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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E
MEIO AMBIENTE
EUZIVAN LEMOS ALVES
ANÁLISE GEOAMBIENTAL E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO DO
VALE MÉDIO INFERIOR DO RIO MAMANGUAPE -PB
João Pessoa PB
2005
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE-PRODEMA
SUBPROGRAMA UFPB/UEPB
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HABITAT HUMANO E MEIO AMBIENTE
SUBÁREA:GERENCIAMENTO AMBIENTAL
EUZIVAN LEMOS ALVES
ANALISE GEOAMBIENTAL E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO DO
VALE MÉDIO INFERIOR DO RIO MAMANGUAPE-PB
JOÃO PESSOA PB
2005
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3
EUZIVAN LEMOS ALVES
ANALISE GEOAMBIENTAL E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO DO
VALE MÉDIO INFERIOR DO RIO MAMANGUAPE-PB
Dissertação apresentada ao Programa
Regional de Desenvolvimento e Meio
Ambiente PRODEMA Área de
Concentração: Habitat UrbanoSub-
Área:Gerenciamento Ambiental,
Subprograma: Universidade Federal da
Paraíba/Universidade Estadual da Paraíba,
em cumprimento às exigências para a
obtenção do Grau de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima
João Pessoa, PB
2005
4
ALVES, Euzivan Lemos
Análise Geoambiental e Organização do Espaço do Vale
Médio inferior do Rio Mamanguape -
PB/Euzivan Lemos
Alves - João Pessoa, 2005.
198p.
Orientador: Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima
Dissertação (Mestrado)-Programa Regional de Pós-
graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - Sub-
Programa Universidade Federal da Paraíba/Universidade
Estadual da Paraíba.
1. Ecodinâmica; 2. Meio Ambiente; 3. Análise Geoambiental;
4. Uso do Solo; 5. Carta Ecodinâmica
UFPB/BC CDU:
5
EUZIVAN LEMOS ALVES
ANALISE GEOAMBIENTAL E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
DO VALE MÉDIO INFERIOR DO RIO MAMANGUAPE-PB
Dissertação aprovada como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre
no Curso de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Área de
Concentração: Habitat Urbano e Meio
Ambiente, Subárea: Gerenciamento
Ambiental, Subprograma Universidade
Federal da Paraíba/Universidade Estadual
da Paraíba, pela banca examinadora:
Aprovada em: 30 julho de 2005
_______________________________________________
Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima
Orientador
_______________________________________________
Prof. Dr. Antonio Sergio Tavares de Melo
Examinador (Externo)
_______________________________________________
Prof. Dr. José Antônio Pacheco de Almeida
Examinador (Interno)
6
Dedico esta dissertação a Deus, aos meus filhos:
Bruno, Camila e a minha esposa Francy, meu pai e
irmãos, que partilharam diariamente a feitura deste
trabalho com afeto em todos os momentos difíceis,
e que souberam entender as ausências que se
fizeram necessárias, na busca firme e inadiável
deste propósito.
7
AGRADECIMENTOS
Já dizia o poeta e cantor Raul Seixas, que "sonho que se sonha só é só um
sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade". Portando, a decisão de se fazer
um mestrado na maioria das vezes é uma decisão individual, porém a sua
concretização demanda inúmeras colaborações diretas e indiretas de familiares,
amigos, professores, entre outros. São a esses a que expresso a minha mais
profunda gratidão, em especial aos meu orientador Professor Eduardo Rodrigues
Viana de Lima, e ao professor Antônio Sérgio Tavares de Melo pela longa e
paciente colaboração. Aos meus irmãos Everaldo, Erivan, Edna Vânia, Edilene e
seu filho Vinicius, aos meus pais, Assis Alves e a minha mãe Maria de Lourdes (in
memorian). Ao geógrafo Leonardo pelos serviços de geoprocessamento e a todos
os companheiros e companheiras de curso (Niedja Lemos, Kátia, Patrícia, Joelma,
Jacy Caju, Joel, Breno, André, Tonho, Hipólito, Alexandre, Ana Carolina). Aos
colegas geógrafos pela longa jornada juntos: Margarida Magalhães, Rômulo
Sérgio, Regina Celly, Auxiladora Dantas, Carlos Berlamino, aos meus ex-
professores: Vanda Régis, Hilarina Maribondo, José Bezerra, Onaldo Montenegro,
Gelza Fernandes, Gislane Ventura, Janete Rodriguez, Magno Erasto, Moacyr
Madruga, Ana Madruga. Aos camaradas historiadores Valdeci Chagas e Carlos
Alberto. Aos geógrafos Francisco Borges e Josuel Honório. Ao colega biólogo
Antônio Cláudio Almeida . Aos professores do PRODEMA que pelos seus atos e
omissões epistemológicas aguçaram a nossa percepção do fazer cientifico.
8
Beijo por beijo não vale a pena dar
Morte por morte é uma loucura só
E eu e o amigo que se desespera
Dentro das cercas da sua prisão
Beijo por beijo não vale a pena dar
Sabemos que ainda é cedo pra pisar na lama
E cortar os ferros que prendem a mão
Mas um vôo longo pode ser tentado
Entretanto balas e outras ações
Feitas de encomenda pra te afastar dos teus
Que como mendigos andam sem pátria
Tatuados pelo temor.
Beijo Morte Beijo
Pedro Osmar/Jaiel de Assis
9
RESUMO
Neste trabalho realizou-se uma análise geoambiental da organização, numa escala
espacial biogeográfica, do vale médio inferior do rio Mamanguape (PB), tendo
como suporte metodológico a ecodinâmica de Tricart (1977). Através de um amplo
suporte cartográfico (imagens, fotografias aéreas, cartas e mapas) foi possível
identificar, caracterizar e mapear as seguintes unidades ecodinâmicas: Várzeas ou
Planícies Aluviais, Baixos Planaltos Costeiros com interflúvios de topos planos e
vertentes rampeadas retilíneas e convexas e Baixos Planaltos Costeiros de
interflúvios colinosos sob influência do escudo subaflorante. A análise das
condições ecodinâmicas baseou-se nas características do quadro regional,
integrado pelos seus componentes bióticos, abióticos e ações humanas. Estas
últimas foram avaliadas no âmbito das formas de uso e ocupação do solo,
permitindo explicitar a evolução e a dinâmica dos processos morfopedológicos. Os
resultados aqui obtidos mostraram que estas ações devem ser consideradas como
responsáveis pelos desequilíbrios dos sistemas naturais, causados por processos
tais como erosão dos solos, assoreamento dos leitos fluviais, entre outros. Tais
processos comprometem as condições de sustentabilidade socioambiental vigente
na área. Portanto, o estudo permitiu diagnosticar as condições de estabilidade e
instabilidade do meio a partir da relação de equilíbrio morfogênese/ pedogênese,
evidenciando assim os principais problemas geoambientais. Em consonância com
os aspectos levantados, e mais especificamente para identificação de problemas
do que propriamente de solução dos mesmos, foi elaborado um documento
cartográfico, uma carta de síntese ecodinâmica, apresentando-se como um
instrumento útil ao planejamento, voltado para o disciplinamento do uso do solo.
Palavras-chave: ecodinâmica; análise geoambiental; meio ambiente; uso do solo;
carta ecodinâmica.
10
ABSTRACT
It was aimed in the present work to perform a geoenvironmental analysis of the
organization, in a biogeographical spatial scale, of the lower valley along the
medium watercourse of the Mamanguape River. The methodology applied was
based on Tricart’s ecodynamics (1977). A broad-based cartographic analysis of
images, aerial photographs, charts, and maps were utilized to identify, characterize
and map the following ecodynamic units: lowland or alluvial plains, low coastal
uplands with plain top interfluves and rectilinear and convex hillsides; and low
coastal uplands of hilly interfluves influenced by the sub-cropped out shield. The
analysis of the ecodynamic conditions was based on the regional features, which
are made up of their biotic and abiotic components, and human actions. These
latter were evaluated with respect to the forms of land-use and occupation by
humans, which allowed our understanding on the evolution and dynamics of
morphopedological processes. The results obtained here showed that such actions
must be deemed as responsible for the natural systems disequilibrium caused by
several processes like soil erosion, river bed siltation, and others. Such processes
threaten the current socio-environmental sustainability in the area. Thus, from the
relationship of morphogenesis/pedogenesis equilibrium, it was possible to diagnose
the stability and instability of the environmental conditions, making evident the main
geoenvironmental problems. In agreement with all aspects evaluated here and
more specifically the ones more aimed at the identification of problems than at their
solutions, it was elaborated a cartographic document, a chart ecodynamic
synthesis, as a useful tool for planning a correct land-use form.
Key words: ecodynamics; geoenvironmental analysis; environment; land-use;
ecodynamic chart.
11
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS --------------------------------------------------------------------------------------------------
13
LISTA DE QUADROS ------------------------------------------------------------------------------------------------
14
LISTA DE TABELAS -------------------------------------------------------------------------------------------------
15
RESUMO -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
09
ABSTRACT --------------------------------------------------------------------------------------------------------------
10
1. INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------------------
16
2. MATERIAL E MÉTODO-------------------------------------------------------------------------------------------
19
2.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E MATERIAL UTILIZADO--------------------------------
19
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA-------------------------------------------------------
25
3.1. RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA: GÊNESE DA QUESTÃO AMBIENTAL-------------------
25
3.2. EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS INTEGRADOS DO MEIO AMBIENTE: AS ABORDAGENS
SISTÊMICAS------------------------------------------------------------------------------------------------------
36
3.3. A ECOGEOGRAFIA E ECODINÂMICA: UMA CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA
GEOGRÁFICA À QUESTÃO AMBIENTAL ---------------------------------------------------------------
47
4. A ÁREA DE ESTUDO----------------------------------------------------------------------------------------------
55
4.1. SITUAÇÃO E LOCALIZAÇÃO---------------------------------------------------------------------------------
55
4.2. DINÂMICA SOCIOECONÔMICA E OCUPAÇÃO DO ESPAÇO--------------------------------------
58
4.2.1. A dinâmica do processo histórico de ocupação do espaço------------------------------------------
58
4.2.2. Os aspectos sócio-demográficos e as condições de vida da população-------------------------
66
4.2.3. A evolução dos sistemas de uso e ocupação do solo e a organização do espaço entre
1975 2001------------------------------------------------------------------------------------------------------
70
5. A ESTRUTURA DO MEIO FÍSICO-NATURAL E O POTENCIAL ABIÓTICO E ABIÓTICO------
74
5.1. Os condicionantes abióticos------------------------------------------------------------------------------------
74
5.1.1. O clima e seus condicionantes------------------------------------------------------------------------------
74
5.1.2. As condições litológicas---------------------------------------------------------------------------------------
82
5.1.3. Associações pedológicas e as suas características---------------------------------------------------
88
5.1.4. As unidades topomorfológicas: processos e formas--------------------------------------------------
94
5.1.5. O quadro fitogeográfico e ações antrópicas-------------------------------------------------------------
103
5.1.6. Aspectos hídricos de superfície e subsuperfície--------------------------------------------------------
114
12
5.2. AS FORMAS DE OCUPAÇÃO E USO DO SOLO: PRESSÔES ANTRÓPICAS E A
DINÂMICA DOS PROCESSOS MORFODINÂMICOS------------------------------------------------
117
6. DELIMITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DOS MEIOS GEODINÂMICOS--- 130
6.1. Meios Geodinâmicos das Várzeas ou Planície Aluviais-------------------------------------------------
138
6.2. Meios Geodinâmicos dos Baixos Planaltos Costeiros---------------------------------------------------
141
6.2.1. Os Interflúvios de topos planos e semi-colinosos.-----------------------------------------------------
141
6.2.2. As vertentes retilíneas e convexas-------------------------------------------------------------------------
142
6.2.3. Os Interflúvios semi-colinosas e as vertentes convexas sob a influência escudo
subjacente--------------------------------------------------------------------------------------------------------
147
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------------------------------------------------
151
8 . REFERÊNCIAS-----------------------------------------------------------------------------------------------------
160
13
LISTA DE FIGURAS
Figura 01- Roteiro Metodológico-------------------------------------------------------------------------------
24
Figura 02 - Localização da área de estudo---------------------------------------------------------------------------------------
57
Figura 03 - Uso do solo sobre as superfícies dos tabuleiros com pastagens e no segundo plano a cana-
de-açúcar no município de Capim, na estrada que de acesso ao povoado de Olho D'água do
Serrão.------------------------------------------------------------------------------------------------------------
60
Figura 04 - Uso do solo com cultura de subsistência (feijão, mandioca) e fruticultura (manga, caju, goiaba)
sobre os solos arenosos dos tabuleiros no povoado de Olho D’água do Serrão.-------------------------
61
Figura 05 - Expansão da cana-de-açúcar sobre os remanescentes da Floresta Estacional Semidecidual
(mata seca) na margem esquerda do médio curso inferior do Rio Mamanguape município de
Capim.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
65
Figura 06 - Área das encostas dos tabuleiros ocupada com a cultura do abacaxi consorciada com cana-de -
açúcar na estrada que corta a fazenda Pitombeira, na divisa dos municípios de Mamanguape e
Itapororoca ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
66
Figura 07 - Sistemas de Circulação atmosférica----------------------------------------------------------------
76
Figura 08 - Regiões Bioclimáticas da Paraíba-------------------------------------------------------------------
78
Figura 09 - Mapa Litológico-------------------------------------------------------------------------------------
87
Figura 10 - Associações de solos-------------------------------------------------------------------------------
93
Figura 11 - Superfície dos tabuleiros costeiros com relevo plano e suave ondulado submetido a ações de
desmatamento dinamizando a ação dos processos de dissecação nas encostas dos pequenos
vales e nos topos planos dos tabuleiros. Nascentes do riacho leitão. ------------------------------
98
Figura 12-Desestabilização dos setores das encostas dos tabuleiros por processos de erosão linear sob a
ação do escoamento concentrado das águas superficiais ao longo das estradas vicinais
nos canaviais da Usina monte Alegre. Margem direita do rio Mamanguape------------------------------
102
Figura 13 - Uso e ocupação do solo (1972)---------------------------------------------------------------------
113
Figura 14 - Área de instabilidade morfodinâmica em setores de estradas vicinais sob solo ocupado com
monocultura da cana-de-açúcar----------------------------------------------------------------------------------------
123
Figura 15-Solo Podzólico Vermelho Amarelo fase relevo plano, ocupado com monocultura de cana-de-
açúcar em estágio inicial de crescimento, com setores de solo desnudo favorecendo a ação da
erosão pluvial. Estrada de acesso ao povoado de Olho d'água do Serrão---------------------------------
124
Figura 16 - A ação do desmatamento para o plantio da cana nas áreas das vertentes dos tabuleiros
costeiros em relevo suave ondulado, dinamizando a ação dos processos antrópicos erosivos------------------
125
Figura 17- Uso e ocupação do solo (2001)---------------------------------------------------------------------
129
Figura 18 - Solo Podzólico Vermelho Amarelo textura argilosa com área de istabilidade ecodinâmica nos
etores marginais da estrada para fazenda Pitombeira-----------------------------------------------------------
132
Figura 19 - Áreas da várzea não inundada dos (terraços estruturais) do rio Mamanguape ocupada pela
cana-de-açúcar, e ao fundo presença de formações vegetais secundárias em processo de
egeneração.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
140
Figura 20 - Encosta retilínea rampeada da margem esquerda do rio Mamanguape ocupada com formações
arbustivas e evidências de processos erosivos lineares e estrada vicinal sob solos com presença
de seixos -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
143
Figura 21-Superfícies dos interflúvios colinosos sobre a influencia do escudo subjacente ocupada com
policultura comercial e de subsistência. Ao fundo setor da vertente com solo exposto a ação da
erosão pluvial e do escoamento superficial.------------------------------------------------------------------------
144
Figura 22-Encostas semi-colinosas dos tabuleiros sob a influência do escudo subjacente com solo ocupado
por consórcios de culturas (abacaxi, cana e bananeira) e formações vegetais herbáceas-
arbustivas.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
148
Figura 23 - Meios Geodinâmicos--------------------------------------------------------------------------------
150
Figura 24-Correlação das variáveis Geoambientais------------------------------------------------------------ 158
14
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 - Alguns indicadores de pobreza (em %) da população nos municípios do vale médio inferior do
rio Mamanguape 2000---------------------------------------------------------------------------------------------
69
Quadro 02 - Dados Climáticos por Estação Meteorológica PB----------------------------------------------------------
80
Quadro 03 - Dados do balanço hídrico do município de Mamanguape.----------------------------------------------
81
Quadro 04 - Lito-estratigrafia da área do vale médio inferior do rio Mamanguape------------------------------------
83
Quadro 05 - Extensão e participação das formações florestais mapeadas no Estado da Paraíba--------------
105
Quadro 06 - Classificação do tipo de cobertura vegetal quanto à proteção fornecida ao solo----------------------
135
15
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Culturas de subsistência e comercial temporária, segundo área plantada em alguns municípios
do vale médio inferior do rio Mamanguape.--------------------------------------------------------------------
61
Tabela 02 - Variação da área colhida (ha.) com alimentos,matérias-primas e cana de açúcar entre 1975-
1980-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
64
Tabela 03 - Total da população residente, por sexo e situação do domicílio, população residente de 10
anos ou mais de idade, total, alfabetizada e taxa de alfabetização 2000.--------------------------
67
Tabela 04 - Evolução do efetivo dos rebanhos (cabeças) em alguns municípios do vale médio inferior do
rio Mamanguape - 1992/2000---------------------------------------------------------------------------------------
72
Tabela 05 - Variação da área com os principais elementos da cobertura vegetal na área do baixo curso do
rio Mamanguape entre 1972/1995-----------------------------------------------------------------
108
16
1. INTRODUÇÃO
Proceder uma análise geoambiental na perspectiva ecodinâmica
representa uma tarefa de grande complexidade teórico-metodológica, que se
inscreve em um processo de investigação científica que deve ser conduzido pela
compreensão das várias modalidades de organização do espaço geográfico que
deve demandar conhecimentos sobre como este espaço encontra-se estruturado,
em seus aspectos físicos-naturais e socioeconômicos, procurando avaliar a sua
dinâmica dentro de uma perspectiva temporal, pondo em evidência as principais
características de sua paisagem.
Neste sentido, é de capital importância à análise das diversas etapas de
organização do espaço da área do vale médio inferior do rio Mamanguape, que
passa necessariamente pela sua incorporação ao sistema econômico colonial entre
os séculos XVII e XIX. Bem como, devem-se destacar os processos mais recentes
que provocaram mudanças importantes no seu quadro socioeconômico, e as suas
repercussões sobre o quadro ambiental.
É necessário compreender que a sociedade produz seu espaço
mediante certas circunstâncias históricas, econômicas, culturais e tecnológicas,
produzindo formas espaciais visíveis e concretas, com base na exploração dos
recursos da natureza, e esta deixa ao longo da sua História marcas profundas que
podem ser identificadas e interpretadas pela pesquisa geográfica.
Sendo assim, deve-se entender que o processo de organização do
espaço geográfico da área de estudo que se fundamentou na exploração
predatória dos recursos ambientais, gerou entre outras conseqüências, uma
profunda descaracterização das suas condições ambientais, com repercussões
sobre as condições de vida da população.
Portanto, dada a importância geohistórica, social, econômica e
ambiental da área pesquisada dentro do contexto do espaço paraibano, em
particular da Microrregião do Litoral Norte do Estado, pode-se encontrar neste
aspecto a justifica da escolha da área do vale médio inferior do Mamanguape para
desenvolver esta pesquisa, avaliando como estas condições levaram a degradação
dos elementos do meio físico natural, com alterações profundas na dinâmica de
muitos processos naturais.
17
Ao proceder a análise do processo de organização da área de estudo e
as suas implicações nas condições ambientais e ecodinâmicas, implica a sua
compreensão em um contexto geográfico mais amplo e complexo, que deve ser
examinado no contexto da evolução socioeconômica em sua perspectiva histórica,
enfatizando as formas de organização do espaço, que resultam das intervenções
humanas sobre o meio ambiente.
O estudo ecodinâmico apoia-se na análise dos elementos do quadro
natural, procurando entender as interações que existem entre eles a partir das
combinações dos fatores dinâmicos que se manifestam segundo as mais diferentes
formas de intervenção da sociedade sobre o meio ambiente.
A pesquisa geográfica voltada ao estudo ambiental proposto para a área
em foco, se reveste de um grande significado socioambiental, pois permite através
da análise ecodinâmica estudar os fatores dinamizadores da sua paisagem. Assim,
definiu-se como intervalo de tempo o período correspondente aos anos entre 1972
a 2001.A opção por este recorte temporal remete a necessidade de analisar a
expansão da cultura da cana-de-açúcar na segunda metade dos anos 70, por
conta do programa PROÁLCOOL, que culminou com múltiplos impactos
sócioambientais, desencadeado pela nova dinâmica assumida pela agroindústria
canavieira no litoral do Estado. Os trabalhos realizados por Egler & Melo nos anos
70 e 80, são referências importantes quando se analisam os aspectos ligados às
transformações socioeconômicas e ambientais associadas a este programa na
Paraíba.
Portanto, este estudo com enfoque sobre geomorfologia ambiental,
busca produzir informações que sejam compatíveis com as necessidades do
planejamento local, orientando para a reocupação, ordenamento e gestão dos
recursos naturais.
Assim, para o estudo do problema proposto na pesquisa foi realizada
uma adaptação da proposta metodológica Ecodinâmica contida no Diagnóstico
Geoambiental e Sócio-Econômico da Bacia do Rio Paraguaçu -BA - diretrizes
gerais para a ordenação territorial (IBGE, 1993), coordenado por Regina Ribeiro da
Costa e do Macrozoneamento Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio
Parnaíba (IBGE, 1996), coordenado por Margarete Prates Rivas. Esta foi também
subsidiada pelos estudos ecodinâmicos de Tricart (1977), e Ross (1994),“Análise
empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. Estas propostas
18
encontram-se integradas e propõem uma classificação dos ambientes fundado no
grau de estabilidade dos meios geodinâmicos. Esses são constituídos por
elementos geográficos interdependentes que se integram e organizam-se num
sistema dinâmico de múltiplas combinações, que lhe confere evolução e dinâmica
própria. A identificação destes meios e sua representação cartográfica, na forma de
uma Síntese Ecodinâmica poderão servir de subsídio às políticas de planejamento
em bases mais sustentáveis.
19
2. MATERIAL E MÉTODO
2.1.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E MATERIAL UTILIZADO
Sobre os estudos referentes à problemática ambiental MORAES (1997,
p.47) afirma que há uma grande diversidade de métodos nas ciências
contemporâneas, cada um trazendo formas próprias de abordar a realidade, com
visões distintas acerca da natureza, acerca da sociedade e acerca da relação
sociedade/natureza. "Não há apenas um método na ciência, e urge entender as
possibilidades de cada um no enquadramento da temática ambiental".
Esta pesquisa têm como suporte teórico o enfoque holístico-sistêmico,
como referencial para integração dos componentes geoambientais abióticos, que
são a litologia, o clima as associações de solos a geomorfologia e os recursos
hídricos e os bióticos, representados pela vegetação e ações antrópicos, definidas
pela diversidade de ocupação e uso do solo, que ocorrem na área do Vale Médio
Inferior do Rio Mamanguape-PB, considerada como um sistema natural.Neste
sistema, os elementos interdependentes funcionam harmonicamente, conduzidos
por fluxos de energia, de modo que cada um dos seus componentes reflete sobre
os outros as mudanças neles impostas por estímulos externos.
Esta pesquisa busca na proposta metodológica Ecodinâmica contida no
Diagnóstico Geoambiental e Sócio-Econômico da Bacia do Rio Paraguaçu -BA -
diretrizes gerais para a ordenação territorial (IBGE, 1993), coordenado por Regina
Ribeiro da Costa e do Macrozoneamento Geoambiental da Bacia Hidrográfica do
Rio Parnaíba (IBGE, 1996), coordenado por Margarete Prates Rivas a identificação
das Unidades Ecodinâmicas (meios ecodinâmicos), definidas de acordo com seus
atributos e propriedades que exprimem as potencialidades e limitações, reveladas
pela análise geoambiental, como base para a definição de suas vulnerabilidades e
a avaliação da capacidade de utilização em função dos tipos de atividades
antrópicas, levando-se em conta a melhoria da qualidade ambiental e de vida da
população.
20
A abordagem ecogeográfica é um importante caminho para definir o
comportamento e características dos meios ecodinâmicos através da relação
morfogênese/pedogênese. Esta pode exprimir as suas potencialidades e
limitações, para definição de suas vulnerabilidades e a qualidade ambiental em
função das atividades antrópicas, ou seja, é a abordagem pela qual se estuda a
interferência do homem nos ecossistemas.
O estudo sobre as condições geodinâmicas do meio ambiente deve ser
analisado como um fato dinâmico e em constante evolução, e deve proceder na
perspectiva de que, nesta evolução participa um conjunto amplo de fatores, muito
dos quais não percebemos ou só é possível dimensionar seus resultados imediatos
através de diferentes procedimentos metodológicos, como aferições direta pelo
trabalho de campo e observações indiretas, pela interpretação dos documentos
cartográficos (cartas temáticas, fotografias aéreas, imagens de satélites, entre
outras), possibilitando uma leitura sobre a distribuição espacial dos fenômenos e
estabelecer relações espaciais entre os aspectos físicos e humanos.
Segundo TRICART (op.cit.) nos estudos ecodinâmicos deve-se buscar
estudar os sistemas morfodinâmicos, relacionando-os com as unidades
morfoestruturais e suas variantes em função da litologia, da topografia, cobertura
vegetal e uso do solo.
Na análise das características ecodinâmicas da área foram
desenvolvidas nas seguintes etapas:
1. Nesta primeira etapa da análise procurou-se a identificação de unidades
geoambientais definidas de acordo com seus atributos e propriedades que
exprimem as potencialidades e limitações da área de estudo, interpretando os
dados e informações básicas presentes na literatura especializada, sobre os
componentes físicos e bióticos. Ou seja, investigaram-se as características da
litologia e das unidades geomorfológicas, associações pedológicas, condições
climáticas e da vegetação, bem como, as formas de ocupação e uso do solo.
A caracterização e elaboração do mapa litológico resultou da análise e
interpretação do material cartográfico do Projeto RADAMBRASIL (1981), Folhas
SB 24/25 Jaguaribe/Natal, v.23, e do mapa geológico do Estado da Paraíba,
escala 1:500. 000, CDRM (2003).
21
Devido às discrepâncias nas escalas das bases cartográficas utilizadas,
foram necessários tomar alguns cuidados na interpretação e correlações das
temáticas, no sentido de realizar os devidos ajustes para gerar um plano de
informação minimamente compatível com o objetivo da pesquisa.
A interpretação deste material cartográfico forneceu dados sobre a
gênese, natureza e composição das rochas, sua disposição e arranjo espacial,
levando a análise das formas de relevo, das formações superficiais e dos solos.
Serviram também de base para a compartimentação morfoestrutural e identificação
das condições hidrogeológicas.
2. A caracterização das unidades topomorfológicas, foi conduzida
através da análise da morfologia, natureza e evolução dos processos
morfogenéticos. Para elaboração desta carta temática foram interpretadas as
cartas topográficas da SUDENE, escala 1:25. 000 de Capim, Rio Tinto, Itapororoca
(FOLHA SB. 25. Y.A. V-4-NO, C, C) e as Imagens de Satélite LANDSAT 7/ETM,
escala 1:100.000, com resolução de 20m, bandas 5,4,3, ano 2001.
A análise da compartimentação topomorfológica objetivou fornecer as
bases para a interpretação de outros temas, quais sejam: gerar dados para
compartimentação morfoestrutural e a setorização morfopedológica; situar os solos
e a vegetação num quadro dinâmico; definir restrições e limitações aos usos; e
participar na integração com os solos e o clima, objetivando a analise ecodinâmica.
3. A delimitação das associações de solos e sua caracterização
apoiaram-se nas informações contidas na base cartográfica do Levantamento-
exploratório; reconhecimento de solos do Estado da Paraíba, escala 1:500.000, n.º
08 SUDENE (1972).
As classes de solos contidas nas associações identificadas foram
utilizadas para delimitar as combinações morfopedológicas que serviram de base
para a delimitação dos meios geodinâmicos e seus sistemas morfogenéticos.
4. As análises sobre as condições climáticas, foram utilizadas as
informações do Atlas climatológico do Estado da Paraíba (1987), e dados
pluviométricos mensais do Nordeste - PB. SUDENE (1990). A interpretação das
condições climáticas procurou mostrar as suas relações com outros elementos do
meio ambiente natural (vegetação, solo e sistemas morfogenéticos), bem como as
suas influências nas condições hídricas da área. Os parâmetros climáticos
22
utilizados foram: as temperaturas médias anuais, pluviosidade média anual e
evapotranspiração potencial.
5. Para caracterização do quadro fitoecológico e as ações antrópicas,
tomou-se como referência a interpretação das informações cartográficas contidas
nas cartas topográficas da SUDENE(1972), escala 1:25.000 de Capim, Rio Tinto,
Itapororoca respectivamente (FOLHAS SB.25.Y.A.V-4-NO, C,C),que permitiram a
elaboração da carta de ocupação uso do solo 1972.Procurou-se delimitar aspectos
ligados à cobertura vegetal e as formas de uso do solo, buscando estabelecer uma
análise comparativa com a carta de uso atual. Esta carta de ocupação e uso atual
do solo, referente ao período de 2001, foi gerada a partir da interpretação dos
dados da imagem orbital LANDSAT 7/ETM, escala 1:100.000, ano 2001, que
propiciou uma visualização cartográfica, que permitiu identificar aspectos sobre o
processo de evolução das condições de ocupação e uso do solo da área estudada
e seus efeitos sobre a degradação da cobertura vegetal.
Na imagem foram definidas as classes de formações florestais arbóreas,
formações arbustivas e herbáceas, que correspondem aos cerrados, capoeiras,
gramíneas naturais, e por último, as várias modalidades de ocupação antrópica.
Na elaboração destas duas cartas temáticas fez necessário um ajuste
nas duas bases cartográficas, devido às diferenças nas suas escalas. Isto permitiu
chagar a resultados mais satisfatórios sobre a evolução das mudanças no
processo de ocupação e uso do solo nos dois períodos considerados.
O trabalho de campo realizado ao longo de toda a pesquisa serviu para
dirimir algumas dúvidas sobre a confiabilidade das informações obtidas na
interpretação das cartas e imagens.
A interpretação mais acurada deste material cartográfico possibilitou a
realização de uma síntese dos inventários da vegetação para definição das
formações e subformações, analisando-se também a vegetação secundária e os
efeitos antrópicos. Além da classificação fisionômica, efetuou-se um exame dos
efeitos de determinadas atividades econômicas com relação às mudanças que elas
causam nos ecossistemas e que ameaçam acionar os processos morfogenéticos e
a degradação dos solos. O confronto dos tipos de vegetação com seus suportes
físicos possibilitaram a percepção do condicionamento exercido pelos elementos
climato-hídricos e morfopedológicos.
23
6. Nos estudos da dinâmica socioeconômica, foram utilizados os dados
do Anuário Estatístico do IDEME (1991-2003) e do IBGE (1990-2000). Neste
estudo foram mapeadas e analisadas as atividades agrícolas, como fatores de
instabilidade ambiental, através da ocupação uso do solo e sistemas agrícolas.
Além disso, consideraram-se os meios de produção, a estrutura social e as
interdependências das ações antrópicas e o meio ambiente.
7. As análises e as interpretações do material cartográfico que resultou
na elaboração das cartas temáticas nas etapas anteriores possibilitaram a
identificação dos arranjos espaciais do quadro natural e das ações antrópicas,
levando assim definição dos meios geodinâmicos. Estes meios devem representar
a síntese das correlações dos atributos estruturais e litológicos com as
manifestações geomorfológicas, baseadas nos parâmetros constituição litológica,
orientação estrutural, padrões e intensidade da dissecação, forma e posição
altimétrica e situação das sub-bacias hidrográficas. Dessa analise resultou a
compartimentação morfoestrutural representados pelos grandes grupos
litoestruturais, que são o pré Cambriano Superior Indiviso e a Formação Barreiras,
refletindo as influências litológicas e estruturais sobre a disposição e feições típicas
do relevo e da rede de drenagem.
A análise do comportamento ecodinâmico da área definiu o
comportamento e a vulnerabilidade ambiental das associações morfopedológicas,
visando a avaliar os riscos potenciais em face dos processos de degradação. A
definição dos meios ecodinâmicos deve permitir classifica-los quanto à estabilidade
dos processos atuantes em ambientes estáveis, intermediários e instáveis. Os
estudos apoiaram-se nas características do relevo (declividade das encostas e
intensidade da dissecação), nos atributos das associações dos solos e nas
condições climáticas e ações antrópicas. Esta deve ser entendida como o conjunto
das ações humanas que interferem nos mecanismos das condições do equilíbrio
dinâmico do meio ambiente concorrendo para maior ou menor estabilidade na ação
dos processos morfodinâmicos.
Assim, a conceituação de um "meio ecodinâmico estável pode ser
atribuída ao predomínio dos processos pedogenéticos sobre os morfogenéticos,
evoluindo lentamente". Já os "meios com tendência à instabilidade caracterizam-se
pela ação predominante da morfogênese em relação a pedogênese, traduzida por
24
Objeto da Pesquisa
Levantamento das
Informaçoes Preliminares
Imagem; Fotografias Aéreas;
Cartas;
Mapas; Bibliografia
Estatísticos
Campo
Unidades
Topomorfológicas
Hipsometria/Drenagem
Processos Morfogenéticos
Associaçoes Pedológicas:
Elementos Climáticos
Processos e fatores de
organizaçao no espaço
Unidades
Morfopedológicas
Uso e formas de
Exploraçao
Antrópicas
Meios
Ecodinâmicos
Categorias e Hierarquia
dos Meios Ecodinâmicos
Sistemas
Morfogenéticos
Carta
Ecodinâmica
Litologias
ROTEIRO METODOLÓGICO
uma dinâmica forte dos processos de degradação do relevo". Já os "meios
intermediários as relações entre a morfogênese/pedogênese apresentam um certo
equilíbrio, podendo tender para uma condição geodinâmica de instabilidade ou
estabilidade" (TRICART, 1977).
8. A elaboração da síntese dos meios geodinâmicos (carta dos meios
geodinâmicos), na escala 1:25.000 e a sua representação hierárquica, permitiu a
análise do comportamento dos sistemas morfogenéticos atuantes. Sendo possível
identificar preliminarmente alguns problemas ligados à degradação ambiental, que
resultam em última instância da exploração inadequado do meio ambiente por
atividades agrícolas comerciais, ou por outras formas de exploração voltadas a
satisfazer as necessidades básicas das populações. As duas formas de uso
apresentam aspectos que são incompatíveis com a conservação dos recursos
naturais e do ambiente.
Figura 01
Fonte: Diagnóstico Geoambiental e Sócio-Econômico da Bacia do Rio Paraguaçu -BA - diretrizes
gerais para a ordenação territorial (IBGE, 1993), coord. por Regina Ribeiro da Costa e
Macrozoneamento Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba (IBGE, 1996), coord. por
Margarete Prates Rivas. Adaptado.
25
A luz destas considerações pode-se inferir que a idéia de
sustentabilidade de cada um dos meios ecodinâmicos deve ser definida pela
compreensão das inte relações entre o potencial de ofertas ecológicas, as
pressões antrópicas e a capacidade de resistência do ambiente.
26
3 . FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
3.1.RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA: GÊNESE DA QUESTÃO AMBIENTAL
Uma compreensão mais clara das questões centrais que envolvem a
discussão desta temática deve partir da premissa de que o espaço geográfico se
define como possuidor de uma só totalidade dentro de uma única natureza,
resultado da interação mútua das duas naturezas que compõem a objetividade do
mundo, que são a natural e a social. Estas duas categorias científicas devem está
sem dúvida necessariamente presentes quando se tem como objetivo estudar
problemas ligados ao meio ambiente.
É certo que muitas foram as mudanças nas concepções sobre natureza
e sociedade, como o entendimento da relação homem/natureza ou
sociedade/natureza. Todavia, ao longo do último século passado, as discussões a
cerca destas duas categorias, e os seus desdobramentos serviram para inserir
elementos epistemológicos novos importantíssimos nas abordagens científicas
sobre esta complexa, mas necessária discussão.
Até meados do século XX as ciências de modo geral, e em particular as
que mais se debruçaram a elaborar formulações teóricas sobre esta questão,
concebiam o meio ambiente exclusivamente do ponto de vista naturalista. Nos
últimos quarenta anos a noção de natureza tem inserido, paulatinamente, a
dimensão social, pois a crise ambiental contemporânea não pode mais ser
compreendida e nem resolvida segundo perspectivas que dissociam sociedade e
natureza.
Porém, ao recorrer às idéias de René Descartes (1596-1650) e Isaac
Newton (1642-1727), pode-se identificar que essa oposição homem-natureza, entre
outras, se tornará mais completa, constituindo-se no centro do pensamento
científico moderno e contemporâneo ocidental, com suas raízes encravadas,
portanto, no paradigma cartesiano-newtoniano.
27
Os princípios de reflexão do pensamento filosófico cartesiano-
mecanicista, expresso na modernidade, contêm na sua essência dois caracteres
básicos: ser pragmático-utilitarista, ou seja, útil à vida, neste sentido ver a natureza
como recurso, e o caráter antropocêntrico, isto é, o homem passa a ser visto como
centro do mundo. Nesta dimensão, “o homem instrumentalizado pelo método
científico, pode penetrar os mistérios da natureza e, assim, torna-se” senhor e
possuidor da natureza “(GONÇALVES, 1996, p.33).
Se admitido isto, deve-se também ser partidário da idéia MORIN (1996)
quando diz que,
a sociedade se autoproduz por meio da transformação da natureza (ou” natureza
primeira”). A sociedade, natureza natural hominizada através do trabalho, e assim, uma
(“segunda natureza”) não pode ser desprezada. Este fato aparentemente elementar foi
obscurecido durante muito tempo pela fé acrítica no progresso da civilização e pela
idéia de domínio da natureza.
