Download PDF
ads:
U
NIVERSIDADE DE
S
ÃO
P
AULO
I
NSTITUTO DE
P
SICOLOGIA
A
NTONIO
C
ARLOS
P
ACHECO E
S
ILVA
N
ETO
Fidedignidade do Sistema Compreensivo do Rorschach:
revisão e estudo da estabilidade temporal em
adultos da cidade de São Paulo
São Paulo
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
A
NTONIO
C
ARLOS
P
ACHECO E
S
ILVA
N
ETO
Fidedignidade do Sistema Compreensivo do Rorschach:
revisão e estudo da estabilidade temporal em
adultos da cidade de São Paulo
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo para obtenção do título de
Doutor em Psicologia
Área de Concentração: Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano
Linha de Pesquisa e orientação: Avaliação Psicológica
Orientadora: Profa. Dra. Eda Marconi Custódio
São Paulo
2008
ads:
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Silva Neto, Antonio Carlos Pacheco e.
Fidedignidade do sistema compreensivo do Rorschach: revisão e estudo
da estabilidade temporal em adultos da cidade de São Paulo / Antonio
Carlos Pacheco e Silva Neto; orientadora Eda Marconi Custódio. -- São
Paulo, 2008.
261 p.
Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de
Concentração: Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) –
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
1. Teste de Rorschach 2. Precisão do teste 3. Medidas da personalidade
4. Técnicas projetivas 5. Psicometria 6. Avaliação psicológica I.
Título.
BF698.8.R5
FOLHA DE APROVAÇÃO
Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto
Fidedignidade do Sistema Compreensivo do Rorschach: revisão e estudo da estabilidade
temporal em adultos da cidade de São Paulo
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo para a obtenção do título de doutor em Psicologia
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr.
Instituição: Assinatura:
Prof. Dr.
Instituição: Assinatura:
Prof. Dr.
Instituição: Assinatura:
Prof. Dr.
Instituição: Assinatura:
Prof. Dr.
Instituição: Assinatura:
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Maria Lúcia e Antonio Carlos.
À Isabela e Beatriz, sobrinhas queridas.
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Eda Marconi Custódio, pela orientação segura e atenciosa.
À Profa. Dra. Regina Gattas Fernandes do Nascimento, pelo incentivo constante ao meu
envolvimento com o Rorschach. Agradeço sua contribuição ao participar da banca de
qualificação, o empréstimo do programa RIAP, utilizado para levantamento dos resultados
dos protocolos e, acima de tudo, sua amizade.
À Profa. Dra. Iraí Boccato Alves, pela contribuição oferecida ao participar da banca de
qualificação.
À minha família e aos meus amigos, por estarem presentes ao longo do processo de realização
do doutorado, fornecendo o apoio tão necessário.
À Lígia Caran, pelas portas abertas. À Leila Caran, pela gentil acolhida.
Aos professores Ricardo Franklin Ferreira, Ines Bianca Loureiro e Rosa Maria Rizzo,
coordenadores do curso de Psicologia, pela autorização para a realização deste trabalho.
À Isabel Venâncio, pela divulgação da pesquisa aos funcionários.
À Maria Filomena Porfírio e Vera Lúcia da Silva, pelo eficiente agendamento das entrevistas
para aplicação do Rorschach.
À Maria do Carmo Sobral, pelos cafés e chás que tornaram os momentos da coleta de dados
menos desgastantes.
Às secretárias da Clínica de Psicologia, pela atenção no agendamento das salas de
atendimento.
Aos participantes, sem os quais não haveria pesquisa.
Aos professores do Instituto de Psicologia da USP, pelos cursos de alto nível oferecidos no
programa de pós-graduação.
À Maria Olívia Martins Rosa, por me ajudar com os aspectos burocráticos e resolver os
entraves.
À Lígia Furusawa, pelas dicas sobre a USP.
Aos bibliotecários do IP/USP pela ajuda com a pesquisa da literatura.
Ao Prof. Dr. Gregory Meyer (Universidade de Toledo, EUA) pelo modelo de pesquisador
criativo e rigoroso e de pessoa atenciosa e generosa. Seus artigos e o contato pessoal muito
contribuíram para esta pesquisa. O resumo em inglês foi significativamente melhorado com
sua ajuda.
Ao Prof. Cato Grønnerød (Universidade de Joensuu, Finlândia), pelo envio de artigos e
informações adicionais relativas à sua metanálise da estabilidade temporal do Rorschach.
Ao Prof. Harald Janson (Universidade de Oslo, Noruega), pelo envio do programa Rorschach
Research Utilities, utilizado nesta pesquisa.
À Cláudia Goto, pelas sugestões para melhora do texto e paciência com o estresse no final da
preparação desta tese.
Ao colega rorschachista Paulo Francisco de Castro, pelas informações sobre legislação dos
testes psicológicos.
À Érika Leonardo de Souza, pelo incentivo à realização deste trabalho.
Ao analista do comportamento Roberto Banaco, por presenciar e fazer-acontecer.
RESUMO
SILVA NETO, A. C. P. Fidedignidade do Sistema Compreensivo do Rorschach: revisão e
estudo da estabilidade temporal em adultos da cidade de São Paulo. 2008. Tese
(Doutorado). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, 2008.
Neste estudo, avaliamos a estabilidade temporal de 59 variáveis principais do Sistema
Compreensivo do Rorschach (SCR). Nossa amostra foi composta por 32 adultos não-
pacientes da cidade de São Paulo, participantes voluntários. Eles poderiam receber os
resultados da avaliação após a coleta dos dados. Predominaram mulheres (75%), indivíduos
solteiros (50%), das classes A (41%) e B (41%), com idades de 19 a 58 anos e média de 13
anos de instrução. Vinte e cinco participantes (78%) eram funcionários da universidade onde
se realizou a pesquisa, dois (6%) eram alunos e cinco (16%) eram conhecidos dos
funcionários. Utilizamos um delineamento de teste-reteste com intervalo de 3 a 4 meses ente
as testagens. Os protocolos foram coletados e codificados pelo autor da pesquisa. Um segundo
avaliador codificou, de modo independente, 10 protocolos do teste e 10 protocolos do reteste,
sorteados. A fidedignidade inter-codificadores foi substancial (iota > 0,60) para a maioria das
variáveis. A média das correlações de teste-reteste para as 59 variáveis centrais do SCR foi
r = 0,61, o que corresponde a um vel moderado de estabilidade temporal. Investigamos
também a direcionalidade das proporções e a consistência das categorias interpretativas. Entre
44% e 70% dos participantes permaneceu na mesma categoria interpretativa no teste e no
reteste. Os resultados de estabilidade temporal encontrados foram menores do que os das
pesquisas originais do SCR, mas semelhantes aos de um estudo francês recente. A
estabilidade das constelações foi alta, com pelo menos 88% dos participantes mantendo o
mesmo status negativo ou positivo no teste e no reteste. Fatores como a restrição de faixa de
valores e assimetria não parecem explicar a menor estabilidade temporal encontrada na nossa
amostra, mas a distribuição dos valores das variáveis, incluindo a maior freqüência de
participantes com escores iguais a zero e a presença de escores extremos, pode ter
contribuído. Na nossa amostra, o nível de engajamento na tarefa aparentemente foi
semelhante ao da amostra normativa da cidade de São Paulo, mas menor do que nas pesquisas
originais do SCR. O menor engajamento na tarefa pode ter contribuído para a menor
estabilidade temporal encontrada. Fatores relacionados à situação de testagem também
parecem ter desempenhado importante papel nos resultados. Os usuários brasileiros devem ter
cuidado ao interpretar os resultados obtidos com o SCR, principalmente frente a protocolos
com baixo nível de engajamento na tarefa (identificados por R baixo e Lambda alto). Mais
pesquisas brasileiras com o SCR são necessárias, inclusive para investigar procedimentos que
promovam maior engajamento na tarefa, e que assim possam contribuir para uma maior
fidedignidade e validade dos resultados obtidos.
Descritores: Teste de Rorschach; Precisão do teste; Medidas da personalidade; Técnicas
projetivas; Psicometria; Avaliação Psicológica.
ABSTRACT
SILVA NETO, A. C. P. Reliability of the Rorschach Comprehensive System: review and
study of temporal stability in adults from the city of São Paulo. 2008. Thesis (Doctoral).
Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, 2008.
We have evaluated the temporal stability of 59 Rorschach Comprehensive System (RCS) core
variables. Our sample was composed of 32 nonpatients adults from the city of São Paulo, who
volunteered to participate. They could have access to assessment results after the data
collection. Participants were predominantly women (75%), single individuals (50%), from
socioeconomic classes A (41%) and B (41%), with ages from 19 to 58 and 13 years of
education on average. Twenty-five participants (78%) were employees from the university
where the research was accomplished, two (6%) were students at the university and five
(16%) were acquaintances of the employees. We used a test-retest design with a 3 to 4 months
retest interval. All records were collected and codified by the author. A second rater
independently coded 10 records from test and 10 records from retest, randomly selected.
Interrater reliability was substantial (iota > .60) for most RCS variables. The mean test-retest
correlation for the 59 core variables was r = .61, which indicates a moderate level of temporal
stability. We also investigated directionality of proportions and categorical consistency.
Between 44% and 70% of the participants were in the same interpretive category on test and
retest. These results were lower than the original RCS research, but similar to the findings of a
recent French study. Temporal stability for constellations was high, with at least 88% of the
participants keeping the same negative or positive status on test and retest. Range restriction
and skewness did not seem to explain the lower stability found in our sample, but the
distributions of values for some variables, with a high frequency of participants with scores of
zero and outliers, may have contributed. Task engagement in our sample apparently was
similar to that found for the normative sample of adults from São Paulo, but lower than in the
original RCS research. Lower task engagement may have contributed to the lower temporal
stability. Factors of the testing situation seem to have played an important role in the results
also. Brazilian users should take care in interpreting RCS results, mainly when task
engagement is low (indicated by low R and high Lambda). More research with RCS in Brazil
is needed, also to investigate procedures for obtaining higher task engagement, which may
contribute to higher reliability and validity of test results.
Keywords: Rorschach Test; Test Reliability; Personality Measures; Projective Techniques;
Psychometrics; Psychological Assessment.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
CFP Conselho Federal de Psicologia
CRPs Conselhos Regionais de Psicologia
ICC Intraclass Correlation Coefficient ou Coeficiente de Correlação Intraclasse
GHQ General Health Questionnaire ou Questionário de Saúde Geral de Goldberg
MMPI Minnesota Multiphasic Personality Inventory
RIAP Rorschach Interpretive Assistance Program (programa de computador)
RRU Rorschach Research Utilities (programa de computador)
SATEPSI Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos
SCR Sistema Compreensivo do Rorschach
SPSS Statistical Package for Social Sciences (programa de computador)
INFORMAÇÃO IMPORTANTE
A Lei 4119, de 27 de agosto de 1962 regulamenta a profissão de Psicólogo e no artigo 13º,
1º parágrafo dispõe que: Constitui função privativa do psicólogo o uso de métodos e
técnicas para diagnóstico psicológicoe, portanto, não pode ser exercida por outras pessoas
sem essa formação e que não estejam inscritas no Conselho Regional de Psicologia.
O Código de Ética Profissional, publicado em agosto de 2005, estabelece as responsabilidades
do Psicólogo:
- Artigo (deveres fundamentais dos Psicólogos), Alínea i, estabelece que cabe a todo
psicólogo zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo, guarda e
forma de divulgação do material privativo do psicólogo, sejam feitas conforme os
princípios deste código”;
- Artigo 2º, estabelecendo o que é vedado ao Psicólogo, conforme alínea h, impede o
profissional de interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas
psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas”;
- Artigo 15º, determina que o Psicólogo deverá zelar pelo destino de seus arquivos
pessoais, inclusive todo material psicológico (testes)” e
- Artigo 18º estabelece que: o Psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou
venderá a leigos instrumentos e técnicas psicológicas, que permitam e facilitem o
exercício ilegal da profissão”.
Diante do exposto, decidiu-se que a presente versão fosse reduzida para ser disponibilizada na
internet. Embora pequena, tal redução foi necessária, pois houve a supressão de informações
que possibilitassem a leigos compreenderem aspectos da aplicação ou interpretação do
Método de Rorschach.
Informamos que a versão completa da Tese, disponível para Psicólogos ou estudantes de
Psicologia, encontra-se na biblioteca do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
ou diretamente com o autor.
Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO: A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E A QUALIDADE DOS TESTES
PSICOLÓGICOS .....................................................................................................................11
2. TESTES PSICOLÓGICOS ..................................................................................................13
3. FIDEDIGNIDADE DOS TESTES PSICOLÓGICOS.........................................................15
3.1. Fidedignidade de teste-reteste / estabilidade temporal..................................................17
3.2. Fidedignidade de formas paralelas ................................................................................18
3.3. Consistência interna.......................................................................................................19
3.4. Fidedignidade inter-avaliadores ....................................................................................19
3.5 Fidedignidade intra-avaliadores .....................................................................................20
4. MÉTODO DAS MANCHAS DE TINTA DE RORSCHACH............................................21
4.1. Natureza do Rorschach..................................................................................................21
4.2. Os Sistemas norte-americanos do Rorschach................................................................22
4.3. O Sistema Compreensivo do Rorschach .......................................................................24
5. FIDEDIGNIDADE DO RORSCHACH...............................................................................33
5.1. Consistência interna do Rorschach................................................................................35
5.2. Concordância das interpretações do SCR......................................................................36
5.3. Fidedignidade inter-codificadores do SCR ...................................................................37
5.4. Acurácia das codificações do SCR................................................................................47
5.5. Estabilidade temporal do SCR.......................................................................................51
6. PESQUISAS BRASILEIRAS COM O SCR .....................................................................104
7. JUSTIFICATIVA...............................................................................................................107
8. OBJETIVO.........................................................................................................................107
9. MÉTODO...........................................................................................................................108
9.1. Amostra .......................................................................................................................108
9.2. Instrumentos ................................................................................................................109
9.3. Procedimento...............................................................................................................109
10. RESULTADOS ................................................................................................................114
10.1. Características da amostra obtida ..............................................................................114
10.2. Porcentagem de respostas iguais ...............................................................................116
10.3. Fidedignidade inter-codificadores .............................................................................118
10.4. Estatísticas descritivas das variáveis do SCR............................................................130
10.5. Comparações entre os resultados de teste e reteste ...................................................139
10.6. Estabilidade temporal do SCR...................................................................................140
10.7. Problemas estatísticos interferindo nas estimativas da estabilidade temporal ..........162
10.8. A estabilidade temporal e o engajamento na tarefa...................................................168
10.9. Protocolos de participantes que conheciam o examinador........................................170
10.10. Protocolos com poucas respostas ............................................................................171
11. DISCUSSÃO....................................................................................................................174
12. CONCLUSÕES................................................................................................................189
13. REFERÊNCIAS ...............................................................................................................190
APÊNDICE A – CORRELAÇÃO .........................................................................................205
APÊNDICE B – CÓDIGOS E VARIÁVEIS DO SCR..........................................................217
APÊNDICE C PORCENTAGEM DE CONCORDÂNCIA E KAPPA COMO MEDIDAS
DA FIDEDIGNIDADE INTER-CODIFICADORES............................................................227
APÊNDICE D DIFERENTES MODOS DE AVALIAR A FIDEDIGNIDADE INTER-
CODIFICADORES DO SCR.................................................................................................232
APÊNDICE E – COEFICIENTE IOTA.................................................................................236
APÊNDICE F – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO ....................238
APÊNDICE G ANÁLISE DAS DISCORDÂNCIAS NAS CODIFICAÇÕES DAS
RESPOSTAS POPULARES..................................................................................................239
APÊNDICE H COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS NO TESTE E NO RETESTE DE 6
PROTOCOLOS COM MENOS DE 14 RESPOSTAS ..........................................................250
11
1. INTRODUÇÃO: A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E A QUALIDADE DOS TESTES
PSICOLÓGICOS
Em nosso dia-a-dia, convivemos com pessoas e avaliamos seus comportamentos e
suas características, para tomar decisões sobre como vamos nos relacionar com elas. Esta
avaliação cotidiana ou informal baseia-se principalmente nas impressões de quem avalia,
muitas vezes então levando a conclusões equivocadas. Por outro lado, algumas situações
importantes de tomada de decisão sobre os indivíduos – por exemplo, decisões sobre a
sanidade mental e decisões de seleção de pessoal – demandam que a avaliação gere resultados
confiáveis e corretos. Assim sendo, existe a necessidade de procedimentos que garantam uma
avaliação de qualidade, denominada avaliação psicológica científica (PASQUALI, 2001).
Como parte da avaliação psicológica científica, foram desenvolvidos instrumentos de
avaliação: os testes psicológicos.
A questão da qualidade dos testes psicológicos em uso no Brasil vem ganhando
importância recentemente. Em 1997, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou as
Notas para Orientar a Intervenção do CPF na Questão dos Instrumentos de Avaliação
Psicológica e formou a Câmara Setorial Interinstitucional dos Instrumentos de Avaliação
Psicológica, composta por laboratórios de pesquisa, editoras, grandes usuários de testes,
entidades da Psicologia e docentes.
A proposta era a construção de uma política nacional para os instrumentos de
avaliação psicológica que fosse capaz de combinar os interesses presentes nesse
campo, negociando as parcerias que contemplassem o benefício coletivo e que
pudesse enfrentar os vários problemas existentes em relação à pesquisa, criação,
validação, produção comercial, comercialização, ensino, uso e defesa social da
utilização. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2007)
Em dezembro de 2000, ocorreu o I Fórum Nacional de Avaliação Psicológica,
organizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e Conselhos Regionais de Psicologia
(CRPs). Em seguida, foi publicada a resolução 025/2001, que definiu teste psicológico como
método de avaliação privativo do psicólogo e regulamentou sua elaboração, comercialização e
uso. Esta resolução foi posteriormente substituída pela resolução 02/2003, que versa sobre o
mesmo conteúdo. Desde a promulgação destas resoluções, exige-se que os testes psicológicos
12
apresentem critérios de qualidade para terem sua utilização aprovada no Brasil. Gislene Maia
de Macedo, conselheira do CFP, comenta:
Até então não havia uma regulamentação específica sobre o assunto, que pudesse
nortear os critérios mínimos que os instrumentos precisam possuir para serem
considerados testes psicológicos. Agora, estamos reunindo um quadro de referências
dos conceitos, princípios e procedimentos dos testes psicológicos, com base em
documentos de critérios internacionais, reconhecidos pela comunidade científica e
capazes de atestar a qualidade de um teste. Isso implica em maior credibilidade dos
serviços que os psicólogos prestam à sociedade, ao mesmo tempo em que reafirma o
compromisso social da psicologia quando busca o aperfeiçoamento de suas técnicas
e instrumentos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2007).
Com a finalidade de avaliar a qualidade dos testes, também foi criada a Comissão
Consultiva em Avaliação Psicológica formada por seis psicólogos com ampla experiência e
competência na área.
Todo o processo de controle da qualidade dos testes psicológicos culminou no
estabelecimento de um Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI) pelo CFP.
A questão da qualidade dos instrumentos de avaliação psicológica encontra-se em
pauta e crescem as pesquisas sobre os testes psicológicos. O presente estudo situa-se neste
movimento de pesquisa sobre os instrumentos de avaliação psicológica. Escolhemos avaliar a
fidedignidade do método das manchas de tinta de Rorschach, utilizado segundo o Sistema
Compreensivo (Exner, 2003).
Apresentamos, a seguir: 1) a definição de teste psicológico e seus parâmetros de
qualidade (especialmente a fidedignidade); 2) o método das manchas de tinta de Rorschach e
o Sistema Compreensivo; 3) as pesquisas sobre fidedignidade do Sistema Compreensivo do
Rorschach (SCR).
13
2. TESTES PSICOLÓGICOS
Anastasi e Urbina (2000, p. 18) definem: “Um teste psicológico é essencialmente
uma medida objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento”. a American
Psychological Association (1974, p. 2) afirma que
Um teste é um caso especial de um procedimento de avaliação. Pode ser concebido
como um conjunto de tarefas ou perguntas visando eliciar determinados tipos de
comportamentos quando apresentadas sob condições padronizadas, e gerar escores
que terão propriedades psicométricas desejáveis, como alta fidedignidade e alta
validade.
Notamos nestas definições a menção à objetividade, padronização, fidedignidade
e validade, conceitos que explicamos a seguir.
Os testes psicológicos são instrumentos de avaliação que buscam fornecer
conclusões seguras sobre os aspectos que avaliam. Neste sentido, a partir dos resultados
obtidos, todo e qualquer avaliador deve chegar a conclusões semelhantes. Este aspecto de
independência da opinião pessoal do avaliador corresponde à objetividade (CRONBACH,
1996).
Padronização implica um teste ser aplicado sempre do mesmo modo em todos os
indivíduos, incluindo utilizar o mesmo material-estímulo e as mesmas instruções para a
realização da tarefa, aplicar o mesmo procedimento de coleta dos dados e interpretar os
resultados segundo regras pré-determinadas. Nas palavras de Anastasi e Urbina (2000, p. 20):
Padronização implica uniformidade de procedimento na aplicação e na pontuação do
teste. Para que os escores obtidos por pessoas diferentes sejam comparáveis, as
condições de testagem devem obviamente ser as mesmas para todas. Essa exigência
é apenas uma aplicação especial da necessidade de condições controladas em todas
as observações científicas. Em uma situação de teste, a única variável independente
é frequentemente o indivíduo que está sendo testado. (grifo nosso)
A fidedignidade de um teste refere-se à consistência dos resultados obtidos. Trata-
se de comparar o teste consigo mesmo, ou seja, comparar os resultados obtidos em diferentes
situações, a fim de verificar o quanto se repetem (ANASTASI; URBINA, 2000).
14
A validade de um teste refere-se ao grau em que um teste mede o que se propõe
medir (ANASTASI; URBINA, 2000). Weiner (1996, p. 206) complementa:
Clínicos e pesquisadores geralmente concordam que conhecer o que um teste mede
consiste em identificar como os escores que ele gera correlacionam-se com outras
variáveis ou fenômenos que têm implicações para determinados propósitos de
avaliação psicológica.
Como o foco do nosso estudo é a fidedignidade, fornecemos a seguir uma
apresentação mais detalhada deste aspecto dos testes psicológicos.
15
3. FIDEDIGNIDADE DOS TESTES PSICOLÓGICOS
Um teste psicológico busca avaliar determinada(s) característica(s) psicológica(s)
dos indivíduos. Contudo, condições ambientais, condições físicas e psicológicas do testando,
características da interação entre o aplicador e o testando etc. ou seja, outras características
que aquela(s) que o teste quer avaliar interferem nos resultados obtidos. Assim, os
resultados de qualquer teste contêm certo erro de medida, devido às influências variadas
presentes no momento da testagem
1
. Cabe sublinhar que estes erros de medida não decorrem
de falhas ao aplicar o teste, mas são devidos a fatores casuais (aleatórios); evidentemente,
erros decorrentes de falhas ao aplicar o teste também podem ocorrer, mas não são objeto desta
discussão.
O escore obtido num teste é denominado escore observado. O escore que seria
obtido caso não houvesse erro de medida é denominado escore verdadeiro. Segundo
Kubiszyn e Borich (2003, p. 322), a teoria psicométrica clássica estabelece que:
Escore observado = Escore verdadeiro ± Erro de medida
Evidentemente, o que temos são os escores observados; os escores verdadeiros e
os erros de medida são conceitos teóricos, que levam em conta o fato de que os resultados
variam em diferentes momentos. De qualquer modo, é importante que o usuário de um teste
conheça o quanto os resultados obtidos flutuam de um momento para outro, ou o quanto de
erro de medida os escores observados costumam conter, ou o quanto os escores observados
encontram-se mais próximos ou menos próximos dos escores verdadeiros. Todas estas
questões são correlatas: a pergunta sobre o quanto os resultados flutuam seria uma pergunta
sobre a consistência ou fidedignidade dos escores; a pergunta sobre a magnitude do erro de
medida ou sobre o quanto os escores observados encontram-se próximos aos escores
verdadeiros refere-se à precisão dos resultados. Na teoria psicométrica, encontramos o termo
1
Nesta exposição, a referência a medidas indica que estamos tratando de testes que utilizam resultados
numéricos (escores), ou seja, testes quantitativos ou psicométricos. De fato, tradicionalmente, esta discussão
sobre as características de qualidade dos testes psicológicos costuma utilizar como referência os testes
psicométricos.
16
fidedignidade para se referir a esta característica da consistência dos resultados de um teste.
Por vezes, encontramos também os termos precisão e confiabilidade.
Fidedignidade é o atributo de algo que é digno de ou merecedor de crédito
(FERREIRA, 1988). O termo fidedignidade é utilizado, no contexto dos testes psicológicos,
para indicar que os escores, por serem consistentes, merecem crédito – o usuário do teste deve
acreditar que os resultados são corretos em vez de equivocados.
Como o usuário do teste pode confiar em seus resultados, podemos também dizer
que os resultados apresentam confiabilidade, característica daquilo em que se pode ter
confiança, definida como: segurança íntima de procedimento; crédito, fé; boa fama; segurança
e bom conceito (FERREIRA, 1988). Contudo, segundo Fachel e Camey (2000, p. 160),
devemos evitar utilizar confiabilidade no contexto dos testes psicológicos, já que
[...] a palavra ‘confiabilidade’ como tradução da palavra inglesa reliability não
deveria ser usada neste contexto, pois por confiabilidade entende-se a área da
engenharia que trata da ‘confiança’ que podemos ter em sistemas em geral,
incluindo sistemas de segurança.
Precisão significa exatidão de medida, funcionamento sem falhas, regularidade na
execução (FERREIRA, 1988). Refere-se, no contexto dos testes psicológicos, aos escores
observados serem próximos aos escores verdadeiros. Contudo, Tavares (2003, p. 126)
comenta sobre a inadequação do termo precisão, associado a uma “visão positivista ingênua
de que precisão [exatidão, identidade entre o escore e a característica considerada] na
avaliação”, sugerindo a utilização de fidedignidade ou confiabilidade.
O termo em inglês é reliability, derivado de reliable, que significa seguro,
confiável (HOUAISS; CARDIM, 1996). Neste trabalho utilizamos o termo fidedignidade. O
importante é sublinhar o significado de consistência dos escores, que justamente traz
segurança e permite que o usuário do teste confie nos resultados obtidos. Na definição de
Anastasi e Urbina (2000, p. 84):
‘Fidedignidade’ ou ‘confiabilidade’ refere-se à consistência dos escores obtidos
pelas mesmas pessoas quando elas são reexaminadas com o mesmo teste em
diferentes ocasiões, ou com diferentes conjuntos de itens equivalentes, ou sob outras
condições variáveis de exame.
17
De modo ainda mais direto, Nunnally (1967) afirma que a fidedignidade refere-se
ao grau em que os resultados obtidos se repetem.
Em algumas ciências, como a Física, medidas repetidas são utilizadas para se
estimar o escore verdadeiro e o erro de medida: um mesmo objeto é medido diversas vezes, a
média dos escores é tomada como sendo o escore verdadeiro e o desvio-padrão dos escores é
tomado como sendo o erro de medida (neste caso, chamado erro-padrão de medida). Neste
contexto, o coeficiente de fidedignidade corresponde à variância dos escores verdadeiros
dividida pela variância dos escores observados (CRONBACH, 1996; TRAUB; ROWLEY,
1991).
Em Psicologia não se costuma utilizar diversas medidas repetidas; o procedimento
mais utilizado consiste em tomar duas medidas de um mesmo grupo de indivíduos e calcular a
correlação
2
entre os resultados nas duas testagens (ANASTASI; URBINA, 2000,
CRONBACH, 1996). Esta correlação é equivalente ao coeficiente de fidedignidade obtido por
meio de medidas repetidas (TRAUB; ROWLEY, 1991).
Existem diferentes tipos de fidedignidade, apresentados a seguir.
3.1. Fidedignidade de teste-reteste / estabilidade temporal
A fidedignidade de teste-reteste refere-se ao grau em que os resultados
permanecem semelhantes em duas ou mais aplicações do teste. Para se estimar esta
fidedignidade, o mesmo teste é aplicado a um mesmo grupo de indivíduos em dois momentos
diferentes.
A fidedignidade de teste-reteste mostra a extensão em que os escores em um teste
podem ser generalizados para ocasiões diferentes; quanto maior a fidedignidade,
menos susceptíveis serão os escores às mudanças aleatórias diárias nas condições
dos testandos ou do ambiente de testagem. (ANASTASI; URBINA, 2000, p. 90).
2
Uma explicação sobre correlação encontra-se no Apêndice A.
18
Quando o intervalo entre as testagens é breve, é mais provável que as pessoas não
tenham mudado nas características avaliadas, então a correlação de teste-reteste informa sobre
o quanto os escores do teste são consistentes em diferentes momentos, o que corresponde à
fidedignidade de teste-reteste propriamente dita. As mudanças nos resultados de uma situação
de testagem para a outra decorrem de erros de medida associados à situação de testagem.
Quando o intervalo entre as testagens é longo, pode ter ocorrido mudança na característica
que está sendo avaliada. Nesta situação, o termo estabilidade temporal vem sendo usado para
indicar o quanto a característica avaliada é estável ao longo do tempo. As mudanças nos
resultados de uma situação de testagem para a outra decorrem das mudanças na característica
avaliada e também dos erros de medida associados a fatores situacionais (GRØNNERØD,
2003). Na literatura, encontramos os termos fidedignidade de teste-reteste e estabilidade
temporal muitas vezes utilizados de modo intercambiável. Neste trabalho, utilizaremos
estabilidade temporal para nos referirmos aos resultados de estudos com delineamento do tipo
teste-reteste, tanto para intervalos breves quanto para intervalos longos.
3.2. Fidedignidade de formas paralelas
A forma paralela de um teste corresponde a um teste equivalente, que gera
resultados semelhantes aos obtidos com o teste original. O principal interesse em se
desenvolver formas paralelas seria para utilizá-las quando necessidade de reaplicar o teste,
pois a utilização da forma paralela reduz o problema de a memória das respostas dadas na
primeira testagem interferir com as respostas fornecidas no reteste.
A avaliação da fidedignidade de formas paralelas consiste, então, em aplicar duas
formas supostamente paralelas de um mesmo teste e comparar os resultados obtidos se as
correlações forem suficientemente altas, conclui-se que as formas são paralelas. Quando as
duas formas são aplicadas em sucessão imediata, a correlação vai mostrar a fidedignidade
entre as formas, não entre as ocasiões. Os erros de medida, neste caso, representam flutuações
no desempenho ao se utilizar uma forma ou outra, mas não flutuações ao longo do tempo.
As formas paralelas também podem ser aplicadas com um intervalo de tempo
entre a aplicação de cada forma. Este procedimento, que é uma combinação do procedimento
19
de teste-reteste com o procedimento de formas paralelas, leva em consideração os dois tipos
de interferência o momento da aplicação e a forma do teste e, portanto, estima a o quanto
os resultados são consistentes apesar destes dois fatores (ANASTASI; URBINA, 2000).
3.3. Consistência interna
Este procedimento busca superar um problema que os procedimentos de teste-
reteste e de formas paralelas apresentam: a interferência nos resultados devidas à memória das
respostas e as diferenças entre as formas, respectivamente. Assim, em vez de aplicar o teste
em dois momentos ou utilizar duas formas, a consistência interna é estimada a partir de
apenas uma aplicação do teste.
Para se estimar a consistência interna, divide-se o teste em partes e calcula-se a
correlação entre os resultados obtidos em cada uma dessas partes. No método das duas
metades (split-half), o teste é dividido em duas metades equivalentes e é calculada a
correlação entre os escores em cada uma das metades. No método de Kuder-Richardson
avalia-se o quanto cada item do teste correlaciona-se com os outros itens.Este tipo de
fidedignidade permite avaliar o grau de homogeneidade dos itens do teste (ANASTASI;
URBINA, 2000).
3.4. Fidedignidade inter-avaliadores
Este tipo de fidedignidade refere-se ao grau em que diferentes avaliadores
pontuam ou classificam as respostas de um teste de modo semelhante (ANASTASI;
URBINA, 2000). Uma mesma amostra de protocolos de um teste é pontuada
independentemente por dois examinadores e avalia-se o grau de concordância dessas
pontuações (esta é a fidedignidade do avaliador em relação às pontuações, mas também existe
a fidedignidade do avaliador em relação à interpretação dos resultados: comparam-se as
interpretações de diferentes avaliadores para um mesmo conjunto de protocolos).
Um teste psicológico bem construído deve apresentar regras claras para a
pontuação das respostas, garantindo, com isto, que diferentes avaliadores as pontuem de modo
20
semelhante. São justamente os estudos de fidedignidade inter-avaliadores que indicam se as
regras de pontuação são ou não são claras.
3.5 Fidedignidade intra-avaliadores
Este tipo de fidedignidade refere-se ao grau em que um mesmo avaliador pontua
as respostas de um teste de modo semelhante em diferentes momentos.
21
4. MÉTODO DAS MANCHAS DE TINTA DE RORSCHACH
O método das manchas de tinta de Rorschach
3
é um instrumento de avaliação da
personalidade. Foi desenvolvido pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach e consiste em um
conjunto padronizado de manchas de tinta, que são apresentadas aos testandos para que digam
com o que elas se parecem.
Respostas a manchas de tinta vinham sendo estudadas por diversos pesquisadores,
mas os trabalhos detinham-se nos conteúdos das respostas, utilizados para a avaliação da
imaginação. A originalidade de Hermann Rorschach foi estudar as respostas considerando
outras características além de seu conteúdo. Ele desenvolveu um sistema de classificação da
estrutura das respostas às manchas de tinta: um conjunto de códigos era usado para
representar a área da mancha utilizada [ localização ], outro conjunto de códigos para as
principais características da mancha responsáveis pela imagem percebida [ determinante ] e
outros códigos para o tipo de objeto percebido [ conteúdo ]. Rorschach descobriu que esses
elementos estruturais das respostas relacionavam-se com características de personalidade. Em
1921, publicou o Psicodiagnóstico, reportando os resultados de suas pesquisas (EXNER,
2003).
4.1. Natureza do Rorschach
[Trecho suprimido na versão online]
3
Neste trabalho, nos referimos ao método das manchas de tinta de Rorschach como método de Rorschach,
técnica de Rorschach ou simplesmente Rorschach.
22
[Trecho suprimido na versão online]
4
4.2. Os Sistemas norte-americanos do Rorschach
Um ano após a publicação do Psicodiagnóstico, Hermann Rorschach veio a
falecer. Após sua morte, alguns de seus colegas continuaram a utilizar o método das manchas
de tinta. A técnica foi divulgada na Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos.
4
[Nota de rodapé suprimida na versão online]
23
Exner (2003) conta a história do Rorschach nos Estados Unidos:
Ainda no início da década de 1920, David Levy, psicólogo norte-americano,
estudou na Suíça com Oberholzer, colega de Hermann Rorschach, quando então aprendeu o
método das manchas de tinta. Por meio de Levy, Samuel Beck conheceu a técnica e começou
a realizar as primeiras pesquisas nos Estados Unidos. Posteriormente, sua colega Marguerite
Hertz também se interessou pelo método e realizou suas pesquisas. Beck e Hertz publicaram
suas dissertações sobre o Rorschach em 1932.
Com a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos receberam muitos refugiados
europeus, dentre eles Bruno Klopfer. Em 1934, seus alunos da Universidade de Colúmbia
solicitaram seminários sobre o Rorschach. A partir desses seminários, a carreira de Klopfer
dirigiu-se cada vez mais para o método das manchas de tinta e ele passou a desenvolver sua
própria abordagem da técnica.
Dentre os participantes do primeiro seminário de Klopfer estava Zygmunt
Piotrowski, estudante polonês que realizava seu pós-doutorado nos Estados Unidos e que,
com a invasão de seu país, decidiu permanecer na América. Em 1950, Piotrowski publicou
Perceptanalysis, sua obra sobre o Rorschach.
David Rapaport também fugiu da Europa para os Estados Unidos, chegando em
1938, após completar seu doutorado na Hungria. Sua orientação era psicanalítica e seu maior
interesse era o estudo dos processos de pensamento. O Rorschach e outros testes psicológicos
passaram a ser utilizados neste estudo e Rapaport desenvolveu sua própria abordagem do
método das manchas de tinta. Posteriormente, esta abordagem foi enriquecida com a
contribuição de Roy Schafer, que em 1954 publicou Psychoanalytic Interpretation in
Rorschach Testing.
Wood et al. (2003) situam o desenvolvimento do Rorschach no contexto da
Psicologia norte-americana:
Nas décadas de 1920 e 1930, começaram a ser construídos os primeiros testes de
personalidade, basicamente inventários, instrumentos que avaliavam traços de personalidade a
partir de respostas do indivíduo a perguntas sobre suas características pessoais ou modos
24
típicos de agir. Os inventários apresentam limitações: sua validade depende de o indivíduo
possuir um bom auto-conhecimento e estar disposto a responder honestamente às perguntas.
Além disso, os primeiros inventários avaliavam poucas características, não fornecendo uma
avaliação mais ampla da personalidade, e não ajudavam a identificar problemas psicológicos.
Neste cenário, desenvolveram-se outras técnicas de avaliação da personalidade,
caracterizadas por instruções que permitem grande liberdade de resposta e por frequentemente
utilizarem estímulos ambíguos. [Trecho suprimido na versão online]
O crescimento do Rorschach nos Estados Unidos nas décadas de 1940 e 1950
deveu-se à publicação de numerosos livros e artigos sobre o teste, ao entusiasmo de seus
promotores, à influência da psicanálise – [trecho suprimido na versão online]
e ao aumento da
demanda por serviços psicológicos e necessidade de instrumentos para se detectar transtornos
mentais.
4.3. O Sistema Compreensivo do Rorschach
Hermann Rorschach reconhecia que seu método das manchas de tinta ainda não
estava completo. Assim sendo, outros autores modificaram e ampliaram a técnica para
integrar novas conceituações e resultados de pesquisas. Estas revisões e acréscimos
produziram diferentes modos de usar o instrumento. Nos Estados Unidos, desenvolveram-se
cinco principais sistemas de aplicação, codificação e interpretação do Rorschach – os sistemas
de Beck, Klopfer, Hertz, Piotrowski e Rapaport/Schaffer (EXNER, 2003).
A partir da década de 1960, John Ernest Exner Jr., psicólogo norte-americano,
decidiu estudar estes cinco principais sistemas do Rorschach utilizados nos Estados Unidos.
Buscava inicialmente compará-los e ver qual deles apresentaria uma melhor fundamentação.
25
Esta pesquisa resultou em seu livro The Rorschach Systems, publicado em 1969. Exner
concluiu que, de modo geral, o Rorschach mostrava-se útil para gerar resultados relevantes
para o trabalho clínico. Todos os sistemas apresentavam alguns aspectos bem fundamentados
e outros aspectos que demandavam melhor fundamentação, pois não haviam sido pesquisados
ou as pesquisas mostravam resultados contraditórios. Provavelmente, a conclusão mais
importante foi que as diferenças entre os sistemas eram tantas que não se poderia falar em um
único teste de Rorschach, mas sim seriam cinco diferentes testes, cada uma deles utilizando
determinado enquadre (setting) e instruções fornecidas, códigos (símbolos) próprios para a
classificação das respostas com diferentes critérios de codificação nos diferentes sistemas
e postulados para a interpretação dos resultados (EXNER, 2003).
Exner também realizou pesquisa com usuários do Rorschach, encontrando que
predominava a utilização dos sistemas de Beck e Klopfer. Vinte e dois por cento dos
psicólogos que responderam à pesquisa disseram que haviam abandonado a codificação das
respostas, realizando a avaliação apenas interpretando o conteúdo. Setenta e cinco por cento
dos psicólogos que responderam à pesquisa personalizavam a codificação, combinando
elementos de diferentes sistemas.
Não tendo encontrado um sistema que fosse melhor que os demais e tendo notado
que a maioria dos usuários não seguia um único sistema, Exner decidiu integrar os diferentes
sistemas. Em 1970, realizou uma revisão sistemática da literatura do Rorschach, encontrando
que muitos estudos apresentavam problemas em seu delineamento e nas análises estatísticas.
Seiscentos estudos adequados foram localizados. Com esta revisão da literatura, Exner
observou que alguns estudos apresentavam resultados contraditórios em relação a outros,
sendo um dos problemas a utilização de amostras pequenas havia então a necessidade de
replicações com amostras maiores. Exner e seus colaboradores realizaram diversas pesquisas,
buscando assim suprir a fundamentação que faltava ao método das manchas de tinta. Em
1974, Exner publicou The Rorschach: A Comprehensive System. O Sistema Compreensivo
26
do Rorschach (SCR) tem este nome por abarcar e integrar os aspectos mais bem
fundamentados dos cinco sistemas norte-americanos do Rorschach
5
.
Discutindo a importância do Sistema Compreensivo do Rorschach, Weiner
(1998b, p. 218) coloca a seguinte pergunta:
Se os avaliadores sentiam-se satisfeitos com seus modos individuais de utilizar o
Rorschach e eram capazes de formar impressões clínicas relevantes das pessoas
examinadas, o que importava se poucos utilizavam o teste do mesmo modo?
Justifica uma utilização uniforme do Rorschach argumentando que a avaliação
subjetiva das respostas por parte do avaliador seria insuficiente para uma psicologia clínica
científica e respeitável:
Embora impressões subjetivas da singularidade individual enriqueçam a prática
clínica e ampliem a capacidade do psicólogo de ser útil [aos clientes e à sociedade],
a subjetividade sozinha é insuficiente para sustentar a psicologia clínica e o
psicodiagnóstico como ciência e profissão (Weiner, 1983, 1991)
6
. Para evitar
afundar-se na subjetividade e ser equivocadamente tomados por artistas ou filósofos,
os psicólogos que trabalham com psicodiagnóstico necessitam introduzir substancial
objetividade em suas testagens projetivas (WEINER, 1998b, p, 218).
Exner (1999a, p. 159) comenta:
Desde sua publicação em 1921, um amplo segmento da história do Rorschach,
principalmente do final da década de 1940 até a metade da década de 1970, foi
frequentemente marcado por considerável crítica baseada em argumentos de que
evidências convincentes de fidedignidade e/ou validade do teste não haviam sido
estabelecidas. [...]
5
Os símbolos usados na codificação das respostas, os critérios de codificação e as variáveis do Sumário
Estrutural do SCR encontram-se no Apêndice B. [Suprimido na versão online]
6
WEINER, I. B. The future of psychodiagnosis revisited. Journal of Personality Assessment, 47: 451-461,
1983.
WEINER, I. B. Theoretical foundations of clinical psychology. In: The clinical psychology handbook.
HERSEN, M.; KASDIN, E. A.; BELLACK, A. S. (editores). 2
nd
ed. New York: Pergamon, 1991. p. 26-44.
27
A amplitude das críticas fez com que alguns autores desautorizassem o uso da
palavra teste ao discutir o Rorschach e adotassem nomenclaturas como técnica ou
método (Klopfer & Kelly, 1942)
7
, ou mesmo o descrevessem como uma forma de
entrevista não-estruturada (Zubin, Eron & Schumer, 1965)
8
. Muitos defensores do
teste contra-argumentavam que princípios específicos de medida poderiam não ser
aplicáveis ao estudo do Rorschach porque seus dados somente podem ser
compreendidos num enquadre interpretativo global clínico (Holt, 1958, 1970)
9
. [...]
Também é importante notar que muita pesquisa inicial do Rorschach, especialmente
durantes as décadas de 1940 e 1950, foi marcada por delineamentos que eram
excessivamente simplistas ou confusos e por abordagens de análise dos dados que
seriam julgadas como muito primitivas para os padrões contemporâneos. (grifo do
autor)
O Rorschach encontrava-se, e ainda encontra-se, tensionado entre duas tradições
da Psicologia. De um lado, uma tradição baseada em pesquisas empíricas (objetividade) e
busca de leis gerais (abordagem nomotética); de outro, uma tradição baseada na construção de
compreensão (subjetividade) da singularidade individual (abordagem idiográfica).
Autores como Beck e Hertz enfatizavam a necessidade da fundamentação
psicométrica e empírica do Rorschach. Klopfer propunha que o Rorschach fosse validado
clinicamente, ou seja, os aspectos psicométricos não seriam tão importantes, que a
interpretação teria sua validade comprovada quando convergisse com dados obtidos numa
avaliação clínica (estudo de caso); além disso, a interpretação do Rorschach seria um processo
mais artístico do que propriamente científico, requerendo talento e experiência do avaliador
mais do que o seguimento de um procedimento uniforme e fundamentado em pesquisas
(WOOD et al., 2003).
7
KLOPFER, B.; KELLEY, D. The Rorschach Technique. Yonker, NY: World Book, 1942.
8
ZUBIN, J.; ERON, L. D.; SCHUMER, F. An experimental approach to projective techniques. New York:
Wiley, 1965.
9
HOLT, R. Clinical and statistical prediction: A reformulation and some new data. Journal of Abnormal and
Social Psychology, v. 56, p. 1-12, 1958.
HOLT, R. Yet another look at clinical and statistical prediction: Or, is clinical psychology worthwhile?
American Psychologist, v. 25, p. 337-349, 1970.
28
Em nossa opinião, esta estratégia de validação do Rorschach proposta por Klopfer
apresenta problemas: o procedimento para se chegar à interpretação global é subjetivo, ou
seja, depende do avaliador mais do que de regras objetivas para a interpretação dos resultados;
existe a dificuldade de se determinar o que seria convergência ou divergência entre as
conclusões pelo Rorschach e as conclusões do estudo de caso, principalmente porque esses
dois procedimentos fornecem diversas informações sobre características do indivíduo, muitas
vezes cada um deles informando sobre aspectos diferentes; frequentemente um mesmo
avaliador realizava a interpretação do Rorschach e o estudo de caso, não havendo
independência entre o instrumento a ser validado e o critério de comparação (problema de
contaminação do critério). Conforme discutido por Arkes (1981) e Garb (1998), devemos
considerar também que o raciocínio clínico está sujeito a diversas falhas, o que contribui para
desaconselhar esta abordagem à validação.
No final da década de 1940, Cronbach publicou seu importante artigo sobre os
métodos estatísticos aplicados ao Rorschach. Já naquela época, afirmou que
[...] pesquisas estatísticas com o teste de Rorschach não são apenas justificáveis, mas
indispensáveis. A flexibilidade do pensamento clínico cria hipóteses excelentes, mas
estas hipóteses podem ser tomadas como verdadeiras a partir de estudos
controlados. [...] Mesmo que o clínico estudando uma pessoa não utilize estatísticas,
ele emprega generalizações sobre o teste que devem estar embasadas em evidências
geradas cientificamente. (CRONBACH, 1949, p. 393)
Outra situação que trouxe confusão para a compreensão do Rorschach foi sua
inclusão dentre os (assim chamados) métodos projetivos.
[Trecho suprimido na versão online]
29
[Página suprimida na versão online]
30
Com esta denominação métodos projetivos surgiu uma tendência equivocada de
separar os testes psicológicos em dois grupos distintos: os testes objetivos e os testes (ou
métodos) projetivos. Meyer (1997a, p. 298) comenta:
O precedente histórico nos deixou com os termos objetivo para descrever o MMPI
10
e projetivo para descrever o Rorschach. Esses termos são errôneos e obscurecem em
vez de esclarecer. Em particular, implicam que o MMPI é factual e preciso,
enquanto sugerem que o Rorschach é subjetivo e não-factual. Na realidade, ambos
devem ser considerados medidas factuais, mas imprecisas, da personalidade, cada
um dos quais apto para quantificar certos tipos de construtos da personalidade
(grifos nossos).
Em 2006, Meyer foi ainda mais enfático, afirmando a necessidade de se suspender
a utilização dos termos objetivo e projetivo para descrever diferentes tipos de testes
psicológicos. Propôs como substitutos para o termo testes projetivos: tarefas de execução
(performance tasks), tarefas comportamentais (behavior tasks), métodos construtivos
(constructive methods), medidas de resposta livre (free response measures), testes expressivos
de personalidade (expressive personality tests).
O Sistema Compreensivo buscou superar uma série de equívocos e dicotomias
(ainda presentes) em relação ao Rorschach. Trata-se de um instrumento cuja avaliação inclui
aspectos objetivos e subjetivos, estruturais e temáticos, nomotéticos e idiográficos, e que pode
ser considerado um teste psicológico e também um método para se obter diversas informações
sobre o funcionamento psicológico do indivíduo (WEINER, 1998a).
10
MMPI é a abreviação de Minnesota Multiphasic Personality Inventory.
31
Em relação ao método das manchas de tinta de Rorschach (em inglês, Rorschach
Inkblot Method - RIM), Weiner (1998a, p. 55) comenta que
O Sistema Compreensivo do Rorschach, desenvolvido por Exner (J. E. Exner, 1991,
1993; J. E. Exner e Weiner, 1995)
11
está fundamentado em três pilares: aplicação
padronizada, codificação objetiva e fidedigna, e uma base de dados normativos
representativa. A objetividade sistemática introduzida no teste de Rorschach por J.
E. Exner (1974)
12
, após mais de 50 anos de utilização altamente variável e
freqüentemente caótica do instrumento, tornou possível [...] que os dados de
pesquisa acumulados demonstrassem o rigor psicométrico do método das manchas
de tinta de Rorschach (RIM). Além de ampliar a utilização proveitosa do RIM em
estudos empíricos, o advento do Sistema compreensivo permitiu que os profissionais
que utilizam o Rorschach formulassem conclusões clínicas com maior segurança do
que antes era possível e que as comunicassem com maior eficiência (Weiner, 1997a,
1998c)
13
.
[...] Os dados do Rorschach obtidos, codificados e apresentados de acordo com as
diretrizes do Sistema Compreensivo fornecem aos clínicos um conjunto de códigos e
índices fidedignos e fáceis de observar, que dispõem de correlatos empiricamente
demonstrados e conceitualmente significativos com aspectos do funcionamento da
personalidade.
O SCR representa “o esforço mais ambicioso e frutífero já realizado de colocar o
Rorschach em bases psicometricamente sólidas” e “uma das maiores contribuições do
trabalho de Exner é o oferecimento de um sistema Rorschach uniforme que permite a
11
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: A Comprehensive System. Volume 2: Interpretation. 2
nd
ed. New York:
Wiley, 1991.
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: A Comprehensive System. Volume 1: Basic Foundations. 3
rd
ed. New York:
Wiley, 1993.
EXNER, J. E. Jr.; WEINER, I. B. The Rorschach: A Comprehensive System. Volume 3: Assessment of
children and adolescents. 2
nd
ed. New York: Wiley, 1995.
12
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: A Comprehensive System. New York: Wiley, 1974.
13
WEINER, I. B. Current status of the Rorschach Inkblot Method. Journal of Personality Assessment, v. 68, p.
5-19, 1997.
WEINER, I. B. Rorschach Inkblot Method. In: The use of psychological testing in treatment planning and
outcome evaluation. MARUISH, M. (editor). 2nd. ed. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1998.
32
comparabilidade entre os achados de pesquisas de diferentes investigadores”. (ANASTASI;
URBINA, 2000, p. 341-342).
O Sistema Compreensivo foi apresentado em 1974 e desde então se tornou a
abordagem mais utilizada nos Estados Unidos: na metade da década de 1980,
aproximadamente 35% dos psicólogos que usavam o Rorschach o adotaram; no final daquela
década, o número era de 40%, aproximadamente o dobro do número de usuários dos sistemas
Beck e Klopfer; no final de 1990, o SCR era ensinado em aproximadamente 75% dos cursos
de graduação (WOOD et al, 2003). Piotrowski (1996) encontrou que o Sistema Compreensivo
é o mais utilizado em pesquisas com o Rorschach nos Estados Unidos. O SCR é dominante
na maioria dos outros países ou está em processo de adoção pelos psicólogos que realizam
psicodiagnóstico com o Rorschach, conforme pode ser observado pelas publicações no
periódico internacional Rorschachiana e nos anais dos congressos da Sociedade
Internacional de Rorschach (WEINER, 1998b).
Como o foco de nosso trabalho é a fidedignidade do SCR mais especificamente
a estabilidade temporal –, a seguir apresentamos os estudos de fidedignidade do Sistema
Compreensivo.
33
5. FIDEDIGNIDADE DO RORSCHACH
Propostas para a avaliação da fidedignidade do Rorschach
Holzberg (1977) menciona quatro atitudes frente à fidedignidade do Rorschach:
1) A fidedignidade não seria uma questão adequada ao Rorschach, em função do
modo como este é usado na prática clínica – trata-se de um método qualitativo
e informal, semelhante a uma entrevista aberta.
2) O importante seria estabelecer a validade do Rorschach, que esta, uma vez
comprovada, implicaria em fidedignidade adequada. Segundo esta proposta,
havendo validade, as oscilações nos resultados não demonstrariam falta de
consistência do instrumento, mas sim oscilações na personalidade.
3) A fidedignidade deve ser investigada, mas de um modo que respeite a
especificidade do Rorschach, técnica que não avalia apenas um aspecto ou
alguns aspectos isolados da personalidade, mas que considera diversos
aspectos em conjunto e gera informações complexas sobre diversas
características do funcionamento psicológico.
4) A fidedignidade deveria ser estudada como em qualquer teste.
A primeira atitude propõe uma utilização mais qualitativa e subjetiva do
Rorschach. Cabe dizer que, mesmo ao se utilizar o Rorschach deste modo mais informal e
qualitativo, é viável e indicado realizar estudos sobre a fidedignidade. Podemos, por exemplo,
comparar as interpretações produzidas por diferentes avaliadores para ver se concordam – este
tipo de estudo será comentado no item concordância das interpretações, a seguir.
A segunda atitude apresenta uma proposta facilmente questionável, pois
desconsidera o fato de que todo instrumento de avaliação apresenta erros de medida: os
resultados flutuam devido a fatores aleatórios, e a magnitude destes erros deve ser conhecida
para uma utilização mais bem fundamentada dos resultados.
Em relação à terceira atitude para lidar com a singularidade do Rorschach,
considerando seu caráter holístico e seus aspectos quantitativos e qualitativos, foram
propostas diversas abordagens: avaliar a fidedignidade do Sumário Estrutural; usar escalas de
34
pontuação (rating scales) para avaliar aspectos da interpretação e então comparar as
interpretações de diferentes avaliadores e estabelecer a fidedignidade; usar técnicas de
pareamento (matching techniques), ou seja, fornecer protocolos de teste e reteste de diversos
indivíduos e solicitar que juízes estabeleçam os pares de protocolos que seriam do mesmo
indivíduo, ou solicitar que os juizes pareiem as interpretações formuladas por diferentes
avaliadores.
O Sistema Compreensivo desenvolve-se buscando demonstrar a fidedignidade
psicométrica do método das manchas de tinta seguindo, então, a quarta atitude mencionada
por Holzberg (1977).
O Sistema Compreensivo e a fidedignidade do Rorschach
Nesta parte, revisamos os estudos da fidedignidade do Sistema Compreensivo do
Rorschach. Existem estudos com outros sistemas, a maioria deles mais antigos, sendo mais
difícil a obtenção dos periódicos e livros em que se encontram. Em função desta maior
dificuldade de acesso aos estudos e também por uma questão de economia, optamos por
revisar apenas os estudos com o SCR.
Antes de apresentarmos os estudos de fidedignidade do SCR, cabe mencionar um
estudo de Parker, Hanson e Hunsley (1988). Trata-se de uma metanálise de artigos publicados
no Journal of Personality Assessment e no Journal of Clinical Psychology, entre 1970 e
1981, sobre os testes MMPI, Rorschach e WAIS. A metanálise incluiu pesquisas com
diversos sistemas do Rorschach e os autores concluíram que, de modo geral, a fidedignidade
dos três testes é aceitável e aproximadamente equivalente. A fidedignidade (consistência
interna e concordância inter-avaliadores) do Rorschach foi estimada em 0,86 e a estabilidade
temporal em 0,85.
Também cabe mencionar o único estudo com informações sobre fidedignidade
intra-avaliadores que encontramos. Voigt e Dana (1964) utilizaram 10 estudantes de
psicologia clínica, que codificaram 150 respostas do Rorschach em duas ocasiões. A
fidedignidade intra-avaliadores, ou consistência entre as duas codificações realizadas pelos
avaliadores, foi estimada em 73%.
