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1
SIDNEI FERNANDES LIMA
O MISTÉRIO PASCAL
NO CICLO DO NATAL
Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do
título de mestre em Teologia Sistemática, na área de concentração em
liturgia, à comissão julgadora da Pontifícia Faculdade de Teologia
Nossa Senhora da Assunção, sob a orientação do Pe. Valeriano Santos
Costa.
PONTIFÍCIA FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
SÃO PAULO
2008
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2
___________________________________
Orientador
___________________________________
1º Examinador
___________________________________
2º Examinador
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3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, José Fernandes Lima (in
memoriam) e Maria de Jesus Barnabé Fernandes, que me ensinaram o
valor do estudo e da fé cristã.
4
AGRADECIMENTOS
Deixo aqui os meus sinceros agradecimentos:
à minha família, que muito me apóia;
à Arquidiocese de São Paulo;
à Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção na pessoa do Pe.
Antônio Manzatto, que me incentivou a
iniciar os meus estudos de pós-graduação na
área de Liturgia;
ao corpo docente do Curso de Pós-
Graduação em Liturgia pela paciência e
dedicação;
ao Pe. Gregório Lutz, que me orientou na
confecção do projeto deste trabalho;
ao Pe. Valeriano Santos Costa, que me
orientou na dissertação deste trabalho;
aos companheiros de curso, que muito me
ajudaram;
à Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto na
pessoa do Côn. César Gobbo, que me acolhe
durante este período de estudo.
5
SIGLAS
AT Antigo Testamento.
CCL Corpus Christianorum collectum a monachis O.S.B. abatiae S. Petri in
Steenbrugge, Series Latina Turnhout-Brepols 1954 s.
CELAM Conselho Episcopal Latino Americano.
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
DV Dei Verbum, Constituição Dogmática sobre a revelação divina.
EE Ecclesia de Eucharistia, Carta Encíclica sobre a Eucaristia em
sua relação com a Igreja, João Paulo II.
IGLH Instrução geral sobre a Liturgia das Horas.
IGMR Instrução geral sobre o Missal Romano.
NT Novo Testamento.
PG MIGNE, J. P. Patrologiae cursus completus. Series graeca. 161
vol., Paris-Montrouge, 1857-1866.
PL MIGNE, J. P. Patrologiae cursus completus. Series Latina. 221
vol., Paris-Montrouge, 1844-1864.
PLS HAMMAN, A. Patrologiae Latinae Supplementum. Paris 1958-1974.
PO Presbyterorum Ordinis, Decreto sobre o ministério e a vida dos
presbíteros, Concílio Ecumênico Vaticano II.
SC Sacrosanctum Concilium, Constituição sobre a Sagrada Liturgia,
Concílio Ecumênico Vaticano II.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO I
A VIVÊNCIA DO CICLO DO NATAL ............................................................................................................13
1.
A
PERCEPÇÃO DO
C
ICLO DO
N
ATAL NA SOCIEDADE ATUAL
.......................................................................... 13
1.1. No imaginário popular. ........................................................................................................................ 15
1.2. Nas decorações natalinas. .................................................................................................................... 18
1.3. Nos meios de comunicação................................................................................................................... 20
1.4. Nas festas folclóricas natalinas ............................................................................................................ 22
1.5. Na piedade popular............................................................................................................................... 25
2.
A
PERCEPÇÃO DO
C
ICLO DO
N
ATAL EM NOSSAS LITURGIAS
. ......................................................................... 29
2.1. Os subsídios usados no Ciclo do Natal................................................................................................. 30
2.2. A vivência do Ciclo do Natal em nossas assembléias litúrgicas........................................................... 32
3.
O
OBJETO DO
C
ICLO DO
N
ATAL
..................................................................................................................... 35
CAPÍTULO II
O MISTÉRIO PASCAL...................................................................................................................................... 37
1.
O
CENTRO DA LITURGIA
:
O MISTÉRIO PASCAL
............................................................................................... 37
2.
A
EXPRESSÃO MISTÉRIO PASCAL
.................................................................................................................... 40
2.1. O mistério ............................................................................................................................................40
2.1.1. O uso cúltico no mundo grego antigo.............................................................................................................40
2.1.2. No Antigo Testamento ...................................................................................................................................41
2.1.3. No Novo Testamento......................................................................................................................................42
2.1.4. Nos escritos dos Padres da Igreja ...................................................................................................................44
2.2. A páscoa............................................................................................................................................... 47
2.2.1. Origem da festa da páscoa..............................................................................................................................47
2.2.2. A palavra páscoa............................................................................................................................................48
2.2.3. A teologia da ceia pascal judaica....................................................................................................................50
2.3. O mistério pascal................................................................................................................................. 51
2.3.1. O uso do termo em Melitão de Sardes e São Leão Magno. ............................................................................51
2.3.2. O memorial da páscoa ....................................................................................................................................52
2.3.3. O mistério pascal na liturgia...........................................................................................................................53
3.
O
MISTÉRIO PASCAL
:
FUNDAMENTO DO ANO LITÚRGICO
................................................................................ 55
3.1. A evolução histórica do ano litúrgico a partir do mistério pascal ...................................................... 55
3.2. A celebração do mistério pascal no ano litúrgico ............................................................................... 57
4.
O
MISTÉRIO PASCAL NO CICLO NATALINO
...................................................................................................... 60
CAPITULO III
O CICLO DO NATAL NA PERSPECTIVA DO MISTÉRIO PASCAL ....................................................... 62
1.
A
ORIGEM E A ESTRUTURAÇÃO DE ALGUNS ASPECTOS DA LITURGIA DO
C
ICLO DO
N
ATAL
............................ 62
1.1. A origem e a estruturação de alguns aspectos da liturgia da festa do Natal........................................ 62
1.2. A origem e a estruturação de alguns aspectos da liturgia da festa da Epifania................................... 66
1.3. A origem e a estruturação de alguns aspectos da liturgia do Advento................................................. 68
1.4. A origem e a estruturação de algumas festas ligadas ao ciclo do Natal. ............................................. 69
7
1.5. Uma teologia a partir das origens........................................................................................................ 72
2.
O
MISTÉRIO PASCAL EM ALGUNS TEXTOS DO CICLO DO
N
ATAL
. ................................................................... 73
2.1. O mistério pascal em alguns textos do tempo do Advento.................................................................... 73
2.1.1. Nos textos bíblicos dominicais e feriais das celebrações Eucarísticas............................................................74
2.1.2. Nos textos eucológicos das celebrações Eucarísticas. .....................................................................................79
2.1.3. Na Liturgia das Horas......................................................................................................................................82
2.2. O mistério pascal em alguns textos do tempo do Natal. ....................................................................... 86
2.2.1. Nas celebrações eucarísticas do Natal do Senhor, da sua oitava e das férias do tempo de Natal.....................86
2.2.2. Na celebração Eucarística da Epifania do Senhor. ..........................................................................................91
2.2.3. Na celebração Eucarística do Batismo e Apresentação do Senhor. .................................................................92
2.2.4. Na Liturgia das Horas......................................................................................................................................94
3.
A
TEOLOGIA DO CICLO DO
N
ATAL
................................................................................................................. 96
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................................... 98
ANEXO I – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO DE NEUSA MARIA DO REGO BORGES
............................................................................................................................................................................. 102
ANEXO II – RELATÓRIO DA MISSA DE NATAL DO PRESÍDIO FEMININO DO TATUAPÉ – SÃO
PAULO............................................................................................................................................................... 123
ANEXO III – RELATÓRIO DA MISSA DE NATAL (24/12/2005) DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA
DO BOM PARTO – TATUAPÉ....................................................................................................................... 125
ANEXO IV – REDAÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE O NATAL .............. 126
ANEXO V – REDAÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE O NATAL ................................. 133
ANEXO VI – CARTÕES DE NATAL ........................................................................................................... 136
ANEXO VII – FOTOGRAFIAS DO PERÍODO DO CICLO DO NATAL ................................................ 138
ANEXO VIII – FOLHETO DO ENCERRAMENTO DA NOVENA DE NATAL NA PARÓQUIA NOSSA
SENHORA DO BOM PARTO – TATUAPÉ.................................................................................................. 144
ANEXO IX – FOLHETOS DE CANTO UTILIZADOS NAS MISSAS DO CICLO DO NATAL NA
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO BOM PARTO - TATUAPÉ.............................................................. 148
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 160
1.
F
ONTES
.......................................................................................................................................................160
1.1. Sagrada Escritura..............................................................................................................................160
1.2. Livros litúrgicos.................................................................................................................................160
1.3. Textos patrísticos e textos litúrgicos antigos ..................................................................................... 161
1.4. Documentos do Magistério ................................................................................................................ 161
1.4.1. Documentos do Magistério universal da Igreja ............................................................................................161
1.4.2. Documentos do Conselho Episcopal Latino-Americano ..............................................................................162
1.4.3. Documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil........................................................................163
1.5. Pesquisa de Campo............................................................................................................................. 163
1.5.1. Questionário .................................................................................................................................................163
1.5.2. Fotografias....................................................................................................................................................163
1.5.3. Redações ......................................................................................................................................................164
1.5.4. Folhetos Litúrgicos.......................................................................................................................................164
1.5.5. Relatórios de observação participante. .........................................................................................................164
1.5.6. Cartões de Natal. ..........................................................................................................................................164
1.5.7 Livros, periódicos e subsídios: litúrgicos, catequéticos, de espiritualidade e para práticas de piedade
popular do povo cristão. ..........................................................................................................................................164
1.5.8. Artigos de Jornais.........................................................................................................................................168
1.5.9. Internet ..........................................................................................................................................................170
2.
D
ICIONÁRIOS
.............................................................................................................................................. 171
3.
E
STUDOS
..................................................................................................................................................... 171
8
3.1. Livros ................................................................................................................................................. 171
3.2. Artigos de Livros e Dicionários.......................................................................................................... 174
3.3. Artigos de Revistas.............................................................................................................................. 176
3.4. Textos não publicados......................................................................................................................... 178
9
INTRODUÇÃO
Com o título “O mistério pascal no Ciclo do Natal”, pretendo demonstrar nesta
dissertação a presença e o valor do mistério pascal dentro do Ciclo do Natal na atual liturgia
romana.
A partir do meu aprofundamento no curso de especialização em liturgia, no qual tive a
oportunidade de elaborar um trabalho monográfico a respeito da presença do mistério pascal
nas eucaristias dominicais do Tempo Comum, procuro pesquisar sobre este tema, que
considero essencial para a ciência litúrgica.
O mistério pascal constitui a essência, o auge e fonte de vida do fiel e da comunidade
cristã. Sobretudo na liturgia, este único mistério é atualizado por obra do Espírito Santo, que
volta a derramar-se sobre a assembléia celebrante em todos os sacramentos e momentos do
ano litúrgico. Deus continua se manifestando hoje, quando nós, com fé, lembramos cada um
dos momentos da vida de Jesus e os celebramos como mistérios, que se revelam e nos fazem
participantes do único mistério.
Porém, para a maioria dos participantes de nossas assembléias litúrgicas, isto não é
suficientemente claro. A celebração de cada um dos mistérios de Cristo ao longo do ano
litúrgico, muitas vezes, é interpretada apenas como uma recordação de uma sucessão de fatos
ocorridos na vida terrena de Cristo e não como presença na forma sacramental-ritual do
mistério de Cristo no espaço de um ano.
No Ciclo do Natal, esta questão se torna ainda mais complexa. Vivemos em uma
sociedade plural e fragmentada, onde o verdadeiro sentido do Natal é diluído, encoberto ou
até desviado da sua origem litúrgica. Imersos em um oceano de motivações criadas pela
10
sociedade, somos induzidos a salvaguardar aquilo, que à primeira vista nos parece mais óbvio,
ou seja, o nascimento de Cristo.
Porém a maneira como encaramos este “Nascimento” pode nos levar a um grande
reducionismo do verdadeiro sentido litúrgico do Ciclo do Natal. Criamos em torno da liturgia
do Natal uma atmosfera pueril e simplista, onde o fato primordial se resume na contemplação
da cena poética da criança deitada na manjedoura, entre Maria e José, rodeada de animais,
pastores e anjos. Conduzida por esta piedosa espiritualidade, vemos que a prática litúrgica se
fixa demasiadamente na veneração da criança (o menino Jesus), como um fato isolado da vida
de Cristo e alheio ao mistério pascal.
Porém, os textos litúrgicos nos revelam que na liturgia do Ciclo do Natal não fazemos
simplesmente a lembrança do nascimento de Jesus, mas vivemos o tempo da plenitude de
nossa salvação, que se inicia a partir da encarnação do Filho de Deus e encontra o seu ponto
mais sublime no evento pascal, que culmina na segunda vinda de Cristo.
Podemos assim dizer, em sentido amplo, que celebramos no Ciclo do Natal o Senhor
morto e ressuscitado, que foi prefigurado antes do seu nascimento, que se manifestou como
Filho de Deus 2000 anos atrás, que continua de um modo especial presente em nossa
história e que voltará glorioso no fim dos tempos.
Comprovar esta dinâmica dentro do Ciclo do Natal será o eixo central deste trabalho,
que de modo algum pretende se tornar um tratado exaustivo sobre todos os aspectos da
liturgia deste ciclo. Pelo contrário, a minha intenção será apenas elucidar alguns aspectos
sociais, culturais, teológicos, históricos e litúrgicos, que ajudarão a comprovar o meu
pensamento diante da problemática, que acabo de expor. Para isso, resolvi organizar esta
pesquisa da seguinte maneira.
11
No capítulo I, que tem como título “A vivência do Ciclo do Natal”, procurarei fazer
uma apreensão da realidade social e litúrgica do Ciclo do Natal. Através da descrição dos
elementos, sociais, culturais, folclóricos e litúrgicos; mostrarei um pouco da face da sociedade
civil e eclesial, que celebra este acontecimento da fé. Este estudo me dará os elementos
necessários para que eu possa problematizar a prática litúrgica natalina.
Na análise social, me limitarei à observação da realidade brasileira, pois o meu
objetivo será, sobretudo, apresentar a complexidade de elementos de caráter regional e
universal, que estão envolvidos na vivência social deste período, mesmo tendo-se como base
uma realidade tão específica.
Na análise da prática litúrgica, do mesmo modo me restringirei a apresentar os
subsídios mais utilizados na preparação das celebrações litúrgicas e a vivência de algumas
experiências litúrgicas deste ciclo na realidade brasileira. Alguns destes elementos sociais e
litúrgicos serão retomados na conclusão deste trabalho, para que através do confronto com o
conteúdo teológico-litúrgico sejam identificados os valores e desvios desta realidade. Cabe
aqui salientar que o método para a apreensão desta realidade é baseado nos procedimentos
sugeridos pela liturgista Yone Buyst em sua obra “Como estudar liturgia”
1
, e leva em conta as
minhas observações e pesquisa de campo.
O capítulo II, intitulado “O MISTÉRIO PASCAL”, terá como objetivo definir
claramente o que significa o termo “mistério pascal” dentro da liturgia e demonstrar como ele
se faz presente durante todo o ano litúrgico. De certo modo, isto já comprovará a sua presença
no Ciclo do Natal e dará ao leitor condições de identificá-lo mais especificamente no capítulo
seguinte, através do estudo dos textos litúrgicos.
Iniciaremos o estudo do termo, elucidando a sua valorização dentro da liturgia atual a
partir do Movimento litúrgico e do Concílio Ecumênico Vaticano II, que o colocaram em
1
BUYST, Ione. Como estudar Liturgia. 4ª ed. São Paulo:Paulus, 2003.
12
destaque. Logo após, aprofundaremos os nossos conhecimentos, buscando o significado
original de cada um dos seus termos e do conjunto desta expressão. Tendo fixado estes
conceitos, partiremos para comprovação de sua presença dentro do ano litúrgico.
O capítulo III, como propõe o seu título: “O CICLO DO NATAL NA
PERSPECTIVA DO MISTÉRIO PASCAL”, buscará revelar a dimensão pascal contida
dentro do Ciclo do Natal.
Começaremos esta parte do trabalho, estudando alguns aspectos da origem e
estruturação deste ciclo, que nos ajudarão a perceber a sua dimensão pascal desde a sua
origem. Este estudo não tem a pretensão de detalhar toda a progressão histórica das origens do
ciclo até o tempo atual. Neste momento do trabalho, serão evidenciados os aspectos históricos
mais importantes, que ajudarão a explicar os mistérios celebrados durante este período.
Prosseguiremos neste capítulo, fazendo a análise de alguns textos litúrgicos, que são
mais significativos para nos revelar a dimensão pascal no Ciclo do Natal. Serão analisados os
atuais textos utilizados na Liturgia Eucarística e na Liturgia das Horas. Não pretendo
contemplar todos os textos, pois isto deixaria o trabalho muito prolixo e prejudicaria o seu
caráter monográfico. A partir da minha seleção, apresentarei os textos, que julgo evidenciar o
mistério pascal.
Concluirei esta pesquisa, retomando criticamente algumas idéias desenvolvidas
durante o trabalho e procurarei sugerir algumas práticas concretas.
13
CAPÍTULO I
A VIVÊNCIA DO CICLO DO NATAL
1. A percepção do Ciclo do Natal na sociedade atual.
A comemoração do Natal originou-se a partir de sua celebração litúrgica
2
. Nela ele
adquire o seu grande sentido e pleno significado. É neste ambiente, que o mesmo adquiriu o
seu esboço e as tonalidades, que lhe são próprias.
Ao longo da sua estruturação litúrgica, a Igreja definiu os seus contornos e as nuances
necessárias, para que o mesmo transparecesse o grande mistério celebrado na liturgia: o
mistério pascal
3
.
Porém, assumido por tantas culturas e atravessando séculos da história humana, esta
magnífica visão, que nos remete ao mistério de nossa salvação, foi sendo sobreposta por
elementos estranhos, que muitas vezes destoam e roubam a sua beleza original. Com
pinceladas e mais pinceladas, feitas por pincéis tão diferentes e com tintas tão diversas, que
posteriormente foram acrescentadas por mãos alheias ao seu pintor original; o Natal assumiu
um caráter muitas vezes diverso da sua identidade.
2
Cf. LUTZ, Gregório. O ano litúrgico – visão global. Revista de Liturgia, São Paulo, v. 14, n. 80, 1987, p. 8-9.
3
Cf. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium. In: VIER, Frederico
(coord.). Compêndio Vaticano II, Constituições, Decretos, Declarações. 27ª ed. Petrópolis:Vozes, 1998, n. 107.
14
Tirado do seu eixo central, o Natal perdeu o seu brilho original, suas cores ficaram
esmaecidas e por mais nobres que sejam os significados agregados a ele, sem o seu
significado litúrgico mais profundo, a celebração do Natal sofreu um profundo esvaziamento
4
.
Atualmente, quantas respostas diferentes poderíamos ter ao questionarmos as pessoas
sobre o significado do Natal e de tudo aquilo que a ele se agrega? E quão subjetivas e
distantes do verdadeiro sentido litúrgico seriam estas respostas
5
?
Procurar a essência do Natal, diante das diversas formas com as quais ele se apresenta
na atualidade, tornou-se algo demasiadamente complexo. Trabalho que poderíamos comparar
ao garimpo de diamantes em um rio. Somente com muita destreza e conhecimento, podemos
encontrar as pedras de verdadeiro valor
6
.
Por isso, proponho, como primeiro passo deste trabalho, a percepção da realidade do
Ciclo do Natal, observando o ambiente social que o circunda e a sua prática litúrgica atual.
Metaforicamente falando, é hora de afundar a nossa bateia no rico cascalho do Ciclo
do Natal, para que no seu rodopiar, possamos trazer à superfície as gemas que
verdadeiramente nos interessam lapidar.
4
Carlos Heitor Cony faz o seguinte comentário a respeito deste sentimento de esvaziamento vivido por muitas
pessoas: “No caso específico do Natal, pelo menos no Ocidente, que, em sua totalidade, é cristão, aquela noite
feliz do hino obrigatório foi perdendo o sentido religioso. Ganhamos uma data festiva, diferente das outras, de
confraternização, de boa vontade, entranhada na tradição familiar, mas desvinculada da mensagem original que
originou a festa e a prolongou durante séculos”. (Cf. CONY, Carlos Heitor. Bimbalham os sinos. Folha de São
Paulo. São Paulo, 25 dez. 2005. Opinião, p. A2).
5
A este respeito é interessante observar a opinião da teóloga Maria Clara Luchetti Bingemer, que falando do
processo de secularização da sociedade aponta para esta troca de valores em relação ao Natal: “Os mbolos
foram trocados: quando se fala em Natal, não se fala mais em presépio, mas na árvore e no Papai Noel, que nada
têm a ver com a nossa cultura. Um pinheiro que em países frios, o Papai Noel vestido com aquela roupa
em plenos 40 graus. É um contra-senso total. Mas estão as crianças em volta dele. É o presente que elas
querem”. (Cf. PAIVA, Fred Melo. O Natal e os dilemas da fé. O Estado de São Paulo. São Paulo, 25 de dez.
2005. Aliás, p. J4-J5).
6
Frei Betto nos um bela ilustração desta confusão de sentimentos que muitas vezes o Natal nos causa: “É
Natal. Tudo se mescla à nossa volta. É verão nos trópicos e, no entanto, neves de algodão, trenós e Papais
Noéis agasalhados do frio. À mesa, castanha e nozes, alimentos adequados ao inverno. Tudo se mistura em nós,
confunde sentimentos e atropela referências”. (Cf. BETTO, Frei. Natal, desconfortos e expectativas. Folha de
São Paulo. São Paulo, 25 dez. 2005. Opinião, p. A3).
15
1.1. No imaginário popular.
Hoje é possível viver as festividades do período do Natal de um modo totalmente
profano, ou seja, completamente desligado do seu sentido litúrgico e religioso
7
.
Sendo isso o que mais predomina no imaginário popular, procurarei enfatizar neste
sentido os aspectos mais comuns à maioria das pessoas.
No final do mês de outubro, uma agitação incomum começa a tomar conta dos grandes
centros urbanos, sinalizando um dos períodos de maior venda do comércio
8
.
Antes de nossas liturgias começarem entoar as suas antífonas do Advento, se pode
ver nas vitrines das grandes cidades, que o período das grandes festas do final de ano reclama
o seu lugar, com tudo aquilo que lhe é próprio.
Como uma reação em série, começam a surgir em diversos cantos das cidades as mais
diversas motivações para as festas de fim de ano, que na sua maioria passam em suas
entrelinhas a mesma mensagem: “É preciso preparar tudo o que é necessário para as
festividades”.
A resposta das pessoas é rápida. Ela se traduz no ritmo frenético, que toma conta dos
grandes centros comerciais, onde milhares de pessoas pronunciam o seu “sim” a um
7
Um artigo de Frei Betto traduz bem este pensamento: “Natal é festa polissêmica. De certo modo,
desconfortável. Para os cristãos, comemoração do nascimento de Jesus, Deus feito homem. Para a indústria e o
comércio, privilegiada ocasião de promissoras vendas. Para uns tantos, miniférias de fim de ano. Para o peru,
Dia de Finados”. (Cf. BETTO, Frei. Missa do Galo. Folha de São Paulo. São Paulo, 25 dez. 2006. Opinião, p.
A3).
8
Na cidade de São Paulo, cinqüenta e dois dias antes do Natal, já podemos observar a decoração de Natal e um
maior fluxo de pessoas no comércio. (Cf. é Natal no comércio. SPTV - primeira edição. 03 nov. 2005.
Disponível em: http://sptv.globo.com/Sptv/0,19125,LPO0-6146-20051103-233416,00.html . Acesso em: 09 de
nov. de 2007, 17: 33: 27).
16
consumismo desenfreado, que leva muitos a se atropelarem em ruas abarrotadas de gente a
procura dos mais diversos produtos
9
.
Tudo começa a se tornar mais difícil e complicado. As filas aumentam, os
congestionamentos se multiplicam, o transporte público fica a beira do caos
10
e o “stress” e o
cansaço, enfim, tomam conta até dos espíritos mais serenos
11
.
Somando-se a este ritmo acelerado, aumenta de modo perceptível a sensibilidade das
pessoas em relação às causas humanitárias e o desejo da confraternização.
É comum nesta época vermos ações solidárias, que vão de iniciativas particulares à
projetos assistenciais promovidos por grandes entidades. Muitos trabalham arduamente para
que os menos favorecidos também possam de algum modo confraternizar-se neste período
12
.
Este espírito festivo também se apodera daqueles que conviveram durante todo o ano
civil. Não são poucas as confraternizações entre amigos. Festas com trocas de presentes e de
cartões com belos dizeres e repletos de votos de felicidade são muito comuns nesta época, que
sela o final de um ano exaustivo de trabalho
13
.
Assim, o período que antecede o Natal, rapidamente se consome em uma frenética
correria, que acelera continuamente o seu ritmo até chegar ao seu cume máximo na véspera de
Natal.
9
Na Rua Vinte e Cinco de Março, um grande centro de comércio popular na cidade de São Paulo, chega-se a
registrar na época do Natal um fluxo diário de 800 mil pessoas. (Cf. DANTAS, Vera. Compras de última hora
lotam região da 25 e shoppings. O Estado de São Paulo. São Paulo, 23 dez. 2005. Economia, p. B3).
10
O trânsito e transporte público nas grandes cidades como São Paulo entram em colapso nesta época do ano.
(Cf. FOLGATO, Marisa et al. Trânsito ruim. E vai até o Natal. O Estado de São Paulo. São Paulo, 26 nov. 2005.
Metrópole, p. C1).
11
A irritação e o “stress” tomam conta da maioria das pessoas. (Cf. TÓFOLI, Daniela. Mães vivem ‘Tensão Pré-
Natal’. Folha de São Paulo. São Paulo, 20 dez. 2005. Cotidiano, p. C10).
12
É muito comum no período do Natal o trabalho de voluntários, que doam o seu tempo, talento, trabalho e
carinho para ajudar o próximo. (Cf. TÓFOLI, Daniela. Voluntários alegram Natal de necessitados. Folha de São
Paulo. São Paulo, 25 dez. 2005, Cotidiano, p. C7).
13
Algumas empresas têm o costume de promover grandes festas de confraternização para seus funcionários. (cf.
BARALDI, Paulo. Fim de ano com festa na empresa. O Estado de São Paulo. São Paulo, 01 dez. 2005.
Oportunidades, p. Co 1).
17
O dia 24 de dezembro é a ocasião de se providenciar os últimos detalhes para a ceia de
Natal, que para muitos é o ponto central da festividade natalina. A noite de Natal é o momento
de reunir a família e os amigos, ao redor de uma mesa farta de comidas, que muitas vezes são
preparadas somente nesta época do ano
14
.
Algumas famílias têm o costume de participar da missa de Natal no início da Noite
15
e
fazer uma oração antes da ceia. Muitos preferem trocar presentes
16
. As crianças ficam a
espera do Papai Noel
17
. Todos cantam, dançam, comem, bebem, às vezes brigam ou choram,
até serem vencidos pela exaustão.
O dia de Natal amanhece pesado devido aos excessos cometidos na noite anterior.
Recupera-se o sono perdido durante a noite na parte da manhã e na parte da tarde consome-se
no almoço o que restou da ceia
18
.
Na semana posterior ao dia de Natal, arruma-se a casa, trocam-se nas lojas os
presentes que não serviram ou não agradaram
19
, contam-se os estoques no comércio e inicia-
se a época das liquidações
20
.
14
Gostaria de enfatizar que diferentemente dos grandes centros urbanos, onde os importados ocupam lugar de destaque na
ceia de Natal; em ambientes rurais, o que é necessário para o preparo da ceia é tirado da horta e das criações. (Cf.
MENOCCHI, Simone; SILVEIRA, Guto. Natal com comida típica da roça. O Estado de São Paulo. São Paulo, 21 dez. 2005.
Agrícola, p. G6-G7).
15
Na cidade de São Paulo a tradicional “Missa do Galo” é realizada, em grande parte das paróquias, em horários alternativos
por volta das 19h00. O motivo, além da comodidade, é a segurança. A catedral da Sé e o Mosteiro de São Bento em São
Paulo continuam obedecendo o horário tradicional da meia noite. (Cf. ZONTA, Natália. 1500 fiéis são esperados para a
Missa do Galo na Catedral da Sé. O Estado de São Paulo. São Paulo, 23 dez 2005. Vida&, p. F4).
16
Dom Geraldo Majella, em 2005, como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, faz duras críticas a
obrigação, que as pessoas têm de trocar presentes no Natal. (Cf. TÓFOLI, Daniela. Presidente da CNBB critica ‘presentes
por obrigação’. Folha de São Paulo. São Paulo, 25 dez. 2005. Cotidiano, p. C7).
17
A figura do Papai Noel assume um lugar de destaque na época do Natal em várias partes do mundo. Nos shoppings de São
Paulo, atores vestidos com roupas vermelhas de inverno e barba branca ouvem os pedidos das crianças e recolhem suas cartas
com pedidos para o Papai Noel. (Cf. BERGAMO, Mônica. “Papai Noel, eu quero...”. Folha de São Paulo. São Paulo, 18 de
dez. 2005. Ilustrada, p. E2).
18
METRÓPOLE deserta. SPTV - segunda edição. 25 dez. 2006. Disponível em: http://sptv.globo.com/Sptv/0,19125,LPO0-
6147-20061225-258726,00.html . Acesso em: 30 de dez. 2006, 11:50:17.
19
Cf. DIA mundial da troca. Jornal Hoje. 26 dez. 2006. Disponível em: http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,VJS0-
3076-20061226-258826,00.html . Acesso em: 29 de jan. 2007, 10:23:49.
20
Cf. COMEÇAM as liquidações. Jornal Hoje. 27 dez. 2006. Disponível em:
http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,VJS0-3076-20061227-258973,00.html . Acesso em: 29 de jan. 2007, 10:24:46.
18
Na passagem de Ano, percebe-se um modo de se festejar ainda mais alheio à liturgia.
Nesta data, além da reunião familiar, são comuns as grandes concentrações de pessoas
21
, que
juntas esperam a chegada da meia noite ao som de muita música, dança, fogos de artifícios e
rituais mágicos pedindo sorte, amor e fartura
22
.
Tudo se encerra no dia 06 de janeiro, que por tradição é o dia em que se desmontam
os presépios
23
e se guardam todos os enfeites usados nas festas de fim de ano
24
.
Mas antes de guardar estes enfeites nos porões do esquecimento, envoltos em muito
papel de seda e jornal, vejamos no que consistem as decorações de Natal.
1.2. Nas decorações natalinas.
Com a proximidade do mês de dezembro as decorações natalinas sutilmente começam
a invadir o interior e o exterior de nossas casas, prédios, escritórios, lojas e vitrines, dando-
lhes uma atmosfera especial e acolhedora. Apesar de sua simbologia ser desconhecida pela
maioria das pessoas, elas mexem com o imaginário do ser humano e encantam adultos e
crianças por sua beleza
25
.
O cenário cotidiano modifica-se, novos elementos lhe são acrescentados.
21
A cidade do Rio de Janeiro, em 2005, preparou a festa de passagem de ano na praia para 4 milhões de pessoas. (Cf.
SILVA, Beatriz Coelho. Rio prepara réveillon para 4 milhões. O Estado de São Paulo. São Paulo. 08 dez. 2005.
Cidades/Metrópole, p. C10). Em São Paulo a comemoração da virada do ano previu 2,2 milhões de pessoas na avenida
Paulista. (Cf. PEREYRA, Alessandra. Réveillon para 2,2 milhões na Paulista. O Estado de São Paulo. São Paulo. 14 dez.
2005. Cidades/Metrópole, p. C10).
22
As superstições são muito comuns na virada do ano. Existem vários rituais, como o de pular ondas ou comer lentilha, além
de várias simpatias inusitadas. (Cf. VALLERIO, Ciça. Bons fluidos para a entrada do ano. O Estado de São Paulo. São
Paulo, 24/25 dez. 2005. Feminino, p. F4-F6).
23
Conforme tradição popular atestada por Magdalena Braz, 74 anos, “os magos visitaram e adoraram Jesus. Como o rei
Herodes decretou a morte das crianças, precisamos desmontar o presépio e esconder nosso menino Deus”. (Cf. ALBERTO,
Rafael. Deus se manifesta aos homens e começa seu ‘novo povo’, diz papa. O São Paulo. São Paulo, 09 jan. 2007. Especial,
p. 5).