Portanto, estas ideias preliminarmente levantadas acerca das
concepções de natureza/sociedade, e da relação sociedade/natureza, constitui o
cerne para o entendimento dos principais pressupostos que norteiam a crise
ambiental instaurada pela modernidade e a sua compreensão mais ampla remete
necessariamente a indagações que devem trilhar os mais diferentes sistemas
filosóficos e as grandes matrizes metodológicas do pensamento científico clássico
moderno e contemporâneo.
No entender de GONÇALVES (1996, p.28), “a separação homem-
natureza (cultura-natureza, história-natureza) é uma característica marcante do
pensamento que tem dominado o chamado mundo ocidental”. Nesta perspectiva
ACOT (1990, p.152) advoga que,
a idéia da existência de uma separação objetiva entre natureza e sociedade cresce
lentamente na segunda metade do século XIX. Anteriormente, qualquer reflexão sobre
a sociedade humana era marcada, no melhor dos casos, pela ambigüidade: a natureza
era ou aquilo de que devíamos nos separar violentamente (a barbárie) ou aquilo cujo
valor original, miticamente ou não, foi degradado pelas sociedades humanas.
ALMEIDA (1993) apud BORTOLOZZI & PEREZ FILHO (1999)
mencionam que,
28
a revolução científica do século XVII, instituiu uma feição mecanicista à natureza,
despojando-a complemente de qualquer vestígio de sacralização, seja de concepção
teológica, filosófica ou ideológica.(...) O cientificismo cartesiano atesta o valor da
natureza como bem do utilitarismo.(...) Separa a sociedade do espaço, corpo de mente,
razão de emoção, e o homem da natureza.Consolida-se no paradigma dominante a
antropocentrização do mundo.
A eclosão da Revolução Industrial do final do século XVIII evidencia a
força dessas idéias ou, como preferem alguns, ela mesma é à base dessas
idéias.Isto porque, muitas foram às modificações nas condições econômicas,
sociais, políticas e culturais dos homens que através do modelo produção-capital
alimentou a destruição do sistema natural.
As novas produções científicas após este período passam a serem
mediadas por este novo momento histórico, onde se percebe que um dos
desdobramentos da Revolução Industrial mais significativos, sobretudo no século
XIX, foi à extrema fragmentação do conhecimento científico, ou seja, as ciências da
natureza se separam das ciências do homem; cria-se um abismo colossal entre
uma e outra, consagrando a separação entre o homem e a natureza, legitimando
uma nova concepção de mundo.
Avaliando as repercussões deste paradigma, CAPRA (1982) assinala
que,
na prática, este paradigma representou um dirigismo a uma abordagem competitiva na
exploração da natureza, o esgotamento progressivo dos recursos naturais, o consenso
de que a natureza existe para o homem, a visão do homem como ente consumidor, o
que levou a um consumismo desenfreado, a tecnologia a serviço da destruição em
massa.
No final do século XIX, as teorias da mecânica quântica de Plank, e as
teorias da relatividade de Einstein, o princípio da complementaridade de Bohr e o
princípio da incerteza de Heisenberg, fizeram ruir as pretensões cientificistas e
dogmáticas do determinismo e do mecanicismo.
Neste contexto, a problemática ambiental que emerge no século XX, e
que caracteriza o momento presente levou as ciências (naturais e humanas) a
rever suas concepções, o que resultou na busca de formulações fundamentadas
em novas bases teórico-metodológicas, para a abordagem das questões ligadas ao
meio ambiente.
29
Dessa forma, se a Ciência que nos séculos XVIII e XIX, com a chamada
Revolução Industrial, foi tida como forma de conhecimento que traria “progresso”,
prosperidade e bem estar aos homens, hoje se vê convocada a repensar o seu
papel para contribuir na resolução dos problemas de degradação das condições de
vida, que este modelo de “progresso e crescimento econômico” criou.
Este modelo de crescimento preconizado na primeira Revolução
Industrial do final do século XVIII, a sua incursão pelos séculos seguintes,
alimentou a idéia do crescimento ilimitado das condições materiais voltada atender
sociedade capitalista de consumo, confrontando-se com uma natureza de recursos
finitos. Assim, estava sendo criada as bases da crise ecológica que passou a ser
um dos assuntos de grande preocupação científica nos anos 60 e 70 do século
passado, assumindo neste mesmo período um forte status de conotação social e
política, através da eclosão dos chamados movimentos ambientalista, em particular
nos países mais desenvolvidos.
Assim, a década de 1960 assistirá, portanto, ao crescimento de
movimentos que não criticam exclusivamente o modo de produção, mas,
fundamentalmente, o modo de vida. Talvez nenhum outro movimento social tenha
levado tão a fundo essa idéia, na verdade essa prática, de questionamento das
condições presentes de vida. Sob a denominação de movimento ecológico,
veremos o desenvolvimento de lutas em torno de questões as mais diversas:
extinção de espécies, desmatamentos, uso de agrotóxicos, urbanização
desenfreada, explosão demográfica, poluição do ar e da água, contaminação de
alimentos, erosão dos solos, diminuição das terras agricultáveis, etc.
O cenário internacional que se desenhou nestas décadas é de intenso
fortalecimento da crise ambiental, motivados pelas profundas mudanças nas
ordens econômicas, sociais e política, segundo alguns críticos desta "nova ordem"
a mais profunda crise da humanidade. No entender de MONTEIRO(1988) e
HOBSBAWN(1995),
o final do século XX e início do XXI desafia a sociedade em geral a encontrar novos
rumos para a construção do presente e do futuro. Aos intelectuais e cientistas
demanda, de maneira geral, um repensar ontologia e a epistemologia da ciência a
partir do questionamento dos paradigmas que sustentam a produção do conhecimento
na modernidade. Aos geógrafos, de maneira particular, impõe um profundo
questionamento relativo ao estatuto da geografia contemporânea diante das novas
dimensões do espaço e dos graves problemas sociais que se materializam na
superfície terrestre.
30
Portanto, podem-se detectar dentro dos diversos discursos científicos
desta época diferentes reflexões teóricas e práticas metodológicas evidenciando a
necessidade de um exercício teórico inter e multidisciplinar na perspectiva de
identificar e ressaltar as características principais que envolvem abordagens sobre
as novas questões que emergiram, tanto no plano socioeconômico, como ligadas a
ecologia. Isto proporcionou o surgimento de uma diversidade de linhas de
interpretações, muitas das quais centradas no âmbito das preocupações
ecológicas.
O que de certa maneira fica evidenciado neste período é que, o debate
acerca da questão ambiental assume um espaço expressivo dentro do universo
das reflexões científicas, para em um segundo momento passar a fazer parte das
preocupações da sociedade civil, que alertava sobre a necessidade de
conservação da natureza.
No centro destas preocupações com a questão ambiental o conceito de
meio ambiente ganhou espaço dentro de algumas ciências, principalmente na
Ecologia e na ciência geográfica, que passaram a deter nos seus objetos de estudo
discussões mais profundas sobre a problemática ambiental, recaindo sobre o
mesmo, novas conotações científicas.
Fazendo parte já destas novas preocupações das abordagens que a
ciência geográfica procurou desenvolver sobre os estudos ligados aos problemas
do meio ambiente, CRISTOFOLETTI (1994, p.32), discutindo o conceito de meio
ambiente, enfatiza que existe duas abordagens principais do problema:
a primeira possui significância biológica e social e valor antropocêntrico, evidenciando
o contexto e relações que envolvem o ser vivo; a segunda considera a funcionalidade
da geosfera-biosfera, com enfoque sobre as “unidades de organização” com ou sem a
presença humana.
Já o conceito de meio ambiente proposto nas discussões de
BRAILOWSKI (1978) apud, ORELLANA (1981), diz que,
meio ambiente, entende-se um sistema de interações entre fatores físicos, químicos,
biológicos e sociais, suscetíveis de ter um efeito direto ou indireto, imediato ou em
longo prazo, sobre os seres vivos e as atividades humanas. Portanto esta definição,
dentre outras, torna evidente a importância de se compreender o papel desempenhado
pelo meio físico-natural e das ações humanas e as suas implicações, na estruturação
das paisagens.
31
Assim, pode-se entender que o conceito de meio ambiente faz
referência a uma ampla gama de questões envolvidas na pesquisa sobre as
relações entre a sociedade e a natureza, isto porque, este conceito se incorporou
aos termos natureza e meio natural, e que, por um longo período seu uso corrente
foi permeado de confusões generalizantes e muitas vezes simplificadoras.
Bom, ser querer ater as inúmeras controvérsias que permearam as
definições e aplicações deste termo, seja na Geografia ou fora dela, denota-se que
nas últimas décadas do século XX, instala-se uma lenta e gradual transformação
nas conotações assumidas pela categoria meio ambiente, visto que, ainda que
minoritária, ainda perdura nas discussões relativas a esta temática uma concepção
científica que expressa uma leitura de forte conteúdo reducionista - naturalista.
As transformações sofridas no conceito de meio ambiente segue
caminhos e ritmos bastante diferenciados no âmbito do objeto das ciências, pois
em muitas delas a tradição positivista-naturalista, parece ter criado raízes
profundas no seu fazer científico. Neste sentido MENDONÇA (2001, p. 116), afirma
que,
na evolução do conceito de meio ambiente (environment, environnement) observa-se o
envolvimento crescente das atividades humanas, sobretudo nas quatro últimas
décadas, mas ele continua fortemente ligado a uma concepção naturalista, sendo que
o homem socialmente organizado parece se constituir mais num fator que num
elemento do ambiente.
Entretanto, parece de fato que o emprego do termo meio ambiente
passou a representar um conceito incômodo a certos segmentos dos
ambientalistas mais contemporâneos, pois, como evidenciou, GONÇALVES
(1989), o fato de “a palavra meio também significar metade, parte, porção etc.
denotaria a idéia do tratamento parcial dos problemas ambientais”.
LEFF (2000, p.17) parece vislumbrar uma discussão mais ampla,
quando afirma em seus estudos sobre a utilização deste conceito na compreensão
das questões que envolvem a complexidade ambiental. Ele entende que,
ambiente não é a ecologia, mas a complexidade do mundo; é um saber sobre as
formas de apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder que se
inscreveram nas formas dominantes de conhecimento. A partir deste ponto, o mesmo
32
entende que estarão abertos caminhos para delinear, compreender, internalizar e
finalmente validar a complexidade ambiental.
Analisando esta questão em uma perspectiva mais ampla, constata-se
que mesmo tendo sido ampliado e se tornado mais abrangente, o termo meio
ambiente parece não conseguir desprender-se totalmente de uma gênese e uma
história fortemente marcada por princípios naturalistas, o que leva a crer que tenha
sido gerada uma concepção cultural do meio ambiente que exclui a sociedade da
condição de componente/sujeito, mas a inclui como agente/fator. Inserir na
abordagem ambiental a perspectiva humana portanto social, econômica, política
e cultural, parece ser um desafio para toda uma geração de intelectuais, cientistas
e ambientalistas que se encontram vinculadas a tais discussões no presente, e
certamente também no futuro próximo.
Para MENDONÇA (2001, p.35), quando discute os aspectos que
envolvem o tratamento dado pelos geógrafos sobre esta questão, eles detectam
que,
na atualidade, diante de tão importante desafio, uma forte tendência à utilização, de
forma ampla, do termo socioambiental, pois tornou-se muito difícil e insuficiente falar de
meio ambiente somente do ponto de vista da natureza quando se pensa na
problemática interação sociedade-natureza do presente, sobretudo no que concerne a
países em estágio de desenvolvimento complexo. O termo”sócio “aparece, então,
atrelado ao termo” ambiental “para enfatizar o necessário envolvimento da sociedade
enquanto sujeito, elemento, parte fundamental dos processos relativos à problemática
ambiental contemporânea.
A importância assumida pela dimensão social no trato das questões
ligadas aos estudos do meio ambiente possibilitou o surgimento de várias
terminologias conceituas que redundaram quase sempre na visão dicotomizada
dos aspectos naturais e humanos. O emprego do termo socioambiental orienta no
sentido de superar esta separação, pois não explicita somente a perspectiva de
enfatizar o envolvimento da sociedade como elemento processual, mas é também
decorrente da busca de cientistas naturais e sociais por preceitos filosóficos para
compreender a realidade numa abordagem inovadora.
Esta abertura conceitual pode ser observada no âmbito das ciências
naturais e sociais, que tem realizado muitos esforços para o envolvimento da
dinâmica da natureza como integrante da complexidade da sociedade, o que tem
ajudado na compreensão dos problemas do meio ambiente numa perspectiva mais
socioambiental dos problemas ambientais.
33
Uma discussão também pertinente, mas que não menos eivadas de
controvérsias é o fato de não se pode querer enfocar o conceito de meio ambiente
ou de natureza a partir de métodos específicos aos estudos da sociedade, assim
como a sociedade não deve ser enfocada a partir de métodos das ciências
naturais, ainda que a abordagem da problemática ambiental parta de uma ótica
social.
Neste aspecto, e para enriquecer ainda mais essa discussão, é
elucidativo observar a interpretação dada por LEFF (2001, p. 49), para quem,
(...) a partir do momento em que a natureza se transforma, num processo geral, em
objeto de uma ciência a evolução biológica, a dinâmica dos ecossistemas , esses
objetos biológicos devem incluir os efeitos das relações sociais de produção que os
afetam. E esses efeitos devem ser considerados em suas determinações sócio-
históricas específicas, não na redução do social e da história em processos naturais ou
ecológicos. Desde que a natureza se transforme em objeto de processos de trabalho, o
natural absorve-se no materialismo histórico. Isto não nega que operem as leis
biológicas dos organismos que participam no processo, inclusive o homem e sua força
de trabalho; mas o natural se transforma no biológico superdeterminado pela história.
Nem o recurso natural nem a força de trabalho se referem ao metabolismo biológico ou
ao desgaste energético dos organismos vivos. O recurso natural e a força de trabalho
não são entes naturais existentes independentemente do social, mas é já o biológico
determinado pelas condições de produção e reprodução de uma dada estrutura social.
Esta análise mesmo que explicitamente atrelada a uma visão de
natureza e de meio ambiente, partir de uma perspectiva do materialismo histórico e
da dialética marxista, não deixa de chamar a atenção para a necessária distinção
entre “leis naturais” (dinâmica da natureza) e processos sociais (dinâmica da
sociedade) envolvidos na gênese da problemática ambiental contemporânea. O
que certamente deve estar implícito também nesta discussão é o fato de que, tanto
natureza como sociedade serem categorias inerentes ao objeto de estudo, tanto
das ciências ditas naturais como aquelas nominadas de ciências sociais ou
humanas. O que se faz necessário é perceber que na primeira categoria
conceitual, o processo evolutivo se produz pela determinação das leis naturais, o
que remete ao entendimento de que, os elementos bióticos dos ecossistemas
naturais foram levados em processo evolutivo a um processo de seleção-
adaptação-transformação em sua interação com os outros componentes abióticos
do meio ambiente. Já nas ciências sociais, a natureza aparece como os objetos de
trabalho e os potenciais da natureza se integram ao processo de produção e
34
reprodução da sociedade, que tem suas explicações dentro do processo histórico,
social, econômica e cultural que nortearam a própria evolução desta sociedade.
Os avanços teórico-metodológicos no tratamento da questão ambiental
são inegáveis, mas eles foram mais significativos nas três últimas do século XX, ou
seja, de uma fase predominantemente caracterizada pelo enfoque ecológico, em
que ressaltava a vertente naturalista, para uma outra centrada no conceito de meio
ambiente, na qual sociedade e natureza passaram a compor duas dimensões de
uma interação dialética complexa.
Particularmente, no âmbito da ciência geográfica, o estudo relacionado a
esta problemática foram desenvolvido segundo as mais diferentes matrizes
filosóficas usualmente empregadas por esta ciência, e aí vamos assistir a presença
de posturas científicas peculiares, que exacerbam o enfoque geográfico ora mais
na perspectiva de uma abordagem naturalista, ora para o social, criando certos
desequilíbrios na abordagem geográfica.
Esta questão uma vez posta sobre a diversidade dos enfoques que
envolvem os estudos sobre os problemas ambientais, deve perceber que, a
questão da natureza do fato a ser estudado é que vai demandar um enfoque ora
mais centrado na dimensão natural ou ora na dimensão social, atentando sempre
para o fato de que a meta principal de tais estudos e ações devem caminhar na
direção da busca de soluções do problema, e que este deverá ser abordado a
partir da interação entre estas duas componentes da realidade o natural, e o social.
A crise ambiental contemporânea, crise de civilização, crise da razão e
crise histórica nas afirmações de LEFF (2002), está a demandar de toda a
sociedade, e da ciência em particular, uma reflexão profunda acerca de sua
trajetória. Num tal contexto é preciso ser aberto, criativo e ousado o suficiente para
propor alterações e criar as possibilidades para o nascimento de novas propostas
teórico-metodológicas no âmbito de um profundo debate interciências.
Hoje, a crise ambiental, juntamente com as demais crises por que passa
a humanidade, está exigindo um repensar das ciências e tecnologias, para dar
conta da compreensão e explicação dessa nova realidade. Dentro das demais
crises existentes, a crise ambiental compromete a vida do planeta, através da
destruição e contaminação do meio ambiente. Desta emerge uma crise, que
35
parece ser fundamental para compreensão da problemática, como um todo, que é
a crise da visão de mundo.
Para GONÇALVES (1990, p.13) se não cabe à Ciência a competência de decidir
sobre o uso das tecnologias que impactuam o meio ambiente e, sobre a distribuição
mais igualitária das riquezas produzidas no mundo, como forma de eliminar as
desigualdades entre os homens, porque a decisão, como se sabe é política acredita-se
que cabe sim a ela, buscar um novo paradigma, capaz de imprimir nos homens, novos
valores, pensamentos e ações que possam contribuir para uma nova mentalidade,
mais apta a participar de uma política ambiental mais justa. Uma visão de mundo mais
globalizante, onde o homem não se separe da natureza e nem do mundo, e que,
portanto a questão ambiental não se veja separada dos problemas sociais mais
amplos. Uma visão que compreenda a questão ambiental como a interligação e
interdependência entre os fenômenos sociais, econômicos, biológicos, físicos, culturais
e políticos.
As questões levantadas até o momento já permitem delinear a dimensão
da complexidade da crise ambiental, e não menos complexo parece à resolução
dos problemas por ela gerados, criando um quadro de incertezas quanto ao futuro
da humanidade.
A problemática ambiental, traduzida na forma de poluição e degradação
do meio, a crise de recursos naturais, energéticos e de alimento, surge como uma
crise de civilização, questionando a racionalidade econômica e tecnológica
dominantes. Esta crise tem sido explicada a partir de uma diversidade de
perspectivas ideológicas. Por um lado, é percebida como resultado da pressão
exercida pelo crescimento da população sobre os limitados recursos do
planeta.Podendo ser interpretada como o efeito da acumulação de capital e da
maximização da taxa de lucro em curto prazo, que induzem a padrões tecnológicos
de uso e ritmos de exploração da natureza, bem como formas de consumo, que
vêm esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade dos
solos e afetando as condições de regeneração dos ecossistemas naturais.
Na história humana, todo saber, todo conhecimento sobre o mundo e
sobre as coisas tem estado condicionado pelo contexto geográfico, ecológico e
cultural em que produz e se reproduz determinada formação social. As práticas
produtivas, dependentes do meio ambiente e da estrutura social das diferentes
culturas, geram formas de percepção e técnicas específicas para a apropriação
social da natureza e da transformação do meio ambiente.
36
É na relação com o meio geográfico e por intermédio de seu trabalho
socialmente necessário, que o homem dá forma a sua condição de ser social, e de
agente da história, criando o progresso em suas múltiplas modalidades, estas
materializadas em diferentes formas de consciência social.
Há que se considerar, que mesmo a sociedade humana tendo um
processo de autonomia, conferido pelas leis históricas que regem a sociedade
como ser material que é, ela depende da natureza para se reproduzir como tal;
haja vista a potencialidade de recursos naturais renováveis e não renováveis que
são transformados em matérias-primas para que haja a produção dos múltiplos
bens sociais de uso.
As diversas revoluções científica-tecnológicas poderiam colocar em
xeque a veracidade desta afirmativa, pelas múltiplas possibilidades criadas em
termos da sobrevivência humana, como se o mesmo estivesse libertando-se
definitivamente das potencialidades naturais existentes, passando a exercer um
amplo e completo domínio sobre a natureza.
Tem-se que considerar que a cada etapa do seu desenvolvimento e
produção de conhecimento, o homem (sociedade) percebe que a sua
superioridade se manterá sempre relativa e que seu domínio sobre a natureza se
afirma em cada etapa histórica; no entanto, em cada etapa surge um novo universo
de pesquisa na qual ele poderá se debruçar em novo processo investigatório.
A compreensão do processo de transformação da natureza pela
sociedade ao longo da sua história, não se mostra necessário para dar unidade ao
espaço geográfico, é necessário romper a dicotomia entre o natural (físico) e o
cultural (humano).
Para a devida compreensão de uma única natureza integrada, é
imprescindível entender que os níveis de interação mútuos tendem sempre a
crescer e não diminuir, e que estes definem, em última instância, a existência de
uma só natureza, como objeto de análise da investigação científica.
Se for entendido que o ser humano é dialeticamente natural/social,
social/natural, o que subentende se reproduzir, simultaneamente, como sociedade
e como natureza, fica relativamente fácil considerar esta realidade objetiva una
como totalidade que representa o território da relação homem-meio, e em cujo
âmbito se insere o espaço produzido.
37
As considerações realizadas sobre as diversas concepções que têm
orientado a relação homem-natureza, ao longo dos últimos séculos, evidenciaram
um comportamento utilitarista e imediatista do homem em relação à exploração dos
recursos naturais, e as formulações mais atuais acerca da necessidade de uma
nova percepção do mundo, na qual o homem seja visto como parte integrante de
um sistema complexo e interdependente. Isto tem constituído a tônica dos debates
científicos que alertam para a necessidade de um novo sistema de valores que
compatibilize crescimento econômico com preservação ambiental e justiça social,
evolvendo, conseqüentemente, uma mentalidade de solidariedade para com as
gerações futuras.
3.2. EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS INTEGRADOS DO MEIO AMBIENTE: AS
ABORDAGENS SISTÊMICAS
O abandono das abordagens fragmentadas nos estudos sobre o meio
ambiente referidas no item anterior, que conjugava natureza e sociedade como
categorias de análise dissociadas, foi sendo abandonada gradativamente no
âmbito da ciência geográfica, chegando a sua quase total superação no
momento atual. E isto tem fortes ligações com a questão da crise ambiental ter
assumido dimensões muito complexas no mundo contemporâneo.
A segunda metade do século XX configurou-se como um período de
reconstruções gerais no mundo nos seus aspectos socioeconômicos, políticos e
tecnológicos. As novas invenções técnicas imprimiram mudanças no cenário
decorrentes dos conflitos motivados pela Nova Ordem Geopolítica instaurada no
período pós Segunda Guerra Mundial, e definiram novas reordenações marcantes
na evolução do pensamento da humanidade com progressos rápidos e
transformações simultâneas no seio das ciências.
As décadas que sucederam a este período foram marcadas por
alterações na condução das políticas de desenvolvimento delineada pelo
capitalismo mundial, e as mudanças no plano socioeconômico internacional
geraram reflexos expressivos, exercendo forte pressão sobre dos componentes
38
bióticos dos ecossistemas do planeta; a vegetação, o ar e a água e os solo tiveram
seus aspectos drasticamente alterados, em escala global e local.
No contexto desta reorganização do espaço capitalista mundial vamos
assistir o apogeu da aplicação da Teoria dos Sistemas à ciência em geral, iniciando
um novo ciclo na produção científica, que passou a utilizar nas abordagens dos
estudos do meio ambiente.
Uma questão importante nesta análise refere-se à atenção dada à
explosão demográfica mundial, em particular nos países subdesenvolvidos, que
esteve atrelada a fase mais aguda de internacionalização dos modos de produção
(capitalismo e socialismo), que culminaram com uma brutal disparidade nas
condições de vida do homem. Nesta fase ocorreu uma forte demanda por recursos
naturais para a continuidade do processo produtivo, buscando atender às
necessidades de acumulação e reprodução de lucros, passando a comprometer
mais acentuadamente o equilíbrio dinâmico da natureza.
As ameaças às condições do equilíbrio dinâmico da natureza e, portanto
da sociedade criaram condições reais para o surgimento dos movimentos sociais
organizados (ambientalismos, ecologismos), que passaram alertar governos e a
própria sociedade, sobre os abusos cometidos contra a natureza, que colocava em
risco a biodiversidade dos ecossistemas e a própria vida humana. Assim, a
degradação ambiental passou a ser um campo fértil muito heterogêneo para os
estudos das ciências humanas e naturais.
As preocupações com as questões ambientais extrapolaram os muros
dos foros das discussões científicas e passaram a ocupar com destaque os meios
de comunicação de massa, alcançando segmentos variados nas diversas esferas
sociais, política e econômica.
Subjacente a esse aumento mundial da sensibilidade para captar a
desordem global da biosfera, está, de um lado, a crescente conscientização quanto
à inclusão, entre os direitos da humanidade, do direito a um meio ambiente sadio
do ponto de vista ambiental; encontra-se igualmente implicito à constatação de
que, a questão ambiental, por envolver concepções fundamentais acerca do
relacionamento social, não pode ser abordada sob o ângulo estritamente
setorizado das ciências e do uso de técnicas que buscam medidas simples de
equilíbrio Homem-Natureza.
39
Passa-se então a reconhecer no bojo destas novas preocupações, que a
problemática ambiental é inseparável da problemática social, concebendo-se o
meio ambiente como um sistema integral que engloba elementos bióticos, abióticos
e sociais. Assim sendo, a apreensão de uma dada questão ambiental dar-se-á
apenas quando recuperadas as dinâmicas dos processos sociais e ecológicos,
atribuindo igual ênfase à história da sociedade e da natureza.
Portanto, inexistindo práticas sociais dissociadas de práticas ambientais,
a crescente universalização dos problemas ambientais que afligem a humanidade
implica o estabelecimento de novas demandas de reflexão, tanto por parte do
pensamento científico hegemônico como pelos próprios indivíduos (sociedade).
Segundo AJARA (1993, p.9), no bojo desse novo repensar a questão ambiental
emerge a necessidade de redefinição da concepção de progresso dominante, que
dilapida os recursos naturais, exigindo uma reorientação da ética política, calcada
numa conscientização ecológica voltada para o repensar da cultura.
Nesse nível de compreensão devemos colocar qual venha a ser os
caminhos que as ciências contemporâneas deva desempenhar nesta nova
abordagem das relações Sociedade-Natureza, onde se reconhece uma crise
ambiental de matriz catastrófica. Portanto, se faz necessário que as ciências inclua
no seu campo de reflexão a necessidade de transpor os obstáculos
epistemológicos e metodológicos frente às estas novas questões, superando seus
limites convencionais e alimentando, deste modo, a falsa dicotomia científica.
Entretanto, passa a ser ventilado dentro de algumas vertentes do
discurso científico ambiental e nos movimentos ambientalistas emergentes uma
proposta que busca a reversão da crise ambiental mediante a reconstrução dos
níveis social, econômico e político, em diferentes escalas espaciais, fundamentada
no modelo de cooperação entre os Estados-Nação e Organizações Não-
Governamentais. Porém, muitos entendem que tal proposta constitui uma utopia
ecológica, dadas as implicações que a viabilidade de tal proposta demandaria para
ser necessariamente colocada em pauta.
Assim sendo, a implementação da referida proposta acima ventilada
implicaria uma drástica reorientação do sentido do desenvolvimento em curso no
planeta, que é por sua natureza desigual para as sociedades e agressor para com
os sistemas naturais. E neste sentido, a aplicação de um novo paradigma de
40
desenvolvimento que equacione os malefícios gerados pela a atual crise ambiental,
deve apresentar como requisito básico a sustentabilidade, em suas dimensões
econômicas, social e ecológica.
Oportunamente já foram levantados ao longo desta análise os diversos
problemas centrais que permeiam toda a discussão acerca da crise ambiental
vivenciada atualmente pela humanidade, que parece remeter a um ponto comum,
qual seja, o da valorização do espaço geográfico, que busca resgatar a visão
integradora dos fatos geográficos físicos e humanos, sobre o crivo de problemas
socioambientais.
Este novo olhar reconhece a imprescindibilidade do enfoque
multidisciplinar no trato da questão ambiental, que ressalta, contudo, a
necessidade de superação de abordagens setorializadas que conduzem a uma
atomização do conhecimento gerado no âmbito da focalização de problemas
ambientais específicos, em detrimento da compreensão da problemática ambiental
com base na abordagem dos processos e formas de organização do espaço
geográfico, ou seja, das sociedades humanas sobre o território.
Neste sentido AJARA (1993, p. 11) sugere que, aproximar a noção de meio
ambiente ao próprio conceito de espaço geográfico, estar-se-á não apenas superando
as dicotomias, freqüentemente postas em analises ambientais, entre
ecologia/economia, sociedade/natureza, meio físico-biótico/organização
socioeconômica, como também atrelando à questão ambiental a dinamismo próprio ao
contínuo movimento de criação (re) criação de espaços.
Esta nova moldura contemporânea em que se inscreve a questão
ambiental, assinalando os limites postos pela utopia ecológica e reconhecendo, ao
mesmo tempo, os desafios que a pretensa utopia coloca para superação das
contradições e dos conflitos que emergem da relação Sociedade - Natureza, que
deve procurar transpor as falsas dicotomias, e propor uma ação concentrada no
campo da investigação que, ultrapassando o nível fragmentário e retórico, possa
subsidiar ações de intervenção necessárias à solução inadiável das questões
emanadas pela crise ambiental.
Retomando mais objetivamente a questão relativa a aplicação da Teoria
Geral dos Sistemas colocada anteriormente, nos permite a formação de um juízo
de valor, de que a mesma abre um campo epistemológico bastante amplo, mas ao
41
mesmo tempo confuso, para tratar a questão dos estudos integrados do meio
ambiente.
A nível mais geral, as produções científicas têm tentado trabalhar sob a
orientação da dialética da natureza, mas de maneira ainda muito incipiente e
insatisfatória, sendo que a analise de sistemas tem-se configurado como a melhor
metodologia da produção científica moderna e contemporânea. Isto porque, ela
propõe a articulação das ciências a partir de uma perspectiva teórico-metodológica
integradora, que não pode ser pensada como uma fusão dos objetos teóricos das
ciências, mas uma articulação das suas categorias conceituais implícitas em seus
respectivos campos teóricos.
"A articulação das ciências não se limita a uma prática teórica multi, inter
e transdisciplinar, consistem na importação de conceitos e paradigmas, ou na
aplicação de objetos teóricos de um campo do conhecimento ao outro". (LEFF
2002, p. 35).
O pressuposto fundante dos estudos integrados do meio ambiente a
luz da Teoria Geral dos Sistemas que resultou no surgimento das abordagens
sistêmicas se viabiliza nos estudos interdisciplinares, que emerge como uma
necessidade prática de articulação dos conhecimentos, que formula procedimentos
metodológicos aplicáveis as diferentes pesquisas sobre o meio ambiente.
O projeto interdisciplinar proposto pelas abordagens sistêmicas,
derivada da Teoria Geral dos Sistemas dá assim continuidade ao das filosofias que
tentaram encontrar um princípio unificador da realidade empírica e uma unidade
conceitual das ciências.
A abordagem sistêmica não é exclusiva para o entendimento da dialética
da natureza, esta analisada a luz do pensamento marxista, assume uma conotação
sistêmica, criando uma perspectiva de novas abordagens sobre a relação
sociedade e natureza, que no entender de LEFF (2002),
a concepção do materialismo histórico como um corpo teórico articulado abriu uma
possibilidade de pensar o todo concreto de pensamento e a realidade como uma
articulação dos processos específicos de cada esfera, ou como a resultante da visão
do todo.
Portanto, a dialética marxista demonstra uma preocupação com a
totalidade, criando uma possibilidade metodológica concreta que viabiliza a
42
articulação sociedade/natureza. A superação deste conflito pode ser alcançada
através do materialismo histórico enquanto teoria que considera simultaneamente a
relação do homem com a natureza e a relação dos homens entre si.
O pensamento marxista não toma a natureza como problema filosófico central, ela o
interessa enquanto terreno da história universal, enquanto criação humana, como
produção social. Neste sentido, o pensamento de Marx fundado em rigoroso
historicismo, cria a possibilidade de reabertura de uma linha de pesquisa capaz de
perceber que o homem não vive em duas esferas diferentes, não habita por uma parte
do seu ser, na história e pela outra na natureza. Como homem ele está junto e
concomitantemente na natureza e na história (PEREIRA, 1993, p.77).
Segundo alguns críticos do método marxista, o inconveniente básico da
aplicação da dialética aos estudos do quadro natural está na própria constituição
deste método, fundamentado no processo de transformação social; na natureza os
processos de transformação e evolução se dão através de suas próprias leis e não
obedecendo a nenhuma ação objetiva como pressuposto pelo método dialético.
No pensamento marxista, a relação do homem com a natureza é função
das relações estabelecidas pelos e entre os homens em um modo de produção. A
abordagem marxista da questão ambiental vai encará-la como uma manifestação
de processos sociais, pelos quais uma determinada sociedade organiza o acesso e
uso dos recursos naturais disponíveis, organização que se articula na própria
estruturação social constituindo parte do processo global de sua reprodução. Ou
seja, a questão ambiental será avaliada no contexto de um modo de produção e de
uma formação econômica e social. A relação sociedade/natureza equacionada
enquanto relação social, o ambiente como recurso, como condição de produção,
como mercadoria.
MORAES (1997, p.90) discutindo o tratamento dado a questão da
problemática ambiental nas ciências sociais argumenta que,
ao construir uma discussão da temática ambiental por dentro das Ciências Sociais
significa abordar a relação sociedade/natureza na ótica dos fenômenos sociais. A
perspectiva específica dessa visão é tomar essa relação não como interface de dois
domínios, mas observar como a sociedade se articula (em sua lógica e dinâmica
própria) para se apropriar e submeter à natureza.
Assim sendo, esta discussão poderia ser terreno fértil para a elaboração
de uma análise singular para construção de uma proposta interdisciplinar, mais
43
totalizaste, mas que não deveria se ater a exclusivismos metodológicos, mas
propiciar um amplo debate interciências.
No âmbito da ciência geográfica mais particularmente na Geografia
Física, a abordagem sistêmica ou os estudos integrados relacionados ao quadro
natural é retomado com vigor a partir da década 1970. Este resgate foi possível
segundo CHRISTOFOLETTI (1981, p.6),
devido estabelecimento de clima científico propício à abordagem e valorização de
quadro natural, os movimentos relacionados com a crise ambiental, a difusão das
perspectivas sistêmicas e das técnicas de análise multivariadas, e a preocupação em
fornecer as bases necessárias para os planejamentos socioeconômicos. Esta
concepção emerge para se contrapor às abordagens setorizadas e, portanto,
seccionada do meio ambiente.
No entender de DOLLFUSS (1973),
o estudo na perspectiva de sistemas encontra-se, por conseguinte, bem no centro da
análise geográfica, na medida em que oferece a possibilidade de decompor as
operações, de observar as relações de causalidade e as inter-relações, de verificar a
eficácia e as coerções.
Dentro deste contexto de eclosão dos problemas ambientais e a busca
de se estudar conjuntamente os elementos naturais e socioeconômicos, sugiram
no âmbito da Geografia Física, anos 60 novos conceitos e ou metodologias,
procurando abordar a questão ambiental numa nova ótica. Entre estes conceitos,
destacam-se a Ecologia da Paisagem de K. Troll (1970) e o Geossisema de
Sotchava (1962). O conceito de Ecossistema, do Tansley (1935) e a Ecogeografia
de Jean Tricart (1973), também fazem parte deste universo epistemológico novo.
Estas estratégias metodológicas que procuram fazer uma articulação
das ciências no campo dos estudos do meio ambiente constituíram caminhos que
fertilizaram o surgimento de pesquisas inter e multidisciplinar de conhecimentos,
porque passaram a oferecer explicações mais concretas dos problemas que
envolvem a temática da degradação ambiental gerada pelas ações antrópicas.
Portanto, a abordagem sistêmica ventilada pela Teoria dos Sistemas
pode ser definida com um conjunto de procedimentos que almeja analisar objetos
ou atributos e suas relações.
44
Esta abordagem aplicada a princípio aos estudos de termodinâmica e da
Biologia, somente bem mais tarde sua aplicação se fez presente nos estudos
geográficos, mais particularmente na Geografia Física.
Na Ecologia, Tansley (1979), utilizando este método criou o conceito de
ecossistema que mais tarde muito influenciou a geomorfologia de (Cholley, 1944)
particularmente, e a Geografia Física (Sotchava, 1962, Bertrand, 1968, Tricart,
1977) respectivamente.
Segundo MENDONÇA (1989, p.38),
os anos 50 e 60 foram períodos de boa fertilidade para a ciência geográfica, pelo
emprego da Teoria dos Sistemas, que marcou bastante a produção no âmbito da
geografia física. As ameaças à natureza e, portanto, à sociedade criaram as condições
reais para o surgimento dos movimentos ambientalistas sociais organizados. A Ciência
geográfica pega carona no pensamento ecológico, que passou a influenciar bastante
as concepções teórico-metodológicas da Geografia, nos anos 70.
Os trabalhos de Tricart, Dresch e Georges Bertrand publicados nos anos
70 e 80, podem citados como característicos dentro desta nova linha de produção
geográfica.
Mas, a primeira aplicação em grande escala da Teoria dos Sistemas à
geografia ocorreu de maneira mais efetiva nos Estados Unidos durante os anos 50
e 60 principalmente. Esta produção geográfica assumiu uma configuração sob
certos aspectos muito diferente do desenvolvida até então. Isto porque, tivemos a
produção de métodos científicos oriundos destas influências sistêmica, como o
estudo da paisagem, o ecossistema, o geossistema, e a ecogeografia, que
aparecem então como sistemas decorrentes em particular deste movimento e hoje
se constituem como métodos de estudo aplicados aos estudos do meio ambiente
na ciência geográfica.