35
5.1. Consistência interna do Rorschach
Existem pesquisas sobre a consistência interna com outros sistemas do Rorschach.
Contudo, Exner (1978, p. 63) comenta que
[...] a demonstração da fidedignidade das duas metades para o teste [de Rorschach]
coloca diversos problemas [...]. O problema com a fidedignidade das duas metades
deve-se ao fato de que os estímulos do teste são diferentes entre si. Eles são
diferentes em temos dos níveis de dificuldade e complexidade, e são provavelmente
diferentes em termos dos diferentes tipos de respostas que induzem (‘stimulus pull’).
Entretanto, alguns estudos de fidedignidade das duas metades produziram resultados
que estão longe de serem pouco respeitáveis. [...]
Embora a técnica das duas metades elimine a desvantagem da exposição prévia às
manchas e, de fato, controle o efeito da prática, provavelmente não é uma boa
medida da ‘solidez’ do Rorschach.
Como este tipo de fidedignidade não parece adequado ao Rorschach, o Sistema
Compreensivo não apresenta estudos de consistência interna.
Localizamos apenas um estudo com o título de consistência interna, mas que não
avalia este aspecto segundo a definição tradicional: Williamson (1988) estudou a consistência
interna de grupos de variáveis utilizadas na interpretação do SCR. Os grupos de variáveis
escolhidos avaliam os seguintes aspectos: iniciativa e complexidade cognitiva; rigidez e
disfunção cognitiva; convencionalidade e acurácia perceptiva; características da ideação;
características do afeto; características da auto-imagem; percepção interpessoal; Constelação
de Suicídio; Índice de Esquizofrenia; Índice de Depressão. Os resultados indicaram que
alguns dos grupos de variáveis apresentam boa consistência interna, enquanto outros
apresentam baixa consistência interna. Em outras palavras, alguns grupos de variáveis
apresentam índices que se referem a um mesmo tipo de característica do funcionamento
psicológico (por exemplo, Zf, W e DQ+ apresentam alta consistência interna, pois avaliam o
esforço de organização perceptiva), enquanto outros grupos de variáveis apresentam índices
que avaliam características independentes uma das outras (por exemplo, Afr e FC : CF+C
referem-se a dois aspectos distintos e independentes da afetividade, a responsividade às
situações afetivas e o grau de modulação afetiva, respectivamente).
36
5.2. Concordância das interpretações do SCR
Meyer, Mihura e Smith (2005) publicaram um estudo sobre a concordância das
interpretações. Utilizaram 55 protocolos, a partir dos quais avaliadores deveriam pontuar 29
características de personalidade pré-selecionadas, ou organizar estas 29 características numa
ordem para cada paciente (técnica Q). A pesquisa primeiramente utilizou os 3 autores como
avaliadores; depois um conjunto de avaliadores, com cada um interpretando uma parte dos
protocolos; por fim, 8 avaliadores interpretando os mesmos 55 protocolos. Os resultados
encontrados indicam que o nível de concordância entre diferentes avaliadores que utilizam o
SCR é semelhante ao nível de concordância entre avaliadores utilizando outros testes em
Psicologia e Medicina. Concluíram que o Rorschach pode ser interpretado de modo fidedigno.
Pesquisas anteriores ao Sistema Compreensivo utilizaram o procedimento de
pareamento para avaliar a concordância das interpretações. Esta metodologia apresenta alguns
problemas: certas interpretações podem ser pareadas baseando-se em aspectos superficiais,
quando na verdade diferem em significado; afirmações genéricas podem ser pareadas mais
facilmente, dando impressão de maior fidedignidade do que de fato. A heterogeneidade ou
homogeneidade dos protocolos a serem pareados, o grau de perícia do avaliador e o tempo
disponível para realizar a tarefa são fatores que influenciam o pareamento e,
consequentemente, os resultados de fidedignidade obtidos a partir de estudos deste tipo, que
avaliam não apenas a fidedignidade das interpretações, mas também a fidedignidade do
avaliador que faz o pareamento (ZUBIN; ERON; SCHUMER, 1965). Holzberg (1977)
comenta ainda que cada intérprete pode enfatizar determinados aspectos em vez de outros, e o
modo como cada avaliador procede para construir a interpretação (por exemplo, utilizando
sinais ou levantando hipóteses e validando-as) também produz maior variedade de
interpretações, o que muitas vezes dificulta o pareamento. O estudo de Meyer, Mihura e
Smith (2005) buscou contornar estes problemas, utilizando 29 características de personalidade
pré-selecionadas, que deveriam ser pontuadas por todos os avaliadores.
37
5.3. Fidedignidade inter-codificadores do SCR
Conforme exposto anteriormente, a fidedignidade inter-avaliadores refere-se ao
grau em que as pontuações realizadas por diferentes avaliadores são semelhantes. No
Rorschach, não se trata propriamente de pontuar as respostas, mas sim de codificá-las, ou
seja, atribuir a elas um conjunto de símbolos que resumem suas características estruturais.
Usamos, então, as denominações fidedignidade inter-codificadores ou fidedignidade das
codificações.
Uma das preocupações ao desenvolver o Sistema Compreensivo foi criar critérios
de codificação claros, que então apresentassem adequada fidedignidade inter-codificadores:
[...] nenhuma categoria de codificação foi incluída no ‘novo’ sistema [Sistema
Compreensivo] a menos que um nível nimo de 0,85 pudesse ser facilmente
alcançado para grupos de 10 a 15 codificadores ao longo de pelo menos 10 a 20
protocolos nos quais a categoria-alvo ocorresse com uma freqüência razoável. Isto
causou uma rejeição inicial de muitas categorias de classificação aparentemente
úteis, que foram posteriormente incluídas no sistema, com seus critérios de
codificação revisados. (EXNER, 2003, p.25).
Em 1991, a questão da fidedignidade das codificações recebeu um destaque
importante no Journal of Personality Assessment, principal periódico de estudos sobre o
Rorschach. Irving Weiner, na época o editor deste periódico, publicou uma nota determinando
que, para um artigo ser aceito para publicação, deveria apresentar comprovação nima da
fidedignidade das codificações: pelo menos 20 protocolos deveriam ser codificados por mais
de um avaliador e a porcentagem de concordância das codificações por segmentos
(localização, determinantes, qualidade formal, conteúdos etc.) deveria ser de pelo menos 80%
(WEINER, 1991).
38
Hellreich (1995, apud Nakata, 2000)
14
utilizou estudantes de Psicologia com
diferentes níveis de experiência para investigar a fidedignidade inter-codificadores. Estes
avaliadores codificaram respostas com diversos graus de dificuldade. A autora encontrou que
o nível de treinamento dos avaliadores afetou a fidedignidade das codificações e que as
menores concordâncias das codificações ocorreram para os determinantes, qualidade formal e
códigos especiais. Além disso, o nível de complexidade das respostas interferiu, com
respostas mais complexas apresentando menor fidedignidade inter-codificadores.
Um dos problemas desta pesquisa foi a utilização de respostas do Workbook
15
. Os
avaliadores provavelmente conheciam muitas destas respostas, por utilizarem o Workbook
para aprender a codificar. Também não se sabe se o conjunto de respostas selecionadas para
estudo da fidedignidade das codificações é semelhante a protocolos reais considerados em sua
totalidade. Além disso, os codificadores eram alunos de uma mesma faculdade, o que deve ter
contribuído para maior concordância das codificações (NAKATA, 2000).
Wood, Nezworski e Stejskal (1996a) publicaram The Comprehensive System
for the Rorschach: a critical examination, artigo no qual revisaram o Sistema
Compreensivo e apontaram alguns problemas, sendo um deles a fidedignidade inter-
codificadores. Segundo estes autores, a porcentagem de concordância não seria um índice
adequado para se estimar a fidedignidade. Haveria a necessidade de se controlar o problema
da concordância obtida por mero acaso e, para tanto, o coeficiente kappa seria a medida
indicada
16
. Além disso, o Sistema Compreensivo apresentaria apenas informações sobre a
fidedignidade de códigos isolados, faltando informações sobre a fidedignidade das variáveis
do Sumário Estrutural. Outro ponto destacado é que os resultados provêm de pesquisas com
14
HELLREICH, C. L. Rorschach intercoder reliability. Tese de doutorado. California School of Professional
Psychology, 2000.
15
Nos Estados Unidos, existem os livros do Sistema Compreensivo (The Rorschach: A Comprehensive
System), atualmente em sua quarta edição (Exner, 2003), e o Rorschach Workbook for the Comprehensive
System, apostila que resume as orientações para a aplicação do Rorschach e para a codificação das respostas,
bem como apresenta exercícios de codificação com gabarito de correção, atualmente em sua quarta edição. No
Brasil, o Manual de classificação do Rorschach para o Sistema Compreensivo (Exner, 1999b) corresponde à
tradução do Workbook (terceira edição).
16
Uma explicação sobre o problema da concordância obtida ao acaso e o coeficiente kappa encontra-se no
Apêndice C.
39
avaliadores extremamente bem treinados e com maior controle experimental do que na prática
clínica cotidiana; faltaria conhecer a concordância entre psicólogos clínicos comuns em seu
trabalho cotidiano o que os autores denominaram fidedignidade inter-avaliadores de campo
(field interrater reliability).
Em resposta às críticas, Exner (1996b) explicou que o que vinha sendo
denominado porcentagem de concordância (percentage of agreement), na verdade
corresponde à porcentagem de codificações corretas, devendo então ser denominado
porcentagem correta (percentage correct). Neste procedimento, mais bem explicado numa
comunicação pessoal de Exner reportada em McGrath, Pogge e Strokes (2005), três ou mais
avaliadores da diretoria de Rorschach Workshops (apelido da Rorschach Research
Foundation, organização fundada por Exner) primeiramente estabelecem um consenso sobre
as codificações corretas de um conjunto de respostas. Depois, outros avaliadores codificam
estas respostas e é realizada a comparação de suas codificações com as codificações corretas.
O conjunto de respostas apresentaria diversas ocorrências dos códigos em estudo, evitando-se
assim os problemas de códigos com baixa taxa de ocorrência e alta concordância obtida por
mero acaso. Na visão de Exner, este procedimento seria suficiente para se construir critérios
de codificação claros, que apresentassem boa concordância entre diferentes codificadores. A
ausência de dados de fidedignidade para as variáveis do Sumário Estrutural não seria
importante, pois a fidedignidade da codificação das respostas é adequada e o Sumário
Estrutural é gerado a partir dos códigos das respostas. A questão da fidedignidade das
codificações obtidas por psicólogos em seu trabalho cotidiano seria uma proposta
interessante, mas que raramente é investigada nos diversos testes, e que, portanto, não deveria
ser exigida do SCR.
Wood, Nezworski e Stejskal (1996b), em sua resposta às explicações de Exner,
afirmam que o procedimento utilizado por ele não é uma medida da fidedignidade inter-
codificadores (interscorers reliability), mas sim uma medida da acurácia das codificações
(scoring accuracy). Assim sendo, a fidedignidade inter-codificadores seria desconhecida,
havendo necessidade urgente de pesquisas. Novamente, reafirmaram a necessidade de se
utilizar kappa em vez de porcentagem de concordância ou porcentagem correta. A
fidedignidade deveria ser reportada para todas as categorias de codificação e para todos as
40
variáveis do Sistema Compreensivo e pesquisas de fidedignidade inter-avaliadores de campo
seriam necessárias.
Esta série de artigos, publicada no periódico Psychological Science, deu início ao
que veio a ser conhecido como a Controvérsia do Rorschach. Vários artigos de críticos e de
defensores do Rorschach foram publicados em diversos periódicos científicos e também na
mídia popular, incluindo o jornal The New York Times e a revista Scientific American. A
discussão atingiu seu ápice entre 2001 com a publicação da série especial no periódico
Psychological Assessment e 2003 com a publicação do livro What’s wrong with the
Rorschach, de Wood, Nezworski, Lillienfeld e Garb. Apesar das tentativas de se chegar a um
acordo sobre os méritos e limitações do Rorschach, a controvérsia ainda permanece, agora
com publicações mais esporádicas. De qualquer modo, um aspecto importante desta discussão
foi promover a realização de novas pesquisas, que preencheram lacunas no conhecimento
sobre o SCR.
A fidedignidade inter-codificadores pode ser avaliada de diferentes modos: ao
nível das respostas, pode-se investigar a fidedignidade de decisões dicotômicas de
codificação, de decisões policotômicas de codificação e a fidedignidade dos segmentos da
codificação (localização, determinantes, conteúdos etc.); ao nível do protocolo, pode-se
investigar a fidedignidade dos escores do Sumário Estrutural e das categorias interpretativas.
Uma explicação sobre os diferentes modos de avaliar a fidedignidade inter-codificadores do
SCR encontra-se no Apêndice D.
McDowell e Acklin (1996) decidiram investigar empiricamente a melhor medida
para se avaliar a concordância inter-avaliadores: porcentagem de concordância ou kappa.
Utilizaram 20 protocolos de estudantes universitários (college), com um total de 412
respostas, e estudaram a fidedignidade dos segmentos de codificação. Concluíram que kappa
é a medida de fidedignidade inter-avaliadores mais adequada, por fornecer estimativas mais
conservadoras e não afetadas pela concordância obtida ao acaso.
Meyer (1997b), em resposta às críticas de Wood, Nezworski e Stejskal (1996a,
1996b), afirmou que a porcentagem correta é essencialmente idêntica à porcentagem de
concordância, por se tratar de uma comparação entre duas codificações independentes.
Apresentou uma metanálise de dados publicados sobre fidedignidade inter-codificadores, que
41
indica que o Sistema Compreensivo possui excelente concordância das codificações, avaliada
por segmentos e utilizando-se kappa: valores de 0,72 a 0,96, com média = 0,86. Destaca ainda
que o objetivo ao investigar a concordância inter-avaliadores é saber se os critérios de
codificação das respostas são claros. Assim, utilizar avaliadores com menor treinamento e
num contexto da prática clínica cotidiana (field interrater reliability) não seria adequado para
se investigar este aspecto da clareza dos critérios.
Discordamos de Meyer quando ele afirma que o objetivo do estudo de
concordância inter-avaliadores é verificar a clareza dos critérios de codificação – este pode ser
um dos objetivos deste tipo de estudo, que deve, então, ser realizado com avaliadores bem
treinados. Em nossa opinião, ambos os tipos de situação contexto de pesquisa e contexto da
prática clínica cotidiana trazem informações interessantes sobre o funcionamento do
Rorschach e a consistência das codificações.
Em resposta a este artigo de Meyer (1997b), Wood, Nezworski e Stejskal (1997)
insistem na necessidade de se conhecer a fidedignidade dos códigos individuais, em vez de se
utilizar os segmentos de codificação.
Em nossa opinião, muitas vezes a discussão enveredou por argumentos teóricos
ou metodológicos difíceis de serem resolvidas sem pesquisas empíricas. Seria mais sensato
reconhecer que cada uma das estimativas de concordância (porcentagem de concordância e
kappa) apresenta vantagens e desvantagens; o ideal seria reportar todas elas nos estudos.
Naquele momento, os críticos tinham certa razão em solicitar que os proponentes do Sistema
Compreensivo fornecessem informações mais completas sobre a fidedignidade das
codificações – informações estas que foram então pesquisadas e reportadas.
Grønnerød (1999) investigou a fidedignidade inter-codificadores do Rorschach,
utilizando diferentes estatísticas: porcentagem de concordância, kappa, correlações. Contudo,
utilizou uma adaptação norueguesa do Sistema Klopfer – motivo pelo qual não incluímos este
trabalho nesta parte de revisão dos estudos de fidedignidade inter-codificadores do SCR. De
qualquer modo, sua discussão sobre as diferentes estatísticas de fidedignidade traz
informações importantes:
42
Todas as estimativas de porcentagem de concordância ao nível das respostas
alcançaram o critério de 0,80, embora existisse considerável discordância entre os
avaliadores. Portanto, a porcentagem de concordância não seria uma boa medida da
fidedignidade, sendo recomendada a utilização de kappa. De fato, kappa parece ser uma
medida melhor, por descontar a concordância obtida por mero acaso. No entanto, kappa é
muito sensível para códigos infreqüentes. Obter um kappa baixo para categorias de
codificação com baixa taxa de ocorrência não indica que as codificações são pouco
fidedignas, mas sim que a estimativa da fidedignidade é incerta. O autor encontrou também
que a avaliação da concordância ao nível dos escores do Sumário Estrutural não acrescentou
informações à avaliação ao nível das respostas.
Acklin et al. (2000) re-examinaram os protocolos de 20 estudantes universitários
utilizados em trabalho anterior (McDowell e Acklin, 1996), agora considerando a
fidedignidade das decisões de codificação, códigos individuais e escores do Sumário
Estrutural. Também investigaram a fidedignidade inter-codificadores em uma amostra de 20
pacientes psiquiátricos. Concluíram que a porcentagem de concordância é uma medida
inadequada de fidedignidade, porque produz estimativas não sensíveis a variações na taxa de
ocorrência e grau de concordância devida ao acaso; kappa é muito mais sensível a variações
na taxa de ocorrência e ao grau de concordância obtida ao acaso. Ao nível das respostas,
deve-se utilizar kappa e, ao vel do protocolo, deve-se utilizar o Coeficiente de Correlação
Intraclasse
17
no caso, ICC (2,1), ou seja, o modelo de dois fatores, efeito aleatório para a
variância e concordância absoluta como definição de correlação (two-way random effects
model of variance and an absolute agreement definition of correlation). Com poucas
exceções, a maioria dos códigos do Sistema Compreensivo demonstrou fidedignidade pelo
menos substancial (valores de kappa ou do Coeficiente de Correlação Intraclasse maiores do
que 0,60).
17
O Coeficiente de Correlação Intraclasse (Intraclass Correlation Coefficient - ICC) baseia-se nos componentes
da análise de variância (BARTKO, 1966). A interpretação do ICC é semelhante à do kappa (ACKLIN et al.,
2000).
43
Nakata (2000) investigou a fidedignidade inter-codificadores utilizando
protocolos de indivíduos pacientes e não-pacientes. Supunha que os protocolos de pacientes
teriam respostas mais complexas, mais códigos especiais e mais determinantes infreqüentes, o
que contribuiria para investigar a questão do nível de complexidade das respostas interferir
com a fidedignidade inter-codificadores. Utilizou como codificadores estudantes de
psicologia com treinamento semelhante, mas de diferentes faculdades. Encontrou
fidedignidade substancial ou excelente para a maioria das variáveis do SCR. A fidedignidade
ao nível do Sumário Estrutural, avaliada pelo ICC, foi maior do que ao nível das respostas,
avaliada pelo kappa. A maioria das variáveis com fidedignidade baixa foram aquelas com
baixa taxa de ocorrência, mas muitas variáveis com baixa taxa de ocorrência apresentaram
fidedignidade adequada.
Meyer et al. (2002) utilizaram 8 amostras para estimar a concordância inter-
avaliadores: 1) codificadores estudantes; 2) codificadores experientes; 3) codificadores
clínicos frente a protocolos selecionados; 4) codificadores clínicos frente a protocolos da
prática clínica cotidiana; 5) reunião das amostras de 1 a 4, que representa uma amostra de
pacientes encontrados na prática clínica; 6), 7) e 8) amostras nas quais 10%, 20% e 30% dos
códigos foram substituídos por códigos sorteados dentre todos os possíveis, deste modo
introduzindo elementos que diminuiriam a concordância. Utilizaram kappa para o nível das
respostas e ICC (1,1) para o nível do protocolo. Encontraram como medianas dos ICCs para
as amostras mencionadas: 0,85, 0,96, 0,97, 0,95, 0,93, 0,95, 0,89 e 0,82. As amostras em que,
deliberadamente, foram introduzidos “erros” nas codificações (códigos atribuídos por sorteio),
ainda assim mostraram níveis de fidedignidade adequados.
As conclusões do estudo foram: 1) A fidedignidade ao nível das respostas fornece
uma estimativa mais rigorosa do que ao nível do Sumário Estrutural; 2) Clínicos alcançam
fidedignidade semelhante à de pesquisadores; 3) O Sumário Estrutural, por agregar dados, e
assim anular parte das discordâncias, apresenta fidedignidade maior do que a do nível das
respostas.
O nível mais adequado de análise depende do objetivo do estudo. Se o objetivo
for determinar o grau em que dois avaliadores compreendem e concordam sobre as regras de
codificação, o nível das respostas parece mais adequado (mas com cuidado ao se utilizar
44
amostras pequenas); se for avaliar a fidedignidade para pesquisa ou prática, o nível do
Sumário Estrutural parece ser o mais indicado; se for documentar a fidedignidade como
precursora da validade, o mais indicado é usar o nível dos segmentos.
Estimativas de fidedignidade como Kappa e ICC são afetadas pela taxa de
ocorrência das variáveis investigadas, sendo que variáveis com baixa taxa de ocorrência
(menor do que 5%) costumam gerar estimativas equivocadas, frequentemente mais baixas do
que a fidedignidade verdadeira. Assim sendo, amostras pequenas, que costumam apresentar
baixa taxa de ocorrência para muitas variáveis, frequentemente geram estimativas de
fidedignidade pouco confiáveis (MEYER et al., 2002).
Meyer (2003) realizou um levantamento de metanálises sobre a fidedignidade e a
validade de testes médicos e psicológicos. Esta comparação o levou a concluir que o
Rorschach apresenta fidedignidade das codificações semelhante à de outros procedimentos
em Psicologia e Medicina.
Viglione e Taylor (2003) apresentam dados de fidedignidade inter-avaliadores
para 70 variáveis do SCR. A fidedignidade foi estimada utilizando 84 protocolos de diversos
locais, representando uma amostra de campo ou da prática cotidiana (field applications). A
maioria dos valores de fidedignidade encontrados foi excelente (ICC > 0,80). Os valores do
ICC foram mais altos para variáveis com maior taxa de ocorrência; para variáveis com baixa
taxa de ocorrência, a fidedignidade mostrou-se mais instável, apresentando alguns valores
igualmente altos, mas outros valores baixos; haveria necessidade de amostras grandes para se
obter estimativas estáveis de variáveis com baixa taxa de ocorrência.
A fidedignidade foi mais baixa para algumas variáveis ou decisões de codificação:
qualidade formal, códigos especiais críticos, FC versus CF, subtipos de sombreado, DQv e
DQv/+ e algumas categorias de conteúdo. Portanto, alguns critérios de codificação ainda
podem ser aprimorados, com isso melhorando ainda mais a fidedignidade inter-avaliadores.
No sentido de aprimorar os critérios de codificação, Donald Viglione investigou divergências
entre diferentes codificadores, discutiu problemas de codificação e elaborou diretrizes mais
precisas para a codificação das respostas, trabalho que resultou em seu Rorschach coding
solutions – A reference guide for the Comprehensive System (VIGLIONE, 2002).
45
McGrath, Pogge e Strokes (2005) comentam que diversos estudos demonstraram
boa concordância das codificações realizadas por diferentes avaliadores em contextos de
pesquisa, mas faltavam estudos das codificações em contextos da prática clínica cotidiana.
Apresentam, então, dados da concordância das codificações realizadas por psicólogos clínicos
ao avaliarem 84 protocolos de pacientes psiquiátricos adolescentes. Os protocolos foram
coletados por psicólogos e estudantes, e a amostra apresentou menor R e valores maiores de
Lambda do que a amostra de adolescentes do Sistema Compreensivo, ou seja, a amostra foi
composta por protocolos mais defendidos ou mais simples do que os da amostra normativa.
Os protocolos foram codificados pelos aplicadores e supervisionados; posteriormente,
doutorandos em psicologia realizaram uma segunda codificação dos protocolos, independente
da primeira. Oitenta e sete por cento dos códigos apresentaram fidedignidade aceitável (kappa
> 0,60), com a maioria dos coeficientes tendo vel excelente (kappa > 0,80). Para a
investigação da fidedignidade inter-codificadores ao nível do Sumário Estrutural, utilizaram o
ICC (1,1) e encontraram resultados semelhantes aos do nível das respostas. A conclusão do
estudo foi que codificações fidedignas são possíveis mesmo num contexto clínico.
De modo semelhante a outras pesquisas, identificaram o problema de variáveis
com baixa taxa de ocorrência apresentarem menor estabilidade das estimativas de
fidedignidade. A fidedignidade se torna estável quando a taxa de ocorrência encontra-se
próxima de 10%.
Cabe notar que Acklin et al. (2000) utilizaram o ICC (2,1) modelo de dois
fatores e efeito aleatório (two way random effects model) –, enquanto os demais trabalhos
utilizaram o ICC (1,1) modelo de um fator e efeito aleatório (one way random effects
model). McGrath, Pogge e Strokes (2005, p. 206) justificam a utilização do ICC (1,1), citando
Meyer et al. (2002) e comunicação pessoal com Shrout, um dos autores do ICC:
Embora esta estatística [ICC (1,1)] seja mais consistente quando nenhum avaliador
codificou mais do que um protocolo, é geralmente considerada a mais adequada para
circunstâncias em que diferentes alvos são avaliados por diferentes avaliadores.
Shrout e Flies (1979) observam que, para um mesmo conjunto de dados, ICC (1,1)
costuma gerar valores menores do que ICC (2,1).
46
Mais recentemente, Janson e Olsson (2001, 2004) apresentaram uma nova medida
de fidedignidade: o coeficiente iota
18
. Trata-se de uma medida multivariada de concordância
para dados intervalares ou nominais, que é uma extensão do coeficiente kappa.
Os autores destacam que
Uma área em que uma medida multivariada de concordância para dados nominais
poderia ser bastante útil é a da codificação objetiva dos testes de personalidade
projetivos. Sistemas de codificação para materiais projetivos tipicamente envolvem
certo número de decisões categoriais para cada resposta. Em tais casos, uma medida
multivariada permitiria comparações do nível total de concordância entre estudos
publicados, ou entre conjunto de juízes, e permitiria a avaliação contínua da
qualidade das codificações em treinamentos ou em pesquisas em andamento.
(JANSON; OLSSON, 2001, p. 279).
Ou seja, uma vantagem desta medida de concordância é possibilitar avaliar a concordância
geral (overall agreement) mesmo para amostras que o muito pequenas, nas quais seria
problemático estimar a concordância das categorias de codificação, devido ao problema das
baixas taxas de ocorrência.
Especificamente para o SCR, Harald Janson desenvolveu o software Rorschach
Research Utilities (RRU)
19
. A partir das codificações das respostas realizadas pelos
avaliadores, este programa de computador calcula a concordância ao nível das respostas
(concordância para decisões dicotômicas de codificação; concordância para decisões
policotômicas de codificação; concordância para os segmentos da codificação; concordância
geral) e ao nível do protocolo (variáveis do Sumário Estrutural), utilizando o coeficiente iota.
Sahly (2006) estudou a fidedignidade inter-codificadores de 487 protocolos de
indivíduos não-pacientes. Os protocolos foram codificados por pelo menos dois avaliadores e
o programa Rorschach Research Utilities foi utilizado para o cálculo da fidedignidade inter-
18
O coeficiente iota é representado pela letra grega minúscula ι. Iota é apresentado no Apêndice E.
19
O programa Rorschach Research Utilities funciona na plataforma Microsoft Windows. O usuário brasileiro
deve ter o cuidado de modificar as configurações de idioma para English (United States) de modo a que as casas
decimais sejam separadas por pontos (em vez de vírgulas), para que o programa funcione corretamente.
47
codificadores. Vinte e sete por cento das variáveis apresentaram concordância substancial
(iota > 0,60) e 66% das variáveis apresentaram concordância excelente (iota > 0,80). Parte das
variáveis com fidedignidade fraca ou regular (iota > 0,20 e iota > 0,40, respectivamente)
apresentaram baixa taxa de ocorrência. A autora concluiu que o SCR pode ser codificado de
modo fidedigno, embora alguns critérios de codificação ainda possam ser aprimorados.
Nesta pesquisa, boa parte dos protocolos foram codificados por dois avaliadores
de um mesmo local. Apesar de terem codificado as respostas de modo independente, o fato de
serem do mesmo local e anteriormente terem discutido codificações duvidosas, pode ter
contribuído para adotarem certas regras de consenso sobre aspectos da codificação para os
quais os critérios são imprecisos ou insuficientes. Provavelmente, isto contribuiu para uma
maior concordância do que a que seria obtida se os avaliadores fossem de locais diferentes
(SAHLY, 2006).
5.4. Acurácia das codificações do SCR
Uma outra questão correlata à fidedignidade inter-codificadores refere-se ao grau
em que diferentes avaliadores codificam corretamente as respostas. Dois codificadores podem
até mesmo concordar em suas codificações e ainda assim ambos estarem codificando
incorretamente. Isto pode ocorrer, por exemplo, entre codificadores de um mesmo grupo de
pesquisa, com uma mesma compreensão equivocada dos critérios de codificação. Meyer,
Erdberg e Shaffer (2007) comentam que as codificações podem diferir em função de
convenções locais de codificação. Aparentemente, codificações realizadas por avaliadores de
um mesmo local apresentam maior concordância do que codificações realizadas por
avaliadores de locais diferentes.
Para o estudo da acurácia das codificações, as codificações corretas precisam ser
previamente estabelecidas. Mais comumente um conjunto de especialistas chega a um
consenso sobre as codificações corretas para um conjunto de respostas; depois, as
codificações de outros avaliadores são comparadas com as classificações corretas e o grau de
acurácia das codificações é calculado.
48
Exner (1999a) comenta que a acurácia das codificações é importante em
pesquisas, porque a validade das interpretações ou conclusões depende de as variáveis em
estudo terem seus valores calculados a partir de códigos corretos. Cita dados de suas
pesquisas com o SCR:
Quando a porcentagem de concordância correta, resposta a resposta, para cada uma
das nove categorias de codificação possíveis [cada um dos segmentos da
codificação] foi calculada para 15 codificadores e 400 respostas, e para 20
codificadores e 500 respostas, os resultados variaram de aproximadamente 89% a
98% de concordância correta para os 18 códigos especiais e entre 87% e 97% de
concordância correta para os 23 determinantes. (EXNER, 1999a, p. 163).
Contudo, Guarnaccia et al. (2001) mencionam uma pesquisa, apresentada na
Alumni Newsletter
20
(comunicação de Rorschach Workshops para seus alunos) de 1988, na
qual se encontrou uma importante quantidade de erros nas codificações realizadas por alunos
do curso de treinamento no SCR.
Preocupado com este problema e com a ausência de pesquisas publicadas,
Guarnaccia et al. (2001) decidiram investigar a acurácia das codificações, ou seja, o grau em
que diferentes avaliadores codificam corretamente as respostas. Utilizaram como
codificadores 21 estudantes de psicologia e 12 psicólogos, que codificaram 20 respostas
provenientes de protocolos de indivíduos não-pacientes e pacientes clínicos. Estas respostas e
suas codificações corretas foram retiradas dos livros de Exner (1986) e Weiner (1998a),
criadores do SCR. O nível de acerto dos codificadores mostrou-se próximo do aceitável para
as respostas dos não-pacientes, mas claramente abaixo do aceitável para as respostas dos
pacientes clínicos. Os codificadores obtiveram diferentes taxas de acerto para os diferentes
segmentos da codificação. Alguns aspectos da codificação, tais como a localização e a
qualidade evolutiva, são mais simples de serem codificados, o que levou a uma maior taxa de
acerto; outros aspectos da codificação, como os determinantes e os códigos especiais, são
mais difíceis de serem codificados, o que levou a uma menor taxa de acerto. A baixa taxa de
acerto entre os psicólogos profissionais pode ter ocorrido por negligência ao participar da
20
EXNER, J. E. Jr. Rorschach Workshops: Scoring issues. Alumni Newsletter, p. 4-8, 1988.
49
pesquisa; talvez, em situações em que apliquem os protocolos e os codifiquem, em vez de
codificar respostas que foram selecionadas para uma pesquisa, apresentem maior taxa de
acerto. De qualquer modo, a baixa taxa de acertos dos estudantes é preocupante. O problema
do treinamento adequado para a codificação do Rorschach mostra-se então bastante sério e os
autores chegaram a sugerir um processo de certificação dos usuários.
Os resultados do estudo de Guarnaccia et al. (2001) devem ser vistos com cautela,
pois os autores utilizaram uma estatística idiossincrática para investigar a acurácia das
codificações, subtraindo pontos para os erros (MCGRATH; POGGE; STROKES, 2005).
Além deste problema, Hilsenroth, Charnas e Zoldan (2007) comentam outras limitações do
estudo: 1) Foram utilizadas apenas 20 respostas, o que faz com que as estimativas de
fidedignidade sejam pouco precisas devido à baixa taxa de ocorrência de muitos códigos; 2) O
grau de dificuldade das respostas codificadas não foi avaliado; 3) Faltam dados sobre a
experiência dos psicólogos com o Rorschach e sobre sua proveniência (eventualmente são do
mesmo local que os estudantes codificadores, o que explicaria os mesmos níveis de
fidedignidade obtidos por psicólogos e estudantes).
Em 2006, Hilsenroth e Charnas prepararam seu Manual de Treinamento para
Fidedignidade Inter-avaliadores, composto por protocolos previamente codificados por
usuários experientes do Rorschach, estabelecendo-se as codificações corretas por consenso.
Utilizando este material, Hilsenroth, Charnas e Zoldan (2007) desenvolveram um
procedimento de treinamento da codificação das respostas do Rorschach: primeiramente, os
alunos estudam os critérios de codificação de determinado segmento da classificação; os
professores então apresentam exemplos de respostas em que os códigos estudados ocorrem e
não ocorrem, bem como exemplos de respostas ambíguas, esclarecendo a codificação correta;
após cada aula, os alunos codificam respostas de protocolos selecionados, sendo codificado
apenas o segmento que estudaram na aula; as codificações dos alunos são avaliadas a cada
aula, esperando-se um mínimo de 80% de codificações corretas; caso um aluno não atinja este
nível de acerto, deve praticar mais, codificando outros protocolos e checando seu nível de
acerto, até atingir 80%, somente então passando à próxima etapa.
A eficiência desta proposta de treinamento das codificações foi avaliada. Vinte e
nove alunos que completaram as 27 horas de treinamento codificaram dois protocolos
compostos por respostas selecionadas de modo a representar os diversos códigos do SCR. O
primeiro protocolo continha 19 respostas de indivíduos não-pacientes e apresentava nível
50
médio de dificuldade; o segundo protocolo continha 20 respostas de pacientes psiquiátricos e
apresentava nível altíssimo de dificuldade (o nível de dificuldade corresponde à média dos
valores atribuídos por 20 usuários experientes do Rorschach). Foi calculada a porcentagem de
concordância exata para cada segmento das respostas e o valor de kappa para a fidedignidade
de cada segmento de codificação foi estimado, seguindo os procedimentos detalhados em
Meyer (1999)
21
.
Para o primeiro protocolo de avaliação, todos os alunos obtiveram 80% ou mais
de acerto total, bem como mais de 80% de acerto em cada segmento da codificação; o kappa
estimado situou-se na faixa excelente (kappa > 0,74) para todos os segmentos exceto para
notas Z (kappa = 0,71) e códigos especiais (kappa = 0,73), cujos valores situaram-se na faixa
de boa a excelente. Para o segundo protocolo de avaliação, 23 alunos (79%) obtiveram 80%
ou mais de acerto total. Dos 6 alunos com menos de 80% de acerto, quatro alcançaram os
80% após treinarem com mais um protocolo e dois necessitaram de mais dois protocolos de
treino para então alcançar o nível esperado. Para os segmentos, o nível de acerto foi maior do
que 80%, exceto para os determinantes (78%) e para os códigos especiais (65%); os valores
de kappa foram excelentes (kappa > 0,74) para localizações, qualidade formal, pares,
conteúdos e populares, de bom a excelente (0,60 < kappa < 0,75) para determinantes,
qualidade formal e notas Z, e de regular a bom para os códigos especiais (kappa = 0,56). Os
resultados são bastante superiores aos do estudo de Guarnaccia et al. (2001). Na literatura, os
autores encontraram apenas o estudo de Meyer et al. (2002), que contém dados de uma
amostra de quatro codificadores estudantes; os resultados são semelhantes, cabendo notar que
foram codificados 66 protocolos, com um total de 1 407 respostas, número bastante adequado
para gerar estimativas seguras de fidedignidade.
Hilsenroth, Charnas e Zoldan (2007) concluem que o Rorschach pode ser
codificado de modo correto, desde que haja treinamento adequado. A estratégia de ensino da
codificação por segmentos, estabelecendo-se 80% de acerto como mínimo aceitável para se
passar ao próximo segmento parece contribuir para formar codificadores proficientes.
21
MEYER, G. J. Simple procedures to estimate chance agreement and kappa of the inter-rater reliability of
response segments using the Rorschach Comprehensive System. Journal of Personality Assessment, v. 72, p.
230-255, 1999.
51
5.5. Estabilidade temporal do SCR
Estudos com delineamento do tipo teste-reteste avaliam o grau em que os
resultados mantêm-se semelhantes em duas ou mais aplicações do teste. Nos estudos de teste-
reteste do SCR, tanto com intervalos breves, quanto com intervalos longos, encontramos a
denominação estabilidade temporal.
Exner (1978, p. 63-64) destaca a importância dos estudos de estabilidade temporal
para o Rorschach:
[...] se é verdadeira a hipótese de que a maioria ou todas as pessoas têm estilos
preferenciais de resposta
22
que irão se manifestar na maioria de suas respostas; e se
o Rorschach é um instrumento a partir do qual vislumbres destes estilos de resposta
podem ser apreendidos, então estes mesmos estilos de respostas devem se evidenciar
em testagens repetidas do Rorschach. (grifos do autor)
Os estudos de teste-reteste servem, então, para investigar em que grau os
resultados do Rorschach se repetem em diferentes momentos. Espera-se que os resultados
sejam estáveis, mesmo em intervalos relativamente longos, o que indicaria que os erros de
medida são pequenos e que o teste avalia características estáveis da personalidade. O próprio
conceito de personalidade implica em padrões de funcionamento psicológico que se repetem
em diversas situações e em diferentes momentos e o Rorschach é considerado um teste de
avaliação da personalidade.
23
No entanto, cabe uma ressalva de Exner (1978, p. 65-66):
22
Estilo de resposta é a denominação utilizada por Exner para se referir ao que também é chamado traço, hábito
ou disposição. Um estilo de resposta é um modo característico de responder às situações.
23
Cabe observar que, além da estabilidade dos resultados – condição necessária para se afirmar que o teste avalia
características estáveis do funcionamento psicológico –, existe a necessidade de pesquisas que indiquem que os
estilos de resposta no Rorschach (estrutura das respostas às manchas de tinta) de fato expressam estilos de
resposta em outras situações da vida diária (estrutura da personalidade). Existem diversos estudos que
confirmam esta correspondência entre os estilos de resposta no Rorschach e os estilos de resposta em outras
situações da vida – estes são os estudos de validade do Rorschach.
52
Uma das falácias relativas ao Rorschach é a noção de que a consistência temporal
deve ser demonstrada para todas as variáveis. Em outras palavras, se o teste é
‘fidedigno’ dentro dos parâmetros deste tipo de fidedignidade, todas as suas
características devem ser consistentes ao longo do tempo. Isto não é verdade. A
falácia baseia-se na premissa de que cada um dos índices do Rorschach reflete um
aspecto da pessoa que não muda. É verdade que muitos, ou até mesmo a maioria dos
dados estruturais devem permanecer relativamente constantes ao longo do tempo;
mas qualquer revisão completa das pesquisas sobre muitas das variáveis do
Rorschach indica que algumas delas relacionam-se especificamente a fenômenos
situacionais. [...] Spielberger (1966, 1971)
24
foi bastante convincente ao demonstrar
que parte da ansiedade é ‘estado ou seja, relaciona-se a situações –, enquanto
outra parte é ‘traço’ ou seja, uma característica mais durável da própria
personalidade. Os mesmos conceitos de estado e traço aplicam-se aos dados
estruturais do Rorschach. (grifos do autor)
[Trecho suprimido na versão online]
24
SPIELBERGER, C. D. Anxiety and behavior. New York: Academic Press, 1966.
SPIELBERGER, C. D.; LUSHENE, R. E.; MCADOO, W. G. Theory and measurement of anxiety states. In:
Handbook of Modern Personality Theory. CATTELL, R. B. (editor). Chicago: Aldine Press, 1971.
53
A questão da estabilidade temporal do Rorschach vinha sendo criticada tempo.
Holzberg (1977) mencionou alguns problemas na avaliação da estabilidade temporal do
Rorschach: 1) A personalidade, objeto de avaliação pelo Rorschach, não seria assim tão
estável, então a estabilidade dos resultados poderia ser baixa, sem necessariamente
comprometer a validade do teste; 2) A disposição ou estado situacional (setting) do indivíduo
pode variar de momento a momento, e a própria realização do teste e do reteste traz
mudanças no estado da pessoa; 3) a memória das respostas fornecidas pode aumentar
artificialmente as correlações obtidas.
As pesquisas empíricas do Sistema Compreensivo responderam a estas críticas: 1)
os resultados dos estudos de teste-reteste, mesmo em intervalos longos como três anos,
mostraram correlações altas para a maioria das variáveis, indicando que o Rorschach avalia
características estáveis da personalidade; 2) as correlações altas para a maioria das variáveis
também indicam que fatores situacionais têm pouco impacto nos resultados; algumas
mudanças no estado do indivíduo refletem-se em algumas variáveis associadas a fenômenos
situacionais (EXNER; ARMBRUSTER; VIGLIONE, 1978).
O problema da interferência da memória nos estudos de teste-reteste também
havia sido comentado por outros autores. A crítica mais freqüente é que, nos estudos com
intervalos breves entre as testagens, os participantes lembravam e repetiam as respostas, o que
levaria a correlações altas, não necessariamente expressando a verdadeira fidedignidade do
teste. No entanto, Zubin, Eron e Schumer (1965) comentam que nem sempre a memória das
respostas leva a estas serem repetidas no reteste; em alguns casos, a memória poderia fazer
com que a pessoa buscasse modificar ou até não fornecer as mesmas respostas da testagem
anterior. De qualquer modo, a interferência da memória prejudicaria a estimativa da
estabilidade temporal do Rorschach.
Alguns estudos anteriores ao Sistema Compreensivo buscaram contornar este
problema da memória das respostas. Kelley, Margulies e Barreva (1941, apud Grønnerød,
2003a)
25
compararam 12 protocolos obtidos imediatamente antes e depois de
25
KELLEY, D. M.; MARGULIES, H.; BARREVA, S. E. The stability of the Rorschach method as
demonstrated in electric convulsive therapy cases. Rorschach Research Exchange, v. 5, p.35-43, 1941
.
54
eletroconvulsoterapia (ECT), procedimento que provoca amnésia para os acontecimentos
imediatamente anteriores ou seja, os testandos, ao passarem por ECT, esqueciam as
respostas que haviam fornecido ao Rorschach. Encontraram semelhanças no padrão de
resultados de cada indivíduo; contudo, houve algumas mudanças em alguns índices. Griffith
(1951, apud Grønnerød, 2003a)
26
realizou teste e reteste em 4 pacientes com síndrome de
Korsakoff, portanto com problemas na memória de retenção. Houve dificuldade para realizar
o inquérito, mas o conteúdo das respostas no teste e no reteste mostrou-se semelhante,
indicando que as respostas são estáveis. Wagner e Daubney (1976) selecionaram pacientes
com problemas neurológicos supondo que isso tornava as mudanças de personalidade menos
prováveis. Porém, não encontraram alta estabilidade entre os resultados do teste e do reteste
realizado após três anos.
O estudo do Sistema Compreensivo com intervalo de reteste de 3 anos (Exner,
Armbruster e Viglione, 1978) provavelmente reduziu significativamente o problema da
memória das respostas, e as correlações de teste-reteste encontradas foram altas. Ainda assim,
Aronow, Reznikoff e Moreland (1995, p. 221) comentam:
Tal como assinalado nos Standards for Educational and Psychological Testing
27
,
publicados pela American Psychological Association, ‘Estimativas da estabilidade
baseadas em um reteste com a mesma forma [...] podem ser espuriamente elevadas
devido aos efeitos da memória’ (1985, p. 21). Anastasi
28
, de modo semelhante, nota
que ‘a técnica de teste-reteste apresenta dificuldades quando aplicada aos testes
psicológicos [...]. Para a grande maioria dos testes psicológicos, [...] o reteste com
uma forma idêntica do teste não é uma técnica adequada para se encontrar um
coeficiente de fidedignidade’ (1988, p. 18). Tal como afirmamos em uma publicação
anterior (Reznikoff, Aronow e Rauchway, 1982)
29
, acreditamos que devido à alta
26
GRIFFTH, R. M. Test-retest similarities of the Rorschach of patients without retention. Journal of Projective
Techniques, v. 15, p. 516-525, 1951.
27
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Standards for Educational and Psychological Testing.
Washington, DC: American Psychological Association, 1985.
28
ANASTASI, A. Psychological testing. 6
th
ed. New York: Macmillan, 1988.
29
REZNIKOFF, M.; ARONOW, E.; RAUCHWAY, A. The reliability of inkblot content scales. In: Advances in
personality assessment. SPIELBERGER, C. D.; BUTCHER, J. D. (editores). Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum
Associates, 1982.
55
saliência dos perceptos, o Rorschach pode apresentar efeitos ainda mais sérios de
memória do que outros testes psicológicos. Resumidamente, consideramos a
fidedignidade das categorias do Sistema Compreensivo como não estabelecidas de
modo algum.
É interessante a menção dos autores à alta saliência dos perceptos. Provavelmente
estão se referindo ao fato de as características dos estímulos induzirem determinadas
respostas. De fato, algumas importantes características das manchas denominadas critical
bits ou distal features contribuem muito para que determinadas respostas sejam fornecidas
(EXNER, 1996a). A saliência dos perceptos não é um problema, pois, apesar de as manchas
possuírem características indutoras das respostas, apresentam suficiente ambigüidade para que
diversas respostas potenciais possam ser percebidas e, algumas delas, selecionadas (EXNER;
ARMBRUSTER; MITTMAN, 1978). A seleção das respostas que são fornecidas depende das
características de personalidade do testando (EXNER, 2003). O próprio fato de, em um
reteste, as respostas serem novamente percebidas e fornecidas, parece indicar, mais do que
uma simples recordação, a repetição do funcionamento característico da personalidade.
Se o sujeito tivesse ‘vistoapenas um ou dois objetos por mancha, a influência da
memória poderia ser substancial; mas, como foi demonstrado, os sujeitos geralmente
reportam apenas um ou dois objetos, selecionados a partir de um número muito
maior de objetos que eles de fato perceberam ou identificaram como respostas
potenciais (Exner, Armbruster e Mittman, 1978)
30
. Assim, o fator memória não se
baseia tanto no que foi visto na primeira testagem, mas sim no que foi reportado; e
isto requer alguns engramas razoavelmente consistentes, especialmente se o
intervalo de tempo entre a primeira e a segunda testagem é longo. [...] embora a
memória possa desempenhar algum papel, a natureza deste papel é variável de um
indivíduo para outro, e parece improvável que ela vá mudar as características básicas
da personalidade ou dos estilos de resposta (EXNER; ARMBRUSTER; VIGLIONE,
1978, p. 475, grifo nosso).
30
EXNER, J. E.; ARMBRUSTER, G. I.; MITTMAN, B. The Rorschach response process. Journal of
Personality Assessment, v. 42, p. 27-38, 1978.
56
Além do estudo com reteste após 3 anos (Exner, Armbruster e Viglione, 1978),
que supostamente reduziu os efeitos da memória, existem outros dois estudos em que foram
solicitadas respostas diferentes no reteste, visando deste modo eliminar o problema da
memória: Exner (1980) e Haller e Exner (1985). As correlações encontradas nos grupos que
receberam instruções para fornecer respostas diferentes no reteste foram semelhantes às
correlações nos grupos controle, que receberam as mesmas instruções padronizadas no teste e
no reteste. Concluiu-se que o conteúdo das respostas pode mudar, mas sua estrutura mostra-se
bastante estável.
Cabe ainda mencionar os parâmetros para se considerar uma correlação de teste-
reteste como indicando estabilidade. Exner, Armbruster e Viglione (1978, p. 480) comentam:
É muito difícil, se não for impossível, definir com precisão que valor da correlação,
ou faixa de valores, separa as variáveis ‘estado das ‘traço’. Uma abordagem
conservadora de medida provavelmente incluiria valores mínimos não menores do
que 0,85 ou 0,80, mas é sempre arriscado tentar definir um valor específico como
sendo um parâmetro definitivo.
Exner e Weiner (1995, p. 22) acrescentam:
O critério para consistência temporal adequada vem sendo definido de variados
modos. Comumente, uma correlação de reteste com valor mínimo de 0,75
(responsável por 50% da variância) é satisfatória, se o intervalo de reteste é
considerável, embora se requeira uma correlação mínima maior (0,80 ou 0,85), se o
reteste ocorrer após um período breve de tempo.
Exner e Weiner (1995) não especificam o que seria um intervalo breve de tempo.
Supomos, observando as diferentes pesquisas de estabilidade temporal de Exner e seus
colaboradores, que intervalos breves sejam de dias e intervalos longos sejam de meses ou
anos.
Apresentamos a seguir as pesquisas de estabilidade temporal do Sistema
Compreensivo.
57
5.5.1. Pesquisas sobre a estabilidade temporal do SCR com crianças e adolescentes
Exner (1980) apresenta estudos de teste-reteste em crianças.
No primeiro estudo
31
, dois grupos de crianças foram comparados: um primeiro
grupo de 30 crianças de 6 anos retestadas após 24 meses, e um segundo grupo de 25 crianças
de 9 anos retestadas após 30 meses. Os resultados são apresentados na Tabela 1. As
correlações foram maiores nas crianças de 9 anos, mas menores do que as encontradas em
adultos retestados após 3 anos. Nas crianças de 6 anos, as 19 correlações reportadas
apresentaram média = 0,46 e desvio-padrão = 0,25; nas crianças de 9 anos, média = 0,55 e
desvio-padrão = 0,21.
Tabela 1 – Estabilidade temporal de 19 variáveis do SCR em duas amostras de crianças norte-americanas
Idade 6 anos 9 anos
Reteste 24 meses
30 meses
N 30 25
R 0,67 0,61
Lambda 0,18 0,39
F 0,51 0,69
M 0,48 0,62
WSumC 0,41 0,58
EA 0,19 0,45
FM 0,49 0,60
m 0,13 0,09
SumSH 0,08 0,29
es 0,20 0,57
FC 0,38 0,34
CF+C 0,27 0,35
Afr 0,51 0,79
a 0,86 0,81
p 0,42 0,29
Popular 0,77 0,74
X+% 0,84 0,86
Zf 0,55 0,68
3r+(2)/R
0,78 0,74
Fonte: Exner (1980) [primeiro estudo]
31
THOMAS, F.; EXNER, J. Temporal consistency among six- and nine-year-olds over a 24 to 30 month
interval. Workshops Study No. 346. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1980.
58
No segundo estudo
32
, 25 crianças de 8 anos de idade foram retestadas após 7 dias.
Os resultados são apresentados na Tabela 2. As 26 correlações apresentaram média = 0,83 e
desvio-padrão = 0,11, indicando, portanto, boa estabilidade.
Tabela 2 Estabilidade temporal de 26 variáveis do SCR numa amostra de 25 crianças norte-americanas
de 8 anos de idade retestadas após 7 dias
Variável
r Variável r
R 0,88
es 0,74
Lambda 0,82
D-score 0,93
F 0,79
FC 0,90
M 0,90
CF 0,76
WSumC 0,88
C 0,72
EA 0,85
CF+C
0,89
FM 0,75
Afr 0,91
m 0,49
a 0,91
SumC’ 0,77
p 0,86
SumT 0,86
Popular 0,86
SumV 0,96
X+% 0,95
SumY 0,42
Zf 0,91
SumSH 0,70
3r + (2)/R
0,94
Fonte: Exner (1980) [segundo estudo]
No terceiro estudo
33
, dois grupos foram retestados após aproximadamente 9
meses: o primeiro grupo com 20 crianças de 7 anos e o segundo grupo com 20 adolescentes
de 15 anos de idade. Os resultados são apresentados na Tabela 3. Para as crianças, as
correlações apresentaram média = 0,51 e desvio-padrão = 0,26, e somente 6 das 24 variáveis
apresentaram correlações iguais ou maiores do que 0,75. Assim, concluiu-se que, mesmo em
intervalos relativamente breves como este de 9 meses, ocorrem mudanças importantes no
funcionamento psicológico das crianças. para os adolescentes, houve maior estabilidade: as
correlações apresentaram média = 0,72 e desvio-padrão = 0,20, sendo que 13 das 24 variáveis
investigadas apresentaram correlações iguais ou maiores do que 0,75, a maioria delas com
32
BRENT, P.; EXNER, J. Temporal consistency among eight-year-olds retested after seven days.
Workshops Study No. 361. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1980.
Mais informações sobre este estudo são fornecidas em Exner (1986).
33
ALINSKY, D.; EXNER, J. Temporal consistency among seven- and fifteen-year-olds retested after nine
months. Workshops Study No. 352. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1980.
Mais informações sobre este terceiro estudo são fornecidas em Weiner e Exner (1995). Neste último trabalho, a
correlação reportada para CF+C, para as crianças de 7 anos de idade, é 0,41 em vez de 0,46 (provável erro de
digitação).
59
valores iguais ou maiores do que 0,80, semelhantes às correlações obtidas em adultos
retestados após períodos mais longos.
Tabela 3 Estabilidade temporal de 24 variáveis do SCR numa amostra de 20 crianças e numa amostra
de 20 adolescentes, com reteste após 9 meses
Idade 7 anos 15 anos
R 0,71 0,80
Lambda 0,24 0,76
F 0,82 0,74
M 0,64 0,82
WSumC 0,37 0,70
EA 0,23 0,73
FM 0,53 0,70
m 0,06 0,17
SumC’ 0,49 0,73
SumT 0,75 0,87
SumV 0,92
SumY 0,21 0,16
SumSH 0,11 0,48
es 0,18 0,64
FC 0,28 0,81
CF+C 0,46 0,71
Afr 0,61 0,89
a 0,77 0,85
p 0,39 0,64
Sum5* 0,79 0,88
Popular 0,88 0,83
X+% 0,86 0,83
Zf 0,62 0,79
3r + (2)/R
0,70 0,86
* Na época do estudo havia apenas
5 códigos especiais críticos.
Fonte: Exner (1980) [terceiro estudo]
A conclusão destes três estudos é que os resultados de crianças variam bastante ao
longo do tempo. O desempenho em um momento não permite prever com segurança os
resultados em momentos subseqüentes, porque ocorrem mudanças na personalidade devidas
ao processo de desenvolvimento. Somente na metade da adolescência é que a personalidade
se estabiliza e, paralelamente, os resultados do Rorschach mostram-se mais estáveis. Apenas a
variável X+% apresentou boa estabilidade em todos os grupos de crianças. [Trecho suprimido
na versão online]
60
No quarto estudo
34
, 55 crianças e adolescentes de 11 a 15 anos, pacientes
psiquiátricos internados e ambulatoriais, sem deficiência intelectual nem problemas
neurológicos, foram divididas em dois grupos. Para os participantes do grupo experimental
pediu-se que se esforçassem para fornecer respostas melhores no reteste, enquanto que os
participantes do grupo controle receberam as instruções originais. Não foram encontradas
diferenças estatisticamente significantes entre os resultados dos dois grupos, mesmo com o
grupo experimental tendo fornecido respostas diferentes no reteste, realizado após 2 dias.
No quinto estudo
35
, 60 crianças não-pacientes de 8 anos foram divididas em dois
grupos. O reteste foi realizado após 3 ou 4 dias e as crianças do grupo experimental foram
instruídas a fornecer respostas diferentes, enquanto as crianças do grupo controle receberam
as instruções originais. Os resultados são apresentados na Tabela 4. O grupo experimental
forneceu apenas 14% de respostas iguais às da primeira testagem, enquanto o grupo controle
forneceu 86%. As correlações de teste-reteste no grupo controle e no grupo experimental
foram semelhantes.
