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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA
ESTRATÉGIAS DE PENSAMENTO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO
A PRODUÇÃO BIOPOLÍTICA DO CORPO SAUDÁVEL:
Mídia e subjetividade na cultura do excesso e da moderação
EDUARDO RIBEIRO DANTAS
NATAL/RN
2007
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EDUARDO RIBEIRO DANTAS
A PRODUÇÃO BIOPOLÍTICA DO CORPO SAUDÁVEL:
Mídia e subjetividade na cultura do excesso e da moderação
Tese apresentada à Banca Examinadora
do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRN como exigência
parcial para obtenção do título de Doutor
em Educação.
Orientadora: Prof
a.
Dr
a.
Terezinha Petrucia
da Nóbrega.
NATAL/RN
2007
Para minha família
AGRADECIMENTOS
A Deus, a Nossa Senhora Auxiliadora, minha protetora, e mais uma vez a todos os
meus anjos da guarda.
A minha esposa Cristiane e a minha pequena Débora, meus grandes amores.
A toda a minha família, em especial aos meus pais e aos meus avós, pelo apoio
incondicional ao longo da minha vida.
A minha orientadora Petrucia, pela forma rigorosa e amiga com que conduziu esta
orientação.
Aos professores da banca examinadora e dos seminários doutorais, pelas preciosas
contribuições.
Aos colegas de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRN.
A todos que fazem o Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN.
À CAPES, pelo auxílio da bolsa quando ainda era professor visitante na UEPB.
Ao Departamento de Educação Física da UEPB, na figura da professora Giselly Félix
Cotinho.
Aos professores e alunos da UEPB, pelo afastamento concedido.
Aos meus eternos amigos João, Christyan, Alison, Ingrid e Fernanda, companheiros
sempre presentes na minha jornada.
Aos colegas do GEPEC e do GCEM, pelas calorosas discussões.
À Rildo e Pedro, pela ajuda com o projeto gráfico.
A minha tia Ana Lúcia, pelos exemplares da revista Saúde! que me foram cedidos.
E a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram nessa caminhada, não citados
nesses breves agradecimentos. Muito obrigado.
Nós, os novos, sem nome, de difícil
compreensão, nós, rebentos prematuros
de um futuro ainda não provado, nós
necessitamos, para um novo fim,
também de um novo meio, ou seja, de
uma nova saúde, mais forte alerta
alegre firme audaz que todas as saúdes
até agora. Aquele cuja alma anseia
haver experimentado o inteiro
compasso dos valores e desejos até
hoje existentes e haver navegado as
praias todas desse “Mediterrâneo” ideal,
aquele que quer, mediante as aventuras
da vivência mais sua, saber como sente
um descobridor e conquistador do ideal,
e também um artista, um santo, um
legislador, um sábio, um erudito, um
devoto, um adivinho, um divino
excêntrico de outrora: para isso
necessita mais e antes de tudo uma
coisa, a grande saúde – uma tal que
não apenas se tem, mas
constantemente se adquire e é preciso
adquirir, pois sempre de novo se
abandona e é preciso abandonar...
(NIETZSCHE, 2001, p. 286)
RESUMO
Reconhecendo como legítima a agenda de prioridades deixada por Foucault, para
quem a luta contra as formas de assujeitamento dos modos de vida assume uma
importância central na existência do ser humano, esta tese questiona os impactos
dos agenciamentos do corpo na mídia especializada em saúde, sobre a produção da
subjetividade contemporânea. Tendo na revista Saúde! o seu campo empírico,
discute os processos de subjetivação centrados na realização das mais diversas
práticas corporais destinadas à auto-construção do corpo perfeito, que encontram
condições propícias de desenvolvimento no imperativo narcisista das novas formas
de regulação social das sociedades hipermodernas. O nosso argumento central, em
se tratando de uma reflexão específica sobre corpo, mídia e subjetividade, é de que
os agenciamentos do corpo na mídia especializada em saúde possibilitam a
emergência de novos territórios existenciais, configurando a produção biopolítica do
corpo saudável enquanto um processo de subjetivação aberto à experimentação e à
invenção de si mesmo. Processo de subjetivação corporal centrado na auto-
construção do corpo saudável, que gera ao mesmo tempo singularização e
massificação da subjetividade humana, evidenciando com isso linhas de fuga a
compor uma perspectiva existencial da saúde do corpo. Buscamos nesta tese
apontar não só as formas historicamente hegemônicas de sermos saudáveis, mas
principalmente as forças que as colocam em questão hoje em dia, fazendo com que
seja possível pensarmos outras maneiras de vivermos a saúde do corpo, a partir da
singularização da subjetividade.
Palavras-chave: Corpo; Saúde; Mídia; Educação; Subjetividade.
ABSTRACT
Recognizing the plans left by Foucault as legitimate, for those that the struggle to
fight against all forms of way of life subjection takes an important role on human
being existence, this thesis questions the impacts of body planning on health
specialized media on the production of the contemporary subjectivity. Having the
Saúde! magazine as this thesis’ empirical field, it discusses the subjectivity
processes centered on the realization of many bodily practices destined to a perfect
body self-construction, finding suitable conditions for a narcissistic development of
the new ways of social regulation on hypermodern societies. Our central argument,
refering to a specific reflection about the body, media and subjectivity, is that the
body promoting over the health specialized media makes possible the creation of
new existential territories, configuring the healthy body bio-political production by a
subjectivity process open to experimenting and to self-invention. Bodily subjectivity
process centered on body self-construction, simultaneously generating human
subjectivity singularization and massification, evidencing escape routes to build a
body health existential perspective. In this thesis we seek to point not only the
historically hegemonic forms of being healthy, but mainly the forces that nowadays
question these forms, making possible the thought of other ways to live the health of
the body, starting from the subjectivity singularization.
Key-words: Body; Health; Media; Education; Subjectivity.
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1 – Publicações da Editora Abril..............................................................
.
Fonte: Grupo Abril, 2007.
39
Imagem 2 – Organograma do Grupo Abril.............................................................
Fonte: Grupo Abril, 2007.
45
Imagem 3 – Capa da revista Saúde! na década de 1980......................................
Fonte: Revista Saúde!, 1985.
49
Imagem 4 – Capa da revista Saúde! na década de 1980......................................
Fonte: Revista Saúde!, 1984.
49
Imagem 5 – Capa da revista Saúde! na década de 1980......................................
Fonte: Revista Saúde!, 1987.
49
Imagem 6 – Capa da revista Saúde! na década de 2000......................................
Fonte: Saúde!, 2004.
50
Imagem 7 – Capa da revista Saúde! na década de 2000......................................
Fonte: Saúde!, 2004.
50
Imagem 8 – Infográficos da revista Saúde!............................................................
Fonte: Saúde!, 2004.
57
Imagem 9 – Infográficos da revista Saúde!............................................................
Fonte: Saúde!, 2004.
57
Imagem 10 – Interface do CD-ROM Saúde!..........................................................
Fonte: Saúde!, 2004.
58
Imagem 11 – Versão on-line da revista Saúde!.....................................................
Fonte: Revista Saúde!, 2007.
60
Imagem 12 – Canais de comunicação da revista Saúde!......................................
Fonte: Saúde!, 2004.
62
Imagem 13 – Infográficos da revista Saúde!..........................................................
Fonte: Saúde!, 2004.
67
Imagem 14 – Poster do Prêmio Esso de Jornalismo.............................................
Fonte: Prêmio Esso de Jornalismo, 2007.
104
Imagem 15 – Edvard Munch – Blossom of Pain (1898).........................................
Fonte: Munch-Museet, 2007.
156
Imagem 16 – Edvard Munch – Friedrich Nietzsche (1906)....................................
Fonte: Edvard Munch Gallery, 2007.
158
LISTA DE SIGLAS
ABRACICLO – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores,
Motonetas, Bicicletas e Similares.
ACAD – Associação Brasileira de Academias.
ACSM – American College of Sports Medicine.
ANR – Associação Nacional de Reflexologia.
CELAFISCS – Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano
do Sul.
CONFEF – Conselho Federal de Educação Física.
CREF – Conselho Regional de Educação Física.
CU – Colorado University.
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
FIC – Faculdade Integrada do Ceará.
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz.
FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas.
GCEM – Grupo de Pesquisas sobre Corpo, Educação e Movimento.
GEPEC – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Corpo e Cultura de Movimento.
ICB – Instituto de Ciências Biomédicas.
NEPECT – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Ciência e Tecnologia.
OMS – Organização Mundial da Saúde.
SBC – Sociedade Brasileira de Cardiologia.
SBCP – Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
SBD – Sociedade Brasileira de Dermatologia.
SBRPG – Sociedade Brasileira de RPG.
UDESC – Universidade Estadual de Santa Catarina.
UEL – Universidade Estadual de Londrina.
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
UNIBAN – Universidade Bandeirante de São Paulo.
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo.
UNIMES – Universidade Metropolitana de Santos.
UNIMONTE – Centro Universitário Monte Serrat.
USP – Universidade de São Paulo.
VIACICLO – Associação dos Ciclousuarios de Florianópolis.
SUMÁRIO
CARTA AO LEITOR...............................................................................................11
OS AGENCIAMENTOS DO CORPO NA REVISTA SAÚDE!................................
.
22
A revista Saúde!.....................................................................................................33
Os discursos do corpo saudável............................................................................61
BIOPOLÍTICAS DO CORPO SAUDÁVEL..............................................................86
A produção biopolítica do corpo saudável.............................................................
.
96
A
SA
Ú
DE EM TEMPOS HIPERMODERNOS........................................................114
As práticas corporais na cultura do excesso e da moderação...............................130
A PERSPECTIVA EXISTENCIAL DA SAÚDE.......................................................147
A invenção do corpo saudável...............................................................................163
NESTA EDIÇÃO.....................................................................................................175
REFERÊNCIAS......................................................................................................178
ANEXOS................................................................................................................
.
184
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
12
Pensar o corpo saudável a partir dos discursos da mídia que nos invadem
sem pedir permissão já há algum tempo, mostrou-se desde o princípio uma tarefa
bastante intrigante para mim, devido à proximidade em que me encontro do meu
objeto de estudo. Iniciada bem antes da abstração que agora realizo, a estreita
relação com o tema investigado fez com que o meu problema de pesquisa se
tornasse antes de tudo uma questão existencial, a suscitar reflexões inéditas sobre
um passado não tão distante, que ainda hoje me pego a recordar.
1
Mais do que revelar detalhes aparentemente sem importância desse passado,
as linhas que se seguem têm a difícil missão de circunstanciar em algumas poucas
páginas, um processo de produção de conhecimento longo o suficiente para ter visto
de perto a transformação mais importante da minha vida até o presente momento,
ocasionada pelo desafio de ser pai.
Recuperando passagens significativas da minha trajetória acadêmica, procuro
destacar em especial os caminhos trilhados no exercício da reflexão corporificada
que venho realizando nos últimos anos, enquanto pesquisador situado no mundo.
Para tanto, volto agora no tempo, na intenção de resgatar um momento marcante da
minha história de vida, que diversas vezes me ajudou a pensar esta tese, quando a
inspiração necessária se fazia ausente.
Lembro de quando ainda criança, sofrendo de um mal cuja denominação
soava tão misteriosa quanto ameaçadora para alguém da minha idade, ter sido
impedido de dar seqüência à normalidade da minha vida e realizar as fantasias que
a infância nos reserva. Bastante abatido, em função de uma pneumonia que veio
1
Confesso que assim como grande parte das pessoas hoje em dia, eu também vivia distraidamente a saúde do
meu próprio corpo, pensando muito pouco a seu respeito. Reflexividade que só era exercitada de tempos em
tempos, quando a vida se mostrava estranha demais para seguir em frente sem ser questionada. Como diria a
professora Norma Takeuti, na oportunidade do seminário de qualificação desta tese, fenômenos como a saúde, a
doença, a dor, o sofrimento, a felicidade, além da morte e da própria vida, só são pensados com todas as suas
conseqüências via literatura, arte e filosofia, mas jamais no senso comum, espaço da vida reservado apenas para
o viver, como se esse viver não implicasse no ato de refletir.
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
13
interromper subitamente as aventuras de um verão promissor, fiquei um bom tempo
sem sair de casa para brincar com os meus amigos, descobrindo no universo da
leitura uma forma excitante e para mim inédita de habitar o mundo, diferente de
todas as outras a que estava acostumado.
Mesmo tendo encontrado nos livros uma nova condição de existência, em
sintonia com a vida que me era possível viver naquele momento, recordo que
assistia com uma tristeza sem fim aos jogos de bola em que minha família inteira se
envolvia diariamente, no campinho de areia que ficava por trás da nossa casa. Sem
poder jogar, por ordens médicas e acirrada vigilância materna, observava da minha
janela todas as brincadeiras que aconteciam, na esperança de que algum milagre
repentino me deixasse em condições de também integrar a festa, o que não veio a
ocorrer, pelo menos não tão rápido assim.
2
Ainda lembro com detalhes de tudo o que acontecia naqueles finais de tarde,
em que o tempo parecia não ter pressa alguma de passar. Das brincadeiras, dos
risos, da areia quente, da poeira preta que cobria as pernas dos meus parentes e
amigos, tão perigosa para os meus pulmões debilitados. Não mais esquecido de
mim mesmo, pude vivenciar a saúde na sua íntima relação com o corpo, com a vida
e com a doença, compreendendo não o seu conceito científico, mas o vulgar, aquele
comum, que Canguilhem (2005) afirma estar ao alcance de todos.
Os anos foram passando e muitos outros diagnósticos não permitiram que eu
perdesse de vista a condição corporal da minha existência, assim como a finitude
que a espreita, pois como diria ainda Canguilhem (2005), as doenças são os
instrumentos da vida pelos quais o homem se vê obrigado a se reconhecer mortal.
2
Confirmando a reflexão de Gadamer (1997), o que há de estranho na experiência do adoecer não é nem tanto a
existência da doença, mas sim o milagre da saúde.
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
14
A experiência da saúde e da doença foi sendo acompanhada por uma maior
capacidade de abstração e pelo acúmulo dos conhecimentos científicos, que
passaram a responder pelo que acontecia comigo quando a vida deixava de ser
silenciosa.
A relação profissional com o corpo saudável, por sua vez, iniciou-se
efetivamente a partir da entrada no curso de Educação Física da UFRN. Apesar de
ter me aproximado da discussão sobre o esporte já na minha primeira graduação,
em Comunicação Social, foi somente na rotina acadêmica da Educação Física que
tive um contato direto e intenso com os estudos do corpo e da saúde.
3
Habilitado em
Jornalismo, o que de certa forma fez com que eu me aproximasse também dos
estudos da mídia realizados na área da Educação Física, descobri na problemática
do corpo um caminho denso e fascinante a ser percorrido a partir de então.
Caminho que venho trilhando com entusiasmo, desde os primeiros passos
como bolsista de iniciação científica na UFRN. Período em que tive a oportunidade
de ampliar a minha compreensão do corpo, para além da visão limitada que de certo
modo nos é imposta ao longo de nossas vidas, seja dentro ou fora do ambiente
escolar. Através de um olhar mais atento às Ciências Humanas e Sociais, além de
um contato inicial com a Filosofia, deixei de enxergar o corpo humano apenas na
sua condição orgânica e individual, passando a reconhecê-lo também enquanto um
fenômeno social, cultural e histórico, que se constitui em objeto das mais diversas
representações e imaginários (LE BRETON, 2006).
O corpo que desde criança chamava de meu, cuja estrutura e funcionamento
adequados aprendi a reconhecer não só através dos discursos biomédicos e de
3
Os estudos do corpo e das práticas corporais vêm sendo realizados na Educação Física a partir de diversas
abordagens teóricas, das quais destaco no momento, em razão da relevância para esta investigação, a perspectiva
sociológica (BETTI, 2001), a perspectiva epistemológica (NÓBREGA, 1999; 2005) e a perspectiva histórica
(SOARES, 1998; 2001).
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
15
suas verdades universalizantes, mas principalmente pelas variações que a vida nos
impõe a cada instante, passava a ser visto agora como uma construção simbólica,
constantemente moldada pelo contexto histórico, social e cultural.
A leitura de autores que discutiam a questão do consumo nas sociedades
contemporâneas, como Mike Featherstone, Jean Baudrillard e Pierre Bourdieu, entre
outros, fez com que eu me aproximasse naquele momento de uma abordagem
sociológica do corpo humano, marcada pela investigação de fenômenos sociais que
têm no corpo um objeto concreto de investimentos coletivos.
4
Dessa forma, a mídia
se tornava um campo de observações privilegiado, sobre o qual passaria a me
debruçar desde então, todas as vezes que fosse analisar o corpo enquanto reflexo
da vida social.
A partir da entrada no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN,
pude aprofundar os estudos que vinha realizando próximo à abordagem sociológica,
ao discutir a educação do corpo contemporâneo enquanto um processo pedagógico
contínuo e desterritorializado, configurado pela incidência simultânea ou sucessiva
de múltiplas instâncias sociais sobre a corporeidade humana.
5
Processo no qual a
auto-construção da nossa realidade corporal é amplamente orientada pelas práticas
4
A abordagem do corpo não é nova nas Ciências Sociais, que desde o século XIX vem se preocupando com as
questões da corporeidade humana. O problema é que durante muito tempo ele não foi tomado como foco
principal das análises realizadas na área, o que mudou no final dos anos 60, quando os sociólogos passaram a dar
uma atenção redobrada aos condicionantes sociais e culturais que modelam a corporeidade humana, de forma
que hoje podemos falar em uma sociologia do corpo propriamente dita, a investigar, entre outras coisas, as
lógicas sociais e culturais que nele se propagam (LE BRETON, 2006).
5
No segundo semestre do ano 2000, passei a integrar a linha de pesquisas sobre Estratégias de Pensamento e
Produção do Conhecimento, vinculada ao cleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação, Ciência e Tecnologia
NEPECT, desenvolvendo os meus estudos de mestrado sob a orientação da professora Terezinha Petrucia da
Nóbrega, com quem iniciei uma relação de orientação e de amizade. Incentivado pela minha orientadora, passei
naquele momento a ter na Filosofia, especialmente na atividade epistemológica, uma ferramenta a mais para me
aproximar do corpo e de suas condições de produção. Alimentado sem moderação pelo espanto de uma atitude
filosófica que não se contenta em aceitar a nossa existência cotidiana sem maiores considerações, passei a ter um
contato mais freqüente com a obra de filósofos contemporâneos, especialmente Nietzsche, Foucault, Merleau-
Ponty e Deleuze, que direta ou indiretamente contribuíram para a constituição daquilo que só recentemente viria
a ser caracterizado como uma sociologia do corpo e do seu conhecimento.
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
16
discursivas da mídia, que participam com voz ativa na produção do conhecimento
sobre o corpo que circula na vida social.
As questões pedagógicas passavam a me acompanhar a partir de então,
tendo como pano de fundo uma compreensão mais ampla dos processos educativos
contemporâneos, não vinculada unicamente aos territórios tradicionais da educação
escolarizada. Já na dissertação de mestrado, produzida com base nos discursos da
revista Boa Forma sobre o corpo modificado, a mídia viria a ser discutida enquanto
um agente educativo eficaz, a construir e difundir na sociedade brasileira diversas
justificativas e estratégias para modificarmos o nosso corpo.
6
O envolvimento com os discursos da mídia na perspectiva pedagógica e a
participação efetiva nas atividades epistemológicas que realizava durante o curso de
graduação em Educação Física e o mestrado em Educação, fizeram com que os
meus investimentos acadêmicos fossem se aproximando também de uma certa
sociologia do conhecimento, preocupada com as origens sociais das idéias sobre o
corpo, bem como os seus impactos na sociedade.
7
Questionando especialmente como na vida social diária a mídia especializada
contribuía com os seus discursos para a construção da realidade do corpo, a partir
dos diversos tipos de saberes que veicula, pude me aproximar de uma perspectiva
não reducionista da sociologia do conhecimento, que admite a investigação de tudo
6
Dissertação apresentada em março de 2002, com o seguinte título: O corpo modificado, os discursos da mídia e
a educação multirreferencial. Para maiores detalhes da pesquisa, ver Dantas (2002a).
7
Os últimos anos da graduação em Educação Física foram cursados ao mesmo tempo dos estudos de mestrado,
período em que pude vivenciar plenamente a atitude epistemológica na Educação Física, através das discussões e
atividades realizadas na linha de pesquisas sobre Corpo, Cultura de Movimento e Epistemologia, do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Corpo e Cultura de Movimento – GEPEC, ao qual até hoje me encontro vinculado.
Atividade epistemológica que se fez presente no trabalho de conclusão do curso de graduação em Educação
Física, realizado a partir de uma reflexão sobre a Cultura de movimento e o conhecimento da Educação Física.
Estudo em que a perspectiva epistemológica se ampliava para além das discussões sobre a delimitação da
Educação Física enquanto área acadêmica ou profissional, tratando de conceitos centrais presentes em sua
história, de forma a se constituir antes de tudo como uma atitude de pesquisa, para além da repetição de
conhecimentos estanques e cristalizados da área (DANTAS, 2002b).
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
17
aquilo que é considerado conhecimento na sociedade, não se limitando aos estudos
da emergência social da ciência enquanto uma verdade absoluta e inquestionável
(BERGER; LUCKMANN, 2005).
Perspectiva sociológica que me levava já naquele momento, a discutir as
condições sociais da produção de conhecimento sobre o corpo contemporâneo, sem
perder de vista o homem comum no exercício de suas ações rotineiras, que no atual
estágio da sociedade da informação, inevitavelmente destina uma boa parte do seu
tempo à procura de informações especializadas sobre a vida em geral.
8
Após a realização do mestrado, dei início à minha trajetória profissional
enquanto professor universitário, ao entrar na Universidade Estadual da Paraíba
ainda em 2002.
9
Pouco tempo depois, retornei ao Programa de Pós-graduação em
Educação da UFRN, para dar continuidade aos meus investimentos acadêmicos e
existenciais, agora na qualidade de doutorando.
Buscando afirmar a minha identidade enquanto pesquisador, além de abrir
novos campos de pesquisa e consolidar outros já investidos pela Educação Física
brasileira, concentrei os meus estudos de doutorado na perspectiva da sociologia do
corpo e das práticas corporais, dando seqüência às investigações sobre a
pedagogia da mídia enquanto fenômeno social, que há tempos produz e coloca em
circulação as mais diversas práticas discursivas sobre o corpo humano.
O corpo saudável se tornava então, o meu novo objeto de estudo, vindo a ser
discutido através da articulação entre a reflexão sociológica e a atenção ao campo
8
Como diria Latour (1994), a leitura do jornal diário se constitui na reza do homem moderno.
9
Local onde, até o presente momento, venho atuando na abordagem sociocultural da Educação Física. Tendo em
vista o referencial sociológico e filosófico da área, venho desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa e
extensão, estando vinculado ao Grupo de Pesquisas sobre Corpo, Educação e MovimentoGCEM, na linha de
investigações sobre Cultura de Movimento e Sociedade.
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
18
empírico, a partir dos indicadores socioculturais produzidos pela técnica da análise
de conteúdo (BARDIN, 1979).
Reconhecendo como legítima a agenda de prioridades deixada por Foucault,
para quem a luta contra as formas de assujeitamento dos modos de vida assume
uma importância central na existência do ser humano, questionei os impactos dos
agenciamentos do corpo na mídia especializada em saúde, sobre a produção da
subjetividade contemporânea.
Proposta de investigação em sintonia com a produção teórica do GEPEC,
mais especificamente da linha de pesquisas sobre Corpo, Epistemologia e Cultura
de Movimento, que vem investindo em investigações que possam trazer mais
elementos para uma crítica ao imaginário da saúde perfeita e do culto ao corpo na
área da Educação Física.
10
Os estudos do doutorado foram realizados na companhia sempre instigante
de vários teóricos expressivos, que de alguma vêm colaborando com o avanço dos
estudos contemporâneos sobre o corpo. Dentre eles, destaco a relevância dos
trabalhos de Foucault, um dos primeiros a perceber o caráter ambíguo da relação
entre o poder e a vida, intuindo desde cedo que a resistência ao poder se daria
aonde ele incide com mais força, ou seja, a própria vida.
Intuição seguida por Gilles Deleuze e retomada mais recentemente por
Antonio Negri, que ao ressignificar o conceito de biopolítica formulado por Foucault,
consegue dar uma certa vitalidade às reflexões de seus antecessores, afirmando
que quanto mais a vida é investida pelo poder, mais ela se torna uma potência. Sua
compreensão de biopolítica enxerga mais apuradamente a positividade liberadora da
10
Para mais detalhes dessas pesquisas, ver especialmente os estudos de Nóbrega (1999, 2005), Dantas (2002a) e
Mendes (2006).
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
19
vida, cuja potência política se contrapõe às modalidades de poder e de governo
sobre as populações, próprias ao pensamento de Foucault.
Mesmo submetida às novas formas de dominação que se configuram no atual
estágio do capitalismo, as quais Gilles Lipovetsky nos revela minuciosamente ao
caracterizar os sutis dispositivos de regulação social das sociedades hipermodernas,
a vida sempre consegue de alguma forma se refazer frente aos poderes sedutores
do excesso, disseminados sem cessar pelo imperativo narcisista do corpo saudável,
belo e produtivo.
Argumento ao qual me lanço por completo neste instante, na tarefa arriscada,
mas acima de tudo urgente, de cartografar a produção biopolítica do corpo saudável
nas sociedades contemporâneas, sem perder de vista a condição paradoxal do
poder sobre a vida, que ao possibilitar a emergência de territórios existenciais
alternativos àqueles ofertados pelo capital, pode apontar caminhos mais singulares
para vivermos a saúde do corpo.
Tendo na revista Saúde! o meu campo empírico de investigações, procuro
discutir os processos de subjetivação contemporâneos, centrados na realização das
mais diversas práticas corporais para a auto-construção do corpo perfeito, seja ele
belo ou saudável, que encontram no imperativo narcisista das novas formas de
regulação social, condições ideais de crescimento.
Esta é uma tese que discute a potência da vida, a partir do poder que sobre
ela incide. O fio condutor da argumentação que se segue, o refrão que ecoa em
todas as suas páginas, se reterritorializando a cada parágrafo como um evento novo,
é o paradoxo do poder. Quanto mais a vida é investida pelo poder, mais ela se torna
uma potência, capaz de traçar linhas de fuga e refazer as suas dimensões, mesmo
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
20
que em pouco tempo venha novamente a se submeter às estratégias de captura do
capital.
O nosso argumento central, em se tratando de uma reflexão específica sobre
corpo, mídia e subjetividade, é de que os agenciamentos do corpo na mídia
especializada em saúde possibilitam a emergência de novos territórios existenciais,
configurando a produção biopolítica do corpo saudável enquanto um processo de
subjetivação aberto à experimentação e à invenção de si mesmo.
Processo de subjetivação corporal centrado na auto-construção do corpo
saudável, que gera ao mesmo tempo singularização e massificação da subjetividade
humana, evidenciando com isso linhas de fuga a compor uma perspectiva existencial
da saúde do corpo.
Seguindo dessa vez a agenda de Pelbart (2000), que aponta a necessidade
de cartografarmos sem cessar as novas políticas de subjetividade contemporâneas,
representadas nas modalidades inéditas de socialidade, de resistência e de
implicação com o presente, buscamos apontar não só as formas historicamente
hegemônicas de sermos saudáveis, as quais já foram bastante discutidas na área da
Educação Física brasileira, mas principalmente as forças que as colocam em
questão hoje em dia, fazendo com que seja possível pensarmos outras maneiras de
vivermos a saúde do corpo, a partir da singularização da subjetividade.
11
Argumentação a ser construída e apresentada em quatro capítulos. No
primeiro deles, apresentamos a pesquisa realizada, a partir da sua configuração
teórico-metodológica. Evidenciamos neste capítulo os agenciamentos do corpo
presentes na revista Saúde!, através dos indicadores socioculturais produzidos pela
atenção ao nosso campo empírico.
11
Para maiores detalhes da perspectiva histórica da saúde na Educação Física, ver Soares (1994).
Carta ao leitor___________________________________________________________________________
21
No segundo capítulo, discutimos as biopolíticas do corpo saudável que se
tornaram historicamente hegemônicas em nossas sociedades, a partir de suas
racionalidades e estratégias de controle sobre o corpo. Tendo em vista os dados
produzidos nesta investigação, discutimos também a produção biopolítica do corpo
saudável, enquanto uma alternativa para pensarmos a incidência do poder sobre o
corpo nas sociedades contemporâneas.
No terceiro capítulo, dirigimos o nosso olhar para a hipermodernidade e sua
realidade paradoxal, refletida na cultura do excesso e da moderação cotidiana,
destacando as novas forças que põem em xeque uma determinada compreensão
hegemônica do corpo saudável.
O quarto capítulo apresenta uma análise sobre o corpo saudável na
perspectiva da existência, procurando apontar possibilidades de compreendermos e
vivenciarmos a saúde do corpo, a partir das modalidades inéditas de sermos
saudáveis produzidas no cotidiano.
Por fim, encerrando as atividades de produção de conhecimento delineadas
no decorrer da argumentação, busco retomar os principais pontos desta tese,
apontando para futuras investigações na temática da sociologia do corpo e das
práticas corporais, que merecem estar presentes na agenda de pesquisas não só da
Educação Física, mas de todas as pedagogias do corpo e da saúde que se
pretendem críticas e rigorosas.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
___________________________________________________
23
A íntima relação entre os meios de comunicação e a educação não é um
evento novo no cenário histórico da pedagogia. É possível identificarmos já no
Renascimento, um desenvolvimento sem precedentes de todos os mecanismos de
suporte da comunicação social, que estimulados pelas disputas ocorridas com o
advento da Reforma e da Contra-Reforma, foram se tornando elementos centrais
nos processos educativos da época (BRETON; PROULX, 2002).
O período do século XVIII também presenciou de perto essa relação, a partir
da posição de destaque que a imprensa assumiu nos processos formativos dos
grupos burgueses, cuja vida social girava em torno da leitura e das novas idéias que
ela proporcionava. Visto por Cambi (1999) como o século dos jornais e das revistas,
o século XVIII assistiu ao crescimento da imprensa destinada à mulher, que da
mesma forma que o povo, começava a despontar como um sujeito educativo
legítimo.
Mas é somente no século XIX que a articulação de diversas instituições
educativas vai possibilitar efetivamente a pedagogização da sociedade iniciada na
época moderna, fazendo com que esses novos sujeitos educativos recebam maiores
investimentos pedagógicos. Ocupando um lugar central na educação, a escola
divide suas funções pedagógicas com diversos agentes formativos, dos quais se
destaca a imprensa cotidiana e periódica no desenvolvimento de uma função semi-
institucional de tipo educativo (CAMBI, 1999).
O processo de especialização dos periódicos, que já no século XVIII fazia
com que o mercado editorial se organizasse por temas, setores de interesses e
públicos-alvos, entre outros aspectos, se intensifica no século XIX, quando a
imprensa amplia a segmentação de suas publicações, se dirigindo de forma
particular aos mais diversos atores sociais.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Novas publicações são concebidas para atender a demanda de informação
desses atores sociais, sendo organizadas não só em função da profissão que eles
exercem, mas também pelo sexo e idade que possuem. Já presenciadas no século
XVIII, as publicações femininas apresentam um novo impulso, dividindo as atenções
do efervescente mercado editorial com os periódicos destinados às crianças e ao
povo, que também passam a circular com vigor na vida social oitocentista (CAMBI,
1999).
Desse modo, é um amplo circuito de papel impresso que se põe em movimento,
penetrando em todos os setores da vida social, difundindo atitudes e palavras de
ordem e operando ativamente no imaginário social, desenvolvendo, portanto, uma
obra educativa (em geral conformista, algumas vezes aberta à dissensão e
alternativa) bastante intensa e tenaz (CAMBI, 1999, p. 490).
No século XX, a relação entre os meios de comunicação e a educação ganha
novas proporções, especialmente a partir do segundo pós-guerra, quando o forte
avanço dos mass media e da indústria cultural contribui para uma verdadeira
revolução pedagógica, ao permitir que os chamados persuasores ocultos ocupem
um espaço cada vez mais amplo na formação do imaginário social (CAMBI, 1999).
Como legítimos educadores informais, os mass media incidem de forma
maciça sobre a formação do imaginário coletivo, de forma a cumprirem tanto uma
função de padronização dos comportamentos, quanto um papel de emancipação
das massas. Condição paradoxal das ações midiáticas na sociedade, que fez com
que os meios de comunicação de massa e a indústria cultural recebessem ao
mesmo tempo diversas críticas e elogios durante todo o século XX, de acordo com
as interpretações divergentes que receberam dos estudiosos da época.
12
12
Condição que permanece até hoje, movimentando ainda apocalípticos e integrados numa discussão muitas
vezes estéril, por não enxergar os limites e as possibilidades existentes nos processos educativos engendrados
pela mídia.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Para além das críticas e elogios que receberam, permanece o fato de que
com o advento dos meios de comunicação de massa e da indústria cultural, os
processos educativos nas sociedades contemporâneas nunca mais foram os
mesmos.
O que deve porém ser sublinhado com força é que, com o advento dos mass media
e da “indústria cultural”, todo o universo educativo foi radicalmente transformado, já
que os agentes tradicionais da educação foram deslocados na sua centralidade
social e no interior da experiência individual de formação, já que foi atribuído um
papel cada vez mais central à formação do imaginário (em relação à própria
informação ou à formação moral), que se modelou segundo princípios impostos pelo
mercado e pela sua lógica comercial, já que se concedeu um lugar cada vez mais
central à imagem ou ao som, em relação à linguagem verbal e aos seus vínculos
cognitivamente mais complexos e sofisticados, mais articulados e plurais (CAMBI,
1999, p. 633).
Exercendo funções pedagógicas positivas e negativas, o papel educativo que
a mídia cumpre na sociedade indica sua condição de problema educativo ainda em
aberto no meio pedagógico, que ao assumir uma posição central e imprescindível no
mundo contemporâneo, necessita ser repensada, juntamente às formas tradicionais
de educação institucionalizada.
Os estudos Culturais em Educação no Brasil, por exemplo, vêm cada vez
mais enfocando a ação educativa da mídia brasileira nos processos de subjetivação
contemporâneos, a partir de uma maior atenção às situações educativas que se dão
fora do tempo e do espaço escolar, nas diversas experiências diárias que só a vida
social em sua plenitude é capaz de proporcionar.
Situações educativas que fazem com que a Educação Física escolar divida
com outras instâncias sociais as funções pedagógicas relativas ao corpo e às
práticas corporais nas sociedades contemporâneas, como podemos perceber a
seguir, já a partir dos núcleos de sentido produzidos pela análise de conteúdo da
nossa investigação.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Lógicas sociais e culturais
Quanto à aprendizagem da prática corporal
A prática é aprendida nas aulas de Educação Física 1
A prática é aprendida fora do âmbito da Educação Física escolar 3
As práticas corporais veiculadas pela revista Saúde!, revelam que a lógica
social e cultural de sua aprendizagem nas sociedades hipermodernas não se limita
ao ambiente escolar, estando presente em diversas pedagogias culturais, como por
exemplo, os livros de auto-ajuda, a mídia e a instituição médica.
13
É por esse motivo que atualmente muitos pesquisadores de várias áreas do
conhecimento se debruçam sobre diversos espaços sociais em que os meios de
comunicação atuam, inclusive a escola, realizando investigações acerca das mais
variadas pedagogias culturais existentes, de forma a fortalecer a perspectiva
multirreferencial da Educação.
14
A compreensão da educação enquanto um processo social amplo, que conta
com a participação conjunta das mais variadas instituições sociais, faz com que o
mundo da comunicação seja tomado como um campo de investigações vasto e
privilegiado, onde a produção de subjetividade ocorre independentemente da
intenção educativa existente.
15
13
Consideramos as práticas corporais como sendo as diversas formas de manifestação do ser humano pelo seu
corpo, muitas das quais constituintes da cultura de movimento dos povos, que ao longo do tempo vêm atribuindo
sentidos e significados ao movimento humano. Práticas estas, que na área da Educação Física ora são chamadas
de atividade física, exercício físico, esporte, entre outras denominações utilizadas, a partir dos sentidos e
significados a elas atribuídos. No caso da revista Saúde!, as práticas corporais da cultura de movimento
contemporânea são vistas geralmente como uma atividade sica, sendo associadas a obtenção da saúde por parte
dos indivíduos. Ainda assim, a terminologia prática corporal, também é usada pela revista Saúde!, quando, por
exemplo, aborda o Lien Chi, prática corporal da Medicina tradicional chinesa (SAÚDE!, 2004).
14
Para Assmann (2003), a perspectiva multirreferencial da Educação corresponde ao uso simultâneo ou
sucessivo de múltiplas relações, fontes, conexões e referências para aprofundar um assunto e caracterizar um tipo
de racionalidade. Não se trata da mera soma acumulativa das várias referências, mas da admissão de sua
incidência conjunta sobre um tema. A perspectiva multirreferencial da Educação vem sendo também vista como
uma possível abordagem das situações educativas e formativas, não reduzida a uma leitura unidimensional das
ações pedagógicas (ARDOINO, 1998).
15
Com base em Guattari (1992; 1993), compreendemos a subjetividade para além do sujeito psíquico e
individual, como sendo o efeito de um campo de produção, ou seja, de um campo de subjetivação.
Os agenciamentos do corpo na revista
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Campo de investigações que tende a crescer ainda mais nos próximos anos,
em virtude da inevitável expansão do cenário tecnológico mundial e dos seus efeitos
na produção da subjetividade humana, configurando uma vida mais do que nunca
aberta em rede e conectada, que assiste à emergência de uma sociedade
pedagógica, em que os laços sociais estão cada vez mais firmados na circulação da
informação (SERRES, 2000).
Se considerarmos como Guattari (1993), que a produção de subjetividade não
pode ter a pretensão de escapar dos equipamentos coletivos de subjetivação, como
as máquinas informacionais e computacionais de uma sociedade pedagógica,
vemos a importância das pesquisas realizadas nesse campo de investigações, em
especial as investigações sobre a pedagogia da mídia, que na sua condição
formativa de prática cultural, articula relações de poder e modos de vida.
Nas sociedades contemporâneas, os discursos da mídia agem como uma
prática pedagógica, se constituindo como uma instância produtora de
conhecimentos sobre o corpo, ou seja, produtora do próprio corpo. Objeto de
diversas pedagogias culturais, o corpo encontra particularmente na pedagogia da
mídia, a emergência de uma certa pedagogia do corpo saudável.
Nessa pedagogia, os discursos do corpo saudável se configuram como um
tipo específico de conhecimento sobre o corpo, cuja capacidade de sedução
colabora em muito para a construção social da realidade corporal do ser humano. O
imperativo narcisista do bem-estar, que em nossas sociedades é a nova forma de
regulação social, encontra na mídia a acolhida necessária para a sua difusão,
passando a disseminar a importância das práticas corporais no culto a si próprio.
Por meio da publicidade, do acesso ao crédito, da superabundância dos haveres e
lazeres, o capitalismo das necessidades aboliu a aura popular dos ideais, à guisa de
Os agenciamentos do corpo na revista
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uma busca de novos prazeres e da concretização do sonho da felicidade pessoal.
Edificou-se uma nova civilização, não mais voltada para refrear o desejo, mas, ao
contrário, para levá-lo à sua exacerbação extrema, despojando-o de qualquer
conotação negativa. A fruição do momento presente, o culto de si próprio, a
exaltação do corpo e do conforto passaram a ser a nova Jerusalém dos tempos pós-
moralistas (LIPOVETSKY, 2005a).
O avanço dos cuidados com o corpo saudável através das práticas corporais,
nos leva a problematizar o desenvolvimento dessa lógica na sociedade brasileira.
Por isso, questionamos a produção de subjetividade na cultura do excesso e da
moderação, indagando sobre os agenciamentos do corpo na mídia especializada em
saúde.
Temos como objetivo reconhecer os processos de subjetivação corporal
hipermodernos, a partir de uma cartografia dos agenciamentos do corpo na revista
Saúde!, de forma a apontarmos indicadores qualitativos e quantitativos dos usos do
corpo na mídia, que possam potencializar uma educação crítica do corpo nas
pedagogias da saúde, como aponta o nosso argumento central de pesquisa.
Entendemos que uma pesquisa dessa natureza mostra-se necessária, devido
ao aumento considerável do interesse pela temática da saúde de uma forma em
geral, fato particularmente comprovado na Educação Física, pelo crescimento da
adesão às linhas de pesquisa sobre saúde e qualidade de vida. Segundo dados do
censo de 2002 do CNPq, existem 196 grupos de pesquisa cadastrados na área da
Educação Física no Brasil. De acordo com um levantamento de dados no Diretório
de Grupos desta agência, que realizamos através de pesquisa com o termo saúde,
foram detectados 70 grupos com a presença do termo, ou no seu nome, ou no título
das linhas de pesquisa, ou nas suas palavras-chaves, o que representa mais de 1/3
dos grupos com proximidade a esta temática.
Outros dados referentes a esses grupos de pesquisa, revelam uma produção
de 122 teses e 1.229 dissertações, encontradas também a partir de uma busca com
Os agenciamentos do corpo na revista
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o termo saúde, o que mostra a sua recorrência na área. Além dessa produção,
podemos encontrar nos indicadores dos grupos, trabalhos apresentados em
congressos, artigos, produção técnica, entre outros, que também estão relacionados
à temática em questão. Para uma área tão fixada no corpo saudável, a questão da
saúde necessita ser repensada urgentemente, sob o risco de ser difundida pelas
instituições sociais brasileiras numa concepção limitada e mesmo perversa, ao
reduzir a singularidade da experiência do corpo saudável às medidas
anatomofisiológicas do organismo humano.
Os motivos que nos levaram à escolha do meio revista como campo empírico
desta investigação, são os mesmos pelos quais as editoras ainda vêm investindo de
forma maciça na publicação de novos periódicos. Entre eles, a possibilidade que as
revistas oferecem de serem acessadas nos mais diversos tempos e espaços sociais,
além do relacionamento de longo prazo que estabelecem com seus leitores.
16
Já a escolha da revista Saúde!, enquanto veículo específico de comunicação
de massa, se deu em virtude de quatro aspectos principais: a grande diversidade de
meios de comunicação nos quais seu conteúdo circula; o tempo de veiculação que
possui; a expressiva circulação que alcança em todo o país e a legitimidade que
possui junto aos seus pares.
Circulando em meio impresso e digital, através de suas edições de banca, de
suas compilações digitalizadas em CD-ROM e do seu site próprio na Internet, a
revista Saúde! atinge não só aquele leitor tradicional, visado pelo mercado editorial
convencional dos impressos, mas também um novo tipo de leitor, acostumado a ter
nos recursos da hipermídia ferramentas imprescindíveis para o processo diário de
16
Como justifica a Editora Abril, que publica a revista Saúde! (GRUPO ABRIL, 2007).
Os agenciamentos do corpo na revista
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busca de informações especializadas.
17
A diversificação dos meios em que circula e
a acessibilidade que proporcionam, fazem da Saúde! uma rede de informações
relevante sobre o corpo saudável, a entrar diariamente em nossas vidas.
Com mais de vinte anos de circulação, a Saúde! já faz parte da história da
imprensa brasileira, tendo assistido e colaborado com os mais diversos movimentos
sociais do país. Além disso, circula de forma expressiva em todo o Brasil e também
em alguns pontos do exterior, sendo referência na divulgação científica sobre os
cuidados com a saúde do corpo, como revelam as premiações que vem recebendo
na categoria Jornalismo Científico.
18
Premiações estas, que fazem da Saúde! uma fonte de consultas das mais
requisitadas não só por leigos no assunto, mas também pelos mais variados
profissionais da área educacional e da saúde, que se utilizam de suas matérias não
somente para fins de lazer.
19
A decisão de investigar especificamente as edições da Saúde! publicadas em
2003, também teve seus motivos. Um deles foi o aniversário de vinte anos da
revista, completados no mês de outubro, revelando sua solidez frente a um mercado
editorial extremamente competitivo, em que muitas publicações não conseguem se
sustentar por mais de um ano.
Além disso, todos os exemplares de 2003 puderam ser acessados em uma
única compilação digitalizada em CD-ROM, comercializada pela Editora Abril em
2004. De forma que pelo critério de acessibilidade, definido por Gil (1999),
constituíram-se em unidades suficientes para representarem o universo da revista.
17
A hipermídia articula a não-linearidade do hipertexto, com a diversidade de meios da multimídia.
18
Premiações que vêm ocorrendo desde a década de 80, quando venceu o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio
José Reis de Divulgação Científica.
19
Como é o caso da bióloga gaúcha Maria Fernanda Bergmann, que quando era professora do segundo grau, há
mais de vinte anos atrás, utilizava as reportagens da Saúde! para enriquecer suas aulas (SAÚDE!, 2004).
Os agenciamentos do corpo na revista
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A partir da reflexão sociológica e da técnica de análise de conteúdo,
procedemos uma investigação que buscou compreender os discursos sobre o corpo
veiculados pela mídia especializada em saúde, através das suas referências
ostensivas e não-ostensivas.
O enfoque no corpo saudável possibilitou uma aproximação da sociologia do
corpo, em que o corpo não se apresentou apenas como objeto de estudo, mas
também como instrumento de investigação e vetor de conhecimento. Uma sociologia
do corpo, que parte do próprio corpo do pesquisador (WACQUANT, 2002).
Segundo Le Breton (2006), a sociologia do corpo se constitui enquanto um
capítulo da sociologia, sendo tributária da metodologia e da epistemologia que ela
emprega. A nossa reflexão sociológica levou em conta a atenção ao campo
empírico, através da análise de conteúdo da revista Saúde!, além da interpretação
referencial realizada a partir dos estudos de Foucault, Deleuze, Negri e Lipovetsky,
entre outros.
Como técnica de produção dos dados nesta investigação, utilizamos a análise
de conteúdo, que é um conjunto de instrumentos metodológicos em constante
aperfeiçoamento, aplicável a tipos de discursos extremamente diversificados
(BARDIN, 1979). Foi realizada uma análise categorial da revista Saúde!, que dentre
as técnicas existentes na análise de conteúdo, permite a análise temática do corpus
selecionado.
A opção por realizar uma análise de conteúdo tanto qualitativa quanto
quantitativa, deu-se na intenção de verificarmos a recorrência dos discursos da
revista. Não no sentido de apenas apontar a hegemonia de uma determinada
concepção de corpo e saúde, que seria mais ou menos óbvia. Mas também, para
constatarmos que os pontos de fuga que ocorrem não são tecidos fracos ou
Os agenciamentos do corpo na revista
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dispersivos. Se não fazem parte do contexto dominante da saúde, não deixam de
ser tendências relativamente fortes nesse novo cenário de subjetivação do corpo
saudável.
A análise de conteúdo realizada deu importância não só aos enunciados
presentes no corpus das matérias analisadas, mas também a uma certa trama de
visibilidades que envolve esses enunciados. Dessa forma, nos detemos na análise
do produto em si; na análise da inserção do produto em uma política global de
produção; nos modos de articulação do público com o produto e nas suas condições
de produção e emergência, possibilitadas pelo contexto cultural e social.
20
Foram analisadas todas as edições da revista Saúde! de 2003, em número de
doze, que se encontram digitalizadas em um único CD-ROM, além de disponíveis no
site da revista na Internet, para aqueles que são seus assinantes. O nosso corpus
de análise foi constituído pelas matérias dessas doze edições, que enfocaram
especificamente as práticas corporais na Saúde!, também em número de doze.
Quadro 1 – Corpus de análise das matérias da revista Saúde!
01 Entre nessa onda – Surfe
02 Siga os passos dele – Nuno cobra
03 O exercício dá proteção – Atividade física
04 Invista nas caretas – Ginástica facial
05 Isso é postura de criança? – Ioga
06 Um diabético campeão – Atleta
07 RPG: o corpo no eixo – RPG
08 Hidroginástica funciona? – Hidroginástica
09 Dos pés à cabeça – Massagem
10 Olho vivo no professor – Profissional
11 Vá de bicicleta – Ciclismo
12 Lição de equilíbrio – Lien Chi
20
Procedimentos de investigação que seguem uma certa tendência de análise dos produtos da mídia na área da
Educação, a partir de uma análise de discurso próxima a Foucault (FISCHER, 2002).
Os agenciamentos do corpo na revista
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Analisamos o material disponível a partir da elaboração de fichas de conteúdo
para cada uma das doze matérias do corpus selecionado. Foram destacados nas
fichas de conteúdo os dados de identificação da matéria, referentes ao seu
periódico, título, total de páginas, localização e autoria, além de uma descrição da
mesma.
As unidades de registro foram extraídas das matérias, no processo de
descrição analítica dos dados, a partir da identificação das respectivas fontes dos
discursos analisados. A etapa seguinte foi a produção dos núcleos de sentido, que
convergiram para cinco grandes categorias, que apresentamos a seguir, após a
localização da revista Saúde! no cenário editorial brasileiro.
As informações sobre a revista Saúde! que serão expostas neste momento,
foram retiradas de diversas fontes, dentre elas, o próprio site da revista; algumas de
suas edições, tanto recentes quanto antigas, digitalizadas ou não; o site da Editora
Abril; o site da Editora Abril construído para atender as necessidades das agências e
de seus anunciantes; o Relatório Anual do Grupo Abril, do ano de 2004; Relatórios
Administrativos disponíveis no site da Editora Abril, além do contato por e-mail com o
Atendimento ao Leitor da revista Saúde! e com a Diretoria de Relações Corporativas
do Grupo Abril.
A revista Saúde!
A indústria do corpo saudável vem se expandindo rapidamente no Brasil
desde a primeira metade da década de 80, período em que as recém-inauguradas
academias de ginástica e suas coloridas aulas de aeróbica começam a se espalhar
Os agenciamentos do corpo na revista
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pelos grandes centros urbanos do país, estimuladas pela febre do culto ao corpo
que se alastrava mundialmente.
21
O mercado do corpo já manifestava nessa época os primeiros sinais do
desenvolvimento sem precedentes que iria atingir na nossa história econômica,
comercializando com sucesso os mais variados bens e serviços reservados aos
cuidados corporais do brasileiro, no que poderíamos chamar sem maiores
problemas, de um comércio do corpo perfeito a se consolidar no país.
Incentivados pela atuação incisiva de atrizes como a norte-americana Jane
Fonda e a brasileira Yoná Magalhães na divulgação da importância dos cuidados
com o corpo, a geração dos anos 80 no Brasil passou a ser uma consumidora
regular do comércio do corpo e de todo seu universo, alimentando o culto ao corpo
perfeito na nossa sociedade.
22
O corpo assumia dessa forma, como em outros países do ocidente, um lugar
de destaque na vida social do cidadão brasileiro, sendo exposto sem moderação
pela mídia, que a partir dos seus serviços de informação sobre o corpo belo,
21
A presença do culto ao corpo no Brasil podia ser sentida não só pelo crescimento da infra-estrutura destinada
às práticas corporais, mas também pelas análises acadêmicas que começavam a questionar a excessiva
preocupação do homem contemporâneo com seu corpo, como o estudo realizado por Codo e Senne (1985), sobre
o fenômeno da corpolatria. Para os autores, os crescentes cuidados com o corpo tinham adquirido uma condição
de veneração alienante e quase religiosa, a partir de um individualismo galopante, representado no investimento
narcísico sobre o próprio corpo. Em termos mundiais, podemos estimar o alcance do culto ao corpo na época,
através da leitura de um filme canadense em particular, que lançado sem muitas expectativas no ano de 1986,
acabou recebendo uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. O filme em questão é O
Declínio do Império Americano, que dirigido por Denys Arcand e protagonizado por Rémy Girard, no papel de
um professor de história mulherengo da Universidade de Montreal, apresenta a história de um grupo de
intelectuais amigos, que se reúnem para um jantar regado à conversas sobre política e sexo, entre outros assuntos
polêmicos. Classificado no gênero das comédias-drama com tendência à reflexão social, o filme tem várias
cenas hilárias, em que a porção feminina do grupo discute os seus apimentados casos amorosos, durante a
execução de diversos exercícios de musculação e alongamentos realizados em uma academia de ginástica repleta
de opções para a prática do corpo.