O conceito de paisagem incorporado a pesquisa geográfica,
principalmente pelos geógrafos físicos, e renderam bons frutos a esta ciência. Isto
por que, a sua aplicação se voltou aos estudos de planejamento territorial,
contribuindo na orientação das políticas de planejamento voltadas a uma melhor
gestão territorial.
As novas reorientações conceituais ocorridas no âmbito da ciência
geográfica, após a crise e esgotamento dos métodos tradicionais positivistas,
ajudaram a ciência geográfica busca superar as suas dicotomias, através da
45
adoção dos métodos de conotação sistêmica, que orientaram as pesquisas
aplicadas adotadas pelos geógrafos físicos.
Os estudos de geografia da paisagem de Bertrand (1972) explicitam em
parte esta nova postura assumida de maneira enfática pelos geógrafos físicos, que
passaram a reverem as suas produções científicas.
O conceito de paisagem migra de uma definição puramente naturalista
descritiva para ser explicitado como uma determinada porção do espaço resultado
da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e
antrópicos, ou seja, a paisagem passa a ser compreendida e explicada como um
conjunto único e indissociável, em perpetua evolução.
Procurando esclarecer melhor esta questão DEFFONTAINES apud
MELO (1983), entende que,
a paisagem pode ser considerada como uma porção do espaço perceptível por um
observador no qual se inscreve uma combinação de fatos visíveis e invisíveis e de
ações das quais só percebemos, num determinado momento, o resultado global.
Partidário desta nova produção geográfica TRICART (1979), em seus
estudos de Paisagem e Ecologia faz referência ao conceito de paisagem, afirmado
que,
a paisagem fornece o elo entre as diversas pesquisas ao colocar cada um dos objetos
dentro de um conjunto. A paisagem é, portanto, integradora e desse modo, ela
representa o resultado da associação dinâmica de elementos físicos e biológicos e de
fatores antrópicos que se encontram em constantes transformações e que se
organizaram num sistema ou geossistema.
Se entendermos que o princípio básico do estudo sistêmico encontrado
na Teoria Geral dos Sistemas é a conectividade, que permite compreender um
sistema como uma totalidade de elementos em seu ambiente, isto nos permite
afirmar que o paradigma sistêmico em Geografia Física pode ser encontrado nos
estudos da paisagem.
Portanto, a abordagem geográfica dos estudos integrados do meio
ambiente, a natureza é vista como suporte das ações humanas; um recurso de
valor inestimável e que, por ser esgotável, exige um tratamento voltado para a sua
46
sustentabilidade. Nessa perspectiva dos estudos ambientais a luz do conceito de
paisagem de ROSS (1995, p.116), este defende a idéia de que,
o enfoque da paisagem deve ter sempre como referencial uma determinada população
ou grupo social que vive num determinado território, onde as atividades são
desenvolvidas segundo maior ou menor grau de complexidade em função dos vínculos
internos e externos mantidos no plano cultural.
Um outro conceito ou procedimento metodológico utilizado no âmbito da
Geografia Física que merece atenção nesta discussão é Ecossistema, pois têm
grande valia por constituir-se no modelo integrador dominante dos estudos do meio
ambiente na perspectiva sistêmica. Simplificadamente podemos defini-los como
sendo “as inter-relações que os organismos de determinado local estabelecem
entre si e o meio abiótico, é a soma da biocenose e do biótipo” (MENDONÇA,
1989, p.48).
No fundo, o pensamento ecossistêmico criado por Tansley em 1935, que
vai de encontro às concepções organicistas substitui um espaço ecológico dividido
por um espaço ecológico reunificado, no qual os fatores abióticos e bióticos do
meio ambiente não representam mais do que dois aspectos de uma mesma
realidade.
O ecossistema se apresenta como um método de estudo da natureza
específica da Biologia e Ecologia. Mas um bom número de geógrafos, buscando
compreender o funcionamento dos ecossistemas e, através deles tratar a natureza
de forma sistêmica, propuseram aplicar à geografia física conceituações e métodos
inspirados nos ecossistemas. A exemplo do conceito de sistema de erosão,
desenvolvido por Cholley, nos anos 40, e o mais importante deles, o geossistema
proposto por Sotchava, nos anos 60, entre outros.
Porém, o desenvolvimento da teoria dos ecossistemas não simplifica as
coisas para biólogos e ecólogos, que são quase sempre incapazes de explicar, a
não ser de uma forma simplificadora ou parcial, as relações entre as sociedades
humanas e seu ambiente. Além disso, “toda abordagem estritamente
ecossistêmica nesse campo corre o risco de ser empobrecido por não levar em
consideração o segundo aspecto da totalidade humana a sua dimensão cultural”
(ACOT, op. cit. p. 123).
ACOT (op. cit. p.91) é partidário da ideia de que,
47
toda mudança importante na ordem científica é acompanhada por uma modificação de
nossa maneira de ver o mundo, “o desenvolvimento e as aplicações da teoria dos
ecossistemas induziram ao aparecimento de uma ideologia ecologista sistêmica que
transformou as representações sociais das relações natureza-sociedade nas
sociedades industriais.
O mesmo entende que,
os estudos ecológicos progrediram, da análise da relação entre os organismos e seu
meio, para o comportamento das populações poliespecíficas ou comunidades e seu
meio. Assim, chegam a propor como objeto de estudo a estrutura funcional da biosfera,
entendida como um conjunto de relações entre as populações biológicas e seu entorno
físico. Isto leva a pensar os ecossistemas como “superorganismos” complexos, com
suas dinâmicas de estabilidade e de reprodução, dissolvendo nesta aproximação
holística e sistêmica a relação dual entre organismo e meio.
A dinâmica dos processos ecossistêmicos implica a análise dos efeitos
de certos fenômenos geofísicos e atmosféricos e de certos processos sócio-
econômicos que afetam seu comportamento. Isto demanda a articulação da
ecologia com a geologia, geofísica, antropologia, economia, história e geografia,
constituindo um amplo campo interdisciplinar.
Inspirados pelas ciências naturais da Europa Central e incitada pela
política de reconhecimento e valorização territorial, os soviéticos, na década de 60,
deram um grande impulso aos estudos da geografia física, criando um método de
estudo específico para esse ramo da geografia: o Geossistema.
O criador do termo/método geossistema foi o soviético SOTCHAVA
(1962), utilizando principalmente os princípios sistêmicos propôs a sua criação, e
apresentou sua conceituação, senão vejamos:
é a expressão dos fenômenos naturais, ou seja, o potencial ecológico de determinado
espaço no qual há uma exploração biológica, podendo influir fatores sociais e
econômicos na estrutura e expressão espacial, porém, sem haver necessariamente,
face aos processos dinâmicos, uma homogeneidade interna. O mesmo entende ainda
que a principal virtude epistemológica da concepção do geossistema é avaliar a
conexão da natureza com a sociedade humana. Para o mesmo, os geossistemas são
fenômenos naturais, mas seu estudo leva em conta os fatores econômicos e sociais e
seus modelos refletem parâmetros econômicos e sociais das paisagens modificadas
pelo homem.
Para o seu propositor o “paradigma geossistêmico deve servir para
designar um sistema geográfico natural homogêneo associado a um território”.
Em sua análise ROUGERIE (1991) entende que,
48
geossistema pode ser definido como um modelo geográfico territorial que integra,
assim como o ecossistema, inter-relações entre os seres vivos e também todas as
outras relações entre os componentes abióticos, independentemente da presença dos
seres vivos, assim como entre diferentes ecossistemas, geofácies ou unidades de
paisagens que participam dessa organização em um nível superior.
No final dos anos 70 surge um outro encaminhamento metodológico no
contexto da geografia geral, que utilizam alguns princípios da Teoria Geral dos
Sistemas, é o caso da Ecogeografia de Tricart & Killian (1979), que passaram a ser
forte referência metodológica para as pesquisas sobre meio ambiente.
A proposta dos autores procura ir além da simples relação do ser vivo
com o seu meio ambiente, preconizado no conceito inicial de ecossistema de
Tansley, que serve como pano de fundo onde os autores inserem o homem e suas
atividades. Portanto, por envolver a ação antrópica ela se configura numa nova
metodologia dos estudos aplicados à geografia física.
A ênfase da Ecogeografia, proposto por Tricart nos anos 70 "consiste no
reconhecimento e no estudo dos diversos níveis que integram as unidades geo-
ecológicas de um determinado espaço". Essa integração é diversificada em função
dos atributos do espaço geográfico. Assim, preocupa-se também com as
modalidades da intervenção humana nessas unidades e com os impactos que esta
desencadeia, uma vez que ao inserirem-se nos ecossistemas o homem modifica o
seu funcionamento tornando-se desse modo um agente decisivo da ecodinâmica.
Nesta perspectiva de renovação conceitual e metodológica da ciência
geográfica, seus reflexos foram sintomáticos na a Geografia Física brasileira, dada
a forte influência que a mesma sofreu na sua formação das escolas européias
(francesa e alemã). Esta passou a trilhou caminhos não muito distintos, e os
trabalhos de Carlos A. Monteiro a partir dos anos 80 são boas referências da
produção da geografia física brasileira no âmbito dos estudos geossitêmicos. Bem
como os estudos de zoneamentos geoambientais realizados pelo IBGE nos anos
90, as pesquisas realizadas pelo geógrafo Jurandir Ross, resultaram em uma farta
e importantes publicações desta renovada geografia brasileira.
Deste modo, podemos aderir à idéia de que enquanto método científico
de estudos baseado na Ecodinâmica, este tem sua validade e aplicação satisfatória
na análise dos problemas ambientais, e isto de certa maneira justificaria a sua
49
utilização nesta pesquisa, numa tentativa de resgatá-lo no âmbito das pesquisas
geográficas.
3.3. A ECOGEOGRAFIA E A ECODINÂMICA: UMA CONTRIBUIÇÃO DA
CIÊNCIA GEOGRÁFICA À QUESTÃO AMBIENTAL
As considerações feitas no item anterior são suficientes para justificar a
importância que as abordagens sistêmicas tiveram no processo de mudança
metodológica que ocorreu na Geografia Física nos estudos do meio ambiente. Isto
muito contribuiu para que muitos geógrafos repensassem a sua prática geográfica,
o que evidenciou o caráter imprescindível desta ciência na pesquisa ambiental.
As pesquisas geográficas sobre o meio ambiente em muito já
transcenderam a desgastada discussão da dicotomia geografia física versus
geografia humana, o que permitiu conceber a unidade do conhecimento geográfico
como resultante da interação entre os diferentes elementos e fatores que compõem
seu objeto de estudo o espaço geográfico.
No entender de (MENDONÇA, 1998),
tratar da problemática ambiental e suas abordagens na geografia significa tocar em
uma das principais discussões que marcaram o último quarto do século passado, ou
mesmo antes, os debates de geógrafos, ou seja, a dicotomia ou dualidade entre
geografia física e geografia humana.
É então necessário adiantar, todavia, que no âmbito da presente
pesquisa tal abordagem encontra-se atrelada em muito de seus aspectos à
perspectiva da dualidade do conhecimento geográfico, pois se acredita que sua
maior riqueza está nessa característica que ressalta tanto a natureza “(...)
essencialmente transdisciplinar (...)”, e interdisciplinar da geografia como o fato de
ser ela “(...) um dos últimos lócus do naturalismo nas ciências humanas”
(MORAES, 1994, p. 88).
Pode-se resgatar também um pouco nesta discussão o fato de que
grande parte do arcabouço teórico - metodológico da Geografia Física foi e de
50
certa forma continua a ser freqüentemente negligenciada pelos teóricos da
Geografia, principalmente mediante as necessárias, porém arrasadoras, críticas ao
seu pragmatismo, utilitarismo, cientificismo, entre outras tendências consideradas
características desta ciência.
O acirramento e aprofundamento dos debates sobre a questão
ambiental ganham profundidade nas discussões geográficas nos anos 60 e 70,
esta é convocada a tomar consciência a cerca deste novo momento, que passou a
exigir novas interpretações, que pudessem produzir explicações que contribuíssem
para os debates sobre a questão ambiental. Isto ensejou mudanças conceituais e
metodológicas para o tratamento de algumas categorias geográficas, como meio
ambiente e o estudo da paisagem, que se encontravam sendo alvo de análises
majoritariamente positivista e naturalista.
De maneira geral, e observando tanto o senso comum como o debate
intra e extra-academia, a impressão geral que se tem é de que a abordagem do
meio ambiente está diretamente relacionada à natureza, como se existisse um a
priori determinante traduzido numa hierarquização dos elementos componentes do
real, onde aqueles atinentes ao quadro natural estão hierarquicamente em posição
mais importante e sem os quais não haveria a possibilidade da compreensão
ambiental da realidade.
Nas décadas de setenta e oitenta, a questão despertou a atenção
mundial, que procurava alertar para o perigo dos desequilíbrios globais e
motivaram discussões em nível internacional, em busca de estratégias para
racionalizar a exploração dos bens naturais e avaliar o controle e direcionamento
das atividades impactantes do meio ambiente.
Neste período passa a ser desenhada de certa forma uma nova postura
política, exigindo a revisão de conceitos e a mudança de paradigmas para garantir
o planejamento levando em consideração, além dos interesses econômicos, as
demandas sociais e a conservação da biodiversidade e do potencial geoambiental.
Assim, podemos considerar como marco importante deste período a
Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972, que
iniciou as discussões internacionais sobre a necessidade de mudança de atitude e
de estilo de desenvolvimento em benefício da humanidade, ameaçada pela
degradação ambiental.
51
A conscientização de alguns segmentos populares e as iniciativas de
parte dos governantes cresceu em função da difusão da concepção do modelo de
ecodesenvolvimento, apoiado em uma atitude conservacionista, oposta àquela
nitidamente economicista que imperava anteriormente, para o que há de se
considerar as diversidades de situações ecológicas e culturais que exigem
soluções variadas, bem como a participação das comunidades para a identificação
de suas próprias necessidades.
A evolução das idéias contidas no Relatório Brundtland (1987) que
mencionou pela primeira vez o conceito de Desenvolvimento Sustentável colocou a
discussão da questão ambiental como uma prioridade a ser buscada pelas políticas
de desenvolvimento governamental, para alguns considerados a grande utopia do
século XX. A preocupação com a manutenção da qualidade do ambiente e do
potencial dos recursos naturais e da biodiversidade revelou-se de importância
fundamental para o desenvolvimento.
No entender de MENDONÇA, (1993),
esta evolução conceitual teve outro marco de reflexão importante na Conferência das
Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, também denominada Rio-
ECO/92,. Os debates travados naquele evento, ou por ocasião dele, resultaram, entre
outras coisas, em mudanças de concepções relativas ao meio ambiente, pois
engendraram novos elementos que resultaram em novas maneiras de se conceber os
problemas ambientais.
Muito embora de aplicabilidade duvidosa o conceito de sustentabilidade
assumiu uma grande evidência no debate científico, contribuindo para desencadear
um processo de revisão de paradigmas, diversificando as modalidades de
abordagens concernentes à problemática ambiental e a questão das políticas de
planejamento.
A ciência geográfica internaliza no seu objeto de estudo à dimensão da
sustentabilidade na perspectiva socioambiental na pesquisa ambiental, passando
explicitar não somente o envolvimento da sociedade como elemento processual,
mas também decorrente da busca desta ciência de procurar compreender a
realidade geográfica numa abordagem inovadora.
Portanto, ao tratar-se de uma possível corrente ecológica e sua
derivação no âmbito da geografia, o que teria originado uma “geografia ecológica”,
ANDRADE (1987, p. 119) afirma que ela tem como um de seus marcos
52
importantes à publicação da proposta da ecogeografia de Tricart et al. & Kilian
(1979). O autor é partidário da proposta de que esta corrente se construiu a partir
do momento em que,
os geógrafos passaram também a preocupar-se seriamente com o problema do meio
ambiente, observando-se que na área da Geografia Física muitos evoluíram de
trabalhos específicos sobre morfologia, clima, hidrologia etc. para realizar pesquisas
mais amplas a respeito do meio ambiente, ou, continuando os trabalhos em suas áreas
específicas, passaram aplicar os conhecimentos especializados, levando em conta o
impacto dos elementos naturais quando influenciados pela sociedade sobre o meio
ambiente.
Observam-se assim avanços consideráveis no tratamento da questão
ambiental nos anos 80 e 90 até o presente, ou seja, de uma fase
predominantemente caracterizada pelo enfoque ecológico, em que ressaltava a
vertente naturalista, para uma outra centrada no ambiente, na qual sociedade e
natureza compõem as duas partes de uma interação dialética.
A evolução da produção geográfica vista de maneira genérica nestes
150 anos na condição de ciência, é um espelho que reflete diretamente os
postulados positivistas que impõem a adoção de métodos específicos a correntes
distintas do pensamento geográfico. Assim, vamos assistir diferentes filiações
dentro desta ciência, ou seja, a geografia clássica (ou tradicional) associou-se o
positivismo, a new geography o neopositivismo, à geografia da cultura e da
percepção o humanismo, à geografia crítica o marxismo, entre outras.
Essa questão aponta, primeiramente, para a constatação de que “(...)
Não há apenas um método na ciência e urge entender as possibilidades de cada
um no equacionamento da temática ambiental. (...)” (MORAES, 1994, p. 47).
No entender de MONTEIRO( 2001 , p.9),
a Geografia sofreu uma grande transformação após o fim da 2ª Guerra Mundial e a
nova conjuntura mundial caracterizada por um mundo bipolar em competição (EUA x
URSS). A Geografia muda de papel e “[...] viu-se lançada a um comprometimento com
o planejamento territorial, passando-se a discutir, para ela, a adequação adjetiva de
aplicada ou aplicável.
Uma das principais escolas dessa renovação é a escola teorético-
quantitativa que foi influenciada diretamente pela Teoria Geral dos Sistemas e pela
Cibernética, com o exemplo de Chorley (1971).Tais autores buscam uma
abordagem geomorfológica relacionada com as idéias de sistema, fluxos de
matéria e de energia, e de equilíbrio dinâmico.
53
Na Geografia russa, os trabalhos de Sotchava (1978), influenciado por
geógrafos como Vernadsky, criou a concepção de geossistema em 1963, tendo
como base o estudo das paisagens siberianas na estação experimental de Irkoutsk
(ROUGERIE & BEROUTCHACHVILI, 1991, p.59).
Para MENDONÇA, (1998) e CRISTIFOLETTI (1999),
as décadas subseqüentes ao período pós-guerra, impulsionada pelo contexto histórico
e a instauração da crise na Geografia Tradicional, surgem novos esboços
metodológicos que buscam interagir métodos de ramos da própria geografia ou de
disciplinas diferentes em um mesmo estudo. No que concerne as suas aplicações aos
estudos do meio ambiente, abre-se uma perspectiva de produção de uma geografia
física global a partir da interação de métodos que tomam uma perspectiva vertical
(ecossistema) e horizontal (geossistema) das paisagens, abarcando também as
atividades humanas enquanto fator da dinâmica da paisagem. Ressaltam-se as
contribuições de Sotchava (geossistema), bastante melhorada por Bertrand e Tricart
(ecodinâmica e ecogeografia).
As aludidas propostas metodológicas baseiam-se na Teoria Geral dos
Sistemas, largamente empregada nas ciências naturais, fato que tem vinculado o
tratamento dos estudos do meio ambiente no âmbito da geografia, através das
referidas metodologias, ainda que paire sobre elas uma perspectiva muito mais
naturalista que social. Este desequilíbrio não retira os méritos destas metodologias,
pois as suas aplicações em muito contribuíram para a formatação de um novo
desenho no âmbito da pesquisa geográfica.
Situando a origem e o desenvolvimento da geografia ecológica como
ligados à geografia física, ANDRADE (1987, p. 121) reconhece a abertura
vivenciada por tais geógrafos ao se lançarem a uma nova concepção e produção
do estudo do meio ambiente do ponto de vista geográfico, pois, segundo ele, “em
muitos pontos, eles (especialistas em geografia física) se aproximam do grupo dos
chamados geógrafos críticos ou radicais, enquanto em outros se contactam com o
grupo que faz a geografia da percepção e do comportamento”. Esta constatação
reflete, entre outras coisas, a insuficiência dos métodos disciplinares
individualizadamente inerente à ciência moderna para o tratamento da realidade e
dos problemas ambientais. Revela, ao mesmo tempo, a necessária aplicação de
uma perspectiva multi e interdisciplinar intrageografia, e desta com outras ciências,
pois “(...) a discussão sobre a questão ambiental deverá trafegar nos limites de
marcos disciplinares. (...)” (MORAES, 1994, p. 50).
Como uma ciência que, direta ou indiretamente, tem uma tradição da
análise ecológica em estudos ambientais, a Geografia assume um caráter quase
54
imprescindível na pesquisa ambiental, na medida em ela preserva o sentido de
conjunto e interdisciplinaridade. Estes estudos por sua própria natureza conceitual
e metodologia, foram em diversos momentos, rapidamente assimilados pelos
geógrafos, em especial os ligados a Geografia Física.
Essas colocações sumárias pretendem subsidiar a realização de uma
avaliação da contribuição da metodológica proposta na abordagem morfodinâmica
de Tricart (1977) ou a abordagem ecogeográfica de Tricart & Killian (1979) aos
estudos geográficos e ambientais, remetem também a avaliações de outras
referências metodológicas similares, igualmente respaldadas na Teoria Geral dos
Sistemas.
Estas metodologias remetem aos estudos integrados do meio ambiente
mais especificamente, da Geomorfologia, como ciência de base e aplicada à
ordenação do território, que fornece uma consistência insubstituível em relação aos
levantamentos e avaliação dos recursos ecológicos, por apresentar uma
abordagem metodológica sistêmica que resulta no entendimento dos processos
controlados pela interação entre os agentes dinâmicos da paisagem.
A demais as feições geomorfológicas são ao mesmo tempo em que
ecologicamente representativas, são rapidamente identificáveis, medidas,
delimitadas e interpretadas. Isto facilita a análise sistemática das inter-relações do
meio ambiente, possibilitando que a interpretação das mesmas sejam extrapoladas
para áreas mais extensas, com devida cautela.
Essas abordagens, muitas vezes sem serem totalmente compreendidas,
vêm subsidiando uma série de avaliações ambientais, na medida em que também
possibilitam a identificação de unidades territoriais com dinâmicas semelhantes,
passíveis de classificações diversas em processos de planejamento territorial
(exemplos: fragilidade do meio físico, potencialidade para suportar obras de
engenharia, etc.) e de utilização em instrumentos de gestão ambiental.
Assim, concomitantemente a teoria dos geossistemas e a ecodinâmica,
centrada na abordagem morfodinâmica possibilitam a delimitação espacial de
unidades cujos processos atuais podem ser considerados semelhantes. Por isso é
possível classificar as unidades ecodinâmicas, quanto à sua estabilidade (formas e
processos), singularidade e grau de recorrência (diversidade ambiental), fragilidade
55
ou vulnerabilidade no que se refere às interferências antrópicas, entre outras
discriminações úteis na esfera do planejamento regional e gestão territorial.
As aportações da Geografia Física, como ciência de base preocupada
pela definição e caracterização dos processos geoambientais, dinâmica do meio
ambiente, uso do solo, planejamento e gestão do território, credencia a pesquisa
geográfica, para tratar destas questões, por assumir assim um papel fundamental
nas orientações para a estruturação das diversas atividades relacionadas com a
utilização dos recursos naturais.
Os avanços tecnológicos no que tange a cartográfica temática
ambiental passaram a fornecer um suporte técnico mais amplo as metodologias
empregadas no âmbito de Geografia Física na atualidade, fazendo o uso dos
recursos computacionais, imagens de satélites, cartografia digital, aplicadas aos
estudos de bacias hidrográficas, os modelos de evolução espaço-temporal do
relevo, sendo aplicados na definição de áreas de riscos (desmoronamento de
encostas, inundações, erosão e contaminação do solo), capacidade de suporte e
classes de uso. Este fato parece abrir novos caminhos mais pragmáticos,
amplamente empregados aos estudos de planejamento regional.
Portanto, a atual concepção sistêmica da Geografia Física como ciência
preocupada com a organização e dinâmica do meio ambiente natural e
antropizado, supõe, por seu objeto específico de estudo, uma contribuição valiosa
na ordenação do território, sobre tudo, quando a intervenção humana tende a
realizar-se em meios geográficos, onde o componente físico adquire proporção
preponderante. Desta forma, os métodos da Geografia Física, que utilizam os
princípios da interdependência, de modo a fornecerem correlações genéticas,
temporais e espaciais, sobre os componentes do meio ambiente geográfico
(morfologia, vegetação, clima, solo, processos e uso do solo) é muito valioso,
quando utilizado para este fim.
A demanda cada vez mais crescente por recursos naturais frente ao
crescimento do consumo nos espaços urbanos, impactos ambientais gerados pela
implantação de projetos industriais e agropecuários, vêm acarretando mudanças
rápidas nos agentes modeladores do relevo. Portanto o emprego de metodologias
e técnicas para a definição espaço-temporal destes eventos possibilita o
acompanhamento contínuo dos processos morfogenéticos, favorecendo ações
56
preventivas em áreas de risco e o controle efetivo dos indicadores da dinâmica da
paisagem.
Pelo que foi dito anteriormente, a necessidade de planejamento,
ordenamento e manejo, tornou-se fundamental a aplicação de técnicas passiveis
de reestruturações e atualizações freqüentes, frente a esta nova dinâmica nos
elementos da paisagem imposta pela ação do homem. Perante esta crescente
demanda de uso e ocupação, a implantação de metodologias que definam com
maior precisão a dinâmica da paisagem (caracterização integrada dos fluxos de
matéria e energia), a presença de “geógrafos físicos especialistas”, parece
imprescindível na busca do que poderia chamar de desenvolvimento sustentável,
na acepção mais abrangente do termo.
Portanto, a ciência geográfica assim entendida, abre perspectivas para a
produção de um conhecimento abrangente e confiável do meio ambiente
geográfico, ressaltando as suas potencialidades e limitações naturais impostas à
utilização, identificando os elementos dos desequilíbrios ecodinâmicos, sugerindo
alternativas viáveis e adequadas para o aproveitamento racional do território.
Sua contribuição mais para este fim poderá se dar através de pesquisa
básica voltada as propostas de zoneamentos geo-ambientais ou geossistêmicos do
espaço geográfico, que se afigura como condicionamento fundamental para o
conhecimento de suas potencialidade e limitações.
Por fim, pode-se afirmar que, face aos problemas ambientais, sociais e
econômicos exposto pelo contexto histórico atual, exige uma postura de uma
geografia integrada, seja ela chamada de Geografia ou "Geografias", e não mais
pode ser pensada ou produzida negando a unicidade do seu objeto de estudo.
57
4. A ÁREA DE ESTUDO
4.1.SITUAÇÃO E LOCALIZAÇÃO
O quadro geoambiental da área do vale médio inferior do Rio
Mamanguape, quer seja nas suas características físicos-naturais e sócio-
ambientais, encontra-se profundamente influenciado pelos processos de
transformações a que foram submetidos os espaços regionais do Estado.
Entende-se como de grande valia para a pesquisa, procurar situar à
área objeto de estudo espacialmente, isto é, no contexto mais amplo da bacia do
Rio Mamanguape, com o intuito de melhor individualizá-la posteriormente.
O rio Mamanguape nasce na parte mais a Oeste do espaço paraibano
com sua nascente situada nos contrafortes elevados do Planalto da Borborema, e
depois de atravessar diversos compartimentos regionais do Estado, desemboca na
Mesorregião do Litoral Norte.
Com uma área total de aproximadamente 5.080 quilômetros quadrados,
sua bacia se entende sob a forma de uma faixa regular no sentido Oeste-Leste,
com uma largura média de 30 quilômetros.
O rio Mamanguape nasce a uma altitude superior a 500 metros.
Inicialmente têm seu curso orientado no sentido Oeste-Leste até o município de
Mulungu. A partir dessa localidade, assume uma direção sudoeste-noroeste,
quando recebe o rio Araçagi, no município homônimo. Deste ponto até a sua foz
retoma novamente a direção aproximada Oeste-Leste, até desaguar no Oceano
Atlântico sob a forma de um amplo estuário.
O traçado do rio Mamanguape é controlado por duas grandes unidades
estruturais: o escudo Pré-cambriano da Borborema e os baixos planaltos
sedimentares costeiros e sub-costeiros. No setor do Planalto da Borborema, que
corresponde ao seu alto e parte do seu médio curso, a influência estrutural é mais
nítida, pois neste trecho o rio atravessa quase que inteiramente rochas
cristalofilianas do Complexo Cristalino Superior Indiviso.
58
Nesta área, o relevo é mais movimentado, por está sob influência da
tectônica regional, e alguns vales são encaixados, com canais sinuosos de ângulos
retos e traçado dendrítico.
Em seu médio e baixo curso passa a drenar áreas de relevo mais plano,
com declividade mais suave em direção ao mar, mas apresentam forte dissecação
pluviofluviométrica dos terrenos sedimentares da Formação Barreiras. Nestes dois
setores a atividade erosiva linear é atenuada pela menor inclinação do seu perfil
longitudinal, passando a existir uma acentuada ação da erosão lateral, que
contribui para alargar o seu leito, passando o mesmo a dispor de uma ampla
várzea.
O perfil longitudinal do rio apresenta uma relativa regularidade, sem
grandes rupturas de declive, exceto no setor do alto curso, com os relevos do
Planalto da Borborema, quando seus gradientes passam de uma altitude de cotas
na faixa de 700 metros para menos de 100 metros em seu médio e baixo curso.
O rio em apreço tem um regime perene, sendo continuamente
abastecido pelos afluentes provenientes da região do Brejo paraibano, que poder
ser caracterizada como uma área de clima tropical de altitude, com um ciclo de
chuvas bastante regular.
Em alguns setores seu vale médio inferior a geologia comporta
estruturas litológicas do escudo cristalino, na forma de núcleos aflorantes e
subflorantes, e o clima assume aspectos mais secos, do tipo agreste, enquanto no
setor mais a leste, ocorre os aqüíferos dos sedimentos da Formação Barreiras, e o
clima é mais úmido, o que contribui para uma regularização do fluxo de água no
leito do rio Mamanguape e de alguns dos seus tributários.
Ainda sobre a área do vale médio inferior do rio Mamanguape denota-se
a ocorrência de estruturas arqueadas do escudo subjacente e o padrão da
configuração de seus afluentes da margem esquerda é assimétrica, sendo os
principais sistemas hidrográficos o riacho Luis Dias, rio Seco e o riacho Mata
Fome. Na margem direita a drenagem encontra-se instalada em fraturas nas
bordas dos tabuleiros e percorrem orientações, segundo a tectônica de
quebramento do escudo, com reflexo na cobertura sedimentar. A sua configuração
assume um certo paralelismo, representada pelos riachos Vargem Comprida,
Cafundó e o Maíra.
59
A área da pesquisa corresponde a uma superfície aproximada de 20.000
hectares, quase que totalmente inserida na Microrregião Homogênea do Litoral
Norte do Estado da Paraíba (IBGE, 1991), entre as coordenadas de 7º 55’ 00’’ e 6º
45’ 00’’ de latitude sul e 35º 07’ 30’’ e 35º 15’ 00’’ de longitude oeste.
BA
MA
PI
CE
SE
AL
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RN
MG
TO
PB
ÁREA DE ESTUDO
PARAÍBA
REGIÃO NORDESTE
NG
Adaptado do Atlas Nacional do Brasil, IBGE, 1992
Elaboração: Euzivan Lemos Alves
Fonte:
255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265
9254
9253
9252
9251
9250
9249
9254
9248
9247
9246
9245
9244
9243
9242
9241
9240
9239
9238
9237
50º 40º
50º
40º
20º
10º
1200 Km400
ESCALA GRÁFICA
4000 800
LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Escala Gráfica
500
1000
0 2000m
-8°00'
-38°30' -37°30'-38°00' -37°00'
-38°30' -37°30'-38°00' -37°00'
-36°30'
-7°30'
-36°30' -36°00' -35°30'
-7°00'
-6°30'
-35°00'
-6°00'
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Capim
Itapororoca
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Mamanguape
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Figura 02
Fonte: O autor
Assumindo características no seu setor mais a oeste de uma área de
agreste, e de uma região tipicamente úmida tropical na sua seção mais a leste, a
área do vale médio inferior o rio Mamanguape apresenta paisagens biogeográficas
com aspectos bem distintos, pelas condições diferenciadas em seu meio natural,
que se distingui pela sua cobertura vegetal de floresta densa das terras baixas
costeiras, floresta estacional semidecidual e Cerrado, que recobrem os solos mais
profundos sob os baixos planaltos costeiros e sub-costeiros, na sua porção mais
úmida. A oeste, onde as condições agrestina é mais nítidas, as formações vegetais
apresentam espécies com características xerófilas, nos setores mais secos,
recobrindo solos mais rasos. A combinação desses elementos naturais associados
60
às várias formas de ocupação e uso do solo confere individualidade geográfica à
área.
A área definida como recorte espacial para esta pesquisa, abrange
setores de vários municípios do litoral norte do Estado, como Mamanguape, com
uma área mais representativa (10.114.04 ha), seguido por Capim, Itapororoca e
Cuité de Mamanguape. Estes municípios comportam uma população que têm a
sua condição de vida ligada as atividades dos setor primário.
O espaço urbano dos municípios se caracteriza por apresentar uma
situação econômica vinculada também ao pequeno comércio, funcionários público
e prestação de serviços de educação e saúde muito precários e sua infra-estrutura
urbana é insatisfatória e até mesmo ausente nas áreas mais periféricas das sedes
municipais.
4.2.A DINÂMICA SOCIOECONÔMIA E OCUPAÇÃO DO ESPAÇO
4.2.1.A dinâmica do processo histórico de ocupação do espaço
A análise deste tópico procura compreender o processo histórico de
ocupação da área, bem como as formas de organização do espaço geográfico do
setor do vale médio Inferior do rio Mamanguape, analisando suas transformações e
diferenças internas, considerando este espaço geográfico como a expressão
resultante da transformação das paisagens naturais em decorrência das atividades
e formas específicas de intervenção antrópica.
A organização do espaço geográfico deve levar em conta as formas
como se processam o povoamento e a exploração relacionada aos ciclos
econômicos que nele se desenvolveram e interferiram na organização do espaço
agrária, formas da rede urbana, nos sistemas socioeconômicos e nos fluxos de
comercialização da produção.
61
Segundo ANDRADE (1997), a ocupação do Vale do Rio Mamanguape
não ocorreu nos mesmos moldes econômicos dos demais rios litorâneos
nordestinos, tradicionalmente açucareiros. Segundo o autor, este vale atravessou
pelo menos três ciclos econômicos distintos desde o século XVI até os nossos
dias, assim sucedidos: o ciclo do pau-brasil, o ciclo da criação do gado, do algodão
e, finalmente, o da agricultura canavieira. ANDRADE (op.cit.),ainda afirma que,
o vale do Rio Mamanguape por ser mais amplo e prestar-se melhor à fundação de
engenhos, os mesmos ocuparam mais as várzeas do Camaratuba e do Paraíba
.Portanto, no primeiro período da ocupação, o vale do Mamanguape foi ocupado por
fazendas de criação de gado, policultura alimentar e algodão.
O processo de povoamento do Vale do Rio Mamanguape começou no
século XVI, com uma expedição dirigida por Elias Herckman, que explorou a região
à procura de ouro (ANDRADE,1997, p.27). Porém com o insucesso desta
expedição a pecuária, juntamente com a policultura, deram início à ocupação deste
setor.
Devido à facilidade de acesso fluvial, o primeiro núcleo de povoamento
foi a cidade de Mamanguape, que se tornou, com o decorrer do tempo, o centro
polarizador da região.
Segundo COSTA (1986), a cultura da cana-de-açúcar foi introduzida no
Estado da Paraíba após a conquista portuguesa em 1585, quando se iniciou a
ocupação das terras litorâneas e a construção dos primeiros engenhos. Nesse
período, Martim Leitão e Duarte Gomes da Silveira iniciaram a colonização do
Mamanguape, lançando assim as raízes históricas e econômicas que mais tarde
dariam origem à cidade de Mamanguape.
Portanto, o povoamento e a expansão destas atividades econômicas se
intensificaram nos séculos seguintes em função destes ciclos econômicos, que
definiram a estrutura fundiária, na modalidade de grandes latifúndios e a
diversificação das formas de uso da terra, traduzidas nos sistemas de uso agrícola.
A estrutura de posse da terra no vale médio do Rio Mamanguape não
foge ao padrão usual predominante no Estado, onde ocorre grande concentração
de terras nas mãos de poucos proprietários e um percentual muito baixo distribuído
para um grande número de famílias de agricultores.
Portanto, se as condições geográficas dos recursos naturais foram
propícias ao florescimento da cana-de-açúcar, possibilitando a geração e
62
concentração de riqueza para os senhores-de-engenho, por outro lado, provocou
cicatrizes profundas na terra e no homem, sendo este um dos principais legados
deixado pelos colonizadores no decorrer do processo de ocupação.
Muitas das características socioeconômicas que a área apresenta têm
suas raízes no processo histórico de ocupação que a mesma sofreu, e as suas
consequências resultaram em vários desequilíbrios regionais, um deles que pode
ser mencionado é em relação a estrutura fundiária, marcada pela grande
propriedade, cujo desdobramentos sociais criaram fluxos migratórios intensos no
sentido campo- cidade e levaram a conflitos sociais pela posse da terra.
Pode-se inferir que o espaço do vale médio inferior do Mamanguape
apresenta diversas formas e modalidades de uso do solo, que comandam a
estrutura produtiva e sua organização espacial, caracterizando-se do ponto de vista
sócioeconômico pela predominância da monocultura comercial (pecuária, algodão,
cana-de-úcar, abacaxi), sendo imputado a cana-de-açúcar o papel de principal
atividade estruturadora do espaço, seguido da pecuária e policultura de
subsistência.
