal.
209
ANEXO Q
LEI N.º 2.154
De 12 de novembro de 1997.
INSTITUI O PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE SANTO ÂNGELO.
JOSÉ LIMA GONÇALVES, Prefeito Municipal de Santo Ângelo.
FAZ SABER, que o Poder Legislativo aprovou e eu sanciono a seguinte
LEI:
TÍTULO I
Das Disposições preliminares
Art. - Fica instituído e aprovado o Plano Diretor de Santo Ângelo para orientação e
controle do desenvolvimento territorial da sede do Município, de acordo com esta Lei, mapa
de zoneamento e anexos 1, 2 e 3.
Art. - O Plano diretor somente poderá ser alterado, no todo ou em parte, pelo voto
da maioria absoluta dos vereadores, em duas sessões legislativas consecutivas e especialmente
convocadas para tal fim.
§ Único Nas alterações de trata o presente artigo, sempre deverá ser consultado o
Conselho Municipal de urbanismo, que emitirá pareceres por escrito sobre a questão.
TITULO II
Das Diretrizes do Plano Diretor
CAPÍTULOI
Do uso do solo na Zona de Jurisdição do Plano Diretor
SEÇÃO I
Do Zoneamento Urbanístico
Art. - Para fins da presente Lei, considera-se zoneamento a divisão da área de
Jurisdição do Plano Diretor.
Art. - A área de jurisdição do Plano Diretor do Município de Santo Ângelo fica
dividido nas seguintes zonas, conforme o mapa integrante desta Lei:
Zona Comercial (ZC) Predominantemente comercial e de serviços, tendo também
uso residencial.
Zonas Residenciais (ZRI e ZR2) Predominantemente residenciais com usos
diferenciados conforme anexo 2; localizados de acordo com o mapa próprio.
Zonas Industriais (ZI) São áreas destinadas a implantação de Distritos Industriais
determinadas pela Prefeitura Municipal, com parecer do Conselho Municipal de Urbanismo.
210
Zona Especial Educacional (ZEE) – Se destina ao Campus Universitário.
Zona de Eventos (ZE) – Área pública destinada a eventos ocasionais e diários.
Zona Especial Militar (ZEM) – Área ocupada pela guarnição militar.
Área Verde (AV) Se destina a implantação de parques ecológicos com tratamento
paisagístico adequado, equipamentos de lazer e recreação, mediante programas específicos.
Área de Expansão Urbana (AEU) Faixa descontínua que visa a disciplinar
urbanização imediata, áreas situadas dentro da área de jurisdição do Plano Diretor.
Zona Especial de Serviço (ZES) Faixa contínua com 50,80 m (cinqüenta metros e
oitenta centímetros) de largura, contados a partir da faixa de domínio, localizada ao longo e
em ambos os lados da rodovia RS-344 e ao longo e em ambos os lados do futuro Acesso
Norte, que visa estimular a implantação de empresas de serviços e/ou indústrias de médio e
grande porte, através da definição de lotes característicos, visando, ainda, a evitar a
implantação de zona residencial ao longo da mesma. Os lotes característicos desta Zona
Especial de Serviços, deverão ter área mínima equivalente a 10 (dez) populares (1.270,00 m² -
Hum mil duzentos e setenta metros quadrados) e com testada mínima de 25,00 (vinte e cinco
metros).
Art. - Nos casos de delimitação de zona de uso ao longo de logradouro para efeitos
de zoneamento será considerada incluída na respectiva zona, a totalidade da área do lote de
terreno com frente par o logradouro.
Art. - As atividade exercidas em cada zona, na data da vigência desta lei,
classificam-se em:
I – USO CONFORME: É uso que deverá predominar na zona, caracterizando-a.
II USO PERMISSÍVEL É o uso capaz de se desenvolver na zona sem
comprometer suas características básicas.
III – USO PROIBIDO – É o uso incompatível com a característica da zona.
Art. - Os usos conforme, Permissível e Proibido, segundo as diversas zonas, são os
estabelecidos no Anexo 2, adotando-se as seguintes definições:
I – RESIDENCIAL
Uni-familiar – uma habitação permanente por lote.
Multi-familiar – duas ou mais habitações permanentes por lote.
Mista–habitação, comércio e ou serviços permanentes por lote.
II – COMERCIAL
Cotidiano – aquele destinado a satisfazer as necessidades básicas da população.
Ocasional – aquele de artigos de consumo eventual ou raro.
Especial – aquele de artigos que exigem instalações especiais, seja pela necessidade de
área de estocagem ampla, seja pela geração de fluxos intensos de pessoas e veículos, ou por
questões de segurança.
Atacadista – aquele destinado ao abastecimento do comércio varejista.
211
Atacadista I aquele que pode adequar-se aos mesmos padrões de uso residencial, no
que diz respeito às características de ocupação dos lotes, de acesso, de localização, de tráfego,
de serviços urbanos e aos níveis de ruído, de vibração e de poluição ambiental.
Atacadista II – aquele cujo funcionamento pode ocasionar ruídos, trepidações, emissão
de poeiras, fuligens, exalação de mau cheiro, problemas esses passíveis de controle por
equipamentos minimizantes ou ainda problemas de tráfego.
Atacadista III aquele cujo funcionamento, independente de seu porte ou número de
empregados, pode causar prejuízos à saúde, à segurança e ao bem estar público e à integridade
da flora e da fauna. Incluem-se nesta classificação os depósitos de armazenagem de produtos
perigosos, como álcool, carvão, combustíveis, gás engarrafado, inseticidas, lubrificantes e
graxas, papéis, pneus, produtos químicos, resinas e gomas, tintas e vernizes.
III – SERVIÇOS
Locais estabelecimentos destinados à prestação de serviços à população, que podem
adequar-se aos mesmos padrões de uso residencial no que diz respeito às características de
ocupação dos lotes, de acesso, de tráfego, de serviços urbanos e aos moveis de ruído, de
vibrações e de poluição ambiental.