24
Cf. DIA de desmontar as árvores. SPTV - primeira edição. 06 jan. 2007. Disponível em:.
http://sptv.globo.com/Sptv/0,19125,LPO0-6146-20070106-260399,00.html . Acesso em: 29 de jan. 2007, 10:41:51.
25
As decorações de fim de Ano mudam a paisagem da capital paulista. Alguns locais, devido a sofisticada decoração, se
tornam pontos turísticos da cidade. Este é o caso do prédio do antigo BankBoston (agora pertence ao Banco Itaú Personalitè),
do Banco Real na região da avenida Paulista e da Rua Normandia em Moema, entre outros.(Cf. ZONTA, Natália. São Paulo
que se veste para o Natal. O Estado de São Paulo. São Paulo, 07 dez. 2005. Cidades/Metrópole, p. C10).
19
Pouco a pouco, vemos pequenas luzes coloridas, às vezes somente brancas, tomando
conta das ruas e avenidas, mesmo nos locais mais periféricos
26
. Elas se espalham e iluminam
jardins, árvores, fachadas, viadutos e até os postes da rede elétrica. Piscando dos mais
diversos modos, as luzes nas noites do período do Natal chegam a emocionar, pois parecem
trazer para a terra o brilho, que no restante do ano só vemos nas estrelas do céu.
Surgem as árvores de Natal. Natural ou artificial, a árvore de Natal é o enfeite mais
popular de todos
27
. Ocupando sempre um lugar de destaque, elas estão em todos os lugares:
nas creches, nas escolas, nas cadeias, nas fábricas, no humilde casebre, na suntuosa mansão,
ou mesmo em praça pública
28
. Elas, além das hipnóticas luzes dos pisca-piscas, acolhem em
seus galhos uma multiplicidade de adereços: anjos, estrelas, papais-noéis, flocos de neve
feitos de algodão, presentes e brinquedos em miniatura, cordões dourados, laços coloridos e
cartões multicoloridos, entre outros.
Os grandes shoppings tornam-se uma atração turística à parte. Com altos
investimentos criam-se em seus interiores verdadeiros cenários lúdicos, que remetem os
visitantes a um mundo de encantamento. Em um clima verdadeiramente teatral, ao redor de
gigantescas árvores de Natal e do trono do papai-noel, podemos saborear um belo espetáculo
temático, enquanto “o bom velhinho” escuta os pedidos das crianças
29
.
26
Dom Cláudio Hummes, em 2005, como cardeal-arcebispo metropolitano de São Paulo, escreveu um artigo sobre as luzes
do Natal, onde diz: “Natal tem tudo a ver com luzes. Vemos a cidade iluminada. Ruas, praças, igrejas, shoppings, bancos,
fachadas de edifícios, casas, mansões e palacetes, até mesmo residências pobres das periferias urbanas, por toda parte vemos
luzes que alegram a noite e proclamam que algo de novo e bom espresente na vida quotidiana e agitada de nossa cidade”.
(Cf. HUMMES, Cláudio. As luzes do Natal. O Estado de São Paulo. São Paulo, 21 dez. 2005. Espaço aberto, p. A2).
27
Os comerciantes do maior entreposto de São Paulo, Ceagesp, previram em 2005 a venda de 160 mil pinheiros naturais.
(Cf. SILVA, Beatriz Coelho. Ceagesp espera vender 160 mil pinheiros este mês. O Estado de São Paulo. São Paulo. 08 dez.
2005. Cidades/Metrópole, p. C10).
28
No Rio de Janeiro, em 2005, a tradicional árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas atingiu a altura de 82 metros. (Cf.
PENNAFORT, Roberta. Luzes do Natal chegam ao Ibirapuera e à Lagoa. O Estado de São Paulo. São Paulo, 17 nov. 2005.
Cidades/Metrópole, p. C10). Em São Paulo, também em 2005, foi montada no parque do Ibirapuera uma árvore de 55 metros
de altura. (Cf. BALAZINA, Afra. Ibirapuera inaugura hoje árvore de 55m. Folha de São Paulo. São Paulo, 04 dez. 2005.
Cotidiano, p C5).
29
Em 2005 alguns shoppings da zona leste de São Paulo tiveram a sua decoração centrada em temas infantis. Neles podia-se
ver um ateliê do Papai Noel, milhares de presentes, soldadinhos de chumbo, o personagem “Barney”, de grande sucesso entre
o público infantil, e milhares de doces. (cf. ASSUNÇÃO, Moacir. Os shoppings vestidos de Natal. O Estado de São Paulo,
São Paulo, 25 nov. 2005. Estadão Leste, p. ZL4).
20
Completando a paisagem, na sua versão real ou virtual, o cartão de Natal é um
elemento característico sempre presente em todos os Natais. Extremamente variados são
confeccionados para agradar a todos os gostos. Em sua parte frontal, ou mesmo como plano
de fundo, eles contem variados desenhos: bucólicas representações do nascimento de Cristo
ao lado dos pastores e suas ovelhas, papais-noéis, presentes, reis-magos, Estrela de Belém,
velas acesas rodeadas bolas de Natal coloridas, flores e ramos de coníferas, árvores de Natal,
gélidas paisagens nevadas, sinos, anjos, entre muitos outros. No seu interior ou sobreposto às
imagens, além do voto de “Feliz Natal” ou mesmo dos religiosamente descompromissados
votos de “Boas Festas e Feliz Ano Novo” impressos na maior parte dos cartões, acrescentam-
se os dizeres de caráter particular, que geralmente expressam sentimentos de amor, carinho e
sinceros desejos de paz e felicidade
30
.
É neste panorama cheio de luzes e enfeites, que o Natal se apresenta em nossa
sociedade. Cenário que servirá de motivação para os meios de comunicação.
1.3. Nos meios de comunicação.
No final do ano, o Natal é o tema preferido dos meios de comunicação. Porém o foco
não é a sua celebração litúrgica, que, muitas vezes, fica a reduzida à notícia e transmissão de
algumas celebrações próprias deste tempo como, por exemplo, a tradicional missa de Natal,
popularmente chamada “Missa do Galo”.
Nesta época, em boa parte do tempo, o que mais é veiculado nos meios de
comunicação está relacionado aos costumes, eventos, decorações, mensagens de final de ano,
transtornos típicos desta época e principalmente à venda de produtos.
30
Apesar do surgimento dos cartões virtuais a venda de cartões de papel ainda sobrevive. Segundo pesquisa
relatada em 2005, na Inglaterra, o consumo por ano de cartões de papel por pessoa chega a 54, nos Estados
Unidos 25 e no Brasil 0,5. (Cf. LACERDA, Ana Paula. Venda de cartão de Natal sobrevive à internet. O Estado
de São Paulo, São Paulo, 19 dez. 2005. Negócios, p. B9).
21
Apesar da aparente superficialidade dos temas veiculados, não podemos subestimar o
peso dos meios de comunicação em nossa sociedade.
Com o avanço da tecnologia nos dias de hoje, houve um grande desenvolvimento dos
meios de comunicação. Além da palavra escrita, eles têm condições de transferir de um lado
a outro do planeta diversas informações através do som e da imagem.
Em tempo real, temos acesso à informação de países do mundo todo. A internet é uma
realidade cada vez mais acessível a um grande número de pessoas e possibilita que milhares
de pessoas também interajam no processo de comunicação.
Por isso, hoje em dia, as informações relacionadas ao Natal circulam com facilidade
no mundo inteiro. Os jornais e revistas impressos contêm os acontecimentos ocorridos no dia
ou na semana anterior; os jornais televisivos e radiofônicos nos apresentam um resumo diário
dos fatos ocorridos; a internet, minuto a minuto, nos remete a algum acontecimento, que
ocorre em determinado ponto do globo terrestre.
Tudo isso contribui para que o Natal também acompanhe o processo de globalização,
no qual estamos inseridos.
Hoje é perfeitamente aceitável a importação de tradições de Natal de culturas diversas.
É totalmente possível, debaixo de um calor tropical de quarenta graus, sintonizar-se
completamente (por meio de filmes, programas, reportagens e imagens) com o Natal nevado
dos países do hemisfério norte.
22
O Natal tipicamente regionalista vai cedendo espaço a uma cultura natalina global.
Concretamente percebemos isto através de comidas, enfeites e até mesmo símbolos
natalinos, que foram importados e normalmente incorporados à nossa cultura
31
.
No entanto, isto não significa perda total e generalizada de expressões tipicamente
regionais ligadas ao Natal, como poderemos comprovar estudando algumas manifestações
folclóricas de caráter natalino.
1.4. Nas festas folclóricas natalinas
Algumas manifestações folclóricas tipicamente natalinas fazem parte da vida de
algumas comunidades, que ainda não se deixaram contaminar completamente pelo
consumismo e pela dinâmica peculiar deste período do ano em boa parte do mundo
32
.
O Natal abre um ciclo folclórico cheio de costumes, folguedos, dramatizações
populares que às vezes chegam até o dia 02 de fevereiro. Temos os “Ternos” ou “Bandeiras
de Reis”, as “Folias de Reis”, os “Pastoris”, as “Pastorinhas”, “Reisados” e “Lapinhas”, entre
outros
33
.
31
A figura do Papai Noel no Natal é um claro exemplo da globalização de costumes do Natal. Ele está presente
em vários cantos do mundo. Como pude comprovar através de duas reportagens fotográficas. Na primeira, -se
um Papai Noel negro na África do Sul em uma loja, estudantes vestidos de Papai Noel na China, um missionário
Indiano vestido de Papai Noel em visita a um orfanato e nos Estados Unidos em um shopping. (Cf. O NATAL
em três continentes. O Estado de São Paulo, São Paulo, 24 de dez. 2005. Internacional, A13). Na segunda
reportagem, vê-se uma indiana vendendo velas no formato de Papai-Noel, funcionárias de um parque de
diversões na Coréia do Sul, vestidas de Papai Noel se divertindo em trenós, no Líbano de maioria mulçumana a
venda de brinquedos de Papai Noel nas ruas e na Rússia soldados vestidos de “Papai gelado” que é análogo ao
Papai Noel. (Cf. GIRO pelo mundo dos Noéis. Folha de São Paulo. São Paulo, 22 de dez. 2005. Turismo, p. F6).
32
Mesmo em grandes centros urbanos como a cidade de São Paulo, vemos ainda uma pequena influência destas
tradições folclóricas que ainda resistem ao Natal globalizado. No ano de 2007 no Rio Pequeno, Zona Oeste de
São Paulo, verifica-se a existência um grupo de reisado para celebrar o nascimento de Jesus. (Cf. ALBERTO,
Rafael. Deus se manifesta aos homens e começa seu ‘novo povo’, diz papa. O São Paulo...).
33
Cf. NEVES, Guilherme Santos. O Natal: festa do povo. Jangada Brasil, n. 85, [dez.] 2005. Disponível em:
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro85/fe85012b.asp . Acesso em: 8 de dez. 2005, 17:47:57.
23
Observando os seus cânticos, podemos nos aproximar dos sentimentos, que os
motivam. Vejamos, entre muitos, dois exemplos.
Em algumas regiões do país, temos as “Pastorinhas”, que são autos pastoris de origem
européia, que aqui encontraram receptividade e criaram raízes com novas criações. Elas são
sobrevivências dos primitivos dramas natalinos em homenagem ao “Deus Menino’’ e são
apresentadas em visitas às igrejas, capelas e casas, do Natal até o dia de Reis, onde haja um
presépio instalado
34
. Das “Pastorinhas”, por exemplo, podemos observar esta amostra
recolhida:
Quando as pastoras chegam a uma casa, em visitação, cantam:
Dá licença, meu Menino,
Que as pastoras querem entrar;
Já está chegando a hora
E nós queremos adorar
Entoam outros versos e os Reis Magos, em dado momento cantam, suplicantes:
Lança-me, meu Deus Menino,
A vossa benção sagrada,
Que no centro de meu peito
Fizeste a vossa morada
Todas as pastoras, então, cantam:
Vinte e quatro de dezembro,
Meia-noite, deu o sinal;
Entra a aurora e primavera,
Hoje é noite de Natal
Vários personagens do auto dramático vão se apresentando, a seguir, cada qual
cantando uma ou mais quadrinhas apropriadas, geralmente de louvação: a estrela
d'alva, a lua, o sol, um grupo de caboclinhos, a cigana do Egito, a esperança e, por
fim, o beija-flor, que termina cantando os versos:
Eu sou um beija-flor,
Que vem hoje de Belém
Visitar o Deus-Menino
E lhe dar os parabéns
Terminada a representação dos personagens das pastorinhas, todas vão admirar o
presépio, geralmente montado na sala de entrada da casa. Aí apreciam a
representação cerâmica da Sagrada Família, com o Menino Jesus deitadinho na
34
Cf. TEIXEIRA, Fausto. Folclore de Natal. Jangada Brasil, n. 61, [dez.] 2003. Disponível em:
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro61/especial10.asp . Acesso em: 8 de dezembro de 2005,
18:03:44.
24
manjedoura de palhas, rodeado de animais domésticos — o burrinho ou jumentinho,
vacas e ovelhas e, às vezes, até algum cachorro, gato, galinhas, etc
35
.
Outro exemplo típico dos festejos natalinos de caráter popular é a “Folia de Reis”,
muito comum em certas regiões do país. Ela que reproduz a visita dos Magos a Jesus no
tempo da Epifania. A partir da meia-noite da véspera de Natal, a “Folia de Reis” sai cantando
e fazendo música, anunciando o nascimento de Cristo à porta das casas. O palhaço é um dos
atrativos da folia. Supondo que ele tenha parte com o diabo, os foliões explicam a sua
existência dizendo que são os soldados de Herodes. Anunciam a todos que nasceu numa
humilde manjedoura, em Belém, o Salvador do mundo
36
, como cantam os versos recolhidos,
que têm como título “A Viagem dos três Reis”:
Vinte e cinco de dezembro, ai, ai
Eu vi a terra tremeu, ai, ai
Os três Reis foram avisado, ai, ai
O Cristo de Maria nasceu, ai, ai
Já saíram em viage, ai, ai
Visitar Menino Deus, ai, ai
Andava pelo mundo, ai, ai
Sem sabê destino seu, ai, ai
Logo no dia seguinte, ai, ai
Uma estrela pareceu, ai, ai
Essa que era vossa guia, ai, ai
Foi mandando ela por Deus, ai, ai
Quela estrela ia na frente, ai, ai
É preciso i acompanhano, ai, ai
Té que um dia eles encontraro, ai, ai
O que andava campeano, ai, ai
Pois era um Menino Deus, ai, ai
Eles ficaro adorano, ai, ai
E fizero suas continência, ai, ai
E também presentearo, ai, ai
Eles pegaro os instrumento, ai, ai
E pro mundo viajaro, ai, ai
Tirando as suas esmolas, ai, ai
Pela festa do Natal, ai, ai
E convidava tudo povo, ai, ai
Quando eles vinha chegano, ai, ai
O amô de Deus acompanhava, ai, ai
Pegaro sua rainha, ai, ai
35
Ibidem.
36
Cf. TRINDADE, Solano. Folia de Reis. Jangada Brasil, n. 61, [dez.] 2003. Disponível em:
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro61/especial11.asp . Acesso em: 8 de dez. 2005, 18:03:14.
25
Uma bandêra encontraro, ai, ai.
37
Além destes, no Brasil, temos um rico repertório de festejos natalinos, onde o
religioso e o profano se misturam. Estas manifestações expressam a simplicidade com a qual
o povo absorve, interpreta e traduz na linguagem de sua cultura, aquilo que oficialmente é
vivido liturgicamente no Ciclo do Natal.
Ainda dentro das manifestações de caráter popular, vejamos algumas expressões de
piedade ligadas ao Ciclo do Natal.
1.5. Na piedade popular.
Dentro da cristã, existem manifestações religiosas de caráter comunitário ou
privado, que se expressam de modo diferente da sagrada Liturgia. Assumindo as formas
peculiares de um povo, etnia ou cultura, elas manifestam uma sede de Deus típica dos simples
e dos pobres
38
.
Neste fértil terreno, podemos ressaltar, também entre muitas, a novena de Natal, a
montagem de presépios e a coroa do Advento.
Com o intuito de se preparar para a grande solenidade do Natal, vários grupos se
reúnem para realizar a novena de Natal. Grupos de rua, grupos de amigos, grupos de
condomínios e até mesmo familiares realizam os encontros para a novena de Natal.
37
[Sic]. LIMA, Rossini Tavares de Lima. Já saíram de viagem para visitar Menino Jesus. Jangada Brasil, n. 61,
[dez.] 2003. Disponível em: http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro61/especial28.asp . Acesso em: 8
de dez. 2005, 18:03:01.
38
Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório
sobre piedade popular e liturgia: princípios e orientações. São Paulo:Paulinas, 2003, n. 19. (Documentos da
Igreja, 12).
26
Reunidos em oração, colocam de lado toda a agitação deste período, para viverem
juntos o verdadeiro espírito do Ciclo do Natal
39
.
Estes encontros geralmente são motivados por um coordenador, que fica responsável
por toda a dinâmica da novena. Ele assume o compromisso de convidar e incentivar à
participação, acolher as pessoas e dividir as funções, estabelecer os locais onde serão
realizados os encontros, estimular a reflexão e criar elo de relacionamento entre os
participantes
40
.
Em grande parte, os grupos utilizam subsídios que servem de apoio para o
desenvolvimento do encontro. Contendo roteiros pré-estabelecidos para os nove encontros,
esses subsídios são compostos de orações, leituras bíblicas ligadas ao ciclo do Natal, salmos,
responsórios, histórias do cotidiano, cantos, perguntas para conduzir a reflexão, preces e
sugestão de gestos concretos
41
.
O período de reunião destes grupos varia de acordo com a disponibilidade dos
participantes. Alguns preferem nove semanas antes do Natal, realizando reuniões semanais,
outros, no período mais próximo do Natal, reunindo-se mais constantemente.
39
Cf. BOGAZ, Antônio Sagrado. Natal festa de luz e de Alegria: para animação litúrgico-pastoral. São
Paulo:Paulus, 1996, p. 33-34.
40
Cf. Ibidem. p. 33-34.
41
No Brasil, encontramos na atualidade vários subsídios para a novena de Natal. Temos subsídios que têm uma abrangência
nacional como o publicado pela CNBB (cf. CNBB. Novena de Natal da CNBB: Reunidos em família, preparando a vinda do
Senhor! 1ª ed. Brasília, 2005); o da Liturgia Diária publicado pela Editora Paulus (cf. NOVENA de Natal 2005: A luz brilhou
nas trevas. São Paulo: Paulus, 2005); e a do Natal em Família publicado pelo Centro de Pastoral popular (cf. CENTRO DE
PASTORAL POPULAR. Natal em Família: Famílias unidas querem ver Jesus Caminho, Verdade e Vida Sabedoria de
Deus. Brasília, 2005); entre outros. Também várias dioceses procurando ter um material mais próximo de sua realidade
publicam o seu próprio subsídio (cf. ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Novena de Natal 2006: Jesus, o missionário do
Pai. São Paulo, 2006). Todos estes a cada ano escolhem um tema para conduzir a reflexão dos encontros e procuram
desenvolvê-los na estrutura de uma celebração da Palavra, sendo que alguns procuram seguir o método ver-julgar-agir em sua
reflexão. Digno de nota é o subsídio publicada pelas Edições Paulinas, que foge a este esquema e procura seguir a dinâmica
do Ofício Divino das Comunidades, que é uma versão inculturada da Liturgia das Horas. Além de ter uma estrutura fixa para
todos os anos, neste subsídio a reflexão cede espaço à oração e as “Antífonas do Ó”, que são cantadas na Liturgia das Horas
no horário das vésperas antes do canto do Magnificat (cf. CARPANEDO, Penha; GUIMARÃES, Marcelo. Ofício da Novena
do Natal. 2ª ed. São Paulo:Paulinas, 2003).
27
Também é comum as paróquias fazerem a abertura e o encerramento da novena por
meio de um grande encontro de todos grupos
42
.
Outro costume, também bastante difundido na piedade popular, é a confecção de
presépios
43
, que são expostos nas casas, nas igrejas, nos jardins, em espaços públicos
determinados
44
e até nos shoppings.
Feitos de diversos materiais e montados com muita criatividade, os presépios
encantam, por trazerem à mente a imagem do nascimento de Cristo
45
. De modo especial, o
presépio encanta principalmente as crianças, para as quais serve como instrumento
catequético de grande importância
46
.
Nas igrejas, os presépios costumam ser montados a partir do Tempo do Advento e
ocupam diversos lugares dentro do espaço litúrgico. Eles são expostos próximo à entrada da
igreja, nas laterais da nave, próximo ao presbitério ou mesmo dentro do presbitério. Antes,
durante e depois das celebrações litúrgicas
47
, o presépio torna-se, para muitos, parada
obrigatória, onde fazem suas orações e dão seus donativos
48
.
42
Na Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, que está situada na Vila Gomes Cardim, na cidade de São Paulo.
Nove semanas antes do Natal, todos os grupos são reunidos na igreja e recebem um quadro de Nossa Senhora do
Bom Parto e uma vela. Em dezembro, em data próxima ao Natal, os grupos se reúnem novamente para o último
encontro da novena, momento no qual se faz a devolução dos quadros. Vide anexo VIII.
43
Um grande variedade de presépios é vendida no comércio. Podemos comprar imagens a preços módicos em
lojas populares e até verdadeiras obras de grandes artistas.
44
Na cidade de São Paulo e também em muitas outras cidades do Brasil, são comuns as exposições de presépios
de diversas regiões do país e do mundo. Em São Paulo, vale a pena ressaltar a exposição de presépios, visitada
por mim em 2005, e que tradicionalmente acontece todos os anos, na igreja de São Francisco, Largo São
Francisco, centro da cidade. Digna de nota também é a exposição permanente de um presépio napolitano, no
Museu de Arte Sacra de São Paulo.
45
A respeito dos presépios é interessante se observar uma grande tendência a inculturação. As imagens
assumem muitas vezes a características físicas do povo da qual ele é originado. Também é comum a montagem
do presépio incorporar o ambiente e os costumes cotidianos do povo. Vide anexo VII.
46
Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório
sobre piedade popular e liturgia... n. 104.
47
Na Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, situada na Vila Gomes Cardim, São Paulo, algumas pessoas se
dirigem ao presépio para fazer as suas orações. Vide anexo I.
48
Existe no Brasil o costume popular de se jogar dinheiro nos presépios. Por isso, em várias delas é colocado
um cofre de donativos ao lado do presépio.
28
Em grande parte das igrejas, os presépios são montados parcialmente. As imagens são
acrescentadas aos poucos, para que se faça uma ligação entre o presépio e o momento
litúrgico celebrado. Em muitos casos, a imagem do menino Jesus é colocada durante a missa
de Natal, onde adquire um caráter solene. Também em alguns lugares as imagens dos Magos
são colocadas no dia em que se celebra a Epifania.
No interior das casas, os presépios são expostos, em sua maioria, próximos à árvore
de Natal e se diluem na decoração natalina. Em alguns lares assumem certo destaque como
local em que a família se reúne para rezar.
Nos shoppings e lugares públicos, parecem não adquirir nenhum sentido religioso e
são colocados como mera decoração.
A coroa do Advento, mesmo não fazendo parte da liturgia, nem sendo proveniente do
mundo católico, começou a ser usada durante a celebração eucarística durante o tempo do
Advento. Hoje ela está presente em boa parte de nossas igrejas, sendo colocada ao lado do
altar
49
, ou ao lado da palavra, ou em outro lugar de destaque no presbitério.
Geralmente é confeccionada com ramos verdes em forma de círculo e adornada por
laços e flores e colocada em cima de uma mesa ou pedestal
50
. No seu interior colocam-se
quatro velas que são acesas, uma a uma, de acordo com o desenrolar das quatro semanas do
Advento. As cores destas velas variam muito. Algumas coroas possuem velas de cores
diferentes, geralmente roxa, vermelha, rosa, branca; outras, somente velas brancas; outras,
49
Em alguns casos, sobre o altar. (Cf. BECKHÄUSER, Alberto. Coroa de Advento: história, simbolismo e
celebrações. Petrópolis:Vozes, 2006. p. 28).
50
Algumas coroas do Advento são feitas como um arranjo, que possui como estrutura principal um galho seco
fixado em uma base na posição vertical. Este galho é ornamentado com flores, cujas cores da base ao alto
passam do roxo, ao lilás, ao róseo terminam com o branco. Nos galhos de forma ascendente se fixam as velas.
(Cf. EMARD, Jeanne. A arte floral a serviço da liturgia. São Paulo:Paulinas, 1999, p. 67-70). Outras coroas se
resumem em grandes e belos candelabros de quatro braços, onde se fixam as velas. Vide anexo VII.
29
vermelhas; e outras, ainda, conforme as cores litúrgicas do Advento, três velas roxas e uma
rosa
51
.
Normalmente, o acender da vela é feito dentro da celebração eucarística dos domingos
do Advento como um adendo, no qual se insere um pequeno ritual da coroa do Advento, mas
as velas podem ser acesas antes do início da missa. Dentro da celebração, é possível acendê-
las após a saudação inicial, tomando o lugar do ato penitencial. Outra maneira é acendê-las
em torno da proclamação do Evangelho
52
.
Da piedade popular, passemos agora à liturgia oficial. Para que compreendamos todo o
processo, iniciemos com a sua preparação.
2. A percepção do Ciclo do Natal em nossas liturgias.
Com a proximidade do mês de dezembro, as equipes responsáveis pela organização
litúrgica de nossas igrejas começam a se movimentar para a preparação de todo o Ciclo do
Natal. São feitas reuniões para planejar e aprontar com antecedência tudo o que será
necessário para que haja uma participação consciente, ativa e plena dos fiéis.
Estas reuniões, geralmente, são iniciadas por meio de um momento de oração. Depois,
os participantes fazem uma recordação e avaliação das celebrações do Ciclo do Natal do ano
anterior. Em seguida, estudam e refletem sobre o tempo litúrgico em questão. Aprofundam a
51
Cf. BECKHÄUSER, Alberto. Coroa de Advento... p. 26-27.
52
Cf. Idem. p. 29.
30
Palavra, apresentam sugestões criativas, elaboram roteiros, distribuem ministérios e pensam
em ações simbólicas oportunas
53
.
No Brasil, além dos livros litúrgicos, os responsáveis pela liturgia encontrarão um
vasto material de apoio, que poderá ser utilizado pelos responsáveis da organização
litúrgica
54
. Vejamos alguns deles.
2.1. Os subsídios usados no Ciclo do Natal.
Hoje em dia, é possível encontrar muito material para refletir, orientar e até conduzir
a liturgia do Ciclo do Natal
55
. Dentre estes, observemos mais especificamente alguns
exemplos.
Existem subsídios direcionados para as equipes de liturgia. Estes subsídios, de um
modo geral, procuram orientar as equipes de liturgia na preparação das celebrações. Além de
dar muitos esclarecimentos sobre o sentido do tempo litúrgico, no qual a celebração está
inserida, contêm roteiros para a reunião da equipe de liturgia e orientações de trabalho
56
.
Os livros de cantos são uma valiosa ferramenta de trabalho muito utilizada pelos
animadores do canto litúrgico. Estes contêm um grande repertório de músicas litúrgicas, que
53
No Brasil, de forma geral, este é o esquema adotado por muitas equipes responsáveis pela liturgia de nossas
comunidades. Este método, inclusive, é sugerido pelo guia litúrgico-pastoral da CNBB (cf. CNBB. Guia
Litúrgico-Pastoral. ed. Brasília, [s.d.], p. 105-120). Porém existem muitas dificuldades na organização de
nossas equipes de liturgia e equipes de celebração, nas quais ainda muita improvisação devido a falta de uma
boa formação litúrgica.
54
No Brasil, apesar das dificuldades de assimilação da renovação litúrgica, um considerável esforço para
aplicar a Constituição “Sacrosanctum Concilium” na realidade brasileira. Por isso, além de um grande número
de publicações de qualidade sobre liturgia, temos ótimos trabalhos de formação litúrgica em vários níveis, que
muito ajudam no desenvolvimento da liturgia neste país. (cf. RELATÓRIO do Seminário Nacional sobre a
Constituição sobre a Sagrada Liturgia. Mar. 2003. Brasília. Disponível em:
http://www.cnbb.org.br/index.php?op=pagina&chaveid=254.01sa0006 . Acesso em 11 de nov. 2007, 12:28:30).
55
Hoje em dia, além do material publicado pelas editoras católicas no formato de livros, nos deparamos com
número enorme de informações sobre a liturgia do Natal, que nos são transmitidas pela internet, televisão, rádio,
jornais e outros meios de comunicação ligados a Igreja católica.
56
Um exemplo deste tipo de subsídio para o Ciclo de Natal é o livro “Preparando Advento e Natal”. (cf.
BUYST, Ione. Preparando Advento e Natal. 2ª ed. São Paulo:Paulinas, 2004).
31
podem ser utilizadas de acordo com a celebração e com o tempo litúrgico
57
. Feita a seleção é
comum que seja produzido algum material ou utilizado algum meio de projeção para que a
assembléia possa acompanhar o canto.
Para a preparação das homilias, existem os roteiros homiléticos, que apresentam
comentários a respeito das leituras bíblicas das celebrações
58
.
Um instrumento de grande valia para as equipes de liturgia, no Brasil, é o Diretório de
Liturgia, publicado pela CNBB. Ele é uma referência para as paróquias, comunidades
católicas em todo o Brasil. Ele contêm prescrições e orientações oficiais da Conferência
Episcopal para a liturgia ao longo de todo o ano
59
.
Os folhetos ou os livretos litúrgicos são subsídios muito usados durante as
celebrações, para que a assembléia possa acompanhar a liturgia. Estes se apoiando-se nos
57
Temos várias experiências de livros de cantos no Brasil, que procuram selecionar cantos de estejam de acordo
com a reforma litúrgica do Vaticano II. Dentre muitos publicados, por várias editoras e dioceses, gostaria de
salientar a experiência do Hinário Litúrgico, aprovado pela CNBB, cujo primeiro fascículo contêm músicas para
o tempo do Advento e do Natal. Esta coleção opta preferencialmente por cantos com textos bíblicos. (Cf. CNBB.
Hinário Litúrgico. v.1: Advento, Natal, Ordinário da Missa. 5. ed. São Paulo:Paulus, 2003). Também digno de
nota é a experiência do livro Cantos e orações, que contêm um acervo de mil e quinhentas músicas que foram
sendo elaboradas lentamente no Brasil, entre estas, várias para o tempo do Advento e do Natal. (Cf. KOLLING,
Míria T.; PRIM, José Luiz; BECKHÄUSER, Alberto (Org.). Cantos e orações: Para a liturgia da missa,
celebrações e encontros. 69ª ed. Edição A. Petrópolis:Vozes, 2004).
58
Vale a pena citar alguns roteiros homiléticos, que são amplamente usados na preparação das liturgias
dominicais do Tempo do Advento e do Natal. A revista vida pastoral possui, em todas as suas edições, roteiros
homiléticos das celebrações dominicais. Basicamente faz o comentário das leituras separadamente e indica
algumas pistas para reflexão. (Cf. VIDA pastoral - revista bimestral para sacerdotes e agentes de pastoral. São
Paulo:Paulus v.46, n.245, nov-dez 2005). A CNBB através das Edições Paulinas e da Editora Paulus publicou
subsídios para auxiliar as homilias e celebrações dominicais. Esta publicação preocupa-se primeiramente em
situar o leitor contexto do ano litúrgico, depois faz um comentário sobre as leituras, para depois atualizá-la e
ligá-la com a ação eucarística. Logo depois são dadas sugestões para a celebração. (Cf. CNBB. O Tempo se
completou e o Reino de Deus está próximo: Convertei-vos e crede no evangelho: Roteiros Homiléticos do
Tempo do Advento, Natal e primeira parte do Tempo Comum – Ano B. 1ª ed. São Paulo:Paulinas; São
Paulo:Paulus, 2005). Mais especificamente para a celebração da Palavra de Deus nos dias de domingo, o
subsídio Dia do Senhor, também se preocupa em situar o leitor no tempo litúrgico, em que a celebração se
insere. Apresenta roteiros para a celebração da Palavra de Deus, com sugestões de músicas e comentários das
leituras. (Cf. GUIMARÃES, Marcelo; CAMPANEDO, Penha. Dia do Senhor: guia para as celebrações das
comunidades – Ciclo do Natal ABC. v. 1. São Paulo:Paulinas, 2002).
