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TESE DE DOUTORADO
ANISOTROPIA MAGNÉTICA E ACOPLAMENTO DE TROCA
EM MULTICAMADAS DE METAIS DE TRANSIÇÃO
WILLIAN EDGARDO ALAYO RODRIGUEZ
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS FÍSICAS
RIO DE JANEIRO – RJ
SETEMBRO DE 2007
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Agradecimentos
Agradec¸o a minha orientadora Elisa Baggio-Saitovitch pela oportunidade de trabalhar
no grupo, a confianc¸a depositada, a completa revis
˜
ao do trabalho e pela orientac¸
˜
ao du-
rante estes quatro anos de formac¸
˜
ao.
Agradec¸o ao Professor Luis M
´
asperi (in memorian) por ter-me dado a oportunidade de
vir ao Brasil.
Agradec¸o ao Centro Latinoamericano de F
´
ısica (CLAF) e ao Conselho Nacional de De-
senvolvimento Cient
´
ıfico e Tecnol
´
ogico (CNPQ) pela bolsa concedida para a realizac¸
˜
ao
deste trabalho.
Meus agradecimentos aos meus colegas de trabalho e amigos Miguel, Valberto e Xing,
pelos anos de conviv
ˆ
encia, pelos ensinamentos, pelas valiosas sugest
˜
oes e pela abnegada
ajuda nos experimentos realizados no LNLS.
Agradec¸o ao Professor Fernando Pelegrini pela sua hospitalidade durante minha estada
em Goi
ˆ
ania, pela oportunidade de realizar os experimentos de resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica,
pelos ensinamentos sobre a t
´
ecnica e a an
´
alise dos dados experimentais e pelas valiosas
sugest
˜
oes e discuss
˜
oes que ajudaram a concluir este trabalho.
Minha gratid
˜
ao para a Dra. Ana Paula Dornelles pela orientac¸
˜
ao e sugest
˜
oes iniciais,
pela ajuda nas medidas iniciais no LNLS e pelos ensinamentos quanto a an
´
alise dos es-
pectros de dicro
´
ısmo.
Agradec¸o a Flora Saitovitch, pela valiosa ajuda que permitiu melhorar a redac¸
˜
ao desta
tese na l
´
ıngua portuguesa.
Agradec¸o a Val
´
eria Moraes pelas medidas de difrac¸
˜
ao de raios-X e ao pessoal do LNLS
pelo aux
´
ılio durante os experimentos de dicro
´
ısmo.
ads:
Aos meus amigos Daniel, Elmer e Julio pelos anos de conviv
ˆ
encia e pelo apoio no que foi
poss
´
ıvel.
Agradec¸o ao povo brasileiro pela oportunidade dada aos estudantes de outras nac¸
˜
oes.
Resumo
Nesta tese
´
e apresentado um estudo das propriedades estruturais, do acoplamento
de troca e da anisotropia magn
´
etica em multicamadas compostas por metais de transic¸
˜
ao
3d e suas ligas separados por elementos de transic¸
˜
ao 3d, 4d ou 5d. Os sistemas de mul-
ticamadas escolhidos foram as tricamadas NiFe/V/NiFe e as multicamadas Co/Ru, Fe/Cr
e Co/Pt. A t
´
ecnica empregada na fabricac¸
˜
ao dos filmes foi a pulverizac¸
˜
ao cat
´
odica por
magnetron. Para determinar as propriedades estruturais das amostras, foi usada a difrac¸
˜
ao
e a reflectividade de raios-X (DRX) e os fen
ˆ
omenos magn
´
eticos foram estudados com
dicro
´
ısmo magn
´
etico circular de raios-X (XMCD), resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica (FMR),
medidas de magnetizac¸
˜
ao obtidas com um magnet
ˆ
ometro SQUID e medidas de magne-
torresist
ˆ
encia.
No sistema NiFe/V/NiFe, foi investigado o acoplamento de troca indireto entre as
camadas de NiFe bem como sua depend
ˆ
encia com a espessura do V e a anisotropia
magn
´
etica das tricamadas. Foi observado um acoplamento ferromagn
´
etico para uma es-
pessura de 0.5 nm de V, que est
´
a relacionado com uma diminuic¸
˜
ao do momento de spin
do Fe. As camadas de NiFe separadas por espessuras maiores de V se comportaram
como camadas desacopladas desde o ponto de vista da FMR e apresentaram campos de
anisotropia efetiva diferentes.
Para o sistema Co/Ru inicialmente foi feito um estudo do acoplamento de troca en-
tre as camadas de Co em func¸
˜
ao da espessura das camadas de Ru, atrav
´
es de medi-
das de magnetorresist
ˆ
encia e do campo de saturac¸
˜
ao, visando obter um sistema est
´
avel
com propriedades j
´
a reportadas. Atrav
´
es das an
´
alises com FMR, foram determinadas as
contribuic¸
˜
oes de interface e de volume para energia de anisotropia, bem como a espessura
cr
´
ıtica abaixo da qual o eixo de f
´
acil magnetizac¸
˜
ao fica perpendicular ao plano. Neste sis-
tema, duas fases magn
´
eticas com anisotropias diferentes foram observadas, uma das quais
´
e atribu
´
ıda
`
as camadas de Co e a origem da segunda se deve, provavelmente, a regi
˜
oes
do Co nas interfaces com Ru, com magnetizac¸
˜
ao efetiva menor, por
´
em, uma explicac¸
˜
ao
definitiva ainda n
˜
ao foi encontrada ficando, portanto, como uma quest
˜
ao aberta.
No sistema Fe/Cr foi estudada a polarizac¸
˜
ao induzida de spin do Cr nas interfaces
com Fe, abordando dois procedimentos experimentais. O primeiro consistiu em remover
camadas finas de material da superf
´
ıcie da amostra com ciclos de sputtering in situ (bom-
bardeio com ions de Ar
+
), para diminuir a separac¸
˜
ao superf
´
ıcie - primeira interface. No
segundo procedimento, foram reproduzidas amostras com a mesmas caracter
´
ısticas, com
sua camada protetora de Cr, depositada com diferentes espessuras, com o intuito de obter
diferentes separac¸
˜
oes entre a superf
´
ıcie da amostra e a primeira interface Fe/Cr. Desta
maneira a
´
unica diferenc¸a entre os dois procedimentos
´
e o uso de bombardeio com ions
de Ar
+
. Os resultados respectivos quanto ao magnetismo do Fe e do Cr foram comparados
e discutidos.
No sistema Co/Pt foi estudado o fen
ˆ
omeno da anisotropia magn
´
etica perpendicular.
A espessura das camadas de Co para este sistema foi de poucas camadas at
ˆ
omicas (entre
0.3 e 1 nm) e a espessura da camada de Pt foi mantida constante em 1 nm. Foi poss
´
ıvel
observar uma mudanc¸a gradativa da orientac¸
˜
ao do eixo de dif
´
ıcil magnetizac¸
˜
ao em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano dos filmes em func¸
˜
ao da espessura das camadas de Co bem como
obter os respectivos campos de anisotropia efetiva, que determinam se o eixo f
´
acil est
´
a
orientado paralelo ou perpendicular ao plano.
Abstract
In this thesis, a study of the structural properties, the exchange coupling and the mag-
netic anisotropy in multilayer composed by 3d transition metals and their alloys separated
by 4d or 5d elements is presented. The selected systems to be analyzed are NiFe/V/NiFe
trilayers and the Co/Ru, Fe/Cr and Co/Pt multilayers. The technique used to fabricate
the multilayer samples was magnetron sputtering. The structural characterization was
performed by low angle X-ray diffraction (XRD) and the magnetic properties were inves-
tigated by X-ray magnetic circular dichroism (XMCD), ferromagnetic resonance (FMR),
magnetization measurements obtained with a SQUID magnetometer and magnetoresis-
tance measurements.
In the NiFe/V/NiFe trilayers we investigate the indirect exchange coupling between
NiFe layers as well as its dependence on the V layer thickness and the magnetic anisotropy.
A ferromagnetic coupling was observed for the trilayer with 0.5 nm of V and this cou-
pling provokes a reduction of the Fe spin moment. The NiFe layers separated by larger
V thicknesses behave as decoupled layers from the point of view of the FMR and they
present different effective anisotropy fields.
For the Co/Ru system, initially the structural properties were characterized and the
oscillations of the exchange coupling between Co layers as a function of the Ru layer
thickness were reproduced in order to obtain a stable system with properties already re-
ported. The interface and volume contributions to the anisotropy energy were determined
in Co/Ru multilayers as well as the critical Co layer thickness bellow that, the easy axis of
magnetization is preferentially oriented perpendicular to the film plane. For this system,
two magnetic fases, with different anisotropy were observed, one of them was attributed
to the resonance of the Co layers and the origin of the other one is, probably, due to Co re-
gions, with lower effective magnetization, at the interfaces with Ru. However, a definitive
explanation was not found, remanning as an open question.
In the Fe/Cr system, the induced spin polarization on Cr at the Fe/Cr interfaces was
studied approaching two experimental procedures. The first one consisted on thinning
layers from the film surface with sputtering in situ (bombardment with Ar
+
ions) to di-
minish the surface-first interface separation. In the second procedure, samples of the same
type were grown with the protective Cr layer with different thicknesses, in order to repro-
duce the previous procedure with out use sputtering. The respective results about the Fe
moments as well as the induced moment o Cr are compared and analyzed.
In the Co/Pt system, the perpendicular magnetic anisotropy was analyzed. The Co
layers thickness for this system was only of few atomic layer (between 0.3 and 1nm)
and the Pt layer thickness was kept constant at 1 nm. A gradual change of the hard axis
orientation with respect to the normal film plane, as a function of the Co layer thickness,
was observed. The respective effective anisotropy fields values were calculated to analyze
the preferencial orientation of the easy axis.
Sum
´
ario
Introduc¸
˜
ao 2
1 Multicamadas magn
´
eticas 7
1.1 Propriedades estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Acoplamento de troca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.1 Modelo RKKY . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.2 Modelo de confinamento qu
ˆ
antico . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Anisotropia magn
´
etica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3.1 Contribuic¸
˜
ao de volume e de superf
´
ıcie para a EAM . . . . . . . 16
1.3.2 Origem da anisotropia de superf
´
ıcie . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2 M
´
etodos de an
´
alise e detalhes experimentais 20
2.1 Crescimento de Multicamadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.1 Pulverizac¸
˜
ao cat
´
odica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.2 Sistema de pulverizac¸
˜
ao cat
´
odica . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.3 Caracterizac¸
˜
ao estrutural: Difrac¸
˜
ao e reflectividade de raios-X . . 23
2.2 Dicro
´
ısmo Magn
´
etico Circular de Raios-X . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.1 Magnetismo nos metais de transic¸
˜
ao 3d . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.2 Modelo de dois Passos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.3 Regras de Soma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2.4 Limitac¸
˜
oes das regras de soma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2.5 Detalhes experimentais das medidas de XMCD . . . . . . . . . . 36
2.2.6 An
´
alise dos espectros experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.3 Resson
ˆ
ancia Ferromagn
´
etica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.3.1 Fundamentos da FMR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.3.2 Equac¸
˜
oes de movimento e freq
¨
u
ˆ
encia de resson
ˆ
ancia . . . . . . . 44
i
2.3.3 Anisotropia magn
´
etica e energia livre . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.3.4 Energia livre e resson
ˆ
ancia em filmes finos . . . . . . . . . . . . 50
2.3.5 Detalhes experimentais das medidas de FMR . . . . . . . . . . . 53
2.3.6 An
´
alise dos espectros experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3 Preparac¸
˜
ao de amostras 60
3.1 Detalhes da preparac¸
˜
ao: alvos e taxas de deposic¸
˜
ao . . . . . . . . . . . . 60
3.2 Amostras preparadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4 Tricamadas NiFe/V/NiFe 65
4.1 Caracterizac¸
˜
ao estrutural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.2 Medidas de Magnetizac¸
˜
ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.3 Estudos atrav
´
es de XMCD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.4 Estudos atrav
´
es de FMR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.5 Conclus
˜
oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5 Multicamadas Co/Ru 87
5.1 Caracterizac¸
˜
ao estrutural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
5.2 Estudo do acoplamento de troca oscilat
´
orio . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.3 Estudos atrav
´
es de FMR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.4 Determinac¸
˜
ao da anisotropia de interface . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
5.5 Discuss
˜
ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
5.6 Conclus
˜
ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
6 Multicamadas Fe/Cr 115
6.1 Medidas de magnetorresist
ˆ
encia e magnetizac¸
˜
ao . . . . . . . . . . . . . . 116
6.2 Caracterizac¸
˜
ao estrutural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
6.3 Estudos atrav
´
es de XMCD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
6.4 Estudos atrav
´
es de FMR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
6.5 Conclus
˜
ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
7 Multicamadas Co/Pt 130
7.1 Caracterizac¸
˜
ao estrutural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
7.2 Estudo da anisotropia magn
´
etica perpendicular . . . . . . . . . . . . . . 132
7.3 Conclus
˜
ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
ii
Conclus
˜
ao 138
A Perfil magn
´
etico em profundidade 140
Refer
ˆ
encia biliogr
´
afica 143
iii
Lista de Figuras
1.1 Probabilidade de transmiss
˜
ao para um poc¸o qu
ˆ
antico, adaptado da re-
fer
ˆ
encia [19]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.2 Poc¸os qu
ˆ
anticos usados para representar o acoplamento de troca. Na es-
querda, os dois gr
´
aficos representam as estruturas de bandas para o mod-
elo de el
´
etrons livres do acoplamento de troca. No lado direito, os quatro
gr
´
aficos representam os poc¸os qu
ˆ
anticos para el
´
etrons de spin up e spin
down, para alinhamentos paralelo e antiparalelo da magnetizac¸
˜
ao, tomado
da refer
ˆ
encia [19]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3 Gr
´
afico dos valores de K
ef
t
Co
vs. t
Co
obtido em multicamadas Co/Pd,
tomado da refer
ˆ
encia [37]. As setas representam a direc¸
˜
ao do eixo f
´
acil. . 17
2.1 Esquema do sistema Magnetron Sputtering do CBPF (parte superior) e
esquema de um magnetron e do processo de pulverizac¸
˜
ao (parte inferior). 22
2.2 Densidade de estados e origens dos momentos magn
´
eticos orbital e de
spin em um metal de transic¸
˜
ao 3d. Adaptado da refer
ˆ
encia [55]. . . . . . 29
2.3 (a) Representac¸
˜
ao do modelo de dois passos para os metais de transic¸
˜
ao
3d. (b) Espectros de absorc¸
˜
ao de raios-X e XMCD nas bordas L
2,3
do Fe
em uma camada de 500
˚
A de Ni
81
Fe
19
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4 Espectros experimentais de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica nas bordas L
2,3
dos ele-
mentos da s
´
erie 3d. A energia da borda L
3
foi posicionada em zero para
uma melhor comparac¸
˜
ao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.5 Esquema do arranjo experimental para as medidas de XMCD. . . . . . . 36
2.6 Perfil vertical do feixe medido com a fenda de entrada do monocromador
da linha D08A-SGM do LNLS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
iv
2.7 Espectros de absorc¸
˜
ao de raios-X (µ
+
e µ
) nas bordas L
2,3
do Fe num
filme de 500
˚
A de Ni
81
Fe
19
, µ
0
´
e a m
´
edia dos espectros µ
+
e µ
, µ
cont
´
e uma simulac¸
˜
ao do espectro de absorc¸
˜
ao do cont
´
ınuo e µ
´
e o espectro
XMCD. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.8 Precess
˜
ao do vetor da magnetizac¸
˜
ao em torno do campo est
´
atico
H
0
e do
campo magn
´
etico de alta freq
¨
u
ˆ
encia
h(t). . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.9 Esquema representando as transic¸
˜
oes Zeeman em um sistema de spin 1/2.
A energia do f
´
oton, necess
´
aria para que haja resson
ˆ
ancia, est
´
a represen-
tada por E. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.10 Componentes esf
´
ericas do campo efetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.11 Sistema de coordenadas de um filme fino indicando a direc¸
˜
ao do campo
aplicado e da magnetizac¸
˜
ao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.12 Sistema de coordenadas utilizado para um filme fino com anisotropia no
plano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.13 Esquema do arranjo experimental para as medidas de FMR. . . . . . . . . 54
2.14 Espectros de FMR medidos
`
a temperatura ambiente em filmes finos de
Co, para diferentes
ˆ
angulos entre o campo aplicado e a normal ao plano
dos filmes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.15 Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre a
normal ao plano e o campo aplicado nos filmes de Co. Os pontos s
˜
ao os
dados extra
´
ıdos dos espectros de FMR e as linhas cheias foram calculadas
com as equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.16 Comportamento da largura de linha dos espectros de FMR em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre o campo aplicado e o plano dos filmes finos de Co. A linha
cheia
´
e s
´
o um guia para os olhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.1 Curva de refletividade experimental (linha cheia) de um filme fino padr
˜
ao
de Ni
81
Fe
19
para a determinar sua taxa de deposic¸
˜
ao. Os c
´
ırculos abertos
representam a simulac¸
˜
ao da curva realizada com o programa WINGIXA. . 61
4.1 Ilustrac¸
˜
ao esquem
´
atica das tricamadas Ni
81
Fe
19
/V(t)/Ni
81
Fe
19
. . . . . . . 66
4.2 Curvas de refletividade experimentais (linhas cheias) e seus respectivos
ajustes (c
´
ırculos abertos) das tricamadas NiFe/V(t)/NiFe para t = 0.5, 1.5
e 10 nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
v
4.3 Ciclos de histerese, medidos
`
a temperatura ambiente com campo aplicado
no plano das tricamadas NiFe/V(t)/NiFe, para diferentes espessuras t da
camada de V. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.4 Espectros normalizados de XAS e de XMCD nas bordas L
2,3
do Fe das
tricamadas NiFe/V(t)/NiFe para diferentes espessuras t da camada de V. . 70
4.5 Espectros normalizados de XAS e de XMCD nas bordas L
2,3
do Ni das
tricamadas NiFe/V(t)/NiFe para diferentes espessuras t da camada de V. . 71
4.6 Espectros normalizados de absorc¸
˜
ao nas bordas L
2,3
do V correspon-
dentes
`
a tricamada NiFe/V(0.5 nm)/NiFe, medidos com orientac¸
˜
oes opostas
de campo magn
´
etico. A linha cheia
´
e a diferenc¸a entre os dois espectros. . 72
4.7 Momentos magn
´
eticos de spin do Fe e Ni das tricamadas NiFe/V/NiFe
para diferentes espessuras da camada de V. . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.8 Espectros de FMR da amostra V0.5 para diferentes
ˆ
angulos entre o campo
e a normal ao plano do filme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.9 Depend
ˆ
encia do campo de resson
ˆ
ancia dos modos
´
otico e uniforme da
amostra V0.5 para a orientac¸
˜
ao fora do plano. A linha cheia
´
e o melhor
ajuste, obtido para H
kef
= 8.3 kOe. A linha pontilhada
´
e apenas um guia
para os olhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.10 Espectros de FMR da amostra V2 para diferentes
ˆ
angulos entre o campo
e a normal ao plano do filme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.11 Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia dos modos I e S, da amostra
V2 na orientac¸
˜
ao fora do plano. As linhas s
´
olidas s
˜
ao os melhores ajustes
obtidos com as condic¸
˜
oes de equilibro de resson
ˆ
ancia (equac¸
˜
oes ( 2.52) e
(2.53)). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.12 Espectros de FMR da amostra V10 para diferentes
ˆ
angulos entre o campo
e a normal ao plano do filme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.13 Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia dos modos I e S, da amostra
V10 na orientac¸
˜
ao fora do plano. As linhas s
´
olidas s
˜
ao os melhores ajustes
obtidos com as condic¸
˜
oes de equilibro de resson
ˆ
ancia (equac¸
˜
oes ( 2.52) e
(2.53)). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.14 Espectros de FMR da amostra NiFe5V2 para diferentes
ˆ
angulos entre o
campo e a normal ao plano do filme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
vi
4.15 Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia dos modos I e S, da amostra
NiFe5V2 na orientac¸
˜
ao fora do plano. As linhas s
´
olidas s
˜
ao os ajustes
obtidos com as condic¸
˜
oes de equilibro de resson
ˆ
ancia (equac¸
˜
oes ( 2.52) e
(2.53)). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
5.1 Ilustrac¸
˜
ao esquem
´
atica das multicamdas [Co(t
Co
)/Ru(t
Ru
)]
N
. . . . . . . . 88
5.2 Difratograma em baixo
ˆ
angulo (a) e em alto
ˆ
angulo (b) da amostra [Co(5nm)/
Ru(1,5nm)]
20
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
5.3 Difratogramas em baixo
ˆ
angulo e em alto
ˆ
angulo (gr
´
aficos inseridos) das
amostras [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
, com t
Ru
= 2, 1 e 2, 9 nm. . . . . . . . . . 91
5.4 Curvas de difrac¸
˜
ao convencional de raios-X das multicamadas (a) [Co(5nm)/
Ru(t
Ru
)]
20
e (b) [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.5 Medidas de magnetorresist
ˆ
encia em func¸
˜
ao do campo aplicado das amostras
[Co(5nm)/Ru(t)]
20
, para t = 0,5; 0,7; 0,9 e 1,7 nm. . . . . . . . . . . . . . 95
5.6 Magnetoresist
ˆ
encia versus espessura da camada de Ru das multicamadas
[Co(5nm)/Ru(t)]
20
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
5.7 Medidas de magnetizac¸
˜
ao em func¸
˜
ao do campo aplicado no plano das
amostras [Co(5nm)/Ru(t)]
20
, para t = 1.1, 1.5, 1.7 e 2 nm. . . . . . . . . . 97
5.8 Espectros FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
para diferentes
ˆ
angulos
entre o campo externo e a normal ao plano do filme, comec¸ando desde 0
at
´
e 11
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.9 (a) Continuac¸
˜
ao dos espectros FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
,
para
ˆ
angulos desde 15
at
´
e 90
, (b) Ajuste com a equac¸
˜
ao de Landau-
Lifshitz do espectro medido em 9
, onde s
˜
ao destacadas as duas res-
son
ˆ
ancias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.10 Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo das duas
linhas principais da multicamada [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
. Os pontos foram
extra
´
ıdos dos espectros experimentais e as linhas s
´
olidas s
˜
ao os ajustes re-
alizados usando as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia. . . . . . . . 101
5.11 Comportamento da largura de linha em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo dois modos
principais da multicamada [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
. . . . . . . . . . . . . 102
vii
5.12 Espectros FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
para diferentes
ˆ
angulos
entre o campo externo e a normal ao plano do filme, comec¸ando desde 0
at
´
e 9
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
5.13 Continuac¸
˜
ao dos espectros de FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
,
para
ˆ
angulos entre 15
e 90
em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano do filme. . . . 104
5.14 Depend
ˆ
encia do campo de resson
ˆ
ancia com o
ˆ
angulo, das duas linhas
principais da multicamada [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
. Os pontos s
˜
ao os
dados experimentais extra
´
ıdos dos espectros e as linhas s
´
olidas s
˜
ao os
ajustes realizados usando as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia. . . 105
5.15 Espectros de FMR da amostra [Co(2nm)/Ru(2nm)]
24
, para alguns
ˆ
angulos
entre a normal ao filme e o campo aplicado. . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.16 Campo de resson
ˆ
ancia (a) e largura de linha (b) em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo, da
amostra [Co(2nm)/Ru(2nm)]
24
. Para o campo de resson
ˆ
ancia, os pontos
s
˜
ao os dados experimentais e a linha s
´
olida
´
e o ajuste realizado usando
as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia. Para H, a linha s
´
olida
´
e
apenas um guia para os olhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
5.17 Valores de K
ef
×t
Co
vs. t
Co
da s
´
erie [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
, para a determinac¸
˜
ao
da anisotropia de interface e de volume. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
5.18 Espectros de FMR para a configurac¸
˜
ao perpendicular, mostrando as duas
linhas principais das multicamadas [Co(5nm)/Ru(t)]
20
, para diferentes es-
pessuras das camadas de Ru. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
5.19 Espectros de FMR para a configurac¸
˜
ao perpendicular, mostrando as duas
linhas principais das multicamadas [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
, para diferentes
espessuras das camadas de Co. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
6.1 (a) Magnetorresist
ˆ
encia vs espessura da camada de Cr das multicamadas
[Fe(5nm)/Cr(t)]
20
. e (b) Magnetoresist
ˆ
encia vs campo magn
´
etico aplicado
no plano da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
. . . . . . . . . . . . . . 117
6.2 Ciclo de histerese magn
´
etica medido com campo aplicado em 45
em
relac¸
˜
ao ao plano da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
. . . . . . . . . . 118
6.3 Difratogramas medidos na regi
˜
ao de baixos e altos
ˆ
angulos(gr
´
afico in-
serido) da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
. . . . . . . . . . . . . . . 119
viii
6.4 Espectros XAS medidos ap
´
os cada ciclo de sputtering nas bordas L
2,3
do
Fe e Cr da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
. Em cada par de espec-
tros est
´
a indicada a espessura removida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
6.5 Raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
da intensidade m
´
axima da borda L
3
do Fe e Cr da multi-
camada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
em func¸
˜
ao da espessura erodida. . . . . . 121
6.6 Espectros XAS e XMCD medidos nas borda L
2,3
do Fe e Cr da multica-
mada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
, ap
´
os uma espessura erodida de 2 nm. . . . 123
6.7 (a) Gr
´
afico ilustrativo das multicamadas [Fe(5nm)/Cr(2.7nm)]
19
/ Fe(5nm)/
Cr(t) para t = 0,5; 1; 2 e 3 nm. A profundidade de escape dos el
´
etron,
denotada por e,
´
e considerada 0,6 nm. (b) Raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
da m
´
axima
intensidade da borda L
3
do Fe e Cr em func¸
˜
ao de t. . . . . . . . . . . . . 124
6.8 Espectros XAS e XMCD medidos nas borda L
2,3
do Fe e Cr da multica-
mada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
19
/Fe(5nm)/Cr(2nm). . . . . . . . . . . . . . . 126
6.9 Representac¸
˜
ao esquem
´
atica dos estados d do Fe e do Cr puros com uma
energia de Fermi comum. A linha cheia representa o Fe e a linha pontil-
hada, o Cr. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
6.10 (a) Espectros de FMR da amostra [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
, para alguns
ˆ
angulos entre a normal ao plano do filme e o campo aplicado. (b) Com-
portamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo. Os pontos s
˜
ao
os dados experimentais e a linha cheia
´
e o ajuste obtido com as condic¸
˜
oes
de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
7.1 Curvas de refletividade experimentais (linhas cheias) e seus respectivos
ajustes (c
´
ırculos abertos) das multicamadas Si(100)/Pt(10nm)/[Co(t
Co
) /
Pt(1nm)]
6
/Pt(2nm) para diferentes valores da espessura t
Co
da camada de
Co. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
7.2 Principais espectros de FMR das multicamadas: (a) [Co(1nm)/Pt(1nm)]
6
,
(b) [Co(0,8nm)/Pt(1nm)]
6
e (c) [Co(0,4nm)/Pt(1nm)]
6
, medidos em difer-
entes
ˆ
angulos entre a normal ao plano dos filmes e o campo aplicado. . . . 133
ix
1
7.3 Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre o
campo externo e a normal ao plano das multicamadas: (a) [Co(1nm)/Pt(1nm)]
6
,
(b) [Co(0,8nm)/Pt(1nm)]
6
e (c) [Co(0,4nm)/Pt(1nm)]
6
. A seta indica a
direc¸
˜
ao do eixo de dif
´
ıcil magnetizac¸
˜
ao. Em (a) e (c), a linha
´
e o ajuste
obtido com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia e em (b), apenas
um guia para os olhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
7.4 Comportamento do campo de anisotropia efetiva en func¸
˜
ao da espessura
das camadas de Co das multicamadas [Co(t
Co
)/Pt(1nm)]
6
. . . . . . . . . . 136
A.1 Ilustrac¸
˜
ao do processo de sputtering in situ (a) e da poss
´
ıvel modificac¸
˜
ao
das interfaces da amostra ap
´
os o sputtering (b). . . . . . . . . . . . . . . 142
Introduc¸
˜
ao
Atualmente as multicamadas met
´
alicas magn
´
eticas s
˜
ao objetos de intenso estudo, tanto
experimental quanto te
´
orico, pelas suas aplicac¸
˜
oes tecnol
´
ogicas e o interesse cient
´
ıfico
para entender os fen
ˆ
omenos magn
´
eticos que acontecem na mat
´
eria em escala nanom
´
etrica.
As multicamadas s
˜
ao estruturas artificiais compostas por elementos diferentes, de di-
mens
˜
oes muito reduzidas (da ordem dos nan
ˆ
ometros) e empilhadas alternadamente. En-
tre os principais sistemas de filmes finos estudados temos as multicamadas compostas
por materiais ferromagn
´
eticos (FM) separados por elementos n
˜
ao magn
´
eticos (NM). As
propriedades que se destacam s
˜
ao: o acoplamento de troca indireto entre as camadas FM
atrav
´
es da camada NM, a magnetoresist
ˆ
encia gigante, magnetismo induzido na camada
NM nas proximidades das interfaces FM/NM, a anisotropia magn
´
etica e a anisotropia
magn
´
etica perpendicular. Outros sistemas, que envolvem materiais antiferromagn
´
eticos
(AFM), exibem o efeito de polarizac¸
˜
ao de troca (exchange bias). Estas descobertas deram
origem a uma s
´
erie de aplicac¸
˜
oes tecnol
´
ogicas, por exemplo, cabec¸as leitoras, disposi-
tivos de gravac¸
˜
ao magn
´
etica e outros dispositivos spintr
ˆ
onicos. Como um exemplo, ser
´
a
relatada uma aplicac¸
˜
ao que se refere
`
a gravac¸
˜
ao magn
´
etica. Em um meio magneto-
´
otico
de gravac¸
˜
ao
´
e importante que o material tenha uma anisotropia uniaxial alta de forma
que a magnetizac¸
˜
ao fique perpendicular ao plano do filme e um campo coercivo que
diminua com o aumento de temperatura. O primeiro ponto permite aumentar a densidade
de informac¸
˜
ao que pode ser armazenada no material. O segundo, est
´
a relacionado com a
forma de escrever a informac¸
˜
ao. No processo de gravac¸
˜
ao aplica-se um campo magn
´
etico
cujo sentido
´
e oposto ao da magnetizac¸
˜
ao do material, a qual deve estar magn
´
eticamente
saturada, e um laser com pot
ˆ
encia de 5 a 10 mW provoca um aquecimento localizado. A
intensidade do campo aplicado
´
e tal que, na temperatura ambiente
´
e menor que a coer-
cividade do material e, na temperatura de aquecimento, maior que a coercividade. Desta
forma, a magnetizac¸
˜
ao na regi
˜
ao aquecida localmente assumir
´
a o sentido do campo apli-
cado, e manter
´
a esse sentido quando esfriado, enquanto que a magnetizac¸
˜
ao das regi
˜
oes
2
3
n
˜
ao aquecidas n
˜
ao sofrem mudanc¸as. Assim pode ser definido um sistema bin
´
ario com as
posic¸
˜
oes da magnetizac¸
˜
ao paralela e antiparalela ao campo.
As multicamadas podem ser fabricadas com diferentes t
´
ecnicas de deposic¸
˜
ao de filmes
finos, as quais envolvem equipamentos de ultra-alto v
´
acuo, permitindo o crescimento
desses novos materiais em condic¸
˜
oes control
´
aveis de press
˜
ao e temperatura. Estas t
´
ecnicas
v
ˆ
em sendo desenvolvidas h
´
a mais de duas d
´
ecadas e as principais s
˜
ao a pulverizac¸
˜
ao
cat
´
odica (sputtering) e o fluxo molecular epitaxial (MBE). Ao mesmo tempo o cont
´
ınuo
desenvolvimento de t
´
ecnicas de caracterizac¸
˜
ao estrutural e magn
´
etica, tais como a difrac¸
˜
ao
de raios-X, resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica (FMR) e a magnetometria por dispositivo super-
conductor de interfer
ˆ
encia qu
ˆ
antica (SQUID), bem como o desenvolvimento de fontes de
luz s
´
ıncrotron, que possibilitaram extender os efeitos magneto-
´
oticos
`
a regi
˜
ao dos raios-X,
permitem explorar as propriedades f
´
ısicas dessas nanoestruturas.
Para este trabalho, os sistemas escolhidos foram as tricamadas NiFe/V/NiFe e as mul-
ticamadas Co/Ru, Fe/Cr e Co/Pt. O primeiro, NiFe/V/NiFe
´
e um sistema que ainda n
˜
ao
foi investigado, s
˜
ao reportados portanto, os primeiros estudos quanto as propriedades es-
truturais e magn
´
eticas. Na literatura t
ˆ
em sido reportadas evid
ˆ
encias experimentais [1] e
te
´
oricas [2] de polarizac¸
˜
ao induzida no V em tricamadas Fe/V/Fe e em super-redes Fe/V,
por
´
em a inserc¸
˜
ao de Ni deve produzir mudanc¸as tanto nas propriedades estruturais quanto
magn
´
eticas. O acoplamento de troca tem sido reportado tamb
´
em no sistema Fe/V e em
outros sistemas de tricamadas, as quais eram compostas por NiFe separados por Cr [3]
ou Ru [4], onde evidenciaram acoplamento ferromagn
´
etico ou antiferromagn
´
etico em
func¸
˜
ao da camada separadora. Estudos em estruturas do tipo NiFe/Cu/NiFe/Cu, tamb
´
em
t
ˆ
em sido reportados, onde encontraram que para um espac¸ador de 0.9 nm de Cu, o acopla-
mento muda de ferromagn
´
etico para antiferromagn
´
etico em func¸
˜
ao da espessura do NiFe
[5]. Para o sistema NiFe/V s
˜
ao apresentados os primeiros estudos sobre o acoplamento
de troca, em func¸
˜
ao da espessura de V, e da anisotropia magn
´
etica.
O sistema Co/Ru vem sendo estudado h
´
a mais de uma d
´
ecada, pois suas propriedades
estruturais permitem investigar muitos fen
ˆ
omenos magn
´
eticos, entre os quais o acopla-
mento magn
´
etico oscilat
´
orio foi o mais explorado. As interfaces bem definidas e o
alto comprimento de coer
ˆ
encia estrutural que essas multicamadas apresentam, geral-
mente, permitem estudar a interac¸
˜
ao tipo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yoshida por exem-
plo (vide. Cap. 1). Multicamadas compostas por camadas de Co separadas por metais
n
˜
ao magn
´
eticos s
˜
ao de grande interesse tecnol
´
ogico por suas aplicac¸
˜
oes em dispositivos
4
de gravac¸
˜
ao magneto-
´
otica, por exemplo, multicamadas Co/Pd, Co/Pt e Co/Au. Estudos
atrav
´
es de resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica v
ˆ
em dando informac¸
˜
ao valiosa sobre a estrutura
e o magnetismo destes sistemas e na literatura tem sido relatado o aparecimento de um
modo adicional de resson
ˆ
ancia [6, 7, 8], com anisotropia diferente
`
a do Co, cuja origem
ainda n
˜
ao
´
e clara. Esses estudos ainda n
˜
ao foram realizados em multicamadas Co/Ru e
nesta tese apresenta-se um estudo desse modo adicional e da anisotropia magn
´
etica desse
sistema atrav
´
es de FMR.
As multicamadas Fe/Cr se constituem num dos sistemas mais importantes e vem sendo
estudado por diversas t
´
ecnicas h
´
a mais de duas d
´
ecadas. Nesse sistema foram descobertos
fen
ˆ
omenos muito importantes dentre os quais temos o acoplamento de troca oscilat
´
orio
[9], a magnetorresist
ˆ
encia (GMR) gigante [10] e recentemente o aumento da GMR in-
duzido por press
˜
ao [11]. Outras propriedades do magnetismo em filmes finos t
ˆ
em sido e
v
ˆ
em sendo estudadas em multicamadas Fe/Cr, tais como o acoplamento biquadr
´
atico [12]
e o magnetismo induzido em metais que normalmente possuem momento magn
´
etico nulo,
nas interfaces com metais ferromagn
´
eticos [13, 14, 15, 16]. Em particular o magnetismo
induzido
´
e uma das propriedades mais interessantes, pois os momentos que s
˜
ao induzidos
no metal n
˜
ao magn
´
etico s
˜
ao os respons
´
aveis pelo acoplamento de troca oscilat
´
orio. Essa
polarizac¸
˜
ao induzida de spin, no metal n
˜
ao magn
´
etico, decai e oscila em sinal quando
se afasta da interface com a camada ferromagn
´
etica [17] e na subseq
¨
uente interface, a
outra camada ferromagn
´
etica interage com com os momentos induzidos, conduzindo a
um acoplamento entre as camadas magn
´
eticas, que oscila em sinal e decai em func¸
˜
ao da
espessura da camada n
˜
ao magn
´
etica. Neste tese, foram estudadas as interfaces de multi-
camadas Fe/Cr usando dois procedimentos experimentais. No primeiro, camadas finas da
superf
´
ıcie da amostra foram removidas por bombardeio com
´
ıons de Ar
+
(sputtering in-
situ) e, assim, diferentes profundidades foram analisadas atrav
´
es de XMCD. No segundo,
a
´
ultima camada do filme foi depositada com espessuras pre-determinadas com o intuito
de repetir o procedimento anterior sem remover as camadas da amostra. Os resultados de
cada procedimento foram comparados, analisando seus efeitos no momento magn
´
etico de
spin do Fe, bem como no magnetismo induzido no Cr.
O sistema Co/Pt foi selecionado para estudar anisotropia magn
´
etica perpendicular e
por ser um dos melhores sistemas, reportados na literatura, para estudar esse fen
ˆ
omeno
em filmes finos e atualmente est
´
a sendo muito estudado atrav
´
es de diferentes t
´
ecnicas. O
interesse
´
e saber como acontece a mudanc¸a do eixo f
´
acil e do eixo dif
´
ıcil de magnetizac¸
˜
ao,
5
em relac¸
˜
ao ao plano do filme, em func¸
˜
ao da espessura das camadas de Co. Nesta tese
´
e
apresentado o estudo da anisotropia magn
´
etica de multicamadas Co/Pt com espessura das
camadas de Co, abaixo da espessura cr
´
ıtica, a partir da qual o eixo f
´
acil se orienta perpen-
dicularmente ao plano do filme. Atrav
´
es de FMR foi poss
´
ıvel acompanhar a mudanc¸a da
orientac¸
˜
ao do eixo de dif
´
ıcil magnetizac¸
˜
ao em func¸
˜
ao da espessura de Co.
Em relac¸
˜
ao
`
as t
´
ecnicas de caracterizac¸
˜
ao utilizadas na tese, a FMR j
´
a est
´
a estabele-
cida como uma poderosa ferramenta na explorac¸
˜
ao dos fen
ˆ
omenos magn
´
eticos em mul-
ticamadas. A FMR
´
e definida como a absorc¸
˜
ao ressonante de radiac¸
˜
ao eletromagn
´
etica
por um material ferromagn
´
etico, quando na presenc¸a de um campo magn
´
etico externo.
A absorc¸
˜
ao ocorre quando a freq
¨
u
ˆ
encia de precess
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao do material co-
incide com a freq
¨
u
ˆ
encia da radiac¸
˜
ao eletromagn
´
etica. A condic¸
˜
ao de resson
ˆ
ancia em
filmes finos envolve a energia livre do sistema, a qual cont
´
em as contribuic¸
˜
oes da en-
ergia Zeeman, devido
`
a interac¸
˜
ao entre a magnetizac¸
˜
ao do sistema e o campo aplicado,
da energia de anisotropia, cuja origem
´
e principalmente devida
`
a interac¸
˜
ao dipolar e a
interac¸
˜
ao spin-
´
orbita, e da energia de troca, que
´
e o resultado da interac¸
˜
ao indireta entre
as magnetizac¸
˜
oes das camadas FM. Isto torna a FMR numa t
´
ecnica sens
´
ıvel a qualquer
mudanc¸a da anisotropia magn
´
etica e capaz de detectar a energia do acoplamento de troca
entre as camadas. Al
´
em disso, a FMR tamb
´
em
´
e utilizada como uma t
´
ecnica comple-
mentar no controle da qualidade dos filmes, uma vez que inomogeneidades magn
´
eticas,
propriedades estruturais e morfol
´
ogicas, como exist
ˆ
encia de fases, afetam seus par
ˆ
ametros
espectrais.
Por outro lado, as fontes de luz s
´
ıncrotron permitem aplicar uma t
´
ecnica elemento-
seletiva muito sens
´
ıvel, denominada dicro
´
ısmo circular magn
´
etico de raios-X (XMCD).
Considerando metais de transic¸
˜
ao 3d, os processos de absorc¸
˜
ao envolvem excitac¸
˜
oes de
foto-el
´
etrons dos n
´
ıveis de caroc¸o 2p para ocupar estados vazios na banda de valencia 3d
de acordo com as regras de selec¸
˜
ao do dipolo. Um desbalanceamento dos el
´
etrons de spin
1/2 e -1/2 na banda 3d provoca diferentes coeficientes de absorc¸
˜
ao de raios-X polarizados
`
a direita (µ
) e
`
a esquerda (µ
+
) nas bordas de absorc¸
˜
ao L
2,3
. A informac¸
˜
ao da estrutura
magn
´
etica e eletr
ˆ
onica est
˜
ao assim contidas no espectro XMCD, que
´
e definido como
a diferencia dos coeficientes de absorc¸
˜
ao µ = µ
+
µ
. Esta t
´
ecnica
´
e ideal para o
estudo da polarizac¸
˜
ao induzida de spin, j
´
a que a detecc¸
˜
ao das pequenas contribuic¸
˜
oes
dos momentos induzidos
´
e dif
´
ıcil atrav
´
es de FMR ou SQUID, que detectam a resposta
magn
´
etica de todo o sistema. O XMCD permite selecionar e analisar cada elemento
6
da multicamada e sua alta sensibilidade permite detectar a pequena resposta magn
´
etica
devido ao momento induzido nas camadas NM.
