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LUIS HENRIQUE ROLIM
A CHAMA QUE ARDE EM NOSSOS CLUBES!
A CORRIDA DE REVEZAMENTO DO FOGO SIMBÓLICO DA PÁTRIA EM PORTO
ALEGRE (1938-1947)
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência do
Movimento Humano da Escola de
Educação Física da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em
Ciência do Movimento Humano.
Orientadora: Prof. Dra. Janice
Zarpellon Mazo
Porto Alegre
2008
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2
AGRADECIMENTOS
A conquista de escrever uma dissertação de mestrado não se iniciou no dia em
que fui aceito no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano.
Essa conquista tem ares de caminhada e construção junto a pessoas que acreditam
que nada se alcança sozinho. Quero expressar meus sinceros agradecimentos a todos
que contribuíram, cada qual com seu modo, para a construção dessa dissertação.
Em especial, à Profª. Dra. Janice Zarpellon Mazo, orientadora desse estudo,
pelos ensinamentos e oportunidades que me proporcionou ao me aceitar como
orientando. Sua dedicação e disciplina de estudos serão sempre uma referência
acadêmica para mim.
Aos professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Ciências do
Movimento Humano (PPGCMH/ESEF/UFRGS), especialmente, ao Prof. Alberto
Reppold Filho e à Profª. Silvana Vilodre Goellner, pelas oportunidades que me deram
para conhecer novos horizontes teóricos e metodológicos.
Ao pessoal da biblioteca da ESEF/UFRGS e da secretaria do PPGCMH,
especialmente, ao estimado André, pela atenção e disponibilidade sempre amigável e
competente.
A CAPES pelo apoio financeiro, sem o qual, dificilmente teria condições de me
dedicar exclusivamente para os estudos.
Aos companheiros do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUCRS,
especialmente, ao Prof. Dr. Nelson Schneider Todt, pelos ensinamentos formais e
informais que me proporciona desde o ano de 2002 quando ainda estava na graduação.
Aos colaboradores do estudo, especialmente a família De Rose na figura de
Marco Túlio De Rose e, aos ‘clubistasde Porto Alegre na figura de Henrique Felippe
Bonnet Licht, pelas conversas, materiais e ensinamentos a cerca do tema de estudo
escolhido.
Aos meus familiares que são a base de tudo que penso ser: Aldo (in memorian) e
Lígea, avós maternos mais parecidos com pais; Rosa e Ricardo, pais que sempre
buscam o melhor acima das suas possibilidades; Julio, um tio que sabe coisas que
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3
julgo aprender; Derik e Kelvin, irmãos unidos desde o nascimento e; ao Hilário (in
memorian) um pai que aprendeu junto ao filho o valor de ser pai.
A Rosane, namorada e companheira que me ensinou a colocar as pessoas e
coisas que eu amo em primeiro lugar; entre elas, está a nossa ‘filha’ Vitória, uma
cachorra vira-lata que muito ouviu nossas conversas durante longos passeios. Para
essas duas eu digo: Agora vai...
4
Dentro de cada um de nós, arde o mesmo fogo e fulgura a mesma Bandeira! O nosso
Corão é a Pira da Pátria e o nosso sangue é o seu Fogo Sagrado!
J. Antunes de Matos
5
RESUMO
A ‘Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria’ – CFS – é uma prática cultural
que marca o início das comemorões da ‘Semana da Pátriaem Porto Alegre no final
da década de 1930. A partir de 1938, a CFS foi editada anualmente pela Liga de
Defesa Nacional (LDN) com o apoio de dirigentes esportivos porto-alegrenses. Foram
esses dirigentes que idealizaram a CFS em Porto Alegre, após assistirem a “Corrida de
Revezamento da Chama Olímpica” na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de
Berlim em 1936. Este estudo busca compreender a participação dos clubes esportivos
porto-alegrenses na construção de representões da identidade nacional brasileira
através da invenção da ‘Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria’ no
período de 1938 a 1947. Para tanto, utilizaram-se fontes impressas e orais. As fontes
impressas primárias se restringem aos documentos e obras da LDN; entre as principais
fontes impressas secundárias estão a Revista do Globo e o jornal Correio do Povo.
Foram realizadas duas entrevistas que constituem as fontes orais. A Corrida de
Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria (1938-1947) foi uma tradição inventada em
Porto Alegre, institucionalizada pela LDN com o apoio social feito pelos clubes
esportivos. A justificativa de sua realização se deu através de ligações histórico-
sagradas e sua fixão através da repetição anual nas cidades. A CFS buscava
engendrar ‘valores’, associados à construção da identidade nacional brasileira. Dessa
forma produziu no imaginário porto-alegrense a representação de coesão e unidade
nacional em razão do formato de percorrer a nação e ter como ponto de culminância
sempre a cidade de Porto Alegre. No contexto esportivo, produziu a representação de
que os clubes esportivos identificados como ‘estrangeiros’ foram ‘abrasileiradosdevido
à participação de dirigentes esportivos e atletas na CFS.
Palavras-chave: Corrida de Revezamento. Fogo Simbólico. Clubes Esportivos. Tradição
Inventada. Identidade Nacional. Jogos Olímpicos
6
ABSTRACT
The 'Nation Torch Relay' NTR it is a cultural practice that marks the beginning of the
celebrations from 'Nation’s Week’ in Porto Alegre city by the 1930's end. From 1938, the
NTR has annually been edited by the National Defense League (NDL) with porto-
alegrenses sports leaders support. There were those leaders who idealized the NTR in
Porto Alegre, after they watched the "Olympic Torch Relay" at Berlin Olympic Games
opening ceremony in 1936. This study aims to understand the participation of porto-
alegrenses sports clubs in the construction of representations from the Brazilian national
identity through the invention of the 'Nation Torch Relay' in the period from 1938 to
1947. For this purpose, printed and oral sources were used. The printed primary sources
are limited to NDL’s documents and works; among the main printed secondary sources
are Globo’s Magazine and Correio do Povo newspaper. There were two interviews,
which are the oral sources. The ‘Nation Torch Relay’ (1938-1947) was an invented
tradition in Porto Alegre city, institutionalized by NDL with social support from the city’s
sports clubs. The justification of its achievement was made by historical and sacred’s
links and its fixation through annual repetition in the cities. The NTR aimed to pass
'values'; and they were associated to the construction of Brazilian national identity. Thus,
it produced in the porto-alegrense imagination, the representation of national cohesion
and unity because of the way it roams about the nation and has as a point of culmination
Porto Alegre city. In the sports context, it produced the representation that sports clubs
identified, as 'foreigners', were 'adopted Brazilian ways and manners' due to athletes
and sports leaders participation in the NTR.
Keywords: Torch Relay. National Flame. Sports Clubs. Invented Traditions. National
Identity. Olympic Games
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FOTOGRAFIA 1 - MAPA DO PERCURSO GERAL DA CHAMA OLÍMPICA EM 1936 (LIMPERT,
1936).......................................................................................................................43
FOTOGRAFIA 2 - DETALHE DA TOCHA OLÍMPICA (LIMPERT, 1936) .....................................44
F
OTOGRAFIA
3 - P
RIMEIRO CORREDOR EM
O
LÍMPIA
(LIMPERT, 1936)................................45
FOTOGRAFIA 4 - REVEZAMENTO CHEGA NO ESTÁDIO DE DELFOS (LIMPERT, 1936).............46
FOTOGRAFIA 5 - CERIMÔNIA EM FRENTE A CATEDRAL DE SOFIA (LIMPERT, 1936)...............46
FOTOGRAFIA 6 - PASSAGEM PELA IUGOSLÁVIA (LIMPERT, 1936).......................................47
FOTOGRAFIA 7 - CHAMA OLÍMPICA ACESA NO TÚMULO DE UM SOLDADO EM BUDAPESTE
(LIMPERT, 1936)....................................................................................................47
FOTOGRAFIA 8 - DR. THEODOR SCHMIDT, MEMBRO AUSTRÍACO DO COI, ACENDE A TOCHA NA
DIVISA AUSTRO-HÚNGARA (LIMPERT, 1936)..............................................................48
FOTOGRAFIA 9 - O ÚLTIMO CORREDOR DA TCHECOSLOVÁQUIA CUMPRIMENTA O PRIMEIRO
CORREDOR ALEMÃO
(LIMPERT, 1936) ......................................................................48
FOTOGRAFIA 10 - CERIMÔNIA EM KÖNIGSUFER DRESDEN (LIMPERT, 1936)....................49
F
OTOGRAFIA
11 - J
OVENS CARREGAM A
C
HAMA
O
LÍMPICA DA
T
ORRE DE
B
ISMARCK PARA
MÜGGELBERG GRÜNAU (LIMPERT, 1936)..............................................................49
F
OTOGRAFIA
12 - C
HAMA
O
LÍMPICA CHEGA EM
B
ERLIM
(LIMPERT, 1936) ..........................50
FOTOGRAFIA 13 - PIRA DA PÁTRIA (CP, 01/09/1938, P.16) ................................................59
F
OTOGRAFIA
14 - A
CENDENDO A
C
HAMA
O
LÍMPICA
(RG, 08/08/1936) ................................89
FOTOGRAFIA 15 - A PROCISSÃO NO TEMPLO (RG, 08/08/1936)..........................................90
FOTOGRAFIA 16 - A SAÍDA DA CHAMA OLÍMPICA (RG, 08/08/1936).....................................91
FOTOGRAFIA 17- MENSAGEIROS DO FOGO SIMBÓLICO (CP, 01/09/1938, P.11) .................100
FOTOGRAFIA 18 - ACENDIMENTO DO ARCHOTE (CP, 01/09/1938, P.11) ............................101
FOTOGRAFIA 19 – PRIMEIRO ATLETA A CONDUZIR O FOGO SIMBÓLICO (CP, 01/09/1938, P.11)
..............................................................................................................................101
FOTOGRAFIA 20 - PÔSTER DA CFS NO ANO DE 1938 (SAFADY, 1960) ............................109
FOTOGRAFIA 21 - PÔSTER DA CFS NO ANO DE 1939 (SAFADY, 1960) ............................110
F
OTOGRAFIA
22 - P
ÔSTER DA
CFS
NO ANO DE
1940 (SAFADY, 1960) ............................111
FOTOGRAFIA 23 - PÔSTER DA CFS NO ANO DE 1941 (SAFADY, 1960) ............................112
F
OTOGRAFIA
24 - P
ÔSTER DA
CFS
NO ANO DE
1942 (SAFADY, 1960) ............................113
FOTOGRAFIA 25 - PÔSTER DA CFS NO ANO DE 1943 (SAFADY, 1960) ............................114
F
OTOGRAFIA
26 - P
ÔSTER DA
CFS
NO ANO DE
1944 (SAFADY, 1960) ............................115
FOTOGRAFIA 27 - PÔSTER DA CFS NO ANO DE 1945 (SAFADY, 1960) ............................116
F
OTOGRAFIA
28 - P
ÔSTER DA
CFS
NO ANO DE
1946 (SAFADY, 1960) ............................117
FOTOGRAFIA 29 - PÔSTER DA CFS NO ANO DE 1947 (SAFADY, 1960) ............................118
FOTOGRAFIA 30 – ATLETAS PASSAM O FOGO SIMBÓLICO A GETÚLIO VARGAS (RG,
19/08/1944, P.41)..................................................................................................129
FOTOGRAFIA 31 - MENSAGEIROS DO FOGO SIMBÓLICO EM 1944 (RG, 19/08/1944, P.40)...129
FOTOGRAFIA 32 - TULIO DE ROSE, ARNO FRANZEN E ERNESTO CAPELLI (CP, 02/09/1941,
P.09)......................................................................................................................130
FOTOGRAFIA 33 - CARLOS EUGÊNIO PINTO (CP, 01/09/1943, P.08).................................130
FOTOGRAFIA 34 – OTTO RITTER NA CFS EM 1942 (ACERVO MEMORIAL SOGIPA)............131
8
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - PERCURSO GERAL DA CHAMA OMPICA EM 1936 (LIMPERT, 1936)...............42
QUADRO 2 - EDIÇÕES DA CFS........................................................................................107
QUADRO 3 - ATLETAS QUE CARREGARAM A O FOGO SIMBÓLICO.........................................128
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO: ACENDENDO A IDÉIA DO FOGO SIMBÓLICO .........................10
2. CONDUTORES TEÓRICOS: OLHARES SOBRE A CORRIDA DE
REVEZAMENTO DO FOGO SIMBÓLICO DA PÁTRIA................................................15
2.1. A HISTÓRIA CULTURAL: UM HORIZONTE PERCORRIDO............................................15
2.2. AS TRADIÇÕES INVENTADAS: PRIMEIRO DIÁLOGO NO PERCURSO ............................20
2.3. A IDENTIDADE NACIONAL: SEGUNDO DIÁLOGO DO PERCURSO.................................22
3. A CORRIDA DE REVEZAMENTO: DE BERLIM A PORTO ALEGRE ..................35
3.1. BERLIM 1936: CELEBRANDO OS JOGOS OLÍMPICOS...............................................35
3.1.1. De Olímpia a Berlim: o primeiro Revezamento da Chama Olímpica ........38
3.2. PORTO ALEGRE 1930-1940: PERCORRENDO OS CAMINHOS DA CIDADE ..................52
3.2.1. As administrações públicas da cidade: construindo um palco para o Fogo
Simbólico da tria .................................................................................................53
3.2.2. As festividades cívicas da cidade no Estado Novo (1937-1945): exaltando
o patriotismo nos clubes .........................................................................................60
3.2.3. A Liga de Defesa Nacional em Porto Alegre: controle e incentivo de
eventos esportivos pela cidade...............................................................................67
4. PERCURSO METODOLÓGICO: CONSTRUINDO FONTES IMPRESSAS E
ORAIS............................................................................................................................75
4.1. AS FONTES IMPRESSAS ......................................................................................75
4.2. A
S
F
ONTES
O
RAIS
..............................................................................................80
5. A CORRIDA DE REVEZAMENTO DO FOGO SIMBÓLICO DA PÁTRIA..............84
5.1. INVENTANDO A TRADIÇÃO....................................................................................84
5.2. PERCORRENDO A NAÇÃO, CONSTRUINDO UMA IDENTIDADE ..................................105
5.3. CLUBES ESPORTIVOS ESTRANGEIROSAGORA SÃO BRASILEIROS........................124
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS: (RE)PASSANDO O FOGO SIMBÓLICO ...............132
7. REFERÊNCIAS ....................................................................................................137
8. APÊNDICES.........................................................................................................148
8.1. APÊNDICE A – BANCO DE DADOS......................................................................148
8.2. APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO E DECLARAÇÃO DO ENTREVISTADO ...183
9. ANEXOS...............................................................................................................185
9.1. A
NEXO
A – D
IPLOMA DE
P
ARTICIPAÇÃO
.............................................................185
9.2. ANEXO B – REPORTAGEM ZERO HORA..............................................................186
10
1. INTRODUÇÃO: acendendo a idéia do Fogo Simbólico
A ‘Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria
1
(CFS) é uma prática
cultural que marcava o início das comemorações da ‘Semana da Pátria em Porto
Alegre (RS) no final da cada de 1930 (AMARO Jr., 1944; LDN, 2006).
Institucionalizada pela Liga de Defesa Nacional (LDN) em 1938, era repetida
anualmente com o apoio dos clubes esportivos porto-alegrenses. Foram os dirigentes
desses clubes que a idealizaram, após presenciarem a ‘Corrida de Revezamento da
Chama Olímpica’, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936.
Para um entendimento melhor dessas afirmações e ao que este estudo se propõe, a
seguir acenderemos a idéia do Fogo Simbólico seguindo a ‘linha do tempo’ dos
acontecimentos.
Os Jogos Olímpicos realizados na Alemanha Hitleriana foram um marco na
história das Olimpíadas da Era Moderna. O envolvimento político que cercava os Jogos
de 1936 fez com que ele fosse marcado por investimentos em infra-estrutura e pela
construção de elementos simbólicos. Um desses simbolismos foi a ‘Corrida de
Revezamento da Chama Olímpica’, que pela primeira vez, partia do sítio arqueológico
de Olímpia (Grécia) e chegava em Berlim (Alemanha) no dia da cerimônia de abertura
dos Jogos.
O ineditismo do revezamento, culminado na chegada da Chama Olímpica e no
acendimento da Pira Olímpica causaram um impacto nos milhares de espectadores
presentes no Estádio Olímpico de Berlim. Em meio a essa multidão ansiosa para
assistir a chegada do revezamento e a realização da abertura dos Jogos Ompicos,
estavam dirigentes de clubes esportivos porto-alegrenses. Eles realmente ficaram
impressionados com toda a magnificência apresentada na cerimônia de abertura dos
Jogos que apresentaram ao mundo a ‘Corrida de Revezamento da Chama Olímpica’.
Assim ao retornarem para o Brasil na cidade de Porto Alegre, decidiram pela
realização de uma corrida semelhante nesta cidade. Na sua primeira edição em 1938, a
1
Durante a realização deste estudo foram encontradas diversas formas de tratamento para a Corrida.
Adotamos a nomenclatura “Corrida de Revezamento do Fogo Simlico da Pátria” por se tratar da forma
de tratamento utilizada nas obras da Liga de Defesa Nacional. As outras formas de tratamento que
poderão ser encontradas ao longo da dissertação se devem às citações diretas das fontes consultadas.
11
‘Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria’ (CFS) partiu de Viamão que foi
a primeira capital do Rio Grande do Sul e chegou a Porto Alegre. A chama foi
conduzida por destacados atletas porto-alegrenses até a Pira da Pátria construída no
Parque Farroupilha (conhecido como Redenção) para ser acesa à zero hora do dia 1
o
de Setembro (CP, 01/09/1938). Com o acendimento da Pira da Pátria iniciavam-se as
comemorações da ‘Semana da Pátria’ em Porto Alegre. Os festejos perduravam até o
dia 07 de Setembro, data oficializada para comemoração da ‘Independência do Brasil’ e
dia de extinguir o Fogo Simbólico que ardia desde o dia 1º de setembro na Pira da
Pátria.
A partir desses acontecimentos observamos que desde 1938 a CFS constituiu-se
numa das principais atividades realizadas pela LDN, em parceria com os clubes
esportivos, para comemorar a ‘Semana da Pátria’ em Porto Alegre, conforme sugere o
título da reportagem: “A maior corrida do Brasil” (FONSECA, 1961, p.66-67). Percebeu-
se, que rapidamente a CFS, atingiu grande destaque, não apenas local, mas também
nacional. E, até o final do período do Estado Novo (1937-1945), a CFS extrapolou as
fronteiras nacionais sendo considerada a “maior corrida do mundo” (CP, 01/09/1944
p.10).
Assim estava se constituindo uma tradição com caráter patriótico que,
inicialmente, restrita ao Rio Grande do Sul, posteriormente, extrapolou as fronteiras do
Estado e do país, atravessando muitas cidades brasileiras numa ‘exaltação cívica’ que
sempre culminava na capital do Estado do Rio Grande do Sul: Porto Alegre.
Embora a CFS seja realizada até os dias atuais, neste estudo nos propusemos a
investigar o período de 1938 a 1947. Esse recorte temporal compreende o ano de
realização da primeira corrida em 1938 até a sua décima edição em 1947, quando há
indícios de construção de novas práticas culturais voltadas a afirmação de uma
identidade regional (BILHAR, 2006; PAIXÃO CORTES, 1994). A partir de 1947, o
chamado posteriormente de Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), começou a
realizar em Porto Alegre a ‘Ronda Gaúcha’
2
. Esse fato indica uma mudança no estado
2
Em carta enviada a Liga de Defesa Nacional no dia 04 de setembro de 1947, o Gmio Estudantil do
Cogio Julio de Castilhos, oficializou a fundação do ‘Departamento de Tradição Gaúcha’. Nesse mesmo
documento revelava o interesse de transportar uma centelha’ do Fogo Simlico a uma Pira localizada
no interior do Colégio Julio de Castilhos. Essa iniciativa foi chamada de ‘Ronda Gaúcha’, pois essa
12
anímico porto-alegrense em contraposição ao de construção de uma identidade
nacional que havia encerrado politicamente em 1945 com o fim do Estado Novo. Outro
indicativo que reforçou essa mudança foi encontrado nas reportagens publicadas pelo
jornal ‘Correio do Povo’ em setembro de 1947. Este jornal registrava manchetes como:
“A ‘Semana da Pátria iniciou friamente
3
em alguns municípios gaúchos (CP,
04/09/1947). A reportagem sugere o enfraquecimento das grandes comemorações
alusivas a ‘Semana da Pátria’ em Porto Alegre.
Tendo em vista o envolvimento dos dirigentes esportivos porto-alegrenses na
construção da CFS e, sendo Porto Alegre sempre o ponto final da Corrida, ou seja, o
local de sua culminância, o recorte espacial do estudo delimita-se a esta cidade.
Este estudo situa-se na dimensão da História Cultural (CHARTIER, 2000), no
qual buscamos dialogar com diferentes conceitos, como Tradições Inventadas
(HOBSBAWM, 1988) e Identidade Nacional (SMITH, 1997).
Tendo como referência essas perspectivas, este estudo tem como objetivo:
Compreender a participação dos clubes esportivos porto-alegrenses na construção de
representações da identidade nacional brasileira através da invenção da ‘Corrida de
Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria’ no período de 1938 a 1947.
A partir desse objetivo emergem as seguintes questões norteadoras do estudo:
a) Qual o contexto sócio-cultural que permitiu a construção e consolidação de
uma tradição como a Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria’
na cidade de Porto Alegre entre 1938 a 1947?
b) Como a ‘Corrida de Revezamento do Fogo Simlico da Pátria’ contribuiu
para a construção da identidade nacional brasileira no imaginário porto-
alegrense entre 1938 a 1947?
c) Que representações da identidade nacional brasileira os clubes esportivos
construíram no imaginário porto-alegrense ao se associarem a ‘Corrida de
Revezamento do Fogo Simbólico datria’ no período de 1938 a 1947?
Para responder esses questionamentos foram produzidas fontes impressas e
orais. As fontes impressas foram organizadas primeiramente numa Base de Dados para
chama perduraria acesa do dia 7 a 20 de setembro, sendo este último dia escolhido para comemorar os
112 anos da Revolução Farroupilha (PAIXÃO CORTES, 1994).
3
Grifo nosso.
13
facilitar o entendimento das informões. As fontes impressas primárias foram os
documentos e obras da LDN; as principais fontes impressas secundárias foram a
Revista do Globo e o jornal Correio do Povo. Foram realizadas duas entrevistas que se
constituíram nas fontes orais do estudo.
A partir dessas considerações iniciais apresentamos a estrutura dessa
dissertação. Além desse primeiro segmento INTRODUÇÃO: acendendo a idéia do
Fogo Simbólico – existem outros cinco capítulos subdivididos que compõem o estudo.
O primeiro capítulo Condutores Teóricos: olhares sobre a Corrida de
Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria pretende apresentar os pressupostos
teóricos que nortearam a análise do objeto de estudo. Ele está dividido em três sub-
capítulos. No primeiro é revisitado o horizonte teórico do estudo, baseado na
perspectiva da História Cultural. O segundo e terceiro abordam os diálogos
interdisciplinares utilizados no estudo: o conceito de Tradições Inventadas e Identidade
Nacional.
O segundo capítulo A Corrida de Revezamento: de Berlim a Porto Alegre
buscamos nos aproximar dos contextos que permearam o objeto de estudo. Ele es
dividido em dois sub-capítulos. No primeiro sub-capítulo, vamos abordar os Jogos
Olímpicos de Berlim realizados no ano de 1936 na Alemanha, voltando nosso olhar
para a Corrida de Revezamento da Chama Olímpica e a sua chegada na Cerimônia de
Abertura desses Jogos. No segundo sub-capítulo, buscamos nos direcionar para o
contexto local do estudo: a cidade de Porto Alegre (RS) e seu processo de
modernização nos anos 1930 e 1940; voltamos nosso olhar especificamente para o
período do Estado Novo (1937-1945) e os conflitos de identidades, que se acentuaram
na cidade; além disso, a criação das instituições patrióticas e a emergência de práticas
vico-esportivas.
O terceiro capítulo Percurso Metodológico: entre fontes impressas e orais irá
tratar das questões metodológicas do estudo. Ele está dividido em duas partes. Na
primeira parte descrevemos o tratamento dado às fontes impressas, bem como os
locais de pesquisa e as principais fontes históricas. Na segunda parte desse capítulo
abordamos o tratamento que foi dado às fontes orais e a técnica da História Oral
utilizada para coleta de depoimentos dos entrevistados.
14
No quarto capítulo A Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria
apresentamos a análise do nosso objeto de estudo através do diálogo com as
categorias do quadro teórico a partir das fontes impressas e orais. Ele esdividido em
três sub-capítulos. No primeiro sub-capítulo, observamos a Corrida de Revezamento do
Fogo Simbólico da Pátria (1938-1947) enquanto uma tradição que foi inventada. No
segundo procuramos demonstrar que os ‘valores’ que essa tradição inventada
engendrava estavam ligados à construção de representações da identidade nacional
brasileira. No terceiro passamos a focalizar a participação dos clubes esportivos porto-
alegrenses na Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria (1938-1947).
No quinto e último capítulo CONSIDERAÇÕES FINAIS: (re) passando o Fogo
Simbólico será apresentado um fechamento do estudo através de algumas
considerações finais. Além disso, pretende-se apontar algumas limitações do estudo,
bem como algumas sugestões de futuros trabalhos.
15
2. CONDUTORES TEÓRICOS: olhares sobre a Corrida de Revezamento do Fogo
Simbólico da Pátria
Neste capítulo vamos abordar os ‘condutores teóricos’ utilizados para conduzir
nosso olhar sobre o objeto de estudo. Nesse sentido, estamos dentro do que podemos
chamar de campo historiográfico’ e nos situamos na dimensão da chamada História
Cultural, mais especificamente no horizonte teórico do francês Roger Chartier. Também
denominada por alguns autores de nova’ História Cultural, procuramos no primeiro sub-
capítulo enfatizar esse horizonte não apenas pelo olhar de Roger Chartier, mas também
através de autores cujas interpretações sobre a História Cultural nos ajudam a entender
as noções que serão utilizadas neste estudo. No segundo e terceiro sub-capítulos serão
tratados os diálogos interdisciplinares que foram necessários para analisar o objeto de
estudo. Assim serão abordados ‘condutores teóricosque envolvem os conceitos sobre
Identidade Nacional e sobre as Tradições Inventadas.
2.1. A História Cultural: um horizonte percorrido
Neste sub-capítulo serão abordadas as noções que compõem a perspectiva da
História Cultural. De acordo com Barros (2005) o uso de termo ‘noções’, não é por
acaso. As ‘noções’ são ‘quase conceitos’, mas que ainda funcionam como tateamentos
na elaborão do conhecimento científico, porém deixando claro que ainda o se
acham suficientemente delimitadas. Dessa forma, as noções de ‘práticas’,
‘representações’, ‘apropriação’ e ‘imaginário’ serão abordadas neste sub-capítulo a
partir da perspectiva da História Cultural.
O objetivo da História Cultural é identificar o modo como em diferentes lugares e
momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler. Para
tanto, a cultura é entendida enquanto prática que es associada as categorias de
representação e apropriação (CHARTIER, 2000). Barros (2005) explica que as noções
de representações, práticas e apropriação estão mais habitualmente acopladas ao
termo “cultura” e constituem o universo de abrangência da História Cultural. Para
Pesavento (2004), a “instância cultural, pode ser entendida como a produção de
16
sentidos sobre o mundo construído pelos homens do passado. De acordo com esta
autora:
Representação e imaginário, o retorno da narrativa, a entrada em cena
da ficção e a idéia das sensibilidades levam os historiadores a repensar
não só as possibilidades de acesso ao passado, na reconfiguração de
uma temporalidade, como colocam em evidência a escrita da história e a
leitura dos textos (PESAVENTO, 2004, p.58).
Voltamos nosso olhar à perspectiva complementar de Chartier (2000) sobre
‘representações’ e ‘práticas’. Segundo o autor, as representações do mundo social o
também componentes da realidade social e toda representação se apresenta como
representação de alguma coisa. Segundo Barros (2005) essa noção complementar foi
uma contribuição decisiva de Chartier para a História Cultural. O autor segue afirmando
que o horizonte teórico trabalhado por Chartier tem o termo cultura” (ou as diversas
formações culturais) trabalhado no âmbito da relação interativa entre as nões de
‘representações’ e ‘práticas’. Assim as ‘práticasgeram representações e, as suas
‘representações’ geram ‘práticas’, em um emaranhado no qual não é possível distinguir
se o começo está, em determinadas ‘práticas’ ou em determinadas ‘representações’.
No sentido de justificar possíveis dificuldades no entendimento dessas noções,
Vainfas (1997) nos relembra que a ‘nova história’ demorou muito a penetrar na
historiografia brasileira, fazendo isso a partir de meados da década de 1980. Na
tentativa de clarificar essas noções, Burke (2005) refere que o estudo das ‘práticasé
um dos ‘paradigmas
4
da chamada Nova História Cultural, pois graças a essa virada em
direção às ‘práticas’, a história do esporte, que antes era tema de amadores, tornou-se
profissionalizada e um campo científico com suas próprias revistas.
Pesavento (1995) refere que as ‘representações’ podem ser vistas como uma re-
apresentação de algo que se encontra ausente no tempo e no espaço. Sendo assim, as
‘representações’ e ‘práticas advindas de qualquer objeto de estudo podem ter seu
entendimento prejudicado. Isto pode ocorrer, segundo Pesavento (2004), porque a
4
Quando estava desenvolvendo sua tese, Thomas Kuhn buscava entender através do processo histórico
a fonte das diferenças entre as áreas sociais/humanas e matemáticas/biológicas e, por conseqüência, o
papel da pesquisa científica. Esse processo possibilitou a definição de ‘paradigma’ enquanto “as
realizações científicas universalmente conhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e
solões modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN, 2003, p.13).
17
proposta da História Cultural em decifrar a realidade por meio de suas representações é
um processo complexo na medida em que o historiador irá tentar uma leitura de outro
tempo e, esse outro tempo, poderá se mostrar incompreenvel para ele, devido aos
filtros que o passado poderá interpor.
Para fugir dessa ‘armadilha’ devemos procurar entender os contextos que
envolvem seu objeto de estudo, pois as influências desse outro tempo poderiam estar
gerando um objeto enquanto ‘prática’ ou ‘representação’. Este seria, contudo, o nosso
grande desafio: chegarmos até um reduto de sensibilidades e de investimentos de
construção do real que não são os nossos do presente. A rigor, estaríamos lidando com
uma temporalidade escoada, com o não-visto, o o-vivido, que só se torna possível
acessar através de registros e sinais do passado que chegam até nós (PESAVENTO,
2004).
Buscamos fazer da História também uma narrativa de representações do
passado, formulando uma versão, compreensível, plausível, verossímil, sobre nosso
objeto de estudo enquanto experiência que se passa por fora do vivido. Então, aliando
nosso objeto de estudo as noções da História Cultural na perspectiva de Chartier
(2000), estaríamos fazendo dele uma representação que resgata representações, com
a incumbência de construir uma representação sobre o que foi representado
(PESAVENTO, 2004).
Conforme Cardoso (1992) a História tem os seus elementos a contribuir à
compreensão das estruturas atuais e ao planejamento das do futuro. Além disso, os
processos históricos são sempre únicos, mas iluminam em perspectiva as condições
comuns a todos eles, ou a certo número. E, pensando no caso brasileiro, o autor diz
que a chamada ‘novaHistória, com seu enfoque globalizante ou estrutural, com sua
ênfase no coletivo, no social, seria muito mais necessária dentro do nosso país do que
a ‘velha’ História, narrativa, patriótica, enaltecedora de falsos heróis e criadora de mitos
que cumprem exatamente uma função preservadora das estruturas em vigor, através
dos mecanismos de hegemonia ideológica.
Chartier (2000) afirma que as representações se inserem em um campo de
concorrências e de competições, cujos desafios se enunciam em termos de poder e
dominação. Nesse campo existem verdadeiras ‘lutas de representações’ que geram
18
inúmeras ‘apropriações possíveis dessas representações. Isso se daria conforme
interesses sociais, resistências políticas e, de maneira geral, com as motivações e
necessidades que se confrontam no mundo humano.
As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à
universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos
interesses do grupo que as forjam. Assim as ‘lutas de representações’, afirma Chartier
(2000) têm tanta importância como as lutas econômicas para compreender os
mecanismos pelos quais um grupo impõe ou tenta impor, a sua concepção do mundo
social, os valores que são seus e o seu domínio.
Para considerar o objeto de estudo como um ato concreto de construção de
representações se faz necessário um duplo sentido: por um lado, pessoas dotadas de
competências específicas, identificadas pelas suas posições e disposições,
caracterizadas pela prática e, por outro lado, uma prática cujo significado encontra-se
dependente de dispositivos discursivos e formais específicos para ela (CHARTIER,
2000). Portanto, a apropriação dessas representações deve ser vista em cada elemento
constitutivo de uma sociedade em questão. A ‘apropriação encaminha a nós a
interão entre cultura e poder (BARROS, 2005).
O presente estudo não pretende abordar esse aspecto, devido à pluralidade de
elementos e a delimitão proposta. O uso de “signos de poder” por um Estado bem
como as representações advindas dele se encontram no cerne da discussão. Nesse
sentido ressaltamos o entendimento da noção de ‘representação’ como foco do estudo.
Conforme Chartier (2000) a noção de representação permite articular três
modalidades da relação com o mundo social: em primeiro lugar, o trabalho de
classificação e de delimitação que produz as configurações intelectuais múltiplas,
através da qual a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos; em
segundo lugar, as práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir
uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e uma
posição; em terceiro, as formas institucionalizadas e objetivadas graças às quais uns
representantes (instâncias coletivas ou pessoas singulares) marcam uma forma visível
e perpetuada a existência do grupo, da classe ou da comunidade.
19
A História Cultural é uma análise do trabalho de representação, isto é, das
classificações e das exclusões, que constituem, na sua diferença radical, as
configurações sociais e conceituais próprias de um tempo ou de um espo. As
estruturas do mundo social não são um dado objetivo, mas sim historicamente
produzidas pelas práticas articuladas. Portanto, as representações eso inscritas nas
práticas específicas que as produzem.
À medida que as representações são difundidas tornam-se consensos
coletivamente aceitos de forma a homogeneizar. Neste sentido, a noção de imaginário
também deve ser pensada enquanto fundamental para olhar o objeto de estudo.
Segundo Pesavento (2004) imaginário é “um sistema de idéias e imagens de
representação coletiva que os homens, em todas as épocas, construíram para si, dando
sentido ao mundo” (p.43).
A mesma autora amplia sua definição dizendo que:
As práticas sociais podem valer como discursos, silêncios falam,
ausências revelam presenças, coisas portam mensagens, imagens de
segundo plano revelam fuões, canções e músicas revelam
sentimentos, piadas e caricaturas denunciam irreverência, senso de
humor deboche (PESAVENTO, 2004 p.119).
Baczko (apud PESAVENTO, 2004) atribui a noção de imaginário características
de historicidade. Segundo o autor o imaginário é histórico e datado, ou seja, em cada
época os homens constroem representações para conferir sentido ao real. Essa
construção de sentido é ampla e pode ser expressa por palavras/discursos/sons, por
imagens, coisas, materialidades e por práticas, ritos, performances. Além disso, o
imaginário comporta crenças, mitos, ideologias, conceitos, valores é construtor de
identidades e exclusões, hierarquiza, divide, aponta semelhanças e diferenças no
social. Ele é um saber/fazer que organiza o mundo, produzindo a coesão ou o conflito.
Para a análise de qualquer objeto de estudo dentro da dimensão da História
Cultural se faz necesrio dialogar com outras disciplinas. Através desses diálogos a
História Cultural tornou-se ‘nova’ e possibilitou a emergência de diferentes estudos
(BURKE, 2005). Nesse sentido, apresentamos nos sub-capítulos seguintes, os diálogos
interdisciplinares utilizados para analisar nosso objeto de estudo.
20
2.2. As Tradições Inventadas: primeiro diálogo no percurso
Neste sub-capítulo buscamos abordar o conceito de ‘tradições inventadas’
elaborado por Eric Hobsbawm (1984; 1988). O autor oriundo da Escola Inglesa do
Marxismo tem contribuído para a desconstrução da idéia de sociedade como reflexo da
infra-estrutura econômica. Para Barros (2005) os autores dessa Escola vêem o mundo
da cultura como parte integrante do ‘modo de produção’.
Hobsbawm (1988) refere que as tradições geralmente tidas como antigas são
bem recentes e, na maioria das vezes, inventadas. Para este autor:
O termo tradição inventada é utilizado num sentido mais lato, mais
preciso. Engloba as tradições verdadeiramente inventadas, construídas
e formalmente institucionalizadas e aquelas que emergem de uma forma
mais dificilmente reconhecível dentro de um período breve e datável
uma questão de poucos anos – e se fixaram rapidamente [...] É evidente
que nem todas são igualmente estáveis, mas o que nos interessa
principalmente é o seu aparecimento e fixação, mais do que as suas
hipóteses de sobrevivência (p.3-4).
Essas tradições inventadas procuram inculcar valores e normas de
comportamento através da repetição, o que geralmente, implica em uma continuidade
em relão ao passado. Para atingir esse objetivo, Hobsbawm (1984) afirma que o
um conjunto de práticas normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente
aceitas, sendo essas práticas de natureza ritual ou simbólica.
Um aspecto relevante citado por Hobsbawm (1984) se refere à diferenciação
entre tradições inventadas, costume e rotina. O costume, vigente nas ditas sociedades
tradicionais, normalmente muda, pois precisa acompanhar o processo de evolução,
embora as modificações devam sempre parecer compatíveis ou idênticas com o
costume anterior. Já as tradições tidas como inventadas tem como característica a
invariabilidade, sempre se referem ao passado construído e, necessariamente, seguem
uma repetição formalizada ou não.
Na diferenciação com rotina ou convenção o autor define que normalmente elas
não possuem uma função simbólica ou ritual importante. Geralmente adquirem certo
grau de repetição, porém no sentido de eficiência e economia de gestos, como por
exemplo, nos processos industriais ou burocráticos. O procedimento fixo é geralmente
21
considerado o mais eficiente, porém gera transtornos no que tange a improvisação ou
criatividade para resolução de problemas. Dessa forma, não são tradições inventadas,
pois suas justificativas são técnicas e não ideológicas. (HOBSBAWM, 1984).
Outro aspecto interessante para estabelecer as tradições inventadas no tema
estudado é a relão com o passado. Hobsbawm (1988) afirma que
A utilização de materiais antigos na construção de tradições inventadas
de um tipo novo e com objetivos totalmente diferentes, é ainda, mais
interessante. Grandes quantidades de tais materiais acumularam-se no
passado de qualquer sociedade e, uma linguagem elaborada de prática
e comunicação simbólica es sempre disponível (p.08-9).
Dessa forma podemos classificar as tradições inventadas em três categorias: a)
aquelas que estabelecem ou simbolizam a coesão social ou as condições de admissão
de um grupo ou de comunidades reais ou artificiais; b) aquelas que estabelecem ou
legitimam instituições, status ou relações de autoridade; c) aquelas cujo propósito
principal é a socialização, a inculcação de idéias, sistemas de valores e padrões de
comportamento (HOBSBAWM, 1984).
Para deixar tida a diferença entre as práticas antigas e as inventadas o autor
lembra que as primeiras eram práticas sociais espeficas e altamente coercivas,
enquanto as últimas tendem a ser bastante gerais e vagas quanto à natureza dos
valores, direitos e obrigações que procuravam inculcar nos membros de um
determinado grupo: “patriotismo, lealdade, dever, as regras do jogo, o espírito escolar e
assim por diante” (HOBSBAWM, 1984, p.19). Além dessa diferença, Hobsbawm (1984)
refere que as pessoas tomam consciência da sua cidadania a partir de símbolos e
práticas semi-rituais (por exemplo, à eleição) que em sua maioria são historicamente
originais e livremente inventadas (bandeira, imagens, cerimônias e músicas).
Hobsbawm (1984) lembra que os historiadores ainda não estudaram,
adequadamente, o processo exato pelo qual tais complexos simbólicos e rituais são
criados. O motivo, segundo o autor, pode estar no fato de que é mais fácil ter acesso a
fontes de uma tradição inventada ou estruturada por um único iniciador. Quando a
tradição é inventada por grupos fechados ou desconhecidos, podem faltar fontes e,
além disso, a técnica para a investigação deve estar associada a outras especializadas
em rituais e simbolismos.
22
Se os historiadores possuem dificuldades para estudar as tradições inventadas
de maneira mais complexa, o autor afirma que existem ganhos em estudá-las, pois elas
o indicadores de problemas e sintomas importantes de um determinado tempo. Assim
os estudos de tais tradições não devem estar fora de contexto, pois ele é que determina
a construção da tradição (HOBSBAWM, 1984).
Os estudos sobre as tradições inventadas são altamente aplicáveis no caso de
uma inovação histórica recente: a nação. E seus fenômenos associados: o
nacionalismo, o Estado nacional, os símbolos nacionais e as interpretações históricas.
Assim o fenômeno nacional não deve ser adequadamente investigado sem se
preocupar com as tradições inventadas. Porém, Hobsbawm (1984) alerta:
Não nos devemos deixar enganar por um paradoxo curioso, embora
compreensível as nões modernas, com toda sua parafernália,
geralmente afirmam ser o oposto do novo, ou seja estar enraizadas na
mais remota antiguidade, e o oposto do construído, ou seja, ser
comunidades humanas, “naturais” o bastante para o necessitarem de
definições que não a defesa dos próprios interesses (p.22).
De acordo com Avancini (2000) a obra que trata das tradições inventadas parece
explicitar mais a questão do imaginário social. Esta obra se refere ao estabelecimento
de práticas de natureza simbólica ou ritual, que em sua ultima instância possui a
finalidade de inculcar valores e normas de comportamento. Através da repetição das
práticas simbólicas busca-se estabelecer uma continuidade com relão ao passado.