59
Cf. CNBB. Diretório da Liturgia: e da organização da Igreja no Brasil 2007 Ano C - São Mateus. Brasília,
2006.
32
livros litúrgicos oficiais, apresentam em forma de folheto ou livreto propostas de celebrações
litúrgicas
60
.
A partir do conhecimento de como são preparadas nossas liturgias e de apreciar alguns
subsídios tipicamente utilizados nesta preparação, observemos a vivência de algumas
experiências litúrgicas.
2.2. A vivência do Ciclo do Natal em nossas assembléias litúrgicas.
Após todo este preparo, as nossas assembléias começam a vivenciar o Ciclo do Natal
por meio do Tempo do Advento, que inicia um novo ano litúrgico
61
.
no primeiro domingo do Advento, podemos ver em muitas igrejas, presépios,
árvores de natal enfeitadas com luzes coloridas e com muitos outros adereços que atraem
para dentro do espaço celebrativo um pouco dos enfeites de Natal vistos na sociedade e
amplamente vendidos no comércio.
No presbitério, contrastando com o vermelho, o verde e o dourado dos enfeites, vemos
a cor roxa adornando as toalhas e os paramentos. Neste mesmo local é comum vermos a
coroa do Advento com as suas quatro velas, que nos lembram a espera do Natal
62
.
60
Existem folhetos litúrgicos publicados pelas próprias dioceses, como por exemplo, o folheto “Povo de Deus”
da Arquidiocese de São Paulo; e folhetos publicados por editoras católicas, como por exemplo, o folheto “O
Domingo” da editora Paulus. Além dos folhetos voltados especialmente para as celebrações eucarísticas
dominicais, temos os livretos litúrgicos que contêm as celebrações eucarísticas para todos os dias do Ano, como
por exemplo o livreto “Deus Conoscoque é uma publicação de várias editoras católicas. Existem ainda, entre
outros, folhetos voltados para as missa com crianças e folhetos para a celebração da Palavra e o livreto da
Liturgia das Horas.
61
Existe também muita improvisação, e as equipes de liturgia e de celebração, muitas vezes, se limitam a
distribuir funções.
62
Conforme a instrução geral sobre o missal romano, o roxo é a cor usada no Advento e pode-se usar a cor rosa
no domingo Gaudete (3º domingo do Advento). (cf. INSTRUÇÃO geral sobre o missal romano. In: AS
INTRODUÇÕES gerais dos livros litúrgicos. 2ª ed. São Paulo:Paulus, 2003, n. 308).
33
Juntamente com o Tempo do Advento, inicia-se no Brasil a Campanha para a
Evangelização, que se estende até o terceiro domingo do Advento
63
. Normalmente, antes ou
depois das celebrações, são distribuídos folhetos sobre a campanha e durante a celebração
faz-se uma motivação para a participação de todos.
As paróquias, motivadas por este tempo de preparação, realizam celebrações
penitenciais, onde a comunidade tem a oportunidade de rever as suas atitudes e receber o
sacramento da penitência antes da solenidade do Natal
64
.
Nas casas religiosas, nos seminários, em comunidades ou mesmo particularmente se
celebra diariamente a Liturgia das Horas, que ao longo do dia nos convida à espera da
chegada do Senhor.
Nas missas semanais e dominicais do Tempo do Advento, a assembléia litúrgica
procura celebrar este período de preparação, apesar da agitação da sociedade.
As primeiras vésperas do Natal do Senhor na Liturgia das Horas anunciam a chegada
do Tempo do Natal, em que celebramos alegremente a presença do Salvador em nosso meio.
Antecipando-se em muitas Igrejas o horário da meia-noite, celebra-se ainda na noite
do dia vinte e quatro de dezembro a Solenidade do Natal do Senhor
65
. Com boa parte da
comunidade presente, com alegres refrões e toques de sinos, quebra-se a singeleza do
Advento e o júbilo toma conta de todas as pessoas.
63
Esta campanha, além de conscientizar da importância das atividades evangelizadoras, visa arrecadar fundos
para a evangelização. A coleta é feita no terceiro domingo do Advento. (cf. CNBB. Diretório da Liturgia: e da
organização da Igreja no Brasil 2006 – Ano B - São Mateus. Brasília, 2005, p. 173).
64
No Ritual da Penitência, existe uma celebração penitencial especifica para o tempo do Advento (cf. RITUAL
da penitência.Tradução portuguesa para o Brasil da segunda edição típica do Ritual Romano renovado por
decreto do Concílio Vaticano II, promulgado por autoridade do Papa Paulo VI. São Paulo:Paulus, 1999, p. 204-
213).
65
Cf. BORGA, Juliana. Espírito Natalino. Revista família cristã. São Paulo:Paulinas. v. 72, n. 840, dez. 2005, p.
30.
34
Com muita criatividade, a comunidade procura expressar na celebração toda a sua
alegria. Geralmente, em algumas celebrações, realizam-se dramatizações do nascimento de
Cristo, em outras, a imagem do menino Jesus é solenemente colocada no presépio, ao som de
tradicionais canções natalinas
66
.
Ao final da celebração, todos se abraçam e trocam votos de um Feliz Natal, antes de
comemorar em suas casas
a festividade natalina conforme o seu costume
67
.
Durante o dia de Natal, em boa parte das paróquias acontecem celebrações
eucarísticas, para que todos tenham a oportunidade de celebrar a chegada do Salvador.
As celebrações pós-natalinas de certa forma perdem um pouco do seu vigor devido a
um certo clima de férias e relaxamento que toma conta de todos
68
.
Mesmo assim, realizam-se com grande alegria e criatividade as celebrações da oitava
do Natal, inclusive a Festa da Sagrada Família no domingo dentro da oitava de Natal.
Na véspera de Ano Novo, é comum se celebrar antes da meia noite a Solenidade da
Mãe de Deus, agradecendo pelo ano que passou e pedindo bênçãos e graças para o ano que
está chegando, sobre a intercessão da Virgem Maria. Durante o dia primeiro de janeiro
acontecem celebrações com as mesmas intenções.
No Brasil, a festa da Epifania é transferida para o domingo entre os dias dois e oito de
janeiro, é mais conhecida como “A Festa de Reis”. Nesta celebração, é anunciado o dia da
Páscoa.
66
No Brasil, de acordo com a cultura local, normalmente alguns gestos e expressões são utilizadas na liturgia.
(cf. MELO, José Raimundo. Preparando as pessoas para a missa. Mensageiro do coração de Jesus. São
Paulo:Loyola. v. 112, n. 1246, dez. 2006, p. 6).
67
Nas celebrações de muitas de nossas comunidades, as pessoas costumam se saudar ou despedir-se de modo
caloroso e fraternal. Em alguns casos, como nas missas da Páscoa e do Natal, o presidente da celebração chega a
transferir a saudação da paz, prevista para o rito da comunhão, para depois dos ritos finais, para se evitar o
tumulto durante a celebração.
68
Cf. BOGAZ, Antônio Sagrado. Natal festa de luz e de Alegria... p. 42.
35
Encerra-se o Ciclo do Natal com a festa do Batismo do Senhor no domingo depois do
dia 6 de janeiro.
3. O objeto do Ciclo do Natal
Até o presente momento, pudemos contemplar a complexidade de elementos que estão
envolvidos ao redor do Natal, mesmo tendo-se como objeto de análise uma realidade
específica
69
.
Muitos outros elementos podem ser somados a esta análise, se o foco for ampliado
para uma realidade mundial, na qual o Natal está inserido.
Para este trabalho, basta-nos observar que na sociedade moderna foi agregado ao Natal
todo um universo cultural e simbólico, que ora assume um caráter regional, ora assume
dimensões globais. Universo que, muitas vezes, é alheio a liturgia e quase sempre é
impulsionado por interesses econômicos ou particulares.
Hoje em dia, é difícil definir quais destes elementos realmente ajudam uma vivência
genuína do Ciclo do Natal e quais distorcem, desviam ou até mesmo manipulam o seu
sentido.
Por outro lado, esta questão nos chama a olhar de modo mais crítico os elementos, que
hoje em dia agregamos as nossas celebrações natalinas ou que de certa maneira estão ligados
à liturgia do Ciclo do Natal.
Baseando-se em cantos presentes em nossas liturgias, que em seus refrões nos dizem
“Se Deus põe todo o seu amor divino* no coração assim de uma criança,* nas mãos fofinhas
69
Neste caso, os elementos mais significativos da realidade do Ciclo do Natal dentro do contexto cultural do
povo brasileiro.
36
deste Pequenino* vou pôr meu ser, vou pôr minha esperança!”
70
, ou mesmo tendo-se em
conta a importância que damos ao presépio dentro de uma celebração eucarística do Natal do
Senhor; o que diria o povo cristão ao ser interrogado com a seguinte pergunta: “O que
celebramos durante o Ciclo do Natal, que se estende do primeiro domingo do Advento até a
festa do Batismo do Senhor? Sem dúvida nos seria respondido sem a mínima hesitação:
“Festeja-se o nascimento de Jesus Cristo”. Ao darem esta resposta, nas mentes destas pessoas,
com certeza, estaria presente a figura daquele bebezinho de Belém em uma manjedoura,
rodeado de animais e pastores, com os magos lhe trazendo presentes, como estamos
acostumados a representar de tantas maneiras
71
.
A maioria das pessoas se detém somente no “menino Jesus” da manjedoura, nos
pastores, nos magos, enfim no nascimento. Deste modo cria-se na noite, no dia e no período
do Natal uma atmosfera de ingênua devoção a um fato isolado da vida de Jesus
72
.
Mas será que a liturgia do Ciclo do Natal resume-se a isto?
Para respondermos a esta interrogação, ainda nos faltam muitos elementos, que
confirmem a nossa resposta.
Neste ponto, precisaremos entrar no estudo do eixo central deste trabalho, ou seja, “o
mistério pascal”. Este estudo nos dará base para que em um segundo momento possamos
realmente comprovar a sua importância na liturgia do Natal. Pois é através dele, e somente
através dele, que poderemos responder satisfatoriamente a questão sobre o sentido litúrgico do
Ciclo do Natal.
70
Cf. KOLLING, Míria T.; PRIM, José Luiz; BECKHÄUSER, Alberto (Org.). Cantos e orações... n. 58, p.29.
71
Cf. JEAN-NESMY, Claude. Espiritualidade de Natal. São Paulo:Paulinas, 1966, p. 11.
72
Cf. Ibidem.
37
CAPÍTULO II
O MISTÉRIO PASCAL
1. O centro da liturgia: o mistério pascal.
O Concílio Ecumênico Vaticano II, através da constituição Sacrosanctum Concilium,
sancionou a recuperação de um conceito de grande profundidade teológica, que se tornou
essencial para a teologia e espiritualidade litúrgica pós-conciliar: o mistério pascal
73
.
Apesar desta expressão pertencer muito tempo ao vocabulário cristão
74
, o
movimento litúrgico
75
promoveu a redescoberta do termo, que posteriormente foi reafirmado
e consagrado pela Sacrosanctum Concilium
76
, que o colocou como base de sua reflexão
teológica
77
.
73
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade: Introdução teológica à liturgia. v. 1. Petrópolis:Vozes,
1996, p. 138.
74
Segundo Pedro Sorci, o termo mistério pascal “encontra-se pela primeira vez, e com notável freqüência, na
homilia sobre a páscoa de Melitão de Sardes descoberta por C. Bonner em 1936. no exórdio da homilia, que
pode ser datada entre 165 e 185, Melitão afirma que ‘novo e antigo, eterno e temporário, perecível e imperecível,
mortal e imortal é o mistério da páscoa’” (SORCI, Pedro. Mistério Pascal. In: SARTORE, Domenico;
TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia. ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 772). O texto acima
mencionado pode ser encontrado em : De Pascha (PL 54, 493-494).
75
“No início do século XX, inicia-se uma grande cruzada de reforma e renovação litúrgicas na Igreja do
Ocidente. Trata-se do assim chamado ‘movimento litúrgico’, que teve sua pré-história no período do Iluminismo
(século XVIII) e da restauração católica (século XIX).” (SILVA, José Ariovaldo da. O Mistério celebrado ao
longo dos tempos Panorama histórico geral da liturgia. São Paulo:Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção – Curso de Especialização em Liturgia, 2005, mimeografado, p. 52).
76
A Constituição Sacrosanctum Concilium (SC), procurou reformar e incrementar a liturgia. Foi o primeiro
documento do Concílio Ecumênico Vaticano II solenemente promulgado em 04 de dezembro de 1963.
77
Cf. SORCI, Pedro. Mistério Pascal.... p. 771.
38
A Constituição sobre a sagrada liturgia, situa e propõe a obra redentora de Cristo
como cumprimento antitípico da libertação e da aliança, que a páscoa veterotestamentária
tipologicamente significava e preparava. Ela atribui a este evento o lugar central, que a
páscoa ocupava na história salvífica do Antigo Testamento e declara que este evento constitui
o mistério pascal cristão, que por via mistérica, através de ritos memoriais é participável a
todos os homens e mulheres das gerações futuras
78
.
Portanto, “o mistério pascal ou paschale sacramentum, em sua acepção litúrgica,
bíblica (paulina) e patrística, refere-se essencialmente a Cristo e à sua obra de redenção
humana efetuada principalmente pela sua paixão, morte, ressurreição, ascensão e doação do
Espírito Santo”
79
. Mas não apenas como um fato histórico acontecido em um momento
concreto da história. “O mistério pascal indica nossa recepção da vida divina, da humanidade
vivificada e vivificante do Cristo glorioso, que nos faz passar da morte para a vida por meio
dos sacramentos”
80
, conforme podemos observar no artigo 6 da Sacrosanctum Concilium:
Portanto, assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou
os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não para pregarem o Evangelho a
toda criatura, anunciarem que o Filho de Deus, pela Sua morte e
ressurreição, nos libertou do poder de Satanás e da morte e nos transferiu
para o reino do Pai, mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a
obra da salvação através do Sacrifício e dos Sacramentos, sobre os quais gira
toda a vida litúrgica. Assim pelo Batismo os homens são inseridos no
mistério pascal de Cristo: com Ele mortos, com Ele sepultados, com Ele
ressuscitados; recebem o espírito de adoção de filhos, “pelo qual clamamos:
Abba, Pai” (Rom 8,15), e assim se tornam os verdadeiros adoradores
procurados pelo Pai. Da mesma forma, toda vez que comem a ceia do
Senhor, anunciam-Lhe a morte até que venha. Por este motivo, no próprio
dia de Pentecostes, no qual a Igreja apareceu ao mundo, “os que receberam a
palavra” de Pedro “foram batizados”. E perseveravam na doutrina dos
Apóstolos, na comunhão da fração do pão e nas orações, louvando a Deus e
cativando a simpatia de todo o povo” (At 2,41-42.47). Nunca, depois disto, a
Igreja deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo “tudo
quanto a Ele se referia em todas as Escrituras” (Lc 24,27), celebrando a
Eucaristia, na qual “se torna novamente presente a vitória e o triunfo de Sua
morte” e ao mesmo tempo, dando graças “a Deus pelo dom inefável” (2Cor
78
Cf. Ibidem. p. 772.
79
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. v. 1... p. 138.
80
Ibidem. p. 138-139.
39
9,15) em Jesus Cristo, “para louvor de sua glória” (Ef 1,12), pela força do
Espírito Santo
81
.
A reforma litúrgica do Concílio Ecumênico Vaticano II afirma ainda que até na
Liturgia das Horas se celebra na sua unidade e globalidade o mistério pascal
82
.
Por meio de sua Igreja, Cristo exerce “a obra da redenção humana e da
perfeita glorificação de Deus” no Espírito Santo. E isto, o somente na
celebração da Eucaristia e na administração dos sacramentos, mas também, e
de preferência a outras formas, na celebração da Liturgia das Horas. Nela
Cristo está presente quando a assembléia está reunida, quando é proclamada
a palavra de Deus e quando a Igreja ora e salmodia
83
.
Deste modo, podemos compreender que o mistério pascal, a partir do Concílio
Ecumênico Vaticano II, é colocado como fundamento e chave interpretativa de todo o culto
cristão
84
.
Assim direcionados, procuremos analisar mais detalhadamente o significado deste
conceito, para que posteriormente possamos compreender a maneira como ele é expresso na
liturgia.
81
SC. n. 6.
82
Cf. SORCI, Pedro. Mistério Pascal... p. 783.
83
INSTRUÇÃO geral sobre a liturgia das horas. In: OFÍCIO divino. Tradução para o Brasil da segunda edição
típica da Liturgia das Horas segundo o rito romano, renovado conforme o decreto do Concílio Vaticano II e
promulgado pelo Papa Paulo VI. v.1: Tempo do Advento e Tempo do Natal. Petrópolis:Vozes, 1995, n. 13.
84
Cf. SORCI, Pedro. Mistério Pascal... p. 772.
40
2. A expressão mistério pascal
2.1. O mistério
Para chegarmos a uma compreensão adequada do que é o mistério pascal, é
importante primeiramente aprofundarmos o conceito mistério.
2.1.1. O uso cúltico no mundo grego antigo.
A palavra mistério traduz a latina mysterium e a grega mysterion. Etimologicamente,
musth/rion
musth/rion musth/rion
musth/rion (mysterion) deriva da raiz comum aos verbos gregos mýo e myéo e ao substantivo
mystes
85
. O verbo mýo expressa o significado de estar fechado ou fechar-se, mas somente em
relação a algo que pode ser aberto; algo oculto que pode ser revelado
86
. O verbo eo possui
o sentido de iniciar, e o substantivo mystês, o de iniciador, mistagogo. Esse termo surgiu no
âmbito das religiões dos mistérios, que remontam ao século VI a.C.
87
.
Os cultos mistéricos se tornaram muito populares no mundo romano e helenístico: eles
iam ao encontro da sede religiosa, que surgia devido à decadência da religião clássica. Além
do mais, os elementos estrangeiros e exóticos presentes em quase todos os mistérios
suscitavam a curiosidade de muitos
88
.
Os cultos mistéricos apresentam elementos comuns. O rito essencial em todos eles é a
renovação ritual do mito, que está presente eternamente em virtude dessa renovação. Todos
eles são cultos da natureza, que visam integrar os participantes ao ciclo de renovação da vida.
Eles não se baseiam em acontecimentos históricos, mas em acontecimentos que se repetem no
85
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. v. 1... p. 139.
86
Cf. BECKHÄUSER, Alberto. Os fundamentos da Sagrada Liturgia. Petrópolis:Vozes, 2004, p. 37.
87
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. v.1... p. 139.
88
Cf. MCKENZIE, John L. Mistério. In: Dicionário Bíblico. 5ª ed. São Paulo:Paulus, 1983, p. 618.
41
ciclo. São esforços para fazer jus à vida, fortalecê-la e prolongá-la e, em alguns casos, para
além da morte. Algo comum a todos eles é o ritual de iniciação e o avanço por vários graus de
purificação até ser alcançada a perfeição
89
.
Vários estudiosos afirmaram que o cristianismo apresenta muitas semelhanças com os
cultos mistéricos, a ponto de sugerirem certa dependência em relação a eles, sem, contudo,
comprometerem a originalidade do cristianismo.
Uma análise madura desses fatores, geralmente, conduziu os estudiosos a
abandonarem a teoria da dependência em relação aos mistérios, passando a ver o cristianismo
mais como um movimento formal e explícito contra os cultos mistéricos. Em sua concepção
do acontecimento salvífico, o cristianismo é histórico e não mítico
90
.
“De todo modo, deve-se reconhecer que o uso neo-testamentário do termo ‘mistério’
deve ser entendido diversamente daquele que parece ter sido o significado comum da palavra
no mundo do AT; o NT revestiu o termo de um novo significado”
91
.
2.1.2. No Antigo Testamento
No Antigo Testamento, na versão grega da Setenta
92
, o termo é usado duas vezes a
propósito de cultos mistéricos
93
e várias vezes no sentido de algo secreto
94
.
Em Tb 12,7 e Jt 2,2 adquire o sentido de plano ou a decisão do rei: este significado
certamente se reflete no uso paulino do termo. Também apresenta reflexos no Novo
89
Cf. Ibidem. p. 618-619.
90
Cf. Ibidem. p. 619-620.
91
Ibidem. p. 620.
92
Em latim: Septuaginta. Nome comumente dado à versão do hebraico para o grego do AT feito no período pré-
cristão. (Cf. MCKENZIE, John L. Setenta. In: Dicionário Bíblico. 5ª ed. São Paulo:Paulus, 1983, p. 874).
93
Cf. Sb 14, 15.23.
94
Cf. Eclo 22,22; 27,16,17.21; 2Mc 13,21.
42
Testamento a maneira como o termo é usado em Sb 2,22, no qual adquire o sentido de
projetos salvíficos de Deus
95
.
Ainda no Antigo Testamento, “o termo aparece em Dn 2,18ss.27-30; 4,6 para indicar o
significado secreto de um sonho, que Deus revela a Daniel”
96
.
2.1.3. No Novo Testamento
No Novo Testamento, o termo aparece 28 vezes, sendo três nos Evangelhos
Sinóticos
97
designando a realidade do Reino de Deus escondida da massa, mas revelada aos
eleitos; quatro vezes no Apocalipse
98
; e o resto na literatura Paulina
99
.
Nas cartas de Paulo ele assumirá uma posição central para indicar o evento salvífico
de Cristo
100
.
Paulo, para falar do mistério, se utiliza de locuções que têm significados afins. Fala do
mistério (Rm 16,25), do mistério de Deus (Cl 2,2), do mistério de Cristo (Cl 4,3; Ef 3,4), do
mistério da bondade divina (1Tm 3,16) ou do mistério do Evangelho (Ef 6,19)
101
.
A doutrina paulina a este respeito, pode ser resumida na afirmação de que o mistério é
a vontade salvífica de Deus e o seu admirável desígnio de salvação, cujas linhas estão
concentradas e centralizadas em Cristo. Este desígnio, que provém de Deus desde toda a
eternidade, foi manifestado de forma plena em Cristo; dele consignou o anúncio oficial aos
95
Cf. MCKENZIE, John L. Mistério... p. 620.
96
Ibidem.
97
Cf. Mc 4,11; Mt 13,11; Lc 8,10.
98
Em Ap 1,20; 17, 5-7, o termo mistério é usado como em Daniel, indicando um símbolo um símbolo que exige
ser interpretado. Em Ap 10,7 o termo parece ser usado em sentido paulino. (Cf. MCKENZIE, John L. Mistério...
p. 621).
99
Cf. MARTÍN, Julián López. No Espírito e na verdade. v. 1... p. 140.
100
Cf. NEUNHEUSER, Burkhard. Mistério. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 757.
101
Cf. AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. 1ª ed. São Paulo:Ave Maria, 2002, p. 42.
43
astolos: “lendo-me, podeis compreender a perceão que tenho do misrio de Cristo. Às
gerações e aos homens do passado este Misrio não foi dado a conhecer, com foi agora revelado
aos seus santos astolos e profetas, no Espírito” (Ef 3,4-5), para que os mesmos pregassem o
Evangelho, despertassem a em Jesus como Cristo e Senhor e congregassem a Igreja. Os
escritos no Novo Testamento o testemunho perene e divino destas coisas (cf. DV, n.17)
102
.
O mistério se manifesta como uma economia, uma ordenação ou disposição temporal da
salvão. O mesmo se diz das etapas sucessivas pelas quais se consolida o plano divino: a vinda
ao mundo do Filho de Deus, o tempo da Igreja, a consumação final. Portanto, o misrio é um
dinamismo no qual são envolvidos todos os que dele o investidos (cf. Cl 2,2; Ef 1,17ss;
3,18s)
103
.
Em Cl 1,27, a fórmula Cristo em s expressa o conteúdo do mistério que consiste
na inabitação de Cristo crucificado e glorificado nos gentios. Em Ef 3,4ss, o mistério é a
admissão dos gentios, na herança, no corpo da Igreja, na promessa de Cristo. Tudo se
resume e se aperfeiçoa em Cristo (cf. Ef 1,9.10)
104
.
Assim, no Novo Testamento, mysterion significa um objeto de revelação
105
. Na
grande maioria das citações, “a verdade conhecida somente pela revelação é constituída pelo
plano e a decisão de Deus de salvar todos os homens, judeus e gentios, por meio da morte de
Jesus Cristo. Concretamente, o próprio Jesus pode ser considerado como o mistério”
106
.
102
Cf. Ibidem.
103
Cf. Ibidem.
104
Cf. Ibidem.
105
Cf. MCKENZIE, John L. Mistério... p. 621.
106
Ibidem.
44
2.1.4. Nos escritos dos Padres da Igreja
O termo grego mysterion é utilizado no período pós-apostólico e na época patrística.
Os Padres apostólicos o utilizam raramente. Já os Padres apologistas tornam-no um conceito
de grande importância para a teologia da liturgia devido às controvérsias com a gnose
107
e a
religiosidade mistérica
108
.
Em resumo, mysterion indica ações salvíficas, especialmente figuras (typoi), eventos e
pessoas veterotestamentárias de caráter tipológico, que aludem à futura realização ou
cumprimento em Jesus Cristo e à sua obra redentora. A escola alexandrina indica também as
verdades da religião cristã relativas à salvação em Cristo e aos próprios sacramentos. Mistério
é o conceito, que abrange tanto a ação salvífica (de Deus em Cristo), bem como o seu aspecto
cultual
109
.
Diante disso, mesmo reconhecendo a distância entre esta salvação realizada por Deus
e os cultos mistéricos helenistas, é preciso levar em consideração o paralelismo
110
.
Orígenes considera toda a história da salvação como um mistério. No typos do Antigo
Testamento, Deus opera a salvação; por meio da vida, morte e ressurreição de Cristo, realiza-
107
“Por gnose, em geral, as modernas pesquisas entendem uma forma particular de conhecimento que tem por
objeto os mistérios divinos e é reservada a um grupo de eleitos; com esta veste, pode ser encontrada em
correntes religiosas e filosóficas diversas e disseminadas no tempo e no espo (sobre a gnose como
conhecimento filofico no mundo antigo cf. R. Mortley, Gnosis, I). Desta forma de gnose se distingue pela
modalidade, objeto, escopos, a gnose do gnosticismo, um movimento religioso surgido no séc. I dC, mas que
nós conhecemos através de ampla documentação direta (cf. Nag Hammadi) e indireta (cf. Hereslogos),
sobretudo em seu peodo de florescimento durante o c. II dC. A gnose do gnosticismo é uma forma de
conhecimento religioso que tem por objeto a verdadeira realidade espiritual do homem. Transmitida por um
revelador-salvador e garantida por uma particular tradição esotérica, ela está em condões de per si de salvar
quem a recebe. Em geral a didaskalia ou instrução gnóstica, pela qual o adepto é iniciado, funda-se na
transmissão de uma narração mítica, que tem o escopo de responder às interrogações existenciais próprias de
cada gnóstico: "quem somos, que coisa nós nos tornamos; onde estamos, donde fomos precipitados; para
onde tendemos, onde seremos purificados; que coisa é a geração, que coisa é a regeneração" (FILORAMO,
Giovanni. Gnose/Gnosticismo. In: BERARDINO, Angelo Di (org.). Dicionário Patrístico e de Antiguidades
Cristãs. Petrópolis:Vozes; São Paulo:Paulus, 2002, p. 624.
108
Cf. NEUNHEUSER, Burkhard. Mistério... p. 758.
109
Cf. Ibidem.
110
Cf. Ibidem.
45
a; e mediante a Palavra e os ritos cultuais da Igreja, comunica-a até que a manifestação clara
da realidade de Deus, que está por trás de cada um dos mistérios, encontre cumprimento
escatológico
111
.
Para Gregório de Nissa, no sentido paulino, o mistério é a ação salvífica de Deus em
Cristo precisamente na sua tríplice gradação: AT-Cristo-Igreja. No sentido geral, é a realidade
salvífica oculta sob o sinal, símbolo ou typos externo, tanto nas formas históricas do AT e do
NT, quanto na sua reprodução cultual, destinada a comunicar aos fiéis a participação na
própria ação salvífica reproduzida
112
.
De modo geral, para o Padres Gregos, mistério significa a ação salvífica de Deus em
Cristo e a sua reprodução comunicadora de salvação para o crente através do rito
113
.
O termo latino mysterium, tomado do grego, já é conhecido desde os tempos de
Cícero; aí, porém, ele perdeu o seu significado cultual e no ambiente cristão passou a indicar a
verdade revelada e a prefiguração (typos) veterotestamentária. Considerando, no entanto, que
de alguma maneira ele continua a recordar os ritos pagãos, na primeira formação de um latim
cristão se preferência ao termo sacramentum
114
como tradução latina do termo grego.
Tertuliano preferencialmente o utiliza, mesmo não sendo o autor dessa tradução. Partindo do
significado bíblico, o termo assume uma rica variedade de sentidos: no plano litúrgico
significa sacrifício e rito sagrado e de modo especial indica o batismo; no plano mais
abstrado, significa o typos de AT, a revelação do NT, isto é, a salvação operada em Cristo, a
111
Cf. Ibidem.
112
Cf. Ibidem.
113
Cf. Ibidem.
114
“Etimologicamente, sacramentum exprime uma coisa religiosa (sacer), em seguida adquire um matiz jurídico.
Os dois elementos (laço sagrado e jurídico) se encontram em sacramentum, que, por isto, significa “uma
iniciação confirmada por um juramento”. Designa sobretudo a iniciação ao serviço militar e o próprio serviço
militar. Empregado no contexto batismal, o termo expressa ao mesmo tempo o alistamento a serviço de Cristo, o
juramento de iniciação que sela o compromisso tomado e, enfim, o próprio rito iniciático, onde sacramentum
coincide com o mysterion grego.” (HAMMAN, Adalbert. Sacramento. In: BERARDINO, Angelo Di (org.).
Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs... p. 1241.
46
religião cristã, uma verdade escondida. Pouco a pouco, porém, a sutis distinções entre o
mysterion grego e a sua tradução latina sacramentum foram desaparecendo completamente
115
.
Santo Agostinho, em sintonia com a escola alexandrina e com os Padres gregos, por
causa de sua formação neoplatônica, no sacramentum um rito sagrado, um sinal sagrado
visível de uma realidade invisível, porém, baseado numa semelhança com essas realidades das
quais são sacramento
116
. Com isso, Santo Agostinho, liga-se à antiga noção de mysterion: os
sacramentos são sinais que remetem sempre à realidade salvífica de Cristo
117
.
Os acontecimentos do Antigo Testamento são sacramentos da obra de
salvação de Jesus Cristo e de sua paixão e morte, embora num plano pré-
figurativo. Os ritos cristãos o são também, mas num plano de cumprimento e
ao mesmo tempo de promessa de plenitude escatológica. O sacramento
contém sempre a realidade que significa, expressa pelas palavras de Cristo
transmitidas pela Igreja, de maneira que é o próprio Cristo que age no sinal e
lhe comunica seu poder salvífico
118
.
São Leão Magno possui uma apreciação idêntica em relação ao mistério salvífico. Ele
em, suas homilias, mostra com insistência a dimensão atualizadora do sinal que o evoca. A
celebração faz reviver o acontecimento salvífico
119
.
O grande pontífice joga com as palavras sacramentum, e mysterium no
singular e no plural, para expressar tanto os acontecimentos salvíficos
históricos quanto sua celebração litúrgica, a obra da redenção no desígnio
divino e em sua realização histórica, a realidade escondida nos sinais e os
próprios sinais, a celebração, o rito e a festa. O mistério-sacramento do
desígnio salvífico de Deus foi confirmado nos acontecimentos do Antigo
Testamento, os quais, por sua vez, são sacramentos da ação salvífica de
Cristo e de todos os seus mistérios. Estes se fazem presentes nos
sacramentos da Igreja e santificam os fiéis. A mesma da Igreja,
transmitida como doutrina, e a vida moral que deriva como uma exigência da
celebração litúrgica, são também mistério-sacramento
120
.
115
Cf. NEUNHEUSER, Burkhard. Mistério... p. 758.
