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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
VÂNIA PAIVA MARTINS
ANÁLISE AMBIENTAL E LEGAL DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO E
ESTRUTURAÇÃO URBANA DA CIDADE DE JOÃO PESSOA / PB,
NUMA VISÃO SISTÊMICA.
João Pessoa - PB
2006
1
UFPB UEPB
UERN
UESC
UFAL
UFS UFRN
UFS UFPI
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VÂNIA PAIVA MARTINS
ANÁLISE AMBIENTAL E LEGAL DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO E
ESTRUTURAÇÃO URBANA DA CIDADE DE JOÃO PESSOA / PB,
NUMA VISÃO SISTÊMICA.
Dissertação apresentada ao
Programa Regional de Pós-
Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente PRODEMA,
Universidade Federal da Paraíba,
Universidade Estadual da Paraíba
em cumprimento às exigências para
obtenção de grau de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima
PRODEMA-UFPB/UEPB.
2º Orientador: Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro PRODEMA-UFPB/UEPB.
João Pessoa – PB
2006
2
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VÂNIA PAIVA MARTINS
ANÁLISE AMBIENTAL E LEGAL DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO E
ESTRUTURAÇÃO URBANA DA CIDADE DE JOÃO PESSOA / PB,
NUMA VISÃO SISTÊMICA.
Dissertação apresentada ao
Programa Regional de Pós-
Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente PRODEMA,
Universidade Federal da Paraíba,
Universidade Estadual da Paraíba
em cumprimento às exigências
para obtenção de grau de Mestre
em Desenvolvimento e Meio
Ambiente.
Aprovado em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima – CCEN / DGEOC / UFPB
Orientador
_________________________________________
Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro – CT / DA / UFPB
Orientador
_________________________________________
Prof. Dr. Roberto Sassi – CCEN / DGEOC / UFPB
Examinador interno
_________________________________________
Prof. Dr. Marx Prestes Barbosa - UFCG
Examinador externo
_________________________________________
Prof. Dr.Doralice Sátyro Maia – CCEN / DGEOC / UFPB
Suplente
3
Ao meu Senhor e meu Deus, fonte inesgotável de
Amor e de Vida, presença real e concreta em mim e
ao meu redor.
Aos meus filhos, Tiago e Daniel, presentes divinos e
amigos verdadeiros.
4
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é o resultado da contribuição direta e indireta de várias
pessoas. Sendo impossível a citação de todas, gostaria de fazer referência a
algumas delas.
Ao professor Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima, pela sua competência,
ética e conhecimento, mais do que um orientador foi um amigo transmitindo
segurança e objetividade durante todo o desenvolvimento deste trabalho;
Ao professor Dr. Edson Leite Ribeiro, arquiteto urbanista profundamente
comprometido com a ecologia, pela sua disponibilidade e orientações;
Aos professores do PRODEMA / UFPB, em especial Takako Watanabe,
Marcos Romero, Breno Grisi, Maristela Andrade, Roberto Sassi, pelo incentivo
e força;
Aos meus colegas de turma, Rogério, Rafael, Rodrigo, Ruceline, Tarcísio,
Jorge e Juliana, em especial à Jônica e à Sylvia, pelo privilégio da amizade e
aprendizado de vida;
Aos meus filhos pela ajuda e apoio e à minha família, irmãos e irmãs, em
especial Neuza Martins Gomes e Maria Auxiliadora Martins Maroja Garro,
amigas de todas as horas, que estiveram sempre ao meu lado, na partilha da
vida a me incentivar sempre;
Aos meus irmãos na do Grupo de Oração “Arca da Aliança” da Renovação
Carismática Católica, família espiritual, pela oração constante;
Aos meus colegas da SUPLAN, em especial a engenheira Lygia, ao
engenheiro calculista Luiz Pinto, a arquiteta Solange Galvão e aos Diretores
pelo incentivo e apoio durante a elaboração deste trabalho;
Aos órgãos e empresas que me receberam e forneceram dados e
informações para este trabalho, como a INTERPA, CAGEPA, PMJP, CDRM.
ATECEL, CONCRESSOLO, ARCO PROJETOS e outros.
5
RESUMO
Após a segunda guerra mundial, com o surgimento das correntes antiurbanas
e o despertar da crise ambiental com a percepção da esgotabilidade dos recursos
naturais, verificou-se neste período uma espécie de rompimento entre o desenho da
paisagem, o racionalismo e a estética, e conseqüentemente, o aparecimento do
modelo naturalista. Atualmente, diante do desafio da sustentabilidade mundial, urge
a necessidade de um planejamento urbano sob o enfoque ecológico, baseado na
análise e diagnose do território numa composição orgânica da cidade e seu entorno
e não apenas em função da estratégia geral de consumo das atividades humanas.
Percebe-se que a legislação de zoneamento municipal vigentes contribui para a
segregação social e para a ilegalidade e não apresentam soluções eficazes para o
conflito entre a questão ambiental e as potencialidades dos arranjos locais e
informais.A cidade, entendida como um ecossistema urbano, é um espaço
totalmente dominado por uma dinâmica antrópica de atividades econômicas que
provocam mutações no uso do solo urbano e modificações na paisagem. Ao se
expandir, a cidade vai deixando para trás áreas abandonadas que irão coexistir com
espaços ocupados intensamente e desordenadamente. Como um organismo vivo o
espaço urbano vai consumindo a matéria-prima e energia do ambiente local e
adjacente e ao mesmo tempo produzindo todos os tipos de resíduos destruidores
das reservas naturais. Este trabalho mostra o crescimento urbano do município de
João Pessoa no estado da Paraíba nos últimos cinqüenta anos e suas
conseqüências, através da análise comparativa do zoneamento do uso do solo
urbano definido pelo atual Plano Diretor e a síntese da potencialidade para a
ocupação urbana sob o enfoque ecológico.
PALAVRAS-CHAVE: Ecossistema urbano. Sustentabilidade ecológica. Zoneamento
urbano
6
ABSTRACT
After to Second World War, with the appearance of the same currents about
city planning and the awakening of the environmental crisis with the perception that
the natural resources are going to the exhaustion, it was verified in this period a type
of breaking among the drawing of the landscape, the rationalism and the aesthetics,
and consequently, the emergence of the naturalistic model. Now, before the
challenge of the world sustainability, it urges the need of an urban planning under the
ecological focus, based on the analysis and diagnosis of the territory in an organic
composition of the city and yours spills and not just in function of the general strategy
of consumption of the human activities. It is noticed that the effective legislation of
municipal zoning contributes for the social segregation and for the illegality and they
don't present effective solutions for the conflict between the environmental subject
and the potentialities of the local and informal arrangements.The city, understood as
an urban ecosystem, it is a space totally dominated by a dynamics made by the man
and economical activities that provoke mutations in the use of the urban soil and
modifications in the landscape. When expanding, the city is going leaving abandoned
areas that will coexist with spaces back occupied intensely and inordinately. As an
alive organism the urban space is going consuming the raw material and energy of
the local and adjacent atmosphere at the same time producing all of the types of
destructive residues of the nature reserves. This work shows the urban growth of the
municipal district of João Pessoa in the state of Paraíba the last fifty years and their
consequences, through the comparative analysis of the zoning of the use of the
defined urban soil for the current Master plan and the synthesis of the potentiality for
the urban occupation under the ecological focus.
KEY WORDS:
Urban ecosystem. Ecological sustainability. Urban zoning.
LISTA DE SIGLAS
7
BNH – Banco Financeiro de Habitação.
GAGEPA – Companhia de Água e Esgoto da Paraíba.
CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INTERPA – Instituto de Terras e Planejamento Agrícola
LAURBE - Laboratório do Ambiente Urbano Edificado da Universidade Federal da
Paraíba
LEPAN – Laboratório de Ensino e Pesquisa em Analise Espacial da Universidade
Federal da Paraíba
MURBD – Mapa Urbano Digital da cidade de João Pessoa
PDU – Plano de Desenvolvimento Urbano
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o meio Ambiente
PRODEMA – Programa Regional de Pós–Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente.
SEPLAN – Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura Municipal de João
Pessoa
SFH – Sistema Financeiro de Habitação
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
SIG – Sistema de Informação Geográfica
SPRING – Sistema de Processamento de Informação Geográfica
UFPB – Universidade Federal da Paraíba.
UEPB – Universidade Estadual da Paraíba.
ZEP – Zona Especial de Preservação.
LISTA DE FIGURAS
8
Figura 01 Localização do município de João Pessoa, PB. 47
Figura 02 Recifes na Praia de Tambaú, João Pessoa, PB. 48
Figura 03 ”Falésia viva” da Ponta do Cabo Branco, João Pessoa, PB 49
Figura 04 “Falésia morta” no Bairro Jardim Luna, João Pessoa. 50
Figura 05 Mapa Geológico do Município de João Pessoa/PB. 53
Figura 06 Mapa Planialtimétrico do Município de João Pessoa/PB. 56
Figura 07 Mapa de Declividade do Município de João Pessoa/PB. 57
Figura 08 Mapa Topomorfológico do Município de João Pessoa/PB. 58
Figura 09 Estratificão de Permeabilidade da Formação Guararapes do Grupo
Barreiras em João Pessoa/PB. 59
Figura 10 Esquema das águas subterrâneas. 60
Figura 11 Mapa Hidrogico do Município de João Pessoa/PB. 63
Figura 12 Mapa das Áreas Alaveis do Município de João Pessoa/PB. 64
Figura 13 Mapa do solo do Município de João Pessoa/PB. 67
Figura 14 Mapa da cobertura vegetal do Munipio de Jo Pessoa / PB em 1944. 69
Figura 15 Mapa da Área Urbana de João Pessoa em 1944. 71
Figura 16 Mapa da Área Urbana de João Pessoa em 1970. 72
Figura 17 Mapa da Área Urbana de João Pessoa em 2005. 73
Figura 18 Mapa da Evolução da Ocupação Urbana. 91
Figura 18 Mapa da Evolução Urbana do Município de João Pessoa/PB. 75
Figura 19 Mapa das Zonas de Proteção Ambiental para o Munipio de João
Pessoa/PB. 77
Figura 20 Mapa da Legislação Urbanística – Uso do Solo do Município de João
Pessoa/PB. 80
Figura 21 Mapa da Legislação Urbanística – Macrozoneamento do Município de João
Pessoa/PB. 81
Figura 22 Representação do processo metodológico para análise ambiental. 83
Figura 23 Fluxograma das etapas de trabalho. 87
Figura 24 Mapa das Restrições Geológicas do Município de João Pessoa/PB. 103
Figura 25 Mapa das Restrições dos Solos do Município de João Pessoa/PB. 104
Figura 26 Mapa das Restrições Topomorfológicas do Município de J. Pessoa/PB 105
Figura 27 Mapa das Restrições Hidrológicas do Município de João Pessoa/PB. 106
9
Figura 28 Mapa das Restrições de Declividade do Município de João Pessoa/PB 107
Figura 29 Mapa das Restrições do Meio Físico do Município de João Pessoa/PB 110
Figura 30 Mapa dos Conflitos das Restrições do Meio Físico / Área Urbana do
Município de João Pessoa / PB em 1944. 112
Figura 31 Mapa dos Conflitos das Restrições do Meio Físico / Área Urbana do
Município de João Pessoa / PB em 1974. 114
Figura 32 Mapa dos Conflitos das Restrições do Meio Físico / Área Urbana do
Município de João Pessoa / PB em 2005. 115
Figura 33 Localização do Conflito com o Meio Físico no Bairro Ilha do Bispo. 118
Figura 34 Foto da Localização de Conflitos com o Meio Físico na cidade de João
Pessoa. 118
Figura 35 Foto da Fábrica de Cimento CIMEPAR. 119
Figura 36 Foto da Área de Conflito no bairro Jardim Marizópolis, entre a Fazenda Boi
Só e a PROMAC. 120
Figura 37 Foto de Conflito no Topo e na Base da Falésia do Jardim Luna às margens
do rio Jaguaribe. 121
Figura 38 Mapa das Restrições do Meio Físico e da Legislação Ambiental do
Município de João Pessoa/PB. 123
Figura 39 Mapa das Restrições do Meio Físico e do Macrozoneamento do Município
de João Pessoa/PB. 125
Figura 40 Mapa de Zoneamento de João Pessoa. 127
Figura 41 Mapa das Restrições do Meio Físico e do Zoneamento do Uso do Solo do
Município de João Pessoa/PB. 128
Figura 42 Mapa das Restrições Totais com a Ocupação Urbana do Município de João
Pessoa/PB. 133
Figura 43 Bairro do Cristo, mostrando a ocupação na área em torno das cinco lagos,
na parte de cima à esquerda. 134
Figura 44 Conflito no Bairro Valentina, junto ao rio Cuia. 134
Figura 45 Ocupação do Bairro dos Bancários no trecho do rio Timbó. 135
Figura 46 Bairro do Altiplano e a ocupação no Topo da falésia. 135
Figura 47 A falésia entre a Praia do Cabo Branco e Bairro do Altiplano. 136
LISTA TABELAS
10
Tabela 01 - Esquema comparativo da Legislação Ambiental sobre preservação
Das matas ciliares. 41
Tabela 02 - Estratigrafia no Município de João Pessoa. 51
Tabela 03 - Geologia do Município de João Pessoa / PB. 52
Tabela 04 - Unidades Geomorfológicas do Município de João Pessoa/PB. 55
Tabela 05 - Topomorfologia do Município de João Pessoa / PB. 55
Tabela 06 - Condições Hidrogicas do Munipio de Jo Pessoa/PB. 61
Tabela 07 - Solos do Municíop de João Pessoa/PB. 66
Tabela 08 - Ocupação Urbana e Cobertura Vegetal. 68
Tabela 09 - Evolução da Ocupação de João Pessoa. 74
Tabela 10 - Legislação Ambiental. 76
Tabela 11 - Características geotécnicas das unidades estratigráficas do Município de
João Pessoa. 95
Tabela 12 - Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Geologia. 98
Tabela 13 - Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Hidrologia. 99
Tabela 14 - Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Topomorfologia. 99
Tabela 15 - Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Declividade. 100
Tabela 16 - Compatibilidade da Ocupação Urbana com o Solo. 100
Tabela 17 - Compatibilidade da Ocupação Urbana com os Fatores Ecológicos. 102
Tabela 18 - Classes de Restrições do Meio Físico. 108
Tabela 19 - Conflitos e Restrições do Meio Físico com a Ocupação Urbana do
Município de João Pessoa, PB. 117
Tabela 20 - Restrições do Meio Físico e da Legislação Ambiental. 122
Tabela 21 - Restrições do Meio Físico e do Macrozoneamento. 124
Tabela 22 - Restrições do Meio Físico e do Zoneamento Uso do solo. 126
Tabela 23 - Zonas Especiais de Preservação dos Grandes Verdes. 129
Tabela 24 - Zona de Preservação do Cabo Branco e Seixas. 131
Tabela 25 - Restrições Totais. 132
LISTA DE GRÁFICOS
11
Gráfico 01 - Disponibilidades Hídricas do Município de João Pessoa / PB. 62
Gráfico 02 - Áreas da Ocupação Urbana e da Cobertura Vegetal 1944 e Área da cidade
em 2005. 70
Gráfico 03 - Evolução da Ocupação Urbana de João Pessoa. 74
Gráfico 04 - Legislação Ambiental. 76
Gráfico 05 - Legislação Ambiental Urbanística – Macrozoneamento. 79
Gráfico 06 - Compatibilidade do Meio Físico do Município de João Pessoa. 109
Gráfico 07 - Conflitos com o Meio Físico em 1944. 111
Gráfico 08 - Conflito com o Meio Físico em 1974. 113
Gráfico 09 - Conflito com o Meio Físico em 2005. 116
Gráfico 10 - Conflitos e Restrições Totais à Ocupação Urbana 132
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 - Etapas realizadas. 88
SUMÁRIO
12
Dedicatória
Agradecimentos
Resumo
Abstract
Lista de Siglas
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Lista de Gráficos
Lista de Quadros
1. INTRODUÇÃO 15
2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS 17
2.1 Justificativa 17
2.2 Objetivo 19
2.2.1 Objetivos Específicos 19
3. O ENFOQUE AMBIENTAL NO URBANISMO 21
3.1 O Paradigma da Complexidade 21
3.2 Do planejamento urbano ao planejamento ambiental urbano 23
3.3 Condicionamentos físico-ambientais para o assentamento humano 26
3.4 Os recursos naturais e sua interação no ambiente urbano 29
3.5 Prevenir ou Remediar? (Dilemas da Legislação ambiental) 30
3.6 O Planejamento ambiental urbanístico brasileiro no século XXI 35
3.7 A Legislação Urbanística e seus instrumentos 38
3.7.1 O estatuto da cidade 39
3.8 Condicionamentos legais ambientais e urbanísticos à ocupação urbana. 40
4. A CIDADE DE JOÃO PESSOA 43
4.1 Os determinantes naturais na escolha do sítio 43
4.2 A Evolução Urbana e o Meio Ambiente 44
4.3 Os aspectos ambientais do território 46
4.3.1 Localização 46
4.3.2 Fisiografia da cidade 47
4.3.3 Clima 50
13
4.3.4 Geologia 51
4.3.5 Topomorfologia 54
4.3.6 Hidrologia 59
4.3.7 Solos 65
4.3.8 Vegetação 68
4.3.9 Áreas de Proteção Ambiental para o Município de João Pessoa 76
4.3.9.1 Legislação Urbanística da cidade de João Pessoa 78
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 82
5.1 Metodologia GEO-CIDADES 82
5.2 A Metodologia de McHarg 85
5.3 Metodologia utilizada 86
5.3.1 Levantamento e Pesquisa 88
5.3.2 Digitalização dos Mapas 90
5.3.3 Elaboração e Interpretação das Cartas Temáticas e Temporais 90
5.3.4 Elaboração e Avaliação das Cartas Sínteses 91
6. RESULTADOS 92
6.1 Compatibilidades e incompatibilidades físico-ambientais à ocupação urbana na
cidade de João Pessoa 92
6.1.1 Condições de suporte ou de fundação para o assentamento humano 93
6.1.2 Condições de suporte ambiental para o assentamento humano 96
6.2 Compatibilidades e incompatibilidades legais ambientais urbanísticas à
ocupação urbana 121
6.2.1 Legislação Ambiental 121
6.2.2 Legislação Urbanística 124
6.3 Síntese das inadequações físico-ambientais e legais ambientais urbanísticas
à ocupação urbana 131
7. CONCLUSÕES RECOMENDAÇÕES 137
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 142
1. INTRODUÇÃO
14
A percepção do esgotamento dos recursos naturais e o aumento das
desigualdades entre países, acompanhado de um crescimento populacional
acelerado, dentro de uma interdependência econômico-social, formam um cenário
desafiador para a vida no século XXI.
Diante disto, observam-se algumas iniciativas de organizações mundiais
para reverter este quadro, como o estabelecimento de agendas ambientais comuns,
como a Agenda 21, Tratados e Convenções. Estes acordos procuram criar um
encontro político entre uma agenda estritamente ambiental e uma agenda social,
resultado do entendimento da indissociabilidade dos fatores ambientais e sociais.
Neste contexto, o conhecimento científico precisa integrar política ambiental com
política econômica e realizar a difícil tarefa de unir teorias biológicas, sociais e
econômicas para a sobrevivência das futuras gerações.
Trata-se de uma mudança de paradigma em que a ciência procura entender
a multidimensionalidade dos fenômenos e seus dinamismos imprevisíveis. A
interpretação teórica de aplicações universalistas passa a ser rejeitada e busca-se a
fragmentação das relações que se encontram em constante mudança. Isto porque,
antes os sistemas eram entendidos como lineares e o espaço entendido
tridimensionalmente, já que se usava apenas três dimensões para a localização de um
ponto. Com o Paradigma atual da Complexidade, a dimensão depende do observador
e as relações passam a serem estudadas como multidimensionais.
A abordagem ecossistêmica trazendo consigo o Princípio da Complexidade
está em processo de construção nos campos da arquitetura e do planejamento
territorial, buscando a integração com outras disciplinas, numa visão holística do
mundo. Assim sendo, a cidade passa a ser encarada como uma rede de relações
diacrônicas e sincrônicas, um espaço que parece a condensação de vários tempos e
valores históricos.
Tanto no Brasil, como em outros países percebe-se uma dificuldade de unir
os aspectos legais e institucionais com conhecimentos técnicos, científicos e teóricos
na análise ambiental. Entre as várias metodologias utilizadas a partir dos princípios da
Agenda 21 Nacional, têm-se o Zoneamento Ecológico-Econômico utilizado para o
planejamento territorial, que estabelece uma avaliação sistemática dos elementos
15
naturais e socioeconômicos e dos fundamentos jurídicos e institucionais. No entanto, a
correlação dos fatores de diversos meios não é um diagnóstico do meio e sim a
identificação dos conflitos.
