Download PDF
ads:
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Talita Miranda Ribeiro
Exportações e Crescimento: Um Teste de Causalidade
para o caso chileno
MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA
SÃO PAULO
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Talita Miranda Ribeiro
Exportações e Crescimento: Um Teste de Causalidade
para o caso chileno
MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA
SÃO PAULO
2008
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora como exigência parcial para
obtenção do tulo de MESTRE em
Economia Política pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, sob a
orientação do Prof. Doutor Carlos Eduardo
Ferreira de Carvalho.
ads:
2
BANCA EXAMINADORA
__________________________ ______________
__________________________ ______________
__________________________ ______________
3
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: ______________________Local e Data: _______________
4
Aos meus pais.
5
AGRADECIMENTOS
Apesar do processo de pesquisa ser por muitas vezes uma tarefa solitária, contei com a
presença e auxílio de diversas pessoas, sem as quais esse trabalho não teria sido possível.
Registro aqui minha gratidão a todos que colaboraram de alguma forma.
Ao apoio da CAPES, contribuindo financeiramente para que eu pudesse finalizar essa
etapa da minha vida acadêmica. A todos os professores do programa de Pós-Graduação que
contribuíram diretamente ou indiretamente para esse trabalho. Ao meu orientador, professor
Carlos Eduardo Carvalho, pela paciência e dedicação na revisão dos capítulos e pela
generosidade de sempre receber a todos de braços abertos. Aos professores Paulo Baia e
Patrícia Cunha, pelos comentários e orientações no exame de qualificação, e pela dedicação
de horas de seu tempo. À professora Laura Valladão pelos conselhos durante a disciplina de
Seminários de Pesquisa. Um agradecimento muito especial à Sônia, prestativa a todas as
minhas demandas.
Aos professores Dr. Manuel Agosin, da Universidade do Chile e Dr. Dierk Herzer, da
Universidade Johann Wolfgang Goethe, que auxiliaram na obtenção dos dados utilizados.
Aos meus pais, Lázaro e Maria de Fátima Ribeiro por me apoiarem
incondicionalmente em todos os momentos, mostrando-me sempre a importância do
conhecimento. A minha irmã Viviane, que apesar de não acompanhar de perto este trabalho,
sempre vibrou com minhas conquistas. Às minhas tão queridas amigas de morada, Camila,
Fernanda e Mariana, pelo carinho e amizade que me conferiram ao longo destes dois anos de
convivência diária.
Aos muitos amigos de Unicamp que compartilharam os percalços da dissertação.
Imprescindível citar Sandra Acosta, Rafael Fagundes e Felipe Serigati.
Aos amigos do mestrado, que, além de contribuírem no processo de pesquisa e
delimitação do tema por meio de debates e questionamentos, acolheram-me, facilitando minha
adaptação em uma nova cidade. Em especial, gostaria de agradecer a Andrea Lucchesi, amiga
de todas as horas; aos mineiros João Paulo Pieroni e Vinícius Gontijo, por seus comentários
sempre bem humorados, Guilherme Araújo e André “Nash” Mountian. Agradeço também a
André Carvalho, que sempre me incentivou a ultrapassar meus limites.
6
Al mismo tiempo, el nombre de Chile se había engrandecido en
forma extraordinaria. Nos habíamos transformado en un país que
existía. Antes pasábamos desapercibidos entre la multitud del
subdesarrollo. Ahora por primera vez teníamos fisonomía propia y no
había nadie en el mundo que se atreviera a desconocer la magnitud de
nuestra lucha en la construcción de un destino nacional.
Pablo Neruda (Confieso que he vivido)
7
RESUMO
O presente trabalho busca investigar o impacto das exportações no crescimento econômico
chileno a partir da recuperação da crise da dívida em meados dos anos 1980. A análise
desenvolvida deu-se em torno de três polêmicas principais: a causalidade entre comércio
exterior, particularmente as exportações, e crescimento econômico, o papel da diversificação
da pauta exportadora neste processo; e efeitos possivelmente diferenciados das exportações de
minérios e bens industriais. Para tanto, foi utilizado o instrumental econométrico de séries
temporais, como Vetor de Correção de Erros (VEC) e técnicas de cointegração. Os resultados
estimados levam a sugestão de um modelo liderado por exportações, assim como a evidências
de que as exportações de produtos industriais promovem ganhos de produtividade, enquanto
as de minérios limitam os ganhos de produtividade. O contínuo crescimento da economia
chilena, baseado no setor exportador de produtos intensivos em recursos naturais e a
estabilidade que a economia apresentou, mesmo durante a conturbada década de 1990, fazem
do Chile um importante objeto de estudo para as relações entre comércio exterior e
crescimento econômico.
Palavras - chave: Chile, exportações, crescimento, causalidade, recursos naturais,
diversificação.
8
ABSTRACT
The present work aims to investigate the impact of exports in the Chilean economic growth
from the recovery of the debt crisis in middle of the 1980s. The developed analysis was given
around three main controversies: the causality between international trade, particularly
exports, and economic growth, the paper of the diversification of the exporting guideline in
this process and the different effect of the ore exports and industrial goods. For this purpose,
the econometrical instrument of time series was used, such as Error-Correction Vector (VEC)
and cointegration techniques. The estimation results suggest an export-led growth model, as
well as evidence of productivity-enhancing effects of industrial exports and of productivity
limiting effects of ore exports. The continuous growth of the Chilean economy, based in the
exporting sector intensive in natural resources and the stability that the economy presented,
even during the turbulent decade of 1990 makes Chile an important object of study for the
relations between international trade and economic growth.
Keywords: Chile, exports, growth, causality, natural resources, diversification.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................14
1 – COMÉRCIO EXTERIOR E CRESCIMENTO: NOTAS SOBRE O DEBATE TEÓRICO
..................................................................................................................................................17
1.1 As origens do debate teórico da causalidade comércio – crescimento...........................18
1.2 O arcabouço neoclássico ................................................................................................21
1.3 Os modelos de influência keynesiana.............................................................................27
2. CRESCIMENTO E DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES CHILENAS.................32
2.1 Um Histórico Recente do Chile: da substituição de importações à crise da dívida .......32
2.2 O período Pós-Crise: A recuperação e as exportações...................................................40
2.3 Diversificação: a chave para o crescimento ...................................................................45
2.3.1 O cobre ....................................................................................................................49
2.3.2 O salmão..................................................................................................................53
2.3.3 O vinho ....................................................................................................................56
2.3.4 O setor florestal-madeireiro.....................................................................................59
2.3.5 Os serviços...............................................................................................................62
2.4 A desaceleração do crescimento e a questão da sustentabilidade do modelo ................64
3 – UM ESTUDO ECONOMÉTRICO A RESPEITO DA CAUSALIDADE ENTRE
EXPORTAÇÕES E CRESCIMENTO: O CASO CHILENO..................................................69
3.1 Evidências empíricas da causalidade..............................................................................70
3.1.1 Uma primeira abordagem: dificuldades metodológicas e modelos gerais ..............70
3.1.2 Modelos específicos para o caso chileno.................................................................73
3.2 Um modelo econométrico para o caso chileno...............................................................84
3.2.1 Definindo a metodologia e os dados .......................................................................84
3.2.2 Análise empírica......................................................................................................87
3.3 Conclusões dos testes .....................................................................................................93
CONCLUSÃO..........................................................................................................................95
Referências Bibliográficas........................................................................................................97
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Exemplo de pautas de desenvolvimento ....................................................
24
Figura 2 – Ciclo Virtuoso do modelo de Thirlwall (2003) ..........................................
30
Quadro 1 - Incentivos tributários às exportações de 1974 a fins dos anos
1980...............................................................................................................................
43
Gráfico 1 – Participação das exportações em relação ao PIB (1960-
1990).............................................................................................................................
43
Gráfico 2 – Evolução da Participação dos Destinos das Exportações (1973-
1999).............................................................................................................................
46
Quadro 2 - Acordos Bilaterais de Comércio do
Chile..............................................................................................................................
48
Gráfico 3 – Participação das exportações de cobre em relação ás exportações totais,
% (1960-2006) ...........................................................................................................
51
Gráfico 4 – Variação anual dos índices de exportação de cobre escolhidos em %
(1997-2006) ..................................................................................................................
52
Gráfico 5 -
Produção de cobre refinado em relação ao total da produção de cada tipo
de empresa (1960-1999) ..............................................................................................
53
Gráfico 6 – Exportações de Salmão Chileno por Destino (% do total) .......................
55
Gráfico 7 – Exportações de Salmão Chileno, 1990-2006 (US$ milhões) ...................
56
Gráfico 8 – Índices escolhidos da exportação de vinho (1996-2006) (base
2003=100).....................................................................................................................
58
Gráfico 9 – Montante exportado ao ano entre 1995-2005 (US$ milhares) ..................
61
Gráfico 10 – Exportação de Serviços chilenos 1996-2006 (US$ milhares).................
63
Gráfico 11 – Crescimento real anual do PIB chileno (1961-2006) .............................
64
Figura 3 – Sistema Nacional de Inovação chileno ......................................................
66
Gráfico 12 – Gastos com Pesquisa e Desenvolvimento no Chile 1975 – 2000 (US$
milhões constantes de 1992) ........................................................................................
67
11
Figura 4 – Variáveis escolhidas 1960-2006 .................................................................
86
Figura 5 – Função impulso e resposta .......................................................................... 92
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Exportações chilenas por setor, como % do total (1960-1970) ...................
34
Tabela 2 - Câmbio real pesos por US$ 1 (1973 – 1978)................................................
38
Tabela 3. Chile: Evolução do Crescimento do PIB, Investimento Bruto e
Exportações, 1960 – 2006(%) .......................................................................................
42
Tabela 4 - Alíquota de importação média (1973-2005) ................................................
44
Tabela 5. Diversificação das Exportações (1990-1999) ................................................
45
Tabela 6 - Distribuição geográfica das exportações por conteúdo tecnológico, 1970 -
1998................................................................................................................................
47
Tabela 7 - Participação das exportações por setor (% do total)..................................... 49
Tabela 8 – Taxa de crescimento médio anual da produção de cobre % (1960-2006) ...
50
Tabela 9 - Variação anual dos índices de exportação de salmão escolhidos (1997-
2006) ..............................................................................................................................
55
Tabela 10 – Índices escolhidos das exportações de florestais e móveis 1996-2006
(base 2003=100) ............................................................................................................
61
Tabela 11 – Variáveis Macroeconômicas Chilenas Escolhidas (1996-2006) ...............
65
Tabela 12 – Modelo de crescimento de Agosin (2007) (variável dependente: taxa
anual média de crescimento do PIB per capita, 1980-2003)......................................... 73
Tabela 13 – Fatores determinantes do crescimento do setor não exportador de
Garcia, Meller e Repetto (1996)................................................................................... 75
Tabela 14 – Modelo vetorial de correção de erro parcimonioso de Agosin (1999)
(variável dependente: dln Y(t))..................................................................................... 76
Tabela 15 – Resultados de Figueroa e Letelier (1994) da dinâmica de curto prazo ..... 78
13
Tabela 16 – Crescimento não exportador distinguindo entre exportações mineiras e
outras exportações de Garcia, Meller e Repetto (1996).................................................
81
Tabela 17 - Resultados dos testes de raízes unitárias convencionais.............................
87
Tabela 18 – Teste de especificação do número de defasagens do Vetor
Autorregressivo ............................................................................................................. 89
Tabela 19 - Seleção do número de relações de cointegração por modelo (0,05 de
significância) ................................................................................................................. 89
Tabela 20 – Vetor de Cointegração ...............................................................................
90
Tabela 21 – Teste de Causalidade de Granger em bloco ...............................................
91
Tabela 22 – Decomposição da Variância da Variável logy .......................................... 93
14
INTRODUÇÃO
O Chile tem apresentado crescimento econômico continuado nas últimas duas
décadas, fato este que o destaca dos demais países latino-americanos. Por sua vez, esta
expansão vem acompanhada de um grande dinamismo exportador, suscitando a hipótese de
que o modelo chileno pode ser caracterizado como caso de crescimento induzido pelas
exportações. Esta suposição mostra-se plausível, à medida que tanto a literatura especializada
quanto os dados empíricos sugerem sua aceitação.
A conjuntura de bonança macroeconômica vivida pela economia chilena após meados
dos anos 1980 tornou-se possível devido a uma ruptura com o modelo pré-existente de
substituição de importações e, principalmente, graças a uma série de mudanças e políticas
impulsionadas pelo governo militar a partir da recuperação da crise da dívida de 1982-1983 a
fim de tornar a economia voltada para fora, com ênfase nas exportações. Um fato importante a
ser destacado é a diversificação dos setores exportadores que ocorreu neste período, levando a
desconcentração da pauta exportadora.
O presente trabalho busca analisar as exportações chilenas e seu impacto no
crescimento econômico do país a partir recuperação da crise da dívida,1983-1984, a 2006.
Dessa forma, abordamos três polêmicas que cercam este tema: a causalidade entre
exportações e crescimento, o papel da diversificação da pauta exportadora neste processo e o
perfil diferenciado do desempenho das exportações de minérios e de produtos industriais, por
meio da análise de sua influência nos ganhos de produtividade.
Afora estas polêmicas, pode-se adicionar a controvérsia em torno da sustentabilidade
do modelo, visto que mesmo os ramos exportadores não-tradicionais são intensivos em
recursos naturais. Este debate divide-se em duas visões: os que afirmam que o modelo não é
sustentável no longo prazo, pois a economia chilena carece de aporte tecnológico, e aqueles
que afirmam que o desenvolvimento de novos segmentos e maior utilização de tecnologia
elevam o valor agregado dos produtos exportados, apoiando suas expectativas na
diversificação. O efeito das exportações sobre a produtividade e a incorporação de progresso
tecnológico é uma das questões chave para a discussão do modelo escolhido pelo Chile. Por
isso, o foco da análise repousa na diversificação de setores e na capacidade de criação e
introdução de tecnologia nos novos setores.
A dissertação está organizada em três capítulos. O primeiro parte da discussão teórica
da causalidade entre comércio exterior e crescimento econômico. Por meio de uma breve
15
apresentação da controvérsia sobre o papel do setor externo como motor do crescimento na
literatura, destacamos alguns conceitos dos clássicos, Adam Smith e David Ricardo,
relevantes para o trabalho em questão. Em seguida, algumas teorias que tratam da causalidade
são detalhadas, como os modelos de influência keynesiana partem do lado da demanda,
focalizando aspectos macroeconômicos, como restrições ao balanço de pagamentos. Por outro
lado, mostramos os modelos neoclássicos, com ênfase na teoria do crescimento endógeno que
considera o conhecimento e a tecnologia elementos fundamentais para explicar o crescimento
econômico e parte de uma visão de oferta. A análise da dissertação teve como base principal
esta última teoria, visto que incorpora a questão do progresso tecnológico e possui uma visão
que permite um exame a partir de componentes microeconômicos e setoriais, fundamental
para a discussão do caso chileno.
No segundo capítulo, buscou-se inicialmente realizar uma pequena digressão na
história chilena, demarcando as principais transformações na economia que realizaram a
mudança de um modelo de substituição de importações para um modelo de economia voltada
para fora, através de um processo de liberalização generalizado. A periodização utilizada
deveu-se a divisão realizada por vários autores que versaram sobre o tema, que afirmam que
se pode falar em crescimento liderado por exportações a partir de meados da década de
1980, portanto, após a recuperação da crise da dívida que atingiu o país entre os anos de 1982-
1983.
Trataremos o período subseqüente à crise analisando as exportações de forma mais
aprofundada, assim como as políticas e as variáveis que as influenciaram. O enfoque aqui
recai sobre a diversificação da pauta exportadora e a capacidade de criação de novas
tecnologias, fatos também assinalados por diversos autores como indicativo das exportações
como motor do crescimento. Pretende-se então, buscar um maior detalhamento dos principais
setores exportadores, tanto dos mais tradicionais (o cobre) quanto dos setores apontados como
mais dinâmicos (salmão, vinho, madeireiro e serviços).
O terceiro capítulo apresenta uma série de testes a fim de analisar a causalidade das
exportações sobre o crescimento do produto, especialmente se é crível o argumento de que o
crescimento foi estimulado pelos setores não tradicionais (ainda que intensivos em recursos
naturais) através de um modelo econométrico. Para isso, serão utilizados dados provenientes
do Banco Central do Chile, dividindo-se os dados de exportação em setor minerador e
industrial em um modelo baseado em Siliverstovs e Herzer (2007). A abordagem utilizada
engloba o instrumental dos Vetores Auto-regressivos (VAR), Vetores de Correção de Erros
16
(VEC) e análise de cointegração, a fim de delinear uma relação de longo prazo entre as
variáveis.
O modelo, tendo como pilar de sustentação a teoria do crescimento endógeno, foi
escolhido por possibilitar a separação das exportações em diferentes setores, denotando a
importância da diversificação da pauta e os impactos dos produtos na produtividade da
economia, o que não seria possível com um modelo nos termos de Kaldor ou Thirwall, que
captam os impactos das exportações no crescimento de forma agregada.
17
1 – COMÉRCIO EXTERIOR E CRESCIMENTO: NOTAS SOBRE O DEBATE
TEÓRICO
O estudo das causas do crescimento econômico é um tema muito antigo da Ciência
Econômica, datando da publicação do livro A riqueza das nações de Adam Smith em 1776,
trabalho responsável por colocar em destaque a divergência de crescimento entre os países.
Apesar de ser um tema recorrente em toda a história do pensamento econômico, as últimas
décadas observaram um aumento do interesse no estudo dos determinantes do crescimento,
sendo alvo freqüente de artigos e discussões acadêmicas.
Neste contexto, o papel do comércio exterior no crescimento e desenvolvimento das
nações, por sua vez, tem ganhado cada vez mais ênfase, com análises provenientes de diversas
linhas teóricas. Estas considerações, impulsionadas por experiências de êxito de diversos
países (especialmente os asiáticos), têm se mostrado cada vez mais voltados para os países em
desenvolvimento e para a superação de obstáculos ao crescimento.
A questão da causalidade entre comércio exterior e crescimento econômico,
entretanto, representa objeto controverso na literatura, devido à complexidade da relação e
interação entre estas duas variáveis. O caso chileno, por sua vez, constitui-se em uma das
experiências nacionais mais polêmicas deste debate, devido à sua singularidade. A estratégia
de crescimento econômico via exportações intensivas em recursos naturais traz à tona alguns
conceitos da teoria econômica.
A finalidade deste capítulo é apresentar a discussão teórica a respeito desta
causalidade e suas influências na análise do caso do Chile, assim como dar suporte para o
exercício empírico realizado no último capítulo desta dissertação.
O capítulo está organizado em três seções. A primeira apresenta o debate sobre o papel
do comércio exterior como motor do crescimento ou como decorrência de outros movimentos.
Por isso, foi feita uma apresentação breve sobre esta polêmica, ressaltando prós e contras
desta hipótese na literatura. Além disso, retomam-se alguns aspectos da teoria de autores
clássicos como Smith e Ricardo relevantes para o trabalho em questão.
A segunda e a terceira partes têm o intuito de abordar algumas teorias que afirmam
existir uma causalidade entre comércio exterior e crescimento. Neste sentido, foram
apresentadas as linhas teóricas de maior relevância para o trabalho, quais sejam: o arcabouço
neoclássico e os modelos de influência keynesiana. Na primeira linha teórica, é importante
destacar a nova teoria do crescimento ou teoria do crescimento endógeno com sua ênfase nos
conceitos microeconômicos e no papel fundamental do processo inovativo para o
18
crescimento. Por outro lado, os autores de influência keynesiana partem do lado da demanda,
destacando os aspectos macroeconômicos como restrições ao balanço de pagamentos.
1.1 As origens do debate teórico da causalidade comércio – crescimento
O papel do comércio exterior no crescimento das nações consiste em tema de debate
controverso no meio acadêmico, especialmente se considerarmos os países em
desenvolvimento. As experiências reais de países que escolheram a via do comércio como
propulsor do crescimento econômico divide opiniões, devido a seus resultados tão divergentes
sobre as variáveis econômicas. A questão aqui colocada é se esta variável pode ser
instrumento de indução do crescimento ou se apenas atua como coadjuvante de outras
variáveis (FRANK, 1968).
Tanto os que julgam o comércio exterior como motor do crescimento quanto os que
não aceitam esta hipótese, baseiam-se em evidências empíricas para confirmar suas análises.
Entretanto, geralmente tomam como ponto de partida experiências nacionais ou períodos
históricos diferentes, o que leva a conclusões distintas.
Crafts (1973), por exemplo, avalia o diálogo entre Irving B. Kravis e Regnar Nurkse a
respeito do crescimento das nações e seus condicionantes antes da Primeira Guerra Mundial,
utilizando como pano de fundo o comércio internacional. Segundo ele, Kravis tenta
demonstrar que o crescimento ocorrido nos países em desenvolvimento nesta época deveu-se
a fatores predominantemente internos e que o comércio exterior não teve o poder de
diferenciar os “bem sucedidos” dos “mal sucedidos”. Este autor pondera alguns dos
indicadores criados por Kravis a fim de indicar que não é possível dispensar a hipótese de que
as exportações dos países em desenvolvimento foram responsáveis por seu crescimento.
Assim, colabora para as conclusões de Nurkse, que por sua vez considera o comércio como
mecanismo indutor e transmissor de crescimento econômico durante o século XIX. Crafts
(1973) assinala, todavia, que mais do que examinar a demanda externa, é necessário um
exame mais atento dos seus impactos sobre os componentes da oferta, já que constituem
variáveis interdependentes.
Riedel (1984) parte da palestra dada por W. Arthur Lewis no momento do recebimento
do prêmio Nobel para avaliar o crescimento dos países em desenvolvimento durante as
décadas de 1960 e 1970. Lewis, ao enfatizar as exportações como motor para o crescimento
econômico dos países menos desenvolvidos, utilizou-se da divisão do mundo entre Norte
industrializado e Sul produtor de bens primários. Dessa forma, as exportações dos países
19
menos desenvolvidos seriam impulsionadas pela prosperidade nos países desenvolvidos.
Riedel (1984), ao acreditar que essa hipótese é simplista e que não reflete a realidade atual,
especialmente frente à diversificação da pauta exportadora dos países em desenvolvimento
rumo a bens de maior valor agregado, nega que as exportações possam substituir o
desenvolvimento industrial como motor do crescimento nos países em desenvolvimento.
A negação da causalidade entre comércio e crescimento econômico para Riedel
(1984), portanto, é uma questão de não aceitar a suposta premissa que o crescimento nos
países em desenvolvimento via exportações é apenas uma maneira de transmitir o
desempenho de nações desenvolvidas. O autor conclui que “The metaphor of trade as a
handmaiden of growth is (…) more theoretically appealing and more likely to be applicable
to the experience of the 1960s and 1970s” (RIEDEL, 1984, p. 72).
Moon (1998), por sua vez, analisa a relação entre comércio e crescimento a partir do
debate entre crescimento via exportações e a teoria da dependência. O intento da teoria da
dependência é mostrar que um grande setor externo pode limitar o crescimento futuro, pois
tende a especializar o país em desenvolvimento em setores primários com pouco valor
agregado e pouca possibilidade de linkage com outros setores. Na outra ponta da discussão, o
autor apresenta os achados do Banco Mundial de que países com orientação de crescimento
para fora, tendo como variável principal de impulso as exportações, crescem mais rápido que
as demais. Após a análise de diversos modelos de regressão, Moon (1998) conclui que a
expansão das exportações não foi a principal fonte do desempenho macroeconômico superior
de certas nações, pois estes países não possuíam fluxo de comércio maior nem apresentavam
taxas de expansão de suas exportações muito diferentes das economias mais fechadas.
Gibson e Ward (1992) analisam essa questão a partir da diferença entre o desempenho
de economias que enveredaram pelo caminho do crescimento via exportações, cujos melhores
exemplos são os países asiáticos, e outras que seguiram o modelo de substituição de
importações na América Latina, tratando-as como conceitos opostos. Os autores não
combatem a idéia do sucesso exportador dos países asiáticos, porém investigam se essa via é
possível ou mesmo recomendável para todos os países. Para os autores, não existe dicotomia
entre a via exportadora e a substituição de importações, visto que países como a China,
Taiwan e Coréia do Sul combinaram essas duas estratégias de forma bem sucedida, a fim de
introduzir maior valor agregado as suas exportações. Concluem afirmando que o sucesso dos
países asiáticos deveu-se a certas especificidades da estrutura histórico-social e que estas
características não poderiam ser replicadas nos países latino-americanos.
20
Frankel e Romer (1999) tentam investigar como o comércio pode afetar o produto e o
padrão de vida, tratando a questão por meio das características geográficas dos países.
Segundo os autores, essa escolha de abordagem foi devido à dificuldade de identificar a
direção de causalidade entre comércio e produto. Portanto, as características geográficas são
utilizadas como proxy do comércio. Os achados de seus modelos sugerem que o impacto das
exportações sobre o crescimento é grande, e enfatizam a importância do comércio exterior e
de políticas para promovê-lo.
O debate permanece em aberto. O sucesso exportador recente de alguns países,
notadamente os asiáticos, deu novo impulso às teorias que preconizam a causalidade entre
exportações e crescimento. Contudo, primeiramente faz-se necessário retomar alguns
conceitos de autores clássicos como Adam Smith e David Ricardo, assim como alguns
desdobramentos mais próximos destas teorias. É importante ressaltar que elas discutem os
ganhos estáticos do comércio exterior sobre o crescimento econômico, baseando-se em
modelos simples com premissas restritivas.
Adam Smith (1985) enfatizou em sua teoria que a divisão do trabalho leva à
especialização dos trabalhadores e proporciona crescimento da produtividade, o que se traduz
em retornos crescentes de escala. Isso significa dizer que não há limites para adição de fatores
de produção. Os setores ligados à indústria e à manufatura são segmentos com rendimentos
crescentes, enquanto a agricultura e demais atividades baseadas em recursos naturais teriam
rendimentos decrescentes. Assim, países desenvolvidos tendem a se especializar em
atividades com rendimentos crescentes, enquanto os em desenvolvimento dedicam-se a
setores com rendimentos decrescentes (THIRLWALL, 2003).
Esta teoria baseada na divisão social do trabalho possui ligação íntima com o tamanho
do mercado, pois: Sendo a capacidade de troca que origem à divisão do trabalho, a
extensão desta deve ser sempre limitada pela extensão daquela capacidade ou, por outras
palavras, pela dimensão do mercado (SMITH, 1985, p. 99). Assim, o comércio exterior,
mais especificamente as exportações, atua como escoadouro para a produção excedente e os
mercados externos como uma extensão do mercado interno, principalmente no caso de países
pequenos. Dessa forma, a ampliação do comércio
exterior expande o mercado para os bens
produzidos internamente, permitindo um aprofundamento da divisão do trabalho, a introdução
de novas técnicas produtivas, a acumulação de capital, e, consequentemente, possibilita o
crescimento das nações.