116
Em latim: sacrum signum, sacrae rei signum, invisiblis gratiae visibilis forma.
117
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. v. 1... p. 142.
118
Ibidem.
119
Cf. Ibidem.
120
Ibidem.
47
Todo este leque de aceões passou para os textos antigos da liturgia romana e
atualmente o Missal Romano contém o que de mais significativo nesse rico patrimônio
eucológico em torno do conceito mistério
121
.
2.2. A páscoa
Passemos agora para o adjetivo pascal que especifica o conteúdo de mistério. Este
termo, que quer dizer o mesmo que a expressão da páscoa, encerra também uma
extraordinária riqueza
122
.
2.2.1. Origem da festa da páscoa.
A festa da páscoa possui raízes muito antigas e complexas. Estas raízes devem ser
buscadas em duas festas relacionadas com a vida natural: a da imolação dos cordeiros na
primavera (rito próprio dos pastores nômades que oferecem a Deus as primícias do seu
rebanho) e a festa dos pães ázimos (rito próprio dos povos agrícolas, sedentários que
oferecem a Deus as primícias de suas colheitas)
123
.
Na primavera, no mês de abib depois de nisan, na noite imediatamente anterior à
partida para as pastagens de verão, os pastores imprimiam cunho solene ao começo do novo
ano com a festa da imolação dos cordeiros. À luz da lua cheia, imolavam-se os primeiros
animais nascidos do rebanho, cujo sangue era usado com finalidade apotropaica e
propiciatória para proteger os pastores e o rebanho de influências demoníacas, ao passo que a
carne era consumida em uma refeição cultual
124
.
121
Cf. Ibidem. p. 142.
122
Cf. Ibidem. p. 143.
123
Cf. ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. Petrópolis:Vozes, 2002, p. 46.
124
Cf. SORCI, Pedro. Mistério Pascal... p. 774.
48
A festa dos pães ázimos, uma festa também de primavera, celebrava o início solene da
colheita considerada sagrada. A característica era a oferta do primeiro feixe a Deus, e o
comer, durante uma semana inteira, pão não fermentado da nova colheita da cevada
125
.
Conservando as características destes ritos, no mesmo marco da primavera, o povo de
Israel acrescenta o sentido da libertação e saída do Egito, ou seja, o êxodo e a aliança com
Javé no monte Sinai. As festas relacionadas com a vida natural convertem-se em um
memorial perpétuo da salvação operada por Deus em favor de seu povo. O conteúdo da
Páscoa é, deste modo, enriquecido. O textos de Ex 12 e Dt 16 supõe a fusão de todos os
elementos, antigos e novos; naturais e salvíficos
126
.
2.2.2. A palavra páscoa
O vocábulo “páscoa” parece assumir nuances específicas.
A palavra páscoa, em grego pa
papa
pa&
&&
&s
ss
sx
xx
xa
aa
a (pascha), que procede do hebraico ‰µ“¶P (pesah),
parece significar “coxear, saltar, passar por cima”; talvez uma alusão a algum salto ritual e
festivo dos povos mais primitivos, mas que passou a referir-se ao fato de que Javé “passou
adiante das casas dos israelitas no Egito” (Ex 12,27), na última praga infligida aos egípcios.
Mais tarde passou a referir-se à passagem do Mar Vermelho e à travessia da escravidão à
liberdade
127
.
“No Antigo Testamento e na literatura judaica em geral, páscoa designa tanto a festa
celebrada entre os dias 14 e 15 de Nisã (cf. Ex 12, 11; Nm 9,2; Ez 45,21) quanto o animal
sacrificado nela (cf. Ex 12,5.21; Dt 16,2), e a celebração dos ázimos, que durava sete dias (cf.
Lv 23, 6-8)”
128
.
125
Cf. Ibidem.
126
Cf. ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia... p. 46.
127
Cf. Ibidem. p. 46.
128
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. v. 1... p. 144.
49
No Novo Testamento, a palavra pascha designa, sobretudo, a festa da páscoa e dos
ázimos, conjuntamente (cf. Mt 26,2; Lc 2,41; 22,1; Jo 2,13.23; 6,4; 11,55; etc.; At 12,4),
apenas a páscoa (cf. Mt 26,18; Mc 14,1; Hb 11,28) e naturalmente o cordeiro pascal (cf. Mt
26,7.19; Mc 14,12.14.16; Lc 22,7s; Jo18,28; 1Cor 5,7)
129
.
Apenas em 1Cor 5,7, tem um significado nitidamente cristão “Purificai-vos do velho
fermento para serdes nova massa, já que sois sem fermento. Pois nossa Páscoa, Cristo, foi
imolado”.
Por outro lado, várias vezes aparece no Novo Testamento o paralelismo entre a
antiga e nova páscoa, entre o cordeiro pascal e o Cristo, o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 29.36;
At 8,32; 1 Pd 1,19; Ap 5,6.8.12; etc.)
130
.
Nos primeiros séculos do cristianismo, houve uma controvérsia sobre a interpretação
a ser dada a palavra páscoa. Para alguns ela derivava do verbo padecer e a relacionavam com
à tipologia do cordeiro imolado (Ex 12, 1Cor5). Outros, de forma mais correta, seguindo
Fílon de Alexandria, defendiam a etimologia de passar e portanto se referiam à tipologia da
passagem do Mar Vermelho (Ex 13-14). Melitão de Sardes preferia a etimologia de padecer e
Orígenes e Clemente de Alexandria, a de passagem, que São Jerônimo empregou na
Vulgata
131
. Quem fez a síntese foi Santo Agostinho que diz que a páscoa é, por sua vez, a
paixão e ressurreição do Senhor
132
.
“No latim litúrgico, ‘pascha’ designa sobretudo a festa da ressurreição do Senhor”
133
.
129
Cf. Ibidem. p. 145.
130
Cf. Ibidem. p. 145.
131
Texto da Vulgata: phase, id est, transitus Domini (Ex 12,11).
132
Cf. ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia... p. 47.
133
MARTÍN, Julián López. No Espírito e na verdade. v. 1... p. 147.
50
2.2.3. A teologia da ceia pascal judaica
Para os judeus, a ceia da páscoa é um verdadeiro sinal da salvação operada por Deus
em favor deles. Ela converteu-se no ponto máximo de sua teologia e espiritualidade
134
.
A ceia da páscoa é uma celebração comunitária, que faz com que os comensais se
associem às realidades que se recordam e celebram; e que recria continuamente sua
consciência de povo eleito de Deus. Ela atualiza a cada ano a aliança entre Deus e seu povo,
solenemente selada no monte Sinai
135
.
O que celebram é a salvação pascal, a passagem da morte (escravidão, juízo e ira de
Deus) à vida (alegria, liberdade, amizade com Deus, terra prometida)
136
.
A ceia pascal é vivida como convergência do passado, do presente e do futuro: o fato
histórico é lembrado e proclamado com gratidão, porém com um olhar esperançoso voltado
para o futuro messiânico; e tudo isto com a convicção de que, quando se celebra a páscoa, se
atualiza essa salvação passada e futura. O memorial não é algo meramente pedagógico, mas
sacramentalmente eficaz
137
.
Deste modo, a ceia pascal se torna chave que resume toda a dinâmica da salvação: une
a comunidade, a introduz e a renova na aliança e comunhão com Deus, convida à alegria,
benção e ação de graças, alimenta a esperança messiânica
138
.
134
Cf. ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia... p. 49.
135
Cf. Ibidem.
136
Cf. Ibidem.
137
Cf. Ibidem. p. 50.
138
Cf. Ibidem.
51
2.3. O mistério pascal
Após esta primeira abordagem, que nos familiarizou com os termos integrantes da
expressão mistério pascal, analisemos agora os dois conceitos unidos.
2.3.1. O uso do termo em Melitão de Sardes e São Leão Magno.
O documento mais antigo conhecido sobre a expressão mistério pascal é a homilia
atribuída a Melitão de Sardes. A homilia surge como um comentário de Ex 12, 3-28 em
função da celebração da Páscoa. Recorrendo à tipologia bíblica, Melitão explica o mistério da
Páscoa. Esse mistério é uma realidade prefigurada, anunciada e simbolizada e de certo modo,
contida na páscoa antiga. O mistério é a salvação de Israel efetivada em Cristo, prefigurado na
páscoa antiga, realizado na imolação perfeita de Cristo e atualizado na celebração pascal. O
mistério da páscoa recolhe todo o rico conteúdo cristológico e soteriológico da expressão
paulina mistério de Cristo (cf. Ef 3,4; Cl 4,3), e abarca toda a história salvífica
139
.
“Depois de Melitão, o Padre da Igreja que mais pregou e escreveu sobre o mistério
pascal foi São Leão Magno. Com ele, os textos da liturgia romana antiga, em que aparecem
essa e outras expressões semelhantes, adquirem sua força e riqueza conceitual”
140
.
Os principais pontos do pensamento teológico de São Leão Magno são os seguintes: o
paralelismo entre a criação e a redenção, entendendo por esta não a paixão, morte e
ressurreição do Senhor, mas também a encarnação como premissa necessária e parte da
obra da salvação humana; as relações entre a antiga e a nova aliança, nas quais a antítese
entre o povo de Israel e a Igreja exerce um papel decisivo; as relações entre os ritos antigos e
os sacramentos cristãos; a íntima conexão entre a doutrina da e as festas do ano litúrgico,
139
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. v. 1... p. 148-150.
140
Ibidem. p. 152.
52
de modo que utiliza a homilia para ilustrar os mistérios da e para conduzir os fiéis à
vivência do mistério; a conexão entre mistério celebrado, o rito, a festa e a conduta dos fiéis,
ou seja, a vinculação entre a celebração e a vida
141
.
São Leão Magno contempla no contexto de toda a história sagrada e evoca em todas as
festas do ano litúrgico o mistério da paixão e ressurreição do Senhor. As festas celebram
diversos aspectos da obra da redenção e, de algum modo, predispõem os fiéis para o mistério
pascal. A páscoa é, sem dúvida, a maior delas porque celebra todo o mistério da redenção,
desde o desígnio divino de salvar o ser humano até a realidade presente na vida sacramental
da Igreja. Para São Leão Magno, fazem parte da plenitude da obra da redenção a encarnação,
a epifania, a paixão e a glorificação de Cristo
142
.
2.3.2. O memorial da páscoa
“A categoria memorial é fundamental para entender a relação entre o mistério de
Cristo e a liturgia que o celebra como único motivo”
143
.
Da páscoa antiga, o mistério pascal extraiu a sua estrutura memorial. A redenção
realizada por Deus em Cristo trouxe a condição perene de salvação e a perfeição do culto, que
permanecem na Igreja e nos fiéis. Mas, para que esta seja eficaz, precisa ser continuamente
atualizada. Isto acontece através da celebração litúrgica, que como a eucaristia é anamnese da
páscoa (Lc 22,19; 1Cor 11, 24-25). No seu aspecto subjetivo, os fiéis anunciando a morte do
Senhor, colocam diante de si a representação da passagem histórica de Cristo deste mundo
para o Pai e são fortalecidos na fé, na esperança e na caridade. Mas, sobretudo, este memorial
141
Cf. Ibidem. p. 153.
142
Cf. Ibidem. p. 154.
143
ROSA, Guillermo. O que celebramos ? In: CELAM. Manual de Liturgia I: A celebração do Mistério Pascal
– Introdução à celebração litúrgica. São Paulo:Paulus, 2004, p. 94.
53
é objetivo: a celebração realiza-se para que o Pai se lembre de Cristo e dos cristãos; e Cristo,
com sua presença, atualize, aplique e continue sua obra como cabeça e chefe
144
.
“Memorial significa a presença e a eficácia atuais do comemorado, de maneira que
acontecimentos que historicamente pertencem ao passado se tornam de fato presentes na vida
de hoje do povo de Deus que celebra a fé”
145
.
“A liturgia é uma ação ritual temporal na qual se atualiza um evento salvífico do
passado histórico, por meio de sinais e símbolos, apresentando-se com toda a sua força
libertadora no hoje da assembléia celebrante”
146
.
2.3.3. O mistério pascal na liturgia.
Em sua grande complexidade, o mistério pascal nos remete “essencialmente a Cristo e
à obra da sua redenção humana”
147
. Cada vez, celebramos o memorial de nossa redenção na
liturgia, o mistério pascal “nos faz passar da morte para a vida”
148
e nos coloca em contato
direto com a graça divina
149
provinda principalmente da sagrada paixão, ressurreição dos
mortos e gloriosa ascensão do Cristo Senhor
150
. No mistério pascal, toda a vida litúrgica, bem
como o ano litúrgico, adquire a sua eficácia
151
.
144
Cf. SORCI, Pedro. Mistério Pascal... p. 784.
145
ROSA, Guillermo. O que celebramos ?... p. 95.
146
Ibidem.
147
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. v. 1... p. 138.
148
Ibidem. p. 139.
149
Cf. SC. n. 61.
150
Cf. Ibidem. n. 5.
151
Cf. Ibidem. n. 61; 102-106.
54
Na liturgia, este único mistério não se repete, mas é atualizado por obra do Espírito
Santo, que volta a derramar-se sobre a assembléia litúrgica em todas as celebrações
152
,
desdobrando-se em todo o ciclo anual
153
.
O Espírito toma conta de nós e transforma nossa mente, nosso coração,
nossa atitude, levando-nos a um compromisso com a transformação pascal
de toda a realidade. Em comunhão com Cristo e o Espírito Santo, as
dificuldades da existência e até a própria morte são assumidas na perspectiva
da vitória da vida [...]
154
.
A eucaristia é “o sacramento por excelência do mistério pascal”
155
. Nela temos “o
coração e o centro da Sagrada Liturgia”
156
. No sacrifício eucarístico, por meio da vivência do
mistério pascal, a Igreja tira a sua força espiritual para levar adiante a sua missão no
mundo
157
. Por isso, a eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã”
158
.
No entanto, todas as celebrações litúrgicas são consideradas memória de Jesus e
celebração do seu mistério pascal. Cada celebração enfoca um aspecto diferente do único
mistério
159
.
A eucaristia é totalizante e finalizante, tanto em relação ao conjunto dos
sacramentos (vistos como conjunto orgânico), quanto em relação a toda a
celebração litúrgica da igreja em sua dimensão mais ampla, que abrange o
ciclo do ano litúrgico e o cursus semanal e quotidiano ritmado pela liturgia
das horas, como constelação de momentos orantes e adorantes que giram em
torno do sol. Com efeito, é sabido que o officium laudis no fundo brota do
152
Cf. CATECISMO da Igreja Católica. Edição Típica Vaticana. São Paulo:Loyola, 1999, n. 1104.
153
Cf. SC. n. 102.
154
BUYST, Ione; SILVA, José Ariovaldo. O Mistério celebrado: memória e compromisso I. São
Paulo:Paulinas, 2004. p. 90.
155
JOÃO PAULO II. Ecclesia de Eucharistia. Carta Encíclica do sumo Pontífice João Paulo II aos bispos, aos
presbíteros e diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos sobre a eucaristia na sua relação com a
Igreja. São Paulo:Paulinas, 2003, n. 3.
156
PAULO VI. Mysterium Fidei. Carta Encíclica de sua santidade o Papa Paulo VI sobre o culto da Sagrada
Eucaristia. São Paulo:Paulinas, 1965, n. 3.
157
Cf. EE. n. 1; 3; 22.
158
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium. In: In: VIER,
Frederico (coord.). Compêndio Vaticano II, Constituições, Decretos, Declarações. 2 ed. Petrópolis:Vozes,
1998. n. 11.
159
Cf. BUYST, Ione; SILVA, José Ariovaldo. O Mistério celebrado: memória e compromisso I... p. 87.
55
sacrificium laudis do altar, como sua dilatação e prolongamento (cf. PO
6)
160
.
“Como se vê, a Liturgia consiste fundamentalmente na realização da salvação
operada por Cristo”
161
.
O mistério pascal refere-se à vida, morte e ressurreição de Jesus, o Cristo,
como revelação do mistério de Deus, de seu desígnio para com a
humanidade, que envolve afinal o mistério da pessoa humana. É ainda a
presença dinâmica de Cristo Ressuscitado que, juntamente com o Espírito
Santo, vai permeando e transformando toda a realidade humana e cósmica. É
este o Mistério que atualizamos e do qual participamos em todas as
celebrações litúrgicas
162
.
3. O mistério pascal: fundamento do ano litúrgico
3.1. A evolução histórica do ano litúrgico a partir do mistério pascal
“No primeiro período da história da Igreja, a Páscoa foi o único centro da pregação, da
celebração e da vida cristã. O culto na Igreja nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa”
163
.
“O ano litúrgico desponta quando o domingo, primeiro dia da semana, começa a ser
celebrado como o dia do Senhor”
164
. Neste dia, os cristãos se reuniam para fazer memória do
Senhor, principalmente de sua paixão e morte, ressurreição e glorificação
165
.
160
VISENTIN, Pelágio. Eucaristia. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de
Liturgia... p. 395.
161
MARSILI, Salvatore. A liturgia, momento histórico da salvação. In: NEUNHEUSER, Burkhard. et al. A
liturgia: momento histórico da salvação. São Paulo:Paulinas, 1986, p. 120.
162
BUYST, Ione; SILVA, José Ariovaldo. O Mistério celebrado: memória e compromisso I... p. 156.
163
BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico.
3ª ed. São Paulo:Paulinas, 1994, p. 105.
164
ISNARD, Clemente José Carlos. O Ano Litúrgico. Revista de Liturgia, São Paulo, v. 9, n. 54, 1982, p. 1.
165
Cf. LUTZ, Gregório. O ano litúrgico – visão global. Revista de Liturgia... p. 8.
56
Além da celebração semanal da páscoa, iniciou-se bem cedo a realização de uma
grande celebração anual da páscoa, provavelmente por influência dos cristãos provenientes do
judaísmo
166
.
Surge, então, a cada ano um “grande domingo”, que se ampliará constituindo o Tríduo
Pascal, com o prolongamento da festa por cinqüenta dias (Pentecostes). No século IV devido
ao desejo de se contemplar e viver cada momento do drama da paixão, origina-se a Semana
Santa
167
.
A Quaresma, inspirada nos quarenta dias bíblicos, nasce como tempo dedicado à
última preparação dos catecúmenos para o batismo na noite da páscoa e como tempo de
preparação dos penitentes para a reconciliação
168
.
O ciclo natalino (Natal/Epifania) surge no culo IV da necessidade de afastar os fiéis
das festas pagãs e idolátricas do “sol invicto” no solstício de inverno. E para se criar um
paralelismo com o ciclo pascal, criou-se o período de preparação do Advento
169
.
O número das semanas ordinárias (Tempo Comum) foi diminuindo desde os primeiros
séculos, enquanto se desenvolvia a organização dos vários tempos “fortes” do ano
litúrgico
170
.
O culto dos Mártires é antiqüíssimo, e estes eram venerados por terem, de modo
semelhante a Cristo, derramado o seu sangue por causa do Evangelho
171
.
166
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja.... p. 106.
167
Cf. Idem. Ano Litúrgico. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia...
p. 59.
168
Cf. Ibidem.
169
Cf. Ibidem.
170
Cf. AUGÉ, Matias. Teologia do Ano Litúrgico. In: AUGÉ, Matias et al. O ano litúrgico: história e teologia
da celebração. São Paulo:Paulinas, 1991, p. 217.
171
Cf. BERGAMINI, Augusto. Ano Litúrgico. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia... p. 59.
57
O culto a Maria, historicamente vem depois do culto dos mártires e desenvolveu-se
sobretudo depois do Concílio de Éfeso (431), particularmente relacionado ao período natalício
com a comemoração da divina maternidade
172
.
Na Idade Média, muitas devoções ligadas ou não à liturgia, sobrepuseram-se ao ano
litúrgico e obscureceram, sobretudo, a centralidade do mistério pascal. As festas dos Santos
tornaram-se cada vez mais numerosas e importantes. Ao longo dos séculos, foi necessário
reduzi-las várias vezes para não prejudicar demais as festas do Senhor e os domingos.
Também neste período tiveram origem as festas de idéias ou temáticas, como a de “Corpus
Christi”, a da Santíssima Trindade e do Sacratíssimo Coração de Jesus (que não se baseiam
num acontecimento histórico da vida de Jesus)
173
.
O Concílio Ecumênico Vaticano II ao estabelecer a reforma geral da liturgia,
inspirou-se no critério teológico pastoral de autêntica tradição e simplificação. Promoveu-se,
então, uma reestruturação do ano litúrgico, para que ele pudesse exprimir melhor a
centralidade do mistério de Cristo com o seu vértice na páscoa
174
.
3.2. A celebração do mistério pascal no ano litúrgico
O ano litúrgico é a estrutura que sustenta todo o mistério do culto cristão
175
.
Nele encontramos “um conjunto de momentos salvíficos, celebrados
ritualmente pela Igreja, sobretudo mediante a Eucaristia, como memorial dos
acontecimentos com os quais se cumpriu na história o mistério da salvação.
[...] Ele é a celebração-atuação do mistério de Cristo no tempo. Portanto o
ano litúrgico não pode ser reduzido a um simples calendário de dias e meses
aos quais estão vinculadas determinadas celebrações religiosas; ele é, ao
172
Cf. Ibidem.
173
Cf. LUTZ, Gregório. O ano litúrgico – visão global... p. 9.
174
Cf. BERGAMINI, Augusto. Ano Litúrgico.... p. 61.
175
Cf. AUGÉ, Matias. Liturgia - História, Celebração, Teologia, Espiritualidade. ed. São Paulo:Ave Maria,
1996, p. 277.
58
invés, a presença na forma sacramental-ritual do mistério de Cristo no
espaço de um ano”
176
.
“O centro e tema do ano litúrgico é a pessoa de Jesus com seu mistério pascal, para o
qual tudo converge e do qual tudo parte”
177
.
A “Sacrosanctum Concilium” nos ajuda a compreender o que significa celebrar o
mistério de Cristo durante o ano litúrgico:
A Santa Mãe Igreja julga seu dever celebrar em certos dias no decurso do
ano, com piedosa recordação, a obra salvífica de seu divino Esposo. Em cada
semana, no dia que ela chamou Domingo, comemora a Ressurreição do
Senhor, celebrando-a uma vez também, na solenidade máxima da Páscoa,
juntamente com sua sagrada Paixão.
No decorrer do ano, revela todo o Mistério de Cristo, desde a Encarnação e
Natividade até a Ascensão, o dia de Pentecostes e a expectação da feliz
esperança e vinda do Senhor.
Relembrando destarte os Mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as
riquezas do poder santificador e dos méritos de seu Senhor, de tal sorte que,
de alguma forma, os torna presentes em todo o tempo, para que os fiéis
entrem em contacto com eles e sejam repletos da graça da salvação
178
.
Percebemos, desta maneira, que o ano litúrgico encontra o seu centro na pessoa de
Jesus Cristo e seu mistério, celebrado sacramentalmente pela Igreja como memorial, presença
e profecia. O seu objetivo é a celebração cronológica e simbolicamente explicitada e
prolongada, para a melhor assimilação do mistério cristão. Mistério que cremos e vivemos de
modo permanente, pois ele é a essência, o auge e a fonte da vida do fiel e de toda a
comunidade cristã. Celebramos porque cremos, e cremos porque celebramos
179
.
“O Ano litúrgico não é uma série de idéias, ou uma sucessão de festas mais ou menos
importantes, mas é uma Pessoa, Jesus Cristo. A salvação por ele realizada ‘especialmente por
176
Ibidem. p. 281.
177
BOROBIO, Dionisio. Pastoral do ano litúrgico. In: BOROBIO, Dionisio. (Org.). A celebração da Igreja. v. 3:
Ritmos e tempos da celebração. São Paulo:Loyola, 2000, p. 257.
178
SC, n. 102.
179
Cf. BOROBIO, Dionisio. Pastoral do ano litúrgico... p. 253-254.
59
meio do mistério pascal, da sua bem-aventurada Paixão, Ressurreição da morte e gloriosa
Ascensão’ (SC 5)”
180
.
Em cada celebração, parcial na aparência, sempre é celebrado o todo e, portanto, o
mistério sempre é completo, o todo está sempre em cada fragmento
181
.
Esta plenitude, porém precisa ser desdobrada e recebida em cada uma das
suas partes. Portanto, no quadro das celebrações anuais, a palavra de Deus
manifesta a superabundância e a multiformidade do mistério, evoca-as e as
torna presentes: à luz da palavra, cada um dos mistérios que é celebrado no
ciclo do ano nos revela, vez por vez, uma das dimensões teológicas da
salvação que se realizou em Jesus Cristo
182
.
“Em cada um dos momentos da vida de Jesus, Deus foi se manifestando a seus
discípulos e a todo o povo que se acercava dele com fé. E Deus continua se manifestando
hoje, quando nós, com fé, lembramos estes mesmos momentos e os celebramos como
mistérios que se revelam e nos fazem participantes do único Mistério”
183
.
No mistério do Advento, celebrando a vinda de Jesus, recebemos com
alegria e com renovada confiança a promessa de Deus. No mistério do Natal,
lembramos o nascimento de Jesus, Messias-Senhor, sua manifestação aos
pastores e aos reis magos; aceitamos a união da aliança casamento do
humano com o divino. No mistério da quaresma, deixamo-nos levar pelo
Espírito ao deserto, junto com Jesus, sendo purificados pela Palavra de Deus
e pela oração; durante quarenta dias nos preparamos para mais uma etapa
pascal em nossa vida e na vida da Igreja e do mundo. No mistério das
grandes festas pascais e durante todo o tempo da páscoa, partilhamos com
Maria, com os discípulos e com as primeiras comunidades, a alegria do
convívio com o Cristo glorificado que nos renova com sua vida “que não
acaba mais”, recebendo dele a promessa da vinda do Espírito que renova
todas a coisas de acordo com o projeto de Deus
184
.
180
AUGÉ, Matias. Liturgia - História, Celebração, Teologia, Espiritualidade... p. 281-282.
181
Cf. Ibidem. p. 283.
182
Ibidem.
183
BUYST, Ione. Mistérios... tocando no misterioso coração da vida. Revista de Liturgia, São Paulo, v. 20, n.
118, 1993, p. 8.
184
Ibidem. p. 8-9.
60
4. O mistério pascal no ciclo natalino
Assim, podemos dizer que “a vida cristã é assim assinalada pelo e pelo ainda-não,
que caracterizam o evento da salvação pascal e a sua celebração na liturgia”
185
.
A existência cristã consiste em realizar na vida o mistério celebrado na liturgia, em
introduzir e inserir na vida o que se recebeu na fé, à espera de que se realize e se cumpra
plenamente a bem-aventurada esperança e de que venha o salvador Jesus
186
.
“Já no AT o evento salvífico é perpetuado em uma festa e em um rito memorial,
mediante os quais todas as gerações celebram a memória, tornam presente a salvação de Deus
e anunciam profeticamente o seu cumprimento (cf. Ex 12,14; Dt 5,2-3; Ex 13, 14-15)”
187
.
Cristo deu cumprimento aos eventos da salvação e significado às festas memoriais de
tais eventos. Nele se cumpre o hoje da salvação definitiva, que realiza as promessas de Deus.
Quando Jesus diz: “Fazei isto em memória de mim”(cf. Lc 22,19; 1Cor 11,23-25), ele insere,
através do rito da ceia, a sua páscoa no tempo; perpetuando, desta maneira, a realidade da
salvação na história humana
188
.
“Assim ‘o que era visível do nosso Redentor, passou para os ritos sacramentais’ (são
Leão Magno, Sermão II sobre a ascensão, 1.4, PL 54, 397-399)”
189
.
A história da salvação, realizada para nós sobretudo nas ações litúrgicas, é
movimento aberto e ascensorial para a plenitude do mistério de Cristo (cf. Ef 4, 13-
15). A igreja celebra todos os anos este mistério nos seus diversos aspectos não para
‘repetir’, mas para ‘crescer’ até a manifestação gloriosa do Senhor com todos os
eleitos
190
.
185
SORCI, Pedro. Mistério Pascal... p. 786.
186
Cf. Ibidem.
187
BERGAMINI, Augusto. Ano Litúrgico... p. 60.
188
Cf. Ibidem.
189
Ibidem.
190
Ibidem. p. 61.
61
Deste modo, na celebração do ciclo do Natal, temos, na fé, a certeza de que a
salvação é comunicada também hoje para nós. Ela nos é conferida na revelação de todo
mistério de Cristo, especialmente o mistério pascal, que é celebrado também no ciclo do
Natal, mediante o real “memorial” eucarístico da morte, ressurreição e vinda gloriosa do
Senhor
191
.
Nesse ciclo, a Igreja celebra a revelação de Deus na encarnação como evento salvífico.
As celebrações do ciclo do Natal são no sentido mais pleno “atos sagrados” nos quais são
celebrados o ato primordial da nossa salvação
192
.
Partindo da convicção da presença do mistério pascal em todo ano litúrgico,
estudemos no próximo capítulo como ele se desenvolve dentro do ciclo do Natal.
191
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 213.
192
Cf. Ibidem.
62
CAPITULO III
O CICLO DO NATAL
NA PERSPECTIVA DO MISTÉRIO PASCAL
1. A origem e a estruturação de alguns aspectos da liturgia do Ciclo do Natal.
Antes de analisar alguns textos, da atual liturgia do Ciclo do Natal, na perspectiva do
mistério pascal, façamos um estudo da origem e da estruturação deste ciclo, buscando
perceber a dimensão pascal desde a sua gênese.
1.1. A origem e a estruturação de alguns aspectos da liturgia da festa do Natal.
A festa de Natal
193
no dia 25 de dezembro é certamente de origem ocidental e
provavelmente romana
194
. Um calendário romano civil e religioso (Cronógrafo Romano) do
ano 354, feito por Furio Dionisio Filócalo, indica no calendário civil, o dia 25 de dezembro
193
Os termo Natal projeta alguma luz sobre o seu conteúdo. “Natale quer dizer aniversário do nascimento e era,
no século IV, de uso corrente. Mas a etiqueta da corte havia ampliado significação da palavra e aplicara-a
igualmente aos dias que marcavam a glorificação do imperador, assim como aos da sua acessão à púrpura e ao
da sua apoteose”. (JOUNEL, Pierre. O Tempo do Natal. In: MARTIMORT, A. G. (Org.). A Igreja em Oração.
Singeverga:Ora&Labora; Tournai:Desclée&Cie, 1965, p. 838.)
194
Cf. LEMARIÉ, Joseph. A manifestação do Senhor. São Paulo:Paulinas, 1960, p. 19.
63
como “Natalis Invicti”
195
. Em seguida, à frente de um elenco contendo as datas da morte dos
bispos de Roma, “Depositio episcoporum” e dos mártires romanos, “Depositio Martyrum”,
anota a 25 de dezembro (VIII kalendas Ianuarii) o nascimento de Cristo em Belém de Judá.
Sendo que este elenco já teria sido composto em 336, se deduz que em torno desta data já era
celebrada na liturgia da cidade de Roma a festa do nascimento de Cristo
196
.
Segundo estudiosos, a razão do Natal ter sido fixada nesta data não é o nascimento
histórico de Cristo. A explicação mais provável deve ser encontrada na tentativa da Igreja de
suplantar a festa pa“Natalis Invicti”
197
. O Invicti” refere-se ao sol que vence as trevas
precisamente logo depois de se começar o solstício do inverno
198
.
A cristianização da festa, de modo algum, é forçada, já que a aplicação do simbolismo
do sol a Jesus encontra o seu fundamento na Sagrada Escritura (Sl 18,6; Ml 4,2; Lc 1,78).
Somando-se a isto, podemos acrescentar o costume dos cristãos de orarem voltados para o
oriente, como podemos comprovar através da defesa de Tertuliano contra a acusação dos
pagãos de que os cristãos adoravam o deus sol
199
.
195
Festa pagã ao deus sol. Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação. In: AUGÉ, Matias et al. O ano
litúrgico, história e teologia da celebração. São Paulo:Paulinas, 1991, p.181.
196
Cf. CASTELLANO, Jesús. El año litúrgico Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia.
Barcelona:Centre de Pastoral Litúrgica, 1996, p. 81-82; cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico. São Paulo:Paulinas,
1983, p. 122.