Figura 03: Uso do solo sobre as superfícies dos tabuleiros com pastagens e no segundo plano a
cana-de-açúcar no município de Capim, na estrada que de acesso ao povoado de Olho D'água do
Serrão.
Fonte: O autor
A policultura alimentar de subsistência está ligada à produção de feijão,
milho, mandioca, inhame, batata-doce e fruticultura, etc. As unidades produtivas
geralmente são pequenos sítios de propriedade do agricultor e alguns moradores
63
de pequenas propriedades. Esta produção que é básica na alimentação dos
agricultores procura atender, sobretudo as necessidades familiares e a parcela
excedente tem como destino a sua comercialização nas feiras livres dos municípios
locais, ver tabela 01. Estas atividades são bastante tradicionais, sem perspectivas
de melhorias técnicas.
A atividade criatória bovina ocupa uma área mais expressiva nos
municípios de Mamanguape e Itapororoca, na forma extensiva nos campos de
várzea do Mamanguape, aproveitando-os como pastagens naturais e sobre os
tabuleiros do município de Itapororoca, onde existem áreas com pastagens não
nativas. O efetivo do rebanho na área do vale médio inferior do Rio Mamanguape
apresentou um crescimento substancial no início do processo de ocupação desta
área, sendo necessário à destinação de mais espaço para a produção de
pastagens. Como conseqüência, alguns setores dos tabuleiros costeiros e das
várzeas, tiveram os seus solos destinados a ocupação com pastagens, o que
contribuiu para inserir alterações no quadro da vegetação, ocorrendo a
descaracterização em muitos aspectos do meio ambiente. Esta atividade em geral
encontra-se bem difundida na área, sendo responsável pela ocupação de uma
parte da mão-de-obra local, não especializada, e dada as suas características
técnicas, ela apresenta baixa produtividade.
Figura 04: Uso do solo com cultura de subsistência (feijão, mandioca) e fruticultura (manga, caju, goiaba)
sobre os solos arenosos dos tabuleiros no povoado de Olho D’água do Serrão.
FONTE: O autor
64
Tabela 01: Culturas de subsistência e comercial temporária, segundo área plantada em
alguns municípios do vale médio inferior do rio Mamanguape.
Culturas MUNICÍPIOS / ÁREA PLANTADA (há) 2000
Capim Cuité de Mamanguape Itapororoca Mamanguape
Abacaxi 90 50 250 120
Milho 10 50 200 90
Batata-doce 17 13 20 25
Cana-de-açúcar 2300 22 3.300 6.000
Fava 2 60 10 5
Feijão 20 80 250 220
Mandioca 90 70 180 500
Fonte: Instituto Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba IDEME (2000)
Segundo ANDRADE (1986, p.84) ao se reportar ao quadro da pecuária
no litoral do Estado, afirma que,
o gado na região litorânea sempre foi um servo da cana; ocupava áreas pioneiras à
sua espera e cada vez se distanciava mais do litoral, tendo, conseqüentemente, que ir
alongando cada vez mais as suas caminhadas para chegar aos centros de consumo.
Foi ele que desbravou e ocupou os vales fluviais que cortam os tabuleiros litorâneos,
para em um segundo momento adentrar para o interior do Estado.
A dinamização da criação do gado nas terras do baixo e médio vale
inferior do rio Mamanguape teve um papel importante no processo de ocupação
destas duas áreas, isto por que, logo se transformou numa atividade econômica
indispensável para o desenvolvimento da agroindústria açucareira, devido à
utilização do gado como força mecânica, que assegurava o funcionamento dos
engenhos. Os rebanhos aproveitavam as áreas dos tabuleiros com vegetação de
campos ou então as áreas de várzeas não plantadas com a cana, desenvolvendo-
se de forma extensiva, aproveitando os pastos naturais e exigindo pouca mão-de-
obra, que deveria ser poupada para ser utilizada na cana-de-açúcar.
A cana logo assume a condição de atividade econômica mais importante
dentro da economia paraibana, sendo direcionados para ela os melhores solos e
os maiores contigentes de mão-de-obra e investimentos, assim MOREIRA (1989)
quando analisa a dinâmica de expansão do cultivo da cana-de-açúcar na chamada
Zona da Mata Paraibana, constata que,
até 1970 o cultivo desta atividade limitava-se ao fundo dos principais vales e às
vertentes de alguns municípios do litoral e do Brejo. Os tabuleiros costeiros e as áreas
de estuários representavam um limite, e, ao mesmo tempo,um obstáculo à sua
expansão. Isto porque a fraca fertilidade dos solos dos tabuleiros e as especificidades
das zonas dos estuários constituíam um limite ecológico à progressão da cana. Este
65
fato explica porque a organização do espaço de muitos municípios baseia-se
fundamentalmente na policultura alimentar e na produção de coco-de-praia, atividades
estas praticadas dominantemente por pequenos produtores rurais.
Portanto, entende-se que o século XIX foi um período de grandes
transformações econômicas, políticas e sociais no espaço paraibano, influenciado
pelos acontecimentos que vinham ocorrendo no nordeste brasileiro. Ou seja, os
engenhos que durante séculos haviam tido evolução muito lenta foram submetidos
a uma série de inovações nas técnicas agrícolas, mudando profundamente os
processos de produção, como os de transporte. A cana-de-açúcar, que reinava
absoluta, passou a sofrer concorrência de outra lavoura de exportação que
interessava aos grandes proprietários, o algodão. Embora este produto tenha
perdido a concorrência para cana no litoral, ele foi durante algumas décadas
concorrente da economia açucareira.
Nos meados do século XIX, quando a cana alcançou o seu apogeu no
Município de Mamanguape, teve início o desenvolvimento da cultura do algodão
devido à Revolução Industrial, que exigiu o largo emprego desta matéria-prima.
Nesta fase áurea, os cultivadores de algodão, procurando beneficiar o seu produto,
introduziram no vale do Mamanguape as primeiras máquinas de ferro, destinadas
ao beneficiamento deste produto (MARIZ,1945).
Assim, o período de maior dinamização da cultura da cana-de-açúcar no
século XIX, representou por um lado o fortalecimento da economia regional, mas
por outro, intensificou a destruição das áreas recobertas pela floresta úmida, para
que os solos fossem ocupados por essa cultura.
Devido aos lucros proporcionados pelas exportações do açúcar e do
algodão para o mercado internacional e o fato de possuir o porto de Salema, o
Município de Mamanguape tornou-se um dos principais centros exportadores
destes dois produtos durante muitas décadas, passando depois a sofrer a
concorrência com outras áreas dentro e fora do estado, e a própria oscilação no
preço deste produto no mercado internacional, têm início a decadência econômica
do muncípio de Mamanguape no final do século XIX. Além do que foi mencionado
anteriormente, também contribuiu para a decadência econômica deste município a
construção da estrada de ferro que, partindo de João Pessoa, demandava para o
interior, procurando captar as regiões do interior do Estado.
66
Neste contexto o município de Guarabira foi muito beneficiado pelo
traçado desta ferrovia, pois passou a deter os produtos que se destinavam ao porto
de Salema. Este fato possibilitou progressos econômicos significativos para
Guarabira e uma decadência na importância econômica de Mamanguape. E isto
teve reflexos diretos no processo de dinamização da ocupação dos setores que
compõem o Médio Vale Inferior do rio Mamanguape. Isto porque o fortalecimento
da economia do Município de Guarabira dinamizou o processo de interiorização da
ocupação, que tinha como espaço norteador o vale médio do rio Mamanguape.
A partir da segunda metade dos anos 70, com a criação e implantação
do PROÁLCOOL (1975), o setor canavieiro paraibano, estimulado por incentivos
financeiros governamentais possibilitou, uma rápida expansão da cana sobre os
tabuleiros, a qual só foi realizada graças à superação dos obstáculos naturais que
eles representavam. Ou seja, a superação da barreira ecológica constituída pelos
baixos planaltos costeiros tornou-se possível a partir do momento que esta
atividade econômica sofreu um processo de capitalização com recursos federais e
no momento seguinte, o aumento da demanda interna pelo álcool provocou um
aumento de preço. A combinação deste dois fatores passou a compensar maiores
investimentos necessários à aquisição de novas terras, modernização tecnológica,
emprego de agroquímicos (fertilizantes, herbicidas), e introdução de novas
variedades de cana mais adaptada a as novas condições edafo-ecológicas.
Neste sentido, segundo MELO & EGLER (1984) estudando a
problemática socioambiental da expansão canavieira no litoral paraibano, afirmam
que este programa contribuiu diretamente para o comprometimento da qualidade
ambiental nesta região, com fortes repercussões sobre as condições de vida da
população local.
Nos anos 70, verificou-se uma transformação bastante significativa,
devido às pesquisas efetuadas sobre aptidão dos solos dos tabuleiros para a
cultura da cana-de-açúcar promovida pelos interesses de capitais oriundos de fora
da região. As transformações por eles introduzidas revelaram-se vantajosas e a
cana ocupou rapidamente os solos dos topos dos tabuleiros e suas vertentes,
perturbando o equilíbrio ecológico, a agricultura tradicional, as relações sociais de
trabalho, e provocando também uma grande homogeneidade na paisagem pela
difusão dos canaviais.
67
Tabela 02:Variação da área colhida (ha.) com alimentos,matérias-primas e cana de
açúcar entre 1975-1980
MUNICÍPIOS ANO
1975
Mamanguape
Alimentos:
Feijão, milho, banana
Mat. Prima e Prod. Exp:
Abacaxi, coco-da-baia.
Cana-de-açúcar
Valores 36,6 12,8 50,6
Itapororoca
Alimentos:
Feijão, milho, banana
Mat. Prima e Prod. Exp:
Abacaxi, coco-da-baia.
Cana-de-açúcar
Valores 73,3 19,7 7,0
MUNICÍPIOS ANO
1980
Mamanguape
Alimentos:
Feijão, milho, banana
Mat. Prima e Prod. Exp:
Abacaxi, coco-da-baia.
Cana-de-açúcar
Valores 25,7 14,6 123,5
Itapororoca
Alimentos:
Feijão, milho, banana
Mat. Prima e Prod. Exp:
Abacaxi, coco-da-baia.
Cana-de-açúcar
Valores 33,4 68,8 49,4
Fonte: SILVA,1995 (modificado por AlVES, 2005)
Portanto, os anos que sucederam, ocorreu um aumento tanto na
superfície cultivada e quantidade produzida das culturas comerciais, principalmente
da cana-de-açúcar e do abacaxi. As destilarias aumentaram em número, ficando
mais concentrado no setor litorâneo e a reconcentração da terra, e as
modernizações ocorridas neste setor, tornaram-se inevitáveis os impactos sociais,
econômicos e ambientais. No que se refere à cobertura vegetal, ocorreu à
supressão quase total da vegetação (mata e cerrado) e substituição dos espaços
de lavoura de subsistência. Outros desdobramentos foram à incorporação
progressiva do trabalho assalariado, novos métodos agrícolas, absorção das
pequenas propriedades e o esvaziamento do campo com o êxodo rural.
68
Figura 05: Expansão da cana-de-açúcar sobre os remanescentes da Floresta Estacional
Semidecidual (mata seca) na margem esquerda do médio curso inferior do Rio Mamanguape
município de Capim.
Fonte: O autor
A cultura do abacaxi se difundiu melhor nas décadas de 80 e 90 em
alguns municípios que fazem parte da região do vale médio inferior do
Mamanguape, a exemplo de Itapororoca e Mamanguape. Muito mais no primeiro
município, do que no segundo Esta atividade passou a ocupar algumas áreas que
antes eram destinadas à atividade criatória bovina, cana-de-açúcar. Em particular
no município de Itapororoca esta atividade se desenvolveu em médias
propriedades, colocando-o em uma posição de destaque na produção e
comercialização deste produto, juntamente com Sapé e Rio Tinto, enquanto
Mamanguape lidera no setor da agroindústria da cana.
Figura 06- Área das encostas dos tabuleiros ocupada com a cultura do abacaxi consorciada com
cana-de -açúcar na estrada que corta a fazenda Pitombeira, na divisa dos municípios de
Mamanguape e Itapororoca.
Fonte: o autor
69
Ao analisar a dinâmica socioeconômica área do vale médio Inferior do
Mamanguape, denota-se que a mesma desempenhou um papel importante na
economia estadual, e ainda que tenha tido a sua condição de região polarizadora
diminuída, continua a desempenhar uma posição importante no contexto
econômico da Mesorregião do Litoral, contribuindo desta forma para a integração e
fortalecimento da economia estadual.
4.2.2. Os aspectos sócio-demográficos e as condições de vida da população
As características do quadro demográfico apresentado pelos municípios
da área da pesquisa são sem sombra de dúvida reflexo das condições de
crescimento das suas economias. Convém ressaltar que foram levantados aqui os
dados dos municípios cujas áreas se encontram parcialmente contidas na área de
estudo, porém, os dados populacionais municipais foram considerados
integralmente para facilitar a análise socioeconômica.
Uma outra questão que merece ser posta, por interferir na sistemática
de análise dos dados analisados, se refere ao desmembramento sofrido pelo
município de Mamanguape, por força da Lei 318/1949, revista em 1994, que criou
dentre outros municípios, Capim, Cuité de Mamanguape e Curral de Cima, pelas
Leis Complementares 5.917, 5.890, 5.930/94 respectivamente. Portanto, os
mesmos não se encontram contemplados pelos dados censitários anterior a data
de criação dos mesmos.
Com relação à Microrregião do Litoral Norte, destaca-se o município de
Mamanguape, como o mais populoso dentro da área estudada, totalizando uma
população de 38.680 (IBGE, 2000), com uma taxa de incremento médio de 1,08%.
Quando analisados os dados do quadro 02 a participação da população
dos municípios considerados, no conjunto da população estadual, verifica-se que é
bastante inexpressiva, com uma tendência a ter a sua participação estabilizada, já
que os municípios de Mamanguape e Itapororoca apresentam taxa de crescimento
populacional relativamente pequenas, 1,08% e 0,65% respectivamente. Estas
taxas de crescimento vegetativo anual dos dois municípios considerados refletem a
70
tendência mais recente do comportamento demográfico apresentado pela
população do estadual, ou seja, encontra-se em queda, passando de um
percentual de crescimento de 1,52 em 1980, para 0,96 (IDEME2000).
Tabela 03 - Total da população residente, por sexo e situação do domicílio, população
residente de 10 anos ou mais de idade, total, alfabetizada e taxa de alfabetização 2000.
POPULAÇÃO RESIDENTE, SEXO E
SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO.
GRAU
DE
URBANI
ZAÇÃO
Taxa Média
Geométricade
Crescimento
Anual %
Municípios
Estado
Total Homens Mulheres Urbana Rural
Paraíba 3.443.825 1.671.978
1.771.847 2.447.212 996.613
71.0
0.82
Capim 4.180 2.149
2.031 3.656 524
87.5
0.46
Cuité de
Mamanguape
6.124 3.108
3.016 1.519 4.605
24.8
0.68
Curral de
Cima
5.323 2.697
2.626 444 4.879
8.3
1.01
Itapororoca 14.633
7.351
7.282
8.206
6.427
43.9
0.96
Mamanguape 38.772
19.191
19.581 8.018 30.754
71.0
1.08
Total
Município
40.733 20.551
20.982 18.631 22.202
Fonte: Censo Demográfico IBGE - 2000.
Portanto, quando se analisa as taxas médias de crescimento da
população registradas nos municípios no período considerado, ocorrem algumas
diferenças que merecem ser apreciadas. Enquanto os municípios de Mamanguape
e Curral de Cima, apresentam uma taxa média de crescimento superior a 1,0%, a
maior dentre os municípios considerados, sendo superior até a média estadual,
que é de 0,82%.Os municípios de Capim, com o,46%,Cuité de Mamanguape
(0,68%) e Itapororoca (0,96%), são os que apresentaram as menores taxas de
crescimento. Verifica-se ainda que, Capim e Cuité de Mamanguape apresentam
percentuais de crescimento médio inferiores a média apresentada pelo Estado.
Pode inferir que existe de maneira geral uma tendência a desaceleração no
crescimento populacional no Estados brasileiros, constatada no último censo
divulgado pelo IBGE, em 2000.Porém, os ritmos apresentados pelas unidades da
federação e dentro de seus municípios são variados. Este comportamento
demográfico também pode ser constatado no âmbito dos municípios analisados.
Esta tendência municipal colocou o Estado da Paraíba na posição de menor índice
de crescimento vegetativo anual entre os estados nordestinos.
71
A análise da variável grau de urbanização dos municípios da área do
vale médio inferior do rio Mamanguape reflete a base produtiva dos municípios,
com forte participação do setor primário na economia e suas vinculações com a
economia estadual.
Verifica-se, portanto que os municípios de Capim (87,5%) e
Mamanguape (71%), estão dentro da média estadual e os demais apresentam uma
população predominantemente rural, sendo os municípios de Cuité de
Mamanguape (24,8%) e Curral de Cima (8,3%), são os que apresentam menor
grau de urbanização. Talvez a explicação para este fato esteja na marcante
presença das atividades agrícolas desenvolvidas no espaço municipal, a carência e
até ausência de serviços urbanos, baixa oferta de empregos, carência habitacional
e o próprio custo da vida urbana. Estas limitações apresentadas pela condição do
espaço urbano municipal colocam-se como incapazes de propiciar a geração de
uma condição de vida minimamente satisfatória, o que explicaria a permanência de
um contigente significativo da população no meio rural.
Verifica-se ainda pelos dados levantados no censo (IBGE,2000), que os
municípios no seu conjunto têm uma população de urbana de 18.631 e uma rural
de 22.202 habitantes, mostrando no âmbito geral um certo equilíbrio por parte dos
municípios analisados(Quadro 01). Os dados do censo de 2000 sugerem que os
municípios com maior grau de urbanização, a exemplo de Capim e Mamanguape,
tenha sido motivado pelas migrações do campo para os centros urbanos. Este fato
decorre do próprio desequilíbrio econômico regional, onde o homem do campo,
premido pela concentração da terra, mecanização agrícola, falta de apoio
financeiro, tecnológico e serviços sociais, desloca-se para um centro urbano, em
busca de melhores condições de vida. Além do fato da concentração de capital ser
mais intensa nas áreas urbanas do que nas rurais, deve-se levar em conta que a
modernização da agricultura normalmente resulta na redução do fator trabalho.
Estas migrações têm resultado numa diminuição generalizada da qualidade de vida
dos centros urbanos e dos próprios migrantes, que normalmente ocupam as áreas
periféricas das cidades desprovidas de mínimos serviços e equipamentos urbanos.
72
Quadro 01 - Alguns indicadores de pobreza (em %) da população nos municípios do vale
médio inferior do rio Mamanguape 2000
INDICADORES
Município
s
Indigência Pobres Crianças
indigentes
Crianças
pobres
Intensidade
da pobreza
Esperança
devida
(anos)
Rend.
percapita
(R$)
Grau de
alfabetiza
ção
(%)
IDH
Média
Capim 44.78 73.98 53.99 87.70 56.22 48.0 65.19
48.0 0.519
Cuité de
Mamanguape
45.43 73.68 58.11 85.17 59.04 54.1 68.64
54.1 0.543
Curral de
Cima
54.18 80.29 68.85 90.87 61.05 49.1 51.59
49.1 0.508
Itapororoca 42.03 70.27 56.57 83.79 55.18 54.3 83.05
54.3 0.573
Mamanguape 31.25 65.17 41.72 76.60 47.91 64.0 99.26
64.0 0.581
Fonte: IDEME - 2000.
A análise dos dados do quadro 03 trás alguns indicadores que
estabelecem ou servem para aferir as condições de vida da população dos
municípios. Estes indicam uma situação geral de grandes desigualdades sociais,
traduzidos pelos dados de indigência, pobreza e intensidade da pobreza.
No início da década de 1990, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), divulgou um indicador que atualmente serve de
referência para estudos comparativos das condições de vida das populações do
mundo. Trata-se do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Este índice é
construído com base em três grandes indicadores, expectativa de vida ao nascer,
nível de instrução (taxas de alfabetização e de escolaridade e PIB per capita) da
população. A expectativa de vida é um dos principais indicadores vitais,
reveladores das condições de vida de uma população. Quando se observa este
indicador nos municípios da área pesquisada, eles mostram valores muito críticos,
refletindo uma população com um padrão subalimentação, precárias condições de
acesso a serviço médico e de infra-estrutura sanitária.
Um outro indicador no quadro acima exposto também ajuda a explicar
esta pouca longevidade da população, que é a sua baixa renda per capita, que
determina um baixo padrão de consumo que atendam as necessidade básicas da
maioria da população. E por último, os dados traduzem um elevado percentual da
população excluída do acesso a educação formal, o que ajuda a compor um
quadro social dramático sem perspectivas de solução a médio curto prazo. Neste
sentido, os índices de IDH apresentado pelos municípios apenas confirmam uma
posição incomoda, que aponta para uma necessidade urgente de políticas públicas
de inclusão social, que passa por distribuição da riqueza e a viabilização de acesso
73
da população mais pobre a serviços essenciais como saúde, educação e infra-
estrutura sanitária.
A avaliação do quadro socioeconômico dos municípios se traduz por
uma população economicamente ativa subempregada ou exercendo atividades de
baixo rendimento, o que resulta na percepção de salários muito aquém do
necessário para custear as necessidades mínimas exigidas por um padrão digno
de sobrevivência. Esta situação tem como causa principal o processo de
desenvolvimento e reprodução do capitalismo em escala local, que no seu avanço
vai tecendo e redefinindo as relações econômicas e sociais de marginalização e
segregação de uma boa parte da sociedade.
4.2.3. A evolução dos sistemas de uso da terra e a organização do espaço
(1975-2001)
Para a análise dos sistemas de uso da terra da área pesquisada, foram
levadas em consideração as características e dinâmica das atividades primárias
ligadas à agricultura, a pecuária e as atividades agrícolas de subsistência familiar.
Em seus aspectos mais gerais foram analisadas as práticas agrícolas e as relações
sociais de trabalho. Os sistemas de uso da terra foram analisados de acordo com
os padrões de uso atual, correspondendo ao período 1975-2001.
Esta delimitação temporal teve sua escolha respaldada no fato de que
este período compreende a fase mais dinâmica do processo de expansão da
agroindústria nos municípios litorâneos, motivado pela implantação do
PROÁCOOL, com reflexos intensos nas relações sociais de trabalho e no equilíbrio
ecológico desta área, responsável pela elaboração de novas paisagens.
Na área do vale médio inferior do rio Mamanguape, pôde-se identificar
dois tipos de sistemas de uso da terra: tradicional ou familiar e o agro-industrial.
O sistema tradicional encontra-se disperso pela área de estudo, onde os
agricultores cultivam usualmente em pequenas propriedades, a fim de retirar delas
sua subsistência e quando ocorre o excesso desta pequena produção, esta é
74
negociada nas feiras livres pelo próprio agricultor, ou através de intermediários. A
mão-de-obra predominante é a familiar e raramente ocorre contratação de mão-de-
obra temporária.
O sistema agrícola da agro-indústria, representado principalmente pela
cultura da cana-de-açúcar e em menor escala o abacaxi, são praticados por
grandes proprietários que controlam a terra, na forma de extensos latifúndios.
Estes introduziram técnicas modernas como a mecanização da produção, uso
intensivo de insumos agrícolas, o cultivo com espécies adaptadas à região. A mão-
de-obra é predominantemente assalariada, seja dos trabalhadores residentes nas
terras do próprio estabelecimento agroindustrial, ou aqueles contratados
esporadicamente pelo proprietário da terra.
Os sistemas tradicionais, que ocupam o setor mais a oeste da área, é
representado pela pequena agricultura de subsistência, que cultivam feijão, milho,
mandioca, inhame, fava, batata-doce e fruticultura, as pequenas atividades
criatórias e plantadores de abacaxi, (Tabela 01). Usualmente estas culturas
utilizam práticas rudimentares e são desenvolvidas por pequenos agricultores no
sistema de pequenas propriedades. Estas práticas se caracterizam inicialmente
pelo desmatamento e queimada da vegetação e o cultivo é feito geralmente sem
emprego de técnicas agrícolas, com a exploração contínua do solo.
Neste sistema como foi mencionada anteriormente inseri-se também as
atividades criatórias (bovinos, caprinos, muares, eqüinos e ovinos), que têm um
efetivo de cabeças expressivo, ocupando um espaço significativo na área da
pesquisa. Entre os rebanhos mais representativos na área temos no ano de 2000,
temos os bovinos, caprinos e ovinos, com maior concentração nos municípios de
Mamanguape, Itapororoca e Capim.
Depois da agro-indústria, a pecuária pode ser considerada a atividade
econômica mais importante para o desenvolvimento municipal. Esta se apresenta
como uma pecuária semi-extensiva, caracterizada por espécies mestiças de baixa
qualidade genética bem adaptadas à região.
75
Tabela 04: Evolução do efetivo dos rebanhos (cabeças) em alguns municípios do vale
médio inferior do rio Mamanguape - 1992/2000
ESTADO
MUNICÍPIOS
ANOS
1991
2000
Bovinos
Equino
Muares
Ovinos
Caprinos
Bovinos
Equino
Muares
Ovinos
Caprinos
PARAÍBA
1.319.682 73.802 47.268 387.894
525.735 1.303.01
50.658 23.242 373.81
414.151
MUNICÍPIOS
MAMANGUAPE 17.841 593 386 1.712 2.993 5.142 164 16 105 -
CAPIM* - - - - - 2.785 82 08 - 59
ITAPOROROCA 9.744 512 85 584 726 5.000 200 55 - 250
CUITÉ DE
MAMANGUAPE*
- - - - - 2.650 79 629 62 -
CURRAL DE
CIMA*
- - - - - 2.750 80 07 - 48
Fonte: Anuário Estatístico do IDEME (2003).
* neste período os municípios não existiam como unidades políticas administrativa
Com base nos dados dos censos (1991-2000), constata-se uma
diminuição significativa dos rebanhos nos municípios considerados, sendo mais
expressiva a redução nos municípios de Mamanguape e Itapororoca. Este fato
pode está associado a expansão da cana-de-açúcar e do abacaxi, que são
atividades mais rentáveis por ter mercado consumidor assegurado. Mas também
este decréscimo pode está ligado a falta de apoio creditício governamental,
assistência técnica, principalmente aos pequenos e médios produtores, resultando
assim numa baixa produtividade.
No geral os rebanhos geralmente são compostos por animais com
pouco ou sem nenhum melhoramento genético, e se desenvolvem em pequenas e
médias propriedades. As práticas utilizadas são precárias, sobretudo devido á falta
de uma assistência técnica adequada e, também a falta de um manejo de
pastagens que favoreça uma alimentação satisfatória aos animais. Esses dois
fatores, somados ao baixo padrão genético dos rebanhos, resultam numa baixa
produtividade que torna esta atividade economicamente quase viável.
Os rebanhos de eqüinos e muares, devido à sua pouca expressividade
na economia municipal, não foram analisados neste trabalho.
76
Por fim, constata-se que o processo de ocupação do solo da área de
estudo apresenta aspectos contrastantes na sua forma de organização, ocorrendo
em um mesmo espaço a existência de atividades com características tecnológicas
e relações de trabalho essencialmente capitalistas modernas, a exemplo da cana-
de-açúcar, diferentemente as atividades agrícolas de subsistência, empregam
técnicas tradicionais e a mão-de-obra predominantemente familiar. Esta última, ao
longo do tempo sofreu um processo drástico de retração de sua área plantada,
devido a forte expansão da cana-de-açúcar na área.
77
5. A ESTRUTURA DO MEIO FÍSICO NATURAL E O POTENCIAL ABIÓTICO E
BIÓTICO
5.1. OS CONDICIONANTES ABIÓTICOS
5.1.1.O clima e seus condicionantes
Os estudos e os diversos conhecimentos sobre o meio ambiente de uma
área constituem alicerces básicos para a compreensão da sua diversidade
ecológica, que deverá nortear de forma sistemática o planejamento das atividades
de desenvolvimento socioeconômico. Portanto, resgatar e ordenar os dados e
informações das pesquisas realizadas nas diferentes áreas do conhecimento, que
aborda a questão climática é de capital importância. Neste particular uma análise
detalhada das condições climáticas na sua interação com os demais elementos do
meio ambiente, assumem uma importância bastante significativa.
Existe uma certa idéia consensual entre os especialistas ligados às
ciências naturais e humanas, que os fenômenos climáticos influenciam as
condições de desenvolvimento das atividades humanas. Dito de uma outra forma
existe uma forte interdependência entre o clima com os fatores sócio-ambientais.
Para abordar o clima da área pesquisada, que está incluída num espaço
mais restrito do que o espaço da bacia do rio Mamanguape é necessário que se
tenha cuidado com a ordem de grandeza a qual ele está vinculado, que é a escala
do clima local.
A fim de se proceder a uma análise mais acurada do clima local, seriam
necessários dados obtidos em uma ampla rede de estações meteorológicas,
situadas em diversos pontos da área segundo diferentes topografias. Para a
análise dos aspectos climáticos da área de estudo foram utilizados os registros
climáticos da SUDENE (1990), RADAMBRASIL (1981), DNOCS (1971), e o Atlas
Climatológico da Paraíba (1987).
78
Portanto, tentou-se apresentar uma classificação do clima local baseada
nos dados disponíveis, embora sabendo que estes são insuficientes para uma
abordagem climática mais completa. Outrossim, optou-se para as classificações
climáticas de THORNTHWAITE (1948) e de BAGNOULS & GAUSSEN (1955), em
vez da classificação de KÖPPEN (1918), por serem mais próximas da realidade
considerada.
O clima corresponde ao “conjunto de condições meteorológicas
(temperatura, pressão, ventos, umidade e chuvas) características de estado médio
da atmosfera em um ponto da superfície terrestre “(Novo Aurélio, 1999 p.486).
O estudo sobre as condições climáticas de uma determinada área deve-
se apoiar na síntese dos elementos atmosféricos em constante interação entre si e
os demais elementos do meio ambiente. As suas características regionais esta
ligadas diretamente à atuação dos sistemas de circulação atmosférica, associados
aos demais elementos da paisagem geográfica. Portanto, o seu o estudo deve
envolver a análise que o mesmo exerce, de forma direta ou indireta sobre o
comportamento dinâmico da paisagem e sobre as atividades humanas.
A hierarquização dos fenômenos atmosféricos permite estudar o clima,
de acordo com um sistema de espaços encaixados em quatro níveis, desde os
climas com ampla extensão espacial (zonal, e regional) até os climas de uma área
mais restrita (mesoclimas, climas locais e microclimas).(MELO, 2001 p. 23).
Na análise dos condicionantes climáticos o destaque foi dado ao
comportamento dos elementos climáticos, como temperatura, precipitações e
umidade, conhecendo a sua distribuição espacial e temporal, que é indispensável
aos estudos de organização do espaço e a identificação de unidades geo-
ecológicas, no que diz respeito a certas limitações morfodinâmicas, edáficas e
hídricas.
Um dos fatores climáticos importante na compreensão das variações dos
elementos climáticos da área são os sistemas de circulação atmosférica e a
maritimidade, continentalidade que são fatores preponderantes para o entendimento
das diferenças nas condições de precipitação e temperatura da área.
Existem quatro sistemas de circulação atmosférica que, direta ou
indiretamente, se alternam sobre o Litoral paraibano e que influenciam nas
características dos elementos climáticos, que são: a Massa Equatorial Atlântica
79
(mEa), a Convergência Intertropical (CIT), os Alísios de sudeste e a Frente Polar
Atlântica (FPa).
Figura 07
Fonte: RADAMBRASIL,1981 apud MELO, 2001, p.61
As precipitações e a umidade são elementos climáticos de grande
significância, pois apresentam uma certa variação quantitativa, portanto da maior
importância, vez que as características da cobertura vegetal e dos solos vão refletir
as suas variações. Estas, aliadas à insolação, a pluviosidade e a evapotranspiração
repercutem em muitos aspectos ecológicos importantes como, por exemplo, na
fisionomia da vegetação e em determinados problemas pedogenéticos -
compactação das camadas superficiais, aumento da energia erosiva do escoamento
superficial, entre outros. Outros elementos, como a natureza do material geológico e
a geomorfologia da área, também sofre influências destes fenômenos.
A análise sobre o comportamento das precipitações na área de estudo,
demonstra que “os totais pluviométricos mais significativos, são de 1800 a 1200 mm
anuais” (RADAMBRASIL, 1981).
Os setores abrangidos pelas isoietas 1200 a 1400 mm anuais podem ser
caracterizados, climaticamente, como de transição do clima quente úmido litorâneo
80
para o subúmido do agreste. Portanto, a maior parte da área é abrangida pela
isoieta de 1400 mm anuais, que para leste, define o domínio do clima quente úmido
litorâneo, com regime pluviométrico caracterizado por precipitação abundante e
bem distribuída, com uma estação chuvosa bem marcada de maior precipitação,
que são os meses de maio, junho e julho.
A distribuição máxima das chuvas está na dependência do grau de
participação dos sistemas de circulação secundária representados pela
Convergência Intertropical, ondas de Leste e Frente Polar Atlântica (NIMER, 1979).
Para entender melhor a relação clima vegetação, pode-se recorrer à
classificação climática de BAGNOULS & GAUSSEN (1957), adaptada por GALVÃO
(1967).Esta classificação permite o estabelecimento de um novo modelo climático, o
Bioclima. Este modelo toma por base a interpretação da relação clima-vegetação; é
como se fosse uma resposta fisiológica dada pelas plantas ao número teórico de
dias com deficiência hídrica, em relação à temperatura (RADAMBRASIL, op. cit.
p.525).
Esta classificação baseia-se nos seguintes aspectos climáticos: ritmo
das temperaturas e das chuvas durante o ano, por meio das médias mensais e
considerando os períodos favoráveis e desfavoráveis à vegetação (secos e úmidos
ou quentes e frios), e a determinação dos meses secos e índice xerotérmico.
Por período seco deve-se entender "a sucessão de meses secos e o
índice xerotérmico indica o número de dias ecologicamente secos durante o
período seco" (SUDENE, 1972). Tomando como parâmetro esta classificação, a
área de estudo encontra-se submetida a ação de dois bioclimas, o Nordestino sub-
seco (3dTh) mais a leste, com estação seca curta de um a três meses e índice
xerotérmico de quarenta dias ecologicamente secos e o Nordestino de seca
moderada(3cTh), situado mais a oeste da área, com um período seco de 4 a 5
meses .
Na área de estudo estes domínios bioclimáticos encontra-se
relacionados as associações de Argissolos distróficos e eutróficos, Neossolos e
Espodssolos hidromóficos.
Sobre as condições fitofisionômicas da paisagem, os autores advertem
para o fato de que se encontrar diferenças sob um mesmo bioclima não deve causar
estranheza, pois atualmente a ação predatória do homem modificou a relação clima-
81
vegetação. Portanto, as aparentes disparidades que surgirem na relação clima-
vegetação são explicadas pela intensidade antrópica, ou pode está relacionada a
uma herança paleoclimática.
Os diversos fatores do meio geográfico são imprescindíveis para analisar
as condições de variação da temperatura. Portanto, a área de estudo que é um
pequeno recorte espacial do espaço paraibano e tem suas condições térmicas
controladas principalmente pela latitude, continentalidade e maritimidade. Este
último pela ação dos alísios, onde a média térmica é de 25ºC.
Figura 08
Fonte: Projeto vale do Jaguaribe, 2001 p 48.
As temperaturas mais amenas na área, com médias mínimas anuais em
torno dos 24ºC, pelo resfriamento provocado pela Frente Polar Atlântica coincide
com o período da estação chuvosa, nos meses de maio, junho e julho. O restante
dos meses do ano são os de temperatura mais elevada, particularmente dezembro,
janeiro e fevereiro.
82
As condições da temperatura demonstram que o regime térmico na área
de estudo sofre uma variação temporal e espacial. Ou seja, ocorre uma oscilação
térmica de 3º C no tocante ao período das duas estações inverno (24ºC) e verão
(28ºC). Porém, a variação espacial ocorre no sentido leste/oeste, dada à inserção da
área de estudo dentro do domínio climático Tropical quente úmido litorâneo e
subumido de agreste.
No geral as temperaturas médias anuais são elevadas, devido à ação da
tropicalidade, com forte insolação e evaporação.
A umidade relativa apresenta um comportamento espacial bastante
distinto, sendo maior nas proximidades do mar, com diminuição gradativa para o
interior da área. Assim o Atlas Climatológico da Paraíba (1985), revela que a
“umidade apresenta índices mais elevados no setor mais a leste da área (80 a
85%)”. Este fato é explicado pela média térmica de 26ºC, que provoca forte
evaporação e ação constante dos alísios.
Esta umidade relativamente mais elevada no setor mais a leste da área,
resulta da combinação entre a forte evaporação e a inversão da camada superior
dos alísios que acentuam a tensão do vapor d’água. Esse quadro geral apresenta,
no entanto, variações, durante os meses de inverno, quando os índices se elevam
e sofrem uma descendência durante a estação seca.
Um outro parâmetro importante para avaliação das condições climáticas,
são os dados do balanço hídrico, que buscam estabelecer uma relação entre as
necessidades de água para as plantas e suas relações com a pluviosidade. O
método desenvolvido por THORNTHWATE (1948), tem sido muito aplicado,
principalmente em estudos agronômicos em todo o Brasil.
Assim podemos entender por balanço hídrico como,
um método contábil da água disponível no solo, no qual os créditos são representados
pelas chuvas e os débitos pelos processos responsáveis pela evapotranspiração, ou
seja, a quantidade de água que se evapora na atmosfera, quer seja por evaporação da
água líquida (água livre ou água do solo) ou pela transpiração da biomassa
(BELTRANDO & CHEMERY, 1995).
Observando os dados do quadro 03, pode-se constatar que a correlação
entre a variável temperatura média anual e a evapotranspiração potencial revela
índices bastante elevados nos municípios considerados.