Esta tese est
´
a organizada da seguinte maneira: No cap
´
ıtulo 1 s
˜
ao apresentados alguns
t
´
opicos importantes do magnetismo em filmes finos, focalizando o acoplamento de troca
e a anisotropia magn
´
etica. No cap
´
ıtulos 2
´
e apresentada a t
´
ecnica de preparac¸
˜
ao dos
filmes (Pulverizac¸
˜
ao Cat
´
odica por Magnetron) e as principais t
´
ecnicas de caracterizac¸
˜
ao
magn
´
etica utilizadas na tese (Dicro
´
ısmo Magn
´
etico Circular de Raios-X e Resson
ˆ
ancia
Ferromagn
´
etica). Os detalhes para o crescimento de multicamadas bem como as amostras
preparadas e estudadas s
˜
ao relatados no cap
´
ıtulo 3. Os resultados experimentais de cada
sistema estudado s
˜
ao apresentados e discutidos nos cap
´
ıtulos 4, 5, 6 e 7. Finalmente,
´
e
apresentada uma conclus
˜
ao geral do trabalho e s
˜
ao lanc¸adas algumas id
´
eias para trabalhos
futuros.
Cap
´
ıtulo 1
Multicamadas magn
´
eticas
1.1 Propriedades estruturais
Multicamadas magn
´
eticas s
˜
ao estruturas artificiais compostas pelo empilhamento
alternado peri
´
odico de camadas de materiais diferentes, ou suas ligas, sobre um sub-
strato. Estes novos materiais s
˜
ao fabricados com diferentes t
´
ecnicas de crescimento em
alto v
´
acuo, e sua espessura
´
e da ordem dos nan
ˆ
ometros (1nm = 10
9
m). As t
´
ecnicas
mais freq
¨
uentemente usadas para fabricar as multicamadas s
˜
ao: sputtering DC ou RF
(sec¸
˜
ao 2.1.1) e molecular beam epitaxy (MBE). Em particular, a t
´
ecnica de sputter-
ing permite obter altas taxas de deposic¸
˜
ao e facilita seu controle durante a deposic¸
˜
ao.
Por
´
em,
´
e necess
´
aria a presenc¸a de g
´
as, dificultando o uso de t
´
ecnicas de caracterizac¸
˜
ao in
situ, e sendo mais suscet
´
ıvel
`
a contaminac¸
˜
ao. No entanto, as propriedades estruturais e
magn
´
eticas de multicamadas crescidas por sputtering s
˜
ao compar
´
aveis
`
as produzidas por
outras t
´
ecnicas.
Muitas propriedades de um material na forma de filme diferem substancialmente das
propriedades que o mesmo material possui em sua forma macic¸a (bulk) devido
`
a in-
flu
ˆ
encia dos efeitos de superf
´
ıcie; a relac¸
˜
ao entre a superf
´
ıcie e o volume
´
e muito maior
no caso do filme. Sua estrutura cristalogr
´
afica depende das condic¸
˜
oes em que foram
fabricados, definindo tr
ˆ
es grupos: amorfos, policristalinos e monocristalinos. Os filmes
amorfos s
˜
ao compostos, em geral, por elementos tais como: C, Te, Si, Ge, etc e alguns
´
oxidos, se s
˜
ao crescidos sobre substratos
`
a temperatura ambiente. Os filmes policristali-
nos s
˜
ao formados por gr
˜
aos monocristalinos dispostos em v
´
arias direc¸
˜
oes cristalogr
´
aficas.
O tamanho dos gr
˜
aos depende das condic¸
˜
oes da deposic¸
˜
ao e dos tratamentos t
´
ermicos
7
8
posteriores. Gr
˜
aos maiores geralmente est
˜
ao associados a temperaturas maiores de trata-
mento. Filmes finos crescidos por sputtering s
˜
ao em geral policristalinos. Os filmes finos
monocristalinos crescem com tamanho de gr
˜
ao suficientemente grande para cobrir o filme
todo na direc¸
˜
ao de crescimento, e s
˜
ao usualmente fabricados por MBE.
Entre as propriedades estruturais mais importantes temos que um filme fino crescido
epitaxialmente sobre um substrato ter
´
a uma constante de rede diferente do respectivo
material na forma bulk e novas fases cristalogr
´
aficas podem ser formadas. Por exemplo,
t
ˆ
em sido calculados par
ˆ
ametros de rede de 2,93
˚
A, 2,90
˚
A e 2,89
˚
A para as super-redes
(F e
2
/V
5
)
50
, (F e
4
/V
4
)
45
e (F e
4
/V
2
)
60
, respectivamente, depositadas sobre MgO(110) e
onde os sub
´
ındices dos elementos s
˜
ao as espessuras em n
´
umero de camadas at
ˆ
omicas e
os sub
´
ındices fora dos par
ˆ
enteses s
˜
ao os n
´
umeros de bicamadas [18]. Estas constantes de
rede s
˜
ao diferentes das do Fe (2,87
˚
A) e V(3,03
˚
A) puros na forma bulk. Tamb
´
em podem
ser depositados filmes finos de Co com fase fcc est
´
aveis sobre substratos adequados,
enquanto que na forma bulk este elemento tem estrutura hcp [19]. Transic¸
˜
oes de fases
cristalogr
´
aficas tamb
´
em ocorrem em n
´
ıvel nanom
´
etrico, por exemplo, t
ˆ
em sido reportadas
transic¸
˜
oes da fase bct do Ru para a fase hcp em multicamadas Fe/Ru [20], onde a fase bct
´
e formada para espessuras inferiores a 3,5
˚
A de Ru.
As interfaces desempenham um papel muito importante no magnetismo das multica-
madas. No caso ideal, as interfaces seriam planas, mas toda t
´
ecnica de deposic¸
˜
ao envolve
a formac¸
˜
ao de uma desordem estrutural nestas superf
´
ıcies limite. Por exemplo, descasa-
mento entre as estruturas, tens
˜
ao normal e lateral, relaxac¸
˜
ao, formac¸
˜
ao de defeitos pon-
tuais, discord
ˆ
ancias, interdifus
˜
ao e rugosidade. A qualidade das interfaces depende das
condic¸
˜
oes de deposic¸
˜
ao, por exemplo, temperatura do substrato, press
˜
ao do g
´
as (no caso
de sputtering), bem como dos elementos que est
˜
ao sendo utilizados para formar os filmes,
j
´
a que existem diferentes graus de miscibilidade entre os distintos elementos. Al
´
em disso,
existem tr
ˆ
es mecanismos principais de crescimento de filmes: Na forma de ilhas (modo
Volmer-Weber), na forma de camadas (modo Frank-Van der Merwe) e na forma de ilhas
mais camadas (modo Stranki-Krastanov) [21].
No modo Volmer-Weber, os pequenos clusters s
˜
ao nucleados diretamente sobre a su-
perf
´
ıcie do substrato e crescem at
´
e formar ilhas. Isto sucede quanto os
´
atomos do material
depositado s
˜
ao ligados mais fortemente entre eles que ao substrato. Este modo geralmente
se apresenta quando um metal
´
e crescido sobre um isolante. No modo Frank-Van der
Merwe, os
´
atomos s
˜
ao mais fortemente ligados ao substrato do que entre eles e, assim, os
9
primeiros
´
atomos condensados formam uma camada completa sobre a superf
´
ıcie, a qual
´
e coberta com outras camadas que s
˜
ao gradativamente menos ligadas ao substrato, e estas
v
˜
ao se acomodando
`
as camadas pre-existentes, permitindo assim, um crescimento epi-
taxial. Estima-se que para que este modo seja poss
´
ıvel, a diferenc¸a entres os par
ˆ
ametros
de rede entre a camada depositada e o substrato n
˜
ao deve ser maior de 4%. O modo
Stranski-Krastanov,
´
e um modo intermedi
´
ario entre os dois anteriores, depois de formar
a primeira camada, ou umas poucas camadas, no subseq
¨
uente crescimento s
˜
ao formadas
ilhas. Existem v
´
arias raz
˜
oes para um crescimento deste tipo, todas elas envolvem uma
forte variac¸
˜
ao no decr
´
escimo da energia de interac¸
˜
ao entre a camada e o substrato. Por
exemplo, desajustes no par
ˆ
ametro de rede, perdas de simetria, entre outras, o que resulta
numa alta energia livre da
´
ultima camada depositada que favorece a formac¸
˜
ao das ilhas.
Este mecanismo de crescimento
´
e mais comum que os outros e geralmente acontecem em
sistemas tipo metal-metal, metal-semiconductor e g
´
as-metal.
1.2 Acoplamento de troca
As multicamadas podem exibir oscilac¸
˜
oes em seu acoplamento magn
´
etico, que de-
pendem da espessura da camada met
´
alica separadora. Estes sistemas consistem de uma
seq
¨
u
ˆ
encia de camadas depositadas com espessuras que podem ser de alguns d
´
ecimos de
nan
ˆ
ometro ou at
´
e de algumas dezenas de nan
ˆ
ometros. Tipicamente, dois filmes finos de
material ferromagn
´
etico est
˜
ao separados um do outro por um filme fino de material n
˜
ao
magn
´
etico. As direc¸
˜
oes da magnetizac¸
˜
ao de cada camada ferromagn
´
etica est
˜
ao acopladas
uma a outra atrav
´
es da interac¸
˜
ao de troca e o sinal deste acoplamento oscila em func¸
˜
ao da
espessura do espac¸ador [9].
O fen
ˆ
omeno do acoplamento oscilat
´
orio foi inicialmente observado em impurezas
magn
´
eticas localizadas em uma matriz n
˜
ao magn
´
etica met
´
alica. Quando a separac¸
˜
ao entre
duas impurezas
´
e aumentada, a interac¸
˜
ao entre elas oscila entre um alinhamento paralelo
e antiparalelo dos momentos magn
´
eticos. Esta interac¸
˜
ao
´
e conhecida como de Ruderman-
Kittel-Kasuya-Yosida (RKKY) [22, 23, 24].
Para observar o acoplamento de troca em multicamadas
´
e necess
´
ario obter filmes fi-
nos de alta qualidade. Primeiras tentativas para observar este fen
ˆ
omeno foram frustradas
devido
`
a consider
´
avel presenc¸a de defeitos que agiam como fontes extr
´
ınsecas de acopla-
mento nas amostras [25, 26]. Uma fonte de tais acoplamentos
´
e, por exemplo, a presenc¸a
10
de pinholes (centros de pinning), que s
˜
ao regi
˜
oes onde a camada n
˜
ao magn
´
etica n
˜
ao
´
e
cont
´
ınua e, portanto, existe um contato direto entre as camadas FM, o que conduz a um
acoplamento ferromagn
´
etico entre suas magnetizac¸
˜
oes. Uma vez que multicamadas de
alta qualidade puderam ser fabricadas, recomec¸ou o interesse nesta area. No ano 1986
Gr
¨
unberg e colaboradores demonstraram um acoplamento antiferromagn
´
etico entre as
magnetizac¸
˜
oes de duas camadas de Fe separadas por Cr [27], Salamon e colaboradores
observaram um alinhamento antiparalelo das magnetizac¸
˜
oes das camadas FM em multi-
camadas Dy/Y [28] e Majkrzak e colaboradores observaram o mesmo efeito em multi-
camadas Gd/Y [29]. Posteriormente, em 1988, M. Baibich e colaboradores descobriram
a magnetorresist
ˆ
encia gigante (GMR) em multicamadas Fe/Cr, e a relacionaram com um
alinhamento antiparalelo entre as magnetizac¸
˜
oes das camadas de Fe. A GMR se refere a
uma depend
ˆ
encia da resistividade da amostra com um campo magn
´
etico aplicado. A de-
pend
ˆ
encia com o campo pode ser indireta, por exemplo, como acontece em multicamadas
com GMR, onde a resist
ˆ
encia depende da orientac¸
˜
ao relativa das magnetizac¸
˜
oes. Se as
magnetizac¸
˜
oes das camadas FM s
˜
ao antiparalelas para campo aplicado igual a zero devido
a um acoplamento antiferromagn
´
etico, um campo aplicado pode superar o acoplamento
e alinhar as magnetizac¸
˜
oes em forma paralela. Esta mudanc¸a em alinhamento conduz a
uma mudanc¸a na resist
ˆ
encia (GMR).
As oscilac¸
˜
oes do acoplamento de troca, em func¸
˜
ao do separador n
˜
ao magn
´
etico, foram
reportadas por Parkin em 1990, em uma s
´
erie de metais ferromagn
´
eticos de transic¸
˜
ao 3d
e suas ligas, separados por metais n
˜
ao magn
´
eticos 3d, 4d e 5d. As oscilac¸
˜
oes do acopla-
mento de troca foram observadas atrav
´
es do comportamento oscilat
´
orio da GMR e da
magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao em func¸
˜
ao da espessura das camadas n
˜
ao magn
´
eticas. Es-
tas oscilac¸
˜
oes n
˜
ao foram devido
`
as variac¸
˜
oes nas propriedades de transporte, mas sim
devido
`
as variac¸
˜
oes no acoplamento entre as camadas FM. Para algumas espessuras o
acoplamento foi ferromagn
´
etico, favorecendo um alinhamento paralelo das direc¸
˜
oes da
magnetizac¸
˜
ao das camadas. Para essas espessuras n
˜
ao houve mudanc¸as no alinhamento
relativo das magnetizac¸
˜
oes quando um campo magn
´
etico foi aplicado e assim, a magne-
torresist
ˆ
encia foi zero.
O descobrimento de Parkin despertou um crescente interesse para medir com muita
precis
˜
ao a grandeza e as oscilac¸
˜
oes do acoplamento de troca em muitos sistemas difer-
entes, por exemplo, em super-redes Fe/Cr(211) e Fe/Cr(100) [30], em tricamadas Fe/Ag/Fe
[17] e Co/Ru/Co [31] e em multicamadas Co/Pt, que exibem, simultaneamente, anisotropia
11
magn
´
etica perpendicular [32]. Ao mesmo tempo, v
´
arias abordagens te
´
oricas foram feitas
para explicar os resultados experimentais. As mais proeminentes foram os modelos
RKKY e de poc¸os qu
ˆ
anticos, que est
˜
ao baseados na resposta dos el
´
etrons de conduc¸
˜
ao
do material espac¸ador quando em contato com camadas magn
´
eticas. O modelo RKKY
foi adaptado daquele que descreve a interac¸
˜
ao de troca entre duas impurezas magn
´
eticas
em uma matriz n
˜
ao magn
´
etica, enquanto que no modelo de poc¸os qu
ˆ
anticos, um con-
finamento dos estados dos el
´
etrons do espac¸ador resulta em um acoplamento magn
´
etico
efetivo entre as camadas magn
´
eticas. A seguir estes modelos ser
˜
ao apresentados em forma
breve.
1.2.1 Modelo RKKY
O fato do acoplamento de troca apresentar oscilac¸
˜
oes em func¸
˜
ao da separac¸
˜
ao entre
as camadas magn
´
eticas sugeriu imediatamente a id
´
eia de relacion
´
a-las com a interac¸
˜
ao
RKKY entre duas impurezas magn
´
eticas. Uma impureza magn
´
etica em uma matriz n
˜
ao
magn
´
etica produz uma polarizac¸
˜
ao dos el
´
etrons de conduc¸
˜
ao de sua vizinhanc¸a. Os spins
dos el
´
etrons de conduc¸
˜
ao oscilam entre +1/2 (up) e 1/2 (down) com um comprimento
de onda caracter
´
ıstico λ = π/k
F
(k
F
´
e o vetor de onda da superf
´
ıcie de Fermi). Uma
segunda impureza magn
´
etica se acoplar
´
a em forma paralela ou antiparalela, respesctiva-
mente, dependendo se experimenta um campo de polarizac¸
˜
ao positivo ou negativo devido
`
a primeira impureza. A interac¸
˜
ao J(R
n
R
n
) entre dois spins localizados est
´
a dado pelo
produto da transformada de Fourier da interac¸
˜
ao s d com a susceptibilidade do g
´
as de
el
´
etrons [19]:
J(R
n
R
n
) =
2
N
q
|J
sd
(q)|
2
χ(q)e
iq·(R
n
R
n
)
(1.1)
Usando a susceptibilidade para um g
´
as de el
´
etrons livres, obt
´
em-se [19]:
J(R) = 9π
j
ε
F
cos(2k
F
R)
2k
F
R
3
sen(2k
F
R)
2k
F
R
4
(1.2)
conhecida como a func¸
˜
ao RKKY. A grandeza da interac¸
˜
ao RKKY entre duas impurezas
magn
´
eticas em uma matriz n
˜
ao magn
´
etica decai com R
3
, sendo R a dist
ˆ
ancia entre os
dois
´
atomos que interagem.
12
A primeira extens
˜
ao do modelo RKKY para o caso de duas camadas magn
´
eticas in-
teragentes, considerando-as como dois planos at
ˆ
omicos com spins localizados, foi feita
por Yafet [33], quem derivou uma express
˜
ao, para este caso, que relaciona a grandeza da
interac¸
˜
ao com d
2
, sendo d a dist
ˆ
ancia entre as camadas magn
´
eticas.
O per
´
ıodo de oscilac¸
˜
ao originado da interac¸
˜
ao RKKY corresponde ao vetor da rede
rec
´
ıproca que define a superf
´
ıcie de Fermi. Por
´
em, P. Bruno e Chappert [34] enfatizaram
o fato de a superficie de Fermi dos metais n
˜
ao ser uma esfera, generalizando o acopla-
mento entre dois planos at
ˆ
omicos com spin localizados para uma estrutura cristalina e
superf
´
ıcie de Fermi arbitr
´
arias.
Ao inv
´
es de tratar as camadas magn
´
eticas como spins localizados, Baltensperger [35],
substituiu as camadas ferromagn
´
eticas por planos at
ˆ
omicos cont
´
ınuos de densidade de
spin constante, interagindo atrav
´
es do metal paramagn
´
etico ou n
˜
ao magn
´
etico represen-
tado por um g
´
as de el
´
etrons livres. O resultado deste modelo reflete a natureza bidimen-
sional da estrutura mediante o decaimento com d
2
para dist
ˆ
ancias longas. Para ferromag-
netos itinerantes, este modelo
´
e mais apropriado que um modelo de spins localizados.
O principal problema do modelo RKKY em multicamadas
´
e que o per
´
ıodo de oscilac¸
˜
ao
que o modelo prediz
´
e muito menor que o per
´
ıodo que se observa experimentalmente. Por
exemplo, para o cobre, π/k
F
= 2, 31
˚
A, enquanto que o per
´
ıodo encontrado para multi-
camadas Co/Cu(111)
´
e pr
´
oximo a 12
˚
A.
1.2.2 Modelo de confinamento qu
ˆ
antico
Uma interface entre dois materiais atua sobre os el
´
etrons como uma barreira de poten-
cial; um el
´
etron livre, que atravessa uma barreira simples de altura V, tem uma probabili-
dade de transmiss
˜
ao [19]:
T
step
=
q
k
2k
k + q
2
(1.3)
onde k =
2mE/
2
,
´
e o vetor de onda incidente e q =
2m(E + V )/
2
´
e o vetor de
onda transmitido. Se outra barreira
´
e introduzida, os el
´
etrons sofrem m
´
ultiplas reflex
˜
oes
dentro do poc¸o qu
ˆ
antico que
´
e formado. Se as barreiras est
˜
ao separadas por uma dist
ˆ
ancia
D, a probabilidade de transmiss
˜
ao
´
e [19]:
13
T
well
=
4e
iqD
kq
(k + q)
2
e
i2q(kq)
2
2
(1.4)
´
E importante notar que T
well
= 1, quando 2qD = 2, sendo n um n
´
umero inteiro.
Para uma espessura fixa, existe uma s
´
erie de transmiss
˜
oes ressoantes para as energias
E
n
= (
2
/2m)(/D)
2
V , sendo n tamb
´
em um inteiro. Para uma energia fixa, as
resson
ˆ
ancias acontecem para D = 2/2q, com q =
2m(E V )/. Na Fig.1.1
´
e
mostrada a probabilidade de transmiss
˜
ao T
well
em func¸
˜
ao da energia, onde
´
e poss
´
ıvel
apreciar as resson
ˆ
ancias para uma espessura fixa.
Figura 1.1: Probabilidade de transmiss
˜
ao para um poc¸o qu
ˆ
antico, adaptado da refer
ˆ
encia
[19].
Na transmiss
˜
ao ressonante, os el
´
etrons tem uma probabilidade maior de se encontrar
no poc¸o qu
ˆ
antico, em outras palavras, existe um pico na densidade de estados no poc¸o
qu
ˆ
antico na energia onde acontece a resson
ˆ
ancia. Esses picos s
˜
ao vistos em multicamadas
magn
´
eticas usando fotoemiss
˜
ao ou fotoemiss
˜
ao inversa. Com esta t
´
ecnica, f
´
otons com
energia particular, geralmente luz ultravioleta ou raios-X, incidem sobre uma superf
´
ıcie.
Quando os f
´
otons s
˜
ao absorvidos pelo material, excitam os el
´
etrons que podem subir
`
a
superf
´
ıcie e ser medidos e assim, a energia dos el
´
etrons no s
´
olido pode ser deduzida a
partir da energia do f
´
oton emitido.
Para entender como o modelo de el
´
etrons livres se generaliza para materiais reais,
´
e necess
´
ario reescrever a probabilidade de transmiss
˜
ao em termos da probabilidade de
14
transmiss
˜
ao para uma barreira de potencial e da amplitude de reflex
˜
ao de uma barreira
isolada R = (kq)/(k+q). Esta substituic¸
˜
ao enfatiza a contribuic¸
˜
ao feita pelas m
´
ultiplas
reflex
˜
oes no poc¸o qu
ˆ
antico. A probabilidade transmiss
˜
ao
´
e [19]:
T
well
=
T
step
e
iqD
1
1 e
2qD
R
2
2
=
T
step
e
iqD
n=0
(e
i2qD
R
2
)
n
2
(1.5)
A segunda forma mostra explicitamente os m
´
ultiplos espalhamentos coerentes no
poc¸o. Para descrever os estados do poc¸o qu
ˆ
antico em materiais reais, deve-se substituir
o vetor de propagac¸
˜
ao, q, pelo valor apropriado calculado a partir da teoria da estrutura
de bandas de materiais reais e substituindo a amplitude das probabilidades de reflex
˜
ao e
transmiss
˜
ao pelos valores calculados para interfaces reais.
Se um dos materiais
´
e ferromagn
´
etico, a barreira de potencial
´
e diferente para os
el
´
etrons de spin majorit
´
ario e minorit
´
ario. Em uma multicamada com duas camadas
magn
´
eticas, existem quatro poss
´
ıveis poc¸os qu
ˆ
anticos que podem ser formados depen-
dendo do alinhamento relativo das magnetizac¸
˜
oes (ver Fig. 1.2). Os estados de cada poc¸o
qu
ˆ
antico s
˜
ao diferentes devido
`
as diferentes barreiras de potencial, e assim, as probabili-
dades de reflex
˜
ao s
˜
ao diferentes para cada poc¸o qu
ˆ
antico.
E
F
E
kk
E
Ferromagneto Espaçador
M M ¯
M M ¯
M
M
M
M
E
F
E
F
e
e ¯
M M ¯
M M ¯
M
M
M
M
E
F
E
F
e
e ¯
Alinhamento
paralelo
Alinhamento
antiparalelo
Figura 1.2: Poc¸os qu
ˆ
anticos usados para representar o acoplamento de troca. Na es-
querda, os dois gr
´
aficos representam as estruturas de bandas para o modelo de el
´
etrons
livres do acoplamento de troca. No lado direito, os quatro gr
´
aficos representam os poc¸os
qu
ˆ
anticos para el
´
etrons de spin up e spin down, para alinhamentos paralelo e antiparalelo
da magnetizac¸
˜
ao, tomado da refer
ˆ
encia [19].
15
A energia do acoplamento de troca pode ser descrita em termos de uma energia que
depende das direc¸
˜
oes de magnetizac¸
˜
ao das duas camadas, ˆm
i
como:
E = JA ˆm
1
· ˆm
2
(1.6)
onde A
´
e a area entre os dois filmes e J
´
e a constante de troca. Para J < 0 o acopla-
mento
´
e antiferromagn
´
etico, isto
´
e, favorece a um alinhamento antiparalelo. Esta forma
de acoplamento
´
e chamada bilinear. A intensidade desta forma de interac¸
˜
ao de troca
´
e de-
terminada pela diferenc¸a em energia entre os poc¸os qu
ˆ
anticos com magnetizac¸
˜
ao paralela
e antiparalela. Para calcular a constante de interac¸
˜
ao de troca, precisamos simplesmente
das energias dos poc¸os qu
ˆ
anticos dados na Fig. 1.2. O resultado
´
e:
J =
v
F
2πD
Re[(R
R
+ R
R
R
R
R
R
)e
i2k
F
D
] + O(D
2
)
v
F
2πD
|R
R
|
2
cos(2k
F
D + φ) (1.7)
Onde k
F
´
e o vetor de onda de Fermi da camada espac¸adora, v
F
= k
F
/m
e
, a veloci-
dade de Fermi, m
e
, a massa do el
´
etron, e R
e R
s
˜
ao as amplitudes de reflex
˜
ao para
el
´
etrons majorit
´
arios e minorit
´
arios, respectivamente, quando s
˜
ao refletidos na interface.
Desenvolvendo o quadrado das amplitudes de reflex
˜
ao, obt
´
em-se quatro termos, um para
cada poc¸o qu
ˆ
antico da Fig. 1.2. O acoplamento de troca oscila em sinal com um per
´
ıodo
de π/k
F
, a oscilac¸
˜
ao decai com D
1
, e a amplitude da oscilac¸
˜
ao
´
e determinada pela de-
pend
ˆ
encia das amplitudes de reflex
˜
ao com o spin.
16
1.3 Anisotropia magn
´
etica
A energia de anisotropia magn
´
etica (EAM) determina a orientac¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao de
um sistema. Em amostras macic¸as com simetria c
´
ubica, a EAM
´
e de poucas dezenas de
µeV/atom [36]. Por
´
em, em filmes finos,
´
e aumentada por um fator de 100 1000, devido
a um termo chamado de anisotropia uniaxial, K
1
sin
2
θ + K
2
sin
4
θ, onde θ
´
e o
ˆ
angulo
entre a magnetizac¸
˜
ao e normal ao plano do filme [36]. Para muitos sistemas de filmes
finos, K
1
´
e positivo e grande o bastante para superar a tend
ˆ
encia de uma magnetizac¸
˜
ao
no plano, causado pelas interac¸
˜
oes magnetost
´
aticas. Conseq
¨
uentemente, o eixo f
´
acil
´
e
perpendicular ao plano dos filmes.
Em princ
´
ıpio, a EAM est
´
a associada com dois fatores: a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita, que
d
´
a origem
`
a anisotropia magnetocristalina, e a interac¸
˜
ao magnetost
´
atica dipolo-dipolo,
respons
´
avel pela anisotropia de forma. As origens de cada uma destas contribuic¸
˜
oes, por
conveni
ˆ
encia, ser
˜
ao detalhadas na sec¸
˜
ao 2.3.3.
1.3.1 Contribuic¸
˜
ao de volume e de superf
´
ıcie para a EAM
No estudo da anisotropia magn
´
etica de filmes ultra finos, tem sido assumido que
a densidade de EAM K
ef
(erg/cm
3
) pode ser fenomenol
´
ogicamente separada em uma
contribuic¸
˜
ao de volume K
V
(erg/cm
3
) e em uma contribuic¸
˜
ao da interface ou de superf
´
ıcie
K
S
(erg/cm
2
), como a seguinte relac¸
˜
ao [36]:
K
ef
= K
V
+
2K
S
t
(1.8)
onde K
ef
´
e a constante de anisotropia efetiva por unidade de volume, K
V
cont
´
em as
contribuic¸
˜
oes devido
`
a energia desmagnetizante (dada pela forma das amostras), mag-
netocristalina e magnetoel
´
astica, K
S
que
´
e associada com uma anisotropia superficial
de N
´
eel, tem como origem a quebra de simetria devido a efeitos de superf
´
ıcie ou inter-
face, e t
´
e a espessura da camada magn
´
etica. O fator 2 deve-se ao fato de haver duas
superf
´
ıcies por camada. O termo K
V
, em multicamadas magn
´
eticas,
´
e negativo, pois a
energia desmagnetizante, que favorece um eixo f
´
acil para a magnetizac¸
˜
ao no plano do
filme, predomina sobre as energias magnetocristalina e magnetoel
´
astica, que podem ser
positivas dependendo da microestrutura do material e das condic¸
˜
oes de crescimento do
17
filme. Valores positivos de K
ef
implicam em eixo f
´
acil de magnetizac¸
˜
ao perpendicular
ao plano do filme, e valores negativos, em eixo f
´
acil paralelo ao plano. Da equac¸
˜
ao (1.8)
pode-se inferir que,
`
a medida que a espessura da camada magn
´
etica decresce, aumenta a
contribuic¸
˜
ao das interfaces, e abaixo de uma espessura cr
´
ıtica t
c
, ocorre uma mudanc¸a no
sinal de K
ef
e, conseq
¨
uentemente, na direc¸
˜
ao do eixo f
´
acil de magnetizac¸
˜
ao.
A equac¸
˜
ao ( 1.8)
´
e usada na an
´
alise resultados experimentais para a determinac¸
˜
ao das
constantes de anisotropia K
S
e K
V
. A partir de um gr
´
afico K
ef
t vs. t, o coeficiente angu-
lar, obtido do ajuste linear usando a equac¸
˜
ao ( 1.8), fornece o valor de K
V
, e a contribuic¸
˜
ao
de K
S
´
e obtida do coeficiente linear. Para ilustrar este m
´
etodo, na Fig. 1.3
´
e apresentado
um exemplo t
´
ıpico do gr
´
afico K
ef
t vs. t
Co
, obtido para multicamadas Co/Pd [37].
Nx (t Å Co+11 Å Pd)
0 5 10 15 20 25
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
-1.5
t
Co
(Å)
t
2K
s
K
eff
· t
Co
(mJ/m
2
)
K
V
Nx (t Å Co+11 Å Pd)
0 5 10 15 20 25
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
-1.5
t
Co
(Å)
t
2K
s
K
eff
· t
Co
(mJ/m
2
)
K
V
Nx (t Å Co+11 Å Pd)
0 5 10 15 20 25
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
-1.5
t
Co
(Å)
t
2K
s
K
eff
· t
Co
(mJ/m
2
)
Nx (t Å Co+11 Å Pd)
0 5 10 15 20 25
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
-1.5
Nx (t Å Co+11 Å Pd)
0 5 10 15 20 25
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
-1.5
Nx (t Å Co+11 Å Pd)Nx (t Å Co+11 Å Pd)
0 5 10 15 20 25
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
-1.5
t
Co
(Å)
t
2K
s
K
eff
· t
Co
(mJ/m
2
)
K
V
Figura 1.3: Gr
´
afico dos valores de K
ef
t
Co
vs. t
Co
obtido em multicamadas Co/Pd, tomado
da refer
ˆ
encia [37]. As setas representam a direc¸
˜
ao do eixo f
´
acil.
Embora este m
´
etodo tenha sido usado com muita freq
¨
u
ˆ
encia e se mostrado
´
util na
an
´
alise da anisotropia magn
´
etica de filmes finos, alguns cuidados devem ser considerados
na sua aplicac¸
˜
ao. A equac¸
˜
ao ( 1.8)
´
e v
´
alida para a espessura do elemento magn
´
etico dentro
de certos limites, pois nesta descric¸
˜
ao a anisotropia na superf
´
ıcie
´
e sentida pelo sistema
como um todo, quer dizer, a camada deve comportar-se como uma entidade magn
´
etica
´
unica, de forma que seus momentos magn
´
eticos estejam alinhados. Isto
´
e v
´
alido quando
a camada for mais fina que o comprimento de troca, que no caso do Co est
´
a em torno de
3 nm.
18
A espessura cr
´
ıtica de transic¸
˜
ao t
c
, para a qual ocorre a mudanc¸a do eixo f
´
acil, depende
de qual elemento
´
e usado como espac¸ador. Nos resultados experimentais de Broeder [37]
e colaboradores, apresentados na tabela 1.1,
´
e poss
´
ıvel verificar este fato pata multica-
madas Co/X, para v
´
arios espac¸adores n
˜
ao magn
´
eticos.
X K
V
(10
7
erg/cm
3
) K
S
(erg/cm
2
) t
c
(
˚
A)
Pt -1,00 0,50 10,0
Au -0,70 0,58 17,0
Cu -0,80 0,10 2,5
Ag -0,97 0,20 4,0
Ir -1,20 0,8 13,0
Mo -0,84 0,3 7,0
Tabela 1.1: Valores de K
V
, K
S
e t
c
obtidos para multicamadas Co/X, para diferentes
espac¸adores n
˜
ao magn
´
eticos X. Obtidos da refer
ˆ
encia [37].
1.3.2 Origem da anisotropia de superf
´
ıcie
N
´
eel foi o primeiro a teorizar a origem da anisotropia de superf
´
ıcie, utilizando o modelo
de interac¸
˜
ao de par de van Vleck [38]. N
´
eel estendeu o modelo proposto para o c
´
alculo
da anisotropia magnetocristalina de um material macic¸o, para o c
´
alculo da anisotropia de
´
atomos na superf
´
ıcie do material. Considerando as interac¸
˜
oes dipolar e spin-
´
orbita de um
´
atomo com seu vizinhos, quando localizado internamente ou na superf
´
ıcie do material,
N
´
eel encontrou uma diferenc¸a de energia nos dois casos, devido
`
a diferenc¸a da simetria
local, a qual chamou de anisotropia de superf
´
ıcie [39].
Embora o modelo de interac¸
˜
ao de par contribua significativamente para o entendi-
mento da anisotropia magn
´
etica, sua aplicac¸
˜
ao para anisotropia de superf
´
ıcie pode ser,
em alguns casos, incorreta fundamentalmente, levando
`
a previs
˜
oes erradas para o sinal de
K
S
[40]. Isto nos mostra que a teoria de N
´
eel est
´
a incompleta.
Al
´
em da contribuic¸
˜
ao de N
´
eel para a anisotropia de superf
´
ıcie, tem sido proposto
que o estresse em multicamadas, apesar de contribuir para a anisotropia de volume, pode
tamb
´
em, em situac¸
˜
oes particulares, contribuir para a anisotropia de superf
´
ıcie. Al
´
em
de poss
´
ıveis diferenc¸as entre os coeficientes de expans
˜
ao t
´
ermica dos materiais que for-
19
mam a multicamada e estresses intr
´
ınsecos ao processo de deposic¸
˜
ao, diferenc¸as entre o
par
ˆ
ametro de rede de seus constituintes, podem tamb
´
em causar tens
˜
oes no filme. Com
relac¸
˜
ao ao
´
ultimo caso, dois regimes devem ser definidos. Se o descasamento de rede
η = (a
A
a
B
)/a
A
, onde a
´
e o par
ˆ
ametro de rede, entre os dois elementos A e B que
comp
˜
oem a multicamada n
˜
ao for grande, a minimizac¸
˜
ao da energia total, abaixo de uma
determinada espessura, conduz a um acomodamento que introduz uma tens
˜
ao expansiva
em um elemento e compressiva em outro, de forma que, os dois elementos assumem, no
plano, o mesmo par
ˆ
ametro de rede [41]. Este
´
e o regime coerente. Acima da espessura
mencionada
´
e tido o regime incoerente ou parcialmente coerente.
Nestes dois modelos as interfaces s
˜
ao consideradas perfeitamente lisas. Na pr
´
atica,
isto n
˜
ao ocorre, e as interfaces apresentam rugosidades e/ou interdifus
˜
ao entre os
´
atomos
constituintes, que podem influenciar a anisotropia magn
´
etica. Bruno [42] considerou as
interfaces formadas por degraus ou crateras e calculou a contribuic¸
˜
ao deste efeito, via
interac¸
˜
ao dipolar, na anisotropia de forma. Os degraus criam, nas interfaces, campos
desmagnetizantes locais que diminuem a anisotropia desmagnetizante total do filme, con-
tribuindo, assim, positivamente para a anisotropia efetiva. Por
´
em, a contribuic¸
˜
ao deste
efeito na anisotropia de superf
´
ıcie
´
e muito pequena (0,001 erg/cm
2
para o Co (0001)).
J
´
a, a interdifus
˜
ao nas interfaces reduz a assimetria entre os
´
atomos diminuindo assim a
contribuic¸
˜
ao de N
´
eel.
Cap
´
ıtulo 2
M
´
etodos de an
´
alise e detalhes
experimentais
2.1 Crescimento de Multicamadas
2.1.1 Pulverizac¸
˜
ao cat
´
odica
As multicamadas estudadas nesta tese foram crescidas pela t
´
ecnica da pulverizac¸
˜
ao
cat
´
odica (
sputtering
). A pulverizac¸
˜
ao cat
´
odica
´
e um processo que consiste em ionizar
um g
´
as inerte entre dois eletrodos, gerando um plasma. Os
´
ıons deste g
´
as se aceleram e
colidem com os
´
atomos do alvo e pulverizam sua superf
´
ıcie. Os
´
atomos ou aglomerados
de
´
atomos arrancados s
˜
ao depositados sobre um substrato para crescer o filme. Para alvos
de boa condutividade el
´
etrica, o campo el
´
etrico aplicado entre os eletrodos pode ser de
corrente cont
´
ınua (DC), no entanto, para materiais isolantes e de baixa condutividade, o
campo el
´
etrico entre os eletrodos deve ser de corrente alternada, com freq
¨
u
ˆ
encia da ordem
dos MHz; para isto se aplica um sinal de radiofreq
¨
u
ˆ
encia (RF). O alvo
´
e ligado
`
a fonte
de potencial negativo, e o suporte com o substrato
´
e aterrado ou mantido em potencial
flutuante [43].
A ionizac¸
˜
ao dos
´
atomos do g
´
as inerte no plasma se processa pelas colis
˜
oes com
el
´
etrons. Para aumentar a efici
ˆ
encia desta ionizac¸
˜
ao pode-se confinar os el
´
etrons perto da
superf
´
ıcie do alvo mediante a aplicac¸
˜
ao de um campo magn
´
etico. Neste caso, a t
´
ecnica se
denomina Pulverizac¸
˜
ao Cat
´
odica por Magnetron (Magnetron Sputtering). O alvo, al
´
em de
estar ligado
`
a fonte de potencial, agora encontra-se instalado sobre uma fonte magnetron,
a qual possui um arranjo de
´
ım
˜
as permanentes dispostos de modo tal que numa regi
˜
ao ao
20
21
redor da superf
´
ıcie do alvo, um campo magn
´
etico t
´
unel
´
e formado. Isto faz os el
´
etrons
terem movimentos helicoidais em volta das linhas de campo magn
´
etico, devido
`
a forc¸a
de Lorentz, e contribuir para a ionizac¸
˜
ao do g
´
as. Desta forma a densidade de ionizac¸
˜
ao
´
e
amplificada nesta regi
˜
ao permitindo obter altas taxas de deposic¸
˜
ao [21].
2.1.2 Sistema de pulverizac¸
˜
ao cat
´
odica
Todos os filmes foram crescidos no sistema de pulverizac¸
˜
ao cat
´
odica do Laborat
´
orio
de Filmes Finos do Centro Brasileiro de Pesquisas F
´
ısicas (CBPF). Este sistema, modelo
ATC-2400, da AJA international, possui duas c
ˆ
amaras cil
´
ındricas: uma principal de 750
mm de di
ˆ
ametro por 350 mm de altura, onde est
˜
ao instaladas cinco fontes Magnetron
(cada uma com anel de g
´
as, chamin
´
es de blindagem e obturadores pneum
´
aticos), dispostas
circularmente na base da c
ˆ
amara, sendo tr
ˆ
es para alvos de 50 mm de di
ˆ
ametro e duas
para alvos da ordem de 40 mm de di
ˆ
ametro. Os alvos, com espessuras fornecidas pelos
fabricantes, s
˜
ao instalados sobre as Magnetrons, as quais s
˜
ao ligadas
`
as fontes de potencial
DC ou RF, segundo o tipo de material do alvo. O sistema possui tr
ˆ
es fontes DC e duas
fontes RF e permite a colocac¸
˜
ao de at
´
e cinco porta-substratos dentro da c
ˆ
amara principal
sobre uma base rotat
´
oria. Nesta base, tamb
´
em encontra-se uma caixa suporte, dentro
da qual se coloca o porta-substrato onde ocorrer
´
a a deposic¸
˜
ao. Esta caixa possui um
sistema de resfriamento e aquecimento para variar a temperatura do substrato entre 5
C e
1000
C. Uma c
´
elula de Knudsen encontra-se tamb
´
em instalada entre as Magnetrons para
crescimento de filmes atrav
´
es de evaporac¸
˜
ao t
´
ermica de metais enriquecidos em is
´
otopos
de interesse.