Diversificados ou Gerais – estabelecimentos destinados á prestação de serviços à
população, que impliquem na fixação de padrões específicos, referentes ás características de
ocupação dos lotes, de acesso, de localização, de tráfego e de serviços urbanos.
Especiais – estabelecimentos destinados à prestação de serviços á população, que
impliquem na fixação de padrões específicos referentes às características de ocupação dos
lotes, de aceso, de localização, de tráfego, de serviço urbanos e aos níveis de ruído, de
vibrações e de poluição ambiental.
IV – INSTITUCIONAL
Institucional I espaços, estabelecimentos ou instalações públicas e privadas
destinadas á educação, saúde, lazer, cultura, assistência social, culto religioso, etc., que
tenham ligação direta, funcional ou especial, com o uso residencial e que não causem danos,
ruídos, odores, luminosidade, geração de tráfego e de outros efeitos além dos níveis comuns
às áreas residenciais em geral.
Institucional II espaços, estabelecimentos ou instalações públicas ou privadas
destinadas à educação, saúde, lazer, cultura, assistência social, culto religioso, etc., que, por
suas características funcionais, impliquem grande concentração de pessoas ou veículos, níveis
altos de ruídos ou padrões viários especiais, exigindo localização específica por conflitarem
com outros usos.
V – INDUSTRIAL
Inofensivo aquele que pode adequar-se aos mesmos padrões de uso residencial, no
que diz respeito às características de ocupação dos lotes, de acesso, de localizações de tráfego,
de serviços urbanos e aos níveis de ruído, de vibração e de poluição ambiental.
Incômodo aquele cujo funcionamento pode ocasionar ruídos, trepidações, produção
de poeiras, gases, fuligens, exalação de mau cheiro, detritos, resíduos e problemas de tráfego.
Nocivo aquele cujo funcionamento pode causar prejuízo à saúde, à segurança e ao
bem-estar público e à integridade da flora e fauna. Incluem-se nesta classificação as indústrias
de celulose, usinas de açúcar e álcool, prensadores de madeira (placas), matadouros,
212
frigoríficos, refinarias de petróleo, curtumes, têxteis, galvanoplastia, metais ferrosos e não
ferrosos, mineração, produtos alimentícios e indústrias químicas.
Art. 8º - A instalação e localização dos estabelecimentos atacadistas tipos II e III e dos
estabelecimentos industriais tipo incômodo e nocivo, dependerão de consulta prévia ao
Conselho Municipal de Urbanismo.
§ Único – Para a viabilidade de abrandamento do grau de nocividade ou incomodidade
de uma indústria, pela prevenção ou correção dos efeitos poluidores, de forma que a mesma
possa vir a ser implantada, o Executivo Municipal estabelecerá condições e prazo para essa
adequação, e articulação com os órgãos estaduais com atribuições nas áreas de saúde e
proteção ambiental.
Art. - O uso poderá se tolerado a título precário, desde que sua existência regular,
anterior à data de publicação desta lei, seja comprovada mediante documento expedido por
órgão competente do Município, obedecidas as seguintes disposições:
I Não será admitidas a substituição do uso proibido por qualquer outro uso de
mesma natureza.
II Não serão admitidas quaisquer ampliações na ocupação ou no aproveitamento do
solo, permitindo-se apenas as reformas essenciais à segurança e à higiene das edificações,
instalações e equipamentos.
III O uso deverá adequar-se aos níveis de ruído e de poluição ambiental exigíveis
para a zona em que esteja localizado, bem como obedecer aos horários de funcionamento
disciplinados pela legislação pertinente.
IV Sejam liquidados todos os débitos fiscais, eventualmente em atraso incidentes
sobre o imóvel e a atividade objeto da tolerância.
Art. 10 - A localização de novas e a relocalização das indústrias que tenham condições
limitadas de expansão ou de uso incompatível com a zona de uso na qual se encontram, serão
auxiliadas pelo município, através de redução ou isenção temporárias do imposto predial
urbano para as edificações de caráter permanente, bem como redução das taxas relativas aos
serviços públicos municipais, quanto às indústrias que se instalarem nas zonas industriais.
SEÇÃO II
Dos Índices Urbanísticos
Art. 11 A intensidade de ocupação, através da edificação para atividades permitidas,
em cada zona de uso, é regulada pelos seguintes índices urbanísticos.
I – Índice de Aproveitamento (IA).
II – Taxa de Ocupação (TO).
§ - ÍNDICE DE APROVEITAMENTO ou de utilização é o quociente entre a áreas
real global máxima da edificação (AR) e a área total do lote de terreno (AL), sobre o qual se
edificar (IA = AR/AL).
213
§ 2º - TAXA DE OCUPAÇÃO é a relação entre a projeção no plano horizontal da área
ocupação por edificação (AP) e a área total do lote de terreno (AL), (TO = AP/AL).
Art. 12 – Nos prédios que apresentarem, ao mesmo tempo, Uso conforme e Uso
Permissível, vigorarão os índices correspondentes ao Uso Permissível.
§ Único Para que os prédios mistos possam ser enquadrados como Uso conforme,
deverão obrigatoriamente ter uma área real global mínima de 20% (vinte por cento) da área
real global do prédio, caracterizada com o de uso conforme localizada na parte frontal do
prédio.