O ponto de partida de Smith é o pressuposto das vantagens absolutas, isto é, os países
exportam aqueles produtos nos quais possuem custos de produção absolutos menores que seus
21
parceiros comerciais e importam aqueles em que possuem custos de produção superiores.
Existe, portanto, uma especialização total dos países em determinados produtos, trazendo
melhor eficiência à produção e aumento do bem-estar geral.
Entretanto, foi com David Ricardo e sua teoria das vantagens comparativas
1
, em
oposição às vantagens absolutas de Smith, que o comércio apresentou papel mais evidente na
teoria econômica. Mesmo que um país possua vantagem absoluta em diversos bens, o
comércio ainda trará maior bem-estar do que a produção interna, visto que o as vantagens
comparativas as premissas necessárias e suficientes para exportação. Segundo Ricardo (2001),
Num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente
dedica seu capital e seu trabalho à atividade que lhe seja mais benéfica.
Essa busca de vantagem individual está admiravelmente associada ao
bem universal do conjunto dos países (RICARDO, 2001, p. 104).
De acordo com o modelo ricardiano, o comércio exterior, dado que os países possuem
produtividades do trabalho relativamente diferentes, induz a especialização na produção de
bens diferentes de acordo com sua vantagem comparativa. Por sua vez, a especialização
permite uma melhor utilização dos recursos internos do país e a importação de outros
produtos a um custo menor do que se estivessem sendo produzidos internamente.
O modelo de Ricardo pode ser considerado como uma produção indireta. Ao invés de
produzir um bem, o país pode optar por produzir outro e importar o bem desejado, se a
produção deste segundo no exterior demandar menos trabalho que internamente. Assim, o
comércio expande as possibilidades de consumo da população, implicando em ganhos de
comércio e de bem-estar. Entretanto, o modelo ricardiano é alvo de diversas críticas, devido a
seu elevado grau de abstração e simplicidade, pois considera o comércio entre apenas dois
países que permutam duas mercadorias e cujos fatores de produção se resumem ao trabalho
(JAYME Jr., 2001).
1.2 O arcabouço neoclássico
A Ciência Econômica atravessou um período em que a teoria do comércio
internacional dissociou-se da teoria do crescimento e desenvolvimento, procurando analisar os
1
A vantagem comparativa depende da produtividade relativa à indústria externa e da taxa de salário doméstica
em relação à taxa salarial externa.
22
ganhos de bem-estar e alocação de recursos e, consequentemente, desconsiderando seus
impactos sobre o crescimento de longo prazo.
Foi durante estes anos que surgiram diversos modelos embasados na teoria ricardiana.
Uma tentativa de utilização e expansão do modelo ricardiano das vantagens comparativas foi
realizada por Eli Heckscher e Bertil Ohlin, sendo conhecido como modelo Heckscher-Ohlin.
Este modelo afirma que a motivação para os países exportar e importar produtos é a diferença
de recursos, ou dotação relativa dos fatores (relativa abundância ou escassez de fatores de
produção). Os fatores de produção e a tecnologia, a qual reflete a intensidade com que os
recursos são utilizados na produção dos bens, dão origem às vantagens comparativas. As
nações, desta forma, especializam-se nos setores cuja produção é intensiva na utilização dos
fatores de produção que lhe são relativamente abundantes.
Afora o modelo ser considerado simplificado demais, pois é composto por dois países,
duas mercadorias e utiliza-se de apenas dois fatores de produção
2
, as premissas do modelo
também são bastante restritivas. O modelo supõe que as tecnologias empregadas nos dois
países são idênticas e estão sujeitas a rendimentos decrescentes. O lado da demanda e suas
interações com a oferta de bens também é deixado de lado, que modelo pressupõe que as
curvas de demanda dos dois países sejam idênticas para todos os bens, o que significa dizer
que a proporção nas quais os dois bens são consumidos independe do nível de renda”
(JAYME Jr., 2001, p. 128).
O teorema de Stolper-Samuelson afirma que mudanças nos preços relativos dos
produtos importados e exportados afetam a distribuição de renda do país. Se há, por exemplo,
uma redução do preço local do produto importado, os detentores do fator produtivo usado
intensivamente na produção do bem exportado serão beneficiados, pois aumentará a demanda
pelo fator abundante. No caso da abertura comercial, os setores produtores de bens intensivos
no fator abundante serão favorecidos, enquanto os setores que produzem bens intensivos em
fatores escassos, concorrentes com importações, observarão perdas.
Dados os padrões de comércio exterior atuais, a comprovação empírica do modelo H-
O-S (Heckscher–Ohlin–Samuelson) é de difícil verificação, já que a maior parte do comércio
internacional ainda é realizada entre países desenvolvidos, que possuem dotações de fatores
similares.
Trabalhos mais recentes tentam resgatar os modelos teóricos destes autores. Maneschi
(1983), por exemplo, apresenta tentativas de criação de um modelo ricardiano reformulado
2
Os fatores de produção são terra e trabalho.
23
por diversos autores, evidenciando os ganhos dinâmicos provenientes do comércio exterior,
visto que a característica estática da análise do autor clássico tornou-se uma das maiores
críticas à sua teoria. Um dos artigos analisados pela autora, o de Findlay (1974)
3
, mostra que
Ricardo utilizou-se de um modelo multifatorial, mostrando o efeito do comércio exterior
sobre os retornos decrescentes do trabalho ao longo do tempo, adiando a queda da taxa de
lucro.
O modelo criado por Maneschi (1983) para uma economia aberta ao comércio
internacional com base no modelo de vantagens comparativas permite a especialização dos
países em determinado setor. As suposições iniciais ricardianas são mantidas: constitui-se de
um sistema de trocas entre apenas dois países e dois bens, e o trabalho é o único fator de
produção. Todavia, neste modelo, a trajetória em direção à especialização completa em um ou
outro bem pode ser modificada, pois o comércio internacional, através da equalização da
razão de preços nos países, pode alterar a alocação da força de trabalho entre os dois setores,
as taxas de lucro, acumulação de capital e o crescimento da força de trabalho. Estas
transformações podem adiar a aproximação da economia rumo ao estado estacionário,
proporcionando benefícios dinâmicos do comércio.
Álvarez e Fuentes (2006), por sua vez, apresentam o modelo teórico de Leamer
4
(1987), que expande o modelo Heckscher - Ohlin, na tentativa de demonstrar que um país
pode ter diferentes pautas de desenvolvimento de acordo com a abundância relativa de
fatores. Estes autores trabalham com um modelo de n bens e três fatores de produção
(trabalho, capital e recursos naturais) e explicita que a produção dos bens muda conforme a
acumulação dos fatores de produção. A figura 1 ilustra um exemplo de triângulo de
diversificação apresentados pelo autor.
Podemos observar que dependendo do fator mais abundante no país, os setores
exportadores localizam-se em um dos triângulos internos. Cada vértice do triângulo maior
representa um dos três fatores de produção e suas dotações, assim como a intensidade de uso
de cada fator é representada por um ponto do triângulo. À medida que o país acumula capital,
sua pauta de especialização transforma-se. Um país abundante no fator trabalho, por exemplo,
ao acumular capital se moverá do triângulo A para o B, C e D, diminuindo sua produção de
bens intensivos em trabalho e avançará na produção de bens intensivos em capital. Economias
abundantes em recursos naturais, por sua vez, teriam pautas de especialização como E,
3
FINDLAY, R. Relative prices, growth and trade in a simple Ricardian System. Economica, vol.41, pp 1-13,
1974. apud Maneschi (1983).
4
Leamer, E.E. Paths of Development in the Three-Factor, n-Good General Equilibrium Model. Journal of
Political Economy 95, pp. 961-999, outubro 1987 apud Álvarez e Fuentes (2006).
24
especializando-se nos setores de extração de madeira, mineração e cultivos permanentes e
madeira em bruto. Ao acumular capital, esses países movimentar-se-iam para os triângulos F,
G e D, especializando-se em setores mais intensivos em capital físico e humano.
Figura 1 – Exemplo de pautas de desenvolvimento
Fonte: Álvarez e Fuentes (2006), p. 754.
A concepção do modelo de Solow em 1956 trouxe à luz novamente a preocupação com
o crescimento econômico. O modelo parte de uma economia em concorrência perfeita, em que
o produto é expresso por meio de uma função com rendimentos constantes de escala e
decrescentes dos fatores. Na equação de produção abaixo, Y indica o produto interno bruto, K
o estoque de capital, L, o trabalho, A é uma constante que reflete o ponto de partida da
tecnologia e e
µ
a taxa de crescimento exógena da tecnologia (PACK, 1994, p. 55):
Y = Ae
µt
K
α
L
1-α
A taxa de crescimento do produto depende do crescimento do capital e do trabalho,
ponderado por sua participação na produção e o progresso cnico ou produtividade total dos
fatores. Este progresso técnico, dado como exógeno, expande a produtividade dos fatores e
impede, ou ao menos adia o alcance do steady state da economia, ocasião quando o
crescimento do produto per capita se iguala a zero (AFONSO, 2001; ROSENDE, 2000).
RECURSOS NATURAIS
Artesanato
Mineração e cultivos
permanentes
Madeira em
Bruto
Papel e
Celulose
CAPITAL
FÍSICO E
HUMANO
Extração de
Madeira
TRABALHO
Vestuário
Maquinário
Produtos de
madeira e
alimentos
E
D
B
C
A
G
F
25
O modelo de Solow e os que seguiram sua trilha falhavam por conter hipóteses iniciais
muito restritivas, tais como concorrência perfeita, agentes racionais, função de produção com
retornos constantes de escala e progresso cnico exógeno, além de suposição de economia
fechada.
Os modelos neoclássicos posteriores baseados no modelo de Solow sugeriam a
convergência entre as taxas de crescimento do produto ou níveis de renda dos países devido a
iguais taxas domésticas de poupança, crescimento da força de trabalho e progresso técnico.
Um país que exibisse uma baixa relação capital - trabalho apresentaria taxa de crescimento de
seu estoque de capital maior que em um país com relação capital - trabalho superior, fazendo
com que a relação entre capital e produto e os níveis de renda convergissem. Para solucionar
tais problemas e limitações da teoria prévia, diversos trabalhos começaram a tratar de temas
esquecidos pela teoria do crescimento, como os impactos do comércio exterior no produto
(PACK, 1994).
A nova teoria do crescimento, chamada de teoria do crescimento endógeno, nasceu das
críticas acima citadas, impulsionada pelo interesse no desempenho econômico de países em
desenvolvimento, pela maior disponibilidade de dados e pela comprovação de alguns estudos
de que não havia convergência do produto per capita na economia mundial, contrastando com
a suposição de rendimentos decrescentes do capital (THIRLWALL, 2003, p. 64).
Os trabalhos pioneiros de Robert Lucas e Paul Romer representaram grande
questionamento à teoria neoclássica do crescimento. Romer (1986)
5
afirma a existência de
retornos crescentes do capital devido a acumulação de tecnologia e conhecimento, que é
facilitada pelo comércio exterior por meio de economias de escala e do processo de
aprendizagem do trabalho, ou learning by doing. Adicionalmente aos achados de Paul Romer,
Lucas (1988)
6
inclui a idéia de vantagens comparativas em sua construção. Segundo o autor,
o país se especializaria na produção do bem no qual tivesse vantagem comparativa em capital
humano e esta especialização seria reforçada pelos ganhos de aprendizagem no setor.
Os trabalhos subseqüentes buscaram estabelecer a importância das externalidades no
processo acumulativo de fatores por meio da “endogeinização” do progresso tecnológico com
modelos de equilíbrio geral com crescimento de longo prazo. Por meio de uma visão
schumpeteriana, os modelos têm como ponto de partida o processo inovativo das firmas,
destacando os aspectos microeconômicos do crescimento (ROMER, 1994).
5
ROMER, P.M. Increasing Returns and Long-Run Growth. Journal of political Economy, 1986 apud
Grossman e Helpman (1991), Afonso (2001), Rosende (2000).
6
LUCAS, R. E., Jr.. On the Mechanisms of Economic Development. Journal of Monetary Economics, julho
1988 apud Grossman e Helpman (1991), Afonso (2001), Rosende (2000).
26
A essência deste arcabouço teórico está na equação Y = AK, em que A representa os
fatores que afetam a tecnologia, enquanto K inclui capital humano e físico. Aqui não existem
retornos decrescentes do capital, o que é incompatível com a hipótese de concorrência perfeita
do modelo neoclássico anterior. Ao introduzir um marco de concorrência imperfeita, a nova
teoria permite aos agentes investir em pesquisa e desenvolvimento que levam a retornos
crescentes e ganhos monopólicos temporários, devido a obsolescência das inovações e ao fato
do conhecimento ser um bem ao menos parcialmente excludente. A economia beneficia-se
deste esforço de conquista de poder de mercado, visto que as firmas irão investir em novo
conhecimento visando maiores lucros. A disseminação do conhecimento técnico entre os
agentes é uma externalidade positiva, capaz de levar ao crescimento sustentado da economia
(GROSSMAN e HELPMAN, 1991; HOUNIE et. al., 1999).
Conclui-se que uma das diferenças existente entre o modelo neoclássico anterior e os
modelos de crescimento endógeno é que nesta última o crescimento não recai sobre variáveis
exógenas ao sistema, mas sim sobre as condições técnicas e econômicas que os agentes
enfrentam, estimulando um maior investimento em novas tecnologias.
O papel do comércio exterior nestes modelos diz respeito ao aumento de
produtividade, como resultado da difusão do conhecimento disseminado em outros países.
Como a tecnologia é a fonte do crescimento, o comércio traria novas tecnologias a menor
custo, acelerando o taxa de expansão de inovações e do produto.
Segundo autores que seguem essa visão, a ampliação das exportações pode promover
crescimento econômico por meio do aumento na produtividade total dos fatores, devido à
especialização do país em setores que possui vantagens comparativas, aos ganhos de escala e
aos efeitos dinâmicos no resto da economia. Além disso, a introdução de tecnologia nas
exportações tem o poder de torná-las mais dinâmicas, e o mais importante, torná-las variável
fundamental do crescimento econômico. Alguns autores afirmam que as exportações, como
medida de comércio, são importantes para explicar diferenças de crescimento de
produtividade entre países (PACK, 1994).
Grossman e Helpman (1990) constroem um modelo simples a fim de ilustrar o
progresso cnico endógeno no crescimento econômico e o impacto do comércio exterior.
Assim, o comércio pode beneficiar os países por meio de spillovers gerados por investimentos
em progresso tecnológico e a participação no mercado de capitais internacional pode prover
recursos para o financiamento em pesquisa e desenvolvimento.
Adotando uma perspectiva schumpeteriana, os autores afirmam que os sucessos com
pesquisa podem gerar poder de mercado e criar oportunidades de lucros, por mais que estes
27
sejam limitados. Partindo de um esquema com duas economias, dois setores e dois fatores de
produção (terra e trabalho), o modelo dos autores conclui que os países menos desenvolvidos
tendem a se beneficiar mais do comércio, já que conseguem extrair, por meio de spillovers, o
conhecimento acumulado pelas nações desenvolvidas, por meio da imitação (GROSSMAN e
HELPMAN, 1990).
Em termos de política comercial, estes trabalhos geralmente apontam que uma política
mais liberal, visto que o comércio internacional proporciona maior difusão de tecnologias,
possibilita o acesso a uma quantidade maior de conhecimento, facilitando a queda de custos e
introdução de novos bens. Além disso, a competição derivada do comércio possibilitaria a
exploração de economias de escala e aceleraria o processo criativo. Segundo Jayme Jr.
(2001), estes modelos de comércio e crescimento que enfatizam a visão da oferta são
sustentados pelas idéias de liberalização por trazer melhoras na produtividade do país.
1.3 Os modelos de influência keynesiana
Este item busca analisar os modelos de influência keynesiana, especialmente de
Kaldor e Thirlwall, autores com grande destaque nesta discussão. Assim, trataremos dos
modelos export-led, incluindo assim, as questões do balanço de pagamentos, tão recorrentes
em países em desenvolvimento. A análise do modelo liderado pelas exportações é vista por
estes autores pela visão da demanda, oposta aos modelos de crescimento endógeno, que
partem do lado da oferta.
Estes autores consideram as exportações como único elemento autônomo da demanda,
pois é uma variável que não depende do crescimento do produto interno, assim como
consumo ou o investimento. Ademais, possuem um efeito indireto sobre a demanda ao
financiar as importações, permitindo que seus outros componentes cresçam mais rápido. Estes
autores também levam em consideração a oferta, pois as importações, financiadas pelas
exportações, possibilitam o aumento da produtividade (THIRLWALL, 2003, p.84).
O modelo de crescimento liderado por exportações de Nicholas Kaldor tem por
finalidade explicar a diferença nas taxas de crescimento dos países. Esta construção teórica
combinou seu modelo de crescimento liderado pela demanda e uma condição para o equilíbrio
do balanço de pagamentos. Iniciaremos pela análise do modelo de crescimento liderado pela
demanda.
28
Segundo Kaldor (1966), o nível do produto se pelo supermultiplicador de Hicks
(1950)
7
, que demonstra que o crescimento do produto é decorrência do crescimento dos
gastos autônomos, sejam eles gastos do governo ou exportações. Para ilustrarmos o modelo
liderado pela demanda, podemos fazer uso das identidades da contabilidade nacional:
Y = C + I + G + (X – M)
sendo Y o produto, C o consumo do setor privado, I o investimento do setor privado, G, os
gastos do governo; X e M, as exportações e importações de bens e serviços, respectivamente.
Desdobrando esta equação, teremos
Y = c (1-t)Y + ag
e
Y
+ G + X - mY
onde c é propensão marginal a consumir (0<c<1); t é a renda marginal líquida do governo
(0<t<1); a é a relação entre capital e produto; g
e
taxa esperada de crescimento da demanda e
m a propensão marginal a importar (0<m<1) (FREITAS, 2003, p. 3).
Todas as variáveis são dependentes do produto agregado, exceto G e X, comprovando
a liderança dos fatores da demanda como indutores de crescimento. Este crescimento, todavia,
possui um limite, que seria a restrição no balanço de pagamentos. Desconsiderando os
componentes da conta corrente, exceto exportações e importações, a condição para o balanço
de pagamentos estar em equilíbrio seria que o valor das exportações fosse igual ao valor das
importações (X = mY).
A partir destas duas premissas, é possível verificar dois níveis de produto: um
associado ao equilíbrio do balanço de pagamentos e outro que equilibra oferta e demanda
agregada. Para que estes dois valores sejam iguais, é necessário que o orçamento do governo
seja equilibrado (G = tY) e a poupança privada seja igual ao investimento privado (I = S). O
produto de equilíbrio seria dado por:
Y = X/m
O multiplicador (Y/X = 1/m), por sua vez, é o multiplicador do comércio exposto
por Roy F. Harrod em 1933
8
. Para a construção de seu modelo liderado pelas exportações,
7
HICKS, J. The Trade Cycle, Clarendon Press, Oxford, 1950 apud Thirlwall (2003).
8
Para maiores detalhes ver Kennedy e Thirlwall (1979).
29
Kaldor utiliza este multiplicador como base, admitindo que a economia cresça de acordo com
o crescimento das exportações (g
x
) e das importações (g
m
), de forma que
g = (g
x
- g
m
) / (1 + g
m
)
Sendo g a taxa de crescimento da economia de equilíbrio do Balanço de Pagamentos, à
medida que a taxa de crescimento das importações aumente, é necessário que a taxa de
expansão das exportações seja maior que o crescimento do próprio produto (KENNEDY e
THIRLWALL, 1979).
Modelo semelhante ao de Kaldor foi idealizado por Thirlwall (2003). Partindo do
mesmo pressuposto de Kaldor, de que as exportações em uma economia aberta representam
componente principal da demanda autônoma, Thirlwall afirma que o crescimento econômico
de longo prazo será induzido pela expansão das vendas externas. Portanto, o crescimento é
uma função do aumento das exportações. O autor enfatiza o papel das elasticidades preço das
exportações e importações, assim como a elasticidade renda dessas variáveis, a fim de
comprovar a hipótese de export-led growth.
Dessa forma, inicia sua análise pelas causas da ampliação das exportações. Utilizando
a noção das elasticidades, Thirlwall (2003, p. 86) chega à seguinte equação:
x
t
= η (p
dt
– p
ft
) + ε(z
t
)
onde a expansão das exportações (x
t
) depende dos preços internos (p
dt
) e dos preços
internacionais (p
ft
) ponderados pela elasticidade preço da demanda por exportações (η<0) e do
produto externo (z
t
), ponderado pela elasticidade renda da demanda por exportações (ε>0). Os
preços domésticos, por sua vez, são função dos salários, da produtividade do trabalho e de um
mark up sobre os custos de produção. De acordo com Thirlwall (2003), o crescimento da
produtividade, pela Lei de Verdoon
9
, pode ser dividido em dois componentes: uma parte
autônoma e outra dependente do crescimento do produto. Assim, cria-se um ciclo virtuoso à
medida que as exportações apresentem variações positivas. Podemos esquematizar da
seguinte forma:
9
A Lei de Verdoon enuncia que existe uma forte relação positiva causal entre o crescimento do produto
industrial e o crescimento da produtividade neste setor como resultado de retornos estáticos e dinâmicos de
escala (THIRLWALL, 2003).
30
Figura 2 – Ciclo Virtuoso do modelo de Thirlwall (2003)
Para um modelo liderado por exportações com restrição do balanço de pagamentos em
que se pressupõe que não exista efeito realimentador por meio da lei de Verdoon e os preços
relativos são mantidos constantes, o autor chega à conclusão de que o crescimento econômico
dependerá diretamente da elasticidade renda da demanda por exportações e do crescimento da
renda externa e indiretamente da elasticidade-renda da demanda por importações.
Um modelo mais complexo com restrição do balanço de pagamentos a partir deste
mais simples é construído por Thirlwall. Partindo do equilíbrio da conta corrente dado por
p
d
+ x = p
f
+ m + e
onde p
d
é o crescimento dos preços das exportações em moeda nacional, x a expansão da
quantidade de exportações, p
f
a taxa de crescimento das importações em moeda estrangeira, m
o aumento da quantidade de importações e e a taxa de câmbio o autor chega a um novo ponto
de equilíbrio do produto. Este dependerá, além das variáveis do modelo anterior, da
elasticidade-preço da demanda por importações. Supondo que os preços relativos são
constantes, o crescimento do produto compatível com o equilíbrio do balanço de pagamentos
é igual à razão entre a taxa de crescimento das exportações (x) e a elasticidade-renda das
importações (π), representando uma versão dinâmica do multiplicador de Harrod utilizado por
Kaldor.
y = x/π
A lei de Thirlwall afirma que a taxa de crescimento de longo prazo das economias é
igual à taxa de crescimento de acordo com o equilíbrio do balanço de pagamentos acima
Exportações
Produto
Agregado
Produtividade
Preços
Internos
31
ilustrado. O setor externo aqui possibilita um aumento da taxa de expansão da economia, pois
as exportações financiariam o déficit resultante da expansão da demanda interna.
Podemos averiguar que os modelos de influência keynesiana enfatizam o papel da
demanda no crescimento das economias, dando destaque a elasticidade renda da demanda
das exportações. Quanto maior esta variável, mais dinâmico será o comércio internacional
deste país.
É importante destacar que apesar das teorias analisadas partirem de pontos diferentes e
de visões diversas, elas podem ser vistas como complementares e não opostas na análise do
Chile. Partindo dos modelos de Kaldor e de Thirlwall de influência keynesiana, as
exportações, como único componente da demanda autônoma independente do crescimento do
produto, possuem a capacidade de prover divisas para as importações necessárias, como as
importações de bens de capital, afastado o risco de problemas no balanço de pagamentos.
Além disso, “criam” demanda em outros setores internos a economia, como serviços e bens
intermediários, adensando a cadeia produtiva.
Dessa forma, as exportações representam um motor do crescimento econômico.
Entretanto, o que garantiu a continuidade do crescimento ao longo das últimas duas décadas?
Aqui inserem-se os conceitos microeconômicos da teoria do crescimento endógeno. No caso
chileno, a diversificação da pauta exportadora trouxe maior dinamismo às vendas externas,
pois possibilitou a criação de oportunidades para novos produtos, novos setores e novas
atividades. Como será visto no capítulo seguinte, a preocupação com inovar nos novos
setores, mesmo que estes fossem intensivos em recursos naturais, criou um estímulo para a
atividade de pesquisa e desenvolvimento. O ganho de produtividade nestes setores devido à
utilização de novas técnicas ou novos produtos traz externalidades positivas para a economia
por meio de spillovers, em setores fornecedores, nos serviços de apoio e em outras áreas de
extrema importância, como desenvolvimento da educação para acomodar a demanda por
mão-de-obra qualificada que provem deste processo.
32
2. CRESCIMENTO E DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES CHILENAS
Este capítulo buscou inicialmente realizar uma pequena digressão na história chilena, a
fim de delimitar as principais transformações na mudança de um modelo voltado para dentro,
baseado em uma estratégia de substituição de importações, para um voltado para fora, por meio
de um processo de liberalização generalizado.
A periodização utilizada deveu-se a um consenso, na literatura sobre o tema, de que se
pode falar em crescimento liderado por exportações a partir de meados da década de 1980, após a
recuperação da crise da dívida que atingiu o país entre os anos de 1982 e 1983. O período
subseqüente à crise é avaliando sob a ótica das exportações, as políticas e as variáveis que as
influenciaram. O enfoque aqui recai sobre a diversificação da pauta exportadora, fato também
assinalado por diversos autores como indicativo das exportações como motor do crescimento.
Pretende-se então buscar um maior detalhamento dos principais setores exportadores, tanto dos
mais tradicionais (o cobre) quanto dos setores apontados como mais dinâmicos (salmão, vinho,
florestal-madeireiro e de serviços) e a questão da capacidade de inovação em cada um destes.
Além disso, deseja-se abordar a criação de blocos comerciais e acordos de comércio,
evidenciando a nova estratégia adotada pelo país e a diversificação de destino das exportações.
Por último, achou-se necessário destacar a desaceleração do crescimento chileno a partir
de 1998 e ver suas implicações nas exportações e políticas do governo rumo a um esforço maior
de introdução de tecnologia e pesquisa em inovação.
2.1 Um Histórico Recente do Chile: da substituição de importações à crise da dívida
O ano de 1973 inaugurou uma nova etapa na economia chilena, visto que o governo
militar que foi instituído a partir deste ano pôs fim à política vigente desde a década de 1930.
