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Cartas: uma possibilidade para o ensino do
ensamento fenomenológico
desenvolver cartas-resposta, me faz perceber o quanto é grande e sério o
campo de trabalho do psicólogo.
Quanto à fenomenologia, o que posso dizer é que foi um dos melhores
encontros que poderiam acontecer na minha vida, pois é sempre um
aprendizado. Sempre uma construção do saber.
As cartas-resposta produzidas são o resultado de muitos
questionamentos que vou fazendo a mim mesma ao longo do semestre.
Reflexões, às vezes solitárias, que envolvem valores pessoais, conceitos
previamente adquiridos e sobre a experiência única que se apresenta.
Trabalhar com as cartas foi uma excelente oportunidade de me
aproximar dos conflitos vivenciados por muitos pais quando seus filhos não
satisfazem os critérios exigidos pela sociedade, ou seja, o modelo “criança –
padrão”, aquela criança estudiosa, alegre, esperta e comunicativa. Sofre o
filho por simplesmente ser o que é, passa a ser rotulado pela espontaneidade
do seu modo de ser, pela sua particularidade de sofrer, se alegrar e vivenciar
tantos momentos da vida. Sofrem os pais, porque são julgados pelo outro
como incapazes de educar seus filhos e fazê-los felizes.
A solução, então, passa a ser levar o “caso” para o psicólogo,
profissional que ficará responsável por dar as respostas sobre o que está
acontecendo com aquela família. E, então, o que fazem os “especialistas da
psicologia”?
Longe de julgar a atividade desenvolvida por muitos destes
profissionais e ensinada a muitos alunos de psicologia, o que eu aprendi com
você, professora, foi de alguma forma tentar dizer aos pais que nem um
deles recebe o manual da “boa” conduta quando seus filhos nascem. Então,
não existe caminho certo nem errado, eles fizeram o que acharam melhor e,
se estão procurando ajuda, é porque têm interesse em entender o que está
acontecendo e querem encontrar a “melhor” forma e maneira de lidar com
a atual situação e com as que poderão surgir em suas vidas e na vida dos
seus filhos.
Para dizer essas coisas aos pais, você me ensinou a resgatar palavras
como amor, ternura, carinho, doçura, paciência, compreensão, entre outras,
que parecem ter desaparecido das nossas falas e das nossas práticas diárias,
palavras que por si só já mudam o contexto de uma situação.
Realmente, educar é uma tarefa obrigatória dos pais e isto você nos
fez repetir muitas vezes em cada cartinha. Porém, mesmo obrigatória, em
momento algum, você nos fez dizer aos pais que esta era uma tarefa fácil,
pelo contrário, nos ensinou a lhes dizer que é sim, uma tarefa difícil, e que
temos muitos caminhos a seguir, basta encontrar aquele que combine com o
nosso modo familiar de ser.
Nesta prática, aprendi que as pessoas são diferentes e cada uma tem
seu modo particular de vivenciar determinadas situações, por isto existe a
impossibilidade da construção de um manual sobre a boa educação.
Aprendi que as pessoas são únicas em suas experiências e merecem e
precisam ser acolhidas de modo especial. Tanto as crianças como os
adultos, cada um revela o seu modo particular de ser e vivenciar as situações
cotidianas.
Muitas coisas aconteceram comigo após minha chegada neste
estágio e estas transformações podem ser percebidas não somente no
resultado das cartas, mas em situações comuns do cotidiano. Quantas vezes
me peguei surpreendida com minha própria fala?