Art. 13 NA ZONA COMERCIAL (ZC) , a intensidade de ocupação obedecerá aos
seguintes índices urbanísticos:
I Edificação para atividades classificadas como USO CONFORME, em glebas ou
lotes de terreno:
IA = 5,0 vezes
TO = 75%
II – Edificação para atividades classificadas como USO PERMISSÍVEL, em glebas ou
lotes de terrenos:
A – 4,0 vezes
TO = 60%
Art. 14 NA ZONA RESIDENCIAL 1 (ZR1), a intensidade de ocupação obedecerá
aos seguintes índices urbanísticos:
I – Edificação para atividades classificadas como USO CONFORME:
IA = 3,0 vezes
TO = 60%
II – Edificações para atividades classificadas como USO PERMISSÍVEL:
IA = 2,0 vezes
TO = 50%
Art. 15 NA ZONA RESIDENCIAL 2 (ZR2) a intensidade de ocupação obedecerá
aos seguintes índices urbanísticos:
I – Edificação para atividades classificadas como USO CONFORME:
IA = 2,0 vezes
TO = 60%
II – Edificação para atividades classificadas como USO PERMISSÍVEL:
IA = 1,5 vezes
TO = 50%
Art. 16 NA ZONA INDUSTRIAL (ZI) a intensidade de ocupação obedecerá os
seguintes índices urbanísticos:
I – Edificação para atividades classificadas como USO CONFORME:
IA = 3,0 VEZES
TO = 60%
II – edificação para atividades classificadas como USO PERMÍSSIVEL:
214
IA= 3,0 vezes
TO = 50%
Art. 17 NA ZONA ESPECIAL DE SERVIÇOS (ZES) a intensidade de ocupação
obedecerá aos seguintes índices urbanísticos:
I – Edificação para atividades classificadas como USO CONFORME:
IA = 3,0 vezes
TO = 60%
II – Edificação para atividades classificadas como USO PERMISSÍVEL:
IA = 2,0 vezes
TO = 50%
Art. 18 Não serão computados como área de construção, para aplicação do índice de
aproveitamento (IA), os espaços (áreas reais) correspondentes a:
a) Reservatórios de água, inferiores e/ou superior;
b) Câmara de transformadores;
c) Áreas condominiais de recreação ou esportes, abertas, nos edifícios de
apartamentos, mesmo quando já edificados, em pilotis ou em terraços descobertos;
d) Garagens e abrigos de automóveis nos prédios residenciais, comerciais ou mistos.
Excluindo para os prédios de uso específicos em garagens ou estacionamentos que
deverão obedecer as diretrizes do uso na zona de sua localização;
e) Estacionamento no sub-solo;
f) Terraços, , marquises e sacadas, estas quando abertas em seus três lados e com
balanço de , no máximo 1,50 m (um metros e cinqüenta centímetros);
g) Escadas principais, fechadas, abertas protegidas e enclausuradas, respeitando-se as
normas vigentes;
h) Casa de bombas;
i) Espaço destinado à coleta de lixo;
j) Casa de máquinas dos elevadores.
Art. 19 Não serão computados como projeção no plano horizontal da área ocupada
por edificação, para aplicação da Taxa de Ocupação (TO), as áreas correspondentes a:
a) projeções de coberturas e abrigos para automóveis, desde que situados fora da
projeção do prédio principal e abertas, podendo ser fechadas somente nas divisas
do lote.
b) Projeções de sacadas.
CAPÍTULO II
Das Edificações
SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 20 A edificação de qualquer natureza, por iniciativa pública ou particular, que
implique uso do solo ou pressuponha o seu parcelamento, a ampliação das edificações
construídas ou as obras de reforma substancial das mesmas, ficam sujeitas à prévia aprovação
municipal.
§ Único Na aprovação, serão observadas as diretrizes gerais de uso e parcelamento
do solo, e as demais normas urbanísticas estabelecidas pela presente lei, bem como as normas
atinentes às edificações em geral constante de legislação específica.
215
Art. 21 Sempre que for solicitada a Licença para construção, poderá a Prefeitura
Municipal providenciar na locação do alinhamento da mesma de acordo com os asfaltamentos
previstos nesta lei.
§ Único Nas edificações existentes que não obedeça esses alinhamentos, serão
permitidas apenas obras de manutenção do prédio, sendo vedadas ampliações ou reformas
sobre a área não edificáveis.
Art. 22 – Nas Zonas de Eventos, Educacional e áreas da Administração Pública,
somente serão permitidas edificações inerentes à finalidade de sua destinação, ouvidos a
respeito os órgãos municipais competentes.
Art. 23 As edificações executadas em desacordo com este Plano, ficam sujeitas a
embargos administrativos e demolições, sem qualquer indenização por parte do Município.
SEÇÃO II
Dos Recuos Urbanísticos
Art. 24 A localização das edificações, no seu sítio de implantação, relativamente á
situação, área, entorno urbano, ocorrência e elementos naturais e paisagísticos e condição
topográfica dos lotes do terreno sobre os quais assentarem será determinada pelos recuos
urbanísticos.
Art. 25 – Os recuos urbanísticos classificam-se em:
- Recuos para Ajardinamento
- Recuos Laterais
- Recuos de Fundos
Art. 26 O Recuos para Ajardinamento, destinados a valorizar a paisagem urbana,
terão dimensões mínimas de 4,0 m(quatro metros), no pavimento térreo, em todas as zonas
residenciais e também nas zonas comerciais e de serviços, quando de tratarem de prédio de
uso exclusivamente residencial.
§ - Será permitido o balanço frontal dos prédios em geral, de 1/3 (um terço) do
recuo par ajardinamento a partir do segundo pavimento, incluindo-se nesta medida as sacadas,
quando houverem.
§ - Os prédios de uso comercial, de serviços ou mistos, poderão ser construídos no
alinhamento, desde que obedeçam os demais recuos (laterais e de fundos) previstos nesta
seção.
§ - A área do recuo para ajardinamento poderá ter no máximo 50% (cinqüenta por
cento de área pavimentada, sendo o restante obrigatoriamente destinada para área verde.
Art. 27 Nos lotes de terrenos de esquina com duas frentes, será obrigatório o recuo
para ajardinamento de 4,0 m (quatro metros) em uma das frentes de 2,0 m (dois metros) na
outra, para prédios destinados ao uso exclusivamente residencial. Neste caso, a edificação
ficará dispensada de um dos recuos laterais ou de fundos, desde que não hajam vãos de
iluminação e ou ventilação ara esta divisa.
