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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PAULO FRANCISCO DE CASTRO
CARACTERIZAÇÃO DA PERSONALIDADE DE PACIENTES COM
TRANSTORNO DE PÂNICO POR MEIO DO MÉTODO DE RORSCHACH:
CONTRIBUIÇÕES DO SISTEMA COMPREENSIVO
São Paulo
2008
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PAULO FRANCISCO DE CASTRO
CARACTERIZAÇÃO DA PERSONALIDADE DE PACIENTES COM
TRANSTORNO DE PÂNICO POR MEIO DO MÉTODO DE RORSCHACH:
CONTRIBUIÇÕES DO SISTEMA COMPREENSIVO
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo como parte dos
requisitos para a obtenção do título de Doutor
em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano
Orientadora: Profa. Dra. Eda Marconi Custódio
São Paulo
2008
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Castro, Paulo Francisco de.
Caracterização da personalidade de pacientes com transtorno de
pânico por meio de método de Rorschach: contribuições do sistema
compreensivo / Paulo Francisco de Castro; orientadora Eda Marconi
Custódio . -- São Paulo, 2008.
102 p.
Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Escolar e do Desenvolvimento
Humano) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
1. Teste de Rorschach 2. Avaliação psicológica 3. Psicopatologia
4. Testes psicológicos 5. Distúrbios do pânico I. Título.
BF698.8.R5
i
INFORMAÇÃO IMPORTANTE
Considerando a Lei 4119, de 27 de agosto de 1962, que regulamenta a profissão de
psicólogo, no Artigo 13º , 1º parágrafo dispõe que: “Constitui função privativa do
psicólogo o uso de métodos e técnicas para diagnóstico psicológico” e, portanto, não pode
ser exercida por outras pessoas, sem essa formação e que não estejam inscritas no Conselho
Regional de Psicologia.
E considerando ainda que para complementar esta Lei, o Código de Ética Profissional,
publicado em agosto de 2005, referente às Responsabilidades do Psicólogo, dispõe:
- Artigo 1º, que estabelece os deveres fundamentais dos psicólogos, Alínea i, que cabe a todo
psicólogo “zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo, guarda e
forma de divulgação do material privativo do psicólogo sejam feitas conforme os
princípios deste Código”;
- Artigo 2º, estabelecendo o que é vedado ao psicólogo, conforme alínea h, impede o
profissional de “interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas
psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas”;
- Artigo 15º, determina que o psicólogo deverá “zelar pelo destino de seus arquivos
pessoais, inclusive todo material psicológico (testes)” e
- Artigo 18º que: “o psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a
leigos instrumentos e técnicas psicológicas, que permitam e facilitem o exercício ilegal
da profissão”.
Diante do que foi exposto, decidiu-se que a presente versão fosse reduzida para ser
disponibilizada na internet. Embora pequena, tal redução foi necessária, pois houve a
supressão de qualquer informação que possibilitasse a leigos compreenderem algum
componente de aplicação ou interpretação do Método de Rorschach.
Informamos que a versão completa da Tese, disponível para psicólogos ou estudantes
de psicologia, encontra-se na Biblioteca do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo ou diretamente com o autor.
Paulo Francisco de Castro
ii
FOLHA DE APROVAÇÃO
Paulo Francisco de Castro
Caracterização da personalidade de
pacientes com transtorno de pânico por
meio do Método de Rorschach:
contribuições do sistema compreensivo.
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Doutor em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano
Aprovado em: 31 de março de 2008.
Banca Examinadora
Professora Doutora Eda Marconi Custódio (Orientadora)
Instituição: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Professora Titular Latife Yagizi
Instituição: Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo
Professora Associada Regina Sonia Gattas Fernandes do Nascimento
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Professora Associada Maria Abigail de Souza
Instituição: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Professora Doutora Irai Cristina Boccato Alves
Instituição: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
iii
A meus amados pais, Osny e Rosa, como sinal
de reconhecimento e gratidão, por tudo que
fizeram para que eu pudesse chegar onde hoje
estou.
A minha saudosa avó Dora (in memorian), por
tudo que representa até hoje em minha vida.
A meus queridos sobrinhos, Ícaro, Natália,
Luigi, Ingra e Mariana, com um forte desejo
que, algum dia, eu possa ter a satisfação de
poder ler suas teses.
iv
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Esta tese foi fruto de intenso trabalho, de grande alegria e satisfação. Mas, nada teria
sido possível sem a participação fundamental dos colaboradores da pesquisa aos quais
agradeço, especialmente, pela disponibilidade em participar do presente estudo e, sobretudo,
por não sucumbirem aos seus sofrimentos. Pelo contrário, transformaram suas ansiedades e
angústias em material que proporcionou a compreensão do Transtorno de Pânico e o
desenvolvimento deste trabalho de pesquisa.
Agradeço o esforço que fizeram para superar seus medos e mostrá-los a mim,
demonstrando não só confiança em meu trabalho, mas também consciência de que, de
alguma forma, esses conteúdos poderiam servir para auxiliar na compreensão das
dificuldades de outras pessoas.
Espero que nosso contato durante meus estudos possa lhes ter trazido algum tipo de
benefício, mesmo que pequeno, como forma de gratidão por toda colaboração que me
prestaram.
v
AGRADECIMENTOS
Acima de tudo, agradeço a Deus pelas minhas conquistas e pela minha vida ser como
é, que eu seja merecedor de tudo que Ele tem me concedido ao longo desses anos.
Ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, que acolheu minha proposta
e proporcionou-me a obtenção deste título tão almejado. Aos sábios professores, pelo
conhecimento que adquiri no cumprimento dos créditos. Aos dedicados funcionários, que
sempre me atenderam com atenção e presteza.
Às Professoras Doutoras que compuseram a banca examinadora, cada qual e a seu
modo, fizeram parte de minha trajetória educacional e profissional, constituindo-se como
marcos importantes de minha carreira.
À Professora Doutora Eda Marconi Custódio, minha orientadora, que conheci, em
1994, durante o I Encontro do LITEP/USP e, desde então, despertou meu desejo de ser
orientado por ela. Agradeço-lhe pela condução deste estudo com tanta competência e
conhecimento, pelas discussões e por sua intensa correção de tudo o que eu fazia. Agradeço-
lhe ainda por sua forma doce e segura de orientar, seu respeito pelas minhas dificuldades e
seu constante sorriso acolhedor que tanto sentirei falta.
À Professora Doutora Latife Yazigi, que conheci em 1995, durante o I Encontro da
Sociedade Brasileira de Rorschach, em uma conferência que proferiu. Desde esse dia, tem
sido um modelo de capacidade, conhecimento e seriedade profissional e científica, um
exemplo que pretendo ser capaz de seguir. Além disso, agradeço-lhe pelas valiosas
contribuições na realização desta pesquisa.
À Professora Doutora Regina Sonia Gattaz Fernandes do Nascimento, responsável por
tudo que sei sobre o sistema compreensivo do Rorschach. Pelo convívio constante de dois
anos no período das aulas, que tive a honra de assistir e que despertaram meu interesse para
desenvolver o presente estudo. Agradeço-lhe também pela forma competente e segura que
conduzia as aulas, pelo apoio e contribuições no desenvolvimento deste projeto.
À Professora Doutora Maria Abigail de Souza, que eu conhecia por seus trabalhos
com o Rorschach e que tive a oportunidade de conviver pessoalmente no cumprimento de um
crédito sobre essa técnica, oferecendo-me a oportunidade única de saber mais sobre o sistema
francês. Agradeço-lhe por oferecer seu conhecimento e suas contribuições na leitura do
projeto de tese.
vi
À Professora Doutora Irai Cristina Boccato Alves, com quem tive o primeiro contato
em 1994, durante I Encontro do LITEP/USP que, desde então, tem acompanhado meu
desenvolvimento pessoal e profissional. Admiro-a pela competência, seriedade e segurança.
Agradeço-lhe por toda atenção que sempre teve comigo, por suas contribuições neste trabalho
e em outros tantos que foram realizados, bem como pelo constante incentivo desde minha
entrada no programa de pós-graduação.
Ao Professor Doutor Armando Rocha Júnior, “irmão” sempre presente, pelas
discussões esclarecedoras, pelo apoio constante, pela leitura deste trabalho, tratando-o com a
mesma atenção como se fosse seu. Por tudo isso e por todos os anos de convívio profissional
e amizade, divido com você a conquista deste tão importante título.
Aos professores Sonia Maria da Silva e Luis Sérgio Sardinha, especialistas no Método
de Rorschach, pelo inestimável apoio em serem juízes no desenvolvimento da pesquisa.
Agradeço o incentivo sempre presente e o apoio emocional de meu irmão, José
Fabiano, a cunhada Cristina, a tia Maria Arnone e os primos Roberto e Adriana.
Aos velhos amigos, professores da Universidade Guarulhos, representados aqui por
Mara Poltronieri, Tania Maria Justo de Almeida, Silvia Suely de Souza Maia, Eliana Ferrante
Pires, Maria Lúcia Marques, Augusto José Fiedler, José Candido Cheque de Moraes e Jumara
Van De Velde Vieira, que acompanharam todo meu caminho desde a graduação e que,
também, fazem parte de minha história. Agradeço-lhes pelo apoio sempre presente e pelas
alegrias que sentimos ao longo desses anos.
Aos novos amigos, professores da Universidade de Taubaté, representados por Ana
Cristina Nascimento, Maria Júlia Ribeiro, Marilsa de Souza, Marilza Tadeucci e Paulo Sodré,
que compartilharam meus recentes momentos, pelo convívio e incentivo sempre presentes.
Aos amigos Carlos Dias Iema e Georgia Aoki Iema, pelo apoio recebido e incentivo
constante.
À psicóloga Lígia Mitsuko Furusawa, pelo apoio recebido, pelos recados que
transmitia e os documentos que eu sempre pedia para entregar em algum departamento da
Universidade de São Paulo.
Ao Professor Helymar C. Machado (Unicamp), pelo rigoroso tratamento estatístico
que subsidiou minhas reflexões.
Às Professoras Ivone Borelli e Mônica de Deus Martins, pela paciente e competente
revisão gramatical, cumprindo os exíguos prazos combinados.
vii
RESUMO
Castro, P.F. (2008). Caracterização da personalidade de pacientes com transtorno de
pânico por meio do Método de Rorschach: contribuições do sistema compreensivo. São
Paulo, Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
A presente pesquisa teve como objetivo caracterizar os elementos de personalidade de
pacientes com transtorno de pânico a partir dos dados obtidos pelo Método de Rorschach,
segundo o sistema compreensivo. Em linhas gerais, o transtorno de pânico pode ser
caracterizado pela vivência recorrente de ataques de pânico, em virtude de crises agudas de
ansiedade, onde o indivíduo passa por um mal-estar intenso e uma sensação iminente de
perigo e ou morte. Participaram do estudo 60 colaboradores divididos igualmente em quatro
grupos: pacientes com pânico do sexo feminino, pacientes com pânico do sexo masculino,
não pacientes do sexo feminino e não pacientes do sexo masculino. Os participantes do grupo
de não pacientes foram avaliados pelo Questionário de Saúde Geral para verificação de seu
estado geral de saúde mental e todos os colaboradores submeteram-se ao Método de
Rorschach, conforme as especificações técnicas do sistema compreensivo. As respostas
foram codificadas por juízes independentes e os índices obtidos foram submetidos à análise
estatística por meio do teste de Kruskal-Wallis e do teste post-hoc de Dunn, comparando-se
os quatro grupos. Os resultados com diferença estatisticamente significativa apresentados
para os colaboradores com transtorno de pânico foram os seguintes: presença do Índice de
Depressão (p = 0,009), indicando depressão e sintomas depressivos ou algum tipo de
transtorno afetivo; rebaixamento do Índice Lambda (p = 0,008), demonstrando dificuldade na
discriminação entre informações importantes e irrelevantes; predomínio de cor acromática e
sombreados na Experiência de Base (p = 0,010), caracterizando dor e sofrimento psíquicos
em demasia, além de aumento da tensão interna; elevação da Estimulação Sentida (p <
0,001), indicando uma vivência de extrema irritação, desconforto e incômodo internos;
rebaixamento da Nota D (p < 0,001), que revela grande vivência de estresse, associado à falta
de recursos internos para enfrentá-lo; elevação das determinantes de sombreado com
característica de difusão (p < 0,001), que indica extremo desconforto emocional, sofrimento
interno e desamparo emocional; elevação de determinantes mistos de cor e sombreado (p =
0,004), que propõe vivências afetivas carregadas de ambivalência e sofrimento e perturbação
afetiva; predomínio das respostas empobrecidas de conteúdo humano (p = 0,011), que
demonstra dificuldade de adaptação nas relações sociais; rebaixamento das respostas de
movimento cooperativo (p = 0,006), revelando dificuldade em estabelecer vínculos positivos
e construtivos com outros indivíduos. Em síntese, os aspectos de personalidade observados
nos colaboradores com pânico mostram tratar-se de indivíduos que internamente apresentam
grande sofrimento psicológico, tensão interna e dificuldades afetivas; não possuem recursos
de enfrentamento das situações estressantes e ansiógenas, levando-os a dificuldade de
relacionamento adequado. Os quadros de pânico são decorrentes dessa estrutura frágil e
comprometida. Embora os dados sejam conclusivos, existe a necessidade de constantes
investigações para a melhor compreensão desse quadro psicopatológico que tanto causa
sofrimento em seus portadores.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Psicopatologia; Teste de Rorschach; Testes
Psicológicos; Transtorno de Pânico.
viii
ABSTRACT
Castro, P. F. (2008). Characterization of the personality of patients with panic disorder
as assessed by the Rorschach Method: contributions of the comprehensive system. São
Paulo, Doctoral Thesis, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
The objective of this research was to characterize the personality elements of patients with
panic disorder from data obtained by the Rorschach Method following the comprehensive
system. In general terms, the panic disorder can be characterized by the repeated experience
of panic attacks due to acute anxiety, in which the individual suddenly develops a severe
discomfort or fear of danger and or death. 60 subjects participated in the study, equally
divided into four groups: female patients with panic, male patients with panic, female
nonpatients and male nonpatients. The nonpatient group was assessed through the General
Health Questionnaire for a general mental health assessment, and all subjects were submitted
to the Rorschach Method, following the comprehensive system technical specifications. The
responses were codified by independent raters and the indices obtained were subjected to
statistical analysis using the Kruskal-Wallis test followed by Dunn’s post-hoc test, comparing
the four groups. The results with statistically significant difference presented regarding
subjects com panic disorder were the following: presence of Depression Index (p = 0.009),
indicating depression and depressive symptoms or some kind of affective disorder; lower
Lambda (p = 0.008), showing difficulty to distinguish between important and irrelevant
information; prevalence of achromatic and shading colors in the Experience Base (p = 0.010),
characterizing overwhelming psychic pain and suffering, in addition to increased inner stress;
higher Experienced Stimulation (p < 0.001), showing an experience of extreme inner
irritation, discomfort and uneasiness; lower D Score (p < 0.001), showing great stress
experience associated with lack of inner coping resources; increase in the shading with
diffusion feature determinants (p < 0.001), indicating extreme emotional discomfort, inner
suffering and emotional helplessness; increase in mixed color and shading determinants (p =
0.004), suggesting affective experiences full of ambivalence and suffering and affective
disturbance; predominance of impoverished human content responses (p = 0.011), showing
difficulty in adapting to social relationships; fewer cooperative movement responses (p =
0.006), showing difficulty in establishing positive and constructive bonds with other
individuals. In summary, the personality aspects observed in the subjects with panic show
they are individuals presenting deep psychological suffering, inner tension and affective
difficulties; they lack coping resources to handle stressful and anxious situations, leading
them to difficulty in proper interpersonal relationship. The panic disorder results from this
fragile and vulnerable structure. Although data is conclusive, permanent investigation is
necessary in order to better understand this psychopathologic condition that causes so much
pain to those who suffer from it.
Keywords: Psychological Assessment; Psychopathology; Rorschach Test; Psychological
Tests; Panic Disorder.
ix
RÉSUMÉ
Castro, P. F. (2008). Caractérisation de la personnalité des patients atteints de trouble de
panique au moyen de la Méthode de Rorschach: contributions du système intégré. São
Paulo, Thèse de Doctorat, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
La présente recherche a pour but de caractériser les éléments de la personnalité des patients
porteurs de trouble de panique à partir des données obtenues par la Méthode de Rorschach,
selon le système intégré. En général, le trouble de panique peut se caractériser par la
survenance récurrente d´attaques de panique, en vertu de crises aiguës d´anxiété, pendant
lesquelles l´individu éprouve un mal-être intense et une sensation de danger ou de mort
imminents. Soixante (60) personnes, réparties en quatre groupes égaux ont participé à cette
étude: patientes de sexe féminin atteintes de panique ; patients de sexe masculin atteints de
panique ; individus sains de sexe féminin et individus sains de sexe masculin. Les
participants du groupe des individus sains ont été triés et évalués sur un questionnaire de
santé générale permettant d´apprécier leur état général de santé mentale. Outre cela, les
participants dans leur ensemble ont accepté de se soumettre à la Méthode de Rorschach,
conformément aux spécifications techniques du système intégré. Leurs réponses ont été
codifiées par des jurys indépendants et les indicateurs obtenus ont été analysés d´un point de
vue statistique au moyen du test de Kruskal-Wallis et du test post-hoc, de Dunn, en
comparant les quatre groupes. Les résultats des individus atteints de troubles de panique ont
montré des différences statistiques significatives dont, notamment: la présence de l´indicateur
de dépression (p = 0,009), indiquant la dépression et les symptômes dépressifs ou un type de
trouble affectif; la baisse de l´indicateur Lambda (p = 0,008), démontrant la difficulté de
discernement entre les informations importantes et les négligeables; la prédominance de la
couleur achromatique et des ombres dans l´Expérience de Base (p = 0,010), révélant un excès
de détresse et de souffrance psychiques, outre l´augmentation de la tension intérieure; la
hausse de la stimulation sentie (p < 0,001), révélant un vécu d´irritation extrême, de détresse
et d´exaspération intérieures; la baisse de la Note D (p < 0,001) qui révèle un long vécu de
stress associé au manque de ressources intérieures pour le combattre; la hausse des
déterminants d´ombres caractéristiques de diffusion (p < 0,001), qui indique un malaise
émotionnel intense, une souffrance intérieure et un abandon émotionnel; l´augmentation des
déterminants mixtes en couleur et d´ombre (p = 0,004), qui suggère des vécus affectifs lourds
d´ambivalence, de souffrance et de perturbations affectives; la prédominance des réponses
pauvres en contenu humain (p = 0,011) qui témoignent d´une difficulté d´adaptation aux
rapports sociaux; la baisse des réponses de mouvement coopératif (p = 0,006), révélant la
difficulté à établir des liens positifs et constructifs avec les autres individus. En conclusion,
les aspects de la personnalité observés chez les personnes porteuses de panique ayant
collaboré à notre étude montrent qu´il s´agit d´individus qui, dans leur for intérieur, sont
sujets à de grandes souffrances psychologiques, à une tension intérieure et à des difficultés
affectives. Par ailleurs, ces patients ne trouvent pas en eux la force d´affronter les situations
stressantes et anxiogènes, ce qui les empêche d´avoir des rapports normaux avec les autres.
Les cadres des troubles de panique découlent de cette structure fragile et instable. Bien que
les résultats soient concluants, il faudra encore mener des recherches constantes pour mieux
comprendre ce cadre psychopathologique qui est générateur qu´une grande détresse chez les
sujets qui en sont porteurs.
Mots-clés: Évaluation Psychologique; Psychopathologie; Test de Rorschach; Tests
Psychologiques; Trouble de Panique.
x
RESUMEN
Castro, P. F. (2008). Caracterización de la personalidad de pacientes con trastorno de
pánico por medio del Método de Rorschach: contribuciones del sistema comprensivo.
São Paulo, Tesis de Doctorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São
Paulo.
El objetivo de la presente investigación ha sido caracterizar los elementos de personalidad de
pacientes con trastorno de pánico a partir de datos obtenidos por el Método de Rorschach,
según el sistema comprensivo. En líneas generales, se puede caracterizar el trastorno de
pánico por la vivencia recurrente de ataques de pánico, en virtud de crisis agudas de ansiedad,
en las cuales, el individuo pasa por un malestar intenso y una sensación inminente de peligro
y/o de muerte. Participaron en el estudio 60 colaboradores, divididos igualmente en cuatro
grupos: pacientes del sexo femenino con pánico, pacientes del sexo masculino con pánico, no
pacientes del sexo femenino y no pacientes del sexo masculino. Se evaluaron a los
participantes del grupo de no pacientes por medio del Cuestionario de Salud General para
verificar su estado general de salud mental y todos los colaboradores se sometieron al Método
de Rorschach, de conformidad a las especificaciones técnicas del sistema comprensivo. Las
respuestas fueron codificadas por jueces independientes y los índices obtenidos fueron objeto
de análisis estadístico por medio de la prueba de Kruskal-Wallis y de la prueba post-hoc, de
Dunn, comparándose los cuatro grupos. Los resultados con diferencia estadísticamente
significativa presentados por los colaboradores con trastorno de pánico fueron los siguientes:
presencia del Índice de Depresión (p = 0,009), que señala depresión y síntomas depresivos o
algún tipo de trastorno afectivo; rebajamiento del Índice Lambda (p = 0,008), demostrando
dificultad en distinguir informaciones importantes e irrelevantes; predominio de color
acromático y sombreados en la Experiencia de Base (p = 0,010), caracterizando demasiados
dolor y sufrimiento psíquicos, además de aumento de la tensión interna; elevación de la
Estimulación Sentida (p < 0,001), que señala una vivencia de extremada irritación,
incomodidad e indisposición internos; rebajamiento de la Nota D (p < 0,001), que revela gran
vivencia de estrés, aunada a la falta de recursos internos para enfrentarlo; elevación de las
determinantes de sombreado con característica de difusión (p < 0,001), que indica extremada
incomodidad emocional, sufrimiento interno y desamparo emocional; elevación de
determinantes mixtos de color y sombreado (p = 0,004), que propone vivencias afectivas
cargadas de ambivalencia y sufrimiento y perturbación afectiva; predominio de respuestas
empobrecidas de contenido humano (p = 0,011), que demuestra dificultad de adaptación en
las relaciones sociales; rebajamiento de las respuestas de movimiento cooperativo (p =
0,006), revelando dificultad de establecer vínculos positivos y constructivos con otros
individuos. En síntesis, los aspectos de personalidad observados en los colaboradores con
pánico reportan individuos que internamente presentan gran sufrimiento psicológico, tensión
interna y dificultades afectivas; no poseen recursos de enfrentamiento a situaciones
estresantes y ansiógenas, llevándolos a una dificultad para las relaciones adecuadas. Los
cuadros de pánico resultan de esa estructura frágil y comprometida. Aunque los datos sean
conclusivos, existe la necesidad de constantes investigaciones para la mejor comprensión de
ese cuadro psicopatológico que tanto sufrimiento causa a sus portadores.
Palabras clave: Evaluación Psicológica; Psicopatología; Prueba de Rorschach; Pruebas
Psicológicas; Trastorno de Pánico.
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Comparação do estilo de descrição dos quadros clínicos das
patologias entre a CID-10 e o DSM-IV..............................................
4
Quadro 2 Dados sobre idade e escolaridade dos participantes da pesquisa....... 46
Quadro 3 Resultados do Questionário de Saúde Geral de Goldberg dos
participantes do Grupo de Não pacientes...........................................
51
Quadro 4 Quantidade de discordância de respostas por protocolo..................... 53
Quadro 5 Síntese das variáveis com diferença estatisticamente significativa.... 84
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Levantamento dos trabalhos apresentados nos eventos da SBRo que
utilizaram o sistema compreensivo.....................................................