A outra c
ˆ
amara (antec
ˆ
amara), de 100 mm de di
ˆ
ametro est
´
a acoplada
`
a c
ˆ
amara prin-
cipal por uma v
´
alvula manual de ultra alto v
´
acuo e permite colocar e retirar os porta-
substratos da c
ˆ
amara principal sem quebrar o v
´
acuo nesta
´
ultima. Ambas as c
ˆ
amaras tem
sistemas de bombeamento independentes; o v
´
acuo final da c
ˆ
amara principal
´
e da ordem
de 2 × 10
8
Torr (press
˜
ao de base) e da antec
ˆ
amara de 2 × 10
7
Torr. O sputtering
´
e
feito numa atmosfera de arg
ˆ
onio de alta pureza com uma press
˜
ao (press
˜
ao de trabalho)
que
´
e controlada de acordo com a taxa de deposic¸
˜
ao desejada; esta taxa tamb
´
em depende
do material do alvo. O controle do posicionamento dos porta-substratos, a seq
¨
uencia das
deposic¸
˜
oes, o tempo de deposic¸
˜
ao e o acionamento da abertura e fechamento dos obtu-
radores das fontes magnetron s
˜
ao feitos por computador, no entanto o controle da press
˜
ao
de trabalho e o acionamento do plasma
´
e manual. O esquema do sistema de deposic¸
˜
ao
22
est
´
a mostrado na Fig. 2.1 e os detalhes completos de sua estrutura e funcionamento est
˜
ao
nas refer
ˆ
encias [44, 45].
Câmaraprincipal
Antecâmara
Válvulamanualdealtovácuo
Magnetrons
CélulaKnudsen
Baserotatória
Caixa
suporte
Substrato
Linhasdecampo
magnético
Regiãode
confinamento
doplasma
Alvo
Chapadecobre
Arranjodeimãs
permanentesde
NdFeB
Atomosdoalvo
Figura 2.1: Esquema do sistema Magnetron Sputtering do CBPF (parte superior) e es-
quema de um magnetron e do processo de pulverizac¸
˜
ao (parte inferior).
Antes do crescimento das amostras
´
e preciso determinar as taxas de deposic¸
˜
ao dese-
jadas para cada material. Para determinar essa taxa,
´
e depositada uma camada
´
unica de
cada alvo utilizando as mesmas condic¸
˜
oes de press
˜
ao de base, press
˜
ao de trabalho, tem-
peratura do substrato, pot
ˆ
encia DC ou RF e dist
ˆ
ancia alvo - substrato, que ser
˜
ao utilizadas
na preparac¸
˜
ao das multicamadas. Depois
´
e determinada a espessura de cada filme padr
˜
ao
atrav
´
es do ajuste das respectivas curvas de refletividade, como ser
´
a explicado na sec¸
˜
ao
seguinte. Como o tempo de deposic¸
˜
ao
´
e conhecido, as taxas de deposic¸
˜
ao de cada alvo
s
˜
ao calculadas dividindo a espessura total dos filmes pelo tempo de deposic¸
˜
ao.
23
2.1.3 Caracterizac¸
˜
ao estrutural: Difrac¸
˜
ao e reflectividade de raios-X
A difrac¸
˜
ao de raios-X
´
e uma t
´
ecnica n
˜
ao destrutiva que fornece informac¸
˜
ao estru-
tural em escala at
ˆ
omica sobre extens
˜
oes relativamente grandes da amostra, da ordem do
comprimento de coer
ˆ
encia estrutural. O difratograma de raios-X θ 2θ
´
e dividido em
duas regi
˜
oes: baixos
ˆ
angulos (2θ < 15
), abaixo da primeira reflex
˜
ao de Bragg, e altos
ˆ
angulos (2θ > 15
). A regi
˜
ao de baixos
ˆ
angulos
´
e resultante do espalhamento proveniente
da modulac¸
˜
ao qu
´
ımica das camadas, enquanto que a regi
˜
ao de altos
ˆ
angulos depende do
comprimento de coer
ˆ
encia estrutural normal
`
as camadas.
Difrac¸
˜
ao de raios-X
Na regi
˜
ao de altos
ˆ
angulos, esta t
´
ecnica
´
e chamada de difrac¸
˜
ao convencional e serve
para determinar a textura cristalogr
´
afica dos filmes. A difrac¸
˜
ao convencional de raios-X
por um s
´
olido pode-se descrever como a reflex
˜
ao especular da radiac¸
˜
ao incidente numa
fam
´
ılia de planos da rede cristalina. A radiac¸
˜
ao refletida em um plano e nos planos ad-
jacentes, diferem por um fator de fase que depende do caminho percorrido. A diferenc¸a
de caminho percorrido pelos feixes refletidos nos planos adjacentes
´
e 2dsenθ, onde d
´
e
a dist
ˆ
ancia interplanar e θ
´
e o
ˆ
angulo de incid
ˆ
encia. Para interfer
ˆ
encia construtiva, esta
diferenc¸a de caminhos obedece a lei de Bragg [46]:
2dsenθ = (2.1)
onde λ
´
e o comprimento de onda dos raios-X e n representa um
´
ındice inteiro, conhecido
como a ordem da reflex
˜
ao.
Dada a posic¸
˜
ao angular de um pico de difrac¸
˜
ao de Bragg pode ser calculado o vetor
da rede rec
´
ıproca
G e a dist
ˆ
ancia interplanar d referentes
`
a fam
´
ılia de planos associados
ao pico de difrac¸
˜
ao. O m
´
odulo de
G est
´
a relacionado
`
a dist
ˆ
ancia d atrav
´
es da express
˜
ao:
d =
2π
|
G|
(2.2)
Com estes dados, os par
ˆ
ametros de rede da estrutura cristalina do material estudado, po-
dem ser calculados. Como exemplo,
´
e usado o caso da estrutura c
´
ubica de face centrada,
24
sendo representada no espac¸o real com uma c
´
elula primitiva de lado a, que tem como
representac¸
˜
ao no espac¸o rec
´
ıproco, uma rede c
´
ubica de corpo centrado com uma c
´
elula
primitiva de lado 4π/a, de forma que os vetores da base da rede rec
´
ıproca podem ser
escritos como [49]:
b
1
=
4π
a
1
2
(ˆy + ˆz ˆx),
b
2
=
4π
a
1
2
(ˆz + ˆx ˆy),
b
3
=
4π
a
1
2
(ˆx + ˆy ˆz) (2.3)
Logo
G
´
e dado por:
G =
4π
a
(ν
1
ˆx + ν
2
ˆy + ν
3
ˆz) (2.4)
onde os
´
ındices ν
j
em func¸
˜
ao dos
´
ındices de Miller s
˜
ao:
ν
1
=
1
2
(h + k + l), ν
2
=
1
2
(h k + l), ν
3
=
1
2
(h + k l)
Substituindo o m
´
odulo de
G na equac¸
˜
ao ( 2.2), tem-se:
a = 2d(ν
2
1
+ ν
2
2
+ ν
2
3
)
1/2
(2.5)
A equac¸
˜
ao ( 2.5) relaciona o par
ˆ
ametro de rede a,
`
a dist
ˆ
ancia interplanar d e os
´
ındices de
Miller hkl referentes a um pico de difrac¸
˜
ao de Bragg do cristal.
Outro dado importante que pode ser extra
´
ıdo da difrac¸
˜
ao convencional
´
e o tamanho de
gr
˜
ao cristalino ou comprimento de coer
ˆ
encia estrutural presente no material. Geralmente
filmes depositados pela t
´
ecnica de sputtering apresentam estruturas policristalinas. No
entanto, no sentido normal ao plano do filme cada camada
´
e formada por basicamente
um gr
˜
ao, excluindo-se a interdifus
˜
ao at
ˆ
omica e a poss
´
ıvel discord
ˆ
ancia dos par
ˆ
ametros de
rede na interface. O tamanho de gr
˜
ao pode ser estimado a partir da largura de linha a meia
altura do pico difratado atrav
´
es da f
´
ormula de Sherrer [46]:
ξ =
0, 9λ
b cosθ
(2.6)
onde ξ
´
e o tamanho de gr
˜
ao, b
´
e a largura de linha a meia altura e θ o
ˆ
angulo de incid
ˆ
encia.
25
Reflectividade de raios-X
As curvas de refletividade de raios-X permitem determinar a espessura das camadas, a
rugosidade e o grau de interdifus
˜
ao at
ˆ
omica nas interfaces das multicamadas. Quando um
filme de densidade uniforme
´
e depositado num substrato, a refletividade normal de Fresnel
do substrato fica modulada por oscilac¸
˜
oes, devido
`
as interfer
ˆ
encias entre os raios refletidos
na superf
´
ıcie da interface ar/filme e filme/substrato. Estas oscilac¸
˜
oes s
˜
ao chamadas franjas
de Kiessig. Desta forma, o
ˆ
angulo que o raio incidente faz com o substrato n
˜
ao
´
e mais
simplesmente θ e sim um
ˆ
angulo de incid
ˆ
encia corrigido θ
c
, que sofreu refrac¸
˜
ao ao passar
do ar para o filme e pode ser obtido atrav
´
es da lei de Snell [47]:
ncosθ
c
= cosθ (2.7)
onde o
´
ındice de refrac¸
˜
ao do ar
´
e considerado 1 e n
´
e o
´
ındice de refrac¸
˜
ao do filme dado
pela relac¸
˜
ao [48]:
n = 1 δ (2.8)
onde δ e β podem ser obtidos atrav
´
es das relac¸
˜
oes:
δ =
e
2
λ
2
2πm
e
c
2
(Z + f
)N
a
(2.9)
β =
λµ
l
4π
(2.10)
onde e
´
e a carga do el
´
etron, m
e
´
e a massa do el
´
etron, c
´
e a velocidade da luz, Z
´
e o
n
´
umero at
ˆ
omico, f
´
e a parte real da absorc¸
˜
ao an
ˆ
omala, N
a
´
e a densidade at
ˆ
omica e µ
l
´
e
o coeficiente de absorc¸
˜
ao linear.
A lei de Bragg modificada pode assim ser escrita como [50]:
kλ = 2tsen2θ
c
(2.11)
onde k
´
e a ordem de reflex
˜
ao e t
´
e a espessura do filme. Considerando s
´
o a parte real do
26
´
ındice de refrac¸
˜
ao do filme, tem-se:
sen
2
θ =
λn
2t
2
+ 2δ (2.12)
Para a radiac¸
˜
ao do Cu K
α
(λ = 1.5418
˚
A), os valores t
´
ıpicos de δ (3 ×10
5
) somente
causam variac¸
˜
oes significativas no valor de t para
ˆ
angulos 2θ < 3
[116]. Fazendo
f(x) = sen2θ e x = n, o coeficiente angular da func¸
˜
ao do 2
grau formada
´
e:
a =
λ
2t
2
(2.13)
Donde obt
´
em-se a espessura do filme:
t =
λ
2
a
(2.14)
Para o caso de uma multicamada, com um superper
´
ıodo Λ resultante de empilhamen-
tos coerentes, a curva de refletividade
´
e composta por franjas de Kiessig, correspondentes
`
as reflex
˜
oes das superf
´
ıcies externas da multicamada (interfaces ar/multicamada e multi-
camada substrato) e picos de Bragg, correspondentes
`
as reflex
˜
oes nas diversas interfaces.
Atrav
´
es da separac¸
˜
ao angular entre as franjas de Kiessig (θ) pode-se calcular a es-
pessura total t da multicamada usando a relac¸
˜
ao obtida a partir da lei de Bragg [50]:
t =
λ
2senθ
(2.15)
Utilizando a posic¸
˜
ao angular dos picos de Bragg
´
e poss
´
ıvel determinar o superper
´
ıodo,
de maneira an
´
aloga
`
a descrita para a obtenc¸
˜
ao de t atrav
´
es da equac¸
˜
ao ( 2.12). Substi-
tuindo t por Λ, tem-se:
sen
2
θ =
λn
2
+ 2δ (2.16)
A rugosidade interfacial das multicamadas
´
e diretamente proporcional
`
a declividade
da curva de reflectividade. Supondo que a rugosidade da interface Q(z) possa ser descrita
por uma func¸
˜
ao Gaussiana, a func¸
˜
ao densidade de probabilidade em termos da posic¸
˜
ao na
interface
´
e [51]:
27
Q(z) =
1
σ
2π
exp
z
2
2σ
2
y
(2.17)
onde z
´
e a posic¸
˜
ao na interface e σ
´
e o desvio m
´
edio padr
˜
ao ou rugosidade media quadr
´
atica.
Experimentalmente, um dos par
ˆ
ametros que geralmente
´
e extraido das medidas de reflec-
tividade e a rugosidade m
´
edia quadr
´
atica.
´
E importante ressaltar que um simples n
´
umero (σ) pode fornecer s
´
o uma descric¸
˜
ao
incompleta da rugosidade da superf
´
ıcie e/ou interface. A presenc¸a de irregularidades na
superf
´
ıcie, como por exemplo, desn
´
ıveis, ondulac¸
˜
oes, depress
˜
oes e plat
ˆ
os, n
˜
ao podem ser
revelados pelo valor de σ. No entanto, estas propriedades s
˜
ao importantes para entender
o estado de uma superf
´
ıcie ou de uma interface. Al
´
em disto, baixos valores de σ podem
estar mascarando a presenc¸a de riscos profundos que mais tarde podem causar descon-
tinuidade nos filmes finos subseq
¨
uentes a serem depositados. Neste contexto, algumas
t
´
ecnicas complementares como a microscopia eletr
ˆ
onica de transmiss
˜
ao (MET) e a mi-
croscopia de forc¸a at
ˆ
omica (MFA) s
˜
ao muito
´
uteis para verificar as poss
´
ıveis presenc¸as
de imperfeic¸
˜
oes, riscos, ondulac¸
˜
oes e/ou desn
´
ıveis na amostra. Maiores detalhes, quanto
`
a determinac¸
˜
ao de rugosidade superficial e interfacial em filmes finos, podem ser encon-
trados na refer
ˆ
encia [52].
28
2.2 Dicro
´
ısmo Magn
´
etico Circular de Raios-X
O Dicro
´
ısmo Magn
´
etico Circular de Raios-X (XMCD) tornou-se, nos
´
ultimos anos,
uma ferramenta importante para o estudo das propriedades magn
´
eticas de multicamadas
formadas com metais de transic¸
˜
ao. O XMCD se define como a diferenc¸a dos coeficientes
de absorc¸
˜
ao µ
+
(E) e µ
(E) de raios-X circularmente polarizados
`
a direita e
`
a esquerda
respectivamente, em presenc¸a de um campo magn
´
etico est
´
atico aplicado na direc¸
˜
ao do
vetor de onda do feixe incidente no material absorvedor. Esta t
´
ecnica se inclui entre
as de espectroscopia de absorc¸
˜
ao de raios-X (XAS) e consiste em medir o coeficiente
de absorc¸
˜
ao de radiac¸
˜
ao de um sistema em func¸
˜
ao da energia dos f
´
otons incidentes. A
excitac¸
˜
ao dos el
´
etrons localizados nos n
´
ıveis mais pr
´
oximos do caroc¸o do
´
atomo absorve-
dor atrav
´
es da absorc¸
˜
ao de radiac¸
˜
ao,
´
e o processo b
´
asico de XAS. Se a energia do f
´
oton
incidente
´
e suficiente para arrancar os el
´
etrons localizados nos n
´
ıveis internos, ent
˜
ao a
absorc¸
˜
ao aumenta, observando-se um salto no espectro de absorc¸
˜
ao. Esse aumento, que
´
e
observado no espectro, representa a borda de absorc¸
˜
ao. As bordas mais importantes s
˜
ao
as K, L
2,3
e M
4,5
. Cada borda est
´
a relacionada com um
´
atomo espec
´
ıfico, quer dizer, com
uma transic¸
˜
ao eletr
ˆ
onica entre um n
´
ıvel muito bem definido e uma determinada banda de
val
ˆ
encia. Isto faz do XAS, e tamb
´
em do XMCD, t
´
ecnicas elemento seletivas permitindo
estudar estruturas complexas. O espectro XMCD em diferentes bordas cont
´
em intrinse-
camente informac¸
˜
oes sobre o estado magn
´
etico de um sistema. Estas informac¸
˜
oes podem
ser obtidas quantitativamente atrav
´
es da an
´
alise dos espectros experimentais usando-se
as regras de soma [53, 54], as quais permitem calcular os momentos magn
´
eticos orbital
(m
o
) e de spin (m
s
) e as anisotropias de cada elemento que formam o sistema [55, 56].
2.2.1 Magnetismo nos metais de transic¸
˜
ao 3d
O magnetismo dos elementos de transic¸
˜
ao 3d se origina principalmente dos el
´
etrons
itinerantes da camada 3d; os el
´
etrons 4s e 4p d
˜
ao uma contribuic¸
˜
ao menor
`
as propriedades
magn
´
eticas destes metais [30, 57]. A densidade de estados dentro da primeira zona
de Brillouin dos el
´
etrons 3d e 4s (Fig. 2.2)
´
e dependente da energia e todos os orbitais
abaixo do n
´
ıvel de Fermi (E
F
) est
˜
ao ocupados no estado fundamental. Acima de E
F
existem orbitais vazios ou buracos 3d que ser
˜
ao ocupados excitando os el
´
etrons que se
encontram abaixo de E
F
, sendo o n
´
umero destes buracos (n
h
) diferente em cada ele-
mento. Entretanto, no modelo de Stoner para o ferromagnetismo, que trata as interac¸
˜
oes
29
Figura 2.2: Densidade de estados e origens dos momentos magn
´
eticos orbital e de spin
em um metal de transic¸
˜
ao 3d. Adaptado da refer
ˆ
encia [55].
el
´
etron-el
´
etron na aproximac¸
˜
ao do campo m
´
edio, uma banda d parcialmente vazia pode
ser dividida em duas sub-bandas, uma com el
´
etrons de spin up (+1/2) e a outra com
el
´
etrons de spin down (1/2), sem momento orbital. A interac¸
˜
ao de troca entre os spins
eletr
ˆ
onicos provoca uma diferenc¸a de energia entre as duas sub-bandas e isto origina uma
diferenc¸a de estados ocupados entre estas sub-bandas, quer dizer, uma diferenc¸a entre o
n
´
umero de el
´
etrons de spin up e el
´
etrons de spin down. Como a diferenc¸a de estados
ocupados (el
´
etrons) entre as sub-bandas
´
e a mesma que nos estados vazios (buracos),
podemos usar a representac¸
˜
ao buraco para definir os momentos magn
´
eticos. O m
´
odulo
de m
s
´
e dado por m
s
= (n
n
)µ
B
, onde n
e n
s
˜
ao os n
´
umeros de buracos de spin
up e spin down, respectivamente, e µ
B
´
e o magneton de Bohr. O m
o
surge, por sua parte,
devido
`
a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita. Esta interac¸
˜
ao conduz a um desbalanceamento de esta-
dos com n
´
umeros qu
ˆ
anticos l = +1, +2 e l = 1, 2. Como a energia da interac¸
˜
ao
spin-
´
orbita (da ordem dos meV)
´
e muito menor do que a energia da interac¸
˜
ao de troca
( 1 eV), o momento orbital
´
e muito menor que o momento de spin, mas
´
e fundamental
para o entendimento da anisotropia magnetocristalina [56]. Os el
´
etrons 4s e 4p n
˜
ao tem
contribuic¸
˜
ao ao momento orbital, mas tem uma pequena contribuic¸
˜
ao ao momento de spin
30
da ordem de 5%. O momento magn
´
etico total
´
e simplesmente a soma das contribuic¸
˜
oes
orbital e de spin.
As propriedades dos el
´
etrons 3d podem ser melhor comprovadas em experimentos de
absorc¸
˜
ao de raios-X, excitando os el
´
etrons do caroc¸o 2p para preencher estados vazios
3d. Em princ
´
ıpio, o espectro de absorc¸
˜
ao de raios-X na borda L cont
´
em contribuic¸
˜
oes das
transic¸
˜
oes p d e p s, mas na pr
´
atica as transic¸
˜
oes p d dominam por um fator
maior que 20 [58]. Entretanto, a origem do XMCD
´
e melhor entendida se assumimos
que a banda 3d tem somente momento de spin. Para medir a diferenc¸a no n
´
umero de
buracos 3d com spin para cima e spin para baixo
´
e preciso fazer processos de absorc¸
˜
ao
de raios-X circularmente polarizados dependentes do spin. Como os foto-el
´
etrons de
spin para cima (para baixo) dos estados de caroc¸o 2p podem ser excitados somente para
preencher buracos 3d de spin up (down), ent
˜
ao pode-se excitar preferencialmente foto-
el
´
etrons de spin up numa medida (polarizac¸
˜
ao
`
a direita) e foto-el
´
etrons de spin down em
outra medida (polarizac¸
˜
ao
`
a esquerda). A diferenc¸a destas duas intensidades de transic¸
˜
ao
(XMCD) refletiria simplesmente a diferenc¸a entre o n
´
umero de buracos de spin up e spin
down da banda 3d, isto
´
e o momento de spin, como ser
´
a brevemente explicado no modelo
de dois passos [59, 60].
2.2.2 Modelo de dois Passos
De acordo com este modelo, o XMCD nas bordas L
2,3
dos metais de transic¸
˜
ao 3d
existe principalmente devido
`
a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita no estado de caroc¸o 2p e
`
a interac¸
˜
ao
de troca na banda de val
ˆ
encia 3d.
No primeiro passo os f
´
otons circularmente polarizados
`
a direita ou
`
a esquerda trans-
ferem seu momento angular, e respectivamente, aos el
´
etrons de caroc¸o do n
´
ıvel 2p, o
qual est
´
a dividido em dois sub-n
´
ıveis, 2p
3/2
(borda L
3
) e 2p
1/2
(borda L
2
) pela interac¸
˜
ao
spin-
´
orbita. Estes sub-n
´
ıveis t
ˆ
em acoplamento spin-
´
orbita opostos (c + s e c s, res-
pectivamente) e o momento angular dos f
´
otons
´
e transferido tanto ao momento de spin
como ao momento orbital dos el
´
etrons. No in
´
ıcio os el
´
etrons n
˜
ao tem nenhum tipo de
polarizac¸
˜
ao, no entanto ap
´
os a interac¸
˜
ao com os f
´
otons, ganham uma polarizac¸
˜
ao de spin.
No segundo passo os foto-el
´
etrons excitados com spin para cima (para baixo) ocu-
pam os estados vazios das sub-bandas d de spin para cima (para baixo) como ilustrado na
Fig. 2.3(a), quer dizer, as sub-bandas de energia da banda de val
ˆ
encia 3d funcionam como
31
Figura 2.3: (a) Representac¸
˜
ao do modelo de dois passos para os metais de transic¸
˜
ao 3d.
(b) Espectros de absorc¸
˜
ao de raios-X e XMCD nas bordas L
2,3
do Fe em uma camada de
500
˚
A de Ni
81
Fe
19
.
detectores de spin dos foto-el
´
etrons excitados. O eixo de quantizac¸
˜
ao do detector
´
e dado
pela direc¸
˜
ao de magnetizac¸
˜
ao, que para um efeito dicr
´
oico m
´
aximo, deve estar alinhado
com a direc¸
˜
ao do spin do f
´
oton. Devido
`
a conservac¸
˜
ao do spin, os foto-el
´
etrons excita-
dos de 2p
3/2
(2p
1/2
) por f
´
otons com momento angular ocupam principalmente estados
vazios de spin para cima (para baixo) acima do n
´
ıvel de Fermi. Assim, a intensidade de
absorc¸
˜
ao de raios-X circularmente polarizados
`
a esquerda ser
´
a aumentada na borda L
3
e
reduzida na borda L
2
. Este efeito
´
e oposto para luz circularmente polarizada
`
a direita,
j
´
a que os f
´
otons incidentes t
ˆ
em momento angular . A diferenc¸a entre estas duas in-
tensidades
´
e o XMCD. Num espectro XMCD, para um material ferromagn
´
etico, as
´
areas
representadas por A (borda L
3
) e B (borda L
2
) na Fig. 2.3(b) t
ˆ
em sinais opostos, refletindo
o acoplamento spin-
´
orbita oposto relativo aos sub-n
´
ıveis 2p
3/2
e 2p
1/2
. Na regra de soma
32
[53] o momento magn
´
etico de spin
´
e diretamente proporcional a A 2B.
Se a banda de val
ˆ
encia 3d possui momento orbital, as sub-bandas de energia com
n
´
umeros qu
ˆ
anticos l = +1, +2 e l = 1, 2 funcionam como um detector de momento
orbital dos foto-el
´
etrons excitados de forma an
´
aloga ao momento de spin. A absorc¸
˜
ao de
luz circularmente polarizada
`
a direita ou
`
a esquerda por el
´
etrons de um n
´
ıvel de caroc¸o
sempre resulta na produc¸
˜
ao de foto-el
´
etrons com momentos orbitais finitos e polariza-
dos, mesmo na aus
ˆ
encia de acoplamento spin-
´
orbita nesse n
´
ıvel. Somando-se todas as
intensidades L
3
e L
2
, o momento de spin
´
e aparentemente eliminado e o momento orbital
da banda de val
ˆ
encia pode ser medido, o qual, de acordo com a regra de soma [54],
´
e
proporcional a A + B.
Uma forma equivalente
`
a explicada acima de obter um espectro XMCD
´
e fixar um dos
estados de polarizac¸
˜
ao dos f
´
otons (circular
`
a direita ou
`
a esquerda) e tomar dois espectros
de absorc¸
˜
ao, sendo um com a direc¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao da amostra paralela
`
a direc¸
˜
ao de
propagac¸
˜
ao dos f
´
otons e o outro com a magnetizac¸
˜
ao no sentido oposto. O XMCD
´
e a
diferenc¸a dos espectros de absorc¸
˜
ao medidos nessas condic¸
˜
oes [58].
2.2.3 Regras de Soma
Os momentos magn
´
eticos de spin m
s
= (2µ
B
/)S
z
, orbital m
o
= (µ
B
/)L
z
e dipolar m
T
= (µ
B
/)T
z
est
˜
ao relacionados
`
as areas integradas do espectro XMCD e
do espectro de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica, atrav
´
es das regras de soma. Na sua forma geral para
qualquer borda de absorc¸
˜
ao, estas s
˜
ao:
Regra de soma do spin [53]
j
+
dE(µ
+
µ
) [(c + 1)/c]
j
dE(µ
+
µ
)
j
+
+j
dE(µ
+
+ µ
+ µ
0
)
=
l ( l + 1) 2 c(c + 1)
3c(4l + 2 n)
S
z
+
l(l + 1)[l(l + 1) + 2c(c + 1) + 4] 3(c 1)
2
(c + 2)
2
6l c(l + 1)(4l + 2 n)
T
z
(2.18)
Regra de soma orbital [54]
j
+
+j
dE(µ
+
µ
)
j
+
+j
(µ
+
+ µ
+ µ
0
)
=
1
2
l(l + 1) + 2 c(c + 1)
l(l + 1)(4l + 2 n)
L
z
(2.19)
33
onde j
±
= c ± 1/2, c
´
e o n
´
umero qu
ˆ
antico orbital do estado de caroc¸o e l, o do estado
final no processo de absorc¸
˜
ao. S
z
, L
z
e T
z
s
˜
ao os valores esperados do operador
de spin, operador de momento orbital e operador dipolar magn
´
etico, respectivamente e
n
´
e o n
´
umero de el
´
etrons na banda de val
ˆ
encia. Para sistemas met
´
alicos, o acoplamento
spin-
´
orbita
´
e fraco e sua influ
ˆ
encia sobre T
z
pode ser desprezada. Os coeficientes de
absorc¸
˜
ao est
˜
ao representados por µ
+
, µ
e µ
0
para f
´
otons com polarizac¸
˜
ao circular
`
a
direita, circular
`
a esquerda e linear, respectivamente. Estas equac¸
˜
oes tornam-se menos
complicadas quando consideradas para bordas espec
´
ıficas. No caso das bordas L
2,3
, onde
l = 2 e c = 1, as regras de soma relacionam as
´
areas integradas do espectro XMCD, A e
B (Fig. 2.3 b), com os momentos magn
´
eticos de spin e orbital atrav
´
es de [61]:
A 2B
A
iso
=
2
3n
h
S
z
+
7
3n
h
T
z
(2.20)
A + B
A
iso
=
L
z
2n
h
(2.21)
onde A
iso
´
e a
´
area do espectro de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica ap
´
os a remoc¸
˜
ao das contribuic¸
˜
oes
do espectro cont
´
ınuo (vide sec¸
˜
ao 2.2.6), n
h
= 10 - n
´
e o n
´
umero de buracos na banda de
val
ˆ
encia 3d e n
´
e o n
´
umero de ocupac¸
˜
ao 3d. O termo que inclui T
z
pode ser desprezado
para
´
atomos em amostras de bulk, mas
´
e relevante para superf
´
ıcies e interfaces. Por
exemplo, na superf
´
ıcie do Fe(001), Co(0001) e Ni(001) a magnitude de 7T
z
´
e 0, 23µ
B
;
0, 24µ
B
e 0, 082µ
B
, respectivamente, enquanto que em amostras de bulk a magnitude
´
e
0, 028µ
B
; 0, 014µ
B
e 0, 027µ
B
[62].
A regra de soma do spin (eq. 2.20) fornece a soma do momento magn
´
etico de spin
(m
s
) e do momento dipolar magn
´
etico (m
T
), a qual
´
e chamada de momento magn
´
etico
de spin efetivo (m
ef
s
). Nas bordas L
2,3
m
ef
s
= m
s
7m
T
. Na pr
´
atica s
´
o ser
´
a calculado o
valor de m
ef
s
.
A determinac¸
˜
ao do valor absoluto do momento magn
´
etico orbital e de spin parece ser
dif
´
ıcil principalmente por causa da determinac¸
˜
ao exata dos seus denominadores. Uma
forma simples de evitar esta dificuldade
´
e aplicar as regras de soma para calcular a raz
˜
ao
dos momentos orbital e de spin. Para as bordas L
2,3
, a partir das equac¸
˜
oes ( 2.20) e ( 2.21),
esta raz
˜
ao
´
e:
34
S
z
2S
z
+ 7T
z
=
2
3
A + B
A 2B
(2.22)
Neste caso, o n
´
umero de buracos e a
´
area do espectro de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica s
˜
ao
cancelados. A
´
unica dificuldade
´
e o conhecimento da contribuic¸
˜
ao dipolar magn
´
etica.
Para obter as regras de soma, foram feitas v
´
arias aproximac¸
˜
oes. Entres as mais impor-
tantes temos que, para as bordas L
2,3
dos metais de transic¸
˜
ao 3d, as transic¸
˜
oes 2p 4s
t
ˆ
em sido ignoradas j
´
a que as transic¸
˜
oes 2p 3d representam 98% nos processos de
absorc¸
˜
ao. Uma poss
´
ıvel mistura entre as duas bordas de absorc¸
˜
ao (L
2
e L
3
) tamb
´
em
´
e
desprezada; a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita no buraco de caroc¸o
´
e considerada grande o bastante
para n
˜
ao misturar o efeito de interac¸
˜
ao Coulombiana nem outro tipo de interac¸
˜
ao no estado
final. Estas aproximac¸
˜
oes limitam a validade das regras de soma. Nos ferromagnetos da
s
´
erie 3d (Fe, Co e Ni), a aplicac¸
˜
ao destas regras fornece valores razo
´
aveis dos momentos
magn
´
eticos orbital e de spin, no entanto perdem validade no caso dos primeiros elementos
desta s
´
erie (Ti, V, Cr e Mn) [60]. A seguir veremos com mais detalhe estes aspectos.
2.2.4 Limitac¸
˜
oes das regras de soma
Para estudar as propriedades magn
´
eticas de filmes finos e outras nanoestruturas
magn
´
eticas, a determinac¸
˜
ao dos momentos magn
´
eticos de cada elemento espec
´
ıfico e
sua separac¸
˜
ao em seus componentes orbital e de spin
´
e uma das principais aplicac¸
˜
oes
do XMCD. No caso dos metais de transic¸
˜
ao da s
´
erie 3d, as regras de soma s
˜
ao as mais
freq
¨
uentemente aplicadas. Mesmo que as aproximac¸
˜
oes consideradas em sua derivac¸
˜
ao
limitam sua validade, estas t
ˆ
em sido usadas com sucesso para analisar os
´
ultimos ele-
mentos da s
´
erie 3d (Fe, Co e Ni). Assim, atrav
´
es da combinac¸
˜
ao do XMCD e das regras
de soma, diversas nanoestruturas magn
´
eticas, tais como multicamadas, aglomerados e
cadeias unidimensionais t
ˆ
em sido amplamente exploradas devido a que seus componentes
eram principalmente Fe, Co e Ni. Da mesma maneira, o XMCD tem sido aplicado para
analisar os primeiros elementos da s
´
erie 3d (Ti, V, Cr e Mn) bem como para os elementos
da s
´
erie 4d e 5d, que, em multicamadas magn
´
eticas, usualmente apresentam momento
magn
´
etico induzido nas interfaces com uma camada ferromagn
´
etica [63, 64, 65].
O n
´
ıveis de energia dos estados de caroc¸o dos metais de transic¸
˜
ao 3d se desdobram,
devido
`
a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita, em subn
´
ıveis que est
˜
ao separados por energias que v
˜
ao
desde 6 eV at
´
e 18 eV entre o Ti e Ni, respectivamente. Isto significa que outras
35
Figura 2.4: Espectros experimentais de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica nas bordas L
2,3
dos elementos
da s
´
erie 3d. A energia da borda L
3
foi posicionada em zero para uma melhor comparac¸
˜
ao.
interac¸
˜
oes tais como a interac¸
˜
ao de Coulomb e a interac¸
˜
ao de troca, entre os buracos de
caroc¸o e os el
´
etrons de val
ˆ
encia, tornam se importantes para o entendimento dos espectros
de absorc¸
˜
ao L
2,3
. Para entender melhor este fato, na Fig. 2.4 s
˜
ao apresentados os espectros
de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica para uma parte dos metais da s
´
erie 3d. A energia de separac¸
˜
ao dos
subn
´
ıveis aumenta com o n
´
umero at
ˆ
omico Z e conseq
¨
uentemente, as bordas de absorc¸
˜
ao
L
2,3
aparecem mais separadas para o Fe, Co e Ni, enquanto s
˜
ao mais estreitas no caso
do V e Cr; para o Ti a separac¸
˜
ao das bordas
´
e mais estreita que no V [66]. Para uma
melhor comparac¸
˜
ao das bordas de absorc¸
˜
ao, na Fig. 2.4, as energias das bordas L
3
de
cada elemento foram posicionadas em zero.
Uma das mais importantes suposic¸
˜
oes na derivac¸
˜
ao das regras de soma
´
e que a ener-
gia do acoplamento spin-
´
orbita dos n
´
ıveis de caroc¸o
´
e muito maior do que a energia de
interac¸
˜
ao de troca entre el
´
etrons de val
ˆ
encia e os buracos de caroc¸o, mas como exempli-
ficado na Fig. 2.4 e demonstrado em [67], isto n
˜
ao
´
e o caso dos primeiros elementos da
s
´
erie 3d (V e Cr). As regras de soma portanto n
˜
ao podem ser aplicadas na an
´
alise destes
36
elementos.
Figura 2.5: Esquema do arranjo experimental para as medidas de XMCD.
2.2.5 Detalhes experimentais das medidas de XMCD
Os experimentos de dicro
´
ısmo desta tese foram realizados usando as instalac¸
˜
oes do
Laborat
´
orio Nacional de Luz S
´
ıncrotron (LNLS). A fonte de luz s
´
ıncrotron do LNLS
´
e composta de um anel de armazenamento de 1,37 GeV. Este anel
´
e composto de 12
dip
´
olos, os quais, al
´
em de garantir a
´
orbita fechada dos el
´
etrons, s
˜
ao as fontes de raios-
X. O anel tem capacidade para 24 linhas de luz com radiac¸
˜
ao proveniente dos dipolos.
Em cada linha de luz est
˜
ao instaladas as estac¸
˜
oes experimentais e atualmente existem 11
linhas em operac¸
˜
ao. Para os experimentos de dicro
´
ısmo utilizaram-se as instalac¸
˜
oes da
linha D08A-SGM, a qual possui um monocromador de grade esf
´
erica (SGM) que define
uma faixa de energia de 250 1000 eV. A estac¸
˜
ao experimental desta linha tem uma
c
ˆ
amara de alto v
´
acuo (10
8
Torr) acoplada, que possui um sistema porta-amostras e um
aparelho goniom
´
etrico, que permite posicionar as amostras para receber adequadamente
a incid
ˆ
encia da luz s
´
ıncrotron. Esta c
ˆ
amara tamb
´
em possui um canh
˜
ao de Ar para limpar
a superf
´
ıcie ou remover material das amostras mediante bombardeio com
´
ıons de Ar pro-
duzidos por sputtering in situ. Um
´
ım
˜
a permanente dentro da c
ˆ
amara fica posicionado
atr
´
as da amostra e fornece um campo de 2 kOe. Este
´
ım
˜
a pode ser girado de modo a
37
orientar o campo aplicado paralela ou antiparalelamente ao vetor de onda do feixe. Um
anel polarizador, situado na frente da amostra, foi mantido a um potencial de +400 V para
capturar os el
´
etrons emitidos pela incid
ˆ
encia dos raios-X na superf
´
ıcie dos filmes e assim
evitar reabsorc¸
˜
ao. Na Fig. 2.5
´
e mostrado um esquema do arranjo experimental para as
medidas de dicro
´
ısmo.
Os filmes foram montados num porta-amostras que tem capacidade para 8 amostras.
Com o aparelho goniom
´
etrico cada amostra era posicionada uma a uma para realizar
tanto os experimentos de XMCD como a remoc¸
˜
ao de camadas por sputtering, quando
necess
´
ario. Para os experimentos XMCD as amostras foram posicionadas formando um
ˆ
angulo de 45
o
entre a normal do plano dos filmes e a direc¸
˜
ao de propagac¸
˜
ao dos f
´
otons.
O m
´
etodo para detectar o sinal de absorc¸
˜
ao dos raios-X pelos elementos das multica-
madas foi medir a foto-corrente el
´
etrica produzida na amostra. Este modo de detecc¸
˜
ao
´
e
equivalente ao conhecido como TEY (do ingl
ˆ
es total electron yield) [68].
Figura 2.6: Perfil vertical do feixe medido com a fenda de entrada do monocromador da
linha D08A-SGM do LNLS.
A luz branca advinda do dipolo magn
´
etico
´
e linearmente polarizada quando obser-
vada no plano da
´
orbita. Esta luz atravessa uma fenda vertical automatizada com motor
de passo que seleciona radiac¸
˜
ao circularmente polarizada. Com o ajuste das fendas de
forma conveniente, foi poss
´
ıvel selecionar uma regi
˜
ao do feixe proveniente do dipolo, o
38
que forneceu um grau de polarizac¸
˜
ao circular de 0.8 (ou 80%) e um tamanho do feixe
na amostra de (0.5 × 0.5) mm
2
. Para a selec¸
˜
ao da regi
˜
ao do feixe com polarizac¸
˜
ao cir-
cular se fez primeiro uma varredura do perfil vertical do feixe, movendo as fendas, as
quais eram controladas por computador, por toda a extens
˜
ao vertical do feixe. Isto resulta
numa curva como mostrada na Fig. 2.6. Logo
´
e localizado o ponto de m
´
axima intensi-
dade, o qual corresponde ao plano da
´
orbita. A partir da localizac¸
˜
ao da posic¸
˜
ao do plano
da
´
orbita era escolhida uma regi
˜
ao, afastada deste plano, onde a radiac¸
˜
ao circularmente
polarizada podia ser selecionada. Para os experimentos desta tese, a fenda era afastada
aproximadamente 1, 3 mm abaixo do plano da
´
orbita.
O grau de polarizac¸
˜
ao dos raios-X foi determinado medindo amostras padr
˜
oes, por
exemplo um filme puro de Fe, Co ou Ni, cujos valores dos momentos magn
´
eticos s
˜
ao
bem conhecidos na literatura. Logo as an
´
alises respectivas eram feitas, conforme ser
´
a
detalhado na seguinte sec¸
˜
ao, e o valor do grau de polarizac¸
˜
ao p
ˆ
ode ser estimado.
2.2.6 An
´
alise dos espectros experimentais
A partir dos espectros experimentais de dicro
´
ısmo, foi poss
´
ıvel obter informac¸
˜
ao da
polarizac¸
˜
ao de spin dos elementos estudados nesta tese. Embora as regras de soma n
˜
ao se-
jam aplic
´
aveis aos primeiros elementos da s
´
erie 3d, pode-se saber se h
´
a momento induzido
por efeitos de interface, se os espectros de absorc¸
˜
ao do elemento em quest
˜
ao apresentam
dicro
´
ısmo. Para o caso dos ferromagnetos Fe, Co e Ni, ser
´
a explicada a an
´
alise dos espec-
tros XMCD atrav
´
es das regras de soma. Esta an
´
alise tem tr
ˆ
es etapas: normalizac¸
˜
ao dos
espectros de absorc¸
˜
ao, remoc¸
˜
ao das contribuic¸
˜
oes da absorc¸
˜
ao dos estados do espectro
cont
´
ınuo e a aplicac¸
˜
ao das regras de soma.
Normalizac¸
˜
ao dos espectros de absorc¸
˜
ao
Os espectros experimentais de absorc¸
˜
ao de raios X, desta tese, foram obtidos com
um estado de polarizac¸
˜
ao fixo da radiac¸
˜
ao e com magnetizac¸
˜
ao das amostras paralela
e antiparalela ao vetor de onda da luz incidente. Esta radiac¸
˜
ao
´
e gerada num anel de
luz s
´
ıncrotron cuja corrente n
˜
ao
´
e constante, mas tem um decaimento temporal. Como
cada espectro
´
e medido em instantes diferentes,
´
e necess
´
ario normalizar cada espectro
da amostra pela intensidade absorvida por uma tela fina de ouro posicionada antes da
amostra. A intensidade absorvida por esta tela fina acompanha as oscilac¸
˜
oes e o decai-
39
mento temporal da corrente em cada espectro medido e
´
e praticamente transparente
`
a
radiac¸
˜
ao nas faixas de energia utilizadas para analisar amostras compostas por metais 3d,
possuindo apenas a absorc¸
˜
ao do cont
´
ınuo. A normalizac¸
˜
ao
´
e feita dividindo a intensidade
absorvida na amostra pela intensidade absorvida da tela de Au.
