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DAVI ALYSSON DA CRUZ ANDRADE
A (IN)SUSTENTABILIDADE DO TURISMO NO SERTÃO DA PARAÍBA:
o município de Coremas, “a terra das águas”, em análise
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Programa Regional de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente
PRODEMA
João Pessoa - Paraíba
Fevereiro - 2007
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1
UFPB UEPB UERN UESC UFAL UFS UFRN UFS UFPI
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
DAVI ALYSSON DA CRUZ ANDRADE
A (IN)SUSTENTABILIDADE DO TURISMO NO SERTÃO DA PARAÍBA:
o município de Coremas, “a terra das águas”, em análise
João Pessoa- Paraíba
Fevereiro-2007
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DAVI ALYSSON DA CRUZ ANDRADE
A (IN)SUSTENTABILIDADE DO TURISMO NO SERTÃO DA PARAÍBA:
o município de Coremas, “a terra das águas”, em análise
Orientadores:
Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida
Profa. Dra. Maristela Oliveira de Andrade
João Pessoa- Paraíba
Fevereiro-2007
Dissertação apresentada ao Programa
Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba, Universidade Estadual da
Paraíba em cumprimento às exigências
para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
3
Foto da Capa: Açude Estevam Marinho, Coremas – PB
(Davi Andrade, Ago., 2006)
A553i Andrade, Davi Alysson da Cruz.
A (in)sustentabilidade do turismo no sertão da Paraíba:
o município de Coremas, “a terra das águas”, em análise /
Davi Alysson da Cruz Andrade. – João Pessoa, 2007.
152p.: il.
Orientadores: Alberto Kioharu Nishida e Maristela
Oliveira de Andrade
Dissertação (mestrado) – UFPB/PRODEMA
1. Meio ambiente – aspectos econômicos. 2. Turismo –
Desenvolvimento – Coremas (PB).
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DAVI ALYSSON DA CRUZ ANDRADE
A (IN)SUSTENTABILIDADE DO TURISMO NO SERTÃO DA PARAÍBA:
o município de Coremas, “a terra das águas”, em análise
Aprovado em: _____ de Fevereiro de 2007
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida
DSE/CCEN/PRODEMA/UFPB – Orientador
________________________________________________
Profª Drª. Maristela Oliveira de Andrade
DCS/CCHLA/PRODEMA/UFPB – Orientadora
________________________________________________
Prof. Dr. Gustavo Ferreira Lima
DCS/CCHLA/PRODEMA/UFPB - Examinador Interno
________________________________________________
Prof. Dr. Lindemberg Medeiros de Araújo
DGEM/CCEN/PRODEMA/UFAL - Examinador Externo
________________________________________________
Profª Drª Maria Cristina Basílio Crispim da Silva
DSE/CCEN/PRODEMA/UFPB - Examinadora Suplente
Dissertação apresentada ao Programa
Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba, Universidade Estadual da
Paraíba em cumprimento às exigências
para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
5
À minha família, aos amigos e
amigas que são meu maior título;
aos coremenses, essenciais nesta
pesquisa, dedico.
6
AGRADECIMENTOS
com alegria e gratidão maior, a Deus por tudo, por todos;
com gratidão e amor, a minha mãe, Aparecida, ao meu Pai Chico, e minhas irmãs Diva
e Dávila, pelo apoio e amor que têm me dado, sempre;
com saudades, à toda minha família, que mesmo de longe, com pensamentos e
orações, me acompanha;
com abraço, ao Giovanni, meu irmão,companheiro, por me ensinar até com seus erros;
com reconhecimento, admiração e respeito a minha orientadora, Profa. Maristela
Andrade, e ao meu orientador, Prof. Guy Nishida, pela co-autoria, pela paciência;
com agradecimentos, aos meus conterrâneos, todos os coremenses que permitiram a
execução desta pesquisa. Estou à disposição;
com satisfação ao Prof. Gustavo Lima e a Profa. Cristina Crispim, pela colaboração na
pré-banca e pelo aceite de estar na avaliação final;
com a mesma satisfação, ao Prof. Lindemberg Araújo por deixar as Alagoas e vir
contribuir com a sua participação na banca;
com demasiados agradecimentos à Secretária Hélia Ramalho, merecidamente por nós
chamada de Super Hélia, pelo empenho e atenção na secretaria do PRODEMA;
com reconhecimento, aos professores e professoras do PRODEMA-UFPB pelos
ensinamentos e engajamento na defesa do planeta;
com admiração às coordenadoras do PRODEMA, as professoras: Maristela, Regina,
Loreley e Cristina, obrigado pelo apoio, pela amizade;
com respeito, ao Governo Federal, representado na CAPES, pelo incentivo fundamental;
com risos, saudades e desejos de sucesso à Aline, Ana Nery, César, Lidy, Marisa,
Keliana e Rodrigo, pela amizade e coleguismo durante o curso;
com carinho, à Anna Karla Moura, minha amiga e tradutora;
com “cuidado”, à Ilza Galvão, pela revisão gramatical;
com apoio, aos mestrandos do PRODEMA (Turma 2006) pela consideração;
com boas lembranças, “às meninas” do Projeto de Educação Ambiental para a
Cidadania...por ter plantado em mim esta semente;
com saudades aos turismólogos da turma 2000.1, vocês são inesquecíveis;
com afeto, à Rita e Mari, pelas horas de conversas científicas e cotidianas, ainda que
pelo telefone;
com desejo de êxitos, aos demais colegas de trabalho, professores, alun@s, pela
colaboração;
e, por fim, com a mesma consideração aos meus amigos e minhas amigas que me
ajudaram/ajudam a escrever minha história.
7
Ô que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão
E a gente pega na viola que ponteia
E a canção e a lua cheia
A nos nascer do coração
Coisa mais bela neste mundo não existe
Do que ouvir-se um galo triste
No sertão, se faz luar
Parece até que a alma da lua é que descanta
Escondida na garganta
Desse galo a soluçar
Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
Abraçado à minha terra
E dormindo de uma vez
Ser enterrado numa grota pequenina
Onde à tarde a surunina
Chora a sua viuvez
Canção “Luar do Sertão”
João Pernambuco e Catulo da Paixão
Cearense (1910)
8
RESUMO
Analise do desenvolvimento turístico no município de Coremas - sob a ótica da
sustentabilidade em seus aspectos - econômico, ambiental, social e cultural. O
município está localizado na Mesorregião do sertão do estado da Paraíba,
nordeste do Brasil, na bacia do rio Piranhas, distante 390 km da capital João
Pessoa, e tem uma população de 15.461 habitantes (IBGE, 2000). A base da
economia de Coremas é o comércio, a agropecuária e a piscicultura. O potencial
turístico do local tem como elementos principais os açudes “Coremas e Mãe
D’água” – que, interligados, formam o maior reservatório de superfície do estado
da Paraíba. Este recurso, aliado à paisagem, à cultura sertaneja, às festas
populares e ao interesse de interiorização do turismo, fez com que este município
fosse incluído na política federal e estadual de desenvolvimento turístico, no atual
“Programa Roteiros do Brasil”, no roteiro do “Ecoturismo e Turismo de Aventura”,
na Paraíba, justificando, em parte, o interesse pelo estudo do desenvolvimento do
turismo no local. A metodologia compreendeu uma análise documental,
observações de campo e entrevistas com representantes de diversos segmentos
no município - governo (6 entrevistas), comunidade local (24), iniciativa privada
(21), pescadores (4) e sociedade civil organizada (5) - com base nos Indicadores
Centrais do Turismo Sustentável (OMT, 2003) e os Princípios do Turismo
Sustentável (CBTS, 2002). Os dados coletados foram analisados/comparados sob
a luz das questões relativas à sustentabilidade. Os resultados obtidos evidenciam
que o principal incentivo do governo local para o desenvolvimento do turismo é
dirigido para eventos, com a realização de festas (Carnaval e Festa do Peixe) e
que algumas ações pontuais estão de encontro com a sustentabilidade do
turismo. Foi verificado que o turismo vem sendo alternativa de emprego e renda
para a população local, através da oferta de pelo menos 206 postos de trabalho
(inclusive os sazonais) em 2006 - contudo, os benefícios sociais não são
garantidos. Aumentaram as vendas no comércio local, motivando a instalação de
novos equipamentos turísticos (bares, restaurantes e pousadas) e aproximado a
comunidade local e os turistas do meio natural. A instalação dos equipamentos
turísticos, às margens dos açudes e dos rios, sem estudos de impacto ambiental,
pode conduzir à impactos negativos ao ambiente natural e à comunidade local,
comprometendo a sustentabilidade do turismo. Foram detectadas deficiências
estruturais como: a falta de tratamento da água do abastecimento público; o
despejo dos esgotos no rio Piancó; o acesso “precário” à cidade; como também: a
falta de planejamento e controle da atividade turística; a pouca participação da
comunidade local nas decisões em prol do turismo; e o descaso, pela comunidade
e pelos governantes, com o patrimônio histórico-cultural e o ambiente natural.
Deficiências que revelam que as condições para o desenvolvimento da atividade
turística em Coremas não estão de acordo com os requisitos da busca do
desenvolvimento turístico sustentável.
Palavras-chaves: Sustentabilidade; Impactos do Turismo; Coremas; Sertão da
Paraíba
9
ABSTRACT
The aim of this work is to analyze the tourism development of Coremas town – based
on sustainability and its economical, environmental, social and cultural aspects. The
town is located at the sertão region in the state of Paraíba, northeast of Brazil, in the
basin of Piranhas river, 390 km from the capital João Pessoa, and has a population
of 15.461 inhabitants (IBGE, 2000). Commerce, agriculture and fishing are the basis
of the economy in Coremas. The tourism potential of the city has “Coremas” and
“Mãe D’Água” dams as its main elements – these water tanks together form the
largest dam of Paraíba state. This resource, allied with the landscape, the culture
from sertão region, the popular parties and the interest of tourism interiorization, have
included the town of Coremas in the federal and state policies of tourism
development, with the present “Programa Roteiros do Brasil” (Itineraries From Brazil
Program), and the itinerary “Ecoturismo e Turismo de Aventura” (Ecotourism and
Adventure Tourism), in Paraíba, justifying the interest in the study of the development
of tourism in this town. The methodology involved a documental analyzes, local
observations and interviews with representatives of different segments in the city –
government (6 interviews), local community (24), private investors (21), fishermen (4)
and organized civil society (5) – based in the Central Indicators on Sustainable
Development (OMT, 2003) and in the Principles of Sustainable Tourism (CBTS,
2002). The collected data was analyzed/compared based on the questions related to
sustainability. The obtained results emphasize that the main incentive of the local
government for tourism development is directed to the events segment, with the
organization of parties (Carnaval – carnival – and Festa do Peixe – Party of the Fish)
and that some punctual actions are in agreement with tourism sustainability. It was
noticed that tourism has been considered a job and income alternative for the local
population, through the offer of at least 206 job vacancies (including the seasonal
ones) in 2006 – however, the social benefits are not guaranteed. There has been an
increase in the trades in local commerce, motivating the installation of new tourism
facilities (bars, restaurants and inns) and bringing together local community/tourists
and natural environment. The installation of tourism facilities on the margins of the
dams and rivers, without any environmental impact studies, may lead to negative
impacts to the natural environment and to the local community, jeopardizing the
sustainability of tourism. Structural deficiencies were detected, such as: lack of
treatment of the public supply water; sewage dumping in Piancó river; bad
approaches to the town; lack of planning and control of the tourism activity; lack of
participation of the local community in the decisions related to tourism; community
and governors show contempt for the historical-cultural heritage. Deficiencies that
reveal that the conditions for the development of the tourism activity in Coremas are
not following the requirements in the search for a sustainable tourism development.
Keywords: Impacts of Tourism; Sustainability; Coremas; Sertão of Paraíba
10
LISTA DE FIGURAS
p.
Figura 1 - Regiões turísticas da Paraíba e seus municípios 58
Figura 2 - Vista aérea parcial do Açude Estevam Marinho (“Coremas”) e
da sede do município. 63
Figura 3 - Vista aérea parcial do Açude Egberto C. da Cunha (“Mãe D’água”) 64
Figura 4 - Mesorregiões da Paraíba, em destaque o município de
Coremas 65
Figura 5 - Bacia hidrográfica Piranhas-Açu 67
Figura 6 - Serra de Santa Catarina, em Coremas 69
Figura 7 - Mapa ilustrativo do acesso à Coremas 73
Figura 8 - Casa de máquinas e o “rio Turbina” 75
Figura 9 - Hotel da Vila do DNOCS 77
Figura 10 - Vista parcial do açude Coremas 80
Figura 11 - Vista parcial do rio Turbina 80
Figura 12 - Vista parcial do Canal da Redenção e a barragem
da Mãe D’água 80
Figura 13 - Carnaval no rio Turbina 80
Figura 14 - “Portal” de entrada na Festa do Peixe 81
Figura 15 - “Sangria” do açude “Mãe D’água” 81
Figura 16 - Pescador com um Tucunaré, nas margens do açude
“Coremas” 81
Figura 17 - Canoas utilizadas para a pesca e o transporte 81
Figura 18- Imagem de Santa Rita de Cássia, padroeira de Coremas,
durante a “festa” 81
Figura 19 - Missa em frente à Igreja Matriz, durante a festa da padroeira 81
Figura 20 - Sangradouro, onde os açudes são interligados 82
Figura 21 – Artesanato de “louças de barro”, de Dona Francisca 82
Figura 22 - Capelinha de Santa Terezinha, em Coremas 82
Figura 23 - Jovens “subindo” a Serra de Santa Catarina, em Coremas 82
Figura 24 – Parte da estrutura da Festa do Peixe nas margens do “Açude
Coremas” 93
Figura 25 - Lixo nas margens do açude Coremas depois da realização da
Festa do Peixe 94
11
Figura 26 - Lixo nas margens do rio Turbina (margem esquerda) durante
o carnaval 95
Figura 27 - A única lixeira colocada próximo ao rio (margem direita),
onde acontece o carnaval 96
Figura 28 - Ocupação desordenada nas margens do “Açude Coremas” 99
Figura 29 - Lixo na estrada que dá acesso ao “Açude Mãe D’água” 102
Figura 30 - Bar/restaurante “dentro” do açude Coremas 104
Figura 31 - Bares/restaurantes nas margens do “rio Turbina” 104
Figura 32 - Folheteria turística do município onde é destacada a água,
o peixe e a tranqüilidade que o visitante encontra em Coremas 121
Figura 33 - Folheteria de divulgação da II Festa do Peixe (Set. 2006) onde
se observa o destaque para a figura feminina
123
Figura 34 - Folheteria de divulgação da I Festa do Peixe (Out. 2005)
onde se observa o destaque para elementos exógenos 126
Figura 35 - Escadarias da Mãe D’água 133
Figura 36 - Ruínas da “casa do engenheiro”, na Mãe D’água 133
Figura 37 - As ruínas da ponte do “Açude Mãe D’água” 134
12
LISTA DE SIGLAS
ACRC
Associação Cultural e Recreativa de Coremas
Asmad
Associação dos Moradores da Mãe D’Água
CBTS
Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável
CHESF
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
CNTUR
Conselho Nacional de Turismo
COMBRATUR
Comissão Brasileira de Turismo
Condetur
Conselho Estadual de Turismo
Consortur
Consorcio Intermunicipal de Turismo do Sertão da Paraíba
Couaipic
Cooperativa da União Agropecuária dos Irrigantes e
Psicultores de Coremas
DNOCS
Departamento Nacional de Obra Contra às Secas
Embratur
Empresa Brasileira de Turismo
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
OMT
Organização Mundial do Turismo
PAEG
Plano de Ação Econômica do Governo
Pbtur
Empresa Paraibana de Turismo S/A
PDTIS
Plano de Desenvolvimento Turístico Integrado do Turismo
Sustentável
Plantur
Plano Nacional de Turismo
Plantur – PB
Plano de Turismo do Estado da Paraíba
PNMT
Programa Nacional de Municipalização do Turismo
PNUD
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Prodema
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento
e Meio Ambiente
Prodetur-NE
Programa de Ação Integrada para o Desenvolvimento do
Turismo no Nordeste
PRT
Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil
RINTUR
Roteiro de Informações Turísticas
SAELPA
Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba
UFPB
Universidade Federal da Paraíba
13
LISTA DE QUADROS
p.
Quadro 1- Princípios do Turismo Sustentável 44
Quadro 2- Indicadores Centrais do Turismo Sustentável 45
Quadro 3- Avaliação de alguns municípios da Região Turística Cariri,
no estado da Paraíba (Set., 2005). 60
Quadro 4- Avaliação de alguns municípios da Região Turística Sertão,
no estado da Paraíba (Set., 2005). 61
Quadro 5- Características dos meios de hospedagem em
Coremas – 2006 77
Quadro 6- Postos de trabalho nos equipamentos turísticos em
Coremas-PB (ano 2006) 111
Quadro 7- Postos de trabalho nos equipamentos turísticos em
Coremas-PB durantes os eventos (Carnaval e/ou Festa do
Peixe) (ano 2006) 111
Quadro 8- Postos de trabalho criados durante o Carnaval em
Coremas-PB (anos 2005 e 2006) 112
14
LISTA DE TABELAS
p.
TABELA 01
Resposta dos entrevistados em relação a possibilidade
de danos provocados pela atividade turística ao
ambiente natural em Coremas
90
TABELA 02
Opinião dos entrevistados sobre as ações dos
governos municipais, em gestões anteriores (antes de
2005), para a conservação/manutenção dos açudes
91
TABELA 03
Respostas dos entrevistados sobre as ações do
governo municipal atual em prol da
conservação/manutenção dos açudes
92
TABELA 04
Resposta dos entrevistados sobre a preocupação da
comunidade em conservar os açudes e suas águas
97
TABELA 05
Tipo de esgotamento sanitário nos equipamentos
turísticos em Coremas (agosto/2006)
100
TABELA 06
Freqüência da coleta de lixo nos equipamento
turísticos em Coremas (agosto/2006)
101
TABELA 07
Respostas dos entrevistados sobre o conhecimento da
inclusão do município nas políticas para o turismo do
governo estadual/federal
106
TABELA 08
Opinião dos entrevistados sobre a atuação do governo
local, em relação à investimentos, no setor turismo
107
TABELA 09
A
s ações do governo local que demonstram o
investimento no turismo, na opinião dos entrevistados
108
TABELA 10
Respostas dos entrevistados sobre a sua participação
em reuniões com o governo local para tratar de
assuntos relacionados com o turismo em Coremas.
117
TABELA 11
Resposta dos entrevistados em relação a
possibilidade de prejuízos para a comunidade local,
provocados pela atividade turística em Coremas-PB
121
TABELA 12
Resposta dos entrevistados sobre a valorização e
preservação das tradições locais, pela comunidade,
em Coremas
136
TABELA 13
Resposta dos entrevistados sobre o apoio às tradições
locais, pelo governo municipal (2006), em Coremas
137
15
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
1. INTRODUÇÃO 15
1.1 Objetivos 18
2.TURISMO, DESENVOLVIMENTO LOCAL E SUSTENTABILIDADE 19
2.1 Turismo 19
2.1.1 Impactos do Turismo 22
2.1.2 Impactos no Ambiente Aquático 27
2.2 Desenvolvimento Local 28
2.2.1 Desenvolvimento Local e Turismo 30
2.3 Sustentabilidade 35
2.3.1 A Sustentabilidade no Turismo 38
2.4 Os Indicadores de Sustentabilidade e a Atividade Turística 40
3. POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO DO TURISMO
NO BRASIL E NA PARAÍBA 47
3.1 As Políticas de Turismo no Brasil 48
3.1.1 O Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil 53
3.2 As políticas para o turismo na Paraíba 55
3.2.1 Os “roteiros turísticos” da Paraíba 57
4. O MUNICÍPIO DE COREMAS – cenário da pesquisa 63
4.1.1 Localização geográfica 64
4.1.2 População 65
4.1.3 Aspectos biofísicos 66
4.1.4 Aspectos históricos 70
4.1.5 Infra-estrutura básica e turística 72
4.1.5.1. Sistema Viário 72
4.1.5.2 Sistema de Saneamento 73
4.1.5.3 Sistema Energético 74
4.1.5.4 Sistema de Telecomunicações 75
16
4.1.5.5 Serviços de Apoio 76
4.1.5.6 Infra-estrutura turística 76
4.1.6 Os atrativos turísticos 79
5. METODOLOGIA 83
5.1 Técnicas de pesquisa e instrumentos para coleta de dados 84
5.2 População e amostragem 86
5.3 Processamento e análise dos dados 88
6. RESULTADOS 89
6.1 A (In)Sustentabilidade do turismo em Coremas-PB 89
6.1.1 A dimensão ecológica/ambiental 89
6.1.2 A dimensão econômica 110
6.1.3 A dimensão social 116
6.1.3.1 O “Perfil do Turista” 127
6.1.4 A dimensão cultural 131
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 140
7.1 Recomendações 143
8. BIBLIOGRAFIA 147
APÊNDICES
ANEXOS
17
1. INTRODUÇÃO
A procura por novos destinos turísticos, que permitam o (re)conhecimento de
paisagens e culturas diversas, é uma realidade em todo o mundo, particularmente
no nordeste brasileiro, e mais especificamente no estado da Paraíba, onde é
crescente o interesse dos governos local e estadual em incentivar o turismo, seja no
litoral ou no sertão. Isto pode ser verificado nas políticas para o turismo, que cada
vez mais consideram em suas ações o potencial de desenvolvimento da atividade
turística na região, justificado pelos benefícios advindos do turismo, sendo
destacada a geração de emprego e renda.
O tema turismo passa a ser abordado de forma mais específica no Brasil a
partir dos anos 60, quando se dá a criação da Empresa Brasileira de Turismo -
EMBRATUR. Atualmente no Brasil existe um Ministério do Turismo e um Plano
Nacional de Turismo. Cada estado e alguns municípios têm uma secretaria ou órgão
responsável pelo setor turístico. Desta forma, pelo menos estruturalmente, o Brasil
possui alguma ordenação no tratamento do turismo, e considera-se que “é hora de
direcionar esforços para o interior do Brasil, para suas riquezas ambientais, culturais,
materiais e patrimoniais e, principalmente, para suas populações” (BRASIL, 2004,
p.07).
No contexto recente da administração pública, onde se tenta implantar a
descentralização das tomadas de decisões, os estados e municípios passam a
dispor de certa autonomia na elaboração e execução de suas políticas públicas,
inclusive no turismo, como será apontado neste trabalho.
O Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT vislumbrava
justamente esta autonomia dos municípios no planejamento do turismo.
Consideradas as deficiências na concepção deste programa, implantado na primeira
gestão Fernando Henrique Cardoso (1995), nas condições técnicas de cada
município e na cultura predominante no país para elaborar políticas públicas para o
turismo, este programa foi revisto e deu lugar ao Programa de Regionalização do
Turismo - Roteiros do Brasil (PRT), na gestão Lula. No entanto não extinguiu as
responsabilidades dos municípios na elaboração das ações em prol do turismo, que
agora devem ser planejadas e executadas no espaço regional, de acordo com o
18
roteiro estabelecido. No PNMT são destacados como objetivos: a melhoria das
condições de vida das comunidades receptoras, a geração de novos postos de
trabalho e o impulso a melhor distribuição de renda. Para isso, “é imprescindível
valorizar as potencialidades locais e desenvolvê-las respeitando os princípios da
sustentabilidade, os valores e peculiaridades de cada localidade e/ou comunidade”
(BRASIL, 2004, p.07). Assim fica evidenciada a preocupação, ao menos no nível
teórico, com o desenvolvimento sustentável do turismo no Brasil.
No discurso governamental, desde a esfera federal à municipal, é enfatizado
este desenvolvimento sustentável do turismo. Na prática são poucos os exemplos de
ações pautadas na sustentabilidade, pelo menos na Paraíba, seja no litoral ou no
“sertão”.
A busca da sustentabilidade não é privilégio da atividade turística. A partir do
surgimento deste conceito - motivado pela crise ecológica, que induziu a busca de
novas e menos predadoras alternativas de utilização do meio natural, como também
pela crise nos modelos vigentes de desenvolvimento e de concepção da realidade -
ele vem sendo atrelado a diversos setores, como “construções sustentáveis”,
“agricultura sustentável”, “cidades sustentáveis”, entre vários outros. Logo, tem sido
pertinente ao turismo, tendo em vista o interesse dos envolvidos com a atividade
turística em negar ou deixar de praticar a exploração/degradação do meio ambiente,
principalmente dos recursos naturais, que mantém.esta atividade. Assim, “turismo”
quase passa a ser substantivo composto (“turismo-sustentável”) e é instituído o mito
de uma atividade puramente salutar, “sustentável”, principalmente nas justificativas
políticas para o investimento no setor, seja no seu aspecto ecológico, social, cultural,
seja no seu aspecto econômico. Numa tentativa de atender ao modelo de produção
capitalista, onde se busca a maximização dos lucros financeiros, esta dialética entre
“utilização racional e lucro”, constitue um desafio para a sustentabilidade. Contudo,
neste trabalho acredita-se que é possível conduzir o desenvolvimento do turismo,
assim como de diversas outras atividades, de acordo com os princípios de
sustentabilidade, deixando de considerá-lo um mito, concebendo-o como um meio
de desenvolvimento, e não uma meta a ser atingida. O que se quer dizer é que não
se espera um turismo sem impactos ou perdas, para o ambiente e as comunidades,
mas sim que o planejamento da atividade de acordo com as diretrizes da
sustentabilidade pode reduzir significativamente estes danos.
19
Com isso, este trabalho aborda a sustentabilidade do turismo no sertão da
Paraíba, com foco no município de Coremas. Como questão norteadora deste
estudo, acredita-se que esta sustentabilidade do turismo no sertão paraibano, e no
município de Coremas, existe apenas no discurso político, pois não é refletida nas
ações em prol do turismo ou outras ações que lhe servem de base, como as formas
de utilização dos solos, a devastação da caatinga, a extinção da fauna e a luta
contra a seca.
O estado da Paraíba, como os demais estados do Nordeste, destaca-se no
cenário nacional por “ostentar” uma imagem de lugar atrasado, em relação aos
demais estados do país. A atividade turística permite, entre outras coisas, por meio
do simples (re)conhecimento do lugar, que certas imagens sejam reconstruídas
1
, ou
que, quando utilizadas pelo marketing turístico, adquiram conotação de valores da
cultura local, ao invés de atraso. No semi-árido, por exemplo, imagens da terra
rachada e de crianças carregando água no lombo do burro podem assumir
diferentes significados dependendo da informação que é agregada à esta imagem.
Contudo, verifica-se que o marketing também pode transformar o cotidiano das
pessoas do local visitado em espetáculo para o turista, ou que adquira conotação de
espetáculo também para a comunidade, como vem acontecendo em festas
tradicionais, tal como o São João ou festas de padroeiros que, em alguns casos,
adquirem certa característica de teatralização. Estas tradições e costumes locais são
variáveis consideradas nesta pesquisa, no que tange à sustentabilidade
sociocultural.
Estudos como este se justificam pela carência de observações críticas sobre
o desenvolvimento do turismo em Coremas, assim como na região do sertão da
Paraíba, contribuindo tanto para a construção do saber turístico como para o
planejamento governamental voltado para a sustentabilidade. Justifica-se ainda pela
relação pessoal do pesquisador, que nasceu e cresceu em Coremas, é “conhecedor”
da realidade do local e que hoje assiste às mudanças que o turismo vem
provocando no “seu lugar”.
1
Por vezes, durante o exercício profissional do pesquisador, ouviu-se de turistas vindos do
sul/sudeste do país que esperavam encontrar mais jumentos que automóveis nas ruas da capital do
estado, ou que não visitavam o sertão porque acreditam que lá não há água para beber.
20
1.1 Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a sustentabilidade do turismo no
município de Coremas, localizado no sertão do estado da Paraíba.
Como objetivos específicos delimitam-se:
- Identificar as principais ações do governo local (políticas/planos/projetos)
direcionadas para o desenvolvimento turístico;
- Verificar a percepção da comunidade local sobre os possíveis impactos
decorrentes da atividade turística no município;
- Analisar a participação dos atores relacionados com o turismo na
elaboração de políticas/ações para o turismo no sertão e em Coremas;
- Apontar os impactos positivos e negativos já existentes e potenciais em
decorrência da atividade turística no município;
Dentre os conceitos que se entrelaçam ao de sustentabilidade, e que são
discutidos no referencial teórico para este trabalho (Capítulo 2), destacam-se:
turismo e impactos do turismo, desenvolvimento local, indicadores de
sustentabilidade, meio ambiente e participação comunitária.
No Capítulo 3 aborda-se as políticas de turismo no Brasil como um
instrumento de planejamento governamental pautado no discurso da
sustentabilidade. Destacando-se o Programa Nacional de Municipalização do
Turismo e o Programa Roteiros do Brasil, que abarcam a região do sertão em suas
ações. Chega-se ao estado da Paraíba, mais especificamente à realidade do
planejamento da atividade turística, com algumas observações sobre os mais
recentes planos de desenvolvimento turístico deste estado, atendendo aos
interesses estabelecidos nos objetivos específicos, e aproximando-se da realidade
do turismo no sertão do estado.
Em seguida, no Capítulo 4, o leitor é convidado à uma “breve visita” à área de
estudo, o município de Coremas, destacando suas características gerais e o cenário
de desenvolvimento da atividade turística.
No Capítulo 5 é apresentado o percurso metodológico “construído” para
alcançar os resultados, que são apresentados no Capítulo 6.
“Boa Viagem!”
21
2. TURISMO, DESENVOLVIMENTO LOCAL E SUSTENTABILIDADE
Atualmente verifica-se um considerável aumento no número de estudos
relacionados com o turismo e com o possível desenvolvimento que a atividade pode
promover, tendo em vista principalmente os impactos potenciais, positivos e
negativos, sobre os diversos ambientes envolvidos. Paralelamente também se
percebe que esta atividade vem sendo adotada pelos governos de diversos países e
regiões como “carro-chefe” de programas de governo em prol do desenvolvimento,
destacadamente, sustentável.
Este primeiro capítulo trata da base teórica que alicerça este trabalho. Para
isso, foi desenvolvida uma análise sobre conceitos de turismo, desenvolvimento
local e sustentabilidade, junto às idéias que estão em suas órbitas.
2.1 Turismo
Na academia é destacado o caráter multi, trans e interdisciplinar da atividade
turística, na prática ela é vista na diversidade dos setores envolvidos, seja no âmbito
governamental, seja no privado. No âmbito dos conceitos e definições de turismo
salienta-se esta complexidade, sendo inclusive utilizada para justificar a dificuldade
de se ter um conceito que atenda aos seus diversos aspectos.
Beni (2001) agrupa as definições de turismo nas esferas econômica, técnica e
holística. Da mesma forma, no cotidiano o turismo vem ocupando diversas
categorias, seja de atividade econômica, social, “indústria”, meio de proteção e/ou
degradação ambiental, etc.
Em 1911 a primeira definição de turismo, apresentada por Hermann Von
Schullern (apud BARRETO, 1999, p.9) dizia: “turismo é o conceito que compreende
todos os processos, especialmente os econômicos que se manifestam na chegada,
na permanência e na saída do turista de um determinado município, país ou estado”.
22
Ao longo do século XX, com o aumento da prática do turismo pela sociedade e
conseqüentemente o despertar para o estudo da atividade, surgiram várias
definições para turismo
2
inclusive com uma ampliação em sua complexidade, como
se vê na definição proposta pelo antropólogo Jafar Jafari (apud BENI, 2001, p.36): “é
o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas
necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre o ambiente
físico, econômico e cultural da área receptora”.
Afirmando que o turismo é mais que uma atividade econômica ou um fluxo de
pessoas, Rodrigues (1996, p. 17-8) conclui que o turismo é
certamente um fenômeno complexo, designado por distintas expressões:
uma instituição social, uma prática social, uma frente pioneira, um processo
civilizatório, um sistema de valores, um estilo de vida – um produtor,
consumidor e organizador de espaços – uma ‘indústria’, um comércio, uma
rede imbricada e aprimorada de serviços.
Atualmente se aceita como “padrão”, inclusive pelo Ministério do Turismo do
Brasil, a definição apresentada pela Organização Mundial do Turismo (OMT) que
compreende o turismo como “as atividades de pessoas que viajam para lugares
afastados de seu ambiente usual, e que neles permaneçam por não mais de um ano
consecutivo, a lazer, a negócios ou por outros motivos”. (OMT, 2003, p. 20). Sob o
ponto de vista do autor essa definição aproxima-se mais do “fazer-turismo”, do que
propriamente da atividade turística. Como turistas, a OMT (2003, p.20) define
qualquer pessoa que viaje para um país no qual não possua residência
usual e que esteja fora de seu ambiente normal, por um período que não
ultrapasse 12 meses, e cujo objetivo principal da visita não seja o exercício
de uma atividade remunerada dentro do país visitado.
Esta definição acima caracteriza o turista internacional, sendo que na
definição de turista doméstico, destaca-se: “qualquer pessoa que resida em um país
e viaje para um lugar dentro dos limites do território e fora de seu ambiente usual”
2
Barreto (1999) faz uma compilação dessas definições.
23
(OMT, 2003, p.21), e os demais aspectos sobre o tempo de permanência e as
atividades não remuneradas.
Até pouco tempo havia uma diferenciação entre o “turista” e o “excurcionista”,
como se pode ver em Beni (2001, p. 35). Atualmente a OMT destaca que ambos são
considerados visitantes, mudando a definição de acordo com a duração da visita.
Desta forma, ao invés de “excursionista” denomina-se “visitante de um dia” a pessoa
“que não pernoite em acomodações coletivas ou privadas no local visitado” (OMT,
2003, p.21), inclusive os passageiros de cruzeiros, trens, etc., pois visitam o local,
mas estão hospedados nestes equipamentos. Assim, percebe-se que todo visitante
é considerado como turista, pois utiliza praticamente os mesmos serviços
direcionados para a atividade turística, causando impactos na economia, no
ambiente natural, etc.