26
Tabela 2 Presença de DEPI nos quatro grupos. ................................................ 58
Tabela 3 Incidência de indicadores de DEPI nos quatro grupos. ..................... 59
Tabela 4 Presença de CDI nos quatro grupos. ................................................. 60
Tabela 5 Incidência de indicadores de CDI nos quatro grupos. ....................... 61
Tabela 6 Valores de L apresentados nos quatro grupos. .................................. 61
Tabela 7 Classificação de EB nos quatro grupos. ............................................ 63
Tabela 8 Valores de EA apresentados nos quatro grupos. ............................... 64
Tabela 9 Valores de EBPer apresentados nos quatro grupos. .......................... 65
Tabela 10 Classificação de eb nos quatro grupos. .............................................. 66
Tabela 11 Valores de es apresentados nos quatro grupos. ................................. 68
Tabela 12 Valores de D apresentados nos quatro grupos. .................................. 69
Tabela 13 Valores de Adj D apresentados nos quatro grupos. ........................... 69
Tabela 14 Valores de FM apresentados nos quatro grupos. ............................... 70
Tabela 15 Valores de m apresentados nos quatro grupos. .................................. 71
Tabela 16
Valores de ΣC’ apresentados nos quatro grupos. ..............................
71
Tabela 17
Valores de ΣV apresentados nos quatro grupos. ...............................
72
Tabela 18
Valores de ΣT apresentados nos quatro grupos. ................................
73
Tabela 19
Valores de ΣY apresentados nos quatro grupos.................................
74
Tabela 20 Valores de CorSh apresentados nos quatro grupos............................ 75
Tabela 21 Comparação GHR : PHR nos quatro grupos...................................... 76
Tabela 22 Valores de COP apresentados nos quatro grupos............................... 77
Tabela 23 Valores de X+% apresentados nos quatro grupos.............................. 78
Tabela 24 Valores de XA% apresentados nos quatro grupos.............................. 79
Tabela 25 Valores de X-% apresentados nos quatro grupos............................... 80
xiii
SUMÁRIO
Apresentação .......................................................................................................... xv
I INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1
1.1 Justificativa ................................................................................................. 1
1.2 Transtorno de Pânico .................................................................................. 3
Conceituação e Caracterização Fenomenológica ......................................... 3
Os Manuais de Classificação ........................................................................ 3
Classificação Nosológica do Pânico ............................................................ 4
Ansiedade, Medo e Pânico ........................................................................... 6
Descrição Fenomenológica do Transtorno de Pânico .................................. 9
Conceituação e Caracterização Psicanalítica ............................................... 12
Compreensão Psicanalítica do Fenômeno do Pânico .................................. 13
1.3 Utilização de Técnicas Projetivas e do Método de Rorschach no
Diagnóstico Psicológico ...................................................................................
19
Caracterização das Técnicas Projetivas ....................................................... 19
O Rorschach como Técnica Projetiva .......................................................... 22
Breve Histórico ............................................................................................ 23
Aspectos Projetivos do Método de Rorschach ............................................ 27
1.4 O Método de Rorshach na Investigação do Pânico ..................................... 31
O Rorschach na Investigação de Aspectos Psicopatológicos ....................... 31
O emprego do Rorschach na Investigação da Ansiedade ............................. 34
Estudo do pânico por Técnicas Projetivas e Rorschach ............................... 38
1.5 Objetivos ..................................................................................................... 44
xiv
II MÉTODO ....................................................................................................... 45
2.1 Colaboradores ............................................................................................. 45
2.2 Material e Instrumentos para a Coleta de Dados ........................................ 47
2.3 Procedimentos para a Coleta de Dados ....................................................... 49
2.4 Procedimentos de Análise dos Dados ......................................................... 52
III RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................. 57
3.1 Dados Quantitativos .................................................................................... 57
Variáveis Principais ..................................................................................... 57
Variáveis Secundárias ................................................................................. 75
3.2 Apreciações Qualitativas ............................................................................ 81
3.3 Síntese dos Dados ....................................................................................... 83
IV CONCLUSÕES .............................................................................................. 87
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 89
APÊNDICES ........................................................................................................ 100
xv
APRESENTAÇÃO
O desenvolvimento do presente projeto baseia-se em uma descrição teórica inicial e
na apresentação de uma proposta metodológica para realização de uma pesquisa empírica
sobre a aplicabilidade do Método de Rorschach em pacientes com transtornos de pânico,
utilizando o sistema compreensivo.
Desta forma, na primeira parte do capítulo I, apresenta-se um conjunto de
justificativas descritas com base no crescimento do interesse pelo teste e em sua aplicação do
na investigação do pânico.
Na seção seguinte, os principais conceitos sobre o transtorno de pânico são
apresentados, tanto no que se referem à compreensão fenomenológica, baseada nas
descrições nosológicas de manuais de grandes instituições normatizadoras, como no que
tangem a uma descrição apoiada em fundamentos psicodinâmicos e no funcionamento
psíquico dos pacientes.
Após esta exposição, os aspectos teóricos relacionados às técnicas projetivas e ao
Rorschach são apresentados. Assim, no próximo tópico, são mostradas as proposições e uma
caracterização das técnicas projetivas e sua aplicabilidade clínica em estratégias
psicodiagnósticas definidas. A seguir, dá-se uma ênfase ao método de investigação do
trabalho, o Rorschach, que é apresentado como técnica projetiva, explicando-se os processos
que embasam essa importante técnica, demonstrando sua relevância e principais
características.
Depois disso, uma parte é destinada a uma reflexão sobre o Rorschach quando
utilizado para investigações clínicas ou pesquisas, envolvendo qualquer funcionamento
psicopatológico, enfatizando seu desenvolvimento e sua importância no que se refere ao
estudo de diferentes patologias e a aplicação de estratégias de diagnóstico diferencial. No
sentido de ilustrar as questões apresentadas e sintetizar as idéias teóricas iniciais, o final desta
xvi
seção propõe-se à apresentação de dados obtidos em material bibliográfico a respeito dos
estudos sobre o transtorno de pânico, pautados em técnicas projetivas, dando-se destaque ao
Rorschach e à formulação dos objetivos do presente estudo.
No capítulo II, a estratégia metodológica para realização da pesquisa é apresentada,
esclarecendo sobre os sujeitos que participaram da pesquisa, descrevendo as características
tanto dos pacientes com transtorno de pânico como também as dos grupos de não pacientes,
especificando os critérios de inclusão e exclusão para sua participação. Além dos elementos
dos sujeitos são apresentados procedimentos que foram utilizados para a coleta dos dados, os
cuidados éticos que foram seguidos e as estratégias quantitativas e qualitativas para análise
do material coletado.
No item seguinte, capítulo III, estão expressas a apresentação e a discussão dos
resultados. Para melhor reflexão dos dados obtidos, os valores quantitativos e as
representações qualitativas do estudo foram separados e analisados. Há a apresentação das
análises estatísticas aplicadas às variáveis quantitativas e uma apreciação sobre os
componentes qualitativos das respostas.
Por fim, no capítulo IV, há a exposição das conclusões da pesquisa pautadas nos
objetivos que foram estabelecidos no princípio do texto, esclarecendo sobre o perfil
psicológico levantado com base nos dados do Método de Rorschach.
Pautado na divisão estabelecida, espera-se que seja possível a compreensão das idéias
e das proposições apresentadas, considerando-se que o presente trabalho tem o intuito de
demonstrar a aplicação do Método de Rorschach no contexto do diagnóstico diferencial do
Transtorno do Pânico, para poder contribuir na ampliação da possibilidade do uso desse
importante instrumento no diagnóstico clínico.
1
I INTRODUÇÃO
1.1 Justificativa
Muito se discute a respeito dos transtornos de pânico, seus sintomas e diagnóstico,
mas em certos casos, é de opinião comum que existe dificuldade para se chegar a uma
conclusão precisa, em razão da grande variedade dos sintomas e de sua intensidade. Ao se
observar outras patologias, que também apresentam essa característica já estudada pelo
Rorschach, levantou-se a idéia e o desejo de se desenvolver este projeto para realizar um
estudo sobre a aplicação do Rorschach, a fim de investigar o transtorno de pânico.
Quando se trata de transtorno de pânico, não se pode deixar de citar certa dificuldade
diagnóstica e nos relatos de casos (Gentil, 1997a) pode-se verificar que se trata de um quadro
em que profissionais tendem a cometer enganos diagnósticos, quer por desconhecimento do
conjunto de sintomas, uma vez que o desencadeamento de ataques de pânico envolve
mecanismos patológicos complexos, integrando diferentes estruturas biológicas e
funcionamentos cognitivos (Ramos, 1995), quer por desconsiderar a gravidade do quadro.
D’Oliveira (1997) apresentou um relato autobiográfico a respeito das dificuldades
verificadas em uma longa trajetória até a descoberta do pânico. Citou que sua primeira crise
com sinais claros de pânico surgiu, em 1974, aos 25 anos de idade. Recorreu a um clínico
geral, teve seu diagnóstico referente a problemas emocionais, sendo encaminhada a uma
psicanalista que também não identificou o problema. Relatou seu percurso por vários
médicos de diferentes especialidades em um curso de mais de uma década de sofrimento e
crises cada vez mais freqüentes, até que, por meio de um artigo de revista, chega a um jovem
médico que concluiu o diagnóstico de pânico e, finalmente, foi tratada de maneira adequada.
2
A angústia e o estresse desencadeados pela dificuldade em se estabelecer, rapidamente
um diagnóstico, agravam o quadro de pânico, fazendo com que este se intensifique e,
conseqüentemente, dificulte seu tratamento (Troiano, 2001).
Em termos genéricos, o transtorno de pânico pode ser caracterizado pela incidência
recorrente de ataques de pânico, em razão de uma crise aguda de ansiedade, cujo indivíduo
vive um mal-estar e sensação iminente de perigo e/ou morte (Gentil, 1997b ; Vieira, 1997).
Assim, nasceu e desenvolveu-se a idéia de utilização do Rorschach em uma pesquisa
no pós-graduação, associada ao interesse em perceber se o sistema compreensivo pode
possuir índices sensíveis para o diagnóstico de transtornos de pânico.
A relevância deste tema concentra-se na possibilidade de se organizar um conjunto de
itens no Rorschach que poderiam identificar o pânico e, assim, seria de extrema valia aos
casos de psicodiagnóstico diferencial desta patologia.
O presente trabalho pretende investigar a possibilidade do uso do Método de
Rorschach, segundo o Modelo Compreensivo, no psicodiagnóstico diferencial para os
distúrbios de pânico. Após a realização da pesquisa, foram descritos os índices quantitativos
e os sinais qualitativos no Rorschach que possibilitaram a identificação desse quadro
patológico mais detalhadamente. Assim, espera-se ser possível contribuir para um
esclarecimento psicodiagnóstico nos casos, cujos sintomas não estejam claros, bem como
poder perceber o desenvolvimento do quadro de pânico com antecedência, possibilitando
maior rapidez na identificação de seu processo.
3
1.2 Transtorno de Pânico
Conceituação e Caracterização Fenomenológica
Em termos fenomenológicos, a descrição das patologias baseia-se em um conjunto
detalhado de sintomas e sinais que possam caracterizar, de forma singular, cada uma das
doenças catalogadas. Assim, dispõe-se de Manuais de Classificação oficiais que eliminam
possíveis dúvidas sobre o diagnóstico descritivo das patologias.
Atualmente, o Transtorno de Pânico, também, faz parte do rol de patologias
catalogadas pelos manuais disponíveis.
Os Manuais de Classificação
A necessidade de uma classificação universal, eliminando as possíveis dúvidas quanto
aos quadros clínicos das mais diferentes patologias, há décadas, deu origem aos Manuais de
Classificação sob a responsabilidade de grandes agências internacionais de saúde, estes
constantemente são revistos, pautados nas novas descobertas empíricas no campo da saúde.
Atualmente, dispõe-se de duas versões oficiais desses Manuais: a décima edição da
Classificação Internacional de Doenças - CID-10, publicação sob responsabilidade da
Organização Mundial de Saúde e dedicada à descrição nosológica das patologias descritas em
todas as áreas (O.M.S., 1992/1993) e a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais - DSM-IV, publicado pela Associação de Psiquiatria Americana, com a
apresentação dos sintomas específicos para os quadros de transtornos mentais (A.P.A.,
1994/1995).
Os dados do Quadro 1 apresentam as diferenças entre a CID-10 e o DSM-IV, obtidas
na comparação proposta por Alarcón (1995).
4
Quadro 1. Comparação do estilo de descrição dos quadros clínicos das patologias entre a CID-
10 e o DSM-IV
CID-10 DSM-IV
Estilo mais narrativo com uma linguagem mais
clínica.
Maior tendência ao detalhamento dos quadros
clínicos, com um caráter mais operacional de
classificação.
Descrição mais detalhada das diferenças entre o
normal e o patológico, expondo mais as
características fronteiriças.
Diferenças mais marcantes no que tange ao
normal e ao patológico.
Classificação mais flexível e tolerante. Classificação mais rígida.
Uso de algumas terminologias obsoletas
Mais cauteloso na inclusão de novas categorias.
Fonte: Alarcón (1995).
É importante pontuar que o DSM-IV fundamenta-se em bases conceituais e
instrumentais sob o enfoque de três aspectos: é centralizado em interesses clínicos que
permitem a constante investigação por meio de pesquisas, apresenta uniformização de
conceitos independente da orientação teórica do profissional e faz uso de códigos precisos e
de fácil catalogação. O DSM-IV propõe o agrupamento das patologias por similaridade
fenomenológica e organizou os transtornos de pânico como um tipo de transtorno de
ansiedade de difícil diagnóstico diferencial por poder estar associado a outros quadros de
ansiedade ou fazer parte dos mesmos (Alarcón, 1995).
Classificação Nosológica do Pânico
Segundo o DSM-IV (A.P.A., 1994/1995), o Transtorno de Pânico é codificado,
associando-se o quadro à agorafobia, tendo o código 300.01 para Transtorno de Pânico sem
Agorafobia e 300.21 para Transtorno de Pânico com Agorafobia.
A característica essencial do Transtorno de Pânico é a presença de ataques de pânico
recorrentes e inesperados, seguidos por pelo menos de um mês de preocupação
persistente acerca de ter outro ataque de pânico, preocupação acerca das possíveis
implicações ou conseqüências dos ataques de pânico, ou uma alteração
comportamental significativa, relacionadas aos ataques. Os ataques de pânico não se
devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica
geral (A.P.A., 1994/1995, p. 379).
5
Na definição anterior, os sintomas dos Ataques de Pânico são descritos em detalhes
pelo DSM-IV. Esta descrição justifica-se uma vez que ataques de pânico surgem em
diferentes descrições de quadros clínicos, sobretudo aqueles relacionados a transtornos de
ansiedade (A.P.A., 1994/1995). Os critérios estabelecidos para o diagnóstico de um ataque de
pânico são os seguintes:
Um período distinto de intenso temor ou desconforto, no qual quatro (ou mais) dos
seguintes sintomas desenvolveram-se abruptamente e alcançaram um pico em 10
minutos:
(1) palpitações ou ritmo cardíaco acelerado
(2) sudorese
(3) tremores ou abalos
(4) sensações de falta de ar ou sufocamento
(5) sensações de asfixia
(6) dor ou desconforto torácico
(7) náusea ou desconforto abdominal
(8) sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio
(9) desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (estar distanciado de
si mesmo)
(10) medo de perder o controle ou enlouquecer
(11) medo de morrer
(12) parestesias (anestesias ou sensações de formigamento)
(13) calafrios ou ondas de calor (A.P.A., 1994/1995, p. 377).
Na CID-10 (O.M.S., 1992/1993), o transtorno de pânico, também denominado
ansiedade paroxística episódica, está classificado pelo código F41.0, subcategoria do código
F41 - Outros transtornos de ansiedade.
Os aspectos essenciais são ataques recorrentes de ansiedade grave (pânico), os quais
não estão restritos a qualquer situação ou conjunto de circunstâncias em particular e
que são, portanto, imprevisíveis. Assim como em outros transtornos de ansiedade, os
sintomas dominantes variam de pessoa para pessoa, porém início súbito de
palpitações, dor no peito, sensações de choque, tontura, e sentimentos de irrealidade
(despersonalização ou desrealização) são comuns. Quase invariavelmente há também
um medo secundário de morrer, perder o controle ou ficar louco. Os ataques
individuais usualmente duram apenas minutos, ainda que às vezes sejam mais
prolongados; sua freqüência e o curso do transtorno são, ambos, muito variáveis. Um
indivíduo em um ataque de pânico freqüentemente experimenta um crescendo de
medo e sintomas autonômicos, o qual resulta em uma saída, usualmente apressada, de
onde quer que ele esteja .... De modo similar, ataques de pânico constantes e
imprevisíveis produzem medo de ficar sozinho ou ir a lugares públicos. Um ataque de
pânico com freqüência é seguido por um medo persistente de ter outro ataque (O.M.S.,
1992/1993, p. 137).
6
Segundo a CID-10 (O.M.S., 1992/1993), esclarece-se que o transtorno de pânico deve
ser o diagnóstico principal somente na ausência de quaisquer outras fobias. Vários ataques
graves de ansiedade devem ocorrer em um período de um mês, sem a evidência de perigo
objetivo, sem estarem confinados a situações previsíveis e relativamente livres de sintomas
ansiosos.
Para Arbona e Arnal (1995), o transtorno de pânico constitui-se, a partir da década de
1980, como uma importante patologia para investigações por se tratar de um grande problema
de saúde pública nas sociedades industrializadas. Os autores esclarecem que em razão de sua
grande incidência, várias pesquisas preocuparam-se em refletir sobre a etiologia e o
tratamento mais adequado nestes quadros, questionando modelos teóricos provenientes tanto
da Psiquiatria como da Psicologia como dos estudos sobre ansiedade e seus distúrbios.
Em uma revista de divulgação, observou-se que, na década de 1990, foram realizados
estudos que demonstraram que os transtornos de pânico e a incidência de fobias podem
atingir 25% da população dos Estados Unidos da América. Na época, o Brasil, não dispunha
de um estudo epidemiológico em escala nacional, porém os indicadores demonstram que a
incidência desse tipo de patologia atingia 18% da população de Brasília, 11% em São Paulo e
9% em Porto Alegre, e a incidência era duas vezes maior em mulheres (Poles, 2001). Outro
estudo epidemiológico indicou maior incidência de transtornos de ansiedade, inclusive do
pânico, em mulheres (Andrade, Viana & Silveira, 2006).
Ansiedade, Medo e Pânico
O nascimento marca o início das vivências de ansiedade, caracterizadas, nesse
momento inicial de vida, por fome, sede e desconfortos. Essas ansiedades primitivas poderão
preparar o indivíduo para a organização adequada da ansiedade comum que a vida
7
proporcionará futuramente. Assim, a ansiedade, como patologia, não é uma questão de
qualidade, mas sim de quantidade (Grünspun, 1990).
A ansiedade é considerada como uma emoção normal e universal do ser humano, que
surge quando o indivíduo antecipa uma situação nova, desconhecida e desafiante ou quando
há uma vivência de ameaça ou de perigo. Neste sentido, pode ser considerada como uma
emoção benéfica, responsável pela preservação da integridade do ser, preparando-o para o
enfrentamento da situação de perigo. Mas como qualquer aspecto emocional, pode apresentar
variações patológicas (Gentil Filho, Lotufo Neto & Maciel, 1995).
Segundo Piotrowski (1974), a ansiedade é um sentimento negativo sem relação direta
com a realidade externa, é sempre uma desvantagem para o indivíduo, pois psicologicamente
o mutila, fazendo-o sentir um sentimento de extremo desconforto, sem qualquer explicação
real ou lógica. É um sentimento amorfo e sem direção objetal. A razão da ansiedade escapa à
avaliação, observação e compreensão de outros sujeitos, que não conseguem compreender os
motivos pelos quais acontece uma situação ansiosa e acham difícil estimar a intensidade da
ansiedade alheia.
Na compreensão dos conceitos de medo e ansiedade, Piotrowski (1974) relata que o
medo e a ansiedade são emoções negativas no sentido em que ambas são desejos de
dissociação de si, para evitar ou terminar com uma dor imaginária ou real. Percebe o medo
como uma inquietação e um desejo de esquivar-se de uma dor mental e/ou física clara e bem
definida, resultado de uma vivência particular da realidade objetiva.
Conforme o autor, esses medos podem ser racionais e bem fundamentados e, também,
podem ser irracionais ou ilusórios, baseados em uma má avaliação da realidade, porém, de
qualquer forma, a realidade é sempre o ponto de referência para a sensação de medo. Por
outro lado, o foco da ansiedade é a mente do indivíduo, a ansiedade não tem referência à
realidade externa e objetiva, é pura subjetividade. É uma emoção vaga e sem objeto, possui
8
um conteúdo ilógico, sem considerar a realidade externa. Sujeitos ansiosos não podem dirigir
seu sentimento a nenhum objeto (quer em si mesmo ou em outra pessoa) por causa de sua
angústia, que é notadamente interna, e existe independente das relações estabelecidas com os
objetos internos ou externos.
O medo é outro aspecto importante. Caso o indivíduo possua uma estrutura
psicológica organizada e equilibrada, pode ser controlado e direcionado de forma positiva.
Nessa situação, é essencial para a sobrevivência e, particularmente, útil para uma vida
produtiva, intensa e completa (Piotrowski, 1974).
Nesse mesmo sentido, Paul (1998) explica que existem dois quadros relacionados
diretamente às vivências de ansiedade: o medo e o pânico. A diferença geral encontra-se na
intensidade da experiência do sentimento, mas as diferenças são mais marcantes e claras em
termos descritivos. Há necessidade de distinção entre medo e pânico para melhor
caracterização do quadro e definição do termo.
Segundo o autor, aparentemente, trata-se de uma questão de intensidade, porém o
pânico possui sintomas e desdobramentos muito mais significativos do que a vivência de um
medo em maiores proporções, pois é um sentimento que surge diante de um determinado
objeto, sendo assim estados de medo têm uma relação direta com algum objeto identificado
de modo claro pelo indivíduo, com contorno e identidade. Por outro lado, o pânico, além de
mais intenso, não se relaciona diretamente a um objeto específico, é a vivência aguda de
ansiedade, sem a clareza de objeto observada em estados de medo.
A ansiedade é considerada patológica quando é muito intensa, desproporcional ao
estímulo desencadeador ou quando surge sem que haja um motivo aparente para sua vivência.
Quando isso ocorre, é sempre acompanhada por sintomas físicos, sobretudo os
desencadeados pelo sistema nervoso autônomo, comprometendo o bem-estar do indivíduo
(Gentil Filho, Lotufo Neto & Maciel, 1995). Dependendo de seus desdobramentos e
9
intensidade, um distúrbio de ansiedade pode causar desde um desconforto social (Scrof,
Schultz, Koerner & Svetcov, 1999) até o desenvolvimento de fobias gerais ou específicas
(Tice, 1990).
Na maior parte dos casos de transtornos de ansiedade, pode haver também um
comprometimento cognitivo, afetando funções psíquicas de forma mais intensa: a linguagem
pode ser alterada por taquilalia ou gagueira; a memória pode ser afetada, diminuindo-se a
capacidade de retenção de informações a curto ou a médio prazos e a concentração dos
pacientes pode ser diminuída. Nesses casos, estas alterações levam o paciente a ter
dificuldades que podem afetar sua rotina pessoal e profissional (Hindmarch, 1998; Taylor &
Woody, 1997).
Descrição Fenomenológica do Transtorno de Pânico
Conforme expõem Arbona e Arnal (1995), o termo ‘pânico’ foi introduzido, pela
primeira vez, em 1962 por Klein e Fink
1
, quando os autores substituíram a terminologia
ataques de ansiedade por ataques de pânico, reforçando as diferenças entre as crises de
ansiedade e a vivência de ansiedade do tipo antecipatória no que se refere à sua etiopatogenia.
Os autores citados explicam que as crises de ansiedade são vivências extremas de
ansiedade, sem motivo aparente e, quanto paralisadoras e recorrentes, podem caracterizar o
pânico. Em decorrência disso, a ansiedade antecipatória pode surgir diante do temor de novos
ataques de pânico. Embora com uma raiz ansiógena comum, as ocorrências são distintas
quanto à origem e intensidade e ao momento de sua ocorrência. Com isso, marcaram o início
de um movimento de investigações e de descrição de um conjunto de patologias que se
associam diretamente aos quadros de ansiedade, sobretudo o Transtorno de Pânico.
1
Referência original: Klein, D.F.; Flink, M. (1962). Psychiatric reaction patterns to imipramine. American
Journal of Psychiatry, 2, 14-17.
10
Como entidade nosológica, o transtorno de pânico atravessou um desenvolvimento
como pode ser observado pelo aprimoramento das descrições das patologias nas diferentes
versões do DSM.
Durante muitos anos, os ataques de pânico foram classificados baseados na
nomenclatura freudiana de neurose de ansiedade. Esta configuração foi mantida até a edição
do DSM-II de 1968. Apenas no DSM-III, datado de 1980, o termo pânico surge como
descritor nosológico, mas só associado à agorafobia, sendo esta o quadro principal. Em 1987,
na edição do DSM-III-R, surge a denominação de transtorno de pânico sem agorafobia,
colocando, agora, o pânico como quadro principal. Foi apenas no DSM-IV, publicado em
1994, que o transtorno de pânico foi classificado como quadro principal e isolado de outros
sintomas associados a quadros de ansiedade (Arbona & Arnal, 1995).
Nas versões do DSM, houve o desenvolvimento da definição do Transtorno de
Pânico, com base nos desdobramentos de investigações, em que existe um aprofundamento
da precisão do quadro pautado em um detalhamento dos sintomas. Ainda nas descrições
teóricas, não há uma diferenciação entre crise e ataque de pânico, podendo-se supor que esses
dois termos são empregados como sinônimos no que tange ao quadro de pânico. Sendo assim,
será respeitada a nomenclatura empregada por autor ou manual nas exposições que seguem.
Para Gentil (1996), um ataque de pânico que, geralmente, é inesperado e intenso, pode
ser uma experiência avassaladora. Os sintomas vivenciados pelo paciente e as sensações de
fadiga e desconforto sentidas após a crise são extremamente desagradáveis e levam a uma
inquietação e temor de outra ocorrência.
Na descrição bibliográfica pesquisada, há uma grande convergência na caracterização
da crise de pânico pelos diferentes autores, cujo termo é entendido como um período de
intenso medo, apreensão e perigo, freqüentemente, acompanhado de sensação iminente de
perigo ou morte. Após a crise, o paciente experimenta um grande desejo de sair do ambiente
11
onde a mesma ocorreu (Arbona & Arnal, 1995; Gentil, 1996 e 1997b; Kaplan & Sadock,
1991/1993; López, 1995).
Para alguns autores, como Gentil (1997b) e López, (1995), o tempo médio de duração
das crises, situa-se em torno de dez minutos e, em geral, dissipa-se em 20 a 40 minutos
(Gentil, 1996). Por outro lado, López (1995) descreve casos de episódios de pânico entre 5
minutos e 60 minutos, estabelecendo uma duração média de 45 minutos. Observa-se que não
existe uma precisão quanto ao tempo de duração de cada crise de pânico, que depende de
diferentes fatores psicológicos.
A dificuldade de uma definição precisa do tempo de duração da crise é decorrente de
sua fonte, ou seja, como o tempo de duração é obtido baseado nos relatos dos pacientes e
estes ignoram que a crise vai ocorrer. O tempo relatado pode estar sujeito às sensações do
paciente e não obedecer a um registro rigoroso de controle.
Segundo López (1995), o critério estabelecido pelo DSM-IV de quatro sintomas ou
mais é arbitrário e um ataque de pânico pode ser observado com três sintomas ou mais e, na
exposição do manual, não fica claro a intensidade desses mesmos sintomas. No entanto, a
vivência extrema da ansiedade caracteriza o pânico, embora, segundo o próprio autor, é muito
difícil encontrar uma definição precisa e objetiva do que seja ansiedade extrema.
De qualquer forma, apesar disso, “os ataques de pânico são experiências ambíguas,
abertas a interpretações múltiplas e mutáveis” (López, 1995, p.30), em cuja periodicidade
pode demonstrar tanto a gravidade do caso como a intensidade do distúrbio (López, 2000).
Em termos orgânicos, o pânico pode ser associado a um grande número de aspectos
de ordem biológica como neuroanatômicos, neurofisiológicos, endócrinos, entre outros.
(Gentil, 1986; Gentil & Roso, 1987; Kaplan & Sadock, 1991/1993; Ramos, 1995; Ventura,
1991). Nesse sentido, as estratégias adotadas para um tratamento farmacológico sempre são
discutidas, no sentido de uma busca para uma melhor terapêutica aos pacientes (Andreatini &
12
Galduróz, 1995; Bradwejn, Koszycki & Zacharlo, 1996; Caetano, 1997; Deakin & Graeff,
1991; Dias, Del Porto & Miranda, 1990; Gentil, 1996; Ramos, 1995).
Embora os aspectos orgânicos e farmacológicos relacionados aos transtornos de
pânico sejam extremamente importantes em diferentes contextos, sobretudo, nos de pesquisa
e clínicos, não serão aprofundados neste texto, em razão do aspecto estabelecido pela
proposta da pesquisa que enfoca os recursos psicodiagnósticos de investigação do pânico, em
especial, com o uso do Método de Rorschach.
Conceituação e Caracterização Psicanalítica
Nos últimos anos podem ser observados avanços significativos na compreensão
psicanalítica sobre o Transtorno de Pânico, fazendo com que fosse reconhecida como uma
importante abordagem teórica para o tratamento desse quadro (Minerbo, 2003),.
Em termos psicanalíticos, o transtorno do pânico é considerado um distúrbio de
ansiedade, visto ser um dos afetos mais importantes no desenvolvimento dos conceitos da
psicanálise e da teoria psicodinâmica. Embora o pânico apresente sintomas nitidamente
físicos, e a maior parte do tratamento envolva psicoterapia e farmacoterapia, a melhora dos
pacientes sofre grande interferência de fatores transferenciais. Nestes casos, observa-se uma
significativa melhora quando o placebo é administrado, evidenciando que o processo
psicoterápico exerce grande importância na melhora do quadro (Gabbard, 1994/1998). Nesse
sentido, aspectos psicodinâmicos têm grande relevância no contexto do desenvolvimento dos
quadros de pânico.
Gabbard (1994/1998) explica que os pacientes com Transtorno de Pânico apresentam
históricos psicodinâmicos de dificuldade para lidar com perdas, sobretudo de figuras
representativas de sua infância e, por isso, desenvolvem uma atitude transferencial do tipo
paternal com o terapeuta.
13
De certa forma, essa perda é significativa e revivenciada por um fator estressante
cotidiano, o que, segundo uma visão psicodinâmica, levaria ao surgimento da primeira crise
de pânico. Indivíduos sem dificuldade em lidar com perdas, conforme foi descrita, podem
atravessar situações igualmente estressantes, vivenciando-as com uma intensidade de
ansiedade normal, sem o desenvolvimento de nenhum quadro psicopatológico (Gabbard,
1994/1998).
Compreensão Psicanalítica do Fenômeno do Pânico
Além da descrição nosológica do pânico, apresentada anteriormente, a psicanálise
dedica-se, desde os primórdios freudianos sobre a neurose de angústia, a compreender os
elementos inconscientes e dinâmicos que desencadeiam tal quadro.
A seguir, pretende-se realizar uma breve exposição sobre a compreensão dos motivos
pelos quais os indivíduos desencadeiam um quadro de pânico, sob as diferentes abordagens
psicanalíticas.
Trinca (1997) tece uma relação entre fobia e pânico, considerando o pânico a
conseqüência de um estado fóbico, no qual o paciente não teve as condições psíquicas
necessárias para sua organização. Para essa relação, utiliza interessantes associações do
quadro com o conceito metafórico de buraco negro, no qual, durante o processo de
desenvolvimento emocional, o psiquismo organiza-se pautado em uma vivência de solidão e
desamparo que culmina com temores e pânico.
O pânico aparece comumente quando o rompimento da relação ‘eu-comigo’ alcança
consideráveis proporções. É um ponto culminante de perda de relações significativas
estruturantes, quando os vínculos com o centro de sustentação interna se acham
muito enfraquecidos, desvitalizados ou suprimidos. Corresponde a momentos de
incomunicabilidade da pessoa com ela mesma, sentidos como avassaladores e
indefensáveis. São também momentos máximos da angústia de dissipação do self
(Trinca, 1997, p.34).
14
As propostas de compreensão e de leitura psicanalítica são apontadas como uma
importante estratégia diagnóstica e de atendimento para pacientes com síndrome do pânico.
Schwartzman (1997) aborda o tema da prática psicanalítica para o tratamento de pânico,
associando-o à neurose de angústia, estabelecendo uma grande importância no sentido
diagnóstico e terapêutico para a vivência da primeira crise, associando o quadro às relações
estabelecidas com as figuras parentais. Traça uma relação entre pânico e distúrbios
psicossomáticos, por causa dos sintomas do pânico manifestarem-se no âmbito corporal e
justifica a psicanálise, como importante recurso teórico por trabalhar diretamente no trânsito
psiquismo-corpo.
Conforme relata Schwartzman (1997), os detalhes vividos na primeira crise ficam
gravados na memória do paciente e são um marco do funcionamento dos indivíduos com o
pânico, levando-os, inclusive, a desenvolver uma fobia secundária originada do temor de uma
nova crise.
A autora explica que a crise “surge num momento de ruptura de um certo tipo de rede
protetora de ligações afetivas narcísicas” (p.92) quando o indivíduo sente que está
absolutamente desprotegido e só ou quando um determinado objeto catexizado positivamente
não está presente. Muitos pacientes só se sentem protegidos na companhia de uma
determinada pessoa que lhe é importante afetivamente.
Esse aspecto associa-se ao que a autora denominou de “fantasia de anonimato” (p.92)
que é o temor de não ser socorrido por ninguém, caso tenha uma crise sozinho na rua ou em
algum lugar desconhecido. A situação é observada com grande freqüência após a primeira
crise em pacientes com pânico, embora não seja exclusiva desse quadro.
Pela importância e profundidade do conceito de fantasia de anonimato, optou-se por
uma transcrição literal da autora:
15
Trata-se do medo, mesclado com uma convicção antecipatória de que, se passarem
mal na rua, não serão socorridos por ninguém. Mesmo quando a experiência vivida
mostra concretamente o contrário, a fantasia continua a atormentá-los, revelando um
sentimento de que o mundo é desabitado de pessoas confiáveis, a quem se possa
recorrer em hora de necessidade. Essa fantasia encaixa-se perfeitamente no todo do
sofrimento do pânico, onde domina uma confusão entre estar perdido em um meio
onde ninguém me conhece e sentir-se solto, em um lugar onde ninguém me reconhece.
No desamparo da crise, a angústia é a de não ser reconhecido como objeto privilegiado
de amor. Daí a urgência de voltar para casa, para junto das pessoas mais próximas”
(Schwartzman, 1997, p.92).
Pereira (1997) realiza uma leitura lacaniana do quadro de pânico, associando-o a um
desamparo inicial, ou seja, um abalo que ameaça a garantia do reconhecimento simbólico
primordial do eu, gerando uma sensação de risco incomensurável de desabamento e traça um
paralelo desta leitura com a linguagem, como forma de trabalho psicanalítico com o paciente.
Pânico e cura psicanalítica constituem duas possibilidades subjetivas distintas do
sujeito colocar-se frente ao desamparo fundamental dos limites do campo simbólico
que ameaçam os alicerces de uma imagem de si estável e imutável. O pânico instala-se
quando se revela subitamente ao sujeito aquilo que para este é insuportável: a
constatação de que o desamparo é o destino último - e o ponto de partida - de tudo o
que se sustenta da linguagem (Pereira, 1997, p.36).
Sob outro ponto de vista teórico, Cartocci (1998) compreende o fenômeno do pânico
apoiado na teoria winnicottiana, considerando o quadro como resultado de falhas na relação
mãe-bebê, gerando uma grande sensação de desamparo, morte e vazio. Descreve os
fenômenos de pânico, pane, queda como uma “falência de uma construção simbólica que, ao
menos aparentemente sustenta o sujeito” (p.17). Como se fosse uma ruptura da sustentação
individual pautada na vivência ou na sensação de algum conteúdo primitivo que, por um
momento ou desencadeado por uma situação ambiental, eclode, ameaçando a existência do
sujeito, proporcionando a experiência de uma quebra intensa de sua normalidade, ou seja,
“uma explosão direta da angústia” (p.17).
A caracterização psicanalítica do pânico possibilita uma compreensão dos
mecanismos psíquicos que envolvem os indivíduos durante a crise e no decorrer de um
16
tratamento psicológico. Entretanto, uma consideração muito importante sobre os episódios de
pânico, descrita por Schwartzman (1997), deve ser considerada para melhor compreensão do
fenômeno. A autora cita que o paciente com pânico sofre de uma neurose normal cujo
aparelho psíquico, por ser uma construção ou um processo, apresenta falhas.
A instalação de uma situação de urgência tal como a que se cria na Síndrome do
Pânico não deve ser então reduzida a seu aspecto negativo, ao sofrimento que ela
produz. Ela constitui-se também numa exigência e numa oportunidade de melhoria dos
recursos psíquicos, desde que não seja completamente abafada pelo silenciamento
medicamentoso com que a Psiquiatria pretende curá-la (Schwartzman, 1997, p.96).
No estudo do transtorno de pânico, um dos aspectos que merecem atenção é o
momento de crise, por se tratar de uma vivência intensa de seus sintomas. Em seus diferentes
enfoques, a psicanálise compreende esse momento da seguinte forma:
Segundo Trinca (1997), o ataque de pânico é desencadeado por uma fragilidade que
origina um processo mórbido orientado por padrões típicos de temor e ansiedade sentidos
pelos pacientes. No início da vida mental dos indivíduos, ocorrem situações que causam a
vivência de intensa angústia, tais como: violência, pressão e caos emocional.
Como o bebê não possui estrutura suficiente para elaborar tais sentimentos, utiliza a
figura materna, pela identificação projetiva, como instrumento de elaboração dessas
vivências, ajudando-o a movimentar seus impulsos vitais e, assim, lidar adequadamente com
esses sentimentos sombrios. Caso a mãe não consiga fornecer um suporte emocional eficaz
nesse período, não proporcionará holding ao longo do tempo e a criança irá se fragilizar
precocemente, fazendo com que respostas internas favoráveis não se desenvolvam (Trinca,
1997).
Essa falha na articulação das respostas internas faz com que esse indivíduo não
consiga ter um referencial interno bom e consistente que poderá conter seus medos e
dificuldades. Como não elabora internamente esses medos, um sentimento permanente de
17
ameaça à vida é constituído, fazendo com que se sinta mais vulnerável às ameaças rotineiras
e, por causa de uma falha de configuração de um continente primário elaborado, poderá criar
sintomas de pânico diante de uma situação estressante que outro sujeito com um referencial
interno mais adaptado elaboraria com mais facilidade (Trinca, 1997).
Nesse sentido, Cartocci (1998) baseia-se no referencial winnicottiano para descrever o
processo de pânico, relacionando-o a uma espécie de colapso formado em áreas que não
puderam ser exploradas em relação ao mundo e ao outro. “Falhas no processo de constituição
e integração do ego estão intimamente relacionadas ao que a mãe pôde ou não proporcionar,
desde os cuidados corporais mais básicos, até a capacidade de sonhar” (p. 18-19).
Estas idéias podem ser associadas ao conceito lacaniano de desamparo, pelo qual o
bebê vivencia um estágio de insuficiência psicomotora primitiva, levando-o a uma extrema
dependência da figura materna, que é a primeira representação do outro para o bebê,
mostrando o mundo externo para o pequeno ser humano nesse momento. Ela serve como um
espelho, para que o sujeito possa de modo gradativo reconhecer simbolicamente a si como
unidade independente de sua mãe (Pereira, 1997).
Para o autor citado (p.32), “qualquer abalo atingindo a garantia de reconhecimento
simbólico primordial questiona radicalmente a própria estabilidade da imagem do eu. Aqui
intervém um risco terrificante de desabamento”.
Mais tarde, a vivência de tal desabamento poderá, como conseqüência das vivências
fálicas, gerar uma sensação do ‘nada’ nas estruturas psíquicas de alguns indivíduos. Segundo
Dunker (1997), amparado pelos conceitos lacanianos do nada e da economia neurótica do
gozo, o pânico pode ser desenvolvido por pessoas que, de certa forma, vivenciaram uma
descontinuidade entre desejo e gozo, criando um lapso abrupto gerado pela identificação ao
nada lacaniano como objeto.
18
Assim, o quadro da síndrome do pânico é composto por aspectos psicológicos e
somáticos.
Os aspectos psicológicos caracterizam a etiologia da síndrome, identificam sua
origem e direcionam sua terapêutica. Segundo um ponto de vista psicanalítico, os
componentes psíquicos formam as bases do desenvolvimento do pânico. A psicopatologia do
desenvolvimento das relações primárias desses indivíduos criou uma predisposição ao
surgimento da síndrome.
Os aspectos somáticos identificam a sintomatologia do quadro, visto que os sintomas
mais nítidos e identificáveis são os de origem fisiológica. Assim, o estudo dos fatores
psicológicos da síndrome do pânico mostra-se muito importante para uma compreensão
diagnóstica mais precisa.
No geral, em termos psicanalíticos, observou-se que o pânico é um quadro decorrente
de uma falha no desenvolvimento da relação mais primitiva com a figura materna, que
promove uma fantasia inconsciente de autodestruição, na qual a sensação de desintegração
pode ser desencadeada pelo contato com a fragilidade da relação anteriormente salientada. O
medo da morte, que é gerado pela sensação de finitude, está relacionado a uma vivência de
abandono e isolamento, oriundo das primeiras relações com a figura materna.
19
1.3 Utilização de Técnicas Projetivas e do Método de Rorschach no Diagnóstico
Psicológico
Cada vez mais observa-se o emprego de técnicas projetivas na investigação
psicodiagnóstica de diferentes quadros. Pautado em pesquisas ou levantamentos clínicos,
nota-se a grande contribuição que os métodos projetivos de investigação psicodiagnóstica
possibilitam para a compreensão dos aspectos psicodinâmicos dos pacientes, assim,
proporcionam um excelente material a ser usado na análise desses casos.
Caracterização das Técnicas Projetivas
As técnicas projetivas ocupam um lugar de destaque no processo psicodiagnóstico,
pois constituem um material ambíguo apresentado ao paciente, possibilitando liberdade para
que responda ao instrumento oferecido e um bom material para análise e interpretação
(Cunha, Minella, Werlang & Carneiro, 1993).
A ambigüidade que o material das técnicas projetivas apresenta pode proporcionar
uma infinidade de material psicológico a ser interpretado, uma vez que a produção psíquica
do paciente depende muito mais de seus conteúdos internos do que da estimulação que o
material oferece (Cunha et al., 1993). Entende-se aqui como material do paciente as
respostas que o mesmo pode emitir diante de borrões de tinta, histórias ou narrativas que
expõe a partir de quadros ou figuras, desenhos que o indivíduo produz livremente ou baseado
em algum tema proposto, entre outros.
Dessa forma, nas técnicas projetivas, o material para que os conteúdos sejam
expressos serve como ‘ponte’. Segundo Anderson e Anderson (1951/1978), os testes
projetivos não fornecem apenas aspectos de projeção, mas, praticamente todos os
20
mecanismos mentais, tanto os expressivos como os de defesa, proporcionando excelente
material de análise sobre o paciente.
Em 1939, Franck
2
introduziu o termo método projetivo que logo se mostrou com
ampla difusão e emprego, pois designa um conjunto de procedimentos técnicos, visando ao
estudo da personalidade dos indivíduos por meio de estímulos pouco estruturados, nos quais a
pessoa pode expressar livremente um sentido particular. Assim, suas respostas serão sempre
projetivas e passíveis de uma interpretação de seus processos internos (Van Kolck, 1981).
Por suas propriedades, Anzieu (1961/1984) refere que é difícil uma caracterização
específica do Teste de Rorschach. Assim, podem ser tecidas algumas considerações sobre as
capacidades do sujeito que estão atuantes durante a execução da prova. Quando se submete
ao instrumento, a pessoa relaxa o controle consciente de seus conteúdos, podendo expô-los
por meio de suas respostas, baseadas em uma conduta oscilante entre concentração e
descontração. Dessa forma, permite a avaliação de suas características mais intrínsecas, bem
como o conjunto de defesas que utiliza para poder lidar com elas.
Em razão de suas características, as técnicas projetivas podem ser empregadas em
atendimentos com um direcionamento psicodinâmico e visam a “um entendimento dinâmico
da personalidade dos pacientes, como conflitos, mecanismos de defesa do ego, estados
emocionais, fantasias, traços de caráter e aspectos sadios e patológicos dos sujeitos” (Cunha
et al., 1993, p.123).
As propriedades das técnicas projetivas são caracterizadas por vários aspectos
comuns a elas: estímulos pouco ou nada estruturados, respostas bastante ou totalmente livres,
abordagem indireta de aplicação, origem teórica fundamentada na psicanálise e na
psicometria. A avaliação e a interpretação são pautadas em pressupostos psicanalíticos e/ou
psicométricos e têm como objetivo a exploração da personalidade em plano mais profundo e
2
Referência original: Franck, L.K. (1939). Projective Methods for the study of personality. Journal of
Psychology, 8, 389-413.
21
abrangente do que as técnicas objetivas e a exploração de dados globais e integrados da
personalidade; além disso há uma predominância da aplicação individual que possibilita uma
situação trasferencial positiva para melhor compreender os elementos psicológicos dos
pacientes (Bell, 1948/1992; Van Kolck, 1981).
Cabe ressaltar que o espaço ocupado pelas técnicas projetivas na psicologia atual é
proveniente de constantes estudos que apresentam evidências empíricas e psicométricas de
sua capacidade de analisar os elementos psicológicos dos indivíduos. Não se trata de simples
aplicação ou transposição da teoria psicanalítica, mas sim fruto da articulação dos
pressupostos psicanalíticos com experimentos metodologicamente rigorosos e com
comprovações práticas e métricas.
Qualquer técnica de investigação psicológica, projetiva ou não, só terá real validade,
quando for planejada com precisão e critérios técnicos e teóricos bem definidos. Dessa forma,
o processo psicodiagnóstico ou a pesquisa poderão ter maior definição dos conteúdos
psicodinâmicos e psicométricos do quadro (Adrados, 1982).
Após a interpretação de todos os dados e da integração com o conteúdo obtido, pode-
se concluir, de forma consistente e segura, a respeito da personalidade dos indivíduos.
É importante destacar ainda que o emprego de uma técnica projetiva pressupõe um
amplo conhecimento do instrumento, apoiado em uma prática constante e atualização
permanente quanto às mesmas.
Os princípios de interpretação dos testes projetivos não deixam de ser, portanto,
indicadores de sistematização e organização de dados, mantendo uma correspondência
analógica com a integração que se realiza no processo psicodiagnóstico visto de sua
forma extensa (Becker & Trinca, 1984, p.83).
É interessante ressaltar a comparação realizada por Niva (1995), quando afirma sobre
a aplicação de um instrumento de avaliação psicológica que pode ser análoga ao próprio
processo de psicoterapia. Assim, ao se aplicar um instrumento, sobretudo um instrumento
22
projetivo, é importante o aplicador atentar aos aspectos comuns entre a vivência da aplicação
e a vivência de um processo de psicoterapia breve.
Na maior parte das vezes, surge em mesma escala a exposição de conteúdos
transferenciais e contratransferenciais na realização da tarefa proposta, no caso do Rorschach
a emissão das respostas. Assim, ao se analisar o conjunto de informações obtidas em uma
aplicação de um teste projetivo, é importante que o aplicador atente para estas vivências e as
considere no momento de organização dos dados e da devolução de informações. O autor
salienta que a experiência de se submeter à avaliação psicológica com um instrumento
projetivo pode trazer benefícios por meio da elaboração dos conteúdos, que são eliciados
pelas técnicas (Niva, 1995).
Pode-se dizer que os testes projetivos mostram-se como estratégias importantes para a
coleta de dados psicodiagnósticos. Servem como meio de comunicação entre os aspectos
psicológicos do paciente e o psicólogo com a vantagem de levar à manifestação de conteúdos
sem o controle consciente do paciente que desconhece os aspectos técnicos do instrumento,
possibilitando uma análise global das características inconscientes e suas conseqüências,
como um interlocutor entre o mundo psíquico do paciente e o psicólogo (Grassano,
1977/1996).
O Rorschach como Técnica Projetiva
O Rorschach é um instrumento psicodiagnóstico de reconhecida validade e
profundidade de investigação. Seu material de interpretação possibilita uma análise da
personalidade dos indivíduos em termos estruturais e psicodinâmicos, garantindo uma
contextualização ímpar do quadro que está sendo investigado.
Por intermédio dos itens de codificação, que permitem um trabalho quantitativo, é
possível uma averiguação empírica e estatística de qualquer aspecto da personalidade das
23
pessoas, sob o enfoque estrutural. Com base na análise das verbalizações, os aspectos
qualitativos da personalidade dos sujeitos podem ser analisados, compreendendo seu
funcionamento e relação consigo e com o mundo.
Breve Histórico
Em diferentes culturas e épocas, o uso da imaginação em brincadeiras populares para
interpretar nuvens ou manchas de tinta foi sempre comum. O primeiro registro do emprego
de borrões com significado clínico é de 1857, no qual o médico alemão Kerner usava borrões
de tinta para caracterizar aspectos de personalidade das pessoas que os faziam. Embora
importante em termos históricos, seu trabalho mostrou-se limitado, pois não estudou as
diferenças individuais dos sujeitos. Em 1895, Binet e Henri desenvolveram uma aplicação de
forma mais metodológica no campo da Psicologia Experimental, associando processos de
imaginação e fantasias dos indivíduos, mediante a confecção de borrões de tinta. Depois
deles, outros autores também desenvolveram estudos com manchas de tinta em várias
localidades (Sousa, 1982; Vaz, 1997).
Hermann Rorschach foi o responsável por uma sistematização brilhante a respeito do
trabalho com manchas de tinta, focalizando tanto aspectos formais como outros que
envolviam as manchas. Iniciou os estudos com os borrões em 1910. Em 1918, o próprio
Rorschach confeccionou e elaborou as pranchas do teste e passou a aplicá-las
experimentalmente no Hospital de Herisau (Vaz,1987).
A confecção de tais formas fortuitas é muito simples: fazem-se alguns borrões grandes
sobre uma folha de papel. Este papel será dobrado uma vez e os borrões deverão ser
espalhados entre as folhas do mesmo. No entanto, nem toda figura assim obtida se
prestará ao uso; sua utilização está sujeita a algumas condições. Em primeiro lugar, as
formas deverão ser relativamente simples; as figuras complexas dificultam demais o
cômputo dos fatores do teste. Além, disto, é preciso que o enquadramento dos borrões
no espaço da prancha obedeça a certas condições de ritmo espacial; se isso não se der,
a prancha carecerá de força plástica e, consequentemente, muitos indivíduos rejeitarão
as figuras como ‘simples borrões’ e não se deixarão convencer a interpretá-las
(Rorschach, 1921/1978, p.15)
24
A primeira edição completa do trabalho de Rorschach data de 1921 no livro
Psychodiagnostik, sendo denominado pelo autor como métodos e resultados de uma
experiência diagnóstica de percepção por meio da interpretação de formas fortuitas, o livro
ainda é considerado um clássico do gênero (Cabral & Nick, 1997).
Desde 1921 quando foi publicado o Psicodiagnóstico (Rorschach, 1921/1978), que
mais tarde recebeu o nome de seu idealizador, inúmeros trabalhos foram desenvolvidos e
vários autores destacaram-se num movimento constante de pesquisas e aprimoramento com o
instrumento.
Desde então, o teste tem suscitado um grande interesse e foi muito utilizado e
pesquisado. Pelo menos durante duas décadas, as de 1940 e 1950, seu nome foi quase
sinônimo de Psicologia Clínica. Naqueles anos, a principal função do clínico consistia
na avaliação, no psicodiagnóstico, principalmente quando se tratava de diagnóstico
diferencial. Durante as décadas de 1960 e 1970, o Rorschach se constituiu entre os
testes mais utilizados no contexto clínico e segue ocupando este lugar até hoje (Exner,
1993/1994, p.3).
Diversos pesquisadores desenvolveram intensos e profundos trabalhos com o material
deixado por Rorschach (1921/1978). A maioria dos trabalhos foi de natureza empírica e
marcou a técnica com importantes descobertas. Pode-se destacar os estudos de Beck (1945,
1950), Beizmann (1974), Hertz (1951), Klopfer e Ainsworth (1954), Klopfer e Davidson
(1962/1977), Klopfer e Kelly (1946/1972), Loosli-Usteri (1962), Piotrowski (1974),
Rapaport (1946/1977), Silveira (1985), Traubenberg (1970/1998), dentre outros.
Desse modo, cada pesquisador acrescentou um aspecto próprio à técnica e à
codificação dos escores, desenvolvendo o que se chama de Sistema de Classificação, que
identifica uma determinada forma de trabalhar com o Método de Rorschach e diferenciam-se
entre si no que tange aos aspectos de análise das respostas e compreensão das vivissitudes do
sujeito no momento do teste.
25
O sistema compreensivo (que será utilizado neste estudo) foi desenvolvido por Exner
(1993/1994), nos Estados Unidos da América (EUA), baseado no estudo de vários sistemas
de classificação existentes à época e sob intensa e grandiosa investigação empírica dos
resultados.
Ao observar os procedimentos de aplicação e codificação propostos por Beck, Hertz,
Klopfer, Piotrowski e Rapaport, Exner propôs um modelo integrador dos principais aspectos
apresentados pelos influentes autores americanos até então, não perdendo, contudo, a
característica central de cada um de seus colaboradores. Optou por abandonar as
configurações muito pessoais e sem qualquer comprovação empírica, mantendo os índices e
os procedimentos que as investigações mostravam ser relevantes e cientificamente aplicadas
e comprovadas. Com esse procedimento, objetivava uniformizar a linguagem dos
rorschachistas, permitindo maior comunicação entre os que pesquisavam e empregavam
clinicamente o instrumento. Assim, fundou organizações especializadas no instrumento e em
pesquisas e utilizou recursos empíricos e controlados para poder propor o sistema
compreensivo (Nascimento & Güntert, 2000).
A escolha de um sistema de classificação a ser adotado depende da afinidade e da
identificação do clínico ou do pesquisador. Todos os sistemas possuem seus importantes
pontos para a história do desenvolvimento do Método de Rorschach e não têm supremacia
um sobre o outro. Assim, pode-se dizer que todos os sistemas de classificação estão corretos.
Trata-se apenas de uma escolha técnico-metodológica do uso do instrumento.
Pérez (1995) expõe sobre o crescimento do emprego do sistema compreensivo na
Europa, sobretudo na Espanha, e justifica tal crescimento pelo caráter empírico e integrador
dos procedimentos assinalados pelo sistema.
No Brasil, a primeira discussão científica sobre o Método de Rorschach é datada de
1929 em Minas Gerais, dirigida por Helena Antipoff. Os primeiros registros de aplicação do
26
Rorschach são de 1932, por Leme Lopes no Rio de Janeiro e a primeira publicação científica
brasileira com o teste é de janeiro de 1934, escrita por T. Bastos com o título ‘Aplicações do
Método do Dr. Rorschach aos casos clínicos de endocrinologia’ (Yazigi, 1987).
Assim, em relação ao Rorschach, o Brasil sempre acompanhou o desenvolvimento e
estudo sobre a técnica. Esta característica pode ser percebida, inclusive, a partir da fundação
de sociedades científicas brasileiras com o intuito de agregar profissionais interessados no
instrumento.
Em 1952, Aníbal Silveira fundou a Sociedade de Rorschach de São Paulo que,
basicamente, agregava profissionais que utilizavam o sistema de classificação desenvolvido
pelo seu fundador. Em 1993, André Jacquemin fundou a Sociedade Brasileira de Rorschach e
outros métodos projetivos; esta última agregou os profissionais e os pesquisadores de todos
os sistemas de classificação do Rorschach, bem como os profissionais e pesquisadores que
utilizam outros instrumentos projetivos de investigação.
Tabela 1. Levantamento dos trabalhos apresentados nos eventos da SBRo que
utilizaram o sistema compreensivo
Evento Data Número de
trabalhos
Porcentagem
dos trabalhos
I Encontro SBRo 23-24 / outubro / 1995 2 6%
II Encontro SBRo 19-20 / outubro / 1996 5 11%
I Congresso SBRo 13-16 / julho / 1997 5 14%
III Encontro SBRo 9-12 / dezembro / 1998 9 14%
II Congresso SBRo 3-6 / maio / 2000 11 16%
IV Encontro SBRo 14-17 / novembro / 2001 13 16%
III Congresso SBRo 8-11 / outubro / 2004 21 17%
IV Congresso ASBRo 10-14 / junho / 2006 16 12%
A partir da década de 1990, observou-se um crescimento na utilização clínica e de
pesquisas do sistema compreensivo no Brasil. O fato pode ser observado nos dados da Tabela
1, que apresentam um levantamento da quantidade de trabalhos científicos que utilizaram o
sistema compreensivo e foram apresentados nos eventos científicos da Sociedade Brasileira
de Rorschach e outros métodos projetivos (SBRo 1995, 1996, 1997, 1998, 2000, 2001 e
27
2004), apesar da pequena diminuição no IV Congresso da Associação Brasileira de
Rorschach e métodos projetivos (ASBRo, 2006).
Dentre um grande conjunto de instrumentos projetivos, o Psicodiagnóstico de
Rorschach ocupa, realmente, uma posição de grande destaque, enfatizada quer pela prática
clínica dos profissionais da área, quer pela bibliografia e eventos científicos especializados
nas discussões sobre avaliação psicológica.
Aspectos Projetivos do Método de Rorschach
Van Kolck (1981) assinala critérios de classificação das provas projetivas, baseado na
proposta de vários autores, designando-as, conforme suas propriedades e características.
Nestes termos, o Rorschach pode ser enquadrado como uma prova:
-constitutiva, quanto ao uso funcional do material, em que o sujeito organiza suas respostas
com base em um material não estruturado;
-perceptivo-estrutural, quanto aos processos e aspectos de personalidade envolvidos, no qual
o sujeito utiliza recursos de percepção para a projeção de suas características baseado na
organização de suas respostas e
-visual, quanto à natureza do material empregado para estímulo, pois o sujeito usa a visão
como meio de entrar em contato com os borrões-estímulo.
Para Coelho (1980), pode-se descrever o que acontece com o sujeito quando se
defronta com as pranchas e seus estímulos no momento da aplicação do Rorschach. Em razão
de suas características, o indivíduo utiliza predominantemente as sensações visuais, embora
possa fazer referência a outras modalidades sensoriais durante a aplicação, como: táteis,
movimentos, tensões, etc., dependendo dos aspectos personalógicos envolvidos. A
organização dos perceptos é resultante do dinamismo psíquico e da projeção pautada em
28
imagens subjetivas observadas em um contexto concreto (identificação e descrição do que foi
percebido) e abstrato (apreensão dos elementos abstratos e essenciais).
Assim, o sujeito seleciona aspectos da prancha, segundo referenciais de atenção e
afetivos, manifestando-os ao examinador por meio das respostas verbais e dos
comportamentos que ele manifesta, oferecendo um rico material de análise, pois, apoiado
nesse material é possível avaliar todo esse mecanismo e as características que foram
envolvidas (Coelho, 1980).
Diante do contato visual com os estímulos organizados nas dez pranchas e utilizando
os recursos perceptivos, os sujeitos organizam suas respostas que revelam importantes
elementos de sua personalidade, possibilitando uma análise aprofundada desses elementos da
personalidade, oferecendo bom material para encaminhamentos e ao trabalho
psicoterapêutico.
O material de interpretação mostra-se bastante eficiente, pois os dados obtidos de
forma sistematizada e controlada pelas propriedades da técnica, organizados na codificação e
análise das respostas dadas podem ser medidos e quantificados, possibilitando um trabalho
estatístico e objetivo (Adrados, 1982).
Desse modo, resultados claros de comparação são oferecidos, além de possibilitar
uma análise simbólica dos dados psicodinâmicos das respostas, informando a respeito da
dinâmica da personalidade do paciente de forma contextualizada, oferecendo subsídios
psicodiagnósticos e prognósticos para o trabalho clínico.
É importante salientar que o instrumento oferece dados por intermédio de índices de
adaptação e psicopatológicos, fornecendo um parâmetro de comparação frente à realidade
externa e suas vivências que, por sua vez, disponibilizam ao psicólogo uma possibilidade de
um diagnóstico diferencial, adaptativo e prognóstico, entre outros.
29
Como citam Cunha et al. (1993), o Método de Rorschach pode ser indicado para o
diagnóstico da personalidade em diferentes contextos clínicos, para o planejamento do
processo terapêutico, para um recurso na seleção profissional, para investigação psicológica
na área forense e para traçar elementos prognósticos em qualquer uma dessas situações.
Embora neste estudo tenha sido enfocado o trabalho clínico, é necessário esclarecer
que o instrumento é multifacetado na prática em Psicologia, subsidiando uma série de
possibilidades muito maior do que possa ter sido difundido até hoje.
As técnicas de exame psicológico constituem-se em excelente instrumento para coleta
de dados em pesquisas e/ou objeto direto de investigação em pesquisas, demonstrando o
crescente interesse de profissionais e pesquisadores no desenvolvimento de investigações na
área (Jacquemin , 1997).
Dentre outros atributos, o Método de Rorschach é sistematicamente empregado em
pesquisas científicas. Seus dados possibilitam importantes perspectivas no desenvolvimento
de investigações sobre avaliação psicológica (Weiner, 1986).
Há muito tempo o teste garantiu seu caráter científico, por causa de intensas pesquisas
nos mais diferentes níveis, configurando-se como um importante objeto e instrumento para a
investigação da personalidade dos indivíduos (Yazigi, 1997).
Com base no exposto, salienta-se novamente que o Psicodiagnóstico de Rorschach
ocupa cada vez mais um lugar de destaque entre as técnicas projetivas no trabalho clínico,
mostrando-se sempre atual e de extrema valia aos profissionais que se preocupam em realizar
um psicodiagnóstico apoiado em dados que ofereçam subsídios para uma interpretação
contextualizada, profunda e dinâmica da personalidade dos sujeitos.
O Método de Rorschach foi publicado no início do século XX e cada vez mais se
mostra um instrumento atual, com qualidades e possibilidades que transcendem à sua época e
à sua posição atual.
30
As Sociedades Científicas diretamente relacionadas ao Método de Rorschach
(Associação Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos, por exemplo) são
responsáveis pela formação especializada de vários profissionais que se interessam pelo
instrumento e garantem, apoiados em seus cursos e eventos científicos, um excelente
intercâmbio entre clínicos e pesquisadores. O aumento e a valorização do uso da técnica
também estão relacionados às atividades dessas sociedades.
31
1.4 O Método de Rorschach na Investigação do Pânico
O Método de Rorschach organizou-se e configurou-se como uma das mais
importantes técnicas de investigação psicológica, pautando-se em sua base fundamentalmente
clínica. Oriundo do desenvolvimento da psiquiatria e da psicanálise na época de sua criação,
despertou grande interesse científico na área, conquistando ampla confiabilidade entre os
profissionais de saúde mental no período, “mantendo a nomenclatura e nosologia clássica das
doenças mentais” (Vaz, 1997, p.115).
Assim, o Rorschach é, tradicionalmente, classificado como um instrumento para
avaliação de condições normais ou patológicas dos indivíduos (Weiner, 1986).
É constituído com base nas comparações entre pacientes que apresentavam um
sofrimento mental e pessoas da população comum; pode-se dizer que o Método proposto por
Rorschach nasceu fundamentado em informações obtidas em funcionamentos
psicopatológicos, por isso, talvez, nenhuma outra técnica de avaliação psicológica possa, com
tanta precisão, avaliar a psicopatologia de pacientes.
É importante ressaltar o grande número de pesquisas que foram (e são) desenvolvidas
na área de psicopatologia com o método. Desde sua publicação, um grande número de
clínicos e pesquisadores desenvolveu trabalhos com o Rorschach e as mais diferentes formas
de psicopatologias.
O Rorschach na Investigação de Aspectos Psicopatológicos
O conhecimento acumulado sobre a aplicação do Rorschach nas mais variadas
psicopatologias permite uma constante revisão dos conceitos de seus diagnósticos
diferenciais, acompanhando a evolução dos quadros e as descobertas científicas da área. Todo
clínico ou pesquisador que utiliza o Rorschach para investigar a psicopatologia espera que
32
seus estudos auxiliem nas próximas investigações e esperam incentivar os jovens clínicos e
pesquisadores a usar também o Método de Rorschach, mantendo aceso o interesse e o
desenvolvimento do instrumento (Campo, 1995).
O Rorschach permite uma investigação dos funcionamentos específicos da
personalidade, podendo ser um importante instrumento para avaliação dos aspectos
psicopatológicos (Chabert, 1987/1993). Com este instrumento, é possível tipificar e
diferenciar quadros diagnósticos, levando o psicólogo a uma conclusão mais fiel e a um
planejamento terapêutico mais direcionado ou o pesquisador a delineamentos mais precisos e
a considerações mais claras de seu trabalho.
Esta característica pode ser observada em vários trabalhos como, por exemplo, o de
Laicardi, Nuovo e Tobino (1988) que empregaram o método para diferenciação de dois tipos
específicos de síndromes esquizofrênicas, expondo a diferença sutil dos dados que
esclareceram os dois diagnósticos.
Segundo Frank (1997), a possibilidade do uso clínico do Rorschach, como
instrumento no psicodiagnóstico diferencial transcende seus dados psicométricos. Os
aspectos quantitativos constituem um importante referencial quando se precisa realizar um
diagnóstico que tem como objetivo avaliar as diferenças significativas entre um
funcionamento típico e um patológico. Além disso, a possibilidade de uma leitura simbólica
das verbalizações possibilita uma compreensão psicodinâmica bastante específica, necessária
para a contextualização individual do paciente que está sendo avaliado.
Para que os dados quantitativos do Rorschach em um contexto clínico sejam usados
na realização do psicodiagnóstico diferencial, são necessárias investigações anteriores que
fundamentem os dados para uma comparação precisa, sobretudo, no que se refere à avaliação
de estruturas psicopatológicas. Necessita-se de pesquisas específicas, cujo objeto de estudo
seja as mais diferentes patologias e, com base em investigações empíricas, levantar os dados
33
e os índices específicos, para que as futuras avaliações apóiem-se em proposições testadas e
comprovadas e não em especulações sem sua devida constatação (Weiner, 1986).
Por todas essas razões o Rorschach é um dos testes mais utilizados para investigação
de aspectos psicopatológicos e do diagnóstico diferencial (Cunha, 1996).
Conforme esclarece Vaz (1997), pela estreita relação entre o Método de Rorschach e
as mais diferentes patologias, há um grande número de trabalhos clínicos e de pesquisas
envolvendo a investigação do método nos mais diferentes quadros psicopatológicos.
Na literatura sobre o tema, observa-se que a possibilidade de descrição precisa dos
índices do teste e sua objetividade de investigação e análise proporcionaram, ao longo do
tempo, a descrição de vários quadros clínicos por meio de um conjunto de variáveis que
podem auxiliar no diagnóstico diferencial das patologias, sempre apontado nos
procedimentos necessários ao uso clínico da técnica (Santos, 1996).
Em relação ao tema, existem estudos a respeito da ansiedade, que podem subsidiar
uma investigação sobre o pânico, em trabalhos integrando os índices observados no
Rorschach com comportamentos ansiosos e diagnósticos prévios de condutas ansiosas,
concluindo que existe uma estreita relação entre os índices observados nos protocolos de
Rorschach e a vivência de estruturas ansiogênicas nos indivíduos (Gacono & Meloy, 1991;
Gacono, Meloy & Weber, 1992).
Em específico no que tange ao transtorno de pânico, pelos trabalhos realizados por
Andersen e Rosenberg (1990) e Adrados e Figueiredo (1995), percebe-se que o Rorschach é
um instrumento capaz de caracterizar com precisão a síndrome e suas motivações psíquicas,
tanto estruturais como inconscientes.
Em se tratando de transtornos de pânico, os estudos clínicos e de pesquisa envolvendo
a avaliação de ansiedade e do transtorno propriamente dito, podem ser destacados.
34
O emprego do Rorschach na investigação da ansiedade
Apoiados em seu significado de interpretação, os índices de avaliação do Rorschach
permitem assinalar vários aspectos componentes da personalidade dos indivíduos. Dentre
estes, no caso deste estudo, pode-se destacar a ansiedade.
Hurvich, Benveniste, Howard e Coonerty (1993) apresentaram um estudo com vinte
colaboradores, comparando os índices de ansiedade obtidos no Hurvich Experience Inventory
(um instrumento baseado na estrutura de auto-relato que visa a avaliação da ansiedade de
aniquilação) e os índices de ansiedade de aniquilação obtidos das respostas do Rorschach e
das histórias do TAT. Observaram alto grau de correlação (0,94) entre o material objetivo do
inventário e a manifestação de ansiedade nos índices do Rorschach.
Indicaram alta incidência de respostas que, segundo os autores, denotaram ansiedade
de aniquilação em todos os protocolos, sobretudo nas pranchas IV e IX (15 vezes) e II e III
(13 vezes). Pautados nesse estudo, os autores evidenciaram a possibilidade do uso do
Rorschach na investigação de ansiedade de aniquilação de forma precisa (Hurvich et al.,
1993).
Coelho e Costa (1987/1988) indicaram, apoiadas nas proposições do sistema de
classificação de Silveira, que indivíduos ansiosos mostram sinais específicos no Rorschach.
Na análise de 30 pacientes diagnosticados clinicamente como ansiosos pela Escala de
Ansiedade de Cattell, demonstraram, quando comparados à amostra normativa, que esses
indivíduos respondiam em maior freqüência aos determinantes com características de
sombreado L e l’. Segundo as autoras, a determinante L proposta pelo sistema de Silveira,
indica, quando em número elevado, excesso de cautela nos contatos interpessoais. As
respostas classificadas como l’ indicam reações emocionais muito primárias, como:
ansiedade, insegurança ou conflitos.
35
Além dessas determinantes, as autoras observaram a incidência de choque à
luminosidade em 100% dos protocolos e choque cromático em 70% dos protocolos,
indicando falta de controle diante dos elementos ansiógenos e afetivos, respectivamente
(Coelho & Costa, 1987/1988).
Diante dos dados, as autoras citadas findam seu estudo concluindo que “o fenômeno
psíquico interpretado como ansiedade parece traduzir-se de modo específico nos fatores da
Prova de Rorschach” (p.33).
Outros estudos propuseram-se a analisar da ansiedade fundamentados nos dados do
Rorschach, como o estudo de Douville e Ventura-Abramson (1992) que estudaram as
manifestações de fobia em 15 protocolos de crianças e pré-adolescentes de ambos os sexos,
apoiados no sistema de classificação francês e na análise psicodinâmica das respostas.
O referido estudo encontrou acentuados sinais de ansiedade nas crianças analisadas,
como: aumento no uso de pequenos detalhes para localizar suas respostas, indicando uma
atitude de evitar e afastar-se da realidade objetiva, preferindo elaborar os conteúdos de forma
pessoal e particularizada; respostas fragmentadas e pouco elaboradas que revelam dificuldade
de articulação interna.
A incidência de respostas do tipo Clob é associada à vivência da ansiedade de forma
mais primitiva. Além de outros fatores inconscientes que desencadearam o comportamento
fóbico, observados com base na leitura psicodinâmica das verbalizações dos sujeitos. Neste
contexto, enfatizaram que o Rorschach pode ser sensível às variações de ansiedade do tipo
fóbica dos pacientes (Douville & Ventura-Abramson, 1992).
Gacono e Meloy (1991) descreveram um estudo a respeito da ansiedade, utilizando o
sistema compreensivo para o Método de Rorschach. Desenvolveram sua pesquisa com 42
homens adultos com transtorno de personalidade anti-social, sem qualquer tipo de co-
morbidade e com quoeficiente intelectual médio, que cumpriam pena na Califórnia, divididos
36
igualmente em dois subgrupos denominados pelos autores de psicopatas graves e psicopatas
moderados. Elegeram cinco variáveis relacionadas à ansiedade para o estudo, sendo respostas
de textura, vista e sombreado difuso, além da nota D e D ajustado.
Comparando-se os resultados obtidos com a tabela normativa de não pacientes norte-
americanos e com os dados de pacientes não internados com outros quadros, foram
observadas duas variáveis com diferenças significativas: como a diminuição das respostas T,
nos dois grupos (p < 0,01 / x
2
= 5,56), indicando um certo temor, desconforto ou desprazer no
contato interpessoal mais próximo (Gacono & Meloy, 1991).
No que se refere às respostas Y, houve uma diminuição da emissão desse tipo de
determinante no grupo de psicopatas graves e aumento na emissão das respostas dos
psicopatas moderados, indicando que o primeiro grupo apresentou menos desconforto
emocional e ansiedade do que o grupo normativo. Por outro lado, o grupo dos psicopatas
moderados, mostrou extremo sofrimento, desconforto, ansiedade e tensão (p < 0,005 / x
2
=
7,71). Tal aspecto, segundo os pesquisadores, está relacionado aos elementos narcisistas
presentes nos psicopatas graves que podem inibir sentimentos de sofrimento (Gacono &
Meloy, 1991).
Diante dos resultados, Gacono e Meloy (1991) concluíram que o Método de
Rorschach possibilita recursos psicométricos precisos para avaliar a ansiedade nos indivíduos
com transtorno anti-social, permitindo verificar a intensidade psicopatológica do quadro.
Em outra pesquisa, Gacono, Meloy e Weber (1992) realizaram um estudo
comparativo entre 48 adolescentes com desordem de conduta e 30 adolescentes com distimia,
visando compreender os estados de ansiedade apoiados nos dados do Rorschach, segundo a
classificação do sistema compreensivo. Os sujeitos não indicavam nenhum outro quadro
psicopatológico e possuíam inteligência média. Elegeram também para seu estudo as
respostas de sombreado T e Y.
37
Após a comparação dos dados obtidos com a tabela normativa norte-americana para
adolescentes não pacientes e com a tabela de pacientes com depressão, observaram que as
duas variáveis destacadas indicaram diferenças significativas:
Diminuição das respostas T - para o grupo de adolescentes com desordem de conduta
(p < 0,01 / x
2
= 7,49); aumento das respostas Y - para os sujeitos com desordem de conduta e
distimia (p < 0,05 / x
2
= 5,02) (Gacono, Meloy & Weber, 1992).
A partir da proposta de classificação de Klopfer, Vaz (1997) também descreve um
conjunto específico de dez sinais associados ao transtorno por ansiedade generalizada,
classificando o Rorschach como um instrumento importante e necessário para o diagnóstico
do nível de ansiedade dos pacientes, sendo: ausência de FC; ausência ou presença pouco
significativa de M; R - rebaixado; presença de choques acromático ou cromático; tempo
médio de reação ou de duração curto; k + kF > Fk; m + mF > Fm; confabulação e/ou idéia de
referência; F% - dentro dos escores para a população normativa e elevação de S.
Para que o quadro de ansiedade generalizada seja identificado, Vaz (1997) enfatiza
que se faz necessário dentre os dez sinais expostos a existência de, pelo menos, confabulação,
elevação de S, k + kF > Fk, ausência de M e ausência de FC.
O autor também expôs um conjunto de sinais no Rorschach para identificação do
transtorno de ansiedade social, sendo choques generalizados às áreas vermelhas nos Cartões
II e III; dificuldades do examinando em cartões onde, usualmente, são vistas figuras A,
observadas pelo tempo de reação e duração curto ou rejeição do Cartão VIII.
Eells e Boswell (1994) estudaram a relação de Y e m - à incidência de frustração e
ansiedade em um estudo com 48 estudantes universitários, realizado em um ambiente
totalmente controlado em laboratório. Não encontraram relação significativa entre as
determinantes Y e m nesse estudo da frustração e ansiedade. Embora os dados sejam bastante
conclusivos, levantaram a hipótese das características assinaladas terem sido amenizadas pela
38
manipulação das variáveis no ambiente controlado do laboratório e indicaram a necessidade
de ampliação do estudo, em especial, fora desse espaço.
Apesar da relação entre as determinantes de sombreado e ansiedade ser comum entre
os vários sistemas de classificação do Rorschach, existe a necessidade, como assinala o
estudo de Frank (1993), de se especificar com precisão os critérios de classificação para se
considerar uma resposta como sendo de sombreado e a importância de uma análise
comparativa para que não se incorram erros de investigação. Salienta-se que os cuidados
metodológicos sempre devem estar presentes em estudos comparativos.
A seguir são expostos alguns estudos que buscam uma descrição da personalidade dos
pacientes com pânico, utilizando, o emprego de diferentes técnicas projetivas para isso.
Estudo do pânico por técnicas projetivas e Rorschach
Estudos sobre o pânico e as técnicas projetivas foram desenvolvidos por
pesquisadores em vários contextos. Inicialmente, apresentam-se três estudos com outras
técnicas, no sentido de uma ilustração dos possíveis dados a serem observados:
Utilizando o Teste de Relações Objetais de Phillipson, outro estudo sobre o assunto
foi desenvolvido por Echávarri, O’Ryan, Rapaport, Lira e Gloger (1994) que investigaram
vinte pacientes com transtorno de pânico e puderam observar:
predomínio de angústia persecutória e de angústia depressiva;
utilização de mecanismos de defesa arcaicos, como cisão entre o negativo persecutório e
o positivo idealizado, negação dos conteúdos persecutórios, idealização dos aspectos
positivos desejados, projeção de conteúdos persecutórios e agressivos, além de
isolamento afetivo; e
39
no que se refere às relações objetais, observaram a necessidade de vínculos afetivos
primários e dependentes. Os vínculos são configurados de forma insegura e frustrante,
levando os pacientes ao estabelecimento de vínculos distantes e inconsistentes.
Outro trabalho foi desenvolvido por Morais e Souza (1996) que realizaram a aplicação
de um conjunto de técnicas projetivas em um grupo de 16 pacientes com distúrbios de pânico.
Realizaram a aplicação do T.P.C. de Pfister, H.T.P., Desenho da Família e o T.A.T. - forma
reduzida. Observaram que a maioria dos pacientes demonstrou:
dificuldades significativas de ajustamento;
juízo de realidade precária;
sentimento de impotência e abandono;
afetividade mal canalizada;
indícios de agressividade latente;
conflitos na área da sexualidade; e
fortes tendências regressivas.
Villemor-Amaral, Farah e Primi (2004) realizaram um estudo sobre o pânico,
utilizando o Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC). Aplicaram a técnica em 15
pacientes diagnosticados com Transtorno de Pânico e compararam os resultados com 109
sujeitos da amostra normativa brasileira para o mesmo teste. Os dados estatisticamente mais
significativos indicaram que os pacientes com pânico empregaram mais pirâmides com
formação simétrica. Além disso, observaram um aumento da porcentagem de uso para a cor
azul.
Baseado no modelo compreensivo, o Rorschach foi objeto de pesquisa de Andersen e
Rosenberg (1990) no estudo comparativo entre 41 pacientes com transtorno de pânico, 14
com depressão maior e 18 com desordens de ansiedade generalizada, cujos dados foram
comparados com 18 sujeitos normais.
40
Após a comparação dos dados, nos protocolos dos pacientes com Transtorno de
Pânico foram observadas diferenças significativas nos seguintes itens: diminuição de R,
diminuição de M, diminuição de WsumC, diminuição de D%, rebaixamento de F+%,
aumento de H%, diminuição de Z, e diminuição dos Blends (Andersen & Rosenberg,1990).
Os autores concluíram o trabalho, expondo que os pacientes com transtorno de pânico
indicaram um comprometimento na estrutura da personalidade e implicações na habilidade
dos processos cognitivos. Como os resultados mostraram-se muito relevantes no estudo do
pânico, salientaram que o emprego do Rorschach é de extrema valia no diagnóstico
diferencial das diferentes psicopatologias, inclusive do Transtorno de Pânico (Andersen &
Rosenberg, 1990).
Em estudo utilizando o Método de Rorschach, Balbi, Iannucci e Italia (1994)
descreveram a semelhança observada na estrutura de personalidade de um paciente que
apresentou ataques de pânico quando comparado a um indivíduo que sofria ataques de raiva,
indicando que ambos os sujeitos tinham fortes vivências de ansiedade de separação,
associadas a uma estrutura borderline de personalidade, que geravam perda da consciência de
si e do contato afetivo com o ambiente.
Na pesquisa clínica realizada, os autores citados pautaram suas conclusões em leituras
psicanalíticas obtidas nas respostas do Rorschach. Compararam as análises de dois
protocolos, um de um homem com ataques recorrentes de raiva com um de uma mulher com
transtorno de pânico e observaram semelhanças na interpretação psicodinâmica das respostas.
Indicaram que as verbalizações de ambos os pacientes apresentaram conteúdos de
personalidade com estrutura mais primitiva, relacionada a falhas nas primeiras relações
objetais, o que levaria esses indivíduos a uma estrutura borderline de personalidade. Além
disso, puderam observar fortes vivências de ansiedade de separação nos colaboradores; no
41
caso da paciente com pânico, essa ansiedade traduz-se em um medo incontrolável de morrer
(Balbi, Iannucci & Itália, 1994).
Especificamente com o emprego do Rorschach no estudo do pânico, no levantamento
da literatura especializada foram obtidos os seguintes trabalhos de pesquisa:
Cohen e Ruiter (1992) testaram 22 pacientes, com idade entre 24 e 50 anos, com
transtorno de pânico associado à agorafobia, empregando o Rorschach segundo o sistema
compreensivo. Compararam seus resultados com os dados de outros quadros clínicos
publicados (esquizofrenia, distúrbios de sono e depressão), além de dados publicados de não
pacientes. Os dados da pesquisa revelaram um rebaixamento de Afr , rebaixamento do
WsumC, quando comparados aos indivíduos não pacientes. Tal aspecto revelou
características de fuga diante do contato afetivo, gerando certa restrição na vida afetiva dos
pacientes, fazendo com que estes usassem um mecanismo de formação reativa para se
defender da necessidade de afeto que sentiam.
No ano seguinte, os mesmos autores desenvolveram uma investigação com 18
pacientes holandeses com pânico associado à agorafobia e quatro pacientes holandeses com
pânico sem agorafobia. Usaram também o Rorschach baseado no sistema compreensivo,
identificando uma dificuldade na habilidade dos pacientes em lidar com emoções negativas e
ansiogênicas, associadas a uma falha dos processos defensivos (Cohen & Ruiter, 1993).
MacFadden (1994) estudou nove pacientes do sexo feminino com diagnóstico de
pânico, por meio do Método de Rorschach, segundo o sistema de classificação de Silveira.
Após a análise das médias obtidas nos protocolos das pacientes, comparou os resultados aos
valores normativos propostos pelo sistema, obtendo-se as seguintes diferenças: aumento de
%R, diminuição da %F, aumento da %A, diminuição do elab/R , aumento do Af , aumento do
Imp , diminuição de Com , diminuição de (MacFadden, 1994).
A autora conclui sua exposição referindo que:
42
a análise dos resultados indicou que as pacientes em estudo são portadoras de intensas
e profundas dificuldades psicológicas, decorrentes de uma falha no processo de
desenvolvimento bio-psico-social. As primeiras relações interpessoais foram
insuficientes e inadequadas para favorecer a construção de um referencial interno que,
por sua vez, possibilitasse a aquisição de papéis necessários ao convívio social
(MacFadden, 1994, p.52).
Outro estudo empregando o Método de Rorschach, usou o sistema de classificação de
Klopfer, foi desenvolvido por Adrados e Figueiredo (1995) a partir de um levantamento de
85 protocolos de pacientes diagnosticados clinicamente como portadores de Síndrome do
Pânico, de ambos os sexos.
Para as autoras, a maioria dos pacientes que participou do estudo, percebeu: F% -
adequada, posição vivencial extratensiva, F+ extenso dentro dos padrões para a população,
FM > M, C + CF > FC, Sombreado aumentado (Adrados & Figueredo, 1995).
A exposição foi terminada com a citação “os pacientes portadores da doença do
pânico parecem mais emotivos e sugestionáveis ... e portadores de um maior volume de
ansiedade do que grupos do mesmo nível cultural e idade” (Adrados & Figueredo, 1995,
p.49).
Em estudo desenvolvido por Sarvasi (1999), foram investigadas as características das
relações objetais estabelecidas por cinco pacientes com pânico; para tanto, foi usado o
Método de Rorschach sob dois enfoques: a aplicação segundo o modelo proposto por Klopfer
e a atualização dos procedimentos baseados no Rorschach Temático,que foi introduzido, no
Brasil, por Jacquemim. A autora notou que quatro dos pacientes apresentaram M < FM + m.
No estudo dos fenômenos especiais, a autora observou a incidência em quatro sujeitos
dos seguintes aspectos: giro instantâneo do cartão, que revela desconfiança e conflito entre
autonomia e dependência, mobilizando de forma prematura condutas de oposicionismo e
atuação; respostas de par, indicando certo narcisismo e por fim, choque ao vazio, traduzindo
fantasias de abandono da mãe e uma percepção negativa da imagem materna (Sarvasi, 1999).
43
Pautada em uma leitura das relações objetais, percebeu, a partir da articulação das
histórias narradas, que os pacientes apresentaram um funcionamento específico das
configurações das relações objetais, como necessidade de apoio da figura materna, gerando
uma percepção negativa dessa figura, com base nas vivências de abandono; uso de
identificação projetiva como mecanismo de defesa principal; conflito entre autonomia e
dependência (Sarvasi, 1999).
44
1.5 Objetivos
Apoiado nos conceitos expostos nas considerações teóricas apresentadas, o presente
estudo tem como objetivo geral: caracterizar os aspectos comuns observados no estudo da
personalidade de pacientes com transtorno de pânico, obtidos por meio do Psicodiagnóstico
de Rorschach, segundo o sistema de classificação compreensivo proposto por Exner
(1993/1994).
Para atingir o objetivo geral descrito, foi necessário atentar para os seguintes objetivos
específicos:
Comparar, por meio de análises estatísticas, os resultados quantitativos apresentados por
30 pacientes adultos, com transtorno de pânico com os resultados apresentados por 30
indivíduos adultos não pacientes;
Discutir os significados das variáveis que apresentaram diferenças estatisticamente
significativas entre os dois grupos de sujeitos, 30 pacientes adultos com transtorno de
pânico e 30 indivíduos adultos não pacientes;
Identificar os aspectos qualitativos dos protocolos que caracterizam pacientes com
transtorno de pânico; e
Descrever os aspectos de personalidade observados nos dados do Método de Rorschach
dos indivíduos com transtorno de pânico.
45
II MÉTODO
A importância de um estudo empírico está em proporcionar a análise de um fenômeno
a ser pesquisado de forma coerente e real, considerando-se todos os aspectos apresentados
pelos sujeitos sob influência de variáveis ambientais, fundamentadas na intercorrelação que
estes fenômenos podem apresentar (Hernández, 1993).
A interpretação dos dados empíricos, baseada no estudo das variáveis que serão
indicadas, possibilita uma intensa articulação entre o lógico e o real, ou seja, entre o
conhecimento acumulado e descrito nos pressupostos teóricos e a apresentação ‘viva’ do
fenômeno a ser estudado nos resultados apresentados pelos sujeitos, proporcionando uma
efetivação e um crescimento do conhecimento científico (Hübner-D’Oliveira, 1984;
Severino, 2001).
Nesse sentido, buscou-se na presente pesquisa uma descrição detalhada dos aspectos
psicológicos presentes na personalidade de pacientes com transtorno de pânico, com base nas
informações obtidas pelo Método de Rorschach.
2.1 Colaboradores
Participaram da pesquisa um total de 60 pessoas, divididas em dois grupos
homogêneos e equivalentes para o estudo da personalidade dos pacientes com pânico: o
Grupo I, denominado Grupo de Pacientes e o Grupo II, para efeitos de controle, que foi
chamado Grupo de Não pacientes.
Para compor o Grupo de Pacientes (Grupo I), fizeram parte da amostra 30 sujeitos,
sendo 15 do sexo feminino e 15 do sexo masculino, todos com diagnóstico de transtorno de
pânico sem co-morbidade, inscritos em programas existentes em um Ambulatório de Saúde
Mental de uma cidade da Grande São Paulo, para o atendimento dessa patologia.
46
Para compor o Grupo de Não pacientes (Grupo II) 30 sujeitos foram analisados, sem
qualquer tipo de queixa, com idade, nível de escolaridade e nível socioeconômico
equivalentes aos obtidos no Grupo I, divididos em 15 do sexo feminino e 15 do sexo
masculino.
Os dados da equivalência entre idade e escolaridade dos colaboradores da pesquisa
estão descritos no Quadro 2:
Quadro 2. Dados sobre idade e escolaridade dos participantes da pesquisa
Sexo Feminino
Grupo I - Pacientes Grupo II – Não-pacientes
Código Idade Escolaridade Código Idade Escolaridade
PF 01 31 Fundamental Incompleto CF 01 29 Fundamental Incompleto
PF 02 60 Fundamental Incompleto CF 02 55 Fundamental Incompleto
PF 03 53 Fundamental Incompleto CF 03 55 Fundamental Incompleto
PF 04 60 Fundamental Completo CF 04 65 Fundamental Completo
PF 05 33 Superior Incompleto CF 05 33 Superior Incompleto
PF 06 52 Fundamental Incompleto CF 06 51 Fundamental Incompleto
PF 07 49 Fundamental Incompleto CF 07 48 Fundamental Incompleto
PF 08 42 Fundamental Incompleto CF 08 41 Fundamental Incompleto
PF 09 39 Fundamental Completo CF 09 37 Fundamental Completo
PF 10 43 Fundamental Incompleto CF 10 46 Fundamental Incompleto
PF 11 55 Fundamental Incompleto CF 11 55 Fundamental Incompleto
PF 12 45 Fundamental Incompleto CF 12 50 Fundamental Incompleto
PF 13 52 Fundamental Completo CF 13 51 Fundamental Completo
PF 14 31 Fundamental Incompleto CF 14 31 Fundamental Incompleto
PF 15 34 Médio Completo CF 15 33 Médio Completo
Sexo Masculino
Grupo I - Pacientes Grupo II – Não-pacientes
Código Idade Escolaridade Código Idade Escolaridade
PM 01 24 Fundamental Incompleto CM 01 26 Fundamental Incompleto
PM 02 36 Fundamental Incompleto CM 02 40 Fundamental Incompleto
PM 03 28 Fundamental Incompleto CM 03 21 Fundamental Incompleto
PM 04 21 Médio Incompleto CM 04 19 Médio Incompleto
PM 05 38 Fundamental Incompleto CM 05 49 Fundamental Incompleto
PM 06 43 Médio Completo CM 06 43 Médio Completo
PM 07 42 Fundamental Incompleto CM 07 42 Fundamental Incompleto
PM 08 62 Médio Completo CM 08 60 Médio Completo
PM 09 43 Fundamental Incompleto CM 09 47 Fundamental Incompleto
PM 10 40 Fundamental Incompleto CM 10 42 Fundamental Incompleto
PM 11 37 Fundamental Completo CM 11 37 Fundamental Completo
PM 12 23 Médio Completo CM 12 22 Médio Completo
PM 13 52 Superior Incompleto CM 13 52 Superior Incompleto
PM 14 35 Fundamental Incompleto CM 14 34 Fundamental Incompleto
PM 15 65 Fundamental Incompleto CM 15 62 Fundamental Incompleto
47
Como pode ser observado, houve um pareamento direto quanto à escolaridade. No
que se refere à idade dos sujeitos, a média geral das idades dos pacientes foi de 42,2 anos e
dos não pacientes 42,5. Quando o sexo dos colaboradores é considerado, para o sexo
feminino tem-se média em 45,2 às pacientes e 45,3 às não pacientes; para o sexo masculino,
as médias de idade foram 39,2 aos pacientes e 39,7 aos não pacientes. As médias obtidas a
partir da idade dos colaboradores evidenciam que esta variável foi controlada.
2.2 Material e Instrumentos para a Coleta de Dados
Para o levantamento dos dados com vistas à organização geral da pesquisa, foram
utilizados três instrumentos distintos: os roteiros de entrevista, um para o Grupo I - pacientes
(Apêndice 1) e outro para o Grupo II - não pacientes (Apêndice 2); para a triagem dos
participantes do Grupo II, foi empregado, também, o Questionário de Saúde Geral de
Goldberg - QSG, no sentido de se verificar o estado psicológico saudável de cada não
paciente; por fim, foi usado o Método de Rorschach em todos os participantes.
Foram necessárias 30 folhas do questionário-padrão (Apêndice 1) para o registro dos
dados de cada um dos sujeitos de pesquisa que compôs o Grupo I, bem como do
levantamento de aspectos relacionados aos sintomas e às crises de pânico. Além destas,
foram necessárias 32 de folhas do mesmo questionário, adaptado para a organização dos
dados dos sujeitos que participaram do grupo de não pacientes (Apêndice 2).
Os roteiros das entrevistas foram desenvolvidos com a finalidade de levantar dados de
caracterização da amostra, tanto de pacientes como de não pacientes. Nesse sentido, foram
levantadas informações gerais de cada sujeito como: idade, sexo, escolaridade, profissão,
ocupação e estado civil. As questões que compuseram os questionários foram desenvolvidas
baseadas no quadro dos sintomas de pânico apresentados pelo DSM-IV (A.P.A, 1994/1995),
explicitado e detalhado pelo material bibliográfico estudado, sobretudo de Barlow e Cerny
48
(1999) e López (2000). Estes autores foram escolhidos por tratarem especificadamente de
procedimentos psicológicos no diagnóstico do pânico.
Em razão de sua grande eficácia e utilidade para a análise do pânico, optou-se pela
estrutura aplicada em alguns inventários que objetivam uma caracterização clara deste quadro
(Gentil, Ito & Roso 1987; Ito & Ramos, 1998; López, 2000), pois a proposta foi de que cada
um dos sintomas investigados siga um modelo de graduação o que possibilita a investigação
não só dos sintomas específicos, mas também de suas intensidades. O roteiro para os sujeitos
não pacientes foi desenvolvido, pautando-se no original para os pacientes, adaptando-se a
investigação para indivíduos que não sofreram crises de pânico (Apêndices 1 e 2).
No roteiro do questionário, empregou-se uma estrutura similar a de uma escala, com
base em itens distribuídos no tipo Likert pela sua objetividade, o que permite uma
padronização a respeito das informações a serem coletadas, facilitando a análise quantitativa
dos elementos investigados. Assim, os questionamentos distribuídos em uma escala de
investigação diagnóstica podem apresentar um padrão sintomatológico do quadro,
possibilitando comparar os resultados ao grupo controle (Ito & Ramos, 1998).
O Questionário de Saúde Geral de Goldberg (QSG) é um instrumento de avaliação
psicológica, com estrutura de auto-relato, composto por 60 questões fechadas. A tarefa do
indivíduo avaliado é responder cada um dos itens em uma folha de respostas, comparando
seu estado psicológico usual com uma das alternativas propostas em uma escala do tipo
Likert de quatro pontos. Segundo Cunha (2000), o QSG foi delineado para avaliar a
gravidade do estado psicopatológico sem características psicóticas em indivíduos para efeito
de triagem.
Para a aplicação do QSG foram utilizadas 32 folhas de registro das respostas dos
colaboradores, além de um caderno onde estavam expressas as questões a serem respondidas.
49
Nesta pesquisa, o material necessário para aplicação do Rorschach foi composto por
um conjunto de pranchas do teste, 60 folhas de localização das respostas e folhas para o
registro literal das respostas.
2.3 Procedimentos para a Coleta de Dados
No início, foram contatadas instituições que mantêm um programa de atendimento
para transtorno ou síndrome do pânico no sentido de obter autorização para a coleta dos
dados da pesquisa. Conseguiu-se a autorização para a coleta de dados em um Ambulatório de
Saúde Mental situado na Grande São Paulo, onde foi possível utilizar a estrutura da
instituição para o contato com os pacientes, bem como para aplicação do questionário e do
Método de Rorschach.
O prontuário dos pacientes do Ambulatório foi consultado no sentido de separar os
que sofriam de Transtorno de Pânico, sem co-morbidades, que foram convidados, por
telefone ou por correspondência, a participar da pesquisa.
Para os que aceitaram, foi agendado um dia para as atividades. Em um primeiro
momento, a Carta de Informação sobre a Pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice 3) foi entregue, conforme normas estabelecidas para pesquisas
envolvendo seres humanos dispostas pelo Ministério da Saúde (Brasil, 1996).
Após as explicações necessárias e diante do aceite dos colaboradores, foi realizado o
preenchimento do questionário sobre os dados gerais e o levantamento de sintomas
(Apêndice 1), bem como a aplicação do Método de Rorschach, de acordo com a
disponibilidade de cada um dos colaboradores. A maior parte dos pacientes agendou as
atividades para um dia em que tinha alguma atividade no Ambulatório.
A aplicação do Método de Rorschach seguiu, rigorosamente, todas as especificações
técnicas propostas pelo sistema compreensivo (Exner, 1993/1994, 1995 e 1995/1999).
50
A coleta de dados dos colaboradores do Grupo I (pacientes) ocorreu nas dependências
do Ambulatório de Saúde Mental, em ambiente adequado às aplicações, segundo as
especificações técnicas. A instituição cedeu uma sala para que ocorressem as aplicações. A
coleta de dados do sexo feminino terminou antes que todos os dados fossem levantados.
Dessa forma, durante um período final de levantamento esperou-se a colaboração apenas de
pacientes do sexo masculino.
Após o término da coleta de dados dos pacientes, procedeu-se ao levantamento da
idade e escolaridade para o convite aos colaboradores do Grupo II (não pacientes). Os
indivíduos que preenchiam os requisitos de idade e escolaridade eram submetidos ao QSG
para verificação do estado psicológico geral.
Para fazer parte da pesquisa, os participantes do Grupo II foram submetidos
individualmente ao Questionário de Saúde Geral - QSG (Goldberg, 1972/1996) para
verificação das características psicológicas gerais, garantindo-se que estes não possuíam
nenhum quadro de sofrimento psicológico, quer leve ou severo.
O referido instrumento avalia cinco aspectos específicos de saúde geral, sendo
estresse psíquico, desejo de morte, desconfiança no desempenho, distúrbios do sono e
distúrbios psicossomáticos. Quando os escores desses cinco fatores são somados, compõe-se
o escore de saúde geral (Goldberg, 1972/1996). Para efeito deste estudo, foi utilizado o
escore geral do QSG de cada um dos participantes.
Como foi necessário garantir que os participantes do Grupo II (não pacientes)
apresentassem um estado psicológico saudável, o QSG mostrou-se como uma estratégia
eficaz para a seleção dos indivíduos.
As normas do QSG para a população brasileira, baseadas em escores brutos e
percentílicos, são diferentes para cada um dos sexos. A pontuação bruta máxima que garante
51
um estado psicológico saudável é de 2,30 às mulheres e 2,13 aos homens, correspondendo a
um percentil máximo de 85 (Goldberg, 1972/1996).
Na composição do Grupo II (não pacientes), foram convidados 32 indivíduos para a
seleção da amostra de não pacientes que se submeteram ao QSG; dois deles, um do sexo
masculino e um do sexo feminino, obtiveram escores que revelaram algum tipo de problema
psicológico e, por esse motivo, foram descartados da amostra.
Os dados dos testes dos participantes estão expostos no Quadro 3:
Quadro 3. Resultados do Questionário de Saúde Geral de Goldberg dos participantes do
Grupo de Não pacientes
Sexo feminino Sexo masculino
Código Escore Obtido Decisão Código Escore Obtido Decisão
CF 01 1,40 Aceito CM 01 1,45 Aceito
CF 02 1,95 Aceito CM 02 1,56 Aceito
CF 03 2,20 Aceito CM 03 1,68 Aceito
CF 04 1,35 Aceito CM 04 1,95 Aceito
CF 05 2,05 Aceito CM 05 1,71 Aceito
CF 06 1,78 Aceito CM 06 1,93 Aceito
CF 07 1,76 Aceito CM 07 1,48 Aceito
CF 08 2,05 Aceito CM 08 1,45 Aceito
CF 09 1,96 Aceito CM 09 1,46 Aceito
CF 10 1,73 Aceito CM 10 1,66 Aceito
CF 11 1,51 Aceito CM 11 2,10 Aceito
CF 12 1,51 Aceito CM 12 1,58 Aceito
CF 13 1,58 Aceito CM 13 1,73 Aceito
CF 14 2,18 Aceito CM 14 1,25 Aceito
CF 15 1,35 Aceito CM 15 1,48 Aceito
F extra 2,81 Recusado M extra 2,55 Recusado
Outros aspectos controlados na investigação foram a idade e a escolaridade de todos
os sujeitos. No sentido de minimizar, ao máximo, a influência desses fatores na emissão das
respostas ao Método de Rorschach, inicialmente foram realizadas as aplicações nos pacientes
com transtorno de pânico, conforme apresentado anteriormente. Após o período de avaliação
desses participantes do grupo I, houve a procura de indivíduos sem qualquer tipo de queixa
psicológica (não pacientes) com idade e escolaridade equivalentes com os apresentados pelos
pacientes. Estes se submeteram ao QSG, como foi descrito.
52
Após a seleção da amostra, os participantes eram submetidos ao Método de
Rorschach. A aplicação para os colaboradores não pacientes ocorreu na Clínica Psicológica
de uma Universidade situada na Grande São Paulo, em ambiente adequado para as atividades.
Para a aplicação do Método de Rorschach, foram rigorosamente seguidas as normas
de aplicação para o sistema compreensivo apresentadas nos manuais técnicos do teste (Exner,
1993/1994, 1995 e 1995/1999).
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de
acordo com as normas de pesquisa com seres humanos. Cabe ressaltar que todos os
procedimentos da pesquisa foram avaliados e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, conforme
Ofício Of. 1206/CEPH, datado de 11 de agosto de 2006.
2.4 Procedimentos de Análise dos Dados
As respostas obtidas nas aplicações foram codificadas, considerando-se todos os
aspectos propostos pelo sistema compreensivo (Exner, 1993/1994 e 1995/1999), sendo:
localização;
qualidade evolutiva;
determinantes;
qualidade formal;
conteúdos;
pares;
populares;
valor de elaboração; e
escores especiais.
53
Toda a codificação das respostas foi realizada por dois juízes, sendo um deles o autor
da pesquisa e o outro, professor de Rorschach, membro da Associação Brasileira de
Rorschach e Métodos Projetivos e com formação no sistema compreensivo. Ambos
codificaram, independentemente, cada protocolo. A análise da incidência dos itens de
codificação realizada pelos juízes seguiu à seguinte estratégia:
Concordância entre os dois juízes - item de codificação foi aceito diretamente para
análise;
Discordância entre os dois juízes - o item foi analisado por um terceiro juiz, igualmente
especializado no sistema compreensivo que decidiu entre as duas posições diferentes.
Foram obtidos 60 protocolos, perfazendo um total de 1.133 respostas que foram
analisadas pelos dois juízes. Após a comparação da codificação realizada, observou-se que,
em 29 protocolos (48,3%) houve concordância total entre os dois avaliadores e, em 1.072
respostas (94,6%), também, ocorreu uma concordância total nas codificações. Dessa maneira,
quando as respostas foram consideradas separadamente, observou-se que a discrepância das
codificações entre os avaliadores foi mínima.
Dos protocolos analisados, 31 (51,7%) apresentaram algum tipo de discordância,
perfazendo um total geral de 61 respostas (5,4%) com algum tipo de diferença entre os dois
avaliadores. Os dados do Quadro 4 apresentam a quantidade de discordâncias por respostas
em relação ao número de protocolos:
Quadro 4. Quantidade de discordância de respostas por protocolo
Número de Respostas
com discordância
Protocolos com
discordância
Total
1 16 16
2 3 6
3 10 30
4 1 4
5 1 5
Total 31 61
54
No que se refere ao tipo de discordância observada, tem-se que os itens de maior
diferença foram relacionados às determinantes e aos códigos especiais (21 diferenças cada
um), seguidos da divergência de conteúdos (12 diferenças) e qualidade evolutiva (11
diferenças). Os itens com menor quantidade de divergências foram: a localização (duas
diferenças) e respostas em par (uma diferença). Os itens de codificação relacionados à
qualidade formal, respostas populares e valor de elaboração não indicaram diferença na
codificação entre os dois avaliadores.
As diferenças foram analisadas por um terceiro juiz que optou entre as duas
codificações apontadas. Dessa forma, foi possível diminuir a interferência pessoal na
codificação das respostas. Após a decisão do terceiro juiz, as respostas foram cotadas para a
organização do Sumário Estrutural de cada um dos protocolos.
Os dados foram avaliados de acordo com os agrupamentos sugeridos no Sumário
Estrutural do sistema compreensivo, divididos em quatro grupos definidos como: PF, PM, CF
e CM para o tratamento estatístico.
Para descrever o perfil da amostra segundo as variáveis em estudo, foram feitas
tabelas de freqüência das variáveis categóricas (classificação dos parâmetros de
personalidade), com valores de freqüência absoluta (N) e porcentual (%), e estatísticas
descritivas das variáveis contínuas (escores dos testes), com valores de média, desvio-padrão,
valores mínimo, máximo e mediana (Levin, 1987; Pereira, 1999; Siegel, 1975).
Para comparação das variáveis categóricas entre os quatro grupos foi utilizado o teste
Qui-Quadrado ou, quando necessário, o teste exato de Fisher (presença de valores esperados
menores que 5). Para comparar as variáveis numéricas ou contínuas entre os quatro grupos,
foi empregado o teste de Kruskal-Wallis, em razão do tamanho dos grupos e da ausência de
distribuição Normal das variáveis. As comparações múltiplas entre os quatro grupos foram
feitas por meio do teste post-hoc de Dunn (Levin, 1987; Pereira, 1999; Siegel, 1975).
55
O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de 5%, ou seja, p<0.05.
Os aspectos mais significativos que caracterizaram o grupo de pacientes foram
identificados. Após isso foram feitos os agrupamentos para a interpretação proposta pelo
sistema compreensivo (Acklin, 1995; Exner, 1993/1994; Exner & Sendín, 1998/1999;
Weiner, 1998/2000), traçando-se, com base nessas informações, interpretações psicológicas
dos agrupamentos apresentados.
De acordo com as proposições para pesquisas com o Método de Roschach no sistema
compreensivo, apresentadas por Exner (1995), foram destacadas variáveis que, pelas suas
características e descrição na literatura, podem apresentar variações, de acordo com o quadro
de pânico. Neste estudo, essas variáveis foram denominadas de ‘variáveis principais’. A
sistematização dos dados quantitativos e qualitativos do teste pode oferecer subsídios para a
descrição detalhada do transtorno do pânico, possibilitando a avaliação de personalidade
desses pacientes (Exner, 1995).
A descrição e a compreensão do significado de cada variável basearam-se nas
explicações contidas nos manuais técnicos do teste (Exner, 1993/1994; Exner, 1995/1999;
Exner & Sendín, 1998/1999).
A seguir, optou-se por uma apresentação geral do significado de cada variável, o
detalhamento interpretativo será exposto no item dos resultados. Para o desenvolvimento da
presente investigação, foram destacadas, como ‘variáveis principais’, os seguintes itens
observados no Método de Rorschach:
DEPI ,
CDI ,
L ,
EB (Erlebnistypus) ,
EA - Experiência Efetiva ,
56
EBPer - EB Persistente ,
eb - Experiência de Base ,
es - Estimulação Sentida ,
D - Nota D ,
Adj D - Nota D Ajustada ,
FM ,
m ,
ΣC’ ,
ΣV ,
ΣT , e
ΣY ,
A seguir, realizou-se um estudo exploratório das demais variáveis obtidas pautadas na
codificação das respostas do Rorschach, verificando-se a existência de diferenças
estatisticamente significativas entre os dois grupos pesquisados. Estas variáveis foram
denominadas de ‘variáveis secundárias'.
Pela importância do aspecto simbólico apresentado por um instrumento projetivo,
sobretudo quando é realizada uma leitura psicodinâmica dos quadros apresentados (Augras,
1980), as verbalizações dos pacientes foram analisadas qualitativamente.
Para a análise qualitativa das respostas, foram observadas as semelhanças das
respostas apresentadas pelos pacientes com pânico, destacando-se os cartões em que estas
respostas surgiram. Procedeu-se uma análise das imagens temáticas destas respostas,
fundamentando-se na proposta de Weiner (1998/2000). Quando do surgimento de dúvidas
quanto ao material temático apresentado, recorreu-se aos exemplos encontrados em outros
autores que também se propuseram a realizar esta análise (Lerner, 1991; Schafer, 1954).
57
III RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos na presente investigação foram classificados como
quantitativos, referentes aos dados levantados na codificação das respostas do Método de
Rorschach que receberam tratamento estatístico; e qualitativos, resultantes da análise das
verbalizações dos participantes nas mesmas respostas do citado método.
3.1 Dados Quantitativos
Como descrito anteriormente, os resultados quantitativos são compostos pelas
variáveis principais e secundárias. As variáveis principais foram destacadas, de acordo com o
que é sugerido por Exner (1995), com base nas hipóteses previamente levantadas no estudo,
apoiando-se na literatura existente e nas pesquisas anteriores. As variáveis secundárias são
resultado de uma investigação exploratória dos demais itens de codificação apresentados.
Nesta discussão, as descrições dos índices e seus respectivos significados
interpretativos apresentados foram baseados nos manuais técnicos sobre o Método de
Rorschach, segundo o sistema compreensivo (Exner, 1993/1994; Exner, 1995/1999; Exner &
Sendín, 1998/1999). Quando as variáveis de análise foram do tipo contínuas, os valores
apresentados foram comparados com os dados obtidos na tabela geral da pesquisa normativa
brasileira, desenvolvida por Villemor-Amaral, Silva Neto & Nascimento (2003).
Variáveis principais
As seguintes variáveis principais foram destacadas para análise: DEPI - Índice de
Depressão, CDI - Índice de Déficit Relacional, L - Índice Lambda, EB (Erlebnistypus) - Tipo
de Vivência, EA - Experiencia Efetiva, EBPer - EB Persistente, eb - Experiência de Base, es -
Estimulação Sentida, D - Nota D, Adj es - Estimulação Sentida Ajustada, Adj D - Nota D
58
Ajustada, FM - Movimento Animal, m - Movimento Inanimado, C’ - Cor Acromática, V -
Sombreado Vista, T - Sombreado Textura e Y - Sombreado Difuso.
Os resultados obtidos foram os seguintes:
O Índice de Depressão – DEPI, foi obtido pela observação de 15 variáveis que se
articularam em sete elementos de análise. O índice seria considerado positivo, se houvesse a
presença de, pelo menos, cinco desses elementos. Quando positivo, o DEPI avalia a presença
de depressão ou algum tipo de transtorno afetivo, indicando ainda que a organização
psicológica do indivíduo é bastante vulnerável à depressão ou alterações de humor.
No que se refere à comparação dos valores obtidos em DEPI, expostos nos dados das
Tabelas 2 e 3, foram verificadas diferenças significativas entre os grupos pesquisados.
Tabela 2. Presença de DEPI nos quatro grupos
DEPI
Sim Não Sig
N % N %
p = 0,009
PF 7 46,67 8 53,33
PM 8 53,33 7 46.67
CF 2 13,33 13 86,67
CM 1 6,67 14 93,33
Como é possível verificar nos dados da Tabela 2, os grupos de pacientes apresentaram
maior incidência de DEPI positivo, 46,67% (N=7) nos pacientes do sexo feminino e 53,33
(N=8) nos pacientes do sexo masculino. Na observação dos dados do grupo-controle, esta
incidência caiu para 13,33% (N=2) no controle feminino e 6,67% (N=1) no masculino.
Após comparação das variáveis categóricas do Índice de Depressão pelo teste Exato
de Fischer, obteve-se a diferença p = 0,009, indicando que houve uma diferença
estatisticamente significativa entre os dois grupos, sendo maior a incidência do Índice de
Depressão no grupo de pacientes.
59
Tabela 3. Incidência de indicadores de DEPI nos quatro grupos
Indic. Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 4,40 0,63 3,00 4,00 5,00
p < 0,001
PM 4,40 0,99 2,00 5,00 6,00
CF 3,47 0,83 2,00 3,00 5,00
CM 3,33 0,72 2,00 3,00 5,00
Os dados da Tabela 3 mostram a incidência das variáveis que compõem o DEPI nos
quatro grupos. Observou-se que a média dos indicadores de DEPI no grupo de pacientes foi
4,40 e no grupo controle de 3,47 às mulheres e 3,33 aos homens. Comparando-se os
resultados das variáveis contínuas pelos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn para a
comparação dos escores entre os quatro grupos, obteve-se p < 0,001, o que revelou uma
diferença estatisticamente significativa entre eles, pois o grupo de pacientes possui um maior
número de indicadores de DEPI quando comparado ao grupo-controle.
Desta maneira, é possível afirmar que os pacientes com Transtorno de Pânico que
compuseram a amostra possuíam maior vivência depressiva do que os colaboradores do
grupo-controle. Assim, verificou-se que pacientes com pânico tendem a apresentar DEPI
positivo quando avaliados pelo Rorschach, em virtude de uma possível vivência depressiva
ou de uma propensão a alteração de humor com tendência à depressão.
O índice de DEPI positivo, foi observado também por Exner e Erdberg (2005) em um
estudo de um caso de pânico de um homem de 23 anos de idade, revelando que este sujeito
encontrava-se vulnerável a situações de depressão e sofrimento afetivo.
A relação entre pânico e depressão também foi notada no estudo de Montiel,
Capovilla, Berberian e Capovilla (2005) que observaram, baseados no Inventário de Beck,
grande incidência de sintomas depressivos em pacientes com pânico. Os autores concluíram
que existe uma forte relação entre os transtornos de ansiedade, sobretudo o pânico, com o
desenvolvimento de sintomas depressivos. Explicaram que quanto maior a vivência de
ansiedade maior seria a possibilidade do desenvolvimento de sintomas depressivos.
60
Em trabalho anterior, Caetano (1985) descreveu a grande ocorrência de sintomas
depressivos em pacientes com transtornos fóbico-ansiosos, em especial, o transtorno de
pânico. Entretanto, relatou que a depressão desenvolvida por pacientes com pânico é
produzida quando o quadro é crônico e limitante. Resultados semelhantes foram observados
por Andersen e Rosenberg (1990) que perceberam grande presença de sintomas depressivos
em pacientes com pânico.
O Índice de Déficit Relacional – CDI é um escore obtido com base na observação de
11 variáveis que se agrupam em cinco elementos de análise com presença de, pelo menos,
quatro desses elementos. Avalia a existência de dificuldades para enfrentar eficientemente as
demandas comuns do meio social onde o indivíduo insere-se, revelando certa falta de aptidão
ou dificuldade para os elementos relacionais, levando-os a problemas na interação com os
demais sujeitos que o rodeiam. Apresentam características de distância dos demais, pouca
sensibilidade às necessidades dos outros, levando-os a fracassos nos contatos interpessoais.
Quando os resultados do CDI dos quatro grupos foram comparados, nos dados das
Tabelas 4 e 5, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os dados de
pacientes e não pacientes.
Tabela 4. Presença de CDI nos quatro grupos
CDI
Sim Não Sig
N % N %
p = 0,891
PF 11 73,33 4 26,67
PM 11 73,33 4 26,67
CF 11 73,33 4 26,67
CM 9 60,00 6 40,00
Os dados expostos na Tabela 4 demonstram que 73,33 (N=11) dos pacientes com
pânico, bem como os não pacientes do sexo feminino indicaram CDI positivo, 60% (N=9) do
grupo controle masculino também apresentaram a mesma indicação. Quando os dados das
variáveis categóricas do CDI foram comparados pelo teste Exato de Fischer, obteve-se a
61
diferença p = 0,891, revelando que não houve diferenças estatisticamente significativas entre
os grupos.
Tabela 5. Incidência de indicadores de CDI nos quatro grupos
Indic. Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 3,73 1,10 1,00 4,00 5,00
p = 0,979
PM 3,73 0,88 2,00 4,00 5,00
CF 3,73 0,88 2,00 4,00 5,00
CM 3,67 0,98 2,00 4,00 5,00
As médias de variáveis positivas para CDI nos quatro grupos foram muito
semelhantes. De acordo com a Tabela 5, encontraram-se 3,73 para os pacientes e controle
feminino e 3,67 para controle masculino. Depois dos testes Kruskal-Wallis e pos-hoc de
Dunn para a análise das variáveis contínuas do CDI, obteve-se um escore p = 0,979, que
indica a ausência de diferenças significativas.
Nesses dados, a maioria dos indivíduos que compôs a amostra, indicou algum tipo de
dificuldade de interação com outras pessoas. Como diferenças não foram observadas, esse
aspecto não foi considerado como característica dos pacientes com pânico. Embora não tenha
sido alvo da presente investigação, conjecturou-se que outros fatores desenvolvimentais ou
sociais podem ter interferido na dificuldade de interação presente nos componentes da
amostra.
O Índice Lambda – L, índice avalia a intensidade do controle intelectual exercido pelo
indivíduo, ou seja, a disposição para se abrir a novos campos de estimulação.
Tabela 6. Valores de L apresentados nos quatro grupos
L Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 0,53 0,48 0,00 0,45 2,00
p = 0,008
PM 0,49 0,64 0,06 0,17 2,40
CF 1,09 0,74 0,27 1,00 3,00
CM 1,46 2,59 0,07 0,67 10,50
62
Os dados da Tabela 6 revelam que os testes Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn
aplicados aos valores de L nos quatro grupos, demonstraram uma diferença estatisticamente
significativa em p = 0,008 observada apenas no grupo de pacientes do sexo masculino, com
uma menor incidência. Na análise geral, verificou-se o valor de L menor para os grupos de
pacientes, quando comparados ao grupo de não pacientes.
Os dados normativos para a população brasileira apresentam valor de L com média
em 1,05. Dessa maneira, os dados dos pacientes foram classificados como rebaixados,
enquanto os valores do grupo controle mostraram-se compatíveis com a população brasileira.
Valores reduzidos de L indicam falta de discriminação entre informações importantes
e irrelevantes. Aqueles que possuem tais valores reduzidos, são indivíduos facilmente
invadidos pela estimulação emocional que pode interferir com freqüência na eficiência do
julgamento de suas condutas e daquilo que é percebido.
No estudo de Exner e Erdberg (2005), o valor de L também se encontrava rebaixado,
dado compatível com a presente pesquisa.
Os pacientes com pânico atravessam essa dificuldade, sendo submetidos a uma ampla
variação de estímulos emocionais que interferem diretamente na articulação de seus
conteúdos. Por outro lado, a pesquisa de Cohen e Ruiter (1992) demonstrou exatamente o
contrário. Na investigação, 86% dos 22 pacientes com pânico associado à agorafobia
apresentaram L elevado, com valores acima de 0,99, cuja interpretação é exatamente oposta,
ou seja, os indivíduos conseguem processar adequadamente as informações do meio. Nesse
sentido, é possível hipotetizar que a presença do quadro de agorafobia pode alterar a maneira
pela qual os pacientes processam componentes emocionais que podem interferir no
julgamento de suas percepções.
Os dados relativos ao Tipo de Vivência - EB (Erlebnistypus) avalia o estilo pelo qual
o indivíduo responde às demandas do meio externo.
63
Se houver predomínio das respostas M, o indivíduo será classificado como
introvertido, caracterizando uma conduta mais ideacional, ou seja, considera todas as
alternativas no momento de tomar uma decisão e não utiliza emoções para solucionar
problemas, baseando-se em sua avaliação interna.
Quando há predomínio de WsumC é um indicador que o sujeito avaliado tem EB do
tipo extratensivo, representando um estilo mais emocional, misturando afetos e pensamentos
na resolução de problemas. Suas opiniões são influenciadas pelas informações externas.
Para segurança na avaliação, há necessidade de pelo menos dois pontos de diferença
na proporção, tanto para a classificação do EB introvertido como para o EB extratensivo.
Quando essa diferença for menor do que dois pontos ou os valores encontrarem-se
iguais, classifica-se o indivíduo como ambigual, que representa uma maior vulnerabilidade
diante das dificuldades. As decisões são tomadas de forma vacilante e são mais demoradas
do que nos outros dois estilos de reação, levando esses sujeitos a serem mais imprevisíveis.
Eventualmente, acontece de os dois lados da proporção serem zero, ou seja, nenhuma
resposta de movimento humano ou de cor cromática. Nessas situações, o indivíduo é
classificado como coartado, revelando um rígido esforço defensivo ocasionado por afetos
paralisados e dificuldade de reflexão, não conseguindo refletir internamente nem ser
influenciado por estimulações afetivas nas tomadas de decisões.
Tabela 7. Classificação de EB nos quatro grupos
EB Introvertido Extratensivo Ambigual Coartado Sig
N % N % N % N %
PF 2 13,33 1 6,67 12 80,00 0 0,00
p = 1,000
PM 2 13,33 1 6,67 12 80,00 0 0,00
CF 2 13,33 1 6,67 12 80,00 0 0,00
CM 1 6,67 2 13,33 12 80,00 0 0,00
64
Os dados da Tabela 7 apresentam os tipos de EB demonstrados pelos sujeitos desta
pesquisa. Observa-se que não existem diferenças entre os quatro grupos, pacientes com
pânico feminino e masculino e controle feminino e masculino.
O teste Exato de Fisher teve significância de p = 1,000. Houve um grande predomínio
do Tipo de Vivência ambigual em 80% (N=12) da amostra investigada, pelo fato da maioria
dos valores não apresentarem dois pontos ou mais de diferença na proporção M para WsumC.
No trabalho de Exner e Erdberg (2005), o EB do paciente avaliado também foi classificado
como ambigual.
Este aspecto merece maiores investigações pois em pesquisas anteriores não houve
predomínio de resultados ambiguais. Nos trabalhos, observou-se predomínio do estilo
extratensivo (MacFadden, Duarte & Guimarães, 1986/87; MacFadden,1994; Adrados e
Figueiredo, 1995 e Sarvasi, 1999).
É importante salientar que nenhum dos estudos utilizou o sistema compreensivo para
a análise das respostas. Pode-se levantar a hipótese de que os diferentes sistemas tenham
normas de classificação próprias para identificação do Tipo de Vivência, o que explicaria as
diferenças. Por outro lado, uma vez que esse fator é muito importante na análise no
Rorschach, se realmente forem observadas diferenças de orientação, segundo os sistemas de
classificação, levanta-se um relevante aspecto a ser estudado.
Os dados relativos à Experiência Efetiva - EA, avaliam os recursos disponíveis que o
indivíduo possui para tomar decisões e colocá-las em prática.
Tabela 8. Valores de EA apresentados nos quatro grupos
EA Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 3,57 2,37 1,00 2,50 9,00
p = 0,864
PM 4,20 2,84 0,50 4,00 10,00
CF 4,17 2,81 0,50 3,50 10,50
CM 3,43 2,43 0,50 2,00 8,00
65
Nos dados da Tabela 8, é possível verificar que após cálculo de comparação pelos
testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn o valor obtido foi p = 0,864, o que indicou que
não existem diferenças estatisticamente significativas entre os quatro grupos. As médias de
EA observadas foram de 3,57 aos pacientes do sexo feminino e 4,20 aos de sexo masculino,
enquanto os colaboradores não pacientes indicaram média de 4,17 às mulheres e 3,43 aos
homens. Os dados normativos brasileiros apresentam média de EA igual a 4,96 com desvio-
padrão de 3,49, o que indica que os valores mostrados pelos colaboradores desta pesquisa
encontram-se compatíveis com os dados normativos.
O EB Persistente – EBPEr indica como o indivíduo tolera, de forma ágil e consistente,
o enfrentamento de novas situações estressantes, visando a sua adaptação. Este índice é
presente e calculado apenas quando os valores de EA são bem definidos, ou seja, quando o
estilo de EB é introvertido ou extratensivo.
A maior parte dos sujeitos que participou da presente pesquisa caracteriza-se como
ambigual, conforme descrito anteriormente. No trabalho de Exner e Erdberg (2005) não
houve cálculo de EBPer, pelo fato do paciente ter um tipo de vivência ambigual. Apenas três
colaboradores de cada grupo apresentaram um estilo definido. Os dados desses indivíduos
são expostos na Tabela 9.
Tabela 9. Valores de EBPer apresentados nos quatro grupos
EBPer N Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 3 3,50 1,50 2,00 3,50 5,00
p = 0,521
PM 3 4,50 2,78 1,50 5,00 7,00
CF 3 3,47 1,36 2,40 3,00 5,00
CM 3 2,13 0,51 1,70 2,00 2,70
Os testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn demonstraram p = 0,521, assim, não
houve diferenças significativas nos valores dos quatro grupos. O número de colaboradores
com índice de EBPer definido foi de três por grupo, perfazendo 20% da amostra total dos
pesquisados.
66
Há uma outra proporção de análise, a Experiência de Base – eb , que avalia as fontes
principais de tensão e desconforto internos, de acordo com o lado predominante na
comparação da proporção. Sendo assim, há três condições de proporção: Predomínio de
FM+m , predomínio de ΣC’+ΣT+ΣV+ΣY ou igual valor dos dois lados.
Tabela 10. Classificação de eb nos quatro grupos.
eb
Predomínio
FM+m
Predomínio
ΣC’+ΣT+ΣV+ΣY
Valores Iguais Sig
N % N % N %
PF 2 13,33 13 86,67 0 0,00
p = 0,010
PM 1 6,67 13 86,67 1 6,67
CF 7 46.67 7 46,67 1 6,67
CM 8 53,33 6 40,00 1 6,67
Na Tabela 10, é possível verificar, com base nos dados obtidos no teste Exato de
Fisher, que o valor p = 0,010, indicou diferença significativa entre os quatro grupos, pacientes
feminino e masculino, controle feminino e masculino.
No grupo dos pacientes com pânico, prevaleceu o somatório ΣC’+ΣT+ΣV+ΣY em
86,67% (N=13) em ambos os sexos, o que revelou um aumento da tensão interna,
ocasionando aumento na liberação de afetos com pouco controle. Estes afetos sobrepujam os
recursos disponíveis para a organização pessoal, causando uma sobrecarga emocional e
condutas impulsivas. Esse processo interno não pode ser controlado pela vontade dos
sujeitos, gerando extremo mal-estar e desconforto emocional, levando-os a experimentar dor
e sofrimento psíquico em demasia.
No grupo de não pacientes, houve um predomínio da soma FM+m em 46,67% (N=7)
do grupo feminino e 53,33% (N=8) do grupo masculino. Os resultados indicaram um
predomínio dos elementos ideacionais periféricos, ou seja, a elaboração ideativa pode ser
disparada sem a vontade do sujeito, levando-o a uma atividade mental provocada por
experiências de solicitações. Diante disso, as idéias do indivíduo são geradas com base nas
demandas internas.
67
O transtorno de pânico leva os pacientes a uma sobrecarga afetiva interna, desconforto
e sofrimentos emocionais. Os fatores de sofrimento emocional, nas mais diferentes maneiras
de serem vividos, podem ser verificados de diferentes formas nas investigações sobre a
personalidade e pânico. A maior parte dos textos e das pesquisas anteriores apresentou, de
alguma forma, a descrição de sofrimento emocional e dor psíquica, elementos que podem,
inclusive, caracterizar o quadro de pânico.
O material teórico, de fundamentação psicanalítica e de outras abordagens teóricas em
psicologia, bem como o material que se dedica a uma descrição nosológica indica extremo
sofrimento e vivência angustiante nos pacientes, cuja experiência com o quadro é tão
marcante em termos de dor psíquica que o temor de outros ataques é incontrolável (Adrados
& Figueiredo, 1995; Dunker, 1997; Arbona & Arnal, 1995; Cartocci, 1998; Barlow & Cerny,
1999; D’Oliveira, 1997; Gabbard, 1998; Gentil & Roso, 1987; Gentil, 1996; Gentil, 1997b;
López, 2000; Pereira, 1997; Schwartzman, 1997; Trinca, 1997; Troyano, 2001; Ventura,
1991).
Esse aspecto é descrito teoricamente, e pode ser observado, de forma empírica nas
pesquisas com pacientes com pânico, em que são sempre freqüentes as indicações de
sofrimento e dor psicológica vividas pelos sujeitos. Independente da estratégia metodológica
que tenha sido adotada, os componentes de sofrimento psicológico são sempre presentes
(Andersen & Rosenberg, 1990; Balbi, Iannucci & Italia, 1994; Caetano, 1985; Cohen &
Ruiter, 1992; Cohen & Ruiter, 1993; Dias, Del Porto & Miranda, 1990; Echávarri et al.,
1994; Ito & Ramos, 1998; MacFadden, 1994; MacFadden, Duarte & Guimarães, 1986/87;
Montiel, Capovilla, Berberian & Capovilla, 2005; Morais & Souza, 1996; Sarvasi, 1999;
Villemor-Amaral, Farah & Primi, 2004).
Apesar desses dados, na avaliação de Exner e Erdberg (2005), observou-se
predomínio das respostas de movimento sobre as de cor acromática e sombreado que pode ser
68
decorrente de elementos culturais ou de formação (o sujeito estava cursando ensino superior).
Dessa forma, a condição cultural pode ter interferido na maneira pela qual esse paciente
organizou seu sofrimento diante do quadro de pânico.
O índice denominado de Estimulação Sentida ou Estimulação Vivenciada - es, avalia
os disparadores de tensão interna que levam o indivíduo à ação, cumprindo uma função de
alerta, diante das dificuldades emocionais que o sujeito possa sentir.
Tabela 11. Valores de es apresentados nos quatro grupos
es Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 13,40 4,53 7,00 12,00 25,00
p < 0,001
PM 13,40 4,97 6,00 12,00 25,00
CF 5,93 2,34 2,00 6,00 9,00
CM 9,93 8,46 1,00 7,00 30,00
Pelos dados da Tabela 11, verifica-se que o resultado baseado nos testes de Kruskal-
Wallis e pos-hoc de Dunn indicou p < 0,001 na comparação dos quatro grupos, demonstrou
diferenças significativas entre pacientes e não pacientes. A média encontrada para os grupos
de pacientes de ambos os sexos foi de 13,40 contra 5,93 ao grupo-controle feminino e 9,93 ao
masculino. Os valores normativos para esse índice apresentam média em 8,57 com desvio-
padrão de 5,01, revelando que os pacientes que sofrem de pânico têm valores de es
aumentados.
Dessa maneira, esses pacientes possuem uma vivência de extrema irritação,
desconforto e incômodo internos. São sensações desagradáveis decorrentes de estímulos
internos que são acionados, sem que os sujeitos possam deliberadamente controlá-los. Em
valores adequados, podem ser compreendidos como sinais internos de alerta, que levam o
indivíduo a ações para recuperar seu equilíbrio; entretanto, com índices aumentados, como é
o caso dos pacientes da amostra, que revelaram uma sensação extrema de alerta, ativada por
um desequilíbrio constante.
A Nota D avalia tolerância ao estresse, bem como elementos de controle.
69
Tabela 12. Valores de D apresentados nos quatro grupos
D Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF -3,33 1,72 -7,00 -3,00 -1,00
p < 0,001
PM -3,07 1,62 -6,00 -3,00 -1,00
CF -0,40 0,83 -2,00 0,00 1,00
CM -2,33 3,58 -11,00 -1,00 0,00
Os valores expressos nos dados da Tabela 12 indicam a média da Nota D diminuída
para os pacientes da amostra, sendo -3,33 para o sexo feminino e -3,07 para o sexo
masculino. Quando os valores foram comparados com as médias obtidas nos sujeitos não
pacientes, obteve-se -0,40 para o grupo feminino e -2,33 para o grupo masculino. Por meio
dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn, obteve-se p < 0,001, o que revelou uma
diferença significativa entre os grupos, com valores menores para os pacientes.
Este dado mostrou que os pacientes com transtorno de pânico vivenciam mais estresse
do que os demais, além de não disporem de mecanismos de controle que assegurem um
enfrentamento desse estresse. O dado pode ser corroborado pela pesquisa de Magalhães e
Loureiro (2005) que conclui existir uma grande relação entre pânico e estresse. Todos os
pacientes investigados demonstraram indicadores de estresse (7% em fase de alerta e 93% em
fase de resistência), desenvolvendo, tanto sintomas físicos como psicológicos.
Os valores da Nota D Ajustada - Adj D permite isolar a possível influência de
elementos situacionais sobre a tolerância ao estresse e recursos disponíveis para essa
tolerância.
Tabela 13. Valores de Adj D apresentados nos quatro grupos
Adj D Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF -1,20 1,97 -6,00 0,00 1,00
p = 0,329
PM -0,67 1,91 -3,00 -1,00 5,00
CF -0,13 0,74 -1,00 0,00 1,00
CM -1,60 2,92 -9,00 0,00 1,00
70
Os dados da Tabela 13 mostram a comparação entre os quatro grupos no que tange
aos valores de Adj D, foram observadas as médias de -1,20 para o grupo de pacientes
femininos, -0,67 aos pacientes masculinos, -0,13 aos não pacientes femininos e –1,60 aos não
pacientes masculinos. Após cálculos baseados nos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de
Dunn obteve-se p = 0,329, indicando que não houve diferenças significativas entre os quatro
grupos nesse item. Os valores normativos brasileiros apontam média de Adj D em -0,50 com
desvio padrão de 1,25. Assim, os valores apresentados nos quatro grupos estavam de acordo
com o que se espera para a população brasileira.
Como os valores de D apresentam diferença e os valores de Adj D não indicaram
diferenças estatisticamente significativas, pode-se afirmar que os pacientes com pânico
sofrem de estresse sem que esse sofrimento seja advindo de questões situacionais, podendo
ser compreendido como um estado psicológico mais interno.
Na investigação de Magalhães e Loureiro (2005), foi demonstrado que pacientes que
sofrem de pânico, mostraram dificuldade para controlar e processar adequadamente as
situações de estresse, nem conseguiram acessar recursos internos para esse enfrentamento.
No protocolo, as respostas FM avaliam o processo ideativo oriundo de pensamentos
provenientes de estados abstratos e internos.
Tabela 14. Valores de FM apresentados nos quatro grupos
FM Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 3,27 3,24 0,00 3,00 11,00
p = 0,317
PM 3,27 1,98 0,00 3,00 7,00
CF 2,07 1,10 0,00 2,00 4,00
CM 5,27 6,05 0,00 3,00 21,00
Ao se aplicar os testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn nos valores dispostos nos
dados da Tabela 14, obteve-se p = 0,317 , o que indicou não haver diferença estatisticamente
significativa entre os grupos. Os valores médios na emissão de respostas FM mostraram 3,27
para os pacientes do sexo feminino e do sexo masculino, comparados com 2,07 para controle
71
feminino e 5,27 para controle masculino. Os índices normativos brasileiros apresentam média
de FM 3,44 com desvio-padrão 2,33. Assim, observa-se que os valores das respostas de
movimento animal foram compatíveis com o que se espera para a maioria da população e não
diferenciou o grupo de pacientes com Transtorno de Pânico.
As respostas m refletem atividades cognitivas não deliberadas, resultado de um
sentimento de perda de controle do curso do pensamento.
Tabela 15. Valores de m apresentados nos quatro grupos
m Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 0,53 1,06 0,00 0,00 3,00
p = 0,736
PM 0,67 0,90 0,00 0,00 3,00
CF 0,67 0,90 0,00 0,00 3,00
CM 0,80 1,08 0,00 0,00 3,00
De acordo com os dados da Tabela 15, na amostra objeto desta pesquisa, as médias
das respostas de movimento inanimado foram 0,53 ao grupo de pacientes femininos, 0,67 aos
pacientes masculinos e não pacientes femininos e 0,80 aos não pacientes masculinos. Após a
aplicação dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn, obteve-se p = 0,736, o que
demonstrou que não existem diferenças significativas entre os quatro grupos. Os valores
normativos brasileiros para m são 1,39 com desvio-padrão de 1,39. Os dados dos
participantes são compatíveis com o esperado para a população normativa e os valores de m
não se diferenciaram dos grupos de pacientes e não pacientes.
As respostas C’ avaliam uma forma de constrição afetiva, ou seja, dificuldade na
expressão emocional. Neste estudo, as respostas C’ foram analisadas em sua totalidade, ou
seja, ΣC’.
Tabela 16. Valores de ΣC’ apresentados nos quatro grupos
ΣC’
Média D.P. Min Mediana Máx
Sig
PF 2,80 3,30 0,00 2,00 12,00
p = 0,089
PM 2,47 2,13 0,00 2,00 6,00
CF 0,73 0,80 0,00 1,00 2,00
CM 1,40 1,35 0,00 1,00 4,00
72
A comparação dos quatro grupos para ΣC’, Tabela 16, indicou p = 0,089. Após a
aplicação dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn, foi revelado que não existem
diferenças estatisticamente significativas entre eles. As médias foram: para o grupo de
pacientes femininos 2,80 e aos pacientes masculinos de 2,47. Os dados do grupo-controle
demonstraram médias de 0,73 às mulheres e 1,40 aos homens.
A média normativa brasileira para a ΣC’ encontra-se em 1,13 com desvio-padrão de
1,29. Apesar da diferença entre os grupos não ter sido significativa, quando se observam os
valores normativos, é possível verificar que os dados do grupo de pacientes estão
ligeiramente acima do esperado. Apesar da quantidade das respostas de cor acromática não
diferenciar o grupo de pacientes, notou-se que esse grupo apresentou uma maior vivência de
componentes depressivos, com uma tendência ao desenvolvimento de sintomas
psicossomáticos. O quadro somático é bastante comum em pacientes com pânico,
observando-se uma grande variedade de sintomas que conduzem a uma perturbação orgânica
nesses indivíduos (Arbona & Arnal, 1995; Gabbard, 1998; Gentil & Roso, 1987; Gentil,
1996; Gentil, 1997b; López, 2000; Pereira, 1997).
As V indicam aspectos relacionados à introspecção, mas são carregadas de uma
identificação negativa. Neste estudo, as respostas V foram analisadas em sua totalidade, ou
seja, ΣV.
Tabela 17. Valores de ΣV apresentados nos quatro grupos
ΣV
Média D.P. Min Mediana Máx
Sig
PF 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
p = 0,564
PM 0,13 0,35 0,00 0,00 1,00
CF 0,13 0,52 0,00 0,00 2,00
CM 0,07 0,26 0,00 0,00 1,00
73
Como é possível verificar na Tabela 17, os dados não indicaram diferenças
estatisticamente significativas entre os quatro grupos. As médias obtidas foram 0,00 para o
grupo de pacientes feminino, 0,13 para os pacientes masculinos e ao grupo-controle feminino
e 0,07 ao controle masculino. Os testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn indicaram p =
0,564, ou seja, sem diferenças. A tabela normativa brasileira expõe o valor médio de ΣV em
0,51 com desvio padrão de 0,92. Dessa maneira, os dados da amostra foram compatíveis com
os da população brasileira, indicando que ΣV não diferencia os grupos estudados.
As respostas T revelam as necessidades de proximidade e de contato emocional mais
próximo. O somatório de T é obtido da mesma maneira dos demais.
Tabela 18. Valores de ΣT apresentados nos quatro grupos
ΣT
Média D.P. Min Mediana Máx
Sig
PF 0,47 1,06 0,00 0,00 4,00
p = 0,164
PM 0,40 0,51 0,00 0,00 1,00
CF 0,67 0,62 0,00 1,00 2,00
CM 0,27 0,59 0,00 0,00 2,00
A Tabela 18 traz os dados de ΣT no estudo. Os valores são bem semelhantes, os testes
de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn revelaram p = 0,164 , demonstrando que não houve
diferenças significativas entre os valores dos quatro grupos. As médias obtidas foram 0,47
para pacientes femininos, 0,40 para pacientes masculinos, 0,67 para não pacientes femininos
e 0,27 para não pacientes masculinos. Os valores normativos brasileiros mostram média de
0,33 com desvio-padrão de 0,92. Sendo assim, os valores dos sujeitos estão de acordo com o
que se espera para os brasileiros. A variável ΣT não diferencia o grupo de pacientes com
pânico dos não pacientes.
No que tange ao ΣY, , representa a dificuldade em se defender, levando o indivíduo a
uma sensação de desamparo e ansiedade.
74
Tabela 19. Valores de ΣY apresentados nos quatro grupos
ΣY
Média D.P. Min Mediana Máx
Sig
PF 6,33 2,33 3,00 7,00 10,00
p < 0,001
PM 6,47 2,85 2,00 6,00 12,00
CF 1,67 1,40 0,00 2,00 4,00
CM 2,13 2,20 0,00 1,00 7,00
Ao observar os dados da Tabela 19, é possível verificar um aumento na emissão de
respostas Y nos pacientes, a média dos pacientes do sexo feminino foi de 6,33 e do sexo
masculino de 6,47, contrapondo-se às médias do grupo-controle feminino que chegaram a
1,67 e masculino a 2,13. Após a aplicação dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn,
obteve-se p < 0,001, revelando que o aumento das respostas de Y identificou o grupo de
pacientes. Além disso, os valores normativos para ΣY estão com média 1,78 e desvio padrão
2,08, compatíveis com o grupo de não pacientes, mas bem menores do que os dados
apresentados pelos sujeitos com pânico.
Nos pacientes da amostra, o aumento das respostas Y indicou extremo desconforto
emocional e sofrimento interno, levando-os a experimentar uma sensação de incapacidade em
se defender de situações emocionais perturbadoras, ou seja, desamparo emocional.
Em indivíduos não pacientes, há uma tendência desse sofrimento ser processado com
relativa facilidade, já que a variável Y é bastante instável e suscetível à organização. No caso
dos pacientes com pânico torna-se crônica diante da tensão desencadeada pelas crises e pelo
temor de novas crises. A situação faz com que esses pacientes vivenciem a situação de
desamparo de forma intensa. No pânico, os sentimentos de desamparo são observados nas
investigações psicanalíticas sobre o quadro (Cartocci, 1998; Pereira, 1997; Schwartzman,
1997; Trinca, 1997).
75
Variáveis secundárias
Além das variáveis principais já descritas, escolhidas com base nas propostas de
pesquisas com o Método de Rorschach feitas por Exner (1995), foi realizado um estudo
exploratório de todas os outros itens de codificação do método para verificar a existência de
componentes com diferenças significativas que pudessem caracterizar o grupo de pacientes.
A seguir, são expostas as variáveis, com seus respectivos contextos, que apresentaram
uma diferença estatisticamente significativa na comparação entre os quatro grupos. No
contexto afetivo, as respostas CorSh. No contexto interpessoal, as análises de GHR:PHR e
COP. No aspecto ligado à mediação, têm-se os índices XA%, X-% e X+% .
Existem respostas com mais de um determinante em sua elaboração, que são
chamadas de determinantes mistos ou blends. Uma das possíveis combinações existentes é
identificadas por CorSh que indica que a vivência afetiva é também confusa e dolorosa,
equivale a dizer que ao experimentar qualquer tipo de afeto, este vem carregado de
ambivalência e sofrimento .
Tabela 20. Valores de CorSh apresentados nos quatro grupos
CorSh Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 2,20 2,14 0,00 2,00 7,00
p = 0,004
PM 1,93 1,79 0,00 1,00 6,00
CF 0,47 0,64 0,00 0,00 2,00
CM 0,53 0,74 0,00 0,00 2,00
Os dados expostos na Tabela 20 indicam que a média de emissão de Mistos de CorSh
foi de 2,20 às pacientes do sexo feminino e 1,93 aos pacientes do sexo masculino. Por outro
lado, os sujeitos do grupo de não pacientes indicaram média de 0,47 para as mulheres e 0,53
para os homens. Após a aplicação dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn, obteve-se
p = 0,004, revelando que existe uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos,
que pode diferenciar o grupo de pacientes nesse aspecto. Ao se levantar os valores
normativos, observa-se média 0,37 e desvio-padrão de 0,64 para a população brasileira.
76
Assim, os pacientes com pânico apresentam maior índice de CorSh, revelando que suas
vivências afetivas são carregadas de ambivalência e sofrimento.
No caso avaliado por Exner e Erdberg (2005), houve a incidência de um CorSh , que
já é considerado como um sinal de perturbação afetiva. As demais pesquisas envolvendo a
avaliação de pacientes com pânico também indicaram, de alguma forma, que os sujeitos
passam por vivências de sofrimento emocional que acarretam sensação de ambivalência e
pouca organização de componentes afetivos (Andersen & Rosenberg, 1990; Balbi, Iannucci
& Italia, 1994; Caetano, 1985; Cohen & Ruiter, 1992; Cohen & Ruiter, 1993; Dias, Del Porto
& Miranda, 1990; Echávarri et al., 1994; Ito & Ramos, 1998; MacFadden, 1994; MacFadden,
Duarte & Guimarães, 1986/87; Montiel, Capovilla, Berberian & Capovilla, 2005; Morais &
Souza, 1996; Sarvasi, 1999; Villemor-Amaral, Farah & Primi, 2004).
As respostas com representação humana também podem ser avaliadas e comparadas
pela proporção entre elas GHR : PHR.
Tabela 21. Comparação GHR : PHR nos quatro grupos
Proporção
Predomínio
GHR
Predomínio
PHR
Valores
Iguais
Sig
N % N % N %
PF 5 33,33 7 46,67 3 20,00
p = 0,011
PM 3 20,00 8 53,33 4 26,67
CF 8 53,33 5 33,33 2 13,33
CM 13 86,67 1 6,67 1 6,67
No estudo da proporção GHR : PHR dos colaboradores, pelos dados da Tabela 21,
após a aplicação do teste Exato de Fisher, obteve-se p = 0,011, houve uma diferença
significativa na prevalência de uma das duas formas de processar a representação humana.
Nos dados dos pacientes, houve predomínio em PHR em 46,67% (N=7) das mulheres e
53,33% (N=8) dos homens, expressando que os pacientes com pânico têm dificuldade de
adaptação nas relações sociais, mostrando certa inaptidão no estabelecimento e manutenção
das relações sociais. Entretanto, os dados do grupo-controle indicaram o contrário,
77
prevalência de GHR em 53,33% (N=8) das mulheres e 86,67% (N=13) dos homens,
revelando capacidade em estabelecer e manter contatos sociais de forma efetiva e consistente.
Os valores obtidos na avaliação de Exner e Erdberg (2005) foram 3:3, indicando que o
sujeito submetido ao teste não possuía um estilo definido quanto ao contato social. Apesar
dos valores não serem adaptados, nesse caso, recursos de formação podem ter interferido
positivamente na articulação dos contatos sociais. MacFadden (1994) expôs que as pacientes
que estudou, apresentaram dificuldade para perceber seu papel quando inseridas em um
contexto social qualquer, ou seja, sentiam dificuldade para concretizar relações sociais com
qualidade, o que impedia trocas sociais mais efetivas.
Além disso, estudos sobre as relações objetais estabelecidas por pacientes com pânico
indicaram a presença de vínculos frágeis e inseguros, evitando o estabelecimento de relações
mais próximas, o que acarreta contatos sociais superficiais e pouco consistentes. A
dificuldade em estabelecer e manter bons contatos sociais pode levar esses indivíduos a uma
conduta de retraimento afetivo-social (Echávarri et al., 1994; Sarvassi, 1999).
As emissões das respostas de movimento podem possuir escores especiais, de acordo
com as propriedades narradas pelos sujeitos. Uma delas é a ocorrência de COP, identificado
por respostas M, FM e m. Avalia a capacidade para estabelecer vínculos positivos, nos quais
há um predomínio de amabilidade e acolhimento. Sua presença é bastante positiva e pode ser
incluída como um dos indicadores de bom prognóstico em diversas situações.
Tabela 22. Valores de COP apresentados nos quatro grupos
COP Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
p = 0,006
PM 0,20 0,56 0,00 0,00 2,00
CF 0,33 0,49 0,00 0,00 1,00
CM 0,67 0,72 0,00 1,00 2,00
De acordo com o que está exposto na Tabela 22, observa-se que as médias de COP
nos grupos foram 0,00 aos pacientes femininos, 0,20 aos pacientes masculinos, 0,33 aos não
78
pacientes femininos e 0,67 aos não pacientes masculinos. Após a aplicação dos testes de
Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn, foi obtido p = 0,006, indicando uma diferença
significativa entre os grupos, e os pacientes com pânico revelaram escores menores. Os dados
brasileiros apontam média de COP em 0,63 e desvio-padrão em 0,94, compatíveis com os
dados do grupo controle, mas acima dos dados apresentados pelos pacientes com pânico.
Pode-se afirmar que a baixa incidência de COP caracterizou a amostra de pacientes
com pânico, revelando dificuldades para estabelecer vínculos positivos e construtivos com
outros indivíduos, o que prejudica suas relações interpessoais. Aspectos ligados à dificuldade
de relacionamento também foram observados nas pesquisas sobre relações objetais
(Echávarri et al., 1994; Sarvassi, 1999), revelando pobreza nos contatos interpessoais e certo
retraimento nas relações humanas.
O índice de forma convencional - X+% é uma proporção obtida com base na relação
entre as respostas F+ e Fo.
Tabela 23. Valores de X+% apresentados nos quatro grupos
X+% Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 0,54 0,10 0,37 0,53 0,69
p < 0,001
PM 0,55 0,13 0,32 0,56 0,76
CF 0,68 0,17 0,38 0,67 1,00
CM 0,75 0,18 0,36 0,75 1,00
A aplicação dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn, conforme dados
expostos na Tabela 23, aponta p < 0,001, revelando diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos. Observa-se uma média para os pacientes femininos em 0,54 e para os
pacientes masculinos em 0,55 , além das médias de 0,68 para controle feminino e 0,75 para o
controle masculino. A pesquisa normativa brasileira indica média de 0,44 com desvio-padrão
em 0,12.
O índice X+% avalia o grau de convencionalidade perceptual que o indivíduo indica
no contato com as estimulações do meio. Apesar dos dados dos pacientes serem
79
estatisticamente menores do que os do grupo controle, os valores obtidos nos protocolos dos
pacientes com pânico mostraram-se compatíveis com o que se espera para a população
brasileira. Entretanto, os dados do grupo controle encontram-se elevados, quando
comparados à amostra normativa nacional.
O aspecto de convencionalidade diferencia o grupo de pacientes com pânico do grupo
de não pacientes. Revela que os pacientes ajustam-se à realidade de forma convencional,
enquanto os colaboradores do grupo-controle indicam procura demasiada da exatidão,
evitando serem originais no contato com a realidade, preferem submeterem-se passivamente
às normas impostas.
O índice XA% é uma proporção obtida baseada na relação entre as respostas F+ , Fo e
Fu.
Tabela 24. Valores de XA% apresentados nos quatro grupos
XA% Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 0,74 0,14 0,52 0,73 1,00
p = 0,010
PM 0,70 0,16 0,43 0,69 0,94
CF 0,78 0,17 0,46 0,81 1,00
CM 0,88 0,11 0,71 0,91 1,00
O índice de forma convencional estendida interpreta como o indivíduo avalia as fontes
externas de informações, captando os estímulos de forma convencional ou não. Os dados da
Tabela 24 apresentam diferença significativa entre os grupos estudados, com p = 0,010,
obtido a partir dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn. As médias foram 0,74 para
pacientes femininos e 0,70 para os pacientes masculinos, com valores inferiores do que 0,78
para o controle feminino e 0,88 ao controle masculino.
Os dados normativos brasileiros apresentam média em 0,74 com desvio padrão de
0,13. Sendo assim, apesar da diferença entre os grupos estudados, os valores apresentados
pelos pacientes de pânico e não pacientes enquadraram-se no padrão da população brasileira,
80
revelando que a interpretação desses dados foi igual para o grupo de pacientes e grupo
controle.
O índice X-%, é uma proporção obtida a partir da relação entre as respostas F-.
Tabela 25. Valores de X-% apresentados nos quatro grupos
X-% Média D.P. Min Mediana Máx Sig
PF 0,26 0,14 0,00 0,27 0,48
p = 0,006
PM 0,32 0,19 0,06 0,31 0,73
CF 0,19 0,13 0,00 0,16 0,42
CM 0,12 0,11 0,00 0,09 0,29
Nos dados expostos na Tabela 25, observa-se que as médias em relação a esta variável
correspondem a 0,26 para pacientes de pânico do sexo feminino e 0,32 para os do sexo
masculino, quando comparadas às médias de 0,19 para o grupo-controle feminino e 0,12 ao
controle masculino. Após a aplicação dos testes de Kruskal-Wallis e pos-hoc de Dunn,
obteve-se p = 0,006, o que revelou diferenças significativas entre os grupos.
Os valores esperados para a população brasileira indicam média em 0,25 com desvio
padrão de 0,12. Embora existam diferenças estatísticas entre os grupos, todos os valores
foram compatíveis com o que se espera para o brasileiro e mostraram que esse índice não
diferencia os grupos estudados, quando estes são comparados aos dados normativos
nacionais.
As três variáveis ligadas à mediação dos colaboradores (XA%, X+% e X-%), embora
com diferenças numericamente significativas entre os grupos, não serão incluídas nas
conclusões finais, por não caracterizarem elementos próprios da personalidade dos pacientes
com pânico.
81
3.2 Apreciações Qualitativas
Apoiada em uma postura psicodinâmica para buscar um significado simbólico para as
verbalizações apresentadas pelos sujeitos submetidos ao Método de Rorschach, a análise
qualitativa das respostas possibilita uma compreensão individual dos dinamismos
psicológicos apresentados pelos pacientes, permitindo uma análise de seus conteúdos internos
de forma particular e contextualizada.
A análise qualitativa mostra-se muito importante nas aplicações clínicas do Método de
Rorschach para facilitar a compreensão dos componentes pessoais dos indivíduos.
Neste estudo, objetivou-se uma análise dos componentes comuns observados nas
imagens temáticas das respostas, fundamentando-se na proposta de Weiner (1998/2000) que
propõe que as imagens temáticas referem-se aos componentes psicodinâmicos das respostas,
observados nas verbalizações em que, por suas propriedades, há maior carga projetiva.
Em um primeiro momento, foram separadas todas as respostas cujo componente
projetivo pudesse estar mais presente. A orientação para a seleção das respostas para a análise
qualitativa foi retirada do que propõem Exner e Sendín (1998/1999) e Weiner (1998/2000),
explicitados a seguir.
Os critérios utilizados incluíram as respostas com forma distorcida, pois não utilizam
os componentes formais e objetivos das manchas e, por isso tendem a apresentar
componentes mais pessoais do que as respostas com qualidade formal comum; as respostas
com elaboração de movimento de qualquer tipo, visto que o estímulo apresentado é estático e
a articulação de cinestesias é própria dos conteúdos dos indivíduos e, por fim, as respostas
com superelaborações verbais. Nesses casos, incluem-se componentes verbais que são
desencadeados por conteúdos que estão além do que é apresentado pelas manchas (Exner &
Sendín, 1998/1999; Weiner, 1998/2000).
82
As respostas foram separadas por cartão, respeitando-se a proposta de que os
estímulos apresentados em cada um dos cartões possuem componentes específicos que
desencadeiam respostas, de acordo com demandas igualmente específicas (Weiner,
1998/2000).
Para que houvesse uma direção clara da análise das respostas, foram delineadas
categorias de temas e variações para a leitura das verbalizações. A partir das proposições de
Lerner (1991) e Schafer (1954), que apresentam um conjunto de categorias que pode ser
aplicado na compreensão simbólica das respostas, foram criados os seguintes itens para a
análise qualitativa:
Orientação de dependência e oralidade;
Orientação anal;
Orientação sadomasoquista;
Orientação autoritária;
Conflitos de superego;
Fragilidade geral e resistência;
Atitude de medo ou rejeição diante da identidade masculina;
Atitude de medo ou rejeição diante da identidade feminina;
Atitude de rejeição diante de regras adultas, educacionais e parentais;
Identidade negativa;
Narcisismo e sensualidade;
Aspectos de reprodução;
Relacionado à idade ou morte; e
Tom emocional e atmosfera interpessoal.
83
As respostas separadas foram lidas e categorizadas, de acordo com os itens
apresentados anteriormente, no sentido de observar a existência de um padrão comum nas
verbalizações dos pacientes, conforme cada cartão.
Após a análise, foi possível verificar que não existe um padrão comum nas respostas
apresentadas pelos pacientes, sendo assim parece não haver componentes qualitativos que
diferenciem os grupos de pacientes.
Várias respostas foram destacadas com conteúdos projetivos e, em alguns casos, foi
possível perceber uma uniformidade de temas ou categorias, quando a análise é feita por
individuo separadamente. Dessa forma, os componentes projetivos observados no Método de
Rorschach dos pacientes com pânico são diretamente relacionados aos conteúdos
idiossincráticos desses indivíduos e, por isso, não podem ser analisados de forma coletiva.
Embora de grande importância para o estudo particular do dinamismo de cada
paciente, podendo clarear os componentes ansiógenos de cada um, os elementos qualitativos
e projetivos não fornecem informações seguras para diferenciar o grupo de pacientes com
pânico, como foi observado nos dados quantitativos.
3.3 Síntese dos Dados
Na apresentação dos dados, após comparação daqueles fornecidos pelos pacientes
com transtorno de pânico e dos indivíduos não pacientes, foi possível verificar diferenças
estatisticamente significativas em um conjunto de variáveis quantitativas da codificação do
Método de Rorschach. Os dados qualitativos não mostraram diferenças que pudessem
caracterizar os componentes psicodinâmicos dos pacientes.
Os dados do Quadro 5, apontam uma síntese das variáveis que puderam diferenciar os
dois grupos analisados, apoiadas na observância de diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos.
84
Quadro 5. Síntese das variáveis com diferença estatisticamente significativa
Item analisado Classificação Síntese do significado
DEPI Presença
Possível vivência depressiva e alterações de
humor.
L Rebaixado
Interferência de elementos emocionais nos
conteúdos pessoais e julgamentos.
eb
Predomínio
ΣC’+ΣT+ΣV+ΣY
Aumento da tensão interna, indicação de
desconforto e sofrimento psíquico.
es Elevado
Vivência de extrema irritação, desconforto
e incômodos internos.
D Rebaixado
Vivência de estresse, sem recursos para
enfrentamento.
ΣY
Elevado
Extremo desconforto emocional e
sofrimento interno.
CorSh Elevado
Vivências afetivas carregadas de
ambivalência e sofrimento.
GHR : PHR Predomínio PHR
Dificuldade de adaptação nas relações
sociais.
COP Rebaixado
Dificuldade em estabelecer vínculos
positivos e construtivos.
Após a análise quantitativa dos dados obtidos no Método de Rorschach, a partir da
exposição dos dados no Quadro 5, observou-se que nove variáveis quantitativas podem
diferenciar os grupos de pacientes com transtorno de pânico:
Presença de DEPI (p = 0,009), indicando presença de depressão e de sintomas
depressivos ou algum tipo de transtorno afetivo. O índice revela ainda que a organização
psicológica do indivíduo é bastante vulnerável à depressão ou alterações de humor.
Rebaixamento de L (p = 0,008), demonstrando dificuldade acentuada na
discriminação entre informações importantes e irrelevantes. Sujeitos com essas características
sofrem facilmente invasão de componentes emocionais sobre a eficiência do julgamento de
suas condutas e daquilo que é percebido. Estes pacientes são submetidos a uma ampla
variação de estímulos emocionais que interferem diretamente na articulação de seus
conteúdos pessoais.
Predomínio de ΣC’+ΣT+ΣV+ΣY no eb (p = 0,010), caracterizando dor e sofrimento
psíquicos em demasia, ocasionados pelo aumento da tensão interna. Nestes casos, há uma
85
liberação de afetos com pouco controle, esses componentes afetivos sobrepõem-se aos
poucos recursos disponíveis para a organização pessoal, levando o indivíduo a uma
sobrecarga emocional e condutas impulsivas. É importante salientar que esse processo interno
não pode ser controlado pela vontade dos sujeitos.
Elevação de es (p < 0,001), indicando uma vivência de extrema irritação, desconforto
e incômodo internos. Estas sensações desagradáveis são decorrentes de estimulação
emocional acionada sem o controle deliberado dos indivíduos, levando-os a uma sensação
extrema de alerta, ativada por um desequilíbrio constante.
Rebaixamento de D (p < 0,001) que revela grande vivência de estresse, associado à
falta de recursos internos para enfrentá-lo.
Elevação da ΣY (p < 0,001), que indica extremo desconforto emocional e sofrimento
interno, associado à sensação de incapacidade em se defender de situações emocionais
perturbadoras, ou seja, desamparo emocional. Em se tratando de pacientes com pânico, a
sensação de desamparo é intensificada diante da tensão desencadeada pelas crises e pelo
temor de novas crises.
Elevação de CorSh (p = 0,004), que propõem que as vivências afetivas experienciadas
por esses indivíduos são carregadas de ambivalência e sofrimento, caracterizando um sinal de
perturbação afetiva.
Predomínio de PHR (p = 0,011), que demonstra dificuldade de adaptação nas relações
sociais e expressa certa inaptidão no estabelecimento e manutenção destas relações, fazendo
com que seus contatos sociais sejam difíceis e distanciados.
Rebaixamento de COP (p = 0,006), que permite afirmar que há dificuldade para
estabelecer vínculos positivos e construtivos com outros indivíduos, prejudicando suas
relações interpessoais.
86
Os resultados expostos revelaram que existem variáveis quantitativas do Método de
Rorschach que diferenciam os grupos de pacientes e não pacientes, mostrando-se sensíveis ao
quadro de Transtorno de Pânico.
87
IV CONCLUSÕES
Ao se retomar o objetivo geral deste estudo, foi possível concluir, a respeito do perfil
de personalidade dos pacientes estudados:
Em síntese, os aspectos de personalidade observados nos dados do Método de
Rorschach dos indivíduos com transtorno de pânico mostram que se trata de sujeitos que
internamente sofrem de desconforto psicológico, vivenciam irritação, dor e sofrimento
psíquico em demasia, ocasionados pelo aumento da tensão interna. Esta vivência interna
causa sofrimento e não pode ser controlada deliberadamente por esses sujeitos.
É possível supor que a falta de controle sobre o sofrimento sentido seja causada por
uma dificuldade acentuada na discriminação entre informações importantes e irrelevantes na
articulação de seus conteúdos. Os pacientes sofrem facilmente invasão de componentes
emocionais sobre a eficiência do julgamento de suas condutas e daquilo que é percebido,
tanto interna como externamente. Provavelmente, por isso, sejam constantemente submetidos
a uma ampla variação de estímulos emocionais que interferem de modo direto na articulação
de seus conteúdos pessoais, levando-os a um estado de tensão sem a possibilidade de
controle.
Os componentes afetivos sobrepõem-se aos poucos recursos disponíveis para a
organização pessoal, levando o indivíduo a uma sobrecarga emocional interna e a condutas
impulsivas. A liberação dos afetos é feita com pouco controle e baseada na tensão e no
sofrimento sentidos.
Dessa forma, geram-se sensações emocionais desagradáveis que são decorrentes da
estimulação emocional acionada sem o controle deliberado dos indivíduos, levando-os a uma
sensação extrema de alerta, ativada por um desequilíbrio constante. A dificuldade em se
defender das situações emocionais perturbadoras associadas à dor psicológica interna, gera
88
uma vivência de desamparo emocional. Desse modo, as vivências afetivas experienciadas por
esses indivíduos são carregadas de ambivalência e sofrimento, caracterizando um sinal de
perturbação afetiva.
Diante desse processo de sofrimento interno e inadaptação emocional, que o paciente
não consegue controlar por vontade própria, surge, reativamente, um quadro depressivo ou
sintomas depressivos. Isso ocorre visto que a organização psicológica do indivíduo é bastante
vulnerável à depressão, alterações de humor ou outro tipo de transtorno afetivo.
No que se refere aos relacionamentos humanos e sociais, observou-se dificuldade de
adaptação nas relações sociais e falta de habilidade no estabelecimento e manutenção destas
relações, fazendo com que os contatos sociais dos pacientes sejam difíceis e distanciados. Há,
ainda, dificuldade para estabelecer vínculos positivos e construtivos com outros indivíduos,
prejudicando suas relações interpessoais.
Todo esse quadro psicopatológico leva os pacientes a uma grande vivência de
estresse, sem que tenham recursos internos para enfrentá-lo.
Em síntese, os pacientes que possuem um quadro de transtorno de pânico vivenciam
extremo sofrimento causador de perturbação emocional, tensão interna, estresse e
afastamento dos relacionamentos humanos positivos.
Neste estudo, as conclusões expressas referem-se à amostra investigada e não devem
ser tomadas como finais. Há necessidade de constantes investigações sobre temas
relacionados à psicopatologia e ao pânico, tais como: a influência da idade sobre os sintomas,
elementos socioculturais e suas conseqüências sobre o quadro, aspectos relacionados ao
gênero, estratégias de enfrentamento e tantos outros temas de suma importância.
Entretanto, só com a compreensão do funcionamento psicológico dos pacientes, será
possível estabelecer critérios diagnósticos e estratégias terapêuticas que aliviem suas
angústias e sofrimentos.
89
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100
Apêndice 1. Roteiro de questões para entrevista dirigida a ser aplicada aos sujeitos
pacientes
Sujeito:_________ Sexo: _______ Idade: _________
Escolaridade: __________________
Profissão/Ocupação ______________________________________________
Idade primeira crise: ______________ Situação: ____________________________
____________________________________________________________________
Processo Diagnóstico: _________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
Freqüência das crises: Antes Tratamento: ____________________________
Depois Tratamento: ___________________________
Sintomas durante as crises:
Sintoma N L M A E
aceleração do ritmo cardíaco
sudorese
tremores ou abalos
falta de ar ou sufocamento
sensações de asfixia
dor ou desconforto no tórax
náusea ou desconforto abdominal
sensação de tontura ou desmaio
desrealização
medo de perder o controle ou enlouquecer
medo de morrer
parestesias
calafrios ou ondas de calor
Onde: Classificação N = nenhum; L = leve; M = moderado; A = acentuado; E =
extremo.
Outras informações: ___________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
______________________________________________________
101
Apêndice 2. Roteiro de questões para entrevista dirigida a ser aplicada aos sujeitos não-
pacientes
Sujeito:_________ Sexo: _______ Idade: _________
Escolaridade: __________________
Profissão/Ocupação ______________________________________________
Em situações difíceis já sentiu:
Sintoma N L M A E
aceleração do ritmo cardíaco
sudorese
tremores ou abalos
falta de ar ou sufocamento
sensações de asfixia
dor ou desconforto no tórax
náusea ou desconforto abdominal
sensação de tontura ou desmaio
desrealização
medo de perder o controle ou enlouquecer
medo de morrer
parestesias
calafrios ou ondas de calor
Onde: Classificação N = nenhum; L = leve; M = moderado; A = acentuado; E =
extremo.
Outras informações: ___________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
______________________________________________________
102
Apêndice 3. Carta de Informação sobre Pesquisa e Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
CARTA DE INFORMAÇÃO SOBRE A PESQUISA
Meu nome é Paulo Francisco de Castro, psicólogo, CRP 06/33.976-9, tel 6464.1676, e estou
desenvolvendo uma pesquisa que objetiva estudar o Transtorno de Pânico. Para isso, é
necessário a realização de algumas perguntas e a aplicação de um reconhecido método de
avaliação de personalidade. Todo e qualquer dado de identificação dos colaboradores será
mantido em absoluto sigilo, guardado pela ética profissional e desenvolvimento de pesquisas.
As atividades a serem desenvolvidas na pesquisa não oferecem nenhum risco ou desconforto
aos participantes. Caso aceite, o colaborador poderá, a qualquer momento, retirar seu
consentimento e deixar de participar da pesquisa que está sendo desenvolvida. Caso concorde
colaborar com o desenvolvimento deste trabalho, solicito que preencha o termo abaixo:
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento, que atende as exigências legais, o(a) senhor(a)
____________________________________________ portador da cédula de identidade R.G.
____________________________, sujeito de pesquisa realizada pelo psicólogo Paulo
Francisco de Castro, CRP 06/33.976-9, após ter lido a Carta da Informação sobre Pesquisa
(acima), ciente dos procedimentos que serão adotados para a coleta de dados na referida
pesquisa, não restando nenhuma dúvida a respeito do lido e do explicado, firma seu
Consentimento Livre e Esclarecido de concordância em participar da pesquisa proposta.
Assinatura Pesquisador Assinatura Colaborador Data: ___/___/___
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