O sinal dicr
´
oico
´
e obtido ap
´
os a normalizac¸
˜
ao dos espectros de absorc¸
˜
ao e ap
´
os ter
casado cada par de espectros µ
+
(E) e µ
(E), para orientac¸
˜
oes paralela e antiparalela
entre o vetor de onda dos f
´
otons e a magnetizac¸
˜
ao da amostra, respectivamente. O sinal
dicr
´
oico µ(E) se obt
´
em mediante:
µ(E) = µ
+
(E) µ
(E) (2.23)
´
E necess
´
ario tamb
´
em extrair uma m
´
edia dos espectros de absorc¸
˜
ao para formar um espec-
tro de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica, µ
0
(E):
µ
0
(E) =
1
2
(µ
+
(E) + µ
(E)) (2.24)
Pode-se dizer que o espectro isotr
´
opico
´
e equivalente a um espectro obtido com luz lin-
earmente polarizada. J
´
a que para amostras policristalinas, a sec¸
˜
ao transversal de absorc¸
˜
ao
isotr
´
opica
´
e normalizada para luz linearmente polarizada, µ
0
(E)
´
e aproximadamente igual
`
a m
´
edia entre as sec¸
˜
oes transversais normalizadas para luz circularmente polarizada
`
a es-
querda e
`
a direita [69].
Esta etapa da an
´
alise dos espectros experimentais
´
e tamb
´
em aplic
´
avel aos primeiros
elementos da serie 3d e em geral em qualquer outro elemento.
Remoc¸
˜
ao da contribuic¸
˜
ao do cont
´
ınuo e
´
area isotr
´
opica
Para a aplicac¸
˜
ao das regras de soma,
´
e necess
´
ario eliminar, do espectro de absorc¸
˜
ao
isotr
´
opica, as contribuic¸
˜
oes do espectro cont
´
ınuo. Este espectro pode ser modelado por
uma func¸
˜
ao de dois graus:
µ
cont
=
2
3
h
1 + e
k
3
(xx
3
)
+
1
3
h
1 + e
k
2
(xx
2
)
(2.25)
onde h
´
e a altura total do degrau, a qual corresponde
`
a intensidade m
´
edia dos
´
ultimos 15
eV do espectro de absorc¸
˜
ao isotr
´
opica. Os saltos dos degraus ocorrem na posic¸
˜
ao dos
40
Figura 2.7: Espectros de absorc¸
˜
ao de raios-X (µ
+
e µ
) nas bordas L
2,3
do Fe num filme
de 500
˚
A de Ni
81
Fe
19
, µ
0
´
e a m
´
edia dos espectros µ
+
e µ
, µ
cont
´
e uma simulac¸
˜
ao do
espectro de absorc¸
˜
ao do cont
´
ınuo e µ
´
e o espectro XMCD.
picos de absorc¸
˜
ao x
3
e x
2
das linhas L
3
e L
2
, respectivamente; k
3
e k
2
s
˜
ao a largura de
linha a meia altura das linhas L
3
e L
2
, respectivamente. A
´
area isotr
´
opica, A
iso
,
´
e a area
integrada do espectro isotr
´
opico, µ
0
, ap
´
os a extrac¸
˜
ao do cont
´
ınuo:
A
iso
=
L
i
(µ
0
(E) µ
cont
)dE, i = 2, 3 (2.26)
Aplicac¸
˜
ao das regras de soma
As regras de soma foram aplicadas para calcular os momentos magn
´
eticos m
ef
s
, m
o
e a raz
˜
ao entre esses valores, m
ef
s
/m
o
. Para isto
´
e preciso conhecer os valores das
´
areas
integradas do espectro XMCD e da
´
area isotr
´
opica (Fig. 2.7), assim como o
ˆ
angulo de
incid
ˆ
encia dos f
´
otons (θ) na amostra e o grau de polarizac¸
˜
ao circular do feixe (P
c
). Assim
41
tem-se:
m
ef
s
=
n
h
P
c
cos θ
A 2B
A
iso
(2.27)
m
o
=
2n
h
3P
c
cos θ
A + B
A
iso
(2.28)
m
o
m
ef
s
=
2
3
A + B
A 2B
(2.29)
Nos experimentos desta tese, o
ˆ
angulo de incid
ˆ
encia dos f
´
otons foi θ = 45
, o valor do
grau de polarizac¸
˜
ao circular foi P
c
= 0, 8. Este grau de polarizac¸
˜
ao foi calculado medindo
filmes finos de elementos puros de Fe, Co ou Ni, cujos valores do m
s
e m
o
s
˜
ao conhecidos
e est
˜
ao listados na Tabela 2.1, junto com o n
´
umero de buracos 3d.
Elemento N
´
umero de buracos 3d m
s
(µ
B
/atom) m
o
(µ
B
/atom)
Fe (bcc) 3,43 2,23 0,041
Co (hcp) 2,43 1,63 0,074
Ni (fcc) 1,41 0,62 0,043
Fe em NiFe 3,96 2,76 0,067
Ni em NiFe 1,74 0,71 0,052
Tabela 2.1: N
´
umero de buracos 3d (n
h
) e momentos magn
´
eticos orbital e de spin do Fe,
Co e Ni tipo bulk e do Fe e Ni num composto Ni
50
Fe
50
[71, 72, 73].
42
2.3 Resson
ˆ
ancia Ferromagn
´
etica
A resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica (FMR) pode ser definida como a absorc¸
˜
ao de radiac¸
˜
ao
por um material ferromagn
´
etico na presenc¸a de um campo magn
´
etico, em torno do qual o
momento magn
´
etico total do material precessiona. A absorc¸
˜
ao ressonante ocorre quando
a freq
¨
u
ˆ
encia desta precess
˜
ao
´
e igual
`
a freq
¨
u
ˆ
encia do campo da radiac¸
˜
ao eletromagn
´
etica,
a qual se localiza na regi
˜
ao das microondas.
Os experimentos de FMR permitem calcular com grande precis
˜
ao valores de par
ˆ
ametros
de amortecimento, constantes de troca e anisotropias, assim como detalhes da influen-
cia de diversos aspectos estruturais das amostras sobre seu comportamento magn
´
etico.
Aplicac¸
˜
oes como estas tornaram a FMR uma t
´
ecnica amplamente empregada no estudo
de materiais magn
´
eticos e filmes finos.
2.3.1 Fundamentos da FMR
Quando um material ferromagn
´
etico est
´
a na presenc¸a de um campo magn
´
etico externo
H
0
, os momentos magn
´
eticos µ do material sofrem um torque devido
`
a interac¸
˜
ao com o
campo e passam a precessionar em torno de
H
0
de acordo com a equac¸
˜
ao:
1
γ
dµ
dt
= (µ ×
H
0
) (2.30)
onde γ = gµ
B
/
´
e a raz
˜
ao giromagn
´
etica e g
´
e o fator giromagn
´
etico. A freq
¨
u
ˆ
encia de
precess
˜
ao cl
´
assica encontrada por Larmor
´
e:
ω
0
= γH
0
(2.31)
Se o material for homogeneamente magnetizado at
´
e a saturac¸
˜
ao magn
´
etica, a estrutura de
dom
´
ınios
´
e quebrada e toda a amostra comporta-se como um monodom
´
ınio. O problema
pode assim ser tratado como a precess
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao total
M do material, que
´
e
a soma de todos os momentos magn
´
eticos do material por unidade de volume. Se o
material estiver na presenc¸a de um campo oscilante fraco
h(t) perpendicular a
H
0
, de alta
freq
¨
u
ˆ
encia, tal que este seja muito menor que o campo externo, ent
˜
ao a magnetizac¸
˜
ao ter
´
a
43
uma componente oscilante podendo ser expressa por
M =
M
0
+ m(t). Isto
´
e representado
graficamente na Fig. 2.8. A resson
ˆ
ancia poder
´
a ocorrer quando a freq
¨
u
ˆ
encia deste campo
oscilante for igual
`
a freq
¨
u
ˆ
encia de precess
˜
ao de Larmor ω
0
.
Figura 2.8: Precess
˜
ao do vetor da magnetizac¸
˜
ao em torno do campo est
´
atico
H
0
e do
campo magn
´
etico de alta freq
¨
u
ˆ
encia
h(t).
Entretanto, os materiais ferromagn
´
eticos possuem um campo magn
´
etico interno intr
´
ın-
seco, H
int
, que cont
´
em as contribuic¸
˜
oes do campo de desmagnetizac¸
˜
ao, campo de anisotro-
pia cristalina, etc. Assim, as diferentes interac¸
˜
oes no material ferromagn
´
etico podem ser
tratadas assumindo-se que os spins, respons
´
aveis pelo ferromagnetismo, precessionam
com freq
¨
u
ˆ
encia ω
0
n
˜
ao em torno do campo externo H
0
, mas sim em torno de um campo
efetivo H
ef
= H
0
+ H
int
, conforme mostrado por Landau e Lifshitz. Este campo efetivo
levanta a degeneresc
ˆ
encia dos n
´
ıveis de energia do sistema ferromagn
´
etico em subn
´
ıveis,
por efeito Zeeman, que podem ser escritos como:
E = gµ
B
m
s
H
ef
(2.32)
A resson
ˆ
ancia poder
´
a ocorrer quando a energia dos f
´
otons da radiac¸
˜
ao de microondas
provocarem transic¸
˜
oes entre os subn
´
ıveis Zeeman adjacentes do sistema ferromagn
´
etico
(Fig.2.9), separados pela energia:
E = gµ
B
H
ef
(2.33)
44
Figura 2.9: Esquema representando as transic¸
˜
oes Zeeman em um sistema de spin 1/2. A
energia do f
´
oton, necess
´
aria para que haja resson
ˆ
ancia, est
´
a representada por E.
2.3.2 Equac¸
˜
oes de movimento e freq
¨
u
ˆ
encia de resson
ˆ
ancia
Nas equac¸
˜
oes de movimento da magnetizac¸
˜
ao de um sistema ferromagn
´
etico ao re-
dor da sua posic¸
˜
ao de equil
´
ıbrio, deve ser inclu
´
ıdo um termo de relaxac¸
˜
ao que descreva
o amortecimento na precess
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao devido
`
as interac¸
˜
oes intr
´
ınsecas entre os
pr
´
oprios spins do sistema. Landau e Lifshitz propuseram a seguinte equac¸
˜
ao de movi-
mento [74]:
1
γ
d
M
dt
= (
M ×
H
ef
)
α
M
[
M × (
M ×
H
ef
)] (2.34)
O segundo termo da direita descreve este amortecimento, onde α = λ/γM
´
e um par
ˆ
ametro
adimensional e λ
´
e um termo de relaxac¸
˜
ao caracterizado pela interac¸
˜
ao dipolar entre os
momentos magn
´
eticos no material. A equac¸
˜
ao de Landau e Lifshitz conduz a soluc¸
˜
oes
irreais para valores grandes do par
ˆ
ametro α. Assim, Gilbert prop
ˆ
os um outro termo para
descrever o amortecimento na precess
˜
ao de
M proporcional
`
a sua variac¸
˜
ao temporal. A
equac¸
˜
ao de movimento que inclui este termo tem a forma [75]:
1
γ
d
M
dt
= (
M ×
H
ef
) +
G
γ
2
M
2
M ×
M
t
(2.35)
onde G
´
e o par
ˆ
ametro de relaxac¸
˜
ao de Gilbert, o qual leva em conta a energia de dissipac¸
˜
ao.
Pode-se mostrar que h
´
a uma conex
˜
ao entre a equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz e a equac¸
˜
ao de
Gilbert, e ainda ambas levam a resultados id
ˆ
enticos quando o par
ˆ
ametro de amortecimento
45
for menor que 0,1, o que pode ser considerado verdadeiro na maior parte dos experimentos
de resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica conhecidos. No caso de campos oscilantes fracos, ambos
casos s
˜
ao equivalentes e a forma da linha
´
e Lorentziana.
Susceptibilidade din
ˆ
amica e pot
ˆ
encia absorvida
Num experimento t
´
ıpico de resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica, o sinal medido
´
e proporcional
`
a pot
ˆ
encia de microondas refletida pela cavidade onde se encontra a amostra. A pot
ˆ
encia
refletida, por sua vez,
´
e proporcional
`
a absorc¸
˜
ao de microondas sofrida pela amostra.
Pode-se mostrar que a absorc¸
˜
ao
´
e proporcional
`
a parte imagin
´
aria da susceptibilidade
magn
´
etica χ(ω) que representa a soluc¸
˜
ao da equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz.
No caso de uma amostra ferromagn
´
etica isotr
´
opica e elipsoidal estar na presenc¸a de
um campo externo e de um campo oscilante como indicado na Fig. 2.8, pode-se escrever
[76]:
H =
H
ef
+
he
t
M =
M
s
+ me
t
(2.36)
Introduzindo as equac¸
˜
oes ( 2.36) em ( 2.34), chega-se
`
a seguinte relac¸
˜
ao para as com-
ponentes oscilantes da magnetizac¸
˜
ao:
m
x
m
y
m
z
=
χ
xx
χ
xy
0
χ
yx
χ
yy
0
0 0 0
·
h
x
h
y
h
z
(2.37)
onde o tensor da susceptibilidade magn
´
etica χ(ω)
´
e definido como:
χ =
χ
xx
χ
xy
0
χ
yx
χ
yy
0
0 0 0
(2.38)
onde:
χ
xx
= χ
yy
=
(ω
0
+ α)ω
m
(ω
0
+ α)
2
ω
2
46
e
χ
xy
= χ
yx
=
ωω
m
(ω
0
+ α)
2
ω
2
com ω
0
= γH
ef
e ω
m
= γMs.
As componentes do tensor de susceptibilidade s
˜
ao vari
´
aveis complexas, podendo ser
separadas em partes real e imagin
´
aria. Para um campo oscilante linearmente polarizado
na direc¸
˜
ao x pode-se obter para a vari
´
avel χ
xx
= χ
xx
+
xx
[77]:
χ
xx
=
ω
m
ω
0
(ω
2
0
ω
2
) + ω
m
ω
2
ω
0
α
[ω
2
0
ω
2
(1 + α
2
)]
2
+ 4ω
2
ω
2
0
α
2
(2.39)
χ
xx
=
ω
m
ωα[ω
2
0
+ ω
2
(1 + α
2
)]
[ω
2
0
ω
2
(1 + α
2
)]
2
+ 4ω
2
ω
2
0
α
2
(2.40)
As equac¸
˜
oes ( 2.39) e ( 2.40) representam a soluc¸
˜
ao da equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz no
regime linear. A conex
˜
ao entre a pot
ˆ
encia de microondas absorvida pela amostra, durante
o experimento de FMR, e a susceptibilidade, pode ser derivada utilizando-se o vetor de
Poynting [78]. Dado que a amostra se encontra na regi
˜
ao em que o campo magn
´
etico
´
e
m
´
aximo, ent
˜
ao a pot
ˆ
encia absorvida, por unidade de volume,
´
e:
P = ωχ
xx
h
2
(2.41)
A forma do sinal medido num experimento de FMR
´
e dada pela equac¸
˜
ao ( 2.40) e
´
e
do tipo Lorentziana, onde a m
´
axima pot
ˆ
encia de absorc¸
˜
ao ocorre quando χ
xx
´
e m
´
aximo.
O c
´
alculo da suceptibilidade a partir da equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz, com condic¸
˜
oes de
contorno para amostras tipo bulk conduz a um sistema complexo de equac¸
˜
oes que podem
ser resolvidas numericamente para cada geometria (direc¸
˜
ao de
h,
H e
M com respeito
`
a
amostra). No caso de filmes ultra-finos o c
´
alculo se torna menos complicado e pode-se
obter uma express
˜
ao anal
´
ıtica da suceptibilidade. Esse c
´
alculo foi reportado em [79] e
dessa derivac¸
˜
ao mostra-se que a forma do sinal medido
´
e tamb
´
em Lorentziana.
Freq
¨
u
ˆ
encia de resson
ˆ
ancia e largura de linha
Considerando as componentes em coordenadas esf
´
ericas do campo magn
´
etico efetivo
(Fig. 2.10 ) e introduzindo estas componentes na equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz, Smit e Wi-
47
Figura 2.10: Componentes esf
´
ericas do campo efetivo.
jin obtiveram a f
´
ormula geral da freq
¨
u
ˆ
encia de resson
ˆ
ancia ω
res
[80], considerando uma
situac¸
˜
ao de equil
´
ıbrio termodin
ˆ
amico, onde a direc¸
˜
ao do vetor magnetizac¸
˜
ao M coincide
com a componente radial do campo efetivo H
r
, formando um estado onde a energia livre
do sistema F
´
e m
´
ınima. Um outro par
ˆ
ametro importante obtido da derivac¸
˜
ao da freq
¨
u
ˆ
encia
de resson
ˆ
ancia
´
e a largura de linha ω, que
´
e provocado pelo amortecimento da precess
˜
ao
da magnetizac¸
˜
ao. A freq
¨
u
ˆ
encia de resson
ˆ
ancia e a largura de linha s
˜
ao dados por [80]:
ω
res
=
γ
1 + α
2
sinθ
0
(F
θθ
F
ϕϕ
F
2
θϕ
)
1/2
(2.42)
ω =
γα
M
F
θθ
+
F
ϕϕ
sen
2
θ
(2.43)
onde os sub-
´
ındices de F indicam as derivadas parciais da energia livre com respeito aos
ˆ
angulos θ e ϕ. Assim, de acordo com a equac¸
˜
ao ( 2.42), para sabermos a freq
¨
u
ˆ
encia
de resson
ˆ
ancia
´
e necess
´
ario termos uma express
˜
ao concreta para a energia livre do sis-
tema com seus termos e suas depend
ˆ
encias com relac¸
˜
ao
`
a orientac¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao.
A propriedade que expressa a depend
ˆ
encia da energia livre com relac¸
˜
ao
`
a direc¸
˜
ao da
magnetizac¸
˜
ao do material
´
e definida como a anisotropia magn
´
etica. A seguir veremos
as principais contribuic¸
˜
oes
`
a energia livre de um sistema ferromagn
´
etico e sua forma
expl
´
ıcita no caso dos filmes finos.
48
2.3.3 Anisotropia magn
´
etica e energia livre
A energia livre total de um sistema ferromagn
´
etico pode ser obtida considerando-se a
interac¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao do material com o campo externo, conhecida como a energia
Zeeman, a qual depende da direc¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao em relac¸
˜
ao ao campo aplicado, e a
energia de anisotropia, associada
`
a anisotropia magn
´
etica, que depende da orientac¸
˜
ao da
magnetizac¸
˜
ao em relac¸
˜
ao a um sistema de coordenadas convenientemente escolhido para
o material.
As duas fontes principais da anisotropia magn
´
etica s
˜
ao a interac¸
˜
ao dipolar e a interac¸
˜
ao
spin-
´
orbita. Devido a seu car
´
ater de longo alcance, a interac¸
˜
ao dipolar geralmente resulta
em uma contribuic¸
˜
ao
`
a anisotropia que depende da forma do sistema ferromagn
´
etico. Esta
contribuic¸
˜
ao se d
´
a atrav
´
es do campo desmagnetizante proveniente da induc¸
˜
ao de p
´
olos
magn
´
eticos na superf
´
ıcie do material, sendo que este campo se op
˜
oe ao campo aplicado e
pode ser escrito como
H
D
= N
D
M, onde N
D
´
e o fator desmagnetizante dependente da
geometria da amostra. A energia proveniente deste campo pode ser obtida considerando-
se a energia por unidade de volume de um dipolo de magnetizac¸
˜
ao M na presenc¸a do
campo desmagnetizante, a qual
´
e dada por:
E
D
=
H
D
· d
M =
N
D
M · d
M =
1
2
N
D
M
2
(2.44)
Esta contribuic¸
˜
ao
`
a energia de anisotropia
´
e de particular import
ˆ
ancia em filmes finos
por ser a respons
´
avel pela perman
ˆ
encia da magnetizac¸
˜
ao no plano do filme, como
´
e usual-
mente observado nesses sistemas. No entanto, quando as camadas ferromagn
´
eticas s
˜
ao
reduzidas a poucas camadas at
ˆ
omicas, a magnitude da contribuic¸
˜
ao dipolar
´
e de menor
import
ˆ
ancia e passa a dominar a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita.
A interac¸
˜
ao spin-
´
orbita d
´
a origem
`
a anisotropia magnetocristalina. A interac¸
˜
ao de
troca n
˜
ao pode contribuir a esta energia pois esta interac¸
˜
ao
´
e proporcional ao produto
escalar dos vetores de spin sendo, portanto, independente dos
ˆ
angulos entre os spins e
os eixos do cristal. A interac¸
˜
ao dipolar, por outro lado, n
˜
ao depende da magnetizac¸
˜
ao
relativa aos eixos do cristal, mas, em princ
´
ıpio, pode resultar numa contribuic¸
˜
ao mag-
netocristalina. No caso de cristais c
´
ubicos pode-se mostrar, a partir de argumentos de
simetria, que a contribuic¸
˜
ao da interac¸
˜
ao dipolar para a energia magnetocristalina se can-
cela. Para estruturas tais como os cristais hexagonais isto n
˜
ao ocorre, no entanto, para o
Co tipo bulk hcp, essa contribuic¸
˜
ao
´
e desprez
´
ıvel [81]. Conseq
¨
uentemente, a interac¸
˜
ao
49
spin-
´
orbita ser
´
a a principal respons
´
avel pela anisotropia magnetocristalina no Fe, Ni e
Co. A energia de anisotropia magnetocristalina por unidade de volume para um cristal de
simetria uniaxial, como
´
e o caso do Co hcp,
´
e escrita como [82]:
E
mc
= K
0
+ K
1
sen
2
θ + K
2
sen
4
θ + . . . (2.45)
onde θ
´
e o
ˆ
angulo entre a magnetizac¸
˜
ao e o eixo c de simetria do cristal. Para o Co hcp
volumar, K
0
´
e desprez
´
ıvel, K
1
e K
2
valem 4.1×10
6
e 1.0×10
6
erg/cm
3
, respectivamente
[83]. Para filmes com eixo c normal ao plano do filme, a anisotropia magnetocristalina
contribui para que o eixo f
´
acil seja orientado perpendicular
`
a superf
´
ıcie. No entanto esta
energia
´
e muito pequena comparada com a energia desmagnetizante para fazer com que
o eixo f
´
acil fique fora do plano sem ajuda de anisotropias adicionais.
A interac¸
˜
ao spin-
´
orbita
´
e tamb
´
em respons
´
avel pela anisotropia magnetoel
´
astica e mag-
netostrictiva, uma situac¸
˜
ao que
´
e freq
¨
uentemente encontrada em multicamadas devido
`
as
deformac¸
˜
oes entre as camadas adjacentes induzidas pelo descasamento dos par
ˆ
ametros de
rede entre os elementos que comp
˜
oem a multicamada ou entre o filme e o substrato. Uma
deformac¸
˜
ao na rede, causada por tens
˜
oes el
´
asticas, pode contribuir com um redireciona-
mento da magnetizac¸
˜
ao. A energia por unidade de volume devida a este efeito, para um
meio el
ˆ
asticamente isotr
´
opico com magnetostric¸
˜
ao isotr
´
opica, pode ser escrita como:
E
me
=
3
2
λσsen
2
θ (2.46)
onde σ
´
e a tens
˜
ao isotr
´
opica e λ
´
e a constante de magnetostric¸
˜
ao que depende da orientac¸
˜
ao
e pode ser positiva ou negativa. O
ˆ
angulo θ mede a direc¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao relativa
`
a
direc¸
˜
ao da tens
˜
ao uniforme. Quando os par
ˆ
ametros λ e σ s
˜
ao constantes (independentes
da espessura das camadas) esta energia pode ser identificada como uma contribuic¸
˜
ao de
volume na energia de anisotropia. Embora a energia magnetostrictiva tamb
´
em esteja in-
clu
´
ıda na equac¸
˜
ao ( 2.46), esta
´
e chamada normalmente de energia magnetoel
´
astica.
Quando o campo externo n
˜
ao for suficientemente forte para levar a amostra at
´
e um
estado pr
´
oximo
`
a saturac¸
˜
ao magn
´
etica, de forma que esta possa ser aproximada por um
monodom
´
ınio, deve ser considerada, na energia livre, a energia proveniente das fronteiras
entre os dom
´
ınios. Neste caso, o estudo atrav
´
es da resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica torna-se
50
mais complicado e tratamentos especiais tornam-se necess
´
arios. No presente trabalho,
essa energia n
˜
ao
´
e considerada pois a resson
ˆ
ancia ocorreu quando a amostra estava satu-
rada ou proxima
`
a saturac¸
˜
ao.
2.3.4 Energia livre e resson
ˆ
ancia em filmes finos
Nesta sec¸
˜
ao apresenta-se a energia livre e a condic¸
˜
ao de resson
ˆ
ancia para filmes finos
onde s
˜
ao considerados dois casos. No primeiro, com o intuito de estudar a anisotropia
perpendicular, a direc¸
˜
ao do campo aplicado se encontra fora do plano do filme. E no
segundo caso, para estudar a anisotropia no plano, o campo sempre se encontra no plano.
Em ambos os casos, a condic¸
˜
ao de resson
ˆ
ancia
´
e calculada substituindo a energia livre na
f
´
ormula geral dada pela equac¸
˜
ao ( 2.42).
Filme policristalino com campo aplicado fora do plano
Na Fig. 2.11 est
´
a representado um filme fino policristalino com campo aplicado per-
pendicular ao plano, cuja superf
´
ıcie est
´
a no plano xy, a posic¸
˜
ao do vetor de magnetizac¸
˜
ao
´
e dada pelos
ˆ
angulos θ e ϕ, e a posic¸
˜
ao do campo externo H
0
´
e definida pelo
ˆ
angulo α.
Ent
˜
ao a energia devida
`
a interac¸
˜
ao do campo aplicado com a magnetizac¸
˜
ao ser
´
a:
E
z
= H
0
Ms(cosα · senθ + senα · cosθ) (2.47)
A energia desmagnetizante, para o sistema de coordenadas da Fig. 2.11
´
e [84]:
E
D
= 2πM
2
s
cos
2
θ (2.48)
A energia magnetocristalina e magnetoel
´
astica pode ser escrita como [84]:
E
K
= K
u
sen
2
θ (2.49)
Em K
u
est
˜
ao inclu
´
ıdas as constantes relativas
`
as anisotropias magnetocristalina de
primeira ordem e magnetoel
´
astica. Somando-se todas as contribuic¸
˜
oes, a energia livre
resulta em:
F = H
0
Ms(cosα · senθ + senα · cosθ) + (K
u
2πM
2
s
)sen
2
θ (2.50)
51
Figura 2.11: Sistema de coordenadas de um filme fino indicando a direc¸
˜
ao do campo
aplicado e da magnetizac¸
˜
ao.
onde podemos definir a constante de anisotropia efetiva como K
ef
= K
u
2πM
2
s
. Desta
relac¸
˜
ao pode-se ver que h
´
a uma competic¸
˜
ao entre as energias que favorecem um eixo f
´
acil
de magnetizac¸
˜
ao perpendicular ao plano do filme K
u
, e a energia magnetost
´
atica que fa-
vorece um eixo f
´
acil no plano. Quando K
ef
for positivo o eixo f
´
acil
´
e perpendicular ao
plano. Com a forma expl
´
ıcita da energia livre encontramos a posic¸
˜
ao de equil
´
ıbrio da
magnetizac¸
˜
ao dada pelo m
´
ınimo desta energia:
F
ϕ
= 0 ϕ
0
= 0 (2.51)
F
θ
= 0 2H
0
cos(α + θ
0
) =
2K
u
M
s
4πM
s
senθ
0
(2.52)
A condic¸
˜
ao de resson
ˆ
ancia para o caso considerado obt
´
em-se efetuando as derivadas
de segunda ordem da energia livre e substituindo-as na equac¸
˜
ao ( 2.42), o que resulta em:
52
ω
γ
2
= [H
0
sen(α + θ
0
) + H
Kef
cos
2
θ
0
] × [H
0
sen(α + θ
0
) + H
Kef
cos2θ
0
] (2.53)
onde n
˜
ao foi considerado o par
ˆ
ametro de amortecimento, que aparece na equac¸
˜
ao de
Landau-Lifshitz, devido a sua influ
ˆ
encia desprez
´
ıvel na freq
¨
u
ˆ
encia de resson
ˆ
ancia. Consi-
derando-se apenas o campo de resson
ˆ
ancia nas posic¸
˜
oes paralela (α = 90
) e perpendicu-
lar (α = 0
)
`
a normal ao plano do filme, obt
´
em-se as seguintes condic¸
˜
oes de resson
ˆ
ancia
para cada caso, respectivamente:
ω
γ
= H
+ H
Kef
(2.54)
ω
γ
2
= H
(H
H
Kef
) (2.55)
A partir das equac¸
˜
oes ( 2.54) e (2.55), pode-se deduzir uma equac¸
˜
ao para determinar
o campo de anisotropia efetiva:
H
Kef
=
2K
ef
M
s
= (H
+ H
/2) +
H
H
+
5
4
H

1/2
(2.56)
bastando para isso, conhecer o campo de resson
ˆ
ancia na configurac¸
˜
ao paralela H
e
na configurac¸
˜
ao perpendicular H
, n
˜
ao havendo necessidade do par
ˆ
ametro γ nem da
freq
¨
u
ˆ
encia ω.
Filme fino policristalino com campo aplicado no plano
Considera-se agora um filme com anisotropia uniaxial K
u
no plano do filme e o
sistema de coordenadas conforme especificado na Fig. 2.12, onde coloca-se o eixo da
anisotropia coincidente com o eixo x. A magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao M
s
´
e definida agora
pelos
ˆ
angulos θ e φ, e o campo externo H
0
pelo
ˆ
angulo ψ. A energia livre
´
e ent
˜
ao dada
por:
F = M
s
H[senθcos(ψ φ) + cosθ] + 2πM
2
s
cos
2
θ + K
u
(1 sen
2
θcos
2
φ) (2.57)
53
Figura 2.12: Sistema de coordenadas utilizado para um filme fino com anisotropia no
plano.
Seguindo o procedimento empregado no caso anterior, chega-se
`
as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio
e resson
ˆ
ancia dadas pelas seguintes equac¸
˜
oes, respectivamente:
senψ
senφ
=
cosψ
cosφ
H
Kef
H
0
(2.58)
ω
γ
2
= [H
0
cos(ψ φ
0
)+4πM
s
+H
K
cos
2
φ
0
]×[H
0
cos(ψ φ
0
)+H
K
cos2φ
0
)] (2.59)
onde supomos que a magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao fique confinada ao plano xy como H
0
.
H
K
´
e o campo de anisotropia causado pela anisotropia uniaxial no plano do filme.
2.3.5 Detalhes experimentais das medidas de FMR
Os experimentos de FMR desta tese foram realizados
`
a temperatura ambiente no
laborat
´
orio de Resson
ˆ
ancia Magn
´
etica Eletr
ˆ
onica da Universidade Federal de Goi
´
as -
UFG, conduzido pelo Prof. Fernando Pelegrini. O equipamento usado para as medidas
foi um espectr
ˆ
ometro marca Bruker, modelo ESP300C. Cada amostra era colocada num
goni
ˆ
ometro, no centro de uma cavidade ressonante cil
´
ındrica, no centro de um eletro
´
ım
˜
a
54
Cavidade
Goniômetro
Klystron
Guiadeonda
N
S
Amostra
Cavidade
Goniômetro
Klystron
Guiadeonda
N
S
Amostra
Figura 2.13: Esquema do arranjo experimental para as medidas de FMR.
que fornecia um campo magn
´
etico est
´
atico de at
´
e 20 kOe. A radiac¸
˜
ao de microondas foi
produzida por uma Klystr on e conduzida at
´
e a cavidade ressonante atrav
´
es de uma guia
de ondas met
´
alica cil
´
ındrica. Dentro da cavidade, a amostra foi posicionada com um certo
ˆ
angulo entre o campo e a normal ao plano do filme. A freq
¨
u
ˆ
encia de microondas utilizada
nas medidas foi de 9,79 GHz (banda X) e seu campo magn
´
etico
h(t)
´
e aplicado perpen-
dicularmente ao campo est
´
atico, de modo que ele tende a perturbar os spins e desvi
´
a-los
da posic¸
˜
ao de equil
´
ıbrio. Por conveni
ˆ
encia experimental, a freq
¨
u
ˆ
encia das microondas se
manteve fixa e variou-se s
´
o o campo magn
´
etico est
´
atico. As equac¸
˜
oes ( 2.39) e ( 2.40)
tamb
´
em podem ser expressas em func¸
˜
ao do campo externo e do campo efetivo, fazendo-se
as mudanc¸as H
0
= ω e H
ef
= ω
0
.
As amostras eram posicionadas na regi
˜
ao de m
´
axima amplitude de intensidade do
campo magn
´
etico da radiac¸
˜
ao da cavidade ressonante. Nessas condic¸
˜
oes, elas podem
absorver a energia da onda eletromagn
´
etica e as alterac¸
˜
oes que esta absorc¸
˜
ao provocam
na onda s
˜
ao a origem do sinal detectado experimentalmente, baseado no qual, s
˜
ao feitos
os estudos das caracter
´
ısticas f
´
ısicas das amostras. As perdas de energia da onda foram
medidas monitorando-se a amplitude do seu campo el
´
etrico refletido por meio de um
55
diodo detector. Para melhorar a raz
˜
ao sinal/ru
´
ıdo, faz-se uso da t
´
ecnica de modulac¸
˜
ao do
campo H
0
atrav
´
es de umas bobinas de modulac¸
˜
ao, o que leva a um espectro proporcional
`
a derivada da curva de absorc¸
˜
ao em relac¸
˜
ao ao campo H
0
, caso a amplitude de modulac¸
˜
ao
seja muito menor que a largura da linha de absorc¸
˜
ao. Na Fig. 2.13 apresenta-se um
esquema do arranjo experimental utilizado nos experimentos de resson
ˆ
ancia.
2.3.6 An
´
alise dos espectros experimentais
Para obter as informac¸
˜
oes contidas nos espectros experimentais de FMR
´
e necess
´
ario
realizar uma an
´
alise usando as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia descritas na sec¸
˜
ao
2.3.4. Esta an
´
alise foi feita em duas etapas:
Obtenc¸
˜
ao dos par
ˆ
ametros espectrais
Os par
ˆ
ametros mais importantes a serem usados na obtenc¸
˜
ao das informac¸
˜
oes con-
tidas nos espectros de FMR s
˜
ao o campo de resson
ˆ
ancia (H
r
), a largura de linha (H)
e a amplitude do sinal (A). Estes par
ˆ
ametros s
˜
ao normalmente obtidos diretamente dos
espectros experimentais. O campo de resson
ˆ
ancia
´
e o campo magn
´
etico que corresponde
ao m
´
aximo da curva de absorc¸
˜
ao, a amplitude do sinal
´
e a maxima absorc¸
˜
ao e a largura de
linha
´
e a diferenc¸a em campo magn
´
etico de pico a pico da derivada da absorc¸
˜
ao. No caso
dos espectros apresentarem linhas superpostas, o campo de resson
ˆ
ancia de cada uma pode
ser obtido, na maioria dos casos, a partir dos m
´
ınimos da segunda derivada da absorc¸
˜
ao.
Por
´
em a obtenc¸
˜
ao de H e A
´
e mais complicada em caso de superposic¸
˜
ao de linhas.
Para isto
´
e necess
´
ario realizar ajustes dos espectros usando curvas Lorentzianas, j
´
a que a
componente imagin
´
aria susceptibilidade (equac¸
˜
ao (2.40)) derivada da equac¸
˜
ao de Landau
Lifshitz, que d
´
a a forma dos espectros,
´
e do tipo Lorentziana. O ajuste com estas cur-
vas, fornece os valores dos tr
ˆ
es par
ˆ
ametros (H
r
, H e A) e o procedimento ser
´
a descrito
claramente na apresentac¸
˜
ao dos resultados de FMR do sistema de multicamadas Co/Ru.
Obtenc¸
˜
ao dos par
ˆ
ametros f
´
ısicos do sistema magn
´
etico
Uma vez obtidos os par
ˆ
ametros espectrais para cada
ˆ
angulo entre a normal ao plano do
filme e o campo aplicado, podemos calcular as constantes de anisotropia, o fator g bem
como obter informac¸
˜
ao sobre a homogeneidade da amostra.
56
As constantes de anisotropia e o fator g podem ser facilmente calculados usando os
valores dos campos de resson
ˆ
ancia nas orientac¸
˜
oes paralela e perpendicular, com o uso
das equac¸
˜
oes ( 2.54) e ( 2.55). Por
´
em, um c
´
alculo mais preciso destes par
ˆ
ametros
´
e
obtido a partir do ajuste da curva H
r
vs.
ˆ
angulo, usando as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e
de resson
ˆ
ancia, dadas pelas equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53). A homogeneidade magn
´
etica dos
filmes
´
e determinada pelo comportamento da largura de linha em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo. A
maneira de exemplo, a seguir
´
e apresentada a an
´
alise feita em dois filmes finos de Co
policristalinos, depositados
`
a temperatura ambiente por magnetron sputtering, sobre sub-
stratos de Si(100), um deles com 5 nm de espessura e o outro com 50 nm e discutiremos
suas diferenc¸as.
0 5 10 15 20
-20
0
20
Si(100)/Co(5nm) Si(100)/Co(50nm)
90°
40°
23°
90°
40°
25°
10°
3.5°
Campoaplicado(kOe) Campoaplicado(kOe)
Derivadadaabsorção(u.a.)
Figura 2.14: Espectros de FMR medidos
`
a temperatura ambiente em filmes finos de Co,
para diferentes
ˆ
angulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes.
Na Fig. 2.14 s
˜
ao apresentados alguns espectros de FMR medidos
`
a temperatura am-
biente com diferentes
ˆ
angulos entre a normal ao plano e o campo aplicado nos filmes
Si(100)/Co(5nm) e Si(100)/Co(50nm). A amplitude dos sinais est
´
a normalizada pelo
ganho eletr
ˆ
onico fornecido pelo equipamento. O comportamento dos espectros das duas
amostras, em relac¸
˜
ao ao
ˆ
angulo,
´
e t
´
ıpico de filmes com eixo f
´
acil no plano, pois nos dois
casos, o campo externo no plano, necess
´
ario para que haja absorc¸
˜
ao de microondas,
´
e
muito menor que na configurac¸
˜
ao perpendicular. Isto
´
e atribu
´
ıdo
`
a enorme contribuic¸
˜
ao
57
negativa da energia desmagnetizante na configurac¸
˜
ao perpendicular. No caso do filme de
50 nm n
˜
ao foi poss
´
ıvel obter um espectro de FMR na orientac¸
˜
ao perpendicular porque o
campo necess
´
ario foi superior ao m
´
aximo campo fornecido pelo equipamento, que
´
e de 20
kOe. Por
´
em, este n
˜
ao foi o caso do filme de 5 nm, j
´
a que o campo necess
´
ario para obter-
mos a resson
ˆ
ancia na orientac¸
˜
ao perpendicular foi de 18, 9 kOe. A reduc¸
˜
ao do valor do
campo de resson
ˆ
ancia (na orientac¸
˜
ao perpendicular), quando a espessura de Co passa de
50 nm para 5 nm,
´
e devida a uma diminuic¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao por efeitos de superf
´
ıcie.
Pela condic¸
˜
ao de resson
ˆ
ancia na orientac¸
˜
ao perpendicular, dada pela equac¸
˜
ao ( 2.54),
fica claro que uma reduc¸
˜
ao da contribuic¸
˜
ao da energia de anisotropia de forma, causada
pela diminuic¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao, resulta em uma reduc¸
˜
ao do campo resson
ˆ
ancia. Aqui
deve-se considerar tamb
´
em que com a reduc¸
˜
ao da espessura, os efeitos da anisotropia da
interface filme/substrato tornaram-se mais relevantes.
Figura 2.15: Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre a nor-
mal ao plano e o campo aplicado nos filmes de Co. Os pontos s
˜
ao os dados extra
´
ıdos dos
espectros de FMR e as linhas cheias foram calculadas com as equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53).
Na Fig. 2.15
´
e apresentado o comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo das duas amostras, onde os pontos correspondem aos dados experimentais e as
58
linhas cheias foram obtidas atrav
´
es de um ajuste usando as equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53) para
um campo de anisotropia efetiva H
kef
= 17, 3 kOe para o caso do filme de 50 nm e
H
kef
= 15, 7 kOe para o caso do filme de 5 nm. Com esse ajuste tamb
´
em foi poss
´
ıvel
determinar que o campo de resson
ˆ
ancia para a orientac¸
˜
ao perpendicular entre o campo
aplicado e o plano do filme de 50 nm deve ser de H
= 20, 6 kOe. O fator g em ambos
os casos foi considerado igual a 2, 10. Lembrando que H
kef
pode ser escrito como:
H
kef
= H
k
4πM
s
(2.60)
onde H
k
= 2K
u
/M
s
´
e o campo de anisotropia perpendicular e o segundo termo da di-
reita
´
e o campo desmagnetizante. A diferenc¸a nos valores de H
kef
, entre os dois filmes,
´
e atribu
´
ıda ao fato de apresentarem diferentes valores do campo desmagnetizante. Con-
siderando a magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao do Co bulk (1400 emu/cm
3
) para o caso do filme
de 50 nm, o campo de anisotropia perpendicular, calculado usando a equac¸
˜
ao ( 2.60),
´
e H
k
= 0, 292 kOe e a constante de anisotropia onde est
˜
ao inclu
´
ıdas as contribuic¸
˜
oes
magnetocristalina e magnetoel
´
astica
´
e k
u
= 0, 21 × 10
6
erg/cm
3
.