216
Art. 28 – Fica vedada a construção em áreas de recuo para ajardinamento, excetuados:
I – Muros de arrimo decorrentes dos desníveis do terreno;
II Vedações nos alinhamentos ou nas divisas laterais desde que utilizados elementos
construtivos onde predominam os espaços vazios.
III – Escadarias ou rampas de acesso, quando necessárias, pela conformação natural do
terreno.
Art. 29 No recuo para ajardinamento é permitida a construção de sub-solo destinado
a estacionamento de automóveis ou depósitos, desde que 50% no mínimo, da área de recuo e
sobre o subsolo, seja destinada a área verde.
Art. 30 Em terrenos fortemente acidentados, é permitido a construção de garagens
para automóveis particulares, no alinhamento da via pública, ocupando parcialmente a área de
recuo para ajardinamento, uma vez satisfeitas as seguintes condições:
I – O terreno deve apresentar, em todas a extensão da testada, um declive em relação a
via pública com um desnível de 2,0 m(dois metros) no mínimo, medidos na linha
correspondente a profundidade de 4,0 m (quatro metros) em relação ao nível do passeio.
II A cobertura da garagem deverá ser construída por terraço plano para
aproveitamento de jardim, área de recreação ou esportes e estacionamento complementar
descoberto, respeitando o percentual mínimo de área verde (50%).
Art. 31 Os Recuos Laterais, destinados a criar melhores condições de insolação e
aeração entre as edificações vizinhas, terão as seguintes dimensões mínimas:
I – Em todas as edificações, o primeiro (térreo) e o segundo pavimentos ficarão isentos
de recuos laterais, sendo que a partir do piso do terceiro pavimento será obrigatório o recuo
mínimo de 1,50 m(um metros e cinqüenta centímetros), em ambas as divisas laterais, qualquer
que seja a testada do lote. Estes recuos poderão ser mantidos fixos ao quarto pavimento. A
partir do piso do quinto pavimento, os recuos deverão obedecer o inciso III deste artigo.
a) Neste caso, a sobreloja, quando houver, não será contada como pavimento
quando enquadrado em Uso conforme;
II – Nas edificações de até quatro pavimentos, será permitida a existência de recuo em
apenas uma das laterais do prédio sendo, nesta caso, obrigatório o recuo mínimo de 3,0 m
(três metros) desde o piso do primeiro pavimento (térreo), qualquer que seja a dimensão da
testada do lote. Estas edificações deverão também atender às exigências do inciso III deste
artigo.
III – As edificações deverão satisfazer as exigências de recuos laterais a seguir:
a) As áreas de recuos laterais poderão ser utilizadas como espaço coberto par
estacionamento de veículos ou passagem coberta de pedestres.
b) A soma dos recuos laterais não poderá ser inferior ¼ (um quarto) da altura máxima
da edificação que se construir, qualquer que seja a dimensão da testada do lote, excetuando-
se os recuos laterais do terceiro e quarto pavimentos das edificações do inciso I.
B1) Para efeito de cálculo da altura máxima prevista no item supra, desconsidera-se os
pavimentos que forem destinadas ao uso coletivo (em pilotis), estacionamento privativo e a
cobertura, quando esta for composta de “duplex”, desde que a sua área coberta não seja
superior a 50% da área global da parte inferior do duplex.
c) As áreas de reentrâncias situadas nos recuos laterais deverão atender as exigências
dos artigos do Código de obras do Município.
217
Art. 32 – O Recuo de fundos, também destinados a criar melhores condições de
insolação e aeração entre as edificações vizinhas, terá dimensões de 1/10 (um décimo) da
média da profundidade do terreno em toda sua extensão dos fundos e em todas as zonas.
§ - Poderão ser construídas, na área de recuo de fundos, determinada na forma do
caput deste artigo, construções térreas destinadas a garagens e outras dependências
caracterizadas como de serviços, desde que não ultrapassem a altura máxima equivalente a 01
pavimento.
§ - O recuo de fundos poderá ser reduzido em a1/20 (um vigésimo) da média da
profundidade do terreno, em toda a sua extensão dos fundos, em todas as zonas, desde que
esta medida subtraída, seja somada à medida do recuo de ajardinamento (art. 26), destinando-
se no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área somada para área verde.
SEÇÃO III
Das Marquises
Art. 33 nas edificações para fins comerciais, quando no alinhamento, será
obrigatoriamente exigido o uso de marquises sobre os passeios públicos, em conformidade ao
que dispõe o Código de Obras do Município.
SEÇÃO IV
Das Garagens
Art. 34 – Nos prédios destinados ao uso residencial ou misto, será exigida a construção
de garagens, guardando-se a proporção mínima de uma garagem para cada unidade
residencial, devendo ser preservadas as áreas de manobra.
§ Único – As garagens poderão ser substituídas por número equivalentes de vagas para
estacionamento, em área coberta ou descoberta, no próprio terreno, reservando as áreas de
manobra.
Art. 35 Na Zona Industrial, será exigida reserva de espaço comprovadamente
suficiente para que as manobras de cargas e descargas se efetuem dentro dos lotes.
SEÇÃO V
Do Número de Construções em um lote
Art. 36 Para que um lote de terreno posa receber isoladamente a construção de um
prédio, é necessário que possua as dimensões mínimas estabelecidas na Lei do Parcelamento
do Solo.
Art. 37 Os prédios existentes construídos sobre lotes de terreno que não se
enquadrarem no artigo anterior, não poderão sofrer obras de reforma ou ampliação que
possibilitem o aumento do número de economias ou habitações.
Art. 38 – Um mesmo lote de terreno poderá receber a construção de mais de um prédio
de frente em condomínio, sempre que corresponda a cada prédio a área mínima do terreno
exigida.
218
§ Único Entre duas construções no mesmo lote, deverá ser mantido o afastamento a
que estiverem sujeitos os prédios face às disposições estabelecidas para as áreas, recuos,
reentrâncias e poços de ventilação no Código de Obras.