O modelo precedente, o de substituição de importações, teve início após a crise de 1929,
quando se mostrou evidente a vulnerabilidade da economia chilena frente às conjunturas
externas desfavoráveis, caracterizada pela dependência da economia em relação a um produto
principal, o cobre. A queda no preço deste bem durante a crise conduziu a política econômica
rumo à industrialização. Acreditava-se que a indústria abriria caminho para um
desenvolvimento auto-sustentável, diminuindo a dependência e vulnerabilidade externa.
Segundo Krueger (1997), o modelo de substituição de importações, adotado em países
cujas estruturas produtivas estavam orientadas principalmente para a produção de
commodities agrícolas, indicava que a acumulação de capital seria decisiva para o crescimento
33
econômico. Assim, era necessário haver uma oferta crescente de bens de capital e bens
intermediários para a expansão da indústria, o que seria feito pela substituição dos
importados.
As idéias de que a industrialização era peça fundamental para o crescimento e que o
livre comércio tenderia a especializar o país em bens primários, visto que a indústria local não
possuía meios de competir no mercado internacional (argumento da indústria nascente
10
),
levaram a um maior protecionismo. (KRUEGER, 1997).
No caso chileno, a participação do Estado neste processo foi de grande importância,
como articulador de políticas que impulsionassem uma maior industrialização. Os principais
instrumentos utilizados pelo governo foram restrições às importações e altas taxas
alfandegárias, combinadas com uma sobrevalorização cambial, subsídios à importação de
bens de capital e bens intermediários, créditos ao setor privado e investimento pesado em
infra-estrutura (VERGARA, 1981). Segundo Goldberg (1975, p. 100), a grande presença
estatal nos investimentos deveu-se em parte à uma relutância do setor privado em fazê-los,
deixando a cargo do governo essa tarefa.
À medida que se completavam as primeiras fases de substituição de importações, o
modelo começou a perder dinamismo, o que ocorreu a partir da década de 1950. A aceleração
da inflação, combinada com a rigidez da taxa de câmbio nominal, levou a uma valorização do
câmbio real, originando problemas no balanço de pagamentos e, conseqüentemente, maiores
restrições de importação. Ademais, como a internalização dos setores chave (bens de capital,
principalmente) não havia sido completada, essa limitação às importações também
representou uma restrição ao crescimento, fadando a economia a uma dinâmica de stop-and-
go: quando a economia crescia, a demanda por importações expandia-se, causando problemas
no balanço de pagamentos devido às divisas escassas, o que forçava o governo a impor
políticas de restrição de importações, freando o crescimento (KRUEGER, 1997).
Outro fator agravante foi a queda do preço das commodities durante os anos 1950,
incluindo o cobre. Diminuía-se, assim, a maior fonte de recursos externos, visto que o cobre
nesta época representava o produto de maior peso na pauta exportadora. O tamanho diminuto
do mercado interno também é apontado como fator decisivo para o fracasso do modelo
substituidor de importações no Chile. Esta característica se mostrou um entrave à manutenção
10
O argumento da indústria nascente teve como um de seus precursores John Stuart Mill, que afirmava que O
único caso em que, com base em meros Princípios de economia Política, são defensáveis as taxas protecionistas,
é quando são impostas em caráter temporário (sobretudo em um país jovem e que está crescendo), na esperança
de nacionalizar uma indústria estrangeria, que é em si mesma perfeitamente adequada pelas circunstânmcias do
país. A superioridade de um país sobre outro, em um ramo de produção muitas vezes vem apenas do fato de ter
começado antes.” (MILL, 1983, p. 381).
34
dos investimentos, pois não permitiria sustentar o setor industrial em suas etapas iniciais de
desenvolvimento (KRUEGER, 1997; VERGARA, 1981).
As exportações, principalmente de bens industriais, foram desestimuladas durante o
período do modelo substituidor de importações, visto que a proteção artificial que se criava
trazia grandes ganhos às empresas: a possibilidade de importar máquinas e equipamentos a
uma taxa favorável combinada ao controle oligopólico da produção permitia altas taxas de
rentabilidade. Por isso, a abertura comercial era repudiada por muitos empresários
(VERGARA, 1981). Além disso, as exportações eram fortemente concentradas no setor
minerador. Segundo dados do Banco Central chileno, durante a década de 1960, as
exportações deste ramo giraram em torno de 86,0% das vendas externas totais. A participação
do cobre obteve crescentes avanços durante esse período, sendo 69,8% das exportações totais
em 1960 e 75,5% em 1970. A tabela 1 mostra a evolução das exportações chilenas por setor
como porcentagem do total.
Tabela 1 – Exportações chilenas por setor, como % do total (1960-1970)
Setores 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970
Agricultura, Fruticultura, Pecuária,
Silvicultura e Pesca 4,9% 5,4% 5,1% 4,9% 4,3% 3,3% 2,4% 2,6% 2,7% 2,5% 3,0%
Mineração 87,1% 85,8% 88,0% 88,0% 82,4% 81,7% 84,4% 88,3% 87,6% 87,9% 85,5%
Indústria 8,0% 8,8% 6,9% 7,1% 13,3% 15,0% 13,2% 9,2% 9,7% 9,7% 11,6%
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)
No campo político, as eleições de setembro de 1970, sob disputa acirrada entre os
partidos
11
, deram a vitória a Salvador Allende, abrindo um período breve, porém controverso
na história chilena (GOLDBERG, 1975).
O governo Allende foi um capítulo à parte, tanto em termos econômicos quanto
políticos. O plano de Allende era realizar uma transição do Chile para um modelo socialista,
por meio da estatização de setores tidos como estratégicos, o aumento da participação dos
trabalhadores nas decisões políticas e maior intervenção estatal. Como objetivo final,
pretendia-se uma melhor distribuição de renda e serviços para as classes mais carentes. As
políticas postas em prática por Allende encontraram grande oposição, o que levou ao golpe
militar (GOLDBERG, 1975).
11
Aproximadamente 36% para Salvador Allende, contra 35% do candidato conservador Alessandri e 28% dos
votos para o candidato cristão democrata, Tomic. Visto que nenhum dos candidatos possuía maioria de votos,
cabia ao Congresso arbitrar sobre os rumos da eleição. Allende conseguiu o apoio do partido Democrata-Cristão,
tornando-se presidente pela obtenção da maioria absoluta dos votos (GOLDBERG, 1975).
35
É importante ressaltar, entretanto, que as forças internas contrárias ao governo não
foram as únicas a colaborar para o golpe de Estado de 1973. No contexto da Guerra Fria, a
existência de mais um país com aspirações socialistas não era desejável aos Estados Unidos.
Segundo Fermandois (1998),
Para Estados Unidos, desde los años de la guerra, era importante
mantener con vida a la “única democracia existente”, como
repetidamente informaban sus responsables hacia América Latina. (...)
La elección de un “proyecto socialista”, es decir, marxista, ponía de
relieve la superioridad de un sistema sobre el otro en la pugna de las
imágenes. Era un poderoso mensaje para aquellas zonas de
inestabilidad, es decir, la gran mayoría de los países en donde no se
había consolidado ni el “modelo occidental” (democracia y economía
tendencialmente de mercado), ni el sistema marxista o totalitario
(FERMANDOIS, 1998, p. 153).
Afastando-se do campo ideológico para o econômico, a nacionalização das empresas
norte-americanas extrativistas do setor de cobre, sem nenhuma contrapartida, e de cerca de
90% do sistema bancário foram as principais objeções do governo dos Estados Unidos. Esta
política foi um aprofundamento do movimento de chilenización
12
da indústria cuprífera
iniciado em 1966, quando o então presidente Eduardo Frei pôs em prática um plano de
nacionalização da atividade. No governo Allende, por sua vez, a nacionalização da grande
atividade mineradora de cobre foi total, especificamente através da lei 17.450 de 11 de
julho de 1971. Esta lei permitiu ao governo o poder sobre a organização, exploração e
administração das empresas agora nacionais (SUTULOV, 1975).
Diante da política de Allende, os Estados Unidos vetaram a concessão de empréstimos
externos ao Chile
13
, forçando o governo chileno a restringir a importação de bens de consumo
que iam de bens supérfluos, como rádios e câmeras fotográficas, a produtos essenciais como
os alimentícios, causando um sério desabastecimento. A conseqüência foi um grande
descontentamento popular, especialmente da classe média, que, juntamente com empresários
que tiveram suas importações proibidas e os militares descontentes, formaram a coalizão para
12
O primeiro passo foi a aprovação da lei 16.425 de 1966 que criava sociedades mistas com as empresas
estrangeiras, nas quais o governo chileno teria 51% do capital acionário. O intuito era de que houvesse uma
maior convergência entre os interesses nacionais e o rumo da atividade mineradora, principal setor da economia.
Para isso, seria preciso a submissão dos interesses das empresas extratoras às necessidades de política
macroeconômica, e isso só seria possível com a nacionalização do segmento (SUTULOV, 1975).
13
Porém o governo norte americano manteve o envio de recursos para as Forças Armadas chilenas
(GOLDBERG, 1975).
36
o golpe de 11 de setembro de 1973
14
. As forças armadas chefiadas pelo General Augusto
Pinochet, com apoio do governo dos Estados Unidos, tomaram o poder iniciando uma das
ditaduras mais violentas
15
da América Latina. (GOLDBERG, 1975).
O fim do governo Allende foi marcado pelo enfraquecimento do processo substituidor
de importações, aumento da dívida externa, inflação elevada e desaceleração do crescimento
econômico, visto que o produto alcançou expansão de apenas 0,5% a.a. entre 1971 e 1973
16
.
Em relação ao comércio exterior, durante o período da “tentativa socialista” as exportações
tiveram forte recuo. Enquanto no período entre 1960-1970 o crescimento anual das
exportações
17
havia sido de 5,6%, entre 1971-1973 houve retração de 4,4% a.a.. A produção
do cobre reduziu-se de maneira expressiva, com as empresas funcionando a menos da metade
da capacidade por falta de profissionais e insumos. O lento crescimento da economia teve um
efeito instabilizador no país com o aumento das pressões sociais. A redução da dependência
externa a partir deste modelo mostrou-se inviável e abriu precedentes para os críticos do
protecionismo e intervencionismo estatal (AGOSIN, 1999; SUTULOV, 1975).
Deste modo, as idéias de liberalização da economia tomaram força. Outros países
latino-americanos também enveredaram nesta via nos anos 1970, como Argentina e
Uruguai. As políticas destinadas à abertura das economias representaram uma resposta ao
modelo anterior e preconizavam que uma economia livre ao jogo das forças de mercado
proporcionaria uma melhor alocação de recursos e maior eficiência.
O governo que ascendeu em 1973 se propôs a modificar drasticamente o padrão de
desenvolvimento anterior, partindo da crítica ao modelo de substituição de importações. O
tamanho exacerbado do Estado era uma das principais censuras ao modelo anterior, pois,
segundo seus críticos, as políticas do governo distorciam os mercados e inibiam os
investimentos, ou os direcionavam a setores menos eficientes. A nova estratégia deveria
buscar uma grande abertura da economia, mas como um plano mais global de política. O
objetivo era realizar uma total reestruturação na economia, de modo a diminuir a participação
do Estado (SILVA, 1996).
Procurava-se deixar a cargo do mercado a alocação dos recursos. Segundo os
defensores da liberalização, o livre funcionamento do mercado atrairia recursos para os
14
A morte de Salvador Allende em um dos gabinetes do Palácio de La Moneda possui duas versões: a primeira
é de que ele se suicidou cercado pelas tropas do Exército com a arma que foi lhe dada de presente por Fidel
Castro; enquanto a segunda afirma que ele foi assassinado pelas tropas que invadiram o palácio (sede do governo
chileno).
15
Para melhor compreensão sobre este assunto, Remmer (1980)
16
O crescimento do PIB entre os anos de 1971 e 1973: 1971, 9,0%; 1972, -1,2%; 1973, - 5,6% (ZAHLER, 1983,
p. 516)
17
Esta variação refere-se somente às exportações de bens, excluindo os serviços.
37
setores com maiores vantagens comparativas e faria das exportações o fator dinamizador do
desenvolvimento econômico (VERGARA, 1981).
Silva (1993) divide os anos entre 1973 e 1988 em três períodos distintos pela
orientação de política econômica: 1973 a 1975 (gradual), 1975 a 1983 (radical) e 1983 a 1988
(pragmática), identificando as nuances das políticas. O primeiro iniciou-se com a escolha de
qual seria a política adotada. Existiam três caminhos possíveis: manutenção do modelo
precedente e estabilização da economia de forma lenta; derrubar as barreiras de comércio
vagarosamente e estabilizar a economia de forma a diminuir os preços dos produtos pela
competição com os importados; ou realizar políticas radicais de estabilização e abertura total
do comércio (SILVA, 1993).
Em 1974, optou-se pela segunda abordagem, a gradual. A base política dos
gradualistas estava nos empresários competitivos internacionalmente, mineradores e
agricultores que pediam em contrapartida certa proteção, como um piso para os preços de seus
produtos. Além destes, algumas das mais importantes associações como a Sociedad de
Fomento Fabril, Sociedad Nacional de Agricultura, Sociedad Nacional de Minería e Cámara
Nacional de Comercio, isto é, representantes de importantes setores da atividade econômica
(SILVA, 1993; SILVA, 1996).
A abertura comercial iniciada em 1974 compreendeu a redução de tarifas
alfandegárias, eliminação de restrições às importações e a unificação das diversas taxas de
câmbio em uma única (FFRENCH-DAVIS, 2002a). No fim do governo Allende, a alíquota de
importação média era de 105%, mas chegava a 750% para bens considerados de luxo. Além
das barreiras tarifárias, existiam as não-tarifárias, como aprovação de todas as importações
por parte do governo, depósitos não remunerados de 10.000% do valor c.i.f.
18
das
importações, e taxas múltiplas de câmbio (oito oficiais), com um diferencial de 1.000% entre
a maior e a menor. Em 1974, o objetivo central era eliminar essas barreiras gradativamente,
tarifárias ou não. Entre os anos de 1974 e 1975, três grandes reduções de tarifas foram
realizadas, que representaram a queda da tarifa máxima para 129% e a média para 57%
(CORBO, 1997, p. 73; MELLER, 1992).
A política cambial, por sua vez, após desvalorização média de 212% em 1973, buscou
manter o valor real com desvalorizações periódicas de acordo com a inflação interna e situação de
reservas internacionais. Apenas em duas ocasiões, em 1976 e 1977, o peso foi valorizado a fim de
diminuir as expectativas inflacionárias. Entre 1978 e 1979, a taxa de câmbio tornou-se o principal
18
Cost, insurance and freight. Este termo significa que o preço de venda do bem inclui os custos do produto, do
transporte e dos seguros.
38
instrumento de estabilização por meio de um sistema de crawling-peg ativo, que proporcionava
os valores nominais futuros da taxa de câmbio, com o objetivo de guiar as expectativas
inflacionárias (EDWARDS e LEDERMAN, 1998; MELLER, 1992).
Tabela 2 - Câmbio real pesos por US$ 1 (1973 – 1978)
Ano
Câmbio Real
1
(pesos
por US$1)
1973 23,5
1974 21,6
1975 27,1
1976 22,7
1977 22,2
1978 25,4
Fonte: Vergara (1981, p. 7)
1 O câmbio está expresso em pesos de 1977 por dólar deste mesmo ano.
Durante o período gradual (1973-1975), os chamados Chicago boys
19
ganharam
influência no governo. Assim, iniciou-se o segundo período mencionado por Silva (1993), o
período de ajuste radical (1975-1983), que foi seguido de um aprofundamento do
autoritarismo político. A conjuntura internacional foi importante fator de definição no jogo de
forças políticas e de influência no governo. A mudança da principal fonte de recursos de
empréstimos externos das instituições multilaterais para os bancos comerciais, assim como a
ampliação da liquidez internacional devido aos petrodólares, beneficiou financeira e
politicamente os agentes a favor de uma maior abertura da economia (SILVA, 1993).
As políticas orientadas pelos economistas da Escola de Chicago incluíam a
intensificação da abertura comercial conjuntamente com um programa de estabilização
ortodoxo de cunho monetarista, que buscava a liberação dos preços, contenção dos salários
reais e controle da oferta monetária por meio da diminuição do déficit fiscal. Uma série de
outras reformas fora realizada neste período, como forma de diminuir a participação estatal e
abrir a economia chilena ao livre mercado. Foram elas: reforma financeira, com o objetivo de
criar um mercado de capitais e inseri-lo no mercado internacional; privatizações (primeira
onda
20
), e as “sete modernizações”
21
(DIEZ, 1999).
19
Os Chicago boys eram economistas provenientes da escola monetarista da Universidade de Chicago,
seguidores de Milton Friedman e Arnold Harberger (SILVA, 1993, p. 542).
20
Esta primeira onda de privatizações tinha o intuito de devolver as propriedades expropriadas no governo
Allende aos antigos donos (DIEZ, 1999).
39
Na política comercial, em 1975 surgiu uma nova proposta de redução de tarifas, que
iriam de 10% a 35%, de acordo com o grau de processamento dos bens. (CORBO, 1997).
Segundo Ffrench-Davis (2002a), o intuito era que em 1979 as tarifas múltiplas dessem lugar a
uma tarifa única de 10%, após a redução mensal das tarifas entre 1977 e 1979.
O programa de estabilização restritivo, combinado com a abertura comercial foi um
dos responsáveis por uma forte recessão nos anos de 1975 e 1976. O produto interno bruto
caiu 13% entre 1975 e 1976 e a taxa de desemprego chegou a 20% em 1976. A produção
industrial despencou a níveis não vistos desde a crise de 1929 (queda de 25% no índice de
produção), graças ao efeito da contração de demanda, da queda das tarifas alfandegárias e da
apreciação do câmbio, afetando a competitividade das empresas (AGOSIN, 1999; GOMA,
1989).
A abertura financeira realizada em 1975 também prejudicou a indústria pelo lado do
crédito. A liberalização através da privatização de bancos, eliminação de teto máximo para as
taxas de juros, redução das taxas de encaixe bancário e redução das barreiras à entrada, sem a
devida regulamentação sobre as instituições financeiras, fez as taxas de juros tornarem-se
muito elevadas em termos reais. Somente as grandes empresas tiveram capacidade para
superar a conjuntura interna adversa, visto que se beneficiaram da abertura e da liquidez
internacional para contrair empréstimos externos a taxas menores. Entre os anos de 1975 e
1976 a balança comercial apresentou resultados positivos, entretanto mais pela queda das
importações do que pelo aumento das exportações (VERGARA, 1981; KURTZ, 2001).
A partir de 1977 a entrada de capitais estrangeiros, atraídos pelo diferencial de taxa de
juros, permitiu o aumento das reservas do país, porém levou ao aumento da dívida externa
chilena. Em valores absolutos, a dívida externa cresceu de cerca de US$ 4,9 bilhões em 1975
para US$ 8,5 bilhões em 1979. O setor financeiro cresceu de forma significativa. Segundo
Goma (1989), os ativos financeiros, que representavam cerca de 19,0% do PIB em 1970, em
1980 já representavam 35,0% e em 1982, 48,0% (ZAHLER, 1983; KURTZ, 2001).
Em 1979, o governo, a partir do conceito de que a taxa de inflação interna reflete a
inflação internacional mais a desvalorização da taxa de câmbio em uma economia aberta,
fixou a taxa de câmbio nominal em 39 pesos por dólar. Assim, a inflação interna convergiria
com a inflação norte-americana. O objetivo da política foi alcançado, visto que em 1981 a
taxa de inflação registrava valores similares aos internacionais. Entretanto, o governo não se
21
As sete modernizações que Diez (1999) aponta englobavam o mercado de trabalho, o sistema de seguridade
social, agricultura, saúde, educação, sistema jurídico e administração, com o propósito de descentralizar e
desestatizar esses setores.
40
preocupou com a taxa real de câmbio, levando a crescente apreciação do peso, que estimulava
os déficits em conta corrente. A entrada de capitais expressiva impulsionada pela grande
liquidez internacional teve papel importante no financiamento desses déficits, fato possível
até meados de 1982 (ZAHLER, 1983).
Em 1982, a economia chilena sofreu novo colapso. A conjuntura instável das contas
do governo, perdas da indústria, desemprego crescente, crescimento da dívida externa
(alcançava a casa dos US$ 16,8 bilhões em junho de 1982 e o pagamento das amortizações
mais os juros representavam aproximadamente 85,0% do valor das exportações no mesmo
ano), falências no setor bancário e o fim da liquidez internacional pela escassez de
empréstimos externos devido à moratória mexicana, contribuíram para a maior crise que o
país já havia vivido (ZAHLER, 1983).
A combinação de choques externos, abertura comercial, apreciação do câmbio e
deterioração da indústria resultaram em queda do PIB de aproximadamente 15% e o
desemprego chegou a 25% em 1983 (AGOSIN, 1999; SILVA, 1993; GOMA, 1989).
2.2 O período Pós-Crise: A recuperação e as exportações
A crise que eclodiu em 1982 iniciou um período de pragmatismo na política
econômica do país e a saída dos economistas da Escola de Chicago. Esta mudança de política
trouxe à tona uma nova coalizão de interesses, que reivindicava uma desvalorização do peso,
baixas tarifas alfandegárias, baixas taxas de juros, políticas setoriais e um processo de decisão
mais inclusivo e institucionalizado. Estes setores estavam intimamente ligados a atividades
exportadoras extrativas, como setor madeireiro, minerador e de pesca (SILVA, 1993).
Outra demanda foi a privatização de empresas estatais, a chamada segunda onda, nos
termos de Diez (1999). A segunda fase de privatizações tinha metas modestas, que incluíam a
privatização de apenas parte das corporações estatais. Entretanto, segundo os responsáveis por
essa política, o sucesso inicial levou a privatização estender-se a 100% do capital dessas
empresas, exceto dos setores mais estratégicos como o cobre (GOMA, 1989).
A recuperação da crise deu-se inicialmente sob um programa de ajuste do balanço de
pagamentos levado a cabo pelo FMI, que tinha como premissas políticas restritivas como
controle do déficit público, restrições ao crédito e uma política salarial de restrição a reajustes
salariais. Este programa trouxe benefícios e custos à economia chilena e favoreceu a escolha
do rumo de política voltada para o exterior, visto que seria por meio das exportações que a
vulnerabilidade externa, refletida na dívida externa, seria reduzida (MELLER, 1990).
41
Na política comercial, Ffrench-Davis (2002a) define o período a partir de 1983 como a
segunda liberalização comercial, trazendo consigo políticas mais diversificadas, mesclando
restrições, liberalização e intervenção, diferentemente da primeira, em que a abertura foi
irrestrita e contínua. A política comercial foi flexibilizada, com o aumento das alíquotas de
importação de 10% para 20% em 1983 e para 35% em 1984, além de medidas antidumping.
Quanto à política cambial, somente entre junho e setembro de 1982, houve quatro
tipos distintos de câmbio: o primeiro, de câmbio nominal fixo que perdurou até meados de
junho; o segundo, de desvalorização abrupta seguida de minidesvalorizações; o terceiro, de
flutuação livre da taxa, que teve duração de apenas três dias; e por último, uma nova
desvalorização de 40%, seguida de minidesvalorizações. A partir deste momento, a política
instaurada foi de uma taxa de câmbio em que o Banco Central fixava a taxa oficial, com uma
banda de flutuação que foi se ampliando ao longo do tempo (FFRENCH-DAVIS, 2002b;
MELLER, 1990).
Segundo Agosin (1999), a política econômica e o programa de liberalização se
modificaram conforme as necessidades da conjuntura. Durante a década de 1980 criou-se
maior regulação dos mercados financeiros, possibilitando a queda das taxas reais de juros, e
conseqüentemente, novos incentivos para investimentos. Edwards (1999) enfatiza ainda a
importância da reforma bancária ocorrida em 1986, que impôs uma regulação mais rigorosa
sobre a exposição dos bancos e instituiu um amplo sistema de fiscalização.
Existe um relativo consenso na literatura de que foi a partir da recuperação da
economia em meados da década de 1980 que o crescimento foi liderado por exportações
(FFRENCH-DAVIS, 2002a; AGOSIN, 1999; KURTZ, 2001).
Agosin (1999) relata que esta periodização é confirmada pelo crescimento elevado e
consistente, liderado por exportações de não tradicionais e altas taxas de investimento, ao
passo que no período anterior a economia desfrutava de capacidade ociosa. Meller e Saez
(1995) ainda destacam o fato de que a partir de 1985 o crescimento anual das exportações foi
maior que o crescimento anual do produto, sugerindo que as exportações começaram a
representar o motor propulsor da economia chilena. Como pode ser observado na tabela 3,
apesar do período entre 1974 e 1981 registrar o maior diferencial entre crescimento das
exportações e crescimento do PIB, é importante assinalar que a base de comparação foi
pequena neste período, já que as exportações assinalaram queda de 11,9% no período anterior.
42
Tabela 3. Chile: Evolução do Crescimento do PIB, Investimento Bruto e Exportações, 1960 –
2006(%)
Crescimento do
PIB
Investimento
Bruto
Total
Excluindo o
Cobre
1960-1970 4,2 25,1 5,6 4,6
1971-1973 0,5 16,9 -4,4 -11,9
1974-1981 3,7 22,2 12,0 20,9
1982-1989 2,4 19,8 6,5 8,2
1990-1995 6,7 28,5 9,0 9,8
1996-2000 3,4 26,0 7,2 4,5
2001-2005 4,4 25,9 6,7 5,1
Crescimento das Exportações
Fonte: Banco Central do Chile, apud AGOSIN (1999) para o período entre 1960-1995 e Banco Central do Chile
para 1996-2005.
O governo teve papel decisivo no aumento das exportações, por meio de incentivos
setoriais e políticas macroeconômicas. Exemplos destas políticas foram as compensações
simplificadas
22
, introduzidas em 1985; a criação do Prochile
23
, da Fundação Chile
24
e
investimento em infra-estrutura e recursos humanos. O quadro 1 mostra outros diversos
mecanismos tributários utilizados pelo governo a fim de incentivar as exportações neste
período:
22
As compensações (reintegros) simplificadas tinham o objetivo de beneficiar as exportações com valor inferior
a US$ 20 milhões, pois seus exportadores receberiam um subsidio efetivo de 3,5 ou 10% do valor da exportação.
Em 1994, aproximadamente 70% do número de produtos exportados receberam esse beneficio.
23
Instituição do governo chileno, sob a Direção Geral de Relações Econômicas Internacionais do Ministério das
Relações Exteriores. “La labor de ProChile se basa en cuatro conceptos fundamentales: el apoyo a la pequeña
y mediana empresa en su proceso de internacionalización; el aprovechamiento de las oportunidades que
generan los Acuerdos Comerciales que tiene el país; la asociatividad público-privada y el posicionamiento de
la imagen de Chile en otros mercados (Prochile).