197
Existem outras tentativas de explicação. Adolf Adam narra em sua obra “O ano litúrgico” a chamada
“hipótese de cômputo”, que parte da constatação de que no século II, teólogos cristãos através de lculos
baseados nos equinócios e solstícios, teriam chegado a conclusão de que João Batista teria sido concebido no
equinócio do outono. Como porém Cristo teria sido concebido seis meses depois de João Batista, segundo Lc 1,
26, sua concepção deve situar-se no equinócio da primavera (25 de março) e seu nascimento, por conseqüência
no dia 25 de dezembro. (cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 123). Também, segundo tradição coligida e
repetida por Santo Agostinho (Esta tradição pode ser encontrada em: De Trinitate 42: PL 894), Jesus teria sido
concebido na mesma data (dia e mês) em que depois morreu, ou seja, 25 de março e por conseqüência nascido
nove meses depois em 25 de dezembro (Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 196).
198
Segundo os cálculos da época, o dia 25 de dezembro era a data do solstício de inverno. Era o dia em que o sol
aparecia mais fraco. Ele parecia estar vencido a ponto de morrer, mas naquele exato momento ele revivia e dia
após dia ia se tornando mais forte e brilhante, provando ser invicto e inconquistável. (Cf. RYAN, Vicent. Do
Advento à Epifania. São Paulo:Paulinas, 1992, p. 51).
199
Esta defesa pode ser encontrada em: Tertuliano, Ad Nationes 1, 13 (=CCL 1, 32); cf. RAMIS, G. Ano
Litúrgico: Ciclo do Advento Natal - Epifania. In: BOROBIO, Dionisio. (Org.). A celebração da Igreja. V. 3:
Ritmos e tempos da celebração. São Paulo:Loyola, 2000, São Paulo:Loyola, 1993, p.166-167.
64
Deste modo, a Igreja reagiu de maneira eficaz contra uma corrente, que começava a
arrastar os fiéis para práticas pagãs. O Cristo é proclamado verdadeiro sol invencível e seu
nascimento, o verdadeiro nascimento do sol, que apareceu no mundo depois da longa noite do
pecado
200
.
Outro motivo que contribuiu para a afirmação das festas natalinas foram as grandes
heresias cristológicas do séculos IV e V, de modo especial as de Ario, Nestório e Eutiques.
Negando a divindade consubstancial da pessoa do Verbo ou confundindo e misturando as
duas naturezas, a humana e a divina, estas heresias comprometem na base o mistério da
encarnação e consequentemente o valor da redenção. A instituição e rápida difusão do Natal
no Ocidente e da Epifania no Oriente ajudaram a afirmar a ordotoxia da fé, proclamada nos
concílios ecumênicos de Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451),
nos quais a Igreja rebateu tais erros e aprofundou a doutrina sobre o mistério da encarnação e
a divindade e humanidade de Cristo, assim como, da maternidade divina de María
201
.
No que diz respeito à estruturação da festa do Natal, notamos que seu início em Roma
se deu de maneira bastante simples, sem período de preparação, nem oitava
202
.
A celebração de três missas no dia de Natal, como é próprio do rito romano, não
remonta também às origens da solenidade. No século IV, a única missa que o Papa celebrava
neste dia era a missa que hoje é chamada “missa do dia”. A missa era celebrada como de
costume, às nove horas, em São Pedro, talvez porque é o local que recordava a transformação
da festa pagã em cristã.
200
Cf. LEMARIÉ, Joseph. A manifestação do Senhor... p. 21-22.; cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da
Igreja... p. 196-197.
201
Cf. CASTELLANO, Jesús. El año litpúrgico ... p. 85; cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p.
197.
202
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 53.
65
A “missa da noite”, conhecida como “Missa do Galo”, surge no decorrer do século V,
quando se introduz uma missa noturna, celebrada a meia-noite, na Basílica de Santa Maria
Maior
203
, pois existia o desejo de imitar a celebração noturna de Belém, descrita por Etéria
204
.
Pelos meados do século VII, surge a missa da aurora. Essa missa era originalmente
dedicada a Santa Anastácia, mártir muito reverenciada no Oriente. Sua festa era celebrada em
Roma no dia 25 de dezembro, na basílica próxima ao palácio imperial. O Papa ia celebrar
pessoalmente essa missa, talvez como um gesto de deferência para com o imperador. Com o
passar do tempo, essa missa se tornou missa do Natal
205
.
Este costume da Igreja de Roma, em particular do papa, de celebrar três missas no dia
do Natal, tornou-se universal
206
.
Em relação ao desenvolvimento da teologia da festa do Natal, podemos comparar o
pensamento de Agostinho com o de Leão Magno.
Agostinho parece impressionado com a fixação da data da festa do Natal, a ponto de
não considerá-la um “sacramento”
207
como a Páscoa, mas apenas uma simples recordação ou
aniversário do nascimento de Jesus e, por isso, nada além da lembrança, com uma solenidade
religiosa, do dia do ano em que caiu o aniversário do próprio acontecimento.
203
“Esta igreja foi erigida sob o papa Sisto III (432-440), no lugar da antiga Basílica de Libério, no monte
Esquilino, depois do Concílio de Éfeso (431) no qual foi proclamado o dogma da maternidade divina de Maria.
Pouco tempo depois construiu-se uma capela subterrânea, à imitação da gruta da Natividade de Belém. Era nessa
capela que o Papa celebrava a ‘missa da meia-noite’, depois do ofício noturno; logo após participar ainda do
ofício das Laudes, ele se retirava para descansar”. (cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 125.)
204
Nesta descrição feita por Etéria, os cristãos de Jerusalém tinham por hábito celebrar uma missa na noite
anterior à Epifania, na igreja mandada construir por Constantino por cima da gruta da Natividade em Belém, e
em seguida voltavam processionalmente a Jerusalém onde celebravam uma outra missa às primeiras horas do
dia. (Este texto pode ser encontrado em: Etéria, Itinerarium ad loca sancta (=PLS 1,1047)); cf. RYAN, Vicent.
Do Advento à Epifania... p. 53).
205
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p.190;
206
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 53.
207
Para Santo Agostinho há um rito sacramental dentro da celebração, quando não só se comemora um
acontecimento, mas quando isso é feito de tal maneira que se entenda o significado daquilo que deve ser
recebido santamente. (Podemos encontrar este pensamento em relação ao Natal em: Agostinho de Hipona,
Epistulae 55, 2 (=PL 33, 215)).
66
Esta posição de Agostinho foi logo superada pelo grande teólogo da celebração
natalina, São Leão Magno, que fala do Natal como um “admirável mistério”
208
. Deste modo,
o Natal para Leão Magno é essencialmente um “mistério de salvação”, uma verdadeira festa
da redenção, em íntima relação com a Páscoa
209
.
1.2. A origem e a estruturação de alguns aspectos da liturgia da festa da Epifania.
A festa da Epifania
210
é de origem oriental. Ela foi provavelmente celebrada
inicialmente no Egito, de onde se difundiu pelas outras Igrejas do Oriente, e a seguir, rumo ao
Ocidente, primeiramente na Gália e, mais tarde, em Roma e no Norte da África
211
.
muitos indícios de que a escolha do dia 06 de janeiro, de modo semelhante do que
aconteceu com a festa romana do nascimento de Cristo, tenha sido influenciada por alguma
seita pagã. Assim como o Natal, a instituição da Epifania, parece ter sido uma cristianização
de festas pagãs da luz, onde a substituição da luz por Jesus fica evidente
212
.
Em Alexandria, era celebrado pelos pagãos o nascimento do deus Aion (deus do
tempo e da eternidade) filho de Koré, a Virgem. Esta festa era celebrada na noite do dia 5
para 6 de janeiro, momento culminante do solstício de inverno. Em um solene rito se levava a
estátua da deusa e se gritava: “A virgem gerou, cresce a luz”
213
.
208
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja.... p. 210.
209
Cf. AUGÉ, Matias. Liturgia - História, Celebração, Teologia, Espiritualidade... p. 315-316.
210
“O termo grego ‘epifania’ ou ‘teofaniatem o significado de autonotificação de entrada poderosa no campo
da notoriedade e referia-se à chegada de um rei ou de um imperador . O mesmo termo, porém servia ainda para
indicar o aparecimento ou manifestação de uma divindade ou de alguma intervenção prodigiosa sua. Não é de se
admirar que como o nome ‘epifania se tenha designado no Oriente a festa do natal do Senhor, o seu
aparecimento a sua ‘aparição’- na carne”. Cf. BERGAMINI, Augusto.Natal/Epifania. In: SARTORE,
Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia... p. 812.
211
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 96.
212
Cf. LEMARIÉ, Joseph. A manifestação do Senhor... p.32
213
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 225.
67
outras crenças pagãs que provavelmente influenciaram na fixação da festa em 06
de janeiro. “Alguns autores pagãos como Plínio o Jovem, e cristãos como Epifânio ou João
Crisóstomo informam sobre certos prodígios que se verificam dia 5 de janeiro: águas de
fontes mudadas em vinho; águas que, apanhadas naquele dia; não se corrompiam”
214
.
no século II, tem-se, por intermédio de Clemente Alexandrino, a notícia de uma
festa cristã celebrada pela seita gnóstica dos basilidianos
215
. No dia 06 de janeiro celebrava-se
o batismo de Jesus, no qual, segundo a heresia gnóstica, aconteceu o verdadeiro nascimento
do Filho de Deus
216
.
“Na segunda metade do séc. IV, Epifânio a primeira notícia da festa ortodoxa da
Epifania, entendida como celebração da vinda do Senhor, ou seja, o seu nascimento humano e
perfeita encarnação”
217
.
Antes de 386, no tempo de João Crisóstomo, a festa era celebrada em Antioquia e no
Egito e tinha como objeto o batismo de Jesus e seu nascimento. Na Síria, celebrava-se a festa
da encarnação no dia 06 de janeiro até 486
218
.
No final do século IV, o Natal, provindo de Roma, cria raízes sólidas por toda parte no
Oriente, com exceção da Armênia. Depois que o Natal é adotado, o Batismo de Cristo torna-
se o objeto de maior importância na celebração de 06 de janeiro
219
.
No Ocidente, a Epifania, normalmente, entrou depois da Festa do Natal, por isso, ela
adquire um objeto diferente, mais precisamente a “revelação de Jesus ao mundo pagão”,
simbolizado na vinda e adoração dos Magos; contudo, no dia 06 de janeiro também
214
NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p.192-193.
215
Esta notícia pode ser encontrada em: Clemente de Alexandria, Stromata, 1, 21 (= PG 8,887).
216
Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 144.
217
BERGAMINI, Augusto. Natal/Epifania.... p. 812- 813.
218
Cf. Idem. Cristo Festa da Igreja ... p. 224.
219
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p.192.
68
recordava-se a sua revelação em geral no batismo do Jordão e no primeiro milagre nas Bodas
de Caná
220
.
1.3. A origem e a estruturação de alguns aspectos da liturgia do Advento.
Advento, do mesmo modo que Epifania, é uma palavra cristã de origem profana.
Significava, sob o aspecto cultual, a vinda da divindade, que anualmente visitava os fiéis no
seu templo. Os fiéis acreditavam que o deus, cuja estátua era então exposta ao culto,
permanecia no meio dos seus enquanto durava a solenidade. Na corte, do mesmo modo,
designava a primeira visita oficial de um personagem importante por ocasião da sua subida ou
entrada em um cargo. Na Vulgata, “Adventus” é empregado para designar a vinda de Cristo
na carne, inaugurando os tempos messiânicos, e a sua vinda gloriosa, que coroará sua obra
redentora no fim do mundo
221
.
A formação da liturgia do Advento se deu de forma progressiva. “Desde a origem, este
período é geralmente tempo de jejum, que se enquadra pouco a pouco numa celebração
litúrgica. Em Roma, é considerado numa ótica imediatamente litúrgica, em relação justamente
com o Natal”
222
.
No final do século IV e no decorrer do V, na Gália e na Espanha existe um período
de preparação ascética para a festa do Natal
223
.
Em Roma, onde teve origem a festa do Natal, esta preparação irá acontecer nos
meados do século VI, com uma liturgia do Advento distribuída no espaço de seis semanas.
220
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 224.
221
Cf. JOUNEL, Pierre. O Tempo do Natal... p. 844-845.
222
NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 200-201.
223
“No ano 380 o Concílio de Saragoça pede aos fiéis que sejam assíduos à igreja do dia 17 de dezembro até a
Epifania”. “Gregório de Tours († 490) fala de um jejum de três dias na semana entre São Martinho (11dezembro
e Natal)” Cf. AUGÉ, Matias. Liturgia - História, Celebração, Teologia, Espiritualidade... p. 320.
69
Com São Gregório Magno, o número de domingos do Advento é reduzido a quatro.
Quando
o Advento adquire maior importância em Roma, o seu significado se desdobra: a preparação
para o nascimento do Salvador e a espera da parusia
224
. De maneira natural, o Advento se
caracterizou com duas perspectivas: a espera da glória e a sua vinda na carne.
Leão Magno, que não conheceu a celebração do Advento em Roma, une, como outros
Padres da Igreja, o nascimento de Jesus em Belém à sua vinda gloriosa no final dos tempos.
“Para eles, Natal, através da humildade do presépio, já é uma festa de triunfo unida ao triunfo
da cruz, como ao triunfo final de Cristo, na hora da sua volta definitiva”
225
.
Um aspecto importante na estruturação deste período é a constituição de um tempo de
preparação imediata ao Natal a partir de 17 de dezembro. A partir deste dia, no Magnificat,
têm início as chamadas antífonas do “Ó”
226
, provavelmente foram introduzidas no tempo de
S. Gregório Magno
227
. O canto das antífonas do “Ó” durante o Advento era acompanhado de
muita solenidade nas catedrais e mosteiros.
1.4. A origem e a estruturação de algumas festas ligadas ao ciclo do Natal.
A festa da Imaculada Conceição, no dia 08 de dezembro, é uma festa que está
engastada no Advento. Foi instituída pelo papa Pio IX, quando, no dia 08 de dezembro de
1854, definiu o dogma da Imaculada Conceição. Historicamente, isso acontece mais por
224
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 200-201.
225
AUGÉ, Matias. Liturgia - História, Celebração, Teologia, Espiritualidade.... p. 320.
226
Estas antífonas são uma síntese de alguns títulos cristológicos e da oração dos justos do Antigo Testamento.
Cf. Ibidem. p. 321.
227
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação.... p. 206.
70
acidente, pois esta data é determinada pela festa, mais antiga, da Natividade da Virgem (08 de
setembro) exatamente nove meses antes desta última
228
.
Além da Páscoa, só a festa do Natal conservou a oitava, isto é, uma semana litúrgica
festiva. Isto é um indício da alta estima que se devota a esta festa
229
.
As festas de Santo Estevão, São João e dos Santos Inocentes são celebradas logo após
o Natal
230
. As duas primeiras eram celebradas no Oriente desde o século IV e, no Ocidente,
desde o princípio do século V. A festa do Santos Inocentes parece ter surgido no Ocidente no
final do século V na África do Norte
231
.
Estes santos têm um papel secundário na oitava de Natal. Na Idade Média, se
contemplava nesses santos o cortejo de honra do Cristo Menino, e eram denominados
“Comites Christi”, ou seja, “companheiros de Cristo”. Esta idéia de martírio introduz nota
ligeiramente áspera de realismo nas festividades natalinas. Não nos é permitido demorar
muito na manjedoura, pois a fé cristã implica seguir a Cristo mesmo diante da incompreensão,
oposição, perseguição e até o martírio
232
.
228
Comemoramos a Imaculada Conceição de Maria em 08 de Dezembro. Contando os nove meses sucessivos, referentes aos
meses de uma gestação, chegaremos à data de 08 de setembro, dia da comemoração do nascimento de Maria. Cf. RYAN,
Vicent. Do Advento à Epifania... p. 31.
229
Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 138.
230
O protomátir Estevão é celebrado no dia 26 de dezembro, o Apóstolo e Evangelhista João no dia 27 de
Dezembro e os meninos de Belém, massacrados por ordem de Herodes, festejados no dia 28 de dezembro. (Cf.
NORMAS universais sobre o ano litúrgico e calendário romano geral. In: MISSAL romano. Tradução
Portuguesa da edição típica para o Brasil realizada e publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. São Paulo:Vozes; Petrópolis:Vozes, 1992, p. 124.)
231
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 76.
232
Cf. Ibidem. p. 77.
71
A festa da Sagrada Família, celebrada no domingo dentro da oitava de Natal ou na
falta dele no dia 30 de dezembro
233
, é uma festa bastante recente, que podemos incluir no
grupo das festas devocionais ou ideológicas
234
.
A solenidade da santa mãe de Deus, no dia 01 de janeiro é a mais antiga celebração em
honra da Virgem Maria dentro da liturgia romana. A designação deixa claro que é uma festa
de Nossa Senhora, cujo objetivo é homenagear a sua divina maternidade
235
.
Com a reforma do Vaticano II, a festa do “Batismo do Senhor” encerra o ciclo
natalino. Esta festa tem o seu elemento constitutivo original na festa da Epifania
236
.
Fora do ciclo festivo do Natal, temos, de certo modo, ligada ao ciclo do Natal a Festa
da “Apresentação do Senhor”, que celebra a chegada do Salvador longamente esperado no
próprio centro da vida religiosa do povo e a sua acolhida feita pelo povo por meio de Simeão
e Ana. A benção das velas antes da missa e a procissão à luz de velas são características
marcantes desta celebração. Esta festa é muito antiga, de origem Oriental. Já no século IV,
esta festa era celebrada em Jerusalém. De Jerusalém, difundiu-se pelas outras igrejas do
Oriente e do Ocidente
237
.
233
Cf. NORMAS universais sobre o ano litúrgico e calendário romano geral... p. 124.
234
O culto à Sagrada família de Jesus, Maria e José teve um florescimento de âmbito mundial, principalmente a
partir do Canadá, e foi favorecida por Leão XIII. Na Sagrada Família, via-se um modelo salutar para a família
cristã. Bento XV impôs sua celebração a toda Igreja em 1921. (cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 143; cf.
RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento – Natal - Epifania... p.179).
235
Antes da reforma do Vaticano II a festividade era conhecida como “Circuncisão do Senhor”, porém a liturgia
deste dia (oitava de Natal) sempre teve caráter nitidamente mariano, seja na missa ou no Ofício. (Cf.
BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 454; cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 88).
236
Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 149.
237
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 108-110.
72
1.5. Uma teologia a partir das origens
O estudo das origens do ciclo do Natal é uma das chaves para se elaborar uma
teologia válida dos mistérios que nele celebramos. Por isso, podemos agora tirar algumas
idéias importantes que irão iluminar a análise dos textos da liturgia atual na perspectiva do
mistério pascal.
A primeira é que, no ciclo do Natal, a luz é destacada não como objeto de adoração,
mas como símbolo de Cristo, que é a luz do mundo. Neste ciclo, celebra-se a vitória da luz
sobre as trevas e, por isso, ele tem um caráter redentor, criando, deste modo, uma relação com
a Páscoa que é a festa da redenção
238
.
A constatação de que as festas de 25 de dezembro e de 06 de janeiro não têm relação
com o aniversário cronológico do nascimento de Jesus nos indica que devemos nos apoiar no
aspecto da manifestação do Senhor. Deus manifesta-se por meio da encarnação do seu Filho
no seio de Maria e por obra do Espírito Santo. A finalidade da encarnação não pode ser outra
que a redenção do homem que se cumprirá na páscoa, uma vez que sem ter assumido o nosso
corpo o Verbo de Deus não teria podido realmente morrer e ressuscitar.
“É certo que o início
de sua manifestação é o seu nascimento segundo a carne, mas será plena essa manifestação
com sua morte-ressurreição-ascensão e efusão do Espírito Santo; e mais, culminará sua
manifestação em sua segunda vinda no fim dos tempos”
239
.
O Advento, que se formou cronologicamente depois do Natal, seguiu a mesma linha
teológica, ou seja, a manifestação do Senhor (a manifestação, sobretudo, no final dos
tempos)
240
.
238
Ibidem. p. 52.
239
Cf. RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento – Natal – Epifania... p. 168, 169, 174, 179.
240
Ibidem. p. 179.
73
2. O mistério pascal em alguns textos do ciclo do Natal
241
.
Analisemos, agora, como essa liturgia se desenvolve nos textos da liturgia do ciclo do
Natal.
2.1. O mistério pascal em alguns textos do tempo do Advento.
O Advento tem como tarefa preparar-nos para receber o Senhor, que se manifesta a
nós. Como já dissemos acima, esta manifestação tem dois aspectos: o primeiro é o da
manifestação em nossa carne ao nascer, que constitui sua primeira vinda. O outro é o da sua
segunda vinda. Por isso o Advento terá dupla estrutura: o Advento escatológico, que vai do
primeiro domingo do Advento ao dia 16 de dezembro inclusive; e o Advento natalício, que se
constitui pelas férias de 17 a 24 de dezembro, que propõem uma preparação mais imediata
para a festa do Natal. Observemos como os textos litúrgicos deste tempo trabalham esta
temática
242
.
241
Os textos bíblicos das celebrações eucarísticas foram extraídos das seguintes fontes: MISSAL romano:
Lecionário dominical a-b-c. Tradução Portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil realizada e publicada pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e aprovada pela Apostólica. São Paulo:Paulinas; São Paulo:
Paulus, 1994; MISSAL romano: Lecionário semanal. Tradução Portuguesa da edição típica para o Brasil
realizada e publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e aprovada pela Sé Apostólica. São
Paulo:Paulinas; São Paulo:Loyola, 1995; MISSAL romano: Lecionário para as missas dos santos, dos comuns,
para diversas necessidades votivas. Tradução Portuguesa da edição típica para o Brasil realizada e publicada
pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e aprovada pela Sé Apostólica. São Paulo:Paulinas; São
Paulo:Loyola, 1997. Os textos eucológicos das celebrações eucarísticas foram retirados da seguinte fonte:
MISSAL romano. Tradução Portuguesa da edição típica para o Brasil realizada e publicada pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil com acréscimos aprovados pela Apostólica. São Paulo:Vozes;
Petrópolis:Vozes, 1992. Os textos patrísticos, bíblicos e eucológicos da liturgia das Horas foram extraídos da
seguinte fonte: OFÍCIO divino. Tradução para o Brasil da segunda edição típica da Liturgia das Horas segundo
o rito romano, renovado conforme o decreto do Concílio Vaticano II e promulgado pelo Papa Paulo VI. v.1:
Tempo do Advento e Tempo do Natal. Petrópolis:Vozes, 1995.
242
Cf. RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento – Natal – Epifania... p. 174-175.
74
2.1.1. Nos textos bíblicos dominicais e feriais das celebrações Eucarísticas.
O Vaticano II enriqueceu de modo notável as leituras bíblicas deste período. Cada
perícope evangélica oferece um colorido litúrgico particular a cada celebração e determina a
escolha das outras leituras, formando um conjunto harmônico
243
. retirados
Nas missas dominicais podemos perceber que o lecionário propõe um anúncio
profético, geralmente de Isaías, mas também Jeremias, Miquéias, Baruc, Sofonias; um
ensinamento apostólico do tipo moral, tirado das cartas de São Paulo, mas também de São
Tiago e da carta aos Hebreus; e um discurso ou uma narração do evangelho
244
.
Nos três ciclos litúrgicos (A,B,C), o conteúdo das leituras e, de modo especial, do
evangelho, focaliza um tema específico para cada domingo.
No evangelho do primeiro domingo podemos notar que o tema é a vigilância na espera
do Senhor. No evangelho do ano A (Mt 24, 37-44), o Senhor anuncia o seu retorno, por isso
devemos estar alertas, pois o dia está próximo “Portanto, ficai atentos! Por que não sabeis em
que dia vi o Senhor”. O perícope do evangelho do ano B (Mc 13, 33-37) também nos
convida à vigilância “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento”.
No ano C, do mesmo modo, o evangelho (Lc 21,25-28.34-36) nos convida a aguardar a
chegada do Senhor de modo atento “Portanto ficai atentos e orai a todo o momento, a fim de
terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em diante do Filho
do Homem”. As leituras veterotestamentárias são tiradas do profeta Isaías e Jeremias. Elas
nos descrevem o reino pacífico do Messias, que reunirá nele todas as nações: “A ele acorrerão
todas as nações” (ano A: Is 2, 1-5); clamam por sua vinda: “Ah! se rompesses os céus e
descesses!” (ano B: Isaías 63, 16b-17.19b;64,2b-7); e prometem um rebento da casa de Davi:
243
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 206-208.
244
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 180.
75
“Farei brotar de Davi a semente da justiça” (ano C: Jr 33, 14-16). As leituras
neotestamentárias (segunda leitura) são tiradas das cartas de São Paulo e nos exortam a
despertarmos do sono e abandonarmos as obras das trevas, pois “agora a salvação está mais
perto de nós” (ano A: Rm 13, 11-14a); alertam, pelas palavras do Apóstolo: “não tendes falta
de nenhum dom, vós que aguardais a revelação do Senhor nosso, Jesus Cristo” (ano B: 1Cor
1, 3-9); e suplicam a Deus que nos conceda a graça de crescer no amor: “Que assim ele
confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia
da vinda de nosso Senhor Jesus, como todos os seus santos” (ano C: 1Ts 3,12-4,2). Deste
modo, no primeiro domingo do Advento, nossos olhos são direcionados para a segunda vinda
de Cristo
245
.
O evangelho do segundo domingo nos faz um convite à conversão por meio de João
Batista. O reino dos céus está próximo e, por isso, é necessário preparar os caminhos. Lemos
no evangelho do ano A (Mt 3,1-12) o anúncio de João Batista: “Convertei-vos, porque o
Reino dos Céus está próximo”. No evangelho do ano B (Mc 1, 1-8) é sobre o Batista que se
diz: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas
estradas!’”. O Evangelho do ano C (Lc 3, 1-6) confirma a missão de João Batista e ainda
um caráter universal à ação salvífica de Deus: “E todas as pessoas verão a salvação de Deus’”.
A leitura veterotestamentária do ano A (Is 11, 1-10) nos descreve o reino messiânico com
cores luminosas e promete-nos que “nascerá uma haste do tronco de Jessé”, que se erguerá
“como um sinal entre os povos”. No ano B e C a volta do povo de Deus do exílio transforma-
se em uma parábola consoladora de nossa redenção no reino do Messias: “Eis, que o Senhor
Deus vem com poder, seu braço tudo domina: eis, com ele, sua conquista, eis à sua frente a
vitória” (ano B: Is, 40,1-5.9-11); “Despe, ó Jerusalém, a veste de luto e de aflição, e reveste,
para sempre, os adornos da glória vinda de Deus” (ano C: Br 5, 1-9). As leituras
245
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 208-210; cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da
Igreja... p. 179-180; cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 133.
76
neotestamentárias (segunda leitura) proclamam a Cristo como Salvador universal: “Cristo
tornou-se servo dos que praticam a circuncisão [...] Quanto aos pagãos, eles glorificam a
Deus, em razão de sua misericórdia” (ano A: Rm 15, 4-9); o qual criará “novos céus e uma
nova terra” (ano B: 2Pd 3, 8-14). Devemos estar “puros e sem defeito para o dia de Cristo”
(Ano C: Fl 1, 4-6.8-11). Esse domingo se caracteriza por promessas, exortações e uma alegre
expectativa
246
.
O terceiro domingo anuncia, por meio do evangelho, os tempos messiânicos, através
do testemunho do precursor. No ano A (Mt 11, 2-11), Jesus se declara Messias através dos
seus sinais: “Os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”. No ano B (Jo 1, 6-8.19-
28), João anuncia a presença do Messias no meio do povo: “Eu batizo com água; mas no meio
de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim”. No ano C (Lc 3, 10-18),
também é o precursor que anuncia a chegada do Messias: “Eu vos batizo com água, mas virá
aquele que é mais forte do que eu”. As leituras veterotestamentárias e neotestamentárias
(segunda leitura) nos convidam a sermos pacientes até a vinda do Senhor: “Ficai firmes até a
vinda do Senhor” (ano A: Tg 5, 7-10); nos falam do Messias “O espírito do Senhor Deus está
sobre mim, porque o Senhor me ungiu” (ano B: Is 61, 1-2a. 10-11); convidam-nos a santidade
“para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!” (ano B: 1Ts 5,16-24); e nos convidam à alegria
face ao Senhor, que está perto: “Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel!”
(ano C: Sf 3, 14-18a); “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos...”(ano C: Fl 4,
4-7). Deste modo, este domingo é marcado por uma alegria e uma expectação antecipada do
Natal e uma prontidão em abraçar uma vida toda no Espírito de Cristo
247
.
246
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 210; cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 133-134.
247
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 210; cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 134-135.
77
No quarto domingo o evangelho anuncia a vinda eminente do Messias pelo anúncio do
nascimento de Jesus a José e Maria. No ano A, o evangelho (Mt 1, 18-24) fala do conflito
interior de José, da mensagem que o anjo lhe transmite: “José, Filho de Davi, não tenhas
medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus
pecados”. No ano B (Lc 1, 26-38), lê-se a perícope da Anunciação do Senhor: “Eis que
conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus”. No ano C (Lc 1, 39-45),
lê-se a perícope da visita de Maria à sua parenta Isabel: “Bem-aventurada aquela que
acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Na primeira leitura do ano A,
temos uma referência à Mãe do Senhor, onde Deus comunica ao rei Acaz o sinal do Emanuel,
através do profeta Isaías: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o
nome de Emanuel.” (ano A: Is 7, 10,14); na leitura correspondente no ano B, por meio do
profeta Natã, Deus anuncia a existência eterna do Reino de Davi: “Tua casa e teu reino serão
estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre” (ano B: 2Sm 7,1-
5.8b-12.14a.16); no ano C na primeira leitura (Mq 5, 1-4a), o profeta Miquéias prediz que o
Messias virá de Belém de Éfrata “Tu Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de
Judá, de ti de sair aquele que dominará em Israel”. Na segunda leitura do ano A (Rm 1, 1-
7), São Paulo fala do seu chamado: “Eu, Paulo, apóstolo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por
vocação, escolhido para o Evangelho de Deus”; no ano B, na segunda leitura lê-se o últimos
versículos desta carta: “Agora este mistério foi manifestado e, mediante as Escrituras
proféticas, conforme a determinação do Deus eterno, foi levado ao conhecimento de todas as
nações, para trazê-las à obediência da fé” (ano B: Rm 16, 25-27); no ano C, mostrando a
claramente a relação existente entre a encarnação e o mistério pascal, lemos: “Ao entrar no
mundo, Cristo afirma: ‘Tu não quisestes vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo [...]
Eu vim fazer tua vontade. Com isso suprime o primeiro sacrifício, para estabelecer o segundo.
78
É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo,
realizada uma vez por todas” (ano C: Hb 10, 5-10). Deste modo, somos neste domingo
colocados às portas da Festa do Natal, onde brilha para nós o dia redenção e se aproxima a
nossa salvação
248
.
Nas leituras feriais, na primeira parte do Advento, que se estende até o dia 16 de
dezembro, lê-se quase exclusivamente na primeira leitura de maneira descontínua o profeta
Isaías, com passagens messiânicas e escatológicas
249
. A estas leituras escatológicas
correspondem os textos evangélicos, que demonstram o cumprimento das profecias, que estão
de alguma maneira relacionadas com a primeira manifestação do Senhor e anunciam a
promessa de sua vinda escatológica. Mas a partir da quinta-feira da segunda semana, lêem-se
as passagens evangélicas referentes a João Batista, o precursor, personagem típico do
Advento, que indica a presença do Messias
250
.
Na segunda parte do Advento, a partir do dia 17 de dezembro, se lêem
progressivamente na primeira leitura os oráculos messiânicos do Antigo Testamento e se
proclamam os textos evangélicos da infância segundo Mateus e Lucas, evangelistas do
nascimento do Salvador e de sua preparação. A partir do dia 19 de dezembro fazemos
praticamente a leitura contínua do primeiro capítulo de Lucas com o anúncio para Zacarias,
para Maria, a narração da Visitação e o nascimento do Batista e a preparação para o
nascimento de Cristo
251
.
Desta forma, os textos bíblicos do Advento apresentam uma linha teológica, que está
intimamente ligada com o mistério pascal: a manifestação do Senhor para a nossa redenção.
248
Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 135-136.