Art. 39 Em todo o lote de terreno será permitida a construção de um segundo prédio
de fundos em condomínio desde que:
I - Fique assegurado aos prédios testada área mínima de terreno exigido.
II – Fique assegurado aos prédios dos fundos, área proporcional de terreno não inferior
à nima e um acesso privativo ao logradouro público de 3,00 (três metros), no mínimo, e
que permita uma passagem livre de altura não inferior a 3,50 m (três metros e cinqüenta
centímetros).
III Quando o prédio dos fundos possuir duas ou mais habitações ou economias, o
acesso deve ser adaptado à entrada de veículos, com pavimentação adequada e rampa com
inclinação máxima de 10% (dez por cento).
CAPÍTULO III
Do Sistema Viário
Art. 40 – O Sistema Viário é constituído pelo sistema hierarquizado das vias de
circulação urbana, em correspondência com os objetivos visados pelas diretrizes gerais de uso
do solo urbano, destinado a ordenar os deslocamentos de pessoas e cargas na área urbana com
vistas a:
I Criar condições ótimas de acessibilidade e rapidez dos deslocamentos entre
habitação e trabalho, comércio e serviços, bem como de acessibilidade à Zona Rural e aos
Municípios limítrofes;
II Criar uma estrutura de circulação urbana flexível, com alternativa de acesso aos
pólos de atividades urbanas;
III – Utilizar as vias de circulação urbana como indutores de ocupação do solo urbano,
bem como de contenção do crescimento urbano, além da RS-344;
IV Estabelecer vias de integração entre os setores Norte/Sul e Leste/Oeste da área
urbana.
Art. 41 – As vias classificam-se em:
I – Avenidas
II – Ruas Principais
III – Ruas Secundárias
IV – Travessas
V – Passagem para Pedestre
§ - As Avenidas tem por função coletar o tráfego regional, conduzindo-0
racionalmente, aos diversos setores da malha urbana, com gabarito mínimo de 30,00 m (trinta
metros), reservando ao passeio 4,00 m (quatro metros) em cada lateral e o canteiro central
5,00 (cinco metros). Vide anexo 03.
§ - As ruas principais tem por função coletar o trânsito local, conduzindo-o às vias
estruturais, tendo também a função de interligar setores urbanos que possuem menor
densidade de tráfego, com faixa nima de 20,00 metros (vinte metros), reservando ao
passeio de 4,00 metros em cada lateral. Vide anexo 03.
219
§ - As ruas secundárias tem por função viabilizar o acesso aos lotes dos setores
urbanos de sua localização, com faixa mínima de 16,00 m (dezesseis metros), reservando ao
passeio 3,00 metros (três meros) em cada lateral. Vide anexo 03.
§ - As travessas com extensão máxima de 80,00 m (oitenta metros), implantadas
somente em loteamentos populares, caracterizam-se pela pouca densidade de tráfego, com
fixa mínima de 12,00 metros, reservando ao passeio 2,00 m (dois metros) em cada lateral,
tendo obrigatoriamente mão única. Vide anexo 03.
§ - A Passagem para Pedestres, com faixa mínima de 8,00 metros, reservando ao
passeio Lateral 1,50 metros de cada lado, tem a função de proporcionar maior e melhor
acessibilidade ao interior do loteamento.
Art. 42 – As características geométricas, infra-estruturais e paisagísticas das vias
integrantes do Sistema Viário de Santo Ângelo, em consonância com as suas funções,
obedecerão aos elementos constantes do Quadro de Características (anexo 03) das Vias de
Circulação Urbana.
CAPÍTULO IV
Da Proteção Paisagística e Histórica
Art. 43 O Município instituirá com base no artigo 21 da Lei Federal n.º 6.513, de 20
de dezembro de 1977, áreas de locais de interesse público, na forma da regulamentação
estabelecida pelo Executivo Municipal.
Art. 44 As atividades governamentais de proteção paisagísticas e histórica serão
consubstanciadas em planos e programas atinentes a:
I – Padronização dos equipamentos das redes elétricas e telefônicas e zoneamento para
as redes subterrâneas e posteamento.
II – Arborização das vias e logradouros públicos;
III Planos de comunicação visual, onde fiquem estabelecidas normas para a
sinalização, nomenclatura e implantação de elementos de divulgação nos logradouros
públicos.
IV – Padronização da forma e estabelecimento de normas para a localização dos
equipamentos de atendimento ao público, tis como postos de venda de jornais, revistas, flores,
postos telefônicos e de correio, trailers e congêneres;
V Pavimento de passeios públicos com padrões diferenciados de acordo com
zoneamento a ser estabelecido;
VI Estabelecimento de normas para a utilização das fachadas frontais e dos terraços
das edificações em pontos que interfiram negativamente na paisagem urbana;
VII limitação ou proibição da implantação de cartazes, painéis ou similares em
locais que, de alguns forma, interfiram n paisagem;
VIII – Preservação de prédios de valor históricos e cultural.
Art. 45 Qualquer árvore poderá ser declarada imune de corte por ato de Executivo
Municipal, na forma do artigo 7, do Código Florestal, instituído pela Lei Federal n.º 4.771, de
15 de setembro de 1965, por motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-
semente.
TÍTULO III
220
Disposições Finais e Transitórias
Art. 46 Todos os planos e projetos de obras públicas e privadas executadas na área
urbana de jurisdição do Plano diretor ficam sujeitas a esta Lei a partir da data de sua
publicação.
§ Único Não serão atingidos por esta Lei, os projetos que tiverem sido aprovados
antes da data de sua publicação.
Art. 47 A localização e construção de cemitérios serão deferidos através de Lei
especial.
§ Único As capelas mortuárias terão sua localização integrada aos cemitérios e
templos religiosos.
Art. 48 A localização e construção de hospitais e congêneres deverão ser
previamente analisadas pelo Conselho Municipal de Urbanismo.