O presente trabalho trata de uma análise da compatibilidade dos
condicionantes ambientais e da legislação urbanística no processo de expansão e
estruturação urbana do município de João Pessoa / PB. A visualização em forma
cartográfica, dos conflitos da ocupação do uso do solo com os fatores ecológicos
permitiram a construção de um quadro geral das condições físico ambientais e uma
análise sobre como a gestão pública municipal tem legislado sobre a questão.
Esta análise desenvolveu-se a partir da metodologia proposta por McHarg
(1972), que consiste na compilação e mapeamento das informações básicas de cada
fator ambiental dentro de categorias estabelecidas. Desta forma, os fatores serão
interpretados e avaliados segundo um critério adequado de modo a reconstituí-lo em
um sistema de graduações hierárquicas, inclusive também, dentro de um cenário
temporal, mostrando as transformações ocorridas nos últimos cinqüenta anos no
município.
Com o auxílio de programas de computador de representação gráfica e SIG
(Sistema de Informação Geográfica) tornou-se possível a obtenção de um mapa
síntese das compatibilidades e incompatibilidades físico-ambiental e legal urbanística
da ocupação urbana do município de João Pessoa.
A comparação do mapa síntese com o atual mapa de Zoneamento Urbano
do governo municipal, onde se visualiza as incongruências existentes, induz a concluir
que a desconsideração com a questão ambiental na definição do uso do solo,
principalmente a dificuldade de enxergar o meio ambiente construído de forma
sistêmica tem contribuído para a ineficácia da aplicação da legislação ambiental e
urbanística vigente.
Este resultado tem como finalidade servir de contribuição para o
planejamento ambiental urbano da cidade de João Pessoa na medida em que fornece
uma visão geral dos conflitos existentes do território físico do município e,
principalmente, permitir a sociedade construir seu próprio sistema de valor, ao tomar
conhecimento da realidade ambiental e participando das decisões da gestão pública.
16
2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS.
“O sítio contem em muitos casos a gênese e o
potencial gerador das formas construídas, pelo
apontar de um traçado, pela expressão de um lugar”.
(LAMAS, 2000, p. 63).
2.1 Justificativa.
O aprofundamento das disparidades e desigualdades entre países, resultado
da atual ordem econômica mundial, juntamente com o crescimento populacional
acelerado e o processo de colapso das reservas naturais têm sido os principais temas
de discussão em escala planetária. As cidades refletem esse cenário, conservando no
seu interior os vestígios destes processos, como um fato natural construído no tempo
e depositária na memória coletiva.
De fato, a complexa dinâmica da rede urbana brasileira possui desafios
específicos para um desenvolvimento sustentável, independente do tamanho da
cidade, como a deficiência de moradias adequadas com serviços de saneamento
ambiental, desemprego, poluição ambiental, violência, baixa qualidade de transportes
públicos e marginalidade social. Além disto, a gestão das políticas urbanas cristaliza
um ideal de como devem ser as cidades em seus planejamentos e terminam por
excluir setores incapacitados financeiramente de se encaixar em padrões urbanísticos
e cujos cidadãos geralmente não são ouvidos sobre o futuro do local onde residem. A
conseqüência é a ineficácia de planos de desenvolvimento urbano e a percepção de
que a cidade cresce independente da legislação, e apesar do que foi planejado.
Os investimentos públicos e privados, por sua vez, contribuem ainda mais
para a ineficácia do planejamento urbano, ao desorganizar o mercado do valor do uso
do solo. Isto porque a cidade segue os planos, mas é induzida pelos investimentos,
que criam os modismos urbanos, representantes de uma simbologia pós-moderna,
enquanto o restante da cidade continua na pré-modernidade das condições urbanas.
A cidade de João Pessoa, com seus 420 anos de história, possui todas as
contradições e desigualdades sócio-espaciais das demais cidades brasileiras. O
17
território escolhido pelos portugueses na época do “descobrimento”, já deixava
transparecer as condições ambientais favoráveis para sua fundação, como clima,
relevo, solo e recursos hídricos. A evolução da sua morfologia retrata todas as
transformações urbanas do seu percurso dos tempos coloniais até os dias de hoje.
As iniciativas de regulação urbanísticas mais recentes ocorreram na década
de 70, com a aprovação do Plano de Desenvolvimento Urbano _ PDU que se baseava
num crescimento integrado e compatível com a infra-estrutura implantada. Segundo
Lima (2004), a cidade neste período começou um processo acelerado de favelização
que continuou nas décadas seguintes, mesmo com a elaboração do Plano Diretor e a
implantação das ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) e seus instrumentos
jurídicos. Na sua pesquisa realizada em 2002, João Pessoa possuía 106 aglomerados
populacionais de baixa renda em áreas de vulnerabilidade ambiental, como fundos de
vale, estuários e manguezais, falésias, dutos da rede de infra-estrutura e vias e nas
faixas de servidão da rede elétrica de alta tensão.
Lemos (2004), acrescenta, sobre esta mesma questão, que “os
problemas sociais e ambientais não podem ser explicados isolados do entendimento
do processo de formação desse espaço, estando esta dinâmica atrelada ao próprio
processo de transformação de sociedade e o modelo de desenvolvimento pelo qual o
país foi submetido em diferentes épocas”. (Lemos, 2004, p. 32).
Recentemente, a Lei Federal 10.257/01, o Estatuto da Cidade, veio
regulamentar a gestão democrática das cidades na formulação, execução e
acompanhamento dos planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano,
atribuindo aos planos diretores, a regulamentação para cada cidade. No entanto,
percebe-se que além da mobilização social, uma necessidade de capacitar a
população para o debate das questões ambientais, através de um diagnóstico amplo
das condições ambientais urbanas da cidade.
Na Conferência da Cidade de João Pessoa, realizada em setembro de
2005, tendo como tema geral “Reforma Urbana: cidade para todos”, a população,
gestores e técnicos de diversas áreas encaminharam 27 propostas de Política Urbana
Regional e Metropolitana, para a Conferência Estadual, das quais 10 se referem
diretamente à questão ambiental.
Este fato enfatiza uma preocupação geral da população com a preservação
dos recursos naturais e sua ligação com a qualidade de vida urbana, mostrando
18
assim, uma necessidade real de uma revisão do Plano Diretor do município, elaborado
inicialmente na década de setenta.
Esta análise, sempre atualizada dos fatores ambientais, é importante
porque os processos naturais se integram intrinsecamente, e têm cada um uma
implicação no desenvolvimento da cidade, resultando áreas propícias à determinada
ocupação e áreas com limitações ambientais. A identificação dos conflitos entre a
ocupação do uso do solo e os processos naturais do meio físico, é fundamentalque
estes processos apresentam valores, que se prejudicados, atingem o sistema urbano
com um todo.
De fato, observa-se que qualquer benefício tende a ser acumulado no setor
privado, enquanto que os custos financeiros para remediar as mudanças em longo
prazo, são diretamente de responsabilidade do setor público. A legislação ambiental
urbanística precisa refletir mais estes custos e as conseqüências das ações privadas.
Os benefícios de determinadas modificações na cidade, como a derrubada de
florestas naturais para a expansão imobiliária fica no setor privado, enquanto que os
custos e as conseqüências serão para todos os moradores através dos recursos
públicos e dos problemas ambientais decorrentes na vida urbana.
Desta forma, este trabalho ao fazer uma análise da ocupação e
estruturação urbana de João Pessoa sob o enfoque ecológico, através da comparação
da ocupação da cidade em 2005, com a situação do município em 1944 e 1974,
pretende contribuir com subsídios ao Planejamento Urbano do município.
2.2 Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é realizar uma análise das compatibilidades
ambientais com a ocupação urbana em função dos recursos naturais existentes na
cidade de João Pessoa, e a legislação ambiental e urbanística, visando o
planejamento urbano.
2.2.1 Objetivos Específicos
19
1. Caracterizar, detalhar os principais aspectos físicos ambientais do sítio urbano
de João Pessoa, como geologia, solo, declividade, topomorfologia, vegetação e
hidrologia.
2. Descrever o processo de expansão urbana da cidade e as alterações
ambientais através de cenários temporais nos anos de 1944, 1974 e 2005.
3. Fazer um estudo comparativo da legislação ambiental e urbanística em função
da atual ocupação do solo urbano.
4. Elaborar um mapa síntese das compatibilidades e incompatibilidades físico-
ambientais e legais, da forma atual de ocupação do solo da cidade de João
Pessoa.
20
3. O ENFOQUE AMBIENTAL NO URBANISMO
3.1 O Paradigma da Complexidade
Para Thomas S.Kuhn (1998) o desenvolvimento da ciência não ocorre pela
acumulação dos conhecimentos, mas pela transformação dos princípios que
organizam o conhecimento. De fato, as transformações revolucionárias que ocorrem
na evolução da ciência, fazem com que as teorias de visão do mundo e do universo
desabem diante do surgimento de um novo paradigma.
Esta forma de conceber o mundo não resulta de observação, mas é
conseqüência das formas de construção das teorias, que orientam os discursos
teóricos nos diversos campos de pesquisa.
Verifica-se que nos séculos XVI e XVII ocorreram mudanças radicais nas
concepções da natureza e da ciência. Até então, o mundo antigo e medieval tinha uma
visão de um cosmo ordenado e determinado. No entanto, surgiu uma profunda
incompatibilidade das novas teorias da cosmologia, que substituiu o geocentrismo pelo
heliocentrismo e da própria concepção de mundo finito por um universo infinito.
Com a Revolução Científica passa a imperar a metáfora do conhecimento
do mundo como uma máquina, do mecanicismo e do materialismo físico. O homem
passa a ser visto como uma máquina, separada da natureza, um ser racional, porém
isolado e dominador de objetos e do conhecimento. Surgiram os empiristas ingleses,
como Bacon, Locke, Hume e Mill que defendiam que toda fonte de conhecimento tem
ligações com as sensações, percepções e sentidos. Desta forma, o método científico é
a indução. Esta interpretação implica em dizer que o conhecimento está fora de nós.
Na mesma época, os racionalistas do continente europeu como Descartes,
Leibniz e Espinosa defendiam que a fonte do conhecimento não provém dos sentidos
e sim da intuição intelectual de idéias claras e distintas. O pensamento cartesiano ao
separar o corpo da alma e o ser humano da natureza, passa a considerar o homem
21
como uma máquina isolada e dominador de objetos do conhecimento. (PELIZZPLI,
2002).
Bachelard (1998) considera que o vetor epistemológico vai do racional para
o real e de forma alguma da realidade ao geral. Segundo este autor, o cientista não
pode ser realista ou racionalista à maneira dos filósofos, já que o ser não é apreendido
num bloco, nem pela experiência, nem pela razão.
Tanto os racionalistas, com seu método dedutivo como os empiristas
através do processo indutivo, são essencialistas; estão todos procurando a verdade.
Karl R. Popper (1982), cuja Teoria da Refutabilidade procura provar a falsidade na
ciência, se cala quanto à veracidade. De fato, não existe verdade científica e sim
verdades provisórias que se sucedem.
Para Edgar Morin (1999), estamos num período histórico de grande
desenvolvimento cientifico, técnico e sociológico, que tem acelerado retroações
estreitas e múltiplas.
Na verdade, a ciência clássica concebia a organização (sistema solar e
organismos vivos), mas não levava em consideração o problema da organização,
principalmente a questão da auto-organização, fundamental no estudo dos seres
vivos.
Está-se vivenciando uma mudança de paradigma, em que a ciência procura
restabelecer as articulações entre o que foi separado e tenta compreender a
multidimensionalidade dos fenômenos, reconhecendo as relações sujeito objeto e
ordem – desordem.
Para a ciência ambiental o paradigma da complexidade que surge é um
grande avanço, que as raízes de um ser ou de uma comunidade são uma mistura
de passado, presente e futuro e, portanto, não pode ser compreendido somente de
modo externo, que a lógica se encontra no interior do ser, feito de matéria
transformada por um dinamismo imprevisível e constante. Desta forma, o
conhecimento científico na área da ecologia, encontra-se diante de um grande desafio:
integrar política ambiental com política econômica, além da dificuldade de unir teorias
biológicas, sociais e econômicas para responder as necessidades das futuras
gerações.
22
O desenvolvimento científico no planejamento físico-territorial tem
acompanhado a evolução da história do homem enquanto ser social, inserido num
contexto cultural e mundial.
3.2 Do Planejamento Urbano ao Planejamento Urbano Ambiental.
No final do século XIX, a expansão da sociedade industrial provoca o
surgimento do modelo progressista do urbanismo, cuja idéia principal é a modernidade
baseada no racionalismo e na técnica. Para Choay (1965), trata-se de um pré-
urbanismo, que se diferencia das concepções anteriores por trazer um caráter mais
reflexivo e crítico sobre a cidade, cujos problemas passam a ser associados aos
questionamentos da estrutura e das relações sociais. Isto significa dizer que neste
período, o interesse do urbanista se deslocou para as questões técnicas e estéticas, e
que se estava buscando a concepção da cidade ideal para as necessidades humanas
universais, com aplicabilidade em qualquer país do mundo.
No auge da industrialização este urbanismo teve dois modelos: o
progressista e o culturalista. O primeiro favorável aos grandes espaços abertos
interrompidos pelos vazios e verdes, como escreveu Proudhon em 1965 (apud Choay,
1965): “Precisamos transformar a França num vasto jardim, mesclado de pequenos
bosques”.
O segundo modelo, o culturalista, procuram manter na cidade
determinações espaciais e materiais, preservando a natureza no seu interior o mais
selvagem possível.
Desta forma, percebe-se no século XIX um urbanismo influenciado por
questões de conteúdo social igualitário e com certa nostalgia pela natureza, refletindo
a grande aversão pelas péssimas condições urbanas nas cidades européias em
processo de industrialização.
Em 1898, Ebenezer Howard (apud Marcondes, 2001) propôs a integração
entre cidade e natureza com seu modelo de cidade-jardim, de trinta mil habitantes e
23
tendo ao seu redor um cinturão verde, formando com outras cidades um conjunto
circundado pelo campo. Entre seus críticos mais ferrenhos nos dias atuais, Jacobs
(2001), avalia o modelo de Howard como paternalista e até autoritário, ao definir,
selecionar e separar todos os usos na cidade, sem levar em consideração a vida
cultural urbana e destinada para moradores totalmente dóceis e sem projetos de vida
próprios. Segundo esta autora, a influência deste modelo foi tanta para os urbanistas
que o precedeu, que ela considera o planejamento urbano moderno como “uma
adaptação ou um remendo desse material absurdo”. (Jacobs, 2001, p.19).
Franco (1997) também explica que este movimento higienista teve sua
origem conceitual na “Teoria dos Meios”, segundo o qual todos os males provêm da
estagnação de todo tipo de água, lixo e homens. Desta forma, o elemento condutor da
limpeza, a água, deveria ser canalizada em redes de saneamento que começaram a
serem executadas no século XIX.
Dentro deste contexto, merece destaque a influência do Barão Hausmann
na Reforma Urbana ocorrida na Europa, no final do século XIX, e que repercutiu no
mundo inteiro. Nomeado pelo Imperador francês, e com ajuda de engenheiros e
arquitetos, Hausmann teve a missão de definir um novo desenho urbano em Paris,
demolindo as ruas sujas e apinhadas da cidade medieval e construindo novas e
amplas avenidas com imensos jardins. Tratava-se de um traçado urbano de forte
conotação política e que tinha como finalidade impedir as insurgências da população.
No início do século XX, Le Corbusier, na linha dos modelos progressistas e
culturalistas, era também adepto das idéias sanitaristas que entendia a cidade ideal
como um imenso parque de gramados verdes onde os edifícios se firmam de maneira
racional e geométrica. O seu modelo de cidade a “Ville Radieuse”, foi imaginado
composto de altos edifícios residenciais que ocupariam apenas 5% do solo, deixando
livres os restantes 95% que seriam recortados por grandes vias para os automóveis.
De um modo geral, percebe-se que a eficácia e a estética do urbanismo
progressista se concentravam na importância da higiene e da saúde e
conseqüentemente, no valor do verde e do sol nos espaços construídos. Surgiu, a
partir deste período, a concepção das cidades com imensos espaços verdes onde se
desenvolvem as construções urbanas, um enorme parque com eficientes vias de
transporte para moradores cada vez mais isolados e dóceis à genialidade dos
24
urbanistas, que definem leis urbanísticas trancados em elegantes escritórios,
sustentados pelo setor público e algumas parcerias privadas,
Após a Segunda Guerra, os opositores do urbanismo vigente e o despertar
da dimensão da crise ambiental mundial, com a percepção da esgotabilidade dos
recursos naturais, o desenho da paisagem baseada no racionalismo e na estética
passa a ser questionado. Choay (1965) salienta o surgimento do modelo naturalista,
que teve como principal representante o arquiteto Frank Loyd Wright. Ele entendia a
arquitetura subordinada à natureza e por isso com o dever de preservá-la.
Também nos Estados Unidos, o arquiteto paisagista Ian McHarg da Escola
de Pennsylvania, passou a utilizar o conceito de desenvolvimento sustentável com a
minimização dos impactos sobre os recursos naturais e culturais na elaboração dos
trabalhos de planejamento territorial. Segundo Franco (1997), este arquiteto e outros
com esta visão ecológica, basearam seus estudos no Livro “Fundamentals of Ecology”
de Eugene P. Odum, publicado em 1953.
Este enfoque ecológico se baseia no Princípio da Termodinâmica e no
entendimento de que um sistema isolado tende ou evolui espontaneamente para um
estado de equilíbrio. No caso do ser vivo, ao se alimentar de entropia negativa retarda
o momento da máxima entropia que é a morte. A ecologia entende que todo
ecossistema tem um comportamento de um organismo vivo, segundo o Princípio
Termodinâmico. Estes possuem mecanismos de equilíbrio, que são as sucessões
biocenóticas para se defenderem de desordens internas ou agressões externas e
conduzir a um estado de equilíbrio dinâmico.
A forma de estudar como um sistema surgiu com o despertar ecológico no
século passado, que entende o aglomerado humano como algo que se transforma e
se desenvolve como os modelos biológicos. De fato, a teoria orgânica dos
assentamentos urbanos foi defendida e elaborada inicialmente por autores como
Patrick Guedes, Lewis Minford, Frederick Law Olmsted, Ebenezer Howard, Howard
Odum e outros.Lynch (2001).
Para autores como Lynch (2001), o conceito de ecossistema para um
aglomerado humano se aproxima do que é uma cidade, porque trata de sistema
complexo, de mudanças, de elementos orgânicos e inorgânicos interagindo juntos. No
25
entanto, este autor defende a idéia da capacidade evolutiva da aprendizagem e da
cultura humana, e que a cidade enquanto um sistema, não se move inevitavelmente
no sentido de uma entropia máxima, mas é “uma organização valorizada,
conscientemente transformada e valorizada”. Lynch (2001, pg. 115).
‘Uma ‘aprendizagem ecológica’ e evolutiva pode ser
um conceito mais apropriado para o aglomerado
humano, em que pelo menos alguns intervenientes
estão conscientes e conseguem modificar-se a si
próprios e, desse modo, transformar as regras do
jogo.”(LYNCH, 2001, p. 115).
A cidade possui e esta submetida a uma rede de interações de matéria e
energia, e para Franco (2001), ela é um “ecossistema incompleto ou heterotrófico”,
porque dependem de áreas externas para obtenção de energia, água, alimento e
outros materiais. O metabolismo urbano absorve e interage com elementos externos,
assim como possui uma saída de resíduos que por sua vez altera outras áreas
circunvizinhas.
O modelo ecossistêmico trazendo consigo o Princípio da Complexidade
está em processo de construção nos campos da arquitetura e do planejamento
territorial, com uma tendência de integração de outras disciplinas numa visão holística
do mundo. Para Franco (1997), este enfoque traz também uma comunicação e diálogo
destas áreas com as demais áreas do conhecimento, através da análise da
antropização do território pelas lentes do ambiente, da arquitetura, da história social,
da filosofia e da expressão e resultante paisagística.
3.3 Condicionamentos físico-ambientais para o assentamento humano.
O estudo dos condicionantes físico-ambientais na definição do desenho
ambiental urbano tem sido objeto de interesse de diversos pesquisadores como Marta
Adriana Bustos Romero (2001), Lúcia Mascaro (1981), Roberto Lamberts (1997), Luiz
Alberto Gouvêa (2002) e outros que analisaram a dinâmica da ocupação do solo e
26
seus impactos no meio ambiente, incluindo as repercussões no clima local e suas
conseqüências no conforto térmico. Observa-se, nestes estudos, que todos os
elementos da metereologia tendem a sofrer modificações decorrentes das superfícies
construídas provocadoras do aumento do calor, com influências nos ventos, na
umidade e nas precipitações.
De fato, cada sítio com sua especificidade própria, tem seus ecossistemas
naturais, que podem ser alterados e até destruídos ao se estabelecer um
assentamento humano. Esta configuração ecológica poderá trazer conseqüências na
qualidade de vida urbana e na economia do espaço construído. Isto porque o
adequado uso do sítio natural com menor alteração possível para o assentamento
humano contribui para que a cidade se torne mais estável e econômica ao longo do
tempo.