24
Criada em 1976, esta instituição semi- pública tem o objetivo de definir atividades que possam se beneficiar de
novas tecnologias, e assim, inicia-se um processo de pesquisa. Assim que a tecnologia é adaptada e assimilada,
uma subsidiária se encarrega da comercialização. Quando esta última torna-se lucrativa, é vendida a uma
empresa privada, completando o ciclo de transferência de tecnologia (FFRENCH-DAVIS, 2002b).
43
Quadro 1 - Incentivos tributários às exportações de 1974 a fins dos anos 1980
- Isenção do imposto de valor agregado (IVA) por exportações e recuperação de impostos
pagos por insumos incorporados à exportação. (Decreto-Lei nº 825, em vigor desde 1974).
- Devolução simplificada de impostos das exportações menores (produtos não tradicionais)
mediante a devolução de 10% ou de 5% do valor fob exportado (Lei 18.480, vigente desde
1985).
- Suspensão do pagamento da tarifa de importação e do IVA por insumos importados para
serem utilizados na produção de bens para exportação (Decreto do Ministério da Fazenda Nº 224,
vigente desde 1986).
- Pagamento diferido de direitos para importação de bens de capital. Este instrumento é de
aplicação geral e não exclusivo para os exportadores (Lei Nº 18.634, vigente desde 1987).
- Devolução de taxas alfandegárias pagas por insumos importados incorporados a produtos
exportados (Lei Nº 18.700, vigente desde 1988).
Fonte: Ffrench-Davis, Leiva y Madrid
25
(1991), y Macario
26
(2000) apud FFRENCH-DAVIS, 2002a, p. 146.
Como conseqüência, as exportações ampliaram cada vez mais sua participação no PIB
do país. Segundo dados do Banco Central do Chile, a proporção Exportações / PIB a preços
constantes foi de 11,9% entre os anos de 1960-1970 para 43,3% no triênio 1999-2001. O
gráfico 1 mostra a evolução da participação das exportações sobre o PIB de 1960 a 1990.
Gráfico 1 – Participação das exportações em relação ao PIB (1960-1990)
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
1960 1963 1966 1969 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990
Fonte: Banco Central do Chile. Elaboração própria.
25
Ffrench-Davis, R., P. Leiva y R. Madrid (1991): La apertura comercial en Chile: experiencias y perspectivas,
Estudios de Política Comercial Nº 1, UNCTAD, Nueva York.
26
Macario, C. (ed.) (2000): Export growth in Latin America, Bouder, Colorado, Lynne Rienner
44
A política tarifária a partir da recuperação da crise da dívida tornou-se mais
permissiva em relação às importações, aprofundando o processo de abertura unilateral. A
tarifa de importação média foi continuamente decrescendo ao longo dos anos, até alcançar o
atual patamar de 6,0%.
Tabela 4 - Alíquota de importação média (1973-2005)
Ano Alíquota de importação média (%)
1973 94,0
1974-79 35,3
1980-82 10,1
1983-85 22,7
1986-89 17,6
1990-95 12,0
1996-98 11,0
1999-2002 9,0
2003-05 6,0
Fonte: Banco Central do Chile, apud Ffranch Davis (2002, p. 145) para os anos entre 1973-2001 e Becerra
(2006, p. 8) para os demais anos.
A participação do Estado chileno e o seu papel fundamental em todas as
transformações ocorridas durante o período analisado merece destaque. Do modelo de
substituição de importações, passando pela tentativa socialista de Allende e mesmo durante a
era de liberalismo econômico radical, o Estado foi agente vital para os rumos da economia.
Difundiu-se que o Estado chileno a partir do golpe de 1973 não teve papel ativo na
economia, com características não-intervencionistas, que o Chile era considerado o
“laboratório do Consenso de Washington”
27
e supunha-se que o Estado deveria interferir o
mínimo possível, a fim de não criar distorções na economia. A este respeito, entretanto, é
necessário qualificarmos que a sugestão de um Estado mínimo não pressupõe que este esteja
passivo às necessidades e às dificuldades macroeconômicas. Além disso, o período pós -
golpe não pode ser considerado homogêneo em relação ao intervencionismo estatal, e tratá-lo
desta forma seria desprezar suas diversas nuances e transformações.
Assim, o Estado chileno realizou políticas de orientação de investimentos em prol de
setores exportadores e capacitação destes segmentos por meio do desenvolvimento de
tecnologia e auxílio aos devedores no pós-crise. Durante a década de 1980 foram aplicadas
27
Assim é considerado, pois implementou políticas liberalizantes muitos anos antes de existir tal Consenso, que
foi resultado de reuniões de membros do governo norte-americano, FMI, BIRD e economistas de governos da
América Latina em 1989.
45
políticas não-neutras e incentivos dirigidos com o intuito de inserir o Chile na economia
mundial. A partir de 1986 o governo iniciou uma política de concessão de incentivos
tributários e creditícios, criando estímulos para o investimento externo e promoção das
exportações. (MOGUILLANSKY, 1999). O Estado ainda regulou de maneira efetiva a
evolução dos preços estratégicos como taxa de juros, taxa de câmbio, salário mínimo, preços
agrícolas e tarifas públicas, a fim de criar um ambiente mais favorável para as empresas
exportadoras (DIAZ, 1996).
A próxima seção do presente capítulo tratará de forma mais detalhada os principais
produtos exportados e os instrumentos utilizados para o crescimento destes, especialmente as
políticas setoriais com a finalidade de contribuir para uma maior diversificação da pauta
exportadora, procurando dinamizá-la a partir de meados da década de 1980.
2.3 Diversificação: a chave para o crescimento
Um importante aspecto do modelo chileno foi a diversificação da pauta exportadora e
dos mercados de destino. O comércio exterior chileno apresentou significativa evolução
positiva, especialmente na década de 1990, com aumento do mero de empresas
exportadoras, produtos e destinos (tabela 5).
Tabela 5. Diversificação das Exportações (1990-1999)
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Empresas 4100 5384 5453 5469 5844 5817 5839 5841 5847 6022
Produtos 2300 3257 3433 3507 3622 3647 3890 3771 3828 3788
Mercados 129 143 155 151 141 157 168 166 172 174
Fonte: Prochile
A diversificação dos mercados de destino deu-se inicialmente com a crise da dívida
externa dos países latino-americanos, que reduziu sua demanda. A participação dos cinco
principais parceiros comerciais nas exportações foi de 51,6% entre 1960-1973 para 48,9% em
1991-1999, chegando a ter alcançado 47,7% entre 1981-1990. Já dos 15 maiores parceiros,
essa cifra caiu de 90,8% entre 1960-1973 para 81,3% entre 1991 e 1999 (ALVAREZ E
LEMUS, 2001).
46
Gráfico 2 – Evolução da Participação dos Destinos das Exportações (1973-1999)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
América Latina América do Norte (exceto México)
Europa Ásia
Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)
Podemos ver no gráfico 2 a perda de proeminência da Europa como destino das
exportações chilenas. A queda de participação da Europa deveu-se, ao longo dos anos, a
diminuição da demanda por produtos importados chilenos com destino à Alemanha e ao
Reino Unido. Durante os anos 1970, a participação destes dois países conjuntos no comércio
chileno era de aproximadamente 20,0%. Na década de 1990, estas localidades somavam
aproximadamente 10,0% das exportações chilenas; enquanto que no ano de 2006, estes países
consumiam juntos apenas 4,4% das exportações chilenas.
As estatísticas dos últimos anos mostram que a participação da Ásia cresceu
continuamente, devido às exportações com destino à China, que representava cerca de 3,6%
das exportações chilenas em 1997, indo para 9,5% em 2006, superando até mesmo o maior
parceiro comercial asiático até 2002, o Japão. Em relação aos países americanos, tanto a
América Latina quanto a América do Norte, salvo algumas flutuações mais evidentes nos
primeiros anos da década de 1980, apresentou estabilidade de participação (SERVICIO
NACIONAL DE ADUANAS).
Um dos fatores que possibilitou essa diversificação de destinos foi a estratégia
inaugurada nos anos 1990 pelo governo chileno após a queda da ditadura e início da
democracia no país. O Chile iniciou uma nova política comercial de acordos comerciais,
privilegiando os acordos bilaterais, visto que a abertura comercial chilena até a década
passada se mostrava mais unilateral (DAHER, 1996; BECERRA, 2006).
47
Os acordos comerciais podem promover o comércio de duas formas: mediante a
eliminação das barreiras alfandegárias e não alfandegárias e por meio da redução dos custos
de transação. Os acordos bilaterais contribuem para corrigir falhas de mercado, como
assimetria de informação e falta de transparência (SAEZ e VALDES S., 1999). Outras
variáveis, além das de comércio exterior, como regras de investimento externo e propriedade
intelectual são inclusas nas cláusulas dos acordos, a fim de estreitar a relação entre os países.
O Mercosul foi uma das maiores iniciativas dos países latino-americanos neste sentido
e teve diversos efeitos positivos sobre os fluxos de comércio do Chile, pois este é o destino de
maior parte dos manufaturados chilenos, ou seja, produtos com maior valor agregado (SAEZ
e VALDES S., 1999).
Tabela 6 - Distribuição geográfica das exportações por conteúdo tecnológico, 1970 - 1998
1970 a) produtos básicos não elaborados
12,9 10,6 33,0 14,9 39,8 0,1 1,6
b) produtos básicos semi-elaborados
84,5 10,3 67,1 14,2 7,8 0,4 0,2
c) produtos manufaturados
2,2 62,6 2,2 10,1 13,0 1,0 11,1
d) total
100,0 11,5 61,1 14,1 12,1 0,4 0,8
1983 a) produtos básicos não elaborados
27,2 9,2 25,0 26,7 25,7 8,4 5,0
b) produtos básicos semi-elaborados
66,8 11,3 43,1 27,8 3,1 7,7 7,0
c) produtos manufaturados
6,0 33,2 17,1 35,7 2,3 4,1 7,6
d) total
100,0 12,0 36,6 28,0 9,2 7,7 6,5
1989 a) produtos básicos não elaborados
26,3 13,2 27,4 20,9 19,3 15,4 3,8
b) produtos básicos semi-elaborados
66,3 10,8 43,6 14,2 12,7 13,5 5,2
c) produtos manufaturados
7,5 21,2 20,2 36,8 3,6 3,5 14,7
d) total
100,0 12,2 37,6 17,7 13,7 13,2 5,6
1998 a) produtos básicos não elaborados
30,5 17,2 19,1 21,8 27,4 11,4 3,1
b) produtos básicos semi-elaborados
55,5 19,4 36,0 13,1 10,0 18,7 2,8
c) produtos manufaturados
14,0 55,7 17,3 14,2 0,6 1,1 11,1
d) total
100,0 23,8 28,2 15,9 14,0 14,0 4,1
Ano Tipo de produto
América
Latina
Unão
Européia
Composição
(% do total)
Estados
Unidos
Japão
Ásia
(exceto
Japão)
Outros
Fonte: Ffrench-Davis (2002a, p. 155)
Além disso, a própria estratégia de crescimento via exportações justifica a necessidade
de se aliar com seus parceiros comerciais de forma mais íntima, que os produtos primários
diminuíram sua participação no comércio mundial, de 5,0% em 1990 para apenas 1,3% em
2000 das exportações mundiais (UNCTAD). É possível abordar temas mais complexos e
específicos que na OMC, ampliando o escopo das negociações e direcionando-as para
interesses mútuos (FUENZALIDA, 2002). No quadro 2 é possível avaliar os acordos
bilaterais realizados pelo Chile até então.
48
Quadro 2 - Acordos Bilaterais de Comércio do Chile
Acordos Em vigor desde
OMC (membro do GATT desde 16 de março de 1949)
1 de janeiro de 1995
ALADI Associação Latinoamericana de Integração 12 de agosto de 1980
Associação Européia de Livre Comércio 1 de dezembro de 2004
Canadá 5 de julho de 1997
Costa Rica e El Salvador 15 de fevereiro de 2002
China 1 de outubro de 2006
Coreia do Sul 1 de abril de 2004
Japão (não em vigor) assinado em 27 de março de 2007
xico 1 de agosto de 1999
Estados Unidos 1 de janeiro de 2004
Nova Zelandia, Singapura e Brunei 8 de novembro de 2006
Colômbia (não em vigor) assinado em 27 de novembro de 2006
Panamá (não em vigor) assinado em 27 de junho de 2006
Peru (não em vigor) assinado em 22 de agosto de 2006
Índia (não em vigor) assinado 8 de março de 2006
Argentina 2 de agosto de 1991
Bolivia 1 de julho de 1993
Colombia 1 de janeiro de 1994
Equador 1 de janeiro de 1995
Mercosul 1 de outubro de 1996
Mexico 1 de janeiro de 1992
Peru 1 de julho de 1998
Venezuela 1 de julho de 1993
Acordos de Âmbito Regional
Acordos de Livre Comercio
Acordos Multilaterais
Acordos de Complementação Econômica, Livre Corcio e Intercâmbio Preferencial e Taxas
Fonte: SICE – Sistema de Informação sobre Comércio Exterior
Contudo, mais importante que a discussão da diversificação dos mercados é a
diversificação da pauta. Este componente foi responsável pelo maior dinamismo das vendas
externas chilenas favorecendo a expansão para novos mercados.
No período prévio a ditadura militar acreditava-se que as vantagens comparativas
chilenas estavam concentradas no setor extrativo de cobre, a ponto de que
se creía que era
muy difícil poder exportar algo distinto al cobre
(MELLER e SAEZ, 1995, p. 15). De fato,
49
em 1970 o cobre representava 85,5% do total das exportações chilenas. Entretanto, com a
recuperação da crise da dívida iniciou-se um processo de desconcentração, ocorrendo uma
diversificação da pauta exportadora rumo a produtos manufaturados elaborados a partir de
recursos naturais (tabela 7). Como será abordado posteriormente, o cobre ainda possui lugar
expressivo nas exportações chilenas, porém registrou significativa queda de participação
(ALVAREZ E LEMUS, 2001).
Tabela 7 - Participação das exportações por setor (% do total)
28
Minerador Agropecuário Pesqueiro Madeireiro Industrial
1960-1973 86,5 3,2 1,8 1,9 10,1
1974-1980 66,8 5,5 4,0 7,3 27,0
1981-1990 55,4 10,2 7,4 7,9 32,3
1991-1999 45,9 10,1 3,9 7,9 41,9
Fonte: Alvarez e Lemus (2001), baseado em Agosin (2001) e Banco Central do Chile
O setor industrial ampliou sua participação no total das exportações, especialmente
durante os anos 1990. Porém, a partir de meados desta década, o processo de diversificação da
pauta desacelerou-se. Segundo Alvarez e Lemus (2001), entre 1990 e 1994, o número de
empresas exportadoras cresceu 42,5%, enquanto a quantidade de produtos exportados
ampliou-se 57,5%. No período entre 1995 e 1999, por sua vez, o crescimento destas variáveis
foi de 3,5% e 3,9%, respectivamente. O desafio da década atual é, portanto, retomar o
dinamismo da diversificação, com ênfase na inovação tecnológica.
As subseções seguintes têm o objetivo de realizar um estudo mais detalhado dos
principais segmentos exportadores da economia chilena, englobando o maior em peso e os
setores mais dinâmicos apontados pela literatura.
2.3.1 O cobre
A análise setorial inicial será feita não por um novo ramo, um adendo a pauta
exportadora, mas pelo produto principal desta. Para entendermos como a pauta diversificou-
se, primeiro é preciso verificar aquele que por muito tempo representou a maior parte das
exportações.
28
A participação dos setores tem soma maior a 100%, pois existe uma dupla contagem já que alguns produtos do
setor madeireiro e pesqueiro são considerados parte do setor agropecuário e outros do setor industrial.
50
Como visto anteriormente, durante os anos prévios a ditadura militar, um movimento
chamado de
chilenización
foi responsável pela nacionalização da
Gran Minería del
Cobre
29
.
Em 1976, sob o governo de Augusto Pinochet, a criação formal da CODELCO
(
Corporación Nacional del Cobre de Chile
) formalizou a propriedade das empresas
nacionalizadas nas mãos do Estado, e
(...) agrupaba los yacimientos existentes en una sola
Corporación, minera, industrial y comercial, con personalidad jurídica y patrimonio propio”
(CODELCO)
.
No período prévio à abertura comercial, o cobre representava uma percentagem
significativa da economia chilena. Durante a cada de 1950, esse produto representava cerca
de 75,0% das exportações e constituía mais de 30% da arrecadação fiscal, chegando a quase
50% no ano de 1955 (MELLER, 2003, p. 2).
Portanto, era compreensível que muitos achassem que o Chile estava fadado a ter as
exportações concentradas em um único setor e que as vantagens comparativas deste país
resumiam-se a esta atividade. Apesar de perder participação nas exportações e na economia
nacional, a produção de cobre nunca deixou de registrar ampliação. A tabela 8 mostra a
comparação das taxas de crescimento média da produção de cobre mundial e chilena,
evidenciando o avanço expressivo da última.
Tabela 8 – Taxa de crescimento médio anual da produção de cobre % (1960-2006)
Mundo Chile
1960-1970 4,17 2,66
1971-1980 2,11 4,43
1981-1990 2,51 4,01
1991-2000 3,72 11,23
2001-2006 2,52 2,81
Fonte: MELLER (2003) e Copper Statistics U.S. geological survey.
A nacionalização da
Gran Minería
nas décadas de 1960 e 1970 trouxe uma mudança
estrutural na produção de cobre. As empresas privadas, que respondiam por 90,0% da
produção chilena de cobre em 1960, no ano de 1990 registravam participação de 12,2%. Por
outro lado, a CODELCO, em 1980 respondia por 84,7% da produção e em 1990, por 75,3%
(MELLER, 2003, p. 5).
29
son
empresas productoras de cobre de la Gran Minería las que produzcan, dentro del país, cobre "blister",
refinado a fuego o electrolítico, en cualquiera de sus formas, en cantidades no inferiores a 75.000 toneladas
métricas anuales mediante la explotación y beneficio de minerales de producción propia o de sus filiales o
asociados.” (Lei n° 16.624 del 20 de abril de 1967, artigo 1°, República do Chile)
51
Na década de 1990, as empresas estrangeiras obtiveram a concessão para explorar as
minas de cobre, assim como algumas minas foram privatizadas. Dessa forma, a produção da
CODELCO teve sua participação diminuída, concomitantemente à expansão das empresas
privadas, principalmente estrangeiras. No ano de 2000, a CODELCO só participava com
32,9% da produção, e as estrangeiras, com 59,5% (MELLER, 2003).
Uma das questões centrais do debate atual sobre o cobre no Chile é uma possível
privatização da CODELCO. Os favoráveis a esta idéia baseiam-se nas estatísticas de
crescimento médio da produção: enquanto a produção da CODELCO atingiu alta de 2,4% ao
ano durante os anos 1990, as grandes empresas privadas alcançaram avanço de 30,3% ao ano
no mesmo período. Meller (2003), por sua vez, rebate os argumentos pró-privatização,
afirmando que a presença de uma grande estatal no segmento não não impediu o
investimento estrangeiro
30
, mas insere uma vantagem de ser referência de eficiência
produtiva, já que a estatal está entre as empresas com menores custos.
Em relação às exportações de cobre, estas foram perdendo participação ao longo dos
anos. Essa tendência apresentou uma reversão nos últimos três anos devido a uma conjuntura
internacional muito particular de preço recorde das
commodities
. O gráfico 3 mostra a
evolução da participação das exportações de cobre sobre as exportações totais em valores.
Gráfico 3 – Participação das exportações de cobre em relação ás exportações totais, % (1960-
2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)
30
Houve um investimento de quase US$ 12,0 bilhões somente durante a década de 1990 (COCHILCO).
52
Para contrastar a análise baseada nos valores, podemos investigar qual foi o real efeito
da alta dos preços do cobre, por meio dos dados pela variação de preço e quantidade
exportada. Segundo os dados disponíveis desde 1997, os dois últimos anos registraram
variação negativa do índice de
quantum
, enquanto o índice de preços cresce a taxas
significativamente altas. O gráfico 4 tenta ilustrar esta discrepância entre os índices
mencionados, conjuntamente ao índice de valor.
Gráfico 4 – Variação anual dos índices de exportação de cobre escolhidos em % (1997-2006)
-40
-20
0
20
40
60
80
100
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Quantum Pro Valor
Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)
Pelo gráfico 4, pode-se verificar que o crescimento da participação do cobre nas
exportações totais em valor diz respeito a um movimento unicamente de preços, visto que a
quantidade exportada caiu nos últimos três anos.
A principal indagação a propósito das exportações de cobre recai sobre a capacidade
de criação e utilização de tecnologia e adição de valor agregado ao produto. Segundo dados
da COCHILCO
31
, a produção de cobre possui uma estrutura dual quanto a agregar valor: a
CODELCO, conjuntamente às pequenas e médias empresas, respondem por grande parte do
total do cobre refinado, enquanto as grandes empresas privadas refinam uma parte nima de
sua produção. A disparidade até o ano de 1992 era tão grande entre estes dois blocos, que o
primeiro respondia a 100% da produção de cobre refinado no Chile.
31
Comisión Chilena del Cobre, órgão técnico independente do Estado.
53
Gráfico 5 - Produção de cobre refinado em relação ao total da produção de cada tipo de
empresa (1960-1999)
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
CODELCO Empresas privadas Empresas Médias
Empresas Pequenas Total
Fonte: COCHILCO, apud Meller (2003) (elaboração própria)
Segundo dados apresentados por Meller (2003), a maior parte das exportações de
cobre (53,0% em 2000) consiste de cobre refinado, porém a CODELCO e as pequenas e
médias empresas são responsáveis por grande parte desta porcentagem, enquanto o cobre
refinado só representa 35% das exportações das empresas privadas.
Portanto, o Chile possui capacidade de melhora da qualidade do cobre exportado,
entretanto, este fato depende dos interesses das empresas privadas, predominantemente
multinacionais norte-americanas. É importante destacar que a produção de bens elaborados a
partir do cobre é pequena no país, o que abre possibilidade para investimentos nesta área,
tanto por parte de empresas estrangeiras quanto nacionais.
2.3.2 O salmão
A introdução da criação de salmão deu-se no início do século XX, porém as iniciativas
de cultivo deste produto não tiveram muito sucesso até a década de 1980. As vantagens
comparativas do país para esta atividade eram claras, ente elas a disponibilidade de locais
adequados protegidos, baixo custo da alimentação para os animais e localização geográfica
favorável, possibilitando a produção também durante o verão. Porém, foi necessária uma
54
política setorial que impulsionasse o segmento. Atualmente, a atividade está concentrada na
região dos lagos, e reponde por 80,0% da produção nacional em média, gerando 11,0% do
emprego na região e 0,7% do emprego total do país (ACHURRA, 1995; AGOSIN, 1999).
Achurra (1995) afirma que os fatores que estimularam o desenvolvimento da indústria
do salmão no Chile foram a participação da Fundação Chile na adaptação de tecnologias e a
existência de empresários inovadores e receptivos, além da presença de capitais e tecnologias
estrangeiros. Em 1981, a Fundação Chile adquiriu as instalações de uma empresa norte-
americana, criando a Salmones Antártica Ltda.,
dedicada a la crianza, producción,
desarrollo, captura, industrialización y comercialización de organismos hidrobiológicos”
(FUNDAÇÃO CHILE)
.
Em 1984, inseriu a tecnologia de balsas-jaulas do salmão em
cativeiro, método utilizado em grandes países produtores como Noruega e Escócia.
Posteriormente, esta instituição deu grande impulso a outras empresas chilenas por meio de
assessoria técnica. A participação desta instituição não se limitou a este aspecto da produção
de salmões e até a atualidade existem projetos direcionados ao ramo, como tecnologia de
cultivo de novas espécies, campanha no combate a enfermidades e vacinação dos salmões,
desenvolvimento de uma oferta nacional de insumos para alimentação das culturas e até
mesmo tecnologia de coleta que não cause
stress
aos animais.
Katz (2006) descreve de forma elucidativa o processo que se deu até esse setor
transforma-se em um oligopólio “maduro”. O autor afirma que esta atividade no Chile passou
por três etapas: a primeira que tinha como objetivo introduzir a criação de salmão utilizando a
técnica de gaiolas e material genético totalmente importado; a segunda fase consistiu na
ampliação do setor, com a expansão de serviços e produtores de insumos ligados à criação de
salmão; e, por fim, a terceira etapa, em que a salmonicultura chilena passou por um processo
de fusões e aquisições e internacionalização.
Em relação às empresas, é importante destacar a criação da Asociación de Salmón y
Trucha A.G., criada em 1986 e constituída pelos principais produtores do país, com o intuito
de ampliar a exportação, assim como investir em melhoramento da qualidade. Esta
organização tem como objetivo manter atualizados os métodos de cultivo, respeitando o meio
ambiente e as necessidades de cada espécie.
As exportações de salmão ganharam competitividade ao longo das duas últimas
décadas, apresentando crescimento significativo, principalmente frente aos maiores
produtores e exportadores do mundo. Dentre os principais mercados consumidores, pode-se
destacar Japão, Estados Unidos e França. Atualmente, o Chile é o segundo maior exportador
deste produto, abastecendo cerca de 15,0% do mercado mundial (ACHURRA, 1995).
55
Gráfico 6 – Exportações de Salmão Chileno por Destino (% do total)
1996
Estados
Unidos
30,4%
Japão
59,3%
Outros
1,5%
União
Européia
4,4%
América
Latina
4,4%
2006
Estados
Unidos
28,2%
América
Latina
7,5%
União
Européia
12,1%
Outros
14,0%
Japão
38,5%
Fonte:
Asociación de Salmón y Trucha A.G (elaboração própria)
Apesar de ter sofrido perdas nos anos seguintes a crise asiática, as exportações de
salmão expandem-se a taxas crescentes. Em relação ao total das exportações chilenas, as
exportações de salmão e truta, que em 1989 eram 0,5% da pauta exportadora, em 2006 já
representavam 5,2%. Nos últimos anos, o salmão também foi alvo de valorização do preço,
assim como o cobre.
Tabela 9 - Variação anual dos índices de exportação de salmão escolhidos (1997-2006)
Índices 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Quantum 16,3 16,2 -13,5 33,9 48,8 10,3 -11,6 25,7 6,6 -0,2
Preço 5,6 -1,2 26,9 -13,0 -32,8 -6,0 30,6 -0,3 12,1 28,3
Valor 22,8 14,8 9,8 16,5 0,1 3,7 15,5 25,3 19,4 28,0
Fonte: Banco Central do Chile. Elaboração própria
A capacidade de agregação de valor também é um tema importante e relevante no caso
da cultura do salmão. Segundo dados da Asociación de Salmón y Trucha A.G,
o
componente
valor agregado das exportações tem apresentado ampliação ano a ano, como pode ser
observado no gráfico 7. Em 1990, o valor agregado das exportações da salmonicultura atingia
meros 5,0%, enquanto em 2006 esse valor já atingia os 69,0%.