Art. 49 – Em torno dos hospitais, num raio de 250,00 m (duzentos e cinqüenta
metros), contados do centro do quarteirão nos quais se localizam os ditos estabelecimentos de
saúde, somente será permitida a localização de atividades afins ou os que não ocasionar
níveis de ruídos, de vibração, de tráfego ou poluição ambiental prejudiciais.
Art. 50 Os Projetos Especiais, de interesse social e os casos omissos nesta Lei, serão
decididos pelo Poder Executivo, ouvido o conselho Municipal de Urbanismo.
Art. 51 – O Poder Executivo Municipal poderá, ouvido o conselho Municipal de
urbanismo, encaminhar Projeto de Lei Complementar ao presente Plano Diretor,
estabelecendo critérios para regularização de obras edificadas em desacordo com a presente
lei, desde que observadas as seguintes condições:
I – que as obras tenham sido edificadas antes da vigência da presente lei;
II a regularização não prejudique o interesse de terceiros, nem fira legislação
superior.
Art. 52 Ficam revogadas as disposições em contrário, especialmente, as Leis n.º 706
de 05 de agosto de 1982, Lei n.º 758, de 20 de junho de 1983 e Lei n.º 1.155, de 30 de maio
de 1989.
Art. 53 – Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Registre-se, Publique-se e Cumpra-se.
GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO em 12 de
novembro de 1997.
JOSÉ LIMA GONÇALVES,
Prefeito Municipal.
221
ANEXO 01
Plano Diretor
de
Santo Ângelo
CLASSIFICAÇÃO DAS CATEGORIAS DE USO DO SOLO
PARA FINS DE ZONEAMENTO
222
ANEXO 01
Plano Diretor de Santo Ângelo
CLASSISFICAÇÃO DAS CATGORIAS DE USO DO SOLO
PARA FINS DE ZONEAMENTO
1 – RESIDENCIAL
1.1. Unifamiliar
1.2. Multifamiliar
2 – COMÉRCIO
2.1. COTIDIANO
2.1.1. Açougue
2.1.2. Feiras, mercados, fruteiras, hortomercados e armazéns
2.1.3. Padaria, mercearia e fiambreria.
2.2. OCASIONAL
2.2.1. Bar, café, lancheria, restaurante e churrascaria.
2.2.2. Confeiteria e bomboniere.
2.2.3. Drogaria, perfumaria e farmácia.
2.2.4. Tabacaria, revistas e artigos lotéricos.
2.2.5. Papel, impressos e artigos de escritório.
2.2.6. Livraria.
2.2.7. Bazar, artigos de plásticos, presentes, artesanato, souvenirs, brinquedos,
bijuterias, discos e fitas.
2.2.8. Ópticas, joalherias, relojoarias, artigos fotográficos e cinematrográficos.
2.2.9. Calçados, artefatos de couro, tecidos e artefatos de tecidos, artigos de
vestuários e armarinhos.
2.2.10. Supermercados.
2.3. ESPECIAL
2.3.1. Ferragens, louças, produtos metalúrgicos, artigos sanitários, material de
construção, vidraçaria e material elétrico.
2.3.2. Móveis, tapeçaria e outros artigos de decoração.
2.3.3. Máquinas, aparelhos, eletrodomésticos, equipamentos de som e outros.
2.3.4. Instrumentos médico-hospitalares, material odontológico, aparelhos
ortopédicos e auditivos e equipamentos científicos e de laboratório.
2.3.5. Artigos de plástico e borracha.
2.3.6. Artigos desportivos.
2.3.7. Comércio e corretagem de imóveis e de valores imobiliários, seguros e
capitalização.
2.3.8. Funerária e artigos religiosos.
2.3.9. Floristas e floricultura.
2.3.10. Produtos agropecuários e extrativos.
2.3.11. Veículos e acessórios.
2.3.12. Combustíveis e lubrificantes.
2.3.13. Máquinas e implementos agrícolas.
2.4. ATACADISTA (vide art. 7º, item II)
2.4.1. Atacadista I
2.4.2. Atacadista II
223
2.4.3. Atacadista III
3. SERVIÇOS
3.1. LOCAIS
3.1.1. Alfaiatarias e costureiras.
3.1.2. Lavanderias e tinturarias.
3.1.3. Engraxatarias.
3.1.4. Barbearias e salões de beleza.
3.1.5. Estúdios fotográficos e similares.
3.1.6. Oficinas de conserto de jóias e relógios.
3.1.7. Oficinas de conserto de eletrodomésticos.
3.1.8. Oficinas de conserto de artigos de couro.
3.2. DIVERSIFICAÇÃO OU GERAIS
3.2.1. Consultórios médicos e odontológicos, clínicas médicas e policlínicas e
odontológicas, laboratórios de análises clínicas, radiologia, óptica e prótese.
3.2.2. Hotéis e pensões.
3.2.3. Profissionais liberais.
3.2.4. Estúdio de pintura, desenho e escultura.
3.2.5. Agências de emprego, serviços de seleção, treinamento e admissão de pessoal e
locação de mão-de-obra.
3.2.6. Agências de viagem e turismo.
3.2.7. Locadoras de veículos.
3.2.8. Escritórios de representações, comissões, cobranças, contabilidade, auditoria,
despachante, procuradoria, assessoria e projetos econômicos.
3.2.9. Processamento de dados e locação de equipamentos afins.
3.2.10 – Bancos, caixas econômicas e outras instituição de crédito.
3.2.11. Rádio e Televisão.
3.2.12. Clínicas veterinárias.
3.3. ESPECIAIS
3.3.1. Garagens em geral e estacionamento para veículos, excetuados os de
carga e coletivos.
3.3.2. Postos de abastecimento, lavagens e lubrificação de veículos.
3.3.3. Reparação e manutenção de veículos de passeio, coletivos, de carga e
motocicletas.
3.3.4. Reparação, manutenção e conservação de tratores, máquinas agrícolas e
de terraplenagem e pequenas embarcações.