Apesar da disponibilidade tecnológica cada vez mais avançada e eficiente,
capaz de criar ambientes artificiais mais favoráveis para o habitat humano, os custos
financeiros, sociais e culturais são altíssimos e não garantem a sobrevivência das
gerações futuras a nível mundial. Por isso, é fundamental o entendimento da cidade
como um ecossistema, ou seja, um meio ambiente construído, onde organismos se
relacionam com outros da própria espécie, com outras espécies e dentro de um
cenário inorgânico. Lynch (2001).
Para Tricart (1977), estes fluxos de matéria e energia ou mecanismos de
equilíbrio, originam relações de dependência mútua entre os fenômenos. Este autor
defende a idéia de que as estruturas do sistema do meio ambiente podem ser
definidas ou entendidas a partir do fluxo da energia solar sobre o planeta. Desta
forma, os processos são iniciados pela incidência da radiação solar e ocorrem em três
níveis:
1. Ao nível da atmosfera, quando a energia do sol é absorvida ou deixada passar
através de janelas (Windows) de determinados comprimentos de onda,
provocando a fotossíntese e o desencadeamento de energia e matéria através
das cadeias alimentares ou níveis tróficos;
27
2. Ao nível da parte aérea da vegetação, com a fotossíntese, pela absorção das
plantas e pelo desencadeamento do processo de evaporação e movimento das
massas de ar;
3. Ao nível da parte superior da litosfera através da pedogênese, da meteorização
das rochas e dos mecanismos do solo (transformação das rochas em material
distinto, que são as formações superficiais e os processos morfogênicos, que
produzem a instabilidade da superfície).
Este autor salienta ainda, o papel da cobertura vegetal com estrato
herbáceo contínuo que protege melhor o solo, enquanto que determinados
reflorestamentos como de Eucaliptos, Algaroba e alguns Pinus impedem a formação
deste estrato e intensificam a transmissão de energia cinética, provocando a erosão
pluvial e o escoamento superficial.
Ao nível do solo, a impermeabilização contribui para o escoamento
superficial da água e com a diminuição das precipitações e a contenção da
pedogênese, fundamental nos processos de transformação das rochas. No meio
urbano, principalmente, a cobertura vegetal tem influência direta na erosão pluvial e
por conseqüência nas bacias hidrográficas urbanas.
Desta forma, Tricart (1977) salienta que do ponto de vista ecológico, a
morfodinâmica muito intensa, implica numa limitação para o ecossistema. Por isso, a
necessidade da administração e ordenamento do meio ambiente visando à eliminação
da instabilidade morfodinâmica, com a correta conservação dos recursos naturais.
Sabe-se que o conhecimento da dinâmica do meio natural é um ponto de
partida, no entanto existem outros elementos importantes como os fatores humanos,
econômicos e institucionais, que devem incluir o homem e os seres vivos.
Segundo o autor citado, algumas informações influenciam diretamente na
dinâmica dos recursos naturais: Declives estudos da carta topográfica; Litologia
estudos da espessura da camada do solo que pode ser penetrada pelas raízes;
Morfodinâmica propriamente dita mostra o grau de estabilidade do meio ambiente,
resultado da análise dos sistemas morfogênicos (relevo, litologia e condições
climáticas), dos processos e da degradação antrópica; Pedogênese; Regime hídrico
estudo da cartografia hidrográfica superficial e freática.
28
A cidade, entendida como um meio ambiente construído, precisa interagir
com os processos naturais no seu território e seus mecanismos de equilíbrio, visando
à preservação dos recursos ambientais para as futuras gerações.
3.4 Os recursos naturais e sua interação no ambiente urbano.
As várias regiões fisiográficas do ambiente urbano ficam mais
compreensíveis quando se entende a interação dos processos naturais. Como foi
visto, o clima e a geologia deram origem à forma das bacias hidrográficas, que
juntamente com a litologia explicam o tipo do rio, seus afluentes e a distribuição da
água subterrânea, sua quantidade relativa e propriedades físicas.
A sobreposição destas informações com o movimento dos sedimentos,
alguns pelo processo fluvial, outros pela deposição, podem revelar o tipo,
distribuição e propriedades do solo.
Além disto, quando clima, topografia, regime hídrico e solos são
conhecidos, a cobertura vegetal, o reconhecimento das plantas de forma individual e
associativa torna-se claro. Da mesma forma, o conhecimento da flora, sua idade e
condição podem fornecer informações sobre a distribuição da fauna no território.
Tem-se visto que na crosta terrestre, os solos agriculturáveis e adequados
aos assentamentos humanos, ocorrem em locais que derivam dos processos físicos
e biológicos, sob a história geológica. Assim sendo, algumas metodologias podem
ser utilizados para entender o uso do solo ao longo do tempo e perceber a
caminhada dos homens sobre a terra.
No planejamento urbano se está acostumado com o conceito de
zoneamento que determina um único uso para determinadas áreas, no entanto, o
enfoque ecológico e a visão sistêmica e holística nos mostram que se trata de um
conceito bastante limitado. Numa floresta, por exemplo, sabe-se que existem muitas
espécies e muitas regras de cooperação nos processos naturais. Nestas áreas, o
equilíbrio tende sempre a acontecer, embora exista a predominância de determinada
espécie e uma hierarquia que vai até o último microorganismo do solo.
29
Esta mesma lógica ou raciocínio pode ser aplicado na gestão dos
recursos naturais no meio urbano. Existem usos dominantes, porém cooperativos,
que embora constituídos com subordinações podem ser compatíveis. Isto significa
que no lugar de insistir em definir um único uso do solo para grandes áreas, o ideal
seria identificar a máxima junção deles.
Além disso, ao entendermos o meio ambiente construído como um corpo
que acumula diversos processos interagindo, ter-se-á um sistema de valor.
3.5 Prevenir ou Remediar? (Dilemas da Legislação ambiental).
Os portugueses quando chegaram ao Brasil, trouxeram a sua legislação
com as formulações disciplinadoras do meio ambiente, as “Ordenações Manuelinas”
ou as compilações de Ordenações do Senhor Rey Dom Manuel de 1521. Tratava-se
de algumas proibições sobre a caça, criação de abelhas e corte de árvores frutíferas,
onde o infrator era degredado para o Brasil. A maioria desta legislação estava
baseada no Direito Romano e no Direito Canônico.
Em 1603, durante o domínio espanhol, surgiram as “Ordenações Filipinas”
que se tornaram obrigatórias no Reino e nas colônias portuguesas.
Somente no início do século XX quando foi promulgado o Código Civil
brasileiro que entrou em vigor em 1917, tivemos nossa primeira legislação
genuinamente brasileira com preocupações ecológicas mais fortes.
Na década de trinta, no período da Ditadura de Getúlio Vargas apareceram
vários decretos referentes à preservação do meio ambiente, tais como:
Decreto-Lei 25, 30/11/1937 (Patrimônio Cultural organiza a proteção do
patrimônio artístico nacional);
Decreto 23.793 de 23/01/1934 (Código Florestal), depois substituído pela Lei
4.771/65, regulamenta a preservação permanente em determinadas áreas,
criando os Parques, Reservas Biológicas, Reservas florestais, Parques
indígenas, etc...;
Decreto 24.643 de 10/07/1934 (Código de Águas) define as normas
preventivas e coercivas sobre a poluição das águas.
30
Logo após o Golpe Militar em 1964, várias leis foram promulgadas, tais como:
Lei 4.504 de 30/11/1964 (Estatuto da Terra)
Lei 4.771 de 18/09/1965 (Código Florestal)
Lei 5.197 de 03/01/1957 (Proteção à Fauna)
Decreto-lei 221 de 28/02/1967 (Código de Pesca)
Decreto-lei 227 de 28/02/1967 depois modificado pela Lei Federal7.805/79
(Código de Mineração), define normas sobre o acesso ao subsolo para
exploração de recursos naturais;
Lei 6.766 de 19/12/1978 (Parcelamento do Solo Urbano) define restrições
quanto às condições geológicas e de poluição, além das áreas verdes e non-
aedificanti;
Lei Federal 6.803/80, que dispõe sobre o zoneamento industrial de em
áreas críticas de poluição.
Até o final da década de setenta percebe-se uma fragmentação e
setorização dos problemas ambientais nas leis promulgadas no Brasil, abordando
questões específicas como fauna, pesca, mineração e outras. Além disso, muitas
destas leis continuam em vigor e o conteúdo de várias delas é freqüentemente
desconhecido por juristas, assim como para administradores públicos, planejadores
urbanos e ambientalistas em todos os níveis de governo.
Para Fernandes (2002), somente no início da década de oitenta, a
legislação ambiental no Brasil começou a ter feições de caráter mais amplo e
integrado, em grande parte devido às condições favoráveis da Abertura Política e
motivado pela Declaração sobre Meio Ambiente aprovada pela Conferência das
Nações Unidas realizada em Estocolmo, no ano de 1972. Outros fatores também
influenciaram, como:
1. O Brasil começava a pesar os impactos ambientais de grande porte como as
hidrelétricas, poluição ambiental, intoxicação de agrotóxicos e outros problemas
afins;
2. A abertura política criou canais de participação popular nas decisões do
governo;
3. A pressão dos órgãos financiadores internacionais começou a exigir dos paises
em desenvolvimento, a consideração da variável ambiental na solicitação de
recursos para os seus programas e projetos,
31
4. A constatação de um acelerado desenvolvimento urbano nas grandes capitais.
No período entre a Ditadura Militar iniciada em 1964, até a promulgação da
Constituição de 1988, a legislação ambiental além de abordar aspectos parciais da
questão do meio ambiente, refletia as condições da centralização técnico-financeira
que estava em vigor no país.
Em 1988 a Constituição Federal definiu que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um direito indisponível (Trigueiro,
2003) e que o dever de preservá-lo é compartilhado entre o Estado e o cidadão, já que
o Poder Judiciário age se for acionado, cabendo a comunidade o papel
fundamental na implementação da legislação.
O artigo 225 da Constituição ao regulamentar o direito coletivo de um meio
ambiente equilibrado e sustentável, define alguns princípios jurídicos importantes que
foram posteriormente detalhados nas Constituições estaduais e nas Leis orgânicas
municipais:
Princípio do Desenvolvimento sustentável:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do
patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades
dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
Princípio da Obrigatoriedade da Intervenção Estadual.
32
III - definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade; (EIA /
RIMA).
V - controlar a produção, a comercialização e o
emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o
meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da
lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.
§ 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica
obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
Princípio do Poluidor-Pagador.
§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
33
independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e
a Zona Costeira são patrimônios nacionais, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições
que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Princípio da Função Ambiental da Propriedade.
§ 5º. São indisponíveis as terras devolutas ou
arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º. As usinas que operem com reator nuclear deverão
ter sua localização definida em lei federal, sem o que
não poderão ser instaladas. (CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, 1988).
No Capítulo “Políticas Urbanas” da Constituição Federal de 1988, os artigos
182 e 183 definem a política de desenvolvimento urbano que deve ser executado pelo
gestor municipal e garantir as funções sociais da cidade e a qualidade de vida de seus
habitantes. Vale salientar, os importantes instrumentos de ordenação do espaço
urbano citados no artigo 182, como Plano Diretor para cidades com mais de vinte mil
habitantes, as desapropriações, o parcelamento e a edificação compulsória do solo
urbano, IPTU progressivo no tempo e o usucapião especial.
Segundo Fernandes (2002), é preciso haver garantias para a aplicação e
implementação da legislação ambiental, porque sem isto, os seus instrumentos podem
ser manipulados ideologicamente por setores políticos e partidários. Chegamos então
a conclusão que eficácia das leis sobre meio ambiente é essencialmente uma questão
política, com ampla participação popular e livre e regular acesso aos instrumentos
jurídico e cultural, através da educação ambiental em todos os níveis de ensino e em
todas as instituições públicas.
34
3.6 O Planejamento ambiental urbanístico brasileiro no século XXI.
No século XX presenciou-se um acentuado crescimento populacional no
mundo e um crescimento urbano desordenado. Com o crescimento da população,
regiões vizinhas são requisitadas, para que novos caminhos sejam construídos.
Antes da industrialização, como ainda hoje as cidades dependem das terras
agrícolas dos arredores para se abastecer de alimentos, e o lixo era reciclado para
prover nutrientes necessários para a agricultura. Com a utilização das terras vizinhas
para a expansão urbana, observam-se atualmente os dois mais sérios problemas
associados ao desenvolvimento das cidades: a perda de terras agrícolas e a poluição
de rios onde são jogados os resíduos gerados pela população, que não são mais
reciclados com propósitos agrícolas.
A organização espacial das cidades numa região forma uma espécie de
rede, onde as maiores atuam como pontos de distribuição de bens e serviços para as
menores, que se alimentam e fornecem o-de-obra ou serviços em troca. Neste
processo, através do comércio urbano. os produtos da industria extrativa e da
agricultura são trocados pelos produtos da economia urbana que são os bens
industrializados e os serviços. Tudo isto segundo uma lógica econômica, tanto a nível
interno das cidades, como de interligações.
Neste contexto, a função econômica da cidade é definida pelos serviços
que exporta. Para entender a economia de uma cidade deve-se situá-la no interior da
rede urbana que pertence, que pode ser entendida como um complexo sistema de
circulação entre núcleos de funções diferentes.
A cidade tem papel fundamental no desenvolvimento do capitalismo e ao
mesmo tempo é moldada e modelada de acordo com as necessidades da acumulação
capitalista. Segundo Lojkine (1997) as pesquisas na Europa demonstram que as
multinacionais têm com fator prioritário para a escolha do local para sua implantação,
as vantagens do conjunto de infra-estrutura urbana disponível, como aeroportos,
35
telecomunicações e serviços de todo tipo. Este fator tem contribuído para o
desenvolvimento desigual de países e cidades, provocando o subdesenvolvimento
crescente de regiões ou municípios menos preparados com infra-estrutura urbana,
tanto de meios de circulação de materiais como meios de consumo coletivo.
As aglomerações metropolitanas que concentram esta infra-estrutura
reproduzem o mesmo processo de diferenciação espacial e econômico entre zonas
menos ou mais equipadas. Lojkine (1997) ressalta nestas áreas o papel da renda
fundiária no planejamento urbano, analisando a relação entre o preço do solo e a
segregação urbana. Esta segregação espacial produzida pelos mecanismos de
formação dos preços do solo decorre da concentração dos meios de consumo coletivo
nos grandes centros promovido pelos interesses dos investimentos capitalistas,
corresponde também à formação de um submercado imobiliário em áreas que
sobrevivem na produção de suportes físicos para confirmar os grandes centros.
Todo este cenário produz três tipos de segregação urbana, segundo
Lojkine:
1. “Uma oposição entre o centro, onde o preço do
solo é o mais alto, do que a periferia. O papel-
chave dos efeitos de aglomeração explica, a nosso
ver, a importância dessa ‘renda de acordo com a
localização’;
2. Uma separação crescente entre as zonas e
moradias reservadas às camadas sociais mais
privilegiadas e as zonas de moradia popular;
3. Um esfacelamento generalizado das ‘funções
urbana’, disseminadas em zonas geograficamente
distintas e cada vez mais especializadas: zonas de
escritórios, zona industrial, zona de moradia, etc. É
o que a política urbana sistematizou e racionalizou
sob o nome de zoneamento. ”(LOJKINE, 1997, p.
189)”.
36
Nos paises em desenvolvimento como o Brasil que dependem do capital
externo, a política urbana tem influência do mercado financeiro internacional e suas
agências financiadoras.
Na década de oitenta, o governo norte-americano, juntamente com as
organizações financeiras internacionais como o FMI, BIRD, Banco Mundial, e outras,
divulgou uma “receita de eficiência de investimentos em áreas urbanas” para ser
aplicada nos países devedores. O Planejamento Estratégico, ainda em vigor no Brasil
e baseado na inserção competitiva das cidades na economia de mercado, segundo
Maricato (2001), faz com que a “arquitetura espetáculo” abandone a abordagem
sistêmica e holística moderna, no planejamento, por uma apropriação dos espaços
relacionados com o mercado e a especulação imobiliária.
Para a autora acima citada, o momento é propício para criar um novo
caminho de planejamento e gestão contrários ao rumo predatório, na área social e
ambiental, para as cidades brasileiras, baseado nos seguintes pressupostos:
“Criar a consciência da cidade real e indicadores
de qualidade de vida;
Criar um espaço de debate democrático: dar
visibilidade aos conflitos;
Reforma administrativa;
Formação de quadro e agentes para uma ação
integrada;
Aperfeiçoamento e democratização da informação;
Formulação de políticas de curtíssimo, médio e
longo prazo;
A bacia hidrográfica como referência para o
planejamento e gestão. ”(MARICATO, 2001, pg.
70, 71, 74, 76, 77, 78, 79 e 80).
Para Maricato (2001), as críticas sobre a legislação de zoneamento vigente nos
municípios se fundamentam nos pontos abaixo:
1. “Está descaracterizada, com parte das
edificações e usos fora da lei;
37
2. Dificulta a ampliação do mercado privado em
direção às camadas de renda mais baixa;
3. Desconsidera a questão ambiental;
4. Difícil compreensão e aplicação;
5. Ignora as potencialidades dos arranjos locais e
informais;
6. Contribui para a segregação e a legalidade.”
(MARICATO, 2001, p. 114).
A desconsideração com a questão ambiental na definição no uso do solo,
principalmente a dificuldade de enxergar o meio ambiente construído como um
ecossistema tem contribuído para a ineficácia da aplicação da legislação vigente.
Além disso, o planejamento sob o enfoque ecológico deve ser elaborado através da
análise e diagnose da paisagem numa composição orgânica da cidade, e não apenas
em função da estratégia geral de consumo: sistema viário, setorização de atividades,
funcionalidade e proporcionalização dos espaços em função do equilíbrio numérico
das atividades urbanas.
3.7 A Legislação Urbanística e seus instrumentos.
Como vimos, durante a ditadura de Getúlio Vargas na década de trinta
aconteceram os primeiros avanços na legislação Ambiental no Brasil, com a
elaboração do Código de Águas, Código Florestal e a Lei de Proteção à Fauna e com
a execução das propostas do engenheiro de recursos hídricos Saturnino de Brito para
as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Posteriormente, na década de 80, devido às pressões dos Agentes
Financeiros Internacionais e ONGs foi elaborada a Lei 6.938/81 (Lei de Política
Nacional de Meio Ambiente) e a criação do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio
Ambiente) e do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente). Finalmente, em
1990 foi incorporado aos Planos Diretores o planejamento ambiental com uma
perspectiva de desenvolvimento sustentável, baseado na manutenção de recursos
38
naturais, qualidade de vida, uso adequado do solo e a conservação e preservação de
sistemas naturais.
3.7.1 O Estatuto da Cidade.
A Lei federal 10.257 de 10 de julho de 2001, o Estatuto da Cidade, que veio
regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal é o resultado de um
processo político que se iniciou da década de sessenta. Em 1963, um ano antes da
ditadura militar, realizou-se o Seminário Nacional de Habitação e Reforma Urbana na
cidade de Petrópolis no Rio de Janeiro, que debateu grandes reformas sociais na área
de saúde, agrária, educação e outras áreas. O Brasil vivia um período de grande
mobilização popular.
Com o Golpe Militar de 1964, as reformas políticas de base foram abafadas
e tiveram início o “milagre brasileiro” e a centralização técnico-financeira das políticas
governamentais. Na década seguinte, ocorreu um crescimento vertiginoso das cidades
brasileiras provocado por diversas razões, entre elas, as ações realizadas pelo
Sistema Nacional da Habitação com a construção dos conjuntos habitacionais e a
execução de saneamento básico. Surgiram os primeiros planos diretores nas capitais
do país, elaborados em pleno regime autoritário, estes planos se mostraram ineficazes
e aprofundaram ainda mais o fosso entre o mercado imobiliário e a informalidade das
populações marginais.
Maricato (2001) acredita que a maior conquista da mobilização social
durante a abertura política na década de oitenta, foi a inserção dos artigos 182 e 183
na Constituição Federal de 1988. De fato, estes dois artigos precisavam ser
regulamentados e surgiu a PL 5.788/90, com esta finalidade. Somente em 2001,
depois de um longo período, tivemos a promulgação da Lei Federal 10.257, que
passou a definir as diretrizes gerais de política urbana a serem aplicadas nos
municípios brasileiros.
A Lei 10.257, aprovada pelo Congresso Nacional, em 2001,
regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988 e estabeleceu
39
diretrizes gerais de Política Urbana no Brasil. No entanto, a obrigatoriedade da
elaboração de um Plano Diretor Participativo para as cidades com população acima de
20mil habitantes, com a data limite para outubro de 2006, trouxe algumas dificuldades
para os gestores municipais.