56
Gráfico 7 – Exportações de Salmão Chileno, 1990-2006 (US$ milhões)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
2200
2400
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Insumos Valor Agregado
Fonte: Asociación de Salmón y Trucha A.G. Elaboração própria.
O investimento no setor também não é desprezível, especialmente em pesquisa e
tecnologia. A criação do Instituto Tecnológico del Salmón (Intesal)
em 1995, por meio do
Fundo de Transferência Tecnológica da Corporação de Fomento (CORFO), responsável pela
coordenação de programas de monitoramento e pesquisa do setor reflete esse
comprometimento.
Essa atividade implicou diversas externalidades positivas, especialmente para as áreas
onde foi implementada. A utilização de novas tecnologias permitiu o aumento da produção e
produziu efeitos em outras cadeias produtivas, como no segmento de transporte, construção
civil, educação, já que necessita de profissionais qualificados, e comércio (KATZ, 2006).
2.3.3 O vinho
O vinho, apesar de ser um setor tradicional no Chile, obteve êxito exportador após
a crise da dívida de 1983. Neste período, houve uma grande reestruturação do setor, com a
quebra de diversos pequenos e médios produtores e a escolha de grandes empresas nacionais
de orientar-se o para mercado internacional (MELLER, 1995).
O ramo apresenta algumas características específicas, como não ser um bem
homogêneo, ter um mercado com altas barreiras à entrada e uma certa estabilidade do
consumo, o que dificulta a ampliação do mercado consumidor (VERGARA, 2001)
A produção de vinhos no Chile data da época da colônia e dirigia-se, quase em sua
totalidade, para o mercado interno. Segundo Bordeu (1995), a intervenção estatal sempre
57
esteve presente, ao regular a produção e consumo da bebida. O segmento é dividido em três
tipos de empresas: os viticultores, agricultores que se dedicam exclusivamente ao cultivo da
parreira e vendem o vinho “bruto” ou uvas; os elaboradores-engarrafadores, que
tradicionalmente distribuíam o vinho para o mercado interno e iniciaram as exportações e os
produtores de vinhos finos, com plantações próprias.
O consumo interno do vinho caiu nas últimas décadas, pelo aumento do preço do
produto na década de 1990 e a conseqüente substituição por outras bebidas, tais como a
cerveja. Apesar disso, os vinhos nacionais abastecem 88,0% do mercado interno, porém são
vinhos de qualidade inferior aos exportados.
As variedades de vinho chileno exportadas são predominantemente as conhecidas
como finas, englobando 43,4% dos vinhos tintos e 48,0% dos vinhos brancos, o que é um
valor alto em comparação a realidade de outros países tradicionalmente viticultores
(BORDEU, 1995).
Em valores correntes em dólares, as exportações de vinho registraram expressivo
crescimento na década de 1990. Em 1984, as exportações de vinho atingiram os US$ 7,2
milhões, em 1995 US$ 181,7 milhões e em 2006, US$ 965,6 milhões, registrando sempre
taxas positivas de variação. A participação do produto nas exportações também se apresentava
crescente, exceto nos últimos três anos, graças ao crescimento relativamente maior das
commodities
na pauta exportadora chilena (Banco Central).
Entre os fatores internos que impulsionaram a produção para a exportação estão a
abertura comercial, a diminuição do consumo no mercado interno e baixas tarifas de
importação de bens de capital, combinados com a depreciação cambial e os incentivos
tributários. Além disso, a conjuntura internacional também contribuiu, como aumento do
consumo nos Estados Unidos e o custo-benefício do vinho chileno frente aos europeus
(VERGARA, 2001).
Diferentemente dos produtos anteriormente citados, o vinho não observou aumento de
preços nos últimos anos, mas obteve ampliação da quantidade exportada. Como pode ser visto
no gráfico 8, o índice de quantidade quase triplicou entre os anos de 1996 e 2006, enquanto o
índice de preço permaneceu relativamente estável durante o mesmo período.
58
Gráfico 8 – Índices escolhidos da exportação de vinho (1996-2006) (base 2003=100)
0
20
40
60
80
100
120
140
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Quantidade Pro
Fonte: Banco Central do Chile. Elaboração própria.
Após a abertura comercial foi possível a importação de nova tecnologia para acrescer
a produção, visto que os equipamentos utilizados estavam obsoletos. O investimento não se
limitou às novas maquinas, mas também na forma de comercializar o produto, por meio de
marketing para situar o produto chileno entre os melhores do mundo (ALVAREZ E LEMUS,
2001).
No caso dos vinhos brancos, do ponto de vista tanto de infra-estrutura e maquinaria,
era necessário um processo de inversões maiores, pois os vinhos desta variedade eram mal
vistos internacionalmente. O modo de estocagem do produto modificou-se para aço
inoxidável e novos equipamentos de moenda foram introduzidos. Os vinhos tintos, por sua
vez, eram razoavelmente vendáveis no exterior, mesmo sem introdução de novas
tecnologias. A única novidade no processo produtivo foi a troca dos barris onde o vinho é
envelhecido por novos e menores. Desta forma, consolidou-se a variedade
Cabernet
Sauvignon
chileno, que apresenta ótimo custo-benefício (BORDEU, 1995).
O Estado chileno novamente desempenhou importante papel na promoção destas
exportações por meio do Prochile. Além de apoio financeiro, esta instituição pública ocupa-se
em dar assistência às vinícolas exportadoras, organizando feiras de degustação internacionais,
tornando o produto familiar a consumidores em potencial e estabelecendo controle de
qualidade. A Fundação Chile também foi importante neste processo, através da obtenção e
transmissão de informações de técnicas de cultivo em outros países, ao mesmo tempo que
elabora projetos em aliança com organizações governamentais e setor privado para o
59
desenvolvimento de parreiras transgênicas resistentes a fungos e enfermidades, contando com
pesados investimento na área de biogenética (Fundação Chile).
O Ministério da Agricultura chileno não pode deixar de ser citado como propulsor da
produção de vinho no país. Em 2006, por meio da Lei 18.455, o Ministério fixou normas
com relação à produção, elaboração e comercialização de bebidas alcoólicas, com foco no
vinho. Adicionalmente, elaborou uma certificação dos vinhos exportados, para que possam
ser compatíveis com as exigências e requisitos dos países de destino, especialmente os
constituintes da União Européia.
Os investimentos estrangeiros na atividade são pequenos, sendo o investidor nacional
o principal agente. Dentre os poucos investidores internacionais, destacam-se os espanhóis,
porém estão ligados a atividades de distribuição do produto, emprestando seus nomes
mundialmente conhecidos, o que representou um facilitador da comercialização (BORDEU,
1995). Vergara (2001), entretanto, complementa os dados de Bordeu (1995) afirmando que,
apesar do Investimento Direto Estrangeiro ser muito pequeno no ramo, é crescente e tem
como principais países de origem os Estados Unidos (55,3%), França (28,5%) e Espanha
(4,2%).
O futuro deste produto para exportação recai sobre os investimentos em
marketing
e a
ampliação do número de mercados consumidores, com foco nos mercados asiáticos, já que
Europa, Estados Unidos e até mesmo a América Latina apresentam queda do consumo
per
capita
. Importante também é o contínuo melhoramento da qualidade do produto para que
possam ser comparados aos bons vinhos internacionais como os franceses, assim como
proteger-se contra a concorrência de produtores relativamente novos que apresentam taxas
crescentes de ampliação de
market-share
, como os australianos e sul-africanos.
2.3.4 O setor florestal-madeireiro
32
Este setor apresentou crescimento considerável ao longo das últimas duas décadas, e
reflete objetivo do governo chileno em criar novos setores e ampliar a pauta exportadora a
partir das vantagens comparativas existentes. Dito isso, é imprescindível apontar para
políticas setoriais específicas para estimular essa atividade.
A tentativa de incentivar esse ramo data muito antes das políticas pró-exportação do
governo Pinochet. Em 1931 o governo promulgou a Lei denominada Lei dos Bosques (D.S.
32
Este setor é composto pelos ramos: indústria extrativista de madeira, de papel e celulose, tábuas e chapas de
madeira e móveis (ROSSI, 1995)
60
4363), que estimulava a exploração do que restava da mata nativa, oferecendo incentivos,
como isenção de taxas por 30 anos a donos de terra que reflorestassem suas propriedades. O
Estado, através do Ministério da Agricultura, criou plantações próprias utilizando capital dos
fundos de pensão (CLAPP, 1995, p. 279).
Porém essa política teve fôlego curto, dado que as plantações foram apresentando
crescimento marginal. Durante o período que englobou os anos do processo de substituição de
importações, a produção do segmento sofreu diversas flutuações. Às vésperas do golpe militar
em 1973 o governo mantinha diversos programas destinados ao setor, levados a cabo por pelo
menos sete
33
instituições. Esse rol de programas fez com que os hectares plantados
crescessem quase quatro vezes entre 1940 e 1974 (CLAPP, 1995).
Durante o governo militar, o primeiro passo para uma política setorial foi a
promulgação da Lei de fomento Florestal (Decreto Lei 701), que especificava uma
gratificação direta ao produtor, estabelecendo um subsídio direto, pago dentro de um ano, de
75% dos custos totais da produção. Além disso, estabeleceu que as terras fossem
inexpropriáveis, afastando o maior medo dos produtores durante o governo Allende (ROSSI,
1995).
Este decreto–lei foi um marco, pois possibilitou a entrada de outros produtores,
inclusive investidores estrangeiros. O investimento estrangeiro acumulou, em vinte anos de
existência da lei, US$ 4,0 bilhões, enquanto os subsídios do governo chegaram a US$ 135
milhões (ROSSI, 1995).
Rossi (1995) afirma que as exportações do setor beneficiaram-se de um fator externo a
economia, qual sejam os nichos de mercado não atendidos pelo Brasil, um dos maiores
produtores e exportadores do mundo. Um dos segmentos foi o de móveis, que obteve grande
êxito no mercado norte-americano. O gráfico 9 mostra a evolução das exportações do setor
como um todo nos últimos anos.
33
Departamento Florestal do Ministério da Agricultura, a Divisão Florestal do Servicio Agrícola y Ganadero,
Corporación Nacional Forestal del Chile, Corporación de Fomento de la Producción (CORFO),Ministério de
Terras e Colonização, Instituto do desenvolvimento Agro-Pastoral e a Corporação de Reflorestamento (CLAPP,
1995, p. 280).
61
Gráfico 9 – Montante exportado ao ano entre 1995-2005 (US$ milhares)
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Fonte: CONAF
Os índices de
quantum
e preço divulgados pelo Banco Central chileno demonstram
que a atividade tem apresentado crescimento robusto nos últimos anos. O ano de 2004 foi
excepcional, visto que o índice de
quantum
cresceu 14,8% contra o ano imediatamente
anterior e o de preço, 18,9%.
Tabela 10 – Índices escolhidos das exportações de florestais e móveis 1996-2006 (base
2003=100)
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Quantidade 45,5 57,4 62,6 74,2 70,8 83,2 87,0 100,0 114,8 116,0 120,3
Preço 126,0 114,8 92,2 97,6 104,0 96,0 104,6 100,0 118,9 123,2 131,2
Fonte: Banco Central do Chile
A necessidade de expandir a produção e aumentar a eficiência das plantações
incentivou o investimento em desenvolvimento de tecnologia. Segundo Rossi (1995), foi nas
grandes empresas privadas que a tecnologia florestal iniciou-se, através de programas de
melhoramento genético e viveiros de alta tecnologia, transferindo conhecimentos já utilizados
em outros países. Apesar de o Estado ter diminuído sua participação no segmento, sua
presença permanece forte por meio da Fundação Chile. Esta instituição possui uma série de
projetos específicos para esse ramo, como biotecnologia florestal, certificação e manejo
florestal sustentável, desenvolvimento e conservação e indústria florestal. No campo da
biotecnologia, o objetivo do projeto é desenvolver o genoma florestal a fim de melhorar a
62
qualidade do produto, diminuir a incidência de enfermidades e aprimorar as espécies,
acionando uma filial da instituição, a Genfor. A Fundação pretende ainda avançar na questão
da bioenergia florestal, com a criação de biocombustíveis, ampliando a oferta de energia
limpa no país (FUNDAÇÃO CHILE).
Esta atividade produziu diversas externalidades positivas nas regiões onde se instalou,
especialmente na área de educação. Devido às vantagens comparativas naturais do país, nos
anos 1950 a Universidade do Chile e a Universidade Católica do Chile criaram cursos de
engenharia florestal, que foram copiados por diversas outras instituições, dado os retornos da
atividade. Atualmente, as Universidades de Concepción e Austral possuem projetos conjuntos
a Fundação Chile, principalmente na área de biogenética (FUNDAÇÃO CHILE).
Uma nova área a ser explorada é a de mercado de carbono. Para ser elegível, um
projeto florestal de captura tem de cumprir uma série de quesitos de registro e cerificação.
Para gerar bônus de carbono, é necessário que o projeto seja sustentável e que gere uma
captura de carbono maior do que existiria se não houvesse o projeto. Os projetos devem
cumprir critérios internacionais de metodologia, além de terem de refletir positivamente nos
âmbitos ambiental, social e econômico. Projetos que utilizem biocombustíveis também são
elegíveis, pois representam fonte de energia renovável e limpa. O país pode se beneficiar
muito com a venda de créditos de carbono por meio de projetos de reflorestamento ou de
desenvolvimento de biocombustíveis (CORMA).
2.3.5 Os serviços
O movimento de exportações de serviços no Chile é recente, havendo carência de
literatura para tal tema. Entretanto, esta tendência mostra-se tão forte que o governo lançou
um portal dirigido a esta modalidade exportadora, o
Chile Exporta Servicios
, com o auxílio da
instituição Prochile. Entre os serviços exportados, podem-se destacar o comércio, transporte,
comunicações e os serviços de engenharia, com ênfase nos serviços de mineração e produção
cinematográfica (ALBALA-BERTRAND, 2006).
Entre os anos de 1996 e 2006, o crescimento anual médio das exportações de serviços
foi de aproximadamente 8,0%, visto que entre 2004 e 2005, esse dado chegou a um acréscimo
de 20,4%. Em termos de peso relativo na economia do país, o serviço responde por mais de
60% do Produto Interno Bruto e emprega 70% da população ocupada (COVARRUBIAS,
2007).
63
Gráfico 10 – Exportação de Serviços chilenos 1996-2006 (US$ milhares)
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
1.996
1997
1.998
1999
2.000
2001
2.002
2003
2.004
2005
2.006
Fonte: Chilexportaservicios.
Os principais destinos desta variedade de exportação ainda são os países do continente
americano, sobretudo os Estados Unidos. Em seguida, os países da América Latina como
Argentina, Peru, México, Venezuela e Brasil são os principais demandantes dos serviços
chilenos. Em 2005, estes seis países foram responsáveis por 73,4% da exportação de serviços
(SERVICIO NACIONAL DE ADUANAS).
Em 2007, o Prochile lançou um projeto a fim de auxiliar os exportadores de serviços,
por meio de três etapas: criação de conhecimento, desenvolvimento de nova oferta exportável
e consolidação da oferta. Elegeu ainda quatro áreas prioritárias: serviços de engenharia e
saúde; audiovisuais e editoriais; ambientais (créditos de carbono) e serviços regionais. O
objetivo é identificar as empresas interessadas em exportar, instrumentos públicos
disponíveis para cada setor, estabelecer convênios com instituições públicas que possam
complementar os recursos necessários, realizar um plano de comercialização internacional e
por fim, difundir a informação existente para outros empresários do setor (COVARRUBIAS,
2007).
O governo atual está comprometido a continuar investindo nesta modalidade
exportadora, alocando recursos financeiros e criando projetos para impulsionar o setor. Em
discurso, a presidente Michelle Bachelet afirmou:
Redoblaremos los esfuerzos para hacer de Chile una plataforma
exportadora de servicios, especialmente a América Latina. Nuestros
logros en exportación de bienes ahora los debemos complementar
exportando servicios, ya sea de ingeniería y construcción, financieros o
64
informáticos, transportes o telecomunicaciones
(Michelle Bachelet,
Discurso Presidencial 21 de Maio de 2006
apud
COVARRUBIAS,
2007).
2.4 A desaceleração do crescimento e a questão da sustentabilidade do modelo
No ano de 1998 uma inversão do crescimento chileno, com a economia registrando
uma variação negativa de 0,8% do PIB em 1999 em comparação ao ano imediatamente
anterior, a produção industrial mostrou recuo de 1,3%, houve crescimento do desemprego e
queda da taxa de investimento (BANCO CENTRAL; INE).
Gráfico 11 - Crescimento real anual do PIB chileno (1961-2006)
-15%
-10%
-5%
0%
5%
10%
15%
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)
Os dados dos anos posteriores demonstram que os anos de 1998 e 1999 foram
exceções, visto que os efeitos desta pequena “crise” não foram permanentes. A tabela 11
apresenta a evolução de algumas variáveis macroeconômicas no período entre 1996 e 2006.
Como pode ser visto, estas variáveis apresentavam tendências decrescentes até o ano de 2003,
exceto a taxa de desemprego, que apresentava movimento contrário. Porém, a partir do ano de
2004 a economia inicia uma recuperação visível, com melhora de todos os dados.
65
Tabela 11 – Variáveis Macroeconômicas Chilenas Escolhidas (1996-2006)
Taxa de
investimento em
Capital Fixo,
como % do PIB
Taxa de
desemprego
Nacional
IDE (US$
milhões)
1996 26,4 6,3
3.681,2
1997 27,4 6,1
3.808,7
1998 27,0 6,4
3.144,3
1999 22,2 10,1
6.203,1
2000 23,2 9,7
873,4
2001 23,4 9,9
2.590,0
2002 23,2 9,8
2.206,8
2003 20,1 9,5
2.701,1
2004 20,9 10
5.609,6
2005 24,1 9,2
4.750,6
2006 24,1 7,8
5.076,1
Fonte: Banco Central do Chile
A dependência de capitais externos e em relação ao setor de cobre são fatores que
corroborariam para as previsões dos mais pessimistas. Entretanto, como foi visto
anteriormente, o crescimento da participação do cobre na pauta exportadora deve-se a um
movimento de preços das
commodities
, refletindo uma conjuntura internacional muito
particular. Quanto à dívida externa, sua maior parte é de longo prazo, perfazendo cerca de
80,0% do total
34
. Adicionalmente, o setor público responde por apenas um quarto da dívida
total (22,6% em 2006, segundo o Banco Central).
No campo da política comercial, o governo tem investido consideravelmente no aporte
de suas exportações por meio de políticas que vão desde investimentos em pesquisa e
tecnologia a projetos setoriais específicos. Além do Prochile e Fundação Chile, o governo
criou outras instituições com o intuito de auxiliar os exportadores, principalmente no que
cerne a inovação.
O Sistema Nacional de Inovação Chileno é constituído por agências estatais,
universidades, centros de pesquisa e instituições privadas. A figura 3 mostra de forma
esquematizada esse sistema, separando seus agentes por propriedade e função. Como pode ser
observado, o Estado é responsável por grande parte das funções.
34
A porcentagem da dívida externa de longo prazo era de 71,3% em 1995, chegando a representar 87,6% em
1999 e atingindo 80,4% em 2006 (Banco Central do Chile).
66
Figura 3 – Sistema Nacional de Inovação chileno
Fonte: Tokman et all (2005, p.23)
O financiamento dos projetos desenhados pelos Ministérios acima citados é realizado
por meio de uma série de fundos voltados para a inovação ou Fundos Tecnológicos. Os
principais são os fundos gerenciados pela CONICYT (Comisión Nacional de Investigación
Científica y Tecnológica) e CORFO (Corporación de Fomento de la Producción), com
destaque para FONDECYT (Fondo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico),
FONDEF (Fondo de Fomento al Desarrollo Científico y Tecnológico), FONTEC (Fondo
Nacional de Desarrollo Tecnológico y Productivo), FDI (Fondo de Desarrollo e Innovación) e
o Projeto Milenium
35
, além dos fundos setoriais tais como Fundación para la Innovación
Agraria (FIA), Fondo de Investigaciones Mineras (FIM), e o Fondo de Investigación Pesquera
(FIP). Os gastos com Pesquisa e Desenvolvimento ainda são predominantemente realizados
35
Projeto conjunto entre o Mistério do Planejamento do Chile e o Banco Mundial entre 1999 e 2002, que
investiu cerca de US$ 15 milhões em treinamento de capital humano.
Fundos
Setoriais
(FIA, FIP)
Setor Público
Desenho de
Políticas
Órgãos responsáveis
Outros
Ministérios
(Agricultu-
ra, Saúde,
Defesa
)
Financia-
mento
Execução
Propriedade Mista
Setor Privado
Institutos
Tecnológicos
Institutos Tecnológicos
(Fundação Chile)
Ministério
da
Educação
Ministério
da
Economia
Mideplan
CONICYT(
Fondef,
Fondecyt)
CORFO
(Fontec,
FDI)
Milenium
Universidades
Incubadoras
Universitárias
Consórcios
Empresas
Universida
des
Institutos
Tecnológi-
cos
Funç
ão
Execução
Execução
Incubadoras
67
nas Universidades e pelo governo, com 90% dos investimentos, enquanto as empresas
privadas representam 10% do total. Porém, ameados da década de 1980, o primeiro bloco
respondia por 100% dos gastos com P & D. Foi nesse período também que houve crescente
aceleração deste tipo de gasto, como pode ser observado no gráfico 12 (AGAPITOVA E
HOLM-NIELSEN, 2002).
Gráfico 12 Gastos com Pesquisa e Desenvolvimento no Chile 1975 2000 (US$ milhões
constantes de 1992)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
Fonte: Agapitova e Holm-Nielsen (2002, p. 28)
A maior parte dos recursos ainda destina-se a pesquisa básica, que consiste em
investigação experimental como forma de adquirir novo conhecimento sem nenhum uso ou
aplicação particular. Logo em seguida, os gastos com pesquisa aplicada, com grande potencial
de comercialização. Por último, mas em crescimento nos últimos anos, estão os gastos com
desenvolvimento tecnológico, formando uma base para novos projetos futuros.
Apesar de existir uma série de programas e fundos de financiamento para
desenvolvimento de nova tecnologia no Chile, grande dispersão dos projetos e muitas
vezes, sobreposição de políticas. A fim de resolver este problema e impulsionar a pesquisa
com tecnologia no país, o governo criou o Conselho de Inovação para a Competitividade por
meio do Decreto 1.408 de dezembro de 2005. O intuito deste conselho é de
“construir
ventajas competitivas dinâmicas, pues nuestras ventajas estáticas em recursos naturales son
potencialmente vulnerables”
(Decreto 1.408, p. 1 artigo 1°) que seria alcançado com a
criação do Fundo de Inovação para a competitividade, geridos pelo Ministro da Fazenda, da
68
Educação e da Economia, Fomento e Reconstrução (TOKMAN
et. al
, 2005; AGAPITOVA E
HOLM-NIELSEN, 2002).
As linhas prioritárias do programa e suas respectivas participações no total dos
recursos destinados são: Inovação de Interesse Público (16%), Formação de Capital Humano
(17%), Fomento da Ciência e Tecnologia (36%), Inovação Empresarial (19%) e
Internacionalização do Esforço Inovador (5%).
Dentre os setores considerados pelo Conselho com maior potencial estão os
relacionados aos recursos naturais, como a silvicultura, cobre, papel e celulose, o segmento de
alimentos, com destaque para vitivinicultura e fruticultura, de serviços e industriais como
químico, farmacêutico e metalurgia.
Esta iniciativa do governo de Michelle Bachelet demonstra o comprometimento em
dinamizar as exportações do país por meio da introdução e criação de novas tecnologias, rumo
a produtos industriais exportáveis de maior valor agregado.
69
3 – UM ESTUDO ECONOMÉTRICO A RESPEITO DA CAUSALIDADE ENTRE
EXPORTAÇÕES E CRESCIMENTO: O CASO CHILENO
O sucesso macroeconômico chileno a partir de meados da década de 1980 foi
acompanhado pelo crescimento das exportações e por importante diversificação da pauta
exportadora. As polêmicas em torno do caso chileno, para os propósitos do presente trabalho,
podem ser assim resumidas: a) causalidade entre exportações e crescimento econômico; b) o
papel da diversificação da pauta exportadora neste movimento e c) perfil diferenciado do
desempenho das exportações de minérios, especialmente o cobre, e os novos produtos da
pauta.
Este capítulo tem o intuito de fazer uma análise empírica destas questões, ou seja, a
investigação da existência de uma relação de causalidade entre exportações e crescimento no
Chile, o papel da diversificação e o possível comportamento diferenciado das exportações de
minérios e industriais. Apesar de existir uma vasta literatura sobre a questão, necessidade
de novos trabalhos que realizem procedimentos desenvolvidos através de modelos
econométricos ou matemáticos.
O capítulo está organizado em três partes. A primeira faz uma breve revisão da
literatura existente, destacando modelos que abordam a causalidade entre exportações e
crescimento e algumas dificuldades metodológicas que estes podem encontrar. Em seguida,
são apresentados modelos específicos para o caso chileno, com destaque para os que
diferenciam as exportações em setores, explorando a diversificação da pauta.
A segunda parte do capítulo apresenta o modelo aqui proposto, com a exposição dos
dados utilizados, a metodologia a ser aplicada e os resultados obtidos. Tendo como base o
modelo de Herzer e Siliverstovs (2007), procurou-se fazer um diagnóstico tanto de
causalidade das exportações para o crescimento, como dos efeitos da diversificação da pauta
exportadora. O modelo considera o período entre 1960 e 2006 (último resultado anual
disponível), utilizando técnicas de séries temporais, como vetores auto-regressivos (VAR) e
de correção de erros (VEC), assim como a análise de cointegração. Assim, foi possível
verificar a aceitação ou não da hipótese de relação de longo prazo entre as variáveis
escolhidas, assim como o impacto da diversificação no crescimento econômico por meio da
separação entre exportações industriais e de minérios. A terceira parte retoma os resultados
dos testes realizados, delineando algumas conclusões.
70
3.1 Evidências empíricas da causalidade
3.1.1 Uma primeira abordagem: dificuldades metodológicas e modelos gerais
A criação de modelos estatísticos que procuram estabelecer a conexão entre comércio
exterior (mais especificamente as exportações) e o crescimento econômico esbarram em uma
série de dificuldades metodológicas. Uma delas pode ser encontrada nas equações de
contabilidade nacional. Como é sabido, a identidade que reflete o produto de uma economia
aberta com governo pode ser escrita da seguinte forma simples:
Y = C + I + G + (X – M)
O problema reside no fato de que as exportações são parte componente do produto
interno nacional. Portanto, encontrar uma relação entre as variáveis exportações e produto é
quase inevitável, e esta característica leva a um viés significativo para a aceitação da
existência de um crescimento liderado por exportações.