Nesse sentido a preservação e afirmação de identidades podem ser privilegiadas
pelas tradições inventadas. Assim, no próximo sub-capítulo procuramos abordar os
conceitos relacionados à identidade nacional.
2.3. A Identidade Nacional: segundo diálogo do percurso
Neste sub-capítulo vamos abordar o conceito de Identidade Nacional através de
alguns autores que partilham da idéia da construção da não a partir de elementos da
cultura. Smith (1997) é um desses autores e nos auxilia definindo o que é uma nação.
Segundo o autor uma nação pode ser compreendida como uma determinada população
humana, que partilha um território histórico, mitos e memórias comuns, uma cultura
23
pública de massas, uma economia comum e, direitos e deveres legais comuns a todos
os membros.
[...] A identidade nacional e a nação são construções complexas,
compostas por uma série de componentes interligadas étnica, cultural,
territorial, econômica e político-legal. Estas exprimem os laços de
solidariedade entre membros de comunidades, unidos por memórias,
tradições e mitos partilhados que podem ou não ter expressão nos seus
próprios estados, mas totalmente diferentes dos laços puramente legais
e burocráticos do estado. Conceitualmente, a não acabou por fundir
dois conjuntos de dimensões, uma cívica e territorial e outra, étnica e
genealógica, em diferentes proporções segundo cada caso particular
(SMITH, 1997, p.31).
O conceito de nação tem sido discutido basicamente em duas direções:
“relacionado a diferentes definições eruditas, ou como uma forma de identidade que
compete com outros tipos de identidades coletivas (HUTCHINSON & SMITH, 1994,
p.04). Na perspectiva de Hobsbawm (1990, p.27) o termo nação “não é natural,
fundamental ou permanente, mas fruto da modernidade”
5
. É um conceito inventado ora
para legitimar a dominação de uma etnia sobre as demais, ora para criar um
denominador sócio-cultural comum suficientemente homogêneo para poder funcionar
como base social adequada à obrigação política geral e universal exigida pela Estado,
autodesignado assim como Estado-Nação.
A nação é uma entidade social e política que esligada a uma forma de Estado
territorial moderno denominado “Estado-Nação”. É um fenômeno inserido tanto na
esfera política quanto na cultural, que se legitima a partir da coesão política dos seus
cidadãos, mas também, quando se afirma no campo cultural construindo sua
identidade. O Estado-Nação tem por base um sentimento existente de pertencimento
ou a promoção intencional da idéia de coesão cultural.
O projeto de nação pressupõe uma cultura comum entre os membros de um
Estado. É o Estado que faz a nação e define os padrões de cidadania (pertencimento à
comunidade), língua padrão e o território (HOBSBAWM, 1990, p.56)
6
. A nação é uma
5
Outros autores (Gellner, 1993; Renaut, 1993; Miller, 1997), também tecem críticas a concepção da
nação como algo natural e acabado.
6
Guibernau (1997, p.53) questionou as categorias comumente usadas para definir a nação, como a
língua, território, história e traços culturais comuns. Referiu que as nações sem estado” são grupos
étnicos dotados de língua, cultura e tradições comuns e não se constituem em Estado Nacional.
24
“comunidade política imaginada”, que deve ser compreendida em associação com os
sistemas culturais que a precedem (ANDERSON, 1989, p.14)
7
.
Smith (1997) refere que devem existir “elos de ligação” entre os indivíduos e as
classes para a construção da nação. Alguns rituais e cerimônias fornecem aos
pertencentes da nação memórias comuns, como aspectos históricos e características
culturais semelhantes. A constituição do “elo” se através de um sentimento
fortalecido e exaltado pela sensação de identidade e pertencimento comum. Assim a
“nação torna-se um grupo de obra de fé, capaz de ultrapassar obstáculos e
adversidades” (p.31).
Segundo Smith (1997) “a nação é uma comunidade de mitos e memórias
comuns, tal como o é uma etnia” (p.58).
As nações m vindo a ser formadas, em rios estados, através de uma
tentativa de fusão das culturas de sucessivas vagas de imigrantes [...]
Na realidade, à medida que a formão da não se foi desenrolando,
achou-se necessário dar forma a uma cultura caracteristicamente
mexicana, chilena, boliviana, etc., e salientar as características
espeficas - em termos de diferenças de símbolos, valores, memórias,
etc. – de cada futura nação (SMTIH, 1997, p.59).
As nações se constituíram ou tomaram consciência de sua existência através do
nacionalismo. Conforme Smith (1997, p.176) o mundo está dividido, “primeiro e acima
de tudo, em ‘estados-nação’ estados que alegam ser nações”, o que demonstra a
capacidade de penetração do nacionalismo. O nacionalismo é uma invenção, que cria
ou inventa nações (SMITH, 1997).
Para Hobsbawm (1990, p.18), o nacionalismo é “fundamentalmente um prinpio
que sustenta que a unidade política e nacional deve ser congruente”. Além do seu
caráter político em busca da harmonia entre o Estado e a nação, o nacionalismo é um
princípio imprescindível para a existência da nação na busca da identificação
emocional. A difusão do nacionalismo é impulsionada pela “carga emocional que os
indivíduos investem em sua terra, língua, símbolos e crenças, enquanto desenvolvem
sua identidade” (GUIBERNAU, 1997, p.86). Um atributo do nacionalismo é sua
7
Hobsbawm (1990, p.63) concorda com Anderson quando afirma que a nação moderna é uma
comunidade imaginada, e não há dúvida de que pode preencher o vazio emocional causado pelo
declínio ou desintegração, ou a inexistência de redes de relações ou comunidades humanas reais”.
25
capacidade de prover identidade para os indivíduos que vivem no mesmo território e
sentem-se ligados por laços culturais comuns.
O termo nacionalismo tem sido utilizado de formas variadas. De acordo com
Smith (1997, p.95-96) pode significar:
a) Todo o processo de formação e conservão de nações ou de estados-nação.
b) Uma consciência de pertença à nação, unida a sentimentos e aspirões pela
sua segurança e prosperidade.
c) Uma linguagem e um simbolismo da nação e do seu papel.
d) Uma ideologia, incluindo uma doutrina cultural das nações, e a vontade
nacional e as prescrições para a realização das aspirações nacional e da
vontade nacional.
e) Um movimento social e política para alcançar os objetivos da nação e realizar
a sua vontade nacional.
O conteúdo do nacionalismo foi tomando outras formas e, inclusive, deslocou-se
para uma concepção política, especialmente entre os anos de 1880 a 1914, quando a
política imperialista dos Estados atingiu seu auge. No final da Primeira Guerra Mundial,
num contexto caracterizado pela predominância do populismo e pela lógica do
capitalismo, o Estado passou a centralizar funções sociais com vistas a formatação de
um modelo político-econômico, que permitisse a competitividade no mercado
internacional e a constrão da identidade nacional.
O sistema capitalista impôs uma nova ordem social, na qual o Estado passou a
simbolizar o coletivo. O Estado, sob a ótica do capitalismo, foi sacralizado e tornou-se
depositário da fé e obediência dos cidadãos. Segundo Hobsbawm (1995), a unidade
nacional tornou-se um valor que rege todos os demais. A busca da unidade nacional é
uma tentativa de recuperar as formas de vidas comunitárias, como a família e a religião
predominantes no período anterior ao capitalismo.
O nacionalismo impeliu as pessoas a posicionar a nação como valor central de
suas vidas. Os cidadãos foram compelidos pelo Estado e “por sua própria consciência e
seus próprios ideais a subordinar suas necessidades pessoais às da coletividade, do
país ou da nação, e a doar-lhes a própria vida, se necessário” (ELIAS, 1997, p.140).
Existe uma estreita relão do nacionalismo com um programa político, sem o qual
26
perde seu significado. O período entre guerras representou a culminância desse
processo. O Estado desenvolveu políticas e mecanismos em busca de sua legitimação,
através da coerção e inculcão do sentimento de pertencimento.
O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, a alfabetização em
massa, e a promoção de competições esportivas foram algumas das estratégias
adotadas pelo Estado para a formação da identidade nacional. O nacionalismo, através
das suas dimensões cognitiva e expressiva atinge não apenas a elite econômica, mas
também, os estratos mais alargados da população. Smith (1997, p.148) observou que
com freqüência “os regimes de estados novos embarcam em campanhas de
alfabetizão e pela educação básica de toda a população, e por vezes pela educão
secundária”.
Esta doutrina cultural depende, por sua vez, da introdução de novos
conceitos, linguagens embolos. O nacionalismo, como já demonstrei,
é um movimento ideológico para alcançar e manter a autonomia, a
unidade e a identidade de uma nação [...] Uma interpretão cil do
conceito de identidade é, por exemplo, a uniformidade [...] Este padrão
de semelhança associada à diferença é um dos sentidos de identidade
nacional (SMTIH, 1997, p.98-99).
As práticas que ganham relevância devem aspirar essa doutrina cultural, pois
conceitos como autonomia, identidade, nio nacional, autenticidade, unidade e
fraternidade devem fazer parte da linguagem ou dos discursos interligados a elas.
Assim ganham força enquanto cerimônia por transformar conceitos abstratos do
nacionalismo em concretos e palpáveis pela população, construindo o elo de
pertencimento a doutrina cultural central. Além disso,
[...] suscitam reações emocionais instantâneas de todos os estratos da
comunidade [...] a sua divindade é a própria nação [...] Por via de
cerimônias, costumes e símbolos, todo o membro de uma comunidade
participa na vida, nas emoções e nas virtudes dessa mesma
comunidade, reconsagrando-se, ele ou ela, através deles, ao destino
desta. Ao articular e ao tornar tanvel a idéia de nacionalismo e os
conceitos de nação, cerimonial e simbolismo ajudam a garantir a
continuidade de uma comunidade abstrata de história e destino (SMITH,
1997, p.102).
27
No caso brasileiro e, considerando o contexto histórico do qual emerge o objeto
de estudo o Estado Novo –, podemos entender a configuração do nacionalismo, de
acordo com Smith (1997), em movimento pós-independência subdividido em dois tipos:
a) Nacionalismo territorial: neste tipo o conceito de nação continua basicamente
vico e territorial, procurando-se unir e integrar, numa nova comunidade
política, populações freqüentemente díspares e criar uma nova nação
territorial fora do velho estado colonial; são os nacionalismos de integração.
b) Nacionalismo étnico: neste o conceito de nação é basicamente étnico e
genealógico, procurando-se expandir, incluindo parentes étnicos fora dos
limites atuais da etnonação e das terras que habitam, ou formando um estado
etnonacional muito mais vasto, através da união de estados etnonacionais,
cultural e etnicamente semelhantes; são os nacionalismos irrendentistas e
pan.
Porém devemos lembrar que os nacionalismos fascistas integrais e econômicos
protecionistas e os nacionalismos raciais constituem subvariedades de nacionalismos
irredentistas ou de integração pós-independência. Além disso, o entendimento com
base nas categorias apresentadas não deve ser pensado em forma de generalização,
pois esclaro que a doutrina central é feita a partir de uma doutrina específica para
cada contexto a ser estudado. Incluímos aqui o caso brasileiro por pensarmos ser o
mais adequado devido ao contexto espacial estudado.
São as idéias e as doutrinas específicas que fornecem o simbolismo e o
cerimonial que despertam as mais profundas emoções e aspirações
populares em particular, quando entrelaçadas com símbolos e
cerimoniais muito mais antigos (SMTIH, 1997, p.108).
Nesse sentido convém lembrar que a instalação dessa doutrina específica
atrelada a doutrina cultural central se através das instituições e pessoas ligadas a
ela. Nesse sentido, a nação e a identidade nacional devem ser vistas como uma criação
do nacionalismo e dos seus patrocinadores, sendo a sua expressão e celebração,
também elas, obra de nacionalistas (SMITH, 1997, p.118).
Dessa forma identificamos o contexto espaço-temporal do estudo como inserido
em uma das características usadas pelas sociedades políticas que iniciaram os
28
processos de formação de nações. Essa característica utiliza, freqüentemente, o
nacionalismo institucional e oficial.
De forma a consolidar o seu domínio e a homogeneizar a população
numa nação compacta, a classe dirigente procura assimilar minorias
étnicas através de um programa educacional de nacionalismo, apoiado
por instituições influentes. Com este objetivo, fomentam idéias de
colonização e imagens oficiais da nação as quais toda a gente se deve
ajustar, e que impossibilitam o aparecimento de quaisquer outras idéias,
símbolos ou imagens mentais (SMITH, 1997, p.128-129).
O conceito de nacionalismo se amplia, quando analisado enquanto doutrina
cultural, que introduz novas linguagens, símbolos e os conceitos de unidade, autonomia
e identidade. Para a compreensão da atuação do nacionalismo na formação da
identidade nacional é necesrio enfocá-lo como uma forma de cultura e identidade. A
cultura torna-se um elemento fundamental na criação da identidade nacional, ao
subsidiar a produção do sentimento de pertencimento à nação.
Nessa perspectiva, o nacionalismo, inicialmente, preocupa-se em formar “um
mundo de identidades culturais coletivas ou de nações culturais” (SMITH, 1997, p.125).
Para tanto, o movimento “abarca as dimensões cognitiva e expressiva, associando-se a
aspirões e sentimentos mais gerais, tanto entre elites como entre estratos mais
alargados” (SMITH, 1997, p.97). A nacionalidade se tornou uma verdadeira rede de
relações pessoais e não uma comunidade imaginária ao ultrapassar as próprias
fronteiras nacionais, encontrando forças fora do âmbito do domínio territorial de cada
Estado.
Assim a utilização de cerimônias faz parte de um reforço ao ideal a ser
alcançado. O seu caráter repetitivo serve para recordar os seus cidadãos dos seus
laços culturais e seu parentesco político, reafirmando a identidade e a unidade. Além
disso, o êxito das cerimônias na construção da identidade cultural, também está ligado
as questões estéticas que ela promove, onde os sentimentos de beleza, de variedade,
de dignidade e de ternura suscitados pela bil disposição de formas, massas, sons e
ritmos, podem evocar o espírito distinto da nação (SMITH, 1997).
A identidade nacional (o sentimento de pertencimento à nação) é um conceito
multidimensional que inclui sentimentos, simbolismo e uma linguagem específica.
29
Conforme Smith (1997, p.126), a identidade nacional “compreende tanto uma
identidade cultural como uma identidade política, e localiza-se quer numa comunidade
política, quer numa comunidade cultural”. É um fenômeno cultural coletivo.
A identidade nacional penetra em quase todas as esferas da vida das
comunidades e dos indivíduos. Na esfera social, determina as fronteiras nas relações
sociais distinguindo os limites entre aqueles que fazem parte da comunidade e os
estrangeiros. No plano político, determina e legitima os objetivos, assim como, os
sistemas administrativos que regulamentam o cotidiano dos cidadãos. No âmbito
cultural, “a identidade nacional revela-se em toda uma variedade de pressuposições e
de mitos, de valores e de memórias, bem como na linguagem, nas leis, em instituições
e cerimônias” (SMITH, 1997, p.177).
A identidade nacional é considerada a mais inclusiva de todas as identidades
sociais. Outros tipos de identidade social podem sobrepor-se ou conjugar-se à
identidade nacional influenciando sua direção, mas dificilmente abalando sua influência.
O Estado moderno tende à identidade exclusiva. Embora, a identificação nacional de
um grupo de indivíduos não exclui outras formas de identificação social. Contudo, o
Estado reconhece apenas uma identidade cultural para definir a identidade nacional ou
opta pela escolha de uma identidade de referência considerada a única legítima.
O Estado atua negando ou desvalorizando as identidades dos grupos ou
comunidades minoritárias, que por sua vez reagem e reivindicam suas identidades. A
centralização e a burocratizão do poder impelem o Estado na busca de uma única
identidade cultural. Os grupos excluídos da identidade atribuída pelo Estado procuram
recuperar os meios de definir sua identidade, conforme seus próprios critérios para o
se apropriar de uma identidade concedida pelo grupo dominante. A discriminação de
um grupo minoritário gera um forte sentimento de vinculação à coletividade. Cuche
(1999, p.190) alerta que “a exaltação da identidade nacional pode levar somente a uma
tentativa de subversão simbólica contra a afirmação da identidade”.
Outra possibilidade no âmbito da formação da identidade nacional é a identidade
mista ou dupla identidade”. Esta não significa a existência de duas identidades
opostas, mas de uma identidade cujos pólos de referência diferenciados estão situados
no mesmo vel. De acordo com Cuche (1999, p.193) algumas abordagens
30
desconsideram o misto cultural e desqualificam esse tipo de identidade, atribuindo uma
explicação baseada no “medo obsessivo de uma dupla lealdade que é veiculada pela
ideologia nacional”.
A concepção negativa da “dupla identidade” permite que as populações vindas
da imigração sejam desqualificadas socialmente. Entretanto, Cuche (1999) entende que
não existe uma identidade dupla; existe sim uma identidade sincrética que significa a
atribuição de duas identidades para a mesma pessoa. A pessoa constrói sua própria
identidade a partir de uma síntese das várias culturas. Os fenômenos de identidade
sinctica multiplicaram-se com as migrações internacionais.
A gestação da identidade ocorre, à medida que se organiza o imaginário da
nação. Thiesse (2000, p.234) alerta que “as grandes referências identitárias nacionais
o flanqueadas com uma série de declinações locais, secundárias, que as coroam”. A
construção coletiva das identidades nacionais o seguiu um modelo único. A partir de
categorias elementares foram realizadas diferentes montagens em momentos históricos
diferenciados. Entretanto, provém do mesmo modelo, cujo aperfeiçoamento se efetuou
no âmbito de intensas permutas internacionais.
O processo de constrão de identidades nacionais é orientado por um conjunto
de elementos simbólicos e materiais que caracterizam a nação. Os requisitos
necessários para uma identidade nacional se estabelecem através da construção de
uma história que mantenha uma continuidade com os ilustres antepassados, heróis
modelos das virtudes nacionais, uma língua, monumentos culturais, um folclore, locais
eleitos para simbolizar fisicamente (geografia) a nação e paisagens típicas, uma
determinada mentalidade da nação, representações oficiais – hino e bandeira – e
identificões pitorescas – trajes, especialidades culinárias ou um animal emblemático.
Existem estratégias representacionais que são acionadas para construir o
sentimento de pertencimento a uma nação ou da identidade nacional (HALL, 1997). A
primeira é a elaboração da narrativa da nação que relata a experiência a ser partilhada
por todos. É contada pela história, pela literatura nacional, pela cultura popular e pela
mídia, que divulga imagens de lugares, eventos históricos, símbolos e rituais que o
sentido a nação. A segunda estratégia caracteriza-se pela configuração de uma
tradição e o estabelecimento de elos de continuidade, para que a identidade nacional
31
seja naturalizada. A terceira é a criação de práticas rituais ou simbólicas, cuja repetição
atualiza constantemente a adesão imaginária do indivíduo à sociedade.
Segundo Smith (1997), os símbolos nacionalistas, a linguagem e a sua ideologia
assentam-se basicamente em três elementos: o território, a história e a comunidade.
Os atributos de uma nação, os costumes, bitos, estilos e formas de agir e de sentir
distintos de uma comunidade expressam esses elementos. Os aspectos mais visíveis
de uma nação são as “bandeiras, hinos, paradas, moedas, capitais, juramentos,
costumes populares, museus de folclore, memoriais de guerra, cerimônias de memórias
aos mortos nacionais, passaportes e fronteiras” (p.102).
Os mbolos e cerimoniais expressam elementos de identificação com a nação,
porém de forma menos visível. Eles estão impregnados no cotidiano das pessoas, o
que possivelmente conduz a desvalorização de muitos atributos. Os atributos da nação
em geral ocultados são as “recriões nacionais, regiões rurais, heróis e heroínas
populares, contos de fadas, formas de etiqueta, procedimentos legais, práticas
educacionais e códigos militares” (SMITH, 1997, p.101).
A construção de uma identidade nacional supõe a criação de uma imagem
simbólica do nacional, regional ou local. As sociedades sentem necessidade de
conservar e reforçar em intervalos regulares, os sentimentos e as idéias coletivas que
fazem sua unidade e sua personalidade. Os atributos básicos da identidade nacional
precisam de reafirmações coletivas periódicas para manter sua continuidade no tempo
diferenciando-se dos outros. A diferencião provém do sentimento de pertencimento a
um grupo ou comunidade compartilhada. A continuidade do sentimento de
pertencimento responde pela busca de enraizamento e projeção de um futuro.
O sentimento de pertencimento à nação é viabilizado por ões performativas e
pedagógicas. Nas ações performativas, o povo passa a ser sujeito do discurso que
promove a reinterpretação dos símbolos nacionais e reforça sua origem comum. Na
ão pedagógica, o povo torna-se objeto dos discursos nacionais que reafirmam sua
origem comum e os laços de união das pessoas.
O sucesso da nação é fruto da construção de um saber coletivo que ensina os
indivíduos o que são, obriga-os a conformarem-se e incita-os a difundir, por sua vez,
esse saber coletivo. O sentimento nacional é espontâneo quando estotalmente
32
interiorizado, por isso tem de ser ensinado previamente. Thiesse (2000, p.18) afirma
que “a nação só se mantém viva com adesão coletiva a essa ficção”. A falta de
envolvimento real do povo ao projeto da nação leva à tentativa de compensão, por
meio da mobilização simbólica.
O Estado visa inculcar o sentimento de pertencimento à nação usando diferentes
estratégias pedagógicas. A educação das massas faz parte do plano de nacionalização
do Estado. A escola é uma instituição fundamental na educão para o nacional, pois
além da língua, hisria e a geografia da nação, ela atua na educação moral ensinando
“como ser e pensar nacionalmente” (THIESSE, 2000, p.234). Entretanto, a escola não é
o único lugar de educação para o nacional, as atividades de lazer da população são um
meio significativo, mesmo nos países que promoveram ampla escolarização da
população.
As estratégias pedagógicas e performativas constroem uma comunidade
nacional imaginada (BHABHA, 1990). As datas comemorativas, os heróis, os
monumentos
8
, os fatos simbólicos precisam adquirir significados históricos. As pessoas
necessitam sentir-se parte da realidade nacional e compartilhar memórias. Assim é
preciso criar “lugares de memória” (LE GOFF, 1994) para reforçar a nacionalidade.
No século XIX, as exposições internacionais eram “lugares por excelência de
exibição identitária” e ocasiões privilegiadas para o comércio simbólico. Na Polônia, em
1981, uma das primeiras preocupações do Sindicato Solidariedade foi a construção de
monumentos que lembrassem grandes momentos ou grandes personagens da história
nacional que tinham sido proibidos ou ocultados pelo regime comunista (TOURAINE,
1992, p.351).
A memória do pacto original é celebrada nas performances comemorativas,
cerimônias e outros rituais de caráter simbólico. Nos Estados Unidos, desde o século
XIX, as paradas são um típico gênero de solenidade cívica. Os cidadãos americanos
desfilavam para comemorar datas significativas para o povo norte-americano como a
comemoração do “4 de Julho, o aniversário de Washington, as datas locais, a
8
A análise da origem etimológica da palavra monumento remete a vários significados: “memória”, “fazer
recordar”, “iluminar”, “instruir” (LE GOFF, 1994, p.227).
33
comemoração de benfeitorias públicas, a colocação de monumentos em praças
públicas e o acompanhamento de ocasiões de luto” (RYAN, 1992, p.178).
Os desfiles produzem um espetáculo que traduz as grandes referências
identitárias nacionais de forma ordenada e harmoniosa. A parada representa a história
que um povo conta sobre si mesmo. Os desfiles cívicos e as paradas criam um senso
de comunidade ao expressarem linhas de divisão social e de gênero. Nestas
cerimônias figuramos diversos componentes do conjunto nacional – identificados,
nomeadamente, pelos trajes regionais sob a égide de representantes do Estado e de
eleitos da nação” (THIESSE, 2000, p.234). As cerimônias dos Jogos Olímpicos, as
festividades que acompanham a visita de um chefe de Estado estrangeiro, a iconografia
postal e monetária e a publicidade turística também são formas de contar a história
nacional.
Os eventos comemorativos têm um caráter performático, mas também
apresentam um aspecto pedagógico. Conforme Ozouf (1976) as festas da Revolução
Francesa tornam-se “professora da nação” tendo em vista o caráter institucional da
quantidade de relatórios, discursos, projetos e propostas produzidas. A festa
revolucionária e os cultos pátrios evidenciam a busca de uma ligação entre o religioso e
o político, o sagrado e a organização da cidade. Existe um forte apelo à reunião, à
unificação, à eliminação dos fatores de diversidade da nação (GIRARDET, 1987,
p.150).
Para Durkheim (1978, p.230) estas cerinias não “diferem em natureza das
cerimônias propriamente religiosas”, pelos resultados que produzem, pelos
procedimentos que nela são empregados e pelo seu objeto. Os cidadãos, ao identificar
a nação como algo acima de suas individualidades, se comportam do mesmo modo que
os fiéis na prática de cerimônias religiosas. O patriotismo se converteu numa espécie de
“religião laica”, com seus “deuses” - heróis, “sacerdotes” - dirigentes, “templos” - as
praças e os estádios, “imagens - os monumentos e “ritos - festas vicas
(HOBSBAWM, 1990, p.23).
As cerimônias e outros rituais são manifestações que supõe a formação de elos
de identificação à nação, que em muitos níveis são os aspectos mais duradouros e
poderosos. Pois, encarnam os conceitos básicos do nacionalismo, “tornando-os visíveis
34
e distintos para todos os membros, transmitindo os princípios de uma ideologia abstrata
em termos palpáveis e concretos, que suscitam reações emocionais instantâneas de
todos os estratos da comunidade” (SMITH, 1997, p.102). Para Elias (1997, p.140) a
força da crença na comunidade nacional é “uma das mais poderosas, talvez a mais
poderosa das crenças sociais dos séculos XIX e XX”.
No caso dos imigrantes recém-chegados à nação, as estratégias de integração
social o são suficientes para despertar o sentimento nacional. Faz-se necessário à
participação dos imigrantes na memória coletiva, que para desempenhar o papel de
integradora, deve estar em constante transformação. Caso contrário impõe-se aos
imigrantes uma memória caracterizada como mitologia nacionalista, que o tem
significação real e a formação de uma identidade artificializada (TOURAINE, 1992,
p.354).
Thiesse (2000, p.16) observa que o processo de formão identitária consiste
em determinar o patrimônio de cada nação e difundir o seu culto”. Para a constituição
da identidade da nação é necesrio recuperar os traços culturais e as tradições, sejam
elas reais ou inventadas, e fazer um inventário das suas heranças, mas também é
necessário inventá-las.
Portanto, a perspectiva teórica adotada neste estudo é considerar as identidades
nacionais como construções históricas afirmadas e negociadas, situacional e
relacionalmente no terreno da cultura. A cultura é entendida como espaço que orienta
comportamentos e condutas ao mesmo tempo em que é um lugar contestado em
permanente luta para a afirmação de significados. Sendo assim no próximo capítulo
vamos apresentar o contexto histórico-cultural em que a Corrida de Revezamento do
Fogo Simbólico da Pátria estava inserida.
35
3. A CORRIDA DE REVEZAMENTO: de Berlim a Porto Alegre
A Corrida de Revezamento do Fogo Simlico da Pátria (CFS) realizada na
cidade de Porto Alegre (RS) em 1938 possui uma ligação estreita com a Corrida de
Revezamento da Chama Olímpica realizada por ocasião dos Jogos Olímpicos em
Berlim (Alemanha) no ano de 1936. Nesse sentido, buscamos nesse capítulo nos
aproximarmos dos contextos que permeavam esses momentos.
Assim, no primeiro sub-capítulo vamos abordar os Jogos Olímpicos de Berlim no
ano de 1936 na Alemanha, voltando nosso olhar para a Corrida de Revezamento da
Chama Olímpica e a sua chegada na Cerimônia de Abertura desses Jogos. No
segundo sub-capítulo, buscamos nos direcionar para o contexto local do estudo: a
cidade de Porto Alegre (RS) e seu processo de modernização nos anos 1930 e 1940;
voltamos nosso olhar especificamente para o período do Estado Novo (1937-1945) e os
conflitos de identidades, que se acentuaram na cidade; além disso, a criação das
instituições patrióticas e a emergência de práticas cívico-esportivas.
3.1. Berlim 1936: celebrando os Jogos Olímpicos
Os Jogos Olímpicos de Berlim, muito lembrados pela celebração da Corrida de
Revezamento da Chama Olímpica, foram realizados na Alemanha nazista em 1936.
Antes de abordamos alguns aspectos sobre esses Jogos, convém lembrar que foi no
XXVIII Congresso do Comitê Olímpico Internacional (COI) em Berlim no período de 25 a
30 de maio de 1930, que foram conhecidas as cidades que almejavam a candidatura
dos Jogos Olímpicos da XI Olímpiada. Nada menos do que 11 cidades concorreram e,
dentre elas, quatro eram alemãs: Nüremberg, Colônia, Frankfurt e Berlim. As restantes
eram Alexandria, Budapeste, Buenos Aires, Dublin, Helsinque, Roma e Barcelona. O
interesse em sediar os Jogos mostrava o prestígio que este concedia a cidade sede e
sua nação desde esta época.
A escolha da cidade sede ocorreu através de votação por meio de
correspondência, sendo 13 votos favoráveis a Berlim contra 16 para Barcelona, além de
08 abstenções (ASIN FERNÁNDEZ, 1998). Assim Berlim ganhava a chancela do COI
36
para sediar os Jogos Olímpicos. Cardoso (2000) refere-se da seguinte forma a esses
Jogos: “A Olimpíada em Berlim era uma coisa. A Olimpíada em Berlim com Hitler no
poder era outra coisa completamente diferente” (p.165). E realmente foi.
Na Berlim com Hitlerfoi celebrado um evento olímpico até então jamais visto.
Cardoso (2000) lembra que o dinheiro não era o problema, pois Hitler afirmava que as
obras construídas para os jogos seriam para a não. Esse discurso favoreceu a
construção de imponentes obras como um estádio com mais de 100 mil lugares e
muitas outras facilidades como, por exemplo, os mais de mil trens disponíveis para
locomover os espectadores aos locais dos Jogos. Os Jogos de Berlim se transformava
em uma grande vitrine para a Alemanha nacionalista-socialista.
O discurso ideológico presente era camuflado’ diante da magnificência dos
Jogos. Havia campanhas do governo para educar a populão para o evento e as
crianças aprendiam na escola lições sobre os Jogos Ompicos. Um filme estava sendo
montado para o mundo pela cineasta Leni Reifenstahl
9
, encarregada de gravá-lo. O
filme Olympia
10
e os Jogos de 1936, conforme Melo (2005) marcam definitivamente o
fim das pretensões de Pierre de Coubertin
11
em deixar os acontecimentos políticos e
sociais a margem dos Jogos. Os princípios do Olimpismo, instituídos por Coubertin,
deveriam superar tudo isso, mas não foi o que ocorreu. Conforme Carravetta (1997), os
Jogos de Berlim seriam um exemplo de que, o esporte, o pode ser considerado
neutro, apolítico.
O Conselho Europa (1986) afirma que o eixo triunfou em Berlim, pois a
Alemanha nazista dominou os habituais vencedores, os Estados Unidos; a Itália
9
Leni conheceu Hitler em 1932 e foi convidada a filmar diversos eventos do Partido Nazista. Sempre
contando com grandes oamentos e fartura de recursos cnicos, filmou 250 horas dos Jogos de Berlim.
Assim, demorou dois anos para concluir seu trabalho, o filme Olympia. Dividiu em duas partes e teve seu
laamento em 1938 (MELO, 2005).
10
Almeida (2006) refere que a partir do estudo do filme Olympia pode-se perceber intimamente a feitura
de um programa político visual e seu movimento de construção e reconstrução da memória coletiva em
momento privilegiado como os Jogos Olímpicos.
11
Pierre de Coubertin foi o idealizador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Além de resgatar os Jogos
da Antiga Grécia, elaborou a filosofia que deveria reger todos os Jogos Olímpicos: o Olimpismo.
“Olimpismo é uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades de corpo, espírito e
mente, combinando esporte com cultura e educão. O Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado
no prazer encontrado no esfoo, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios
éticos fundamentais universais” (IOC, 2003, p.09).
37
fascista teve mais medalhas que a França; o Japão foi largamente superior à Grã-
Bretanha. Com isso, circulava o seguinte comentário:
[...] o fascismo, o nazismo, são incontestáveis catalisadores de energia e
de potencial humanos. As democracias amoleceram; demasiado
intelectualizadas ver-se-ão dominadas por ditadores jovens e vigorosos
(CONSELHO EUROPA, 1986 p.30).
Cardoso (2000) lembra que Hitler ainda cedeu a algumas exigências olímpicas:
retirou um cartaz da entrada da Vila Olímpica que dizia “proibida a entrada de cachorros
e judeus e apenas proferiu na cerimônia de abertura “declaro aberto os Jogos de
Berlim”. Porém, essas concessões, serviam para desfazer as suspeitas que havia em
torno dasões anti-semitas que estavam sendo realizadas.
A delegação brasileira que foi a Berlim refletia a divisão política do esporte
brasileiro. Segundo Rubio (2005) os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 foi um dos
principais episódios das diferenças entre duas instituições brasileiras: o Comitê
Olímpico Brasileiro e a Confederação Brasileira de Desportos.
Nos Jogos de 1936 duas delegações chegaram a Berlim: uma do Comitê
Olímpico Brasileiro, reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional, que era chamada
de oficial e outra da Confederação Brasileira de Desportos, apoiada pelo governo
brasileiro. Somente foi possível inscrever os atletas brasileiros com a intermedião das
autoridades olímpicas em território alemão.
Com um total de 72 atletas o Brasil não conquistou nenhuma medalha. Vale
destacar a presença da nadadora Maria Lenk na delegação brasileira destes Jogos
Olímpicos. Lenk era uma brasileira ‘de origem alemã’ e apresentou nesses Jogos uma
inovação de estilo que mais tarde seria reconhecido como nado borboleta (CARDOSO,
2000).
Entretanto a inovação do estilo de nado feito por Lenk não seria o destaque
performático desses Jogos. Jesse Owens
12
pode ser pensado como o atleta de
destaque e a Cerimônia de Abertura como um cerimonial de impacto.
12
Atleta norte-americano vencedor dos 100m e 200m rasos, do salto em distância e do revezamento
4x100m (IOC, 2006). Ficou conhecido por ser de descenncia afro-americana e desmistificar a teoria da
superioridade da raça ariana proposta por Hitler.
38
O cerimonial de abertura dos Jogos de 1936 foi revisto cuidadosamente, sendo
incorporados a cada um deles elementos de grandiosidade. Cardoso (2000) lembra da
construção de um sino de quatorze toneladas, onde era possível ler o seguinte verso:
‘Convoco a juventude do mundo’. O mesmo autor fala da composição de um hino
olímpico especialmente para a ocasião por Richard Strauss.
Mas a contribuição que ganhou relevância como símbolo olímpico até os dias de
hoje foi a Corrida de Revezamento da Chama Olímpica. A Chama Olímpica já havia
aparecido em outros Jogos, mas um revezamento saindo das ruínas de Olímpia e
chegando no local de realização dos Jogos era algo inédito.
3.1.1. De Olímpia a Berlim: o primeiro Revezamento da Chama Olímpica
Partiremos agora neste sub-capítulo para um aprofundamento sobre a primeira
Corrida de Revezamento da Chama Olímpica saindo de Olímpia para chegar na
Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Cousineau (2004)
afirma que essa Corrida de Revezamento foi realmente à única inovação importante
desses Jogos. Segundo o autor, foi Carl Diem que trouxe a idéia de glamurizar os
Jogos Olímpicos com uma aura antiga.
Carl Diem foi o secretário geral do comiorganizador dos Jogos Olímpicos de
Berlim em 1936. Borgers (1996) e Lennartz (2005) lembram que em 1931 Diem já havia
concebido a idéia de uma corrida de revezamento, porém somente em 1934 que
Coubertin e Baillet-Latour
13
apresentaram a idéia para os membros do Comitê Ompico
Internacional (COI).
Segundo Pouret (1968; 1974) foi em maio de 1934 que os amigos Carl Diem e
Jean Ketseas
14
se encontraram em Atenas (Grécia) e discutiram sobre a idéia de uma
corrida de revezamento. Esse encontro ocorreu a caminho de Olímpia pela estrada de
13
O Belga, Conde Henri de Baillet-Laour, foi o sucessor de Coubertin na presidência do Comitê Olímpico
Internacional. Seu mandato foi de 1925 a 1942; sofreu as conseqüências da guerra e de dar uma ‘benção
tácita’ aos Jogos Olímpicos de 1936 (BIANCHI, 2005).
14
Pouret (1974) reforça a idéia de que a corrida de revezamento proposta por Diem teve maior aceitação
devido ao aval de Jean Ketseas, pois esse era membro do International Olympic Committee for Greece e
profundo conhecedor dos Jogos Olímpicos da Antigüidade.
39
Tripolis, passando pelo vilarejo de Tegea, onde almoçaram e discutiram sobre os
desenvolvimentos futuros para os Jogos Olímpicos de 1936.
Os conhecimentos de Diem sobre os possíveis rituais realizados na Antigüidade
deram o suporte para a criação da corrida de revezamento. Na antiguidade a tocha
olímpica simbolizava um ritual de reverência aos deuses, sendo que as corridas com
tochas (Lampadedromía
15
), eram organizadas para homenagear algum deus ou
simplesmente destacar o heroísmo daquele que seria o mais rápido a levar a tocha ao
seu destino. Eram competições de equipes e, através de toda a hisria, a corrida
permaneceu como a primeira e principal cerimônia religiosa cujo aspecto ritual tinha
primazia sobre o seu caráter competitivo (YALOURIS, 2004).
Em Atenas a chamada lampadedromia era organizada em honra a certos
deuses, incluindo Prometeu
16
. As corridas em homenagem a esse deus tinham como
caráter comemorativo o fato de Prometeu ter roubado o fogo dos deuses e ter trazido
sabedoria e conhecimento ao homem. A chama era transmitida por corredores e o
primeiro competidor a chegar no altar do deus tinha honra de reacender essa chama
mitológica (POURET, 1974; IOC, 2002a).
Barney e Bijkerk (2005) defendem a idéia que Diem teve a inspiração de realizar
o revezamento a partir da experiência da Chama Olímpica realizada em 1928 nos
Jogos Olímpicos de Amsterdã. Além disso, Diem já havia testemunhado uma corrida de
revezamento em 1922, realizada por estudantes alemães da Deutsche Hochschule fur
15
Também chamadas de
Lampadoforias.
São festas gregas, celebradas em honra a três divindades:
Minerva [Palas Atenas], por haver oferecido o azeite aos homens; Vulcano, por ter inventado a lâmpada;
e, Prometeu, por haver roubado o fogo do céu para oferecer à humanidade. Durante estas festas
acendia-se grande número de mpadas. Realizavam-se os jogos Lampadodromios, nos quais os atletas
disputavam uma corrida carregando archotes nas mãos (CIVITA, 1973 p.105).
16
Prometeu era um dos titãs, uma raça gigantesca que habitou a Terra antes do homem. Ele e seu irmão
Epimeteu foram incumbidos de fazer o homem e assegurar-lhe, e aos outros animais, todas as
faculdades necessárias à sua preservação. Epimeteu encarregou-se da obra e Prometeu, de examiná-la,
depois de pronta. Assim, Epimeteu tratou de atribuir a cada animal seus dons variados, de coragem,
força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras a outro, uma carapa protegendo um terceiro etc.
Quando, porém, chegou à vez do homem, que tinha de ser superior a todos os outros animais, Epimeteu
gastara seus recursos com tanta prodigalidade que nada mais restava. Perplexo, recorreu a seu irmão
Prometeu, que, com a ajuda de Palas Atenas, subiu ao céu e acendeu sua tocha no carro do sol,
trazendo o fogo para o homem. Com esse dom, o homem assegurou sua superioridade sobre todos os
animais. O fogo lhe forneceu o meio de construir as armas com que subjugou os animais e as
ferramentas com que cultivou a terra; aqueceu sua morada, de maneira à torna-se relativamente
independente do clima, e, finalmente, criar a arte da cunhagem das moedas, que ampliou e facilitou o
comércio (BULFINCH, 1999).
40
Leibesubungen (Instituto Esportivo Nacional Alemão), em comemoração a abertura do
Deutsche Kampfspiele
17
e do 40
o
aniversário de Diem.
Lennartz (1997) ressalta o encontro em Tegea como o ponto inicial da idéia de
uma corrida de revezamento, porém autoria da mesma ao Duque de Magdeburg. O
autor faz essa afirmação com base no seguinte discurso proferido pelo Duque:
Gentlemen, One hundred years ago, a member of my family came to
Greece and died fighting for its freedom. I, who have come here one
hundred years later, after getting to know the place and its people can
truly say that any sacrifice would be justified fur such a nation.
Participants, A thought has just come to my mind and I swear before you
that I shall implement it before the beginning of the next 11
th
Olympiad to
be celebrated, in 1936, in my hometown, Berlin. I want to organize a
grandiose relay race between adjacent states during which athletes from
these countries will carry to our Stadium the Olympic Light from the
sanctuary of Olympia. It is only right that Greece should once again bring
the light to the West (LENNARTZ, 1997 p.10)
18
.
Ainda segundo Lennartz (1997) o livro de visitas de Tegea é um documento que
autentica a veracidade desse fato. Além disso, a fala a favor de um Kindling and relay
para os Jogos de Berlim em 1936 do Duque de Magdeburg foi tão exaltada que a
Associação de Tegea construiu uma placa em mármore para comemorar esse dia.
Sabemos que, desde a celebração dos primeiros Jogos Ompicos da Era
Moderna em Atenas em 1896, Coubertin sempre buscou elementos para tornar os
Jogos Olímpicos diferentes de outros campeonatos esportivos. E, segundo Pouret
(1968), Coubertin viu na idéia de Diem o nascimento de um símbolo diferenciado, que
significaria a união entre o passado e presente, através da união da histórica cidade de
Olímpia com a cidade que tivesse a honra de organizar os Jogos Olímpicos modernos.