Além da preocupação com a organização do destino turístico e da
sensibilização da comunidade local para acolher o turista, vem sendo enfatizada a
responsabilidade moral do turista, como possível causador de impactos, buscando a
mitigação dos impactos negativos. Como exemplo vale lembrar a existência de
campanhas publicitárias que esclarecem sobre os direitos e deveres dos turistas, a
importância de conhecer e respeitar a cultura local ou ainda no combate ao “turismo
sexual”. Contudo, para Swarbrooke (2002, p.16),
tem havido pouca evidência até agora de que os turistas estejam
interessados no conceito de turismo sustentável, além da preocupação
natural com a qualidade do meio ambiente das localidades de férias por
eles freqüentadas. Não tem havido boicotes a empresas aéreas hostis ao
meio ambiente ou exigências para que os hotéis paguem salários mais
altos.
Em relação a este comportamento do turista, e sua contribuição para a
sustentabilidade, em uma das visitas ao município de Coremas, durante o carnaval,
levantou-se o questionamento: será que os jovens, que seguem o ‘arrastão’ do trio
elétrico, sujam as ruas e as águas do rio com garrafas e latas de cervejas, urinam
nas calçadas, elevam o volume dos sons de seus carros a ponto de não ser possível
conversar com a pessoa ao lado, têm preocupação com a idéia de turismo
sustentável? O que fica evidenciado é que estas ações comprometem os princípios
24
da sustentabilidade. Assim, cabe à comunidade local e ao governo (sem
hierarquizar) a competência para decidir que “tipo” de turismo e de turista se deseja
em seu local de moradia, para a partir daí pensar na sustentabilidade do turismo.
2.1.1. Impactos do Turismo
Vários estudiosos se concentram sobre os possíveis impactos do turismo.
Neste trabalho busca-se a análise dos impactos do turismo no sertão da Paraíba,
em especial no município de Coremas, como um dos caminhos para se avaliar a
(in)sustentabilidade da atividade.
Estes impactos geralmente são agrupados em quatro categorias: impactos
ambientais, econômicos, sociais e culturais (ou socioculturais). Com a problemática
da crise ecológica em evidência, a dimensão do meio ambiente, natural e
construído, se sobressai quando se pensa sobre os possíveis impactos do turismo.
Todavia, ao se buscar o turismo sustentável, todas as dimensões devem ser
igualmente relevantes.
Em relação ao conceito de meio ambiente, deve-se considerar que este é
composto por “vários ambientes”, como: meio ambiente natural, meio ambiente rural,
meio ambiente construído, vida selvagem e recursos naturais (SWARBROOKE,
2002).
Ruschmann (1999, p. 21) escreve sobre os desdobramentos da relação do
homem com o meio ambiente por meio da atividade turística, destacando que esta
relação tem início com a descoberta da natureza, no século XVIII, conclui dizendo
que
depois da metade dos anos 80, distingue-se um outro período (...). O
turismo de natureza ou o turismo ecológico ocorre na maioria das
localidades turísticas estabelecidas e, nas novas, evita-se a ocupação de
todos os espaços [...]. Trata-se, portanto, da renovação do turismo, cuja
25
clientela busca a calma, as aventuras e o conhecimento mais profundo das
regiões visitadas.
Ressalta-se que parece existir uma dose de otimismo ou inadequação à
realidade brasileira quando a autora afirma que o “turismo ecológico ocorre na
maioria das localidades estabelecidas” e que “nas novas, evita-se a ocupação de
todos os espaços”. O que se tem visto na maioria dos casos que apresentam o
turismo ecológico como “cartão de visita” é uma incompatibilidade com os princípios
de respeito ao ambiente, tomando como slogan “ecológico” apenas por interesse de
mercado; e uma ocupação desordenada de áreas legalmente protegidas.
Guedes (2005, p. 155-6) em pesquisa sobre os impactos ambientais
provocados pelos empreendimentos turísticos no distrito de Jacumã, litoral
paraibano, aponta que
a identificação das pousadas e restaurantes localizados em áreas com
restrições legais e em áreas com alta restrição” [...] [demonstra que] “os
interesses econômicos têm prevalecido sobre os ecológicos, gerando
impactos ambientais negativos no meio ambiente“.
Para a autora, a responsabilidade desta situação também cai sobre o Poder
Público, pois este “fiscaliza com ineficiência, omite-se ou movido por interesses
econômicos, permite a ocupação das áreas protegidas por Lei e quando autoriza o
seu loteamento” (GUEDES, 2005, p. 155).
À medida que se busca a turistificação dos lugares, pode ser que se percam
importantes atributos, como vem acontecendo no litoral nordestino, onde paisagens
exóticas são alteradas pela construção de resorts padronizados e instalação de
mega-projetos hoteleiros.
Almeida (1998, p. 20), aponta que os espaços tendem a se tornar
artificializados ou turistificados quando existe mais preocupação mercadológica que
ambiental para a satisfação dos turistas. Para a autora, “a turistificação é o processo
de apropriação do lugar para e pelo turismo”.
26
Knafou (2001) aponta que são três as fontes de turistificação dos lugares: os
turistas, o mercado e os planejadores, e promotores territoriais. Sendo os turistas e
suas práticas os que estão na origem desse processo, os que induzem à formação
de territórios turísticos. Contudo, se tem assistido a exemplos onde os espaços são
“inventados” primeiro e depois são utilizados pelos turistas, um exemplo é a cidade
de Las Vegas, nos Estados Unidos, ou então se deve considerar as alternativas
mais sustentáveis nesta turistificação.
A dimensão econômica vem adquirindo destaque na busca pela
sustentabilidade do turismo. Considerando-se a idéia de que é preciso proteger a
natureza para utilizá-la como recurso e vendê-la para o/pelo turismo. Mesmo com
uma conotação assustadora para os ambientalistas, esta lógica se aproxima da
linguagem mercadológica onde o turismo está inserido e pode colaborar com o
interesse maior de conservação da natureza.
Swarbrooke (2002, p.95) propõe a análise custo-benefício como auxílio na
tomada de decisões em projetos de desenvolvimento turístico, mesmo sabendo que
algumas limitações estão implícitas, por exemplo, a dificuldade em “quantificar os
custos e benefícios sociais que resultam do desenvolvimento do turismo, tais como
crime, alienação social e a erosão de culturas tradicionais”; ou ainda o fato de que
“um projeto pode beneficiar uma região como um todo, mas pode trazer altos custos
a uma pequena parte da comunidade”.
Observa-se que os mais propagados benefícios do turismo estão atrelados ao
setor econômico
3
, intrínseco à idéia de desenvolvimento, como se pode ver nas
palavras de Beni (2001, p.65):
o turismo provoca o desenvolvimento intersetorial, em função do efeito
multiplicador do investimento e dos fortes crescimentos da demanda interna
receptiva. É atividade excelente para obtenção de melhores resultados no
desenvolvimento e planejamento regional ou territorial.
3
Nas políticas para o turismo no Brasil também tem destaque a visão economicista da atividade,
como será abordado no próximo capítulo.
27
Beni (2001) também destaca que o aumento da oferta turística, com a
implantação de novos equipamentos, reflete na demanda de emprego, diminuindo a
mão-de-obra subutilizada ou desempregada. E para o setor público representa
geração de renda por meio de “impostos diretos e indiretos incidentes sobre a renda
total gerada no âmbito do sistema econômico, bem como seu caráter de estimulador
do processo de abertura da economia”. (BENI 2001, p.65)
Mbaiwa (2003, p.452) analisando os impactos econômicos do turismo no
Delta do Okavango, (Botsuana-África) aponta:
os benefícios (ex.: renda) que as comunidades locais obtêm a partir do
turismo de base comunitária são insignificantes se comparados com
aqueles obtidos pelas operadoras de turismo ou pelo governo. [...] isto
significa que o turismo no Delta do Okavango não traz benefícios
substanciais e significantes para as pessoas do local, por isso sua
sustentabilidade, em termo dos benefícios socioeconômicos, torna-se
questionável. (tradução nossa)
4
A fim de otimizar os benefícios econômicos do turismo, Swarbrooke (2002)
enfatiza que se deve garantir a distribuição destes benefícios por toda a comunidade
local, especialmente as camadas mais carentes; cobrar do turista um preço justo;
proteger as empresas locais da concorrência das empresas estrangeiras; e reduzir a
fuga de capital. Contudo, não se pode defender uma situação de protecionismo e de
monopólio, e se reconhece que as “mãos do mercado” podem não permitir certas
intervenções.
Segundo Coriolano (1997, p.127) “quando o turista agride as comunidades
geram-se problemas de antipatia ao visitante. Por outro lado, quando o residente
subestima sua cultura, seus valores, ou explora financeiramente o turista essas
relações passam a ser prejudicadas”. Sobre este aspecto, Swarbrooke (2002, p.109)
afirma:
4
No original, em inglês: “benefits (e.g. revenue) that local communities obtain from community-based
tourism are insignificant when compared to those obtained by the private tour operators or by
government. […] this means tourism in the Okavango Delta does not have substantial and meaningful
economic benefits to the local people, hence its sustainability in terms of socio-economic benefits
become questionable.
28
os impactos socioculturais do turismo geralmente ocorrem de maneira
vagarosa e discreta com o passar do tempo. Eles são também em grande
parte invisíveis e intangíveis. Contudo, o impacto social do turismo
geralmente é permanente, com pouca ou nenhuma oportunidade de
reverter as mudanças uma vez ocorridas
.
Estas características do impacto sociocultural do turismo implicam em certa
dificuldade de percepção, comprometendo, a efetividade do planejamento
sustentável para o turismo. Para Coriolano (1997, p. 127-8) “o contato entre esses
grupos modifica a forma de pensar e de agir, quando o local e os costumes vão
mudando de forma brusca, pois as mudanças incidem nos objetos e sobretudo nas
pessoas, não havendo como escapar”
Ruschmann (1999, p. 65) afirma que “os impactos negativos do turismo
ecológico sobre o meio ambiente natural e sociocultural superam os positivos”. Por
isso a importância do planejamento como ferramenta de mitigação destes impactos
e de controle, de uma forma geral, da atividade. Para a autora,
o plano de desenvolvimento constitui o instrumento fundamental na
determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa da
atividade, determinado suas dimensões ideais, para que, a partir daí, possa-
se estimular, regular ou restringir sua evolução.
(RUSCHMANN, 1999, p. 84)
Hall (2003, p. 25) aponta que o planejamento turístico sustentável é “uma
forma integrada de planejamento turístico que procura garantir, a longo prazo e com
o mínimo de deterioração de recursos, de degradação ambiental, de rompimento
cultural e de instabilidade social, a segurança dos moradores” (grifo nosso).
Destacando a preocupação com as características econômicas, físico-espaciais e
comunitárias.
Contudo, concorda-se com Molina (2001, p. 63) ao afirmar a necessidade de
que o planejamento “encontre um apoio verdadeiro tanto em questões do tipo social
e físico como econômico. Planejar para cumprir um requisito político não conduz a
nenhuma solução”.
29
Mariani (2003, p. 46-7) em estudo sobre os impactos do turismo em Bonito-
MS, cujo ambiente natural, em especial as águas vem sendo utilizado como atrativo
e transformado em produto turístico, concluiu que
o desenvolvimento do turismo, além de impactos nos meios físico e biótico,
também causou impactos nas atividades produtivas e na cultura da
população fixa, de modo que foi observada uma transformação nos hábitos
de consumo, despertada por novas aspirações até então desconhecidas,
conseqüência da presença do turista e da instalação de lojas com produtos
de circulação nacional e internacional, [...] gerou modificações nos valores
culturais em relação ao trabalho, ao consumo, educação, religião,
costumes, explicitando que não houve uma exaltação dos verdadeiros
valores culturais, que constituiria em uma forma de resistência à
depredação e determinaria a preservação da identidade local, impedindo,
desta maneira, o processo de aculturação, que costuma ocorrer em larga
escala, em área de desenvolvimento do turismo.
Ainda assim, o autor aponta que a atividade vem trazendo benefícios ao
município de Bonito (MS), como o aumento do número de empregos, a arrecadação
municipal, o controle do número de visitantes nos atrativos e a utilização de guias
locais. Com mais este exemplo de benefícios e malefícios resultantes da atividade
turística relembra-se a importância da análise de custo-benefício, citada acima, e do
planejamento turístico como estratégia para minimizar estes impactos negativos.
2.1.2 Impactos no Ambiente Aquático
Como o lócus desta pesquisa tem como base de sustentação o ambiente
aquático dulcícola (os açudes) buscou-se apontar quais os possíveis impactos
negativos decorrentes de ações antrópicas neste ambiente, inclusive como
documento de apoio nas tomadas de decisões sobre o turismo no local. De acordo
com Vernier (1994), destacam-se:
- a poluição orgânica: causada pelo despejo de esgotos, indústrias ou
qualquer matéria orgânica que seja depositada no ambiente. No senso comum
30
costuma-se pensar que esta meteria orgânica (como restos de comida) é utilizada
pelos peixes como alimento. Contudo, parte desta matéria será decomposta por
bactérias, que precisam consumir oxigênio, o elevado consumo de oxigênio no
ambiente aquático pode levar à morte dos peixes por asfixia, ou falta de oxigênio,
como é acontece nos casos de poluição dos lagos e rios das grandes cidades.
- a poluição tóxica: causada pela presença de metais pesados (chumbo e
mercúrio, entre outros) dejetos industriais, (principalmente pelas indústrias
químicas), de inseticidas ou herbicidas utilizados na agricultura. Pode levar a morte
dos peixes por intoxicação, e se estes peixes contaminados forem ingeridos por
pessoas e outros animais, como as aves, também pode lhes levar à morte;
- as matérias em suspensão: a erosão natural da superfície ou os dejetos das
indústrias e das cidades podem deixar o ambiente aquático carregado de partículas,
deixando a água turva (barrenta), causando uma poluição estética, além de
perturbar os peixes, com a penetração destas partículas em suas guelras, ou ainda
contribuir para a poluição orgânica ou tóxica. As chuvas, quando “lavam” as ruas das
cidades também despejam grandes quantidades de partículas neste ambiente. A
preservação das matas ciliares é um meio de prevenir a erosão nas margens dos
rios, represas, etc.
- o excesso de matéria nutritiva: a presença de matéria orgânica proveniente
do meio externo ao ambiente aquático, como folhas, troncos, etc., pode tornar este
ambiente eutrofizado, com excesso de nutrientes (nitratos e fosfatos). Isto pode
favorecer uma proliferação de algas, que ao se decompor vão consumir grandes
quantidades de oxigênio. Além disso, estas algas também podem impedir a entrada
de luz no ambiente aquático.
2.2 Desenvolvimento Local
O desejo pelo desenvolvimento está entrelaçado com o desejo pelo
progresso, sendo muitas vezes entendidos como sinônimos pela população.
Buarque (1990, p. 45-59) aponta alguns aspectos desta analogia entre
desenvolvimento e progresso, citados a seguir:
31
- a idéia de progresso que se conhece só foi possível depois da revolução
industrial e capitalista, há duzentos anos;
- sua divulgação se expandiu por todo mundo atrelada à idéia de
desenvolvimento a partir da segunda metade do século XX;
- surpreende a rapidez como esta idéia de progresso se arraigou como valor
intrínseco, sendo difícil entender que em algum momento a sociedade humana não
caminhou em direção “a um progresso contínuo, onde o futuro é sinônimo de mais
produção”;
- “a idéia que tinha surgido dos gregos como sinônimo de aperfeiçoamento
cultural foi aprisionada e reformulada como um conceito específico da economia”; o
progresso passa a ser medido pela taxa de crescimento do produto per capita,
sendo respeitados se fossem cada vez mais elevados.
- todas as regiões “passaram a procurar este tipo de progresso, concentrando
todos os recursos no esforço mimético de repetir o êxito das regiões bem
sucedidas”;
- “o próprio conceito de cultura passa a ser hierarquizado, havendo culturas
inferiores ou superiores, conforme seus vínculos respectivos com economias mais
ou menos ricas”;
- com o fim da Segunda Guerra, as críticas atiradas ao consumismo, ao
desperdício e ao belicismo, a indução ao desenvolvimento, para atender a demanda
de novos mercados, “o progresso desvendou sua impotência para construir a utopia
a que se propunha”;
- “ao importarem o conceito de progresso, as populações do Terceiro Mundo
descobriram e importaram o conceito de subdesenvolvimento, e o aplicaram a si
mesmas por comparação com os padrões desenvolvidos”;
- em busca desse desenvolvimento importado, “os subdesenvolvidos
endividaram-se, violentaram suas culturas, depredaram seus recursos,
concentraram a renda, utilizaram regimes autoritários, segregaram suas sociedades,
na ânsia de atingirem o nirvana do progresso”. E isto deveria continuar para a
evolução deste processo.
32
- as conseqüências desse processo, deflagradas em várias crises (ecológica,
econômica, cultural, social) “mostram que o atual padrão civilizatório utilizado no
Brasil, com base no progresso dos últimos dois séculos, está ameaçado.”
Com isso, Buarque (1990, p.59) conclui que “a realidade de hoje parece ser
de ruptura do modelo de progresso seguido até o momento, e de surgimento da
pergunta de qual será a nova alternativa”. No entanto, ainda hoje, passada quase
uma década do século XXI, esta ruptura não atinge todas as camadas sociais, nem
todas as nações, e ainda coexiste junto aos seduzidos por aquela idéia de
progresso, que tentam colocá-la em prática.
De fato, surgiram propostas de “desenvolvimento” que defendem
explicitamente um “novo” progresso. Estas propostas recebem diversas
denominações: ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento
local, desenvolvimento endógeno, etc., e em sua essência propõem o que pode ser
definido como um “desenvolvimento responsável”. Diferentemente da idéia anterior
de progresso, este passa a ser visto, pelo menos pelos teóricos, como um meio, e
não como um fim a ser atingido.
Contudo, apesar das tentativas de mobilização planetária das nações (nem
todas as nações) em direção aos novos meios de desenvolvimento, é gritante a
exploração social, a degradação ecológica, a descaracterização cultural e as
amarras econômicas no cotidiano da sociedade pós-moderna. Ainda assim, esta
mesma sociedade, alguns grupos mais, outros menos, comunga da esperança em
uma mudança de postura que levará a redução (ou fim?) do que Morin (1995, p.103)
chama de “agonia planetária”, destacando que “a agonia de morte/nascimento é
talvez o caminho com riscos infinitos para a metamorfose geral. Com a condição de
que venha a tomada de consciência, justamente, dessa agonia”.
2.2.1 Desenvolvimento Local e Turismo
Coriolano (2003, p. 25) aponta como a atividade turística participa da busca
por um “novo” desenvolvimento:
33
o turismo se põe como um dos mecanismos ou incentivo e viabilização
desse processo. Sendo o turismo uma atividade de efeito multiplicador,
oferece condições para o desenvolvimento de pequenas empresas (além
das grandes), podendo beneficiar os mais pobres, como mostram algumas
experiências. Não se pode esquecer que ele, na maioria das vezes se
vincula aos ricos, aos poderosos e aos megaprojetos concentradores
de renda, e nesse caso gera pobreza nos pólos receptores. (Grifo
nosso)
Assim, vem sendo atribuída para o turismo, na teoria e na prática, a posição
de “agente promotor do desenvolvimento” (CORIOLANO, 2003) ou ainda “a melhor
alternativa para alcançar o desenvolvimento”, (como se escuta nas falas de alguns
governantes) e recentemente sendo enfatizado, principalmente em programas de
governo, como agente para o desenvolvimento local sustentável. Este
desenvolvimento é atrelado à geração de emprego e renda, uma das “vantagens”
mais exaltadas da atividade turística, seja a nível nacional ou local, desviando as
atenções daquela concentração de renda apontada por Coriolano (2003). Por
exemplo, para o secretário de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo do
Brasil, os principais desafios para o Brasil, no setor turístico, até o ano 2007, são a
criação de 1,2 milhão de empregos e a entrada no país de cerca de US$ 8 bilhões
5
(FOLHA ON LINE, 2005).
Em 1997 a Universidade de São Paulo realizou o 1
o
Encontro Nacional de
Turismo com Base Local
6
, demonstrando, como aponta a Profa. Adyr Balastery
Rodrigues, a urgência de estudos sobre os efeitos do turismo, em especial nos
países periféricos. Neste sentido, Souza (1997) analisa “como pode o turismo
contribuir para o desenvolvimento local?”. Para isso o autor vê a necessidade de
refletir sobre aspectos essenciais na elucidação desta questão.
O primeiro aspecto refere-se ao próprio conceito de desenvolvimento, que é
geralmente confundido com o de desenvolvimento econômico - quando não com o
de crescimento econômico - que não considera a (des)concentração da renda e
outros indicadores sociais.
6
Que este ano, como prova de sua importância e continuidade, acontece em sua décima versão em
João Pessoa – Paraíba, e onde os resultados desta pesquisa também serão apresentados.
34
Molina (2001, p. 26-8), sobre as características e diferenças entre o
crescimento e o desenvolvimento econômico, aponta que o conceito de crescimento
econômico “não contempla aspectos do tipo social” e que “inclusive o segundo não
pode ser conseqüência de primeiro”. O autor enfatiza que o desenvolvimento
“abrange tanto os aspectos produtivos como os sociais; por exemplo, a mobilidade
social e a qualidade de vida. Mesmo em seu aspecto econômico, o desenvolvimento
é diferente do crescimento”.
Logo,
o termo ‘desenvolvimento’, no essencial, e devidamente despido de sua
carga ideológica conservadora (etnocêntrica e capitalista), deve designar
um processo de superação de problemas sociais, em cujo âmbito uma
sociedade se torna para seus membros, mais justa e legítima. (Souza,
1997, p.18).
Para Coriolano,
o desenvolvimento local se define como um processo de mudança de
mentalidade, de cambio social, institucional e de troca de eixo na busca do
desenvolvimento, por isso orienta-se para o desenvolvimento de médias,
pequenas e micro-empresas, tendo em vista socializar as oportunidades e
promover o desenvolvimento em escala humana. (2003, p.25)
Ao conceito de desenvolvimento apontado por Souza (1997), deve ser
acrescentada a necessidade de ‘superação de problemas ambientais’, e que a
sociedade não se torne mais justa apenas para seus membros, mas que atente para
a conservação de outras espécies, independente das diretrizes do
ecodesenvolvimento.
Considerando os envolvidos nesse processo de desenvolvimento, Souza
(1997) aponta outro aspecto: “quem ganha (ou tende a ganhar) e quem perde (ou
pode perder) com o turismo?” Destacam-se três grupos:
1. A população da área de origem do turista. Se por um lado não terão os
possíveis benefícios deixados pelo gasto de dinheiro no local, podem
ganhar ao serem poupados dos impactos negativos, por exemplo,
35
exploração sexual e degradação do ambiente, gerados em outras
localidades.
Sobre esta “transferência espacial de impactos”, deve-se considerar que
quando o turista viaja em busca de qualidade ambiental, ela já pode estar bem
reduzida no seu local de residência; e que devem existir mecanismos de controle
daqueles impactos para que não se torne lícita a atitude de poupar o seu ambiente
de moradia e destruir o do outro, como se fosse um direito do consumidor-turista. E
ainda, que o local de origem de turista também receba visitantes.
2. Os turistas. Se não ganhassem com o turismo, independentemente da
natureza desses ganhos, não se motivariam a viajar.
3. A população da área de destino dos turistas. Apesar do caráter
multiplicador da atividade turística, da geração de emprego e renda, é
evidente que alguns grupos ganham diretamente enquanto outros perdem.
Como por exemplo o setor imobiliário, que costuma comprar e lotear
terrenos no litoral, enquanto a população que vivia na área é
marginalizada, social e espacialmente.
Souza (1997, p.20) aponta que mesmo diante das pressões exercidas nas
comunidades receptoras, ainda há os que minimizam os aspectos negativos do
turismo por conta de uma visão etnocêntrica dos benefícios da atividade sob o
ângulo da “modernização” da sociedade, muitas vezes sem consultar se a
população está disposta a arcar com as conseqüências desta modernização.
Na realidade do turismo paraibano, que não se distancia do padrão brasileiro,
percebe-se a visão do turismo como agente modernizador, que traz implicações
negativas quando conduz ao abandono de tradições e aquisição de modelos
exógenos, como por exemplo, planos turísticos para o litoral paraibano que tentam
imitar a realidade de Cancún (México) (CRUZ, 2000), ou quando cidades do Sertão
da Paraíba apresentam escolas de samba no carnaval, situação relacionada à
cultura em primeira mão, e à atividade turística. Atualmente, o boom no turismo da
costa nordestina é o “turismo imobiliário”, em que o território é loteado e vendido,
principalmente para estrangeiros, para a implantação de “segundas residências”,
ignorando os prejuízos sócio-ambientais que esta “exportação” do território causou
em outros locais, atendendo primeiramente aos interesses dos grupos imobiliários,
36
como é apontado por Luchiari (1997) no litoral norte paulista, onde a cultura caiçara
é dissolvida diante da nova realidade que a atividade turística imprime neste grupo e
no ambiente natural. Para Coriolano (2003) este modelo de desenvolvimento
turístico está em sintonia com o eixo de desenvolvimento turístico global, sem
maiores preocupações com a sustentabilidade em seus diversos aspectos.
Por fim, Souza (1997) destaca um terceiro fator: a questão da autonomia da
comunidade receptora na condução do turismo. Atualmente verifica-se que o
discurso da participação da comunidade
7
, adquire várias denominações, como
turismo comunitário ou turismo de base local, aparecendo com freqüência nas
políticas públicas dos municípios e dos países, como no do atual Plano Nacional de
Turismo do Brasil.
Oliveira e Endres (2003, p. 281) sobre a participação da comunidade no
desenvolvimento turístico do município de Sousa (também localizado no sertão da
Paraíba), apontam que esta participação, apesar dos avanços na condução do
turismo, “é uma realidade ainda distante das acepções de quem busca um
desenvolvimento sustentável para Sousa”. E que se por um lado, foi observado o
interesse e ações concretas da comunidade em participar desse processo, por outro,
em toda a história do Vale dos Dinossauros, não houve interesse dos governos,
local ou estadual, neste sentido. No entanto, pode-se verificar uma tomada de
consciência de alguns segmentos da sociedade quanto aos possíveis benefícios que
o turismo pode permitir ao município.
Concorda-se com as autoras quando apontam o distanciamento entre a busca
do desenvolvimento sustentável e a pontualidade das ações em prol do turismo em
Sousa, que se limitavam à ações no Vale dos Dinossauros, pois na medida em que
se primou pela conservação das pegadas dos dinossauros e do ambiente do Vale,
foram ignorados aspectos sociais e culturais da comunidade, e o ambiente natural
do entorno do Vale, que podem compor o leque de atrativos turísticos do município.
Além de que os benefícios buscados sempre estiveram atrelados aos ganhos
econômicos. (OLIVEIRA & ENDRES, 2003)
7
No Capítulo 6, ao apresentar os resultados desta pesquisa aborda-se a questão da participação
comunitária no desenvolvimento turístico em Coremas, como um indicador de sustentabilidade do
turismo e em atenção a um dos objetivos específicos deste estudo.
37
Desta forma, a participação da sociedade nas tomadas de decisões “emerge,
nesse cenário, como um elemento de contra cultura; mas provavelmente constitui a
única garantia ética de sustentabilidade de um processo efetivo de desenvolvimento”
(IRVING, 2002, p.39).
Araújo (2004a, p.117-8) baseando-se em vários autores aponta os benefícios
da participação comunitária ou do envolvimento de stakeholders
8
neste processo de
desenvolvimento sustentável, destacando:
- a atenção aos interesses de diversos grupos, assim como aos da sociedade
em geral;
- a minimização de conflitos, uma vez que permite a discussão dos interesses
entre estes grupos;
- o “aumento da eficiência, eqüidade e harmonia entre os participantes”;
- “o potencial de aumentar a autoconfiança e a conscientização dos
envolvidos sobre questões relacionadas ao desenvolvimento turístico”, como o
entendimento dos possíveis prejuízos e benefícios provocados pelo turismo na sua
localidade, desempenhando também um papel educacional;
- a promoção de “decisões que aparentam um maior nível de ‘consenso’ e
propriedade coletiva”;
- o envolvimento de stakeholders, como a iniciativa privada, que serão
responsáveis pela implementação de parte das decisões, e que pode aumentar as
chances de se obter êxito na implementação de um plano turístico;
No entanto, Araújo (2004a) destaca que na maioria das vezes esta
participação se limita a consultas, não representando, de fato, a distribuição de
poder entre os participantes, sendo utilizada apenas para justificar os projetos.
2.3 Sustentabilidade
8
Gray (1989 apud ARAÚJO, 2004a, p.111) considera como stakeholders “todos os indivíduos, grupos
ou organizações que são afetados por ações que outros stakeholders adotam para resolver um
determinado problema”.
38
A busca pelo desenvolvimento junto às pressões deflagradas com o anúncio
da crise ecológica conduziu a uma tomada de consciência, a partir da década de
1970, sobre as responsabilidades da sociedade e seu “estilo” de vida diante daquela
crise, para em seguida tornar-se público o conceito de desenvolvimento sustentável.
Leff (2001, p. 15-8) aponta que o princípio da sustentabilidade surge como
marca do limite do crescimento econômico e da negação da natureza, que vai
reorientar o processo civilizatório da humanidade. No entanto, o “conceito de
sustentabilidade surge do reconhecimento da função de suporte da natureza,
condição e potencial do processo de produção”. Procurava-se então “um conceito
capaz de ecologizar a economia, eliminando as contradições entre crescimento
econômico e preservação da natureza”, além da necessidade de um “novo”
desenvolvimento, diante do “fracasso” do modelo em voga.
Desta forma, o autor afirma que
o discurso da sustentabilidade monta um simulacro que, ao negar os limites
do crescimento, acelera a corrida desenfreada do processo econômico para
a morte entrópica. A racionalidade econômica desconhece toda lei de
conservação e reprodução social para dar curso a uma degradação do
sistema que transcende toda norma, referência e sentido para controlá-la
(LEFF, 2001, p.23).
Esta contestação posta pelo autor sobre a possibilidade de um
desenvolvimento sustentável vai além das definições conceituais, aparecendo na
dificuldade de operacionalização em meio a um sistema econômico pautado no
crescimento sustentado pela/na natureza. A questão maior é conseguir um
desenvolvimento sustentável, ao invés de sustentado na natureza, dentro do sistema
capitalista (LEFF, 2001).
Neste sentido, Lima (2003) também entende a sustentabilidade como um
discurso. Apoiando-se em Foucault (2001), o autor explica que a sociedade utiliza-se
de “discursos” de acordo com as circunstâncias em que estão envolvidos. Assim,
Lima (2003, p.100) vê a sustentabilidade “como uma proposta em torno da qual
gravitam múltiplas e diversas forças sociais, interesses e leituras que disputam entre
si o reconhecimento e a legitimação social como ‘a interpretação verdadeira’ sobre o
tema”.
39
O documento Nosso Futuro Comum (Our Common Future
9
, 1987apud LEFF,
2001, p.19) aponta para a necessidade da sustentabilidade ecológica da
globalização como condição para a sobrevivência do homem. Assim definiu-se
desenvolvimento sustentável como “um processo que permite satisfazer as
necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender às
gerações futuras”.
Muitos autores se opõem a este conceito de sustentabilidade do Nosso Futuro
Comum, entre eles, Dahl (1997 apud BELLEN, 2005, p. 27) que diz se tratar de uma
“definição muito geral e não implica responsabilidade específica a respeito das
dimensões do desenvolvimento sustentável e nem em relação às gerações futuras”.
Para Lima (2003) este conceito de desenvolvimento sustentável apresentado no
Relatório Brundtland possibilita diversas leituras, pois se de um lado associa
desenvolvimento à justiça sócio ambiental e renovação ética, do outro apenas
acrescenta a variável ecológica à perspectiva de crescimento econômico,
contradizendo-se.
Busca-se um conceito mais prático e os meios de operacionalizar a proposta
de desenvolvimento sustentável. Uma alternativa nesta busca vem sendo
encontrada na Agenda 21, que propõe diretrizes rumo à sustentabilidade. O conceito
de sustentabilidade, em particular tem se desdobrado de modo a atender a
interesses específicos, estando em contínua disputa para demonstrar o que é
considerado “sustentável” em cada setor.
O termo desenvolvimento sustentável é claramente um conceito carregado
de valores, e existe uma forte relação entre os princípios, a ética, as
crenças e os valores que fundamentam uma sociedade ou comunidade e
sua concepção de sustentabilidade (DAHL, 1997, apud BELLEN, 2005,
p.27)
Assim, uma das prerrogativas para alcançar o desenvolvimento sustentável, é
que se chegue a uma concepção que permita a adequação aos valores locais e que
esta concepção seja entendida pela sociedade local (DAHL, 1997, apud BELLEN,
2005).
9
O documento “Our Common Future” também é conhecido como “Relatório Brundtland”.
40
A dificuldade no entendimento da idéia de desenvolvimento sustentável
também é exposta por Luke (apud FISHER, 1995, p. 21-22):
como meta social [...] a sustentabilidade está carregada de questões não-
resolvidas. Sustentável por quanto tempo: uma geração, um século, um
milênio, dez milênios? Sustentável em que nível de apropriação humana:
residências individuais, vilas locais, cidades principais, nações inteiras,
economias globais? Sustentável para quem: todos os humanos agora vivos,
todos os humanos que virão a viver, todos os seres vivos no momento,
todos os seres vivos que virão a viver? Sustentável para que condições:
para o capitalismo transnacional contemporâneo, para caçadores e
coletores Neolíticos, para algum império global espacial? Desenvolvimento
sustentável para quê: renda pessoal, complexidade social, produto interno
bruto, frugalidade material, consumo individual, biodiversidade ecológica?
(tradução nossa)
Maturana e Dávila (2004, p.106-8) refletem sobre como produzir um viver
congruente com a idéia de desenvolvimento sustentável e ética. Para os autores, a
noção de desenvolvimento implica o desejo de garantir uma idéia de completude. “É
preciso definir se queremos crescer ou desenvolver-nos”. Este querer é
determinante na teoria sistêmica, na qual, quando se distingue o que se quer
conservar, tudo muda. “O central é fazer explícito o que se quer conservar com a
noção de sustentabilidade, porque há de se fazer explícito que estamos
conservando aquilo que temos declarado que queremos conservar”.
Os autores concluem enfatizando a importância do olhar sistêmico para se
chegar ao desenvolvimento sustentável. Assim, é traçada uma direção em busca da
sustentabilidade. Este olhar sistêmico também é o alicerce para o turismo
sustentável.
