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de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com
a profusão de sua graças, se não opusermos resistência.
Na quarta-feira da primeira semana do Advento, São Bernardo nos fala, na segunda
leitura do Ofício das leituras, de três vindas do Senhor: a vinda que já aconteceu no
nascimento, a futura vinda na glória, a vinda espiritual, que pertence ao presente
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:
Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma vinda
intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta, não. Na primeira vinda, o Senhor
apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi, então, como ele próprio declara,
que viram-no e não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de
Deus (Lc 3,6) e olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10): A vinda
intermediária é oculta e nela somente os eleitos o vêem em si mesmos e recebem a
salvação. Na primeira, o Senhor veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem
espiritualmente, manifestando o poder de sua graça; na última, virá com todo o
esplendor da sua glória.
Esta vinda intermediária é, portanto, como um caminho que conduz da primeira
à
última; na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa
vida; na intermediária, é nosso repouso e consolação.
Mas, para que ninguém pense que é pura invenção o que dissemos sobre esta vinda
intermediária, ouvi o próprio Senhor: Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele (cf. Jo 14,23). Lê-se também
noutro lugar: Quem teme a Deus, faz o bem (Eclo 15,1). Mas vejo que se diz algo
mais sobre o que ama a Deus, porque guardará suas palavras. Onde devem ser
guardadas? Sem dúvida alguma no coração, como diz o profeta: Conservei no
coração vossas palavras, afim de que eu não peque contra vós (Sl 118,11).
No primeiro domingo do Advento, São Cirilo de Jerusalém nos fala da dupla vinda de
Jesus Cristo, na segunda leitura do Ofício das leituras
267
:
Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira, mas também a segunda,
muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a
segunda manifestará a coroa da realeza divina.
Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla
dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes dos
séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma,
discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.
Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e
reclinado num presépio; na segunda,
será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua
ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.
Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda, mas esperamos ainda,
ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: Bendito o que vem
em nome do Senhor (Mt 19,9), aclamaremos de novo, no momento de sua segunda
vinda, quando formos com os anjos ao seu encontro para adorá-lo: Bendito o que
vem em nome do Senhor.
266
Cf. Ibidem. p. 11-12.
267
Cf. Ibidem. p. 13.