17
Jogos Nacionais Alemães. Foram realizados para preencher a temporária desqualificão dos alemães
dos Jogos Olímpicos de 1920 e 1924 (BORGERS, 1996).
18
Cavalheiros, cem anos atrás um membro de minha familha veio para a Grécia e morreu lutando pela
sua liberdade. Eu, que cheguei aqui cem anos mais tarde, tendo depois conhecido esse local e suas
pessoas posso verdadeiramente dizer que qualquer sacrifício seria justificado por tal nação.
Participantes, um pensamento apenas vem em minha mente e eu juro perante a vocês que eu
emplementarei isso antes do início da XI Olimpíada para ser celebrada, em 1936, na minha cidade natal,
Berlim. Eu quero organizar uma grandiosa corrida de revezamento entre estados adjacentes durante os
quais atletas destes países carregarão para nosso estádio a Chama Olímpica do santuário de Olímpia. É
somente certo que a Grécia deve, mais uma vez, trazer a chama do Oeste (tradução nossa).
41
Todt (2005) amplia essa iia dizendo que Coubertin cuidou com especial
atenção das cerimônias e símbolos olímpicos. Pouret (1974) lembra que para Pierre de
Coubertin a idéia de Diem ia ao encontro da noção que ele possuía sobre os símbolos.
Para ele os símbolos, como a bandeira olímpica que possuía o fundo branco com os
cinco anéis interligados, imprimiam força ao Olimpismo na medida que são uma
linguagem abstrata que fala” por si só em um plano mundial.
Não pretendemos analisar os motivos e as influências
19
pela qual Diem estava
inspirado no momento de conceber a idéia da Corrida de Revezamento.
Especificamente no dia 18 de maio de 1934 Carl Diem apresentou a idéia de trazer a
Chama através de um revezamento para o estádio de Berlim. O COI aprovou a idéia e,
no dia 20 de julho de 1936, 14 gregos se reuniram em torno do templo de Zeus em
Olímpia e, usando apenas um recipiente para captar os raios do sol, acenderam a
‘chama sagrada’ (MALLON, 1984).
Entretanto, a primeira Corrida de Revezamento da Chama Olímpica não passou
impune a alguns percalços (IOC, 2002a):
a) O sítio arqueológico de Olímpia tinha difícil acesso e as estradas tiveram que
ser construídas especialmente para o revezamento;
b) O planejamento do itinerário necessitou de muitas viagens, principalmente
para que o período fosse no tempo previsto;
c) Com a ausência de produtos adequados (como a tocha, a pira, etc.) muitas
pesquisas foram feitas junto a especialistas em tecnologia, assim como
muitos testes com os raios solares em diferentes instrumentos ópticos.
O percurso geral que seguiu o revezamento após o acendimento da Chama
Olímpica está descrito no quadro 1 e na ilustrão 1.
19
No contexto olímpico da Era Moderna a chama e o revezamento foram utilizados nas seguintes
ocasiões: Em Paris (1894) uma corrida com tochas foi organizada durante o International Congress for
the Restoration of the Olympic Games; em Amsterdã (1928) o fogo foi aceso na torre do estádio durante
os Jogos Olímpicos, sendo a torre construída especialmente para esse propósito pelo arquiteto do
estádio, Jan Wils; nos Jogos de Los Angeles (1932) a chama ficou acesa no estádio e, durante a
cerimônia de encerramento, a seguinte citação de Coubertin apareceu no placar do estádio: May the
Olympic Torch follow its course throughout the ages for the good of a humanity ever more ardent,
courageous and pure” (IOC, 2002a; KIDANE, 2000). Tomara que a tocha olímpica siga seu curso através
dos tempos para o bem de uma humanidade ainda mais ardente, corajosa e pura (tradução nossa).
42
País Cidades
Km
percorridos
Grécia Olímpia; Atenas; Saloniki 1.108 km
Bulgária Sofia; Zaribrod 238 km
Iugoslávia Nis; Belgrado; Novisad 575 km
Hungria Szeged; Budapeste; Oroszavar 386 km
Áustria Karlburg; Vienna; Waidhofen 219 km
Tchecoslováquia Tabor; Praga; Teplice 282 km
Alemanha Dresden; Liebenwerda; Berlim 267 km
Quadro 1 - Percurso Geral da Chama Olímpica em 1936 (LIMPERT, 1936)
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Fotografia 1 - Mapa do Percurso Geral da Chama Olímpica em 1936 (LIMPERT, 1936)
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A tocha usada em Berlim era parecida como uma vara de metal onde as mãos
eram protegidas por metal redondo. Este modelo foi concebido por Diem, executado
pelo artista Lemeke e manufaturado gratuitamente por Krupp. Ela pesava em torno de
um quilo. Na parte superior continha um composto de magnésio que servia como
combustível para dois vimes prontos para serem inflamados. Esses produtos tinham
sido testados em situação crítica de temperaturas, ventos e água. Além disso, cada
atleta possuía um kit de reparo para emergências. As tochas tinham no seu corpo o
roteiro a ser percorrido e as seguintes palavras: ‘agradecimentos ao condutor’, pois
cada condutor poderia ficar com a tocha ao final do seu trecho, onde também receberia
um diploma de agradecimento (DURANTEZ, 1985).
Na fotografia 2 a tocha olímpica sem o vime e seus detalhes comentados.
Fotografia 2 - Detalhe da Tocha Olímpica (LIMPERT, 1936)
Para cada pausa ou parada do revezamento nas diferentes cidades da rota
estabelecida, foi planejado duas horas de atividades ao ar livre fazendo uma efetiva
45
introdução aos Jogos Olímpicos. As atividades incluíam danças, cantos, exibições de
ginástica, competições esportivas, concertos e outros eventos de caráter festivo. Um
modelo de programa geral foi enviado para cada cidade. Este programa tinha a
seguinte seqüência: chegada do corredor; acendimento do Fogo Olímpico; cantar o
hino Burn, Olympic Flame endereçado por um Chefe de Estado; cantos gerais;
exercícios de ginástica feitos por homens, mulheres e crianças; demonstrações de
esportes; cantar o hino Olímpico; festividades direcionadas aos Jogos Olímpicos;
danças folclóricas; canções folclóricas; preparação do próximo corredor do
revezamento; discurso; cantar o hino nacional; saída do corredor e; tocar de sinos
(LIMPERT, 1936; DURANTEZ, 1985).
Durante esse período de festividades a Chama Olímpica deveria ficar em local
privilegiado construído especificamente para a ocasião, assim no momento da chegada
do revezamento era aceso este local e as festividades planejadas iniciavam. O
privilégio de comandar essa cerimônia era geralmente concebido aos prefeitos das
cidades. Durante toda a jornada da Chama Olímpica o sistema de alto-falantes do City
Hall em Berlim anunciava boletins e incidentes ocorridos até a chegada na cidade que
teve a duração de 11 dias e 12 noites (DURANTEZ, 1985).
A seguir fotografias que ilustram as festividades nas diferentes cidades ao longo
do percurso do Revezamento da Chama Olímpica até Berlim:
Fotografia 3 - Primeiro corredor em Olímpia (LIMPERT, 1936)
46
Fotografia 4 - Revezamento chega no estádio de Delfos (LIMPERT, 1936)
Fotografia 5 - Cerimônia em frente a Catedral de Sofia (LIMPERT, 1936)
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Fotografia 6 - Passagem pela Iugoslávia (LIMPERT, 1936)
Fotografia 7 - Chama Olímpica acesa no túmulo de um soldado em Budapeste (LIMPERT,
1936)
48
Fotografia 8 - Dr. Theodor Schmidt, membro austríaco do COI, acende a tocha na divisa
austro-húngara (LIMPERT, 1936)
Fotografia 9 - O último corredor da Tchecoslováquia cumprimenta o primeiro corredor
alemão (LIMPERT, 1936)
49
Fotografia 10 - Cerimônia em KönigsuferDresden (LIMPERT, 1936)
Fotografia 11 - Jovens carregam a Chama Olímpica da Torre de Bismarck para
Müggelberg Grünau (LIMPERT, 1936)
50
Fotografia 12 - Chama Olímpica chega em Berlim (LIMPERT, 1936)
51
Depois de percorrer a Grécia, a Bulgária, a Iugoslávia, a Hungria, a Áustria, a
Tchecoslováquia o Revezamento da Chama Olímpica em 1936 chegou ao seu ápice
em Berlim na Cerimônia de Abertura dos Jogos. Totalizando 3.187 km (incluindo as
passagens especiais nas cidades alemãs Kiel e Grünau) a tocha, com a Chama
Olímpica, foi carregada por 3.331 corredores, até o ponto final com o alemão Fritz
Schilgen que teve a honra de acender a Pira Olímpica no dia de agosto de 1936.
Quando ele entrou pelo portão Leste do estádio e acendeu a Pira Olímpica foi um
momento de grande ovação (MALLON, 1984; IOC, 2002a).
A partir desse momento a chegada do Revezamento da Chama Olímpica passou
a ter um local de destaque junto à Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos. O
revezamento constituía-se no mbolo que ligava os Jogos da Era Moderna aos Jogos
da Antigüidade. Esse momento de grande ovação pode ser observado nessa passagem
de Diem (1964):
A chegada do portador da chama olímpica no estádio no dia da
cerimônia de abertura é um momento de clímax. Primeiro, rumores
distantes e gritos o ouvidos; eles gradualmente tornam-se mais altos e
chegam mais perto... Finalmente o corredor chega ao estádio, ele entra
através da entrada dos corredores de maratona, faz uma volta
cerimonial, sobe os degraus, saúda os presentes com a tocha e
solenemente acende a chama na pira (apud DURANTEZ, 2000, p.16).
A descrição acima denota todo o aspecto simbólico que passou a envolver esse
cerimonial. Esse simbolismo chamou a atenção de dirigentes esportivos porto-
alegrenses que estavam assistindo a Cerimônia de Abertura dos Jogos de 1936.
Estavam presentes os seguintes dirigentes esportivos porto-alegrenses no
Estádio Olímpico de Berlim: Túlio De Rose – vinculado a Federação Gaúcha de Remo e
ao Canottiere Duca degli Abruzzi
20
; JoCarlos Daudt vinculado a Liga Atlética Rio
20
O Canottiere Duca degli Abruzzi era o conhecido como o clube de remo dos italianos e após a
nacionalização em 1942 passou a ser chamado de Clube de Regatas Duque de Caxias (MAZO, 2003).
52
Grandense e a TurnerBund
21
; e Darci Vignoli vinculado a Liga de Defesa Nacional e
ao Grêmio Náutico União
22
.
lio De Rose, em especial, ficou impressionado com a magnificência dos Jogos
e com o simbolismo que envolvia aquela Corrida de Revezamento. Assim ao retornar
para Porto Alegre, começou a buscar formas de realizar uma corrida semelhante na
cidade. Entretanto, o devemos esquecer que nos Jogos de Berlim em 1936, Hitler
usaria a força do simbolismo da Chama Olímpica como uma maneira de unificar seu
povo e mostrar sua soberania com um forte sentido nacionalista.
O nacionalismo nos anos 1930 era visto com ‘bons olhos’ por governantes de
alguns países. No caso brasileiro acenava-se para uma tomada nacionalista a partir de
Getúlio Vargas no Estado Novo (1935-1947). Nesse período as cidades brasileiras
identificadas por etnias européias foram alvo de inúmeras iniciativas no sentido de
abrasileirá-las ao máximo. Porto Alegre, a capital do Estado do Rio Grande do Sul foi
uma dessas cidades. O contexto desta cidade, nos anos de 1930 a 1940, será
aprofundado no sub-capitulo seguinte.
3.2. Porto Alegre 1930-1940: percorrendo os caminhos da cidade
Neste sub-capítulo voltamos nosso olhar para o contexto local do estudo: a
cidade de Porto Alegre (RS). No primeiro momento do capítulo veremos que Porto
Alegre no final da década de 1930 era uma cidade que buscava se alinhar ao ideário
moderno europeu. No segundo momento veremos que com o advento do Estado Novo
(1937-1945), as questões administrativo-políticas que até então eram vistas pela elite
porto-alegrense somente no sentido de embelezamento da cidade, tornam-se
evidentes. Marcadamente conhecida por sua complexidade étnica, a cidade de Porto
Alegre torna-se alvo dessa política através de diversas práticasvicas, lideradas,
principalmente, pela Liga de Defesa Nacional. Então, no terceiro momento vamos
21
A Turnerbund era um clube identificado com os imigrantes alemães, principalmente pela prática da
ginástica (Turnen). Após a nacionalização em 1942 passou a ser chamado de Sociedade Ginástica Porto
Alegre (MAZO, 2003).
22
O Turnershaft era um clube identificado com os imigrantes alemães, principalmente pela prática do
remo. Após a nacionalização em 1917 o clube passou mudou seu nome para Grêmio utico União
(MAZO, 2003).
53
observar o associativismo esportivo, mais especificamente, as práticas esportivas, que
até final dos anos 1930 refletiam a diversidade étnica da cidade. Todavia, com o
advento do Estado Novo, o associativismo esportivo foi forçado a construir
representações culturais de uma identidade cultural brasileira referenciada na cultura
luso-brasileira. Diante disso, as práticas esportivas, as competições e cerimônias
relacionadas ao esporte foram convertidas em mecanismos de construção da nação
brasileira.
3.2.1. As administrações públicas da cidade: construindo um palco para o
Fogo Simbólico da Pátria
Nesse primeiro momento buscamos percorrer as administrações políticas da
cidade de Porto Alegre (RS) até o advento do Estado Novo. Nesse sentido devemos
entender que o ser moderno era o pensamento que estava em voga na elite da
sociedade porto-alegrense no início dos anos 1930.
Essa elite assistia todos os dias embarcações internacionais atracarem em seu
porto e, esses navios oriundos dos países desenvolvidos, traziam em suas bagagens
não só produtos, mas principalmente as inspirões do modo de ser moderno. Porém,
para que esse ideal imaginário acontecesse foram necesrios investimentos em
grandes obras, como avenidas e espaços públicos. Além disso, expulsar os
personagens ‘moralmente inferiores’, como os freqüentadores de prostíbulos e cortiços,
também se fazia necessário.
Porto Alegre foi administrada durante 40 anos pelo mesmo partido político: o
Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Nesse período foram duas administrações:
JoMontaury (1897/1924) e Otávio Rocha/Alberto Bins (1924/1937). O período que se
apresenta como relevante para esse estudo é o da administração de Rocha e Bins, pois
ele antecede a realização da CFS. Segundo Damásio (1996), esta gestão foi
considerada pela população porto-alegrense como de grande modernização.
Bakos (1986) lembra que as medidas econômicas e políticas adotadas durante
esses 40 anos foram estratégias para manter a hegemonia política do PRR. Dessa
54
forma, convém pensarmos quais foram às estratégias do PRR para manter essa
hegemonia política e a ligação entre os governos Montaury e Rocha/Bins.
Segundo Damásio (1996) o Plano Geral de Melhoramentos foi um documento
chave para consolidação do PRR no governo. Esse Plano apareceu ao final da
administração de Montaury como uma ão efetiva para que as próximas
administrações fizessem as almejadas transformações na cidade. Convém lembrar que
o chamado ‘constituismo administrativo’ do PRR iniciou no governo Montaury, porém
sua administração não fora tão efetiva na transformação da paisagem da cidade como
queria a população. Em seu governo foram realizadas apenas obras estruturais sem as
grandes avenidas, praças ajardinadas e espaços para o convívio coletivo como
esperavam os porto-alegrenses.
Após algumas denúncias de fraude, mas baseados em discursos de
modernidade e higienização que constavam no Plano Geral de Melhoramentos, Rocha
e Bins obtiveram êxito em sua candidatura. Conforme Damásio (1996) a Revolução de
1923 ainda afetava o domínio político do PRR e a administração de Rocha e Bins
deveria atingir a população com novos planos e idéias. Foram três os temas escolhidos
para atingir a população: a renovação da estrutura urbana, adaptando-a as novas
necessidades da cidade em desenvolvimento; a elaboração de uma paisagem
esteticamente ‘moderna’, seguindo padrões da época; e a manutenção da ordem
urbana, fazendo um rigoroso controle social.
Devemos lembrar que Alberto Bins, vice de Otávio Rocha, assumiu como
intendente municipal no início de 1928 devido à doença e, após, falecimento de Rocha.
Seu mandato vai até o início do Estado Novo e, neste período, teve grande aceitação
junto às burguesias industrial e comercial devido sua posição social. Bins era um
eminente industrial gaúcho descendente de alemães e ex-presidente da Associação
Comercial de Porto Alegre. Além disso, sua geso ocorre paralelamente a ascensão de
Getúlio Vargas (governador do Estado do Rio Grande do Sul em 1928 e presidente do
país em 1930) em um momento de “crescimento de uma burguesia citadina, ligada a
indústria, ao comércio e à especulação imobiliária, com a conseqüente busca de
ampliação de seu espaço” (MACHADO, 1998 p.61).
55
Machado (1998) lembra que em 1932 surge o PRL no Rio Grande do Sul,
expressando um novo contexto nacional e regional que exige uma maior integração
entre o Estado e o mercado nacional para escoamento da produção. Dessa forma o
PRL apresenta um programa eclético, onde a visão regionalista do Rio Grande do Sul
acima ou servindo de exemplo à nação, está permeando alguns setores do partido.
Bins era um continuísta que deveria inovar e para isso revigorou o Plano de
Melhoramentos. Apesar de ter sido elaborado em 1914, o Plano foi colocado em prática
somente dez anos depois e, estava em sintonia com os conceitos urbanísticos da
época, destacando-se como um projeto pioneiro no âmbito do planejamento urbano
realizado no Brasil (BELLO, 1997).
Damásio (1996) afirma que a questão estética era a idéia mais importante. Seria
através dessas mudanças que pretendia se atingir o gosto da ‘nova’ burguesia que se
instalava em Porto Alegre: comerciantes e industriários. Além disso, essa ‘ordem
burguesa’ pretendia criar um modelo ideal de comportamento citadino através de
critérios, pelo menos aparentes, morais e higiênico.
Monteiro (1992) ressalta que atrás da retórica higienista e estética havia a
intenção de afastar a chamada ‘gentalha’ do centro da cidade. O ponto final disso era
manter a hegemonia do PRR, padronizar a vida urbana seguindo os moldes
considerados simbólicos do progredir e, acima de tudo, o controle social.
Para padronizar as condutas ou comportamentos da vida urbana e tornar a
cidade com uma imagem de metrópole mundial, foi implantada uma nova política
tributária onde o foco principal era a região central da cidade. Segundo Damásio (1996)
as atividades tipicamente populares de lazer como bares, os bailes públicos, as
quadras de esportes tiveram uma elevação nos impostos. Enquanto que os prados de
corrida, atividade considerada chic da vida social, teve mantido as tributações normais.
Através disso, percebe-se que os administradores, que também faziam parte da high
society porto-alegrense, atingiam seus objetivos de hegemonia política mudando
principalmente o centro da cidade.
Empréstimos foram feitos pelos administradores em uma tentativa de concluir
uma de suas principais obras: o viaduto da Avenida Borges de Medeiros. Ele ligaria a
zona sul ao centro e seguia as grandes tendências da época, sendo posteriormente um
56
cartão postal em termos de modernidade. Monteiro (1992) afirma que a abertura das
avenidas Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros emergem como paradigmas no
projeto de modernidade da elite porto-alegrense de integrar as classes populares a
‘sociedade moderna’.
Porém, a atenção principal se deu na Rua dos Andradas. Ali foram retirados
prostíbulos populares, pois atingiam a moralidade das senhoras que praticavam seu
footing
23
. Foi nessa rua que os porto-alegrenses atingiram seus ideais de modernidade,
pois segundo Damásio (1996) a cidade urbanisticamente não atingiu os ideais de
modernidade da administração Rocha/Bins. Porém, no imaginário da população
caminhar por essa rua era como andar pela Broadway, devido a grande concentração
de pessoas, bares, cinemas e vitrines.
Segundo Maroneze (1994) a sociabilidade no centro da cidade também estava
intimamente ligada ao Porto. Dessa forma o centro da cidade se tornava um ambiente
de dinâmica econômica, devido ao movimento nacional e internacional aliado às citadas
mudanças urbanas e sociais desse local. Além disso, o mesmo autor refere que o
desenvolvimento comercial e urbano das grandes capitais européias criou uma espécie
de ‘cultura pública’, uma linguagem nova. Pelo fato dessa linguagem ser internacional e
permitir a relação entre estranhos, penetra em cenários que possuam estrutura para
traduzi-lá e compartilhar a sua maneira. Esse é o chamado cosmopolitismo.
A concentração de pessoas nas ruas derivava dessa mudança no modus vivendi
da população. Apesar de muitas obras inacabadas, a cidade estava mais estruturada
para receber a população. A vida em público e as atividades de lazer passaram a fazer
parte do cotidiano porto-alegrense. Segundo Damásio (1996) um apogeu de vida
coletiva estava se gerindo, atraindo ao espaço público uma população ávida por
desfrutar da cênica moderna. Porém, faltava modernizar a população, ou seja, educar
para o espaço público.
A primeira tentativa de realizar essa educação foi através de leis que se
buscavam diferenciar os bons e os maus, os limpos e os insanos, os ordeiros e os
desordeiros, ou seja, os ‘modernose os não ‘modernos’. Em 1934, a prefeitura toma
providências e estipula regras para melhor circulação dos pedestres no centro da
23
Chamava-se footing a atividade de circular, a pé, pela rua.
57
cidade. Segundo Damásio (1996) Porto Alegre seria a única cidade brasileira que teria
o trânsito de pedestres regulamentado.
De acordo com Damásio (1996) para a população a modernidade havia chegado
e por isso os comportamentos se modificaram com base no modo de viver das grandes
metrópoles. Além do cinema, da moda, do footing, do automóvel a modernidade
apresentava outro símbolo: o esporte. Nas grandes metrópoles as práticas esportivas
eram vistas como parte importante da vida social. O esporte começa a se tomar mais
relevante para a sociedade porto-alegrense, porém revestido de discursos e iniciativas
que faziam parte da política do Estado Novo.
Com o pensamento voltado para a modernidade a população se deparava com
um novo cenário político. Esse cenário torna-se mais evidente à população porto-
alegrense quando Getúlio Vargas vê no governador do Estado do Rio Grande do Sul,
Flores da Cunha, o único obstáculo para sua subida ao governo do Brasil.
Getúlio precisava isolar essa resistência e, assim, o fez no dia 18 de Outubro de
1937. Nesta data, a Brigada Militar, uma das mais poderosas forças do Estado do RS,
foi federalizada e seu comando transferido ao Exército. Flores da Cunha não pode
reagir e, no outro dia, renunciou exilando-se no Uruguai. Daltro Filho foi nomeado
interventor do Rio Grande do Sul e, nesse momento, se vivia o Estado Novo em
Porto Alegre, um período que compreenderia os anos de 1937 a 1945.
Com o advento do Estado Novo sucedem ao poder três prefeitos em Porto
Alegre: Loureiro da Silva, Antônio Brochado da Rocha e Clóvis Pestana. Mas quem
assume as diretivas pragmáticas a serem seguidas é Loureiro da Silva. Podemos
considerar esse período de três prefeitos como o período de Loureiro à frente da
administração de Porto Alegre. Esse fato se dá devido à duração do seu mandato (seis
anos - 1937/1943) ser três vezes maior que a soma dos mandatos de seus dois
sucessores imediatos (26 meses - 1943-1945). Ainda, “implementa uma série de ações
com profundas repercussões no campo urbano, sendo apelidado de ‘o modernizador de
Porto Alegre’” (MACHADO, 1998, p.109).
Um exemplo dessas ões foi à reformulação do Parque Farroupilha
(Redenção). A primeira ão para sua remodelação foi para as comemorações da
Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha em 1935. Entretanto, somente após
58
a exposição, juntamente com as obras que se seguiram no período administrativo de
Loureiro, que deram ao Parque status de ponto turístico e palco das comemorações da
Semana da Pátria (LUZ, 1999).
A Pira da Pátria foi construída no Parque Farroupilha especialmente para a
Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria em 1938. Esse fato reforça o
Parque como palco de grandes acontecimentos públicos no período do Estado Novo
conforme reportagem publicada no Correio do Povo:
[...] Idea e realização do esculptor Marcos Bastos, alem da belleza
acadêmica do seu traçado e de sua alta expressão symbolica, a Pyra
deveria ostentar, no pedestal, dois baixos relevos representando,
atravéz de varias imagens, o vigoroso espírito de brasilidade que vae
pelo paiz em fora.
Infelizmente, o houve tempo para que esses baixos relevos fossem
collocados, muito embora estejam elles promptos, dias, no atelier
do esculptor Marcos Bastos.
Em vista disso, a solemnidade de hontem, que esteve imponente, como
se vê do noticiário alusivo, foi realizada com a Pyra despida dos seus
principaes elementos ornamentaes.
Mesmo assim a obra impressionou magnificamente, pela puresa de suas
linhas e impeccavel acabamento, revelando de maneira consagratoria, o
admirável senso esthetico do esculptor Marcos Bastos.
A firma Dahne Conceição e Comp., que se incumbiu de contruir a pyra,
pretende, ainda hoje, collocar os respectivos baixos relevos no pedestal
da obra, o que não foi feito anteriormente, por falta de tempo e também
devido as últimas chuvas.
De sorte que, de hoje em diante, as multidões que desfilarem pela rua
Luiz Affonso em estado de exaltação cívica, terão, ao defrontar a pyra,
uma visão completa do sentido symbolico que Marcos Bastos deu ao
seu trabalho, conciliando de forma, conciliando, de forma eloqüente, o
seu aprimorado sentimento esthetico com a vibração que anima a todos
riograndenses, nesta hora solemne de culto ao Brasil (CP, 01/09/1938,
p.16).
A fotografia 13 revela o acendimento da Pira da Pátria recém construída em
1938:
59
Fotografia 13 - Pira da Pátria (CP, 01/09/1938, p.16)
60
O prefeito Loureiro renunciou em setembro de 1943 alegando problemas
pessoais. Ficou doente e desgastado mentalmente devido ao período de lutas políticas
e administrativas acirradas. Segundo Machado (1998) Loureiro não tinha motivos reais
para abandonar uma gestão tão exitosa, porém devido à censura na imprensa, as
desaveas, atritos e, mesmo, os simples desacordos, não chegavam ao conhecimento
público.
A forte ão de mecanismos de controle e repressão abalou Porto Alegre. A
cidade vivia um momento peculiar no Estado Novo. Assim, no que tange ao contexto do
estudo, torna-se relevante um olhar mais apurado para Porto Alegre nesse período
devido à influência de diferentes grupos migratórios na constituição da identidade
cultural da cidade.
3.2.2. As festividades cívicas da cidade no Estado Novo (1937-1945):
exaltando o patriotismo nos clubes
Este sub-capítulo apresenta um panorama do período histórico brasileiro
denominado Estado Novo (1935-1947) e suas repercussões numa cidade com
peculiaridades étnicas como Porto Alegre (RS). Um aspecto marcante desse período foi
o forte estímulo a realização de comemorões da ‘Semana da Pátria’ visando reforçar
o sentimento patriótico dos brasileiros. O patriotismo foi um dos alicerces políticos do
governo de Getúlio Vargas no Estado Novo.
Barroso (1999) afirma que foi a partir da Revolução de 1930 que se decretou o
fim da República Velha. Esse seria um ‘divisor de águas’, pois deu fim ao domínio do
Brasil rural e deu início ao ingresso do urbano no cenário das articulações da nação.
Era a passagem do arcaico para o moderno, do agrário-exportador para o industrial, do
regionalismo para o centralismo. Este posicionamento do Brasil ao centro dava à
arrancada ao autoritarismo no Brasil.
O ‘golpe final do autoritarismo foi em 10 de novembro de 1937 com a
oficialização da ‘nova’ Constituição e de outras medidas, como o fechamento do
Congresso, a suspensão das eleições, a proibição dos partidos e a censura à imprensa.
A queima das bandeiras dos Estados foi o ato simbólico para demonstrar o
61
enfraquecimento do poder regional e estadual podendo ser visto como um ritual de
unificação da nação sob a égide do Estado (OLIVEN, 1992).
Após esse golpe, nada poderia simbolizar mais a centralização do poder, do que
a queima de todas as bandeiras estaduais (e dentre elas a bandeira do estado do Rio
Grande do Sul) num ato público realizado na praia do Russel, no Rio de Janeiro.
Buscava-se liquidar na teoria e na prática a autonomia estadual. Através do fogo
purificava a nação de um dos seus ‘males’: os símbolos regionais (CARNEIRO, 1999).
O clima da Segunda
Guerra Mundial colaborou para compor um quadro favorável
a exacerbação do patriotismo no Brasil. A Segunda
Guerra e suas conseqüências
caracterizam o Estado Novo (advento, consolidação e queda), como um período
peculiar, no qual a política externa brasileira influenciava o ritmo das atuações nos
Estados. Alemanha e Estados Unidos disputavam o controle comercial do país e,
conseqüentemente, Porto Alegre sofria com as influências culturais (MACHADO, 1998).
Machado (1998) afirma que em 1939 os norte-americanos conseguiram a
primazia no plano comercial e em 1940 no plano cultural. Porém, convém lembrarmos
que a forte colônia alemã em Porto Alegre manteve a soberania comercial e cultural por
alguns anos nesse período. Somente após as medidas retaliativas contra os teuto-
brasileiros
24
que se esmoreceu essa soberania alemã na cidade.
Outras medidas foram consolidadas na cidade para manter a hegemonia cultural
americana. Uma delas era através do cinema, onde os filmes americanos buscavam
difundir uma imagem adequada do país. As constantes visitas dos astros de Hollywood
e outras personalidades, como Walt Disney, completavam essas medidas controladas
principalmente pelo Instituto Universal Americano (MACHADO, 1998).
O imaginário da Broadway gaúcha era mais acentuado. Porém, no processo
nacional as cidades deviam abrigar cada vez mais o contingente originário no campo
que ouviam a industrialização como anúncio de dias melhores. Entretanto, Machado
(1998) lembra que esse discurso buscava constituir mão-de-obra de reserva.
Damasceno (1990) lembra que o Estado Novo vinha para colocar o desenvolvimento
24
Segundo Seyferth (1982) é aquele que mantém sua língua e seus costumes alemães, sem constituir
uma ameaça ao Estado e se interessa como cidadão brasileiro pela sua terra e não fica atrás dos
brasileiros em patriotismo e disposição para o trabalho.
62
nacional a serviço do homem e para isso uma reordenação no mercado de trabalho se
fazia presente.
O Jeca-Tatu
25
, de Monteiro Lobato não poderia ser mais o modelo a seguir. Era
preciso transformar o ‘Jeca’ em um trabalhador urbano, em um cidadão construtor e
beneficiário do desenvolvimento nacional. Gomes (1982) reforça essa idéia dizendo
que:
Promover o homem brasileiro e defender o progresso e a paz do país
eram objetivos que se unificavam em uma mesma e grande meta:
transformar o homem em cidadão/trabalhador, responsável por sua
riqueza individual e também pela riqueza do conjunto da nação (p.152).
Segundo Monteiro (1992) por trás do discurso técnico-racional de higienização e
embelezamento da cidade de Porto Alegre, estava à vontade da elite dirigente de
organizar, planejar e disciplinar esse novo contingente de força de trabalho” (p.250). A
construção do ‘novo homem moderno’, trabalhador, econômico, ajustado e voltado à
intimidade do lar está intimamente aos conceitos de modernidade vigentes.
A diferença do discurso dos anos anteriores é o fato de que o crescimento agora
é atrelado ao novo momento do país. Assim, disseminando a idéia de que a
urbanização das cidades refletia o crescimento do país, alimentava a idéia de que
juntos todos ajudavam ao Brasil. Segundo Machado (1998) “as transformações da urbe
o incorporadas a um contexto maior e mais grandioso, da nação em transformão.
Misturam-se e confundem-se expectativas com realizações (p.125).
Com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder nacional, o Rio Grande Sul
assumiu o posto de ‘defensor da nação’ e de ‘celeiro do paísperdendo gradualmente
possibilidades de inserção no processo de industrialização nacional (BELLO, 1997).
Porém, mesmo com esse fator e a diminuição no fluxo migrario, Maroneze (1994)
lembra que Porto Alegre nos anos 1930 irá superar a marca de 250.000 habitantes.
Porto Alegre mantinha-se entre as grandes cidades do país e a sua sociedade
assimilou, com maior ou menor intensidade, as variões dos processos econômicos e
políticos do contexto mundial e nacional. Vale lembrar que nos primeiros anos do
25
Personagem modelado na literatura da década de 20 para ser o protótipo do desprezível e
irrecuperável homem brasileiro, um maltrapilho, desnutrido e incapaz (DAMASCENO, 1990).
63
Estado Novo, a ascensão do fascismo pelo mundo era visível. Em 1922 foi instalado na
Itália um governo de cunho fascista, autoritário, nacionalista, anticomunista pelo Partido
Nacional Fascista. A partir de 1930, na Alemanha, Hitler levaria o nazismo ao poder.
Em 1933, Salazar, inspirando-se em Mussolini, outorgara, em Portugal, o ‘Estado Novo’
português.
Getúlio Vargas, que simpatizava com regimes fascistas desde os tempos de
governador do Estado do Rio Grande do Sul, via também um cenário favorável aos
projetos do Estado Novo. Esses projetos passavam por discursos de construção de
uma nação forte, com vistas favoráveis aos grupos econômicos tradicionais, realizando
uma ‘modernização conservadora
26
’ (MACHADO, 1998).
Manhães (2002) reforça essa idéia dizendo que em 1937-1938 foi instaurada no
Brasil uma ditadura plasmada nos regimes fascistas italianos e alemães. E Moura
(1993) lembra que a política externa brasileira nos anos 30 pode ser descrita como uma
política de eqüidistância pragmática, tanto em questões comerciais, como políticas e
militares entre as duas potências: Estados Unidos e Alemanha. Esta política conduziu à
declaração da neutralidade em julho de 1939, principalmente para aumentar o poder de
barganha dos produtos brasileiros nos anos seguintes. Em agosto de 1942, o Brasil
declarou guerra à Alemanha e à Itália, encerrando-se, assim, a neutralidade. A política
externa brasileira em oito meses mudou para uma aliança firme com os EUA
abandonando a eqüidistância pragmática que tinha guiado os negócios exteriores
brasileiros até 1941.
O discurso de Vargas se alinhava ao imaginário de modernidade dos porto-
alegrenses. Além disso, as censuras étnicas não haviam tomado força na cidade que
era marcada por descendentes de imigrantes europeus. Cantarino Filho (1988) lembra
que o surgimento de núcleos com ligação ao Partido Nazista no Brasil, datam desde
1931, onde havia presença de porto-alegrenses
27
.
26
Dalmáz (2002) retrata com bastante clareza, a partir de pesquisa sobre as reportagens da Revista do
Globo, as divisões de relacionamento Brasil/Alemanha em diferentes momentos. De 1933-1936 o período
de desconfiaa e entusiasmo; de 1937-1938 um período de transição com cticas veladas; e de 1939-
1945 um período de convicção e hostilidade a partir da entrada do Brasil como aliado na 2
a
Guerra
Mundial.
27
A ‘Juventude Teuto-brasileira’ de Porto Alegre funcionou até setembro de 1938, justamente a data de
início das festividades da Semana da Pátria (CANTARINO FILHO, 1988).
64
Cantarino Filho (1989) afirma que os pensamentos de Adolf Hitler sobre ra,
educão e educação sica chegaram aos professores do Rio Grande do Sul em 1934
através da tradução e edições do livro Mein Kampf (Minha Luta). E, afirma que, esses
conceitos hitlerianos, serviram de reforço a alguns deres da educão física durante
ao Estado Novo. Essa educação física, até então pouco regulamentada, ganha força
em Porto Alegre e no Brasil pela idéia de aperfeiçoamento da raça (forte e superior)
através dos exercícios físicos
28
.
Com a extinção dos partidos políticos em 1937 e a participação de estrangeiros
em atividades políticas em 1938, os simpatizantes do nazismo no Brasil ficaram na
ilegalidade. Com entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial em 1942 essas
atuações clandestinas começaram a ser perseguidas pela polícia brasileira, mesmo
sabendo dos pendores que alguns elementos do governo brasileiro possuíam pela
Alemanha Hitleriana anteriormente (CANTARINO FILHO, 1988).
A forte presença de imigrantes, principalmente dos teuto-brasileiros, no Rio
Grande do Sul ficou em evidência nesse período em Porto Alegre, devido às grandes
modernizações feitas na cidade. Eles ocupavam os espaços públicos com intuito de
preservar uma identidade (COERTJENS, 1999). Neste sentido, o estudo de Mazo
(2003) mostra que o associativismo esportivo foi também um espaço de construção e
afirmação da identidade cultural desses imigrantes e de seus descendentes.
Embora conhecida como a cidade dos alemães(PESAVENTO, 1994), Porto
Alegre também reunia outros grupos étnicos europeus. Essa complexidade cultural
caracterizava todo o país, porém o Rio Grande do Sul, que teve um fluxo imigratório
acentuado no início do século XIX (COERTJENS; GUAZZELLI; WASSERMAN, 2004),
ficando fortemente caracterizado socialmente pelas diversas influências étnicas. Este
cenário representava uma ameaça ao ideal nacionalista.
O Governo Federal, segundo Torres (1997) realizou nos primeiros anos que
seguiram a Constituição de 1937, uma obra de nacionalização do ensino primário nos
estados de acentuada imigração de origem estrangeira. No Rio Grande do Sul a
campanha nacionalizadora foi desencadeada imediatamente em 1938, tendo a frente o
28
O estudo de Carlan (1998) reconstitui as comemorões da ‘Semana da Raça’ no município de Ij(Rio
Grande do Sul).
65
interventor federal, coronel Osvaldo Cordeiro de Farias. As denúncias da existência de
grupos nazistas no sul do país favoreceram o recrudescimento das medidas de ação
política e educacional repressivas em todo o Estado.
O Estado buscava formular uma representação da identidade brasileira em
oposição ou contraste as identidades culturais dos imigrantes. A intervenção estatal no
campo da cultura determinou quais as formas culturais que seriam promovidas e que
manifestações culturais seriam descartadas. Uma das estratégias adotadas pelo
governo foi às comemorações de datas oficiais com a crião de rituais de unificação
pública e de afirmação positiva da Pátria. O Estado Novo se constituiu como o período
mais profícuo na promoção de rituais e comemorações destinadas a afirmar um novo
Brasil.
A campanha de nacionalização alicerçava-se na idéia de que, as ações de
caráter comemorativo das datas cívicas brasileiras, contribuiriam para a construção da
identidade nacional. No Estado Novo, as comemorações se constituíram enquanto um
meio de educação vica, que buscava inculcar na memória dos brasileiros as
representações de uma identidade cultural. Essas ões foram incisivas em alguns
pólos regionais, principalmente, onde havia a presença marcante de imigrantes
europeus. A finalidade era eliminar as fronteiras culturais produzidas por esses
imigrantes nas suas instituições.
No sul, a colonização de terras públicas produziu colônias alemãs, italianas,
ucranianas, polonesas etc., ou mistas, com imigrantes de diferentes nacionalidades,
ainda afastadas do convio com a sociedade nacional, portanto menos expostas aos
processos de assimilação nacional. Entretanto, cidades como Porto Alegre,
Florianópolis, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro possuíam, na década de 1930,
contingentes apreciáveis de imigrantes e descendentes, às vezes concentrados em
bairros culturalmente identifiveis por etnia portanto, possuíam visibilidade étnica
(SEYFERTH, 1999).
A concentração inicial dos alemães em áreas relativamente isoladas resultou
numa organização comunitária própria, considerada necessária diante da omissão do
Estado, facilitando o uso cotidiano da língua materna. Em Porto Alegre tal organização
não teve, propriamente, motivações étnicas, mas assumiu, no contexto do contato, sua
66
germanidade (Deutschtum). Não houve aceitação generalizada das doutrinas pan-
germanista e nazista, que produziram uma radicalização racista da noção de
Deutschtum, mas ambas tiveram influência nos meios teuto-brasileiros
29
. De qualquer
modo, a identidade étnica presumia a participação em todas as esferas da vida social
na nova pátria, sem abrir mão da condição étnica, como brasileiros de origem ale
(SEYFERTH, 1999).
Diante da realidade representada pelos sentimentos de etnicidade e da
organização comunitária baseada em distinções étnicas, comuns aos grupos de
imigrantes e descendentes estabelecidos no Brasil, a solução para o problema
imigratório” estava na assimilação de todos esses alienígenas. A apregoada
necessidade da sua transformação em brasileiros de fato, e não apenas por direito de
solo, motivou a campanha de nacionalização, que incidiu de modo mais direto sobre
teuto-brasileiros em razão dos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial
(SEYFERTH. 1999).
Schwartzman (1984) reforça essa idéia dizendo que, o projeto nacionalista,
valorizava “a uniformização, a padronização cultural e a eliminação de quaisquer formas
de organização autônoma da sociedade que não fosse na forma de corporações
rigorosamente perfiladas com o Estado” (p.166). Assim, a homogeneização cultural
fazia parte dos ideais nacionalistas de construção de uma nação forte
30
.
Conforme Gertz (1991, p.07), considerava-seque uma gida campanha de
nacionalizão garantiria o estabelecimento definitivo da unidade e homogeneidade
étnico-cultural-religiosa no Brasil”. Para tanto, as ões nacionalizadoras foram incisivas
em alguns los regionais, onde havia a presença marcante de imigrantes europeus.
No Rio Grande do Sul, os imigrantes alemães e italianos produziram representações
culturais identificadas com a Pátria de origem. Sendo assim, se tornaram foco de
atenção da campanha de nacionalização que tentou eliminar as fronteiras culturais
29
Os chamados teuto-brasileiros comportavam-se de forma a preservar e difundir sua germanidade (no
uso da língua, nas atitudes, no espírito associativo, etc.). Esse procedimento era comum no contexto das
grandes ondas migratórias e de afirmação das identidades nacionais (SEYFERTH, 1999).