83
O item balanço hídrico aqui abordado apresenta um confiabilidade baixa
de seus resultados, devido a indisponibilidade de dados sobre todos os municípios
que apresentam parcialmente inseridos na área de estudo. Portanto, os resultados
aqui apresentados fornecem uma idéia mais geral sobre o comportamento deste
elemento.
Os dados do balanço hídrico que fornece uma estimativa dos valores
mensais e anuais da evapotranspiração potencial e real, deficiência e número de
meses com deficiência hídrica e excedente e número de meses com excedente
hídrico serviu de base para a determinação do clima da área do vale médio inferior
do rio Mamanguape, que é bem mais apropriado que a classificação proposta por
de W. KOPPEN, se adequando melhor a extensão espacial da área.
Quadro 02: Dados Climáticos por Estação Meteorológica PB
Evapotranspiração
Excedente
Estações
Pluv. Total
Média Anual
(mm)
Temp. Total
Média (cº) Potencial
(ETP)
Real
(ETR)
Total
(mm)
Distribuição
(Meses)
Jacaraú 157 25.0 1.407 1.030 127 Junho Agosto
Mamanguape 1.557 25.4 1.467 1.155 402 Maio Junho
Araçagi 923 24.9 1.364 881 42 Julho
Sapé 983 25.0 1.394 932 51 Junho - Julho
ETP - Indica a quantidade, teoricamente necessária, de água no solo para que a planta
mantenha-se verde e turgescente o ano inteiro, desempenhando suas funções biológicas a
contento.
ETR corresponde à quantidade de água que, nas condições reais, se evapora do solo e
transpira das plantas.
EHT indica o potencial de água disponível às plantas, ao escoamento superficial e ao
armazenamento nos aqüíferos.
DH é a quantidade de água precipitada que não é absorvida pelo solo e não é
evapotranspirada, incorporando-se à rede de drenagem superficial ou aos aqüíferos
subterrâneos
Avaliar as condições climáticas de uma área relativamente pequena,
muitas vezes torna-se uma tarefa com certo grau de dificuldade pela
indisponibilidade de dados decorrente da falta de implantação de maior número
de posto pluviométricos nos municípios. Diante desta dificuldade, muitas vezes os
estudos recorrem às informações climáticas mais gerais e a sua caracterização
torna-se muito genérica.
Assim, procurado avaliar as condições climáticas da área recorreu-se
aos dados do balanço hídrico do município de Mamanguape, que foram obtidos
84
dos Dados Climáticos do Brasil - Paraíba (UFPA 2004). Estes dados estão
representados no quadro a seguir:
Quadro 03: Dados do balanço hídrico do município de Mamanguape.
Município: Mamanguape PB
Latitude: 6,83 N Longitude: 35,11 E Altitude: 54m Período: 1911-1990
Mês T ( ºc ) PTA
(mm )
ETP
(mm)
ARM
( mm )
ETR
( mm )
DEF
( mm )
EXC
( mm )
Jan
26,4
77
139
2
79
60
0
Fev 26,5 100 130 1 100 30 0
Mar 26,3 183 139 45 139 0 0
Abr 25,8 208 124 100 124 0 30
Mai 25,2 230 116 100 116 0 114
Jun 24,2 249 97 100 97 0 152
Jul 23,6 181 92 100 92 0 89
Ago 23,8 96 96 100 96 0 0
Set 24,5 47 103 57 90 13 0
Out 25,4 26 122 22 61 62 0
Nov 25,9 32 128 8 45 83 0
Dez 26,3 45 141 3 50 91 0
TOTAIS 303,9 1.471 1.427 638 1.088 340 384
MÉDIAS
25,3
123
119
53
91
28
32
Fonte: UFPA, 2004.
Os dados acima que representam o balanço hídrico de Mamanguape,
através da correlação entre os dados médios de precipitações pluviométrica (PTA)
e da evapotranspiração potencial real (ETP), indicam as formas de disponibilidade
hídrica e servem para indicar o tipo de clima, que é tropical quente úmido com
estação seca moderada.
No que concerne à determinação da deficiência hídrica anual no
município considerado, a mesma alcança valor de 340 mm, sendo este em termos
médios, o volume de água que falta no solo e o número de meses, em que há
deficiência hídrica, que é representativo ao longo dos meses de novembro a
janeiro.
85
Quanto à evapotranspiração potencial (ETP), que é o índice usado para
indicar a necessidade de água por unidade de área, isto é, a água teoricamente
necessária para manter a vegetação verde o ano inteiro, no município é de 1.427
mm. E a evapotranspiração real (ETR), que é a quantidade de água que, nas
condições reais é evaporada do solo e transpirada pelas plantas, apresenta alto
índice, que é de 1.088 mm.
O excedente hídrico, que representa o volume de água que não é
incorporado ao solo no decorrer de um ano, por este se encontrar saturado, no
município considerado é de 384 mm. O número de meses com excedente hídrico (
abril a agosto), indica o período durante o qual esse volume de água perdura no
solo.
5.1.2. As condições litológicas
A interpretação dos tipos litológicos da área do vale médio inferior do rio
Mamanguape, demonstra que ocorrem variações em relação às formações
geológicas mais representativas presentes na área de estudo. A sua interpretação
é essencial para que se possa ter uma melhor compreensão da ecodinâmica, que
tem como aporte, a análise dos aspectos que envolvem a interpretação das
características de como se desenvolveram os solos a estrutura e o modelado,
neste último deve-se buscar entender as relações entre a morfogênese e a
pedogênese.
A análise do mapa geológico na figura 08 demonstra que a área do vale
médio inferior do rio Mamanguape apresenta-se sobre três domínios ou conjuntos
litológicos principais: 1.O escudo pré-cambriano na porção mais oeste da área, que
são os terrenos cristalinos de idade antiga, representada pelas rochas intrusivas.
2.Os sedimentos Cenozóicos da Formação Barreiras, de idade Terciária e
Quaternária (Plio-pleistoceno).3.As coberturas elúvio-coluviais do Quaternário
(Holoceno), que estão restritos às planícies aluviais.
Para um melhor entendimento da natureza e características dos tipos
litológicos da área da pesquisa, faz-se necessário uma explanação individualizada
86
de cada tipo litológico da área. Dito isto, é oportuno frisar que, em vários momentos
algumas explicações extrapolaram os limites da área da pesquisa, no sentido de
assegurar a confiabilidade das informações levantadas, pois as estruturas
geológicas se manifestam quase sempre como um contínuo, não estando
circunscritas necessariamente aos limites da área delimitada pela pesquisa.
Na área em estudo o escudo Précambriano corresponde às rochas
metamórficas e magmáticas, representadas por granitos, granodioritos, micaxistos
e gnaisses. Topograficamente, apresentam-se como pequenas vertentes de formas
arredondadas, recobertos por uma fina capa de sedimentos da Formação
Barreiras. Ou então, podem também podem ser visualizados na forma de
pequenos afloramentos expostos em alguns setores da várzea do rio Mamanguape
e de alguns de seus afluentes.
A presença das formações rochosas intrusivas graníticas encontra-se a
oeste e a nordeste do município de Mamanguape sob a forma de afloramentos de
dimensões consideráveis.
Os afloramentos de maior magnitude encontram-se sendo explorados,
resultando na produção de material empregado na indústria da construção civil, na
extração de brita, pedra granítica para fundação, pequenos blocos para
pavimentação, etc.
Compondo o arcabouço geológico principal da área pesquisada, estão
os depósitos sedimentares da Formação Barreiras. Estes são sedimentos
terrígenos costeiros e sub-costeiros, onde são modelados os baixos planaltos
mesitiformes, denominados regionalmente por tabuleiros.,
Quadro 04: Lito-estratigrafia da área do vale médio inferior do rio Mamanguape
Quaternário
Holoceno/Pleistoceno
Sedimentos aluviais e colúviais.
Terciário/
Quaternário
Plio-Pleistoceno
Formação Barreiras arenitos, argilitos, siltitos,
variegados com níveis caulínicos e
conglomeráticos grosseiros e fragmentos de
couraça laterítica.
Rochas metamórficas - gnaisses, micaxistos,
migmatitos
Pré-cambriano
Indiviso
Formações rochosas intrusivas - granitos e
granodioritos
Fonte: Projeto Vale do Jaguaribe (2003, p.41) e modificado por ALVES (2005)
87
A Formação Barreiras é litologicamente representada por sedimentos
areno-argilosos, com intercalações siltícas e conglomeráticas, com coloração
variada, com tons avermelhados até esbranquiçados. Em geral são pouco
consolidados e afossilíferos, apresentando uma estratigrafia incipiente e mostrando
uma alternância de leitos litológicos variados.
Na composição da sua estratigrafia, verifica-se uma variação na proporção areia/argila,
“ocorrendo em alguns pontos do pacote sedimentar níveis argilosos, que funcionam
como camadas confinantes, alterando profundamente o fluxo de água em
subsuperfície, provocando a formação de aqüíferos suspensos de pequeno porte”
(RADAMBRASIL, 1981, p.262).
Os sedimentos da Formação Barreiras estão assentados em
discordância erosiva sobre as rochas do Pré-cambriano Indiviso. Tais depósitos
sedimentares, estudados especialmente em outras áreas do Nordeste do Brasil,
sofreram denominações diversas. OLIVEIRA e LEONARDOS (1943), propuseram
a termo Série Barreiras, enquanto OLIVEIRA e RAMOS (1956), KEGEL (1957),
falaram em Formação Barreiras. BIGARELLA e ANDRADE (1964) criticaram a
designação Série, afirmando da impropriedade do termo Série Barreiras, por não
se tratar de unidades lito-cronológicas. Da mesma forma, questionaram a
inadequabilidade do termo Formação Barreiras, em virtude da acentuada
heterogeneidade litológica e faciológica.
Mas foi BRANNER (1902) que pela primeira vez denominou de
“Barreiras” os sedimentos clásticos, de natureza variegada com variação de argilas
e conglomerados ocorrentes no litoral brasileiro (RADAMBRASIL, p.157).
SOUZA (1975), analisando a geomorfologia do vale do Choró-CE, afirma
que, do ponto de vista geomorfológico, os sedimentos do Grupo Barreiras
representam uma superfície de agradação, mergulha em direção a costa. O autor
afirma ainda que estes sedimentos comportam-se como vastos glacis de
acumulação, ou uma extensa superfície de relevos rebaixados e tabuliformes,
formando os tabuleiros litorâneos e sub-litorâneos.
Não se constitui propósito desta pesquisa se ater a análise de qual seria
a terminologia mais adequada para designar estes sedimentos. Deste modo,
devido o uso mais comum na literatura geocientífica especializada da expressão
Formação Barreiras, passa-se a adotá-la nesta pesquisa.
88
Segundo MABESOONE et al. (1991, p.29) a interpretação geológica
desta formação sempre foi cercada de muitas controvérsias, devido a
complexidade dos processos que lhe deram origem, bem como a sua interpretação
litoestratrigráfica. Isto tem levado a conclusões muitas vezes bastante conflituosas.
Na área do litoral paraibano, quando os baixos planaltos costeiros vão
se afastando da linha de costa em direção oeste, seu pacote sedimentar sofre uma
elevação, atingindo uma altitude em torno de 100 metros, no geral. Porém, já nos
seus limites com a Depressão Sublitorânea aparecem setores cujas altitudes
alcançam 200 metros, a exemplo do município de Sapé.
Alguns autores atribuem a origem destes sedimentos a movimentos
tectônicos, especialmente abaulamentos e falhamentos, ocorridos sobre a
formação do relevo e aos diferentes paleoclimas a que foi sujeita a região,
ocorridos na Era Cenozóica.
Já MABESOONE et alii (1972) In: RADAMBRASIL (1985, p.158),
afirmam que, "tais depósitos se formaram a partir do retrabalhamento de extensas
capas lateríticas tropicais, desenvolvidas em ciclos sucessivos de relativa
estabilidade tectônica e climática, com clima semi-árido, em períodos da era
Cenozóica".
Estes sedimentos apresentam uma disposição estratigráfica quase
horizontal, “tabular”, e estende-se como uma faixa sedimentar quase contínua de
norte a sul por toda a faixa litorânea do estado. Esta continuidade é interrompida,
apenas quando o mesmo é cortado por vários vales fluviais, a exemplo do vale do
Mamanguape, entre outros.
Estes sedimentos são recortados por uma rede de vales, normalmente
apresentam “fundo chato”, cuja drenagem assume um certo paralelismo entre si,
separando a superfície dos tabuleiros em amplos interflúvios, com níveis de
dissecação diferenciados. Esta formação origina interflúvios, que estão a margem
direita do médio Mamanguape, onde são bem mais preservados em relação à
morfogênese do que os da margem esquerda, que apresentam superfícies semi-
colinosas rebaixadas, pela maior incisão dos processos da morfogênese sobre o
pacote sedimentar.
89
Estes sedimentos que modelam os planaltos costeiros apresentam ainda camadas com
suaves inclinações em direção ao mar, com sua monotonia topográfica comumente
quebrada por rios e riachos, que formam vertentes íngremes em alguns setores de
seus vales. “Seu contato com as rochas mais antigas é discordante, originado nítidas
escarpas” (RADAMBRASIL, 1981, p.158).
Delimitados pelas vertentes dos vales, as formações colúvio-aluvionares
dentro da área de estudo representam uma faixa regular de sedimentos que
preenchem o fundo dos vales do Mamanguape e de alguns dos seus tributários.
Ou seja, na planície fluvial, os sedimentos holocênicos arenosos apresentam esta
feição, cuja largura é variável em função de uma maior ou menor erosão lateral dos
sedimentos dos tabuleiros esculpidos em sedimentos mais antigos (Plio-
Pleistoceno), da Formação Barreiras.
A topografia desses sedimentos mostra-se relativamente plana, formando terraços ao
longo da várzea do rio, além de ocasionais patamares mais elevados, que constituem
os depósitos mais antigos. ”Esta unidade apresenta-se composta de areias finas a
grosseiras, incluindo cascalhos inconsolidados e argilas com matéria orgânica em
decomposição” (RADAMBRASIL, 1981,p. 261).
"Os depósitos colúvio-aluvionares possuem litologia e relevo, favoráveis
à infiltração e acumulação de água, aparecendo como opção de abastecimento
para as populações ribeirinhas, que exploram o aqüífero por meio de poços
amazonas" (RADAMBRASIL1981, p. 261).
90
91
5.1.3.As Associações pedológicas e suas características
Os aspectos litológicos anteriormente caracterizados constituem pré-
requisitos indispensáveis para o entendimento das características pedológicas,
pois representam o material de origem das associações de solos da área.
Os estudos ou levantamentos em escala grande sobre os solos do
Estado da Paraíba são ainda muito escassos. O que existe em termos de
conhecimentos mais sistematizados estão contidos no Levantamento Exploratório-
Reconhecimento de Solos do Estado da Paraíba SUDENE/MA (1972) e
Interpretação para Uso Agrícola dos Solos do Estado da Paraíba SUDENE/MA
(1972), RADAMBRASIL (1981) e os trabalhos de MELO (1988).
Estas publicações constituíram-se a principal ou única fonte de
elementos básicos sobre as classes de solos mais representativas do Estado,
atendendo a maioria dos trabalhos científicos mais específicos no âmbito da
ciência geográfica.
Nesta pesquisa foi realizada a caracterização das diversas associações
de solos, estabelecidas para os grandes compartimentos geomorfológicos,
procurando associar os tipos de solos com os padrões fitogeográficos, tendo em
vista o estreito relacionamento entre os mesmos.
Sobre a utilização destes estudos na pesquisa em questão, é oportuno
lembrar que apresentam caráter generalizado, devido à escala pequena do mapa,
limitando muito o grau de precisão de detalhes cartográficos e das manchas de
solos. Para aplicação de um estudo ecodinâmico exige-se trabalho de campo
acurado, com o propósito de suprir as lacunas apresentadas nos mapas.
Os diversos fatores pedogenéticos (clima, biota, relevo, geologia e
tempo), dão origem às combinações mais variáveis de solos, ensejando o
desenvolvimento de inúmeras unidades ou combinações de associações.
Sabendo que as rochas são as fontes de material originário dos solos,
que elas constituem importante fator de sua formação, a análise do mapa
geológico e o trabalho de campo permitiram realizar uma interpretação sobre as
correlações entre as unidades de solos mapeadas e o seu material originário.
92
O Pré-cambriano Indiviso é representado na área, conforme o mapa
litológico, por rochas metamóficas (gnaisses e migmatitos) e plutônicas ácidas
(granitos, granodioritos), ocorrendo na área na forma de afloramentos. Em grande
parte encontram-se recobertos pelos sedimentos da Formação Barreiras. Essas
rochas constituem material originário da classe de solo Podzólico Vermelho-
Amarelo Equivalente Eutrófico. E dada as suas boas propriedades edáficas são
intensamente utilizadas por atividades agrícolas, isto porque requer menor uso de
fertilizantes químicos. Esta classe encontra-se situada mais a oeste da área.
Estes solos encontram-se explorados em alguns setores por policultura
de subsistência, mas predomina o cultivo da cana-de-açúcar e, em menor
proporção são explorados com pastagens artificias. Em alguns setores desta
classe de solo, encontram-se ainda recobertos por pequenos núcleos
remanescentes da floresta ombrófila densa das terras baixas e floresta estacional
semidecidual e formações florestais secundárias(capoeiras) em diferentes estágios
de evolução.
Os sedimentos da Formação Barreiras são constituídos litologicamente
por sedimentos areno-argilosos, argilo-arenosos, arenosos, argilas de coloração
variegadas, intercaladas muitas vezes com camadas de seixos rolados e
concreções lateríticas. A medida que penetra para o interior, em até 40
quilômetros, tem sua espessura diminuída, até fazer contato o relevo cuestiformes
e o escudo aplainado sub-aflorante e aflorante da Depressão Sublitorânea.
Estes sedimentos constituem material originário das seguintes classes
de solos: Podzólico Vermelho Amarelo com fragipan textura média fase floresta
subperenifólia relevo plano e fase transição floresta subperenifólia/cerrado relevo
plano; Podzólico Vermelho Amarelo com fragipan textura indiscriminada fase
cerrado relevo plano; Podzólico Vermelho Amarelo com A proeminente abrúptico
com fragipan textura argilosa fase floresta subcaducufólia relevo plano; Podzol
Hidromórfico fase cerrado relevo plano; Areias Quartzozas Distrófica fase cerrado
relevo plano.
Os sedimentos referidos ao Holoceno correspondem na área de estudo
as formações sedimentares mais recentes, com uma estratigrafia em camadas, em
geral não consolidada de areia, argila, sobrepostas ou não com teores elevados de
matéria orgânica.
93
Procurando atualizar a nova nomenclatura para os solos do Brasil,
recorremos a classificação proposta pela EMBRAPA (1999).Estas formações
sedimentares constituem o material de origem dos Neossolos Aluviais. Este são
solos jovens de pouca profundidade e com elevada saturação de bases, o que lhe
confere o caráter eutrófico. São representados na área pelos Solos Aluviais
Eutróficos textura indiscriminada fase floresta perenifólia de várzea relevo plano e
Solos Gley Distrófico Iindiscriminado textura indiscriminada fase campos de várzea
e floresta perenifólia de várzea relevo plano, e onde os sedimentos são
essencialmente orgânicos encontram-se os Solos Orgânicos Iindiscriminados fase
campos de várzea relevo plano. As áreas mais representativas destes solos são as
planícies aluviais ou várzeas do rio Mamanguape em seu vale médio inferior e seus
tributários.
A classe dos Neossolos são considerados solos pouco desenvolvidos, e
são representados na área pelas classes dos solos Aluviais e Areias Quartzosas
Distróficas.
Os Aluviais são Eutróficos, integra o grupo dos solos formados a partir
de deposições de sedimentos fluviais não consolidados, de natureza e
granulometria muito variadas. Em função, principalmente, do material de origem, os
solos aluviais têm características morfológicas muito variáveis de local para local e
mesmo dentro de um determinado perfil.
Uma análise do perfil desta classe de solo atesta que as camadas
subjacentes ao horizonte A não guardam relações pedogenéticas entre si, variando
em sua composição granulometria e propriedades morfológicas.
Quanto á fertilidade natural, estes solos tem o seu caráter eutrófico
relacionado com a alta soma de bases trocáveis e alta saturação de bases, que
são propriedades agronômicas de grande importância para o desenvolvimento
agrícola.
A ocorrência dos solos aluviais são verificados nas várzeas dos
principais rios, sempre relacionados a relevo plano, a exemplo do rio Mamanguape.
Os estudos pedológicos demonstram que os solos variam regionalmente por causa
de diferenças em seus materiais de origem, condições bioclimáticas, relevo e
idade. Isso acarreta variações nas propriedades e características entre as classes
de solos e dentro de cada classe.
94
As areias quartzosas distróficas, estão relacionados às classes de relevo
plano e suave ondulado. As manchas mais representativas destes solos na área
estão situadas nos interflúvios do riacho Luis Dias, a margem esquerda do rio
Mamanguape, associadas com outras classes de solos ou formando uma unidade
isolada.
Compreendem solos de textura arenosos e profundos, excessivamente
drenados. Apresentam uma distribuição granulométrica que os enquadra nas
classes texturais areia e areia franca, e sequência de horizontes do tipo A-C-. Seu
perfil tem muito baixos teores de matéria orgânica e de nutrientes, ocorrendo
predominantemente o quartzo, tendo, portanto, muito baixa reserva mineral para as
plantas. Estes solos têm sérias limitações agrícolas por apresentarem uma baixa
fertilidade natural, resultante da deficiência em macro e micronutrientes e
suprimento de água. A sua exploração agrícola na área com a cana-de-açúcar só
foi possível devido ao emprego de fertilizantes químicos.
No setor dos Baixos Planaltos Costeiros ou tabuleiros, os solos mais
representativos espacialmente são as classes dos Luvissolos, que são solos ricos
em bases e apresenta um horizonte B textural, correspondendo aos Podzólicos
Vermelho-Amarelos Eutróficos e similares, e os Argissolos com horizonte B textural
e argila de atividade baixa, conhecidos anteriormente como Podzólico Vermelho-
Amarelo.
Os solos podzólicos vermelho amarelo na Paraíba, são comumente
distróficos. Na área em estudo são frequentes as classes acizentadas com fragipan
e com horizonte A proeminente abrúptico com fragipan.
Esses solos são desenvolvidos a partir de material ferralítico
representado pelos sedimentos da Formação Barreiras. No geral, esses
sedimentos formam camadas alternadamente argilosas e camadas mais arenosas,
indicando mudanças nos processos de deposição (SILVA, 1995 p.46).
O solo podzólico vermelho amarelo variação Acinzentada, ocupa as
partes um pouco mais planas do relevo dos tabuleiros, onde as altitudes estão
entre 50 e 100 metros. É recoberto por uma vegetação de estrato arbóreo-
arbustivo, do tipo cerrado aberto com substrato de gramíneas, em pequenas
touceiras esparsas, associadas a presença de ciperáceas e rubiáceas.
A principal limitação ao uso agrícola deste solo é a sua baixa fertilidade
natural, que está associada a intensa intemperização dos minerais primários,
95
requerendo assim, aplicações de fertilizantes através de adubações e calagens,
para que possam dar melhores repostas ás culturas que venham ser exploradas
nestas áreas. São frequentes também os problemas de aeração nos períodos mais
chuvosos e excessivo endurecimento nos meses secos, em decorrência do
fragipan.
Estes solos ostentam em alguns setores, alguns vestígios de cobertura
vegetal do tipo formação florestal secundárias estacional semidecidual em diversos
estágios de desenvolvimento, ocorrendo também às formações transicionais entre
a floresta e os cerrados.
Apesar da sua classe de uso agrícola ser restritiva, devido a sua baixa
fertilidade natural, são muito utilizados na produção de fruticulturas, culturas de
subsistência diversas, e culturas comerciais, como o abacaxi e cana-de-açúcar.
Os Espodossolos na área é representado pelo Podzol, que são solos
hidromórficos, com horizonte B espódico. Seus horizontes são bem diferenciados
com lenta permeabilidade, implicando em más condições de drenagem. São muito
arenosos, profundos, dependendo da espessura e da profundidade de um
horizonte endurecido (duripan), e são ácidos, com baixa saturação de bases e alta
saturação em alumínio. Sendo solos de fertilidade natural excessivamente baixa,
restringe o seu uso, que permite enquadrá-lo na classe dos solos de baixa aptidão
agrícola.
96
5.1.4.As unidades topomorfológicas: processos e formas
Para realizar o estudo Ecodinâmico da área do vale médio inferior do rio
Mamanguape, a partir da análise das suas condições geoambientais,
necessariamente deve-se procurar compreender as múltiplas relações que se
estabelecem entre os vários elementos do meio ambiente, que são diferenciados
sob os mais variados aspectos climáticos, pedológicos, geológicos,
geomorfológicos e fitogeográficos. É preciso delinear um procedimento
metodológico onde todos os aspectos e dados levantados possam ser
rigorosamente interpretados em uma perspectiva integrada em várias escalas de
compreensão.
A análise ecodinâmica remete necessariamente a temática
geomorfológica, e esta deve ser realizada em diferentes perspectivas de
abordagem. Em um primeiro momento, pode-se ter como objetivo o seu caráter
descritivo, circunscrito em termos da análise da paisagem, ou proceder a sua
análise com base nos fatores estruturais, climático evolutivo, entre outros. Estes
dois procedimentos, entretanto, não são excludentes, na verdade eles interagem e
se completam.
Nesse sentido, como esta pesquisa consiste em uma análise Geo-
ambiental na perspectiva Ecodinâmica, o detalhamento minucioso das unidades
geomorfologicas é imprescindível para alcançar os objetivos propostos. Portanto,
procurou-se não omitir fatos que possam ser indispensáveis ao melhor
entendimento do quadro geomorfológico da área e seus processos correlatos
atuantes. Desse modo, foi indispensável à caracterização dos aspectos estruturais,
97
climáticos e de modo especial, o caráter evolutivo, sem, contudo, omitir a
perspectiva ambiental, na qual está inserida a área pesquisada.
Um fato que se pode julgar também pertinente é fazer referência sobre a
evolução do relevo regional, onde se insere a área de estudo. Esta sondagem
torna-se imperativa quando se pretende elaborar a caracterização evolutiva do
relevo local. Portanto, as propostas de classificação da macro-divisão do relevo
paraibano, serviram como esteio, onde se passa a desenvolver a análise para
caracterização geomorfológica da área.
Delimitar e caracterizar as unidades geomorfológicas da área do vale
médio inferior do rio Mamanguape, torna-se necessário recorrer imperativamente,
aos conhecimentos ambientais diversos, atuais e pretéritos. Em muitos casos, a
explicitação de muitas das feições geomorfológicas atuais só poderão ser
interpretadas e esclarecidas com base em dados ambientais passados, ocorridos
tanto no espaço local investigado, como igualmente, o espaço regional.
Os estudos sobre os aspectos da geomorfologia estrutural e climática
abriram caminhos para as aplicações das pesquisas em geomorfologia, permitindo
conhecer melhor a gênese das formas do relevo e as suas aplicações nos estudos
sobre a questão ambiental.
Segundo ROSS (1990, p. 12), em seus estudos de geomorfologia
aplicada a questão do planejamento valoriza a idéia de que,
o entendimento do relevo passa, portanto pela compreensão de uma coisa maior que é
a paisagem como um todo. Não se pode entender a gênese e a dinâmica das formas
de relevo sem que se entendam os mecanismos motores de sua geração, sem que se
percebam as diferentes interferências dos demais componentes em uma determinada
Unidade de “Paisagem”.
Dentro dessa perspectiva fica evidente a importância do entendimento
da dinâmica das unidades de paisagem onde as formas do relevo se inserem como
um dos componentes de muita importância e torna-se necessário ainda, entender o
significado da aplicação dos conhecimentos geomorfológicos ao se implantar
qualquer atividade antrópica.
Para o propósito desta pesquisa, deve-se lembrar que, na verdade, o
relevo não é só a diferença de nível entre dois pontos. A sua interpretação não
deve restringir o seu conceito apenas elevação relativa entre dois pontos, os
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componentes formas ou classes de declividade e o grau de comprimento de rampa
e ainda, devem-se acrescentar, a análise dos elementos identificadores dos
padrões de organização dos processos morfogenéticos que comandam a dinâmica
evolutiva e suas conexões com os outros elementos da paisagem.
A gênese do relevo pertence as três formas seguintes: estruturais, erosivas e de
acumulação. Cada um destes grupos divide-se em subgrupos que têm como critério
diferenciador à forma de dissecação (convexas, aguçadas e interflúvios tabulares) e as
formas de acumulação (planícies inundáveis, marinhas, fluviomarinhas e fluviais)
(RADAMBRASIL, 1981 p.554).
Nos estudos voltados a geomorfologia aplicada, como de certa forma é a
tendência atual no Brasil em função da relevância que os estudos ambientais
assumiram nas últimas décadas, colocaram as contribuições de Tricart (1977),
como uma linha de investigação importante, isto por que, a mesma propõem que a
paisagem seja analisada pelo seu comportamento dinâmico, partindo da
identificação das unidades de paisagem que denomina de unidades ecodinâmicas.
“A unidade ecodinâmica se caracteriza por uma certa dinâmica do ambiente e tem
repercussões imperativas sobre as biocenoses” (TRICART, 1975). A
morfodinâmica, conforme acentua este autor, é o elemento determinante no
entendimento dos processos da morfogênese, e esses dependem, como foi
exposto anteriormente, do clima, relevo, material rochoso, solos, cobertura vegetal
entre outros.
Os pressupostos teóricos acima levantados, balisaram os procedimentos
adotados para estabelecer a compartimentação das unidades geomorfológicas da
área de estudo. Estas foram agrupadas de acordo com os critérios morfoestruturais
e gênese dos processos atuantes. A carta preliminar de declividade, que,
submetida a controle da carta planialtimétrica e ajuste de campo, fornecerão a
carta definitiva das unidades de relevo da área.
Corroboraram também, a análise e a interpretação das imagens de
satélite, através da sobreposição com a carta temática planialtimétrica,
possibilitando um melhor delineamento das unidades geomorfológicas, no que
concerne à definição dos meios ecodinâmicos.
As informações constantes nas cartas temáticas foram submetidas a
observações diretas na área de estudo, através do trabalho do campo, permitindo
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assim chegar mais objetivamente à delimitação e particularidades das feições e
processos atuantes em cada uma das unidades geomorfológicas da área.
Os Baixos Planaltos Sedimentares Costeiros ou tabuleiros são
constituídos geologicamente pelos sedimentos Plio-pleistocênicos da Formação
Barreiras. São sedimentos continentais, oriundos da deposição de sedimentos
areno-argilosos e argilo-arenosos, inconsolidados, com níveis conglomeráticos e
camadas variegadas.
Na deposição desses sedimentos intervieram processos de deslocamento de material
com registros de corridas de lama e de areias, ocasionando a existência de sedimentos
sem seleção. Esses sedimentos têm sua origem vinculada a movimentos tectônicos,
especialmente abaulamento e falhamentos e os diferentes paleoclimas a que foi sujeita
a região durante o Cenozóico (SILVA, 1995, p.44).
Morfologicamente, os tabuleiros são baixos planaltos estruturais ou
subestruturais formados por "um pacote heterogêneo de sedimentos areno-síltico-
argilosos, afossilíferos, pouco consolidados e fracamente selecionados,
apresentando estratificação incipiente e mostrando alternância de leitos
litologicamente variados e horizontes estratificados" (DANTAS et al. 1982, p.44).
Localmente os pacotes sedimentares onde estão estruturados os
tabuleiros costeiros, manifestam-se variações de direção e de mergulho que
ocorrem em compartimentos destacados pelos cursos da drenagem principais, que
desembocam no litoral norte do Estado.
Segundo TRICART (1979), citado por RADAMBRASIL (1981, p.332), “ao
analisar a fácies de dissecação é importante considerar o comportamento do
material litológico em face às manifestações dos processos morfodinâmicos”. Se o
fator litológico impõe variações, chamadas pelo autor de litovariantes, a força da
dissecação introduz outras, denominadas por este mesmo autor de topovariante.
Dessa forma é comum o relevo apresentar ora uma dissecação mais incipiente, ora
uma dissecação mais acentuada.
Conclui-se que a heterogeneidade na composição da litologia e a
tectônica colocam-se como dois dos principais fatores responsáveis pelos
diferentes graus de dissecação entre as diversas formações litoestratigráficas, e
muitas vezes dentro de uma mesma formação geológica.
100
Os Baixos Planaltos Costeiros é uma unidade geomorfológica muito
ampla, e apresenta feições e processos muito peculiares, daí para melhor
caracteriza-la, deve proceder a uma delimitação de suas subunidades, que formam
os subconjuntos geomorfológicos desta unidade, que são os interflúvios, as
vertentes e as várzeas ou planícies aluviais.
Os interflúvios dos Baixos Planaltos Costeiros são relativamente planos
e tabulares, e seus rebordos apresentam-se bastante dissecados por riachos
intermitentes muito encaixados, o que lhe confere um aspecto festonado nas suas
bordas. Este trabalho de dissecação fluvial denotada neste setor dos tabuleiros,
provavelmente está ligado à ação de paleoclimas, que comandaram a ação de uma
morfogênese mais agressiva do que a atual.
Na área de estudo, os interflúvios são seccionados pelo rio
Mamanguape e por uma rede de drenagem, com rios, com seus regimes oscilando
entre temporário e perene. As cabeceiras dos riachos formam anfiteatros e nichos,
cuja evolução se processa por erosão regressiva pelo escoamento pluvial,
acelerada pelos desmatamentos indiscriminados da cobertura vegetal (Figura 11).
Os interflúvios com topos mais ou menos diferente dos argilosos e
arenosos, correspondem a uma superfície aplainada ou moderadamente ondulada
que se apresentam sob a forma de painéis, limitados pela curva de nível de 70
metros.
As vertentes apresentam no geral forte declividade e possuem formas
diversificadas, isto é, convexas, longas ou curtas em função dos processos que as
elaboraram e da natureza do material originário. Em alguns setores elas são
abruptas, com forte ruptura de declive, sofrendo a ação mais incisiva do
escoamento em filete e concentrado. Em outros setores, apresenta-se em declive
mais suave em direção ás várzeas. Vertentes com estas características podem ser
identificadas nas margens direita do rio Mamanguape.
101
Figura 11: Superfície dos tabuleiros costeiros com relevo plano e suave ondulado submetido a
ações de desmatamento dinamizando a ação dos processos de dissecação nas encostas dos
pequenos vales e nos topos planos dos tabuleiros. Nascentes do riacho leitão.Fonte- o autor
De modo geral na área da pesquisa predominam no setor das rochas
cristalinas as vertentes do tipo convexo ou então vertente com convexidade somital
em rampas suaves ou retilíneas quando em sedimentos da Formação Barreiras.
Verifica-se nas vertentes da margem direita do Mamanguape, próximas aos riachos
Maíra, Vargem Comprida e Cafundó, a presença de vertentes em forte declividade
(abruptas), e um estreitamento da várzea do Mamanguape. Neste setor o processo
de erosão lateral do pacote sedimentar da Formação Barreiras foi bem menor do
que os observados na área mais a leste, em direção ao seu baixo curso.
Os pequenos vales como os do rio Seco, Mata Fome, Dias (margem
esquerda) e riacho Maíra, Cafundó e Vargem Comprida (margem direita), entre
outros de menor expressividade, são mais estreitos, inicialmente encaixados em
forma de “V”, que vão pouco a pouco se abrindo até unirem-se á várzea mais
ampla do rio Mamanguape.
Tanto a litologia quanto a tectônica representam fatores expressivos na conformação
dos vales, que por sua vez não se restringe apenas a receber as influências do rio que
escoa pelos mesmos, mas expressa influências provenientes das forças
morfogenéticas externas e internas. Toda a drenagem se aproveitou das lineações
estruturais como ponto de partida para os processos de incisão linear (SILVA, 1995
p.46).
102
Segundo ainda este autor (op.cit, p.46) “a subordinação dos cursos
d’água ás direções estruturais evidencia-se pelo arranjo quase paralelo observado
na maioria deles. Os vales parecem corredores isolados entre os quais não
existem praticamente ramificações, a não ser nas cabeceiras (influência do
escudo)”.
As várzeas ou planícies aluviais do vale médio inferior do rio
Mamanguape, são formadas pelos depósitos Quaternários arenosos, areno-
argilosos, argilosos, material orgânico, e cascalheiros, provenientes da
sedimentação fluvial, cujo poder de deposição está na dependência da capacidade
de transporte do sistema hidrográfico do Mamanguape, como rio principal, e de
seus tributários.
As várzeas correspondem aos terrenos baixos, mais ou menos planos e
com larguras variadas, onde são encontradas algumas formas decorrentes da ação
destrutiva e construtiva fluvial, tais como: “croas”, terraços fluviais, diques
marginais e bacias de decantação.
A várzea do rio Mamanguape no setor do seu vale médio inferior,
encontra-se delimitada pela curva de nível de 20 metros, representado por setores
mais elevados, não inundáveis, apresentando níveis de terraços e colinas
rebaixadas e dissecadas.
Segundo SILVA (op. cit, p.49), localizados em altitudes entre dois e 3 metros
acima do nível da planície de inundação, os baixos terraços aparecem de forma
descontínua, sob a forma de retalhos, as croas, ao longo do baixo vale se constituem
em nível intermediário entre a planície e os terraços intermediários em ambas às
margens da planície aluvial do Mamanguape.
Os terraços superiores que bordejam a calha aluvial apresentam sob a
forma de colinas rasas e desenvolvem-se de maneira mais ou menos contínua ao
longo da várzea, no contato desta com as vertentes dos planaltos costeiros.
Nesses terraços, verifica-se a maior densidade das instalações humanas que são:
vilas, povoados, Usina Monte Alegre, e o sítio urbano do município de
Mamanguape.