O Estatuto das Cidades determina que o Plano Diretor, considerado um
instrumento básico de desenvolvimento e de expansão urbana, tenha uma
metodologia própria e congregue conhecimentos técnicos específicos da
Administração Pública. É que se vislumbra um cenário conflitante. De uma parte,
vemos o esforço do Poder Executivo através da Campanha Nacional de
Sensibilização e Mobilização para a elaboração, atualização e implementação de
Planos Diretores Participativos, para inteirar milhares de Prefeitos e Técnicos, do
verdadeiro espírito da Lei. De outra parte, o exíguo espaço de tempo priva os
governos municipais da preparação de uma equipe apta a se defender do assédio de
profissionais incompetentes e aventureiros de diversas áreas.
Além disto, percebe-se também, a dificuldade de centenas de prefeitos em
assimilar em poucos meses os benefícios dos instrumentos legais do PDP, a exemplo
da “Outorga onerosa do direito de construir”, “Direito de preempção”, “Estudo de
impacto de vizinhança” e outros.
3.8 Condicionamentos Legais Ambientais e Urbanísticos à Ocupação
Urbana.
Depois da promulgação da Constituição de 1988, que definiu ser um direito
de todos viverem em um ambiente ecologicamente equilibrado, os instrumentos legais
estão cada vez mais abrangentes e completos. Desta forma, o governo brasileiro, com
a finalidade de prover ferramentas para a tomada de decisão na gestão urbana e
ambiental, e tendo como base a Lei 6.938/81, estabeleceu que o Zoneamento
ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9°,
inciso II).
40
A obrigatoriedade dos municípios com mais de 20.000 habitantes fazerem
seus Planos Diretores, levando em consideração os recursos naturais no meio
urbano, coloca sob a responsabilidade dos gestores nos três níveis aplicarem
legislações ambientais e urbanísticas, que muitas vezes se sobrepõem o que muitas
vezes dificultam a tomada de decisões.
Como foi visto, os recursos naturais (geologia, clima, relevo, solos,
vegetação e os recursos hídricos superficiais e subterrâneos) interagem e
necessitam de uma abordagem sistêmica. A legislação ambiental brasileira enfatiza
a importância das redes hidrográficas urbanas e a vegetação como um elemento de
proteção.
A Lei Federal 6.766/79, que determina restrições e orientações ao
parcelamento do solo urbano, no seu artigo estabelece a faixa “non aedificacndi”
ao longo dos rios regulares a 15 metros da cada lado do seu leito.
As Leis Federais 7.803/89 e 7875/89 alteraram a Lei 4.771/65
(Código Florestal), no seu artigo 2°, que trata da preservação permanente para
florestas e formas de vegetação natural localizadas nas margens dos rios, passa a
definir faixas de 30 metros para os cursos d’água com menos de 10m de largura; de
50 metros para os que têm de 10 a 50 metros de largura; 100m para aqueles com 50
a 200 metros de largura; 200m para os rios com 200 a 600 metros de largura e de
500 metros para os que ultrapassam esses valores.
A Resolução CONAMA 004/85, também federal estabelece uma faixa
mínima de 5 metros para os rios com menos de 10 metros de largura, enquanto
aqueles com 10 a 200 de largura, a faixa deve ser igual à metade de sua largura e
finalmente de 100 metros para todos os rios cuja largura ultrapasse 200 metros.
Tabela 01: Esquema comparativo da Legislação Ambiental sobre preservação das
matas ciliares
Largura dos rios Lei Federal Lei Federal CONAMA
N°4771/65 N°6766/79 Resolução N°004/84
10 metros 5 metros 15 metros ½ da largura do rio
10 a 50 metros 50 metros 15 metros ½ da largura do rio
50 a 200 metros 100 metros 15 metros ½ da largura do rio
200 a 600 metros 200 metros 15 metros ½ da largura do rio
Fonte: Lei Federal 4771/65, Lei Federal 6766/79 e Resolução do CONAMA
004/84.
41
No caso das lagoas e açudes inseridos no território urbano, a Resolução
n° 004/85 do CONAMA considera reserva ecológica uma faixa de 30 metros ao redor
dos mesmos.
A Lei 7.803/89 ainda considera como áreas importantes de preservação
permanente, as bordas dos tabuleiros, faixa de 100 metros, as encostas com
declividade superior a 100% ou 45° e os manguezais e dunas em toda a sua
extensão.
42
4. A CIDADE DE JOÃO PESSOA
4.1 Os determinantes naturais na escolha do sítio.
“Ao cabo de andar o dia todo, achou ser aquele
o melhor lugar, onde agora esta a cidade, planície de
mais de meia légua, muito chã, de todas as partes
cercada d’água, senhor do porto, que com um falcão
se passa além, e tão alcantilalado que da proa de
navios de sessenta tonéis se salta em terra, donde sai
um formoso torno d’água doce para provimento das
embarcações, que a natureza ali com maravilhosa
arte, e muita pedra de cal, onde mandou fazer um
forno dela e tirar pedra um pouco mais
acima”.(ALMEIDA, 1978 apud Frei Vicente, p. 86).
Na época colonial, os portugueses no Brasil procuravam fundar os
primeiros assentamentos humanos em sítios elevados, num esquema defensivo
bastante elementar e próximo de caminhos de acesso ao continente, através das vias
marítimas e fluviais. Durante os primeiros 30 anos, após o descobrimento, a presença
dos colonizadores no litoral consistia no reconhecimento da costa e na execução de
algumas benfeitorias.
Somente em 1532, a Coroa Portuguesa decidiu pela ocupação do território
brasileiro com o sistema das Capitanias Hereditárias. Segundo Reis (2000), tratava-se
de um sistema feudal e mercantilista, delegando poderes aos donatários que se
responsabilizariam pela administração e defesa, preservando as relações comerciais
com a Coroa. Foi então criado um Governo Geral e fundadas as primeiras cidades
brasileiras: São Salvador e São Sebastião do Rio de Janeiro.
Na região onde está o estado da Paraíba, cada vez mais se consolidava o
tráfico de madeira pelos franceses com o apoio dos índios Potiguares e Tabajaras. No
receio de perder o território, Portugal decidiu pela fundação de uma cidade para
assegurar a posse da terra. Seria a terceira criada sem ter sido vila, a atual cidade de
João Pessoa.
43
“Chegando Martim Leitão à nova terra e
procurando o melhor local para plantar a cidade,
escolhe o alto de uma colina, tendo o rio Sanhauá
aos pés a dezoito quilômetros da foz do rio
Paraíba, defronte do sítio em que João Tavares
havia anteriormente feito a paz com Piragibe”,
(Leal, 1965 apud Irineu Pinto _ Datas e Notas).
A cidade recebeu o nome de Filipéia de Nossa Senhora das Neves e foi
implantada num sítio que reunia elementos naturais propícios, como nível mais alto
em relação ao rio Sanhauá, proximidade com o rio Paraíba, sobre uma planície que
garantia a possibilidade de uma agricultura de subsistência uma grande abundancia
de madeira, pedra calcária, palha e barro para as construções.
4.2 A Evolução Urbana e o Meio Ambiente.
Inicialmente foi construído um forte, na atual ladeira de São Francisco e
onde se encontra a Casa da Pólvora e uma Igreja no local onde tem a Catedral
Metropolitana dos dias de hoje. Em frente da Igreja, ergueram um Açougue, a Câmara
e a Cadeia, em cujo terreno mais tarde ficou o Convento dos beneditinos. Quanto ao
traçado das primeiras vias, percebe-se que a cidade assimilava as tendências
geométricas adotadas na Europa e que orientava o urbanismo colonial. Mariz (1978)
ao descrever as primeiras ruas, diz que a primeira rua foi a São Francisco, que ligava
o porto no rio Sanhauá ao forte. A segunda rua foi a atual Duque de Caxias, cujas
habitações receberam incentivos financeiros para serem edificadas. O autor conclui
que quando a abertura da avenida era intencional, esta possuía uma configuração
linear e quando curvas obedeciam a caminhos em formação definidas pelos
pedestres.
Após a construção das primeiras edificações, os colonizadores iniciaram a
plantação da cana-de-açúcar e implantação dos engenhos de açúcar na várzea do rio
Paraíba. No entanto, algumas dificuldades surgiram como relata Monteiro (1980):
44
“... se a terra é boa, abundância de água e
matas, e se o colono contava com as dádivas naturais
dos frutos da terra, da caça e da pesca, no entanto, o
clima quente significava total mudança de ‘habitat’,
capaz de alterar o comportamento biológico do
europeu, exaurindo-o fisicamente em pouco tempo,
além dos prejuízos à resistência do colono, o
ambiente tropical sempre foi propício à multiplicação
de animais nocivos, desde os répteis que atacam o
homem, até às pragas micro-orgânicas que esgotam
plantações.” (MONTEIRO ,1980, p. 76).
Apesar das dificuldades, o desenvolvimento dos engenhos consolidou a
colonização, permitindo a penetração nos vales férteis do litoral. Segundo Monteiro
(1980), até o século XVII, a Paraíba contava com 18 engenhos em funcionamento.
Além da produção açucareira, a riqueza vegetal foi a base inicial da
economia da Capitania. Antes dos portugueses, os franceses auxiliados pelos índios
potiguaras, derrubavam o pau-brasil que aparecia abundantemente no litoral
paraibano, queimando as mata ao redor, que esta espécie não se forma em ritmo
associativo. Como colônia portuguesa, a Paraíba fornecia outros tipos de madeira
para Portugal, a exemplo do cedro, o jacarandá e acaju. Monteiro (1980).
Escrita em 1630, a “Descrição Geral da Capitania da Paraíba” de Elias
Herckmans, escritor holandês, que esteve na cidade de Filipéia, a descreve na época
da ocupação holandesa.
“Ela está circundada pelo bosque, e não pode ser
vista de quem se aproxima, senão quando se está
nela, exceto se sobe ou desce o rio, porque em se
chegando à boca ou entrada da baía chamada
Varadouro, se pode avistar perfeitamente o Convento
de São Francisco e alguns edifícios do lado
setentrional”.(AGUIAR, 1982 apud Herckmans, p. 16).
Até 1855, a cidade desenvolveu-se numa colina à margem direita do
Sanhauá, sendo que o comércio ocupava a cidade baixa e os órgãos administrativos e
residências de alto padrão na área alta. Tratava-se de um zoneamento urbanístico
natural característico das cidades brasileiras da época.
45
Somente no final do século XIX, com o desenvolvimento da economia
algodoeira e o fim da escravidão, a cidade cresceu e se expandiu passando a ser local
de moradia dos senhores de engenho. Esta expansão de novas residências implicou
na urbanização da área em torno da estação ferroviária e porto do capim e a
implantação de serviços urbanos como o abastecimento d’água, a abertura da avenida
Epitácio Pessoa, ligando a cidade ao litoral, provocando a ocupação do litoral e a
execução do saneamento na década de 30, já no século XX.
4.3 Aspectos Ambientais do Território.
4.3.1 Localização.
A cidade de João Pessoa possui uma área aproximada de 210,45 km² e faz
parte de uma microrregião composta dos municípios de Cabedelo, Conde, Lucena,
Bayeux e Santa Rita.
Neste trabalho, abordamos as questões referentes à cidade de João
Pessoa.O município está localizado na zona costeira do estado da Paraíba, entre
e 07º07’30” de latitude sul e entre 34°52’ 30“ e 34° 45’ de longitude oeste. Limita-se
ao norte com o município de Cabedelo; ao sul com o município do Conde e pelo rio
Gramame; a leste com o Oceano Atlântico; e a oeste com os municípios de Bayeux
pelo rio Sanhauá e Santa Rita pelos rios Mumbaba e Paraíba, respectivamente. O
acesso a esta cidade se através das rodovias federais BR-101 e BR-230 e as
estaduais PB-08 e PB-04.
46
#
34°
3
4
°
28°
2
8°
2
2
°
22
°
1
6°
16
°
1
0°
10
°
4°
4°
2
°
2
°
8
°
8°
69°
69°
63°
63°
57°
57°
51°
51°
45°
45°
39°
39°
0
0
João Pessoa
600
Km
0600
Escala Gráfica
#
34°
3
4
°
28°
2
8°
2
2
°
22
°
1
6°
16
°
1
0°
10
°
4°
4°
2
°
2
°
8
°
8°
69°
69°
63°
63°
57°
57°
51°
51°
45°
45°
39°
39°
0
0
João Pess
#
34°
3
4
°
28°
2
8°
2
2
°
22
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1
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16
°
1
0°
10
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4°
4°
2
°
2
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8
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8°
69°
69°
63°
63°
57°
57°
51°
51°
45°
45°
39°
39°
0
0
João Pessoa
600
Km
0600
Escala Gráfica
Figura 01: Localização do município de João Pessoa, PB.
Fonte: SEPLAN-PB.
4.3.2 Fisiografia da cidade.
O litoral paraibano, originado da separação do continente africano do
continente da América do Sul 140 milhões de anos (final do Jurássico e início do
Cretáceo) é composto por tabuleiros que terminam em falésias e praias estreitas e
sincopadas. Seus rios de pequeno ou médio porte e extensão desembocam no mar
depositando sedimentos fluvio-aluviais nas baixadas encarceradas atrás de cordões
de areia, onde encontramos as planícies que surgiram durante a variação do mar no
período Quaternário. Seus estuários formam os manguezais que são o grande
suporte das riquezas naturais dos mares quentes no Brasil. (Ab’Saber, 2003).
47
A paisagem da cidade consiste em duas grandes unidades
geomorfológicas, a Planície Litorânea e o Planalto Costeiro ou Tabuleiro.
O planalto costeiro onde esta situada a maior parte da cidade, tem uma
altitude média de 40 metros, aumentando no sentido leste, chegando a 100 metros
no limite do município, sendo cortado por vários vales fluviais da bacia do Baixo
Paraíba. (Plano Diretor Socioeconômico e Ambiental do Estado da Paraíba. (MDA /
INCRA, 2002)).
No litoral, as amplas baías com mar raso e calmo são protegidas pelos
recifes coralíneos que estão localizados a cerca de 1 km da praia, formando uma
espécie de barreira de proteção para a faixa litorânea. (Figura 02) Nos locais que
esta barreira esta interrompida, ocorre à passagem de sedimentos provocando o
surgimento das enseadas.
Figura 02: Recifes na Praia de Tambaú, João Pessoa, PB.
Fonte: PMJP, 2002.
Ao sul, quando o planalto costeiro se aproxima do mar, ocorrem as “falésias
vivas”, esculpidas pela erosão marinha enquanto que, na área entre o bairro Jardim
48
Luna e a praia de Tambaú encontram-se as “falésias mortas”, estabilizadas pela
cobertura vegetal. (Figuras 03 e 04).
Figura 03: ”Falésia viva” da Ponta do Cabo Branco, João Pessoa, PB.
Fonte: PMJP, 1998.
49
Figura 04: “Falésia morta” no Bairro Jardim Luna, João Pessoa.
Fonte: PMJP, 1998.
4.3.3 Clima
O clima no município de João Pessoa é tropical úmido do tipo A s’ na
classificação de Köppen, com temperatura média do ar sempre superior a 18 e
mínimas variando entre 20 a 24 nos meses de julho e agosto e as máximas entre
28 e 33 nos meses de novembro e dezembro. As precipitações médias anuais no
município variam entre 1.200 e 1.600 mm, com valores decrescentes do litoral para o
interior e a umidade relativa do ar média mensal fica em torno de 68 a 85%, sendo
que os valores máximos ocorrem em junho e agosto e os mínimos entre novembro e
dezembro. (INCRA / PB, 2002).
50
4.3.4 Geologia
A maior parte do território paraibano é constituído por rochas muito
antigas do Complexo Cristalino da era Pré-Cambriana; no entanto, a cidade de João
Pessoa por se encontrar no litoral, a maior parte de seu território é composto de
rochas mais recentes das eras Mesozóica e Cenozóica que compõem os Grupos
Paraíba e Barreiras.(Tabela 02).
Tabela 02: Estratigrafia no município de João Pessoa.
Fonte: Adaptada de Dantas & Caúla (1982) /INCRA / PB (2002).
O Grupo Barreiras ocupa quase 60% do território do município e podem-
se observar grandes paredões acompanhando o litoral, começando na praia de
Tambaú (“falésias mortas”) e continuando ao longo da costa, na Ponta do Cabo
Branco atingido pela erosão marinha (“falésias vivas”). O material deste Grupo é
heterogêneo e formado de silte e argila. Segundo Coutinho (1967), a possibilidade
de confinamento hidrológico no subsolo é quase nula. Fazendo parte deste Grupo,
ao sul da cidade temos trechos da Formação Riacho Morno e ao norte a Formação
Guararapes. (Coutinho, 1967).
A Formação Gramame compreende um pacote sedimentar com
aproximadamente 55 metros de espessura, composto por calcário argiloso. (CDRM-
PB, 2002). No município ocorrem alguns afloramentos de calcário desta Formação,
localizados na margem esquerda do rio Gramame, no bairro de Cruz das Armas e no
IDADE GEOLÓGICA UNIDADE
ESTRATIGRÁFICA
LITOLOGIA SÍMBOLO
QUATERNÁRIO
TERCIÀRIO
Aluviões
Terraço
Marinho
Grupo Barreiras:
Formação
Guararapes
Formação
Riacho Morno
Areias, siltes e
argilas.
Argilas variegadas,
arenitos e
cascalhos.
Alq
q
Tmt
tp
CRETÁCEO
Grupo Paraíba:
Formação
Gramame:
calcário
argilosos,argilas
e calcarenito,
arenito, fosforito
na base
KmaG
51
bairro de Mandacaru, próximo ao rio Paraíba, onde está hoje a CIMEPAR, o mais
bem exposto segundo Coutinho (1967).
Os Aluviões localizados nas bacias fluviais são constituídos de areias
siltosas e ocorrem em uma área de boa porosidade e permeabilidade, com grande
possibilidade de infiltração de água. Os aqüíferos nestes locais são sem
confinamento e dependem da chuva que é drenada pelos rios.
Os depósitos originalmente arenosos da Formação Barreiras são
formados na sua maioria por quartzo e feldspato que sob condições climáticas de
calor e umidade são decompostos promovendo a argilização e potencializando a
ocorrência de deslizamentos. As chuvas que caem ao longo dos períodos de inverno
tanto podem escoar causando a erosão, como se infiltrar propiciando o
umedecimento e a saturação dos solos.
A seguir, no mapa geológico (Figura 05), observa-se a predominância do
Grupo Barreiras e na Tabela 03, os percentuais das unidades estratigráficas
existentes no território estudado.
Tabela 03: Geologia do Município de João Pessoa / PB.
Geologia
Km² %
Aluvião 50,76 24%
Formação Barreiras 147,59 71%
Formação Gramame-Calcáreo 6,79 3%
Cobertura Arenosa 3,28 2%
52
53
4.3.5 Topomorfologia.
A cidade de João Pessoa possui os seguintes domínios ou unidades
tomorfológicas:
Regiões baixas das Planícies Fluviais e Fluvio-marinha, originadas pela
dissecação das superfícies aplainadas e onde estão os vales dos rios com
cotas variando entre 5 a 10 metros. (Figura 06).
Formas Tabulares, com superfícies aplainadas e cotas entre 40 a 60 metros,
com declividade variando entre 0 e 5%; (Figura 06 e 07))
O mapa de Declividade (Figura 07) foi gerado a partir da base topográfica
digitalizada (Figura 06) com as seguintes classes: 0 a 5%; 5 a 10%; 10 a 20%; 20 a
40% e acima de 40%.
As formas de relevo existente são resultados das formas de acumulação
e de dissecação. As de acumulação incluem: as planícies fluviais (área relativamente
plana proveniente de depósitos fluviais sujeitos a inundação periódica); as planícies
fluvio-marinhas (superfície aplainada e originada da acumulação de depósitos
fluviais e marinhos, com inundações periódicas, caracterizadas pela vegetação de
mangue); a planície marinha (área plana originada da acumulação marinha, onde se
encontra a vegetação de restinga). (Tabela 04);
As formas de dissecação, que ocorrem sobre os tabuleiros planos onde
está parte do território da cidade, resultaram no aprofundamento da drenagem e na
formação dos vales de fundo plano. As encostas nestas áreas constituem as
unidades que apresentam uma maior fragilidade devido às condições climáticas
tropicais e ações antrópicas.
54
Tabela 04: Unidades Geomorfológicas do Município de João Pessoa / PB.
Fonte:Ministério de Minas e Energia, 2002.
No mapa Topomorfológico (Figura 08), percebem-se duas grandes
regiões, os Tabuleiros (Baixos Planaltos Costeiros) e a Baixada Litorânea, ambos
com domínio de relevo plano, respectivamente 40% e 35% do território, conforme
Tabela 05. Segundo Coutinho (1967), a plataforma continental onde está a cidade
inclina-se suavemente no sentido leste e oeste, evidenciado pelo “mergulho do
pacote sedimentar a leste”.
Tabela 05: Topomorfologia do Município de João Pessoa / PB.
Fonte: Cartas Topográficas da SUDENE, 1974.