Este último estudo também apresenta resultados sobre a direcionalidade das
proporções. As proporções são índices do Sumário Estrutural que comparam os escores de
duas variáveis. Por exemplo, a proporção a : p compara o número de movimentos ativos com
o número de movimentos passivos. Considerou-se que uma proporção apresentava
direcionalidade quando um dos lados fosse maior do que o outro, exceto para EB, em que
direcionalidade foi considerada quando a diferença entre os lados desta proporção fosse de
pelo menos dois pontos. Considerou-se que havia estabilidade quando o participante
apresentasse a mesma direcionalidade em ambas testagens ou ausência de direcionalidade em
ambas testagens. Os resultados são resumidos na Tabela 5. Esta investigação da
direcionalidade das proporções encontrou evidências de boa estabilidade.
34
HULSTART, B. The effects of a “second chance instructional set on the Rorschach records of
emotionally disturbed and culturally deprived children. Tese de doutorado. Long Island University, 1979.
35
THOMAS, E.; EXNER, J. The effects of instructions to give different responses during retest on the
consistency of the scores for eight-year-olds. Workshops Study No. 372. Estudo não publicado. Rorschach
Workshops, 1980
61
Tabela 4 Estabilidade temporal em dois grupos de 30 crianças norte-americanas de 8 anos de idade
retestadas após 3 ou 4 dias
Variável Grupo Experimental Grupo Controle
R 0,81 0,89
Lambda 0,67 0,82
F 0,59 0,81
M 0,91 0,89
WSumC 0,88 0,85
EA 0,84 0,88
FM 0,78 0,75
m 0,27 0,48
SumSH 0,44 0,71
es 0,38 0,70
FC 0,91 0,89
CF+C 0,83 0,87
Afr 0,92 0,91
a 0,94 0,90
p 0,82 0,87
Popular 0,76 0,84
X+% 0,84 0,94
Zf 0,89 0,87
3r+(2)/R 0,90 0,93
Fonte: Exner (1980) [quinto estudo]
Tabela 5 Freqüência e porcentagem de participantes com estabilidade em 5 proporções do SCR em dois
grupos de 30 crianças norte-americanas de 8 anos de idade retestadas após 3 ou 4 dias
Proporção Grupo Experimental Grupo controle
EB 25 (83%) 27 (90%)
eb 15 (50%) 24 (80%)
EA : es 27 (90%) 24 (80%)
a : p 24 (80%) 25 (83%)
FC : CF+C 23 (77%) 28 (93%)
Fonte: Exner (1980) [quinto estudo]
Exner (1983) apresenta dados de um estudo
36
com 35 crianças de 9 anos
retestadas após de 18 a 21 dias. Dados complementares deste estudo são apresentados em
Exner (1986). Os resultados são apresentados na Tabela 6. As 26 correlações apresentam
média = 0,80 e desvio-padrão = 0,20.
36
THOMAS, E. E.; ALINSKY, D.; EXNER, J. E. The stability of some Rorschach variables in 9-years-olds
as compared with nonpatient adults. Workshops Study No. 441. Estudo não publicado. Rorschach Workshops,
1982.
62
Tabela 6 – Estabilidade temporal em 35 crianças de 9 anos de idade retestadas após 3 semanas
Variável r Variável r
R 0,87 D-score 0,91
Lambda 0,84 FC 0,84
F 0,80 CF 0,74
M 0,87 C 0,64
WSumC 0,87 CF+C 0,92
EA 0,87 Afr 0,91
FM 0,78 a 0,91
m 0,20 p 0,88
SumC’ 0,74 Popular 0,89
SumT 0,92 X+% 0,92
SumV 0,93 Zf 0,92
SumY 0,17 3r+(2)/R 0,86
es 0,70 FD 0,81
Fonte: Exner (1983)
Exner, Thomas e Mason (1985) reportam dois estudos com crianças e
adolescentes pacientes psiquiátricos. No primeiro estudo, com 29 adolescentes
esquizofrênicos, com idades entre 12 e 15 anos e reteste realizado após entre 11 e 14 meses,
encontraram boa estabilidade (correlações de 0,75 ou maiores) para 4 dos 5 dos indicadores
de esquizofrenia. No segundo estudo, com 23 adolescentes deprimidos, com idades entre 11 e
14 anos, retestados após entre 9 e 13 meses, 3 das 5 variáveis associadas à depressão
mostraram boa estabilidade. Assim, os autores concluíram que condições graves, tais como
esquizofrenia e depressão, podem barrar o desenvolvimento, contribuindo para que padrões de
funcionamento psicológicos associados à patologia se mantenham.
5.5.2. Pesquisas sobre a estabilidade temporal do SCR com adultos
Exner, Armbruster e Viglione (1978) realizaram um estudo de reteste em 100
indivíduos não-pacientes após 3 anos da realização do teste. As variáveis apresentaram boa
estabilidade temporal, com a maioria das 19 correlações reportadas apresentando valores
maiores que 0,75 (média = 0,79, desvio-padrão = 0,07, mediana = 0,80).
Avaliaram também a direcionalidade de algumas proporções: EB, EA : es, eb,
a : p, FC : CF+C. Consideraram direcionalidade quando um dos lados da proporção fosse ao
menos dois pontos maior do que o outro (por exemplo, uma proporção a : p = 5 : 4 seria
63
considerada como não apresentando direcionalidade, mas uma proporção a : p = 6 : 4 seria
considerada como apresentando direcionalidade). Os resultados encontram-se resumidos na
Tabela 7. Todas as proporções, exceto eb, mostraram boa estabilidade, com mais de 75% dos
participantes apresentando a mesma direcionalidade no teste e no reteste, ou não-
direcionalidade em ambas testagens. A menor estabilidade de eb é compreensível pelo fato de
este índice incluir os determinantes movimento inanimado e sombreado difuso, associados a
fenômenos situacionais.
Tabela 7 Freqüência e porcentagem de participantes com estabilidade em 5 proporções, numa amostra
norte-americana de 100 adultos não-pacientes retestados após 3 anos
Proporção f (%)
EB 86 (86%)
EA : es 82 (82%)
eb 58 (58%)
a : p 77 (77%)
FC : CF + C 78 (78%)
Fonte: Exner, Armbruster e Viglione (1978)
Exner (1978) apresenta diversos estudos de estabilidade temporal.
O primeiro estudo reportado é o reteste de 100 adultos não-pacientes após 3 anos,
ou seja o mesmo estudo apresentado em Exner, Armbruster e Viglione (1978).
No segundo estudo
37
, 25 adultos não-pacientes foram retestados após 7 dias. As
19 variáveis investigadas apresentaram correlações de teste-reteste com dia = 0,79, desvio-
padrão = 0,13 e mediana = 0,83, sendo que 13 variáveis apresentaram correlações maiores do
que 0,75.
As informações sobre o estudo da direcionalidade sugerem boa estabilidade para
todas as proporções, exceto eb: 18 participantes apresentaram direcionalidade no EB nas duas
testagens e nenhum deles mudou de direção no reteste; somente 6 dos 25 participantes
apresentaram direcionalidade no eb nas duas testagens; 21 apresentaram direcionalidade em
37
EXNER, J. E.; BRIANT, E. A. A Study of temporal consistency over a seven day period. Workshops Study
No. 205. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1974.
64
EA : es em ambas testagens e nenhum deles mudou de direção no reteste; 20 apresentaram
mais FC do que CF+C em ambas testagens; 6 com mais movimentos passivos do que
movimentos ativos no teste continuaram a apresentar esta configuração no reteste.
No terceiro estudo
38
, 25 adultos não-pacientes foram retestados após 60 dias. As
correlações de teste-reteste foram semelhantes às obtidas para o reteste após 3 anos, com
média = 0,79, desvio-padrão = 0,08 e mediana = 0,82, sendo que 13 das 19 variáveis
investigadas apresentaram correlações maiores do que 0,75.
Novamente, encontraram boa estabilidade para todas as proporções exceto eb: 16
participantes apresentaram direcionalidade do EB nas duas testagens, com um deles mudando
de direção no reteste; 18 apresentaram direcionalidade de EA : es nas duas testagens, mas um
deles mudou de direção no reteste; 4 apresentaram mais movimentos passivos do que
movimentos ativos no teste e permaneceram assim no reteste; 17 apresentaram mais FC do
que CF+C em ambas testagens; apenas 7 apresentaram direcionalidade do eb em ambas
testagens, sendo que um deles mudou de direção no reteste, e 15 dos 18 restantes
apresentaram direcionalidade em uma das testagens, mas não na outra.
No quarto estudo
39
, 25 pacientes ambulatoriais em lista de espera para tratamento
foram retestados após 30 dias. Os resultados mostram mais variabilidade neste grupo do que
nos não-pacientes. Não se pôde determinar se a maior variabilidade deveu-se à perturbação,
ao erro amostral ou a um esforço deliberado para dramatizar maior desorganização de modo a
obter tratamento mais rapidamente. As 19 variáveis investigadas apresentaram correlações de
teste-reteste com média = 0,73, desvio-padrão = 0,12 e mediana = 0,74, sendo que 9 variáveis
apresentaram correlações maiores do que 0,75. M, X+%, Afr, 3r+(2)/R, EA, Zf e R
apresentaram correlações de teste-reteste altas, semelhantes às encontrados em não-pacientes.
38
EXNER, J. E.; ARMBRUSTER, G. L.; LEURA, A. V. Temporal consistency among nonpatients over a 60
day interval. Workshops Study No. 218. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1975.
39
LEURA, A. V.; WYLIE, J. R.; EXNER, J. E. Reexamination of prospective patients who have been wait-
listed during a 30 day period. Workshops Study No. 231. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1976.
65
Em relação à estabilidade das proporções, 15 participantes mantiveram a mesma
direcionalidade no EB e 9 não apresentaram direcionalidade em ambas testagens; 14
apresentaram mais CF+C do que FC em ambas testagens; 7 que apresentaram mais
movimentos passivos do que movimentos ativos no teste, continuaram assim no reteste; 19
apresentaram direcionalidade em EA : es em ambas testagens e apenas 2 deles mudaram de
direção no reteste; somente 4 apresentaram direcionalidade no eb em ambas testagens, e 19
dos 21 restantes não apresentaram direcionalidade no teste, mas apresentaram direcionalidade
no reteste.
No quinto estudo
40
, 20 esquizofrênicos internados foram retestados após 10 dias.
Esses pacientes estavam em observação antes de iniciarem o tratamento, mas 7 deles
estavam medicados antes da internação e a medicação foi mantida. As 19 correlações de teste-
reteste pesquisadas apresentaram média = 0,80, desvio-padrão = 0,06 e mediana = 0,79, sendo
que 15 variáveis apresentaram correlações iguais ou maiores do que 0,75.
A análise da direcionalidade das proporções sugere boa estabilidade, exceto para
eb: 17 participantes apresentaram a mesma direcionalidade do EB no teste e no reteste; 16
apresentaram mais CF+C do que FC em ambas as testagens; 4 apresentaram mais
movimentos passivos do que movimentos ativos no teste e no reteste; 11 apresentaram
direcionalidade em EA : es em ambas testagens e os outros 9 não apresentaram
direcionalidade em ambas testagens; 15 participantes apresentaram lado direito do eb maior
no teste, mas somente 4 permaneceram com direcionalidade no reteste, embora 18 dos 20
participantes continuassem a manifestar mais SumSH do que FM+m no reteste.
No sexto estudo, compararam dois grupos de pacientes em tratamento: no
primeiro grupo
41
, os participantes foram 35 sujeitos com depressão reativa testados até uma
40
EXNER, J. E.; ZALIS, T.; SCHUYLER, W.; SCHUMACHER, J.; KUHN, B. Reevaluation of newly
admitted schizophrenic patients after a ten day period. Workshops Study No. 228. Estudo não publicado.
Rorschach Workshops, 1976.
41
EXNER, J. E.; WYLIE, J. R.; ARMBRUSTER, G. L. Effects of brief treatment with anxious or depressed
patients. Workshops Study No. 216. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1975.
66
semana antes do início de psicoterapia breve e retestados após 90 dias; no segundo grupo
42
, os
participantes foram 30 sujeitos neuróticos testados até uma semana antes do início de
psicoterapia dinâmica de longa duração e retestados após 180 dias. A psicoterapia breve
deveria se completar em até 90 dias, mas 12 dos pacientes continuaram em terapia após este
período. A psicoterapia longa não estipulava um prazo para o término do tratamento, que
durou pelo menos 180 dias.
No grupo de psicoterapia breve, as 19 variáveis investigadas apresentaram
correlações de teste-reteste com média =0,73, desvio-padrão = 0,17 e mediana = 0,79, sendo
que 12 variáveis apresentaram correlações maiores do que 0,75. A baixa estabilidade de
algumas variáveis provavelmente indica que ocorreram mudanças em algumas características,
devidas ao tratamento.
Ocorreram mudanças na direcionalidade em todas as proporções, exceto EB: 18
participantes que apresentaram EB com direcionalidade no teste mantiveram a direção no
reteste; 21 apresentaram direcionalidade em EA : es no teste, mas 8 deles apresentaram
mudança na direção no reteste; 24 apresentaram direcionalidade em FC : CF+C no teste, mas
12 deles mudaram de direção no reteste; 22 apresentaram direcionalidade do eb no teste e 15
deles continuaram a apresentar direcionalidade no reteste, mas com 10 mudando de direção; 9
apresentaram mais movimentos passivos do que movimentos ativos no teste e no reteste.
No grupo de psicoterapia longa as correlações de teste-reteste foram mais baixas,
com as 19 variáveis estudadas apresentando média = 0,61, desvio-padrão = 0,16 e mediana =
0,64, sendo que apenas 4 variáveis apresentaram correlações maiores que 0,75. A correlação
para R foi mais baixa do que nos demais estudos, o que está associado ao aumento das
respostas no reteste, fator que também afetou as demais correlações.
Em relação à estabilidade das proporções, 6 participantes apresentaram mesma
direcionalidade no teste e no reteste para FC : CF+C; 13 apresentaram direcionalidade para o
eb no teste e no reteste, mas 8 mudaram de direção; 20 apresentaram direcionalidade para
42
EXNER, J. E.; WYLIE, J. R.; ARMBRUSTER, G. L. A follow-up of patients in long term treatment after
the first six months. Workshops Study No. 223. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1976.
67
EA : es no teste, sendo 14 com o lado esquerdo maior, e 18 continuaram a apresentar
direcionalidade no reteste, mas 10 dos 14 com lado esquerdo maior mudaram de direção no
reteste, e 3 dos 6 com lado direito maior também mudaram de direção; 17 apresentaram a
mesma direcionalidade do EB no teste e no reteste, e 5 dos 11 sem direcionalidade no teste
apresentaram direcionalidade no reteste; 24 apresentaram direcionalidade para a : p em ambas
testagens, incluindo 7 com mais movimentos passivos.
Assim, concluiu-se, a partir destes dois estudos com pacientes, que algumas
variáveis, especialmente as relacionadas às características afetivas (determinantes de cor e de
sombreado), estiveram sujeitas a alterações decorrentes do tratamento; outras variáveis
permaneceram estáveis (Zf, X+%, Afr, 3r+(2)/R, EA, Popular). A direcionalidade de EB e de
a : p permaneceu estável para a maioria dos indivíduos, mas a intervenção alterou eb,
FC : CF+C e EA : es.
Haller e Exner (1985) estudaram 50 pacientes internados, com sintomas de
depressão segundo os critérios do DSM-III e 15 ou mais pontos no Inventário de Depressão
de Beck. O reteste foi realizado três ou quatro dias após o teste. Metade dos participantes
foram retestados com o procedimento padrão e a outra metade recebeu instruções para
fornecer respostas diferentes das do primeiro teste. Este segundo grupo repetiu
aproximadamente 1/3 das respostas, enquanto no primeiro grupo 2/3 das respostas do reteste
foram semelhantes às fornecidas na primeira testagem. Os resultados deste estudo são
apresentados na Tabela 8.
Os resultados de fidedignidade de teste-reteste dos dois grupos foram
semelhantes, com apenas 4 variáveis mostrando diferenças estatisticamente significantes entre
os grupos: Popular, Lambda, FM e m. Os autores afirmam que as variáveis associadas à
depressão apresentaram boa estabilidade, mesmo nesta amostra de indivíduos com quadros
mais transitórios do que crônicos, mas notamos que as correlações encontradas nesta
pesquisa, principalmente no grupo experimental, são mais baixas do que as em outros estudos:
para o grupo controle, temos: média = 0,71, desvio-padrão = 0,13 e mediana = 0,74, com 13
das 28 correlações reportadas sendo iguais ou maiores do que 0,75; para o grupo
experimental, temos: média = 0,66, desvio-padrão = 0,17 e mediana = 0,71, com 10 das 28
correlações reportadas sendo iguais ou maiores do que 0,75.
68
Tabela 8 Estabilidade temporal em pacientes norte-americanos internados com sintomas de depressão,
com o reteste realizado após 3 ou 4 dias
Grupo controle
Grupo experimental
N 25 25
Variável
R 0,77 0,72
Popular 0,76 0,37
M 0,75 0,78
FM 0,28 0,72
m 0,84 0,34
a 0,71 0,78
p 0,51 0,68
FC 0,70 0,79
CF 0,51 0,33
C 0,50 0,43
CF+C 0,74 0,62
WSumC 0,68 0,69
SumT 0,86 0,84
SumC´ 0,77 0,69
SumV 0,82 0,86
SumY 0,69 0,57
SumSH 0,74 0,73
FD 0,76 0,81
F 0,78 0,69
Lambda 0,82 0,40
X+% 0,82 0,72
Afr 0,57 0,67
3r + (2) / R 0,74 0,70
Color-shading blends
0,70 0,41
Sum5* 0,84 0,81
MOR 0,87 0,88
EA 0,71 0,76
es 0,69 0,78
Correlações iguais a 0,75 ou maiores
Correlações entre 0,50 e 0,74
Correlações menores do que 0,50
* Na época do estudo havia apenas 5 códigos especiais críticos.
Fonte: Haller e Exner (1985)
Exner (1986) apresenta um estudo
43
no qual a estabilidade temporal numa amostra
de 50 adultos retestados após 1 ano foi comparada com a do estudo de 100 adultos retestados
após 3 anos. Dados complementares deste estudo são apresentados em Exner (1999a). Os
resultados foram semelhantes, com o grupo retestado após 1 ano apresentando correlações um
pouco mais altas do que o grupo retestado após 3 anos: média das 41 correlações reportadas =
0,78, desvio-padrão = 0,14 e mediana = 0,82.
43
EXNER, J. E.; THOMAS, E. E.; COHEN, J. B. Temporal consistency of test variables for patient and
nonpatient populations. Workshops Study No. 276. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1983.
69
Exner (1986) apresenta também dados de outro estudo
44
, com 35 adultos não-
pacientes retestados após 3 semanas. Para as 41 correlações de teste-reteste reportadas, temos:
média = 0,81, desvio-padrão = 0,13 e mediana = 0,85.
Exner (1999a) retoma estudos anteriores, complementando os resultados. Na
interpretação do Rorschach, os valores de uma variável são divididos em faixas (por exemplo,
faixa de valores normativos, faixa de valores abaixo do esperado e faixa de valores acima do
esperado), sendo que para cada faixa de valores corresponde uma hipótese interpretativa.
Neste trabalho, Exner analisou quantos participantes se mantinham na mesma faixa de valores
e quantos mudavam de faixa, denominando esta análise como estudo de consistência das
categorias [interpretativas]. Os resultados são apresentados na Tabela 9.
Tabela 9 Consistência das categorias interpretativas de 14 variáveis do Rorschach para dois grupos de
adultos não-pacientes norte-americanos
35 adultos não-pacientes 50 adultos não-pacientes
Teste Reteste
após 3 semanas
Teste Reteste
após 1 ano
A B A B A B A B A B
EB
a
Introversivo Extratensivo 16 13 16 13 22 18 21
1
18
Lambda < 1,0 > 1,00 28 7 30
2
5
2
42 8 43
1
7
1
EA 6,5 a 10,5 > 11,0 21 8 19
2
10
2
35 11 33
2
13
2
EA < 6,5 > 6,5 6 29 5
1
30
1
4 46 4 46
es
b
4 a 9 > 10 25 6 23
2
8
2
43 5 42
1
6
1
Adjes
b
4 a 9 > 10 32 2 32 2 46 3 43
3
6
3
FC: CF+C equilibrado desequilibrado 19 16 20
1
15
1
27 23 26
1
24
1
Afr < 0,55 > 0,55 6 29 7
1
28
1
7 43 9
2
41
2
X+% > 0,60 < 0,60 31 4 32
1
3
1
47 3 47 3
Xu% < 0,21 > 0,21 19 16 18
1
17
1
38 12 36
2
14
2
X-% < 0,20 > 0,20 32 3 29
3
6
3
44 6 43
1
7
1
a : p p < a+1 p > a+1 33 2 33 2 47 3 46
1
4
1
WSum6 < 7,0 > 7,0 29 6 30
1
5
1
43 7 43 7
COP 0 ou 1 > 2 12 23 11
1
24
1
17 33 18
1
32
1
MOR < 3 > 3 31 4 32
1
3
1
44 6 46
2
4
2
3r+(2)/R
c
0,33 a 0,43 > 0,44 22 9 22 9 31 10 32
1
9
1
3r+(2)/R < 0,33 > 0,33 4 31 4 31 6 44 4
2
46
2
Sobrescrito o número de participantes que mudaram de categoria do teste para o reteste.
a
ambiguais foram excluídos;
b
valores menores do que 4 foram excluídos;
c
valores menores que 0,33 foram excluídos.
Fonte: Exner (1999a)
44
THOMAS, E. E.; ALINSKY, D.; EXNER, J. E. The stability of some Rorschach variables in 9 year-olds as
compared with nonpatient adults. Workshops Study No. 441. Estudo não publicado. Rorschach Workshops,
1982.
70
A Tabela 10 reúne dados de diferentes estudos de teste-reteste com adultos não-
pacientes e a Tabela 11 dados de estudos com adultos pacientes, com as variáveis agrupadas
por aspectos do funcionamento psicológico: complexidade, estilos, controles; afeto; ideação;
mediação; processamento; interpessoal; auto-percepção. (Algumas pesquisas são apresentadas
em diversos artigos ou livros do Sistema Compreensivo, e algumas das correlações de uma
mesma pesquisa apresentam valores diferentes nestas várias apresentações. Tratam-se,
provavelmente de erros ao editar o texto. Nestes casos, apresentamos os resultados que se
repetem em maior número de trabalhos ou, quando apresentados em apenas dois trabalhos, os
valores menores.)
Os diversos estudos com adultos não-pacientes permitem identificar um padrão
das correlações de teste-reteste: a maioria das variáveis apresenta correlações em torno de
0,80, sendo então variáveis que avaliam traços de personalidade; movimento inanimado e
sombreado difuso apresentam correlações na faixa de 0,20 a 0,40, refletindo estados de
personalidade. As variáveis das quais estes últimos determinantes participam (FM+m, SumSH
e es) apresentam correlações na faixa de 0,50 a 0,70 e esta menor estabilidade se deve
justamente à presença do sombreado difuso e do movimento inanimado. Algumas variáveis
(FM, SumC’, CF, Blends), com correlações nas faixas de 0,60 e 0,70, são predominantemente
traço, embora também apresentem um componente estado.
Em comparação com os não-pacientes, as amostras dos pacientes mostram
coeficientes de teste-reteste com valores menos semelhantes entre si para as variáveis
Lambda, WSumC, EA, FM, SumSH, FC, CF, C, Afr, movimento passivo e Índice de
Egocentricidade. Esta maior variabilidade das estimativas de estabilidade temporal mais
provavelmente decorre de erro amostral, visto que as amostras são de tamanho pequeno. Os
pacientes também apresentam coeficientes com valores menores do que os não-pacientes,
indicando menor estabilidade em seu funcionamento psicológico. Chama particularmente a
atenção a menor estabilidade de Lambda e das respostas de cor (FC, CF, CF+C e WSumC),
variáveis associadas ao grau de simplificação perceptiva e à expressão do afeto,
respectivamente.
71
Tabela 10 – Estabilidade temporal em 5 amostras de adultos não-pacientes norte-americanos
Grupo
1 2 3 4 5
N 100 50 25 35 25
Intervalo > 3 anos > 1 ano 60 dias 3 semanas 7 dias
Variáveis
Complexidade, estilo,
controles
R 0,79 0,86 0,84 0,84 0,86
Lambda 0,82 0,78 0,86 0,76 0,73
EB
M 0,87 0,84 0,85 0,83 0,81
WSumC 0,86 0,82 0,78 0,83 0,85
EA 0,85 0,83 0,83 0,84 0,83
FM 0,72 0,77 0,74 0,72 0,63
m 0,39 0,26 0,34 0,28
SumC’ 0,67 0,73 0,67
SumV 0,81 0,87 0,89
SumT 0,87 0,91 0,96
SumY 0,23 0,31 0,41
eb
FM+m 0,69 0,67 0,56
SumSH 0,66 0,59 0,71 0,51
es 0,72 0,64 0,69 0,59 0,62
Adjes 0,82 0,79
D-score 0,83 0,91 0,88
Afeto
FC 0,86 0,86 0,83 0,92 0,93
CF 0,66 0,58 0,68
CF+C 0,79 0,81 0,73 0,83 0,82
C 0,51 0,56 0,59
Afr 0,90 0,82 0,89 0,85 0,93
Blends 0,67 0,62 0,71
Ideação
a 0,86 0,83 0,82 0,87 0,91
p 0,75 0,72 0,78 0,85 0,84
2AB+Art+Ay 0,88 0,84
Sum6 0,88
a
0,81 0,81
WSum6 0,86 0,86
DV+DR 0,79 0,72 0,74
INC+FAB 0,82 0,89 0,92
ALOG 0,90 0,93
Mediação
XA% 0,89
WDA% 0,92
Popular 0,73 0,83 0,84 0,81 0,78
X+% 0,80 0,86 0,84 0,87 0,88
Xu% 0,85 0,89
X-% 0,86 0,92 0,88
Processamento
Zf 0,83 0,85 0,81 0,89 0,88
Interpessoal
COP 0,81 0,88
AG 0,82 0,81
Isolate/R 0,84 0,83
Auto-percepção
3r + (2)/R 0,87 0,89 0,85 0,90 0,91
Fr +rF 0,78 0,82 0,89
FD 0,83 0,88 0,90
MOR 0,71 0,83
Grupo 1 = Exner, Armbruster e Viglione (1978); Exner (1978, 1986, 1993, 2003); Exner e Weiner (1995); Viglione e Hilsenroth (2001).
Grupo 2 = Exner (1986, 1993, 1999a, 2003); Viglione e Hilsenroth (2001). Grupo 3 = Exner (1978). Grupo 4 = Exner (1986, 1993,
1999a, 2003); Viglione e Hilsenroth (2001); Grupo 5 = Exner (1978, 1980).
a
No estudo 1, Sum6 refere-se à soma dos 5 códigos especiais críticos que existiam na época.
Correlações menores do que 0,50
Correlações entre 0,50 e 0,74
Correlações iguais a 0,75 ou maiores
72
Tabela 11 – Estabilidade temporal em 5 amostras de adultos norte-americanos pacientes
Grupo
1 2 3 4 5
N 30 35 25 35 20
Intervalo 180 dias 90 dias 30 dias 3 dias 10 dias
Participantes Pacientes neuróticos
em psicoterapia longa
Pacientes com depressão
reativa em psicoterapia
breve
Pacientes em
lista de espera
Pacientes
adultos
deprimidos
Esquizofrênicos
internados
Variáveis
Complexidade, estilo,
controles
R 0,64 0,83 0,83 0,77 0,89
Lambda 0,48 0,64 0,65 0,82 0,76
EB
M 0,68 0,82 0,82 0,75 0,77
WSumC 0,38 0,49 0,68 0,68 0,81
EA 0,70 0,84 0,77 0,71 0,82
FM 0,49 0,73 0,74 0,28 0,75
m 0,84
SumC’ 0,77
SumV 0,82
SumT 0,86
SumY 0,69
eb
FM+m 0,41 0,70 0,62 0,73
SumSH 0,42 0,28 0,49 0,74 0,72
es 0,61 0,76 0,67 0,69 0,71
Afeto
FC 0,39 0,51 0,71 0,70 0,84
CF 0,51
CF+C 0,47 0,44 0,57 0,74 0,89
C+Cn 0,50
Afr 0,73 0,89 0,86 0,57 0,79
Ideação
a 0,81 0,87 0,78 0,71 0,86
p 0,71 0,79 0,84 0,51 0,82
Sum6 0,84
a
Mediação
Popular 0,76 0,81 0,69 0,76 0,78
X+% 0,81 0,84 0,83 0,82 0,92
Processamento
Zf 0,81 0,86 0,86 0,80
Interpessoal
Isolate/R
Auto-percepção
3r+(2)/R 0,73 0,91 0,91 0,74 0,75
FD 0,76
MOR 0,87
Grupo 1 = Exner (1978). Grupo = 2 Exner (1978). Grupo 3 = Exner (1978). Grupo 4 = Haller e Exner (1985); Viglione e Hilsenroth (2001).
Grupo 5 = Exner (1978).
a
no momento da publicação existiam somente 5 códigos especiais críticos.
Correlações menores do que 0,50
Correlações entre 0,50 e 0,74
Correlações iguais a 0,75 ou maiores
73
Estudos também foram realizados por outros pesquisadores que não fazem parte
do grupo de Exner.
Schwartz, Mebane e Malony (1990) aplicaram o Rorschach a 24 estudantes
universitários (college students) surdos. Metade dos participantes respondeu ao teste por
escrito e ao reteste usando a linguagem de sinais; a outra metade respondeu ao teste usando a
linguagem de sinais e ao reteste por escrito. O reteste foi realizado aproximadamente uma
semana após o teste. As correlações de teste-reteste encontradas foram menores do que os
relatados por Exner: as 25 variáveis estudadas apresentaram correlações com média = 0,51,
desvio-padrão = 0,25 e mediana = 0,62. Devemos lembrar que este não é um estudo simples
de teste-reteste, porque existe mudança na forma de aplicação utilizada no teste e no reteste,
fator que pode ser responsável pelas correlações menores. De fato, os autores notaram maior
facilidade para os participantes responderem utilizando a linguagem de sinais; quando
responderam por escrito, forneceram respostas mais breves, que frequentemente não
continham palavras-chave que sugerissem o uso de certos determinantes; os protocolos
obtidos por escrito apresentaram menos respostas de sombreado do que os protocolos com as
respostas fornecidas pela linguagem de sinais.
Adair e Wagner (1992) estudaram 50 pacientes ambulatoriais com esquizofrenia.
Encontraram baixa estabilidade temporal para os códigos especiais críticos (DV, DR, INC,
FAB, ALOG) e para sua soma ponderada (WSum6): 0,50, 0,37, 0,26, 0,38, 0,16 e 0,385
respectivamente. Os autores apontam certas limitações deste estudo: alguns pacientes
encontravam-se em psicoterapia, o que pode ter contribuído para mudanças e,
conseqüentemente, estabilidade temporal mais baixa; a amostra foi composta por pacientes
ambulatoriais, portanto casos mais leves e que apresentam menos falhas de pensamento do
que pacientes mais graves assim, a menor variabilidade dos escores pode ter contribuído
para a baixa estabilidade temporal; a amostra também incluiu protocolos com menos de 14
respostas, considerados problemáticos por serem pouco fidedignos e, consequentemente
inválidos (ver adiante a discussão sobre a fidedignidade dos protocolos com poucas
respostas); a baixa estabilidade temporal também pode ser atribuída a oscilações associadas à
esquizofrenia. Viglione e Hilsenroth (2001) comentam que a amostra deste estudo é bastante
heterogênea, com pacientes esquizofrênicos com diferentes cursos da doença, medicação,
hospitalizações e psicoterapia, e os intervalos entre teste e reteste foram também bastante
74
variados: de 1 a 18 anos. Todos estes fatores podem ter contribuído para as baixas correlações
de teste-reteste encontradas.
Erstad (1996) investigou a menor freqüência de movimento humano e respostas
de cor em idosos. Seu grupo alvo foi composto por 33 indivíduos com mais de 60 anos.
Utilizou também um grupo de comparação, composto por 33 adultos com idades de 18 a 55
anos. Parte da pesquisa envolvia a fidedignidade de teste-reteste e o autor obteve 17
protocolos de reteste no grupo alvo e 11 protocolos de reteste no grupo de comparação. Os
resultados deste estudo são apresentados na Tabela 12. As correlações de teste-reteste
encontradas foram baixas: para as 26 correlações informadas temos: no grupo de idosos,
média = 0,60, desvio-padrão = 0,23 e mediana = 0,68; no grupo de adultos com até 55 anos de
idade, média = 0,54, desvio-padrão = 0,22 e mediana = 0,54. As distribuições de valores das
variáveis do SCR no grupo de comparação foram semelhante a dos adultos não-pacientes da
amostra normativa norte-americana, portanto as menores correlações não decorrem de
diferenças nas distribuições dos valores das variáveis
Tabela 12 – Estabilidade temporal em duas amostras de adultos norte-americanos
Grupo > 60 anos 18-55 anos Grupo > 60 anos 18-55 anos
N 17 11 N 17 11
R 0,90 0,82 WSumC 0,75 0,53
Popular 0,77 0,36 SumT 0,70 0,92
Zf 0,70 0,67 SumC’ 0,67 0,02
F 0,80 0,58 SumY 0,40 0,39
M 0,75 0,56 SumV 0,57 0,85
FM 0,68 0,40 Lambda 0,46 0,23
M 0,45 0,73 X+% 0,63 0,47
a 0,72 0,49 Afr 0,48 0,79
p 0,75 0,64 3r+(2)/R 0,60 0,68
FC 0,08 0,81 EA 0,73 0,44
CF 0,42 0,19 es 0,80 0,68
C 0,95 0,44 D-score 0,22 0,54
CF+C 0,62 0,39 AdjD 0,02 0,53
Fonte: Erstad (1996)
75
Erstad (1996) avaliou também a consistência das categorias interpretativas. Os
resultados, apresentados na Tabela 13, foram mais baixos do que os de Exner (1991)
45
.
Tabela 13 Freqüência e porcentagem de participantes com proporções estáveis em uma amostra de 8
participantes norte-americanos
Proporção f (%) Proporção f (%)
EB 5 (63%) Lambda 7 (88%)
eb 4 (50%) X+% 5 (63%)
D-score 2 (25%) X-% 6 (75%)
AdjD 7 (88%) Zd 5 (63%)
a : p 5 (63%) W : D 3 (38%)
Ma : Mp 7 (88%) W : M 5 (63%)
FC : CF+C 4 (50%) HumanContent 5 (63%)
Afr 6 (75%) Isolate/R 5 (63%)
EGO 4 (50%) SumT 7 (88%)
Fonte: Erstad (1996)
O autor afirma:
[...] este pesquisador notou que os participantes variaram amplamente em termos da
riqueza dos protocolos fornecidos mesmo quando apresentaram mais do que 13
respostas. Parece não haver um padrão nesta variabilidade de uma sessão de
testagem para a outra. Em alguns casos, o primeiro Rorschach mostrou-se defendido
e escasso. No entanto, o reteste foi uma experiência de maior envolvimento e o
Rorschach também mostrou o efeito deste envolvimento. Em outros casos, a
primeira testagem foi uma experiência na qual os participantes estiveram mais
envolvidos com o processo, enquanto que o reteste não se mostrou estruturalmente
rico nem tão revelador num sentido qualitativo. (ERSTAD, 1996, p. 13).
Viglione e Hilsenroth (2001) criticam este estudo Erstad pelo número reduzido de
participantes e pelo intervalo entre teste e reteste não ser especificado.
45
EXNER, J. E. JR. The Rorschach: A Comprehensive System. Vol. 2: Interpretation, 2
nd
edition. New York:
Willey, 1991.
O estudo de Exner (1991) mencionado por Erstad é o mesmo publicado em Exner (1988) e que será apresentado
na parte em que discutiremos a estabilidade temporal e os protocolos com poucas respostas.
76
Saether e Berg (1999)
46
realizaram uma replicação do estudo de Haller e Exner
(1985), com 66 indivíduos. O reteste foi realizado após de 1 a 17 dias e nele os participantes
receberam instruções para fornecer respostas diferentes das do teste. Os autores encontraram
mudanças importantes entre os resultados do teste e do reteste (mediana das correlações =
0,25). Comentando este estudo, Grønnerød (2003a) menciona que os autores também
observaram que solicitar respostas diferentes enfatiza a tarefa de solucionar problemas, na
qual testandos com mais instrução obtêm mais sucesso do que testandos com menos
instrução.
Garb et al. (2001) comentam que o Sistema Compreensivo apresenta informações
de fidedignidade de teste-reteste para apenas 40% das variáveis e que estudos de
pesquisadores que não os do grupo de Exner encontraram correlações menores. Afirmam que
não se poderia concluir que a maioria das variáveis apresenta excelente consistência temporal,
como alegado por proponentes do SCR.
Estes críticos do Rorschach têm certa razão (ver Tabelas 10 e 11): algumas poucas
variáveis são apresentadas em todos os estudos, enquanto que as demais são apresentadas em
alguns estudos, mas não em outros – o que dificulta as comparações dos resultados de
diferentes estudos. Além disso, algumas variáveis do Sumário Estrutural não têm suas
correlações de teste-reteste informadas em nenhum dos estudos.
Meyer e Archer (2001) respondem à observação de Garb et al. (2001) de que os
estudos de Exner encontraram maior estabilidade temporal do que os estudos de outros
pesquisadores. Afirmam que estes últimos estudos apresentam alguns problemas
metodológicos, tais como a falta de informações precisas sobre os intervalos entre o teste e o
reteste, e sobre a ocorrência de intervenções entre as testagens, o que dificulta a comparação
dos resultados.
Meyer e Archer (2001) compararam os dados de seis amostras de adultos com
dados completos e intervalos entre o teste e o reteste de até um mês. As pesquisas são bastante
diversificadas em termos da metodologia, mas todas apresentam o problema de serem
amostras de tamanho relativamente pequeno. Três amostras são estudos de Exner e as outras
46
As informações mencionadas provêm do resumo em inglês, que os autores gentilmente nos enviaram.
77
três são de outros grupos de pesquisadores: 1) Schwartz, Mebane e Malony (1990); 2) e 3) as
duas amostras correspondem ao estudo de Erstad (1996), sendo a primeira de indivíduos com
até 55 anos, e a segunda de indivíduos com 60 anos ou mais; 4) e 5) as duas amostras
correspondem ao estudo de Haller e Exner (1985), sendo que uma delas recebeu as instruções
originais e a outra recebeu instruções para fornecer respostas diferentes no reteste; 6) amostra
de Exner (1993), composta por 35 não-pacientes retestados após 3 semanas. A Tabela 14
apresenta os resultados de 23 variáveis informadas nestas seis amostras.
Tabela 14 – Estabilidade temporal em 6 amostras norte-americanas
Grupo 1 2 3 4 5 6 dia DP
N 24 11 17 25 25 35 Ponderada
Reteste 7 dias 24 dias ? 4 dias 4 dias 21 dias
R 0,70 0,93 0,90 0,72 0,77 0,84 0,80 0,10
M 0,66 0,75 0,75 0,78 0,75 0,83 0,76 0,06
FM 0,62 0,55 0,68 0,72 0,28 0,72 0,60 0,17
m 0,64 0,73 0,45 0,34 0,84 0,34 0,53 0,21
a 0,64 0,53 0,72 0,78 0,71 0,87 0,74 0,12
p 0,67 0,75 0,75 0,68 0,51 0,85 0,70 0,11
FC 0,61 0,80 0,08 0,79 0,70 0,92 0,69 0,30
CF 0,33 0,31 0,42 0,33 0,51 0,68 0,46 0,14
C 0,28 0,44 0,95 0,43 0,50 0,59 0,52 0,23
CF+C 0,26 0,48 0,62 0,62 0,74 0,83 0,62 0,20
WSumC 0,40 0,62 0,75 0,69 0,68 0,83 0,67 0,15
SumT -0,07 0,92 0,70 0,84 0,86 0,96 0,70 0,39
SumC’ 0,46 0,15 0,67 0,69 0,77 0,67 0,61 0,23
SumY 0,40 0,07 0,40 0,57 0,69 0,41 0,46 0,21
SumV 0,00 0,82 0,57 0,86 0,82 0,89 0,67 0,34
F 0,80 0,80 0,80 0,69 0,78 0,76 0,77 0,04
Lambda 0,12 0,26 0,46 0,40 0,82 0,76 0,52 0,28
Popular 0,76 0,40 0,77 0,37 0,76 0,81 0,67 0,20
X+% 0,83 0,57 0,63 0,72 0,82 0,87 0,77 0,12
Afr 0,24 0,78 0,48 0,67 0,57 0,85 0,61 0,22
EGO 0,79 0,74 0,60 0,70 0,74 0,90 0,76 0,10
EA 0,64 0,61 0,73 0,76 0,71 0,84 0,73 0,08
es 0,66 0,63 0,80 0,78 0,69 0,59 0,68 0,08
Média 0,50 0,60 0,64 0,65 0,70 0,77 0,66 0,18
DP 0,26 0,24 0,19 0,16 0,14 0,16 0,10 0,09
Mediana 0,62 0,62 0,68 0,69 0,74 0,83 0,69 0,17
Grupo 1 = Schwartz, Mebane e Malony (1990); grupo 2 = adultos não-pacientes
com até 55 anos de idade (Erstad, 1996); grupo 3 = adultos não-pacientes com
60 anos ou mais (Erstad, 1996); grupo 4 = grupo experimental de Haller e Exner
(1985); grupo 5 = grupo controle de Haller e Exner (1985); grupo 6 = Exner
(1993).
Correlações menores do que 0,50
Correlações entre 0,50 e 0,74
Correlações iguais a 0,75 ou maiores
Fonte: Meyer e Archer (2001).
78
De modo geral, as amostras de Exner produziram correlações um pouco maiores.
Os coeficientes variaram consideravelmente de amostra para amostra, algumas vezes sendo
maiores nas pesquisas de Exner, outras vezes nas pesquisas dos outros autores. Esta variação
nas correlações está associada ao erro de amostragem, pois amostras de tamanho pequeno
fornecem estimativas não generalizáveis, principalmente para variáveis infreqüentes
(MEYER; ARCHER, 2001).
De fato, notamos que a maioria dos estudos de estabilidade temporal utilizou
amostras de tamanho pequeno (aproximadamente 30 participantes). Partindo das correlações
obtidas numa amostra, podemos determinar intervalos de confiança, que indicam os valores
entre os quais provavelmente se situam as correlações na população. Uma correlação r = 0,70,
obtida numa amostra de 30 participantes, apresenta como intervalo de confiança (com 95% de
chance de acerto) valores de r = 0,45 a r = 0,85. Mesmo numa amostra de 100 participantes, a
mesma correlação r = 0,70 apresenta como intervalo de confiança (com 95% de chance de
acerto) valores de 0,58 a 0,79.
Efetivamente, para estimar de modo seguro a estabilidade temporal, uma pesquisa
demandaria uma amostra com número bem maior do que 100 participantes. Discutindo as
pesquisas sobre estabilidade temporal das medidas de personalidade, Watson (2004) sugere a
utilização de amostras de no mínimo 300 participantes. Evidentemente, tal número pode ser
conseguido em pesquisas com inventários de personalidade instrumentos em que o
participante responde às perguntas por conta própria, sem necessitar da presença de um
aplicador –, mas dificilmente será obtido em pesquisas com o Rorschach.
De qualquer modo, é importante atentar para este problema do tamanho das
amostras e a imprecisão das estimativas de estabilidade temporal. De fato, com amostras de
tamanho pequeno, as diferenças entre as estimativas de estabilidade temporal podem ser mera
decorrência do acaso na seleção das amostras. Apesar das limitações decorrentes do uso de
amostras pequenas, a realização de estudos de estabilidade temporal com amostras deste
tamanho justifica-se pelas características do Rorschach instrumento que exige aplicação
individual, assim demandando muito tempo ou muitos aplicadores para a coleta de amostras
maiores e também porque os diferentes estudos podem posteriormente ser reunidos numa
metanálise.
79
Grønnerød (2003a) realizou uma metanálise de estudos sobre a estabilidade
temporal do Rorschach. Seu levantamento bibliográfico coletou artigos de 1921 a 2002,
incluindo artigos sobre seguimento em psicoterapia, pois alguns destes estudos incluíram
grupos-controle, apresentando então dados de teste-reteste. A estabilidade temporal
encontrada foi alta para todos os estudos, incluindo os que não utilizaram o Sistema
Compreensivo: os níveis de estabilidade temporal ponderada combinada para um período de
reteste médio de um pouco mais de 3 anos variaram de 0,68 a 0,73 nos diferentes conjuntos de
dados analisados, sem considerar os moderadores sistematicamente relacionados à
estabilidade. O Sistema Compreensivo mostrou maior estabilidade do que os outros sistemas e
correlações mais semelhantes nas diferentes amostras do que as correlações entre as amostras
de outros sistemas. Das 39 variáveis do Sistema Compreensivo analisadas, somente 7
apresentaram correlações menores do que 0,70, sendo que 3 delas são índices que incluem
sombreado difuso e movimento inanimado; a estabilidade temporal combinada de 36
variáveis do Sistema Compreensivo foi r = 0,79. Grønnerød (2003a, p. 286) comenta ainda
que “problemas metodológicos e restrições, tais como o tamanho e as características da
amostra, são em muitos casos a razão mais importante para os baixos níveis de estabilidade
[encontrados nas pesquisas]”. Em relação a pacientes versus não-pacientes, poder-se-ia pensar
que as flutuações dos sintomas nos vários tipos de psicopatologia levariam a menor
estabilidade, mas os estudos mostraram que isto não ocorreu em proporção importante.
O autor observa que as correlações de teste-reteste são comparações de grupos,
mas outra questão refere-se à estabilidade de cada indivíduo pode ocorrer uma significativa
variabilidade nos resultados de um indivíduo, do teste para o reteste, variabilidade esta que
não se percebe ao analisar o grupo. Por outro lado, existem as análises de Exner em relação à
direcionalidade dos índices e à consistência das categorias interpretativas, que indicam que
poucos participantes mudam em termos da configuração das variáveis centrais na
interpretação do Rorschach – mas mais estudos deste tipo são necessários, com mais variáveis
do Sumário Estrutural.
Grønnerød (2006) publicou uma revisão de sua metanálise sobre a estabilidade
temporal do Rorschach, pois identificou problemas metodológicos. Utilizando uma
metodologia mais adequada, os resultados foram bastante semelhantes aos originais. A
80
revisão também levou em conta o estudo realizado pelo autor sobre mudanças devidas à
psicoterapia avaliadas pelo Rorschach (Grønnerød, 2003b) e chegou à seguinte conclusão:
[...] como os modelos de regressão são psicometricamente mais robustos do que
anteriormente, a convergência dos resultados de estabilidade e os resultados do
estudo sobre psicoterapia fortalecem a evidência relativa à estabilidade temporal do
método de Rorschach, bem como de seu uso como um instrumento de análise da
mudança devida à psicoterapia. Resultados dos dois conjuntos de dados claramente
mostram que, com suficiente atenção às questões metodológicas, o método de
Rorschach é o estável quanto outros métodos de avaliação e pode captar as
mudanças de personalidade tão bem quanto outros métodos”. (GRØNNERØD,
2006, p. 225).
Sultan et al. (2006) investigaram a estabilidade temporal das variáveis do Sistema
Compreensivo do Rorschach em 75 adultos não-pacientes franceses. Os participantes foram
indivíduos do estudo normativo francês e que concordaram em realizar o reteste após 3 meses.
Além do Rorschach, foi aplicado o Questionário de Saúde Geral de Goldberg (General Health
Questionnaire GHQ), e participantes com pontuações indicando problemas de saúde mental
foram excluídos da amostra.
Os autores calcularam correlações produto-momento de Pearson e correlações de
postos de Spearman para 47 variáveis principais do SCR e também para o total do Índice de
Depressão (DEPI) e da Constelação de Suicídio (S-CON). Os resultados deste estudo são
apresentados na Tabela 15. Obtiveram correlações com valores bem menores do que as das
pesquisas norte-americanas: média = 0,53, desvio-padrão = 0,15 e mediana = 0,51. Apenas
nove variáveis mostraram correlações acima de 0,70.
81
Tabela 15 – Estabilidade temporal numa amostra de 75 adultos não-pacientes franceses
Variável r Variável r Variável r
R 0,75 SumT 0,56 Adjes 0,46
Popular 0,54 SumC´ 0,38 D-score 0,34
Zf 0,76 SumY 0,17 XA% 0,49
Zd 0,46 SumV 0,46 WDA% 0,49
F 0,70 SumSH 0,42 X+% 0,45
M 0,76 FD 0,51 X-% 0,55
FM 0,48 Fr+rF 0,65 Xu% 0,51
m 0,47 (2) 0,77 Afr 0,57
FM+m 0,50 DV+DR 0,26 3r+(2)/R 0,78
a 0,61 INC+FAB 0,61 Sum6 0,50
p 0,55 COP 0,38 WSum6 0,56
FC 0,61 AG 0,45 Blends 0,63
CF 0,47 MOR 0,45 2AB+Art+Ay 0,53
C 0,08 Lambda 0,72 Isolate/R 0,67
CF+C 0,55 EA 0,77 DEPI 0,28
WSumC 0,69 es 0,46 S-CON 0,47
S 0,70
Fonte: Sultan et al. (2006)
Sultan et al. (2006) investigaram também a influência que a assimetria da
distribuição de valores das variáveis pode desempenhar nas correlações, comparando as
correlações obtidas com as variáveis originais versus as correlações obtidas com as variáveis
transformadas de modo a apresentarem uma distribuição menos assimétrica
47
. A
transformação das variáveis contribuiu para gerar correlações maiores para algumas variáveis.
Portanto, algumas correlações baixas estão associadas à distribuição assimétrica das variáveis.
A assimetria também pode ser responsável pela diferença nos valores das correlações de
Pearson em comparação com as correlações de postos de Spearman.
Investigaram também a direcionalidade das proporções e a consistência das
categorias interpretativas (ver Tabelas 16 e 17). Fornecem as seguintes estatísticas:
porcentagem de casos consistentes, Φ (Phi), V de Cramer e kappa
48
. Encontraram resultados
que indicam menor estabilidade do que os reportados nas pesquisas de Exner.
47
A questão de a assimetria interferir nas correlações será discutida a seguir, na seção que aborda as questões
estatísticas que interferem com as estimativas de estabilidade temporal.
48
Phi é uma medida de correlação entre duas variáveis categoriais numa tabela 2x2 e seus valores variam de 0
(correlação nula) a 1 (correlação perfeita) (STATSOFT, 2007). O V de Cramer é um coeficiente de correlação
para dados categoriais, interpretado da mesma forma que o r de Pearson (DANCEY; REIDY, 2006)
.
82
Tabela 16–- Direcionalidade das proporções numa amostra de 75 adultos não-pacientes franceses
Reteste %
Teste E S D consistentes V kappa
EB
E 20 5 1 76,9
S 8 14 10 43,8 0,43*** 0,38***
D 2 5 10 58,8
EA : es
E 5 3 7 33,3
S 2 4 5 36,4 0,21 0,16
D 4 14 31 63,3
eb
E 16 11 7 47,1
S 8 9 6 39,1 0,25 0,20*
D 2 6 10 55,6
a : p
E 20 6 2 71,4
S 5 7 8 35,0 0,35** 0,24**
D 6 11 10 37,0
FC : CF+C
E 11 8 4 47,8
S 9 23 4 63,9 0,21 0,17*
D 3 10 3 18,8
E = direcionalidade à esquerda; S = sem direcionalidade; D = direcionalidade à direita
* p < 0,05 ** p < 0,01 ***p < 0,001.
Fonte: Sultan et al. (2006)
Tabela 17 – Consistência das categorias interpretativas das variáveis do SCR numa amostra de 75 adultos
não-pacientes franceses
Reteste
Categoria no
teste
Primeira
categoria
Segunda
categoria
Terceira
categoria
%
consistentes
V kappa
EB introversivo 16 5 1 72,7
EB ambigual 7 25 5 67,6 0,46*** 0,45***
EB extratensivo 2 6 8 50,0
EB introversivo
#
8 4 1 61,5
EB ambigual
#
3 11 4 61,1 0,38* 0,34**
EB extratensivo
#
1 5 5 45,5
D-score < 0 22 12 1 62,9
D-score = 0 12 16 4 50,0 0,26* 0,20*
D-score > 0 1 5 2 25,0
Zd < -3,0 12 12 0 50,0
Zd = -3,0 a 3,0 6 29 7 69,0 0,37*** 0,29**
Zd > + 3,0 0 5 4 44,4
T = 0 24 7 3 70,6
T = 1 9 8 7 33,3 0,31** 0,27**
T > 1 4 5 8 47,1
EGO < 0,33 30 12 1 69,8
0,33<EGO<0,44 5 9 3 52,9 0,56*** 0,48***
EGO > 0,44 1 2 12 80,0
# somente participantes com Lambda <1,00
* p < 0,05 ** p < 0,01 ***p < 0,001.
Fonte: Sultan et al. (2006)
83
As Constelações são conjuntos de sinais do SCR. O Índice de Percepção e
Pensamento (Perceptual-Thinking Index PTI) identifica problemas na percepção e
pensamento. O PTI substituiu o Índice de Esquizofrenia (Schizophrenia Index SCZI),
anteriormente usado, visando à identificação de esquizofrenia. O Índice de Depressão
(Depression Index DEPI) visa à identificação de perturbação emocional e cognitiva
semelhante à encontrada em pacientes com depressão. O Índice de Déficit de Coping ou
Índice de Déficit Relacional (Coping Deficit Index CDI)
49
visa identificar indivíduos que
experimentam dificuldade para lidar com as situações cotidianas, principalmente aquelas que
envolvem relacionamento interpessoal. O Índice de Hipervigilância (Hipervigilance Index
HVI) identifica presença de desconfiança, retração à proximidade física e emocional e
observação atenta do ambiente interpessoal a fim de se precaver contra eventuais danos
antecipados ao se relacionar com os outros. O Índice de Estilo Obsessivo (Obsessive Style
Index – OBS) identifica características de perfeccionismo e preocupação em ser correto.
Sultan et al. (2006) analisaram a consistência para as constelações consideradas
em termos de seu status positivo ou negativo. (O índice PTI não foi incluído nesta análise
porque não tem ponto de corte, sendo uma medida dimensional, na qual valores mais altos
indicam maior perturbação da percepção e pensamento; em lugar do PTI, usaram o Índice de
Esquizofrenia SCZI). Analisaram também os índices Lambda e reflexos segundo uma
categorização dicotômica, ou seja, com duas categorias interpretativas. Os resultados são
apresentados na Tabela 18.
49
O Coping Deficit Index foi traduzido para o português como Índice de Déficit Relacional. Optamos por indicar
seu significado de déficit de recursos de coping. Esta palavra vem sendo traduzida para o português como
enfrentamento, ou mantida no original, coping. Coping indica recursos para enfrentar as situações e ser eficiente
em resolver problemas.
84
Tabela 18 Consistência das categorias para 8 índices do SCR numa amostra de 75 adultos não-pacientes
franceses retestados após 3 meses
Reteste %
Índices no teste Positivo Negativo consistentes Φ kappa
S-CON
Positiva 0 2 0,0
Negativa 0 73 100,0 0,00 0,00
HVI
Positivo 4 6 40,0
Negativo 7 58 89,2 0,28* 0,28*
OBS
Positivo 0 0
Negativo 2 73 97,3 0,00 0,00
SCZI
Positivo 5 5 50,0
Negativo 9 56 86,2 0,31** 0,31**
DEPI
Positivo 17 14 54,8
Negativo 15 29 65,9 0,21 0,21
CDI
Positivo 10 10 50,0
Negativo 11 44 80,0 0,30* 0,30*
Lambda
> 1,00 11 11 50,0
< 1,00 11 42 79,2 0,29* 0,29*
Reflexos
> 0 13 8 61,9
= 0 3 51 94,4 0,62*** 0,61***
* p < 0,05 ** p < 0,01 *** p < 0,001
Fonte: Sultan et al. (2006)
Sultan et al. (2006, p. 340) comentam:
Em relação aos índices dicotômicos, as porcentagens de concordância sugerem que a
ausência de um índice positivo é uma característica bastante estável, especificamente
para S-CON, OBS, HVI, SCZI, CDI, e em menor grau para DEPI, enquanto que a
presença de um índice positivo é mais provável de mudar entre as testagens, com
aproximadamente 50% dos escores inicialmente positivos mudando para abaixo do
ponto de corte crítico no reteste. Isto é consistente com a observação comum de que
o poder preditivo positivo é menor do que o poder preditivo negativo (ou a
85
porcentagem de consistência para os índices negativos) quando um índice positivo
apresenta uma baixa taxa de ocorrência (Streiner, 2003)
50
.