249
Não cito as perícopes dos textos bíblicos feriais do Advento, pois isso seria muito prolixo.
250
Cf. CASTELLANO, Jesús. El año litúrgico ... p. 70.
251
Cf. Ibidem.
79
Esta linha teológica também poderá ser observada nos textos eucológicos, que agora teremos
a oportunidade de estudar.
2.1.2. Nos textos eucológicos das celebrações Eucarísticas.
O tempo do Advento tem uma eucologia própria com temas característicos da
teologia e da espiritualidade deste tempo: esperança, alegria, conversão, renovação, o juízo do
Senhor. Esta eucologia não está intimamente ligada às leituras
252
. Ela exprime de forma
bastante autônoma os temas do Advento ou simplesmente os temas da salvação do mundo e
do homem realizada pela encarnação
253
.
Na primeira parte do Advento, a segunda vinda do Senhor é o tema principal da
eucologia. Podemos ler no prefácio do Advento I: “Revestido de nossa fragilidade, ele veio a
primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação.
Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens
prometidos que hoje, vigilantes, esperamos”. Igualmente podemos observar a dimensão
escatológica da primeira parte do Advento no prefácio do Advento IA: “Vós preferistes
ocultar o dia e a hora em que Cristo, vosso Filho, Senhor e Juiz da História, aparecerá nas
nuvens do céu, revestido de poder e majestade. Naquele tremendo e glorioso dia, passará o
mundo presente e surgirá novo céu e nova terra”
254
.
Outros textos litúrgicos falam da segunda vinda fundamentando-se nos textos bíblicos
do juízo, como podemos observar na oração do dia do primeiro domingo do Advento,
fundamentada em Mt 25, 31-45: “Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente
desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro
252
Cf. Ibidem.
253
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 210
254
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 181-182.
80
de Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos”. O tema do juízo
ainda é desenvolvido na oração do dia da quarta-feira da primeira semana do Advento, que se
fundamenta em Lc 12, 35-40: “Senhor Deus, preparai os nossos corações com a força da
vossa graça, para que, ao chegar o Cristo, vosso Filho, nos encontre dignos do banquete da
vida eterna e ele mesmo nos sirva o alimento celeste”. Ainda podemos citar a oração do dia da
sexta-feira da segunda semana do Advento, fundamentada em Mt 25, 1-3: “Ó Deus
onipotente, dai ao vosso povo esperar vigilante a chegada do vosso Filho, para que, instruídos
pelo próprio Salvador, corramos ao seu encontro com nossas lâmpadas acesas”
255
.
Esta vinda de Jesus é luz que afugenta as trevas dos nossos corações, como nos mostra
a oração do dia do sábado da segunda semana do Advento: “Concedei-nos, ó Deus todo
poderoso, que desponte em nossos corações o esplendor da vossa glória, para que, vencidas as
trevas do pecado, a vinda do vosso Unigênito revele que somos filhos da luz”. A oração do
dia da terça-feira da terceira semana nos diz que somos purificados por esta chegada: “Ó
Deus, que por meio do vosso Unigênito nos transfigurastes em nova criatura, considerai a
obra do vosso amor, e purificai-nos das manchas da antiga culpa no advento do vosso Filho”.
O Senhor vem para a nossa salvação, é o que nos manifesta a oração do dia do sábado da
primeira semana do Advento: “Ó Deus, que enviastes a este mundo o vosso Unigênito para
libertar da antiga escravidão o gênero humano, concedei aos que esperam vossa misericórdia
chegar à verdadeira liberdade”
256
.
A segunda parte do Advento, que se estende do 17 à 24 de dezembro, tem como
objetivo nos introduzir na celebração do Natal do Senhor. A Igreja prepara-se para celebrar o
mistério insondável da encarnação, como observamos na primeira oração do dia 19 de
dezembro: “Ó Deus, que revelastes ao mundo o esplendor da vossa glória pelo parto virginal
255
Cf. RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento – Natal - Epifania... p.175-176.
256
Cf. Ibidem.
81
de Maria, dai-nos venerar com pura e celebrar sempre com amor sincero o mistério tão
profundo da encarnação.” Mistério, que é ponto de partida para chegarmos à glória de sua
ressurreição, como nos revela a oração do dia do quarto domingo do Advento: “Derramai, ó
Deus, a vossa graça em nossos corações para que, conhecendo pela mensagem do Anjo a
encarnação do vosso filho, cheguemos, por sua paixão e cruz, à glória da ressurreição”
257
.
Outros textos sublinham a estreita relação entre encarnação e redenção, como
podemos comprovar na oração sobre as oferendas do dia 18 de dezembro: “O sacrifício que
celebramos em vossa honra nos torne agradáveis a vós, Senhor nosso Deus, para que
participemos da eternidade do vosso Filho que, ao se fazer mortal, nos libertou da morte”.
Também se evidencia esta ligação na oração depois da comunhão deste mesmo dia: “Ó Deus,
fazei-nos sentir vossa misericórdia nesta vossa casa para que possamos preparar dignamente a
festa da redenção que vamos celebrar”
258
.
Pelo prefácio do Advento II, somos chamados a celebrar este mistério acompanhados
pela Virgem, que deu à luz ao Filho de Deus; e por João Batista, que o pregou e o anunciou:
“Predito por todos os profetas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria, Jesus foi
anunciado e mostrado presente no mundo por São João Batista. O próprio Senhor nos a
alegria de entrarmos agora no mistério do seu Natal”
259
.
A liturgia do Advento distinguiu muito bem as duas vindas de Jesus, a primeira na
carne e a segunda em majestade e glória no final dos tempos. Mas os textos litúrgicos nos
falam ainda de uma outra vinda na celebração litúrgica. Jesus manifesta-se na celebração
litúrgica, que atualiza o mistério de sua páscoa. Chegamos a esta conclusão através dos
efeitos da vinda do Senhor, que se manifesta em nós, consolando-nos com sua presença
257
Cf. Ibidem.
258
Cf. Ibidem.
259
Cf. Ibidem.
82
como exprime a oração do dia da sexta-feira da primeira semana do Advento: “Despertai,
Senhor, o vosso poder e vinde, para que vossa proteção afaste os perigos a que nossos
pecados nos expõem e a vossa salvação nos liberte”. Este exemplo pode ser perfeitamente
interpretado como manifestação do Senhor na celebração litúrgica, uma vez que o efeito de
sua vinda tem incidência na vida atual dos fiéis. Este aspecto assim completa e ilustra os
outros dois aspectos da vinda do Senhor.
As três vindas de Jesus são os eixos em torno dos
quais se constrói a teologia do Advento
260
.
Examinemos agora como o tempo do Advento se desenvolve nos textos da Liturgia
das Horas.
2.1.3. Na Liturgia das Horas
A liturgia do período do Advento é um cântico contínuo de esperança
261
. Na liturgia
das Horas, os textos do profeta Isaías, também, são muito utilizados. Somos chamados a
assumir a atitude dos primeiros cristãos, que viviam na jubilosa expectativa da volta do
Senhor. Por isso no Ofício deste período encontramos diversas invocações e intercessões que
ressoam frequentemente em diferentes modulações o “Maranathá”
262
.
Os cristãos de hoje são chamados a nutrir-se desta espiritualidade da Igreja primitiva.
Na terça-feira da segunda semana do Advento, percebemos esta expectativa através da
260
Cf. Ibidem.
261
“Esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna,
pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça
do Espírito Santo”. (CATECISMO da Igreja Católica... n. 1817).
262
“Maranathá (= O Senhor veio, ou vem, Senhor) antiga aclamação aramaica testemunhada por Paulo (cf. 1Cor
16,22), por João (cf. Ap 22,20) e pela Didaqué 10,6. É uma profissão de na parusia de Cristo, exemplo de
prece cristológica”. (NOSETTI, A.; CIBIEN, C. Pequeno vocabulário litúrgico. In:SARTORE, Domenico;
TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia... p. 1268). Encontramos estas modulações principalmente
nas preces de laudes e vésperas. (Cf. CASTELLANO, Jesús. El año litúrgico... p. 72.)
83
segunda leitura do Ofício das Leituras, tirada da Constituição Dogmática “Lumen gentium”
que diz
263
:
A restauração que nos foi prometida e que esperamos começou, pois, em Cristo,
prossegue na missão o Espírito Santo e por meio dele continua na Igreja que, pela fé,
também nos ensina o sentido de nossa vida temporal, enquanto, com a esperança do
bens futuros, vamos realizando a obra que o Pai nos confiou no mundo e
trabalhamos para a nossa salvação.
chegou para nós o fim dos tempos; a renovação do mundo foi irrevogavelmente
decidida e de certo modo é realmente antecipada neste mundo. De fato, a Igreja
possui, já na terra, uma verdadeira santidade, embora imperfeita.
Desta maneira, somos chamados a vigiar, a viver na expectativa da segunda vinda de
Cristo. Esta vigília cria em nós um anseio por Deus. Na sexta-feira da primeira semana do
Advento, Santo Anselmo expressa apaixonadamente este desejo, na segunda leitura do Ofício
das Leituras
264
:
Vamos, coragem, pobre homem! Foge um pouco de tuas ocupações. Esconde-te um
instante do tumulto de teus pensamentos. Põe de parte os cuidados que te absorvem
e livra-te das preocupações que te afligem. um pouco de tempo a Deus e repousa
nele.
Entra no íntimo de tua alma, afasta tudo de ti, exceto Deus ou o que possa ajudar-te
a procurá-lo; fecha as portas e põe-te à sua procura...
A Liturgia das Horas também nos chama a preparar os caminhos do Senhor. O apelo à
conversão é dirigido a todos. Devemos remover os obstáculos, que impedem a manifestação
de Deus em nós. Na segunda-feira da primeira semana do Advento, São Carlos Borromeu nos
diz na segunda leitura do Ofício das leituras
265
:
Celebrando cada ano este mistério, a Igreja nos exorta a renovar continuamente a
lembrança de tão grande amor de Deus para conosco. Ensina-nos também que a
vinda de Cristo não foi proveitosa apenas para os seus contemporâneos, mas que a
sua eficácia é comunicada a todos nós se, mediante a e os sacramentos, quisermos
receber a graça que ele nos prometeu, e orientar nossa vida de acordo com os seus
ensinamentos.
A Igreja deseja ainda ardentemente fazer-nos compreender que o Cristo, assim como
veio uma vez a este mundo, revestido da nossa carne, também está disposto a vir
263
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 16.
264
Cf. Ibidem. p. 21.
265
Cf. Ibidem. p. 11.
84
de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com
a profusão de sua graças, se não opusermos resistência.
Na quarta-feira da primeira semana do Advento, São Bernardo nos fala, na segunda
leitura do Ofício das leituras, de três vindas do Senhor: a vinda que aconteceu no
nascimento, a futura vinda na glória, a vinda espiritual, que pertence ao presente
266
:
Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a primeira e a última há uma vinda
intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta, não. Na primeira vinda, o Senhor
apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi, então, como ele próprio declara,
que viram-no e não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de
Deus (Lc 3,6) e olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10): A vinda
intermediária é oculta e nela somente os eleitos o vêem em si mesmos e recebem a
salvação. Na primeira, o Senhor veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem
espiritualmente, manifestando o poder de sua graça; na última, virá com todo o
esplendor da sua glória.
Esta vinda intermediária é, portanto, como um caminho que conduz da primeira
à
última; na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa
vida; na intermediária, é nosso repouso e consolação.
Mas, para que ninguém pense que é pura invenção o que dissemos sobre esta vinda
intermediária, ouvi o próprio Senhor: Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele (cf. Jo 14,23). Lê-se também
noutro lugar: Quem teme a Deus, faz o bem (Eclo 15,1). Mas vejo que se diz algo
mais sobre o que ama a Deus, porque guardará suas palavras. Onde devem ser
guardadas? Sem dúvida alguma no coração, como diz o profeta: Conservei no
coração vossas palavras, afim de que eu não peque contra vós (Sl 118,11).
No primeiro domingo do Advento, São Cirilo de Jerusalém nos fala da dupla vinda de
Jesus Cristo, na segunda leitura do Ofício das leituras
267
:
Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira, mas também a segunda,
muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a
segunda manifestará a coroa da realeza divina.
Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla
dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes dos
séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma,
discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.
Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e
reclinado num presépio; na segunda,
será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua
ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.
Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda, mas esperamos ainda,
ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: Bendito o que vem
em nome do Senhor (Mt 19,9), aclamaremos de novo, no momento de sua segunda
vinda, quando formos com os anjos ao seu encontro para adorá-lo: Bendito o que
vem em nome do Senhor.
266
Cf. Ibidem. p. 11-12.
267
Cf. Ibidem. p. 13.
85
A partir do dia 17 de dezembro, começamos o período de preparação imediata do
Natal. Nesse momento, a liturgia assume forma distinta, concebida para nos conduzir
progressivamente à festa do Natal. O Ofício diário começa com a antífona do invitatório
“Vinde, adoremos, o Senhor que está perto”. A antífona do cântico evangélico das laudes
do dia 17 de dezembro ecoa: “Sabei que está próximo o reino de Deus. Eu vos digo e
confirmo que não tardará”
268
. Nas vésperas deste mesmo dia, servindo como antífonas do
Magnificat, iniciam-se as ricas e sugestivas “Antífonas do Ó”. Elas exprimem o espanto
comovido da Igreja na contemplação do mistério da vinda de Cristo, invocado com os tulos
tomados das clássicas imagens da Bíblia. Estas antífonas estão carregadas de esperança cristã
e expressam a necessidade universal de salvação
269
:
Ó Sabedoria, que saíste da boca do Altíssimo, e atingis a os confins de todo o
universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: oh vinde ensinar-nos o
caminho da prudência!
270
Ó Adonai, guia da casa de Israel, que aparecestes a Moisés na sarça ardente e lhe
destes vossa lei sobre o Sinai: vinde salvar-nos com o braço poderoso!
271
Ó Raiz de Jessé, ó estandarte, levantado em sinal para as nações! Ante vós se calarão
os reis da terra, e as nações implorarão misericórdia: Vinde salvar-nos! Libertai-nos
sem demora!
272
Ó Chave de Davi, Cetro da casa de Israel, que abris e ninguém fecha, que fechais
ninguém abre: vinde logo e libertai o homem prisioneiro, que, nas trevas e na
sombra da morte, está sentado.
273
Ó Sol Nascente justiceiro, resplendor da Luz eterna: Oh, vinde e iluminai os que
jazem entre as trevas e, na sombra da morte, estão sentados.
274
Ó Rei das nações. Desejado dos povos; Ó Pedra angular, que os opostos unis: Oh,
vinde e salvai este homem tão frágil, que um dia criastes do barro da terra!
275
268
Cf. Ibidem. p. 39-40.
269
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 183-184.
270
Antífona do cântico evangélico, vésperas, dia 17 de dezembro.
271
Antífona do cântico evangélico, vésperas, dia 18 de dezembro.
272
Antífona do cântico evangélico, vésperas, dia 19 de dezembro.
273
Antífona do cântico evangélico, vésperas, dia 20 de dezembro.
274
Antífona do cântico evangélico, vésperas, dia 21 de dezembro.
275
Antífona do cântico evangélico, vésperas, dia 22 de dezembro.
86
Ó Emanuel: Deus conosco, nosso Rei Legislador, Esperança das nações e dos povos
Salvador: Vinde enfim para salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!
276
Na véspera de Natal, no responsório breve das laudes, a Natividade aparece sob uma
luz pascal e redentora: “Amanhã será varrida da terra a iniqüidade. E sobre nós de reinar o
Salvador do mundo”
277
.
Por esses textos litúrgicos, concluímos que a Liturgia das Horas no tempo do Advento
assim como a Liturgia Eucarística, possui um rico conteúdo teológico, que considera todo o
mistério da vinda do Senhor na história, até a sua conclusão. Passemos agora para os textos
que fazem parte do tempo do Natal.
2.2. O mistério pascal em alguns textos do tempo do Natal.
A liturgia do tempo do Natal é muito rica. Porém, muitas vezes, fixamo-nos somente
na solenidade do Natal do Senhor e damos pouca ou menor importância às outras celebrações
deste tempo. Para compreendermos plenamente a teologia deste tempo, temos que perceber
que os temas natalícios vão pouco a pouco se desenvolvendo a partir das primeiras vésperas
do Natal do Senhor ao domingo depois da Epifania ou ao domingo depois do dia 6 de janeiro
inclusive. Observemos este desenvolvimento, através de alguns textos litúrgicos.
2.2.1. Nas celebrações eucarísticas do Natal do Senhor, da sua oitava e das férias
do tempo de Natal.
A solenidade do Natal do Senhor comporta quatro celebrações da eucaristia. O missal
do Vaticano II deu uma nova estrutura às celebrações do Natal. Antes ou depois das primeiras
Vésperas da Natividade, ainda no dia 24, é proposta uma missa da Vigília, cuja orientação
276
Antífona do cântico evangélico, vésperas, dia 23 de dezembro.
277
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 41.
87
litúrgica é claramente Pascal. Na antífona de entrada (Ex 16, 6-7), que possui um significado
messiânico e ao mesmo tempo escatológico, a vinda do Senhor é colocada em relação com a
salvação e esta com a sua “glória”: “Hoje sabereis que o Senhor vem e nos salva; amanhã
vereis a sua glória”. A primeira leitura (Is 62,1-5) fala do retorno dos exilados e apresenta
Sião como sua esposa real. No sentido messiânico cristão, Jesus Cristo é o esposo que vem no
mistério da encarnação celebrar as núpcias com a humanidade “abandonada” por causa do
pecado: “Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto
não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e não se acender nela, como uma tocha, a
salvação”. O Salmo responsorial (Sl 88) celebra o cumprimento em Cristo das promessas
messiânicas “Eu firmei uma Aliança com meu servo, meu eleito, e eu fiz um juramento a
Davi, meu servidor: Para sempre, no teu trono, firmarei tua linhagem, de geração em geração
garantirei o teu reinado!”. A segunda leitura apresenta Cristo, filho de Davi, como Salvador
de Israel (At 13, 16-17.22-25) “Conforme prometera, da descendência de Davi Deus fez
surgir para Israel um Salvador, que é Jesus”. O evangelho (Mt 1, 1-25) com a genealogia de
Cristo, mostra a solidariedade do Filho de Deus, que assume a natureza humana, no seio da
Virgem Maria “Ela dará à luz um filho e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o
seu povo dos seus pecados”. A primeira oração da vigília entonação exata à celebração do
Natal acolhendo Cristo como redentor: “Ó Deus, que reacendeis em nós a cada ano a jubilosa
esperança da salvação, dai-nos contemplar com toda a confiança, quando vier como juiz, o
Redentor que recebemos com alegria.” A oração sobre as oferendas considera a festa como
início da nossa redenção “Dai-nos, ó Deus, celebrar com grande fervor esta Eucaristia que
antecipa a solenidade do Natal, pois neste mistério vós nos mostrais o início da nossa
salvação”
278
.
278
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 185; cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da
Igreja... p. 198.
88
Na missa da noite, a primeira leitura (Is 9, 1-3.5-6) proclama a esperança messiânica
que se cumpriu neste dia festivo, nela o profeta anuncia a luz da salvação: “O povo, que
andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma
luz resplandeceu”. A segunda leitura (Tt 2,11-14) percorre o período de tempo que vai da
primeira manifestação da graça de Deus, até a Epifania do final dos tempos, para a qual o
cristão deve se preparar: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os
homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste
mundo, com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a manifestação da
glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. A perícope evangélica (Lc 2,1-14)
narra o nascimento de Cristo em Belém. Diante deste texto não devemos fazer concessões ao
sentimentalismo, nem ao racionalismo frio, nem a uma interpretação humanística e
sociológica do presépio. Todas estas posições esvaziam a substância da fé. O anúncio da
salvação na noite de Natal prepara o anúncio da noite pascal: Não tenhais medo! Eu vos
anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu
para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor”. Lucas no menino de Belém e nos fatos que
acompanham o seu nascimento o anúncio do evento pascal. São significativos os particulares
na narrativa do nascimento, confrontados com a narrativa de sua sepultura. O enfaixamento,
que denota os cuidados maternais da e em 2,7 : “Ela o enfaixou e o colocou na
manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria”, parece fazer parte de um jogo de
alusões à morte de Cristo. Jesus é deitado na manjedoura como o será no túmulo, e é enrolado
de maneira semelhante, apertado com faixas. A iconografia sublinhará esse paralelismo,
dando à manjedoura as feituras de um túmulo ou de uma sepultura. Na primeira oração da
missa da noite, o mbolo da luz é mencionado: “Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite
santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este
89
mistério, possamos gozar no céu sua plenitude”. A noite santa de Natal, que inaugura e
prepara a noite da Páscoa, é iluminada pela luz da ressurreição
279
.
Na missa da aurora do Natal, o simbolismo da luz é expresso com mais intensidade na
oração do dia: “Ó Deus onipotente, agora que a nova luz do vosso Verbo Encarnado invade o
nosso coração, fazei que manifestemos em ações o que brilha pela em nossas mentes”; e no
salmo responsorial (Sl 96) “Brilha hoje uma luz sobre nós, pois nasceu para nós o Senhor”.
Alegria e ação de graças perpassam toda a liturgia desta missa como um tema condutor
280
.
Na missa do dia de Natal, a primeira oração alude à redenção, representada pelo
intercâmbio sagrado e admirável entre Deus e o homem: “Ó Deus, que admiravelmente
criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos
participar da divindade do vosso Filho, que se dignou a assumir a nossa humanidade”.
281
O
evangelho desta missa provém do prólogo de São João “No princípio era a Palavra, e a
Palavra estava com Deus; [...]Nela estava a vida, e a vida era luz dos homens. E a luz brilha
nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la”.
Os prefácios próprios do Natal, celebram numa admirável síntese, o mistério da
encarnação, à luz da e da caridade, como revelação de Deus. O primeiro prefácio do Natal
ressalta Cristo como luz. O Verbo feito homem é a luz que nos leva ao conhecimento de
Deus: “No mistério da encarnação de vosso Filho, nova luz brilhou para nós”. Os textos dos
outros prefácios evidenciam o modo pelo qual o mistério da encarnação reintegra o universo
no desígnio de Deus. No segundo prefácio do Natal, a encarnação é o meio pelo qual
podemos ver o Invisível que, sendo atemporal, sujeita-se à nossa condição temporal: “Ele, no
mistério do Natal que celebramos, invisível em sua divindade, tornou-se visível em nossa
279
Cf. NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação... p. 197; cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 126; cf.
BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 199, 205,215-216.
280
Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 126-127.
281
Cf. RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento – Natal - Epifania... p.173.
90
carne. Gerado antes dos tempos, entrou na história da humanidade para erguer o mundo
decaído. Restaurando a integridade do universo, introduziu no Reino dos Céus o homem
redimido”. No terceiro prefácio do Natal, contemplamos pela encarnação o admirável
intercâmbio da nossa redenção: “Por ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos
vida nova em plenitude. No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza
recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nos tornamos eternos”
282
.
Durante a oitava do Natal há algumas festas muito significativas. No dia 26 de
dezembro, é celebrado o primeiro rtir de Cristo, Santo Estevão. Na primeira leitura da
liturgia (At 6,8-10;7,54-59) vemos a figura do mártir imitador de Cristo, que contempla a
glória do Ressuscitado: “Estevão cheio do Espírito Santo, olhou para o céu e viu a glória de
Deus e Jesus, de pé, à direita de Deus”. No dia 27 de dezembro celebramos São João apóstolo
e evangelista, testemunha da transfiguração e da agonia do Senhor até a cruz. Junto com
Pedro viu o sepulcro vazio e acreditou na ressurreição do Senhor, como podemos ler no
evangelho desta liturgia (Jo 20, 2-8): “Então entrou também o outro discípulo, que tinha
chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou”. No dia 28 de dezembro, celebramos os
Santos Inocentes mártires, que deram testemunho de Cristo com o sangue. A primeira leitura
nos lembra que pelo sangue de Jesus Cristo fomos purificados de todo o pecado (1Jo 1, 5-
2,2): “Ele é a tima de expiação pelos nossos pecados, e não pelos nossos, mas também
pelos pecados do mundo inteiro”
283
.
A festa da Sagrada Família, celebra-se dentro do domingo da oitava de Natal ou, se
não houver nenhum domingo dentro da oitava, celebra-se no dia 30 de dezembro. O conteúdo
dessa festa não é uniforme. Por um lado, ela se harmoniza com o ciclo do Natal, pois constitui
uma festa da manifestação do Senhor; por outro, a festa torna-se lição moralizante para as
282
Cf. RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento Natal - Epifania... p.173; cf. BERGAMINI, Augusto.
Cristo Festa da Igreja... p. 208.
283
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 221-222.
91
famílias cristãs. No dia 01 de janeiro, celebramos a Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria.
O lecionário e a eucologia apresenta-nos uma síntese dos dois temas próprios desta festa: a
maternidade de Maria e a circuncisão do Senhor.
Nos dias das férias do tempo de Natal, alguns textos reafirmam a teologia celebrada na
solenidade de Natal. Dentro do conjunto de orações destinadas aos dias da semana do tempo
do Natal, a oração do dia do sábado antes da Epifania, sublinha que a encarnação nos ilumina
com nova luz: “Deus eterno e todo-poderoso, pela vinda do vosso Filho, vos manifestastes
em nova luz”. A oração do dia da terça-feira depois da Epifania, pede que possamos conhecer
melhor o Redentor a fim de nos renovarmos interiormente: “Ó Deus, cujo Filho Unigênito se
manifestou na realidade da nossa carne, concedei que, reconhecendo sua humanidade
semelhante à nossa, sejamos interiormente transformados por ele”
284
.
Por estes e outros textos, vê-se claramente que o Natal é celebrado também como festa
de nossa salvação. Nele, através do nascimento do Redentor, saudamos e celebramos a nossa
redenção, que se cumprirá na Páscoa.
2.2.2. Na celebração Eucarística da Epifania do Senhor.
A temática dominante tem como ponto de partida o evangelho (Mt 2, 1-12), em que se
claramente que Jesus é o Rei-Messias do mundo inteiro, que ele quer levar salvação
também para os pagãos “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua
estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Com o nascimento de Cristo, já começa a cumprir-se o
que o profeta Isaías anuncia na primeira leitura (Is 60, 1-6): “Levanta-te, acende as luzes,
Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor [...] Os povos
caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora”. O salmo responsorial é um dos mais
característicos salmos messiânicos (Sl 71, 2.7-8.10-13): “Libertará o indigente que suplica, e
284
Cf. RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento – Natal - Epifania... p. 173.
92
o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente e do infeliz, e a vida dos
humildes salvará”. A segunda leitura (Ef 3,2-3a.5-6) anuncia que os gentios são chamados a
participar da salvação: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo
corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”
285
.
A antífona de entrada exprime esta manifestação salvífica de Cristo: “Eis que veio o
Senhor dos senhores, em suas mãos, o poder e a realeza”. O prefácio da Epifania sintetiza
todo o significado da festa, evidenciando que Deus revela a salvação em Cristo e assim
ilumina os homens: “Revelastes, hoje, o mistério de vosso Filho como luz para iluminar todos
os povos no caminho da salvação”
286
.
Deste modo, da mesma forma que a Solenidade do Natal, a Solenidade da Epifania,
também é uma festa da Redenção. Ao manifestar-se, o Filho entrega-se como vida e luz para
aqueles que sabem acolhê-lo.
2.2.3. Na celebração Eucarística do Batismo e Apresentação do Senhor.
Na celebração do Batismo do Senhor, o evangelho traz, no ciclo trienal, os textos
sinóticos sobre o batismo de Jesus (Mt 3, 13-17; Mc 1, 7-11; Lc 3, 15-16.21-22). Neste
acontecimento vemos um grande significado teológico salvífico. Primeiramente ele revela a
filiação divina de Jesus mediante a voz descida do céu: “Este é o meu Filho amado, no qual eu
pus o meu agrado” (Mt 3, 17). Outro significado consiste na descida do Espírito Santo sobre
Jesus, na qual a teologia patrística via a verdadeira unção e investidura de Jesus como
Messias: “E logo, ao sair da água, viu o céu se abrindo, e o Espírito, como pomba, descer
sobre ele” (Mc 1,10). A primeira leitura, tirada de Isaías (Is 42, 1-4.6-7) segundo a
285
Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 146; cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 226.
286
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 231.
93
interpretação tradicional, contém referências à unção e investidura de Jesus como Messias
“Eis o meu servo eu o recebo; eis o meu eleito nele se compraz minh’alma; pus meu
espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento da nações [...] eu te formei e te constituí como
centro de aliança do povo, luz das nações [...]” . A segunda leitura (At 10, 34-38) refere-se
igualmente à unção e investidura de Jesus como Messias: “Vós sabeis o que aconteceu em
toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de
Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder”
287
.
O prefácio do Batismo do Senhor resume o sentido teológico-salvífico da festa:
Hoje, nas águas do rio Jordão, revelais o novo Batismo, com sinais admiráveis. Pela
voz descida do céus, ensinais que vosso Verbo habita entre os seres humanos. E pelo
Espírito Santo, aparecendo em forma de pomba, fazeis saber que o vosso Servo,
Jesus Cristo, foi ungido com o óleo da alegria e enviado para evangelizar os
pobres
288
.
A festa da Apresentação do Senhor, apesar de não estar dentro do ciclo do Natal, está
ligada ao mistério da Encarnação e sua festividade. Os acontecimentos do templo descritos na
perícope evangélica (Lc 2, 22-40) são o centro temático da festa. Maria e José, apresentando
Jesus no templo, reconhecem que ele pertence a Deus e é “salvação e luz para iluminar as
nações”
289
.
Para completar este estudo do tempo do Natal na perspectiva do mistério pascal,
busquemos mais alguns elementos na Liturgia das Horas.
287
Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico... p. 147-148.
288
Ibidem. p. 148.
289
Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja... p. 239.
94
2.2.4. Na Liturgia das Horas
Cristo se fez homem
290
. Ele se fez criança. A devoção popular é atraída como um imã
para o menino na manjedoura, que inspirou incontáveis cânticos natalinos e foi retratado
tantas vezes em quadros e esculturas. Seria erro menosprezar essa exposição muito humana
do mistério, embora algumas de suas expressões sejam excessivamente sentimentais, ou
muito banais, como temos oportunidade de ver em muitos cartões de Natal. A liturgia não é
insensível ao elemento humano, mas esta cena de ternura é acoplada a uma visão teológica,
aberta ao mistério. Vejamos, por exemplo, a antífona para o cântico evangélico, das vésperas
do dia 28 de dezembro: “A Virgem santa e sem mancha, Maria, gerou-nos o Filho de Deus;
revestiu-o de membros tão frágeis, com seu leite materno nutriu-o: adoremos Jesus Salvador”.
Apesar de termos presente elementos de ternura, como a fragilidade do menino e a solicitude
maternal de Maria, a idéia preponderante neste texto é a grandeza desta criança, a qual se fez
homem sem deixar de ser Filho de Deus e cuja missão é a salvação da humanidade. A
impressão global deixada pela liturgia é a da majestade deste menino. Ela exalta a glória do
recém-nascido, aclama-o com Senhor e Rei. Na escolha dos salmos na Liturgia das Horas isto
se torna muito perceptível, pois os mesmos, propositalmente, são tirados na parte do saltério
que inclui salmos régios e messiânicos, e os salmos de entronização
291
.
O Salmo 2 início ao Ofício das leituras no dia de Natal. Exalta a realização de
Cristo: “Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, e em Sião, meu monte santo, o consagrei! O
decreto do Senhor promulgarei; foi assim que me falou o Senhor Deus; ‘Tu és meu Filho, e eu
hoje te gerei!”.
290
“Cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, nascido judeu de uma filha de Israel, em Belém, no tempo do
rei Herodes Magno e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto e crucificado em Jerusalém,
sob o procurador Pôncio Pilatos, durante o reinado do imperador Tibério, é o Filho eterno de Deus feito
homem...” (CATECISMO da Igreja Católica... n. 423).
291
Cf. RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania... p. 61-62.
95
Na liturgia do Natal, freqüentemente o título “Salvador” é aplicado a Cristo, e a
palavra salvação à sua obra. Natal e Páscoa, os dois pólos do ano litúrgico, estão conectados.