3.3.5. Retifica de motores.
3.3.6. Transportadoras, terminais de transportes, despachos e encomendas de
cargas, prensagem, embalagem e acondicionamento de mercadorias.
3.3.7. Empresas de táxi, lotação e mudanças.
3.3.8. Motéis.
4. INSTITUCIONAL I e II (vide art. 7º, item IV)
4.1. EDUCACIONAIS
4.1.1. Escolas pré - primárias.
4.1.2. Escolas de 1º grau.
4.1.3. Escolas de 2º grau.
4.1.4. Escolas de grau superior.
224
4.2. SOCIAIS
4.2.1. Creches
4.2.2. Dispensário de proteção maternal e infantil.
4.2.3. Centro Social urbano.
4.2.4. Casa do Retiro para velhos.
4.2.5. Lar para velhos.
4.2.6. Alojamento para velhos.
4.2.7. Dispensário de higiene mental.
4.2.8. Dispensário antituberculose.
4.2.9. Clínica de recuperação.
4.2.10. Centro médico.
4.2.11. Maternidade.
4.2.12. Institutos de previdência e assistência social.
4.2.13. Entidades de classe e sindicais.
4.2.14. Hospital público ou privado geral.
4.2.15. Hospital público ou privado especializado.
4.2.16. Pronto Socorro.
4.2.17. Ambulatórios.
4.2.18. Bancos de Sangue.
4.2.19 – Instituições para menores.
