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A divulgação científica compreende um processo de veiculação de informações sobre
ciência e tecnologia, a um público em geral, através de recursos, técnicas e meios
diversificados com jornais e revistas. Salém & Kawamura (1996) apontam o uso de textos de
divulgação como forma de atrair o leitor para o mundo da ciência, tornar o conhecimento
científico acessível, desmistificar a ciência, promover um sentimento de integração com o
mundo atual e mostrar a física como uma construção humana. Os textos de divulgação ainda
podem ser utilizados para complementar o ensino formal na escola, sendo trazido para a sala
de aula pelo próprio aluno.
Concordamos com López (2004), que os textos de divulgação podem ser utilizados em
sala de aula com diferentes objetivos. Como recurso didático, os textos de divulgação podem
favorecer a conexão entre os conteúdos estudados e a realidade conhecida dos alunos. Como
fonte de aprendizagem, quando os alunos levam para a sala de aula um artigo de divulgação
científica, este texto pode ser utilizado para discutir concepções e idéias sobre a natureza da
ciência e a atividade científica. Como objeto de estudo, os textos podem ser utilizados para
destacar as interações Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), contribuindo para
a formação de uma imagem adequada e crítica da física, assim como para reflexões sobre as
aplicações e implicações sociais da ciência e tecnologia.
A energia é um tema transversal que merece atenção especial, tanto no ensino
fundamental como médio, pois perpassa diversas discussões amplamente discutidas nos meios
de comunicação de massa sobre o aquecimento global e os problemas energéticos mundiais.
Particularmente no ensino de física, este é um tema que fornece uma chave importante
para nosso entendimento sobre o modo como os fenômenos ocorrem no mundo físico,
biológico e tecnológico (DRIVER & MILLAR 1986, citado por DOMENÉCH et al. 2007).
Os livros didáticos de Física para o ensino médio abordam em diferentes momentos a
energia, normalmente nos capítulo relacionados com a Mecânica e com a Termodinâmica. No
entanto, este tema não costuma ser relacionado com problemas contemporâneos, nem são
tratados seus aspectos relacionados com o ambiente e impactos sócio-econômicos do
consumo de energia. A estrutura dos livros didáticos costuma apresentar uma divisão em
capítulos que discorrem sobre um determinado assunto a partir de um texto introdutório,
seções e subseções nas quais são explorados os conteúdos relacionados à temática central e,
ao final, atividades, problemas, questões ou exercícios. Certos livros didáticos de Física
incorporam temas contemporâneos, mas usualmente, esta inserção não produz uma
modificação dessa estrutura, dando-se de maneira pontual, sob a forma de textos ilustrativos
em seções especiais ou quadros no final dos capítulos, sem aprofundar as relações com os
conteúdos que explorados anteriormente (MARTINS & DAMASCENO, 2002).
Neste trabalho, realizamos um exemplo de análise de um texto de divulgação
científica publicado em um jornal de circulação nacional, identificando suas dimensões
científica, tecnológica, social e das relações CTS. Esta análise pretende fornecer um subsídio
para a utilização deste tipo de texto na sala de aula de física no ensino médio.
ENERGIA COMO TEMA UNIFICADOR
A justificativa da escolha do tema energia está fundamentada nos objetivos
estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio e as suas Orientações
Curriculares (BRASIL, 1999; BRASIL, 2002; BRASIL 2006).
Os PCN+(2002), fazem um a retomada das principais competências esperadas ao final
do ensino médio na disciplina de Física que foram organizadas e apresentadas nos PCN.