Existe uma grande afinidade entre eles. Para os Padres da Igreja, na sua visão unificada dos
mistérios de Cristo, a obra da redenção foi iniciada e parcialmente realizada na encarnação e
no Natal. Eles associavam sua vinda à terra à sua obra redentora como um todo, que culminou
no mistério pascal. O responsório da segunda leitura, do Ofício das leituras, do dia do Natal
nos diz: “Raiou hoje o dia do novo resgate de eterna alegria há muito esperado”
292
.
A liturgia das Horas também contempla o grande tema do “maravilhoso intercâmbio”.
O Filho de Deus encarnando-se, nos concede uma parcela de sua divindade. Esta transição
misteriosa pela qual Deus toma aquilo que é nosso e nos outorga aquilo que é dele, é
belamente evocada na primeira antífona das segundas vésperas da Solenidade de Santa Maria,
Mãe de Deus: “Admirável intercâmbio! O Criador da humanidade, assumindo corpo e alma,
quis nascer de uma Virgem. Feito homem, nos doou sua própria divindade”
293
.
São Leão Magno, na segunda leitura do Ofício das leituras, do dia 31 de dezembro,
explica esta deificação: “Todo homem que, em qualquer parte do mundo, acredita e é
regenerado em Cristo, liberta-se do vínculo do pecado original e, renascendo, torna-se um
homem novo. Já não pertence à descendência de seu pai segundo a carne, mas à linhagem do
Salvador, que se fez Filho do homem para que nós pudéssemos ser filhos de Deus”
294
.
Na liturgia da festa da Epifania, o tema da salvação universal é contemplada na
homilia de São Leão Magno, na segunda leitura do Ofício das Leituras: “[...]instruídos nos
mistérios da graça divina, celebremos com alegria espiritual o dia das nossas primícias e do
primeiro chamado dos povos pagãos à fé [...]”.
292
Cf. Ibidem. p. 68-69.
293
Cf. Ibidem. p. 71-72.
294
Cf. Ibidem. p. 72.
96
3. A teologia do ciclo do Natal
Como conclusão, após o estudo de alguns textos litúrgicos do Ciclo do Natal, podemos
dizer que o Ciclo do Natal é o ciclo da manifestação do Senhor. É essa a idéia fundamental
desse período, que originou-se da cristianização de festas pagãs da luz. Como pudemos
observar, os textos litúrgicos levam-nos não a contemplar o aniversário de Jesus em primeiro
plano, mas celebrar o mistério de sua manifestação ao mundo para salvar a humanidade na
humildade de nossa carne
295
.
No ciclo do Natal, assim como no ciclo da Páscoa, celebra-se o mistério da redenção,
porém em perspectivas diversas: a redenção tem na páscoa como fundamento a gloriosa
paixão de Cristo; no Natal concentra-se a atenção em Jesus Cristo, o Deus feito homem que
sofrerá a paixão e a morte para a nossa salvação
296
.
Com efeito, o Emanuel em seu presépio não nos traz apenas, nem em primeiro lugar,
toda espécie de lições morais, como o exemplo inaudito de sua pobreza. Antes de tudo, a
Encarnação do Filho de Deus estabelece entre a divindade e a humanidade uma nova relação,
permitindo-nos ver algo do mundo invisível e anunciando-nos a intimidade com o Pai, que a
redenção e o Espírito Santo hão de realizar
297
.
Cabe-nos agora participar no mistério. Toda liturgia deverá permitir-nos perscrutar as
profundezas deste mistério e deduzir as conseqüências práticas. De fato, não nos limitamos a
festejar apenas um aniversário, mas veneramos um mistério salvífico, em que a encarnação
e a parusia se relacionam como a primeira e a última etapa da metamorfose divina a realizar-
295
Cf. RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento – Natal - Epifania... p.174.
296
Ibidem. p.160.
297
JEAN-NESMY, Claude. Espiritualidade de Natal... p. 14.
97
se neste mundo. E a celebração litúrgica é justamente o que dilata aos poucos a primeira até
às dimensões da última
298
.
Se temos a possibilidade de reencontrar o “Menino Jesus”, de um modo que não será
fácil determinar, é em Jesus ressuscitado, presente por meio do memorial da morte e da
ressurreição do Senhor, que nós poderemos encontrá-lo. Desta maneira, para chegarmos ao
Natal é necessário passarmos pelo sacramento da Páscoa
299
.
O “Emanuel” é a Eucaristia, onde a Natividade se renova todos os domingos e todos
os dias
300
.
298
Ibidem. p. 15.
299
Ibidem. p. 16.
300
JENNY, Henri. El misterio pascual en el año cristiano. Barcelona:Estela, 1965, p. 40. Esta afirmação é
colocada neste trabalho não em detrimento das outras celebrações litúrgicas, nas quais Cristo também se faz
presente. Apenas ressalto que a Eucaristia é por excelência o sacramento do Mistério Pascal. Confirmando esta
afirmação lemos no Catecismo da Igreja Católica ...em sua presença eucarística Ele permanece
misteriosamente no meio de nós como aquele que nos amou e que se entregou por nós, e o faz sob os sinais que
exprimem e comunicam este amor” (CATECISMO da Igreja Católica... n. 1380). Também o documento
Ecclesia de Eucaristia confirma esta afirmação “Há, no evento pascal e na Eucaristia que o atualiza ao longo
dos séculos, uma ‘capacidade’ realmente imensa, na qual está contida a história inteira, enquanto destinatária da
graça da redenção. Este enlevo deve invadir sempre a assembléia eclesial reunida para a celebração
eucarística...” (JOÃO PAULO II. Ecclesia de Eucharistia... 5). A bula Pontifícia Incarnationis Mysterium
também afirma: “O nascimento de Jesus em Belém não é um fato que se possa relegar ao passado. Diante dele,
com efeito, está toda a história humana: nosso tempo atual e o futuro do mundo são iluminados por sua
presença”. (JOÃO PAULO II. Incarnationis Mysterium. Bula Pontifícia do Sumo Pontífice João Paulo II a todos
os fiéis que caminham para o Terceiro Milênio. São Paulo:Loyola, 1998, nº 1).
98
CONCLUSÃO
Neste momento conclusivo, gostaria de retomar e contrapor algumas idéias expostas
no decorrer desta pesquisa, para que desta maneira surjam algumas pistas de ação para uma
maior contemplação do Mistério pascal na prática litúrgica do Ciclo do Natal.
O desafio pastoral de fazer com que as nossas assembléias celebrem um Natal
autêntico, à luz do mistério pascal, é difícil. Como vimos, no primeiro capítulo, vivemos em
um ambiente sócio-cultural, onde se multiplicam os apelos para um Natal mágico, consumista
e turístico, em que se procura transformar a festa crisem festa pagã. O Natal tende a ser
transformado em uma festa meramente social e humanitária.
Na perspectiva social, percebemos que muito antes da liturgia viver o Tempo do
Advento, temos os primeiros indícios das festas natalinas. Decorações esplendorosas
mexem com o nosso imaginário e criam um ambiente de encantamento. Amplamente
divulgada pelos meios de comunicação, a simbologia das decorações natalinas pouco ou nada
têm a ver com a liturgia de Natal. De caráter universal, fora da cultura de onde surgiram,
tornam-se pura ornamentação
301
. Até o interior de nossas igrejas é invadido por estes enfeites
que prejudicam a singeleza do Tempo do Advento e antecipam a alegria do Natal.
302
A preocupação com a preparação das festas, o que inclui a decoração, as
confraternizações, a ceia de Natal, a troca de presentes, entre outros; somada com a correria
301
Existe um grande esforço para cristianizar toda esta simbologia utilizada na decoração de Natal, como por
exemplo a figura do Papai Noel que tem a sua origem ligada a São Nicolau. Porém é nítido que estes, como
outros, símbolos estão a serviço de uma visão de Natal universalmente comercializado e consumista.
302
De fato o Cerimonial dos Bispos nos passa as seguintes orientações “No tempo do Advento, o órgão e os
outros instrumentos musicais devem-se usar-se, e o altar ornar-se de flores, com aquela moderação que convém
ao caráter próprio deste tempo, de modo a não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor”. (Cf.
CERIMONIAL dos bispos. Cerimonial da Igreja restaurado por decreto do sagrado Concílio Ecumênico
Vaticano II e promulgado pela autoridade do Papa João Paulo II. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 2004, n. 236).
99
de final de ano, deixa as pessoas cansadas, irritadas e, de certo modo, indiferentes ao período
de preparação do Advento.
Para grande parte de nossa sociedade, a celebração da Eucaristia no dia de Natal não é
importante, ou possui um caráter secundário. O clima de férias, após o dia 25 de dezembro,
também prejudica uma vivência intensa do período pós-natalino.
Soma-se a isto uma visão muito devocional e sentimental dos episódios da natividade
do Senhor. É claro que não podemos deixar de lado a contemplação do aspecto histórico do
nascimento, porém esta visão não pode assumir o papel central, pois se corre o risco de
esvaziar-se, na mente dos fiéis, o significado salvífico do evento da encarnação. Devemos ter
sempre em mente, durante o Ciclo do Natal, o aspecto da manifestação do Senhor, que nos
aponta a Encarnação como o princípio de nossa redenção.
Diante deste quadro, que a primeira vista parece desanimador, somos chamados a
buscar caminhos para recuperar a verdadeira expressão de nossas liturgias do Ciclo do Natal,
para que manifestem o seu verdadeiro espírito de salvação. Somente pela valorização deste
sentido, poderemos diminuir a confusão causada pelo acúmulo de significados dados à
celebração desta festividade.
Por meio deste estudo do mistério pascal e da análise dos textos litúrgicos nesta
perspectiva podemos lançar algumas luzes.
É imprescindível seguirmos as orientações da Constituição “Sacrosanctum Concilium”
a respeito da formação litúrgica do clero:
Nos seminários e casas religiosas de estudos, a disciplina da Sagrada Liturgia esteja
entre as matérias necessárias e mais importantes, nas faculdades teológicas, porém,
entre as principais. E seja tratada tanto sob o aspecto teológico e histórico, quanto
espiritual, pastoral e jurídico. Empenhem-se, além disso, os professores das demais
disciplinas, especialmente de Teologia Dogmática, Sagrada Escritura, Teologia
Espiritual e Pastoral, que, pelas exigências intrínsecas do objeto próprio de cada
uma, ensinem o Mistério de Cristo e a história da salvação, de tal modo que
transpareçam claramente a sua conexão com a Liturgia e a unidade da formação
sacerdotal.
303
303
SC. n. 16.
100
Devemos promover a instrução litúrgica e participação ativa do povo, como nos
orienta este mesmo documento:
Com empenho e paciência procurem dar os pastores de almas a instrução litúrgica e
também promovam a ativa participação interna e externa dos fiéis, segundo a idade,
condição, gênero de vida e grau de cultura religiosa, cumprindo assim um dos
principais deveres do fiel dispensador dos mistérios de Deus; e nesse particular
conduzam seu rebanho não só pela palavra, mas também pelo exemplo
304
.
Por meio de um boa formação litúrgica do clero e do povo, na qual se enfatize a
importância do mistério pascal na liturgia; poderemos recuperar este conceito chave para se
entender a celebração litúrgica. Seguindo este fio condutor, evitar-se-á o desvio do objetivo
maior de cada celebração; e bem formadas liturgicamente, as nossas equipes de liturgia,
utilizando corretamente e de forma criativa os subsídios litúrgicos, terão condições de
trabalhar o Ciclo do Natal em seu conjunto.
Alguns aspectos de nossa liturgia precisam ser incentivados. A Liturgia das Horas,
através dos seus textos patrísticos, hinos, responsórios, antífonas e demais textos litúrgicos;
contém uma inigualável riqueza para a liturgia deste ciclo, que não pode ser deixada de lado.
Por isso, é relevante todo o esforço para valorizá-la.
Alguns aspectos da piedade popular, desde que sejam bem direcionados por uma
espiritualidade pascal, podem ajudar na vivência autêntica desse tempo litúrgico.
As novenas de Natal precisam ser menos reflexivas e mais orantes, para que
conduzam as pessoas à participação na salvação por meio da liturgia. O método ligado à
Liturgia das Horas, que privilegia o canto das Antífonas do “Ó”, é um ótimo exemplo.
O presépio é, sem dúvida, um grande instrumento catequético muito presente na
cultura popular, porém esta catequese não pode dispensar o aspecto da manifestação do
Senhor em conexão com o Mistério pascal. Abstraindo-se este sentido, o mesmo torna-se
304
SC. n. 19.
101
apenas um objeto de piedosa devoção ligada ao nascimento de Cristo. Do mesmo modo
devem ser direcionadas a manifestações folclóricas ligadas ao Natal.
A coroa do Advento traz em si o belo simbolismo da luz, que como pudemos
comprovar, está nas origens da festividade do Natal e da Epifania. Acender domingo após
domingo nova luz até o Natal denota a vitória da luz sobre as trevas, manifestada plenamente
com a chegada do Salvador. Deve-se tomar cuidado ao incluir este rito dentro celebração
eucarística, que ele não faz parte da liturgia oficial. Cabe aos liturgistas procurar a melhor
maneira de buscar uma inculturação, em plena sintonia com a liturgia proposta no Advento.
Por fim, deve-se ressaltar a importância das celebrações litúrgicas durante todo o ciclo,
pois são elas que nos conduzirão, do início do Advento até o Batismo do Senhor, à verdadeira
participação no mistério da manifestação do Senhor.
Estas reflexões e sugestões pretendem iluminar um pouco a problemática do Natal,
para que possam surgir soluções, que ajudem as nossas liturgias a serem verdadeiramente a
celebração do Mistério de Cristo.
102
ANEXO I – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE
CAMPO DE NEUSA MARIA DO REGO BORGES
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
120
121
122
123
ANEXO II – RELATÓRIO DA MISSA DE NATAL DO
PRESÍDIO FEMININO DO TATUAPÉ – SÃO PAULO
No dia 20 de dezembro de 2005 no presídio feminino do Tatuapé foi realizada uma
Missa de Natal pela equipe da pastoral carcerária, coordenada pela Ir. Marisa. Chegamos ao
presídio por volta da 14:30 e ficamos esperando os demais membros da pastoral carcerária
para entrarmos todos de uma vez. Por volta das 15:00 entramos no presídio. Na portaria
fizemos as devidas identificações e nos dirigimos até a carceragem no pavilhão 1. Ao entrar
no pavilhão pude observar vários enfeites de natal nas paredes, a maioria confeccionado de
papel alumínio e/ou papel colorido. Pude observar alguns desenhos de Papai Noel e outros
desenhos com motivos natalinos, todos feitos de modo artesanal. Havia algumas árvores de
natal, algumas naturais e uma feita de material reciclado. Um membro da pastoral explicou-
me que esta decoração foi feita para a festa realizada no final de semana.
Ao chegarmos ao local, onde iria se realizar a missa, tivemos que esperar um pouco,
pois o local estava sendo lavado. O local possuía uma pequena sala que pode ser utilizada
como capela, mas como o local é muito pequeno. Foi utilizado um pátio coberto que possuiu
grandes mesas e bancos de concreto. O altar foi montado com duas carteiras, onde se colocou
uma toalha branca, foi levada uma caixa de som com amplificador e dois microfones. Antes
de iniciar a celebração, enquanto o ambiente estava sendo arrumado, foi colocado um cd com
músicas religiosas em volume alto para chamar a atenção das presidiárias. O Pe. Luiz
(dominicano), que possuiu experiência com a pastoral carcerária, chegou trazendo o
instrumental da missa juntamente com um seminarista. Aos poucos foram chegando as
presidiárias no local. Todas foram recebidas pela pastoral que as cumprimentava
carinhosamente. Pude observar que grande parte das presidiárias eram estrangeiras, a maioria
de outros países latino-americanos. A assembléia foi se acomodando nos bancos das mesas.
Houve um problema com a pessoa responsável pelos cantos que não pode entrar no presídio.
Alguns membros da equipe decidiram ajudar a animar os cantos.
Foi distribuída uma folha de cantos e o folheto litúrgico “Povo de Deus em São Paulo”
do dia 25 de dezembro que possui a liturgia da missa do dia e da tarde, porém o presidente da
celebração preferiu não ficar preso ao folheto.
A Ir. Marisa fez uma pequena acolhida convidando a todos a se colocarem em espírito
de oração e explicando um pouco o sentido daquela celebração. O Pe. Luiz iniciou os ritos
iniciais, com o sinal da cruz e o ato penitencial, o Glória foi omitido e feita a oração do dia.
As leituras e o salmo de resposta foram feitos pelas presidiárias. O Evangelho foi lido pelo
padre que preferiu ler o evangelho da vigília. Na homilia o padre começou a falar sobre o
Natal na atualidade e suas distorções e explicou o verdadeiro sentido do Natal que tem como
centro a pessoa de Jesus. Depois a palavra foi aberta a todos e as presidiárias puderam
expressar sua opinião sobre o Natal. Algumas expressaram que Natal significa o nascimento
de Jesus, outras que Natal é a festa da reunião das famílias, outras que é festa de Jesus na
família, outra falou da tristeza de estar longe da família nesta data, mas depois disse que ali
ela encontrava uma outra família. Uma disse que apesar da dificuldade ela conseguiu
encontrar Deus no presídio. Algumas mencionaram o sofrimento de Jesus e falaram também
sobre o sofrimento que elas passam neste local, algumas se referiram a Jesus como o
124
Salvador. Na liturgia eucarística o presidente da celebração abriu um espaço para que todos
pudessem mencionar os seus falecidos. O Pai Nosso foi rezado de mãos dadas, o abraço da
paz foi deixado para o final da celebração. Após a comunhão foi feita a oração e dada uma
bênção especial para todos. O coral de presidiárias cantou no final a música “Jesus Cristo” de
Roberto Carlos e depois a oração da família em espanhol. Logo após, todos se saudaram com
o abraço da paz e desejaram um Feliz Natal.
Durante toda a celebração a assembléia se demonstrou interessada e atenta, apesar de
demonstrarem pouca familiaridade com a liturgia da missa e tendo-se em conta a dificuldade
gerada pela grande quantidade de pessoas estrangeiras. Percebi que a pastoral atua com muita
boa vontade, mas que ainda possui grande limitação para a animação da liturgia devido as
dificuldades que a pastoral enfrenta (entre elas a falta de cooperação de outras denominações
cristãs) a falta de pessoas, recursos e condições. Porém apesar destas dificuldades a
celebração proporcionou a verdadeira vivencia do mistério pascal.
Pe. Sidnei Fernandes Lima
125
ANEXO III – RELATÓRIO DA MISSA DE NATAL
(24/12/2005) DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO
BOM PARTO – TATUAPÉ.
A Celebração deste dia foi especial, pois celebramos com muita alegria o Nascimento
do Messias.
A Igreja estava enfeitada com flores, as luzes dos “pisca-pisca” estavam todas acesas
para iluminar esta grande noite de festa.
A animação da missa foi feita pelo grupo de jovens da paróquia (Juventude Bom Parto
JBP) onde eles cantaram músicas apropriadas para a celebração. O canto de entrada teve o
toque do sino, anunciando a chegada do Messias. Foi cantado o Gloria In Excelsis Deo.
Foram proclamadas todas as leituras e o Salmo foi cantado. Logo após o Evangelho, a
Pastoral de Teatro “Do Palco ao Altar”, encenou a peça “Presépio Vivo”, onde foi
apresentado desde o anúncio do Anjo Gabriel à Virgem Maria até o Nascimento de Jesus,
depois da encenação, os jovens que fizerem José e Maria, levaram a imagem de Jesus até o
Presépio montado na Igreja.
Para finalizar a celebração, foi introduzida uma parte da música “Noite Feliz” na gaita
e logo em seguida os jovens e toda a assembléia estavam cantando.
Flávia Marques Elias
126
ANEXO IV – REDAÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL SOBRE O NATAL
127
128
129
130
131
132
133
ANEXO V – REDAÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO
MÉDIO SOBRE O NATAL
134
135
136
ANEXO VI – CARTÕES DE NATAL
137
138
ANEXO VII – FOTOGRAFIAS DO PERÍODO DO
CICLO DO NATAL
Decoração do Shopping Anália Franco – São Paulo
Cidade dos Pingüins - Dez 2006
139
Decoração do Shopping Tatuapé – São Paulo
Fazenda Cocoricó - Dez 2006
140
Presépio da Igreja São João Batista
Vila Carrão – São Paulo
Dez 2006
Presépio da Igreja Nª Sra. do Bom Parto
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Presépio da Igreja Santa Isabel
Vila Santa Isabel – São Paulo
Dez 2006
141
Presépio da Igreja São João Batista
Vila Carrão – São Paulo
Dez 2006
Presépio da Igreja Santo Antônio de Lisboa
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Presépio da Igreja Nª Sra. da Conceição
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Presépio da Igreja Santa Marina
Vila Carrão – São Paulo
Dez 2006
142
Coroa do Advento da Igreja Santo Antônio de Lisboa
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Coroa do Advento da Igreja Santa Isabel
Vila Santa Isabel – São Paulo
Dez 2006
Coroa do Advento da Igreja Nª Sra do Bom Parto
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Coroa do Advento da Igreja Nª Sra. da Conceição
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
143
Presépio da casa de Domenica Angela Cersosimo
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Mesa da ceia de Natal da casa de
Domenica Angela Cersosimo
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Mesa da ceia de Ano Novo da casa de
Domenica Angela Cersosimo
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
Árvore de Natal da casa de
Domenica Angela Cersosimo
Tatuapé – São Paulo
Dez 2006
144
ANEXO VIII – FOLHETO DO ENCERRAMENTO DA
NOVENA DE NATAL NA PARÓQUIA NOSSA
SENHORA DO BOM PARTO – TATUAPÉ
145
146
147
148
ANEXO IX – FOLHETOS DE CANTO UTILIZADOS
NAS MISSAS DO CICLO DO NATAL NA PARÓQUIA
NOSSA SENHORA DO BOM PARTO - TATUAPÉ
149
150
151
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153
154
155
156
157
158
159
160
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA
1. Fontes
1.1. Sagrada Escritura
BÍBLIA: Bíblia de Jerusalém. ed. rev. ampl. São Paulo:Paulus, 2002.
BÍBLIA: Bíblia do Peregrino. São Paulo:Paulus, 2002.
1.2. Livros litúrgicos
CERIMONIAL dos bispos. Cerimonial da Igreja restaurado por decreto do sagrado Concílio
Ecumênico Vaticano II e promulgado pela autoridade do Papa João Paulo II. 3ª ed. São Paulo:
Paulus, 2004.
MISSAL romano. Tradução Portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil realizada e publicada
pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com acréscimos aprovados pela
Apostólica. São Paulo:Vozes; Petrópolis:Vozes, 1992.
MISSAL romano: Lecionário dominical a-b-c. Tradução Portuguesa da 2ª edição típica para o
Brasil realizada e publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e aprovada pela
Sé Apostólica. São Paulo:Paulinas; São Paulo: Paulus, 1994.
MISSAL romano: Lecionário semanal. Tradução Portuguesa da edição típica para o Brasil
realizada e publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e aprovada pela
Apostólica. São Paulo:Paulinas; São Paulo:Loyola, 1995.
MISSAL romano: Lecionário para as missas dos santos, dos comuns, para diversas
necessidades votivas. Tradução Portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil realizada e
publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e aprovada pelaApostólica. São
Paulo:Paulinas; São Paulo:Loyola, 1997.
OFÍCIO divino. Tradução para o Brasil da segunda edição típica da Liturgia das Horas
segundo o rito romano, renovado conforme o decreto do Concílio Vaticano II e promulgado
pelo Papa Paulo VI. v.1: Tempo do Advento e Tempo do Natal. Petrópolis:Vozes, 1995.
161
RITUAL da penitência.Tradução portuguesa para o Brasil da segunda edição típica do Ritual
Romano renovado por decreto do Concílio Vaticano II, promulgado por autoridade do Papa
Paulo VI. São Paulo:Paulus, 1999.
1.3. Textos patrísticos e textos litúrgicos antigos
AGOSTINHO. Sermões de Natal e Epifania. ed. Tradução das Monjas Beneditinas Abadia
Santa Maria. São Paulo:Paulinas, 1959. (PL 38,39)
LEÃO MAGNO. Sermões sobre o Natal e a Epifania. Tradução e notas de Maria Teixeira de
Lima e Introdução de Cirilo Folch Gomes. Petrópolis:Vozes, 1974. (PL 54, 21-38)
PEREGRINAÇÃO de Etéria. Liturgia e catequese em Jerusalém no século IV. Tradução do
original latino, introdução e notas por Maria da Glória Novak. Comentário Alberto
Beckhäuser. 2ª ed. Petrópolis:Vozes. 2004. (PLS 1, 1047)
SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA (PORTUGAL). Antologia Litúrgica: textos
litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima, 2003.
1.4. Documentos do Magistério
1.4.1. Documentos do Magistério universal da Igreja
CATECISMO da Igreja Católica (11.10.1992). Edição Típica Vaticana. São Paulo:Loyola,
1999.
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium
(04.12.1963); AAS 56 (1964) 97-138. In: VIER, Frederico (coord.). Compêndio Vaticano II,
Constituições, Decretos, Declarações. 27ª ed. Petrópolis:Vozes, 1998, p. 257-306.
___. Constituição Dogmática Lumen Gentium (21.11.1964); AAS 57 (1965) 5-112. In: VIER,
Frederico (coord.). Compêndio Vaticano II, Constituições, Decretos, Declarações. 27ª ed.
Petrópolis:Vozes, 1998, p. 37-117.
___. Constituição Dogmática Dei Verbum (18.11.1965); AAS 58 (1966) 817-836. In: VIER,
Frederico (coord.). Compêndio Vaticano II, Constituições, Decretos, Declarações. 27ª ed.
Petrópolis:Vozes, 1998, p. 119-139.
___. Decreto Presbyterorum Ordinis (07.12.1965); AAS 58 (1966) 991-1024. In: VIER,
Frederico (coord.). Compêndio Vaticano II, Constituições, Decretos, Declarações. 27ª ed.
Petrópolis:Vozes, 1998, p. 435-483.
162
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS.
Diretório sobre piedade popular e liturgia: princípios e orientações (17.12.2001). São
Paulo:Paulinas, 2003. (Documentos da Igreja, 12).
INSTRUÇÃO geral sobre a liturgia das horas (11.04.1971). In: OFÍCIO divino. Tradução
para o Brasil da segunda edição típica da Liturgia das Horas segundo o rito romano, renovado
conforme o decreto do Concílio Vaticano II e promulgado pelo Papa Paulo VI. v.1: Tempo do
Advento e Tempo do Natal. Petrópolis:Vozes, 1995, p. 21-82.
INSTRUÇÃO geral sobre o missal romano (26.03.1970). In: AS INTRODUÇÕES gerais dos
livros litúrgicos. 2ª ed. São Paulo:Paulus, 2003, p. 99-205.
INTRODUÇÃO geral do elenco das leituras da missa (25.05.1969). In: MISSAL Romano.
Lecionário dominical a-b-c. Tradução Portuguesa da edição típica para o Brasil realizada e
publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e aprovada pelaApostólica. São
Paulo:Paulinas; São Paulo: Paulus, 1994, p. 13-48.
JOÃO PAULO II. Dies Domini (31.05.1998); AAS 90 (1998) 713-766. Carta Apostólica do
sumo Pontífice João Paulo II ao Episcopado, ao Clero e aos Fiéis da Igreja Católica sobre a
santificação do Domingo. 4ª ed. São Paulo:Paulinas, 1998. (A voz do Papa, 158).
___. Incarnationis Mysterium. (29.11.1998); AAS 91 (1999). Bula Pontifícia do Sumo
Pontífice João Paulo II a todos os fiéis que caminham para o Terceiro Milênio. São
Paulo:Loyola, 1998.
___. Ecclesia de Eucharistia.
(17.04.2003); AAS 95 (2003). Carta Encíclica do sumo
Pontífice João Paulo II aos bispos, aos presbíteros e diáconos, às pessoas consagradas e a
todos os fiéis leigos sobre a eucaristia na sua relação com a Igreja. São Paulo:Paulinas, 2003.
(A voz do Papa, 185).
NORMAS universais sobre o ano litúrgico e calendário romano geral (14.11.1969) . In:
MISSAL romano. Tradução Portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil realizada e publicada
pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil com acréscimos aprovados pela
Apostólica. São Paulo:Vozes; Petrópolis:Vozes, 1992, p. 101-125.
PAULO VI. Mysterium Fidei (03.09.1965); AAS 57 (1965) 753-774. Carta Encíclica de sua
santidade o Papa Paulo VI sobre o culto da Sagrada Eucaristia. São Paulo:Paulinas, 1965. (A
voz do Papa, 32).
1.4.2. Documentos do Conselho Episcopal Latino-Americano
CELAM. Conclusões da Conferência de Medellín (1968): Trinta anos depois, Medellín é
ainda atual?. 2ª ed. São Paulo:Paulinas, 2004.
___. Evangelização no presente e no futuro da América Latina: Conclusões da III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano Puebla (1979). ed. São
Paulo:Paulinas, 1986.
163
___. Santo Domingo conclusões: Texto Oficial - Edição Didática (1992). São Paulo:Loyola,
1992.
1.4.3. Documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil (1989) . 8ª ed. São Paulo:Paulinas, 1989.
(Documentos da CNBB, 43).
1.5. Pesquisa de Campo
1.5.1. Questionário
Questionário sobre a vivência do Natal de Neusa Maria do Rego Borges, 2006.
1.5.2. Fotografias
Fotografias da Igreja Santo Antônio de Lisboa, Arquidiocese de São Paulo, Região Belém,
Setor Tatuapé; durante o ciclo do Natal de Dezembro de 2006.
Fotografias da Igreja Nossa Senhora do Bom Parto, Arquidiocese de São Paulo, Região
Belém, Setor Tatuapé; durante o ciclo do Natal de Dezembro de 2006.
Fotografias da Igreja Nossa Senhora da Conceição, Arquidiocese de São Paulo, Região
Belém, Setor Tatuapé; durante o ciclo do Natal de Dezembro de 2006.
Fotografias da Igreja Santa Marina, Arquidiocese de São Paulo, Região Belém, Setor Carrão;
durante o ciclo do Natal de Dezembro de 2006.
Fotografias da Igreja São João Batista, Arquidiocese de São Paulo, Região Belém, Setor
Carrão; durante o ciclo do Natal de Dezembro de 2006.
Fotografias da Igreja Santa Isabel Rainha, Arquidiocese de São Paulo, Região Belém, Setor
Vila Formosa; durante o ciclo do Natal de Dezembro de 2006.
Fotografias do Shopping Anália Franco, situado no Jardim Anália Franco, São Paulo, SP; na
época do Natal, 2006.
Fotografias do Shopping Tatuapé, situado no Tatuapé, São Paulo, SP; na época do Natal,
2006.
Fotografias da residência de Domenica Angela Cersosimo na época do Natal, 2006.
164
1.5.3. Redações
Redações sobre o Natal, feitas por alunos do ensino fundamental da Escola Santa Maria,
situada no bairro do Pari, São Paulo, SP, 2005.
Redações sobre o Natal, feitas por alunos do ensino médio da Escola Santa Maria, situada no
bairro do Pari, São Paulo, SP, 2005.
1.5.4. Folhetos Litúrgicos
Folhetos de canto utilizados nas missas do Ciclo do Natal na Paróquia Nossa Senhora do Bom
Parto, Arquidiocese de São Paulo, Região Belém, Setor Tatuapé, 2006.
Folheto do encerramento da Novena de Natal na Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto,
Arquidiocese de São Paulo, Região Belém, Setor Tatuapé, 2005.
1.5.5. Relatórios de observação participante.
Relatório da Missa de Natal da Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, Arquidiocese de São
Paulo, Região Belém, Setor Tatuapé, 24 de Dezembro de 2005.
Relatório da Missa de Natal do presídio feminino do Tatuapé – São Paulo, SP, 20 Dezembro
de 2005.
1.5.6. Cartões de Natal.
Cartão de Natal enviado por Lourdes, Rosana e Aníbal, “Velas Natalinas, 2004.
Cartão de Natal enviado por Rita, “Presépio”, 2005.
Cartão de Natal enviado por J. Rafael Leite “Sinos”, 2005.