30
Na realidade, a idéia de nação incutida pela ideologia nacionalista afirma que só o nacional é cidadão
de fato; portanto, imigrantes e descendentes, portadores de culturas diversas e identidades étnicas não
fazem parte da comunidade nacional, o possuem ‘consciência’ ou ‘espírito’ nacional (SEYFERTH,
1999).
67
impondo a necessidade de que a população construísse um sentimento de
pertencimento a nação ao invés das diversas regiões.
As cerimônias, enquanto uma manifestação cultural, apresenta um forte apelo à
reunião e a unificação. Segundo Thiesse (2000), os feriados nacionais, a bandeira e o
hino nacional são partes da construção de uma memória nacional capaz de organizar e
disciplinar os indivíduos.
A união de práticas cívicas e esportivas parece ganhar evidência. Coertjens
(1999) afirma que o esporte tinha papel fundamental no processo de construção da
nação, pois ele seria um símbolo de integração dos diferentes grupos no Estado-nação.
Castro (1997) lembra que o adestramento físico era mencionado comoforma de
preparar a juventude para o cumprimento dos seus deveres para com a economia e a
defesa da nação” (p.11).
Os discursos de interesses gerais da nação passavam essa idéia de colaboração
nacional, sendo assim todos os setores deveriam colaborar. Barroso (1999) afirma que
dessa forma o Estado criava o imaginário de todos fazerem parte da nação e,
conseqüentemente, todos querem o bem dela. Isso justificava a intervenção do Estado
em todos os setores do país. Entre eles estavam as práticas esportivas e as cerimônias
vicas que se iniciam na cidade de Porto Alegre nos anos 1930 e 1940.
3.2.3. A Liga de Defesa Nacional em Porto Alegre: controle e incentivo de
eventos esportivos pela cidade
Nesse terceiro momento dedicamos nosso olhar aos mecanismos de interveão
criados pelo governo para atingir a sociedade porto-alegrense. Dessa forma
procuramos pontuar com mais especificidade o papel que as instituições patrióticas
tiveram no processo de ‘construção da nação’ através das práticas vico-esportivas.
Para se atingir o objetivo de homogeneização cultural, apregoado pelos
nacionalistas na cidade de Porto Alegre (RS), foi de extrema importância à interveão
da chamada Liga de Defesa Nacional (LDN). A LDN, ao lado do Departamento de
68
Imprensa e Propaganda (DIP)
31
, era um dos vértices dos mecanismos de
nacionalizão. Esta instituição vico-cultural fundada por Olavo Bilac em 07/09/1916,
teve a primeira sede do seu Diretório Central na Biblioteca Nacional na cidade de São
Sebastião no Estado do Rio de Janeiro.
A Liga tinha como finalidade principal incentivar o civismo e o patriotismo no país
(LDN, 1983). É interessante observarmos a seguinte passagem sobre os motivos para
criação da LDN e seus principais objetivos:
Em 1916, inspirado no exemplo da França onde surgira a Liga da
Pátria -, o poeta Olavo Bilac criou a Liga de Defesa Nacional, visando
incentivar o civismo através do culto aos símbolos da Pátria. Seu
presidente, o escritor Rui Barbosa, era favorável ao apoio brasileiro aos
Aliados na Primeira Guerra Mundial, que ajudava a popularizar o servo
militar obrigatório e reforçava a importância das Forças Armadas. Por
defender a idéia do “cidadão-soldado” e do serviço militar como escola
de cidadania, a LDN recebeu desde o início o apoio do Exército. Por
iniciativa da Liga foi formalizada a existência da Semana da Pátria e
proposta ao Governo Federal a obrigatoriedade do ensino da Língua
Portuguesa nas colônias de imigrantes, que a então ensinavam
apenas o idioma do seu ps de origem (DIARIO OFICIAL DE PORTO
ALEGRE, 2004. p.01).
Torres (1997) nos ajuda a compreender melhor o campo de ão da LDN ao
referir que a ação do governo no Estado compreendeu duas ordens de medidas: extra-
escolar e escolar. A ação extra-escolar envolvia a realização de caravanas
nacionalistas e a comemorão de datas cívica. Nesse sentido a Semana da Pátria
assumiu um caráter de extrema significão ideológica dentro do projeto de unidade
nacional, sempre contando com uma ampla programação organizada pela LDN e o
governo.
Assim a LDN atuava no processo de nacionalização através de manifestações
patrióticas. Havia uma tendência a exaltação do patriotismo através de festas
comemorativas à Independência do Brasil e demais datas vicas, com inflamadas
demonstrações de brasilidade. A “mocidade brasileira” era o principal alvo da educão
vica almejada pela LDN (SGANZERLA, 2001).
31
Criado pelo Decreto-Lei n.º 1.915 de 27/12/1939 visando restringir a liberdade de expressão dos meios
de comunicação (BOBBIO, 1939).
69
No Rio Grande do Sul, a LDN foi instalada em 12/10/1937, tendo o general
Osvaldo Cordeiro de Farias (interventor federal do Rio Grande do Sul) como presidente
do Diretório Regional e, Getúlio Vargas, no cargo de presidente de honra do Diretório
Central da LDN (PIMENTEL, s/d). O Diretório Regional da LDN, sob a coordenação do
Major Inácio de Freitas Rolim
32
, ficou responsável pela coordenação das atividades
comemorativas da “Semana da Pátria” a partir de 1938, que começavam, geralmente,
no final de agosto e se estendiam ao dia “Sete de Setembro”. As comemorações, às
vezes, eram organizadas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda. Esta
divulgação era feita justamente através da promoção de grandes desfiles,
manifestações e cerimônias cívicas (OLIVEIRA, 1987).
A LDN lutava pela conversão vico-patriótica de todos os cidadãos através de
uma campanha de propaganda popular e pela criação de sociedades educacionais e
núcleos regionais nos estados. Nesse sentido, o nacionalismo que era pregado nos
manuais de instrução moral e cívica assumiu um caráter quase religioso, com vistas
também ao catolicismo (TORRES, 1997).
Segundo Torres (1997), o Estado Novo de Vargas foi o único que atingiu os três
níveis fundamentais de nacionalismo: o ideológico, o institucional e o popular. O nível
ideológico pode ser institucionalizado simbolicamente em festividades ou personificado
em heróis, além de bandeiras, monumentos, canções e preces. O governo Vargas foi o
primeiro no país a patrocinar a expansão de idéias nacionalistas em larga escala
utilizando o rádio, jornais, comemorações e outros eventos.
A complexidade da campanha nacionalizadora tinha também como difusores a
mídia
33
da época: o rádio e o jornal. Faziam parte das emissoras a Rádio Sociedade
Gaúcha, a Rádio Difusora Porto-alegrense e a Rádio Farroupilha; dos jornais Correio do
32
Publicou a obra intitulada “O papel das entidades desportivas na formão da juventude brasileira”.
Estudos e Conferência. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa e propaganda. N. 14, v. 91, dez de
1941. Rolim era um oficial de confiança no período do Estado Novo. Estava sempre à frente de ões
que tinham como finalidade o esporte e a educão física. Destacou-se além do Diretório Regional da
LDN no Ministério da Educação e Saúde Pública (1935) e na Escola Nacional de Educão Física e
Desportos (1939) (CASTRO, 1997).
33
A divisão de Cinema e Teatro também auxiliava a controlar as frentes culturais. Nesse sentido
controlava os filmes distribuídos e documentários a serem exibidos nos cinemas. Documentários
produzidos pela Cinédia traziam em imagens a crônica da política nacional: Getúlio Vargas e seus
ministros em inaugurações de obras públicas, cerimônias oficiais, etc. am da vida nas cidades, como as
festas populares, esportes, etc. (TORRES, 1997).
70
Povo e Diário de Notícias
34
. As mídias faziam na prática a difusão de um discurso
mobilizador, principalmente durante os preparativos da Semana da Pátria dos órgãos
formadores de opinião: a Liga de Defesa Nacional e o Departamento de Imprensa e
Propaganda (TORRES, 1997).
O Major Rolim à frente da LDN organizou e realizou as Semanas da Pátria de
1937 e 1938. Após esses dois anos Darci Vignoli assumiu em 1939 a presidência do
Diretório Regional. Segundo Pimentel (1945) de 1941 a 45 Vignoli foi
o homem que fez da Liga de Defesa Nacional a mais bela tribuna cívica
da terra gaúcha [...] Diplomata, homem de sentimentos elevados, de
magnífica cultura, cheio de patriotismo sadio, construtor é ele a figura
central da entidade que Bilac legou às novas gerações (p.141).
No Rio Grande do Sul o projeto de nacionalização extra-escolar foi coordenado
pelo secretário de Educação do Estado J. P. Coelho. Ele visava unificar o múltiplo
étnico-cultural-politico através do conceito de homogeinizador de brasilidade (TORRES,
1997).
A Juventude Brasileira
35
era outro órgão formador de opinião. Essa entidade
paraescolar apresentava um caráter educativo e nacionalizador, com o intuito de
favorecer uma pré-mobilização no sentido de homogeneizar sentimentos e
pensamentos em torno do culto à pátria. Ela seguia um cronograma de comemorões
de datas e festas cívicas, estabelecida em calendário (TORRES, 1997).
Conforme Cantarino Filho (1989) a Juventude Brasileira tinha como objetivo
“incrementar a educão vica das novas gerações, organizando a juventude de forma
a constituir reserva facilmente mobilizável sempre que houver objetivo patriótico a
seguir(p.08). Assim o Estado Novo de Vargas incentivaria a educão, cívica, moral e
física da juventude através de diversas práticas, incluindo as esportivas.
Para inculcar na população o sentimento de pertencimento comum necessita-se
de um intensivo trabalho de educação. Certamente, que a escola cumpriu um papel
34
O Correio do Povo apoiava as medidas do governo Getúlio Vargas antes dele assumir o governo,
engajando-se amplamente no novo regime. O Diário de Noticias abria espaço para a oposição de Vargas
exaltando a figura de Armando Sales de Oliveira, candidato à presidência pelo Partido Constitucionalista
de São Paulo (TORRES, 1997).
35
Criada pelo decreto-lei nº 2.027 de 03/03/1940 e instituída como órgão educativo e nacionalizador pelo
decreto-lei nº 2.072 de 08/03/1940 (TORRES, 1997).
71
fundamental neste processo, mas não foi o único lugar. Segundo Thiesse (2000, p.236),
a educão para o nacional “se pratica também em todas as atividades de lazer da
população”. Assim os clubes esportivos são espaços privilegiados para a prática destas
atividades e o desenvolvimento de uma educão cívico-esportiva.
Durante o período do Estado Novo a educação física foi considerada um
importante instrumento para a nacionalização das áreas de colonização estrangeira,
como a cidade de Porto Alegre. Nesse caso a intenção era promover uma assimilação
favorável dos descendentes de estrangeiros aos sentimentos nacionalistas. Além disso,
o esporte deveria ocupar outros espaços onde se reuniam os jovens, como os
playgrounds, colônias de férias e parques infantis (MARINHO, 1944 apud CASTRO,
1997).
Dessa forma houve grande incentivo à realização de competições esportivas, a
partir da segunda metade da cada de 1930. Um mero especial da Revista do
Globo publicado na época anuncia o processo de valorização das práticas esportivas
que se consolidaria na década de 1940:
Ainda temos na memória a recordação dum torneio atlético
aqui realizado por 1921 ou 22. O pavilhão estava às
moscas. Meia dúzia de curiosos se agrupava perto das
pistas. O incansável Mr. Long, secretário geral da A. C. M.,
e de outras associações esforçavam-se nas varias provas.
E os seus esforços inauditos eram coroados pelos magros
aplausos da assistência irrisória. Hoje, porém, tudo mudou.
Já se cultivam muitos esportes em Porto Alegre. Temos
clubes de natação, de regatas, de hockey, de foot-ball, de
tennis, de basket-ball, de volley-ball, de esgrima, de
skating, de atletismo (REVISTA DO GLOBO, 1933, p.01).
De acordo com a Diretoria de Estatística Educacional da Secretaria da Educação
e Saúde Pública de Porto Alegre, as 156 associações da cidade, promoveram 3.609
competições esportivas no ano de 1937. No ano seguinte, as associações esportivas se
multiplicaram, totalizando-se 254 em Porto Alegre, sendo que houve um grande
crescimento das associações de futebol, em torno de 70 clubes até o início da cada
de 30. Foram promovidas 5.023 competições, das quais participaram 23.092 atletas
distribuídos nas seguintes modalidades: 3.971 no futebol, 3.634 na ginástica geral,
3.120 no atletismo, 1.798 na natação, 1.490 no remo, 1.146 no basquetebol, 1.190 no
72
voleibol, 653 no tênis e 653 no bolão. As competições começaram a privilegiar os
jovens, incluindo as mulheres.
Em 1938, a participão feminina foi mais numerosa nas seguintes práticas
esportivas: ginástica (371), natação (325), tênis (148), atletismo (90), bolão (55) e
voleibol (52) (REVISTA POLICIAL, 1939). A visibilidade das mulheres no cenário
esportivo foi evidenciada na realização do I Campeonato Nacional de Atletismo
Feminino, no Estádio Ramiro Souto em Porto Alegre, no ano de 1940 (AMARO JR.,
1949, p.138).
Cantarino Filho (1989), em seu artigo sobre a ‘Educação Física no Brasil,
lembra que os estado-novistas incentivavam o esporte, através de campeonatos e
jogos, porém todos eram revestidos, nas festas de abertura e encerramento, de
cerimonial cívico-patriótico, com alegorias históricas, profusão de bandeiras e
demonstração de poder jovem.
Mendes (1990 apud MEZZADRI, 1999) faz uma relação entre a legalização do
esporte e do lazer
36
e a constrão da sociedade brasileira:
O governo (o o Estado) percebe no esporte um instrumento de
projeção externa, capaz de identifica-lo hegemonicamente no Cenário
Internacional. Desta forma, e sob o pretexto de adequá-lo aos padrões e
às exigências internacionais, lança suas garras sobre o esporte
estabelecendo uma esdrúxula normatização sobre o esporte estatizante,
cujo demérito é ter sufocado a liberdade e a criatividade até eno
reinantes (p.41).
Oliveira (1996) refere que a bandeira, o hino nacional, os feriados nacionais são
parte da construção de uma memória nacional capaz de organizar e disciplinar os
indivíduos. Nesse sentido, as cerimônias e os campeonatos esportivos, tinham como
público-alvo principal à juventude, pois assim o futuro estaria sendo moldado’ com os
ideais pretendidos pelo Governo.
Riordan (1986 apud Bracht, 2005) cita os motivos de um país em
desenvolvimento para investir no esporte: Constrão da nação (nation-building);
36
Mezzadri (1998) enfoca no seu estudo de revio a relação entre o Estado e a legislação esportiva. No
nosso caso é importante observar o Decreto-Lei nº 3.199 de 14 de abril de 1941 que estabelece as
bases de organização dos desportos em todo país. Referendado pelo Presidente da República, usando
da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição” (p.41).
73
Integração; Defesa; Higiene e Saúde; Política Social; Reconhecimento Internacional.
Assim Bracht (2005) lembra que essa é apenas uma listagem motivos, sem
especificões mais profundas do próprio caráter político dessa intervenção, que nesse
caso, passa pelas suas características, resultados, repercuso, etc. Essa listagem nos
elementos para pensar no período estudado. Bracht (2005) afirma que o caráter de
intervenção do Estado em relação ao esporte pode ser de dois tipos. O que nos
interessa é o de total subordinação da organização esportiva ao Estado que foi
empregado nos regimes fascistas e nazistas e, conseqüentemente, no Estado Novo de
Vargas em Porto Alegre.
A campanha de nacionalização estava de acordo com o princípio de que o
nacionalismo engendra a nação (GELLNER, 1993). Assim Seyferth (1999) conclui que:
Assimilação e caldeamento são reputados como parte da tradição
histórica de formação da nação brasileira. De acordo com este princípio,
o Estado Novo precisava da homogeneidade nacional, buscada, em
primeiro lugar, na escola (imposição do espírito nacional pela supressão
dos idiomas estrangeiros e pelo ensino do civismo), em segundo lugar,
pela ação prática e simlica do Exército, da polícia e dos brasileiros
legítimos, fazendo valer o sentido da formação nacional, isto é, uma
“tradição histórica” de miscigenação e assimilação (p.225).
Negreiros (2002) afirma que os esportes tinham se tornado estratégicos para a
construção de uma nação forte, pois a questão de fundo era o ‘melhoramento do raça’.
Assim o Estado precisaria assumir o controle do esporte e controlar as entidades
privadas. Somente dessa forma o esporte serviria para a formação de homens para o
trabalho e defesa da pátria.
Manhães (2002) amplia essa idéia com base na criação das leis, jurídicas e
sociais do período. Especificamente o autor aborda as leis relativas ao esporte e, assim,
o decreto-lei mero 3.199 de 1941, onde se inicia o processo de registro de todas as
associações esportivas. Para o funcionamento de qualquer clube exigiam-se os moldes
do estatuto padrão do Conselho Nacional de Desportos (CND), órgão criado para
sobrepor todo e qualquer organização esportiva do país. Era o autoritarismo sobre os
clubes esportivos.
As competições esportivas multiplicavam-se, e não mais expressavam a
identidade de um grupo étnico-cultural, como nos anos anteriores em que à ginástica
74
alemã era a principal expreso esportiva de Porto Alegre. Isto pode ser observado no
quadro abaixo, construído pelo pesquisador a partir de consulta em fontes impressas
utilizados no estudo. Estas manifestações esportivas sugerem a introdução de novos
objetivos, novos ideais, contemplando uma população mais abrangente, visando uma
educão cívica e patriótica dos “brasileiros”.
A intensa participação dos clubes esportivos nas praticas cívico-esportivas em
Porto Alegre, faziam deles colaboradores para o processo de educão vico-
esportiva. Através do engajamento nos desfiles e da promoção de competições na
”Semana da Pátria”, os clubes esportivos demonstravam o sentimento patriótico. O
patriotismo dos clubes esportivos era atestado pela Liga de Defesa Nacional, que
conferia um diploma para as associações que desfilavam na “Semana da Pátria”
(MAZO e ROLIM, 2007a).
As festividades do “Sete de Setembro não se reduziram à comemoração de uma
data memorável; ao contrário, procuraram envolver os clubes esportivos na tarefa de
construir a identidade cultural brasileira. Apesar do descompasso cultural dos clubes
fundados pelos imigrantes europeus, esses tiveram que recuperar alguns fragmentos
de sua história e inscreverem-se no processo de constrão da nação brasileira. Esta
situação gerou o confronto simbólico dos clubes esportivos identificados com os
imigrantes em relação aos clubes considerados nacionais. Como fruto desta dinâmica
ocorreu à recomposição da identidade cultural dos clubes fundados pelos imigrantes
alemães e italianos (MAZO e ROLIM, 2007b).
Dentro dos contextos apresentados temos o surgimento de uma corrida de
revezamento. A chamada Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria
aparece para a sociedade porto-alegrense no ano de 1938 e, desde esta data com o
engajamento dos clubes e dirigentes esportivos porto-alegrenses, ininterruptamente
ocorre até os dias de hoje. As inquietações para entender de que forma essa Corrida se
perpetua como tradição e as representações que ela construiu ao ano de 1947 é a
busca que este estudo se propõe a seguir.
75
4. PERCURSO METODOLÓGICO: construindo fontes impressas e orais
Este capítulo pretende descrever os procedimentos metodológicos que foram
utilizados nesse estudo. A metodologia foi sustentada em fontes impressas e orais e,
depois de realizada as coletas das informações, estas foram submetidas à análise
documental (BARDIN, 2000). Dessa forma dividimos o capítulo em duas partes; na
primeira parte abordamos os caminhos utilizados com as fontes impressas e, na
segunda parte, os caminhos para com as fontes orais.
4.1. As Fontes Impressas
Esse estudo procurou englobar algumas das principais fontes impressas que
remetiam a Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria (CFS) em Porto
Alegre no período estudado. Cabe ressaltar que a CFS ainda não havia sido tema de
pesquisa acadêmica, sendo apenas encontradas algumas referências em estudos que
abordavam o período do Estado Novo.
Nesse aspecto percorremos diversos tipos de fontes impressas: revistas, jornais,
livros comemorativos dos clubes esportivos, obras especializadas, almanaques,
boletins, monografias, dissertações e teses, entre outros. Além disso, as consultas em
acervos particulares, arquivos públicos, bibliotecas, clubes, federações desportivas,
fundações, memoriais e museus se fizeram constante na busca por indícios sobre o
objeto de estudo.
Uma das fontes primárias encontradas e utilizadas foram duas obras publicadas
pela Liga da Defesa Nacional (LDN). As duas obras possuem caráter complementar
entre si, pois tinham como objetivo registrar a CFS. A primeira, intitulada Liga de
Defesa Nacional: Fogo Simbólico da Pátria (Sinopse)” foi impressa e composta nas
oficinas gráficas da Editora Comercial Safady Limitada e publicada no ano de 1960; a
segunda, intitulada da mesma maneira e impressa no mesmo local, era a segunda
edição da terceira sinopse publicada no ano de 1971.
O caráter de sinopse empregada nas duas obras identifica uma limitação das
mesmas em compor um texto coerente e reflexivo sobre a CFS. Dessa forma,
apresentam informações de caráter descritivo, como quilômetros percorridos, número e
76
nomes de condutores, etc. Apresentam ainda algumas reportagens da passagem da
CFS em municípios diversos em edições anteriores aos anos das publicações.
O esforço em resgatar a CFS fica evidente nas duas publicões da LDN. A
referência de cartas enviadas aos municípios por onde ela perpassou e o aguardo de
retorno por parte dos mesmos parece ter sido a metodologia empregada para a
realização das mesmas. As dificuldades de comunicação, a diversidade de localidades,
a falta de cultura em registrar, ou seja, dificuldades de tamanhos nacionais parecem ter
sido alguns dos motivos que levaram a LDN a publicar ‘sinopses com alguns indícios
históricos da CFS.
Entretanto essas obras se constituíram em fontes preciosas no sentido
exploratório do estudo e de conhecimento das edições estudadas pelos pôsteres
publicados para cada edição da CFS. As frases de brasilidade apresentadas,
principalmente, na primeira sinopse foram relevantes para um entendimento dos ideais
da CFS através da instituição que a promoveu.
Outras fontes primárias foram os boletins, relatórios e informativos da LDN. Os
boletins e informativos da LDN foram coletados junto à sede regional da LDN localizada
na Avenida João Pessoa, 567 (bairro Centro). Contudo esses boletins datam dos anos
80, 90 e 2000 sendo importantes para o entendimento dos objetivos da LDN para com a
CFS e como se constituiu a CFS nos anos mencionados. O site da LDN
(http://www.ligadadefesanacional.org.br
) estava em construção no início da busca de
informações, sendo liberado com informações sobre todas as edições da CFS no final
de 2006. Cabe ressaltar que os problemas de acesso a esse site o constantes.
Ao mesmo tempo em que trazem referências primárias, os documentos da LDN
apresentam um discurso rígido e pautado, quase sempre nas mesmas referencias.
Dessa forma, foi comum encontrar as mesmas citações em diferentes documentos da
LDN. Entretanto, utilizamos os registros da LDN como a primeira referência no que
tange a nomes e números das edições da CFS.
As fontes secundárias foram a Revista do Globo
37
, o jornal
38
Correio do Povo, os
almanaques esportivos e obras específicas. Essas fontes constituíram-se em fontes
37
Destacada revista editada no Estado do Rio Grande do Sul, pela Livraria Editora Globo no período de
1929-1967. Segundo Torres (1997) a Revista do Globo aparece para refoar a imprensa porto-alegrense
e completar uma lacuna deixada por fracassados periódicos do mesmo tipo.
77
primordiais para o entendimento de como se constituiu a CFS na cidade de Porto
Alegre no período estudado.
A escolha desta Revista justificou-se pelos seguintes aspectos:
a) Em sua primeira edição apresentou uma seção sobre os desportos;
b) Dedicou uma edição especial aos desportos, em 1933;
c) Estava voltada para assuntos ligados à cultura local e regional;
d) Meio de comunicação impresso de projeção nacional, que circulou em Porto
Alegre (1929-1967);
e) Foi tema de pesquisa (THORSTENBERG, 1998; TORRESINI, 1999) e fonte
documental em literatura (MOTTIN; MOREIRA, 1996); publicidade e
propaganda (CASTRO, 1999; GOMES, 2001; SOARES, 2001); história
(DALMÁZ, 2001) e Esportes e Educação Física (MAZO, 2004).
A Revista do Globo (RG) se encontra a disposição no site
(http://www.ipct.pucrs.br/letras/index_allglobo.shtml#revglobo
), totalmente digitalizada
para prévia visualização, porém em resolução baixa para evitar cópias ilegais do
material. Para se ter acesso ao material em resolução ótima é necessário possuir o
acervo digitalizado em formato CD-ROM. A consulta a esse acervo foi realizada na
Biblioteca Central da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
localizada na Avenida Ipiranga, 6681 e nos exemplares disponibilizados pela
orientadora do projeto. Foram três fascículos específicos sobre a CFS e mais trinta para
o entendimento do contexto do estudo.
As edições do jornal Correio do Povo (CP) foram consultadas no Museu de
Comunicação Social Hipólito da Costa, localizado na Avenida Andradas, 959 (Bairro
Centro). Foram pesquisadas as edições do mês de setembro entre os anos de 1938-
1947. O critério utilizado foi o mês de realização da CFS e os anos das edições
estudadas.
38
Os jornais são fontes de consulta passíveis de considerações sobre sua validade, tendo em vista as
circunstâncias que envolvem sua produção. O imediatismo do noticiário e a urgência da composição para
vendagem no horário previsto o permitem a precisão. Tais fatores geram a superficialidade nas
explicações dos acontecimentos, caracterizando a finalidade informativa do jornal. Thompson (1992,
p.140-141) alertou que a evidência jornalística pode ser enganosa e imprecisa: “Isto se dá porque
raramente têm condições de destrinchar as possíveis fontes de distorção em jornais antigos. Podemos
saber quem era o proprietário do jornal e, talvez, identificar seus vieses políticos ou sociais; nunca,
porém, se pode mais do que conjeturar sobre se o colaborador anônimo que redigiu determinada
matéria partilhava daqueles vieses”.
78
Nesse sentido devemos lembrar que o Correio do Povo se colocava permanente
como instrumento de propaganda política do regime vigente. Tanto nos seus editoriais
quanto nas linhas condutoras de suas noticias era possível verificar a aproximação com
a figura de Getúlio Vargas e, conseqüentemente, as iniciativas da LDN (TORRES,
1997).
Assim o jornal Correio do Povo foi fonte primordial para o estudo. Primeiramente
pelo acompanhamento de todas as edições que compuseram o estudo e, também, por
trazer alguns elementos dos ideais do Governo em seus editoriais.
Os almanaques consultados se encontravam a disposição na biblioteca da
Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(ESEF/UFRGS) localizada na Rua Felizardo, 750. Os diferentes almanaques
pesquisados foram:
a) Thomaz Mazzoni (1934);
b) Thomaz Mazzoni (1939);
c) Tomaz Mazzoni (1942-1943; 1943-1944; 1945-1946; 1947-1948);
d) Amaro Jr. (1942; 1943; 1944; 1945; 1946; 1947; 1948; 1949);
Mazzoni (1943-1944) apresentou uma nota sobre a CFS. Amaro Jr. (1947)
também se referiu diretamente a CFS. Todos os outros foram utilizados para
entendimento do contexto do estudo.
A obra “Aspectos Gerais de Porto Alegre” foi uma das ultimas fontes a serem
encontradas. Entretanto se constituiu em importante referência para o entendimento do
objeto de estudo. Publicada pelas Oficinas Gráficas da Imprensa Oficial da cidade de
Porto Alegre no ano de 1945 em dois volumes, tem como autor Fortunato Pimentel.
Obra possui o carimbo do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) sugerindo
sua aceitação pelo governo e tornando-a uma obra ‘liberada’ para abordar as
“iniciativas do seu povo tradicional, no sentido cultural, social, econômico e
administrativo” (Prefácio).
Cabe a ressalva que livros autorizados pelo DIP apresentavam uma narrativa
nacionalista e integracionista de unidade nacional.
O volume consultado foi o de número 1 que estava localizado junto a Casa de
Cultura Mario Quintana, localizada na Rua dos Andradas, 736. Este número trazia oito
79
páginas com referência ao Núcleo Regional da LDN e suas principais iniciativas, entre
elas a CFS. Nessas páginas, além de detalhes sobre a configuração da Semana da
Pátria, trazia muitas fotos e cópias de cartazes sobre as edições da CFS. Cabe lembrar
que o autor da obra era ligado a LDN o que faz da sua obra um importante meio de
divulgação dos ideais propostos por essa instituição.
A última obra especializada consultada como fonte secundária foi "Brasileiros de
cabelos loiros e olhos azuis” (DAUDT, 1952). A obra foi doada a biblioteca da Escola
Superior de Educão Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(ESEF/UFRGS) e era de conhecimento nosso. Entretanto, se tornou relevante por
dois aspectos: primeiro pelas informações sobre a CFS e segundo pela dedicatória que
se encontra na folha de rosto da obra: Ao amigo Tulio De Rose como lembrança do
Cacalo [José Carlos Daudt]. Porto Alegre, junho de 1953. Esses dois aspectos
reforçaram alguns indicativos sobre as relações entre os dirigentes esportivos que
estavam presentes em Berlim (1936) e estavam a frente da CFS.
As fontes imprensas consultadas resultaram num primeiro momento em um
estudo exploratório que buscava verificar se havia documentação impressa suficiente
para responder as queses norteadoras da investigação. A busca de informações para
realizar esse estudo foi realizada no período de agosto de 2006 a fevereiro de 2007,
tendo em vista a primeira etapa do estudo onde se objetivava entender, especialmente,
o contexto nacional e local que favoreceu a invenção da CFS em Porto Alegre. Assim,
para além de uma descrição das edições anuais da CFS no período estudado, esse
estudo exploratório adquiriu caráter de banco de dados (apêndice A) e poderá servir
futuramente para novas investigações sobre as edições da CFS estudadas.
Cabe lembrar que preservamos em todas as citações diretas oriundas das fontes
aqui mencionadas, o português da época. Dessa forma podemos encontrar alguns
problemas gramaticais se comparamos com a escrita do português dos dias de hoje.
Além disso, utilizamos as fotografias presentes nas fontes impressas para melhor
ilustrarmos as idéias apresentadas ao longo dos capítulos. No capítulo de análise, em
especial, consideramos que as fotografias eram indispensáveis para o entendimento de
algumas questões laadas, contudo não se buscou utilizar alguma técnica para fazer
uma análise de conteúdo especificamente sobre as fotografias apresentadas.
80
Buscamos ainda disponibilizar as fotografias de forma a não ‘quebrar’ o texto da
dissertação, entretanto em alguns momentos, para uma melhor visualização das
imagens, essa prática foi necessária.
4.2. As Fontes Orais
A busca por depoimentos orais num primeiro momento se tornou algo muito
difícil para nós. Primeiro porque os usos da coleta de depoimentos orais requerem um
cuidado especial, pois a realização de entrevistas “com pessoas que participaram ou
testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, é uma forma de se
aproximar do objeto de estudo” (ALBERTI, 1989, p.01). E segundo porque, para
Montenegro (1992), o depoimento oral é uma forma de socialização das experiências e
do conhecimento do entrevistado, bem como do reconhecimento de sua identidade
cultural.
Nesse sentido delimitar um critério para selecionar os entrevistados requereu o
tempo de amadurecimento da proposta do estudo não somente para nós, mas também
para os entrevistados. Assim definimos que o critério de escolha dos entrevistados se
deu a partir do envolvimento dessas pessoas com a Corrida de Revezamento do Fogo
Simbólico da Pátria (CFS).
Primeiramente se pensou em um envolvimento direto das pessoas,
principalmente atletas, no período de 1938 a 1947 em Porto Alegre (RS). Tínhamos
como pressuposto que recorrendo à memória dessas pessoas buscamos diferentes
representações, pois nos fornecerão uma versão do passado, devido as suas vivências
no momento estudado (PORTELLI, 1997).
Assim a identificação de pessoas a serem contatadas para as entrevistas se deu
através das informações buscadas nas fontes impressas que havia resultado no estudo
exploratório. Dessa forma conseguimos contato com um ex-atleta que possuía um
diploma de participação (anexo A) da CFS em 1945, porém no trecho que percorreu a
cidade de Ribeira (SP). A dificuldade em entrevistá-lo pela distância de sua moradia e
sendo o seu trecho fora do contexto local, o Senhor Olídio dos Santos o foi
entrevistado.
81
As dificuldades encontradas para localizar essas pessoas participantes dentro
dos critérios do estudo aumentavam. Assim publicamos uma reportagem no jornal
grande circulação da cidade de Porto Alegre (Zero Hora) na sessão Túnel do Tempo no
dia 14 de maio de 2007 (anexo B). Através dessa reportagem surgiram alguns novos
contatos.
Alguns familiares de Túlio De Rose, um dos protagonistas da CFS, manifestaram
interesse em participar do estudo. Algumas pessoas ligadas aos clubes esportivos de
Porto Alegre e a Liga de Defesa Nacional também manifestaram interesse em
participar. Ainda fizeram contato alguns tradicionalistas gaúchos, como Paixão Cortes,
ressaltando a importância de delimitar as idéias entre Fogo Simbólico e Chama Crioula.
Todos esses contatos serviram para ressaltar a dificuldade que teríamos para
nos aproximar de pessoas que tiveram contato direto com a CFS. Assim o critério de
escolha dos participantes passou a ser um envolvimento indireto com a CFS e,
principalmente, contato direto com os idealizadores da CFS.
Nesse sentido fizeram parte dos depoimentos orais duas pessoas. Os dois
entrevistados serão tratados pelas iniciais MT e HL ao longo do estudo. MT é filho de
Túlio De Rose e acompanhou-o ao longo de sua trajetória esportiva e jornalística,
incluindo a CFS. HL esteve presente como audiência na primeira edição da CFS em
1938 na cidade de Porto Alegre assistindo seu pai a carregar o Fogo Simbólico da
Pátria. Além disso, HL é ligado ao clube esportivo porto-alegrense Grêmio Náutico
União, onde teve contato com Darci Vignoli e tornou-se amigo Túlio De Rose.
A entrevista temática (THOMPSON, 1992; TRIVIÑOS, 1987) foi à técnica de
pesquisa utilizada neste estudo. Para a realização da entrevista utilizamos um roteiro
relacionado aos objetivos da investigação. O roteiro, de posse do entrevistador durante
a entrevista foi flexível à incorporação de novos temas pelos entrevistados.
O roteiro norteador elaborado para a realização das entrevistas apresentou os
seguintes tópicos:
a) Nome completo;
b) Data de nascimento;
c) Endereço residencial/profissional e telefone para contato;
d) Local da entrevista e data da entrevista;
82
e) Sobre a invenção da CFS (pessoas, clubes, etc.)
f) Sobre envolvimento com a CFS (sentimentos, significados, etc.);
g) Sobre o período do Estado-Novo (política e esporte);
h) Sobre a participação em outros momentos cívicos;
i) Duração da entrevista (início e término).
As observações relativas às interferências de outras pessoas alheias a
entrevista, reações do entrevistado, seu estado emocional, entonação das palavras,
silêncios, pausas, ritmos das fala, atitudes corporais, entre outras situações surgidas no
decorrer da gravão foram registradas durante a entrevista no caderno de campo.
Todas as entrevistas foram gravadas (fita cassete em áudio) para a posterior
transcrição e análise de conteúdo dos documentos (BARDIN, 2000; MORAES, 1999;
TRIVIÑOS, 1987).
O processo de transcrição do depoimento oral para forma escrita englobará as
seguintes etapas:
a) Confecção da cópia de segurança da fita e a fase da transcrição literal do
depoimento
39
.
b) Conferência de fidelidade, na qual o texto digitado é comparado com a fita
para possíveis correções de palavras ou frases que não são transcritas.
Realiza-se uma limpeza do texto com a abolição de algumas repetições e
correção de erros de português e de pontuação, sem que o sentido do texto
seja alterado.
c) Entrega de uma cópia do texto transcrito da entrevista gravada em fita
cassete, acompanhado uma fotografia que registra a entrevista, ao
entrevistado, pessoalmente, pelo pesquisador.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento – Declaração do Entrevistado
(apêndice B), foi lido antes da realização da entrevista pelo entrevistado. Nesse
momento ficou-se disponível para esclarecimentos e dúvidas. Estando de acordo com
39
A transcrição parcial ou total do depoimento constitui-se na forma mais corrente de acesso ao
documento oral (JOUTARD, 1984). A escola norte-americana afirma a primazia dessa transcrição e, na
França, a documentação corresponde à fita, sendo que qualquer prática de transcrição tira-lhe o caráter
singular (VOLDMAN, 1996).
83
os procedimentos da entrevista o entrevistado assinou o Temo autorizando o uso das
suas informações na pesquisa.
Todos estes procedimentos que fazem parte da coleta de depoimentos orais
foram realizados após a aprovão do Comide Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul onde se tem registrado o estudo com o número 2007739.
A análise de conteúdo (BARDIN, 2000; MORAES, 1999; TRIVIÑOS, 1987) foi
apoiada nas fontes impressas e orais descritas anteriormente. Essas fontes foram
traços portadores de significados construídos para resolver o problema proposto pelo
estudo. “Montar, combinar, compor, cruzar, revelar o detalhe, dar relevância ao
secundário” (PESAVENTO, 2004, p.65) foi o método historiográfico utilizado nesse
estudo.
A partir desse método, resultaram três categorias estabelecidas a priori de
acordo com o quadro teórico do estudo: a CFS enquanto tradição inventada; a CFS e a
construção da identidade nacional e; a participação dos clubes esportivos na CFS e a
construção da identidade nacional.
A seguir apresentamos a análise da CFS.
84
5. A CORRIDA DE REVEZAMENTO DO FOGO SIMBÓLICO DA PÁTRIA
Neste capítulo procuramos analisar o nosso objeto de estudo através de um
diálogo entre as categorias do quadro teórico apresentado e as fontes impressas e
orais reunidas nessa dissertação. Nesse sentido analisaremos, no primeiro sub-
capítulo, a Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria enquanto uma
tradição que foi inventada para inculcar valores num período histórico marcado pelo
‘projeto’ de construção de uma forma identitária nacional. No segundo sub-capítulo,
procuramos demonstrar que os ‘valores que essa tradição inventada engendrava
estavam ligados à constrão de representação da identidade nacional brasileira na
cidade de Porto Alegre (RS). Partindo desse entendimento, no terceiro sub-capítulo
focalizamos a Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da tria no contexto
esportivo porto-alegrense, analisando as representações da identidade nacional
brasileira construída a partir da participação dos clubes esportivos nessa tradição.
5.1. Inventando a tradição
A Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico (CFS) enquanto tradição
inventada teve como data de início o ano de 1938. Essa Corrida surge como uma
tradição enraizada no período do Estado Novo (1937-1945) que perdura até os dias de
hoje. Vale ressaltar que, durante os 70 anos de existência da CFS, houve constantes
recomposições das suas formas simbólicas. Nesse sentido a CFS teve e tem um
impacto diferenciado na sociedade porto-alegrense e brasileira devido aos diferentes
momentos sócio-políticos que a nortearam desde a sua primeira edição. Nesse sub-
capítulo pretende-se categorizá-la enquanto uma tradição inventada a partir dos
pressupostos de Hobsbawm (1984; 1988) dentro do recorte temporal estabelecido
(1938-1947).
Hobsbawm (1988) refere que as tradições geralmente tidas como antigas são
bem recentes e, na maioria das vezes, inventadas. Dessa forma para o autor
O termo tradição inventada é utilizado num sentido mais lato, mas
preciso. Engloba as tradições verdadeiramente inventadas, construídas
e formalmente institucionalizadas e aquelas que emergem de uma forma
85
mais dificilmente reconhecível dentro de um período breve e datável
uma questão de poucos anos – e se fixaram rapidamente [...] É evidente
que nem todas são igualmente estáveis, mas o que nos interessa
principalmente é o seu aparecimento e fixação, mais do que as suas
hipóteses de sobrevivência (p.03-4).
Os estudos sobre as tradições inventadas, segundo Hobsbawm (1984) são
altamente aplicáveis no caso de uma inovação histórica recente: a não. Além disso,
devemos considerar os fenômenos associados a nação: o nacionalismo, o Estado
nacional, os símbolos nacionais, as interpretações históricas, etc. Assim para se
estudar o fenômeno nacional adequadamente se faz necessário abordar as tradições
inventadas.
A CFS foi construída num período histórico brasileiro onde existia uma
preocupação com a construção da nação. Nesse sentido, o Estado Novo (1937-1945)
foi um período rtil para a instituição de tradições
40
no país. A CFS é uma das tantas
tradições que emergiram neste momento, porém foi formalmente institucionalizada e em
questão de poucos anos se fixou rapidamente. Sendo assim, seguindo a orientação
teórica de Hobsbawm (1988) analisando a CFS nas questões referentes ao seu
‘aparecimento e fixação’ e não no que tange a sua sobrevivência até os dias de hoje.
Após estas considerações, os questionamentos que procuramos responder
inicialmente foram os seguintes: Como apareceu a CFS? Por que na cidade de Porto
Alegre? Por que no mês de setembro? Quem foram seus idealizadores? Qual era o
objetivo de uma corrida de caráter simbólico e o competitivo? É provável que nem
todas as indagações tenham sido respondidas de forma completa, mesmo fazendo-se
rias investidas em busca de fontes documentais. Mas, após uma confrontação das
fontes e sua articulação com o quadro teórico, apresentamos uma ‘versão’ sobre o
‘aparecimento e fixação’ dessa tradição.
