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-, o mestre continuava a ter um papel de destaque na garantia de qualidade da obra. Isso
pode ser contatado no caso destacado por Antonio Velozo Xavier, morador da Comarca
do Rio das Mortes, que havendo ali estabelecido uma “Fábrica de Louça Fina vidrada
de branco e de outras cores, e também de pós de pedra”, alegava não terem chegado
ainda à perfeição as suas obras, em decorrência da morte do mestre, que ele mesmo
havia trazido de Lisboa.. Assim, alegava estar perseguindo esta perfeição, empregando
na fábrica “oito oleiros de roda, além da Escravatura nos demais serviços dela”.
230
Entretanto, o desenvolvimento das artes mecânicas no final do século XVIII e
início do XIX adquiriam algumas dificuldades, uma vez que todo o sistema de ensino
deveria ter sido reformado com a expulsão da Companhia de Jesus, empreendida pela
política Pombalina.
231
A pretensão de se realizar aqui na colônia portuguesa um novo
aparato escolar, tal como teria havido uma reforma educacional em Portugal, não foi
empreendida na prática. O desfecho dessa expulsão significou, no aspecto pedagógico,
o desmantelamento do sistema educacional criado pelos jesuítas, calcado nos princípios
230
Caixa 427, pacote 1. Junta de Comércio, agricultura, fábricas e navegação. Arquivo Nacional. 23 de
março de 1811.
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Segundo Dauril Alden, desde o século XVIII havia um nítido interesse da Coroa em diminuir o poder
das Ordens religiosas e irmandades na colônia, como fora demonstrado ao longo da década de 1750
com as investidas contra as ordens, especialmente contra os loyolistas, praticadas pela Coroa. Essas
práticas revestiam-se de diversas razões, questões conflituosas que se mantinham há séculos contra o
grande poder dotado a tais ordens no mundo colonial, principalmente à Companhia de Jesus. Os
conflitos exacerbavam-se, contudo, no que dizia respeito às questões econômicas, que incomodavam
comerciantes e artesãos portugueses, uma vez que os jesuítas praticavam amplo comércio de especiarias
(na Amazônia) e mantinham o domínio de importantes mercados comerciais, bem como a produção
artesanal em oficinas próprias. Em geral, as reclamações davam-se também por conta dos preços das
mercadorias, que eram vendidas por valores superiores àqueles cobrados por mercadorias similares em
Lisboa. O autor levanta a hipótese ainda da expulsão dos jesuítas ter sido motivada por considerações
econômicas, uma vez que elas eram instituições extremamente influentes, que gozavam de isenção de
impostos ou os não pagavam, e cujas atividades eram impeditivas ao desenvolvimento econômico
colonial, além de privar a metrópole de enormes receitas. O governo de D. José I, ciente das rendas
adicionais que precisava angariar, tornou-se sensível às críticas e oposições feitas às ordens religiosas
que exerciam poder na colônia, destacando-se à dos jesuítas – tanto pela extensão de suas atividades
econômicas, como pelo papel cultural, social e pedagógico que desempenhava junto aos colonos. Ver:
ALDEN, Dauril. Aspectos econômicos da expulsão dos jesuítas do Brasil: notícia preliminar. In:
KEITH, Henry e EDWARDS, S.F. Conflito e continuidade na sociedade brasileira – ensaios. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1970, pp.58-66.
Sobre a política econômica implementada por Pombal e seus aspectos mercantilistas e uma prática
política ilustrada, ver: FALCON, Francisco José Calazans. A Época Pombalina (Política Econômica e
Monarquia Ilustrada). 2ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1993.