2.3.1 A Sustentabilidade no Turismo
Na atividade turística o conceito de sustentabilidade é inspirado no “Our
Common Future, 1987”, citado acima. Assim, tem-se como desenvolvimento
sustentável do turismo “o que atende às necessidades dos turistas atuais sem
comprometer a possibilidade do uso fruto dos recursos pelas gerações futuras”
(World Comission of Environment and Development 1987, apud RUSCHMANN,
41
1999, p.10). Neste conceito é evidente a visão da natureza enquanto recurso à
disposição do homem, para se atingir um objetivo, como é enfatizado por Leff
(2001). No entanto, acredita-se que se a atividade turística for planejada de forma
sistêmica, é possível que interesses não-humanos sejam respeitados.
Para Irving
a concepção de desenvolvimento sustentável implica um novo paradigma
do pensar as sociedades humanas segundo uma nova ética de
democratização de oportunidades e justiça social, percepção das diferenças
como elemento norteador de planejamento, compreensão da dinâmica de
códigos e valores culturais e compromisso global com a conservação de
recursos naturais. (2002, p.35)
Numa tentativa de aceitação da idéia de desenvolvimento sustentável,
Rodrigues (1997, p. 45) afirma:
compreender o turismo pelo viés do desenvolvimento sustentável é dar-lhe
uma dimensão correta de análise. Viés significa, não o sentido principal,
mas diagonal e só diagonalmente é que se pode argumentar que esta
atividade econômica seja sustentável em relação ao ambiente
.
Concorda-se com a autora quando afirma que “a sustentabilidade não pode
ser pensada numa única atividade dada a inter-relação que existe entre todas as
atividades econômicas” (RODRIGUES, 1997, p.53). Desta forma, contesta-se
veementemente os discursos dos governos que abraçam o conceito de
desenvolvimento sustentável do turismo, enquanto permitem a ocupação
desordenada do território ou não se preocupam com o tratamento dos esgotos
jogados em rios e mares, por exemplo.
Para a Organização Mundial do Turismo, turismo sustentável é o que
atende às necessidades dos turistas de hoje e das regiões receptoras, ao
mesmo tempo em que protege e amplia as oportunidades para o futuro. É
visto como um condutor para o gerenciamento de todos os recursos, de tal
forma que as necessidades econômicas, sociais e estéticas possam ser
satisfeitas sem desprezar a manutenção da integridade cultural, dos
processos ecológicos essenciais da diversidade biológica e dos sistemas
que garantem a vida. (OMT, 2003, p.24).
42
O planejamento e o gerenciamento são cruciais na proteção da integridade
dos recursos e na conservação ambiental e social da localidade turística em sua
forma original (COOPER et al, 2001). Sobre o planejamento como meio para chegar
à sustentabilidade, Molina (2001, p. 73) aponta que na América Latina, o
planejamento “foi promovido como instrumento para acelerar o desenvolvimento”. E
considerando as formas de negociação norte-sul, “o planejamento tem de ser
econômico e, preferencialmente, economicista”. O autor destaca também que este
planejamento foi apresentado à sociedade como instrumento de controle para
qualquer erro. Assim, se este erro estivesse obedecendo a algum plano de
crescimento, seria aceito pela sociedade.
Atualmente, percebe-se algumas mudanças nessa postura, que são
verificadas em movimentos sociais e ambientais, que já não aceitam passivamente
esses erros. No turismo, comunidades como a da Prainha do Canto Verde (no
estado do Ceará), conhecendo os erros que já estavam impregnados na
“vizinhança” desenvolvem um projeto de turismo comunitário, em que os interesses
do governo têm que atender aos interesses da comunidade, e não primeiramente
aos do mercado (SHÄRER, 2003). Situações como esta, mostram que a sociedade
está deixando a postura passiva e que, para alcançar êxito, a necessidade de
mudança por meio do planejamento deve ser do interesse de todo um grupo, e não
de um sujeito. Apesar do avanço no planejamento de políticas públicas, inclusive no
turismo, esta necessidade e os meios de mudança ainda não são do conhecimento
da maioria da população, como foi verificado no município de Coremas - PB, e será
apresentado adiante.
2.4 Indicadores de Sustentabilidade e a Atividade Turística
Mesmo diante da complexidade do conceito de sustentabilidade, nos seus
aspectos teórico e prático, considera-se neste trabalho que por meio da busca de
um desenvolvimento mais sustentável ou responsável é possível compatibilizar os
diversos interesses humanos com as características do ambiente.
Neste sentido, os indicadores de sustentabilidade ou qualquer outra
ferramenta que se empenhe em “medir” a sustentabilidade de alguma atividade, são
43
meios disponíveis para tentar elucidar a questão apresentada por Bellen (2005, p.
13): “como o desenvolvimento sustentável pode ser definido e operacionalizado para
que seja utilizado como ferramenta para ajustar os rumos que a sociedade vem
tomando em relação à sua interação com o meio ambiente natural?”.
Ainda que definidas de forma clara quais as funções dos indicadores, não há
consenso na comunidade técnico-científica sobre sua relevância para o
conhecimento e transformação da realidade Ressalta-se, por ouro lado, a
necessidade de discorrer sobre alguns aspectos dos indicadores relacionados à
sustentabilidade.
Hammond et al. (1995 apud BELLEN, 2005, p.41) destacam que o termo
indicare (do latim, indicador) significa descobrir, apontar, anunciar, estimar; neste
sentido, pode “comunicar ou informar sobre o progresso em direção a uma
determinada meta, como por exemplo, o desenvolvimento sustentável [...]”, assim
como pode evidenciar um fenômeno que não seja rapidamente visível.
Bellen (2005, p.42) afirma que “a mais importante característica do indicador,
quando comparado com os outros tipos ou formas de informação, é sua relevância
para a política e para o processo de tomada de decisão”, considerando-se também
que “para ser representativo, o indicador tem de ser considerado importante tanto
pelos tomadores de decisão quanto pelo público” (GALLOPIN, 1996 apud BELLEN,
2005, p.42).
As principais funções dos indicadores, segundo Tunstall (1994 apud BELLEN,
2005, p.42) são:
- avaliação de condições e tendências;
- comparação entre lugares e situações;
- avaliação de condições e tendências em relação às metas e aos objetivos;
- proveção de informações de advertência;
- antecipação de futuras condições e tendências.
Para este estudo, acredita-se que a comparação dos indicadores de
sustentabilidade da atividade turística com a realidade observada atenda
principalmente às duas últimas funções citadas acima.
44
Outra característica que se quer assinalar diz respeito a sua natureza
qualitativa ou quantitativa, destacando que neste trabalho priorizam-se os aspectos
qualitativos, inclusive na comparação com os indicadores de sustentabilidade, ainda
que também se faça uso da estatística para melhor demonstrar algum aspecto
verificado na pesquisa. Bellen (2005, p.42) ressalta que, em relação à natureza de
quantitativo ou qualitativo, alguns autores apontam estes últimos como mais
adequados para avaliações relacionadas com o desenvolvimento sustentável, “em
função das limitações explícitas ou implícitas que existem em relação a indicadores
simplesmente numéricos”.
Gallopin (1996, apud BELLEN, 2005, p. 43) ressalta que os indicadores
qualitativos são preferíveis aos quantitativos quando se tem a seguinte situação:
“quando não forem disponíveis informações quantitativas; quando o atributo de
interesse é inerentemente não quantificável; quando determinações de custo o
obrigarem”. Neste sentido, justifica-se o direcionamento neste trabalho, para a
análise qualitativa dos indicadores e de demais aspectos pelos argumentos
apontados acima, sem excluir as análises quantitativas.
Outro aspecto que é pertinente esclarecer em relação aos indicadores, é que
embora muitas vezes os indicadores sejam apresentados na forma gráfica
ou estatística, são basicamente distintos dos dados primários. Dadas são
medidas, ou observações no caso de dados qualitativos, dos valores da
variável em diferentes tempos, locais, população ou a sua combinação.
(
GALLOPIN, 1996 apud BELLEN, 2005, p. 43),
Na prática é comum ver dados primários sendo apresentados como
indicadores, por exemplo, quando o governo anuncia o aumento do número de
empregos relacionados com o turismo, como indicador de desenvolvimento
sustentável da atividade em determinada região, sem esclarecer quantos nativos e
quantos “estrangeiros” serão empregados, ou sobre a garantia aos benefícios
sociais destes empregados. Desta forma é preciso que estes dados sejam
analisados junto à outras variáveis.
Bellen (2005, p. 46) destaca que em se tratando de indicadores de
sustentabilidade é comum se lidar com julgamentos de valor nas avaliações.
Podendo aparecer de forma explicita (preferencialmente), como quando “são
45
tomados conscientemente e compreende uma parte fundamental do processo de
criação de indicadores”, se revelando, por exemplo, “em preferências estéticas;
adicionados à medida observada, por meio da limitação imposta pelos padrões
legais ou metas desejáveis”; ou de forma implícita, quando não são de fácil
percepção e estão “relacionados com características pessoais e de uma
determinada sociedade (cultura)”. Assim, um mesmo sistema de indicadores deve
ser adaptado a cada realidade onde se avalia a sustentabilidade, no caso de
avaliações localizadas, como o deste trabalho.
Deve se ressaltar que a utilização dos indicadores de sustentabilidade, neste
estudo é tomada como ferramenta de apoio, e não ferramenta-chave para seu
objetivo maior, que é analisar a sustentabilidade do desenvolvimento turístico no
município de Coremas-PB.
Tomando-se esta assertiva durante a construção do percurso metodológico
adotaram-se os Princípios do Turismo Sustentável (CBTS, 2002) (Quadro 1) e os
Indicadores Centrais do Turismo Sustentável (OMT, 2003) (Quadro 2) como
recursos utilizados a fim de analisar a sustentabilidade do turismo no município de
Coremas, permitindo que se façam inferências à região do sertão e ao estado da
Paraíba, contribuindo, para o conhecimento desta realidade no Brasil.
A elaboração, pelo Conselho Brasileiro para o Turismo Sustentável (CBTS) de
princípios, como uma referência nacional para a atividade, é uma iniciativa em prol
do desenvolvimento do turismo sustentável. Pois estes princípios
orientam, por meio de um conjunto de critérios, para o desenvolvimento de
normas e padrões correspondentes a seus respectivos indicadores de
desempenho e seus parâmetros de verificação. Ao desenvolver padrões de
sustentabilidade do turismo adequados à realidade do mercado brasileiro,
está sendo construída uma base de indicadores ecológicos e socioculturais
amplamente aceitos pelo mercado (SALVATI, 2005, p.78)
A OMT, ao apresentar os Indicadores Centrais do Turismo Sustentável
(quadro 02) destaca: “é importante que cada município desenvolva um conjunto de
indicadores que considere mais relevante à sua própria situação. Os indicadores
podem variar em relação a diferentes locais turísticos dentro de um município”
(2003, p.115).
46
Quadro 01- Princípios do Turismo Sustentável
1 Respeitar a legislação vigente
O turismo deve respeitar a legislação vigente, em todos os níveis, no país e as
convenções internacionais de que o país é signatário.
2 Garantir os direitos das populações locais
O turismo deve buscar e promover mecanismos e ações de responsabilidade social,
ambiental e de eqüidade econômica, inclusive a defesa dos direitos humanos e de
uso da terra, mantendo ou ampliando, médio e longo prazos, a dignidade dos
trabalhadores e comunidades envolvidas.
3 Conservar o ambiente natural e sua biodiversidade
Em todas as fases de implantação e operação, o turismo deve adotar práticas de
mínimo impacto sobre o ambiente natural, monitorando e mitigando efetivamente os
impactos, de forma a contribuir para a manutenção das dinâmicas e processos
naturais em seus aspectos paisagísticos, físicos e biológicos, considerando o
contexto social e econômico existente.
4 Considerar o patrimônio cultural e valores locais
O turismo deve reconhecer e respeitar o patrimônio histórico-cultural das
regiões/localidades receptoras e ser planejado, implementado e gerenciado em
harmonia às tradições e valores culturais, colaborando para seu desenvolvimento.
5 Estimular o desenvolvimento social e econômico dos destinos turísticos
O turismo deve contribuir para o fortalecimento das economias locais, a qualificação
das pessoas, a geração crescente de trabalho, emprego e renda e o fomento da
capacidade local de desenvolver empreendimentos turísticos.
6 Garantir a qualidade dos produtos, processos e atitudes
O turismo deve avaliar a satisfação do turista e verificar a adoção de padrões de
higiene, segurança, informação, educação ambiental e atendimento estabelecidos,
documentados, divulgados e reconhecidos.
7 Estabelecer o planejamento e a gestão responsáveis
O turismo deve estabelecer procedimentos éticos de negócio, visando a engajar a
responsabilidade social, econômica e ambiental de todos os integrantes da
atividade, incrementando o comprometimento do seu pessoal, fornecedores e
turistas, em assuntos de sustentabilidade desde a elaboração de sua missão,
objetivos, estratégias, metas, planos e processos de gestão de forma documentada.
Fonte: Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável (CBTS), 2002
47
Quadro 02 - Indicadores Centrais do Turismo Sustentável
INDICADOR
MEDIÇÕES ESPECÍFICAS
1. Proteção do
local
Categoria de Proteção do Local de acordo com o índice da IUCN*
2. Estresse
Número de turistas que visitam o local (ano/mês de pico)
3. Intensidade da
Utilização
Intensidade de utilização – período de pico (pessoas/hectare)
4. Impacto Social
Razão de turistas em relação aos habitantes locais (período de
pico e ao longo do tempo)
5. Controle do
Desenvolvimento
Existência de procedimento de revisão ambiental ou de controles
formais sobre o desenvolvimento do local e as densidades de
utilização
INDICADOR
MEDIÇÕES ESPECÍFICAS
6. Gerenciamento
dos Resíduos
Porcentual do esgoto do local que recebe tratamento (indicadores
adicionais podem incluir limites estruturais de outra capacidade
infra-estrutural no local, como o fornecimento de água)
7. Processo de
Planejamento
Existência de um plano regional organizado para a região do
destino turístico (incluindo o componente turístico)
8. Ecossistemas
Críticos
Número de espécies raras ameaçadas
9. Satisfação do
Consumidor
Nível de satisfação dos visitantes (baseado em questionário)
10. Satisfação do
Local
Nível de satisfação dos habitantes locais (baseado em
questionário)
11.Contribuição
turística para a
economia local
Proporção da atividade econômica total gerada unicamente pelo
turismo
48
ÍNDÍCES
COMPOSTOS
MEDIÇÕES ESPECÍFICAS
A. Capacidade de
Carga
Composição das primeiras medidas preventivas dos fatores-
chaves que influenciam na habilidade de o local suportar
diferentes níveis de turismo
B. Estresse do
Local
Medida de composição de níveis de impacto no local (seus
atributos naturais e culturais devido ao turismo e a outros
estresses cumulativos de setor)
C. Atratividade
Medida qualitativa daqueles atributos do local que o tornam
atrativo ao turismo e que podem sofrer mudanças com o tempo.
*União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais
Fonte: Organização Mundial do Turismo (OMT), 2003, p.115.
No capítulo seguinte aborda-se a evolução do planejamento do turismo no
Brasil e na Paraíba, por entender que esta prática está diretamente associada com a
sustentabilidade da atividade turística.
Continua...
49
3. POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO DO TURISMO
NO BRASIL E NA PARAÍBA
Neste capítulo, aborda-se, de forma objetiva, os desdobramentos das
políticas públicas de turismo no Brasil e na Paraíba, que condizem com o
planejamento da atividade. Chega-se aos dias atuais, com o Plano Nacional de
Turismo e o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil,
apresentando os resultados deste programa no estado da Paraíba.
Tanto nos países em desenvolvimento como nos já desenvolvidos o Estado
assume posição fundamental na elaboração e condução de políticas direcionadas
para o atendimento das necessidades da população, ainda que em diferentes
proporções. O Estado “detêm não só a diretriz maior das várias políticas de ação em
todos os setores, como também o direito e poder de interferência e fiscalização,
podendo fazer-lhe voltar funções delegadas a grupos particulares” (BENI, 1997,
p.79). Merece destaque este papel do Estado na condução das políticas de turismo,
nos países “em desenvolvimento”.
Em relação a este papel de planejador assumido pelo Estado, Demo (1996,
p.42) destaca: “o planejamento, sobretudo quando entendido como função do
Estado, possui tendência clássica de impor-se à população, principalmente em sua
fase tecnocrática, sistêmica e impositiva.”
Atualmente, num contexto de descentralização administrativa a sociedade
tenta participar das tomadas de decisões, difundindo o planejamento participativo,
que permite que as pessoas deixem a postura de meros clientes do Estado e se
desprendam da situação de comandados. Em prol dessa mudança a
descentralização atua como “instrumento de participação dos cidadãos nas decisões
de políticas públicas e de fortalecimento da cidadania” (AMORIM, 2000, p. 98). Isto
permitiu um processo de mudança na história do desenvolvimento político no Brasil,
onde “a relação Estado/sociedade consolidou-se sobre o padrão Tutor/tutelado, e
em que as burocracias públicas operam sobre baixíssima pressão das clientelas”
(AMORIM, 2000, p. 103).
50
3.1 As Políticas de Turismo no Brasil
Uma política pública é parte do processo de planejamento governamental.
Entende-se como política pública do turismo
um conjunto de intenções, diretrizes e estratégias estabelecidas e/ou ações
deliberadas no âmbito do poder público, em virtude do objetivo geral de
alcançar e/ou dar continuidade ao pleno desenvolvimento da atividade
turística num dado território” (CRUZ, 2000, p. 40).
Nas últimas décadas, as mudanças na forma de administração pelo Estado
repercutiram nas políticas públicas de turismo, como apresentado a seguir.
No Brasil, o primeiro organismo oficial de turismo na administração pública
federal é criado em 1939, pelo Decreto-lei 1.915 de 27 de dezembro de 1939,
chamando-se “Divisão de Turismo”, tinha como principal atribuição superintender,
organizar e fiscalizar os serviços do turismo interno e externo. (CRUZ, 2000)
No governo de Juscelino Kubitschek foram traçadas as diretrizes para uma
Política Nacional de Turismo, sendo finalidade da Comissão Brasileira de Turismo
(Combratur, criada em 1958) “coordenar, planejar e supervisionar a execução da
política nacional de turismo, com o objetivo de facilitar o crescente aproveitamento
das possibilidades do país, no que respeita ao turismo interno e internacional”
(FERRAZ, 1992, p. 15).
A Política Nacional de Turismo nasce no governo Castelo Branco, num
momento de reformulação da máquina administrativa federal e em consonância com
o Plano de Ação Econômica do Governo - PAEG (1964-1966) que propunha
“atenuar os desníveis econômicos setoriais e regionais, e as tensões criadas pelos
desequilíbrios sociais, mediante a melhoria das condições de vida” (IANNI, 1986
apud CRUZ, 2000, p.49). Percebe-se que desde então, o turismo é nitidamente
utilizado pelo discurso político como atenuador das desigualdades regionais do
Norte e Nordeste em relação ao Sul e Sudeste brasileiro.
51
No Decreto-lei 55 de 18 de Novembro de 1966 é criado o Conselho Nacional
de Turismo (CNTUR), a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) e definida a
Política Nacional de Turismo, que em seu artigo primeiro estabelece:
compreende-se como Política Nacional de Turismo a atividade decorrente
de todas as iniciativas ligadas à indústria do turismo, sejam originadas do
setor privado ou público, isoladas, ou coordenadas entre si, desde que
reconhecido seu interesse para o desenvolvimento econômico do país
(CRUZ, 2000, p. 20)
No ano seguinte este conceito de Política Nacional é redefinido: de “atividade”
passa a ser entendido como “o conjunto das diretrizes e normas integradas em um
planejamento de todos os aspectos ligados ao desenvolvimento do turismo e seu
equacionamento como fonte de renda nacional”. (CRUZ, 2000, p.49)
Cruz (2000, p.50) aponta vários equívocos nesta definição, como a confusão
nos conceitos de política de turismo e de planejamento turístico, enfatizando que
este entendimento “vai permear todo o desenvolvimento da atividade turística no
Brasil, resultando na ineficiência tanto de políticas quanto de planos”. É possível
apontar também a visão reducionista do turismo, visto apenas como “fonte de
renda”. Contudo não se concorda com a autora quanto ao fato de que a confusão
dos conceitos implicaria na ineficiência das ações direcionadas para o turismo, pois
são diversos os fatores que conduzem a este “fracasso”, dentre eles destaca-se, a
descontinuidade das políticas públicas.
Sobre os conceitos de planejamento, plano e política, Sansolo e Cruz (2005,
p. 3) esclarecem:
planejamento é um processo contínuo de tomadas de decisão, voltado
para o futuro e para a perseguição de um ou mais fins [...] tem um forte
sentido de intangibilidade e não pode, portanto, ser confundido com um
plano, que é um documento que reúne um conjunto de decisões sobre
determinado tema/área/setor. [...] a política, por sua vez, é parte do
processo de planejamento governamental e envolve tudo aquilo que um
governo decide fazer ou não relativamente a um dado setor da vida social.
[...] a política pública funde-se ao próprio processo de planejamento [...].
(grifo nosso)
52
Em 1992 a Embratur apresenta o Plano Nacional de Turismo – Plantur – que
seria executado de 1992 a 1994, sendo visto como o primeiro passo para a
implantação da Política Nacional de Turismo e referencial para o setor público e
privado, por conter as propostas da política de turismo.
Até então, as políticas de turismo apresentavam uma forte característica de
centralização, assim resumidas:
- as decisões sobre estas ações no setor do turismo eram tomadas
numa esfera central, a Embratur, desconsiderando os outros
interessados no desenvolvimento turístico;
- era difícil intervir “isoladamente” num país de grande extensão
territorial, além de que os estados e municípios não dispunham de
estrutura, administrativa e pessoal, para implantar as decisões vindas
da Embratur;
- estas ações consideravam apenas alguns núcleos turísticos, como as
capitais do Nordeste, não agindo em toda a região;
Com a imposição das políticas para o turismo pela esfera federal
esperava-se que essa centralização no planejamento e coordenação,
acompanhada da verticalização na execução da política, trouxesse uma
maior eficiência na utilização dos recursos, delimitação das áreas de
subordinação ao órgão central e redução dos conflitos nos processos
decisórios, que não concediam espaços suficientes para a iniciativa privada,
que era minoria e nem para os representantes dos governos estaduais e
municipais, bem como para os usuários e beneficiários dessa política
(NOGUEIRA apud LOBATO, 2001, p. 67)
A partir da Política Nacional de Turismo lançada em 1996 que, por meio do
Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), são criadas as bases
para a descentralização das políticas de turismo, reforçada na macro-estratégia de
“Descentralização” adotada pela Política Nacional de Turismo.
53
A Política Nacional de Turismo, lançada em 1996 e, inicialmente, válida
até1999
10
determina as estratégias, os objetivos e as metas do crescimento da
atividade neste período, utilizando-se de vários programas que buscavam, “em
conjunto, promover e incrementar o turismo como fonte de renda, geração de
empregos e de desenvolvimento sócio-econômico do país”. (LOBATO, 2001, p.69)
Destaca-se a macro-estratégia de Descentralização como elemento que
demonstra, com o PNMT, uma mudança de direção na condução do turismo no país,
já que, pelo menos na teoria, permitiu-se que fossem consideradas as
características de cada esfera no planejamento turístico, envolvendo o nível
municipal, estadual e federal.
O PNMT vislumbrava a autonomia dos municípios no planejamento do
turismo, ainda que de acordo com as diretrizes federais. Contudo, parece ainda
persistir uma lacuna entre o dito e o não-dito, o que implica em desvios de rota do
saber-fazer necessário à consecução do que é pensado nas diversas políticas
públicas no Brasil. Pretende-se com isso dizer que o que se anuncia em nível do
discurso nem sempre é implantado satisfatoriamente na prática. Pode-se, quanto a
isso, utilizar o exemplo do Programa Nacional de Municipalização do Turismo, que
propôs uma política voltada para a descentralização, desconcentração e
participação da comunidade e do setor privado, justificada, em última análise pela
sustentabilidade do turismo. As experiências de implementação do PNMT,
especialmente no Norte e Nordeste brasileiros, lograram pouco êxito
11
, como o
demonstram Endres (2002) e Lobato (2002).
As autoras citadas destacam, entre tantos erros, a quase nenhuma
participação efetiva da comunidade ou do setor privado, fato que já pôde ser sentido
previamente no processo de construção do Conselho Municipal de Turismo.
Exemplos de projetos, inclusive para o turismo, inspirados neste discurso de
participação e de sustentabilidade fazem parte das políticas municipais, pelo menos
em municípios de maior porte, como na elaboração do “orçamento participativo” em
10
Com a reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998, apenas as metas de
crescimento foram alteradas.
11
Salvo raras exceções que funcionam até hoje como “modelo” de sucesso do programa, como o
caso do município de Bezerros, no estado de Pernambuco.
54
João Pessoa
12
e Campina Grande, por exemplo. No sertão da Paraíba, municípios
de médio e pequeno porte, como Patos e Coremas, também se apropriaram daquele
discurso e tentam elaborar seu orçamento de forma participativa.
Com o início do Governo Lula, o turismo tem estado cada vez mais presente
nas pautas governamentais. Isto é evidenciado pela criação do Ministério do
Turismo, em 01 de Janeiro de 2003, e pela apresentação do Plano Nacional de
Turismo, em Abril do mesmo ano, como é apontado por Sansolo e Cruz (2005,
p.01):
considerando o curto interregno de tempo entre a criação do Ministério do
Turismo, a organização da administração pública federal de um modo geral
e o lançamento oficial do referido Plano, pode-se inferir a clara prioridade
que tem o turismo nesta administração.
A criação de um Ministério para o Turismo teve repercussões positivas no
trade assim como na academia, pois este teria
condições necessárias para articular com os demais Ministérios, com os
governos estaduais e municipais, com o poder legislativo, com o setor
empresarial e a sociedade organizada, integrando as políticas públicas e o
setor privado. Desta forma, o Ministério cumprirá com o papel aglutinador,
maximizando resultados e racionando gastos (BRASIL, 2003, p. 06)
No entanto, Sansolo e Cruz (2005, p. 5-6) apontam algumas deficiências
teóricas e práticas deste Plano Nacional de Turismo:
- apresentação de um Plano Nacional de Turismo sem definir claramente qual
é a política de turismo;
- “o território é abordado - como tem sido sistematicamente no planejamento
governamental do turismo no Brasil - como uma questão secundária, ofuscada por
uma abordagem predominantemente econômica e economicista do fenômeno”.
12
Marisa Santos Rodrigues (em Dissertação pelo PRODEMA UFPB/UEPB) analisa este processo
sob o enfoque da participação popular.
55
- o turismo é colocado como “a ‘salvação da pátria’ e este é um risco que um
plano governamental não pode incorrer”.
- os objetivos gerais deste plano “denotam claramente seu enfoque
econômico”.
Por fim, os autores concluem que o Estado deve entender que não compete
ao turismo, isoladamente, mudar uma realidade historicamente construída, no caso
do Brasil, e que deve sim, ser considerado nas ações de diversos setores, de forma
transversal.
3.1.1. O Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil
Consideradas as deficiências na concepção do PNMT, implantado na primeira
gestão Fernando Henrique Cardoso, em 1994, nas condições técnicas de cada
município e na cultura predominante no país para elaborar políticas públicas para o
turismo, ele foi revisto e deu lugar ao Programa de Regionalização do Turismo -
Roteiros do Brasil (PRT), na gestão Lula. No entanto, não extinguiu as
responsabilidades dos municípios na elaboração das ações em prol do turismo.
No PRT são destacados como objetivos: a melhoria das condições de vida
das comunidades receptoras; a geração de novos postos de trabalho e o impulso à
melhor distribuição de renda. Para isso, “é imprescindível valorizar as
potencialidades locais e desenvolvê-las respeitando os princípios da
sustentabilidade, os valores e peculiaridades de cada localidade e/ou
comunidade” (BRASIL, 2003, p.7). (Grifo nosso)
Neste programa (PRT) é evidenciada a intenção de dar continuidade a
programas de turismo anteriores (o PNMT), numa tentativa de superar o problema
da descontinuidade política na gestão das políticas públicas no Brasil.
Entre os conceitos e princípios fundamentais do Programa de Regionalização
do Turismo - Roteiros do Brasil (PRT) são apontados: participação, sustentabilidade,
56
integração e descentralização, justificando a hipótese deste estudo, que destaca a
“idéia” de sustentabilidade atrelada às ações governamentais em prol do turismo.
A colaboração de diversos segmentos na “elaboração” deste programa,
inclusive da universidade, pelo menos em sua instância federal, contribui para que
sejam destacados estes conceitos. Na instância estadual, no caso da Paraíba,
escuta-se algumas críticas sobre a falta de participação efetiva destes segmentos,
principalmente da academia, no Conselho Estadual de Turismo (Condetur).
Um aspecto inovador neste programa, que pode refletir na efetividade de suas
ações é o de avaliação (ou controle). Sua operacionalização acontece em nove
módulos:
1. Sensibilização;
2. Mobilização;
3. Institucionalização da Instância de Governança Regional;
4. Elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento;
5. Implementação do Plano Estratégico de Desenvolvimento;
6. Sistema de Informações Turísticas do Programa;
7. Roteirização Turística;
8. Promoção e Apoio à Comercialização;
9. Sistema de Monitoria e Avaliação do Programa;
Pode-se dizer que os principais “produtos” do Programa de Regionalização do
Turismo são os “roteiros turísticos”. Desta forma, como uma seqüência das ações
que foram (seriam) realizadas durante o Programa Nacional de Municipalização do
Turismo, no município, agora estas ações devem ser pensadas em escala regional,
começando pela definição e passando pela promoção do “roteiro turístico”, sob a
coordenação da esfera estadual.
Assim durante as oficinas de Planejamento e Definição de Estratégias para
Implementação do Programa de Regionalização do Turismo, realizadas em todos os
estados do país e no Distrito Federal, em Março e Abril de 2004, elaborou-se o
primeiro Mapa da Regionalização, que definia 219 regiões turísticas,
compreendendo 3.203 municípios/distritos brasileiros. (BRASIL, 2006)
57
A fim de apresentar estes roteiros ao trade e aos turistas, vem acontecendo,
na cidade de São Paulo, o Salão de Turismo (que em 2006 aconteceu em sua
segunda versão). Neste evento foram apresentados os roteiros que se encontram
melhor estruturados. Em 2005, na sua primeira versão, foram apresentados 451
roteiros, de 134 regiões turísticas do Brasil. Buscando a avaliação destes roteiros
foram selecionados 116 para visita e análise de aspectos como sinalização, acesso,
qualidade nos serviços, infra-estrutura, entre outros. A partir desta avaliação foram
traçadas diretrizes para melhorias dos roteiros.
Atualmente os Roteiros Turísticos do Brasil foram reeditados, com a inclusão
de novos municípios, que resultaram em 200 regiões turísticas, com a participação
de 3.819 municípios (BRASIL, 2006).
3.2 As políticas para o turismo na Paraíba
As ações governamentais direcionadas para o turismo no estado da Paraíba
surgem com alguma consistência a partir de 1970 aliadas à política de preservação
do patrimônio.
Em 1975, no governo de Ivan Bichara, foi criada a Empresa Paraibana de
Turismo S/A (PBTUR), com os objetivos de adquirir, explorar, diretamente ou por
concessão, hotéis, motéis, restaurantes, campings, balneários e outros
empreendimentos turísticos; incrementar e fomentar o turismo no Estado,
promovendo pesquisas, planejamento e estudos; criar mecanismos que pudessem
contribuir para o fortalecimento e desenvolvimento do setor. (LEAL, 2001). Esta
“empresa” existe até hoje e é vinculada à Secretaria Estadual de Turismo e
Desenvolvimento Econômico, tendo como principal atribuição a divulgação turística
do estado.
Até os anos 90 as ações governamentais para desenvolvimento do turismo na
Paraíba foram nitidamente concentradas no litoral, um exemplo é o projeto Cabo
Branco.
58
Com o acompanhamento destas ações verifica-se que a partir de 1992, com o
Plano Turístico do Estado da Paraíba inicia-se uma descentralização espacial das
ações estatais para o turismo. Assim, o estado foi dividido em dois “eixos turísticos”:
o litorâneo e o interior. No segundo eixo estavam os municípios: Campina Grande,
Areia, Sapé, Ingá, Santa Luzia, Patos, Sousa, Coremas e Cajazeiras. (MACHADO,
1997)
Tendo em vista as deficiências na infra-estrutura urbana nas cidades
brasileiras, estas políticas tendem pautar suas ações na instalação desta infra-
estrutura básica e de apoio ao turismo. Cruz (2000, p. 157) aponta como outras
características dessas políticas, “a estandardização da paisagem [especialmente da
arquitetura] e exclusão social”. Essa exclusão social pode acontecer em vários
aspectos, desde a não possibilidade de utilização da mão de obra local (entenda-se
moradores das áreas de implantação dos projetos) pela falta de qualificação para
atender uma demanda internacional, até a expulsão de moradores de “seus
lugares”.
Neste sentido, o Programa de Ação Integrada para o Desenvolvimento do
Turismo no Nordeste (Prodetur-NE) tem a “missão” de promover investimentos nesta
infra-estrutura, primeiramente nos municípios próximos ao litoral (ARAÚJO, 1997, p.