A institucionalização da CFS ocorre em Porto Alegre no ano de 1938 através do
núcleo regional da chamada Liga de Defesa Nacional (LDN). A LDN é uma entidade
vico-cultural idealizada por Olavo Bilac em 07/07/1916. O Diretório Central da
entidade foi instalado na Biblioteca Nacional na cidade do Rio de Janeiro (LDN, 1983).
40
Um outro exemplo sobre o uso de tradições na questão identitária no período do Estado Novo,
sugerimos o estudo de Avancini (2000).
86
O objetivo permanente da LDN, segundo registro na Ata de fundação lavrada de próprio
cunho por seu fundador é:
[...] estimular o patriotismo consciente e cohesivo; propagar a instrucçao
primária, profissional-militar e cívica; e defender: com a disciplina, o
trabalho; com a força a paz; com a consciência a liberdade; e com o
culto do heroísmo a dignificaçao da nossa historia e a preparação do
nosso porvir (BILAC, 1916 apud LDN, 2006).
indícios que Olavo Bilac não foi o único idealizador da LDN, mas seu nome é
apontado enquanto tal porque foi ele quem assumiu a responsabilidade de liderar
naquele momento a instituição, conforme podemos observar no discurso de instalação
do Diretório Central: “os dois organizadores da Liga [Pedro Lessa e Miguel Calmon], por
um excesso de generosidade, que não posso explicar e não sei agradecer, além de
associar o meu pobre nome aos vossos, quizeram dar-me esta suprema honra [...]”
(SAFADY, 1960, p.13).
No que se refere ao objeto de estudo, nesse momento é interessante atentarmos
para o texto que segue ao objetivo da LDN em sua Ata de fundação:
O intuito principal dos que nos animam é este: a fundação de um centro
de iniciativa e de encorajamento, de resistência e de conselho, de
perseverança e de continuidade para acção dos dirigentes e para o labor
tranqüillo e assegurado dos dirigidos. O patriotismo individual, a crença
pessoal, a consciência própria nunca estiveram ausentes do maior
número das almas brasileiras. Mas, esses sentimentos ocillam e
vacillam numa vaga dispersão; e, nessa mesma dispersão deploravel,
perdem-se e dissipam-se os esforços isolados. A extensão do território,
a pobreza da communicações, o accordo pouco definido de uma
federaçao mal comprehendida, a mingua de ventura em muitos sertões
desamparados, a inopia da instrucção popular sustentam e aggravam
esta desorganização [grifo nosso]. A descrença e o desanimo prostam
os fortes; o descontentamento e a indisciplina irritam os fracos; a
communhão enfraque-se. É de protestar e de reagir contra esse
fermento de anarchia e essa tendência para desmembramento (BILAC,
1916 apud LDN, 2006).
Esse trecho parece ressaltar que, para além de um objetivo institucional, havia
uma necessidade imposta naquele momento, vista pelos fundadores da LDN tendo a
frente seu idealizador. Alguns dos problemas do país destacados no período de
fundação da LDN remetiam para a falta de sentimento patriótico, para a extensão do
87
terririo nacional, para a pobreza das comunicações, para a falta de união dentro da
federação e para os problemas educacionais. Mas uma instituição cívica sem fins
lucrativos teria como propagar seus ideais em um país com dimensões continentais? A
LDN precisaria de apoio político, para além de recursos financeiros a fim de atingir seus
ideais nacionalistas. Pouco mais de 20 anos depois da fundação configurou-se um
contexto sócio-cultural no país que permitiu a LDN atuar intensamente em prol dos
ideais nacionalistas, pelo menos em Porto Alegre.
No período do Estado Novo (1937-1945) existe um fomento ao processo de
nacionalizão do país e a LDN parece ganhar força, pois estava alinhada com os
ideais governamentais daquele momento. Nesse sentido podemos perceber a
instalação de Diretórios Regionais e Núcleos Municipais sob a guarda do Diretório
Central da LDN. Desta forma, a instituição parece ganhar membros e ‘braçospara
alcançar a sociedade brasileira. Um desses ‘braços’ e, podemos dizer, um ‘braço forte’,
foi instalado no Rio Grande do Sul em 12/10/1937.
A escolha do estado do Rio Grande do Sul, talvez esteja ligada a um dos
problemas apresentados anteriormente: ‘a falta de união dentro da federação’. Aja visto
que o Rio Grande do Sul e, mais especificamente, sua capital, Porto Alegre eram
conhecidos como estado/cidade marcados culturalmente pela expressiva presença de
imigrantes alemães. Inclusive, Porto Alegre nos anos 20 era conhecida como a ‘cidade
dos alemães’ (PESAVENTO, 1994).
A cidade de Porto Alegre, em razão de congregar uma população significativa
em termos numéricos de “brasileiros loiros de olhos azuis (DAUDT, 1952),
diferenciava-se do centro do ps. Embora, os porto-alegrenses tivessem como
referência as grandes metrópoles do país na busca de sua modernização, devido a sua
identificão étnica, a cidade também estava atenta aos padrões de ser moderno e das
notícias advindas de outro país: a Alemanha.
Para se ter uma idéia desse ‘impacto alemão’, no que tange o nosso objeto de
estudo, ressaltamos que a Revista do Globo
41
publicou oito fascículos
42
no ano de 1936
41
Destacada revista no estado do Rio Grande do Sul, editada pela Livraria Editora Globo no período de
1929-1967. Segundo Torres (1997) a Revista do Globo aparece para refoar a imprensa porto-alegrense
e completar uma lacuna deixada por fracassados periódicos do mesmo tipo.
88
com notícias sobre os Jogos Olímpicos de Berlim. Além disso, cabe destacar que o
estreitamento das relações com a Pátria de origem dos imigrantes alemães ocorria
desde a segunda metade do século XIX, quando instrutores alemães de ginástica e de
outras práticas esportivas vinham atuar nos clubes esportivos de Porto Alegre. Alguns
imigrantes e descendentes de alemães, dentre eles ginastas porto-alegrenses também
viajavam para a Alemanha não apenas para visitarem parentes, mas também para
conhecer os institutos de ginástica (MAZO, 2003). Nesse sentido podemos entender
que a ida de gaúchos porto-alegrenses para assistir esses Jogos de Berlim o foi
mero acaso. Essa era uma oportunidade para se ver in loco a concepção moderna de
sociedade alemã, na qual as práticas corporais e esportivas tinham um papel de
destaque.
A busca de padrões modernos o se configurava somente através de notícias.
As iniciativas do governo estadual e municipal haviam começado um processo de
mudança no modo de vida dos porto-alegrenses. As transformões que Porto Alegre
sofreu para se tornar uma cidade ‘moderna’ foi o suporte necessário para a realização
de grandes acontecimentos públicos, como as comemorações da Semana da Pátria e a
Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria (CFS)
43
.
Entretanto o fato da identidade étnica da cidade estar ligada aos alemães
merece destaque, aja visto que foi através da aproprião da Corrida de Revezamento
da Chama Olímpica que é construída a CFS em Porto Alegre. Nos fascículos
destacados da Revista do Globo existe uma preocupação em justificar historicamente a
realização dos Jogos e, principalmente, o revezamento saindo de Olímpia para chegar
na Cerimônia de Abertura dos Jogos de Berlim.
A reportagem da Revista do Globo intitulada “Eu chamo a mocidade do mundo”
destaca o seguinte:
42
Os fascículos da Revista do Globo que focalizam a temática dos Jogos Olímpicos de Berlim no ano de
1936 são os de número 168, 177, 181, 186, 188, 189, 194 e 195.
43
Monteiro (1992) lembra que a abertura das avenidas Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros
emergem como paradigmas no projeto de modernidade da elite porto-alegrense de integrar as classes
populares a sociedade moderna’. Dessa forma, podemos talvez entender o porquê esse seria o palco
principal das festividades da Semana da tria após a conclusão das obras.
89
Para a inauguração dos jogos organizar-se-á uma corrida de estafeta
que parte de Olímpia, a antiga e sagrada cidade dos helenos, e segue
para Berlim através dos paizes balcânicos. É uma corrida simbólica que
se destina a levar de Olímpia a chama de um archote que irá acender
em Berlim a grande chama das Olimpíadas [...] A Chama Olímpica que
se acenderá em Berlim no dia de agosto se o símbolo do
cavalheirismo e da nobreza esportivas, e a demonstração triunfante de
uma idéia imortal. Mais de 3000 esportistas conduzirão a chama
olímpica, da Grécia até Berlim sob os olhos de milhões de pessoas de
várias nacionalidades que serão testemunhas da maior corrida que a
História registre (RG, 25/04/1936, p.22).
Outra reportagem que merece destaque foi publicada no fascículo 188 sob o
título de “A XI Olimpíada”. Nesta é apresentada um registro histórico acerca dos Jogos
Olímpicos da Antiguidade, que encerra com uma abordagem sobre o mito de Prometeu
para ilustrar aos leitores o simbolismo do fogo olímpico (RG, 08/08/1936). Além disso,
o apresentadas fotografias da sda do revezamento em Olímpia:
Fotografia 14 - Acendendo a Chama Olímpica (RG, 08/08/1936)
90
Fotografia 15 - A procissão no Templo (RG, 08/08/1936)
91
Fotografia 16 - A saída da Chama Olímpica (RG, 08/08/1936)
Através dessas reportagens os porto-alegrenses tinham contato com a
‘modernidade’ alemã, expressada, principalmente, através da realização dos Jogos
Olímpicos e da Corrida de Revezamento da Chama Olímpica. Nesse sentido, a
identificão com os padrões modernos alemães, especificamente no que se referia ao
mundo esportivo, pode ter sido um dos elementos que contribuíram para a ida de
dirigentes esportivos porto-alegrenses a Berlim em 1936.
Mas quem eram os porto-alegrenses que estavam presentes nos Jogos
Olímpicos de Berlim em 1936? No meio da multidão de espectadores da Cerimônia de
Abertura dos Jogos de Berlim, estava presente a delegação da Confederação Brasileira
de Desportos (CBD).
Entre os membros da CBD estavam os dirigentes e associados dos clubes
esportivos de Porto Alegre: Túlio De Rose e Ernesto Capelli, ambos ligados ao Club
Italiano Canottieri Duca degli Abruzzi
44
e a Federão Gaúcha de Remo; José Carlos
44
Conforme referido anteriormente, era conhecido tamm por ‘Clube dos Italianos’. Após o processo de
nacionalização passou a ser chamado de ‘Clube de Regatas Duque de Caxias’ (MAZO, 2003).
92
Daudt, representante da Liga Atlética Rio Grandense e da Turnerbund
45
e Darci Vignoli
do Grêmio Náutico União e, posteriormente, membro do núcleo regional (RS) da Liga
de Defesa Nacional.
Naquele momento lio De Rose estava também como enviado da Empresa
Jornalística Caldas Júnior
46
. Conforme depoimento de HL: lio sempre foi um
apaixonado pelos esportes, tendo jogado futebol nas equipes secundárias do Grêmio,
tendo remado e timoneado no Club Italiano Canottieri Duca degli Abruzzi. Tinha uma
memória excepcional das competições e eventos esportivos e seu grande sonho era
assistir os Jogos Olímpicos de Berlim. Incluído na delegação da Confederação
Brasileira de Desportos CBD, foi convidado pelo Dr. Breno Caldas, Diretor do Correio
do Povo, para enviar reportagens sobre os Jogos. O depoimento de MT informou que
Túlio estava apenas encarregado de enviar notícias sobre os Jogos de Berlim, porém
ficou impressionado com a celebrão e com a Corrida de Revezamento da Chama
Olímpica.
A intensidade emocional causada pela Corrida de Revezamento da Chama
Olímpica em lio De Rose e na multidão reunida no estádio ressalta a potencialização
do que mais tarde se tornaria um dos símbolos dos Jogos Olímpicos da Era Moderna
47
.
Além disso, segundo o depoimento de MT: a delegação gaúcha se entrevistou com o
Hitler e, o meu pai [Túlio De Rose], lembra que ele perguntou, porque sabia que no Rio
Grande do Sul havia muitos imigrantes alemães, conhecia muita coisa de Blumenau,
que sabia que o Rio Grande do Sul era próximo de Blumenau e, deu de presente para o
meu pai uma baioneta, um canivete que era uma baioneta [...]. Todos esses estímulos
parece ter atingido lio De Rose a ponto de conceber “a idéia de fazer uma corrida
45
Último clube esportivo alemão a se nacionalizar. A partir de 1942 passou a ser chamado de ‘Sociedade
Ginástica Porto Alegre 1867’, conhecido como SOGIPA (MAZO, 2003).
46
Segundo o depoimento de MT: [...] excão do futebol que meu pai [Túlio De Rose] não fazia e do
basquetebol que era feito por outra personalidade do esporte, o professor Amaro nior. Todos os
demais esportes eram cobertos pelo meu pai, nos jornais da Caldas Jr., onde ele, por muito tempo,
escreveu nos três jornais: Folha Esportiva, Folha da Tarde e Correio do Povo e depois passou a escrever
na Folha da Tarde e no Correio do Povo.
47
Juntamente com os Aros Olímpicos e o Lema Olímpico a Corrida de Revezamento da Chama Olímpica
é considerada um dos símbolos olímpicos. O revezamento da Chama Olímpica simboliza a ligação
histórica dos Jogos, ou seja, ela simboliza o a vinculão dos Jogos Modernos com os Antigos (IOC,
2002b).
93
semelhante em nossa pátria, unindo os filhos de todos os estados numa reafirmação
simbólica da unidade nacional” (AMARO JR., 1944, p.40).
O hiato entre o retorno de Berlim (1936) e a realização da edição da CFS no
ano de 1938 em Porto Alegre, pode ser considerado com o período em que Túlio De
Rose ficou buscando formas de viabilizar o projeto da corrida da ‘Chama Olímpica’ em
Porto Alegre. Sua atuação como jornalista para o jornal Correio do Povo de Porto
Alegre e sua ligação com a Federação Gaúcha de Remo e com o Clube de Remos dos
Italianos facilitaram os contatos para levar adiante essa iniciativa. Porém, para realizar
uma corrida de caráter simbólico, Túlio De Rose necessitaria enfrentar alguns
obstáculos, como estradas esburacadas e sem asfalto, convocar atletas sem oferecer
premiação e, principalmente, justificar a importância de realizar uma prática de caráter
simbólico, que em um primeiro momento tinha uma relação direta com os Jogos
Olímpicos.
Apesar destes aspectos pouco favoráveis a realização da CFS, Túlio De Rose
conseguiu depois de dois anos realizar seu ‘desejo’. Essa realização se deu, em grande
parte, a relação de amizade quelio De Rose possuía com Darci Vignoli, que também
esteve presente em Berlim e era membro do cleo Regional da LDN e do Grêmio
Náutico União
48
. Darci Vignoli, que posteriormente se tornou presidente do núcleo
regional foi assim descrito por Pimentel (1945):
Darci Vignoli é o grande presidente, o animador, o homem que fez da
Liga de Defesa Nacional a mais bela tribuna cívica da terra gaúcha,
presidindo o Diretório Regional em 1939 e de 1941 a 45. Diplomata,
homem de sentimentos elevados, de magfica cultura, cheio de
patriotismo sadio, construtor é ele a figura central da entidade que Bilac
legou às novas gerações (p.141).
Nesse sentido a ligação entre Darci Vignoli e Túlio De Rose parece ser relevante
para afirmar que foi através de Vignoli que Túlio encontrou um aliado que circulava
entre os membros da LDN para a realização da CFS.
Segundo o depoimento de HL: lio incentivou aos dirigentes da Liga de Defesa
Nacional, especialmente ao presidente e amigo Capitão Darcy Vignoli para a realização
48
Conforme referido anteriormente, este clube de remo foi fundado por descendentes de imigrantes
alemães em 1906 com o nome de Turnershaft (MAZO, 2003).
94
de grandes eventos esportivos, cívicos e culturais [...] Graças ao seu prestígio [de
Vignoli] junto aos órgãos esportivos federais e a sólida amizade com o presidente
Getúlio Dornelles Vargas, foi possível consolidar a Corrida do Fogo Simbólico no Brasil,
sempre organizada e dirigida por Túlio De Rose.
E segundo o depoimento de MT: Neste panorama, eu penso, deve jogar um
papel muito importante o então Comandante e, depois, mais tarde, General Darci
Vignoli que era Chefe de Polícia em Porto Alegre, era homem de proa do Estado Novo
e era esportista, foi presidente do Grêmio utico União, a família dele constituída de
rios atletas laureados do Grêmio Náutico União e deve ter feito essa ligão que
permitiu, por exemplo, a pessoas com poucos recursos, como era o caso do meu pai, ir
a Berlim para assistir aos Jogos Olímpicos, provavelmente com algum auxílio
governamental. Quando o pai volta, ele então começa a trabalhar no jornal [Correio do
Povo] e traz a idéia do Fogo Simbólico.
Ambos contaram com o apoio do Major Ignácio de Freitas Rolim. O Major Rolim
parecia sempre estar à frente das realizações esportivas realizadas pelo governo
49
,
sendo assim, ressaltamos que ele estava à frente do Núcleo Regional (RS) da LDN em
1937 e 1938. Ele oficializou a realização da CFS em 1938, como uma cerimônia que
abriria as comemorações da Semana da Pátria na cidade de Porto Alegre. O Diretório
Regional da LDN havia realizado em 1937, sob os auspícios do Major Ignácio de
Freitas Rolim, comemorações referentes à Semana da Pátria, porém sem a CFS. O
major esteve à frente da organização das comemorões da Semana da Pátria entre
1937 e 1938 (PIMENTEL, 1945).
Pimentel (1945) refere que: “Deve-se à figura dinâmica e patriótica de Túlio de
Rose o exito crescente das grandes corridas de revezamento da Liga de Defesa
Nacional, sempre organizadas e dirigidas por êle, com exito invulgar” (p.141). Porém é
interessante ressaltar que Túlio De Rose tinha a liberação da Empresa Caldas Junior
para se afastar e realizar a CFS. Segundo o depoimento de MT: isso tudo acontecia
dentro de uma organizão que era inicialmente feita através do trabalho de meu pai
[Túlio De Rose] e de outros, mas que acabou ficando o pai mesmo, pela facilidade
que ele gozava, diante dispensa que lhe concedia o Breno Caldas. Havia outros, como
49
Para um maior entendimento ver Castro (1997).
95
o Ernesto Capelli, falam que meu pai, embora fosse quase irmão do Capelli, o se
entendia com ele na organização, mas eu acho que não. Acontece que o Capelli era um
homem que tinha um negócio próprio, eu acho que ele não tinha condições que o meu
pai tinha de poder largar dois, três meses por ano sua atividade e andar no Brasil inteiro
organizando o Fogo Simbólico, sem um grave prejuízo para sua família, pois ele o
era um homem rico.
Nos Boletins Informativos da LDN (set/out, 1998; jul/ago/set/out, 2000) consta
que a CFS foi institucionalizada pelo Núcleo Regional e idealizada pelo major Ignácio
de Freitas Rolim e pelo jornalista lio De Rose. Entretanto no resumo histórico da LDN
(2006) a CFS é tratada da seguinte forma:
O FOGO SIMBÓLICO DA TRIA surgiu da idéia de um grupo de
patriotas gaúchos que buscava um símbolo que representasse o ardor
patriótico do povo brasileiro. A lembrança do FOGO, que vem
acompanhando o homem desde os primórdios da sua evolução e a
presença da Chama Olímpica, unindo raças, fizeram com que ELE fosse
escolhido como mbolo. Conhecendo a escolha e tendo integrantes
seus entre os que trabalharam a idéias, foi ela acolhida e ampliada
tornando-se uma Corrida de Revezamento, que se desejava percorresse
todo o chão da Pátria e que se chamaria CORRIDA DO FOGO
SIMBÓLICO DA PÁTRIA (LDN, 2006).
A partir desses contrapontos sobre o aparecimento da CFS, começamos a
analisar as justificativas apresentadas para esse aparecimento. Nesse sentido
Hobsbawm (1988) afirma que
A utilização de materiais antigos na construção de tradições inventadas
de um tipo novo e com objetivos totalmente diferentes, é ainda, mais
interessante. Grandes quantidades de tais materiais acumularam-se no
passado de qualquer sociedade e, uma linguagem elaborada de prática
e comunicação simbólica es sempre disponível (p.08-9).
Dessa forma a justificativa para o aparecimento da CFS em 1938 estava muito
atrelada a essa relação histórica que foi estabelecido a ela. Como vimos anteriormente
surge a idéia do fogo, por se tratar de um elemento natural que vem acompanhando o
homem desde os primórdios da sua evolução” e por sua presença no Movimento
96
Olímpico na forma de Chama Olímpica que tinha como objetivo a união das raças”
(LDN, 2006).
Nesse sentido outras obras ‘oficiais’ da LDN (SAFADY, 1960; 1971) que foram
consultadas sustentam essa idéia, pois ao permitirem a publicação de crônicas, poemas
e escritos dos chamados nacionalistas sobre a CFS reforçam as justificativas de
aparecimento da Corrida. Um exemplo disso pode ser observado na relação feita pelo
General Benício da Silva na obra da LDN que trata da CFS (SAFADY, 1960, p.26):
Fogo Simbólico da Pátria: Tua expansão não tem limites. Ela vai de Sul
a Norte, de Leste a Oeste, pelas imensuráveis extensões deste Brasil
imenso.
E se alguém tiver a aucia de tentar agarrar-te, explodirás em torpedo,
em metralha, em granada, em mina e farás sucumbir a quem te
pretender enegrecer em trevas, te congelar o invencível calor.
E se a fôrça te supuzer dominado, apagado, extinto, farás como Fênix e
renascerás das próprias cinzas e serás chama, labareda, fogueira,
incêndio, queimada e explodirás em vulcão.
Assim é alma do Brasil que sintetizas, fogo simbólico da Pátria!
Observamos que o General Benício da Silva remete o fogo como elemento
invencível capaz de ressuscitar quando morto e percorrer todo o território brasileiro
como que acendendo essa chama no interior de cada brasileiro. Já para a sociedade
porto-alegrense em geral a relação histórica do fogo aparece no jornal. No jornal
Correio do Povo
50
observamos os discursos das autoridades referentes à ligação
histórica. Porém entendemos que a série de três reportagens complementares
publicadas em dias diferentes com o título de “Fogo da Pátria” exemplifica melhor essa
busca por justificação histórica. Essa ‘matéria’ foi assinada por João Henrique, pois
estava na sessão “Editoriaes”, onde pessoas eram ‘convidadas’ a escrever sobre
assuntos diversos.
Destacamos que na reportagem inicial trazia a idéia do que seria desenvolvido:
50
Sabemos que no período do Estado Novo (1935-1947) foram criados diversos mecanismos de controle
e repressão. Por isso entendemos que as reportagens publicadas no jornal estavam em consonância
com os ideais dos governadores e conseqüentemente da LDN. Além disso, devemos lembrar que o
Correio do Povo se colocava permanente como instrumento de propaganda política do regime vigente.
Tanto nos seus editoriais quanto nas linhas condutoras de suas noticias era possível verificar a
aproximão com a figura de Getúlio Vargas e, conseentemente, as iniciativas da LDN (TORRES,
1997).
97
O fogo foi sempre symbolo da luz, da força destruidora, do calor e da
vida activa. De ahi vem o facto de ter ele sido objecto de culto nas
principais nões do mundo. Na aurora da civilização o fogo
desempenhava importante funcção no lar e nos templos. Tão antigo
quanto o homem, vemol-o nos primitivos mhytos (CP, 07/09/1938, p.05).
Portanto, justificava, ressaltando a importância do culto ao fogo em Porto Alegre
(Brasil), com referências aos mitos nas diferentes nações antigas, como Índia, Egito e,
principalmente, Grécia por ser um mito ocidental’. Nesse sentido vale a referência do
autor, dizendo que, as “festas para o fogo que tiveram grande repercussão na
antiguidade”, eram chamadas de Lampadophorias.
Na segunda reportagem publicada o autor inicia lembrando das menções feitas
aos mitos da Índia e Egito para lembrar ainda os mitos sobre o fogo na Babilônia e na
China antiga sempre destacando o caráter religioso dos significados mitológicos.
Retorna a Grécia antiga para fazer menção a uma prática dessa civilização que
constituía em levar o fogo da metrópole para os lares dos “colonos”. Ou seja:
O Fogo da Pátria constituía um penhor de submissão e reconhecimento,
prestado permanentemente a metrópole. Sem nunca se extinguir,
symbolizava a gratidão perpétua para com aqueles que haviam
estabelecido a mesma linguagem e a mesma religião nas novas
paragens (CP, 09/09/1938, p.05).
Para finalizar a ultima reportagem destaca o fogo na concepção Romana e sua
estreita ligação com a religião, mesmo após a entrada do cristianismo:
Estabelecido o christianismo no império romano, a sua lithurgia o
desprezou o fogo. Os rios, as brasas bentas, as vellas acesas e as
mpadas, de luz permanente, são o testemunho do apreço em que esse
imprescindível elemento é tido pela nova religião (CP, 11/09/1938, p.05).
Logo após o destaque é feito sobre as “lâmpadas de luz permanente” tanto no
ocidente quanto oriente e, também entre os judeus. Para finalizar a série das três
reportagens o autor escreve: “O fogo da pyra de Porto Alegre, symbolizando a chamma
ardente do patriotismo, exprime a fé que todos temos nos gloriosos destinos do Brasil”
(CP, 11/09/1938, p.05).
Para compreendermos as citações acima retomamos Hobsbawm (1984):
98
Não nos devemos deixar enganar por um paradoxo curioso, embora
compreensível as nações modernas, com toda sua parafernália,
geralmente afirmam ser o oposto do novo, ou seja estar enraizadas na
mais remota antiguidade, e o oposto do construído, ou seja, ser
comunidades humanas, “naturais” o bastante para não necessitarem de
definições que não a defesa dos próprios interesses (p.22).
Dessa forma, realizar a CFS seria apenas uma ‘continuação’ de algo já
estabelecido no passado das grandes civilizações históricas e vencedoras. O padrão de
referência ocidental a Grécia antiga estabelece, para além dos mitos, uma referência
patriótica dos gregos com sua terra. Além disso, o padrão Romano fica identificado com
a religião católica, estabelecendo assim ‘uma ligão histórica e sagrada’ para a CFS.
J. Antunes de Matos na obra da LDN sobre a CFS busca fazer essa relação
quase que religiosa entre o fogo e a Pátria em dois diferentes momentos. Primeiro
escreve:
Creio no Fogo Sagrado aceso na Pira da Pátria! Sinfonia de luz,
apoteose de chamas quentes, iluminando o seio da noite, numa
orquestração inspirada e numa revelação sadia da grandiosidade de um
povo heróico e justiceiro, unido sob o símbolo esplendoroso do Pavilhão
Auri-Verde, acenando a todos o nome glorioso do BRASIL! (SAFADY,
1960, p.30).
Algumas páginas depois, segue registrando:
raios de luz e tesouros infinitos no meio das nossas entranhas!
florestas de idéias e montanhas de fé no meio da nossa carne!
sóis infinitos de luz no clarão de nossas almas!
E a bandeira da tria, tremula festiva na exaltação desse Templo
Cívico que a vida anima na limitação de cada um de nós.
Cremos todos nesse FOGO SAGRADO aceso em cada um de s, na
Pira do Coração, onde as flamas de Brasilidade atestam nosso grande
Amor vico num canto de a NOSSA TRIA! (SAFADY, 1960,
p.38).
Nessas citações temos o Fogo Simbólico da Pátria como um culto, algo religioso
que ilumina, aquece e une as pessoas em devoção ao seu país. A justificativa da
tradição se estabelece no sentido que o fogo é algo que esdentro de nós, pronto para
despertar, basta queremos, ou seja, algo inato do ser humano.
99
Cabe aqui nesse momento resgatarmos alguns detalhes da CFS para
refletirmos sobre a presea do elemento fogo e sua construção como elemento de
ligação histórica-sagrada. A 1ª CFS ocorreu no ano de 1938 saindo dia 31 de agosto às
21 horas da primeira capital gaúcha, Viamão (RS) e, chegando, à zero hora do dia de
setembro, na Pira da Pátria
51
localizada no Parque Farroupilha em Porto Alegre (RS)
(CP, 01/09/1938).
Esse percurso de 26km
52
(LDN, 2006) foi realizado por diferentes atletas sendo
que o atleta universitário Melchiades Soares foi o primeiro a conduzir o archote. “Hugo
Ribeiro, o popular Tró-ló-ló, desce a conhecida ‘Lomba do Sabão’, conduzindo o
archote, entregando-o, na divisa de Porto Alegre, no Passo do Sabão, ao corredor
Mario Rosa” (CP, 01/09/1938, p.11). No Parthenon “entra na faixa de cimento
conduzindo a tocha o athleta gremista Casemiro Marinho” (CP, 01/09/1938, p.11).
Depois da parada, foi reiniciada a Corrida, tendo levado o archote aa avenida João
Pessoa o atleta Carlos Alencastro, que nesse ponto, entrega para Otto Ritter
53
, que, “ao
som das businas de innumeros autos segue em direcção á Pyra” (CP, 01/09/1938,
p.11).
O jornal Correio de Povo intitulou os atletas que carregaram de Mensageiros do
Fogo Simbólico”, publicando a seguinte fotografia:
51
Pira da Pátria localizada na Rua Luiz Affonso (Parque Farroupilha) construída especialmente para a
ocasião (CP, 01/09/1938).
52
Existem algumas difereas de quilômetros percorridos nesta edição: 36km (AMARO JR., 1944,
p.40); 21km (AMARO JR., 1947, p.12). Porém vamos utilizar sempre como referência inicial às
informões obtidas na LDN por se tratar da entidade que institucionalizou a CFS.
53
Otto Ritter (decatleta gaúcho) acendeu o fogo na Pira da Pátria em 1938 (SAFADY, 1960, p.66).
100
Fotografia 17- Mensageiros do Fogo Simbólico (CP, 01/09/1938, p.11)
Fazendo a referência histórica e sagrada necessária no aparecimento da 1ª CFS
devemos observar que sua partida foi da cidade de Viamão (RS), mais especificamente,
da histórica capela da antiga capital gaúcha onde ainda arde uma lâmpada votiva
acesa por heróicos guerrilheiros farrapos(AMARO JR., 1944, p.40). A ligação histórica
e sagrada para invenção da tradição fica evidenciada neste trecho retirado do jornal
Correio do Povo e das seguintes fotografias da Cerimônia de Acendimento da tocha
que seguiria de Viamão (RS) até Porto Alegre:
“A’s 21 horas o padre JoBreidenbach accende o archote que seria
conduzido pelos athetlas porto alegrenses, e que accenderia a pyra na
lampada votiva do altar consagrado a N. S. da Conceição, padroeira do
Brasil, e que arde ininterruptamente desde 1741” (CP, 01/09/1938 p.11).
101
Fotografia 18 - Acendimento do archote (CP, 01/09/1938, p.11)
Fotografia 19 – Primeiro atleta a conduzir o Fogo Simbólico (CP, 01/09/1938, p.11)
102
Através desse detalhamento da primeira edição da CFS podemos pensar que a
questão referente ao aparecimento da CFS estava atrelada institucionalmente ao
núcleo regional (RS) da LDN e socialmente aos clubes esportivos porto-alegrenses. A
justificativa para a realização da CFS estava alicerçada em ligações sagradas e
históricas construídas através dos meios de comunicação do período estudado. A partir
disso, buscamos a seguir analisar alguns dos mecanismos de fixação da CFS.
Para atingir uma fixação, Hobsbawm (1984) define que as tradições inventadas
devem ser um conjunto de práticas normalmente reguladas por regras tácitas ou
abertamente aceitas, sendo essas práticas de natureza ritual ou simbólica. Nesse
sentido convém pensarmos se não havia regras formais para a CFS. Não encontramos
nenhum registro, dentro do período estudado, sobre regras formais e/ou instituídas para
a realização da CFS. Parecia sim, haver ‘regras tácitas ou abertamente aceitas’ para a
organização da CFS.
Com base no banco de dados feito para o estudo (apêndice A) podemos
identificar elementos comuns e outros que foram variáveis na construção da CFS dentro
dos limites do estado do RS. Esses elementos parecem depender da organização na
cidade em que a CFS está passando. De acordo com as informações recolhidas,
podemos registrar os elementos comuns da CFS: Inicia-se a CFS através de uma
cerimônia de acendimento da tocha; logo após existe a passagem da tocha aos atletas;
que começam o revezamento pelas cidades; até a chegada na cerimônia de
acendimento da Pira.
A ‘cerimônia de acendimento da tocha é o ponto de partida da Corrida. De
acordo com as informações adquiridas nas fontes impressas, podemos referir que ela é
feita em diferentes locais com ligações históricas-sagradas. A saída é dada por uma
autoridade local que passa aos atletas iniciarem o revezamento.
A ‘passagem da tocha entre os atletasé depende da localidade, determinando
assim o tempo e quilometragem de cada condutor. Esse por sua vez poderá ser, além
de atletas locais, militares (atletas ou não) e/ou colegiais. Na divisa entre cidades a
recepção é feita pelos prefeitos, que ao receber a tocha, passam aos atletas para
conduzirem a a Pira local e/ou igreja local, normalmente localizado nas praças
centrais das cidades.
103
A ‘cerimônia de acendimento da Piraé o momento final da Corrida. Entretanto,
também acendimento de Pira nas localidades onde a CFS perpassa. É anterior o
acendimento da Pira nas localidades o acendimento da ‘lâmpada votiva’ na igreja local,
sendo nesse ponto acontecendo uma cerimônia localizada pela autoridade eclesiástica
local. Após essa pequena cerimônia segue para o acendimento da Pira da localidade,
feita por um atleta/militar/autoridade local seguido de discurso oficial; logo depois é
acesa nova tocha que é levada por atletas/militares/escolares para outra localidade.
O acendimento da Pira de Porto Alegre (ponto final da CFS), parece seguir o
seguinte ‘protocolo’: tocha de posse de um atleta de destaque que aguarda o momento
exato (zero hora do dia 1
o
setembro) para o acendimento da Pira; acesa a Pira, toques
de clarins, sinos de igrejas, buzinas, aplausos; salva militar; hino brasileiro e; discurso
e/ou oração oficiais. Com o acendimento da Pira da Pátria em Porto Alegre se inicia a
comemoração da Semana da Pátria na capital. Todavia, identificamos que se procurava
manter esse ‘formato’ pelas cidades do interior do estado do RS.
Durante a construção do banco de dados (apêndice A) encontramos diversas
reportagens que visavam anunciar o início das comemorações pelas cidades do Estado
do Rio Grande do Sul. Em Pimentel (1945) registros de algumas ‘solicitações’ da
LDN dirigidas à sociedade porto-alegrense. Elas nos remetem a uma realização com
êxito’ das comemorões. Entretanto elas se referem às comemorações da Semana da
Pátria de 1945 e não expressam, no nosso entendimento, ‘regras formais’ para a CFS.
Portanto, a fixação da CFS parece ter sido estabelecida por regras tácitas nos
locais onde perpassava, ou seja, a base da CFS, que era de sair de um ponto e chegar
em outro, continuava inalterada, mas nas localidades onde perpassava seu formato era
construído pelas autoridades do local. Isso de certa forma mantinha o ineditismo da
CFS e fazia com que a comunidade das localidades onde ela perpassava se
identificassem com a CFS.
Entretanto não podemos esquecer que a CFS em si buscava atingir um fim. E
pensando nesse fim, Hobsbawm (1948) diz que podemos classificar as tradições
inventadas em três categorias: a) aquelas que estabelecem ou simbolizam a coesão
social ou as condições de admissão de um grupo ou de comunidades reais ou
artificiais; b) aquelas que estabelecem ou legitimam instituições, status ou relões de
104
autoridade; e, c) aquelas cujo propósito principal é a socialização, a inculcação de
idéias, sistemas de valores e padrões de comportamento.
Para deixar tida a diferença entre as práticas antigas e as inventadas, o autor
lembra que as primeiras eram práticas sociais espeficas e altamente coercivas,
enquanto as últimas tendem a ser bastante gerais e vagas quanto à natureza dos
valores, direitos e obrigações e que procuravam inculcar nos membros de um
determinado grupo “patriotismo, lealdade, dever, as regras do jogo, o espírito escolar e
assim por diante” (HOBSBAWM, 1984, p.19). Além dessa diferença, Hobsbawm (1984)
refere que as pessoas tomam consciência da sua cidadania a partir de símbolos e
práticas semi-rituais (por exemplo, à eleição) que em sua maioria são historicamente
originais e livremente inventadas (bandeira, imagens, cerimônias e músicas).
Nesse ponto entendemos que CFS no período estudado é uma tradição
historicamente original e livremente inventada e, pode ser considerada uma cerimônia
que procurava forjar nos porto-alegrenses a consciência da sua cidadania. Portanto,
pode ser categorizada, de acordo com Hobsbawm (1984; 1988) enquanto uma tradição
inventada cujo propósito principal é a socialização, a inculcão de idéias, sistemas de
valores e padrões de comportamento.
Hobsbawm (1984) lembra que os historiadores ainda não estudaram,
adequadamente, o processo exato pelo qual tais complexos simbólicos e rituais são
criados. O motivo, segundo o autor, pode estar no fato de que é mais fácil ter acesso a
fontes de uma tradição inventada ou estruturada por um único iniciador. Quando a
tradição é inventada por grupos fechados ou desconhecidos, podem faltar fontes e,
além disso, a técnica para a investigação deve estar associada a outras especializadas
em rituais e simbolismos.
Nesse sentido podemos perceber ao longo dessa análise que a CFS o foi
inventada por um único iniciador. Túlio De Rose e Darci Vignoli podem ser
considerados os arquitetos dessa construção, mas não podem ser considerados os
únicos que ajudaram a estabelecê-la como tradição. Esse fato poderá nos remeter a
alguma dificuldade, porém Hobsbawm (1984) afirma que existem ganhos em estudá-las
de uma maneira mais complexa, pois elas são indicadores de problemas e sintomas
importantes de um determinado tempo. Assim os estudos de tais tradições não devem
105
estar fora de contexto, pois ele é que determina a construção da tradição
(HOBSBAWM, 1984).
O contexto nacional no qual foi construída a CFS é o período chamado de
Estado Novo (1937-1945), que repercute no âmbito local, a cidade de Porto Alegre. O
Estado assume uma característica centralizadora. No terreno cultural, existe uma
imposição de um processo de homogeneização cultural no país, estabelecendo assim,
um momento propício para acolher a cerimônia da CFS. As peculiaridades desse
momento nos remetem a uma análise ‘complexa’ para perceber quais eram as idéias ou
sistema de valores que essa prática cultural em estudo procurava socializar. Para isso
buscamos a seguir fazer um diálogo interdisciplinar com algumas noções da História
Cultural.
Seguindo a orientação de Avancini (2000), vamos tratar no próximo capítulo as
CFS enquanto uma tradição que parece explicitar mais a questão do imaginário social,
pois se refere ao estabelecimento de uma prática de natureza simbólica ou ritual, que
em sua última instância possui a finalidade de inculcar valores e normas de
comportamento através da repetição, estabelecendo uma continuidade com relação ao
passado.
5.2. Percorrendo a nação, construindo uma identidade
Neste capítulo procuramos abordar como a Corrida do Fogo Simbólico (CFS)
contribuiu para a construção da identidade nacional brasileira no imaginário dos porto-
alegrenses. Dessa forma, partimos da premissa apresentada no capítulo anterior, onde
a CFS foi uma tradição inventada no período do Estado Novo que buscava inculcar
normas e valores através da repetição.
Esse processo de afirmação de normas e valores através da repetição foi
analisado durante o período de 1938 e 1947. Cabe lembrar que o controle de qualquer
publicação no período do Estado Novo (1937-1945) era feito por órgãos federais, como
por exemplo, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Uma de nossas fontes,
o Almanaque Esportivo do Rio Grande Sul organizado por Amaro Júnior, possuía em
sua capa a sigla do DIP. Esta e as demais fontes impressas consultadas para este
106
estudo, provavelmente possuíam o ‘aval’ do Estado para serem publicadas. Sendo
assim, as representações de construção da identidade nacional no imaginário porto-
alegrense que dali podem ser extraídas, podem trazer a concepção de quem às criou
(CHARTIER, 1994).
No sentido de problematizar o tema, devemos lembrar que a cidade de Porto
Alegre nos anos 1930 era conhecida pela forte presença de imigrantes, principalmente
alemães e italianos. Assim a idéia de construção de uma Identidade Nacional deveria
passar não só por uma ‘queima de bandeiras’ dos Estados brasileiros, mas também por
ões de caráter sócio-cultural nas cidades onde havia a identificação de outras
identidades.
Convém também salientar que, o gigantesco aparato burocrático criado pelo
Governo no Estado Novo, aliado ao uso de mecanismos de repressão, de coação e de
controle ideológico, através da propaganda, de um lado, e de outro, a censura, apartou
a sociedade e o Estado. E, dessa forma formava-se um ‘fosso’ de distância entre a
sociedade e o Estado (BARROSO, 1999).
Era necessária a invenção de algumas ‘práticasque reconstituíssem o elo entre
o Estado e a sociedade. O Estado Novo procurou de várias formas demarcar seu
projeto histórico junto à população brasileira. Uma das estratégias de reforçar a idéia de
nação na população brasileira foi às comemorações de datas oficiais.
Pesavento (1991, p.72) afirma que “sob o tema cadente da ‘brasilianizão’ do
país, da busca do progresso e da modernidade com base numa harmonia social, o
estado desenvolve sua ação interventora, na cadência dos desfiles militares e das
paradas da mocidade”. Assim, o período do Estado Novo constituiu-se no mais profícuo
na invenção de rituais e comemorações destinadas a partilhar mitos e memórias
comuns afirmando um ‘novo’ Brasil, uma ‘nova’ nação, numa construção da identidade
nacional.
Smith (1997) nos auxilia dizendo que a identidade nacional e a naçãoo
construções complexas, compostas por uma série de componentes interligados, como
étnico, cultural, territorial, econômico e político-legal. Dessa forma elas exprimem os
laços de solidariedade entre membros de comunidades, unidos por memórias, tradições
107
e mitos partilhados que podem ou não ter expressão nos seus próprios estados, mas
totalmente diferentes dos laços puramente legais e burocráticos do estado.