4.2.20. Escolas para excepcionais.
4.3. CULTURAIS
4.3.1. Centro Cultural.
4.3.2. Biblioteca Pública.
4.3.3. Pinacotecas.
4.3.4. Museus.
4.3.5. Instituições científicas e tecnológicas.
4.4. CULTUAIS
4.4.1. Templos e locais de cultos em geral.
4.5. RECREACIONAIS
4.5.1. Jardins públicos arborizados.
4.5.2. Parques.
4.5.3. Estádios desportivos.
4.5.4. Clubes e associações recreativas e esportivas.
4.5.5. Cinemas.
4.5.6. Teatros.
4.5.7. Parques de diversão e área para circos.
4.5.8. Casas de espetáculos e diversão para adultos.
5. INDUSTRIAL
5.1. INOFENSIVO
5.1.1. Padarias e confeitarias.
5.1.2. Vulcanizadoras.
5.1.3. Serralheiras e funilarias.
5.1.4. Carpintarias e marcenarias.
5.2. INCOMODO
5.3. NOCIVO
225
ANEXO 02
PLANO DIRETOR
DE
SANTO ÂNGELO
QUADRO DE USOS E REGIMES
226
ANEXO 02
Plano Diretor
de
Santo Ângelo
QUADRO DE USOS E REGIMES
USO CONFORME E REGIME URBANÍSTICO
ZONA COMERCIAL - ZC
2. COMÉRCIO
2.1. Cotidiano (todos)
2.2. Ocasional (todos)
3. SERVIÇOS
3.1. Locais (todos)
3.2. Diversificados ou Gerais (todos)
4. INSTITUCIONAL
4.1. Educacionais (todos)
4.2. Sociais (somente 4.2.12. - 4.2.16. – 4.2.17 – 4.2.18)
4.3. Culturais (todos)
4.5. Recreacionais (exceto 4.5.3. – 5.5.4. – 4.5.7. – 4.5.8.)
I. Aprov. 5 vezes
T. Ocup. 75%
USO PERMISSÍVEL E REGIME URBANÍSTICO
ZONA COMERCIAL - ZC
1. RESIDENCIAL
1.1. Unifamiliar
1.2. Multifamiliar
2. COMÉRCIO
227
2.3. Especial (exceto 2.3.10. – 2.3.13)
2.4. Atacadista (somente 2.4.1.)
3. SERVIÇOS
3.3. Especiais (somente 3.3.1. – 3.3.2. – 3.3.3.)
4. INSTITUCIONAL
4.2. Sociais (exceto 4.2.3. – 4.2.4. – 4.2.5. – 4.2.7. – 4.2.8. – 4.2.14 – 4.2.15)
4.4. Cultuais
4.5. Recreacionais (exceto 4.5.3.)
5. INDUSTRIAL
5.1. Inofensivo (somente 5.1.1.)
I. Aprov. 4 vezes
T. Ocup. 60%
USO CONFORME E URBANÍSTICO
ZONA RESIDENCIAL 1 – ZR1
1. RESIDENCIAL
1.1. Unifamiliar
1.2. Multifamiliar
2. COMÉRCIO
2.1. Cotidiano (todos)
2.2. Ocasional (todos)
3. SERVIÇOS
3.1. Locais (todos)
4. INSTITUCIONAL
4.1. Educacionais (todos)
4.3. Culturais (todos)
4.4. Cultuais
4.5. Recreacionais (exceto 4.5.3. – 4.5.4. – 4.5.7. – 4.5.8.)
I. Aprov. 3 vezes
T. Ocup. 60%
USO PERMISSÍVEL E REGIME URBANÍSTICO
228
ZONA RESIDENCIAL 1 – ZR1
2. COMÉRCIO
2.3. Especial (exceto 2.3.10 – 2.3.12. – 2.3.13)
2.4. Atacadista (somente 2.4.1.)
3. SERVIÇOS
3.2. Diversificados ou Gerais 9todos)
3.3. Especiais (exceto 3.3.4. – 3.3.6. – 3.3.8.)
4. INSTITUCIONAL
4.2. Sociais (exceto 4.2.8. – 4.2.14. – 4.2.15.)
5. INDUSTRIAL
5.1. Inofensivo (somente 5.1.1.)
I. Aprov. 2 vezes
T. Ocup. 50%
USO CONFORME E REGIME URBANÍSTICO
ZONA RESIDENCIAL 2 – ZR2
1. RESIDENCIAL
1.1. Unifamiliar
2. COMÉRCIO
2.1. Cotidiano (todos)
2.2. Ocasional (todos)
3. SERVIÇOS
3.1. Locais (todos)
4. INSTITUCIONAL
4.1. Educacionais (todos)
4.3. Culturais (todos)
4.4. Cultuais (todos)
4.5. Recreacionais
I. Aprov. 2,0 vezes
T. Ocup. 60%
USO PERMISSÍVEL E REGIME URBANÍSTICO
229
ZONA RESIDENCIAL 2 – ZR2
1. RESIDENCIAL
1.2. Multifamiliar
2. COMÉRCIO
2.3. Especial
2.4. Atacadista (somente) 2.4.1.)
3. SERVIÇOS
3.2. Diversificados ou Gerais (todos)
3.3. Especiais (somente 3.3.1. – 3.3.2. – 3.3.3. – 3.3.5. e 3.3.7.)
5. INDUSTRIAL
5.1. Inofensivo
I. Aprov. 1, 5 vezes
T. Ocup. 50%
USO CONFORME E REGIME URBANÍSTICO
ZONA INDUSTRIAL – ZR1
5. INDUSTRIAL
5.1. Inofensivo
5.2. Incômodo
5.3. Nocivo
I. Aprov. 5 vezes
T. Ocup. 60%
USO PERMISSÍVEL E REGIME URBANÍSTICO
ZONA INDUSTRIAL – Z1
2. COMÉRCIO
2.4. Atacadista (todos)
3. SERVIÇOS
3.2. Diversificados ou Gerais
3.3. Especiais
230
I. Aprov. 3 vezes
T. Ocup. 50%
USO CONFORME E REGIME URBANÍSTICO
ZONA ESPECIAL DE SERVIÇOS – ZES
2. COMÉRCIO
2.3. Especial (todos)
3. SERVIÇOS
3.1. Locais (todos)
3.2. Diversificados ou Gerais (todos)
3.3. Especiais (todos)
I. Aprov. 3,0 vezes
T. Ocup. 60%
USO PERMISSÍVEL E REGIME URBANÍSTICO
ZONA ESPECIAL DE SERVIÇOS – ZES
1. RESIDENCIAL
1.1. Unifamiliar (somente como parte do uso conforme)
2. COMÉRCIO
2.4. Atacadista (todos)
2.2. Ocasional (somente 2.2.1. como parte do uso conforme)
4. INSTITUCIONAL
4.5. Recreacionais (exceto 4.5.5. – 4.5.6. – 4.5.7.)
5. INDUSTRIAL
5.1. Inofensivo (todos)
5.2. Incômodo
I. Aprov. 2 vezes
T. Ocup. 50%
ANEXO 03
231
Plano Diretor
de
Santo Ângelo
QUADRO DE CARACTERÍSTICAS DAS
VIAS DE CIRCULAÇÃO URBANA
ANEXO 03
232
QUADRO DE CARACTERÍSTICAS DAS VIAS DE
CIRCULAÇÃO URBANA
CLASSIFICAÇÃO
DAS VIAS
LARGURA DECLIVIDADE RAIO DE
CURVATURA
MÍNIMA
LARGURA DOS
PASSEIOS
UNIDADES METROS MÁX MÍNIM METROS METROS
AVENIDAS 30,00 26 0,50 100,00 5,00 CENTRAL
4,00 LATERAIS
RUAS
PRINCIPAIS
20,00 10 0,50 80,00 4,00
RUAS
SECUNDÁRIAS
16,00 12 0,50 30,00 3,00
TRAVESSAS 12,00 12 0,50 30,00 2,00
PASSAGEM P/
PEDESTRES
8,00 12 0,50 30,00 1,5
Lei nº 2.257
De 18 de fevereiro de 1999.
233
INSTITUI CRITÉRIOS PARA REGULARIZAÇÃO
DE IMÓVEIS EXISTENTES NO MUNICÍPIO DE
SANTO ÂNGELO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
O PREFEITO MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO, no uso das atribuições que lhe
confere a Lei Orgânica Municipal.
FAÇO SABER, que o Poder Legislativo aprovou e eu sanciono a seguinte
LEI:
Art. 1º - Para regularização perante a Prefeitura Municipal de Santo Ângelo, os
imóveis existentes devem apresentar as seguintes condições:
1) Estar concluído antes da vigência da Lei 2.154/97, que institui o Plano Diretor do
Município;
2) O Imóvel que deve ser vistoriado pelo Setor Técnico para verificar as condições de
habilidade, salubridade e época de existência e receber laudo técnico que comprove as
condições do mesmo;
3) Não ocasionar prejuízos a terceiros em nenhum aspecto.
Art. 2º - Revogadas as disposições em contrário, esta lei entrará em vigor na data de
sua publicação.
REGISTRE-SE E PUBLIQUE-SE.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO, em 18 de fevereiro de 1999.
Dr. LÓI ROQUE BIACCHI,
Vice-Prefeito no exercício do cargo de
Prefeito Municipal.
LEI N.º3.008 DE 29 DE AGOSTO DE 2006
nova redação ao item 2 do art. da Lei n.º
2.257 de 18/02/1999 que Institui critérios para
regularização de imóveis existentes no
município de Santo Ângelo e outras
providências.
O PREFEITO MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO, no uso das atribuições que lhe
são conferidas pela Lei Orgânica do Município.
FAÇO SABER que a Câmara Municipal de Vereadores aprovou e eu sanciono a
seguinte
L E I:
234
Art.
O item 2 do art. da Lei 2.257 de 18/02/1999, passa a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 1º
2- O responsável técnico pela regularização deve encaminhar Laudo Técnico
com ART, atestando as condições de habitabilidade, salubridade, estabilidade e época da
existência do imóvel.”
Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
REGISTRE-SE E PUBLIQUE-SE.
CENTRO ADMINISTRATIVO JOSE ALCEBÍADES DE OLIVEIRA, em 29
de agosto de 2006.
EDUARDO DEBACCO LOUREIRO,
Prefeito
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