Outra questão a ser tratada é a direção de causalidade: o crescimento é induzido por
exportações ou as exportações estão sendo induzidas pelo crescimento econômico? Quais
variáveis podem ser consideradas endógenas e quais exógenas?
A literatura é vasta quando se trata de fazer a vinculação entre estas variáveis,
entretanto o esforço de esquematizar esses argumentos de forma estatística é relativamente
recente. Foi a partir da década de 1970 que trabalhos nesta direção começaram a aparecer com
maior freqüência no meio acadêmico e a ganhar mais espaço. De uma forma geral, a maioria
dos trabalhos tinha como base uma função de produção, na qual as exportações são incluídas
como
proxy
de
produtividade
(GARCIA, MELLER e REPETTO, 1996, p. 22).
Para estes autores, os modelos que procuram testar a hipótese de que as exportações
são o motor do crescimento concentraram-se na análise da significância e no sinal do
coeficiente que acompanha a variável exportações, por meio de dados de corte transversal e
de séries temporais. Entretanto, devido aos problemas metodológicos anteriormente citados de
viés de aceitação da hipótese de crescimento liderado por exportações e dificuldade de definir
quais variáveis são endógenas e quais são exógenas, estes testes não tinham poder de
identificar o papel efetivo das exportações sobre o crescimento.
Figueroa e Letelier (1994) distinguem três grandes grupos de trabalhos destinados a
provar a presença da relação de causalidade entre exportações e crescimento, baseados no
tema orientação de comércio. O primeiro desses grupos tinha o intento de estudar casos
71
nacionais específicos, que fortaleciam a hipótese de que economias mais protecionistas
tendiam a apresentar desempenho macroeconômico menos positivo que aquelas voltadas para
fora, sugerindo que a liberalização do comércio exterior estimularia o crescimento. O segundo
grupo de estudos voltado a essa questão utilizava dados de corte transversal, partindo de
amostras maiores de países. Os autores enfatizam que esse grupo de trabalhos possuía
diversas deficiências, especialmente porque a função de produção utilizada era a mesma para
todos os países e, portanto, as especificidades de padrão tecnológico eram negligenciadas. Por
fim, o terceiro grande grupo refere-se à análise de séries temporais, utilizando-se de testes de
cointegração, visto que muitas das séries econômicas não são estacionárias, o que impede o
uso dos instrumentos da econometria clássica.
Garcia, Meller e Repetto (1994) fazem uma extensa apresentação de modelos gerais
que postulam a relação entre exportações e crescimento e destacam dois em especial, que
posteriormente usarão para construir o seu próprio, o de Feder (1983)
36
e o de Esfahani
(1991)
37
. O primeiro destes modelos afirma que o crescimento das exportações afeta o
crescimento do produto por meio das externalidades positivas do setor exportador sobre
outros setores da economia e o diferencial de produtividade existente entre o setor exportador
e não-exportador. O segundo autor, por sua vez, destaca as importações de bens de capital,
pois estas permitem um aumento de produtividade na economia. Além disso, as exportações
promovem crescimento via relaxamento da restrição externa, possibilitando a entrada de
divisas para financiar as importações necessárias.
A questão da diversificação é um tema recorrente nesta literatura. Alguns modelos
baseados na teoria do crescimento endógeno levam em consideração não apenas o progresso
tecnológico no sentido mais restrito da palavra, ou seja, criação de novas técnicas ou
produtos, mas também a possibilidade de inovação por imitação. Neste caso, os novos
produtos serão novos para a economia local, apesar de não o serem para a economia global.
(AGOSIN, 2007; HERZER e NOWAK, 2006; SILIVERSTOVS e HERZER, 2007).
Trilhando esta via, Agosin (2007) cria um modelo baseado na idéia de que as
exportações e notadamente a sua diversificação, beneficiam o crescimento dos países em
desenvolvimento graças a dois efeitos, o efeito portfólio e o efeito dinâmico. O primeiro
refere-se à menor volatilidade dos ganhos de exportação, que a pauta torna-se menos
sensível a mudanças de preço de alguns poucos produtos. Os efeitos dinâmicos dizem respeito
36
FEDER, G.(1983), “On exports and economic growth”, Journal of Development Economics 12, 1 e 2,
pp.59-73.
37
ESFAHANI, S.(1991), “Exports, imports and economic growth in semi-industrialized countries”, Journal of
Development Economics 35, pp.93-116.
72
ao crescimento da produtividade graças à introdução de novos setores na economia via
diversificação das vendas externas. A variável dependente escolhida foi a taxa anual média de
crescimento do PIB per capita (1980-2003), enquanto as variáveis independentes foram:
- PIB per capita em 1980 (log YPC80),
- corrente de comércio (exportações mais importações – TRADE80) sobre o PIB de 1980,
- formação bruta de capital fixo média como porcentagem do PIB (I/Y),
- índice
rule of law
38
(RL)
,
- o índice de diversificação
39
(DIV) e
- a diversificação ponderada pela taxa de crescimento das exportações per capita (RX*DIV).
Por meio de quatro simulações combinando as variáveis de forma diferente para cada
um dos testes, o autor realiza a regressão por mínimos quadrados ordinários e por variáveis
instrumentais para avaliar o melhor ajuste. Os resultados sugerem que as variáveis ligadas à
diversificação das exportações possuem alta significância e um alto poder explicativo sobre as
taxas de crescimento do produto, como mostram os resultados na tabela 12.
38
Mede a confiança dos agentes às regras da sociedade, particularmente a obediência aos contratos, a polícia e
ao aparato jurídico, assim como o crime e violência.
39
O índice de diversificação é denotado por (1-HHI), sendo HHI
j
= Σ
j
(xij/xj)
2
onde x
ij
é o valor das exportações
do bem i para o país j e x
j
são as exportações totais do país j
(Unctad)
.
73
Tabela 12 – Modelo de crescimento de Agosin (2007) (variável dependente: taxa anual média
de crescimento do PIB per capita, 1980-2003)
MQO VI MQO VI MQO VI MQO VI
log YPC80
-0,102 -0,366 -0,014 -0,080 -0,800 -0,717 -0,683 -0,581
(-0,87)
(-2,57)*
(-0,16)
(-0,72)
(-6,99)**
(-5,41)**
(-5,94)**
(-3,92)**
TRADE80
0,006 0,014 0,005 0,006 -0,001 0,000 0,000 0,003
(1,51) (1,62) (1,68) (-0,44) (0,01) (-0,01) -0,83
I/Y
0,192 0,249 0,159 0,119
(9,12)** (4,88)** (6,49)** (3,09)**
RL
1,345 0,949 1,198 0,911
(7,30)** (3,48)** (6,41)** (3,53)**
DIV
4,646 12,147 2,309 5,05
(5,12)** (4,71)** (3,59)** (2,92)**
RX * DIV
0,326 0,465 0,176 0,312
(9,37)** (9,26)** (5,43)** (5,65)**
R
2
ajustado
0,165 - 0,427 0,365 0,655 0,608 0,677 0,640
Número de
observações
124 118 118 117 113 112 109 108
(4)
Variáveis
Explicativas
(1) (2) (3)
Estatísticas t entre parêntesis
* Significância a 10%
** Significância a 5%
***Significância a 1%
Fonte: Agosin (2007, p.30)
Agosin (2007) realça ainda aspectos microeconômicos da diversificação por meio de
características como custos das descobertas, o lucro obtido com novos segmentos e o papel do
empresário, além do problema da informação assimétrica.
De acordo com Siliverstovs e Herzer (2007), existem diversos estudos que examinam
a hipótese de crescimento por meio da estratégia
export-led
em uma variedade de países, tanto
desenvolvidos (Japão, Estados Unidos, Itália) quanto em desenvolvimento (especialmente os
países asiáticos), porém escassez de evidências para o caso chileno. Assim, na próxima
subseção o foco estará nos modelos voltados para o Chile, procurando analisar as variáveis
segundo as especificidades do país.
3.1.2 Modelos específicos para o caso chileno
Como foi exposto previamente, a literatura sobre o caso chileno é carente de maior
número de trabalhos que abordem a causalidade entre exportações e crescimento econômico
com base em testes econométricos (SILIVERSTOVS E HERZER, 2007, p. 154). O objetivo
74
deste item é apresentar uma compilação de estudos que se propõem a testar a estratégia de
crescimento via exportações. As abordagens e metodologias são heterogêneas, porém esta
característica torna-se um benefício e não um entrave ao melhor entendimento do tema e
amplia as possibilidades de modelagem.
Garcia, Meller e Repetto (1996) partem do exame empírico dos efeitos da abertura
comercial e das exportações sobre o crescimento econômico. Os autores dão início a sua
análise a partir do efeito da liberalização comercial (meados da década de 1970) no
desempenho exportador, especialmente após a recuperação da crise da dívida de 1982/1983.
Os resultados destes primeiros testes sugeriram que após a abertura a economia cresceu a
taxas médias maiores, porém também apresentou variância maior das taxas de crescimento do
produto, o que reflete maior volatilidade (GARCIA, MELLER e REPETTO, 1996, p. 31).
O modelo utilizado por estes autores procurou contornar a questão de que as
exportações fazem parte do produto, o que levaria a um resultado enganoso. Assim, eles
procuraram estabelecer uma relação entre o crescimento do setor exportador e do setor não
exportador. Utilizando a metodologia de Feder (1983) e Esfahani (1991)
40
, o modelo supõe
que as exportações atuam como
proxy
das externalidades positivas originárias do comércio
(
spillovers, learning-by-doing
). Por meio de uma função de produção do tipo
N = F(K
n
, L
n
, X)
onde N é a produção do setor não exportador, K a formação bruta de capital fixo (para
estoque de capital no setor não exportador), L o emprego total da economia (como
proxy
da
quantidade de trabalho empregada) e X as exportações, todos sendo dados anuais (1961 a
1993) e expressos em pesos de 1986 (exceto L), os autores definem a seguinte equação a ser
estimada (GARCIA, MELLER e REPETTO, 1996, ps. 32-33)
n = a
0
+ a
1
(FBKF / N) + a
2
l + a
3
x
Além dessa especificação, ainda houve a adição de uma variável
dummy
para o
período de 1974 a 1993
41
, a fim de distinguir o período pré e pós-abertura comercial, assim
como as respectivas variáveis de interação. Foram realizadas quatro simulações, utilizando
diferentes combinações de variáveis em cada um delas. Os resultados obtidos sugerem que as
exportações estimulam o crescimento do restante da economia de forma significativa, porém
40
Anteriormente citados.
41
Esta variável tem valor 1 entre o período entre 1974 e 1993 e 0 para os demais anos.
75
somente após a abertura comercial. Entretanto, este resultado era esperado, visto que o
período anterior era caracterizado pelo modelo de substituição de importações e um baixo
volume de exportações. Outro resultado que contribui para a aceitação da hipótese de
crescimento por estratégia exportadora é que, segundo as estimações, as taxas de investimento
(medidas pela formação bruta de capital fixo) mantiveram-se razoavelmente constantes
durante o período estudado (pré e pós-abertura), porém as trajetórias exportadoras foram
muito distintas entre os períodos (sendo possível excluir da regressão o crescimento das
exportações do período prévio a 1973). Portanto, o investimento não se mostrou o principal
motor do crescimento, mas sim as exportações. Os resultados são apresentados na tabela 13.
Tabela 13 – Fatores determinantes do crescimento do setor não exportador de Garcia, Meller e
Repetto (1996)
Variáveis
Explicativas
Base (1) (2) (3) (4)
Constante
-0,190 -0,063 -0,065 -0,073 -0,058
(-1,394) (-2,242) (-2,371) (-2,197) (-1,761)
Abertura Comercial
0,088 -0,0462 -0,047 -0,020
(dummy* const.)
(0,619) (-3,501) (-3,74) (-1,614)
Investimento
0,972 0,355 0,370 0,328 0,346
(FBKF/N)
(1,484) (2,61) (2,840) (2,103) (2,213)
Investimento p e
s abertura
-0,648
dummy *(FBKF/N)
(-0,966)
Emprego
1,543 1,534 1,533 1,392 1,409
-1,841 (7,974) (8,077) (6,217) (6,279)
Emprego pré e s
abertura
0,007
(dummy* emprego)
(0,008)
Exportações
-0,079 0,066
(x)
(-0,388) (0,050)
Exportações pré e
s abertura
0,318 0,173 0,239 0,099
(
dummy*
x
)
(1,473) (1,177) (3,719) (1,574)
R
2
ajustado
0,725 0,736 0,743 0,628 0,629
DW
2,069 2,059 2,045 1,562 2,173
Erro padrão 0,021 0,022 0,023 0,034 0,034
F calculado 0,469 0,394 3,569 3,531
F crítico (5%) 3,39 2,99 2,76 2,76
Fonte: Garcia, Meller e Repetto (1996, p. 34). Estatísticas t entre parêntesis.
76
Agosin (1999) cria dois tipos de modelos, sendo um com o objetivo de verificar a
causalidade entre as variáveis estudadas e outro para determinar quais variáveis foram
responsáveis pela expansão das exportações manufatureiras. Neste segundo modelo, o autor
parte da hipótese de que a diversificação das exportações auxilia o crescimento econômico.
As técnicas de estimação neste artigo são um pouco mais sofisticadas e rigorosas que no
anterior, que utiliza um modelo de séries temporais, vetores auto-regressivos (VAR) e
técnica de cointegração de Johansen
42
. Assim, o modelo contém uma equação na qual o
produto interno bruto (PIB) do país é uma função do estoque de capital e das exportações,
assim como de uma tendência temporal. Devido à indisponibilidade de dados de estoque de
capital, o autor optou por empregar uma
proxy
, a formação bruta de capital fixo (FBKF). Foi
adicionada também uma variável fictícia
para o ano de 1982, a fim de retirar as influências
deste possível
outlier,
e a equação é linearizada com a aplicação de logaritmos naturais. A
equação regredida, portanto, tem a forma (AGOSIN, 1999, p. 85)
ln Y
t
=
γ
0
+
γ
1
ln It +
γ
2
lnX
t
+
γ
3
t +
γ
4
d82 + u
t
Segundo testes de raízes unitárias utilizando o critério de Dickey-Fuller Aumentado
(ADF), todas as variáveis apresentaram uma raiz unitária e o critério de Johansen revelou um
vetor de cointegração entre as variáveis. Outros testes foram realizados para averiguar a
endogeneidade das variáveis como forma de descartar a hipótese de que é o crescimento que
impulsiona as exportações. Os resultados dos testes apontam para alta significância da
variável exportações, assim como da variável investimento (FBKF), além de sugerirem que o
PIB é a variável endógena e as exportações são fracamente exógenas (AGOSIN, 1999, p. 85).
Tabela 14 – Modelo vetorial de correção de erro parcimonioso de Agosin (1999) (variável
dependente: dln Y(t))
Variáveis
Coeficiente Estatística t Probabilidade t
Constante
2,742 4,48 0,0001
d ln Y (t-1)
0,249 1,67 0,1070
d ln I (t)
0,24 5,47 0,0000
d ln I (t-1)
-0,136 -2,35 0,0270
d ln X (t-1)
-0,121 -2,01 0,0560
d82
-0,098 -2,68 0,0130
ECM (t-1)
-0,376 -4,43 0,0002
Fonte: Agosin (1999, p. 86). ECM: erro padrão
42
Esta técnica é utilizada devido a não estacionariedade das variáveis envolvidas e é um importante avanço em
comparação ao método tradicional de causalidade de Granger.
77
O segundo modelo de Agosin (1999) objetiva fazer a relação entre o aumento das
exportações industriais e três outras variáveis, a dizer:
- preço real dos bens industriais para o mercado de exportação (PM),
- tarifa alfandegária média (TR) e
- índice de capacidade ociosa (EX).
Todas as variáveis mostraram-se estacionárias pelos testes de raiz unitária (ADF). Os
resultados refletem que até meados da década de 1980 a capacidade ociosa interferiu de forma
significativa no crescimento deste tipo de exportação. A variável tarifa alfandegária auxiliou o
crescimento das exportações durante o período de 1974-1979, porém teve seu efeito
suavizado pela apreciação cambial entre 1976-1982. Por outro lado, a política cambial a partir
da crise de desvalorização do peso contribuiu enormemente para as exportações industriais,
sendo captada pela variável PM.
Figueroa e Letelier (1994), por sua vez, procuraram criar um modelo utilizando a
técnica de cointegração de Johansen a fim de provar a existência de uma relação de longo
prazo entre as variáveis em questão utilizando dados trimestrais de 1979 a 1993, e
encontraram resultados similares a Agosin (1999). O modelo do trabalho em questão é um
VAR (vetor auto-regressivo) irrestrito, que assume o produto como função do nível de
emprego (l
t
), estoque de capital (I
t
) - levando em consideração a taxa de investimento e
depreciação - e uma variável que reflete a produtividade, que irá captar o impacto das
exportações (ψ
t
).
Todas as variáveis analisadas são integradas de ordem 1, exceto o estoque de capital,
que se apresenta integrado de ordem 2, portanto esta variável será representada como uma
soma de infinitos termos para realizar o teste de cointegração. A equação a ser estimada será,
portanto:
Y
t
= δ
0
+ δ
1
l
t
+ δ
2
I
t
+ δ
3
ψ
t
+ ε
t
43
Primeiramente, as variáveis foram testadas para raízes unitárias, por meio do critério
de Dickey, Hasza e Fuller. A estimação do modelo por cointegração revelou somente um
vetor significativo e uma relação de longo prazo entre as variáveis. Os coeficientes
apresentaram valores estatisticamente significativos e sinais esperados. As estimações são
condizentes com a teoria do crescimento endógeno em relação aos efeitos permanentes da
orientação comercial de cada país sobre o crescimento.
43
Variáveis expressas em logaritmos naturais.
78
Tabela 15 – Resultados de Figueroa e Letelier (1994) da dinâmica de curto prazo
Variáveis
Coef. Teste t Coef. Teste t Coef. Teste t
Constante
-2,28 -0,303 -1,66 -226,6 -1,74 -2,39
_ LPGB (-1)
-0,34 -1,73 -0,15 -1,06 -0,16 -1,10
_ LPGB (-2)
-0,32 -2,01 -0,14 -1,01 -0,15 -1,03
_ LPGB (-3)
-0,18 -0,97 -0,02 -0,15 -0,02 -0,11
_ LPGB (-4)
0,26 1,60 0,49 3,19 0,47 3,11
_ LINV (-1)
0,09 0,87 0,02 0,15 0,01 0,12
_ LINV (-2)
-0,08 -0,70 0,02 0,13 0,01 0,09
_ LINV (-3)
-0,17 -1,78 -0,03 -0,28 -0,03 -0,34
_ LINV (-4)
0,05 0,44 -0,04 -0,41 -0,04 -0,38
_ LEMP (-1)
1,68 2,96 1,79 2,82 1,79 2,82
_ LEMP (-2)
-0,2 -0,38 -0,78 -1,16 -0,77 -1,14
_ LEMP (-3)
0,36 0,61 -0,26 -0,38 -0,26 -0,39
_ LEMP (-4)
-1,04 -2,17 -0,55 -1,08 -0,55 -1,08
_ LIND (-1)
-0,32 -2,02 -0,07 -1,5 -0,07 -1,43
_ LIND (-2)
0,39 1,90 0,09 1,80 0,09 1,79
_ LIND (-3)
0,42 2,59 0,07 1,66 0,09 1,78
_ LIND (-4)
-0,14 -0,79 0,07 1,32 0,07 1,30
R
2
0,70 0,63 0,63
Durbin Watson 2,01 2,00 1,98
Exportações Exportações/PIB
(Exportações+Import
ações)/PIB
Fonte: Figueroa e Letelier (1994, p. 415)
Antes de mencionar mais trabalhos que analisam a causalidade exportações e
crescimento, ou mesmo a diversificação da pauta exportadora e crescimento, é importante
mencionar um estudo que buscou averiguar se realmente houve diversificação das
exportações chilenas. O trabalho de Alvarez e Lemus (2001) realiza uma análise através de
dois indicadores, o índice de Gini e o desvio dio do logaritmo. A seguir, apresentar-se-á
como são construídos esse dois indicadores.
G = (1 / 2n
2
u(x)) Σ
n
i-1
Σ
n
j-1
|X
i
– X
j
|
Neste índice de Gini, n representa o número de setores considerados, u a média das
exportações dos diversos setores e |X
i
X
j
| a diferença entre os valores exportados pelos
setores i e j. Quanto mais próximo de zero, mais diversificadas são as exportações, e o
contrário ocorre quanto mais próximo de um (ALVAREZ e LEMUS, 2001, p. 8).
79
O próximo indicador pode ser construído da seguinte maneira, onde n é o número de
setores, u(X) é a média das exportações setoriais e α um parâmetro, que os autores supõem
como sendo um. Quanto maior o valor do indicador, menor a diversificação da pauta.
E (α) = (1 / α
2
α) [1 / n Σ (X
i
/ u(X))
α
– 1]
Ambos os indicadores apresentam trajetórias muito similares, mostrando uma
estabilidade dos dados a partir da década de 1990. Baseado no primeiro índice (de Gini), os
autores prosseguem com uma análise empírica da diversificação no período entre a abertura
comercial e a década de 1990, que representaria a estagnação do processo. Para isso, estimam
o seguinte modelo:
Div = α + β
1
D
1
+ β
2
D
2
+ β
3
D
1
t + β
4
D
2
t + β
5
t + ε
onde Div é o índice de Gini; D
1
uma variável dummy com valor igual a 1 no período de maior
diversificação (1973-1990) e 0 para o restante do período; D
2
uma variável dummy com valor
igual a 1 no período entre 1990-1999 e 0 para o restante da série; e t o tempo. As demais
correspondem às variáveis de interação entre as dummies e o tempo (ALVAREZ e LEMUS,
2001, p.13-14).
Foram realizadas três estimações, cada uma para um período
44
, e os resultados obtidos
apontam para a não rejeição da hipótese de que houve realmente uma diversificação da pauta
exportadora a partir de meados da década de 1970. Entretanto, também se observou um
arrefecimento do ritmo deste processo a partir dos anos 1990 (ALVAREZ e LEMUS, 2001).
O trabalho de Garcia, Meller e Repetto (1996), mencionado anteriormente, também
procura investigar se o tipo de exportação é relevante para o crescimento. Para isso, a função
de produção utilizada no modelo inicial é expandida e a variável exportações é divida entre
exportações de minérios, industriais e agropecuário-silvícolas, sendo estas duas últimas
somadas para diferenciar apenas as exportações de minérios do restante.
N = F (K
n
, L
n
, X
m
, X
r
)
44
A primeira englobou os períodos de 1974-1989 e 1990-1999; a segunda, 1974-1990 e 1991-1999; a terceira,
1975-1989 e 1990-1999.
80
A regressão correspondente mostra-se da forma:
n = α
0
+ α
1
(FBKF / N) + α
2
l + α
3
x
m
+ α
4
x
r
Os resultados obtidos indicam que existe uma relação positiva entre exportações e
crescimento, porém esta ocorre com as exportações não minerais (portanto, as exportações
industriais somadas às agropecuário-silvícolas). Estes dados justificariam as políticas do
governo chileno de subsídios ou medidas setoriais a fim de impulsionar as exportações de
bens não tradicionais (GARCIA, MELLER e REPETTO, 1996, ps. 40-41).
81
Tabela 16 – Crescimento não exportador distinguindo entre exportações mineiras e outras
exportações de Garcia, Meller e Repetto (1996)
Variáveis Explicativas
Base (1) (2) (3)
Constante
-0,131 -0,090 -0,090 -0,088
(-1,329)
(-2,917)
(-2,945)
(-2,890)
Abertura Comercial
0,014 -0,032 -0,037 -0,031
(
dummy*
const.
)
(0,135)
(-2,628)
(-3,147)
(-2,914)
Investimento
0,722
0,477
0,500
0,493
(FBKF/N)
(1,424)
(3,074)
(3,271)
(3,216)
Investimento pré e pós
abertura
-0,273
dummy
*(FBKF/N)
(-0,512)
Emprego
1,299
1,698
1,704
1,702
(1,630)
(8,894)
(8,927)
(8,884)
Emprego pré e pós
abertura
0,43
(
dummy*
emprego
)
(0,523)
Outras exportões
0,019 0,029 0,0684 0,0785
(x
r
)
(0,517)
(0,885)
(3,170)
(4,011)
Outras exportões pe
s abertura
0,048 0,039
(
dummy*
x
r
)
(1,105)
(0,997)
Exportões de minérios
0,139 0,139 0,133
(x
m
)
(1,298)
(1,388)
(1,094)
Exportões de minérios
pré e s abertura
-0,008 -0,007
(
dummy*
x
m
)
(-0,049)
(-0,045)
R
2
ajustado
0,752 0,767 0,766 0,765
DW
1,489
1,526
1,583
1,702
Erro padrão
0,018
0,019
0,020
0,021
F calculado
0,258
0,665
0,777
F crítico (5%)
3,385
2,759
2,603
Fonte: Garcia, Meller e Repetto (1996, p. 39). Estatísticas t entre parêntesis.
Amin e Ferrantino (1997) utilizam metodologia e pontos de partida diferentes, pois
estão interessados em analisar quando a diversificação da pauta ocorreu e sob quais
circunstâncias, para depois analisar as relações entre as variáveis. Eles afirmam que, no caso
do Chile, não se aplica a divisão entre setores tradicionais e não tradicionais (sendo o primeiro
formado de bens primários e o segundo grupo formado de bens industriais). Partem da
construção de uma série de indicadores com o intuito de testar se as exportações setoriais são
tradicionais ou não. Por meio destes, puderam averiguar que as exportações mais tradicionais
82
(dentre os principais setores exportadores) são de metais não-ferrosos, enquanto que as menos
tradicionais são de peixe (principalmente salmão) e madeira (AMIN e FERRANTINO, 1997,
p.379-383).
Para verificar se houve mudanças estruturais na composição da pauta, os autores
constroem três medidas, a fim de capturar as transformações de médio prazo, longo prazo e
especialização estática. Estes testes demonstram que houve uma especialização muito
expressiva durante os anos do governo Allende em exportações de metais não-ferrosos, que
vai diminuindo a partir de 1974. Assim, seguem para testes de causalidade, apesar de
descartarem a hipótese de crescimento liderado por exportações, pois acreditam que no Chile
o crescimento precede a expansão das exportações. Afirmam que as exportações apresentaram
ampliação e diversificação em períodos de crise ou restrições, levando a pensar que são
apenas handmaiden
45
do crescimento.