A baixa taxa de ocorrência das Constelações positivas ocorreu nesta amostra de indivíduos
não-pacientes. Em amostras de pacientes, as taxas de ocorrência devem ser maiores, e
possivelmente haverá maior estabilidade para os índices positivos.
Investigaram também a influência do engajamento na tarefa e do estresse
situacional na estabilidade temporal das variáveis do SCR. O engajamento na tarefa (Task
Engagement - TE) corresponde ao fator principal encontrado na análise fatorial do Rorschach
realizada por Meyer (1992a) e replicado por Lindgren e Carlsson (2002). É calculado a partir
de escores padronizados, e tem como fórmula:
TE = (0,436 * Color-shading) + (0,372 * FY) + (0,325 * FC’) + (0,3 * FC) +
(0,3 * CF+C) + (0,29 * m) + (0,29 * R) + (0,27 * S) + (0,24 * FM) + (0,22 * FV) +
(0,21 * W) + (0,19 * MOR) + (0,18 * M) - (0,24 * Lambda)
Sultan et al. (2006) encontraram que tanto o nível de engajamento na tarefa,
quanto mudanças no engajamento de uma testagem para a outra, desempenham papel na
estabilidade temporal de algumas variáveis. Maior engajamento na tarefa mostrou-se
associado à maior estabilidade temporal para m, FM+m, a, FC, SumC’, SumV, SumSH,
Fr+rF, INC+FAB, COP, EA, es, Adjes, EGO e Blends. Menor engajamento na tarefa
mostrou-se associado a maior estabilidade para F. Menor mudança no engajamento na tarefa
de uma testagem à outra se mostrou associada a maior estabilidade para R, F, FM e p.
Como o número de respostas é um componente importante do engajamento na
tarefa, também investigaram se R seria um moderador da estabilidade temporal. Maior R
mostrou-se associado a maior estabilidade temporal para FC e SumV. Menor mudança em R,
de uma testagem à outra, mostrou-se associada a maior estabilidade Popular, Zf, m, CF+C,
SumC’, MOR, EA, es e Blends.
50
STREINER, D. L. Diagnosing tests: Using and misusing diagnostic and screening tests. Journal of
Personality Assessment, v. 81, p. 209-219, 2003.
86
O estresse situacional foi avaliado pela pontuação no Questionário de Saúde Geral
de Goldberg. Encontraram que maior mudança no nível de estresse situacional, de uma
testagem à outra, mostrou-se associada a menor estabilidade para Zd, m, FM+m, a, C, CF+C,
WSumC e es, e maior estabilidade para FD.
Em sua pesquisa, Sultan et al. (2006) utilizaram diferentes examinadores, e
nenhum deles testou o mesmo participante nas duas testagens. Investigaram os resultados de
cada examinador e também compararam pares de examinadores. Encontraram que alguns
examinadores associam-se a menores números de respostas, menor engajamento na tarefa e
valores menores de EA, bem como estabilidade temporal mais baixa. Comentam:
O impacto do engajamento na tarefa imediatamente coloca a questão dos fatores
determinantes do engajamento, em particular com referência aos fatores
relacionados ao contexto e ao examinador. De fato, como esperávamos, nossos
resultados mostram que cada par de examinadores cujos resultados indicaram baixa
estabilidade incluía um examinador que eliciou menor engajamento. [...] Embora
não se tenha detectado qualquer erro de aplicação, é provável que um efeito devido
ao examinador tenha desempenhado um papel aqui. Contudo, este efeito parece ser
bastante limitado, porque os níveis médios de estabilidade não mudaram
notavelmente quando os protocolos dos dois examinadores menos estáveis foram
excluídos. (SULTAN et. al., 2006, p. 345).
Resumindo seus resultados, afirmam:
[...] embora nossos resultados tenham limitações [...], fornecem alguns argumentos
em suporte: (a) da importância de emoções negativas situacionais na estabilidade de
variáveis selecionadas do Sistema Compreensivo, (b) do papel do engajamento na
tarefa em algumas importantes características pessoais que podem se expressar no
Rorschach, (c) da importância da variação na responsividade em numerosas
variáveis centrais, e (d) do provável efeito induzido pela atitude do examinador e
contexto na estabilidade” (SULTAN et. al., 2006, p. 345).
Sultan et al. (2006) oferecem algumas explicações para a menor estabilidade
temporal encontrada em seu estudo, em comparação com os estudos norte-americanos: 1) as
distribuições de valores das variáveis; 2) a baixa fidedignidade inter-codificadores de algumas
variáveis; 3) a baixa taxa de ocorrência de algumas variáveis, ocasionando restrição de faixa
de valores; 4) mudanças ao fazer o reteste, pois neste os participantes conhecem o
87
Rorschach; 5) mudanças nas características durante o intervalo de 3 meses os participantes
mostraram-se menos defensivos no reteste; 6) características da amostra: o nível de
engajamento na tarefa é semelhante ao da amostra norte-americana, mas esta amostra francesa
apresentou maior complexidade, com mais indicadores de sofrimento emocional, menos
recursos e menor adequação perceptiva; a presença de maior sofrimento emocional pode levar
os participantes a mudar mais do teste para o reteste. Por fim, apontam a necessidade de mais
pesquisas, com amostras maiores.
Em nossa opinião, estas explicações sobre a menor estabilidade encontrada são
plausíveis. No entanto, caberia questionar se alguns fatores apontados também não estariam
presentes nas amostras de Exner, que apresentaram maior estabilidade temporal.
* * *
Ao final desta revisão dos estudos de estabilidade temporal do SCR, encontramos
um quadro no qual as pesquisas originais do Sistema Compreensivo, realizadas por Exner e
seus colaboradores, apresentaram estimativas mais altas de estabilidade temporal do que as
encontradas por outros pesquisadores norte-americanos e também na recente pesquisa
francesa de Sultan et al. (2006).
Os estudos de Exner infelizmente não apresentam informações sobre como os
participantes foram recrutados e suas características sócio-demográficas, nem estatísticas
descritivas dos resultados por eles obtidos. Diferenças nos resultados de estabilidade temporal
das diferentes pesquisas podem estar relacionadas à composição das amostras e às
distribuições de valores das variáveis do SCR, mas não contamos com estas importantes
informações que ajudariam a compreender a maior estabilidade temporal obtida nas pesquisas
de Exner.
A metanálise da estabilidade temporal do Rorschach (Grønnerød, 2003a) também
encontrou estabilidade alta para o Rorschach como um todo. Além deste importante estudo,
encontramos outros dois que ajudam a situar a estabilidade do Rorschach em comparação com
outros instrumentos de avaliação:
88
Meyer (2004) revisou as metanálises de fidedignidade de teste-reteste na literatura
psicológica. Para intervalos de até 12 meses, as correlações ponderadas variaram de 0,38 a
0,92, com a maioria dos instrumentos apresentando correlações na faixa de 0,70 e 0,80. A
estabilidade temporal do Rorschach seria semelhante à destes outros instrumentos em
psicologia e medicina.
Watson (2004) realizou uma revisão da fidedignidade de teste-reteste dos
instrumentos de avaliação psicológica. Para 23 estudos com intervalos de 2 a 4 meses, a
média das correlações mínimas foi de 0,63 e a média das correlações máximas foi de 0,79.
5.5.3. A estabilidade temporal e os protocolos com poucas respostas
Exner (1988) afirma que suspeitava que protocolos com poucas respostas
prejudicassem os resultados das pesquisas. Por exemplo, o Índice de Esquizofrenia [SCZI] e a
Constelação de Suicídio [S-CON] mostravam-se úteis na identificação da esquizofrenia e do
risco de suicídio, mas muitos falso-negativos (testandos com a condição e não identificados
pelo índice) apresentavam protocolos com poucas respostas. Isto levou a uma revisão de 10
estudos sobre a validade de variáveis do SCR:
Os dados de cada estudo foram analisados novamente duas vezes, utilizando-se os
mesmos procedimentos estatísticos empregados no estudo original. Na primeira
nova análise, todos os protocolos com menos do que 13 respostas foram excluídos
das amostras. Os resultados foram marcados. Quando os estudos foram re-
analizados com os protocolos com 12 respostas ou menos excluídos [das amostras],
os níveis de significância que haviam sido detectados para os achados positivos nas
análises originais melhoraram substancialmente. Quando os protocolos com 13 ou
menos respostas foram excluídos [das amostras] [...], os achados melhoraram
significativamente ainda mais. (EXNER, 1988, p. 641)
Exner (1988) investigou a estabilidade temporal de dois grupos de protocolos:
num dos grupos, um dos protocolos apresentava menos de 14 respostas; no outro grupo, todos
os protocolos apresentavam ao menos 15 respostas. Os resultados são apresentados na Tabela
19. O grupo dos protocolos com menos de 14 respostas apresentou menor estabilidade
89
temporal. Desde então o Sistema Compreensivo exige que os protocolos tenham pelo menos
14 respostas para serem interpretados.
Tabela 19 – Estabilidade temporal em duas amostras de 36 participantes retestados após de 4 a 30 dias
Variável
R < 14 em
uma das
testagens
R > 14 em
ambas
testagens
R 0,36 0,87
Popular 0,62 0,89
Zf 0,53 0,82
F 0,48 0,79
M 0,44 0,87
FM 0,28 0,74
m 0,36 0,28
a 0,41 0,88
p 0,22 0,83
FC 0,34 0,89
CF 0,49 0,71
C 0,33 0,59
CF+C 0,38 0,84
WSumC 0,27 0,86
SumT 0,54 0,91
SumC’ 0,28 0,78
SumY 0,09 0,40
SumV 0,62 0,89
Lambda 0,46 0,83
X+% 0,81 0,92
Afr 0,49 0,89
3r+(2)/R 0,51 0,87
EA 0,44 0,86
es 0,23 0,71
D 0,76 0,92
AdjD 0,61 0,93
Média 0,44 0,80
Desvio-padrão 0,17 0,16
Fonte: Exner (1988)
Exner (1988) apresenta também dados da consistência das categorias
interpretativas para os grupos com menos de 14 respostas e com mais de 14 respostas. Os
resultados são apresentados na Tabela 20. Protocolos com menos de 14 respostas e
Lambda < 0,85 apresentaram boa consistência das categorias interpretativas para algumas
variáveis, enquanto que, para os protocolos curtos e com Lambda > 0,99, a consistência das
categorias interpretativas foi baixa. De qualquer modo, os protocolos com menos do que 14
respostas apresentaram baixa consistência das categorias interpretativas para algumas
variáveis, enquanto que os protocolos com mais de 14 respostas apresentaram boa
90
consistência das categorias interpretativas para todas as variáveis. Assim sendo, protocolos
com menos de 14 respostas devem ser considerados pouco fidedignos e, consequentemente,
inválidos.
Tabela 20 Freqüências e porcentagens para 3 grupos mostrando o número de pares de protocolos com
valores na mesma categoria interpretativa em ambas testagens
R < 14 R > 14
Lambda < 0,85 nos
dois protocolos
Lambda > 0,99 no
protocolo curto
f % f % f %
EB 8 100 11 39 33 92
eb 7 88 13 46 35 97
D-score 8 100 21 75 35 97
AdjD 8 100 16 57 36 100
a : p 8 100 15 53 34 94
Ma : Mp 8 100 13 46 33 92
FC : CF+C 8 100 9 32 36 100
Afr 5 63 7 25 35 97
3r+(2) 6 75 11 39 35 97
Lambda 7 88 6 21 34 94
X+% 8 100 24 86 36 100
X-% 5 63 18 64 32 89
Zd 7 88 13 46 32 89
W : D 3 38 7 25 30 83
W : M 2 25 6 21 31 86
HumanContent 4 50 11 39 33 92
Isolate/R 6 75 20 71 35 97
Fonte: Exner (1988)
O procedimento de aplicação do Sistema Compreensivo indica que, no caso de o
testando fornecer menos de 14 respostas, o teste deve ser interrompido e o examinador deve
dizer
Agora você sabe como se faz. Mas temos um problema. Você não deu respostas
suficientes para que eu possa fazer a avaliação do teste. Então vamos voltar aos
cartões novamente e desta vez eu gostaria que você me desse mais respostas. Se
você quiser, pode incluir as mesmas respostas que já deu, mas procure dar mais
respostas desta vez. (EXNER, 1999b, p. 18-19)
Não se trata de obter respostas complementares, mas sim de uma nova aplicação
do teste. Em nossa experiência, notamos que este procedimento muitas vezes não funciona a
contento, impressão que é confirmada por Dean et al. (2007, p. 157):
91
Informalmente, os clínicos reclamam do procedimento de reaplicação, mencionando
o tempo excessivo necessário, a frustração e confusão que o examinador e o testando
experimentam, e a validade questionável dos resultados quando a fase de respostas é
repetida, as respostas originais não são fornecidas novamente e então não são
codificadas. Uma reação comum, mesmo em testandos cooperativos, é não repetir os
perceptos originais ou repeti-los de modo resumido. O testando pode pensar que,
como o examinador já anotou o primeiro conjunto de respostas, estas não precisam
ser repetidas ou que ele pode fazer referência a elas sem os detalhes fornecidos
durante a fase de respostas inicial. Por exemplo, durante a aplicação inicial, uma
participante pode dizer ‘duas pessoas jantando’. Na re-aplicação, ela pode dizer ‘Ah
sim, aquelas pessoas’. O examinador fica em vida se deve incluir o conteúdo
descritivo da fase de respostas inicial [primeira aplicação] ou considerar somente a
fala da fase de respostas da reaplicação.
O problema também foi identificado por Erstad (1996) em sua pesquisa com
idosos. Uma das preocupações deste pesquisador era a fidedignidade de teste-reteste dos
resultados, principalmente no caso de protocolos com poucas respostas, que o autor previu e
de fato encontrou em sua amostra. Erstad notou que, utilizando as orientações do Sistema
Compreensivo dizer ao testando que voltariam aos cartões e que ele deveria fornecer mais
respostas, podendo utilizar as respostas já fornecidas, se quisesse –, os participantes não
compreendiam claramente que deveriam repetir as respostas fornecidas anteriormente para
que estas fossem incluídas no protocolo da reaplicação; alguns participantes até disseram que
pensavam que as respostas da primeira aplicação seriam automaticamente incluídas. Assim
sendo, o examinador modificou as instruções fornecidas, incluindo esta orientação: “Se você
quiser que as respostas que você forneceu antes sejam incluídas, você deve dizê-las
novamente”. Este procedimento modificado parece ter resolvido a dúvida dos testandos sobre
as respostas fornecidas inicialmente.
No entanto,
[...] é opinião do investigador de que este encorajamento [pedido de mais respostas
na reaplicação] teve variados graus de sucesso. Para alguns sujeitos as respostas [na
reaplicação] foram melhores [...]. Em outras palavras, não apenas houve um
aumento no número de respostas; também houve uma melhora notável na riqueza
das respostas. Para outros sujeitos, houve um aumento no número de respostas, mas
essencialmente o protocolo foi tão defendido quanto o fornecido previamente. Nos
piores casos, não houve nem um aumento no número de respostas, nem na riqueza
do material das respostas. (ERSTAD, 1996, p. 135)
92
Erstad (1996) afirma que o procedimento de reaplicar o teste encorajando o
testando a fornecer mais respostas nunca foi testado em termos de sua eficiência em melhorar
a fidedignidade do protocolo. O autor, então, investigou esta questão em sua pesquisa.
O procedimento de encorajamento e reaplicação imediata foi experimentado com
participantes do grupo de idosos, mas não se mostrou proveitoso. Num dos casos, com 11
respostas, a reaplicação imediata resultou novamente em 11 respostas; no reteste, o
participante forneceu 13 respostas e não foi feita reaplicação. Em outro caso, o participante
demonstrou hostilidade frente à testagem e o examinador decidiu não realizar o
encorajamento e a reaplicação. Na verdade, “[...] em mais do que um caso, o examinador não
tentou encorajar o participante idoso a fornecer outro conjunto de respostas, porque parecia
improvável que isto produzisse resultados úteis” (ERSTAD, 1996, p. 106).
O estudo de Erstad apresenta, então, dados sobre os efeitos do encorajamento
apenas para o grupo de adultos de 18 a 55 anos de idade. Frente a um protocolo com menos
de 14 respostas, o examinador encorajou o participante a fornecer mais respostas e reaplicou o
Rorschach imediatamente. Realizou o inquérito deste novo protocolo e, posteriormente, o
inquérito das respostas fornecidas na primeira aplicação. Os participantes realizaram reteste
após um período de poucos dias.
Este estudo contou com apenas 11 protocolos, sendo que o procedimento de
encorajamento e reaplicação imediata foi realizado com 3 participantes. O autor estudou a
fidedignidade de teste-reteste para as categorias interpretativas, comparando os resultados de
casos cujos protocolos continham pelo menos 14 respostas obtidas sem encorajamento,
protocolos com menos de 14 respostas e protocolos com mais de 14 respostas obtidos com
encorajamento. Os níveis de fidedignidade de teste-reteste para as categorias interpretativas
foram semelhantes nestas três situações, e todos mais baixos do que os reportados nas
pesquisas de Exner. Assim sendo, Erstad concluiu que o procedimento de solicitar mais
respostas e reaplicar o Rorschach imediatamente não contribui para melhorar a fidedignidade
de teste-reteste.
Frente ao número pequeno de participantes, seria mais sensato dizer que o estudo
apresentou limitações e não permite concluir se o procedimento de encorajamento e
93
reaplicação imediata é eficiente o que é diferente de concluir que este procedimento é
ineficiente.
Janson e Erdberg (1998, apud Grønnerød, 2003a)
51
reportaram alta estabilidade
para os resultados em um grupo de crianças com protocolos com poucas respostas e sugeriram
que, para certos indivíduos, fornecer poucas respostas seria um estilo de resposta específico e
estável.
A partir de sua metanálise sobre a estabilidade temporal do Rorschach, Grønnerød
(2003a) concluiu que a questão dos protocolos com poucas respostas permanece aberta,
necessitando de mais pesquisas.
A questão de o número de respostas fornecidas interferir nos escores do
Rorschach gerou muito debate (ver: Cronbach, 1949; Fiske e Baughman, 1953; Lipgar, 1992;
Meyer, 1992b; Exner, 1992; Kinder, 1992). Exner (1978) afirmou que, com o procedimento
de aplicação do Sistema Compreensivo, o número de respostas é menos variado do que em
outros sistemas. Posteriormente, Exner (1992) mostrou que R apresenta correlações baixas
com os outros escores do SCR, ou seja, a interferência de R nos resultados seria mínima.
McGuire et al. (1995) afirmam que a questão da interferência do número de
respostas nos escores é mais complexa do que até então foi conceituada, porque as respostas
diferem em termos de sua complexidade: alguns indivíduos, por exemplo, fornecem
protocolos com poucas respostas, mas muitas delas são respostas complexas; outros
indivíduos fornecem muitas respostas, mas a maioria delas é simples.
De modo contrário a Exner, Meyer (1992b) destacou a interferência de R nos
escores do Rorschach. Posteriormente, esta discussão tornou-se mais complexa, ao considerar
os estilos de resposta ao Rorschach e o engajamento na tarefa.
51
JANSON, H,; ERDBERG, P. Recoding Rorschachs from a longitudinal study into the Comprehensive
System: Intercoder agreement and temporal stability. Relatório não publicado. Stockholm: Stockholm
University, 1998.
94
5.5.4. Os estilos de resposta, o engajamento na tarefa e a estabilidade temporal
Meyer (1997a, p. 301) afirma:
[...] os escores do Rorschach são bastante dependentes da habilidade dos pacientes
de espontaneamente se engajarem na tarefa e articularem as respostas. Dificuldades
cognitivas e emocionais que interferem com a articulação verbal, espontaneidade
comportamental ou engajamento na tarefa comprometem a acurácia dos escores [...].
Refletindo sobre a freqüente discordância entre os resultados do Rorschach e do
MMPI, Meyer (1996) afirma que estas divergências em parte decorrem de diferentes métodos
de avaliação fornecerem perspectivas únicas dos mesmos fenômenos. Além disso, os
testandos podem apresentar estilos de resposta diferentes no Rorschach e no MMPI e estes
estilos de resposta moderam as correlações entre os resultados dos dois testes (MEYER,
1997a).
Meyer (1997a, p. 306) define os estilos de resposta ao Rorschach:
Alguns pacientes mostram-se situacionalmente bastante constritos ou desconfiados
sobre quais informações serão deles obtidas. Apresentam poucas respostas, mínimo
investimento na tarefa, resistência ao inquérito, e mínima articulação dos
determinantes (estilo 1-R). Outros apresentam comportamentos manifestos
semelhantes, embora a causa seja muito diferente, provindo de recursos internos
genuinamente limitados ou empobrecidos e [de uma experiência de] desconcerto
com o caráter abstrato e a complexidade da tarefa (estilo 2-R). Outros pacientes são
articulados, esforçam-se para trabalhar cooperativamente com o examinador,
mantêm um engajamento ativo com a tarefa e espontaneamente fornecem respostas,
articulam os determinantes e sintetizam [combinam, relacionam] áreas da mancha de
acordo com suas predileções internas (estilo 3-R). Ainda outros se esforçam
conscientemente para ser dramáticos, completos, criativos ou chocantes em suas
respostas ao teste. Conseqüentemente, eles parecem altamente engajados na tarefa e
fornecem muitas respostas estruturalmente complexas e sintetizadas [áreas da
mancha relacionadas] (estilo 4-R). Finalmente, alguns outros pacientes também
parecem altamente engajados na tarefa, produzindo protocolos longos e complexos.
Contudo, seu engajamento provém de uma propensão inconsciente a descarregar
estados internos caóticos, como se a tarefa abrisse seus frágeis limites psicológicos e
liberasse uma torrente de percepções carregadas de emoções (estilo 5-R).
95
Meyer (1999) enfatiza que estes estilos de resposta podem ser tanto manipulações
deliberadas quanto manifestações da estrutura intrínseca do caráter, então os denomina estilos
de resposta/caráter (response-character styles).
Para definir os estilos de resposta, Meyer (1997a) considerou o fator principal
obtido em sua análise fatorial do Rorschach (apresentada em Meyer, 1992a). Este fator foi
inicialmente nomeado articulação das respostas (response articulation); posteriormente,
Meyer (1997a) afirmou que engajamento nas respostas (response engagement) ou
complexidade das respostas (response complexity) seriam nomes mais adequados ao fator.
Sultan et al. (2006) o denominaram engajamento na tarefa. Os estilos 1 e 2 apresentam níveis
baixos de engajamento na tarefa, o estilo 3 apresenta veis médios de engajamento na tarefa
e os estilos 3 e 4 apresentam níveis altos de engajamento na tarefa.
Meyer (1999) afirma que um modo mais simples e direto para definir os estilos de
resposta seria utilizar R e Lambda. Os estilos 1 e 2 correspondem a R baixo e Lambda alto; o
estilo 3 corresponde a R médio e Lambda médio; os estilos 4 e 5 correspondem a R alto e
Lambda baixo.
Esta contribuição importantíssima de Gregory Meyer ao entendimento dos
resultados do Rorschach certamente inspirou Sultan et al. (2006) a investigarem o papel que o
engajamento na tarefa desempenha na estabilidade temporal do SCR. Encontraram que tanto o
nível de engajamento na tarefa, quanto mudanças no engajamento de uma testagem à outra,
moderam a estabilidade temporal de algumas variáveis do SCR.
5.5.5. Fatores situacionais interferindo nos resultados dos estudos de teste-reteste
Nas décadas de 1940 e 1950 foram realizadas muitas pesquisas sobre a
interferência de fatores situacionais nos resultados dos testes projetivos. Estas pesquisas
foram revistas por Joseph Masling em seu artigo The influence of situational and
interpersonal variables in projective testing, publicado em 1960. As pesquisas revisadas
são variadas: algumas utilizaram modificações nas instruções, solicitando que os testandos
buscassem fornecer respostas com determinados tipos de localizações, determinantes ou
96
conteúdos; outras solicitaram que os testandos buscassem produzir determinada impressão,
positiva ou negativa, no examinador; outras examinaram os resultados obtidos por testandos
submetidos a situações estressantes, sob efeito de drogas ou sob efeito de hipnose; outras
verificaram a influência dos estímulos na sala de espera sobre os resultados; outras
investigaram a influência de características físicas dos examinadores nos resultados por eles
obtidos; outras investigaram a diferença nos resultados obtidos por examinadores “calorosos
versus “frios” (encontrando que os examinadores mais calorosos obtinham respostas em
maior número, mais criativas e com mais indicadores de facilidade para se relacionar).
Masling concluiu que os fatores situacionais e interpessoais influenciam os testes projetivos e
buscou compreender esta influência:
Existem evidências consideráveis de que os sujeitos, numa situação não-estruturada
utilizarão todas as dicas disponíveis para completar as tarefas a eles designadas. O
sujeito na situação de testagem projetiva não apenas utilizará aquelas dicas
fornecidas pela mancha de tinta ou figura, mas também aquelas fornecidas por seus
sentimentos sobre o examinador, aquelas fornecidas por suas necessidades, atitudes
e medos, aquelas contidas nas instruções, na sala, no conhecimento prévio sobre o
teste, e aquelas dicas fornecidas conscientemente ou inconscientemente pelo
examinador. (MASLING, 1960, p. 81)
Exner (1978, 2003) também comenta sobre a interferência de fatores situacionais
nos resultados do Rorschach.
Em primeiro lugar, pesquisas indicavam que diferentes examinadores obtinham
resultados diferentes.
Outras pesquisas importantes foram as que encontraram que comportamentos
verbais e não-verbais do examinador podem interferir nos resultados. Wickes (1956)
encontrou que o examinador dizer “bom” (good) ou “excelente” (fine), ou sorrir ou balançar a
cabeça em sinal de assentimento, quando o testando fornecia respostas de conteúdo humano,
produziu um aumento na freqüência dessas respostas ou seja, as respostas de conteúdo
humano foram reforçadas pela aprovação do examinador. Pesquisas semelhantes foram
realizadas por Gross (1959), Simkins (1960), Dinoff (1960), Magnussen (1960) e Hersen e
Greaves (1971), com resultados semelhantes.
97
Masling (1965) investigou o efeito que as expectativas dos examinadores podem
ter nos resultados dos protocolos por eles obtidos. Instruiu 7 estudantes de psicologia dizendo
que examinadores experientes obtinham mais respostas de conteúdo humano do que respostas
de conteúdo animal; a outros 7 estudantes foi dito que examinadores experientes obtinham
mais respostas de conteúdo animal do que respostas de conteúdo humano. Cada estudante
testou dois participantes e as sessões de aplicação foram gravadas. Os dois grupos de
examinadores diferiram entre si na direção esperada, obtendo mais respostas do conteúdo que
supunham ser obtido por examinadores mais experientes. Analisando as gravações, Masling
não encontrou evidências de reforçamento verbal, então concluiu que as diferenças nos
resultados decorreram de reforçamento não-verbal das respostas.
Exner (2003) menciona um estudo
52
de replicação do estudo de Masling (1965).
Como no estudo original, os estudantes foram informados de que examinadores experientes
obtinham mais respostas de conteúdo humano/animal, mas nesta replicação foram utilizados
quatro grupos de examinadores: em dois grupos, os examinadores aplicaram o Rorschach
sentados na frente dos testandos; nos outros dois grupos, os examinadores sentaram-se ao lado
dos testandos. Cada examinador testou 3 participantes e as aplicações foram gravadas em
vídeo. Os resultados foram semelhantes aos do estudo de Masling somente para os
examinadores que aplicaram o Rorschach sentados em frente aos testandos e a gravação em
vídeo mostrou que o examinador emitia comportamentos não-verbais que reforçavam a
resposta que o examinador supunha ser obtida por examinadores experientes.
Vemos então que comportamentos verbais e não-verbais do examinador podem
reforçar determinados tipos de respostas. Isto pode ser um dos fatores responsáveis pelas
diferenças nos resultados obtidos por diferentes examinadores (EXNER, 2003). Desde sua
formulação em 1974, o procedimento de aplicação Sistema Compreensivo do Rorschach foi
escolhido de modo a tentar diminuir esta interferência do examinador nos resultados:
[...] o sujeito e o examinador sentarem lado a lado, assim reduzindo o potencial de
reforçamento não-verbal, e [o procedimento de] minimizar a complexidade das
52
EXNER, J. E. Jr.; LEURA, A. V. ; GEORGE, L. M. A replication of the Masling study using four groups
of new examiners with two seating arrangements and video examination. Workshops Study No. 256. Estudo
não publicado. Rorschach Workshops, 1976.
98
instruções, assim reduzindo o potencial para um ‘predisposição’ (‘set’) direta, tende
a reduzir a variância no número de respostas e limita o potencial de influência do
examinador” (Exner, 1978, p. 39-40).
Na literatura mais recente, não encontramos mais esta discussão sobre as
interferências da situação de testagem e do examinador nos resultados. No entanto, Meyer
(1997a, 1999) discute a questão dos estilos de resposta, que remete ao modo como o testando
responde à situação de testagem, e que tem implicação direta nos resultados.
Na pesquisa de Sultan et al. (2006) alguns aplicadores obtiveram protocolos com
níveis menores de TE, R e EA. Como os participantes foram testados por aplicadores
diferentes no teste e no reteste, estas diferenças entre os aplicadores, embora produzissem
alterações pequenas nos resultados, contribuíram para diminuir a estabilidade temporal.
Algumas pesquisas de Exner e seus colaboradores investigaram outro aspecto da
relação entre testando e examinador, e as interferências nos resultados: o caso de o testando
conhecer o examinador.
Examinador conhecido versus desconhecido
Dois estudos do Sistema Compreensivo investigaram os efeitos de o testando ser
avaliado por uma pessoa conhecida: Exner, Armbruster e Mittman (1978) investigaram os
efeitos de terapeutas testarem seus pacientes, e Leura e Exner (1978, apud Exner, 2003)
53
investigaram os protocolos de alunos do ensino médio (high school) testados por seus
professores. Nestes dois estudos, algumas variáveis do Rorschach alcançaram veis muito
mais altos quando os participantes foram testados pelos examinadores conhecidos.
Aparentemente, então, quando o indivíduo se sente emocionalmente ou intelectualmente
próximo ao examinador, tende a fornecer mais respostas e a se revelar mais (EXNER, 2003).
53
LEURA, A. V.; EXNER, J. E. Structural differences in the records of adolescents as a function of being
tested by one’s own teacher. Rorschach Workshops Study No. 265. Estudo não publicado. Rorschach
Workshops, 1978.
99
Erstad (1996), em seu estudo sobre as respostas de idosos ao Rorschach, testou
participantes conhecidos e desconhecidos Os participantes que conheciam o examinador eram
membros de uma congregação religiosa e o examinador, no caso o próprio Duane Erstad, era
o pastor desta congregação. Os participantes que não conheciam o examinador eram parentes
ou conhecidos dos membros da congregação. O autor levantou os resultados para R, M,
WSumC, SumColor, Blends, W, Dd, Sx, P e sombreado excluindo textura para os participantes
que conheciam o examinador e os comparou com as normas do SCR, encontrando diferenças
apenas para Dd e sombreado excluindo textura (este último na direção oposta à prevista).
Infelizmente, Erstad não comparou os resultados destes participantes com os daqueles que não
conheciam o examinador, o que seria um modo melhor de investigar a influência de ser
testado por um examinador conhecido.
Erstad (1996) Comparou também a estabilidade temporal dos protocolos de
participantes que conheciam o examinador com a de participantes que não conheciam o
examinador. Os resultados são apresentados na Tabela 21. As estimativas de estabilidade
temporal não foram diferentes entre os grupos, tanto comparando os valores médios dos
coeficientes, quanto comparando o número de coeficientes maiores num grupo em relação ao
outro.
Considerando o número pequeno de participantes em cada subgrupo e lembrando
que as estimativas de estabilidade temporal em amostras pequenas são pouco precisas, seria
mais sensato dizer que o estudo não teve poder suficiente para responder à questão sobre a
eventual interferência de os participantes conhecerem o examinador.
100
Tabela 21 – Estabilidade temporal de 26 variáveis do SCR em duas amostras norte-americanas
Grupo Participantes com mais de 60 anos 18 a 55 anos
Examinador Desconhecido Conhecido Total
N 6 11 17 11
R 0,92 0,90 0,90 0,82
P 0,57 0,90 0,77 0,36
Zf 0,86 0,79 0,70 0,67
F 0,94 0,78 0,80 0,58
M 0,82 0,50 0,75 0,56
FM 0,69 0,67 0,68 0,40
m -0,10 0,69 0,45 0,73
a 0,75 0,71 0,72 0,49
p 0,36 0,89 0,75 0,64
FC -0,09 0,23 0,08 0,81
CF 0,46 0,52 0,42 0,19
C 0,63 1,00 0,95 0,44
CF+C 0,08 0,74 0,62 0,39
WSumC 0,18 0,88 0,75 0,53
SumT 0,62 0,83 0,70 0,92
SumC’ 0,71 0,66 0,67 0,02
SumY 0,40 0,50 0,40 0,39
SumV 0,71 0,52 0,57 0,85
Lambda 0,61 0,35 0,46 0,23
X+% 0,85 0,48 0,63 0,47
Afr 0,16 0,54 0,48 0,79
3r+(2)/R 0,68 0,61 0,60 0,68
EA 0,56 0,88 0,73 0,44
es 0,90 0,70 0,80 0,68
D-score 0,00 0,34 0,22 0,54
AdjD -0,50 0,29 0,02 0,53
Media 0,49 0,65 0,60 0,54
DP 0,38 0,21 0,23 0,22
Mediana 0,62 0,68 0,68 0,54
Fonte: Erstad (1996)
5.5.6 Questões estatísticas que interferem com as estimativas de estabilidade temporal
Os estudos com delineamento do tipo teste-reteste costumam utilizar como
medida a correlação. Assim sendo, agora iremos apresentar alguns aspectos estatísticos que
interferem nas correlações.
A correlação e o problema da restrição da faixa de valores
A correlação informa sobre o quanto duas variáveis estão relacionadas. Outra
definição seria dizer que a correlação informa sobre o quanto uma variável muda em função
da outra. Vê-se, portanto, que correlação implica haver variação dos valores das variáveis
101
(NUNNALLY, 1975). Nos casos em que há pouca variação dos valores de uma ou das duas
variáveis, o coeficiente de correlação pode apresentar valores baixos. Este é o problema de
restrição da faixa de valores: quando uma variável apresenta poucos valores, esta menor
variabilidade costuma gerar coeficientes de correlação baixos.
Anastasi e Urbina (2000) exemplificam o problema de a variabilidade dos valores
interferir diretamente nas correlações. A Figura 1, adaptada da Figura 4.5 apresentada na
página 101 do livro Testagem Psicológica, apresenta um diagrama de dispersão de valores
54
e expõe como, restringindo o intervalo de valores, o coeficiente de correlação diminui.
Figura 1: O efeito de um intervalo restrito sobre um coeficiente de correlação
/ /
/ / // /
/ / // /
/ / / // // //
/ // / / // // //
// // / // // // // //
/ // / / // // //
// / // // // // //
/ // // / /// // / /
/ // / // /// // / / /
/ // // // // / // / /
// / // /// // / // /
// // // /// // // // /
// /// / / // // / /
/ // // // // /// // //
/ // // /// // // // /
/ // // /// // // // /
/ / // // // // /// // //
/ // // /// // // // /
/ / / // // /// /
// /// // // /// /// /
// // /// // // /
/ // / / / /
/ / // / // //
/ / // / / /
/ // // /
Fonte: Anastasi e Urbina (2000), p. 101 [modificado]
54
No diagrama de dispersão de valores, cada ponto representa um caso. Sua posição no gráfico indica o valor no
eixo horizontal (valor da primeira variável correlacionada) e o valor no eixo vertical (valor da segunda variável
variável correlacionada). Na Figura 1, em vez de pontos utilizamos barras verticais inclinadas, para representar
os casos.
102
O exame do digrama de dispersão hipotético apresentado [...] ilustrará melhor como
os coeficientes de correlação dependem da variabilidade, ou da extensão das
diferenças individuais, dentro do grupo. Este diagrama de dispersão mostra uma alta
correlação positiva no grupo inteiro, heterogêneo, uma vez que os registros estão
estreitamente agrupados na diagonal que vai do canto inferior esquerdo para o
campo superior direito. Se, agora, nós considerarmos apenas o subgrupo situado
dentro do pequeno retângulo na porção superior direita do diagrama, fica aparente
que a correlação entre as duas variáveis é próxima de zero. (ANASTASI; URBINA,
2000, p. 100)
Muitas variáveis do SCR apresentam distribuições com poucos valores e
predomínio de valores baixos. Por exemplo, SumC’ pode apresentar, em amostras de adultos
não-pacientes, uma distribuição semelhante à da Figura 2. A distribuição apresenta assimetria
positiva, ou seja, predominam valores baixos. Exner denomina este tipo de distribuição curva
J (o formato é o de um J em espelho). Este formato da distribuição dos valores pode diminuir
as correlações de teste-reteste.
Figura 2: Distribuição dos valores de SumC’ numa amostra de adultos não-pacientes
543210-1
SumC'
20
15
10
5
0
Freqüencia
103
A correlação e o problema das distribuições de valores assimétricas
Dunlap, Burke e Greer (1994) demonstraram que a assimetria tem um efeito
supressor nas correlações. Afirmam:
“[...] a correlação máxima ocorre quando ambas as variáveis não apresentam
assimetria. A correlação é um pouco menor quando ambas as variáveis são
assimétricas na mesma direção, mas a correlação é dramaticamente menor quando a
assimetria [das variáveis] ocorre em direções opostas” (DUNLAP; BURKE;
GREER, 1995, p. 367).
Meyer e Archer (2001) comentam que variáveis do Rorschach com faixa restrita
de valores e assimetria podem produzir correlações de teste-reteste artificialmente baixas, que
não revelam a verdadeira magnitude da associação. Recomendam então que se analise a
estabilidade temporal observando o número de participantes que permanecem na mesma faixa
interpretativa no teste e no reteste, em vez de calcular a correlação.
104
6. PESQUISAS BRASILEIRAS COM O SCR
Algumas pesquisas realizadas no Brasil com o Sistema Compreensivo do
Rorschach detiveram-se no estudo de grupos clínicos: Nascimento (1993) estudou pacientes
bipolares, Guntert (1996) estudou crianças com nódulo vocal, Bocchi (1998) estudou
pacientes com queixa de disfunção da articulação temporomandibular, Silva Neto (1999)
estudou jogadores patológicos, Semer (1999) estudou crianças enuréticas, Duarte (2000)
estudou mães de crianças autistas, Gazire (2000) estudou pacientes com síndrome do intestino
irritável, Rosenthal (2000, 2007) estudou pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo,
Santoantonio (2001) estudou adolescentes com lúpus, Godinho (2003) estudou pacientes com
alopécia areata, Farah (2004) estudou pacientes com transtorno do pânico, Antúnez (2004)
estudou portadores de transtorno obsessivo-compulsivo, Passos (2005) estudou pacientes
obesos com transtorno de compulsão alimentar periódica, Brunori (2006) estudou portadores
de transtorno invasivo do desenvolvimento e Hisatugo (2007) estudou pacientes ambulatoriais
depressivos.
Outras pesquisas estudaram indivíduos não-pacientes: Campagna (2003) estudou
aspectos da organização da identidade feminina no início da adolescência, Rocha Jr. (2004)
estudou religiosidade e personalidade de universitários e Silva (2005) avaliou estudantes de
psicologia, buscando relações entre características de personalidade e desempenho nos
estágios em psicoterapia. Na área da Psicologia do Trânsito, Lamounier (2005) estudou
motoristas infratores e não-infratores. Na área jurídica, Durat Jr. (2006) estudou adolescentes
infratores.
Castro (2006) realizou um levantamento das pesquisas com o SCR apresentadas
nos eventos da Associação Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos (ASBRo).
Encontrou um aumento no número de trabalhos com este sistema. Comenta que
O aumento da quantidade de trabalhos, embora discreto, é significativo, se
considerarmos que no período estudado [1995 a 2004], houve a apresentação do
Sistema Compreensivo para a comunidade científica brasileira, que absorveu essa
estratégia de trabalho com o método de Rorschach de maneira gradual, uma vez que
houve a necessidade de estudos e de formação específica, além da necessidade de
pesquisas normativas brasileiras. (CASTRO, 2006, p. 116)
105
A maioria dos trabalhos apresentados nos eventos da ASBRo foram casos
clínicos, seguidos de estudos empíricos. Predominaram trabalhos relacionados ao estudo de
psicopatologia. (CASTRO, 2006)
Notamos então o predomínio de pesquisas que utilizaram o Sistema
Compreensivo do Rorschach para investigar as características de personalidade de grupos
clínicos. A maioria destes estudos são, então, pesquisas com o método de Rorschach.
Contudo, também são necessárias pesquisas brasileiras sobre o método de Rorschach, ou seja,
estudos que investiguem as características psicométricas deste instrumento.
No processo de adaptação do Sistema Compreensivo do Rorschach ao Brasil,
aspecto importante é o levantamento de normas brasileiras. Nascimento (2002, 2004, 2006;
Nascimento et al., 2000, 2004) realizou pesquisa normativa, inicialmente com 200 indivíduos
adultos não-pacientes da cidade de São Paulo. A amostra foi composta por pessoas com idade
entre 17 e 65 anos, de ambos os sexos, de todos os estados civis e graus de escolaridade, de
diferentes níveis sócio-econômicos, e que não estavam em tratamento psiquiátrico ou
psicológico. Foram encontradas diferenças importantes entre os resultados desta amostra
brasileira e os resultados da amostra normativa norte-americana do Sistema Compreensivo.
Mais recentemente (Nascimento, 2007), a amostra foi ampliada com indivíduos do interior do
Estado de São Paulo.
O SCR vem sendo utilizado no Brasil tendo como embasamento as pesquisas
norte-americanas sobre fidedignidade e validade, supondo-se que este instrumento de
avaliação da personalidade funcione de modo semelhante com brasileiros. Evidentemente,
existe a necessidade de pesquisas brasileiras sobre sua fidedignidade e validade, pois estas
não devem ser supostas, mas sim demonstradas empiricamente.
A pesquisa normativa e algumas das pesquisas com grupos clínicos investigaram
a fidedignidade inter-codificadores. A Tabela 22 apresenta uma síntese das estimativas
obtidas, quando informadas nos trabalhos. Nas pesquisas, estão informados os valores de
fidedignidade inter-codificadores para códigos do SCR; na Tabela 22, apresentamos a média
dos valores de fidedignidade dos códigos, por segmentos da codificação. De modo geral, os
resultados encontrados foram adequados, indicando que diferentes avaliadores codificaram as
106
respostas de modo semelhante. Isto confirma que os critérios de codificação do Sistema
Compreensivo são claros, permitindo uma classificação objetiva das respostas.
Tabela 22 Valores médios de kappa para a fidedignidade inter-codificadores em pesquisas brasileiras
com o SCR
Loc DQ Det FQ Pair Cont P Z SS Média
Silva Neto (1999) 0,92 0,86 0,84 0,64 0,86 0,80 0,97 0,84 0,48 0,80
Duarte (2000) 0,70 0,80 0,72 0,64 0,92 0,74 0,84 0,82 0,53 0,75
SantoAntonio (2001) 0,85 0,73 0,84 0,67 0,82 0,83 0,82 0,91* 0,47 0,75
Antúnez (2004) 0,87 0,52 0,77 0,56 0,89 0,70 0,90 0,89 0,52 0,74
Lamounier (2005) 0,79 0,67 0,76 0,76 0,79 0,74 0,91 0,70 0,52 0,74
Durat Jr. (2006) 0,81 0,70 0,88 0,78 0,79 0,81** 0,77 0,68*** 0,78
Média 0,82 0,71 0,80 0,68 0,85 0,77 0,87 0,83 0,53 0,76
Loc = Localizações, DQ = Qualidade Evolutiva (Developmental Quality), Det = Determinantes,
FQ = Qualidade Formal (Formal Quality), Pair = pares, Cont = Conteúdos, P = Popular; Z =
notas Z, SS = Códigos Especiais (Special Scores).
* ICC. ** média da fidedignidade para os conteúdos humanos, animais e anatomia. *** média
da fidedignidade para os códigos COP, AG e MOR.
Outro aspecto importante da fidedignidade refere-se à estabilidade temporal dos
resultados. Além da necessidade de pesquisas brasileiras sobre fidedignidade dos testes
psicológicos utilizados no país, uma pesquisa sobre estabilidade temporal do SCR justifica-se
porque esta questão ainda é controversa: existem diferenças importantes entre os resultados
obtidos por Exner e seus colaboradores, e os resultados obtidos por outros grupos de
pesquisadores. Cabe ainda destacar a pesquisa recente de Sultan et at. (2006) com adultos
franceses, que encontrou resultados mais baixos de estabilidade temporal do que os resultados
norte-americanos, colocando a questão de uma eventual interferência de diferenças culturais
(anglo-saxões versus latinos) nos resultados e no próprio funcionamento do SCR nestas
diferentes populações.
107
7. JUSTIFICATIVA
Considerando, então,
A importância de se conhecer a fidedignidade de qualquer teste
psicológico;
A inexistência de pesquisas sobre a estabilidade temporal do Sistema
Compreensivo do Rorschach com indivíduos brasileiros;
A importância de estudos de replicação sobre a estabilidade temporal do
SCR;
Esta pesquisa visa estudar a estabilidade temporal das variáveis do Sistema Compreensivo do
Rorschach numa amostra de indivíduos da cidade de São Paulo.
8. OBJETIVO
Investigar a estabilidade temporal das variáveis do SCR.
Este estudo é de natureza exploratória. Isto significa que não formulamos
hipóteses sobre os resultados esperados nesta pesquisa e que realizamos análises adicionais a
partir dos resultados obtidos.
108
9. MÉTODO
9.1. Amostra
Um dos grupos mais importantes para se estudar a estabilidade temporal é o de
adultos não-pacientes, porque se espera que este grupo apresente estabilidade em seu
funcionamento psicológico e, consequentemente, estabilidade nos resultados do Rorschach.
Assim sendo, optamos por estudar adultos não-pacientes.
9.1.1. Recrutamento dos participantes
A maior dificuldade para se realizar uma pesquisa como esta é recrutar os
participantes. Além de os brasileiros estarem pouco acostumados com situações de pesquisa, e
muito menos ainda com situações de realização de testes psicológicos, nesta pesquisa
deveriam realizar o Rorschach duas vezes, por se tratar de um estudo com delineamento de
teste-reteste. Assim sendo, pensamos que um atrativo para recrutar os participantes seria
oferecer os resultados da avaliação. Também optamos por realizar a pesquisa num local em
que teríamos maior facilidade para divulgá-la: uma universidade particular da cidade de São
Paulo
55
.
Uma explicação sobre a pesquisa e convite para a participação voluntária foi
enviada a todos os funcionários da universidade por e-mail. Além disso, foi marcada uma
reunião com os funcionários da limpeza, na qual a pesquisa foi a eles apresentada pela
coordenadora de recursos humanos, acompanhada pelo pesquisador. Também foi aberta a
possibilidade de participação de outras pessoas, externas à universidade os próprios
funcionários poderiam divulgar a pesquisa para familiares e conhecidos e convidá-los a
participar. Os interessados deveriam entrar em contato com a secretaria da Clínica de
Psicologia da universidade e agendar horário para a primeira entrevista.
55
Visando preservar o sigilo dos participantes, optamos por omitir o nome desta universidade.
109
9.2. Instrumentos
Entrevista para coleta de dados sócio-demográficos.
Método de Rorschach (Sistema Compreensivo).
9.3. Procedimento
9.3.1. Entrevista e aplicações do método de Rorschach
Os indivíduos dispostos a participar da pesquisa deveriam agendar uma primeira
entrevista. Nesta, foram novamente informados sobre: a) o objetivo da pesquisa: investigar se
os resultados de um teste de personalidade se mantêm ou mudam com o teste sendo realizado
em dois momentos diferentes; b) o modo como seria realizada: o teste seria aplicado duas
vezes; após a segunda aplicação, haveria uma entrevista para a comunicação dos resultados;
c) o caráter voluntário da participação. Estando informados e de acordo, os interessados
deveriam assinar o Termo de Consentimento Livre e Informado
56
.
No dia da primeira entrevista, foram coletadas informações sócio-demográficas,
ocupacionais, sobre o estado de saúde e eventuais tratamentos psiquiátricos ou psicológicos.
Neste primeiro encontro também ocorreu a primeira aplicação do método de Rorschach. Esta
aplicação foi realizada pelo autor desta pesquisa, seguindo-se as instruções do Sistema
Compreensivo (Exner, 1999b):
[Trecho suprimido na versão online]
56
O projeto desta pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Informado foram aprovados pelo Comitê de
Ética do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O Termo de Consentimento Livre e Informado
encontra-se no Apêndice F.
110
[Trecho suprimido na versão online]
O reteste foi previsto para ocorrer após entre 3 e 4 meses. Estas segundas
aplicações do Rorschach também foram realizadas pelo autor desta pesquisa.
9.3.2. Codificação dos protocolos do Rorschach e cálculo da fidedignidade inter-
codificadores
Todos os protocolos obtidos foram codificados pelo autor da pesquisa. Foram
sorteados, 10 protocolos do teste e 10 protocolos do reteste, que foram então codificados por
um outro avaliador, sem conhecimento das codificações realizadas pelo primeiro avaliador.
Estas duas classificações independentes foram então comparadas, avaliando-se a
fidedignidade inter-codificadores. Para o cálculo da fidedignidade inter-codificadores,
utilizamos o software Rorschach Research Utilities (RRU) versão 1.0.2, desenvolvido por
Harald Janson. As codificações das respostas, agrupadas por protocolo e por avaliador, são
introduzidas no programa, que realiza os cálculos das estatísticas de fidedignidade inter-
codificadores.
111
Também confrontamos as respostas do teste com as do reteste e classificamos se
cada resposta era igual a ou diferente às respostas fornecida na outra testagem. O critério para
considerar duas respostas como sendo iguais é o seguinte:
“[...] uma mesma resposta [resposta igual] foi definida como aquela com conteúdo
idêntico ao fornecido no teste, usando a mesma ou quase a mesma área de
localização (conteúdo idêntico significando o mesmo conteúdo específico em vez de
a mesma categoria de codificação de conteúdo). Em outras palavras, uma resposta
de dois homens brigando, no teste, usando a área popular do cartão III, seria
considerada a mesma resposta que dois homens trabalhando à noite, usando a
mesma área, no reteste, mesmo que a segunda resposta inclua um determinante de
cor acromática ou de sombreado-difuso. De modo contrário, se a resposta no teste 2
[reteste], usando a mesma área, fossem duas mulheres dançando, a resposta seria
considerada diferente. De modo semelhante, um morcego, fornecido ao cartão I
como um todo, seria considerado a mesma resposta que um morcego à noite,
fornecida à mesma área no teste 2, enquanto uma borboleta, usando a área W
[resposta global, em que se utiliza a mancha toda], seria considerada uma resposta
diferente no reteste em comparação com o teste”. (EXNER; WEINER, 1995, p. 37)
Sorteamos 5 conjuntos de protocolos de teste e reteste para que suas respostas
fossem classificadas, por um avaliador independente, em termos de serem iguais ou
diferentes, procedimento que serviu para avaliarmos a fidedignidade da codificação de
respostas iguais.
A partir da classificação das respostas como iguais ou diferentes, calculamos a
porcentagem de respostas iguais para cada um dos participantes.
112
9.3.3. Seleção das variáveis a serem investigadas
Para o estudo da estabilidade temporal, selecionamos 59 variáveis centrais do
SCR: R, Lambda, F, M, WSumC, EA, FM, m, SumC’, SumT, SumV, SumY, FM+m, SumSH,
es, Adjes, D-score, AdjD, FC, CF, C, CF+C, Afr, Blends, S, COP, AG, GHR, PHR,
HumanContent, Isolate/R, (2), EGO, Fr+rF, FD, MOR, H, (H)+Hd+(Hd), Zf, Zd, DQ+,
DQv, XA%, WDA%, X+%, X-%, Xu%, Popular, a, p, Intell, DV+DR, INC+FAB, Sum6,
WSum6, PTI, DEPI, CDI e S-CON.
Também selecionamos:
6 proporções para estudar sua estabilidade em termos de direcionalidade: EB,
EA : es, eb, a : p, FC : CF+C e H : (H)+Hd+(Hd).
7 variáveis para estudo da consistência das categorias interpretativas: Lambda,
estilo passivo, reflexos, EB, D-score, Zd e Textura.
6 Constelações para estudo da estabilidade em termos de seu status positivo
ou negativo (SCZI, DEPI, CDI, S-CON, HVI e OBS) e também o Índice de
Percepção e pensamento [ PTI ], que foi analisado em termos dicotômicos
(PTI < 3 versus PTI > 3).
9.3.4. Cálculos das variáveis do SCR e dos resultados do estudo da estabilidade temporal
As respostas dos protocolos da pesquisa foram codificadas pelo pesquisador e
estas codificações foram inseridas no programa de computador Rorschach Interpretive
Assistance Program for Windows (RIAP) versão 5.0. Este software checa eventuais falhas
na codificação por exemplo, omissão de algum elemento de codificação, inconsistências
entre os elementos de codificação de uma mesma resposta –, realiza os cálculos das variáveis
e fornece hipóteses interpretativas a partir da análise dos resultados obtidos comparados com
as normas norte-americanas. As codificações inseridas no RIAP foram checadas a fim de se
evitar eventuais erros na entrada dos dados.
Por meio do RIAP, obtivemos os valores das variáveis do Sumário Estrutural para
cada um dos protocolos. Estes valores foram então inseridos manualmente
no programa
113
Statistical Package for Social Sciences (SPSS). O RIAP também exporta algumas variáveis
para o SPSS e, neste programa, realizamos os cálculos das demais variáveis do SCR.
Contávamos então com dois bancos de dados da pesquisa: um deles inserido manualmente
pelo pesquisador e o outro com os dados exportados pelo RIAP e com cálculos realizados no
SPSS. Confrontamos os dois bancos de dados, de modo a checar erros na entrada destas
informações. Deste modo, detectamos erros na inserção manual dos dados, e problemas
decorrentes de o SPSS não ter realizado arredondamento ao calcular as variáveis do SCR.
Para corrigir estas discrepâncias detectadas, utilizamos os Sumários Estruturais gerados pelo
RIAP e realizamos as correções manualmente. Com todo este processo, garantimos que os
dados fossem corretamente inseridos no SPSS.
Em relação às variáveis do SCR, levantamos as seguintes informações:
1) Estatísticas descritivas das variáveis do SCR
2) Comparação das médias do teste com as médias do reteste, utilizando o teste t
de student para amostras pareadas.
3) Correlações produto-momento de Pearson e correlações de postos de
Spearman, que informam sobre a estabilidade temporal das variáveis do SCR.
Por fim, investigamos a direcionalidade das proporções, a consistência das
categorias interpretativas e a estabilidade das constelações consideradas em seu status positivo
ou negativo.
114
10. RESULTADOS
10.1. Características da amostra obtida
Prontificaram-se a participar da pesquisa 61 indivíduos. Contudo, 29 participantes
não foram incluídos, pois:
Cinco indivíduos realizaram o teste, mas não o reteste.
Cinco indivíduos estavam em tratamento psiquiátrico.
Um indivíduo estava em psicoterapia.
