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holandeses e portugueses. Nesta crônica, publicada junto com o relatório de Baro, em
1651, Moreau informa que em função das notícias de que alguns grupos indígenas,
antes aliados dos holandeses, haviam debandado para o lado dos luso-brasileiros, a
administração da Companhia no Recife teria enviado ao sertão Roulox Baro, “que lhes
servia comumente de intérprete, o qual, tendo convivido desde a sua juventude com os
tapuias (...) [e] sabia perfeitamente sua língua e era muito querido deles.”.
Sua missão junto a Janduí, chefe dos tapuias que mantinham a aliança com os
holandeses, seria: “agradecer-lhe em seu nome a amizade que lhes dispensava e, em
testemunho da sua, presenteá-lo de sua parte com machados, machadinhas, facas,
espelhos, pentes e objetos semelhantes”, e, ao mesmo tempo: “demonstrar-lhe os
embustes e infidelidades dos portugueses, convidando-o a não nos abandonar.”
(MOREAU, BARO; p.66)
5
.
Joan Nieuhof
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, em sua crônica: Memorável viagem marítima e terrestre
ao Brasil, de 1682
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, analisando a “população do Brasil”, afirma que a encontrou
dividida em indivíduos livres e escravos, destacando, porém, que esses grupos eram
compostos de diversas nações, “tanto nativas quanto alienígenas”. Os homens livres
seriam os holandeses, os portugueses e, com certas exceções, os nativos do país,
enquanto os escravos eram negros e indígenas cativos “comprados no Maranhão, dentre
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Quanto à grafia de certos nomes próprios que aparecem de diversas formas nos diferentes documentos,
optei por adotar apenas uma delas para todas as referências. Por exemplo, “Janduí” pode ser encontrado,
de acordo com a fonte utilizada, como: “Jan Duwy”, “Jan de Wy”,”Jandovi”, “Ïandovius”, “Iandovin”,
“Joan de Wy”, “João Wy”, “Iandhuy”, etc O mesmo ocorrendo com “Jacob Rabbi” ; “Roulox Baro”, e
outros.
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Na “Introdução” da edição que utilizamos, José Honório Rodrigues nos informa que Joan Nieuhof,
nascido em Ulsen, no condado de Benthem, na Westfália, veio para o Brasil em 1640, a serviço da
Companhia das Índias Ocidentais, e aqui chegou aos 15 de dezembro daquele ano. Ficou em Pernambuco
até 23 de julho de 1649, quando embarcou de volta para a Holanda, lá chegando a 19 de setembro. Ficou
no Brasil 8 anos e 5 meses, “o suficiente para dar ao seu livro o caráter fidedigno que ele possui, como a
melhor fonte do lado holandês, dos quatro anos do governo nassoviano, e do pós-nassoviano constituído
por um triunvirato incompetente.” Apesar de conter de tudo: geografia, história natural, etnografia e a
história do domínio holandês no Brasil, sua força maior consiste no estudo das razões da “revolta dos
luso-brasileios” contra a dominação holandesa com transcrição de documentos. A descrição dos índios,
seus usos e costumes, tornou sua obra uma importante fonte para a etnografia nacional, principalmente no
que se refere aos tapuias. Nos trechos dedicados a botânica, zoológica ou medicinal, Nieuhof recorreu,
segundo Rodrigues, aos trabalhos de Marcgrave e Piso
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, “os primeiros e maiores médicos que
escreveram sobre o Brasil do século dezessete.” Ao contrário de Barleus, que era “escritor de nomeada”
em sua terra, Nieuhof não é senão um agente comercial, um servidor da Companhia, transformado em
cronista, não tendo, portanto, sua obra a elaboração refinada do livro de Barleus. Para Rodrigues, o “
Memorável...” é um dos livros holandeses essenciais sobre a revolta luso-brasileira contra o domínio
holandês. Nieuhof, alemão, e Moreau, francês, são “as duas testemunhas mais autênticas e fidedignas na
divulgação e interpretação do ponto de vista holandês sobre a rebelião luso-brasileira”. (NIEUHOF; pp.
13-18).
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NIEUHOF, Joan Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil. Belo Horizonte / São Paulo: Ed.
Itatiaia / Edusp, 1981. Traduzido do Inglês por Moacir N. Vasconcelos. Confronto com a edição
holandesa de 1682, introdução, notas, crítica biográfica e bibliografia por José Honório Rodrigues.