Cartão de Natal Editora Paulinas, “Pastor e ovelhas”, série centelha, nº 30.
1.5.7 Livros, periódicos e subsídios: litúrgicos, catequéticos, de espiritualidade e
para práticas de piedade popular do povo cristão.
ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Novena de Natal 2005: Deus dialoga com seu povo.
São Paulo, 2005.
___. Novena de Natal 2006: Jesus, o missionário do Pai. São Paulo, 2006.
165
CARPANEDO, Penha; GUIMARÃES, Marcelo. Ofício da Novena do Natal. 2ª ed. São
Paulo:Paulinas, 2003. (Liturgia no caminho. Série celebrações populares).
CENTRO DE PASTORAL POPULAR. Natal com as crianças: A sabedoria de Deus nos faz
mais felizes! Brasília, 2005. (Novena de Natal).
___. Natal em Família: Famílias unidas querem ver Jesus Caminho, Verdade e Vida
Sabedoria de Deus. Brasília, 2005. (Novena de Natal)
___. Natal com as crianças: Jesus é a luz de nossas vidas! Brasília, 2006. (Novena de Natal)
___. Natal com os jovens: Essa luz brilha nas trevas! Brasília, 2006. (Novena de Natal)
___. Natal em Família: Essa luz brilha nas trevas! Famílias unidas querem ver Jesus,
caminho, verdade e vida! Brasília, 2006. (Novena de Natal)
CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. 1ª ed. Brasília, [s.d.].
___. Diretório da Liturgia: e da organização da Igreja no Brasil 2005 Ano A - São Mateus.
Brasília, 2004.
___. Diretório da Liturgia: e da organização da Igreja no Brasil 2006 Ano B - São Mateus.
Brasília, 2005.
___. Diretório da Liturgia: e da organização da Igreja no Brasil 2007 Ano C - São Mateus.
Brasília, 2006.
___. Hinário Litúrgico. v.1: Advento, Natal, Ordinário da Missa. 5. ed. São Paulo:Paulus,
2003.
___. Jesus, o divino solidário com os pobres: Roteiros homiléticos do tempo do Advento,
Natal e primeira parte do Tempo Comum. 1ª ed. São Paulo:Paulinas; São Paulo:Paulus, 2006.
___. Novena de Natal 2004: Reunidos em família, preparando a vinda do Senhor! ed. São
Paulo:Paulinas; São Paulo:Paulus, 2004.
___. Novena de Natal da CNBB: Reunidos em família, preparando a vinda do Senhor! ed.
Brasília, 2005.
___. Novena de Natal da CNBB: Reunidos em família, preparando a vinda do Senhor! ed.
Brasília, 2006.
___. O Tempo se completou e o Reino de Deus está próximo: Convertei-vos e crede no
evangelho, roteiros homiléticos do tempo do Advento, Natal e primeira parte do Tempo
Comum. 1ª ed. São Paulo:Paulinas; São Paulo:Paulus, 2005.
DEUS CONOSCO DIA A DIA. Aparecida:Santuário. v. 4, n. 48, dez. 2005.
166
___. Aparecida:Santuário. v. 5, n. 49, jan. 2006.
___. Aparecida:Santuário. v. 5, n. 60, dez. 2006.
___. Aparecida:Santuário. v. 6, n. 61, jan. 2007.
DIOCESE DE JALES. Caminhando e cantando. 5. ed. Jales:Grafisa, [s.d.].
EQUIPE SALESIANA INTERINSPETORIAL. Cantemos ao Senhor: Edição 2000. ed.
São Paulo:Salesianas, 1999.
GOEDERT, Valter Maurício. Nasceu o Salvador: Espiritualidade natalina. São
Paulo:Paulinas, 2004. (arte e mensagem)
GUIMARÃES, Marcelo; CAMPANEDO, Penha. Dia do Senhor: guia para as celebrações
das comunidades – Ciclo do Natal ABC. v. 1. São Paulo:Paulinas, 2002.
IUBEL, Cristovam. Vamos até Belém, e vejamos o que se realizou”:Novena em
preparação para o Natal -2005. [s.l.: s.n].
KOLLING, Míria T.; PRIM, José Luiz; BECKHÄUSER, Alberto (Org.). Cantos e orações:
Para a liturgia da missa, celebrações e encontros. Edição A. Petrópolis:Vozes, 2004.
LITURGIA DIÁRIA. São Paulo:Paulus. v. 14, n. 167, nov. 2005.
___. São Paulo:Paulus. v. 14, n. 168, dez. 2005.
___. São Paulo:Paulus. v. 15, n. 169, jan. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 15, n. 180, dez. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 16, n. 181, jan. 2007.
MACCARI, Natália (idealização e coordenação); BRAZÃO, Suely Mendes. 2ª ed. O Advento.
São Paulo:Paulinas, 1995.
___. Símbolos do Natal. 5ª ed. São Paulo:Paulinas, 1996.
MENSAGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS. São Paulo:Loyola. v. 111, n. 1236, dez. 2005.
___. São Paulo:Loyola. v. 112, n. 1246, dez. 2006.
MICHELETTI, Guillermo D. Como Viver o Advento e o Natal: chegada de Jesus dom de
Deus. 1ª ed. São Paulo:Ave Maria, 2003.
NOVENA de Natal 2005: A luz brilhou nas trevas. São Paulo: Paulus, 2005.
O DOMINGO SEMANÁRIO LITÚRGICO-CATEQUÉTICO. São Paulo:Paulus. v. 73, n.
57, 27 nov. 2005.
167
___. São Paulo:Paulus. v. 73, n. 58, 04 dez. 2005.
___. São Paulo:Paulus. v. 73, n. 59, 11 dez. 2005.
___. São Paulo:Paulus. v. 73, n. 60, 18 dez. 2005.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 01, 01 jan. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 02, 08 jan. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 56, 03 dez. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 57, 10 dez. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 58, 17 dez. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 59, 24 dez. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 60, 25 dez. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 74, n. 61, 31 dez. 2006.
___. São Paulo:Paulus. v. 75, n. 01, 01 jan. 2007.
___. São Paulo:Paulus. v. 75, n. 02, 07 jan. 2007.
OFICÍO divino das comunidades. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 1994.
POVO DE DEUS EM SÃO PAULO SEMANÁRIO LITÚRGICO. São Paulo:Mitra
Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 01, 27 nov. 2005.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 02, 04 dez. 2005.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 03, 11 dez. 2005.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 04, 18 dez. 2005.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 05, 24 dez. 2005.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 06, 25 dez. 2005.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 07, 01 jan. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 30, n. 08, 08 jan. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 01, 03 dez. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 02, 10 dez. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 03, 17 dez. 2006.
168
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 04, 24 dez. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 05, 24 dez. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 06, 25 dez. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 07, 31 dez. 2006.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 08, 01 jan. 2007.
___. São Paulo:Mitra Arquidiocesana de São Paulo. v. 31, n. 09, 07 jan. 2007.
REVISTA FAMÍLIA CRISTÃ. São Paulo:Paulinas. v. 72, n. 840, dez. 2005.
___. São Paulo:Paulinas. v. 73, n. 852, dez. 2006.
SANTOS, Anízio Ferreira dos (Org.). Hora Santa Litúrgica:Tempo do Advento. São
Paulo:Paulinas, 2004.
___. Hora Santa Litúrgica:Tempo do Natal. São Paulo:Paulinas, 2004.
SOUZA, Sérgio Jeremias de Souza. Meu presente de Natal: Os símbolos do Natal. ed. São
Paulo:Paulus, 1996.
VIDA PASTORAL - REVISTA BIMESTRAL PARA SACERDOTES E AGENTES DE
PASTORAL. São Paulo:Paulus v.46, n.245, nov-dez 2005.
___. São Paulo:Paulus v.47, n.246, jan-fev 2006.
___. São Paulo:Paulus v.47, n.251, nov-dez 2006.
1.5.8. Artigos de Jornais
ALBERTO, Rafael. Deus se manifesta aos homens e começa seu ‘novo povo’, diz papa. O
São Paulo. São Paulo, 09 jan. 2007. Especial, p. 5.
ASSUNÇÃO, Moacir. Os shoppings vestidos de Natal. O Estado de São Paulo. São Paulo, 25
de nov. 2005. Estadão Leste, p. ZL4.
BALAZINA, Afra. Ibirapuera inaugura hoje árvore de 55m. Folha de São Paulo. São Paulo,
04 dez. 2005. Cotidiano, p. C5.
BARALDI, Paulo. Fim de ano com festa na empresa. O Estado de São Paulo. São Paulo, 01
dez. 2005. Oportunidades, p. Co 1.
BERGAMO, Mônica. “Papai Noel, eu quero...”. Folha de São Paulo. São Paulo, 18 de dez.
2005. Ilustrada, p. E2.
169
BETTO, Frei. Natal, desconfortos e expectativas. Folha de São Paulo. São Paulo, 25 dez.
2005. Opinião, p. A3.
___. Missa do Galo. Folha de São Paulo. São Paulo, 25 dez. 2006. Opinião, p. A3.
CONY, Carlos Heitor. Bimbalham os sinos. Folha de São Paulo. São Paulo, 25 dez. 2005.
Opinião, p. A2.
DANTAS, Vera. Compras de última hora lotam região da 25 e shoppings. O Estado de São
Paulo. São Paulo, 23 dez. 2005. Economia, p. B3.
FOLGATO, Marisa et al. Trânsito ruim. E vai até o Natal. O Estado de São Paulo. São Paulo,
26 nov. 2005. Metrópole, p. C1.
GIRO pelo mundo dos Noéis. Folha de São Paulo. São Paulo, 22 de dez. 2005. Turismo, p.
F6.
HUMMES, Cláudio. As luzes do Natal. O Estado de São Paulo. São Paulo, 21 dez. 2005.
Espaço aberto, p. A2.
LACERDA, Ana Paula. Venda de cartão de Natal sobrevive à internet. O Estado de São
Paulo, São Paulo, 19 dez. 2005. Negócios, p. B9.
MENOCCHI, Simone; SILVEIRA, Guto. Natal com comida típica da roça. O Estado de São
Paulo. São Paulo, 21 dez. 2005. Agrícola, p. G6-G7.
O NATAL em três continentes. O Estado de São Paulo, São Paulo, 24 de dez. 2005.
Internacional, A13.
PAIVA, Fred Melo. O Natal e os dilemas da fé. O Estado de São Paulo. São Paulo, 25 de dez.
2005. Aliás, p. J4-J5.
PENNAFORT, Roberta. Luzes do Natal chegam ao Ibirapuera e à Lagoa. O Estado de São
Paulo. São Paulo, 17 nov. 2005. Cidades/Metrópole, p. C10.
PEREYRA, Alessandra. Réveillon para 2,2 milhões na Paulista. O Estado de São Paulo. São
Paulo. 14 dez. 2005. Cidades/Metrópole, p. C10.
SILVA, Beatriz Coelho. Ceagesp espera vender 160 mil pinheiros este mês. O Estado de São
Paulo. São Paulo. 08 dez. 2005. Cidades/Metrópole, p. C10.
___. Rio prepara réveillon para 4 milhões. O Estado de São Paulo. São Paulo. 08 dez. 2005.
Cidades/Metrópole, p. C10.
TÓFOLI, Daniela. es vivem ‘Tensão Pré-Natal’. Folha de São Paulo. São Paulo, 20 dez.
2005. Cotidiano, p. C10.
___. Presidente da CNBB critica ‘presentes por obrigação’. Folha de São Paulo. São Paulo,
25 dez. 2005. Cotidiano, p. C7.
170
___. Voluntários alegram Natal de necessitados. Folha de São Paulo. São Paulo, 25 dez.
2005, Cotidiano, p. C7.
VALLERIO, Ciça. Bons fluidos para a entrada do ano. O Estado de São Paulo. São Paulo,
24/25 dez. 2005. Feminino, p. F4-F6.
ZONTA, Natália. São Paulo que se veste para o Natal. O Estado de São Paulo. São Paulo, 07
dez. 2005. Cidades/Metrópole, p. C10.
___. 1500 fiéis são esperados para a Missa do Galo na Catedral da Sé. O Estado de São
Paulo. São Paulo, 23 dez 2005. Vida&, p. F4.
1.5.9. Internet
COMEÇAM as liquidações. Jornal Hoje. 27 dez. 2006. Disponível em:
http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,VJS0-3076-20061227-258973,00.html . Acesso
em: 29 de jan. 2007, 10:24:46
DIA de desmontar as árvores. SPTV- primeira edição. 06 jan. 2007. Disponível em:
http://sptv.globo.com/Sptv/0,19125,LPO0-6146-20070106-260399,00.html . Acesso em: 29
de jan. 2007, 10:41:51.
DIA mundial da troca. Jornal Hoje. 26 dez. 2006. Disponível em:
http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,VJS0-3076-20061226-258826,00.html . Acesso
em: 29 de jan. 2007, 10:23:49.
é Natal no comércio. SPTV- primeira edição. 03 nov. 2005. Disponível em:
http://sptv.globo.com/Sptv/0,19125,LPO0-6146-20051103-233416,00.html . Acesso em: 09
de nov. 2007, 17: 33: 27.
LIMA, Rossini Tavares de Lima. saíram de viagem para visitar Menino Jesus. Jangada
Brasil, n. 61, [dez.] 2003. Disponível em:
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro61/especial28.asp . Acesso em: 8 de dez.
2005, 18:03:01.
METRÓPOLE deserta. SPTV- segunda edição. 25 12. 2006. Disponível em:
http://sptv.globo.com/Sptv/0,19125,LPO0-6147-20061225-258726,00.html . Acesso em: 30
de dez. 2006, 11:50:17.
NEVES, Guilherme Santos. O Natal: festa do povo. Jangada Brasil, n. 85, [dez.] 2005.
Disponível em: http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro85/fe85012b.asp . Acesso
em: 8 de dez. 2005, 17:47:57.
RELATÓRIO do Seminário Nacional sobre a Constituição sobre a Sagrada Liturgia. Mar.
2003. Brasília. Disponível em:
http://www.cnbb.org.br/index.php?op=pagina&chaveid=254.01sa0006
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nov. 2007, 12:28:30.
171
TEIXEIRA, Fausto. Folclore de Natal. Jangada Brasil, n. 61, [dez.] 2003. Disponível em:
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro61/especial10.asp . Acesso em: 8 de dez.
2005, 18:03:44.
TRINDADE, Solano. Folia de Reis. Jangada Brasil, n. 61, [dez.] 2003. Disponível em:
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro61/especial11.asp . Acesso em: 8 de dez.
2005, 18:03:14.
2. Dicionários
BECKER, Udo. Dicionário de Símbolos. São Paulo:Paulus, 1999.
BERARDINO, Angelo Di (org.). Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs.
Petrópolis:Vozes; São Paulo:Paulus, 2002.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1988.
HEINZ-MOHR, Gerard. Dicionário dos Símbolos: imagens e sinais da arte cristã. São
Paulo:Paulus, 1994.
LURKER, Manfred. Dicionário de figuras e símbolos bíblicos. São Paulo:Paulus, 1993.
MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. 5ª ed. São Paulo:Paulus, 1983.
SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia. ed. São
Paulo:Paulus, 2004.
3. Estudos
3.1. Livros
ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico. São Paulo:Paulinas, 1983.
ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. Petrópolis:Vozes, 2002.
___. Gestos e Símbolos. São Paulo:Loyola, 2005.
AUGÉ, Matias et al. O ano litúrgico, história e teologia da celebração. São Paulo:Paulinas,
1991. (Anámnesis, 5).
172
AUGÉ, Matias. Liturgia - História, Celebração, Teologia, Espiritualidade. ed. São
Paulo:Ave Maria, 1996.
___. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável
a Deus”. 1ª ed. São Paulo:Ave Maria, 2002.
BERGAMINI, Augusto. Cristo Festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral
do ano litúrgico. 3ª ed. São Paulo:Paulinas, 1994.
BECKHÄUSER, Alberto. Celebrar a vida Cristã: formação litúrgica para agentes de
pastoral, equipes de liturgia e grupos de reflexão. 9ª ed. Petrópolis:Vozes, 2000.
___. Símbolos de Natal. 5ª ed. Petrópolis:Vozes, 2001.
___. Cantar a liturgia. 2ª ed. Petrópolis:Vozes, 2004.
___. Os fundamentos da Sagrada Liturgia. Petrópolis:Vozes, 2004.
___. Símbolos litúrgicos. 18ª ed. Petrópolis:Vozes, 2004.
___. Coroa de Advento: história, simbolismo e celebrações. Petrópolis:Vozes, 2006.
BOFF, Leonardo. Natal: A humanidade e a jovialidade de nosso Deus. ed.
Petrópolis:Vozes, 2004.
BOGAZ, Antônio Sagrado. Natal festa de luz e de Alegria: para animação litúrgico-pastoral.
São Paulo:Paulus, 1996.
BOROBIO, Dionisio. (Org.). A celebração da Igreja. v. 1: liturgia e sacramentologia
fundamental. São Paulo:Loyola, 1990.
___. A celebração da Igreja. v. 3: Ritmos e tempos da celebração. São Paulo:Loyola, 2000.
BROWN, Raymond E. Um Cristo adulto no Natal. São Paulo:Loyola, 1990.
___. Um Cristo que vem no advento: Ensaios sobre as narrativas evangélicas em preparação
para o nascimento de Jesus (Mateus 1 e Lucas 1). 1ª ed. São Paulo:Ave Maria, 1996.
BUYST, Ione. Como estudar Liturgia. 4ª ed. São Paulo:Paulus, 2003.
___. Preparando Advento e Natal. 2ª ed. São Paulo:Paulinas, 2004.
BUYST, Ione; SILVA, José Ariovaldo. O Mistério celebrado: memória e compromisso I. São
Paulo:Paulinas, 2004. (Livros básicos de Teologia, 9).
CANTALAMESSA, Raniero. O mistério do natal. 5ª ed. Aparecida:Santuário, 1993.
CASTELLANO, Jesús. El año litúrgico Memorial de Cristo y mistagogia de la Iglesia.
Barcelona:Centre de Pastoral Litúrgica, 1996.
173
CENTRO DE LITURGIA. Ano Litúrgico com realidade simbólico-sacramental. São Paulo:
Paulus, 2002. (Cadernos de liturgia).
COSTA, Valeriano Santos. Viver a ritualidade litúrgica como momento histórico da
salvação: participação litúrgica segundo a Sacrosanctum Concilium. São Paulo:Paulinas,
2005.
EMARD, Jeanne. A arte floral a serviço da liturgia. São Paulo:Paulinas, 1999.
FERLAY, Philippe. Jesus nossa Páscoa: teologia do mistério pascal. São Paulo:Paulinas,
1978.
FLICOTEAUX, E. Espiritualidad del año litúrgico. Salamanca:Sígueme, 1966.
FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo:Paulinas, 2006.
FONSECA, Joaquim. Cantando a missa e o ofício divino. São Paulo:Paulus, 2004.
GALVÃO, Antônio Mesquita. A revelação de Jesus: na visita dos “Reis Magos” a Belém.
ed. São Paulo:Ave Maria, 2002.
GRÜN, Aselm. Natal: celebrar um novo começo festa entre os tempos. São Paulo:Loyola,
2003.
JEAN-NESMY, Claude. Espiritualidade de Natal. São Paulo:Paulinas, 1966.
JENNY, Henri. El misterio pascual en el año cristiano. Barcelona:Estela, 1965.
KONINGS, Johan. Liturgia dominical: Mistério de Cristo e formação dos fiéis (A-B-C).
ed. Petrópolis:Vozes, 2003.
LEMARIÉ, Joseph. A manifestação do Senhor. São Paulo:Paulinas, 1960.
LUTZ, GREGÓRIO. O que é liturgia? 2ªed. São Paulo:Paulus, 2003.
___. Celebrar em espírito e verdade. 3ªed. São Paulo:Paulus, 2005.
MARSILI, Salvatore et al. Panorama histórico geral da liturgia. São Paulo:Paulinas, 1987.
(Anámnesis, 2).
___. A eucaristia: teologia e história da celebração. São Paulo:Paulinas, 1987. (Anámnesis,
3).
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade: Introdução teológica à liturgia. v. 1.
Petrópolis:Vozes, 1996.
MASINI, Mario. Belém: Lectio Divina do Natal. São Paulo:Paulinas, 2000.
NERY, José Israel. Natal: teologia, tradição, símbolos. Aparecida:Santuário, 2004.
174
NEUNHEUSER, Burkhard et al. A liturgia: momento histórico da salvação. São
Paulo:Paulinas, 1986. (Anámnesis, 1).
NOCENT, Adrien. Contempler sa gloire. Paris:Universitaires, 1960.
NOCENT, Adrien et al. Os sacramentos: teologia e história da celebração. São
Paulo:Paulinas, 1989. (Anámnesis, 4).
RAVAGLIOLI, Alessandro M. Em clima de Natal. São Paulo:Paulinas, 1995.
REYNAL, Daniel de. Teologia da Liturgia das Horas. São Paulo:Paulinas, 1981.
RYAN, Vicent. Do Advento à Epifania. São Paulo:Paulinas, 1992.
SANTE, Carmine di. Liturgia Judaica: fontes, estrutura, orações e festas. São Paulo:Paulus,
2004.
3.2. Artigos de Livros e Dicionários.
AUGÉ, Matias. Eucologia. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 415-423.
___. Princípios de interpretação dos textos litúrgicos. In: NEUNHEUSER, B. et al. A liturgia:
momento histórico da salvação. São Paulo:Paulinas, 1986, p. 193-218. (Anámnesis, 1).
___. Teologia do Ano Litúrgico. In: AUGÉ, Matias et al. O ano litúrgico: história e teologia
da celebração. São Paulo:Paulinas, 1991, p. 9-34. (Anámnesis, 5).
BERGAMINI, Augusto. Advento. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 12-14.
___. Ano Litúrgico. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de
Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 58- 63.
___. Natal/Epifania. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de
Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 811- 813.
BOROBIO, Dionisio. Pastoral do ano litúrgico. In: BOROBIO, Dionisio. (Org.). A
celebração da Igreja. v. 3: Ritmos e tempos da celebração. São Paulo:Loyola, 2000, p. 253-
264.
ESCOBAR, Francisco. A Celebração do Mistério de Cristo. In: CELAM. Manual de Liturgia
II : A celebração do Mistério Pascal Fundamentos teológicos e elementos constitutivos. São
Paulo:Paulus, 2005, p. 13-84.
FILORAMO, Giovanni. Gnose/Gnosticismo. In: BERARDINO, Angelo Di (org.). Dicionário
Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Petrópolis:Vozes; São Paulo:Paulus, 2002, p. 624-627.
175
HAMMAN, Adalbert. Sacramento. In: BERARDINO, Angelo Di (org.). Dicionário
Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Petrópolis:Vozes; São Paulo:Paulus, 2002, p. 1241.
JOUNEL, Pierre. O Tempo do Natal. In: MARTIMORT, A. G. (Org.). A Igreja em Oração.
Singeverga:Ora&Labora; Tournai:Desclée&Cie, 1965, p. 836-848.
MARSILI, Salvatore. A liturgia, momento histórico da salvação. In: NEUNHEUSER,
Burkhard. et al. A liturgia: momento histórico da salvação. São Paulo:Paulinas, 1986, p. 37-
190. (Anámnesis, 1).
MARTÍN, Julián López. Tempo sagrado, tempo litúrgico e mistério de Cristo. In: BOROBIO,
Dionisio. (Org.). A celebração da Igreja. v. 3: Ritmos e tempos da celebração. São
Paulo:Loyola, 2000, p. 31-65.
MCKENZIE, John L. Mistério. In: Dicionário Bíblico. ed. São Paulo:Paulus, 1983, p. 618-
621.
___. Setenta. In: Dicionário Bíblico. 5ª ed. São Paulo:Paulus, 1983, p. 874-876.
NEUNHEUSER, Burkhard. Mistério. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M.
(Org.). Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 756- 771.
NOCENT, Adrien. O tempo da manifestação. In: AUGÉ, Matias et al. O ano litúrgico,
história e teologia da celebração. São Paulo:Paulinas, 1991, p. 181-213. (Anámnesis, 5).
___. Panorâmica histórica da evolução do ano litúrgico. In: AUGÉ, Matias et al. O ano
litúrgico: história e teologia da celebração. São Paulo:Paulinas, 1991, p. 37-56. (Anámnesis,
5).
NOSETTI, A.; CIBIEN, C. Pequeno vocabulário litúrgico. In: SARTORE, Domenico;
TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004.
RAMIS, G. Ano Litúrgico: Ciclo do Advento Natal - Epifania. In: BOROBIO, Dionisio.
(Org.). A celebração da Igreja. V. 3: Ritmos e tempos da celebração. São Paulo:Loyola,
2000, São Paulo:Loyola, 1993, p. 161-184.
ROSA, Guillermo. O que celebramos ? In: CELAM. Manual de Liturgia I: A celebração do
Mistério Pascal – Introdução à celebração litúrgica. São Paulo:Paulus, 2004, p. 89-117.
___. O Tempo na Liturgia. In: CELAM. Manual de Liturgia II: A celebração do Mistério
Pascal Fundamentos teológicos e elementos constitutivos. São Paulo:Paulus, 2005, p. 381-
406.
SAXER, Victor. Ano Litúrgico. In: BERARDINO, Angelo Di (org.). Dicionário Patrístico e
de Antiguidades Cristãs. Petrópolis:Vozes; São Paulo:Paulus, 2002, p. 104-106.
___. Epifania. In: BERARDINO, Angelo Di (org.). Dicionário Patrístico e de Antiguidades
Cristãs. Petrópolis:Vozes; São Paulo:Paulus, 2002, p. 478.
176
___. Natal (festa do). In: BERARDINO, Angelo Di (org.). Dicionário Patrístico e de
Antiguidades Cristãs. Petrópolis:Vozes; São Paulo:Paulus, 2002, p. 979.
SORCI, Pedro. Mistério Pascal. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 771-787.
TRIACCA, Achille M. Tempo e Liturgia. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M.
(Org.). Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 1161-1174.
VISENTIN, Pelágio. Eucaristia. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. 3ª ed. São Paulo:Paulus, 2004, p. 395-415.
3.3. Artigos de Revistas
AMIET, Robert. Introduction au Mystère Pascal. La Maison-Dieu, Paris, v. -, n. 217, p. 119-
151, 1999/1.
ASHWORTH, Henry. I temi del nuovo Lezionario patristico: Avvento-Natale-Epifania.
Rivista Litúrgica. Torino-Leumann, v. 59 – nuova serie, n. 5, p. 677-705, 1972.
AUGÉ, Matias. Le collette di Avvento-Natale-Epifania del Messale Romano. Rivista
Litúrgica. Torino-Leumann, v. 59 – nuova serie, n. 5, p. 614-627, 1972.
BARBAGLIO, Giuseppe; GHIDELLI, Carlo. Temi biblici per il tempo di Avvento e Natale:
Dal Lezionario della Messa e della Liturgia delle Ore. Rivista Litúrgica. Torino-Leumann, v.
59 – nuova serie, n. 5, p. 663-676, 1972.
BAROFFIO, Bonifacio. Le orazioni dopo la comunione del tempo di Avvento. Rivista
Litúrgica. Torino-Leumann, v. 59 – nuova serie, n. 5, p. 649-662, 1972.
BORGA, Juliana. Espírito Natalino. Revista família cristã. São Paulo, v. 72, n. 840, dez.
2005, p. 30-32.
BRIEND, Jacques. La Pâque: Passage de la mor à la vie. La Maison-Dieu. Paris, v. -, n. 240,
p. 21-32, 2004/4.
BUYST, Ione. Mistérios... tocando no misterioso coração da vida. Revista de Liturgia, São
Paulo, v. 20, n. 118, 1993, p. 8-10.
___. A novena de Natal: considerações teológico-litúrgico-pastorais. Revista de Liturgia,
Cabreúva, v. 33, n. 197, p. 4-10, 2006.
___. Música ritual: uma entrada para o mistério Ouve-se na terra um grito! Revista de
Liturgia. Cabreúva, v. 33, n. 197, p. 21-24, 2006.
177
CABIÉ, Robert. Quand on commençait à parler du Mystère Pascal. La Maison-Dieu. Paris, v.
-, n. 240, p. 07-19, 2004/4.
FRANCESCONI, Gianni. Per uma lettura teologico-liturgica dei prefazi di Avvento-Natale-
Epifania del Messale Romano. Rivista Litúrgica. Torino-Leumann, v. 59 nuova serie, n. 5,
p. 628-648, 1972.
GONNET, Dominique. La Pâque des Pères de l’Église. La Maison-Dieu. Paris, v. -, n. 240, p.
33-57, 2004/4.
GOOSSENS, André. Polyvalence accentuée: Le cycle de noël selon Vatican II. Questions
Liturgiques. Leuven, v. 73, n. 4, p. 205-222, 1992.
GUIMARÃES, Marcelo; CARPANEDO, Penha. Ofício da Novena de Natal. Revista de
Liturgia, Cabreúva, v. 33, n. 197, p. 17-20, 2006.
ISNARD, Clemente José Carlos. O Ano Litúrgico. Revista de Liturgia, São Paulo, v. 9, n. 54,
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JOHNSON, Cuthbert. The sources of the Roman Missal (1975). Notitiae, Cittá del Vaticano,
v. 32, n. 1-2-3, p. 3-180, 1996.
LAMERI, Angelo. Tempo di Avvento e di Natale. Rivista Litúrgica. Torino-Leumann, v. 90
terza serie, n. 4, p. 591-594, 2003.
LEMMENS, Leon. Le Dimanche à la lumière des apparitions pascales. Questions
Liturgiques. Leuven, v. 72, n. 3-4, p. 177-190, 1991.
LIMA JÚNIOR, Joviano de. A celebração do mistério de Cristo. Revista de Liturgia, São
Paulo, v. 9, n. 54, p. 3-6, 1982.
LUTZ, Gregório. O ano litúrgico visão global. Revista de Liturgia, São Paulo, v. 14, n. 80,
p. 7-12, 1987.
___. A espiritualidade do ano litúrgico. Revista de Liturgia. São Paulo, v. 14, n. 80, p. 22-25,
1987.
___. O estudo da liturgia na América Latina. Revista de Liturgia, São Paulo, v. 14, n. 81, p.
22-25, 1987.
___. O aniversariante de Natal. Tear Liturgia em Revista, São Leopoldo, v. - , n. 6, p. 8-9,
2001.
MELO, José Raimundo. Preparando as pessoas para a missa. Mensageiro do coração de
Jesus. São Paulo, v. 112, n. 1246, dez. 2006, p. 6-9.
MICHIELS, Guibert. Les oraisons du missel romain au temps de l’avent. Questions
Liturgiques. Leuven, v. 85, n. 2, p. 216-243, 2004.
178
NEUNHEUSER, Burkhard. La venuta del Signore: teologia del tempo di Natale ed Epifania.
Rivista Litúrgica. Torino-Leumann, v. 59 – nuova serie, n. 5, p. 599-613, 1972.
___. Il mistero Pasquale “culmen et fons” dell’anno liturgico. Rivista Litúrgica. Torino-
Leumann, v. 62 – nuova serie, n. 2, p. 151-174, 1975.
PAHL, Irmgard. Le Mystère Pascal essentiel pour la forme de la liturgie. La Maison-Dieu.
Paris, v. -, n. 204, p. 51-70, 1995/4.
SOULETIE, Jean-Louis. Destin du Mystère Pascal dans la Christologie. La Maison-Dieu.
Paris, v. -, n. 240, p. 59-87, 2004/4.
VERHEUL, Ambroos. Les oraisons des offices du matin et du soir. Questions Liturgiques.
Leuven, v. 72, n. 2, p.127-141, 1991.
___. L’année liturgique: de l’histoire à la théologie. Questions Liturgiques. Leuven, v. 74, n.
1, p. 05-16, 1994.
VISENTIN, Pelagio. Testi e temi nei canti del tempo di Avvento e Natale: Liturgia delle Ore.
Rivista Litúrgica. Torino-Leumann, v. 59 – nuova serie, n. 2, p. 151-173, 1972.
3.4. Textos não publicados
SILVA, José Ariovaldo da. O Mistério celebrado ao longo dos tempos Panorama histórico
geral da liturgia. São Paulo:Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção
Curso de Especialização em Liturgia, 2005. Mimeografado.
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