Um indivíduo realizou o reteste após 5 meses.
Seis indivíduos conheciam o examinador. Pesquisas indicam que conhecer o
examinador pode modificar os resultados do Rorschach. (Destes seis
indivíduos que conheciam o examinador, três apresentaram protocolos com
menos do que 14 respostas.)
Três indivíduos forneceram muitas respostas no teste e seguimos o
procedimento de retirar o cartão após a quinta resposta (Exner, 1999b, p. 18);
somente depois da aplicação, compreendemos que este procedimento não seria
indicado no nosso estudo. No reteste, não retiramos os cartões após a quinta
resposta, obtendo protocolos ainda mais extensos. Como utilizamos
procedimentos diferentes no teste e no reteste, decidimos excluir estes
protocolos da análise.
Seis indivíduos apresentaram menos de 14 respostas em uma ou ambas
testagens (além deles, outros três participantes, que conheciam o examinador,
forneceram protocolos com menos de 14 respostas e, então, foram excluídos da
amostra). Protocolos com menos de 14 respostas são considerados inválidos.
Estes protocolos foram analisados em outra parte desta pesquisa.
Um indivíduo, no início do reteste, conversou com o aplicador, expressando
sofrimento e solicitando ajuda. Neste caso, julgamos que esta situação de
maior envolvimento pessoal interferiu exageradamente com a situação de
testagem, enviesando os resultados, e decidimos excluir este protocolo da
amostra.
115
Um indivíduo respondeu ao reteste rapidamente, o que julgamos ser
decorrência de desinteresse. Este modo de responder provavelmente prejudicou
a validade dos resultados, e decidimos excluir este protocolo da amostra.
Obtivemos então 32 participantes compondo nossa amostra.
As informações sócio-demográficas foram obtidas no momento da primeira
testagem.
Dos 32 participantes, 25 (78%) eram funcionários da universidade onde se
realizou a pesquisa e 7 (22%) não eram funcionários, mas foram informados sobre a pesquisa
por meio de algum funcionário e quiseram participar; dentre estes 7 participantes que não
eram funcionários, 2 eram alunos da universidade. Nenhum dos participantes estava em
tratamento psiquiátrico ou em psicoterapia no momento da pesquisa, mas 10 participantes
(31%) informaram já ter realizado psicoterapia em outro momento.
Dos 32 participantes, 24 (75%) eram mulheres e 8 (25%) eram homens, com
idades entre 19 e 58 anos (média = 33,22, desvio-padrão = 11,22, mediana = 30,50).
Dezesseis participantes (50%) eram solteiros, 11 (34%) casados ou amasiados, 4 (13%)
separados e 1 (3%) viúvo. O nível de instrução variou de ensino fundamental incompleto até
pós-graduação completa (anos de instrução: média = 13,34, desvio-padrão = 4,33, mediana =
13,00). A renda familiar variou de R$ 505 até R$ 12 000 (média = R$ 3 683, desvio-padrão =
R$ 2 986, mediana = R$ 3 000). A partir da renda familiar informada pelo participante,
encontramos a classe do Critério de Classificação Econômica Brasil (Associação Brasileira de
Empresas de Pesquisa, 2003) com nível de renda médio mais próximo. Em nossa amostra, 6
participantes (19%) pertenciam à classe C, 13 (41%) à classe B e 13 (41%) à classe A, ou
seja, predominaram indivíduos das classes A e B. A Tabela 23 resume as características
sócio-demográficas dos participantes da nossa amostra.
116
Tabela 23 – Características sócio-demográficas dos participantes da nossa amostra
Variável
Idade
(em anos)
Mínimo = 19, Máximo = 58, Média = 33,22,
DP = 11,22, Mediana = 30,50
Anos de
Instrução
Mínimo = 5, Máximo = 23, Média = 13,34,
DP = 4,33, Mediana = 13,00
Estado Civil
Solteiros = 16 (50%)
Casados/Amasiados = 11 (34%)
Separados = 4 (13%)
Viúvos = 1 (3%)
Nível sócio-
econômico
f %
A 13 41
B 13 41
C 6 19
O intervalo entre as testagens variou de 90 a 130 dias, com média = 104 dias,
desvio-padrão = 11 dias e mediana = 104 dias.
10.2. Porcentagem de respostas iguais
As porcentagens de respostas iguais nos protocolos de teste e reteste variaram de
12% a 77%, com média = 47%, desvio-padrão = 16% e mediana = 50%.
Sorteamos 5 conjuntos de protocolos de teste e reteste para cálculo da
fidedignidade da classificação das respostas iguais. Um avaliador com formação em
Psicologia e conhecimentos de graduação sobre o método de Rorschach, mas sem experiência
de utilização do instrumento, leu o critério para classificar respostas iguais e realizou treino de
classificação de 1 conjunto de protocolos de teste e reteste, com supervisão do autor da
pesquisa. Posteriormente, realizou, de modo independente, a classificação das respostas dos 5
conjuntos de protocolos sorteados. A porcentagem de concordância entre a classificação do
autor e a do avaliador independente, para um total de 226 respostas dos 5 conjuntos de
protocolos de teste e reteste, foi de 83%, com kappa = 0,66, o que corresponde a um nível de
concordância substancial.
117
Observamos que algumas respostas com diversos elementos relacionados (por
exemplo: “duas pessoas carregando um cesto e uma borboleta voando no meio delas”) foram
fornecidas numa das testagens e, na outra testagem, os elementos apareceram em respostas
separadas (“duas pessoas”, “uma borboleta”); classificamos casos como este como sendo
respostas diferentes. Outras vezes, uma resposta foi fornecida de modo mais simples numa
das testagens (por exemplo, “dois tigres”) e, na outra testagem, a resposta fornecida continha
mais elementos (“dois tigres escalando um montanha”); casos como estes foram classificados
às vezes como sendo respostas iguais quando os elementos acrescentados foram julgados
como pouco importantes para a resposta como um todo –, às vezes como sendo respostas
diferentes quando os elementos acrescentados foram julgados como importantes para a
resposta como um todo. O critério para classificação de respostas iguais, fornecido por Exner
e Weiner (1995) deveria especificar melhor como proceder em situações como essas; a falta
de orientações precisas sobre como proceder nesses casos pode ter sido um fator responsável
por parte das discordâncias entre os avaliadores na classificação das respostas como iguais ou
diferentes.
Encontramos informações sobre a porcentagem de respostas iguais no teste e
reteste apenas nos estudos do SCR em que houve reteste após intervalo de poucos dias,
solicitando-se respostas diferentes: 1) Exner (1980) encontrou que crianças instruídas a
fornecer respostas diferentes no reteste apresentaram 14% de respostas iguais, enquanto que
crianças cujo reteste foi realizado com as instruções originais forneceram 86% de respostas
iguais; 2) Haller e Exner (1985) encontraram que os adultos instruídos a fornecer respostas
diferentes no reteste forneceram aproximadamente 1/3 de respostas iguais, enquanto os
participantes que realizaram o reteste com as instruções originais forneceram
aproximadamente 2/3 de respostas iguais. As porcentagens de respostas iguais nestes dois
estudos foram então maiores do que a encontrada na nossa pesquisa. O intervalo de poucos
dias entre o teste e o reteste nas pesquisas mencionadas deve ter contribuído para a maior
porcentagem de respostas iguais. Talvez, também, diferenças no entendimento do critério para
codificar as respostas como iguais tenham levado Exner e seus colaboradores a adotar uma
convenção de codificar como iguais respostas que nós codificaríamos como diferentes – o que
pode, em parte, explicar a porcentagem mais baixa de respostas iguais encontradas na nossa
pesquisa.
118
Janson e Stattin (1994, apud Grønnerød, 2003)
57
reportaram uma recorrência de
45% das respostas numa amostra de 20 participantes testados aos 18 e aos 35 anos de
idade.Uma parte da amostra de participantes, aqueles com vida estável, apresentou 54% de
respostas repetidas, enquanto que o restante dos participantes apresentou 35% de respostas
repetidas. A porcentagem de respostas iguais em nosso estudo foi semelhante à obtida neste
estudo.
10.3. Fidedignidade inter-codificadores
10.3.1 Fidedignidade inter-codificadores ao nível das respostas
Dez protocolos do teste e dez protocolos do reteste foram sorteados e codificados
por um avaliador independente. Estes 20 protocolos continham um total de 437 respostas.
Primeiramente, informamos a fidedignidade inter-codificadores para as decisões
dicotômicas de codificação (assinalar ou não assinalar o código), que corresponde também à
fidedignidade para os códigos individuais (Tabela 24). Esta análise foi denominada agreement
for single category, por Janson (2003). Cabe lembrar que, neste caso, os resultados de iota são
idênticos aos resultados de kappa.
Para a localização, a porcentagem de concordância foi maior que 94% para todos
os códigos e os valores de iota variaram de 0,81 para Dd a 0,98 para W, com média =0,90 e
mediana = 0,91
Para a qualidade evolutiva, a porcentagem de concordância foi maior do que 88%
para todos os códigos e os valores de iota variaram de 0,00 para DQv/+ a 0,76 para DQ+,
com média = 0,45 e mediana = 0,52.
57
JANSON, H.; STATTIN, H. Recurring objects in Rorschach records over a period of about 30 years: How
often do people report the same thing again? Rorschachiana 19: Yearbook of the International Rorschach
Society, p. 156-170. I. B. Weiner (editor). Göttingen, Alemanha: Hogrefe e Huber, 1994.
119
Para os determinantes, a porcentagem de concordância foi maior que 90% para
todos os códigos e os valores de iota variaram de 0,00 para C’F, TF e VF a 0,83 para M, com
média = 0,52 e mediana = 0,55.
Para a qualidade formal, a porcentagem de concordância foi maior do que 80% e
os valores de iota variaram de 0,00 para FQ+ a 0,79 para FQo, com média = 0,48 e mediana
= 0,58.
Para os pares, a porcentagem de concordância foi de 92%, com ι = 0,82.
Para os conteúdos, a porcentagem de concordância foi maior do que 96% e os
valores de iota variaram de 0,00 para Ex a 1,00 para Bl e Ge com média = 0,71 e mediana =
0,78.
Para Popular, a porcentagem de concordância foi de 93%, com ι = 0,77.
Para a atividade organizativa, houve concordância de 90% em termos de assinalar
ou não assinalar notas Z, com ι = 0,79.
Para os 6 códigos especiais críticos (DV, DR, INCOM, FABCOM, ALOG,
CONTAM), a porcentagem de concordância foi maior do que 96% e os valores de iota
variaram de -0,01 para DV1 e DR1 a 0,56 para FAB1, com média = 0,15 e mediana = 0,00.
Calculando a concordância para os códigos não levando em consideração as diferenças entre
nível 1 e nível 2, melhora apenas a concordância de INCOM, com ι = 0,71.
Para os demais códigos especiais assinalados (PSV, AB, AG, COP, MOR, PER,
GHR e PHR), a porcentagem de concordância foi maior do que 94%, com valores de iota de
0,00 para PSV a 0,77 para GHR, com média = 0,55 e mediana = 0,58.
Considerando todos os códigos especiais em conjunto, os valores de iota
apresentaram média = 0,36 e mediana = 0,53.
120
Tabela 24
fidedignidade inter-codificadores para decisões dicomicas de codificação
Códigos BR PA Iota
Localização
W 0,2883
0,9908
0,9777
D 0,5538
0,9542
0,9074
Dd 0,1579
0,9497
0,8109
S 0,0801
0,9863
0,9069
Qualidade Evolutiva
DQ+ 0,2082
0,9222
0,7643
DQo 0,7231
0,8902
0,7271
DQv/+ 0,0149
0,9703
-0,0042
DQv 0,0538
0,9291
0,3177
Determinantes
F 0,4600
0,9085
0,8162
M (ausente/presente) 0,1316
0,9611
0,8299
Ma 0,0412
0,9588
0,4810
Mp 0,0904
0,9474
0,6801
Map 0,0000
1,0000
FM (ausente/presente) 0,1602
0,9497
0,8129
FMa 0,0686
0,9588
0,6792
FMp 0,0915
0,9314
0,5898
FMap 0,0000
1,000
m (ausente/presente) 0,0423
0,9840
0,8025
ma 0,0252
0,9817
0,6277
mp 0,0172
0,9748
0,2544
map 0,0000
1,0000
Cor cromática (ausente/presente) 0,1487
0,9817
0,9278
FC 0,0767
0,9382
0,5645
CF 0,0595
0,9314
0,3934
C 0,0126
0,9886
0,5401
Cn 0,0000
1,0000
Cor acromática (ausente/presente) 0,0481
0,9817
0,8000
FC’ 0,0435
0,9817
0,7799
C’F 0,0046
0,9908
-0,0034
C’ 0,0000
1,000
Textura (ausente/presente) 0,0126
0,9931
0,7238
FT 0,0114
0,9954
0,7978
TF 0,0011
0,9977
0,0000
T 0,0000
1,0000
Vista (ausente/presente) 0,0183
0,9863
-0,6181
FV 0,0137
0,9863
0,4948
VF 0,0046
0,9908
0,0000
V 0,0000
1,0000
Sombreado Difuso ausente/presente) 0,0561
0,9474
0,5042
FY 0,0423
0,9382
0,2468
YF 0,0137
0,9817
0,3282
Y 0,0000
1,0000
FD 0,0252
0,9725
0,4415
Reflexos (ausente/presente) 0,0183
0,9954
0,8727
Fr 0,0149
0,9931
0,7658
rF 0,0034
0,9977
0,6656
BR: taxa de ocorrência (Base Rate)
PA: proporção de concordância (Proportion of Agreement)
121
Tabela 24
fidedignidade inter-codificadores para decisões dicomicas de codificação (continua)
Códigos BR PA Iota
Qualidade Formal
FQ+ 0,0011
0,9977
0,0000
FQo 0,4691
0,8947
0,7887
FQu 0,3261
0,8146
0,5783
FQ- 0,1865
0,8970
0,6607
FQnone 0,0172
0,9794
0,3918
Pares
(2) 0,3032
0,9245
0,8223
Conteúdos
H 0,0675
0,9840
0,8728
(H) 0,0320
0,9863
0,7787
Hd 0,0081
0,9748
0,8433
(Hd) 0,0297
0,9863
0,7622
Hx 0,0423
0,9657
0,5797
A 0,3753
0,9817
0,9610
(A) 0,0092
0,9954
0,7478
Ad 0,1018
0,9657
0,8125
(Ad) 0,0137
0,9954
0,8310
An 0,0767
0,9794
0,8545
Art 0,0389
0,9771
0,6940
Ay 0,0069
0,9908
0,3292
Bl 0,0046
1,0000
1,0000
Bt 0,0767
0,9886
0,9192
Cg 0,0366
0,9908
0,8703
Cl 0,0126
0,9977
0,9079
Ex 0,0023
0,9954
0,0000
Fi 0,0172
0,9977
0,9322
Fd 0,0126
0,9886
0,5409
Ge 0,0069
1,0000
1,0000
Hh 0,0149
0,9794
0,3023
Ls 0,0744
0,9703
0,7840
Na 0,0195
0,9657
0,1051
Sc 0,0263
0,9794
0,5986
Sx 0,0252
0,9863
0,7208
Xy 0,0080
0,9977
0,8560
Id 0,0286
0,9748
0,5471
Populares
P 0,1854
0,9314
0,7728
Atividade Organizativa
Assinalar uma nota Z 0,3947
0,9016
0,7941
BR: taxa de ocorrência (Base Rate)
PA: proporção de concordância (Proportion of Agreement)
122
Tabela 24
fidedignidade inter-codificadores para decisões dicomicas de codificação (conclusão)
Códigos BR PA Iota
Códigos Especiais
DV (ausente/presente) 0,0103
0,9794
-0,0072
DV1 0,0103
0,9794
-0,0072
DV2 0,0000
1,0000
DR (ausente/presente) 0,0172
0,9657
-0,0155
DR1 0,0149
0,9703
-0,0143
DR2 0,0023
0,9954
0,0000
INC (ausente/presente) 0,0286
0,9840
0,7119
INC1 0,0252
0,9771
0,5337
INC2 0,0034
0,9931
0,0000
FAB (ausente/presente) 0,0183
0,9817
0,4908
FAB1 0,0160
0,9863
0,5645
FAB2 0,0023
0,9954
0,0000
ALOG 0,0000
1,0000
CONTAM 0,0000
1,0000
PSV 0,0023
0,9954
-0,0023
AB 0,0069
0,9954
0,6646
AG 0,0195
0,9840
0,5815
COP 0,0172
0,9840
0,5261
MOR 0,0389
0,9680
0,5718
PER 0,0172
0,9840
0,5255
CP 0,0000
1,0000
GHR 0,1178
0,9519
0,7691
PHR 0,1144
0,9451
0,7290
BR: taxa de ocorrência (Base Rate)
PA: proporção de concordância (Proportion of Agreement)
Para a interpretação dos valores de iota, seguimos os parâmetros adotados por
Acklin et al. (2000) para a interpretação do kappa: valores menores do que 0,61 indicam
fidedignidade inaceitável, valores de 0,61 a 0,80 indicam fidedignidade substancial, e valores
maiores do que 0,80 indicam fidedignidade excelente.
Considerando as 104 decisões de codificação calculadas pelo programa RRU,
encontramos: fidedignidade excelente para 25 decisões de codificação (24%), substancial para
outras 25 decisões de codificação (24%), inaceitável para 43 decisões de codificação (41%) e
não pode ser calculada para 11 decisões de codificação (11%).
Em seguida, apresentamos a concordância para as decisões policotômicas de
codificação (Tabela 25). Janson (2003) denomina esta análise como agreement for multi-
category coding decisions. Os valores de iota indicam concordância substancial ou excelente
123
para a maioria das decisões de codificação, com exceção de vista, sombreado difuso e os
códigos especiais críticos.
Tabela 25 – Fidedignidade inter-codificadores para decisões policotômicas de codificação
Códigos PA iota
Localização (W, D, Dd) 0,9474 0,9101
DQ (+, o, v/+, v) 0,8558 0,6671
M (*, Ma, Mp, Map) 0,9336 0,7191
FM (*, FMa, FMp, FMap) 0,9199 0,7164
m (*, a, p, ap) 0,9703 0,6373
Cor (*, FC, CF, C, Cn) 0,9199 0,6997
Cor Acromática (*, FC’, C’F, C’) 0,9771 0,7511
Textura (*, FT, TF, T) 0,9931 0,7242
Vista (*, FV, VF, V) 0,9817 0,4935
Sombreado Difuso (*, FY, YF, Y) 0,9336 0,3839
Reflexos (*, Fr, rF) 0,9931 0,8096
FQ (+, o, u, -, none) 0,7918 0,6740
Z 0,8009 0,6758
DV (*, DV1, DV2) 0,9794 -0,0072
DR (*, DR1, DR2) 0,9771 0,5897
INC (*, INC1, INC2) 0,9657 -0,0139
FAB (*, FAB1, FAB2) 0,9817 0,4919
PA = proporção de concordância (Proportion of Agreement)
* Indica decisão de não assinalar o código
Em seguida, apresentamos a concordância para os segmentos da codificação
(Tabela 26). Janson (2003) denomima esta análise agreement for coding segments. Os valores
de iota encontrados indicam concordância substancial ou excelente para todos os segmentos,
exceto para os códigos especiais.
Tabela 26
Fidedignidade inter-codificadores para os segmentos da codificação
Segmento PA Iota
Localizações e espaço branco (2 variáveis) 0,9668 0,9095
Determinantes (11 variáveis) 0,9549 0,7098
Conteúdos (27 variáveis) 0,9850 0,8086
Códigos Especiais (14 variáveis) 0,9868 0,4627
Por fim, temos a concordância geral para as codificações do SCR, que Janson
(2003) denomina agreement for whole responses. Nesta pesquisa, a porcentagem de
concordância foi de 0,9687, com iota = 0,7473, que se situa na faixa de concordância
substancial.
124
10.3.2. Fidedignidade inter-codificadores ao nível do protocolo
Nesta análise, investigamos o grau de concordância dos resultados do Sumário
Estrutural. Para o seu modelo de análise de dois fatores (two way), o programa Rorschach
Research Utilities fornece a estatística iota e ICC (2,1). Os resultados são apresentados na
Tabela 27.
Tabela 27
Fidedignidade inter-codificadores para as variáveis do Sumário Estrutural
Agrupamento Iota ICC (2,1)
Seção Principal
R 1,0000 1,0000
Lambda 0,7048 0,7153
F 0,9054 0,9097
M 0,7547 0,7640
WSumC 0,8860 0,8911
EA 0,8798 0,8851
FM 0,9273 0,9307
m 0,8627 0,8687
FM+m 0,9067 0,9110
SumC’ 0,8814 0,8866
SumV 0,6954 0,7062
SumT 0,7500 0,7595
SumY 0,2600 0,2700
SumSH 0,8571 0,8633
es 0,9031 0,9075
Adjes 0,9383 0,9412
D-score 0,6975 0,7082
AdjD 0,6652 0,6765
Afeto
FC 0,7943 0,8025
CF 0,4654 0,4782
C 0,5098 0,5226
CF + C 0,6272 0,6391
Afr 1,0000 1,0000
Blends 0,8528 0,8592
S 0,8795 0,8848
Relações Interpessoais
COP 0,4167 0,4292
AG 0,3448 0,3565
GHR 0,5783 0,5908
PHR 0,7196 0,7299
HumanContent N/C N/C
Isolate/R 0,8434 0,8500
N/C = não calculado pelo programa RRU
125
Tabela 27
Fidedignidade inter-codificadores para as variáveis do Sumário Estrutural (conclusão)
Agrupamento Iota ICC (2,1)
Autopercepção
(2) 0,7843 0,7929
EGO 0,5981 0,6104
Fr + rF 0,9074 0,9116
FD 0,2857 0,2963
MOR 0,6267 0,6386
H 0,8478 0,8543
(H) + Hd + (Hd) 0,9286 0,9320
Processamento
Zf 0,8091 0,8169
Zd -0,0078 -0,0082
DQ+ 0,7958 0,8040
DQv 0,2953 0,3060
Mediação
XA% 0,5220 0,5348
WDA% 0,3987 0,4111
X+ 0,7762 0,7850
Xu% 0,3576 0,3695
X-% 0,6226 0,6346
Popular 0,7260 0,7361
Ideação
a 0,6756 0,6867
p 0,7186 0,7289
2AB+Art+Ay 0,6988 0,7095
Sum6 0,6350 0,6468
WSum6 0,7434 0,7531
Constelações
PTI 0,3987 0,4111
DEPI 0,5714 0,5839
CDI 0,6000 0,6122
S-CON 0,6856 0,6966
SCZI 0,7000 0,7107
Dentre as 57 variáveis do Sumário Estrutural, sobre as quais temos informação
dos valores de iota, 19 (33%) apresentaram fidedignidade inter-codificadores excelente e 22
(39%) apresentaram fidedignidade substancial. Contudo, 16 variáveis (28%) apresentaram
fidedignidade inadequada: SumY, CF, C, COP, AG, GHR, EGO, FD, Zd, DQv, XA%, WDA%,
Xu%, PTI, DEPI e CDI.
126
10.3.3 Comentário sobre os resultados do estudo da fidedignidade inter-codificadores
Os resultados da fidedignidade inter-codificadores indicaram concordância
substancial para a maioria das variáveis do SCR. Contudo, algumas variáveis apresentaram
fidedignidade insatisfatória. Em parte, a baixa fidedignidade para algumas codificações está
associada às baixas taxas de ocorrência dos códigos assinalados. A Figura 3 mostra a
fidedignidade das codificações (valores de iota) em função da taxa de ocorrência dos códigos.
Observamos que a concordância para os códigos com baixa taxa de ocorrência é bastante
variada e, à medida que aumenta a taxa de ocorrência, uma tendência no sentido de
aumento da concordância. Quando a taxa de ocorrência atinge 10%, os valores de iota são
quase todos maiores do que 0,60, indicando concordância substancial.
Observamos também que existem pontos fora desta tendência de aumento da
fidedignidade à medida que aumenta a taxa de ocorrência. No gráfico, correspondem a “picos
invertidos”, todos eles relativos à codificação da qualidade formal: FQ- apresentou taxa de
ocorrência = 19% e iota = 0,66; FQu apresentou taxa de ocorrência = 33% e iota = 0,58.
Devemos lembrar que a codificação da qualidade formal é realizada consultando-se a Tabela
de Qualidade Formal do Sistema Compreensivo, construída a partir de respostas de norte-
americanos. Quando a resposta encontra-se listada na Tabela, o código é diretamente
assinalado. Quando a resposta não se encontra na Tabela, nem é possível aproximar a resposta
fornecida a alguma resposta da Tabela, o avaliador deve decidir se a resposta pode ser vista
rápida e facilmente (codificada FQu) ou o (codificada FQ-). Suspeitamos que a menor
concordância encontrada para FQu e FQ- decorra destas respostas que não estão listadas na
Tabela e cuja qualidade formal assinalada depende do julgamento do avaliador. Este resultado
sugere também que a Tabela de Qualidade Formal norte-americana talvez não seja tão
adequada para brasileiros. A menor fidedignidade das codificações de FQu e FQ- refletiu-se
na menor fidedignidade de XA%, WDA%, Xu% e X-%.
127
Figura 3
Níveis de fidedignidade das codificações em função da taxa de ocorrência dos códigos
-0,20
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80
Taxa de ocorrência
Fidedignidade (iota)
A baixa taxa de ocorrência dos códigos parece ser um dos fatores responsáveis
pela baixa fidedignidade inter-codificadores obtida para os escores de SumY, CF, C, COP,
AG, FD e DQv. A baixa fidedignidade dos escores de GHR é de difícil compreensão: ao nível
das respostas, a codificação de GHR apresentou concordância substancial (ι = 0,77), porém,
ao nível do protocolo, a concordância diminuiu para ι = 0,59. Algo semelhante ocorreu para
EGO: ao nível das respostas, pares e reflexos apresentaram concordância excelente; porém,
estas variáveis compondo o Índice de Egocentricidade resultaram em baixa fidedignidade dos
escores de EGO. A menor concordância na codificação da qualidade formal refletiu-se em
baixa fidedignidade dos escores de XA%, WDA% e Xu%, e também prejudicou a
fidedignidade do Índice de Percepção e Pensamento [PTI], que envolve os índices de
qualidade formal. A menor fidedignidade do Índice de egocentricidade [EGO] e de
sombreado difuso [SumY] também deve ter contribuído para a fidedignidade insuficiente do
Índice de Depressão [DEPI], do qual estas variáveis participam. A menor fidedignidade de
FC, CF, COP e AG deve ter contribuído para a menor fidedignidade do Índice de Déficit
Relacional [CDI], do qual participam.
McDowell e Acklin (1996) destacam fatores influenciam a fidedignidade inter-
codificadores: treino dos avaliadores, semelhança em termos de experiências de codificação,
população da qual os protocolos foram obtidos, vieses e flutuações do avaliador ao codificar
128
as respostas, características das respostas avaliadas e métodos estatísticos de quantificação da
concordância das codificações.
Nesta pesquisa, os codificadores foram pessoas devidamente treinadas na
codificação do Rorschach: o pesquisador foi o tradutor do Manual de Classificação do
Rorschach para o Sistema Compreensivo (Exner, 1999b), realizou sua pesquisa de
mestrado com o Rorschach e leciona no curso de especialização no método de Rorschach
promovido pela Associação Brasileira de Rorschach (ASBRo), sendo o responsável pelo
ensino das codificações das respostas; o segundo codificador participou da pesquisa
normativa com indivíduos do interior de São Paulo, na qual aplicou o Rorschach, codificou os
protocolos e discutiu dúvidas de codificação com outros membros da equipe de psicólogos
responsáveis pela coleta dos dados.
O nível de complexidade das respostas utilizadas na investigação da fidedignidade
das codificações parece ser semelhante ao da amostra normativa de adultos não-pacientes da
cidade de São Paulo (considerando que nossa amostra apresentou R maior do que a amostra
normativa, mas também valores maiores de Lambda). A complexidade das respostas de nossa
amostra provavelmente é menor do que a dos estudos com grupos clínicos e certamente é
menor do que as das pesquisas norte-americanas, considerando que os valores de R são
maiores e os valores de Lambda são menores nos Estados Unidos. A menor complexidade das
respostas em nossa amostra deveria contribuir para uma maior concordância, pois respostas
menos complexas são mais fáceis de serem codificadas, gerando menos dúvidas e
discordâncias. Porém, os resultados da fidedignidade das codificações foram menores em
nossa pesquisa do que nas pesquisas norte-americanas e do que em outras pesquisas
brasileiras. Por outro lado, para algumas respostas, o menor nível de complexidade pode
refletir uma falta de informações mais completas para uma codificação adequada – seja
porque o aplicador falhou em aprofundar o inquérito, seja porque o participante falhou em
explicar melhor suas respostas –, o que pode ter contribuído para diminuir a fidedignidade das
codificações.
A fidedignidade inter-codificadores para os códigos especiais críticos foi menor
do que a de outros aspectos da codificação das respostas. A baixa taxa de ocorrência destes
129
códigos pode ter contribuído para a menor fidedignidade, assim como eventuais deficiências
dos critérios de codificação.
Considerando as médias de fidedignidade dos códigos agrupados em segmentos
da codificação, os resultados foram menores na nossa pesquisa do que em outros estudos
brasileiros com o SCR; apenas os códigos de localização apresentaram melhor fidedignidade
em nossa amostra (Tabela 28).
Tabela 28 Valores médios de kappa para a fidedignidade inter-codificadores em pesquisas brasileiras
com o SCR e na nossa pesquisa
Loc DQ Det FQ Pairs Cont P Z SS Média
Silva Neto (1999) 0,92 0,86 0,84 0,64 0,86 0,80 0,97 0,84 0,48 0,80
Duarte (2000) 0,70 0,80 0,72 0,64 0,92 0,74 0,84 0,82 0,53 0,75
SantoAntonio (2001) 0,85 0,73 0,84 0,67 0,82 0,83 0,82 0,91* 0,47 0,75
Antúnez (2004) 0,87 0,52 0,77 0,56 0,89 0,70 0,90 0,89 0,52 0,74
Lamounier (2005) 0,79 0,67 0,76 0,76 0,79 0,74 0,91 0,70 0,52 0,74
Durat Júnior (2006) 0,81 0,70 0,88 0,78 0,79 0,81** 0,77 0,68*** 0,78
Média 0,82 0,71 0,80 0,68 0,85 0,77 0,87 0,83 0,53 0,76
Nossa pesquisa 0,90 0,45 0,52 0,48 0,82 0,71 0,77 0,79 0,36 0,64
Loc = Localizações, DQ = Qualidade Evolutiva (Developmental Quality), Det = Determinantes,
FQ = Qualidade Formal (Formal Quality), Pairs = pares, Cont = Conteúdos, P = Popular; Z =
notas Z, SS = Códigos Especiais (Special Scores)
* ICC. ** média da fidedignidade para os conteúdos humanos, animais e anatomia. *** média
da fidedignidade para os códigos COP, AG e MOR.
Um dos problemas nesta comparação é usar médias. Os segmentos da codificação
localização, qualidade evolutiva e qualidade formal, apresentam apenas 4 códigos. Baixa
fidedignidade de um destes códigos pode rebaixar bastante a média do segmento. Isto ocorreu
em nossa amostra para a qualidade evolutiva e para a qualidade formal. Descontando este
problema, ainda encontramos, em nossa amostra, menor fidedignidade da codificação dos
determinantes e das respostas populares do que nos outros estudos brasileiros. A baixa
fidedignidade para os códigos especiais foi um achado de todos os estudos brasileiros e
também ocorreu na nossa amostra.
Chamou nossa atenção o nível de concordância obtido para a codificação das
respostas populares (ι = 0,77). A codificação de uma resposta como popular ou não-popular é
uma decisão simples e direta, devendo haver fidedignidade inter-codificadores quase perfeita.
Investigamos as respostas em que o código Popular foi assinalado pelos dois avaliadores,
130
identificando 30 respostas em que houve discordância na codificação de Popular. A análise
das respostas em que houve discordância na codificação de Popular encontra-se no Apêndice
G.
O segundo codificador cometeu 17 erros de omissão (ou seja, deixou de codificar
Popular quando deveria ter codificado) e 9 erros de comissão (ou seja, codificou Popular
quando não deveria ter codificado) a maioria destes erros ocorreu porque o avaliador não
notou que a resposta foi vista com o cartão invertido, caso em que não é Popular. O primeiro
codificador cometeu um erro de comissão. Três respostas foram consideradas como
discordâncias legítimas, ou seja, são respostas para as quais o critério de codificação não
permite decidir se o código deve ou não ser assinalado. Duas destas discordâncias legítimas
envolveram animais (camaleão e lagarto) no cartão VIII. O critério de codificação define
como popular, na área D1 do cartão VIII, uma figura animal inteira, comumente da variedade
canina, felina ou roedor (EXNER, 2003). A dúvida é se estes animais que não são comumente
vistos (FQu) devem ser codificados como populares. A outra discordância legítima ocorreu
para uma resposta ao cartão VI, em que foi visto um animal. Neste cartão, a resposta popular
é pele de animal, sendo que frequentemente a pele está incluída na descrição de um animal
inteiro. A decisão de codificar P nestas respostas baseia-se em a pele ser mencionada ou estar
claramente implicada na resposta (EXNER, 2003).
Notamos então que o segundo codificador cometeu muitos erros de omissão e
também erros de comissão, por não observar que a resposta havia sido fornecida com o cartão
invertido. O número elevado de erros na codificação das respostas populares por parte do
segundo avaliador sugere que ele codificou as respostas com menor cuidado do que o
necessário. Assim sendo, possivelmente ocorreram também erros na codificação de outros
aspectos das respostas, o que ajudaria a explicar a menor fidedignidade das codificações
encontrada na nossa pesquisa.
10.4. Estatísticas descritivas das variáveis do SCR
As estatísticas descritivas das variáveis do Rorschach selecionadas para esta
pesquisa, no teste e no reteste, encontram-se apresentadas nas Tabelas 29 e 30,
respectivamente.
131
Tabela 29
Estatísticas descritivas para as variáveis do SCR no teste
Variável Média DP Min Max Freq Mediana Moda Assimetria Curtose
R 22,94 7,31 14 42 32 22,00 0,92 0,52
Lambda 1,04 0,56 0,35 2,83 32 0,94 1,16 1,95
F 11,13 5,23 4 26 32 9,00 9 1,04 0,83
M 3,66 2,16 0 9 30 4,00 4 0,23 -0,28
WSumC 3,28 2,47 0,0 11,5 28 3,00 3,5 1,14 2,56
EA 6,94 3,01 1,5 12,5 32 6,75 0,04 -0,93
FM 3,16 1,89 0 8 30 3,00 3 0,44 0,09
m 0,75 1,19 0 4 12 0,00 0 1,50 1,02
FM+m 3,91 2,51 0 11 30 3,50 3 0,78 0,73
SumC’ 0,78 1,13 0 3 13 0,00 0 1,18 -0,11
SumT 0,31 0,74 0 3 6 0,00 0 2,50 5,84
SumV 0,44 0,67 0 2 11 0,00 0 1,28 0,49
SumY 1,25 1,37 0 4 19 1,00 0 0,81 -0,61
SumSH 2,78 2,31 0 9 27 3,00 1 0,72 0,01
es 6,69 4,06 1 20 32 6,00 3 1,29 2,57
Adjes 5,66 3,00 1 15 32 5,50 3 1,01 1,62
D-score -0,03 1,15 -3 4 32 0,00 0 0,74 5,49
AdjD 0,28 1,05 -2 4 32 0,00 0 1,33 4,46
FC 1,38 1,54 0 5 21 1,00 1 1,13 0,22
CF 2,03 1,68 0 5 24 2,00 0 0,30 -1,12
C 0,38 0,79 0 4 9 0,00 0 3,34 13,94
CF+C 2,41 1,98 0 8 26 2,00 0,83 0,56
Afr 0,52 0,20 0,25 1,08 32 0,50 1,17 1,48
Blends 2,56 2,69 0 9 23 2,00 0 1,03 0,25
S 2,78 3,09 0 13 26 2,00 2 2,10 4,85
COP 0,84 1,08 0 4 17 1,00 0 1,47 1,66
AG 0,44 0,72 0 2 10 0,00 0 1,36 0,46
GHR 2,94 1,76 0 7 29 3,00 2 0,29 -0,18
PHR 3,31 2,73 0 11 26 3,50 0,73 0,43
Human Content 5,63 3,08 0 15 31 6,00 7 0,65 1,44
Isolate/R 0,24 0,15 0,00 0,60 31 0,22 0,28 0,86 0,45
(2) 7,78 3,49 2 16 32 7,00 6 0,99 0,60
3r+(2)/R 0,38 0,10 0,27 0,76 32 0,355 0,33 0,78 4,62
Fr+rF 0,34 0,79 0 3 6 0,00 0 2,25 4,13
FD 0,56 0,80 0 2 12 0,00 0 0,99 -0,66
MOR 1,47 1,72 0 6 19 1,00 0 1,15 0,50
H 2,00 1,85 0 6 26 1,00 1 0,91 -0,31
(H)+Hd+(Hd) 3,63 2,46 0 9 31 3,00 1 0,38 -0,86
Zf 10,34 3,69 3 18 32 10,00 10 0,04 -0,31
Zd 0,77 4,32 -9,5 11,5 32 0,50 1,5 0,05 1,28
DQ+ 5,41 2,73 1 11 32 5,50 3 0,36 -0,94
DQv 1,38 1,43 0 5 19 1,00 0 0,69 -0,43
XA% 0,79 0,09 0,63 0,95 32 0,79 0,10 -0,82
WDA% 0,82 0,09 0,63 1,00 32 0,815 0,71 -0,05 -0,78
Popular 4,19 1,77 1 7 32 4,00 0,03 -1,05
X+% 0,47 0,11 0,21 0,76 32 0,47 0,47 0,22 0,79
Xu% 0,32 0,11 0,13 0,50 32 0,305 0,44 0,04 -1,00
X-% 0,20 0,09 0,00 0,36 31 0,21 0,21 -0,37 -0,25
a 3,78 3,01 0 13 31 3,00 2 1,64 2,63
p 3,81 2,69 1 10 32 3,00 1 0,87 -0,08
2AB+Art+Ay 2,25 2,93 0 15 25 1,00 1 2,93 11,20
DV+DR 1,09 1,35 0 6 18 1,00 0 1,74 4,21
INC+FAB 1,53 1,55 0 6 21 1,00 0 0,92 0,55
Sum6 2,72 2,47 0 9 27 2 1 1,09 0,72
WSum6 8,50 9,35 0 41 27 5 0 1,75 3,54
PTI 0,56 1,13 0 5 9 0,00 0 2,52 7,06
DEPI 3,78 1,24 2 6 32 4,00 3 0,23 -0,94
CDI 3,09 1,15 1 5 32 3,00 3 -0,33 -0,40
S-CON 4,44 1,46 2 8 32 4,00 4 0,63 0,15
SCZI 1,66 1,21 0 6 30 1,00 1 1,78 4,37
132
Tabela 30
Estatísticas descritivas para as variáveis do SCR no reteste
Variável Média DP Min Max Freq Mediana Moda Assimetria Curtose
R 23,00 5,70 14 40 32 22,00 22 0,64 1,05
Lambda 1,09 0,59 0,37 3,00 32 1,00 1,00 1,63 3,46
F 11,38 4,14 5 21 32 10,50 10 0,58 -0,16
M 3,63 2,64 0 10 31 3,00 1 0,83 -0,07
WSumC 2,98 2,46 0,0 9,0 30 2,50 1,0 1,02 0,19
EA 6,61 3,56 1,5 15,0 32 6,25 0,63 -0,28
FM 3,63 1,83 0 7 31 4,00 4 0,16 -0,44
m 0,84 1,05 0 4 17 1,00 0 1,40 1,68
FM+m 4,47 2,00 0 10 31 4,00 0,46 1,08
SumC’ 0,75 1,59 0 8 12 0,00 0 3,54 14,53
SumT 0,34 0,65 0 2 8 0,00 0 1,74 1,82
SumV 0,31 0,69 0 3 7 0,00 0 2,60 7,17
SumY 1,06 1,16 0 4 19 1,00 0 0,92 -0,09
SumSH 2,47 2,27 0 11 27 2,00 2 1,84 5,23
es 6,94 3,21 1 17 32 6,00 6 1,23 2,08
Adjes 6,16 2,52 1 14 32 6,00 6 1,06 2,30
D-score 0,03 1,06 -2 3 32 0,00 0 0,63 1,37
AdjD 0,25 1,41 -1 3 32 0,00 0 1,41 2,44
FC 1,50 1,44 0 5 23 1,50 1 0,97 0,42
CF 1,91 1,71 0 6 25 1,00 1 0,82 -0,19
C 0,22 0,49 0 2 6 0,00 0 2,26 4,77
CF+C 2,13 1,95 0 7 27 1,00 1 1,16 0,70
Afr 0,52 0,25 0,13 1,38 32 0,515 1,39 3,69
Blends 2,97 2,36 0 10 29 2,00 2 1,15 1,18
S 2,59 2,72 0 15 29 2,00 2 3,26 13,92
COP 0,97 1,40 0 6 15 0,00 0 1,93 4,42
AG 0,56 1,05 0 4 10 0,00 0 2,08 3,80
GHR 2,88 1,50 0 6 31 3,00 0,53 0,10
PHR 3,63 2,87 0 9 31 3,00 1 0,56 -1,30
HumanContent 5,53 2,93 1 13 32 5,00 4 0,60 -0,08
Isolate/R 0,21 0,11 0,00 0,42 30 0,205 0,04 -0,25
(2) 8,34 3,00 2 16 32 8,50 9 0,29 0,71
3r+(2)/R 0,42 0,09 0,27 0,58 32 0,41 0,38 0,20 -1,05
Fr+rF 0,41 0,84 0 3 8 0,00 0 2,25 4,52
FD 0,44 0,56 0 2 13 0,00 0 0,83 -0,28
MOR 1,00 1,19 0 5 18 1,00 0 1,47 2,67
H 2,00 1,97 0 8 27 2,00 1,50 1,74 2,83
(H)+Hd+(Hd) 3,53 2,10 0 9 31 3,00 0,61 -0,02
Zf 10,16 3,63 3 20 32 10,50 11 0,43 0,63
Zd 0,16 3,29 -6,0 8,0 32 -0,25 -0,5 0,16 0,05
DQ+ 5,47 3,31 0 12 31 4,50 3 0,54 -0,78
DQv 1,09 1,40 0 5 17 1,00 0 1,33 1,04
XA% 0,78 0,10 0,54 0,96 32 0,78 0,73 -0,32 0,60
WDA% 0,81 0,10 0,53 0,96 32 0,82 0,71 -0,74 0,87
Popular 4,41 1,58 1 8 32 4,00 0,31 -0,06
X+% 0,47 0,11 0,21 0,73 32 0,47 0,47 0,22 0,79
Xu 0,32 0,11 0,11 0,50 32 0,325 0,29 -0,39 -0,81
X-% 0,21 0,09 0,04 0,46 32 0,22 0,27 0,43 1,07
a 3,78 3,32 1 12 32 3,00 1 1,31 0,74
p 4,38 2,56 0 10 30 4,00 4 0,27 -0,01
2AB+Art+Ay 1,91 2,96 0 16 24 1,00 3,83 17,29
DV+DR 1,13 0,98 0 3 21 1,00 0,18 -1,20
INC+FAB 1,38 1,52 0 6 22 1,00 1 1,49 2,10
Sum6 2,59 2,01 0 7 27 2,00 3 0,88 0,39
WSum6 8,22 9,18 0 38 27 6,00 8 2,02 3,82
PTI 0,69 1,15 0 3 10 0,00 0 1,35 0,15
DEPI 3,28 1,35 1 6 32 3,00 3 0,37 -0,03
CDI 3,09 1,33 1 5 32 3 2 0,17 -1,21
S-CON 4,41 1,39 2 7 32 4,00 0,44 -0,81
SCZI 1,78 1,21 0 4 29 1,50 1 1,78 4,37
133
Comparamos os resultados obtidos em nossa amostra com os encontrados na
amostra normativa de 200 adultos não-pacientes da cidade de São Paulo, apresentados em
Nascimento (2002):
Em nossa amostra, encontramos, para R: média = 22,94 ± 7,31 e mediana = 22,00
no teste, média = 23,00 ± 5,70 e mediana = 22,00 no reteste, em comparação com média =
20,40 ± 6,84 e mediana = 18,00 na amostra normativa
58
.
Encontramos, para Lambda: média = 1,04 ± 0,56 e mediana = 0,94 no teste,
média = 1,09 ± 0,59 e mediana = 1,00 no reteste, em comparação com dia = 1,05 ± 1,08 e
mediana = 0,72 na amostra normativa
59
.
Segundo Exner (2003), valores de Lambda maiores do que 0,99 são considerados
altos, caracterizando o estilo evitativo. Pessoas com este resultado lidaram com a situação do
teste de modo excessivamente simplificado, o que pode indicar defesa frente à testagem ou
uma preferência por lidar com as situações evitando maior envolvimento. Em nossa amostra,
Lambda > 1,00 ocorreu em 16 participantes (50%) no teste e em 17 participantes (53%) no
reteste. A proporção de participantes com Lambda > 1,00 em nossa amostra foi maior do que
a encontrada na amostra normativa de 200 indivíduos da cidade de São Paulo, na qual 73
participantes (36,5%) apresentaram este resultado
60
.
Vemos então que os participantes da nossa amostra forneceram mais respostas e
uma proporção de respostas de forma pura maior do que a dos participantes da amostra
normativa. Nascimento (2004) observou que, quanto maior o nível de instrução, maior o
número de respostas e menor a proporção de forma pura. Os valores de R encontrados em
nossa amostra podem ser compreendidos como associados ao maior nível de instrução de
nossos participantes em comparação com os indivíduos da amostra normativa. No entanto, o
58
Para apresentar os resultados, adotamos a seguinte notação: média ± desvio-padrão.
59
Cabe observar que Lambda, assim como diversas variáveis do SCR não seguem uma distribuição semelhante à
curva normal.
60
Informação fornecida pela autora da pesquisa normativa, Profa. Dra. Regina Gattas Fernandes do Nascimento,
e utilizada na preparação do artigo de Silva Neto (1999).
134
resultado de Lambda não seguiu o padrão descrito por Nascimento (2004), segundo o qual,
quanto maior o nível de instrução menor o Lambda. Cabe observar que amostras de tamanho
pequeno e com certas peculiaridades no caso, nossa amostra foi composta por voluntários
que quiseram participar da pesquisa costumam apresentar diferenças em relação à amostra
normativa.
[Trecho suprimido na versão online]
Em
nossa amostra, no teste, encontramos: 10 participantes (31%) introversivos, 5 (16%)
extratensivos e 17 (53%) ambiguais; no reteste: 12 participantes (38%) introversivos, 7 (22%)
extratensivos e 13 (41%) ambiguais.
Nossa amostra foi composta por indivíduos não-pacientes e não avaliamos a
eventual presença de transtorno mental ou sofrimento significativo. De qualquer modo, alguns
índices do SCR podem sugerir a presença de problemas psicológicos.
Dois participantes (6%) no teste e cinco participantes (16%) no reteste
apresentaram PTI > 3, resultado que indica dificuldades na percepção e pensamento.
Dez participantes (31%) no teste e cinco participantes (16%) no reteste
apresentaram DEPI > 5, resultado que indica vulnerabilidade a perturbação afetiva. Um único
participante (com DEPI = 6 no teste e no reteste) apresentou S-CON = 8 no teste, resultado
que sugere risco de suicídio; no reteste, apresentou S-CON = 6.
135
O índice CDI é considerado positivo quando atinge valores iguais ou maiores do
que 4, indicando, então, déficit de recursos de coping. CDI > 4 ocorreu em 12 participantes
(38%) no teste e em 12 participantes (38%) no reteste.
O Índice de Hipervigilância mostrou-se positivo para 4 participantes (13%) no
teste e para 2 participantes (6%) no reteste. Índice de hipervigilância positivo indica que o
indivíduo observa o ambiente atentamente e evita a proximidade física e emocional com as
pessoas, devido a receio de vir a ser prejudicado pelos outros.
O Índice de Estilo Obsessivo mostrou-se negativo para todos os participantes da
nossa amostra. Este índice avalia características de perfeccionismo e preocupação em lidar
com as situações de modo correto e convencional.
A Tabela 31 apresenta a ocorrência de constelações positivas em nossa amostra
(teste e reteste), na amostra de adultos não-pacientes da cidade de São Paulo (Nascimento,
2006) e na amostra normativa norte-americana (Exner, 2003).
Tabela 31
Freqüências e porcentagens de participantes com constelações positivas em nossa amostra
(teste e reteste), na amostra normativa da cidade de São Paulo e na amostra normativa norte-americana
Amostra 1 2 3 4
País Brasil Brasil Brasil E.U.A
N 32 32 200 600
PTI > 3 2 (6%) 5 (16%) 39 (20%) 1 (0%)
DEPI > 5 10 (31%) 5 (16%) 47 (24%) 30 (5%)
CDI > 4 12 (38%) 12 (38%) 108 (54%) 23 (4%)
S-CON > 8 1 (3%) 0 (0%) 8 (4%) 0 (0%)
HVI positivo 4 (11%) 2 (6%) 18 (9%) 18 (3%)
OBS positivo 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 8 (1%)
Amostras: 1 = Nossa amostra (teste); 2 = Nossa amostra (reteste);
3 = Amostra normativa da cidade de São Paulo (Nascimento, 2006);
4 = Amostra normativa norte-americana (Exner, 2003)
No teste, nossa amostra apresentou uma proporção significativamente maior de
casos com PTI, DEPI, CDI e HVI positivos do que na amostra norte-americana (S-CON
positivo, com uma proporção significativamente maior de casos em nossa amostra, quase
alcançou significância estatística: X
2
= 18,780, p = 0,051 pelo teste exato de Fisher). A
proporção de casos com constelações positivas não foi significativamente diferente da
encontrada na amostra normativa da cidade de São Paulo (PTI e CDI positivos, com
proporções menores de participantes em nossa amostra, quase alcançaram significância
estatística: PTI: X
2
= 3,130 p = 0,077; CDI: X
2
= 3,008, p = 0,083).
136
No reteste, nossa amostra apresentou uma proporção significativamente maior de
casos com PTI, DEPI e CDI positivos do que na amostra norte-americana e proporções não
significativamente diferentes de participantes com constelações positivas à encontrada na
amostra da cidade de São Paulo (CDI positivo, com proporção menor de participantes em
nossa amostra, quase alcançou significância estatística: X
2
= 3,008, p = 0,083).
Conforme comentamos em outro trabalho (Silva Neto, 1999), a proporção elevada
de adultos paulistanos não-pacientes com DEPI e CDI positivos coloca dúvidas sobre a
validade destes índices no Brasil. Em relação ao índice OBS, embora em amostras de não-
pacientes seja esperada uma proporção baixa de participantes com estilo obsessivo, a ausência
de casos positivos tanto em nossa amostra quanto na pesquisa normativa, coloca sob suspeita
a validade deste índice para identificar, no Brasil, as características de perfeccionismo e
preocupação em lidar com as situações de modo correto e convencional.
Em nossa amostra, para EA, temos: média = 6,94 ± 3,01 no teste e média =
6,61 ± 3,56 no reteste, em comparação com média = 4,96 ± 3,49 na amostra normativa. EA
refere-se aos recursos para lidar com os problemas cotidianos e diminuir as tensões
experimentadas. A presença de mais recursos em nossa amostra provavelmente está associada
ao maior nível de instrução, seguindo o mesmo padrão encontrado por Nascimento (2004).
Encontramos, para es: média = 6,69 ± 4,06 no teste, média = 6,94 ± 3,21 no
reteste, em comparação com média = 8,57 ± 5,01 na amostra normativa. O índice es refere-se
às tensões experimentadas.
Portanto, nossos participantes indicaram possuir mais recursos [ EA ] e
experimentar menos tensões [ es ] do que os participantes da amostra normativa. [Trecho
suprimido na versão online]
Para FM+m, encontramos: média = 3,91 ± 2,51 no teste, média =
4,47 ± 2,00 no reteste, e média = 4,83 ± 2,94 na amostra normativa; os valores são
semelhantes ou um pouco mais baixos na nossa amostra. Para SumSH, encontramos: média =
2,78 ± 2,31 no teste, média = 2,47 ± 2,27 no reteste, e média = 3,74 ± 3,42 na amostra
normativa; os valores são mais baixos na nossa amostra, aparentemente indicando menor
sofrimento emocional em nossos participantes. As variáveis SumC
, SumT, SumV e SumY
apresentaram distribuições semelhantes no teste, no reteste e na amostra normativa,
137
predominando valores 0 e 1; apenas o total de cor acromática e sombreado [ SumSH ]
mostrou-se claramente menor em nossa amostra em comparação com a amostra normativa.
A variável D-score é obtida a partir da diferença EA - es, sendo, portanto, uma
confrontação dos recursos [ EA ] com as tensões [ es ]. Encontramos, em nossa amostra, para
D-score: média = -0,03 ± 1,15 no teste, média = 0,03 ± 1,06 no reteste, em comparação com
média = -1,07 ± 1,57 na amostra normativa, indicando maior capacidade de controle e
tolerância ao estresse na nossa amostra.
Para WSumC, encontramos: média = 3,28 ± 2,47 no teste, média = 2,98 ± 2,46 no
reteste, em comparação com média = 2,11 ± 1,78 na amostra normativa. Isto indica que
nossos participantes possuem maior capacidade de experimentar e expressar afetos do que os
paulistanos da amostra normativa. Encontramos, para o quociente afetivo [Afr]: média =
0,52 ± 0,20 no teste, média = 0,52 ± 0,25 no reteste, e média = 0,56 ± 0,26 na amostra
normativa; os valores foram semelhantes para este índice que indica a responsividade às
situações afetivas.
Para Zf, encontramos: média = 10,34 ± 3,69 no teste, média = 10,16 ± 3,63 no
reteste e média = 10,16 ± 4,16 na amostra normativa. Assim, o esforço de organização
perceptiva foi semelhante nestas amostras. Para Zd, encontramos: média = 0,77 ± 4,32 no
teste, média = 0,16 ± 3,29 no reteste e média = -0,52 ± 4,77 na amostra normativa, ou seja,
nossos participantes foram um pouco mais eficientes em organizar as informações do que os
participantes da amostra normativa. Para DQ+, encontramos: média = 5,41 ± 2,73 no teste,
5,47 ± 3,31 no reteste e 4,76 ± 3,00 na amostra normativa, ou seja, nossos participantes
estabeleceram mais relações entre os dados percebidos do que os participantes da amostra
normativa. Estas (pequenas) diferenças em relação ao processamento das informações talvez
estejam associadas ao maior nível de instrução nos participantes de nossa amostra, em
comparação com a amostra normativa.
Os índices de adequação perceptiva mostraram valores semelhantes ou um pouco
melhores em nossa amostra do que na amostra normativa. Para XA% (percepção adequada em
geral), encontramos: média = 0,79 ± 0,09 no teste, média = 0,78 ± 0,10 no reteste, e média =
0,74 ± 0,13 na amostra normativa. Para WDA% (percepção adequada dos aspectos mais
comuns do ambiente), encontramos: média = 0,82 ± 0,09 no teste, média = 0,81 ± 0,10 no
138
reteste, e média = 0,78 ± 0,14 na amostra normativa. Para X-% (percepção distorcida),
encontramos: média = 0,20 ± 0,09 no teste, média = 0,21 ± 0,09 no reteste, e média =
0,25 ± 0,12 na amostra normativa. O número de respostas populares, indicando percepção
convencional, obteve dia = 4,19 ± 1,77 no teste, média = 4,41 ± 1,58 no reteste e média =
4,08 ± 1,79 na amostra normativa.