Unidades
Geomorfológicas Símbolo Forma
Planície fluvial Apf Acumulação
Planície fluvio-marinha Apfm Acumulação
Planície marinha Apm Acumulação
Forma tabular
t
41
t
42
t
51
Dissecação
Dissecação
Dissecação
Unidades
Geomorfológicas Área Km²
(%)
Superfície Plana Interflúvios 82,53 40%
Vertentes 73,80 35%
Planície Fluvial 16,28 8%
Planície Flúvio-Marinha 23,16 11%
Planície Costeira 10,92 5%
Planície Costeira-praia 1,27 1%
55
56
57
58
4.3.6 Hidrografia
Águas superficiais
João Pessoa está situada na bacia do Baixo Paraíba e seus principais
cursos d’água são os rios Paraíba e Gramame.(Figura 12). O primeiro rio citado é
margeado por exuberantes manguezais formando um grande estuário na sua
desembocadura no oceano Atlântico, enquanto que o vale do rio Gramame, possui
na sua foz, extensas barras arenosas configurando a este estuário uma
característica lagunar.
Segundo Coutinho (1967), o curso dendrífico da rede hidrográfica
localizada no território foi definido pela inclinação do terreno, que as formações
geológicas estão dispostas em arranjo tabular horizontal. A Formação Guararapes
do Grupo Barreiras, situada mais ao sul tem uma horizontabilidade nas camadas e
um aspecto mais estratificado. (Figura 09). Segundo Carvalho, esta situação é típica
de áreas que possuem rochas sedimentares que provocam uma “estratificação da
permeabilidade”.(Carvalho, 1999, pg 28 e 29).
--------- ----------
----------------------------------------------
--------------------------------------------=
Figura 09: Estratificação de Permeabilidade da Formação Guararapes do Grupo
Barreiras em João Pessoa / PB.
Fonte: Carvalho, 1999. Adaptado pela autora.
Outro rio que também merece destaque é o rio Jaguaribe que corta a
cidade no sentido sul e norte, tem uma extensão aproximada de 21 km desde a sua
nascente ao sul de João Pessoa, até a sua desembocadura no mar da praia do
Intermares. Trata-se de um rio que percorre vários níveis topográficos e que tem
sofrido alterações antrópicas, inclusive com ocupação de assentamentos subnormais
nas suas vertentes. (Lemos, 2004).
59
Os demais cursos d’água são perenes, porém menores como o Sanhauá,
Cuiá e outros.
Águas subterrâneas.
As águas subterneas, que podem estar livres, sob terreno permeável, ou
confinadas, entre terrenos impermeáveis.(Figura 10), por suas características e suas
formas de captação são mais indicadas para as demandas difusas, isto é, o
abastecimento rural e para a agropecuária. Segundo o Plano Diretor Sócio-Ecomico
e Ambiental da Paraíba (UFCG/ ATECEL/ INCRA / PB, 2002, p. 171), a água
subterrânea pode complementar o suprimento hídrico tanto no meio rural como
urbano, no entanto, a água superficial deve continuar sendo a principal fonte de
suprimento para o município, apesar de que os resultados das pesquisas realizadas
indicaram que a bacia do Baixo Paraíba, apresenta um déficit de disponibilidade
hídrica.
Figura 10: Esquema das águas subterrâneas.
Fonte: Carvalho, 1999. Adaptado pela autora.
Coutinho (1967) faz uma descrição dos aqüíferos existentes no terririo
de João Pessoa, a partir de uma alise dos solos e da geologia. Segundo a autora, os
principais aqüíferos existentes estão nas áreas aluvionares e no Grupo Barreiras.
(Figura 11).
Aqüíferos nas áreas aluvionares. A rego dos aluviões é composta de
sedimentos areno-quartzosos, permeáveis e com grande possibilidade de
60
Nível da superfície
///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
aqüífero livre
________________________________________________________________________
////////////////////////////////////////zona impermeável///////////////////////////////////////////
________________________________________________________________________
aqüífero artesiano
________________________________________________________________________
///////////////////////////////////////zona impermeável/////////////////////////////////////////////
infiltrão para alimentar um aqüífero do tipo sem confinamento, que se
alimenta da água da chuva que é depois drenada para os rios.
Aqüíferos do Grupo Barreiras. Trata-se de uma área geológica heteronea,
com níveis conglometicos de siltes, areias, cascalhos e argila e, portanto, com
pouca possibilidade de ocorncia de águas confinadas. Desta forma, a água
subterrânea existente é alimentada pela chuva através das suas fontes e
ressurgências.
A profundidade destes leóis varia com a topografia e segundo Coutinho
(1967), a água pode ser encontrada numa dia de 25 metros abaixo da superfície.
Segundo o Mapa Hidrográfico do munipio, (Figura 11), observa-se que os
aqüíferos mais profundos ocupam 156,18 Km² do território, correspondendo 75% da
área. (Tabela 06). Quanto às áreas alagáveis, o município apresenta um percentual de
6%. (Gráfico 01 e Figura 12).
Tabela 06: Condições Hidrogicas do Munipio de Jo Pessoa / PB.
Fonte: Cartas Topográficas da SUDENE, 1974.
Condições Hidrológicas km² %
Áreas Alagáveis 11,93 6%
Lençol freático alto 39,92 19%
Lençol freático baixo 156,18 75%
61
Condições Hidrológicas
Áreas Alagadas
6%
Lençol frtico
baixo
75%
Lençol
freático alto
19%
Gráfico 01: Disponibilidades Hídricas do munipio de João Pessoa / PB.
Fonte: Cartas Topográficas da SUDENE, 1974.
62
63
64
4.3.7 Solos
O solo é o suporte dos ecossistemas e das atividades humanas sobre a
terra e ao descrevê-lo, é possível deduzir potencialidades e fragilidades como
elemento de sustentabilidade produtiva, construtiva e como um concentrador dos
impactos ambientais.
Antes de descrever os tipos de solo encontrados no território do município,
alguns aspectos pedológicos precisam ser registrados. Na área de estudo, segundo
Coutinho (1967), temos três tipos distintos de solo: os solos hidromórficos, os solos
procedentes dos sedimentos do Grupo Barreiras e os solos de areias costeiras
brancas. (Figura 13).
Solos hidrorficos, resultado do excesso de umidade provocada pelo
condicionamento do relevo e drenagem, são os Glei pouco húmico, Glei mico
e solos orgânicos. São encontrados nas áreas baixas alagadas da rzea dos
rios Gramame, Paraíba e Jaguaribe, assim como em outros baixos cursos dos
rios e riachos.
Solos procedentes dos sedimentos do Grupo Barreiras e têm características de
serem bem drenados, áridos, com baixa fertilidade e tamm com pouca
erosão. Este fato se deve ao relevo plano dos tabuleiros desta formação;
Solos de areias costeiras brancas estão localizados na orla matima, bastante
drenados, com baixa fertilidade e apresentando erosão eólica.
O Mapa de Reconhecimento de Solos da Microrregião de João Pessoa do
Plano Diretor Sócio-Econômico e Ambiental da Parba (INCRA / PB, 2002, p. 21),
define que os solos existentes na área estudada são: Areias Quatzosas Marinha
Distróficas (Planície Costeira); Podzol Hidromórfico (áreas de restinga e nos locais
com predomínio da Formação Barreiras); Aluviais (solos halomórficos, alagados, nas
faixas ao longo dos rios); (Solos de Mangue).
Neste trabalho, tendo por base a literatura citada, elaborou-se o mapa dos
solos (Figura 13), com os seguintes tipos: Podzólico e Latossolos; Aluviais;
Hidromórficos e Halomórficos; Hidromórficos e Halomórficos – Planície Costeira;
65
De acordo com os percentuais das áreas da Tabela 07, verifica-se uma
predomincia dos solos podzólicos e latossolos.. Quanto aos hidrorficos e
halomórficos, existem os da planície costeira e os localizados nas várzeas dos rios e os
aluviais, que correspondem a 19% do território e os aluviais a apenas 5%.
Tabela 07: Solos do Município de Jo Pessoa / PB.
Solos Km² %
Podzólico e Latossolo 156,45 76%
Aluviais 21,38 10%
Hidromórficos e Halomórficos 10,92 5%
Hidromórficos e Halomórficos-Planície Costeira 19,33 9%
Fonte: Mapa de Solos do Estado da Paraíba (ELC, 2004).
A Formão Guararapes tem umas composões heterogêneas de
sedimentos, que variam de arenito a argila variegada, pouco consolidada e uma
variedade de coloração: esbranquiçada, amarelado, avermelhado e arroxeado. a
Formação Riacho Morno ocorre nas praias de Gramame, Penha e Cabo Branco e tem
umas colorações mais homogêneas, variando de cinza esbranquiçado para amarelo.
Os solos no norte da orla marítima o constituídos de sedimentos areno-
quartzosos, o consolidados de origem marinha, depositadas pela ão dos ventos,
formando em alguns lugares pequenas dunas.
66
67
4.3.8 Vegetação.
A vegetação encontrada no município de João Pessoa, pode ser resumida
em três tipos: (1) Vegetão Litorânea: que compreende a vegetação de praia (tipo
herbáceo e palmáceo) e a vegetação dos mangues (hidrófila, helfila, com destaque
para as Drosseráceas, Burmanáceas e Pteridófitas); (2) Mata Atlântica: trata-se de
vegetão remanescente da Floresta Tropical Úmida como a mata do Buraquinho que
é protegida pelo poder público e as matas da Penha e de Gramame onde ocorre
grande extração de madeira. Quanto às espécies ainda encontradas tem-se a sucupira,
a Angico, o pau ferro e outras. (3) Vegetação dos Tabuleiros: que são aglomerados
de arbustos e árvores com presença de camada herbácea onde predominam as
gramíneas. (Coutinho, 1967).
É importante salientar que o atual estado de destruição da cobertura
vegetal da cidade em estudo pela ação antrópica, contribui para a degradação dos
solos e coloca em risco as nascentes dos rios e seus cursos e, portanto, todo o
equilíbrio hidrográfico urbano e das regiões vizinhas.
Na figura 14, observa-se a cobertura vegetal do município de João
Pessoa em 1944, com 133,74 Km², uma área maior do que a ocupada pela cidade
em 2005. (Tabela 08 e Gráfico 02)
Tabela 08: Ocupação Urbana e Cobertura Vegetal.
Ocupação Urbana e Cobertura Vegetal
km²
Área da cidade em 1944 8,77
Cobertura Vegetal em 1944 133,74
Área da cidade em 2005 103,21
Fonte: Cartas Topográficas da SUDENE, 1944.
68
69
8,77
133,74
103,21
0
20
40
60
80
100
120
140
160
área da cidade em
1944
Vegetação em 1944 Área da cidade em
2005
Gráfico 02: Áreas da Ocupação Urbana e da Cobertura Vegetal 1944 e Área da
cidade em 2005.
Fonte: Cartas Topográficas da SUDENE, 1944 e Imagem do Sensor TM-Landsat / 7.
A seguir, nas Figuras 15, 16 e 17, observa-se a expansão da área da
cidade de João Pessoa no sentido norte e sul na seqüência dos mapas da ocupação
urbana nos anos de 1944, 1974 e 2005, respectivamente.
70
71
.
72
73
No Gráfico 03, observa-se o crescimento exponencial da ocupação
urbana nos últimos 51 anos, conforme as áreas da Tabela 09, calculadas de acordo
com o Mapa Síntese da Evolução da Ocupação Urbana do Município de João
Pessoa, no período de 1944 a 2005. (Figura 18).
Tabela 09: Evolução da ocupação Urbana de João Pessoa.
Ocupação Urbana km² %
Em 1944 8,77 4
Em 1974 31,6 15
Em 2005 103,21 49,6
Área do município em 2005 208,08 100
Fonte: Cartas Topográficas da SUDENE de 1944 e 1974.
Imagem do Sensor TM-Lansat / 7.
OCUPAÇÃO URBANA
8,77
31,6
103,21
0
20
40
60
80
100
120
Área Urbana em 1947 Área Urbana em 1974 Área Urbana em 2005
ANO
km²
Gráfico 03: Evolução da Ocupação Urbana de João Pessoa.
Fonte: Cartas Topográficas da SUDENE de 1944 e 1974 e Imagem do Sensor TM-
Lansat / 7.
74
75
4.3.9 Áreas de Proteção Ambiental para o Município de João Pessoa
Na figura 19, tem-se a localização das áreas de proteção baseadas no
Direito Ambiental no território do município. Na Tabela 10 podemos perceber que as
maiores áreas protegidas pela Legislação Ambiental no município são aquelas
ocupadas pelos mangues e pelas faixas de 30 metros dos rios, uma vez que os rios
urbanos têm entre 10 e 50 metros de largura, com exceção do rio Paraíba que
ultrapassa os 200 metros.
De acordo com a Tabela e o Gráfico abaixo, percebe-se que 85% do
território do município não estão contemplados com a Legislação Ambiental
estudada.
Tabela 10: Legislação Ambiental
Legislação Ambiental km²
Área de mangue 10,94
Faixa de 100metros das falésias 1,78
Faixa de 30 metros dos rios 10,67
Faixa de 50 metros dos rios 5,55
Faixa de 200 metros dos rios 2,53
Faixa de 30 metros dos açudes e lagoas 1,97
Declividade maior do que 40% 1,32
Fonte: Figura 19, Lei Federal 4771/65, Lei Federal 6766/79 e Resolução do
CONAMA N° 004/84.
Legislão Ambiental
85%
5%
1%
4%
2%
1%
1%
1%
Área de mangue
Faixa de 100metros das
falésias
Faixa de 30 metros dos rios
Faixa de 50 metros dos rios
Faixa de 200 metros dos rios
Faixa de 30 metros dos açudes
e lagoas
Declividade maior do que 40%
Área Total do município
Gráfico 04: Legislação Ambiental
Fonte: Figura 19, Lei Federal 4771/65, Lei Federal 6766/79 e Resolução do
CONAMA N° 004/84.
76
77
4.3..9.1 Legislação Urbanística da cidade de João Pessoa
O artigo 26 do Código de Urbanismo do Plano Diretor da Cidade de João
Pessoa (1994), define as seguintes Zonas Especiais de Preservação do Município:
1. Centro Histórico do Município;
2. Falésias do Cabo Branco, Falésias Vivas e Mortas;
3. Parque Arruda Câmara; Mata do Buraquinho;
4. Mata do Cabo Branco;
5. Os Mananciais de Marés, Mumbaba e Gramame;
6. O Altiplano do Cabo Branco; A Ponta e a Praia do Seixas;
7. O Sítio da Graça;
8. Os Vales dos rios: Jaguaribe, Cuia, Cabelo, Gramame, Sanhauá,Paraíba,
Tambiá, Mandacaru, Timbó, Paratibe, Aratú, Mussuré, riacho Laranjeiras,
riacho da Bomba, riacho do Pacote, Riacho São Bento;
9. As Lagoas do Parque Solon de Lucena, João Chagas e Três Lagoas;
10.Os Terrenos Urbanos e Encostas com declividade superior a 20 por cento;
11.As Praças Públicas com área superior a 5.000m²;
12.As áreas tombadas ou preservadas por Legislação Federal, Estadual e
Municipal.
Na Figura 20, estão incluídas as Unidades de Conservação Federal e
Estadual e todas as Zonas Especiais de Preservação (ZEP) definidas pelo Mapa de
Zoneamento de João Pessoa e pelo Mapa de Zonas de Restrições Adicionais do
digo de Urbanismo do Plano Diretor do município, perfazendo uma área de 36,57
km², o que representa 15% da área total do território estudado.
No Mapa do Macrozoneamento do município, (Figura 21) encontram-se as
áreas Adensáveis e em Processo de Adensamento e as áreas não Adensáveis, que
correspondem a 31% e 69% respectivamente, (Gráfico 05).
78
Legislão Urbastica-Macrozoneamento
Área adensável
e em Processo
de
Adensamento
31%
Área não
adensável
69%
Gráfico 05: Legislação Urbanística - Macrozoneamento.
Fonte: Plano Diretor da Cidade de João Pessoa, 1994.
79
80
81
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.
A percepção sistêmica e holística dos aglomerados populacionais
inseridos no planejamento da cidade é fundamental nos diversos processos de
construção do planejamento participativo. Desta forma, o acesso às informações e o
desenvolvimento de metodologias que agreguem informação e tecnologias visando
subsidiar os planos e a participação da população, criam, aos poucos, uma cultura que
possibilita a capacidade de aprender e de mudar.
5.1 Metodologia GEO-CIDADES
A preocupação mundial com a preservação dos recursos naturais surgiu na
década de setenta, com a criação do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente) durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente Humano. Em 1983 a CMMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento) divulgou o relatório “Nosso Futuro Comum” ou Relatório Brundtland,
oficializando o termo desenvolvimento sustentável. Mais recentemente, em 1992, na
Conferencia do Rio de Janeiro, 178 países assinaram quatro documentos:
1. Convenção sobre mudança climática
2. Convenção sobre diversidade biológica
3. Princípios para manejo e conservação de florestas
4. Agenda 21
A Agenda 21 Brasileira consiste numa abordagem multisetorial da realidade
e a análise da interdependência das dimensões ambiental, econômica, social e
institucional. Esta abordagem expressa a interdependência do homem e o
ecossistema natural, demonstrando que as ações antrópicas são expressões das
relações sociais no tempo em que foram produzidas.
A metodologia utilizada para a elaboração de um zoneamento ambiental,
previsto no artigo 9° da Lei 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente,
82
baseia-se em um programa de interações entre os componentes Urbano-ambientais,
também chamado de Matriz P.E.I.R. (Pressão, Estado, Impacto e Resposta).
Assim como os ecossistemas naturais, o ambiente construído das cidades
precisa ser analisado de forma sistêmica, uma vez que atividades humanas, sociais e
econômicas desenvolvidas no meio urbano interferem nos aspectos físicos e
biológicos do ambiente. Estas interferências geram respostas que podem ser tanto
jurídicas como institucional, que por sua vez atingem a organização da sociedade.
Tudo isto formando um grande ciclo de fluxos de matéria e energia. O esquema da
Figura 22 representa esta rede de interações.
Vegetação e Fauna.
Climatologia, Geologia, Geomorfologia, Pedologia, Hidrologia.
Figura 22: Representação do processo metodológico para análise ambiental.
Fonte: Artigo 9° da Lei 6.938/81
Atualmente, adota-se no Brasil o Zoneamento Ecológico-Econômico como
instrumento de planejamento territorial, mediante o estabelecimento de zonas de
planejamento, a partir da avaliação sistêmica dos elementos naturais e
socioeconômicos e dos fundamentos jurídicos e institucionais. Existem várias
metodologias aplicadas na elaboração deste tipo de zoneamento, entre elas podemos
citar as utilizadas pelo IBGE, EMBRAPA e a SAE-PR/MMA, todas elas desenvolvidas
a partir dos princípios da Agenda 21 Nacional.
Este instrumento metodológico, em processo de desenvolvimento tem
provocado conflitos entre planejadores urbanos e economistas por um lado, e os
83
ESTADO
ASPECTOS
FÍSICOS
ASPECTOS
BIOLÓGICOS
PRESSÃO
ATIVIDADES SOCIAIS
E ECONÔMICAS
RESPOSTAS
ASPECTOS JURÍDICOS,
INSTITUCIONAIS E
ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS
ecologistas, ambientalistas e administradores do meio ambiente por outro lado. Os
primeiros enfatizam a ordenação das atividades humanas, desenvolvimento
econômico e geração de empregos, enquanto que os segundos têm como eixo de
análise o meio biofísico.
Tentativas de integrar essas diferentes visões não podem resultar num
cenário diferente da realidade. Desta forma, nos deparamos muitas vezes apenas com
pesquisas sobre índices de qualidade de vida e a criação de unidades de
conservação.
Tanto no diagnóstico como no planejamento ambiental têm-se três óticas a
serem seguidas: a Programática, sobre o tipo e finalidade da política do planejamento,
a Temporal, necessária definição do período de tempo a ser trabalhado e a Territorial
e Administrativa, que trata da dimensão da área analisada (federal, estadual ou
municipal).
A análise ambiental cria então um cenário com uma correlação de fatores
do meio físico, biótico, socioeconômico, tecnológico, jurídico e institucional. Para
Santos (2004), este cenário não é um diagnóstico do meio, mas a identificação de
conflitos entre as perspectivas citadas acima. Segundo a autora, a representação de
um processo metodológico usado comumente para uma análise ambiental pode ser
assim descrita:
Obtenção de dados de entrada Análise Integrada Elaboração de
informações e indicadores.
Para a construção de cenários temporais, descritos e/ ou representados
gráfica e cartograficamente, existem diversos caminhos, entre eles a Modelagem
matemática, as Árvores de Decisão e a utilização dos SIG´s, um sistema que tem a
capacidade de comparar séries de dados temporais através da sobreposição de
mapas ou imagens de diferentes datas e onde as diferenças são reclassificadas para
extrair informações.
Em decorrência da complexidade dos tipos de informações que trabalham
com critérios e alternativas diversas, recentemente tem-se usado sistemas
computadorizados de avaliação multicriterial de impacto ambiental para diversas
metodologias, entre elas a metodologia de McHarg.
