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matéria natural para a produção de meios de subsistência e meios de produção
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. Os
elementos para a continuidade e aprofundamento dessas questões ainda não estão
presentes. Estes elementos demandam estudos e investigação que extrapolam as
possibilidades do presente momento, mas que deverão ser desenvolvidas posteriormente.
Outra imprecisão na formulação do autor, tratando do consumo produtivo dos
meios de produção, encontra-se na passagem: “Como produtos de trabalho anterior, os
equipamentos de lazer, apresentavam-se, além de resultado, como condição de
existência do processo de trabalho que dava origem ao produto esportes de aventura”.
Dizer que os equipamentos, os meios de produção do lazer como mercadoria, são
“resultado” do processo de produção do lazer como mercadoria, é o mesmo que dizer
que o linho é produto do processo de trabalho de alfaiataria. Os equipamentos – os
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Este pensamento tem base na formulação de Lukács (1979) sobre a constituição do ser social, mais
precisamente sobre sua avaliação da “prioridade ontológica” na teoria de Marx. Lukács explica que tomar
o momento econômico – do qual o trabalho é a categoria chave - como o momento predominante do
processo de constituição do ser social, não estabelece grau de hierarquia valorativa entre o complexo
fundante os complexos fundados. Ele explica que no ser social há uma insuperável base natural da qual
emergem as categorias sociais, que se tornam dominantes com o desenvolvimento histórico. “No
momento em que Marx faz da produção e da reprodução da vida humana o problema central, surge –
tanto no próprio homem como em todos os seus objetos, relações, vínculos, etc. – a dupla determinação
de uma insuperável base natural e de uma ininterrupta transformação social dessa base. Como sempre
ocorre em Marx, também nesse caso o trabalho é a categoria central, na qual todas as outras
determinações já se apresentam in nuce” (LÚKÁCS, 1979, p. 15-6). E, especificamente em relação a este
possível caminho de trabalhar com as relações de transformação de matéria social, tomo como base a
formulação marxiana sobre o “afastamento das barreiras naturais”, desenvolvida por Lukács (1979, p.17)
da seguinte forma: “Em primeiro lugar: o ser social – em seu conjunto e em cada um dos seus processos
singulares – pressupõe o ser da natureza inorgânica e orgânica. Não se pode considerar o ser social como
independente do ser da natureza, com antíteses que se excluem, o que é feito por grande parte da filosofia
burguesa quando se refere aos chamados ‘domínios do espírito’. [...] As formas de objetividade do ser
social se desenvolvem, à medida que surge e se explica a práxis social, a partir do ser natural, tornando-se
cada vez mais claramente sociais. Esse desenvolvimento, porém , é um processo dialético, que começa
com um salto, com o pôr teleológico do trabalho, não podendo ter nenhuma analogia na natureza” [sem
grifos no original]. Dessa forma, é a natureza orgânica e inorgânica e suas leis que constituem “a base
ineliminável das categorias sociais”. “Mesmo quando o objeto da natureza parece permanecer
imediatamente natural, a sua função de valor-de-uso é já algo qualitativamente novo em relação à
natureza; e, com o pôr socialmente objetivo do valor-de-uso, surge no curso do desenvolvimento social o
valor-de-troca, no qual, se considerado isoladamente, desaparece toda objetividade natural: como diz
Marx, o que ele possui é uma ‘objetividade espectral’.[...] Por outro lado, porém, cada uma dessas
objetividades puramente sociais pressupõe – e não importa se com mediações mais ou menos
aproximadas – objetividades naturais socialmente transformadas (não há valor-de-troca sem valor-de-uso,
etc.). Assim, existem, certamente, categoriais sociais puras, ou, melhor, apenas o conjunto delas constitui
a especificidade do ser social; todavia, esse ser não apenas se desenvolve no processo concreto-material
de sua gênese a partir do ser da natureza, mas também se reproduz constantemente nesse quadro e não
pode jamais se separar de modo completo – precisamente ontológico – dessa base. É preciso sublinhar,
em particular, a expressão “jamais de modo completo”, já que a orientação de fundo no aperfeiçoamento
do ser social consiste precisamente em substituir determinações naturais puras por formas ontológicas
mistas, pertencentes à naturalidade e à socialidade (basta pensar simplesmente nos animais domésticos),
explicitando ulteriormente - a partir dessa base – as determinações puramente sociais.. A tendência
principal do processo que assim tem lugar é o constante crescimento, quantitativo e qualitativo, das
componentes pura ou predominantemente sociais, aquilo que Marx costumava chamar de ‘recuo dos
limites naturais’” (LUKÁCS, 1979, p.19-20).