Encontramos menos falhas no pensamento em nossa amostra, em comparação
com a amostra normativa. Para Sum6, encontramos: média = 2,72 ± 2,47 no teste, média =
2,59 ± 2,01 no reteste, e média = 3,75 ± 3,04 na amostra normativa. Para WSum6,
encontramos: média = 8,50 ± 9,35 no teste, média = 8,22 ± 9,18 no reteste, e média =
10,63 ± 11,08 na amostra normativa. Comparando as médias dos códigos especiais críticos,
encontramos médias maiores para DV, INCOM e DR e ALOG na amostra normativa, e médias
maiores para FABCOM em nossa amostra; os códigos especiais de vel 2 apresentaram
médias baixas em ambas as amostras. [Trecho suprimido na versão online]
Talvez este achado esteja relacionado às
diferenças no nível de instrução, com mais instrução contribuindo para uma melhor
comunicação e organização do pensamento.
Em nossa amostra, os conteúdos humanos apresentaram: média = 5,63 ± 3,08 no
teste e média = 5,53 ± 2,93 no reteste, em comparação com média = 5,39 ± 3,87 na amostra
normativa. [Trecho suprimido na versão online]
Para COP, encontramos: média = 0,84 ± 1,08 no teste, média = 0,97 ± 1,40 no
reteste e média = 0,63 ± 0,94 na amostra normativa. Para AG: média = 0,44 ± 0,72 no teste,
média = 0,56 ± 1,05 no reteste e média = 0,27 ± 0,66 na amostra normativa. Os valores de
COP e AG foram um pouco maiores em nossa amostra, indicando [Trecho suprimido na
versão online]
A comparação de outras variáveis mostrou-se difícil porque muitas delas
apresentaram poucos valores e predominaram escores baixos. A impressão ao observar as
estatísticas descritivas é que houve grande semelhança dos valores encontrados em nossa
amostra e na amostra normativa.
139
10.5. Comparações entre os resultados de teste e reteste
Realizamos uma comparação entre os resultados do teste e do reteste, utilizando o
teste t de student para amostras pareadas. Os resultados são apresentados na Tabela 32.
Tabela 32
Comparação entre os resultados do teste e do reteste
Variável t p d Variável t p d
R -0,087 0,931 -0,01 Isolate/R 1,602 0,119 0,23
Lambda -0,684 0,499 -0,09 (2) -1,392 0,174 -0,42
F -0,392 0,698 -0,05 3r+(2)/R -2,189 0,036 -0,17
M 0,089 0,929 0,01 Fr+rF -1,000 0,325 -0,09
WSumC 1,049 0,302 0,12 FD 1,000 0,325 0,18
EA 0,727 0,472 0,10 MOR 1,906 0,066 0,32
FM -1,765 0,087 -0,25 H 0,000 1,000 0,00
m -0,432 0,669 -0,08 (H)+Hd+(Hd) 0,281 0,781 0,04
FM+m -1,579 0,124 -0,25 Zf 0,355 0,725 0,05
SumC’ 0,133 0,895 0,02 Zd 0,731 0,470 0,16
SumT -0,297 0,768 -0,04 DQ+ -0,146 0,885 -0,02
SumV 0,892 0,379 0,19 DQv 1,509 0,141 0,20
SumY 0,797 0,431 0,15 XA% 0,293 0,772 0,11
SumSH 0,781 0,441 0,14 WDA% 0,280 0,781 0,11
es -0,459 0,649 -0,07 Popular -0,865 0,394 -0,13
Adjes -1,245 0,222 -0,18 X+% 0,056 0,955 0,00
D-score -0,263 0,794 -0,05 Xu% 0,110 0,914 0,00
AdjD 0,147 0,884 0,02 X-% -0,800 0,430 -0,11
FC -0,571 0,572 -0,12 A 0,000 1,000 0,00
CF 0,528 0,601 0,07 P -1,328 0,194 -0,22
C 1,305 0,201 0,25 2AB+Art+Ay 1,187 0,244 0,12
CF+C 1,121 0,271 0,14 DV+DR -0,122 0,904 -0,03
Afr 0,099 0,922 0,00 INC+FAB 0,645 0,524 0,10
Blends -1,141 0,263 -0,16 Sum6 0,416 0,680 0,06
S 0,561 0,579 0,07 WSum6 0,333 0,741 0,03
COP -0,725 0,474 -0,10 PTI -0,725 0,474 -0,11
AG -1,072 0,292 -0,14 DEPI 2,184 0,037 0,39
GHR 0,218 0,829 0,04 CDI 0,000 1,000 0,00
PHR -0,801 0,429 -0,11 SCON 0,112 0,911 0,00
Human Content 0,267 0,792 0,03
t = valor do teste t de student; p = probabilidade de encontrar o valor de t obtido caso o valor de t
na população seja igual à zero; d = magnitude do efeito
Devido ao grande número de testes t realizados, adotamos como nível de
significância estatística p < 0,02. Não encontramos diferenças estatisticamente significantes
entre os resultados no teste e no reteste, mas o Índice de Egocentricidade (com escores
menores no teste) e o Índice de Depressão (com escores maiores no teste) quase alcançaram a
significância estatística.
140
A estatística d de Cohen, apresentada na Tabela 32, é uma medida da magnitude
do efeito, ou do tamanho da diferença entre as médias no teste e no reteste. Corresponde à
diferença das médias dividida pela média dos desvios-padrão das amostras comparadas (na
nossa pesquisa, o teste e o reteste). Segundo Dancey e Reidy (2006), tomando como base
Joseph Cohen (Statistical Power for Behavioral Sciences. New York: Academic Press,
1988), d = 0,20 indica efeito pequeno, d = 0,50 indica efeito médio e d = 0,80 indica efeito
grande. Em nossa amostra, as diferenças entre os resultados do teste e do reteste foram de
magnitude pequena, com o valor mais alto sendo d = 0,42, para o Índice de Depressão
[DEPI].
10.6. Estabilidade temporal do SCR
10.6.1. Correlações de teste-reteste
Na tabela 33 apresentamos as correlações produto-momento de Pearson e as
correlações de postos de Spearman entre os escores no teste e no reteste para as variáveis do
SCR investigadas na pesquisa.
As correlações produto-momento de Pearson para as 59 variáveis principais do
SCR variaram de 0,25 a 0,91, com média = 0,61, desvio-padrão = 0,16 e mediana = 0,66.
Dezenove correlações foram iguais ou maiores do que 0,70 e dez correlações foram iguais ou
maiores do que 0,75.
As correlações de postos de Spearman para as 59 variáveis principais do SCR
variaram de 0,12 a 0,86, com média = 0,59, desvio-padrão = 0,16 e mediana = 0,62. Dezesseis
correlações foram iguais ou maiores do que 0,70 e oito correlações iguais foram maiores do
que 0,75.
141
Tabela 33 Correlações produto-momento de Pearson e correlações de postos de Spearman, entre os
escores no teste e no reteste
Variável r rho Variável r rho
R 0,83 0,83 Isolate/R 0,76 0,74
Lambda 0,70 0,55 (2) 0,76 0,65
F 0,73 0,70 3r+(2)/R 0,35 0,25
M 0,68 0,70 Fr+rF 0,91 0,86
WSumC 0,79 0,75 FD 0,51 0,47
EA 0,71 0,79 MOR 0,60 0,67
FM 0,67 0,66 H 0,73 0,74
m 0,41 0,34 (H)+Hd+(Hd) 0,67 0,73
FM+m 0,62 0,57 Zf 0,67 0,64
SumC’ 0,56 0,57 Zd 0,25 0,37
SumT 0,64 0,52 DQ+ 0,69 0,71
SumV 0,32 0,42 DQv 0,72 0,64
SumY 0,46 0,50 XA% 0,65 0,65
SumSH 0,51 0,45 WDA% 0,43 0,48
es 0,66 0,58 Popular 0,64 0,60
Adjes 0,67 0,60 X+% 0,49 0,42
D-score 0,27 0,29 Xu% 0,29 0,29
AdjD 0,30 0,33 X-% 0,62 0,65
FC 0,66 0,60 a 0,72 0,63
CF 0,69 0,69 p 0,59 0,62
C 0,53 0,12 2AB+Art+Ay 0,85 0,56
CF+C 0,74 0,69 DV+DR 0,26 0,34
Afr 0,64 0,77 INC+FAB 0,60 0,72
Blends 0,69 0,79 Sum6 0,73 0,67
S 0,80 0,60 WSum6 0,87 0,79
COP 0,72 0,75 PTI 0,64 0,58
AG 0,78 0,57 DEPI 0,50 0,46
GHR 0,51 0,50 CDI 0,63 0,64
PHR 0,69 0,68 SCON 0,39 0,39
Human Content 0,78 0,74
Para as 59 variáveis principais do SCR, 33 apresentaram valores maiores da
correlação de Pearson, 21 da correlação de postos de Spearman e 5 variáveis apresentaram
valores iguais dos dois coeficientes. De modo geral, então, a correlação de Pearson resultou
em valores maiores do que a correlação de postos de Spearman.
Dez variáveis apresentaram estabilidade temporal alta (r > 0,75): R, WSumC, S,
AG, HumanContent, Isolate/R, (2), Fr+rF, 2AB+Art+Ay e WSum6. Outras nove variáveis
apresentaram estabilidade de moderada a alta (0,70 < r < 0,75): Lambda, F, EA, CF+C, COP,
H, DQv, a e Sum6. Outras 28 variáveis apresentaram estabilidade moderada (0,50 < r < 0,70):
M, FM, FM+m, SumC’, SumT, SumSH, es, Adjes, FC, CF, C, Afr, Blends, GHR, PHR, FD,
MOR, (H)+Hd+(Hd), Zf, DQ+, XA%, Popular, X-%, p, INC+FAB, PTI, DEPI e CDI. A
142
estabilidade temporal de movimento inanimado [m] e sombreado difuso [SumY] costuma ser
baixa, pois se entende que estas variáveis estão associadas a estresse situacional. Em nossa
pesquisa, m e SumY apresentaram estabilidade temporal baixa. Contudo, além destas duas
variáveis, outras 10 apresentaram baixa estabilidade temporal (r < 0,50): SumV, D-score,
AdjD, 3r+(2)/R, Zd, WDA%, X+%, Xu%, DV+DR e S-CON.
Em comunicação pessoal com Cato Grønnerød, autor da metanálise sobre
estabilidade temporal do Rorschach, fomos informados de que a estabilidade prevista para um
período de reteste de 104 dias seria r = 0,76. Esta estimativa foi obtida a partir de todas as
pesquisas com o Rorschach, incluindo outros sistemas além do SCR. A média das correlações
em nossa amostra foi, então, menor do que a obtida a partir da metanálise sobre estabilidade
temporal do Rorschach.
Uma das dificuldades na comparação com as pesquisas realizadas é o fato de estas
não apresentarem informações sobre todas as variáveis do SCR, sendo única exceção a
pesquisa de Sultan et al. (2006), que as apresenta em apêndice. Optamos então por comparar
nossos resultados com: 1) os resultados da amostra de 50 adultos não-pacientes norte-
americanos retestados após 1 ano (Exner, 1986, 2003); 2) os resultados da amostra de 35
adultos não-pacientes norte-americanos retestados após 3 semanas (Exner, 1986, 2003) e 3) os
resultados da amostra de 75 adultos não-pacientes franceses retestados após 3 meses (Sultan
et al., 2006) estas são as amostras com maior número de variáveis para as quais a
estabilidade temporal é informada. A Tabela 34 apresenta os resultados na nossa amostra e
nestas outras três pesquisas.
143
Tabela 34 Estabilidade temporal das variáveis do SCR em nossa amostra, em duas amostras norte-
americanas e numa amostra francesa
Amostra Nossa amostra Exner (1986) Exner (1986)
Sultan et al. (2006)
N 32 50 35 75
Intervalo 3 meses 1 ano 3 semanas 3 meses
R 0,83 0,86 0,84 0,75
Lambda 0,70 0,78 0,76 0,72
F 0,73 0,74 0,76 0,70
M 0,68 0,84 0,83 0,76
WSumC 0,79 0,82 0,83 0,69
EA 0,71 0,83 0,84 0,77
FM 0,67 0,77 0,72 0,48
m 0,41 0,26 0,34 0,47
FM+m 0,62 0,50
SumC’ 0,56 0,73 0,67 0,38
SumT 0,64 0,91 0,96 0,56
SumV 0,32 0,87 0,89 0,46
SumY 0,46 0,31 0,41 0,17
SumSH 0,51 0,71 0,42
es 0,66 0,64 0,59 0,46
Adjes 0,67 0,82 0,79 0,46
D-score 0,27 0,91 0,88 0,34
AdjD 0,30 0,38
FC 0,66 0,86 0,92 0,61
CF 0,69 0,58 0,68 0,47
C 0,53 0,56 0,59 0,08
CF+C 0,74 0,81 0,83 0,55
Afr 0,64 0,82 0,85 0,57
Blends 0,69 0,62 0,71 0,63
S 0,80 0,70
COP 0,72 0,81 0,88 0,38
AG 0,78 0,82 0,81 0,45
GHR 0,51 0,55
PHR 0,69 0,70
HumanContent 0,78 0,68
Isolate/R 0,76 0,84 0,83 0,67
(2) 0,76 0,81 0,83 0,77
EGO 0,35 0,89 0,90 0,78
Fr+rF 0,91 0,82 0,89 0,65
FD 0,51 0,88 0,90 0,51
MOR 0,60 0,71 0,83 0,62
H 0,73 0,67
(H)+Hd+Hd 0,67 0,58
Zf 0,67 0,85 0,89 0,76
Zd 0,25 0,46
DQ+ 0,69 0,70
DQv 0,72 0,55
XA% 0,65 0,89 0,49
WDA% 0,43 0,92 0,45
Popular 0,64 0,83 0,81 0,54
X+% 0,49 0,86 0,87 0,55
Xu% 0,29 0,85 0,89 0,32
X-% 0,60 0,92 0,88 0,51
a 0,72 0,83 0,87 0,61
p 0,59 0,72 0,85 0,55
2AB+Art+Ay 0,85 0,84 0,53
DV+DR 0,26 0,72 0,74 0,26
INC+FAB 0,60 0,89 0,92 0,61
Sum6 0,73 0,81 0,81 0,50
Wsum6 0,87 0,86 0,86 0,56
PTI 0,64 0,48
DEPI 0,50 0,28
CDI 0,63 0,58
S-CON 0,39 0,47
Correlações menores do que 0,50
Correlações entre 0,50 e 0,74
Correlações iguais a 0,75 ou maiores
144
Comparando a estabilidade obtida na nossa amostra com a da amostra de 50
adultos norte-americanos retestados após um ano (Exner, 1986, 2003), encontramos que a
média das correlações de 44 variáveis foi 0,62 ± 0,17 na nossa amostra e 0,78 ± 0,14 na
amostra norte-americana. Trinta e seis correlações foram maiores na amostra norte-americana.
A diferença entre as médias de estabilidade temporal nas amostras foi de magnitude grande
(d = -1,03).
Comparando a estabilidade obtida na nossa amostra com a da amostra de 35
adultos norte-americanos retestados após 3 semanas (Exner, 1986, 2003), a média das
correlações de 41 variáveis foi 0,62 ± 0,16 na nossa amostra e 0,80 ± 0,13 na amostra norte-
americana. Trinta e cinco correlações foram maiores na amostra norte-americana. A diferença
entre as médias de estabilidade nas amostras foi de magnitude grande (d = -1,24).
Comparando a estabilidade obtida na nossa amostra com a da amostra de 75
adultos franceses retestados após 3 meses (Sultan et al., 2006), encontramos que a média das
correlações de 59 variáveis foi 0,61 ± 0,16 na nossa amostra e 0,54 ± 0,15 na amostra
francesa. Trinta e sete correlações foram maiores na nossa amostra. A diferença entre as
médias de estabilidade temporal nas amostras foi de magnitude moderada (d = 0,45).
A partir das pesquisas do Sistema Compreensivo, estabeleceu-se que sombreado
difuso e movimento inanimado são variáveis que apresentam baixa estabilidade temporal
(r = 0,20 a r = 0,40), por estarem associadas a características do tipo estado; os índices dos
quais movimento inanimado e sombreado difuso participam (FM+m, SumSH e es) apresentam
correlações na faixa de r =0,60; outras variáveis com correlações na faixa de r = 0,60 (FM,
SumC’, CF, Blends) são consideradas predominantemente traço, mas com um componente
estado; as demais variáveis apresentam correlações altas, iguais ou maiores do que 0,75,
sendo consideradas associadas a traços de personalidade.
Para as variáveis que apresentaram alta estabilidade temporal (r > 0,75) nas
pesquisas de Exner, nossa amostra somente apresentou estabilidade semelhante para R,
WSumC, S, AG, HumanContent, Isolate/R, (2), Fr+rF, 2AB+Art+Ay e WSum6. Movimento
inanimado e sombreado difuso apresentaram correlações baixas em quase todas as pesquisas e
também em nossa amostra; os índices dos quais estas variáveis participam (FM+m, SumSH,
es) também apresentaram estabilidade semelhante na nossa amostra e nas pesquisas de Exner
145
(ou um pouco mais baixa na nossa amostra). Para outras variáveis que apresentaram
correlações próximas de 0,60 nas amostras de Exner (FM, SumC’, CF, Blends), nossa amostra
apresentou correlações semelhantes. Algumas variáveis merecem ser destacadas, por terem
apresentado correlações muito mais baixas na nossa amostra: SumV, D-score, AdjD, 3r+(2)/R,
WDA%, X+%, Xu%, DV+DR e INC+FAB.
SumV apresentou estabilidade temporal baixa (r = 0,32) em nossa amostra. A
baixa fidedignidade das codificações de Vista pode ter contribuído para a baixa estabilidade
temporal encontrada. A baixa taxa de ocorrência desta variável faz com que a assimetria e a
restrição da faixa de valores também possam ter contribuído para diminuir a estabilidade
temporal.
Nas amostras de Exner, as correlações de teste-reteste para SumV situam-se na
faixa de 0,80, ou seja, esta variável apresenta boa estabilidade. Contudo, Weiner (1998a)
comenta que estas correlações altas se devem à maioria dos indivíduos não-pacientes
apresentarem SumV = 0 em ambas testagens. [Trecho suprimido na versão online]
Tendo encontrado este resultado, resolvermos investigar a estabilidade de SumV
em termos de categorias interpretativas. Os resultados são apresentados na Tabela 35. Vinte e
quatro participantes (75%) mantiveram-se na mesma categoria interpretativa no teste e no
reteste. A ausência de respostas de vista foi uma característica mais estável, que tendeu a se
manter entre diferentes testagens; a presença de vista foi menos estável, ou seja, aparecendo
numa das testagens, não necessariamente ocorreu na outra.
146
Tabela 35 – Consistência das categorias interpretativas de SumV
Reteste
SumV
Teste = 0 > 0
%
consistentes
Φ k
SumV
= 0 19 2 90%
> 0 6 5 45% 0,41* 0,39*
* p < 0,05
A variável D-score apresentou baixa estabilidade temporal (r = 0,27) em nossa
amostra, enquanto apresentou estabilidade alta (r 0,90) nas amostras de Exner
61
. Esta
variável corresponde à diferença EA - es, que então é convertida em D-score utilizando-se
uma tabela de valores escalonados. Portanto, D-score depende de EA e es. Estas variáveis
apresentaram estabilidade temporal bem mais alta: r = 0,71 e r = 0,66, respectivamente.
Curiosamente, apesar de as variáveis componentes apresentarem um vel moderado de
estabilidade, a variável D-score apresentou baixa estabilidade temporal. A variável D-score
será também analisada em termos da consistência das categorias interpretativas (ver adiante).
O Índice de egocentricidade [3r+(2)/R] apresentou estabilidade temporal bem
mais baixa em nossa amostra (r = 0,35), em comparação com a alta estabilidade (r 0,90) nas
pesquisas de Exner. Este achado é de difícil compreensão, principalmente porque pares e
respostas de reflexo, variáveis que compõem o Índice de Egocentricidade, apresentaram alta
estabilidade (r = 0,76 e r = 0,91, respectivamente)
As variáveis relacionadas à adequação da percepção ou seja, os índices que
envolvem a qualidade formal: XA%, WDA%, X+%, Xu% e X-% também apresentaram
estabilidade mais baixa em nossa amostra, em comparação com as amostras de Exner.
Algumas destas variáveis apresentaram baixa fidedignidade das codificações, o que pode ter
contribuído para a baixa estabilidade temporal.
Investigamos a consistência temporal das categorias interpretativas das principais
variáveis relativas à adequação da percepção. Os resultados são apresentados na Tabela 36.
61
As correlações para AdjD não são informadas nas amostras de Exner.
147
Para XA%, 29 participantes (83%) mantiveram-se na mesma categoria interpretativa – a
maioria com XA% > 0,70 em ambas testagens. Para WDA%, 26 participantes (74%)
mantiveram-se na mesma categoria interpretativa a maioria com WDA% > 0,75. Para X-%,
28 participantes (80%) mantiveram-se na mesma categoria interpretativa. Em termos de
proporção de participantes na mesma categoria interpretativa, portanto, os resultados são
melhores. A concentração de escores numa determinada faixa de valores (problemas de
restrição da faixa de valores e assimetria) pode ter contribuído para a menor estabilidade
temporal encontrada.
Tabela 36 – Consistência das categorias interpretativas de XA%, WDA% e X-%
Reteste
Teste 1ª categoria 2ª categoria
%
consistentes
Φ k
XA%
< 0,70 2 4 33%
> 0,70 2 27 93% 0,31 0,31
WDA%
< 0,75 4 7 36%
> 0,75 2 22 92% 0,35* 0,32*
X-%
< 0,30 28 3 90%
> 0,30 4 0 0% -0,11 -0,11
* p < 0,05
Os códigos especiais críticos, agrupados nas variáveis DV+DR e INC+FAB,
também apresentaram menor estabilidade temporal em nossa amostra do que nas amostras de
Exner. Os adultos não-pacientes norte-americanos apresentam valores baixos para os códigos
especiais críticos, então a boa estabilidade se deve a ausência (ou escores baixos) destes
códigos nos seus protocolos. nos participantes da nossa amostra, ocorreram mais falhas de
pensamento, que recebem estes códigos especiais críticos, havendo também maior
instabilidade no aparecimento destas falhas em diferentes momentos. Estes códigos,
agrupados em DV+DR e INC+FAB apresentam baixa taxa de ocorrência e valores baixos,
fatores que podem ter contribuído para a baixa estabilidade temporal (problemas de restrição
da faixa de valores e assimetria). A variável Sum6 engloba todos os códigos especiais críticos
(DV + DR + INC + FAB + ALOG), então apresenta valores mais altos, e apresentou uma
maior estabilidade temporal (r = 0,73).
148
Outras comparações podem ser feitas, no caso entre a estabilidade temporal na
nossa amostra e nas pesquisas norte-americanas com pacientes. A Tabela 37 apresenta a
estabilidade temporal em nossa amostra de 32 adultos não-pacientes retestados após 3 meses,
na amostra de 25 pacientes norte-americanos em lista de espera, retestados após 30 dias
[quarto estudo de Exner (1978)] e na amostra de 35 pacientes norte-americanos com
depressão reativa em psicoterapia breve, retestados após 90 dias [sexto estudo de Exner
(1978)].
Tabela 37 Estabilidade temporal de 18 variáveis do SCR em nossa amostra e em duas amostras norte-
americanas de pacientes psiquiátricos
País Brasil EUA EUA
N 32 25 35
Grupo Não-
pacientes
Lista de
espera
Depressão
reativa
Reteste 90 dias 30 dias 90 dias
R 0,83 0,83 0,83
Lambda 0,70 0,65 0,64
F 0,73 0,57 0,77
M 0,68 0,82 0,82
WSumC 0,79 0,68 0,49
EA 0,71 0,77 0,84
FM 0,67 0,74 0,73
FM+m 0,62 0,62 0,70
SumSH 0,51 0,49 0,28
es 0,66 0,67 0,76
FC 0,66 0,71 0,51
CF+C 0,74 0,57 0,44
Afr 0,64 0,86 0,89
3r + (2) 0,35 0,91 0,91
Zf 0,67 0,86 0,86
Popular 0,64 0,69 0,81
X+% 0,49 0,83 0,84
a 0,72 0,78 0,87
p 0,61 0,84 0,79
Média 0,65 0,73 0,73
Desvio-padrão 0,11 0,12 0,17
Faixas de valores
> 0,75 2 9 12
0,50 a 0,74 15 9 4
< 0,50 2 1 3
Correlações menores do que 0,50
Correlações entre 0,50 e 0,74
Correlações iguais a 0,75 ou maiores
149
Para as 19 correlações comparadas, nossa amostra apresentou média =
0,65 ± 0,11, a primeira amostra norte-americana, média = 0,73 ± 0,12 e a segunda amostra
norte-americana, média = 0,73 ± 0,17. Nossa amostra apresentou apenas 8 correlações
maiores do que as da primeira amostra norte-americana e 6 correlações maiores do que as da
segunda amostra norte-americana. A diferença entre as médias de estabilidade temporal em
nossa amostra e na primeira amostra norte-americana foi de magnitude moderada (d = -0,70),
assim como a diferença em relação à segunda amostra norte-americana (d = -0,57).
Outra comparação contrasta os resultados da nossa amostra com os de três estudos
norte-americanos realizados por pesquisadores que não fazem parte do grupo de Exner
(Tabela 38). As médias da estabilidade temporal em nossa amostra e na amostra de Schwartz,
Mebane e Malony (1990) apresentaram uma diferença de magnitude moderada (d = 0,60). As
diferenças entre as médias de estabilidade temporal em nossa amostra e nas amostras de
Erstad (1996) foram de magnitude pequena (d 0,11).
Vemos então que nossos resultados foram menores do que os das pesquisas de
Exner (tanto com não-pacientes, quanto com pacientes), menores do que as estimativas
obtidas a partir da metanálise sobre estabilidade temporal do Rorschach (Grønnerød, 2003)
semelhantes aos de Erstad (1996) e maiores do que os da pesquisa francesa (Sultan et al.,
2006).
150
Tabela 38 – Estabilidade temporal em nossa amostra e em 3 amostras norte-americanas
Grupo 1 2 3 4
N 32 24 11 17
Reteste 90 dias 7 dias 24 dias dias
R 0,83 0,70 0,93 0,90
Lambda 0,70 0,12 0,26 0,46
F 0,73 0,80 0,80 0,80
M 0,68 0,66 0,75 0,75
WSumC 0,79 0,40 0,62 0,75
EA 0,71 0,64 0,61 0,73
FM 0,67 0,62 0,55 0,68
m 0,41 0,64 0,73 0,45
SumC’ 0,56 0,46 0,15 0,67
SumT 0,64 -0,07 0,92 0,70
SumV 0,32 0,00 0,82 0,57
SumY 0,46 0,40 0,07 0,40
es 0,66 0,66 0,63 0,80
FC 0,66 0,61 0,80 0,08
CF 0,69 0,33 0,31 0,42
C 0,53 0,28 0,44 0,95
CF+C 0,74 0,26 0,48 0,62
Afr 0,64 0,24 0,78 0,48
EGO 0,35 0,79 0,74 0,60
X+% 0,49 0,83 0,57 0,63
Popular 0,64 0,76 0,40 0,77
a 0,72 0,64 0,53 0,72
p 0,59 0,67 0,75 0,75
Média 0,62 0,50 0,60 0,64
DP 0,14 0,26 0,24 0,19
Faixa Número de correlações
> 0,75 2 4 8 8
0,50 a 0,74 16 9 8 9
<0,50 5 10 7 6
Grupo 1 = nossa amostra
Grupo 2 = Schwartz, Mebane e Malony (1990)
Grupo 3 = adultos não-pacientes com até 55 anos de idade
(Erstad, 1996)
Grupo 4 = adultos não-pacientes com 60 anos ou mais
(Erstad, 1996)
Correlações menores do que 0,50
Correlações entre 0,50 e 0,74
Correlações iguais a 0,75 ou maiores
151
No SCR, os tipos de vivência introversivo e extratensivo são considerados estilos
definidos de resposta, ou seja, indicam preferências bem estabelecidas no modo de lidar com
as situações e resolver problemas: o introversivo prefere pensar antes de agir, o extratensivo
prefere solucionar os problemas por tentativa e erro, sendo bastante influenciado pelos afetos.
O tipo de vivência ambigual é concebido como indicando que o indivíduo oscila entre as duas
abordagens (lidar com as situações pensando ou sentindo), não tendo um estilo de resposta
definido.
Exner (2003, p. 316) comenta que, separando os 100 participantes do estudo de
teste-reteste com intervalo de 3 anos (Exner, Armbruster e Viglione, 1978) em termos de
estilos de resposta do EB, encontrou que os ambiguais apresentaram menor estabilidade
temporal dos resultados no Rorschach. Assim sendo, a maior proporção de ambiguais em
nossa amostra pode ser um dos fatores que contribuiu para a menor estabilidade temporal
encontrada. Investigamos esta questão comparando as correlações de postos para as variáveis
do SCR selecionando os participantes com mesmo estilo do EB no teste e no reteste.
Encontramos 7 introversivos, 4 extratensivos e 10 ambiguais. Devido ao número pequeno de
extrantensivos, os reunimos com os introversivos deste modo, formamos dois subgrupos:
um deles com participantes com o mesmo estilo definido (introversivo ou extratensivo) no
teste e no reteste; o outro com participantes ambiguais em ambas testagens. Os resultados são
apresentados na Tabela 39. A estabilidade temporal foi um pouco maior no grupo de
introversivos e extratensivos. A diferença entre as médias da estabilidade temporal nos dois
subgrupos foi de magnitude pequena (d = 0,20). Assim sendo, a maior proporção de
ambiguais em nossa amostra pode ter contribuído para a menor estabilidade temporal
encontrada, embora esta contribuição pareça ser pequena.
152
Tabela 39 – Correlações de postos de Spearman entre os escores no teste e no reteste para grupos
separados pelo tipo de vivência
Variável I-E A Variável I-E A
R 0,81 0,92 3r+(2)/R 0,42 0,24
Lambda 0,22 0,84 Fr+rF 1,00 0,71
F 0,70 0,80 FD 0,12 0,65
M 0,86 0,74 MOR 0,78 0,73
WSumC 0,82 0,92 H 0,94 0,28
EA 0,76 0,86 (H)+Hd+(Hd) 0,70 0,36
FM 0,58 0,39 Zf 0,49 0,78
m 0,69 0,03 Zd 0,24 0,07
FM+m 0,59 0,19 DQ+ 0,79 0,75
SumC’ 0,62 0,48 DQv 0,72 0,87
SumT 0,59 XA% 0,31 0,77
SumV 0,67 0,16 WDA% 0,26 0,74
SumY 0,60 0,64 Popular 0,48 0,69
SumSH 0,47 0,34 X+% -0,48 0,72
es 0,78 0,23 Xu% 0,48 0,19
Adjes 0,76 0,33 X-% -0,04 0,75
D-score 0,30 0,13 a 0,73 0,52
AdjD -0,25 0,46 p 0,72 0,61
FC 0,70 0,08 2AB+Art+Ay 0,49 0,62
CF 0,83 0,50 DV+DR 0,06 0,75
C 0,32 -0,41 INC+FAB 0,79 0,61
CF+C 0,76 0,74 Sum6 0,25 0,67
Afr 0,56 0,71 WSum6 0,73 0,57
Blends 0,79 0,93 PTI 0,61 0,36
S 0,58 0,45 DEPI 0,80 0,01
COP 0,93 0,76 CDI 0,45 0,79
AG 0,72 0,39 SCON 0,23 0,03
GHR 0,60 0,41
PHR 0,73 0,29 dia 0,57 0,51
Human Content 0,74 0,56 Desvio-padrão 0,30 0,29
Isolate/R 0,93 0,51 Mediana 0,68 0,57
(2) 0,90 0,46
I-E = Introversivos e Extratensivos
A = Ambiguais
10.6.2. Direcionalidade das proporções e consistência das categorias interpretativas
Em seguida, investigamos a direcionalidade das proporções do Sumário Estrutural
(Tabela 40). Consideramos direcionalidade quando um dos lados da proporção foi maior do
que o outro em mais de um ponto. EB mostrou-se estável para 22 participantes (69%);
EA : es, para 16 participantes (50%); eb, para 19 participantes (59%); a : p, para 19
participantes (59%); FC : CF+C, para 22 participantes (69%); H : (H)+Hd+(Hd), para 21
participantes (66%).
153
Tabela 40 – Direcionalidade de 6 proporções do SCR no teste e no reteste na nossa amostra
Reteste
Teste
Á esquerda Sem
direcionalidade
Á direita %
consistentes
V kappa
EB
À esquerda 9 3 1 69%
Sem direcionalidade 3 6 2 55% 0,51** 0,48**
À direita 1 1 7 63%
EA : es
À esquerda 7 3 3 54%
Sem direcionalidade 3 2 5 20% 0,36 0,26*
À direita 0 2 7 78%
eb
À esquerda 12 1 1 86%
Sem direcionalidade 6 6 1 46% 0,33 0,32*
À direita 2 2 1 20%
a : p
À esquerda 6 4 2 50%
Sem direcionalidade 1 3 4 38% 0,44* 0,38**
À direita 1 1 10 83%
FC : CF+C
À esquerda 1 2 0 33%
Sem direcionalidade 1 15 1 88% 0,42* 0,43**
À direita 1 5 6 50%
H: (H)+Hd+(Hd)
À esquerda 2 2 0 50%
Sem direcionalidade 1 7 4 58% 0,49** 0,41**
À direita 0 4 12 75%
* p < 0,05; ** p < 0,01
Em relação à direcionalidade das proporções, comparando os resultados da nossa
amostra com os resultados da amostra norte-americana de 100 adultos não-pacientes
retestados após 3 anos (Exner, Armbruster e Viglione, 1978), encontramos, na nossa amostra,
estabilidade significativamente menor para EB e EA : es; a estabilidade das demais
proporções investigadas nas duas pesquisas não foi significativamente diferente (mas a : p
quase alcançou significância estatística: X
2
= 3,321, p = 0,068). Os resultados encontram-se
resumidos na Tabela 41.
154
Tabela 41 – Freqüência e porcentagem de participantes com proporções estáveis na nossa amostra e numa
amostra norte-americana
País Brasil E.U.A
Amostra 32 não-
pacientes
100 não-
pacientes
Reteste 3 meses 3 anos
EB* 22 (69%)
86 (86%)
EA : es** 16 (50%)
82 (82%)
eb 19 (59%)
58 (58%)
a: p 19 (59%)
76 (76%)
FC : CF+C 22 (69%)
78 (78%)
* p < 0,05; ** p < 0,01
A Tabela 42 compara os resultados da nossa amostra com os resultados da
amostra francesa de 75 adultos não-pacientes retestados após 3 meses (Sultan et al., 2006).
Encontramos que a estabilidade não foi significativamente diferente para as 5 proporções
analisadas nos dois estudos (mas FC : CF+C, com estabilidade maior em nossa amostra,
quase alcançou significância estatística: X
2
= 3,419, p = 0,064).
Tabela 42 – Freqüência e porcentagem de participantes com proporções estáveis na nossa amostra e numa
amostra francesa
País Brasil França
Amostra 32 não-pacientes
75 não-pacientes
Reteste 3 meses 3 meses
EB 22 (69%) 44 (59%)
EA : es 16 (50%) 40 (53%)
eb 19 (59%) 35 (47%)
a: p 19 (59%) 37 (49%)
FC : CF+C
22 (69%) 37 (49%)
Continuando, investigamos a consistência das categorias interpretativas dos
índices Lambda, estilo passivo e respostas de reflexo (Tabela 43). Para Lambda, 23
participantes (72%) mantiveram-se na mesma faixa de valores em ambas as testagens. Para o
estilo passivo, 24 participantes (75%) mantiveram-se na mesma categoria interpretativa, no
teste e no reteste. Para as respostas de reflexo, 30 participantes (94%) mantiveram-se na
mesma categoria interpretativa.
155
Tabela 43 Consistência das categorias interpretativas de Lambda, estilo passivo e respostas de reflexos
em nossa amostra
Reteste
Índices no teste 1ª categoria 2ª categoria
%
consistentes
Φ kappa
Lambda
< 1,00 11 5 69%
> 1,00 4 12 75% 0,44* 0,44*
Estilo passivo
Ausente 14 6 70%
Presente 2 10 83% 0,52** 0,50**
Reflexos
= 0 24 2 92% 0,83** 0,82**
> 0 0 6 100%
* p < 0,05; ** p < 0,01
A consistência das categorias interpretativas de Lambda, estilo passivo e reflexos,
na nossa amostra, não foi significativamente diferente da encontrada na amostra francesa de
Sultan et al. (2006), conforme apresentado na Tabela 44.
Tabela 44 Freqüência e porcentagem de participantes com proporções estáveis em nossa amostra e
numa amostra francesa
País Brasil França
Amostra 32 não-pacientes
75 não-pacientes
Reteste 3 meses 3 meses
Lambda 23 (72%) 53 (71%)
Estilo passivo
24 (75%) 48 (64%)
Reflexos 30 (94%) 64 (85%)
O EB também pode ser analisado em termos de tipos de vivência: introversivo,
extratensivo ou ambigual. Vinte e um participantes (66%) apresentaram o mesmo tipo de
vivência no teste e no reteste (Tabela 45).
Tabela 45 – Consistência das categorias do EB em nossa amostra
Reteste %
Teste Introversivo Ambigual Extratensivo consistentes V kappa
EB
Introversivo 7 3 0 70%
Ambigual 4 10 3 59% 0,53** 0,46**
Extratensivo 1 0 4 80%
156
Em seguida, comparamos a consistência das categorias interpretativas para
Lambda, a : p, EB e FC : CF+C, na nossa amostra, na amostra francesa (Sultan et al., 2006) e
em três amostras norte-americanas: 35 adultos não-pacientes retestados após 3 semanas
(Exner, 1999a), 50 adultos não-pacientes retestados após 1 ano (Exner, 1999a) e 8 idosos
(Erstad, 1996). A Tabela 46 resume os resultados nas 5 amostras.
Tabela 46 Freqüência e porcentagem de participantes com consistência das categorias em nossa
amostra, em três amostras norte-americanas e numa amostra francesa
País Brasil E.U.A EUA EUA França
N 32 35 50 8 75
Reteste 90 dias 3 semanas 1 ano dias 90 dias
Lambda 23 (72%) 33 (94%)* 49 (98%)** 7 (88%) 53 (71%)
a : p 24 (75%) 35 (100%)** 49 (98%)** 5 (63%) 48 (64%)
EB
a
11 (92%) 35 (100%) 49 (98%) 24 (89%)
FC : CF+C 22 (69%) 34 (97%)** 48 (96%)** 4 (50%) 37 (49%)
a
ambiguais foram excluídos.
* p < 0,05 ** p < 0,01
Nas amostras de Exner, os ambiguais foram excluídos da análise. Considerando
então apenas os introversivos e extratensivos, encontrou que todos os 29 participantes (100%)
retestados após 3 semanas e 39 dos 40 participantes (98%) retestados após 1 ano apresentaram
o mesmo estilo do EB no teste e no reteste. Se excluirmos os ambiguais da nossa amostra,
sobram 12 participantes, sendo que 11 deles (92%) apresentaram o mesmo estilo do EB no
teste e no reteste. Para a amostra francesa (Sultan et al., 2006), excluindo os ambiguais,
sobram 27 participantes, sendo que 24 deles (89%) apresentaram o mesmo estilo do EB no
teste e no reteste. Nesta análise, a consistência das categorias interpretativas do EB não foi
significativamente diferente nestas três amostras. Contudo, devemos lembrar que a proporção
de ambiguais, excluídos nesta análise, foi menor nos norte-americanos do que nos brasileiros
e nos franceses.
A consistência das categorias interpretativas em nossa amostra foi
significativamente menor do que nas amostras norte-americanas de Exner, para Lambda,
a : p e FC : CF+C, mas não foi significativamente diferente da encontrada na amostra de
idosos de Erstad (1996) e na amostra francesa (Sultan et al., 2006).
157
O SCR destaca situações em que os resultados do EB são pouco confiáveis:
quando M ou WSumC apresentam valores iguais à zero. Estes resultados não são esperados e
estariam associadas a estados de estresse. Assim sendo, decidimos verificar os participantes
com M ou WSumC iguais à zero em nossa amostra. Um participante apresentou M = 0 em
ambas testagens, e outro participante apresentou M = 0 no teste e M = 1 no reteste. Um
participante apresentou WSumC = 0,0 em ambas testagens, outros 3 participantes
apresentaram WSumC = 0,0 apenas no teste e um outro participante apresentou WSumC = 0
apenas no reteste. Excluindo estes 7 participantes, sobram 25 com EB válido para indicar os
estilos de resposta. Dentre estes 25 participantes, 15 (60%) apresentaram o mesmo tipo de
vivência no teste e no reteste (Tabela 47).
Tabela 47 Consistência das categorias do tipo de vivência na nossa amostra, excluindo-se os casos com
M = 0 ou WSumC = 0 no teste ou no reteste
Reteste %
Teste
Introversivo Ambigual Extratensivo consistentes V kappa
EB
Introversivo 3 2 0 60%
Ambigual 4 9 3 56% 0,40* 0,35*
Extratensivo 1 0 3 75%
* p < 0,05 ** p < 0,01
Exner (2003) indica que EB deve ser interpretado em conjunto com Lambda.
Quando encontramos Lambda > 1,00, identificamos o estilo evitativo, que predomina sobre os
estilos identificados pelo EB. Assim sendo, teríamos quatro diferentes tipos: evitativo,
introversivo, extratensivo e ambigual. Seguindo esta classificação, encontramos em nossa
amostra 18 participantes (56%) com mesmo estilo no teste e no reteste (Tabela 48).
Tabela 48 Consistência das categorias do tipo de vivência no teste e no reteste, considerando EB e
Lambda
Reteste %
Teste Evitativo Introversivo Ambigual Extratensivo consistentes V kappa
Tipo de vivência
Evitativo 12 3 0 1 75%
Introversivo 0 2 2 0 50%
Ambigual 4 1 3 1 33% 0,41 0,33*
Extratensivo 1 1 0 1 33%
* p < 0,01
158
Eliminando de nossa amostra os casos com Lambda > 1,00 no teste ou no reteste,
sobram 11 casos, sendo que 6 deles (55%) apresentaram o mesmo tipo de vivência (avaliado
pelo EB) no teste e no reteste (Tabela 49). A porcentagem de casos que permaneceram na
mesma categoria em ambas testagens não foi significativamente diferente da encontrada na
amostra francesa de Sultan et al. (2006): 24 participantes (57%) dentre os 42 com
Lambda < 1,00.
Tabela 49 Consistência das categorias do tipo de vivência para 11 participantes da nossa amostra com
Lambda < 1,00 no teste e no reteste
Reteste %
Teste Introversivo Ambigual Extratensivo consistentes V Kappa
EB
Introversivo 2 2 0 50%
Ambigual 1 3 1 60% 0,41 0,28
Extratensivo 1 0 1 50%
Eliminando da análise casos com EB com valores baixos (EA < 4,0, lembrando
que EA corresponde à soma dos dois lados do EB) no teste ou no reteste, sobram 22 casos,
sendo 13 deles (59%) consistentes, em termos das categorias do EB no teste e no reteste
(Tabela 50).
Tabela 50 – Consistência das categorias do tipo de vivência para os casos com EA > 4,0 em nossa amostra
Reteste %
Teste Introversivo Ambigual Extratensivo consistentes V kappa
EB
Introversivo 6 2 0 75%
Ambigual 4 3 2 33% 0,50* 0,38**
Extratensivo 1 0 4 80%
* p < 0,05 ** p < 0,01
Para o tipo de vivência (EB considerado em termos de categorias interpretativas),
as porcentagens de participantes com mesmo tipo no teste e no reteste foram semelhantes nas
várias situações investigadas: a) considerando todos os protocolos (66%); b) eliminando os
casos com M = 0 ou WSumC = 0,0 (60%); c) classificando o tipo de vivência em quatro
categorias, de modo a incluir como uma delas o estilo evitativo (56%); d) eliminando os
protocolos com Lambda >
1,00 (55%); e) eliminando os casos com EA < 4,0 (59%).
159
Continuando com a análise da consistência das categorias interpretativas,
investigamos a consistência para as variáveis D-score, Zd e Textura (Tabela 51).
Permaneceram na mesma categoria interpretativa quatorze participantes (44%) para D-score,
16 participantes (50%) para Zd e 25 participantes (78%) para Textura.
Tabela 51 – Consistência das categorias para D-score, Zd e Textura em nossa amostra
Reteste %
Categoria no teste Primeira categoria Segunda categoria Terceira categoria consistentes V kappa
D-score < 0 2 3 0 60%
D-score = 0 6 11 6 48% 0,23 -0,02
D-score > 0 0 3 1 25%
Zd < -3,0 0 2 1 0%
Zd = -3,0 a 3,0 6 14 2 64% 0,28 -0,01
Zd > + 3,0 0 5 2 29%
T = 0 22 3 1 85%
T = 1 2 1 0 33% 0,50* 0,40*
T > 1 0 1 2 67%
* p < 0,01
Comparamos a consistência das categorias interpretativas de D-score, Zd e
Textura encontrada na nossa amostra, na amostra de Exner (1988) e na amostra francesa de
Sultan et al. (2006), conforme apresentado na Tabela 52. Em relação à amostra francesa,
nossa amostra apresentou consistência significativamente maior para Textura. Por outro lado,
apresentou consistência de D-score e Zd significativamente menor do que a da amostra norte-
americana.
Tabela 52 Freqüência e porcentagem de participantes na mesma categoria interpretativa no teste e no
reteste para D-score, Zd e Textura na nossa amostra, numa amostra norte-americana e numa amostra
francesa
País
Brasil E.U.A França
Amostra
32 não-pacientes
36 participantes
75 não-pacientes
Reteste
3 meses 4 a 30 dias 3 meses
D-score
14 (44%) 35 (97%)** 40 (53%)
Zd
16 (50%) 32 (89%)** 45 (60%)
Textura
25 (78%) 40 (53%)*
* p < 0,05 ** p < 0,01
160
Por fim, investigamos a estabilidade das constelações.
O Índice de percepção e pensamento [PTI] apresenta valores de zero a cinco. É
interpretado de modo dimensional, com valores maiores indicando maior prejuízo. Apesar de
não possuir ponto de corte, valores maiores do que 3 são considerados um indício de
importante prejuízo na percepção e pensamento. Na Tabela 53, apresentamos a análise do PTI
com seus valores divididos em duas categorias: PTI < 3 e PTI > 3. Encontramos que 31
participantes (97%) mantiveram-se com PTI < 3 e um participante passou de PTI > 3 no teste
para PTI < 3 no reteste.
Tabela 53 – Freqüência de participantes em duas categorias interpretativas do índice PTI
Reteste
PTI
Teste > 3
< 3
%
consistentes
Φ k
PTI > 3 0 1 0
%
< 3 0 31 100
%
As demais constelações foram analisadas em termos de seu status positivo ou
negativo, com os resultados apresentados na Tabela 54.
Tabela 54 – Freqüência de participantes com constelações positivas e negativas na nossa amostra
Índices no reteste %
Índices no teste Positivo Negativo consistentes Φ k
SCZI
Positivo 2 0 100
%
Negativo 3 27 90
%
0,60** 0,53**
DEPI
Positivo 4 6 40
%
Negativo 1 21 95
%
0,45** 0,41**
CDI
Positivo 10 2 83
%
Negativo 2 18 90
%
0,73** 0,73**
S-CON
Positiva 0 1 0
%
Negativa 0 31 100
%
HVI
Positivo 1 3 25
%
Negativo 1 27 96
%
0,29 0,27
OBS
Positivo 0 0 0
%
Negativo 0 35 100
%
* p < 0,05 ** p < 0,01
161
O Índice de Esquizofrenia [SCZI] apresenta valores de zero a seis e SCZI > 4 é
considerado positivo. O Índice de Esquizofrenia mostrou-se estável, em termos de seu status
positivo ou negativo, para 29 dos 32 participantes (91%).
O Índice de depressão [DEPI] apresenta valores de zero a sete e DEPI > 5 é
considerado positivo. O Índice de Depressão mostrou-se estável em termos de seu status
positivo ou negativo para 29 dos 32 participantes (91%).
O Índice de Déficit Relacional [CDI] apresenta valores de zero a cinco e CDI > 4
é considerado positivo. O Índice de Déficit Relacional mostrou-se estável em termos de seu
status positivo ou negativo para 28 dos 32 participantes (88%).
A Constelação de Suicídio [S-CON] apresenta valores de zero a doze e S-CON > 8
é considerada positiva. A Constelação de Suicídio mostrou-se estável em termos de seu status
negativo ou positivo para 31 dos 32 participantes (97%).
O Índice de Hipervigilância mostrou-se estável em termos de seu status negativo
ou positivo para 28 dos 32 participantes (88%).
Todos os 32 participantes (100%) apresentaram Índice de Estilo Obsessivo [OBS]
negativo no teste e no reteste.
Para todas as constelações, exceto CDI, a ausência de um índice positivo no teste
foi uma característica bastante estável, enquanto que um índice positivo no teste mais
provavelmente mudou para negativo no reteste. Este resultado é esperado, pois o Poder
Preditivo Positivo (ou a porcentagem de consistência para os índices positivos) é menor do
que o Poder Preditivo Negativo (ou a porcentagem de consistência para os índices negativos)
quando um índice positivo apresenta uma baixa taxa de ocorrência (STEINER, 2003), tal
como ocorreu em nossa amostra.
No teste, o CDI foi positivo para 12 dos 32 participantes, sendo que 10 deles
mantiveram-se com CDI positivo no reteste (Poder Preditivo Positivo = 83%); foi negativo
para 20 dos 32 participantes, sendo que 18 deles mantiveram-se com CDI negativo no reteste
(Poder Preditivo Negativo = 90%).
162
Comparando a consistência das constelações em nossa amostra com a encontrada
na amostra francesa (Sultan et al., 2006), apenas DEPI mostrou-se significativamente mais
estável em nossa amostra (Tabela 55).
Tabela 55 Freqüência e porcentagem de participantes com constelações consistentes em nossa amostra e
numa amostra francesa
País Brasil França
Amostra
32 adultos 75 adultos
Reteste 90 dias 90 dias
SCZI 29 (91%) 61 (81%)
DEPI 29 (91%)*
46 (61%)
CDI 28 (88%) 54 (72%)
S-CON 31 (97%) 73 (97%)
HVI 28 (88%) 62 (82%)
OBS 32 (100%)
73 (97%)
* p < 0,01
10.7. Problemas estatísticos interferindo nas estimativas da estabilidade temporal
Um dos fatores que pode diminuir a estabilidade temporal é a restrição da faixa de
valores. Infelizmente, as pesquisas de Exner sobre estabilidade temporal não apresentam
estatísticas descritivas das variáveis. No entanto, contamos com as estatísticas descritivas da
amostra normativa do SCR, apresentadas em Exner (2003). Decidimos comparar os desvios-
padrão das variáveis em nossa amostra (utilizando a média dos desvios-padrão do teste e do
reteste) com os desvios-padrão das variáveis na amostra normativa norte-americana. Os
resultados são apresentados na Tabela 56.
Quarenta e quatro desvios-padrão foram maiores em nossa amostra. Parece então
que nossa amostra apresentou faixas de valores mais amplas do que as das amostras de Exner
(supondo-se que estas apresentem desvios-padrão semelhantes aos da amostra normativa).
Assim sendo, a estabilidade temporal mais baixa encontrada em nossa amostra não pode ser
explicada como decorrência de faixas de valores mais restritas.
163
Tabela 56
Desvios-padrão de 50 variáveis do SCR em nossa amostra (média do teste e do reteste) e na
amostra normativa norte-americana
Variável
Nossa
amostra
Normativa
EUA
Variável
Nossa
amostra
Normativa
EUA
R 6,51 4,40 GHR 1,63 1,78
Lambda 0,58 0,31 PHR 2,80 1,46
F 4,69 2,83 Human Content 3,01 1,75
M 2,40 1,95 Isolate/R 0,13 0,09
WSumC 2,47 1,78 (2) 3,25 2,18
EA 3,29 2,38 3r+(2)/R 0,10 0,09
FM 1,86 1,31 Fr+rF 0,82 0,43
m 1,12 0,99 FD 0,68 0,94
FM+m 2,26 1,70 MOR 1,46 0,89
SumC’ 1,36 1,16 H 1,91 1,71
SumT 0,70 0,61 Zf 3,66 2,78
SumV 0,68 0,61 Zd 3,81 2,98
SumY 1,27 0,96 DQ+ 3,02 2,23
SumSH 2,29 2,09 DQv 1,42 1,26
es 3,64 2,99 XA% 0,10 0,06
D-score 1,11 0,97 WDA% 0,10 0,94
AdjD 1,23 0,82 Popular 1,68 1,39
FC 1,52 1,88 X+% 0,11 0,09
CF 1,70 1,31 Xu% 0,10 0,07
C 0,64 0,37 X-% 0,09 0,05
Afr 0,23 0,16 a 3,17 2,23
Blends 2,53 2,08 p 2,63 1,64
S 2,91 1,28 2AB+Art+Ay 2,95 1,48
COP 1,24 1,38 Sum6 2,24 1,47
AG 0,89 1,15 WSum6 9,27 4,08
Outro fator que pode resultar em correlações mais baixas é a assimetria das
variáveis. Quando a assimetria é maior do que 1,00, os dados não seguem uma distribuição
semelhante à curva normal (DANCEY; REIDY, 2006). Comparamos a assimetria das
variáveis do SCR em nossa amostra, no teste e no reteste, com a assimetria das variáveis na
amostra normativa do Sistema Compreensivo. Os resultados são apresentados na Tabela 57.
164
Tabela 57
Assimetria de 50 variáveis do SCR em nossa amostra e na amostra normativa norte-
americana
Amostra
Nossa amostra
(teste)
Nossa amostra
(reteste)
Normativa EUA
R 0,92 0,64 0,86
Lambda 1,16 1,63 2,27
F 1,04 0,58 0,92
M 0,23 0,83 0,48
WSumC 1,14 1,02 0,11
EA 0,04 0,63 -0,04
FM 0,44 0,16 0,15
m 1,50 1,40 0,62
FM+m 0,78 0,46 0,20
SumC’ 1,18 3,54 1,41
SumT 2,50 1,74 0,83
SumV 1,28 2,60 2,71
SumY 0,81 0,92 3,53
SumSH 0,72 1,84 2,54
es 1,29 1,23 1,43
D-score 0,74 0,63 -3,06
AdjD 1,33 1,41 -0,88
FC 1,54 0,97 0,29
CF 0,30 0,82 3,76
C 3,34 2,26 12,15
Afr 1,17 1,39 0,35
Blends 1,03 1,15 0,00
S 2,10 3,26 1,99
COP 1,47 1,93 0,25
AG 1,36 2,08 1,02
GHR 0,29 0,53 0,36
PHR 0,73 0,56 1,25
HumanContent 0,65 0,60 0,59
Isolate/R 0,86 0,04 0,51
(2) 0,99 0,29 0,29
3r+(2)/R 0,78 0,20 0,47
Fr+fr 2,25 2,25 4,98
FD 0,99 0,83 0,84
MOR 1,15 1,47 1,01
H 0,91 1,74 0,97
Zf 0,04 0,43 0,87
Zd 0,05 0,16 0,31
DQ+ 0,36 0,54 0,53
DQv 0,69 1,33 1,35
XA% 0,10 -0,32 -1,34
WDA% -0,05 -0,74 -1,42
Popular 0,03 0,31 -0,09
X+% 0,22 0,22 -0,86
Xu 0,04 -0,39 0,54
X-% -0,37 0,43 1,41
a 1,64 1,31 0,32
p 0,87 0,27 0,57
2AB+Art+Ay 2,93 3,83 1,27
Sum6 1,09 0,88 0,80
WSum6 1,75 2,02 1,42
165
Para as 50 variáveis comparadas:
19 variáveis apresentaram assimetria < 1 em nossa amostra no teste, no
reteste, e na amostra normativa norte-americana;
14 variáveis apresentaram assimetria > 1 em nossa amostra no teste e/ou
no reteste e na amostra normativa norte-americana;
11 variáveis apresentaram assimetria > 1 em nossa amostra no teste e/ou
no reteste, mas não na amostra normativa norte americana;
6 variáveis apresentaram assimetria > 1 na amostra norte-americana, mas
não em nossa amostra.