84
5.2 A Metodologia de McHarg.
A metodologia de McHarg (1969), desenvolvida no final da década de
1960 e testada e aperfeiçoada na década de 1970, tem como objetivo a identificação
das áreas onde determinada ocupação do solo pode ocorrer com custo mínimo, com
maior preservação do meio ambiente, e, conseqüentemente, maiores benefícios
para os habitantes.O autor, no seu livro “Design with Nature”, deixa claro que não se
trata de um plano, mas de um método para que a sociedade local construa seu
próprio sistema de valor. Isto é, a grande contribuição está na espacialização das
informações para uma definição de uma organização físico-espacial,
A proposta de McHarg consiste na elaboração de um mapeamento de
potencialidades e restrições por meio de uma superposição de mapas de temas
classificados numa escala de cinco tons de cinza, e indicadores que expressam
estes aspectos. Este arquiteto chegou a elaborar diversos planos ambientais para
algumas cidades dos Estados Unidos, todos baseados no conceito de
sustentabilidade e na minimização de impactos sobre os recursos naturais e
culturais.
Segundo Nery (1992), este método consiste, em linhas gerais, de cinco
fases: 1) Identificação de todos os processos atuantes no ecossistema da área
estudada; 2) Mapeamento com a identificação dos elementos dos processos; 3)
Interpretação e avaliação das informações levantadas segundo um sistema
valorativo; 4) Com base no sistema de valores dados aos elementos, investigação da
favorabilidade de cada área em função de um determinado uso prospectivo; 5)
Verificação das possibilidades de uso simultâneos e compatíveis.
Evidentemente com o avanço da ciência nos diversos campos,
principalmente na informática, a técnica da superposição de mapas com a utilização
de fotografias e pranchas transparentes pode ser superada por sistemas de
programas computacionais, que permitem um desenvolvimento técnico e científico
do método proposto, três décadas. Além disto, a abordagem sistêmica no
planejamento físico-territorial sob o enfoque ecológico, requer uma análise de um
conjunto de partes que interagem e que não estão apenas agregadas, mas
correlacionadas entre si.
85
Os programas para elaboração de modelos e mapas digitais e os SIG,
para o tratamento de dados, cujas ferramentas conseguem fazer a montagem e
utilização de modelos matemáticos na análise espacial, que com os devidos ajustes
e testes, reproduzem a realidade com bastante aproximação.
“Os Sistemas Informativos Geográficos, ao
buscarem formas de trabalhar com as relações
espaciais ou lógicas, tendem a evoluir do descritivo
para o prognóstico. Em lugar de simplesmente
descrever elementos ou fatos, podem traçar
cenários, simulações de fenômenos, com base em
tendências observadas ou julgamentos de condições
estabelecidas”.(MOURA, 2003, p.17).
Neste trabalho utilizou-se a metodologia de McHarg, adaptada,
concentrando a pesquisa nos fatores ecológicos do meio físico e nas determinações
da legislação ambiental e urbanística, quanto à compatibilidade à ocupação urbana.
5.3 Metodologia utilizada.
A seguir, a Figura 23 descreve o fluxograma das etapas percorridas
durante a elaboração deste trabalho:
86
.
Figura 23: Fluxograma das etapas de trabalho.
87
BIBLIOGRÁFICO
AEROFOTOGRÁFICO
CARTOGRÁFICO
LEGISLAÇÃO
AMBIENTAL E
URBANÍSTICA
LEVANTAMENTO
MAPA DO USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO EM 1947
MAPA DO USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO EM 1970
MAPA DO ZONEAMENTO DO USO
DO SOLO DE 1994.
MAPA DAS ZONAS ESPECIAIS DE
PRESERVAÇÃO DE 1994.
MAPA DO MACROZONEAMENTO DE
1994.
MAPA DAS ZONAS DE RESTRIÇÕES
ADICIONAIS DE 1994.
MAPA DA OCUPAÇÃO URBANA A
PARTIR DA INTERPRETAÇÃO
VISUAL DA IMGEM DE SATÉLITE
ELABORAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE CARTAS TEMÁTICAS
GEOLOGIA
HIBROLOGIA
VEGETAÇÃO
DECLIVIDADE
TOPOMORFOLOGIA
OCUPAÇÃO URBANA
EM 1947, 1970 E 2005.
AVALIAÇÃO DAS
COMPATIBILIDADES FÍSICO-
AMBIENTAIS COM A
OCUPAÇÃO URBANA EM
1947, 1970 E 2005
AVALIAÇÃO DAS
COMPATIBILIDADES LEGAIS
AMBIENTAIS E URBANÍSTICAS
COM A OCUPAÇÃO URBANA
EM 2005
CONCLUSÃO
ELABORAÇÃO DA CARTA DE
COMPATIBILIDADE AMBIENTAL E LEGAL DA
CIDADE DE JOÃO PESSOA
DIGITALIZAÇÃO DE MAPAS
O trabalho desenvolveu-se em sete etapas, segundo o quadro abaixo e
que estão detalhadas a seguir.
LEVANTAMENTO E PESQUISA - Bibliográfico, cartográfico, aerofotográfico, de
sensoriamento remoto e da legislação ambiental e urbanística;
DIGITALIZAÇÃO DOS MAPAS - Digitalização dos mapas da cidade de João
Pessoa em 1944 e 1974 e dos mapas de zoneamento do uso do solo do Plano
Diretor da cidade de João Pessoa;
ELABORAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE CARTAS TEMÁTICAS E TEMPORAIS.
ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS CARTAS SÍNTESES - Avaliação das
compatibilidades físico-ambientais com a ocupação urbana em 1947, 1970 e 2005
e as legais com a ocupação urbana de 2005.
ELABORAÇÃO E ANÁLISE INTEGRADA DAS CARTAS TEMÁTICAS FINAIS DE
COMPATIBILIDADES.
ELABORAÇÃO DA CARTA SÍNTESE FINAL DE COMPATIBILIDADE AMBIENTAL
E URBANÍSTICA DA CIDADE DE JOÃO PESSOA
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Quadro 01: Etapas realizadas
5.3.1 Levantamento e Pesquisa.
Além da pesquisa bibliográfica sobre o assunto, o tema escolhido exigiu
um levantamento dos diversos métodos sistêmicos de análise ambiental. A escolha
da metodologia de MacHarg se deu pela sua abordagem atual e pela oportunidade
de usar as ferramentas da computação gráfica e do sensoriamento remoto, como
uma forma de aperfeiçoamento do método.
A proposta deste autor recebeu algumas adaptações visando o objetivo
desta pesquisa. A primeira foi à necessidade de um cenário temporal, por se tratar
de uma análise ambiental, resultando na escolha de mapas da cidade de João
Pessoa em três períodos, 1947, 1970 e 2005. A segunda adaptação diz respeito ao
objetivo do trabalho que é ser uma contribuição ao planejamento urbano. Ou seja, os
resultados da análise físico-ambiental do território precisam ser comparados com as
diretrizes urbanísticas da cidade contidas no Plano Diretor de João Pessoa,
88
especificamente nas áreas de preservação do zoneamento do uso do solo do
município.
A pesquisa documental de mapas, fotografias aéreas, legislação
ambiental, legislação urbanística e imagem de satélite aconteceram em diversas
instituições e empresas. Essas instituições e empresas foram: Secretaria de
Planejamento - SEPLAN da Prefeitura Municipal de João Pessoa PMJP;
Companhia de Água e Esgoto da Paraíba CAGEPA; Instituto de Terras e
Planejamento Agrícola INTERPA; Laboratório de Ensino e Pesquisa em Análise
Espacial LEPAN; Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INCRA/PB; Associação Técnico-Científica Ernesto Luiz de Oliveira Júnior – ATECEL;
ARCO PROJETOS e Consultoria em Concreto e Solos Ltda – CONCRESOLO.
Desta pesquisa, resultaram os seguintes documentos:
1. Mapa impresso da Região Nordeste do Brasil da SUDENE-Escala 1:25. 000.
Data: 1974.
Eqüidistância das curvas de nível: 10 metros.
Folhas SB.25-Y-C-III-1-SE, SB.25-Y-C-III-NO, SB.25-Y-C-III-1-SO, SB.25-Y-
C-III-1-NE.
2. Mapa impresso da Região Nordeste do Brasil da SUDENE–Escala 1:50. 000.
Data: 1947.
Eqüidistância das curvas de nível: 20 metros.
Folha:
3. Mapas do Plano Diretor da cidade de João Pessoa. (SEPLAN / PMJP).
Mapa do Macrozoneamento. (Dezembro de 2003).
Mapa de Zoneamento de João Pessoa. (Fevereiro de 2005).
4. Fotografias aéreas de João Pessoa de 1998.
Vôo – PMJP - Empresa Aerofotogrametria Universal – 600 m.
5. Fotografias aéreas de João Pessoa de 2002.
Fotos realizadas em janeiro 2002. Escala: 1:8. 000.
CENTRO: Foto 178; MANAÍRA: Foto 7015; CABO BRANCO: Foto 216 e 146;
ALTIPLANO: Fotos 101, 121 e 011; MANGABEIRA: Fotos 1122, 0922 e 1022;
BANCÁRIOS: Fotos 1028 e 2728; CRISTO: Fotos 2420 e 2220; JARDIM
LUNA: Foto 0134; JARDIM MARISÓPOLIS: Fotos 0335 e 1337;
EXPEDICIONÁRIOS: Foto 0611 e VALENTINA: Foto 1012.
89
5.3.2 Digitalização dos mapas.
Para montagem das bases cartográficas, inicialmente foi utilizada a
estrutura matricial raster, isto é, a entrada de dados de caráter espacial procedeu-se
pela leitura ótica por Scanner dos mapas impressos da cidade em 1947 e 1970 e os
mapas do zoneamento do uso do solo urbano do Plano Diretor de João Pessoa. A
seguir, realizou-se a digitalização pelo processo de vetorização interativa dos mapas
escanerizados. Nesta etapa também foi elaborado o mapa que delimita a área
urbana de João Pessoa, a partir da interpretação visual da imagem de satélite de
2005.
Após a digitalização, com um programa CAD, das bases cartográficas de
1947 e 1970 contendo ocupação urbana, topografia, vegetação, recursos hídricos e
demais elementos físico-ambientais do município, estas foram transformadas em
formato DXF, adequado à exportação de dados vetoriais para o programa SPRING.
5.3.3 Elaboração e Interpretação das Cartas Temáticas e Temporais.
Nesta etapa, iniciou-se a elaboração das cartas, representando as
informações, interpretações e associações dos dados fornecidos pelos mapas,
através da realização de assinaturas ambientais dos elementos do meio físico do
território estudado.
Desta forma, a partir das informações de autores como Coutinho (1967),
Carvalho (1999), Ross (2003), Guerra (1996), Mascaro (2003), Tricart (1977), Ching
(2001), McHarg (1969) e outros, juntamente com as bases cartográficas digitalizadas
e exportadas para o programa SPRING, obteve-se as cartas temáticas de
Declividade, de Hidrologia, de Áreas alagáveis, de Solos, de Ocupação Urbana, de
Cobertura Vegetal, de Topomorfologia e de Geologia.
A seguir, com a literatura disponível, consulta a especialistas e
observações de campo, realizou-se a interpretação das cartas temáticas e temporais
da cidade em 1947, 1970 e 2005, no que diz respeito à ocupação urbana.
90
5.3.4 Elaboração e Avaliação das Cartas Sínteses.
Antes da elaboração das cartas sínteses de restrições do meio físico, foi
necessário à definição dos graus de compatibilidade de cada fator ambiental para a
ocupação urbana. Neste momento do trabalho, recorreu-se à metodologia de Tricart
(1977), citado no capitulo dois deste trabalho, no item “Condicionamentos físico-
ambientais para o assentamento humano”, que estuda as relações entre os
componentes do meio ambiente e seus mecanismos de equilíbrio. Este autor adota o
conceito de sistemas na análise de dados qualitativos para estudar a morfogênese, o
componente mais importante da dinâmica da superfície terrestre.
Portanto, com as informações de autores que tratam da análise dos
fatores ecológicos de forma qualitativa e seguindo a metodologia de McHarg que
define graus de compatibilidade para os diversos usos da ocupação urbana, foram
determinados três graus de adequabilidade para o assentamento humano:
1. Favorável: uso aceitável, sem maiores restrições;
2. Moderado: uso aceitável, com restrições;
3. Restritivo: uso não aceitável para ocupação urbana.
Nesta etapa, obtivemos as seguintes cartas temáticas segundo o grau de
compatibilidade à ocupação urbana: Restrições Solos; Restrições Hidrologia;
Restrições Declividade; Restrições Topomorfologia e Restrições Geologia.
Elaborou-se também a carta temática Legislação Ambiental que define as
áreas de proteção para mangues, faixas de 100 metros para as falésias, faixas de
30, 50 e 200 metros dos rios, faixas de 30 metros para os açudes e lagoas e
terrenos com declividade maior do que 40% . E, finalmente, obtiveram-se ainda duas
cartas temáticas sobre legislação urbanística: o Macrozoneamento e o Uso do solo,
abordando as áreas especiais de preservação (ZEP) da cidade de João Pessoa.
91
6. RESULTADOS
O estudo de uma cidade, sob o enfoque ecológico e numa abordagem
sistêmica, implica em considerar os produtos das diversas interações, desejáveis e
indesejáveis, que se superpõem dificultando a compreensão das causas, assim
como a antevisão dos efeitos. No entanto, o conhecimento dos processos naturais e
as interações dos diversos elementos físicos, que ocorrem no território estudado,
contribuem com um ordenamento territorial mais eficaz, principalmente se for
construído de forma participativa.
É importante salientar que este trabalho aborda especificamente a
adequabilidade físico-ambiental e legal urbanística, enquanto que a descrição das
ações antrópicas no território se limita aos cenários temporais dos espaços
ocupados pela cidade em 1947, 1970 e 2005. Assim sendo, para a aplicabilidade
destes resultados no planejamento urbano, é preciso a contribuição de estudos
sobre as condições sócio-econômicas que se concretizam no ambiente urbano.
6.1 Compatibilidades e Incompatibilidades Físico-Ambientais à Ocupação
Urbana na cidade de João Pessoa.
A sustentabilidade associada ao suporte físico dos
assentamentos humanos é intransferível. O uso
adequado dela pode determinar o desempenho
funcional e econômico das cidades”.(Carvalho, 2001,
p. 37).
Toda cidade de João Pessoa está construída sobre um sistema geológico
e suas edificações são constituídas por materiais geológicos, desde a rocha até o
cimento, do petróleo às tintas e o plástico. Existe uma profunda interação e
dependência entre o assentamento humano e a geologia e esta, com os demais
fatores ambientais.
92
Neste item da compatibilidade físico-ambiental, elaborou-se primeiro a
análise das condições de fundação, do ponto de vista da engenharia e da
arquitetura. A seguir, as condições de suporte ambiental à ocupação urbana dos
fatores naturais e finalmente, a construção das tabelas de cada elemento e suas
interações com os demais que definem os graus de compatibilidade, juntamente com
os respectivos mapas. Vale salientar, que o Fator Vegetação apesar de não ser de
natureza física e sim biótica foi incluído para melhor caracterizar a análise qualitativa
das interações.
6.1.1 Condições de Suporte ou de Fundação para o assentamento humano
“Um dos fatores geológicos da sustentabilidade de
repercussão mais expressiva nas condições de
implantação e de desempenho da Cidade é o
referido aqui como condições de suporte físico aos
assentamentos humanos”. (Carvalho, 2001, p. 66).
As condições de fundação tratam da aptidão de suporte ou de
sustentação de um terreno destinado a uma construção, ou seja, diz respeito ao
processo de interação entre as fundações das construções e o próprio terreno. Esta
análise permite “prever o comportamento do substrato rochoso para os diferentes
tipos de fundação numa abordagem de viabilidade”. (Zuquette, 2004).
O sistema de fundação de uma edificação distribui cargas verticais
diretamente no solo, fazendo com que o recalque seja desprezível ou uniforme sob
todas as partes da construção, assim como ancorar a mesma contra as forças dos
ventos e terremotos. Portanto, o fator mais importante na concepção deste sistema é
a definição do tipo e capacidade de suporte do solo onde as cargas serão
distribuídas.
As fundações podem ser: Superficiais ou rasas, que são as fundações
isoladas ou corridas; Profundas, as que são executadas em forma de estacas,
tubulões e caixões; Flutuantes, que acarreta um considerável acréscimo de
93
despesas com escavações, escoramentos, eventual rebaixamento do nível d’água e
construção de subsolos adicionais. (Caputo 1976, p. 158)”.
Segundo o autor acima mencionado, o rebaixamento do nível d’água dos
lençóis aqüíferos pode provocar o carregamento de partículas finas do solo pela
água e conseqüentemente, o recalque das fundações vizinhas. No caso da
existência de camada de argila compressível sob o terreno, o rebaixamento também
contribui para o adensamento do material e a ocorrência de recalques nas obras ao
seu redor.
Na tabela 11, alguns exemplos de sondagem de solo realizados na cidade
de João Pessoa nos últimos anos, mostram que na região “alta” da cidade,
Formação Barreiras, o perfil geotécnico mostra solos coesivos (ocorrência de siltes
argilosos entre 7.0 a 12.0 m de profundidade), com nível d’água inexistente até
profundidades razoáveis de capacidade de suporte e apresentando a existência do
substrato rochoso a dez metros da superfície.
Na área dos Aluviões que compreende as praias do Bessa, Manaíra,
Tambaú e Cabo Branco, margens do rio Paraíba e os vales do principais rios
urbanos, encontra-se o substrato rochoso a partir de 15.0 metros de profundidade e
o nível do lençol freático bastante superficial, em torno de 2.0 metros abaixo do solo.
94
Tabela 11: Características geotécnicas das unidades estratigráficas do município de
João Pessoa.
Fonte: Relatórios de Sondagem da CONCRESSOLO e ATECEL realizados entre
1996 e 2006.
(*) STP (N/30) , Trata-se de um dado sobre a resistência do solo, encontrado, através do n° de golpes
(N) necessários para fazer o amostreador padrão S.T.P. penetrar os últimos 30 cm, devido aos golpes
de um martelo de peso 65 kg, caindo de uma altura de 75cm.
Embora a Engenharia de Fundações tenha desenvolvido soluções
tecnológicas eficientes para diferentes tipos de situações geológicas, as
LOCAL DO
FURO DE
SONDAGEM
UNIDADE
ESTRATIGRÁ-
FICA
BAIRRO
PROFUNDIDA
DE
DO
SUBSTRATO
ROCHOSO
(profundidade
em m)
PROFUNDIDADE
DO NÍVEL
D’ÁGUA
(profundidade
em m)
TEXTURA DO
MATERIAL
STP *
N/30
AREIA/
SILTE
(prof.
em m)
ARGILA
(prof.
em m)
APÓS 5
m
APÓS 10 m
ALUVIÃO
BESSA
Av. G.
Argemiro de
Figueredo
> 15.50 2.52 0.0 a
15.50
11/30
11/30 a
18/30
MANAÍRA
Av.João
Maurício
> 20.45 1.62 0.0 a
10.70
10.70 a
20.45
20/30 6/30
TAMBAÚ
Av. Tamandaré > 15.20 1.30 0.0 a
7.80
7.80 a
15.50
8/30
18/30 a
13/30
CABO
BRANCO
Av. Cairu
> 15.42 2..0 0.0 a
9.0
9.0 a
15.45
22/30 a
7/30
16/30 a
41/30
FORMAÇÃO
BARREIRAS
JARDIM LUNA
Av. Rui
Carneiro
12.40 0.40 a
12.40
15/30 a
16/30
23/30 a
58/25
BANCÁRIOS
Jardim Cidade
Universitária
14.50
0.0 a
14.50
6/30
21/30 a
56/30
MANGABEIRA
Detran 12.50 0.0 a
12.50
5/30 a
20/30
37/30 a
18/30
B. DOS IPÊS 8.50 0.0 a
2.50
2.50 a 8.50
areia
argilosa
6/30
61/25 a
55/26
PEDRO
GONDIM
>11.20
0.0 a 11.20
11/30
9/30
70/30 a
135/30
JOSÉ
AMÉRICO
11.30 0.0 a
8.50
8.50 a
11.50
9/30 a
23/30
44/30 a
55/30
FORMAÇÃO
GRAMAME
MANDACARU
Emissário E II
4.50
( pedra
calcárea)
0.0 a 4.50
m
Até 4.50
m
1/30 a
6/30
ILHA DO
BISPO
Fazenda da
Graça
4.50 m
(pedra
calcárea)
1.50 1.50 a 4.50
m
Até 4.50
m
2/30 a
5/30
95
conseqüências ambientais urbanas precisam ser estudadas de forma sistêmica, com
ênfase nas interações com os processos naturais.
6.1.2 Condições de suporte ambiental para o assentamento humano.
A ocorrência de uma estratificação de permeabilidade, onde o aquífero
superior mais próximo da superfície é mais exposto á possibilidade de poluição, faz
com que esta retorne ao nível do solo através das fontes hídricas permanentes ou
intermitentes. No caso do aqüífero mais profundo e confinado, a sua maior
vulnerabilidade está nas ressurgências, ou afloramentos que são as áreas de
descarga.