Os testes utilizados são testes de causalidade Granger-Sims, após a verificação de que
as variáveis exportações (EXP) e crescimento do PIB (GDP) eram séries não estacionárias. O
procedimento de Granger – Sims foi realizado, pois não foi constatada a existência de vetores
de cointegração. O próximo passo foi diferenciar as variáveis e realizar o teste em si,
entretanto verificou-se que as exportações não eram tão significantes. Os autores ainda
testaram o crescimento do PIB em relação aos indicadores de diversificação criados,
crescimento real das exportações chilenas, crescimento real do PIB mundial, taxa de câmbio
real e apreciação da taxa real de câmbio. A conclusão final dos autores é de que os períodos
de crescimento no Chile estão associados com apreciação no câmbio, mudanças no ciclo de
negócios mundial e estabilidade da composição da pauta exportadora, e refutam, assim, a
idéia de que a diversificação tenha impulsionado o produto nacional (AMIN e
FERRANTINO, 1997, p. 388-390).
Siliverstovs e Herzer (2007) apontam problemas em três estudos previamente citados:
Agosin (1999), Amin e Ferrantino (1997) e Figueroa e Letelier (1994). Para estes autores, os
três falham por não levar em conta que as exportações são parte endógena do produto, o que
carrega consigo um viés muito grande a favor da correlação positiva entre as variáveis. Outra
questão abordada por eles é que a análise recai sobre as exportações agregadas, o que pode
camuflar importantes diferenças setoriais nas exportações. Em termos mais específicos, Amin
e Ferrantino (1997) utilizaram uma metodologia muito simples, pois utilizam somente as duas
variáveis centrais, mas os testes de causalidade são muito sensíveis as variáveis omitidas. No
45
No sentido que as exportações são induzidas pelo crescimento.
83
caso de Agosin (1999) e Figueroa e Letelier (1994), os modelos são mais extensos,
englobando outras variáveis relevantes, porém não incorporam as importações de bens de
capital, o que pode levar a conclusões espúrias. A justificativa é de que as importações de
bens de capital são necessárias para o aumento da produtividade e para o crescimento das
exportações.
Dessa maneira, propõem-se a montar um modelo que possa contribuir para contornar
as deficiências apontadas nos anteriores. Para tal, estimam uma função de produção
neoclássica aumentada, separando a influência das exportações sobre o produto e
decompondo as exportações em duas de suas principais categorias, mineração e indústria. A
equação final, portanto, é a seguinte:
ln NY
t
= c + αln K
t
+ βln L
t
+ δln CM
t
+ γln IX
t
+ ρln MX
t
+ e
t
onde K
t
é o estoque de capital; L
t,
o estoque de trabalho; CM
t,
, importação de bens de capital;
IX
t
, exportações manufatureiras; MX
t
, as exportações de minérios e NY
t
é produto líquido
das exportações de minérios e manufatureiras (NY
t
= Y
t
- IX
t
- MX
t
).
Primeiramente, os autores iniciam com um modelo de vetores auto-regressivos (VAR)
irrestrito, transformado por um vetor corretor de erros. A cointegração é testada e
posteriormente são impostas restrições ao modelo, seguindo-se testes de exogeneidade de
longo prazo das variáveis. Além das variáveis apontadas na equação acima citada, são
introduzidas no modelo duas variáveis dummy
46
, a fim de retirar os efeitos dos anos de crise
sobre as séries de dados, que apareceriam como outliers. Para testar estes anos de interrupção
do crescimento chileno, os autores também prosseguiram com testes de quebra estrutural
(teste de Chow). Os testes não evidenciaram qualquer instabilidade estrutural no modelo e os
coeficientes mostraram-se constantes durante toda a série (SILIVERSTOVS e HERZER,
2007, p. 156-158).
Após a escolha do modelo restrito correto, outros testes foram realizados com o intuito
de testar a exogeneidade das variáveis, assim como sua cointegração. Os resultados indicam
que a hipótese nula de que a variável lnIX
t
é fracamente exógena pode ser aceita a qualquer
grau de significância (SILIVERSTOVS e HERZER, 2007, p. 159-161).
A estimação do modelo aponta para a não rejeição da hipótese de crescimento
impulsionado por exportações no Chile, graças ao coeficiente encontrado de γ, ou seja, o
46
As variáveis dummy dizem respeito aos anos de 1971 e 1981. Estas serão +1 nos anos citados (1971 e 1981),
-1 nos anos imediatamente posteriores (1972 e 1982) e 0 no restante da série.
84
coeficiente que acompanha as exportações industriais, que se mostrou positivo e
estatisticamente significativo. O resultado inicialmente surpreendente neste modelo foi o sinal
negativo do coeficiente
ρ que acompanha as exportações de minérios. Este resultado refletiu
as considerações da teoria em que se baseia o modelo, de que as exportações de bens
primários possuem um impacto negativo sobre a produtividade da economia e indiretamente
sobre o crescimento e desenvolvimento do país. As demais variáveis apresentaram
coeficientes positivos e estatisticamente significativos, como era esperado (SILIVERSTOVS
e HERZER, 2007, p. 161).
Outros modelos similares podem encontrados em Herzer, Nowak e Siliverstovs
(2006), Herzer e Nowak (2006) e Herzer (s/d), todos tendo como base uma função de
produção neoclássica básica, onde as exportações representam crescimento de produtividade,
especialmente as exportações de manufaturados. Eles procuram averiguar a importância da
diversificação da pauta exportadora sobre o crescimento do produto líquido das exportações,
com a aceitação do modelo export-led.
3.2 Um modelo econométrico para o caso chileno
3.2.1 Definindo a metodologia e os dados
O modelo a ser utilizado para os testes empíricos foi baseado em Siliverstovs e Herzer
(2007) com algumas alterações. A variável importações de bens de capital foi retirada do
modelo pela indisponibilidade de dados, visto que o Banco Central chileno não apresenta esta
série para todo o período estudado. Iniciaremos com uma função de produção neoclássica
básica:
Y
t
= A
t
K
α
t
L
β
t
onde Y
t
denota a produção agregada da economia no tempo t, A
t
o nível de produtividade
total, K
t
o estoque de capital e L
t
o estoque de trabalho. Queremos investigar se e como as
exportações afetam o crescimento econômico por meio de avanços na produtividade. A fim de
denotar o impacto da diversificação da pauta, dividimos as exportações entre exportações de
minérios e industriais. Dessa forma, expressamos A
t
como função destas (Xind
t
exportações
de produtos industriais e
Xmin
t
exportações de minérios, além de
C
t
como outros fatores
exógenos)
A
t =
f (Xind
t
, Xmin
t
, C
t
) = Xind
γ
t
Xmin
ρ
t
C
t
85
Combinando as duas equações anteriores
Y
t
= C
t
K
α
t
L
β
t
Xind
γ
t
Xmin
ρ
t
em que α, β, γ, ρ são as elasticidades referentes às variáveis antes definidas. Realizando a
linearização da equação através de logaritmos naturais, obtemos a forma final
logY
t
= c + α log K
t
+ β log L
t
+ γ log Xind
t
+ ρ log Xmin
t
Entretanto, por problemas já descritos na seção anterior, a utilização do Produto
Interno Bruto total levaria a um provável viés em favor da aceitação da hipótese de
crescimento impulsionado pelas exportações, visto que elas são parte componente do produto.
Para que não haja esse obstáculo, foram subtraídas as exportações de bens industriais e
minerais do valor total do PIB, obtendo o PIB líquido destas exportações.
Para a obtenção das séries utilizadas nos testes procedeu-se da seguinte forma:
- os dados foram retirados do Banco Central do Chile e englobam os anos de 1960 a 2006.
Com exceção da variável L
t
, as séries foram deflacionadas, a fim de deixá-las a preços
constantes de 1996;
- as séries exportações de bens industrializados e minérios estavam inicialmente expressas em
dólares correntes e a conversão foi realizada a partir do cálculo percentual sobre as
exportações totais nominais e posterior multiplicação pela série de exportações reais em pesos
de 1996;
- o estoque de capital K
t
foi obtido através do método de inventário perpétuo
47
, por meio da
soma da formação bruta capital fixo e mudança nos inventários em pesos de 1996,
utilizando uma taxa de depreciação de 0,05%;
- finalmente, a variável L
t
é representada pelo número de pessoas empregadas em cada ano.
A seguir estão os gráficos referentes às variáveis, já expressas em logaritmos naturais:
47
Ver em Meinem, Verbiest e Wolf (1998).
86
Figura 4 – Variáveis escolhidas 1960-2006
16.4
16.8
17.2
17.6
18.0
18.4
18.8
60 65 70 75 80 85 90 95 00 05
LOGK
7.6
7.8
8.0
8.2
8.4
8.6
8.8
60 65 70 75 80 85 90 95 00 05
LOGL
10
11
12
13
14
15
16
60 65 70 75 80 85 90 95 00 05
LOGXIND
13.0
13.5
14.0
14.5
15.0
15.5
16.0
16.5
60 65 70 75 80 85 90 95 00 05
LOGXMIN
15.6
16.0
16.4
16.8
17.2
17.6
60 65 70 75 80 85 90 95 00 05
LOGY
Fonte: Elaboração própria através de dados do Banco Central do Chile
87
3.2.2 Análise empírica
48
A análise dos dados fora realizada utilizando os instrumentos de séries temporais,
através de um avanço nesta área, o procedimento de cointegração de Johansen. Este
procedimento se aplica a este caso, visto que as variáveis deste modelo, assim como a maioria
das variáveis econômicas não são estacionárias. A abordagem deu-se além da usual, que
consiste em um sistema bivariado através de testes de causalidade de Granger, considerando
apenas taxas de crescimento do produto e das exportações. Outro procedimento utilizado, o
de Engle-Granger, é criticado por vários motivos, incluindo a normalização arbitrária do vetor
de cointegração, a pressuposição de um vetor de cointegração em sistemas com mais de duas
variáveis e o viés dos estimadores de Mínimos Quadrados Ordinários. Utilizando o
procedimento de cointegração de Johansen procuramos contornar tais problemas (HERZER,
NOWAK- LEHNMANN e SILIVERSTOVS, 2006, p313-4).
Inicialmente, procedemos de forma a nos certificar se as variáveis são ou não
estacionárias, por meio dos testes de raiz unitária. Foram aplicados os testes Dikey- Fuller
Aumentado (ADF) e Phillips –Perron (tende a ser mais sensível na ocorrência de quebras
estruturais) a todas as variáveis, com os seguintes resultados:
Tabela 17 - Resultados dos testes de raízes unitárias convencionais.
Séries/ Testes
logy c/ cte e tend -1,315 (***) -5,085 (***) -1,559 (***)
logy c/ cte 0,070 (*) -5,111 (***) -0,063 (**)
logy s/ cte e tend 3,827 -4,233 (***) 3,330
logl c/ cte e tend -1,768 (***) -5,568 (***) -1,768 (***)
logl c/ cte 0,389 (*) -5,589 (***) 0,324 (*)
logl s/ cte e tend 4,847 -4,090 (***) 4,537
logk c/ cte e tend -1,302 (***) -2,084 (***) -0,183
logk c/ cte 1,008 -1,538 (***) 1,925
logk s/ cte e tend 1,541 -0,496 (***) 5,821
logxind c/ cte e tend -1,931 (***) -5,455 (***) -2,196 (***)
logxind c/ cte -1,028 (***) -5,487 (***) -1,029 (***)
logxind s/ cte e tend 2,547 -4,974 (***) 2,579
logxmin c/ cte e tend -1,413 (***) -8,142 (***) -1,413 (***)
logxmin c/ cte 1,455 -7,590 (***) 2,386
logxmin s/ cte e tend 4,020 -5,675 (***) 4,020
Phillips-Perron NívelADF 1ª dif.ADF Nível
Rejeições da hipótese nula aos níveis de significância de 10%, 5% e 1% são denotados, respectivamente, por (*),
(**), e (***)
49
48
Os cálculos foram realizados com o auxílio do programa estatístico E-Views, versão 5.1
88
Segundo a tabela 17, todas as variáveis apresentam ao menos uma raiz unitária. A fim
de averiguar a ordem de integração das variáveis, isto é, se elas possuíam o mesmo número de
raízes unitárias, foram realizados os testes de raiz unitária novamente (ADF), entretanto desta
vez na primeira diferença. Observou-se que todas as variáveis do modelo em questão eram
integradas de ordem 1, ou I (1).
A partir destes testes, foi iniciado o procedimento de cointegração de Johansen, que
estima relações de cointegração entre séries integradas de ordem um (I(1)). O método é
baseado em um vetor autorregressivo irrestrito (VAR). Assim, iniciamos o modelo escolhido
primeiramente por um VAR (Vetor Autorregressivo) irrestrito.
O VAR não diferencia as variáveis exógenas e endógenas, considerando-as todas endógenas,
utilizando os valores passados das variáveis utilizadas. Porém, em um VAR as séries devem
ser estacionárias, o que não ocorre neste caso. Testaremos, portanto, se as variáveis são
cointegradas. Segundo a definição de Engle e Granger (1982), seja o vetor x
t
= (x
1
, x
2
, x
3
,...,
x
n
), dizemos que ele é cointegrado de ordem d,b, tal que x
t
~ CI (d,b) se:
1. todos os correspondentes de x
t
forem integrados de ordem d, x
t
~ I(d)
2. existe um vetor
β
50
# 0, tal que
β
`x
t
= z
t
~ I (d-b), b>0
51
.
Se as séries forem não estacionárias e cointegradas, existe uma relação de longo prazo
entre as variáveis e o erro aleatório capta os desvios do equilíbrio de longo prazo, intervindo
na trajetória dessas variáveis temporariamente.
Voltando ao modelo, é necessário melhorar sua especificação. O Chile passou por
anos de mudanças drásticas no campo econômico, o que nos levou a introduzir duas
dummies
.
D
t
= (D
72
, D
82
)
de forma a controlar possíveis
outliers
devido ao governo de Allende e aos efeitos da crise da
dívida ocorrida em 1982. Estas
dummies
têm o valor de 1 nos anos de 1972 e 1982 e 0 nos
demais. Estas variáveis asseguram os valores críticos intactos para os testes de cointegração.
O modelo será transformado através de um vetor de correção de erros (VEC):
x
t
=
Π
x
t-1
+
Σ
p-1
i=1
Γ
i
x
t-i
+
µ
+
Φ
D
t
+
ε
t
,
ε
t
~ N
n
(0,
Σ
)
49
O número de defasagens do testes ADF foi selecionado pelo critério de Schwartz, enquanto método de
estimação espectral utilizado no teste Phillips –Perron foi o “Bartlett Kernel” (com “Newey-West Bandwith”).
50
Vetor de cointegração
51
A variável resultante tem ordem de integração menor que as variáveis originais.
89
O primeiro passo a ser dado é achar a ordem do modelo, ou o número de defasagens.
Dado o número alto de variáveis explicativas e o tamanho diminuto da amostra (n=47),
permitimos um máximo de três defasagens para a realização do teste, a fim de permitir graus
de liberdade suficientes. Os resultados estão reportados na tabela 18.
Tabela 18 – Teste de especificação do número de defasagens do Vetor Autorregressivo
Lag
LogL
LR
FPE
AIC
SC
HQ
0 77,302 NA 2,57e-08 -3,286 -3,084 -3,211
1 390,142 540,360 5,39e-14 -16,370 -15,153* -15,918*
2 420,931 46,183 4,34e-14 -16,633 -14,403 -15,806
3 451,284 38,631* 3,84e-14* -16,876* -13,63 -15,67
* indica a selão da ordem por cririo
LR: sequential modified LR test statistic (teste ao nível de 5%)
FPE: Final prediction error
HQ: cririo de informação Hannan-Quinn
AIC: cririo de informação Akaike
SC: cririo de informação Schwarz
Como podemos observar, segundo os testes LR, FPE e critério de informação Akaike,
a quantidade de defasagens escolhida é três, enquanto que, pelos critérios de Schwartz e
Hannan-Quinn, a quantidade de defasagens escolhidas é apenas um. Escolhemos nos pautar
pelos dois últimos critérios pelo mesmo motivo que nos levou realizar o teste com três
defasagens: preservar o maior número possível de graus de liberdade. Além disso, segundo
Enders (2003), o critério de Schwartz selecionará um modelo mais parcimonioso que o
Akaike.
Retomando o modelo com as novas especificações, partimos para a escolha do modelo
ideal e analisamos quantos vetores de cointegração existem. Procedemos com a estatística do
traço e do teste do máximo autovalor (
eigenvalue
):
Tabela 19 - Seleção do número de relações de cointegração por modelo (0,05 de significância)
Modelo 1 2 3 4 5
Tendência Nenhuma Nenhuma Linear Linear Quadrática
Sem Intercepto Intercepto Intercepto Intercepto Intercepto
Tipo de Teste Sem Tendência
Sem Tendência
Sem Tendência
Com Tendência
Com Tendência
Traço 0 0 0 0 0
Maximo-autovalor 1 1 0 0 0
* Valores críticos baseados em Osterwald-Lenum (1992)
90
Observando os resultados acima, é possível observar que pelo teste do máximo
autovalor, foi possível detectar a existência de um vetor de cointegração e a escolha entre o
modelo 1, onde não há intercepto ou tendência, e o modelo 2, com intercepto e sem tendência.
Entretanto, o modelo 1 é improvável de ocorrer na prática, especialmente porque o intercepto
é geralmente necessário para ajustes nas unidades de medida das variáveis (ASTERIOU e
HALL, 2007)
Portanto, o modelo escolhido para análise do vetor de cointegração foi o modelo 2. De
acordo com os procedimentos acima, concluímos que as variáveis são cointegradas e,
portanto, existe uma relação de longo prazo entre elas. A estimação do modelo, portanto,
deverá ser realizada por meio de um VEC (Vetor de correção de erros), em que a equação de
cointegração pode ser descrita da seguinte maneira:
Tabela 20 – Vetor de Cointegração
Séries logy logk logl logxind logxmin c
Coeficiente de Cointegração 1 -0,54955 -0,43161 -0,073715 0,147201 -4,90149
Erro Padrão (-0,1103) -0,22568 -0,03003 -0,12925 -1,00062
Estatística t [-4,98242] [-1,91249] [-2,45496] [ 1,13885] [-4,58732]
Pode-se observar que todos os coeficientes estimados apresentam os sinais esperados.
A estimação de tal modelo sugere a aceitação da hipótese de que no Chile o crescimento do
PIB é impulsionado por suas exportações, e mais especificamente pelas exportações
industriais, configurando um modelo
export-led growth.
Isso nos é dado pelo coeficiente que
acompanha a variável logxind, é estatisticamente significativo. Uma outra evidência reflete-se
no sinal que acompanha a variável logxmin, ou seja, a variável exportações de minérios.
Segundo nossa estimação, essa variável influencia negativamente o PIB líquido (sem
exportações), o que está de acordo com a teoria a respeito do papel negativo das exportações
de produtos primários no crescimento econômico. Entretanto, o valor dessa variável não se
mostrou estatisticamente significante.
O próximo procedimento a ser realizado é a verificação da exogeneidade das variáveis
no modelo proposto. Para isso, utilizou-se o teste de causalidade de Granger para todas as
variáveis em bloco, que tem o poder de avaliar o grau de exogeneidade de cada variável em
cada equação do modelo. A tabela 21 nos mostra que a variável logy pode ser considerada
exógena a um nível de significância de aproximadamente 5%.
91
Tabela 21 – Teste de Causalidade de Granger em bloco
Variável Dependente: logy
Excluídas Chi-quadrado df Probabilidade
logk 1,7585 1 0,1848
logl 0,3909 1 0,5318
logxind 6,1668 1 0,0130
logxmin 0,3471 1 0,5558
Todas 9,5923 4 0,0479
A função impulso e resposta é uma ferramenta tanto dos modelos VAR como VEC,
sendo um mecanismo de transmissão de choques aleatórios. Ela registra o efeito que um
choque em uma das variáveis do modelo pode desempenhar sobre outra variável do modelo,
sendo percebido como aumentos nos erros de uma das variáveis do modelo. A função resposta
a impulsos considera choques individuais nas variáveis no momento t, enquanto que seus
impactos sobre as demais variáveis serão percebíveis no momento t+1. Foram realizados
choques de um desvio padrão nas variáveis e observados os resultados ao longo dos anos. Os
resultados apresentados abaixo se referem apenas às respostas sobre a variável logy, enquanto
que os resultados completos encontram-se no apêndice.
92
Figura 5 – Função impulso e resposta
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGY
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGK
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGL
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGXIND
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGXMIN
Response to Cholesky One S.D. Innovations
Os gráficos presentes na figura 5 representam as respostas sobre a variável logy dos
choques nas demais variáveis. O primeiro gráfico demonstra que um choque de logy provoca
um pequeno impacto sobre ela mesma em um primeiro momento. O choque na variável logk
93
resulta nos primeiros dois períodos um efeito negativo sobre logy, apresentando tendência
crescente nos momentos seguintes. A variável logl resulta em menor variação e mudança de
trajetória de logy, porém, ainda assim, positiva. Os resultados dos choques das variáveis
logxind e logxmin, aparecem de acordo com o vetor de cointegração e a teoria apresentada,
que um choque na primeira acarreta influência negativa em um primeiro momento,
registrando trajetória crescente nos períodos subseqüentes, enquanto logxmin apresente
influência negativa sobre logy.
O último recurso utilizado para analisar o modelo escolhido é a decomposição da
variância. Esta informa qual a participação em percentual que um choque em alguma variável
tem na variância de outra variável. Se uma das variáveis exógenas sofre um choque, este
procedimento mostra o quanto em percentual esse choque foi responsável pela variância da
variável endógena. Abaixo vemos a decomposição da variância de logy
52
em um período de
10 anos. Observamos que, ao fim do período observado, choques nas variáveis logk, logl,
logxind e logxmin são responsáveis por aproximadamente 38% da variância de logy. Isso
demonstra um efeito considerável das demais variáveis na trajetória de crescimento do PIB.
Se estendermos esse período para 20 anos, essas variáveis tornam-se responsáveis por mais de
73% da variância de logy.
Tabela 22 – Decomposição da Variância da Variável logy
Periodo Erro Pado logy logk logl logxind logxmin
1 0,038856 100,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000
2 0,064194 93,05787 0,39671 2,24668 3,49944 0,79930
3 0,081781 91,27066 0,45003 2,59930 3,83777 1,84224
4 0,092054 90,54637 0,36484 2,97064 3,26732 2,85083
5 0,097631 89,46216 0,42358 3,24538 2,98007 3,88882
6 0,101036 87,04671 0,98018 3,39441 3,73250 4,84620
7 0,104188 82,74982 2,37287 3,39579 5,89103 5,59049
8 0,108259 76,68849 4,75186 3,24942 9,28895 6,02129
9 0,113778 69,54157 7,99387 2,99050 13,35318 6,12088
10 0,120860 62,16028 11,78357 2,67068 17,43634 5,94913
3.3 Conclusões dos testes
Os exercícios econométricos deste capítulo tiveram por objetivo analisar a hipótese de
aceitação de crescimento liderado por exportações, especialmente as de produtos industriais
52
A decomposição da variância das demais variáveis encontra-se no anexo.
94
entre 1960 e 2006 no Chile. Através da técnica de cointegração de Johansen examinou-se o
impacto na produtividade refletido no crescimento do PIB dessas variáveis. Assim, os testes
sugerem a existência de uma relação de longo prazo entre as variáveis escolhidas graças ao
vetor de cointegração entre as séries. .
Uma das descobertas destes testes foi a explicitação dos diferentes impactos que as
exportações industriais e as de minérios têm sobre o PIB, com as primeiras impulsionando
positivamente, ao contrário das segundas. Este foi um dos motivos para a escolha de separar
estes dois segmentos das vendas externas chilenas, e que colabora para aceitação do
arcabouço teórico. Apesar de ambas as categorias auxiliarem no crescimento do PIB, as
exportações industriais contribuem de forma significativa no aumento de produtividade da
economia, assim como no crescimento de longo prazo, posto que as exportações industriais
têm maior potencial para tanto via externalidades positivas e
spillovers.
95
CONCLUSÃO
O Chile observou forte e contínuo crescimento do produto desde meados da década de
1980, acompanhado da expansão acelerada de suas exportações. O modelo de crescimento
com ênfase nas exportações e na abertura comercial foi um dos eixos principais das políticas
governamentais a partir do golpe militar em 1973. Contudo, o êxito da economia chilena só
pode ser observado após a recuperação da grave crise financeira e cambial de 1982-83.
Com o intento de analisar os diferentes efeitos das exportações de minérios e produtos
industriais, avaliando a importância da diversificação da pauta, foram realizados alguns
exercícios econométricos utilizando a abordagem dos Vetores de Correção de Erros (VEC) e
o instrumental da cointegração de Johansen. Os resultados sugerem que a exportação de bens
primários, a dizer, os minérios, pode limitar os ganhos de produtividade da economia e,
portanto, influenciar o produto interno. Por outro lado, as exportações de produtos industriais,
especialmente os que possuem maior capacidade inovativa, impactam positivamente a
economia, seja por ganhos de produtividade ou por
spillovers
sobre outros setores.
O modelo desenvolvido a partir de 1973 consistiu em combinar os benefícios de uma
economia aberta e orientada para o mercado e um Estado fortemente presente, capaz de
prover infra-estrutura, corrigir falhas de mercado, desenhar políticas setoriais e investir na
economia.
As exportações tiveram importante diversificação, tanto em relação aos mercados de
destino quanto no que diz respeito aos produtos no período analisado. A redução da
participação do setor minerador na pauta exportadora foi compensada por um avanço das
exportações de bens industriais, principalmente produtos elaborados a partir de recursos
naturais.
Muitos estudiosos apontam que o modelo de crescimento chileno não é sustentável no
longo prazo devido à vulnerabilidade da economia, baseada em exportações muito sensíveis a
flutuações de preços. Apontam ainda para a baixa elasticidade renda da demanda por esses
bens e insuficiente capacidade de desenvolvimento
hacia atrás
e
hacia adelante
na cadeia
produtiva.
Dado este quadro, o último questionamento do presente trabalho é: existe um limite
para esse modelo?
A experiência internacional mostra que diversos países que optaram por uma
industrialização em torno de seus recursos naturais foram exitosos, negando a hipótese da
“maldição” dos recursos naturais. Em países como Nova Zelândia, Finlândia e Austrália
96
desenvolveram-se complexos industriais em torno destes recursos, resultando em
adensamento da cadeia produtiva. Dessa forma, é importante assinalar que o ponto em comum
entre estas nações foi que enveredaram em uma via de políticas de desenvolvimento voltados
para a economia do conhecimento e o empenho inovativo.