SILVA (op. cit), caracterizando a geomorfologia da várzea do
Mamanguape em seu baixo curso, faz referência aos terraços superiores, como
103
sendo cascalhentos, constituídos por seixos de quartzo com dimensões de até 20
cm, apresentando feições, ora achatadas, ora tendendo a esférica ou cilíndrica. O
autor os localizou na encosta sul do vale do Mamanguape, estendedo-se desde a
usina Monte Alegre até a aldeia de Pindobal.
De acordo ainda com SILVA (op. cit p.49) em ambos os lados da várzea
do Mamanguape aparecem esses três níveis de terraços fluviais, que são
decorrentes da atuação de processos lineares, de movimentos eustáticos positivos
e negativos com a variação do nível de base (regressões e transgressões), assim
como oscilações climáticas ocorridas no Quaternário.
Uma caracterização mais detalhada dos mecanismos de evolução e
atuação dos processos morfogenèticos atuantes nas unidades geomorfológicas da
área de estudo, constitui uma tarefa extremamente complexa, por serem estes
processos resultado da interação e reação de um conjunto de fatores subatuais e
atuais.
O equilíbrio dinâmico das unidades geomorfológicas pode ser alterado
por modificações em qualquer um dos fatores do meio ambiente. O mais
importante destes fatores é a cobertura vegetal, que pode ser facilmente removida
pelas ações antrópicas.
Portanto, o estudo sobre a ecodinâmica deve ter como suporte a análise
e compreensão de como se comporta a dinâmica dos processos morfogenéticos e
suas interações com os demais processos ambientais, dentre eles a pedogênese,
atuantes em cada unidade geomorfológica. Esta análise conduz a definição dos
meios ecodinâmicos, que pode servir como subsídio conceitual e operacional para
estruturação de um possível plano de gestão territorial sustentável.
NEVES (1984), analisando as características geomorfológicas do litoral sul da
Paraíba, afirmam que “a vegetação desempenha um papel importante na proteção do
solo no que diz respeito ao impacto das chuvas. Cada um dos tipos de cobertura
vegetal que ocorre na área desempenha uma ação eficaz na ação das águas pluviais”.
Ao remeter a apreciação desta questão para a área do vale médio
inferior do rio Mamanguape, observa-se que a remoção da cobertura vegetal, em
diversos setores dos interflúvios e vertentes, explicam a formação de sulcos e
104
ravinamentos, freqüentes na área. A ação destes processos da morfogênese,
normalmente nasce nas linhas de maior inflexão das vertentes e afetam
inicialmente as bordas dos interflúvios e em seguida provoca o retalhamento das
próprias vertentes. E analisando também as áreas mais planas dos Baixos
Planaltos Costeiros, percebe-se que estas não estão isentas da ação dos
processos de erosão. Isto porque as ações antrópicas decorrentes do uso do solo
pelo cultivo da cana-de-açúcar, provocaram dentre outras formas de degradação a
por lixiviação, que transloca material dentro do perfil do solo, a exemplo de
remoção gradativa dos micronutrientes e matéria orgânica, principalmente nos
solos de textura mais arenosa, acentuando o caráter distrófico. Pode-se
acrescentar ainda que a aceleração de outros processos de perdas por erosão está
associada à movimentação do solo para o plantio (Figura 05). A cana-de-açúcar,
as atividades agrícolas de subsistência desenvolvidas em áreas de vertentes, não
obedecendo ao sistema de curva de nível, permite que no período chuvoso, os
processos morfogenéticos atuem de maneira mais incisiva, promovendo a
formação de ravinamentos e sulcos e o conseqüente empobrecimento do solo, com
reflexos na produção agrícola.
MELO (1984), as vertentes com material mais arenoso em sua parte superior, são
normalmente submetidas ao escoamento difuso, enquanto que os terços inferiores,
mais regulados, apresentam ravinas e sulcos. O autor acrescenta ainda, que” é comum
a formação de pequenos cones de coluvionamento na saída das ravinas formada pelo
espraiamento de pequenas corridas de lama.
A compartimentação geomorfológica acima descrita, submetida à
análise morfodinâmica inserida no contexto dos estudos ecodinâmicos proposto
por Tricart (1977), constitui o elemento norteador de todo o processo investigatório
delineado nesta pesquisa.
Após a analise das condições geoecológicas do quadro regional e local,
a investigação deve proceder, segundo Tricart (1977), com o estudo dos seguintes
elementos: o estudo do sistema morfogenético, que permite delimitar as unidades
ecodinâmicas que constituem o quadro no qual se procedeu à análise, os estudos
dos processos morfogenéticos atuais (natureza, intensidade e distribuição), que
deve ser conduzido com base na perspectivas interdisciplinares, expostas através
das relações morfogênese-pedogênese e influências antrópicas, conhecendo as
105
suas modalidades e dinâmica natural, para que se possa compreender os
mecanismos de degradação e apreciar a sua amplitude. E por último deve-se
proceder à avaliação dos graus de estabilidade morfodinâmica, a partir dos meios
ecodinâmicos, que derivam da análise dos sistemas morfogenéticos, dos
processos, e da degradação antrópica para se chegar à definição do grau de
estabilidade de cada meio ecodinâmico.
Figura12: Desestabilização dos setores das encostas dos tabuleiros por processos de erosão linear
sob a ação do escoamento concentrado das águas superficiais ao longo das estradas vicinais nos
canaviais da Usina monte Alegre. Margem direita do rio Mamanguape.
Fonte: O autor
5.1.5.O quadro fitogeográfico e ações antrópicas
106
A cobertura vegetal da área de estudo responde as condições
climáticas, edáficas, topográficas. E o seu processo de descaracterização encora-
se ligado ao maior ou menor grau de antropismo a que foi ou continua sendo
submetida. Compreendida na sua forma mais ampla, é um elemento fundamental
da biocenose, estando na base das cadeias tróficas, além de exercer a função de
formadora e protetora do solo, de reguladora hidrológica, formadora de pastagens
e controladora das condições micro e mesoclimática.
Os elementos climáticos como, temperatura, precipitação e umidade,
com suas variações temporal e espacial, são aspectos preponderantes nos
processos ecológicos que interferem nas características da atual cobertura vegetal,
refletindo-se na sua fitofisionomia e no comportamento das espécies que a
compõem.
A área do vale médio inferior do rio Mamanguape, por se tratar de uma
área que abrange uma variedade de formas de relevo, solos e um alto grau de
antropismo, verifica-se que estas condições pouco homogêneas interferem
diretamente para que a mesma possua uma diversidade nos seus tipos vegetais, já
bastante alterados.
Pode-se inferir que o quadro vegetal natural da área de estudo é
representado por mosaicos nos quais formações vegetais diferentes coexistem ou
se misturam com uma associação dominante.
Um aspecto bastante peculiar sobre a vegetação na área em questão, é
que entre dois ou mais tipos de vegetação existem formações indiferenciadas onde
as espécies interpenetram-se, constituindo transições florísticas chamadas
ecótonos. ”Os ecótonos são geralmente de difícil identificação quando se trata de
vegetação com estruturas fisionômicas semelhantes” (MELO, 1983).
MELO (1988), citado por SILVA (1995 p.55), considera que as fronteiras
existentes entre as várias paisagens botânicas são mais nítidas nas planícies
litorâneas e nos vales. No entanto, nos topos planos dos baixos planaltos costeiros,
predominantemente areno-argilosos, elas desaparecem: é o domínio de uma
vegetação denominada localmente como” tabuleiros, secundária sem nenhuma dúvida,
decorrente da degradação das antigas florestas, cujas capoeiras de substituição foram
invadidas por espécies litorâneas e dos cerrados. “Pontualmente, ainda é possível
verificar a presença de grandes árvores isoladas ou em pequenos grupos, que
testemunham o processo de evolução das paisagens.
107
Analisando as condições de antropismo existente na área depara-se
com uma série de limitações para propor um estudo que permita estabelecer de
forma mais minuciosa do quadro de evolução da cobertura vegetal. Este processo
de descaracterização da cobertura vegetal está ligado ás diversas etapas do
processo de ocupação da área, que é bastante antigo, através de ciclos
extrativistas, exploração agropecuária (pecuária, cana-de-açúcar, algodão), entre
outras formas de exploração, como as culturas de subsistência.
A partir da segunda metade dos anos 70, estabelece um momento
crucial no processo de organização do espaço do espaço paraibano, patrocinado
pela implantação do PROÁLCOOL. E as mudanças socioeconômicas e ambientais
advindas com este programa foram determinantes nesta nova etapa do processo
de estruturação do espaço litorâneo.
As repercussões deste fato foram muitas, dentre elas, sobre as
formações vegetais que ocupavam a superfície dos tabuleiros (as várzeas,
interflúvios e vertentes), que passaram a sofrer como maior intensidade um
processo de desmatamento sistemático, que culminou com a quase total
supressão da vegetação. Exceção feita a alguns poucos remanescentes ilhados
em meio ao aos canaviais que ainda resistem. A análise dos desdobramentos
socioambientais deste projeto, desempenha um papel importante, quando se
estuda a evolução dos problemas ambientais pertinentes à área de estudo e suas
adjacências.
A pesquisa sobre levantamentos e mapeamentos da cobertura vegetal
natural carece de constantes atualizações, tendo em vista o caráter dinâmico que
envolve o seu processo de exploração.
Os estudos técnicos realizados pelo projeto
PNUD/FAO/IBAMA/GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA (1994) - Diagnóstico do
Setor Florestal da Paraíba, constataram que a exploração intensa e desordenada
das formações florestais da Paraíba teve como conseqüência, uma drástica
redução da cobertura florestal, restando apenas 33,25% de vegetação sobre o
território paraibano. Em termos de áreas preservadas, o percentual é de apenas
0,3% em relação à área total do Estado. Deste percentual, 0,25% das áreas
protegidas por lei situam-se na Caatinga e 24% na Mata Atlântica. Segundo ainda
108
este estudo, a permanecer os atuais métodos de exploração dos recursos florestais
no Estado, o estoque existente só vai suprir a demanda pelos próximos 28 anos.
Esta pesquisa utilizando Imagens de Satélite-LANDSAT-5, do período
1990-1991, com recobrimento total do Estado da Paraíba, verificou a participação
quantitativa das áreas cobertas pela vegetação remanescente, bem como a área
de antropismo, em relação á área territorial total do espaço paraibano. Constatou-
se que 33,25% do território paraibano encontram-se ainda revestido por vegetação
natural, enquanto que a área de antropismo representa 66,75%.Os dados do
quadro abaixo demonstram a situação mais geral sobre a questão.
A situação atual de descaracterização da cobertura vegetal da área de
estudo, reflete o quadro geral apresentado em todo o Estado. Ou seja, a
diversidade de atividades econômicas que contribuiu concretamente para a
redução substancial da sua cobertura vegetal. As políticas públicas existentes têm
se revelado ainda ineficientes para garantir, tanto a autopreservação dos recursos
naturais, quanto a sua utilização racional.
As áreas antropizadas demonstram a intensa pressão exercida
diretamente sobre as formações vegetais nativas. As formações florestais úmidas
correspondem a pequenas manchas descontínuas, porém com inestimável valor,
pois se constitui em banco genético, que tem como função garantir a diversidade
biológica dos ecossistemas.
No sentido de salvaguardar estas pequenas manchas ainda existentes
da Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas, que faz parte da chamada Mata
Atlântica, o poder público estabeleceu a criação de Unidades de Conservação, a
exemplo da REBIO guaribas, esta ocorre a NE da área pesquisada. Este ato visa
garantir entre outras coisas a biodiversidade desse ecossistema. É sabido também,
que em muitos outros casos a manutenção da diversidade biológica é de grande
valia para sustentação da população local, onde os valores socioeconômicos são
intrínsecos ao valor ecológico.
109
Quadro 05: Extensão e participação das formações florestais mapeadas no Estado da
Paraíba.
DISCRIMINAÇÃO ÁREAS (HA.) PARTICIPAÇÃO (%)
Cerrado 3.030
0.05
Floresta Ombrófila Densa 22.640
0.40
Áreas de Transição 12.500
0.22
Antropismo 3.762.629
66.75
Total 5.637.200
100.00
Fonte: Projeto PNUD/FAO/IBAMA/UFPB/Gov. PARAÍBA -1993.Modificado por ALVES( 2005)
O quadro 05 procura mostrar a participação das modalidades de
formações vegetais que ocorrem no litoral e a área antropizada. Esta última sofreu
ao longo das décadas um processo de expansão significativo, devido o dinamismo
principalmente das atividades ligadas ao setor primário.
As diversas tipologias de classificação da vegetação paraibana seguem
a priori os modelos dos sistemas de classificação propostos para o Sistema
Fitogeográfico Brasileiro. SAMPAIO (1945),VELOSO & LIMA (1966),
RADAMBRASIL (1981). Nesse sentido, a classificação proposta nesta pesquisa se
norteará pelo sistema proposto por VELOSO, RANGEL FILHO & LIMA (1991), que
sugerem uma Classificação da Vegetação Brasileira, adaptada do Sistema
Internacional Universal. De grande valia também serão os estudos de MELO
(1983), por ter tratado mais especificamente da cobertura vegetal do Estado da
Paraíba.
A leitura crítica da literatura e as interpretações do material cartográfico
e o trabalho de campo, permitiram identificar as seguintes formações vegetais na
área do vale médio inferior do rio Mamanguape:
Os campos de várzea correspondem a formações edáficas com
influência fluvial, submetida aos efeitos sazonais das cheias dos rios nas épocas
dos períodos chuvosos, ou então, das depressões alagáveis todo o ano. São
formações herbáceas densas, compostas, sobretudo por gramíneas e ciperáceas.
Esta vegetação ocupa os setores úmidos e alagados, periferia de cursos d’água e
outros lugares onde, de certo modo, há acúmulo das águas dos rios, de riachos e das
chuvas, sendo, às vezes, utilizados como pasto natural para a atividade criatória.
“Nesses campos se distinguem os das áreas úmidas (higrófilos) e os das áreas
alagadas (hidrófilos), que estão relacionados aos solos Gley Distróficos Indiscriminados
e aos Solos Orgânicos” (SILVA, 1995, p.62).
110
Os primeiros de ocorrência nas várzeas úmidas, têm vegetação
composta principalmente pelos gêneros Paspalum e Cyperus. Por outro lado, “os
campos hidrófilos restringem-se às áreas encharcadas e alagadas, onde
comunidades diversas aparecem destacando-se a Typha dominguesis (Tábua),
Cyperus giganteus (Periperi), Acrostichum aureum (Samambaiaaçu),
Montrichardia linifera, Panicum virgatum e Hibiscus tilliaceus” (SILVA, 1995, p.62).
Estas formações também podem ser encontradas ainda nos fundos dos
pequenos vales que entalham os tabuleiros. Essas áreas têm preenchimento
pantanoso e são conhecidos sob a denominação de “paúis”.
Os pequenos núcleos existentes de remanescentes da Floresta
Ombrófila Densa, na área da várzea do vale médio inferior do rio Mamanguape,
são um dos últimos vestígios da antiga formação florestal que recobria uma área
expressiva, que foram quase que totalmente substituídas pela lavoura canavieira,
ao longo de quatro séculos de exploração indiscriminada.
Estas formações florestais densas aluviais se manifestam na forma de uma “formação
ribeirinha” ou “floresta ciliar” que ocorre ao longo dos cursos de água, ocupando os
terraços antigos das planícies quaternárias e nas encostas de pequenos vales
fechados, denominados de grotões. (MARINHO, 2002, p.66).
Uma outra boa parte desta cobertura vegetal deu lugar à agricultura de
subsistência praticada nos pequenos e estritos terraços aluviais que margeiam
esses rios. No momento presente, a cana-de-açúcar ainda exerce forte pressão
sobre os remanescentes da floresta úmida.
Os dados apresentados no (Quadro 05), foram levantados por SILVA
(1995), onde o autor analisou o processo de substituição da cobertura vegetal
primária na região do Baixo Mamanguape por atividades agropecuárias, no período
que compreende um intervalo de (1972-1995).
Pode-se constatar que a expansão das atividades ligadas a setor
primário sobre a área da vegetação natural foi bastante expressiva no período
considerado. Isto vem colaborar na elucidação do fato, de que o processo histórico
de ocupação da área mencionada e da área ora investigado, foi de caráter
predatório, em vários dos elementos que compõe a sua paisagem, principalmente
no que concerne à cobertura vegetal, por ser o elemento mais visível da ocorrência
dessa mudança.
111
Esta mesma avaliação sem ater ao rigor estatístico, também poderá ser
transferida para a área do médio curso do rio Mamanguape, tendo em vista que os
processos de ocupação das duas áreas apresentam características semelhantes.
Os indivíduos ou espécies que compõem essa formação são bastante
esgalhados, arbóreos ou arbóreo-arbustivos densos, de porte médio, com
predominância de árvores com troncos finos e indivíduos esgalhados que estão
associados aos solos Gley Distróficos Indiscriminados e aos Solos Aluviais
Eutróficos. As espécies mais comuns são: Caraíba sp. (Camaçari), Erythrina sp.
(Mulungu) e Ingá spp. (Ingás).
Nas áreas mais protegidas e mais enxutas outras espécies vêm
incorporar-se às citadas anteriormente: Sclerolobium densiflorum -ingá-de-porco,
Platymiscum floribundum, Plathymenia foliosa - pau-de-candeia, Sapindus
saponaria - saboeiro ou jequiri, Protium heptaphyllum - amescla, etc. (SILVA, 1995
p.64).
Tabela 05: Variação da área com os principais elementos da cobertura vegetal na área
do baixo curso do rio Mamanguape entre 1972/1995
ÁREA OCUPADA (ha.)
PRINCIPAIS FORMAÇÕES VEGETAIS
1972 1995
Floresta Ombrófila Densa e Estacional Semidecidual 12.599,70
5.260,50
Cerrados dos Tabuleiros 16.952,53
3.577,20
Antropismo 6.821,42
24.647,26
TOTAIS 36.373,65
33.484,96
Fonte: SILVA 1995, p.125.Modificado por ALVES (2005).
A Floresta Ombrórfila Densa ocupa também as encostas íngremes dos
vales dos Planaltos Sedimentares Costeiros, em seus topos mais argilosos e
vertentes. Submetida há vários séculos de exploração predatória, inicialmente com
a extração do pau-brasil, posteriormente à pecuária e cana-de-açúcar e o algodão,
e posteriormente a expansão após a primeira metade dos anos 70 da agroindústria
canavieira, motivada pelo PROÁLCOOL.
“Reduziram-na a alguns fragmentos,” ilhados por canaviais, pastos ou abacaxi “que se
acham confinados nos pequenos vales (os grotões) os quais dissecam as bordas dos
tabuleiros em algumas áreas mais argilosas dos topos dos baixos planaltos” (SILVA,
op. cit, p.65).
112
Na realidade, segundo ANDRADE-LIMA (1969), citado por SILVA (1995,
p.65), essas florestas nunca recobriram inteiramente os baixos planaltos costeiros
e sub-costeiros da Zona da Mata Nordestina. Elas ocupavam os baixos vales e
abas dos principais rios e certos sítios preferenciais dos interflúvios mais argilosos,
vertentes e vales abrigados dos ventos. SILVA (op. cit), também chegaram a esta
mesma conclusão quando estudavam os núcleos remanescentes destas florestas
presentes no Baixo Curso do Rio Mamanguape, municípios de Rio Tinto e
Mamanguape na Paraíba.
De modo geral, essa vegetação possui uma estrutura de árvores
heterogênea. Dois estratos podem ser identificados: o primeiro com cerca de 30
metros, com muitas espécies caducifólias, e outro, com arvoretas de cerca de 10
metros e totalmente perenifólio apresentando um estrato arbustivo pouco
expressivo e um estrato herbáceo bastante desenvolvido nos setores mais
iluminados (MELO 1983, p.66). Segundo ainda este autor, nem sempre se pode
definir a estrutura da formação, uma vez que ela é secundária e muito remanejada
pelo homem.
Submetidas a uma umidade de cerca de 80%, a totais pluviométricos
situados em torno de 1.500 mm e a uma estação seca que chega a 60 dias, o
número de espécies caducifólias é considerável, podendo atingir cerca de 50% do
total dos indivíduos (SILVA, op. cit p.67).
As espécies mais características dessa formação são: Apuleia leiocarpa,
Tabebuia avellanedae e Buchenavia capitata. Quando se analisa a ocorrência das
espécies mais comuns, considerando os estratos arbustivo e herbáceo, identifica-
se que no estrato arbustivo as espécies mais freqüentes são Olyra sp., Cephaelis
pubescens, Psychotria sp.(MARINHO, 2003).
No estrato superior, destacam-se as espécies: Bombax gracilipes e
Sclerolobium desinflorum. Já no inferior, muito impreciso, apresenta como espécies
representativas: Apuleia leiocarpa, Bowdichia virgilioides, Ocotea glomerata, Pera
ferruginea e Luechea ochrophilla (MELO, 1995, p.67).
113
Submetidas a índices de precipitação menores que 1.050 mm anuais, essas florestas
encontram-se atualmente muito devastadas. Elas foram substituídas por diferentes
tipos de capoeiras, por pastagens e culturas comerciais, principalmente a do abacaxi e
cana-de-açúcar (SILVA, op. cit, p.69).
A Floresta Estacional Semidecidual dos Tabuleiros, encontra-se,
sobretudo nos topos das colinas ocidentais do Baixo Vale do rio Mamanguape.
Essa formação corresponde, em parte, à “mata seca” e ocupa pequenas áreas de
transição entre a zona úmida e a zona mais seca (Agreste), nas proximidades da
Usina Monte Alegre e ás margens da estrada que liga o município de Mamanguape
a Capim.
A fisionomia desta vegetação pode confundir-se com a floresta
subperenifólia durante a época chuvosa quando a maior parte das espécies
permanece verde uma boa parte do ano. Contudo, na estação seca que vai de
outubro a dezembro, torna-se inconfundível, com árvores desfolhadas e aspecto
seco, uma vez que um grande número de espécies cerca de 60% , perde parte
significativa de suas folhas, notadamente do estrato arbóreo (SILVA, op. cit p.69).
Menos altas e menos densas do que as florestas subperenifólia dos
tabuleiros, essas formações apresentam dois estratos arbóreos um arbustivo e um
outro herbáceo, bastante denso (ANDRADE-LIMA, 1995, apud MELO, 1983).
Algumas das espécies mais comuns levantadas em trabalho de campo
por documentação fotográfica foram: Plathymenia foliolosa-pau-de-candeia,
Pterocarpus violaceus - pau-sangue, Enterolobium contortiliquum - Tamboril,
Tabebuia chrysotricha - Ipê-amarelo, Tabebuia avellanedae- pau d'arco rôxo,
Copaifera sp- pau d'óleo, Cedrella sp- cedro, Zollernia sp - pau-santo, Bowdichia
virgilioides - sucupira, Hymenaea courbaril - jatobá.(ALMEIDA, 2005).
É importante mencionar que pelos vestígios observados, essas florestas
formavam uma faixa importante situada no contato entre os tabuleiros e o escudo
cristalino rebaixado e aplainado que forma a Depressão Sublitorânea, que faz limite
a Oeste com área de estudo.
Na área pesquisada, os vestígios encontram-se sobre as colinas
cristalinas coroadas por sedimentos da Formação Barreiras na margem direita do
Mamanguape; na margem esquerda sobre as ondulações do escudo coberto por
114
fina camada de sedimentos Tércio-Quaternários da Formação Barreiras; "sobre as
colinas das intrusões graníticas situadas a oeste de Mamanguape e na margem
esquerda da rodovia entre Mamanguape e Rio Tinto" (SILVA, op. cit, p.69).
Essa formação encontra-se restrita a pequenas áreas devido ao avanço
das culturas do abacaxi e cana-de-açúcar e pela própria pecuária, que foram as
atividades responsáveis pela extrema devastação e descaracterização por que
passou essa formação vegetal.
Como foi exposto anteriormente, esta formação está situada na área de
transição entre a zona úmida do litoral e o Agreste, além do mais,
observa-se nas capoeiras a invasão de espécies de caatinga que parece possuir uma
grande amplitude ecológica. Além do mais, sua derrubada, mesmo deixando subsistir
algumas árvores, destrói as condições um pouco mais úmidas, favoráveis ao
desenvolvimento do sub-bosque, a partir do qual seria possível uma reconstituição
florestal (SILVA, op. cit p.70).
Os Cerrados na área correspondem à vegetação herbáceo-arbustiva,
ocupando parcialmente os topos dos Baixos Planaltos Costeiros, notadamente
aqueles onde os solos são mais arenosos, lixiviados e de baixa fertilidade, a
exemplo dos Podzóis hidromórficos e Areias Quartzozas Distróficas.
Coexistindo com as florestas dos tabuleiros, os cerrados apresentam
problemas quanto à sua origem cuja área principal localiza-se na região Centro-
Oeste do Brasil. Segundo KUHLMANN e MELO (1983) " os cerrados dos tabuleiros
são encraves em zonas de climax florestal, isto é, manchas de vegetação muito
afastada de seu centro de origem e subsistindo entre formações vegetais
diferentes".
Pode-se verificar a ocorrência de três tipos bem característicos em toda
área: cerrado gramíneo-lenhoso; arbustivo aberto e árbóreo-arbustivo denso.
“Nos cerrados de estrato arbustivos abertos compõe-se de árvores
raquíticas cuja altura ultrapassa três metros, distribuídas esparsamente e um
estrato de gramíneas descontínuo em turfos (SILVA, op. cit P. 71)”.
Nas áreas deprimidas dos interflúvios arenosos são ocupadas por uma
espécie de cerrado que assume aspecto de um estrato de gramíneas e ciperáceas
associados com plantas lenhosas raquíticas de composição florística
115
diversificadas. Segundo MELO (1995), "este tipo de cerrado herbáceo está
relacionado com a existência de um horizonte endurecido a pouca profundidade
característico dos podzóis hidromóficos".
"Até por volta de 1980, eles revestiam os interflúvios dos tabuleiros
costeiros da área estudada, dividindo espaço com as florestas subperenifólias e
caducufólias, e com capoeiras de idades diversas, além de alguns pequenos
trechos cultivados" (SILVA, op. cit, p.70).
Sua devastação e erradicação na área foram muito intensas, embora
subsistam ainda trechos importantes de cerrados nos tabuleiros situados nos
setores dos interflúvios da margem esquerda e direita do rio Mamanguape, na
estrada de acesso ao município de Capim.
Todas as espécies do cerrado lenhoso apresentam características xeromóficas,
sobretudo no que se referem às folhas tais como: parêquimas aqüíferos, pêlos
protetores, raros estômatos sobre a face dorsal, limbos largos e coriáceos. Os troncos
das arvoretas e arbustos são retorcidos, com o súber espesso e às vezes fendilhados
(MELO, 1983).
Os Carrascos que são formações arbustivas ou arbóreo-arbustivas
muito densas é uma outra modalidade de cerrado, ou cerradões. A sua ocorrência
está associada aos solos pobres dos tabuleiros e as condições adversas criadas
pelo homem, a exemplo das queimadas e os cortes de madeiras que impedem o
crescimento desta formação.
As características dos sistemas hidrográficos da área de estudo, refletem as
condições dos elementos climáticos (precipitação), as formações estruturais
(tectônica e litologia), as condições geomorfológicas, pedológicas, fitogeográficas,
socioeconômicas e culturais, entre outros.
Concebendo a bacia hidrográfica do Mamanguape no seu conjunto,
como uma unidade sistêmica, de caráter aberto, é prudente colocar que as
condições hidrográficas apresentadas pelo rio Mamanguape em seu vale médio
inferior e de seus tributários, refletem de maneira direta ou indireta, a convergência
das condições geográficas dos elementos do seu alto curso. Ou seja, o médio
curso inferior deste rio representa um ambiente receptor das condições
socioambientais manifestadas na área a sua montante.
116
117
.5.1.6.Aspectos Hídricos de superfície e subsuperfície
Segundo BELTRAME (1994, p.48), “uma bacia de drenagem é
identificada pelos seus divisores internos (freáticos) e externos (topográficos) e
pelo fluxo das águas (superficiais e subsuperficiais)”. Estes se encontram
intrinsecamente ligados à hierarquia e à densidade dos canais que, em conjunto
com a forma da bacia, vão contribuir para delinear a dinâmica em seu interior.
Nos estudos das bacias hidrográficas, o solo, a vegetação, a tectônica a
litologia e o clima são elementos imprescindíveis, pois o conhecimento das
relações existentes entre si e com outros elementos, permite que se possam
perceber como os mesmos podem interferir na dinâmica de uma bacia hidrográfica
e, conseqüentemente contribuir para intensificar ou reduzir o processo de
degradação ambiental, manifestado na área.
Mesmo não sendo propósito desta pesquisa usar implicitamente o
conceito de bacia hidrográfica, o mesmo tem sido muito difundido na atualidade, no
âmbito de várias pesquisas ligadas aos estudos do meio ambiente e do
planejamento territorial.
A bacia do Mamanguape na sua totalidade drena uma área de 5.080
Km2 (ocorrem divergências na literatura), percorre uma distância de 140
quilômetros até a sua foz, se estendendo de Oeste para Leste, com uma largura
média de 30 quilômetros, abrangendo várias regiões geográficas do Estado.
O rio em questão apresenta um padrão de drenagem do tipo paralelo, na região do
baixo curso, enquanto que para o interior predomina a configuração dendrítica e a
angular, onde os rios se encontram formando, às vezes, ângulos quase retos. Nesta
área a estrutura exerce forte influência sobre a rede hidrográfica (RADAMBRASIL
1981, p.260).
A bacia do Mamanguape e as suas sub-bacias que formam o seu
sistema fluvial é uma bacia exorréica. A bacia coletora, aqui enfocada como área
de influência do trabalho de erosão dos seus tributários, mostra que a ação do
deflúvio realizado pelo universo de canais, em correlação direta com a inclinação
das camadas geológicas, é conseqüente. Um exame desta bacia em relação aos
118
registros fluviométricos mostra que no contexto geral a mesma apresenta um
período de aumento do seu fluxo de água, que coincide com a estação chuvosa
(maio, junho, julho), e um outro de fluxo mais baixo, associado à estação seca.
O rio Mamanguape ao longo do seu perfil longitudinal percorre diferentes
domínios climáticos e morfoestruturais, antes de deságua no Oceano Atlântico.
Este fator associado às condições ambientais diferenciadas imprime a este rio
feições de características bastante heterogêneas. No seu alto curso a erosão linear
ou vertical é intensa devido ao gradiente de declive acentuado, que imprime uma
maior velocidade ao fluxo de água. No médio curso, a erosão linear reduz
progressivamente rumo à jusante, constatando-se o incremento gradativo da
erosão aerolar ou horizontal. Esta erosão é responsável pelo alargamento do seu
leito. No seu baixo curso, o rio em apreço, apresenta uma ampla várzea, pelo
entalhamento mais vigoroso dos sedimentos da Formação Barreiras.
Ao nível de considerações mais gerais pode-se afirmar que o setor do
baixo curso do Mamanguape é superficialmente constituído pelos terrenos
sedimentares da Formação Barreiras. Em alguns setores, o processo de incisão
vertical da erosão fluvial foi extremamente agressivo, que expôs as rochas do
escudo. No seu médio curso, este rio drena, ora terrenos de rochas cristalofilianas,
mais a oeste, ora terrenos sedimentares, na sua porção mais a leste.
O rio Mamanguape no seu médio curso, após percorrer os terrenos
cristalinos no setor da Depressão Sublitorânea penetra na região sedimentar dos
Baixos Planaltos Costeiros percorrendo uma ampla calha aluvial delimitada por
vertentes festonadas da Formação Barreiras. Neste setor, a direção geral do seu
curso é Oeste-Leste, até a sua área estuarina.
A drenagem que alimenta o rio Mamanguape em seu médio curso, é
composta por um conjunto de rios e riachos de natureza intermitente e
permanente, cujos arranjos acham-se associados a indicadores físicos
(litoestruturais, relevo, características do solo, condições climáticas entre outros)
que condicionam a orientação e organização no âmbito da bacia.
Os afluentes do rio Mamanguape, no setor do médio curso inferior, tanto
na margem esquerda (Rio Mata Fome, Seco e Luis Dias), como na direita (rio
Maíra, Cafundó e Vargem Comprida), estão instalados em fraturas nas bordas dos
119
tabuleiros e percorrem orientações, segundo a tectônica de quebramento do
escudo, que refletiu na cobertura sedimentar. Esta análise das sub-bacias constata
que as mesmas têm um elevado grau de controle estrutural.
Analisando o potencial hídrico superficial na área de estudo, constata-se
que o mesmo é constituído por potencialidades naturais (rios, riachos, córregos) e
disponibilidades artificiais (açudes pequenos e médios e barragens).
As águas de superfície captadas diretamente do rio Mamanguape, ou de
seus tributários no vale médio inferior, por barramentos, podem ser destinadas ao
abastecimento urbano ou rural, representando a forma mais comum de consumo. A
demandado abastecimento rural é de difícil quantificação, tendo em vista que a
coleta de água é realizada individualmente, diretamente dos rios, açudes.
Os recursos hídricos subterrâneos da área da pesquisa estão
diretamente relacionados com as características e natureza das seções ou
formações geológicas identificadas na área. (Elas permitem identificar de maneira
geral três aqüíferos de características distintas, que são: os aqüíferos das rochas
do embasamento cristalino, mais a oeste da área.). Estruturalmente essas rochas
apresentam-se fraturadas e dobradas, não permitindo o acúmulo de água
subterrânea, o que as enquadra no sistema do aqüífero fissural. Os aqüíferos da
Formação Barreiras e dos sedimentos recentes (aluviões, coluviões), fazem parte
do sistema de aqüífero intergranular.
Os aqüíferos formados pelos depósitos aluvionares possuem uma
litologia e relevo, favoráveis à infiltração e acumulação de água, aparecendo como
opção de abastecimento para a população ribeirinha. De acordo com
RADAMBRASIL (1981, p.261), o potencial hidrogeológico desta unidade é bom.
Os sedimentos da Formação Barreiras posicionados no médio curso inferior
e baixo curso, cobrem uma área superior a 860 Km2, se dispondo sob a forma de
uma faixa regular, com largura média de 30 quilômetros.
A litologia desta unidade compreende arenitos finos e médios, siltitos e
argilas e conglomerados grosseiros. A proporção arenito/argila é muito variável, e
em alguns pontos do pacote sedimentar níveis argilosos funcionam como camadas
confinantes, alterando profundamente o fluxo de água em subsuperfície e
provocando a formação de aqüíferos suspensos de pequeno porte. "No seu
120
conjunto a geologia da Formação barreiras apresenta um potencial hídrico
subterrâneo bom" (RADAMBRASIL, 1981, p.262).
Do exposto acima, pode-se verificar que as condições climáticas,
associadas às características das estruturas litoestrátigráficas das formações
geológicas na área de estudo do vale médio inferior do rio Mamanguape, fazem
com que os recursos hídricos subterrâneos representem uma reserva potencial de
água, que poderá ser muito importante para o abastecimento da população urbano
e rural dos municípios da área e suas adjacências.
5.2. AS FORMAS DE OCUPAÇÃO E USO DO SOLO: PRESSÕES
ANTRÓPICAS E A DINÂMICA DOS PROCESSOS MORFODINÂMICOS
As alterações ambientais na área do vale médio inferior do rio
Mamanguape só podem ser compreendidas se analisado o processo histórico de
organização do espaço. Portanto, este processo se manifesta através de um amplo
mosaico, ensejado por diversas modalidades de uso e ocupação do solo, sendo,
portanto, a manifestação concreta da produção do espaço imposta pela sociedade
em um determinado momento histórico. Cada modalidade de uso gera efeitos os
mais variados sobre a dinâmica do espaço geográfico, repercutindo na forma de
desequilíbrio da própria dinâmica natural, com reflexos ora positivos, ora negativos
sobre população.
A interpretação dos mapas de uso e ocupação do solo, nos dois
períodos considerados (1975-2001), permitiu delinear os aspectos mais relevantes
da evolução e organização das atividades agrícolas, como também, a sua dinâmica
e distribuição espacial.
A Mesorregião do Litoral paraibano foi uma das primeiras a ser
incorporada ao sistema econômico colonial mercantilista europeu no início do
século XVI, passando a vivenciar um processo semelhante ao que ocorreu na Zona
da Mata do Nordeste brasileiro. A organização da economia colonial do espaço
litorâneo da Paraíba se estabeleceu com base na exploração comercial dos seus
121
recursos naturais, que foram deixando suas marcas ao longo da história, muitas
das quais perduram até hoje.
A ocupação e o desenvolvimento socioeconômico desta Mesorregião
tiveram uma ligação forte com a exploração da vegetação, haja vista a instauração
do ciclo econômico do pau-brasil, e posteriormente da pecuária e da cana-de-
açúcar. Portanto, a organização do espaço regional e, por conseguinte, da área em
estudo, esteve intimamente ligada ao processo de apropriação dos recursos
naturais pela dinâmica imprimida pelos ciclos econômicos anteriormente
mencionados.
Neste contexto, a monocultura canavieira assume um papel de destaque
dentro do quadro econômico regional e da área de estudo, quando comparadas às
demais culturas. Esta atividade se difundiu, desde o início do período colonial
através do sistema de grande propriedade, mantendo até hoje uma estrutura
fundiária baseada no sistema de grandes latifúndios.
Ocupou primeiramente por um longo período as áreas das várzeas dos
principais rios litorâneos, dadas as suas condições ecológicas favoráveis, para num
segundo momento, motivada pela implantação do PROÁLCOOL nos anos 70, se
deslocar sobre as superfícies dos Baixos Planaltos Costeiros.
O ciclo açucareiro desempenhou um papel preponderante na
compreensão do processo de estruturação do espaço geográfico paraibano, e em
particular da área em questão, conjuntamente com a policultura de subsistência e
as atividades criatórias, que funcionavam como culturas complementares.
As diferentes formas de uso do solo respondem pela dinâmica das
alterações nas condições socioambientais. Portanto, entender a evolução espaço-
temporal destas atividades será de grande relevância na identificação e
caracterização de alguns impactos ambientais da área.