Nossa amostra, no teste, apresentou 31 assimetrias maiores do que as da amostra
norte-americana; no reteste, apresentou 29 assimetrias maiores. Assim sendo, parece que a
assimetria não é um fator importante para explicar as correlações mais baixas em nossa
amostra.
Algumas variáveis do Rorschach apresentam valores baixos, com muitos
testandos obtendo escores iguais à zero. Isto pode contribuir para restrição da faixa de valores
e assimetria, que costumam diminuir a estabilidade temporal. Comparamos a proporção de
casos com escores iguais à zero em nossa amostra (média do teste e do reteste) com a
proporção na amostra normativa norte-americana. Para encontrar o número de casos com
escores iguais à zero, subtraímos do número total de participantes a freqüência de casos com
escores maiores do que zero, informada nas estatísticas descritivas. Esta análise foi realizada
apenas para as variáveis que costuma apresentar valores baixos, com escores iguais à zero
sendo bastante freqüentes. Os resultados são apresentados na Tabela 58.
Nossa amostra apresentou uma proporção de casos com escores iguais à zero
significativamente maior do que a da amostra norte-americana para as variáveis m, SumC,
SumT, FC, CF, COP, AG, FD e H. Para estas variáveis, então, a distribuição de valores com
maior freqüência de escores igual à zero em nossa amostra pode ter contribuído para a menor
estabilidade temporal. Nossa amostra apresentou também uma proporção significativamente
menor de casos com escores iguais a zero para Fr+rF e DQv do que a amostra norte-
americana. Isto pode ter contribuído para a estabilidade temporal maior de Fr+rF em nossa
amostra (nenhuma das pesquisas de Exner informa a estabilidade temporal de DQv).
166
Tabela 58
Freqüência e porcentagem de casos com escores iguais à zero para 19 variáveis do SCR em
nossa amostra (média do teste e reteste) e na amostra normativa norte-americana
Nossa Normativa
amostra EUA
Variável f % f %
m 17 53 142** 24
SumC’ 19 59 110** 18
SumT 25 78 110** 18
SumV 23 72 476 79
SumY 13 41 338 56
FC 10 31 20** 3
CF 7 22 36** 6
C 24 75 539 90
S 4 13 86 14
COP 16 50 102** 17
AG 22 69 220** 37
Fr+rF 25 78 552** 92
FD 19 59 144** 24
MOR 13 41 279 47
H 5 16 5** 1
DQv 14 44 407** 68
2AB+Art+Ay 7 22 151 25
Sum6 5 16 104 17
WSum6 5 16 104 17
* p < 0,05; ** p < 0,01
Em amostras relativamente pequenas como a nossa, escores extremos (outliers)
podem enviesar as estimativas de estabilidade temporal. Para identificar os escores extremos,
realizamos análises de regressão para as variáveis do SCR, tomando como variável
dependente os escores no reteste e como variável dependente os escores no teste. Analisamos
os resíduos, identificando os casos cujos resíduos se situaram a mais do que dois desvios-
padrão abaixo ou acima da média dos resíduos. Com esta análise, identificamos valores
extremos para 9 variáveis. Para cada uma destas variáveis, recalculamos a estabilidade
temporal, excluindo os participantes com escores extremos (Tabela 59). Notamos que, para
todas as variáveis, a exclusão dos escores extremos fez com que as estimativas de estabilidade
temporal aumentassem, às vezes em magnitude importante (por exemplo, Afr apresentou
r = 0,64, mas, excluindo um participante, a correlação passou a ser r = 0,84).
167
Tabela 59 Estabilidade temporal das variáveis do SCR na amostra original e retirando-se os escores
extremos (outliers)
Amostra Original Sem extremos #
SumC’ 0,56 0,74 3
SumT 0,64 0,83 3
SumV 0,32 0,38 3
C 0,53 0,72 7
Afr 0,64 0,84 1
AG 0,78 0,89 5
a 0,72 0,83 1
INC+FAB 0,60 0,69 1
PTI 0,64 0,68 1
# número de participantes com valores extremos
O procedimento de eliminar os escores extremos é controverso. Por um lado, gera
estimativas da estabilidade temporal menos enviesadas pela presença de uns poucos escores
fora do padrão geral. Por outro lado, a própria existência de escores extremos indica que
alguns participantes apresentaram importantes mudanças de uma testagem à outra. Existe
também o problema do critério a ser utilizado para identificar os escores extremos nosso
critério não se mostrou muito eficiente para a variável C, pois foram identificados 7 escores
extremos e estes não devem ser tão freqüentes; para outras variáveis talvez tenha deixado de
identificar escores que enviesaram as estimativas da estabilidade temporal. O importante é
assinalar que, para algumas variáveis, a presença de escores extremos pode ter diminuído a
estabilidade temporal.
Sultan et al. (2006) levantaram a hipótese de que a taxa de ocorrência da variável
influencia sua estabilidade temporal: variáveis com baixa taxa de ocorrência devem apresentar
menor estabilidade do que variáveis com taxa de ocorrência maior. A baixa taxa de ocorrência
se relaciona aos problemas da restrição da faixa de valores e assimetria.
Em nossa amostra, a relação entre a taxa de ocorrência da variável e a estabilidade
temporal foi bastante variada (Figura 4). A correlação entre a taxa de ocorrência (média do
teste e do reteste) e a estabilidade temporal foi r = 0,30, o que é uma associação de magnitude
pequena. De qualquer modo, observamos esta tendência de que quanto maior a taxa de
ocorrência, maior a estabilidade temporal.
168
Figura 4 Estabilidade temporal em função da taxa de ocorrência para as variáveis do SCR em nossa
amostra
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
Taxa de ocorrência
Estabilidade temporal
10.8. A estabilidade temporal e o engajamento na tarefa
O nível de engajamento na tarefa em nossa amostra, considerando-se os valores de
R e Lambda, aparentemente foi semelhante ao encontrado na amostra normativa: nossa
amostra apresentou R maior, mas Lambda também maior, disso resultando um nível de
engajamento aproximadamente semelhante. No entanto, o nível de engajamento na tarefa em
nossa amostra foi menor do que na amostra normativa norte-americana (Exner, 2003) e na
pesquisa francesa sobre estabilidade temporal (Sultan et al., 2006).
O engajamento na tarefa também pode ser avaliado pela variável Task
Engagement [TE]. Para o cálculo de TE, utilizamos escores padronizados, ou seja, os escores
originais são transformados, subtraindo a média e dividindo este resultado pelo desvio-padrão
da amostra. Utilizamos os escores do teste e do reteste em conjunto para calcular as médias e
desvios-padrão das variáveis componentes de TE. Então, calculamos o índice de engajamento
na tarefa [Task Engagement TE], no teste e no reteste, para os participantes da nossa
amostra. Quatorze participantes apresentaram maior engajamento no teste; dezoito, no reteste.
Como o engajamento na tarefa [TE] é calculado a partir de escores padronizados –
ou seja, TE é uma medida ancorada na amostra estudada –, isto impede comparações dos
valores de TE entre amostras diferentes. Também é difícil estimar a magnitude das mudanças
em TE de uma testagem à outra, na nossa amostra.
169
Encontramos um outro modo de avaliar o engajamento na tarefa. R corresponde
ao total de respostas do protocolo; F corresponde às respostas mais simples. Assim, R-F
corresponde ao total de respostas mais complexas ou nas quais houve maior engajamento.
Devemos observar que R-F corresponde ao denominador do índice Lambda, que compara as
respostas de forma pura com as respostas com outros determinantes [Lambda = F/(R-F)]. Os
resultados de R-F, no teste e no reteste, são apresentados na Tabela 60.
Tabela 60 – Engajamento na tarefa (avaliado por R-F) no teste e no reteste
Participante Teste Reteste |Teste - Reteste|
1 14 19 5
2 6 10 4
3 16 21 5
4 17 17 0
5 15 16 1
6 6 6 0
7 15 13 2
8 8 12 4
9 11 11 0
10 12 10 2
11 15 9 6
12 23 14 9
13 10 11 1
14 9 7 2
15 16 10 6
16 9 7 2
17 11 11 0
18 8 8 0
19 12 15 3
20 10 13 3
21 11 15 4
22 17 15 2
23 13 11 2
24 6 6 0
25 18 13 5
26 6 8 2
27 12 14 2
28 7 6 1
29 8 10 2
30 9 8 1
31 16 15 1
32 12 11 1
Média 11,81 11,63 2,44
DP 4,18 3,81 2,17
Mediana 11,50 11,00 2
O engajamento na tarefa, avaliado por R-F, aumentou para 12 participantes,
permaneceu igual para 6 participantes e diminuiu para 14 participantes. Considerando o
170
módulo da diferença entre R-F no teste e R-F no reteste, encontramos que 2/3 dos
participantes apresentou diferenças de até 2 pontos de uma testagem à outra, o que pode ser
considerada uma diferença “pequena”; porém outro 1/3 dos participantes apresentou
diferenças maiores do que 2 pontos, o que pode ser considerada uma diferença “grande”.
Na amostra normativa de Exner (2003), R apresentou media 22 e F apresentou
media 8. Assim, utilizando estes valores, encontramos R-F 14, valor 2 pontos maior do
que a media de R-F em nossa amostra. Na amostra francesa de Sultan et al. (2006), R
apresentou média 24 e F apresentou média 9. Utilizando estes valores, encontramos
R-F 15, valor 3 pontos maior do que a média de R-F em nossa amostra. Considerando que o
número médio de respostas nestas três amostras foi semelhante (R 23), e que R-F diferiu
aproximadamente 3 pontos entre nossa amostra e as outras duas, podemos dizer que o
engajamento na tarefa foi apenas um pouco menor na nossa amostra, que 3 pontos em 23
respostas correspondem a 13%.
10.9. Protocolos de participantes que conheciam o examinador
Seis participantes conheciam o examinador antes da aplicação do teste. Dois
destes participantes conheceram o examinador por meio de conhecidos em comum e os outros
quatro participantes conheceram o examinador por trabalharem na Clínica de Psicologia, onde
se realizou a pesquisa.
Dos quatro participantes que conheciam o examinador por trabalhem na Clínica
de Psicologia, 3 forneceram protocolos com menos de 14 respostas, em uma ou em ambas as
testagens, e 1 participante forneceu protocolos com mais de 14 respostas nas duas testagens.
Dos participantes com protocolos com menos de 14 respostas, dois apresentaram valores
baixos de Lambda. Este resultado (R baixo, Lambda baixo) indica que se envolveram com a
testagem, apresentando respostas complexas, mas forneceram poucas respostas segundo um
estilo que privilegia a qualidade à quantidade. O outro participante com R < 14 apresentou
Lambda > 2,00 (alto) em ambas testagens.
171
Dos dois participantes que conheceram o examinador por meio de conhecidos em
comum, um apresentou R elevado e Lambda dentro da média da amostra, em ambas testagens,
e o outro apresentou R dentro da média e Lambda abaixo da média, em ambas testagens.
Assim sendo, ambos se engajaram na tarefa. Apenas 1 participante apresentou o padrão
descrito por Exner (1978), de aumento no número de respostas associado ao testando
conhecer o examinador.
É difícil avaliarmos o papel que conhecer o examinador pode ter desempenhado
nos resultados. Pode ser que para alguns participantes, conhecer o examinador tenha
contribuído para fornecerem respostas mais elaboradas, embora não tenha aumentado o
número de respostas; para outros participantes, pode ter aumentado o número de respostas,
mas sem melhorar sua complexidade; para outros, pode ter provocado defensividade,
resultando em protocolos com R baixo e Lambda alto.
Cabe notar que nas pesquisas de Exner, os examinadores eram terapeutas que
testaram seus pacientes ou professores que testaram seus alunos, situação diferente da nossa,
em que os participantes conheciam socialmente o examinador, sem ter contato mais freqüente
com ele.
10.10. Protocolos com poucas respostas
Conforme informado anteriormente, 9 indivíduos que participaram da pesquisa
apresentaram protocolos com menos de 14 respostas. Destes, 3 conheciam o examinador antes
da testagem; os protocolos dos outros 6 participantes serão agora analisados.
Devido ao número pequeno de protocolos com menos do que 14 respostas,
decidimos agrupá-los junto aos 32 participantes e recalcular as correlações. A Tabela 61
apresenta os resultados para a amostra original de 32 participantes e para a amostra de 38
participantes, que inclui os 6 protocolos com menos de 14 respostas.
172
Tabela 61 Estabilidade temporal das variáveis do SCR para a amostra original de 32 participantes e
para a amostra de 38 participantes, que inclui os 6 casos com menos de 14 respostas em uma ou ambas
testagens
Amostra Original 38 Amostra Original 38
R 0,83 0,88 (2) 0,76 0,79
Lambda 0,70 0,71 3r+(2)/R 0,35 0,39
F 0,73 0,78 Fr+rF 0,91 0,89
M 0,68 0,69 FD 0,51 0,47
WSumC 0,79 0,78 MOR 0,60 0,57
EA 0,71 0,74 H 0,73 0,71
FM 0,67 0,63 (H)+Hd+(Hd) 0,67 0,73
m 0,41 0,43 Zf 0,67 0,65
FM+m 0,62 0,58 Zd 0,25 0,21
SumC’ 0,56 0,57 DQ+ 0,69 0,69
SumT 0,64 0,58 DQv 0,72 0,73
SumV 0,32 0,30 XA% 0,65 0,68
SumY 0,46 0,45 WDA% 0,43 0,42
SumSH 0,51 0,51 Popular 0,64 0,60
es 0,66 0,64 X+% 0,49 0,49
Adjes 0,67 0,61 Xu% 0,29 0,34
D-score 0,27 0,28 X-% 0,62 0,67
AdjD 0,30 0,34 a 0,72 0,71
FC 0,66 0,69 p 0,59 0,57
CF 0,69 0,66 2AB+Art+Ay 0,85 0,86
C 0,53 0,50 DV+DR 0,26 0,27
CF+C 0,74 0,73 INC+FAB 0,60 0,52
Afr 0,64 0,64 Sum6 0,73 0,66
Blends 0,69 0,70 WSum6 0,87 0,81
S 0,80 0,81 PTI 0,64 0,69
COP 0,72 0,72 DEPI 0,50 0,49
AG 0,78 0,69 CDI 0,63 0,62
GHR 0,51 0,50 SCON 0,39 0,31
PHR 0,69 0,72
Human Content 0,78 0,81 dia 0,62 0,61
Isolate/R 0,76 0,76 Desvio-padrão 0,16 0,16
Para a amostra de 38 participantes, as correlações de teste-reteste variaram de 0,21
a 0,89, com média = 0,61 ± 0,16 e mediana = 0,66. Para a amostra original de 32
participantes, as correlações de teste-reteste variaram de 0,25 a 0,91, com média = 0,62 ± 0,16
e mediana = 0,66. Vinte e nove correlações foram maiores na amostra com 32 participantes, 6
correlações foram iguais nas duas amostras e 25 correlações foram maiores na amostra com
38 participantes. Aparentemente, então, os resultados foram semelhantes, ou seja, a inclusão
dos protocolos com menos do que 14 respostas não diminuiu significativamente a estabilidade
temporal das variáveis. Devido ao número pequeno de participantes com menos de 14
respostas, 6 casos, talvez não tenha sido possível identificar uma eventual diminuição na
estabilidade temporal com a inclusão de protocolos com menos de 14 respostas.
173
Realizamos também comparações dos resultados no teste e no reteste para os 6
protocolos com menos do que 14 respostas. Esta análise encontra-se no Apêndice H
[Suprimido na versão online]. De modo geral, os resultados, no teste e no reteste, para os
protocolos com menos de 14 respostas, foram semelhantes para a maioria das variáveis. No
entanto, para alguns destes protocolos, ocorreram mudanças importantes em variáveis centrais
para a interpretação dos resultados.
174
11. DISCUSSÃO
Nesta pesquisa, encontramos fidedignidade inter-codificadores substancial ou
excelente para a maioria dos códigos do SCR. Contudo, algumas codificações apresentaram
fidedignidade insatisfatória. Em parte, a menor fidedignidade ocorreu para variáveis com
baixa taxa de ocorrência, problema que já havia sido identificado por outros autores (Acklin et
al., 2000; Meyer et al., 2002; Viglione e Taylor, 2003; McGrath, Pogge e Strokes, 2005;
Sahly, 2006). Para códigos com baixa taxa de ocorrência, devemos considerar que as
estimativas de fidedignidade são imprecisas, mais do que propriamente baixas.
É importante destacar que, considerando o conjunto dos estudos norte-americanos
e brasileiros, a fidedignidade inter-codificadores do SCR mostra-se adequada: diferentes
estudos encontraram níveis substanciais de fidedignidade para a maioria das variáveis, o que
indica que os critérios de codificação são suficientemente claros para garantir uma
codificação objetiva das respostas. Contudo, observarmos que a fidedignidade inter-
codificadores encontrada nos estudos brasileiros foi menor do que a reportada nos estudos
norte-americanos. Um dos problemas parece ser a utilização da Tabela de Qualidade Formal
do Sistema Compreensivo. Trata-se de uma tabela norte-americana, aparentemente não tão
adequada para brasileiros: muitas respostas não são encontradas na Tabela, então sua
qualidade formal é avaliada pelo examinador, o que parece diminuir a fidedignidade das
codificações de qualidade formal. Também vem sendo mais difícil obter melhor concordância
entre diferentes avaliadores brasileiros para os códigos especiais. Este é um aspecto mais
difícil da codificação, tanto que, nas diversas pesquisas norte-americanas, a fidedignidade dos
códigos especiais costuma ser menor do que a de outros segmentos. Talvez os critérios de
codificação não sejam suficientemente claros ou ainda não tenham sido bem compreendidos
pelos examinadores brasileiros. De qualquer modo, alguns critérios de codificação do SCR
ainda podem ser aprimorados.
175
Erstad (1996) comenta que os exercícios para treino das codificações fornecidos
no Workbook
62
do SCR mostram que a codificação das respostas segue princípios lógicos e
coerentes.
Por outro lado, parte da lógica da codificação do Sistema Compreensivo raramente
ou nunca é apresentada em trabalhos impressos e encontra-se disponível apenas nos
seminários oferecidos por Rorschach Workshops [cursos ministrados pela
organização de pesquisas de Exner]. Contar com informações mais completas sobre
a lógica das codificações ajudaria a tornar mais fácil o aprendizado das codificações
do Sistema Compreensivo. Em alguns casos, esta informação pode ser o único modo
de chegar a compreender as codificações realizadas por Rorschach Workshops [e
apresentadas no Workbook]. Esta informação também ajudaria a assegurar que
aqueles que querem usar o Sistema Compreensivo estão codificando tão
corretamente quanto possível no presente estágio de desenvolvimento do Sistema
Compreensivo. (ERSTAD, 1996, p. 177-178).
A publicação do livro Rorschach Coding Solutions (Viglione, 2002) parece ser uma
contribuição importante no sentido de detalhar os critérios de codificação e esclarecer
dúvidas.
Além dos critérios detalhados para a codificação das respostas, existe a
necessidade de treinamento adequado dos codificadores para realizar codificações de modo
correto. Um avaliador menos bem treinado pode cometer mais erros de codificação. O
procedimento de treinamento das codificações do SCR, desenvolvido por Hilsenroth, Charnas
e Zoldan (2007) parece ser uma iniciativa louvável e seria importante que os usuários
brasileiros do SCR estudassem o material preparado para este treinamento.
Acreditamos que as codificações das respostas, por nós realizadas, estão corretas,
apesar de eventuais erros que possam ter ocorrido [Meyer (1998) encontrou que erros na
coleta, codificação e análise dos dados são freqüentes nas pesquisas, mas afetam os resultados
numa proporção pequena]. Os resultados obtidos para a fidedignidade das codificações foram,
de modo geral, satisfatórios, mas com valores menores do que os de outros estudos
62
Ver nota 15, à página 38.
176
brasileiros. Buscando hipóteses que expliquem este resultado, podemos pensar que houve uma
codificação menos cuidadosa por parte do segundo avaliador.
Em relação à estabilidade temporal, dez variáveis apresentaram estabilidade alta,
semelhante à encontrada nos estudos de Exner. Contudo, a maioria das variáveis apresentou
níveis moderados de estabilidade e 10 variáveis além de m e SumY, para as quais a baixa
estabilidade é esperada apresentaram baixa estabilidade temporal. De modo geral, a
estabilidade temporal em nossa amostra foi menor do que nas pesquisas de Exner e do que a
estimativa obtida a partir da metanálise sobre a estabilidade temporal do Rorschach
(Grønnerød, 2003a), mas maior do que a obtida na amostra francesa de Sultan et al. (2006).
A menor fidedignidade das codificações deve ser considerada como um dos
eventuais fatores que contribuíram para a menor estabilidade temporal encontrada nesta
pesquisa. Uma menor fidedignidade das codificações limita a estabilidade temporal, porque,
se os protocolos não são codificados de modo consistente, isto pode gerar maior variação
entre os resultados do teste e do reteste, e consequentemente, menor estabilidade temporal.
A análise da direcionalidade das proporções e da consistência das categorias
interpretativas também mostrou menor estabilidade temporal em nossa amostra do que nas
pesquisas de Exner, mas semelhante à encontrada na pesquisa francesa de Sultan et al. (2006).
Em nossa amostra, entre 44% e 70% dos participantes mantiveram-se nas mesmas categorias
interpretativas no teste e no reteste. Para as constelações, consideradas em termos de seu
status negativo ou positivo, a estabilidade temporal encontrada foi semelhante à da amostra
francesa, com a maioria dos participantes mantendo o status negativo para as constelações em
ambas testagens. O Índice de Déficit Relacional [CDI] apresentou mais casos positivos, mas a
proporção de participantes que mantiveram o status (negativo ou positivo) deste índice nas
duas testagens também foi alta (88%). Para as demais constelações, pelo menos 88% dos
participantes apresentaram o mesmo status no teste e no reteste.
Aparentemente, a menor estabilidade temporal encontrada nesta pesquisa não
pode ser explicada por problemas de restrição de faixa de valores e assimetria. No entanto, a
distribuição dos valores, principalmente quando predominaram escores baixos ou iguais à
zero, parece ter contribuído para a menor estabilidade temporal de algumas variáveis.
177
Encontramos também que escores extremos (outliers) ocorreram para 9 variáveis e
diminuíram a estabilidade temporal.
O nível de engajamento na tarefa em nossa amostra aparentemente foi semelhante
ao encontrado na amostra normativa da cidade de São Paulo, mas menor do que na amostra
normativa norte-americana e na pesquisa francesa sobre estabilidade temporal. O menor nível
de engajamento na tarefa pode ter contribuído para a menor estabilidade temporal.
Sultan et al. (2006) investigaram o papel que o engajamento na tarefa desempenha
na estabilidade temporal das variáveis do SCR, encontrando que níveis maiores de
engajamento na tarefa estavam associados a maior estabilidade temporal para algumas
variáveis. Infelizmente, o procedimento utilizado naquele estudo não está descrito de modo
claro no artigo (ou nós não conseguimos compreender a descrição) e a comunicação, por e-
mail, com o primeiro autor, Serge Sultan, trouxe mais dúvidas do que esclarecimentos. Assim
sendo, (ainda) não realizamos esta análise. O menor engajamento na tarefa em nossa amostra
ter contribuído para a menor estabilidade mantêm-se como uma hipótese a ser futuramente
investigada. Pesquisas com amostras com variados níveis de engajamento na tarefa
permitiriam investigar esta relação entre o engajamento na tarefa e a estabilidade temporal.
Sultan et al. (2006) comentam que participantes com menor vel de engajamento
na tarefa podem mudar ao responder ao teste num segundo momento o que parece ter
ocorrido na nossa amostra. Por outro lado, participantes com excessivo engajamento na tarefa
podem se expressar de modo diferente em diferentes momentos – o que parece ter ocorrido na
amostra francesa. Um nível ótimo de engajamento na tarefa parece contribuir para uma
melhor estabilidade dos resultados – o que parece ter ocorrido nas amostras de Exner.
Holzberg (1977) menciona dois fatores que podem modificar os resultados no
reteste. Por um lado, alguns participantes podem apresentar baixa motivação para realizar o
reteste. Por outro lado, ao realizar o reteste, os participantes conhecem o material, o que
pode facilitar a realização da tarefa. Analisando o engajamento na tarefa [TE], encontramos
que 14 participantes apresentaram maior engajamento no teste, e 18 participantes, no reteste.
Aparentemente, para a maioria dos participantes, a mudança no engajamento na tarefa, de
uma testagem à outra, foi pequena.
178
Na nossa pesquisa, a estabilidade temporal calculada incluindo-se os protocolos
com menos de 14 respostas na amostra não foi significativamente diferente da obtida com
apenas os protocolos com pelo menos 14 respostas. Porém, esta análise foi realizada com um
número pequeno de protocolos com poucas respostas, o que pode ter dificultado detectar
eventuais diferenças que existam.
Os protocolos com menos de 14 respostas foram compreendidos por Exner como
sendo inválidos, primeiramente porque a estabilidade temporal dos resultados mostrou-se bem
menor nestes protocolos. Em segundo lugar, o problema da representatividade dos
resultados nos protocolos curtos: poucas respostas podem gerar resultados que o
representam suficientemente o funcionamento psicológico do indivíduo. Este problema da
representatividade dos resultados mostra-se de modo mais claro para os protocolos com
poucas respostas, mas, na verdade, permeia qualquer testagem com o Rorschach.
Meyer (1997a) enfatiza que os resultados no Rorschach dependem do modo como
o testando aborda a situação de testagem. Um baixo engajamento na tarefa pode decorrer
tanto de uma atitude de defesa frente à testagem, quanto expressar uma personalidade com
poucos recursos; um alto engajamento na tarefa pode decorrer tanto de uma atitude de
exageração ou envolvimento excessivo com a testagem, quanto expressar uma personalidade
mais complexa ou perturbada. O Rorschach parece funcionar melhor e fornecer resultados
mais representativos quando os participantes apresentam um nível ótimo de engajamento na
tarefa, expresso por um número de respostas entre 18 e 27 e valores de Lambda entre 0,30 e
0,99, segundo os parâmetros norte-americanos.
Agora discutiremos fatores que podem explicar os resultados do Rorschach
obtidos em nossa amostra. Primeiramente, comentaremos as características dos participantes.
Nossa amostra foi composta por participantes voluntários. Weiner (1995) comenta
que participantes voluntários podem não se preocupar em censurar algumas respostas, assim
fornecendo protocolos com mais respostas e/ou escores desviantes. Isto aparentemente não
ocorreu em nossa amostra, cujos participantes forneceram mais respostas do que os
participantes da amostra normativa da cidade de São Paulo, mas também apresentaram uma
proporção maior de respostas de forma pura indicando evitação de maior envolvimento e
179
menos respostas com códigos especiais críticos (estes códigos estão associados a falhas no
pensamento e podem aumentar caso o testando não se preocupe em censurar respostas).
Perguntamos aos participantes por que eles quiseram participar da pesquisa e os
motivos alegados foram variados: 1) “quero me conhecer melhor”; 2) “a ... [secretária]
perguntou se eu poderia fazer e eu vim”; 3) “minha amiga contou que fez e achou interessante
e eu fiquei curiosa para ver como é”; 4) “quero ajudar na pesquisa”. Estas informações não
foram coletadas de modo sistemático, mas sim como parte da conversa informal que ocorreu
antes da aplicação do teste. Temos a impressão de que querer conhecer os resultados foi um
dos principais motivos alegados. Portanto, receber os resultados da avaliação da personalidade
serviu como atrativo para a participação, conforme havíamos planejado.
Nossa amostra foi composta por adultos não-pacientes, ou seja, indivíduos que
aparentemente não apresentavam problemas psicológicos graves ao ponto de impedirem ou
prejudicarem significativamente o desempenho de uma profissão ou os estudos. Contudo, não
temos garantias de que todos apresentam boa condição de saúde mental. Aliás, temos a
informação de que alguns deles pensavam em procurar psicoterapia e de que outros já haviam
realizado psicoterapia em outro momento de suas vidas. Talvez nossa amostra contenha um
número importante de participantes que experimentam sofrimento e/ou apresentam demanda
por psicoterapia. A menor estabilidade temporal encontrada pode estar associada a esta
característica da amostra. Exner (1978) encontrou menor estabilidade temporal em pacientes
ambulatoriais em lista de espera, em comparação com que a estabilidade encontrada em
amostras de adultos não-pacientes.
Tivemos a impressão de que receber os resultados da avaliação foi proveitoso para
muitos participantes. Para aqueles que referiram estar pensando em procurar psicoterapia,
receber uma confirmação de suas dificuldades ou de seu sofrimento, a partir dos resultados do
Rorschach, parece ter reforçado a demanda por um tratamento. Para todos estes participantes,
afirmamos que uma psicoterapia poderia ser benéfica e nos prontificamos a fornecer
indicações de serviços em que pudessem ser atendidos.
Outra característica da amostra a ser destacada é a predominância de mulheres. A
pesquisa normativa norte-americana não encontrou diferenças entre os resultados de homens e
de mulheres e nenhum dos estudos de estabilidade temporal menciona qualquer diferença na
180
estabilidade em função do gênero dos participantes. Apesar da lenda popular que afirma que
as mulheres são mais instáveis do que os homens, em nossa opinião, se a predominância de
mulheres desempenhou algum papel para a menor estabilidade encontrada em nossa amostra,
este papel foi pequeno.
Utilizando os resultados do Rorschach para caracterizar nossos participantes,
encontramos que eles experimentavam menos tensões e contavam com mais recursos para
lidar com as situações, o que fazia com que estivessem menos sobrecarregados; esforçaram-se
para organizar as informações em proporção semelhante, mas estabeleceram mais relações
entre os dados captados e foram mais eficientes na organização das informações; perceberam
as situações de modo adequado e apresentaram menos falhas no pensamento do que os
participantes da amostra normativa de Nascimento (2002). Consideramos que muitas destas
diferenças estariam associadas ao maior nível de instrução dos participantes da nossa amostra.
Não parece haver relação entre estas características da amostra e a menor estabilidade
temporal.
Em resumo, pensamos que as características dos nossos participantes (voluntários,
alguns participantes com demanda de psicoterapia, predomínio de mulheres) não foram o
principal fator responsável pela menor estabilidade encontrada em nossa amostra. De
qualquer modo, as particularidades da amostra, incluindo-se aqui também o predomínio de
indivíduos das classes sociais A e B, limitam a generalização dos resultados. Aspecto
importante a ser destacado é o número relativamente pequeno de participantes, que pode ter
contribuído para gerar estimativas imprecisas da estabilidade temporal.
Infelizmente, não temos informações sobre como os participantes das pesquisas de
Exner foram recrutados fator que interfere na motivação para realizar o teste e que afeta os
resultados –, nem sobre como foram preparados para a situação de testagem. Talvez estes
aspectos possam, ao menos em parte, explicar a maior estabilidade temporal obtida nas
pesquisas originais do SCR.
Segundo nosso conhecimento, o único artigo de Exner em que encontramos uma
descrição mais detalhada sobre o procedimento de recrutamento dos participantes e
características dos examinadores é o recente informe sobre a nova pesquisa normativa norte-
americana para o SCR (Exner, 2007). Neste artigo, somos informados de que os
181
examinadores foram psicólogos que receberam treinamento no SCR por meio da realização de
cursos oferecidos por Rorschach Workshops. Estes examinadores recrutaram os participantes
em empresas, utilizando uma carta com informações sobre a pesquisa: o projeto visava uma
nova padronização do Rorschach e envolvia aplicar o teste em centenas de pessoas que não
são e nem nunca foram pacientes psiquiátricos. Como atrativo, os participantes poderiam
escolher uma instituição de caridade para a qual seriam doados 25 dólares em seu nome.
Nenhum participante recebeu os resultados do teste. As aplicações do Rorschach ocorreram
no momento e local conveniente para os participantes. No encontro para a realização do
Rorschach, os examinadores descreveram novamente a pesquisa, pediram que os participantes
assinassem um termo de consentimento e então aplicaram o teste. Eventualmente, os
participantes dos estudos de estabilidade temporal de Exner também foram recrutados desta
forma, e isto pode ter desempenhado algum papel na composição das amostras (indivíduos
que se interessam em participar de uma pesquisa, tendo como benefício uma doação de
dinheiro, em seu nome, para uma instituição de caridade) e na estabilidade temporal obtida.
Agora comentaremos os resultados obtidos no Rorschach nas duas testagens.
É importante notar que, tanto em nossa amostra, quanto na amostra normativa de
adultos da cidade de São Paulo, os valores de Lambda foram maiores do que na amostra
normativa norte-americana. Podemos formular quatro hipóteses sobre o significado da maior
proporção de respostas de forma pura nos paulistanos: 1) o modo como o Rorschach foi
aplicado resultou em protocolos com mais respostas simples; 2) os paulistanos têm
dificuldade para explicar sua percepção, do que resulta uma proporção maior de respostas
codificadas com o determinante forma pura; 3) os paulistanos apresentam um funcionamento
psicológico simples; 4) os resultados de Lambda estão associados a aspectos da situação de
testagem e ao modo como os participantes lidam com esta situação.
A primeira hipótese formulada postula que o modo como foram realizadas as
aplicações do Rorschach resultou em escores mais elevados de Lambda nos paulistanos.
Lis et al. (2007) relatam a pesquisa normativa do SCR realizada na Itália. Os
aplicadores foram estudantes de psicologia, que receberam treinamento intensivo na aplicação
e codificação das respostas do SCR. Num primeiro momento da coleta de dados, os resultados
obtidos apresentaram valores altos para Lambda. A equipe de pesquisadores, então, realizou
182
cursos com a Prof
a
. Andronikoff, rorschachista com ampla experiência com o SCR, sendo
inclusive credenciada por Rorschach Workshops para oferecer cursos de treinamento. Após
este novo treinamento, a equipe coletou novos protocolos, que apresentaram escores de
Lambda semelhantes aos da amostra normativa norte-americana. Os autores comentam:
Estes resultados destacam a importância do treinamento estruturado no Sistema
Compreensivo para além do estudo e discussão dos livros de Exner e do Workbook.
Notamos que os examinadores apresentavam diferentes níveis de entendimento
destas fontes de informação, incluindo um uso superficial das orientações, que não
seguia as regras e o uso padronizado do Sistema Compreensivo. Também
acreditamos que certas características metodológicas específicas, tais como a ativa
cooperação do cliente, a natureza relacional dos encorajamentos [prompting] e
outros aspectos referentes à natureza interativa da aplicação e do inquérito são
particularmente difíceis de serem aplicados sem treinamento formal. (LIS et al.,
2007, p. S198-S199).
Pode ser que as orientações para a aplicação do Rorschach, principalmente o que
se refere ao inquérito das respostas, não venham sendo compreendidas e/ou aplicadas, no
Brasil, de modo inteiramente correto para o Sistema Compreensivo. Haveria a necessidade de
os usuários brasileiros realizarem treinamento e supervisão com instrutores mais diretamente
ligados ao Sistema Compreensivo, credenciados por Rorschach Workshops.
A segunda hipótese levantada para explicar os escores mais altos de Lambda nos
paulistanos foi a de dificuldade dos participantes em explicar sua percepção. Esta dificuldade
pode ser uma decorrência do menor nível de instrução da nossa população, já que Nascimento
(2004) encontrou que quanto menor o nível de instrução, maiores os valores de Lambda.
Contudo, em nossa amostra, a maioria dos participantes possuía pelo menos o ensino médio
completo, ou seja, para os nossos participantes não podemos atribuir os escores altos de
Lambda ao menor nível de instrução. Uma dificuldade para explicar suas percepções
tampouco parece plausível.
A terceira hipótese, de que os paulistanos apresentam um funcionamento
psicológico simples (ou mais simples do que o dos norte-americanos) também não parece
muito convincente para os participantes da nossa amostra, que foi composta por indivíduos
predominantemente das classes A e B, com razoável nível de instrução e moradores de uma
183
cidade que oferece a complexidade de vida de uma grande metrópole o que deve contribuir
para uma maior complexidade psicológica.
Em nossa opinião, a quarta hipótese os escores mais altos de Lambda estão
associados à situação de testagem e ao modo como os participantes lidaram esta situação
seria a mais plausível. Discutiremos, então, aspectos relacionados à situação de testagem.
O reteste ter sido realizado pelo mesmo examinador que aplicou o teste é um fator
a ser considerado. Nos estudos de Exner e no estudo de Sultan et al. (2006), as aplicações do
Rorschach, no teste e no reteste, foram realizadas por examinadores diferentes.
Provavelmente, utilizar examinadores diferentes no teste e no reteste traz maior variabilidade
na interação examinador-testando, então a interferência da situação de testagem e da relação
interpessoal nos resultados deve ser maior o que contribuiria para diminuir a estabilidade
temporal. Não temos como avaliar o papel que a utilização do mesmo examinador no teste e
no reteste desempenhou nos resultados da nossa pesquisa. A impressão é que cada
participante reagiu a esta situação de modo individual: talvez alguns participantes se sentiram
mais à vontade no reteste, porque conheciam o examinador; talvez outros participantes se
sentiram menos à vontade com o examinador no reteste.
Pode ser que, no reteste, alguns participantes estivessem preocupados com o
examinador já ter os dados da primeira testagem, eventualmente imaginando que ele tivesse
identificado problemas no participante devemos lembrar que o psicólogo frequentemente é
considerado o profissional que trata de pessoas com problemas e que a situação de avaliação,
particularmente com o Rorschach, pode despertar no testando temores de ser invadido e
julgado (CHABERT, 1983). Ocampo e Arzeno (1987, p. 317-318) descrevem como muitos
indivíduos que realizam um processo psicodiagnóstico se sentem em relação à avaliação,
principalmente quando não há devolução dos resultados:
[...] o psicólogo assumirá, para ele [indivíduo avaliado] desde o princípio, o papel de
uma figura extremamente ameaçadora, pelo depósito maciço de tudo o que é
persecutório que alberga em seu mundo interno. Ocupar-se-á, quase que
exclusivamente, de controlá-lo, de mantê-lo à distância e de evitá-lo. Isto pode ser
registrado como [...] bloqueios totais ou reiterados antes as pranchas que lhe são
apresentadas [...]. Se a informação não é devolvida, intensificam-se as fantasias de
doença, gravidade, incurabilidade, loucura, etc.
184
Por se tratar de uma situação de pesquisa em vez de uma situação de
psicodiagnóstico, que costuma ocorrer quando alguma dificuldade que demanda a
avaliação provavelmente o impacto destas preocupações foi menor. De qualquer modo,
pode ter desempenhado um papel na atitude de menor envolvimento no reteste, para alguns
participantes.
Os estudos de Exner, Armbruster e Mitman (1978) e Leura e Exner (1978, apud
Exner, 2003)
63
revelaram que os testandos ficaram mais à vontade e forneceram mais
respostas quando testados por examinadores conhecidos. Devemos observar que os
participantes destes estudos haviam tido uma convivência freqüente com os examinadores,
que eram professores que testaram seus alunos ou terapeutas que testaram seus pacientes. Em
nosso estudo, os participantes conheciam o examinador apenas por terem realizado com ele o
teste. O número de respostas no teste e no reteste foi semelhante, o que indica que conhecer o
examinador, por ter realizado com ele o teste, não teve o efeito de aumentar o número de
respostas no reteste.
Seis participantes conheciam o examinador antes da aplicação do teste. Não
tinham convivência assídua como a de pacientes com seus terapeutas ou de alunos com seus
professores, mas sim a convivência de pessoas que se conheciam socialmente. Os resultados
dos participantes que conheciam o examinador foram variados: um participante forneceu
poucas respostas e predomínio de respostas simples, o que pode indicar que se defendeu
frente à testagem; outros participantes forneceram poucas respostas, porém bastante
elaboradas ou seja, houve envolvimento com a testagem, mas não houve um aumento do
número de respostas; um participante forneceu um número elevado de respostas, no teste e no
reteste neste caso, conhecer o examinador pode ter contribuído para aumentar o número de
respostas.
Exner (2007) comparou os resultados obtidos por diferentes examinadores e
encontrou diferenças estatisticamente significantes para F%, Zf e X-%. Sultan et al. (2006)
também encontraram diferenças nos resultados obtidos por diferentes examinadores: alguns
63
LEURA, A. V.; EXNER, J. E. Structural differences in the records of adolescents as a function of being
tested by one’s own teacher. Workshops Study No. 265. Estudo não publicado. Rorschach Workshops, 1978.
185
examinadores associaram-se a menores números de respostas, menor engajamento na tarefa e
valores menores de EA. Os valores mais altos de Lambda em nossa amostra podem ter sido
decorrência do examinador que realizou as testagens, no caso, o autor desta pesquisa. Fatores
relacionados às características físicas e psicológicas do examinador podem ter desempenhado
algum papel, assim como a situação de testagem considerada em um contexto mais amplo.
Comentando a maior proporção de respostas de forma pura nos indivíduos de
países de cultura latina, Vinet (2000, p. 360) considera esse resultado decorrente do modo
como os indivíduos lidam com a situação de testagem:
A situação de testagem é comumente uma situação nova e inesperada para o
examinando; ela provoca uma grande quantidade de ansiedade e estresse; e não
existem regras estruturadas para lidar com isto. O examinador é percebido como
uma pessoa com autoridade e poder sobre o sujeito, que pertence a um outro grupo.
Neste contexto, o indivíduo irá provavelmente se comportar de um modo seguro,
caracterizado por respeito, obediência e conformismo, mas também por baixa
cooperação e baixa confiança interpessoal. Nestas circunstâncias, é fácil
compreender os protocolos com valores altos de Lambda indicando defesa [...] Além
disso, o sujeito não manifestará abertamente sentimentos de mal-estar porque a
situação solicita comportamento correto e simpatia [...] O sujeito estará atento às
necessidades do examinador, evitando deixar-lhe em uma situação difícil (grifos do
autor).
Esta caracterização do modo de lidar com a testagem ajuda a compreender os resultados
obtidos na pesquisa normativa com adultos da cidade de São Paulo (Nascimento, 2002) e
também os resultados da nossa pesquisa. Nesta, a questão da autoridade do examinador pode
ter desempenhado um papel ainda maior.
Muitos participantes souberam que este estudo estava sendo realizado na
universidade porque havia sido aberta esta possibilidade ao pesquisador por uma das diretoras
(e proprietária) da universidade, com quem ele mantinha convívio próximo. Assim sendo, é
provável que o pesquisador (e examinador) tenha sido considerado alguém associado a uma
figura de poder do local de trabalho dos participantes, e isto pode ter desempenhado o papel
de fazer com que os participantes apresentassem um bom número de respostas, mas um
predomínio de respostas de forma pura respostas mais simples, que indicam um modo mais
defendido de lidar com a tarefa.
186
Apesar de o procedimento de aplicação do SCR ter sido planejado de modo a
diminuir a interferência do examinador nos resultados, parece que, ainda assim, fatores da
situação de testagem podem, algumas vezes, desempenhar importante papel nos resultados
obtidos. Isto parece ter ocorrido na nossa pesquisa.
Qualquer que seja o motivo para a maior proporção de forma pura encontrada em
nossa amostra, o mais importante é notar que houve menor engajamento na tarefa do que nas
pesquisas originais do SCR. Levantamos a hipótese de que a menor estabilidade temporal
encontrada em nossa amostra está associada ao menor engajamento na tarefa.
Os resultados de estabilidade temporal encontrados na nossa pesquisa foram, de
modo geral, menores do que os das pesquisas de Exner e do que a estimativa obtida com a
metanálise dos estudos sobre estabilidade temporal do Rorschach. Devemos considerar que
continuam prevalecendo os resultados das outras pesquisas, ou seja, é mais sensato continuar
afirmando que o Rorschach é um instrumento que avalia características estáveis da
personalidade de modo consistente, e tentar compreender os resultados (estabilidade temporal
menor) obtidos em nossa amostra como fizemos. A explicação mais simples para a menor
estabilidade temporal encontrada em nossa amostra é considerar que ela ocorreu devido a, por
mero acaso, termos obtido esta amostra em particular.
Entendemos que a menor fidedignidade encontrada em nossa amostra o deve,
de modo algum, levar ao abandono da utilização do Rorschach como instrumento
psicométrico, privilegiando-se uma avaliação mais qualitativa dos protocolos. No passado,
frente a alguns resultados baixos em estudos sobre a fidedignidade do Rorschach, alguns
autores afirmaram que este aspecto não seria importante, uma vez que a interpretação
dependeria não dos escores isolados, mas sim da configuração total do protocolo. Frente a
afirmações como estas, Jensen (1959, p. 111-112) é definitivo:
[O Rorschach ser interpretado em termos da configuração total do protocolo ... ] de
modo algum diminui a necessidade de fidedignidade; uma configuração é na
verdade um conjunto de diferenças entre varias quantidades ou qualidades
classificáveis. A fidedignidade destas quantidades ou classificações, então,
obviamente afeta a fidedignidade da configuração total da qual são uma parte.
187
Um aspecto importante a ser destacado é a interferência do engajamento na tarefa
na estabilidade temporal e, em sentido mais amplo, na própria validade do SCR. Conforme
comentado por Meyer (1997a), menor engajamento na tarefa resulta em protocolos que muitas
vezes não representam corretamente ou de modo mais completo a personalidade dos
indivíduos avaliados. O modo como o Rorschach é aplicado, incluindo o modo como o teste é
apresentado e a relação interpessoal entre o examinador e o testando, está diretamente ligado
ao nível de engajamento na tarefa por parte do testando. Mais estudos são necessários sobre
esta questão.
Recentemente, vêm sendo estudadas modificações no procedimento de aplicação
do Rorschach. Dean et al. (2007) utilizaram um procedimento modificado de aplicação,
segundo o qual, toda vez que o testando fornece apenas uma resposta e pretende devolver o
cartão, é estimulado a fornecer mais respostas; e toda vez que fornece três respostas a um
cartão, este cartão é recolhido. Este procedimento visa obter um número de respostas que não
seja nem muito baixo, nem muito alto. Dean et al. (2007) compararam os resultados obtidos
com a aplicação do Rorschach segundo as instruções originais do Sistema Compreensivo
versus os resultados obtidos com esta aplicação modificada. Encontraram que os protocolos
obtidos com o procedimento modificado apresentaram maior validade na identificação de
transtornos do pensamento do que os protocolos obtidos com o procedimento original de
aplicação. Sugeriram que mais pesquisas sejam realizadas para se compreender como
procedimentos modificados de aplicação afetam a validade dos resultados. Seria interessante
realizar pesquisas deste tipo com brasileiros, principalmente buscando encontrar fatores que
promovam maior engajamento na tarefa, pois parece que níveis maiores de engajamento na
tarefa geram protocolos mais completos, fidedignos e válidos.
Formulamos as hipóteses sobre a interferência da situação de testagem nos
resultados de paulistanos e sobre o menor engajamento na tarefa contribuirem para uma
menor estabilidade temporal. Se estas hipóteses forem verdadeiras, isso demandaria ainda
mais cautela ao interpretar os resultados obtidos com o SCR, principalmente em protocolos
com baixo engajamento na tarefa (identificados por R baixo e Lambda alto).
Cabe, por fim, enfatizar que os resultados em nossa amostra, apesar de não
apresentarem níveis de estabilidade tão altos quantos os das pesquisas originais do SCR,
188
indicaram níveis moderados de estabilidade temporal para a maioria das variáveis, o que é
positivo para reafirmar a qualidade do Sistema Compreensivo do Rorschach.
189
12. CONCLUSÕES
Encontramos fidedignidade inter-codificadores substancial (iota > 0,60) para a
maioria das variáveis do SCR em nossa pesquisa.
A média das correlações de teste-reteste encontradas em nossa amostra foi
r = 0,61, o que corresponde a um nível moderado de estabilidade temporal.
A estabilidade temporal encontrada nesta pesquisa foi menor do que a reportada
nos estudos originais do SCR e do que a estimativa obtida a partir da metanálise
sobre estabilidade temporal do Rorschach, mas semelhante ou maior do que a
encontrada em um estudo francês recente.
Em nossa amostra, houve um nível de engajamento na tarefa semelhante ao da
amostra normativa da cidade de São Paulo, mas menor do que nas pesquisas norte-
americanas. Isto pode ter contribuído para a menor estabilidade temporal
encontrada.
A situação de testagem aparentemente desempenhou importante papel nos
resultados.
Os usuários brasileiros devem ter cuidado ao interpretar os resultados obtidos com
o Sistema Compreensivo do Rorschach, principalmente frente aos protocolos com
baixo nível de engajamento na tarefa (identificados de modo mais direto por R
baixo e Lambda alto).
Mais pesquisas brasileiras com o SCR são necessárias, inclusive para investigar
procedimentos que promovam maior engajamento na tarefa, assim contribindo
para maiores fidedignidade e validade dos resultados obtidos na testagem.
190
13. REFERÊNCIAS
ACKLIN, M. W.; MCDOWELL, C. J., 2nd; VERSCHELL, M. S.; CHAN, D. Interobserver
agreement, intraobserver reliability, and the Rorschach Comprehensive System. Journal of
Personality Assessment, v. 74, n. 1, p. 15-47, 2000.
ADAIR, H. E.; WAGNER, E. E. Stability of unusual verbalizations on the Rorschach for
outpatients with schizophrenia. Journal of Clinical Psychology, v. 48, p. 250-256. 1992.
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Standards for Educational and
Psychological Tests. Washington: American Psychological Association, 1974.
ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem psicológica. Porto Alegre, RS: ArtMed, 2000.
ANTÚNEZ, A. E. A. Estudo de características afetivas em pacientes diagnosticados com
transtorno obsessivo compulsivo e voluntários normais por meio do exame de
Rorschach. Tese de doutorado. Universidade Federal de São Paulo, 2004.
ARKES, H. R. Impediments to accurate clinical judgment and possible ways to minimize
their impact. Journal of Consulting and Clinical Psychology, v. 49, n. 3, p. 323-330, 1981.
ARONOW, E.; RESNIKOFF, M.; MORELAND, K. The Rorschach: projective technique or
psychometric test? Journal of Personality Assessment, v. 64, n. 2, p. 213-228, 1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA. Critério de Classificação
Econômica Brasil. ABEP, 2003.
BARTKO, J. J. The intraclass correlation coefficient as a measure of reliability.
Psychological Reports, v. 19, p. 3-11, 1966.
BOCCHI, E. A. Características psicológicas de pacientes com queixa de disfunção da
articulação temporomandibular. Tese de mestrado. Universidade Federal de São Paulo,
1998.
191
BRUNONI, G. R. Características de personalidade de portadores de transtorno invasivo
do desenvolvimento (TID): um estudo pelo método de Rorschach. Trabalho de conclusão
de curso. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006.
CAMPGANA, V. N. Aspectos da organização da identidade feminina no início da
adolescência. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, 2003.
CASTRO, P. F. Histórico da produção científica do Sistema Compreensivo no Brasil a partir
dos eventos da ASBRo. In: Métodos projetivos: instrumentos atuais para investigação
psicológica e da cultura. SILVA NETO, N. A.; AMPARO, D. M. (organizadores). Brasília:
ASBRo, 2006. p. 114-123.
CHABERT, C. Le Rorschach em clinique adulte: interpretation psychanalytique. Paris :
Dunod, 1983.
COHEN, J. A power primer. Psychological Bulletin, v. 112, n.1, 155-159, 1992.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O Conselho avalia a qualidade dos testes
psicológicos. Disponível em
http://www.pol.org.br
. Acessado em 04/11/2007.
CRONBACH, L. J. Statistical methods applied to Rorschach scores: a review. Psychological
Bulletin, v. 46, p. 393-429, 1949.
CRONBACH, L. J. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artes Medicas,
1996.
DANCEY, C. P.; REIDY, J. Estatística sem matemática para Psicologia usando SPSS
para Windows. Porto Alegre: ArtMed, 2006.
DEAN, K. L.; VIGLIONE, D. J.; PERRY, W.; MEYER, G. A method to optimize the
response range while maintaining Rorschach Comprehensive System Validity. Journal of
Personality Assessment, v. 89, n. 2, p. 149-161, 2007.
DINNOFF, M. Subject awareness of examiner influence in a testing situation. Journal of
Consulting Psychology, v. 24, p. 465, 1960.
192
DUARTE, C. S. Características de personalidade de mães de crianças com diagnóstico
de autismo infantil: um estudo comparativo. Tese de doutorado. Universidade Federal de
São Paulo, 2000.
DUNLAP, W. P.; CHEN, R.; GREER, T. Skew reduces test-retest reliability. Journal of
Applied Psychology, v. 79, p. 310-313, 1994.
DURAT Jr., C. O Rorschach na avaliação psicológica de adolescentes em conflito com a
lei. Dissertação de mestrado. Universidade São Francisco. Itatiba, 2006.
ERSTAD, D. An investigation of older adults' less frequent human movement and color
responses on the Rorschach. Tese de doutorado. Marquette University, 1996.
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach Systems. New York: Grune & Straton, 1969.
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: a Comprehensive System. New York: John Willey &
Sons, 1974.
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: a Comprehensive System. Volume 2: Interpretation.
New York: John Willey & Sons, 1978.
EXNER, J. E. Jr. But it's only an inkblot. Journal of Personality Assessment, v. 44, n. 6, p.
563-577, 1980.
EXNER, J. E. Jr. Rorschach assessment. In: Clinical methods in psychology. WEINER, I.
(editor). New York: Wiley, 1983. p. 58-99.
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: a Comprehensive System. Vol.1: Basic Foundations.
2nd. ed. New York: John Willey & Sons, 1986.
EXNER, J. E. Jr. Problems with brief Rorschach protocols. Journal of Personality
Assessment, v. 52, n. 4, p. 640-647, 1988.
EXNER, J. E. Jr. R in Rorschach research: a ghost revisited. Journal of Personality
Assessment, v. 58, n.2, p. 245-251, 1992.
193
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: a Comprehensive System. Volume 1: Basic
Foundations, 3
rd
. ed. New York: John Willey & Sons, 1993.
EXNER, J. E. Jr. Critical bits and the Rorschach response process. Journal of Personality
Assessment, v. 53, p. 520-536, 1996a.
EXNER, J. E. Jr. A comment on “the Comprehensive System for the Rorschach: A critical
examination”. Psychological Science, v. 7, p. 11-13, 1996b.
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: Measurement concepts and issues of validity. In: The new
rules of measurement: What every psychologist and educator should know.
EMBRETSON, S. E.; HERSHBERGER, S. L. (editores). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum,
1999a. p. 159-183.
EXNER, J. E. Jr. Manual de Classificação do Rorschach para o Sistema Compreensivo.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999b.
EXNER, J. E. Jr. The Rorschach: A Comprehensive System. Volume 1: Basic
Foundations and Principles of Interpretation. 4th ed. Hoboken, NJ: Wiley, 2003.
EXNER, J. E. Jr. A new U.S. adult nonpatients sample. Journal of Personality Assessment,
v. 89, n. S1, p. S154-S158, 2007.
EXNER, J. E. Jr.; ARMBRUSTER, G.; MITTMAN, B. The Rorschach response process.
Journal of Personality Assessment, v. 42, n. 1, p. 27-38, 1978.
EXNER, J. E. Jr.; ARMBRUSTER, G. L.; VIGLIONE, D. The temporal stability of some
Rorschach features. Journal of Personality Assessment, v. 42, n. 5, p. 474-482, 1978.
EXNER, J. E. Jr.; THOMAS, E. A.; MASON, B. J. Children's Rorschachs: description and
prediction. Journal of Personality Assessment, v. 49, p. 13-20, 1985.
EXNER, J. E. Jr.; WEINER, I. B. The Rorschach: A Comprehensive System. Volume 3:
Assessment of Children and Adolescents. New York: Wiley, 1982.
194
EXNER, J. E. Jr.; WEINER, I. B. The Rorschach: A comprehensive System. Volume 3:
Assessment of children and adolescents. 2nd. ed. New York: Wiley, 1995.
FACHEL, J. M. G.; CAMEY, S. Avaliação psicométrica: a qualidade das medidas e o
entendimento dos dados. In: Psicodiagnóstico V. CUNHA, J. A. (editora). Porto Alegre, RS:
ArtMed, 2000. p. 158-170.
FARAH, F. H. Z. O transtorno do pânico no método de Rorschach e na escala de
ansiedade de Beck. Dissertação de mestrado. Universidade São Francisco, 2004.