A CFS estava inserida nesse processo de construção de uma identidade
nacional brasileira, pois essa tradição reforçava os laços de solidariedade entre os
membros da sociedade partilhando mitos e memórias comuns. Neste sentido a CFS no
período de 1938 a 1947 procurou construir uma representação de coesão’ ou ‘unidade
nacionalno imaginário porto-alegrense. Essa representação se dava principalmente
pelo formato de ‘percorrer a nação’ as cidades brasileiras – trazendo o Fogo da Pátria
até a capital do Estado do Rio Grande do Sul – a cidade de Porto Alegre.
O quadro 2 demonstra o ano das edições da CFS e a relação dos quilômetros
percorridos de nação até a cidade de Porto Alegre.
Ano das
edições
Local de saída
Km
percorridos
54
1938 Capela de Viamão (RS)
26km
36km
21km
1939 Catedral de Rio Pardo (RS)
411km
299km
296km
1940 Catedral Florianópolis (SC)
599km
697km
1941
Igreja da Boa Morte em São Paulo
Monumento do Ipiranga (SP)
2.123km
1942 São João Del Rei em Tiradentes (MG)
3.974km
1943 Basílica de Salvador (BA)
4.639km
4.400km
5.000km
1944
Igreja de N.Sra. dos Prazeres em
Recife Monte Guararapes (PE)
6.367km
6.279km
1945 Monte Castelo (Itália)
6.370km
6.367km
5.279km
1946
Tumulo de Roosevelt no Hyde Park
Washington (EUA)
5.459km
7.100km
1947 Cemitério de Pisia (Itália) 3.535 km
Quadro 2 - Edições da CFS
54
A discordância de quilometragem se difere em alguns anos devido as diferentes fontes. Nesse estudo
se adotou como primeira informação as provenientes da instituição que promovia a CFS a Liga de Defesa
Nacional. Para um detalhamento sobre as diferenças de quilometragem remeter ao banco de dados
(apêndice A).
108
Através do quadro podemos observar que o Fogo da Pátria se constituía em
‘algo simbólico’ pelos valores agregados ao seu acendimento. Dessa forma a
representação de unidade e coesão era reforçada pela construção de ‘memórias
comuns’ no imaginário dos porto-alegrenses. Segundo Smith (1997) a “nação é uma
comunidade de mitos e memórias comuns, tal como o é uma etnia” (p.58). Nesse
sentido a CFS procurava construir à população uma cultura com características próprias
evocando um passado comum a todos.
Podemos perceber a construção da representação de unidade e coesão
nacional, também através dos cartazes que procuravam divulgar a CFS na cidade de
Porto Alegre. A produção desses cartazes pode ser pensada como uma estratégia para
inculcar na população mitos e memórias comuns, reforçando a identidade nacional. Não
bastava construir representações, era fundamental que fossem compartilhadas por
todos. Abaixo os cartazes da CFS de 1938 a 1947:
109
Fotografia 20 - Pôster da CFS no ano de 1938 (SAFADY, 1960)
110
Fotografia 21 - Pôster da CFS no ano de 1939 (SAFADY, 1960)
111
Fotografia 22 - Pôster da CFS no ano de 1940 (SAFADY, 1960)
112
Fotografia 23 - Pôster da CFS no ano de 1941 (SAFADY, 1960)
113
Fotografia 24 - Pôster da CFS no ano de 1942 (SAFADY, 1960)
114
Fotografia 25 - Pôster da CFS no ano de 1943 (SAFADY, 1960)
115
Fotografia 26 - Pôster da CFS no ano de 1944 (SAFADY, 1960)
116
Fotografia 27 - Pôster da CFS no ano de 1945 (SAFADY, 1960)
117
Fotografia 28 - Pôster da CFS no ano de 1946 (SAFADY, 1960)
118
Fotografia 29 - Pôster da CFS no ano de 1947 (SAFADY, 1960)
119
Como podemos observar nas fotografias dos steres, eles nos trazem
evidências, como os trajetos que ‘ligamas cidades, as quais sugerem a integração
nacional. Outro fato que chamamos a atenção nos pôsteres, o as formas como eles
divulgam os valores simbólicos agregados, como os heróis nacionais, os locais
históricos-sagrados e a idéia de ‘trazer à luz’ cidades aentão desconhecidas pela
população em geral.
Para Hobsbawm (1990, p.23), os valores simbólicos agregados, contribuem para
o patriotismo se converter numa espécie de religião laica”, com seus “deuses – heróis,
“sacerdotes dirigentes, “templos” as praças e os estádios, imagens” os
monumentos e “ritosfestas cívicas. Assim a CFS apresentava deuses (como atletas
e vultos históricos), sacerdotes (como autoridades e dirigentes esportivos), templos
(como o Parque Farroupilha), imagens (como a Pira da Pátria) e ritos (como a corrida
em si e o acendimento da Pira da Pátria).
Além disso, percebe-se que mesmo em alguns steres onde os nomes das
cidades são praticamente ilegíveis, eles o são excluídos. A quantidade de lugares
percorridos pode ser pensada como uma estratégia necessária para se construir uma
representação de unidade. Essa unidade deveria ser independentemente do tamanho e
expressão das cidades percorridas, ressaltando apenas que todas elas constituíam o
Brasil e eram ‘abençoadas’ pelo Fogo da Pátria.
Essa benção em determinado momento refletiu a condição brasileira no que
tange a sua política externa (fotografias 27, 28 e 29). A construção da representação da
unidade nacional estava associada também a uma idéia de país vitorioso que contribuiu
para a paz mundial sendo aliado dos Estados Unidos da América durante a II Guerra
Mundial.
Por outro lado, ao cruzar os diversos municípios do interior do Rio Grande do
Sul, que eram conhecidos pelas suas diferentes identidades étnicas reforçava-se a
idéia de unidade em torno de uma única identidade: a nacional. Lembramos que, no
ano de 1939, a CFS passou por cidades como “Santa Cruz, Venâncio Aires, Lageado,
Estrela, Taquari, Montenegro, São Sebastião do Caí, Novo Hamburgo, São Leopoldo”
(CP, 01/09/1939). Essas cidades compartilhavam representações culturais de uma
identidade teuto-brasileira devido a forte presença dos imigrantes alemães e
120
descendentes. Sendo assim, a CFS era uma prática cultural que contribuía para difundir
os ideais nacionalistas e, conseqüentemente, a construção da unidade nacional, nos
munipios do Rio Grande do Sul. Esse fato, de certa forma, poderia contribuir para a
construção no imaginário porto-alegrense, a idéia de que existia uma unidade nacional
e, que ela perpassava, inclusive, as cidades identificadas por outras identidades.
Nesse sentido Smith (1997) ressalta que para consolidar o seu domínio e a
homogeneizar a população numa nação compacta, a classe dirigente procura assimilar
minorias étnicas através de um programa educacional de nacionalismo, apoiado por
instituições influentes. Com este objetivo a CFS, fomentava idéias de colonização e
imagens oficiais da nação as quais toda a gente devia se ajustar. Assim impossibilitaria
o aparecimento de quaisquer outras idéias, símbolos ou imagens mentais.
De acordo com Oliven (1986, p.72), o fenômeno da cultura no Brasil esteve
centrado “no processo de apropriação de manifestações culturais e sua subseqüente
transformação em mbolos de identidade nacional”. Assim os eventos cívicos, como a
CFS, inscrevem-se entre aqueles que buscam inculcar na memória um acontecimento
impondo crenças comuns à população ao traçar imagens fundadoras da nacionalidade.
Neste sentido, esses eventos públicos o instrumentos eficazes para atingir o
imaginário das pessoas e fomentar uma idéia de unidade nacional.
Assim, a utilização de cerimônias como a CFS, fazem parte de um reforço ao
ideal a ser alcançado. Inclusive pode ser pensada como integrante de um programa
educacional de nacionalismo e de seus valores agregados. O seu caráter repetitivo
serve para recordar os seus cidadãos dos seus laços culturais e seu parentesco
político, reafirmando a identidade e a unidade. Além disso, o êxito das cerimônias na
construção da identidade nacional, também esligado as questões estéticas que ela
promove, onde os sentimentos de beleza, de variedade, de dignidade e de ternura
suscitados pela hábil disposição de formas, massas, sons e ritmos, podem evocar o
espírito distinto da nação (SMITH, 1997).
Essa construção de unidade nacional no imaginário porto-alegrense era
reforçada pelos meios de comunicação na cidade de Porto Alegre. Além do rádio que
121
transmitia boletins sobre a CFS (TORRES, 1997), o jornal Correio do Povo exibia em
sua seção de informes do interior as passagens da CFS pelas cidades
55
:
Farroupilha (31/09 C.P.): “É esperada, hoje as vinte e uma hora, nesta
cidade o ‘fogo symbólicoque, vindo por Cahy, accenderá, a zero hora, a
pyra do Altar da Pátria, levantado na cidade de Caxias(CP, 01/09/1939,
p.03).
Estrela (31/09 C.P.): “Chegou, hoje as quatro horas da madrugada, a
tocha do fogo symbólico, que foi recebida na divisa do município de
Lageado [...] Daqui a tocha seguiu as sete horas rumo a villa de Bom
Retiro, onde chegou as oito horas” (CP, 01/09/1939, p.03).
Novo Hamburgo (31/09 por telefone): Constitui um verdadeiro
acontecimento a passagem por aqui do ‘fogo symbólicoas 20,30 horas.
O archote recebido na divisa deste município com o de São Leopoldo,
no logar denominado de Boa Saúde” (CP, 01/09/1939, p.03).
Esses informes nos meios de comunicão serviam, também, como uma espécie
de chamamento para os porto-alegrenses aderirem ao projeto nacional. Podem ser
pensados como uma preparação da população para o grande acontecimento: o
acendimento da Pira da Pátria. Reforçando essa idéia encontramos 15 solicitações da
Liga de Defesa Nacional para a população porto-alegrense se preparar para esse
‘grandioso’ acontecimento. Segundo Pimentel (1945), tinham como objetivo uma
‘realização com êxito’ das comemorações. Apresentamos a seguir as solicitações que
referem a CFS:
II – Que todas as Casas de Família, estabelecimentos industriais e
comerciais, sociedades, etc. conservem suas fachadas iluminadas, se
possível, e acesas as luzes das peças de frente durante as noites de 31
de agosto para 1
o
e de 7 para 8 de Setembro, pelo menos aàs 24
horas.
V Que todos os moradores da cidade compareçam à Cerimônia do
Fogo Simlico, no Parque Farroupilha, na ocasião em que ali chegar,
ou no trajeto pela cidade, vindo de Salvador, capital da Baía, o archote,
aceso na Praça Municipal, bem como, também no dia 7 de Setembro,
todos se associem às festividades cívicas, mesmo em suas casas,
sintonizando seus rádios para as transmissoras locais, que serão
ocupadas pelos nossos oradores.
VIQue à 0 hora do dia 1
o
de Setembro, os sinos de nossas igrejas, as
sirenes dos navios surtos no porto, dos jornais, das fábricas, das
55
Para um entendimento de todas as reportagens publicadas no Correio do Povo no período estudado,
observar o Banco de Dados (apêndice A) através das edições da CFS.
122
locomotivas e as buzinas dos automóveis, onde se encontrarem, toquem
vibrantemente, registrando o início da Semana da Pátria.
VII Que às mesmas horas e nos mesmos dias, todas as Famílias e
Sociedades soltem girândolas de foguetes, numa demonstração de
regosijo patriótico (PIMENTEL, 1945, p.142).
O fato de deixar as fachadas iluminadas aàs 24h do dia 31 de agosto nos
remete ao tocante do imagirio. As luzes podem trazer a idéia de todos envolvidos
com o acontecimento, ou seja, ‘acordados e sintonizados’ na CFS.
Podemos perceber também através dessas ‘solicitões’ que agregados ao
formato de percorrer a nação da CFS estavam os símbolos ‘visíveisda nação: as cores
verde-e-amarela, o hino brasileiro, as autoridades junto à população e os atletas
esportivos. Esses ‘símbolos nacionais’ serviam para construir uma identidade nacional,
reforçando e marcando a representação de unidade e coesão do mundo social.
Chartier (2000) lembra que a noção de representação permite articular três
modalidades da relação com o mundo social: em primeiro lugar, o trabalho de
classificação e de delimitação que produz as configurações intelectuais múltiplas,
através da qual a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos;
seguidamente, as práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir
uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e uma
posição; por fim, as formas institucionalizadas e objetivadas graças as quais uns
representantes (instancias coletivas ou pessoas singulares) marcam uma forma visível
e perpetuada a existência do grupo, da classe ou da comunidade.
De fato todas essas articulações permeiam a CFS, porém convém chamarmos
atenção para aquela que se aproxima mais do objetivo desse estudo. Podemos
entender a CFS como uma das práticas que visam fazer reconhecer uma identidade
social exibindo uma maneira de ser que significa simbolicamente os desejos e anseios
de seus criadores. Assim a análise da composição da cerimônia da CFS tem evidências
que apontam nessa direção. Sugere que a CFS é uma prática cultural voltada para a
afirmação da identidade nacional, particularmente no nível ideológico do nacionalismo.
Ou seja, contribuiu para institucionalizar simbolicamente o nacionalismo, principalmente
em razão da forte presença de imigrantes teuto-brasileiros, em Porto Alegre e no
Estado do Rio Grande do Sul.
123
Assim as comemorações esportivas ou não, em determinados níveis, podem ser
consideradas os aspectos mais duradouros e poderosos na afirmação de identidades.
Tais eventos, como a CFS, encarnam os conceitos básicos do nacionalismo, “tornando-
os visíveis e distintos para todos os membros, transmitindo os princípios de uma
ideologia abstrata em termos palpáveis e concretos, que suscitam reações emocionais
instantâneas de todos os estratos da comunidade” (SMITH, 1997, p.102). Neste
sentido, apresentava um forte apelo à reunião, à unificão, à eliminação dos fatores de
diversidade da nação, ao patriotismo.
A CFS fazia parte do nacionalismo presente no período do Estado Novo
brasileiro, pois sua simbologia divulgava uma doutrina cultural necessária para o
contexto nacional e porto-alegrense. A CFS possibilitava que Porto Alegre, uma cidade
marcada pela cultura trazida pelos imigrantes alemães e italianos tivesse sua aspiração
nacional. Portanto, esta prática cultural foi estratégica para o ‘abrasileiramento’ da
população porto-alegrense, composta basicamente por imigrantes, atuando no projeto
de nacionalização extra-escolar enfatizando o aspecto cívico-educativo.
Smith (1997) ressalta que a doutrina cultural depende, por sua vez, da introdução
de novos conceitos, linguagens e símbolos. Segundo o autor o nacionalismo é um
movimento ideológico para alcançar e manter a autonomia, a unidade e a identidade de
uma nação. A CFS enquanto prática inventada nesse período ganha relevância por
almejar essa doutrina cultural, pois conceitos como autonomia, identidade, gênio
nacional, autenticidade, unidade e fraternidade faziam parte da linguagem ou discurso
interligado a ela.
Assim sua força enquanto cerimônia se fez por transformar conceitos abstratos
do nacionalismo em concretos e palpáveis pela população, fazendo esse elo de
pertencimento a doutrina cultural central. Além disso, Smith (1997) ressalta que ela
poderia suscitar reações emocionais instantâneas em todos os estratos da comunidade,
pois sua divindade seria a própria nação. Através da sua simbologia, a CFS estaria
fazendo com que os membros da comunidade participassem da vida, das emoções e
das virtudes dessa mesma comunidade, reconsagrando-se, ele ou ela, através deles,
ao destino desta. Ao articular e ao tornar tangível a idéia de nacionalismo e os
124
conceitos de nação, a CFS estaria ajudando a garantir a continuidade de uma
comunidade abstrata de história e destino.
A CFS se enquadrava no que Smith (1997) refere como “elos de ligão” entre
os indivíduos e as classes para a construção da nação. Esse “elose deu através de
um sentimento fortalecido e exaltado pela sensão de identidade e pertencimento
comum. Assim a “nação torna-se um grupo de obra de fé, capaz de ultrapassar
obstáculos e adversidades” (p.31).
Pensando nessa obra de fé, Smith (1997) afirma que são as idéias e as doutrinas
específicas, entrelaçadas em tradições ressaltadas como antigas, que fornecem o
simbolismo e o cerimonial que despertam as mais profundas emoções e aspirações
populares. Nesse sentido convém lembrar que a instalação dessa doutrina específica
atrelada a doutrina cultural central se através das instituições e pessoas ligadas a
ela.
A Liga de Defesa Nacional, enquanto instituição oficial e, os dirigentes esportivos
porto-alegrenses, enquanto colaboradores desse processo faziam parte da instalação
dessa identidade nacional no contexto porto-alegrense. Nesse sentido, a nação e a
identidade nacional devem ser vistas como uma criação do nacionalismo e dos seus
patrocinadores, sendo a sua expressão e celebrão, também elas, obra de
nacionalistas (SMITH, 1997).
Dessa forma os clubes esportivos porto-alegrenses na figura dos seus atletas e
dirigentes que se associavam a CFS, poderiam estar construindo uma representação
de integração do esporte porto-alegrense, antes marcado pelas diferentes etnias, no
projeto de construção da identidade nacional brasileira. Essa será a pauta da análise no
sub-capítulo a seguir.
5.3. Clubes esportivos ‘estrangeiros’ agora são ‘brasileiros’
Partimos nesse sub-capítulo das idéias apresentadas anteriormente, ou seja, a
Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria (CFS) foi uma tradição inventada
em Porto Alegre, institucionalizada pelo cleo regional da Liga de Defesa Nacional
(LDN) com o suporte dos clubes esportivos, que representava a unidade e coesão da
125
nação no imaginário porto-alegrense. Partindo dessas premissas buscamos responder
nesse sub-capítulo a seguinte questão: que representações os clubes esportivos porto-
alegrenses construíram no imaginário porto-alegrense ao se associarem à prática
cultural da CFS? Para responder a esse questionamento devemos retomar, de maneira
breve, a forma de articulação dos clubes com a CFS no contexto do associativismo
esportivo da cidade de Porto Alegre.
O associativismo esportivo em Porto Alegre, desde meados do século XIX até o
final da década de 1930 era fortemente marcado pelas diferentes etnias, que fundaram
os primeiros clubes na cidade. Ao longo desse período, os clubes se constituíram em
espaços de construção de representações de identidade culturais, principalmente dos
imigrantes alemães e italianos e seus descendentes (MAZO, 2003). Assim o panorama
esportivo porto-alegrense era composto por clubes, associações, sociedades, ligas,
comitês e federações que buscavam exaltar, além das práticas esportivas, diferentes
representações da sua matriz cultural.
Com o advento do Estado Novo e, principalmente pela atuação do núcleo
regional da LDN, os clubes esportivos de Porto Alegre tiveram que se ‘moldar às
exigências das ações nacionalizadoras que entraram em vigor no país. não eram
mais permitidas manifestações culturais identificadas com a tria de origem dos
imigrantes e descendentes. Diante desse contexto podemos inferir que se desencadeou
uma ‘luta de representações de identidades culturais na cidade, entre os clubes
considerados ‘estrangeiros’, pois seus pioneiros eram imigrantes alemães ou italianos,
com os vistos de ‘nacionais’.
Os clubes esportivos deveriam demonstrar seu ‘sentimento patriótico se
engajando nas comemorações daSemana da Pátria’, dentre elas a CFS. O patriotismo
dos clubes esportivos era atestado pela LDN, que conferia um diploma de participão
para as associações que desfilavam na Semana da Pátria (MAZO e ROLIM, 2007a).
Mas, para além de uma participação, o que representava essa participação dos
clubes esportivos nas comemorações da Semana da Pátria? Num primeiro momento
parece-nos que os clubes esportivos tiveram que recuperar fragmentos de sua história
e inscreverem-se no processo de construção da nação brasileira. Portanto, houve uma
126
recomposição cultural nos clubes esportivos identificados por imigrantes alemães e
italianos (MAZO e ROLIM, 2007b).
A participação dos clubes esportivos na CFS parece estar inserida nessa
dinâmica. Devemos lembrar que os dirigentes esportivos porto-alegrenses estavam
presentes nos Jogos Olímpicos de Berlim (Alemanha) como uma forma de ver in loco a
concepção moderna de sociedade alemã, onde as práticas corporais e esportivas
possuíam papel de destaque. Ao retornarem a Porto Alegre, esses dirigentes o
poderiam construir uma prática cultural alicerçada numa concepção alemã. Nesse
sentido a participação dos clubes esportivos na CFS parece ter atingido uma ‘função
dupla’ a nível simbólico: a construção da identidade nacional e a preservação dos
clubes esportivos.
Para um melhor entendimento dessa ‘função dupla’ devemos retomar alguns
pontos. O aparecimento da CFS estava atrelado institucionalmente ao núcleo regional
da LDN e socialmente aos clubes esportivos. Essa função social merece destaque, pois
foi a partir dela que a CFS se fixou enquanto tradição. Devido ao fato, de estarem
presentes, dirigentes esportivos e atletas dos clubes esportivos de Porto Alegre no
cerne da CFS, que se criou no imaginário porto-alegrense à idéia de uma tradição
porto-alegrense, ou seja, refletia-se nela a sociedade ‘estrangeira’ porto-alegrense.
A ‘rede de contatos’ que deveria existir entre Túlio De Rose, José Carlos Daudt,
Ernesto Cappeli e Darci Vignoli, alguns dos dirigentes de clubes esportivos da cidade
de Porto Alegre, pode ter facilitado a participão dos clubes na CFS. Devemos lembrar
que Túlio De Rose e Ernesto Cappeli participavam do Club Italiano Canottieri Duca
degli Abruzzi, entretanto Túlio De Rose conseguia dispensa de três meses do jornal
Correio do Povo para organizar a CFS (entrevistado MT). Ernesto Cappeli não obtinha
das mesmas vantagens em suas atividades, fato esse que o afastou da organização da
CFS. Túlio De Rose tinha como amigo próximo Darci Vignoli. Darci Vignoli participava
do clube esportivo Grêmio Náutico União e da Liga Náutica, sendo ainda
posteriormente membro do núcleo regional da Liga de Defesa Nacional, presidindo o
núcleo regional que tinha grande apoio do governo devido aos laços de amizade dele
com Getúlio Vargas (Entrevistado HL). José Carlos Daudt era representante da Liga
Atlética Rio Grandense e participava da Turnerbund.
127
Nesse sentido os dirigentes ao se associarem a CFS buscavam defender os
interesses dos seus clubes, pensando no desenvolvimento do esporte da cidade de
Porto Alegre (entrevistado HL). As medidas de retaliação que muitos clubes sofriam
devido às matrizes culturais que possuíam podem ter servido de alerta para que os
dirigentes esportivos aderissem aos ‘projetos’ nacionalistas. Assim ao ‘ceder’ seus
atletas ao ‘Brasil estariam colaborando com a construção da identidade nacional
através da CFS e, conseqüentemente, poderiam pensar que estavam aliviando seus
clubes das medidas retaliativas impostas pela nacionalização.
O quadro 3 mostra a participação de atletas de clubes esportivos porto-
alegrenses na CFS no trecho da cidade de Porto Alegre.
Ano
CFS
Nome do Atleta Clube esportivo Trecho percorrido
Mario Rosa Não foi identificado Passo do Sabão
Casemiro Marinho
Grêmio Foot Ball
Porto Alegrense
Bairro Parthenon
Carlos Alencastro Não foi identificado Avenida João Pessoa
1938
Otto Ritter
Turnerbund
Acendeu o Fogo na Pira da
Pátria
1939
Lauro Kliemann
Turnerbund
Acendeu o Fogo na Pira da
Pátria
1940
Antônio Pereira Lira Não foi identificado
Acendeu o Fogo na Pira da
Pátria
1941
Arno Franzen
Clube de Regatas
Almirante Barroso
Conduziu a tocha da Igreja
do Rosário até o
acendimento da Pira
Oscar Barbosa dos Santos
Não foi identificado
Acendeu o Fogo na Pira da
Pátria
Antonio Rosa
Não foi identificado Escoltou o Fogo até a Pira
Eugênio Carlos Pinto Não foi identificado Escoltou o Fogo até a Pira
1942
Otto Ritter
Turnerbund
Conduziu até a Igreja Nossa
Senhora das Dores
1943
Carlos Eugenio Pinto Não foi identificado
Acendeu o Fogo na Pira da
Pátria
Mario Nascimento
Medeiros
Não foi identificado Escoltou o Fogo até a Pira
1944
Darci Jardim
Grêmio Esportivo
Renner
Acendeu a Pira em Porto
Alegre
1945
Érika Renner
Turnerbund
Conduziu o Fogo até Pira
1946
Carlos Montagna Não foi identificado
Acendeu a Pira em Porto
Alegre
1947
Túlio de Rose
Cannotieri Duca degli
Carregou a tocha desde
128
Abruzzi
Pistola, Itália
Quadro 3 - Atletas que carregaram a o Fogo Simbólico
É interessante perceber a ‘luta de representações’ que se constituiu através dos
atletas envolvidos na CFS. A dinâmica de ‘luta de representações pode ser
evidenciada na forma como as publicões tratavam alguns atletas. No caso de Lauro
Kliemann o jornal Correio do Povo descreve que a honra de acender a Pira da Pátria foi
de “Lauro Kliemann da Turner-Bund, campeão sul americano de fundo” (CP,
01/09/1939); na publicação da LDN o atleta é: “João Lauro Kliemann - campeão
brasileiro de 800 metros” (SAFADY, 1960, p.66). Ao mesmo tempo em que eram heróis
da nação e colaboravam com a construção da identidade nacional, eles representavam
uma preservão de seus clubes.
Cabe lembrar que os atletas que carregaram o Fogo Simbólico da Pátria entre os
anos de 1938 e 1947 eram provenientes dos mais diversos clubes esportivos da cidade
de Porto Alegre e se constituíam entre veteranos, universitários, militares, escolares,
etc. Contudo a ‘honra’ do acendimento da Pira da tria, ou seja, o último portador do
Fogo Simbólico da Pátria no revezamento era de um atleta de destaque dos clubes
esportivos que representava, nessa ‘luta de representação’, um destaque nacional.
Essa representação de preservão e/ou autodefesa dos clubes esportivos
porto-alegrenses pode ser expressa também através dos uniformes que os atletas
utilizavam ao percorrer as ruas de Porto Alegre. Podemos observar essas situações na
fotografia 17 e nas seguintes fotografias publicadas na Revista do Globo e no Correio
do Povo:
129
Fotografia 30 – Atletas passam o Fogo Simbólico a Getúlio Vargas (RG, 19/08/1944, p.41)
Fotografia 31 - Mensageiros do fogo simbólico em 1944 (RG, 19/08/1944, p.40)
130
Fotografia 32 - Tulio De Rose, Arno Franzen e Ernesto Capelli (CP, 02/09/1941, p.09)
Fotografia 33 - Carlos Eugênio Pinto (CP, 01/09/1943, p.08)
131
Fotografia 34 – Otto Ritter na CFS em 1942 (Acervo Memorial SOGIPA)
Como podemos perceber a idéia dos dirigentes ao elevar esses atletas ao posto
de heróis da nação na CFS, atingiu uma dimensão coletiva. Isto é, produziu uma
representação de integração do esporte porto-alegrense ao ‘projeto’ nacional, além de
atender interesses particulares de preservação dos clubes esportivos. Assim, com essa
instituição social feita pelos clubes, a CFS passou a ser reconhecida pelos porto-
alegrenses e compartilhada pela coletividade, que a cada ano, no mês de Setembro,
renovava seus sentimentos de pertencimento a nação brasileira. Essa seria uma forma
de mostrar que um país como o Brasil e, também uma cidade como Porto Alegre, eram
capazes de organizar algo diferenciado, aliando o país as ‘modernas’ potências
mundiais e a capital do Rio Grande do Sul as grandes metrópoles brasileiras.
132
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS: (re)passando o Fogo Simbólico
O estudo buscou compreender as representações da identidade nacional
brasileira que foram construídas pelos clubes esportivos porto-alegrenses, através da
invenção da ‘Corrida de Revezamento do Fogo Simbólico da Pátria’ (CFS) no período
de 1938 a 1947. Para tanto, procurou-se entender o contexto sócio-cultural no qual foi
inventada a CFS, que representações da identidade nacional brasileira buscava-se
construir com essa prática e qual a participação dos clubes esportivos porto-alegrenses
nessa construção.
Nosso olhar analítico sobre a CFS, a partir do referencial teórico da História
Cultural, articulada a conceitos de identidade nacional e tradições inventadas, nos
conduziu a formular uma versão sobre a invenção da CFS e das representações da
identidade nacional brasileira construída por essa prática cultural e pelos clubes
esportivos da cidade de Porto Alegre (RS).
Na construção de uma versão sobre o ‘revezamento Berlim – Porto Alegre’
percebemos que a tradição da CFS em Porto Alegre foi uma aproprião da ‘Corrida de
Revezamento da Chama Olímpica’ realizada na cerimônia de abertura dos Jogos
Olímpicos de 1936. Em Berlim, dirigentes esportivos porto-alegrenses que assistiram a
chegada da Chama Olímpica ao estádio ficaram ‘tocados’ com a cerimônia. A marcante
identidade teuto-brasileira do associativismo esportivo em Porto Alegre, provavelmente
favoreceu a presença e a identificação desses dirigentes com as cerimônias realizadas
nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936.
lio De Rose, Ernesto Cappeli, José Carlos Daudt e Darci Vignoli dirigentes
de clubes esportivos porto-alegrenses foram a Berlim e, posteriormente, sustentaram
a idéia da criação da CFS em Porto Alegre. Provavelmente isto foi possível devido à
rede de sociabilidades, em particular as relações políticas que mantinham na cidade.
Nesse sentido, considera-se que não apenas o cenário internacional, mas também o
panorama nacional favoreceu a construção da CFS em Porto Alegre. Os
acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, na qual o Brasil se engajou em 1942,
colaboraram para o fortalecimento do patriotismo no país e na realização de
manifestações culturais, como a CFS.
133
O panorama político da capital do Rio Grande do Sul foi incrementado com a
instalação do núcleo regional da Liga de Defesa Nacional (LDN) em 1937. Iniciava-se
uma mobilização da sociedade para as comemorações e festividades cívicas e
esportivas embaladas pela política nacionalizadora do Estado Novo (1937-1945). A
cidade de Porto Alegre no bojo das mudanças ocasionadas por esse período se
remodelava buscando atingir o ideário de metrópole. O palco da CFS começava a se
constituir a partir da abertura de grandes avenidas e pelas reformas no Parque
Farroupilha (Redenção) para as festividades da ‘Semana da Pátria’.
Nesse contexto, a CFS foi inventada no ano de 1938, atrelada institucionalmente
ao cleo regional (RS) da LDN, mas conduzida do ponto de vista social pelos clubes
esportivos porto-alegrenses. A justificativa para a realização da CFS estava alicerçada
em ligações sagradas e históricas construídas através dos meios de comunicação da
época, conforme sugeriu a série de reportagens intituladas “Fogo da tria”, publicada
pelo Correio do Povo no mês de setembro de 1938. A expressão “Fogo Simbólico da
Pátria substituiu a “Chama Olímpica”, tendo em vista que se decidiu pela sua chegada
em Porto Alegre no dia Setembro, para abrir as comemorações da ‘Semana da
Pátria’ na cidade.
A ‘fixação’ da CFS enquanto tradição parece ter sido estabelecida por regras
tácitas nos locais onde cruzava, ou seja, a base da CFS, que era sair de um ponto e
chegar a outro, continuava inalterada. Mas, nas cidades que percorria, o seu formato
era construído pelas autoridades locais, que adequavam a CFS de acordo com suas
características e interesses. Isso de certa forma mantinha o ineditismo da CFS e fazia
com que a comunidade das localidades por onde ela passava se identificassem com a
Corrida.
Assim, a CFS no período 1938 a 1947 foi uma tradição historicamente original e
livremente inventada e, pode ser considerada uma cerimônia que, ao perpassar a
cidade de Porto Alegre, procurava forjar nos porto-alegrenses a consciência da sua
cidadania. Portanto, pode ser categorizada, enquanto uma tradição inventada cujo
propósito principal foi à socialização, a inculcão de idéias, sistemas de valores e
padrões de comportamento.
134
As idéias e sistemas de valores que eram apresentados aos porto-alegrenses
estavam enraizados, até o ano 1947, na constrão da identidade nacional. Dessa
forma, a CFS foi ampliada de uma idéia regionalizada nos primeiros anos para adquirir
proporções nacionais e internacionais no final dos anos de 1940. Percorrendo a não
de um ponto histórico-sagrado até Porto Alegre, constituía-se como uma ação do
governo que visava à constrão da identidade nacional brasileira. Através da CFS
buscava-se a representação de unidade e coesão, em especial no imaginário de
cidades brasileiras com expressiva presença de imigrantes europeus e seus
descendentes, como Porto Alegre.
A construção no imaginário porto-alegrense de uma representação de unidade e
coesão era reforçada pelos meios de comunicação na cidade. O amplo sistema de
controle do governo sobre os meios de comunicação, favoreceram a afirmação de
unidade nacional, como também a busca da homogeneização cultural. Isto pode ser
observado, nas reportagens sobre a CFS e, principalmente, através da publicão de
recomendações e solicitações de comportamento para a população durante os festejos
da ‘Semana da Pátria’ em Porto Alegre.
Os clubes esportivos porto-alegrenses também foram convocados a contribuir na
construção da identidade nacional. Sob pena de medidas punitivas os clubes
procuraram demonstrar sua adesão ao ‘projeto nacional’ através da CFS. Essa prática
cultural ajudou o engajamento dos clubes nesse processo, através da representação de
seus atletas e dirigentes na CFS, não mais como membros de clubes identificados
como ‘estrangeiros’ de teuto-brasileiros ou ítalo-brasileiros mas sim como
representantes de ‘clubes brasileiros’.
Nesse sentido a participação dos clubes esportivos na CFS parece ter atingido
uma ‘função dupla’ no campo simbólico: a construção da identidade nacional e a
preservão dos clubes esportivos ‘estrangeiros’. Devido ao fato, de estarem presentes,
dirigentes esportivos e atletas dos clubes de Porto Alegre no cerne da CFS, se criou no
imaginário à idéia de uma tradição porto-alegrense, ou seja, acreditamos que no âmbito
social a CFS era identificada como uma tradição realizada pela sociedade ‘estrangeira’
de Porto Alegre.
135
Ao cederem seus atletas para carregar o Fogo Simbólico, podemos inferir que os
clubes esportivos porto-alegrenses utilizaram a CFS como uma forma de mostrar a sua
integração ao ‘projeto’ de construção da identidade nacional. Entretanto, foi possível
identificar alguns fragmentos de preservação da identidade cultural desses clubes
‘estrangeiros’, que permitiram ou incentivaram seus atletas a vestirem uniformes
identificados com sua cultura ‘de origem’. Essa ‘luta de representações ficou
evidenciada nas reportagens produzidas pelo jornal Correio do Povo onde os atletas
o mencionados ora como representantes dos clubes porto-alegrenses ora como
representantes do Brasil.
A idéia dos dirigentes esportivos ao elevar esses atletas ao posto de heróis da
nação na CFS atingiu uma dimensão coletiva. Isto é, produziu uma representação de
integração do esporte porto-alegrense ao ‘projetonacional, além de atender interesses
particulares de preservação dos clubes esportivos. Com essa institucionalização social
feita pelos clubes, a CFS passou a ser reconhecida pelos porto-alegrenses e
compartilhada pela coletividade, que a cada edição, no mês de Setembro, renovava
seus sentimentos de pertencimento a nação brasileira.
Nesse sentido compreendemos que os clubes esportivos porto-alegrenses
construíram representações da identidade nacional brasileira no imaginário porto-
alegrense ao se associarem à invenção da “Corrida de Revezamento do Fogo
Simbólico da Pátria” em Porto Alegre nas edições entre os anos de 1938 a 1947.
Para além dos clubes, a CFS pode ser considerada uma prática que evidencia a
importância dada para as práticas esportivas no período do Estado Novo no Brasil. A
relevância atribuída a CFS nesse período extrapolou as fronteiras do país
56
, sendo
intitulada a maior corrida de revezamento em nível simbólico do mundo. Este destaque
dado a CFS parece ser uma tentativa de colocar o país em destaque no cenário
mundial, mostrando suas virtudes políticas, sociais e culturais através da realização de
uma prática com características de megaevento esportivo olímpico. Dessa forma o
governo, poderia estar buscando alinhar o país as grandes potências mundiais, que
também se revelavam como tal, através dos eventos olímpicos. Essa alusão reforça a
56
Podemos olhar a instituição da CFS através das seguintes fases: regional (1938-1939), nacional (1940-
1944) e internacional (1945-1947).
136
idéia de que o esporte e as práticas associadas a ele, não podem ser considerados
como movimentos neutros e apolíticos.
A busca por fontes impressas em localidades fora do país, principalmente no
período estudado e nas cidades por onde a CFS perpassou internacionalmente, podem
trazer elementos para contribuir com as asserções feitas anteriormente. Além disso, a
busca por outras fontes pode trazer diferentes olhares para o estudo da CFS, aja visto
que as fontes consultadas nesse estudo estavam limitadas devido aos mecanismos de
controle criados pelo governo brasileiro no período do Estado Novo.
Finalizando as considerações, sugerimos algumas temáticas de estudo que o
foram trabalhadas no decorrer tendo em vista a delimitação proposta, como também as
limitações do estudo. Essas sugestões visam principalmente à exploração e atualização
do banco de dados disponibilizado na dissertação.
Embora o banco de dados tenha demandado um largo período de construção e,
quem sabe tenha comprometido algumas das análises do objeto de estudo, ele poderá
contribuir para outros estudos. Assim sugerimos explorar temáticas como: as
resistências a CFS, as representações políticas da CFS através dos discursos das
autoridades presentes nas cerimônias da Corrida, as representações de corpo na CFS
e as representações da identidade nacional que foram construídas pela CFS em
cidades do interior do Rio Grande do Sul.
137
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8. APÊNDICES
8.1. Apêndice A – Banco de Dados
1938 – 1
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
No dia 31 de agosto às 21 horas em Viamão (RS) (CP, 01/09/1938).
Cerimônia de acendimento da tocha: “A’s 21 horas o padre José Breidenbach
accende o archote que seria conduzido pelos athetlas porto alegrenses, e que
accenderia a pyra na lampada votiva do altar consagrado a N. S. da Conceição,
padroeira do Brasil, e que arde ininterruptamente desde 1741” (CP, 01/09/1938
p.11).
Autoridades presentes no acendimento da tocha: “os srs. major Ignacio Rolim,
Heraclydes Cezimbra, capitão Lauro A. Corrêa, Onias de Almeida, da direão da
Liga de Defesa Nacional, José Carlos Dautd, presidente da Larg, Oswaldo Bruch e
outros” (CP, 01/09/1938 p.11). Na saída da CFS o tenente Paranhos Antunes foi o
orador.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
O atleta universitário Melchiades Soares foi o primeiro a conduzir o archote. “Hugo
Ribeiro, o popular Tró-ló-ló, desce a conhecida ‘Lomba do Sabão’, conduzindo o
archote, entregando-o, na divisa de Porto Alegre, no Passo do Sabão, ao corredor
Mario Rosa (CP, 01/09/1938 p.11). No Parthenon entra na faixa de cimento
conduzindo a tocha o athleta gremista Casemiro Marinho” (CP, 01/09/1938 p.11).
Depois da parada, foi re-iniciada a Corrida, tendo levado o archote aa avenida João
Pessoa o atleta Carlos Alencastro, que nesse ponto, entrega para Otto Ritter, que, ao
som das businas de innumeros autos segue em direcção á Pyra” (CP, 01/09/1938
p.11). Otto Ritter (decatleta gaúcho) acendeu o fogo na Pira da Pátria, (SAFADY, 1960
p.66).
3. Percurso da CFS
Duas cidades (Viamão e Porto Alegre). Partiu da histórica capela da antiga capital
gaúcha (Viamão), onde “ainda arde uma lâmpada votiva acesa por heróicos
149
guerrilheiros farrapos” (AMARO JR., 1944 p.40). Percorreu a Lomba do Sabão, o Passo
do Sabão (divisa entre os municípios), Linha do Parthenon, avenida João Pessoa e
chegada na Pira da Pátria localizada na rua Luiz Affonso (Parque Farroupilha)
construída especialmente para a ocaso (CP, 01/09/1938).
Passagem pelo interior RS: Não houve.
Passagem por cidades do Brasil: Não houve.
4. Chegada da CFS
No dia 1
o
setembro à 0 hora em Porto Alegre (RS) (CP, 01/09/1938).
Cerimônia de acendimento da Pira: “Postado defronte á pyra, o último conductor
do archote espera o momento de accendel-a. Diversas bandas de musicas
executam o Hymno Nacional, que é cantado com enthusiasmo pela grande
multidão, sendo nesse momento acessa a pyra. Foi dada, em seguida, uma salva de
artilharia” (CP, 01/09/1938 p.11).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “No palanque official, defronte a
pyra, viam-se o coronel Cordeiro de Farias, interventor federal, dr. Coelho de Souza,
secretário da Educação e Saude Publica, dr. Darcy Azambuja, orador official(CP,
01/09/1938 p.11).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Às 24 horas do dia 07 de setembro (CP, 07/09/1938 p.11).
6. Quilometragem percorrida
26km (LDN, 2006); 36km (AMARO JR., 1944 p.40); 21km (AMARO JR., 1947 p.12).
7. Percalços
Uma parada antes de chegar ao ponto final. “Chegaram os portadores do Fogo
Symbolico ao fim da linha do Parthenon, ás 10,30 horas, pois que, prevendo que o mau
tempo atrazaria a corrida, o major Ignacio de Freitas Rolim resolveu antecipal-a, mas os
athletas, com grande ardor, enfrentando as intemperies e a estrada enlameada,
chegaram até aquelle ponto em uma hora e vinte minutos” (CP, 01/09/1938 p.11).