Enfim, do ponto de vista ambiental, todas as formas de uso e ocupação
do solo podem ser consideradas como responsáveis por alguns dos desequilíbrios
do sistema natural da área, tais como: desmatamentos, assoreamento dos rios,
extinção da vida silvestre, erosão dos solos, diminuição da oferta de biomassa,
perda da biodiversidade etc.
122
A análise da exploração antrópica deve ser situada na diversidade do
quadro geográfico, procurando entender à trama do funcionamento dos elementos
do meio natural. Deve, portanto ser avaliado o papel desempenhado pelas ações
humanas na dinâmica de organização do espaço geográfico, que constitui um
importante instrumento de análise, muito úteis para esclarecer a extensão e
magnitude das alterações produzidas no ambiente.
Talvez, uma das manifestações mais visíveis da ação antrópica na área
de estudo, se evidencia na supressão da cobertura vegetal, por intermédio dos
desmatamentos. Estes se iniciaram com um primeiro ciclo extrativista do pau-
brasil, que remonta a fase inicial do processo de ocupação da área, sendo por
algumas décadas a principal fonte de exploração econômica. O encerramento
deste ciclo culminou com a extinção da espécie do pau-brasil (Caesalpinia
echinata), devido à exploração de caráter predatório.
É preciso que se entenda que mesmo os recursos florísticos, ou
vegetais, apesar de serem enquadrados no grupo dos recursos renováveis, podem
se esgotar, em especial em áreas onde sua exploração não leve em conta os
riscos e os danos associados a um aproveitamento imediatista e uso indevido.
A natureza deste ciclo extrativista se fundamentava no emprego de
tecnologia extremamente modesta, mas que patrocinou uma destruição em larga
escala. Podendo ser atribuído a ele o precoce desaparecimento de outras espécies
vegetais nobres, como o cedro, sucupira, jatobá, angelim, pau ferro, pau d´arco,
particularmente das Florestas Ombrófila Densa e Floresta Estacional Semidecidual
densa das terras baixas costeiras.
Esta fase inicial que assinalava a estruturação do empreendimento
mercantil europeu português no espaço colonial paraibano tem no extrativismo a
possibilidade de conquista e dominação territorial. Portanto, os desmatamentos
foram introduzidos inicialmente com vistas à extração de madeira, objetivando
facilitar o apresamento dos índios, para em um segundo instante, tornar-se uma
atividade comercial regular de grande interesse para a metrópole.
Os desmatamentos restritos a princípio a Mata Atlântica, como foi
mencionado anteriormente, se amplia, com a implantação e dinamização da
atividade criatória e a estruturação do ciclo da cana-de-açúcar, alargando as
123
fronteiras da degradação também para as áreas de domínio da vegetação dos
Cerrados.
Os ciclos econômicos que sucederam o ciclo extrativista do paubrasil
(pecuária e cana-de-açúcar) foram bem mais duradouros, iniciando no século XVI,
e permanecem até os dias atuais, embora tenham sofrido mudanças significativas
em algumas de suas características.
Ao se analisar as ações antrópicas e as suas implicações em termos de
danos ambientais, percebe-se que as mesmas provocam impactos bastante
distintos, levados a efeito pelo princípio da interdependência existente entre os
diversos elementos do meio ecológico. Assim, as atividades agropecuárias sempre
demandam novas áreas, que são obtidas por intermédio de desmatamentos
indiscriminados, isto por que, segundo MELO (1984, p.49) “toda a prática agrícola
consiste em substituir a cobertura vegetal natural ou secundária por culturas”.
Portanto, na área em exame os desmatamentos sempre estiveram mais
diretamente relacionados à dinâmica de expansão da cana-de-açúcar. Todavia, os
mesmos são igualmente estimulados por outros fatores, a exemplo do extrativismo
de madeiras sobre a já tão exígua vegetação remanescente, que consiste no
aproveitamento de algumas espécies mais nobres, sendo as de menor valor
comercial aproveitada na produção de carvão e lenha, sendo esta última utilizada
com fins energéticos pela população rural e em certas atividades urbanas, a
exemplo das padarias.
Esta forma de exploração exercida sem o emprego de um manejo
sustentável, interferiu de forma significativa no equilíbrio ambiental da área,
provocando a diminuição das espécies vegetais e até extinção de algumas, tendo
como outras conseqüências à perturbação do habitat das espécies animais,
aumento do escoamento superficial, que fez acelerar os processos de degradação
do solo por erosão laminar, assoreamento dos rios, entre outros.
A pecuária que representa uma das mais antigas formas de uso da terra
na área do Médio Vale Inferior do rio Mamanguape, consiste atualmente no
sistema de criação de bovinos, caprinos e ovinos, que são os mais representativos,
criados à solta, alimentando-se de pastos naturais e também “artificiais.”.
Como efeitos nocivos que estas atividades em conjunto provocam ao
meio ambiente, têm como reflexo a diminuição da cobertura vegetal natural para a
produção de pastagens, redução do extrato arbustivo pelo pastejo seletivo e
124
compactação do solo pelo pisoteio dos rebanhos, que acarreta a aceleração dos
processos erosivos com perdas de elementos do solo.
A agricultura de subsistência na área da pesquisa se baseia
fundamentalmente no cultivo de mandioca, milho, feijão, inhame e algumas
fruticulturas, que se desenvolvem de forma tradicional, com mão-de-obra
principalmente familiar e com pouca orientação técnica. A introdução dos cultivos
inicia-se com os desmatamentos e queimadas, depois com o emprego de técnicas
agrícolas rudimentares na preparação do plantio e exploração contínua do solo.
Esta modalidade agrícola, pelas suas próprias características, exerce
um menor nível de degradação ambiental, quando comparada com a agricultura
comercial, como é o caso da cana-de-açúcar. Mesmo assim, não se pode deixar de
considerar que a própria sustentabilidade socioeconômica desta modalidade de
agricultura depende da adoção de algumas práticas agrícolas conservacionistas
em relação ao meio ambiente, por parte dos agricultores.
A título de sugestão, pode-se mencionar que o plantio das culturas de
subsistência nos setores das vertentes deve obedecer ao sistema de curvas de
nível, que permite ao longo do período chuvoso, uma inibição dos processos
morfogenéticos, que sempre atuam de maneira marcante nestas áreas.
Uma análise dos diversos impactos ambientais presentes na área de
estudo, foi realizada e visitas de campo confirmado que as atividades
anteriormente mencionadas desempenham um significativo poder impactante
sobre a dinâmica dos processos morfodinâmicos. Isto porque as culturas se
difundem mediante a retirada da vegetação natural, principal elemento de
estabilização da relação morfogênese/pedogênese.
A cultura da cana-de-açúcar define como espaço inicial para a sua
organização e estruturação as Planícies Aluviais dos rios do litoral norte paraibano,
dentre eles o Mamanguape, que viria a ser por vários séculos o sítio de ocupação
preferencial desta atividade. Portanto, com o advento do programa PROÁLCOOL
(1975), as várzeas perdem exclusividade. Sem abandoná-las, esta atividade se
desloca para os topos dos Baixos Planaltos Costeiros. Este novo espaço passou a
se constituir na área core de domínio das grandes e modernas distilarias.
Estas transformações que se processa na agricultura canavieira no
estado, a partir de meados dos anos 70, passam a criar um quadro de dualidade,
ou seja, a penetração seletiva do capital formou uma agricultura com
125
características modernas, que passou a conviver, ao mesmo tempo, ao lado de
uma agricultura tradicional de subsistência.
Ao analisar a situação de implantação do PROÁLCOOL na Paraíba
frente à conjuntura nacional, EGLER (1984), afirma que as condições
socioeconômicas em que se definiram as diretrizes básicas para este projeto foram
particularmente favoráveis para a rápida solução alcooleira, enquanto resposta
nacional à crise energética.
Portanto, a monocultura da cana-de-açúcar voltada para o setor
alcooleiro, que procurava atender a esta nova demanda energética do mercado
interno, sem a devida advertência para com a questão ambiental, provocou ao
longo de sua implantação e desenvolvimento uma substituição gradativa da
Floresta Tropical Úmida (Mata Atlântica) e dos Cerrados pelos verdes canaviais.
Esta vegetação natural atualmente apresenta-se em diferentes estágios de
regeneração, ou na forma de pequenas lhas verdes preservadas em alguns
estabelecimentos agrícolas ou na modalidade de Reserva Biológica, a exemplo da
Rebio Guaraibas, em núcleos descontínuos nos municípios de Mamanguape e Rio
Tinto.
Segundo MELO (1984), a expansão, relativamente recente da cana-de-açúcar,
promovida pelo PROÁLCOOL e a instalação das destilarias nos tabuleiros costeiros da
Paraíba, vêm suscitando não só problemas de desequilíbrios ecológicos graves, mas,
sobretudo sérios problemas sociais e econômicos.
Procurando estabelecer uma síntese desta questão, SILVA e MELO
(1995), quando em seu pertinente trabalho, que procurou analisar o
PROOÁLCOOL como elemento transformador e dinamizador das paisagens
agrárias no baixo vale do Mamanguape no período 1972-1995. O autor resume as
suas idéias sobre as mutações e impactos ensejados por este projeto, como
seguem: 1. homegeinização das paisagens rurais pela remoção da cobertura
vegetal natural (florestas e cerrados) em substituição por canaviais; 2. mudanças
na estrutura fundiária, com a intensificação da formação de latifúndios e alterações
na formas de relações de trabalho, passando a predominar o trabalho assalariado;
3. intensificação do êxodo rural pelo processo de expropriação da terra dos
pequenos proprietários; 4. diminuição das áreas destinadas à agricultura de
subsistência, com agravamento dos níveis de carência alimentar da população; 5.
126
aumento dos conflitos no campo pela posse da terra; 6. graves perturbações geo-
ecológicas, com aceleração dos processos erosivos dos solos.
Focando a análise sobre os impactos ambientais decorrentes da
expansão da cana-de-açúcar, pode-se atribuir à mesma, além das implicações
anteriores, também o fato de ter agravado a dinâmica de certos processos
morfogenéticos existentes nas áreas das Planícies Aluviais, e ser igualmente
responsabilizada pela exarcebação de diversos processos morfogenéticos nas
superfícies dos tabuleiros.
Os mecanismos de atuação dos processos morfogenéticos são
extremamente complexos, sendo afetados pela interação e reação de diferentes
fatores do meio ecológico, a exemplo da litologia e o solo, da morfogênese e o fator
cobertura vegetal e as ações antrópicas. Existe um equilíbrio dinâmico na natureza,
que pode ser completamente alterado pelas modificações antrópicas.
Portanto, passa-se a priorizar nesta discussão a questão dos
desmatamentos que se processaram sobre a cobertura vegetal natural da área e
as suas implicações ambientais. Isto porque se deve entender que a vegetação,
encarada como uma resposta que reflete a interação dos fatores abióticos e
bióticos,
como componente das paisagens construídas. Este fato tem como condição
constituir-se em um instrumento de caracterização ambiental, bem como de
avaliação da sensibilidade e da vulnerabilidade do meio ambiente geográfico.
A progressão da monocultura canavieira nos anos 80 demandou novas
áreas para expansão dos canaviais, superando definitivamente a barreira ecológica
dos solos distróficos dos tabuleiros. Deste modo, nestes novos espaços
desmatados, os processos morfogenéticos pluviais, como ação mecânica das
gotas de chuvas e o escoamento pluvial, tornaram-se mais vigorosos.
A manifestação do primeiro poderia ser totalmente anulada pela
manutenção da cobertura vegetal natural ou secundária, que interceptaria as gotas,
evitando que as mesmas atinjam o solo com forte impacto. A segunda não teria a
sua ação morfogenética totalmente cessada, mas a sua eficácia seria muito inibida.
127
Figura 14: Área de instabilidade morfodinâmica em setores de estradas vicinais sob solo ocupado
com monocultura da cana-de-açúcar.
Fonte:O autor
"Sabe-se que a vegetação desempenha um papel importante na
proteção do solo no que diz respeito ao impacto das chuvas. Cada um dos tipos de
cobertura vegetal que ocorre na área tem um papel mais ou menos eficaz na ação
das águas pluviais" (MELO 1984).
A ação morfogenética destas duas modalidades de processos pode ser
também avaliada em determinadas fases do manejo das culturas a exemplo da
cana-de-açúcar. Na fase que antecede o seu plantio ocorre uma exposição total
dos solos, onde a manifestação destes processos seria mais eficaz. Após a
semeadura, nos seus primeiros meses, a ação erosiva estaria também no seu
ponto máximo, devido ao incipiente desenvolvimento do sistema foliar e radicular
do vegetal. Quando da fase da colheita, é comum a prática de queimadas e o
movimento de máquinas colheitadeiras e de caminhões para o transporte, que
ensejam outros processos de degradação dos solos.
128
Figura 15: Solo Podzólico Vermelho Amarelo fase relevo plano, ocupado com monocultura de
cana-de-açúcar em estágio inicial de crescimento, com setores de solo desnudo favorecendo a
ação da erosão pluvial. Estrada de acesso ao povoado de Olho d'água do Serrão.
Fonte: O autor
A manifestação destes processos nas áreas das vertentes, que são
predominantemente convexas, com ligeira cavidade basal, assumem um aspecto
peculiar, em virtude da maior declividade destas formas, com uma tendência a ser
mais agravante, pela ação do escoamento pluvial em filetes e concentrado, do que
nas Várzeas e nos topos mais planos dos tabuleiros, onde o relevo é menos
movimentado.
Não se pode afirmar que as áreas planas dos Baixos Planaltos Costeiros
Subestruturais não estão insensíveis aos processos morfogenéticos. Fato este
observado pela intensa interferência antrópica quando do cultivo da cana-de-
açúcar, que provocou a degradação por lixiviação, acrescida pela ativa
movimentação do solo para plantio, que aumenta o grau de erosão.
Além do mais, as vertentes dos tabuleiros são muito heterogêneas, devido,
sobretudo ao material que as constitui e os processos que as elaboram. Neste
sentido a remoção da vegetação das encostas, pré-dispõe estas áreas à ação dos
processos erosivos. Estas alterações na cobertura vegetal sejam com a finalidade
do uso do solo com cana ou pastagens ou qualquer outro fim, por si só sempre
acarretaram processos bastante impactantes.
A cobertura vegetal não é intocável, no entanto sua remoção precisa
decididamente ser precedida de um diagnóstico das condições ecológicas,
129
pedológicas, geomorfológicas e geológicas; ou seja, é preciso conhecer os riscos
ambientais associados ao uso das encostas.
Figura 16: A ação do desmatamento para o plantio da cana nas áreas das vertentes dos
tabuleiros costeiros em relevo suave ondulado, dinamizando a ação dos processos antrópicos
erosivos.
Fonte: Autor
Vários pesquisadores têm demonstrado os riscos causados nas áreas
rurais, pelos desmatamentos, seja envolvendo grandes extensões de terra ou
pequenas áreas, sem levar em conta a suscetibilidade dos solos aos processos
erosivos.
No caso particular das encostas (vertentes), face às suas
características, é importante atentar também quanto à manifestação dos processos
erosivos, não apenas à declividade, mas também o seu comprimento e forma.
Neste sentido, a natureza da vegetação e a sua preservação são de extrema
relevância no controle dos processos erosivos, reduzindo a eficácia do escoamento
superficial e do próprio impacto das gotas de chuva sobre a superfície do solo.
Com a cobertura vegetal natural presente nestes setores, há uma menor
probabilidade da ocorrência de processos erosivos acelerados, como, por exemplo,
formação de ravinas e de voçorocas.
Notadamente, nas vertentes com cobertura vegetal, ocorre o transporte de sedimentos
de menor granulometria (silte e argila) para as Planícies Aluviais, podendo ocorrer
coluvionamento. Quando estas estão desnudas ou com cobertura vegetal rarefeita, “os
filetes e os pequenos cursos d’água formam ravina mentos, atribuindo um aspecto de
130
maior dissecação, ocorrendo à formação de cones de dejeção (talus cone), por sobre
os sedimentos das Planícies Aluviais (MARINHO, 2003).
Nas vertentes com material mais argiloso, ocorre uma densa rede de
ravinas, que se manifestam inicialmente nas linhas de maior inflexão do terreno,
afetando primeiramente as bordas dos interflúvios, para em seguida ocorrer o
retrabalhamento das próprias vertentes. Para MELO (1984, p. 58), "o papel da
erosão regressiva neste caso é muito importante, fazendo recuar as escarpas,
principalmente nas bordas dos tabuleiros e nas áreas de cabeceiras de drenagem,
que chegam a formar anfiteatros e nichos".
Nas vertentes de material mais arenoso, a parte superior é normalmente submetida ao
escoamento difuso, enquanto que os terços inferiores, mais regulados, apresentam
ravina mentos e sulcos. É bastante freqüente na saída dessas ravinas, a formação de
pequenos cones de coluvionamento formado pelo espraiamento de pequenas corridas
de lamas (MELO, 1984, p.59).
O processo histórico muito antigo de ocupação desta área, longe de ter
mitigado esses processos morfogenéticos, imprimiu a aceleração destes. A
descaracterização da cobertura vegetal natural, seja da Mata Atlântica ou dos
Cerrados e o cultivo contínuo dos solos, provocou a compactação dos mesmos
pelo uso de maquinários pesados, tanto no cultivo como transporte da cana, o que
transformou o escoamento difuso em concentrado.
Nas áreas antes recobertas pela vegetação dos Cerrados, que são os
topos dos tabuleiros, a ocupação agrícola tornou mais eficazes os processos de
lixiviação, devido uma maior infiltração, pela presença de solos de textura mais
arenosa.
Dessa forma, ao se utilizar os topos planos dos tabuleiros com
pastagem e cana-de-açúcar, por exemplo, podem ocorrer mudanças no
comportamento hidrológico sobre as vertentes, com tendência ao aumento do
escoamento superficial concentrado para as partes mais baixas do relevo.
Portanto, se as águas não forem controladas nos topos dos tabuleiros e
a vegetação das vertentes não for preservada, tem-se uma degradação também
dos patamares, por erosão laminar e em sulco, perdendo-se significativas áreas
agricultáveis. Esse processo também pode ocorrer nos setores de vertentes
retilíneas e côncavas, quando há alteração no comportamento hidrológico nos
topos dos tabuleiros devido às ações antrópicas.
131
Diante do exposto, parece pertinente afirmar que há necessidade de se
fazer uma avaliação ambiental das áreas destinadas para fins agropastoris. A partir
do conhecimento das propriedades físicas e químicas dos solos, bem como das
características das encostas e regime de chuvas, sendo possível fazer um
prognóstico do que deverá ocorrer e estimar os processos erosivos resultantes e
as técnicas conservacionistas necessárias para evitar esses processos ou, pelo
menos, minimizar seus efeitos.
A compreensão geral que se tem, é de que a degradação ambiental
ocorre em toda a parte, com maior ou menor intensidade, dependendo das
técnicas utilizadas na exploração dos recursos naturais, e da preocupação local
com a conservação desses recursos. Isso tem gerado uma série de danos, não só
ao ambiente natural, como também tem afetado as populações envolvidas, que
passam a conviver com toda sorte de riscos.
É oportuno lembrar ainda, que a expansão dos canaviais levada a efeito
pelo PROÁLCOOL, significou um processo de difusão tecnológica, neste setor
agrícola, viabilizando a modernização do cultivo, mediante a proliferação de
máquinas, uso intensivo de fertilizantes e defensivos agrícolas, entre outros, o que
acarretou diversos problemas ambientais, como poluição das águas superficiais e
subterrâneas, afetando as comunidades bióticas dos diversos ecossistemas.
Esta poluição dos recursos hídricos passou a comprometer
significativamente a qualidade destas águas, especialmente aquelas que seriam
destinadas ao consumo humano, especificamente do rio Mamanguape e seus
tributários.
Nesta perspectiva, a análise dos mapas de uso e ocupação do solo, foi
muito importante permitindo retratar a presença majoritária que a cana-de-açúcar
enquanto atividade agrícola seja nas áreas das várzeas ou nos topos dos
tabuleiros costeiros, restando pouco espaço para outras culturas, como as
pastagens, as culturas de subsistência, e mais recentemente o abacaxi.
O entendimento de todos estes processos de degradação das terras na
área do vale médio inferior do rio Mamanguape, pode se dar de acordo com a
metodologia proposta TRICART (1977). Na referida metodologia, percebem-se as
inter-relações do meio natural com a sociedade. Em relação ao meio natural,
consideram-se suas características genéticas, suas potencialidades e fragilidade,
acerca da sociedade consideram-se suas relações econômicas, culturais,
132
tecnológicas etc. A compreensão dessas imbricadas relações sociedade e
natureza permitem o entendimento dos processos de degradação que ocorrem
nesta área.
Portanto, o mapa de uso e ocupação do solo, sobreposto ao mapa da
compartimentação topomorfológica, possibilitou a visualização cartográfica das
interações e implicações das ações antrópicas com o meio ambiente numa visão
integrada, sendo muito útil à delimitação dos meios ecodinâmicos, que estarão
representados na carta de síntese ecodinâmica, documento cartográfico conclusivo
deste trabalho, que pode se útil ao planejamento da área.
133
134
6. DELIMITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DOS MEIOS
GEODINÂMICOS
A pesquisa sobre a área do vale médio inferior do rio Mamanguape teve
o propósito de desenvolver uma análise geoambiental a partir da dinâmica de
ocupação do espaço, sintetizada nos processos morfodinâmicos atuantes. A
intensidade desses processos produz a instabilidade do meio geográfico, que pode
se comportar como um fator limitante e ao comprometimento da qualidade
ambiental.
A investigação sobre o comportamento ecodinâmico dos meios
procedeu-se com base na interpretação detalhada do material cartográfico
selecionado (fotografias aéreas, imagem de satélite, e mapas temáticos), com
aferições através de trabalhos de campo. O manuseio do material cartográfico
permitiu a confecção de várias cartas temáticas (carta topomorfológica, solos,
litológica, hipsometria, vegetação e de uso e ocupação do solo), que são requisitos
imprescindíveis na aplicação da metodologia dos estudos ecodinâmicos.
A aplicação da metodologia estabelecida por Tricart (1977) serviu para
apresentar a maior ou menor intensidade dos processos morfogenéticos, assim
como a sua tendência evolutiva no tempo e no espaço entre 1975 -. 2001 e a partir
dela estabelecer a delimitação e os graus de instabilidade dos meios
geodinâmicos.
Essa análise procurou mostrar a importância dos processos
morfogenéticos naturais e dos processos da morfogênese antrópica e suas
relações com os demais processos ambientais nos vários meios geodinâmicos.
É preciso que se reconheça a profunda interação e a estreita
interdependência entre os vários elementos que os estruturam, levando a
compreensão da dinâmica natural, além da interferência que o homem exerce com
fator morfodinâmico ou morfogenético, através de suas ações sobre o meio, e isto
é determinante para o surgimento de sistemas morfogenéticos particulares, na
forma de erosão antrópica, que causa impactos de grande significância, gerando
desequilíbrios nos sistemas morfogenéticos naturais, muitos dos quais
135
irreversíveis. A morfogênese antrópica segundo Tricart et al, (1965) "pode ser
definida como sendo o resultado das ações de adaptações desencadeadas por
uma modificação no equilíbrio natural pelo homem".
Assim é que na área em questão a abertura de estradas no interior dos
canaviais sobre os sedimentos da Formação Barreiras deram origem a rupturas
localizadas puramente mecânicas, pois o material apresenta uma enorme
susceptibilidade à erosão, e o desequilíbrio uma vez estabelecido por ocasião do
período chuvoso abre ravinas no setor marginal da estrada, provocando a
mobilização e transporte de material, como pode ser observado na a estrada que
corta a fazenda Pitombeira no sentido norte da área de estudo.Ver figura 18.
Verifica-se que em toda área estudada, de maneira geral, há um certo
equilíbrio dinâmico na paisagem e que as rupturas maiores estão ligadas a uma
aceleração da morfogênese natural pelo homem e que essas estão relacionadas
com a utilização agrícola dos solos e os desmatamentos.
A análise da ecodinâmica destas unidades permitiu estabelecer o
balanço muito mais qualitativo do que quantitativo entre a pedogênese e a
morfogênese, procurando identificar a vulnerabilidade ou instabilidade natural
destas unidades ambientais (meios ecodinâmicos), frente às ações antrópicas.
Neste particular, para entender a tendência evolutiva das interações entre a
morfogênese e a pedogênese e a dinâmica impostas pelas ações antrópicas no
tempo e no espaço, foi considerado os períodos entre 1972-2001, representados
pelos mapas de uso e ocupação do solo de cada período estabelecido.
Esta avaliação se reveste de grande interesse nos estudos
ecodinâmicos, pois procuram mostrar a importância dos processos morfogenéticos
naturais e antrópicos em suas vinculações com os demais processos do meio
ecológico nas várias unidades geomorfológicas identificadas na área, ou mais
apropriadamente nos diversos meios geodinâmicos que compõem o espaço
estudado. No entender de TRICART (1985, p.73), "estes meios assim definidos se
caracterizam por tipos específicos de interações entre os fenômenos que
aperfeiçoam o meio ecológico".
A avaliação integrada dos diversos componentes do meio geográfico é
uma condição imposta pelos estudos ecodinâmicos preconizado na metodologia de
Tricart, por priorizar uma perspectiva sistêmica, que permite vislumbrar a estreita
interdependência entre os diversos geoelementos da dinâmica natural, além de
136
considerar a interferência humana como fator dinamizador dos processos
morfodinâmico ou morfogenéticos, o que possibilita uma avaliação mais correta
dos impactos produzidos pelo homem.
As diversas modalidades de interferência antrópica sobre o meio
ambiente desencadeiam sistemas morfogenéticos com características específicas,
avaliadas na forma de erosão antrópica, que são responsáveis por profundos e
muitas vezes irreversíveis desequilíbrios nos sistemas morfogenéticos naturais,
categorizado como impactos ambientais.
Os sistemas morfogenéticos da área em questão encontram-se
dependentes das relações entre o clima, o solo e a vegetação, e a ruptura na sua
dinâmica natural introduz-se por meios dos desmatamentos generalizados, da
prática de queimadas, das diversas formas e tipos de cultivos dos solos, das ações
de pisoteio dos rebanhos, da abertura de estradas vicinais dentro dos canaviais,
etc.
Analisando mais detalhadamente cada uma destas ações antrópicas e
as suas repercussões nos sistemas naturais da área, verifica-se que as rupturas
maiores no equilíbrio da morfogênese natural estão ligadas com a utilização dos
solos pela agropecuária, através dos desmatamentos, que são profundamente
imbricados por uma teia de relações de causa e efeito.
Várias pesquisas têm constatado que os processos erosivos tendem a
se acelerar, com a continuidade das atividades agropecuárias, se medidas não
forem adotadas para impedir a ação dos agentes degradantes. Ocorre, também,
que quando um terreno perde a sua capacidade de resistência à ação dos agentes
erosivos, esta atuação se intensifica, porque aumentam os fatores que favorecem o
desgaste, destacadamente o volume e a velocidade das enxurradas.
137
Figura 18: Solo Podzólico Vermelho Amarelo textura argilosa com área de istabilidade ecodinâmica
nos setores marginais da estrada para fazenda Pitombeira.
Fonte: Autor
Os desmatamentos, ainda que não se caracterize uma atividade
econômica preponderante na área, pela já exígua presença de vegetação lenhosa,
mesmo assim, sendo uma atividade fim, que almeja ou não a exploração da
vegetação com objetivos comerciais ou com a finalidade de destinar mais terras as
atividades agrícolas, quando não orientado por um plano de manejo adequado,
impõe modificações no equilíbrio biogeográfico, que repercute no sistema
morfogenético. Assim, é que estes desmatamentos mal conduzidos na área, desde
há a muito tempo tem uma grande responsabilidade pela aceleração dos
processos de erosão já em curso, nas formas de sulcos e ravinamentos, bem como
o desencadeamento de processos novos, na medida em que novas áreas vão
sendo desmatadas, para serem incorporadas como novos espaços agrícolas.
Como bem enfatizou MELO (1984), “toda prática agrícola consiste em
substituir a cobertura vegetal natural ou secundária por culturas”. Dito isto, a
retirada da cobertura vegetal natural provoca modificações no fator proteção do
solo em relação a atuação dos agentes da erosão pluvial, levados a efeito pelo
aumento na eficácia energética das chuvas sobre o solo. Pois, não mais existindo a
vegetação, desenvolve de imediato processos peculiares, como a ação impactante
das gotas de chuva sobre as partículas minerais dos solos, desagregando-as,
138
predispondo o solo a maior erosão, acentuação do fluxo das águas de escoamento
superficial sobre a superfície do terreno, que pode remover de maneira parcial ou
total o horizonte superficial do solo. Além do mais, ocorre uma elevação da
evaporação do solo, por ficar mais exposta a ação direta dos raios solares, que
alimenta a subida de água por capilaridade, provocando perda de alguns
elementos e/ou substâncias que se concentram nas partes mais superiores do
perfil do solo.
A erosão pluvial na modalidade do impacto das gotas de chuva têm
relação também com a resistência mecânica dos agregados dos solos, chamado
pelos pedólogos de “estabilidade estrutural do solo”, e por outro lado a energia
cinética das gotas, que depende da característica da precipitação e do fator
cobertura vegetal. Neste caso, as características das propriedades do solo tem
grande importância para avaliar as condições de erodibilidade do solo quanto aos
seus processos de perdas por erosão. Assim, certas práticas agronômicas podem
contribuir para melhorar ou destruir a resistência mecânica dos agregados, e
consequentemente minimizar ou não os processos erosivos.
DERPSCH (1997), no seu estudo, As leis não-escritas dos rendimentos
decrescentes destaca: A alta intensidade de chuvas que prevalece nos trópicos e
subtrópicos está geralmente associada a perdas de solo maiores do que a regeneração
natural, resultando em degradação química, física e biológica do solo e na diminuição
dos rendimentos das culturas.
A erosão provocada pelo impacto é o primeiro efeito de uma chuva
sobre o solo. Segundo STALLINGS (1957): “o cientista alemão WOLLNY, em 1879,
foi um dos primeiros a ressaltar que a vegetação protegia o solo contra a ação da
água da chuva. E ELLISON (1944), foi o primeiro a reconhecer que a ação de
impacto das gotas de chuva no solo, diretamente, e o salpico resultante, são as
causas principais da erosão hídrica, demonstrando que o efeito da proteção da
cobertura vegetal era devido ao fato de que esta absorvia a energia cinética da
gota de chuva em sua queda”.
É evidente que a água da chuva atua com uma força vertical, quando cai
sobre o terreno, e outra horizontal, quando escorre como deflúvio. Nos processos
de controle da erosão provocada pela chuva, dois objetivos são visados: manter o
terreno com a maior cobertura vegetal possível, evitando a ação de impacto da
139
gota de chuva, e aumentar as condições para infiltração e redução do volume e da
velocidade da água que escorre, de modo a controlar a erosão laminar.
Convém salientar que os fatores climáticos não são os únicos elementos
que desempenham um papel importante na morfogênese. Eles constituem um
elemento de uma combinação na qual entram outros fatores tais como topografia,
natureza do material litológico, estrutura e densidade da vegetação, as técnicas e
os sistemas de cultivos, a estrutura social e fundiária.
Remetendo esta discussão para a área de estudo, identifica-se que os
solos que compõem a superfície dos Baixos Planaltos Costeiros ou tabuleiros, que
são predominantemente as classes dos Podzólicos, caracterizam-se por certa
instabilidade em seus agregados, o que contribui para que haja uma maior
tendência a campactação e até mesmo impermeabilização do horizonte superficial,
o que facilita o escoamento superficial e por consequência a erosão. Ocupado em
grande parte pela cultura da cana-de-açúcar, estes solos são submetidos a
maiores processos de perdas por erosão, no período inicial do plantio e logo após
a colheita, onde a cultura não exerce nenhuma proteção ao solo. Nestes dois
casos os processos mecânicos da morfogênese são, desse modo, acelerados.
Logo após a fase da colheita, inicia-se novamente o período de preparo do solo
para um novo plantio, que coincide com o início da estação mais chuvosa na área
(maio, junho e julho), aumentando assim, os riscos de manifestação dos processos
erosivos. Portanto, o ritmo sazonal das culturas passa a ser um importante fator na
avaliação dos processos de aceleração da erosão.
Quadro 06: Classificação do tipo de cobertura vegetal quanto à proteção fornecida ao
solo.
TIPO DE COBERTURA ÍNDICE DE PROTEÇÃO
Vegetação lenhosa (mata e capoeira) 1 0,7
Vegetação herbácea e arbustiva 0,6- 0,5
Agricultura 0,4
Fonte: BELTRAME (1994, p.40)
A análise do quadro 06 mostra de maneira geral que o fator cobertura do
solo, que define o parâmetro de proteção, tem uma relação direta com o tipo de
uso e ocupação ao qual o mesmo está submetido em um determinado momento, e
que os processos de perdas por erosão podem ser em parte explicados por este
140
fator. Este, por sua vez, deve ser integrado a outras variáveis, como a natureza do
material de origem do solo, os aspectos geomorfológicos e as propriedades físicas
e químicas dos solos, que são parâmetros importantes na definição de seu
potencial erosivo.
Portanto, estas são exigências necessárias para se propor, o que
poderia se chamar de “uso ideal” do solo, que decorre de um conjunto de
interpretações do próprio solo e do meio geográfico onde ele está inserido. Tais
interpretações pressupõem a disponibilidade de certo número de informações
preexistentes, que são fornecidas e outras a serem levantadas sobre a área
investigada, sendo recomendável evitar o quanto possível às generalizações.
De conformidade com as características da cobertura vegetal, os
processos morfogenéticos assumem características diferenciais, atuando ora com
mais, ora com menos intensidade, limitando ou acelerando a ação do escoamento
superficial difuso ou em lençol, dos processos de meteorização, da maior ou menor
evacuação de material detrítico, enfim, tudo que localmente tenha conotação com a
dinâmica atual.
A área de estudo, conforme as características do seu quadro natural,
traduzidos pelos condicionantes climáticos, geológicos, geomorfológcos,
características dos solos e da cobertura vegetal e as próprias condições de uso e
ocupação do solo pela ação antrópica, comporta diferentes sistemas
morfogenéticos.
Nas superfícies dos interflúvios dos tabuleiros, a dissecação é
promovida sobremaneira pela rede de drenagem, sendo pouco eficiente à remoção
de detritos proporcionados pelo escoamento difuso ou em lençol. Estas
apresentam suaves ondulações e inclina-se suavemente em direção a planície do
Mamanguape. Como se trata de um relevo aplainado isso poderia ser um indicativo
de sua estabilidade morfodinâmica, no entanto, esses meios geodinâmicos não são
livres dos processos morfogenéticos, principalmente os de natureza antrópica,
decorrentes do cultivo da cana, abertura de estradas e caminhos, parcelando os
canaviais, técnicas e formas de cultivos do solo inadequadas.
Por oferecer menores limitações à utilização dos seus solos, de há muito
vem sendo a morfogênese sujeita a perturbações no seu equilíbrio natural. Isso é
mais evidente nas vertentes íngremes, onde se processam os desmatamentos
141
para atender principalmente à expansão das áreas de cultivo, com a cana-de-
açúcar. Esta afirmativa pode ser constatada nas encostas dos tabuleiros nas
adjacências do Açúde Leitão, onde vêm ocorrendo novos desmatamentos para
expansão dos canaviais da Usina Monte Alegre.
Pode-se constatar, através do trabalho de campo, um processo de
desestabilização das encostas dos vales nesta área, pela supressão total da
vegetação, e conseqüentemente os processos de erosão que se generalizaram,
principalmente nas linhas de maior declive das encostas e no leito dos córregos,
onde ocorreu um direcionamento maior das águas do escoamento superficial.
Nos estudos ecodinâmicos o elemento relevo é um componente
importante da paisagem e, por isso, merece mais atenção às suas fragilidades.
Neste sentido a análise morfodinâmica conduzida a partir da caracterização do
quadro regional que comporta a análise dos sistemas morfogenéticos, que é
função das condições climáticas, das características do relevo, da litologia e ações
antrópicas. Em função do sistema morfogenético, delimitam-se as unidades que
constituem o quadro no qual se procede à análise. O estudo dos processos atuais,
conduzido com base na análise da carta de uso e ocupação do solo de 2001,
usando os recursos da fotointerpretação e observações de campo, foram
considerados aspectos ligados à natureza dos processos atuais, com detalhamento
da distribuição e intensidade dos diversos processos identificados.
A interpretação das cartas de ocupação e uso do solo permite afirmar
que a implementação de formas distintas de uso do solo, associadas ao pouco
conhecimento das características físicas do local pode comprometer o modelo de
ocupação e degradar o ambiente em uso. Dentro desse componente, as vertentes
assumem um papel diferenciado em razão das atividades econômicas nela
implementadas. Isto porque, tanto a cana-de-açúcar como a pecuária, que são
atividades primárias bastante representativas na área de estudo, causou grandes
alterações na vegetação natural, o que contribuiu substancialmente para rupturas
no equilíbrio dos processos morfogenéticos naturais, afetando o equilíbrio do meio
como um todo.
Portanto, é mais que oportuno lembrar que a inobservância de medidas
conservacionistas tem conduzido à erosão acelerada dos solos, responsável por
um grande desequilíbrio no tocante ao balanço morfogênese/pedogênese nos
142
setores representados pelas vertentes, conferindo o que poderia se denominar de
uma resistasia antrópica.
A análise e interpretação das diversas cartas temáticas permitiram
chegar à delimitação dos meios geodinâmicos, cujas características das variáveis
do meio natural passam a ser apresentadas: morfoestrutura, clima, solo, vegetação
e uso e ocupação do solo, interações morfogênese-pedogênese, enfim, a própria
dinâmica da paisagem. Neste aspecto a individualização de cada um destes
geoelementos, reflete-se nas diferentes formas de interações existentes entre os
componentes naturais referidos, e os mecanismos ecodinâmicos atuantes, que
serão detalhados em seguida.
Os meios geodinâmicos propostos por TRICART (1977, 1992) objetivam
a identificação mais precisa e sistêmica dos elementos que contribuem para a
vulnerabilidade natural dos ecossistemas, quanto à susceptibilidade à erosão,
levando em consideração a natureza das rochas, solos, relevo, vegetação e
densidade de cobertura uso do solo e condições climáticas, sobre os quais é
possível estabelecer valores qualitativos de estabilidade da paisagem.
Os meios geodinâmicos uma vez identificados e analisados permitem
que sejam avaliadas as condições de estabilidade e/ou instabilidade dessas
unidades sistêmicas, e o entendimento de sua ecodinâmica, que deve valorizar a
relação entre a morfogênese (onde prevalecem os processos erosivos
modificadores do relevo) e a pedogênese (onde prevalecem os processos
formadores do solo).
6.1. Meios geodinâmicos das Várzeas ou Planícies Aluviais
Este meio geodinâmico é representado na área do vale médio inferior
do rio Mamanguape, pela própria planície deste rio e os pequenos vales e riachos
que constituem seus tributários, como o rio Seco e os riachos Luis Dias, Mata
Fome, Maíra, Vagem Comprida e Cafundó. A unidade mencionada pode ser
subdividida em planícies aluviais inundáveis, que sofre periodicamente a ação
143
das cheias e não inundáveis, que constituem setores mais elevados da planície,
livres das cheias.
As várzeas são compostas por depósitos fluviais e coluviais
inconsolidados, que correspondem aos fundos dos vales planos com terraços
localizados em áreas marginais da planície baixa inundável e não inundável esta
última corresponde ao setor da várzea alta. O material litológico que forma esta
unidade é constituído por sedimentos aluviais ou colúvio-aluviais, não
consolidados, de natureza variada, formando camadas estratificadas, sobrepostas,
datando do Quaternário/Holoceno, constituído pelos sedimentos arenosos, areno-
argilosos, material orgânico e níveis cascalheiros, cuja deposição reflete a
capacidade de transporte, principalmente do sistema hidrográfico do rio
Mamanguape e seus tributários.
As várzeas ou planícies aluviais da área são grosso modo delimitadas
por vertentes convexas, podendo ocorrer pequenos glacis, nas proximidades dos
leitos dos rios principais. As várzeas correspondem aos terrenos baixos, limitados
pela cota altimétrica de 20 metros, sendo um relevo mais ou menos plano de
largura variável, onde são encontradas algumas formas decorrentes da ação
destrutiva e construtiva de diversos agentes da morfogênese fluvial, que originam
subcompartimentos geomorfológicos, que são os terraços fluviais, diques marginais
e as bacias de decantação.
As chamadas planícies de inundação, referidas anteriormente, embora
existentes nos médios e em alguns casos nos altos cursos dos sistemas
hidrográficos da área, só adquirem representatividade espacial nos baixos cursos.
Sendo, portanto, formas de relevo de agradação, litologicamente constituídas por
sedimentos de natureza continental de deposição horizontal ou subhorizontal, que
na medida que se distanciam do canal fluvial, vão tornando-se cada vez mais
delgadas, até fazer contato com as vertentes que delimitam a várzea em relação
aos Baixos Planaltos Costeiros.
Segundo MELO (1995), quando caracterizaram os terraços da planície
aluvial do baixo curso do Mamanguape, no litoral norte do estado, afirmam que,
os mesmos apresentam-se embutidos em três níveis de terraços de distribuição
descontínua, documentando a existência de planos mais altos que representavam o
piso da planície e que foram recortados e parcialmente rebaixados por ocasião de
oscilações climáticas e movimentos tectônicos de surreção, além de variações
eustáticas. No que se refere aos diques marginais e as bacias de decantação, os
autores atribuem a sua origem as ações mecânicas, ora construtivas ora destrutivas
144
dos rios, que se apresentam como pequenas formas de acumulação nas margens e
depressões pantanosas.
O antropismo nesta área é bastante evidente, e em muito alterou as
suas condições naturais, principalmente no que diz respeito aos elementos edáfo-
botânicos, seja pela extração de madeiras, plantio da cana-de-açúcar ou pela
atividade criatória.
No que se refere ao aspecto pedológico que ocorre neste meio
geodinâmico, as classes predominantes são as dos Neossolos Hidromórficos,
principalmente aluviais, que são solos pouco desenvolvidos, provenientes de
deposições fluviais, com um horizonte A superficial bastante diferenciado, seguido
por camadas estratificadas, sem relação genética entre si.
Esta classe se caracteriza ainda por apresentar fertilidade natural
elevada, baixa susceptibilidade a erosão e drenagem moderada ou imperfeita. Nos
setores onde ocorrem algum acúmulo de água no período de chuva, pode-se
verificar nas camadas inferiores indícios de gleização. Eles ocupam normalmente
as partes de cotas altimétricas mais baixas do terreno, com relevo plano ou quando
muito, apresentam ondulações suaves.
Figura 19: Áreas da várzea não inundada dos (terraços estruturais) do rio Mamanguape
ocupada pela cana-de-açúcar, e ao fundo presença de formações vegetais secundárias em
processo de regeneração.
Fonte: Autor
145
Na área esta classe apresenta textura indiscriminada fase floresta
perenifólia de várzea relevo plano. Os Solos GLEISSOLOS (Gley Distrófico),
constitui uma classe menos expressiva, com horizonte glei, que são distróficos,
textura indiscriminada fase campos de várzea e floresta perenifólia de várzea
relevo plano. E onde os ocorre um maior acúmulo de matéria orgânica, encontram-
se os ORGANOSSOLOS (Orgânicos Indiscriminados), fase campos de várzea
relevo plano.
As análises das características das associações pedológicas mapeadas
se revestiram de grande importância, isto porque, possibilitou, através da
integração e análise das características físicas do solo, com os componentes
geológicos e geomorfológicos, buscando predizer alguns aspectos que permitem
estabelecer parâmetros que venham a nortear ações preventivas quanto às
tendências à degradação, que são: a textura, declividade do terreno e profundidade
efetiva do solo, que são aspectos que influem muito na capacidade e na velocidade
de infiltração e escoamento da água da chuva, dinamizando a evolução dos
processos morfogenéticos e pedogenéticos.
Portanto, a análise integrada dos componentes geomorfológicos em
suas interações com os solos, ações antrópicas e suas conexões com os demais
elementos do meio ecológico, forneceram um quadro elucidativo do
comportamento ecodinâmico das várzeas. Isto permitiu definir esta unidade como
um ambiente instável, com vulnerabilidade ambiental alta em muitos setores,
principalmente onde os setores dos solos desnudos ou com cobertura vegetal
rarefeitas. Esta instabilidade está também associada à dinâmica dos ciclos de
aporte e remoção de material sedimentar decorrente da intensidade e capacidade
do escoamento fluvial nos períodos de cheias e da intensa ação, antrópica,
principalmente o cultivo da cana-de-açúcar.
6.2. Meios geodinâmicos dos Baixos Planaltos Costeiros com Interflúvios de
topos planos e semi-colinosos, Vertentes retilíneas e convexas.
6.2.1.Os topos dos tabuleiros ou interflúvios planos
146
A superfície dos Baixos Planaltos Costeiros ou tabuleiros constitui a
unidade geomorfológica mais representativa da área de estudo, formada
litologicamente por sedimentos clásticos de granulometria fina a grosseira de idade
Cenozóica-Terciário (plio-pleistocênicos) da Formação Barreiras. São depósitos de
sedimentos areno-argilosos e argilo-arenosos inconsolidados, com níveis
conglomeráticos, dispostos em camadas com disposição quase paralela, com
mergulho na direção NE-E.
Segundo CARVALHO (1982), os baixos planaltos costeiros foram formados por
deposições ocorridas desde o Oligoceno até o Pleistoceno médio, a partir da erosão do
material desagregado da Borborema, em fases repetidas de resistasia, repousando
sobre rochas do escudo Pré-cambriano ou do Cretáceo.
Todo esse conjunto apresenta-se seccionado paralelamente, pela
superimposição fluvial dos cursos que chegam direta ou indiretamente ao mar,
apresentado superfícies com diferentes intensidades de dissecação pela ação
morfogenética das águas pluviais e/ou fluviais que dissecam-se em colinas
residuais de topos demasiadamente semi-aplainados e vertentes convexas.
Em se tratando dos Interflúvios de topo plano, são superfícies ora
preservadas, ora mais dissecadas. No médio vale inferior do rio Mamanguape, os
interflúvios da margem direita, com cotas altimétricas que oscilam entre 70 e 130
metros, denotam um maior índice de dissecação, quando comparados com as
superfícies intefluviais da margem esquerda, onde as cotas altimétricas variam
entre 50 a 160 metros, nas proximidades da nascente do riacho Luis Dias, que são
indiscutivelmente os de menor índice de dissecação na área.
A noroeste da área a superfície dos interflúvios apresenta uma maior
movimentação, com sua dissecação comandada pelo rio Seco e seus tributários.
Neste setor a influência do escudo subjacente parece desempenhar um papel
importante nesta movimentação mais acentuada do relevo, quando comparada
com os setores sul e nordeste.
Em seus aspectos mais gerais, os interflúvios dos Baixos Planaltos
Costeiros Subestruturais são relativamente planos, tabulares, em seus rebordos
apresentam-se bastante dissecados por uma rede de sulcos, (ravinas) e por vales
muito encaixados, o que lhes dão um aspecto festonado.
147
Provavelmente, o trabalho de dissecação sofreu a influência de condições climáticas
sem dúvida mais agressivas do que as atuais, o que comandou a elaboração de certas
formas, tais como: os anfiteatros, os nichos de erosão e as rampas ou glacis. (MELO,
1984).
Os interflúvios tanto da margem direita, como da margem esquerda,
localmente estão seccionados por uma pequena rede hidrográfica, com riachos,
em sua maioria temporários. A montante dos riachos formam-se anfiteatros e
nichos, cuja morfodinâmica se processa por erosão regressiva e por meio do
escoamento pluvial, que tem sua ação acentuada com os desmatamentos.
Segundo MELO (1984), os interflúvios, no que diz respeito ao regime hídrico
superficial, apresentam diferenças consideráveis, ligadas sobretudo à textura e à
granulometria do solo e das formações superficiais. Os setores mais argilosos dos
solos Podzólicos, ás vezes compactados, favorecem o escoamento superficial. Já os
interflúvios arenosos (Areias Quartzozas), favorecem uma certa infiltração da água que
pode às vezes subir à superfície quando encontra um nível subjacente menos
permeável(duripan) a uma certa profundidade.
6.2.2.As vertentes retilíneas e convexas
Definindo as Vertentes dos tabuleiros como uma categoria de meio
geodinâmico, identifica-se que apresentam formas variadas, isto é, convexas,
longas ou curtas, em função dos processos morfogenéticos que as elaboraram e
da natureza do material litológico. Os processos mais atuantes nestas formas são
representados pelo escoamento superficial, que engloba uma série de
mecanismos, e por isso ocupa posição excepcional em relação aos demais
processos. As vertentes do tipo convexas ou em rampas suaves, com alternância
de camadas arenosas e argilosas são as mais frequentes na área em questão. As
vertentes em rampas são normalmente depósitos de areia, contendo seixos e
grânulos sub-arredondados, angulosos e subangulosos.
148
Figura 20 - Encosta retilínea rampeada da margem esquerda do rio Mamanguape ocupada com
formações arbustivas e evidências de processos erosivos lineares e estrada vicinal sob solos com
presença de seixos.
Fonte: o autor
Independente das suas formas (convexas, retilíneas), as vertentes
apresentam no geral as maiores declividades dentro da área. São
predominantemente convexas, com ligeira concavidade basal. São normalmente
muito dissecadas pela ação do escoamento pluvial em filetes e concentrados. A
erosão em sulcos, muita vezes evolui, formando ravinamentos profundos nos
setores onde há maior interferência antrópica potencializa os processos erosivos.
A morfodinâmica das destes meios geodinâmicos se intensifica a partir das linhas
de inflexão entre o topo dos tabuleiros e as vertentes, os riscos de ravinamentos
severos e até mesmo movimentos de solifluxão (desmoronamentos, deslizamentos
e escorregamentos) podem ocorrer, desde que as vertentes não se encontrem
estabilizadas, ou seja, com uma taxa de substrato vegetal, seja de capoeiras e/ou
vegetação herbácea com arbustos baixos que desempenha um papel primordial na
diminuição da energia morfodinâmica das ações erosivas.
As vertentes dos vales que drenam e seccionam os tabuleiros são heterogêneas,
como já foi referido anteriormente, como as do rio Seco e dos riachos Luis Dias,
Mata Fome, Maíra, Vagem Comprida e Cafundó. Estes rios e riachos são os
responsáveis pela dissecação das bordas dos Baixos Planaltos Costeiros
Subestruturais, com perfil em forma de “V”, alargando-se para a jusante em alguns
149
pontos, onde assumem uma conformação mais ampla quando se unem à planície
aluvial do Mamanguape.
Fonte: Autor:
Figura 21: Superfícies dos interflúvios colinosos sobre a influencia do escudo subjacente ocupada
com policultura comercial e de subsistência. Ao fundo setor da vertente com solo exposto a ação da
erosão pluvial e do escoamento superficial.
Para SILVA (1995, p. 46), a característica mais geral destes pequenos vales que
entalham as bordas dos tabuleiros é a sua profundidade e seu encaixamento. A forte
declividade de suas vertentes, e o nível altimétrico dos mesmos fazem com que alguns
deles possam ser considerados como pequenos Cânions, localmente denominados de
“grotões”.
Estas formações, segundo o autor, correspondem a cursos d'água
curtos, muito encaixados, com paredes laterais e cabeceiras com forte declividade.
Algumas destas encostas encotram-se recobertas por uma vegetação secundária,
o que contribui para uma maior estabilidade em relação aos processos
morfogenéticos, que comumente se manifestam com maior energia nestas áreas,
dadas as condições mais acentuadas da declividade e litologia da área.
Os meios geodinâmicos que compõe as superfícies dos tabuleiros
(interflúvios planos e vertentes) não apresentam um padrão ecodinâmico uniforme
quanto aos processos morfogenéticos atuantes. A dinâmica que os mesmos
possam apresentar é nos permite classifica-los como meios estáveis ou instáveis
morfopedogenéticamente falando, e estas duas condições estão intimamente
relacionadas com as características gerais do seu quadro regional, bem como a
interferência de fatores locais, tais como, as diferenças nos arranjos litológicos e de
declividade, bem como as características pedológicas e ações antrópicas.
150
Com relação à análise morfodinâmica das classes de solo destes meios
geodinâmicos, pôde-se observar que os Argissolos, mesmos estando associados
às áreas de relevo mais movimentado dos Baixos Planaltos Costeiros apresentam
de maneira geral um comportamento mais estável em relação aos processos de
perda por erosão, pois são bem desenvolvidos, com grande profundidade,
porosidade e boa estabilidade de seus agregados minerais. Quando os mesmos
encontram-se relacionados com a fase de relevo mais plano dos interflúvios, esta
estabilidade morfodinâmica é maior. Verificando a sua ocorrência em relevo mais
movimentado das vertentes, observou que estes estão mais expostos a processos
de perdas por erosão quando estão desprovidos totalmente de cobertura vegetal
ou quando a mesma é rarefeita. Neste caso, pode considerar estes ambientes
como maior grau de instabilidade. Porém, como é comum nestes solos, a diferença
de textura entre os horizontes A e B (ocasionada pelo acúmulo de argila no
horizonte B) e a presença de couraças ferruginosas subjacentes ao horizonte
superficial, o que dificulta a infiltração de água no perfil. Este aspecto favorece em
parte o comportamento instável deste solo sob estas condições de relevo.
Foi observado que é comum em alguns setores das estradas no interior
dos canaviais, a incisão provocada pelo escoamento superficial nas áreas
marginais destas vias, removendo totalmente o horizonte superficial do solo,
chegando em alguns casos a expor o material ferruginoso que se encontrava
recoberto pelo horizonte superficial do solo.
Assim pôde-se constatar que de maneira geral, as formas de relevo
associadas a estes solos apresentam topos aplainados, com ligeira declividade,
ocorrendo também em setores relacionados ao segmento de vertentes retilíneas e
convexas, com declividades mais acentuadas. Diante desta diversidade de
situações topográficas, o não entendimento da dinâmica morfogenética dessas
formas de relevo pode levar ao desenvolvimento mais incisivo de processos
erosivos de degradação desta classe de solos.
Pode-se adiantar também que os processos que levaram a ocupações
inadequados destas áreas vêm sendo o maior responsável pela
desestabilização morfodinâmica dos meios geodinâmicos das vertentes, isto
porque ocorre uma maior tendência ao escoamento superficial (concentrado,
difuso) favorecendo a morfogênese em detrimento da pedogênese,
151
evidenciando um quadro de degradação, que se não for cessada as suas
causas, tende a evoluir para níveis mais críticos.
Nos setores das encostas longas onde ocorre à existência de vegetação
secundária em regeneração, os processos de erosão (laminar, sulco), perdem
importância significativa, e a pedogênese encontra-se mais estável em relação à
morfogênese. Porém, o fluxo de água do escoamento superficial quando penetra o
dorso das vertentes rampeadas da margem direita do rio Mamanguape, que se
encontra recoberta por remanescente em regeneração da Floresta Decidual
Semidecidual, desencadeia ações erosivas na forma de ravinamentos. Isto atesta
que existe uma forte interação entre o que ocorre na superfície dos interflúvios e o
comportamento morfodinâmico das vertentes.
Nos interflúvios planos dos tabuleiros estão associados também os solos
da classe das Areias Quartzosas Distróficas, originária dos sedimentos areno-
quartzosos da Formação Barreiras, referido ao Terciário. São solos profundos, com
teor de argila muito baixo. Apresentam baixa saturação de bases e alta saturação
em alumínio trocável.Têm fertilidade natural muito baixa, são excessivamente
drenados e horizonte A fracamente desenvolvido.
Esta classe ocorre em uma grande área do litoral norte do Estado. Na
área de estudo, ocupa a porção Nordeste. Encontra-se associado à fase de relevo
plano ou com ondulações muito suaves, com altitudes entre 50 e 120 metros. A
vegetação normalmente encontrada sobre estes solos é o cerrado arbóreo-
arbustivo e vegetação de transição entre o cerrado e floresta, conhecida por
carrasco.
Apesar das limitações agrícolas que esta classe de solos apresenta, a
sua exploração com atividades do setor primário não foi descartada, principalmente
pela cana-de-açúcar. Sendo solos que ocorrem em relevo de declividades
modestas e com grande capacidade de infiltração, dada a textura muito arenosa,
ocorre uma certa estabilidade da pedogênese em relação aos processos erosivos.
Porém, como é uma área de intenso antropismo, pelo cultivo da cana-de-açúcar,
foi identificado, mesmo em relevo plano, evidências de instabilidade
morfodinâmica, como ravinamentos nas linhas laterais das estradas usadas para
escoamento da produção da cana e nas linhas de contato destes solos com as
encostas dos vales.
152
6.2.3.Os Interflúvios semi-colinosos e as vertentes convexas sob a influência do
escudo subjacente
Este meio geodinâmico encontra-se situada a noroeste da área, que se
caracteriza por apresentar superfícies interfluviais formadas por topos colinosos
mais arredondados entalhados por vales fechados. As formas do modelado nesta
área são profundamente controladas pela estrutura geológica do escudo, que se
encontra recoberto pelos sedimentos da Formação Barreiras.
As formações superficiais, dentre elas os solos são resultantes da
alteração das rochas durante a evolução geomorfológica-pedológica da área, e
este fato é relevante, pois auxilia na identificação das diferenças pedológicas e na
própria velocidade dos processos morfodinâmicos. Observou-se que os processo
erosivos crescem de intensidade do topo para as encostas mais íngremes, que
provocam a instabilidade morfodinâmica e ambiental diferenciada nestas áreas.
Um outro fator responsável pela instabilidade nas condições
morfopedológica nestes meios são as ações antrópicas, como a pecuária, cana-de-
açúcar, abacaxi e culturas de subsistência. As atividades agrícolas têm uma
participação direta na dinâmica dos processos morfodinâmicos, em particular nas
áreas mais declivosas, onde a morfogênese encontra-se muito ativa em relação a
pedogênese. Isto pode ser denotado pela exposição muito comum das rochas que
compõem o escudo. Neste caso, não só o horizonte superficial do solo foi
totalmente removido, mas também, todo o pacote sedimentar da Formação
Barreiras. Esta desestabilização na relação a morfogênese/pedogênese foi melhor
observada nas encostas declivosas do rio Seco e Luis Dias e seus tributários.
Diante destas condições de incisiva morfogênese antrópica, pode-se inserir esta
área na categoria dos meios ecodinamicamente muito instáveis.
O trabalho de campo evidenciou que o processo de uso do solo neste
setor do médio vale inferior do rio Mamanguape apresenta uma maior diversidade
de tipos de culturas, diferentemente do setor dos interflúvios da margem direita,
onde ocorre maior homogeneidade. No primeiro espaço mencionado é mais
comum a manifestação dos consócios: policultura alimentar de subsistência,
monocultura e pecuária.
153
É possível que este fato talvez explique em parte a menor evidência de
processos de erosão em algumas encostas ocupadas com policultura de
subsistência, pois é sabido que, pelas suas próprias características técnicas e de
manejo da terra, esta forma de uso do solo exerce uma ação de impacto ambiental
menor que as monoculturas.
Figura 22: Encostas semi-colinosas dos tabuleiros sob a influência do escudo subjacente com solo
ocupado por consórcios de culturas (abacaxi, cana e bananeira) e formações vegetais herbáceas-
arbustivas.
Fonte: o autor
Foi constatado ainda pelo trabalho de campo que nos setores das
encostas dos pequenos vales e córregos, os processos de ravinamentos se
intensificam em quantidade e profundidade, principalmente quando o solo
encontra-se em total exposição a ação do escoamento superficial.
Comparativamente, estas mesmas vertentes quando se encontram recobertas por
uma vegetação de arbustos, associadas a um estrato herbáceo, mesmo que
rarefeito, a visibilidade destes processos foi menos sintomática.
Nos topos planos dos interflúvios cortados pela estrada que liga o
município de Mamanguape a Itapororoca, boa parte deles estão ocupados com
pastagens, que comporta uma pecuária de gado mestiço. Nesta área foi observado
dentro de algumas zonas preferencias do terreno a manifestação de sulcos
154
lineares de ravinamentos provocados por superpisoteio do rebanho. As áreas que
sofrem a ação mais evidente dos processos de erosão correspondem às trilhas de
deslocamento do rebanho dentro do cercado.
Focalizando o comportamento ecodinâmico dos meios acima referidos,
no contexto mais geral da área de estudo, pôde-se constatar que mesmo devido ao
alto grau de antropismo a que a área encontra-se submetida, a mesma não
apresenta um grau de instabilidade generalizada. Nas áreas onde ocorre à
permanência de uma cobertura vegetal, ainda que com elevado grau de
antropismo, os processos da morfogênese parecem ter alcançado um grau de
estabilidade maior em relação ao seu entorno, que se encontra ocupado com a
cana-de-açúcar em estágio de crescimento avançado ou inicial. Portanto, podemos
inferir que existem áreas (meios) que se encontram mais instáveis do que outros,
muitas vezes em face de certas condições ambientais mais localizadas.
155
156
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A finalidade central desta pesquisa foi desenvolver uma investigação
voltada, a uma análise integrada entre os elementos ou fatores que estruturam o
meio natural e avaliar como o processo de organização e utilização humana
interferiu na geodinâmica do Espaço no Vale Médio Inferior do Rio Mamanguape.
Os princípios metodológicos da Ecodinâmica de TRICART (1977),
permitiram compreender e explicar como se procedem as múltiplas alterações nos
componentes do meio natural e suas relações com as ações antrópicas. Neste
sentido procurou-se delinear as características do quadro ambiental e estabeleceu
como limite temporal para análise a progressão das ações antrópicas no período
entre 1975 a 2001.
O desafio maior desta pesquisa foi procurar entender em uma
perspectiva evolutiva integrada como transcorreram as diversas transformações
ensejadas pelas várias formas de ocupação e uso do solo nos sistemas
ambientais, e por extensão nos sistemas morfopedogenéticos.
As análises setorizadas representadas pela cartografia temática
mostraram-se um procedimento imprescindível para uma melhor compreensão
sobre o conjunto do quadro geográfico da área. Este procedimento não é
conflitante com a abordagem sistêmica proposta, pois a segmentação dos estudos
apresenta-se como uma necessidade metodológica que vem permitir a análise das
correlações entre os elementos do meio físico e posteriormente a integração com
as ações humanas.
A definição e análise das características dos meios geodinâmicos
permitiram estabelecer uma tipologia do comportamento dos meios quanto a sua
vulnerabilidade ambiental, onde foram avaliadas as suas dinâmicas face aos
processos de degradação determinados pela estruturação dos elementos que
compõem e modelam o meio ambiente e a organização das formas de intervenção
antrópica, que quase sempre negligenciam os limites das condições da
sustentabilidade ambiental.
Para alcançar a delimitação e caracterização dos meios geodinâmicos
os estudos da dinâmica ambiental apoiaram-se preponderantemente na análise
157
das características das unidades geomorfológicas, onde foi definida a sua
macrocompartimentação, possibilitando a caracterização dos principais processos
atuantes e suas vinculações com os atributos litológicos, pedológicos, condições
climáticas e ações antrópicas.
Nesta perspectiva, em função da caracterização dos sistemas
morfogenéticos atuantes face as condições dos elementos do meio físico natural e
da apreciação dos mecanismos da degradação antrópica, sob as formas de uso do
solo, estes dados foram decisivos na identificação dos meios geodinâmicos, a
saber: Meios geodinâmicos das várzeas ou planícies aluviais, dos Baixos Planaltos
Costeiros, que se subdivide nos Interflúvios de topos planos e vertentes rampeadas
retilíneas e convexas e interfluviais semi-colinosos e vertentes dos tabuleiros
costeiros sob a influência do escudo subjacente.
Em decorrência das características distintas apresentadas pelas suas
feições morfológicas e dos processos morfogenéticos atuantes, surgiu à
necessidade de se estabelecer uma subcompartimentação geomorfológicas dos
Baixos Planaltos Costeiros. Isto por que foi identificado que havia uma certa
heterogeneidade geoambiental nesta unidade geomorfológica sobre certos
aspectos, como por exemplo, formações litológicas e classes de solos
heterogêneas, vegetação e uso da terra diferenciados. Além disto, as suas
formações superficiais apresentadas traduzem de maneira evidente a influência
dos fatores estruturais e a manifestação de processos morfogenéticos peculiares, o
que exigiu sua subdivisão e análise como um meio geodinâmico individualizado.
Os diversos arranjos espaciais foram identificados a partir da
convergência de semelhanças entre os componentes abióticos e bióticos que
estruturam e define o comportamento de cada meio geodinâmico. A delimitação
destes apoiou-se nas similaridades dos condicionamentos geológicos, pedológicos
e na própria evolução geomorfológica e características climáticas.
Uma das limitações metodológicas encontradas pela pesquisa foi à
incompatibilidade das escalas do material cartográfico manipulado, dificultando
muitas vezes as correlações temáticas, o que comprometeu parcialmente o nível
de detalhamento de algumas questões, impossibilitando uma representação
cartográfica mais acurada dos sistemas morfogenéticos, dos processos e da
degradação antrópica.
158
As características ambientais apresentadas pelos meios geodinâmicos
das Várzeas remetem as seguintes considerações de que, mesmo reunindo
aspectos naturais em termos topomorfológicos e geopedológicos favoráveis a uma
possível estabilidade ecodinâmica, devido o seu relevo modestamente plano e
solos profundos, isto não acontece. Isto porque, a mesma constitui-se em um
espaço de intensa ação antrópica, pois se reveste de significativa importância
agrícola. Sendo assim, foi e continua sendo submetida a uma intensa exploração
secular, inicialmente pela atividade criatória e posteriormente pela cana-de-açúcar.
A sua própria condição natural lhe reservou uma aptidão agrícola muito
favorável, com significativos impactos sobre a sua cobertura vegetal, na atualidade
já muito exígua, e seus solos por apresentar um certo grau de eutrofismo e
umidade reuniam propriedades que favoreceram uma exploração agrícola
intensiva. E esta se fez sem os devidos cuidados conservacionistas. Assim sendo,
este meio apresenta um elevado índice instabilidade.
A caracterização do meio geodinâmico dos Baixos Planaltos Costeiros
ou Tabuleiros se reveste de uma maior complexidade, face as suas múltiplas
características topo morfológicas, pedológicas, litológicas e o mosaico de suas
formas de ocupação e uso do solo. Somados a estes fatores destacaria ainda a
diversidade das pressões exercidas pelas ações antrópicas sobre estas áreas, com
fortes implicações sobre o complexo dinamismo de uma gama de processos
morfogenéticos atuantes sobre a paisagem.
Nos setores dos Interflúvios com topos planos, que correspondem às
superfícies aplainadas ou moderadamente ondulada, que ocorrem ao norte e ao
sul da área seccionados pela rede de drenagem, a manifestação dos processos
morfogenéticos é incipiente, mas os impactos decorrentes das pressões das ações
antrópicas respondem, conforme ficou evidenciado durante os trabalhos de campo
e as interpretações das fotografias aéreas pela intensificação dos processos
morfogenéticos em alguns setores ocupados pela cana-de-açúcar, havendo a
instalação de processos lineares de erosão nas linhas de maior declive do terreno,
principalmente onde ocorre o tráfego das máquinas agrícolas, por ocasionar a
compactação do horizonte mais superficial do solo. Além do mais, é comum a
movimentação de material fino por lixiviação e iluviação no interior do perfil do solo,
159
imprimindo aos solos desta área um comportamento físico, químico e morfológico
dinâmico peculiar.
Sob o aspecto ecodinâmico, este meio apresenta um nível de
estabilidade alto, o que não lhe isenta de total instabilidade. Neste caso, pode-se
atestar que o estudo ecodinâmico deve atentar para as múltiplas conexões
existentes entre os elementos da paisagem, que muitas vezes parecem ocultos em
análises de cunho mais generalistas.
Quando se analisa o comportamento ecodinâmico das vertentes, os
processos que decorrem das interações entre a morfogênese e a pedogênese
ficam melhores evidenciados, e, por conseguinte, os problemas ambientais. Isto
ocorre devido às mesmas se constituírem meios ecodinâmicos mais sensíveis à
dinâmica natural dos sistemas morfogenéticos e as ações antrópicas.
As vertentes possuem relevo com declividades mais acentuadas, e
apresentam uma rica rede de canais provenientes, ora dos topos dos Baixos
Planaltos Costeiros, ora das porções mais elevadas das próprias vertentes que
demandam as Planícies Aluviais. As vertentes situadas nos tabuleiros da margem
esquerda do Rio Mamanguape apresentam formas diversificadas, isto é, retilíneas
longas e curtas em forma de rampas e convexas, em função dos processos que as
elaboram e da natureza do material originário.
Em face de todas as suas características naturais anteriormente
expostas, é de se esperar que estes meios apresentem riscos ambientais maiores
quando submetidas à ocupação humana. Assim sendo, o seu uso deve ser
mediado por uma série de cuidados, que deve passar por recomendações técnico-
científicas provenientes de pesquisas, para evitar repercussões ambientais
maiores.
Para a ocupação destes meios geodinâmicos, torna se imperativo a
necessidade de um conjunto de informações derivadas de estudos de cartografia
geomorfológica em escalas maiores, que busquem compatibilizar a necessidade de
se ampliar às áreas agrícolas a revelia dos princípios conservacionistas.
A despeito de tudo isto, os desmatamentos que procuram atender as
novas demandas impostas pelas atividades agrícolas, em particular a cana-de-
açúcar, abacaxi e a pecuária são freqüentes, e já comprometeram
160
demasiadamente a cobertura vegetal. Quando isto ocorre nos setores das
vertentes os problemas ambientais decorrentes são evidentes, como aceleração
dos processos morfogenéticos e suas conseqüências (assoreamento dos rios,
riachos e açudes), como foram constatadas nas vertentes, onde tem origem
diversas nascentes que alimentam o Açude da Omesca nas proximidades da
Fazenda Leitão.
Assim, o resultado das correlações das variáveis geoambientais sobre o
comportamento ecodinâmico das Vertentes situadas nas bordas dos tabuleiros
costeiros, permite inseri-las na categoria dos meios ecodinamicamente de alta a
forte instabilidade. Portanto, com ´serias restrições de uso do solo.
Quando da análise das formas e processos dos subcompartimentos do
meio geodinâmico dos Baixos Planaltos Costeiros, foi necessário ainda
individualizar e analisar os Inteflúvios colinosos e vertentes de topos arredondados
convexos sobre a influência do escudo cristalino subjacente, situados a noroeste
da área. Este setor dos tabuleiros tem a sua dissecação comandada pela bacia do
Rio Seco e Luís Dias e seus tributários. Além do mais, nesta área os Baixos
Planaltos Costeiros parece sofre uma influência mais evidente da estrutura do
escudo cristalino, que imprime feições muito próprias às subunidades de relevo,
senão vejamos.
Neste setor da área de estudo o relevo apresenta uma maior
movimentação, ou seja, a rede hidrográfica exerce maiores incisões ou recortes
sobre os sedimentos da Formação Barreiras, imprimindo um maior dinamismo a
paisagem geomorfológica. Os interflúvios de topos planos são mais estreitos, a
drenagem apresenta maior densidade e as vertentes são mais rebaixadas e
descontínuas. Ocorrem também vertentes que apresentam feições mais
arredondadas, parecem representar superfícies testemunhas dos antigos platôs
contínuos dos tabuleiros.
Neste setor da área de estudo a pressão antrópica não é menos intensa
do que na área anteriormente analisada. As formas de ocupação de uso do solo
são mais diversificadas, apesar da prevalência da cana-de-açúcar e da pecuária.
Os remanescentes da cobertura vegetal natural são pouco comuns, manifestando
como pequenos núcleos da antiga Floresta Estacional Semidecidual na forma de
161
franjas de matas ciliares ao longo dos rios e pequenos riachos que cortam os
tabuleiros.
No limite mais a nordeste da área, no município de Mamanguape vamos
encontrar restos da Floresta Ombrófila Densa, pertencente à REBIO Guaribas, que
foi seccionada pela BR 230 e também sofre forte pressão dos canaviais e das
pastagens nos seus rebordos.
Quando analisado o comportamento da distribuição e intensidade dos
processos morfogenéticos manifestados nas vertentes deste setor dos tabuleiros,
constata-se que as ações antrópicas nas diversas formas de uso do solo
desempenham um papel primordial na explicação do comportamento ecodinâmico
muito instável neste meio geodinâmico. Esta instabilidade também tem as suas
origens ligadas à própria posição da vertente frente ao sistema de drenagem, e as
outras formas de escoamento superficial, bem como as influências do fator
variabilidade litológica e pedológica.
Ficou evidenciado também nas anotações de campo, que os setores
mais rebaixados e de menor declive das vertentes, quando submetido à ocupação
por policultura de subsistência, se reveste de uma estabilidade moderada, pela
menor evidencia de manifestação dos processos morfogenéticos. Daí pode-se
concluir que os meios geodinâmicos que se encontram revestidos por formações
vegetais naturais, ainda que não muito densa e aqueles ocupados pela policultura
alimentar, são teoricamente os de maior grau de estabilidade morfogenética. Em
contrapartida, os meios geodinâmicos que apresentam seus solos cultivados com a
monocultura da cana-de-açúcar, pastagens ou encontram-se desnudo, são os de
maior instabilidade, portanto estão mais expostos a riscos ambientais.
Portanto, é oportuno frisar que, a combinação e os diversos arranjos dos
elementos do meio físico-natural, e a análise das suas vinculações com a dinâmica
dos elementos socioeconômicos que estruturam o Espaço da área do médio vale
inferior do Mamanguape, evidenciam que a dinâmica atual desta área parece ser
representada, grosso modo, por uma complexa combinação de meios
ecodinâmicos relativamente estáveis e de meios instáveis, e que o equilíbrio
natural dinâmico do meio ambiente é constantemente posto em risco pelas
intervenções humanas mal conduzidas.
Assim, a morfodinâmica da área é extremamente susceptível a forma
como o homem procede as suas relações e vinculações com o seu meio. Além do
162
mais, a incorporação de uma mentalidade mercantilista, sempre associada ao uso
de novos padrões tecnológicos aos sistemas agrícolas na área, principalmente
pelas culturas comerciais de exportação foi e continua a ser uma variável
determinante dos desequilíbrios geo-ambientais identificados na área.
Portanto, a análise dos diversos elementos naturais e da organização do
espaço do médio vale inferior do rio Mamanguape, permitiu definir diversos
arranjos espaciais, o que remeteu a análise geoambiental proposta, e a
metodologia ecodinâmica mostrou-se extremamente eficiente e esclarecedora dos
problemas ambientais da área e produziu resultados conclusivos, que poderão
servir como sugestões que possam ser aplicadas na conservação e preservação
dos recursos naturais, contribuindo para a sustentabilidade socioambiental da
população local.
Como considerações últimas, face aos resultados alcançados pela
pesquisa, a mesma procurou não mostrar soluções objetivas, mas caminhos
possíveis, que tem suas exigências próprias. Alguns podem partir de decisões de
projetos de desenvolvimento locais, outros de caráter regional, mas ambos devem
partir da necessidade do conhecimento de como se encontra estruturado os
sistemas naturais e socioeconômicos, para que possa permitir prever as
modificações a partir de diagnósticos, para então fazer um prognóstico para uma
nova reordenação do território em bases mais sustentáveis.
Ao emitir esta opinião, deve-se assegurar que os estudos integrados do
meio ambiente são ferramentas eficientes com vistas à ordenação planejada do
território. Tal ponto de vista será capaz de responder a algumas demandas locais e
contribuir para fortalecer e renovar a pesquisa aplicada e atenuar os desequilíbrios
entre as análises pulverizadas, que não produzem resultados que possam levar a
ações efetivas mais duradouras.
163
164
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