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1
UFBP UEPB UERN UESC UFAL UFSE UFRN UFS UFPI
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
PRODEMA - UFPB/UEPB
ABRAÃO RIBEIRO BARBOSA
OS HUMANOS E OS RÉPTEIS MATA:
UMA ABORDAGEM ETNOECOLÓGICA
DE SÃO JOSÉ DA MATA - PARAÍBA
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2
ABRAÃO RIBEIRO BARBOSA
OS HUMANOS E OS RÉPTEIS DA MATA: UMA ABORDAGEM
ETNOECOLÓGICA DE SÃO JOSÉ DA MATA – PARAÍBA
Dissertação apresentada ao programa
regional de pós-graduação em
desenvolvimento e Meio Ambiente
PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba, Universidade Estadual da
Paraíba em cumprimento as exigências
para obtenção de grau de Mestre em
desenvolvimento e meio ambiente.
Orientador: Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida
João Pessoa – PB
2007
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3
ABRAÃO RIBEIRO BARBOSA
OS HUMANOS E OS RÉPTEIS DA MATA: UMA ABORDAGEM
ETNOECOLÓGICA DE SÃO JOSÉ DA MATA – PARAÍBA
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em
cumprimento às exigências para obtenção de grau
de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Aprovado em: _____/_________/______
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida - UFPB
(Orientador)
_______________________________________________
Prof. Dr. José da Silva Mourão – UEPB
Examinador
_______________________________________________
Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves – UEPB
Examinador
4
A ti meu Deus...
A “Dona Sindá” minha querida avó. A semente
que plantaste em mim agora começa a dar frutos.
A comunidade de Serra de Joaquim Vieira. Este
trabalho é de vocês.
5
Agradecimento
A Deus, sempre!
A todos da comunidade de Serra de Joaquim Vieira, em especial a Cidinho e sua
família, aprendi muito com vocês, não há como pagar;
A meus pais, Monserrate e Antonio, pelos incentivos, preocupações, e pela fé em
mim;
A meus irmãos, André e Allan, companheiros eternos;
A minha querida avó “Zefinha”, obrigado pelas orações e mimos de vó;
A Cristiane, ou simplesmente ‘Cris’, meu impulso;
A minha família, por acreditarem no meu “vôo”;
A Helder, amigo de sempre, valeu pela força;
A Mario, ilustre amigo, valeu a paciência;
A Silvaney, meu amigo, obrigado pelo apoio;
A Elizabeth e Ana Luíza, obrigado pela companhia e pelas horas e horas de trabalho
na mata, este trabalho também é de vocês.
A Guy, meu mestre e orientador, obrigado por confiar;
A Mourão, nobre amigo, obrigado por me apresentar a etnoecologia;
A Rômulo pelo auxilio e apoio;
A Irecê, obrigado pela verdade;
A Alina Fernandes, obrigado por confiar;
A Gentil e Fagner, valeu a força companheiros da herpetologia;
A minha turma de mestrado: André, Rivero, Keliana, Lidiane, Cezar, David, Mariza e
Aline, valeu o companheirismo.
6
"Os ignorantes, que acham que
sabem tudo, privam-se de um dos
maiores prazeres da vida:
APRENDER"
Provérbio popular
7
Resumo
Para os sertanejos a proximidade com répteis é o comum quanto à escassez de
água. Este trabalho buscou avaliar o conhecimento etnoherpetológico da
comunidade de Serra de Joaquim Vieira, localizada em São José da Mata (Distrito
de Campina Grande - Paraíba). Objetivou também analisar a relação local: Humano
X Répteis, e inventariar a herpetofauna local. A obtenção de dados etnoecológicos
foi feita através de questionários estruturados e semi-estruturados, e técnicas de
observação direta. Para a elaboração do inventário herpetofaunístico foram
utilizadas técnicas de armadilhas de queda, varredura com auxilio de cães de caça e
coleta por terceiros. Constatou-se uma estreita relação humano/réptil na
comunidade; a utilização destes animais como fonte alimentar e zooterápica; e o
entendimentos por parte dos nativos, do ciclo de climático em relação a
biodiversidade local. No levantamento da herpetofauna, foram encontrados 44
espécies de répteis distribuídos entre serpentes, lagartos, quelônios e anfisbênios.
Sendo uma área entre o brejo e caatinga, a mata onde está instalada a comunidade
é de suma importância ecológica, pela particularidade do ecossistema, e de
importância etnoecológica, pela forma de manejo dos recursos naturais locais.
Palavras-Chave: Etnozoologia; Etnoherpetologia; Caatinga
8
Abstract
For the sertanejos the proximity with reptiles is tam common how much the water
scarcity. Sine thus this work searched to evaluate the ethnoherpetology knowledge of
the community of Serra de Joaquin Vieira, located in São José da Mata (Campina
Grande City - Paraíba). Also objectified the agreement of the local relation being
Human and Reptiles, and the survey of herpetofauna site. The obtainment of
ethnoecology data was made used structuralized and half-structuralized
questionnaires, and techniques of direct comment. For the elaboration of the
herpetofauna inventory, techniques of pittfall traps had been used and sweepings
with i assist of hunting dogs. As result can be cited the narrow present human/reptile
relation in the community; the use of these animals as alimentary and zootherapy
source; e the agreements on the part of the natives, the cycle of climatic in relation to
the biodiverty. With relation to the survey of herpetofauna, 44 species of reptiles
distributed between snakes, lizards, turtles and worm-lizards had been found. Being
an area among the brejo and caatinga, the woods where is installed the community is
of summary importance ecological, by particular of the ecosystem, and of importance
ethnoecological, by form of handling from the natural resources sites.
Key-words: Ethnozoology; ethnoherpetology; Caatinga
9
Lista de Figuras
Figura Pág.
Figura 1 Mapa de localização do distrito de São José da Mata Paraíba.
Fonte: Helder Farias Pereira de Araújo (2007)......................................................
37
Figura 2 Biodiversidade do Bioma Caatinga. No mapa o número 20
corresponde a mata de São José da Mata. Fonte: Biodiversitas 2004.................
38
Figura 3 Mapa da área de mata do distrito de São José da Mata e em
destaque a comunidade de Serra de Joaquim Vieira. Fonte: Prefeitura
municipal de Campina Grande PB (2004) adaptado por Abraão R. Barbosa
(2007).....................................................................................................................
39
Figura 4 Serra de Joaquim Vieira a) vista de uma das estradas de acesso;
b) entrada da comunidade;. c) moradia pica; d) “tanques” – reservatórios
naturais de água. Fotos: a, b e d – Abraão R. Barbosa; c – Sabrina M.
Rasmussen............................................................................................................
40
Figura 5 Representação esquemática da técnica de bola de neve (snowball)
para escolha dos informantes. Abraão Ribeiro Barbosa (2006)............................
43
Figura 6 – Esquema ilustrativo de uma armadilha de queda (Pitfall traps)..........
49
Figura 7 Armadilhas de queda (Pitfall traps) fixadas na mata. a) durante
estação de chuvas; b) durante estação seca........................................................
49
Figura 8 – Casal idoso em frente a sua casa erguida a mais de 100 anos. Foto:
Helder N. de Albuquerque.....................................................................................
56
Figura 9 Exemplar de Pião (
Jatropha gossypiifolia L.
) plantado próximo a
residência de um dos informantes. A seiva do vegetal é utilizada como
cicatrizante. Foto: Helder N. de Albuquerque........................................................
62
Figura 10 Exemplares de Galo de Campina (Paroaria dominicana Linnaeus
1758), flagrados livremente entres as estradas na SJV (a) e no terreiro de
residências da referida comunidade (b). Fotos: a – Elizabeth C. Silva e b-
Helder N. de Albuquerque.....................................................................................
63
Figura 11 Formação do conhecimento dos informantes em relação ao uso
dos recursos da mata............................................................................................
65
Figura 12 Ciclo climático natural. Mudança na paisagem. a) da lavoura na
época de chuvas (abril) para a época de seca (outubro); b) da cheia do açude
(maio) para o solo rachado (novembro). Foto: Abraão Ribeiro Barbosa – 2006...
71
Figura 13 – Cães 1 e 2 tipos rejeitado para caça, e cão 3 sendo comparado ao
4 com “bom para caça”. Fotos: Abraão R. Barbosa..............................................
74
Figura 14 – “Baleia” instantes antes de acuar um teju (Tupinambis merianae)...
74
10
Lista de tabelas
Tabelas Pág.
Tabela 1 – Lista de ferramentas utilizadas para caça pelos moradores da SJV..
72
Tabela 2 Lista de animais nativos utilizados pelos informantes como
alimento, fonte de renda e zooterápico.................................................................
77
Tabela 3 Comparação entre informações fornecidas pelos informantes para
caracterizar cada grupo de répteis, em relação a literatura científica específica.
78
Tabela 4 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre
o conhecimento etnoherpetológico de quelônios, em relação a literatura
científica específica...............................................................................................
81
Tabela 5 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre
o conhecimento etnoherpetológico de lagartos, em relação a literatura
científica específica...............................................................................................
85
Tabela 6 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre
o conhecimento etnoherpetológico de serpentes, em relação a literatura
científica específica...............................................................................................
88
Tabela 7: Animais com aplicação zooterápica.....................................................
93
Tabela 8 – números do levantamento da herpetofauna de SJM..........................
97
Tabela 9 – Espécies de répteis capturados em armadilha de queda...................
99
Tabela 10 – Espécies de répteis coletados por terceiros.....................................
100
Tabela 11 – Espécies de répteis capturados em varreduras com auxilio de cão.
101
Tabela 12 Registro fotográfico de anfisbenios com ocorrência em
SJM.......................................................................................................................
71
Tabela 13 – Registro fotográfico de lagartos com ocorrência em SJM................
72
Tabela 14 – Registro fotográfico de serpentes com ocorrência em SJM.............
79
Tabela 15 – Registro fotográfico de quelônios com ocorrência em SJM.............
85
11
Lista de Gráficos
Gráfico Pág.
Gráfico 1 Distribuição porcentual da faixa etária encontrada na comunidade
de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)............
51
Gráfico 2 Distribuição porcentual quanto ao gênero encontrada na
comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata PB. (janeiro de
2006).....................................................................................................................
52
Gráfico 3 Distribuição porcentual do estado civil dos membros da
comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata PB. (janeiro de
2006).....................................................................................................................
52
Gráfico 4 Distribuição porcentual do número de filhos por família da
comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata PB. (janeiro de
2006).....................................................................................................................
53
Gráfico 5Distribuição porcentual do nível de escolaridade dos moradores da
comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata PB. (janeiro de
2006) ....................................................................................................................
54
Gráfico 6 Distribuição porcentual da profissão / fonte de renda dos
moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira São José da Mata
PB. (janeiro de 2006) ...........................................................................................
55
Gráfico 7 Distribuição porcentual das condições de moradia dos moradores
da comunidade de Serra de Joaquim Vieira São José da Mata PB. (janeiro
de 2006) ...............................................................................................................
56
Gráfico 8 Distribuição porcentual do tipo de agricultura desenvolvida pelos
moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira São José da Mata
PB. (janeiro de 2006) ...........................................................................................
57
Gráfico 9 Distribuição porcentual do tipo preferencial de lavoura cultivada
pelos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira São José da
Mata – PB. (janeiro de 2006) ...............................................................................
58
Gráfico 10 Distribuição porcentual da forma de criação animal desenvolvida
pelos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira São José da
Mata – PB. (janeiro de 2006) ...............................................................................
59
Gráfico 11 Distribuição porcentual do tipo de criação animal feita pelos
moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira São José da Mata
PB. (janeiro de 2006) ...........................................................................................
60
12
Lista de quadros
Quadros
Pág.
Quadro 1 Distribuição filogenética de répteis da Ordem Squamata
ocorrentes na Mata de SJM..................................................................................
98
Quadro 2 – Distribuição filogenética de répteis da Ordem Testudine ocorrentes
na Mata de SJM....................................................................................................
99
13
Sumário
Pág.
1.0 – Introdução......................................................................................... 15
2.0 – Referencial Teórico........................................................................... 18
2.1 – Cultura Humana........................................................................
18
2.2 – Conceitos de Etnoecologia....................................................... 19
2.3 – Etnobiologia.............................................................................. 23
2. 4 – Zooterapia................................................................................
26
2.5 – A Herpetofauna e a Caatinga................................................... 30
2.6 – O Sertanejo e os Répteis..........................................................
33
3.0 – Objetivos........................................................................................... 36
3.1 – Gerais....................................................................................... 36
3.2 – Específicos............................................................................... 36
4.0 - Área de Estudo.................................................................................. 37
5.0 – Material e Métodos............................................................................
42
5.1 – Pesquisa etnoecológica............................................................
42
5.1.1 – Escolha dos informantes..................................................
42
5.1.2 – Coleta de dados fornecidos pelos informantes................ 43
a) Entrevistas livres e aberta.................................................. 44
b) Observação direta.............................................................. 44
c) Observação Participante (não membro).............................
45
d) Questionários..................................................................... 45
5.2 – Inventário Herpetofaunístico.....................................................
46
5.3 – Coleta dos espécimes.............................................................. 46
a) Varredura................................................................................. 47
b) Coleta por terceiros..................................................................
47
c) Armadilhas de Queda.............................................................. 48
5.4 – Registro fotográfico...................................................................
49
6.0 - Resultados e discussões................................................................... 51
6.1 – Perfil socioeconômico da Comunidade.................................... 51
6.2 – Questionário etnoecológico...................................................... 60
6.3 – Manejo da fauna e flora da mata.............................................. 61
6.4 – Aprendizado..............................................................................
64
6.5 – Estado de preservação da mata...............................................
66
6.6 – Influência da Sazonalidade.......................................................
69
6.7 – Uso dos recursos através dos mecanismos caça.................... 71
6.8 – Relações com a Fauna.............................................................
76
6.9 – Visão Acerca de Répteis.......................................................... 78
a) Relação Humano X Quelônio.................................................. 80
14
b) Relação Humano X Lagarto.....................................................
83
c) Relação Humano X Serpente.................................................. 87
6.9 – Zooterápicos............................................................................. 92
6.10 – Inventário................................................................................ 97
a) Formas de captura...................................................................
99
7.0 – Conclusão......................................................................................... 118
8.0 – Referencias Bibliográficas.................................................................
119
9.0 – Anexos.............................................................................................. 130
15
1.0 - Introdução
O conhecimento empírico pertencente a um determinado povo sobre o
ambiente natural a sua volta, faz jus a uma investigação científica utilizando métodos
confiáveis. A utilização de métodos científicos é essencial para a compreensão da
origem, dos motivos e das relações ambientais que constroem tal conhecimento
(TOLEDO, 1992; MARQUES, 1991).
Entre os enfoques que mais têm contribuído para o estudo do conhecimento
empírico, estão as etnociências (PEDROSO-JÚNIOR, 2002). Segundo Mourão e
Nordi (2006), “os estudos que se referem aos saberes tradicionais ou ao
conhecimento ecológico tradicional, preocupam-se, de um modo geral, com a
maneira como os povos tradicionais usam e se apropriam dos recursos naturais,
seja através do manejo, das crenças, conhecimentos, percepções, comportamentos,
e também, das várias formas de classificar, nomear e identificar as plantas e animais
do seu ambiente.”
Dentre as etnociências está a etnoecologia, um ramo relativamente novo que
visa o entendimento das comunidades “tradicionais” em suas relações com o meio.
Não há ainda um consenso sobre o termo etnoecologia (BARRERA, 1983; TOLEDO,
1992; PEDROSO-JÚNIOR, 2002), mas pode-se dizer que é um campo do
conhecimento científico que tem como objetivo testar a validade ecológica de
determinadas formas de manejo dos recursos naturais utilizadas por um grupo
cultural em uma determinada área.
A etnoherpetologia é um estudo mais específico que delimita seu enfoque nos
grupos étnico, no que diz respeito ao seu conhecimento, utilização, classificação e
16
convivência com os répteis. Parafraseando Costa-Neto (2003) a etnoherpetologia
pode ser compreendida como a investigação da ciência herpetológica possuída por
uma determinada sociedade, tendo como base os parâmetros da ciência ocidental.
Acreditando que a etnoecologia deve ser uma ferramenta holística capaz de
integrar aspectos intelectuais e práticos de um determinado grupo social, no
presente trabalho buscou-se avaliar o conhecimento etnoecológico e
etnoherpetológico dos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira (São
José da Mata - Distrito de Campina Grande PB), no tocante a fauna de répteis
local.
Regra geral, cinco motivos moveram a realização de estudos de etnoecologia
(etnobiologia) e herpetologia na Mata de SJM:
Primeiro, a mata é única na região e seus limites estão margeando
comunidades urbanas em expansão;
Segundo, não dados relevantes sobre a diversidade biológica da mata
nem sobre como as comunidades locais utilizam-se dos recursos naturais da
mata;
Terceiro, como se trata de uma área parte blica e parte particular não
programas de conservação de recursos biológicos;
Quarto, a mata encontra-se em processo de deterioração ambiental
provocado por um crescimento populacional tanto nas bordas quanto no
interior da mata.
Quinto, com se trata de uma área de ecótono que acabou isolada, sua
degradação pode está levando à rápida perda de espécies únicas e à
eliminação de processos ecológicos chaves.
17
Entre os grupos étnicos da mata, escolheu-se a comunidade de Serra de
Joaquim Vieira, pelo seu isolamento de outros grupos e pelas atividades de sub-
existências ligadas à mata. A temática do trabalho envolveu a relação: Humanos X
Répteis, procurando entender as relações ecológicas entre estes dois grupos, na
tentativa de traçar um perfil do entendimento, das formas de manejo, das crenças e
do juízo de valor que a comunidade local possui sobres os répteis..
Rodrigues (2000) ressalta que necessitamos urgentemente de inventários
multidisciplinares utilizando métodos adequados, de modo a amostrar melhor a
diversidade biológica, uma vez que este trabalho contribuirá na determinação de
áreas prioritárias para a preservação da biodiversidade, ainda desconhecida por
falta de amostragem, como também irá colaborar no planejamento de uma política
social e conservacionista futura.