No caso chileno, as principais políticas neste sentido começaram a ser desenhadas a
partir da década de 1990. O Sistema Nacional de Inovação até o ano de 2005 era
descentralizado, as instituições que o constituíam tinham funções similares e os diversos
projetos se sobrepunham uns aos outros. Apesar destes aspectos negativos, muitas atividades
como a vitivinicultura, a criação de salmão e o setor madeireiro desenvolveram vantagens
comparativas dinâmicas, por meio da formação de
clusters
. A criação e subseqüente
regulação do Conselho de Inovação no início de 2006 deu novo fôlego a pesquisa e tecnologia
no país, com claros objetivos de agregar maior valor as exportações e aprofundar o processo
de diversificação da pauta.
As limitações do modelo vigente sugerem como alternativa uma política de
desenvolvimento com base nos recursos naturais, porém com ênfase no progresso
tecnológico, na capacitação dos trabalhadores e no potencial dos novos complexos produtivos.
Em resposta à pergunta realizada acima, não é possível traçar um horizonte de longo
prazo. As variáveis que influenciam a sustentabilidade e definem as limitações do modelo são
diversas, muitas delas externas a economia do país. O governo chileno, por sua vez, tenta
manter-se a frente dos futuros obstáculos, ao criar programas de incentivo a inovação e
políticas setoriais em conjunto com institutos públicos, universidades e o esforço do
empreendedor privado.
A necessidade de inovar e diversificar, portanto, deve ser constante e contínua. Apesar
do papel das exportações no crescimento econômico ser fundamental, especialmente em um
país de pequenas proporções e pequeno mercado interno como o Chile, ater-se as variáveis
macroeconômicas não é suficiente. A era de ouro chilena iniciada em meados da década de
1980 foi marcada por um processo de diversificação da pauta. Entretanto, este crescimento
vem sofrendo perda de ritmo nos últimos anos. Acredita-se que apesar dos produtos hoje
exportados pelo Chile auxiliarem no crescimento, eles não mais sustentam as altas taxas de
outrora. O produto interno do país cresce conforme o crescimento das exportações, porém a
um ritmo cada vez menor.
A fim de manter este crescimento, é preciso que além de haver mais políticas que
enfatizem a produção de nova tecnologia nos setores existentes, com o aumento do valor
97
agregado, mas que haja políticas para incentivo de novos setores e novos produtos, de
preferência bens com maior valor agregado.
98
Referências Bibliográficas
ACHURRA, M. La experiencia de un nuevo producto de exportación: los salmones. Auge
Exportador Chileno : Lecciones y Desafíos Futuros, cap. 2. CIEPLAN, Santiago, Chile,
outubro de 1995.
AFONSO, O. The impact of International trade on economic growth. Working Papers
106. Faculdade de Economia do Porto, mai. 2001.
AGAPITOVA, N.; HOLM-NIELSEN, L. Chile - Science, Technology and Innovation. Latin
America and the Caribbean Regional Office Paper Series, n. 79. Human Development
Department, World Bank, p. 1-53, dezembro 2002.
AGOSIN, M. Trade and growth in Chile. Cepal Review, 68, p. 79-100, Santiago, agosto
1999.
AGOSIN, M. Diversificación and growth in emerging countries. No prelo, 2007.
ALBALA-BERTRAND, J. M. Cambio de la estructura productiva en Chile, 1986-1996:
producción e interdependencia industrial. Revista de la Cepal, nº 88, abril 2006.
ALVAREZ, R., FUENTES, R. Pautas de Especialización en una economía de rápido
crecimiento. El caso de Chile. El Trimestre Económico, Vol. LXXIII (4), nº 292, pp. 749-
781, out.-dez. 2006.
ALVAREZ, R.; LEMUS, A. ¿Se ha tenido el Proceso de Diversificación de las Exportaciones
Chilenas durante los Noventa?. Departamento de Economia Universidad de Chile, junho
2001.
AMIN GUTIÉRREZ DE PINERES, S.; FERRANTINO, M. Export diversification and
structural dynamics in the growth process: The case of Chile. Journal of Development
Economics, Vol. 52, p 375-391, 1997.
ASTERIOU, D.; HALL, S. G.. Applied Econometrics : A Modern Approach Using EViews
and Microfit. Palgrave Macmillan, 2007.
Asociación de Salmón y Trucha A.G
,
www.salmonchile.cl, acessado em diversas ocasiões.
BANCO CENTRAL DEL CHILE. www.bcentral.cl (acesso em diversas ocasiões).
BECERRA, G. Arancel efectivo de las importaciones chilenas: 2000-2005. Estudios
Económicos Estadísticos, Banco Central do Chile, N.° 50, p. 1-38, fevereiro 2006.
BORDEU, E. Lecciones y desafíos futuros del auge exportador chileno. Auge Exportador
Chileno: Lecciones y Desafíos Futuros, cap. 3.CIEPLAN, Santiago, Chile, outubro de 1995.
CLAPP, R. A. Creating Competitive advantage: Forest Policy as Industrial Policpoy in Chile.
Economic Geography, Vol. 71, n° 3 , p 273-296, julho de 1995.
99
CONAF (Corporación Nacional Forestal – Chile). www.conaf.cl , acesso em diversas
ocasiões.
Conselho de Inovação para a competitividade, Decreto 1.408, dezembro de 2005.
CORBO, V. Trade Reform and Uniform Import Tariffs: The Chilean Experience. The
American Economic Review, Vol. 87, n. 2, Papers and Proceedings of the Hundred and
Fourth Annual Meeting of the American Economic Association, p. 73-77. American
Economic Association, maio1997.
CORMA (Corporación Chilena de la Madera), www.corma.cl, acessada em diversas ocasiões.
COVARRUBIAS, R.R. Chile y las exportaciones de servicios. Prochile, documento 1.147.
Colombia, agosto 2007.
CRAFTS, N.F.R. Trade as Handmaiden of Growth: an alternative view. The Economic
Journal, Vol. 83, n º 331, pp. 875-884, set. 1973.
DAHER, A. Acuerdos de Libre Comercio y Exportaciones Regionales de Chile. Estudios
Públicos, nº 63, 1996.
DIAZ, A. Chile: La industria en la segunda fase exportadora. In: Katz, Jorge M. (ed.),
Estabilización Macroeconómica, Reforma Estructural y Comportamiento Industrial.
Buenos Aires, CEPAL/IDRC e Alianza Editorial, 1996.
DÍEZ, A. S. La solidez de la economía chilena a la luz de las reformas estructurales: 1970-
1997. Revista de Ciencias Sociales, nº22. Salamanca, Instituto de Estudios Iberoamericanos
y de Portugal, América Latina Hoy, agosto 1999.
EDWARDS, S. e LEDERMAN, D. The Political Economy of Unilateral Trade Liberalization:
The Case of Chile. NBER Working Paper No. W6510. Abril, 1998.
_____________. How effective are capital controls? The journal of Economic Perspectives,
vol. 13, nº 4, pp. 65-84. American Economic Association, 1999.
ENGLE, R. F; GRANGER, W. J. Cointegration and error correction: representation,
estimation, and testing. Econometrica, v. 50, p. 987-1007, 1982.
ENDERS, W. Applied econometric time series. Hoboken, NJ : John Wiley & Sons, 2003
FFRENCH DAVIS, R. Export dynamism and growth in Chile since the 1980s in Economic
Reforms in Chile: from dictorship to democracy, University of Michigan Press, Ann
Arbor, Janeiro 2002b.
__________________. The impact of exports on growth in Chile. CEPAL Review nº76, abril
2002a.
FERMANDOIS, J. ¿PEÓN O ACTOR? CHILE EN LA GUERRA FRÍA (1962-1973).
Estudios Públicos, nº72 Santiago, Chile. Primavera 1998.
100
FIGUEROA, L.; LETELIER, L. Exportaciones, orientación al comercio y crecimiento: un
enfoque de cointegración. Cuadernos de Economia, 31, p. 401-421, 1994.
FRANK, I. The role of trade in Economic Development. International Organization, Vol.
22, No. 1, The Global Partnership: International Agencies and Economic Development. pp.
44-71, 1968.
FRANKEL, J. A., ROMER, D. Does Trade Cause Growth? The American Economic
Review, Vol. 89, nº3, jun. 1999.
FREITAS, F. O modelo kaldoriano de crescimento liderado pelas exportações. Encontro
Nacional de Economia ANPEC, 2003.
FUENZALIDA A., J. Valor Agregado, Crecimiento y Comercio Internacional. PHAROS
Revista Semestral de la Universidad de las Americas, Vol. 9, n° 2, Novembro-Dezembro
2002.
Fundación Chile. www.fundacionchile.cl , acesso em diversas ocasiões.
GARCIA, P., MELLER, P., REPETTO, A. Las exportaciones como motor de crecimiento: la
evidencia chilena. El modelo exportador chileno: crecimiento y equidad.CIEPLAN,
Santiago,Chile, 1996.
GIBSON, M. L.; WARD, M. D. Export Orientation: Pathway or Artifact? International
Studies Quarterly, Vol. 36, nº 3, pp. 331-343, set. 1992.
GOLDBERG, P. A. The Politics of the Allende Overthrow in Chile. Political Science
Quarterly, vol. 90, nº 1, p. 93-116, The Academy of Political Science. Primavera 1975.
GOMA, O. M. Crisis ad Industrial Reorganization in Chile. Journal of Interamerican
Studies and Affairs, Vol. 31, nº 1-2, Special Issue: Latin America at the Crossroads: Major
Public Policy Issues, p. 169-192. School of International Studies, University of Miami,
Primavera-Verão1989.
GROSSMAN, G., HELPMAN, E. Endogenous innovation in the theory of growth. National
Bureau of Economic Research. Working paper n º4527. Cambridge, nov. 1991.
_____________________________. Trade, Innovation, and Growth. The American
Economic Review, Vol. 80, nº 2, Papers and Proceedings of the Hundred and Second Annual
Meeting of the American Economic Association, mai. 1990.
HERZER, D. Trade, it´s composition and total factor productivity: cointegration evidence for
Chile. Forthcoming Applied economics letters, No prelo, 2007.
___________. NOWAK- LEHNMANN,F. What does export diversification do for growth?
An econometric analysis. Applied economics, nº 38, p. 1825-1838, 2006.
___________; _______________________ SILIVERSTOVS, B. Export-led growth in Chile:
Assessing the role of export composition in productivity growth.
The developing economies,
nº XLIV-3, p. 306-328, set. 2006.
101
HOUNIE, A. La Cepal y las nuevas teorias del crecimiento. Revista de la Cepal, nº 68, ago.
1999.
INE. Instituto Nacional de Estatísticas. www.ine.cl, acesso em diversas ocasiões.
JAYME Jr., F. G. Notes on trade and growth. Texto para discussão 166. Belo Horizonte:
UFMG/CEDEPLAR, out. 2001.
KALDOR, N. Causes of the show rate of economic growth of the United Kingdom.
Cambridge, Cambridge University Press, 1966.
KATZ, J. Cambio estructural y capacidad tecnológica local. Revista de la Cepal, nº 89,
Santiago, Chile. Agosto 2006.
KENNEDY, C; THIRLWALL, A.P. Import Penetration, Export Performance and Harrod´s
Trade Multiplier. Oxford Economic Papers, New Series, Vol. 31, nº2, pp. 303-323, jul.
1979.
KRUEGER, A. O. Trade Policy and Economic Development: How We Learn. The American
Economic Review, Vol. 87, no. 1, p. 1-22, Março 1997.
KURTZ, M. State Development without a Development State: The Public Foundations of the
“Free Market Miracle” in Chile. Latin American Politics and Society, vol. 43, p. 1-25.
School of International Studies, University of Miami. Verão 2001.
MANESCHI, A. Dynamic Aspects of Ricardo´s International Trade Theory. Oxford
Economic Papers, New Series, Vol. 35, nº1, pp. 67-80, mar. 1983.
MEINEN, G., VERBIEST, P.; WOLF, P. P. Perpetual Inventory Method. Statistics
Netherlands. Department of National Accounts Netherlands, julho 1998.
MELLER, P. La apertura comercial chilena: lecciones de política. Colección estudios
CIEPLAN, nº 35, p. 9-54. Santiago, Chile. Setembro de 1992
___________. Revisión del proceso de ajuste chileno de la década del 80. Colección estúdios
CIEPLAN, nº 30, pp 5-54. Santiago, Chile. Dezembro de 1990.
___________. El cobre chileno y la política minera, Colección estudios socio económicos
CIEPLAN, nº 14, pp 1-54 Santiago, Chile. Janeiro de 2003.
___________
.; SAEZ, R. Lecciones y desafíos futuros del auge exportador chileno. Auge
Exportador Chileno: Lecciones y Desafíos Futuros, cap. 1.CIEPLAN, Santiago, Chile,
outubro de 1995.
Ministério da Agricultura do Chile, Lei nº 18.455, Abril de 2006.
MILL, J. S. Princípios de Economia Política com alguma de suas aplicações à Filosofia
social, Vol II. Tradução Luiz João Baraúna. São Paulo, Abril Cultura, 1983, p. 381.
102
MOGUILLANSKY, G. La inversión en Chile: ¿ El fin de un ciclo de expansión ? CEPAL,
Chile, Novembro 1999.
MOON, B. E. Exports, Outward-Oriented Development, and Economic Growth. Political
Research Quarterly, Vol. 51, nº1, pp. 7-36, mar. 1998.
PACK, H. Endogenous Growth Theory: Intellectual Appeal and Empirical Shortcomings.
The Journal of Economic Perspectives, Vol. 8, nº 1, pp. 55-72, 1994.
REMMER, K. L. Political Demobilization in Chile, 1973-1978. Comparative Politics, Vol.
12, nº 3, p 75-301. Phd Progam in Political Science of the City University of New York. Abril
1980.
RICARDO, D. Princípios de Economia Política e de Tributação. Lisboa : Fundação
Calouste Gulbenkian, 2001.
RIEDEL, J. Trade as the Engine of Growth in Developing Countries, Revisited. The
Economic Journal, Vol. 94, nº 373, pp. 56-73, mar. 1984.
ROMER, P.M. The origins of Endogenous Growth. The Journal of Economic Perspectives,
Vol. 8, nº 1, pp. 3-22, 1994.
ROSENDE, F. R. Teoría del crecimiento económico: un debate inconcluso. Estudios de
Economia, Vol. 27, nº 1, pp. 95-122, jun. 2000.
ROSSI, I. Lecciones y desafíos futuros del auge exportador chileno. Auge Exportador
Chileno: Lecciones y Desafíos Futuros, cap. 4.CIEPLAN, Santiago, Chile, outubro de 1995.
Servicio Nacional de Aduanas Chile, www.aduana.cl, acessado em diversas ocasiões.
SILIVERSTOVS, B., HERZER, D. Manufacturing exports, mining exports ans growth:
cointegration ans causality analysis for Chile (1960-2001). Applied Economics, 39, p.
153-167, 2007.
SILVA, E. Capitalist Coalitions, the State, and Neoliberal Economic Restructuring: Chile,
1973-1988. World Politics, Vol. 45, nº 4, p 526-559. The Johns Hopkins University Press.
Julho 1993.
________. From Dictorship to Democracy: The Business- State Nexus in Chile’s Economic
Transformations, 1975-1994. Comparative Politics, Vol. 28, nº. 3, p. 299-320. Phd Progam
in Political Science of the City University of New York. Abril 1996.
SUTULOV, A. Antecedentes históricos de la producción de cobre en Chile. En: El cobre
chileno / Corporación del Cobre. A. Zauschquevich e Alexander Sutulov. Santiago de
Chile. Universitaria, 1975.
SÁEZ, S.; VALDES S., J. G. Chile y su política comercial “lateral”. Revista de La Cepal, nº
67, abril 1999.
103
THIRLWALL, A. P. La naturaleza del crecimiento económico: un marco alternativo para
comprender el desempeño de las naciones. México: FCE, 2003.
TOKMAN, M.; EYZAGUIRRE, N.; MARCEL, M.; RODRÍGUEZ, J. Hacia La Economía
Del Conocimiento: El Camino Para Crecer Con Equidad En El Largo Plazo. Estudios
Públicos, 97, p. 1-53, 2005.
UNCTAD. www.unctad.org.
U.S. GEOLOGICAL SURVEY, Mineral commodity, e.g., Gold] statistics, in Kelly, T.D., and
Matos, G.R., comps., Historical statistics for mineral and material commodities in the United
States: U.S. Geological Survey Data Series 140 disponível em
http://pubs.usgs.gov/ds/2005/140/. (acessado em 10/10/2007.)
VERGARA, P. Apertura Externa y Desarrollo Industrial en Chile: 1973 – 78. Desarrollo
Económico Vol. XX, nº 80, 1981.
VERGARA, S. el mercado vitivinícola mundial y el flujo de inversión extranjera a Chile.
Serie desarrollo productivo CEPAL, nº 102. Santiago de Chile, agosto de 2001.
ZAHLER, R. Recent Southern Cone Liberalization Reforms and Stabilizations Policies: The
Chilean Case, 1974-1982. Journal of Interamerican Studies and Affairs, Vol 25, nº 4,
Special Issue: Economic Experiences in the Southern Cone, 1974-1982, p. 509-562. School of
International Studies, University of Miami. Novembro 1983.
104
Apêndice I – Série de dados utilizados nos testes
Anos PIB Xind Xmin K L d1 d2
1960 6919608,8 56051,3 584370,9 15120061,0 2323,0 0 0
1961
7255018,2 68346,3 598220,5 15793502,0 2343,0 0 0
1962
7609387,8 53571,4 634000,8 16608669,0 2387,0 0 0
1963 8096794,1 58307,3 666737,6 17620028,0 2440,0 0 0
1964
8222736,7 117085,8 678309,5 18475856,0 2495,0 0 0
1965
8290090,7 125131,0 675804,3 19183931,0 2554,0 0 0
1966
9264185,0 115422,5 725171,6 19909077,0 2605,0 0 0
1967
9567576,8 85222,9 780039,3 20633967,0 2687,0 0 0
1968
9923393,4 90917,9 792042,6 21485365,0 2717,0 0 0
1969
10290274,9 83367,3 834794,9 22389197,0 2730,0 0 0
1970
10507470,8 107829,4 823612,9 23375529,0 2776,0 0 0
1971 11534838,8 135488,3 792964,9 24263705,0 2868,0 0 0
1972
11512860,7 99649,8 699580,5 24694162,0 2922,0 1 0
1973
10802155,1 66252,1 758511,8 25004041,0 2907,0 0 0
1974 10543137,0 176644,8 1020436,2 25593688,0 2796,0 0 0
1975
9014144,4 313846,7 853821,9 25758311,0 2625,0 0 0
1976
9026992,5 430217,0 1051872,5 25704119,0 2725,0 0 0
1977
9755763,5 537361,8 1084695,6 25892543,0 2884,0 0 0
1978
10456294,4 665364,3 1138127,3 26324526,0 3013,0 0 0
1979
11054144,3 818775,2 1260869,4 26991093,0 3070,0 0 0
1980
11791233,9 930624,1 1427270,0 28154381,0 3225,0 0 0
1981
13012413,9 754788,0 1326621,1 29723947,0 3372,0 0 0
1982 10926632,6 741649,7 1399663,7 30001125,0 3044,0 0 1
1983
10431711,4 690267,5 1490018,1 29972996,0 3203,0 0 0
1984
11233830,1 804404,6 1342065,4 30330678,0 3370,0 0 0
1985 11486815,1 794803,6 1564306,3 30897223,0 3561,0 0 0
1986
12102969,3 972803,6 1545002,0 31485809,0 3752,3 0 0
1987
12919862,8 1046118,1 1618927,1 32508224,0 3895,6 0 0
1988
13611573,7 1105997,3 2006794,0 33847043,0 4123,4 0 0
1989
14645878,0 1296678,9 2547941,0 36008180,0 4352,3 0 0
1990 15085997,4 1517491,4 2570709,2 38158240,0 4450,0 0 0
1991
16194436,4 1934168,6 2573758,0 40193769,0 4518,0 0 0
1992
18045636,9 2393706,6 2804860,5 43074991,0 4723,8 0 0
1993 19495868,5 2712905,5 2659331,0 46690390,0 4992,3 0 0
1994
20187987,1 3027023,2 3072595,7 50481896,0 5036,2 0 0
1995
22204139,4 3143138,3 3734064,3 55523468,0 5095,3 0 0
1996 24461578,6 3268811,4 3506899,0 60988038,6 5182,1 0 0
1997
25705070,4 3626529,5 3969093,1 67048563,7 5281,3 0 0
1998
26589876,4 4090047,6 3696673,9 72976861,5 5393,9 0 0
1999
25421766,5 4467407,1 4225868,4 76916217,4 5315,5 0 0
2000
26288436,0 4663634,9 4694421,1 81330549,5 5414,1 0 0
2001 26796592,3 5265549,1 4788146,6 85881460,1 5468,1 0 0
2002
27372932,4 5484418,5 4797788,1 90337859,1 5570,5 0 0
2003
28193957,0 5641514,7 5294586,3 95069415,1 5788,5 0 0
2004 28637768,1 5296223,3 7607815,5 100651013,4 5946,4 0 0
2005
30299678,8 5197077,5 8682096,7 108508519,7 6170,3 0 0
2006 31149930,4 4568707,0 10118914,7 116388187,2 6271,9 0 0
105
Apêndice II – Função Impulso e Resposta
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGY
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGK
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGL
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0
Response of LOGY to LOGXIND
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGY to LOGXMIN
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
.06
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGK to LOGY
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
.06
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGK to LOGK
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
.06
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGK to LOGL
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
.06
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0
Response of LOGK to LOGXIND
-.01
.00
.01
.02
.03
.04
.05
.06
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGK to LOGXMIN
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGL to LOGY
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGL to LOGK
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGL to LOGL
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0
Response of LOGL to LOGXIND
-.04
-.03
-.02
-.01
.00
.01
.02
.03
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGL to LOGXMIN
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXIND to LOGY
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXIND to LOGK
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXIND to LOGL
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0
Response of LOGXIND to LOGXIND
-.2
-.1
.0
.1
.2
.3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXIND to LOGXMIN
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXMIN to LOGY
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXMIN to LOGK
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXMIN to LOGL
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0
Response of LOGXMIN to LOGXIND
-.12
-.08
-.04
.00
.04
.08
.12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Response of LOGXMIN to LOGXMIN
Response to Cholesky One S.D. Innovations
106
Apêndice III – Decomposição da Variância
Decomposição da Variância de logy
Periodo Erro Pado logy logk logl logxind logxmin
1 0,038856 100,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000
2 0,064194 93,05787 0,39671 2,24668 3,49944 0,79930
3 0,081781 91,27066 0,45003 2,59930 3,83777 1,84224
4 0,092054 90,54637 0,36484 2,97064 3,26732 2,85083
5 0,097631 89,46216 0,42358 3,24538 2,98007 3,88882
6 0,101036 87,04671 0,98018 3,39441 3,73250 4,84620
7 0,104188 82,74982 2,37287 3,39579 5,89103 5,59049
8 0,108259 76,68849 4,75186 3,24942 9,28895 6,02129
9 0,113778 69,54157 7,99387 2,99050 13,35318 6,12088
10 0,120860 62,16028 11,78357 2,67068 17,43634 5,94913
Decomposição da Variância de logk
Periodo Erro Pado logy logk logl logxind logxmin
1 0,008693 33,70567 66,29433 0,00000 0,00000 0,00000
2 0,020222 35,37435 60,31699 0,16939 3,18097 0,95829
3 0,033081 35,52496 56,75752 0,42059 6,54065 0,75627
4 0,046085 33,72011 57,63206 0,52201 7,55777 0,56806
5 0,058590 30,21732 61,50470 0,56778 7,27088 0,43932
6 0,070624 25,66144 67,16918 0,55370 6,26263 0,35306
7 0,082615 20,73738 73,48354 0,49713 4,98713 0,29482
8 0,095124 16,13471 79,38800 0,41776 3,80452 0,25501
9 0,108650 12,37902 84,11681 0,33442 2,94154 0,22822
10 0,123524 9,71370 87,33552 0,26075 2,47893 0,21110
Decomposição da Variância de logl
Periodo Erro Pado logy logk logl logxind logxmin
1 0,01797 25,48102 1,34899 73,16999 0,00000 0,00000
2 0,02679 23,55987 3,43013 68,78797 1,44692 2,77510
3 0,03190 18,04694 3,69673 71,49471 1,38195 5,37967
4 0,03673 14,96881 2,99712 69,70339 5,25022 7,08047
5 0,04345 18,57800 2,18048 59,28686 12,78033 7,17433
6 0,05259 25,78232 1,95558 45,93834 20,15690 6,16686
7 0,06342 32,58551 2,32458 34,80324 25,31135 4,97532
8 0,07511 37,68529 3,03443 26,83918 28,45487 3,98623
9 0,08706 41,23405 3,90312 21,33635 30,28374 3,24275
10 0,09899 43,66415 4,83827 17,47998 31,32441 2,69319
107
Decomposição da Variância de logxind
Periodo Erro Pado logy logk logl logxind logxmin
1 0,24271 3,07239 3,22418 9,53459 84,16885 0,00000
2 0,38163 9,22038 5,06759 6,03906 79,17225 0,50073
3 0,49558 12,46868 6,26873 5,38241 75,21932 0,66086
4 0,59644 14,05194 7,39698 5,09659 72,64010 0,81439
5 0,68464 14,88918 8,45863 4,91727 70,80181 0,93312
6 0,76365 15,31319 9,46978 4,79891 69,39796 1,02016
7 0,83628 15,54391 10,43584 4,70156 68,23635 1,08235
8 0,90477 15,70005 11,35778 4,61309 67,20465 1,12444
9 0,97078 15,84458 12,23628 4,52784 66,24024 1,15105
10 1,03548 16,00911 13,07226 4,44361 65,30900 1,16602
Decomposição da Variância de logxmin
Periodo Erro Pado logy logk logl logxind logxmin
1 0,10312 2,73859 27,68487 0,51648 0,00530 69,05477
2 0,13680 5,62039 25,98534 0,47559 6,36019 61,55848
3 0,16499 7,27417 28,21479 0,41685 5,72354 58,37065
4 0,19269 9,80065 30,32775 0,32166 4,72441 54,82552
5 0,22041 12,51360 32,34254 0,28554 3,75504 51,10328
6 0,24897 15,21145 34,15709 0,27336 2,95257 47,40554
7 0,27845 17,73081 35,74439 0,27521 2,37025 43,87934
8 0,30885 19,98223 37,12907 0,28539 1,98670 40,61662
9 0,34007 21,94798 38,33973 0,29937 1,76269 37,65024
10 0,37205 23,64514 39,40327 0,31482 1,66002 34,97674
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo