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DALICIO GUIGUER FILHO
CO-DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – UM
ESTUDO NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA.
Trabalho apresentado à Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo, para obtenção do
tulo de Mestre em Engenharia.
São Paulo
2005
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I
DALICIO GUIGUER FILHO
CO-DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – UM
ESTUDO NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA.
Trabalho apresentado à Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo, para obtenção do
tulo de Mestre em Engenharia.
Área de concentração:
Engenharia Automotiva
Orientador:
Prof. Dr. Paulo Carlos Kaminski
São Paulo
2005
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FICHA CATALOGRÁFICA
Guiguer Filho, Dalicio
Co-desenvolvimento de produto: um estudo na indústria
automotiva / D. Guiguer Filho. -- São Paulo, 2005.
103 p.
Trabalho de curso (Mestrado Profissionalizante em
Engenharia Automotiva). Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo.
1.Projeto automotivo 2.Desenvolvimento de produto I.Univer-
sidade de São Paulo. Escola Politécnica. II.t.
II
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Paulo Kaminski, orientador deste trabalho, por todo suporte e apoio
recebido.
Ao Professor Dieter Pfau pela colaboração durante o período que estive na
Alemanha.
Aos Professores Paulo Alt e Fernando Laugeni pelas informações que suportaram
minha decisão quanto ao curso de mestrado.
Ao meu filho, Thiago, por ter me recompensado com a alegria do seu nascimento em
22 de fevereiro de 2005.
A minha esposa Rejane, pelo incentivo e compreensão durante o tempo que dediquei
ao curso de mestrado.
Aos meus pais, Dalicio e Leda, pelo incentivo recebido.
Aos demais professores do curso e a todos que, diretamente ou indiretamente,
colaboraram na execução deste trabalho.
III
RESUMO
A crescente tendência de participação dos fornecedores no processo de
desenvolvimento de produto da indústria automotiva, faz com que o estudo desta
parceria se torne importante, tanto para as montadoras quanto para os fornecedores.
O principal objetivo desta parceria é a utilização da capacidade de engenharia dos
fornecedores (know-how), permitindo assim, a incorporação de novas tecnologias ao
veículo e a redução dos custos de desenvolvimento das montadoras. Observa-se cada
vez mais dentro da montadora, discussões sobre o co-desenvolvimento (co-design)
nos projetos automotivos, veis de integração com o fornecedor, fase do projeto
adequada para o envolvimento dos fornecedores, o vel adequado de detalhamento
das especificações técnicas utilizadas como referência inicial pelos fornecedores, a
definição das responsabilidades de cada parceiro e o próprio processo para realização
do desenvolvimento em parceria. O presente trabalho explora de que forma tais
questões são atualmente abordadas na subsidiária brasileira de uma montadora,
através do estudo de seus processos e ferramentas e da comparação com as
informações disponíveis na bibliografia e estudadas no meio acadêmico. Com este
trabalho, pretende-se fornecer informações que possam auxiliar montadoras e
fornecedores na melhoria de seus processos internos de desenvolvimento de produto,
principalmente nas questões relativas ao co-desenvolvimento (co-design).
IV
ABSTRACT
The increasing trend of suppliers’ participation in the automotive industry product
development process makes the study of this partnership important for automakers
and suppliers. The main objective of this partnership is to take advantage of suppliers
engineering capability (know-how) in order to bring new technologies to the vehicle
and reduce automakers development costs. It is becoming more and more common
inside automakers, discussions regarding co-design in automotive projects, supplier
integration levels, suitable project phase to get suppliers involved, suitable level of
details for automakers technical specifications used as initial reference by suppliers,
the responsibilities definition of each partner and the process to perform development
in a partnership relation. This work explores how these issues are currently addressed
in a Brazilian automaker subsidiary, through the study of its processes and tools and
the comparison with the information available in the bibliography and studied
academically. Finally, this work intends to provide information that can assist
automakers and suppliers to improve their internal product development processes,
mainly regarding co-design.
V
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1
2 RELACIONAMENTO CLIENTE-FORNECEDOR.................................... 3
2.1 – Relacionamento Cliente-Fornecedor no Desenvolvimento
de Produtos........................................................................................... 4
2.2 Vantagens do Co-desenvolvimento...................................................... 6
2.3 Dificuldades do Co-desenvolvimento.................................................. 7
2.4 – Desafios do Co-desenvolvimento.........................................................
8
2.5 Participação do Co-desenvolvimento na Indústria Automotiva........... 11
2.6 Análises e Conclusões.......................................................................... 13
3 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO..................................................... 15
3.1 Categorização do Projeto..................................................................... 15
3.2 Desenvolvimento de Produto, Produção e Consumo........................... 19
3.3 Processo de Desenvolvimento de Produto........................................... 21
3.4 – Processo de Desenvolvimento de Produto segundo o APQP............... 26
3.5 – Participação de Fornecedores no Desenvolvimento.............................
33
3.6 Análises e Conclusões.......................................................................... 40
4 – ESTRATÉGIA DA MONTADORA PARA O
CO-DESENVOLVIMENTO........................................................................ 42
4.1 Estratégia Global da Montadora .......................................................... 42
4.2 – Classificação quanto ao Nível de Integração Permitido.......................
45
4.3 – Distribuição dos Recursos de Projeto...................................................
47
4.4 Potencial de Participação do Fornecedor no Desenvolvimento........... 51
4.5 Análises e Conclusões.......................................................................... 55
VI
5 – CO-DESENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO..................................................... 57
5.1 Processo de Desenvolvimento de Veículo........................................... 59
5.2 Equipe de Desenvolvimento de Produto.............................................. 63
5.3 Processo de Co-Desenvolvimento........................................................ 66
5.4 Especificação do Sistema, Sub-Sistema ou Componente.................... 69
5.5 Definição do Custo-Objetivo............................................................... 74
5.6 Seleção do Fornecedor......................................................................... 76
5.7 – Gestão do Desenvolvimento do Sistema, Sub-Sistema ou
Componente......................................................................................... 78
5.8 Análises e Conclusões.......................................................................... 82
6 – DISCUSSÕES FINAIS.................................................................................
92
6.1 Relacionamento Cliente-Fornecedor.................................................... 92
6.2 Processo Integrado de Desenvolvimento de Produto e Fornecimento. 93
6.3 Características do Co-Desenvolvimento.............................................. 95
7 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................... 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 101
VII
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Estrutura do trabalho........................................................................ 2
Figura 2.1 Relação cliente-fornecedor assimétrica............................................ 5
Figura 2.2 Relação cliente-fornecedor simétrica ou equivalente....................... 6
Figura 2.3 – Atividades de um processo integrado de desenvolvimento de
produto e fornecimento.................................................................... 9
Figura 2.4 Classificação dos componentes produzidos pelos fornecedores...... 12
Figura 2.5 – Distribuição percentual dos componentes da lista de materiais em
função do nível permitido de co-desenvolvimento........................... 13
Figura 3.1 Funil de desenvolvimento................................................................. 15
Figura 3.2 Categorias primárias de projetos de desenvolvimento..................... 16
Figura 3.3 Desenvolvimento de produto como uma simulação do consumo.... 19
Figura 3.4 Ciclo de produção e consumo........................................................... 20
Figura 3.5 Fases do processo de desenvolvimento de produto.......................... 21
Figura 3.6 Espiral de projeto.............................................................................. 23
Figura 3.7 – Fases do PDP segundo o APQP....................................................... 27
Figura 3.8 – Fluxo de informação sumarizado do APQP..................................... 33
Figura 3.9 – Fluxo de informação para componentes proprietários de
fornecedor......................................................................................... 34
Figura 3.10 – Fluxo de informação para componentes caixa-preta”...................
36
Figura 3.11 – Fluxo de informação para componentes funcionais controlados
no detalhe........................................................................................ 37
Figura 3.12 – Fluxo de informação para componentes de carroceria controlados
no detalhe....................................................................................... 38
Figura 4.1 Estratégia global da montadora para o co-desenvolvimento........... 42
Figura 4.2 Capacitação da base de fornecedores............................................... 43
Figura 4.3 Distribuição dos recursos de projeto................................................ 49
Figura 4.4 Distribuição dos recursos de engenharia........................................ 50
Figura 4.5 Participação do co-desenvolvimento no total do projeto................ 50
Figura 4.6 Procedência dos componentes.......................................................... 52
VIII
Figura 4.7 – Nível de integração permitido dentre os componentes comprados
não padronizados...............................................................................
53
Figura 4.8 – Potencial de co-desenvolvimento segundo a estratégia da empresa.
54
Figura 4.9 – Proposta de formato para o código de peça (part number).............. 56
Figura 5.1 Exemplo de integração com o fornecedor........................................ 58
Figura 5.2 Comparação de teste real com resultado de simulação.................... 58
Figura 5.3 – Sub-processos do processo de desenvolvimento de veículo (VDP). 59
Figura 5.4 – Ilustração do processo de desenvolvimento de vculo (VDP)........ 60
Figura 5.5 Estrutura matricial das equipes de desenvolvimento de produto..... 64
Figura 5.6 Representação da interação entre as áreas funcionais...................... 65
Figura 5.7 Etapas do co-desenvolvimento e seus fatores de influência............. 68
Figura 5.8 Cadeia de especificações no desenvolvimento de um veículo......... 69
Figura 5.9 – Necessidade de especificações quantitativas em função do estágio
do relacionamento cliente-fornecedor............................................... 71
Figura 5.10 – Estrutura das especificações dos sub-sistemas e componentes na
montadora estudada........................................................................
71
Figura 5.11 – Exemplo de matriz de responsabilidades........................................
73
Figura 5.12 – Representação esquemática da definição do custo-objetivo de
componentes comprados................................................................. 75
Figura 5.13 Processo de seleção dos fornecedores............................................ 76
Figura 5.14 Modelo de lista de pendências........................................................ 80
Figura 5.15 – Envolvimento do fornecedor em função do processo de seleção
de fornecedores adotado..................................................................
86
Figura 6.1 – Posicionamento da montadora estudada quanto ao relacionamento
cliente-fornecedor............................................................................. 92
IX
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 Exemplos de atividades típicas na espiral de projetos..................... 24
Tabela 3.2 Quadro-resumo da fase de planejamento......................................... 28
Tabela 3.3 Quadro-resumo da fase de desenvolvimento e projeto do produto.. 29
Tabela 3.4 Quadro-resumo da fase de desenvolvimento e projeto do processo 30
Tabela 3.5 Quadro-resumo da fase de validação do produto e do processo...... 31
Tabela 3.6 – Quadro-resumo da fase de avaliação, re-alimentação do processo
e ações corretivas............................................................................. 32
Tabela 3.7 Participação do fornecedor em função do relacionamento.............. 39
Tabela 4.1 Integração com o fornecedor............................................................ 44
Tabela 4.2 Responsabilidades em função do nível de integração...................... 46
Tabela 4.3 – Exemplos de classificação quanto ao nível de integração................
46
Tabela 4.4 – Relação entre a modificação e o recurso para co-desenvolvimento.
47
Tabela 5.1 – Exemplos de requisitos descritos nos diversos veis de
especificação.................................................................................... 70
Tabela 5.2 – Formulários de verificação previstos no APQP............................... 78
Tabela 5.3 Atividades do plano de projeto com envolvimento do fornecedor.. 79
Tabela 5.4 – Observações e sugestões quanto ao processo de desenvolvimento
de produto (PDP)............................................................................. 88
Tabela 5.5 Observações e sugestões quanto à organização do trabalho............ 88
Tabela 5.6 Observações e sugestões quanto às especificações técnicas............ 89
Tabela 5.7 Observações e sugestões quanto à definição do custo-objetivo....... 90
Tabela 5.8 – Observações e sugestões quanto à seleção dos fornecedores...........
91
Tabela 5.9 Observações e sugestões quanto à gestão do co-desenvolvimento.. 91
Tabela 6.1 – Atividades do IPDS na montadora estudada – Gestão do
Desenvolvimento............................................................................. 93
Tabela 6.2 – Atividades do IPDS na montadora estudada – Gestão da Interface
com o Fornecedor.............................................................................
94
Tabela 6.3 – Atividades do IPDS na montadora estudada Gestão do Projeto... 94
Tabela 6.4 – Atividades do IPDS na montadora estudada Gestão do Produto.. 95
Tabela 6.5 – Observações quanto às características do co-desenvolvimento na
montadora estudada..........................................................................
96
X
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APQP Advanced Product Quality Planning
(Planejamento Avançado da Qualidade do Produto)
BOM Bill of Material
(Lista de Material)
CAD Computer Aided Design
(Projeto Auxiliado por Computador)
CAE Computer Aided Engineering
(Engenharia Auxiliada por Computador)
DFM / DFA Design for Manufacturability / Design for Assembly
(Projeto orientado à Manufatura / Projeto orientado à Montagem)
DFMEA Design Failure Mode and Effects Analysis
(Análise do Modo de Falha e Efeito para o Projeto)
DMU Digital Mock-Up
(Modelo Digital)
FDM Fused Deposition Modelling
(Modelamento por Deposição à Fusão)
IPDS Integrated Product Development and Sourcing
(Processo Integrado de Desenvolvimento de Produto e
Fornecimento)
PDP Product Development Process
(Processo de Desenvolvimento do Produto)
PDT Product Development Team
(Equipe de Desenvolvimento de Produto)
PFMEA Process Failure Mode and Effects Analysis
(Análise do Modo de Falha e Efeito para o Processo)
PPAP Production Part Approval Process
(Processo de Aprovação de Peça de Produção)
STL Stereolithography
(Estereolitografia)
VDP Vehicle Development Process
(Processo de Desenvolvimento de Veículo)
XI
VR Virtual Reality
(Realidade Virtual)
1
1 – INTRODUÇÃO
Com a crescente tendência de participação dos fornecedores no processo de
desenvolvimento de produto na indústria automotiva, o estudo desta parceria torna-se
importante, tanto para as montadoras quanto para os fornecedores. O principal
objetivo desta parceria é a utilização da capacidade de engenharia (know-how) dos
fornecedores, permitindo assim, a incorporação de novas tecnologias ao veículo e a
redução dos custos de desenvolvimento das montadoras.
Os aspectos relacionados a esta gestão são abrangentes, incluindo-se a
dimensão da participação do co-desenvolvimento (co-design) nos projetos
automotivos, os níveis de integração com o fornecedor, a fase do projeto adequada
para a participação dos fornecedores, o vel adequado de detalhamento das
especificações técnicas utilizadas como referência inicial pelos fornecedores, a
definição das responsabilidades de cada parceiro e o próprio processo para realização
do desenvolvimento em parceria. Em função destes aspectos, tanto o processo de
desenvolvimento de produto da montadora como o do fornecedor, devem ser
adaptados e complementados, evitando-se assim, desgastes comerciais, atrasos
desnecessários, custos adicionais não planejados e falta de qualidade no produto
final.
O objetivo deste trabalho é estudar os processos e ferramentas existentes em
uma montadora, identificando de que forma os aspectos citados são atualmente
abordados em seus processos internos, buscando-se assim, oportunidades de
melhoria através da comparação dos processos e ferramentas identificados, com os
disponíveis na bibliografia e estudados no meio acadêmico.
O presente trabalho está estruturado em sete capítulos, onde há uma
introdução ao assunto e uma revisão da literatura nos capítulos 1, 2 e 3. Na
seqüência, o capítulo 4 apresenta o estudo da estratégia da montadora para o co-
desenvolvimento (co-design) e o capítulo 5 apresenta o estudo do processo de
desenvolvimento de produto da montadora e sua relão com os aspectos do co-
desenvolvimento (co-design). Finalmente, o catulo 6 traz uma discussão adicional
de alguns aspectos observados durante este estudo e o capítulo 7 apresenta as
conclusões e considerações finais. A figura 1.1 ilustra a estrutura do presente
trabalho.
2
Figura 1.1 – Estrutura do trabalho
Por fim, pretende-se com esse trabalho, fornecer informões que possam
auxiliar montadoras e fornecedores na melhoria de seus processos internos de
desenvolvimento de produto, principalmente nas questões relativas ao co-
desenvolvimento (co-design).
Estudo na
Montadora
Revisão da
Literatura
Processos
Estratégias
Práticas
Co-Design
PDP
Análises, Conclusões e Recomendações
Parcerias
3
2 – RELACIONAMENTO CLIENTE-FORNECEDOR
Em uma abordagem convencional, as empresas consideravam seus
fornecedores como quase adversários, tendo como idéia central que estes estavam
sempre querendo auferir o máximo lucro e por isso era necessário um processo com
várias cotações, envolvendo vários fornecedores concorrentes, além de detalhadas e
dispendiosas inspeções no recebimento do produto (MARTINS e ALT, 2003).
Ao longo dos últimos anos tem-se observado uma evolução nesse relacionamento,
procurando o desenvolvimento de um grau de confiança mútua baseado em uma
relação caracterizada como ganha-ganha”, que se convencionou chamar de parceria.
Segundo MARTINS e ALT (2003), na parceria, o fornecedor participa no
projeto do produto, na análise e melhoria do processo produtivo do cliente, garante a
qualidade e abre sua planilha de formão de custos e preços, tendo como retribuição
um contrato de fornecimento por um peodo normalmente igual ao da vida do
produto que fornece. MERLI (1994) define como comakership quando esta relação
de parceria atinge um alto grau de evolução.
Ainda segundo MERLI (1994), a evolução no relacionamento cliente-
fornecedor passa por quatro níveis distintos, a saber:
a) Primeiro nível - Abordagem convencional
Slogan de referência: “Os fornecedores são pontos de venda onde
compramos pelo melhor preço.” (MERLI, 1994).
Neste nível de relacionamento, prioriza-se o preço e as condições são
impostas pela empresa com maior poder. O cliente desconfia da qualidade do
fornecedor, realizando um maior controle sobre os recebimentos.
b) Segundo nível - Melhoria da qualidade
Slogan de referência: “Fazer a qualidade junto aos fornecedores.”
(MERLI, 1994).
Prioriza-se a qualidade, iniciando-se um relacionamento mais
duradouro com um número mais reduzido de fornecedores.
4
c) Terceiro nível - Integração operacional
Slogan de referência: “O processo produtivo começa na casa do
fornecedor.” (MERLI, 1994).
Na integração operacional, prioriza-se o controle e a capabilidade dos
processos. Também, existe um certo grau de participação do fornecedor no
projeto do produto (co-desenvolvimento) e do processo do cliente, além de
eventualmente ambos realizarem investimentos conjuntos em
desenvolvimento.
d) Quarto nível - Integração estratégica
Slogan de referência: “Fazer negócios juntos.” (MERLI, 1994).
Atingido esse vel de relacionamento, tem-se uma parceria de
negócios com uma ampla participação do fornecedor no projeto do produto
(co-desenvolvimento) e do processo do cliente, acordos sobre estratégias e
políticas em nível máximo, gerenciamento comum dos procedimentos de
negócios e sistemas integrados de qualidade.
2.1 – Relacionamento Cliente-Fornecedor no Desenvolvimento de Produtos
A parceria cliente-fornecedor quando direcionada para o desenvolvimento de
produtos é usualmente definida como co-desenvolvimento ou co-design. A
consolidação do processo de co-desenvolvimento vem modificando a relão cliente-
fornecedor e incorporando vantagens e riscos para ambos parceiros.
Segundo WOGNUM et al (2002), quando comparado com a situação de anos
atrás, as atribuições dos fornecedores se modificaram profundamente, sendo as
principais mudanças citadas abaixo:
a) Aumento do valor agregado
Os fornecedores deixaram de ser meros fabricantes de componentes e
passaram a ter a atribuição do desenvolvimento desses componentes,
agregando valor ao produto entregue aos seus clientes (montadoras). Em
paralelo, as montadoras (clientes) passaram a requisitar de seus fornecedores
não apenas os componentes, mas sim o sistema ou sub-sistema completo, o
que gera um valor agregado ainda mais alto.
5
b) Relacionamentos de parcerias mais duradouros
Tradicionalmente, os contratos de fornecimento eram de um ou dois
anos, o que permitia que durante o ciclo de vida de um produto várias
empresas fornecessem um mesmo componente.
Como no co-desenvolvimento, o fornecedor é envolvido desde a fase
de projeto, existe uma maior complexidade para uma troca de fornecedor
(parceiro), o que faz com que essa relação de parceria normalmente se
estenda por todo ciclo de vida do produto.
c) Maior interdependência entre os parceiros
Uma vez que com o co-desenvolvimento, o fornecedor passa agregar
um valor maior em seu componente e a ter uma relação de parceria mais
duradoura com seu cliente (montadora), este por sua vez passa a ser mais
dependente do conhecimento (know-how) do fornecedor sobre o componente.
Sem o co-desenvolvimento, essa dependência é bem menor, pois
apenas como fabricante de um componente, o fornecedor segue as
especificações do cliente (montadora) e por sua vez a montadora tem uma
oferta muito maior de fornecedores disponíveis para apenas produzir o
componente.
Em função dessas mudanças, a relação de poder tradicionalmente assimétrica,
onde a parte mais forte, normalmente o cliente, impunha os requisitos para a outra
parte (figura 2.1), se modificou para uma relação de equivalência (simétrica), onde
ambas as partes podem influir nas condições do processo de co-desenvolvimento
(figura 2.2).
Figura 2.1 –Relação cliente-fornecedor assimétrica (WOGNUM et al, 2002)
Cliente Fornecedor
Cliente influencia Fornecedor
6
Figura 2.2 –Relão cliente-fornecedor simétrica ou equivalente
(WOGNUM et al, 2002)
2.2 – Vantagens do Co-desenvolvimento
Durante a década de 1990 a 2000, diversos estudos foram realizados sobre o
co-desenvolvimento. Tais estudos mostraram que se integrando melhor com seus
fornecedores, as montadoras japonesas foram capazes de projetar e desenvolver
automóveis em uma cadência mais rápida, com maiores inovações tecnológicas e
com menos esforço em termos de horas de desenvolvimento e engenheiros
envolvidos (WYNSTRA et al, 2001). Isso foi resultado do uso do conhecimento
adicional e especializado do fornecedor, que permite o desenvolvimento do produto
com maior eficiência, menos informações iniciais (inputs), menos custos de
desenvolvimento, menos horas de engenharia, menos alterações no projeto e ainda
com maiores resultados (outputs), tais como: um melhor produto, um produto com
maiores inovões e um tempo menor de introdução do produto no mercado
(CLARK, 1989 apud WYNSTRA et al, 2001).
Apesar do recente interesse pelo processo de co-desenvolvimento, dados
mostram que já em 1958 a Toyota utilizava engenheiros residentes de seus
fornecedores em seu processo de desenvolvimento (NISHIGUCHI, 1994 apud
WYNSTRA et al, 2001).
Segundo WOGNUM et al (2002), o co-desenvolvimento oferece a
possibilidade de acesso rápido ao conhecimento especializado do fornecedor,
permitindo compartilhar os custos e os riscos.
Também, com a visão pelo lado dos fornecedores, CHUNG e KIM (2003)
demonstraram em seu estudo que o co-desenvolvimento tem impactado no
desempenho dos fornecedores, levando, por exemplo, a um maior vel de inovação,
constatado através de um número maior de patentes depositadas pelos fornecedores
que trabalham em parceria com seus clientes no desenvolvimento de produtos.
Cliente Fornecedor
Influência de ambas as partes
7
2.3 – Dificuldades do Co-desenvolvimento
Por outro lado, dois estudos americanos de meados dos anos 90 mostraram
evidências de que o co-desenvolvimento nem sempre é benéfico. O primeiro estudo
mostrou que o envolvimento do fornecedor na fase inicial do processo de
desenvolvimento, com grande responsabilidade atribuída ao fornecedor pelo
desenvolvimento de seu componente, não trouxe redução no custo de
desenvolvimento, redução no período de desenvolvimento (lead-time) e nem tão
pouco um vel mais alto de qualidade no produto final (HARTLEY, 1994;
HARTLEY et al, 1997; McCUTCHEON et al, 1997 apud WYNSTRA et al , 2001).
O segundo estudo também mostrou que o co-desenvolvimento resultou em custos
mais altos para o produto e para o desenvolvimento, além de uma pior performance
do produto e um período maior de desenvolvimento (BIROU, 1994 apud
WYNSTRA et al, 2001).
Também, segundo WYNSTRA et al (2001), existem três fontes de problemas
para um relacionamento de parceria, onde esteja presente a integração entre os
processos de desenvolvimento de produto e fornecimento do componente (co-
desenvolvimento), a saber:
a) O relacionamento como fonte dos problemas
Consideram-se problemas em função do relacionamento, os
problemas que não podem ser primariamente atribuídos apenas ao fornecedor
ou à montadora. Tipicamente, problemas como a falta de comunicação e
confiança, podem conduzir a acordos não totalmente claros, criando
divergência entre as expectativas da montadora e do fornecedor e com isso,
impactando negativamente na eficiência do co-desenvolvimento. Por
exemplo, a falha de comunicação durante o processo de definição de
responsabilidades com relação ao desenvolvimento do produto, pode levar o
fornecedor a gerar premissas incorretas da dimensão de suas
responsabilidades, o que por sua vez, pode impactar em sua estratégia e
investimentos. Um exemplo mais simples, porém também comum, de falta de
comunicação, é a descoberta tardia de que os sistemas de CAD são
incompatíveis ou que existem padrões diferentes para os desenhos e outras
informações técnicas.
8
b) O fornecedor como fonte dos problemas
O fornecedor se torna a fonte dos problemas, quando não há a
capacitação necessária para assumir o processo de desenvolvimento de
produto em parceria (co-desenvolvimento), ou quando o fornecedor não
dispõe do tempo, da mão-de-obra ou do capital necessário ao co-
desenvolvimento, ou ainda, quando o fornecedor tem um interesse limitado
em trabalhar com aquela montadora, pois esta representa uma parcela
pequena de seu potencial total de vendas.
c) A montadora como fonte dos problemas
A fonte dos problemas pode ser a própria montadora, quando suas
questões internas passam a afetar o processo de co-desenvolvimento, como
por exemplo, a falta de um processo claro de desenvolvimento de produto, ou
melhor, a falta de uma estratégia clara de como e quando os fornecedores
devem ser envolvidos nesse processo. Tais questões, podem levar a
montadora a selecionar um fornecedor com capacidade limitada de inovação,
ou ainda, utilizar o co-desenvolvimento para um componente em que essa
estratégia não é necessária ou não é benéfica.
2.4 – Desafios do Co-desenvolvimento
Esta aparente contradição nos resultados dos estudos com relação às
vantagens e dificuldades no processo de co-desenvolvimento de produto mostra a
natureza complexa desse relacionamento. WYNSTRA et al (2001) propõem três
condições para o sucesso de um processo de co-desenvolvimento, a saber:
a) Identificar as tarefas e processos específicos que farão parte do co-
desenvolvimento, colocando maior foco na integração dos processos de
desenvolvimento de produto e fornecimento;
b) Formar uma organização que suporte a execução de tais tarefas e
processos;
9
c) Alocar pessoas nessa organização que tenham os conhecimentos técnicos,
comerciais e sociais necessários.
A figura 2.3 apresenta as atividades de um processo integrado de
desenvolvimento de produto e fornecimento (IPDS).
Figura 2.3 – Atividades de um processo integrado de desenvolvimento de
produto e fornecimento (WYNSTRA et al, 2001)
Gestão do
Desenvolvimento
Gestão da Interface
com o Fornecedor
Gestão do
Projeto
Gestão do
Produto
Desenvolvimento
do Conceito
Básico
Detalhamento
Engenharia
Piloto e
Início de
Produção
Tempo
- Determinar quais tecnologias devem ser mantidas ou desenvolvidas
internamente e quais externamente;
- Estabelecer políticas para o envolvimento de fornecedores;
- Estabelecer políticas para as atividades dos departamentos inter-
nos em um processo integrado de desenvolvimento de produto e
fornecimento;
- Comunicar as políticas internamente e externamente;
- Monitorar o mercado de fornecedores para desenvolvimentos
técnicos;
- Pré-selecionar fornecedores para colaboração em desenvolvi-
mento de produto;
- Motivar os fornecedores a manterem ou construírem uma ba-
se de conhecimentos ou desenvolverem certos produtos;
- Explorar a capacidade técnica dos fornecedores;
- Avaliar o desempenho dos fornecedores quanto ao de-
senvolvimento, inclusive na sua pontuação geral;
- Selecionar fornecedores para o envolvimento no projeto de desenvolvimento;
- Determinar a extensão do envolvimento do fornecedor;
- Determinar o momento do envolvimento do fornecedor;
- Coordenar as atividades do desenvolvimento;
- Coordenar as atividades do projeto básico;
- Coordenar as atividades de engenharia;
-Coordenar a prototipa-
gem e o início de pro-
dução;
- Fornecer informação sobre os novos produtos e/ou tecnologias;
- Sugerir alternativas de fornecedores, produtos e/ou tecnologias;
- Avaliar os projetos de produtos;
- Promover a padronização e a simplificação;
10
WOGNUM et al (2002) mostram em seu trabalho os desafios para os
gerentes de cada uma das organizações (clientes e fornecedores), atribuindo o
sucesso do co-desenvolvimento principalmente à comunicação e ao alinhamento
organizacional entre os parceiros, com o objetivo de se manter uma relação
equilibrada. Os principais desafios para os gerentes das empresas fornecedoras e para
os gerentes das empresas clientes, extraídos da pesquisa de WOGNUM et al (2002),
o citados abaixo:
a) Desafios para os gerentes das empresas fornecedoras
Os fornecedores não são suficientemente pró-ativos na abordagem
dos clientes;
Os fornecedores têm muito pouca experiência no gerenciamento
dos riscos envolvidos e na seleção e execução de contratos de
longo prazo;
Os fornecedores têm muito pouco conhecimento e experiência em
projeto;
Existe pouca padronização na execução de atividades necessárias
para mais de um cliente.
b) Desafios para os gerentes das empresas clientes
Os clientes ainda têm dificuldade em selecionar os fornecedores
adequados;
As atividades não remuneradas solicitadas pelo cliente ao
fornecedor às vezes ficam fora do contexto da realidade;
Os clientes têm o questionamento sobre quais atividades podem
ser direcionadas ao fornecedor e quais devem permanecer internas
à sua empresa, sob o risco de perda de conhecimento estratégico;
Os clientes estão pouco cientes da necessidade de adaptarem suas
organizações a nova realidade.
Um aspecto importante é a seleção de fornecedores adequados ao
desenvolvimento em parceria, o que tem sido um desafio às iniciativas de co-
desenvolvimento. PETERSEN et al (2003) concluíram em seu estudo sobre a
integração de fornecedores no processo de desenvolvimento de novos produtos, que
11
uma avaliação detalhada e formal dos potenciais fornecedores é fundamental para o
sucesso do desenvolvimento em parceria. Apenas fornecedores de confiança e com
histórico positivo deveriam ser considerados no processo de selão para um
desenvolvimento em conjunto, segundo o estudo deles. SARKIS e TALLURI (2002)
propuseram um processo analítico, definindo os fatores e critérios a serem
considerados na seleção de fornecedores, visando minimizar o risco de se ter
fornecedores sem as condições adequadas para a parceria, o que pode impactar
negativamente no desenvolvimento do novo produto.
2.5 – Participação do Co-desenvolvimento na Indústria Automotiva
LEVERICK e COOPER (1998) estudaram a participação dos fornecedores no
desenvolvimento de produto na indústria automotiva do Reino Unido, constatando
uma prática extensiva de co-desenvolvimento, onde, por exemplo, 72% dos
fornecedores entrevistados declararam ter responsabilidades pelo desenvolvimento
do produto a ser fornecido para montadora. Por outro lado, BEECHAM e CORDEY-
HAYES (1998) estudando também a indústria automotiva do Reino Unido,
revelaram que a transferência de conhecimento (know-how) dependia do grau de
parceria, classificando os fornecedores em uma escala de “autônomo” a
“integrado”, sendo que uma parceria plena só ocorre com os fornecedores
“integrados”, enquanto que fornecedores classificados como autônomos” podem
realizar apenas uma parceria “informal”.
Os estudos realizados por CLARK e FUJIMOTO (1991) compararam a
participão dos fornecedores no desenvolvimento dos componentes do vculo nas
indústrias norte-americanas, européias e japonesas, demonstrando que a indústria
japonesa já adotava um maior nível de co-desenvolvimento. A figura 2.4, extraída
destes estudos, mostra a distribuição percentual do custo total de material em função
do vel de participação do fornecedor no desenvolvimento do componente, segundo
a classificação de CLARK e FUJIMOTO (vide capítulo 3). Por essa classificação,
consideram-se componentes proprietários de fornecedor (supplier proprietary parts),
aqueles em que o fornecedor tem o controle do desenvolvimento desde o conceito a
a produção; componentes “caixa-preta” (black box parts), aqueles nos quais há uma
co-participação entre a montadora e o fornecedor no esforço de desenvolvimento; e
12
componentes controlados no detalhe (detail-controlled parts), aqueles em que a
montadora detém a maior parte do esforço de desenvolvimento.
8% 62% 30%
3%
16% 81%
7% 39% 54%
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Japão
Europa
Estados Unidos
Proprietários de Fornecedor Caixa-preta Controlados no Detalhe
Figura 2.4 Classificação dos componentes produzidos pelos fornecedores
(CLARK e FUJIMOTO, 1991)
No estudo realizado para este trabalho, constatou-se que 65% dos
componentes presentes na lista de materiais (BOM) de um vculo luxo (sedan
médio) e 73% dos componentes de um veículo básico (hatchback 5 portas), são
classificados como componentes para os quais é permitido algum vel de
participação do fornecedor no desenvolvimento (co-desenvolvimento), segundo a
estratégia da montadora estudada (vide capítulo 4). A figura 2.5 mostra a distribuição
percentual dos componentes da lista de materiais de dois veículos desta montadora
em função do nível permitido de co-desenvolvimento, o que representa o potencial
para participação de fornecedores no desenvolvimento dos componentes para os
veículos desta empresa.
13
65% 35%
73% 27%
Veículo Luxo
Veículo Básico
Permite co-desenvolvimento Não permite co-desenvolvimento
Figura 2.5 – Distribuição percentual dos componentes da lista de materiais em
função do nível permitido de co-desenvolvimento
2.6 – Análises e Conclusões
A competitividade no mercado automotivo atual e a crescente redução no
ciclo de vida do produto, fazem com que as montadoras busquem um processo de
desenvolvimento de veículo (VDP) cada vez mais rápido. Onde havia um padrão de
48 meses ao final da década de 1990, hoje há um padrão de 24, 20 e até 18 meses
para o desenvolvimento de um veículo. Esta realidade, tem direcionado os esforços
das montadoras na incorporação de novas ferramentas e atualização de seus
processos internos, dentre os quais a melhoria na gestão do processo de parceria com
seus fornecedores.
O custo para se manter uma estrutura de engenharia na montadora capacitada
a desenvolver todos os componentes internamente, em tempo adequado e com
tecnologia atualizada seria muito alto, mas por outro lado as montadoras não podem
correr o risco de perder o controle tecnológico de seu produto, razão pela qual uma
engenharia capacitada e de tamanho adequado é fundamental, inclusive para uma boa
gestão do co-desenvolvimento.
Percebe-se que a maior parte dos componentes existentes na lista de materiais
(BOM) de vculos atuais permite algum nível de co-desenvolvimento, segundo a
14
estratégia do fabricante (figura 2.5), o que evidencia o potencial de participação dos
fornecedores no desenvolvimento do vculo.
Não mais se discute as vantagens e desvantagens de se ter um processo de
parceria no desenvolvimento do produto, uma vez que esse processo (co-
desenvolvimento) já é uma realidade e encontra-se em um estágio irreversível.
Discutem-se sim, quais seriam as melhores práticas para a gestão deste processo,
quando e como os fornecedores devem ser envolvidos e qual deve ser o vel de
controle e conhecimento da montadora sobre os diversos sistemas do automóvel.
O modelo apresentado por WYSTRA et al (2001) e mostrado neste capítulo
(figura 2.3), reflete bem a necessidade de uma gestão integrada entre o processo de
desenvolvimento de produto e o processo de fornecimento do componente (IPDS),
visando maximizar os efeitos positivos (vantagens) do co-desenvolvimento.
15
3 – DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO
CLARK e WHEELWRIGHT (1993) apresentam como objetivo de qualquer
projeto de desenvolvimento de produto ou processo, a transformão de uma idéia ou
conceito em realidade, através de um produto que atenda às necessidades do mercado
de uma forma viável em termos econômicos e de produção.
O processo de desenvolvimento de produto (PDP) pode ser ilustrado de uma
forma simplificada como um funil, que transforma idéias em realidade (produto). Na
entrada são apresentadas várias idéias a serem investigadas, das quais são
selecionadas as mais promissoras e finalmente uma viável para um projeto de
desenvolvimento de produto. A partir dessa fase, se ganha velocidade, alocando-se
os recursos necessários para se completar o desenvolvimento do produto e ter uma
rápida introdução deste no mercado. A figura 3.1 mostra esse conceito, onde os
quadrados brancos indicam idéias para investigação e os quadrados pretos idéias que
são desenvolvidas ou aplicadas.
Figura 3.1 – Funil de desenvolvimento (CLARK e WHEELWRIGHT, 1993)
3.1 – Categorização do Projeto
A identificação da categoria de um projeto, não só informa a real dimensão
do projeto, bem como auxilia em seu planejamento e execução, uma vez que cada
categoria de projeto idemandar um nível diferente de alocação ou disponibilização
16
de recursos. Apesar de diferentes dimensões poderem ser utilizadas para a
categorização de projetos, a mais usual é o grau de alteração necessário em função do
projeto (CLARK e WHEELWRIGHT, 1993; WHEELWRIGHT e CLARK, 1992).
A figura 3.2 define as categorias primárias de projetos de desenvolvimento
em função do grau de alteração no produto e no processo de fabricação.
Figura 3.2 – Categorias primárias de projetos de desenvolvimento
(CLARK e WHEELWRIGHT, 1993)
De forma resumida, as categorias de projetos de desenvolvimento segundo
CLARK e WHEELWRIGHT (1993) são:
17
a) Projetos derivativos ou incrementais
Nesta categoria, são incluídos os projetos de desenvolvimento de
produto ou processo que são derivados, híbridos ou melhorias aplicadas a
produtos ou processos existentes, tal como um projeto de redução de custos
para uma versão existente de um produto ou um projeto de melhoria de um
processo de produção existente.
Observa-se na figura 3.2, que projetos dessa categoria trazem
pequenas alterações no produto com pouca ou nenhuma alteração no
processo, ou pequenas alterações no processo com pouca ou nenhuma
alteração no produto, ou ainda pequenas alterações em ambas dimensões.
Devido à utilização de produtos ou processos já existentes, projetos
dessa categoria demandam veis substancialmente menores de recursos
quando comparados às demais categorias.
b) Projetos de plataforma ou nova geração
Os projetos de plataforma ou nova geração situam-se entre os
derivativos ou incrementais e os projetos inovativos ou radicais. Esses
projetos são a base para uma família de produtos ou processos que serão
utilizados durante anos e por isso demandam muito mais recursos que os
projetos derivativos ou incrementais.
Como tais projetos representam um novo sistema ou solução para os
clientes, alterações significativas no produto, no processo ou em ambos, são
necessárias.
c) Projetos inovativos ou radicais
Quando categorizados como inovativos ou radicais, os projetos
envolvem alterações muito significativas no produto, no processo ou em
ambas dimensões. Se bem sucedidos, esses projetos introduzem um novo
produto-chave ou processo-chave e podem criar um novo tipo de produto ou
colocar a empresa em um segmento novo de negócio.
Em projetos inovativos ou radicais, maior foco é colocado no
produto, uma vez que usualmente ele introduz uma nova aplicação ou função.
Entretanto, tais projetos normalmente envolvem também significativo
desenvolvimento de processo e por isso, informões avançadas sobre
18
fábricas existentes, equipamentos existentes e outras condições impostas, são
fundamentais para o sucesso de projetos desta categoria.
d) Projetos de pesquisa e desenvolvimento avançado
Os projetos de pesquisa e desenvolvimento avançado ficam fora da
fronteira que engloba os projetos comerciais (categorias “a”, “b” e “c”), uma
vez que tais projetos se destinam à crião de conhecimento (know-how) para
futuros desenvolvimentos comerciais.
Usualmente, as empresas conduzem os projetos de pesquisa ou
desenvolvimento avançado com um grupo separado de pessoas, que buscam
tecnologia para aplicação em um futuro produto comercializável.
e) Projetos em aliança ou parceria
Esta categoria de projeto representa uma maneira diferente de se
conduzir o desenvolvimento, não bastando mensurar o grau de alteração no
produto ou no processo. De fato, qualquer projeto pode ser feito em parceria,
desde uma pesquisa ou desenvolvimento avançado até o desenvolvimento de
um simples componente. De qualquer forma, ao invés da empresa fornecer
sozinha os recursos para o todo desenvolvimento do projeto, o parceiro
fornece parte significativa ou até todo o recurso necessário, além de também
poder gerenciar a execução do projeto. Freqüentemente, as empresas se
utilizam de parceiros quando seus próprios recursos não o suficientes para o
desenvolvimento necessário ou quando oportunidades estratégicas foram
identificadas por outra empresa, geralmente menor, que então é adquirida ou
torna-se parceira da primeira.
Além do grau de alteração no produto e no processo de fabricação, pode-se
ainda, considerar o grau de alteração do segmento de mercado da empresa, como
uma terceira dimensão para categorização de projetos. Uma vez que a categoria de
um projeto auxilia em seu planejamento e execução, direcionando o volume de
recursos necessários, a intenção da empresa em modificar seu mercado-alvo, por
exemplo, através do lançamento de um novo produto para um segmento de mercado
diferente, mesmo que a tecnologia deste produto seja dominada pela empresa, poderá
19
acarretar uma demanda maior de recursos em relão a um projeto de mesma
categoria para um segmento de mercado já conhecido pela empresa.
3.2 – Desenvolvimento de Produto, Produção e Consumo
Segundo CLARK e FUJIMOTO (1991), de uma forma mais ampla, o
desenvolvimento de um produto pode ser visto como a simulação da experiência
futura do consumidor, ou seja, através das ferramentas disponíveis, os engenheiros
tentam antever o que o futuro consumidor experimentará ao utilizar o produto.
A figura 3.3 ilustra essa visão, mostrando que o processo de desenvolvimento
do produto, processo de produção e processo de consumo, estão integrados em um
sistema mais amplo, por onde circulam informações.
Figura 3.3 – Desenvolvimento de produto como uma simulação do consumo
(CLARK e FUJIMOTO, 1991)
20
Uma outra maneira de representar esta interligação de processos é através do
ciclo de produção e consumo mostrado na figura 3.4. De uma forma geral, todo
produto pode ser associado a este ciclo, ou seja, seu projeto deverá ser compatível
com as fases de produção, distribuição, consumo e recuperação. Durante o projeto do
produto deve-se buscar o equilíbrio entre estas fases do ciclo, assumindo-se
compromissos face às exigências, muitas vezes conflitantes, de cada uma das fases.
Basicamente, o projeto do produto é direcionado às necessidades do consumidor,
mas deve satisfazer às exigências do fabricante, que é quem financia o projeto. O
consumidor quer aparência, funcionalidade, durabilidade, etc. Já o fabricante, busca
por facilidade de fabricação, uso de poucos recursos na fabricação (baixo custo), etc.
Por outro lado, o distribuidor quer facilidade de transporte, de armazenagem,
atratividade para venda, etc. O recuperador quer facilidade para reciclar componentes
e materiais. Todos querem lucro e a sociedade deseja produtos que não degradem o
meio ambiente KAMINSKI (2000).
Figura 3.4 – Ciclo de produção e consumo (KAMINSKI, 2000)
21
3.3 – Processo de Desenvolvimento de Produto
A partir da representação do sistema integrado de desenvolvimento de
produto, produção e consumo (figura 3.3), foi extraído apenas o processo de
desenvolvimento de produto (PDP) para uma discussão mais detalhada de suas fases.
A figura 3.5 mostra as fases do processo de desenvolvimento de produto (PDP).
Figura 3.5 – Fases do processo de desenvolvimento de produto
(CLARK e FUJIMOTO, 1991)
a) Fase 1: Conceito do produto
Nesta fase busca-se uma caracterização geral do produto, incluindo-se
informões sobre as necessidades do mercado, competidores, tecnologias
disponíveis, riscos e viabilidade econômica. Também se procura definir as
características de funcionalidade e tecnológica do produto, podendo ou não
incluir alguns detalhes técnicos mais específicos (BACON et al, 1994 apud
TOLEDO et al, 2002). Também nesta fase, pode-se fazer uso de modelos
preliminares de estilo, visando suportar o estabelecimento de objetivos
técnicos preliminares, os estudos preliminares de lay-out e os estudos
preliminares de viabilidade do processo (CLARK e FUJIMOTO, 1991).
b) Fase 2: Planejamento do produto
Nesta fase deve-se obter o detalhamento do produto anteriormente
conceituado, em termos de especificações de projeto, escolha dos
componentes principais, lay-out e estudo de viabilidade do processo, podendo
ainda se fazer uso de modelos de argila (clay model) e/ou modelo físico
(mock-up) para avaliação do produto (CLARK e FUJIMOTO, 1991).
22
c) Fase 3: Projeto do produto
No projeto do produto, as informões obtidas durante as fases de
conceituação e planejamento do produto, são transformadas em desenhos
com características reais, que podem ser validadas, através dos protótipos
construídos durante esta fase (CLARK e FUJIMOTO, 1991).
d) Fase 4: Projeto do processo
Durante o projeto do processo, as informações do projeto do produto
o utilizadas para a concretização dos meios necessários à produção do
produto, ou seja, maquinários, ferramentais, etc. Através de uma linha-piloto
ou uma planta-piloto, onde uma unidade-piloto do produto é
experimentalmente produzida, pode-se avaliar e validar o projeto do processo
(CLARK e FUJIMOTO, 1991).
e) Fase 5: Processo de produção
Nesta fase inicia-se a pré-produção do produto, objetivando avaliar e
validar o processo de produção em condições normais de operação, assim
podendo identificar e realizar acertos finais no processo de fabricação, antes
do lançamento do produto (TOLEDO, 2002; CLARK e FUJIMOTO, 1991).
Na prática, porém, há uma sobreposição entre estas fases, que aqui são
apresentadas em uma seqüência lógica, uma vez que a natureza do processo de
desenvolvimento de produto exige uma maior interatividade (AMARAL, 1997 apud
TOLEDO, 2002).
O conceito de espiral de projeto apresentado por KAMINSKI (2000) mostra
essa natureza mais interativa e menos sequencial do processo de desenvolvimento de
produto (PDP), onde para cada espiral há um refinamento maior do projeto até se
convergir para a configuração final do produto.
A figura 3.6 ilustra uma espiral de projeto exemplificando o
desenvolvimento de um componente automotivo em parceria com um fornecedor
(co-desenvolvimento). Nota-se que diversas áreas funcionais da empresa interagem
durante o processo de desenvolvimento do componente, sendo que cada ponto
numerado na intersecção da espiral com a linha radial, significa uma interação com a
área representada por essa linha radial.
23
A tabela 3.1 relaciona exemplos de atividades típicas para cada interação
(pontos numerados), considerando o processo de co-desenvolvimento (parceria com
fornecedor) de um novo componente automotivo. Para elaboração da tabela 3.1 foi
assumido que esse novo componente tenha implicações em diversas áreas funcionais
da montadora, inclusive na área de Estilo, ou seja, representa um item de aparência
para o cliente do vculo. Por último, também foi assumido um processo de
desenvolvimento de forma ampla e vista pelo lado da montadora.
Figura 3.6 – Espiral de projeto (KAMINSKI, 2000 - Adaptado pelo autor)
24
Tabela 3.1 Exemplos de atividades típicas na espiral de projetos
Interação Atividades
1 A Qualidade realiza o levantamento do histórico dos principais
problemas encontrados com componentes similares no passado.
2 O Estilo apresenta a proposta inicial de aparência para o novo
componente, por exemplo, através de um croqui.
3 A Engenharia de Produto inicia os estudos de conceito do novo
componente, através de componentes similares já utilizados
internamente ou nos competidores (benchmark). Também faz
estudos quanto aos recursos (internos e externos) necessários para o
desenvolvimento e a validação do novo componente, bem como,
estabelece um cronograma preliminar para o desenvolvimento.
4 A área de Custos, baseada no conceito do novo componente e em
informações de desenvolvimentos anteriores similares, inicia seus
estudos para estabelecer o custo-objetivo e o investimento-objetivo
(ferramental) para o novo componente.
5 A Engenharia de Processo verifica os impactos para a montagem na
fábrica do novo componente, considerando a necessidade de novos
dispositivos, eventual adaptação de outros e estabelecendo os
principais requisitos de processo a serem considerados no projeto do
novo componente.
6 A área de Compras prepara uma lista preliminar dos potencias
fornecedores para o tipo de componente em questão, considerando
também, a situação atual da relação comercial com os fornecedores.
7 A área de Validação e Testes relaciona os testes habituais para o tipo
de componente em questão, considerando seus procedimentos e
experiências de desenvolvimento anteriores.
8 A Qualidade pesquisa a situação atual do nível de qualidade para os
potenciais fornecedores, considerando questões como a estabilidade
e capacidade produtiva destes potenciais fornecedores.
25
9 A Engenharia de Produto compila as informações obtidas (interação
1 a 8), emitindo a especificação do novo componente com suas
principais características técnicas (dimensional, material, interface
com o vculo, etc.) e os requisitos do projeto (cronograma
preliminar, matriz de responsabilidades, etc.).
10 A área de Custos, agora com uma especificação mais detalhada do
novo componente, estabelece o custo-objetivo e o investimento-
objetivo (ferramental) a ser utilizado no processo de cotação.
11 A área de Compras inicia um processo de cotação baseado nas
especificações técnicas e requisitos do projeto do novo componente,
convidando os potencias fornecedores para apresentarem suas
propostas e soluções em reuniões de revisão técnica (Technical
Reviews).
12 Os fornecedores participantes do processo de cotação, preparam
suas propostas técnicas e comerciais, incluindo um plano de
desenvolvimento (cronograma) e validação para o novo
componente.
13 16 Durante as reuniões de revisão técnica (Technical Reviews) com
cada fornecedor, as propostas são discutidas e debatidas com a
participação das áreas da montadora envolvidas no processo.
17 A área de Compras oficializa o fornecedor responsável pelo
desenvolvimento do novo componente.
18 O fornecedor prepara a especificação técnica detalhada do novo
componente e inicia suas atividades de desenvolvimento.
19 22 As atividades de desenvolvimento do componente são
acompanhadas por uma equipe multifuncional da montadora,
normalmente liderada pela Engenharia de Produto. Detalhes do
projeto do componente, tais como sua interface com o veículo, suas
características a serem controladas e o próprio andamento do plano
de desenvolvimento (cronograma) e validação, são exaustivamente
discutidos. Também, durante este ciclo de interações, o aplicadas
as ferramentas de qualidade de projeto (DFA / DFM, DFMEA,
PFMEA, etc.), além de ser preparado o desenho do componente.
26
23 O fornecedor apresenta amostras do componente para validação no
veículo, aprovação de aparência, etc.
24 A área de Validação e Testes realiza os testes necessários e emite os
respectivos relatórios de validação.
25 A Qualidade verifica o processo de produção para o novo
componente com a finalidade de aprovar a capacidade e estabilidade
deste processo (PPAP).
26 O Estilo realiza a aprovação de aparência do novo componente.
27 A Engenharia de Produto faz a liberação final do novo componente
para início de produção.
28 A Engenharia de Processo verifica a montagem do novo
componente em fábrica, através de uma corrida-piloto (pilot run).
3.4 – Processo de Desenvolvimento de Produto segundo o APQP
Em se tratando de indústria automotiva, se torna importante citar o APQP
(Advanced Product Quality Planning), documento elaborado em conjunto pela
Chrysler, Ford e General Motors, com o objetivo de estabelecer uma referência para
o desenvolvimento de produtos da indústria automotiva. O manual de referência do
APQP é parte integrante do sistema QS-9000, e portanto seguido pelos fornecedores
certificados por este sistema de normas.
No manual de referência Advanced Product Quality Planning (APQP) and
Control Plan” encontram-se diretrizes gerais e recomendações de como o fornecedor
deve preparar o plano de desenvolvimento do componente, além de verificações
sugeridas (checklist), modelos de formulários padronizados e outros mecanismos
formais para acompanhamento do projeto. Um objetivo específico do APQP é a
garantia do atendimento das necessidades e expectativas do cliente de acordo com os
prazos estabelecidos, sendo apresentado para isso, um modelo de processo de
desenvolvimento do produto (PDP) com cinco fases, como ilustra a figura 3.7.
27
Figura 3.7 – Fases do PDP segundo o APQP (APQP, 1994)
Cada uma das fases é tratada em uma secção do manual, sendo que as
informações de saída (outputs) da fase anterior, são as informações de entrada
(inputs) da fase seguinte. As tabelas 3.2, 3.3, 3.4, 3.5 e 3.6 trazem um quadro-resumo
para cada uma das fases, mostrando, de uma forma resumida, o conteúdo principal
do APQP.
28
Tabela 3.2 Quadro-resumo da fase de planejamento
(Adaptado pelo autor do APQP, 1994)
1. Planejamento
Entradas Saídas
Voz do cliente (pesquisa de mer-
cado, histórico de garantia, infor-
mações de qualidade e experiência
da equipe);
Plano de negócio e estratégia de
mercado;
Informões dos competidores so-
bre o produto e o processo
(benchmark);
Suposições para o produto e o
processo;
Estudos de confiabilidade do
produto;
Informações do cliente.
Metas do projeto;
Metas de qualidade e confiabilidade;
Lista preliminar de material (BOM);
Fluxograma preliminar do processo;
Lista preliminar de características
especiais do produto e do processo;
Plano de garantia do produto;
Compromisso da gerência.
29
Tabela 3.3 – Quadro-resumo da fase de desenvolvimento e projeto do produto
(Adaptado pelo autor do APQP, 1994)
2. Desenvolvimento e projeto do produto
Entradas Saídas
Metas do projeto;
Metas de qualidade e confiabilidade;
Lista preliminar de material (BOM);
Fluxograma preliminar do processo;
Lista preliminar de características
especiais do produto e do processo;
Plano de garantia do produto;
Compromisso da gerência.
Análise do modo de falha e efeito
para o projeto (DFMEA);
Projeto orientado à manufatura e
montagem (DFM / DFA);
Verificações de projeto;
Revisões de projeto (gates);
Construção de protótipos;
Desenhos de engenharia, in-
cluindo modelos matemáticos;
Especificações de engenharia;
Especificações de materiais;
Requisitos relativos a novos
equipamentos, ferramentais e
fábricas;
Características especiais do
produto e do processo;
Requisitos relativos a equi-
pamentos de testes e controle de
produção (gages);
Compromisso de viabilidade com
consenso da equipe e da gerência.
30
Tabela 3.4 – Quadro-resumo da fase de desenvolvimento e projeto do processo
(Adaptado pelo autor do APQP, 1994)
3. Desenvolvimento e projeto do processo
Entradas Saídas
Análise do modo de falha e efeito
para o projeto (DFMEA);
Projeto orientado à manufatura e
montagem (DFM / DFA);
Verificações de projeto;
Revisões de projeto (gates);
Construção de protótipos;
Desenhos de engenharia, incluindo
modelos matemáticos;
Especificações de engenharia;
Especificações de materiais;
Requisitos relativos a novos equi-
pamentos, ferramentais e fábricas;
Características especiais do produto
e do processo;
Requisitos relativos a equipamentos
de testes e controle de produção
(gages);
Compromisso de viabilidade com
consenso da equipe e da gerência.
Estudo de embalagem padronizada
do cliente;
Revisão do sistema de qualidade
do produto/processo;
Fluxograma do processo;
Lay-out de fábrica;
Matriz de características, rela-
cionando parâmetros do processo e
postos de fabricação;
Análise do modo de falha e efeito
para o processo (PFMEA);
Plano de controle do pré-
lançamento;
Instruções de processo;
Plano para avaliação do sistema de
medição (acuracidade, repe-
tibilidade, correlação, etc.);
Plano para o estudo preliminar de
capacidade do processo;
Especificações de embalagens;
Compromisso da gerência.
31
Tabela 3.5 – Quadro-resumo da fase de validação do produto e do processo
(Adaptado pelo autor do APQP, 1994)
4. Validação do produto e do processo
Entradas Saídas
Estudo de embalagem padronizada
do cliente;
Revisão do sistema de qualidade do
produto/processo;
Fluxograma do processo;
Lay-out de fábrica;
Matriz de características, rela-
cionando parâmetros do processo e
postos de fabricação;
Análise do modo de falha e efeito
para o processo (PFMEA);
Plano de controle do pré-
lançamento;
Instruções de processo;
Plano para avalião do sistema de
medição (acuracidade, repetibilida-
de, correlão, etc.);
Plano para o estudo preliminar de
capacidade do processo;
Especificações de embalagens;
Compromisso da gerência.
Corrida-piloto de produção;
Avaliação dos sistemas de
medição;
Estudo preliminar de capacidade
do processo;
Aprovação de peça de produção;
Teste de validação da produção;
Avaliação da embalagem;
Plano de controle da produção;
Aprovação (sign off) do plano de
qualidade;
Compromisso da gerência.
32
Tabela 3.6 – Quadro-resumo da fase de avaliação, re-alimentação do processo e
ações corretivas (Adaptado pelo autor do APQP, 1994)
5. Avaliação, re-alimentação do processo e ações corretivas
Entradas Saídas
Corrida-piloto de produção;
Avaliação dos sistemas de medição;
Estudo preliminar de capacidade do
processo;
Aprovação de peça de produção;
Teste de validação da produção;
Avaliação da embalagem;
Plano de controle da produção;
Aprovação (sign off) do plano de
qualidade;
Compromisso da gerência.
Redução da variação do processo;
Satisfação do cliente;
Entrega das peças e serviço,
buscando oportunidades de
melhoria contínua.
A figura 3.8 sintetiza os quadros-resumo apresentados, apresentando uma
visão geral do processo de desenvolvimento de produto segundo o APQP.
33
Figura 3.8 – Fluxo de informação sumarizado do APQP
3.5 – Participação de Fornecedores no Desenvolvimento
A participão de fornecedores no projeto e no desenvolvimento de
componentes automotivos pode variar em função da estratégia de negócio da
montadora e também de diferenças regionais. Em seu estudo, CLARK e FUJIMOTO
(1991), apresentam um fluxo de informação para cada nível de participação do
fornecedor no desenvolvimento. As figuras 3.9, 3.10, 3.11 e 3.12 ilustram tais fluxos
em função do nível de participação do fornecedor.
34
a) Componentes proprietários de fornecedor (supplier proprietary parts)
São componentes padronizados, para os quais o fornecedor tem o
controle do conceito aa produção. Normalmente, são oferecidos e vendidos
às montadoras através de catálogos. Como tais componentes podem ser
utilizados por várias montadoras, tem-se um ganho devido à economia de
escala. Por outro lado, a montadora não tem controle sobre o conteúdo da
tecnologia utilizada, o que pode gerar problemas devido à qualidade do
projeto (CLARK e FUJIMOTO, 1991).
Componentes como baterias e velas são exemplos típicos, porém até
componentes genéricos como pneus e equipamentos de som tendem a ser
desenvolvidos segundo a especificação da montadora. CLARK e FUJIMOTO
(1991) constataram em seu estudo, que menos de 10% do custo total de
material do veículo, são relativos a componentes proprietários de fornecedor.
Figura 3.9 Fluxo de informação para componentes proprietários de
fornecedor (CLARK e FUJIMOTO, 1991)
35
b) Componentes “caixa-preta” (black box parts)
Os componentes “caixa-preta” são aqueles nos quais há uma co-
participação entre a montadora e o fornecedor no esforço de
desenvolvimento. A montadora fornece seus requisitos de custo,
performance, superfícies exteriores da peça (se for o caso), detalhes da
interface com o veículo e outras informações básicas do projeto, ficando a
cargo do fornecedor o detalhamento do projeto, o desenvolvimento e
validação dos componentes-protótipos, etc.
Os componentes desta categoria, permitem que a montadora utilize o
conhecimento de engenharia (know-how) e a mão-de-obra do fornecedor,
mantendo o controle do projeto básico e da integração do vculo. O quanto o
fornecedor tem de conhecimento de engenharia (know-how) acumulado faz
seu diferencial competitivo. Sendo também o fornecedor de produção, toda a
experiência acumulada durante o desenvolvimento do componente é
aproveitada na detecção de potenciais problemas de produção, melhorando a
qualidade do componente.
Por outro lado, riscos como o de o projeto básico e idéias de estilo
chegarem aos competidores através do fornecedor, da montadora perder o
controle tecnológico de componentes-chave ou de alguma perda no poder de
negociação pela dependência do conhecimento de engenharia do fornecedor,
devem ser considerados em se tratando de componentes “caixa-preta”.
A opção pelos componentes caixa-preta” não significa o abandono
de toda engenharia envolvida naquele componente, motivo pelo qual alguns
fazem distinção entre componentes “caixa-preta” (black box) e caixa-cinza”
(gray box), em função do vel de conhecimento da montadora sobre os
detalhes internos do projeto do componente (CLARK e FUJIMOTO, 1991).
36
Figura 3.10 Fluxo de informação para componentes “caixa-preta”
(CLARK e FUJIMOTO, 1991)
c) Componentes controlados no detalhe (detail-controlled parts)
Classificam-se como componentes controlados no detalhe, aqueles em
que a montadora detém a maior parte do esforço de desenvolvimento,
incluindo-se a especificação técnica e o desenho do componente. O
fornecedor fica responsável pela engenharia de processo e pela produção,
porém seguindo o desenho fornecido pela montadora. Em alguns casos, o
fornecedor também pode ser responsável pela fabricação dos protótipos.
No caso de componentes da carroceria, algumas montadoras também
ficam com a responsabilidade pela engenharia de processo e construção dos
ferramentais, que são concedidos ao fornecedor, ficando este, responsável
apenas pela produção seriada.
Os componentes desta categoria, trazem como vantagens à
montadora, a preservão do detalhe e da capacidade tecnológica, o controle
sobre o projeto do componente e sua qualidade, além de preservar o poder de
negociação em relação ao preço do componente praticado pelo fornecedor.
37
Por outro lado, a montadora fica obrigada a manter uma complexa estrutura
de engenharia, criando dificuldades para concentrar seus esforços na
engenharia do veículo como um todo. Também, existe o risco de a montadora
perder a competição tecnológica, relativa ao componente, para um fornecedor
que mantém seu foco na tecnologia específica daquele componente (CLARK
e FUJIMOTO, 1991).
Figura 3.11 Fluxo de informão para componentes funcionais controlados
no detalhe (CLARK e FUJIMOTO, 1991)
38
Figura 3.12 – Fluxo de informão para componentes de carroceria
controlados no detalhe (CLARK e FUJIMOTO, 1991)
Segundo KAMATH e LIKER (1994) apud CORSWANT e TUNÄLV (2002),
o nível de participação do fornecedor no projeto do componente, depende
principalmente de sua habilidade em trazer para si, parte do processo de
desenvolvimento. A tabela 3.7 representa o nível de participação do fornecedor em
função da evolução no relacionamento cliente-fornecedor.
39
Tabela 3.7 Participação do fornecedor em função do relacionamento
(KAMATH e LIKER, 1994 apud CORSWANT e TUNÄLV, 2002)
Estágio do relacionamento cliente-fornecedor
Contratual Iniciante Maduro Parceiro
Responsabilidade
pelo projeto
Cliente
Cliente
e
Fornecedor
Fornecedor Fornecedor
Complexidade
do produto
Componentes
Simples
Montagem
simples
Montagem
complexa
Todo sub-
sistema
Fornecimento
das
especificações
Projeto
completo
Especificações
detalhadas
Especificações
críticas
Conceito
Influência do
fornecedor nas
especificações
Nenhuma
Apresenta
suas
capacidades
Negociada Colabora
Fase de
envolvimento do
fornecedor
Protótipo Pós-conceitual
Conceitual
Pré-
conceitual
Responsabilidade
sobre o teste do
componente
Pequena Moderada Grande Completa
Capacidade
tecnológica do
fornecedor
Baixa Média Alta Autônomo
Como pode ser observado na tabela acima, o fornecedor passa a ter maior
participação no desenvolvimento nos estágios “parceiro” e “maduro” de
relacionamento. No estágio “iniciante”, a responsabilidade pelo projeto é conjunta,
porém o fornecedor já é o responsável pelas especificações detalhadas do
componente, o que já demonstra certa participação no desenvolvimento. Enquanto
que no estágio contratual”, não há participação do fornecedor no desenvolvimento.
40
Segundo KESSELER (1997), as principais características do co-
desenvolvimento (co-design), são:
Solicitações ao fornecedor são feitas antecipadamente, incluindo-se o
preço-objetivo e a descrição funcional do produto;
A seleção do fornecedor é baseada em uma decisão da área de projeto,
não sendo somente uma decisão da área de compras, como
tradicionalmente;
Existe a transferência de conhecimento (know-how) ao fornecedor;
Poucos fornecedores são selecionados por produto (um ou dois);
Representantes do fornecedor participam da equipe de desenvolvimento
da montadora;
Existe a nomeação de um gerente de projeto no fornecedor;
O fornecedor tem autonomia na escolha dos métodos e técnicas a serem
utilizadas no desenvolvimento do produto, porém fica obrigado a declarar
claramente cada escolha;
Comunicação intensa entre a montadora e o fornecedor;
Possibilidade de a montadora alterar os requisitos do projeto durante o
desenvolvimento, porém sendo tais mudanças acordadas entre ambos;
Integração antecipada dos aspectos financeiros no estudo técnico do
projeto;
Validação dos resultados obtidos como um processo contínuo ou
interativo, tendo como objetivo maior, a melhoria do produto e do
processo, e não sendo uma maneira de se punir uma baixa performance.
3.6 – Análises e Conclusões
Em um contexto onde o desenvolvimento do veículo passa a ser distribuído
em vários fornecedores, através do co-desenvolvimento de seus componentes, torna-
se necessário à homogeneização dos conceitos relativos ao processo de
desenvolvimento de produto (PDP).
Complementado a revio da literatura iniciada nos capítulos anteriores, este
catulo teve como objetivo sumarizar os conceitos sobre o processo de
41
desenvolvimento de produto, que de alguma forma se relacionam ou estão inseridos
em um desenvolvimento em parceria (co-desenvolvimento).
O modelo geral do funil de desenvolvimento (CLARK e WHEELWRIGHT,
1993), as categorias primárias dos projetos de desenvolvimento (CLARK e
WHEELWRIGHT, 1993) e a integração entre o processo de desenvolvimento de
produto, processo de produção e processo de consumo (CLARK e FUJIMOTO,
1991; KAMINSKI, 2000) introduzem conceitos gerais quanto ao desenvolvimento
de produto. Por outro lado, a classificação do componente pelo nível de participação
do fornecedor no projeto (CLARK e FUJIMOTO, 1991) e o processo interativo
demonstrado pelo modelo da espiral de projeto (KAMINSKI, 2000) têm uso direto
no processo de gestão de co-desenvolvimento, como será visto nos capítulos
seguintes.
Os quadros-resumo apresentados nas tabelas 3.2 a 3.6 o uma forma
sintetizada de se compreender o processo de desenvolvimento de produto conforme o
manual de referência do APQP, que é utilizado como diretriz básica no
desenvolvimento de componentes automotivos pelos fornecedores certificados pela
QS-9000.
Ao término do catulo é discutido o vel de participação do fornecedor no
projeto do componente em função do estágio do relacionamento cliente-fornecedor
(KAMATH e LIKER, 1994 apud CORSWANT e TUNÄLV, 2002) e o co-
desenvolvimento (co-design) é caracterizado segundo KESSELER (1997),
concluindo assim a revisão da literatura e criando os fundamentos para as discussões
dos próximos catulos.
42
4 – ESTRATÉGIA DA MONTADORA PARA O CO-DESENVOLVIMENTO
Este capítulo estuda a estratégia relacionada à integração com os
fornecedores (co-desenvolvimento), buscando evidências de seu uso na distribuição
dos recursos de projeto para veículos em fase de planejamento e na participação do
co-desenvolvimento em veículos em fase de produção.
4.1 – Estratégia Global da Montadora
Observa-se que a subsidiária brasileira segue a orientação da matriz, a qual
definiu e vem implementando uma estratégia de integração com os fornecedores
desde o final da década de 1990, através do programa “Global Supplier Leveraging”,
que dentre outras iniciativas, busca comunicar aos fornecedores a estratégia global da
montadora para o co-desenvolvimento de produto. A figura 4.1 mostra uma visão
geral desta estratégia.
Figura 4.1 – Estratégia global da montadora para o co-desenvolvimento
(REED, 2003 - Traduzido e adaptado pelo autor)
Melhoria das
competências internas
Clientes
Satisfeitos
Componentes classificados em função
da importância estratégica
Utilização da capacidade dos
fornecedores
Componentes totalmente
desenvolvidos internamente
Componentes parcialmente
desenvolvidos internamente
Vantagem
competitiva
Redução do
custo
estrutural
Recursos
($)
Ambiente
Pressão competitiva
Melhor capacitação dos fornecedores
43
Em um ambiente de alta pressão competitiva e onde já era percebida uma melhor
capacitação técnica da base de fornecedores, quando comparado com a situação de
alguns anos atrás, a montadora classificou os componentes, sub-sistemas e sistemas
do vculo em função da importância estratégica de cada um para o negócio da
empresa. A partir desta classificação, foi possível decidir para quais componentes a
montadora deveria manter internamente toda a competência de desenvolvimento e
para quais a montadora poderia manter parcialmente esta competência, utilizando sua
base de fornecedores para o desenvolvimento em parceria destes componentes, sub-
sistemas e sistemas. Esta definição quanto à utilização da capacidade dos
fornecedores, levaria à necessidade de investimento na base de fornecedores,
buscando o amadurecimento das parcerias e a transferência de conhecimentos
específicos sobre projeto veicular da montadora para seus fornecedores, como
ilustrado na figura 4.2.
Figura 4.2 – Capacitação da base de fornecedores
(REED, 2003 - Traduzido e adaptado pelo autor)
Este processo de capacitação dos fornecedores incluiria a transferência de
conhecimento nas mais diversas áreas do desenvolvimento do produto, tais como:
processos de gestão de projetos (VDP, APQP, etc.), ferramentas para modelamento e
simulação virtual (CAD, CAE, DMU, etc.), ferramentas de qualidade (DFMEA,
PFMEA, DFA, DFM, etc.) e principalmente o conhecimento quanto à interação do
componente, sub-sistema ou sistema a ser fornecido com o restante do veículo.
A utilização da capacidade dos fornecedores reduziria o custo estrutural e permitiria
a migração de recursos para a melhoria das competências internas da montadora, ou
seja, a busca por uma melhor qualidade, uma melhor tecnologia e um menor custo
MontadoraFornecedor
Estado Inicial
MontadoraFornecedor
Visão
44
para o produto, criando assim uma vantagem competitiva e tendo como resultado
clientes mais satisfeitos. A tabela 4.1 compara o cenário tradicional com o cenário
que considera a integração dos fornecedores, conforme a estratégia global da
montadora para o co-desenvolvimento.
Tabela 4.1 – Integração com o fornecedor (REED, 2003)
Cenário Tradicional
Cenário com Integração dos
Fornecedores
Custo-objetivo baseado nas cotações.
Objetivo de custo para o vculo definido
pela plataforma e alocado para cada
sistema, sub-sistema e componente.
Montadora fornece especificações
técnicas detalhadas aos fornecedores.
Montadora fornece especificação técnica
funcional, requisitos de mercado e estilo,
juntamente com o pacote de cotação.
Fornecedores cotam o preço baseado
nas especificações detalhadas das
montadoras.
Fornecedores submetem propostas de
como eles podem atingir os requisitos do
programa e o objetivo de custo para o
sistema, sub-sistema ou componente.
Fornecedores desenvolvem apenas
componentes.
Fornecedores desenvolvem componentes,
sub-sistemas e sistemas.
Montadora é responsável sempre por
liderar a equipe de desenvolvimento
de produto (PDT) ou um sub-grupo
desta equipe.
Fornecedores podem preparar documentos
para liberação de engenharia e também
liderarem equipes de desenvolvimento de
produto (PDT) ou sub-grupos da equipe.
Montadora é responsável por testar e
validar.
Fornecedores são responsáveis pelas
análises, testes e validações em seus
sistemas, sub-sistemas ou componentes.
A relação montadora-fornecedor é
baseada em contratos de negócio.
A relação montadora-fornecedor é
também baseada em objetivos mútuos e o
trabalho em conjunto é encorajado e
suportado pela montadora.
45
4.2 – Classificação quanto ao Nível de Integração Permitido
A montadora objeto do estudo classificou em veis de integração permitidos
(co-desenvolvimento) cada sistema, sub-sistema e componente do vculo em função
da importância estratégica de cada um para o negócio da empresa, atribuindo as
responsabilidades a cada parceiro (montadora ou fornecedor) em função deste nível
de integração. O grau de participação do fornecedor no desenvolvimento do sistema,
sub-sistema ou componente a ser fornecido varia conforme este nível de integração
permitido, o qual é categorizado em Nível I, Nível II, Nível II e Nível IV.
a) Nível I
Não há integração com o fornecedor para os componentes de Nível I,
sendo a montadora responsável por todas as atividades de engenharia. Os
fornecedores ou a própria manufatura da montadora produzem os
componentes a partir dos desenhos e especificações de projeto da montadora.
b) Nível II
Os fornecedores são responsáveis pelas atividades de engenharia e
produção dos componentes, ficando a montadora responsável pela integração
dos componentes nos sub-sistemas ou sistemas e pelas atividades de
engenharia do sub-sistema ou sistema.
c) Nível III
Os fornecedores são responsáveis pelas atividades de engenharia e
produção dos sub-sistemas ou sistemas, ficando a montadora responsável pela
integração dos sub-sistemas ou sistemas ao veículo.
d) Nível IV
Os fornecedores são responsáveis pelas atividades de engenharia,
produção e integração dos componentes, sub-sistemas ou sistemas ao vculo,
ficando a montadora responsável apenas pela engenharia do vculo.
Entende-se como responsabilidade pela engenharia, a responsabilidade pelo projeto,
análise, desenvolvimento e validação de um sistema, sub-sistema ou componente. A
46
tabela 4.2 relaciona a responsabilidade ao nível de integração permitido, segundo a
estratégia da empresa.
Tabela 4.2 – Responsabilidades em função do nível de integração
(REED, 2003 - Traduzido e adaptado pelo autor)
Responsabilidade Nível I Nível II Nível III Nível IV
Engenharia do vculo Montadora Montadora Montadora Montadora
Integração do sub-sistema
ou sistema ao vculo
Montadora Montadora Montadora Fornecedor
Engenharia do sub-sistema
ou sistema e também a
integração do componente
no sub-sistema ou sistema
Montadora Montadora Fornecedor Fornecedor
Engenharia do componente Montadora Fornecedor Fornecedor Fornecedor
Já a tabela 4.3 exemplifica a classificação dos sistemas, sub-sistemas ou
componentes em função do vel permitido de integração (co-desenvolvimento).
Tabela 4.3 – Exemplos de classificação quanto ao nível de integração
(REED, 2003 - Traduzido e adaptado pelo autor)
Nível de Integração Exemplos
Nível I
Maior parte da estrutura de carroceria;
Painéis da carroceria;
Pára-choques;
Cobertura plástica dos pára-choques, etc.
Nível II
Motor;
Transmissão;
Controle e diagnóstico do powertrain;
Estrutura do chassi;
Suspensão e freios;
Molduras externas;
Arquitetura elétrica;
Maior parte dos sistemas elétricos, etc.
47
Nível III
Escapamento, volante de direção e pneus;
Radiador e sistema de arrefecimento;
Bancos e cintos de segurança;
Painel de instrumentos e console;
Espelhos retrovisores e emblemas;
Iluminação externa e interna;
Chicotes, interruptores, bateria e alternador;
Sistema de limpadores, etc.
Nível IV
Calotas;
Rodas;
Buzina, etc.
4.3 – Distribuição dos Recursos de Projeto
A alocação de recurso para pagamento a fornecedores pelo desenvolvimento
de um sistema, sub-sistema ou componente depende do vel de modificação do
mesmo. A tabela 4.4 relaciona o vel de modificação com a possibilidade ou não de
se alocar recurso para o co-desenvolvimento do componente em questão.
Tabela 4.4 – Relação entre a modificação e o recurso para co-desenvolvimento
Nível Descrição Recurso
I1
Idêntico 1
Componente fornecido atualmente.
Usa exatamente os mesmos ferramentais, processos
e equipamentos de montagem.
Não
considerado
I2
Idêntico 2
Variação de um componente fornecido atualmente.
Requer alterações mínimas nos ferramentais de
seus sub-componentes, não afetando os dispositivos
e equipamentos de montagem.
Não
considerado
M1
Modificado 1
Variação de um componente fornecido atualmente.
Re-utiliza a maior parte dos ferramentais de seus
sub-componentes, evitando investimento
significativo no componente.
Não afeta os equipamentos de montagem.
Alocado
conforme a
solicitação da
Engenharia
( *)
48
M2
Modificado 2
Variação de um componente fornecido atualmente.
Requer alterações significativas nos ferramentais de
seus sub-componentes.
Re-utiliza a maior parte dos dispositivos de
montagem, evitando investimento significativo no
processo de produção.
Não afeta os equipamentos de montagem.
Alocado
conforme a
solicitação da
Engenharia
( *)
N1
Novo 1
Variação de um componente fornecido atualmente
com solução de engenharia conhecida.
Requer novo conjunto de ferramentais e
dispositivos, porém re-utiliza os equipamentos e
processos de montagem.
Alocado
conforme a
solicitação da
Engenharia
( *)
N2
Novo 2
Componente não fornecido atualmente e com
solução de engenharia desconhecida para a
empresa.
Requer novo conjunto de ferramentais e
dispositivos.
Pode requerer novos equipamentos e processos de
montagem.
Alocado
conforme a
solicitação da
Engenharia
( *)
( *)
Exceto para Legacy Commodities.
Recursos somente o alocados para pagamento a fornecedores pelo
desenvolvimento do produto quando a modificação for superior ao vel M1 e
conforme a solicitação de co-desenvolvimento feita na especificação de engenharia.
Excetuam-se, também, os casos em que devido ao tempo de uso da tecnologia, a base
de fornecedores já absorveu o custo estrutural para desenvolver aquele tipo de
componente (Legacy Commodities), tais como: sistema de exaustão, sistema de
combustível, freio, coluna de direção, volante, iluminação, espelho retrovisor,
limpador de pára-brisa, conjunto de instrumentos do painel (cluster), interruptores,
radio, bateria, alternador, buzina, etc.
A partir de um estudo feito sobre a distribuição dos recursos alocados para os
projetos aprovados após o ano de 2000 na subsidiária brasileira da montadora
estudada, notou-se que apesar do recurso total destinado ao projeto de um veículo
49
variar muito em função da categoria do projeto (novo, re-estilização ou
ornamentação), sua distribuição percentual se manteve. A figura 4.3 mostra a
distribuição percentual típica destes recursos, onde se considerou como
Investimentos” todos os recursos destinados à confecção dos ferramentais da
montadora, ferramentais alocados em fornecedores e alterações da planta de
montagem e se considerou como “Outras Despesas” todos os recursos destinados às
despesas de pré-produção, divulgação, lançamento e capacitação para o pós-vendas.
62%
22%
3%
11%
1%
Investimentos
Despesas com Engenharia de Produto
Despesas com Criação/Estilo
Despesas com Engenharia de Manufatura
Outras Despesas
Figura 4.3 – Distribuição dos recursos de projeto
A partir dos 22% alocados como “Despesas com Engenharia de Produto”,
obteve-se a distribuição mostrada na figura 4.4, onde os recursos alocados para co-
desenvolvimento representam 12% do total alocado para Engenharia de Produto.
50
12%
34%
36%
1%
Co-Desenvolvimento
Desenvolvimento Interno (Eng. da Montadora)
Materiais para Desenvolvimento e Testes
Outros
Figura 4.4 Distribuição dos recursos de engenharia
a figura 4.5 mostra os recursos alocados para co-desenvolvimento em
relação ao total de recursos do projeto.
3%
97%
Co-Desenvolvimento (Servos de Engenharia) Outros Investimentos e Despesas
Figura 4.5 Participação do co-desenvolvimento no total do projeto
Nota-se que os recursos alocados para pagamento a fornecedores por
desenvolvimento de produto representam cerca de 3% dos recursos totais alocados ao
projeto, porém 12% dos recursos alocados como Despesas com Engenharia de
Produto”. A partir desta informação, pode-se perceber que mesmo representando
uma parcela razoável dos recursos alocados para Engenharia de Produto (12%), tal
51
parcela se torna menos significativa frente aos recursos totais do projeto. Como os
projetos da montadora estudada tendem a requerer um nível de modificação mais
baixo (máximo M2 ou N1) para a maioria dos componentes, esta informação também
evidencia o critério na alocação de recursos para co-desenvolvimento, o qual tenta
evitar que recursos financeiros sejam transferidos ao fornecedor mais de uma vez
pelo desenvolvimento de um mesmo componente ou que se destinem recursos
financeiros ao fornecedor quando o custo de desenvolvimento do componente já
esteja absorvido no custo estrutural do fornecedor (Legacy Commodities).
4.4 – Potencial de Participação do Fornecedor no Desenvolvimento
Analisando-se a árvore de estrutura do produto, pode-se categorizar os
componentes segundo sua procedência, como mostrado abaixo:
a) Componentes comprados não padronizados
Entende-se por componentes comprados não padronizados aqueles
que foram desenvolvidos especificamente para a montadora, seja no projeto
do vculo em questão, seja em projetos anteriores com posterior reutilização
do sistema, sub-sistema ou componente no projeto do vculo em questão.
Tais componentes seriam classificados como caixa-preta” (black box) ou
componentes controlados no detalhe”, segundo o critério de CLARK e
FUJIMOTO (1991). Cabe lembrar que os componentes “caixa-preta” (black
box) também podem ser denominados caixa-cinza” (gray box) em função do
grau de conhecimento da montadora sobre os detalhes internos de seu projeto.
b) Componentes comprados padronizados
Os componentes comprados padronizados são aqueles oferecidos no
mercado e utilizados por várias montadoras, recebendo a classificação de
componentes proprietários de fornecedor”, segundo CLARK e FUJIMOTO
(1991).
c) Componentes manufaturados
Já os componentes manufaturados são aqueles fabricados
internamente pela montadora e correspondem, na maioria das vezes, aos itens
52
de projeto mais complexos e de maior importância estratégica para a
montadora.
A figura 4.6 mostra a distribuição percentual dos componentes presentes na lista de
materiais (BOM) de um vculo luxo (sedan médio) e de um veículo básico
(hatchback pequeno) em produção, onde se nota a clara predominância de
componentes comprados não padronizados.
71% 20% 9%
77% 18% 5%
Veículo Luxo
Veículo Básico
Comprados (não padronizados) Comprados (padronizados)
Manufaturados
Figura 4.6 Procedência dos componentes
Considerando-se apenas os componentes comprados não padronizados, ou
seja, aqueles que foram desenvolvidos especificamente para a montadora em
questão, e atribuindo-se a eles a classificação da montadora quanto ao vel de
integração permitido (co-desenvolvimento), obtém-se que mais de 90% dos
componentes comprados não padronizados permitem seu desenvolvimento em
parceria (co-desenvolvimento), como mostra a figura 4.7.
53
91% 9%
95%
5%
Veículo Luxo
Veículo Básico
veis II, III e IV Nível I
Figura 4.7 – Nível de integração permitido dentre os componentes comprados não
padronizados
Nota-se, então, que cerca de 90% dos componentes comprados não padronizados
seriam classificados como “caixa-preta” (black box) ou “caixa-cinza” (gray box),
segundo a classificação de CLARK e FUJIMOTO, sendo o restante dos componentes
comprados não padronizados, classificados como “controlados no detalhe”, ou seja,
seu desenvolvimento seria de responsabilidade exclusiva da montadora.
Atribuindo-se apenas a classificação da montadora quanto ao nível de
integração permitido (co-desenvolvimento) ao universo dos componentes presentes
nas listas de materiais (BOM), tem-se o potencial de participão do fornecedor no
desenvolvimento destes componentes em função da estratégia da empresa, o qual
ficou entre 60% e 70% do total de componentes do veículo, como mostra a figura
4.8.
54
65% 35%
73% 27%
Veículo Luxo
Veículo Básico
Permite co-desenvolvimento Não permite co-desenvolvimento
Figura 4.8 – Potencial de co-desenvolvimento segundo a estratégia da empresa
Observa-se que uma proporção entre 60% e 70% dos componentes presentes na lista
de materiais (BOM) são classificados com os níveis II, III e IV pela estratégia da
empresa, ou seja, permitem a participação de seus fornecedores no esforço de
desenvolvimento e seriam classificados como componentes caixa-preta” (black box)
ou caixa-cinza” (gray box), segundo a classificação de CLARK e FUJIMOTO
(1991). Já os 30% a 40% restantes são os componentes comprados não padronizados
classificados como vel I (componentes controlados no detalhe), os componentes
comprados padronizados (componentes proprietários de fornecedor) e os
componentes manufaturados internamente, que em sua maioria, também são
componentes controlados no detalhe, segundo a classificação de CLARK e
FUJIMOTO (1991).
55
4.5 – Análises e Conclusões
A classificação dos componentes pelo vel de participação do fornecedor no
esforço de desenvolvimento (CLARK e FUJIMOTO, 1991), a busca pela evolução
no estágio do relacionamento cliente-fornecedor (KAMATH e LIKER, 1994 apud
CORSWANT e TUNÄLV, 2002) e a transferência de conhecimento ao fornecedor
(KESSELER, 1997) são aspectos presentes na estratégia da empresa estudada.
O critério na alocação dos recursos do projeto destinados ao co-
desenvolvimento em função do vel de modificação, visa evitar que recursos
financeiros sejam transferidos ao fornecedor mais de uma vez pelo desenvolvimento
de um mesmo sistema, sub-sistema ou componente. Já o conceito de Legacy
Commodities tenta evitar a destinação de recursos financeiros ao fornecedor por um
desenvolvimento que já tenha seu custo de engenharia incluído na composição do
custo do componente a ser fornecido. Percebe-se que o critério do vel de
modificação incorpora o conceito de categorias primárias de projetos apresentado no
estudo de CLARK e WHEELWRIGHT (1993).
No estudo da lista de materiais (BOM) de veículos em produção, constatou-se
que uma proporção de 60% a 70% dos componentes presentes nestas listas, poderia
ter seu desenvolvimento em parceria com o fornecedor pela classificação da empresa,
ou seja, seriam classificados como componentes “caixa-preta” (black box) ou “caixa-
cinza” (gray box) no critério de CLARK e FUJIMOTO (1991). Nota-se que no
estudo de CLARK e FUJIMOTO (1991) é apresentada uma proporção de
componentes caixa-preta” (black box) de 62% na indústria japonesa, 16% na
européia e 39% na norte-americana, porém deve-se observar que estas proporções
traduzem a relação do custo dos componentes classificados como caixa-preta”
(black box) com o custo total de material produtivo das indústrias pesquisadas na
época, enquanto que a proporção de 60% a 70% obtida no presente estudo, traduz a
relação entre o número de componentes que permitem seu desenvolvimento em
parceria (Níveis II, III e IV) com o total de componentes na lista de materiais (BOM),
não sendo possível uma correlação entre ambos os resultados.
Ainda como uma recomendação, pode-se sugerir que a classificação quanto
ao nível de integração permitido passe a ser um atributo do registro da peça na lista
de materiais (BOM), direcionando assim, o tipo de relação cliente-fornecedor que se
busca para aquele sistema, sub-sistema ou componente. O próprio código da peça
56
(part number) poderia trazer esta informão, como ilustra a figura 4.9, que mostra o
conceito atual e uma proposta para o formato do código de peça.
Figura 4.9 – Proposta de formato para o código de peça (part number)
O dígito d1 (centro responsável) traria a informão do centro de engenharia
responsável pelo desenho da peça. Os gitos d2 e d3 trariam o código do sistema ou
sub-sistema do veículo onde a peça é utilizada ou um código geral para as peças com
uso em vários sistemas e sub-sistemas (elementos de fixação, etc.). O gito d4 traria
a informação do nível de integração permitido (1, 2, 3 ou 4) para a peça em questão e
os gitos d5, d6, d7 e d8, a seqüência de criação de novas peças para o sistema ou
sub-sistema determinado por d2 e d3.
d
1
Bloco de
Códigos
Formato Atual
Formato Proposto
d
2
d
3
d
4
d
5
d
6
d
7
d
8
Seqüência
de Criação
d
1
Centro
Responsável
d
2
d
3
d
4
d
5
d
6
d
7
d
8
Seqüência de
Criação
Nível de
Integração
Permitido
Código do
Sistema ou Sub-
Sistema
57
5 – CO-DESENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
DE PRODUTO
Devido ao aumento da competitividade no mercado automotivo atual, as
montadoras vem sendo obrigadas a implementar um processo de desenvolvimento de
vculo (VDP) cada vez mais curto, objetivando atender à crescente redução do ciclo
de vida do produto no mercado. Ao final da década de 1990 aceitava-se um padrão
de 48 meses para o processo de desenvolvimento de veículo (VDP) e hoje se
consideram padrões de 24, 20 e até 18 meses para o desenvolvimento de um vculo.
Esta realidade direciona os esforços das montadoras na incorporação de novas
ferramentas e implementação de novos processos de gestão, onde se podem destacar
as seguintes iniciativas:
a) Integração com os fornecedores
O uso do conhecimento de engenharia (know-how) do fornecedor
permite o desenvolvimento paralelo de vários componentes, sub-sistemas e
sistemas do veículo, sem a necessidade da montadora incorporar o custo da
estrutura de engenharia, que seria necessária para realizar os mesmos
desenvolvimentos paralelos internamente. Com isso, obtém-se uma redução
na duração do processo de desenvolvimento de veículo (VDP), além da
incorporação de novas tecnologias aos sistemas veiculares em função da
especialização dos fornecedores.
a) Utilização de análises virtuais
Nota-se a intensificação da utilização de análises virtuais visando à
redução da necessidade de protótipos físicos e tendo como conseqüência um
menor custo e um menor tempo (lead-time) de desenvolvimento. O
aprimoramento dos sistemas CAE (Computer Aided Engineering) e a
utilização de protótipos virtuais, através do DMU (Digital Mock-Up) e VR
(Virtual Reality) são as principais iniciativas neste campo.
b) Redução do tempo de prototipagem
Reduzir o tempo de fabricação de protótipos de componentes, visando
a rápida verificação de sua montagem e funcionalidade, tem sido possível
58
através de ferramentas de prototipagem rápida, tais como: STL
(Stereolithography), FDM (Fused Deposition Modelling), etc.
A figura 5.1 exemplifica a integração com o fornecedor (co-
desenvolvimento), onde um modelo virtual desenvolvido pelo fornecedor para o
componente de sua responsabilidade (air bag) foi incorporado ao modelo de
simulação do vculo completo da montadora.
Figura 5.1 – Exemplo de integração com o fornecedor
Já a figura 5.2 ilustra a utilização de análises virtuais, comparando os resultados do
teste de impacto real (crash test) com o simulado previamente (virtual).
Figura 5.2 – Comparação de teste real com resultado de simulação
Neste capítulo é estudada a interação entre o co-desenvolvimento e o
processo de desenvolvimento de produto (PDP) aplicado à subsidiária brasileira da
montadora objeto deste estudo.
59
5.1 – Processo de Desenvolvimento de Veículo
Analogamente ao processo de desenvolvimento de produto (PDP)
apresentado por CLARK e FUJIMOTO (1991), denomina-se de processo de
desenvolvimento de veículo (VDP) o conjunto de atividades necessárias ao
desenvolvimento de um novo veículo. De uma forma mais ampla, pode-se incluir o
Desenvolvimento Avançado” como uma fase do processo de desenvolvimento de
vculo (VDP), porém é uma prática da indústria automobistica considerar a
duração do processo de desenvolvimento de veículo (VDP) como o peodo entre o
evento “Início do Programa” e o evento “Início de Produção”, uma vez que a
informação da viabilidade econômica do projeto (business case) só está completa ao
término do Desenvolvimento Avançado”. A figura 5.3 mostra esta situação em uma
linha de tempo.
Figura 5.3 – Sub-processos do processo de desenvolvimento de veículo (VDP)
Durante o período de Desenvolvimento Avançado” busca-se a caracterização geral
do novo veículo, incluindo-se informações das necessidades do mercado, potenciais
concorrentes e viabilidade econômica do projeto. Também se criam alternativas de
temas de estilo para o vculo, bem como soluções preliminares de engenharia. Ao
término do “Desenvolvimento Avançado”, tem-se a seleção do tema de estilo e o
estudo da viabilidade econômica do projeto (business case), que sendo favorável,
leva ao icio efetivo de um programa para o desenvolvimento do veículo em
questão. Pode-se associar este período de “Desenvolvimento Avançado” com as
fases de Conceito do Produto” e “Planejamento do Produto” descritas no estudo de
CLARK e FUJIMOTO (1991).
De uma forma simplificada, pode-se dividir o processo de desenvolvimento
de veículo (VDP) em três fases de desenvolvimento e três fases de construção e
validação de protótipos, além da fase de Desenvolvimento Avançado” apresentada.
60
A figura 5.4 ilustra o processo de desenvolvimento de veículo (VDP), conforme
observado na empresa objeto deste estudo.
Figura 5.4 – Ilustração do processo de desenvolvimento de veículo (VDP)
a) Desenvolvimento do Estilo
Esta fase é uma continuação do trabalho iniciado na fase de
Desenvolvimento Avançado”, onde um tema de estilo foi selecionado dentre
três a nove alternativas avaliadas. Porém, durante a fase de
Desenvolvimento do Estilo” há uma grande interação com a Engenharia de
Produto e de Processo, uma vez que ao término desta fase, todas as
superfícies de estilo, ou seja, as supercies exteriores e interiores que afetam
a aparência do produto, devem estar finalizadas e liberadas para o uso da
organização. Antes do evento “Superfícies Finais de Estilo”, que marca o
término desta fase, existem outros eventos intermediários, onde superfícies
preliminares são progressivamente liberadas para o uso da Engenharia de
Produto e Processos, de modo a permitir o desenvolvimento necessário para a
construção dos protótipos.
61
b) Desenvolvimento do Produto
Esta fase compreende o período entre o Início do Programa” e o
Término da Validação do Produto”, porém, tal como a fase de
Desenvolvimento do Estilo”, aproveita os estudos preliminares de
engenharia realizados durante o Desenvolvimento Avançado”. O objetivo
desta fase é gerar as especificações técnicas, os modelos matemáticos e os
desenhos de engenharia necessários para a fabricação do veículo, bem como
construir e testar os protótipos necessários para uma completa validação do
produto ao término desta fase. Nota-se também, uma interação com o Estilo
até que todas as superfícies aparentes estejam finalizadas e com a Engenharia
de Processo até o produto esteja completamente validado. Entre os eventos
Início das Liberações de Engenhariae “Término das Liberações de
Engenharia”, também existem eventos intermediários, onde informões de
engenharia são progressivamente liberadas para a construção dos protótipos e
para estudos do processo de fabricação.
c) Desenvolvimento do Processo
A fase de “Desenvolvimento do Processo” se inicia em paralelo com
as fases de “Desenvolvimento do Estilo” e Desenvolvimento do Produto”,
através da avaliação da viabilidade para se fabricar o produto que está sendo
concebido. Porém, o objetivo desta fase é concretizar as informões geradas
durante o Desenvolvimento do Produto” em ferramentais, maquinários,
instalações fabris e instruções de processo, de forma a garantir um processo
produtivo adequado para a demanda esperada do veículo. Também, durante
esta fase existe uma interação com o Estilo e com a Engenharia de Produto,
que se estende até o término da fase de “Desenvolvimento do Produto”.
Entretanto, a fase de Desenvolvimento do Processo” compreende também as
atividades de validação do processo e por isso se estende até o evento
Término da Validação do Processo”.
Pode-se relacionar as fases de “Desenvolvimento do Estiloe
“Desenvolvimento do Produtodo processo de desenvolvimento de veículo (VDP)
com a fase de “Projeto do Produto” apresentada por CLARK e FUJIMOTO (1991),
bem como a fase de “Desenvolvimento do Processo” com a fase de “Projeto do
62
Processo” do processo de desenvolvimento de produto (PDP) descrito por CLARK e
FUJIMOTO (1991).
as três fases de protótipos compreendem a obtenção do material
necessário, a construção dos protótipos e também sua validação, considerando
porém, o grau de evolução do projeto em função da progressividade das informões
geradas nas fases de desenvolvimento, como sumarizado a seguir:
a) Veículos de Arquitetura
Os veículos construídos durante esta fase, também conhecidos como
veículos conceituais ou veículos mula, servem para avaliar alguns sistemas,
sub-sistemas ou componentes, gerando as informações necessárias ao
prosseguimento do desenvolvimento. Tipicamente, pode-se avaliar o
desenvolvimento do chassi, o envelope do pneu, o conceito da arquitetura
elétrica e a montagem de componentes críticos (mock-ups) em vculos
conceituais estáticos, deixando-se a construção de um veículo de arquitetura
não estático para o período após o evento Início das Liberações de
Engenharia”, o que torna possível, por exemplo, a construção de um veículo
mula para avaliação do sistema de arrefecimento, uma vez que maiores
detalhes das superfícies externas do vculo passam a ser conhecidos.
b) Veículos de Integração
Já os veículos de integração evoluem em conteúdo até o evento
“Término das Liberações de Engenharia”, servindo de base ao
desenvolvimento e validação de todos os sistemas, sub-sistemas e
componentes do projeto, motivo pelo qual esta fase se estende até o evento
“Término da Validação do Produto.
c) Veículos Piloto
Os veículos piloto o vculos para validação do processo produtivo,
também sendo utilizados na obtenção de aprovações finais ou homologações
de órgãos oficiais. De forma análoga aos veículos de integração, há uma
evolução dos veículos piloto até o evento Término da Validação do
Processo”, a partir do qual se inicia a avaliação do processo de produção em
condições normais de operação, ou seja, utilizando-se componentes
63
comprados aprovados (Final PPAP) pela Engenharia de Qualidade de
Fornecedores e componentes manufaturados internamente aprovados com os
mesmos critérios de qualidade dos componentes normais de produção.