22
Enquanto uma figura representativa das profundas mudanças culturais que vinham ocorrendo no mundo desde
a década de 60, desencadeadas em parte pelo advento do feminismo e da revolução sexual, a atriz Jane Fonda fez
sucesso nos Estados Unidos e no mundo todo, produzindo vídeos e livros sobre exercícios aeróbicos e
alongamentos, entre outros cuidados corporais, que fizeram muita gente aderir às mais diversas práticas
corporais encontradas no mercado do corpo. Já a atriz brasileira Yoná Magalhães, pode ser considerada a
celebridade brasileira que mais visibilidade deu ao corpo naquela época, participando de várias publicações
sobre exercícios voltados para a boa forma e a saúde da mulher (MIRA, 2001).
Os agenciamentos do corpo na revista
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produtivo e saudável, tornava-se uma das principais responsáveis pela expansão do
mercado do corpo a nível mundial.
Os anos 80 conheceram um desenvolvimento considerável do mercado do músculo
e do consumo de bens e serviços destinados à manutenção do corpo. Impérios
industriais, com atividades diversificadas, ocuparam esta fatia do mercado relativa ao
ferro, às vitaminas e ao suor, produzindo tanto aparelhos de musculação, quanto
suplementos nutricionais, ou ainda publicando revistas especializadas sobre a boa
forma, a saúde, os regimes alimentares e o desenvolvimento corporal (COURTINE,
1995, p. 84).
Acompanhando a expansão desse mercado no Brasil, que encontrava-se
bastante favorável à disseminação de informações especializadas sobre o corpo e a
saúde humana, a revista Saúde! surge no cenário nacional em outubro de 1983,
tornando-se rapidamente uma referência legítima para um público ávido em aderir
aos estilos de vida saudáveis que se anunciavam em escala global.
23
Antes de se tornar uma revista independente, a Saúde! já havia aparecido no
mercado editorial brasileiro, em março de 1982, como uma edição especial da
revista Nova. Dedicada a um tipo de público apegado à vida natural, a Nova Vida,
como se chamou inicialmente, se transformou no ano seguinte em Viva a Vida, até
ser totalmente reformulada e assumir a proposta definitiva, passando a se chamar
Viva a Vida com Saúde! (MIRA, 2001).
Nos seus mais de vinte anos de circulação, tempo em que ajudou o Grupo
Abril a erguer um verdadeiro império de comunicação no Brasil, a Saúde! não só
assistiu às principais transformações econômicas e culturais da sociedade brasileira,
como colaborou com esses processos. Atenta aos movimentos mais sutis da vida
social brasileira, prática de mercado comum não só ao grupo do qual faz parte, a
23
Rapidez que pode ser medida através da premiação que obteve apenas dois anos após o seu lançamento,
quando recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria de Informação Científica e Tecnológica.
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revista Saúde! teve uma participação direta no desenvolvimento do culto ao corpo no
Brasil, ao refletir e refratar de forma massificada os desejos pelo corpo saudável que
despontavam em cada nova academia do país.
Tendo como suporte a estrutura do Grupo Abril, um dos maiores e mais
influentes grupos de comunicação da América Latina hoje em dia, a revista Saúde!
vem sendo produzida no estado de São Paulo pela Editora Abril, empresa
responsável pela veiculação de sete dos dez maiores títulos de revista do país.
24
Entre eles a Veja, quarta maior revista semanal do mundo, que possui tiragem
superior a um milhão de exemplares, ficando atrás apenas das norte-americanas
Times, Newsweek e U.S. News (GRUPO ABRIL, 2007).
A Saúde! faz parte então, de um legítimo sistema de poder, a operar a mais
de meio século no seio da sociedade brasileira, a partir do momento em que Victor
Civita funda a Editora Abril, no ano de 1950. Sistema que vem diversificando suas
áreas de atuação desde então, ampliando as possibilidades de difundir junto ao
povo brasileiro suas novas verdades sobre a vida em geral, pois como bem diz
Foucault (1999), os sistemas de poder produzem certas verdades e garantem sua
circulação no meio social, fazendo com que elas se desdobrem em determinados
efeitos de poder nas sociedades que as acolhem.
Enquanto um império de comunicação em franca ascensão, o Grupo Abril
movimenta a nova forma global de soberania que a lógica do capitalismo integrado
impôs à autoridade política dos Estados-Nações modernos, se fazendo amplamente
presente nos mais variados tempos e espaços da sociedade brasileira.
25
24
Em 1986 ela fazia parte junto com as revistas Bizz, Contigo, Horóscopo e Carícia, da hoje extinta Editora
Azul, que na época era sócia da Editora Abril (MIRA, 2001).
25
A qual Hardt e Negri (2001) chamam, não por coincidência, de Império. Nova ordem mundial, em que as
relações econômicas e culturais advindas da globalização não se encontram livres do controle de uma soberania
política, que apenas toma uma nova forma, sendo constituída agora por uma série de organismos nacionais e
supranacionais, unidos pela mesma lógica de comando capitalista.
Os agenciamentos do corpo na revista
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Hiperpresença garantida pelos dispositivos de poder extremamente eficazes
existentes na sociedade de controle contemporânea, que de certo modo viabilizam a
expansão desse tipo de capitalismo integrado, ao mesmo tempo em que se nutrem
da sua lógica e estrutura imperial.
Dispositivos sofisticados e sutis, que se espalham de forma rápida e freqüente
no meio social, exercendo o controle não mais pelo confinamento dos corpos dóceis
nos espaços fechados das instituições disciplinares, mas de forma contínua e a céu
aberto, através dos sistemas de comunicação, das redes flexíveis de informação e
dos sistemas de bem estar existentes nas sociedades, que através de suas
máquinas de poder organizam diretamente o cérebro e os corpos dos cidadãos
(HARDT; NEGRI, 2001).
Máquinas de poder estas, presentes em grande número na rede de sistemas
do Grupo Abril, que apesar de ter se limitado na época de sua fundação às ações da
Editora Abril, conseguiu se expandir e diversificar os seus campos de atuação
durante sua trajetória comercial.
Hoje possui 351 títulos de revista, dos quais 96 regulares, que somados
proporcionam uma circulação anual de 209 milhões de exemplares. Possui também
cerca de 55 sites dessas mesmas revistas, entre eles o site da revista Saúde!, cujo
conteúdo é reconhecido como o melhor da Internet brasileira, segundo informações
da própria Editora Abril. Além de cerca de 6 mil funcionários, distribuídos, entre
outros setores, na operação de televisões (MTV/TVA), no trabalho do provedor de
Internet banda larga do grupo e no mercado editorial de livros escolares, onde
operam as editoras Ática e Spicione.
26
26
Segundo dados do Relatório Anual do Grupo Abril de 2004 (GRUPO ABRIL, 2007) e do Relatório
Administrativo da Editora Abril de 2005 (EDITORA ABRIL, 2007).
Os agenciamentos do corpo na revista
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A missão do Grupo Abril, segundo consta na sua página da Internet, é a
difusão da informação, da cultura e do entretenimento, de forma a poder impulsionar,
entre outras coisas, o progresso da educação e a melhoria da qualidade de vida do
povo brasileiro.
O grupo visa ainda ser líder em multimídia integrada, para chegar mais perto
dos mercados de comunicação no Brasil, que segundo dados dos seus relatórios
anuais, ainda apresentam baixos índices de consumidores. Vontade de poder que
nos leva a perceber a lógica imperial pela qual opera, que a tudo e a todos procura
integrar aos seus sistemas. Suas fronteiras são fortificadas não para excluir as
pessoas, mas sim para colocá-las para dentro de sua estrutura, funcionando como
uma boca aberta, cujo apetite infinito convida todos a entrar pacificamente em seus
domínios (HARDT; NEGRI, 2001).
Nessa luta permanente pela adesão de novos consumidores, o Grupo Abril
precisa diminuir ao máximo a possibilidade de rejeição dos seus bens, sejam eles
materiais ou não. O dispositivo imagético da comunicação de massa surge como
uma alternativa bastante interessante à batalha da integração que a lógica imperial
promove, já que atinge um maior número de pessoas ao mesmo tempo, não
permitindo que elas recusem os seus discursos, pois antes mesmo de o fazerem, já
se encontram capturadas.
Ao contrário da escrita que exige tempo de leitura e decifração, permitindo a escolha
entre entrar ou não em seu mundo, a imagem convida a entrarmos imediatamente e
não cobra o preço da decifração. A imagem não exige uma senha de entrada, pois o
seu tributo é a sedução e o envolvimento. A imagem nos absorve, nos chama
permanentemente a sermos devorados por ela, oferecendo o abismo do pós-
imagem, pois após ela sempre há uma perspectiva em abismo, um vazio do igual
(ou, como dia Walter Benjamin, uma “catástrofe” do sempre igual”), um vácuo de
informações, um buraco negro de imagens que suga e faz desaparecer tudo o que
não é imagem (BAITELLO JR., 2003, p. 37).
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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O império Abril foi fundado e desenvolveu-se a partir da linguagem de suas
imagens, que há mais de meio século devoram e influenciam gerações inteiras,
através do seu poder de síntese e sedução, fazendo das revistas impressas da
Editora Abril um dos principais produtos do grupo até hoje, mesmo com os inúmeros
avanços tecnológicos que de certa forma colocam em risco o tradicional mercado
dos impressos.
27
Imagem 1: O império dos sentidos – As publicações da Editora Abril que nos devoram.
Fonte: Grupo Abril, 2007.
Ameaça que não parece atingir as revistas da Editora Abril, que vêm se
adaptando às inovações tecnológicas do mundo globalizado, através da criação e
veiculação das versões eletrônicas dos seus títulos, fazendo com que a já tradicional
excelência das revistas impressas, chegue também ao meio digital.
27
Segundo dados do Relatório Anual do Grupo Abril do ano de 2004, a Editora Abril domina o mercado de
revistas no Brasil, possuindo mais de 23 milhões de leitores, dos quais, 2,1 milhões são assinantes,
proporcionando 2,7 milhões de assinaturas de revistas em todo país. Além disso, a circulação das revistas da
Abril atinge mais de 2,6 mil cidades brasileiras (GRUPO ABRIL, 2007).
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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A tradição da Editora Abril em publicação de revistas vem sendo construída
desde 1950, com a chegada do seu primeiro título infantil, O Pato Donald, às bancas
brasileiras. Fato este que, já naquele momento, revelava os sinais da segmentação
que a Abril ajudaria a promover no mercado editorial do país, ao cobrir praticamente
todos os estágios da vida do seu leitor, através de periódicos destinados aos mais
variados tipos de público.
28
Segundo a empresa, as razões do sucesso das revistas enquanto veículos de
comunicação específicos, residem no fato de terem opinião própria, estabelecendo
um relacionamento de respeito e longo prazo com os diversos tipos de leitores
existentes, de forma a se tornarem suas companheiras e amigas, o que justifica o
investimento que recebem por parte da editora (GRUPO ABRIL, 2007).
Outro fator que leva a empresa a investir no mercado de revistas, é que elas
são consideradas pela editora os melhores veículos de mídia segmentada, podendo
ser acessadas em vários espaços sociais, como a escola, o lar, o trabalho, ou
mesmo o trânsito, atendendo à necessidade de informação, entretenimento e
educação do povo brasileiro (GRUPO ABRIL, 2007).
29
Através da visão que a Editora Abril tem de suas revistas, confirmada em
parte pela fidelidade dos seus leitores, podemos notar o poder que elas exercem
sobre a população brasileira, a partir da utilização de mecanismos específicos de
28
A segmentação da comunicação é uma espécie de desdobramento da comunicação de massa, ocorrendo
quando os veículos de comunicação de massa, como as revistas, ao invés de se dirigirem ao maior número de
pessoas possível, independentemente de qualquer critério de distinção, se dirigem a públicos específicos,
definidos por sexo, idade, classe social, ou qualquer outro critério de distinção social.
29
É comum encontrarmos nos discursos do Grupo Abril, referências à educação do povo brasileiro enquanto um
dos seus maiores objetivos, o que reforça a nossa proposta de vermos na revista Saúde! uma pedagogia
específica, a nos ensinar diversas maneiras de como vivermos o nosso corpo saudável.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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adesão, criados para investir a totalidade da vida nos mais variados tempos e
espaços da existência humana.
30
Mecanismos que nos fazem consumir não só uma infinidade de bens
materiais, como os milhares de produtos anunciados todos os dias nas revistas da
Editora Abril, assim como nos levam a provar as sempre novas subjetividades
formatadas em suas páginas, produzidas para agradar a todos os gostos, ou melhor,
para serem consumidas ao gosto do freguês.
Através dos fluxos de imagem, de informação, de conhecimento e de serviços que
acessamos constantemente, absorvemos maneiras de viver, sentidos de vida,
consumimos toneladas de subjetividade. Chame-se como quiser isto que nos rodeia,
capitalismo cultural, economia imaterial, sociedade de espetáculo, era da biopolítica,
o fato é que vemos instalar-se nas últimas décadas um novo modo de relação entre
o capital e a subjetividade (PELBART, 2003, p. 20).
Fenômeno não exclusivo às classes sociais mais abastadas, já que segundo
Pelbart (2003), essa tendência permanece mesmo quando nos referimos às parcelas
mais desfavorecidas da população. A máquina de integração do império não cessa
de arregimentar adeptos, seja quais forem as suas origens, como podemos observar
no perfil dos leitores da revista Saúde!, que se distribuem de forma relativamente
equilibrada nas classes A, B e C.
Tabela 1 – Perfil do leitor da revista Saúde!
31
Idade Sexo Classe Social
59% têm entre 20 e 49
anos
homens: 31%
mulheres: 69%
Classe A: 21%
Classe B: 34%
Classe C: 32%
30
Leitores como a bióloga gaúcha Maria Fernanda Bergmann, que a partir da quarta edição da Saúde!, passou as
duas décadas seguintes sendo assinante da revista (SAÚDE!, 2004).
31
Dados dos anos 2005 e 2006, produzidos pela Marplan e disponíveis no site da PubliAbril, site de publicidade
das marcas do Grupo Abril (PUBLIABRIL, 2007).
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O Grupo Abril se orgulha de possuir uma valiosa rede de relacionamentos, em
que através de ferramentas de marketing, comunicação e distribuição, chega mais
próximo aos seus milhões de leitores e assinantes, além de anunciantes, agências
de publicidade e distribuidores (GRUPO ABRIL, 2007).
Rede de relacionamentos que se constitui num mecanismo de poder bem
característico do atual estágio do capitalismo, em que a subjetividade humana é
convidada a cada instante que passa, a assumir formas sempre novas de
criatividade, inteligência e imaginação, alimentando uma produção social centrada
em bens como serviços, produtos culturais, conhecimento ou mesmo comunicação,
produzidos por um tipo de trabalho imaterial.
32
Pois é inegável: nunca o capital penetrou tão fundo e tão longe no corpo e na alma
das pessoas, nos seus gens e na sua inteligência, no seu psiquismo e no seu
imaginário, no núcleo de sua “vitalidade”. Ao mesmo tempo, tal “vitalidade” tornou-se
a fonte primordial de valor no capitalismo contemporâneo: a produção imaterial seria
impensável sem a força de invenção e de recomposições, a vida é, afinal, um
“capital” comum. Ao menos em tese pertencente a todo mundo, é a vida que serve
de ponto de apoio último para novas lutas e reivindicações coletivas (PELBART,
2003, p. 13).
Ao criar uma rede de relacionamentos com seus parceiros, o Grupo Abril
consegue acesso ao que eles têm de mais valioso, sua vitalidade.
33
Capital comum
de que dispomos e alvo supremo da forma atual do capitalismo, a potência de vida
solicitada pela lógica de integração do império Abril, possibilita de forma paradoxal a
constituição de novas formas de vida, fazendo desse mecanismo de poder em
especial, uma possibilidade concreta de emergência de novos territórios existenciais.
32
Conceito discutido por Hardt e Negri (2001), o trabalho imaterial é a principal forma de trabalho
contemporânea, em que são produzidos não só bens materiais, mas principalmente bens imateriais, a partir da
criatividade coletiva da multidão.
33
Formada por serviços de atendimento mais eficientes; estudos de avaliação da satisfação do leitor; estudos
para se conhecer o público atingido; pesquisas que buscam a opinião dos seus leitores, entre muitos outros
dispositivos existentes para ouvir os seus parceiros (GRUPO ABRIL, 2007).
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Dos mecanismos de adesão que a Editora Abril movimenta, a segmentação
dos seus periódicos é um dos mais eficientes, pois permite que as revistas
publicadas façam parte da vida do leitor por muito mais tempo, ao se adaptarem às
suas diversas fases existenciais. Leitor que cresce e se desenvolve a partir da lógica
empresarial do Grupo Abril, sem que na grande maioria das vezes se dê conta disso.
De forma que, ontem o Pato Donald, hoje a Saúde! e o seu corpo saudável.
A prática da segmentação não é nova na história da imprensa, ocorrendo já
no século XVIII, quando o mercado editorial se organizava por áreas de interesse e
tipos de leitores, entre outros critérios de distinção social. O que ocorre hoje em dia,
seguindo uma tendência de especialização e fragmentação dos saberes que não é
privilegio da mídia, é que essa segmentação vem atingindo níveis cada vez maiores,
fazendo com que praticamente todos os dias novas publicações sejam lançadas no
país, a partir do desdobramento de interesses temáticos já existentes no mercado.
34
Apesar de segmentadas, as revistas da Abril cobrem praticamente todos os
assuntos de interesse da população brasileira, exercendo um tipo de poder que
incide sobre a totalidade da vida social, de forma que nada parece escapar às suas
pautas. Organizadas por áreas e núcleos de interesse, elas se complementam no
esforço iluminista de investir a vida como um todo, contribuindo cada uma a sua
maneira na tarefa de traduzir sem cessar o mistério da existência humana ao
homem comum.
Como a revista Saúde! já fazia questão de ressaltar no seu editorial, em
meados da década de 80, o que importa é sabermos tudo o que for possível saber
sobre as nossas vidas, de preferência sempre que isso for possível. Essa, aliás, é a
34
Fenômeno cada vez mais fácil de ser encontrado na mídia em geral, acompanhando a compartimentalização
dos saberes, comum no meio acadêmico, a segmentação da mídia brasileira vem se acentuando desde meados da
década de 80, sendo particularmente intensa no veículo revista (MIRA, 2001).
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linha de Saúde!: saber sempre, em relação a tudo que afeta nossas vidas (REVISTA
SAÚDE!, 1984, p. 3).
Proposta que até hoje vem sendo seguida pela Saúde!, que agora na
companhia das revistas Bons Fluidos e Vida Simples, integra o Núcleo Bem-Estar da
Editora Abril, setor onde são produzidas a maioria das verdades da Abril sobre o
corpo saudável.
Cada vez mais as pessoas saem em busca de alternativas saudáveis e naturais para
lidar com a rotina estressante e agitada dos dias atuais. As revistas do Núcleo Bem-
Estar são dirigidas a essas pessoas oferecendo-lhes reportagens sobre qualidade de
vida, equilíbrio da mente e das emoções, e corpo saudável (GRUPO ABRIL, 2007).
A partir da abordagem particular com que cada revista do Núcleo Bem-Estar
se aproxima das questões referentes à saúde e ao bem-estar do povo brasileiro,
várias demandas muitas vezes contraditórias sobre o corpo saudável vão sendo
atendidas pelas revistas no seu conjunto, de forma que em um mesmo núcleo de
interesses, encontramos assuntos e enfoques distintos.
Os assuntos do Núcleo Bem-Estar da Editora Abril variam entre o bem-estar
físico e mental da família, o autoconhecimento e os relacionamentos pessoais, além
de dicas de como se morar, se alimentar e se comprar bem, o que mostra como a
saúde do corpo é investida em sua totalidade pela Abril, mesmo que de forma
segmentada.
Observando o Organograma do Grupo Abril, podemos notar que o setor de
revistas é subordinado a uma Direção Geral de Interesses, que as organiza em
várias áreas e núcleos, de acordo com os grandes segmentos mundiais de revistas.
A revista Saúde! faz parte da área de Consumo e Comportamento, destinada às
leitoras que procuram uma vida mais completa e requintada (GRUPO ABRIL, 2007).
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Uma das maiores características dessa área de interesses então, é que suas
revistas são destinadas ao público feminino, como revela sua distribuição dentro do
Organograma do Grupo Abril. A área de Consumo e Comportamento possui três
núcleos – Comportamento, Consumo e Bem-estar – que abrigam revistas
tradicionais do público feminino, como Cláudia e Nova.
Imagem 2: Distribuição das revistas no Organograma do Grupo Abril.
Fonte: Grupo Abril, 2007.
É interessante notar que mesmo fazendo parte dessa área de interesses, a
revista Saúde! não é totalmente voltada para o público feminino, veiculando matérias
gerais sobre a saúde do corpo humano, além de particularidades do organismo
masculino.
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Talvez seja por isso, que de todas as revistas dessa área de interesses, a
Saúde! é a que tenha mais leitores do sexo masculino, mesmo que numa proporção
bem inferior ao público feminino. Proporção que cai ainda mais, quando são levados
em conta apenas os Internautas da revista Saúde!, constituídos em sua maioria por
mulheres de classe média.
Tabela 2 – Perfil do Internauta que navega no site da revista Saúde!
35
Idade Sexo Classe Social
71% têm entre 25 e 49
anos
homens: 29%
mulheres: 71%
Classe A: 14%
Classe B: 46%
Classe C: 32%
Para a Saúde!, mais importante do que se dirigir a um determinado sexo em
particular, é discutir as formas de prevenção disponíveis no cuidado com a saúde
humana. Assunto em que logo se especializou, revertendo de forma lenta mas
contínua, o quadro de baixas vendas que a perseguia no início de suas atividades
(MIRA, 2001).
Situação totalmente distinta à de hoje em dia, quando alguns de seus
números mais recentes podem dar uma idéia da liderança e do conseqüente
sucesso que ela alcança no mercado editorial brasileiro. Enquanto uma das
representantes da Editora Abril no segmento Saúde e Bem-estar, a revista Saúde! é
destaque da área, sendo líder absoluta do segmento, com 87% de participação no
mercado.
36
Para termos uma idéia da diferença da Saúde! para suas concorrentes diretas
na própria Abril, a circulação líquida da revista Bons Fluidos é a metade da revista
35
Dados do ano de 2005, produzidos pela Pesquisa Nacional Abril/Datalistas e disponíveis no site da PubliAbril
(PUBLIABRIL, 2007).
36
Segundo o Relatório Administrativo da Editora Abril de 2005 (EDITORA ABRIL, 2007).
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Saúde!, com 77.460 exemplares, enquanto a revista Vida Simples, só alcança o
número de 33.684 exemplares.
Tabela 3 – Circulação da revista Saúde!
37
Tiragem Circulação
líquida
Assinaturas Avulsas Exterior
214.600
exemplares
156.474
exemplares
111.740 44.734 14
Abordando os mais diversos temas relacionados à saúde e ao bem estar do
povo brasileiro, em especial a gestão do corpo nos cuidados preventivos, a revista
Saúde! sofreu uma espécie de desdobramento em 1986, quando a partir de uma
edição especial sobre ginástica localizada, possibilitou o surgimento da revista Boa
Forma, que viria a se especializar nas temáticas da beleza e forma física do público
feminino, tornando-se uma publicação independente (MIRA, 2001).
Mesmo assim, as questões estéticas continuam até hoje a ser tratadas pela
revista, agora como possíveis questões de saúde. Mais preocupada com o corpo
saudável dos seus leitores, ela exercita o imperativo narcisista da cultura do bem-
estar contemporânea desde seu título, que sofre variações ao longo dos anos, mas
não perde o sinal característico de exclamação. Dessa forma, não deixamos de ser
alertados um só segundo, que contra os males da vida, precisamos ter Saúde!.
Do extenso Viva a vida com Saúde! A receita de uma vida melhor, que abria
as edições dos anos 80, passamos para o curto mas eficaz Saúde! É vital, dos dias
atuais. Em ambos os casos, a associação da revista com a vida saudável continua,
além da interjeição que expressa todo o pensamento da revista: antes de você ficar
doente, é melhor buscar Saúde!.
37
Dados de setembro de 2006, produzidos pelo Instituto Verificador de Circulação – IVC e disponíveis no site
da PubliAbril (PUBLIABRIL, 2007).
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Hoje em dia, a revista Saúde! continua publicando edições especiais sobre
assuntos relativos ao seu tema, tendo passado a publicar também compilações de
suas edições em formato de CD-ROM, acompanhando o desenvolvimento da
tecnologia atual. Possui um site próprio na Internet, que entre outras coisas, traz
testes e modelos para avaliação da forma física, além de informações sobre várias
doenças, seus sintomas, formas de tratamento e prevenção. Além disso, depois de
2002 suas edições impressas passaram a ter um formato maior, deixando de ser
publicadas em forma de manual.
38
Mas essa diversificação das formas de comunicação do seu conteúdo e a
otimização da qualidade do material em que é produzida não ocorreu sempre. Na
década de 80, além de não possuir os atuais recursos tecnológicos, a qualidade
gráfica da revista também era inferior. Diferentemente da revista Boa Forma, feita
em tamanho grande e papel couchê, a Saúde! era impressa em formato de bolso e
com papel de qualidade inferior (MIRA, 2001).
Na década de 80, a revista Saúde! não tinha também o hábito de compor
suas capas somente com modelos fotográficos do sexo feminino, que abriam as
edições da Saúde! de forma esporádica. Mesmo tendo nascido a partir de uma
edição especial de Nova, notava-se nas manchetes e capas da revista uma variação
de assuntos, que indicavam uma certa heterogeneidade do seu leitor, apesar da
sempre presente tendência feminina. As capas eram compostas com ou sem a
presença de modelos fotográficos, trazendo também determinadas personalidades
brasileiras, que despertavam o interesse do público masculino.
38
De acordo com o Atendimento ao Leitor da revista Saúde!.
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Imagens 3, 4 e 5: A revista Saúde! nos anos 80.
Fontes: Revista Saúde!, 1985; 1984; 1987.
Rotina que não iria ser seguida pela revista, pelo menos no século seguinte.
Hoje em dia a revista Saúde! passou a seguir uma tendência mundial de valorização
da imagem feminina, mesmo evitando sempre que possível a presença de corpos
famosos tanto nas capas quanto nas páginas de suas edições regulares e especiais,
o que a torna uma das poucas publicações que não se utilizam desse artifício na
tentativa de vender os seus exemplares.
Ao contrário das publicações que habitualmente estampam nas capas de
suas edições impressas os corpos esculturais das celebridades em evidência no
cenário midiático do país, dando destaque às curvas acentuadas e aos sorrisos
fáceis das famosas do momento, a revista Saúde! opta por exibir nos espaços mais
cobiçados dos seus exemplares mensais, corpos não tão conhecidos do público em
geral. Corpos quase anônimos, que nem por isso deixam de ser belos, jovens e
felizes, assim como suas versões mais ilustres.
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Imagens 6 e 7: As capas anônimas da revista Saúde! em 2003.
Fonte: Saúde!, 2004.
Utilizando-se de um artifício comercial comum até mesmo aos periódicos que
não pertencem à chamada imprensa rosa, a revista Saúde! traz em suas capas uma
grande variedade de modelos fotográficos do sexo feminino, tão desconhecidas do
grande público quanto belas, na tentativa de associar os seus serviços a uma idéia
positiva de beleza e sucesso.
39
A grande diferença entre essas modelos e as
estrelas que posam para as revistas especializadas em celebridades, se encontra no
prestígio social que elas ainda não alcançaram junto à opinião pública brasileira.
Mesmo sendo uma publicação especializada em saúde, como o próprio nome
indica, a revista não deixa de lado a questão da beleza humana, veiculando além
das imagens sedutoras de suas modelos fotográficas, inúmeras informações sobre
como podemos conquistar um corpo mais bonito, assim como uma vida mais feliz e
saudável. A beleza corporal é tratada como um tema legítimo da revista Saúde!, se
39
Imprensa rosa é como geralmente é chamada a imprensa especializada em cobrir o cotidiano das pessoas
famosas ou mesmo comuns, a partir dos seus hábitos de comportamento.
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confundindo muitas vezes com a própria noção de saúde que a revista apresenta em
suas edições.
40
Para Castro (2003), essa mistura entre saúde e estética possui origens ainda
no início do século XX, a partir da ação combinada entre certas políticas públicas de
saúde da época e os produtos de higiene para a limpeza do corpo que a publicidade
enaltecia, passando a associar o discurso higienista ao discurso estético.
Apesar de não ser destinada exclusivamente às mulheres brasileiras, como
acontece com outras publicações do gênero, a revista enfatiza a busca da beleza
pelo sexo feminino, ao veicular diversas matérias que revelam com detalhes os
cuidados que as mulheres devem ter diariamente, na gestão de sua aparência
corporal.
41
Por mais que a atual expansão do mercado de cosméticos masculinos revele
uma mudança de hábitos do homem brasileiro, que passa a se preocupar cada vez
mais com sua própria imagem, a questão da beleza ainda é apresentada pela revista
Saúde! como um atributo essencialmente feminino, sem que maiores considerações
sejam feitas a esse respeito.
Segundo Sant’Anna (1995), a associação da beleza à feminilidade não é uma
coisa nova, atravessando séculos e culturas, acompanhada da associação da força
à masculinidade. Apesar da permanência dessas associações, as formas de
problematizarmos a aparência, assim como concebê-la e produzi-la, não param de
ser modificadas. O embelezamento feminino tem uma história, que a revista Saúde!
40
Como o título de uma de suas seções mensais revela, precisamos de toques de beleza para termos uma imagem
saudável.
41
Como já esclarecemos, apesar de possuir uma tendência para lidar com assuntos de cunho feminino, a revista
Saúde! não é direcionada apenas a esse segmento, veiculando matérias de interesse tanto do homem quanto da
mulher, além de por vários momentos se dirigir com mais intensidade ao público masculino, como mostram as
seguintes matérias: O câncer de próstata no alvo; Infertilidade, o problema pode estar no homem e Esperança
para eles. Em dose dupla. Esta última matéria mostra também que a revista é mais feminina porque produzida
por mulheres. Assim, quando os homens surgem em cena, são sempre eles, ao contrário de nós.
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ajuda a contar em mais um capítulo, ao reforçar a permanência de certas
representações da beleza, vinculadas ao corpo saudável.
A opção de não compor as capas da revista com pessoas conhecidas do
grande público, é justificada pela proposta editorial da revista Saúde!, que valoriza
as pessoas comuns e suas ações diárias na busca da tão desejada qualidade de
vida, se afastando da rotina extravagante e inacessível que as estrelas de plantão
insistem em nos revelar a todo instante, em cada uma das diversas publicações que
as acolhem hoje em dia.
Para que as tão festejadas celebridades possam ocupar as capas da Saúde!,
como nos explica Lúcia Helena de Oliveira, diretora de redação da revista, é preciso
que antes de tudo elas retomem sua condição terrena e assumam as diversas
fragilidades que nos constituem enquanto seres humanos, deixando para as
verdadeiras divindades a vida supostamente perfeita que ostentam sem qualquer
moderação, nas inúmeras páginas que lhes são destinadas diariamente.
Outra revelação foi a nossa capa, a triatleta Herica Sanfelice, que ficou famosa no
ano passado depois de participar do programa No Limite da tevê Globo e ser a
coelhinha de fevereiro de 2002 da PLAYBOY. A SAÚDE! não costuma fazer capa
com pessoas conhecidas, as tais celebridades, até por opção - estamos, novamente,
falando da filosofia de "gente que nem a gente". Mas Herica quebrou o preconceito.
Fez questão de fazer a capa porque se identifica com a nossa proposta. E caiu de
boca: chocólatra de verdade, comeu nada menos do que cinco barras inteiras,
daquelas grandonas, entre um clique e outro (SAÚDE!, 2004).
A valorização das pessoas comuns, que tropeçam de vez em quando na
busca de uma vida feliz e saudável, é uma das principais características da revista
Saúde!, cuja filosofia de gente que nem a gente faz com que na maioria das vezes
os corpos famosos estejam ausentes não só de suas capas, mas também do
conteúdo manifesto de suas matérias e seções permanentes.
Os agenciamentos do corpo na revista
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Das doze edições regulares da Saúde! que chegaram às bancas em 2003,
apenas duas trouxeram celebridades em suas capas, confirmando a tendência da
revista em selecionar modelos não tão conhecidas do grande público para abrir os
seus exemplares mensais. Além disso, a participação que essas famosas tiveram
nas páginas da Saúde!, se resumiu às capas que fizeram para a revista.
A diferença entre as modelos em destaque na revista Saúde! e as estrelas
que brilham nas fotos de publicações como a revista Boa Forma, não se limita
apenas à fama que essas mulheres deixam de ter ou não.
42
Enquanto nas revistas
do gênero da Boa Forma as celebridades são expostas como modelos de beleza
nos quais se espelhar, sendo convidadas a opinar sobre os mais variados assuntos
do universo feminino, na revista Saúde! esse procedimento não é comum.
43
A revista preza pela segurança do discurso científico, presente nas pesquisas
e nos especialistas que são constantemente consultados, não permitindo que as
informações veiculadas sejam de fontes duvidosas, como nos diz sua diretora de
redação.
Você deve ter seus motivos para ler a SAÚDE! - quer se alimentar direito,
movimentar o corpo, mandar para bem longe o risco de doenças, buscar qualidade
de vida... O.k., nenhuma outra revista para leigos trata desse universo da Medicina
e da prevenção da primeira à última linha. Mas existe outra razão para merecer o
seu prestígio. Nos dias de hoje, com tantas facilidades como a internet, paira uma
grave ameaça, a de a boa reportagem se tornar escassa [...] Por isso, na SAÚDE!
não se dispensa uma boa conversa com as fontes, de preferência olho no olho [...]
(SAÚDE!, 2004).
42
Através de uma linha editorial voltada para a beleza das mulheres brasileiras, a revista Boa Forma revela os
segredos das famosas para a obtenção e manutenção do tão sonhado corpo perfeito, mostrando também como as
mulheres comuns se cuidam no seu dia-a-dia. Diferentemente da revista Saúde!, que enfatiza as informações de
que precisamos para ter uma vida mais feliz e saudável, a revista Boa Forma assume explicitamente que o seu
objetivo é veicular informações úteis para que as mulheres conquistem um corpo mais bonito e uma vida mais
saudável.
43
Os dados sobre a revista Boa Forma a que estamos nos referindo, foram produzidos na pesquisa referente a
nossa dissertação de mestrado. Para maiores detalhes da pesquisa, ver Dantas (2002a).
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Prova disso é que nenhuma das duas celebridades que foram capas da
revista Saúde! em 2003, tiveram participação nas matérias das edições que abriram.
Diferença marcante em relação às publicações especializadas em ouvir as famosas
do momento. Aqui encontramos mais uma das principais características da revista
Saúde!, a presença constante do discurso científico. Certamente não encontraremos
na Saúde! as loucuras que as celebridades fazem para emagrecer.
44
Podemos até
encontrá-las, mas avaliada de perto pelos mais diversos especialistas, já que a
beleza das modelos pode ser visível, mas a saúde não.
O motivo disso é que a seriedade na apuração de matérias e a clareza das
informações são os carros-chefes que conduzem a equipe da revista Saúde!. Rigor e
acessibilidade que fazem com que o discurso científico seja freqüente nas páginas
da revista, sendo divulgado para os seus leitores de uma forma mais compreensível
do que a linguagem das revistas de difusão científica destinadas aos especialistas.
45
A Saúde!
oferece possibilidades de uma vida mais saudável para aquele leitor
que quer um bem-estar físico e mental para a família e para si próprio, além de
ensinar a cuidar melhor do corpo, dar dicas de alimentação e sobretudo de
prevenção. Tudo isso a partir da fiscalização constante de jornalistas especializados,
que apresentam as descobertas científicas testadas e aprovadas no atual estágio da
ciência mundial.
44
Como é comum na revista Boa Forma, em que as celebridades contam os seus segredos pessoais para
atingirem uma determinada forma corporal, sem que na maioria das vezes eles sejam discutidos mais
profundamente, em relação a eficácia que possuem ou mesmo aos perigos de representam para a saúde da pessoa
(DANTAS, 2002a).
45
A revista Saúde! pode ser considerada uma revista de divulgação científica que faz um Jornalismo Científico,
como podemos ver pela premiação da jornalista Conceição Lemes, que em 1988 recebeu o Prêmio José Reis de
Divulgação Científica, na modalidade Jornalismo Científico, que premia os jornalistas profissionais
especializados na cobertura e divulgação dos resultados e avanços em Ciência, Tecnologia e Inovação.
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Se não temos na revista Saúde! mulheres famosas contando os segredos de
suas vidas bem sucedidas e de seus corpos perfeitos, continuamos tendo as
pessoas normais e comuns, revelando os cuidados que têm com a saúde. Cuidados
que recebem até um maior destaque, já que não são ofuscadas pelo brilho do
receituário detalhado pelas estrelas.
Os leitores da Saúde! são chamados constantemente a participarem da
produção da revista, exercendo papel importante na produção imaterial do corpo
saudável, a partir de um mecanismo de poder que busca dar voz à inteligência
coletiva da sociedade brasileira. Mecanismo que ao mesmo tempo em que configura
novos campos onde exercer seu domínio, possibilita a emergência de novos
territórios existenciais, que desafiam a massificação da subjetividade humana.
São convites os mais variados, que revelam outra característica fundamental
da revista, a interatividade. Procurando leitores que queiram participar de suas
reportagens, a Saúde! abre diversos canais de interação, possibilitando ao leitor não
só contar suas histórias de vida saudáveis, mas também opinar sobre os mais
diversos produtos e serviços destinados à saúde do corpo.
Ah, também leia na página 13 o que a nossa leitora Maria Célia Cancellieri achou de
um pó de acerola criado para enriquecer a dieta - ela o experimentou para a gente.
Você também quer participar das reportagens da SAÚDE!? Então é pra já: envie um
e-mail para [email protected]. Assim você poderá nos ajudar
saboreando novos alimentos, testando aulas de ginástica e produtos de beleza ou
contanto a sua experiência como exemplo de vida saudável nas mais diversas
reportagens. É importante, porém, que você escreva sua idade, onde mora, quais
são os seus hábitos e assuntos de maior interesse na revista. Conte tudo o que
achar fundamental para que a gente acerte no tema da sua participação,
combinado? (SAÚDE!, 2004).
O leitor da Saúde! dispõe de canais como a seção Dez perguntas, onde um
tema qualquer é discutido a partir dos questionamentos dos leitores. Além desse
mecanismo, existe um correio itinerante que passeia pelas mais diversas seções,
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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tirando as dúvidas dos leitores da revista, sempre a partir da opinião de
especialistas.
Um mecanismo em especial, chamado Dica do leitor, faz com que o leitor
tenha uma participação ainda mais ativa na Saúde!, não somente questionando,
mas oferecendo sugestões aos mais variados problemas. Tudo acompanhado de
perto pelos especialistas da revista, que intervêm na maioria das vezes para
complementar ou endossar as informações, a partir de explicações científicas mais
detalhadas.
Diferente das publicações especializadas na beleza da mulher brasileira, que
exibem exaustivamente fotos do tipo antes e depois, a revista Saúde! tem a
característica de exibir imagens que revelam o interior do organismo humano, como
uma radiografia mais elaborada, destacando a sua estrutura e funcionamento e
revelando o desejo de visibilidade total que já se tornou comum hoje em dia.
As radiografias podem não causar o mesmo espanto em nossos dias. Nas clínicas,
nos hospitais, e também na mídia, o avesso dos corpos se tornou uma imagem
banal. Talvez nossa época tenha sido a que mais pertubou o silêncio dos órgãos, a
que mais devassou a intimidade de tudo aquilo que, dentro da pele, se mantém na
obscuridade (SANT’ANNA, 1995, p. 11).
As representações visuais da informação e do conhecimento veiculados na
revista Saúde!, são usadas como recursos extremamente poderosos de sedução,
funcionando como uma ferramenta pedagógica nos momentos em que a explicação
da informação precisa ser mais clara e dinâmica, combinando elementos de
desenhos, fotos e texto.
Não é a toa que a revista recebeu a medalha de bronze no Prêmio Malofiej de
Infografia, concedido pela Universidade de Navarra, na Espanha, na categoria
Melhor do Mundo. Mesmo sendo uma revista para leigos, mostra com detalhes o
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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interior do corpo humano, o que a faz ocupar um espaço de destaque dentro das
publicações jornalísticas de divulgação científica.
Imagens 8 e 9: A infografia premiada da revista Saúde!.
Fonte: Saúde!, 2004.
Discursos imagéticos sobre a saúde do corpo que a partir das mudanças
sofridas pela revista com o advento das edições digitalizadas e o site na Internet,
passam a ser ainda mais acessíveis ao leitor, através de uma maior possibilidade de
manipulação das informações da Saúde!, que chega até os seus usuários finais
atendendo as particularidades e oportunidades de distintas gerações, classes
sociais e tipos de leitores.
Maior exercício do poder sobre a vida da população brasileira, que representa
de forma paradoxal, uma maior possibilidade criativa de novos territórios
existenciais. As edições digitalizadas em CD-ROM, por exemplo, permitem ao leitor
guardar e locomover os dados de 24 edições, em apenas um único CD.
Permitem também um manuseamento das edições, através de uma barra de
ferramentas, que entre outras coisas, possibilita a pesquisa no texto das matérias, a
impressão de toda a matéria ou só do seu texto, além do acesso rápido a qualquer
parte das edições. A imagem abaixo nos mostra a interface de uma de suas edições
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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especiais digitalizadas. A barra de ferramentas existente permite uma série de
operações, que possibilitam a manipulação dos dados na perspectiva do hipertexto.
Imagem 10: A interface da versão digitalizada da revista Saúde!.
Fonte: Saúde!, 2004.
Mudanças na temporalidade e espacialidade dos processos de subjetivação
engendrados pela revista Saúde!, que seguem os avanços tecnológicos de uma
sociedade hipermediatizada, acompanhando um mercado especializado que no
caso da relação mídia-saúde, conta atualmente com diversas publicações sobre a
temática. Publicações estas, que privilegiam a informação em detrimento da
interpretação, característica de uma sociedade em que os fatos são mais
importantes do que os juízos de valor.
Não censurar, não julgar; mas tudo dizer, tudo apresentar, expor todos os pontos de
vista, permitir que o público forme livremente sua opinião, mediante uma crescente
profusão de imagens e dados informatizados acerca do mundo... (LIPOVETSKY,
2005a, p. 32).
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Profusão de imagens e dados, que no caso da Saúde! ocorre em diversos
meios, formando uma verdadeira rede de informações sobre o corpo saudável,
disponíveis para o leitor mais tradicional e para aquele mais antenado com as
inovações tecnológicas.
Complementando as informações da revista e das compilações digitalizadas,
o site da revista aparece como um veículo a mais para os agenciamentos do corpo
saudável, disponibilizando as vantagens da Internet sem perder de vista a qualidade
das revistas.
Com um conteúdo reconhecido pelos Internautas, que além de informações
sobre as edições impressas dispõem de outras opções, como tabelas de peso, o site
possibilita ainda mais a interatividade como mecanismo de captura e fuga do leitor.
Com mais um canal de comunicação aberto, ele é convidado a interagir com o site e
apontar seus defeitos e qualidades.
Nos seis anos em que trabalho na internet e navegando por sites dos mais variados
temas, encontrei coisas que me agradaram muito e outras que nem tanto - seja no
design, seja no texto. E sempre tive vontade de informar esses sites sobre meu grau
de satisfação com seu conteúdo para ajudá-los a melhorar, mas não são todos que
mantêm um canal de comunicação aberto para essa troca. No site da SAÚDE! ele
existe. É, na verdade, o meu próprio e-mail ([email protected]). E tomara que,
assim como eu, você seja um internauta louco para expressar sua opinião. A gente
quer ouvir quem não está totalmente satisfeito - e, claro, receber elogios de vez em
quando também faz bem. Estou esperando! Aliás, nos próximos dias você poderá
contar tudo o que pensa sobre a SAÚDE! - e aí não apenas sobre sua versão online
(veja e participe do nosso fórum especial) (SAÚDE!, 2004).
Através de uma seção permanente, chamada Plug@do na Saúde!, a
articulação entre a revista e o site se torna mais fácil para o leitor acompanhar. O
site possui áreas de acesso livre e áreas exclusivas para os assinantes da revista
Saúde!, que por ser assinante Abril recebe a revista e tem acesso irrestrito ao site da
publicação. O assinante pode acessar vários especiais da Saúde! feitos
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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especialmente para a Internet. Através do site é mais fácil também, adquirir os
especiais da Saúde! na Loja Abril, inclusive as edições digitalizadas.
Imagem 11: A versão on-line da revista Saúde!.
Fonte: Revista Saúde!, 2007.
Mesmo sem ser assinante, o internauta pode acessar as notas
complementares das edições que estão nas bancas, que são exclusivas para a
Internet, além disso, tem acesso a notícias atualizadas, bate-papos, fóruns,
enquetes, bem como testes e calculadoras.
Tentamos mostrar um pouco de toda a maquinaria de poder envolvida no
aparentemente simples processo que ocorre todos os meses, quando a revista
Saúde! chega às bancas e às mãos dos seus leitores. A seguir, vamos continuar
apresentando os discursos da Saúde! do corpo, a partir dos enunciados isolados na
análise de conteúdo.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Os discursos do corpo saudável
Assim como outras publicações do gênero, a versão impressa da Saúde!,
reserva espaço para seus anunciantes, para suas seções permanentes, para as
mais diversas informações técnicas da revista e para as matérias do mês, onde os
temas que aborda podem ser desenvolvidos com mais profundidade. Característica
esta, determinante na escolha do nosso corpus de investigação, constituído a partir
das matérias da revista Saúde!.
No ano de 2003, a revista Saúde! chegou às bancas brasileiras através de 12
edições regulares, além de várias edições especiais, que abordaram temáticas
específicas sobre certas partes do corpo humano e determinadas doenças, assim
como cuidados com o sono e a alimentação, entre outros aspectos do corpo
saudável.
46
Esta é uma forma que os periódicos em geral encontram de aprofundar ainda
mais suas temáticas, viabilizando muitas vezes o surgimento de novas publicações,
como já ocorreu com a própria Saúde!, que tanto surge de um desdobramento da
revista Nova, como possibilita a chegada da Boa Forma no mercado editorial
brasileiro, através de uma dessas mesmas edições especiais.
Apesar de também termos acesso às edições especiais da Saúde! de 2003,
optamos por constituir o nosso corpus de análise com as matérias das edições
regulares da revista, justamente pela regularidade que elas apresentam, garantindo
uma nova edição aos seus leitores todos os meses, na qual de certa forma eles já
sabem o que devem procurar e onde podem encontrar.
46
As edições especiais da revista Saúde! em 2003, trataram de temas como, Olhos, Ossos, Hormônios, Alergias,
Diabete, Nutrição Infantil, Gorduras e Dormir Bem.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Investigando as 12 edições regulares da revista Saúde! publicadas no ano de
2003, de onde retiramos todas as 12 matérias que constituíram o nosso corpus de
análise, encontramos o total de 96 matérias, distribuídas em quatro canais de
comunicação estabelecidos pela própria revista: Nutrição, Medicina, Sua família e
Seu corpo.
Canais que funcionam como aglutinadores dos assuntos veiculados pela
revista Saúde!, de forma que tornam mais fácil a consulta dos leitores e dos
internautas aos seus temas preferidos, a partir de um sistema de cores que os
identificam não só em cada matéria da revista, mas também nas suas seções
permanentes.
47
Imagem 12: O sistema de canais da revista Saúde!.
Fonte: Saúde!, 2004.
47
Canais que em 2006 já tinham se expandido, passando a ser distribuídos em número de seis. Os já antigos
Nutrição, Medicina, Família e Corpo, além dos novos Bichos e Bem-Estar. O canal Bichos veio se separar do
canal Sua Família, que em 2003 ainda alternava suas pautas entre os problemas que atingiam tanto os filhos,
quanto os cães e os gatos da família.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Canais estes, que também tornam fácil a visualização dos interesses mais
abordados pela revista Saúde!, na produção e veiculação de suas matérias. Das 96
matérias investigadas preliminarmente neste estudo, 42 estavam localizadas no
canal Medicina, enquanto 21 matérias pertenciam ao canal Sua família, 17 matérias
ao canal Nutrição e 16 matérias ao canal Seu corpo.
Podemos observar neste momento, duas características que vão se mostrar
freqüentes na análise de conteúdo da revista Saúde!. A primeira delas, é uma certa
inclinação da revista para tratar de temas de domínio médico, a partir do enfoque
central na prevenção, controle e combate à doença, o que mostra que a Saúde! da
qual se fala na revista, é predominantemente uma questão de ausência de doenças.
A segunda característica revelada por nossa análise de conteúdo, é que
apesar da tendência biomédica que a Saúde! apresenta, percebemos também uma
amplitude de discursos em seus canais, que constituídos pelas mais diversas fontes
e enfoques, tomam o corpo saudável em sua totalidade, sem se limitarem às
estratégias e à racionalidade da lógica biomédica.
A veiculação de diversas práticas alimentares, médicas e esportivas, entre
outras, a partir de discursos científicos, comerciais e mesmo políticos, formam uma
espécie de panacéia para obtermos a saúde perfeita, apesar da centralidade que a
ciência positivista ainda ocupa nas páginas da revista Saúde!.
Discursos que se inscrevem na condição paradoxal das sociedades atuais,
cuja produção de tipo imaterial movimenta demandas contraditórias num mesmo
campo social, investindo em sua totalidade um indivíduo não mais abordado de
forma fragmentada, através de mecanismos de controle mais humanos e contínuos.
Controle este, exercido pela lógica dos extremos, na qual o excesso aparece como
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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substituto da regulamentação normativa categórica, na forma de um imperativo
narcisista baseado na sedução e na gestão de si próprio.
As características que citamos revelam em um só movimento, o corpo
saudável que historicamente vem se configurando na gorda saúde dominante, como
diria Pelbart (2000), retomando Deleuze, além das múltiplas forças que colocam em
xeque essa forma de ser saudável, ao possibilitarem a emergência de novos
territórios existenciais, a partir do chamado constante que fazem ao indivíduo
construtor de si mesmo.
Forças que produzem uma subjetividade massificada e singularizada, sempre
aberta a uma perspectiva existencial da saúde, revelando duas grandes políticas da
subjetividade contemporânea, a coexistirem na produção biopolítica do corpo
saudável. A primeira delas, a gorda saúde dominante, em que a vida se encontra
aprisionada. A segunda, a grande saúde da qual nos fala Nietzsche (2001), uma tal
que não nos pertence porque sempre a adquirimos e a abandonamos, já que frágil,
é necessário abandoná-la.
A gorda saúde dominante, que devora e expele tudo, e que preserva a própria forma
ao longo de toda sua operação onívora, num majestoso passeio pelo mundo, e a
frágil saúde irresistível, que por não engolir qualquer coisa e não empanturrar-se
pode permanecer mais aberta e permeável a muitas coisas com as quais entra em
estranhas relações de choque e metamorfose... Manter a forma ou transfigurar-se,
aferrar-se ao próprio formato ou estar sujeito às metamorfoses que advêm dessa
relação com um exterior – duas políticas em relação à Forma, às formas que a vida
produz (PELBART, 2000, p. 67).
A gorda saúde dominante passeou bastante pelas matérias de capa da
revista Saúde! em 2003, ocupadas em sua grande maioria pelas reportagens do
canal Medicina. Com 2/3 das matérias de capa, os destaques sobre os assuntos
médicos confirmam a tendência da revista em investir na perspectiva biomédica da
saúde, mesmo que não exclusivamente.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Apesar do canal Medicina ser constituído essencialmente por matérias que
falam a partir de um modelo biomédico hegemônico, percebemos a convivência
desse modelo com outros sistemas e práticas terapêuticas emergentes, confirmando
as mudanças profundas por que passa o sistema da medicina oficial hoje em dia,
frente à demanda complexa das sociedades atuais, que promove a articulação da
medicina hegemônica com as mais diversas medicinas alternativas, de forma a
evidenciar a manifestação de uma nova medicina (MARTINS, 2003).
A terça parte das matérias de capa da revista Saúde!, ficou dividida entre as
reportagens dos seus canais de comunicação restantes. Enquanto as reportagens
do canal Nutrição foram destaque da Saúde! por três vezes, o canal Seu corpo
ocupou essa posição uma única vez, na capa da edição de maio de 2003. Já o canal
Sua família, não teve nenhuma de suas reportagens em destaque nas matérias de
capa da Saúde!.
O destaque dado pela Saúde! às reportagens dos canais de comunicação
Medicina e Nutrição, que juntos foram responsáveis por quase todas as matérias de
capa veiculadas em 2003, mostra a continuidade de uma tendência da revista que a
acompanha desde suas origens, quando surge preocupada com uma vida mais
natural, difundindo os cuidados com uma alimentação que privilegia esse estilo de
vida, para depois vir a dedicar-se maciçamente às questões relativas à prevenção de
doenças.
A análise das temáticas presentes no canal Medicina, revela a atenção da
revista Saúde! com certas doenças, terapias, medicamentos, formas de prevenção e
funcionamento do corpo, que são frequentemente abordadas dentro desse canal.
48
48
A análise das temáticas das 96 matérias veiculadas nas edições regulares da Saúde! em 2003, levou em conta o
enfoque principal de cada uma delas, de forma que mesmo tratando de vários assuntos ao mesmo tempo, como
prevenção, terapêutica, funcionamento do corpo, ação de doenças, etc., cada uma foi vista no que ofereciam de
maior destaque.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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O grande número de matérias que enfocam a ação de certas doenças no organismo
humano, como a dengue, o câncer de próstata e a alergia, mostra mais uma vez a
preocupação da Saúde! com a questão da doença, pelo menos nesse canal de
comunicação.
As terapias não medicamentosas, como a quiropraxia, a RPG, a reflexologia e
o biofeedback, também recebem destaque no canal Medicina, dividindo as atenções
com as terapias medicamentosas, através das tentativas da revista Saúde! em
explicar cientificamente seus mecanismos de ação no tratamento de certas
patologias, mesmo que tais mecanismos ainda não estejam totalmente desvendados
pela ciência.
Como podemos perceber no quadro abaixo, a veiculação pela Saúde! de
várias matérias que abordam a ação de certos medicamentos no organismo
humano, como a aspirina e o topiramato, revela a contribuição da revista a uma
certa medicalização da vida, a partir da análise de determinados remédios
encontrados no mercado ou ainda em teste pelos órgãos competentes.
Quadro 1 – Temáticas dos canais de comunicação da revista Saúde!
CANAIS Medicina Sua família Nutrição Seu corpo
Doença (16) Animais (10) Alimentos (08) Práticas
corporais (09)
Terapias (10) Filhos (10) Dietas (06) Corpo (07)
Medicamentos
(08)
Lar (01) Vitaminas (03) -
Prevenção (04) - - -
TEMÁTICAS
Funcionamento
do corpo (04)
- - -
TOTAL DE
MATÉRIAS
42 21 17 16
Análises que ao desaconselharem o uso excessivo ou mesmo regular desses
medicamentos, colaboram também para desmedicalizar a vida do cidadão brasileiro.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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É comum observarmos na Saúde! matérias que consideram as substâncias naturais
encontradas na nossa alimentação, equivalentes ou até de melhor eficácia que os
medicamentos vendidos nas farmácias, de forma a desaconselharem o uso
excessivo de certos remédios e contribuírem para a desmedicalização da vida
potencializada pelo desenvolvimento da indústria farmacêutica.
O canal Medicina veicula ainda matérias sobre o funcionamento do corpo e
sobre as formas de prevenção de certos problemas orgânicos, a partir de uma visão
científica hegemônica do corpo saudável, que difundida de forma pedagógica pelos
infográficos da Saúde!, se torna muitas vezes mais sedutora do que as aulas de
ciência recebidas na escola.
49
Imagem 13: A pedagogia da mídia em ação.
Fonte: Saúde!, 2004.
49
Como as matérias Para que serve o tal do baço? e Álcool para o coração, que abordam o funcionamento do
corpo e as formas de mantê-lo saudável.
Os agenciamentos do corpo na revista
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Já o canal de comunicação Nutrição, enfoca as propriedades de certos
alimentos e substâncias, presentes ou necessárias à dieta do povo brasileiro.
Nenhuma matéria desse canal fez parte do nosso corpus de análise, mas sua
existência revela que a saúde é compreendida pela revista como a junção de
diversos fatores e cuidados com o corpo, fazendo com que o indivíduo seja
responsabilizado por uma série de atitudes que convergem para sua boa saúde,
como a atenção ao sono, à alimentação e às práticas corporais de uma ampla
cultura de movimento.
Condição esta, que revela os limites da proposição reducionista muitas vezes
difundida pela área da Educação Física, de que a prática de atividades físicas gera
saúde por si só, sem que sejam levados em conta outros aspectos determinantes da
saúde humana.
50
Por sua vez, o canal de comunicação Sua família traz geralmente matérias
que tratam da saúde dos filhos e dos animais, além da saúde do lar. Podemos
perceber a partir desse canal, a preocupação da revista em ampliar a discussão da
saúde para além do âmbito individual do corpo, enfocando o corpo saudável nas
suas relações sociais com o ambiente e com quem nele se encontra.
Responsável por sua saúde, o leitor é convidado a ver que somente os
cuidados consigo próprio não são suficientes para que possa viver a saúde do
corpo, de forma a perceber a saúde numa visão mais sistêmica, em íntima relação
com os outros.
Finalmente, o canal de comunicação Seu corpo veicula matérias sobre as
mais diversas práticas corporais existentes no cenário contemporâneo, responsáveis
50
Visão que vem mudando na área, tanto na sua produção de conhecimento quanto na mentalidade dos seus
profissionais, como mostra o estudo de Mendes (2006) e a matéria sobre Nuno Cobra publicada na revista
Saúde!, que revela o estilo de vida saudável defendido pelo preparador físico, baseado não só na realização de
atividades físicas.
Os agenciamentos do corpo na revista
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pelos cuidados com a pele, o cabelo e o corpo em geral, ou integrantes de uma
certa cultura de movimento vivenciada no cotidiano, que nem sempre é codificada e
apropriada pelos currículos da Educação Física, enquanto componente curricular da
Educação formal.
Apesar de fazerem parte de uma cultura de movimento possível de ser
apropriada pela Educação Física escolar e apesar dos esforços que a área vem
fazendo nesse sentido, estando cada vez mais próxima da reflexão crítica sobre os
muitos usos do corpo feitos na vida social, as práticas corporais difundidas pelo
canal Seu corpo, como o surf, a atividade física, o triatlo, a ginástica facial, a
hidroginástica, a musculação, o ciclismo e o Lien Chi, ainda possuem pouca entrada
no ambiente escolar, em comparação à dinâmica com que a mídia as divulgam.
Mesmo assim, as relações qualitativas da Educação Física escolar com essas
práticas corporais, parecem ser maiores do que as vistas na mídia, já que esta vem
se preocupando muito mais com a rapidez da informação, do que propriamente com
a reflexão crítica sobre os usos do corpo.
A partir da distribuição das matérias da revista nos seus quatro canais de
comunicação, podemos ampliar a constatação da característica principal da Saúde!
nas sociedades hipermodernas, que é a presença simultânea de uma multiplicidade
de discursos sobre o corpo saudável em suas páginas, muitas vezes contraditórios
nas origens e tendências teóricas que possuem, nas concepções de corpo, saúde e
práticas corporais que veiculam, bem como nos valores e nas finalidades dos usos
do corpo que difundem.
Práticas discursivas que de maneira paradoxal trazem à tona demandas
contraditórias ao cenário hipermoderno da produção de subjetividade, configurando
uma espécie de superação da lógica disjuntiva que animava as sociedades
Os agenciamentos do corpo na revista
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disciplinares, de modo que formas extremas de sermos saudáveis coabitam as
matérias da Saúde!, como observamos no canal Medicina, onde a medicalização da
vida ao mesmo tempo se fortalece e perde força.
Superação apenas parcial, já que a lógica disjuntiva coexiste nas páginas da
Saúde! com uma lógica conectiva. A primeira, responsável por reproduzir o que já foi
produzido sobre a saúde humana, enquanto a última se encarrega da produção
daquilo que é novo.
O que podemos perceber nas 96 matérias distribuídas nos quatro canais de
comunicação da revista Saúde! em 2003, é uma forte tendência de intervenção no
corpo em nome da saúde, seja para fins de prevenção ou terapia, a partir da
constante responsabilização do indivíduo pelos seus atos.
51
A racionalidade biomédica presente na revista Saúde! estimula o controle do
leitor sobre si próprio, através de uma concepção mecanicista da natureza enquanto
objeto de dominação do homem, que abre caminhos para o domínio da sensibilidade
do corpo pelo racionalismo humano.
Mesmo assim, vemos que existem espaços suficientes na revista Saúde! para
que a natureza do corpo seja valorizada e compreendida em sua relação de
complementaridade com a cultura, de forma que o corpo passa da condição de mero
objeto, para a unidade existencial que expressa o ser no mundo. Desse modo, a
lógica intervencionista da biomedicina é também resignificada, a partir de uma maior
atenção à sensibilidade e à historicidade do corpo.
Seguindo uma certa lógica de estruturação presente já no início da década de
80, onde geralmente reservava pelo menos uma matéria em cada edição para tratar
51
Em sintonia com o imperativo da atividade médica que o dico Escocês John Brown, inventor dos conceitos
de estenia e astenia, tinha como princípio. Segundo este médico, famoso no século XIX, é preciso estimular ou
debilitar o corpo, ou seja, intervir sempre. Inação de forma alguma. Não devemos confiar na força da natureza
(CANGUILHEM, 2005).
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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das práticas corporais da cultura de movimento contemporânea, a revista Saúde!
continua veiculando em média uma matéria sobre essas práticas por edição, o que
revela uma continuidade de mais de vinte anos abordando as representações e os
usos do corpo em movimento nas suas páginas.
No ano de 2003, a revista Saúde! veiculou em todos os seus canais de
comunicação, várias matérias que abordaram a saúde humana a partir de práticas
corporais diversas. Foram escolhidas para constituírem o nosso corpus de análise,
matérias sobre aquelas práticas possíveis de serem feitas sem maiores exigências
de acompanhamento profissional, comumente vistas no cenário da Educação Física
brasileira.
É importante ressaltar que o critério de escolha dessas matérias levou em
conta a temática das mesmas e não sua localização dentro dos canais estabelecidos
pela revista, de modo que podemos confirmar que o canal Seu corpo acolhe a
maioria das matérias realizadas na Saúde!, sobre as práticas corporais da cultura de
movimento contemporânea.
As 12 matérias que constituíram o corpus de análise da nossa investigação,
corresponderam a 12,5% do total das 96 matérias veiculadas nas edições regulares
da revista Saúde! em 2003. Nove dessas 12 matérias fizeram parte do canal de
comunicações Seu corpo, enquanto duas estiveram presentes no canal Medicina e
uma matéria apenas figurou no canal Sua família.
As matérias sobre as práticas corporais da cultura de movimento veiculadas
pela revista, que normalmente fazem parte do canal de comunicação Seu corpo, se
localizam no final de cada edição da Saúde!, após as matérias dos canais Nutrição,
Medicina e Sua família, que se distribuem ao longo das páginas da revista nessa
mesma ordem, de forma a obedecerem um padrão de publicação desejado pela
Os agenciamentos do corpo na revista
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Saúde!, revelando com isso uma certa hierarquização das temáticas abordadas pela
revista.
Podemos encontrar nas 12 matérias do corpus selecionado, as mais variadas
práticas corporais da cultura de movimento contemporânea, desde o surfe ao Lien
Chi, passando pela RPG e pela hidroginástica. Práticas corporais surgidas nos mais
distintos tempos e espaços sociais, que são difundidas pela revista Saúde! através
de múltiplos discursos e perspectivas teórico-metodológicas, de forma a colocarem
em questão a própria compreensão do esporte nas sociedades hipermodernas.
A presença dessas matérias na revista Saúde!, está de acordo com o que
Betti (2001) aponta como sendo um fenômeno de novas esportivizações da cultura
corporal de movimento, que amplia o significado da palavra esporte e traz desafios
para a sociologia que o toma como objeto.
Para o autor, a disseminação de práticas corporais antigas e novas no âmbito
da cultura corporal de movimento, muitas das quais vistas no nosso corpus de
análise, é uma característica de um novo mercado comercial do corpo em expansão,
que representa uma mudança na cultura do corpo contemporâneo, em que o esporte
de rendimento recua em favor de novos estilos de vida (BETTI, 2001).
Essa multiplicidade de práticas corporais recentes e renovadas, encontrada
no nosso corpus de análise, se insere na lógica do excesso de uma sociedade
hipermoderna, em que não observamos mais a negação ou destruição do passado,
mas sim a sua reintegração, sua reformulação, a partir das novas lógicas de
mercado, consumo e individualidade existentes na vida social. As sociedades
hipermodernas são acima de tudo integradoras, amparadas pela escalada do
sempre mais em todas as esferas da coletividade (LIPOVETSKY, 2004b).
Os agenciamentos do corpo na revista
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De forma que mesmo sofrendo uma espécie de recuo frente às novas
esportivizações que vêm se delineando nas sociedades hipermodernas, o esporte
performance, ou mesmo sua lógica de rendimento, continua a ter espaço na
produção biopolítica do homem saudável, sendo reformulado e reintegrado pelos
seus praticantes ao cenário mais amplo das práticas corporais, de acordo com a
cultura individualista narcisista voltada para o êxtase do corpo.
Essencialmente, o esporte de massa é hoje uma atividade centrada na busca do
prazer, do dinamismo energético, da experiência de si mesmo. Após o esporte
disciplinar e moralista, estamos diante do esporte-lazer, esporte-saúde, esporte-
desafio. Das práticas esportivas nada mais almejamos exceto sensações e equilíbrio
interno, auto-satisfação e evasão, “silhueta” e distensão. Já não é o conceito de
virtude que orienta o esporte, mas a emoção corporal, o prazer, a boa forma física e
psicológica [...] O princípio do desempenho pessoal democratiza-se, mas,
simultaneamente, se personaliza e toma um feitio psicológico, tendo como finalidade
a gestão utilitarista do capital-corpo, por via da otimização da forma e da saúde, da
emoção levada ao extremo (LIPOVETSKY, 2005a, p. 89).
Segundo Lipovetsky (2005a), a configuração do indivíduo a seu próprio gosto,
sem outros objetivos que não o de valorizar o próprio corpo e ser mais si mesmo,
através do empenho esportivo, é uma criação narcisista a qual chama egobuilding.
Para o autor, nunca os deveres do indivíduo em relação a si próprio foram tão pouco
invocados, pelo menos na forma de um imperativo categórico, em que a renuncia a
si mesmo se sobrepunha à exaltação dos prazeres do corpo. Nunca também, o
indivíduo se esforçou tanto no aperfeiçoamento funcional de seu próprio corpo.
Situação paradoxal que revela um certo construtivismo hedonista na produção
biopolítica do corpo saudável contemporânea, no qual o indivíduo hipermoderno ao
aspirar níveis satisfatórios de performance na realização das práticas corporais, a
serem obtidos sem uma submissão à disciplina rigorosa dos treinamentos, evidencia
a nova expressão do individualismo esportivo, em que um desempenho médio tanto
ascético quanto hedonista é almejado.
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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Condição que abre espaço para que os usos do corpo na revista Saúde!
apontem tanto a valorização de um nível de esforço moderado na realização das
práticas corporais, quanto a valorização de um nível elevado de esforço, revelando
uma tensão constante entre a vontade de superação e o respeito a si próprio.
Usos do corpo
Quanto ao esforço do corpo
Relativização do esforço do corpo (depende dos objetivos da prática corporal) 1
Valorização da moderação do esforço do corpo 18
Valorização do esforço elevado do corpo 9
Valorização tanto da moderação, quanto do elevado nível de esforço do corpo 1
Assim como as práticas corporais do nosso corpus de análise, os tipos de
discursos sobre o corpo saudável presentes nas 12 matérias analisadas na nossa
investigação, evidenciaram uma multiplicidade de vozes a coexistirem nas páginas
da revista Saúde!, de forma a nos darem pistas preciosas sobre as origens sociais
das idéias sobre o corpo difundidas nas sociedades hipermodernas. Polifonia a se
revelar nos discursos midiáticos, políticos, comerciais, científicos e profissionais,
além dos discursos das experiências dos sujeitos consumidores e produtores do
corpo saudável.
Discursos produzidos por fontes específicas e diversificadas, muitas vezes
recorrentes nas matérias da Saúde!, revelando com isso certas hegemonias da
revista no trato com o corpo saudável, por mais que a tendência maior em suas
páginas seja o investimento na totalidade da saúde do corpo, através dos mais
diversos discursos que circulam no meio social.
Em relação aos discursos midiáticos predominantes na revista, representados
na figura dos jornalistas responsáveis pela produção das matérias sobre a saúde do
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corpo, a Saúde! acompanha a organização das editorias do jornalismo diário,
destinando repórteres setoristas para cada um dos seus canais de comunicação.
Especializados em cobrir determinados assuntos ou mesmo instituições, os
setoristas da revista Saúde! que estiveram presentes no corpus das matérias
analisadas por nossa investigação, foram as jornalistas Priscila Boccia, mais atuante
no canal Seu corpo, assinando 7 matérias das 12 analisadas; Gabriela Cupani, mais
atuante no canal Medicina, sendo responsável por 3 matérias produzidas e Thais
Szegö, atuante no canal Sua família, assinando apenas 2 das matérias analisadas.
As 12 matérias analisadas foram produzidas por essas três jornalistas, o que
confirma uma certa tendência feminina no direcionamento dos temas discutidos na
Saúde!, por mais que a revista aborde questões de interesse geral, tanto do público
feminino quanto do masculino.
A setorização das jornalistas é uma forma que a revista Saúde! encontra de
qualificar o debate sobre suas pautas, ao propiciar um contato mais profundo e
freqüente do repórter com o seu tema, de modo que ele venha a ter mais subsídios
para produzir suas matérias.
Os discursos profissionais presentes na revista Saúde!, são aqueles em que
os argumentos dos profissionais das mais diversas áreas de conhecimento, oriundos
predominantemente da área biomédica da saúde e vindos até mesmo de outros
países, são chamados a dar o respaldo necessário aos argumentos jornalísticos das
setoristas da Saúde!, sendo comum observarmos nas matérias sobre as práticas
corporais da cultura de movimento contemporânea, profissionais da área da
Educação Física.
Além de representarem predominantemente as disciplinas da área biomédica
da saúde e suas especialidades profissionais, as fontes desse tipo de discurso, que
Os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!
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se encontra amplamente presente na revista Saúde!, também possuem uma certa
tendência de origem, pertencendo de forma recorrente a determinadas instituições
universitárias do estado de São Paulo, como a USP e a UNIFESP.
52
Tendência que se repete quando observamos especificamente os discursos
científicos presentes na Saúde!, que do mesmo modo que os discursos profissionais,
encontram-se bastante recorrentes na revista, reforçando, refutando ou relativizando
os demais argumentos, que na grande maioria das vezes, se encontram em posição
secundária frente o que as pesquisas e os seus cientistas têm a dizer.
Assim como acontece com os discursos profissionais, as fontes dos discursos
científicos, vistas através dos pesquisadores e das associações científicas presentes
na revista, advêm de determinadas áreas e instituições hegemônicas em termos de
solicitação pela Saúde!, sendo predominantemente da área biomédica da saúde.
Ao contrário de outras revistas de cunho científico veiculadas pela própria
Editora Abril, como a Superinteressante, que frequentemente aborda assuntos das
Ciências Humanas e da Filosofia, o tipo de conhecimento científico sobre o corpo
saudável difundido pela revista Saúde!, é essencialmente aquele produzido nos
laboratórios biomédicos do país.
53
Na revista Saúde!, como podemos observar através dos núcleos de sentido a
seguir, as práticas corporais são geralmente localizadas no tempo e no espaço para
os seus leitores, muitas vezes para legitimá-las enquanto parte da cultura humana e
não apenas como um modismo passageiro.
52
As associações profissionais também são recorrentes nesse tipo de discurso, como podemos notar através da
presença do Conselho Federal de Educação Física – CONFEF e dos Conselhos Regionais de Educação Física,
nas páginas da revista Saúde! (SAÚDE!, 2004).
53
Apesar dessa tendência científica, podemos encontrar nas matérias analisadas certas referências às origens e
finalidades das práticas corporais em pauta, mesmo que não remetidas a pesquisas, pesquisadores ou instituições
localizadas do ponto de vista do estado da arte desse conhecimento, de forma a figurarem geralmente como notas
complementares ao discurso principal que está sendo produzido.
Os agenciamentos do corpo na revista
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Apesar disso, a discussão dessas práticas corporais na Saúde! geralmente
não ultrapassa a apresentação de suas datas mais significativas, assim como dos
seus representantes mais ilustres, estando longe de se constituir numa reflexão mais
profunda sobre os aspectos socioculturais da sua apropriação nas sociedades de
consumo contemporâneas.
Lógicas sociais e culturais
Sobre a localização da prática corporal
Realizada em países desenvolvidos 1
È novidade no Brasil 3
Não é novidade no Brasil 2
Sobre as origens e as características da prática corporal
Milenar (faz parte da cultura de um povo) 12
Sofreu transformações (diferente do que era; revisitada) 3
Da Educação Física, o Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de
São Caetano do Sul – CELAFISCS, é frequentemente chamado a dar o seu parecer
sobre os temas abordados pela revista, de forma a evidenciar uma centralização
geopolítica da compreensão do corpo e dos seus usos na cultura de movimento
contemporânea, em que podemos observar a tendência predominante de uma visão
biologicista do corpo humano a ser difundida no país.
54
Diferentemente do discurso profissional na área da Fisioterapia, que foi
buscar no nordeste o depoimento de uma professora da Faculdade Integrada do
Ceará. Mesmo sendo uma prática muito pouco comum, a consulta a outros
profissionais para além do eixo sul-sudeste, é encontrada na revista Saúde!.
Dessa forma, fica evidente a presença de dois Brasis nas páginas da Saúde!,
representados de um lado pelas regiões sul e sudeste, especialmente o estado de
São Paulo, que concentram a totalidade das instituições de onde se originam os
54
Para maiores detalhes sobre a produção dos discursos físico-sanitários de base biologicista, difundidos pelo
CELAFISCS, ver Fraga (2005).
Os agenciamentos do corpo na revista
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discursos científicos da revista, e de outro lado o restante do país, que não possui
instituições científicas ou pesquisadores consultados pela Saúde!.
55
A circulação da revista Saúde! no país também obedece essa característica
distintiva, de forma que as regiões sul e sudeste detêm quase ¾ do total da sua
circulação, ao passo que as demais regiões do país somam pouco mais de ¼ do
total da circulação da revista.
Tabela 4 – Circulação da revista Saúde! por região
56
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
4% 17% 8% 49% 22%
Os discursos políticos e comerciais não foram tão freqüentes nas 12 matérias
analisadas, tendo nos empresários, nas associações comerciais e nas organizações
políticas suas principais origens. Apesar disso, contam com a força de fontes como a
Organização Mundial da Saúde, que hoje em dia é certamente a principal instância
social a direcionar a saúde humana no mundo.
É interessante notar a participação que exercitam nas determinações sobre a
saúde do corpo presentes na revista Saúde!, de forma a revelarem a multiplicidade e
a ambigüidade dos discursos que investem os processos de subjetivação do corpo
contemporâneo em sua totalidade, possibilitando com isso a emergência de novos
territórios existenciais, configurados na produção biopolítica do corpo saudável.
A multiplicidade de discursos sobre a saúde do corpo a coexistirem em um
mesmo campo social, revela a condição paradoxal do capitalismo integrado, em que
55
Divisão que se revela até em outros aspectos. Por motivos climáticos, no mês de julho de 2003 a revista
Saúde! saiu às bancas em duas versões distintas. As edições de São Paulo e da região sul receberam uma capa
relacionada ao frio do inverno, enquanto as edições que circularam no resto do país receberam uma capa menos
friorenta.
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o excesso se apresenta como modo de regulação predominante, a incidir sobre a
subjetividade humana a partir do imperativo narcisista do culto ao corpo saudável.
De acordo com Bauman (2003), a substituição da regulação normativa pelos
poderes sedutores do excesso, presentes nos mais variados tipos e fontes de
discursos da Saúde!, se relaciona de perto com a transformação das estratégias de
dominação circulantes nas sociedades contemporâneas, em que a autovigilância e o
automonitoramento dos indivíduos substitui o modelo panóptico de controle, próprio
das sociedades disciplinares.
Estratégias de dominação que dão voz ao seu objeto de controle, de forma
que os discursos sobre o corpo saudável na revista Saúde! ecoam também nas falas
dos sujeitos que experienciam as mais diversas práticas corporais veiculadas nas
páginas da revista, a partir de compreensões e finalidades diversas para os usos do
corpo.
Os discursos dos praticantes são utilizados muitas vezes na revista Saúde!
para dar respaldo aos tratamentos ou formas de prevenção bem-sucedidas que ela
veicula, a partir dos efeitos das práticas corporais na saúde do corpo dos seus
leitores, de forma que possamos ter provas concretas dos benefícios que essas
práticas possam trazer ou não a uma determinada compreensão predominante do
corpo saudável.
Geralmente produzidos por pessoas comuns, de idade mais avançada e de
profissões bem-sucedidas, os discursos da experiência presentes na revista Saúde!
se diferenciam dos depoimentos veiculados por certas publicações especializadas
na beleza feminina, como a revista Boa Forma, já que não se originam de pessoas
famosas.
56
Dados de setembro de 2006, produzidos pelo IVC e disponíveis no site da PubliAbril (PUBLIABRIL, 2007).
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Os relatos são de pessoas comuns, como qualquer um de nós, o que facilita a
projeção dos demais leitores nas situações cotidianas apresentadas pela revista.
57
Pessoas que possuem também uma idade mais avançada, o que traz a segurança e
a sabedoria do discurso da maturidade, mais vivido nas questões da saúde e da
doença. Além disso, as pessoas que falam na Saúde! possuem uma reconhecida
competência intelectual perante a sociedade, em virtude de suas profissões exigirem
geralmente o nível superior de Educação.
58
A convergência de diversas práticas e discursos sobre o corpo saudável nas
páginas da revista Saúde!, confirma que a produção de conhecimento sobre a saúde
do corpo na hipermodernidade é realizada também através dos agenciamentos do
corpo na mídia especializada em saúde. Dessa forma, a produção de conhecimento
sobre o corpo saudável na sociedade brasileira, é encontrada em parte, nas práticas
discursivas da Saúde!, que além de estabelecer certas regularidades enunciativas
sobre a saúde do corpo, possibilita a emergência de novos eventos no cenário da
produção de subjetividade contemporânea.
Os núcleos de sentido que foram produzidos a partir das unidades de registro
das matérias analisadas, convergiram para cinco grandes categorias de análise da
nossa pesquisa, revelando as regularidades enunciativas do corpo saudável na
Saúde!, os novos eventos da saúde do corpo em circulação na revista, além de
certas ausências sentidas no trato com a saúde humana.
Categorias que reuniram os núcleos de sentido sobre as Representações e os
Usos do corpo presentes nas matérias da Saúde!, além da Motivação social, da
57
Além dos depoimentos individuais, temos a presença de algumas associações de praticantes como fontes dos
discursos da experiência.
58
As pessoas que falam na Saúde! representam o perfil de leitores da revista, preocupados com a questão da
prevenção, situando-se na casa dos 20 aos 50 anos, além de pertencerem geralmente à classe média brasileira.
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Relação com o corpo e das Lógicas sociais e culturais das práticas corporais
veiculadas pela revista.
59
Como a presença das múltiplas vozes sobre o corpo saudável na Saúde!
revelava, a tendência da revista, que se confirma na produção e organização dos
nossos núcleos de sentido, é a da incidência total sobre a saúde do corpo, através
de enunciados também diversos, que dão conta dos menores detalhes sobre o
corpo saudável, apoiados em perspectivas teóricas muitas vezes contraditórias e
recorrentes.
Enunciados que vamos estar trazendo ao longo das discussões sobre a
produção biopolítica do corpo saudável, para uma melhor visualização das linhas de
força e de fuga que compõem o dispositivo pedagógico da revista Saúde!, de forma
a destacarmos as múltiplas e ambíguas incidências sobre o corpo saudável e os
seus usos.
Destacarmos, por exemplo, a recorrência dos núcleos de sentido sobre a
prática de atividades físicas como fenômeno que traz benefícios orgânicos ao corpo,
além de referências aos impactos que os benefícios orgânicos proporcionados pela
prática corporal têm no tratamento de certas doenças, revelando um discurso
comum na área da Educação Física, referente à relação positiva de causa e efeito
entre a atividade física e a saúde, compreendida enquanto a ausência de doenças
no corpo humano
Na revista Saúde!, apesar de sermos alertados sobre os efeitos contrários
que a atividade física exagerada ou não orientada pode resultar, o que geralmente
vemos é uma associação positiva entre as práticas corporais e a saúde humana, que
59
Categorias construídas a partir de procedimentos metodológicos próprios a uma sociologia do corpo e do
esporte realizada por Boltansky (2004) e Bourdieu (2004; 1983), onde distribuímos os núcleos de sentido
produzidos sobre os sentidos e significados do corpo e das práticas corporais.
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pode ser encontrada na beleza do corpo e na sua aptidão física, entre diversos
outros elementos.
Relação com o corpo
Quanto aos resultados da prática corporal
Sobre os resultados que a prática corporal traz
Traz somente benefícios 1
Traz vários benefícios ao mesmo tempo (corpo e mente; cura e prazer; proteção e prazer) 8
Pode trazer o efeito contrário do que se quer 4
Traz benefícios, especificamente para a saúde 8
Traz benefícios para o comportamento (não chorar; humor) 4
Traz benefícios sócio-econômicos (aprendizagem; economia; trânsito) 5
Traz benefícios psicológicos (prazer; bem-estar; relaxamento; satisfação; emocional) 10
Traz benefícios para a vida (qualidade de vida; expectativa de vida) 7
Traz a beleza do corpo (aparência; calorias; essência de volta) 15
Traz consciência corporal (limites; autoconfiança; postura; percepção) 3
Traz aptidão física e funcional 27
Traz desempenho pessoal (energia; disposição; sucesso; confiança; superação) 8
Traz soluções para a doença e suas conseqüências (proteção; prevenção; controle) 42
As práticas corporais são geralmente reduzidas às atividades físicas, sendo
compreendidas na maioria das vezes como um remédio a ser administrado contra as
doenças do organismo, mesmo que em outros momentos sejam vistas como uma
forma de arte ou de lazer.
Representações
Quanto às práticas corporais
Sobre o que é a prática corporal
Uma arte (de treinar a energia vital) 2
Um remédio 2
Uma técnica (terapêutica; de reeducação do corpo) 4
Um lazer (coreografia) 2
Um meio de transporte 3
Um estilo de vida (dentro de uma filosofia maior de práticas corporais) 2
Um exercício ou uma atividade física 21
Uma prática corporal (oriental) 1
Quanto ao corpo, podemos observar os núcleos de sentido que apontam para
o seu caráter comunicativo, ultrapassando uma certa compreensão do corpo-
máquina, ao admitir que suas partes não podem ser vistas de forma independente e
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isolada. Argumentos que estão embasados ora pela perspectiva filosófica da
tradição oriental, ora pelo paralelismo psicofísico da psicologia moderna, revelando a
ambigüidade dos enunciados presentes no discurso da revista Saúde!, que investem
a totalidade do corpo saudável.
Representações
Quanto ao corpo
Sobre o que é o corpo
Corpo compreendido como uma máquina (essência biológica, natural e positiva) 4
Corpo compreendido como parte de um todo maior (músculos; emoções; espírito; mente) 10
Sobre como funciona o corpo
Através de ações reflexas e mecanismos de estímulo-resposta 6
Por mecanismos de auto-regulação 3
De forma particular 1
Não se sabe 2
Mesmo caso das representações de saúde presentes na revista, que se
alternam entre perspectivas teóricas distintas, de forma a evidenciarem os
paradoxos existentes no campo midiático, que a partir da lógica dos extremos
hipermoderna, tenta capturar a saúde humana nas mais variadas direções.
Representações
Quanto à saúde
Sobre o que é a saúde
Saúde compreendida como qualidade de vida 1
Saúde compreendida como algo distinto da vida 1
Saúde compreendida como bem-estar 1
Saúde compreendida como ausência de doenças 1
Sobre a obtenção da saúde
Ter qualidade de vida é fácil e está ao alcance de todos 1
Obtemos a saúde através da circulação da energia no corpo 1
Ao apresentar a doença como um evento limitante que devemos eliminar a
qualquer custo, assim como argumentar sobre a possibilidade que temos de
conviver com ela, a revista Saúde! mais uma vez revela os paradoxos presentes na
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cultura do excesso e da moderação hipermoderna, evidenciando com isso territórios
existenciais alternativos para vivermos a saúde do corpo.
Representações
Quanto à doença
Sobre o que é a doença
Um evento limitante 3
Um evento não tão limitante (quanto outras doenças; quanto nós achamos que é; um desafio) 3
Sobre quem pode ter a doença
Atinge a todos 2
Sobre o que traz a doença
Traz também coisas boas (nova relação de sensibilidade com o corpo; atenção à vida) 3
Limitações (cotidianas) 4
Pode ou não trazer limitações 1
Nada além de uma vida normal (não piora a vida) 6
Sobre como enfrentar a doença
Não se sentir limitado (força; otimismo) 2
Tentar vencer a doença 3
Conviver com a doença (conhecer a doença) 5
Prevenir-se 1
Sobre quais são as causas da doença
Reflexo de outros problemas (emocionais; iniciados em outra parte do corpo; socioculturais) 3
Além das formas tradicionais de sermos saudáveis, os enunciados da revista
Saúde! revelam pontos de fuga interessantes, que apontam para uma mudança sutil
mas importante na relação do corpo saudável com os seus usos, estando mais
próxima de uma perspectiva existencial da saúde.
As práticas corporais da tradição oriental, por exemplo, fazendo comunicar
corpo e mente, ou mesmo a concepção fenomenológica de corpo, presente nas
referências à consciência corporal do ser humano, são exemplos de novos territórios
existenciais que emergem da produção biopolítica do corpo saudável, a partir dos
agenciamentos do corpo na mídia especializada em saúde, efetivados pelas mais
diversas estratégias de captura e de fuga dos leitores da revista Saúde!.
A produção biopolítica deixa de ser apenas a perspectiva do poder que incide
sobre a subjetividade humana, passando a ser compreendida a partir da potência da
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vida, de forma que podemos apontar certas biopolíticas do corpo saudável em curso
nas sociedades hipermodernas, como as que mostraremos a seguir.
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Estudar a maneira como o ser humano se transforma em sujeito. Esse foi o
principal objetivo do trabalho de Michel Foucault nos vinte anos que antecederam
sua morte prematura em junho de 1984, decorrente das complicações provocadas
pela AIDS.
O próprio Foucault foi quem esclareceu em um texto escrito pouco antes do
seu falecimento, que nos últimos anos de trabalho havia procurado produzir uma
história dos diferentes modos de subjetivação dos seres humanos na nossa cultura.
Mesmo reconhecendo o interesse pela problemática do poder, o autor revela que o
tema principal do seu trabalho nesse período foi acima de tudo a questão do sujeito
(FOUCAULT, 1995).
Para criar a história dos diversos modos pelos quais assumimos essa forma-
sujeito moderna que se quer transcendental já há um bom tempo, Foucault se
deteve no funcionamento do poder não como objeto de análise privilegiado dos seus
estudos, mas enquanto uma ferramenta capaz de explicar as maneiras como nos
subjetivamos dentro das redes de poder e de saber que integram a totalidade das
relações sociais humanas.
Como diria o filósofo, recusando a autoria de uma suposta teoria do poder
que lhe é atribuída por muitos, não foi o poder, mas sim a configuração do sujeito,
que se constituiu como a matéria-prima de suas últimas investigações (FOUCAULT,
1995).
Além de questionar a noção de sujeito presente nas grandes metanarrativas
iluministas do século XVIII, para as quais o ser humano preexiste ao mundo social,
como algo sempre dado e fora da história, Foucault dedicou grande parte de sua
obra ao estudo minucioso dos processos de subjetivação que vêm nos constituindo
enquanto sujeitos modernos, pelo menos nos últimos quatro séculos.
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Suas pesquisas tangenciam três grandes formas de subjetivação do ser
humano – o saber, o poder e as práticas de si – no interior das quais o sujeito é
historicamente produzido. Formas de subjetivação que correspondem aos três
principais eixos das investigações realizadas pelo autor.
Se trazemos Foucault à tona no momento, não é com o intuito de realizarmos
mais um dos inúmeros estudos existentes sobre sua obra, mas sim para utilizarmos
seus conceitos como ferramentas de trabalho na complexa tarefa de cartografarmos
as biopolíticas do corpo saudável que se configuram atualmente.
Fizemos questão de ressaltar as características do trabalho de Foucault nos
seus últimos escritos, na intenção de reconhecermos a atualidade e a relevância de
sua obra para os estudos que de algum modo pretendem investigar a produção da
subjetividade contemporânea.
Principalmente estudos como o nosso, que questionam os processos de
subjetivação do corpo saudável configurados no interior das múltiplas relações de
poder-saber das sociedades hipermodernas, a partir de um olhar sobre os
agenciamentos do corpo realizados nas práticas discursivas da mídia especializada
em saúde.
Processos em que a vida vê-se investida por todas as formas possíveis e até
agora imaginadas pelo capital, cuja lógica na grande maioria das vezes perversa,
modela a subjetividade humana através dos seus sempre atualizados mecanismos
de captura, dentro dos quais paradoxalmente nos tornamos constantemente sujeitos
seriais e singulares.
Numa época em que assistimos à subordinação da totalidade da vida ao
capital, não limitada apenas às dimensões econômicas ou culturais da existência
humana, nada melhor do que partirmos da compreensão de biopolítica presente na
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obra de Foucault, para quem a luta contra as formas de assujeitamento, ou melhor,
contra uma certa submissão da subjetividade que nos atinge já há algum tempo,
vem se tornando cada vez mais importante na atualidade (FOUCAULT, 1995).
Além do mais, o conceito de biopolítica remete de imediato aos estudos de
Michel Foucault, responsável pela introdução do termo no vocabulário filosófico
contemporâneo. Mesmo que outros autores se aproximem ou desenvolvam o tema,
como é o caso de Hannah Arendt, Agnes Heller e Giorgio Agamben, Foucault se
mostra essencial às investigações sobre as biopolíticas do corpo, em virtude da
profundidade e originalidade com que aborda o tema.
Para discutirmos a produção biopolítica do corpo saudável na sociedade
contemporânea, tendo como pano de fundo os agenciamentos do corpo na mídia
especializada em saúde, é fundamental delimitarmos então, antes de qualquer
coisa, a dimensão aproximada que a noção de biopolítica assume hoje em dia,
partindo rapidamente do seu aparecimento na obra de Michel Foucault.
Agindo dessa forma, podemos ressaltar o caráter histórico desse conceito,
apontando ainda para a potencialidade que ele vem demonstrando nos últimos anos,
quando incorpora novas significações a partir da releitura de um grupo de teóricos
majoritariamente italianos, do qual destacamos o pensamento de Antonio Negri.
Arriscamos dizer, logo de início, que a noção de biopolítica deve sua grande
popularidade no meio acadêmico aos estudos de Foucault, pensador francês que
em 1974 inaugura o termo em questão, ao proferir uma conferência no Instituto de
Medicina Social da UERJ, ocasião em que examina justamente o nascimento da
medicina social no Ocidente, a partir dos investimentos da sociedade capitalista
sobre o corpo humano.
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Nessa conferência, publicada posteriormente em 1979, o autor defende a
hipótese de que o capitalismo não teria provocado uma privatização da medicina
moderna, como acreditam certos críticos da medicina atual, mas sim a socialização
do corpo enquanto força de trabalho, onde se opera o controle da sociedade sobre
os indivíduos (FOUCAULT, 1999).
A medicina científica moderna, nascida em fins do século XVIII com o
aparecimento da anatomia patológica, seria dessa forma uma medicina coletiva a ter
como suporte uma certa tecnologia do corpo social.
Ao invés de termos assistido ao nascimento de uma medicina individualista,
cujas dimensões coletivas da atividade médica são extremamente limitadas, fomos
apresentados a uma medicina social, que se alastra através das relações de
mercado de uma economia capitalista, socializando o objeto corpo enquanto força
de produção onde se materializa o controle do poder médico sobre as populações
(FOUCAULT, 1999).
É a partir desta análise sobre a dimensão política da medicina moderna, que
Foucault introduz o conceito de biopolítica em sua obra, revelando mais uma das
modalidades de exercício do poder sobre a vida, em ação desde o século XVIII. Pela
primeira vez, o autor define o corpo humano enquanto uma realidade biopolítica,
percebendo a medicina científica como uma estratégia biopolítica de controle do
poder médico sobre a população, a operar no seio das sociedades capitalistas
modernas.
Para o filósofo, o controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera
simplesmente pela consciência ou pela ideologia, sendo efetivado através do corpo,
realidade biopolítica sobre a qual, antes de tudo, investiu o capitalismo de fins do
século XVIII e início do século XIX (FOUCAULT, 1999).
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Foucault voltaria a abordar o conceito de biopolítica dois anos após aquela
conferência no Rio de Janeiro, quando no último capítulo de A vontade de saber,
publicado em 1976, discutiu a forma como as disciplinas do corpo e as regulações
da população se tornaram estratégias fundamentais para a configuração de um
determinado poder sobre a vida, o qual desde então ele passaria a chamar de
biopoder.
Para o autor, o biopoder que se desenvolve nas sociedades européias desde
o século XVII, a partir de uma anatomopolítica dos corpos e de uma biopolítica das
populações, difere do poder soberano ao qual sucede, em razão de gerir as forças
que submete, muito mais do que destruí-las (FOUCAULT, 1988).
Tecnologia política de amplo alcance, constituída por dois grandes pólos em
torno dos quais o poder sobre a vida vem se desenvolvendo, o biopoder de que nos
fala Foucault se dirige tanto ao corpo dos indivíduos quanto à vida da espécie,
controlando a totalidade das ações humanas.
O controle do ser humano pela anatomopolítica do corpo-máquina operada
no interior das instituições sociais modernas, tais como a escola e a fábrica, já tinha
sido analisado por Foucault no livro Vigiar e punir, publicado em 1975, no qual o
autor discute os mecanismos disciplinares responsáveis pelo adestramento do
corpo, que resultam em sua disciplinarização e docilização.
Segundo o filósofo, as disciplinas são métodos que permitem o controle
minucioso das operações do corpo, realizando a sujeição constante de suas forças
para a obtenção de melhores resultados, criando com isso, no mesmo movimento,
corpos submissos e úteis (FOUCAULT, 1987).
A anatomopolítica como modalidade de exercício do poder sobre a vida, foi
descrita por Foucault a partir de suas estratégias de confinamento dos corpos dos
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indivíduos, que controlados em tempos e espaços cientificamente planejados, são
disciplinados de uma instituição social a outra.
O controle biopolítico exercido sobre o corpo-espécie, por sua vez, que
Foucault situa agora como uma das duas faces que compõem a tecnologia mais
ampla do biopoder, alcança o conjunto dos indivíduos e suas condições de vida,
regulando os processos biológicos e sociais que viabilizam a existência da
população.
Segundo Foucault, podemos falar de biopolítica para designar aquilo que faz
com que a vida e seus mecanismos sejam objeto de cálculos explícitos de controle,
fazendo do poder-saber um agente específico de transformação da vida humana
(FOUCAULT, 1988).
Coexistindo com a anatomopolítica dos corpos efetivada pelos mecanismos
disciplinares das instituições sociais modernas, a biopolítica das populações vem
autorizar uma série de intervenções reguladoras nas sociedades européias de fins
do século XVIII, a partir das mais diversas e numerosas técnicas criadas para o
controle da existência comum dos indivíduos.
Assim como teve participação histórica na formação e no fortalecimento dos
estados nacionais burgueses, a biopolítica pode ser responsabilizada também pela
capacitação de um dispositivo médico-jurídico, responsável pela normalização da
população, através da medicalização autoritária de corpos e doenças, denunciada
por Foucault como estratégia biopolítica de controle do poder médico sobre os
indivíduos (1999; 2003).
A vida entra nos cálculos específicos de um poder-saber médico, que busca a
melhoria dos atributos biológicos da população, apoiado em dados estatísticos sobre
a saúde coletiva das sociedades capitalistas da época. Exercendo o controle sobre a
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população, a medicina ganha força enquanto um dispositivo médico-jurídico, tendo
na higiene a disciplina responsável pela gestão dos cuidados preventivos com a vida
social.
A higiene passa a desempenhar um papel imprescindível no controle de uma
sociedade em que a produtividade de sua população orientava os cuidados médicos
no sentido de melhorias nas condições orgânicas que evitassem o aparecimento de
doenças e permitisse um acréscimo de energia para ser utilizado nas atividades
laborais.
A vigilância e a melhoria das condições de vida foram o objeto de medidas e
regulamentos decididos pelo poder político solicitado e esclarecido pelos higienistas.
Medicina e política, então, se encontraram em uma nova abordagem das doenças,
da qual temos uma ilustração convincente na organização e nas práticas de
hospitalização (CANGUILHEM, 2005, p. 28).
Práticas sociais que contribuíram para uma desinvidualização da doença e
para uma análise artificial das suas condições de aparecimento. Desligamento
teórico que transforma a profissão médica e a abordagem das doenças. Surgem os
especialistas, engenheiros de um organismo decomposto tal como uma maquinaria,
que passam a basear os seus diagnósticos em informações estatísticas das
doenças.
A medicina se torna um dispositivo privilegiado do biopoder, que ao incidir
sobre os corpos do indivíduo e da população, possibilita a articulação entre as
disciplinas do corpo e as regulações da população, fazendo com que indivíduo e
espécie sejam capturados através das estratégias e dos cálculos do poder político
sobre a vida.
Enquanto técnica geral da saúde, a medicina se constitui como um poder-
saber capaz de servir às duas modalidades do poder sobre a vida configuradas pelo
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94
biopoder, investindo tanto o corpo individual quanto o coletivo, de forma a gerir a
saúde do corpo dos indivíduos e da população.
Apesar da grande visibilidade que a saúde alcança atualmente, as biopolíticas
do corpo saudável vêm agindo sobre os corpos do indivíduo e da população já há
algum tempo, como nos mostra Foucault (2003), através dos seus estudos histórico-
filosóficos sobre as racionalidades subjacentes ao exercício da profissão médica.
Focalizando o século XVIII, mais especificamente os anos próximos à
revolução francesa, o autor nos revela que a medicina buscava ser mais do que um
conjunto de técnicas de cura, assumindo uma postura normativa na gestão da
existência humana, ao estabelecer a necessidade de um conhecimento sobre o
homem saudável e uma definição do homem modelo, a partir de médias estatísticas
da saúde humana.
Além da exigência de um estatuto político da medicina e da constituição de
uma consciência médica encarregada da informação, controle e coerção da
sociedade, a racionalidade médica da época, especialmente a da medicina das
epidemias, sugeria que cada indivíduo estivesse medicamente alerta, a par de tudo
o que fosse necessário e possível saber em medicina.
Acompanhando os mecanismos de regulamentação e coerção exercidos pelo
poder medicalizante, encontrava-se o discurso sobre a saúde perfeita, que devia ser
internalizado por todos como uma prece, através das atividades de ensino sob
responsabilidade médica (FOUCAULT, 2003).
Discurso que incluía os modos considerados corretos de se alimentar, vestir,
ou mesmo amar, próprios a uma recém surgida medicina das epidemias. A atenção
médica não recaia mais sobre uma doença abstrata, considerando aspectos como o
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solo da região e sua atmosfera, além da racionalização da educação física e moral
dos habitantes.
A experiência do corpo passava a ser determinada por uma educação física
vista como fator de prevenção, submetida a uma moral que considerava os excessos
um perigo para a sociedade. A medicina não regia apenas as relações físicas e
morais do indivíduo e da sociedade, mas também distribuía conselhos sobre uma
vida equilibrada (FOUCAULT, 2003).
Racionalização que até hoje acompanha as práticas corporais realizadas nas
sociedades hipermodernas, como podemos ver nos núcleos de sentido produzidos
pela nossa análise de conteúdo da revista Saúde!. A gestão do corpo é vinculada
aos seus usos de forma racional, em que determinados comportamentos devem ser
evitados ou perseguidos disciplinadamente, juntamente a uma série de fatores para
a obtenção do corpo saudável.
Usos do corpo
Quanto à gestão do corpo
Investimentos a serem feitos (postura; movimentos corretos; consciência corporal; essência do corpo) 7
Comportamentos a serem evitados (sedentarismo; má postura; falta de consciência corporal; marcas na
pele; perda da essência)
9
Valorização da dedicação à prática corporal e ao corpo (investimento; concentração; aplicação;
disciplina; prioridade; insistência; regularidade; tempo)
32
Valorização de um estilo de vida baseado na articulação entre o corpo e as diversas práticas corporais
(filosofia de vida, atitudes, cotidiano)
8
Foucault aponta para a existência de dois grandes mitos relativos à profissão
médica do século XVIII, que apesar de aparentemente contraditórios, revelam o
desejo comum por uma assepsia social, efetivada seja pelo controle do mal ou por
sua total erradicação.
O primeiro mito podia ser visto no desejo por uma profissão médica tão
poderosa quanto o clero da época, responsável pela saúde do corpo assim como a
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96
Igreja cuidava das almas dos seus fiéis. Já o segundo mito, estava presente na
busca de uma sociedade sem distúrbios e paixões, restituída a uma saúde de
origem, na qual o desaparecimento total da doença seria acompanhado pelo rosto
não mais necessário da figura médica (FOUCAULT, 2003).
Seja com um intuito de prevenção ou de tratamento da doença, as biopolíticas
do corpo saudável encontravam nas mais diversas práticas corporais da população,
os alvos ideais para o estabelecimento de uma existência regrada, de acordo com o
poder-saber científico do dispositivo médico-jurídico.
Biopolíticas que ainda hoje incidem sobre a população mundial, de forma a
inaugurarem não só novos mecanismos de poder sobre a vida, mas também
possibilitarem a emergência de uma potência imanente à vida, a partir de novas
formas de vivermos a saúde do corpo, presentes na produção biopolítica do corpo
saudável.
A produção biopolítica do corpo saudável
Discutir a produção biopolítica do corpo saudável através da compreensão de
biopolítica de Foucault, principalmente da visão de biopolítica que o autor apresenta
nos primeiros textos em que utiliza o termo, é extremamente necessário mas
insuficiente hoje em dia, tendo em vista as novas apropriações do conceito,
realizadas e também rechaçadas por muitos estudiosos da obra do filósofo.
Especialmente se buscamos compreender os agenciamentos do corpo na
mídia especializada em saúde, não apenas através de suas linhas de estratificação,
mas também pelas linhas de fuga que apresentam, de forma a possibilitarem a
emergência de novos territórios existenciais.
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97
Por mais que nas últimas análises de Foucault sobre a biopolítica, a questão
da resistência ao poder representado pela ciência da manutenção da ordem social já
estivesse presente, a partir da superação do entendimento da biopolítica como uma
tecnologia de Estado, para uma economia política da vida em geral, o que marca
sua obra é uma certa contradição e a compreensão da produção de subjetividade
neutralizada (NEGRI, 2003).
Para compreendermos os processos de subjetivação do corpo hipermoderno
em sua condição complexa, sem que nos limitemos a uma análise unilateral das
estratégias de captura e formas de assujeitamento que o capitalismo promove com
extrema competência já há algum tempo, é necessário inicialmente reconhecermos
a relação contraditória entre o poder e a vida que anima a produção de subjetividade
nos dias atuais.
Estamos nos referindo ao paradoxo do poder presente nas novas políticas de
subjetividade contemporâneas, de onde emergem os mais variados territórios
existenciais em resposta às tentativas de controle da vida por parte do capital.
Mesmo que em seu porvir venham a ser capturados por formas de subsunção
constantemente a nascer, esses novos territórios em criação representam a potência
da vida enquanto resistência aos diversos poderes que sobre ela incidem.
O novo paradigma do poder que Hardt e Negri (2001) nos apresentam, na
esteira dos estudos de Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari, entre outros,
pode ser expresso na equação de que na medida em que o poder investiu a vida, a
vida também se torna um poder.
Relação em que a vida, longe de ser um objeto passivo do poder, refaz
continuamente suas margens e reinventa formas de resistência à serialização
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98
imposta pelas máquinas de codificação da subjetividade humana. Ao poder sobre a
vida, se contrapõe o poder da vida, ou seja, sua potência política.
Se por um lado, como diz Pelbart (2003), a vida tornou-se o alvo supremo do
capital, por outro, a vida mesma tornou-se um capital, ou melhor, o capital por
excelência de que todos nós virtualmente dispomos e cujas conseqüências políticas
ainda estamos por determinar.
Ampliando as reflexões de Foucault sobre a relação do poder sobre a vida,
Antonio Negri questiona se não poderíamos identificar na vida uma espécie de
antipoder, ou seja, de uma produção de subjetividade que se daria como momento
de dessujeição, numa segunda perspectiva interpretativa do conceito de biopolítica
de Foucault (NEGRI, 2003).
A biopolítica seria dessa forma, um poder que vem de baixo, em resposta aos
biopoderes localizados que incidem sobre a população, o que muitos consideram
como sendo uma biopolítica menor, em resposta a uma biopolítica maior (PELBART,
2003).
A produção biopolítica do corpo saudável, configurada através dos
agenciamentos do corpo na mídia especializada em saúde, se torna nessa
perspectiva, não apenas a padronização das formas de vivermos a saúde do corpo,
mas principalmente a resultante desse processo de educação corporal, a partir das
formas com que realmente nos subjetivamos cotidianamente.
Como anunciamos anteriormente, esta é uma tese que gira em torno do
paradoxo do poder. Argumentar sobre as características de um paradoxo é uma
tarefa bastante difícil, no sentido de que sempre podemos estar nos afastando de
sua lógica contraditória, ao enfatizarmos de forma isolada algum dos aspectos de
sua totalidade. No caso do paradoxo do poder, o risco está em nos aproximarmos
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99
demais das análises sobre um certo poder que abarca a vida cotidiana, sem que
consideremos as diversas estratégias que a vida traça ao resistir a esse poder.
Em razão de estarmos sempre nos referindo aos agenciamentos do corpo na
revista Saúde!, queremos deixar bem claro que todas as relações de poder aqui
discutidas, se encontram dentro da lógica paradoxal que caracteriza as sociedades
contemporâneas, mesmo que em alguns momentos possamos estar destacando
algum de seus aspectos mais detalhadamente.
Este esclarecimento se faz necessário, já que estamos tratando de uma
publicação que integra um grande grupo empresarial, dispondo das mais variadas
estratégias de exercer o seu poder comercial, político e cultural sobre a população
brasileira, dando com isso, a impressão de estarmos lidando com uma relação de
poder unilateral e apenas massificante, expressa no regime de verdade que a revista
Saúde! ajuda a renovar e a por em movimento.
Característica de um poder sobre a vida que Foucault soube explorar como
ninguém, ao se deter na formação e desenvolvimento das sociedades capitalistas, o
regime de verdade do qual nos fala o autor, está intimamente relacionado aos
sistemas de poder que produzem e colocam em circulação determinadas verdades
no meio social, assim como aos efeitos de poder que elas induzem e que as refletem
(FOUCAULT, 1999).
Discutir o poder na sociedade contemporânea, é de certa forma então, se
deter no regime de verdade que ela possui, já que toda sociedade tem sua política
geral de verdade. A verdade, compreendida por Foucault (1999) como o conjunto de
procedimentos regulados para a produção, legalização, repartição, circulação e
funcionamento dos enunciados, não existe fora do poder, sendo produzida no
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100
mundo através de múltiplas coerções, ao mesmo tempo em que nele gera certos
efeitos de poder.
O importante, creio, é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder (não é
não obstante um mito, de que seria necessário esclarecer a história e as funções a
recompensa dos espíritos livres, o filho das longas solidões, o privilégio daqueles que
souberam se libertar). A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a
múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade
tem seu regime de verdade, sua "política geral" de verdade: isto é, os tipos de
discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as
instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira
como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados
para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que
funciona como verdadeiro (FOUCAULT, 1999, p. 10).
De acordo com Foucault (1999), a economia política da verdade em nossas
sociedades possui cinco características historicamente importantes. Uma delas é
que a verdade se constitui em um objeto de grande difusão e consumo no meio
social, circulando facilmente nos vastos aparelhos de educação e informação que a
acolhem, a partir das várias formas que assume.
Foucault já antecipava com essa observação, a passagem de uma sociedade
disciplinar para a atual sociedade de controle, que Deleuze viria a caracterizar mais
detalhadamente em sua obra. De uma forma de encarceramento completo, própria
das sociedades disciplinares, em que não parávamos de recomeçar as coisas,
derivando de uma instituição social a outra, passamos ao controle aberto e contínuo
das sociedades de controle, em que nunca terminamos nada, de modo que
exigências como a busca permanente da verdade se tornam pré-requisitos para a
existência social (DELEUZE, 1992).
Sociedade esta, em que os mecanismos de poder se tornam cada vez mais
democráticos e imanentes ao campo social, de forma a se encontrarem distribuídos
Biopolíticas do corpo saudável______________________________________________________________
101
pelos corpos e cérebros dos cidadãos, na totalidade das relações sociais (HARDT;
NEGRI, 2001).
Podemos reconhecer facilmente a atualidade da característica histórica da
verdade de que nos fala Foucault, assim como sua atualização nos mecanismos da
sociedade de controle, ao analisarmos os agenciamentos do corpo na revista
Saúde!, que a partir das respostas prometidas aos seus leitores, a respeito dos mais
variados assuntos e questionamentos, constrói e movimenta um discurso
pretensamente verdadeiro acerca do corpo saudável, de forma a produzir diversos
efeitos de poder sobre a vida da população brasileira.
A revista Saúde! consegue assim, representar fielmente a situação do poder
nas sociedades de controle, em que é exercido por meio de máquinas que
organizam diretamente os cérebros e os corpos dos cidadãos, em sistemas de
comunicação e redes de informação, assim como, em sistemas de bem-estar e
atividades monitoradas (HARDT; NEGRI, 2001).
Objeto de debates políticos e de confronto social, a verdade sobre a saúde do
corpo vem sendo disputada capa a capa na cena editorial do país, que se encontra
saturada de publicações cada vez mais especializadas, a respeito de praticamente
tudo o que o ser humano pode e não precisa saber.
60
Em meio à imensa quantidade de veículos de comunicação especializados
em saúde que atuam no mercado brasileiro, muitos dos quais pertencentes ao
próprio grupo que integra, a revista Saúde!
procura se destacar da melhor forma
possível, oferecendo aos seus leitores a qualidade de um serviço que desde sua
origem se orgulha em poder levar ao povo brasileiro a verdade sobre a saúde.
60
De acordo com o relatório anual da empresa, disponibilizado na Internet, só o Grupo Abril de comunicação, do
qual faz parte a revista Saúde!, possuía em 2005 o total de 96 títulos de revistas regulares, que proporcionaram
uma circulação anual de 209 milhões de exemplares de revistas.
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102
O que é verdade? No que dá para confiar? E essa história de pneumonia asiática, vai
ou não vai chegar aqui pra valer? É mesmo para se vacinar contra a gripe? Álcool
faz bem para o coração? Ginástica demais não deixa a gente doente? Ou é o
contrário? Algumas respostas estão nas próximas páginas. Acho que este é um dos
papéis dos jornalistas que fazem esta revista: cruzar os vários pontos de vista para
esclarecer quem fica ouvindo por aí um monte de coisas a toda hora (SAÚDE!,
2004).
Discurso perfeitamente compreensível, se levarmos em conta a característica
comercial da revista, que há mais de vinte anos se sustenta justamente pela
credibilidade do seu principal produto: a informação segura sobre a saúde. Não
haveria sentido algum, do ponto de vista comercial, se a revista se colocasse em
dúvida frente aos seus leitores, já que o que não falta no mercado de informações
especializadas sobre a saúde hoje em dia, é uma verdade esperando para ser
consumida.
Não queremos com isso, dizer que a revista Saúde! produz suas próprias
verdades a qualquer custo, nem tampouco defender a prática abominável de
manipulação de dados, que muitas vezes é realizada pela mídia sensacionalista, na
fabricação de suas verdades.
O fato é que realmente não há sentido para a revista ou qualquer uma de
suas concorrentes em se esquivar da verdade, já que ela estimula a produção
econômica da sociedade capitalista, resultando em lucro para os seus donos.
61
As
práticas discursivas da revista Saúde! refletem perfeitamente a constante incitação
econômica e política da verdade em nossa sociedade, justificada pela relação de
dependência que a produção econômica e o poder político historicamente vêm tendo
com a necessidade da verdade (FOUCAULT, 1999).
61
Cabe aqui fazermos referência à expressão popular donos da verdade, que geralmente é utilizada na crítica ao
jornalismo brasileiro, quando este se pretende absoluto.
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103
Segundo Foucault (1999), cada sociedade tem seu regime de verdade, que
se caracteriza, entre outras coisas, pelos tipos de discurso que acolhe e coloca em
movimento enquanto verdadeiros. Para o filósofo, a verdade em nossa sociedade
gira em torno dos discursos científicos e das instituições que o produzem. Como
temos percebido ao longo desta discussão sobre a Saúde!, a verdade de que nos
fala a revista segue a característica científica descrita por Foucault, constituindo-se
de forma hegemônica na verdade da ciência sobre o corpo saudável, como
podemos perceber nos núcleos de sentido produzidos pela nossa análise de
conteúdo.
Relação com o corpo
Sobre a comprovação dos resultados da prática corporal
Comprovados (científico; indiscutível; profissional; usuários) 18
Não comprovados (discutíveis; resistência; desconhecido; pacientes; médicos) 12
Funciona por mais que não se saiba como (não tira o mérito; saber prático) 6
Para termos uma idéia do envolvimento da revista com os códigos científicos,
ela foi uma das primeiras publicações brasileiras de informação científica em saúde,
recebendo com apenas dois anos de existência o Prêmio Esso de Jornalismo, na
categoria de Informação Científica e Tecnológica.
62
Premiação que a qualifica enquanto uma revista séria, já que científica,
credenciada a continuar prestando os seus valorosos serviços junto à sociedade
brasileira, agora na condição ainda mais legítima de uma publicação que pertence
ao seleto grupo das melhores do seu gênero.
62
A editora-assistente da revista Saúde!, Conceição Lemes, recebeu do Prêmio Esso de Jornalismo, pela
reportagem sobre As falsas curas do câncer, publicada na edição de abril de 1986, a quantia de Cz$ 40 mil, além
de um diploma, referentes à premiação na única categoria sobre ciência, destinada à Informação Científica ou
Tecnológica.
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104
Imagem 14: Prêmio Esso de Jornalismo, vencido pela revista Saúde! – Só para os melhores.
Fonte: Prêmio Esso de Jornalismo, 2007
A trajetória vitoriosa da revista continuaria em 1988, quando viria a receber o
Prêmio José Reis de Divulgação Científica, na modalidade Jornalismo Científico, em
função da qualidade do tratamento dado aos assuntos médicos, que segundo a
Comissão Julgadora do prêmio, criado em 1978 pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, foram abordados de uma forma
objetiva, clara e acessível ao público, sem perder o rigor científico.
63
Enquanto uma publicação de divulgação científica, a revista Saúde! também
se encontra, de certa forma, submetida à mutação das verdades que a ciência
produz cotidianamente, o que faz com que ela tenha que tomar algumas precauções
no trato com o conhecimento científico.
A divulgação científica é uma atividade que busca difundir a ciência através
de uma linguagem de fácil acesso, não destinada aos seus especialistas. Já o
63
Novamente a jornalista Conceição Lemes viria a receber um prêmio para a revista, em razão dos seus
trabalhos. Dessa vez, foi o Prêmio José Reis de Divulgação Científica, instituído com a intenção de premiar
profissionais de alto nível, que contribuem para a divulgação do conhecimento científico e tecnológico.
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105
jornalismo científico, é uma forma de divulgação científica que se utiliza dos códigos
jornalísticos. A Saúde! é portanto, uma revista de divulgação científica que difunde a
ciência através do jornalismo científico.
Mesmo se apresentando ao público como a verdade sobre a saúde, a revista
não se isenta de apontar os limites das informações que veicula, quando isso se faz
necessário, como podemos notar no título da reportagem vencedora do Prêmio Esso
de Jornalismo, premiada justamente por abordar As falsas curas do câncer. Dessa
maneira, relativiza a idéia de uma verdade científica única e completa, ao mesmo
tempo em que se permite dizer o que realmente existe de falso ou verdadeiro no
estado da arte sobre a saúde do corpo contemporâneo.
A apuração rigorosa de suas informações, tendo em vista os limites e a
transitoriedade da verdade científica e do conhecimento humano sobre o corpo
saudável, se constitui numa das principais características da revista Saúde!, que
dessa forma apresenta aos seus leitores não a verdade sobre a saúde, mas sim, a
sua verdade mais confiável.
Procedimento comum ao regime de verdade do qual faz parte, cuja política
geral cria e coloca em ação não só mecanismos e instâncias que possibilitam a
distinção dos enunciados falsos dos verdadeiros, mas também as maneiras como
são sancionados ou não (FOUCAULT, 1999).
Visto pela ótica de Foucault, a revista Saúde! se constitui numa instância
legítima da nossa sociedade, cujas estratégias discursivas sobre o corpo saudável
permitem que o leitor possa distinguir entre o certo e o duvidoso, ou mais simples
ainda, entre o certo e o errado, como a reportagem vencedora do Prêmio Esso de
Jornalismo novamente nos faz perceber.
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Prêmio este, que nos permite notar também, as várias maneiras que a revista
Saúde! encontra para sancionar as suas verdades. Sem fazer nada de diferente ou
estranho ao regime de verdade a que pertence, a Saúde! se põe sob o julgamento
das instâncias sociais mais representativas do tipo de verdade sobre o seu objeto,
de forma a legitimar-se perante os seus pares e a comunidade em geral.
Segundo Foucault (1999), a política geral de verdade de cada sociedade se
esforça ainda para definir o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que
deve funcionar como verdadeiro ou não nessa mesma sociedade. Além disso, deixa
bem claro quais são as técnicas e os procedimentos valorizados para a obtenção da
verdade.
Como parte integrante e atuante da legítima sociedade pedagógica que se
configura atualmente, a revista Saúde! consegue não só ensinar a sua verdade
sobre o corpo saudável, nos diferentes espaços sociais que alcança, como também
caracterizar o estatuto social daqueles que têm o direito e o dever de estabelecer o
que é verdadeiro ou não na sociedade, valorizando um certo tipo de investigação
científica enquanto forma de obtenção da verdade.
Nesta edição sua revista tem novidade (e das boas!). Uma seção para você
colecionar feita em parceria com especialistas da Clínica Mayo, nos Estados Unidos.
Com três unidades - na Flórida, em Minnesota e no Arizona -, a Mayo é considerada
um dos maiores centros de excelência em Medicina de todo o mundo, reunindo os
mais modernos recursos terapêuticos, apoiando investigações científicas de peso e
desenvolvendo programas de formação médica. O mais importante: além de tratar, a
Mayo tem toda uma preocupação em educar seus pacientes, ensinando tudo sobre
prevenção. Por isso tem tanto a ver com a SAÚDE! (SAÚDE!, 2004).
A revista não só legitima certas instituições e seus métodos de obtenção da
verdade, como descreve as características positivas dessas instituições, de forma a
definir as instâncias produtoras da verdade. O caráter educativo aparece como
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condição fundamental, ressaltando uma das preocupações principais da revista, que
é a prevenção.
Segundo Foucault (1999), a verdade é produzida e transmitida sob o controle
dominante de grandes aparelhos políticos ou econômicos, de forma não exclusiva,
mas dominante. No caso que analisamos, é visível a participação de certos centros
de pesquisa científica e seus parceiros, na determinação de certas compreensões e
usos do corpo saudável.
Como também podemos perceber nos núcleos de sentido produzidos em
nossa pesquisa, as estratégias biomédicas são valorizadas e requisitadas para a
segurança das sociedades, sendo apresentadas na revista Saúde! como as formas
verdadeiras de conhecermos e cuidarmos da saúde do corpo.
Relação com o corpo
Sobre as condições para a realização da prática corporal
Valorização do diploma e do conhecimento para a atuação profissional (desvalorização da prática) 9
Valorização do conhecimento e das estratégias biomédicas para a atuação profissional 10
Desvalorização do diploma enquanto garantia de boa atuação (valorização da prática) 4
A sociedade não está preparada para que a prática seja realizada seguramente (profissionais) 16
A sociedade está preparada para que a prática seja realizada seguramente (cursos; pesquisas) 8
A formação adequada do bom professor é colocada pela revista Saúde!, em
determinadas disciplinas da área biomédica. Quem tem diploma na área estudou
disciplinas como fisiologia e anatomia humana. O embasamento teórico faz
diferença. “Um curioso dá aula imitando movimentos consagrados, mas não os
adapta ao aluno”, comenta o professor de educação física Fábio Saba, de São Paulo
(SAÚDE!, 2004).
A revista ainda aponta as características do bom professor. O professor com
boa formação, entre outras coisas, faz questão de sugerir a medição da freqüência
cardíaca e ensinar a monitorar os batimentos para diminuir o ritmo, se necessário.
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Não que esses conhecimentos não sejam necessários, mas essas afirmações
reforçam o imaginário da Educação Física enquanto uma área que se apropria
apenas de certas disciplinas biomédicas.
A revista Saúde! se coloca como uma instância educativa, o que nos faz
apontar ainda mais para a sua condição de pedagogia cultural, que produz e faz
circular verdades sobre o corpo saudável. Verdade que é produzida e veiculada sob
o controle da Editora Abril, atingindo tanto pessoas comuns quanto profissionais das
mais diversas áreas.
Faz tempo, a bióloga gaúcha Maria Fernanda Bergmann encontrou uma novidade
nas bancas de Porto Alegre. "Era o primeiro número da SAÚDE! e, de cara, gostei.
Sempre fui ligada em cuidados com a alimentação. E eu era professora do segundo
grau. As reportagens enriqueciam as aulas", recorda-se. O que a edição número 4
tinha de tão especial, disso ela não se lembra direito. "Só sei que esse número me
marcou e aí eu fiz a minha assinatura." De lá para cá, muita coisa mudou na vida de
Maria Fernanda [...] A SAÚDE! viveu muitas mudanças também, mas continua sendo
a revista predileta de Maria Fernanda, uma de nossas mais antigas leitoras,
localizada com a ajuda da Alessandra Pallis, gerente de assinaturas. Ela está aqui
para representar todo mundo que nos acompanha há muito tempo. E para me ajudar
a dar boas vindas a quem está conhecendo a revista agora. Muito obrigada por esse
presente de 20 anos (SAÚDE!, 2004).
Vemos dessa forma, a configuração de uma determinada ideologia da saúde,
a qual chamamos de ideologia do homem saudável, presente na Ciência, na Cultura
e na Educação. Ideologia que se constitui num imaginário social predominante sobre
o corpo saudável, a regular as relações sociais na hipermodernidade, através das
práticas discursivas que a movimentam.
64
Ideologia que na área da Educação Física brasileira vem sofrendo críticas já
há algum tempo, a partir dos questionamentos sobre a razão da atividade física ser
considerada sinônimo de saúde. Associação que tem por base a idéia de que o
exercício por si só produz saúde (CARVALHO, 1995).
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Muitas vezes acusada de promover essa idéia, a mídia, aqui representada
pela revista Saúde!, hoje em dia não associa a obtenção da saúde a apenas um tipo
de intervenção corporal. Apesar da atividade física continuar a ser vista como um
fator essencial de promoção da saúde, divide espaço com outras práticas corporais.
Relação com o corpo
Sobre a eficácia da prática corporal
Depende de outros fatores (práticas; programa personalizado; acessórios; aplicação) 13
Funciona sozinha (conseqüência direta; causa e efeito) 4
Limitada (não cura mas ajuda) 8
Não faz o que promete (igual a outras) 3
A prática é mais eficaz do que se imagina (supera as tradicionais) 5
Possui uma variação de benefícios de acordo com certas condições (uso; periodização; individualidade) 6
Tendo o objetivo de revelar possíveis concepções ideológicas de saúde por
trás da premissa de que Educação Física promove saúde, Della Fonte e Loureiro
(1997), por exemplo, davam seqüência à crítica da compreensão da saúde gestada
dentro da Educação Física, ao questionarem a hegemonia dessa afirmação.
A afirmação “Educação Física promove saúde” é bastante corriqueira e,
hegemonicamente, aceita por grande parte dos professores de Educação Física e
pela maioria da população. Ainda hoje, quando se questiona a importância da prática
de atividades corporais, ou seja, quando se busca legitimar a Educação Física nos
mais variados espaços (escolas, clubes, academias,...) recorre-se a essa premissa
(DELLA FONTE; LOUREIRO, 1997, p. 126).
A partir de um olhar marxista para a relação entre a Educação Física e a
saúde, os autores examinavam basicamente três concepções de saúde
predominantes na área, apontando para uma perspectiva que as superasse,
64
Considerando os diferentes significados do termo ideologia e de seus usos, nos referimos à ideologia do
homem saudável num sentido mais amplo, como um determinado conjunto de crenças e idéias sobre a saúde
humana a circular nas sociedades contemporâneas.
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baseada na atenção às condições concretas da existência humana e sua
historicidade, a partir de uma crítica do sistema de produção capitalista.
A primeira concepção de saúde enfocada pelos autores, foi a antiga definição
de saúde da Organização Mundial de Saúde – OMS, compreendida enquanto
ausência de doenças. A crítica a tal compreensão diz respeito ao fato de que a
caracterização da saúde se define pelo que ela não é, sendo vista como um conceito
ideal negativo, atingido pela adoção de um critério de normalidade na determinação
de um estado ótimo de saúde (DELLA FONTE; LOUREIRO, 1997).
Essa compreensão de saúde ainda continua muito presente não só na
Educação Física, mas em todas as áreas da saúde e principalmente no senso
comum da população. Basta ver a quantidade de matérias da revista Saúde! que
abordam a questão da doença. Na verdade, a revista Saúde! poderia ser chamada
de revista Doença!, tamanho o enfoque dado à doença, seja pela sua prevenção ou
cura.
A segunda crítica é feita à definição atual de saúde da OMS, compreendida
enquanto um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Esta definição é
criticada por referir-se também a um estado ideal de saúde, dessa vez positivo, além
de fragmentar a saúde humana em diversas dimensões (DELLA FONTE;
LOUREIRO, 1997). Avança em relação à definição anterior, ao considerar o social
enquanto elemento da saúde humana.
Essa compreensão de saúde também se encontra bastante presente nas
páginas da revista Saúde!, a partir de referências constantes a um estado de bem-
estar mais físico e psicológico, do que propriamente social, que poucas vezes é visto
em seus discursos.
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111
A terceira crítica da saúde, compreendida enquanto produto, diz respeito ao
consumo de bens e serviços como símbolos e substitutos da saúde. Compreensão
em sintonia com a ausência de doenças, propiciando o consumo de medicamentos,
o que favorece a indústria farmacêutica e a criação da doença, além do
entendimento das práticas corporais enquanto remédio, como percebemos na
revista Saúde!.
Num futuro próximo, quando estudos com seres humanos comprovarem os
benefícios já encontrados nas cobaias, o exercício poderá ser receitado como um
medicamento capaz de pôr o sistema imune nos eixos. Você pode se antecipar e
escolher uma atividade física agora, de preferência aeróbica, como nadar, correr,
caminhar, pular corda ou andar de bicicleta. E lembre-se: não exagere, mas tente
praticar sua opção todo dia (SAÚDE!, 2004).
Quantas vezes ouvimos dizer que o esporte é um bom hábito, que beneficia
tanto o organismo do indivíduo quanto o corpo social? A idéia de que o esporte pode
resolver diversos problemas sociais, como um remédio que se aplica a si mesmo, é
comumente vista no cotidiano, fazendo com que os mais diversos programas sejam
lançados em favor da saúde do corpo social através do esporte.
65
Relação que remete pelo menos ao final do século XIX, quando uma das
correntes da sociologia, chamada de organicismo, via a sociedade como um
organismo vivo, podendo ser tratado da mesma forma que o corpo humano.
Analogia que permitia a transferência de métodos das ciências duras, na intenção de
eliminar o subjetivismo das ciências sociais. Dessa forma, a metáfora orgânica se
vale de uma terapêutica social para chegar à saúde social, onde o esporte é um dos
seus principais remédios, agindo principalmente na moral dos indivíduos.
65
O ano de 2006 foi escolhido pelo Governo Federal brasileiro como o ano do esporte como ferramenta para
promoção de saúde. Programas e ações que uniram os ministérios da saúde e do esporte em torno de um objetivo
comum, apoiado na equação “esporte é saúde”. É bem verdade que avançamos em relação ao entendimento de
um esporte mais voltado para as pessoas comuns e não só para os atletas de rendimento. É saudável essa
perspectiva, mas a racionalidade por detrás dessa afirmação é por demais simplista, fazendo com que os usos do
corpo estejam condicionados a determinadas compreensões de saúde.
Biopolíticas do corpo saudável______________________________________________________________
112
Canguilhem (2005), questiona uma assimilação usual, científica e vulgar, da
sociedade a um organismo e do seu inverso, do organismo a uma sociedade, o que
ele chama de dupla tentação de assimilação. Discutindo o problema das relações
entre a vida do organismo e a vida de uma sociedade, o autor aponta para a
subordinação do social ao biológico, argumento que para a prática política pode
trazer conseqüências nefastas, em virtude da problemática da transferência de
certos conceitos de origem biológica, já que existem termos muitas vezes ambíguos.
Canguilhem argumenta que a associação da sociedade ao organismo só
interessa no momento em que dá uma idéia da estrutura do funcionamento, e mais
ainda, das reformas a serem feitas quando a sociedade é afetada por distúrbios
graves. A idéia que sustenta essa relação é a da medicação social, da terapêutica
social, de remédios para os males sociais, dos quais como estamos tratando, o
esporte é um deles.
Para Canguilhem, há um problema nessa idéia, pois as relações entre o mal e
o remédio são radicalmente diferentes quando num organismo e numa sociedade.
No organismo, o seu ideal é o próprio organismo. Pode-se hesitar sobre o
diagnóstico e a terapêutica, mas ninguém hesita sobre o que deve se esperar delas.
A partir do momento em que um organismo é, que ele vive, é que ele é possível, ou
seja, ele responde a um ideal de organismo. A norma ou a regra de sua existência é
dada em sua própria existência, de tal modo que, quando se trata de um organismo
vivo, e para tomar o exemplo mais banal, quando se trata do organismo humano, a
norma que é preciso restaurar, quando esse organismo está lesado ou doente, não
se presta em nada à ambigüidade. Sabe-se muito bem qual é o ideal de um
organismo doente: é um organismo são da mesma espécie (CANGUILHEM, 2005, p.
75).
Na sociedade, porém, isso é diferente, pois o que se discute é saber qual é o
seu estado ideal. Ideal que é discutido desde que o homem vive em sociedade. Os
homens concordam sobre o mal, mas discordam sobre a natureza das reformas. O
Biopolíticas do corpo saudável______________________________________________________________
113
que parece bom para uns, parece pior que o próprio mal para outros, em virtude do
fato de que a vida de uma sociedade não é inerente a ela própria.
Discordância que aumenta nos tempos hipermodernos, quando o processo de
personalização em curso faz com que muitas vezes os desejos individuais estejam
acima do bem-estar comum, de forma que a própria compreensão de saúde social e
orgânica esteja condicionada pela lógica dos extremos da cultura do excesso e da
moderação hipermoderna, que passamos a detalhar a seguir.
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
115
As ondas quebram na praia deserta. Lentamente vamos distinguindo a figura
de um rapaz franzino, que entre um mergulho e outro sai do que parece ser o seu
banho de mar habitual. Ao fundo, as luzes da cidade ainda acesas avisam que o dia
está longe de atingir sua plenitude. Fugindo do frio da manhã que se inicia, ele entra
em uma modesta casa à beira-mar, onde prepara uma espécie de suco de frutas e
hortaliças. O corpo seminu, revela a tatuagem de um grande dragão, que repousa
em seu braço torneado.
Após beber o suco ainda no copo do liquidificador, verifica várias pranchas de
surfe enfileiradas na lateral da casa, onde ao que tudo indica, vive e trabalha em sua
própria oficina. Ao som de acordes de guitarra, surge guiando um jipe pelas ruas da
cidade, cercado pelas belezas naturais do local. A música pára um instante,
enquanto sobe agora uma trilha aberta no meio da vegetação. No alto do morro em
que chega, arma uma asa-delta e observa a paisagem que mais parece ter saído de
um cartão postal. Em câmera lenta, se precipita no céu azul. A letra da música que
ouvimos ao fundo, nos fala de alguém que deseja ser artista de cinema e viver a vida
sobre as ondas, nas águas distantes da Califórnia.
Em 1981, Menino do rio estreava nos cinemas brasileiros, contando a história
do surfista Valente e sua turma, um grupo de jovens a procura de liberdade e amor,
vivendo intensamente o contato com a natureza nos cenários paradisíacos do verão
carioca.
Dirigido por Antonio Calmon e protagonizado por André de Biase, no papel do
surfista que vive um romance tumultuado com uma modelo da alta sociedade, o
filme é considerado pela crítica especializada um expoente da chamada geração
saúde, que nos anos 80 levanta a bandeira da consciência ecológica e do culto ao
corpo, opondo-se ao padrão de comportamento de seus pais, cujas experiências
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
116
com o sexo e a droga fizeram do corpo o espaço de transgressão, delírio e transe
por excelência (CASTRO, 2003).
Apresentando um estilo de vida saudável e minimalista, simbolizado nos
cuidados com o corpo e com o meio ambiente, o filme alcança uma boa aceitação
junto à juventude da época, ganhando uma espécie de continuação em 1984,
quando em meio à reabertura política do país, Garota dourada retomava a frenética
trajetória de vida do surfista.
Celebrando um cotidiano onde a alimentação natural e os esportes radicais
ocupam um espaço considerável do seu tempo, a geração saúde de Menino do rio e
Garota dourada buscava uma vida autônoma e cheia de aventuras, distante da
rotina cristalizada e enfadonha de épocas anteriores. As pesadas normas sociais
vividas por seus pais e avós eram encaradas de uma forma mais descontraída,
fazendo com que referências tradicionais e ainda hoje hegemônicas na sociedade
brasileira perdessem espaço.
É o caso da família nuclear e da religião católica, que sem tanto prestígio na
vida dos principais personagens, recuam em benefício de outros laços familiares e
expressões da fé. A renúncia das próprias vontades em favor de instituições que
limitam o gozo do indivíduo deixa de ser uma prática comum para essa geração,
revelando uma tendência de comportamento que valoriza a vida em todas as suas
formas, mas não abre mão dos interesses e desejos pessoais de cada um.
Tendência de comportamento muito próxima do paradigma individualista que
o filósofo francês Gilles Lipovetsky descrevia em 1983, ao fazer sua entrada no
palco intelectual contemporâneo, quando lançou A era do vazio, primeiro livro de sua
carreira acadêmica.
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
117
Conceito central nos estudos do autor, o individualismo discutido por Gilles
Lipovetsky guarda estreita relação com o avanço das comunicações e do consumo a
partir da segunda metade do século XX, momento em que o conjunto do corpo
social passa a se reestruturar tendo em vista a hedonização da vida.
O autor apontava naquele período para uma importante mudança de direção
na forma do individualismo surgido com a modernidade, caracterizando o processo
de personalização em curso como sendo uma nova forma de organização social e
gestão dos comportamentos, que opera nas sociedades pós-disciplinares a partir de
uma maior atenção aos direitos e desejos dos indivíduos. Período este, que também
ele chamaria de pós-modernidade (LIPOVETSKY, 1983).
Popularizada por Lipovetsky e diversos estudiosos da época, a noção de pós-
modernidade é bastante presente em sua obra, sendo considerada pelo autor como
o período da história humana em que observamos um indivíduo liberado das
grandes estruturas coletivas de sentido, vivendo uma vida sem maiores pressões
sociais e sem tantas expectativas em relação ao futuro (LIPOVETSKY, 1983).
Situação semelhante à vivida pelo protagonista do filme Menino do rio, para
quem a vida seguia quase sempre tranqüila, entre os banhos de cachoeira a dois e
as ondas traiçoeiras da praia do Diabo. Apesar de Lipovetsky (2004b) considerar
que a noção de pós-modernidade tenha surgido para designar um novo estado
cultural das sociedades desenvolvidas, podemos perceber os seus reflexos no Brasil
pós-anistia, onde a história de Valente se desenrola.
Por mais que a sociedade brasileira daquele período não possa ser chamada
de democrática, avançada e abastada, como a França de que nos fala Lipovetsky,
entendemos que ela possuía uma parcela da população suficientemente estruturada
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
118
para manter um estilo de vida como o do surfista Valente, cujos bens materiais e
capital cultural destoavam claramente da maior parte do nosso povo.
O início da década de 80 no Brasil assistia também ao surgimento de diversas
publicações especializadas em temas como a saúde e a boa forma dos indivíduos,
que estimularam os desejos de uma geração mais interessada em respeitar os seus
anseios do que as anteriores.
Entre os anos de 1982 e 1983, no mesmo período em que Gilles Lipovetsky
discutia o hedonismo pós-moderno, a revolução do consumo e a questão da
sedução como modo de regulação social, entre outros pontos marcantes de sua
obra, a revista Saúde! era lançada no país, chegando ao mercado brasileiro para se
tornar uma das mais bem sucedidas publicações do gênero.
Acompanhando o processo de segmentação da mídia brasileira que se
acelera na década de 80, a Saúde! surge enfatizando o culto ao corpo, temática que
tende a mobilizar ambos os sexos, assim como todas as faixas etárias e classes
sociais, mesmo com uma menor intensidade nas classes populares (MIRA, 2001).
Vinte e cinco anos após Valente e sua turma terem dançado em volta das
diversas fogueiras acesas sob a luz do luar, apresentando ao Brasil um estilo de vida
festivo e relaxado, baseado na simbiose entre um homem enamorado de si mesmo e
uma natureza sagrada, muita coisa mudou no país e no mundo. Outras, nem tanto.
Valente envelheceu, engordou e perdeu os cabelos. Apesar disso, até pouco
tempo atrás continuava a falar para o público infanto-juvenil todas as tardes, quando
podia ser visto na novela Malhação, da Rede Globo de Televisão. Vivendo o papel
do cozinheiro Vinícius, André de Biase pode ser considerado como mais um
daqueles casos em que o personagem se confunde com o ator, que não consegue
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
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se desvincular de suas características principais, ficando preso a uma determinada
imagem junto ao público.
Ainda hoje, o ator não se livrou do estigma de aventureiro, herdado dos
tempos em que encarnava o surfista Valente, tendo sua carreira sido marcada por
personagens semelhantes ao do primeiro grande sucesso. Em Malhação, ele dava
vida a um cozinheiro que segundo as palavras do próprio ator, surge na trama da
novela para colocar limites nos adolescentes de uma república.
Sinal de tempos menos descontraídos, em que o surfista representa mais a
ordem de um sistema, do que a quebra dos padrões vigentes. O estado de espírito
de Valente muda com o seu corpo, trazendo agora uma certa preocupação com o
futuro, que passa a conviver com o hedonismo de épocas anteriores, numa relação
contraditória.
A geração saúde praieira que acompanhava Valente foi desbancada pela
turma das academias de ginástica, que não abre mão das novidades tecnológicas
surgidas para incrementar os ganhos propiciados pela malhação pesada. A postura
de cuidado à vida através da alimentação natural e de práticas corporais em
comunhão com a natureza, dá lugar à obsessão de si, cultivada nas intermináveis
sessões de musculação e no consumo hiperbólico de suplementos alimentares
sintéticos.
É certo que nem todos os comportamentos e anseios da geração anterior
desapareceram ou mudaram radicalmente, mas de uma forma ou de outra, os novos
tempos nos quais vivemos não são mais tão tranqüilos e confortáveis quanto os dos
anos 80, trazendo uma ansiedade crescente junto às possibilidades de escolha de
que dispomos.
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
120
É o que argumenta Gilles Lipovetsky (2004b), que continua a sua profícua
trajetória intelectual, iniciada com as análises sobre o processo de personalização
em curso nas sociedades pós-modernas. O autor interpreta o período atual em que
vivemos, sem perder de vista a acentuação dos elementos característicos da
modernidade, considerando que estamos em sociedades hipermodernas, onde a
lógica dos extremos nos atinge sob o signo do excesso, a partir de uma
preocupação crescente com o futuro.
Sociedades paradoxais, em que lidamos diariamente com uma cultura do
excesso e da prevenção, traduzida em ações que se alternam entre os estilos de
vida saudáveis e os comportamentos de risco. Apesar do hedonismo ainda ser
legítimo nos tempos hipermodernos, o medo da doença é um dos elementos a trazer
de volta a inquietação com o futuro, que havia recuado na sociedade pós-moderna
em favor da primazia do aqui-agora, temporalidade social inédita, marcada pela
consagração do presente e atenção ao cotidiano.
Como podemos perceber através dos núcleos de sentido produzidos em
nossa análise de conteúdo, as sociedades hipermodernas absorvem demandas
contraditórias, de forma que os usos do corpo oscilam entre práticas corporais
hedonistas e ascéticas.
Motivação social
Quanto aos objetivos da prática corporal
Sobre os objetivos da prática corporal
O prazer (realizar; natureza; amigos; adrenalina) 7
Intervir no corpo (fins estéticos; saúde) 7
Equilíbrio (energia vital; poluição) 2
Não só a performance ou a exercitação 4
O Narciso hipermoderno se torna mais ansioso e preocupado com sua saúde,
alimentando uma cultura de prevenção generalizada, onde as análises estatísticas
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
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de risco orientam e condicionam a gestão da vida, mais do que nunca
medicalizada.
66
À cultura de prevenção e ao seu elogio, juntam-se os excessos de
uma sociedade de consumo que não cessa de se auto-inventar, configurando um
cenário contraditório, ora prudente e calculista, ora desequilibrado.
67
Retrato dessa nova ordem, os surfistas de hoje não são tão amadores quanto
Valente, nem o surfe é tão desinteressado quanto antes, passando de uma prática
corporal lúdica, para uma atividade física preocupada com as alterações fisiológicas
dos indivíduos que a praticam.
Práticas corporais como o surfe, que em sua origem têm características
lúdicas, são divulgadas por periódicos especializados em saúde, que enfatizam os
ganhos fisiológicos da atividade física, como observado na edição de janeiro de
2003 da revista Saúde! (SAÚDE!, 2004).
Prova de que o aqui-agora da pós-modernidade deu lugar a um indivíduo
mais preocupado com o futuro, que persegue de forma obsessiva uma saúde muitas
vezes desvinculada da vida, onde a gestão do risco se impõe, apoiada por uma
cultura preventiva higienista.
A revista Saúde! continua sendo publicada no país, contando agora com o
apoio de outras interfaces para sua divulgação, como um site próprio na Internet,
que entre outras coisas, viabiliza a venda das compilações de suas edições
66
O Narciso hipermoderno é uma figura que se assemelha ao Valente dos dias atuais. Toma ares de maduro,
responsável, organizado, eficiente e também flexível, rompendo com o Narciso hedonista e libertário da pós-
modernidade.
67
A medicalização da vida se acentua, refletida na constante classificação de doenças pela indústria
farmacêutica. É o tempo das vigorexias e das ortorexias, patologias vinculadas ao culto ao corpo e à saúde, que
entram nos anuários de psiquiatria em todo o mundo, por mais que seus transtornos sejam discutíveis, como na
síndrome das pernas inquietas, doença que a GlaxoSmithKline se presta a esclarecer a partir de 2003, nos EUA.
A indústria farmacêutica é acusada de fabricar moléstias para vender remédios, no que antes era conhecido como
medicalização da vida e hoje mais pejorativamente é chamado de "disease-mongering", ou fabricação de
doenças.
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
122
digitalizadas em CD-ROM, amplificando a cultura do excesso de informações sobre
o corpo saudável na hipermodernidade.
O culto ao corpo saudável se desenvolve a partir do imperativo narcisista do
bem-estar presente na cultura da felicidade hipermoderna, gerando paradoxalmente
uma ansiedade generalizada, em virtude das cobranças pelo máximo de bem-estar
pessoal e pelas exigências da aparência ideal.
Novo formato do poder sobre a vida, a regular a existência humana a partir da
sedução e do excesso, o imperativo narcisista hipermoderno coloca em circulação
novas formas de vivenciarmos a saúde do corpo, de modo a abalar a hegemonia de
uma certa compreensão do corpo saudável, baseada apenas na ausência de
doenças do corpo-máquina, possibilitando através disso a emergência de novos
territórios existenciais de uma subjetividade mais singularizada.
Uma das reflexões mais férteis sobre o individualismo narcisista presente nas
sociedades contemporâneas, vem sendo realizada pelo filósofo e sociólogo francês
Gilles Lipovetsky, que mesmo não elegendo a problemática do culto ao corpo
saudável como foco dos seus estudos, consegue enquadrá-la de uma maneira
bastante interessante, a partir de suas análises sobre os tempos hipermodernos que
presenciamos atualmente.
Segundo o autor, vivemos desde a metade do século XX uma intensificação
dos elementos que sempre caracterizaram a modernidade – a tecnologia, o mercado
e o indivíduo – o que de certa maneira interfere nos nossos comportamentos e
modos de vida, de forma a vivenciarmos uma segunda revolução moderna, dividida
entre o elogio da moderação e a cultura do excesso, a qual ele vem chamando de
hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004b).
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Ele vem desenvolvendo também a tese de que as sociedades capitalistas
ocidentais começam a sofrer grandes transformações a partir de 1950 e não de
1989, como geralmente é colocado por muitos em referência à queda do muro de
Berlim, ao considerar que antes mesmo das grandes transformações globalizantes,
propiciadas em parte pelas novas tecnologias de informação e comunicação que
surgem no final do século XX, já havia o estabelecimento de um tipo de sociedade
frívola, marcada pela comunicação e pelo consumo (LIPOVETSKY, 2005c).
Não haveria então uma grande ruptura datada do final da década de 80, mas
sim, mudanças sutis e bem anteriores, visíveis nos pequenos eventos do cotidiano,
viabilizados em parte pelo crescimento da propaganda, do consumo e do conforto,
que recuperam referenciais como o hedonismo, a felicidade, o bem-estar e o prazer,
colocando-os na escala das massas.
Transformação lenta, que já se apresentava em meados do século XX, na
forma de uma hipermodernidade ainda em germe. As novidades das ruas, dos
supermercados e dos programas de televisão, traduzem uma mudança profunda
naquilo que o autor tem pensado como individualismo (LIPOVETSKY, 2005c).
A questão do individualismo vem sendo bastante discutida por Gilles
Lipovetsky, que recorre ao surgimento da moda para interpretar os processos de
personalização contemporâneos. Considerada pelo autor como inseparável do
nascimento e desenvolvimento do mundo moderno ocidental, a lógica da moda
resulta de novas valorações sociais, ligadas a uma nova posição do indivíduo frente
ao coletivo. Lógica que segundo o autor, permite ao homem moderno escapar do
mundo da tradição, desempenhando um importante papel na aquisição da
autonomia pessoal, tendo na ordem da aparência e do efêmero o motor da inovação
permanente (LIPOVETSKY, 1989).
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
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Constituindo-se como uma verdadeira revolução na representação das
pessoas e no sentimento de si, que subverte as mentalidades e valores tradicionais,
a lógica da moda se faz presente na segunda revolução moderna, ampliando a
esfera das diferenças individuais e da autonomia subjetiva real. A extensão da lógica
da moda para o corpo social, faz emergir o modelo pós-moderno analisado por Gilles
Lipovetsky em A era do vazio, na sua íntima relação com o presente e com a
ideologia individualista hedonista (CHARLES, 2004).
Considerando a pós-modernidade como um período de transição que já não é
mais o nosso, Lipovetsky (2004b) discute a questão do individualismo
contemporâneo a partir de novos elementos que configuram um hiperindividualismo
de essência paradoxal, cuja relação com o presente deixa de ser tão tranqüila
quanto na pós-modernidade, sendo denominado pelo autor como um presentismo
de segunda geração.
O autor aponta para a condição paradoxal das sociedades hiperindividualistas
em que vivemos, a partir das tendências contraditórias que observa no cotidiano. Ao
tomar a saúde como objeto de análise, percebe que a hipermodernidade produz
num só movimento, fenômenos como a moderação e a imoderação dos indivíduos,
traduzidos em comportamentos que se alternam entre o excesso e a falta de
controle (LIPOVETSKY, 2004b).
Lógica dos extremos que viabiliza o surgimento de uma cultura do excesso,
atualizando os mitos da saúde do século XVIII, polarizados entre os exageros de
uma intervenção médica rigorosa e de um controle absoluto em uma sociedade sem
alterações. Na cultura do excesso hipermoderna, a racionalidade desses mitos entra
na rotina dos indivíduos medicalizados, sendo diariamente colocada à prova pelos
valores hedonistas de uma cultura de consumo que paradoxalmente arrasta
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
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multidões para além da ideologia do homem saudável, mesmo que por alguns
breves momentos.
Configura-se a angústia de uma vida medicalizada, que não consegue se
sustentar frente aos prazeres e as dores da existência humana, criando um
movimento contínuo entre as docerias e as esteiras das academias, ou mesmo das
camas dos amantes para os psicanalistas. Um sentimento de culpa que reside na
preocupação com o futuro, diferentemente do aqui – agora vivenciado por um
indivíduo mais livre das pressões sociais, durante o período que se convencionou
chamar de pós-moderno.
Gilles Lipovetsky foi um dos autores que nos anos 80 popularizaram a noção
de pós-modernidade. De acordo com o autor, a idéia de pós-modernidade data do
final dos anos 70, quando entra no palco intelectual para qualificar um novo estado
cultural das sociedades desenvolvidas. Surgida no discurso arquitetônico, veio a
designar uma mudança de direção e reorganização do funcionamento social e
cultural das sociedades democráticas avançadas (LIPOVETSKY, 2004b).
Rápida expansão do consumo e da comunicação de massa; enfraquecimento das
normas autoritárias e disciplinares; surto de individualização; consagração do
hedonismo e do psicologismo; perda da fé no futuro revolucionário;
descontentamento com as paixões políticas e as militâncias – era preciso dar um
nome à enorme transformação que se desenrolava no palco das sociedades
abastadas, livre do peso das grandes utopias futuristas da primeira modernidade
(LIPOVETSKY, 2004b, p. 52).
Admitindo que a expressão era ambígua, desajeitada e mesmo vaga, o autor
considera que o rótulo pós-moderno já ganhou rugas, tendo esgotado sua
capacidade de explicar o mundo que se revela. A pós-modernidade certamente não
era a superação da modernidade anterior, mas sim, uma modernidade de outro
gênero. Apesar do neologismo pós-moderno ter tido um certo mérito por apontar um
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
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período de transição sob o signo da descompressão cool do social, a pós-
modernidade já não é mais a época em que vivemos (LIPOVETSKY, 2004b).
A tomada das existências pela insegurança suplanta a despreocupação “pós-
moderna”. É com os traços de um composto paradoxal de frivolidade e ansiedade, de
euforia e vulnerabilidade, que se desenha a modernidade do segundo tipo. Nesse
contexto, o rótulo pós-moderno, que antes anunciava um nascimento, tornou-se um
vestígio do passado, um “lugar da memória” (LIPOVETSKY, 2004b, p. 65).
É o argumento central que defende Lipovetsky no seu livro Os tempos
hipermodernos, em que pela primeira vez apresenta a idéia da hipermodernidade,
ao rever o alcance do pós-modernismo nos tempos que são os nossos. O autor trata
do que há de melhor e pior na sociedade hipermoderna, alertando para o seu caráter
iminentemente paradoxal. Observando as práticas sociais cotidianas da
hipermodernidade, o autor nos traz indícios de que vivemos em uma sociedade
elevada à potência superlativa, onde tudo, ou quase tudo, funciona a partir do signo
do excesso. Como conseqüência, o individualismo moderno atinge proporções
hiperbólicas (LIPOVETSKY, 2004b).
Longe de decretar-se o óbito da modernidade, assiste-se a seu remate,
concretizando-se no liberalismo globalizado, na mercantilização quase generalizada
dos modos de vida, na exploração da razão instrumental até a “morte” desta, numa
individualização galopante (LIPOVETSKY, 2004b, p. 53).
A individualização de que fala Lipovetsky, é acompanha pelo frenesi do
consumo, pelo culto ao corpo, em uma segunda modernidade desregulamentadora e
globalizada, sem resistência, completamente moderna no discurso e na prática, para
além da limitada modernidade anterior, mais teórica do que efetiva.
Sem fazer referências à noção de hipermodernidade que Gilles Lipovetsky
discute em sua obra, a filósofa e socióloga romena Renata Salecl aborda a questão
do individualismo a partir do que ela considera a era do hipercapitalismo. Período em
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
127
que o individualismo parece ter sido levado ao seu limite, fazendo com que o sujeito
se perceba cada vez mais a si mesmo como um autocriador (SALECL, 2005).
O individualismo na hipermodernidade torna-se hiper. Hiperindividualismo. O
indivíduo hipermoderno se encontra menos amparado pelas instituições coletivas, de
forma que está mais frágil, porque tem que se auto-inventar a todo instante, já que é
mais responsável pela sua existência. Com isso, sofre mais pressões, o que gera
ansiedade e mesmo depressão, refletidas nos altos índices de consumo de
medicamentos.
No ocidente, as pessoas não apenas têm a impressão de que as possibilidades de
encontrar a satisfação na vida são infinitas, como também são encorajadas a ser
uma espécie de inventoras de si mesmas, isto é, elas são supostamente livres para
escolherem quem querem ser. Mas, nessa sociedade altamente individualizada, que
prioriza as liberdades individuais sobre as causas de um grupo, o indivíduo enfrenta
um ansioso e provocante dilema: “Quem eu sou para mim mesmo?” (SALECL,
2005).
A autora considera que a resposta para a questão não é simples, razão pela
qual existe uma indústria de conselhos que tenta guiar as pessoas na busca de sua
suposta essência (SALECL, 2005). Em relação ao corpo saudável, podemos
perceber a procura dessa essência nas páginas da revista Saúde!, quando Nuno
Cobra ao ser entrevistado na edição de abril de 2003, advoga em nome de um corpo
devolvido as suas origens. Quando começam a aparecer as modificações físicas, eu
falo para meus pupilos: ‘Você está ficando você. Antes, você era um massacre de
você mesmo’ (SAÚDE!, 2004).
Assistimos à ideologia da autocriação, onde somos convidados a nos
administramos o tempo todo, a partir da idéia de um ser autônomo, totalmente
liberado da sociedade. Segundo Salecl (2005) a construção social do eu era o que
estava presente nas teorias acadêmicas dos anos 80 e 90, em grande parte devido
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
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aos trabalhos de Michel Foucault. Hoje, a autoconstrução se torna um imperativo
cultural no Ocidente, de forma que a ênfase não reside mais nas determinações
sociais, mas no projeto de autofabricação.
A individualização toma muitas formas, mas envolve sempre a “fetichização” do ser
autônomo, aquele que se recusa a reconhecer a idéia de que a sociedade pode
impor limites à auto-aspiração. Paradoxalmente, a ideologia de um mundo sem
limites é ela mesma um produto do capitalismo tardio e guia incansável de uma
sociedade de consumo com ênfase na escolha e na possibilidade sem fim (SALECL,
2005, p. 15).
Fazendo um paralelo entre as inúmeras possibilidades de escolha a que
dispomos e a ansiedade que isso gera, Salecl (2005), discute a tirania da escolha e
a abundância de liberdade, a partir do conceito lacaniano do Grande Outro, uma
ordem simbólica em que nascemos, constituída pelas instituições, pela cultura e pela
linguagem. A autora argumenta que muitas vezes as pessoas são forçadas a fazer
escolhas que não gostariam e que o ato da escolha é traumático justamente pela
inexistência do Grande Outro.
E embora o sujeito no “Discurso do Capitalismo” seja percebido como tendo
totalmente o controle de si mesmo, e sendo particularmente capaz de fazer inúmeras
escolhas, é possível perceber uma paradoxal tendência: essa possibilidade de
escolha abre as portas para um aumento de ansiedade. Uma das maneiras de lidar
com essa ansiedade é a forte identificação com o mestre. Este permite ao sujeito
abandonar suas dúvidas e evitar a escolha e a responsabilidade, e assim, de algum
modo, encontrar alívio para a própria existência (SALECL, 2005, p. 26).
É aqui que encontramos pistas para entendermos a procura constante por
novas autoridades e a dependência que muitos têm da indústria de conselhos,
fatores que de certa forma ampliam o alcance dos discursos da saúde veiculados
pela mídia.
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129
Apesar de apontar para o surgimento de um hiperindividualismo, a segunda
revolução individualista de que nos fala Lipovetsky, não é marcada apenas pelo
surgimento de um individualismo irresponsável, alienado ou mesmo fragilizado. Em
se tratando de um período paradoxal, observamos também a presença de um
individualismo responsável e autônomo, capaz de buscar os limites e direitos de
cada um, além de novas formas de existência, a partir da fragilização a que é
submetido. As sociedades pós-moralistas, como entende o autor, produzem também
uma outra inclinação individualista, marcada por uma demanda e uma preocupação
éticas (LIPOVETSKY, 2004a).
A hipermodernidade descrita por Lipovetsky não se resume ao consumo
desenfreado e alienante. A categoria da alienação social é revista pelo autor, para
quem as interpretações marxistas se esquecem dos efeitos paradoxais que residem
no mundo do consumo e da moda. Para além da padronização e massificação dos
gostos e costumes, temos novas formas das pessoas se perceberem a si mesmas e
aos outros, ou seja, novas formas de relação que não se restringem ao consumo
alienante. Se afastando das análises marxistas e foucaultianas, a análise social do
modelo de sociedade pós-moderna descrito por Gilles Lipovetsky em A era do vazio,
é melhor explicado pela lógica da sedução e pela categoria do desejo, do que por
noções de alienação e disciplina (CHARLES, 2004).
A sedução nada tem a ver com a representação falsa e com a alienação das
consciências; é ela que configura o nosso mundo e o remodela segundo um
processo sistemático de personalização cuja obra consiste essencialmente em
multiplicar e diversificar a oferta, em propor mais para que nós decidamos mais, em
substituir a coacção uniforme pela livre escolha, a homogeneidade pela pluralidade,
a austeridade pela realização dos desejos (LIPOVETSKY, 1983, p. 19).
Fazendo uma crítica à compreensão de sedução colocada pelo ideário
revolucionário-disciplinar, o autor rompia com uma visão somente negativa do
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130
consumo e da lógica da sedução, cujas teorias críticas correntes consideravam
como elementos da superestrutura e da ideologia.
Sedução que se torna a nova forma de regulação social nas sociedades
hipermodernas, apoiada por uma lógica dos extremos onde as práticas corporais
com fins de saúde se desenvolvem, fazendo com que os usos do corpo oscilem
entre uma cultura do excesso e da moderação.
As práticas corporais na cultura do excesso e da moderação
Os tempos hipermodernos já não assistem mais às formas de controle das
sociedades disciplinares descritas por Michel Foucault. Advogando o surgimento das
sociedades pós-disciplinares, Gilles Lipovetsky (1983) apontava já em A era do
vazio, para as novas formas de controle das sociedades pós-modernas. Sociedades
surgidas a partir do avanço do processo de personalização do indivíduo e recuo do
processo disciplinar, em que as tecnologias de controle social passam a aplicar
dispositivos mais sofisticados, e, segundo o autor, mais humanos. As novas
tecnologias suaves de controle funcionam a partir da lógica da sedução, a partir do
processo de personalização do indivíduo.
Longe de ser um agente de mistificação e de passividade, a sedução é destruição
cool do social através de um processo de isolamento, que já não surge administrado
pela força bruta ou pelo quadriculado regulamentar, mas através do hedonismo, da
informação e da responsabilização. Com o reino dos media, dos objectos e do sexo,
cada indivíduo se observa, se testa, se vira mais para si próprio à espreita de sua
própria verdade e do seu bem-estar, tornando-se responsável pela sua vida,
devendo gerir o melhor possível o seu capital estético, afectivo, físico, libidinal, etc.
Aqui, socialização e dessocialização identificam-se; no centro do deserto social
ergue-se o indivíduo soberano, informado, livre, prudente administrador da sua vida:
ao volante, cada um aperta o seu próprio cinto de segurança. Fase pós-moderna da
socialização, o processo de personalização é um novo tipo de controlo social
desembaraçado dos processos pesados de massificação-reificação-repressão
(LIPOVETSKY, 1983, p. 23-24).
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
131
Apesar da sociedade pós-moderna, e por extensão, a hipermoderna, não
funcionarem mais pela lógica da sociedade disciplinar, as formas de poder e de
conflito não desaparecem. É o surgimento da sociedade de controle, que Gilles
Deleuze (1992) apresenta ao discutir a questão das sociedades disciplinares
descritas por Foucault. O autor considera que passamos de uma sociedade
disciplinar, para uma sociedade em que mudam os mecanismos de controle,
anteriormente centrados nas instituições e nas disciplinas. Visão compartilhada por
outros autores, para quem a informação assume um papel fundamental.
Os mecanismos de controle não sumiram; eles só se adaptaram, tornando-se menos
reguladores, abandonando a imposição em favor da comunicação. Já não usam
decreto legislativo para proibir as pessoas de fumar; fazem-nas, isto sim, tomar
consciência dos efeitos desastrosos da nicotina para a saúde e a expectativa de vida
(CHARLES, 2004, p. 20).
A interdição do corpo e dos modos de vida em nome da saúde é realizada
pelo próprio sujeito, que passa a determinar os seus limites. De maneira que o
sujeito contemporâneo é assim não apenas seu próprio criador, mas também seu
próprio “proibidor” (SALECL, 2005, p. 46). Projeto de gestão total, em que a
informação cumpre papel central no controle dos indivíduos.
Controle efetivado por um conjunto de técnicas e saberes, que regulam os
discursos sobre a saúde e consequentemente os estilos de vida da população, a
partir de uma objetivação do corpo autorizada pelo discurso cientificista moderno,
dentro do que Fraga (2005), vem chamando de biopolítica informacional.
Na esteira da ideologia do homem saudável, a hipermodernidade é pródiga na
divulgação de informações que levam adiante o projeto de medicalização das
sociedades, impulsionando uma cultura do excesso da saúde, na qual os discursos
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
132
salutares e os meios em que eles circulam se multiplicam, como um vírus que com a
mesma facilidade invade o corpo ou um site da Internet. Na rede mundial de
computadores, as informações sobre saúde constituem-se como grandes produtos a
serem consumidos pelos cybercondríacos, através de modalidades como a e-saúde,
a telemedicina e a cibermedicina, entre outras nomenclaturas existentes (CASTIEL;
VASCONCELLOS-SILVA, 2002).
Por mais que a grande parcela da população brasileira não se enquadre na
categoria de consumidores de informações sobre saúde via Internet, em virtude da
exclusão digital que a acompanha – referente não só à falta de acesso aos
computadores, mas, sobretudo, ao acesso a sua lógica de funcionamento – o
crescimento dessa vertente de cuidados com a saúde nos últimos anos indica que é
uma tendência a se consolidar, o que mostra a necessidade de não assumirmos
uma postura tecnófoba, ou mesmo tecnófila.
Na vida hipermediatizada pelas mais diversas tecnologias da informação e da
comunicação, convivemos com excesso de discursos e de escolhas possíveis em
relação à saúde. Vemos o crescimento de uma sociedade de consumo tanto de
mercadorias, quanto de práticas e serviços relacionados à proteção da saúde. Os
indivíduos se reconfiguram sob a forma de protopacientes sem médicos, através da
consulta às informações sobre saúde, impulsionados pela imbricação de sistemas
que contribuem para a configuração do mundo saudável atual, como a razão
instrumental e a tecnociência, além do poder da junção das instituições e suas
ideologias (CASTIEL; VASCONCELLOS-SILVA, 2002).
Contexto em que a revista Saúde! opera, integrando os avanços permitidos
pela tecnologia. Inicialmente uma mídia impressa, hoje a revista está disponível
tanto em CD-ROM, através de suas versões digitalizadas que permitem uma série
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
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de funções ao navegador de suas interfaces, quanto na Internet, por intermédio de
um site próprio, que além de disponibilizar as suas matérias aos assinantes e
leitores esporádicos da revista, possui outras seções disponíveis ao público em
geral, que acessa a rede mundial de computadores.
As matérias da revista, antes disponíveis apenas em papel, fazem parte agora
de uma rede de informações, que tem o hipertexto como base. Possibilitando a
interação junto aos leitores, a revista Saúde! presta serviços à população,
viabilizando instrumentos como calculadoras de massa corporal, tabelas de cálculos
para comportamentos de risco, entre outros, além da sua lógica de funcionamento.
Segundo Lipovetsky (2004b), a hipermodernidade em que vivemos está
alicerçada no mercado, na eficiência técnica e no indivíduo, configurando-se como
uma modernidade consumada, desregulamentadora e globalizada, na qual o estado
recua, a religião e a família se privatizam e a sociedade de mercado se impõe.
Pensar as práticas de saúde em relação aos dispositivos de controle informacionais
em tal momento, requer observar necessariamente esses elementos.
Período da história identificado por múltiplas possibilidades de escolha, que
consolidam uma cultura do excesso, a hipermodernidade é refletida no paradoxo da
angústia e da felicidade humana, frente à infinidade de opções existentes. Excesso
que gera excesso, como a dor de não saber tudo, ou mesmo de não poder fazer
tudo o que é possível.
Por mais contraditório que possa parecer, as relações sociais existentes na
hipermodernidade se encontram em algum lugar entre a cultura do excesso e o
elogio da moderação. Já faz tempo que a sociedade de consumo se exibe a partir do
signo do excesso, através da abundância de mercadorias, mas agora isso se
agrava, com a intensa escalada do sempre mais em todas as esferas do coletivo,
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134
onde cada domínio da existência humana apresenta uma vertente que cresce sem
limites (LIPOVETSKY, 2004b).
Para o autor, os comportamentos individuais se encontram dentro das lógicas
do extremo, onde apesar de nem tudo funcionar pela medida do excesso, de uma
forma ou de outra nada escapa ao seu domínio. Ele observa no cenário
hipermoderno, tanto comportamentos individuais responsáveis, que muitas vezes
beiram o patológico pelo excesso de controle a que estão submetidos, quanto
atitudes completamente irresponsáveis e desequilibradas.
Até os comportamentos individuais são pegos na engrenagem do extremo, do que
são prova o frenesi consumista, o doping, os esportes radicais, os assassinos em
série, as bulimias e anorexias, a obesidade, as compulsões e vícios. Delineiam-se
duas tendências contraditórias. De um lado, os indivíduos, mais do que nunca,
cuidam do corpo, são fanáticos por higiene e saúde, obedecem às determinações
médicas e sanitárias. De um outro lado, proliferam as patologias individuais, o
consumo anômico, a anarquia comportamental (LIPOVETSKY, 2004b, p. 55).
A questão da saúde alterna dentro das lógicas dos extremos, em
comportamentos que se dividem entre uma total falta de atenção à saúde e uma
excessiva vigilância, que em muitos casos desemboca na medicalização da
existência, a partir da adesão irrestrita às ideologias da saúde. O excesso de
moderação também pode ser compreendido a partir das lógicas dos extremos. O
difícil é saber até que ponto os comportamentos podem ser considerados normais,
equilibrados, ou até mesmo patológicos.
68
Engana-se então, quem pensa que a cultura do excesso é o pólo oposto ao
elogio da moderação. O elogio da moderação, obedecendo aos princípios das
lógicas dos extremos, pode tornar-se parte da cultura do excesso. A promoção de
68
Soares Neto (2005), discute a questão das modificações corporais contemporâneas na sua relação com a saúde,
questionando se até mesmo as modificações mais radicais podem ser identificadas numa perspectiva de saúde,
ou se beiram o patológico como muitos afirmam.
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135
atividades físicas moderadas é um exemplo disso, já que vem sendo divulgada de
uma forma maciça, enquanto um excesso de informações para uma vida moderada.
O estilo através do qual Gilles Lipovetsky apresenta suas idéias é marcado
pelo uso constante de paradoxos. Mais do que um estilo, entendemos ser a forma
mais adequada de retratar uma realidade cuja essência é eminentemente paradoxal.
O autor lista uma série de comportamentos vistos na hipermodernidade, que
funcionam a partir das lógicas do extremo, revelando tendências contraditórias, entre
uma cultura do excesso e uma cultura da prevenção, apoiada no elogio da
moderação.
Se assistimos à consagração de um presente consumista que insiste em se
perpetuar na hipermodernidade, ele já não é mais absoluto. A cultura de prevenção
e a ética do futuro são o contrapeso presentes no elogio da moderação. A perda das
referências anunciadas a partir da pós-modernidade, com a quebra de
constrangimentos sociais, mudanças dos laços sociais, perda de certos padrões,
entre outros aspectos que nos acompanham até hoje, pode suscitar a idéia de uma
desagregação total, em que não teríamos limites para a ação humana. Apesar de
todas essas características agirem nas sociedades hipermodernas, parece que a
hipótese de uma liberdade ilimitada não se realizou. Pelo menos se levarmos em
conta os cuidados com a saúde humana, apoiadas por uma cultura da prevenção.
Por toda a parte, os exageros hipermodernos são refreados pelas exigências da
melhoria da qualidade de vida, pela valorização dos sentimentos e pela
personalidade, a qual não se pode trocar; por toda a parte, as lógicas do excesso
deparam com contratendências e válvulas de segurança (LIPOVETSKY, 2004b, p.
83).
Os limites são colocados à prova diariamente por uma cultura do excesso,
mas a liberdade que o indivíduo hipermoderno tem de escolhas, é o próprio freio das
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136
suas ações. A liberdade como freios das liberdades, que não gera uma
permissividade total, como se estivéssemos entregues a uma liberação irrestrita dos
costumes. Pelo menos é essa a análise que o autor faz em relação ao sexo nas
sociedades pós-moralistas. Visão compartilhada por Salecl (2005), para quem toda
essa liberdade não traz satisfação, mas ao contrário, acaba pondo limites a ela
própria.
As mensagens midiáticas sobre a saúde na hipermodernidade, variam entre a
cultura do excesso e o elogio da moderação, confirmando o que o autor percebe de
paradoxal nas sociedades contemporâneas. Por um lado, a mídia convida à adesão
a diversas práticas corporais, massificando o discurso da atividade física, dentro da
perspectiva ideológica que nos propomos a apontar. O excesso de discursos sobre
os benefícios da atividade física é igualado pelo excesso de informações sobre a
realização das práticas corporais, confirmado pelos núcleos de sentido produzidos
nesta investigação.
Lógicas sociais e culturais
Quanto à realização da prática corporal
Valorização da ação e da responsabilidade individual na realização da prática 7
Valorização de condicionantes externos para a realização da prática (orientação; médicos; especialistas) 14
Valorização da ajuda externa e da autonomia do indivíduo na realização da prática 2
A prática é para todos (atinge a todos) 10
A prática é para todos, desde que respeitadas algumas condições (treino; noção; adaptação; mãe) 5
A prática não favorece a passividade do aluno 2
A prática acentua a passividade do aluno (não pensar) 8
Necessidade de sentir e obedecer ao corpo (lentamente; tempo; calma; capricho) 9
Necessidade de se fazer de uma determinada forma 6
Cada um faz de uma maneira em particular (não padronizada) 3
Enfoca uma só parte do corpo 1
Trabalha o corpo em relação a um todo maior (mente; espírito; emoção) 9
É difícil de fazer (agüentar as posições) 4
É fácil de fazer (poucas posições; só é difícil no começo) 9
Tem coisas fáceis e também difíceis de se fazer 1
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
137
Por outro lado, percebemos que o discurso da massificação da atividade
física é muitas vezes acompanhado de recomendações que apontam para uma
moderação na realização das atividades. Dessa forma, surfe!, mas tenha certeza
que pode entrar no mar antes (SAÚDE!, 2004).
Vemos então a recorrência dos núcleos de sentido sobre a necessidade de
segurança e proteção na realização das práticas corporais, para que todos possam
se beneficiar dos seus resultados para a saúde, sem que elas ofereçam maiores
riscos.
Relação com o corpo
Quanto aos riscos da prática corporal
Sobre a segurança da prática corporal
Totalmente segura 2
De alguma forma perigosa (necessidade de equipamentos; cuidados) 8
Talvez o triatlo seja umas das maiores expressões das lógicas do extremo da
cultura do excesso que assistimos na hipermodernidade, já que o seu atleta é levado
ao extremo não só pelas exigências da prova, mas pelo nível de treinamento que a
modalidade requer. Além disso, o número de participantes aumenta, assim como as
distâncias percorridas. O triatleta é visto hoje como um representante da saúde
ideal, cujo condicionamento físico é fora do comum.
O que dizer então, de um triatleta doente? Parece estanho, mas é mais um
dos paradoxos hipermodernos veiculados pela mídia, ao qual presenciamos. Mais
uma prova de que a atividade física está acessível a todos. Só precisamos tomar
alguns cuidados.
Hoje é Vinícius quem manda na doença, e não a doença nele, mesmo com as
dificuldades que ela insiste em trazer. Afinal, são de quatro a seis aplicações de dois
tipos de insulina todo santo dia, além das três a cinco medições diárias da glicemia
(que lhe renderam marcas em todos os dedos). Manter o açúcar nos eixos é vital
para qualquer um, ainda mais para um atleta: o sangue muito doce deixa a pessoa
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tonta, cansada, sem condições de se mexer. Em falta, simplesmente não há energia
para as 25 horas semanais de treino que somam 20 quilômetros de natação, 300 de
ciclismo e 80 de corrida, em rotinas que começam bem antes de o sol raiar, às 4 da
manhã (SAÚDE!, 2004).
A cultura do excesso da saúde através do esporte, leva aos limites o corpo
humano, em nome de uma ideologia que insiste em massificar a atividade física,
como se sua prática fosse responsável pela saúde do indivíduo e da população. Não
que o diabético não possa realizar o seu esporte, longe disso. Compreendemos a
situação do atleta da reportagem até próxima de uma perspectiva existencial da
saúde, onde a convivência com a doença permitiu que ele pudesse dar continuidade
a sua vida, a partir de outros modos de existência, possíveis graças à capacidade
normativa do corpo, a que se refere Canguilhem (2002).
Acontece que a perspectiva geral que é passada, é a do atleta de rendimento.
Da mesma superação presente nos discursos dos atletas olímpicos, que sacrificam o
corpo em nome do ideal esportivo. Os novos modos de existência referem-se não só
ao que o corpo pode ou não fazer, mas também a que investimentos a vida se
presta. Vencer a doença, mandar na doença, remetem a uma idéia de dominação e
não de convivência com as condições do corpo. Está presente uma lógica do
sacrifício, que busca superar a dor (MELO, 2003).
A gestão dos riscos torna-se um elemento importante na cultura do excesso
hipermoderna, dando suporte às diversas práticas esportivas realizadas em nome de
um estilo de vida saudável, principalmente quando estas podem deixar de ser
seguras e controladas. Se não podemos descartar totalmente o risco, devemos pelo
menos tentar controlá-lo, já que a fuga dos riscos tornou-se sinônimo de um estilo de
vida sadio (FORDE, apud CASTIEL, 2003).
A sociedade de controle toma corpo no sujeito, que responsável tanto pela
sua criação quanto interdição, passa a querer controlar os comportamentos de risco,
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de forma a eliminar a possibilidade do imponderável, como se vivesse uma vida em
ambiente artificial, criado a partir do discurso da segurança.
Podemos relacionar a cultura do excesso e da prevenção hipermodernas, a
dois conceitos muito utilizados na epidemiologia e na Educação Física, referentes
aos comportamentos de risco e aos estilos de vida escolhidos pelos indivíduos. A
condição paradoxal das sociedades hipermodernas se revela, quando abordamos o
esporte a partir desses conceitos. Os estilos de vida saudáveis, apoiados pela
cultura da prevenção e pelos discursos da moderação, tentam evitar a qualquer
custo comportamentos associados ao risco à saúde, que em última análise podem
ser amplamente encontrados em uma cultura do excesso.
O sedentarismo é um desses comportamentos, que passam a ser
condenados pelo imaginário contemporâneo da saúde, para quem a gestão de si é o
maior imperativo. Observamos uma sociedade de controle em curso, onde a questão
das escolhas é cada vez mais acentuada, principalmente aquelas que estão
intimamente relacionadas à saúde e mesmo à juventude dos indivíduos.
Não é difícil concordar com a idéia de que envelhecer parece alguma coisa
inaceitável e dramática na sociedade de hoje. Podemos até mesmo dizer que
envelhecer, também, se mostra uma questão de escolha – resta a cada indivíduo
“fazer” alguma coisa contra o envelhecimento, ou melhor, não mostrar seus sinais,
assim como seguir as muitas soluções propostas para como prevenir a morte
(SALECL, 2005, p. 27).
Em se tratando da saúde do planeta e da população, é melhor deixar de ser
sedentário, mesmo que para isso você tenha que enfrentar o trânsito de São Paulo
numa bicicleta, como incentiva a revista Saúde! na sua edição de novembro de
2003. É certo que para indicar isso, a revista se cerca de todos os cuidados, mas a
idéia presente na matéria é a de que mais arriscado é não fazer exercícios, o que de
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certa forma faz com que os discursos da saúde entrem na lógica dos extremos e da
cultura do excesso.
Antes de sair pedalando pelas ruas da sua cidade, é bom tomar alguns cuidados.
“Primeiro certifique-se de que é capaz de conduzir a bicicleta sem vacilar”, sugere
Victor Matsudo, do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São
Caetano do Sul (Celafiscs). Só quem não se desequilibra facilmente pode se
aventurar numa via com outros veículos. Se esse não é o seu caso, é melhor treinar
em parques por algum tempo (SAÚDE!, 2004).
Segundo Lipovetsky (2004b), a cada dia nos distanciamos da tranqüilidade
descontraída do pós-modernismo. Vivemos em nome de um futuro onde a sombra
do risco traz cada vez mais ansiedade, e o aqui-agora recua em nome dos cuidados
à saúde. É certo que a febre do consumo e do hedonismo não cessou, mas já não
reina sozinha sem olhar para um novo futuro que se anuncia.
As novas atitudes para com a saúde ilustram de maneira notável a desforra do
futuro. Numa época em que a normatização médica invade cada vez mais os
territórios do campo social, a saúde se torna preocupação onipresente para um
número crescente de indivíduos de todas as idades. Assim, os ideais hedonistas
foram suplantados pela ideologia da saúde e da longevidade. Em nome destas, os
indivíduos renunciam maciçamente às satisfações imediatas, corrigindo e
reorientando seus comportamentos cotidianos. A medicina não mais se contenta em
tratar os doentes: ela intervém antes do aparecimento dos sintomas, informa sobre
os riscos em que se incorre, estimula o monitoramento da saúde, os exames clínicos,
a vigilância higienista, a modificação dos estilos de vida. Encerrou-se um capítulo: a
moral do aqui-agora cedeu lugar ao culto da saúde, à ideologia da prevenção, à
medicalização da existência (LIPOVETSKY, 2004b, p. 72).
De um lado, eliminar, diminuir, enfim, gerir os comportamentos de risco. Do
outro, aumentar os estilos de vida saudáveis. Ambos em nome da saúde, realizáveis
através do esporte e executados pelo indivíduo. O patrulhamento é para todos e
exercido por todos, numa sociedade de controle carregada de informação e excesso
de moderação.
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Cada vez mais vigilância, monitoramento e prevenção: alimentação saudável, perda
de peso, controle do colesterol, repulsa ao fumo, atividade física – a obsessão
narcísica com a saúde e a longevidade segue de mãos dadas com a prioridade dada
ao depois sobre o aqui-agora (LIPOVETSKY, 2004b, p. 73).
A ideologia do homem saudável, como uma ideologia em íntima relação com
a ciência moderna, busca massificar a idéia de estilos de vida saudáveis, fora do
risco, ou ao menos o mais longe possível destes, como se fosse possível o controle
absoluto sobre o imponderável.
A crítica que fazemos a esse modelo, não desconsidera a tentativa de
melhorar as condições de existência do ser humano e do planeta, ou mesmo
preservar a vida em todas as suas dimensões. Questionamos o enfoque quantitativo
do risco, cuja essência objetivável, autônoma e universal, se quer independente dos
contextos socioculturais e das pessoas que ali se encontram (CASTIEL, 1999).
Enfoque que dá margem para a culpabilização de certos comportamentos,
como se os sujeitos fossem os únicos responsáveis pelas suas condições de
existência, podendo decidir sobre as estratégias para a melhoria de sua qualidade
de vida, que muitas vezes estão submissas às políticas públicas e não a sua
vontade ou conhecimento.
Segundo Castiel (1999), o gerenciamento dos riscos é apresentado como
uma decisão exclusiva de cada um, posto em termos de escolhas comportamentais
dentro da rubrica estilo de vida, sendo constantemente atingido por propostas
educacionais que visam mudanças nesta dimensão. O autor aponta para a
inadequação do termo estilo de vida em determinados contextos, onde as escolhas
não são tão constantes, e a lógica dos extremos aparece mais pela falta do que pelo
excesso de opções.
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Uma crítica comum ao conceito ‘estilo de vida’ é referente a seu emprego em
contextos de miséria e a sua aplicação em grupos sociais em que as margens de
escolha praticamente inexistem. Muitas pessoas não elegem ‘estilos’ para levar suas
vidas, pois para elas não há opções disponíveis. Na verdade, nestas circunstâncias,
o que há são estratégias de sobrevivência (CASTIEL, 2003, p. 93).
Luis David Castiel, é um dos autores que discute o crescimento dos estudos
sobre o risco, dentre os quais, o risco epidemiológico, referente aos riscos
relacionados às escolhas comportamentais pessoais localizadas sob a denominação
estilo de vida. Para o autor, a noção de risco é popularizada, mesmo que vejamos
comportamentos que vão em sua direção.
Para além dos contextos biomédicos/epidemiológicos, da saúde ocupacional e das
ciências atuariais, fala-se e escreve-se com freqüência sobre o risco nos chamados
mass media. Por outro lado, percebe-se que as pessoas, na esfera privada, de
alguma forma incorporaram a idéia de risco, mesmo que as resultantes em termos
comportamentais sejam distintas: ou acata-la, procurando administrar os modos de
viver, comer, beber, exercitar-se, expor-se ao sol, manter relações sexuais etc.; ou
desafia-la, adotando estilos de vida considerados arriscados, possivelmente a partir
da suposição da posse de imunidades imaginárias... (CASTIEL, 1999, p. 37).
Em relação à atividade física, o mercado da vida ativa (FRAGA, 2005) passa
a regular os discursos da saúde, apoiado por uma cultura da prevenção em que o
medo do futuro orienta os comportamentos diários. A ideologia do homem saudável
se perpetua, apoiada por instituições como a mídia, em que os discursos da saúde
tornam-se onipresentes. Os programas governamentais que pregam o agito da
população aumentam, mas apesar disso, a adesão dos indivíduos às atividades
físicas não acompanham à quantidade de informações sobre a saúde e seus
benefícios.
Poderíamos nos questionar o porquê do fracasso dessa adesão, frente à
massificação de um discurso que se perpetua por todos os cantos. Talvez
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143
encontremos uma pista, ao olharmos para as sociedades contemporâneas a partir
das categorias do desejo e da sedução.
Lipovetsky já apontava no período da pós-modernidade, o fracasso da
abnegação do presente em favor do futuro. É certo que também discute o
crescimento atual do culto à saúde. Mas se considerarmos que a cultura hedonista
não desaparece por completo, podemos ter elementos para pensar o fracasso das
estratégias de promoção da saúde. Outro ponto importante a destacar, é a cultura
do excesso que se configura na hipermodernidade, que tensiona a relação com uma
cultura preventiva, baseada no consumo de experiências.
Podemos considerar também, que o poder representado pela ideologia do
homem saudável possibilita a emergência de novos territórios existenciais, em que
os modos de vida não se encontram reduzidos à perspectiva dominante da atividade
física em prol da saúde, fazendo com isso que a motivação social para a prática
social seja negativa, como mostram os nossos núcleos de sentido.
Motivação social
Quanto a adesão à prática corporal
Sobre a motivação para a adesão à prática corporal
Influência externa (meios de comunicação e informação) 1
Influência próxima (pais; ambiente) 3
É obrigação (faz obrigada; desiste quando muda) 2
Não é obrigação (gosta de fazer em casa; infância; tem significado; faz por que gosta) 8
Existem coisas que dificultam a adesão (exigência; ficar só; fazer só o que gosta; pensar; dificuldade) 4
Existem coisas que facilitam a adesão (gratuidade; facilidade; desempenho; diversificação; natureza) 9
Sobre a situação da adesão à prática corporal
A prática tem muitos adeptos (popular) 7
Adesão ainda pequena (falta incentivo; tem condições de crescer) 3
O poder de influência da mídia, entre outras instâncias sociais hipermodernas,
não seria tão absoluto assim. Os estudos sobre a mídia geralmente apontam para o
seu caráter massificador e padronizante, que colaboraria para a manipulação e
alienação dos indivíduos, de uma forma totalitária e unilateral. Argumento que Gilles
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144
Lipovetsky não nega, ao admitir uma influencia da mídia na sociedade que seria
ridículo minimizar, mas questiona como sendo a verdade absoluta sobre os meios de
comunicação de massa.
A escola de Frankfurt estigmatizou as indústrias culturais, que transformam obras de
arte em produtos de consumo. Viu na mídia uma fábrica de estereótipos a serviço da
consolidação do conformismo, da justificação da ordem estabelecida, do
desenvolvimento da “falsa consciência” e da asfixia do espaço público da discussão.
Os situacionistas denunciaram a comunicação unilateral que destrói a comunidade,
isolando os indivíduos. O perfil dominante da mídia veicula a idéia de um poder total:
controle e manipulação da opinião, uniformização dos pensamentos e dos gostos,
desagregação do espaço público, atomização do social (...) Tamanha diabolização,
que lembra um vinil arranhado, não me parece sustentável (LIPOVETSKY, 2004a, p.
67).
Para além dos críticos da escola de Frankfurt, como Guy Debord e sua
sociedade espetáculo, Gilles Lipovetsky aponta para uma positividade da mídia,
efetivada na hipermodernidade, que ao contrário de alienação, promoveria a
emancipação dos indivíduos.
Ao sacralizar o direito à autonomia individual, promovendo uma cultura relacional,
celebrando o amor pelo corpo, os prazeres e o bem-estar privados, a mídia
funcionou como agente de dissolução da força das tradições e das barreiras de
classe, das morais rigoristas e das grandes ideologias políticas. Impôs-se como nova
e legítima norma majoritária o viver aqui e agora, conforme as vontades próprias. A
mídia acionou, ao mesmo tempo que “os objetos”, uma dinâmica de emancipação
dos indivíduos em relação às autoridades institucionalizadas e às coerções
identitárias (LIPOVETSKY, 2004a, p. 70).
A padronização dos gostos, da vida, a partir da influencia maciça da mídia é
relativizada pelo autor, que vê na mídia um instrumento de comparação dos
julgamentos, que passam a ser menos susceptíveis às ideologias.
Amplificadores de comparações, os meios de comunicação de massa trabalham para
liberar os espíritos da influência das tradições e das culturas de grupo ou de classes,
contribuem, mesmo de forma imperfeita e muito desigual, para a individualização dos
julgamentos, emancipando-os das ideologias monolíticas. Isso não elimina o
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
145
conformismo nem os clichês, mas os torna menos rígidos, menos firmes, mais
rapidamente questionáveis (LIPOVETSKY, 2004a, p. 73).
Mas será que em relação à saúde isso se confirma? A mídia permitiria uma
maior comparação, uma maior autonomia dos sujeitos, ou ao contrário, os deixaria
mais dependentes? Ou colocado de outra forma, mais dependentes e autônomos ao
mesmo tempo?
Dentro de uma sociedade paradoxal, a mídia também obedece à lógica dual
que se apresenta na hipermodernidade, colaborando tanto para uma padronização
dos gostos, quanto para a autonomia dos indivíduos. Lógica que em relação à saúde
humana promove não só autonomia, mas também, novas dependências.
Em relação à saúde, a mídia promove uma maior informação ao indivíduo,
que deixa de ser tão dependente da instituição médica e de seus códigos. As redes
de informação sobre saúde, fazem com que o indivíduo tenha mais detalhes para
decidir sobre a sua saúde ou o seu tratamento, que resultam em uma melhor
discussão com os médicos.
Tendência que gera preocupações na instituição médica, para além de
disputas corporativistas, ao fazer com que consultas e decisões sobre a saúde
sejam feitas exclusivamente a partir da mídia, gerando a possibilidade do aumento
de complicações originadas por procedimentos equivocados.
Há um ganho real de autonomia, mas sob forma de nova dependência, agora
das redes de informação e suas tecnologias. Fato típico da hipermodernidade, onde
não há autonomia sem nova dependência. Compreensão bastante interessante de
uma autonomia não absoluta, livre de quaisquer restrições ou relações de poder.
Sem deixar de atentar para as críticas de certa forma legítimas feitas à mídia,
Lipovetsky tenta relativizar os discursos trágicos com que a mídia é analisada. Para
A saúde em tempos hipermodernos__________________________________________________________
146
além dos esquemas catastróficos e limitados das interpretações marxistas sobre as
sociedades liberais e suas manifestações, o autor percebe nos tempos
hipermodernos possibilidades mais humanistas para o liberalismo que se consolida.
Ao analisar a situação do indivíduo em contextos de hiperconsumo e
hipernarcisismo, aponta para uma positividade das democracias liberais e seus
instrumentos, que viabiliza o surgimento de um individualismo também responsável
e autônomo, que pode mostrar caminhos para vivermos uma perspectiva existencial
da saúde.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
148
Percorrendo a História da Medicina, percebemos que a preocupação com a
saúde é um fenômeno que nos remete às origens do ser humano, estando presente
já nas sociedades pré-históricas, onde plantas e substâncias de origem animal eram
utilizadas para fins curativos, constituindo a chamada Medicina Primitiva, conjunto de
crenças e práticas relacionadas à saúde, cuja terapêutica era fortemente vinculada a
um caráter ritualístico sobrenatural.
Não sendo exclusividade dos tempos modernos, quando a Medicina Científica
se constitui na referência hegemônica para os cuidados com o corpo, a atenção à
saúde atinge proporções acentuadas nas sociedades de consumo contemporâneas,
acompanhando a cultura do excesso na qual estamos inseridos, a ponto de
vivenciarmos uma medicalização da vida, manifestada na cultura em geral.
Difuso e materializado no corpo social, o biopoder medicalizante opera com a
categoria da saúde ideal, referenciada por uma medicina cientificista, cujo caráter
universalizante na maioria das vezes desconsidera o particular, em defesa do ideal
da saúde perfeita. Segundo Martins (2004), a medicina contemporânea orgulha-se
por considerar-se científica, esquecendo de que não é científica em si, mas sim, que
se utiliza da Ciência através dos resultados de suas pesquisas. Só assim pode ser
compreendida como científica, não caindo no cientificismo de considerar-se verdade
absoluta.
A categoria da saúde ideal é discutida por Sfez (1996), para quem
observamos a construção de uma utopia da saúde perfeita no mundo
contemporâneo, constituída não só por narrativas utópicas, mas também por
projetos utópicos universais, que visam a grande saúde do indivíduo e do planeta,
como os três investimentos científicos em avançado desenvolvimento na atualidade
– Genoma Humano, Biosfera II e Artificial Life.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
149
Atualmente a ideologia do homem saudável amplia os caminhos trilhados na
sua constituição, contribuindo para a legitimação do projeto utópico da saúde
perfeita do indivíduo e do planeta, ao ser incessantemente difundida pela mídia e
outras instâncias sociais contemporâneas, tanto ao nível da prevenção quanto da
cura. Os cuidados com a saúde do corpo e mesmo do planeta, disseminados em
uma cultura geral e mediados pela instituição médico-científica, são atualizados na
forma de uma obsessão de si, configurando o que Sfez (1996) considera como
sendo uma nova bio-eco-religião.
Esse autor problematiza a compreensão das ideologias como única
explicação para o avanço do ideal da saúde perfeita na contemporaneidade, já que
as mesmas só teriam sentido através da existência de uma realidade exterior ao
indivíduo, passível de deturpação e camuflagem dos seus signos. Como a realidade
não é mais representada por signos, mas sim, identificada nos próprios signos-
coisas, como o corpo biopolítico de que nos fala Foucault, não há mais um inimigo
externo a ser desvendado e combatido, pois tal adversário se encontra enraizado
em nós mesmos, como é o caso do ideal da saúde ideal.
Dessa forma, não há mais sentido em procurarmos culpados em um único
poder perverso e totalitário, como os meios de comunicação de massa, que
conduziriam as nossas ações de fora para dentro, sem nos darmos conta disso. Na
utopia maior em que estamos inseridos, o mito da saúde perfeita é uma realidade
encarnada em nossas vidas.
Apesar disso, Sfez (1996) não descarta totalmente a existência das
ideologias, enquanto bases de sustentação poderosas dos projetos utópicos atuais,
que fundamentados na lógica da tecnociência, são ao mesmo tempo utópicos e
ideológicos. A ideologia do homem saudável faz parte desse contexto, contribuindo
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
150
para a legitimação do projeto utópico da grande saúde do indivíduo e do planeta, ao
ser amplamente difundida pela mídia e outras instâncias sociais contemporâneas.
Ideologia que se vale de uma medicina cientificista, para traçar a concepção
de saúde a ser aceita sem maiores questionamentos no seio da humanidade,
enquanto outras formas de conhecimento e suas próprias concepções do fenômeno
vão sendo desautorizadas pelo biopoder internalizado nos indivíduos e nas
instituições sociais.
É por isso que a saúde é hoje um dos temas mais discutidos do nosso
cotidiano, sendo exaustivamente explorada nas mais diversas instituições sociais, a
ponto de assistirmos nas últimas décadas ao crescimento vertiginoso da
medicalização da vida, cujo pano de fundo é a busca pela saúde perfeita do planeta
e de seus habitantes. Constituindo-se como uma das múltiplas faces da ideologia do
homem saudável, que vem rapidamente tecendo a realidade ao nosso redor, a
medicalização da vida encontra-se enraizada na sociedade contemporânea,
contribuindo com a luta desesperada do ser humano contra o seu destino.
A cada dia, a indústria médica lança no mercado uma infinidade de recursos
para o estabelecimento de uma saúde supostamente asséptica, naturalizando a
rotina entorpecida de uma vida medicalizada, na promessa de retardar a finitude dos
que sonham encontrar a fonte da eterna juventude. Na sociedade higienista em que
vivemos, a existência da dor e da doença é considerada uma afronta ao poder
médico, devendo ser extirpada do corpo a qualquer custo, para não comprometer o
ideal coletivo de uma saúde pura, onde não há espaço para desvios das normas
orgânicas padronizadas pelo discurso cientificista moderno.
Tendo sido alvo de duras críticas já na segunda metade do século XX,
quando estudiosos como Ivan Illich viram na Medicina um mecanismo de controle
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
151
institucional da população, atrelado ao desenvolvimento industrial capitalista, a
medicalização da vida vem conseguindo transcender amplamente o domínio da
instituição médica, ao fluir pelos inúmeros poros sociais que a acolhem. O próprio
Illich, ao realizar a autocrítica de suas análises iniciais sobre a Medicina moderna,
confessa ter desconsiderado a existência de uma busca patogênica pela saúde na
cultura em geral, consumada através da idolatria ao corpo saudável (NOGUEIRA,
2003).
Não sendo gestada e gerida exclusivamente no seio de uma única instituição
social, por mais que a categoria médica ainda se constitua na referência hegemônica
em relação aos cuidados com a saúde humana, a medicalização da vida se alastra
pelos mais remotos cantos do planeta, fortalecendo a ideologia do homem saudável
como uma das últimas metanarrativas que conseguem resistir à derrocada dos
grandes discursos universalizantes. Projeto capaz de mobilizar o fascínio das
pessoas pelos mais diversos bens, serviços e práticas corporais, destinados à
conservação de uma saúde higienizada e livre de riscos.
Talvez por isso, abandonar a saúde na perspectiva apontada por Nietzsche
pode parecer à primeira vista algo estranho e sem sentido para uma época como a
nossa, acostumada com a hipervalorização da condição saudável em todas as
esferas da existência humana. Somada ao fato de que todos os esforços do ser
humano ao longo da sua trajetória vêm caminhando na direção de reduzir a
possibilidade do acaso, daquilo que não podemos prever e que permanece
indeterminado, a instabilidade da vida fora da segurança da saúde biomédica se
mostra desconfortável para a nossa compreensão.
Encarar os estados patológicos do homem como Edvard Munch, que afirmou
não dispensar a sua doença já que muito em sua arte se devia a uma condição
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
152
patológica, está completamente fora de sintonia com a lógica saudável que vem nos
moldando.
Porém, autores como Canguilhem (2005), vêem uma positividade na doença,
considerando-a como o risco do ser vivo como tal, que em alguns momentos até
colabora para a vida do ser humano. Envelhecer, neste caso, pode ser
compreendido como o benefício de se ter estado doente. O autor percebe a doença
então, não como algo que deva ser, e possa, ser excluído da vida, como
intimamente queremos quando estamos doentes.
Segundo Marzano-Parisoli (2004), podemos observar hoje em dia uma
retórica da saúde que não resulta simplesmente na recusa da doença e da
enfermidade, mas também na sua estigmatização. A doença e a enfermidade são
percebidas como desvios da normalidade natural e das normas socioculturais, em
que o doente se afasta de certos padrões biológicos, físicos e psicológicos, como se
isso caracterizasse as formas patológicas.
Não existe fato que seja normal ou patológico em si. A anomalia e a mutação não
são, em si mesmas, patológicas. Elas exprimem outras normas de vida possíveis. Se
essas normas forem inferiores – quanto à estabilidade, à fecundidade e a
variabilidade da vida – às normas específicas anteriores, serão chamadas
patológicas. Se, eventualmente, se revelarem equivalentes – no mesmo meio – ou
superiores – em outro meio – serão chamadas normais. Sua normalidade advirá de
sua normatividade. O patológico não é a ausência de norma biológica, é uma norma
diferente, mas comparativamente repelida pela vida (CANGUILHEM, 2002, p.113).
Segundo Marzano-Parizoli (2004), o discurso contemporâneo sobre a saúde
nem sempre consegue explicar de forma verdadeira o sofrimento que o sofrimento
que doentes e enfermos passam na experiência de seus males, nem tampouco a
relação particular que cada um de nós, quando doente ou enfermo, estabelece com
seu próprio corpo.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
153
Apesar disso, o que vemos no cotidiano da saúde contemporânea, é uma
separação radical entre o sujeito e a sua própria doença, de forma que ele passa a
não ter mais tanta importância enquanto uma fonte de conhecimento legítima e
necessária para a elaboração do seu tratamento, sendo alienado do seu próprio
corpo.
Nas sociedades contemporâneas em que a medicina se empenhou para se tornar
uma ciência das doenças, a vulgarização do saber, por um lado, e as instituições de
saúde pública, por outro, fazem com que, na maioria dos casos, o viver a doença
para o doente seja também falar dela ou ouvir falar dela segundo clichês ou
estereótipos, isto é, valorizar implicitamente as recaídas de um saber cujos
progressos são, em parte, devidos ao fato de o doente ter sido posto em
parênteses enquanto eleito da diligência médica (CANGUILHEM, 2005, p. 25).
Para Canguilhem (2005), a separação entre o sujeito da doença e o
conhecimento que dela se tem, através da eliminação das referências à vida dos
pacientes, é um fenômeno não limitado ao campo do saber, mas presente também
em instituições sociais diversas.
A racionalidade médica hegemônica nas sociedades contemporâneas é
aquela em que a questão da intervenção em um corpo inerte se faz condição
primeira. Seja para prevenir ou reabilitar, a medicina moderna há muito deixou de
confiar apenas nas forças da natureza. Como afirma Canguilhem (2005), para corpo
inerte, medicina ativa.
Conseqüência de uma concepção do corpo vivo inteiramente subordinados às
potências externas, sem as capacidades de um sistema auto-regulador próprio do
vivente, que faz com que a medicina se veja como ilimitada e inteiramente
responsável pelo curso do tratamento. Ao contrário dessa concepção de corpo
inerte, uma compreensão do corpo vivo e dinâmico faz com a medicina relativize o
seu lugar nos processos terapêuticos.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
154
Inversamente,a consciência dos limites do poder da medicina acompanha toda
concepção do corpo vivo que lhe atribui, seja qual for a sua forma, uma capacidade
espontânea de conservação de sua estrutura e de regulação de suas funções. Caso
o organismo tenha, por ele próprio, seus poderes de defesa, confiar nele é, pelo
menos provisoriamente, um imperativo hipotético de prudência e de habilidade ao
mesmo tempo. Para corpo dinâmico, medicina expectante (CANGUILHEM, 2005,
p.12).
A compreensão do corpo vivo de Canguilhem está intimamente ligada a uma
certa compreensão de saúde, em que dialogam a natureza e a cultura. Para o autor,
o corpo é um dado, a partir do seu patrimônio genético, e um produto, a partir do seu
modo de vida. A saúde como estado do corpo dado é a prova de que ele não é
alterado congenitamente, enquanto a saúde como expressão do corpo produzido é
uma garantia contra o risco e a audácia de corrê-lo (CANGUILHEM, 2005).
O corpo vivo é, então, este existente singular cuja saúde exprime a qualidade dos
poderes que o constituem, visto que ele deve viver sob a imposição de tarefas,
portanto em relação de exposição com um meio ambiente do qual, em primeiro lugar,
ele não tem escolha. O corpo humano vivo é o conjunto dos poderes de um existente
tendo capacidade de avaliar e de se representar a si mesmo esses poderes, seus
exercícios e seus limites. Esse corpo é, ao mesmo tempo, um dado e um produto.
Sua saúde é, ao mesmo tempo, um estado e uma ordem (CANGUILHEM, 2005,
p.41).
Mesmo compreendendo que a Ciência não se reduz a uma perspectiva
cientificista, possuindo elementos importantes a serem considerados na discussão
sobre a saúde, reforçamos a necessidade de outras compreensões desse
fenômeno, que não desconsiderem os aspectos constitutivos da existência humana,
tais como a dor, a doença e o sofrimento, por mais nocivos que eles possam parecer
à sociedade. Sem querermos fazer uma apologia a tais aspectos, nem justificarmos
a sua presença quando não se fazem necessários, questionamos o modelo da
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
155
saúde perfeita como a referência verdadeira a ser adotada por todos, apontando
para a necessidade de retomarmos o conceito de corpo subjetivo.
A definição de saúde que inclui a referência da vida orgânica ao prazer e à dor
experimentados como tais introduz sub-repticiamente o conceito de corpo subjetivo
na definição de um estado que o discurso médico acredita poder descrever na
terceira pessoa (CANGUILHEM, 2005, p. 45).
Sem fazer coro aos críticos da medicina científica, Canguilhem (2005) aponta
para a necessidade de se compreender a natureza enquanto o fato inicial da
existência, através da compreensão das capacidades auto-reguladoras do corpo
vivo, sem contudo deixar de pedir à arte médica sua contribuição.
Percorrer a história das idéias sobre a saúde em outros sistemas de
explicação do mundo, numa perspectiva epistemológica, pode nos revelar diferentes
compreensões desse fenômeno, para além da erradicação utópica da dor e da
doença promovida pela medicina cientificista. Através de imagens artísticas,
conceitos filosóficos e narrativas mitológicas, podemos nos aproximar do que
Canguilhem (1977), chama de uma consciência de época, para interpretarmos como
a humanidade constituiu a noção de saúde e de doença ao longo de sua história.
A arte expressionista de Edvard Munch, pintor norueguês famoso pela obra O
Grito, na qual retrata a angústia vivenciada em um momento singular de sua vida,
consegue fazer dialogar elementos aparentemente antagônicos da existência
humana, como a vida e a morte. Reflexo de um tempo de mal-estar e inquietação na
história, sua obra revela idéias contrárias aos dogmas morais presentes no Fin de
Siècle em que viveu.
A distorção de cores e formas característica do seu estilo, aliada ao
tratamento de temas extraídos da experiência cotidiana do ser humano, inclusive da
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
156
sua própria vida, como a doença, a tristeza, o amor e o desejo, fazem do trabalho de
Munch, uma referência interessante para repensarmos a questão da saúde humana.
Observando o desenho Blossom of Pain (Florescência da Dor), que esse
pintor fez para ilustrar a capa de um periódico alemão em 1898, percebemos uma
relação de complementaridade e não de antagonismo entre a dor e o belo. A
imagem da flor e do homem florescendo no mesmo jardim, é paradigmática no
sentido de nos remeter à coexistência da experiência estética da beleza e da dor,
enquanto elementos comunicantes.
Imagem 15: Flor e homem florescendo no mesmo jardim: a coexistência da beleza e da dor na obra de
Munch – Blossom of Pain (1898).
Fonte: Munch-Museet, 2007.
Essa obra nos faz repensar o conceito de saúde ainda muito difundido
atualmente, o qual coaduna com o projeto da saúde perfeita de que vimos tratando,
ao defini-la como a ausência de doenças, em vez de compreende-la na relação
dialógica com os processos patológicos inerentes à existência humana.
Concepção defasada frente a conceitos mais recentes e já questionados,
como o da Organização Mundial de Saúde, que diz ser a saúde um estado de
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
157
completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças ou
enfermidades, o que segundo os seus críticos, é uma noção idealista, no sentido de
referir-se a uma saúde ideal e também perfeita.
Apesar das críticas que vêm recebendo, consideramos que as cartas das
conferências mundiais de saúde avançam nessa compreensão de saúde defendida
pela OMS, ao incluírem as dimensões sócio-políticas no contexto da saúde, que de
certa forma trazem à tona a questão da subjetividade humana. Especialmente as
discussões sobre a promoção da saúde, que surge como reação à acentuada
medicalização da saúde na sociedade (BUSS, 2003).
Recuperando outros olhares sobre o mundo, enfocamos a discussão sobre a
saúde a partir da Filosofia, que através dos seus sistemas, disciplinas e autores,
colabora imensamente para repensarmos a compreensão de saúde cientificista que
se coloca como projeto universal.
Contemporâneo de Munch, que pintou o seu retrato póstumo em 1906,
Friedrich Nietzsche aborda a saúde através da perspectiva de quem teve uma
convivência próxima à doença. Assim como Munch, que além de ter sido internado
por depressão num sanatório, perdeu mãe e irmã na infância, vítimas de
tuberculose, Nietzsche convive com a tragédia e a dor desde cedo, quando perde o
pai aos cinco anos. Mesmo tendo conhecido a difteria, a miopia, a sífilis, entre
diversos outros males de sua época, esse filósofo não encara a saúde como algo a
ser conservado.
O seu conceito da Grande Saúde é representativo para tal entendimento, pois
nele Nietzsche considera a saúde como sendo uma tal que não apenas se tem, mas
constantemente se adquire e é preciso adquirir, pois sempre de novo se abandona e
é preciso abandonar (NIETZSCHE, 2001, p. 286).
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
158
Imagem 16: Retrato de Nietzsche pintado por Munch: contemporâneos na doença e na tragédia –
Friedrich Nietzsche (1906).
Fonte: Edvard Munch Gallery, 2007.
Para além da conservação, a noção de saúde presente em Nietzsche,
diferentemente da lógica asséptica atual, não condena a existência da dor e da
doença. Tampouco a eleva ao patamar de necessidade ontológica do ser humano,
como faz o cristianismo, para quem o lugar do homem junto a Deus é garantido
através do sofrimento na terra.
É importante discutirmos a compreensão de saúde desse filósofo, já que em
outro momento suas idéias foram apropriadas pelo nazismo, como justificativa para
o melhoramento da raça ariana. Dessa forma, nos preocupamos quando Sfez
(1996), toma emprestado a concepção da Grande Saúde em Nietzsche, para tratar
da utopia da saúde perfeita, como se fossem conceitos equivalentes.
No nosso entendimento, a Grande Saúde da qual fala o filósofo, rejeita o
modelo ideal da saúde perfeita presente nos projetos utópicos em curso, já que o
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
159
mesmo representa valores decadentes de uma Ciência que nega o corpo, não
percebendo a realidade corporal como condição ontológica da existência humana.
É por esses e outros motivos, que a filosofia de Merleau-Ponty vem se
mostrando essencial aos estudos filosóficos e sociológicos do corpo, sendo cada vez
mais requisitada em suas análises.
Apesar de não ser considerado um dos representantes da sociologia do
corpo, Merleau-Ponty vem sendo apontado como uma referência fundamental para
as pesquisas nessa área, justamente por ser visto como um teórico que pode
reconciliar os dualismos presentes nas teorias sociais do corpo, através de sua
compreensão fenomenológica do corpo, aproximando assim, cultura e natureza,
sujeito e objeto, indivíduo e sociedade, entre outros fenômenos aparentemente
inconciliáveis das teorias sociais (SCHILLING, 2003; TURNER, 1996; CROSSLEY,
1995).
Defendendo que o corpo merece um lugar central na imaginação sociológica,
Schilling (2003) vai buscar sua justificativa nos estudos da antropologia filosófica e
da fenomenologia existencial de Merleau-Ponty, considerando que a condição
corporal do homem é fundamental na formação e manutenção dos sistemas sociais
humanos, constituindo-se em um potente estímulo para o trabalho sociológico.
Mesma condição corporal que Le Breton destaca na sua revisão sobre a
sociologia do corpo, fazendo eco ao pensamento de Merleu-Ponty na sua obra mais
famosa, A fenomenologia da percepção. Para o autor, assim como para Merleau-
Ponty, antes de qualquer coisa a existência é corporal. As ações da vida social
diária, das mais reservadas às que ocorrem na cena pública, envolvem a mediação
do corpo (LE BRETON, 2006).
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
160
Além do mais, a influência de Merleau-Ponty pode ser sentida em outros
aspectos da sociologia do corpo. Segundo Le Breton, um dos seus teóricos mais
representativos, a primeira tarefa do pesquisador que se propõe a realizar uma
sociologia desse tipo, é libertar-se da compreensão do corpo enquanto um atributo
da pessoa, abandonando um dualismo que invalidaria as suas análises, ao não
perceber o corpo como o lugar da identidade do ator social (LE BRETON, 2006).
Apesar da perspectiva cientificista ainda ser muito forte hoje em dia, tais
visões de mundo sobre o corpo e a saúde não estão completamente isoladas do
modelo científico, dialogando com áreas da Ciência que atualizam as suas
referências também a partir de sistemas não-científicos de explicação da realidade.
Tais modelos se aproximam de autores como Canguilhem (2002), para quem
o estado patológico não se configura pela ausência de uma norma biológica, sendo
caracterizado por uma norma diferente, que em comparação a outras normas mais
adequadas à vida, é repelida pela normatividade desta. Apesar de não ser diferente
do estado normal, em virtude de possuir uma norma biológica específica, o estado
patológico também não é igual ao mesmo, por constituir-se numa outra norma
possível. Dessa forma, podemos inferir que a saúde não é a mesma coisa que a
doença, mas também, que não guarda uma relação de antagonismo total a esta.
Definir a saúde do indivíduo sem atentar para as possibilidades de sua
normatividade biológica, é tentar impor padrões ao que não pode ser padronizado.
As normas científicas devem ser vistas como parâmetros válidos mas relativos para
tal definição, e não como camisas de força para aprisionar a individualidade dos
sujeitos.
Podem, decerto, estabelecer-se valores padronizados para a saúde. Mas se
pretendesse impor a um indivíduo saudável esses valores padronizados, só
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
161
conseguiríamos adoecê-lo. É parte essencial da saúde manter-se a si mesma na sua
medida própria. Não permite que se lhe imponham valores padronizados, com base
em certas médias obtidas de diferentes experiências; tal imposição seria inadequada
para o caso individual (GADAMER, 1997, p. 104).
Os padrões universais devem ser relativizados, dando-se a devida
importância à normatividade biológica do sujeito. A questão do risco de se perder a
saúde também deve ser repensada, já que como afirma Canguilhem (2002), colocar-
se em risco é uma possibilidade da saúde. Além disso, a doença e todo o caráter
negativo que carrega, precisa ser vista com um olhar mais existencial, para além da
neurose coletiva asséptica que se instalou no nosso cotidiano, a partir da
consolidação da ideologia do homem saudável.
Canguilhem (2002), valendo-se da história das idéias como laboratório
epistemológico, aborda a relação entre o estado normal e o estado patológico dos
seres humanos, através da história dos conceitos de tais fenômenos. Para o autor, a
saúde pode ser compreendida como uma margem de tolerância às infidelidades do
meio, ou seja, a capacidade de ser normativa e de instituir novas normas frente a
situações desfavoráveis.
Tal compreensão vem de encontro ao entendimento de uma saúde perfeita e
fixa, delimitada por normas orgânicas padronizadas pelo discurso cientificista
moderno, na qual o afastamento das médias universais é considerado um estado
patológico e não uma característica saudável de uma normatividade possível.
Ser sadio significa não apenas ser normal numa situação determinada, mas ser,
também, normativo, nessa situação e em outras situações eventuais. O que
caracteriza a saúde é a possibilidade de ultrapassar a norma que define o normal
momentâneo, a possibilidade de tolerar infrações à norma habitual e de instituir
normas novas em situações novas (CANGUILHEM, 2002, p. 158).
Como discuti em estudo anterior (DANTAS, 2002a), a sociedade
contemporânea se fixa em padrões de corpo e movimento, sem atentar para outras
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possibilidades de existência do ser humano, castrando e limitando a sua experiência
como um ser corporal. Seja através da padronização de movimentos, ou seja pela
padronização estética, nos guiamos por fórmulas de medidas e avaliação para
buscar corpos e movimentos modelos.
A questão da saúde, por sua vez, parece estar seguindo a mesma lógica,
através da corrida a um padrão humano de saúde, a ser buscado e atingido por
todos, através de médias universais que podem não condizer com a realidade dos
indivíduos, pois se a saúde não pode medir-se é, na realidade, porque se trata de
um estado de conveniência interna e de concordância consigo mesmo, que não
pode submeter-se a outro tipo de controlo (GADAMER, 1997, p. 105).
Mesmo assim, percebemos também iniciativas que revelam o respeito à
singularidade humana, como vemos nos núcleos de sentido da análise de conteúdo
da revista Saúde!, que em muitos momentos aponta a necessidade de estarmos
considerando a perspectiva do sujeito na realização das práticas corporais.
Lógicas sociais e culturais
Valorização do aspecto gradativo da aprendizagem 3
Valorização da rapidez da aprendizagem 1
Respeito ao contexto da aprendizagem e à individualidade do aluno (mais fácil para alguns) 11
Apesar disso, vemos também que o corpo saudável, cujo um dos modelos
mais aceitos é do atleta de alto nível, com seus índices de rendimento fisiológicos
superiores à média considerada normal, busca ajustar-se à normalização cientificista
moderna. Ficar abaixo da média atlética, por exemplo, é aproximar-se
perigosamente de uma condição indesejada e mal vista pela sociedade, como se
isso se constituísse numa anomalia patológica.
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163
Apesar do atleta de alto nível ser o modelo que vem sendo colocado para as
pessoas normais seguirem no seu dia-a-dia, nem sempre isso acontece, já que
através de estratégias cotidianas, os sujeitos recriam o seu próprio corpo saudável a
cada instante, de forma que a produção biopolítica do corpo saudável nas
sociedades hipermodernas não se restringe à perspectiva do poder sobre a vida,
mas sobretudo, da potência criativa desta.
Condição que aponta possibilidades de vivermos a perspectiva existencial da
saúde do corpo, que não nega a importância da referência científica nos cuidados da
saúde humana, mas não abre mão da autonomia individual que cada um de nós
possui e demonstra, na invenção cotidiana do corpo saudável.
A invenção do corpo saudável
Além de termos identificado na nossa análise de conteúdo uma perspectiva
historicamente dominante de sermos saudáveis veiculada pela revista Saúde!,
ancorada na concepção anatomofisiológica do corpo presente no discurso médico
oficial, que não só rejeita como estigmatiza a doença e a enfermidade, a partir de
critérios unicamente científicos de normalidade biológica expressos na compreensão
da saúde enquanto ausência de doenças, mostramos também as forças que põem
em questão essa concepção hegemônica difundida pela Saúde!, como a veiculação
pela própria revista de formas alternativas de vivermos a saúde do nosso corpo,
inclusive na convivência com a doença e suas limitações.
Formas que nascem muitas vezes da experimentação e da invenção de si
mesmo, que os mecanismos de poder da Saúde! disponibilizam aos seus leitores,
fazendo com que a subjetividade humana seja constantemente remodelada através
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
164
da produção biopolítica do corpo saudável, de modo a emergir ao mesmo tempo
plural e singular, a partir de processos de subjetivação corporal centrados na auto-
construção do corpo saudável, em que várias linhas de fuga tecem uma perspectiva
existencial da saúde do corpo, para além do domínio absoluto das forças do atual
estágio do capitalismo.
Alguns objetarão que a jubilativa remodelação da subjetividade não passa de um
requisito do capital na sua forma atual, sem relação alguma com a dita
experimentação à qual Nietzsche se refere, ou, no pior dos casos, expressando-se
através dela. A fluidificação da subjetividade e do nosso olhar sobre ela seria
apenas, afinal, o gozo do capital e de seu poder ilimitado de subsunção. Ora, é
preciso reconhecer, mesmo em meio à mais apocalíptica das leituras sobre a
atualidade, que a desterritorialização violenta que o capitalismo impõe à
subjetividade (mas isso não o caracterizava desde o início?) extrapola
incessantemente os limites que ele mesmo teria interesse em ver respeitados,
obrigando-se a deslocar-se. Em outras palavras, a subjetividade desterritorializada
pelo capital escapa às suas capturas nas mais insuspeitadas direções: nas
modalidades inéditas de socialidade, de resistência e de implicação com o presente.
É o que nos cabe cartografar sem cessar – novas políticas de subjetividade
(PELBART, 2000, p. 20).
A experimentação e a invenção de si mesmo efetuadas pelos agenciamentos
do corpo na mídia especializada em saúde, não são somente condições necessárias
ao tipo de produção social imaterial imanente à fase integrada do capitalismo
imperial, mas também possibilidades concretas de nos colocarmos para além dos
domínios sempre renovados do corpo saudável padrão e de sua subjetividade
limitada, através de processos também novos e criativos de auto-construção da
saúde do corpo, de que todos nós somos capazes.
Produzir o novo é inventar novos desejos e novas crenças, novas associações e
novas formas de cooperação. Todos e qualquer um inventam, na densidade social
da cidade, na conversa, nos costumes, no lazer – novos desejos e novas crenças,
novas associações e novas formas de cooperação. A invenção não é prerrogativa
dos grandes gênios, nem monopólio da indústria ou da ciência, ela é a potência do
homem comum. Cada variação, por minúscula que seja, ao propagar-se e ser
imitada torna-se quantidade social, e assim pode ensejar outras invenções e novas
imitações, novas associações e novas formas de cooperação. Nessa economia
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
165
afetiva, a subjetividade não é efeito ou superestrutura etérea, mas força viva,
quantidade social, potência psíquica e política (PELBART, 2003, p. 23).
Reconhecendo a capacidade criativa e subversiva dos leitores da revista
Saúde! no estabelecimento de novas formas de vivermos a saúde do corpo, assim
como as possibilidades concretas desses novos territórios existenciais serem
vivenciados, através da condição paradoxal que o poder sobre a vida faz emergir
nas sociedades contemporâneas, é necessário investigarmos como os leitores da
revista Saúde! realmente vivenciam o corpo saudável.
Para discutirmos uma certa perspectiva existencial da saúde humana em
curso nas sociedades contemporâneas, é preciso nos questionarmos como as
pessoas reagem às máquinas de poder que as massacram todos os dias, através
dos sistemas de comunicação, das redes flexíveis de informação e dos sistemas de
bem estar existentes nas sociedades contemporâneas, que como o sistema de
poder a que pertence a revista Saúde! organizam diretamente os cérebros e os
corpos dos cidadãos brasileiros.
Ou seja, é preciso cartografar como o corpo saudável é inventado todos os
dias, a partir dos seus agenciamentos na mídia especializada em saúde. Tarefa
urgente, se aceitamos que a produção biopolítica do corpo saudável não se limita à
emergência de subjetividades seriais.
Se é verdade que por toda a parte se estende e se precisa a rede de “vigilância”,
mais urgente ainda é descobrir como é que uma sociedade inteira não se reduz a
ela: que procedimentos populares (também “minúsculos” e cotidianos) jogam com os
mecanismos da disciplina e não se conformam com ela a não ser para alterá-los;
enfim, que “maneiras de fazer” formam a contrapartida, do lado dos consumidores
(ou “dominados”?), dos processos mudos que organizam a ordenação sócio-política
(CERTEAU, 2003, p. 41).
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
166
Na revista Saúde! temos vários agenciamentos que interpelam os leitores a
buscarem determinadas formas de se vivenciar a saúde do corpo, entre opções
hegemônicas ou ainda alternativas no cenário contemporâneo. Discursos sobre o
corpo, terapias e práticas corporais diversas, enfim, uma multiplicidade de linhas de
estratificação e de criatividade, que se misturam no dispositivo pedagógico da mídia,
de forma a possibilitarem a emergência de novos territórios existenciais, expressos
nas distintas maneiras de fazer dos leitores, que não se inserem apenas nas formas
já estabelecidas de se ter um corpo saudável.
Maneiras de ser e permanecer saudável, criadas cotidianamente por uma
subjetividade que ao invés de neutralizada pelo poder difuso das redes de controle
hipermodernas, escapa das formas dominantes ou mesmo alternativas de vivermos
a saúde do corpo, mesmo que em pouco tempo venham a estar sob o domínio do
poder-saber de outro dispositivo qualquer.
Essas “maneiras de fazer” constituem as mil práticas pelas quais usuários se
reapropriam do espaço organizado pelas técnicas da produção sócio-cultural. Elas
colocam questões análogas e contrárias às abordadas no livro de Foucault:
análogas, porque se trata de distinguir as operações quase microbianas que
proliferam no seio das estruturas tecnocráticas e alteram o seu funcionamento por
uma multiplicidade de “táticas” articuladas sobre “os detalhes” do cotidiano;
contrárias, por não tratar mais de precisar como a violência da ordem se transforma
em tecnologia disciplinar, mas de exumar as formas sub-reptícias que são assumidas
pela criatividade dispersa, tática e bricoladora dos grupos ou dos indivíduos presos
agora nas redes da “vigilância”. Esses modos de proceder e essas astúcias de
consumidores compõem, no limite, a rede de uma antidisciplina que é o tema deste
livro (CERTEAU, 2003, p. 41).
Os leitores da Saúde! também têm suas próprias maneiras de fazerem os
procedimentos ditos necessários pela revista, para atingirem a saúde do corpo.
Formas de ação que paradoxalmente aceitam e escapam ao poder ao qual são
submetidas, de modo a revelarem a produção de uma subjetividade ao mesmo
tempo massificada e singularizada.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
167
Dessa forma, quando as práticas discursivas da Saúde! estabelecem suas
verdades científicas sobre o corpo saudável, existe sempre um domínio que as
escapa, configurando uma perspectiva existencial da saúde, para além da gorda
saúde dominante.
Podemos perceber essa condição existencial da saúde humana presente nas
matérias veiculadas pela Saúde! no ano de 2003, ao isolarmos os discursos
daqueles que são chamados pela revista para darem seus depoimentos de vida, a
partir da experiência que possuem junto ao corpo saudável e às práticas corporais.
É o caso da matéria sobre o surfe veiculada pela revista Saúde! no mês de
janeiro de 2003, que se aproveitando do forte calor do verão brasileiro, incentiva
todos a entrarem na onda do surfe, de forma a saírem da água com pulmões e
coração revigorados.
Apesar de se tratar de uma prática corporal de características lúdicas, o surfe
é divulgado pela Saúde! a partir de uma perspectiva essencialmente fisiológica,
onde os ganhos com as alterações orgânicas são mais enfatizados do que qualquer
outro aspecto da prática.
Uma pesquisa apresentada pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física
de São Caetano do Sul (Celafiscs), na Grande São Paulo, mostra que se equilibrar
sobre as ondas não exige tanto do coração – em um minuto ele bate cerca de 135
vezes, entre 64% e 81% da freqüência cardíaca máxima. “Surfar é um exercício
predominantemente aeróbico e pode ser praticado visando saúde”, destaca a
professora de educação física Fernanda Brasil, autora do trabalho (SAÚDE!, 2004).
É interessante notar nessa matéria, que todos são convidados a praticarem o
surfe, até os menos preparados. Há uma lógica de massificação da prática corporal
para fins de uma certa saúde anatomofisiológica, que se amparando em pequenos
cuidados de segurança, autoriza a prática do surfe até mesmo para aqueles menos
acostumados com a água.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
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Mesmo com a massificação dessa perspectiva dominante de vivenciarmos a
saúde do corpo, em que a racionalização das práticas corporais obedece os
princípios de distinção, eficiência e utilidade próprios do cartesianismo, observamos
também na matéria a emergência de novos territórios existenciais, em que o corpo
saudável escapa à perspectiva fisiológica da prática corporal.
Capturado pelas práticas discursivas do corpo saudável, o praticante revela
outras formas de vivenciarmos a saúde do corpo, confirmando o ponto de vista
fenomenológico de que todo gesto do ser humano possui intencionalidade e
significação, transcendendo os níveis biológicos e mecânicos do movimento, de
forma a garantir a originalidade das ações (NÓBREGA, 2005).
Toda sexta-feira, o empresário paulistano Renato Mugnaini, de 32 anos, sócio da
empresa Acqua Care, viaja da capital até Maresias, praia do litoral norte de São
Paulo. Ele pratica o esporte há 21 anos e só desiste de curtir as ondas no final de
semana quando há um compromisso importante e inadiável. "O contato com a
natureza e o convívio com os amigos também fazem parte do prazer de surfar",
destaca Renato, que ainda corre, pedala e pratica natação (SAÚDE!, 2004).
O contato com a natureza e o convívio com os amigos são elementos da
prática corporal que ultrapassam as determinações primeiras da revista Saúde!,
evidenciando com isso uma perspectiva fenomenológica do corpo, em que os seus
diversos usos vão além dos níveis meramente fisiológicos, já que o ser humano cria
um universo simbólico de significações, reconhecendo diferentes perspectivas em
um mesmo fenômeno (NÓBREGA, 2005).
Além de serem resignificadas cotidianamente pelos seus adeptos, as práticas
corporais difundidas pela revista Saúde! também são recusadas pelos mesmos, de
forma que apesar de toda massificação existente para a realização de atividades
físicas em nome do corpo saudável, encontramos focos de resistência que guardam
uma certa autonomia em suas ações.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
169
Em uma de suas matérias de 2003, a revista Saúde! questiona se a
hidroginástica funciona. A conclusão a que chega é a de que se a versão
convencional já funciona, imagine os benefícios proporcionados por um incremento
nos equipamentos, como uma esteira turbinada dentro da piscina. Segundo a revista
que a hidroginástica é considerada uma atividade física poderosa, portanto, ninguém
discute. Nesta matéria o discurso científico é chamado para validar ou não as
criações feitas pelo mundo do fitness e incorporadas pelas academias brasileiras, o
que de certa forma cumpre a intenção da revista de exercer uma vigilância no
universo da atividade física, mesmo que não tão eficaz assim, em se tratando da
permanência dos sujeitos nas práticas corporais.
A engenheira paulistana Priscila Miguel, de 30 anos, pratica hidroginástica há cinco
anos. "É a única atividade que me cativa", diz ela. "Eu sempre desisto quando tento
outro tipo de exercício." Aluna assídua, Priscila vai quatro vezes por semana ao
Projeto Acqua, em São Paulo. "Faço aulas localizadas e deep running para manter o
peso", revela (SAÚDE!, 2004).
Também capturada pelos mecanismos de poder inerentes às biopolíticas do
corpo saudável, a praticante consegue se mover minimamente dentro das redes de
determinações que configuram o controle da saúde do corpo contemporâneo, de
forma a ter uma relativa independência nas suas escolhas. Mesmo investida por um
excesso de práticas corporais com fins de saúde, entre aquelas já consagradas pelo
discurso médico e as novas opções disponíveis no mercado do corpo, a aluna cria
condições próprias para o exercício de suas opções diárias, a partir dos significados
que atribui a elas.
Prova de que apesar de toda a racionalização das práticas corporais, o corpo
simbólico, vivo, sujeito de suas ações consegue ultrapassar as determinações que o
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
170
atingem, seja através da reflexão crítica, da consciência corporal, ou mesmo da
simples reação aos poderes instituintes.
Para além da reflexividade do leitor, encontramos uma entrevista com o
professor Nuno Cobra, na qual, entre outras coisas, é desaconselhado o
pensamento sobre as atividades físicas praticadas. Segundo o professor, é simples:
não pense muito. Comece a praticar um exercício e pronto.
SAÚDE! – Deve-se planejar o início de um programa de exercícios? Nuno Cobra:
Não. É para ir e fazer. A prática é 1 milhão de vezes mais fácil que a teoria. Ao se
planejar demais, entra em cena a imaginação, vem todo aquele recalque e começa-
se a achar que vai ser difícil. Aí, não vai conseguir iniciar nada. É proibido pensar!
(SAÚDE, 2004).
Nessa matéria, a lógica da massificação continua a atuar, a partir do enfoque
da possibilidade de adesão à prática por gente comum, e não só atletas de
rendimento. É fácil, todos podem ser campeões de saúde, basta não pensarmos
modos de obtê-la. Os princípios de utilidade, se sobrepõem à intencionalidade do
movimento. Mesmo assim, o autor revela no seu cotidiano, a realização da prática
em razão do significado que ela tem para ele.
A minha rotina é a seguinte: às 5 horas da tarde saio do escritório, atravesso a rua e
chego em casa. Aí medito por 15 minutos, alongo o corpo e tomo um banho. Janto
às 6 e, às 7 e meia, visto o pijama. Depois das 8 estou dormindo. Às 5 da manhã eu
acordo, pois já descansei por nove horas. Antes de sair da cama, me espreguiço.
Depois de uma sessão de alongamento, corro por meia hora. Na volta entro na
piscina. Às segundas, quartas e sextas também pratico exercícios na barra fixa.
Adoro fazer oitavas, pois trabalhei muitos anos em circo. Pode pegar no meu braço
(eu me aproximo e faço o que ele diz) (SAÚDE!, 2004).
Outro ponto muito forte nos enunciados da revista Saúde!, a relação causal
linear positiva entre o exercício físico e a saúde, pode ser encontrada de forma
maciça na matéria que trata dos benefícios conseguidos por aqueles que aderem
aos programas de treinamento físico.
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
171
Por dois meses, 40 ratinhos fizeram exercício diariamente, tendo só um dia de folga
por semana. Durante uma hora eles corriam na esteira, numa simulação perfeita do
que as pessoas fazem na academia. Enquanto isso, outros 40 roedores passavam
os dias numa boa, naquela rotina sedentária que muitos seres humanos ainda
insistem em levar. O detalhe é que todos esses bichos tinham um tipo de câncer
chamado tumor de Walker 256 (SAÚDE!, 2004).
Não é difícil imaginar o destino dos ratinhos sedentários, que não aderiram ao
programa de exercícios. Segundo a revista, ao contrário das pessoas, as cobaias
não possuem sentimentos nem são sugestionáveis. Os ratinhos nem ao menos têm
consciência de que estão doentes. Daí a prova de que o efeito protetor contra o
câncer também é fisiológico e deve-se a mudanças metabólicas desencadeadas
pelo movimento. Argumentos apoiados nos discursos científicos de especialidades
biomédicas, mas não confirmado pelo discurso da experiência na matéria em
questão, provavelmente devido ao fato de que foram ratos e não pessoas, que foram
submetidos aos testes.
Encontramos na revista Saúde!, dicas para a saúde da pele, através de
exercícios para uma desprogramação do corpo, o que nos leva a questionar se
estamos lidando com o elogio da moderação ou com o excesso de controle.
Segundo a revista, uma das funções da ginástica facial é identificar os movimentos
nos quais o indivíduo, sem perceber, costuma insistir para, digamos, desprogramar
esse padrão. Além de dicas para uma recuperação da pele, há dicas para a
prevenção dos padrões de expressão, como não movimente exageradamente o
rosto ao falar. Assim a região ao redor dos lábios não ficará tão marcada.
Argumentos que também são seguidos à risca pelos leitores da revista
Saúde!, já que a produção biopolítica do corpo saudável se vê às voltas tanto com
uma subjetividade singularizada, como massificada. Nesse caso em especial, a
leitora da Saúde! conta que começou a prática há quatro anos e não parou mais,
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
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relatando que a pele melhorou já após o primeiro mês, ficando ainda melhor depois,
firme e sem rugas.
Como visto no nosso corpus de análise, as práticas orientais também
aparecem no corpo da revista, muitas vezes associadas aos ganhos com a saúde. A
questão da consciência corporal é mencionada, quando relacionados os benefícios
da prática. “A gente observa que, nesse período de tempo, eles já adquiriram muito
mais consciência corporal”, conta, animada. Apesar de não ser um argumento
recorrente, a questão da consciência corporal é trazida à tona pela revista,
principalmente nas matérias sobre práticas corporais consideradas alternativas.
Encontramos na revista Saúde!, o relato de um atleta diabético, que conta
como convive com a doença, ao ponto de muitas vezes esquecer da sua existência,
o que aponta para uma compreensão de saúde que não se encontra apenas na
ausência das doenças. Apesar da matéria enfatizar a questão de uma vida normal
para o portador de certas doenças, a relação com a mesma alterna entre uma boa
convivência e sua superação, como revela o discurso do atleta diabético.
O triatleta otimista não diz que a doença melhorou sua vida, mas vê uma
positividade nela. Imagina se estaria buscando os objetivos da sua vida como agora.
Conta que a doença o lembra sempre da necessidade de ser disciplinado e que a
família o ajuda no cotidiano. Garante que a doença não piorou em nada a sua vida,
tão normal que ele até bebe uma cervejinha de vez em quando. A doença não
aparece tão limitante quanto outras e é vista como um desafio.
A totalidade do corpo é trazida à tona na revista Saúde!, através da afirmação
de que o método analisado não trata só onde dói, mas sim, o corpo da cabeça aos
pés. A revista diz para o leitor não se surpreender, pois se você procurar um
especialista em RPG para acabar com aquela dorzinha no joelho, ele examinará
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
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seus ombros com a maior concentração. A recíproca é verdadeira. Essa é a chave
do método. “Nosso trabalho não é segmentado”, diz a fisioterapeuta Ângela
Bushatsky, de São Paulo. Percebemos nesta matéria uma preocupação em
considerar o corpo em sua totalidade, que reaparece em outras matérias da revista,
principalmente naquelas que abordam a cultura oriental e seus processos
energéticos.
Preocupação que reaparece na revista, quando ela trata da massagem e da
reflexologia. Segundo a Saúde!, os benefícios dessa prática começam a ser
confirmados por pesquisas científicas, que antes colocavam em dúvida a eficácia
das suas técnicas. Por mais que ainda existam dúvidas sobre os processos, os
resultados parecem superar tais deficiências, como afirmam os seus adeptos.
Para os adeptos, a falta de explicações detalhadas não tira o mérito da técnica. Os
consultórios estão repletos de histórias de sucesso – pacientes com câncer que
passaram a enfrentar melhor as sessões de quimioterapia ou, ainda, pessoas que se
livraram de persistentes crises de enxaqueca. Claro, qualquer um pode se perguntar
até que ponto esses benefícios não são apenas fruto de um poderoso relaxamento –
efeito que ninguém discute. Se é o seu caso, veja os resultados de algo bem mais
palpável: a pesquisa comparou dois grupos de gestantes hipertensas que tomavam
drogas para controlar o problema e o ponteiro despencou apenas entre aquelas que
se submeteram à massagem (SAÚDE!, 2004).
O incentivo à prática do ciclismo está relacionado com a prevenção de
doenças e com a promoção da saúde, através de políticas publicas que viabilizem a
prática. Segundo a revista, pedalar, além de ser ótimo para a saúde, faz com que
você fique de bem com a vida. A matéria ainda faz menção à saúde da cidade e do
planeta, como conseqüência direta da prática.
Temos na matéria também, a forma encontrada pelos ciclistas, para
adaptarem a prática ao seu cotidiano. Sempre que pode, afirma o praticante
entrevistado pela Saúde!, vai de bicicleta para o trabalho. Ele mora em Brasília e
A perspectiva existencial da saúde____________________________________________________________
174
pelo menos duas vezes por semana isso acontece. Diz ainda que o total do percurso
é de 30 km e mesmo assim, quando chega ao trabalho troca de roupa e guarda a
bicicleta num canto específico. Recorda que no emprego antigo foi proibido de levá-
la no elevador e por isso teve que pagar um estacionamento, que mesmo assim saiu
barato, pois lembra que só pagava 20 reais.
Todas essas formas particulares que as pessoas encontram para realizarem
suas práticas corporais, mostram que a produção biopolítica do corpo saudável é um
processo em que novos territórios existenciais emergem a cada instante, mesmo
com a incidência maciça sobre a população, de formas pré-estabelecidas de
vivermos a saúde do corpo.
Processo de subjetivação aberto à experimentação e à invenção de si próprio,
a produção biopolítica do corpo saudável revela muitas vezes a emergência de uma
subjetividade massificada, assim como possibilita modalidades inéditas de sermos
saudáveis, configuradas na invenção diária do corpo saudável.
Nesta edição____________________________________________________________________________
176
Nesta pesquisa, nos debruçamos sobre os discursos da saúde veiculados
pela mídia nas sociedades contemporâneas, constantemente regulados pela
objetivação do corpo numa visão cientificista, para analisá-los em sua íntima relação
com as práticas corporais. Discursos estes, que procuramos desconstruir e
desnaturalizar ao longo da nossa argumentação, na tentativa de incluirmos a
perspectiva do sujeito e da existência na compreensão da saúde humana, para além
da visão funcionalista do corpo saudável que permeia os discursos médicos.
Para operarmos tal desconstrução, partimos dos regimes de verdade
existentes nas sociedades hipermodernas, em que apoiados pelo imperativo
narcisista da sociedade do bem-estar, os agenciamentos do corpo na mídia
especializada em saúde se desenvolvem.
Apresentamos novos territórios existenciais do corpo, que vêm emergindo da
produção biopolítica do corpo saudável, a partir de processos de subjetivação
centrados na auto-construção do corpo saudável, tais como a perspectiva
fenomenológica do corpo, as práticas corporais da cultura oriental e uma maior
atenção à consciência corporal dos indivíduos.
Dessa forma, as relações entre a saúde humana, o corpo e os seus usos,
foram pensadas a partir, ou melhor, em direção, a uma racionalidade paradoxal,
própria da lógica do vivo, na qual o princípio da circularidade retroativa, ou seja, da
recursividade, passa a dar suporte à compreensão de realidades multidimensionais,
onde o uno ora esconde, ora revela, a presença do múltiplo, como podemos
perceber na perspectiva existencial da saúde.
Discutimos a compreensão da saúde humana numa perspectiva existencial,
que ressignifica a sua relação com o corpo e com as práticas corporais, a partir de
uma racionalidade que rejunta ao invés de separar. Saúde que Georges Canguilhem
Nesta edição____________________________________________________________________________
177
viria a considerar como sendo a verdade do corpo em situação de exercício,
expressão originária de sua posição como unidade de vida, fundamento da
multiplicidade de seus órgãos próprios (CANGUILHEM, 2005, p. 45).
Saúde, enfim, compreendida como a verdade do corpo humano vivo, cuja
existência Merleau-Ponty considera acessível apenas ao seu titular, problematizando
a possibilidade da absoluta objetivização do corpo, presente nos discursos
cientificistas modernos.
Sem deixarmos de lado a crítica aos problemas gerados por uma sociedade
capitalista que leva o consumo as suas últimas conseqüências, realizamos aqui uma
leitura da realidade social que problematiza as análises marxistas e as teses da
alienação social referentes à mídia, ao compreendermos a questão do desejo não
somente como uma falsa necessidade produzida pelo mercado, mas como uma
característica legítima da existência humana, refletida na lógica paradoxal do corpo
vivo, onde a cultura e a natureza coexistem como condição ontológica e
epistemológica do homem no mundo.
Compreensões que relativizam o poder do Esporte, da Educação e da própria
Mídia na produção de subjetividades e modos de existência contemporâneos, ao
problematizarem as análises simplistas dos fenômenos sociais, que desconsideram
a complexidade do corpo em suas relações cotidianas de autonomia e dependência.
Tendo em vista a argumentação realizada nesta tese, apontamos a
necessidade de incluirmos nas pedagogias críticas do corpo saudável a discussão
sobre os processos de subjetivação corporal que acontecem a partir das práticas
discursivas da pedagogia da mídia, ampliando as discussões sobre os cuidados de
si a partir de uma estética da existência, como formas necessárias à produção
biopolítica do corpo saudável.
178
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ANEXOS
Anexo A – Fichas de conteúdo................................................................................
.
185
Anexo B – Tipos e fontes dos discursos..................................................................
.
203
Anexo C – Núcleos de sentido.................................................................................204
Anexo D – Núcleos de sentido do discurso da experiência.....................................
.
207
185
Anexo A – Fichas de conteúdo
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 1
Periódico: Revista Saúde! – Janeiro de 2003 – Edição 232 – 67 páginas.
Título: Entre nessa onda.
Total de páginas: 4 páginas.
Localização: página 62.
Autora: Priscila Boccia.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria convida o leitor a entrar na onda do surfe, argumentando
que o esporte faz pulmões e coração saírem do mar revigorados e que até os menos preparados podem praticá-lo. As
imagens da matéria mostram um rapaz fazendo uma manobra do surfe, outro rapaz tatuado remando e um outro bem
vestido, com uma prancha no colo e plantas ao fundo. Segundo a matéria, as ondas podem chegar aos 30 metros de altura
no Havaí, mas no Brasil elas costumam ter entre 1,5 e 2 metros. No final da matéria, o leitor é convidado a contar para o site
da revista, se já surfou ou gostaria de experimentar. É convidado, também, a ver no site da revista que homens e mulheres
têm objetivos diferentes quando surfam.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista;
Pesquisa
(CELAFISCS);
pesquisadora.
(...) o surfe é uma atividade física moderada, acessível até
mesmo para quem só costuma se arriscar (...) desde que a
pessoa se vire bem na água (...) não exige tanto (...) é um
exercício (...) aeróbico (...) visando saúde” (...).
O surfe é uma atividade física moderada,
acessível a todos que tenham uma certa
vivência na água; Um exercício aeróbico,
que pode ser praticado visando saúde.
Jornalista;
Pesquisadora
e Professora
de Educação
Física.
(...) dando incansáveis braçadas (...) exercício (...) excelente
para melhorar a performance cardiorrespiratória. As
manobras radicais (...) limitaram-se a (...). “O prazer de surfar
(...) compensa o esforço”. Mesmo porque (...) o surfista
precisa esperar (...) Assim dá para (...) recuperar o fôlego –
curtindo a natureza, claro.
As braçadas do surfe são excelentes
para a performance cardiorrespiratória;
As manobras radicais não são tão
executadas na atividade, mas o prazer
que trazem compensa o esforço,
atenuado pelo descanso na natureza.
Jornalista;
Especialista
(fisiologista) e
pesquisador;
Pesquisas
(UNIFESP/
UNIMONTE).
Quem surfa tem fôlego (...) e (...) mais fortes. Quatro horas.
(...) a maioria dos surfistas (...) chega a ficar (...) no mar. Ao
buscar a adrenalina (...) conquista (...) condicionamento físico
(...) por causa das braçadas. (...) surfar por pelo menos dez
anos (...) capacidade aeróbica aumentada (...) mediu a força
(...) e constatou que nos surfistas (...) maior do que nas
pessoas em geral. (...) graças (...) às braçadas.
Os surfistas passam muito tempo no mar
em busca da adrenalina das manobras,
conquistando um ótimo condicionamento
físico; Quem surfa por 10 anos tem uma
maior capacidade aeróbica; Quem surfa
tem mais força em certos músculos do
que as pessoas em geral.
Jornalista;
Fisiologista e
pesquisador.
(...) o esforço (...) aumenta a resistência (...) deixando (...)
torneados e fortes. (...) deve-se fazer musculação para
exercitar (...) pouco trabalhadas (...). “Essa descompensação
pode provocar lesões (...) que criou (...) para dar cursos (...)
reunir as pesquisas científicas sobre o esporte.
Surfar aumenta a resistência muscular,
deixando músculos fortes e torneados;
Deve-se compensar o esforço em outros
músculos, para evitar lesões; Existem
pesquisas e cursos sobre surfe.
Jornalista;
Fisiologista e
professor de
esportes
radicais
(UNIMES).
Mas surfista nenhum se contenta com (...) arrebentação. (...)
finalmente alcança-se a onda. (...) os movimentos de pé (...)
exigem explosão muscular e deixam as pernas mais fortes. O
vaivém (...) trabalha o abdômen. (...) o equilíbrio, a agilidade
e os reflexos também vão melhorando. (...) quem surfa tem
facilidade para (...) outras atividades com prancha” (...).
Só se satisfazem ao alcançarem as
ondas; Surfar deixa pernas fortes e
trabalha abdômen; Melhora o equilíbrio, a
agilidade e os reflexos, fazendo com que
o surfista tenha facilidade de realizar
outras atividades com prancha.
Jornalista;
Empresários.
Parece (...) dom (...) mas não é bem assim. “Todo mundo
aprende, basta treinar bastante (...). “A evolução vem aos
poucos, mas a maioria (...) ficar em pé no primeiro dia” (...)
começam na (...) aprende no raso (...). “Também (...) entrar
no mar e (...) diante das ondas” (...). Quem já (...) aperfeiçoar
(...) sob as orientações (...) surfistas (...) mais de 20 anos (...).
Todos conseguem surfar, se treinarem
bastante; A evolução é gradativa, mas
geralmente rápida em certos aspectos;
Aprendem-se todos os passos com um
professor, de forma gradativa e segura;
Os professores são surfistas experientes.
Jornalista;
Pesquisa
(CELAFISCS).
O principal objetivo do surfista é “dropar” a onda (...) – as
manobras variam conforme o seu ritmo. Os surfistas (...)
porque no Brasil as ondas (...) médias ou pequenas.
O objetivo é dropar a onda; As manobras
variam com o próprio ritmo; O tempo em
pé é curto por causa das ondas do Brasil.
Jornalista;
Pesquisa
(CELAFISCS).
(...) E dá-lhe força nas braçadas (...). A atividade exige mais
da metade do tempo (...) diferentes técnicas para “varar” as
ondas (...).
O esforço das braçadas exige o maior
tempo na água; Há técnicas para passar
as ondas.
Jornalista;
Pesquisa
(CELAFISCS).
Não é qualquer onda que serve para surfar (...). (...) os
surfistas ficam aguardando (...). (...) a atividade física é
levíssima.
A atividade física tem períodos de
descanso levíssimos.
Jornalista;
Praticante
(empresário,
32).
Toda sexta-feira (...) viaja (...) praia (...) pratica o esporte há
21 anos e só desiste de curtir as ondas (...) compromisso
importante e inadiável. “O contato com a natureza e o
convívio com os amigos também fazem parte do prazer de
surfar” (...), que ainda corre, pedala e pratica natação.
Há 21 anos ele surfa todos os fins de
semana, desistindo quando não há outro
jeito; A natureza e o convívio com os
amigos também são parte do prazer de
surfar; Surfa, corre, pedala e faz natação.
Jornalista. As origens exatas (...) desconhecidas, mas imagina-se que
há mais de mil anos (...) praticado de joelhos (...) difundiu-se
Imagina-se que o surfe exista há mais de
mil anos; Era praticado de outra forma;
186
(...) sem dúvida (...) criaram a cultura do surfe. Eles
desenvolveram (...) aperfeiçoaram (...) criaram (...) técnicas.
Os havaianos criaram uma certa cultura
do surfe, com novas técnicas.
Jornalista. (...) europeus colonizaram (...) o ocidente descobriu (...) a
divulgação da modalidade (...) responsabilidade (...) campeão
olímpico de natação (...). Sua performance (...) alavancou a
popularização da modalidade (...). Às praias brasileiras (...)
na década de 30 (...) primeiro circuito (...) em 1987. Hoje (...)
2 milhões de adeptos (...) segundo (...) praticado no país (...).
O Ocidente descobriu o surfe pela
colonização de certas regiões; Um
campeão olímpico de natação
popularizou a modalidade; Chega ao
Brasil na década de 30 e hoje só perde
para o futebol em número de adeptos.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 2
Periódico: Revista Saúde! – Abril de 2003 – Edição 235 – 67 páginas.
Título: Siga os passos dele.
Total de Páginas: 4 páginas.
Localização: página 58.
Autora: Priscila Boccia.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria convida o leitor a seguir os passos de Nuno Cobra, cujo
prêmio é convencer gente comum a incluir exercícios no seu dia-a-dia e que garante aplicar os ensinamentos que divulga.
As imagens da matéria mostram o feliz escritor rasgando uma fita de chegada, como se estivesse ganhando alguma prova
esportiva. Outras imagens mostram gente comum fazendo exercícios. No decorrer da matéria, o leitor é convidado a entrar
no site da revista, para saber por que Nuno Cobra considera o sono o ponto de partida para uma vida com qualidade. Em
outro momento, o leitor é convidado a conversar com Nuno Cobra, em um chat do site da revista.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista;
Professor de
Educação
Física,
preparador
físico e
escritor.
Forte, ágil, confiante e bem-humorado aos 64 anos (...) é o
cartão de visitas de uma filosofia de vida que se empenha em
divulgar. Ao pregar que corpo, mente, emoção e espírito
devem ser trabalhados em conjunto, (...) tornou-se respeitado
internacionalmente. No currículo acumula um pódio atrás do
outro. Foi preparador físico e mental de feras como (...). Seu
livro (...), há três anos na lista dos mais vendidos (...), já
ultrapassou a marca (...). O sucesso nas livrarias está lhe
rendendo um assédio (...) de gente que deseja melhorar a
qualidade de vida. (...) isso é fácil e está ao alcance de todos.
Escritor idoso é modelo bem-sucedido da
filosofia de vida que divulga, sendo forte,
ágil, confiante e bem-humorado; É
respeitado por trabalhar em conjunto,
corpo, mente, espírito e emoção; Seu
trabalho com corpo e mente funcionou
para que atletas fossem vencedores;
Pessoas comuns se interessam no que
diz para a melhora da qualidade de vida;
Ter qualidade de vida é fácil e está ao
alcance de todos.
Jornalista;
Escritor.
A experiência de um esportista serve para gente comum, que
deseja simplesmente praticar exercícios? Sim (...). Assim
como (...) Fórmula 1 se transfere para os carros de passeio,
o trabalho com atletas é semelhante ao aplicado em gente
comum. Mudam as exigências de desempenho.
Gente comum pode se utilizar da
experiência de trabalho do atleta; Assim
como a tecnologia da corridas chega ao
cotidiano, o trabalho do atleta pode ser
adaptado para gente comum.
Jornalista;
Escritor.
Como é o método (...)? Os exercícios são conhecidos (...).
(...) em vez de (...) falhas (...) valorizo (...) desempenho. (...) o
sucesso fica evidente e a pessoa acaba se empolgando.
Os exercícios são os mesmos de
sempre, mas valoriza-se a melhora do
desempenho como fator de empolgação.
Jornalista;
Escritor.
Deve-se planejar o início de um programa (...)? Não. É para ir
e fazer. A prática é (...) mais fácil que a teoria. Ao se planejar
demais, entra em cena a imaginação, vem todo aquele
recalque e começa-se a achar que vai ser difícil. Aí, não vai
conseguir iniciar nada. É proibido pensar! É simples: não
pense muito. Comece a praticar um exercício e pronto.
Não se deve planejar ou pensar sobre os
exercícios e sim praticá-los; A prática é
mais fácil que a teoria; A teoria atrapalha
o início da prática; Não se deve planejar
ou pensar demais sobre os exercícios; é
proibido pensar.
Jornalista;
Escritor.
É simples: não pense muito (...). E depois, como tornar a
atividade física um hábito? (...) naturalmente. O prazer surge
com o tempo. (...) é preciso dedicação. A pessoa deve se
convencer de que a atividade física lhe trará saúde e investir
algum tempo nisso.
Não pense e faça; O hábito da atividade
vem naturalmente; O prazer vem com
tempo e dedicação; Devemos nos
convencer que a atividade trará saúde e
investirmos tempo nela.
Jornalista;
Escritor.
Mas qual deve ser o ritmo? Se pensar que terá de caminhar
todos os dias de sua vida, você nem vai começar. No início
(...) dias alternados (...). Em pouco tempo você vai acordar
querendo correr sempre, (...) porque é muito gostoso.
Se pensar que a atividade física é para o
resto da vida não começa a praticá-la; O
início tem que ser gradativo; Em pouco
tempo vai fazer porque gosta; Porque é
gostoso.
Jornalista;
Escritor.
(...) especialistas em fitness (...) repetindo que o importante é
a pessoa fazer o que gosta. Você concorda? Não existe isso.
A gente gosta do que faz. Não dá para gostar sem
experimentar. Envolva-se (...) necessidade de movimento.
A gente gosta do que faz, o importante é
experimentar vários esportes e não
apenas fazer o que se gosta; O
movimento é uma necessidade.
Jornalista;
Escritor.
(...). É que herdamos uma necessidade de movimento. No
passado (...). Nos últimos 100 anos (...) mudou (..). Só que
nosso corpo continua programado para o movimento. Se não
nos mexemos, a máquina humana se atrofia.
O movimento é uma necessidade
herdada que não estamos atendendo; O
corpo é uma máquina feita para o
movimento, que atrofia se não usamos.
Jornalista;
Escritor.
A obsessão (...) vitória ou (...) mudanças no corpo não é
prejudicial? Claro que é. E basta você querer (...) chutá-la pra
A busca pelo resultado nos leva a não
alcança-lo, por isso não devemos pensar
187
longe. Eu fiz muitos (...) campeões destacando a importância
do não pensar. (...), mas apenas em obter concentração. (...)
decorrência natural do envolvimento no trabalho. Dê o melhor
(...) e a vitória aparece. Isso se aplica ao alto competidor e à
pessoa comum.
a seu respeito; Os resultados vêm
naturalmente da concentração e da
aplicação, alcançados através do melhor
de cada um, regra que atinge o atleta e a
pessoa comum.
Jornalista;
Escritor.
É por isso que tanta gente desiste da ginástica? Sim,
principalmente em academias, porque ali a preocupação
costuma ser apenas estética. Daí o exercício se torna muito
agressivo. A conquista vem gradativamente. Você faz e se
empolga com as transformações. Sente-se bem, com mais
energia, além de ganhar fôlego.
As pessoas desistem da ginástica porque
pensam nos exercícios, muito agressivos
para quem só tem fins estéticos; O bem-
estar, com fôlego e energia, vem
gradativamente, a partir da prática e da
empolgação com as mudanças.
Jornalista;
Escritor.
Uma companhia nessas horas é importante? O mais
importante é o seu relacionamento consigo mesmo. Esportes
individuais proporcionam momentos grandiosos.
O mais importante é o relacionamento
consigo mesmo, que os esportes
individuais são bons em proporcionar.
Jornalista;
Escritor.
Por quê? Porque durante a caminhada (...) ocorre uma
meditação ativa (...) a pessoa se interioriza. Está errado
caminhar ouvindo música ou diante da televisão. A pessoa
precisa estar consigo mesma.
Há uma meditação ativa no exercício
individual em que a pessoa se interioriza;
A pessoa precisa estar consigo mesma e
não com a TV ou o rádio.
Jornalista;
Escritor.
(...) um instrutor é indispensável? Ele funciona como um
gatilho, mas é a própria pessoa a responsável por sua
conquista. (...) noto como o meu livro ajuda. Os leitores
puderam fazer, sozinhos, algo por si mesmos. Começaram a
praticar exercícios (...) sono (...) água (...). O método mostra
o caminho, mas o indivíduo precisa percorrê-lo.
A pessoa é responsável por sua
conquista e não o instrutor, que só ajuda;
O livro do escritor ajuda as pessoas a
mudarem suas vidas por si mesmas; Há
um caminho, mas a pessoa é quem tem
que percorrê-lo.
Jornalista;
Praticante
(escritor, 64).
Você segue tudo (...) no livro? (...). A minha rotina é a
seguinte: (...) saio do escritório (...) chego em casa. Aí medito
(...) alongo (...) um banho. Janto (...) visto o pijama. Depois
das 8 estou dormindo. Às 5 da manhã eu acordo, pois já
descansei por nove horas. Antes de sair da cama, me
espreguiço. Depois (...) alongamento, corro (...). Na volta
entro na piscina. Às segundas (...) pratico exercícios na barra
fixa. Adoro fazer oitavas, pois trabalhei muitos anos em circo.
Pode pegar no meu braço (...).
O escritor segue o estilo de vida que
defende, dando atenção especial ao
sono, alimentação e exercícios para
corpo e mente; Adora fazer um tipo de
exercício que remete ao seu passado no
circo.
Jornalista;
Praticante
(escritor, 64).
(...) Seu braço é muito forte. Quantos giros você faz? Eu dou
umas nove (...) São 20 minutos de pura satisfação. Com essa
rotina começo o dia bem e chego ao escritório matando.
O escritor consegue realizar o exercício,
que o deixa satisfeito, forte e bem
disposto para o trabalho.
Jornalista;
Escritor.
(...) escrevendo um (...) livro (...)? (...) dois. (...) contei a você
é (...) livro que (...). (...) preparando uma continuação (...).
O escritor vai lançar mais dois livros na
mesma temática.
Jornalista;
Escritor.
(...) garante que aplica os ensinamentos do seu livro (...).
Nele (...) destaca que a atitude positiva tem três alicerces:
sono, alimentação e atividade física, nessa ordem.
O guru aplica o que defende, a partir de
uma atitude positiva hierarquizada no
sono, alimentação e atividade física.
Jornalista;
Praticante (F)
(gerente, 37).
“Corro (...) por dia e fico inteira”, revela (...). Desde o ano
passado ela se exercita (...) com as instruções diretas do
mestre (...). “Já ultrapasso todo mundo na pista.”
A gerente corre 8 km diários e fica bem;
Exercita-se a partir dos ensinamentos do
mestre e já deixa todos para trás.
Jornalista;
Praticante
(fotógrafo,
27).
Depois de ler (...), passou a dar mais importância ao sono.
“Também estou buscando regularidade nos exercícios”,
conta (...) que, como o guru, pratica barra e corrida e ainda
faz abdominais.
Depois de ler o livro do escritor, passou a
dar mais importância ao sono e buscar
uma regularidade nos exercícios; Faz os
vários exercícios que o guru pratica.
Escritor. “Quando começam a aparecer as modificações físicas, eu
falo para meus pupilos: ‘Você está ficando você. Antes, você
era um massacre de você mesmo’.”
As modificações físicas revelam que a
essência dos indivíduos está voltando;
Antes os indivíduos eram piores.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 3
Periódico: Revista Saúde! – Maio de 2003 – Edição 236 – 67 páginas.
Título: O exercício dá proteção.
Total de páginas: 6 páginas.
Localização: página 54.
Autora: Priscila Boccia.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria foi a reportagem de capa do mês, afirmando com base
em novas pesquisas, que a atividade física regular faz um ajuste no sistema imunológico, deixando o corpo preparado para
resistir a doenças. As imagens da matéria mostram uma mulher realizando atividades físicas dentro de uma bolha, como se
estivesse isolada dos perigos do mundo exterior, além de ratos se exercitando em laboratório. No final da matéria, o leitor é
convidado a ler no site da revista a íntegra da entrevista com uma especialista em neuroimunofisiologista norte-americana.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista. Por dois meses, 40 ratinhos fizeram exercício diariamente (...)
numa simulação perfeita do que as pessoas fazem na academia.
Ratos doentes foram submetidos a
uma rotina de exercícios e também
188
(...) outros 40 roedores passavam os dias numa boa (...) muitos
seres humanos ainda insistem em levar. (...) todos esses bichos
tinham um tipo de câncer (...).
a uma rotina sedentária que muitos
humanos ainda insistem em levar.
Jornalista;
Pesquisadores;
Fisiologista;
Pesquisa
(ICB-USP).
O objetivo dos pesquisadores (...) era justamente avaliar o
impacto da atividade física moderada e regular na saúde de
portadores de câncer. O resultado foi além do esperado: as
cobaias malhadoras viveram o dobro do tempo. “Nelas o
crescimento do tumor ficou comprometido”, conta (...).
O impacto da atividade física
regular e moderada na saúde dos
ratos doentes, foi a duplicação da
expectativa de vida dos mesmos,
em virtude do controle da doença.
Jornalista. Estudos relacionando (...) exercícios à melhora na qualidade de
vida de pacientes não são novidade. Só que, quando se trata de
seres humanos, o bem-estar de malhar, a companhia dos
amigos, o contato com a natureza e até mesmo a fé de que
aquela atitude ajudará a combater a doença podem influenciar o
resultado positivamente. Aí fica difícil para os cientistas saber se
o exercício é capaz de ajudar, sozinho, sem nenhum aspecto
psicológico na jogada.
Estudos que relacionam a prática
de exercícios à melhora da
qualidade de vida não são
novidade; A pesquisa é válida
porque não corre risco de ser
contaminada pela subjetividade
humana.
Jornalista;
Fisiologista
(ICB-USP).
Ao contrário das pessoas, as cobaias não possuem sentimentos
nem são sugestionáveis. Os ratinhos nem ao menos têm
consciência de que estão doentes. Daí a prova de que o efeito
protetor contra o câncer também é fisiológico e deve-se a
mudanças metabólicas desencadeadas pelo movimento. As
pesquisas nesse campo indicam que a atividade física provoca
um ajuste benéfico (...), explica (...). Mais bem ajustado, o
organismo resiste eficazmente às doenças mais variadas – do
câncer à gripe, passando por micoses e afins.
A pesquisa com ratos é uma prova
de que os efeitos do movimento
sobre o câncer também são
fisiológicos; A atividade física
provoca um ajuste no organismo
que passa a resistir melhor às mais
variadas doenças.
Jornalista;
Pesquisa
australiana
(ACSM).
A ciência ainda precisa esclarecer por que a resistência do corpo
aumenta. É esquisito pensar que existe uma relação direta entre
praticar uma atividade física e ganhar um sistema imune mais
eficiente (...). Mas foi exatamente o que um trabalho (...)
constatou: o exercício, quando praticado com regularidade e num
ritmo agradável, diminui as chances de a pessoa pegar
infecções. O intrigante é que exagerar na dose provocava o
efeito contrário. Sim, os atletas, sempre às voltas com treinos
puxadíssimos, vivem com gripe, problemas respiratórios e até
mesmo hepatite.
A ciência ainda não sabe por que a
resistência do organismo aumenta;
O exercício regular e moderado
aumenta a resistência às doenças;
A dose exagerada de exercícios
causa o efeito contrário.
Jornalista;
Fisiologista
(ICB-USP).
A explicação para essa aparente incoerência (...). “Quem pratica
exercícios moderadamente tem as taxas dessa substância
constantes no sangue”, esclarece (...). Isso é ótimo, pois (...). O
problema é que o treino intenso faz os níveis (...) despencarem –
e aí a resistência cai junto.
Quem pratica exercícios
moderadamente tem bons níveis
de uma substância que ajuda na
proteção às doenças; O treino
intenso faz os níveis da substância
e a resistência caírem juntos.
Jornalista;
Fisiologista
(ICB-USP).
A saída para garantir apenas o bom efeito da malhação é pegar
leve ou, no caso dos atletas, partir para a suplementação. (...).
“Tomar esses suplementos evita a queda da substância e diminui
a incidência de doenças respiratórias.”
Deve-se moderar nos exercícios,
ou se for um atleta, fazer uma
suplementação alimentar; A
suplementação garante os níveis
da substância e previne doenças.
Jornalista. Entretanto, não pense que basta engolir algumas cápsulas para
melhorar a capacidade das defesas. O mecanismo é bem mais
complexo e ainda nem foi completamente elucidado. Por
enquanto sabe-se que o exercício provoca alterações (...) que,
por sua vez, influenciam o sistema imune.
O suplemento por si só não
garante a melhora das defesas; O
efeito dos exercícios moderados é
complexo e não foi totalmente
elucidado; Sabe-se por enquanto
que o exercício provoca alterações
no organismo, que influenciam o
sistema imunológico.
Jornalista;
Professora de
imunologia
(UEL);
Pesquisadores.
As células (...) justifica (...). A interação promove (...). Às vezes
esses rearranjos são imperceptíveis (...) sem que a ciência
conheça seus efeitos (...). O fato é que essa adaptação (...),
otimiza o funcionamento do sistema imunológico. Assim o
organismo conserta rapidamente qualquer desequilíbrio, seja ele
interno (...) ou externo (...).
Apesar da ciência desconhecer
todos os efeitos provocados pelo
exercício, a adaptação que ele
promove faz com que o organismo
conserte rapidamente qualquer
desequilíbrio, seja ele externo ou
interno.
Jornalista;
Especialista
(Neuroimuno-
fisiologista –
CU).
A atividade física atenuaria doenças auto-imunes. O exercício
pode livrar a pessoa de uma bela doença porque deixa a reação
do organismo mais rápida e certeira. “Já está provado que a
atividade física regular estimula (...), enumera (...).
A atividade física poderia atenuar
certas doenças; Está provado que
o exercício regular pode livrar a
pessoa da doença porque deixa o
organismo mais capaz de reagir.
Jornalista;
Professora de
imunologia
(UEL).
Mas o que significam todos esses nomes? (...) responde (...).
Fazem parte do grupo (...) substâncias com papel importante no
tratamento de males como a aids e a hepatite.
Certas substâncias estimuladas
pela atividade física regular têm um
papel importante no tratamento de
males como a AIDS.
Jornalista; (...) nome científico do popular anticorpo. (...) produzidos quando Certas substâncias estimuladas
189
Coordenadora
(FIOCRUZ);
Fisiologista
(ICB-USP).
um antígeno, uma bactéria ou vírus, por exemplo, está presente”,
informa (...). Enquanto as tais células (...) podem ser definidas
como assassinas profissionais. “Sabe-se que elas têm, inclusive,
capacidade de reconhecer e matar células tumorais”, ressalta
(...).
pela atividade física combatem
doenças como tumores.
Jornalista;
Cientista
(FAPESP).
Quando se fala em (...), mas o acerto de contas também pode
significar a diminuição da quantidade de algumas delas. É que o
vaivém de informações (...) provoca uma regulação constante.
“Costumamos comparar essa interação (...), diz (...). “Assim
como o sistema imune avisa ao cérebro sobre a presença de
uma doença e a necessidade de economizar energia, às vezes o
sistema nervoso manda as defesas serem mais econômicas.”
Há uma auto-regulação do
organismo que busca aperfeiçoar o
seu desempenho no sentido de
uma maior preservação de energia.
Jornalista;
Pesquisadores
(ICB-USP);
Fisiologista
(ICB-USP).
Foi esse efeito que (...) obtiveram em um novo experimento (...)
ratinhos portadores de artrite reumatóide. “Classificada como
auto-imune, a doença é provocada por um descompasso das
próprias defesas”, define (...). A confusão (...) causando (...). A
hipótese era de que a atividade física freqüente traria (...)
funcionamento normal – ou seja, nesse caso, (...). Deu certo.
Uma pesquisa com ratos comprova
que a atividade física freqüente
para essas cobaias ajusta o
sistema imunológico, combatendo
doenças auto-imunes.
Jornalista. (...) praticaram natação regularmente passaram a se mexer mais,
um sinal de que os sintomas se aplacaram. Num futuro próximo,
quando estudos com seres humanos comprovarem os benefícios
já encontrados nas cobaias, o exercício poderá ser receitado
como um medicamento capaz (...). Você pode se antecipar e
escolher uma atividade física agora, de preferência aeróbica,
como nadar, correr, caminhar, pular corda ou andar de bicicleta.
E lembre-se: não exagere, mas tente praticar sua opção todo dia.
A natação atenuou os sintomas da
doença auto-imune nos ratos, mas
ainda não está comprovado o seu
efeito nos humanos; Num futuro
próximo o exercício poderá ser
receitado como um medicamento
para doenças auto-imunes;
Devemos nos antecipar, escolher
uma atividade física aeróbica e
praticá-la todos os dias, mas sem
exageros.
Jornalista. Se a idéia é ganhar resistência imunológica, as modalidades
aeróbicas são as mais eficazes.
A resistência imunológica é
conseguida através de atividades
físicas aeróbicas.
Jornalista. Três vezes por semana podem ser o bastante para outros
benefícios. Para o sistema imune, não. O ideal é praticar um
pouco todo dia.
Existe uma periodização ideal da
atividade física para cada
benefício; Para o benefício
imunológico o ideal é praticar um
pouco todos os dias.
Jornalista. (...) regulação. O exercício moderado faz a fibra muscular liberar
(...). Os leucócitos utilizam essa substância como combustível.
(...), eles se multiplicam e trabalham mais.
O corpo tem determinados
mecanismos de regulação que são
otimizados pela prática da
atividade física moderada.
Jornalista;
Cientistas.
Muito além do bem-estar. A atividade física também provoca a
liberação (...) endorfinas, famosas pela sensação de prazer. Os
cientistas descobriram (...). A hipótese é de que a endorfina ative
essas células.
A atividade física causa não só
bem-estar pela sensação de
prazer, mas ajuda na proteção do
organismo.
Jornalista. Trabalho organizado. O corpo encara o exercício como um
estresse. Por isso (...) manda liberar cortisol no sangue. Esse
hormônio tem a capacidade de reorganizar o trabalho dos
leucócitos e também de diminuir a atividade deles, o que às
vezes é desejável.
O corpo percebe o exercício como
uma ameaça e se auto-regula.
Jornalista. Como é o ajuste nas células de defesa. (...). É uma célula
fagocitária (...). Ela também libera (...). O exercício aumenta a
atividade do macrófago e amplia suas funções.
O exercício aumenta a atividade de
certas células e amplia suas
funções de defesa.
Jornalista. (...). Predominante nas primeiras 24 horas (...), esse leucócito
induz a morte de agressores (...). Seis horas depois do exercício,
detecta-se um número de neutrófilos cinco vezes maior.
O exercício aumenta a quantidade
de certas células e substâncias
especializadas na defesa do
organismo.
Jornalista. (...). Há dois tipos: T e B. O primeiro (...). O segundo fabrica
anticorpos específicos. Durante o exercício, a proliferação de
linfócitos cai 25%, mas seis horas depois se normaliza.
O exercício altera a quantidade de
certas células e substâncias
especializadas na defesa do
organismo.
Jornalista. (...). São leucócitos (...). Durante a atividade física a quantidade
de células natural killers cresce 200%. Duas horas depois, esse
número cai pela metade.
O exercício aumenta muito a
quantidade de células e
substâncias que atacam bactérias
e células cancerosas.
190
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 4
Periódico: Revista Saúde! – Maio de 2003 – Edição 236 – 67 páginas.
Título: Invista nas caretas.
Total de páginas: 3 páginas.
Localização: página 62.
Autora: Thais Szegö.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria afirma com base em sete especialistas, que a ginástica
facial é uma boa opção para combater rugas e flacidez. As imagens da matéria mostram mulheres fazendo diversas
caretas. No final da matéria, o leitor é convidado a entrar no site da revista para aprender a fazer ginástica facial na hora de
aplicar a maquiagem.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista;
Profissionais;
Fonoaudióloga.
Ninguém duvida dos efeitos de um bom creme (...). Da plástica,
muito menos. Mas quando a pergunta é sobre as caras e bocas
na frente do espelho muita gente torce o nariz. À toa, diga-se.
Dos sete profissionais (...), sete concordaram que fazer caretas
todos os dias pode render uma bela surpresa na pele e nos
músculos da face. “Em três meses há uma melhora de 30% a
90% no aspecto”, garante (...). Ela fala com conhecimento de
causa. Vera aplicou a técnica em um grupo (...) e analisou os
resultados.
As pessoas não duvidam dos
benefícios de certos produtos e
serviços, mas questionam a prática
corporal; Há um consenso de
certos profissionais sobre os
benefícios das caretas diárias para
a pele e músculos da face;
Resultados profissionais em várias
mulheres mostram a possibilidade
de melhoras consideráveis em um
relativamente curto intervalo de
tempo.
Jornalista;
Esteticista.
Animado? Calma lá! Não adianta correr atrás de um livro de
exercícios, do tipo receita de bolo. O primeiro passo é procurar
um especialista. “O programa só funciona quando é
personalizado” (...). É que cada um de nós tem formas bem
particulares de movimentar o rosto. Uns arregalam (...), outros
(...) Essas repetições acabam marcando diferentemente a pele –
daí vêm as rugas de expressão.
Devemos procurar um especialista
e não buscar livros de exercícios
padronizados; O programa só
funciona quando é personalizado,
porque cada um de nós movimenta
o rosto de forma particular,
marcando diferentemente a pele.
Jornalista;
Fisiologista
(UNIFESP).
Uma das funções da ginástica facial é identificar os movimentos
nos quais (...), sem perceber, costuma insistir para (...),
desprogramar esse padrão. “Se for encarada como uma
reeducação das feições, ela poderá ajudar” (...).
Um dos objetivos da ginástica
facial é de identificar padrões de
movimento para desprogramá-los;
Ela poderá ajudar se for encarada
como uma reeducação das feições.
Jornalista;
Cirurgião
plástico
(SBCP).
O importante é fazer os exercícios lentamente, sempre na frente
do espelho. Aplique (...), faça (...) e você está pronto para a
sessão de caretas – que deve ser um ritual diário (...). Do
contrário, o esforço será em vão. Só nota a melhora na
aparência quem tem disciplina. “Os exercícios reforçam o tônus
muscular”, indica (...) que ensina a técnica em seu consultório.
Os exercícios devem ser feitos
lentamente; É necessário disciplina
e regularidade para que a prática
reforce o tônus muscular e a
aparência; A prática é ensinada no
próprio consultório do médico.
Jornalista;
Dermatologista
(SBD);
Fisioterapeuta.
A conseqüência é direta: um músculo firme acomoda melhor (...)
que, aliás, sai ganhando também por outro motivo. “A ginástica
ativa (...), acrescenta (...). Só não vale aumentar o número de
repetições por conta própria. “Esses músculos são delicados e
se passarem por um esforço exagerado podem acabar
fatigados”, alerta (...). Daí o tiro sai pela culatra.
A conseqüência positiva da
ginástica para a pele é direta; Não
se deve exagerar por conta própria
nas repetições para não causar o
efeito contrário.
Jornalista;
Dermatologista
(SBD).
Apesar de ser um recurso a mais (...), a ginástica facial não faz
mágica, muito menos quando o indivíduo não toma outros
cuidados. “Ela é um coadjuvante e não resolve casos muito
graves de rugas e flacidez”, pondera (...).
A ginástica facial não faz milagres
e depende de outros fatores.
Jornalista. Atenção! Se não forem bem orientados, os exercícios podem
lesionar (...).
Os exercícios podem lesionar as
pessoas se não forem bem
orientados.
Jornalista;
Praticante (F)
(Massoterapeuta,
42).
(...) começou a fazer (...) e não parou mais. “Depois de 30 dias
(...) boa melhora, mas foi no final (...) senti a grande diferença”,
relata. “Minha pele ganhou firmeza e as rugas se suavizaram.”
Começou a prática há quatro anos
e não parou mais; A pele melhorou
já após o primeiro mês, ficando
sem rugas e firme.
Jornalista;
Fonoaudióloga.
Os movimentos do dia-a-dia. Há um jeito certo de limpar a boca
(...). A (...), estudiosa da ginástica facial, revela como: Ao limpar
a boca (...). Ao mastigar use os dois lados da boca (...). Ao
dormir, tente (...) para não pressionar sempre a mesma face. E
nunca deixe (...). Não movimente exageradamente o rosto ao
falar (...). Não custa repetir: debaixo do sol use (...).
Há um jeito certo para realizarmos
os movimentos diários da face e
evitarmos padrões de expressão.
191
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 5
Periódico: Revista Saúde! – Junho de 2003 – Edição 237 – 71 páginas.
Título: Isso é postura de criança?
Total de páginas: 3 páginas.
Localização: página 52.
Autora: Thais Szegö.
Descrição da matéria: Localizada na seção Sua família, a matéria afirma que a ioga deixou de ser privilégio de gente
grande, ganhando cada vez mais adeptos na infância. Como resultado, a meninada está cada vez menos dispersiva e
agitada. As imagens da matéria mostram crianças em posições de ioga, além dos desenhos dos bichinhos que
correspondem às posições. No final da matéria, o leitor é convidado a aprender mais sobre a história da ioga no site da
revista.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista. (...) No meio da sala, o grupo de alunos está concentrado, com
olhos fechados e prestando atenção na respiração, enquanto
repete mântras em sânscrito. (...). Mas quem diria que, nessa
turma, existe quem mal tenha completado 3 anos? A ioga para
crianças não é uma novidade, mas é pouco difundida. Muitos
mestres reservam horários especiais para o público mirim, (...).
A aula é caracterizada de acordo
com sua cultura; Feita por
crianças; A ioga para crianças não
é novidade no Brasil, mas ainda é
pouco difundida; Falta incentivo.
Jornalista;
Professora
de ioga.
A dinâmica das aulas é parecida com a dos adultos. Ou seja, elas
(...) e, nesse tempo, praticam-se exercícios de respiração,
relaxamento e posturas – só que estas, muitas vezes, com a ajuda
de acessórios como almofadas. O que muda pra valer é a
linguagem (...). “As posturas da ioga são inspiradas na natureza,
então digo que eles vão fazer a cobra, o sapo ou a árvore”,
exemplifica (...). “Na hora do relaxamento conto histórias. Assim
consigo prender a atenção por mais tempo”, relata. “Mas é preciso
respeitar o humor da criança. Se ela não está com vontade de
ficar em uma posição naquele dia, não insisto.” Quem topa a
brincadeira, no entanto, só sai ganhando.
Os exercícios são adaptados para
as crianças, principalmente em
relação à linguagem utilizada, que
remete a elementos da natureza; A
professora respeita a
individualidade e o momento de
cada criança; Quem faz os
exercícios só tem a ganhar.
Jornalista;
Professora
de ioga.
Na Índia a ioga costuma fazer parte das aulas de Educação Física.
Todos garantem que a prática do sistema milenar indiano não tem
contra-indicação, mas não há um consenso sobre a idade mínima
para começar a prática da ioga. Muitos mestres falam em 5 anos,
outros aceitam crianças bem menores. Conforme o tempo vai
passando, claro, a forma de ensinar muda. “Com os alunos de 11
anos já dá para falar em anatomia”, diz a professora (...). Ela nota
que o desempenho na escola melhora bastante com a prática
regular. “Talvez porque ajude a desenvolver a concentração”, diz.
Além desse efeito notável, a meninada fica mais calma e também
passa a respirar melhor.
A ioga faz parte da Educação
Física na Índia; Não se vê contra-
indicações na prática milenar da
ioga, mesmo sem um consenso da
idade a se começar; Noções de
anatomia podem ser inseridas
conforme a idade; A prática regular
traz benefícios ao rendimento
escolar, possivelmente em razão
da melhora da concentração; É
boa para o comportamento infantil
e o funcionamento do organismo.
Jornalista;
Professora
de ioga e
empresária.
Consciência corporal. (...) só começou a dar aulas para crianças
há dois meses. É bem verdade que prefere ensinar os maiores de
7 anos, mas está adorando a experiência. “A gente observa que,
nesse período de tempo, eles já adquiriram muito mais
consciência corporal”, conta, animada.
A professora prefere ensinar ioga
aos mais velhos, mas está
gostando de ensinar às crianças; A
ioga proporciona uma maior
consciência corporal.
Jornalista;
Professora
de ioga.
Na opinião de (...), as posições ajudam a criança a perceber seus
limites, ao mesmo tempo que aumentam sua autoconfiança. Outro
enorme benefício é educar o corpo para ter uma boa postura – um
investimento e tanto para o futuro.
A ioga proporciona a percepção de
limites, aumento da autoconfiança
e educa para uma boa postura,
ótimo investimento para o futuro.
Jornalista;
Praticante
(Mãe, 5, F).
A (...), que (...), tem 5 anos e faz ioga há quatro meses. “Ela gosta
de mostrar as posturas em casa”, diverte-se (...).
A criança gosta de mostrar as
posturas em casa.
Jornalista;
Praticante
(Mãe, 5, F).
Os pais de (...) ensinam ioga. Foi natural para a menina começar a
ter aulas (...). “Por isso ela tem tanta energia”, acredita (...).
A criança começou a praticar ioga
por causa dos pais; Ela tem
energia por causa da ioga.
Jornalista;
Praticante
(Mãe, 3, F).
Pequena e decidida (...) viu uma aula de ioga na tevê e disse que
gostaria de aprender aquilo também. “Foi ótimo. Ela sofria de
bronquite e hoje está muito melhor”, nota (...).
A televisão influenciou a criança a
praticar ioga, que a fez melhorar da
bronquite.
Jornalista;
Professora
de ioga,
empresária e
praticante
(Mãe, 1, M).
Ioga no berço. Em (...), até recém-nascidos podem entrar na aula,
depois que uma das donas, a professora (...), iniciou uma
experiência bem-sucedida com seu filho (...), hoje com quase 1
ano. No começo, a mãe repete posturas segurando (...). Aos
poucos, vai induzindo seu corpinho (...). E, quando a criança já
engatinha, a presença materna é praticamente dispensada: por
imitação, o bebê encara exercícios leves. “A prática deixa a
criança sossegada, livre de cólicas e de gases”, garante (...). O
telefone da escola é (...).
Até recém-nascidos podem praticar
a ioga; A mãe ajuda a criança a
fazer os movimentos até quando
ela passa a engatinhar e a imitar
exercícios leves; O bebê, que
começou a prática por causa da
mãe, professora, deixou de ter
cólicas, gases e de chorar.
192
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 6
Periódico: Revista Saúde! – Junho de 2003 – Edição 237 – 71 páginas.
Título: Um diabético campeão.
Total de páginas: 4 páginas.
Localização: página 60.
Autora: Gabriela Cupani.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria apresenta um atleta diabético que acaba de ganhar a
medalha de bronze no meio Ironman e que conseguiu contra a doença sua vitória mais importante. Para o atleta, o Triatlo é
uma prova de superação das próprias limitações. As imagens da matéria mostram o atleta em ação, exibindo suas
medalhas e verificando a glicemia do sangue na bicicleta adaptada para que ele não perca tempo na prova e controle a taxa
de açúcar. No final da matéria, o leitor é convidado a entrar no site da revista para saber dos benefícios do esporte para o
diabético e para contar ao fórum do site se acha que os diabéticos sofrem preconceitos.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista. Já fazia semanas que (...) andava cansado, se sentindo
estranho. Cinco quilos mais magro, (...), sem pique para pular
o Carnaval, acabava de ter um resultado desastroso em uma
competição de triatlo (...) por trás de seus males: a taxa de
glicose no sangue, (...), beirava os 226. E foi desse jeito que
(...) descobriu que tinha se tornado (...) de diabete tipo 1.
A doença alterou o organismo e o
atleta se viu limitado nas
competições e na vida social.
Jornalista. A doença, capaz de tirar o doce da vida de qualquer pessoa,
pode impor barreiras imensas para um atleta. Ou, melhor,
poderia. Em vez de brigar com ela, como é muito comum,
Vinícius tentou entender o problema, leu tudo a respeito,
descobriu atletas de elite diabéticos e concluiu que dá para
levar uma vida perfeitamente normal – apesar (...). A prova
são os três pódios (...) competindo, é bom lembrar, com gente
sem o problema. E ele ainda quer muito mais.
A doença pode ou não ser um
obstáculo para qualquer pessoa,
inclusive para o atleta; Em vez de
brigar com a doença, como é
comum, conheceu-a e viu que
dava para conviver normalmente
com ela, inclusive como atleta de
elite; Ganhou campeonatos
competindo com pessoas sem o
problema e quer mais.
Jornalista;
Endocrinologista.
Não há receita para conviver com a doença. Cabe a cada um
encontrar a sua (...). Mas a vontade de se profissionalizar
cresceu e deixou a doença léguas atrás – uma prova de que
as dificuldades são criadas por nossos próprios fantasmas,
como bem lembra (...). Ele o acompanha praticamente desde
o diagnóstico e, juntos, formam uma dupla perfeita. Ninguém
melhor do que um médico (...) entender a ambição do jovem.
Cada um deve encontrar sua
receita para conviver com a
doença; Praticava desde a
infância; As dificuldades são
criadas por nós mesmos; A
vontade de competir deixou a
doença para trás; Acompanhado
por um médico.
Jornalista. Hoje é Vinícius quem manda na doença, e não a doença nele,
mesmo com as dificuldades que ela insiste em trazer. Afinal,
são (...). Manter o açúcar nos eixos é vital para qualquer um,
ainda mais para um atleta: o sangue (...). Em falta,
simplesmente não há energia para (...) treino (...).
Hoje é ele quem manda na doença
e não o contrário, mesmo com as
dificuldades que ela trás; Cotidiano
muda; Doença limita; Treinamento
com muito esforço.
Jornalista. (...) acabou desenvolvendo uma sensibilidade especial para
identificar a quantas anda o açúcar e tem estratégias de
enxadrista para pôr tudo nos eixos (...). Detalhe: tudo sem
parar. O medidor de glicemia (...) para qualquer emergência.
Parece loucura, mas ele garante que hoje virou uma rotina
como escovar os dentes.
O atleta desenvolveu uma
sensibilidade maior do corpo em
relação à doença; As novas
exigências que a doença impôs
viraram rotina.
Jornalista. É claro que nisso tudo há uma tremenda força de vontade (...).
Até porque, ali, guarda um laço fortíssimo: seu próprio
treinador, que o acompanha via e-mail.
É preciso muita força de vontade e
otimismo para ser um triatleta
nessas condições.
Jornalista;
Praticante (M)
(Triatleta).
Não dá para dizer que a vida melhora com a doença, mas o
incorrigível otimista ainda consegue ver um lado bom nela.
“Não sei se estaria buscando tanto meus objetivos como
agora” (...). “Preciso de muita disciplina e o diabete me obriga
a isso, fica ali, cutucando.” Até sua família (...). Também não
dá para dizer que seu dia-a-dia piorou com o distúrbio. “Não
mudou nada que eu tenha notado”, garante (...). De vez em
quando dá até para abusar e tomar uma cervejinha.
Não dá para dizer que a vida é
melhor com a doença, mas dá para
enxergar nela uma positividade
para a vida, além de afirmar que a
vida é normal e não piora; A família
ajuda no cotidiano do atleta; A
doença faz ele lembrar que precisa
ser disciplinado.
Jornalista. (...) sua meta (...) recorde (...) Ironman (...). Para quem (...) é
uma realidade bem próxima. No futuro (...) representar o Brasil
(...). É impossível não concordar (...) que não há obstáculos
para quem não se sente limitado (...) palavra desconhecida
(...) Por isso tem tudo para conseguir. Estamos torcendo!
A meta é vencer novas
competições; Prova com esforço
enorme; Não há obstáculos para
quem não se sente limitado.
Jornalista. Um segredo é ter alguém em quem se espelhar. Vinícius
achou motivação em outros atletas de elite diabéticos.
Existem outras pessoas na mesma
situação, nas quais se espelhou.
Praticante (M)
(Triatleta).
“Fiz do diabete um desafio, vi que perto das outras doenças
não é nada”.
Percebeu que a doença não era
tão limitante quanto outras e a vê
como um desafio.
193
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 7
Periódico: Revista Saúde! – Julho de 2003 – Edição 238 – 67 páginas.
Título: RPG: o corpo no eixo.
Total de páginas: 6 páginas.
Localização: página 28.
Autora: Gabriela Cupani.
Descrição da matéria: Localizada na seção Medicina, a matéria foi a reportagem de capa do mês, afirmando que a
reeducação postural global alivia as dores nas costas ao cortar pela raiz o mal da má postura, responsável pelo
desalinhamento dos músculos. As imagens da matéria mostram alguns pacientes da técnica, além de uma mulher
executando as posições da RPG. No decorrer da matéria, o leitor é convidado a participar de um bate-papo sobre RPG no
site da revista, além de conferir detalhes da pesquisa paulista que confirma os bons resultados da RPG contra a dor nas
costas.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista;
Presidente
(SBRPG).
Há quem diga que o mundo está dividido entre quem sofre de
dor na coluna e quem ainda irá sofrer. A fatalidade é
provocada por horas em frente à tevê ou ao computador (...).
“O homem virou Homo sentadus”, brinca (...). Brincadeiras à
parte, a inércia é reconhecidamente um convite à má postura.
E a má postura...
Todos irão sofrer da coluna; O
sedentarismo é causa da má
postura e consequentemente das
dores de coluna.
Jornalista;
Pesquisa
(UNIFESP);
Fisioterapeuta.
Forçados em posições estranhas, os músculos se travam (...).
Daí é só uma questão de tempo para surgir a dor. O que a
RPG busca é corrigir a musculatura (...). Nesse aspecto, seus
resultados são excelentes, como mostra (...), a qual comparou
seus efeitos com os da fisioterapia clássica. A reeducação
postural se mostrou mais eficiente (...) derrotar o sofrimento
como em evitar dolorosas recaídas. Há mais de 20 anos (...),
seu criador, vem apregoando esses benefícios, apesar da
rigidez de alguns colegas insatisfeitos com a falta de
investigações científicas, o que hoje começa a mudar.
Os músculos não trabalham direito
em função das posições
assumidas; A RPG busca corrigir a
musculatura, eliminando a causa
do problema; A RPG é mais
eficiente que a fisioterapia clássica
no tratamento e na prevenção;
A RPG sofria resistências pela falta
de comprovação científica, não
sofrendo mais.
Jornalista. (...) São apenas oito – e aqui você vê quatro delas. O segredo
é praticá-las com orientação, capricho e calma.
São poucas posições;
Devem ser praticadas com
orientação, capricho e calma.
Jornalista. Sem apoio e com tudo no lugar – do queixo ao dedão do pé,
cada pedaço é ajustado pelo especialista -, a posição trabalha
a musculatura que sustenta a coluna.
O especialista ajusta a posição.
Jornalista. (...). A idéia é trabalhar os músculos da parte da frente do
corpo e a respiração. Não é moleza ficar assim com os pés
completamente grudados e com a coluna inteira no chão por
vários minutos.
Não é fácil ficar na posição.
Jornalista. Simples, mas executada à beira da perfeição em matéria de
postura, esta posição também treina o equilíbrio.
Posição é boa para postura e
equilíbrio.
Jornalista;
Paciente
(Professor de
biologia, 60).
Há três meses (...) começou a sentir dores terríveis no braço.
“Não conseguia nem me deitar, dormia sentado”, lembra-se.
(...), ele se viu travado. A culpa era de um nervo pinçado entre
duas vértebras. “Depois de algumas sessões de RPG
consegui sair da crise”, relata, aliviado.
Dor limitou o sono; Algumas
sessões de RPG acabaram com as
crises.
Jornalista;
Fisioterapeutas.
O método não trata só onde dói e, sim, o corpo da cabeça aos
pés. Não se surpreenda. Se você procurar um especialista em
RPG para acabar com aquela dorzinha no joelho, ele
examinará seus ombros com a maior concentração. A
recíproca é verdadeira. Essa é a chave do método. “Nosso
trabalho não é segmentado”, diz (...). Em outros métodos (...),
dá-se uma atenção especial à região que reclama de dor. No
início dos anos 1980 (...) se revoltou contra esse jeito de tratar
o corpo, assim aos pedaços, e resolveu propor uma nova
terapia.
O método trata o corpo como um
todo; O método não é segmentado
e não trata o corpo aos pedaços.
Jornalista;
Fisioterapeuta.
(...). A RPG leva em consideração que os músculos estão
interligados em cadeias. Como estão amarrados (...) é fácil
imaginar que um problema em princípio localizado vá aos
poucos se propagando. “Ao perceber uma pequena alteração
na postura, é preciso notar quais músculos passam por ali e
para onde vão”, explica (...). Ou seja, onde poderá terminar a
encrenca. “É comum o sintoma estar bem longe da origem”,
(...).
Os músculos do corpo estão
interligados.
Jornalista;
Especialista
(Professora –
FIC)
Um paciente tinha uma dor (...). “Até que o sujeito procurou a
RPG”, conta, (...). Ao seguir a trilha muscular do tormento, ela
percebeu que a verdadeira culpada era (...). Tombada para um
dos lados, a coluna acabou sobrecarregando mais uma perna
do que a outra. A pelve reagiu se deslocando, (...). Os últimos
Os tratamentos tradicionais não
funcionaram; As dores em um local
podem ser reflexo de problemas
em outro local.
194
atingidos? Os pés.
Jornalista;
Pesquisa
(UNIBAN).
(...) Por trás da postura fora de prumo podem estar desde
tensões emocionais até doenças orgânicas. Uma pesquisa (...)
com vítimas de tontura crônica constatou que (...). Tontas, eles
tendiam a deixar o pescoço rígido para não cair. E, desse jeito,
afetavam seus músculos.
A causa de certos problemas
podem ser os efeitos de outros
distúrbios emocionais e orgânicos.
Jornalista;
Pesquisador e
fisioterapeuta
(UNIFESP).
É a musculatura, (...) que sempre leva a pior. Até quando a
idéia é poupá-la, digamos. “Sem ter consciência, a gente
adota posições que aliviam determinadas dores e que, a longo
prazo, podem fazer mais mal do que bem”, explica (...).
A musculatura absorve os
problemas da pessoa;
Inconscientemente ajustamos o
corpo, mas isso também faz mal.
Jornalista. Poupar um músculo (...) significa sobrecarregar outro. É o
mecanismo de compensação. Músculos sobrecarregados, por
sua vez (...). Isso vai desgastando suas cartilagens. O pior é
que a gente só se lembra da má postura quando boa parte
desse estrago já está feita.
O mecanismo de compensação
sobrecarrega outros músculos;
Não temos consciência da má
postura.
Jornalista;
Especialistas
(Fisioterapeutas).
(...).O corpo fala – e conta tudo o que se passa em seu
espírito. Suas postura reflete emoções. Nenhum defensor da
RPG deixa essa relação em segundo plano. “O componente
emocional é muito importante”, frisa (...). “Os tímidos
costumam se fechar sobre si mesmos”, exemplifica. Ao
contrário (...). “Muitas vezes a postura está a serviço de uma
raiva ou de uma angústia”, observa (...). Segundo os
especialistas, é comum a pessoa despertar para o problema e
até mudar de atitude com a consciência corporal
proporcionada pela RPG.
O corpo fala e sua postura reflete
as emoções do espírito; A RPG
proporciona a consciência corporal
que pode fazer com que a pessoa
desperte para o problema.
Jornalista. (...). Estas são as quatro posturas restantes. Como sempre, é
preciso ter o terapeuta por perto. Basta um dedão fora do eixo
e dá tudo errado.
É preciso um terapeuta
acompanhando para não dar
errado.
Jornalista. Aqui as pernas estão no foco principal (...). Uma parte do corpo pode ser
enfocada.
Jornalista. Realizada com apoio, esta postura em pé trabalha
praticamente todos os músculos do corpo.
Postura trabalha e fortalece todo o
corpo.
Jornalista. Respiração e a parte interna dos braços são exercitadas – e
corrigidas nesta posição.
Posição corrige a respiração.
Jornalista. Ao se sustentar por algum tempo deste jeito, a pessoa
trabalha as costas e as pernas.
Posição precisa de um certo
tempo.
Jornalista;
Fisioterapeuta.
O tratamento alonga e fortalece músculos fora de forma. “Para
a RPG, o diagnóstico é uma verdadeira escavação
arqueológica”, compara (...). Na primeira consulta, o terapeuta
observa tudo: (...). No final, sabe direitinho o que está no lugar
certo e o que não está (...). “Ao puxar os fios musculares, vai
aparecendo tudo”, descreve Ângela.
A prática fortalece os músculos; A
condição do corpo facilita o
diagnóstico.
Jornalista;
Fisioterapeuta.
A partir desse panorama, o especialista traça um plano de
ação. Suas ferramentas são (...). Cada uma delas focando
determinados grupos ou cadeias musculares. O objetivo é
sempre alongar músculos rígidos demais e fortalecer os que
se encontram flácidos. Uma sessão é capaz de durar (...). É
que a RPG aposta na manutenção de cada posição por longos
20 ou 30 minutos. Eis outra diferença em relação a métodos
tradicionais de fisioterapia, que investem mais na repetição de
movimentos do que na sustentação da postura. “A gente
insiste em grandes alongamentos”, traduz (...).
A prática só tem oito posturas, mas
uma sessão pode durar mais de
uma hora; A RPG investe no tempo
da postura e não na sua repetição;
O objetivo é fortalecer os
músculos.
Jornalista;
Fisioterapeuta.
(...). Ficar do jeito certo por algum tempo seria a maneira de
ensinar o corpo. Para quem está de fora, parece fácil. Nada
disso. O terapeuta fica (...). “A gente ajusta o corpo o tempo
todo, mas não é um processo passivo para o paciente”,
esclarece (...). “Ele é deve internalizar a nova postura”,
arremata.
Ficar do jeito certo não é fácil e vai
sendo corrigido pelo especialista;
O tratamento não é passivo para o
paciente.
Jornalista;
Fisioterapeuta
(UNIFESP).
E, sejamos sinceros, as sessões podem ser doloridas e
cansativas. Por causa disso, nem todos se adaptam ao
tratamento. (...), até arrisca um palpite: “As mulheres se dão
muito melhor. Elas se abrem mais e evoluem mais depressa”,
nota.
As sessões podem ser doloridas e
cansativas, causando a desistência
de certas pessoas.
Jornalista. Para quem tem paciência, pode valer a pena. Os cerca de 800
especialistas no Brasil têm arrancado muita gente das salas
de cirurgia, às vésperas de operar a coluna. A reeducação
postural, de quebra, vem corrigindo os movimentos da
respiração e melhorando (...). Há ainda relatos de bons
resultados (...) existe a teoria de que a musculatura bem
ajustada contribuiria para os movimentos peristálticos das
Podem valer a pena para quem
tem paciência; A musculatura bem
ajustada ajuda outras funções do
organismo, evitando e resolvendo
problemas de doença.
195
vísceras durante a digestão.
Jornalista;
Fisioterapeuta
(UNIFESP).
“A RPG põe nossa máquina para trabalhar bem”, sintetiza (...).
Entusiasta, ele acredita que procurá-la deveria ser uma rotina,
como ir ao dentista. Detectar cedo qualquer mínimo desvio
pode ser a chave para entrar no seletíssimo grupo dos que
parecem ter as costas à prova de dores.
Com a prática a nossa máquina
trabalha bem; A prática deveria ser
rotineira.
Jornalista;
Paciente (F)
(Estudante de
enfermagem, 28).
A repetição de movimentos no computador e ao telefone
detonou dores (...). Tanto que ela se afastou do trabalho em
(...). Os efeitos da RPG foram mais do que alívio quase
imediato: a postura melhorou muito e as crises de asma e
bronquite sumiram. “Consegui benefícios que nem imaginava”,
diz.
A dor afastou a pessoa do
trabalho; Os benefícios da prática
tiraram a dor, asma e bronquite,
sendo maiores que o imaginado.
Jornalista. (...) A RPG é famosa por tratar os casos de hérnia de disco,
quando essas estruturas (...). Lordose (...), também podem ser
resolvidas ao longo das sessões. A reeducação corrige
desvios nos joelhos (...). Não cura, mas ajuda muito quem tem
artrite, (...) dores de cabeça crônicas e lesões causadas pelo
esporte.
Trata ainda hérnia e lordose; Não
cura mas ajuda a quem tem artrite
e outros problemas.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 8
Periódico: Revista Saúde! – Julho de 2003 – Edição 238 – 67 páginas.
Título: Hidroginástica funciona?
Total de páginas: 4 páginas.
Localização: página 58.
Autora: Priscila Boccia.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria questiona se a hidroginástica tem outros benefícios fora
os indiscutíveis efeitos de fortalecer o coração e ajudar a emagrecer, já que se tornou uma febre com um cardápio de novas
aulas que não pára de crescer. As imagens da matéria mostram felizes praticantes em atividade, além da biomecânica de
certos movimentos e o uso de novos equipamentos na piscina. No final da matéria, o leitor é convidado a entrar no site da
revista e verificar que desde a Antiguidade os movimentos na água já eram usados com finalidades terapêuticas.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista;
Fisiologista
(UNIFESP).
Imagine passar meia hora fazendo polichinelo. Cansativo? Sem
dúvida. Pense, agora, no mesmo exercício dentro da piscina. O
esforço parece bem maior... e realmente é. “Na hidroginástica, o
movimento é feito contra a resistência da água e, por isso, exige
mais vigor”, enfatiza (...). Ponto para a atividade: melhora o
sistema cardiovascular e ajuda a queimar calorias. Se o exercício
aquático do jeito convencional já é eficiente, dá para fazer uma
idéia dos benefícios proporcionados pela sua versão turbinada – a
esteira dentro d’água (...). Essa é a novidade (...) que promete se
espalhar pelas grandes academias das principais capitais
brasileiras. Que a hidroginástica é considerada uma atividade
física poderosa, portanto, ninguém discute. A questão é saber se o
vale-tudo promovido pelas academias, (...), de fato pode trazer
outras vantagens, como o ganho de massa muscular.
A prática é mais exigente na água,
tendo maior efeito na melhora do
organismo e queima de calorias;
Se a prática na água já é eficiente,
dá para imaginar os benefícios da
sua versão turbinada; Não se
discute a eficácia da atividade, mas
sim, as modificações promovidas
pelas academias; Novidade
promete se espalhar.
Jornalista. (...). Ao mergulhar, você se sente mais leve e flutua por causa do
empuxo, força contrária à gravidade que facilita os movimentos em
direção à superfície. Pelo mesmo motivo, é preciso fazer muita
força para afundar o corpo.
É preciso fazer muito esforço na
água.
Jornalista. Quanto maior a profundidade, mais intensa é a pressão (...). Com
o tempo, o aperto provocado pelo líquido na caixa torácica torna a
respiração mais eficiente. Durante o exercício, o retorno venoso é
facilitado.
O exercício na água deixa a
respiração mais eficiente.
Jornalista. A resistência imposta pela água é oito vezes superior à do ar. Isso
se deve ao atrito com o meio líquido, bem mais denso.
É preciso fazer muito esforço na
água.
Jornalista. A troca de calor com a água é quatro vezes mais rápida. Se a
temperatura da piscina estiver baixa (...), o organismo gasta mais
energia para se aquecer. Já a água quentinha melhora a
circulação e ajuda a relaxar, mas não elimina tantas calorias.
Na água fria o organismo gasta
mais energia e na água quente a
circulação melhora.
Jornalista. O que a hidroginástica pode fazer pelo seu corpo. Inspiradas em
modalidades de exercícios aeróbicos, as academias criaram aulas
lúdicas e animadas que jogaram por terra a idéia de que a
hidroginástica, inicialmente um método terapêutico, é uma
atividade própria apenas para a terceira idade. Revisitada, ganhou
nova dinâmica. Conheça as atrações do momento.
A hidroginástica não é só para a
terceira idade; Não só terapêutica
é revisitada.
Jornalista. Hidrolocal. Melhora a resistência muscular e enrijece pernas e
braços, por meio de exercícios com halteres, luvas e tornozeleiras,
Melhora a função e a aparência do
músculo.
196
semelhantes aos da ginástica localizada.
Jornalista. Acqua spinning. Simula trilhas (...) em uma bicicleta ergométrica
adaptada para a piscina. Dá condicionamento físico, mas faltam
estudos sobre lesões (na água as articulações ficam mais frouxas
e, com o movimento, o risco se agrava).
Imita a natureza; Melhora o
condicionamento físico, mas faltam
estudos sobre o que pode trazer de
ruim.
Jornalista. Hidropower. Exercícios de alta intensidade misturam (...). Usar
equipamentos de musculação específicos para o solo, prática
comum, é impróprio porque (...). O certo é usar acessórios para a
piscina. Ao contrário do que promete, não permite hipertrofia
muscular.
É preciso usar acessórios para a
piscina; Não propicia hipertrofia
como promete.
Jornalista. Hidrokick-boxe. Simula movimentos do boxe sem tocar os pés no
chão. Além de socos, tem muitos chutes do kick-boxe. Ajuda a
emagrecer, mas é preciso cuidado com os joelhos.
Ajuda a emagrecer, mas requer
certos cuidados.
Jornalista. Deep running. Com um colete flutuante preso à cintura, o aluno
simula movimentos (...). É uma aula aeróbica por excelência.
É uma aula aeróbica.
Jornalista;
Especialistas;
Pesquisador
(UFRGS).
(...). “A atividade física dentro d’água faz baixar a freqüência
cardíaca e a pressão arterial, o que é ótimo para hipertensos.” (...).
A atividade física na água abaixa a
freqüência cardíaca e a pressão
arterial, o que é bom.
Jornalista;
Pesquisa e
fisiologista
(UNIFESP).
“A hidro não promove hipertrofia muscular. (...) dosou os níveis de
creatina quinase (...) após as caminhadas na esteira convencional
e no modelo computadorizado para piscina. Na água, a circulação
dessa enzima foi 45% menor.” (...).
Não propicia hipertrofia muscular.
Jornalista;
Professora
de Educação
Física.
“Os exercícios só funcionam com a água na altura dos ombros.
Fuja das aulas com braços que se movimentam no ar.” (...).
É necessário certas condições
para atingirmos os benefícios.
Jornalista;
Praticante (M)
(Comerciante
/maratonista,
44);
Praticante
(Empresária,
36).
“Emagreci 7 quilos desde que comecei a andar na Aquafit – e sem
fazer dieta”, comemora (...), de 44 anos. Maratonista, ele se
exercita na esteira aquática duas vezes por semana para
complementar as corridas diárias no asfalto. Já (...), de 36 anos,
aderiu à malhação na água para aliviar as dores que sentia no
joelho. “Estou andando nela uma vez por semana, sem
problemas”, conta.
A prática emagrece sem
necessidade de dietas e alivia as
dores; É a complementação da
corrida no asfalto; É realizada
periodicamente toda semana sem
problemas.
Jornalista;
Fisiologista
(UNIFESP)
O aparelho que mergulhou. (...), testou a esteira aquática da
Aquafit e comparou o gasto energético (...). A conclusão foi a de
que, dentro d’água, a queima de calorias aumenta 140%. (...) a
perda é de 219 calorias.
A prática na água aumenta o gasto
energético.
Jornalista;
Pesquisa
(UFRGS).
Impacto, mocinho ou vilão? Nem uma coisa nem outra. Para quem
sofre de problemas articulares, o baixo impacto proporcionado
pelos exercícios aquáticos é positivo porque diminui o risco de
lesões e dores. As vítimas de osteoporose, porém, não têm muita
vantagem com a hidroginástica, já que (...) mostrou que a
atividade com saltos na piscina produz o mesmo impacto de uma
caminhada leve. Se a novidade se confirmar com novas
pesquisas, será mais um motivo para aproveitar os benefícios de
se exercitar na água.
O pouco impacto da atividade pode
ser bom para uns e ruim para
outros; Não existe tão pouco
impacto assim; É preciso mais
pesquisas para confirmar o
benefício.
Jornalista;
Praticante
(Engenheira,
30).
(...), de 30 anos, pratica hidroginástica há cinco anos. “É a única
atividade que me cativa”, diz ela. “Eu sempre desisto quando
tento outro tipo de exercício.” Aluna assídua, Priscila vai quatro
vezes por semana (...). “Faço aulas localizadas e deep running
para manter o peso”, revela.
Pratica há 5 anos porque é a única
prática que a cativa; Desiste
quando muda de prática; É
assídua; A prática ajuda a manter o
peso.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 9
Periódico: Revista Saúde! – Setembro de 2003 – Edição 240 – 71 páginas.
Título: Dos pés à cabeça.
Total de páginas: 6 páginas.
Localização: página 36.
Autora: Gabriela Cupani.
Descrição da matéria: Localizada na seção Medicina, a matéria foi a reportagem de capa do mês, afirmando que um
trabalho científico prova os efeitos terapêuticos da massagem nos pés, sobre diversos males. Afirma ainda, que você
mesmo pode se massagear para reduzir tensões e revigorar o organismo e que em certos países desenvolvidos a técnica
faz parte do sistema de saúde pública. Outra afirmação que faz, é de que na reflexologia há um lugar certo para cada
estrutura e órgão do corpo, mas que nem todos estão nos dois pés. As imagens da matéria mostram pessoas se
massageando, pacientes satisfeitos, seqüências de massagens nos pés, além de um mapa da reflexologia do corpo nos
pés. Ao final da matéria, o leitor é convidado a saber mais sobre os benefícios da reflexologia no site da revista.
197
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista. O corpo fala. E são os pés que contam tudo (...), eles refletem o
que existe guardado no seu interior (...). E, como uma velha
fotografia, também registram marcas passadas. (...) a ciência
começa a comprovar o que os orientais observavam há mais de 4
mil anos: todos os órgãos estão inscritos na planta dos pés e, por
isso, a massagem em pontos específicos tem efeito terapêutico.
O corpo reflete o que está ou
esteve no seu interior, seja físico
ou emocional; A ciência começa a
comprovar o que orientais sabiam
há 4 mil anos; Os pés são um
espelho e por isso a massagem em
certos pontos tem efeito
terapêutico.
Jornalista;
Pesquisa
(UNIFESP).
(...) a absoluta falta de pesquisas deixava no ar certa dúvida sobre
a eficácia do método, batizado de reflexologia por aqui. Um estudo
recém-publicado, porém, mostra pelo menos um resultado
espantoso: a massagem conseguiu normalizar a pressão arterial
em grávidas hipertensas. Além disso, os bebês dessas pacientes
nasceram em melhores condições (...) em relação aos de
mulheres com pressão alta que não passaram pelas sessões (...).
A falta de pesquisas científicas
colocavam a prática em dúvida;
Estudo mostra que a massagem
normalizou a pressão de grávidas
hipertensas e seus bebês
nasceram em melhores condições
do que os das que não fizeram.
Jornalista;
Pesquisa
(UNIFESP);
Terapeutas.
A pesquisa, feita dentro do maior rigor científico (...), dá respaldo
ao que terapeutas especializados em reflexologia constatam todos
os dias (...) toques certeiros ajudam a tratar males tão diversos
quanto hipertensão, enxaqueca, gastrite ou miomas.
Pesquisa rigorosa confirma o que
os especialistas já sabiam; Os
toques ajudam a tratar males
diversos.
Jornalista. A massagem provoca mais do que um simples relaxamento.
Qualquer toque, feito com jeito e carinho, funciona como uma
verdadeira terapia, capaz de confortar a alma e trazer bem-estar.
O que faz dos pés um local privilegiado (...). Foi por acaso mesmo,
na base da observação, que os precursores da técnica notaram
que um apertão aqui provocava uma resposta acolá. Assim,
descobriram a tal ação reflexa. Após tentativas e erros, os mapas
foram delineados. Uma curiosidade: a geografia dos pés
descoberta no século passado mostrou-se muito similar à
conhecida pelos orientais dois milênios antes de Cristo.
É mais do que relaxamento e
prazer; Terapia que conforta a
alma e traz bem-estar; A técnica
surge de observações; Existe uma
ação reflexa acionada pela
massagem, do tipo estímulo-
reposta; A prática é similar a uma
técnica milenar.
Jornalista;
Enfermeira e
pesquisadora
(UNIFESP)
O que ninguém explica ainda é o poder curativo desse tipo de
massagem. Acredita-se que ela (...). Também não se sabe ao
certo (...). O fato é que isso acontece – e por meio de sinais bem
visíveis (...). O consenso entre os especialistas é o de que não
nada de místico por trás dessas manifestações. “Trata-se de pura
neurofisiologia”, resume (...).
Ninguém explica o mecanismo de
cura e as conexões do corpo;
Acredita-se que o cérebro reage ao
estímulo; A cura acontece; Os
benefícios têm causas
neurofisiológicas e não místicas.
Jornalista;
Pesquisa
(UNIFESP).
Para os adeptos, a falta de explicações detalhadas não tira o
mérito da técnica. Os consultórios estão repletos de histórias de
sucesso – pacientes com câncer que passaram a enfrentar melhor
(...) ou, ainda, pessoas que se livraram de persistentes crises (...).
Claro, qualquer um pode se perguntar até que ponto esses
benefícios não são apenas fruto de um poderoso relaxamento –
efeito que ninguém discute. (...) veja os resultados de algo bem
mais palpável: a pesquisa comparou dois grupos de gestantes
hipertensas (...) e o ponteiro despencou apenas entre aquelas que
se submeteram à massagem.
Para os beneficiados a falta de
explicações não tira o mérito da
técnica; Apesar dos benefícios não
estarem explicados, eles
acontecem, como mostra pesquisa
recente.
Jornalista;
Presidente
(ANR).
A reflexologia funciona, mas não espere milagres. Pacientes
satisfeitos e dados científicos começam a pôr ordem em algo que,
à primeira vista, pode parecer sem pé nem cabeça. “É certo que
existe uma ação no organismo”, sublinha (...). Mas não se iluda:
ninguém ousa falar em cura. O que os resultados encorajadores
sugerem é que essa técnica milenar, capaz de aliviar sofrimentos
e ajudar o corpo a combater seus agressores, funciona como um
poderoso coadjuvante da Medicina tradicional.
A prática tem limites; Apesar da
ciência e dos praticantes darem
respaldo à prática, ela não cura; É
uma técnica milenar, coadjuvante
da Medicina, capaz de ajudar o
corpo a combater seus agressores.
Jornalista;
Terapeuta.
Seus efeitos podem ainda chegar à alma e atenuar problemas
emocionais, como ansiedade e depressão. “O método é capaz de
detectar desequilíbrios psíquicos e evitar que se transformem em
doenças”, completa (...). Mas o paciente jamais deve abandonar
as orientações de seu médico ou largar os remédios prescritos por
ele.
Pode atenuar problemas
emocionais e psíquicos, evitando
que se transformem em doenças;
O paciente não deve abandonar o
médico ou os remédios.
Jornalista. Como toda terapia, a reflexologia tem suas limitações. Desconfie
se o massagista prometer curas milagrosas, como (...). Da mesma
forma, é impossível fazer diagnósticos simplesmente observando
a planta dos pés ou dizer exatamente o que está acontecendo
com o órgão afetado. No máximo, um terapeuta sério e bem
preparado consegue enxergar alterações (...). Essa, aliás, é uma
forma de separar o joio do trigo: um profissional confiável apenas
sugere (...).
A prática tem limites; Desconfie de
curas e diagnósticos milagrosos;
Um profissional sério indica
exames complementares.
Jornalista. Para ter garantia de estar nas mãos certas, deixe o
constrangimento de lado e investigue a formação do massagista,
que deve incluir sólidos conhecimentos de anatomia e fisiologia.
O paciente deve investigar o
profissional; O profissional deve
conhecer anatomia e fisiologia; A
198
Fuja (...) de quem fez cursinhos de fim de semana. Ou, na melhor
das hipóteses, você sairá mais relaxado. E só. Na melhor das
hipóteses porque a massagem (...) pode ser um verdadeiro perigo
para grávidas ou para quem tem diabete, câncer e problemas
vasculares. É preciso ter certeza absoluta de que está entregando
os pés a um profissional competente.
massagem em vez de benefícios
pode trazer perigos para gestantes
e outros pacientes, por isso eles
têm que ter certeza absoluta da
competência do profissional.
Jornalista. Por aqui, os médicos ainda não estão muito convencidos desses
benefícios e raramente indicam a reflexologia como complemento
do tratamento. Os enfermeiros brasileiros estão alguns passos à
frente (...) a técnica se transformou em uma especialidade da
área, o que já permite expandir os cursos de formação dentro de
instituições sérias. Uma boa notícia para os mais de 5 mil adeptos
brasileiros que querem pôr os pés em terreno sólido.
Os médicos brasileiros não estão
convencidos dos benefícios da
massagem mesmo como
complemento; A técnica possui
cursos de formação sérios na área
da enfermagem; Existem mais de 5
mil adeptos no Brasil.
Jornalista. (...) 2500 A. C. (...) conhecem os efeitos terapêuticos da
massagem nos pés para tratar doenças e aliviar dores. (...) médico
americano (...) nota, por mero acaso, que, ao pressionar certos
pontos da planta, provocava um efeito anestésico em outras
regiões do corpo. (...) fisioterapeuta americana (...) aprofunda o
estudo das áreas reflexas e traça, na planta dos pés, um mapa de
todos os órgãos.
Outros povos já sabiam que a
prática tem efeitos terapêuticos,
ajudando no tratamento; Age por
uma ação reflexa; A prática é
fundamentada nos estudos das
áreas reflexas.
Jornalista. (...). De acordo com a milenar reflexologia, há uma correlação
entre a planta dos pés e as regiões do corpo
A prática é milenar; Há uma
correlação entre as regiões do
corpo.
Jornalista;
Paciente
(Publicitária,
42/Mãe, F,
5).
Para (...), 42 anos, a reflexologia trouxe alívio enquanto esteve
internada (...). A pequena Luísa também se beneficia com a
técnica. Ela nasceu prematura e com os pulmões comprometidos.
Por isso, (...) os pezinhos da menina (...) são massageados para
melhorar seu fôlego. “As sessões ajudam no tratamento”, (...).
Trouxe benefícios para o
tratamento de mãe e filha; Vem
sendo feita com sucesso por um
longo período.
Jornalista. (...). A massagem nos pontos do pé estimula (...). O estímulo viaja
até o cérebro (...). Estudos apontam a ativação na área ligada ao
órgão estimulado com a massagem. Avisado de que há algo
errado, o cérebro (...) acionaria mecanismos capazes de
reequilibrar os fatores responsáveis por distúrbios.
O corpo funciona por mecanismos
de estímulo-resposta comandados
pelo cérebro; Não se sabe ainda a
ação exata do organismo.
Jornalista. Aqui está o seu corpo inteiro. Nos pés encontramos todo o
corpo.
Jornalista. Trocando os pés pelas mãos. Elas, assim como as orelhas,
possuem muitas terminações nervosas. Mas os reflexologistas
preferem massagear os pés porque ali essas terminações são
bem mais numerosas.
Também nas mãos e orelhas
encontramos o retrato do corpo.
Jornalista. Ao alcance das suas mãos. Prepare-se. Escolha um lugar gostoso
(...). Certifique-se (...). Se quiser, use cremes (...). Massageie um
pé de cada vez e fique atento (...).
A massagem pode ser feita por
você; É preciso atenção na
postura.
Jornalista. (...). Segure o pé inteiro (...). Usando toda a mão, amasse-o como
(...). Explore toda a superfície e todos os seus cantinhos.
Massageie os pés de uma
determinada forma, com carinho.
Jornalista. (...). Suba até o tornozelo. Com a mão inteira, movimente (...).
Usando a ponta dos dedos, explore (...). Percorra (...).
Massageie os pés de uma
determinada forma.
Jornalista. (...). Mexa as articulações (...). Depois continue (...). Confie na
intuição e siga o caminho que as mãos encontram.
Massageie os pés de uma
determinada forma; Confie na
intuição.
Jornalista. (...). Localize no mapa dos pés na página 39 a região da coluna
vertebral e explore-a com apertões e cutucadas. Depois (...).
Trabalhe de forma mais profunda (...). Concentre-se na respiração.
Massageie os pés de uma
determinada forma, a partir do
mapa disponível; Concentre-se.
Jornalista. (...). Sinta a sensação de relaxamento e aproveite. Esparrame-se
(...) e faça o que seu corpo pede – deixe-o quieto ou se
espreguice, respirando (...).
Sinta o relaxamento e obedeça ao
seu corpo.
Jornalista;
Paciente
(Engenheiro,
51).
Há doze anos, religiosamente (...) é dia de reflexologia para (...). O
compromisso tem prioridade absoluta na agenda (...) de 51 anos,
que vive um ritmo de trabalho alucinado. “Tenho certeza de que,
se não fosse por isso, já teria infartado”, imagina ele, que só não
quis posar descalço para a revista.
A prática é feita há muito tempo,
sendo prioridade; O praticante tem
certeza que já teria enfartado sem
a massagem.
199
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 10
Periódico: Revista Saúde! – Setembro de 2003 – Edição 240 – 71 páginas.
Título: Olho vivo no professor.
Total de páginas: 3 páginas.
Localização: página 66.
Autora: Priscila Boccia.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria alerta para a competência dos profissionais de Educação
Física das academias, que pode colocar em risco a saúde dos alunos. A matéria afirma que o bom instrutor não larga o
aluno sozinho, porque sabe os riscos que os exercícios errados são para a musculatura, coluna e coração. Realiza uma
pesquisa em seis grandes academias do país sobre o registro dos seus professores, ouvindo a opinião dos alunos sobre os
mesmos. As imagens da matéria mostram desenhos de alunos em situação de esforço extremo, enquanto o professor
conversa descontraidamente com uma aluna. No final da matéria, o leitor é convidado a entrar no site da revista para
verificar se sua academia está dentro das normas.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista. (...) Assinale (...): malhar direito esculpe músculos e melhora a
disposição física e mental. Verdadeiro, claro. (...) as academias
sempre contam com professores bem preparados. Acertou
quem respondeu “falso”. (...) que malhador nunca teve motivos
para queixas do tipo (...) Sem querer generalizar (...) a vida não
é muito fácil para quem faz exercícios com um olho (...) e o outro
na saúde.
É evidente que o exercício é bom
para definição muscular e
disposição física e mental; Nem
sempre os professores são bem
preparados para cuidar da saúde
dos alunos.
Jornalista. Apesar dos avanços no universo do fitness (...), o
profissionalismo ainda engatinha. Tanto isso é verdade (...)
terminou o prazo para ex-atletas e professores práticos (...)
obterem registro no conselho (...). A anistia se encerra longos
cinco anos após a profissão ter sido regulamentada (...).
Os profissionais de Educação
Física estão aquém dos avanços
no universo do fitness; Os
profissionais de Educação Física
ainda são muito práticos, sem
conhecimentos específicos.
Jornalista;
Associação
(ACAD);
Presidente
(Confef).
Segundo (...), o número de alunos matriculados (...) é de (...). A
fiscalização, claro, não acompanhou o ritmo de crescimento. Há
(...) registrados (...), mas o próprio (...) admite não ter controle
(...). “Existem cerca de 12 mil academias no país, mas muitas
funcionam sem alvará”, reconhece (...).
O número de alunos cresce, mas a
fiscalização não; Não há controle
de todas as academias do país.
Jornalista;
Funcionário
(CREF).
(...) os conselhos fazem batidas e checam as reclamações
recebidas. (...) chegam cerca de 40 denúncias por semana (...)
relacionadas à falta de diploma. “Damos um mês para a
regularização”, afirma (...). “Passado esse prazo, encaminhamos
o caso para a Justiça.”
Os conselhos profissionais checam
as reclamações recebidas; As
maiores denúncias são por falta do
diploma.
Jornalista;
Diretor (FMU) e
presidente
(CREF).
Tanta preocupação (...) soa corporativista, mas (...). “Queremos
garantir segurança para quem pratica exercícios”, justifica (...).
Faz sentido. Quem se arriscaria a ser tratado por um médico
sem CRM?
A preocupação soa corporativista,
mas é justa por querer garantir a
segurança dos praticantes; A
preocupação faz sentido porque a
população não deve se arriscar
com profissionais não cadastrados
nos seus conselhos profissionais.
Jornalista;
Professor de
Educação
Física.
Ainda falta preparo adequado para o professor de educação
física. Quem tem diploma (...) estudou (...) fisiologia e anatomia
(...). O embasamento teórico faz diferença. “Um curioso dá aula
imitando (...), mas não os adapta ao aluno”, comenta (...).
Porém, diploma não é tudo. “Há mais de 250 faculdades no país
e a qualidade de ensino deixa a desejar”, avisa.
O professor de Educação Física
ainda não está preparado para
exercer sua profissão; A diferença
do profissional qualificado é ter
estudado disciplinas da área
biomédica; O professor tem que
adaptar a atividade ao aluno e não
imitar aulas prontas; O diploma não
é solução em virtude da situação
da educação superior no país.
Jornalista;
Chefe (SBC);
Diretor (USP).
Agora (...) está reivindicando o direito de prescrever exercícios.
“O professor entende de saúde, mas não conhece a doença”,
lembra (...). “Só o médico pode avaliar o risco (...) da atividade
física.” (...) discorda: “O professor está apto para analisar um
teste (...), mas precisamos de mais disciplinas (...) de
reabilitação, que pode aprofundar (...) sobre doenças”. Ou seja,
mesmo para quem tem diploma, pode faltar informação para
orientar quem tem algum fator limitante, como (...).
O professor de Educação Física
não está habilitado a prescrever
exercícios porque entende da
saúde, mas não da doença; Só o
médico pode avaliar os riscos da
atividade física; O professor de
Educação Física está apto a certos
procedimentos, mas tem que
aprofundar os seus conhecimentos
sobre a doença; Mesmo o diploma
não é garantia de uma prática
profissional correta; A prática da
atividade se torna um risco.
Jornalista. SAÚDE! Aderiu à fiscalização. A revista Saúde! se prestou a
fiscalizar as academias.
200
Jornalista;
Praticante
(Advogada, 26).
(...) “Eles estão sempre por perto, insistindo para que eu alongue
os músculos (...), mas nunca me orientaram sobre a freqüência
cardíaca.” (...).
Os professores alertam sobre os
alongamentos, mas não orientam
sobre a freqüência cardíaca.
Jornalista;
Praticante (F)
(Economista,
26).
“Os equipamentos são modernos, mas ninguém orienta direito.
Nunca me disseram para monitorar os batimentos (...) e não
tenho um treino (...) musculação. Chego e vou mexendo nas
maquininhas.” (...).
Os equipamentos são bons, mas
os profissionais não; Nunca
orientam o aluno sobre os
batimentos cardíacos; Não passam
um treino detalhado; Faço a prática
por conta própria.
Jornalista;
Praticante
(Advogada, 23).
“Cansei de fazer exercício de qualquer maneira e ninguém falar
nada. Acho que os profissionais, apesar de bem preparados,
têm uma certa má vontade.” (...).
Faço a prática por conta própria;
Os professores são bem
preparados, mas têm má vontade.
Jornalista;
Praticante (M)
(Jornalista, 25).
“Quando a gente entra na academia, as orientações são
razoavelmente claras. Depois (...) o professor esquecer o aluno.
Preciso pedir (...) ser atendido.” (...).
No início o professor acompanha,
mas depois deixa o aluno sozinho;
Precisa pedir para ser atendido.
Jornalista. O professor com boa formação faz questão de: Sugerir a
medição da freqüência (...) ensinar a monitorar os batimentos
(...). Recomendar a carga ideal e desestimular o aumento por
conta própria, sugerindo variações (...). Incentivar o
alongamento, antes e depois (...). Ensinar os movimentos
corretos (...), observando a postura (...) perto para corrigir
desvios.
O professor com boa formação é
aquele que ensina obre o
funcionamento do organismo e dos
exercícios; Enfatiza a moderação;
Desaconselha a mudança por
conta própria; Está sempre por
perto.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 11
Periódico: Revista Saúde! – Novembro de 2003 – Edição 242 – 67 páginas.
Título: Vá de bicicleta.
Total de páginas: 3 páginas.
Localização: página 54.
Autora: Priscila Boccia.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria afirma que pedalar é um santo remédio contra o cansaço
muitas vezes provocado por uma vida sedentária. Desafia o leitor a adotar uma bicicleta como meio de transporte, para
ganhar pique de vencedor. Aconselha o ciclista a nunca pedalar na contramão dos carros e a seguir o Código de Trânsito
Brasileiro. Apresenta os acessórios indispensáveis para pedalar com segurança. As fotos da matéria mostram um ciclista e
vários equipamentos para a prática do ciclismo, passando uma idéia de movimento em uma imagem desfocada pela
velocidade do tema. Ao final da matéria, o leitor é convidado a consultar no site da revista um guia para pedalar nas ruas
sem correr riscos.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista;
Especialista
(Médica do
esporte –
UDESC) e
presidente
(VIACICLO).
Se você encara a bicicleta apenas como (...) lazer,
precisa rever seus conceitos. “Ela é um excelente
meio de transporte”, defende (...). (...) entusiasta (...)
preside (...), entidade que (...) incentiva a população a
pedalar como forma de obter benefícios para a saúde,
mas também busca melhorar a infra-estrutura (...)
para os ciclistas transitarem com segurança.
Além de lazer, a bicicleta é um excelente
meio de transporte; Existe uma entidade que
incentiva a população a pedalar em busca de
saúde, além de buscar melhorias no trânsito
para os ciclistas terem mais segurança.
Jornalista;
OMS.
Não se trata de militância sem fundamento. (...)
promove uma campanha pela adoção da bicicleta no
dia-a-dia, com o objetivo de combater o sedentarismo
e a poluição (...). Em países como Holanda, (...)
deslocamentos (...) já são feitos sobre duas rodas (...).
Há uma campanha fundamentada pela
adoção da bicicleta no dia-a-dia, para
combater o sedentarismo e a poluição; Em
países desenvolvidos o deslocamento nas
cidades é feito muitas vezes em bicicletas.
Jornalista;
presidente
(VIACICLO);
Secretário
(ABRACICLO).
Por aqui a adesão à bicicleta ainda é tímida mas, ao
que tudo indica, tende a crescer. “São pequenos
grupos espalhados pelo país, como (...), conta (...).
Sem dúvida, poderia haver mais gente se
beneficiando das pedaladas. Segundo (...) a frota
brasileira chega a 48 milhões de bicicletas. (...),
dimensiona (...). O que falta mesmo é estímulo (...) a
bicicleta da garagem.
A adesão no Brasil é pequena, mas tende a
crescer, com mais gente se beneficiando das
pedaladas; A frota brasileira é grande,
faltando apenas estímulo para as pessoas
tirarem as bicicletas da garagem.
Jornalista;
Pesquisador
(CELAFISCS).
Pedalar, além de ser ótimo para a saúde, faz com que
você fique de bem com a vida. Antes de sair
pedalando (...), é bom tomar alguns cuidados.
“Primeiro certifique-se de que é capaz de conduzir a
bicicleta sem vacilar”, sugere (...). Só quem não se
desequilibra facilmente pode (...). Se esse não é o seu
caso, é melhor treinar em parques (...).
Pedalar é bom para a saúde, além de ser
bom para a vida; Antes de pedalar com
outros veículos, é preciso certos cuidados,
como ser capaz de conduzir a bicicleta sem
vacilos; Se não for o seu caso, treine em
parques.
Jornalista;
Secretário
(ABRACICLO).
Quando se sentir seguro para (...), percorra primeiro
pequenas distâncias (...). “Pedale no mesmo sentido
dos automóveis, (...) na faixa da direita”, ensina (...).
Depois, percorra primeiro pequenas
distâncias; Pedale no sentido dos carros e na
faixa da direita.
201
Jornalista. Uma dica importante: não tente acompanhar os
demais veículos. Ao contrário (...). (...) é de 15 km/h
superior à de carros (...). Nas distâncias (...), é o meio
de transporte mais rápido. (...) conduzir a bike sem
atropelos o livra dos congestionamentos, (...) fator de
estresse (...). (...) melhora sua qualidade de vida.
Não acompanhe outros veículos; Com
trânsito caótico, a bicicleta é mais rápida que
outros veículos, livrando do estresse dos
congestionamentos e melhorando a
qualidade de vida.
Jornalista;
Associação
(Bike Brasil);
Praticantes.
O grande inimigo do ciclista é (...) o trânsito (...).
Infelizmente ainda há poucas vias exclusivas (...).
Para evitar as armadilhas (...) São Paulo já conta com
um mapeamento (...). Em outras capitais, (...) podem
dar boas orientações. Logo você mesmo vai criar seus
próprios caminhos e tirar proveito desse democrático,
econômico (...), saudável meio de transporte.
O trânsito é o grande inimigo do ciclista e
existem poucas vias exclusivas para a
prática; Consulte um mapeamento de vias
alternativas na Internet e em outras capitais
se informe com praticantes; Você vai criar
seus caminhos e aproveitar esse
democrático, econômico e saudável
transporte.
Jornalista;
Praticante
(engenheiro,
24).
“Sempre que possível, vou de bicicleta”, afirma (...) 24
anos. (...) pelo menos duas vezes por semana pedala
até o trabalho. (...), são 30 quilômetros. “Assim que
chega à empresa, troca de roupa (...). A bicicleta fica
estacionada (...). “No meu antigo emprego fui proibido
(...) no elevador (...) precisei (...) um estacionamento”,
recorda-se. Mesmo assim saiu barato (...).
Sempre que pode, usa a bicicleta e vai pelo
menos duas vezes por semana até o
trabalho; Percorre 30 quilômetros e no
escritório muda de roupa e estaciona a
bicicleta; Mesmo quando teve que pagar para
estacionar ainda saiu barato.
Jornalista. Vale a pena pedalar porque (...), com esforço leve,
queima (...). O coração (...) funcionam melhor. (...) Os
níveis de pressão (...) abaixam. Em dois meses a
força (...) aumenta (...). (...) prazerosa e pode
combater (...) mau humor. Em pouco tempo você nota
os benefícios (...) incentivo e tanto. (...) trabalha os
músculos (...).
Pedalar vale a pena porque queima calorias
com esforço leve, fortalece órgãos
importantes, baixa níveis perigosos, aumenta
a força das pernas em pouco tempo, é
prazeroso e acaba com o mau humor, traz
benefícios em pouco tempo e trabalha a
musculatura.
Jornalista. Só a bicicleta não basta. O capacete (...) protege (...).
Verifique se (...). Você (...) reforçar a segurança com
(...) Para preservar os olhos (...) utilize. Instale pelo
menos (...). (...) controla melhor (...). As luvas
protegem (...).
É preciso além da bicicleta, certos
equipamentos e cuidados para proteção e
segurança.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO – MATÉRIA 12
Periódico: Revista Saúde! – Dezembro de 2003 – Edição 243 – 67 páginas.
Título: Lição de equilíbrio.
Total de páginas: 3 páginas.
Localização: página 58.
Autora: Priscila Boccia.
Descrição da matéria: Localizada na seção Seu corpo, a matéria questiona se o leitor já pensou em exercitar corpo e
mente ao mesmo tempo, afirmando que o lien chi tem esse poder, trazendo benefícios à respiração, músculos e
pensamento. As facetas dos movimentos da prática oriental são apresentadas em fotos de um médico e de uma terapeuta
praticantes. Ao final da matéria, o leitor é convidado a entrar no site da revista para conhecer os projetos que pretendem
difundir a prática.
Fontes Unidades de análise Núcleos de sentido
Jornalista;
Praticantes.
Já pensou em exercitar o corpo e a mente ao mesmo
tempo? Os movimentos do lien chi têm esse poder
(...). A modalidade oriental, ainda pouco conhecida
entre nós, melhora a respiração, aquieta o
pensamento e ainda ajuda a alongar os músculos.
Diferentemente de outras práticas, o lien chi
permite exercitar corpo e mente ao mesmo
tempo, garantem os adeptos; A modalidade
oriental, pouco conhecida aqui, traz
benefícios para a respiração, para o
pensamento e para os músculos.
Jornalista;
Fisioterapeuta
(UNIFESP) e
professor de
lien chi.
Respire (...), tranqüilize (...), gire (...). À primeira vista
(...) parece uma atividade relaxante, introspectiva. É
mais do que isso. Os gestos, aparentemente simples,
exigem um certo esforço. (...) diz (...) que há um mês
ministra aulas gratuitas (...). “Esses movimentos
estimulam novas áreas do cérebro e ampliam a
flexibilidade do corpo” (...).
Tranqüilize a mente; Os gestos do lien chi
são mais do que relaxantes e introspectivos,
exigindo um certo esforço; O lien chi é
oferecido de graça em certos parques de são
Paulo; Os gestos do lien chi estimulam o
cérebro e dão flexibilidade ao corpo.
Jornalista;
Praticante
(Médico).
(...) novidade entre os brasileiros, é uma das 4 mil
práticas corporais da Medicina tradicional chinesa.
“Todas buscam o equilíbrio energético”, diz (...) chi
significa energia vital. Os chineses acreditam que,
para ter boa saúde, é preciso deixá-la circular, livre,
por todo o corpo. Portanto, os exercícios ligados à
medicina desse povo ensinam o praticante a sentir e
controlar a energia. A expressão lien chi, aliás, pode
ser traduzida como “a arte de treinar a energia”.
O lien chi é novidade no Brasil, mas tradição
na China; As práticas corporais da Medicina
chinesa buscam o equilíbrio da energia vital;
Para os chineses a boa saúde é alcançada
deixando a energia vital circular livre pelo
corpo; As práticas corporais da Medicina
chinesa ensinam a sentir e controlar a
energia; Lien chi é a “arte de treinar a
energia”.
202
Jornalista;
Praticante
(Médico
acupunturista).
Para os orientais, corpo e mente estão intimamente
ligados. “Os gestos suaves acalmam o pensamento,
trabalham a respiração e a musculatura”, garante (...).
No início, repeti-los chega a ser um desafio (...). Nada
insuperável. E nem é preciso ter paciência de chinês
para ver os resultados – eles aparecem bem
depressa.
Para os orientais, corpo e mente estão
ligados; Os gestos do lien chi acalmam o
pensamento e trabalham o corpo; A prática é
difícil no início, mas nada insuperável; Não é
preciso ter paciência de oriental para ver os
resultados, que aparecem rápidos.
Jornalista;
Policial e
Praticante (M);
Praticante (M)
(Fisiologista).
“O bem-estar é imediato”, testemunha (...). Ele
introduziu (...) para aliviar o estresse e afastar as
dores corporais dos policiais. “Hoje, 20 militares
formados em Educação Física estão aprendendo essa
prática chinesa”, revela. “Nosso segundo objetivo é
capacitá-los para ensinar a população em parques de
todo o Estado.” (...) aprova a iniciativa. “É uma ótima
forma de melhorar a aptidão física com um exercício
leve e relaxante”, avalia.
O bem-estar provocado pelo lien chi é
imediato; Alivia o estresse e as dores dos
policiais; Os policiais estão sendo
capacitados para ensinar o restante da
população a prática chinesa; O lien chi é
ótimo para melhorar a aptidão física através
de um exercício leve e relaxante.
Jornalista;
Especialista
(Neurologista –
UNIFESP);
Praticantes.
(...) a coreografia chinesa está sendo praticada por
pacientes (...). “Até quem tem limitações físicas acaba
fazendo os movimentos sem muito esforço”, nota (...).
“Com o lien chi, a musculatura desses indivíduos não
se atrofia.” Animado com os resultados clínicos (...)
está adaptando a modalidade para a piscina. “A água
facilita ainda mais (...)”, explica. “Para alguns casos,
será a melhor opção.” Os adeptos (...) juram que
qualquer pessoa, independentemente da idade e da
condição física, pode experimentar (...). Que tal treinar
você também a sua energia?
A coreografia está sendo praticado por
pacientes com problemas neuromusculares,
que mesmo com limitações realizam os
movimentos sem muito esforço; A
musculatura dos pacientes não se atrofia com
o lien chi; O lien chi na água é mais fácil e
para alguns é a melhor opção;
Independentemente da idade e da condição
física, qualquer um pode treinar sua energia,
inclusive você.
Jornalista. A natureza serviu de inspiração para os movimentos,
que imitam animais, (...) árvores, (...) vento e (...)
água.
Os movimentos do lien chi imitam a natureza.
Jornalista;
Fisioterapeuta
(UNIFESP).
Meditação no final. A seqüência (...) a mais fácil (...)
termina com (...) meditação. “Assim eles aprendem a
esvaziar a mente”, explica (...). Já está provado que a
meditação é, de fato, um ótimo complemento,
aumentando ainda mais a eficiência respiratória e
diminuindo de vez a ansiedade.
A seqüência mais fácil termina com
meditação, para os praticantes aprenderem a
esvaziar a mente; está provado que a
meditação é um ótimo complemento, que
aumenta a eficiência da respiração e diminui
a ansiedade.
Jornalista;
Praticante (F)
(Terapeuta, 50).
“Eu me sinto viva, com mais ânimo”, relata (...), 50
anos (...). “No começo parecia que eu não ia
conseguir nunca, mas agora percebo uma melhora na
amplitude dos meus movimentos e na flexibilidade”,
diz ela, feliz.
A pessoa se sente viva e com ânimo; Faz a
pratica periodicamente; O começo é difícil,
mas depois há uma melhora nos movimentos
e na flexibilidade, diz feliz a praticante.
203
Anexo B – Tipos e fontes dos discursos
TIPOS DE
DISCURSOS
Mídia
Experiência Científico Profissional Comercial Político
Pesquisas
CELAFISCS;
UNIFESP (4);
UNIMONTE;
ICB – USP;
UNIBAN;
UFRGS.
Praticantes e
pacientes
Empresário
(32, M);
Escritor (64,
M);
Gerente
operacional
(37, F);
Fotógrafo (27,
M);
Mães de
crianças (5, 5,
3, 1, 5, M, F);
Massotera-
peuta
(42, F);
Triatleta (M);
Professor de
biologia (60,
M);
Estudante de
enfermagem
(28, F);
Engenheira
(30, F);
Empresária
(36, F);
Comerciante e
maratonista
(44, M);
Engenheiro
(51, M);
Publicitária
(42, F);
Advogada (26,
F);
Economista
(26, F);
Advogada (23,
F);
Jornalista (25,
M);
Engenheiro
(24, M);
Médico (M);
Médico
acupunturista
(M);
Policial (M);
Fisiologista
(M);
Terapeuta (50,
F).
Pesquisadores e
cientistas
ICB – USP;
FAPESP;
UNIFESP (2);
UFRGS;
CELAFISCS;
FIOCRUZ.
Profissionais
e
especialistas
Professor de
Educação
Física (3);
Professor de
ioga (4);
Professor de
lien chi;
Professor de
Esportes
radicais
(UNIMES);
Preparador
Físico;
Escritor;
Fisiologista
(6) (ICB –
USP/
UNIFESP);
Professora
de
imunologia
(UEL);
Neuroimuno
-fisiologista
(CU);
Fonoaudió-
logo (2);
Esteticista;
Cirurgião
Plástico
(SBCP);
Dermatolo-
gista (SBD);
Fisiotera-
peuta (8)
(UNIFESP);
Endocrinolo-
gista;
Professora
universitária
(FIC);
Terapeuta;
Enfermeira
(UNIFESP);
Diretor (2)
(FMU/USP);
Médica do
esporte
(UDESC);
Policial;
Neurologista
(UNIFESP).
Empresários
Surfe;
Ioga (2).
FONTES DOS
DISCURSOS
Jornalistas
Priscila
Boccia(7
matérias);
Gabriela
Cupani (3
matérias);
Thais
Szegö (2
matérias).
Associações
de praticantes
VIACICLO;
Bike Brasil.
Associações
científicas
ACSM.
Associações
profissionais
SBRPG;
ANR;
CONFEF;
CREF (2);
SBC.
Associações
comerciais
ACAD;
ABRACICLO.
Organismos
internacionais
OMS.
204
Anexo C – Núcleos de sentido
Representações
Quanto ao corpo
Sobre o que é o corpo
Corpo compreendido como uma máquina (essência biológica, natural e positiva) 4
Corpo compreendido como parte de um todo maior (músculos; emoções; espírito; mente) 10
Sobre como funciona o corpo
Através de ações reflexas e mecanismos de estímulo-resposta 6
Por mecanismos de auto-regulação 3
De forma particular 1
Não se sabe 2
Quanto à saúde
Sobre o que é a saúde
Saúde compreendida como qualidade de vida 1
Saúde compreendida como algo distinto da vida 1
Saúde compreendida como bem-estar 1
Saúde compreendida como ausência de doenças 1
Sobre a obtenção da saúde
Ter qualidade de vida é fácil e está ao alcance de todos 1
Obtemos a saúde através da circulação da energia no corpo 1
Quanto à doença
Sobre o que é a doença
Um evento limitante 3
Um evento não tão limitante (quanto outras doenças; quanto nós achamos que é; um desafio) 3
Sobre quem pode ter a doença
Atinge a todos 2
Sobre o que traz a doença
Traz também coisas boas (nova relação de sensibilidade com o corpo; atenção à vida) 3
Limitações (cotidianas) 4
Pode ou não trazer limitações 1
Nada além de uma vida normal (não piora a vida) 6
Sobre como enfrentar a doença
Não se sentir limitado (força; otimismo) 2
Tentar vencer a doença 3
Conviver com a doença (conhecer a doença) 5
Prevenir-se 1
Sobre quais são as causas da doença
Reflexo de outros problemas (emocionais; iniciados em outra parte do corpo; socioculturais) 3
Quanto às práticas corporais
Sobre o que é a prática corporal
Uma arte (de treinar a energia vital) 2
Um remédio 2
Uma técnica (terapêutica; de reeducação do corpo) 4
Um lazer (coreografia) 2
Um meio de transporte 3
Um estilo de vida (dentro de uma filosofia maior de práticas corporais) 2
Um exercício ou uma atividade física 21
Uma prática corporal (oriental) 1
Usos do corpo
Quanto ao esforço do corpo
Relativização do esforço do corpo (depende dos objetivos da prática corporal) 1
205
Valorização da moderação do esforço do corpo 18
Valorização do esforço elevado do corpo 9
Valorização tanto da moderação, quanto do elevado nível de esforço do corpo 1
Quanto à gestão do corpo
Investimentos a serem feitos (postura; movimentos corretos; consciência corporal; essência do corpo) 7
Comportamentos a serem evitados (sedentarismo; má postura; falta de consciência corporal; marcas na
pele; perda da essência)
9
Valorização da dedicação à prática corporal e ao corpo (investimento; concentração; aplicação; disciplina;
prioridade; insistência; regularidade; tempo)
32
Valorização de um estilo de vida baseado na articulação entre o corpo e as diversas práticas corporais
(filosofia de vida, atitudes, cotidiano)
8
Lógicas sociais e culturais
Quanto à prática corporal
Sobre as bases do conhecimento da prática corporal
Valorização da fundamentação que a prática corporal tem (novas técnicas, livros, observações) 8
Desvalorização das práticas sem bases científicas 1
Sobre a localização da prática corporal
Realizada em países desenvolvidos 1
È novidade no Brasil 3
Não é novidade no Brasil 2
Sobre as origens e as características da prática corporal
Milenar (faz parte da cultura de um povo) 12
Sofreu transformações (diferente do que era; revisitada) 3
Quanto à aprendizagem da prática corporal
A prática é aprendida nas aulas de Educação Física 1
A prática é aprendida fora do âmbito da Educação Física escolar 3
Valorização do aspecto gradativo da aprendizagem 3
Valorização da rapidez da aprendizagem 1
Respeito ao contexto da aprendizagem e à individualidade do aluno 11
Quanto à realização da prática corporal
Valorização da ação e da responsabilidade individual na realização da prática 7
Valorização de condicionantes externos para a realização da prática (orientação; médicos; especialistas) 14
Valorização da ajuda externa e da autonomia do indivíduo na realização da prática 2
A prática é para todos (atinge a todos) 10
A prática é para todos, desde que respeitadas algumas condições (treino; noção; adaptação; mãe) 5
A prática não favorece a passividade do aluno 2
A prática acentua a passividade do aluno (não pensar) 8
Necessidade de sentir e obedecer ao corpo (lentamente; tempo; calma; capricho) 9
Necessidade de se fazer de uma determinada forma 6
Cada um faz de uma maneira em particular (não padronizada) 3
Enfoca uma só parte do corpo 1
Trabalha o corpo em relação a um todo maior (mente; espírito; emoção) 9
É difícil de fazer (agüentar as posições) 4
É fácil de fazer (poucas posições; só é difícil no começo) 9
Tem coisas fáceis e também difíceis de se fazer 1
Relação com o corpo
Quanto aos riscos da prática corporal
Sobre a segurança da prática corporal
Totalmente segura 2
De alguma forma perigosa (necessidade de equipamentos; cuidados) 8
Sobre as condições para a realização da prática corporal
Valorização do diploma e do conhecimento para a atuação profissional (desvalorização da prática) 9
Valorização do conhecimento e das estratégias biomédicas para a atuação profissional 10
206
Desvalorização do diploma enquanto garantia de boa atuação (valorização da prática) 4
A sociedade não está preparada para que a prática seja realizada seguramente (profissionais) 16
A sociedade está preparada para que a prática seja realizada seguramente (cursos; pesquisas) 8
Quanto aos resultados da prática corporal
Sobre os resultados que a prática corporal traz
Traz somente benefícios 1
Traz vários benefícios ao mesmo tempo (corpo e mente; cura e prazer; proteção e prazer) 8
Pode trazer o efeito contrário do que se quer 4
Traz benefícios, especificamente para a saúde 8
Traz benefícios para o comportamento (não chorar; humor) 4
Traz benefícios sócio-econômicos (aprendizagem; economia; trânsito) 5
Traz benefícios psicológicos (prazer; bem-estar; relaxamento; satisfação; emocional) 10
Traz benefícios para a vida (qualidade de vida; expectativa de vida) 7
Traz a beleza do corpo (aparência; calorias; essência de volta) 15
Traz consciência corporal (limites; autoconfiança; postura; percepção) 3
Traz aptidão física e funcional 27
Traz desempenho pessoal (energia; disposição; sucesso; confiança; superação) 8
Traz soluções para a doença e suas conseqüências (proteção; prevenção; controle) 42
Sobre a eficácia da prática corporal
Depende de outros fatores (práticas; programa personalizado; acessórios; aplicação) 13
Funciona sozinha (conseqüência direta; causa e efeito) 4
Limitada (não cura mas ajuda) 8
Não faz o que promete (igual a outras) 3
A prática é mais eficaz do que se imagina (supera as tradicionais) 5
Possui uma variação de benefícios de acordo com certas condições (uso; periodização; individualidade) 6
Sobre a comprovação dos resultados da prática corporal
Comprovados (científico; indiscutível; profissional; usuários) 18
Não comprovados (discutíveis; resistência; desconhecido; pacientes; médicos) 12
Funciona por mais que não se saiba como (não tira o mérito; saber prático) 6
Sobre a rapidez dos resultados da prática corporal
Benefícios são rápidos 5
Benefícios são gradativos (paciência) 2
Motivação social
Quanto a adesão à prática corporal
Sobre a motivação para a adesão à prática corporal
Influência externa (meios de comunicação e informação) 1
Influência próxima (pais; ambiente) 3
É obrigação (faz obrigada; desiste quando muda) 2
Não é obrigação (gosta de fazer em casa; infância; tem significado; faz por que gosta) 8
Existem coisas que dificultam a adesão (exigência; ficar só; fazer só o que gosta; pensar; dificuldade) 4
Existem coisas que facilitam a adesão (gratuidade; facilidade; desempenho; diversificação; natureza) 9
Sobre a situação da adesão à prática corporal
A prática tem muitos adeptos (popular) 7
Adesão ainda pequena (falta incentivo; tem condições de crescer) 3
Quanto aos objetivos da prática corporal
Sobre os objetivos da prática corporal
O prazer (realizar; natureza; amigos; adrenalina) 7
Intervir no corpo (fins estéticos; saúde) 7
Equilíbrio (energia vital; poluição) 2
Não só a performance ou a exercitação 4
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Anexo D – Núcleos de sentido do discurso da experiência
A prática está inserida na vida do empresário de 32 anos, fazendo parte do seu cotidiano há 21 anos; Viaja para surfar todas
as sextas e só desiste quando não há outro jeito; O prazer da prática inclui ainda o contato com a natureza e o convívio com
os amigos, destaca; Além da prática em questão, faz outras práticas corporais, como correr, pedalar e nadar.
Professor de Educação Física de 64 anos segue de forma disciplinada a rotina do estilo de vida que defende, evitando o
stress do trabalho e priorizando sono, alimentação e exercícios para corpo e mente; Gosta de um tipo especial de exercício,
que além de deixá-lo forte, remete ao seu passado no circo; Após fazê-lo, rende mais no trabalho.
Gerente de 37 anos há aproximadamente um ano se exercita no parque, a partir das instruções diretas do mestre; Já faz os
exercícios indicados sem maiores problemas, correndo 8 quilômetros por dia e ficando bem, revela; Já deixa os outros para
trás na pista, comemora.
Depois de ler o livro do mestre, fotógrafo de 27 anos deu mais importância ao sono; Conta que busca também a regularidade
nos exercícios; Assim como seu mestre, faz vários tipos de atividades, como barra, corrida e abdominais.
Massoterapeuta de 42 anos começou a prática há quatro anos e não parou mais; Relata que a pele melhorou já após o
primeiro mês, ficando ainda melhor depois, firme e sem rugas.
Criança espanhola de cinco anos gosta de mostrar em casa as posturas da ioga que pratica há quatro meses, se diverte a
mãe ao contar o fato.
Criança de cinco anos começou a praticar ioga com um ano, por causa da decisão dos pais, que são professores de ioga;
Sua mãe acredita que ela tem energia por causa da ioga.
Criança de três anos viu aula de ioga na TV e quis aprender; Ela sofria de bronquite e após a prática ficou muito melhor,
observa e comemora a mãe.
Recém-nascido hoje com um ano, praticou ioga por causa da mãe, professora, numa experiência bem sucedida; A mãe
ajudou o filho no início, até ele imitá-la e conseguir fazer exercícios leves; A prática de ioga deixa o recém-nascido
sossegado, livre de cólicas e gases, garante a mãe.
Triatleta otimista não diz que a doença melhorou sua vida, mas vê uma positividade nela. Imagina se estaria buscando os
objetivos da sua vida como agora; Conta que a doença o lembra sempre da necessidade de ser disciplinado; A família o
ajuda no cotidiano; Garante que a doença não piorou em nada a sua vida, tão normal que ele até bebe uma cervejinha de
vez em quando.
Triatleta diz ter percebido que a doença não era tão limitante quanto outras e a vê como um desafio.
Há três meses com dores, professor de biologia de 60 anos lembra-se que viu sua vida limitada, não conseguindo dormir;
Depois de algumas sessões de RPG, saiu da crise, diz aliviado.
O trabalho da estudante de enfermagem de 28 anos trouxe dores que a afastaram dele; Os efeitos da RPG foram mais do
que um alívio quase imediato, fazendo com que ela melhorasse a postura e deixasse de ter crises de asma e bronquite;
Conseguiu benefícios que nem imaginava, diz.
Comerciante e maratonista de 44 anos comemora o fato de ter emagrecido sete quilos sem fazer dieta, se exercitando na
Acquafit duas vezes por semana, como complemento das corridas diárias no asfalto; Empresária de 36 anos aderiu à prática
na água para aliviar as dores no joelho. Conta que hoje anda na Acquafit uma vez por semana, sem problemas; Engenheira
de 30 anos pratica hidroginástica há cinco. Diz que é a única atividade que a cativa e que sempre desiste quando muda para
outra. Assídua, vai quatro vezes por semana à academia, revelando que faz localizada e Deep Runnig para manter o peso.
A publicitária de 42 anos se beneficiou do alívio provocado pela reflexologia, quando esteve internada por complicações na
gravidez; A filha de cinco anos, que nasceu prematura e com os pulmões comprometidos, também se beneficia da técnica
desde os nove meses, período em que os seus pés começaram a ser massageados, para a melhora do seu fôlego. As
sessões ajudaram o tratamento, observa a mãe.
Há doze anos, religiosamente, o engenheiro mineiro de 51 anos se submete à reflexologia. Compromisso prioritário em sua
agenda lotada. Sem isso, com certeza já teria infartado, imagina ele, que não quis posar descalço para a revista.
Advogada, de 26 anos, reclama que os professores estão sempre por perto, insistindo para que ela faça alongamentos, mas
que não orientam sobre a freqüência cardíaca.
Economista, de 26 anos, reclama que não é orientada direito, apesar da qualidade dos equipamentos da academia. Diz que
os professores não orientam sobre os batimentos cardíacos e não passam um treino detalhado de musculação, de maneira
que ela entra na academia e faz os exercícios por conta própria.
Advogada, de 23 anos, reclama que faz os exercícios por conta própria, de qualquer maneira, sem que ninguém oriente.
Acha que apesar de preparados, os professores têm má vontade.
Jornalista, de 25 anos, reclama que a tendência é o professor esquecer o aluno, após orientá-lo razoavelmente bem, quando
ele entra na academia. Dia ainda, que precisa pedir ajuda para ser atendido.
Sempre que pode, afirma o engenheiro de 24 anos, vai de bicicleta para o trabalho. Mora em Brasília e pelo menos duas
vezes por semana isso acontece. Diz que o total do percurso é de 30 km. Quando chega ao trabalho troca de roupa e guarda
a bicicleta num canto específico. Recorda que no emprego antigo foi proibido de levá-la no elevador e por isso teve que
pagar um estacionamento, que mesmo assim saiu barato, pois lembra que só pagava 20 reais.
Médico seguidor do Lien Chi, diz que todas as quatro mil práticas corporais da medicina chinesa buscam o equilíbrio
energético.
Médico acupunturista garante que os gestos suaves do Lien Chi acalmam o pensamento, além de trabalharem a respiração
e a musculatura.
Comandante da Escola de Educação Física da Polícia Militar de São Paulo, testemunha que o bem-estar provocado pelo
Lien Chi é imediato.
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Fisiologista que participa de grupo de capacitação no Lien Chi, aprova a iniciativa de se capacitar policiais militares formados
em Educação Física, para ensinar o Lien Chi à população, nos parques do estado. Avalia que o Lien Chi é uma ótima forma
de se melhorar a aptidão física, através de um exercício leve e relaxante.
Terapeuta de 50 anos, que pratica o Lien Chi três vezes por semana no parque, relata que se sente viva e com mais ânimo,
por causa da prática. Diz, feliz, que no começo parecia que não ia conseguir fazer a prática nunca, mas que agora percebe
uma melhora na amplitude dos seus movimentos e na flexibilidade.
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