Outro par
ˆ
ametro experimental importante
´
e a largura de linha dos espectros e seu
comportamento em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo, que
´
e apresentado na Fig. 2.16 para os dois casos.
Podemos observar que as linhas do filme de 5 nm s
˜
ao mais largas do que as linhas do
filme de 50 nm. A largura de linha tem duas principais contribuic¸
˜
oes e pode ser escrita
como [85]:
H = H
hom
+ H
inhom
(2.61)
onde H
hom
se refere ao mecanismo intr
´
ınseco de relaxac¸
˜
ao que
´
e descrita em termos do
par
ˆ
ametro de amortecimento, presente na equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz, e da magnetizac¸
˜
ao
de saturac¸
˜
ao do material ferromagn
´
etico. H
inhom
descreve um alargamento inomog
ˆ
eneo
devido
`
as imperfeic¸
˜
oes da amostra que, por outro lado, tem duas fontes principais. A
primeira
´
e expressa por H
inhom
= α
H
H
res
α
H
, onde α
H
´
e o desvio m
´
edio dos
cristalitos em relac¸
˜
ao
`
a normal ao filme, e a segunda
´
e dada por H
inhom
= H
i
H
res
H
i
com H
i
definindo inomogeneidades dos campos internos. Assim, o fato de os espectros
de FMR do filme de menor espessura serem mais largos que os espectros do filme de 50
59
Figura 2.16: Comportamento da largura de linha dos espectros de FMR em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre o campo aplicado e o plano dos filmes finos de Co. A linha cheia
´
e s
´
o um
guia para os olhos.
nm
´
e devido
`
a menor homogeneidade do filme mais fino, o que significa que a qualidade
da epitaxia decresce com a diminuic¸
˜
ao da espessura.
Cap
´
ıtulo 3
Preparac¸
˜
ao de amostras
3.1 Detalhes da preparac¸
˜
ao: alvos e taxas de deposic¸
˜
ao
A t
´
ecnica empregada para preparar as amostras multicamadas foi a pulverizac¸
˜
ao
cat
´
odica por magnetron e o equipamento usado para o crescimento desses filmes foi o
sistema Magnetron Sputtering do CBPF (vide sec¸
˜
ao 2.1.1). Todos os filmes finos estuda-
dos nesta tese foram crescidos sobre substratos de Si(100) monocristalino com polimento
nas duas faces marca-KDB-75, dopagem tipo p, resistividade de 7,5 ·cm, espessura de
460 µm e di
ˆ
ametro de 10 cm. Antes da preparac¸
˜
ao dos filmes, estes substratos foram cor-
tados em pedac¸os de dimens
˜
oes pre-determinadas de 10 mm ×10 mm. O procedimento e
condic¸
˜
oes para a preparac¸
˜
ao e limpeza dos substratos seguem uma rotina desenvolvida no
pr
´
oprio laborat
´
orio. No caso dos substratos de Si, primeiro se faz uma limpeza com
´
agua
de-ionizada e sab
˜
ao l
´
ıquido neutro (denominado extran) usando uma m
´
aquina de ultra-
som durante aproximadamente dez minutos (eliminando poss
´
ıveis sujeiras e gorduras da
superf
´
ıcie). Logo ap
´
os se faz o enx
´
ag
¨
ue dos substratos com
´
agua de-ionizada, para de-
pois repetir o procedimento anterior com acetona, reduzindo as gorduras residuais. Os
substratos limpos s
˜
ao submersos em
´
alcool isoprop
´
ılico (98
) e s
˜
ao mantidos assim at
´
e o
momento da colocac¸
˜
ao dentro da antec
ˆ
amara do sistema magnetron sputtering. Maiores
detalhes, quanto ao procedimento de limpeza dos substratos, podem ser encontrados nas
refer
ˆ
encias [44, 45].
O procedimento para a determinac¸
˜
ao das taxas de deposic¸
˜
ao dos materiais estudados,
consistiu em calcular a espessura de amostras padr
˜
oes atrav
´
es da obtenc¸
˜
ao e do ajuste das
respectivas curvas de refletividade, tal como foi explicado no cap
´
ıtulo anterior e tamb
´
em
60
61
Figura 3.1: Curva de refletividade experimental (linha cheia) de um filme fino padr
˜
ao
de Ni
81
Fe
19
para a determinar sua taxa de deposic¸
˜
ao. Os c
´
ırculos abertos representam a
simulac¸
˜
ao da curva realizada com o programa WINGIXA.
est
´
a bem detalhado nas refer
ˆ
encias [44, 45]. De maneira ilustrativa, na Fig. 3.1
´
e mostrada
a curva de refletividade experimental (linha preta) de um filme fino padr
˜
ao de Ni
81
Fe
19
de-
positado sobre um substrato de Si(100). O tempo de deposic¸
˜
ao foi de 460 s e as condic¸
˜
oes
f
´
ısicas no crescimento desse filme foram:
Temperatura do substrato: ambiente ( 22
C)
Dist
ˆ
ancia alvo - substrato: 10,3 cm
Press
˜
ao de base: 5 × 10
8
Torr
Press
˜
ao de trabalho: 2 × 10
3
Torr
Pot
ˆ
encia da fonte DC: 38 W
Atrav
´
es do c
´
alculo com a Eq. ( 2.14) foi poss
´
ıvel determinar que a espessura de esse
filme
´
e 618
˚
A. Dado que as condic¸
˜
oes listadas acima se mant
´
em muito est
´
aveis, a taxa de
deposic¸
˜
ao do Ni
81
Fe
19
´
e determinada dividindo simplesmente a espessura calculada pelo
62
Alvo Fabricante Pureza % Di
ˆ
ametro (”) Espessura (”)
Fe Pure Tech 99.92 2.0 0.125
Cr AJA 99.98 2.0 0.250
Co Pure Tech 99.95 2.0 0.125
Ru Pure Tech 99.95 1.5 0.125
Ta Pure Tech 99.99 2.0 0.250
V Pure Tech 99.70 1.5 0.125
Pt ACI 99.95 1.5 0.125
Ni
81
Fe
19
wt% ACI 99.95 2.0 0.125
Tabela 3.1: Relac¸
˜
ao de alvos usados na preparac¸
˜
ao das multicamadas.
tempo de deposic¸
˜
ao: 632
˚
A / 460 s = 1,37
˚
A/s. Uma outra maneira de obter a espessura do
filme a partir da curva de refletividade
´
e atrav
´
es da simulac¸
˜
ao dessa curva com programas
como o WINGIXA da Phillips, o qual fornece os valores tanto da espessura das camadas
como das rugosidades nas interfaces. Na Fig. 3.1
´
e mostrado, em c
´
ırculos abertos, o
ajuste do difratograma experimental. Com esse ajuste foi determinado que a espessura
do filme
´
e 629
˚
A e a rugosidade da interface substrato/filme
´
e 1
˚
A e a rugosidade da
superf
´
ıcie do filme
´
e 9,5
˚
A. Para filmes com uma camada
´
unica, o c
´
alculo da espessura
com a Eq. ( 2.14)
´
e suficiente. Quando o filme de calibrac¸
˜
ao precisa de uma camada
buffer, como no caso do Al ou SiO
2
, cujos par
ˆ
ametros de rede s
˜
ao muito pr
´
oximos ao do
substrato de Si, o c
´
alculo da espessura partir do difratograma n
˜
ao
´
e mais poss
´
ıvel com a
Eq. ( 2.14), precisando-se assim, calcular a espessura de cada camada atrav
´
es do ajuste
do difratograma.
Essa taxa de deposic¸
˜
ao pode ser usada na preparac¸
˜
ao de outras amostras com Ni
81
Fe
19
se s
˜
ao usadas as mesmas condic¸
˜
oes descritas acima. No entanto,
´
e importante salientar a
necessidade de fazer periodicamente novas calibrac¸
˜
oes, j
´
a que o alvo perder
´
a gradativa-
mente sua espessura na preparac¸
˜
ao de amostras e isto far
´
a com que a taxa de deposic¸
˜
ao
possa mudar. No entanto, existem materiais cuja taxa
´
e muito est
´
avel, como
´
e o caso
do Ni
81
Fe
19
e do Cu, por
´
em, existem outros, como o composto WTi, cuja taxa
´
e muito
vari
´
avel.
´
E recomendado, portanto, fazer novas calibrac¸
˜
oes ap
´
os a preparac¸
˜
ao de 50
amostras. Outra maneira de determinar as taxas de deposic¸
˜
ao
´
e atrav
´
es de balanc¸as de
cristais de quartzo acopladas ao sistema de deposic¸
˜
ao. Por
´
em, a dificuldade
´
e que o brac¸o
63
do cristal n
˜
ao alcanc¸a a altura onde o substrato deve estar posicionado. As tabelas da
AJA (fabricante dos alvos e do sistema sputtering) tamb
´
em possuem valores das taxas de
deposic¸
˜
ao normalizados pela taxa do Cu. Neste trabalho as taxas de deposic¸
˜
ao de todos
os alvos foram calculadas atrav
´
es dos ajustes das respectivas curvas de refletividade como
explicado acima.
Alvo Corrente (mA) Tens
˜
ao (V) Pot
ˆ
encia (W) Taxa (
˚
A/s)
Fe 128 393 50 1.21
Cr 63 334 21 0.58
Co 104 328 34 1.20
Ru 84 331 28 0.82
Ta 50 279 15 0.48
V 120 342 40 0.54
Pt 50 415 21 1.19
Ni
81
Fe
19
97 386 38 1.37
Tabela 3.2: Taxas de deposic¸
˜
ao dos alvos usados na preparac¸
˜
ao de amostras. Os valores
da corrente, tens
˜
ao e pot
ˆ
encia correspondem
`
as fontes de ignic¸
˜
ao DC.
Os materiais usados como alvos na preparac¸
˜
ao das multicamadas s
˜
ao de alta pureza e
suas especificac¸
˜
oes e fabricantes est
˜
ao listados na Tabela 3.1. As taxas de deposic¸
˜
ao de
cada alvo, bem como as condic¸
˜
oes de ignic¸
˜
ao DC para a preparac¸
˜
ao dos respectivos filmes
padr
˜
oes, est
˜
ao listadas na Tabela 3.2. A press
˜
ao de base foi sempre menor que 5 × 10
8
Torr, a press
˜
ao de trabalho 2 ×10
3
Torr, a dist
ˆ
ancia entre o alvo e o substrato de 10,3 cm
e o substrato no momento da deposic¸
˜
ao esteve
`
a temperatura ambiente (aproximadamente
22
C). Somente para o alvo de Fe foi necess
´
ario fazer mais de uma calibrac¸
˜
ao, mas a
variac¸
˜
ao da taxa foi desprez
´
ıvel.
3.2 Amostras preparadas
Nesta tese foram estudados os seguintes sistemas de multicamadas: Ni
81
Fe
19
/V, Co/Ru,
Fe/Cr e Co/Pt. As taxas de deposic¸
˜
ao de cada alvo empregado bem como as condic¸
˜
oes
de preparac¸
˜
ao e o tipo de substrato est
˜
ao bem detalhados na sec¸
˜
ao 3.1. As diferentes
s
´
eries de amostras preparadas para cada sistema s
˜
ao apresentadas com o formato: Ca-
64
mada buffer (espessura) / Multicamada (espessura de cada elemento) / Camada protetora
(espessura), com excec¸
˜
ao do sistema Ni
81
Fe
19
/V que s
˜
ao tricamadas do tipo Ni
81
Fe
19
(espessura)/V(espessura)/Ni
81
Fe
19
(espessura)/Camada protetora(espessura), tendo como
camada buffer a primeira camada de Ni
81
Fe
19
. As espessuras apresentadas aqui s
˜
ao as
espessuras nominais, as quais foram estimadas com as respectivas taxas de deposic¸
˜
ao.
Sistema Estrutura Espessura t (nm)
Ni
81
Fe
19
/V NiFe(5nm)/V(t)/NiFe(3nm)/Ta(1nm) 0,5; 1; 1,5; 2; 3; 10
NiFe(5nm)/V(2)/NiFe(5nm)/Ta(1nm)
Co/Ru Ru(5nm)/[Co(5nm)/Ru(t)]
20
/Ta(5nm) 0,2 – 3,3
Ru(5nm)/[Co(t)/Ru(2nm)]
N
/Ta(5nm) 1; 2; 3; 4
Fe/Cr Cr(3nm)/[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
/Cr(3nm)
Cr(3nm)/[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
19
/Fe(5nm)/Cr(t) 0,5; 1; 2; 3
Co/Pt Pt(10nm)/[Co(t)/Pt(1nm)]
6
/Pt(2nm) 0,3; 0,4; 0,6; 0,8; 1
Tabela 3.3: Relac¸
˜
ao de amostras preparadas. No sistema Co/Ru, N = 20, 22, 24 e 26 para
t = 4, 3, 2 e 1, respectivamente.
Na Tabela 3.3 s
˜
ao listadas as s
´
eries de amostras preparadas para esta tese. O sub-
´
ındice indica o n
´
umero de bicamadas. As espessuras vari
´
aveis em cada sistema est
˜
ao
denotadas por t. As tricamadas Ni
81
Fe
19
/V/Ni
81
Fe
19
foram depositadas com diferentes
espessuras da camada de V. No caso do sistema Co/Ru, foram preparadas duas s
´
eries
de amostras, uma variando a espessura das camadas de Ru e mantendo a espessura das
camadas de Co constante, e a outra s
´
erie foi preparada variando a espessura das camadas
de Co e mantendo constante a espessura das camadas de Ru. As multicamadas Fe/Cr
t
ˆ
em diferentes espessuras da
´
ultima camada de Cr. As amostras do sistema Co/Pt foram
preparadas com diferentes espessuras de Co, as quais s
˜
ao de poucas camadas at
ˆ
omicas.
Cap
´
ıtulo 4
Tricamadas NiFe/V/NiFe
Neste cap
´
ıtulo
´
e apresentado um estudo das propriedades estruturais e magn
´
eticas em
tricamadas NiFe/V/NiFe. Os pontos centrais destes estudos s
˜
ao a observac¸
˜
ao de acopla-
mento de troca entre as camadas de NiFe atrav
´
es da camada de V, bem como sua de-
pend
ˆ
encia com a espessura desta camada e o estudo da anisotropia magn
´
etica do sistema.
Multicamadas compostas por metais de transic¸
˜
ao 3d separados por V t
ˆ
em sido ampla-
mente estudadas na
´
ultima d
´
ecada por apresentar propriedades interessantes do ponto de
vista estrutural e magn
´
etico. Na literatura tem sido reportada evid
ˆ
encias experimentais
de acoplamento antiferromagn
´
etico em multicamadas Fe/V com textura (110) [86] e com
textura (001) [87]. Por
´
em, estudos em tricamadas Fe(10nm)/V(1,6nm)/Fe(10nm) [88]
e em multicamadas Fe/V com textura (111), crescidas sobre vidro, [89] n
˜
ao revelaram
tal acoplamento antiferromagn
´
etico. Numa outra contribuic¸
˜
ao [90], foram investigadas
super-redes Fe
n
/V
m
(001) crescidas sobre MgO(001) com a espessura das camadas de Fe
mantida constante em 15 camadas at
ˆ
omicas e a espessura das camadas de V variando
entre 1 e 12 camadas at
ˆ
omicas. Os autores tamb
´
em n
˜
ao observaram nenhuma evid
ˆ
encia
de acoplamento antiferromagn
´
etico. Por outro lado, estudos foram realizados em multi-
camadas Ni/V [91] mediante resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica, onde a excitac¸
˜
ao de ondas de
spin evidenciou a presenc¸a de acoplamento ferromagn
´
etico entre as camadas de Ni.
Neste trabalho, tricamadas Ni
81
Fe
19
/V/Ni
81
Fe
19
com diferentes espessuras da camada
de V foram selecionadas para estudar o acoplamento de troca utilizando um magne-
tometro SQUID, resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica e dicro
´
ısmo magn
´
etico circular de raios-X.
A anisotropia magn
´
etica
´
e analisada com FMR. N
˜
ao foi observada nenhuma evid
ˆ
encia de
polarizac¸
˜
ao induzida de spin no V. Todos os estudos foram realizados ex situ e, portanto,
65
66
Si(100)
NiFe (5nm)
V (t)
NiFe(3nm)
Ta(1nm)
Si(100)
NiFe (5nm)
V (t)
NiFe(3nm)
Ta(1nm)
Figura 4.1: Ilustrac¸
˜
ao esquem
´
atica das tricamadas Ni
81
Fe
19
/V(t)/Ni
81
Fe
19
.
foi necess
´
ario depositar uma camada protetora de Ta para prevenir a oxidac¸
˜
ao da trica-
mada quando exposta ao ar. Isto dificultou um pouco os estudos atrav
´
es de dicro
´
ısmo,
pois a camada protetora reduziu consideravelmente a intensidade do sinal da absorc¸
˜
ao de
raios-X, embora esta camada tenha sido muito fina (1nm).
4.1 Caracterizac¸
˜
ao estrutural
As tricamadas Ni
81
Fe
19
(5nm)/V(t)/Ni
81
F
19
(3nm), com t = 0, 5; 1; 1, 5; 2; 3 e 10 nm
(Fig. 4.1) foram depositadas sobre substratos de Si(100) por magnetron sputtering. Estas
amostras ser
˜
ao chamadas daqui para frente de V0.5, V1, V1.5, V2, V3 e V10, respecti-
vamente. Uma outra amostra, cuja configurac¸
˜
ao
´
e Ni
81
F
19
(5nm)/V(2nm)/Ni
81
F
19
(5nm),
tamb
´
em foi depositada e ser
´
a denominada NiFe5V2. Em todas as amostras, uma camada
protetora de Ta foi depositada para prevenir a oxidac¸
˜
ao dos elementos, a qual foi de 1nm
para todas as amostras, com excec¸
˜
ao de V10 e NiFe5V2, cuja camada de Ta foi de 3nm .
Os detalhes e condic¸
˜
oes da preparac¸
˜
ao est
˜
ao detalhados no Cap. 3. A caracterizac¸
˜
ao es-
trutural foi realizada ex situ atrav
´
es de medidas de reflectividade de raios-X
`
a temperatura
ambiente, usando a radiac¸
˜
ao K
αm´edio
do Cu (λ = 1, 5418
˚
A). Com respeito
`
a qualidade
das interfaces NiFe/V, a miscibilidade entre os elementos Fe e V
´
e baixa (H
mix
= 7
kJ/mol) [92] e a boa qualidade da estrutura cristalina e das interfaces em multicamadas
Fe/V, preparadas por sputtering, t
ˆ
em sido demonstrada em v
´
arios trabalhos [93, 94],
onde reportaram rugosidades interfaciais da ordem de 0,1 nm e um alto comprimento de
coer
ˆ
encia estrutural. Por
´
em, a inserc¸
˜
ao de Ni deve aumentar a rugosidade nas interfaces
67
devido
`
a consider
´
avel miscibilidade entre os elementos Ni e V (H
mix
= 18 kJ/mol)
[95]. Isto est
´
a de acordo com estudos realizados em multicamadas Ni/V [96], onde t
ˆ
em
sido reportada a formac¸
˜
ao de uma camada magneticamente morta nas interfaces, com
largura aproximada de 0,8 nm.
Figura 4.2: Curvas de refletividade experimentais (linhas cheias) e seus respectivos ajustes
(c
´
ırculos abertos) das tricamadas NiFe/V(t)/NiFe para t = 0.5, 1.5 e 10 nm.
Na Fig. 4.2 s
˜
ao apresentados os difratogramas das amostras com t = 0.5, 1.5 e 10
nm. As linhas cheias s
˜
ao os difratogramas experimentais, enquanto que os c
´
ırculos aber-
tos representam os ajustes obtidos usando o programa WINGIXA. As franjas de Kiesing
est
˜
ao claramente definidas, o que reflete a boa qualidade das amostras. As espessuras e
rugosidades interfaciais obtidas dos ajustes s
˜
ao mostradas na Tabela 4.1, onde cada in-
terface est
´
a indicada por uma cor distinta. Os valores calculados das espessuras de cada
camada s
˜
ao um pouco maiores que os valores nominais, com excec¸
˜
ao da camada de Ta,
enquanto que os valores das rugosidades nas interfaces NiFe/V e V/NiFe s
˜
ao maiores
68
do que as rugosidades reportadas em multicamadas Fe/V (aproximadamente 0,1 nm) e
menores que a espessura da camada morta (aproximadamente 0,8 nm) encontrada em
multicamadas Ni/V.
Amostra Espessuras calculadas (nm) Rugosidade (nm)
V0.5 Si/NiFe(5,3)/V(0,58)/NiFe(3,5)/Ta(0,9)/ 0,05; 0,3; 0,2; 0,3; 0,1
V1.5 Si/NiFe(5,4)/V(1,7)/NiFe(3,5)/Ta(0,9)/ 0,05; 0,3; 0,4; 0,6; 0,3
V10 Si/NiFe(4,9)/V(9,8)/NiFe(2,8)/Ta(2,5)/ 0,05; 0,5; 1,2; 0,4; 0,3
Tabela 4.1: Espessuras e rugosidades interfaciais das tricamadas V0.5, V1.5 e V10, obti-
das com o ajuste das curvas de refletividade com WINGIXA. Cada interface est
´
a discrim-
inada por uma cor diferente.
4.2 Medidas de Magnetizac¸
˜
ao
Foram realizadas medidas de magnetizac¸
˜
ao em func¸
˜
ao do campo magn
´
etico
`
a tem-
peratura ambiente com a finalidade de obter tanto a magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao quanto
evid
ˆ
encias de acoplamento magn
´
etico entre as camadas de NiFe. O campo foi aplicado
paralelamente ao plano dos filmes. Como pode ser observado na Fig. 4.3 todas as amostras
atingem a saturac¸
˜
ao magn
´
etica com campo menor que 200 Oe. A forma das curvas de
histerese s
˜
ao praticamente id
ˆ
enticas em todos os casos. A magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao
´
e
igual em todas as amostras, com valor aproximado de 550 emu/cm
3
, havendo sido cal-
culada normalizando os ciclos de histerese pelo volume de material ferromagn
´
etico de
cada amostra. Assim, a maior fonte de erro no c
´
alculo da magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao v
ˆ
em
da incerteza do c
´
alculo da espessura das camadas de NiFe, j
´
a que estas influenciam no
c
´
alculo do volume de NiFe da amostra.
Como pode ser observado, n
˜
ao h
´
a evid
ˆ
encias de oscilac¸
˜
oes do campo de saturac¸
˜
ao
em func¸
˜
ao da espessura da camada de V. Al
´
em disso nenhum dos ciclos apresenta a
forma t
´
ıpica de uma estrutura com acoplamento antiferromagn
´
etico, o qual mostraria um
crescimento lento da magnetizac¸
˜
ao com o campo aplicado at
´
e a saturac¸
˜
ao magn
´
etica. A
69
Figura 4.3: Ciclos de histerese, medidos
`
a temperatura ambiente com campo aplicado no
plano das tricamadas NiFe/V(t)/NiFe, para diferentes espessuras t da camada de V.
forma dos ciclos de histerese sugere que existe acoplamento ferromagn
´
etico entre as ca-
madas de NiFe para todas as amostras. Por
´
em essa hip
´
otese precisa ser avaliada com mais
cuidado, pois o sistema tamb
´
em podem estar sem acoplamento. Estudos em tricamadas
NiFe/Cr/NiFe [3] e NiFe/Ru/NiFe [4] mostraram que existe acoplamento ferromagn
´
etico
ou antiferromag
´
etico, dependendo da espessura da camada de Cr ou Ru. No caso das trica-
madas NiFe/V/NiFe precisamos de mais evid
ˆ
encias de um acoplamento entre as camadas
ferromagn
´
eticas.
Medidas de magnetizac¸
˜
ao tamb
´
em foram realizadas com campo magn
´
etico orientado
em 45
em relac¸
˜
ao ao plano dos filmes e todas as amostras puderam ser saturadas com
70
campo menor que 2 kOe. Estas medidas foram feitas reproduzindo as condic¸
˜
oes em que
foram realizados os estudos mediante XMCD. Para as an
´
alises atrav
´
es das regras de soma,
´
e necess
´
ario que os espectros de absorc¸
˜
ao de raios-X tenham sido medidos em amostras
no estado de saturac¸
˜
ao magn
´
etica (vide sec¸
˜
ao 2.2.5).
Figura 4.4: Espectros normalizados de XAS e de XMCD nas bordas L
2,3
do Fe das trica-
madas NiFe/V(t)/NiFe para diferentes espessuras t da camada de V.
4.3 Estudos atrav
´
es de XMCD
Na Fig. 4.4 s
˜
ao apresentados os espectros normalizados de absorc¸
˜
ao de raios-X com os
respectivos espectros XMCD, medidos nas bordas L
2,3
do Fe das tricamadas NiFe/V/NiFe
com diferentes espessuras da camada de V. As linhas tracejadas s
˜
ao os espectros medidos
71
com campo paralelo ao vetor de onda do feixe (µ
), enquanto que as linhas pontilhadas
s
˜
ao os espectros medidos com campo antiparalelo (µ
+
) e as linhas cheias s
˜
ao os espec-
tros de XMCD (µ
+
- µ
). A forma das linhas
´
e em geral id
ˆ
entica em todos os casos
independente da espessura da camada de V. Todos os espectros foram normalizados pela
intensidade absorvida em uma tela fina de ouro.
Figura 4.5: Espectros normalizados de XAS e de XMCD nas bordas L
2,3
do Ni das trica-
madas NiFe/V(t)/NiFe para diferentes espessuras t da camada de V.
Na Fig. 4.5 s
˜
ao apresentados os espectros correspondentes ao Ni, medidos tamb
´
em nas
bordas L
2,3
. As linhas tracejadas representam os espectros medidos com campo paralelo
ao vetor de onda do feixe, enquanto que as linhas pontilhadas representam os espectros
medidos com campo antiparalelo. As linhas cheias representam os espectros XMCD do
Ni. Neste caso, a normalizac¸
˜
ao dos espectros pela intensidade da tela de ouro n
˜
ao foi
72
poss
´
ıvel de fazer, pois a absorc¸
˜
ao da tela apresentou um pico muito intenso entre 860 e
890 eV. A normalizac¸
˜
ao se fez dividindo cada espectro de absorc¸
˜
ao pela intensidade da
corrente do anel de luz s
´
ıncrotron.
Figura 4.6: Espectros normalizados de absorc¸
˜
ao nas bordas L
2,3
do V correspondentes
`
a
tricamada NiFe/V(0.5 nm)/NiFe, medidos com orientac¸
˜
oes opostas de campo magn
´
etico.
A linha cheia
´
e a diferenc¸a entre os dois espectros.
Nas bordas L
2,3
do V, os espectros de absorc¸
˜
ao aumentaram em intensidade com a
espessura do V. Com respeito ao estado magn
´
etico do V, em diferentes trabalhos tem
sido reportado que o V adquire momento induzido quando em contato com Fe em tri-
camadas Fe/V/Fe [66] e em multicamadas Fe/V [97]. Por
´
em, no caso das tricamadas
NiFe/V/NiFe, n
˜
ao foi observado nenhum sinal de dicro
´
ısmo do V, indicando que o V
manteve seu estado paramagn
´
etico em todas as amostras. Na Fig 4.6 s
˜
ao apresentados os
espectros de absorc¸
˜
ao nas bordas L
2,3
do V da amostra V0.5, medidos com orientac¸
˜
oes de
campo opostas. A diferenc¸a entre esses espectros tamb
´
em
´
e mostrada. Devido ao contato
da camada protetora de Ta com o ar, foram observados trac¸os de oxig
ˆ
enio. Por isto os
espectros do V foram truncados antes do in
´
ıcio da borda K do oxig
ˆ
enio (530 eV).
A an
´
alise atrav
´
es das regras de soma, dos espectros de XMCD do Fe e do Ni, fornece-
ram valores dos momentos magn
´
eticos orbital e de spin similares aos valores medidos em
um filme de 50 nm de Ni
81
Fe
19
. Por
´
em, no caso do Fe, o momento magn
´
etico de spin
73
tem um valor menor para a amostra com 0.5 nm de V (1,85 µ
B
/atom), como pode ser
observado na Fig. 4.7. Pela barra de erro experimental, a diferenc¸a em relac¸
˜
ao
`
as outras
amostras, embora seja pequena,
´
e clara. No caso do Ni, os valores dos momentos de spin
n
˜
ao tiveram uma variac¸
˜
ao com a espessura da camada de V, pois mant
´
em valores muito
pr
´
oximos ao valor encontrado no filme padr
˜
ao de Ni
81
Fe
19
.
Figura 4.7: Momentos magn
´
eticos de spin do Fe e Ni das tricamadas NiFe/V/NiFe para
diferentes espessuras da camada de V.
O fato da amostra V0.5 apresentar um valor menor do momento de spin do Fe com
respeito
`
as outras amostras sugere que existe uma mudanc¸a das propriedades magn
´
eticas
nas tricamadas NiFe/V(t)/NiFe ao redor de t = 0.5 nm. Pela forma do ciclo de histerese,
pode-se sugerir que existe um acoplamento ferromagn
´
etico entre as camadas de NiFe
nessa amostra. Essa hip
´
otese
´
e reforc¸ada por estudos feitos em tricamadas NiFe/Cr/NiFe
[3] mediante XMCD, que mostraram uma diminuic¸
˜
ao da raz
˜
ao (µ
+
µ
)/(µ
+
+ µ
) do
Fe para espessuras do Cr entre 1 e 0,5 nm. Essa diminuic¸
˜
ao estava correlacionada com
um acoplamento ferromagn
´
etico entre as camadas de NiFe. Do mesmo modo, estudos
feitos em tricamadas NiFe/Ru/NiFe [4] mostraram que a raz
˜
ao (µ
+
µ
)/(µ
+
+ µ
) do
Fe e do Ni tem valores praticamente iguais para as espessuras de Ru de 1,5; 2,5 e 3,5 nm,
enquanto que para 2 nm de Ru, apresenta uma diminuic¸
˜
ao repentina que foi associada com
um acoplamento ferromagn
´
etico entre as camadas de NiFe. Quanto
`
as tricamadas com
74
espessuras maiores de V, elas tamb
´
em podem apresentar acoplamento ferromagn
´
etico,
devido
`
a forma dos ciclos de histerese, por
´
em sabemos que a energia da interac¸
˜
ao de
troca diminui com a espessura da camada separadora, o que sugere que as camadas de
NiFe podem tamb
´
em estar desacopladas. Estudos por FMR s
˜
ao apresentados a seguir para
avaliar as hip
´
oteses sugeridas bem como para obter informac¸
˜
ao da anisotropia magn
´
etica
das camadas de NiFe.
Figura 4.8: Espectros de FMR da amostra V0.5 para diferentes
ˆ
angulos entre o campo e
a normal ao plano do filme.
4.4 Estudos atrav
´
es de FMR
Medidas de FMR foram feitas na s
´
erie de tricamadas NiFe/V/NiFe para as espessuras
de V de t = 0,5; 1; 1,5 e 2 nm. Estas amostras apresentaram espectros com dois modos de
resson
ˆ
ancia, tanto com campo aplicado paralelo como perpendicular ao plano dos filmes.
O estudo da depend
ˆ
encia angular fora do plano do campo de resson
ˆ
ancia de ambos os
modos mostra comportamentos distintos na amostra com 0,5 nm de V (V0,5) em relac¸
˜
ao
75
`
as amostras com espessuras maiores de V (V1, V1,5 e V2). Na Fig. 4.8 s
˜
ao apresentados
alguns dos espectros correspondentes
`
a amostra V0,5 para diferentes
ˆ
angulos entre a nor-
mal ao plano da tricamada e o campo aplicado. Pode-se ver claramente a presenc¸a de dois
modos. O mais intenso
´
e o modo ac
´
ustico, que resulta da resson
ˆ
ancia em fase das duas
camadas de NiFe e o outro modo, com intensidade menor,
´
e sem d
´
uvida o modo
´
otico, que
resulta da resson
ˆ
ancia fora de fase das camadas magn
´
eticas. O campo de resson
ˆ
ancia do
modo
´
otico
´
e menor que o do modo ac
´
ustico para qualquer
ˆ
angulo na orientac¸
˜
ao fora do
plano, indicando um acoplamento ferromagn
´
etico entre as camadas de NiFe. A energia
de interac¸
˜
ao de troca introduz um campo magn
´
etico adicional
`
a relac¸
˜
ao de dispers
˜
ao do
modo
´
otico e desloca seu campo de resson
ˆ
ancia por um valor H
ex
em relac¸
˜
ao ao campo
de resson
ˆ
ancia do modo uniforme. Essa energia tamb
´
em afeta o termo da anisotropia
perpendicular que descreve as contribuic¸
˜
oes magnetocristalina e magnetoel
´
astica (H
k
na
equac¸
˜
ao 2.60), e sugere que o campo de resson
ˆ
ancia do modo ac
´
ustico deve ser diferente
do caso em que as amostras n
˜
ao apresentam interac¸
˜
ao de troca. Comprovaremos isto mais
adiante na discuss
˜
ao dos resultados para amostras com espessuras maiores da camada de
V. Portanto, podemos calcular a energia do acoplamento ferromagn
´
etico entre as camadas
de NiFe usando o campo magn
´
etico que separa os modos
´
otico e ac
´
ustico na configurac¸
˜
ao
perpendicular, mediante a relac¸
˜
ao [31]:
H
ex
=
2A
12
M
s
t
1
t
2
t
2
+ t
1
(4.1)
onde H
ex
= H
´otico
H
acustico
´
e o campo magn
´
etico que separa os modos
´
otico e ac
´
ustico,
o qual
´
e positivo no caso de acoplamento antiferromagn
´
etico e negativo quando existe
acoplamento ferromagn
´
etico. A
12
´
e a energia de interac¸
˜
ao de troca, M
s
a magnetizac¸
˜
ao de
saturac¸
˜
ao no plano da tricamada e t
1
e t
2
s
˜
ao as espessuras das camadas magn
´
eticas. Para
a amostra V5, H
ex
= 2901 Oe, M
s
= 550 emu/cm
3
foi obtida mediante magnetometria
com sensor SQUID. A espessura das camadas de NiFe s
˜
ao t
2
= 5, 3 nm e t
2
= 3, 5 nm, as
quais foram obtidas com o ajuste da curva de refletividade da tricamada. Assim, a energia
de interac¸
˜
ao de troca
´
e A
12
= 0, 34 erg/cm
2
. Se comparamos com os valores repor-
tados na literatura, este valor
´
e menor que a energia de troca encontrada em tricamadas
Co/Ru/Co [31] ferromagneticamente acopladas, depositadas mediante evaporac¸
˜
ao sobre
mica, o qual
´
e de 0, 66 erg/cm
2
, que sugere que o acoplamento da mostra V0,5
´
e
fraco e que o sistema pode ficar desacoplado do ponto de vista da FMR, para espessuras
76
maiores de V.
Figura 4.9: Depend
ˆ
encia do campo de resson
ˆ
ancia dos modos
´
otico e uniforme da amostra
V0.5 para a orientac¸
˜
ao fora do plano. A linha cheia
´
e o melhor ajuste, obtido para H
kef
=
8.3 kOe. A linha pontilhada
´
e apenas um guia para os olhos.
O comportamento do campo de resson
ˆ
ancia do modo uniforme pode ser analisado
simulando a curva H
r
vs.
ˆ
angulo, com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia, que
incluem as contribuic¸
˜
oes da energia Zeeman, magnetost
´
atica e da energia de anisotropia
magnetocristalina de primeira ordem, descritas pelas Eq. ( 2.52) e (2.53). No caso do
modo
´
otico
´
e necess
´
ario agregar a contribuic¸
˜
ao da energia de troca
`
a energia livre do sis-
tema, e com isto, a relac¸
˜
ao de dispers
˜
ao do modo
´
otico torna-se diferente. Nesta tese,
fizemos o ajuste apenas para o modo uniforme. Na Fig. 4.9
´
e apresentado o compor-
tamento do campo de resson
ˆ
ancia de ambos os modos , onde se observa que eles n
˜
ao
se interceptam. A linha s
´
olida
´
e a curva calculada para o modo uniforme, com as Eq.
( 2.52) e (2.53), para H
kef
= 8, 3 kOe e fator g = 2, 04. No caso do modo
´
otico, a linha
pontilhada
´
e apenas um guia para os olhos.
Para as amostras com espessuras de V maiores, os espectros de resson
ˆ
ancia apresen-
taram dois modos, um bem mais intenso do que o outro, cujos campos de resson
ˆ
ancia tem
comportamentos distintos ao da amostra V0.5. Na Fig 4.10 s
˜
ao mostrados alguns espec-
77
Figura 4.10: Espectros de FMR da amostra V2 para diferentes
ˆ
angulos entre o campo e a
normal ao plano do filme.
tros da amostra V2, medidos com campo aplicado em
ˆ
angulos de 90
, 10
, 8
e 0
em
relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano do filme. Podemos ver claramente a presenc¸a de dois modos,
um mais intenso do que o outro. Quando o campo
´
e aplicado paralelo ao plano do filme,
o campo de resson
ˆ
ancia do modo mais intenso
´
e menor que o do segundo modo. O com-
portamento do campo de resson
ˆ
ancia de ambos os modos, quando o campo
´
e aplicado em
diferentes
ˆ
angulos na orientac¸
˜
ao fora do plano, mostra que esses modos se interceptam
e cruzam um com outro em um
ˆ
angulo aproximado de 9
, e quando o campo externo
´
e aplicado perpendicularmente ao plano, o campo de resson
ˆ
ancia de modo mais intenso
fica maior que o do segundo modo. O comportamento das amostras V1 e V1.5 e V3 foi
id
ˆ
entico ao da amostra V2, pois exibem dois modos sendo um mais intenso que o outro e,
para um certo
ˆ
angulo, eles tamb
´
em cruzam.
A linha mais intensa ser
´
a chamada de modo I e a menos intensa, de modo S. O
78
Figura 4.11: Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia dos modos I e S, da amostra V2
na orientac¸
˜
ao fora do plano. As linhas s
´
olidas s
˜
ao os melhores ajustes obtidos com as
condic¸
˜
oes de equilibro de resson
ˆ
ancia (equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53)).
campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo, dos dois modos, pode ser analisado com as
condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio de resson
ˆ
ancia da mesma maneira que no caso do modo uniforme
da amostra V0,5. Na Fig. 4.11
´
e apresentada a curva H
r
vs.
ˆ
angulo de ambos os modos,
onde podemos ver que eles se interceptam em aproximadamente 9
. Os pontos corre-
spondem aos dados experimentais, enquanto que as linhas cheias s
˜
ao os ajustes obtidos
com as Eq. ( 2.52) e (2.53), para H
kef
(I) = 8, 45 kOe para modo I, e H
kef
(S) = 5, 7
kOe para o modo S. O fator g em ambos os casos foi considerado 2, 13, que
´
e um pouco
diferente ao valor considerado no caso do modo uniforme da amostra V0,5.
Dentre as hip
´
oteses para explicar a origem dos modos, pode-se pensar em um modo
uniforme e em um modo
´
otico, pois o espectro de FMR da amostra V2
´
e id
ˆ
entico ao da
amostra V0.5 na configurac¸
˜
ao perpendicular. O acoplamento ferromagn
´
etico neste caso
seria fraco o bastante para que o campo magn
´
etico aplicado desacoplasse as magnetizac¸
˜
oes
das camadas de NiFe e portanto os modo
´
otico e uniforme cruzem em um certo
ˆ
angulo.
Outra explicac¸
˜
ao levaria em conta a resson
ˆ
ancia de uma regi
˜
ao da primeira camada de
NiFe com magnetizac¸
˜
ao efetiva menor na interface substrato/NiFe, que daria origem ao
79
Figura 4.12: Espectros de FMR da amostra V10 para diferentes
ˆ
angulos entre o campo e
a normal ao plano do filme.
modo com intensidade menor, e o modo maior, atribu
´
ıdo
`
a resson
ˆ
ancia das duas camadas
de NiFe. Essa hip
´
otese
´
e reforc¸ada por estudos por FMR em multicamadas Co/Au deposi-
tadas sobre vidro mediante evaporac¸
˜
ao por e-beam, onde foi observada a excitac¸
˜
ao de um
modo secund
´
ario, atribu
´
ıdo
`
a resson
ˆ
ancia das camadas de Co nas interfaces substrato/Co
e Co/ar [6]. Por
´
em, tamb
´
em podemos pensar na resson
ˆ
ancia das duas camadas de NiFe,
da mais interna, com 5 nm de espessura em contato com o substrato, d
´
a origem ao modo
mais intenso, e da camada mais externa, com 2.5 nm e depositada depois da camada de
V, que d
´
a origem ao modo mais fraco. Essas camadas devem ter energias magnetost
´
aticas
diferentes e portanto magnetizac¸
˜
ao efetiva diferente, o que causaria os valores diferentes
para o campo de resson
ˆ
ancia dos modos na configurac¸
˜
ao perpendicular. A condic¸
˜
ao de
resson
ˆ
ancia na configurac¸
˜
ao perpendicular
´
e (vide sec¸
˜
ao 2.3.4) ω = H
+ H
Kef
,
com H
kef
= 4πM
ef
= 2K
ef
/M
s
; podemos observar que um aumento (diminuic¸
˜
ao) da
80
magnetizac¸
˜
ao efetiva M
ef
, provoca um aumento (diminuic¸
˜
ao) do campo de resson
ˆ
ancia
H
, j
´
a que ω permanece constante no experimento. O fato dos modos cruzarem
´
e
devido a valores diferentes do campo desmagnetizante para cada camada.
Para esclarecer a origem desses modos, experimentos de FMR foram feitos em duas
novas amostras. A primeira
´
e Si(100)/NiFe(5nm)/V(10nm)/NiFe(3nm)/Ta(3nm) chamada
de V10 e a outra Si(100)/NiFe(5nm)/V(2nm)/NiFe(5nm)/ Ta(3nm), chamada de NiFe5V2.
Essas tricamadas foram depositadas sob as mesmas condic¸
˜
oes das outras amostras. Ex-
perimentos de FMR na amostra V10 permitiram avaliar a hip
´
oteses da presenc¸a de modos
´
otico e ac
´
ustico, pois com 10 nm de V entre as camadas de NiFe, estas devem ficar com-
pletamente desacopladas e assim, o suposto modo
´
otico n
˜
ao pode ser excitado. Na Fig.
4.12 s
˜
ao apresentados alguns dos espectros de FMR, medidos para
ˆ
angulos entre o campo
aplicado e a normal ao plano do filme de 90
, 9
, 7
e 0
. Quando o campo
´
e aplicado
no plano do filme, o espectro de FMR apresenta duas linhas, uma bem intensa e a outra
com intensidade baixa, similar ao espectro da amostra V2, onde o campo de resson
ˆ
ancia
do modo intenso
´
e menor. O estudo da depend
ˆ
encia angular fora do plano das duas linhas
revela um comportamento igual ao da amostra V2.
`
A medida que o campo se aproxima
da direc¸
˜
ao normal ao plano, as duas linhas de deslocam juntas e em um
ˆ
angulo de 9
entre
a normal e o campo se superp
˜
oem e depois separam uma da outra. Essa separac¸
˜
ao
´
e maior
na configurac¸
˜
ao perpendicular e o campo de resson
ˆ
ancia da linha mais intensa
´
e maior do
que da segunda linha.
Como os espectros da amostra V10 apresentam um comportamento similar ao da
amostra V2, podemos descartar a hip
´
oteses da presenc¸a de modos
´
otico e ac
´
ustico, pois o
segundo modo n
˜
ao pode ser devido
`
a interac¸
˜
ao de troca entre as camadas de NiFe e sim
provavelmente
`
a resson
ˆ
ancia de uma regi
˜
ao da camada inferior de NiFe em contato com
o substrato ou da camada mais fina de NiFe. Considerando que as intensidade das linhas
´
e definida por I = A × H
2
, onde A
´
e a amplitude do sinal e H
´
e a largura de linha,
podemos relacion
´
a-las com a espessura de cada camada. A linha intensa ser
´
a chamada
tamb
´
en de modo I y a linha menos intensa, de modo S. Assim, na configurac¸
˜
ao perpen-
dicular, a intensidade relativa das linhas
´
e I/S = 1, 4 e a relac¸
˜
ao entre as espessuras
nominais das camadas de NiFe
´
e de 1, 6. Isto sugere que os modos s
˜
ao provavelmente
devido
`
a resson
ˆ
ancia de cada camada de NiFe que est
˜
ao desacopladas. A de maior am-
plitude corresponde
`
a camada inferior (modo I), com 5nm de espessura e a de menor
amplitude corresponde
`
a camada inferior (modo S) com 3 nm. No entanto, precisamos
81
descartar a hip
´
oteses de que o modo S
´
e devido ao contato da primeira camada de NiFe
com o substrato. Entretanto mostraremos a depend
ˆ
encia angular fora do plano dos modos
I e S da amostra V10.
Figura 4.13: Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia dos modos I e S, da amostra V10
na orientac¸
˜
ao fora do plano. As linhas s
´
olidas s
˜
ao os melhores ajustes obtidos com as
condic¸
˜
oes de equilibro de resson
ˆ
ancia (equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53)).
Na Fig. 4.13
´
e apresentado o comportamento do campo de resson
ˆ
ancia dos modos I
e S da amostra V10, onde os pontos correspondem aos dados experimentais e as linhas
s
´
olidas forma calculadas com as Eq. ( 2.52) e (2.53), para campos de anisotropia efetiva
H
kef
(I) = 8, 60 kOe e H
kef
(S) = 6, 99 kOe e o fator giromagn
´
etico em ambos os
casos foi considerado g = 2, 16.
Com o intuito de avaliar a hip
´
otese de que a linha com menor amplitude seja devido
`
a resson
ˆ
ancia de uma regi
˜
ao da primeira camada de NiFe na interface substrato/NiFe, foi
estudada a amostra NiFe5V2, cujas camadas de NiFe tem espessuras iguais. Assim, se
o modo S corresponde
`
a interface substrato/NiFe, deve-se obter espectros com os dois
modos, similares a os espectros das amostras V2 e V10, j
´
a que a suposta regi
˜
ao da in-
terface com magnetizac¸
˜
ao efetiva menor n
˜
ao mudou em nada na amostra NiFe5V2. No
82
Figura 4.14: Espectros de FMR da amostra NiFe5V2 para diferentes
ˆ
angulos entre o
campo e a normal ao plano do filme.
caso contr
´
ario, se o modo S
´
e devido
`
a resson
ˆ
ancia da camada mais fina de NiFe, devemos
observar um aumento consider
´
avel na intensidade do modo S nesta nova amostra. Na Fig.
4.14 s
˜
ao apresentados alguns dos espectros de FMR da amostra NiFe5V2, os quais foram
medidos para
ˆ
angulos de 90
, 8
, 6
e 0
entre a normal ao plano do filme e o campo
aplicado. Duas linhas estreitas e com igual intensidade, cujos campos de resson
ˆ
ancia s
˜
ao
separadas por 0, 6 kOe, est
˜
ao presentes na configurac¸
˜
ao perpendicular (0
), essas linhas
se sobrep
˜
oem em aproximadamente 8
e logo cruzam uma com a outra e se separam para
ˆ
angulos maiores. Na configurac¸
˜
ao paralela (90
), as linhas est
˜
ao separadas por um campo
de 0,06 kOe. Com estes resultados descartamos a hip
´
oteses da resson
ˆ
ancia da interface
substrato/NiFe no caso das tricamadas estudadas. Se identificamos os modos I e S como
sendo as linhas das camadas inferior e superior respectivamente, podemos observar que
neste caso, o modo S tem campo de resson
ˆ
ancia maior na configurac¸
˜
ao perpendicular e
83
menor na configurac¸
˜
ao paralela. O campo de resson
ˆ
ancia da linha I
´
e igual ao da linha
I das amostras anteriores (11,6 kOe) e portanto
´
e atribu
´
ıdo
`
a camada inferior e a linha
S, com campo de resson
ˆ
ancia de 12,2 kOe na configurac¸
˜
ao perpendicular
´
e atribu
´
ıda
`
a
camada superior.
Figura 4.15: Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia dos modos I e S, da amostra
NiFe5V2 na orientac¸
˜
ao fora do plano. As linhas s
´
olidas s
˜
ao os ajustes obtidos com as
condic¸
˜
oes de equilibro de resson
ˆ
ancia (equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53)).
O comportamento do campo de resson
ˆ
ancia de ambas as linhas em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo
´
e apresentado na Fig. 4.15. Os pontos correspondem aos dados experimentais e as linhas
s
´
olidas s
˜
ao os ajustes obtidos para H
kef
(I) = 8, 25 kOe para o modo I e H
kef
(S) =
8, 85 kOe para o modo S e o fator g foi considerado igual a 2, 10. A diferenc¸a entre
os campos de anisotropia efetiva
´
e pequena, por
´
em provoca a separac¸
˜
ao das linhas clara-
mente comprovada nos espectros. Se supusermos que o campo desmagnetizante
´
e igual
em ambas camadas de NiFe, a separac¸
˜
ao das linhas
´
e atribu
´
ıda ao fato da camada infe-
rior de NiFe estar afetada por um campo de anisotropia perpendicular maior do que o da
camada superior, devido
`
a interface substrato/NiFe.
Os valores dos principais par
ˆ
ametros f
´
ısicos extra
´
ıdos das medidas de FMR para cada
amostra est
˜
ao listados nas Tabelas 4.2 e 4.3. A primeira corresponde aos par
ˆ
ametros
84
Amostra H
(Oe) H
(Oe) H
kef
(Oe) K
ef
(×10
6
erg/cm
3
) Fator g
V0,5 1213 11697 -8300 -2,78 2,04
V1 1156 11752 -8424 -2,76 2,08
V1,5 1151 11831 -8498 -2,84 2,08
V2 1109 11744 -8450 -2,83 2,13
V10 1119 11801 -8600 -2,88 2,16
NiFe5V2 1125 11632 -8360 2,10
Tabela 4.2: Valores do campo de resson
ˆ
ancia na configurac¸
˜
ao paralela (H
), perpendicular
(H
), campo de anisotropia efetiva (H
kef
), da constante de anisotropia efetiva (K
ef
) e do
fator g da linha I, obtidos da an
´
alise dos espectros de FMR. Os valores no caso da amostra
V0.5 correspondem ao modo uniforme.
Amostra H
(Oe) H
(Oe) H
kef
(Oe) K
ef
(×10
6
erg/cm
3
)
V1 1523 9103 -5770 -1,93
V1,5 1570 8875 -5535 -1,85
V2 1488 8952 -5700 -1,90
V10 1305 10193 -6990 -2,34
NiFe5V2 1067 12148 -8850
Tabela 4.3: Similar
`
a tabela 4.2, para a linha S.
do modo I e a segunda aos do modo S. No caso da amostra V0.5, os valores colocados
na tabela 4.2 correspondem ao modo uniforme. Como foi mencionado anteriormente,
o campo de resson
ˆ
ancia na configurac¸
˜
ao perpendicular da amostra que apresenta acopla-
mento ferromagn
´
etico
´
e menor do que para as tricamadas com as mesmas espessuras da
camada de NiFe e espessura maior de V, enquanto que na configurac¸
˜
ao paralela, o campo
de resson
ˆ
ancia da amostra V0.5
´
e mais alto. Isto
´
e atribu
´
ıdo
`
a energia de interac¸
˜
ao de
troca.
Com respeito
`
a largura das linhas, os espectros de FMR das tricamadas V1, V1.5, V2
e V10, as quais possuem a camada superior de NiFe mais fina do que a camada inferior,
claramente apresentam a resson
ˆ
ancia da camada superior (modo S) mais alargada do que a
camada inferior (modo I). Como j
´
a foi discutido na sec¸
˜
ao 2.3.6, a diminuic¸
˜
ao da espessura
de uma camada magn
´
etica conduz a um alargamento da linha devido
`
a maior presenc¸a de
inomogeneidades magn
´
eticas, al
´
em do mais a uniformidade cristalina do filme diminui
com a reduc¸
˜
ao da espessura, o que tamb
´
em contribui para o alargamento da linha. No
caso da amostra NiFe5V2, as linhas I e S, na configurac¸
˜
ao perpendicular, tem largura de
85
83 Oe e 59 Oe, respectivamente. Neste caso, a espessura das camadas de NiFe
´
e igual,
por
´
em existe uma pequena diferenc¸a nas larguras de linha, que
´
e devido ao efeito da
interface substrato/NiFe.
4.5 Conclus
˜
oes
Tricamadas NiFe(5nm)/V(t)/NiFe(3nm), com t = 0,5; 1, 1,5; 2; 3 e 10 nm e NiFe(5nm)/
V(2nm)/NiFe(5nm) foram crescidas sobre substratos de Si(100)
`
a temperatura ambiente
atrav
´
es de magnetron sputtering. Suas propriedades estruturais foram determinadas me-
diante difrac¸
˜
ao de raios-x em baixos
ˆ
angulos e as propriedades magn
´
eticas, estudadas
atrav
´
es de medidas de magnetizac¸
˜
ao com SQUID, XMCD e FMR. As amostras foram
chamadas de V0,5; V1,0; V1,5, V2, V3, V10 e NiFe5V2, respectivamente. Para a trica-
mada com 0,5 nm de V, foi verificado um acoplamento ferromagn
´
etico entre as camadas
de NiFe, cuja energia de interac¸
˜
ao de troca
´
e A
12
= 0.34 erg/cm
2
. Os espectros de
FMR dessa amostra tamb
´
em apresentaram um campo de resson
ˆ
ancia menor que no cada
das tricamadas com espessuras maiores de V. Uma diminuic¸
˜
ao do momento magn
´
etico
de spin efetivo do Fe, calculado a partir dos espectros de XMCD, tamb
´
em foi verificado
para este caso.
As tricamadas com espessuras maiores da camada de V, amostras V1, V1,5; V2 e V10
e NiFe5V2, apresentaram comportamentos distintos ao da amostra V0,5, pois suas ca-
madas de NiFe estavam desacopladas. As medidas de magnetizac¸
˜
ao vs. campo magn
´
etico
aplicado revelaram ciclos de histerese quadrados sugerindo a id
´
eia de um acoplamento
ferromagn
´
etico, por
´
em a an
´
alise dos espectros de FMR demonstraram que as camadas de
NiFe estavam desacopladas e que cada uma destas camadas possu
´
ıa campos de anisotropia
efetiva diferentes. No caso das amostras cuja camada superior de NiFe era mais fina
do que a inferior (V1, V1.5, V2 e V10), a diferenc¸a entre os H
kef
´
e atribu
´
ıda
`
a maior
magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao da camada inferior, pois a resson
ˆ
ancia correspondente a essa
camada tem campo de resson
ˆ
ancia maior do que a resson
ˆ
ancia da camada superior, na
configurac¸
˜
ao perpendicular. No caso da amostra com as camadas de NiFe superior e in-
ferior com espessuras iguais (NiFe2V5), a diferenc¸a entre os valores de H
kef
, referente
`
as camadas superior e inferior,
´
e atribu
´
ıda
`
a maior contribuic¸
˜
ao do campo de anisotropia
perpendicular para a linha I, proveniente da interface substrato/NiFe. Isto foi evidenciado
no fato da linha I, dessa amostra, apresentar um campo de resson
ˆ
ancia menor do que a
86
linha S, na configurac¸
˜
ao perpendicular.
Cap
´
ıtulo 5
Multicamadas Co/Ru
As multicamadas Co/Ru v
ˆ
em atraindo a atenc¸
˜
ao dos cientistas h
´
a mais de uma d
´
ecada
por terem sido um bom prot
´
otipo para o estudo de uma grande variedade de propriedades
magn
´
eticas em filmes finos. Por exemplo, acoplamento de troca oscilat
´
orio entre camadas
magn
´
eticas separadas por metais n
˜
ao magn
´
eticos [9, 98, 99], anisotropia magn
´
etica per-
pendicular [100, 101, 102], magnetorresist
ˆ
encia gigante [103, 104] e polarizac¸
˜
ao in-
duzida de spin em metais n
˜
ao magn
´
eticos nas interfaces com metais ferromagn
´
eticos
[105, 106] s
˜
ao alguns dos fen
ˆ
omenos intensamente estudados em multicamadas Co/Ru.
Em particular a anisotropia magn
´
etica
´
e uma das propriedades mais interessante. Esta
propriedade expressa a depend
ˆ
encia da energia necess
´
aria para magnetizar um sistema
com relac¸
˜
ao
`
a direc¸
˜
ao do campo aplicado relativo aos eixos do cristal e pode ser definida
por diferentes mecanismos, incluindo anisotropia de forma, anisotropia magnetocristalina
e a reduzida simetria nas interfaces. Sendo que a mais not
´
avel manifestac¸
˜
ao relativa
`
a
anisotropia magn
´
etica
´
e a mudanc¸a da direc¸
˜
ao preferencial da magnetizac¸
˜
ao, comumente
observada no plano dos filmes, para uma direc¸
˜
ao perpendicular ao plano. Este fen
ˆ
omeno
´
e
chamado de anisotropia magn
´
etica perpendicular (PMA), e aparece quando as espessuras
das camadas magn
´
eticas s
˜
ao reduzidas a poucas camadas at
ˆ
omicas.
Neste cap
´
ıtulo
´
e apresentado um estudo das propriedades estruturais e da anisotropia
magn
´
etica de multicamadas [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
, com t
Ru
variando entre 0, 2 e 3, 3 nm e
[Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
com t
Co
= 1, 2, 3 e 4 nm e N = 26, 24, 22 e 20 bicamadas, respecti-
vamente. As interfaces Co/Ru desempenham um papel muito importante, pois, embora as
amostras crescidas por sputtering apresentem interfaces muito bem definidas, elas n
˜
ao s
˜
ao
perfeitamente planas, mas sim governadas por rugosidades, interdifus
˜
ao at
ˆ
omica e mis-
87
88
N
Co(t
Co
)
Ru(t
Ru
)
Ru
(5n
m
)
Ta(
5nm)
Si(100)
(0002)
Co(t
Co
)
Ru(t
Ru
)
N
Co(t
Co
)
Ru(t
Ru
)
Ru
(5n
m
)
Ta(
5nm)
Si(100)
(0002)
Co(t
Co
)
Ru(t
Ru
)
Figura 5.1: Ilustrac¸
˜
ao esquem
´
atica das multicamdas [Co(t
Co
)/Ru(t
Ru
)]
N
.
tura entre os elementos que a comp
˜
oem, o que pode levar
`
a formac¸
˜
ao de ligas. Atrav
´
es de
reflectividade de raios-X pretende-se esclarecer a qualidade destas interfaces e atrav
´
es de
estudos com FMR veremos o efeito destas interfaces na anisotropia magn
´
etica das mul-
ticamadas. Estudos similares foram feitos em multicamadas Co/Au [6] e Co/Pd [107].
Nesses trabalhos foi observado o modo de resson
ˆ
ancia principal atribu
´
ıdo ao Co e um
modo com campo de resson
ˆ
ancia menor perto da configurac¸
˜
ao perpendicular cuja origem
ainda n
˜
ao
´
e clara. No caso das multicamadas Co/Pd, esse modo
´
e atribu
´
ıdo aos
´
atomos de
Co nas interfaces que podem estar como uma liga Co
50
Pd
50
devido
`
a interdifus
˜
ao at
ˆ
omica.
Mas no caso do sistema Co/Au esse modo foi atribu
´
ıdo
`
a resson
ˆ
ancia das camadas exter-
nas de Co. Estudos atrav
´
es de FMR em tricamadas acopladas Co/Ru/Co, preparadas por
evaporac¸
˜
ao, mostram s
´
o o surgimento do modo de resson
ˆ
ancia principal ou ac
´
ustico e do
modo
´
otico, que surge devido
`
a interac¸
˜
ao de troca [31]. Um estudo do modo adicional
ainda n
˜
ao foi realizado em multicamadas Co/Ru.
Os estudos atrav
´
es de FMR foram realizados
`
a temperatura ambiente. Os espec-
tros, apresentaram duas linhas principais cujos campos de resson
ˆ
ancia estavam muito
pr
´
oximos e para extrair os par
ˆ
ametros espectrais, as linhas foram ajustadas usando curvas
Lorentzianas. Para determinar as anisotropias foi necess
´
ario o valor da magnetizac¸
˜
ao de
saturac¸
˜
ao, o qual foi obtido atrav
´
es de medidas de magnetizac¸
˜
ao em func¸
˜
ao do campo,
com magnet
ˆ
ometro SQUID.
89
Figura 5.2: Difratograma em baixo
ˆ
angulo (a) e em alto
ˆ
angulo (b) da amostra [Co(5nm)/
Ru(1,5nm)]
20
.
5.1 Caracterizac¸
˜
ao estrutural
As multicamadas [Co(5 nm)/Ru(t
Ru
)]
20
, com t
Ru
variando entre 0, 2 nm e 3, 3 nm e
[Co(t
Co
)/ Ru(2nm)]
N
com t
Co
= 1, 2, 3 e 4 nm e N = 26, 24, 22 e 20 bicamadas, res-
pectivamente (ver Fig. 5.1), foram crescidas com magnetron sputtering sobre substratos
de Si(100)
`
a temperatura ambiente. As taxas e condic¸
˜
oes de deposic¸
˜
ao est
˜
ao detalhadas
no Cap.3. Para um crescimento texturizado, primeiro foi depositada uma camada de 5
nm de Ru e ap
´
os o crescimento da multicamada, uma camada protetora de 5 nm de Ta
tamb
´
em foi depositada. Na Fig.5.2(a),
´
e mostrada a curva de refletividade da amostra
[Co(5nm)/Ru(1, 5nm)]
20
, onde se pode ver seis reflex
˜
oes da super-estrutura devido
`
a
90
modulac¸
˜
ao qu
´
ımica. O aparecimento destes picos indica que a multicamada tem inter-
faces Co/Ru definidas. As espessuras das camadas individuais podem ser determinadas
mediante o ajuste da curva de refletividade e o superper
´
ıodo, Λ, pode ser deduzido a
partir da posic¸
˜
ao dos picos mediante o uso da Eq. (2.16). O ajuste usando o programa
WINGIXA reproduz bem o difratograma. Os valores das espessuras das camadas de Co
e de Ru obtidos com esse ajuste s
˜
ao de 4, 84 nm e 1, 48 nm, respectivamente, o que d
´
a
um superper
´
ıodo de Λ = 6, 32 nm. Por outro lado, o superper
´
ıodo calculado com a Eq.
(2.16)
´
e de Λ = 6, 30 nm, que corresponde bem ao valor extra
´
ıdo do ajuste. Estes valores,
no entanto, mostram uma pequena diferenc¸a com as espessuras nominais de 5 nm para a
camada de Co e de 1, 5 nm para a camada de Ru e superper
´
ıodo de 6, 5 nm. Essa diferenc¸a
corresponde a aproximadamente 3% do valor nominal.
Com respeito
`
a qualidade das interfaces, na literatura tem sido reportada a formac¸
˜
ao
de mistura entre o Co e o Ru em multicamadas crescidas por sputtering e por evaporac¸
˜
ao,
sendo que esta mistura
´
e maior nas amostras depositadas por sputtering (5 camadas
at
ˆ
omicas) do que nas amostras depositadas por evaporac¸
˜
ao (3 camadas at
ˆ
omicas) [104].
Tamb
´
em tem sido relatada a interdifus
˜
ao at
ˆ
omica nas interfaces, as quais podem ser con-
sideradas como ligas Co-Ru, cuja composic¸
˜
ao varia com a espessura da camada de Ru
[108]. No entanto, de acordo com os difratogramas em baixo
ˆ
angulo n
˜
ao h
´
a formac¸
˜
ao
consider
´
avel de liga nas interfaces das multicamadas preparadas para este trabalho. Al
´
em
disso, recentemente t
ˆ
em sido reportada a formac¸
˜
ao de interfaces muito bem definidas em
multicamadas Co/Ru crescidas por sputtering [9], e que o Co cresce sobre o Ru em forma
de ilhas de diferentes tamanhos [109, 110, 111] dando lugar
`
a formac¸
˜
ao de interfaces ru-
gosas. Sendo assim, a simulac¸
˜
ao do difratograma, mostrada na Fig. 5.2, est
´
a baseada na
suposic¸
˜
ao das interfaces Co/Ru terem rugosidades de 0,7 nm. Al
´
em dos picos de difrac¸
˜
ao
de Bragg, na Fig. 5.2(a) podemos tamb
´
em observar as franjas de Kiesing.
Os difratogramas em alto
ˆ
angulo s
˜
ao apresentados na Fig. 5.2(b) e nos gr
´
aficos inseri-
dos das figura 5.3.
´
E poss
´
ıvel discriminar o pico principal da super estrutura com textura
(0002) e fase hcp, bem como v
´
arios picos sat
´
elites. O aparecimento destes picos confirma
a boa qualidade da estrutura peri
´
odica das multicamadas. Com a posic¸
˜
ao angular destes
picos pode-se calcular o superper
´
ıodo mediante a lei de Bragg. Assim, no caso da amostra
da Fig.5.2 se obt
´
em Λ = 6, 22 nm, que
´
e similar ao valor calculado a partir da respectiva
curva de refletividade. Na Fig. 5.2(b) tamb
´
em se indicam os picos referentes ao substrato
de Si e da camada protetora de Ta. N
˜
ao h
´
a evid
ˆ
encia de formac¸
˜
ao de liga Co-Ru nas
91
Figura 5.3: Difratogramas em baixo
ˆ
angulo e em alto
ˆ
angulo (gr
´
aficos inseridos) das
amostras [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
, com t
Ru
= 2, 1 e 2, 9 nm.
interfaces. Na literatura tem sido relatada a formac¸
˜
ao de liga em multicamadas Co/Ru
depositadas por e-beam sobre substratos de safira, a temperatura de 70
C [112], por
´
em,
para espessuras finas de Co e Ru, da ordem de 1 a 4 camadas at
ˆ
omicas. Al
´
em disto, es-
tudos recentes feitos em filmes compostos por camadas at
ˆ
omicas de Co crescidas sobre
Ru(0001), sugerem que estes elementos n
˜
ao se misturam [111]. No caso das amostras
preparadas aqui, todas s
˜
ao policristalinas e o tamanho de gr
˜
ao calculado com a f
´
ormula
de Sherrer (Eq. ( 2.6)), a partir do pico principal das multicamadas, est
´
a entre 18 e 25 nm.
Para o caso da amostra da Fig. 5.2
´
e de 22 nm, o qual indica uma boa qualidade cristalina
na direc¸
˜
ao de crescimento, sendo que em m
´
edia 4 bicamadas s
˜
ao coerentes.
92
Figura 5.4: Curvas de difrac¸
˜
ao convencional de raios-X das multicamadas (a) [Co(5nm)/
Ru(t
Ru
)]
20
e (b) [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
.
Na Fig. 5.4 s
˜
ao apresentados alguns difratogramas convencionais das s
´
eries de mul-
ticamadas [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
e [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
. Na primeira s
´
erie (Fig. 5.4(a))
podemos ver uma fase do Ru que se superp
˜
oe ao primeiro pico sat
´
elite da esquerda nos
difratogramas, que
´
e o Ru hcp com textura (0002). O pico correspondente fica posi-
cionado em 42.2
e est
´
a sinalizado por uma seta nos difratogramas. Conforme aumenta a
espessura das camadas de Ru, a intensidade deste pico tamb
´
em aumenta consistentemente
com a quantidade de Ru presente na amostra. Na outra s
´
erie (Fig. 5.4(b)) bem como na
primeira, pode ser notado que a qualidade da epitaxia da multicamada diminui com a
reduc¸
˜
ao da espessura das camadas de Co ou Ru, pois a definic¸
˜
ao dos picos principais e
sat
´
elites diminui quando a espessura dos elementos
´
e reduzida.
93
t
Ru
(nm) Λ nominal (nm) ξ Co/Ru (nm) ξ Ru(0002) (nm)
0,4 5,4 18,7
0,7 5,7 17,2
0,9 5,9 20,9
1,1 6,1 21,4 21,3
1,5 6,5 22,5 22,4
1,7 6,7 22,5 21,8
2,0 7,0 20,9 21,8
2,1 7,1 22,5 22,4
2,3 7,3 22,5 25,3
2,7 7,7 20,2 20,2
3,0 8,0 21,3 21,8
3,3 8,3 22,5 23,8
Tabela 5.1: Valores do per
´
ıodo nominal Λ, e do tamanho de gr
˜
ao ξ de algumas amostras
da s
´
erie [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
t
Co
(nm) N Λ nominal (nm) ξ Co/Ru (nm) ξ Ru(0002) (nm)
1 26 3 8,5
2 24 4 18,4 16,2
3 22 5 20,8 21,3
4 20 6 22,5 20,7
Tabela 5.2: Valores do per
´
ıodo nominal Λ, e do tamanho de gr
˜
ao ξ das amostras da s
´
erie
[Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
.
Nas Tabelas 5.1 e 5.2 s
˜
ao apresentados os tamanhos de gr
˜
ao calculados usando
a f
´
ormula de Sherrer, Eq. ( 2.6), a partir das curvas de DRX convencional de algu-
mas amostras das s
´
eries de multicamadas [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
e [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
.
Os tamanhos de gr
˜
ao foram estimados a partir dos picos da superestrutura CoRu e do
Ru(0002) e pode-se observar que s
˜
ao independentes da espessura da camada espac¸adora
de Ru. Por
´
em, o tamanho de gr
˜
ao da multicamada aumenta com a espessura do Co.
94
5.2 Estudo do acoplamento de troca oscilat
´
orio
Antes de apresentar o estudo da anisotropia magn
´
etica em multicamadas Co/Ru,
´
e mostrado um estudo explorat
´
orio do acoplamento magn
´
etico entre as camadas de Co,
que visa reproduzir um sistema de multicamadas est
´
avel, com algumas propriedades j
´
a
reportadas na literatura. Estes sistemas de multicamadas usualmente apresentam acopla-
mento de troca oscilat
´
orio e magnetorresist
ˆ
encia gigante. O acoplamento de troca entre
camadas magn
´
eticas pode ser ferromagn
´
etico ou antiferromagn
´
etico dependendo da es-
pessura das camadas separadoras n
˜
ao magn
´
eticas, sendo que este acoplamento diminui
em intensidade quando a espessura da camada separadora
´
e aumentada. O acoplamento
antiferromagn
´
etico foi descoberto por P. Gr
¨
unberg em tricamadas Fe/Cr/Fe [27] e, pos-
teriormente, M. Baibich descobriu a GMR em multicamadas Fe/Cr e mostrou que esta
GMR est
´
a relacionada ao ordenamento antiparalelo entre camadas ferromagn
´
eticas adja-
centes [10]. Foi S. Parkin quem reportou pela primeira vez as oscilac¸
˜
oes no acoplamento
de troca em toda uma s
´
erie de multicamadas compostas de metais ferromagn
´
eticos de
transic¸
˜
ao 3d (Fe, Co e Ni) e suas ligas, separados por metais n
˜
ao magn
´
eticos tipo 3d, 4d
e 5d, atrav
´
es de medidas de magnetorresist
ˆ
encia e magnetizac¸
˜
ao em func¸
˜
ao da espessura
das camadas separadoras [9, 86]. Assim este acoplamento oscilat
´
orio
´
e dado pela de-
pend
ˆ
encia da GMR com a espessura das camadas n
˜
ao magn
´
eticas. Tamb
´
em
´
e poss
´
ıvel
medir o acoplamento de troca atrav
´
es de magnetometria, pois na aus
ˆ
encia de anisotropia
ou se a medida
´
e realizada no eixo de f
´
acil magnetizac¸
˜
ao, a magnitude do acoplamento
est
´
a diretamente relacionada ao campo de saturac¸
˜
ao.
Medidas de resist
ˆ
encia el
´
etrica vs. campo magn
´
etico foram realizadas
`
a temperatura
ambiente em multicamadas Co/Ru pelo m
´
etodo de quatro pontas, onde uma corrente
el
´
etrica e um campo magn
´
etico s
˜
ao aplicados no plano das amostras. Os detalhes ex-
perimentais e a descric¸
˜
ao do sistema est
˜
ao bem detalhados nas refer
ˆ
encias [44, 113]. O
campo magn
´
etico aplicado provocar
´
a mudanc¸as na resist
ˆ
encia el
´
etrica da multicamada
de acordo com o tipo de acoplamento magn
´
etico. A GMR
´
e definida como a raz
˜
ao
(R
0
R
H
) × 100 /R
H
, onde R
H
e R
0
s
˜
ao a resist
ˆ
encia el
´
etrica com campo e sem
campo magn
´
etico aplicado, respectivamente. A GMR est
´
a relacionada
`
a depend
ˆ
encia
da conduc¸
˜
ao el
´
etrica com o spin eletr
ˆ
onico em metais ferromagn
´
eticos e suas ligas. Esta
depend
ˆ
encia
´
e devida ao desbalanceamento existente entre os spins 1/2 e -1/2 da banda
de val
ˆ
encia 3d, acima do n
´
ıvel de Fermi, induzindo diferentes probabilidades de transic¸
˜
ao
95
Figura 5.5: Medidas de magnetorresist
ˆ
encia em func¸
˜
ao do campo aplicado das amostras
[Co(5nm)/Ru(t)]
20
, para t = 0,5; 0,7; 0,9 e 1,7 nm.
s d para os spin majorit
´
arios (paralelos
`
a magnetizac¸
˜
ao) e minorit
´
arios (antiparalelos
`
a
magnetizac¸
˜
ao) e, conseq
¨
uentemente, diferentes resistividades para os el
´
etrons de spin 1/2
e -1/2.
Na Fig. 5.5 s
˜
ao apresentadas algumas das medidas de GMR em multicamadas Si(100)/
Ru(5nm)/ [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
/Ta(5nm), para t
Ru
= 0,5; 0,7; 0,9 e 1,7 nm. Na Fig. 5.6
´
e
apresentada a depend
ˆ
encia da GMR com a espessura do Ru que reflete as oscilac¸
˜
oes do
acoplamento de troca em func¸
˜
ao da espessura do Ru. A linha cheia
´
e apenas uma guia
para os olhos. Para espessuras t
Ru
< 0, 4 nm n
˜
ao foi poss
´
ıvel medir a GMR por limitac¸
˜
oes
t
´
ecnicas; o campo magn
´
etico m
´
aximo aplicado (12 kOe) n
˜
ao foi suficiente para levar as
96
Figura 5.6: Magnetoresist
ˆ
encia versus espessura da camada de Ru das multicamadas
[Co(5nm)/Ru(t)]
20
.
amostras
`
a saturac¸
˜
ao magn
´
etica. O per
´
ıodo de oscilac¸
˜
ao
´
e de aproximadamente 1,2 nm.
O acoplamento antiferromagn
´
etico est
´
a relacionado com os m
´
aximos da GMR, enquanto
que o acoplamento ferromagn
´
etico est
´
a relacionado com os m
´
ınimos. Tamb
´
em pode-se
observar que a GMR diminui seu valor quando t
Ru
´
e aumentado, o qual reflete o fato de
que a energia de interac¸
˜
ao de troca entre as camadas de Co
´
e reduzida quando se aumenta
a espessura do Ru.
Por outro lado, medidas de magnetizac¸
˜
ao em func¸
˜
ao do campo magn
´
etico aplicado
no plano foram feitas em quatro amostras com magnet
ˆ
ometro SQUID,
`
a temperatura am-
biente, e campo aplicado paralelo ao plano dos filmes. Na Fig. 5.7 s
˜
ao apresentados os
ciclos de histerese das multicamadas [Co(5nm)/Ru(t)]
20
com t
Ru
= 1, 1; 1, 5; 1, 7 e 2
nm. Estes quatro ciclos de histerese mostram claramente uma oscilac¸
˜
ao do acoplamento
magn
´
etico com a espessura do Ru, pois o campo de saturac¸
˜
ao
´
e baixo para as multi-
camadas com t
Ru
= 1 e 2 nm, indicando um acoplamento ferromagn
´
etico entre as ca-
madas de Co, por
´
em, para as amostras com t
Ru
= 1.5 e 1.7 nm, a magnetizac¸
˜
ao aumenta
lentamente com o campo, indicando um acoplamento antiferromagn
´
etico. A ordem de
97
Figura 5.7: Medidas de magnetizac¸
˜
ao em func¸
˜
ao do campo aplicado no plano das
amostras [Co(5nm)/Ru(t)]
20
, para t = 1.1, 1.5, 1.7 e 2 nm.
grandeza do acoplamento antiferromagn
´
etico J est
´
a relacionada ao campo de saturac¸
˜
ao
atrav
´
es de 4J = H
s
Mt
F
, onde M e t
F
s
˜
ao a magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao e espessura
total do material ferromagn
´
etico da multicamada, respectivamente [114]. Para a multi-
camada com t
Ru
= 1, 7 nm de Ru, J 0, 43 erg/cm
2
. O valor absoluto de J aumenta
quando a espessura do Ru
´
e diminu
´
ıda. Por exemplo na Ref. [9], o valor estimado de J,
para a multicamada Si(111)/Ru(10nm)/[Co(2nm)/Ru(0,3nm)]
20
/Ru(5nm), cujo ciclo de
histerese foi medido
`
a temperatura ambiente,
´
e 5 erg/cm
2
.
Estes estudos mostram que o sistema de multicamadas Co/Ru
´
e est
´
avel, pois reproduz
propriedades inerentes ao sistema, que s
˜
ao a GMR e o acoplamento magn
´
etico oscilat
´
orio
dado pela depend
ˆ
encia da GMR e do campo de saturac¸
˜
ao com a espessura da camada
separadora.
98
Figura 5.8: Espectros FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
para diferentes
ˆ
angulos
entre o campo externo e a normal ao plano do filme, comec¸ando desde 0
at
´
e 11
.
5.3 Estudos atrav
´
es de FMR
Nesta sec¸
˜
ao
´
e apresentado o estudo, atrav
´
es de FMR, das multicamadas Co/Ru com
diferentes espessuras da camada de Ru (t
Ru
) e de Co (t
Co
), j
´
a caracterizadas atrav
´
es
medidas de difrac¸
˜
ao de raios-X em altos e em baixos
ˆ
angulos, magnetoresist
ˆ
encia e
magnetizac¸
˜
ao vs. campo magn
´
etico. Nas medidas de FMR ser
´
a visto o modo princi-
pal e um outro modo, na configurac¸
˜
ao perpendicular do campo magn
´
etico, com campo de
resson
ˆ
ancia menor ao do principal. Foi poss
´
ıvel acompanhar a evoluc¸
˜
ao dos dois modos
atrav
´
es da depend
ˆ
encia angular fora do plano dos campos de resson
ˆ
ancia. Inicialmente
foi escolhida a amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
para estudar a evoluc¸
˜
ao dos modos em
toda a varredura angular, pois esta amostra apresentou os dois modos bem definidos.
99
Na Fig. 5.8 s
˜
ao apresentados os espectros de FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
para
ˆ
angulos entre o campo externo e a normal ao plano do filme, de 0
at
´
e 11
. Na
configurac¸
˜
ao perpendicular (campo perpendicular ao plano do filme) podem ser obser-
vadas duas linhas principais, a resson
ˆ
ancia atribu
´
ıda
`
as camadas de Co com campo de
resson
ˆ
ancia maior e o segundo modo com campo de resson
ˆ
ancia menor que a primeira.
Observa-se ainda um terceiro modo com campo de resson
ˆ
ancia menor mas com largura
de linha muito maior que os outros dois modos, que desaparece quando giramos a amostra
poucos
ˆ
angulos da configurac¸
˜
ao perpendicular.
`
A medida que mudamos o
ˆ
angulo entre
o campo e a normal ao plano da amostra, ambas as linhas principais deslocam-se para
campos menores e dependendo da largura de linha e a separac¸
˜
ao entre os picos, as duas
resson
ˆ
ancias podem n
˜
ao ser claramente resolvidas entre 4
e 11
. Por
´
em, as duas linhas
coexistem em qualquer
ˆ
angulo. Nestas direc¸
˜
oes entre o campo e a normal ao plano os
dois modos est
˜
ao superpostos e em aproximadamente 4
as duas linhas cruzam e a par-
tir dessa direc¸
˜
ao, o campo de resson
ˆ
ancia do modo principal
´
e menor que o do segundo
modo. As duas resson
ˆ
ancias separam-se e ap
´
os 7
podem ser de novo discriminadas at
´
e
na configurac¸
˜
ao paralela, onde o campo
´
e paralelo ao plano.
As duas resson
ˆ
ancias principais podem ser claramente distinguidas em quase toda
a varredura angular e neste caso os par
ˆ
ametros de campo de resson
ˆ
ancia H
res
, largura
de linha H e amplitude A podem ser diretamente obtidos dos espectros experimen-
tais. Por
´
em, no caso dos espectros medidos entre os
ˆ
angulos de 4
e 11
, esses mo-
dos encontram-se superpostos, e para obter os par
ˆ
ametros mencionados, ajustes precis-
aram ser feitos. O procedimento adotado consistiu em ajustar primeiro o espectro obtido
na configurac¸
˜
ao perpendicular, onde todos os modos est
˜
ao claramente definidos. Os
par
ˆ
ametros obtidos deste ajuste s
˜
ao ent
˜
ao utilizados como refer
ˆ
encia no ajuste do pr
´
oximo
ˆ
angulo. Assim quando as linhas estiverem pr
´
oximas a se sobreporem, j
´
a
´
e poss
´
ıvel prever
os par
ˆ
ametros para o ajuste do pr
´
oximo
ˆ
angulo.
Todos os espectros mostrados nas Fig. 5.8 e 5.9 foram ajustados com a compo-
nente imagin
´
aria da susceptibilidade din
ˆ
amica derivada da equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz
(equac¸
˜
ao 2.40), considerando-se o caso de um filme fino. Na Fig. 5.9(b)
´
e mostrado
o resultado deste ajuste para o espectro obtido com o campo externo com
ˆ
angulo de 9
em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano do filme. Destacamos este ajuste apenas pelo fato do es-
pectro n
˜
ao mostrar claramente os dois modos de resson
ˆ
ancia. Embora que as medidas de
magnetorresist
ˆ
encia e magnetizac¸
˜
ao mostrem que as camadas de Co est
˜
ao acopladas, n
˜
ao
100
Figura 5.9: (a) Continuac¸
˜
ao dos espectros FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
, para
ˆ
angulos desde 15
at
´
e 90
, (b) Ajuste com a equac¸
˜
ao de Landau-Lifshitz do espectro
medido em 9
, onde s
˜
ao destacadas as duas resson
ˆ
ancias.
aparece o modo
´
otico nos espectros de resson
ˆ
ancia.
O modo com campo de resson
ˆ
ancia menor na configurac¸
˜
ao perpendicular do campo
aplicado ser
´
a chamada de linha 1 e modo em campo maior, de linha 2. O comporta-
mento do campo de resson
ˆ
ancia de ambas as linhas em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo
´
e apresentado na
Fig. 5.10, onde os pontos foram obtidos com os ajustes acima descritos e as linhas s
´
olidas
s
˜
ao as simulac¸
˜
oes feitas com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia, considerando a
energia Zeeman, a energia magnetost
´
atica e a energia de anisotropia de primeira ordem. O
campos de anisotropia efetiva considerados nas simulac¸
˜
oes foram H
Kef1
= 13, 07 kOe
para a linha 1 e H
Kef2
= 14, 25 kOe para a linha 2, com fatores g considerados 2,00 e
101
Figura 5.10: Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo das duas
linhas principais da multicamada [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
. Os pontos foram extra
´
ıdos dos
espectros experimentais e as linhas s
´
olidas s
˜
ao os ajustes realizados usando as condic¸
˜
oes
de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia.