A seleção do fornecedor em uma etapa inicial do processo de
desenvolvimento é uma das características do co-desenvolvimento (co-design)
apresentadas por KESSELER (1997), porém tal definição é estratégica para a
montadora, pois implica em alguns riscos, tais como: o projeto básico e idéias de
estilo chegarem aos competidores através dos fornecedores ou a montadora ter maior
dificuldade na negociação comercial em função dos fornecedores já estarem
participando do desenvolvimento. Por outro lado, o icio de um processo interativo
de troca de informações com os fornecedores logo nas primeiras etapas do projeto,
permite a utilização de seu conhecimento (know-how) na definição das tecnologias a
serem aplicadas e na elaboração de especificações técnicas de melhor qualidade.
Nota-se que o processo de desenvolvimento de vculo (VDP) apresentado,
não define como um evento o envolvimento dos fornecedores, uma vez que esta
decio é tomada individualmente para cada sistema, sub-sistema ou componente a
ser desenvolvido em parceria. Tipicamente, considera-se a necessidade de
informações para a fase de “Desenvolvimento de Estilo” e a criticidade quanto ao
tempo de desenvolvimento do componente (lead time), em função do icio da
construção dos protótipos, como fatores-chave para um envolvimento antecipado de
um fornecedor.
5.2 – Equipe de Desenvolvimento de Produto
Durante as fases de “Desenvolvimento de Estilo”, “Desenvolvimento do
Produto” e Desenvolvimento do Processo” existe uma forte interação entre diversas
áreas funcionais, tais como: Marketing, Estilo, Engenharia de Produto, Engenharia
de Processos, Finanças (Custos), Materiais (Compras), Qualidade e Serviços (Pós-
Vendas). Com o objetivo de facilitar este processo interativo, a empresa estudada
divide o veículo em sete sistemas e forma uma equipe de desenvolvimento de
produto (PDT) para cada um destes, tal como ilustrado pela estrutura matricial
mostrada na figura 5.5.
64
Figura 5.5 Estrutura matricial das equipes de desenvolvimento de produto
Participam das equipes de desenvolvimento de produto, um representante de
cada área funcional, sendo este consultado sempre que alguma decisão ou
informação sobre qualquer sub-sistema ou componente, cujo desenvolvimento é de
responsabilidade da equipe, envolver sua área funcional. Um dos participantes é
definido como o der da equipe de desenvolvimento (PDT Leader) e passa a ser o
responsável por acompanhar e reportar ao Planejamento (Plataforma) o andamento
do desenvolvimento dos sub-sistemas e componentes, pelos quais sua equipe de
desenvolvimento de produto (PDT) é responsável. Em reuniões periódicas agendadas
com a gerência da plataforma, os líderes de equipe (PDT Leader) discutem o
cronograma de desenvolvimento, metas de qualidade, metas de custo e dificuldades
que não puderam ser resolvidas dentro da equipe de desenvolvimento (PDT). Por
outro lado, cabe ao representante de cada área funcional distribuir as atividades
65
solicitadas na equipe de desenvolvimento (PDT) para outros colaboradores dentro de
sua área funcional que estejam envolvidos com o mesmo programa. Por exemplo, o
representante da Engenharia de Produto deve distribuir as informações e decisões
obtidas na equipe de desenvolvimento de produto (PDT) a cada engenheiro
responsável pelo desenvolvimento de um sub-sistema ou componente que esteja
vinculado àquela equipe de desenvolvimento (PDT), bem como, coletar os assuntos
que necessitam de uma informão ou decio da equipe de desenvolvimento de
produto (PDT).
Pode-se representar o desenvolvimento dos sub-sistemas e componentes
dentro de uma equipe de desenvolvimento de produto (PDT) em uma espiral de
projetos, onde interação entre cada área funcional e o projeto do componente é
representada pela intersecção da espiral (projeto) com uma das linhas radiais (área
funcional), como ilustrado pela figura 5.6.
Figura 5.6 – Representação da interação entre as áreas funcionais
66
Na prática, porém, nota-se que é estabelecida uma rede de relacionamentos
interligando os colaboradores de cada área funcional que estejam envolvidos com o
desenvolvimento de um mesmo sub-sistema ou componente, evitando-se assim, que
a equipe de desenvolvimento de produto (PDT) torne-se um gargalo para o
andamento do projeto do componente em questão, quando há a necessidade de troca
de informação entre as diversas áreas funcionais.
Em função de vários fornecedores estarem envolvidos no desenvolvimento de
vários sub-sistemas e componentes, cuja responsabilidade é de uma mesma equipe de
desenvolvimento de produto (PDT), estes não são incldos como membros diretos
de cada uma das sete equipes de desenvolvimento (PDT), porém participam da rede
de relacionamento que interliga os colaboradores de cada área funcional. Esta
participação pode ser direta, no caso em que o fornecedor designa um Engenheiro
Residente para trabalhar na montadora durante o desenvolvimento de um sub-sistema
ou componente, ou indireta, quando a participação do fornecedor é através do
Engenheiro de Produto da montadora.
5.3 – Processo de Co-Desenvolvimento
O processo de desenvolvimento em parceria com um fornecedor (co-
desenvolvimento), observado na empresa objeto deste estudo, pode ser dividido em
seis etapas distintas, a saber:
a) Seleção da tecnologia
Nesta etapa, busca-se definir o conceito e a tecnologia que se
empregada no desenvolvimento de um novo sistema, sub-sistema ou
componente. O conhecimento sobre inovações, adquirido através de visitas
aos fornecedores, seminários técnicos, estudos comparativos com a
concorrência (benchmarking), etc. e o histórico de qualidade do sistema ou
componente atual, são fatores de influência na decisão do conceito do novo
sistema ou componente.
b) Elaboração da especificação
O estilo de especificação adotado, mais funcional ou mais quantitativo
(NELLORE, 2001), influencia diretamente no potencial de contribuição do
67
fornecedor ao projeto. Especificações mais quantitativas são mais restritivas e
podem se tornar um fator limitante à utilização de novas tecnologias e
soluções de conhecimento do fornecedor. Por outro lado, especificações
muito abertas podem resultar em produtos que não correspondem ao esperado
no momento da elaboração da especificação. Tipicamente, referências de
especificações anteriores, máscaras padronizadas e normas técnicas (externas
ou internas) são fatores de influência durante a etapa de elaboração da
especificação.
c) Definição do custo-objetivo
Nesta etapa, os objetivos de custo do programa devem ser
transformados em um valor de custo-objetivo para cada sistema, sub-sistema
ou componente, que será desenvolvido, garantindo-se assim, que o custo do
novo veículo seja coerente com a estratégia da empresa para este produto.
Além do próprio objetivo de custo do programa, as características técnicas e
funcionais do novo sistema ou componente, são os fatores de influência na
definição deste custo.
d) Seleção do fornecedor
A seleção do fornecedor é influenciada diretamente pela proposta
técnica e comercial apresentada e pelo histórico de cada fornecedor que
participa do processo de seleção.
e) Desenvolvimento do componente
A etapa de desenvolvimento do componente é influenciada pelo
processo de desenvolvimento de produto (PDP) adotado no fornecedor e pelo
processo de desenvolvimento de veículo (VDP) adotado na montadora. Rao
pela qual, buscou-se padronizar o processo de desenvolvimento de produto
(PDP) dos fornecedores automotivos, através do APQP, como discutido no
catulo três.
f) Integração e validação no veículo
Finalmente, a etapa de integração e validação no veículo tem
inflncia direta do processo de desenvolvimento de veículo (VDP) da
68
montadora, pois este define o plano e o cronograma para validação em
veículos dos diversos sistemas, sub-sistemas e componentes desenvolvidos
em parceria com os fornecedores. A figura 5.7 ilustra estas etapas e os fatores
de influência a elas relacionados.
Figura 5.7 – Etapas do co-desenvolvimento e seus fatores de influência
No decorrer deste capítulo, serão discutidas mais detalhadamente estas etapas
e seus aspectos específicos.
69
5.4 – Especificação do Sistema, Sub-Sistema ou Componente
Em seu estudo sobre gestão da relação cliente-fornecedor na indústria
automotiva, NELLORE (2001) destaca a importância da especificação e apresenta a
cadeia de especificações utilizadas no processo de desenvolvimento de veículos
(VDP). A figura 5.8 ilustra esta cadeia, onde os fornecedores exercem influência na
elaboração das especificações dos sub-sistemas e dos componentes.
Figura 5.8Cadeia de especificações no desenvolvimento de um veículo
(NELLORE, 2001 - Traduzido e adaptado pelo autor)
A especificação do segmento de mercado e a especificação inicial do veículo
representam o início da cadeia e descrevem as características do mercado e
arquitetura do veículo a ser desenvolvido. A especificação do vculo descreve as
características de performance do veículo e seus sistemas, detalhando a arquitetura a
ser utilizada. Já as especificações dos sub-sistemas e dos componentes traduzem os
requisitos da especificação do veículo em nível de componentes e podem ser
influenciadas pelos fornecedores. A tabela 5.1 exemplifica alguns requisitos de
Serviços (after-sales) descritos nos diversos níveis de especificação da cadeia
apresentada por NELLORE (2001).
70
Tabela 5.1 Exemplos de requisitos descritos nos diversos veis de especificação
(NELLORE, 2001 - Traduzido e adaptado pelo autor)
Especificação Exemplos de Requisitos
Especificação técnica
do vculo
O veículo deve rodar 30.000 km sem qualquer
manutenção;
O veículo deve operar com um determinado tipo de
óleo;
Especificação técnica
do sub-sistema
Deve haver fácil acesso ao ponto de carga do
refrigerante utilizado no sistema de ar condicionado;
As ferramentas presentes no veículo devem ser
suficientes para as operações realizadas no sistema;
Especificação técnica
do componente
Devem ser utilizados somente os parafusos
padronizados na fixação do componente de forma que
todos os parafusos possam ser soltos ou apertados
somente com as ferramentas presentes no vculo;
Na montadora estudada para este trabalho, nota-se que o envolvimento do
fornecedor na elaboração das especificações técnicas dos sub-sistemas e
componentes é predominantemente indireto, ou seja, se faz através das informações
obtidas pelos membros da equipe de desenvolvimento (PDT) da montadora, seja em
reuniões técnicas com os potenciais fornecedores, seja através de visitas e
seminários. Observa-se, também, que alguns fornecedores reconhecem esta
característica do processo de co-desenvolvimento e por isso investem não mais
somente na divulgação de seus produtos, mas sim na divulgão de suas capacidades
de engenharia e conhecimentos tecnológicos (know-how), pois através desta
estratégia podem aumentar o potencial de participação em um novo projeto ou
negócio quando ainda este se encontra em fase conceitual ou de elaboração das
especificações técnicas.
Ainda segundo NELLORE (2001), o grau de necessidade de informações
quantitativas nas especificações pode ser relacionado ao estágio do relacionamento
cliente-fornecedor, ou seja, na medida em que este relacionamento evolui, há uma
menor necessidade de informações quantitativas, tornando as especificações mais
funcionais, como ilustra a figura 5.9.
71
Figura 5.9 – Necessidade de especificações quantitativas em função do estágio do
relacionamento cliente-fornecedor
(NELLORE, 2001 - Traduzido e adaptado pelo autor)
Em se tratando de sistemas, sub-sistemas ou componentes, onde a estratégia
da montadora estudada permite algum nível de integração com o fornecedor (co-
desenvolvimento), pode-se dizer que as especificações técnicas destes sub-sistemas e
componentes seguem a estrutura apresentada na figura 5.10.
Figura 5.10 – Estrutura das especificações dos sub-sistemas e componentes na
montadora estudada
72
De forma geral, as especificações tendem a ser mais funcionais e menos
quantitativas, e são compostas de três blocos. Em um bloco comum a todas as
especificações são descritos a sistemática de trabalho da montadora (estrutura das
equipes de desenvolvimento, processos de alteração do projeto, processos de
comunicação, etc.), bem como os recursos que o fornecedor deve possuir para ser
considerado apto ao desenvolvimento em parceria (capacidade de engenharia,
sistemas de simulação e desenho, processos de gestão de programas, etc.). Um
segundo bloco, este específico, por conter informações relacionadas ao veículo no
qual o sub-sistema ou componente será utilizado, descreve dois tipos de informões,
a saber:
a) Informações do programa
Nesta parte da especificação são descritos os eventos e datas-chave
presentes no processo de desenvolvimento de veículo (VDP) para o programa
em questão, bem como, os níveis de protótipos que o fornecedor deverá
produzir para a validação em veículo (mock-ups, componentes de ferramental
provisório e componentes de ferramental definitivo) e sua respectiva
quantidade necessária, além de uma matriz de responsabilidades (RASI
Chart), que define quais atividades devem ser realizadas pelo fornecedor e
quais atividades serão realizadas pela montadora no decorrer do programa.
b) Informações do componente
Nesta parte da especificação são descritas as informações de
funcionalidade e desempenho (performance) requeridos para o componente, a
interface entre o veículo e o componente, incluindo-se restrições de envelope
(3D), informações do ambiente (temperatura, vibração, etc.) que o
componente deve suportar e informações elétrica/eletrônicas (alimentação,
consumo, protocolo de comunicação de dados, etc.), quando aplicável.
Também, nesta parte, são detalhados os testes requeridos para a validação do
sub-sistema ou componente, sejam eles virtuais ou sicos, exigidos por
recomendação interna da montadora, do fornecedor ou pela legislação.
Finalmente, são listadas as normas e documentos de referência que devem ser
observados no desenvolvimento do componente.
73
A ferramenta da matriz de responsabilidades (RASI Chart) tem uma
importância significativa para evitar uma interpretação incorreta da especificação
quanto ao que deve ser feito por cada um dos envolvidos no desenvolvimento, o que
foi considerado uma das três fontes de problemas em desenvolvimentos em parceria
(co-desenvolvimento) no estudo realizado por WYNSTRA et al (2001). A falta de
uma clara definição de responsabilidades pode, por exemplo, criar divergências entre
as expectativas da montadora e do fornecedor, impactando na estratégia de
investimentos dos envolvidos em função de premissas incorretas da dimensão de
suas responsabilidades (WYNSTRA et al, 2001).
De forma geral, a matriz de responsabilidade mostra a lista de atividades
necessárias na primeira coluna, relacionando cada envolvido com cada atividade,
através da legenda “RASI” padronizada. Tipicamente, os envolvidos (Envolvido
1
a
Envolvido
N
) são as áreas funcionais e seus respectivos responsáveis de cada uma das
empresas, montadora e fornecedor, que interagem na realização de cada atividade do
projeto em parceria. A legenda RASI” vem do acrônimo em inglês para
Responsible / Approve / Support / Informed” e pode ser interpretada da seguinte
forma: A letra (R) identifica o responsável pela execução da atividade, a letra (A) o
responsável pela aprovação do resultado da atividade, a letra (S) o responsável por
fazer parte do trabalho necessário à execução da atividade e a letra (I) identifica
quem apenas será informado sobre o andamento da atividade. A figura 5.11
exemplifica uma matriz de responsabilidades.
Envolvidos
Atividades
Envolvido
1
Envolvido
2
. . . Envolvido
N
Atividade
1
R A . . . S
Atividade
2
A R . . . S
Atividade
3
S R / A . . . I
Atividade
4
I R / A . . . S
Atividade
5
R /A S . . . I
. . . . . . . . . . . . . . .
Atividade
N
R A . . . S
Figura 5.11 – Exemplo de matriz de responsabilidades
74
Para facilitar a etapa de elaboração da especificação técnica dos sub-sistemas
e componentes, a montadora estudada mantém modelos (templates) de especificação
para cada sistema, sub-sistema e componente que permite algum nível de integração
com o fornecedor (co-desenvolvimento), segundo a estratégia da empresa. Esta
iniciativa ajuda a definir os requisitos para um projeto em particular, bem como
reduz o tempo total de emissão das especificações. Por outro lado, não elimina a
necessidade de boas práticas de engenharia, uma vez que as informações do bloco
específico (programa e componente) necessitam da ação direta dos engenheiros da
montadora. Também, cabe a estes engenheiros re-alimentar o grupo responsável pela
atualização destes modelos em função de novas tecnologias e novos conceitos para o
sub-sistema ou componente em questão. Tal discussão é feita por conferências
periódicas entre os engenheiros responsáveis por um mesmo sub-sistema ou
componente nos diversos centros de engenharia da empresa. Esta sistemática permite
que o fornecedor exerça uma influência indireta nos modelos (templates) disponíveis
de especificações, uma vez que as informões compartilhadas com os engenheiros
da montadora acabam por ser discutidas em uma destas conferências, gerando
retorno ao investimento feito pelos fornecedores na divulgação de tecnologias.
5.5 – Definição do Custo-Objetivo
O custo-objetivo de um sistema, sub-sistema ou componente, que terá seu
desenvolvimento em parceria com um fornecedor, serve de referência para o
processo de seleção do fornecedor e deve estar alinhado com os objetivos de custo
para o veículo (programa). Na montadora estudada, este custo-objetivo por
componente é estabelecido pela área de Finanças (custos) com o suporte da equipe de
desenvolvimento de produto (PDT). Utiliza-se, como referência inicial, uma peça
atualmente em produção conceitualmente similar ao componente a ser desenvolvido.
A partir do custo desta peça-referência, adicionam-se ou subtraem-se valores em
função das características específicas do novo componente (soluções de engenharia,
massa, dimensão, materiais necessários, etc.) conhecidas dentro da equipe de
desenvolvimento de produto (PDT). A figura 5.12 é uma representação esquemática
da definição deste custo-objetivo.
75
Figura 5.12 – Representação esquemática da definição do custo-objetivo de
componentes comprados
O processo de adição e subtração de custo a partir do custo de uma peça-
referência apresenta um bom resultado quando as características, que diferem a peça-
referência do componente a ser desenvolvido, são mensuráveis e conhecidas, tais
como: massa, dimensão e material utilizado. Por outro lado, quanto maior é o nível
de inovação do novo componente, maior é o grau de incerteza na atribuição do custo-
objetivo, uma vez que se acaba por estimar o impacto das inovações conceituais no
custo, sem uma análise mais profunda.
Nota-se também, que existe um grande enfoque em documentar o conceito
inicialmente estabelecido para o sub-sistema ou componente (concept sheet),
juntamente com seu respectivo detalhamento de custo (cost breakdown), visando
explicitar os valores adicionados e subtraídos durante o processo de definição do
custo-objetivo do novo componente. Tal prática assume que o custo da peça-
referência, presente no banco de dados da empresa, esteja correto, ou seja, represente
o custo verdadeiro (custo real) do componente, o que nem sempre é adequado, pois a
peça-referência pode estar super-custeada ou sub-custeada em função das
negociações ocorridas durante seu processo de cotação. Por outro lado, tal
documentação do conceito inicial tem auxiliado, não só na definição do custo-
objetivo do componente para o processo de cotação, mas também na compreensão
76
das modificações ocorridas no componente durante a evolução do projeto do vculo,
facilitando assim, as negociações de custo após o processo de seleção do fornecedor.
5.6 – Seleção do Fornecedor
Segundo a observação feita na montadora estudada, esta segue um processo
convencional de seleção de fornecedores, o qual pode ser representado em cinco
etapas, como ilustra a figura 5.13.
Figura 5.13 – Processo de selão dos fornecedores
A partir da especificação técnica emitida e do custo-objetivo definido para um novo
sub-sistema ou componente, a área comercial da montadora distribui pacotes de
77
cotação aos potenciais fornecedores, que foram pré-selecionados por critérios
internos de atendimento, qualidade, flexibilidade, capacidade e custo. Estes
potenciais fornecedores retornam com propostas técnicas e comerciais, as quais são
consolidadas em reuniões específicas entre as áreas comerciais e de engenharia da
montadora e do potencial fornecedor. Ao rmino deste ciclo de reuniões de
consolidação de propostas (technical reviews) com os potenciais fornecedores,
eventuais revisões podem ser feitas no objetivo inicial de preço, porém este ainda
deve se manter dentro do custo-objetivo definido para o sub-sistema ou componente
em questão. Finalmente, há uma negociação final e a contratão do fornecedor
selecionado.
Nota-se que o efetivo envolvimento do fornecedor no projeto se inicia apenas
após sua contratação oficial, exceto por informações obtidas de consultas informais
aos engenheiros dos fornecedores sobre novas tecnologias e conceitos disponíveis,
que posteriormente podem ter sido aproveitadas na especificação técnica.
Também, como não há um evento explícito no processo de desenvolvimento
de veículo (VDP) definindo o período onde devam ocorrer todos os processos de
seleção de fornecedores (ver item 5.1), este acaba por ser estabelecido no
cronograma-mestre de cada projeto (programa). Um plano de seleção de
fornecedores (sourcing plan) é elaborado dentro de cada equipe de desenvolvimento
de produto (PDT) e compromissado entre a área comercial e a área de planejamento
da plataforma. Entretanto, acaba-se por antecipar o processo de seleção dos
fornecedores de sub-sistemas e componentes considerados críticos, seja em função
da necessidade de informação específica para alguma fase subseqüente do
desenvolvimento do vculo, ou seja devido ao tempo total de desenvolvimento do
componente (lead time) para o atendimento das fases de construção de veículos
protótipos.
Tipicamente, o tempo total para o processo de selão de um fornecedor é de
vinte e uma semanas, sendo sete para a elaboração e emissão da especificação e
quatorze para as demais etapas até a contratão do fornecedor selecionado.
78
5.7 – Gestão do Desenvolvimento do Sistema, Sub-Sistema ou Componente
O desenvolvimento do sistema, sub-sistema ou componente compreende
atividades no fornecedor e na montadora, sofrendo a influência do processo de
desenvolvimento de produto (PDP) adotado no fornecedor e do processo de
desenvolvimento de veículo (VDP) adotado na montadora. Uma vez que a montadora
estudada para este trabalho segue o manual de referência Advanced Product Quality
Planning (APQP) and Control Plan” como guia para o desenvolvimento de produto
em seus fornecedores, os formulários de verificação (check lists) previstos neste
manual são aplicados como ferramentas de planejamento e acompanhamento das
atividades durante o co-desenvolvimento. Os oito formulários de verificação (check
list) do “Apêndice A” do APQP (A-1 até A-8) são utilizados ao longo do
desenvolvimento do plano de projeto (APQP Project Plan) e compreendem os
aspectos listados na tabela 5.2.
Tabela 5.2 Formulários de verificação previstos no APQP
Formulário de verificação
(checklist)
Utilização
A-1 FMEA de projeto (DFMEA).
A-2 Revisão de projeto.
A-3
Identificação de necessidade de novo equipamento,
ferramental ou dispositivo de teste.
A-4 Qualidade do produto e do processo.
A-5 Layout de fábrica.
A-6 Fluxo do processo de produção.
A-7 FMEA de processo (PFMEA).
A-8 Plano de controle do produto.
O plano de projeto (APQP Project Plan) é um requisito específico da
montadora estudada, que complementa os requisitos de norma. Neste plano de
projeto o relacionadas dezessete atividades, sendo que treze delas ocorrem após a
etapa de seleção do fornecedor, tendo sua evolução verificada em quatro eventos de
revisão (gate reviews) previstos no plano de projeto. Tais eventos ocorrem antes do
79
fornecedor enviar componentes para a validação em veículo na montadora, ou seja,
antes da montagem dos veículos de arquitetura, integração (ferramental provisório e
ferramental definitivo) e piloto. A tabela 5.3 relaciona as atividades do plano de
projeto (APQP Project Plan) que tem o envolvimento do fornecedor com os
respectivos eventos de revisão (gate reviews) onde estas são verificadas.
Tabela 5.3 Atividades do plano de projeto com envolvimento do fornecedor
Eventos de Revisão
Atividade
ER-1 ER-2 ER-3 ER-4
1. Cronograma e lista de pendências (Open
Issues List)
X X X X
2. Estudo de viabilidade X X X X
3. Fluxo do processo X X X
4. DFMEA X X X
5. Revio do projeto (design reviews) X X
6. Revio dos dispositivos e ferramentas X X X X
7. Relatório de conformidade de peça- protótipo X X
8. PFMEA X X X X
9. Plano de controle do processo X X X X
10. Plano de controle para icio de produção X X
11. PPAP X
12. Capacidade de produção (Run @ Rate) X X X X
13. Lições aprendidas (lessons learned) X X X X
Nota-se que algumas atividades podem estar em estágios diferentes (planejamento,
análise, execução, etc.) em cada um dos eventos de revisão (gate reviews), mas
mesmo assim são verificadas conforme a tabela acima.
Cabe destacar que a ferramenta da lista de pendências (Open Issues List),
estabelecida pelo plano de projeto (APQP Project Plan) da montadora estudada, tem
particular importância para a fase de desenvolvimento do produto em parceria (co-
desenvolvimento), pois esta documenta a evolução no desenvolvimento do sub-
sistema ou componente em questão, sinalizando os problemas e ações necessárias
80
para se ter um bom resultado naquele processo de desenvolvimento em particular.
Tipicamente, este documento é utilizado como referência nas reuniões periódicas de
acompanhamento realizadas dentro da equipe de desenvolvimento de produto (PDT),
podendo também ser consultada durante negociações comerciais com o fornecedor
em função de alterações de projeto do sub-sistema ou componente em questão. A
figura 5.14 mostra o modelo da lista de pendências (Open Issues List), a qual é
preenchida e atualizada pelo fornecedor e verificada pelos engenheiros da montadora
(produto e qualidade) no decorrer do projeto.
Figura 5.14 – Modelo de lista de pendências
Basicamente, este documento é composto por um cabeçalho com informações gerais
(programa, fornecedor, planta, componente e pessoas de contato) e uma lista aberta,
onde os assuntos e/ou pendências são documentados durante o desenvolvimento do
projeto. Nota-se que os campos (colunas) são auto-explicativos, cabendo apenas
algum esclarecimento sobre as informações de Severidade”, Tipo” e Indicador de
Progresso”. O campo Severidade” mostra em que nível das organizações
(fornecedor e/ou montadora) o assunto ou pendência será discutido. Já, o campo
Tipo” classifica os assuntos ou pendências em categorias, tais como: relativos ao
projeto (fornecedor), ao projeto (montadora), ferramental, capacidade de produção,
81
liberação de informação de engenharia, processo de manufatura, compras, lostica,
controle de produção, etc. Finalmente, o campo Indicador de Progresso” revela a
evolão do assunto ou pendência em questão, classificando o item ou pendência em
Item Identificado”, “Plano de Ação Proposto”, “Plano de Ação Implementado” ou
Item Resolvido”.
Apesar da lista de pendências (Open Issues List) ser uma ferramenta simples
e um requisito do plano de projeto (APQP Project Plan) da montadora estudada,
observa-se que não há uma disciplina no acompanhamento desta lista por parte dos
engenheiros de produto da montadora. Por outro lado, como a lista de penncias
(Open Issues List) é verificada pelo engenheiro de qualidade de fornecedores ao
menos nos eventos de revisão (gate reviews) previstos no plano de projeto (APQP
Project Plan), esta acaba, em parte dos casos, tendo seu foco mais direcionado aos
assuntos de produção do sub-sistema ou componente em desenvolvimento. Já quando
ocorre o uso pleno desta ferramenta, documentando-se também os assuntos de
desenvolvimento do produto (modificações de projeto e suas razões, data de icio do
ferramental, etc.), a experiência mostra que as negociações comerciais são menos
desgastantes quando alterações no custo do componente e/ou investimentos
adicionais em ferramentais o necessários em função de modificações de projeto.
Isto porque a lista de pendências (Open Issues List) acaba esclarecendo o histórico
das modificações, o que permite julgar melhor quais modificações realmente
alteraram o custo do componente e quais modificações realmente impactaram em
algum dos ferramentais, considerando-se seu estágio de construção e a data da
modificação. Do contrário, há um maior desgaste para ambas as organizações
(montadora e fornecedor) na busca das ordens de modificação de produto emitidas
pela engenharia da montadora, porém tais documentos esclarecem o conteúdo da
modificação e suas razões, mas nem sempre, por exemplo, informam qual era o
estágio do desenvolvimento quando da solicitão da modificação, dificultando, por
exemplo, uma decisão ou acordo sobre o impacto da modificação no investimento
em ferramentais.
82
5.8 – Análises e Conclusões
O processo de desenvolvimento de vculo (VDP) é uma aplicação específica
do processo de desenvolvimento de produto (PDP) apresentado por CLARK e
FUJIMOTO (1991), onde além das fases de Projeto do Produto” e “Projeto do
Processo”, ou seja, as fases de desenvolvimento, incluem-se fases específicas de
construção e validação de protótipos. Apesar da seleção do fornecedor em uma etapa
inicial do processo de desenvolvimento ser uma das características do co-
desenvolvimento (co-design) apresentadas por KESSELER (1997), nota-se que o
processo de desenvolvimento de veículo (VDP) da montadora estudada não define
um período onde devam ocorrer todos os processos de seleção e o conseqüente
envolvimento dos fornecedores no projeto. Um plano de seleção de fornecedores
acaba sendo elaborado nas equipes de desenvolvimento de produto (PDT), tendo o
compromisso das áreas comercial e de planejamento da plataforma. Entretanto, tal
plano considera a necessidade de informação específica para as fases subseqüentes
do desenvolvimento ou o tempo de desenvolvimento do componente (lead time) em
relação às fases de construção de veículos protótipos, como os fatores-chave para a
antecipação de um processo de seleção e/ou envolvimento do fornecedor no projeto.
Mesmo constatando-se que a estrutura matricial das equipes de
desenvolvimento de produto (PDT) facilita a interação entre as áreas funcionais da
organização envolvidas com um projeto, nota-se que a rede informal de
relacionamentos entre os colaboradores de cada área funcional e os fornecedores
evita que a estrutura formal destas equipes (PDT) torne-se um gargalo para o
andamento do projeto. A experiência mostra que a participação direta nesta rede de
relacionamentos, por exemplo, através de um Engenheiro Residente do fornecedor na
montadora ou uma equipe do fornecedor dedicada ao projeto, cria uma sinergia
positiva ao andamento do projeto em parceria.
Com relação às etapas do processo de desenvolvimento de produto em
parceria e seus fatores de influência (ver item 5.3), pode-se dizer que a etapa de
Seleção da tecnologia” é totalmente independente da existência de um programa ou
projeto de veículo em andamento, enquanto que a etapa de “Elaboração da
especificação” é parcialmente dependente de um programa ou projeto. Já as demais
etapas, ou seja, a Definição do custo-objetivo”, a “Seleção do fornecedor”, o
Desenvolvimento do componente” e a Integração e validação no vculo” possuem
83
um maior grau de dependência de informações específicas de um programa ou
projeto de veículo, conforme as práticas da empresa estudada. A constatação desta
relão permite aos fornecedores realizarem um trabalho contínuo, mesmo quando
não há um programa ou projeto específico em andamento, visando influenciar,
através de informões sobre novos conceitos e/ou tecnologias, as futuras
especificações técnicas que serão emitidas quando da existência de um novo
programa ou projeto de vculo.
Em seu estudo sobre o papel das especificações, NELLORE (2001)
cita que o desenvolvimento integrado de componentes se inicia na elaboração da
especificação, sendo que já neste estágio seria necesrio o envolvimento direto do
vel operacional de ambas as empresas (montadora e fornecedor). Entretanto, nota-
se que na montadora estudada, tal envolvimento é indireto, ou seja, através de
informões obtidas pelos engenheiros em contatos e/ou visitas aos fornecedores,
pois um envolvimento direto necessitaria da definição de um fornecedor antes da
emissão formal da especificação técnica, o que não é possível em função do processo
de seleção de fornecedores adotado pela empresa. Também é citado no estudo de
NELLORE (2001) que alterações nas especificações são inevitáveis em componentes
caixa-preta” (black box), sendo que o entendimento desta realidade por parte dos
fornecedores, juntamente com a disposição de trabalhar em paralelo com o
desenvolvimento de diversas propostas de soluções antes de entrar em um maior
detalhamento e estabelecer decisões de projeto, reduzem o desgaste e a conseqüente
perda de tempo durante o processo de desenvolvimento. Isto pode ser constatado na
prática, pois a maior parte dos fornecedores de sub-sistemas e componentes,
caracterizados como “caixa-preta” (black box) ou “caixa-cinza” (gray box), já
aceitam uma especificação inicial menos detalhada no momento do processo de
selão de fornecedor, trabalhando posteriormente no detalhamento desta
especificação durante o projeto. Apesar de pró-ativa, o que gera um efeito positivo
no processo de elaboração da especificação (NELLORE, 2001), tal prática pode ter
efeitos colaterais negativos sobre futuras negociações comerciais, onde se acaba
relacionando diretamente a especificação inicial (preliminar) com o preço
inicialmente proposto, considerando-se que toda variação em relação a esta
especificação adicione custo ao componente ou necessite de maior investimento em
ferramentais e/ou dispositivos de produção. A utilização da matriz de
responsabilidades (RASI Chart), atribuindo a atividade de elaboração da
84
especificação detalhada ao fornecedor é uma das formas de se evitar tais conflitos.
Esta ferramenta tem significativa importância para se ter uma clara definição das
responsabilidades antes do início efetivo de um projeto em parceria (co-
desenvolvimento). O estudo realizado por WYNSTRA et al (2001) mostra que a falta
desta clara definição de responsabilidades é uma das três fontes de problemas em
desenvolvimentos em parceria, pois cria divergências entre as expectativas da
montadora e do fornecedor, podendo impactar na estratégia de investimentos dos
envolvidos em função de premissas incorretas quanto à dimensão de suas
responsabilidades (WYNSTRA et al, 2001). Finalmente, ainda com relação ao tema
das especificações, observa-se que a prática de se manter modelos (templates) de
especificação para cada sistema, sub-sistema e componente, que permite algum vel
de integração com o fornecedor (co-desenvolvimento), facilita a elaboração da
especificação técnica, mantendo a memória dos aprendizados anteriores e reduzindo
seu tempo de emissão.
Nota-se que o processo de definição do custo-objetivo para os novos
componentes, através da adição e subtração de custo a partir do custo de uma peça-
referência, funciona eficientemente quando as diferenças técnicas entre o novo
componente e o de referência são mensuráveis (massa, dimensão, material utilizado,
etc.). Já quanto maior o vel de inovação tecnológica ou valor agregado (eletrônica
embarcada, software, etc.) do novo componente, maior é o grau de incerteza na
definição do custo-objetivo por este processo. Este processo presume que o custo da
peça-referência esteja correto e represente o custo verdadeiro (custo real) do
componente, o que nem sempre é adequado, pois a peça-referência pode estar super-
custeada ou sub-custeada devido às negociações comerciais ocorridas desde seu
processo de cotação. Um processo mais amplo, envolvendo análise de valor, análise
de custo dos sub-componentes, custo de produção e custo de transporte, buscando a
identificação do custo real do componente, poderia ser incorporado na definição do
custo-objetivo dos novos sub-sistemas e componentes. Por outro lado, tais análises
consomem consideráveis recursos e necessitam de uma estrutura específica para sua
realização, sob pena de se obter resultados distorcidos na falta de um nível adequado
de detalhamento. A aplicação destas análises mais detalhadas na definição do custo-
objetivo, visando se evitar o problema da acuracidade do custo da peça-referência,
necessitaria de uma classificação do tipo ABC, identificando os 20% dos sub-
sistemas e componentes que correspondem a 80% do custo do veículo, a fim de se
85
evitar tal trabalho em componentes com baixa representatividade no custo total do
vculo.
Quanto ao processo de seleção dos fornecedores, nota-se que o processo
convencional utilizado na montadora estudada não favorece o envolvimento do
fornecedor logo nas primeiras etapas do projeto, pois necessita da elaboração e
emissão de uma especificação técnica para se iniciar. Com isso, a eficiência na
utilização do conhecimento (know-how) do fornecedor é diminuída, mesmo que se
realizem os processos de seleção de fornecedores em uma etapa inicial do processo
de desenvolvimento do vculo (VDP). Uma vez que uma integração estratégica
plena com os fornecedores, tal como observado na rede de fornecedores com
controle acionário cruzado da indústria automobilística japonesa (WOMACK et al,
1992), não é comum nas montadoras ocidentais, a implementação de um conceito de
competição de fornecedorespoderia auxiliar com uma maior eficiência no uso dos
conhecimentos (know-how) dos fornecedores. No conceito de “competição de
fornecedores” haveria o envolvimento antecipado de até três potenciais fornecedores,
os quais receberiam os objetivos comerciais (custo) e técnicos (desempenho) da
montadora e passariam a desenvolver propostas técnicas-comerciais, interagindo com
a montadora durante o icio do processo de desenvolvimento de veículo (VDP), por
exemplo, até a avaliação dos primeiros veículos conceituais (veículos mula). Neste
momento, a montadora selecionaria a melhor proposta técnica-comercial, a qual seria
a base da especificão técnica final do sub-sistema ou componente, definindo-se
desta forma, o fornecedor ganhador” da “competição”. A montadora obteria
melhores soluções técnicas (custo e desempenho) para seus produtos e os
fornecedores poderiam influenciar mais em aspectos do projeto dos veículos, os
quais já estariam definidos pela especificação técnica no caso da utilização de um
processo convencional de seleção de fornecedores. Por sua vez, esta influência no
projeto dos veículos permitiria aos fornecedores ter um maior grau de reutilização de
suas soluções de engenharia, levando a um maior compartilhamento de sub-
componentes e processos de produção, o que geraria uma vantagem competitiva. Por
outro lado, a montadora teria que atuar na prevenção do vazamento de informações
confidenciais e na definição de regras claras para os custos dos protótipos das
soluções propostas, enquanto que os fornecedores teriam que assumir o risco de
utilizar sua estrutura de engenharia e conhecimentos (know-how) sem a garantia de
um contrato de fornecimento. A figura 5.15 mostra a comparação de ambos os
86
processos de seleção, ilustrando onde os fornecedores passariam a participar no
desenvolvimento do veículo em cada uma das situações.
Figura 5.15 – Envolvimento do fornecedor em função do processo de seleção de
fornecedores adotado
Com relação à gestão do desenvolvimento do sub-sistema ou componente
observa-se que a montadora estudada consegue gerenciar as atividades em parceria
de uma maneira satisfatória, talvez em função do próprio sistema do APQP. Nota-se
também, que existe um desejo maior de colaboração nas fases de desenvolvimento e
fornecimento (produção) do sub-sistema ou componente, ou seja, após a seleção e
contratão formal do fornecedor, o que é natural pela pouca integração estratégica
entre as montadoras e seu parque de fornecedores na realidade da indústria ocidental.
87
Pode-se dizer que o aspecto que gera maior desgaste nesta relação é a negociação
comercial em função de modificações necessárias ao longo do projeto do sub-sistema
ou componente. Algumas vezes, tais situações chegam a afetar o desenvolvimento de
um veículo, quando, por exemplo, não há como se obter peças na data estabelecida
para a fase de integração e validação em veículo. Como citado por NELLORE
(2001), alterações nas especificações de componentes “caixa-preta” (black box) são
inevitáveis, o que justifica a necessidade de uma clara definição de responsabilidades
(WYNSTRA et al, 2001), por exemplo, através do uso da matriz de
responsabilidades (RASI Chart). Também, devido a esta mesma constatação, a
documentação do histórico do desenvolvimento, através de uma lista de pendências
(Open Issues List), colabora no sentido de esclarecer e resolver rapidamente qualquer
divergência comercial, evitando-se impactos negativos ao processo de
desenvolvimento do vculo. Uma vez que a montadora estudada complementa o
APQP com o plano de projeto (APQP Project Plan), e este estabelece a lista de
pendências (Open Issues List), seria razoável se empenhar em uma maior divulgação
do APQP junto aos engenheiros de produto de ambas as organizações (montadora e
fornecedor) de forma que se fizesse um uso pleno desta ferramenta (lista de
pendências), incluindo-se os assuntos relativos ao desenvolvimento do sub-sistema
ou componente. A difusão de tal prática poderia facilitar as negociações comerciais,
tornando-as menos desgastantes quando da necessidade de alterações no projeto do
sub-sistema ou componente e evitando as situações onde possa haver impactos
negativos ao desenvolvimento do veículo.
As tabelas 5.4 até 5.9 sumarizam estas observões e trazem algumas
sugestões para os principais aspectos notados durante este estudo.
88
Tabela 5.4 – Observações e sugestões quanto ao processo de desenvolvimento de
produto (PDP)
Processo de desenvolvimento de produto (PDP)
Observações Sugestões
Utiliza um processo (VDP), que
inclui as fases de construção e
validação de protótipos;
O VDP não define o envolvimento
dos fornecedores no projeto;
A duração do VDP depende da
categoria do projeto;
Explicitar a elaboração do plano de
seleção de fornecedores como uma
fase do VDP;
Tabela 5.5 – Observações e sugestões quanto à organização do trabalho
Organização do trabalho
Observações Sugestões
Equipes de desenvolvimento de
produtos (PDT) organizadas
matricialmente;
Equipes (PDT) facilitam a interação
entre as áreas organizacionais;
Fornecedores não o membros
diretos destas equipes (PDT);
Existe uma rede informal de
relacionamentos entre os
colaboradores de cada área
funcional;
Fornecedores podem participar desta
rede de relacionamentos;
Uma equipe do fornecedor dedicada
ao projeto cria uma sinergia positiva
ao andamento do desenvolvimento
em parceria;
Incentivar a formação de equipes
dedicadas ao projeto dentro dos
fornecedores;
Promover uma maior integração das
áreas técnicas de ambas as
organizações (montadora e
fornecedor), mesmo na ausência de
um projeto de veículo em andamento;
89
Tabela 5.6Observações e sugestões quanto às especificações técnicas
Especificações técnicas
Observações Sugestões
Existe o uso de modelos (templates)
para facilitar a elaboração e manter a
memória de aprendizados anteriores;
Não há envolvimento direto do
fornecedor em função do processo de
seleção de fornecedores da empresa;
Pode existir um envolvimento
indireto do fornecedor, através de
informações obtidas pelos
engenheiros da montadora em
contatos, visitas e/ou seminários
organizados pelos fornecedores;
A maior parte dos fornecedores de
componentes caixa-preta” ou
caixa-cinzajá aceitam uma
especificação inicial menos
detalhada, ou seja, mais funcional;
Utiliza-se a ferramenta da matriz de
responsabilidades (RASI Chart) para
evitar os efeitos negativos da falta de
uma clara definição das
responsabilidades de cada parceiro;
Promover maior integração técnica
com os fornecedores, tornando mais
eficiente a selão da tecnologia
(conceito) do componente, mesmo na
ausência de um projeto específico;
Considerar o vel de integração
permitido no modelo (template) das
especificações;
Promover maior divulgação quanto à
estratégia de integração (níveis e
responsabilidades), incluindo a
discussão sobre uma especificação
mais funcional e menos detalhada;
Deixar clara a responsabilidade da
especificação final (detalhada) como
uma atribuição do fornecedor (RASI
Chart) para os componentes “caixa-
preta” ou caixa-cinza”, evitando-se a
relação direta entre a especificação
inicial (preliminar) e a proposta de
preço, a qual gera desgastes em
negociações comerciais;
90
Tabela 5.7 – Observações e sugestões quanto à definição do custo-objetivo
Definição do custo-objetivo
Observações Sugestões
Utilização de um método de adição e
subtração de custo a partir do custo
de uma peça de referência;
Método eficiente quando as
diferenças técnicas entre o novo
componente e a peça de referência
o mensuráveis (massa, dimeno,
etc.);
Este método introduz um maior grau
de incerteza quanto maior for o grau
de inovão tecnológica ou valor
agregado (eletrônica embarcada,
software, etc.);
Método presume que o custo da peça
de referência seja o custo verdadeiro
(custo real) do componente,
desconsiderando as distorções em
função de negociações comerciais
anteriores;
Incorporar ferramentas de análise de
valor, análise de custo dos sub-
componentes e análise de custo de
produção e fornecimento, buscando
identificar o custo real para os sub-
sistemas ou componentes com maior
influência no custo total do vculo,
os quais poderiam ser selecionados
por um processo tipo ABC (20% dos
itens que concentram 80% do custo
total do vculo);
91
Tabela 5.8Observações e sugestões quanto à seleção dos fornecedores
Seleção dos fornecedores
Observações Sugestões
Processo convencional, iniciando-se
com a emissão de uma especificação
técnica pela montadora;
Não favorece o envolvimento do
fornecedor antes da formalização de
um contrato comercial;
Plano de seleção de fornecedores
prioriza a seleção e o envolvimento
dos fornecedores em função da
necessidade de informações
específicas para as fases
subseqüentes do PDP ou em função
do tempo de desenvolvimento do
componente em relão às fases de
construção de veículos protótipos;
Plano de seleção de fornecedores
poderia ter sua execução definida
explicitamente no VDP;
Considerar a antecipação no
envolvimento dos fornecedores,
através de um processo de
competição de fornecedores”,
enquanto não se atinge um grau de
integração estratégia que permita o
uso do conhecimento de engenharia
do fornecedor (know how) em uma
fase conceitual do projeto do vculo;
Tabela 5.9 – Observações e sugestões quanto à gestão do co-desenvolvimento
Gestão do co-desenvolvimento
Observações Sugestões
Utiliza as ferramentas do APQP;
A lista de pendências (Open Issues
List) colabora no esclarecimento do
hisrico do projeto, favorecendo a
solução rápida de divergências
comerciais em função de alterações
de projeto;
Nota-se maior colaboração do
fornecedor após sua contratão
formal;
Promover uma maior divulgação do
APQP junto aos engenheiros de
produto de ambas as organizações
(montadora e fornecedor), visando o
uso pleno de ferramentas como a lista
de penncias (Opel Issues List),
inclusive com os assuntos relativos ao
desenvolvimento do sub-sistema ou
componente;
92
6 – DISCUSSÕES FINAIS
Os capítulos 4 e 5 apresentaram, respectivamente, a estratégia da montadora
para o co-desenvolvimento e como o co-desenvolvimento interage com o processo de
desenvolvimento de produto da montadora estudada. Estes capítulos, bem como os
anteriores, terminam com algumas análises e conclusões, que relacionam o que foi
observado com aspectos identificados na revisão bibliográfica. Entretanto, torna-se
importante uma discussão adicional sobre três aspectos da revio bibliográfica, que
não foram completamente explorados nos catulos anteriores.
6.1 – Relacionamento Cliente-Fornecedor
Pode-se dizer que quanto à evolão do relacionamento cliente-fornecedor
(MERLI, 1994) entre a montadora estudada e seu parque de fornecedores, o primeiro
e segundo vel (abordagem convencional e melhoria da qualidade, respectivamente)
já foram superados, estando hoje, esta relação no terceiro vel (integração
operacional) com alguma tendência ao quarto nível (integração estratégica) em
alguns casos. A figura 6.1 ilustra o posicionamento da montadora estudada em
relão à evolução do relacionamento cliente-fornecedor com sua base de
fornecedores, conforme a observação do autor deste trabalho.
Figura 6.1 Posicionamento da montadora estudada quanto ao relacionamento
cliente-fornecedor
93
Justifica-se este posicionamento em função do quarto nível ser definido como uma
parceria de negócios com ampla participação do fornecedor no projeto do produto,
acordos sobre estratégias e políticas, além do gerenciamento comum dos
procedimentos de negócios, o que somente ocorre com “fornecedorescoligados, tal
como a divisão de motores e transmissões da empresa. No geral, há uma integração
operacional (terceiro vel), porém com um maior grau de utilização do co-
desenvolvimento em função da própria estratégia da empresa, que incentiva o
desenvolvimento em parceria.
6.2 – Processo Integrado de Desenvolvimento de Produto e Fornecimento
Com relação às atividades do processo integrado de desenvolvimento de
produto e fornecimento (IPDS) proposto por WYNSTRA et al (2001), as tabelas 6.1,
6.2, 6.3 e 6.4 trazem uma comparação entre cada atividade proposta no IPDS e o que
é praticado na montadora estudada, juntamente com uma avaliação (“1” a 5”) em
função das observações do autor deste trabalho, onde 5” significa “Sempre realiza a
atividade”, “4” significa “Quase sempre realiza a atividade”, “3” significa “Realiza
regularmente a atividade”, “2” significa “Quase nunca realiza a atividade” e 1
significa “Nunca realiza a atividade”.
Tabela 6.1 – Atividades do IPDS na montadora estudada – Gestão do
Desenvolvimento
Gestão do Desenvolvimento
Atividade Avaliação
Determinar quais tecnologias devem ser mantidas ou
desenvolvidas internamente e quais externamente;
5
Estabelecer políticas para o envolvimento de fornecedores; 4
Estabelecer políticas para as atividades dos departamentos internos
em um processo integrado de desenvolvimento de produto e
fornecimento;
3
Comunicar as políticas internamente e externamente; 2
94
Tabela 6.2 – Atividades do IPDS na montadora estudada – Gestão da Interface com
o Fornecedor
Gestão da Interface com o Fornecedor
Atividade Avaliação
Monitorar o mercado de fornecedores para desenvolvimentos
técnicos;
3
Pré-selecionar fornecedores para colaboração em desenvolvimento
de produto;
4
Motivar os fornecedores a manterem ou construírem uma base de
conhecimentos ou desenvolverem certos produtos;
3
Explorar a capacidade técnica dos fornecedores; 3
Avaliar o desempenho dos fornecedores quanto ao
desenvolvimento, inclusive na sua pontuação geral;
3
Tabela 6.3 – Atividades do IPDS na montadora estudada – Gestão do Projeto
Gestão do Projeto
Fase Atividade Avaliação
Selecionar fornecedores para o envolvimento no
projeto de desenvolvimento;
2
Determinar a extensão do envolvimento do
fornecedor;
2
Determinar o momento do envolvimento do
fornecedor;
3
Desenvolvimento
do Conceito
Coordenar as atividades do desenvolvimento; 5
Projeto Básico Coordenar as atividades do projeto básico; 5
Detalhamento de
Engenharia
Coordenar as atividades de engenharia; 5
Piloto e Início de
Produção
Coordenar a prototipagem e o icio de
produção;
5
95
Tabela 6.4 – Atividades do IPDS na montadora estudada – Gestão do Produto
Gestão do Produto
Atividade Avaliação
Fornecer informações sobre os novos produtos e/ou tecnologias; 3
Sugerir alternativas de fornecedores, produtos e/ou tecnologias; 3
Avaliar os projetos de produtos; 4
Promover a padronização e a simplificação; 4
Nota-se que, de forma geral, as atividades propostas pelo IPDS são executadas
dentro da montadora estudada, cabendo comentar as atividades com avaliação “1” e
“2”, respectivamente, “Nunca realiza a atividade” e “Quase nunca realiza a
atividade”. A atividade “Comunicar as poticas internamente e externamente” foi
avaliada como 2”, pois apesar de haverem políticas estabelecidas para o
envolvimento dos fornecedores (Capítulo 4), observa-se que sua divulgação externa e
interna não é abrangente. Também as atividades Selecionar fornecedores para o
envolvimento no projeto de desenvolvimento” e “Determinar a extensão do
envolvimento do fornecedor” foram avaliadas como 2”, pois apesar de serem
realizadas, não ocorrem tipicamente na fase de desenvolvimento do conceito, como
na proposta do IPDS, e sim durante o projeto básico, o que leva a uma perda na
incorporação de tecnologias e soluções vindas dos fornecedores.
6.3 – Características do Co-Desenvolvimento
Quanto às características do co-desenvolvimento (co-design) apresentadas
por KESSELER (1997), a tabela 6.5 sumariza o que foi observado, pelo autor deste
trabalho, durante este estudo.
96
Tabela 6.5 – Observações quanto às características do co-desenvolvimento na
montadora estudada
Características do co-desenvolvimento Observações na montadora estudada
Solicitações ao fornecedor o feitas
antecipadamente, incluindo-se o
preço-objetivo e a descrição
funcional do produto;
Não há clara definição quanto ao
momento em que os fornecedores
devam ser envolvidos no VDP,
porém utiliza-se o custo-objetivo e
as especificações tendem a ser mais
funcionais para os componentes que
permitem algum nível de integração
pela estratégia da empresa.
A seleção do fornecedor é baseada
em uma decisão da área de projeto,
não sendo somente uma decisão da
área de compras, como
tradicionalmente;
O processo de seleção é liderado
pela área de compras, porém com a
participação da Engenharia de
Qualidade de Fornecedores e da
Engenharia de Produto;
Existe a transferência de
conhecimento (know-how) ao
fornecedor;
Não diretamente, porém o
fornecedor acaba absorvendo
conhecimentos sobre a engenharia
do veículo em função da interface do
sistema sob sua responsabilidade
com os demais sistemas do vculo;
Poucos fornecedores são
selecionados por produto (um ou
dois);
Tipicamente, não há mais do que
três potenciais fornecedores para um
sistema, que tenham capacidade para
o desenvolvimento em parceria;
97
Representantes do fornecedor
participam da equipe de
desenvolvimento da montadora;
Não há a participação direta nas
equipes formais de desenvolvimento
de produto da montadora (PDT),
mas tipicamente há uma grande
interação com o engenheiro de
produto da montadora e em alguns
casos, um engenheiro residente do
fornecedor trabalhando junto à
Engenharia de Produto da
montadora;
Existe a nomeação de um gerente de
projeto no fornecedor;
Normalmente, tem-se um gerente ou
coordenador nomeado em cada
fornecedor;
O fornecedor tem autonomia na
escolha dos métodos e técnicas a
serem utilizadas no desenvolvimento
do produto, porém fica obrigado a
declarar claramente cada escolha;
Existe esta autonomia do
fornecedor;
Comunicação intensa entre a
montadora e o fornecedor;
Tipicamente, existem reuniões
periódicas de acompanhamento do
projeto com a Engenharia de
Produto e Engenharia de Qualidade
de Fornecedores, além de extensa
comunicação informal (telefone, e-
mail, etc.);
Possibilidade de a montadora alterar
os requisitos do projeto durante o
desenvolvimento, porém sendo tais
mudanças acordadas entre ambos;
Existe esta possibilidade para a
montadora;
98
Integração antecipada dos aspectos
financeiros no estudo técnico do
projeto;
Pelo lado da montadora, isto ocorre
apenas até a definição do custo-
objetivo, ou seja, sem o
envolvimento do fornecedor, uma
vez que o custo-objetivo e a
especificação técnica são pré-
requisitos ao processo de seleção de
fornecedores;
Validação dos resultados obtidos
como um processo contínuo ou
interativo, tendo como objetivo
maior, a melhoria do produto e do
processo, e não sendo uma maneira
de se punir uma baixa performance;
Característica não observada;
Observa-se que, de maneira geral, há uma forte presença das características de co-
desenvolvimento citadas por KESSELER (1997) na montadora estudada, bem como,
esta se preocupa em estabelecer estratégias e políticas para o desenvolvimento em
parceria, tal como a definição dos níveis de integração permitidos, onde nota-se
relação direta com o estudo de CLARK e FUJIMOTO (1991) sobre os níveis de
participação dos fornecedores no desenvolvimento.
99
7 – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, constata-se que há colaboração e cooperação dos
fornecedores durante o desenvolvimento e o fornecimento do produto, porém após a
formalização de um contrato e sempre havendo desgastes em negociões comerciais
quando alguma alteração do produto é necessária. Esta vinculação entre a
formalização do contrato e a colaboração é perfeitamente compreensível em nossa
realidade de mercado, porém nos remete a um relacionamento cliente-fornecedor de
integração operacional, segundo a classificação proposta por MERLI (1994), não
havendo todas as vantagens da ampla participação dos fornecedores no projeto, tal
como em um relacionamento em nível de integração estratégica.
Pode-se dizer que um avanço na estratégia de co-desenvolvimento, que
contribuiria na superação das dificuldades mostradas neste estudo (envolvimento
antecipado dos fornecedores, especificações mais funcionais, etc.) depende
diretamente de uma maior integração estratégica entre a montadora e seus
fornecedores. Por outro lado, uma integração estratégica plena, tal como observado
na rede de fornecedores com controle acionário cruzado da indústria automobilística
japonesa (WOMACK et al, 1992), não é diretamente aplicável à realidade ocidental,
uma vez que esta estratégia se origina de um ambiente econômico e cultural bem
diferente do ocidental. As redes de empresas financeiras (Keiretsu), relacionando os
fornecedores com as montadoras japonesas que se associam ou pertencem ao mesmo
grupo financeiro (KESSELER, 1997), bem como a geso dos esforços de
desenvolvimento das montadoras e dos fornecedores japoneses pelo Japanese
Ministry of Trade and Industry, inexistem na realidade ocidental. Como observado
por KESSELER (1997), as empresas financeiramente relacionadas tendem a
cooperar mais facilmente durante um desenvolvimento do que empresas totalmente
independentes, o que gera uma vantagem competitiva ao modelo oriental no aspecto
do co-desenvolvimento. A Toyota, por exemplo, utilizou-se da estratégia da
associação de seus fornecedores, estimulando-os a trocarem idéias entre si sobre seus
projetos, uma vez que não havia competição interna no grupo de fornecedores de
primeiro nível, pois cada um era especializado em um tipo de componente
(WOMACK et al, 1992). Sua estratégia não era integrar verticalmente os
fornecedores em uma grande burocracia e nem desintegrá-los em empresas
100
totalmente independentes. O objetivo era ter os fornecedores de primeiro vel quase
independentes, mantendo parte de seu controle acionário e possibilitando o
compartilhamento de recursos humanos. Consequentemente, tais fornecedores eram
empresas com contabilidade autônoma, ou seja, centro de lucros reais, inclusive
sendo estimuladas a trabalhar para outras montadoras e outros clientes no mercado,
pois estes negócios “externos” contribuíam para a elevação de suas margens de lucro
(WOMACK et al, 1992). Um exemplo mais recente desta estratégia foi o projeto do
vculo brido Toyota Prius”, onde a Panasonic EV Energy Co.”, responsável por
desenvolver e fornecer as baterias de NiMH do veículo, foi fundada em 1996 com
40% de participação de capital da Toyota e seu chefe da divisão de desenvolvimento
do carro elétrico, Sr. Yuichi Fujii, foi transferido para a “Panasonic Energy”,
ocupando o cargo de vice-presidente executivo (YAMAGUCHI, 2005). Tais
diferenças entre o ambiente ocidental e oriental explicam, em parte, a baixa
integração estratégica em nossa realidade, pois se torna complexo promovê-la no
modelo sugerido por MERLI (1994), ou seja, ter uma ampla participação do
fornecedor no projeto do produto, acordos sobre estratégias e políticas e o
gerenciamento comum dos procedimentos de negócios, apenas baseando-se nas
relações de mercado e no desejo de parceria. Neste ponto, cabe uma reflexão quanto
a real necessidade da indústria automobilística ocidental criar um relacionamento
mais integrado entre suas montadoras e fornecedores. Será que o nível atual de
integração operacional, porém com uma estratégia estabelecida para o co-
desenvolvimento, como se notou neste estudo, já não é adequado ao mercado
ocidental ?
Finalmente, pode-se recomendar para futuros trabalhos, um estudo similar a
este, ou seja, identificar a estratégia, os processos e as práticas relacionadas com o
co-desenvolvimento em outras montadoras, permitindo assim, uma comparação das
observações. Também, pode-se sugerir uma investigação quanto às características de
co-desenvolvimento presentes nas relações entre um grupo de fornecedores (universo
do estudo) e seus clientes (montadoras), buscando-se identificar se integração
estratégica e como esta é realizada.
101
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