Sendo um ecótono, a mata onde esta instalada a comunidade é de suma
importância ecológica. Desta forma outra preocupação do trabalho foi à elaboração
de um inventário herpetofaunístico da mata, uma vez que não estudos sobre a
fauna local de répteis.
Os resultados etnoecológico e herpetofaunísticos obtidos neste trabalho
foram interpolados, no intuito de garantir uma abrangente interpretação da relação
humano X répteis naquele ambiente.
18
2.0
-
Referencial Teórico
2.1 - Cultura Humana
A capacidade de originar cultura é um dos diferenciais entre o homem e
outros animais. Esta aptidão acaba dando destaque ao posicionamento ecológico do
ser humano no ambiente em que vive.
Segundo Guimarães (2003) a cultura dotou o ser humano de uma flexibilidade
ecológica muito maior do que a desfrutada por qualquer outra espécie. Seres
humanos são dotados da capacidade de aprender, aumentar e corrigir
continuamente seu conhecimento sobre o meio e ainda transmiti-lo, enquanto que os
outros seres não possuem estas mesmas capacidades.
A cultura teve início nos mais primitivos grupos humanos, e o conhecimento
popular a respeito do ambiente em que viveram o possibilitou o
desenvolvimento cultural como, conseqüentemente, uma organização social e
política (MARIN, 1996)
Chrétien (apud COSTA-NETO, 1999) diz que o conhecimento dos povos
“primitivos” brota da satisfação das necessidades sicas da vida, através de uma
ligação afetiva realizada com a natureza e seus elementos. Cada comunidade utiliza
mecanismos próprios para facilitar suas atividades de sobrevivência, a exemplo das
comunidades pesqueiras que usam o seu conhecimento sobre as marés para a
maximização da pesca (MATURANA e VARELA, 1995). Para Marques (1993) os
pescadores portam o “saber” e o “saber fazer” relacionados com a estrutura e a
função do(s) ecossistema(s) que são vinculados.
19
Um bom exemplo de como a cultura se espalhou em grupos humanos é dado
por MARTHO (1996): “Quando, por exemplo, um indivíduo de um determinado grupo
descobriu que poderia utilizar lascas de pedra como objeto cortante, isto ficou
fazendo parte do seu conhecimento pessoal, porém ao repassar esta descoberta a
outros do grupo, o conhecimento passava a ser coletivo e tido então como parte da
cultura daquele povo.” Um trecho do trabalho de Gadotti (2007) sintetiza o exemplo
de Martho: “Embora aprendido individualmente, o conhecimento é uma totalidade.”
Um outro exemplo pode ser observado em uma comunidade específica, que
utiliza mecanismos próprios para facilitar suas atividades de sobrevivência, a
exemplo das comunidades pesqueiras que usam o seu conhecimento sobre as
marés para a maximização da pesca (MATURANA e VARELA, 1995). Para Marques
(1993) os pescadores portam o “saber” e o “saber fazer” relacionados com a
estrutura e a função do(s) ecossistema(s) que são vinculados.
Segundo Moran (1992) a cultura cresce na medida em que é repassada. Esta
afirmativa corrobora com a síntese da idéias de Martho (1996) e Maturana e Varela
(1995), onde o aprendizado com o ambiente é repassado para gerações posteriores,
estas por sua vez, acrescentavam novos conceitos, modificando as idéias
ultrapassadas e deixando novas idéias para as próximas gerações.
2.2 - Conceitos de Etnoecologia
O conhecimento empírico é definido por MARTIN e SWARNAKAR (1999)
como uma forma particular, complexa e reiterativa de interpretar fenômenos e fatos
20
naturais ou sobrenaturais de um certo povo, região ou cultura. Segundo Barbosa
(2006) povos de uma determinada área são capazes de relacionar, baseados na
observação cotidiana, “eventos naturais” com “elementos naturais” pertencentes à
paisagem onde vivem ou desenvolvem atividades de subsistência.
A paisagem utilizada pelo homem não é um simples amontoado de elementos
geográficos desordenados, mas sim o resultado de uma combinação dinâmica entre
elementos físicos, biológicos e humanos que, reagindo uns com os outros, fazem da
paisagem um conjunto único e inseparável e em constante evolução (VESENTINI,
1992). É justamente neste “conjunto único” onde estão as relações homem-natureza
e ai que a etnoecologia entra como ferramenta investigativa destes processos.
É papel da etnoecologia promover, através de métodos científicos, a
investigação sobre a origem e validade de conhecimentos empíricos acerca de um
ambiente natural. Este estudo étnico busca o entendimento da interação e
interferência do homem nos fenômenos e elementos naturais de uma determinada
paisagem.
Proposta pela primeira vez por Harold Conklin (1954) em seu clássico estudo
dos Hanunoo, nas Filipinas, a etnoecologia é um campo do conhecimento científico
ainda recente. De acordo com Toledo (1992), este campo surge a partir de novas e
inusitadas demandas do conhecimento científico e sob a perspectiva de um novo
paradigma: a Sustentabilidade.
Para Capra (1996) o grande desafio da atualidade é criar comunidades
sustentáveis, ou seja, ambientes sociais e culturais que podem satisfazer as
necessidades e aspirações de uma geração sem diminuir as chances das futuras.
Em linhas gerais este conceito é também encontrado no trabalho de Lima e
Pozzobon (2005).
21
Para Toledo (1992) a etnoecologia contribui para o desenvolvimento
sustentável, uma vez que investiga formas peculiares de conhecimento ecológico,
classificação, interpretação e manejo da natureza que não são originários apenas do
saber sistematizado científico.
A etnoecologia como ciência vem associar o conhecimento cientifico aos
saberes populares, valorizando principalmente a relação do homem com o ambiente.
Este termo ainda não possui consenso sobre o seu significado, não sendo possível
oferecer uma delimitação precisa do campo de pesquisa coberto por ele, como
afirma Toledo (1992). No entanto, diversas definições convergem, o que para
Marques (2001) significa “diferentes lentes para um mesmo óculos”.
Segundo Alves (1998) a etnoecologia constitui um campo multidisciplinar e
multi-cultural voltado para o estudo das formas pelas quais os grupos humanos
organizam seus conhecimentos e suas práticas em relação ao ambiente natural.
Esta ciência deve ser tratada como uma disciplina holística, capaz de integrar
aspectos intelectuais e práticos, devendo tratar os grupos humanos não como meros
objetos de estudo, mas como sujeitos sociais que realizam atividades intelectuais
(conhecimento, percepção e crença), tomam decisões e executam operações
práticas objetivando a apropriação da natureza.
O ponto de partida de um trabalho etnoecológico de acordo com Toledo
(1992) é justamente a exploração das conexões entre o corpus transmissão do
conhecimento através da linguagem (Codificação) e praxis - operações práticas
quem manifestam a apropriação material da natureza (utilização).
Neste contexto o alvo da etnoecologia é a análise de atividades práticas e
intelectuais de grupos humanos em relação a suas crenças, conhecimentos e
objetivos, como também as formas de apropriação da natureza por estes grupos. No
22
mesmo sentido Nordi et al (2001) entende que é função da etnoecologia desvendar,
compreender e sintetizar, todo o conjunto de teorias e práticas relativas ao ambiente,
oriundas de experimentação empírica do mesmo, por culturas tradicionais.
Em se tratando de uma ciência capaz de alcançar diversos campos do
conhecimento, a etnoecologia conforme aponta Nazarea (1999) estuda a maneira
pela qual, diferentes povos compreendem seu ambiente e seu relacionamento com
ele. A investigação cientifica deste tipo de relacionamento: povos / ambiente; é
detalhada por Marques (2001) no que ele chama de “etnoecologia abrangente”.
Segundo o mesmo autor a etnoecologia abrangente permite uma abordagem a partir
da análise das cinco conexões básicas universais: 1 - Homem/ mineral (como o
homem se conecta com o mundo mineral); 2 - Homem/ vegetal (conexão com o
mundo vegetal); 3 - Homem/ animal (conexão com os animais); 4 - Homem/ homem
(interações ecológicas) e a 5 - interação Homem/ sobrenatural.
Segundo Alves et al (2002) as pesquisas etnoecológicas, de uma forma geral,
baseiam-se na visão de que a conservação da natureza vincula-se diretamente a
questões sociais, econômicas, culturais e biológicas. Uma das preocupações entre
os etnoecólogos atuais é evitar que seus trabalhos façam apologias aos saberes
tradicionais (ROUÉ, 2000; ADAMS, 2000; SATO, 2004). Essas apologias são feitas,
como bem enfatiza Roué (apud SOUTO, 2004), através de uma idealização
desproporcional dos chamados "saberes exótico". A autora vai além, e refere-se a
este "etnocentrismo às avessas" como um resgate do "mito do bom selvagem" de
Rousseau.
Para Sato (2004) os trabalhos etnoecológicos criaram uma “identidade
ecologicamente correta" ou o "mito do bom selvagem" para os grupos estudados,
criando uma perigosa dicotomia entre populações "tradicionais" e "não tradicionais".
23
Diegues (apud SOUTO, 2004) faz uma critica incisiva ao paradigma
conservacionista existente no Brasil, uma vez que conhecimentos e práticas valiosas
de populações tradicionais, em muitos casos são totalmente excluídas do processo
de proteção de áreas naturais. Costa-Neto (1999) assegura que a ciência o goza
de nenhuma superioridade sobre o conhecimento tradicional, se colocada diante da
lógica de que ninguém cria algum experimento científico partindo do nada, pois tem
que seguir pistas deixadas por um antecessor.
Esta afirmação pode ser reforçada por Popper (1982) que diz que do ponto de
vista de qualidade e da quantidade, a fonte mais importante de nosso conhecimento,
além do conhecimento inato, é a tradição.
2.3 - Etnobiologia
Freqüentemente a etnoecologia e a etnobiologia são descritas em uma
singular ótica e utilizadas para descrever as mesmas coisas. Segundo Barbosa
(2006), isso acontece pela proximidade dos campos de estudo abrangidos por estas
duas áreas. Certos autores, a exemplo de Toledo (apud ALVES, 1998), preferem o
termo etnoecologia, o que segundo ele é um conceito mais amplo e atual. Entretanto
autores como Posey (1997) e Begossi (1993) entendem que a etnobiologia não se
separa da etnoecologia, mas possui distintos objetivos.
Segundo Alves (1998) uma das raízes que vem formando a base do enfoque
da etnoecologia é a etnobiologia. De acordo com Haverroth (2007) este termo é
relativamente recente, apesar de estudos mais antigos possuírem um caráter
24
semelhante aos estudos etnobiológicos dos últimos anos. O autor continua o resgate
da historia da etnobiologia enfatizando que os primeiros estudos voltaram-se para
análises de aspectos lexicográficos das classificações de folk ou etnoclassificações
e sobre categorias de cores, plantas e parentesco próprias de diferentes sociedades.
Para Costa-Neto (2000) o conhecimento etnobiológico não pode ser mantido
sem o componente experiência. Sendo assim para se preservar o conjunto de
experiências, deve-se conservar os modos de vida dos quais estas emergem e se
desenvolvem.
Rea (2000) refere-se a etnobiologia como o estudo sintético da relação entre
a biologia e a antropologia, onde se captura frações de cada uma destas disciplinas.
A etnobiologia faz perguntas sobre como as culturas humanas se relacionam a seu
mundo biológico. Sendo estas perguntas infinitas e de foco variável.
Para Begossi (1993) a etnobiologia tem como objetivo analisar a classificação
das comunidades humanas sobre a natureza, em particular sobre os organismos.
Por isso, disciplinas como botânica, ecologia e zoologia o fundamentais, caso não
se tenha a intenção de ter apenas uma abordagem êmica.
Posey (1987) contribui definindo etnobiologia. Segundo o autor a etnobiologia
é:
“...essencialmente o estudo do conhecimento e das
conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito
da biologia. Em outras palavras, é o estudo do papel da natureza
no sistema de crenças e de adaptação do homem a
determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relaciona-
se com a ecologia humana, mas enfatiza as categorias e
conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo”
Partindo da visão compartimentada da ciência sobre o mundo natural,
Haverroth (2007), define campos variados de atuação na etnobiologia. Segundo ele
dependendo da abordagem a etnobiologia pode se ramificar em etnozoologia,
25
etnobotânica. Um aspecto curioso da origem destas disciplinas etnobiológicas é que
ambas surgiram antes da etnobiologia. A etnobotânica em 1896 e a etnozoologia em
1914 (CAMPOS, 2002), embora Clemente (1989) diga que o termo etnozoologia
surgiu bem antes nos Estados Unidos, em 1899, quando Mason o definiu como “a
zoologia de região tal como é contada pelo selvagem”.
Lévi-Strauss (apud BEGOSSI, 1993) acredita que determinadas comunidades
atribuem utilidade ou interesse por certos grupos animais ou vegetais porque estes
foram “primeiro conhecidos”. A valoração destes grupos pode acabar determinando
tendências nas temáticas dos trabalhos de etnobiologia, haja vista a quantidade de
trabalhos na área de etnobotânica, que segundo Begossi (1993) são os mais
numerosos, e os trabalhos em etnozoologia concentrados em etno-ornitologia e a
etnoentomologia. No entanto, mediante as grandes áreas do conhecimento biológico
que a botânica e a zoologia abrangem, fica evidente a importância de estudos
interdisciplinares em pesquisas etnobiológicas (BARRERA, 1983).
Na etnobiologia a diversidade de interações humano/ animais tanto pode ser
estudada do ponto de vista das ciências ocidentais, tais como a zoologia, psicologia
e etologia, quanto pela perspectiva da etnociência, mais precisamente pela
etnozoologia (COSTA-NETO, 2000)
A etnozoologia pode ser entendida como o estudo dos conhecimentos do
homem sobre os animais e também dos recursos de fauna utilizados pelo homem
(BAHUCHET apud COSTA-NETO, 2000). Nos estudos de Costa-Neto (2000) sobre
os recursos faunísticos utilizados por uma comunidade Afro-brasileira, esta
comunidade mostrou possuir um conhecimento etnozoológico tão coerente quanto o
conhecimento zoológico acadêmico. Eles dependem de seu conhecimento
26
tradicional sobre os animais (e vegetais) para a apropriação dos recursos da
natureza e utilização destes para fins diversos
Os trabalhos em etnozoologia abrangem, em geral, sete divisões:
Etnomastologia, Etno-ornitologia, Etnoherpetologia, Etnoentomologia, Etnoictiologia,
Etnocarcinologia e Etnomalacologia
De um modo geral, Santos e Marques (2001) consideram que os estudos
etnozoológicos ainda permanecem ancorados na tradição etnocientífica do
movimento da nova etnografia, com algumas raras incursões de cunho positivista.
Os autores continuam o seu raciocínio enfatizando que as interações homem/animal
são de tal complexidade que dificilmente revelar-se-ão na sua totalidade seguindo-
se apenas vias positivistas.
2. 4 – Zooterapia
Desde tempos antigos os seres humanos utilizam animais como recursos
medicinais, empregando medicamentos elaborados diretamente com os corpos
desses organismos, ou a partir dos produtos e substâncias produzidos por eles
(COSTA-NETO e PACHECO, 2005). A utilização de recursos animais para a
produção de medicamentos dar-se o nome de Zooterapia (LOUREIRO-SILVA et al.,
1999; COSTA-NETO, 2000, 2002, 2005; ANDRADE e COSTA-NETO, 2005; ALVES
e ROSA, 2006).
Apesar de ser considerada por muitos como superstição, não deve ser
negada, uma vez que os animais têm sido testados metodicamente pelas
27
companhias farmacêuticas como fonte de drogas para a ciência médica moderna
(ALVES et al.,, 2002).
Interessantemente a origem do termo Medicina, segundo Hogue (1987), tem
ligações com a zooterapia e tem raízes com a palavra “mead”, expressão que
nomeava uma bebida alcoólica feita dos favos de abelhas e que era consumida
freqüentemente como um elixir.
A utilização de zooterápicos, no tratamento e alívio de doenças e
enfermidades é disseminada em toda cultura humana (COSTA-NETO, 2005). De
acordo com Marques (1994) toda comunidade humana que apresenta um sistema
médico utiliza animais como fontes de medicamentos, a isso ele chama de “hipótese
da universalidade zooterápica”. Essas práticas tradicionais de cura envolvendo
animais são transmitidas de geração a geração, geralmente pela linguagem oral
(ANDRADE e COSTA-NETO, 2005).
Para a cura de enfermidades através de técnicas zooterapêutica o todo ou
diversas frações dos corpos animais, desde escamas, esporões, conchas, gordura,
pele e glóbulo ocular (COSTA-NETO, 2005) podem se utilizados e serem
administrados sobre a forma de , chás, fumos e comida. Perante o relato
testemunhal de usuários quanto à aparente eficácia deste zooterápicos, supõe-se
que substâncias bioativas estejam de fato presentes em seus corpos (COSTA-
NETO, 2002).
Para Costa-Neto (2005) a utilização de remédios à base de animais por
populações tradicionais, indígenas e/ou de baixa renda traduz-se por um saber
empírico que, necessariamente, não está destituído de fundamentos científicos. Se
adequadamente estudados estes conhecimentos podem gerar perspectivas para a
descoberta de novas fontes de remédios para o bem-estar humano.
28
Segundo Werner (apud COSTA-NETO, 2005) na Sierra Madre costuma-se
dizer que “No mais venenoso animal, está a mais poderosa cura”. Esta xima
ganha força quando se toma por referência a utilização de substâncias tóxicas de
animais como matéria prima para a produção de medicamentos pela industria
farmacêutica.
A produção de anti-venenos a partir do veneno extraído dos próprios agentes
tóxicos (serpentes, escorpiões e aranhas), é um exemplo de utilização de animais na
industria farmacêutica. Um outro exemplo são serpentes do gênero Bothrops
(WAGLER, 1824) que produzem uma peçonha rica em substâncias vasodilatadoras,
isoladamente a Bradicinina (LOUREIRO-SILVA et al., 1999), que auxiliam no
tratamento da hipertensão.