2,10 para as linhas 1 e 2, respectivamente. As constantes de anisotropia efetiva estimadas
foram K
ef1
= 7, 19×10
6
erg/cm
3
para a linha 1 e K
ef2
= 7, 84×10
6
erg/cm
3
para
a linha 2. O valor da magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao, M
s
= 1100 emu/cm
3
, usado nos c
´
alculos
foi obtida das medidas de magnetizac¸
˜
ao realizadas com SQUID.
´
E importante salientar
que estes valores das constantes de anisotropia efetiva, os quais cont
´
em as contribuic¸
˜
oes
da anisotropia magnetocristalina e da energia desmagnetizante, s
˜
ao t
´
ıpicos de filmes finos
cujo eixo de f
´
acil magnetizac¸
˜
ao est
´
a no plano. O sinal negativo pode ser atribu
´
ıdo ao fato
da interac¸
˜
ao dipolar ser maior que a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita. A interac¸
˜
ao dipolar d
´
a origem
`
a anisotropia que favorece um eixo f
´
acil no plano e a interac¸
˜
ao spin-
´
orbita
´
e respons
´
avel
pela anisotropia que favorece um eixo f
´
acil perpendicular ao plano.
Na Fig. 5.11
´
e mostrado o comportamento da largura de linha em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo
de ambos os modos, onde a linha cheia
´
e apenas um guia para os olhos. Como j
´
a foi discu-
tido na sec¸
˜
ao 2.3.6, a largura de linha d
´
a informac¸
˜
ao sobre a homogeneidade magn
´
etica
da amostra, j
´
a que
´
e causada por processos de relaxac¸
˜
ao, os quais, por sua vez, est
˜
ao
102
Figura 5.11: Comportamento da largura de linha em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo dois modos prin-
cipais da multicamada [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
.
relacionados a inomogeneidades, defeitos, difus
˜
ao nas interfaces, e ainda ao acoplamento
entre as camadas magn
´
eticas. Pode-se notar, na Fig. 5.11, um comportamento similar da
largura das linhas 1 e 2 da multicamada ao do Co puro, se comparado ao comportamento
da largura de linha, dos filmes puros de Co, apresentado na sec¸
˜
ao 2.3.6, o que sugere que
as camadas de Co da amostra, apresentam uma homogeneidade similar ao Co puro. Se
comparamos com os dados da literatura, na refer
ˆ
encia [107] foram reportados estudos
atrav
´
es de FMR em multicamadas Co/Pd depositados por electron beam sobre substratos
de Si e vidro, onde o comportamento da largura de linha dos espectros,
´
e bem diferente ao
do Co puro, sugerindo uma consider
´
avel interdifus
˜
ao at
ˆ
omica nas interfaces e a presenc¸a
de inomogeneidades magn
´
eticas advindas do processo de fabricac¸
˜
ao.
Agora
´
e apresentada a evoluc¸
˜
ao das linhas 1 e 2 da amostra [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
na depend
ˆ
encia angular fora do plano. Na Fig. 5.12 s
˜
ao apresentados os espectros me-
didos com campo aplicado com
ˆ
angulos entre 0
e 9
em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano do
filme. As linhas deslocam-se para campos menores na medida que mudamos a orientac¸
˜
ao
103
Figura 5.12: Espectros FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
para diferentes
ˆ
angulos
entre o campo externo e a normal ao plano do filme, comec¸ando desde 0
at
´
e 9
.
da amostra em relac¸
˜
ao ao campo aplicado e se sobrepondo em aproximadamente 3, 5
,
permanecendo assim at
´
e na configurac¸
˜
ao paralela. As resson
ˆ
ancias relativas
`
as linhas
1 e 2 n
˜
ao podem ser claramente resolvidas, por
´
em elas coexistem em qualquer
ˆ
angulo.
Na Fig. 5.13 s
˜
ao apresentados os espectros correspondentes aos
ˆ
angulos entre 15
e
90
, com respeito
`
a normal ao plano do filme.
´
E importante ressaltar que a amostra
[Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
apresenta as linhas 1 e 2 vis
´
ıveis em qualquer
ˆ
angulo, exceto nos
ˆ
angulos entre 4
e 11
, onde est
˜
ao sobrepostas. Por
´
em na amostra [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
,
cuja estrutura
´
e quase id
ˆ
entica
`
a primeira, as duas linhas s
˜
ao claramente vis
´
ıveis s
´
o entre
0
e 3
(vide Fig. 5.12) e depois se sobrep
˜
oem e continuam sobrepostas at
´
e mesmo na
configurac¸
˜
ao paralela (Fig. 5.13). Os par
ˆ
ametros espectrais das duas linhas podem ser
104
Figura 5.13: Continuac¸
˜
ao dos espectros de FMR da amostra [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
,
para
ˆ
angulos entre 15
e 90
em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano do filme.
obtidos ajustando os espectros de FMR com duas curvas Lorentzianas, de acordo com o
procedimento adotado no caso da amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
.
O comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo, das duas fases
principais da multicamada [Co(5nm)/Ru(1.5nm)]
20
, s
˜
ao apresentados na Fig. 5.14. Os
pontos foram obtidos com os ajustes acima descritos e as linhas s
´
olidas s
˜
ao as simulac¸
˜
oes
realizadas com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia. Os campos de anisotropia
efetiva utilizados nas simulac¸
˜
oes s
˜
ao H
Kef1
= 13, 1 kOe para a linha 1 e H
Kef2
=
13, 9 kOe para a linha 2 e o fator g em ambos os casos foi considerado igual a 2,10.
As constantes de anisotropia efetiva estimadas s
˜
ao K
ef1
= 7, 2 × 10
7
erg/cm
3
para
a linha 1 e K
ef2
= 7, 6 × 10
7
erg/cm
3
para a linha 2. O valor da magnetizac¸
˜
ao de
saturac¸
˜
ao utilizada nos c
´
alculos foi tamb
´
em obtido com medidas de magnetizac¸
˜
ao com
magnet
ˆ
ometro SQUID (Fig. 5.7) e cujo valor
´
e de 1100 emu/cm
3
. O comportamento da
largura linha de ambas as fases foi id
ˆ
entico ao caso da amostra [Co(5nm)/Ru(1,7nm)]
20
(gr
´
afico n
˜
ao apresentado).
105
Figura 5.14: Depend
ˆ
encia do campo de resson
ˆ
ancia com o
ˆ
angulo, das duas linhas prin-
cipais da multicamada [Co(5nm)/Ru(1,5nm)]
20
. Os pontos s
˜
ao os dados experimentais
extra
´
ıdos dos espectros e as linhas s
´
olidas s
˜
ao os ajustes realizados usando as condic¸
˜
oes
de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia.
At
´
e aqui foram relatados alguns dos experimentos de FMR em multicamadas Co/Ru,
onde a espessura das camadas de Co s
˜
ao mantidas constantes em 5 nm e variamos a
espessura do Ru. Nas amostras com espessuras de Ru 0, 9 nm se observaram duas
resson
ˆ
ancias principais, chamadas de linhas 1 e 2, que cruzam uma com outra para um
certo
ˆ
angulo entre a normal ao plano dos filmes e o campo aplicado. Na configurac¸
˜
ao
perpendicular, o campo de resson
ˆ
ancia da linha 2
´
e maior do que o da linha 1. Por
´
em,
para espessuras muito finas de Ru (< 0, 9 nm) os espectros de FMR apresentaram um
comportamento confuso e que n
˜
ao foi analisado nesta tese. Na configurac¸
˜
ao paralela,
apareceu uma
´
unica linha com comportamento an
ˆ
omalo na depend
ˆ
encia angular fora do
plano. Esse modo sofria um alargamento e deformac¸
˜
ao tal que perto da configurac¸
˜
ao
perpendicular n
˜
ao foi poss
´
ıvel observar a excitac¸
˜
ao de algum modo de resson
ˆ
ancia no
intervalo de campo magn
´
etico fornecido pelo eletro
´
ım
˜
a do espectr
ˆ
ometro.
No caso das multicamadas Co/Ru, nas quais a espessura das camadas de Ru foi man-
tida constante em 2 nm e foi variada a espessura das camadas de Co, foram obtidos
106
Figura 5.15: Espectros de FMR da amostra [Co(2nm)/Ru(2nm)]
24
, para alguns
ˆ
angulos
entre a normal ao filme e o campo aplicado.
tamb
´
em espectros com duas linhas principais (1 e 2), no caso das multicamadas [Co(4nm)/
Ru(2nm)]
20
e [Co(4nm)/Ru(2nm)]
22
, cujos campos de resson
ˆ
ancia tiveram um comporta-
mento similar ao das amostras analisadas acima. Na configurac¸
˜
ao perpendicular o campo
de resson
ˆ
ancia da linha 2
´
e maior do que o da linha 1 e para um determinado
ˆ
angulo entre
o campo aplicado e a normal, esses modos cruzam um com outro. Por
´
em, as amostras
[Co(2nm)/Ru(2nm)]
24
e [Co(1nm)/Ru(2nm)]
26
apresentaram espectros com um modo de
resson
ˆ
ancia s
´
o em toda a depend
ˆ
encia angular fora do plano, cujo campo de resson
ˆ
ancia
exibiu o comportamento t
´
ıpico de um filme fino com eixo f
´
acil no plano. Na Fig. 5.15
s
˜
ao apresentados alguns dos espectros de FMR da amostra [Co(2nm)/Ru(2 nm)]
24
, onde
a amplitude do sinal foi normalizada pelo ganho fornecido pelo equipamento. Pode ser
observada a presenc¸a de apenas um modo de resson
ˆ
ancia em toda a depend
ˆ
encia angular
fora do plano.
Na Fig. 5.16
´
e apresentado o comportamento do campo de resson
ˆ
ancia e da largura
de linha em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre a normal ao filme e o campo aplicado do
´
unico modo
107
Figura 5.16: Campo de resson
ˆ
ancia (a) e largura de linha (b) em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo, da
amostra [Co(2nm)/Ru(2nm)]
24
. Para o campo de resson
ˆ
ancia, os pontos s
˜
ao os dados
experimentais e a linha s
´
olida
´
e o ajuste realizado usando as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de
resson
ˆ
ancia. Para H, a linha s
´
olida
´
e apenas um guia para os olhos.
da multicamada [Co(2nm)/Ru(2nm)]
24
. No caso do campo de resson
ˆ
ancia, os pontos s
˜
ao
os dados experimentais e a linha s
´
olida
´
e o ajuste obtido com as equac¸
˜
oes ( 2.52) e (2.53)
para H
kef
= 9.43 kOe e fator g = 2, 10. Para a largura de linha, os pontos s
˜
ao os dados
experimentais e a linha s
´
olida, apenas um guia para os olhos. O valor da constante de
anisotropia efetiva para este caso
´
e K
ef
= 6, 13 × 10
6
erg/cm
3
, o campo de anisotropia
perpendicular H
k
= 6, 91 kOe. O valor da magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao usado nos c
´
alculos
´
e 1300 emu/cm
3
.
Os resultados das medidas de FMR dos dois sistemas de multicamadas Co/Ru s
˜
ao
resumidos nas Tabelas 5.3 e 5.4, onde s
˜
ao apresentados os par
ˆ
ametros determinados com
a an
´
alise da depend
ˆ
encia angular do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre o
campo aplicado e a normal ao plano dos filmes, usando as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de
resson
ˆ
ancia, para as duas linhas principais observadas em quase todas as multicamadas.
Nas amostras em que foi variada s
´
o a espessura do Ru, o campo de anisotropia efetiva
bem como a constante de anisotropia efetiva das duas linhas, n
˜
ao mostraram nenhuma
108
t
Ru
(nm) H
kef
(Oe) K
ef
(×10
6
erg/cm
3
)
Linha 1 Linha 2 Linha 1 Linha2
0,9 -13090 -14165 -7,20 -7,78
1,3 -13070 -14205 -7,19 -7,81
1,7 -13070 -14250 -7,19 -7,84
2,1 -12755 -14070 -7,01 -7,74
2,5 -13020 -14200 -7,16 -7,81
3,1 -13100 -14220 -7,21 -7,82
Tabela 5.3: Valores do campo de anisotropia efetiva (H
kef
) e da constante de anisotropia
efetiva (K
ef
) de algumas amostras da s
´
erie [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
.
Amostra M
s
H
kef
(Oe) K
ef
(×10
6
erg/cm
3
)
Co(nm)/Ru(nm) (emu/cm
3
) Linha 1 Linha 2 Linha 1 Linha 2
[Co(1)/Ru(2)]
26
780 -1130 -0,44
[Co(2)/Ru(2)]
24
1300 -9430 -6,13
[Co(3)/Ru(2)]
22
1300 -11140 -12380 -7,24 -8,04
[Co(4)/Ru(2)]
20
1240 -12000 -13870 -7,44 -8,60
[Co(5)/Ru(2)]
20
1100 -13170 -14350 -7,24 -7,89
Tabela 5.4: Valores do campo de anisotropia efetiva (H
kef
) e da constante de anisotropia
efetiva (K
ef
) das amostras da s
´
erie [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
.
depend
ˆ
encia com t
Ru
(Tabela 5.3). A magnetizac¸
˜
ao de saturac¸
˜
ao considerada no c
´
alculo
das constantes K
ef
foram determinadas atrav
´
es dos ciclos de histerese medidos com um
magnet
ˆ
ometro SQUID. As amostras em que se variou a espessura do Co o comportamento
foi distinto. Foi observada uma forte depend
ˆ
encia de H
kef
e de k
ef
com a espessura do Co
(Tabela 5.4).
5.4 Determinac¸
˜
ao da anisotropia de interface
Nesta sec¸
˜
ao s
˜
ao usados os resultados de da an
´
alise com FMR das multicamadas
com espessura constante de Ru (2 nm) e espessuras diferentes de Co para determinar
as contribuic¸
˜
oes de interface e de volume, K
V
e K
s
, para a energia de anisotropia efe-
tiva. Os espectros de FMR da s
´
erie [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
, na configurac¸
˜
ao perpendicular,
mostram um deslocamento do campo de resson
ˆ
ancia para campos menores
`
a medida que
a espessura do Co
´
e diminu
´
ıda, causado por um aumento da anisotropia magn
´
etica efe-
109
tiva. Este aumento
´
e devido
`
a contribuic¸
˜
ao das interfaces na anisotropia magn
´
etica total
que
´
e mais relevante com a diminuic¸
˜
ao da espessura da camada magn
´
etica. A equac¸
˜
ao
fenomenol
´
ogica descrita na sec¸
˜
ao 1.3.1, que relaciona K
ef
com K
V
, K
s
e a espessura das
camadas de Co, t
Co
, modela esse comportamento.
Figura 5.17: Valores de K
ef
× t
Co
vs. t
Co
da s
´
erie [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
, para a
determinac¸
˜
ao da anisotropia de interface e de volume.
Na Fig. 5.17 s
˜
ao apresentados os valores de K
ef
× t
Co
em func¸
˜
ao da espessura t
Co
,
onde os pontos s
˜
ao os dados experimentais e a linha pontilhada
´
e o ajuste realizado com
a equac¸
˜
ao K
ef
× t
Co
= 2K
s
+ K
V
× t
Co
. Os valores das constantes de anisotropia de
interface e de volume, determinadas com esse ajuste, s
˜
ao 2K
s
= (0 , 7 ± 0, 2) erg/cm
2
e
K
V
= (8, 8 ± 0, 6) × 10
6
erg/cm
3
, respectivamente. A espessura de Co cr
´
ıtica, abaixo
da qual a magnetizac¸
˜
ao passa a se orientar preferencialmete perpendicular ao plano, pode
ser obtida atrav
´
es de t
c
= 2K
s
/K
V
, e para este sistema est
´
a em torno de 0,8 nm.
110
5.5 Discuss
˜
ao
Medidas de FMR foram realizadas para a orientac¸
˜
ao fora do plano na s
´
erie de multi-
camadas [Co(5nm)/Ru(t
Ru
)]
20
, com 0, 2nm t
Ru
3, 3nm. Em todas as amostras foi
observada a resson
ˆ
ancia de duas fases magn
´
eticas que chamamos de linhas 1 e 2. A linha
1 tem campo de resson
ˆ
ancia menor na configurac¸
˜
ao perpendicular que a linha 2. Esta
´
ultima linha
´
e atribu
´
ıda
`
a resson
ˆ
ancia das camadas de Co enquanto que a origem da linha
1 ainda n
˜
ao est
´
a bem esclarecida. Na literatura tem sido relatadas medidas de FMR em
multicamadas Co/Pd, Co/Au e Co/Pt [6, 107, 8, 7], onde observou-se o aparecimento de
um modo adicional, que n
˜
ao
´
e o resultado da interac¸
˜
ao entre as camadas de Co.
Peng Chubing e co-autores [6] estudaram multicamadas Au/Co preparadas por electro-
deposic¸
˜
ao, depositadas sobre vidro e reportaram o aparecimento de um modo adicional
e sugeriram que as duas camadas externas de Co (uma em contato com o substrato e a
´
ultima em contato com o ar) t
ˆ
em uma anisotropia diferente das camadas internas. Essas
amostras eram compostas por mais de vinte bicamadas e, sendo assim, mais de dezoito
seriam respons
´
aveis pela resson
ˆ
ancia do modo em campo maior, enquanto que apenas
duas contribuiriam para a resson
ˆ
ancia em campo mais baixo. No entanto, essa hip
´
otese
´
e
descartada nos estudos em multicamadas Co/Ru desta tese por duas raz
˜
oes. A primeira
´
e
que as amostras possuem camada semente de Ru, e a
´
ultima camada de Co n
˜
ao est
´
a em
contato com o ar, mas sim com uma outra camada de Ru e, al
´
em disso, as multicamadas
possuem uma camada protetora de Ta, e portanto n
˜
ao haveria camadas externas de Co
com anisotropia diferente das camadas internas. A outra raz
˜
ao tem que ver com as inten-
sidades dos modos. As amostras tem entre 20 e 26 bicamadas e a resson
ˆ
ancia de s
´
o duas
camadas de Co produziria um modo com menor intensidade que a resson
ˆ
ancia devido
`
as
camadas de Co restantes.
Lesnick e Gontarz [7] estudaram multicamadas Co/Pd produzidas por sputtering de-
positadas em substratos de vidro e observaram dois modos de resson
ˆ
ancia, e atribu
´
ıram
o modo de campo menor a inomogeneidades nas amostras que resultariam em regi
˜
oes
com diferentes anisotropias. Por
´
em, de acordo com o comportamento da largura de linha
de ambos os modos em nossas amostras, pode-se concluir que as multicamadas possuem
camadas de Co com homogeneidade similar ao do Co puro, n
˜
ao havendo, portanto, uma
presenc¸a consider
´
avel de inomogeneidades magn
´
eticas que possam dar origem
`
a linha1,
e portanto essa hip
´
otese
´
e tamb
´
em descartada. Por outro lado, A. Romano [107] estudou
111
multicamadas Co/Pd produzidas por evaporac¸
˜
ao por feixe de el
´
etrons sobre substratos de
Si(111) ou vidro. Ele tamb
´
em observou as duas resson
ˆ
ancias e sugeriu que o modo de
campo mais baixo
´
e causado por
´
atomos de Co nas interfaces Co/Pd que poderiam se com-
portar como uma liga cuja composic¸
˜
ao seria Co
50
Pd
50
. No entanto, no caso de Co e Ru,
podemos dizer, dentro da resoluc¸
˜
ao da difrac¸
˜
ao de raios-X, que n
˜
ao h
´
a uma quantidade
consider
´
avel de liga Co-Ru nas interfaces
Figura 5.18: Espectros de FMR para a configurac¸
˜
ao perpendicular, mostrando as duas
linhas principais das multicamadas [Co(5nm)/Ru(t)]
20
, para diferentes espessuras das ca-
madas de Ru.
Nas multicamadas Co/Ru desta tese, a linha 2
´
e atribu
´
ıda
`
as camadas de Co, pois o
comportamento
´
e similar ao do filme composto por uma camada
´
unica de 5 nm de Co,
analisada na sec¸
˜
ao 2.3.6. Para tentar esclarecer a origem da linha 1, analisamos tamb
´
em
112
Figura 5.19: Espectros de FMR para a configurac¸
˜
ao perpendicular, mostrando as duas
linhas principais das multicamadas [Co(t
Co
)/Ru(2nm)]
N
, para diferentes espessuras das
camadas de Co.
o comportamento da intensidade das linhas 1 e 2 em func¸
˜
ao da espessura das camadas de
Co e de Ru. Na Fig. 5.18 s
˜
ao apresentados os espectros de FMR, medidos com campo
perpendicular ao plano, de algumas amostras da s
´
erie com a espessura do Co fixa em 5
nm e a espessura vari
´
avel do Ru. Pode-se notar que a intensidade da linha 1 aumenta
em relac¸
˜
ao
`
a intensidade da linha 2, quando a espessura do Ru
´
e aumentada. Lembrando
que a intensidade do modo de resson
ˆ
ancia se define como I = A × H
2
, onde A
´
e a
amplitude do sinal e H
´
e a largura de linha, pode-se ver que a intensidade da linha 1
´
e
similar
`
a intensidade da linha 2 para as espessuras de Ru de 0,9 e 1,1 nm, enquanto que
para espessuras maiores, a intensidade da linha 1 aumenta consideravelmente em relac¸
˜
ao
`
a linha 2. No caso das amostras com as camadas de Ru fixas em 2 nm e a espessura
vari
´
avel do Co (Fig. 5.19), a intensidade da linha 2 aumenta com a espessura do Co. Na
113
multicamada [Co(2nm)/Ru(2nm)]
24
pode ser observado que o pico referente
`
a linha 2 n
˜
ao
aparece. O espectro correspondente
`
a amostra [Co(1nm)/Ru(2nm)]
26
teve tamb
´
em um
´
unico modo, mas com campo de resson
ˆ
ancia bem menor e largura de linha bem maior do
que as outras amostras e o gr
´
afico respectivo n
˜
ao foi inclu
´
ıdo na figura. Al
´
em do aumento
da intensidade da linha 2 com a espessura das camadas de Co, tamb
´
em pode ser observado
um aumento no campo de resson
ˆ
ancia de ambas as linhas.
Baseados no comportamento de ambas as linhas em func¸
˜
ao da espessura das ca-
madas de Co e de Ru, uma poss
´
ıvel explicac¸
˜
ao para a origem da linha 1
´
e a presenc¸a
de uma regi
˜
ao das camadas de Co, pr
´
oximas
`
as interfaces com as camadas de Ru, com
magnetizac¸
˜
ao efetiva menor que o cobalto puro. Essa reduc¸
˜
ao da magnetizac¸
˜
ao efetiva
deve ser causada pela polarizac¸
˜
ao induzida no Ru. Por
´
em, estudos com t
´
ecnicas elemento
seletivas como o XMCD precisam ser feitas para avaliar essa hip
´
oteses. Se tentou fazer
esses experimentos usando as instalac¸
˜
oes da linha SGM do LNLS, e as bordas analisadas
do Ru foram as M
4,5
. Por
´
em, n
˜
ao foi poss
´
ıvel obter bons resultados devido a que a quanti-
dade de Ru requerida para obter um sinal de absorc¸
˜
ao nas mencionadas bordas era muito
maior do que a espessura das camadas de Ru contidas em nossas amostras. Al
´
em disto,
a grossa camada protetora de Ta dificultou, inclusive, o processo de absorc¸
˜
ao de raios-X
nas bordas L
2,3
do Co. Portanto, uma explicac¸
˜
ao definitiva para a origem da linha 1 ainda
n
˜
ao foi encontrada. Experimentos de XMCD realizados nas bordas L
2,3
e/ou M
4,5
do Ru
podem ajudar a explicar a origem dessa resson
ˆ
ancia.
5.6 Conclus
˜
ao
As multicamadas Co/Ru produzidas por sputtering apresentaram uma alta qualidade
estrutural, verificada atrav
´
es dos difratogramas de DRX em altos e baixos
ˆ
angulos, que
forneceram curvas t
´
ıpicas de super-redes com interfaces bem definidas e alto compri-
mento de coer
ˆ
encia estrutural. Estudamos o fen
ˆ
omeno da interac¸
˜
ao tipo RKKY no sis-
tema [Co(5nm)/Ru(t)]
20
, dada pelas oscilac¸
˜
oes no acoplamento de troca entre as camadas
de Co atrav
´
es das camadas de Ru. Essas oscilac¸
˜
oes foram verificadas atrav
´
es de medidas
de MR e do campo de saturac¸
˜
ao em func¸
˜
ao da espessura do Ru.
Atrav
´
es da an
´
alise com FMR e medidas de magnetizac¸
˜
ao, calculamos as contribuic¸
˜
oes
de interface e de volume para a energia de anisotropia em multicamadas Co/Ru, usando
o conjunto de amostras com espessura de Ru fixa em 2 nm e diferentes espessuras de
114
Co. Os valores determinados para estas contribuic¸
˜
oes s
˜
ao 2K
s
= (0, 7 ± 0, 2)erg/cm
2
e
K
V
= (8, 8 ± 0.6) × 10
6
erg/cm
3
, respectivamente. O valor positivo de K
s
indica que
a magnetizac¸
˜
ao est
´
a no plano. Foi poss
´
ıvel tamb
´
em determinar a espessura cr
´
ıtica de Co,
t
Co
= 0, 8 nm, abaixo da qual, o eixo f
´
acil deve se orientar perpendicularmente ao plano
do filme.
Os dois conjuntos de amostras analisadas com FMR, apresentaram espectros com duas
linhas principais, chamadas de linhas 1 e 2. A linha 2, com campo de resson
ˆ
ancia maior na
configurac¸
˜
ao perpendicular foi atribu
´
ıda
`
as camadas de Co, pois seu comportamento foi
similar ao de um filme puro de Co(5 nm). A origem da linha 1 ainda n
˜
ao
´
e clara, por
´
em,
sua origem pode ser causada por regi
˜
oes de Co nas interfaces com Ru, com magnetizac¸
˜
ao
efetiva menor, causada pela polarizac¸
˜
ao induzida no Ru. Estudos com XMCD podem
ajudar no esclarecimento dessa resson
ˆ
ancia.
Cap
´
ıtulo 6
Multicamadas Fe/Cr
Neste cap
´
ıtulo
´
e apresentado um estudo do magnetismo induzido no Cr nas inter-
faces de multicamadas Fe/Cr. Este sistema tem atra
´
ıdo tamb
´
em muito a atenc¸
˜
ao de-
vido ao grande n
´
umero de fen
ˆ
omenos f
´
ısicos que exibe, entre os quais a magnetorre-
sist
ˆ
encia gigante [10] e o acoplamento de troca oscilat
´
orio foram os mais explorados
[9, 115]. As multicamadas formadas por metais ferromagn
´
eticos separados por elementos
n
˜
ao magn
´
eticos tem aberto a possibilidade de induzir momentos magn
´
eticos em materi-
ais normalmente n
˜
ao magn
´
eticos, quando na proximidade de camadas ferromagn
´
eticas.
Esses momentos magn
´
eticos de interface s
˜
ao os respons
´
aveis pelo acoplamento magn
´
etico
oscilat
´
orio que usualmente exibem esses sistemas. As hibridizac¸
˜
oes entre os elemen-
tos FM e NM nas interfaces FM/NM induzem um momento magn
´
etico nos el
´
etrons dos
´
atomos da camada NM pr
´
oximos aos
´
atomos das interfaces. Esta polarizac¸
˜
ao induzida de
spin decai e oscila em sinal quando se afasta da interface [17].
O magnetismo induzido nas interfaces de multicamadas FM/NM
´
e geralmente es-
tudado em amostras com espessuras muito finas (da ordem de 0,2 a 1,2 nm) tanto das
camadas magn
´
eticas como n
˜
ao magn
´
eticas, onde as propriedades magn
´
eticas e estrutu-
rais das interfaces s
˜
ao de maior relev
ˆ
ancia. No entanto nesta tese, ao inv
´
es de crescer
camadas muito finas, fizemos multicamadas do tipo [Fe(5nm)/Cr(t)]
20
, onde as camadas
de Fe s
˜
ao relativamente grossas e a camada de Cr variou entre 2,3 e 2,9 nm. Uma das
raz
˜
oes foi que no caso das camadas de Cr serem muito finas, um campo magn
´
etico supe-
rior a 2kOe
´
e necess
´
ario para levar as amostras
`
a saturac¸
˜
ao magn
´
etica, o qual dificultaria
os estudos atrav
´
es de XMCD, uma vez que o campo fornecido pelo
´
ım
˜
a permanente,
dentro da c
ˆ
amara de dicro
´
ısmo,
´
e de 2 kOe. Isto porque as an
´
alises atrav
´
es das regras
115
116
de soma requerem que os espectros XMCD tenham sido obtidos em amostras saturadas
(vide detalhes na sec¸
˜
ao 2.2.6). Um dos procedimentos experimentais, abordado para es-
tudar o magnetismo das interfaces, consistiu em remover camadas finas da superf
´
ıcie da
amostra mediante ciclos de sputtering in-situ, com a finalidade de diminuir a dist
ˆ
ancia
entre a superf
´
ıcie da amostra e a interface Fe/Cr. Ap
´
os cada ciclo de sputtering, medidas
de absorc¸
˜
ao de raios X eram feitas para cada elemento, nas bordas L
2,3
com orientac¸
˜
oes
opostas de campo magn
´
etico. Neste caso, camadas muito finas de Cr ou de Fe seriam
r
´
apida e completamente removidas com sputtering, tornando imposs
´
ıvel os estudos de
XMCD.
Um segundo procedimento experimental para o estudo das interfaces, foi abordado
baseado no primeiro. Agora ao inv
´
es de remover as camadas com sputtering in-situ, a
´
ultima camada de Cr das amostras foram crescidas com espessuras diferentes a fim de
termos diferentes dist
ˆ
ancias entre a superf
´
ıcie da amostra e a interface Fe/Cr, como ser
´
a
ilustrado mais adiante. Desta maneira estudamos a multicamada em diferentes profundi-
dades da amostra.
As multicamadas [Fe(5nm)/Cr(t)]
20
, com t = 2,3; 2,5; 2,7 e 2,9 nm foram preparadas
mediante magnetron sputtering sobre Si(100). A primeira camada depositada foi Cr(3nm)
e ap
´
os o crescimento da multicamada, uma camada protetora de Cr(3nm) tamb
´
em foi de-
positada. As condic¸
˜
oes e taxas de deposic¸
˜
ao est
˜
ao bem detalhadas no Cap. 3. A amostra
analisada mediante XMCD foi Si(100)/Cr(3nm)[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
/ Cr(3nm), a qual
apresentou um acoplamento antiferromagn
´
etico entre as camadas de Fe.
6.1 Medidas de magnetorresist
ˆ
encia e magnetizac¸
˜
ao
Para selecionar a amostra a ser analisada por XMCD, medidas de magnetorresist
ˆ
encia
foram feitas
`
a temperatura ambiente, usando o m
´
etodo das quatro pontas, na s
´
erie de mul-
ticamadas [Fe(5nm)/Cr(t)]
20
, com t = 2,3; 2,5; 2,7 e 2,9 nm. O campo e a corrente el
´
etrica
foram aplicados no plano dos filmes, sendo a corrente perpendicular ao campo. Se sabe
que as multicamadas Fe/Cr apresentam o fen
ˆ
omeno do acoplamento de troca que oscila
em func¸
˜
ao da espessura da camada de Cr, com per
´
ıodo de aproximadamente 18
˚
A [9],
e que a magnetorresist
ˆ
encia gigante est
´
a relacionada com um alinhamento antiparalelo
entre as magnetizac¸
˜
oes das camadas de Fe [10]. Com o intuito de estudar uma amostra
com GMR, escolhemos espessuras da camada de Cr, t, entorno do segundo pico da curva
117
MR vs. t [9].
Figura 6.1: (a) Magnetorresist
ˆ
encia vs espessura da camada de Cr das multicamadas
[Fe(5nm)/Cr(t)]
20
. e (b) Magnetoresist
ˆ
encia vs campo magn
´
etico aplicado no plano da
multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
.
Na Fig. 6.1(a)
´
e apresentada a depend
ˆ
encia da MR com a espessura da camada de Cr,
onde pode-se ver que para t = 2,7 nm, obt
´
em-se um m
´
aximo valor da magnetoresist
ˆ
encia,
indicando um acoplamento antiferromagn
´
etico entre as camadas de Fe e onde a linha
cheia
´
e apenas um guia para os olhos. A curva correspondente de MR em func¸
˜
ao do
campo aplicado, para a multicamada com t = 2,7 nm,
´
e mostrada na Fig. 6.1(b), o valor
da magnetoresist
ˆ
encia
´
e de aproximadamente 1,3%.
Para verificar a saturac¸
˜
ao completa das amostras, sua magnetizac¸
˜
ao foi medida em
func¸
˜
ao do campo magn
´
etico
`
a temperatura ambiente, com um magnet
ˆ
ometro SQUID. O
118
Figura 6.2: Ciclo de histerese magn
´
etica medido com campo aplicado em 45
em relac¸
˜
ao
ao plano da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
.
campo foi aplicado com
ˆ
angulo de 45
com respeito ao plano do filme. Na Fig. 6.2
´
e
mostrado o ciclo de histerese correspondente. Pode-se verificar que um campo de 2kOe
´
e
suficiente para levar a amostra
`
a saturac¸
˜
ao magn
´
etica nessa orientac¸
˜
ao de campo.
6.2 Caracterizac¸
˜
ao estrutural
A caracterizac¸
˜
ao estrutural foi feita atrav
´
es de difrac¸
˜
ao de raios-X em baixos e altos
ˆ
angulos,
`
a temperatura ambiente, usando a radiac¸
˜
ao K
αm´edio
do Cu (λ = 1, 5418
˚
A).
Na Fig. 6.3 s
˜
ao apresentados os difratogramas em baixos e altos
ˆ
angulos (gr
´
afico
inserido) da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2.7nm)]
20
, onde as espessuras indicadas s
˜
ao as es-
pessuras nominais. Na regi
˜
ao de baixos
ˆ
angulos podemos observar, com pouca resoluc¸
˜
ao,
as franjas de Kiesing, que surgem devido
`
a interfer
ˆ
encia dos feixes refletidos entre a inter-
face multicamada/substrato e superf
´
ıcie da multicamada/ar. Al
´
em disso, s
˜
ao distinguidos
119
Figura 6.3: Difratogramas medidos na regi
˜
ao de baixos e altos
ˆ
angulos(gr
´
afico inserido)
da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
.
tr
ˆ
es picos da super-estrutura ou picos de Bragg devido
`
a modulac¸
˜
ao qu
´
ımica, que apare-
cem de acordo ao per
´
ıodo da multicamada. O superper
´
ıodo calculado com a Eq. (2.16)
´
e
Λ = 8, 3 nm, que difere em aproximadamente 7% do valor estimado atrav
´
es das taxas de
deposic¸
˜
ao, Λ = 7, 7 nm. O aparecimento dos picos de difrac¸
˜
ao de Bragg, indicam que a
amostra tem interfaces Fe/Cr bem definidas, por
´
em, a forma do difratograma, bem como
a pouca resoluc¸
˜
ao dos picos, sugerem que essas interfaces s
˜
ao alargadas devido
`
as rugosi-
dades ou interdifus
˜
ao at
ˆ
omica. Sabe-se que a DRX em baixos
ˆ
angulos n
˜
ao discrimina
entre rugosidade e interdifus
˜
ao [116].
No difratograma em altos
ˆ
angulos pode-se distinguir pico de difrac¸
˜
ao correspondente
`
a multicamada, com fase bcc e textura (110) em 44, 6
, bem como a reflex
˜
ao do substrato
de Si em 69
. A multicamada analisada
´
e policristalina, o comprimento de coer
ˆ
encia
estrutural, calculado com a f
´
ormula de Sherrer (Eq. 2.6),
´
e de ξ = 13, 7 nm, o que sugere
que em m
´
edia duas bicamadas s
˜
ao coerentes na direc¸
˜
ao de crescimento.
120
6.3 Estudos atrav
´
es de XMCD
Como foi mencionado na parte introdut
´
oria deste cap
´
ıtulo, dois procedimentos exper-
imentais foram usados para o estudo das interfaces do sistema Fe/Cr com XMCD. Com
estes procedimentos, um perfil magn
´
etico em profundidade foi feito atrav
´
es de medidas
de dicro
´
ısmo, desde a superf
´
ıcie da amostra at
´
e a primeira interface Fe/Cr. A seguir ser
˜
ao
descritos cada um deles e os respectivos resultados ser
˜
ao mostrados.
Perfil magn
´
etico em profundidade e XMCD com sputtering
Para estudar as interfaces atrav
´
es de dicro
´
ısmo, camadas finas da amostra Si(100)/
[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
/Cr(3nm) foram removidas por interm
´
edio de um sputtering in situ
com
´
ıons de 1 keV, corrente de ions de 25 µA e
ˆ
angulo de incid
ˆ
encia de 25
, em relac¸
˜
ao
`
a
normal ao plano do filme. Ap
´
os a remoc¸
˜
ao de uma espessura desejada e a recuperac¸
˜
ao da
press
˜
ao de base (10
8
Torr) dentro da c
ˆ
amara de ultra-alto v
´
acuo, uma medida de XMCD
foi realizada. Este m
´
etodo foi repetido v
´
arias vezes, at
´
e que fosse obtida informac¸
˜
ao da
primeira camada de Fe, sendo um total de 21 ciclos de sputtering.
Um dos principais problemas de usar este m
´
etodo
´
e determinar a espessura da camada
erodida com cada sess
˜
ao de sputtering, j
´
a que o bombardeamento de
´
ıons de arg
ˆ
onio al
´
em
de arrancar
´
atomos pode gerar desarranjos estruturais e re-colocac¸
˜
oes at
ˆ
omicas, modifi-
cando a topografia do sistema. No ap
ˆ
endice A,
´
e apresentada uma discuss
˜
ao do m
´
etodo
para converter o tempo de sputtering em espessura erodida, e os principais efeitos do
sputtering na estrutura das amostras, bem como a forma de obter as barras de erros. Na
Fig. 6.4 s
˜
ao mostrados alguns dos espectros de absorc¸
˜
ao normalizados pela intensidade
absorvida na tela fina de Au (vide sec¸
˜
ao 2.2.5), medidos nas bordas L
2,3
do Fe e do Cr ap
´
os
cada ciclo de sputtering; em cada par de gr
´
aficos est
´
a indicada a espessura da camada ero-
dida no instante da medic¸
˜
ao. Podemos ver claramente a diminuic¸
˜
ao das intensidades dos
espectros do Cr e um aumento para o Fe, indicando a remoc¸
˜
ao da camada de Cr que est
´
a
sobre a primeira camada de Fe. Na Fig. 6.5
´
e mostrada a raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
das intensidades
m
´
aximas das bordas de absorc¸
˜
ao L
3
do Fe e do Cr em func¸
˜
ao da espessura erodida, onde
tamb
´
em est
˜
ao indicados os tempos correspondentes de sputtering para alguns valores da
raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
.
121
Figura 6.4: Espectros XAS medidos ap
´
os cada ciclo de sputtering nas bordas L
2,3
do Fe
e Cr da multicamada [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
. Em cada par de espectros est
´
a indicada a
espessura removida.
Figura 6.5: Raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
da intensidade m
´
axima da borda L
3
do Fe e Cr da multicamada
[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
em func¸
˜
ao da espessura erodida.
122
Paralelamente ao perfil em profundidade, medidas de dicro
´
ısmo foram feitas ap
´
os a
remoc¸
˜
ao das camadas em cada ciclo de sputtering e com as an
´
alises atrav
´
es das regras de
soma [53, 54], como foi explicado na sec¸
˜
ao 2.2.5, os momentos magn
´
eticos do Fe foram
calculados, os quais est
˜
ao listados na Tabela 6.1.
Espessura erodida (nm) m
ef
s
(µ
B
/
ˆ
atomo) m
o
(µ
B
/
ˆ
atomo)
0,8 2,10 0,06
2,0 1,43 0,12
3,5 0,92 0,16
5,0 1,24 0,06
Tabela 6.1: Momentos magn
´
eticos orbital e de spin do Fe, obtidos atrav
´
es de
XMCD, para diferentes espessuras da camada erodida com sputtering da amostra
[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
.
Ap
´
os um tempo de sputtering de 70s, uma espessura 0,8 nm de Cr foi removida da
amostra (como indicado na Fig. 6.5). As medidas de XMCD deram um valor do momento
magn
´
etico de spin do Fe de 2, 10µ
B
/atom. Este valor
´
e similar ao valor de um filme de 5
nm de Fe puro, previamente medido para testar as boas condic¸
˜
oes da estac¸
˜
ao experimental
da linha de luz utilizada para os experimentos de dicro
´
ısmo, o qual
´
e 2, 20µ
B
/
´
atomo, o que
sugere que nesta profundidade erodida, o processo de sputtering n
˜
ao causou mudanc¸as
substanciais nas interfaces e podemos considerar que a amostra possui suas propriedades
magn
´
eticas como preparada. No entanto, n
˜
ao foi observado um espectro de dicro
´
ısmo
para o Cr, pois a camada de Cr era ainda muito espessa, o que limitou as contribuic¸
˜
oes
provenientes da interface.
