17
Assim, a partir do impulso gerado por trabalhos de antropólogos,
13
tem-se valorizado
a análise de algumas questões até então pouco exploradas, como as das resistências iniciais à
evangelização
14
e os modos pelos quais os Guarani viveram a redução, através da
reelaboração de seus rituais ou de seus padrões de comportamento.
15
Nos últimos anos, foram
elaboradas pesquisas enfatizando o papel desempenhado por esses indígenas enquanto agentes
sociais, privilegiando as estratégias adotadas frente às situações de conflitos e o seu papel
como lideranças.
16
Enfim, esses trabalhos têm apresentado como prerrogativa a transformação cultural
resultante da vida em redução, enfatizando as adaptações e recriações a partir da perspectiva
indígena e estabelecendo um contraponto à imagem de passividade comumente associada ao
comportamento dos Guarani.
17
Todavia, muito há de ser feito ainda no campo da história, no
Escritos guaraníes como fuente documentales de la historia paraguaya. Discurso de entrada como miembro de
número en la Academia Paraguaya de la Historia, 15 abr. 2004. Dactiloescrito. 30 p.
13
Trata-se, principalmente, dos trabalhos da antropóloga Branislava Susnik e de Pierre e Hélene Clastres, que
durante muitos anos foram referências obrigatórias em qualquer estudo sobre os Guarani. Para uma crítica às
“armadilhas que a leitura de clássicos dos Guarani pode pregar aos mais desavisados neófitos”, diante das
generalizações e imprecisões contidas nos trabalhos desses autores, ver: SANTOS, Maria Cristina dos. Clastres e
Susnik: uma tradução do “Guarani de papel”. In: GADELHA, Regina. A. F. Missões Guarani: impacto na
sociedade contemporânea. São Paulo: Educ, 1999. p. 205-219.
14
SANTOS, Maria Cristina dos. Os movimentos guarani de resistência à colonização da bacia platina:
1537/1660. Dissertação (Mestrado em História)–Pós-Graduação em História, PUCRS, Porto Alegre, 1988.
15
FLECK, Eliane Cristina Deckmann. Sentir, adoecer e morrer: sensibilidade e devoção no discurso missioneiro
jesuítico do século XVII. Tese (Doutorado em História)–Programa de Pós-Graduação em História, Pontifícia
Universidade Católica, Porto Alegre, 1999. 353 p.; MARTINS, Maria Cristina Bohn. A festa Guarani nas
reduções: perdas, permanências e recriação. Tese (Doutorado em História)–PUCRS, Porto Alegre, 1999. 304 p.;
MARTINS, Maria Cristina Bohn. Sobre as práticas guarani nas Reduções. História, São Leopoldo, v. 8, n. 9, p.
104-128, 2004.
16
Trata-se, especialmente, dos trabalhos realizados na Sección de Etnohistoria, vinculada ao Departamento de
Ciencias Antropológicas da Faculdad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires, coordenado pela
Dra
Ana Maria Lorandi. Ver AVELLANEDA, Mercedes. Orígenes de la alianza jesuita-guaraní y su
consolidación en el siglo XVII. Memoria Americana: Cuadernos de Etnohistoria, Buenos Aires: Instituto de
Ciencias Antropológicas, Facultad de Filosofia y Letras, UBA, n. 8, p. 173-202, 1999; HERNÁNDEZ, Juan
Luis. Desobediencia y fuga: estrategias guaraníes tras la expulsión de los jesuitas (1768-1799). In: JORNADAS
INTERNACIONALES SOBRE LAS MISIONES JESUÍTICAS, 7., 1998, Resistencia. Anales… Resistencia:
Instituto de Investigaciones Geohistoricas/Conicet: UNNE, Facultad de Humanidades, 1998. p. 281-297;
HERNÁNDEZ, Juan Luis. Tumultos y motines: la conflictividad social en los pueblos guaraníes de la región
misionera (1768-1799). Memoria Americana: Cuadernos de Etnohistoria, Buenos Aires: Instituto de Ciencias
Antropológicas, Facultad de Filosofia y Letras, UBA, n. 8, p. 83-100, 1999; WILDE, Guillermo. La actitud
guaraní ante la expulsión de los jesuitas: ritualidad, reciprocidad y espacio social. Memoria Americana:
Cuadernos de Etnohistoria, Buenos Aires: Instituto de Ciencias Antropológicas, Facultad de Filosofia y Letras,
UBA, n. 8, p. 141-173, 1999; WILDE, Guillermo. Los guaraníes después de la expulsión de los jesuitas:
dinámicas políticas y transacciones simbólicas. Revista Complutense de Historia de América, Madrid, n. 27, p.
69-106, 2001; WILDE, Guillermo. Antropologia histórica del liderazgo Guaraní misionero (1750/1850). Tese
(Doutorado)–Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2003a; WILDE,
Guillermo. Poderes del ritual y rituales del poder: un análisis de las celebraciones em los pueblos jesuíticos de
Guaraníes. Revista Española de Antropología Americana, Madrid, v. 33, p. 203-229, 2003b.
17
É oportuno referir o comentário de John Manuel Monteiro a respeito do lugar dos Guarani em relação a
pesquisa histórica no Brasil até o final dos anos 80 (do século passado): “De modo geral a historiografia –
sobretudo a brasileira – tem reservado ao índio o papel de figurante mudo ou vítima passiva dos processos
coloniais que o envolveram.” (MONTEIRO, John Manuel. Os guaranis e a história do Brasil meridional: séculos