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justificamos o investimento feito nesta investigação por estar inscrita no quadro das
preocupações dos educadores e dos pesquisadores em relação à ressignificação que as
políticas educacionais vêm conferindo à autonomia escolar. Ainda do ponto de vista
educacional, consideramos que este trabalho tenha se revestido de relevância social na medida
em que serviu de instrumento a serviço da fala dos atores sociais das escolas
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pesquisadas.
Integrando o processo de acercamento do objeto de estudo - e tendo presente a
realidade da escola pública do sistema pernambucano de ensino que, a partir do Plano
Estadual de Educação - o PEE/PE 2000-2009 (GOVERNO ESTADUAL DE
PERNAMBUCO, 2001) - passou a ser pensada sob a perspectiva de uma escola autônoma -
levantamos as seguintes indagações que serviram de guia para o desencadeamento desta
pesquisa, a saber: a) No cenário educacional brasileiro, notadamente a partir da
década de 1990, que configurações o princípio da autonomia da escola tem assumido?
b) Nas diretrizes educacionais formuladas para o sistema público de ensino do
Estado de Pernambuco, tendo como referência a LDB 9394/96 e o Plano de Estadual de
Educação/2000-2009, como a autonomia da escola tem sido apresentada?
c) Nestes últimos anos, tomando-se como referência a promulgação do atual
Plano Estadual de Educação/2000-2009, como o princípio da autonomia vem sendo
implementado em escolas da rede estadual de ensino de Pernambuco, localizadas nos bairros
de Brasília Teimosa e Casa Amarela, na cidade do Recife?
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O que entendemos por atores sociais da escola? De forma extensiva, por atores sociais da escola
compreendemos aqueles e aquelas que, em variados lugares ou funções sociais, estão circunscritos no espaço
concreto de uma escola, a saber: Professores, Alunos, Pessoal Técnico-admistrativo (Diretor, Vice-Diretor,
Supervisor Escolar/Educador de Apoio, Secretário, Biliotecário...), Funcionários (agentes administrativos,
merendeiras, pessoal de serviços gerais...), Pais e membros da comunidade ao entorno da escola, notadamente os
que estão organizados em associações representativas. Mais do que do ponto de vista funcional, consideramo-los
como atores sociais da escola por serem aqueles e aquelas que, de modo mais direto, no dia-a-dia, estão
coligados na e pela comum tarefa de transmitir o saber historicamente acumulado e, a partir do saber do qual o
aluno é portador, buscam reconstruí-lo criticamente. Assim, estes sujeitos fazem acontecer o processo educativo
no âmbito institucional da escola.
Apesar de estarem coligados em torno da tarefa da construção do saber, os atores sociais da escola, por conta de
processos ideológicos desenvolvidos pelas classes dominantes, também podem estabelecerem relações sociais
conflitivas entre si a ponto de, inclusive, reproduzirem no espaço escolar (muitas vezes, sem se darem conta
disso) a relação antagônica que se dá no espaço mais amplo da sociedade, ou seja, reproduzindo as relações de
dominador/dominado, superior/inferior. Neste sentido, contraditoriamente, ao mesmo tempo em que o saber se
constitui em amálgama convergente da ação dos atores sociais da escola, sobre ele pode se estabelecer uma
relação dicotômica entre estes mesmos atores, ou seja: os que sabem (professor, diretor, especialistas...) e os que
não sabem (alunos, pais, funcionários...), entre os que ensinam e os que aprendem e assim por diante. Não
obstante tal possibilidade, mediante processos participativos, poderá ocorrer a superação de tal dicotomia e,
assim, todos os atores sociais da escola, independente da função que desempenham, ou mesmo do grau de
instrução que possuem, poderão chegar ao comum patamar de “eternos aprendizes da vida”, pois somente de um
trabalho comum e solidário de esclarecimento, de persuasão e de educação recíproca é que pode nascer uma
nova e concreta ação construtiva (GRAMSCI, 2004, p. 245).