60) e em seguida chegando aos municípios do interior. “Trata-se de uma política de
turismo que ‘faz as vezes’ de uma política urbana” (CRUZ, 2000, p.35). O Prodetur
segue até hoje como programa de apoio às políticas para desenvolvimento turístico
do estado, tendo sido dividido em duas fases. Na Paraíba, a primeira fase deveria
ser concluída em cinco anos, a partir de seu início, mas foi concluída após onze
anos, no ano de 2005. Suas ações compreenderam, até 2002:
- elaboração de planos diretores em alguns municípios;
- esgotamento sanitário em bairros de João Pessoa; e
- restauração de parte do Centro Histórico de João Pessoa;
- construção da rodovia PB 008, que liga João Pessoa ao litoral sul do
estado; (Prodetur/NE, 2005)
No ano 2000 foi apresentado o Plano Estratégico de Desenvolvimento do
Turismo ou Plano Amanhecer, que dividia o estado da Paraíba em seis pólos
59
turísticos, desde o litoral até o sertão. Pela sua abrangência espacial e pelo
detalhamento das ações, este foi o plano de desenvolvimento turístico mais
completo até então na história do turismo da Paraíba, dando forte destaque, em seu
texto, para os conceitos de “meio ambiente e desenvolvimento sustentável”. Este
plano tinha como objetivos principais:
- alcançar um fluxo de turistas importantes, mas não massificados;
- conscientizar a sociedade dos benefícios sociais do turismo de
qualidade;
- criar uma imagem turística da Paraíba e de cada um dos seus pólos; e
- aumentar as estadias atuais no estado. (PARAÍBA, 1999)
Contudo, com a mudança de governo no ano de 2003 o Plano Amanhecer foi
“abandonado”, sendo apresentado em 2004, (em atendimento às diretrizes do Plano
Nacional de Turismo) o Plano de Desenvolvimento Turístico Integrado do Turismo
Sustentável (PDTIS) da Paraíba. Neste plano, seguindo as orientações do Plano
Nacional de Turismo, deu-se início a elaboração dos “roteiros integrados da
Paraíba”, pertinentes ao Programa de Regionalização do Turismo, que hoje são
chamados “roteiros turísticos da Paraíba”. Pode-se dizer que o PDTIS consiste na
versão estadual do Programa Roteiros do Brasil (PRT).
3.2.1 Os “roteiros turísticos” da Paraíba
Em um primeiro momento foram definidas quatro regiões turísticas
13
: litoral,
agreste, cariri e sertão (Figura 1), tendo como municípios pólo, respectivamente,
João Pessoa, Campina Grande, Cabaceiras e Sousa. E mesmo que seja previsto no
PRT o inventário turístico de todas as regiões turísticas, os roteiros foram definidos
sem a realização deste inventário, baseando-se em inventários anteriores.
13
Estas regiões turísticas não correspondem obrigatoriamente às mesorregiões geográficas do
estado (Figura 4).
60
Assim, na Paraíba foram selecionados primeiramente 50 municípios para
compor nove roteiros turísticos
14
(PARAÍBA, 2004):
- Entre o Rio e o Mar, séculos de história;
- Litoral Sul: a natureza e diversidades;
- Litoral Norte: cultura indígena e natureza protegida;
- Os Engenhos e seus sabores;
- Campina Grande: síntese de cultura e tecnologia;
- As pedras paraibanas e seus mistérios;
- Ecoturismo e esporte de aventura;
- Paraíba: história e personalidades; e
- Sertão: encontro com a Pré-história.
Em atendimento aos objetivos deste trabalho, dar-se-á ênfase a região
turística do sertão, por onde “passam” dois roteiros: (1) “Ecoturismo e esportes de
14
Ver mapa com a “Espacialização dos roteiros turísticos da Paraíba” anexo; estes roteiros ainda
estão em formatação, sendo acrescentados novos municípios.
Figura 1: Regiões turísticas da Paraíba e seus municípios.
Fonte: PARAÍBA, 2004.
61
aventura” e (2) “Sertão: encontro com a Pré-história”, que abrangem 12 municípios
da região.
Alguns roteiros, como o do “Ecoturismo e esportes de aventura” transpõem as
barreiras da “região turística”, estendendo-se do litoral ao sertão. É neste roteiro que
está inserido o município de Coremas, foco deste trabalho, e mais 12 municípios,
como Guarabira e Pirpirituba no “Litoral”, Araruna e Bananeiras, no “Agreste”, e
Boqueirão e Monteiro no “Cariri”.
Começam a surgir algumas iniciativas que buscam a cooperação entre os
“municípios turísticos”, como o Consorcio Intermunicipal de Turismo do Sertão da
Paraíba (Consortur), fundado no início de 2005 para “melhorar a política de
desenvolvimento turístico do Sertão”
15
.
Verifica-se atualmente o interesse dos governos na interiorização do turismo,
como oportunidade de diversificar a oferta turística e permitir que os benefícios do
turismo sejam sentidos em outras regiões. Na Paraíba este interesse é evidenciado
na divulgação dos “atrativos turísticos” do interior do estado, em eventos como o
“Vem viver a Paraíba” (Janeiro/Fevereiro 2006) e o “Salão de Turismo Paraíba pra
Viagem” (Abril 2006)
16
, organizados pelo Governo do Estado, e a “Feira Multitur
Paraíba”, organizada pelo curso de turismo da UFPB (Janeiro, 2005). Assim, busca-
se “trazer” o interior (o sertão) ao portão de entrada dos turistas no estado (João
Pessoa), como também despertar nos moradores locais o interesse de
“(re)conhecer” o interior do estado. Esta “presença do sertão” no litoral vem
acontecendo também por meio dos restaurantes e “mercearias” especializados na
gastronomia e em diversos “produtos” do sertão.
Contudo, dando destaque àquelas lacunas nas políticas de turismo pode-se
afirmar que esta divulgação acontece - com intenção de “venda” do interior como
produto turístico – mesmo com sérias deficiências na infra-estrutura desses locais.
Sobre estas deficiências, foi apresentado, no “Salão de Turismo Paraíba pra
Viagem”, em uma oficina do Ministério do Turismo, a avaliação dos serviços e da
infra-estrutura de alguns municípios que compõem os roteiros turísticos. A seguir
15
Fonte: < http://www.paraibanews.com/categorias-noticias-detalhe.asp?ID=3031&Categoria=7>
Acesso em 10/01/2007.
16
O “Vem viver a Paraíba” aconteceu em sua segunda versão, na Praia de Tambaú; e o “Salão de
Turismo Paraíba pra Viagem”, em sua primeira versão, no Espaço Cultural, em João Pessoa-PB.
62
(Quadros 3 e 4) os resultados desta avaliação nas regiões turísticas do Cariri e do
Sertão:
QUADRO 3: Avaliação de alguns municípios da Região Turística Cariri,
no estado da Paraíba (Set., 2005).
Região Turística: Cariri
Municípios visitados:
Cabaceiras, Maturéia*, Prata, Patos* e Teixeira*
Atividades possíveis: Ecoturismo, Turismo de Aventura,
Turismo de Esporte, Turismo Rural e Turismo Cultural
Mercado Atual:
regional, estadual, nacional e internacional
Mercado Potencial:
regional, estadual, nacional e internacional
Acessibilidade: razoável
Sinalização: precário
ATIVIDADES TURÍSTICAS
Visitar: razoável Comprar: precário
ESTRUTURA TURÍSTICA
Dormir: razoável Comer: razoável
VALORAÇÃO POTENCIAL (de 1 a 5)
Singularidade: 3 Valor Intrínseco: 3
Identidade Regional: 4
De acordo com os dados apresentados no quadro acima foram verificadas
deficiências acentuadas, na Região Turística Cariri, tanto na infra-estrutura turística,
como nos serviços de apoio, apesar da “relevante” valoração potencial.
* Estes municípios pertencem à região turística do Sertão, mas foram
apresentados nesta categoria.
Fonte: Apresentado pelo Ministério do Turismo durante o I Salão de
Turismo Paraíba pra Viagem. [Cópia da apresentação recebida por e-
mail.] (Abril, 2006)
63
QUADRO 4: Avaliação de alguns municípios da Região Turística Sertão,
no estado da Paraíba (Set., 2005).
Região Turística: Sertão
Municípios visitados:
Sousa, São João do Rio do Peixe, Vieirópolis
Atividades possíveis: Ecoturismo, Turismo de Aventura,
Turismo Rural, Turismo Cultural, Negócios e Eventos
Mercado Atual:
nacional e internacional
Mercado Potencial:
nacional e internacional
Acessibilidade: razoável
Sinalização: precário
ATIVIDADES TURÍSTICAS
Visitar: bom Comprar: inadequado
ESTRUTURA TURÍSTICA
Dormir: razoável Comer: razoável
VALORAÇÃO POTENCIAL (de 1 a 5)
Singularidade: 4 Valor Intrínseco: 4
Identidade Regional: 1
Da mesma forma, na Região Turística Sertão, foram verificadas deficiências
tanto na infra-estrutura turística como na de apoio, exceto na categoria “visitar”,
avaliada como “bom”, demonstrando que os atrativos nestes municípios atendem às
expectativas dos avaliadores. Por outro lado foi destacado que não se “sente” a
identidade local ao visitar estes locais.
Esta avaliação dá evidência às lacunas deixadas pelas políticas públicas de
turismo anteriores, que desde os anos 90, na Paraíba, sinalizam para a melhoria
Fonte: Apresentado pelo Ministério do Turismo durante o I Salão de
Turismo Paraíba pra Viagem. [Cópia da apresentação recebida por e-
mail.] (Abril, 2006)
64
desta infra-estrutura, sem conseguir, até agora, oferecer pelo menos a
acessibilidade necessária, sem, com isso, abonar as responsabilidades dos
municípios e da iniciativa privada. Por outro lado, permite também apontar as
direções mais urgentes das ações governamentais e da iniciativa privada
contribuindo para a sustentabilidade do turismo nestas regiões, em especial no que
se refere à satisfação do turista. Assim, é possível que se perceba que é mais
urgente investir na infra-estrutura de acesso e hospedagem que, por exemplo,
construir “portal de entrada” nas cidades.
65
4. O MUNICÍPIO DE COREMAS – cenário da pesquisa
O município de Coremas é conhecido como “a terra das águas”, graças ao
Complexo Hídrico Coremas-Mãe-D’água
17
, formado por dois grandes açudes
(Estevam Marinho e Egberto Carneiro da Cunha, respectivamente; Figuras 2 e 3)
construídos pelo Departamento Nacional de Obra Contra às Secas (DNOCS) entre
as décadas de 1930 e 1950, com capacidade total
18
(na época da construção) de
1.360.000.000 m
3
(um bilhão e trezentos e sessenta milhões de metros cúbicos de
água), o maior reservatório da Paraíba, que atualmente (Fev. 2007) está com
aproximadamente 83% de sua capacidade total.
17
A construção do açude Coremas (ou Estevam Marinho) teve início em abril de 1937 e foi
concluída em maio de 1942, enquanto o açude Mãe D’água (ou Egberto Carneiro da Cunha) teve
sua construção iniciada em novembro de 1948, e concluída em dezembro de 1957 (FILHO, 1996).
18
O assoreamento diminui a capacidade de armazenamento. O volume dos principais açudes da
Paraíba é monitorado diariamente e pode ser verificado no site do governo do estado:
“paraiba.pb.gov.br”.
Figura 2: Vista aérea parcial do Açude Coremas (Estevam Marinho) e da sede
do município. Em destaque (1) a principal via de acesso ao centro da cidade,
(2) a igreja de santa Rita, (3) a “praça” onde acontece o carnaval, (4) a usina
hidroelétrica e o Rio Turbina, (5) a antiga Vila do DNOCS, (6) a Capelinha, (7) o
“sangradouro” e (8) as águas do açude Mãe D’água.
Fonte: Prefeitura Municipal de Coremas. Abril, 2005 (adaptado pelo autor)
66
Dentre as possibilidades de uso que a água permite ao município, além da
agricultura e da aqüicultura, ressalta-se a sua utilização na atividade turística, que
atualmente, concentra-se no turismo de lazer, de contemplação e de eventos (festas
populares). Mas considerando o ambiente sertanejo, pode-se desenvolver: turismo
rural, ecoturismo, agroturismo, turismo cultural, gastronômico, turismo náutico,
esportivo, de aventura que podem receber a nomenclatura de Turismo Sertanejo
(SEABRA, 2001).
4.1.1 Localização Geográfica
O município localiza-se na mesorregião do sertão, no baixo sertão paraibano,
na microrregião de Piancó, (Figura 4). Na latitude sul 7° 01' 02" e na longitude oeste
Figura 3: Vista aérea parcial do Açude Mãe D’água (ou Egberto C. da Cunha).
Em destaque (1) a barragem da Mãe D’água, (2) as ruínas da casa do
engenheiro, (3) o Canal da Redenção, (4) bares/restaurantes.
Fonte: Prefeitura Municipal de Coremas. Abril, 2005 (adaptado pelo autor)
67
37° 56' 48". Os seus limites territoriais são: Pombal (ao Norte, 54 km), Piancó (ao
Sul, 36 km), Emas (36 km) e Catingueira (30 km) a Leste, e São José da Lagoa
Tapada (33 km) e Aguiar (30 km) a Oeste. Seu território de 425 Km² corresponde a
0,75% da área do estado da Paraíba.
4.1.2 População
A população é de 15.130 residentes, (IBGE, 2000) sendo 69,8% urbana e
30,2% rural, com densidade demográfica de 32,6 hab/km². A população teve um
crescimento de -0,03%, pois em 1991 eram 15.169 habitantes. Enquanto a
urbanização no município cresceu 28%, de 54,22% em 1991 para 69,87% em 2000.
(PNUD, 2000)
Figura 4: Mesorregiões da Paraíba, em destaque o município de Coremas.
Fonte: RODRIGUEZ, 2002. (adaptado pelo autor)
68
De acordo com dados do ano 2000, a taxa de analfabetismo da população
adulta é de 46,9%. A taxa de mortalidade infantil é de 50,67 (por mil nascidos vivos)
e a expectativa de vida é de 62,7 anos. O Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH) é de 0,595. Segundo a classificação do PNUD, o município está
entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e
0,8). Em relação aos outros municípios da Paraíba, considerando o IDH, Coremas
ocupa uma situação intermediária, ocupando a 96ª posição, sendo que 95
municípios (42,6%) possuem maior IDH e 127 municípios (57,4%) têm IDH inferior
ou igual. (PNUD, 2000).
4.1.3 Aspectos Biofísicos
- Hidrografia
A água é elemento marcante na paisagem do município. O açude Coremas
represa o rio Piancó, que nasce na Serra Dona Inês, em Conceição-PB, e o açude
Mãe D’água, represa o rio Aguiar. Devido as turbinas de geração de energia elétrica
(subestação da CHESF) o rio Piancó, ao sair do açude é chamado de “rio turbina”,
que no município de Pombal, ao se encontrar com outros rios temporários, recebe o
nome de Rio Piranhas, que passa a ser perene e é represado no Açude Engenheiro
Ávidos, em Assú-RN, de onde sai com este nome, e após passar na cidade de
Mossoró-RN, deságua no Oceano Atlântico.
Coremas está localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu (Figura
5). Esta Bacia é de domínio federal, pois abrange os estados da Paraíba e do Rio
Grande do Norte, tendo o Rio Piranhas como rio principal. De acordo com a Política
Nacional dos Recursos Hídricos são vários os atores responsáveis pela gestão dos
recursos hídricos, desde o governo federal à sociedade, que é representada pelo
Comitê de Bacia.
69
O Rio Piranhas nasce na divisa entre a Paraíba e Pernambuco, mesmo em
sua nascente em algumas épocas do ano não há água. No estado da Paraíba sua
extensão é de 213 km. Pequenos e grandes açudes são observados em quase toda
a extensão do Rio, entre eles, os maiores são o Engenheiro Ávidos (que abastece
Cajazeiras) e o São Gonçalo (em Sousa). A regularização da vazão do rio Piancó,
pela hidroelétrica do açude Coremas permite que o rio Piranhas seja perenizado.
Esta vazão, pelas turbinas, tem uma capacidade de 7,30 m³/s, sendo que
normalmente é liberado 4 m³/s (CÂMARA, 2000).
Curi (1998) aponta que a sustentabilidade hídrica do açude Coremas está
comprometida a médio prazo, em 18 anos, caso haja uma redução das vazões
médias afluentes em pelo menos 30%.
As águas do rio Piranhas são utilizadas para abastecimento humano e animal,
irrigação e como depósito de lixo e esgotos quando passa próximo à cidades
(SILVA, 2001). As águas dos açudes da bacia do rio Piancó, segundo Câmara
(2000, p 65) “são utilizados para fins de abastecimento público, irrigação,
dessedentação de animais, preservação da fauna e flora, piscicultura, lavagem de
roupa e até mesmo diluição das águas servidas”. (Grifo nosso)
Junto ao clima da região, com chuvas irregulares, as ações antrópicas
contribuem para a falta d’água no rio e em seus afluentes, pois “não existem práticas
de preservação dos escassos recursos naturais remanescentes, já que a cobertura
vegetal vem sendo devastada, a fauna extinta, os solos erodidos pelo mau-uso
agrícola e pisoteio do gado, e os recursos hídricos manejados de forma
Figura 5: bacia hidrográfica Piranhas -
Açu.
Fonte: Governo da Paraíba, 2006.
70
inadequada”. (SILVA, 2001, p.116). Este manejo inadequado contribui para que seja
reforçada a idéia de que “falta água no sertão”, enquanto o maior reservatório do
estado localiza-se nesta região.
A navegação na bacia do Piranhas-Açu restringe-se ao interior dos grandes
açudes ou a curtas distâncias no rio Piranhas, e é feita por meio de canoas. No
açude Coremas-Mãe D’água o transporte em canoas e barcos faz parte do cotidiano
dos habitantes da zona rural (ou como se diz no local: que “moram nas águas”), e
levam até duas horas de barco (motorizado) para chegar à sede do município,
trazendo hortifrutigranjeiros para comercialização, utilizar algum serviço no centro
urbano, chegar até a escola, visitar familiares, assim como para o transporte de
equipes de saúde e professores até a zona rural. Atualmente verifica-se com mais
intensidade novos meios de transporte nas águas do açude, mais relacionados ao
turismo e lazer, como lanchas e jet skys.
- Clima
O município está inserido no “Polígono das Secas”, com um clima semi-árido
quente e seco, segundo a classificação de Koppen (1956). A temperatura varia
entre 23º C e 30º C, com elevações superiores na estação seca. O regime
pluviométrico divide as estações em seca (a maior parte do ano) e chuvosa (entre
janeiro e abril, chamada de “inverno”), caracterizando a região pelas chuvas
irregulares. A média pluviométrica é de 882,3 mm/ano, variando entre 342,7 mm/ano
e 1837,7 mm/ano. (BRASIL, 2005)
Além dos benefícios já conhecidos que a chuva traz para a região do sertão,
em Coremas, nos anos “bons de chuva” a “sangria” da Mãe D’água (Figura 10)
torna-se um evento comemorado pela população local e motivo de visita de pessoas
da região e de outros estados.
71
- Relevo
O município está na Planície Sertaneja (ou Depressão Sertaneja) área de
baixa altitude (250-300m) mais exatamente na depressão do vale do rio Piancó, com
alguns maciços residuais pouco extensos (serras) (figura 06).
“Os solos são resultantes da desagregação e decomposição das rochas
cristalinas do embasamento, sendo em sua maioria do tipo Podzólico Vermelho-
Amarelo, tendo-se localmente latossolos e porções restritas de solos de aluvião”.
(BRASIL, 2005, p.3)
- Vegetação
Figura 6: Serra de Santa Catarina.
Fonte: Prefeitura Municipal de Coremas. Abr., 2005.
72
A vegetação original do município é do tipo caatinga arbórea, que ainda
existe na zona rural do município, e vem sofrendo agressões como os
desmatamentos, para a retirada da madeira, e as queimadas, para o uso dos solos
na agricultura. Algumas espécies encontradas são: mandacaru, xique-xique, jurema,
carnaúba, oiticica, juazeiro, angico, baraúna e aroeira. (FILHO, 1996)
Em algumas áreas a jusante dos açudes, como na vila operária do DNOCS
e na margem dos rios, pode-se encontrar árvores frutíferas como mangueiras,
cajueiros, serigüeleiras, e goiabeiras, dentre outras.
4.1.4 Aspectos Históricos
Durante a colonização, a região onde hoje está o município de Coremas era
habitada pelos índios Curema, da nação Cariri, que foi uma das últimas tribos a ser
dizimada pelos colonizadores, pelo seu conhecimento do território e pela sua
organização nas batalhas. (BORGES & BORGES FILHO, 1985).
Entre as várias explicações compiladas por Filho (1996)
19
, para o significado
do nome Corimãs, destaca-se:
- de Coreê-mbé: “lábio inferior caído”;
- de Curemas- tupi “Cure”: “bambo”, “cambaleante”;
- de Kuri’má: “espécie de peixe”;
Para o autor, o significado mais coerente é o que relaciona o nome da tribo
indígena, os Curema, à espécie de peixe, provavelmente o peixe curimã ou
curimatã, que existe nos rios e nos açudes da região.
A história de Coremas, e de todo o sertão paraibano, tem um marco no início
dos anos 30 do século XX, quando começa a construção do maior açude do Brasil
20
,
19
O livro “Coremas, seu lugar na história”, do médico coremense Edvaldo Brilhante Filho, é
importante fonte de pesquisa sobre a cidade. Encontra-se esgotado, mas pode ser encontrada, na
íntegra, na internet (<pbnet.com.br/openline/ebsfilho>) ou ainda na Biblioteca Central da UFPB.
73
hoje chamado de Coremas (ou Estevam Marinho, nome do engenheiro-chefe da
obra). Nesta época a Vila do Curema era território do município de Piancó e teve seu
cotidiano bruscamente alterado com a chegada dos operários responsáveis pela
construção do açude, que traria novas paisagens ao sertão.
Atualmente, pouco se conhece dos vestígios da tribo dos Curema, além do
que se verifica nas demais cidades da região, como as comidas, os nomes de
plantas e animais, etc. Os “traços” indígenas podem ser observados em poucos
habitantes do município. É provável que resquícios da “cultura” indígena tenham
sido submersos pelas águas dos açudes.
Com a construção dos açudes formou-se a Vila Mecânica dos operários do
DNOCS, que ainda conserva algumas casas com as mesmas características
arquitetônicas da época, tornando-se uma espécie de “centro histórico” da cidade,
onde moram os antigos operários e/ou seus descendentes.
A Vila do Curema ou Boqueirão do Curema foi instituída município
21
em 1953,
sendo implantado em 1954, tendo como data comemorativa o dia 04 de Abril, e
como fundadores os fazendeiros e comerciantes, Srs. João Soares Evangelista,
Manoel Gonçalves Piranhas, Antônio Moreira de Oliveira e Antônio Lucas de
Lacerda. Nesta época “grandes novidades” chegaram a Paraíba, e foram instaladas
em Coremas, como: a primeira piscina do estado da Paraíba, localizada no clube
recreativo, com quadra poli-esportiva; o Cine Alto Piranhas; a casa Ford (para
atender às demandas dos caminhões utilizados na construção); a iluminação
elétrica, fornecida pelas caldeiras a vapor, e posteriormente pelas turbinas
hidroelétricas da barragem; um apiário (para a criação de abelhas) e um hotel-
dormitório. (FILHO, 1996)
Dentre estas “novidades” para a época, que hoje também comporiam o
patrimônio histórico-cultural do povo, existe apenas o hotel, em sua arquitetura
original, pois as outras construções, ou estão arruinadas, ou no caso do Cinema
(que funciona como sede da Loja Maçônica do município) tem outros usos.
20
Atualmente ainda é o maior reservatório da Paraíba e o quarto maior açude do Brasil, superado
pelo açude do Castanhão (CE), o de Assú (RN) e o de Orós (CE), que podem acumular
aproximadamente 6,7 bilhões, 2,4 bilhões e 1,9 bilhão de m³, respectivamente (www.dnocs.gov.br).
21
No Programa de Pós Graduação em Geografia da UFPB encontra-se em desenvolvimento uma
pesquisa de mestrado (sob a responsabilidade da Geógrafa Rita de Cássia Gregório de Andrade)
sobre a influência que a construção do açude e a simultânea construção do acampamento DNOCS
tiveram para elevar a mencionada vila à condição de cidade.
74
Esta não-conservação do patrimônio será abordada mais adiante se referindo
à sustentabilidade na dimensão cultural.
Entre os momentos históricos do município, que fazem parte do “orgulho”
coletivo, destacam-se:
- a passagem da Coluna Prestes, em fevereiro de 1926; que atualmente é
“tema” para a criação de um roteiro turístico;
- as visitas presidenciais. Motivados pela visita às obras de construção dos
açudes, estiveram e pernoitaram em Coremas: o Presidente Getúlio Vargas
(16/10/1940); o Presidente Eurico Gaspar Dutra (01/10/1949); o Presidente
Juscelino Kubitschek de Oliveira (15/01/1957); e em 16/071998, em visita ao Canal
da redenção, que transpõe água do açude Mãe D’Água até a região de Sousa (PB),
esteve em Coremas o Presidente Fernando Henrique Cardoso.
4.1.5 Infra-estrutura Básica e Turística
22
4.1.5.1. Sistema Viário
Os meios de acesso a qualquer destino turístico são fundamentais no seu
desenvolvimento. O principal acesso para Coremas, a partir da capital do estado,
João Pessoa, é a BR-230, até o município de São Bentinho. Neste ponto, pela PB-
426, percorridos 36 km chega-se à sede do município, totalizando quase 390 km,
sendo o único acesso pavimentado até Coremas (Figura 7), outros dois acessos
principais são por estrada não-pavimentada.
O trecho da BR-230 encontra-se bem sinalizado e pavimentado. Entretanto, o
trecho da PB-426, carece de reparos na pavimentação, no acostamento e na
sinalização, principalmente pela grande quantidade de “curvas”, que provocam
constantes acidentes, principalmente em época de festas quando os motoristas
consomem bebidas alcoólicas.
22
Estes fatores, relacionados a atividade turística são analisado nos resultados deste trabalho,
referente à satisfação do turista.
75
A empresa de ônibus Expresso Guanabara liga João Pessoa a Coremas,
diariamente, ida e volta (exceto domingos e feriados). Existem transportes
alternativos que viajam para as cidades da região, sendo constante o fluxo de
veículos para Patos e Pombal.
4.1.5.2 Sistema de Saneamento
A água do abastecimento público não recebe tratamento prévio, sendo
distribuído cloro para o tratamento domiciliar. Para o governo municipal atual esta é
uma questão bastante delicada, pois a população se sente “dona” da água dos
açudes e acredita que não deve pagar pelo tratamento. Contudo, foi informado pelo
prefeito que já existe o projeto para a implantação do tratamento prévio nos
Figura 7: Mapa ilustrativo do acesso à Coremas, pela BR-230.
Fonte: Prefeitura Municipal de Coremas. Folder turístico, 2005.
76
próximos anos
23
. Acredita-se que esta deficiência prejudica a qualidade de vida dos
habitantes, assim como pode prejudicar a qualidade das visitas turísticas ao
município.
Os esgotos da zona urbana têm como destino o Rio Piancó (chamado
localmente de Rio Turbina), que também compõe o leque dos atrativos turísticos do
município, e é utilizado para diversos usos pelas comunidades rurais.
Na zona rural, onde não há esgotamento, são construídas fossas sépticas ou
derramado esgoto a céu aberto, podendo muitas vezes chegar às águas dos rios ou
dos açudes.
A coleta de lixo é feita regularmente, de forma terceirizada. Nas ruas
principais é feita diariamente. Não existe coleta seletiva, sendo que durante os
eventos algumas pessoas “catam” as latas de alumínio e as garrafas pet. O destino
dos resíduos é o “aterro sanitário”
24
.
4.1.5.3 Sistema Energético
Uma peculiaridade no município de Coremas é a usina hidroelétrica, sob
administração da CHESF (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), construída
pelo DNOCS, na época da construção dos açudes. A Usina Curemas possui um
vertedouro de superfície, que atua na geração de energia e na irrigação na bacia
hidrográfica.
É constituída por 2 unidades geradoras de 1.760 kW, perfazendo um total
de 3.520 kW. A tomada d’água é efetuada por meio de dois condutos
forçados ligando o reservatório às turbinas. A casa de força, construída em
edifício de concreto armado, está instalada imediatamente à jusante da
barragem. “...” exercendo um importante papel de reforço aquele sistema
regional do interior do estado da Paraíba (CHESF, 2006) . (Figura 8)
23
Em entrevista ao pesquisador, em Novembro de 2006.
24
Não se sabe se este aterro atende às exigências para esta categoria.
77
Esta usina não é utilizada sistematicamente pela atividade turística, como
acontece em outras hidroelétricas.
A distribuição da energia no município é realizada pela Sociedade Anônima
de Eletrificação da Paraíba (SAELPA), com uma corrente de 240 w.
4.1.5.4 Sistema de Telecomunicações
A empresa responsável pela telefonia fixa é a TELEMAR S/A, que
disponibiliza telefones públicos em diversos locais da cidade, inclusive na zona rural.
Na telefonia móvel há cobertura da Telecom Italian Móbile (TIM) e da Claro
Telecomunicações apenas em alguns pontos do município, de acordo com a
altitude.
São distribuídos três canais de televisão aberta, como também os canais via
parabólica e TV a cabo. Existe uma rádio comunitária e um sistema de comunicação
comercial.
Figura 8: Casa de máquinas e o “rio turbina”. Agosto, 2006
Fonte: Davi Andrade, 2006.
78
Atualmente estão disponíveis vários locais de acesso à internet, que
geralmente é via rádio, onde se paga pelo tempo de utilização. Assim como nas
residências, para acesso particular.
4.1.5.5 Serviços de Apoio
São serviços fundamentais para o desenvolvimento da atividade turística.
Destacam-se:
- serviços bancários: com agência e caixas eletrônicos do Banco do Brasil,
posto de atendimento da Caixa Econômica Federal, e do Banco Postal (Bradesco);
- serviço de saúde: um hospital, postos de saúde e farmácias; contudo, os
atendimentos hospitalares mais complexos, como fraturas, são encaminhados para
as cidades vizinhas; nos eventos costuma-se dispor de local para primeiros socorros
e distribuição de preservativos.
- outros serviços: três postos de combustível, vários supermercados (inclusive
que aceitam cartão de crédito), lojas de confecções, calçados, etc.
4.1.5.6 Infra-estrutura turística
- Meios de Hospedagem
O primeiro hotel do município foi instalado a partir de 1936, na vila operária do
DNOCS, e ainda hoje está em funcionamento (Figura 9). No Quadro 05 são
apresentadas algumas características destes equipamentos.
79
QUADRO 05
Características dos meios de hospedagem em Coremas – Agosto/2006
Característica/
Equipamento
Hotel
Turístico do
DNOCS
Pousada de D.
Maricô
Pousada JR
Pousada
Aconchego
Pousada
Vitória
Desde quando
funciona (ano)?
1936 1969 2000 2003
2005
Número de
Leitos
35 Não se aplica* 51 68
42
Quantos
Funcionários
3 Não se aplica* 4 4
4
Localização
Vila do
DNOCS
Centro Centro Centro
Centro
Origem do
Proprietário
Pombal Pombal Coremas Coremas Coremas
*Segundo a Proprietária, a pousada hospeda apenas “amigos e conhecidos”, por isso não foi considerada como
um meio de hospedagem “comum”. Contudo, deve constar neste quadro devido seu papel na história do
turismo em Coremas.
Fonte: pesquisa de campo (Ago., 2006).
Figura 9: Hotel do DNOCS, Outubro, 2006
Fonte: Davi Andrade.
80
Neste quadro observa-se que a partir do ano 2000 surgiram três pousadas no
município. Ainda este ano (2007) será inaugurada mais uma pousada no centro da
cidade. O surgimento destes equipamentos é uma evidência do desenvolvimento da
atividade turística no município.
Apesar de contar com várias pousadas, que oferecem juntas (as que já estão
em funcionamento) 196 leitos, algumas pessoas na comunidade afirmaram que a
instalação de um hotel de grande porte seria um estímulo ao desenvolvimento do
turismo no local. Segundo o prefeito, atualmente vem se buscando atrair
investidores externos para a instalação de outros equipamentos turísticos, inclusive
hotéis. Com isso percebe-se o interesse pela “grandiosidade” em torno da atividade
turística, que no litoral brasileiro toma forma nos resorts
Teoricamente, valoriza-se, para a manutenção da sustentabilidade do turismo,
que estes equipamentos sejam iniciativa das pessoas da comunidade e que se
prefiram equipamentos de pequeno porte, como um meio de dividir a renda.
Além destes meios de hospedagem, durante os eventos/festas populares, é
comum os turistas alugarem casas para se hospedar, além de ficar em casas de
amigos e familiares, sendo esta uma alternativa à possível falta de leitos nos
períodos de grande visitação.
Os proprietários destes meios de hospedagem ainda não fazem uso do
associativismo como uma maneira de fortalecimento e promoção, que agiria na
busca pelos interesses do grupo dentro das ações para o turismo no município.
- Bares e Restaurantes
Existem vários bares e restaurantes no município, em diversas localizações.
Também se observa que ultimamente vêm surgindo novos equipamentos em virtude
da atividade turística. Quase todos os proprietários são naturais de Coremas, ou
vivem aí há muito tempo. Ao todo, estes equipamentos são responsáveis por 90
postos de trabalho (regulares), incluindo familiares, sendo que na época de eventos
81
todos os bares/restaurantes contratam mais pessoal, chegando a aproximadamente
150 postos de trabalho
25
. Além dos postos criados nas barracas instaladas apenas
durante os eventos e dos vendedores ambulantes.
4.1.6 Os atrativos turísticos
Considerando o aumento no número destes equipamentos turísticos, o
discurso governamental pró-turismo, e ainda a inclusão do município nas políticas
federais de turismo, entre outros fatores, se pode afirmar que o turismo em Coremas
é uma atividade em expansão.
Assim, destaca-se a necessidade de melhor utilização, quantitativa e
qualitativamente, da oferta turística, entendida como a soma dos recursos naturais e
culturais que constituem a matéria-prima da atividade, pois esses elementos são os
responsáveis pela afluência de turistas (BENI, 2000). Desta forma, é indiscutível o
valor turístico que pode ser agregado à paisagem, ao açude, ao ambiente natural, a
cultura e suas manifestações no município, para que sejam efetivamente atrativos e
permitam os possíveis benéficos resultantes do turismo.
Entende-se como atrativo turístico “todo lugar, objeto ou acontecimento de
interesse turístico que motiva o deslocamento de grupos humanos para conhecê-los”
(BENI, 2000, p. 297). Os atrativos turísticos do município compreendem, em sua
maior parte, o ambiente natural, principalmente as águas (os açudes), como também
as festas populares e a gastronomia, que é centrada no peixe, em especial o
tucunaré.
Como não é objetivo deste trabalho a realização de um diagnóstico completo
dos atrativos turísticos em Coremas
26
são apontados os principais atrativos,
considerando o ponto de vista do autor e dos entrevistados na pesquisa de campo:
- os açudes e suas ilhas (Figura 10);
25
Fonte: pesquisa de campo. No próximo capítulo estes postos de trabalho são detalhados na
“dimensão econômica”.
26
Este diagnóstico foi feito como atividade acadêmica no curso de graduação pelo autor e outros
graduandos.
82
- o rio Turbina (Figuras 11 e 13);
- o Canal da Redenção (Figura 12);
- a sangria do açude Mãe D’água (Figura 15);
- a pesca e o peixe (Figuras 16 e 17);
- as festas populares: carnaval (Figura 13), São João, Festa do Peixe
(Figura 14) e Semana Universitária;
- as comemorações religiosas: semana santa e festa de Santa Rita
(a padroeira) (Figuras 18 e 19);
Figura 10: Vista parcial do açude
Coremas. Out., 2006
Fonte: Davi Andrade, 2006
Figura 12: vista parcial do Canal da
Redenção e a barragem da Mãe D’água.
Jan., 2000
Foto: Davi Andrade, 2000
Figura 11: Vista parcial do rio Turbina.
Out., 2006
Fonte: Davi Andrade, 2006
Figura 13: carnaval no “rio Turbina”. Fev.,
2006
Foto: Davi Andrade, 2006
83
Figura 14: “portal” de entrada na Festa do
Peixe. Out., 2005
Foto: Davi Andrade, 2005
Figura 15: “Sangria” do açude Mãe D’água.
Abril, 2005
Foto: Davi Andrade, 2006
Figura 18: Imagem de Santa
Rita de Cássia, padroeira de
Coremas, durante a “festa”.
Out., 2006
Foto: Davi Andrade, 2006
Figura 19: Missa em frente à
Igreja Matriz, durante a festa da
padroeira. Out. 2006
Foto: Davi Andrade, 2006
Figura 16: pescador com um
Tucunaré. Dez., 2004
Foto: Pe. José Roberto, 2004
Figura 17: canoas utilizadas para a
pesca e transporte. Out., 2006
Foto: Davi Andrade, 2006
84
Nos atrativos citados acima se verifica atualmente a maior afluência de visitantes e
turistas, com destaque para as festas e comemorações religiosas. Contudo, se executado
algum planejamento com este fim, vários outros recursos no município podem incrementar o
conjunto destes atrativos, como:
- a vila do DNOCS;
- a hidroelétrica;
- o sangradouro (local de “união” entre os açudes) (Figura 20);
- o artesanato (Figura 21);
- a Capelinha de Santa Terezinha (Figura 22);
- as serras, para a realização de trilhas ecológicas (Figura 23);
No Capítulo 6, estes aspectos relacionados com turismo em Coremas são
analisados sob a perspectiva da sustentabilidade.
Figura 22: Capelinha de Santa Terezinha,
em Coremas.Maio, 2005
Foto: Davi Andrade, 2005
Figura 21: Artesanato, “louças de barro”, de
Dona Francisca. Dez., 2005
Foto: Pe. Zé Roberto, 2005
Figura 20: Sangradouro, onde os açudes são
interligados. (s/d)
Foto: Missim Fotografia, s/d.
Figura 23: Jovens “subindo” a Serra de
Santa Catarina, em Coremas. Fev., 2006
Foto: Davi Andrade, 2006
85
5. METODOLOGIA
Quanto à sua abordagem, esta é uma pesquisa descritiva e explicativa (GIL,
2002), procura descrever variáveis e estabelecer relações entre elas; destacando a
natureza dessas relações e especificar as condições necessárias em que se
desenrolam, bem como discute a articulação dos fatores políticos, econômicos,
ambientais e sociais que sustentam a problemática.
Quanto aos procedimentos metodológicos para alcançar os objetivos
apresentados, em especial, o objetivo maior de conhecer a sustentabilidade da
atividade turística no município de Coremas, não se limitam a um único
delineamento, inclusive por não encontrar um “modelo metodológico” pronto e que
se adequasse aos objetivos deste trabalho. Assim, destacam-se:
- identificação do problema de estudo;
- elaboração da hipótese;
- levantamento bibliográfico;
- participação em reuniões governamentais sobre o tema em estudo;
- participação em eventos acadêmicos e eventos de divulgação do turismo
paraibano;
- elaboração dos formulários de entrevista semi-estruturada;
- definição da população e amostragem;
- aplicação das entrevistas;
- tratamento e análise dos dados;
- conclusão e apresentação do relatório de pesquisa;
86
5.1 Técnicas de pesquisa e instrumentos para coleta de dados
Para a análise documental, foi formado um corpus a partir dos planos,
programas e projetos (atuais e os já extintos) do Governo Federal, do Governo do
Estado e do Governo Municipal voltados para o turismo. São eles: a nível federal –
PNMT (1996), Plano Nacional de Turismo (2003) e Programa de Regionalização do
Turismo (PRT) (2003); a nível estadual - PLANTUR (1992), PRODETUR – PB
(1994); Plano Amanhecer (2000); Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo
Sustentável (PDITS) da Paraíba (2004) e o Programa de Regionalização do Turismo
da Paraíba (2004). Na esfera municipal os documentos encontrados foram apenas
projetos para captação de recursos para a realização dos eventos turísticos, pois
não há, nem nunca houve no município, um plano municipal de turismo, ou outro
documento, que revele as macro políticas de planejamento e organização da
atividade.
Entre os aspectos observados nestes documentos se deu ênfase às ações
que demonstram a descentralização espacial destas políticas e sua abrangência no
interior do estado; seus objetivos; os conceitos de desenvolvimento e
sustentabilidade; e, quando possível, os resultados alcançados.
Para conhecer as ações do governo local no município de Coremas utilizou-
se das entrevistas e da observação no campo, principalmente, destacando-se as
análise das concepções de sustentabilidade, meio ambiente e desenvolvimento
relacionadas ao turismo nas falas dos entrevistados. Para isso considerou-se a
metodologia de análise de conteúdo, que por meio de categorias, “isola temas de um
texto e extrai as partes utilizáveis, de acordo com o problema pesquisado”
(RICHARDSON, 1999, p. 243).
Na pesquisa de campo, foram observados os múltiplos aspectos da atividade
turística no município, que permitem, ou não, o desenvolvimento turístico
sustentável.
Os Indicadores de Sustentabilidade do Turismo (OMT, 2003) e os Princípios
do Turismo Sustentável (CBTS, 2002) compõem o referencial para este estudo,
como também outros aspectos abordados na literatura específica sobre o
87
desenvolvimento sustentável do turismo, comparando a realidade local com este
referencial. Optou-se por uma abordagem mais qualitativa nesta análise, inclusive
pela inexistência de estudos, ou levantamentos anteriores sobre os aspectos da
sustentabilidade do turismo no município, considerando-se a observação direta no
campo e as entrevistas realizadas. Por exemplo, um indicador apontado pela OMT é
“o número de turistas que visitam o local (ano/mês de pico)”, para esta pesquisa não
foi possível obter estes dados, pois não existe um levantamento para quantificar o
número de turistas que visitam o município de Coremas. Contudo, pela observação
no campo, pelo registro fotográfico, e pelas entrevistas durante a pesquisa, é
possível estimar sobre o excesso ou não do número de visitantes/turistas na
localidade.
Para as entrevistas elaborou-se formulários abordando aqueles aspectos do
turismo sustentável, nas dimensões ambiental/ecológica, econômica, social e
cultural, com base nos Indicadores de Sustentabilidade e nos Princípios do Turismo
Sustentável (apresentados no Capítulo 1) e em Kobelinski (2005).
O formulário é composto de perguntas abertas e fechadas, buscando oferecer
maior liberdade aos entrevistados em suas respostas. Algumas destas questões
foram aplicadas a todos os atores, enquanto outras foram abordadas de acordo com
o ator social/setor entrevistado
27
.
O instrumental foi submetido à realização de pré-testes buscando atender aos
objetivos da pesquisa e corrigir possíveis deficiências.
Para algumas entrevistas, (com o Prefeito, o “Secretário de Turismo”, a
Secretária de Educação, e representantes da comunidade local e da sociedade civil
organizada) utilizou-se gravador de áudio digital como instrumento de pesquisa, com
prévia autorização, a fim de registrar a maior quantidade de detalhes em suas falas.
Nas demais entrevistas, onde não se utilizou este equipamento tomou-se notas de
informações relevantes, além das respostas ao formulário.
Destaca-se a importância do procedimento de observação direta, pelo
pesquisador, principalmente na identificação dos impactos negativos do turismo já
existentes, pois a maioria da população não os percebe, como será detalhado ao
apresentar os resultados. Estas observações foram registradas em diário de campo.
27
Os formulários de entrevista estão como Apêndices neste trabalho.
88
Após a realização das entrevistas elaborou-se o banco de dados, para
tratamento posterior.
As entrevistas foram realizadas de acordo com a disponibilidade dos
entrevistados. Em todos os grupos verificou-se uma postura pró-ativa para participar
da pesquisa, que foi previamente apresentada, por meio dos seus objetivos, sendo
inclusive entregue ao entrevistado cópia do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ver Apêndice G) que foi assinado pelos informantes.
5.2 População e amostragem
A população considerada neste estudo é composta pelos atores que estão
direta e indiretamente ligados ao turismo no município, tais como representantes do
governo, da comunidade local, da iniciativa privada, dos pescadores, da sociedade
civil organizada e dos turistas.
Para seleção da amostra foi utilizado tanto o critério de intencionalidade, ou
não-probabilístico, como o critério de amostragem probabilística simples.
No primeiro grupo, os elementos são selecionados de “acordo com certas
características estabelecidas no plano e nas hipóteses formuladas pelo pesquisador”
(RICHARDSON, 1999, p. 161). Aqui estão: os representantes da iniciativa privada,
do governo, da sociedade civil organizada, dos pescadores e da comunidade local.
No segundo grupo, “todos os componentes do universo devem ter igual
oportunidade de participar da amostra” (RICHARDSON, 1999, p. 176), aqui estão os
representantes dos turistas.
Desta forma, compõem a amostra:
Iniciativa Privada: com o intuito de “conhecer” o trade turístico do município,
uma vez que não existe nenhum levantamento sobre este setor, foram realizadas
entrevistas com todos os proprietários de meios de hospedagem (4 entrevistas), e
com os proprietários dos equipamentos de alimentação e bebida que estão mais
89
ligados à atividade turística (17 entrevistas), seja por sua localização ou outros
fatores. Para esta escolha contamos com a ajuda do “Secretário de Turismo” do
Município. As entrevistas foram realizadas nos meses de Agosto (primeira parte) e
Outubro (segunda parte), período próximo à realização da Festa do Peixe e da Festa
de Santa Rita de Cássia (a padroeira), em Coremas.
Poder Público: foram entrevistadas pessoas ligadas à Prefeitura Municipal
de Coremas: prefeito, secretária de educação, secretária de ação social e “secretário
de turismo”; e ainda dois vereadores, um do partido de oposição política e o outro da
situação. Totalizando, neste grupo, seis (6) entrevistas, durante o mês de Outubro
de 2006. Os formulários de entrevista para estes representantes não são idênticos,
tendo sido utilizado um roteiro mais “complexo” para a entrevista com o prefeito e
com o “secretário de turismo” do município.
Comunidade Local: foram escolhidos representantes da comunidade que
não têm vínculo direto com o trade turístico, e que residem próximo aos açudes ou
ao rio (locais de visitação e interesse turístico) ou no centro da cidade (onde
acontecem os eventos e festas populares), apesar de procurar compor uma
amostragem aleatória, dentro dos requisitos acima, preocupou-se em eleger
pessoas de diferentes faixas-etárias, sendo realizadas vinte e quatro (24)
entrevistas, durante o mês de Outubro de 2006.
Sociedade Civil Organizada
28
: ao perceber o destaque que estes grupos
estão tendo no município e sua ligação com a atividade turística, deu-se atenção a
uma análise isolada das opiniões destes representantes. Assim, compõem este
grupo: Associação dos Moradores de Mãe D’Água (Asmad), Cooperativa da União
Agropecuária dos Irrigantes e Psicultores de Coremas (Couaipic), Colônia de
Pescadores Z-7, Associação Cultural e Recreativa de Coremas (ACRC). Sendo
realizadas entrevistas com seus respectivos presidentes, totalizando quatro (4)
entrevistas, realizadas no mês de Outubro de 2006.
Pescadores: pela importância da pesca no município e pela sua relação com
o turismo, também foi destacado este grupo do grupo comunidade local, pois em
alguns aspectos o turismo alcança principalmente estas pessoas. Foram realizadas
quatro (4) entrevistas (além da entrevista com o representante da Colônia de
28
No “Apêndice H” encontra-se uma breve caracterização destas “organizações”.
90
Pescadores, que está no grupo da sociedade civil organizada), inclusive com
pescadores que compõem a diretoria da Colônia, em Outubro de 2006.
Turistas: um dos requisitos para a sustentabilidade do turismo é a satisfação
do turista. Aliado à importância de ter algum conhecimento sobre o “perfil” do turista
que visita o município, foram realizadas dezesseis (16) entrevistas com turistas
durante a Segunda Festa do Peixe, em Setembro de 2006, que permitiram melhor
identificar as deficiências na infra-estrutura turística e de apoio em Coremas.
5.3 Processamento e análise dos dados
Depois de formado o banco de dados, as respostas foram tabuladas no
software Statistica 6.0. Para o tratamento das respostas às perguntas abertas foram
estabelecidas categorias, de acordo com a similaridade das respostas, e de acordo
com os objetivos da pesquisa.
Para a análise estatística utilizou-se do software Statistica 6.0, da companhia
norte-americana Statsoft.
91
6. RESULTADOS
Neste capítulo chega-se ao ápice deste trabalho, onde são apontados os
aspectos que evidenciam a sustentabilidade e/ou insustentabilidade do turismo no
município de Coremas.
É preciso destacar que, por ser um local intimamente conhecido pelo
pesquisador, e de seus laços afetivos com o lugar, tenta-se evitar possíveis juízos
de valor. Estes resultados surgem a partir das entrevistas realizadas, do referencial
teórico, da formação acadêmica do pesquisador e da observação in loco.
6.1 A (In)Sustentabilidade do Turismo em Coremas-PB
Para análise e apresentação dos resultados, segue-se o seguinte formato:
Com base no indicador e/ou princípio de sustentabilidade foi definida uma
questão para análise”, que foi comparada com a realidade observada, de acordo
com a visão dos atores envolvidos no processo e com o olhar do pesquisador.
A sustentabilidade do turismo geralmente está relacionada com os impactos
que a atividade vem causando ou pode causar no destino turístico. Logo, a análise
destas questões compreende também a identificação dos impactos do turismo no
local, que corresponde a um dos objetivos específicos neste trabalho.
Para melhor compreensão, as questões são apresentadas no contexto da
dimensão ecológica/ambiental, econômica, social e cultural, contudo alguns
aspectos abrangem, na prática, mais de uma dimensão.
6.1.1 A dimensão ecológica/ambiental:
Nesta dimensão são destacados alguns aspectos que relacionam o
ambiente natural com o turismo em Coremas.
92
“Questão 1” - O turismo contribui para a proteção e conservação do ambiente
natural e de sua biodiversidade?
A água é elemento central no ambiente natural em Coremas. A inclusão do
município no “Roteiro do Ecoturismo e Turismo de Aventura” demonstra a estreita
relação da atividade com o meio natural, ainda que em caráter mais potencial que
real.
O turismo tanto pode ser um meio de “proteção” como de “degradação”
ambiental. No município de Coremas, foi verificado que a maioria dos entrevistados
não percebe esta possibilidade de degradação do ambiente natural por meio do
turismo, apesar de ela já existir, como apontaram alguns entrevistados.
Na Tabela 01 apresenta-se as respostas dos entrevistados sobre a
possibilidade de problemas/prejuízos no/ao meio natural como conseqüência do
turismo em Coremas.
TABELA 1 - Resposta dos entrevistados em relação à possibilidade de
danos provocados pela atividade turística ao ambiente
natural em Coremas
Grupo/Resposta Sim Não
Não sabe
TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade
33,3 8 62,5 15 4,2 1
100
24
Governo
50,0 3 50,0 3 - -
100
6
Iniciativa Privada
33,3 7 66,7 14 - -
100
21
Pescadores
60,0 3 40,0 2 - -
100
5
Sociedade Civil
50,0 2 50,0 2 - -
100
4
Todos 38,3 23 60,0 36 1,7 1 100 60
Com a análise das respostas verifica-se que a maioria dos entrevistados
(60%) não acredita que a atividade turística trás/ou pode trazer algum prejuízo ao
ambiente natural. Considerando os grupos isoladamente, esta realidade é
semelhante na Comunidade Local e na Iniciativa Privada, onde a maioria dos
entrevistados também não percebe aquela possibilidade. Entre os representantes do
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
93
Governo e da Sociedade Civil, metade acredita na possibilidade destes danos, e
metade não acredita. Apenas no grupo dos Pescadores a maioria percebe que o
turismo pode trazer prejuízos ao ambiente natural, acredita-se que a proximidade
deste grupo com os açudes contribui para essa percepção.
Os principais impactos negativos apontados pelos que percebem os atuais e
os possíveis danos ao ambiente natural, lembrando que a água destaca-se neste
ambiente, são:
- poluição e contaminação das águas;
- perturbação do ambiente aquático;
- assoreamento do açude;
Quando se percebe os impactos do turismo no ambiente natural, a água ou os
açudes são os principais ambientes onde estes danos acontecem. Com isso, na
Tabela 02 apresenta-se as opiniões dos entrevistados sobre as ações dos governos
municipais, em gestões anteriores, voltadas para a conservação/manutenção destes
ambientes.
TABELA 02 - Opinião dos entrevistados sobre as ações dos governos
municipais, em gestões anteriores (antes de 2005), para a
conservação/manutenção dos açudes
Grupo/Resposta
Agiu com
descaso
Realizou
ações de
manutenção
Não fez nada
porque o açude
é de
responsabilidade
Federal
Agiu com
pouca
preocupação
Não Sabe
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 58,3
14
12,5
3
12,5
3
4,1
1
12,5
3
Governo 33,3
2 - - - -
50
3
16,7
1
Iniciativa Privada 85,7
18
9,5
2 - - - -
4,7
1
Pescadores 60
3
40
2 - - - - - -
Sociedade Civil 75
3 - - - -
25
1 - -
Todos 68,4 41 13,3 8 5 3 5 3 8,3 5
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
94
Na Tabela 03 as respostas dos entrevistados sobre as ações do atual
governo municipal em prol da conservação/manutenção dos açudes:
TABELA 03 - Respostas dos entrevistados sobre as ações do governo
municipal atual (a partir de 2005) em prol da
conservação/manutenção dos açudes
Grupo/Resposta
Age com
descaso
Vem
realizando
ações de
manutenção
Não fez nada
porque o açude
é de
responsabilidade
Federal
Age com
pouca
preocupação
Não Sabe
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 45,8
11
33,3
8
12,5
3
-
-
8,3
2
Governo 16,7
1
66,6
4 - -
16,7
1
-
-
Iniciativa Privada
66,7
14
28,6
6 - - - -
4,7
1
Pescadores 60
3
40
2 - - - - - -
Sociedade Civil
- -
75
3
25
1
Todos 48,3 29 38,3 23 3,3 2 3,3 2 5 3
Sobre as ações do governo municipal atual, os entrevistados apontam um
aumento na preocupação em “cuidar” dos açudes, pois 38,3% disseram que este
governo vem realizando ações de manutenção dos açudes, enquanto apenas 13%
(8 pessoas) apontaram que existiu esta preocupação nos governos anteriores.
Todos os grupos sinalizam para atenção do governo atual, comparando com os
governos anteriores. Contudo, a maioria dos entrevistados ainda considera que o
governo local age com descaso, exceto os representantes do governo. Mesmo neste
grupo há quem afirme que ainda se mantém uma postura de descaso ou de pouca
preocupação para com os açudes, sendo destacado em suas falas que “começou a
se fazer algo, mas ainda é pouco”
29
.
Foram apontadas como ações positivas do governo atual:
29
Fala de um “representante do ‘grupo’ governo”, durante a entrevista.
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
95
- a limpeza das margens do açude: onde a comunidade foi convidada a
participar e participou desta ação;
- manutenção na estrutura da parede do açude; e
- reposição de peixes das espécies “tilápia” (Oreochromis niloticus) e
“tambaqui” (Colossoma macropomum);
Por outro lado, alguns entrevistados, exceto os representantes do governo,
apontaram a realização da Festa do Peixe às margens do Açude Coremas (Figura
24) como uma demonstração de descaso e de mau exemplo por parte do governo
local, apesar de reconhecerem os benefícios que o evento traz ao município.
De acordo com as entrevistas e a observação in loco durante as duas versões
da Festa do Peixe, em Outubro de 2005 e Setembro de 2006, aponta-se como
impactos negativos deste evento no ambiente natural:
Figura 24: Parte da estrutura da Festa do Peixe nas margens do Açude
Coremas. (Out., 2005)
Foto: Davi Andrade
96
- perturbação do ambiente aquático: com a retirada de plantas que servem
para alimentação e abrigo dos peixes, assim como a movimentação de barcos, jet
skys e pessoas nas competições;
- poluição das águas e das margens do açude: alguns proprietários das
barracas instaladas durante a festa lavam utensílios usados no preparo da comida
na água do açude; outras pessoas jogam restos de comidas, plástico e latas de
alumínio (Figura 25);
- poluição sonora: não existe controle do volume dos sons dos automóveis.
Durante a pesquisa de campo, na realização das entrevistas com os turistas, tornou-
se impossível “conversar” devido o volume elevado;
- transformação da paisagem natural em paisagem urbanizada: com a
construção de estruturas físicas permanentes, sem estudos de impacto ambiental;
Figura 25: Lixo nas margens do açude Coremas depois da realização da Festa
do Peixe. (Set., 2006)
Foto: Davi Andrade
97
- assoreamento do açude: segundo alguns entrevistados foi preciso colocar
areia nas margens do açude a fim de aumentar o espaço para a realização do
evento.
Um impacto positivo, relacionado com o ambiente natural, é a aproximação da
comunidade e dos visitantes com o açude, considerando que esta aproximação
pode levar a uma valorização da paisagem e do ambiente natural, conduzindo à
contestação destes impactos negativos enquanto práticas comuns no município.
O ambiente natural em Coremas vem sofrendo impactos também durante a
realização do Carnaval, às margens do Rio Turbina, onde pouco tem sido feito para
que se evite a poluição das águas e das margens do rio. (Figuras 26 e 27).
Figura 26: lixo nas margens do rio Turbina (margem esquerda) durante o
carnaval. (Fev.,2006)
Foto: Davi Andrade
98
Com a verificação destes impactos positivos e negativos - por exemplo, a
prefeitura limpa as margens do açude para a realização da Festa do Peixe, e
durante a festa as pessoas poluem as águas e margens do açude, inclusive pela
inexistência de lixeiras no local do evento em 2006, e ainda que seja feita nova
limpeza depois do evento, não se consegue tirar todos os resíduos, que inclusive
são levados pelo vento para além das margens, além de caracterizar um mau
exemplo do governo local em relação à conservação ambiental - remete-se ao que
foi destacado no Capítulo 1 deste trabalho, sobre os custos e benefícios da atividade
turística (SWARBROOK, 2002), entendendo-se que estes custos e benefícios
transpõem a esfera econômica.
Neste caso, é preocupante a falta de análise e ações de intervenção, por
parte dos governantes e da comunidade em geral, dos custos e dos benefícios de
um evento como a Festa do Peixe
30
em um ambiente até então natural
31
.
30
Os impactos econômicos, sociais e culturais destes eventos, serão apontados adiante.
31
Apesar de os açudes serem uma realização humana, são classificados como atrativo turístico
natural (BENI, 2001), e a paisagem em seu entorno remete a um ambiente natural.
Figura 27: a única lixeira colocada próximo ao rio (margem direita), onde
acontece o carnaval. (Fev., 2006)
Foto: Davi Andrade
99
Este descaso com os Açudes não é atribuído apenas aos governantes ou ao
turista, a própria comunidade local admite que “não se preocupa com a conservação
dos açudes e de suas águas”, como é demonstrado na Tabela 4.
TABELA 4 - Resposta dos entrevistados sobre a preocupação da comunidade
em conservar os açudes e suas águas
Grupo/Resposta
Tem
preocupação
Não tem
preocupação
Outros
Comentários
Não sabe
TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 41,6
10
54,2
13
-
-
4,2
1
100
24
Governo 33,3
2
66,7
4
-
-
-
-
100
6
Iniciativa Privada 33,3
7
66,7
14
-
-
-
-
100
21
Pescadores 60
3
20
1
20
1
-
-
100
5
Sociedade Civil 25
1
25
1
50
2
-
-
100
4
Todos 35 21 55 33 8,3 5 1,7 1 100 60
Para a maioria dos entrevistados (55%) a comunidade não se preocupa com
os açudes. Uma minoria (8,3%) afirma que alguns se preocupam e outros não, ou
que está começando a despertar a preocupação em cuidar dos açudes. Analisando
as opiniões de cada grupo isoladamente, destaca-se que quase 67% dos
representantes do governo e da iniciativa privada apontam para esta não
preocupação. Pode se afirmar que a comunidade local reconhece tanto o descaso
do governo, quanto da própria comunidade para com a conservação dos açudes.
Para a maioria dos pescadores entrevistados (3 deles) a comunidade local se
preocupa com os açudes. Considerando a proximidade do pescador com os açudes,
lhes foi perguntado como eles percebem a relação “dos pescadores” com os açudes.
Três afirmaram que o pescador se preocupa com o açude, um disse que alguns sim
e outros não, o último disse que a maioria dos pescadores não se preocupa com os
açudes, e acrescentou: “o pescador é predador, eu contei mais de vinte e cinco
espingardas de pescador, rede de arrasto, a malha miúda, e ainda derrama óleo no
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out.2006
100
açude”. Para outro pescador “aos poucos estão se conscientizando e deixando de
fazer isso”. De acordo com alguns entrevistados, essa “não preocupação” é
verificada na ocupação desordenada das margens do açude Coremas, pelo
consentimento da realização da Festa do Peixe nas margens do açude, e pela
omissão da comunidade diante destes fatos.
Segundo o prefeito do município, apesar de compreender a importância da
proteção ambiental aliado ao desenvolvimento turístico, na sua gestão ainda não
existem ações mais específicas direcionadas para a proteção/conservação do meio
ambiente, destacando que “existe a intenção de criar a diretoria do meio ambiente, e
fazer tratamento dos esgotos, mas até agora nada mais específico”.
Durante a entrevista, o pesquisador apontou que a retirada do “lixão” de uma
área próxima a residências e a montante do “rio Turbina”, para o “aterro sanitário”
32
,
em local afastado, é uma ação voltada para conservação do ambiente natural.
Com isso, em relação à “Questão 1”, conclui-se que, ao contrário do que se
propõe como sustentabilidade ambiental via atividade turística, as práticas de
turismo em Coremas, em especial o turismo de eventos em ambientes naturais, nas
margens do rio e dos açudes, ainda não constituem, efetivamente, uma contribuição
para a conservação do ambiente natural e de sua biodiversidade. Considerando
ainda as respostas apresentadas na Tabela 1, onde a maioria dos entrevistados não
percebe que a atividade turística pode prejudicar o ambiente, pode se dizer que é
improvável que se busque proteger ou conservar algo que “não corre riscos”. Assim,
é primordial que a comunidade em geral e o governo local percebam os impactos
negativos reais e potenciais causados pelo turismo, para que busquem minimizá-los,
compreendendo a relação entre ambiente, cidadania e qualidade de vida.
Retomando o tema dos resíduos, a próxima questão analisada em Coremas,
referente à dimensão da sustentabilidade ecológica/ambiental é:
“Questão 2” – No município existe gerenciamento dos resíduos
líquidos e sólidos?
32
Utilizou-se aspas para enfatizar que assim é chamado o “novo local” de destino dos resíduos
sólidos. Segundo outro informante, este local não atende às normas de um aterro sanitário,
continuando o lixo a ser depositado a céu aberto.
101
O município é cortado pelo rio Piancó (afluente do rio Piranhas), que
atualmente é o destino de toda a rede de esgotos da cidade, sem qualquer
tratamento.
Este rio, ao passar pela zona rural, tem vários usos, como: irrigação, uso
doméstico e lazer. Atualmente, algumas famílias abastecem suas residências com
água dos açudes particulares ou, para beber e cozinhar, com água da chuva,
captada em cisternas.
No mesmo sentido, a ocupação desordenada das margens do açude
Coremas (Figura 28), sem rede de esgotos, implica no risco de que resíduos das
fossas sépticas destas residências, ou até mesmo os esgotos a céu aberto atingam
às águas do açude, que por sua vez chegam as residências das pessoas sem
tratamento prévio.
Durante as entrevistas, foi apontado pelo representante da Cooperativa da
União Agropecuária dos Irrigantes e Psicultores de Coremas (COUAIPIC) que nas
comunidades rurais localizadas nas ilhas dos açudes se começa a ter a
preocupação com os esgotos residenciais que também chegam aos açudes in
natura.
Figura 28: Ocupação desordenada nas margens do açude Coremas. (Out., 2006)
Foto: Davi Andrade.
102
Com isso procurou-se identificar como é o esgotamento sanitário dos
equipamentos turísticos - bares, restaurantes e pousadas - em Coremas. Os
resultados estão na Tabela 05.
TABELA 05 - Tipo de esgotamento sanitário nos equipamentos turísticos em
Coremas (agosto/2006)
Tipo/Quantos equipamentos % Abs.
Rede de Esgotos 57,1
12
Fossa Séptica 28,6
6
Fossa Séptica e Rede de Esgotos 4,8
1
Não há esgotamento 9,5
2
TOTAL 100 21
Verifica-se que a maioria dos equipamentos turísticos (considerados nesta
pesquisa) está ligada a rede de esgotos (57,1%). Contudo, estes esgotos são
despejados no rio, ao passar pelo centro da cidade. Os equipamentos que estão
mais afastados do centro urbano, localizados às margens do açude ou dos rios,
utilizam fossa séptica e/ou rede de esgotos (33,4%). Merece destaque dois
equipamentos localizados na zona rural, no sítio Mãe D’Água, a jusante do açude de
mesmo nome e que têm seus esgotos a céu aberto, desaguando no “rio da Mãe
D’água”, que também tem aqueles usos pelas comunidades rurais. Estes
equipamentos estão em funcionamento à aproximadamente 30 e 15 anos
respectivamente. Ainda no sítio Mãe D’água está outro bar/restaurante, com
aproximadamente 10 anos de funcionamento. Nestes equipamentos existem
piscinas e “bicas” que, junto à paisagem natural e a gastronomia, atraem muitos
clientes, sejam moradores ou turistas. Verifica-se que atualmente vem surgindo
novos bares/restaurantes nesta comunidade, inclusive mais próximos às margens do
rio.
No sítio Mãe D’Água além da inexistência do esgotamento sanitário, o
principal destino dos resíduos sólidos é a queima, pois não existe coleta regular.
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
103
Na Tabela 6 observa-se qual é a freqüência da coleta de lixo nos
equipamentos turísticos.
TABELA 6 – Freqüência da coleta de lixo nos equipamentos turísticos em
Coremas (agosto/2006)
Intervalo de tempo/valor % Abs.
Todos os dias 57,1
12
A cada dois dias 28,5
6
Não há coleta regular 14,2
3
TOTAL 100 21
A coleta de lixo no município, assim como a limpeza das ruas e espaços
públicos não é realizada pela prefeitura, e sim, sendo responsabilidade de uma
empresa contratada pelo governo local. Contudo, recentemente, as pessoas
responsáveis pela limpeza das ruas (as “varredeiras”) declararam greve devido ao
atraso no pagamento dos salários, demonstrando falta de eficiência na
administração destes serviços.
De maneira geral, a freqüência da coleta de lixo atende às necessidades
destes equipamentos, visto que na maioria deles (18 equipamentos) esta coleta
acontece diariamente ou a cada dois dias. No entanto, segundo um proprietário de
bar/restaurante, localizado no sítio Mãe D’Água o lixo produzido na comunidade
sempre foi queimado, até que, este ano, quando o açude Mãe D’Água estava
sangrando, e tinha muita gente tomando banho no rio e visitando a “sangria”, alguém
da prefeitura viu o dono de um bar jogando lixo na água. Este disse que jogava
porque não tinha onde colocar. Assim foi prometido pela “pessoa da prefeitura” que
o caminhão da coleta de lixo passaria na comunidade. A coleta aconteceu algumas
vezes, mas agora não acontece mais e eles continuam queimando o lixo.
Durante visita de campo, em Abril de 2006, no principal acesso (terrestre) ao
açude da Mãe D’Água, verificou-se a deposição de resíduos provenientes de uma
granja, às margens da estrada (Figura 29). Além da poluição visual, o acúmulo de
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out.2006
104
insetos, o mau cheiro incomodava aos que ali passavam. Nesta época muitas
pessoas visitaram o local, motivadas pelo espetáculo da sangria do açude.
Pode-se concluir que o destino dado aos resíduos líquidos (esgotos) em
Coremas acarreta danos ao ambiente natural e, provavelmente a saúde das
pessoas, sendo preciso um estudo mais específico para qualificar e quantificar estes
danos.
Com a mudança do local de deposição dos resíduos sólidos produzidos no
município, para um local mais afastado (que aparentemente é menos prejudicial ao
ambiente e às pessoas), como foi apontado na questão anterior, verifica-se uma
ação concreta do governo para este gerenciamento. Contudo, esta ação abrange
apenas a zona urbana.
Considerando que o turismo em Coremas acontece também na zona rural,
em especial no sítio Mãe D’água, o interesse no desenvolvimento da atividade, por
parte dos governos, deve considerar esta deficiência, que também afeta outros
setores da administração pública e da vida das pessoas, como a saúde.
Figura 29: lixo na estrada que dá acesso ao açude Mãe D’água. (Abril, 2006)
Foto: Davi Andrade
105
A mudança deste quadro também passa pela mobilização social, e a
sensibilização da comunidade sobre o destino dos resíduos líquidos e sólidos. No
contexto do ambiente rural, a próxima questão em análise é:
“Questão 3” - Evita-se a descaracterização da paisagem natural?
A paisagem sertaneja e seus elementos, clima, flora, fauna, em si constituem
um atrativo turístico, principalmente para as pessoas que vivem em regiões de clima
temperado ou no litoral. E quando aliados aos elementos da cultura, adquirem mais
destaque entre os atrativos turísticos do nordeste, constituindo um diferencial do
modelo de turismo de sol e praia.
Seabra (2001, p. 93) apresenta o Turismo Sertanejo como “uma forma de
lazer fundamentada na paisagem natural, no patrimônio cultural e no
desenvolvimento social das regiões interioranas do Brasil”. O autor destaca ainda a
preocupação dessa modalidade de turismo com a preservação dos recursos naturais
e culturais, da valorização da identidade cultural regional e da melhoria da qualidade
de vida da comunidade local.
O que se observa em algumas localidades é que o descontrole da atividade
contribui para a perda da essência do atrativo turístico. Quando este compreende o
meio natural, isto se dá principalmente na implantação da infra-estrutura turística e
de apoio.
Em Coremas, é possível apontar algumas ações que, aos poucos, vêm
descaracterizando a paisagem natural, principalmente nos locais de visitação
turística, como a implantação de bares/restaurantes nas margens do açude e do rio
(Figuras 30 e 31). Assim, ao mesmo tempo em que é implantada a infra-estrutura
turística, há uma modificação na paisagem natural que potencializa o turismo no
local, dando a entender que essa condição é inevitável.
106
Figura 31: Bares/restaurantes nas margens do “rio Turbina”. (Ago., 2006)
Foto: Davi Andrade, 2006.
Figura 30: bar/restaurante “dentro” do açude Coremas. (Abril, 2006)
Foto: Davi Andrade, 2006.
107
O que se quer apontar é que a implantação destes empreendimentos em
Coremas, não é acompanhada por estudos de impacto ambiental ou estudos de
impacto na paisagem, comprometendo em diversos aspectos o uso sustentável
deste ambiente e do seu valor turístico.
Esta descaracterização da paisagem natural em Coremas está relacionada
com o surgimento da cidade e o seu crescimento urbano, seja em seu passado, com
a construção dos açudes, seja atualmente com a ocupação desordenada de suas
margens.
Percebe-se em Coremas o desejo de “progresso” entendido como o
abandono do passado, e do natural. As fachadas das casas antigas são substituídas
para ganhar feições modernas, as ruas são asfaltadas, as estradas são “calçadas”, a
praça se transforma em “praça de alimentação”, as árvores são pintadas de branco,
entre outros aspectos. Pelo que se vem assistindo em Coremas, torna-se difícil
pensar em “desenvolver” sem descaracterizar a paisagem natural.
Esta realidade é corroborada pela inexistência de um plano diretor, ou outro
documento, que efetivamente ordene a ocupação de seu território. Na próxima
questão aborda-se a inexistência de um plano local para o regimento da atividade
turística.
“Questão 4” - A atividade é regida por um plano de desenvolvimento turístico
local e regional?
O município é contemplado, desde o início dos anos 90 nos Planos Estaduais
para Desenvolvimento do Turismo. Além destes documentos, não foi identificado
nenhum plano a nível local que verse sobre a atividade, e mesmo assim não se
conhece os resultados concretos desta participação nas políticas de turismo.
Em relação às políticas estaduais e federais para o turismo na Paraíba, pode-
se afirmar que elas vêm tendo pouco êxito nos municípios interioranos. Como é o
caso do PNMT, que de maneira geral propunha-se a “fomentar o desenvolvimento
do turismo nos Municípios com base na sustentabilidade econômica, social,
ambiental, cultural e política” (BRASIL, 2002), fortalecendo o planejamento do
turismo no município. Durante a pesquisa de campo, junto ao atual governo
108
municipal, não foi encontrado qualquer vestígio das ações do PNMT em Coremas, e
tanto o prefeito, como o “secretário de turismo” não conhecem estas ações.
Segundo uma funcionária da prefeitura foram realizadas, na época do PNMT
33
,
algumas oficinas de capacitação no município e encaminhado ao então Ministério do
Esporte e Turismo, o Roteiro de Informações Turísticas - RINTUR. Baseando-se nas
informações apresentadas neste relatório, o Ministério não incluiu Coremas na
relação dos municípios turísticos (MT) ou com potencial turístico (MPT), no ano de
2002. (BRASIL, 2002)
Mesmo fazendo parte do Programa Roteiros do Brasil não foi tornado público
pelo governo municipal atual, ou pelos anteriores, algum plano local para orientar o
desenvolvimento da atividade, assim deixa-se a etapa de “municipalização” do
turismo, chegando a “regionalização” sem mudanças substanciais na gestão local do
turismo, como na maioria dos municípios do interior da Paraíba. Foi verificado, que a
maioria dos entrevistados (76,6%) não sabe que Coremas está incluída no atual
Programa de Regionalização do Turismo ou em qualquer outro programa
governamental para o desenvolvimento do turismo, como se vê na tabela 07.
TABELA 7 - Respostas dos entrevistados sobre o conhecimento da
inclusão de Coremas nas políticas para o turismo do governo
estadual/federal
Grupo/Resposta
Sim, está
incluído
Acha que
sim, mas não
sabe qual
programa
Não Sabe TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 8,3
2
16,7
4
75
18
100
24
Governo 50
3
16,7
1
33,3
2
100
6
Iniciativa Privada 4,8
-
-
1
95,2
20
100
21
Pescadores 20
1
-
-
80
4
100
5
Sociedade Civil 25
1
25
1
50
2
100
4
Todos 11,7 7 11,7 7 76,6 46 100 60
33
Este programa esteve em prática até 2002.
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
109
Com estas respostas conclui-se que a comunidade local, representada por
todos os entrevistados ignora que Coremas participa da política federal e estadual
para desenvolvimento do turismo.
Deve ser destacado que apenas um representante do governo apontou que o
município participa do Programa de Regionalização do Turismo, os demais que
responderam afirmativamente apontaram o “Roteiro da Coluna Prestes”, que está
em fase de elaboração, tendo sido realizada em Agosto de 2006 uma reunião com
diversos setores em Coremas para tratar deste assunto; outros dois representantes
do governo (vereadores) não sabem da participação do município nestes programas,
e para o prefeito, Coremas “participa do programa do governo do estado, do governo
federal não”.
Logo, contesta-se a diretriz da participação comunitária apontada no Plano
Nacional de Turismo, pois como se pode afirmar que a comunidade participa de um
processo se ela nem sabe que ele existe?
Além disso, o município deixa de ganhar os possíveis recursos financeiros
reservados para os que são contemplados nesta política, pois “o município” não
sabe que foi contemplado.
Contudo, a maioria dos entrevistados (88,3%) afirma que o governo municipal
investe no turismo. Como é mostrado na Tabela 8.
TABELA 8 – Opinião dos entrevistados sobre a atuação do governo
local em relação à investimentos no setor turismo
Grupo/Resposta
Sim, o
governo
investe no
turismo
Não investe TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 95,9
23
4,1
1
100
24
Governo 100
6
-
-
100
6
Iniciativa Privada 81
17
19
4
100
21
Pescadores 80
4
20
1
100
5
Sociedade Civil 75
3
25
1
100
4
Todos 88,3 53 11,7 7 100 60
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out.2006
110
Na tabela 09 são apresentadas as formas que o governo investe no turismo,
na opinião dos entrevistados que responderam afirmativamente a questão acima.
TABELA 09 - As ações do governo local que demonstram o investimento no
turismo, na opinião dos entrevistados
Grupo/Resposta
Realização de
Festas
Outros
%
Abs.
%
Abs.
Todos os entrevistados 81,1
43
18,9
10
Assim, verifica-se que a maioria dos entrevistados (81,1%) apontam a
realização de festas como a forma de incentivo do governo municipal para o
desenvolvimento do turismo, e que 18,9% dos entrevistados percebem outras ações
do governo voltadas para a atividade. Estas ações, segundo os entrevistados, são:
- pavimentação do acesso a Vila do DNOCS;
- melhoria da infra-estrutura urbana;
- apoio à instalação de equipamentos turísticos
34
;
- participação em “feiras” de turismo;
- captação de projetos para desenvolver a cidade;
- ações de manutenção e limpeza no açude Mãe D’água;
- criação de novas festas
35
;
- capacitação de “guias de turismo”;
- implantação da secretaria de turismo;
Sobre a “implantação da secretaria de turismo” é preciso fazer alguns
esclarecimentos. Ainda não existe, segundo o prefeito, a Secretaria de Turismo. O
34
O informante se refere ao Bar/Restaurante instalado nas margens do açude, que pertence à
familiares do prefeito.
35
Esta ação será comentada nas questões referentes à sustentabilidade cultural.
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
111
processo de criação desta secretaria encontra-se em tramitação na Câmara
Municipal. Existe uma Diretoria de Cultura, Eventos e Turismo, ligada à Secretaria
de Ação Social. Contudo já “existe” o “secretário de turismo”
36
, que foi entrevistado
como tal, pois assim é reconhecido pelo governo e pela comunidade, sendo o corpo
técnico desta secretaria composto apenas por ele.
Esta situação demonstra que mesmo sendo confirmado o potencial turístico
do município, com sua inclusão em políticas públicas federais e estaduais; e que
mesmo recebendo turistas, e seus respectivos impactos, com certa regularidade
desde a construção dos açudes, os governos locais, até agora não ter a
preocupação necessária para com o setor turístico, que poderia ter resultado na
instituição de uma Secretaria de Turismo, ou na elaboração de um plano municipal
de turismo, sendo inclusive destacado pelo “secretário de turismo” que a inexistência
da Secretaria de Turismo é uma falha dos governos locais. A maioria dos
representantes do governo atual, afirmaram que os governos anteriores não
incentivaram o desenvolvimento do turismo em Coremas.
Sobre as ações da sua gestão em prol do turismo, o atual prefeito afirma
37
:
o que a gente faz lá é turismo de eventos, e pra mim o turismo de eventos
não é propriamente o turismo, é um turismo que é momentâneo, festa eu
não considero como se fosse realmente o turismo. A gente tem que
procurar desenvolver outro tipo de turismo lá que possa explorar aquelas
áreas que a gente tem fantásticas, de margem de açude, a cascata de Mãe
D’Água, e pra isso também a gente tem que procurar melhorar infra-
estrutura pra que o turista chegue lá e possa realmente ver que a cidade ta
bem cuidada, tá limpa. Conscientizar a população, pra que a população
possa passar informações, valorizar as pessoas que chegam lá, de fora,
que muita gente ainda não tem esse esclarecimento. Precisa valorizar pra
que a gente possa levar o nome da nossa cidade mais alto e as pessoas
possam descobrir o que tem, a nossa cidade tem pra oferecer do lado
turístico [...], a gente tem procurado participar de eventos, [...], levar
pessoas pra conhecer a cidade, pra fazer investimento privado, botar
restaurante, botar hotéis, pousadas; tem procurado angariar recursos pra
melhorar a infra-estrutura pra atrair as pessoas [...].
36
Neste trabalho, ao citar o secretário de turismo, utiliza-se aspas (“ ”) para destacar esta
particularidade.
37
Entrevista realizada em João Pessoa, em Novembro de 2006. Ver o formulário de entrevista em
apêndice.
112
Apesar das intenções do governo atual em desenvolver o turismo, e de
compreender que a atividade não se resume à realização de eventos, não existe um
plano local para desenvolvimento da atividade, ou outro instrumento que atenda aos
requisitos de “planejamento e controle” que, de acordo com Ruschmann (1999), é
fundamental para a “evolução harmoniosa da atividade”, refletindo em sua
sustentabilidade.
6.1.2 A dimensão econômica
A visão economicista do turismo, que geralmente encobre as possibilidades
de danos ao local receptor e enfatiza os benefícios econômicos que a atividade pode
trazer, está presente nas falas dos entrevistados, de todos os setores. É inegável
que o turismo vem proporcionando estes benefícios em Coremas, contudo para a
sustentabilidade do turismo, é preciso cuidar para que a busca pelos benefícios
econômicos não exclua a busca pelos benefícios ambientais e socioculturais.
Como primeira questão de análise, nesta dimensão apresenta-se:
“Questão 01” - O turismo é alternativa de trabalho e renda para a
população local?
Para analisar esta questão procurou-se saber quantos postos de trabalho
estão diretamente relacionados com a atividade, considerando estes postos nos
bares, restaurantes e pousadas do município, nos períodos de maior visitação, e
durante as demais épocas do ano (Quadros 6 e 7). E ainda os postos de trabalho
que são criados exclusivamente nos períodos dos eventos (Carnaval e Festa do
Peixe), nas barracas e/ou como vendedores ambulantes (Quadro 8).
113
Observou-se que estes postos de trabalho são ocupados por familiares e, a
maioria, por não familiares, e que apenas 3 pousadas, entre os 21 equipamentos
analisados não contrata mais pessoal durante os eventos.
Quadro 6 - Postos de trabalho nos equipamentos turísticos em
Coremas-PB (ano 2006)
Equipamento/
Postos de
trabalho
Ocupados por
familiares
Ocupados por
não-familiares
TOTAL
Bares/
restaurantes
41 49
90
Pousadas
2 13
15
Bares/restauran
tes + pousadas
43 62 105
Quadro 7 - Postos de trabalho nos equipamentos turísticos em
Coremas-PB durantes os eventos (Carnaval e/ou Festa do
Peixe) (ano 2006)
Equipamento/
Postos de trabalho
Postos de trabalho
criados durante os
eventos
Bares/restaurantes
60
Pousadas
2
Bares/restaurantes +
pousadas
62
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
114
Quadro 8 - Postos de trabalho criados durante o Carnaval em
Coremas-PB (anos 2005 e 2006)
Ano/
Modalidade
Ano 2005 Ano 2006
Barracas
27* 18*
Vendedores
ambulantes
30 21
Barracas +
vendedores
ambulantes
57 39
Somando todos os postos de trabalho, permanentes e temporários, nos
equipamentos analisados e durante o Carnaval, no ano de 2006, chega-se a um
total de 206 postos diretamente relacionados à atividade turística em Coremas.
Estas informações contribuem para a quantificação dos benefícios do turismo na
localidade, seja para o conhecimento acadêmico, ou para conhecimento do governo
local, que pode, com o acompanhamento destes dados, analisar a geração de
postos de trabalho no município via atividade turística.
A geração trabalho durante os eventos (o carnaval) é destacada pelo prefeito
atual, inclusive como meio de promover o desenvolvimento sustentável:
[...] nós vamos trazer oportunidade de trabalho para muitas pessoas, como
nós já vemos hoje, os bares, restaurantes, mototaxis, e vários setores da
nossa cidade sendo aceitos pelo turista e os moradores da nossa cidade
aproveitando esse evento para o desenvolvimento sustentável de nossa
região. (COREMAS, 2005)
Cabe aqui, discutir alguns aspectos da participação da comunidade nestes
postos de trabalho.
Durante a Festa do Peixe, em outubro de 2005, deu-se preferência à
comunidade local para a instalação das barracas que funcionam como
* considera-se aqui uma média de 3 postos de trabalho em
cada barraca, correspondendo à 9 e 6 barracas, em 2005 e
2006, respectivamente.
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
115
bar/restaurante, em especial para as associações de bairro ou de comunidades
rurais. Contudo, neste mesmo evento foi instalado um restaurante vindo da cidade
de Patos, com estrutura física diferenciada, pois, segundo pessoas da prefeitura, em
Coremas não havia um restaurante que atendesse à demanda durante o evento.
Desta forma, parte dos lucros que deveria ficar com a comunidade local foi levada
por pessoas de outra cidade. Mesmo assim, as “barracas” da comunidade obtiveram
bons lucros. Contudo, no ano seguinte, em outubro de 2006, pela falta de controle
na quantidade das barracas instaladas na II Festa do Peixe, “talvez por ser um ano
de eleição”, os lucros foram menores, segundo o representante da Associação dos
Moradores da Mãe D’Água (Asmad).
Deve-se destacar que a infra-estrutura das barracas foi apontada como
precária, por alguns entrevistados. Foi observado que, pela localização às margens
do açude, é comum as pessoas lavarem utensílios de cozinha na água do açude,
deixando restos de comida que provocam mau cheiro, além de poluir visualmente a
paisagem e tornar-se desagradável tomar banho nesta “mesma água”, como é
demonstrado na Figura 25.
A partir do carnaval de 2005 verifica-se uma tentativa de organização destes
postos de trabalho, com o cadastro formal, mediante o pagamento de uma taxa
pelos vendedores ambulantes e pelos proprietários das barracas instaladas durante
o evento (no valor de R$ 20,00 e R$ 50,00, respectivamente), que pode ser
considerada geração de insumos para o município.
Todavia, durante o carnaval 2006, o espaço das ruas laterais a Praça Félix
Rodrigues, que era ocupado por barracas, até o carnaval anterior, foi utilizado para a
instalação de “camarotes”, sob a organização da prefeitura, refletindo,
provavelmente, na redução do número de barracas (ver Quadro 6) e no total de
postos de trabalho gerados. Por outro lado, estes camarotes, que eram vendidos
pela prefeitura por aproximadamente R$ 600,00, não foram todos ocupados.
Esta situação pode gerar na comunidade um sentimento de exclusão. Pois o
governo local “toma” um espaço que era ocupado pelos proprietários das barracas -
que têm neste evento uma oportunidade de melhorar sua renda - para venda de
alimentos e bebidas para os moradores e turistas, e o reserva aos que podem pagar
para estar no camarote ou permanecer inutilizado (como aconteceu) pela falta de
demanda, concentrando os benefícios econômicos, reduzindo o espaço disponível
116
para os foliões, e negando o discurso de geração de emprego e renda para a
comunidade local.
Observa-se que a instalação de camarotes vem se tornando uma prática
comum nas festas populares, como o Carnaval e São João, em diversas cidades do
interior da Paraíba, como Patos, Pombal e Sousa.
A fim de qualificar estes dados quantitativos de “geração de emprego”, como
sugere Bellen (2005), analisou-se também a remuneração nestes postos de trabalho
e o pagamento dos benefícios sociais aos empregados.
Verificou-se que - entre os 21 (vinte e um) equipamentos analisados – 5
(23,8%) proprietários de equipamentos turísticos afirmaram pagar um “salário” fixo
aos seus empregados. Este salário varia entre R$ 100,00 e R$ 350,00, sendo que
apenas um proprietário afirmou pagar o valor equivalente ao salário-mínimo
brasileiro atual (R$ 350,00). Os demais 16 proprietários (76,2%) afirmaram pagar por
dia de trabalho (diária) um valor que varia entre R$ 10,00 e R$ 15,00, sendo raro um
empregado alcançar o valor do salário mínimo em um mês. Desta forma, também
não são pagos os benefícios sociais destas pessoas.
O turismo vem gerando postos de trabalho e renda em Coremas, contudo, as
condições dos empregos ainda não estão de acordo com o que se propõe enquanto
atividade socioeconomicamente sustentável. Deve-se destacar que estas
características nas relações trabalhistas, de não atendimento às formalidades, é
comum nas cidades do interior e de pequeno porte, como Coremas. Uma
empregada doméstica, por exemplo, costuma receber R$ 50,00 como salário mensal
por uma jornada de 8 horas diárias.
Segundo os proprietários das pousadas, torna-se difícil cumprir com as
cláusulas trabalhistas e pagar melhor os funcionários devido o pouco lucro nestes
equipamentos, que cobram entre R$ 10,00 e R$ 50,00 por diária individual.
Com o aumento na quantidade de turistas e a diminuição da sazonalidade das
visitas ao sertão da Paraíba e em Coremas, é possível que sejam criados mais
empregos e/ou que sejam melhoradas as condições de trabalho destas pessoas,
para que não precisem migrar para os grandes centros urbanos à procura de
emprego.
117
Neste sentido, os governos locais junto à iniciativa privada, podem incentivar
a vinda de turistas das cidades da região, em diversas épocas além dos períodos
festivos. Para isso deve-se criar e melhorar as possibilidades de lazer para estes
visitantes. Em Coremas pouco de vêm fazendo nesta direção, pois são diversas as
atividades que podem ser desenvolvidas nos açudes e seus arredores, com o devido
planejamento e controle.
“Questão 2” - O turismo aumenta as vendas no comércio?
O efeito multiplicador pertinente à atividade turística (BENI, 2001) reflete
neste aumento de vendas, pois o aumento no número de clientes/turistas em um
restaurante, leva a compra de mais produtos nos supermercados, mais peixes ao
pescador, o aumento nas vendas no supermercado pode levar à contratação de
mais funcionários, etc.
Quase 50% dos proprietários dos equipamentos turísticos entrevistados
afirmaram que durante os eventos turísticos, em Coremas, as vendas aumentam
100%, enquanto os demais afirmaram que as vendas aumentam entre 25 e 80%.
Este aumento nas vendas no comércio também foi apontado pelos
entrevistados (nos diversos grupos) quando se perguntou sobre os possíveis
benefícios que o turismo pode trazer ao município.
Quase todos os entrevistados responderam afirmativamente sobre a
possibilidade de benefícios a partir do desenvolvimento da atividade turística,
apenas uma proprietária de bar/restaurante afirmou que o turismo “já trouxe
benefícios, hoje não trás mais”, talvez querendo evidenciar a falta destes benefícios
para o seu equipamento. Entre estes benefícios, os mais citados foram: aumento na
renda, emprego e movimentação no comércio, nos bares e restaurantes. Ainda
foram apontados como possíveis benefícios: lazer para a comunidade, valorização e
divulgação da cidade e venda do artesanato. Merece destaque a opinião de um
representante da comunidade local, que apontou “o tratamento da água” como um
possível benefício proporcionado pela atividade turística.
Estudos sobre o fluxo de turistas e da quantia de dinheiro gasto no município
podem contribuir para o conhecimento destes benefícios econômicos.
118
“Questão 3” - A atividade promove o surgimento de empreendimentos
turísticos locais?
Atualmente verifica-se um nítido aumento na quantidade de equipamentos
turísticos no município, como o surgimento de 4 pousadas entre os anos 2000 e
2007 (Quadro 3), e de 4 bares/restaurantes, sendo que 3 destes têm
aproximadamente um ano de funcionamento. Destacando-se que estes
bares/restaurantes estão diretamente relacionados com a atividade turística, seja
pela localização ou pelo serviço oferecido
38
.
Verificou-se que todos os proprietários entrevistados são naturais de Coremas
ou vivem ali há algum tempo, permitindo a conclusão de que vêm surgindo novos
empreendimentos turísticos e que são iniciativas de moradores locais.
No entanto, foi apontado pelo prefeito que existe o interesse de que pessoas
de outros locais possam instalar hotéis, pousadas e restaurantes no município.
Geralmente, a chegada de empreendimentos externos e de maior porte
estrutural numa localidade implica na importação de mão-de-obra, seja por
qualificação superior ou por escolha dos investidores. Ainda que sejam criados
postos de trabalho para a comunidade local com estes investimentos, é preferível,
para a sustentabilidade da atividade em diversos aspectos, que sejam apoiados
investimentos locais (BENI, 2001; SWARBROOKE, 2002; MBAIWA ,2003; )
6.1.3 A dimensão social
Foi destacado no Capítulo 1 que geralmente é mais lenta a percepção dos
impactos socioculturais provocados pelo turismo (CORIOLANO, 1997;
SWARBROOKE, 2002). Aqui se procura analisar os aspectos do turismo
relacionados com a dimensão social no município de Coremas.
A primeira questão a ser analisada nesta dimensão é:
38
Uma pousada e um bar/restaurante não estavam em funcionamento até o momento das entrevistas
(ago./out. 2006), mas foram incluídos nesta contagem.
119
“Questão 1” – A comunidade local participa das decisões relacionadas
com o turismo no município?
A participação comunitária no planejamento do turismo, principalmente em
escala local e regional, vem sendo tomada como elemento central para o
desenvolvimento sustentável do turismo (IRVING, 2000; ARAÚJO, 2004a).
Destarte, investigou-se se a comunidade (composta por todos os “grupos”
nesta pesquisa) vem participando das decisões relacionadas com o turismo em
Coremas.
TABELA 10- Respostas dos entrevistados sobre a sua participação em
reuniões com o governo local para tratar de assuntos
relacionados com o turismo em Coremas.
Grupo/Resposta
Participa ou
já participou
Nunca
participou
TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 20,8
5
79,2
19
100
24
Governo* 33,3
2
66,7
4
100
6
Iniciativa Privada 19
4
81
17
100
21
Pescadores 20
1
80
4
100
5
Sociedade Civil 75
3
25
1
100
4
Todos 25
15
75
45
100
60
A realização de eventos no município (como o Carnaval e a Festa do Peixe)
foi apontada pelos entrevistados como o principal incentivo ao turismo pelo governo
local. Estes eventos interferem imediatamente no cotidiano dos moradores, além de
causar danos ao ambiente natural e prejuízos à comunidade. A participação
* Neste caso os representantes do governo respondem sobre a participação
da comunidade nas decisões.
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out.2006
120
comunitária, da iniciativa privada e das associações seria um meio de dividir as
responsabilidades do governo e avaliar os pontos fortes e fracos destes eventos,
refletindo no desenvolvimento sustentável da atividade e fazendo com que a
comunidade se sinta partícipe deste processo. Contudo, 75% dos entrevistados
afirmaram que nunca participaram de alguma reunião com o governo local para
tratar do turismo no município. Considerando os proprietários dos equipamentos
turísticos, que estão diretamente envolvidos neste processo de desenvolvimento
turístico, este percentual é de 81%; e dos representantes do grupo da comunidade e
dos pescadores, de 79,2% e 80%, respectivamente. Apenas os representantes da
sociedade civil organizada, em sua maioria, 75%, afirmaram que participam ou já
participaram daquelas reuniões.
A maioria dos representantes do governo, 66,7% afirmou que a comunidade
não é convidada a participar das decisões relacionadas com o turismo, e que
apenas “as pessoas do governo” são responsáveis por estas decisões.
No entanto, verifica-se que 25% dos entrevistados afirmaram que participam
ou já participaram de alguma reunião com o governo local para tratar do turismo no
município. Pode-se dizer que esse número revela uma parcela significativa, sendo
que a ampliação desta parcela, em todos os grupos envolvidos com o turismo, é
condição necessária para sustentabilidade do turismo no município.
A “exclusão” da comunidade local nas decisões em prol do turismo parece ser
uma realidade também em outros municípios do sertão, como foi destacado no
referencial teórico, no estudo de Oliveira e Endres (2003) ou, por exemplo, na
“Oficina de sensibilização”, que faz parte das ações de implantação do Programa
Roteiros do Brasil, realizada em Sousa, município pólo da região turística do sertão
(em Dezembro de 2005), onde diversos setores, inclusive a comunidade, deviam
participar. Nesta ocasião apenas os representantes dos governos dos municípios
participantes do programa estiveram presentes (e uma representante da iniciativa
privada do município de Sousa). Pelo pequeno espaço escolhido para a realização
da “oficina” percebe-se que não era esperada a participação de pessoas da
comunidade, ou da iniciativa privada.
Deve-se ressaltar que a participação comunitária é uma prerrogativa no
Programa Roteiros do Brasil.
121
Logo, foi verificado que a efetiva participação da comunidade nas decisões
em prol do turismo, em Coremas e no sertão da Paraíba, ainda não é uma prática
plena, deixando de cumprir com um importante requisito na busca da
sustentabilidade do turismo no local.
“Questão 2” - O número de visitantes prejudica a qualidade de vida da
comunidade local e a qualidade da visitação?
Vários locais, atualmente, têm que utilizar o antimarketing afim de tentar
reduzir a quantidade de turistas em épocas de alta estação, pois este excesso de
visitantes traz prejuízos à população local e á qualidade da visita, como vem
acontecendo em Veneza (Itália) e Bonito (Brasil), por exemplo.
Na Paraíba estes prejuízos são sentidos em praias do litoral, como Jacumã,
Lucena, Baía da Traição, que em épocas como o Carnaval são “invadidas” por
milhares de pessoas, chegando até dificultar o acesso à água.
A transformação dos festejos juninos em mega-eventos nas cidades do
interior paraibano, como em Solânea, Santa Luzia e Patos atrai milhares de
pessoas, sem as devidas ações governamentais para atender à esta demanda. Isto
vem resultando num rápido aumento no número de visitantes, sem que se considere
a efetiva capacidade destes lugares de receber os turistas, provocando múltiplos
prejuízos, tanto aos turistas como à comunidade.
Em Coremas, apesar de não existir estudos sobre o fluxo de turistas durante
o Carnaval ou sobre a capacidade de carga em ambientes naturais e na área
urbana, algumas constatações sinalizam para estes prejuízos/danos, como por
exemplo:
- a falta de dinheiro nos caixas eletrônicos do Banco do Brasil, já no primeiro
dia do Carnaval 2005 e durante todos os outros dias, demonstra que não era
esperado um grande fluxo de transações bancárias, provavelmente incrementado
pelos turistas. Assim, muitas pessoas tiveram que deixar a cidade antes do término
do carnaval pois não tinham como retirar dinheiro para atender às suas
122
necessidades, enquanto pessoas da comunidade local tiveram que se dirigir à outras
cidades afim de retirar dinheiro em outras agências bancárias;
- durante o Carnaval, geralmente todos os leitos das pousadas são ocupados,
faltando local para hospedagem. Esta situação pode ser contornada com a
estruturação de locais alternativos para hospedagem, como escolas. Isto vem sendo
feito em Cabaceiras, por exemplo, no cariri paraibano, durante a Festa do Bode Rei;
- durante a Festa do Peixe, em 2006, foi apontado por turistas entrevistados
que a poluição sonora no local da festa, pelos sons automotivos, deve ser
monitorada, e que o trânsito na área do evento deve ser melhorado evidenciando a
falta de ações de ordenação na estrutura destes eventos, que pode prejudicar a sua
qualidade.
- o comportamento de alguns visitantes, como, por exemplo, andar pelas ruas
e praças em roupas de banho, namorar próximo à Igreja, etc., choca os moradores
mais conservadores.
O aumento no número de visitantes causa impactos no ambiente natural e
urbano, como deposição de lixo nos açudes, no rio e nas ruas; mal-cheiro provocado
pela urina nas calçadas, etc. Interferindo tanto na vida da comunidade local como na
qualidade da estada do turista.
Estes impactos provocados pela presença do turista podem acontecer mesmo
quando o fluxo de turistas é limitado, dependendo do seu comportamento, e de
como a comunidade o recebe. Assim, cabe aos organizadores da atividade no local
definir qual “perfil de turista” deseja atrair. Sobre esta situação, Swarbrooke (2000b)
aponta que jovens beberrões e arruaceiros vem prejudicando a qualidade de vida
em estações de veraneio no mediterrâneo, e que ações de antimarketing devem ser
realizadas para evitar turistas com esse perfil.
Apesar de seu potencial para o ecoturismo, o município de Coremas não vem
desenvolvendo atividades voltadas para este segmento, que causaria menos
impactos no local, dadas as implicações no planejamento do ecoturismo e no
comportamento das pessoas interessadas neste tipo de atividade. Todavia, contrário
as práticas de turismo que vêm sendo incentivadas no município (realização de
festas), o governo local na folheteria turística, associa Coremas à tranqüilidade
(Figura 32).
123
Corroborando o que foi destacado sobre a dificuldade em perceber estes
impactos sociais, a comunidade local (considerando todos os entrevistados) não
aponta os impactos já provocados pela presença dos turistas, nem menciona a
possibilidade de que venham a acontecer. Isso pode ser comprovado pelas
respostas dos entrevistados, uma vez que a maioria (73,3%) não acredita que o
turismo pode trazer algum prejuízo à comunidade local (Tabela 11) e/ou ao ambiente
natural (Tabela 1).
TABELA 11 - Resposta dos entrevistados em relação a possibilidade de
prejuízos para a comunidade local, provocados pela atividade
turística em Coremas-PB
Grupo/Resposta Sim Não
Não sabe
TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 20,8
5
79,2
19
-
-
100
24
Governo 50
3
50
3
-
-
100
6
Iniciativa Privada 19
4
76,2
16
4,8
1
100
21
Pescadores 40
2
60
3
-
-
100
5
Sociedade Civil 25
1
75
3
-
-
100
4
Todos 25 15 73,3 44 1,7 1 100 60
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
Figura 32: Folheteria turística do município onde é destacada a água, o peixe e
a tranqüilidade que o visitante encontra em Coremas. (Divulgada em Out.2005)
Fonte: Prefeitura Municipal de Coremas.
124
Comparando as opiniões dos grupos isoladamente mantêm-se a afirmativa de
que a comunidade local (formada por todos os grupos inclusive representantes do
governo), não percebe estes impactos. Os grupos que menos percebem esta
possibilidade são: comunidade, iniciativa privada e sociedade civil. Entre os
entrevistados que apontaram a possibilidade de prejuízo à comunidade local (25%),
foi destacado: aumento na prostituição, transmissão de doenças e criminalidade.
“Questão 3” – Os impactos sociais do turismo são monitorados?
Com o que foi exposto acima fica evidenciado que não existe qualquer
monitoramento - seja por parte do governo, seja por parte da comunidade - dos
impactos sociais decorrentes da atividade turística.
Talvez o leitor seja conduzido à pensar que estes impactos não são
monitorados ou percebidos pela comunidade pelo recente surgimento do turismo no
município, como na maioria dos locais onde a atividade ganha destaque. Contudo,
enfatiza-se que desde a construção dos açudes, na primeira metade do século XX, o
presença de “turistas” é constante em Coremas. Segundo a proprietária da primeira
pousada do município,
antigamente vinha muita gente, vinha gente demais, mas ainda hoje,
quando este açude ta sangrando, se você chegar lá em Mãe D’água, na
sangria do açude, 10 horas do dia, você não acha lugar pra estacionar [...]
Eu tenho uma fotografia ali, veio um ônibus de Recife de turismo [...] e eu
fui quem saí com eles, fui pra a Mãe D’água, tem a capela do DNOCS [...]
andei por todo canto, vieram 24 pessoas, se hospedou aqui e daqui eu sai
com eles [...] e tiraram muito retrato [...].
Alguns representantes da comunidade apontam ainda o problema da
prostituição em Coremas, em decorrência do turismo. Este impacto merece atenção
especial do poder público e da comunidade, uma vez que o município já está na
“rota” da exploração sexual infantil.
125
Na Paraíba, 27 cidades estão incluídas nessa rota, sendo este o quinto
estado do país com maior número de municípios envolvidos (Portal Correio, 2005).
Na folheteria de divulgação da Festa do Peixe 2006 é destacada a figura feminina
(adolescentes), dando a entender que ao chegar em Coremas o turista/visitante vai
encontrar muitas “garotas bonitas”, como um atrativo (Figura 33). Neste folheto
foram destacadas imagens de três garotas, sem maiores destaques a figura do
peixe.
Ao promover o desenvolvimento do turismo no município, o governo local
deve agir com cuidado para que as estratégias de marketing, ainda que sem
intenção, não corroborem com à prostituição no município ou tenham sentido
apelativo, assim como foi observado em campanhas publicitárias do Brasil no
exterior, há tempos atrás(BIGNAMI, 2002).
A participação comunitária, que pode ser representada no Conselho Municipal
de Turismo (inexistente no município), junto à profissionalização do setor, sob as
diretrizes de um plano de desenvolvimento turístico e a descentralização na tomada
de decisões relacionadas com o turismo, pode ser um meio de controle destes
impactos.
O esclarecimento dos representantes do governo e da comunidade local, em
escolas, associações de bairro, nas igrejas, etc., sobre a eminência dos diversos
Figura 33: Folheteria de divulgação da II Festa do Peixe (Set.2006) onde se
observa o destaque para a figura feminina.
Fonte: Prefeitura Municipal de Coremas.
126
impactos que o turismo pode provocar no cotidiano das pessoas e no ambiente,
poderia ser o início deste processo de controle, que contribuiria na estruturação das
bases para a sustentabilidade do turismo em Coremas.
“Questão 4” – A mão de obra local é valorizada?
Os postos de trabalho nos equipamentos turísticos do município geralmente
são ocupados por pessoas da comunidade, inclusive porque não há, até então,
justificativa para importar mão de obra. Contudo, a falta cumprimento das normas
trabalhistas pode indicar uma não-valorização destas pessoas enquanto
trabalhadores.
Merecem destaque duas ações do governo local que refletem na valorização
desta mão de obra, e estão diretamente relacionadas com a sustentabilidade do
turismo no municio:
- a realização de um “curso” de qualidade no atendimento ao turista (com 8h
de carga-horária) em Fevereiro de 2005. Entre os proprietários dos equipamentos
turísticos 52% afirmaram que já participaram de algum curso de qualificação, entre
estes cursos foi apontado o de qualidade no atendimento oferecido pela prefeitura.
Contudo, apenas 33% destes proprietários afirmaram que alguns de seus
funcionários participaram deste curso. Entende-se que o oferecimento desse curso,
com mais freqüência, e com maior participação dos envolvidos no atendimento ao
turista, contribui para o desenvolvimento sustentável do turismo no município;
- a capacitação de “recepcionistas de turismo” no início do ano 2005. Foram
capacitados 22 jovens da comunidade local para atuarem como “guias de turismo”
39
durante o Carnaval 2005 e em ocasiões de maior fluxo de visitantes. Apesar de não
ter sido um curso completo de formação de guias de turismo, estes jovens se
capacitaram para receber os turistas/visitantes e apresentar, por exemplo, a história
da cidade, os mitos e lendas relacionados com as águas do açude, etc. Para uma
participante deste “projeto”, esta é foi uma “oportunidade de mostrar um pouco mais
da minha cidade [...] e conhecermos um pouco da nossa história” (COREMAS,
39
O relato desta experiência está disponível on line, como artigo, nos Anais do II Simpósio de
Turismo Sertanejo (autor: ANDRADE, Davi.) em <http://simposio.turismosertanejo.com.br
. >
127
2005). No entanto, mesmo tendo repercutido positivamente entre a comunidade
local e os turistas que foram recepcionados, esta “recepção ao turista” não teve
continuidade nos eventos seguintes (até agora).
Se por um lado estas iniciativas demonstram interesse, da parte do governo,
em desenvolver o turismo no município com responsabilidade, participação e
valorização da comunidade, a falta de continuidade destas ações pode fazer com
que a comunidade não acredite na seriedade de projetos desta natureza, além de
deixar de incentivar o oferecimento de serviços de qualidade ao turista e aos
moradores.
“Questão 5” - O turista/visitante está satisfeito com a estadia no município?
A satisfação do turista com a experiência vivida no local escolhido para sua
viagem é condição fundamental para o desenvolvimento sustentável do turismo.
Esta satisfação esta diretamente relacionada com a expectativa que é criada pelo
turista. O marketing muitas vezes interfere nesta expectativa, daí a importância de
propagandas que transmitam o que o turista realmente vai encontrar no local, e do
bom funcionamento dos equipamentos turísticos e de apoio.
Contudo, o governo do estado, na folheteria turística “roteiros turísticos para
encantar você”, onde são apresentados os municípios que compõem os atuais
“produtos turísticos” do estado, apresentando o município de Coremas, diz:
[...] nas margens dos açudes, os turistas podem fazer trilhas, pescar e
passear de barco ou cavalo. Outros atrativos do município são a Serra do
Melado, dos Cavalos e de Santa Catarina, onde os amantes de aventura
costumam fazer trilhas e praticam escalada e montanhismo.(PARAÍBA,
2006)
É possível que se pratique estas atividades em Coremas, mas até agora não
existe qualquer estrutura que represente uma trilha, assim como não existe
organização para oferecer ao turista os serviços citados, exceto os passeios de
128
barco (que acontecem sem equipamentos de segurança), e tampouco é comum a
prática de escalada e montanhismo nas serras.
Da mesma forma, o governo municipal, na folheteria de divulgação da Festa
do Peixe (2005) (Figura 34), apresenta imagens de pessoas praticando kite surf,
pescando “à beira mar”, exibindo peixes que não existem no açude, barcos à vela e
paisagens de montanha, provocando inclusive a indignação da população local, que
não viu as paisagens e os atrativos de Coremas neste cartaz. No ano seguinte
(2006) foram utilizadas imagens do local (Figura 31).
Figura 34: Folheteria de divulgação da I Festa do
Peixe (Out., 2005) onde se observa o destaque para
elementos exógenos.
Fonte: Prefeitura Municipal de Coremas.
129
Assim, é possível que o turista, tendo em mãos esta folheteria turística, crie a
expectativa de praticar kite surf, fazer montanhismo ou velejar em Coremas, sendo
que estas não são atividades comuns no local.
40
Antes de apresentar os dados referentes à satisfação do turista é importante
apresentar “quem é o turista que vai até Coremas”, considerando os dezesseis (16)
turistas entrevistados durante a II Festa do Peixe (Set., 2006). Concorda-se que esta
é uma amostra pequena para ser considerada representativa do universo dos
turistas, contudo são os únicos dados disponíveis, cabendo aqui enfatizar a
necessidade de que se busque conhecer sobre o perfil destes turistas e sobre a
satisfação quanto a sua estadia em Coremas.
6.1.3.1 O “Perfil do Turista”
- A maioria dos turistas entrevistados é do sexo masculino (14 turistas).
- Pouco mais da metade (9) tem entre 18 e 30 anos, enquanto a maioria dos
demais (4) tem entre 31 e 40 anos de idade.
- A renda média mensal da maioria dos entrevistados (9) é de até 3 salários-
mínimos, enquanto 7 entrevistados têm renda aproximada de 5 salários.
- Apenas 3 entrevistados moram em outro estado (Rio Grande do Norte), os
demais moram na Paraíba, em diversas regiões do estado, inclusive no litoral.
- A maioria destas pessoas viajaram acompanhadas de amigos (11), em
veículo particular (14). Todos viajaram exclusivamente para Coremas, e foram
motivados principalmente pela Festa do Peixe (15).
- A maioria permaneceu 3 dias em Coremas (10), e apenas um não pretendia
pernoitar. Quatro turistas hospedaram-se em pousadas, e os demais em casa de
amigos/parentes.
40
Isto também reflete na dimensão da sustentabilidade cultural do turismo e será discutido adiante.
130
- Doze pessoas já haviam visitado o município várias vezes, sendo que a
última visita foi no mesmo ano (2006). Apenas 4 turistas estavam em Coremas pela
primeira vez, e todos responderam que pretendem voltar ao município.
Pode-se traçar o seguinte perfil do turista que esteve em Coremas naquela
ocasião: a maioria é do sexo masculino, tem entre 18 e 31 anos de idade, uma
renda média mensal de aproximadamente 3 salários-mínimos, mora no estado da
Paraíba, viajou com amigos, em veículo particular, permaneceu no município por
três dias, ficou hospedado em casa de amigos/parentes, já esteve várias vezes em
Coremas, pretende voltar e o principal motivo desta viagem foi a Festa do Peixe.
Sobre os aspectos que estão relacionados com a satisfação dos turistas,
destacam-se:
- 82% consideraram boa ou ótima a divulgação da II Festa do Peixe;
- 87% avaliaram negativamente o acesso ao município (ruim ou regular);
- 63% consideraram bom os serviços nos bares e restaurantes durante a
festa;
- 75% avaliaram como justo o preço dos produtos nos bares e restaurantes;
- 56% disseram que o não tratamento da água do abastecimento público
interfere negativamente na qualidade da estadia em Coremas;
- 76% avaliaram negativamente as telecomunicações no município;
- sobre os serviços bancários: 50% consideraram ruim ou regular, 38%
consideraram bom ou ótimo e 13% disseram não conhecer o serviço;
- 50% avaliaram a limpeza pública como boa;
- 56% avaliaram a segurança pública como boa ou ótima;
- sobre a comercialização de produtos turísticos 69% avaliaram como regular
ou ruim, enquanto 25% disseram não saber opinar;
- 50% disseram que existe algo no município que os desagradam;
- todos os entrevistados sugeriram alguma melhoria nos serviços e/ou infra-
estrutura no município; e
- todos os entrevistados disseram que planejam voltar a Coremas;
131
Com isso verifica-se que os turistas percebem algumas deficiências na infra-
estrutura turística e de apoio no município. Estas deficiências devem ser corrigidas
em prol da qualidade de vida da população local e melhor estruturação para a
atividade turística, refletindo em sua sustentabilidade.
Estes resultados podem servir de apoio ao governo local e estadual na
formulação de políticas direcionas para a atividade turística no município.
Tanto a população local como os turistas entrevistados apontam a falta de
tratamento da água do abastecimento público como um aspecto negativo, assim
como o acesso ao município, que carece de sinalização e melhorias na
pavimentação. Nas telecomunicações, o que desagrada é a falta de sinal integral
para a telefonia móvel, pois apenas nos locais mais altos é possível utilizar este
serviço.
O atual prefeito do município (em entrevista ao autor) reconhece que a falta
de tratamento da água prejudica tanto a saúde das pessoas, como o
desenvolvimento da atividade turística, e afirma que em sua gestão estão sendo
realizadas ações para viabilizar o tratamento da água, sendo que os principais
obstáculos são a falta de recursos e a antipatia da população local diante da
possibilidade de “pagar“ pelo tratamento da água (o que coloca os governos locais
em situação política delicada, pois até então parece ser uma medida que contraria
os interesses da população). É comum ouvir em Coremas, nas conversas informais,
que “a água do açude nunca vai acabar, e que não é justo a população pagar pela
água, pois a água é de todos”. Ultimamente as escolas da cidade vêm realizando
campanhas de esclarecimento sobre a água, assim como sobre o ambiente natural
em geral. Esta ação pode resultar em mudanças naquela percepção.
Alguns turistas entrevistados (durante a Festa do Peixe 2006) consideraram
elevados os preços praticados nos bares/restaurantes. Isto também foi apontado por
pessoas da comunidade. Para Swarbrooke (2002) a fim de otimizar os benefícios
econômicos do turismo deve-se cobrar do turista um “preço justo”, entende-se que
isto significa que o turista deve pagar indiretamente pela utilização dos recursos no
destino
41
. Contudo, preços abusivos podem repelir os turistas e que, por ventura, a
41
Esta idéia vem sendo erroneamente associada à falácia de que “turista tem dinheiro e está disposto
a pagar caro”.
132
população local pode sentir-se prejudicada ao ver os preços mais altos em períodos
de maior fluxo turístico.
A sutileza da busca pela sustentabilidade é evidenciada, por exemplo, nesta
questão acima, pois se de um lado é economicamente interessante para os
empreendimentos locais este aumento de preço, por outro, os turistas e a
comunidade local podem ser prejudicados, contrapondo, aparentemente,
sustentabilidade econômica com sustentabilidade social. É como se as regras do
mercado não pudessem ser adequadas aos princípios da sustentabilidade. A análise
dos custos e benefícios destas práticas, pela iniciativa privada e pelos gestores do
turismo no local, pode conduzir a um equilíbrio entre estes interesses.
“Questão 6”- Como é a relação morador/turista?
A maioria dos representantes da comunidade local não destacou nenhum
aspecto negativo na relação com os turistas. Sendo que algumas pessoas afirmaram
que “o turista só traz benefícios”. Apenas algumas pessoas percebem a
possibilidade de algum impacto negativo causado pelos turistas, como a poluição
das águas ou a transmissão de doenças.
A maioria dos turistas entrevistados (62%) considera a hospitalidade do
coremense como ótima ou boa, enquanto que 31% dos entrevistados consideram
ruim ou regular, e 6% não opinaram.
A hospitalidade do povo brasileiro em geral é destacada nas falas dos
governos e na promoção turística do país. Isto também é verificado no estado da
Paraíba e na região nordeste, sendo destacada a humildade e simpatia deste povo
diante dos turistas/visitantes. Em Coremas uma representante da iniciativa privada,
afirmou que em seu bar/restaurante o turista é muito bem atendido, e exemplificou:
“se chegar alguém daqui de Coremas e alguém de fora, agente atende primeiro o
pessoal de fora. Para ser bem atendido e falar bem de nossa cidade”.
Assim, evidencia-se uma supervalorização do turista em detrimento da
valorização dos clientes que residem no local, podendo levar a comunidade a sentir-
se discriminada nestas situações. Para evitar que esta prática seja difundida no
133
município deve-se esclarecer à iniciativa privada que tanto os turistas como os
moradores devem ser tratados com a mesma atenção.
6.1.4 A dimensão cultural
Como foi destacado no referencial teórico deste trabalho, o contato entre
turistas e moradores implica em mudanças no pensar e no agir das pessoas
(CORIOLANO, 1997; MARIANI, 2003). Na atividade turística estas mudanças,
referentes à cultura, têm estabelecido uma relação simbiótica, de um lado o turismo
pode ser e oferecer incentivos diversos para “manutenção e revitalização de
diversas atividades culturais [...] [da mesma forma] os efeitos que o turismo pode
causar nas tradições locais podem ser desastrosos, e ao invés de reavivar a
memória local, pode apagá-la ou descaracterizá-la”. (BELFORT, 2004, p.09)
A seguir são analisados os desdobramentos destas relações no município de
Coremas.
“Questão 1” - O turismo contribui para a proteção/conservação do
patrimônio histórico-cultural?
Atualmente, o turismo em Coremas tem como principais atrativos a água e os
eventos. Estes últimos podem ser entendidos, até certo ponto, como manifestações
culturais.
A estrutura física dos açudes, que permite a disponibilidade de recursos
hídricos como atrativo, e a infra-estrutura de apoio à sua construção podem ser
consideradas o que se tem de mais representativo para uso turístico, referente ao
patrimônio histórico construído, como a vila do DNOCS.
134
Diante da realidade observada há dez anos, que não têm diferenças
acentuadas da que se observa atualmente, o coremense Edvaldo B. Filho (1996, p.
20) escreveu:
o abandono ao qual está relegado o açude de Coremas/Mãe D'água é um
ato desrespeitoso e impatriótico com o Brasil que o fez nos anos 40. É
triste constatar o descaso governamental das últimas décadas, quando o
sistema hídrico, passou pelas mãos de vários ministérios, contribuindo
ainda mais com o desmantelamento do DNOCS. [...] as autoridades
federais ligadas à autarquia (DNOCS) tem historicamente negado uma
explicação plausível ao povo coremense, e é por isto que o marasmo
continua aos dias atuais. Mais recentemente com o canal, a ser construído
os moradores não sabem quais os benefícios práticos que possam usufruir.
A maioria da população local parece estar de acordo com o autor, pois, como
detalhado na análise da dimensão ecológica/ambiental, 68,4% dos entrevistados
afirmaram que os governos municipais anteriores (até o ano 2004) agiram com
descaso em relação à conservação dos açudes e suas águas, e 48,3% dos
entrevistados consideram que o governo atual (desde o ano 2005) age com este
mesmo descaso. Para 55% dos entrevistados, a própria comunidade não se
preocupa com a conservação dos açudes.
Isto é verificado, por exemplo, no abandono e sucateamento da “casa do
engenheiro” (Figura 36), da “ponte” (Figura 37), da “cascata”, das escadarias, do
jardim e das instalações elétricas, na Mãe D’água; e na falta de iluminação e na
destruição dos pilares, na “parede” do Açude Coremas.
Esses locais, se conservados, complementariam os atrativos turísticos no
município, alem de ser alternativa de lazer para a comunidade local e marco da
época da construção dos açudes. É como se os governos locais estivessem de
olhos fechados para a ação do tempo, aos fatores climáticos e as ações de
vandalismo que refletem neste patrimônio, fazendo com que alguns dos
“patrimônios” apontados acima sejam desconhecidos pelas gerações recentes,
estando apenas nas memórias e fotografias dos mais adultos, no “passado” do
município.
135
A Associação dos Moradores da Mãe D’água (Asmad), tentando iniciar
alguma ação de conservação no local onde existia um jardim na margem do açude
Mãe D’água, adverte os visitantes, como se vê na Figura 35.
Figura 35: Escadarias da Mãe D’água (Maio, 2006)
Foto: Davi Andrade.
Figura 36: Ruínas da “casa do engenheiro”, na Mãe D’água (Maio, 2006)
Foto: Davi Andrade.
136
O atual governo do município sinaliza para o interesse na recuperação deste
patrimônio, justificando esta recuperação não só pela valorização da “memória” do
povo coremense (mesmo que algumas pessoas da comunidade tenham colaborado
com a sua depredação), mas também pela sua utilização na atividade turística.
Neste sentido, segundo o prefeito, brevemente terá início o processo de
recuperação da estrutura da parede do açude, além de algumas intervenções já
realizadas. Recentemente foi concluída a pavimentação da vila do DNOCS.
Contudo, observa-se em Coremas que até mesmo nas casas (residenciais e
comerciais) mais antigas não se tem o costume de manter a fachada original, como
forma de preservar o estilo arquitetônico da época de sua construção, que
caracterizava as cidades interioranas, como se não existisse o interesse na
preservação deste traço cultural.
Sobre esta questão, um representante do governo apontou que uma das
casas mais antigas do município (que pelo seu estilo arquitetônico se destacava
entre as demais) teve sua fachada destruída pelos moradores (proprietários), pois
temiam – devido comentários nas ruas do local - que um dia a casa fosse tombada
como patrimônio histórico do município. Assim, não foi dada, por parte dos
proprietários, a devida importância ao “valor cultural” desta construção.
Figura 37: As ruínas da ponte da Mãe
D’água. (Maio, 2006)
Foto: Davi Andrade.
137
Observando o que foi destacado acima e o que vem sendo observado pelo
pesquisador no município, surge um questionamento: a comunidade local tem
interesse pela conservação/recuperação deste patrimônio? A resposta desta
questão deve anteceder as iniciativas que busquem a recuperação do patrimônio-
histórico, para que a recuperação não seja um passo precedente à destruição. Esta
reflexão transcende a responsabilidade do governo local e/ou federal na
conservação do patrimônio em Coremas e atribui à comunidade o seu papel neste
processo.
Pode-se afirmar que atualmente são verificadas algumas ações
governamentais de manutenção da estrutura física dos açudes, que representam os
“monumentos” da memória dos coremenses, apoiadas pelo interesse no
desenvolvimento turístico. Esta manutenção/recuperação é necessária para que
posteriormente se possa pensar em conservar este patrimônio, ou como se encontra
no momento, se busque a conservação do que ainda existe, em alguns casos: as
ruínas.
“Questão 2” - A cultura local é valorizada por meio da atividade
turística?
A atividade turística vem sendo louvada como um meio de resgate e
manutenção de tradições, aqui entendidas como elementos da cultura. Buscou-se
verificar se isto vem sendo praticado em Coremas.
Para tanto, é importante destacar como os coremenses ”lidam” com suas
tradições, se valorizam e preservam (ou não) estas tradições, e em seguida
relacioná-las com o turismo no município,
Na Tabela 12 são apresentadas as opiniões dos entrevistados sobre esta
problemática:
138
TABELA 12 - Resposta dos entrevistados sobre a valorização e preservação
das tradições locais, pela comunidade, em Coremas
Grupo/Resposta
A
comunidade
valoriza as
tradições
A
comunidade
não valoriza
as tradições
Outros
comentários
TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 75
18
25
6
-
-
100
24
Governo 50
3
33,3
2
16,7
1
100
6
Iniciativa Privada 90,5
19
9,5
2
-
-
100
21
Pescadores 80
4
20
1
-
-
100
5
Sociedade Civil 100
4
-
-
-
-
100
4
Todos 80
48
15 57 5 3 100 60
A maioria dos entrevistados (80%) considera que a comunidade valoriza e
preserva suas tradições. Algumas pessoas (5%) disseram que esta valorização
existe em alguns grupos, ou que ultimamente se valoriza muito a cultura “de fora”,
que chega ao município por meio da televisão, da internet ou de outras pessoas, e
15% dos entrevistados disseram que os coremenses não valorizam suas tradições.
Estas tradições também são evidenciadas na valorização da gastronomia
local pelos proprietários de bares e restaurantes do município, pois quase todos os
entrevistados afirmam que o peixe é um dos pratos principais de seus cardápios,
assim como na casa das pessoas da comunidade.
Merece destaque a preocupação do governo local em inserir elementos da
cultura e da tradição coremense durante a Festa do Peixe, que em sua
programação, além dos shows musicais com grupos locais e de outras cidades,
estabelece:
- o concurso da Garota Mãe D’água: em homenagem ao “mito” da sereia que
vive nas águas do açude Mãe D’água e encanta os pescadores com seu canto. Por
isso se justificaria a presença de uma garota no cartaz de divulgação da Festa, e
não de três garotas, como foi divulgado;
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006.
139
- torneios de pesca artesanal;
- competição de natação e canoagem;
- concurso de culinária: quem faz o melhor peixe;
- exposição e venda de artesanato;
A seguir analisa-se a opinião dos entrevistados sobre as ações do governo
em prol das tradições locais.
TABELA 13 - Resposta dos entrevistados sobre o apoio às tradições locais,
pelo governo municipal (a partir de 2005), em Coremas
Grupo/Resposta
O governo
apóia as
tradições
O governo
não apóia as
tradições
Outros
comentários
TOTAL
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
%
Abs.
Comunidade 91,7
22
8,3
2
-
-
100
24
Governo 100
6
-
-
-
-
100
6
Iniciativa Privada 62
13
19
4
19
4
100
21
Pescadores 100
5
-
-
-
-
100
5
Sociedade Civil 75
3
25
1
-
-
100
4
Todos 81,6
49
11,6 7 6,7 4 100 60
Para 81,6% dos entrevistados, o governo vem apoiando as tradições locais.
Considera-se, principalmente, a pesca e as comemorações das festas populares
como tradições. Estas festas estão diretamente relacionadas com o turismo no
município. Contudo, algumas pessoas (18,3%) apontam que o governo local não
apóia as tradições no município, ou fizeram outros comentários, como por exemplo:
“a prefeitura vem criando novas festas [a Festa do Peixe], mas deixa de realizar
festas tradicionais, como o São João”, ou apontam a “nova” estrutura do Carnaval
como um abandono das tradições locais: “são criadas novas festas e com
Fonte: pesquisa de campo, Ago./Out. 2006
140
características diferentes, com camarotes e cordão de isolamento, assim como no
carnaval de grandes cidades”.
Esta nova roupagem no carnaval de Coremas permite que seja traçado um
paralelo com a situação atual do carnaval de Salvador, na Bahia, que vem
“inspirando” os carnavais em diversos locais do país, em especial no Nordeste.
Assim, aponta-se que com a privatização dos espaços públicos, a elitização dos
blocos e o caráter comercial do carnaval baiano, nos últimos tempos, este carnaval
“afastou-se do original sentido espontâneo, participativo, popular e des-
hierarquizante que o consagrou, e a definição que melhor lhe cabe, hoje, é a de
carnaval-negócio“ (OLIVEIRA & OLIVEIRA, 2005, p. 23). Esta característica de
“carnaval-negócio” começa a ganhar espaço nas festas populares em Coremas.
Para o prefeito, não é interessante para o município a realização do São
João, pois já existem grandes festas juninas em cidades da região, como Patos e
Cajazeiras, e Coremas não teria condições de competir. Esta postura do governo
local demonstra que as tradições estão submetidas a interesses mercadológicos,
que interferem diretamente em sua manutenção e/ou celebração. Sobre a utilização
de camarotes e cordões de isolamento durante o carnaval, esta iniciativa é
justificada pelo governo como uma tentativa de dar conforto e segurança aos que
participam do evento, em especial os turistas, ou as pessoas da comunidade. Cabe
destacar que este conforto e segurança estão ao alcance apenas dos que dispõem
de recursos para comprar o camarote.
Evidencia-se assim, uma dialética entre a manutenção destas tradições em
Coremas e os interesses financeiros, que imprime novos elementos às tradições,
resultando em sua transformação, que pode culminar com o seu abandono.
Um aspecto que merece ressalva, na análise do apoio às tradições locais e
de valorização do patrimônio cultural, é o artesanato feito em Coremas e sua
possível comercialização via atividade turística, inclusive depois de ter sido apontado
pela maioria dos turistas que o comércio de souvenirs, não satisfaz seus interesses.
Em outras palavras, raramente o turista terá acesso a algum produto artesanal que
possa ser comprado e levado como “lembrança”.
Na Paraíba o projeto “Paraíba em Suas Mãos”, desenvolvido pelo Governo do
Estado (desde Dezembro de 2003) vem permitindo a divulgação (principalmente em
141
feiras e na internet) e a comercialização (inclusive a exportação) do artesanato
produzido em diversas comunidades, ainda que contribua para a
“descaracterização” deste artesanato, quando o submete a um especialista em
design. Neste sentido, o autor acompanhou o cadastramento dos artesãos e artesãs
do município de Coremas neste projeto, podendo descrevê-lo assim:
Em meados de 2005, com a visita da “Curadoria do Artesanato” ao município,
o artesanato foi avaliado e catalogado, e os artesãos cadastrados, para em seguida
receberem a carteira de identificação de artesão, que lhes permite a participação
nas feiras organizadas pelo governo, e que recebam o apoio do governo para
participar de feiras em outros locais. Nesta ocasião compareceram várias pessoas
com seus trabalhos, entre estes: bonecas de pano, louças de barro (Figura 20),
artefatos de pesca, bordados, roupas, brinquedos, etc., demonstrando que o
artesanato é uma tradição no município. Os artesãos criaram grande expectativa
sobre a “valorização” do seu trabalho.
O passo seguinte ao cadastro do artesanato seria a entrega das carteiras e o
estabelecimento de contato com a coordenação do projeto “Paraíba em Suas Mãos”
para que os artesãos fossem beneficiados com a possibilidade de comercializar seu
artesanato nas referidas feiras. Contudo, este processo foi interrompido. As carteiras
de identificação do artesão foram repassadas ao governo do município, mas até
agora não foram entregues aos artesãos, impedindo-os de comercializar seus
produtos.
Assim, se por um lado o governo local se preocupa em oferecer espaço para
a comercialização do artesanato durante a Festa do Peixe, por outro, deixa de
cumprir com sua parte na inserção do município nesta política pública para o
artesanato, que resultaria na geração de renda para as pessoas, além da
manutenção e valorização da cultura. A interrupção deste processo pode levar os
artesãos do município a desacreditar nessas ações do governo e/ou pensar que seu
artesanato não tem valor.
142
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O potencial turístico de Coremas remete aos açudes, pelos seus usos para o
lazer e pelo significado da predominância da água na paisagem semi-árida do
sertão. Nesta pesquisa, foi identificado que para os representantes da iniciativa
privada, do governo, das organizações civis, dos pescadores, moradores e turistas,
os atrativos que motivam as pessoas a viajarem até Coremas são, principalmente,
“as águas”, o banho, as festas e o peixe.
Desde os anos 90, o município é inserido em políticas de turismo, estando
atualmente no Programa de Regionalização do Turismo, no Roteiro do Ecoturismo e
Turismo de Aventura da Paraíba, na Região Turística Sertão. Contudo, não foram
identificados resultados consistentes destas políticas no município. Sendo que a
maioria da população entrevistada, inclusive representantes do governo, não sabe
que o município está inserido nesses programas governamentais de
desenvolvimento turístico.
Com a observação e análise dos fatores (aqui chamados de “questão de
análise”) relacionados com os indicadores e princípios da sustentabilidade, nas
dimensões ambiental, econômica, social e cultural, verificou-se que:
- na sustentabilidade ecológica/ambiental: algumas deficiências que
comprometem esta sustentabilidade existem independentes do turismo, enquanto
outras estão intimamente relacionadas, como: a destinação adequada dos resíduos
sólidos (que em algumas comunidades é queimado ou jogado no rio); a ausência do
tratamento de esgoto despejado no rio; os novos usos e a ocupação desordenada
das margens do açude, que causam impactos na paisagem e poluem o ambiente
aquático; a instalação de equipamentos turísticos em ambientes naturais, sem
estudo de impacto ambiental ou de impacto na paisagem, descaracterizando-a e
aumentando as possibilidades de impacto neste meio.
A maioria dos moradores locais e representantes do governo desconhece a
possibilidade de impactos negativos resultantes do turismo no município. Por outro
lado, com a utilização do ambiente natural para o lazer da comunidade e dos turistas
143
percebe-se o surgimento de uma postura contestadora da comunidade diante dos
usos que podem trazer impactos a este ambiente, como, por exemplo, o
questionamento dos danos ao ambiente provocados pela realização da Festa do
Peixe nas margens do açude.
Apesar da ascensão da atividade turística no município, que é evidenciada
pelo aumento no número de equipamentos turísticos, pelas falas dos governantes, e
pelo fluxo de turistas, não existe qualquer instrumento formal de ordenamento da
atividade, como um plano municipal de turismo, comprometendo seriamente a busca
pela sustentabilidade da atividade.
Os entrevistados afirmaram que tanto a comunidade quanto o governo local
(em gestões anteriores e na atual), vem agindo com descaso em relação à
conservação e manutenção dos açudes. Contudo, foi apontado que este descaso
vem diminuindo significativamente na atual gestão, refletindo no aumento da
preocupação da comunidade em “cuidar” dos açudes.
- na sustentabilidade econômica: foi apontado pelos entrevistados que os
principais benefícios da atividade turística estão relacionados com o setor
econômico, como a geração de emprego e renda. Sendo contabilizados no Carnaval
2006, pelo menos, 206 postos de trabalho diretamente relacionados com a atividade
turística. Por outro lado, não são pagos os benefícios sociais destes trabalhadores,
no caso dos equipamentos turísticos, assim como poucos recebem salário fixo, e
este salário não corresponde ao salário-mínimo instituído.
O aumento das vendas no comércio foi apontado pelos entrevistados como
outro benefício do turismo. Quase 50% dos proprietários dos equipamentos
turísticos entrevistados afirmaram que durante os eventos turísticos, em Coremas,
as vendas, em seus estabelecimentos, aumentam 100%, enquanto os demais
afirmaram que as vendas aumentam entre 25 e 80%.
Foi verificado que o desenvolvimento do turismo em Coremas vem
incentivando o surgimento de novos empreendimentos de moradores locais.
- na sustentabilidade social – a concentração dos incentivos ao turismo no
município na área de eventos, como afirmou o prefeito, implica, por vezes, em
impactos que afetam diretamente o cotidiano da comunidade, pelo grande número
de visitantes e pelo comportamento destes, que nem sempre estão preocupados
144
com o respeito aos costumes locais, além da poluição das águas e a poluição
sonora, entre outras. Esta situação deve levar o governo, junto à comunidade, ao
estabelecimento de diretrizes de controle dos usos do espaço público, em especial
do ambiente natural, assim como à definição de qual tipo de turismo deseja para o
local, podendo preparar-se social e estruturalmente para isto. Enquanto a minoria
dos entrevistados (25%) acredita que o turismo pode trazer prejuízos sociais para a
comunidade local (destacando o aumento na prostituição, a transmissão de doenças
e a criminalidade), a maioria destes (73,3%), inclusive representantes do governo,
não acreditam nesta possibilidade.
A comunidade local, em sua maioria, não se sente partícipe desse processo
de desenvolvimento turístico que já se desdobra, inclusive por não ser convidada a
participar.
A maioria dos turistas entrevistados aponta deficiências estruturais que
interferem negativamente na sua viagem à Coremas, como a inexistência do
tratamento da água do abastecimento público, o acesso rodoviário precário, e a falta
de sinal para telefonia móvel, sendo que metade dos turistas afirmou que existe algo
no município que os desagrada, relacionado à serviços turísticos e/ou de apoio.
Contudo, a maioria avaliou positivamente a qualidade dos serviços nos bares,
restaurantes e pousadas. Todos os turistas entrevistados pretendem voltar à
Coremas, alguns motivados por visita a familiares, e sugerem melhorias nos serviços
e/ou infra-estrutura do município.
- na sustentabilidade cultural – tanto a comunidade local como o governo
vem agindo com descaso em relação ao patrimônio histórico, no caso das
edificações da época da construção dos açudes. Atualmente, são verificadas
algumas ações do governo local que sinalizam para uma mudança nesta postura
diante deste patrimônio, justificadas também pela sua utilização pela/para a
atividade turística. Assim como a valorização da cultura local, como na programação
da Festa do Peixe.
Por outro lado, embora haja demanda da população para realização das
festas juninas, foi destacado pelo governo que o apoio a estas festas não é
interessante do ponto de vista turístico (comercial), por isso não deve estar no
calendário das festividades do município, subordinando as tradições locais aos
interesses comerciais, resultando na desvalorização da cultura sertaneja. No
145
entanto, são apoiados eventos ao estilo do carnaval baiano, com trios elétricos,
camarotes e cordões de isolamento.
Logo, diante dos resultados encontrados nesta pesquisa conclui-se que a
maioria dos fatores relacionados ao desenvolvimento da atividade turística, assim
como outros aspectos tangentes a esta atividade, conduz à sua insustentabilidade.
Contudo, também foram verificados fatores (em sua minoria) que vão ao encontro do
turismo sustentável.
O turismo em Coremas, assim como no sertão, se realmente considerado o
seu potencial e planejado nos critérios da sustentabilidade, pode contribuir para que
problemas ambientais, resultados de outras atividades como a agricultura e do
próprio turismo já existente, sejam minimizados e que comunidades locais pobres e
empobrecidas sejam inseridas socialmente. Esta é uma premissa para o ecoturismo,
que de maneira geral, não vem sendo posto em prática no sertão da Paraíba, sendo
confundido com o turismo de aventura ou de natureza.
Uma análise sistêmica dos “destinos turísticos” sertanejos, que busque
conhecer os possíveis resultados concretos, que esta visão de desenvolvimento do
sertão via atividade turística pode desencadear, permitirá que sejam traçadas
diretrizes, que podem ser traduzidas em ações, de acordo com os interesses em
jogo, para conduzir este processo, relativamente recente e desconhecido na região,
sendo este o interesse do autor em estudos futuros.
7.1 Recomendações
Visando oferecer uma contribuição ao desenvolvimento turístico sustentável
em Coremas, recomenda-se:
Ao governo local:
Æ Profissionalizar o tratamento do turismo, com a criação de um órgão
responsável (secretaria de turismo), assim como a colaboração de
146
turismólogos e demais profissionais qualificados para o planejamento
do turismo;
Æ Elaborar um plano municipal de turismo, que atuará como
instrumento de planejamento e controle da atividade, incluído o uso
do potencial turístico do município (quase inutilizado atualmente) e o
gerenciamento do marketing;
Æ Tratar os resíduos (lixo e esgoto) tanto na área urbana como na rural;
Æ Procurar solucionar problemas estruturais como: o acesso rodoviário,
o não tratamento da água do abastecimento e sinal para telefonia
móvel.
Æ Buscar junto ao governo federal providências para a recuperação e
manutenção do patrimônio histórico representado pelos açudes; e
angariar recursos nesta esfera para o desenvolvimento do turismo no
município;
Æ Envolver a comunidade local nas decisões relacionadas com o
turismo, buscando evitar possíveis conflitos;
Æ Participar das decisões tomadas nas esferas estadual e federal que
abrangem o turismo no município e no sertão;
Æ Apoiar as tradições locais independente de seu uso na atividade
turística;
Æ Conhecer sobre os possíveis benefícios e prejuízos da atividade
turística no município, para que a comunidade possa ser esclarecida;
Æ Seguir com o incentivo a qualificação profissional, inclusive com a
idéia dos “recepcionistas de turismo”;
Æ Realizar estudos de monitoramento dos impactos positivos e
negativos do turismo, que conduzirão as ações de mitigação;
Æ Apoiar o artesanato, como forma de valorização da cultura e
oportunidade de renda para as pessoas envolvidas.
147
A iniciativa privada:
Æ Buscar a minimização dos impactos no ambiente provocados em
virtude dos seus equipamentos turísticos e de lazer, como a
deposição de lixo em seu entorno;
Æ Procurar participar das decisões e das ações governamentais em prol
do turismo no município, como no apoio à participação do município
em feiras e eventos, tornando-se parceira no desenvolvimento do
turismo;
Æ Investir na qualificação da mão-de-obra;
Æ Associar-se, a fim de ter mais representatividade junto ao poder
público e mais destaque no mercado regional;
Æ Buscar apoio junto aos órgãos de controle ambiental, na esfera
estadual e federal, para saber como atender às normas de utilização
do ambiente natural;
Æ Prestar serviços de qualidade tanto aos turistas como aos moradores;
Æ Diversificar as opções de lazer para os turistas e para a comunidade
local;
Æ Valorizar a mão-de-obra local, com melhores remunerações em
época de maiores lucros e reconhecer seus direitos trabalhistas.
A comunidade, a sociedade civil organizada e aos pescadores:
Æ Participar das decisões relacionadas com o turismo no município,
cobrando inclusive a instituição do conselho municipal de turismo;
Æ Utilizar o cooperativismo como ferramenta de intervenção política e
meio de alcançar seus objetivos, como, por exemplo, a formação da
cooperativa dos artesãos e artesãs.
148
Æ Buscar e apoiar a conservação do ambiente natural, em especial dos
açudes, do patrimônio histórico-cultural e das tradições locais;
Æ Entender que o fato de “receber bem” o turista/visitante já é uma
contribuição para o desenvolvimento do turismo no município.
Recomenda-se a todos os envolvidos neste processo de desenvolvimento
turístico uma postura participativa e até de questionamento e negação diante de
ações em prol do turismo (ou de outra atividade) que comprometam, ainda que em
longo prazo, os recursos naturais, a qualidade de vida e as tradições dos
coremenses.
149
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155
APÊNDICES
156
APÊNDICE A
Formulário de entrevista semi-estruturada feita com representantes da comunidade e da sociedade
civil organizada no município de Coremas
Mestrando: Davi Alysson da Cruz Andrade
Número de controle: ______
Data: ____/____/____
I. Questões:
1. Faixa etária ?
( ) até 18 anos ( ) de 18 a 30 ( ) de 31 a 40 ( ) de 41 a 50 ( ) de 51 a 65 ( ) mais de 65
2. Sexo? ( ) M ( ) F
3. Qual seu nível de escolaridade?
( ) Ens. Fundamental ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Médio ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Superior ( ) incompleto ( ) completo Qual curso? __________
4. Naturalidade?_____________________________
5. Há quanto tempo mora em Coremas?_________________
(a questão 06 aplica-se apenas aos representantes da sociedade civil organizada)
6. Representa qual associação/comunidade/sindicato? __________________________
6a. Há quanto tempo foi formada essa associação?____________________
6b. Acontecem reuniões periódicas?________________
6c. A comunidade participa?______________________
6d. Tem facilidade de acesso ao governo municipal?___________________
6e. Durante as festas são criados postos de trabalho (ocupação) para pessoas da
comunidade? ______________
7. Conhece algum grupo de manifestação popular na comunidade? Quais são essas
manifestações?__________________________________________________________
8. Coremas é uma cidade turística?
( ) Sim. O que atrai/pode atrair turistas à Coremas?_______________________
( )Não
9. Coremas faz parte de algum programa/projeto do governo estadual/federal para o
desenvolvimento do turismo?__________________________________________
157
10. O Sr.(a) acha que o governo municipal incentiva o desenvolvimento do turismo em
Coremas?
( ) Sim. Como?_________________________________________________
( )Não
11. O Sr.(a) costuma participar/já participou de alguma reunião com o governo municipal para
falar sobre o turismo/as festas em Coremas?
( ) Sim ( )Não
12. O que o(a) Sr.(a)/ a sua comunidade acha do não-tratamento da água do abastecimento
público?__________________________________________________
13. O Sr(a) acha que o turismo pode trazer algum benefício para a comunidade em geral? ( )
Sim. Qual?______________________________________________
( )Não
14. O Sr.(a) pode contribuir para desenvolver o turismo em Coremas?
( ) Sim. Como? ______________________________________________
( )Não
15.O Sr(a) acha que o turismo pode trazer algum problema/prejuízo para a comunidade local?
________________________________________________
a. E para o ambiente natural? ____________________________________
16. O governo municipal atual apóia a conservação das tradições locais?
( ) Sim. Como? ________________________________________________
( ) Não.
17. Em relação às tradições locais, o(a) Sr.(a) acha que os coremenses:
( ) valorizam e preservam as tradições; .
( ) não valorizam, nem preservam as tradições; ( ) não sabe responder
18. E em relação ao açude/ Mãe d’Água, o(a) Sr.(a) acha que a postura do governo municipal
(inclusive gestões anteriores):
( ) age com descaso; ( ) vem realizando ações para manutenção dos açudes;
( ) não faz nada porque os açudes são de responsabilidade federal;
( ) outro:___________________________________ ( ) não sabe;
19. E a comunidade, como o(a) Sr.(a) percebe a relação da comunidade com os açudes:
( ) não tem preocupação com a conservação dos açudes e de suas águas;
( ) se preocupa com a conservação dos açudes e das águas;
( ) outro:____________________________________ ( ) não sabe;
Obrigado!
158
APÊNDICE B
Formulário de entrevista semi-estruturada feita com os/as proprietários/as de bares e
equipamentos de alimentação no município de Coremas
Mestrando: Davi Alysson da Cruz Andrade
Número de controle: ______
Data: ____/____/_____
PARTE 1
I. Caracterização
1. Nome (fantasia)/ Tipo: ___________________________________
2. Endereço: _____________________________________________
Telefone:__________________
3. Início das Atividades: _________________________
4. Como é o esgotamento sanitário?
( ) fossa séptica ( ) rede de esgotos
( )não há esgotamento . Qual o destino dos dejetos?_________
5. Como é o fornecimento de energia elétrica?
( ) satisfatório ( ) precário, com quedas de energia freqüentes
6. Qual a freqüência da coleta de lixo:
( ) todos os dias ( ) a cada dois dias ( ) semanalmente
( ) não há coleta. Qual o destino do lixo?_____________
II. Questões gerais:
1. Faixa etária ?
( ) até 18 anos ( ) de 18 a 30 ( ) de 31 a 40 ( ) de 41 a 50 ( ) de 51 a 65 ( ) mais
de 65
2. Naturalidade?_________________
3. Quantas pessoas trabalham no estabelecimento?________________
a. Inclui familiares?_____________ quantos?_______
4. Durante os eventos é preciso aumentar o número de pessoas? ( ) Sim ( )Não
a. Quantas pessoas trabalharam aqui no último
carnaval?______________________
5. Qual o salário mensal médio por pessoa? __________________________
159
6. Qual o aumento médio percentual de suas vendas durante as festas
tradicionais?____________
7. O bar/restaurante é sua principal fonte de renda? ( ) Sim ( )Não
a. Quantas pessoas dependem de sua renda?___________________
8. Qual sua renda média mensal, em salário-mínimo?
( ) até 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ou mais.
9. Coremas é uma cidade turística?
( ) Sim. O que atrai/pode atrair turistas à Coremas? ___________________
( )Não
10. Coremas faz parte de algum programa/projeto do governo estadual/federal para o
desenvolvimento do turismo?_________________________
11. O Sr(a). acha que o governo municipal incentiva o desenvolvimento do turismo em
Coremas?
( ) Sim. Como?_________________
( )Não
12. O Sr(a). costuma participar/já participou de alguma reunião com o governo municipal
para falar sobre o turismo/as festas em Coremas?
( ) Sim ( )Não
13. A vinda de turistas para Coremas traz algum benefício para seu estabelecimento?
( ) Sim. Qual?___________________________
( )Não
14. Os seus funcionários participam/participaram de algum projeto/curso de qualificação?
Como:
( )garçom ( ) qualidade no atendimento ( ) manuseio de alimentos e
bebidas
( )outro. Qual? _________________________
( ) Sim. Quando/quem ofereceu?___________________________
( ) Não
E o Sr(a) já participou de algum projeto/curso de qualificação?
( ) Sim. Qual? _________ Quando?__________? Quem ofereceu?_________
( ) Não
15. Qual seu nível de escolaridade?
( ) Ens. Fundamental ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Médio ( ) incompleto ( ) completo
160
( ) Ens. Superior ( ) incompleto ( ) completo Qual curso? _____ Sr(a).,
enquanto proprietário(a) deste estabelecimento, contribui/pode contribuir para
desenvolver o turismo em Coremas?
( ) Sim. Como? _______________ ( )Não
16. O Sr(a) acha que o turismo pode trazer algum problema/prejuízo para a comunidade
local? _____________
E para o ambiente natural? _______________________________
17. Quais os principais “pratos” do seu cardápio?
________________________________________________________________
PARTE 2:
I. Questões:
1. Conhece algum grupo de manifestação popular na comunidade? Quais são essas
manifestações?______________________________________
2. O que o(a) Sr.(a)/ a sua comunidade acha do não-tratamento da água do abastecimento
público?_________________________
3. O governo municipal atual apóia a conservação das tradições locais?
( ) Sim. Como? _________________
( ) Não.
4. Em relação às tradições locais, o(a) Sr.(a) acha que os coremenses:
( ) valorizam e preservam as tradições; .
( ) não valorizam, nem preservam as tradições; ( ) não sabe responder
5. E em relação ao açude/ Mãe d’Água, o(a) Sr.(a) acha que a postura do governo municipal
(inclusive gestões anteriores):
( ) age com descaso; ( ) vem realizando ações para manutenção dos açudes;
( ) não faz nada porque os açudes são de responsabilidade federal;
( ) outro:________________ ( ) não sabe;
6. E a comunidade, como o(a) Sr.(a) percebe a relação da comunidade com os açudes:
( ) não tem preocupação com a conservação dos açudes e de suas águas;
( ) se preocupa com a conservação dos açudes e das águas;
( ) outro:____________________________________ ( ) não sabe;
Obrigado!
161
APÊNDICE C
Formulário de entrevista semi-estruturada feita com os/as proprietários/as de pousadas no
município de Coremas
Mestrando: Davi Alysson da Cruz Andrade
Número de controle: ______
Data: ____/____/_____
I. Caracterização
7. Nome (fantasia)/ Tipo: _________________________________
8. Endereço: __________________ Telefone:__________________
9. Início das Atividades: _____________________
10. Sobre a capacidade atual da pousada:
Total de
apartamentos
Camas de Casal (
C)
Camas de Solteiro/Rede
(S)
Leitos =
(2C+S)
11. Serviços:
S
N
Café da manhã
Tv nos apartamentos
Ar condicionado
Ventilador
Frigobar
Banheiros
Privativos/qts
12. Como é o esgotamento sanitário?
( ) fossa séptica ( ) rede de esgotos
( )não há esgotamento. Qual o destino dos dejetos?__________
13. Como é o fornecimento de energia elétrica?
( ) satisfatório ( ) precário, com quedas de energia freqüentes
14. Qual a freqüência da coleta de lixo:
S
N
Aceita cartão de
créd.
Lavanderia
Atendimento 24h
Telefone no quarto
Cofre
162
( ) todos os dias ( ) a cada dois dias ( ) semanalmente
( ) não há coleta. Qual o destino do lixo?_________________
II. Questões gerais:
18. Faixa etária (idade)?
( ) até 18 anos ( ) de 18 a 30 ( ) de 31 a 40 ( ) de 41 a 50 ( ) de 51 a 65 ( ) mais
de 65
19. Naturalidade?_____________________________
20. Quantas pessoas trabalham no estabelecimento?______________________
a. Inclui familiares?_________ caso sim, quantos? _________Durante os eventos
é preciso aumentar o número de pessoas? ( ) Sim ( )Não
b. Quantas pessoas trabalharam aqui no último carnaval?_______
21. Qual o salário mensal médio por pessoa? _______________
22. Qual o aumento médio percentual de suas vendas durante as festas
tradicionais?____________
23. Qual o local de origem dos hóspedes? __________________________
24. A pousada é sua principal fonte de renda? ( ) Sim ( )Não
a. Quantas pessoas dependem de sua renda?_________
25. Qual sua renda média mensal, em salário-mínimo?
( ) até 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ou mais.
26. Coremas é uma cidade turística?
( ) Sim. O que atrai/pode atrair turistas à Coremas? ______________
( )Não
27. Coremas faz parte de algum programa/projeto do governo estadual/federal para o
desenvolvimento do turismo?______________
28. O Sr(a). acha que o governo municipal incentiva o desenvolvimento do turismo em
Coremas?
163
( ) Sim. Como?_____________________ ( )Não
29. O Sr(a). costuma participar/já participou de alguma reunião com o governo municipal
para falar sobre o turismo/as festas em Coremas?
( ) Sim ( )Não
30. A vinda de turistas para Coremas traz algum benefício para seu estabelecimento?
( ) Sim. Qual?___________________________ ( )Não
31. Os seus funcionários participam/participaram de algum projeto/curso de qualificação?
Como:
( )garçom ( ) qualidade no atendimento ( ) manuseio de alimentos e
bebidas
( )outro. Qual? ______ ( ) Sim. Quando?_______Quem ofereceu?________
( ) Não
E o Sr(a) já participou de algum projeto/curso de qualificação?
( ) Sim. Qual? ______ Quando?_______Quem ofereceu?_________
( ) Não
32. Qual seu nível de escolaridade?
( ) Ens. fundamental ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Médio ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Superior ( ) incompleto ( ) completo Qual curso? _________
33. O Sr(a)., enquanto proprietário(a) desta pousada, contribui/pode contribuir para
desenvolver o turismo em Coremas?
( ) Sim. Como? __________ ( )Não
18. O Sr(a) acha que o turismo pode trazer algum problema/prejuízo para a comunidade
local? ________________
E para o ambiente natural? ____________________________
PARTE 2:
Número de controle: ______
Data: ____/____/_____
164
I. Questões:
1. Conhece algum grupo de manifestação popular na comunidade? Quais são essas
manifestações?_________
2. O que o(a) Sr.(a)/ a sua comunidade acha do não-tratamento da água do abastecimento
público?________
3. O governo municipal atual apóia a conservação das tradições locais?
( ) Sim. Como? ______________
( ) Não.
4. Em relação às tradições locais, o(a) Sr.(a) acha que os coremenses:
( ) valorizam e preservam as tradições; .
( ) não valorizam, nem preservam as tradições; ( ) não sabe responder
5. E em relação ao açude/ Mãe d’Água, o(a) Sr.(a) acha que a postura do governo municipal
(inclusive gestões anteriores):
( ) age com descaso; ( ) vem realizando ações para manutenção dos açudes;
( ) não faz nada porque os açudes são de responsabilidade federal;
( ) outro:__________________ ( ) não sabe;
6. E a comunidade, como o(a) Sr.(a) percebe a relação da comunidade com os açudes:
( ) não tem preocupação com a conservação dos açudes e de suas águas;
( ) se preocupa com a conservação dos açudes e das águas;
( ) outro:___________________ ( ) não sabe;
Obrigado!
165
APÊNDICE D
Formulário de entrevista semi-estruturada feita com os pescadores no
município de Coremas.
Mestrando: Davi Alysson da Cruz Andrade
Número de controle: ______
Data: ____/____/____
I. Questões:
7. Faixa etária ?
( ) até 18 anos ( ) de 18 a 30 ( ) de 31 a 40 ( ) de 41 a 50 ( ) de 51 a 65 ( ) mais de 65
8. Sexo? ( ) M ( ) F
9. Qual seu nível de escolaridade?
( ) Ens. Fundamental ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Médio ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Superior ( ) incompleto ( ) completo Qual curso? __________
10. Naturalidade?____________________
11. Há quanto tempo mora em Coremas?_________________
12. Representa qual associação/comunidade/sindicato? __________________________
6a. Há quanto tempo foi formada essa associação?____________________
6b. Acontecem reuniões periódicas?________________
6c. A comunidade participa?______________________
6d. Tem facilidade de acesso ao governo municipal?___________________
6e. Durante as festas são criados postos de trabalho (ocupação) para pessoas da
comunidade? ______________
13. Conhece algum grupo de manifestação popular na comunidade? Quais são essas
manifestações?_____________________________________________________
14. Coremas é uma cidade turística?
( ) Sim. O que atrai/pode atrair turistas à Coremas?_______________________
( )Não
15. Coremas faz parte de algum programa/projeto do governo estadual/federal para o
desenvolvimento do turismo?__________________________________________
16. O Sr.(a) acha que o governo municipal incentiva o desenvolvimento do turismo em
Coremas? ( ) Não ( ) Sim. Como?____________________
166
17. O Sr.(a) costuma participar/já participou de alguma reunião com o governo municipal para
falar sobre o turismo/as festas em Coremas?
( ) Sim ( )Não
18. O que o(a) Sr.(a)/ a sua comunidade acha do não-tratamento da água do abastecimento
público?_________________________________________________
19. O Sr.(a) acha que o turismo pode trazer algum benefício para a comunidade em geral?
( ) Sim. Qual?_____________________ ( )Não
20. E para os pescadores, o turismo pode trazer algum benefício em especial?
( ) Sim. Qual? ____________________ ( ) Não
15. O Sr. faz passeios em seu barco, ou conhece algum pescador que faz?__________
Como é o passeio? Quanto custa? _________________
16. O Sr.(a), como pescador, pode contribuir para desenvolver o turismo em Coremas?
( ) Sim. Como? ______________
( )Não
17.O Sr(a) acha que o turismo pode trazer algum problema/prejuízo para a comunidade local?
____________________
b. E para o ambiente natural? _______________
18. E para os pescadores, o turismo pode trazer algum problema?
( ) Sim. Qual? ________________ ( ) Não
19. O governo municipal atual apóia a conservação das tradições locais?
( ) Sim. Como? ______________
( ) Não.
20. Em relação às tradições locais, o(a) Sr.(a) acha que os coremenses:
( ) valorizam e preservam as tradições; .
( ) não valorizam, nem preservam as tradições; ( ) não sabe responder
21. E em relação ao açude/ Mãe d’Água, o(a) Sr.(a) acha que a postura do governo municipal
(inclusive gestões anteriores):
( ) age com descaso; ( ) vem realizando ações para manutenção dos açudes;
( ) não faz nada porque os açudes são de responsabilidade federal;
167
( ) outro:________________ ( ) não sabe;
22. E a comunidade, como o(a) Sr.(a) percebe a relação da comunidade com os açudes:
( ) não tem preocupação com a conservação dos açudes e de suas águas;
( ) se preocupa com a conservação dos açudes e das águas;
( ) outro:__________________ ( ) não sabe;
23. E os pescadores, como o(o) Sr.(a) percebe a relação dos pescadores com os açudes?
( ) não tem preocupação com a conservação dos açudes e de suas águas;
( ) se preocupa com a conservação dos açudes e das águas;
( ) outro:______________________ ( ) não sabe;
24. A pesca é sua principal fonte de renda? _______________
a. Quantas pessoas dependem de sua renda?__________________
25. Qual sua renda média mensal, em salário-mínimo?
( ) até 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ou mais.
Obrigado!
168
APÊNDICE E
Formulário de entrevista semi-estruturada feita com representantes do governo local no município
de Coremas
Mestrando: Davi Alysson da Cruz Andrade
Número de controle: ______
Data: ____/____/____
I. Questões:
1. Faixa etária ?
( ) até 18 anos ( ) de 18 a 30 ( ) de 31 a 40 ( ) de 41 a 50 ( ) de 51 a 65 ( ) mais de 65
2. Sexo? ( ) M ( ) F
3. Qual seu nível de escolaridade?
( ) Ens. Fundamental ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Médio ( ) incompleto ( ) completo
( ) Ens. Superior ( ) incompleto ( ) completo Qual curso? __________
4. Naturalidade?_____________________________
5. Há quanto tempo mora em Coremas?_________________
6. Conhece algum grupo de manifestação popular na comunidade? Quais são essas
manifestações?__________________________________________________________
8. Coremas é uma cidade turística?
( ) Sim. O que atrai/pode atrair turistas à Coremas?_______________________
( )Não
9. Coremas faz parte de algum programa/projeto do governo estadual/federal para o
desenvolvimento do turismo?__________________________________________
10. O governo municipal incentiva o desenvolvimento do turismo em Coremas?
( ) Sim. Como?_________________________________________________
( )Não
11. A comunidade participa das “decisões” relacionadas ao turismo (como a realização das
festas)?
( ) Sim. Como se dá essa participação? ________________________________
( )Não
12. O que o(a) Sr.(a) acha do não-tratamento da água do abastecimento
público?__________________________________________________
a. Quais as dificuldades para implantar o tratamento da água em Coremas?
169
b. O fato de a água não ser tratada pode prejudicar o desenvolvimento do turismo no
município?
13. O Sr(a) acha que o turismo pode trazer algum benefício para a comunidade em geral? ( )
Sim. Qual?______________________________________________
( )Não
14.O Sr(a) acha que o turismo pode trazer algum problema/prejuízo para a comunidade local?
________________________________________________
c. E para o ambiente natural? ____________________________________
15. O governo municipal busca o desenvolvimento sustentável do turismo?
16. O governo municipal atual apóia a conservação das tradições locais?
( ) Sim. Como? ________________________________________________
( ) Não.
17. Em relação às tradições locais, o(a) Sr.(a) acha que os coremenses:
( ) valorizam e preservam as tradições; .
( ) não valorizam, nem preservam as tradições; ( ) não sabe responder
18. E em relação ao açude/ Mãe d’Água, o(a) Sr.(a) qual a postura do governo municipal
(inclusive gestões anteriores)?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
19. E a comunidade, como o(a) Sr.(a) percebe a relação da comunidade com os açudes:
( ) não tem preocupação com a conservação dos açudes e de suas águas;
( ) se preocupa com a conservação dos açudes e das águas;
( ) outro:____________________________________ ( ) não sabe;
Perguntas aplicadas apenas com o prefeito e o “secretário de turismo”:
20. Existe alguma regulamentação para a ocupação das margens do açude? Assim como para
seus usos? _________________________________________
a. Algumas pessoas da comunidade apontaram que “as margens” do açude não é um
local adequado para a realização da Festa do Peixe, pela poluição das águas, pela necessidade
170
de “aterrar” o açude, etc. O que o Sr. acha disso? A realização da Festa do Peixe atende à
normas ambientais?___________________
21. Existem ações em sua gestão direcionadas para a proteção/conservação do meio ambiente
natural?
22. Como o Sr. avalia a participação da iniciativa privada local em prol do desenvolvimento
do turismo?
23. Como está o processo de criação da Secretaria de Turismo?
24. Como é formado o corpo-técnico do turismo no governo municipal?
25. Como é a relação do setor turismo de Coremas com a esfera estadual e federal?
26. A prefeitura tem conseguido apoio dos governos estadual e federal na realização de ações
direcionadas para o turismo?
27. Quais ações realizadas ao PNMT foram realizadas em Coremas?
28. Em que nível de implantação está o Prog. de Regionalização do Turismo na região do
sertão?
30. Existe algum “grande desafio” para o Desenvolvimento do turismo em Coremas?
Obrigado!
171
APÊNDICE F
Formulário de entrevista semi-estruturada feita com os/as turistas/visitantes no município de
Coremas.
Mestrando: Davi Alysson da Cruz Andrade
Número de controle: ______
Data: ____/____/____
I. Questões:
1. Em que cidade o/a Sr./a mora? _________________________
2. O(a) Sr.(a) saiu de sua cidade exclusivamente para vir até Coremas? _________
3. O(a) Sr.(a) veio para Coremas...
( ) sozinho ( ) com amigos ( ) namorado(a)/ família ( ) outro ________
4. Faixa etária/ Sexo:
( ) até 18 anos ( ) de 18 a 30 ( ) de 31 a 40 ( ) de 41 a 50 ( ) de 51 a 65 ( ) mais de 65
( ) M ( ) F
5. Qual sua renda média mensal, em salário-mínimo?
( ) até 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ou mais.
6.Como o(a) Sr.(a) chegou até Coremas?
( ) em veículo particular ( ) em ônibus regular ( ) transporte alternativo ( ) outro
7.Como o(a) Sr.(a) avalia o acesso até Coremas (pavimentação das rodovias, sinalização,
infra-estrutura de apoio)?
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
8. Qual a principal motivação para esta visita à Coremas?___________________
9. Quantos dias o(a) Sr.(a) permanecerá em Coremas nesta viagem? ____________
10. Como o(a) Sr.(a) classifica a divulgação da “Festa do Peixe” (eficiência, folheteria,
propaganda)?
( ) ruim ( ) regular ( ) boa ( ) ótima ( ) não sabe
11. Como o(a) Sr(a) avalia os serviços (atendimento, qualidade da comida, higiene) nos
restaurantes/ bares de Coremas?
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
12. Em relação ao preço pelos serviços avaliados acima, o(a) Sr.(a) considera:
( ) baixo ( ) justo ( ) elevado
13. Onde o(a) Sr.(a) está hospedado?
( ) casa de amigos/parentes ( ) pousada ( ) não vai pernoitar em Coremas
172
14. Se o(a) Sr.(a) está hospedado em pousada, como classifica os serviços desta
pousada? ( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
15. O não-tratamento da água do abastecimento público, em Coremas, interfere
negativamente na qualidade de sua estada em Coremas?
( ) Sim ( ) Não
16. Como o(a) Sr.(a) avalia os seguintes serviços de apoio ao turismo:
16.1 Telecomunicações (telefones públicos, acesso à internet, etc)
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
16.2 Agenciamento bancário (caixas eletrônicos)
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
16.3 Limpeza pública
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
16.4 Serviços de saúde (farmácia, postos de saúde)
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
16.5 Segurança pública (policiamento, salva-vidas)
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
16.6 Comércio turístico (loja de conveniência, artesanato, produtos típicos)
( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) não sabe
17. Já visitou Coremas antes?
( ) Não ( ) Sim. Quando?______________ Quantas vezes? _____
18. Planeja visitar Coremas novamente? _______________
19. Como o(a) Sr.(a) avalia a hospitalidade dos Coremenses?
( ) ruim ( ) regular ( ) boa ( ) ótima ( ) não sabe
20. O que mais lhe agrada em Coremas?_____________
21. Alguma coisa lhe desagrada?
( ) Não ( ) Sim. O quê? _______________
Alguma sugestão para melhorar a estada dos turistas/visitantes em Coremas?
( ) Não ( ) Sim. Qual? ______________
Obrigado!
173
APÊNDICE G
Termo de consentimento livre e esclarecido
Prezado(a) Senhor(a)
Esta pesquisa é sobre o planejamento da atividade turística no sertão da Paraíba, e em
especial, no município de Coremas. Está sendo desenvolvida por Davi Alysson da Cruz
Andrade, do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade
Federal da Paraíba, sob a orientação do Prof. Alberto Kioaru Nishida e da Profa. Maristela
Oliveira de Andrade.
Os objetivos do estudo são: (1) analisar a sustentabilidade do turismo no município
de Coremas; (2) Identificar as principais ações do governo local (políticas/planos/projetos)
direcionadas para o desenvolvimento turístico; (3) Verificar a percepção da comunidade local
sobre os possíveis impactos decorrentes da atividade turística no município; (4) Analisar a
participação dos atores relacionados com o turismo na elaboração de políticas/ações para o
turismo no sertão e em Coremas; (5) Apontar os impactos positivos e negativos já existentes e
potenciais em decorrência da atividade turística no município;
A finalidade deste trabalho é contribuir para o entendimento do desenvolvimento
turístico em pequenas localidades sob o olhar da sustentabilidade, e também fornecer
subsídios para estudos e ações relacionados ao turismo na região, que podem repercutir na
vida da comunidade local.
Solicitamos a sua colaboração para esta entrevista, como também sua autorização para
apresentar os resultados deste estudo em eventos relacionados ao tema como também em
artigos científicos. Por ocasião da publicação dos resultados, seu nome será mantido em
sigilo.
Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e, portanto, o(a) senhor(a)
não é obrigado(a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as atividades solicitadas pelo
Pesquisador. Caso decida não participar do estudo, ou resolver a qualquer momento desistir
do mesmo, não sofrerá nenhum dano.
O pesquisador estará a sua disposição para qualquer esclarecimento que considere
necessário em qualquer etapa da pesquisa.
174
Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor entrar em contato pelos
telefones (83) 3433-1685/ (83) 9903-6635; ou por e-mail: [email protected]
Atenciosamente,
___________________________________________
Davi Alysson da Cruz Andrade
Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido(a) e dou o meu
consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados. Estou ciente que
receberei uma cópia desse documento.
_____________________________________
Coremas, ______de ______________ de 2006.
175
APÊNDICE H
Caracterização dos grupos que representam a sociedade civil organizada em Coremas:
1. Colônia de Pescadores Z-7:
Criada em Julho de 1978 reúne os/as pescadores/as do município de Coremas e busca
atender seus interesses, assim como é responsável pelo cadastro dos/as pescadores/as
junto ao governo estadual e pelo controle da “idenização” aos pescadores durante a
época de defeso. São cadastradas por volta de 1200 pessoas, sendo aproximadamente
800 homens e 400 mulheres (pescadores e pescadoras). As reuniões não acontecem com
regularidade definida, são extraordinárias, e aproximadamente 85% dos associados
costumam participar. Participamos de uma reunião extraordinária no mês de Outubro e
foi verificado bastante coesão entre o grupo e facilidade de debate entre a presidência e
os associados. Segundo o presidente da Colônia, não existe facilidade de acesso ao
governo municipal e são criados algumas oportunidades de trabalho para os pescadores
durante os eventos em Coremas (carnaval e a Festa do Peixe). Uma dessas
oportunidades é a realização de passeios nos barcos dos pescadores.
2. Associação Cultural e Recreativa de Coremas – ACRC:
Esta associação existe desde 1972, é composta por 100 pessoas desde sua fundação. As
reuniões não acontecem com regularidade e apenas os membros da diretoria costumam
participar. A “ACRC”, conhecida na comunidade como “o clube” é responsável pela
realização de shows musicais e outros eventos; o espaço físico também é utilizado para
comemorações de festas de casamento e outras afins. Assim, destacamos o papel da
ACRC como equipamento de apoio a atividade turística no município. Segundo o
presidente, a Associação tem facilidade de acesso ao governo municipal.
3. Associação de Moradores da Mãe d’Água – Asmad:
Criada em 1996, atualmente tem 115 associado. Acontecem reuniões mensais e a
comunidade participa parcialmente. Segundo o presidente a ASMAD, o turismo em
Coremas vêm permitindo a criação de postos de trabalho para pessoas da comunidade,
como garçons nos bares e restaurantes da localidade. A Associação tem facilidade de
acesso ao governo municipal.
4. Cooperativa da União Agropecuária dos Irrigantes e Psicultores de Coremas –
Couaipic:
Criada em 1998 depois da constatação de que a pesca está diretamente relacionada com
a agricultura no município de Coremas, tem 57 associados, que participam ativamente
das reuniões periódicas. Segundo o presidente da Cooperativa, existe facilidade de
acesso ao governo municipal. Assim como a participação da Cooperativa na Festa do
Peixe, onde as comunidades rurais têm prioridades na instalação de barracas para
comercialização de alimentos e bebidas, gerando divisas para estas comunidades.
Fonte: pesquisa de campo. (Ago./Out., 2006)
176
ANEXO
Espacialização dos Roteiros Turísticos da Paraíba
Fonte: PARAÍBA, 2004.
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