Para espessuras erodidas maiores e assumindo um processo de sputtering ideal, onde
n
˜
ao haveria danos na superf
´
ıcie nem nas interfaces da multicamada, se observaria que
os momentos de spin do Fe n
˜
ao sofreriam mudanc¸as, mantendo seu valor de bulk, e se-
ria observado tamb
´
em um aumento da raz
˜
ao XMCD/XAS para o Cr. No entanto, foi
observado que o momento de spin de Fe diminui consideravelmente em func¸
˜
ao da espes-
sura erodida (vide tabela 6.1), o qual pode ser atribu
´
ıdo ao alargamento das interfaces
causado pelo sputtering, que pode conduzir
`
a formac¸
˜
ao de liga Fe-Cr com ordenamento
magn
´
etico fraco ou nulo. No caso do Cr, foi obtido um espectro de dicro
´
ısmo ruidoso,
123
Figura 6.6: Espectros XAS e XMCD medidos nas borda L
2,3
do Fe e Cr da multicamada
[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
, ap
´
os uma espessura erodida de 2 nm.
com sinal oposto ao Fe na borda L
3
, indicado pela seta na Fig. 6.6, o qual evidencia que
o Cr possui momento magn
´
etico n
˜
ao nulo, induzido pelos
´
atomos de Fe na interface. Os
gr
´
aficos mostrados na Fig. 6.6 correspondem aos espectros de absorc¸
˜
ao e de XMCD do
Fe medidos nas bordas L
2,3
, ap
´
os uma espessura erodida de 2 nm. O sinal de XMCD do
Cr sugere que os momentos induzidos do Cr est
˜
ao alinhados em forma antiparalela aos
momentos do Fe na interface, o que est
´
a de acordo com trabalhos te
´
oricos e experimentais
pr
´
evios [16, 65]. Para espessuras erodidas maiores que 2 nm, n
˜
ao observamos mais sinal
de dicro
´
ısmo para o Cr.
Baseado nos resultados acima expostos, um segundo procedimento experimental foi
realizado para verificar que a queda do momento do Fe
´
e devido
`
a modificac¸
˜
ao das in-
terfaces feito pelo sputtering bem como observar um melhor sinal de XMCD para o Cr.
Neste procedimento, multicamadas [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
foram depositadas com ca-
mada protetora de Cr com diferentes espessuras, como ser
´
a explicado a seguir.
124
Perfil magn
´
etico em profundidade e XMCD sem sputtering
Com o intuito de repetir o procedimento experimental anterior, com a
´
unica variante de
n
˜
ao usar sputtering para remover as camadas e explorar diferentes profundidades da mul-
ticamada, amostras do tipo Si/Cr(nm)/[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
19
/Fe(5nm)/Cr(t) foram de-
positadas com t = 3, 2, 1 e 0,5 nm. Um gr
´
afico representativo da multicamada
´
e mostrado
na Fig. 6.7(a) para ilustrar as diferentes profundidades analisadas por XMCD. A profun-
didade de escape dos el
´
etrons, denotada por e na Fig. 6.7(a),
´
e considerada 0,6 nm. As
profundidades analisadas s
˜
ao ent
˜
ao dadas pela espessura t da
´
ultima camada de Cr e pela
profundidade de escape e dos el
´
etrons. De maneira an
´
aloga ao procedimento anterior, o
valor da raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
entre as m
´
aximas intensidades do pico L
3
do Fe e do Cr aumenta
quando t
´
e diminu
´
ıdo, o que reflete um comportamento similar ao do perfil das intesi-
dades realizado com sputtering. Na Fig. 6.7(b)
´
e mostrada a raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
em func¸
˜
ao da
espessura t da
´
ultima camada de Cr.
0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
razão I
Fe
/I
Cr
t(nm)
(a)
(b)
Cr(2.7nm)
Fe(5nm)
Si
Cr(t)
t
=3nm
2nm
1nm
0.5nm
e
e
e
e
Cr(2.7nm)
Fe(5nm)
Si
Cr(t)
t
=3nm
2nm
1nm
0.5nm
e
e
e
e
Figura 6.7: (a) Gr
´
afico ilustrativo das multicamadas [Fe(5nm)/Cr(2.7nm)]
19
/ Fe(5nm)/
Cr(t) para t = 0,5; 1; 2 e 3 nm. A profundidade de escape dos el
´
etron, denotada por e,
´
e
considerada 0,6 nm. (b) Raz
˜
ao I
F e
/I
Cr
da m
´
axima intensidade da borda L
3
do Fe e Cr
em func¸
˜
ao de t.
As an
´
alises atrav
´
es das regras de soma dos espectros de XMCD do Fe em todas as
amostras, forneceram valores dos momentos de spin que n
˜
ao dependem de t, mantendo
125
seus valores similares ao valor obtido no filme de 50 nm de Fe puro, em todas as pro-
fundidades analisadas. Este fato revela que os momentos de spin do Fe na an
´
alise com
sputtering sofreram uma diminuic¸
˜
ao consider
´
avel devido
`
as modificac¸
˜
oes estruturais da
multicamada, uma vez que as interfaces ficaram alargadas ap
´
os v
´
arias sess
˜
oes de eros
˜
ao
das camadas, causando a mistura e interdifus
˜
ao at
ˆ
omica entre o Fe e o Cr. Os valores dos
momentos, obtidos do perfil sem sputtering est
˜
ao listados na Tabela 6.2.
t (nm) m
ef
s
(µ
B
/
ˆ
atomo) m
o
(µ
B
/
ˆ
atomo) m
o
/m
ef
s
3,0 2,08 0,26 0,13
2,0 1,82 0,22 0,12
1,0 2,14 0,28 0,13
0,5 2,26 0,15 0,07
Tabela 6.2: Momentos magn
´
eticos orbital e de spin do Fe, obtidos atrav
´
es de XMCD, das
amostras [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
19
/ Fe(5nm)/Cr(t) para diferentes espessuras t da
´
ultima
camada de Cr.
Com respeito ao estado magn
´
etico do Cr, na interface, foi constatado que para uma
espessura da
´
ultima camada de Cr de t = 3 nm, n
˜
ao aparece sinal de XMCD nas bordas
L
2,3
do Cr, o qual
´
e atribu
´
ıdo ao fato da camada de Cr ser ainda bastante espessa, limitando
a contribuic¸
˜
ao da interface, j
´
a que somente os
´
atomos de Cr nas vizinhanc¸as da interface
com Fe podem contribuir para o sinal XMCD. Para t = 2 nm, a raz
˜
ao XMCD/XAS do
Cr aumenta significativamente, pois o sinal de XMCD nas bordas L
2,3
do Cr
´
e bastante
claro, o que evidencia que o Cr possui momento induzido nas interfaces. Na Fig. 6.8 s
˜
ao
apresentados os espectros de XAS e de XMCD do Cr e do Fe da amostra com t = 2 nm,
onde as setas representam os sinais opostos dos espectros XMCD do Fe e do Cr, indicando
que os momentos induzidos do Cr est
˜
ao alinhados em forma antiparalela aos momentos
do Fe. N
˜
ao houve um aumento da raz
˜
ao XMCD/XAS de t = 2 nm para t = 1 e 0, 5 nm,
sendo similar nos tr
ˆ
es casos.
Como foi discutido na sec¸
˜
ao 2.2.4, as regras de soma n
˜
ao podem ser aplicadas para ex-
trair o valor dos momentos magn
´
eticos a partir dos espectros experimentais no caso do Cr.
Na refer
ˆ
encia [60] pode ser encontrado um procedimento que usa as amplitudes e as
´
areas
126
Figura 6.8: Espectros XAS e XMCD medidos nas borda L
2,3
do Fe e Cr da multicamada
[Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
19
/Fe(5nm)/Cr(2nm).
de espectros de XMCD do V, para determinar os momentos induzidos no V em tricamadas
Fe/V/Fe, comparando-as com as amplitudes e areas dos espectros de XMCD do V de uma
liga Fe
0.9
V
0.1
padr
˜
ao previamente analisada. Nesta tese, s
´
o damos evid
ˆ
encias de momento
induzido no Cr e de seu alinhamento em relac¸
˜
ao ao momento do Fe, atrav
´
es dos espectros
de XMCD mostrados na Fig. 6.8. Al
´
em do momento induzido no Cr, c
´
alculos te
´
oricos
tamb
´
em predizem uma pequena reduc¸
˜
ao do momento magn
´
etico do Fe nas regi
˜
oes perto
das interfaces [117]. No entanto, nestas amostras n
˜
ao foi poss
´
ıvel observar a reduc¸
˜
ao do
momento do Fe, pois a espessura das camadas limitava as contribuic¸
˜
oes interfaciais.
O efeito interfacial que d
´
a origem ao momento magn
´
etico n
˜
ao nulo no Cr e
`
a reduc¸
˜
ao
do momento magn
´
etico do Fe, pode ser compreendido considerando a densidade de esta-
dos da banda d do Fe e do Cr. Se representamos a densidade de estados da banda d do Fe
e Cr bulk como sendo as regi
˜
oes da multicamada afastadas da interface Fe/Cr, podemos
explicar como essas densidades de estados se deformam nas interfaces devido
`
a interac¸
˜
ao
127
E
E
F
Cr
Fe
E
E
F
Cr
Fe
Figura 6.9: Representac¸
˜
ao esquem
´
atica dos estados d do Fe e do Cr puros com uma
energia de Fermi comum. A linha cheia representa o Fe e a linha pontilhada, o Cr.
entre o Fe e o Cr. Na Fig. 6.9 est
˜
ao esquematizadas as densidades de estados da banda d
do Fe e do Cr tipo bulk com uma energia de Fermi comum. A localizac¸
˜
ao da energia de
Fermi no ”v
´
ertice”da sub-banda de spin down (spins minorit
´
arios) torna o estado ferro-
magn
´
etico do Fe est
´
avel. O ganho em energia de troca desloca a sub-banda de spin down
do Cr (vide Fig. 6.9), formando uma sub-banda de spin down comum com o Fe. Desta
maneira, a banda 3d do Cr
´
e desdobrada em forma oposta ao Fe e o momento magn
´
etico
induzido deve ser antiparalelo. Atrav
´
es das hibridizac¸
˜
oes dos estados d do Fe e do Cr, os
el
´
etrons de spin up s
˜
ao transferidos
`
a banda de spin down do Fe, reduzindo desta maneira
o momento magn
´
etico do Fe.
6.4 Estudos atrav
´
es de FMR
Nesta sec¸
˜
ao
´
e apresentado o estudo da amostra [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
por FMR.
O objetivo deste estudo
´
e comparar o valor da raz
˜
ao m
o
/m
s
do Fe obtidos atrav
´
es de
XMCD e FMR. Essa raz
˜
ao
´
e deduzida da an
´
alise atrav
´
es das regras de soma descrita na
sec¸
˜
ao 2.2.6. O grau de polarizac¸
˜
ao circular P
c
, o n
´
umero de buracos 3d e a area isotr
´
opica
128
n
˜
ao s
˜
ao necess
´
arios para o c
´
alculo da raz
˜
ao m
o
/m
s
. A an
´
alise atrav
´
es de FMR fornece o
valor do fator g da amostra que, por sua vez, est
´
a relacionada
`
a raz
˜
ao m
o
/m
s
atrav
´
es de
[118]:
m
o
m
s
=
g 2
2
(6.1)
Figura 6.10: (a) Espectros de FMR da amostra [Fe(5nm)/Cr(2,7nm)]
20
, para alguns
ˆ
angulos entre a normal ao plano do filme e o campo aplicado. (b) Comportamento do
campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo. Os pontos s
˜
ao os dados experimentais e a
linha cheia
´
e o ajuste obtido com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia.
Todos os espectros foram medidos
`
a temperatura ambiente com campo aplicado em
diferentes
ˆ
angulos em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano do filme e apresentaram uma
´
unica linha.
Alguns dos espectros s
˜
ao apresentados na parte (a) da Fig. 6.10. N
˜
ao foi poss
´
ıvel obter
um espectro com campo perpendicular ao plano, pois o campo necess
´
ario para que haja
resson
ˆ
ancia foi superior a 20 kOe, que
´
e o m
´
aximo campo fornecido pelo eletro
´
ım
˜
a do
espectr
ˆ
ometro. O espectro medido com 1
aparece cortado na figura. A depend
ˆ
encia
angular do campo de absorc¸
˜
ao
´
e apresentado na Fig. 6.10 (b), onde os pontos s
˜
ao os dados
experimentais e a linha cheia
´
e o ajuste realizado usando as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de
resson
ˆ
ancia, considerando a energia de anisotropia magnetocristalina de primeira ordem,
129
a energia Zeeman e a energia magnetost
´
atica. Os par
ˆ
ametros utilizados para o ajuste s
˜
ao
H
kef
= 17, 5 kOe e fator g = 2,23. Com esse ajuste tamb
´
em foi poss
´
ıvel determinar
que o campo de resson
ˆ
ancia para a configurac¸
˜
ao perpendicular deve ser H
= 20, 6
kOe. O valor do fator g determinado, sugere que existe uma consider
´
avel contribuic¸
˜
ao do
momento magn
´
etico orbital. O valor da raz
˜
ao
´
e m
o
/m
s
= 0, 12, que
´
e similar ao valor
encontrado atrav
´
es de XMCD (vide tabela 6.2) com perfil sem supttering.
6.5 Conclus
˜
ao
Multicamadas Fe/Cr foram depositadas e caracterizadas atrav
´
es de medidas de MR vs.
campo magn
´
etico aplicado e foi escolhida uma amostra com acoplamento antiferromag-
n
´
etico para ser investigada atrav
´
es de XMCD. Dois procedimentos experimentais foram
executados para obter informac¸
˜
ao do magnetismo induzido no Cr. No perfil magn
´
etico
em profundidade com sputtering, usando-se
´
ıons de Ar para remover camadas finas da
superf
´
ıcie, foi observado momento induzido no Cr, evidenciado pelo sinal de XMCD nas
bordas L
2,3
, por
´
em foi obtida uma grande diminuic¸
˜
ao dos momentos magn
´
eticos de spin
do Fe com o aumento da espessura erodida, atribu
´
ıda
`
a interdifus
˜
ao at
ˆ
omica nas inter-
faces causado pelo bombardeio com ions de Ar. No perfil sem sputtering, foi obtida uma
clara evid
ˆ
encia de magnetismo induzido no Cr, cujo momento se acopla em forma an-
tiparalela ao Fe. Al
´
em disso, n
˜
ao foram observadas mudanc¸as significativas do momento
de spin do Fe com a diminuic¸
˜
ao da separac¸
˜
ao superf
´
ıcie-interface como no caso anterior.
A contribuic¸
˜
ao do momento magn
´
etico orbital calculado atrav
´
es das regras de soma
´
e
grande e foi verificado atrav
´
es do fator giromagn
´
etico obtido com FMR.
Cap
´
ıtulo 7
Multicamadas Co/Pt
Neste cap
´
ıtulo
´
e apresentado um estudo da anisotropia magn
´
etica perpendicular (PMA)
em multicamadas Co/Pt atrav
´
es de resson
ˆ
ancia ferromagn
´
etica. A anisotropia magn
´
etica
em monocristais ferromagn
´
eticos se manifesta no fato destes materiais apresentarem uma
direc¸
˜
ao f
´
acil e dif
´
ıcil de magnetizac¸
˜
ao, pois a energia necess
´
aria para magnetizar esses
materiais depende da direc¸
˜
ao do campo aplicado com respeito aos eixos do cristal. No
caso de filmes finos, as duas principais contribuic¸
˜
oes
`
a energia de anisotropia s
˜
ao a
anisotropia forma e a anisotropia magnetocristalina. O eixo de f
´
acil magnetizac¸
˜
ao est
´
a
normalmente orientado paralelamente ao plano dos filmes, por
´
em quando a espessura das
camadas ferromagn
´
eticas
´
e reduzida
`
a poucas camadas at
ˆ
omicas,
`
a anisotropia de magne-
tocristalina torna-se dominante e o eixo f
´
acil fica perpendicular ao plano.
Em multicamadas magn
´
eticas, a PMA foi observada pela primeira vez no sistema
Co/Pd [119] e depois em multicamadas distintas, compostas por Co e separadores n
˜
ao
magn
´
eticos diferentes, por exemplo: Co/Ir [37], Co/Pt [120], Co/Au [121] e Co/Ru
[122]. Para multicamadas Co/Pt, a espessura do Co necess
´
aria para termos anisotropia
perpendicular
´
e menor que 1 nm (vide Tabela 1.1). Estudos mediante magnetometria de
amostra vibrante (VSM) [120] mostraram uma mudanc¸a gradativa da orientac¸
˜
ao do eixo
f
´
acil de magnetizac¸
˜
ao entre as orientac¸
˜
oes paralela ao plano e perpendicular ao plano e a
anisotropia perpendicular foi atribu
´
ıda
`
a mistura entre o Co e a Pt nas interfaces. Neste
cap
´
ıtulo, s
˜
ao apresentados os resultados da an
´
alise com FMR, onde uma mudanc¸a grada-
tiva da direc¸
˜
ao do eixo de dif
´
ıcil magnetizac¸
˜
ao em relac¸
˜
ao ao plano do filme, comec¸ando
desde uma orientac¸
˜
ao no plano at
´
e uma orientac¸
˜
ao perpendicular ao plano, acontece em
func¸
˜
ao da espessura das camadas de Co.
130
131
7.1 Caracterizac¸
˜
ao estrutural
As multicamadas [Co(t
Co
)/Pt(1nm)]
6
com t
Co
= 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1 nm foram deposi-
tadas por magnetron sputtering. Cada multicamada foi depositada sobre uma primeira
camada de Pt (10 nm) em substratos de Si(100)
`
a temperatura ambiente. Uma camada
protetora de Pt (2 nm) foi tamb
´
em depositada em para prevenir oxidac¸
˜
ao. Estas amostras
ser
˜
ao chamadas de aqui para frente de Co03, Co04, Co06, Co08 e Co10, respectivamente.
Figura 7.1: Curvas de refletividade experimentais (linhas cheias) e seus respectivos ajustes
(c
´
ırculos abertos) das multicamadas Si(100)/Pt(10nm)/[Co(t
Co
) / Pt(1nm)]
6
/Pt(2nm) para
diferentes valores da espessura t
Co
da camada de Co.
A caracterizac¸
˜
ao estrutural foi realizada atrav
´
es reflectividade de raios-X, usando a
radiac¸
˜
ao K
αm´edio
do Cu (λ = 1, 5418
˚
A). Na Fig. 7.1 s
˜
ao mostradas as curvas de refletivi-
dade obtidas
`
a temperatura ambiente. As linhas cheias correspondem aos difratogramas
132
experimentais, enquanto que as os c
´
ırculos abertos s
˜
ao as respectivas simulac¸
˜
oes obtidas
com WINGIXA. Pode-se observar o aparecimento tanto das franjas de Kiesing como dos
picos de reflex
˜
ao da super-estrutura, confirmando a presenc¸a de interfaces definidas e uma
estrutura peri
´
odica modulada. Os picos da super-estrutura est
˜
ao sinalizados por setas na
Fig. 7.1 e s
˜
ao claramente vis
´
ıveis nas multicamadas Co06, Co08 e Co10, por
´
em estes
picos dever
˜
ao aparecer nos difratogramas das amostras Co03 e Co04, depois de 2θ = 6
.
Os valores das espessuras das camadas s
˜
ao os valores nominais, estimados a partir das
taxas de deposic¸
˜
ao e as simulac¸
˜
oes, apresentadas na Fig. 7.1, fornecem valores das es-
pessuras muito pr
´
oximos aos nominais. Na Tabela 7.1 s
˜
ao mostrados as espessuras e
rugosidades das interfaces usados nos ajustes, onde cada interface est
´
a diferenciada por
uma cor distinta.
Amostra Espessuras calculadas (nm) Rugosidade (nm)
Co03 [Co(0,32)/Pt(1,14)/]
6
0,30, 0,62
Co04 [Co(0,43)/Pt(1,07)/]
6
0,35, 0,58
Co06 [Co(0,63)/Pt(1,08)/]
6
0,58, 0,44
Co08 [Co(0,78)/Pt(1,10)/]
6
0,40, 0,58
Co10 [Co(0,94)/Pt(1,10)/]
6
0,32, 0,60
Tabela 7.1: Espessuras e rugosidades interfaciais das multicamadas [Co(t
Co
)/Pt(1nm)]
6
,
obtidas atrav
´
es do ajuste das curvas de refletividade com WINGIXA. Cada interface est
´
a
discriminada por uma cor diferente.
7.2 Estudo da anisotropia magn
´
etica perpendicular
Nesta sec¸
˜
ao s
˜
ao apresentadas as medidas de FMR feitas na s
´
erie de multicamadas
Co/Pt cuja qualidade estrutural e periodicidade j
´
a foram verificadas atrav
´
es de difrac¸
˜
ao
de raios-X. Todas amostras apresentaram um modo de resson
ˆ
ancia que
´
e atribu
´
ıdo
`
as ca-
madas finas de Co. Foi poss
´
ıvel verificar uma mudanc¸a do eixo f
´
acil de magnetizac¸
˜
ao
do plano para fora do plano acompanhando a evoluc¸
˜
ao dos modos. Foram escolhidas tr
ˆ
es
multicamadas para mostrar a evoluc¸
˜
ao desses modos em diferentes
ˆ
angulos entre a normal
ao plano dos filmes e o campo aplicado. Estas foram Co10, Co08 e Co04 e todos os es-
pectros foram obtidos com campo aplicado em forma crescente.
´
E importante mencionar
133
este fato, pois estudos feitos em uma multicamada [Co(0,45nm)/Pd(1,5nm)]
50
[107], me-
diante FMR
`
a temperatura ambiente, n
˜
ao foi observada nenhuma resson
ˆ
ancia com campo
aplicado em forma crescente (de 0 a 19 kOe). Por
´
em, com o campo decrescente, uma
linha muito diferente de uma linha usual foi observada e o fato foi atribu
´
ıdo a um acopla-
mento antiferromagn
´
etico entre as camadas de Co, mas uma explicac¸
˜
ao definitiva ainda
n
˜
ao foi encontrada.
A an
´
alise dos espectros de FMR em filmes com eixo f
´
acil perpendicular ao plano,
n
˜
ao
´
e simples de fazer, j
´
a que os processos de magnetizac¸
˜
ao, neste caso, podem envolver
nucleac¸
˜
ao dos dom
´
ınios e propagac¸
˜
ao das paredes de dom
´
ınios. Neste trabalho, essas
contribuic¸
˜
oes n
˜
ao s
˜
ao consideradas e supomos que cada camada magn
´
etica constitui um
monodom
´
ınio cuja magnetizac¸
˜
ao se movimenta em forma coerente.
(a) (b) (c)
90°
50°
30°
0 2 4 6 8
Derivada da absorção
Suporte da amostra
Campo aplicado (kOe)
90°
60°
30°
0 2 4 6 8
Campo aplicado (kOe)
Derivada da absoão
90°
50°
60°
0 2 4 6 8
Derivada da absorção
Campo aplicado (kOe)
Co10 Co08 Co04
Figura 7.2: Principais espectros de FMR das multicamadas: (a) [Co(1nm)/Pt(1nm)]
6
, (b)
[Co(0,8nm)/Pt(1nm)]
6
e (c) [Co(0,4nm)/Pt(1nm)]
6
, medidos em diferentes
ˆ
angulos entre
a normal ao plano dos filmes e o campo aplicado.
Na Fig. 7.2 s
˜
ao apresentados os principais espectros de FMR das amostras Co10, Co08
e Co04 para diferentes
ˆ
angulos entre a normal ao plano dos filmes e o campo aplicado.
Para a amostra Co10 (Fig. 7.2(a)), o campo de resson
ˆ
ancia para a configurac¸
˜
ao paralela,
onde o
ˆ
angulo entre a normal e o campo externo
´
e 90
,
´
e de aproximadamente 2,20 kOe.
134
`
A medida que
´
e mudada a orientac¸
˜
ao do campo aplicado com respeito ao plano, o campo
de resson
ˆ
ancia aumenta e na configurac¸
˜
ao perpendicular, onde o
ˆ
angulo entre a normal
e o campo
´
e 0
,
´
e de aproximadamente 6,05 kOe. Isto
´
e uma evid
ˆ
encia de que com
essa espessura de Co (1 nm), o eixo f
´
acil de magnetizac¸
˜
ao est
´
a no plano do filme e o
eixo de dif
´
ıcil magnetizac¸
˜
ao
´
e perpendicular ao plano; a anisotropia de forma
´
e grande o
bastante para superar a contribuic¸
˜
ao da anisotropia de interface. Al
´
em do modo principal
tamb
´
em est
´
a presente um modo com muita menor intensidade, cujo campo de resson
ˆ
ancia
permanece fixo em 3, 48 kOe, que
´
e atribu
´
ıdo a uma impureza magn
´
etica que estava no
porta-amostras.
O espectro correspondente
`
a configurac¸
˜
ao paralela da amostra Co08 (Fig. 7.2(b)) tem
campo de resson
ˆ
ancia de 2,82 kOe e
`
a medida que a orientac¸
˜
ao do campo externo muda
em relac¸
˜
ao ao plano, o campo de resson
ˆ
ancia tamb
´
em aumenta e atinge um valor m
´
aximo
de 3,93 kOe, quando o campo externo
´
e aplicado com 30
de orientac¸
˜
ao em relac¸
˜
ao
`
a
normal ao plano (ou 60
em relac¸
˜
ao ao plano).
`
A medida que o
ˆ
angulo entre a normal ao
plano e o campo
´
e aproximado de 0
, o campo de resson
ˆ
ancia diminui e na configurac¸
˜
ao
perpendicular
´
e de 3,57 kOe. Este comportamento indica que nessa amostra, cujas ca-
madas de Co tem espessura de 0,8 nm, o eixo de f
´
acil magnetizac¸
˜
ao
´
e ainda paralelo
ao plano, mas o eixo dif
´
ıcil n
˜
ao
´
e mais perpendicular ao plano e sim orientado 30
em
relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano, pois o maior campo de resson
ˆ
ancia
´
e o correspondente a essa
orientac¸
˜
ao.
Na amostra Co04, onde a espessura das camadas de Co
´
e de 0,4 nm, o comportamento
´
e totalmente distinto ao das amostras anteriores (Fig. 7.2(c)). Na configurac¸
˜
ao paralela o
campo de resson
ˆ
ancia
´
e de 3,93 kOe e
`
a medida que o campo externo
´
e orientado para
fora do plano, o campo de resson
ˆ
ancia diminui e atinge um valor m
´
ınimo na configurac¸
˜
ao
perpendicular, que
´
e 1,48 kOe. Nesta amostra, o eixo de f
´
acil magnetizac¸
˜
ao
´
e, sem d
´
uvida,
perpendicular ao plano e o eixo dif
´
ıcil
´
e paralelo ao plano. Neste caso a anisotropia de
interface
´
e superior
`
a anisotropia de forma.
Os espectros de resson
ˆ
ancia (Fig. 7.2) mostram claramente um mudanc¸a gradativa da
orientac¸
˜
ao do eixo de dif
´
ıcil magnetizac¸
˜
ao em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano das multica-
madas, de 90
na amostra Co10 para 0
na amostra Co04, passando por 30
na amostra
Co08. As amostras Co06 e Co03, com camadas de cobalto de 0,6 e 0,3 nm de espes-
sura, respectivamente, apresentaram um comportamento similar ao da a amostra Co04,
com eixo de f
´
acil magnetizac¸
˜
ao perpendicular ao plano e com eixo dif
´
ıcil paralelo ao
135
Figura 7.3: Comportamento do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre o
campo externo e a normal ao plano das multicamadas: (a) [Co(1nm)/Pt(1nm)]
6
, (b)
[Co(0,8nm)/Pt(1nm)]
6
e (c) [Co(0,4nm)/Pt(1nm)]
6
. A seta indica a direc¸
˜
ao do eixo de
dif
´
ıcil magnetizac¸
˜
ao. Em (a) e (c), a linha
´
e o ajuste obtido com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio
e de resson
ˆ
ancia e em (b), apenas um guia para os olhos.
plano. Para ilustrar essa mudanc¸a gradativa, na Fig. 7.3
´
e apresentado o comportamento
do campo de resson
ˆ
ancia em func¸
˜
ao do
ˆ
angulo entre o campo externo e a normal ao plano
dos filmes das amostras Co10, Co08 e Co04. Nos gr
´
aficos inseridos nas partes (a), (b)
e (c) da Fig. 7.3,
´
e ilustrada a orientac¸
˜
ao do eixo dif
´
ıcil em relac¸
˜
ao ao plano. A linha
s
´
olida, no caso da parte (a),
´
e o ajuste realizado com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de res-
son
ˆ
ancia para H
kef
= 2, 67 kOe e fator g = 2, 06. No caso das amostras Co08 e Co04
n
˜
ao foi poss
´
ıvel obter um ajuste com as condic¸
˜
oes de equil
´
ıbrio e de resson
ˆ
ancia, con-
siderando as contribuic¸
˜
oes para a energia livre descritas na sec¸
˜
ao 2.3.4 e a linha s
´
olida
nas partes (b) e (c) da figura s
˜
ao apenas um guia para os olhos. Por
´
em,
´
e considerado
importante calcular os valores de H
kef
para essas amostras, usando apenas as condic¸
˜
oes
de resson
ˆ
ancia nas configurac¸
˜
oes paralela e perpendicular. O valor para o caso da amostra
Co04
´
e H
kef
= 1, 70 kOe. Pode ser observado que para uma espessura de 1 nm de Co,
o campo de anisotropia efetiva
´
e negativo, o que confirma que a anisotropia que favorece
para um eixo f
´
acil no plano
´
e superior
`
a anisotropia que favorece um eixo f
´
acil perpen-
136
dicular ao plano. O caso contr
´
ario acontece quando a espessura das camadas de Co
´
e 0, 4
nm, j
´
a que o campo de anisotropia efetiva
´
e positivo, indicando que a anisotropia perpen-
dicular
´
e superior
`
a anisotropia de forma e desta maneira, o eixo f
´
acil
´
e perpendicular ao
plano.
O campo de anisotropia efetiva (H
kef
) de cada amostra em func¸
˜
ao da espessura das
camadas de Co, est
´
a na Fig. 7.4. Deve ser lembrado aqui que as contribuic¸
˜
oes de interface
e de volume para a energia de anisotropia, n
˜
ao s
˜
ao normalmente descritas pela relac¸
˜
ao
fenomenol
´
ogica dada pela Eq. ( 1.8), j
´
a que para espessuras de Co menores que 0,6 nm,
o termo de volume pode depender da espessura.
Figura 7.4: Comportamento do campo de anisotropia efetiva en func¸
˜
ao da espessura das
camadas de Co das multicamadas [Co(t
Co
)/Pt(1nm)]
6
.
7.3 Conclus
˜
ao
Neste cap
´
ıtulo foi estudado o fen
ˆ
omeno da anisotropia magn
´
etica perpendicular no
sistema de multicamadas Co/Pt. Foram escolhidas amostras com espessura das camadas
de Co (t), abaixo da espessura cr
´
ıtica (1 nm). A caracterizac¸
˜
ao estrutural foi feita com
137
difrac¸
˜
ao de raios X em baixos
ˆ
angulos. Os difratogramas revelaram que as multica-
madas possuem estrutura peri
´
odica modulada e interfaces definidas. Os estudos atrav
´
es
de FMR permitiram acompanhar uma mudanc¸a gradativa da orientac¸
˜
ao do eixo de dif
´
ıcil
magnetizac¸
˜
ao, em relac¸
˜
ao
`
a normal ao plano dos filmes, em func¸
˜
ao da espessura das
camadas de Co. Os valores do campo de anisotropia efetiva, resultado da an
´
alise dos es-
pectros de FMR, confirmam a mudanc¸a da orientac¸
˜
ao preferencial do eixo f
´
acil paralela
ao plano para uma orientac¸
˜
ao perpendicular ao plano.
Conclus
˜
ao
Neste trabalho foram estudadas as propriedades estruturais e magn
´
eticas das trica-
madas NiFe/V/NiFe e das multicamadas Co/Ru, Fe/Cr e Co/Pt, preparadas por magnetron
sputtering
`
a temperatura ambiente. Os principais resultados foram os seguintes:
Para o sistema NiFe(5nm)/V(t)/NiFe(3nm), existe acoplamento ferromagn
´
etico entre
as camadas de NiFe separadas por 0,5 nm de V. A energia dessa interac¸
˜
ao
´
e A
12
= 0, 34
erg/cm
2
. Esse acoplamento resultou em uma diminuic¸
˜
ao do momento magn
´
etico de spin
do Fe em relac¸
˜
ao
`
as tricamadas com espessuras maiores de V. Para espessuras de V
maiores que 0,5 nm, as camadas de NiFe ficam desacopladas e foi verificado que cada
camada (superior e inferior) possui energias de anisotropia distintas, o que ficou compro-
vado atrav
´
es do valor das constantes de anisotropia efetiva respectivas. N
˜
ao foi observado
alguma evid
ˆ
encia de polarizac¸
˜
ao induzida de spin no V em contato com NiFe.
O sistema de multicamadas Co/Ru apresentou uma qualidade estrutural t
´
ıpica de
super-redes com interfaces definidas e alto comprimento de coer
ˆ
encia estrutural. As
contribuic¸
˜
oes de interface e de volume para a energia de anisotropia deste sistema s
˜
ao
2K
s
= (0, 7 ± 0, 2) erg/cm
2
e K
V
= (8, 8 ± 0, 6) × 10
6
erg/cm
3
, respectivamente e
a espessura cr
´
ıtica de Co
´
e t
Co
= 0.8 nm, abaixo da qual, o eixo f
´
acil deve se orientar
perpendicularmente ao plano do filme. Com FMR observamos que este sistema apresenta
dois modos principais, um dois quais
´
e originado pela resson
ˆ
ancia das camadas de Co e
a outra
´
e provavelmente originado por regi
˜
oes de Co nas interfaces com Ru, que possui
magnetizac¸
˜
ao efetiva menor que o Co bulk. Por
´
em, sua origem ainda n
˜
ao
´
e clara. Estu-
dos atrav
´
es de XMCD nas bordas L
2,3
do Ru e do Co podem ajudar no entendimento da
origem dessa resson
ˆ
ancia.
No sistema Fe/Cr, comprovamos que o Cr possui momento magn
´
etico induzido nas
interfaces com Fe, que se acopla em forma antiparalela ao Fe. Dois procedimentos ex-
perimentais foram executados para analisar as interfaces. No primeiro, camadas finas da
138
139
superf
´
ıcie foram removidas bombardeando a amostra com
´
ıons de Ar. No segundo pro-
cedimento, a
´
ultima camada de Cr foi depositada com espessuras pre-determinadas a fim
de reproduzir o procedimento anterior sem usar bombardeio com ions. Atrav
´
es de XMCD
foram analisadas as diferenc¸as entre os dois procedimentos e foi observado que o bom-
bardeio produz modificac¸
˜
oes estruturais importantes nas interfaces, o que ficou refletido
na diminuic¸
˜
ao progressiva do momento de spin do Fe em func¸
˜
ao da espessura erodida.
No sistema Co/Pt, conseguimos acompanhar a mudanc¸a da orientac¸
˜
ao preferencial do
eixo f
´
acil atrav
´
es de FMR. O eixo duro teve uma mudanc¸a gradativa de sua orientac¸
˜
ao em
relac¸
˜
ao ao plano do filme em func¸
˜
ao da espessura das camadas de Co. Sendo de 90
para
1 nm de Co, de 60
para 0,8 nm e de 0
para 0.4 nm. Determinamos os respectivos valores
do campo de anisotropia efetiva, que confirmaram diferentes as orientac¸
˜
oes preferenciais
do eixo f
´
acil em func¸
˜
ao da espessura do Co.
Ap
ˆ
endice A
Perfil magn
´
etico em profundidade
Neste ap
ˆ
endice s
˜
ao dadas algumas generalidades da convers
˜
ao de tempo de sputtering
em espessura erodida, bem como os principais efeitos deste processo na estrutura das
amostras. Maiores detalhes podem ser encontrados nas refer
ˆ
encias [52, 123, 124]
No estudo das multicamadas Fe/Cr, no Cap
´
ıtulo 6, foram usados dois procedimentos
experimentais para o estudo das regi
˜
oes interfaciais atrav
´
es de dicro
´
ısmo. Um deles com-
bina sess
˜
oes sucessivas de sputtering com a t
´
ecnica XMCD, e consistiu em remover as
camadas de material da superf
´
ıcie da amostra Si(100)/[Fe(5nm)/ Cr(2,7nm)]
20
/Cr(3nm)
com ciclos de ion sputtering in situ. Ap
´
os cada ciclo, experimentos de dicro
´
ısmo foram
realizados nas bordas L
2,3
de cada elemento da multicamada. Este processo foi realizado
at
´
e obter informac¸
˜
oes da primeira camada de Fe, sendo um total de 21 ciclos de sputter-
ing. Com as intensidades dos espectros de absorc¸
˜
ao de raios-X dos elementos da amostra
foram monitoradas as quantidades de material erodido em cada ciclo e atrav
´
es das regras
de soma [53, 54], os momentos magn
´
eticos orbital e de spin do Fe foram calculados
em diferentes profundidades da amostra. Este m
´
etodo tem sido usado com sucesso para
estudar o perfil magn
´
etico em profundidade e a configurac¸
˜
ao interfacial de spins em mul-
ticamadas magn
´
eticas de Fe/NiO [125] e Au/CoO/Co [126].
Embora possa-se ter uma id
´
eia da quantidade de material erodido com os ciclos de
sputtering atrav
´
es das intensidades de absorc¸
˜
ao de raios-X monitoradas para cada ele-
mento,
´
e preciso conhecer a espessura da camada erodida em cada ciclo. Esta pode ser
calculada convertendo o tempo de sputtering t em profundidade erodida z atrav
´
es da taxa
instant
ˆ
anea ˙z = dz/dt dada atrav
´
es de [123]:
140
141
z(t) =
t
0
˙z(t)dt (A.1)
onde ˙z
´
e dado por:
˙z = j
p
Y
M
/(N.e) (A.2)
onde j
p
´
e a densidade de corrente, Y
M
a produc¸
˜
ao total de sputtering (
´
atomos/ion), N
´
e
densidade at
ˆ
omica e e, a unidade elementar de carga (1.6 × 10
19
C). Se
´
e assumido que
Y
M
e N s
˜
ao constantes, a taxa de eros
˜
ao seria no tempo constante e:
z(t) = ˙zt (A.3)
fornecendo uma convers
˜
ao direta de tempo de sputtering em espessura erodida. Devido
a que na multicamada Fe/Cr analisada nesta tese, n
˜
ao se conhece o valor de Y
M
, n
˜
ao
pode se usada a equac¸
˜
ao ( A.2) para determinar a taxa de eros
˜
ao. A taxa foi estimada
correlacionando as intensidades de absorc¸
˜
ao de raios X dos elementos da amostra ap
´
os
cada ciclo e baseados na equac¸
˜
ao ( A.3), foi poss
´
ıvel calcular a espessura total erodida.
A taxa foi de aproximadamente 0.72 nm/min para
´
ıons com 1 keV, correntes de 25 µA
e um
ˆ
angulo de incid
ˆ
encia de 25
com a normal ao plano do filme. Outra forma de
determinar a espessura total da camada erodida, pode ser medindo a altura da cratera feita
pelo sputtering por perfilometria. Mas neste trabalho n
˜
ao foi feito esse experimento.
O problema de usar sputtering para remover camadas da amostra
´
e que existem efeitos
inerentes ao processo de sputtering. O bombardeamento com ions de Ar
+
, al
´
em de arran-
car os
´
atomos da superf
´
ıcie, pode provocar uma modificac¸
˜
ao da topografia da amostra que
inclui um alargamento das interfaces devido
`
a mistura e interdifus
˜
ao at
ˆ
omica dos elemen-
tos [123] produzida pelas colis
˜
oes com os ions. Entre os principais efeitos do sputtering
temos as mudanc¸as na composic¸
˜
ao da superf
´
ıcie e da interface, que s
˜
ao: a mistura at
ˆ
omica
em cascata de colis
˜
ao, sputtering preferencial de um componente (somente na superf
´
ıcie)
e difus
˜
ao e segregac¸
˜
ao gerada por radiac¸
˜
ao (aumento da temperatura). As Mudanc¸as na
topografia incluem aumento da rugosidade superficial e interfacial, difus
˜
ao de impurezas,
defeitos, segunda fase e implantac¸
˜
ao. Para ilustrar o processo, na Fig. A.1(a)
´
e mostrada
a forma da interface antes do bombardeio com ions de Ar
+
, supondo uma amostra Fe/Cr
com rugosidade interfacial inerente ao processo de crescimento. Na Fig. A.1(b)
´
e ilustrada
a interface e a superf
´
ıcie da mesma amostra ap
´
os o
sputtering
.
142
Cr
Fe
Ar
+
(a)
(b)
Cr
Fe
Ar
+
(a)
(b)
Figura A.1: Ilustrac¸
˜
ao do processo de sputtering in situ (a) e da poss
´
ıvel modificac¸
˜
ao das
interfaces da amostra ap
´
os o sputtering (b).
Baseados nos principais efeitos do sputtering, acima citados,
´
e preciso definir a in-
certeza z das profundidades encontradas, para cada tempo de sputtering. Esta in-
certeza e mais usualmente chamada de resoluc¸
˜
ao de profundidade e
´
e composta de v
´
arias
contribuic¸
˜
oes provenientes de diferentes fen
ˆ
omenos f
´
ısicos. Supondo que z possua uma
distribuic¸
˜
ao Gaussiana, as contribuic¸
˜
oes s
˜
ao adicionadas da seguinte forma [124]:
z = (∆z
2
0
+ Z
2
s
+ Z
2
m
+ Z
2
λ
+ Z
2
r
+ Z
2
l
+ ...)
1/2
(A.4)
onde z
0
´
e devido as rugosidades interfaciais e superficiais originais das multicamadas,
Z
s
´
e a rugosidade superficial induzida por sputtering estat
´
ıstico, Z
m
´
e devida a mis-
tura at
ˆ
omica, Z
λ
´
e a profundidade de informac¸
˜
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