8. Transmissão
“Diversos funccionarios da Cia. Telephonica Rio Grandense acompanharam toda a
corrida, tendo de diversos logares, feito, por intermedio de ligações de emergência um
150
serviço de informações do desenrolar da patriotica prova, dando a conhecer á
população, por intermédio da P. R. C. 2, o seu desenvolvimento” (CP, 01/09/1938 p.11).
1939 – 2
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
No dia 31 de agosto às 12 horas em Rio Pardo (RS) (CP, 01/09/1939). Rio Pardo foi
escolhida por ser uma “cidade tão cheia de caras tradições a gente gaúcha” (AMARO
JR., 1944 p.40).
Cerimônia de acendimento da tocha: “Na matriz, histórico e majestoso templo,
replecto de exmas. famillias, colégios, associações e povo, foi accesa, pelo vigário
padre Thomaz Broggi, que passou à veneranda rio pardense d. Ezelina Silva Cunha,
de 84 annos de idade, na lâmpada que illumina ininterruptamente a sagrada
eucharistia, a tocha que dahi a momentos transmitiria o fogo à pyra, erguida no lugar
denominado Fortaleza. A veneranda senhora, acompanhada da directora do Grupo
Escolar Ernesto Alves, representantes da Liga de Defesa Nacional, prefeito
municipal e outras autoridades, atravessou o templo, ao som de cânticos sacros,
entoados pelo coro Santa Cecília. Ao chegar a porta, a referida octogenária, passou
a tocha as mãos do sr. Prefeito, que a entregou ao colegial João Herzog Filho,
alumno Grupo Escolar” (CP, 01/09/1939 p.03).
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Ernesto Protasio Wunderlich
(prefeito de Rio Pardo), coronel Hasslocher Mazeron (vice-presidente da Liga
Nacional), Dr. Nilo Teixeira de Souza (juiz municipal), vigário Thomaz Broggi (CP,
01/09/1939).
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
Amaranio Ribeiro Lima (Guarany Foot Ball Club) conduziu a tocha acesa na Pira de Rio
Pardo; Ernesto Appelt (América Foot Ball Club) conduziu o archote até a divisa com
Santa Cruz; Lauro Kliemann (Turner-Bund, campeão sul americano de fundo) foi quem
conduziu o archote até a Pira (CP, 01/09/1939). João Lauro Klieman (campeão
brasileiro de 800 metros) acendeu o fogo da Pira da tria (SAFADY, 1960 p.66). João
Hersog Filho primeiro atleta a conduzir a tocha em Rio Pardo (SAFADY, 1960 p.73).
151
3. Percurso da CFS
Passou por 10 cidades gaúchas (LDN, 2006). O archote foi aceso na Catedral da
cidade de Rio Pardo (RS) e passou pelas cidades de Santa Cruz, Venâncio Aires,
Lageado, Estrela, Taquari, Montenegro, São Sebastião do Caí, Novo Hamburgo, o
Leopoldo, Canoas e Porto Alegre. O local da chegada foi no Altar da Pátria no Campo
da Redenção (CP, 01/09/1939). Foi erigida pela Prefeitura Municipal de Rio Pardo em
memória a Segunda Corrida do Fogo Simbólico uma Pira. O local escolhido é o da
Fortaleza, Jesús Maria e José (1.751), baluarte do Regimento dos Dragões do Rio
Pardo, fronteiras meridionais da Pátria (SAFADY, 1960 p.74).
Passagem pelo interior RS: Rio Pardo (31/09 por C.P.
57
): Depois de acesa tocha
“[...] ecoou longa e calorosa salva de palmas, ouvindo-se nesse momento, o hymno
nacional, executado pela banda Carlos Gomes, toques de clarins e cornetas pelo
Tiro de [ilegível] n. 159, em continência a Bandeira [...] Formou-se, após, imponente
cortejo, com os athetlas a frente rumando ao local onde se via a pyra construída nas
ruínas da Fortaleza Jesus-Maria-José, para onde foi transportado o fogo symbólico.
chegados, foi inicialmente cantado o hymno nacional que, apesar do mau tempo,
accorreu aquelle logar, seguiu-se a benção da pyra, pelo vigário Thomaz Broggi”
(CP, 01/09/1939 p.03). Após foi aceso uma tocha dessa Pira que seguiu para outra
cidade; Farroupilha (31/09 C.P.): “É esperada, hoje as vinte e uma hora, nesta
cidade o ‘fogo symbólico’ que, vindo por Cahy, accenderá, a zero hora, a pyra do
Altar da Pátria, levantado na cidade de Caxias” (CP, 01/09/1939 p.03); Estrela
(31/09 C.P.): “Chegou, hoje as quatro horas da madrugada, a tocha do fogo
symbólico, que foi recebida na divisa do munipio de Lageado [...] Daqui a tocha
seguiu as sete horas rumo a villa de Bom Retiro, onde chegou as oito horas” (CP,
01/09/1939 p.03). A tocha ainda foi carregada até o município de Taquari; Novo
Hamburgo (31/09 por telefone): “Constitui um verdadeiro acontecimento a passagem
por aqui do ‘fogo symbólico’ as 20,30 horas. O archote recebido na divisa deste
munipio com o de São Leopoldo, no logar denominado de Boa Saúde (CP,
57
C. P. provavelmente é uma forma de envio das informações ao jornal. As informações ainda chegavam
por “Via Postal”, “Telefone”, etc.
152
01/09/1939 p.03). Foi acesa no centro da cidade, na praça 11 de julho a Pira da
cidade.
Passagem por cidades do Brasil: Não houve.
4. Chegada da CFS
No dia 1
o
setembro à 0 hora em Porto Alegre (RS) (CP, 01/09/1939).
Cerimônia de acendimento da Pira: “Ao som do hymno Nacional, executado por
quatro bandas militares e cantado por todos os presentes, é, então accesa a ‘Pyra’,
enquanto que uma bateria do C.P.O.R., fazia salva de vários tiros de canhão” (CP,
01/09/1939 p.03). Após a execução do hino discursos do Dr. Waldemar do Couto e
Silva, pela Liga de Defesa Nacional e Dr. Antunes de Mattos. Esse último fez a
leitura do folhetim intitulado “Creio no fogo sagrado acceso na Pyra da Pátria”
posteriormente distribuído à população (CP, 01/09/1939 p.03). Ao final dos
discursos novamente o hino Nacional (CP, 01/09/1939).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: Na tribuna de honra: “os srs.
interventor federal [coronel Cordeiro de Farias], acompanhado de todos os
secretários do Estado, o commandante da Região, os cônsules da Argentina e de
Portugal nesta capital, um representante do commandante geral da Brigada Militar,
que se encontra enfermo, o sub-prefeito do 1.
o
districto, representando o prefeito da
cidade, o chefe do Estado-Maior da Terceira Região Militar, commandante de
unidades federaes, officiaes do Exército e da milícia estadoal, a directora da
Instrucção Pública, a directoria da Liga de Defesa Nacional neste Estado, com todos
os seus membros, o director do Thesouro do Estado, o chefe do Estado-Maior da
Brigada Militar, o secretário da Interventoria, representações de entidades civis e
militares e muitas outras pessoas gradas” (CP, 01/09/1939 p.03).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Dia 07 de setembro (CP, 07/09/1939 p.05).
6. Quilometragem percorrida
299km (AMARO JR., 1947 p.12); 411km (LDN, 2006); 296km (CP, 01/09/1939 p.03).
7. Percalços
Mau tempo constante (CP, 01/09/1939).
153
8. Transmissão
Não encontrado.
1940 – 3
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
Florianópolis (SC) (LDN, 2006).
Cerimônia de acendimento da tocha: Nada encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Nada encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
Cap. Antonio Lyra (campeão sul americano de atletismo) foi quem conduziu a tocha até
o acendimento da Pira (CP, 01/09/1940). Antônio Pereira Lira (campeão brasileiro de
arremesso do peso) acendeu o fogo na Pira da Pátria (SAFADY, 1960 p.66).
3. Percurso da CFS
Saiu da histórica Catedral e passou por 15 cidades (LDN, 2006).
Passagem pelo interior RS: Garibaldi (31/09 C.P.): “Esta cidade viveu hoje
momentos de intensa vibração vica por occasião da passagem do Fogo
Symbólico’, procedente de Florianópolis, em demanda dessa capital. Recebido pelo
prefeito municipal no limite do município com Bento Goalves foi conduzido pelos
athletas do Tiro de Guerra 311, chegando a esta cidade as 17 horas e 45 minutos,
sendo recebido por grande massa popular, autoridades e collegiaes. Pronunciou o
discurso na chegada o dr. François Nehme. Foi offerecida uma taça de champagne
pela Liga de Defesa Nacional. A’s 18:35 horas reiniciou-se a marcha com destino a
Farroupilha e P. Alegre” (CP, 01/09/1940 p.02); Bento Gonçalves (31/09 C.P.): “Com
presença de todas as autoridades locaes as 15 horas os athletas receberam na
Igreja da Matriz o facho transportando-o a a divisa de Garibaldi. O prefeito do
munipio fez a entrega ao prefeito de Garibaldi. Segundo o Fogo Symbolico
acompanhado pelos srs. Tullio de Rose, Waldir Grizardi, Ernesto Capelli, Celeste
Boniatti que seguirão hoje ainda para Farroupilha, onde pernoitarão” (CP,
01/09/1940 p.02-07); Farroupilha (31/09 C.P.): “Chegou hoje aqui, transportado por
um grupo de athletas do Tiro de Guerra local e do destacamento da Brigada Militar
154
desta localidade, o Fogo Symlico vindo da vizinha cidade de Caxias, as dez
horas, pelo prefeito municipal tenente Januário Dutra foi accesa a pyra do altar da
Patria erigido na Praça da Bandeira, no momento que se fez ouvir o dr. Olmiro de
Azevedo. Após a cerimonia, a tocha seguiu para as cidades de Bento Gonçalves e
Garibaldi, devendo regressar ainda esta noite para partir a zero hora para essa
capital” (CP, 01/09/1940 p.07); Orio (31/09 C.P.): “Com a presença dos prefeitos
dr. Ary Tubbs de Gravatahy e Candido Osório Rosa, deste munipio, bem como o
sr. Antonio Luz Orio Rosa, Mario Rosa, João Carmelindo Silva presidentes dos
clubs sportivos de Gravatahy e grande assistência de populares realizou-se a
solemnidade de transmissão do ‘Fogo Symbolico acceso na Igreja Matriz dessa
cidade e trazido por athletas locaes do local onde nasceu o general Osório para
Gravatahy, onde será accesa a pyra (CP, 01/09/1940 p.07); Santo Antonio da
Patrulha (31/09 C.P.): “Estão levantando no centro da avenida Borges de Medeiros
o altar da Pátria. Onde se acha a pyra será acceso o fogo symbólico hoje a meia
noite. O fogo virá do município de Osório, local onde nasceu general Osório, sendo
conduzido até a divisa daquelle munipio pelos athletas de lá e até aqui pelos deste
munipio” (CP, 01/09/1940 p.07).
Passagem por cidades do Brasil: Lages (SC) (27/08 Via Postal): “O archote,
symbolizando a corrida do fogo olímpico, que a Liga de Defesa Nacional desse
Estado vem promovendo em commemoração a Semana da Pátria foi recebido na
divisa desse munipio com o de Bom Retiro, por um grupo de athletas do Instituto
de Educão e do Gymnasio Diocesano desta cidade, chefiado pelo prefeito
municipal [...] Depois de introduzido no edifício da Prefeitura, o fogo olympico foi
collocado num altar [ilegível] preparado. Por essa occasião fez uso da palavra o dr.
Indalecio Arruda, prefeito municipal, que disse do significado dessa corrida e
concitou os presentes a comparecer a partida do fogo symbolico, as 9 horas do dia
seguinte. Hoje, dia 27 a hora aprazada, reuniram-se em frente a Prefeitura Municipal
as autoridades civis, ecclesiasticas e militares, os athletas locaes, compostos de
elementos do 2
o
Batalhão Rodoviário, do Instituto de Educação e do Gymnasio
Diocesano, e grande multidão de povo para assistir a partida do fogo symbolico”
(CP, 01/09/1940 p.07).
155
4. Chegada da CFS
No dia 1
o
setembro às 24h em Porto Alegre (RS) (CP, 01/09/1940 p.02).
Cerimônia de acendimento da Pira: “[...] depois de percorrer innumeras artérias da
cidade chegou a rua Venâncio Ayres o ‘fogo symbólico’. Dahi aa ‘Pyra da Pátria’
localisada a Avenida João Pessoa, esquina João Pessoa, foi o archote empunhado
pelo athetla [...] o desportista accendeu a ‘Pyra’, ouvindo-se, nessa occaso, o
hymno nacional, executado por cinco bandas militares e as salvas de artilharia [...]
numerosos vapores ancorados no Caes do Porto, as vizinhas fabricas e milhares de
automoveis puzeram em funccionamento suas sirenes e buzinas [...] A seguir, o dr.
Damaso Rocha pronunciou o discurso official da solemnidade” (CP, 01/09/1940
p.02).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “O interventor federal no Estado,
cel. Cordeiro de Farias, bem como o commandante da 3
a
Região Militar, gal. Leitão
de Carvalho e os drs Miguel Tostes, secretário do Interior; J. P. Coelho de Souza,
secretário da Educação; Loureiro da Silva, prefeito da cidade; Oscar Fontoura,
secretário da Fazenda; Ataliba Paz, secretário da Agricultura; Meirelles Leite,
secretário de obras públicas, acompanhados de seus auxiliares [...]” (CP,
01/09/1940 p.02).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Às 24 horas do dia 07 de setembro. “A solemnidade official foi rapida. Uma banda de
musica do 7
o
Batalhão de Caçadores tocou o hymno nacional, que foi cantado por todos
os presentes. A seguir, occupou a tribuna o sr. Clemenciano Barnasque, da Liga de
Defesa Nacional, que pronunciou brilhante oração a pátria” (CP, 08/09/1940 p.02).
6. Quilometragem percorrida
599km (LDN, 2006); 697km (AMARO JR., 1947 p.12).
7. Percalços
Nada encontrado.
8. Transmissão
Não encontrado.
156
1941 – 4
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
Ipiranga (AMARO JR., 1947 p.12); Monumento do Ipiranga (SP): Fogo aceso na Igreja
da Boa Morte, em São Paulo, homenageando Independência do Brasil (LDN, 2006).
Cerimônia de acendimento da tocha: Não encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Não encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
Arno Franzen (Clube de Regatas Almirante Barroso) conduziu a tocha da Igreja do
Rosário até o acendimento da Pira (CP, 02/09/1941 p.09); Argemiro da Silva (Ginásio
Municipal São Jacó) conduziu no município de Novo Hamburgo e Willy R. Zimmermann
transferiu a chama a pira desta cidade; Benno Kroeff, conduziu no município de
Taquara (CP, 03/09/1941); Teófilo Morsch, acendeu a Pira em Canoas (CP,
04/09/1941). Antônio Rosa (campeão universitário brasileiro de 400 metros) acendeu o
fogo da Pira da Pátria (SAFADY, 1960 p.66).
3. Percurso da CFS
Não encontrado.
Passagem pelo interior RS: Caxias: “Entre extraordinárias manifestações
populares, chegou ontem, em Caxias, o Fogo Simbólico. A praça Dante achava-se
totalmente ocupada pela massa do povo que ali se comprimia, aguardando a
chegada do fogo, a qual se deu as 8,40 horas, sendo imediatamente conduzido a
Catedral desta cidade, acompanhado por grande numero de automóveis e
motocicletas. Ao ser o fogo colocado no Altar da Pátria, a Banda do 9
o
B. C. tocou o
Hino Nacional, que foi cantado pela massa popular. Naquela ocasião, em nome da
Liga de Defesa Nacional, falou o dr. Eduardo Ruiz Caravantes, juiz de direito. A
Prefeitura Municipal, a Liga de Defesa Nacional e o comando do 9
o
B. C. tomaram o
maior interesse e todas as providências para recepcionar os atletas que conduziram
o Fogo Simbólico. Na manhã de hoje, presente grande número de populares, o fogo
foi conduzido até Farroupilha, tendo falado, no ato da saída, o capitão Antonio
Borges Filho” (CP, 02/09/1941 p.04); Canoas (02/09): Precisamente as 22,30 horas
de ante-ontem deu-se o encontro das autoridades na divisa municipal de Canoas
157
com Porto Alegre, tendo prefeito daquela comuna. Dr. Aluízio Escobar se
congratulado em nome do povo canoense pela passagem da chama olímpica, e
apresentou cumprimentos ao sr. Loureiro da Silva, prefeito dessa capital [Porto
Alegre]” (CP, 02/09/1941 p.09); Caí (01/09 C.P.): “Precisamente às 17 horas,
chegou a esta cidade, conduzido por atletas montenegrinos, o ‘Fogo Simbólico da
Pátria’. Nas margens do Rio Caí, divisa deste município com o de Montenegro, foi o
facho recebido pelo prefeito da comuna, oficialdade do batalhão do Tiro de Guerra
471, outras autoridades civis e militares e eclesiásticas, alunos de todos os colégios
da cidade, batalhão do tiro e uma extraordinária massa de povo. Nessa ocasião,
produziu uma oração o dr. Antonio Antonello, representante do município de
Farroupilha. Em seguida, foi cantado pelos presentes o hino nacional, organizando-
se extenso préstito até o centro da cidade. Após cerimônias vicas, prosseguiu o
Fogo Simbólico, já conduzido por atletas caxienses, até a divisa do município de
São Leopoldo, acompanhado pelo prefeito, oficiais do tiro e outros elementos de
destaque. Recebeu o archote, no ponto de divisas dos dois municípios, o dr.
Vilanova, representante do prefeito de São Leopoldo [...]” (CP, 02/09/1941 p.09);
Novo Hamburgo (01/09 Via Postal): “O fogo simbólico chegou às 19,30 horas a este
munipio, sendo recebido na divisa por uma turma numerosa de atletas, comboiada
por um grupo de motociclistas e numerosos automóveis. Recebeu o archote das
mãos de um atleta caxiense o aluno do Ginásio Municipal São Jacó [...] A’ praça 14
de Julho, junto ao altar da Pátria, uma multidão comprimia-se [...] a fim de assistir a
solenidade da transmissão da chama à pira desta cidade [...] Nessa ocasião
discursou o prefeito municipal [...] sendo em seguida, cantado o hino nacional [...]
Pelo dr. Moacyr Dorneles, promotor blico de Taquara, foi, após, em um discurso,
transmitido o fogo à embaixada aquele município [...] Em seguida, prosseguiu,
também o archote para essa capital, novamente comboiado por motociclistas e
automóveis a a divisa do município, onde foi recebido pela missão de São
Leopoldo [...]” (CP, 03/09/1941 p.04); Flores da Cunha (29/08 Via Postal): “Passou,
ontem, por esta cidade, o fogo simbólico, que partiu do Ipiranga, com destino a essa
capital. No rio das Antas, o prefeito de Antonio Prado, major Valdemar Miranda,
passou às mãos do prefeito deste município, dr. Oto Trindade, o archote, que foi
158
conduzido até Caxias por um grupo de cincoenta atletas locais, acompanhados por
diversas autoridade e pessoas gradas [...] Na passagem por esta cidade, o facho
demorou-se algum tempo na igreja matriz, onde foi saudado pelo rev. padre Eugenio
de Garibaldi, vigário desta paróquia (CP, 03/09/1941 p.04); Cruz Alta (02/09 C.P.):
“[...] Entre grandes manifestações de civismo da assistência, a zero hora do dia 1
o
do corrente, começou a arder, na pira erguida à pra General Firmino, o fogo
simbólico, trazido da cidade de Ijuí por um grupo de atletas dos regimentos e
organizações esportivas desta cidade, tendo comparecido a essa cerimônia vica,
autoridades militares e civis e grande assistência. Ao acender o fogo na pira, fez uso
da palavra, o capitão Flamario Barreto Lima. A seguir, foi cantado o hino nacional,
encerrando-se então aquela cerimônia (CP, 04/09/1941 p.04); Santa Maria (02/09
C.P.): “[...] iniciada ontem a zero hora [as comemorações da Semana da Pátria] O
fogo simbólico foi conduzido por atletas em corrida de revezamento desde o Quartel
General da Infantaria Divisória, sendo solenemente colocado no altar da tria ao
som do hino nacional e ao espocar de rojões” (CP, 04/09/1941 p.04); Canoas (03/09
Via Postal): “O Fogo Simbólico foi recebido na divisa do município, na ponte do
Esteio, pelo prefeito municipal, dr. Aloísio de Escobar, sendo a tocha trazida até a
Praça da Bandeira, por 50 atletas das associações e colégios dos município.
Entregue a tocha ao veterano [atleta] este acendeu a pira do monumento à tria
[...] A massa popular cantou então o hino nacional [...] Uma delegação de atletas,
vinda da cidade de Gravataí, acendeu uma tocha para levar, o Fogo Simbólico da
Pátria, através os dois municípios, até à Praça da histórica Aldeia dos Anjos.
Seguiu-se a cerimônia religiosa penetrando o Fogo Simbólico no recinto da Matriz,
onde os corredores cercaram o altar durante a oração pró-pátria, pronunciada pelo
vigário da Paróquia, padre Leo Hartmann. Sob os acordes do hino nacional, tocado
ao órgão pelo rev. Irmão Marcel, da Congregação Lasalista,, saíram os atletas,
levando emparelhadas a tocha oficial e a do município de Gravataí, prosseguindo a
corrida de revezamento com 50 atletas escolhidos” (CP, 04/09/1941 p.04); o
Jerônimo (01/09 Via Postal): “Com brilhantismo tiveram inicio ontem, a meia noite,
as festividades da Semana da tria, com a chegada do Fogo Simbólico, aceso na
lâmpada votiva da igreja Santa Bárbara, situada na Vila Arroio dos Ratos, e trazidos
159
por atletas dessa localidade, secundados por atletas locais. Ao percorrer o Fogo
Simbólico as principais ruas da cidade, repicaram os sinos, ao soar uma salva de 21
tiros. Na Praça da Liberdade, perante milhares de pessoas, foi acesa a Chama
Simbólica da Pátria, ao som do hino nacional” (CP, 04/09/1941 p.04); Montenegro
(01/09 Via Postal): Cerca das 12 horas de ontem, os sinos da matriz anunciavam a
incursão do Fogo Simbólico no município de Montenegro, pela vila de Poço das
Antas, distante 42 quilômetros dessa cidade. Precisamente, as 14,30 horas, debaixo
do troar de bombas, repicar dos sinos e do entusiasmo da assistência [...] o fogo
simbólico, que então era conduzido pela F. B. C. Montenegro, chegou ao portão
principal da matriz [...] Após ter sido amarrada no archote, pelo prefeito Carlos
Correa da Silva, a placa de Montenegro e aceso a pira dessa cidade, o fogo
simbólico, às 15,15 horas, ainda conduzido pelos atletas locais, partia com destino a
cidade de Caí, sendo acompanhado, de automóvel, por grande número de pessoas”
(CP, 04/09/1941 p.04); Alfredo Chaves (30/09 Via Postal): “No dia 29, a ‘Tocha do
Fogo Simbólico’ que vem sendo carregada pelos atletas nacionais, desde as
margens do Ipiranga, fez o percurso deste município [...] conduziu-se à divisa deste
munipio com o de Bento Gonçalves, onde foi organizada uma recepção com a
concentração de alunos de rias escolas rurais, devidamente uniformizados. Logo
após a ‘Tocha Simbólica’ chegava, entre aclamações dos presentes, à margem do
Rio das Antas, onde uma grande barca, ornamentada com as cores nacionais,
aguardava os atletas e a caravana da Liga de Defesa Nacional, para travessia [...] O
archote foi carregado desde a margem do Rio das Antas pelos alunos do Tiro de
Guerra local. A entrada do ‘Fogo Simbólico’ na cidade, milhares de alunos de todos
os colégios locais fizeram a saudação olímpica, elevando vivas ao Brasil, sob
palmas e aclamões [...] Encerrada a cerimônia com o hino nacional, o ‘Fogo
Simbólico’ foi depositado na Gruta N. S. de Lourdes, local onde celebraram um ritual
solene [...] Em seguida, os atletas prosseguiram sua corrida para as divisas do
munipio do Prata” (CP, 04/09/1941 p.04); Bagé (03/09 Via Postal): “Iniciados no
dia 1
o
do corrente com a chegada, a zero hora, do fogo simbólico, conduzido por
atletas desde o Forte de Santa Tecla [...]” (CP, 05/09/1941 p.04); Canela (05/09
C.P.): “Desde primeiro do corrente, com grande brilhantismo, as comemoração da
160
Semana da Pátria. À noite, um grupo de atletas, trouxe o fogo simbólico da vizinha
localidade de Gramado, acendendo a pira erguida a praça João Correa, falando o
sr. Otaveline Zeni. Por fim, grande parte da população e do Grupo Escolar local
entoaram o hino nacional” (CP, 07/09/1941 p.04); São Leopoldo (06/09 Via Postal):
“[...] A chegada do fogo simbólico, no dia 31 de agosto, revestiu-se de solenidade,
tendo formado a guarnição federal e comparecido grande massa popular que enchia
todo o largo fronteiro ao Palácio Municipal, em cuja frente se achava instalado o
altar da Pátria. Acendeu a pira o governante municipal, sendo em seguida entoado o
hino nacional por todos os presentes” (CP, 07/09/1941 p.04);
Passagem por cidades do Brasil: Não encontrado.
4. Chegada da CFS
No dia 1
o
setembro a 0h em Porto Alegre (RS) (CP, 02/09/1941).
Cerimônia de acendimento da Pira: A’s 23 horas, sob entusiásticas aclamações,
o ‘Fogo Simbólico’ atingiu a rua Vigário José Inácio, artéria tradicional da cidade e
onde se acha localizada a Igreja do Rosário [...] Depois de conceder sua benção aos
manifestantes, o arcebispo metropolitano, d. João Becker, conduziu a chama
olímpica até o altar de Nossa Senhora Aparecida, iluminando-o com potente
lâmpada votiva que arderá perpetuamente na tradicional Igreja [...] Depois de deixar
a Igreja do Rosário, o ‘Fogo Simbólico’ se dirige para a avenida João Pessoa, entre
calorosas ovações [...] Precisamente à 0 hora apagaram-se todas as luzes que
iluminavam o ‘Altar da Pátria’. Chegara o Fogo Simbólico, cujo condutor, [...] sobre
vagarosamente e solenemente a Pira, inflamando-o após saudação olímpica. No
mesmo momento, repicam todos os sinos da cidade e businam os automóveis. Uma
bateria do Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva, magnificamente
adextrada, encarrega-se das 21 salvas de estilo, e seus estrondos anunciam aos
porto-alegrenses o início das comemorões da Independência [...] Após a
execão do hino nacional, falou o dr. Loureiro da Silva, prefeito da cidade [...]” (CP,
02/09/1941 p.09).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “[...] delegação da Liga de
Defesa Militar tendo a frente o nosso companheiro Tulio de Rose [...] interventor
federal no Estado, cel. Cordeiro de Farias, o comandante da 3
a
Região Militar,
161
general Estevão Leitão de Carvalho; arcebispo metropolitano, d. João Becker; dr.
Antonio Meireles Leite, secretário das obras blicas; dr. Coelho de Souza,
secretário da Educação; dr. Ataliba Paz, secretário da Agricultura;; dr. Antonio Dias
Lopes, representando o secretário da Fazenda; dr. Mário Antunes, representando o
secretário do Interior; tem. cel. Aurélio da Silva Pi, chefe de polícia no Estado; dr.
Loureiro da Silva, prefeito municipal; cel. Ângelo de Melo, comandante Geral da
Brigada Militar; major Valter Perachi Barcelos, assistente militar de interventoria; dr.
Bonifácio Paranhos da Costa, diretor do D. E. S.; dr. Irio do Prado Lisboa, diretor da
Faculdade de Engenharia; bem como assim representações de departamentos
estaduais, federais e municipais e demais autoridades” (CP, 02/09/1941 p.09).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Às 24 horas do dia 07 de setembro. “[...] A convite do capitão Darci Vignoli, presidente
da Liga de Defesa Nacional e a quem se deve as recentes comemorações cívicas, o
nosso companheiro Tulio de Rose realizou a extinção solene do fogo simbólico,
apagando a Pira da Pátria” (CP, 09/09/1941 p.12).
6. Quilometragem percorrida
2.123km (LDN, 2006; AMARO JR., 1947 p.12).
7. Percalços
Não encontrado.
8. Transmissão
Não encontrado.
1942 – 5
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
Dia 08 de agosto no município São João Del Rei em Tiradentes (MG) (CP, 01/09/1942
p.12; LDN, 2006). Partiu das ruínas da casa onde nasceu o protomártir da
Independência, no Estado de Minas Gerais (AMARO JR, 1944).
Cerimônia de acendimento da tocha: Nada encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Nada encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
162
“O campeão continental Oscar Barbosa dos Santos, escoltado pelo campeão
universitário Antonio Rosa e pelo campeão continental Eugênio Carlos Pinto, levou o
archote até o alto da Pira” (CP, 01/09/1942 p.12); Otto Ritter conduziu até a Igreja N. S.
das Dores (CP, 01/09/1942). Oscar Barbosa dos Santos (campeão sul americano de
remo) acendeu o fogo da Pira da Pátria (SAFADY, 1960 p.66).
3. Percurso da CFS
Exaltando as figuras exponenciais da Inconfidência Mineira passando por Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, o Paulo, Curitiba e Florianópolis (LDN, 2006). Seis
Estados, noventa e quatro municípios e mais de quinhentas localidades (CP,
01/09/1942 p.12). “A maratona do Fogo Simbólico até Porto Alegre constituiu um
acontecimento verdadeiramente admirável, trazidos pelos atletas de todas as regiões
do Brasil, desde a longínqua cidade de Tiradentes. E o archote continuou sua trajetória,
para percorrer os municípios do sul do nosso Estado até alcançar a Barra do Chuí,
extremidade meridional” (CP, 02/09/1942 p.03).
Passagem pelo interior RS: “A Liga de Defesa Nacional recebeu um telegrama de
Passo Fundo comunicando a partida da Centelha inflamada no facho simbólico, que
dali saiu percorrendo os municípios de Carazinho e Cruz Alta, onde duas novas
centelhas foram inflamadas, um em direção a Ijuí, Santo Angelo, São Luiz, o
Borja, Itaqui, Uruguaiana e Quarai; outra deixou Cruz Alta, em direção a Santa
Maria, onde novas serão inflamadas partindo em direção a São Sepé e Caçapava,
outra a São Gabriel, São Sebasto e Ba e duas outras inflamadas em São
Gabriel, com destino a Alegrete e Livramento [...] Do Prefeito de Júlio de Castilhos:
[...] A’s 11,30 horas, entregaremos o fogo ao representante de Santa Maria, na
divisa dos municípios [...] De Tupancire[...]: O Fogo Simbólico passou por este
munipio na madrugada de hoje. Nossos atletas, em belíssima corrida, fizeram o
percurso de 46 quilômetros em 3 horas e 45 minutos [das 2 horas da madrugada as
5:45h]. Apesar da hora tardia da passagem nesta cidade, grande massa do povo
aguardou, com vivo entusiasmo, a chegada do facho, à Igreja local. O dr. Hélio
Fernandes, prefeito municipal, acompanhou o fogo em todo o percurso, entregando
o mesmo na divisa de Júlio de Castilhos [...] Em Estrela, com grande solenidade, foi
inflamada uma centelha e, dirão a Venâncio Aires, Santa Cruz, Rio Pardo e
Encruzilhada [...] A centelha do Fogo Simbólico, que recebemos ontem [prefeito de
163
Venâncio Aires] do município de Lajeado, foi transmitida hoje pela madrugada a
Santa Cruz. A Pira da tria nesta localidade será acesa as 24 horas de hoje, com
grande solenidade [...] De Montenegro: [...] o Fogo Simbólico chegou ontem as
19,35 horas, a divisa deste município, atingindo a matriz da cidade as 22,45 horas
[...] Foi cantado o hino nacional a passagem da tocha. O fogo foi retirado da matriz
hoje as 5 horas, sendo entregue ao representante do Caí [...] Em Porto Alegre, após
a chegada do facho simbólico, foi inflamado uma centelha que fará o seguinte
percurso: Guaíba, primeiro de setembro, as 8 horas; Barra do Ribeiro, as 10,30
horas; Tapes, as 15 horas; Camaquam, dia 2 setembro as 7 horas; São Lourenço,
no mesmo dia, as 14 horas, chegando a Pelotas as 20 horas do mesmo dia. De
Pelotas uma centelha prosseguirá para Arroio Grande, Jaguarão e outra rumando
para o município de Rio Grande, alcançando Santa Vitória, até chegar a Barra do
Chuí” (CP, 01/09/1942 p.12); São Leopoldo (29/08 Via Postal): “O facho do Fogo
Simbólico é aguardado no próximo dia 31 do corrente mês” (CP, 01/09/1942 p.02);
São Leopoldo (31/08): “Temos a imensa satisfão de comunicar ao amigo a
passagem, hoje, as 9,30 horas, nesta cidade [...] trazido do glorioso berço da
Inconfidência Mineira, foi aqui recebido na Praça Tiradentes [...] onde acendemos a
Pira [...] Amanhã às 8,30 horas, na presença de autoridades e do povo, partirá para
o interior do município, afim de acender as piras nos altares da tria em todas as
sedes distritais, não percorridas pelo fogo simbólico trazido de Minas Gerais, facho
que levará a todos os recantos do território municipal a chama de nossa grande
nos destinos gloriosos e imperecível do Brasil” (CP, 02/09/1942 p.06); Caxias (26/08
Via Postal): “Deverá chegar hoje a tarde, a esta cidade, o Fogo Simbólico, que será
recolhido a Catedral local. Deverá falar na ocasião o capitão Mario Fonseca, em
nome da Liga de Defesa Nacional(CP, 01/09/1942 p.02); Carasinho (29/08 C. P.):
“Hoje, precisamente às 12 horas, chegou aqui, trazido por atletas da E. M. I. 396,
desta cidade o Fogo Simbólico, que se destina à Santa Maria, vindo acompanhado
pelo dr. Vitor Graeff, prefeito de Passo Fundo e tenente Carlos Frederico Cotrin, do
8
o
R. I. O facho foi recebido na divisa do município pelo prefeito e representantes da
Liga de Defesa Nacional. Na Matriz foi acesa pelo prefeito, tendo o Fogo Simbólico,
após o discurso do dr. Edgar Kasper, prosseguindo sua rota, com destino a Cruz
1
64
Alta, acompanhado por autoridades locais” (CP, 01/09/1942 p.02); Ijuí (01/09): “O
facho do Fogo Simbólico foi recebido em Fachinal, ontem, a uma e meia horas, e
entregue a municipalidade de Santo Ângelo, em Catuípe, as seis e meia horas do
mesmo dia. No trajeto por este município, o Archote foi recebido pelos agricultores
[...] Tomaram parte na corrida setenta e um atletas, todos rigorosamente
uniformizados, sendo trinta e cinco do Tiro de Guerra, vinte e dois do Instituto
Comercial e quatorze do Clube Comercial” (CP, 01/09/1942 p.05); Campo Bom
(31/08 Por telefone): “A passagem do Fogo Simbólico por esta vila rerificou-se as
19,30 horas, constituindo um verdadeiro acontecimento. A frente da Sociedade
Concórdia, achava-se armado o altar da pátria, sendo a pira acesa entre cantos
patrióticos. Depois de vários discursos e outras manifestações, o fogo simbólico foi
transportado rumo a essa capital” (CP, 01/09/1942 p.12); Marechal Floriano (ex
Novo Hamburgo, 01/09 Via Postal): Com a vindo do Fogo Simbólico, iniciaram-se,
segunda-feira, a noite, as comemorões da Semana da Pátria [...] A chama
sagrada da Pátria chegou a divisa do município pelas 20,30 horas, sendo aguardada
por uma grande multidão, sendo o archote recebido pelos atletas locais,
representativos de diversas corporações desportivas, Tiro de Guerra, Escola de
Instrução Militar, Escoteiros, etc., que o conduziram até a praça 14 de Julho, onde
se acha armado o Altar da Pátria, artisticamente construído [após acender a Pira] o
Fogo Simbólico prosseguiu a sua marcha [...]” (CP, 02/09/1942 p.02); Barra do
Ribeiro (01/09): “Tendo partido de Guaíba as 8 horas, o Fogo Simbólico chegou as
10,40 horas, sendo acesa a Pira com solenidades de estilo. Sob grandes
aclamações populares seguiram três archotes para Mariana Pimentel, Sertão de
Santana e Tapes [...] (CP, 02/09/1942 p.06); Rio Pardo (29/08): “O Fogo Simbólico
será, recebido na divisa do município no dia 31 as 10 horas e entregue à
Encruzilhada no mesmo dia, as 16 horas” (CP, 02/09/1942 p.06); Montenegro
(31/08): “[...] o Fogo Simbólico chegou, ontem, as 19,35 horas na divisa deste
munipio, atingindo a matriz da cidade às 22,15 horas [...] O fogo foi retirado da
matriz, hoje, as 6 horas, sendo entregue ao representante de Caí na divisa do
munipio” (CP, 02/09/1942 p.06); Cachoeira (31/08): “[...] recebido, hoje, nesta
cidade o Fogo Simbólico da Unidade Nacional. O facho foi conduzido pelos atletas
165
caçapavanos [...] Levaremos amanhã a divisa de Lavras, no Rio Camaquã [...]” (CP,
02/09/1942 p.06); Torres: [...] a centelha do Fogo Simbólico chegou ontem a esta
cidade, as 5,45 horas” (CP, 04/09/1942 p.04); São Luiz: [...] o facho do Fogo
Simbólico foi recebido a zero hora do dia 1
o
sob magnífica demosntração de
entusiasmo cívico. A’s 10 horas do dia 1
o
entregamos a tocha, solenemente, na
divisa do município, ao prefeito de São Borja” (CP, 04/09/1942 p.04); Tapes: “O fogo
da Pátria chegou nesta cidade a zero hora, seguindo logo após para Camaquã [...]”
(CP, 04/09/1942 p.04); Encruzilhada (01/09): “O Fogo Simbólico foi recebido as 17
horas do dia 31, distante 50 quilômetros dessa cidade. Fez a entrega o prefeito de
Rio Pardo, Ernesto Wunderlich, ao prefeito de Encruzilhada, Honório Carvalho [...] O
percurso foi feito entre vivas demonstrações de contentamento dos camponeses,
alcançando a média de dez minutos por quilometro. A’ zero hora de hoje, foi aceso o
fogo simbólico no majestoso altar da pátria, construído dentro da Praça Júlio de
Castilhos (CP, 04/09/1942 p.04); Guaíba (02/09): “[...] o Fogo Simbólico partiu de
Guaíba as 8 horas. Da Barra do Ribeiro as 10,50 horas, sendo entregue na divisa do
munipio de Tapes, as 12,10 horas [...]” (CP, 04/09/1942 p.04); Camaquã (02/09):
“A’s 19 horas de ontem foi inflamada a pira, erguida na Praça 15 de novembro,
nesta cidade, com o Fogo Simbólico da Pátria vindo desta capital [...] A’s 9 horas de
hoje foi entregue o Fogo Simbólico da Pátria aos atletas de São Lourenço, no Passo
do Mendonça” (CP, 04/09/1942 p.04); Dom Pedrito (01/09): “[...] a corporação do 14
o
R.C.I. e o Ginásio Municipal trouxeram de São Sebastião a esta cidade o Fogo
Simbólico, percorrendo os atletas 56 quilômetros, vencido em seis horas e vinte
minutos(CP, 04/09/1942 p.05); Canoas: “[...] recebeu, na noite do dia 31, o Fogo
Simbólico. Uma centena de corredores, escalonados desde o Rio Esteio até o
Gravataí uma guarda de honra composta de outros tantos corredores, todos eles
cedidos pelas entidades esportivas e departamentos esportivos dos colégios locais,
conduziram o facho através do município, nos 11 quilômetros da faixa de cimento”
(CP, 04/09/1942 p.05); Jaguarão: “[...] o Fogo simbólico aqui chegou as 17,15 horas,
conduzidos por atletas desse município” (CP, 06/09/1942 p.11); Rio Grande: “[...]
ontem, as 7,30 horas, em São Gonçalo, recebi das mão do colega prefeito de
Pelotas o Fogo Simbólico, aqui chegado as 17 horas [...] Em seguida, o Facho foi
166
transportado para a matriz de São Pedro, onde acendeu a lâmpada votiva” (CP,
06/09/1942 p.11); São Lourenço: “Comunico que o prefeito municipal recebeu o
Fogo Simbólico as 9,30 horas da manhã do dia 02, no Passo do Mendonça e o
entregou as 16 horas no Passo do Rio Grande [...] Tomaram parte na corrida cerca
de 90 atletas, inclusive o Tiro de Guerra e do Destacamento Policial. As Piras desta
cidade e de Boqueirão foram acesas com maior entusiasmo” (CP, 06/09/1942 p.11);
Osório: “Temos a honra de comunicar a realização da corrida do Fogo Simbólico no
munipio de Santo Antônio, Osório e Torres, num percurso de 100 quilômetros,
alcançando feliz êxito” (CP, 06/09/1942 p.11).
Passagem por cidades do Brasil: Florianópolis: “Agradecendo a diretoria regional
da Liga de Defesa Nacional a comunicação da chegada a essa cidade do Fogo
Simbólico [...]” (CP, 04/09/1942 p.04).
4. Chegada da CFS
Dia 01 de setembro às 24 horas (CP, 01/09/1942 p.12).