De acordo com Costa-Neto (2000) aproximadamente 300 espécies animais
são utilizadas como medicamentos no Brasil. Esta quantidade de espécies pode
está ligada a diversidade faunística brasileira. Porém, a variedade de animais
utilizados como zooterápicos é muito relativa para cada cultura.
Costa-Neto e Marques (apud COSTA-NETO, 2005) em estudos objetivando a
obtenção de dados sobre a utilização de peixes como remédios pela comunidade da
Praia de Siribinha – Bahia, observou que outros grupos animais também foram
mencionados como de utilidade terapêutica. Para esta comunidade, segundo Costa-
Neto (2005), seis categorias taxonômicas forma listadas: peixes (62%), crustáceos
(13%), répteis (10%), equinodermos (8%), moluscos (5%) e mamíferos (2%).
A utilização de quelônios de água doce (Phrynops sp) como zooterápicos por
pescadores do açude de Bodocongó (Campina Grande - PB) é registrada por Alves
et al., (2002). De acordo com o diagnostico popular local o quelônio é utilizado para
combater 11 enfermidades humanas e uma veterinária. De acordo com um trabalho
29
de leitura fenomenológica de uma interação homem-animal, o uso de medicamentos
contendo atrativos de répteis foi relatado como facilitador para a venda de produtos
medicinais folclóricos (SANTOS e MARQUES, 2001).
Em Remanso BA onde COSTA-NETO (2000) desenvolveu trabalhos de
etnozoologia enfocando zooterápicos, a maioria destes produtos provinham da caça,
da pesca e da coleta de mel. Desta forma, os moradores locais maximizam a energia
e o tempo desprendido nessas atividades reunindo alimentos e remédios.
Quando extrapola os limites tradicionais (valoração econômica) a zooterapia
abre espaço para a dificuldade de se alcançar a sustentabilidade. A extração de
recursos animais desordenadamente pode por em risco a diversidade ou a riqueza
de determinadas espécies animais e vegetais. Segundo Rebelo e Pezzuti (2000) a
manutenção do consumo se zooterápicos segue a tradição e as crenças. Os
produtores de zooterápicos devido a proximidade com populações destes percebem
o declínio populacional com antecedência, tanto pelos sinais da super-exploração,
quanto pela distribuição restrita e limitado acesso aos recursos (CUNNINGHAM,
apud REBELO e PEZZUTI, 2000). Entretanto, para eles a prática é uma questão de
subsistência.
Andrade e Costa-Neto (2005) relatam que embora os estudos sobre a
utilização de animais como fontes de medicamentos ainda sejam percentualmente
embrionários, deve-se destacar a importância ecológica desta prática. Pode-se dizer
que Alves e Rosa (2006) seguem o raciocínio de Andrade e Costa-Neto, relatando
que os medicamentos animais representam um importante componente na medicina
tradicional (por vezes em associação com espécies vegetais). Contudo, documentos
sobre a prática zooterapêutica ainda são limitados no país.
30
Ainda muito a se pesquisar sobre a utilização de zooterápicos. De forma
ética, testar metodologicamente a validade de determinadas práticas
zooterapêuticas é preciso e porque não dizer em face da problemática atual da
saúde – uma necessidade imediata.
2.5 - A Herpetofauna e a Caatinga
A herpetologia é o ramo da zoologia direcionado ao estudo de répteis e
anfíbios, incluindo suas classificações, ecologia, comportamento, fisiologia, anatomia
e paleontologia. No mundo atualmente cerca de 5.000 espécies de anfíbios e mais
de 8.000 espécies de répteis conhecidas, e mais de 80% da diversidade dos dois
grupos ocorre em regiões tropicais (POUGH et al., 1999).
A classe dos pteis constitui o primeiro grupo dos vertebrados totalmente
adaptados à vida em lugares secos na terra (ARAÚJO e BOSSOLAN, 2006) um dos
fatores que os difere dos anfíbios.
Etimologicamente da palavra réptil vem do latim reptare que significa
rastejar. Este nome é dado ao grupo em alusão a forma de locomoção comum entre
seus representantes.
Seguindo este parâmetro e outros de similaridade morfológica, a classe está
dividida informalmente em três grandes grupos: tartarugas, cágados e jabutis
(Testudines); jacarés, crocodilos e gaviais (Crocodilia); serpentes, lagartos, cobras-
de-duas-cabeças e tuataras (Lepidosauria) (ARAÚJO e BOSSOLAN, 2006).
31
Esta classificação segue os padrões taxonômicos propostos por Lineu, onde a
morfo-fisiologia e a afinidade entre espécimes é o mecanismo de agrupamento
(SANTOS, 2000; POUGH et al., 1999).
A classificação tradicional (proposta por Linnaeus) foi baseada em
similaridade, onde animais semelhantes foram agrupados no mesmo xon, ou pelo
menos, em grupos entre si. Segundo Pough et al., (1999) não era importante para a
classificação as conexões genealógica. Uma classificação deste tipo é funcional no
sentido de que organiza informações e vincula nomes as espécies, mas ela não
permite que façamos predições sobre aspectos desconhecidos da biologia das
espécies.
De acordo com Bernade (2006) a classe “Répteis” torna-se muito artificial,
pois a relação entre os grupos que a compõe ainda encontra-se em fase de
definição no que se refere à sistemática filogenética, que considera a classe como
não válida (POUGH et al., 1999).
O uso da expressão réptil ainda é uma forma simples e funcional de
classificar serpentes, lagartos, tartarugas, jacarés e cobras-de-duas-cabeças.
Entretanto por se tratar de um vocabulário técnico, para muitos populares este termo
possui interpretações diferentes ou o mesmo é desconhecido.
Recentemente um estudo coordenado pela Conservation International aponta
a caatinga entre umas das 37 grandes regiões naturais do planeta (TABARELLI e
SILVA, 2003). Segundo Gil (2002) grandes regiões naturais são ecossistemas com
mais de 1000.000 km² de áreas e que desta área no mínimo 70% de sua cobertura
vegetal seja original.
A distribuição geográfica dos répteis é ampla, sendo encontrados em diversos
ambientes com exceção dos pólos globais, e em especial os de clima quente
32
(BERNADE, 2006). Admitia-se outrora, que a herpetofauna da caatinga era a mesma
que ocorria no grande cinturão diagonal de formações abertas que se estende do
Chaco (ao norte do Pantanal) a o Nordeste brasileiro, passando pelo cerrado
(VANZOLINI, 1974). Entre os grandes grupos apenas os crocodilianos não ocorrem.
Não se encontram formas com especializações extremas à aridez, e muito pouco
são exclusivamente da caatinga.
Em se tratando de estudos sobre a ecologia de répteis, a Caatinga é uma
localidade de particular interesse, uma vez que compreende uma extensa área seca,
inteiramente contida na região tropical, e rodeada por habitats distintos (BARBOSA
et al., 2006-a). Situada entre as Florestas Amazônica e Atlântica, o bioma Caatinga
depara-se também com o Cerrado, admitindo assim, um “mosaico de interdigitações
e enclaves mútuos” (VANZOLINI et al., 1980).
A diversidade da herpetofauna da caatinga, conforme Rodrigues (2003), é de
167 espécies dentre répteis e anfíbios. Vanzolini et al., (1980) destaca que os
problemas climáticos que a caatinga enfrenta são antes irregularidades sazonais nas
precipitações que propriamente influência. Assim, a fauna de répteis é bastante
variada. Entretanto, o número real de espécies é provavelmente maior do que o que
se sabe hoje, uma vez que 41% da região nunca foi investigada e 80% permanece
sub-amostrada (TABARELLI e VICENTE, 2004).
Vários exemplos podem ser dados para ilustrar a falta de levantamentos
herpetofaunísticos na caatinga. Em 2000 foi descrita para a cidade de Cabaceiras
Paraíba uma das maiores espécie de Gekkonidae do Brasil (Phyllopezus periosus
Rodrigues 2000), o mesmo autor em 2003 em um trabalho nas dunas do Rio São
Francisco encontrou 29 novas espécies da herpetofauna da caatinga: 4 espécies de
anfisbenias endêmicas, 16 lagartos, 8 serpentes e 1 anfíbio. É notório o potencial da
33
caatinga para novas espécies, uma vez que esse sistema de dunas, que representa
apenas 0,8% da área total de 7.000 km², conta com 37% de todas as espécies de
anfisbenias e lagartos endêmicas da caatinga (RODRIGUES, 2003).
O levantamento faunístico é uma importante ferramenta para delinear a
biodiversidade de uma determinada área. A caatinga paraibana possui uma grande
variedade de espécies de répteis descritas e possivelmente outras tantas por
descrever (BARBOSA et al., 2006-a). Graças a intensificação deste tipo de estudo,
atualmente sabe-se que a caatinga possui uma herpetofauna própria (VANZOLINI,
et al., 1980), considerável, no tocante à diversidade (BARBOSA et al., 2006-a), e de
importante endemismo (RODRIGUES, 2003).
2.6 - O Sertanejo e os Répteis
Os répteis em muitos conceitos populares são considerados seres místicos,
rodeados de crenças e visões distorcidas sobre sua importância ecológica. Diversas
comunidades no mundo todo possuem diferentes formas de se relacionar com
répteis.
Algumas sociedades asiáticas, por exemplo, têm as serpentes como
“divindades” que protegem as lavouras de pragas. Outras sociedades, como a
maioria das brasileiras, consideram as serpentes como ameaças, animais não
desejados (SEBBEN, 1996).
Segundo Diegues e Arruda (2001) os sertanejos/vaqueiros o populações
tradicionais não-indígenas, que ocupam a região que se estende desde o agreste
34
até as áreas semi-áridas da caatinga. Para estes povos, no ambiente que vivem e
realizam suas atividades diárias, a presença de répteis não é estranha (VANZOLINI
et al., 1980). Tanto em áreas habitadas e especialmente em matas preservadas, o
encontro do sertanejo com serpentes, lagartos e quelônios é um fato tão corriqueiro
quanto à falta de chuva (PINTO, 1996).
Répteis são animais que despertam tanto o fascínio quanto repulsa. A grande
maioria das comunidades rurais possuem a respeito dos répteis a idéia de que são
seres perigosos, venenosos, místicos, traiçoeiros e vingativos (ALBUQUERQUE,
2002; PINTO, 1996; VANZOLINI et al., 1980).
Dentre os répteis as serpentes estão entre as espécimes mais temidas. As
interpretações sobre estes animais são das mais variadas e aparentemente são um
misto entre realidade e fantasia (ou sobrenatural) (BARBOSA et al., 2006).
Segundo Santos e Marques (2001) em breve síntese é possível sinalizar que
a serpente aparece na Bíblia e em diversas culturas simbolizando os mais diferentes
aspectos: o mal, a sexualidade, a renovação da vida, o rejuvenescimento, a
prudência e a ponderação.
Pinto (1996), poeta popular, que viveu toda sua vida no cariri paraibano
dependendo de suas atividades rurais de subsistência, descreve em um de seus
versos:
Sou cobra de veado/ esturro de leão/ fiz pauta com o cão/ mato envenenado/
sou desembraçado/ eu estruo gente/ sou que nem serpentes/ rifle carregado.../
cantador lesado/ mato de repente
35
É possível interpretar nestes versos, certos conceitos que o poeta sertanejo
tem acerca das serpentes. Para ele trata-se de um animal perigoso, que tem
relações sobrenaturais e de morfologia incomum. Esta descrição nada mais é do que
a transcrição de um conhecimento popular baseado em observações.
Para Coelho (2006) os sertanejos são fabulistas por natureza, estando em
seu sangue o dom para narrar estórias: No imaginário cultural folclórico as serpentes
“mamam em pessoas e animais”, “hipnotizam pessoas e aves”, “deixam seu veneno
sobre uma folha quando bebem água” dentre outras estórias.
Estas crendices são transmitidas de geração em geração. "Desde pequenos
estamos ouvindo as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e as lendas...”
descreve assim Guimarães Rosa (apud COELHO, 2006) referindo-se aos sertanejos
em seu clássico “O Grande Sertão: Veredas”.
Santo e Marques (2001) alertam para as distorções de informações detidas
por certas comunidades. Em seu trabalho o caso mais significativo de distorção
refere-se às jibóias (Boa constrictor), pois são tidas como de interesse médico, ou
seja, como serpentes que possuem glândula de veneno e aparelho inoculador de
veneno eficiente.
Toda via, nem todos os répteis são tidos como perigosos ou sem utilidades.
Um bom exemplo disso são os jabutis. O comportamento típico deste quelônio, lento
e não agressivo, certamente fez surgir crendices acerca de uma possível
propriedade de cura de asma em crianças. A partir d a cultura de criar estes
quelônios em casa a fim de proteger crianças deste mal (VANZOLINI et al., 1980).
36
3.0 – Objetivos
3.1 - Gerais
Realizar estudo etnoecológico e um inventário sobre répteis que ocorrem na
Mata de São José da Mata, distrito de Campina Grande – PB.
3.2 - Específicos
Traçar o perfil socioeconômico da comunidade;
Verificar a percepção etnoecológico da comunidade da Serra de Joaquim
Vieira - São José da Mata sobre os répteis existentes na região, no que diz
respeito a conservação, bioecologia e formas de uso de recursos naturais.
Analisar as formas de apropriação de répteis como zooterápicos;
Identificar taxonomicamente e registrar as espécies;
Analisar as técnicas de caça utilizadas pelos caçadores locais.
37
4.0 - Área de Estudo
Na Paraíba, Estado brasileiro que possui três biomas, mata atlântica, brejos
florestados e a caatinga, um ambiente em especial chama a atenção: O ecótono de
São José da Mata. Neste caso, o encontro entre o brejo e a caatinga. O referido
ecótono é descrito pelos moradores locais como uma Mata, daí o nome do distrito. A
Fundação Biodiversitas considera a mata como de “muita importância” ecológica,
isso porque se trata de uma área única (MMA, 2002).
O Distrito de São José da Mata (SJM) (7º16' 7º15'; 36º8' 36º5'), pertence
ao município de Campina Grande fica distante 140km da Capital do estado da
Paraíba - João Pessoa (Figura 1).
Figura 1 – Mapa de localização do distrito de São José da Mata – Paraíba.
Fonte: Helder Farias Pereira de Araújo (2007).
38
A mata esta situada entre o Agreste da Borborema e o Sertão paraibano, e é
provavelmente o último remanescente de vegetação arbórea de transição
(BIODIVERSITAS, 2004) (Figura 2- 20). O clima é ameno, com temperaturas
médias de 20 a 25ºC. O relevo é acidentado, com pequenas serras, cortadas por
riachos temporários, cheio apenas nos períodos chuvosos, entre os meses de maio
a julho (EMBRAPA, 2004).
Figura 2 Biodiversidade do Bioma Caatinga. No mapa o número 20 corresponde a mata
de São José da Mata.
Fonte: Biodiversitas 2004
39
A população do distrito é de aproximadamente 12 mil habitantes (3,15% do
município sede), tendo atualmente moradores desenvolvendo atividades
econômicas urbanas, e uma grande parcela de trabalhadores rurais que utilizam
propriedades agrícolas circunvizinhas a mata. Para estes trabalhadores a mata
serve como fonte de matéria prima para varias atividades, como a extração de
madeira, coleta de frutos, caça, dentre outras atividades extrativistas.
A comunidade da Serra de Joaquim Vieira (SJV) (figuras 3 e 4) foi o grupo
escolhido para o desenvolvimento da pesquisa por localiza-se praticamente no meio
da área de mata e manter um considerável isolamento de outras comunidades locais
(distância no raio de 3km, em média) e pelo tempo de existência da mesma (cerca
de 150 anos). A maior parte dos moradores da SJV possuem atividades ligadas aos
recursos naturais da mata.
Figura 3 Mapa da área de mata do distrito de São José da Mata e em destaque a
comunidade de Serra de Joaquim Vieira. Fonte: Prefeitura municipal de Campina Grande
PB (2004).
Fonte: Abraão R. Barbosa (2007).
40
Figura 4Serra de Joaquim Vieira – a) vista de uma das estradas de acesso; b) entrada da
comunidade;. c) moradia típica; d) “tanques” – reservatórios naturais de água.
Fonte: Fotos: a, b e d – Abraão R. Barbosa; c – Sabrina M. Rasmussen
Apesar de ser um bioma ímpar (IBAMA, 2004), os estudos sobre sua
diversidade biológica são escassos, o pouco que se sabe está na área da botânica,
sendo a fauna deste ecótono quase desconhecida. De modo geral, faltam, em
coleções, amostragens desta mata e de seus diversos microhabitats.
Por se tratar de uma área de alta importância biológica (BIODIVERSITAS,
2004), provavelmente abriga um endemismo ainda ignorado, e espécies
consideradas raras ou mesmo novas.
Com relação às áreas de endemismo do Nordeste, Rodrigues (2002) afirma
que a mais importante está na região do Campo de Dunas do Rio São Francisco-PE,
caracterizada por gêneros e espécies que não ocorrem em nenhum outro habitat na
região neotropical. Esta é sem dúvida a área prioritária para a conservação.
41
Contudo, essa descoberta é extremamente recente. Haverá outras áreas na região
Nordeste do país ainda inexploradas com importância histórica, ecológica e a
evolutiva similar?
A maioria do conhecimento sobre a diversidade da mata está baseada em
conhecimento empírico. A relação de interação das comunidades com os recursos
naturais da Mata de SJM é rica de cultura, folclore e conceitos populares, o que
possibilitou o estudo etnoecológico. Por outro lado, estas informações não atendiam
as necessidades de conhecimento da fauna local.
Em todos os levantamentos bibliográficos pesquisados nada foi encontrado
referente à fauna da mata. Tal fato revela o quanto carência de inventários na
área para todos os grupos animais.
42
5.0 - Material e Métodos
5.1 - Pesquisa etnoecológica
O presente estudo etnoecológico da comunidade da Serra de Joaquim Vieira
na mata de São José da Mata, foi desenvolvido entre os meses de janeiro e
dezembro de 2006, tendo como enfoque a diversidade de répteis (serpentes,
lagartos, anfisbênios e quelônios) conhecida pelos moradores da área, as relações
homem-animal (Marques, 1995), a utilização destes como fonte alimentar e
medicinal, e as relações ecológicas de répteis com outros animais.
5.1.1 - Escolha dos informantes
Inicialmente foram abordados residentes na comunidade da Serra de Joaquim
Vieira, que tivessem atividades diárias relacionadas à mata, como: lenhadores,
caçadores, donas de casa e outros que desenvolvam qualquer tipo de atividade
dependente das reservas naturais da mata. Na abordagem inicial procurou-se não
interferir no cotidiano da comunidade e familiarizar-se com os membros desta
(rapport), buscando garantir acesso a outros informantes, e a confiança de todos.
Foram 56 entrevistados (35 mulheres e 21 homens) foram selecionados nove
(1 mulher e 8 homens) informantes, com idades entre 33 e 95 anos. Na seleção foi
43
utilizada a técnica de “bola de neve” (Snowball) de Bernard (2002), representada na
figura 5. A cnica consistiu em selecionar dentre os membros da comunidade
aqueles que por repetidas vezes formam recomendados como “conhecedores
locais”. A utilização deste método possibilitou a escolha dos informantes de maior
conhecimento ou representatividade na comunidade e a escolha do “especialista
nativo”.
Figura 5 Representação esquemática da técnica de bola de neve (snowball) para escolha
dos informantes. No lugar dos nomes verdadeiros, letras (de A I) são usadas como forma
de garantir o sigilo sobre os informantes.
Fonte: Abraão Ribeiro Barbosa (2006)
5.1.2 - Coleta de dados fornecidos pelos informantes
A coleta de dados foi baseada nas informações obtidas com os informantes
mediante entrevistas livres e abertas, formulários estruturados e semi-estruturados,
observação direta e observação participante (não membro).
44
Com o consentimento dos informantes (de “A até “I”) as entrevistas foram
registrados com aparelho gravador tipo Mp3 Player 512MB (Marca Sony). as
turnês guiadas foram registradas com filmadora digital de 8mm (Sony Handycam
DCR-TVR-2006) com recurso de visão noturna (Night short).
a) Entrevistas livres e abertas
Este tipo de entrevista foi uma maneira de estreitar as comunicações entre o
pesquisador e o informante. Sendo uma forma de adquirir a confiança da
comunidade. Este procedimento assemelhou-se a uma conversa, sendo abordados
temas relacionados à relação humano-animal e humano-répteis, e sobre a
diversidade de répteis locais. Os dados obtidos foram tabulados em tabelas de
cognição comparada.
b) Observação direta
Esta técnica visou a “reconstrução empírica da realidade” (LOPES, 1994)
coletando e reunindo evidências concretas sobre a relação humano x répteis. Nesta
técnica o investigador observou os informantes durante suas atividades cotidianas
que de alguma forma envolviam a relação humano X répteis. Os dados obtidos
foram descritos nos resultados sobre a forma de relatos.
45
c) Observação Participante (não membro)
A observação participante consistiu em acompanhar as atividades do
informante in loco, sem, contudo interferir em quaisquer atividades de manejo e/ou
extração dos recursos naturais locais.
d) Questionários
Estruturados
Esta técnica foi utilizada como um roteiro de entrevista, onde todos os
questionários aplicados continham as mesmas perguntas e opções de respostas.
Todos os questionários foram avaliados e seus dados tabulados para traçar o perfil
socioeconômico local. (Anexo 1)
Semi-estruturados
Este tipo de questionário permitiu que o entrevistado tivesse a liberdade para
desenvolver cada situação em qualquer direção que se considera adequada. Optou-
se por esse tipo de entrevista por este explorar mais amplamente as questões e
chegar a resultados mais elaborados. Ao contrário de uma entrevista aberta, este
46
tipo de entrevista segue um roteiro no qual constam tópicos previamente
estabelecidos de acordo com os pontos a serem investigados e os informantes
relataram livremente os tópicos (Anexo 2 a 7).
5.2 - Inventário Herpetofaunístico
Com a finalidade de validar os dados etnoecológicos da comunidade de SJV
em relação à diversidade de répteis encontrados na região, foi realizado um
inventário zoológico, com base em critérios internacionais de taxonomia e
identificação de espécies.
Como literatura de taxonômica base foram adotados: Répteis das Caatingas –
Vanzolini et al., (1980); Herpetofauna da Caatinga Rodrigues (2000) e Serpentes
da Bahia e do Brasil – Freitas (1999).
5.3 - Coleta dos espécimes
O período de coleta de répteis foi de doze meses, de janeiro a dezembro de
2006, período que envolveu o verão (estação seca) e o inverno (estação chuvosa).
Foram utilizadas no levantamento da herpetofauna de mata de São José da Mata
três técnicas:
47
a) Varredura ou Busca Ativa
A técnica de varredura consistiu em uma busca a pé por entre trilhas e
trechos de vegetação fechada da referida mata, no intuito de encontrar serpentes,
lagartos e quelônios. A esta técnica foi adicionada uma outra não convencional aos
trabalhos de levantamento faunísticos. Um cão de caça treinado pelos próprios
moradores serviu de ferramenta de busca ativa por pteis. Para aumentar as
chances de encontro com estes animais, potenciais abrigos, como tocas
abandonadas, entulhos de pedras, troncos, cupinzeiros dentre outros refúgios, serão
vasculhados.
O tempo de varredura foi de 2 horas diurnas, das (10:00 as 12:00 h) e 2 horas
noturnas (20 às 22:00 h) uma vez a cada 15 dias, o que totalizou em 48 varreduras
(metade destas noturnas). Como equipamento de auxilio a coleta foram utilizados
ganchos, laços, puçá e luvas.
Como não houve licença para coleta de material biológico da fauna brasileira,
logo após a captura, todos os exemplares foram acondicionados in lócus, in vivo,
identificados, fotografados e imediatamente liberados.
b) Coleta por terceiros
Répteis eventualmente coletados, encontrados ou mesmo mortos por
moradores da comunidade foram identificados e fotografados. A prática de captura
48
por terceiros não foi incentivada, possibilitando desta forma um registro
herpetológico casual.
c) Armadilhas de Queda
Para a captura dos répteis terrestres, foram utilizadas duas séries de
armadilhas de queda (Pitfall traps) de quatro fojos cada, conforme a metodologia de
Cechin e Martins (2000). As duas armadilhas foram espalhadas dentro da mata
próximas a corpos d’água, devido a maior facilidade de encontro de répteis
(VANZOLINI et al., 1980). Cada fojo possuía 60 cm de profundidade e 50 de
diâmetro e foram instalados 2 m de distancia um dos outros e em linha.
Acompanhando os fojos foram fixadas lonas de 60 cm de altura erguidas com
estacas. As figuras 6 e 7 ilustram o esquema de uma armadilha de queda.
A vistoria dos fojos foi periódica, sempre três vezes por semana, o que
totalizou, durante os 12 meses em que ficaram abertos, em 153 vistorias. Como
equipamentos de apoio foram utilizados pinções, laços, ganchos e puçás
dependendo do réptil a ser capturado.
49
Figura 6 – Esquema ilustrativo de uma armadilha de queda (Pitfall traps).
Fonte: Abraão R. Barbosa (2005)
Figura 7 Armadilhas de queda (Pitfall traps) fixadas na mata. a) durante estação de
chuvas; b) durante estação seca.
Fonte: Abraão R. Barbosa (2006)
5.4 - Registro fotográfico
Para os registros fotográficos utilizou-se uma câmera digital Sony Cybershot
DSC-S600 6.0Mp Zoom ótico de 3x e digital de 2x. Foram feitas aproximadamente
50
800 fotos na resolução de 2048 x 1536 pixes. As fotos encontra-se disponíveis em
CD-Rom na secretária do Prodema UFPB/UEPB.
51
6.0 - Resultados e discussão
6.1 - Perfil socioeconômico da Comunidade
A faixa etária com o maior número de indivíduos dentre os entrevistados da
Serra de Joaquim Vieira está entre os 20 e 35 anos de idade, o que representa 44%
dos entrevistados. Dentre os entrevistados apenas 4% têm menos de 20 anos de
idade. (gráfico 1)
Faixa etária
4%
44%
29%
23%
menos de 20
20 - 35
36 - 51
mais de 51
Gráfico 1 – Distribuição porcentual da faixa etária dos entrevistados (n=56) da Serra de
Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
A distribuição de gênero mostra que mais mulheres (62%) na comunidade
(gráfico 2). Segundo os entrevistados a quantidade de mulheres explica-se pelo
êxodo rural praticado pelos homens, que saem da comunidade e passam a viver em
cidades como Campina Grande PB ou mesmo migram para o Sudeste do país em
busca de melhorias financeiras.
52
Sexo
38%
62%
Masculino
Feminino
Gráfico 2 Distribuição porcentual quanto ao gênero dos entrevistados (n=56) da Serra de
Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006).
Fonte: Abraão R. Barbosa
O estado civil de solteiro é maioria (54%). Possivelmente o número de
homens reflete na baixa quantidade de casamentos (gráfico 3).
Estado cívil
54%
30%
16%
Solteiro
Casado
Viuvez
Gráfico 3 Distribuição porcentual do estado civil dos entrevistados (n=56) da Serra de
Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006).
Fonte: Abraão R. Barbosa
53
Os dados obtidos em relação ao número de filhos por família estão dispostos
no gráfico 4, e se assemelham aos dados do Censo demográfico de 2000 - IBGE.
Segundo o referido Censo, até 3 filhos por família é uma média local.
Número de filhos
58%
23%
19%
1 a 3
4 a 6
mais de 6
Gráfico 4Distribuição porcentual do número de filhos por família dos entrevistados (n=56)
da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
Conforme o gráfico 5, ao todo 16% dos entrevistados são não alfabetizados.
Estes dados relacionam-se com indivíduos com faixa etária acima de 51 anos de
idade. Para os indivíduos dentro da faixa etária de 20 a 35 anos, a maioria afirma ter
pelo menos o ensino médio completo.
54
Escolaridade
16%
64%
20%
Analfabeto
Fundamental
Médio
Gráfico 5 Distribuição porcentual do nível de escolaridade dos entrevistados (n=56) da
Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
A agricultura (55%) e a aposentadoria (18%) são os tipos de fonte de renda
mais citado pelos entrevistados (gráfico 6). Entretanto, recentemente os programas
de transferência de renda, como bolsa escola, bolsa alimentação, auxilio gás, que
são chamados de “programas remanescentes”, estão sendo incorporados ao
programa Bolsa Família do Governo Federal, que hoje fazem parte do orçamento
familiar daquela comunidade.
55
Profissão/Fonte de renda
55%
4%
5%
13%
18%
5%
Agricultor
Pecuarista
Caseiro
Diarista
Aposentado
Caçador
Gráfico 6 Distribuição porcentual da profissão / fonte de renda dos entrevistados (n=56)
da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
As moradias são de casa de alvenaria com 4 cômodos em média (sala,
quartos e cozinha) e banheiro geralmente fora da casa. A maioria das propriedades
não possui cercas, em vez disso, formações rochosas, árvores e pequenos cursos
de água delimitam as terras. Muitos afirmam que a casa e também a terra é própria
(48%) ou ainda foram adquiridas como heranças (43%). Dentre os moradores
entrevistados menos de 10% não são proprietários das casas ou terras onde
trabalham. Os dados referentes a moradia estão dispostos no gráfico 7 e 8 um casal
idoso em frente a sua casa construída no ano de 1900.
56
Condições de moradia
48%
2%
43%
2%
5%
Própria
Alugada
Herança
Empréstimo
Zelador
Gráfico 7 Distribuição porcentual das condições de moradia dos entrevistados (n=56) da
Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
Figura 8 – Casal idoso em frente a sua casa erguida a mais de 100 anos.
Fonte: Helder N. de Albuquerque (2006).
57
Indagados sobre o tipo de agricultura que desenvolvem, 61% diz utiliza-se da
agricultura apenas para suprir as necessidades de sua família, ou seja, agricultura
de subsistência (ver gráfico 8).
Um fato curioso é que em determinados momentos existem processos de
escambo, onde é a pequena produção é moeda de troca na aquisição de outros
insumos agrícolas com a comunidade local ou com vizinhas.
Esta relação de escambo é preferencialmente feita entre agricultores. De
acordo com os entrevistados, “não é bom trocar colheita com armazém!” (entenda-se
armazém como pontos comerciais localizados na sede do distrito). Este tipo de
negociação, agricultor/comerciante não é rentável segundo a comunidade. Eles
ainda enfatizam: o feijão de ‘nóis’, produtores pequenos, vale menos que o dos
grandes”. Contudo os entrevistados não souberam explicar os motivos para tal
desvalorização.
Tipo de agricultura
61%
39%
0%
Subsistência
Extensiva
Intensiva
Gráfico 8 Distribuição porcentual do tipo de agricultura desenvolvida pelos entrevistados
(n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
58
Como a maioria dos produtores utiliza-se da agricultura de subsistência, uma
tendência ao cultivo a produtos de consumo direto foi observada. Segundo os dados
do gráfico 9, a maioria dos entrevistados diz plantar feijão (35%), milho (32%) e
mandioca (27%) tanto pela facilidade de manejo quando por questões culturais.
Tipo de lavoura preferêncial
35%
32%
27%
2%
4%
Feijão
Milho
Mandioca
Batata
Outra
Gráfico 9 Distribuição porcentual do tipo preferencial de lavoura cultivada pelos
entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira São José da Mata PB. (janeiro de
2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
Na comunidade a criação de animais é menos difundida em relação a
agricultura, mas segue a mesma lógica: é uma atividade de subsistência para a
maioria dos entrevistados (gráfico 10).
59
Tipo de Criação Animal
89%
7%
4%
Subsistência
Extensiva
Intensiva
Gráfico 10 Distribuição porcentual (n=56) da forma de criação animal desenvolvida pelos
entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira São José da Mata PB. (janeiro de
2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
Segundo os entrevistados a criação de animais muitas vezes é limitada por
fatores econômicos. “bom mesmo é cuidar’ de bode e vaca... a gente aproveita leite
e carne... ‘agora’ na seca é prejuízo!” . Possivelmente a criação de galinhas feita por
55% dos entrevistados (gráfico 11) está relacionada aos baixos custos de manejo.
Ainda com relação aos dados do gráfico 11, observa-se que um pequeno
grupo dos entrevistados (2%) aprendeu técnicas de apicultura e criam abelhas
nativas da mata conhecidas por Jandaíra (possivelmente do grupo Mellipona sp).
Segundo estes criadores a atividade é rentável porém muito trabalhosa”. “...se a
gente tivesse ‘maquina’ seria melhor...”.
60
Tipo de criação preferêncial
55%
20%
21%
2%
2%
Galinha
Bode
Gado
Cavalo
Abelhas
Gráfico 11 Distribuição porcentual (n=56) do tipo de criação animal feita pelos
entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira São José da Mata
PB. (janeiro de
2006)
Fonte: Abraão R. Barbosa
6.2 - Questionário etnoecológico
As respostas ao questionário etnoecológico foram dadas apenas pelos
informantes selecionados pela técnica de snowball. Em linhas gerais percebeu-se
que as respostas ao questionário tiveram um mesmo direcionamento, o que
possivelmente indica a proximidade do nível de conhecimento dos informantes.
Quando questionados se no dia-a-dia utilizam-se da mata, todos afirmam que
sim. Segundo os informantes a utilização de produtos oriundos da mata é constante
e muitas vezes diária:
“O que agente precisar é só busca na mata que acha.” - Informante “A”;
61
sabendo procurar direitinho e conhecendo a mata para usar um
bocado de coisa” – Informante “B”;
o problema é que por aqui ‘se esquisitando’ tudo, mas para cima
tem muita coisa ainda de mata” – Informante “D”;
oxe! eu mesmo vou todo dia buscar lenha para fazer fogo” -Informante
“H”;
antigamente tinha mais coisa... o pessoal novo não bulia muito não!
Mas penso que agora as ‘coisa’ é ‘pouca’...” Informante “E”.
De acordo com os informantes, a vida na mata é simples e sem luxo. Quando
foram indagados se é possível viver somente da mata, apenas três informantes (“F”,
“G” e “I”) responderam que não, mas admitem que da mata se tira muita riqueza. Os
referidos informantes tem atividades relacionadas a pecuária e agricultura extensiva,
possivelmente por este motivo não acreditam ser possível viver somente com
recursos oriundos da mata.
6.3 - Manejo da fauna e flora da mata
A forma de aquisição de produtos da mata, segundo os informantes, pode
variar. Durante a aplicação do questionário todos optaram por assinalar respostas
múltiplas. Assim acredita-se que o extrativismo + cultivo/criação sejam empregados
conjuntamente ou quando preciso separadamente.
Nesta enquete ficou evidente que o que não lhes serve para criar ou não
precisa ser criado, devido a abundância, é adquirido com a extração na mata. Por
62
outro lado plantas oriundas da mata que possuem aplicações na medicina popular
local ou relacionadas com crendices são cultivadas nos arredores das residências.
Segundo a Informante “H” não custa nada plantar esta plantas no terreiro, faz até
bem, espanta olhado e tudo”. Outras formas de uso da flora são como combustível,
na construção de cercas e nas habitações.
Figura 9 Exemplar de Pião (
Jatropha gossypiifolia L.
) plantado próximo a residência de
um dos informantes. A seiva do vegetal é utilizada como cicatrizante.
Fonte: Helder N. de Albuquerque (2006)
O manejo da fauna local é diferente do manejo da flora. Quase nenhum
morador tem o habito de criar animais da mata, e o uns poucos têm práticas ex-situ,
a fazem no intuito de garantir ou engordar uma caça capturada.
Menezes et al., (2004) destacam em seu trabalho que a prática de aprisionar
Passariformes em viveiros é muito difundida no Nordeste brasileiro. Mas, por incrível
que pareça, em nenhuma das casas visitada durante a pesquisa foram vistas gaiolas
com pássaros. Segundo o informante “C” criar passarinho é coisa de quem não tem
63
o que fazer”. No mesmo direcionamento o informante “I” disse: não tem pra q
prender os bichinhos se tem solto todo dia no terreiro... quando eu vejo menino
pegando eu vou lá e solto...”.
Na mata é possível ver bem próximo as casas, bandos de aves, que são de
interesse do mercado informal de animais silvestres, comendo livremente (figura 10).
Se tomarmos como referência o trabalho de Menezes et al., (2004) sobre a
ornitofauna presente no Campus I da UEPB, distante 20km da mata de SJM, pode-
se supor, com base na distancia dos pontos, que a diversidade de aves ali
encontrada também esteja presente na mata.
Figura 10 Exemplares de Galo-de-campina (Paroaria dominicana Linnaeus 1758),
flagrados livremente entres as estradas na SJV (a) e no terreiro de residências da referida
comunidade (b).
Fonte: a – Elizabeth C. Silva e b - Helder N. de Albuquerque.
Nos trabalhos de Oliveira et al., (2006) e ROCHA et al., (2006) sobre o trafico
de aves na cidade de Campina Grande PB, os autores destacam que a
problemática da criação de aves silvestres em cativeiro é alimentada não pelo
comércio, mas também por fatores culturais, onde criar “passarinho” em gaiola é
ensinado de pai para filho. A comunidade de SJV, até onde se pode ver, não
64
estimula a criação de pássaros em gaiolas. Uma frase do informante “E” (95 anos)
serve como confirmação a esta cultura de não aprisionar pássaros:
No tempo de meu pai se a gente pegasse um
passarinho: golado, papa-capim.... pra ‘butar’ em gaiola,
levava surra e castigo. Nem eu, nem meus irmãos, nem
meus filhos ‘tudo”, nenhum cria passarinho.
Por outro lado a comunidade é conhecida por possuir bons caçadores de
rolinha (Columbina passerina), arribaçã (Zenaida auriculata), teju (Tupinambis
merianae) e tatu peba (Euphractus sexcinctus). A extração por meio de caça destes
e de outros animais faz parte da cultura local e segundo “C” é repassada de pai para
filho.
“...tem que ensinar, pois se um dia não tiver nada, pelo menos caçar sabe...
6.4 - Aprendizado
As formas de apropriação dos recursos da mata é, segundo os informantes,
na maioria dos casos aprendido através do repasse de informações entre membros
da mesma família e membros não aparentados, mas pertencentes a mesma
comunidade (Figura 11). Diversos autores fazem referencias ao aprendizado dentro
de um mesmo grupo social (COSTA-NETO, 2000, 2002; MARQUES, 2005). Esta
forma de repassar o conhecimento, segundo Marthos (1996), é comum em todas as
comunidades do mundo.
65
Figura 11 – Formação do conhecimento dos informantes em relação ao uso dos recursos
da mata.
Fonte: Abraão R. Barbosa (2007)
A oralidade, dizem Andrade e Costa-Neto (2005), é notadamente a forma pela
qual o conhecimento tradicional é passado de geração a geração. Todavia, há riscos
de um determinado conhecimento ser extinto, caso o detentor do mesmo por algum
motivo não o repasse.
Três informantes disseram ter adquirido novos conhecimentos a partir de
intervenções de ordem técnica. O informante “C” explica que em determinada época
“técnicos”, que ele não soube precisar de onde eram, passaram uma temporada na
comunidade ensinando cnicas de apicultura. Vários membros aprenderam as
técnicas de apicultura, mas apenas um pequeno grupo mantém a atividade (ver
gráfico 11), a exemplo do informante “C”, que trocou a criação de abelhas
africanizadas por abelhas nativas da mata.
Adams (2000) alerta que a substituição de técnicas tradicionais pela
importação de técnicas modernas destinadas ao manejo de determinados recursos
66
naturais, pode de alguma maneira bloquear os processos de transmissão de
conhecimento empírico através da oralidade habitual. A referida autora cita um
exemplo em seu trabalho com populações caiçaras, quando a inserção de motores
nos barcos de pesca forçou os pescadores artesanais a desenvolver toda uma nova
“tecnologia” para conciliar uma nova ferramenta como suas prática de domínio do
ambiente. A tradição, passada de pai para filho, não existiu nesta época. A nova
percepção do meio ambiente incorporou-se, aos poucos, à mentalidade dos
pescadores artesanais agora motorizados.
6.5 - Estado de preservação da mata
Nas abordagens iniciais nenhum dos nove informantes manifestou
preocupações com a preservação da mata. Todos afirmaram ter consciência da
importância de conservar os recursos da mata, contudo não se julgavam
responsáveis por isso.
os ‘outro’ é que destroem as coisas por aí” – informante “G”
Nos trechos abaixo extraídos dos informantes (n=9) percebe-se que os
mesmos têm a idéia de que a disponibilidade de recursos é inesgotável.
Seguramente esta concepção de riqueza de espécies não tem fundamentos, uma
vez que a quanto mais intensa for a procura por determinas espécies maiores são as
chances de queda em seu número populacional (VALENTIN, 2000).
67
“...o povo sai cortando tudo quanto é de pau e
nunca acabou!” - informante “G”;
tem umas espécies de caçadores que mata por
perversidade... atira até em urubu!” - informante “H”
“...arribaçã e os teju - não se acabam não, são
peste!” – informante “A”
Quando mais tarde abordados (junho de 2006) com as mesmas perguntas
com relação a conservação da mata, seis dos informantes disseram estar
preocupados em preservar áreas de mata. Eles citaram como problemas a presença
de espécies exóticas como a algaroba (Prosopis juliflora Sw. DC.), os ratos (Rattus
rattus) e os pardais (Passer domesticus) é vista como ameaça aos recursos da
mata.
Se arrumasse um jeito de acabar com pardal seria
muito bom!” – informante “F”
ainda bem que pode corta fora algaroba!”
informante “B”
Na minha plantação o maior problema é rato...
informante “E”
A problemática de ambientes naturais com espécies exóticas invasoras é
discutida por Ziller (2007-a). De acordo com a autora as espécies exóticas invasoras
alteram características naturais e o funcionamento de processos ecológicos,
68
incorrendo em quebra de resiliência de ecossistemas naturais, redução de
populações de espécies nativas, processos de dominância sobre a biodiversidade
nativa e perda efetiva desta biodiversidade.
Em um outro trabalho Ziller (2007-b) afirma que tamanho é o potencial de
espécies exóticas para modificar sistemas naturais que as plantas exóticas
invasoras são atualmente consideradas a segunda maior ameaça mundial à
biodiversidade, perdendo apenas para a destruição de habitats pela exploração
humana direta.
Problemas relacionados a algaroba (Prosopis juliflora Sw. DC.) em áreas de
caatinga são descritos por vários autores (PRADO, 2003; RAMALHO, 2006;.
ANDRADE et al.,2006; e OLIVEIRA, 2006). De acordo com Ramalho (2006) P.
juliflora ocasiona mudanças no estrato arbóreo, mas também no estrato herbáceo da
caatinga. Ele registrou que as áreas invadidas por algaroba apresentaram menores
riquezas e diversidade florística que áreas de caatinga sem invasão. Este registro é
confirmado pelos informantes “H” e “E”.
onde tem muita algaroba não presta pra plantar.
Informante “H”
a algaroba não deixa nascer nada ao seu redor. Ela
mata tudo!” – informante “E”
No trabalho de etnobotânica de Albuquerque (2006) é levantada uma hipótese
de diversificação, baseada na premissa que a inclusão de plantas exóticas é uma
estratégia dentro de muitas culturas para diversificar o estoque farmacológico local.
Pelo menos para comunidade de SJV, o cultivo de algaroba não tem utilidade
médica alguma. A prática de cultivo desta espécie parece está muito mais
69
relacionada à assimilação de uma cultura externa e no intuito de ter lenha e comida
para animais.
6.6 – Influência da Sazonalidade
A utilização da mata segue o ciclo climático da região. Quando no período de
chuvas, tido como inverno, de março a agosto, a agricultura, preferencialmente de
cultivares comercialmente valorizadas (feijão e milho). Durante a seca, estação mais
prolongada, a queda natural das folhagens da grande maioria dos vegetais,
possibilita a intensificação da caça, porquê segundo os informantes “B”, “C” e “D”
com a mata aberta fica fácil esta é a visualizar os animais de caça.
Pode-se comparar esta alternância de atividades com o trabalho de Adams
(2000). Segundo ela os caiçaras possuem uma dicotomia simplista entre uma “fase
agrícola” que é inversa a uma fase de pesca” e corresponde a uma situação de
“equilíbrio”, de homogeneidade de comportamento. Outra alternância de atividade é
registrada por Hanazaki (2002) que verificou no litoral sul do país, os animais de
caça eram mais procurados entre os meses de maio e junho, período que coincide
com o inverno, pouco propício para a pesca em geral.
Parafraseando Adams (2002) pode-se dizer que na comunidade de SJV
existem duas fase de utilização da mata: a “fase agrícola”, mais praticada no inverno
e a “fase de caça”, mais praticada durante a seca. Não propriamente o fim de
uma temporada de caça, mas possivelmente a redução da caça (em detrimento a
atividade agrícola) durante o período de chuva possibilita que as espécies animais
tenham tempo para se desenvolver e acasalar. Assim, no período de chuvas surge
uma condição de defeso. O entendimento de defeso é muito comum em
70
comunidades pesqueiras, conforme Carvalho (2002) e Souto (2004). Em um
determinado período o desaparecimento do camarão é comum e os pescadores
suspendem as atividades de pesca. Souto (2004) referem-se ao período sem pesca,
em virtude do ciclo natural dos camarões, como “defeso natural”.
Os informantes comungam da mesma idéia sobre o ciclo reprodutivo de
algumas espécies da fauna local. Segundo eles nos meses de novembro, dezembro,
janeiro e fevereiro parece haver um clímax reprodutivo. O informante “C” narra: por
si os animais se programam para nascer nesta época”; e continua em outro
trecho: “...sei disso porquê a gente ver um monte de ‘filhotinho’: de passarinho, de
calango, de jabuti... destes bichos mais comuns; e nasce tudo no mesmo tempo.”
conclui. Mesmo conhecendo este período de nascimento em massa, os caçadores
locais seguem suas práticas normalmente, o que se pode comparar com uma prática
predatória, uma vez que em em risco a fauna que acabara de nascer.
Continuando o dialogo o informante “C” afirma que nesses meses é mais fácil
encontrar presas, portanto é certo o sucesso na caça.
Vale salientar que os frutos das lavouras feitas no inverno ficam escassos na
seca, ou seja, justamente no período descrito como de intensa reprodução da fauna,
e que alguns moradores adotam a caça como medida de sobrevivência. Um trecho
do trabalho de Alves (2002) retruca a favor destas práticas tidas como predatórias:
“Ao invés de ‘culpar’ essas pessoas, deve-se considerar
que suas práticas, por vezes ditas ‘predatórias’, estão
relacionadas a um refinado conjunto subjacente de
conhecimentos empíricos e crenças que permanecem
desconhecidos e desvalorizados dentro da sociedade
multicultural em que vivem.”
Na figura 12 encontra-se a transição da paisagem: do período de chuvas
(inverno) para a o período de estiagem (verão),
71
Figura 12 – Ciclo climático natural. Mudança na paisagem. a) da lavoura na época de
chuvas (abril) para a época de seca (outubro); b) da cheia do açude (maio) para o solo
rachado (novembro).
Fonte: Abraão R. Barbosa (2006)
6.7 - Uso dos recursos através dos mecanismos de caça
Dentre as comunidades tradicionais estão os caçadores que possuem um
grande conhecimento acerca da biologia dos recursos faunísticos que caçam. São
possuidores de informações acumuladas por varias gerações sobre os recursos que
utilizam e interagem (FERNANDES-PINTO e MARQUES, 2004).
72
No trabalho de Alves (2005) foram abordados 30 moradores da comunidade
Capim Grande I, comunidade vizinha a SJV. Segundo seus dados 86,66% dos
entrevistados afirmam que a caçam para comer. Estes dados são bem próximos aos
encontrados na SJV onde 92,3% dos entrevistados diz caçar apenas para comer.
Segundo Diegues e Arruda (2001) os sertanejos/vaqueiros além de atividades
pastoris e agrícolas desenvolveu a caça como uma atividade de subsistência. De
acordo com Mendes (1997), todo sertanejo é primeiramente caçador, pescador e
agricultor, depois disso, só então aprende outros ofícios.
A caça desenvolvida pela comunidade utiliza-se de recursos muito simples,
rústicos e funcionais. As ferramentas de utilizadas pelos moradores da mata
baseiam-se em armas de fogo, armadilhas de queda, jaulas, cães treinados e até
anzóis (Alves, 2005). A lista de ferramentas de caça, a justificativa para o uso de tal
ferramenta e o tipo de caça a qual se destina está disposta na tabela 1.
Tabela 1 – Lista de ferramentas utilizadas para caça pelos moradores da SJV.
Ferramenta Justificativa Tipo de caça
Pebeira – Cone de
arame entrelaçado
com um dos lados
fechado.
“pode pegar com cachorro, mas a
pebeira é mais fácil, deixe num dia e
pega no outro”
Tatu peba (Euphractus sexcinctus)
e Tatu verdadeiro (Dasypus
novemcinctus)
Sovaqueira –
arama de fogo que
não utiliza projétil.
“usa para fachiar rolinha e lambú de
noite. E também arribaçã. Se o ‘caba’
for bom, é um tiro barato e certeiro.”
Rolinha (Columbina spp), Lambú
(Cryturellus parvirostris) e Arribaçã
(Zenaida auriculata)
Fojo – buraco
fechado por uma
tampa giratória de
madeira
“é só butar uma batatinha presa na
tampa que pega preá a vida toda...
até tejú já peguei”
Preá (Cavia aperea),
Mocó (Kerodon rupestrs) e Punaré
(Thrichomys apereoides).
Cachorro – cães
vira-lata
tem uns ‘cachorrin’ sabido todo, é só
sair pro mato que eles vem atrás, e
eles que acha os bichos... para pegar
peba é bom demais”
Peba (Euphractus sexcinctus), tatu
verdadeiro (Dasypus
novemcinctus) e teju (Tupinambis
merianae)
73
Chama atenção a forma como os caçadores locais utilizam-se dos cães
durante suas embrenhadas na mata. toda uma “lógica” até que um cão possa
seguir seu dono durante a caça. O informante “C” descreveu:
“o cachorro não pode ser destes de raça não, tem
que ser esses vira-lata mesmo, desses ‘fuleros’ mesmo...
/ ...se for malhado ou branco não serve, o melhor é o
vermelho, porquê cachorro malhado ou branco é
mentiroso, late, late quando a gente vai não é nada,
o cachorro abanando o rabo feito besta... / ...na hora
de escolher na ninhada tem que ‘precurar’ o mais esperto
e de preferência fêmea, esse vai ser bom e obediente... /
...se for macho tem risco de invés de procurar rastro de
bicho, o danado puxa pro lado que tem cadela no cio... /
...para não ter que vacinar tem que colocar nome de peixe
tipo: xareu, baleia, piaba, sereia... / ...aí na hora de
ensinar tem que ser com ele novinho: ou vendo um
cachorro ‘véio caçando ou mostrando e esfregando a
caça que quer nas fuças... / ...tem que ser magricela para
não cansar logo... / ...e não pode deixar menino ficar
brincando com ele antes de caçar, se não ele pensa que é
brincadeira e vai pro mato só fazer raiva...”
Na figura 13 exemplos de cães que servem ou não para a caça na região.
Estas fotos são dos cães excluídos (1 e 2) e o escolhido (3) pelos informantes “C”,
“B” e “D”, como cão “bom” para caçar. De acordo com “C”: tem que ser espertinho,
desse jeitinho daí (referindo-se ao cão 3) vai dar um bom cachorro, ‘igualzinha’ a
Baleia (cadela do informante ‘C’).
74
Figura 13 – Cães 1 e 2, tipos rejeitado para caça, e cão 3 sendo comparado ao 4 com “bom
para caça”.
Fonte: Abraão R. Barbosa (2006).
Durante as turnês guiadas (figura 14) foi observado o comportamento dos
caçadores com seus cães. Tanto os caçadores quanto os cães utilizam do que pode-
se chamar de “linguagem interespecíficas” onde um atrai a atenção do outro. O
informante “C” relata que os cães se comunicam com o seu dono guiando-o para
próximo da caça. se for cachorro sabido diz o caminho certinho...”. Percebido nas
observações e confirmado pelos caçadores, os cães esboçam um comportamento
típico que indica que ele está no rastro de uma presa.
Figura 14 – “Baleia” instantes antes de acuar um teju (Tupinambis merianae).
Fonte: Abraão R. Barbosa (2006).
75
A caça é iniciada por uma busca ativa atrás dos vestígios frescos de animais,
seguida de perseguição. Quando encontram a caça, latem e alertam os caçadores.
Segundo “C”: O cachorro late diferente para cada tipo de bicho que encontra...”; “C”
continua dizendo: dependendo do latido a gente nem vai ver o que é, pois sabe
que não vale a pena...” e conclui: “se não tiver ‘vanta’ a gente chama o bicho (cão) e
dá carão...”.
Advertir o o, segundo os informantes, é uma forma de ensinar que aquela
caça não lhe serve, por tanto o cão não deve perder tempo em acuar aquele
determinado tipo de presa. Entretanto os informantes admitem que muito do que os
cães fazem é parte de seu instinto e não somente do seu adestramento. Por
exemplo, latir de modo diferente para cada tipo de presa não é algo ensinado, o cão
faz isso instintivamente.
De acordo com Trinca e Ferrari (apud RAMOS, 2006) a caça com auxilio de
cão é uma técnica muito difundida na qual o cão é que decide qual espécie e qual o
individuo será caçado. Entretanto, tomando como base as observações feitas na
SJV, nem sempre o cão escolhe o que quer caçar.
Durante a execução do projeto, vendo como se portavam os cães durante a
caça, teve-se a idéia de utilizá-los como ferramenta de busca para a construção do
inventário herpetofaunístico. Isso foi possível graças a estimulação dos cães,
durante as técnicas de aprendizagem para caça, para a caça de répteis (o que não é
feito habitualmente). Foram utilizados lagartos (Tupinambis merianae, Iguana iguana
e Phyllopezus policaris), serpentes (Philodryas naterreri, Epicrates cenchria assisi e
Bothrops erythromelas) e quelônios (Geochelone carbonaria), que eram exibidos aos
cães no intuito de aguilhoar-lhes o faro para aquele grupo animal. Os resultados
obtidos com esta técnica encontram-se detalhados no item 6.10 – tabela 11.
76
6.8 - Relações com a Fauna
De acordo com as entrevistas, os informantes disseram conviver “sem
problemas” com a fauna local. A única ressalva está relacionada às serpentes das
quais eles julgam como “venenosas” e “traiçoeiras”.
Quanto a utilização da fauna pela comunidade foram obtidos dados que
sugerem a existência de um padrão para valorização de grupos animais. Na
comunidade a valoração das espécies está diretamente relacionada a utilidade
destas. Mediante as respostas adquiridas nas entrevistas e questionários foi possível
extrair os critérios, por eles determinados, para que uma espécie animal tenha maior
valor que outra.
1º - “se serve para comer.”;
2º - “se vale dinheiro”;
3º - “se serve de remédio”
Os animais utilizados como fonte nutricional, financeira e como zooterapico
estão dispostos na tabela 2, juntamente com o número de indicações feitas pelos
informantes.
77
Tabela 2 – Lista de animais utilizados pelos informantes como alimento, fonte de renda e
zooterápico.
Tipo de uso
Alimento Renda Zooterápico
Abelhas 5 9 3
Arribaçã 9 8 -
Camaleão 5 - 3
Cascavel - - 2
Jabuti - 4 6
Lagartixa - - 5
Lambu 9 9 -
Mocó 3 - -
Preá 3 - -
Rolinha 9 9 -
Seriema 1 - -
Tatu Peba 9 9 -
Tatu verdadeiro 9 9 4
Teju 5 3 9
Os entrevistados coletam determinadas espécies de seu interesse, contudo
preocupa-se em garantir a sua preservação e assim utilizar o recurso por mais
tempo. Remete-se aqui ao contexto fauna de acordo com Alves et al., (2002) onde a
visão de que a conservação da natureza vincula-se diretamente a questões sociais,
econômicas, culturais e biológicas.
“tem que ter responsabilidade, se tirar tudo do
mato, pronto! Se acaba tudo e o povo fica chupando
dedo.” informante “H”
78
6.9 - Visão Acerca de Répteis
Dentre os informantes, 88,8% não agrupa representantes da herpetofauna local
como “grupo répteis”. Para os mesmos, quelônios, amphisbaenios, lagartos e
serpentes são animais de distintos agrupamentos. A distinção segue apenas
padrões morfológicos como, por exemplo, a ausência de patas que enquadra
amphisbaenios e serpentes em um mesmo grupo. Segundo Vanzolini et al., (1980)
diferenciar os grupos de répteis locais não é tarefa minuciosa. Lagartos e quelônios
possuem quatro patas, mas os quelônios possuem sua carapaça óssea que os
diferencia facilmente. Entre serpentes e anfisbênios, ambos apodes, pode haver
uma certa duvida por parte dos leigos, contudo a morfologia ilusória de duas
cabeças no anfisbênios pode diferenciá-los das serpentes.
Na tabela 3 está a discrição dada pelos informantes para cada grupo de répteis,
como também a comparação com a literatura científica.
Tabela 3 Comparação entre informações fornecidas pelos informantes para caracterizar
cada grupo de répteis, em relação a literatura científica específica.
Grupo Informantes Citação na literatura
Quelônios
1 - “tem um casco de osso,
quatro patinhas, cabeça e rabo
miúdo, e nas patas parece
umas ‘escaminhas’...”
2 - “Quando bole com eles,
eles entram para dentro do
casco.”
3 – “Os machos tem a barriga
afundada para dentro”
1 - A morfologia básica dos
quelônios é marcada pela
presença de uma carapaça
óssea formada pela
modificação das costelas e
quatro patas escamadas.
2 Como defesa recolhem-se
a carapaça ocultado os
membros, a cabeça e a cauda;
O plastrão é côncavo nos
machos (POUGH et al.,1999)
Lagartos
1 – “tem quatro patas, um rabo
comprido... tem de todo
tamanho e cor...”
2 – “anda sempre no sol,
1 são squamatas com quatro
patas, calda relativamente
comprida e com padrões de
escamas muito variados;
79
menos as bribas que anda a
noite...”
3 – “eles anda balançando a
cabeça... o rabo se tora e fica
se mexendo sozinho, diz que
chamando a mãe do ‘caba’
de... mas cresce de novo.”
2 Na caatinga lagartos
com hábitos diurnos e
noturnos;
3 – balançar a cabeça é um
tipo de comunicação
intraespecífica que indica que
o individuo é macho. A perda
da cauda chama-se autotomia
e relaciona-se a cnicas de
fuga. (POUGH et al., 1999)
Serpentes
1 – “nem tem mão, nem pé,
anda se ralando no chão
mesmo”
2 – “as vezes solta o couro,
quando a gente dá fé fica as
peles dela enganchada nas
pedra ou no telhado.”
3 – “tem de todo tamanho,
umas miudinhas,
vagabundas.... e tem uma, que
o povo diz, que dá mais de 4
metros”
1 No grupo das serpentes e
todos os indivíduos são
apodes;
2 as ecdises o
caracterizadas pelo eliminação
das antigas escamas, que são
liberadas no ambiente.
Geralmente as serpentes
utilizam-se de superfícies
ásperas para auxiliar o
processo de muda;
3 a variação de tamanho das
serpentes esta relacionada ao
habitat e ao tipo de presa
caçada. (Freitas, 1999)
Anfisbênios
1 – “parece uma minhoca
grande, só que morde e tem
duas cabeças uma verdadeira
e uma falsa”
2 – “é difícil de ver, só quando
tá cavando lerão, ou limpando
mato debaixo de cajueiro”
3 – “Já vi de duas qualidades,
uma branquinha ‘maga’ e uma
‘grandona’ que a cabeça
verdadeira parece uma seta.”
1 anfisbenios são répteis
aparentados com os lagartos,
que possuem
estrategicamente a calda
semelhante a cabeça;
2 possuem um
comportamento fossorial;
(POUGH et al., 1999)
3 Na mata de SJM
certamente ocorre pelo menos
uma espécie: Amphisbaenia
alba (BARBOSA et al., 2006)
Os répteis em muitos conceitos populares são considerados seres místicos,
rodeados de crenças e visões distorcidas sobre sua importância ecológica. Diversas
comunidades no mundo todo possuem diferentes formas de interpretação dos
répteis (BERNADE, 2007). Algumas sociedades asiáticas, por exemplo, têm as
serpentes como “divindades” que protegem as lavouras de praga como os roedores.
Outras sociedades, como a maioria das brasileiras, consideram as serpentes como
80
ameaças, animais não desejados (CORDEIRO e HOGE, 1973). Não só as serpentes
como também muitos lagartos acabam por receberem o conceito de venenosos e
perigosos.(VANZOLINI et al.,1980).
Para a comunidade de SJV a relação com a herpetofauna é mista, enquanto
para uns a relação é de medo e desconfiança, para outros a relação é natural e
muitas vezes sadia.
a) Relação Humano X Quelônio
Na mata de SJV nem todos os répteis são tidos como perigosos, ou sem
utilidade. Um bom exemplo são os jabutis (Geochelone carbonaria). Segundo
Vanzolini et al., (1980) o comportamento desse quelônio, lento e o agressivo,
certamente fez surgir crendices acerca de uma possível propriedade de cura de
asma em crianças. A partir daí a cultura de criar estes quelônios em casa a fim de
proteger as crianças deste mal. A comunidade de SJV tem o mesmo tipo de
costume, e segundo os informantes a crença é verdadeira.
se tiver criando jabuti no terreiro: menino fica bom de
chiado [asma]” – Informante ‘A”
Nos corpos de água da mata ocorrem duas espécies de cagados Phrynops
geoffroanus e Batrachemys tuberculata. Os cágados-d’água, por sua vez,
representam um recurso pesqueiro secundário, que sua captura ocorre de forma
81
indireta, quando esses animais se emaranham em redes e anzóis direcionados à
coleta de peixes. Embora pareçam ter importância econômica mínima (CORAZZA e
MOLINA, 2004), seu significado cultural e ecológico não deve ser desprezado.
No trabalho de Alves et al., (2002) o autor relata que na comunidade de
pescadores do Açude de Bodocongó (Campina Grande PB) alguns indivíduos
classificam os cagados como peixes, e que os mesmo fazem uso nutricional destes
quelônios. Em SJV não foi observada a comparação de nenhuma das duas espécies
de cagados locais com peixes, contudo a utilização destes como recurso alimentar
foi registrada pelo menos uma vez: se vem na rede a gente não vai perder, né?...
mas o povo aqui não tem ‘custume’ de comer isso o, acha que é remoso.”
informante “D”.
As respostas sobre o conhecimento etnoherpetológico dos informantes da
SJV encontra-se dispostas na tabela 4, juntamente com a comparação com a
literatura cientifica.
Tabela 4 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o
conhecimento etnoherpetológico de quelônios, em relação a literatura científica específica
Perguntas Folk Científico
Que tipo de “tartarugas”
(quelônios) tem por aqui?
“só tem jabuti e cágado”
Para a mata de SJM são
descritas 4 espécies (1
terrestre, 1 semi-aquática
e 2 aquáticas) de lagartos
de 3 famílias diferentes
(BARBOSA et al., 2006).
O que é um cágado?
“é uma tartaruga de água,
com as patinhas feito
nadadeira de peixe”
Cagados são quelônios
aquáticos, que entre os
dedos possuem
membranas interdigitais
que auxiliam o nado
(POUGH et al., 1999)
82
O que é um jabuti?
os jabutis vivem somente
na terra e tem as pernas
grossas
Jabutis são quelônios
terrestres, com as patas
adaptadas para caminhar
no solo sustentando o
peço da carapaça óssea
(POUGH et al., 1999).
Qual a utilidade do jabuti?
“o bicho come um monte
de troço, limpa entulho de
mato”
Os jabutis possuem uma
alimentação onívora
(FREITAS, et al., 1999)
Qual a utilidade do cágado?
“pode até comer, mas
serve mesmo de remédio”
Segundo Klemens e
Thorbjarnarson (1995)
muitas espécies de
quelônios, especialmente
os aquáticos são utilizados
como fonte alimentar em
diversas comunidades do
globo.
Quais os tipos de jabutis daqui?
“só tem um mesmo, mais
tem um que parece com o
legitimo, mas é bem
pequenininho
Em virtude do
comportamento semi-
aquático o Knosternon
scorpioides, espécie de
quelônio que ocorre na
mata (BARBOSA, et al.,,
2006) como muito bem ser
classificado uma espécie
de jabuti.
Quais os tipos de cágados daqui?
“tem o preto e o da barriga
vermelha”
O plastrão de cágados da
espécies Phrynops
geoffroanus tem
pigmentação avermelhada.
(FREITAS, et al., 1999)
O que é que os cágados comem?
“peixes, jia e ‘caçote’”
A dieta dos quelônios da
família Chelidae é de
peixes, anfíbios e restos
de corpos animais
(FREITAS, et al., 1999).
Nasce como?
“de ovo quando troveja”
A reprodução dos
quelônios é ovípara.
Contudo o nascimento de
novos indivíduos é um
evento independente de
fenômenos meteriológicos.
(FREITAS, et al., 1999).
Se vê mais “tartaruga” de dia ou
de noite?
“de dia”
O comportamento diurno
de quelônios é o mais
difundido entre as
espécies (VANZOLINI et
al.,, 1980).
83
b) Relação Humano X Lagarto
Indagados sobre o grupo lagartos, os informantes sempre relacionavam o nome
do grupo a uma única espécie, o teju (Tupinambis merianae). Os demais lagartos
são conhecidos como lagartixas ou ‘lagartixas’, calangos e bribas.
É muito comum aos arredores das casas da SJV encontrar lagartos diurnos com
‘largatixa’ da peste (Tropidurus hispidus), ‘largatixa maga’ (Tropidurus semitaeniatus)
e calando verde (Cnemidophorus occelifer), com também noturnos com a briba da
noite (Phyllopezus periosus) e dentro das casas as bribas ou ‘vibras’ (Hemidactylus
agrius e Phyllopezus policaris).
Curiosamente a maioria dos membros da referida comunidade classifica como
briba os lagartos da família Gekkonidae. De fato neste táxon um gênero
monotípico chamado Briba. Este gênero possuindo apenas a espécie a Briba
brasiliana (VANZOLINI et al.,1980) que ocorre segundo Barbosa et al., (2006) para a
mata de SJM.
Na SJV os lagartos como os da família Gekkonidae são tidos como
higienizadores de ambientes domiciliares. Segundo os moradores estes lagartos são
importantes por se alimentarem de insetos e besouros (pela nomenclatura folk
local, há distinção entre insetos e besouros).
Os informantes relataram que para eles o lagarto mais importante é o teju ou
tejuassú. Segundo eles o teju (Tupinambis merianae) serve tanto de comida como
de remédio. No entanto eles classificam o lagarto como um animal ‘brabo’ [bravo]
que morde muito e se adora comer ovos e pintos nos galinheiros. De fato, se
84
comparamos estas informações com a literatura cientifica, a exemplo de Freitas
(1999), relevância no entendimento dos informantes. Segundo Freitas (1999) os
Tupinambis merianae são agressivos e também se alimentam de ovos e pequenas
aves.
Conforme todos os informantes comer tejus é uma prática comum entre os
moradores locais. teju tem gosto de galinha descreve assim, o informante “H”, o
sabor da carne. A palavra vem teju vem de derivação do Tupy - te’yu - que significa
comida de gentalha (FERREIRA, 2006), entretanto, os informantes além de
desconhecerem a etimologia da palavra, o vêm o animal como comida de
gentalha, muitas vezes é tido como iguaria.
Segundo os informantes o teju quando em atividade de forrageio, tanto pode se
deparar (enfrentamento) com serpentes viperidae, quanto pode alimentar-se das
mesmas. uma crença popular acerca de um vegetal chamado popularmente de
‘pé de pinhão’ (Jatropha gossypiifolia L) que diz que quando o lagarto é picado por
cascavel (Crotalus durissus cascavela), o mesmo busca este vegetal para ingeri-lo e
"curar-se" da ação da peçonha. Durante as turnês guiadas não foi flagrada a
possível luta entre o teju e a cascavel, contudo o mesmo enredo é contado por todos
os informantes. Um dos informantes (“C”) relata com detalhes a possível luta do teju
contra a cascavel.
“o teju quando sai para caça, eles vai pegando o que
acha... se ele achar uma cascavel ou uma jararaca da
legítima ele pega mesmo... vai para cima e abocanha pelo
meio, sacode, sacode e não solta... a cobra a gente ver
mesmo, morde que ‘chega’ o veneno escorre. Daí o teju
solta [a cobra] corre pro de pião, come as ramas e
volta para pegar a cobra de novo. Se ele não morder o
de pião é morte na certa, é por isso que o teju briga
com cobra com pião por perto. Na hora de engolir ele
[teju] mastiga a cabeça da ‘bicha e engole inteirinha.”
85
Santos e Marques (2001) relatam em seu trabalho em alguns lugares da Bahia
existe uma estória semelhante: ele [teju] sai correndo pro mato e cava a terra e
encontra a batata-de-teiú e come. sim! Ele fica brabo e volta pra brigar até matar
a cobra”.
Alguns autores consideram, não só a procura pelo vegetal, mas também a luta do
Tejo e a serpente, como um mito e sem fundamentos científicos para acontecer
(VAINER, 1945; CONSORTI, 2007; BERNADE, 2007). É muito estranho crer que na
natureza tudo se limite ao obvio, assim é necessário enveredar pela lógica de que se
há uma hipótese é preciso ser testá-la.
É plausível a existência da ‘lutaentre teju e serpentes, uma vez que Viperidae
não se entregam facilmente, a exemplo da predação de Viperidae por Colubridae do
gênero Boiruna ou por Clelia: mesmo contra um predador maior o instinto de defesa
não deixa a serpente simplesmente subjuga-se. Nesta ótica o mesmo pode acontece
entre o teju e a cascavel.
Na tabela 5 encontram-se as respostas sobre o conhecimento
etnoherpetológico dos informantes da SJV juntamente com a comparação com a
literatura cientifica.
Tabela 5 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o
conhecimento etnoherpetológico de lagartos, em relação a literatura científica específica.
Pergunta Popular Científico
O que é um
lagarto?
“É um bicho parecido às vezes com
cobra, mais que tem patas”
“Lagartos apodes comumente
são confundidos com
serpentes devido as
proporções morfológicas
semelhantes” (FREITAS,
1999)
Como você
diferencia os
lagartos?
“só tem o teju mesmo, os outro é
calango”
A palavra lagarto designa
todos os indivíduos do grupo
(VANZOLINI et al., 1980)
86
Os lagartos são
perigosos?
“tem alguns que sim”
No Brasil apenas o
Tupinambis merianae oferece
riscos mediante suas
poderosas mandíbulas
(VANZOLINI et al., 1980).
Que tipo de
lagartos existem
por aqui?
“calango, teju, lagartixa, briba e bico
doce”
Para a mata de SJM são
descritas 17 espécies de
lagartos de 9 famílias
diferentes (BARBOSA et al.,
2006)
Como você
diferencia um
lagarto de uma
cobra?
“Lagarto tem patas...”
Morfologicamente a
diferenciação básica é a
presença de patas. Na mata
de SJM não espécie de
lagartos apodes (BARBOSA et
al., 2006)
Como são os
tamanhos dos
lagartos?
“depende, tem uns que são pequenos
e outros maiores feito o teju
A variação de tamanho é de
0,04 até 2 metros (BARBOSA
et al., 2006).
Onde é mais fácil
encontrar lagartos?
“Nas pedras, ou nas furnas”
Habitas de lagartos são muito
relativos a disponibilidade do
microhabitat. Fendas, ocos,
cupinzeiros e mesmo em
abrigos dentro de residências
(VANZOLINI et al., 1980).
O que é que os
lagartos comem?
“insetos, besouros, aranha, ovo, pinto,
rato, cobra”
A dieta dos lagartos é variada,
desde espécies herbívoras,
carnívoras a onívoras
(VANZOLINI et al., 1980).
Nasce de que? de
ovo? da fêmea?
“Tem uns que nascem do ovo e outros
da fêmea”
A reprodução pode ser tanto
por viviparidade quanto por
oviparidade (POUGH et al.,
1999)
Tem lagarto com
serventia (útil)?
“serve de comida, e tem também os
come os insetos que ficam na parede
de noite”
Possuem importância
etnoecológica como item
alimentar e como
controladores biológicos de
populações artrópodes
(FREITAS, 1999).
Se vê mais lagartos
de dia ou de noite?
“tanto de dia quanto de noite”
A maioria dos lagartos da
caatinga é diurna com alguns
exemplares noturnos e outra
crepusculares (VANZOLINI et
al., 1980).
Que animais aqui
da mata comem
lagartos?
“cobra, coruja, guaxinim e gato
Serpentes, aves de rapina e
alguns mamíferos são
predadores de lagartos
(VANZOLINI et al., 1980).
87
c) Relação Humano X Serpente
Os únicos répteis indicados pelos moradores como causadores de acidente
foram às serpentes. Os relatos de acidentes existem e estão espalhados na
comunidade como um todo, contudo a maioria dos casos relatados não ocasionou
óbito. De acordo com a percepção da comunidade todas as serpentes são
consideradas “venenosas”. Eles utilizam o termo em analogia ao termo técnico
peçonhentas (BERNADE, 2007). Segundo um levantamento preliminar da
herpetofauna da mata de São José da Mata (BARBOSA et al.,2006), de fato na área
ocorrem serpentes peçonhentas, mas a grande maioria das espécies é de o
peçonhentas.
Quando acidentados por cobras, os informantes afirmam ter soluções
alternativas ao soro antiofídico, como chupar o local da picada, colocar borra de café
e os chamados “homens curados”. No trabalho de Araújo (2007) ele cita outros
mecanismo de cura alternativa como o uso de fumo sobre a própria mordida, ou
come-se toucinho, ou bebe-se gás (querosene) ou benzimentos, rezas e simpatias.
Porém, uma pessoa a quem recorrer na maioria das vezes, é o curador-de-
cobras.
Na comunidade residia um homem de aproximadamente 78 anos que era tido
como “curado”, ou seja, um indivíduo que foi picado por cobra e escapou porquê um
antecessor, também curado, cuspiu em sua boca logo após a picada da cobra.
Dizem os informantes que os “curados” só podem repassar esta “graça” a um
homem e que o mesmo tenha sido picado por cobra. Andrade e Costa-Neto (2005)
88
relatam um caso semelhante onde às vezes, tal informação não é transmitida,
extinguindo-se quando seu detentor morre.
Nem todas as serpentes são tidas como perigosas. Na comunidade a “cobra
preta” ou “mussurana” (Boiruna maculata ou Pseudoboa nigra) é tida como
importante por alimentar-se de outras serpentes como a jararaca. Em virtude desta
particularidade esta não é tida como nociva e sim benéfica a comunidade, não
sendo alvo de caça ou mesmo de morte sem motivos.
As respostas sobre o conhecimento etnoherpetológico dos informantes da
SJV encontra-se dispostas na tabela 6, juntamente com a comparação com a
literatura cientifica.
Tabela 6 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o
conhecimento etnoherpetológico de serpentes, em relação a literatura científica específica
Perguntas Popular Científico
O que é uma cobra?
“É um bicho que se arrasta
pelo chão que é muito
perigoso.”
Serpentes são répteis que
têm o corpo cilíndrico e
alongado, recoberto de
escamas que se deslocam
rastejando sob o solo (SILVA,
2000).
Que tipo de cobras existem
por aqui?
“Muitas! Grande, pequena,
mansa, ‘braba’, venenosa.
“’Cascavé’, salamanta, jibóia,
coral, rainha, e verde tem
demais.”
As principais serpentes
brasileiras pertencem as
famílias anomalepididae,
Leptotyphlopidae,
Typhlopidae, Aniliidae,
Boidae, Colubridae, Elapidae
e Viperidae, proporcionando
uma diversidade quantificada
em cerca de 321 espécies
(CARDOSO et al.,2003;
PEREIRA, 2004).
Todas as cobras desta região
são perigosas?
“Não. Tem as ‘perigosa’ e as
que só faz medo, mal mesmo
não.”
“Dentre as serpentes
brasileiras cerca de 40
espécies é que realmente
apresentam peçonha
realmente tóxicas que podem
evoluir para seqüelas
gravíssimas ou até a morte”.
(SILVA, 2000)
89
Como você diferencia as
cobras?
“Pela cor, pelas ‘malhas’,
pela a agitação e tamanho
também ”
A coloração das serpentes é
muito variada. As cores são
produzidas por células
específicas que garantem a
sobrevivência das espécies,
importantes no
desenvolvimento ontogênico,
como mimetismo, advertência
e até variações genéticas,
não sendo indicado deforma
alguma como característica
de identificação de espécie
ou de diferenciação entre
peçonhentas e não
peçonhentas (SILVA, 2000).
Cobra serve de caça
(comida)?
“Tem umas ‘pessoa’ que
come as salamanta boi é as
‘merma’ que vocês chama de
jibóia, e tem gosto de peixe
Segundo Klemens e
Thorbjarnarson (1995) muitas
espécies de répteis são
utilizadas como fonte
alimentar em diversas
comunidades do globo.
Onde é mais fácil encontrar
cobras?
“Na mata ou perto dos
terreiros da casa da gente”.
“Nas ‘época’ de chuva tem
muita nos roçado, nas planta
ou “interrada’ nas terras”
Serpentes ocorrem em
diversos ambientes.
espécies em ambientes
florestais, cerrados e
caatinga. (MARQUES e
SAZIMA, 2003)
O que é que cobra come?
“Ovo, pinto, ‘passarim’,
calango, preá, mocó, outras
cobra, cabrito, sapo, jia, rã.”
Todas as serpentes são
carnívoras e ingerem suas
presas inteiras, com uma
diversidade ampla de hábitos
alimentares, se alimentando
de invertebrados (moluscos,
anelídeos, artrópodes e de
vertebrados (peixes, anfíbios,
outros répteis, aves e
mamíferos) (MARQUES e
SAZIMA, 2003, POUGH et
al., 1999)
Que animais aqui da mata
comem cobras?
“’curuja’, gaivião, ‘caicará’,
tacacá, teju, cobra preta”
Os predadores naturais das
serpentes o outras
serpentes (Boiruna sp),
lagartos (Tupinambis sp e
Ameiva sp), as aves de
rapina (Tyto alba, Polyborus
sp e outras) e alguns
mamíferos (Didelphis sp)
(MARQUES e SAZIMA, 2003,
POUGH et al., 1999)
90
Nasce de que? de ovo? da
fêmea?
“Tem as que vem de ovo, só
num vi chocando; e as que já
nasce viva”
“As que nasce viva sai junto
com uma baba ‘liguenta’
[pegajosa]
“No Brasil a maioria das
serpentes põe ovos. os
boídeos, os viperídeos
(exceto Lachesis) e alguns
colubrídeos são vivíparos.”
(MARQUES e SAZIMA, 2003,
POUGH et al., 1999)
Nas vivíparas os filhotes se
desenvolvem em um ovo
membrana ou placenta
alantórica (membrana fina,
transparente e viscosa)
dentro do corpo da mãe,
quando nascimento é
externado junto com os
filhotes que precisam romper
essa membrana para
sobreviver (SILVA, 2003;
POUGH et al., 1999).
Qual a cobra mais perigosa?
“Tem quatro: ‘cascavé’, ‘maia’
de ‘cascavé’, coral e
salamanta
No Brasil, assim como na
Paraíba, os quatro gêneros
de serpentes de importância
médica são: Lachesis,
Bothrops, Crotalus e Micrurus
(ALBUQUERQUE,
FERNANDES e
ALBUQUERQUE, 2005)
Tem cobra com serventia
(útil)?
“Deve de ter, porque na terra
todo bicho vivo tem sua
serventia. Ou ‘selve’ pra
come ou ‘selve’ pra ser
‘cumido’”
As serpentes tem a função
natural de agirem como
biocontroladoras de roedores,
além serem a matéria prima
para a fabricação de
fármacos e colas cirúrgicas
(ALBUQUERQUE,
FERNANDES e
ALBUQUERQUE, 2005;
PEDROSA, 2005)
Como as cobras andam?
“anda não...[risos].. se arrasta
pelo chão”
Apesar de não possuírem
membros móveis, estão bem
adaptadas para se deslocar
como muita agilidade. Podem
rastejar, saltar. mergulhar ou
nadar devido a flexibilidade
de sua coluna vertebral,
costelas e placas ventrais e
musculaturas associadas
(SILVA, 2000, POUGH et al.,
1999).
91
Cobra tem morada?
“Na serra tem umas loca de
cobra jibóia”
Naturalmente as serpentes
são encontradas sob terra
firme, ocos de árvores e
pedras, em túneis e galerias
subterrâneas, em árvores,
debaixo de folhas e gravetos
(ALBUQUERQUE, 2002;
BRASIL, 1998)
Se vê mais cobra de dia ou
de noite?
“Assim... nos tempo frio a
gente ver umas cobrinha de
dia e encontra corá e nos
tempo quente a gente
encontra a noite as jibóia,
cascavé, malha de cascavé
“mais fáci de noitinha e na
madrugada
As serpentes podem
apresentar atividade
predominantemente diurna
ou noturna, mas espécies
que são ativas
indistintamente nos dois
períodos. A sua atividade
pode estar relacionada com a
procura de alimento, locais
de desova ou para controle
de temperatura. (MARQUES
e SAZIMA, 2003; POUGH ET
AL., 1999).
Tem como se proteger de
picada de cobra?
“Só Deus...”
“num ‘butando’ as mão sem
ver o que tem
“se tiver no caminho de
tocaia tem como não!”
O uso de luvas, botas e
perneiras de couro, bem
como manipular coivaras,
matos e entulhos com
gravetos ou ferramentas
compridas é a maneira mais
eficaz de se proteger contra
picadas de serpentes em
atividades de campo.
(ALBUQUERQUE, 2002,
ALBUQUERQUE, Fernandes
e ALBUQUERQUE, 2005)
O que se faz se for picado?
“nos tempo de antigamente
tinha uns rezador hoje corre
pra Campina [Campina
Grande – PB] ‘prus’ hospital
mesmo”
“espera ver no que dá. Se
num sangrar e num ‘dué’ fica
em casas mesmo”
No caso de acidente com
serpentes peçonhentas,
deve-se ficar em repouso, se
hidratar e buscar o
atendimento médico o mais
rápido possível.
(ALBUQUERQUE, 2002,
ALBUQUERQUE,
FERNANDES e Albuquerque,
2005; CARDOSO, 2003)
92
6.9 - Zooterápicos
Embora seja relativamente pouco estudada a zooterápia é uma realidade
presente na história das sociedades (Costa-Neto, 2005). A pertinência da medicina
tradicional baseada em animais, embora considerada como superstição, não deve
ser negada uma vez que os animais têm sido testados metodicamente pelas
companhias farmacêuticas como fontes de drogas para a ciência médica moderna
(COSTA-NETO, 2005).
Muito desta cultura vem sendo substituída, ou mesmo foi, por fármacos
industrializados, o que faz com que o uso de zooterapicos seja cada dia menos
difundido entre a população. Contudo forte presença da zooterapias no dia a dia
de comunidade rurais, urbanas e especialmente as de baixa renda.
A Comunidade utiliza-se de animais na elaboração de zooterápicos, segundo
os informantes este conhecimento vem de gerações anteriores e continuam sendo
repassadas aos mais novos. Apesar de terem um certo receio com relação a répteis,
alguns são utilizados como zooterápicos para a cura de certos males como:
problemas dérmicos.
A relação de répteis mencionados como de utilidade zooterápica encontra-se
sintetizados na tabela 7 e detalhados logo em seguida.
93
Tabela 7: Animais com aplicação zooterápica
Nome popular
Nomenclatura
cientifica
Parte utilizada Uso
Lagartixa
Tropidurus hispidus
Ventre Contra verrugas
Camaleão
Iguana iguana
Banha/ossos
Asma/dor nas juntas
(articulações)
Teju
Tupinambis merianae
Banha Dor de ouvido/garganta
Cágado d’água
Batrachemys
tuberculata
Banha
Dor de
garganta/rouquidão/asma
Jabuti
Geochelone
carbonaria
Banha Erisipela
Chocalho de
cascavel
Crotalus durissus
cascavela
Chocalho
Asma/ crescimento da
primeira dentição
Detalhamento
LAGARTIXAS
“Passar a barriga de uma lagartixa viva para acabar
com as ‘berrugas’ [verrugas].” - Informante “A”
Segundo Zanini (2007) as verrugas pode ser facilmente eliminadas com
tratamentos ambulatoriais periódicos a base de antibióticos, mas tratamentos
dermatológicos caseiros o usado com freqüência, contudo o dados
concretos sobre a eficácia destes.
Várias informantes citaram esta experiência de utilizar o ventre de lagartos
contra verrugas e afirmaram convictamente que a crua é certa Os lagartos em
94
questão são da família Tropiduridae e são da espécie Tropidurus hispidus. Na
literatura pesquisada não foi encontrado nenhum relato semelhante.
CAMALEÃO
“camaleão para dor nas juntas é um santo
remédio...” – informante “H”
O camaleão (Iguana iguana) também é utilizado como zooterápico, utilizando a
banha e seus ossos. A banha desse animal, segundo relato dos moradores da
comunidade, serve para passar na pele para expulsar do corpo espinhos
encravados e para tratamento de pano branco [pitiríase versicolor]. Já dos ossos faz-
se um chá que é utilizado para dor nas juntas e nos ossos (articulações). De acordo
com Cavalcanti et al., (2006) na comunidade de Chã de Jardim, município de Areia –
Paraíba, distante 75km da SJV, o uso de Iguana iguana como zooterápico também é
feito pela comunidade local.
TEJU
“banha [gordura] de teju é bom pra garganta, pode
tomar para você vê!” – Informante “C”
95
Do Tupinambis merianae é retirada sua banha (tecido adiposo) e utilizada para o
tratamento de inflamações especialmente da garganta, que corrobora com os
resultados de Cavalcanti et al., (2006, e do ouvido, sendo utilizados por crianças e
adultos, além de ser usado como afrodisíaco.
CAGADO D’ÁGUA
O cagado d’água (Phrynops geoffroanus) tem sua banha utilizada no tratamento
de asma, rouquidão e dor de garganta. Alves et al., (2002) relata que a comunidade
de pescadores do açude de Bodocongó também se utiliza do cagado com o recurso
zooterápico. Em um trecho de seus resultados uma explanação de um informante
local assemelha-se com o comentário de uma informante da SJV.
Informante de Bodocongó: “com as juntas todas duras [...] ficou quase bom
comendo a carne do cágado e passando a banha”, é um santo remédioe “serve
pra tudo no mundo”.
Informante “D” de SJV: “pra dor nas juntas não tem melhor é um santo
remédio”.
96
JABUTI
“Passar o casco do jabuti em uma pessoa que tenha
erisipela [linfagite] e ela ficará curada.” Informante “E”
O animal foi citado por poucos informantes (n=4) que dizem nunca ter visto,
mas que acreditam. A erisipela ou Linfangite estreptocócica é uma infecção da pele
causada geralmente por Treptococcus beta-hemolítico do grupo A (raramente dos
grupos C ou G, e, em recém-nascidos, do grupo B),
podendo ocorrer infecção pelo
Staphilococcus aureus (BERNARDES, et al.,2006) O tratamento indicado é a base
de antibióticos específicos, fato questionável a eficiência deste tipo de tratamento
zooterapico.
CHOCALHO DA CASCAVEL
“O chá do chocalho da cascavel serve como remédio
para asmáticos e para o nascimento da primeira dentição
da criança.” Informante “C”.
Segundo os entrevistados, o chá é mais utilizado em crianças na região,
durante seu primeiro ano de vida, surgem os primeiros dentes e são acometidos de
asma, que é popularmente chamado na região como chiado ou cansaço. Este
97
tratamento zooterapico não foi encontrado na literatura, contudo, a cultura do uso
deste tratamento naquela comunidade possivelmente está relacionada a conexões
de costumes com comunidade de áreas áridas do Estado, uma vez que a Crotalus
durissus cascavela não incide na comunidade.
6.10 - Inventário
O levantamento da herpetofauna da mata de SJM contou até o final da presente
pesquisa, com um total de 44 espécies de répteis dentre lagartos, serpentes,
quelônios e anfisbênios. A síntese do levantamento encontra-se na tabela 8.
Tabela 8 – números do levantamento da herpetofauna de SJM
Números
Espécies Famílias
Capturas/
encontros
Anfisbênios 1 1 2
Lagartos 20 8 195
Serpentes 19 5 43
Quelônios 4 3 11
Total 44 17 251
No quadro 2 e 3 estão dispostos os dados referentes a distribuição
filogenética da Ordem Squamata e da Ordem Testudine respectivamente, que
ocorrem na mata da SJM.
98
OrdemSquamata
Sub-ordem Amphisbaenia
Família – Amphisbaenidae
Sub-ordem Iguania
Família - Iguanidae
Família - Polychrotidae
Família – Tropiduridae
Sub-ordem Scleroglossa
Infra-ordemGekkota
Família – Gekkonidae
Sub-ordem Autarchomorpha
Infra-ordem Scinomorpha
Família – Teiidae
Família – Scincidae
Família – Gymnophthalmidae
Infra-ordem – Anguimorpha
Família – Anguidae
Sub-ordem Serpente
Super-família – Typlhopoidea
Família – Leptophlopidae
Super-família – Henophidea
Família – Boidae
Super-família – Xenophidea
Família – Colubridae
Família – Viperidae
Família - Elapidae
Quadro 1 – Distribuição filogenética da Ordem Squamata ocorrentes na Mata de SJM
Fonte: Abraão R. Barbosa (2007)
99
OrdemTestudine
Família – Testudinidae
Família – Kinosternidae
Família – Chelidae
Quadro 2 – Distribuição filogenética da Ordem Testudine ocorrentes na Mata de SJM
Fonte: Abraão R. Barbosa (2007)
a) Formas de captura
Dentre as forma de captura de répteis utilizadas neste trabalho a maior
eficiência foi verificada na varredura com auxilio de cão de caça e na coleta por
terceiros. As armadilhas de queda não mostraram boa eficiência. Os números
referentes a cada tipo de técnica de captura encontram-se nas tabelas 9, 10 e 11. E
o registro fotográfico de cada espécies encontra-se nas tabelas 12, 13 e 14 e 15.
Tabela 9 – Espécies de répteis capturados em armadilha de queda.
Grupo Nomenclatura Folk Espécie Nº de captura
Lagarto Calando verde
Cnemidophorus oceliffer
15
Lagarto Calango da peste
Tropidurus hispidus
8
lagarto Bico doce
Ameiva ameiva
1
Lagarto Calango de cobra
Diploglossus lessonea
1
Lagarto Lagarto de macambira
Mabuya heat
1
Lagarto Papa vento verde
Enyalius sp
1
Lagarto Briba
Hemdactylus mabuya
1
Lagarto Briba
Gmnodactilus gekkoides
1
Lagarto Camaleão
Iguana iguana
1
Lagarto Lagarto de macambira
Mabuya agmostica
1
100
Total de Lagartos 31
Serpente Casco de Burro
Liophis poecylogirus xerolofilos
4
Serpente Jararaca de tabuleiro
Leptodeira annulata
1
Serpente Cipó do papo amarelo
Thamnodynastes sp1
2
Serpente Cobre preta
Pseudoboa nigra
1
Serpente Salamanta
Epicrates cencria assisi
1
Serpente Salamanta boi
Boa constrictor constrictor
1
Serpente Jararaca malha de cascavel
Bothrops erythromelas
1
Serpente Cobra verde
Philodryas aestivos
1
Serpente Jararaquinha
Thamnodynastes sp2
2
Total de Serpentes 14
Anfisbênio
Cobra de duas cabeças
Amphisbaenia alba
1
Total de Anfisbênios 1
Total de répteis capturados na armadilha 46
Tabela 10 – Espécies de répteis coletados por terceiros.
Grupo Nomenclatura Folk Espécie Nº de captura
Lagarto Calango verde
Cnemidophorus oceliffer
3
Lagarto Papa vento
Polycrus acutirostres
10
Lagarto Briba
Gymnodactylus sp
1
Lagarto Briba
Hemidactilus maboya
1
Lagarto Papa vento verde
Enyalius sp
1
Lagarto Lagartixa maga (magra)
Tropidurus semitaeniatus
1
Lagarto Calanguinho
Vanzozaura rubricauda
2
Lagarto Sem nome
Anotosaura vanzolinia
2
Lagarto Sem nome
Colobosaura mentalis
1
Total de Lagartos 22
Quelônio Jabuti
Geochelone carbonaria
5
Quelônio Caçado preto
Batrachemys tuberculatus
1
Total de Quelônios 6
Serpente Cobra cipó bicuda
Oxybelis aeneus
1
Serpente Jararaca de tabuleiro
Leptodeira annulata
1
Serpente
Jararaca malha de
cascavel
Bothrops erythromelas
1
Serpente Cobra preta
Boiruna maculata
1
Serpente Cobra do leite
Pseudoboa nigra
4
Serpente Salamanta
Epicrates cenchria assisi
1
101
Total de Serpentes 9
Anfisbenia Cobra de duas cabeças
Amphisbaenia alba
1
Total de anfisbenios
1
Total de répteis capturados 37
Tabela 11 – Espécies de répteis capturados em varreduras com auxilio de cão.
Grupo Nomenclatura Folk Espécie Nº de captura
Lagarto Briba
Gymnodactylus sp
2
Lagarto Calango da peste
Tropidurus torquatus
30
Lagarto Camaleão
Iguana iguana
5
Lagarto Tejo
Tupinambis merianae
30
Lagarto Lagartixa maga (magra)
Tropidurus semitaeniatus
30
Lagarto Calango de macambira
Mabuya heat
9
Lagarto Calango de cobra
Diploglossus lessonea
2
Lagarto Bico doce
Ameiva ameiva
3
Lagarto Calanguinho
Vanzosaura rubricauda
1
Total de Lagartos 112
Quelônio
Cagado d’água
Phrynops geoffroanus
2
Quelônio
Jabuti
Geochelone carbonaria
4
Quelônio
Jabutizinho
Kinosternon scorpioides
1
Total de Quelônios 7
Serpente
Cobra cipó bicuda
Oxybelis aeneus
1
Serpente
Cobra preta
Boiruna maculata
2
Serpente
Cobra do leite
Pseudoboa nigra
1
Serpente
Salamanta boi
Boa constrictor constrictor
1
Serpente
Cobra verde
Phylodryas olfersii
1
Serpente
Cipó verde
Leptophis ahaetulla
1
Serpente
Coral “da falsa”
Oxyrhopus trigeminus
3
Serpente
Coral “da legitima”
Micrurus ibiboboca
1
Serpente
Cipó do papo amarelo
Thamnodynaste sp1
3
Serpente
Casco de Burro
Liophis poecylogirus xerolofilos
6
Total de Serpentes 20
Total de répteis capturados com auxilio de cão +139
102
Tabela 12 – Registro fotográfico de anfisbênios com ocorrência em SJM.
Nomenclatura Popular Espécie
Cobra de duas cabeças Amphisbaenia alba
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Tabela 13 – Registro fotográfico de lagartos com ocorrência em SJM.
Nomenclatura Popular Espécie
Bico doce
Ameiva ameiva
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
103
Calango verde
Cnemidophorus oceliffer
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Calango de cobra
Diploglossus lessonea
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Papa vento verde
Enyalius sp
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
104
Briba
Gymnodactylus gekoides
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Briba
Gymnodactylus gekoides
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Briba
Hemdactylus mabouia
Foto: Helder N. Albuquerque (2006)
105
Briba
Hemidactilus agrius
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Camaleão
Iguana iguana
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Calango de macambira
Mabuya heathi
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
106
Calango de macambira
Mabuya agmosticha
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Papa vento
Polychrus acutirostris
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Lagartixa maga [magra]
Tropidurus semitaeniatus
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
107
Calango da peste
Tropidurus hispidus
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Teju / tejuassú
Tupinambis merianae
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Calanguinho malhado
Vanzosaura rubricauda
Foto: Silvaney M. Sousa (2006)
108
Sem nome Anotosaura vanzolinia
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Sem nome Colobosaura mentalis
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Briba Phyllopezus policaris
Foto: Silvaney M. Sousa (2006)
109
Briba Phyllopezus periosus
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Tabela 14 – Registro fotográfico de serpentes com ocorrência em SJM.
Nomenclatura popular Espécie
Salamanta boi
Boa constrictor constrictor
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
110
Cobra preta
Boiruna maculata
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Jararaca malha de cascavel
Bothrops erythromelas
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Salamanta
Epicrates cencria assisi
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
111
Jararaca de tabuleiro
Leptodeira annulata
Foto: Helder N. de Albuquerque (2006)
Cipó verde
Leptophis ahaetulla
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Cobra arco-íris
Liophis lineatus
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
112
Casco de Burro
Liophis poecylogirus xerolophylos
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Cobra verde/ Papa rã
Liophis viridis
Foto: Silvaney M. Sousa (2006)
Coral “da legitima”
Micrurus ibiboboca
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
113
Cobra cipó bicuda
Oxybelis aeneus
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Coral “da falsa”
Oxyrhopus trigeminus
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Corre campo
Philodryas nattererii
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
114
Cobra verde
Philodryas olfersii
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Cobra do leite
Pseudoboa nigra
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Cobra de cipó
Thamnodynastes strigilis
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
115
Cipó do papo amarelo
Thamnodynastes sp1
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Jararaquinha
Thamnodynastes sp2
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Chumbinho
Typhlops sp
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
116
Tabela 15 – Registro fotográfico de quelônios com ocorrência em SJM.
Nomenclatura Popular Espécie
Jabuti
Geochelone carbonaria
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Jabutizinho
Kinosternon scorpioides
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
117
Cagado d’água
Phrynops geoffroanus
Foto: Abraão R. Barbosa (2006)
Caçado preto
Batrachemys tuberculata
Foto: Silvaney M. Sousa (2006)
118
7.0 - Conclusão
Parte do conhecimento etnoherpetológico da comunidade de SJV, é centrado
muito mais em crendices do que em fatos reais;
a utilização dos recursos naturais da mata tem o intuito de contribuir com a
subsistência de seus moradores;
a compreensão do fenômenos climáticos é de fundamental importância para a
comunidade local;
os zooterápicos utilizados pela comunidade de SJV não foram testados neste
trabalho quanto a seus efeitos, contudo, representam uma alternativa
terapêutica para as comunidades locais;
a técnica de varredura com auxilio de cães, embora não seja tradicional, foi
uma ferramenta eficiente na execução do levantamento herpetofaunístico;
119
8.0 - Referencias Bibliográficas
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<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT02/GTCristiano.pdf>
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VAINER, N. No mundo das serpentes. São Paulo, Anchieta S.A, 98pp. 1945.
VANZOLINI P. E. Ecological and geographical distribution of lizards in Pernambuco,
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VESENTINI, J. W. Geografia Natureza e Sociedade. Ed. Contexto. São Paulo-SP.
1992
129
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VITT, L.J. Reproduction and sexual dimorphism in the tropical teiid lizard
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Ambiental. Disponível em
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de janeiro de 2007-b
130
9. 0 Anexos
Anexo 1
Questionário Perfil Sócio-Econômico
Idade: ____ Sexo: ________ Estado Civil:  Solteiro  Casado  Viúvo
Filhos: Não Sim N
0
______
Naturalidade: ______________________ Tempo que vive na mata: _________
Escolaridade:
 analfabeto  ensino fundamental  ensino médio
Profissão:
 agricultor  pecuarista  caseiro  diarista  aposentado  caçador
 outro _______________________ Renda média/semana: R$________________
Horário de realização de atividades:
 Manhã  Tarde  Noite  Manhã e Tarde
Condições de moradia:
 própria  alugada  herança  empréstimo  zelador  outros _____________
Proprietário de terras?  sim  não / Quantos hectares? ______
Acesso a programas assistenciais do governo:  sim  não
Atendido por que tipo de programa de cunho social:
 Bolsa família  Programa do pão e leite  outro____________________________
Sofre com a seca?  sim  não / Armazena água?  sim  não
Tipo de agricultura:  subsistência  extensiva  intensiva
Tipo de lavoura:
 feijão  milho  mandioca  hortaliças  batata  outras ___________________
Criação de animais:  subsistência  extensiva  intensiva
131
Tipo de criação:
 Galinha  bode  ovelha  porco  gado  cavalo  abelhas  silvestres
________________________________________________________________
132
Anexo 2
Questionário Etnoecológico
Utiliza-se da mata: sim não
O que acha de viver na mata?
 bom  razoável  ruim  péssimo
É possível viver somente da mata?  sim  não  depende: __________________
___________________________________________________________________
___
Forma de aquisição de produtos: extrativismo cultivo/criação compra
Que tipo de produto da mata você utiliza:
 ervas medicinais madeira lenha caça pesca outros
Que tipo de recursos são mais abundantes na mata?
 ervas medicinais  lenha  caça  pesca  agricultura  pecuária
Como aprendeu a usar a mata?  com familiares  com outros moradores da mata 
com visitantes de outras comunidades  com técnicos  sozinho
De que forma repassam os conhecimentos:
__________________________________
O que acha da mata:  preservada  devastada  não sabe opinar
Qual a quantidade de animais na mata?  muito  razoável  pouco
Há mais animais durante que estação do ano?  seca  inverno  sem diferenças
O que lhe faz caça na mata?
Que animais servem de alimento?
Que animais servem para a venda?
133
Que animais servem para fazer remédio?
Que animais são perigosos?
O que se usa para caçar?
Há dia certo para caçar?
Qual a caça mais abundante?
134
Anexo 3
Utilização da Fauna
Quando caçador
1. Caça de dia ou de noite?
2. Que tipo de caça a mata dá?
3. Vende ou consome?
4. Vende a quem e por quanto?
5. Tem outra fonte de renda?
6. Você sustenta a família com a caça?
7. O que usa para caçar?
8. Quais os dias de caça?
9. Quando vende, falam onde foi caçado?
10. Caça em outro local?
135
11. Caça sozinho?
12. Sabe se já ouve proibição da caça?
13. que tipo de técnica utiliza para caçar?
14. Caça só os adultos ou os filhotes também?
15. Não tem medo que se acabe a caça?
16. Qual a melhor época para caçar?
17. Aprendeu a caça com quem?
18. Qual o maior perigo quando está caçando?
19. A comunidade sabe que você caça?
20. Qual a caça preferida?
136
Anexo 4
Questionário sobre serpentes
1. Tem cobra por esta mata?
2. O que é uma cobra?
3. Que tipo de cobras existem por aqui?
4. Todas as cobras desta região são perigosas?
5. Como você diferencia as cobras?
6. Cobra serve de caça (comida)?
7. Como são os tamanhos das cobras?
8. Onde é mais fácil encontrar cobras?
9. O que é que cobra come?
10. Nasce de que? de ovo? da fêmea?
137
11. Qual a cobra mais perigosa?
12. Tem cobra com serventia (útil)?
13. Como as cobras andam?
14. Quando se encontram mais cobras?
15. Cobra tem morada?
16. Se vê mais cobra de dia ou de noite?
17. Tem como se proteger de picada de cobra?
18. O que se faz se for picado?
19. Tem algum remédio feito de cobra?
20. Que animais aqui da mata comem cobras?
138
Anexo 5
Questionário sobre lagartos
1. O que é um lagarto?
2. Como você diferencia as lagartos?
3. Os lagartos são perigosos?
4. Que tipo de lagartos existem por aqui?
5. Aqui tem lagarto perigoso? Qual (is)?
6. Como você diferencia um lagarto de uma cobra?
7. Lagarto vira cobra?
8. Como são os tamanhos dos lagartos?
9. Onde é mais fácil encontrar lagartos?
10. O que é que os lagartos comem?
139
11. Nasce de que? de ovo? da fêmea?
12. Qual a lagarto mais perigoso?
13. Tem lagarto com serventia (útil)?
14. Como os lagartos andam?
15. Onde se acha mais lagartos?
16. Lagarto tem morada?
17. Se vê mais lagartos de dia ou de noite?
18. Lagarto serve de caça (comida)?
19. Tem algum remédio feito de lagarto?
20. Que animais aqui da mata comem lagartos?
140
Anexo 6
Questionário sobre quelônios
1. Que tipo de “tartarugas” (quelônios) tem por aqui?
2. O que é um cágado?
3. O que é um jabuti?
4. Como você diferencia jabuti de cágado?
5. Qual a utilidade do jabuti?
6. Qual a utilidade do cágado?
7. Tem “tartaruga” perigosa? Qual (is)? Por que?
8. Quais os tipos de jabutis daqui?
9. Quais os tipos de cágados daqui?
10. Cágado e jabuti vive no mesmo canto?
141
11. O que é que os jabutis comem?
12. O que é que os cágados comem?
13. Nasce como?
14. Tem “tartaruga” com serventia (útil)?
15. Onde se acha jabutis na mata?
16. Onde se acha cagados na mata?
17. “Tartaruga” tem morada?
18. Se vê mais “tartaruga” de dia ou de noite?
19. As “tartarugas” daqui servem de caça (comida)?
20. Tem algum remédio feito de “tartarugas”?
21. Que animais aqui da mata comem “tartaugas”?
142
Anexo 7
Questionário sobre anfisbenias
1. Tem cobra-de-duas-cabeças (anfisbaenios) por esta mata?
2. O que é uma cobra-de-duas-cabeças?
3. Que tipo de cobra-de-duas-cabeças existem por aqui?
4. Todas as cobra-de-duas-cabeças são perigosas?
5. Como você diferencia as cobra-de-duas-cabeças e outras cobras?
6. cobra-de-duas-cabeças serve de caça (comida)?
7. Como são os tamanhos das cobra-de-duas-cabeças?
8. Onde é mais fácil encontrar cobra-de-duas-cabeças?
9. O que é que cobra-de-duas-cabeças come?
10. Nasce de que? de ovo? da fêmea?
143
11. qual é o perigo da cobra-de-duas-cabeças?
12. Cobra-de-duas-cabeças com serventia (útil)?
13. Como as cobra-de-duas-cabeças vivem?
14. Quando se encontram mais cobra-de-duas-cabeças?
15. Cobra-de-duas-cabeças ataca?
16. Se vê mais cobra-de-duas-cabeças de dia ou de noite?
17. Tem jeito certo de mata cobra-de-duas-cabeças?
18. O que se faz se for picado (mordido)?
19. Tem algum remédio feito de cobra-de-duas-cabeças?
20. Que animais aqui da mata comem cobra-de-duas-cabeças?
144
B238H Barbosa, Abraão Ribeiro.
Os humanos e os répteis da mata: uma abordagem
etnoecológica de São José da Mata Paraíba/ Abraão Ribeiro
Barbosa. – João Pessoa, 2007.
143p.:il.
Orientador: Alberto Kioharu Nishida
Dissertação (mestrado) – UFPB/PRODEMA
1. Etnoecologia 2. Humanos e Répteis São José da Mata
(PB)
UFPB/BC CDU:504(043)
Livros Grátis
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