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário básico da língua portuguesa Folha/Aurélio. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
FISKE, D. W.; BAUGHMAN, E. E. Relationships between Rorschach scoring categories and
the total number of responses. The Journal of Abnormal and Social Psychology, v. 48, n.1,
p. 25-32, 1953.
FRANK, L. K. Projective methods for the study of personality. In: Handbook of projective
techniques. MURSTEIN, B. I. (editor). New York: Basic Books, 1965. [Publicado
originalmente no Journal of Psychology, v. 8, p. 389-413, 1939.]
GARB, H. N.; WOOD, J. M.; NEZWORSKI, M. T.; GROVE, W. M.; STEJSKAL, W. J.
Toward a resolution of the Rorschach controversy. Psychological Assessment, v. 13, n. 4, p.
433-448, 2001.
GAZIRE, P. Estudo descritivo de aspectos da personalidade de pacientes com síndrome
do intestino irritável. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de São Paulo, 2000.
GODINHO, S. M. Estudo do manejo do estresse em pacientes acometidos por alopécia
areata. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de São Paulo, 2003.
GRØNNERØD, C. Rorschach interrater agreement estimates: an empirical evaluation.
Scandinavian Journal of Psychology, v. 40, p. 115-120, 1999.
GRØNNERØD, C. Temporal Stability in the Rorschach Method: A Meta-Analytic Review.
Journal of Personality Assessment, v. 80, n. 3, p. 272-293, 2003a.
195
GRØNNERØD, C. Rorschach assessment of changes following psychotherapy: A meta-
analytic review. Journal of Personality Assessment, v. 83, n. 3, p. 2565-276, 2003b.
GRØNNERØD, C. Reanalysis of the Grønnerød (2003) Rorschach temporal stability meta-
analysis data set. Journal of Personality Assessment, v. 86, n. 2, p. 222-225, 2006.
GROSS, L. R. Effects of verbal and nonverbal reinforcement on the Rorschach. Journal of
Consulting Psychology, v. 23, p. 66-68, 1959.
GUARNACCIA, V.; DILL, C. A.; SABATINO, S.; SOUTHWICK, S. Scoring accuracy
using the comprehensive system for the Rorschach. Journal of Personality Assessment, v.
77, n. 3, p. 464-474, 2001.
GUNTERT, A. E. V. A. Crianças com nódulo vocal: estudo da personalidade por meio da
prova de Rorschach. Tese de doutorado. Universidade Federal de São Paulo, 1996.
HALLER, N.; EXNER, J. E. Jr. The reliability of Rorschach variables for inpatients
presenting symptoms of depression and/or helplessness. Journal of Personality Assessment,
v. 49, n. 5, p. 516-521, 1985.
HERSEN, M.; GREAVES, S. T. Rorschach productivity as related to verbal reinforcement.
Journal of Personality Assessment, v. 35, p. 436-441, 1971.
HILSENROTH, M.; CHARNAS, J. Training manual for Rorschach interrater reliability.
The Derner Institute of Advanced Psychological Studies. Adelphi University, Garden City,
NY: 2006. (Manuscrito não publicado).
HILSENROTH, M. J.; CHARNAS, J. W.; ZOLDAN, J. Criterion-based training for
Rorschach scoring. Training and Education in Professional Psychology, v. 1, n. 2, p. 125-
134, 2007.
HISATUGO, C. L. C. Estudo do índice depressivo, DEPI, do Rorschach, Sistema
Compreensivo, em amostra de pacientes depressivos atendidos em ambulatório público
de São Paulo. Tese de doutorado. Universidade Federal de São Paulo, 2007.
196
HOLZBERG, J. Reliability re-examined. In: Rorschach Psychology. M. A. RICKERS-
OVSIANKINA (editora). New York: Wiley, 1977.
HOUAISS, A.; CARDIM I. Novo dicionário Folha-Webster’s Inglês/Português,
Português/Inglês. São Paulo: Publifolha, 1996.
JANSON, H. Rorschach Research Utilities version 1.0.0 user’s guide. Harald Janson,
2003. (Manual do programa de computador)
JANSON, H.; OLSSON, U. A measure of agreement for interval or nominal multivariate
observations. Educational and Psychological Measurement, v. 61, n. 2, p. 277-289, 2001.
JANSON, H.; OLSSON, U. A measure of agreement for interval or nominal multivariate
observations by different sets of judges. Educational and Psychological Measurement, v.
64, n. 1, p. 62-70, 2004.
JENSEN, A. R. The reliability of projective techniques: Review of the literature. Acta
Psychologica Amsterdam, v. 16, p. 108-136, 1959.
KINDER, B. N. The problems of R in clinical settings and in research: suggestion for the
future. Journal of Personality Assessment, v. 58, n.2, p. 252-259, 1992.
KUBISZYN, T.; BORICH, G. Educational testing and measurement. Hoboken, NJ: John
Wiley & Sons, 2003.
LAMOUNIER, R. O Rorschach e a avaliação de motoristas: evidencia de validade.
Dissertação de mestrado. Universidade São Francisco, 2005.
LEVIN, J. Estatística aplica às ciências humanas. São Paulo, SP: Harper & Row do Brasil,
1985.
LINDGREN, T.; CARLSSON, A. M. Relationship between the Rorschach and the MMPI-2
in a Swedish population: A replication study of the effects of first-factor related test-
interaction styles. Journal of Personality Assessment, v. 79, n. 2, p. 357-370, 2002.
197
LIPGAR, R. M. The problem of R in the Rorschach: the value of varying responses. Journal
of Personality Assessment, v. 58, n.2, p. 223-230, 1992.
LIS, A.; PAROLIN, L.; CALVO, V.; ZENNARO, A.; MEYER, G. The impact of
administration and inquiry on Rorschach Comprehensive System Protocols in a National
Reference Sample. Journal of Personality Assessment, v. 89, n. S1, p. S193-S2000, 2007.
MAGNUSSEN, M. G. Verbal and nonberbal reinforcers in the Rorschach situation. Journal
of Clinical Psychology, v. 16, p. 167-169, 1960.
MASLING, J. The influence of situational and interpersonal variables in projective testing.
Psychological Bulletin, v. 57, n. 1, p. 65-85, 1960.
MASLING, J. Differential indoctrination of examiners and Rorschach responses. Journal of
Consulting Psychology, v. 29, n..3 , p. 198-201, 1965.
MCDOWELL, C.; ACKLIN, M. W. Standardizing procedures for calculating Rorschach
interrater reliability: conceptual and empirical foundations. Journal of Personality
Assessment, v. 66, n. 2, p. 308-320, 1996.
MCGRATH, R. E.; POGGE, D. L.; STROKES, J. M. Field reliability of Comprehensive
System Scoring in an adolescent inpatient sample. Assessment, v. 45, n. 5, p. 199-206, 2005.
MCGUIRE, H.; KINDER, B. N.; CURTISS, G.; VIGLIONE, D. J. Some special issues in
data analysis. In: Issues and methods in Rorschach research. EXNER, J. E. Jr. (editor).
Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1995. p. 227-250.
MEYER, G. J. The Rorschach factor structure: a contemporary investigation and historical
review. Journal of Personality Assessment, v. 59, p. 117-136, 1992a.
MEYER, G. J. Response frequency problems in the Rorschach: clinical and research
implications with suggestions for the future. Journal of Personality Assessment, v. 58, n.2,
p. 231-244, 1992b.
198
MEYER, G. J. The impact of response frequency on the Rorschach Constellation Indices and
on their validity with diagnostic and MMPI-2 criteria. Journal of Personality Assessment, v.
60, n. 1, p. 153-180, 1993.
MEYER, G. J. The Rorschach and MMPI: toward a more scientically differentiated
understanding of cross-method assessment. Journal of Personality Assessment, v. 67, n.3, p.
558-578, 1996.
MEYER, G. J. On the integration of personality assessment methods: the Rorschach and the
MMPI. Journal of Personality Assessment, v. 68, n. 2, p. 297-330, 1997a.
MEYER, G. J. Assessing reliability: critical corrections for a critical examination of the
Rorschach Comprehensive System. Psychological Assessment, v. 9, p. 480-489, 1997b.
MEYER, G. J. Error in research and assessment data with an erratum for Meyer (1993).
Journal of Personality Assessment, v. 71, p. 195-211, 1998.
MEYER, G. J. The convergent validity of MMPI and Rorschach scales: an extension using
profile scores to define response and character styles on both methods and a reexamination of
simple Rorschach response frequency. Journal of Personality Assessment, v.72, n. 1, p. 1-
35, 1999.
MEYER, G. J. The reliability and validity of the Rorschach and Thematic Apperception Test
(TAT) compared to other psychological and medical procedures: An analysis of
systematically gathered evidence. In: Comprehensive Handbook of Personality
Assessment. HERSEN, M. (editor chefe). Volume 2: Personality Assessment.
HILSENROTH, M.; SEGAL, D. (editores). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2004. p. 315-
342.
MEYER, G. J. Advancing personality assessment terminology: Time to retire “objective” and
“projective” as personality descriptors. Journal of Personality Assessment, v. 87, n. 3, p.
223-225, 2006.
199
MEYER, G. J. Challenges in Rorschach-based Assessment. Material do curso apresentado
no III Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica e XII Conferência Internacional de
Avaliação Psicológica, realizado em João Pessoa, em 2007.
MEYER, G. J.; ARCHER, R.P. The hard science of Rorschach research: what do we know
and where do we go? Psychological Assessment, v. 13, n. 4, p. 486-502, 2001.
MEYER, G. J.; BAXTER, D.; EXNER, J. E. Jr.; FOWLER, J. C.; HILSENROTH, M. J.;
PIERS, C. C.; RESNICK, J. An examination of interrater reliability for scoring the Rorschach
Comprehensive System in eight data sets. Journal of Personality Assessment, v. 78, n. 2, p.
219-274, 2002.
MEYER, G. J.; ERDBERG, P.; SHAFFER, T. Toward international normative reference data
for the Comprehensive System. Journal of Personality Assessment, v. 89, n. 1, p. S201-
S216, 2007.
MEYER, G. J.; MIHURA, J. L.; SMITH, B. L. The Interclinician Reliability of Rorschach
Interpretation in Four Data Sets. Journal of Personality Assessment, v. 84, n. 3, p. 296-314,
2005.
NAKATA, L. M. Interrater reliability and the Comprehensive System for the
Rorschach: Clinical and non-clinical protocols. Tese de doutorado. Pacific Graduate
School of Psychology, 2000.
NASCIMENTO, R. S. G. F. Bipolares: Um Estudo de Características de Personalidade
através do Rorschach. Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
1993.
NASCIMENTO, R. S. G. F. Resultados de estudo normativo para o Sistema Compreensivo
do Rorschach: um estudo para a cidade de São Paulo. Psico-USF, v. 7, n. 2, p. 127-141, 2002.
NASCIMENTO, R. S. G. F. The impact of educational and socioeconomic conditions on
Rorschach data in a Brazilian nonpatient sample. Rorschachiana, v. 26, p. 45-62, 2004.
200
NASCIMENTO, R. S. G. F. Estudo normativo do Sistema Compreensivo do Rorschach para
São Paulo: resultados dos índices PTI, SCZI, DEPI, CDI, HVI, OBS e S-CON. Avaliação
Psicológica, 2006.
NASCIMENTO, R. S. G. F. Rorschach Comprehensive System data for a sample of 409
adults nonpatients from Brazil. Journal of Personality Assessment, v. 89, n. S1, p. S35-S41,
2007.
NASCIMENTO, R. S. G. F.; FREITAS, E. S.; MUCARBEL, F.; VELHO, L. M.;
MOTOOKA, R. C. F. R.; INFANTE, T. C. Um estudo normativo do Rorschach para cidades
do estado de São Paulo: resultados parciais. In: Técnicas projetivas: produtividade em
pesquisa. VAZ, C. E.; GRAEFF, R. F. (editores). Porto Alegre: Casa do Psicólogo e SBRo,
2004.
NASCIMENTO, R. S. G. F.; HISATUGO, C. C.; MUCARBEL, F. C.; MATTOS, A. P.;
MORI NETO, A.; CALVARO, P. E. S. Um estudo das médias de qualidade formal em um
grupo de sujeitos não-pacientes de São Paulo, conforme o Sistema Compreensivo de Exner.
In: Livro dos Anais do II Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Rorschach e
outros métodos projetivos VAZ, C. E. (editor). Porto Alegre: AGE editora, 2000. p. 40-47.
NUNNALLY, J. C. Psychometric Theory. New York: McGraw-Hill, 1967.
OCAMPO, M. L . S.; ARZENO, M. E. Devolução de informação no processo
psicodiagnóstico. In: O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. OCAMPO, M.
L. S.; ARZENO, M. E. G.; Piccolo, E. G. e colaboradores. 5ª edicção. São Paulo: Martins
Fontes, 1987. p. 315-332.
PARKER, K. C. H.; HANSON, R. K.; HUNSLEY, J. MMPI, Rorschach and WAIS: a meta-
analytic comparison of reliability, stability, and validity. Psychological Bulletin, v. 103. n. 3,
p. 367-373, 1988.
PASQUALI, L. (organizador). Técnicas de Exame Psicológico – TEP: manual. São Paulo:
Casa do Psicólogo/Conselho Federal de Psicologia, 2001.
201
PASSOS, T. C. B. M. Psicodinâmica depressiva em obesos com transtorno de compulsão
alimentar periódica: estudo com o método de Rorschach. Dissertação de mestrado.
Universidade Federal de São Paulo, 2005
PIOTROWSKI, C. The status of Exner's Comprehensive System in contemporary research.
Perceptual and Motor Skills, v. 82, p. 1341-1342, 1996.
PIOTROWSKI, Z. A. Perceptanalysis: The Rorschach method fundamentally reworked,
expanded and systematized. Philadelphia: Ex Libris, 1974.
ROCHA Jr., A. A influência da religião na vida dos adolescentes universitários da grande
São Paulo: um estudo à luz do método de Rorschach. Tese de doutorado. Universidade
Metodista de São Paulo, 2004.
RORSCHACH, H. Psicodiagnóstico. São Paulo: Mestre Jou, 1967 [1921].
ROSENTHAL, M. C. P. Transtorno obsessivo-compulsivo e personalidade. Dissertação de
mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000.
ROSENTHAL, M. C. P. “Assim é se lhe parece”Transtorno obsessivo-compulsivo:
estudo de variáveis cognitivo-afetivas de personalidade por meio do método de
Rorschach. Tese de doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.
SAETHER, L.; BERG, M. “Inkblots again?!” Stability of Rorschach scores: An artifact
of memory? Dissertação de mestrado. University of Tromso, Noruega, 1999.
SAHLY, J. M. Rorschach interrater reliability as assessed by iota statistics on protocol-
level Comprehensive System variables for an international sample: meeting the Daubert
standard. Tese de doutorado. Alliant International University, 2006.
SANTOANTONIO, J. Estudo de características da personalidade de adolescentes com
diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico por meio do método de Rorschach.
Dissertação de doutorado. Universidade Federal de São Paulo, 2001.
SCHAFER, R. Psychoanalytic Interpretation in Rorschach testing. New York: Grune &
Straton, 1954.
202
SCHWARTZ, N. S.; MEBANE, D. L.; MALONY, H. N. Effects of alternate modes of
administration on Rorschach performance of deaf adults. Journal of Personality
Assessment, v. 54, n. 3&4, p. 671-683, 1990.
SEMER, N. L. Estudo da auto-estima de crianças enuréticas pelo método de Rorschach.
Tese de doutorado. Universidade Federal de São Paulo, 1999.
SHROUT, P. E.; FLIES, J. L. Intraclass correlations: uses in assessing rater reliability.
Psychological Bulletin, v. 86, n. 2, p. 420-428, 1979.
SILVA, S. M. Habilidades e desempenho terapêutico em estudantes de psicologia:
utilizando o método de Rorschach. Dissertação de mestrado. Universidade São Francisco,
2005.
SILVA NETO, A. C. P. Características de personalidade de jogadores patológicos
avaliados pelo método de Rorschach. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de São
Paulo, 1999.
SILVA NETO, A. C. P. Usando corretamente o Sistema Compreensivo do Rorschach em
indivíduos brasileiros. Técnicas projetivas: produtividade e pesquisa (Trabalhos completos
do III Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos).
VAZ, C. E.; GRAEFF, R. F. (organizadores). Porto Alegre: Sociedade Brasileira de
Rorschach (SBRo), 2004.
SIMKINS, L. Examiner reinforcement and situational variables in a projective testing
situation. Journal of Consulting Psychology, v. 24, p. 541-547, 1960.
STATSOFT. Eletronic Statistics Textbook. Disponível em
http://www.statsoft.com/textbook/stathome.html. Acessado em 05/11/2007.
SULTAN, S.; ANDRONIKOF, A.; RÉVEILLÈRE, C.; LEMMEL, G. A Rorschach stability
study in a nonpatient adult sample. Journal of Personality Assessment, v. 87, n. 3, p. 330-
348, 2006.
TAVARES, M. Validade Clínica. Psico-USF, v. 8, n. 2, p. 125-136, 2003.
203
TRAUB, R. E.; ROWLEY, G. L. Understanding reliability. Instructional Topics in
Educational Measurement. National Council on Measurement in Education, 1991.
VIGLIONE, D. J. Basic considerations regarding data analysis. In: Issues and methods in
Rorschach Research. EXNER, J. E. Jr. (editor). p. 195-226. Mahwah, NJ: Lawrence
Erlbaum Associates, 1995.
VIGLIONE, D. W. Rorschach coding solutions: A reference guide for the Comprehensive
System. Donald Viglione, 2002.
VIGLIONE, D. J.; HILSENROTH, M. J. The Rorschach: facts, fictions, and future.
Psychological Assessment, v. 13, n. 4, p. 452-471, 2001.
VIGLIONE, D. J.; TAYLOR, N. Empirical support for interrater reliability of Rorschach
Comprehensive System. Journal of Clinical Psychology, v. 59, n. 1, p. 111-121, 2003.
VINET, E. The Rorschach Comprehensive System in Iberoamerica. In: DANA, R. H. (editor)
Handbook of Cross-cultural and multicultural personality assessment. Hillsdale:
Laurence Erlbaum Associates, 2000.
VOIGT, W. H.; DANA, R. H. Inter- and Intra-Scorer Rorschach Reliability. Journal of
Projective Techniques and Personality Assessment, v. 28, n.1, p. 92-95, 1964.
WAGNER, E. E.; DAUBNEY, J. H. Test-retest reliability of the Rorschach on neurologically
impaired subjects. Journal of Personality Assessment, v. 40, n. 6, p. 579-581, 1976.
WATSON, D. Stability versus change, dependability versus error: Issues in the assessment of
personality over time. Journal of Research in Personality. v. 38, p. 319-350, 2004.
WEINER, I. B. Editor's note: Interscorer agreement in Rorschach research. Journal of
Personality Assessment, v. 56, n. 1, p. 1, 1991.
WEINER, I. B. Methodological considerations in Rorschach research. Psychological
Assessment, v. 7, n..3, p. 330-337, 1995.
204
WEINER, I. B. Some observations on the validity of the Rorschach Inkblot Method.
Psychological Assessment, v.8, n.2, p. 206-213, 1996.
WEINER, I. B. Principles of Rorschach Interpretation. Mahwah, NJ: Erlbaum, 1998a.
WEINER, I. B. Teaching the Rorschach Comprehensive System. In: Teaching and Learning
Personality Assessment. HANDLER, L.; HILSENROTH, M. (eds.).Mahwah, NJ: Erlbaum,
1998b.
WICKES, T. H. Examiner influence in a testing situation. Journal of Consulting
Psychology, v. 20, p. 23-26, 1956.
WILLIAMSON, E. L. Internal consistency of the Rorschach ink blot test: An analysis of
Exner's comprehensive system using Cronbach's alpha. Tese de doutorado. Brigham Young
University, 1988.
WOOD, J. M.; NEZWORSKI, M. T., W. J. Thinking critically about the Comprehensive
System for the Rorschach. A comment on Meyer (1997). Psychological Assessment, v. 9, p.
490-494, 1997.
WOOD, J. M.; NEZWORSKI, M. T.; LILIENFELD, S. O.; GARB, H. N. What's wrong
with the Rorschach. San Francisco: Jossey-Bass, 2003.
WOOD, J. M.; NEZWORSKI, M. T.; STEJSKAL, W. J. The Comprehensive System for the
Rorschach: a critical examination. Psychological Science, v. 7, p. 3-10, 1996a.
WOOD, J. M.; NEZWORSKI, M. T.; STEJSKAL, W. J. Thinking critically about the
Comprehensive System for the Rorschach. A reply to Exner. Psychological Science, v. 7, p.
14-17, 1996b.
ZUBIN, J.; ERON, L. D.; SCHUMER, F. An experimental approach to projective
techniques. New York: Wiley, 1965.
205
APÊNDICE A – CORRELAÇÃO
A exposição que se segue foi desenvolvida a partir de Levin (1985), Anastasi e
Urbina (2000), Kubiszyn e Borich (2003) e Meyer (2007).
Muitas vezes, os cientistas querem investigar relações entre diferentes aspectos da
realidade. Por exemplo, em Psicologia pode-se investigar a relação entre inteligência e
rendimento mensal em adultos. Primeiramente, o pesquisador precisaria definir o que entende
como sendo inteligência e como esta pode ser avaliada (uma definição possível seria
capacidade de abstração e de estabelecer relações entre idéias, e esta seria avaliada por um
teste psicológico, tal como as Matrizes Progressivas de Raven); também deveria definir o
rendimento mensal, por exemplo, como sendo aquele declarado pelo indivíduo. Este tipo de
estudo busca então medir duas variáveis e depois analisar sua relação. Os dados deste
exemplo são apresentados na Tabela A1.
Tabela A1 – Inteligência e rendimento mensal de uma amostra de adultos
Inteligência
(QI)
Rendimento mensal
(em reais)
Inteligência
(QI)
Rendimento mensal
(em reais)
72 1 000 100 2200
75 900 100 2000
79 1200 101 2200
80 2 000 102 2500
81 1500 103 3000
85 1600 105 2600
89 1500 107 2200
90 1800 108 2900
91 1600 110 2600
92 2000 112 3200
94 2000 114 3000
96 3000 118 3500
98 1800 121 2900
98 2300 130 3300
99 2100 132 3500
206
Podemos também apresentar estes dados em um gráfico, no qual os valores de
inteligência encontram-se no eixo horizontal (eixo x) e os valores de rendimento mensal
encontram-se no eixo vertical (eixo y). Cada ponto no gráfico corresponde a um indivíduo da
amostra. Este tipo de gráfico é chamado de diagrama de dispersão de valores (scatter-plot) e
encontra-se apresentado na Figura A1.
Figura A1: Inteligência e renda mensal numa amostra de 30 indivíduos adultos
140130120110100908070
Inteligência
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
Rendimento
Os dados apresentam uma tendência geral: à media que aumenta a inteligência,
aumenta o rendimento mensal. Toda vez que, à medida que uma variável aumenta, a outra
também aumenta, temos uma relação positiva.
Um outro exemplo seria avaliar a relação entre agressividade e estima por parte
dos colegas, em crianças. Neste caso, a agressividade seria medida contando-se o número de
vezes que uma criança bate em seus colegas durante o período de recreio, numa semana, e o
grau de estima por parte dos colegas seria medido pedindo-se que cada criança avaliasse,
numa escala de zero a dez pontos, o quanto gosta de cada um de seus colegas a média das
notas dadas a cada uma das crianças por seus colegas corresponderia ao escore de estima por
parte dos colegas. Um gráfico dessa relação é apresentado na Figura A2. Além dos pontos,
que representam cada uma das crianças, o gráfico apresenta uma linha que mostra o padrão de
relação entre agressividade e estima pelos colegas.
207
Figura A2: Agressividade e estima por parte dos colegas numa amostra de 30 crianças
1086420
Agressividade
10
8
6
4
2
0
Estima
Neste caso, observa-se como tendência geral: quanto maior a agressividade,
menor a estima por parte dos colegas. Toda vez que, à medida que uma variável aumenta, a
outra diminui, temos uma relação negativa.
Nestes dois exemplos, a relação entre as variáveis apresenta um sentido constante:
à medida que uma variável aumenta, ou a outra também aumenta, ou diminui. Entretanto,
podem ocorrer situações em que o sentido da relação entre as variáveis muda ao longo do
intervalo de valores. Como exemplo, temos a relação entre ansiedade e resolução de
problemas, apresentada na Figura A3. A ansiedade poderia ser avaliada por um conjunto de
medidas fisiológicas, tais como freqüência cardíaca e condutividade da pele; a resolução de
problemas poderia ser avaliada por meio de testes com tarefas de resolução de problemas (por
exemplo, uma prova de execução de uma escala Wechsler de inteligência).
Figura A3: Ansiedade e resolução de problemas
1086420
Ansiedasde
8
7
6
5
4
3
2
1
Resolução_de_Problemas
208
Conforme vemos na parte mais à esquerda da figura, pessoas com baixa ansiedade
(provavelmente pouco “preocupadas” com seu desempenho) apresentam baixa resolução de
problemas; à medida que a ansiedade aumenta, aumentam os escores de resolução de
problemas (pode-se dizer então que a ansiedade fornece certa “energia” para resolver
problemas); contudo, a partir de certo ponto, a ansiedade aumenta e diminuem os escores de
resolução de problemas, conforme vemos na parte mais à direita da figura (podemos dizer que
a ansiedade torna-se excessiva, passando então a prejudicar a resolução de problemas). Então,
para níveis baixos de ansiedade (parte esquerda da figura), a relação entre ansiedade e
resolução problemas é positiva; para níveis altos de ansiedade (parte direita da figura), passa a
ser uma relação negativa. Neste exemplo, explicamos a resolução de problemas como
decorrência da ansiedade, estabelecendo então uma relação causal. No entanto, é importante
sublinhar que a correlação mostra apenas uma relação entre variáveis, não permitindo
determinar causalidade. Explicamos a resolução de problemas como decorrência da
ansiedade, mas poderíamos também explicar a ansiedade como decorrência da resolução de
problemas: existem dois tipos de pessoas com baixa resolução de problemas: as que
experimentam baixa ansiedade (estão acostumadas com suas dificuldades para resolver
problemas, então não sofrem) e as que experimentam alta ansiedade (sofrem com seu fracasso
em resolver problemas); à medida que a resolução de problemas se aproxima de um nível
médio, a ansiedade também se aproxima de um nível médio.
Quando a relação entre as variáveis segue apenas um sentido (positivo ou
negativo), a relação é monotônica (por exemplo, as relações representadas nas Figuras A1 e
A2); porém, quando a relação muda de sentido ao longo da faixa de valores, dizemos que a
relação é não-monotônica.
Existem ainda outros termos para descrever as relações entre variáveis (ou os
formatos das curvas nos gráficos). Algumas relações são lineares, quando o aumento em uma
variável associa-se a um aumento proporcional na outra variável (por exemplo, a relação entre
QI e renda, apresentada na Figura A1 é linear, com a forma da curva que representa a
tendência geral sendo, então, uma linha reta); outras relações são não-lineares (por exemplo, a
relação entre agressividade e estima por parte dos colegas, apresentada na Figura A2 neste
caso a relação é curvilinear).
209
Ao analisar a relação entre duas variáveis, primeiramente o pesquisador quer
saber se existe um padrão discernível de relação. As várias curvas desenhadas nos gráficos
apresentados justamente indicam alguns padrões de relação. Pode-se então descrever relações
monotônicas (positivas ou negativas) ou não-monotônicas, lineares ou não-lineares, ou até
mesmo encontrar variáveis que não apresentam um padrão claro de relação entre si, não sendo
possível traçar uma curva que represente a tendência geral. A Figura A4 mostra uma situação
em que não encontramos uma tendência geral.
Figura A4: Exemplo de gráfico de dispersão de valores, no qual não se identifica uma relação entre as
variáveis
3210-1-2-3
3
2
1
0
-1
-2
-3
A Figura A5 é um diagrama de dispersão de valores que apresenta a relação entre
tempo dedicado ao estudo e grau de retenção das informações. O tempo dedicado ao estudo
corresponderia ao número de minutos que o aluno estudou durante uma semana e o grau de
retenção das informações seria avaliado por uma prova com questões referentes ao conteúdo
estudado. Nesta figura, desenhamos também a reta que representa a tendência geral.
A curva que representa a tendência geral apresenta então pontos em torno de si. Se
todos os pontos caíssem exatamente sobre a curva, esta representaria perfeitamente a relação
entre as variáveis. Contudo, o mais comum é encontrarmos pontos em torno da curva.
210
Figura A5: Tempo dedicado ao estudo e retenção de informações
8070605040302010
Tempo
100
80
60
40
20
Retenção
A forma da curva indica o modo como as variáveis se relacionam, a tendência
geral. Determina também o sentido da relação (quando esta é monotônica). Contudo, o
pesquisador costuma querer conhecer também a “força” da relação entre as variáveis, o
quanto os valores de uma variável mudam em função da outra. Em linguagem técnica: ele
quer saber o grau de associação entre as variáveis. Quanto mais os pontos encontram-se
próximos da curva, mais “forte” é a relação entre as variáveis; quanto mais os pontos estão
afastados da curva, menos “forte” é a relação entre as variáveis.
Em muitos casos, o modelo linear parece ser adequado para descrever a relação
entre duas variáveis isto é determinado observando-se o diagrama de dispersão, que deve
mostrar pontos alinhados de tal modo que uma reta expresse relativamente bem a tendência
geral da relação entre as variáveis.
A Figura A6 retoma a Figura 1 apresentada anteriormente, que mostra dados de
inteligência e rendimento mensal. Pode-se traçar a curva que representa a tendência geral da
relação, obtendo-se uma linha reta, chamada de linha de regressão. Como a tendência geral
pode ser bem representada por uma linha reta, isto indica que a relação entre inteligência e
rendimento mensal é linear.
211
Figura A6: Relação entre inteligência e rendimento mensal
140130120110100908070
Inteligência
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
Rendimento
No caso da relação entre inteligência e rendimento mensal, os pontos se
distribuem um pouco afastados” da linha de regressão. Se a relação entre inteligência e
rendimento fosse perfeitamente linear, todos os pontos estariam exatamente sobre a linha de
regressão. (Não encontramos em psicologia relações perfeitamente lineares, mas sim relações
que se aproximam disso.)
No caso de relações lineares, os pontos do diagrama de dispersão encontram-se
em torno da linha de regressão formando uma elipse. Quanto mais “fechada” a elipse (pontos
mais próximos à linha de regressão) maior a associação entre as variáveis (Figura A7); quanto
mais “aberta” a elipse (pontos mais afastados da linha de regressão) menor a associação entre
as variáveis (Figura A8).
Figura A7: Exemplo de associação forte entre variáveis
3210-1-2-3
3
2
1
0
-1
-2
-3
212
Figura A8: Exemplo de associação fraca entre variáveis
420-2-4
4
2
0
-2
-4
Quanto mais os pontos estão próximos da linha de regressão, mais forte é a
associação entre as variáveis; quanto mais os pontos estão afastados da linha de regressão,
mais fraca é a associação entre as variáveis. Exemplificamos isto, para o caso de relações
lineares, com a imagem das elipses. Contudo, seria conveniente medir o grau de associação,
em vez de usar termos como “pontos mais próximos / pontos mais afastados” ou “elipse mais
aberta / elipse mais fechada”. Apresentamos os exemplos de forma visual para facilitar a
compreensão do leitor, mas existem também medidas para representar a “força” da relação
entre as variáveis, com a conveniência de fornecerem uma quantificação do grau de
associação. Justamente, o coeficiente de correlação descreve a associação entre duas
variáveis, informando sobre o sentido da relação e o grau de associação entre as variáveis.
A medida mais utilizada de correlação é o coeficiente de correlação produto-
momento de Pearson, representado por r. Este pressupõe que a relação entre as variáveis seja
linear e que as variáveis sejam de nível intervalar.
Os níveis de mensuração são:
1) Nominal, quando as variáveis são categorias de classificação apenas, sem que
se possa ordená-las em termos de valor. Por exemplo o sexo dos participantes
de uma pesquisa é uma variável nominal, porque os participantes podem ser
classificados em termos de serem do sexo masculino ou do sexo feminino;
2) Ordinal, quando se pode estabelecer uma ordem do tipo menor/maior. Por
exemplo, a classe sócio-econômica é uma variável ordinal, pois os indivíduos
213
podem ser classificados em termos de pertencerem às classes A, B, C, D ou E,
e estas classes podem ser colocadas numa ordem da classe mais baixa (E) à
classe mais alta (A);
3) Intervalar, quando se pode estabelecer uma ordem do tipo menor/maior e se
conhecer a distância entre os valores. Por exemplo, a renda mensal é uma
variável intervalar. Se Pedro tem renda mensal de R$ 1 000, João tem renda
mensal de 2 000 e Maria tem renda mensal de R$ 2 500, podemos dizer que a
renda de João é duas vezes maior do que a de Pedro e que a renda de Maria é
maior do que a de João em 500 reais.
O coeficiente de correlação apresenta um sinal (+ ou –) que indica o sentido da
relação entre as variáveis (sentido positivo ou sentido negativo, respectivamente) e um valor,
que indica o grau de associação entre as variáveis. O coeficiente de correlação varia de –1 a
+1. O valor –1 indica uma correlação negativa perfeita, ou seja, todos os pontos caem sobre a
linha de regressão e, à medida que uma variável aumenta de valor, a outra diminui de valor. O
valor 0 indica ausência de relação entre as variáveis. O valor +1 indica uma correlação
positiva perfeita, ou seja, todos os pontos caem sobre a linha de regressão e, à medida que
uma variável aumenta de valor, a outra também aumenta de valor. Valores entre –1 e 0
indicam correlações parciais negativas e valores entre 0 e +1 indicam correlações parciais
positivas (Figura A9).
Figura A9: valores do coeficiente de correlação e seu significado interpretativo
-1––––––––––––––––––––– 0 ––––––––––––––––––––– +1
Correlação
negativa
perfeita
Ausência
de
correlação
Correlação
positiva
perfeita
Correlação
parcial
negativa
Correlação
parcial
positiva
A maioria das correlações entre variáveis psicológicas apresenta valores bem
menores do que os de uma correlação perfeita. Assim, os parâmetros para a avaliação do grau
de associação entre as variáveis precisam ser estabelecidos de acordo com as características
214
próprias do campo de estudos no caso, a Psicologia. Segundo Cohen (1992) correlações
com valor de 0,10 indicam um grau de associação pequeno, mas não necessariamente trivial;
correlações com valor de 0,30 indicam grau médio de associação, e correlações com valor de
0,50 indicam grau elevado de associação
64
.
Uma vez determinado o coeficiente de correlação na amostra, permanece a
questão de se saber se ele representa o resultado da população. Devemos lembrar que,
partindo da população, podemos selecionar diferentes amostras e cada uma delas apresentará
determinado coeficiente de correlação, com valor mais próximo ou mais distante do valor da
correlação na população.
Devemos sempre lembrar que a correlação obtida na amostra é uma aproximação,
mais próxima ou menos próxima, da correlação da população. Uma abordagem para se
investigar a generalização dos resultados da amostra para a população consiste no
estabelecimento de intervalos de confiança, ou seja, a partir do valor encontrado na amostra
calcula-se a faixa de valores em que o valor na população mais provavelmente se situa.
Como exemplo dos intervalos de confiança, vamos comparar os resultados de
SumC’ em uma amostra de Exner e seus colaboradores e em nossa amostra:
Exner, Armbruster e Viglione (1978) encontraram, em sua amostra de 100 adultos
não-pacientes retestados após 3 anos, para SumC’, r = 0,67. Adotando um intervalo de
confiança de 95%, encontramos que a correlação na população situa-se entre 0,55 e 0,80. Isto
significa que, podemos afirmar, com 95% de chance de estarmos corretos, que SumC
apresenta correlação entre 0,55 e 0,80 na população.
Em nossa amostra de 32 participantes retestados após 3 meses encontramos, para
SumC’, r = 0,56. Adotando um intervalos de confiança de 95%, encontramos que a correlação
na população situa-se entre 0,26 e 0,76.
64
Este valores se aplicariam aos exemplos citados anteriormente, mas numa pesquisa sobre estabilidade
temporal, espera-se que os resultados nas testagens sejam bastante semelhantes, resultando em correlações altas,
iguais ou maiores do que 0,75.
215
Neste exemplo, vemos que, apesar de os coeficientes para as amostras serem
diferentes (0,67 versus 0,56), os intervalos de confiança se sobrepõem, o que significa que,
para esta variável, não podemos dizer que as correlações sejam diferentes para as populações.
Em vários casos (relação não-linear entre as variáveis, amostras de tamanho
pequeno, nível de mensuração ordinal ou nominal em vez de intervalar) não se deve utilizar o
coeficiente de correlação de Pearson, mas sim outros coeficientes (não-paramétricos). Para
dados ordinais, uma das estatísticas mais utilizadas é o coeficiente de correlação de ordem de
postos de Spearman, que informa sobre o grau em que as ordens dos valores de duas variáveis
estão associadas.
Como um exemplo de utilização da correlação de postos de Spearman, teríamos
uma pesquisa sobre a relação entre o estado de humor dos coletores de laranja e sua produção
no trabalho. O estado de humor foi investigado pedindo-se que cada trabalhador assinalasse
uma das seguintes categorias: 1- muito triste, 2- triste, 3- neutro, 4- alegre, 5- muito alegre. A
produção no trabalho corresponde ao número de laranjas colhidas em um dia de trabalho de 6
horas, dado que também foi dividido em categorias: 1- até 299 laranjas, 2- 300 a 599 laranjas,
3- 600 a 999 laranjas, 4- 1 000 laranjas ou mais. É importante notar que o nível de
mensuração destas variáveis é ordinal; os números apenas indicam uma ordem entre os
diferentes valores, mas um valor igual a 4 não é duas vezes maior do que um valor igual a 2.
Os resultados encontrados são apresentados na Tabela A2. Os dados foram
organizados em ordem crescente (da variável “humor”) para facilitar a visualização das
relações. Notamos que, quanto mais triste o humor, menor a produção. A correlação de postos
de Spearman para a amostra foi de 0,75.
216
Tabela A2: estado de humor relatado e produção de 30 coletores de laranja
Humor Produção Humor Produção
1 1 3 2
1 2 3 3
1 2 3 3
2 3 4 3
2 3 4 4
2 2 4 4
2 3 4 4
3 2 4 4
3 3 4 4
3 2 4 4
3 2 4 4
3 3 5 4
3 3 5 3
3 3 5 4
3 4 5 4
Estado de humor: 1- muito triste, 2- triste, 3- neutro, 4- alegre, 5- muito alegre
Produção: 1- até 299 laranjas. 2- 300 a 599 laranjas. 3- 600 a 999 laranjas, 4- 1 000 laranjas ou mais.
217
APÊNDICE B – CÓDIGOS E VARIÁVEIS DO SCR
[Suprimido na versão online]
227
APÊNDICE C PORCENTAGEM DE CONCORDÂNCIA E KAPPA COMO
MEDIDAS DA FIDEDIGNIDADE INTER-CODIFICADORES
A porcentagem de concordância, usada como medida de fidedignidade inter-
codificadores, não leva em conta a concordância obtida ao acaso.
Por exemplo, vamos analisar a concordância de dois avaliadores para um conjunto
de respostas. As Tabelas C1 e C2 mostram duas possíveis situações de concordância entre
estes dois avaliadores para a codificação movimento inanimado [m]:
Tabela C1 – Concordância entre dois codificadores
Codificador 1
Codificador 2 * m Total
* 85 5 90
m 5 5 10
Total 90 10 100
* indica decisão de não codificar m
Tabela C2 – Concordância entre dois codificadores
Codificador 1
Codificador 2 * m total
* 55 5 60
m 5 35 40
total 60 40 100
* indica decisão de não codificar m
Nas duas situações, a porcentagem de concordância é de 90%. Contudo, no
primeiro caso, os avaliadores concordaram que 5 respostas apresentam o código, dentre as 15
para os quais o código em questão foi assinalado por ao menos um dos avaliadores, enquanto
que, no segundo caso, os avaliadores concordaram que 35 respostas apresentam o código,
dentre as 45 para os quais o código foi assinalado por ao menos um dos codificadores. Assim,
a concordância para quando o código foi assinalado é maior no segundo caso do que no
primeiro.
228
Se não existir concordância real entre os codificadores, as freqüências esperadas
para as células da tabela serão determinadas pelo acaso. Temos então, apresentadas nas
Tabelas C3 e C4 as seguintes expectativas, calculadas pelo mesmo método utilizado para o
cálculo do qui-quadrado (X
2
):
Tabela C3 – Concordância esperada ao acaso
Codificador 1
Codificador 2 * m total
* 81 9 90
m 9 1 10
total 90 10 100
* indica decisão de não codificar m
Tabela C4 – Concordância esperada ao acaso
Codificador 1
Codificador 2 * m total
* 36 24 60
m 24 16 40
total 60 40 100
* indica decisão de não codificar m
Para a primeira situação, a porcentagem de concordância esperada no caso de não
haver concordância real é de 82%; na segunda situação, é de 52%.
Comparando os valores obtidos com os valores que seriam esperados por mero
acaso, notamos que, na primeira situação, a concordância obtida apresenta uma diferença
pequena em relação ao que seria esperado por acaso (90% versus 82%), enquanto que a
diferença é grande para a segunda situação (90% versus 52%). Assim, podemos afirmar com
maior segurança que os valores obtidos na segunda situação expressam uma concordância que
realmente existe entre os codificadores, em vez de eventualmente ter sido obtida por acaso.
O coeficiente kappa foi introduzido justamente para superar o problema da
concordância devida ao acaso. Na fórmula do kappa temos a porcentagem de concordância
observada (percentage of agreement PA) e a porcentagem obtida ao acaso (percentage of
chance – PC). A Tabela C5 mostra a matriz utilizada para o cálculo do kappa.
229
Tabela C5 – Exemplificação do cálculo do kappa
Codificador 1
Codificador 2 * código total
* a b a + b
código c d c + d
total a + c b + d n
* indica decisão de não codificar o código
PA = (a + d )
n
PC = (a + c) * (a + b) + (b + d) * (c + d)
n
2
O coeficiente kappa é definido como a diferença entre a concordância observada e
a concordância obtida ao acaso, expresso como uma fração da diferença máxima. Como o
valor máximo para a concordância é igual a 1,00 (100%), temos:
k = PA - PC
1 - PC
Para os dados da Tabela C1, teríamos:
PA = 0,900 (90%)
PC = 0,820 (82%)
Kappa = (0,900 - 0,820)/(1,000 - 0,820) = 0,08/0,18 = 0,444
Para os dados da Tabela C2, teríamos:
PA = 0,900
PC = 0,520
Kappa = (0,900 - 0,520)/(1,000 - 0,520) = 0,380/0,480 = 0,792
230
Kappa varia de -1,00 a +1,00, sendo que valores maiores do que zero indicam que
a concordância obtida é maior do que a esperada por mero acaso; kappa igual à zero indica
que a concordância obtida é igual à esperada por mero acaso; valores de kappa menores do
que zero indicam que a concordância obtida é menor do que a concordância esperada por
mero acaso.
Na literatura, encontramos diversos parâmetros para a interpretação dos valores de
kappa, propostos por diferentes autores e reunidos por Sahly (2006):
Landis e Kock (1977)
65
fornecem os seguintes parâmetros:
Kappa < 0,00: concordância pobre (poor agreement);
0,00 a 0,20: concordância fraca (slight agreement);
0,21 a 0,40: concordância regular (fair agreement);
0,41 a 0,60: concordância moderada (moderate agreement);
0,61 a 0,80: concordância substancial (substantial agreement);
0,81 a 1,00: concordância quase perfeita (almost perfect agreement).
Segundo Fleiss (Fleiss, 1981; Fleiss e Cohen, 1973; Shrout e Fleiss, 1979)
66
:
Kappa < 0,40 = concordância pobre (poor)
0,40 – 0,59 = concordância regular (fair)
0,60 – 0,74 = concordância boa (good);
Kappa > 0,74 = concordância excelente (excellent).
65
Landis, J. R.; Kock, G. G. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics, v. 33, p.
159-174, 1977.
66
Fleiss, J. Statistical methods for rates and proportions. 2
nd
ed.. New York: Wiley, 1981.
Fleiss, J.; Cohen, J. The equivalence of weighted kappa and the intraclass correlation coefficient as measures of
reliability. Educational and Psychological Measurement, v. 33, p. 613-619, 1973.
Shrout, P.; Fleiss, J. Intraclass correlations: Uses in assessing rater reliability. Psychological Bulletin, v. 86, p.
420-428, 1979.
231
Segundo Ciccheti, (1981, 1994)
67
:
Kappa < 0,40 = concordância pobre (poor);
0,40 – 0,59 = concordância regular (fair);
0,60 – 0,74/0,79 = concordância boa (good);
Kappa > 0,75/0,79 = concordância excelente (excellent)
Kappa > 0,80 = quase perfeito (nearly perfect).
Outro elemento a ser informado é a taxa de ocorrência do código. Na primeira
situação exemplificada, o código foi assinalado 10 vezes por cada um dos codificadores,
apresentando então uma taxa de ocorrência igual a 20 em 200 (10%); no segundo exemplo, o
código foi assinalado 40 vezes por cada um dos examinadores, apresentando então uma taxa
de ocorrência igual a 80 em 200 (40%).
Tabela C6 – Exemplificação do cálculo da taxa de ocorrência
Codificador 1
Codificador 2 * código total
* a b a + b
código c d c + d
total a + c b + d n
* indica decisão de não codificar o código
Taxa de ocorrência =
= ocorrência do código para o codificador 1 + ocorrência do código para o codificador 2
total de respostas codificadas pelos dois codificadores
ou seja, taxa de ocorrência = (b + d) + (c + d)
n + n
67
Cicchetti, D. V. Developing criteria for establishing interrater reliability of specific items: Applications to
assessment of adaptative behavior. American Journal of Mental Deficiency, v. 86, p. 127-137, 1981.
Cicchetti, D. V. Guidelines, criteria, and rules of thumb for evaluating normed and standardized assessment
instruments in psychology. Psychological Assessment, v. 6, p. 284-290, 1994.
232
APÊNDICE D DIFERENTES MODOS DE AVALIAR A FIDEDIGNIDADE INTER-
CODIFICADORES DO SCR
Podemos avaliar a fidedignidade das codificações ao nível das respostas. Neste
nível de análise, podemos analisar a concordância para decisões de codificação dicotômicas,
decisões de codificação policotômicas e por segmentos da codificação (ACKLIN et al., 2000).
Uma decisão dicotômica de codificação envolve atribuir ou não um código para
uma resposta. Um exemplo de decisão dicotômica é codificar S ou não codificar S. (Esta
decisão de codificação também corresponde à fidedignidade do código S.) A Tabela D1
apresenta uma situação hipotética em que se avalia a concordância para esta decisão de
codificação.
Tabela D1 – Exemplo do cálculo da concordância para a decisão de codificar ou não codificar S
Codificador A
Codificador B * S Total
*
78
2 80
S 3
17
20
total 81 19 100
* indica decisão de não codificar S
Para as 100 respostas que foram codificadas pelos dois avaliadores, eles
concordaram em não codificar S para 78 respostas e em codificar S para 17 respostas
portanto a porcentagem de concordância foi de 95 respostas dentre as 100 codificadas, ou
seja, 0,95 ou 95%. S ocorreu 19 vezes para o codificador A e 20 vezes para o codificador B
portanto S ocorreu 39 vezes dentre as 200 codificações realizadas pelos dois avaliadores, ou
seja, a taxa de ocorrência (Base Rate – BR) foi de 39/200 = 0,195 ou 19,5%. Kappa é
calculado como (PA-PC)/(1-PC), onde PA é a porcentagem de concordância (Percentage of
Agreement) e PC é a porcentagem de concordância que seria obtida por mero acaso
(Percentage of Chance). Para os dados do exemplo, teríamos PA = 0,950, PC = 0,686 e
kappa = 0,841.
233
Uma decisão policotômica de codificação envolve mais do que duas
possibilidades de codificação. Um exemplo de decisão policotômica refere-se à decisão de
codificar FC, CF, C, Cn ou não codificar o determinante cor cromática.. A Tabela D2
apresenta uma situação hipotética em que se avalia a concordância para esta decisão de
codificação.
Tabela D2 – exemplo de cálculo do kappa para decisões policotômicas
codification 1 Total
codificador 2 * FC CF C Cn
*
70
2 1 1 0 74
FC 3
7
4 0 0 14
CF 1 2
5
2 0 10
C 0 0 1
1
0 2
Cn 0 0 0 0
0
0
total 74 11 11 4 0 100
Para o cálculo de decisões de codificação policotômicas, a fórmulas seria:
PA = número de ocorrência de concordâncias
número total de respostas
PC = soma dos produtos das proporções marginais dos codificadores para cada categoria de codificação
n
2
Kappa = PA - PC
1 - PC
No exemplo da Tabela D2:
PA = 0,830
PC = (74*74) + (11*14) + (11*10) + (4*2) + (0*0) / 100
2
= (5476 + 154 + 110 + 8 + 0) /
10000 = 5748 / 10000 = 0,5748
Kappa = (0,830 - 0,5748) / (1,000 - 0,5748) = 0,2552 / 0,4252 = 0,600
234
Os segmentos de codificação são os seguintes: Localização, Qualidade Evolutiva,
Determinantes, Qualidade Formal, Pares, Conteúdos, Populares, Notas Z e Códigos Especiais.
A concordância também pode ser calculada por segmento de codificação. Por exemplo,
podemos avaliar a concordância para o segmento da Qualidade Formal (Tabela D3).
Tabela D3 – Exemplo do cálculo da concordância das codificações para o segmento da qualidade formal
codification 1 Total
codificador 2 FQ+ FQo FQu FQ- FQnone
FQ+
0
0 0 0 0 0
FQo 1
58
1 1 0 61
FQu 0 2
18
1 0 21
FQ- 0 1 1
14
0 16
FQnone 0 0 1 0
1
1
Total 1 61 21 16 1 100
PA = 0,79
PC = 0,44
Kappa = 0,63
Podemos também avaliar a concordância ao nível do protocolo, ou seja, para as
variáveis do Sumário Estrutural. Como exemplo, vamos avaliar a concordância para a
variável WSumC, utilizando 2 avaliadores que codificaram as respostas de 10 protocolos. A
Tabela D4 apresenta os escores de WSumC para cada protocolo e para cada um dos
avaliadores.
Tabela D4 – Escores de WSumC para 10 protocolos codificados por 2 avaliadores
Protocolo Codificador A Codificador B
1 5,5 4,5
2 0,5 1,0
3 4,0 6,0
4 3,0 2,5
5 7,0 6,5
6 5,0 3,5
7 2,0 2,0
8 3,5 3,0
9 2,0 2,5
10 1,5 4,0
235
Para a avaliação da concordância ao nível do protocolo utiliza-se o Coeficiente de
Correlação Intraclasse (Intraclass Correlation Coefficient - ICC). O ICC baseia-se nos
componentes da análise de variância (BARTKO, 1966). A interpretação do ICC é semelhante
à do kappa (ACKLIN et al., 2000).
Podemos também trabalhar com as categorias interpretativas. Por exemplo, a
variável es possui três faixas de valores: valores de acordo com o esperado (es de 7 a 11),
abaixo do esperado (es < 6) e acima do esperado (es > 11). A Tabela D5 apresenta a avaliação
da concordância entre dois codificadores para a variável es considerada em termos de
categorias interpretativas.
Tabela D5 Concordância entre dois codificadores para es analisado de acordo com as categorias
interpretativas
Codificador A
Codificador B es < 6 7 < es < 11 es > 11 Total
es < 6
2
1 0 3
7 < es < 11 1
11
1 13
es > 11 0 2
2
4
Total 3 14 3 20
236
APÊNDICE E – COEFICIENTE IOTA
Janson e Olsson (2001, p. 279) retomam definições importantes.
Tal como na literatura convencional (e.g. Shrout & Fleiss, 1979)
68
, observadores ou
avaliadores serão denominados juízes, e os objetos avaliados (pessoas, casos,
respostas, eventos etc.) serão denominados alvos.
O Coeficiente iota, como medida da fidedignidade inter-codificadores, é mais
diretamente apresentado em Janson e Olsson (2004, p. 63):
ι = 1
d
o
d
e
onde d
o
, a discordância observada, representa a média, ao longo dos alvos e pares de
juízes, das distâncias das pontuações entre os juízes para os mesmos alvos; e d
e
, a
discordância esperada, representa a média, ao longo dos alvos e pares de juízes, das
distâncias das pontuações entre os juízes para quaisquer alvos. Com dados
intervalares, a distância multivariada é definida como a distância Euclidiana, e com
dados nominais, a distância multivariada é definida como o número de discordâncias
ao longo das variáveis.
Para dados nominais (por exemplo, as decisões de codificação do Rorschach), iota
é equivalente ao kappa. Para dois juízes e dados intervalares (por exemplo, a concordância do
Rorschach ao nível do protocolo), iota é semelhante ao Coeficiente de Correlação Intraclasse
[ICC(2,1)], exceto por uma diferença pequena resultante do uso de n-1 em vez de n, para os
graus de liberdade (JANSON; OLSSON, 2001).
Tal como inicialmente formulado (Janson e Olsson, 2001), iota seria um
coeficiente a ser utilizado quando todos os diferentes juízes codificam todos os alvos. Este é o
modelo de dois fatores (two way). Posteriormente, Janson e Olsson (2004), ampliaram iota
para utilização com diferentes juízes, sem a necessidade de todos codificarem todos os alvos.
Este é o modelo de um fator (one way).
68
Shrout, P. E.; Fleiss, J. L. Intraclass correlations: Uses in assessing rater reliability. Psychological Bulletin, v.
86, p. 420-428, 1979.
237
Para a avaliação da fidedignidade inter-codificadores ao nível do protocolo, iota
com modelo de dois fatores é semelhantes ao ICC (2,1); iota com modelo de um fator não é
semelhante a nenhuma outra medida (JANSON, 2003).
238
APÊNDICE F – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO
Prezado Sr.(a),
Estamos realizando uma pesquisa sobre a estabilidade temporal dos resultados do método de Rorschach.
O método de Rorschach consiste em um conjunto de manchas de tinta, que a pessoa deve observar e dizer com o
que se parecem. A partir das respostas fornecidas, podemos conhecer algumas características da personalidade,
ou seja, algumas características do modo como a pessoa experimenta e lida com as situações.
Em nossa pesquisa estaremos realizando duas aplicações do método de Rorschach. Deste modo, veremos o
quanto os resultados permanecem os mesmos ou variam em diferentes momentos. Este tipo de estudo é chamado
de estudo da estabilidade temporal dos resultados.
Temos o compromisso ético de manter sigilo sobre suas informações pessoais, ou seja, os resultados da
entrevista e da avaliação pelo método de Rorschach serão utilizados na pesquisa, mas você não será identificado.
Se for de seu interesse, os resultados da avaliação do método de Rorschach lhe serão comunicados. Para tanto,
agendaremos uma entrevista, após a realização das duas aplicações do método de Rorschach para a presente
pesquisa.
A participação na pesquisa é voluntária e você tem o direito de desistir a qualquer momento, sem ter que se
justificar basta comunicar ao pesquisador sua decisão de interromper a participação. A desistência não afetará
de modo algum seu vínculo com a instituição em que trabalha.
Você pode pedir esclarecimentos sobre a pesquisa a qualquer momento, bastando entrar em contato com o
pesquisador responsável, o psicólogo Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto, no telefone 3842-4811.
Autorizo a utilização de meus resultados na pesquisa sobre estabilidade temporal do método de Rorschach
Nome:
R. G.: Data: Telefone :
Assinatura:
239
APÊNDICE G ANÁLISE DAS DISCORDÂNCIAS NAS CODIFICAÇÕES DAS
RESPOSTAS POPULARES
[Suprimido na versão online]
250
APÊNDICE H COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS NO TESTE E NO
RETESTE DE 6 PROTOCOLOS COM MENOS DE 14 RESPOSTAS
[Suprimido na versão online]
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo