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No § 4, Russell pede para considerarmos que a expressão denotativa C possui
sentido e denotação.
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Se falarmos de “o sentido de C”, então obtemos o sentido da denotação
de C (se houver). Por exemplo, “o sentido de a primeira linha da Elegia de Gray” é “o sentido
de ‘quando finda o dia, os sinos dobram ao toque de recolher’”
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, que não é o sentido que
queremos. Queremos “o sentido de ‘a primeira linha da Elegia de Gray’”, que é igual a “a
primeira linha da Elegia de Gray”. Então, para obter “C” [o sentido da expressão denotativa
C], devemos falar de “o sentido de ‘C’ ”, que é o mesmo que “C”, e não de “o sentido de C”,
que nos dá o sentido de C, ou seja, da denotação de C.
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Do mesmo modo, “a denotação de C” não significa a denotação da expressão
denotativa, mas sim algo que, se denota, denota o que é denotado pela denotação que
queremos. Assim, “a denotação de a primeira linha da Elegia de Gray” é igual a “a denotação
de ‘quando finda o dia, os sinos dobram ao toque de recolher’”, que não é a denotação que
queremos. Queremos “a denotação de ‘a primeira linha de Elegia de Gray’”, que é igual à
primeira linha da Elegia de Gray, isto é, ‘quando finda o dia, os sinos dobram ao toque de
recolher’.
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Assim, “o sentido de C” não fornece “C”, e “a denotação de C” não fornece C.
No § 5, Russell afirma que a dificuldade de se falar sobre o sentido de uma
expressão denotativa pode ser assim expressa:
a) Quando colocamos esse sentido na proposição, ela fala sobre sua denotação.
80
A letra C está aqui sendo usada por Russell como expressão lingüística, e não como sua denotação. Nos
parágrafos 6 e 7, C será usada também como o sentido (ou complexo denotativo). Almeida afirma que, se
estivermos atentos ao seu contexto, esse uso ambíguo pode, em princípio, não ser prejudicial (ALMEIDA, 1998,
p. 43).
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Tradução minha. No original: “The curfew tolls the knell of parting day” (OD, p. 486).
82
Russell usa ‘C’ (aspas simples) para o sentido de 2° nível, que denota “C”, de 1° nível. Podemos usar a
notação de chaves para expressar os sentidos conforme seus diferentes níveis. Assim, se temos “o sentido de
{{C}}” dentro da proposição, obtemos o sentido da denotação de {{C}}, que é o sentido de {C}, ou
simplesmente {C}. Se tivermos “o sentido de {C}” na proposição, obtemos o sentido da denotação de {C}, que
não queremos. Assim, “o sentido de {{C}}” é o próprio {{C}}, que tem que aparecer na proposição com essa
redundância, para nos dar o sentido que queremos, isto é, {C}.
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No caso de “a denotação de C”, não há essa redundância, de modo que temos aí duas expressões denotativas,
“a denotação de...” e “C”. Essa observação deve-se a Almeida (1998, p. 49)