Neste estudo das condições de suporte ambiental para o assentamento
humano, elaborou-se uma análise ambiental da compatibilidade do meio físico do
município para a ocupação urbana, tomando por base as unidades estratigráficas,
com suas relações com os outros elementos físicos.
Aluvião:
As planícies fluviais e flúvio-marinhas são constituídas de solos aluviais
como Cuiá, Jacarapé, Cabelo e riacho Camurupim, com lençol subterrâneo pouco
profundo, terreno com pouca declividade e, portanto, sujeitos a alagamentos. A
planície costeira é formada de camadas arenosas, siltosas e argilosas, bastante
permeáveis e apresentando lençol subterrâneo com aproximadamente 2,0 m de
profundidade; é uma região ecologicamente dinâmica e sua relativa estabilidade
depende da vegetação local e envolve fatores convergentes, como a utilização de
poços artesianos que fazem o nível da água subterrânea baixar e provoca a morte
da vegetação.
Trata-se de uma área com boa porosidade e permeabilidade para a água
da chuva, única fonte de alimentação hídrica para os rios nesta região. Desta forma,
trata-se de uma área em que a ocupação urbana deve levar em consideração a
necessidade da infiltração da água das chuvas para alimentar os lençóis
subterrâneos.
96
Nestas áreas, o desmatamento para a ocupação urbana, reduz a
capacidade de infiltração, aumentando o escoamento superficial e a erosão hídrica
nas encostas, que por sua vez promoverá o assoreamento do leito e enchentes. No
caso da planície costeira, com grande ocupação urbana, a grande permeabilidade
deste solo promove a rápida saturação dos lençóis subterrâneos e
conseqüentemente inundações de alguns trechos.
Trata-se de áreas relativamente planas, com declividade variando entre 0
e 5%, proveniente de depósitos fluviais e marinhos sujeitos a inundações periódicas,
com vegetação de mangue e de restinga. A proteção da cobertura vegetal é
fundamental nestas áreas como forma de equilíbrio ambiental, principalmente nas
falésias e encostas dos vales fluviais que circundam esta área, e, portanto, a
ocupação deve ser bastante criteriosa.
Identificam-se neste trecho do território os seguintes elementos
geológicos:
Formação Barreiras:
O substrato rochoso desta formação se encontra aproximadamente a dez
metros da superfície e a camada de material não consolidado formado de solos
podzólicos e latossolos conferem a esta área boas condições de fundação. Nas
partes mais altas o solo logo seca, após a interrupção das chuvas, o que impede o
crescimento de árvores. Nas depressões e nos vales fluviais, o escoamento
hipodérmico lento favorece a disponibilidade de água e o aparecimento de cobertura
vegetal. (Tricart ,1977, p. 49).
Os aqüíferos mais profundos nesta área e o solo pouco permeável, o
suprimento hídrico destes depende mais das ressurgências hídricas, áreas que
precisam ser mais preservadas, como as lagoas e nascentes. As demais áreas são
mais favoráveis para a ocupação urbana.
Com exceção das dissecações provocadas pelos rios urbanos na área,
esta formação tem no trecho do território que apresenta superfície plana dos
interflúvios, com uma declividade em torno de 0 a 5%, é a região do município mais
propícia para a ocupação.
Formação Gramame:
97
Trata-se de afloramentos de rocha calcárea que ocorrem em algumas
áreas do território estudado, constituídos de calcário argiloso, argila e calcarenito e
estão situados em terrenos de vertentes, conforme a sobreposição dos mapas das
figuras 05 (Mapa Geológico) e 08 (Mapa topomorfológico). De acordo com os
relatórios de sondagem apresentados na Tabela 11 e de acordo com mapa de
hidrologia, estas exposições se encontram em áreas de lençol freático pouco
profundo e atualmente são utilizadas para a exploração do calcáreo.
Terraços Marinhos:
No Mapa de Geologia, (Figura 05), estão representadas as áreas de
sedimentos arenosos que configuram os tabuleiros da Formação Barreiras, e “sua
origem é atribuída a uma forte lixiviação da rocha infrajacente, cujo material foi
transportado e depositado, por riachos com velocidade constante”. (Coutinho, 1967,
p. 58, apud Mabesoone).
Após a análise das interações entre os fatores ambientais, a partir de
cada unidade estratigráfica, construíram-se as tabelas 12, 13, 14, 15 e 16, em que
cada elemento de cada fator foi relacionado com os demais para a definição do grau
de compatibilidade físico-ambiental para a ocupação urbana.
Tabela 12: Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Geologia
GEOLOGIA TOPOMORFOLOGIA SOLOS HIDROLOGIA DECLIVI-
DADE
VEGETAÇÃO COMPATIBILIDAD
E À OCUPAÇÃO
URBANA
ALUVIÃO
Planície Fluvial
Planície Flúvio-
Marinha
Planície Costeira
Hidromórficos
Halomórficos
Lençol
freático
pouco
profundo
Áreas
alagadas
0 a 5%
Hidrófila e
Heliófila
Herbáceo e
palmáceo
MODERADA
FORMAÇÃO
BARREIRAS
Superfícies Planas
interflúvios
Vertentes
Podzólicos e
Latossólicos
Lençol
freático
profundo
0 a 5%
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
+ 40%
Arbustos e
Árvores com
camada
herbácea
FAVORÁVEL
FORMAÇÃO
GRAMAME
Planície Fluvial
Vertente
Podzólicos e
Latossólicos
Lençol
freático
pouco
profundo
0 a 5%
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
+ 40%
RESTRITIVA
COBERTURA
ARENOSA
Vertente Podzólicos e
Latossólicos
Lençol
freático
profundo
RESTRITIVA
98
Tabela 13: Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Hidrologia.
HIDROLOGIA TOPOMORFOLOGIA SOLOS GEOLOGIA DECLIVIDA
DE
VEGETAÇÃO
COMPATIBILID
ADE À
OCUPAÇÃO
URBANA
ÁREAS
ALAGADAS
Planície Fluvial
Planície Flúvio-
Marinha
Hidromórficos
Halomórficos Aluvião
0 a 5%
Hidrófila e
Heliófila
RESTRITIVA
LENÇOL
FREÁTICO
PROFUNDO
Superfície Planas
interflúvios
Vertentes
Podzólicos e
Latossólicos
Formação
Barreiras
Cobertura
Arenosa
0 a 5%
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
+ 40%
Arbustos e
árvores
Com
camada
herbácea
FAVORÁVEL
LENÇOL
FREÁTICO
POUCO
PROFUNDO
Planície Fluvial
Vertente
Planície
Costeira
Aluviais
Formação
Gramame
0 a 5%
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
+ 40%
Hidrófila e
Heliófila
Herbáceo e
palmáceo
MODERADO
Tabela 14: Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Topomorfologia.
TOPOMORFOLO
GIA
HIDROLOGIA SOLOS GEOLOGIA DECLIVIDA
DE
VEGETAÇÃO
COMPATIBILIDAD
E À OCUPAÇÃO
URBANA
PLANÍCIE
FLUVIAL
Áreas
alagadas
Hidromórficos
Halomórficos Aluvião 0 a 5% Hidrófila e
Heliófila
RESTRITIVA
PLANÍCIE
FLÚVIO-
MARINHA
Áreas
alagadas
Podzólicos e
Latossólicos
Formação
Barreiras
Cobertura
Arenosa
0 a 5%
Hidrófila e
Heliófila RESTRITIVA
PLANÍCIE
COSTEIRA
Lençol
Freático
pouco
profundo
Aluviais
Formação
Gramame
0 a 5%
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
+ 40%
Hidrófila e
Heliófila
Herbáceo e
palmáceo
MODERADO
SUPERFÍCIES
PLANAS
INTERFLÚVIOS
Lençol
Freático
Profundo
Podzólicos e
Latossólicos
Formação
Barreiras 0 a 5%
Arbustos e
árvores
Com
Camada
herbácea
FAVORÁVEL
VERTENTE
Lençol
Freático
Profundo
Podzólicos e
Latossólicos
Formação
Barreiras
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
+ 40%
MODERADO
Tabela 15: Compatibilidade da Ocupação Urbana com a Declividade.
99
DECLIVIDA-
DE
HIDROLOGIA TOPOMORFOLO-
GIA
GEOLO-
GIA
SOLOS VEGETA-
ÇÃO
COMPATIBILID
A-
DE À
OCUPAÇÃO
URBANA
0 a 5%
Lençol
Freático
pouco
profundo
Planície
Costeira
Planície Fluvial
Planície Flúvio-
Marinha
Aluvião
Hidromórfico
s e
Halomórficos
Herbáceo e
palmáceo
Hidrófila e
Heliófila
MODERADO
0 a 5%
Lençol
Freático
profundo
Superfície Plana
Interflúvios
Formação
Barreiras
Podzólicos e
Latossólicos
Arbustos e
árvoresCom
Camada
herbácea
FAVORÁVEL
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
Lençol
Freático
pouco
profundo
Vertentes
Formação
Barreiras
Podzólicos e
Latossólicos
Arbustos e
árvoresCom
Camada
herbácea
MODERADO
20 a 40%
+ 40%
Lençol
Freático
pouco
profundo
Áreas
alagadas
Planície Flúvio-
Marinha
Formação
Barreiras 0 a 5%
Hidrófila e
Heliófila
RESTRITIVA
Tabela 16: Compatibilidade da Ocupação Urbana com o Solo.
SOLOS HIDROLOGIA TOPOMOR
-FOLOGIA
GEOLOGIA DECLIVI-
DADE
VEGETAÇÃO
COMPATIBILIDAD
E À OCUPAÇÃO
URBANA
HIDROMÓRFICOS
HALOMÓRFICOS
-Planície Costeira
Lençol
Freático
pouco
profundo
Planície
Costeira
Aluvião 0 a 5% Herbáceo e
palmáceo
MODERADO
SOLOS ALUVIAIS
Lençol
Freático
pouco
profundo
Planície
Fluvial
Planície
Flúvio-
Marinha
Aluvião 0 a 5% Hidrófila e
Heliófila
RESTRITIVA
PODZÓLICOS
LATOSSÓLICOS
Lençol
Freático
Profundo
Superfície
Plana
Interflúvios
Vertentes
Formação
Barreiras
0 a 5%
5 a 10%
10 a 20%
20 a 40%
+ 40%
Arbustos e
árvores
Com
Camada
herbácea
FAVORÁVEL
HIDROMÓRFICOS
HALOMÓRFICOS
Lençol
Freático
pouco
profundo
Áreas
alagadas
Planície
Flúvio-
Marinha
Formação
Barreiras 0 a 5%
Hidrófila e
Heliófila
RESTRITIVA
100
Como foi visto, João Pessoa possui apenas 35% do seu território
constituído de vertentes e as demais áreas formadas pelas planícies e superfícies
planas dos interflúvios, com uma declividade variando em torno de 0 a 5%, o que
equivale a 65% do município (Tabela 05). É importante salientar que, além das
considerações ecológicas de interação com os demais fatores, optou-se por atribuir
o grau de moderado para a ocupação urbana nestas regiões planas pela
possibilidade de inundação e às dificuldades de implantação do sistema de
drenagem pluvial e do sistema de esgotamento sanitário.
Na Tabela 17, tem-se a atribuição de pesos destacando com valores
maiores os elementos de maior compatibilidade física à ocupação urbana. Desta
forma, o peso 1 destinou-se aos elementos físicos que apresentam maior fragilidade
natural às intervenções antrópicas. A compatibilidade moderada recebeu peso dois,
porque pode ser ocupada, com determinadas restrições e por fim, a condição
favorável à ocupação, porém com menos restrições.
Tabela 17: Compatibilidade da Ocupação Urbana com os Fatores Ecológicos.
101
FATORES ECOLÓGICOS PESOS COMPATIBILIDADE
GEOLOGIA
Aluvião 1 RESTRITIVA
Formação Barreiras 5 FAVORÁVEL
Cobertura Arenosa 3 MODERADA
Calcáreo 3 MODERADA
SOLOS
Hidromórficos e Halomórficos-
Planície Costeira 3 MODERADA
Hidromórficos e Halomórficos-
Planície Fluvio-marinha 1 RESTRITIVA
Aluviais 1 RESTRITIVA
Podzólicos e Latossolos 5 FAVORÁVEL
TOPOMORFOLOGIA
Superfície Plana e interflúvios 5 FAVORÁVEL
Vertentes 3 MODERADA
Planície Fluvial 1 RESTRITIVA
Planície Flúvio-marinha 1 RESTRITIVA
Planície Costeira 3 MODERADA
Planície Costeira-Praias 1 RESTRITIVA
HIDROLOGIA
Áreas alagadas 1 RESTRITIVA
Lençol Freático profundo 5 FAVORÁVEL
Lençol Freático pouco
profundo 3 MODERADA
DECLIVIDADE
Entre 0 e 5% 5 FAVORÁVEL
Entre 5 e 10% 5 FAVORÁVEL
Entre 10 e 20% 3 MODERADA
Entre 20 e 40% 1 RESTRITIVA
Mais de 40% 1 RESTRITIVA
A espacialização das restrições de cada fator ecológico estudado no
município de João Pessoa está representada nas Figuras 24, 25, 26, 27 e 28.
102
103
104
105
106
107
Na Tabela 18, têm-se os graus de compatibilidade das classes de
restrições das áreas do território estudado, que são o resultado do somatório dos
pesos definidos na Tabela 17 e que por sua vez provêm da análise sistêmica dos
fatores ecológicos do meio físico realizada neste capítulo.
Tabela 18: Classes de Restrição do Meio Físico
(*) Não compatível para a ocupação urbana
(**) Compatível com algumas restrições para a ocupação urbana .
(***) Compatível para a ocupação urbana.
A sobreposição dos cinco mapas de restrições do meio físico e o
somatório dos pesos atribuídos resultou no mapa de Restrições do Meio Físico á
ocupação urbana (Figura 29).
Neste Mapa, verifica-se que o município apresenta conflitos físico-
ambientais maiores nas planícies flúvio-marinhas, fluviais e na área da planície
costeira ao sul, nas proximidades da praia do Cabo Branco e Seixas. Observa-se
que nestas últimas áreas, apesar da visibilidade destes conflitos trata-se de uma
região de grande especulação imobiliária e de expansão urbana como se verifica na
Figura 18.
Na planície costeira que compreende as praias do Bessa, Manaíra,
Tambaú e Cabo Branco, verificam-se conflitos parciais, de caráter moderado. No
entanto, chama atenção nesta área quatro locais de restrição que são: a
desembocadura do rio Jaguaribe, na área vizinha ao aeroclube e nas bases das
falésias das praias do Cabo Branco e de Manaíra.
CLASSES DO MAPA DE RESTRIÇÃO DO MEIO
FÍSICO
GRAU DE
COMPATIBLIDADE
0 A 13
RESTRITIVO (*)
13 A 20
MODERADO (**)
20 A 25
FAVORÁVEL (***)
108
No Gráfico 06, observa-se que 71% do território do município, do ponto de
vista do meio físico, não apresentam restrições, no entanto os restantes 29%
possuem incompatibilidades à ocupação urbana.
Compatibilidade do Meio sico
20%
9%
71%
Restritivo Moderado Favorável
Gráfico 06: Compatibilidade do Meio Físico do município de João Pessoa.
Fonte: Figuras 24, 25, 26, 27,28 e 29.
109
110
Os cenários temporais dos conflitos da ocupação urbana com o meio
físico, nos anos de 1944, 1974 e 2005, estão descritos a seguir, para uma melhor
percepção da sua evolução.
Na figura 30, o mapa mostra a ocorrência de restrições em 1944, apenas
no bairro do Varadouro nas proximidades do rio Sanhauá, correspondendo a 4% da
área da cidade (0,34 Km²), o mesmo percentual ocorre com conflitos parciais com as
primeiras ocupações da praia de Tambaú (0,32 Km²). (Gráfico 07).
CONFLITO COM O MEIO SICO EM 1944
Sem conflito;
8,10 Km²;
92%
Área com
conflito
parcial;
0,32 Km² ;
4%
Área com
conflito;
0,34 Km² ;
4%
Gráfico 07: Conflitos com o Meio Físico em 1944.
Fonte: Figuras 15,29 e 30.
111
112
Na figura 31, observa-se que a ocupação urbana do município em 1974
apresenta um crescimento de conflitos com o meio físico que cresceram de 4 para
5%, com acréscimos das áreas nas imediações dos rios Mandacaru, Jaguaribe e
Timbó, enquanto que a expansão urbana no sentido do litoral aumentou para 16% os
conflitos parciais. (Gráfico 08).
CONFLITO COM O MEIO SICO EM 1974
Sem
conflito;
25,13 Km² ;
79%
Área com
conflito
parcial; 4,93
Km² ;
16%
Área com
conflito;
1,53 Km² ;
5%
Gráfico 08: Conflito com o Meio Físico em 1974.
Fonte: Figuras 16,29 e 30.
113
114
115
As incompatibilidades físico-ambientais no ano de 2005 (Figura 32)
representam 7% do território urbano. No caso dos conflitos parciais houve uma
redução das áreas que apresentam incompatibilidades com o meio físico, que
passou de 16 para 13%. (Gráfico 09)
CONFLITOS COM MEIO SICO EM 2005
Área com
conflito;
12,91 Km²;
13%
Área com
conflito;
6,83 Km² ;
7%
Área sem
conflito;
83,46 Km²;
80%
Gráfico 09: Conflito com o Meio Físico em 2005.
Fonte: Figuras 17,29 e 32.
Na Tabela 19 têm-se os percentuais dos conflitos da cidade com o meio
físico em função da área urbana de cada ano estudado. Entre 1944 e 1974, os
conflitos com o meio físico não cresceram, no entanto, nos últimos 31 anos, observa-
se um aumento de 3% numa área urbana três vezes maior. Quanto aos conflitos
parciais, a área também triplicou, porém devido à grande expansão urbana verificada
entre 1974 e 2005, o percentual destes conflitos decresceu 3 %.
116
Tabela 19: Conflitos e Restrições do Meio Físico com a Ocupação Urbana do
Município de João Pessoa, PB.
Fonte: Figuras 15, 16, 17,29 e 32.
No mapa dos conflitos da ocupação urbana com o meio físico na Figura
32, verifica-se o aparecimento no ano de 2005, das seguintes novas áreas de
ocupação urbana em locais não compatíveis do ponto de vista ecológico:
Trecho entre os bairros Ilha do Bispo e Alto do Mateus (Figura 33 e 34);
Nas imediações da Fábrica de Cimento CIMEPAR e o cemitério da Boa
Sentença (Figura 35 e 36);
Nas faixas laterais dos rios Cuiá e Laranjeiras no bairro de Mangabeira;
No bairro do Roger nas proximidades do Presídio;
No bairro dos Estados entre a Fazenda Boi e a Promac na Br 230 (Figura
37);
No topo e base da falésia localizada no Jardim Luna (Figura 38).
CONFLITOS E
RESTRIÇÕES DO MEIO
FÍSICO
Á OCUPAÇÃO URBANA
Área com
conflito
Km² %
Área com
conflito parcial
Km² %
Sem conflito
Km² %
Em 1944 com 8,77 km² de
ocupação 0,34 4%
0,32 4% 8,1 92%
Em 1974 com 31,60 km² de
ocupação 1,53 4%
4,93 16% 25,13 79%
Em 2005 com 103,21 km² de
ocupação 6,83 7% 12,91 3%
83,46 80%
117
Figura 33: Localização do Conflito com o Meio Físico no Bairro Ilha do Bispo.
Fonte: SEPLAN / PMJP, 2003.
Figura 34: Foto da Localização de Conflitos com o Meio Físico na Cidade de João
Pessoa. Fonte: SEPLAN / PMJP, 2002.
118
Ilha do
Bispo
CIMEPAR
291 610
Figura 32
289 334
9 211 210
9 212 726
Figura 33
Figura 35: Foto da Fábrica de Cimento CIMEPAR
Fonte: SEPLAN / PMJP, 2002.
119
Figura 36: Foto da Área de Conflito no bairro Jardim Marizópolis, entre a
Fazenda Boi Só e a PROMAC.
Fonte: SEPLAN / PMJP, 2002.
120
Figura 37: Foto de Conflito no Topo e na Base da Falésia do Jardim Luna às
margens do rio Jaguaribe.
Fonte: SEPLAN / PMJP, 2002.
Além dos conflitos urbanos citados, uma área na Figura 32 merece
destaque, a que está localizada no girador da BR 101 no bairro de Cruz das Armas
nas imediações das lagoas ( coordenadas: 2800000, 92100000). Como foi visto,
estas lagoas são ressurgências do aqüífero confinado existente sob a Formação
Barreiras, constituindo uma área incompatível com a ocupação urbana do ponto de
vista ecológico, que a impermeabilização do solo impede a alimentação hídrica
dos aqüíferos.
6.2 Compatibilidades e incompatibilidades legais ambientais urbanísticas à
ocupação urbana.
6.2.1 Legislação Ambiental.
121
O Mapa de Restrição do Meio Físico do Município de João Pessoa em 2005
(Figura 32) foi sobreposto ao mapa das Zonas de Proteção Ambiental para o
município de João Pessoa (Figura 19) e resultou no Mapa de Restrições do Meio
Físico e da Legislação Ambiental (Figura 38). Neste mapa as restrições de maior peso
estão nas planícies fluviais, flúvio-marinha, mangue, nas falésias que contornam a
Formação Barreiras, nas planícies costeiras e nas áreas sujeita à inundação (24% do
município), (Tabela 20). Percebe-se que a planície costeira da cidade aparece com
restrição moderada, conseqüência exclusiva da análise do meio físico, enquanto que
69% do território, não apresentam restrições.
Tabela 20: Restrições do Meio Físico e da Legislação Ambiental
RESTRIÇÕES DO MEIO FÍSICO E DA LEGISLAÇÃO
AMBIENTAL Km² %
Restritivo 51,26 24
Moderado 15,54 7
Favorável 143,56 69
Fonte: Figuras 19, 32 e 38.
É oportuno salientar que, neste mapa e nestas áreas não aparecem a Área
de Preservação Permanente Mata Atlântica e o Jardim Botânico. Estas áreas se
encontram no Mapa de Restrições do Meio Físico e do Zoneamento do Uso do Solo
(Figura 39), pertencentes ao Plano Diretor da cidade de João Pessoa.
122
123
6.2.2 Legislação Urbanística.
O artigo 13 do Título II, do Código de Urbanismo do Plano Diretor do
município de João Pessoa de 1994, que trata do uso e ocupação urbana, define
como zona não adensável, aquela em que existe carência da rede viária, restrições
do meio ambiente e onde o limite máximo de construção é o índice de
aproveitamento único.
No Mapa de Macrozoneamento do Plano Diretor de João Pessoa de 1994
(Figura 21), as áreas da Mata do Buraquinho e o Jardim Botânico, não estão
caracterizadas e, portanto, na sobreposição com as restrições do meio físico,
aparecem em quase toda a sua extensão como favorável à ocupação. Estas áreas
de preservação de Mata Atlântica encontram-se no mapa da Figura 20. Além disto,
este macrozoneamento determina como adensável quase toda área central em torno
da Mata do Buraquinho e em toda planície costeira.
Na carta de Restrição do Meio Físico e do Macrozoneamento, Figura 39
observa-se uma extensa área restritiva à ocupação urbana na região sul do
município proveniente da zona não adensável, correspondendo a 72% do território,
enquanto que a planície costeira apresenta-se com restrição moderada, (Tabela 21).
Tabela 21: Restrições do Meio Físico e do Macrozoneamento.
RESTRIÇÃO DO MEIO FÍSICO E DO MACROZONEAMENTO Km² %
Restritivo 150,11 72%
Moderado 12,85 6%
Favorável 46,46 22%
Fonte: Figuras 21, 29 e 39.
124
125
Percebe-se que as delimitações urbanísticas referentes ao adensamento
urbano não consideram as restrições físico-ambientais do território, principalmente
nas faixas que compreendem as planícies costeiras e as planícies fluviais e fluvio-
marinhas que se encontram em área favorável.
Continuando a utilização do método de sobreposição dos planos de
informação, o cruzamento dos elementos da Carta de Restrições do Meio Físico
(Figura 29) com o Zoneamento do município (Figura 40) resultou na Carta de
Restrições do Meio Físico e do Zoneamento do Uso do Solo. (Figura 41). Nesta carta
pode-se verificar um aumento de conflitos na área que acompanha a borda do
tabuleiro com a planície costeira, um acréscimo de incompatibilidades nas planícies
fluviais e flúvio-marinhas e um destaque para as áreas de preservação de Mata
Atlântica do município. Na Tabela 22 percebe-se que o município de João Pessoa
apresenta 28 % de seu território com conflitos com o meio físico e com o
Zoneamento do Uso do Solo.
Tabela 22: Restrições do Meio Físico e do Zoneamento Uso do Solo
RESTRIÇÕES DO MEIO FÍSICO E DO
ZONEAMENTO DO USO DO SOLO km² %
Restritivo 59,17 28%
Moderado 14,81 7%
Favorável 134,63 65%
Fonte: Figuras 29, 40 e 41.
No entanto, apesar de existir um acréscimo de áreas protegidas e
consideradas zonas especiais de proteção, é preciso estudar os parâmetros e os
respectivos índices urbanísticos, quanto às suas eficiência e eficácia. Para isto,
verificaram-se quais as zonas de proteção da legislação urbanística (Figura 40) que
estão nas áreas consideradas restritivas da Carta de Restrições do Meio Físico e do
Zoneamento do Uso do Solo (Figura 38).
126
FIGURA 40: Mapa de Zoneamento de João Pessoa.
127
128
ZEP2
ZEP3
ZEP3
A seguir, analisaram-se as taxas de ocupação (relação entre área de
projeção ortogonal do edifício e a área do lote) e os índices de aproveitamento
(relação entre a soma das áreas de todos os pavimentos de construção nela
permissível e a área total) das Zonas Especiais de Proteção (ZEP). Estas zonas são
definidas pelo zoneamento do uso do solo do município e nas respectivas tabelas do
Código de Urbanismo.
ZEP2 (Zona Especial dos Grandes Verdes) Planícies Fluviais e Flúvio-
Marinha.
Segundo a Tabela 23, determina-se nestas áreas uma taxa de ocupação
de 0,10, o que significa a possibilidade de se construir 10% da área do lote. O
coeficiente de aproveitamento é 0,20 que possibilita uma verticalização dependendo
do tamanho do terreno.
Tabela 23: Zonas Especiais de Preservação dos Grandes Verdes.
ZONA : ZEP2 - ZONA ESPECIAL DE PRESERVAÇÃO DOS GRANDES VERDES
USOS LOTE * EDIFICAÇÃO
PERMITIDS
ÁREA
MÍNIMA
(m²)
FRENTE
MÍNIMA
(m²)
TAXA DE
ACUPAÇÃO
MÁXIMA
COEF. DE
APROVEIT
MÁXIMO
ALTURA
MÁXIMA
AFASTAMENTOS
FRONTAL
(m)
LATERAL
(m)
FUNDO
S (m)
IR (1) * 10,00 50,00 0,10 0,20 - 20,00 20,00 20,00
IR (2) ** 10,00 50,00 0,10 0,20 - 20,00 20,00 20,00
RI *** 10,00 50,00 0,50 0,10 - 20,00 20,00 20,00
IPP **** 10,00 50,00 0,10 0,20 - 20,00 20,00 20,00
R7 (3) *****
Fonte: SEPLAN / PMJP
(*) Parques infantis, quadras e campos de esporte ao ar livre, museus, centros de
pesquisas, exposições de arte, estabelecimento de cultura e Difusão artística.
(**) Atividades de apoio.
(***) Uso produtor industrial, comercial e prestador de serviço.
(****) Indústria urbana de Pequeno Porte, manufaturas com área edificada até 250m'
(duzentos e cinqüenta metros quadrados) que não produzem gases, poeiras,
vibrações, ruídos, exaltações nocivas ou incômodas.
(*****) Restaurantes, bares, lanchonetes e sorveterias.
Estes índices limitam a ocupação, no entanto, os grandes proprietários de
terra têm condições de executar empreendimentos que podem comprometer os
129
fatores ecológicos típicos deste tipo de território, como lençol freático pouco
profundo, proximidade dos recursos hídricos superficiais e, principalmente, a
presença das matas ciliares.
A legislação em questão deveria não especificar o tipo de
empreendimento como definir parâmetros norteadores da ocupação, para evitar a
degradação ambiental.
Zona de Preservação do Cabo Branco e Praia do Seixas – ACB / BCB / CCB /
DPS. (Tabela 24).
A taxa de ocupação permitida varia entre 0,2 a 0,4 e o coeficiente de
aproveitamento, dependendo do tipo do uso pode ser de 0,1 a 1,60 (comercial
educacional ou turístico). A permissão para o uso residencial tem o coeficiente de
aproveitamento variando entre 0,20 a 0,40. A instalação de grandes equipamentos
nesta área pode trazer grandes problemas ambientais, principalmente referentes à
estabilidade geotécnica dos terrenos e pelo comprometimento da cobertura vegetal.
130
Tabela 24: Zona de Preservação do Cabo Branco e Seixas
SUB
ZONAS
USOS
PERMITIDOS
LOTE * EDIFICAÇÃO
ÁREA
MÍNIMA
(m²)
FRENTE
MÍNIMA
(m²)
TAXA DE
OCUPAÇÃO
MÁXIMA
COEF. DE
APROVEIT
MÁXIMO
ALTURA
MÁXIMA
AFASTAMENTOS
ACB (1)
Recreacional
Desportivo
Turístico
exceto
Hotéis e
motéis
Cultural
2.000,00 - 0,20
0,05
0,20
0,10
1,00
(1)
2 a 5
(2) 20,00 20,00
BCB (2)
Recreacional
Desportivo
Turístico
inclusive
restaurante.
Educação
Saúde
5.000,00 - 0,40 0,10
(1)
3,00 (2) 10,00 10,00
R1 5.
000,00
- 0,20 0,20 2,00 (2) 5,00 5,00
R4 5.000,00 (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3)
CCB (3)
Comercial
(Centro
Comercial)
Educacional
Turístico
2.500,00 - 0,40 1,60
(1)
5,00 10,00 5,00 5,00
R1 2.500,00 - 0,40 0,80 2,00 10,00 3,00 5,00
R4 2.500,00 (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3)
R5 (5) 2.500,00 - 0,20 0,60 3 Pav (2) 3,00 5,00
R5 (6) 2.500,00 - 0,30 0,90 3 Pav (2) 3,00 5,00
DPS (4)
Recreacional
Desportivo
Turístico
1.400,00 - 0,40 0,80
(1)
1,00 (4) 5,00 5,00
Comercial
Atividades de
Vizinhança
R1 700,00 - 0,40 0,80 2,00 5,00 3,00 3,00
R4 700,00 (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3)
R5 (6) 700,00 - 0,30 0,90 3 Pav 5,00 3,00 3,00
Fonte : SEPLAN / PMJP
(1) Setor “A” do Cabo Branco.
(2) Setor “B” do Cabo Branco.
(2) Setor “C” do Cabo Branco.
(3) Setor “D” da Praia do Seixas.
(4) Setor “E” da Praia do Seixas.
6.3 Síntese das Inadequações Legais Ambientais Urbanísticas e Físicas
ambientais à Ocupação Urbana.
Como síntese final tem-se a carta de Conflitos e Restrições Totais da
Ocupação Urbana no ano de 2005 do município de João Pessoa (Figura 42), que
131
apresenta no seu território uma área de 56,89 km² com conflitos legais ambientais
urbanísticos e físico-ambientais, (Tabela 25) e (Gráfico 10). O percentual de 55%
retrata um quadro ambiental preocupante para as futuras gerações.
Tabela 25: Restrições Totais
Fonte: Figura 42.
CONFLITOS E RESTRÕES TOTAIS À
OCUPAÇÃO URBANA
55%
35%
10%
Com conflito Conflito Parcial Sem conflito
Gráfico 10: Conflitos e Restrições Totais à Ocupação Urbana.
Fonte: Figura 42
Na Figura 42, observa-se a espacialização dos conflitos com referências de
fotos de alguns locais.
RESTRIÇÕES TOTAIS km²
Com conflito 56,89 55%
Conflito Parcial 36,24 35%
Sem conflito 10,07 10%
132
133
Figura 43: Bairro do Cristo, mostrando a ocupação na área em torno das cinco
lagoas, na parte de cima à esquerda.
Fonte: PMJP. 2002.
Figura 44: Conflito no Bairro Valentina, junto ao rio Cuia.
Fonte: PMJP, 2002.
134
Figura 45: A ocupação do Bairro dos Bancários no trecho do rio Timbó.
Fonte: PMJP, 2002.
Figura 46: Bairro do Altiplano e a ocupação no topo da falésia.
Fonte: PMJP, 2002.
135
Figura 47: A falésia entre a Praia do Cabo Branco e Bairro do Altiplano.
Fonte: PMJP, 2002.
136
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.
Este trabalho foi iniciado abordando o conceito da complexidade, em que
a ciência tenta compreender a multidimensionalidade dos fenômenos, as relações
entre sujeito e o objeto e entre ordem e desordem.
No campo da arquitetura e urbanismo, o paradigma científico da
complexidade vem sendo apropriado de várias maneiras, através da necessidade de
uma aproximação entre modelo de estudo, realidade e previsão. Trata-se de uma
demanda do mundo pós-moderno, da crescente interdependência econômica
mundial que caminha paralela ao entendimento de interdependência ambiental
planetária, surgida nas últimas décadas. Esta demanda tem sido efetivada graças
aos avanços tecnológicos disponíveis em diferentes áreas.
Os avanços tecnológicos da computação gráfica, do geoprocessamento e
do sensoriamento remoto permitem a utilização de modelos, que podem representar
graficamente uma realidade estudada e proporcionam a elaboração de análises e
sínteses com algoritmos de avaliações heurísticas. Estes modelos, além de
materializar valores de uma produção científica, fornecem uma percepção que evolui
no tempo e que podem ser utilizados segundo variados objetivos. Além disto, torna
possível calibração futura através do acréscimo de dados que surgem.
A abordagem sistêmica no estudo das cidades, sob o enfoque ecológico,
tem se apropriado de forma significativa destas tecnologias como um caminho para
uma compreensão mais real dos fenômenos urbanos cada vez mais complexos.
Podem-se citar os Sistemas de Informação Geográfica-SIG que possibilitam a
associação de um mundo real e sua localização no espaço, através de recursos da
computação que fazem a junção de uma base cartográfica, com dados gráficos, e
uma base descritiva de dados qualitativos, que são os atributos.
A eficiência e eficácia do planejamento urbano dependem
fundamentalmente da participação da população envolvida e da disponibilidade de
informações espaciais atualizadas e confiáveis, que embora com níveis de
detalhamento variáveis tenha a abrangência de todo território urbano. A elaboração
de mapas em diferentes escalas viabiliza a preparação, implementação e gestão de
137
projetos de desenvolvimento urbano e de regularização fundiária, que é uma questão
complexa nas cidades onde as ocupações informais crescem juntamente com a
degradação ambiental.
A cidade é um meio ambiente construído, considerado artificial por
modificar, muitas vezes drasticamente, as condições naturais da região onde se
localiza. De forma sistêmica o aglomerado cresce se expande e se transforma entre
seus limites e fora deles de forma contínua e constante. Além disto, a rapidez das
mudanças e as forças econômicas que operam no solo urbano impedem a gestão
pública de aprender pela experiência, a melhor forma de utilizar os recursos naturais
levando em consideração a sustentabilidade ecológica e a humana.
De fato, os problemas ambientais decorrentes do metabolismo urbano
como o efeito estufa, a diminuição da biodiversidade, o consumo crescente da
energia operante, como conseqüência do crescimento populacional e da expansão
dos limites da cidade e a problemática da destinação dos resíduos sólidos, deteriora
a qualidade de vida da população e questiona o desenvolvimento industrial e as
modernas estruturas urbanas.
Neste estudo, verifica-se que os conflitos físico-ambientais com a
ocupação urbana estão na sua maioria localizados em áreas alagadas, nas planícies
fluviais e flúvio-marinhas, próximos das bacias hidrográficas e junto das falésias que
contornam de norte a sul a área tabular da Formação Barreiras. Este fato é
decorrência da forma como se processa a ocupação urbana, ao se executar
pavimentos impermeáveis que reduzem a infiltração da água do solo e diminui o
nível do lençol menos profundo, no caso das planícies fluviais e costeiras, e também
nas lagoas naturais, áreas de ressurgências hídricas, fonte de alimentação do lençol
freático nas superfícies planas da Formação Barreiras.
Os locais ambientalmente frágeis da cidade estão relacionados de forma
intrínseca com os demais fatores ecológicos. A questão da impermeabilização do
solo urbano implica no aumento da temperatura da cidade, criando as “ilhas de calor”
nas áreas centrais e provocando o aumento dos sedimentos produzidos pela bacia
hidrográfica, uma conseqüência das limpezas dos terrenos, construções e outras
ações antrópicas, como se pode verificar nas áreas dos conflitos físicos da cidade de
João Pessoa. Além disto, o atual estado de destruição da cobertura vegetal do
território em estudo, provocado pela ocupação ordenada e formal e pelos
138
assentamentos desordenados e informais, contribuem para a degradação dos solos
e coloca em risco as nascentes dos rios e seus cursos e, portanto, todo o equilíbrio
hidrográfico urbano e das regiões vizinhas.
Depois da agricultura, a urbanização tem sido o maior fator de
degradação hidrológica. A preocupação com a gestão das bacias hidrográficas,
inclusive tomando-a por base para o planejamento urbano, atestam um forte
movimento de resgate dos valores hidrológicos nas cidades. As ações no sentido
refazer os córregos canalizados, integrando-os na paisagem urbana, inclusive com
seus atributos específicos, como a mata ciliar, são necessários. Este tipo de ação
dos gestores públicos pode contribuir para o desenvolvimento de uma percepção
ecológica da população, como uma espécie de educação ambiental coletiva.
A cidade de João Pessoa fez seu primeiro Plano Diretor na década de
setenta e realizou algumas alterações do ponto de vista de preservação dos
recursos naturais em 1994, como a criação das Zonas de Restrições Adicionais e as
Zonas Especiais de Preservação, que estão nos artigos 23 e 39 do Código de
Urbanismo, respectivamente.
Verificou-se neste estudo que João Pessoa possui 58,89 Km² do seu
território, ou seja, 55% da área total, com conflitos físicos ambientais e legais
ambientais e urbanísticos. Analisando-se os dois principais índices urbanísticos de
ordenamento territorial, de ocupação urbana e de aproveitamento, conclui-se que
embora limite de certa forma esta ocupação, não especifica a forma qualitativa como
a mesma pode ocorrer, nem os tipos de empreendimentos permitidos. No caso das
áreas adjacentes às falésias, a instalação de grandes equipamentos pode
comprometer a estabilidade geotécnica e fator de proteção da cobertura vegetal,
fundamental para a sustentabilidade ecológica nesta região.
É importante ressaltar que a Legislação Urbanística na cidade ainda
vigente reflete a cultura tecnocrata do início da década de setenta, que acreditava
equivocadamente que as soluções técnicas resolviam tudo, inclusive as
inadequações ambientais.
Estas questões, entre outras, levam a considerar o aumento da densidade
urbana das cidades, como forma de diminuir os malefícios da degradação dos
recursos naturais nas regiões vizinhas, assim como os custos com a energia
operante, infra-estrutura entre outros.Enquanto que, a definição de áreas não
139
adensáveis dentro da atual abordagem da sustentabilidade urbana pode ser útil para
a inibição do “urban spray”, o que geraria ocupações dispersivas, consumidoras de
matas e áreas naturais.
O conceito de cidade compacta tem sido aplicado em alguns países do
hemisfério norte, como Berlim na Alemanha e Barcelona na Espanha e começa a ser
estudado no Brasil por urbanistas como Juan e Lúcia Mascaró. É evidente que não
se trata apenas de uma compactação do solo urbano através de uma legislação
urbanística, mas de uma série de fatores como novas concepções de utilização de
energias alternativas, de traçado urbano, de regularização fundiária em áreas
ambientalmente frágeis, de recuperação dos centros urbanos, entre outros.
Trata-se do desenvolvimento de novas percepções, inclusive levando em
consideração a qualidade de vida nas aglomerações subnormais, suas causas
econômicas e sociais e da cidade como um todo, tendo como condição para uma
efetiva concretização a participação da sua população. No Macrozoneamento da
cidade de João Pessoa, verifica-se que é considerada adensável a planície costeira,
região profundamente vulnerável à especulação imobiliária, porém com fatores
ambientais consideráveis, que devem ser claramente e objetivamente protegidos.
Este trabalho se propôs a ser uma contribuição ao planejamento urbano
da cidade de João Pessoa, na medida em que levanta dados e questões que podem
ajudar a refletir numa reformulação da Legislação Urbanística.
RECOMENDAÇÕES.
1. Atualização e Revisão do Plano Diretor vigente.
Estudos para aumentar a densidade urbana com qualidade, através de uma
combinação criativa de diversos usos, com alternativas de cooperação
visando economia de recursos, tempo e distância;
Os índices de ordenamento territorial devem ser revisados, levando em
consideração às condições geotécnicas e de permeabilidade do solo;
recuperação da bacia hidrográfica urbana e regularização fundiária
respeitando tanto a questão social como ambiental;
140
2. Participação e Democracia.
Este trabalho e outros devem ser disponibilizados para a população pelos
gestores públicos para subsidiar a participação das associações e entidades
na construção do Planejamento Urbano;
3. Desenvolvimento de estratégias de proteção dos recursos naturais que
abordem as origens sociais dos problemas ambientais;
4. Educação Ambiental.
Realizadas através de iniciativas da Gestão Pública ao recuperar, segundo o
conceito da sustentabilidade, áreas urbanas degradadas.
141
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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