Cerimônia de acendimento da Pira: “Nos limites do município de Gravataí com
Porto Alegre, o ‘Fogo Simbólico’ foi aguardado pelo dr. Loureiro da Silva, prefeito da
capital, que se achava acompanhado dos chefes de todos os departamentos
municipais [...] A passagem do ‘Fogo Simbólico’ pelo arrabalde S. João deu motivo a
varias manifestações patrióticas, sendo recebido por mais de 5.000 pessoas na
frente da sede do Grêmio Esportivo Rener [...] Acesa a pira armada na sede do
citado grêmio, entoaram-se hinos patrióticos [...] Após atravessar toda a capital, o
‘Fogo Simbólico’ chegou as escadarias da Igreja de Nossa Senhora das Dores,
cerca de 23,30 horas [...] Levado para a parte direita do altar-mor, s. excia. rvma. [d.
João Becker] com ele acendeu a lâmpada votiva doada pelo comando da 3
a
Região
Militar [...] Retirado o fogo simbólico por um aluno da Escola Preparatória de
Cadetes, a cerimônia terminou antes da meia noite com o hino nacional entoado por
toda a multidão” (CP, 01/09/1942 p.12). “Mais de cincoenta mil pessoas se
comprimiam no Parque Farroupilha, ao longo da avenida João Pessoa, onde se
encontravam postados corpos da cavalaria e infantaria do Exército e da Brigada
Militar e representações dos Tiros de Guerra e entidades esportivas [...] Sob
grandes demonstrações de entusiasmo popular, chegaram ao local os atletas,
167
conduzindo o Fogo Simbólico [...] No momento em que era inflamada a Pira,
fizeram-se ouvir alvoradas pelas Bandas de Música, salvas de Artilharia, repique de
todos os sinos da capital, salvas de morteiros, em todos os distritos de Porto Alegre,
apitos de vapores, de fábricas, sirenes de jornais, businas de automóveis. A seguir,
fez uso da palavra o desembargador Vieira Pires, pronunciando a oração [...]
Encerrando a solenidade, o capitão Darcy Vignoli agradeceu a presença de todos,
ao mesmo tempo solicitava ao povo que o acompanhasse um grito de ‘VIVA O
BRASIL’. Elementos do Tiro de Guerra n
o
399, da Barra do Ribeiro, continuaram a
maratona, levando o archote para aquele município, de onde continuará, de mão em
mão, até a Barra do Chuí” (CP, 01/09/1942 p.12).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “[...] general Cordeiro de Farias,
interventor federal [...] o comandante da Terceira Região Militar, general Benício da
Silva, o comandante da Brigada Militar, coronel Ângelo Melo, diretório central da
Liga de Defesa Nacional, tendo à frente o capitão Darcy Vignoli e sr. Fortunato
Pimentel, drs. Coelho de Souza e Oscar Fontoura, respectivamente, secretários da
Educação e da Fazenda, representantes das altas autoridades administrativas, um
grupo de Samaritanas, chefiadas pela sra. Adila Gay da Fonseca e elementos do
Estado Maior do Exército” (CP, 01/09/1942 p.12).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Às 24 horas do dia 07 de setembro. “[...] o capitão Darcy Vignoli, presidente da Liga de
Defesa Nacional, convidou o coronel Rinaldo Câmara a apagar o fogo simbólico, trazido
de Minas Gerais, berço da Inconfidência, através [de] cidades e vilas, aldeias e
povoados, na maior e mais empolgante maratona que a história registra” (CP,
08/09/1942 p.22).
6. Quilometragem percorrida
3.974km (LDN, 2006; AMARO JR., 1947 p.12; CP, 01/09/1942 p.12).
7. Percalços
Nada encontrado.
8. Transmissão
Rádio Difusora (CP, 01/09/1942 p.12).
168
1943 – 6
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
São Salvador (AMARO JR., 1947 p.12); Salvador (BA) (LDN, 2006).
Cerimônia de acendimento da tocha: Nada encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Nada encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
Carlos Eugenio Pinto (campeão sul americano de salto triplo) acendeu a Pira em Porto
Alegre, acompanhado do esportiva Mario Nascimento Medeiros (CP, 01/09/1943).
Carlos Eugênio Pinto (campeão sul americano de salto triplo) acendeu o fogo na Pira
da Pátria (SAFADY, 1960 p.66).
3. Percurso da CFS
Fogo foi aceso na Basílica da cidade de Salvador (AMARO JR., 1944 p.40).
Relembrando a primeira Capital do Brasil e o Governador Geral, Thomé de Souza
passou pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Porto
Alegre (LDN, 2006). “O percurso vencido pelos atletas compreendeu sete Estados
brasileiros, Baía, Minas, Estado do Rio, Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul” (MAZZONI, 1943/1944 p.235).
Passagem pelo interior RS: Antonio Prado (25/08 Via Postal): “[...] O fogo
simbólico, conforme comunicado da L. de Defesa Nacional, passará aqui no dia 31
do corrente” (CP, 01/09/1943 p.02).
Passagem por cidades do Brasil: Nada encontrado.
4. Chegada da CFS
A 0 hora do dia 01 de setembro (CP, 01/09/1943).
Cerimônia de acendimento da Pira: Com admirável precisão, cerca das 22 horas
apontava o atleta que conduzia o archote na divisa municipal [...] Entre aplausos e
manifestações, passando de mão em mão, o archote percorreu então, diversas ruas
e avenidas da capital, conduzido por atletas dos clubes e organizões esportivas e
segundo o programa organizado pela F. A. R. G. em cooperação com a Liga de
Defesa Nacional [...] Entre salvas de palmas e vivas da multidão, Carlos Eugênio
Pinto [atleta] subiu a plataforma superior da pira e incendiou-a com o ‘Fogo
169
Simbólico’, rompendo neste instante o hino nacional. Simultaneamente, os canhões
deram a salva de vinte e um tiros. A seguir, usou a palavra o orador oficial [...]” (CP,
01/09/1943 p.08).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “[...] gal. Cordeiro de Farias,
interventor federal, e esposa, d. Avani Cordeiro de Farias; o gal. Valentin Benicio da
Silva, comandante da Terceira Região Militar, secretários do Estado, outras
autoridades civis e militares e muitas outras pessoas gradas” (CP, 01/09/1943 p.08).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Dia 07 de setembro. “Coube a honra de extinguir o Fogo Simbólico ao dr. Renato
Costa, na qualidade de primeiro reservista do Exército Nacional. Na ocasião s. s.
pronunciou um apreciadíssimo discurso. Encerrando a solenidade foram dadas as
salvas de estilo e executado o hino nacional brasileiro” (CP, 09/09/1943 p.03).
6. Quilometragem percorrida
4.400km (AMARO JR., 1947 p.12); Cerca de 5.000km (MAZZONI, 1943/1944 p.235);
4.639km (LDN, 2006; CP, 01/09/1943 p.08).
7. Percalços
Nada encontrado.
8. Transmissão
Nada encontrado.
1944 – 7
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
“Da Igreja de N. Sra. dos Prazeres, situada sob o monte Guararapes [...] Prazeres é um
pequeno município vizinho de Recife” (BAPTISTA, 1944 p.04); Recife (PE) (LDN, 2006);
Guararapes (AMARO JR., 1947 p.12).
Cerimônia de acendimento da tocha: Nada encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Nada encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
Darci Jardim (Grêmio Esportivo Renner) acendeu a Pira em Porto Alegre (CP,
01/09/1944). Enio Borges Prestes acendeu a Pira em Rio Pardo (CP, 03/09/1944 p.02).
170
Ângelo Tesser acendeu a Pira em Carasinho (CP, 07/09/1944 p.02). Arno Franzen
(campeão sul americano de remo) acendeu o fogo da Pira da Pátria (SAFADY, 1960
p.66).
3. Percurso da CFS
“Pernambuco, terra de grandes heróis da nacionalidade” (AMARO JR., 1944 p.40).
Relembrando os Guararapes e seus heróis: Vidal de Negreiros, Fernandes Vieira,
Henrique Dias e Poty passou por Maceió, Aracaju, Salvador, Rio de Janeiro, Belo
horizonte, são Paulo, Paraná, Santa Catarina e Porto Alegre (LDN, 2006). Em Porto
Alegre: Rua Sertório, Avenida Eduardo, Rua Quintino Bandeira, Rua Conde de Porto
Alegre, Rua do Parque, Rua Conselheiro Travassos, Rua Álvaro Chaves, Avenida
Farrapos, Rua Ramiro Barcelos, Rua Cristóvão Colombo, Avenida Alberto Bins,
Avenida Otávio Rocha, Rua Vigário José Inácio, Rua dos Andradas, Rua da
Independência, Rua Barros Cassal, Avenida Osvaldo Aranha, Rua Sarmento Leite,
João Pessoa, Pira passando pelas igrejas do Rosário, das Dores e da Conceição,
além da capela do Bom Fim para acender as respectivas lâmpadas votivas (CP,
01/09/1944).
Passagem pelo interior RS: “Simultaneamente com as festividades nesta capital
[Porto Alegre], foram inflamadas Piras da Pátria nos demais municípios do Rio
Grande do Sul, iniciando-se, assim, em todo o Estado, as comemorações da
Semana da tria de 1944” (CP, 01/09/1944 p.10); Caí (26/08 Via Postal): “[...]
Desde já grande entusiasmo na população para a recepção do Fogo Simbólico,
que transitará por aqui, na tarde do próximo dia 31 do corrente, com destino à pira
da Pátria, nessa capital, onde deverá chegar a 0 hora desse dia(CP, 02/09/1944
p.02); Rio Pardo (01/09 C. P.): Iniciaram-se os festejos da Semana da Pátria, com a
corrida de revezamento do fogo simlico, que, do Estádio Municipal a pira da
Pátria, foi acompanhado por numerosa procissão da juventude esportiva, tiro de
guerra e Grupo Ernesto Alves, que empunhavam tochas [...]” (CP, 03/09/1944 p.02);
Pinheiro Machado (01/09 C. P.): “[...] À zero hora, foi aceso o fogo simbólico no Altar
da Pátria, erguido na Praça Angelino Goulart. O facho simbólico foi trazido por
atletas desta cidade, desde o Passo da Candiota, nos limites com Bagé” (CP,
03/09/1944 p.02); Santa Cruz (01/09): “[...] chegou, precisamente, a meia noite de
171
ontem, o Fogo da tria, aceso pelos atletas locais na chama vinda de
Pernambuco” (CP, 05/09/1944 p.02); Antonio Prado (31/08 Via Postal): “[...] Pelas
8,30 horas, sob o espocar de foguetes, palmas e vivas ao Brasil, surgiu, em uma
volta da estrada, conduzido pelo dr. Adão Brum Viana, o Facho Sagrado da Pátria
[...] Nesta cidade, sob salvas de palmas, foguetes e apitos de fábricas, em
sincronização com festivo toque dos sinos, foi o Facho acender a Pira no Altar da
Pátria, armado no recinto da Igreja Matriz [...] A seguir, debaixo de vivas ao Brasil,
acompanhado de verdadeira multidão, foi o Facho Sagrado conduzido até o Rio das
Antas, divisa com o município de Flores da Cunha [...] (CP, 05/09/1944 p.02); Bagé
(01/09 Via Postal): [...] O Fogo Simbólico, conduzido da divisa do município de São
Gabriel, pelos atletas das unidades militares desta guarnição, chegou ao Altar da
Pátria à 0 hora [...] Os atletas que conduziram as tochas do Fogo da Pátria do antigo
Forte de Santa Tecla, cobriram o percurso em 30 minutos, saindo vencedora a
equipe do 3
o
RADC” (CP, 05/09/1944 p.02); Encantado (01/09 Via Postal): [...] O
Fogo Simbólico será recebido, na divisa do município de Encantado com o de Arroio
do Meio, por uma turma de atletas do Tiro de Guerra e alunos da Escola Técnica de
Comércio” (CP, 05/09/1944 p.02); Santa Maria (02/09 C.P.): “O Fogo Simbólico, que
foi recebido em Val da Serra por quarenta atletas santamarienses, acaba de chegar,
sendo ovacionado por uma grande multio, ao badalar do sinos de todos os cultos”
(CP, 05/09/1944 p.02); Garibaldi (02/09 Do correspondente): “[...] Ante-ontem, foi
recebida a centelha do Fogo Simbólico na divisa com o município de Farroupilha e,
ontem, à meia noite, foi dado o solene inicio às comemorações(CP, 05/09/1944
p.02); Rio Grande (05/09 C.P.): “O Fogo Simbólico foi recebido às margens do rio
São Gonçalo, pelas autoridades locais, que o entregaram a atletas do Capão Seco,
Povo Novo e Quinta, passando por essas localidades, sob grandes aclamações. Os
atletas locais o conduziram ao altar datria, ali chegando as 17 horas, quando o
aguardava enorme multidão [...] O Fogo Simbólico foi levado a igreja matriz, sendo
colocado num altar. Esta manhã ,as 10,30, foi ele retirado por atletas de São José
do Norte [...] (CP, 06/09/1944 p.02); Taquara (03/09 Via Postal): “[...] Precisamente
às 23,45, acompanhada por uma formação de atletas, que empunhavam tochas, a
comitiva deu entrada na zona suburbana da cidade [Essa comitiva] fora buscar, no
172
vizinho município de Novo Hamburgo, a centelha do Fogo Simbólico, no momento
de sua passagem por essa cidade, vindo dos Montes Guararapes(CP, 06/09/1944
p.02); Canela (03/09 C.P.): [...] Ante-ontem, o núcleo local da Liga de Defesa
Nacional [...] foram buscar o Fogo Simbólico, em Gramado distrito de Taquara. Ao
chegar aqui, as 21 horas, foi acesa a pira [...] (CP, 06/09/1944 p.02); Montenegro
(04/09 Via Postal): “Com a corrida de revezamento do Fogo Simbólico, trazido por
atletas locais e que foi aceso, na vizinha cidade de Caí, no facho vindo de
Guararapes [...] O archote, que chegou aqui as 19 horas, foi acolhido com grande
manifestação popular, defronte a matriz da cidade” (CP, 06/09/1944 p.02);
Montenegro (02/09 Via Postal): [...] Na divisa deste município com o de Caí, foi a
chama recebida por uma comissão local [...] A frente da Igreja da Matriz, formaram
os colégios e milhares de pessoas, que ovacionaram a chegada do contingente de
atletas que escoltava o archote (CP, 07/09/1944 p.02); Carasinho (03/09 Via
Postal): [...] Às 13 horas do mesmo dia [01/09] chegou a esta cidade o Fogo
Simbólico, que foi trazido por um grupo de atletas locais, que o foi receber na
fronteira deste com o município de P. Fundo. Ao espocar dos foguetes, o facho
chegou até o Altar, onde foi acesa a Pira [...] No mesmo instante, uma turma de
atletas de Não-me-toque, 2
o
distrito, recebeu a chama, seguindo para aquela vila,
onde chegou as 2,40 horas, sendo aceso no altar da Pátria dali, e seguindo para os
distritos de Tapera, Cochinho, Selbach, donde prosseguiu para B. Esperança e para
C. Alta, onde chegou as 22,30 horas” (CP, 07/09/1944 p.02); Barra do Ribeiro (07/09
C.P.): “[...] O Fogo Simbólico, que partiu desta capital [Porto Alegre] à meia noite,
passou em Guaíba e dali seguiu para aqui, onde foi recebido [...] Acendida a pira,
daqui partiram centelhas do referido fogo para Mariana Pimentel, Sertão de
Santana, Tapes, Colônia Barão do Triunfo, Camaquã, Paraguassu e S. Lourenço,
para, por ultimo, atingir a cidade de Pelotas” (CP, 09/07/1944 p.02).
Passagem por cidades do Brasil: Nada encontrado.
4. Chegada da CFS
À zero hora do dia 01 de setembro (CP, 01/09/1944).
Cerimônia de acendimento da Pira: “A’s 22 horas, a embaixada do Fogo
Simbólico, chefiada pelo nosso companheiro e seu organizador, o jornalista Túlio de
173
Rose, atingiu a divisa de Porto Alegre com Canoas [após passar pelas ruas de Porto
Alegre, com parada especial no Bairro São João] foi inflamada a Pira da Pátria pelo
atleta que conduzia o archote, ouvindo-se, então, o Hino Nacional por várias bandas
militares, uma salva de artilharia de 21 tiros por uma bateria do CPOR desta capital,
ao mesmo tempo que repicavam os sinos das igrejas próximas [...] Após fala o
discurso oficial [...]” (CP, 01/09/1944 p.10).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “[...] o interventor federal, o
comandante da Região, secretários do Estado, prefeito da capital, chefe de Polícia e
outras altas personalidades do mundo oficial, assim como diretores da Liga de
Defesa Nacional, representações diversas, etc.” (CP, 01/09/1944 p.10).
5. Extinção do Fogo Simbólico
A 0 hora do dia 07 de setembro. “Após, após o cap. Darcy Vignoli, chefe de Policia,
como presidente do diretório regional da Liga de Defesa Nacional, ordenou [que] fosse
extinto o ‘Fogo Simbólico’, o que foi feito pelo jornalista lio de Rose, realizador da
grande marcha do Archote, ao som do Hino Nacional e sob salva de diversos canhões”
(CP, 09/09/1944 p.04).
6. Quilometragem percorrida
6.367km (LDN, 2006; AMARO JR., 1944 p.40; BAPTISTA, 1944 p.04); 6.279km
(AMARO JR., 1947).
7. Percalços
Nada encontrado.
8. Transmissão
Nada encontrado.
1945 – 8
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
Natal (AMARO JR., 1947 p.12). Monte Castelo, na Itália (LDN, 2006).
Cerimônia de acendimento da tocha: Nada encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Nada encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
174
Érika Renner (atleta gaúcha recordista brasileira) conduziu o Fogo até Pira, onde o
Cap. Joaquim da Rosa Cruz (Força Expedicionária Brasileira) acendeu em Porto Alegre
(CP, 01/09/1945). João Adornetti Castro acendeu a Pira em Camaquã (07/09/1945).
Major Joaquim Rosa Cruz (Força Expedicionária Brasileira) acendeu o fogo da Pira da
Pátria (SAFADY, 1960 p.66).
3. Percurso da CFS
Comemorou-se a vitória dos Aliados na II GG. Percurso a até poles e via aérea,
veio a Natal, de onde seguiu para Porto Alegre (LDN, 2006). “A grande arrancada
vica, realização empolgante e tradicional da Liga de Defesa Nacional, partiu de Natal,
da Base de Parnamirim. A Chama simbólica que incendiou o archote fora trazida, por
via aérea, da Itália. Nessa viagem primeira cruzando os Apeninos
58
e voando sobre o
Mediterrâneo e através o Atlântico, seguiu o fogo da tria o mesmo roteiro cobertos
pelas forças brasileiras em sua gloriosa jornada de guerra. E assim o fazendo, ligou,
num expressivo simbolismo, Natal trampolim da Vitória, e Monte Castelocenário do
grande feito militar da FEB, esses dois marcos imperecíveis que lembrarão para a
posteridade o relevante papel desempenhado pelo Brasil na guerra de libertação dos
povos oprimidos” (CP, 01/09/1945 p.08).
Passagem pelo interior RS: Antonio Prado (31/08 Via Postal): “[...] Assim, hoje,
pela manhã, na divisa deste município com o de Vacaria [...] aguardava a vinda do
facho da pátria [...] Na igreja-matriz, o fogo acendeu a pira [...] Momentos após,
numerosos atletas conduziam o facho rumo ao município de Flores da Cunha [...]”
(CP, 05/09/1945 p.02); São Jerônimo (03/09 Via Postal): “A 31 do mês recém findo,
a zero hora, perante numerosa assistência, chegou, aqui, o Fogo Simlico que
percorreu as ruas principais [...] Após ser acesa a pira da pátria [...] atletas,
conduziram a chama para as minas do Arroio [...] (CP, 05/09/1945 p.02); Canoas
(06/09 Via Postal): “[...] Na noite de 31 para 1
o
, foi recebido com toda solenidade o
fogo simbólico, que daqui foi ramificado para o 2
o
distrito [...]” (CP, 06/09/1945 p.02);
Tapes (05/09 Via Postal): “A’s 13 horas do dia 1
o
do corrente, o prefeito municipal
[...] recebeu, na divisa do município, o ‘Fogo Simbólico’, que era conduzido [...] pelo
prefeito de Guaíba [...] Conduzida a chama votiva por diversas atletas, chegou a
58
Cadeia dos Apeninos.
175
esta cidade as 16 horas [...] Terminadas as manifestações cívicas, uma outra
comitiva [...] acompanhou os atletas que foram levar o Fogo Simbólico até a divisa
do município, onde foi entregue ao prefeito de Camaquã, que o aguardava” (CP,
06/09/1945 p.06); General Vargas (03/09 Via Postal): “Às 19 horas do dia 31, partiu
o fogo simbólico para a cidade de Cacequi. O archote foi aceso na lâmpada da
igreja matriz. Fizeram o transporte atletas daquela cidade (CP, 07/09/1945 p.02);
Camaquã (02/09 Via Postal): “Pelos atletas do Grêmio Esportivo Camaqüense e por
praças do destacamento da Brigada Militar do Estado [...] foi conduzido o fogo
simbólico, desde o Passo da Maria Gomes até esta cidade, aqui chegando as 20
horas, sendo aclamado por grande massa popular, postada à praça 15 de
Novembro, onde se acha erguida a Pira da Pátria [...] Amanhã, pelos mesmos
atletas, será o fogo simbólico conduzido até as divisas deste município com o de
São Lourenço do Sul” (CP, 09/09/1945 p.02).
Passagem por cidades do Brasil: Nada encontrado.
4. Chegada da CFS
À 0 hora do dia 01 de setembro (CP, 01/09/1945 p.08).
Cerimônia de acendimento da Pira: “Cerca das 22 horas, bandas de clarins e
salvas de artilharia anunciavam ao povo de Porto Alegre que o ‘Fogo Simbólico’
chegara aos limites do município [...] Vindo de Canoas, o archote foi recebido na
divisa desse município com a capital [...] Imediatamente a tocha tomou o rumo do
centro da cidade, conduzida por atletas pertencentes a Escola Preparatória de Porto
Alegre, Tiros de Guerra ns. 4 e 318, aos clubes esportivos porto-alegrenses,
contando-se nesta representações campeões do Brasil e sul-americanos [...] Antes
de atingir o Parque Farroupilha, onde deveria incendiar a Pira da Pátria, o archote
passou pelas igrejas de N. S. da Conceição, do Rosário, de N. S. das Dores, e, pela
primeira vez, esteve na Catedral Metropolitana, onde teve lugar belíssima cerimônia
[...] O fogo ainda esteve na capela do Bom Fim [...] Minutos antes da meia noite,
grande multidão enchia as imediões da Pira da Pátria [...] Por detrás [da Pira], a
Liga de Defesa Nacional fez erguer três esplendidos obeliscos, dois recordando as
corridas anteriores, e o central, em homenagem aos bravos soldados combatentes
do Brasil [...] Os obeliscos estavam ligados por um grande ‘V’ da Vitória, com as
176
cores nacionais [...] Precisamente as 23,55 horas, as sirenes dos carros do 2
o
R.M.M., assim como o espocar de foguetes anunciavam a massa ali reunida, a
chegada do archote, recebido com aplausos consagradores [...] Aproximando-se o
instante solene de ser inflamada a Pira da Pátria, a senhorita [...] passou o archote
ao capitão [...] o momento preciso da meia-noite, anunciado pelo apagar das luzes
no Parque Farroupilha incendiou então o fogo que arderá durante toda a ‘Semana
da Pátria’ [...] as bandas militares fizeram ouvir o hino nacional, enquanto uma
bateria do C.P.O.R. dava as salvas de estilo [após] pronunciou o discurso oficial [...]
Foram lidas, após, diversas mensagens trazidas pelo jornalista Túlio de Rose,
procedentes de diversas cidades atravessadas pelo fogo simbólico [...]” (CP,
01/09/1945 p.08).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “[...] srs. interventor federal,
tenente-coronel Ernesto Dorneles, o general Estillac Leal, que responde pelo
comando da Terceira Região Militar, secretários de Estado e outras altas figuras do
nosso mundo oficial, o capitão Darci Vignoli, presidente da Liga de Defesa Nacional,
e demais dirigentes da Liga, elementos representativos civis, militares e
eclesiásticos e senhoras da nossa sociedade” (CP, 01/09/1945 p.08).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Às 24 horas do dia 07 de setembro. “Uma bateria do CPOR deu as salvas de artilharia,
ouvindo-se o toque de ‘silêncio’ e alvorada’, enquanto bandas de musica tocavam o
hino nacional. A chama foi apagada pelo jornalista Túlio de Rose, a quem se deve o
êxito da grande marcha” (CP, 09/09/1945 p.20).
6. Quilometragem percorrida
6.367km (AMARO JR., 1947 p.12); 6.370km (LDN, 2006); 5.279km (CP, 01/09/1945
p.08).
7. Percalços
Nada encontrado.
8. Transmissão
Nada encontrado.
177
1946 – 9
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
Fortaleza (CE) (AMARO JR., 1947 p.12). Washington, nos EUA (LDN, 2006). Tumulo
de Roosevelt, em Hyde Park (CP, 01/09/1946).
Cerimônia de acendimento da tocha: Nada encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Nada encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
Carlos Montagna (campeão brasileiro de ciclismo) acendeu o fogo da Pira da Pátria
(SAFADY, 1960 p.66).
3. Percurso da CFS
Homenagem à memória do Presidente Roosevelt. Veio de avião até Fortaleza e daí fez
o revezamento pelas capitais no mesmo roteiro de 1945 (LDN, 2006).
Passagem pelo interior RS: Gravat(02/09 Via Postal): “[...] O fogo simbólico da
Pátria, cujo facho luminoso partiu de Hyde Park, ao lado do tumulo do maior vulto da
democracia americana, Franklin Roosevelt, foi conduzido por um grupo de atletas
desta cidade, que o recebeu na cidade de São Leopoldo. A’ chegada a praça, sob o
repicar dos sinos da Igreja Matriz e estrugir de dinamites, os atletas conduzindo o
archote dirigiram-se ao templo local” (CP, 08/09/1946 p.02); Bento Gonçalves (31/08
Via Postal): Chegou, hoje, procedente de Garibaldi, uma centelha do fogo simbólico
e que foi recebida na divisa com aquele Município [...] Transportado por atletas,
chegou, ao escurecer, sendo levado a matriz local de onde será transportado a 7 de
setembro, para a Pira que será armada de fronte ao Palácio Municipal” (CP,
12/09/1946 p.02); Santa Cruz (07/09 Via Postal): “[...] Precisamente a meia noite do
dia 1
o
setembro, chegou, conduzido pelos atletas locais, acompanhado por mais de
100 tochas, o fogo simbólico, que foi aceso na pira armada no largo da Matriz,
perante enorme assisncia [...]” (CP, 13/09/1946 p.02); Tapes (12/09 Via Postal):
“[...] No dia primeiro [...] A’ tarde às quatorze horas, foi recebido o fogo simbólico [...]”
(CP, 12/09/1946 p.02); São Jenimo (03/09 Via Postal): A zero do dia 31 foi
inflamada a Pira da Pátria, na praça Julio de Castilhos, tendo o fogo simbólico, vindo
do município de Triunfo que tirou-o do fogo aceso junto ao túmulo de Roosevelt.
178
Daqui foi o fogo conduzido por atletas para as localidades de Charqueadas e vila
Arroio dos Ratos [...]” (CP, 14/09/1946 p.02).
Passagem por cidades do Brasil: Nada encontrado.
4. Chegada da CFS
À 0 hora do dia 01 de setembro (CP, 01/09/1946 p.24).
Cerimônia de acendimento da Pira: “[...] A chegada da delegação que conduzia o
fogo simbólico a esta capital verificou-se as 23 horas [...] O largo da Pira encontrava-
se feéricamente iluminado, destacando-se na armação do fundo um grande letreiro
onde se lia ‘A liberdade é o fogo que ilumina o caminho da paz’, ladeado pelas datas
‘1922’ e ‘1946’ [...] Momentos antes da zero hora deu entrada no recinto da
formações militares um piquete do Terceiro Regimento de Cavalaria Divisionária
precedendo o atleta que conduzia o archote que iluminaria a Pira da Pátria
momentos depois. Um carro de bombeiros vinha após sirenando e iluminando os
demais carros do cortejo que chegava. Sob entusiasmo geral o atleta subiu a longa
escada da Pira permanecendo alguns minutos da hora precisa, que foi anunciada
com a extinção das luzes do ambiente. Nessa altura, foi ateado fogo à Pira,
seguindo-se as salvas de artilharia que assinalavam o acontecimento. Uma banda
militar postada junto ao palanque, executou o Hino Nacional, cantado por todos os
presentes [...] A seguir, usou da palavra, como orador oficial [...] o prefeito da cidade
[...] um coro de 100 vozes do Colégio Americano e do Instituto Porto Alegre, na
presença de altas autoridades civis e militares, entou o Hino Norte Americano,
seguindo-se, depois, a vocalização de ‘Deus Salve a América’, pelo Orfeão
Riograndense (CP, 01/09/1946 p.24-10).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: “[...] dr. Cilon Rosa; interventor
federal, gal Gustavo Cordeiro de Farias, comandante da Região; ministro José Acioli
Peixoto, presidente do Tribunal de Contas do Estado; cel. Justino Marques de
Oliveira e ten. cel. Walter Perachi de Barcelos, comandante e chefe do Estado Maior
da Brigada Militar; dr. Otacílio Morais, secretário do Interior; dr. Desidério Finamor,
secretário da Agricultura; dr. Brochado da Rocha, secretário da Educação; dr. Roque
Aita Junior e dr. Nelson Martins, respectivamente chefe de Polícia do Estado e
delegado auxiliar; dr. Egídio Costa, prefeito da Capital; d. Odila Gay da Fonseca,
179
presidente da Cruz Vermelha Brasileira; cel. Armando Cattani, da Liga de Defesa
Nacional, representantes do clero, oficiais superiores do Exército e da Brigada Militar
e representantes da imprensa” (CP, 01/09/1946 p.24).
5. Extinção do Fogo Simbólico
Às 24 horas do dia 07 de setembro. “Junto a gigantesca pira, localizada à avenida João
Pessoa, em frente a rua Luiz Afonso, as 24 horas, foi solenemente extinto o Fogo
Simbólico, cabendo essa honra ao desportista Túlio de Rose, que dirigiu a grande
maratona desde Fortaleza até a capital” (CP, 08/09/1946 p.04).
6. Quilometragem percorrida
7.100km (AMARO JR., 1947 p.12); 5.459km (LDN, 2006).
7. Percalços
Nada encontrado.
8. Transmissão
Nada encontrado.
1947 – 10
a
edição da CFS
1. Partida da CFS
13 de agosto no cemitério de Pistóia, na Itália (CP, 07/09/1947). Cemitério de Pistóia,
Itália (LDN, 2006).
Cerimônia de acendimento da tocha: Nada encontrado.
Autoridades presentes no acendimento da tocha: Nada encontrado.
2. Atletas que conduziram o Fogo Simbólico
Túlio de Rose foi mencionado como desportista que carregou a tocha desde Pistola,
Itália (CP, 02/09/1947). Capitão Mário rcio Cunha (Força Expedicionária Brasileira)
acendeu o fogo da Pira da Pátria (SAFADY, 1960 p.66).
3. Percurso da CFS
Em memória dos que tombaram pela liberdade do mundo. Foi a Roma e, daí, de avião,
veio até o Rio de Janeiro, seguindo para o Sul (LDN, 2006).
Passagem pelo interior RS: “Daquela chama tão invocadora, foram retiradas
centenas de centelhas, que percorreram o Estado e, nesta capital [Porto Alegre],
180
foram derivadas para as pequenas piras, instaladas na grande maioria dos
estabelecimentos de educação de Porto Alegre” (CP, 07/09/1947 p.28). São
Lourenço (22/08 C.P.): “No próximo dia 2 de setembro, na localidade de Boqueirão,
uma comissão do núcleo local da Liga de Defesa Nacional, autoridades e atletas,
aguardarão ali a passagem do ‘Fogo Simbólico que procede do Cemitério de
Pistoia, na Itália, em comemorão à ‘Semana da Pátria’” (CP, 02/09/1947 p.02);
Guaíba (01/09 C.P.): “Ontem, uma comissão [...] foi a o Leopoldo buscar o Fogo
Simbólico a fim de dar inicio, nesta cidade, aos festejos da Semana da tria. O
archote que foi aceso além da ponte do rio dos Sinos, chegou a esta cidade, as
11,30 horas, tendo feito a travessia do Guaíba na barcaça do D.A.E.R. e foi
imediatamente levado para a igreja matriz onde se acendeu a lâmpada votiva. Hoje
às 9 horas, um grupo de atletas da Barra do Ribeiro levou o archote até a praça da
Bandeira, onde o reverendo José Tichemberguer acendeu a pira da Pátria sob uma
calorosa salva de palmas, sendo dada uma salva de 21 tiros e cantado o hino
nacional [...]” (CP, 02/09/1947 p.02); Montenegro (31/08 C.P.): “Iniciando as
comemorações da ‘Semana da tria’ chegou aqui ontem a 0 hora, o Fogo
Simbólico’ sendo recepcionado na Praça Independência onde foi acesa a Pira pelo
prefeito municipal ao som do Hino Nacional [após houve discurso]” (CP, 04/09/1947
p.02); São Pedro (03/09 C.P.): “O fogo simbólico foi conduzido até a divisa do
munipio pelo prefeito de Santa Maria [...] sendo precedido por atletas do 3
o
B.C.C.
daquela cidade. A chama vica foi recebida sobre o rio Ibicuí, pelo prefeito Plauto
de Abreu, que ali compareceu acompanhado de autoridades, pessoas gradas e
atletas do Esporte Clube União Sanpedrense, sendo a chama levada, em seguida,
até a histórica igreja [...] Hoje, a tarde, os desportistas locais, acompanhado do
prefeito e demais autoridades e numerosas pessoas, levarão a centelha até a divisa
do munipio General Vargas [...]” (CP, 04/09/1947 p.02); Rio Grande (03/09 C.P.):
“O ‘Fogo Simbólico’ foi recebido, hoje, do outro lado do o Gonçalo, pelas
autoridades e atletas citadinos precisamente as 11,30 horas. Em seguida, foi acesa
a Pira no Altar da Pátria [...] Quinta-feira, amanhã, o Fogo Simbólico será levado
para São José do Norte” (CP, 04/09/1947 p.02); Santa Cruz do Sul (04/09 C.P.): “[...]
Precisamente à 0 hora do dia 1
o
, chegou a tocha vinda de Pistoia que foi recebida
181
nos arredores da cidade por grande número de atletas, os quais acompanharam o
‘Fogo Simbólico’ até a Pira, armada na Praça Getúlio Vargas, onde foi acesa ao som
do Hino Nacional” (CP, 09/09/1947 p.02); o Lourenço (30/08 C.P.): “[...] Dia 02,
chegada do Fogo Simbólico, cuja tocha foi acesa no cemitério de Pistoia, na Itália,
às 12 horas em Boqueirão” (CP, 10/09/1947 p.02); Cruz Alta (03/09 C.P.): “[...]
Ontem, às 20,30 horas, foi aceso o Fogo Simbólico na pira que se acha armada na
praça Gal. Firmino [...] O Fogo Simbólico, que procede do cemitério de Pistoia, onde
jazem soldados da FEB foi recebido na divisa deste município com o de Carazinho
[...] Após a cerimônia de recepção da tocha do Fogo Simbólico, que até ali foi
conduzida pela representação do governo municipal de Carazinho, foi ela entregue
a um grupo de atletas da Liga de Reservistas deste município que a conduziram a
esta cidade” (CP, 10/09/1947 p.02); Camaquã (04/09 C.P.): “[...] A’ noite [do dia 1
o
]
deu-se a chegada do Fogo Simbólico, que veio conduzido de Tapes por um grupo
de Atletas do Ginásio São João Batista e dos clubes desportivos Atlético e Guarani,
ficando na Praça 15 de Novembro, onde está erguida a ‘Pira’ da Pátria (CP,
12/09/1947 p.02); Canoas (09/09 C.P.): [...] No campo do ‘Frigoríficos Nacionais F.
C.’ esteve instalada a pira, onde a diversos anos é aceso o fogo simbólico [...]
Pelos atletas do referido clube foi deslocado uma centelha do fogo simbólico, vindo
de Pistoia, para as comemorações locais, na ponte do rio Gravataí” (CP, 13/09/1947
p.02); Bagé (08/09 C.P.): “[...] Os atos comemorativos tiveram inicio dia 6, as 22
horas, com a chegada do fogo simbólico a Matriz de Na. Sa. Auxiliadora [...] A’s 23
hs, por uma equipe de atletas, foi o fogo simbólico conduzido daquele templo até a
Praça Silveira Martins [...]” (CP, 13/09/1947 p.02); Vila Três Coroas (08/09 C.P.):
“[...] Três Coroas teve o prazer de mais uma vez receber o Fogo Simbólico, que aqui
chegou às 16 horas do dia 6, conduzido desde a divisa deste distrito com o de
Igrejinha por um grupo de atletas locais” (CP, 13/09/1947 p.02).
Passagem por cidades do Brasil: Nada encontrado.
4. Chegada da CFS
À 0 hora do dia 01 de setembro (CP, 02/09/1947 p.14).
Cerimônia de acendimento da Pira: “O governador do Estado, dr. Valter Jobim,
recebeu o archote e o entregou ao major Juremir Pires de Castro, oficial
182
expedicionário, tendo este membro da FEB inflamado a pira da Pátria, ao mesmo
tempo em que uma bateria de canhões saudava a abertura da comemorões
vicas de setembro com o ribombar de 21 tiros [após houve discurso] (CP,
02/09/1947 p.14).
Autoridades presentes no acendimento da Pira: Estavam presentes altas
autoridades (CP, 02/09/1947). Não são citados os nomes como nas edições
anteriores.
5. Extinção do Fogo Simbólico
Às 24 horas do dia 07 de setembro (CP, 07/09/1947).
6. Quilometragem percorrida
3.535 km (LDN, 2006).
7. Percalços
Nada encontrado.
8. Transmissão
Nada encontrado.
183
8.2. Apêndice B – Termo de Consentimento e Declaração do Entrevistado
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO
Você essendo convidado, como voluntário, a participar desta pesquisa, por se
enquadrar no perfil necessário para que a mesma se realize. O objetivo deste estudo é
compreender as representações da identidade cultural brasileira que foram construídas
pelos clubes esportivos e pela Liga de Defesa Nacional através da Corrida de
Revezamento do Fogo Simbólico” na cidade de Porto Alegre entre 1938 a 1947. Se
voconcordar em participar desta pesquisa terá que responder uma entrevista com
um roteiro elaborado. Sua participação é muito importante para que possamos construir
informações necessárias para nossos estudos, a partir da visão de quem vivenciou
esse evento no período estudado.
Cabe ressaltar que não existirão riscos de exposição a partir da sua entrevista. O
pesquisador envolvido neste estudo tratará sua identidade com padrões éticos de sigilo.
Seus dados serão confidenciais. O nome ou o material que indique os participantes não
será liberado sem permissão por escrito do entrevistado. No caso do entrevistado
autorizar a divulgão pública das informações concedidas na entrevista, as fitas
gravadas serão encaminhadas para o Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRGS.
Caso contrário, as fitas gravadas serão mantidas em sigilo pelo pesquisador. Os
participantes não serão identificados em nenhuma publicão que possa resultar deste
estudo, a não ser se o entrevistado assim o desejar. Voé livre para recusar sua
participação a qualquer momento. A participação é voluntária e a recusa em participar
do estudo não acarretará em qualquer penalidade ou perda de bens, pois todos os
procedimentos da entrevista serão fornecidos gratuitamente. Não será disponível
nenhuma compensão financeira adicional.
Declaração do Entrevistado
Eu, _________________________________________________________,
portador do CPF número ___________________________ fui informado dos objetivos
184
da pesquisa acima de maneira clara e detalhada, tendo tempo para ler e pensar sobre a
informação contida no Termo de Consentimento antes de participar do estudo. Recebi
informação a respeito dos procedimentos de avaliação realizados, esclareci minhas
dúvidas e concordei voluntariamente em participar deste estudo. Além disso, sei que
terei liberdade de retirar meu consentimento de participar da pesquisa frente a estas
informações. Os pesquisadores certificaram-me também de que todos os dados dessa
pesquisa serão confidenciais. Fui informado que caso existirem danos a minha imagem,
causados diretamente pela pesquisa, terei direito a indenização conforme estabelece a
lei.
Também sei que sou eximido de qualquer gasto referente à pesquisa. Caso tiver
nova perguntas sobre este, a Prof. Luis Henrique Rolim, pesquisador responsável pelo
estudo, estará à disposição nos telefones (51) 33433816 ou (51) 99072551 para
qualquer pergunta sobre meus direitos como participante desse estudo.
Declaro que recebi cópia do presente Termo de Consentimento.
................................................................
Assinatura do Entrevistado e data/local
Autorizo o encaminhamento da(s) fita(s) gravada(s) para o Centro de Memória
do Esporte da ESEF/UFRGS.
...............................................................
Assinatura do Entrevistado e data/local
...............................................................
Assinatura do Pesquisador e data/local
185
9. ANEXOS
9.1. Anexo A – Diploma de Participação
186
9.2. Anexo B – Reportagem Zero Hora
187
CATALOGAÇÃO NA FONTE
R748c Rolim, Luis Henrique
A chama que arde em nossos clubes! : a corrida de revezamento
do fogo simbólico de pátria em Porto Alegre (1938-1947). / Luis
Henrique Rolim. - Porto Alegre: Escola de Educação Física da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.
186 f.: il.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Escola de Educação Física. Programa de Pós-Graduação em
Ciências do Movimento Humano, Porto Alegre, BR-RS, 2008.
1. Esporte : história. 2. Corrida de revezamento. 3. Tradição
inventada. 4. Jogos Olímpicos. 5. Clubes esportivos. I. Título. II.
Mazo, Janice Zarpellon, orientadora.
CDU: 796(091)
Ficha catalográfica elaborada por Cintia Cibele Ramos Fonseca, CRB-10/1313
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