comportamento das mulheres, através de um discurso educacional claro, informando
aos leitores, a partir principalmente das imagens negativas construídas em torno das
meretrizes, como a mulher deveria se comportar para ser boa mãe, dona de casa e fiel ao
marido.
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Ao caracterizar negativamente as prostitutas assassinadas, os periódicos
reforçavam um ideal de mulher voltada para o lar e para o filho, uma vez que o tom de
desaprovação que existia nos termos utilizados –“ decaídas”, “corpo corroído pelo
vício”- era um alerta aos leitores sobre os perigos que os comportamentos
“inadequados” das meretrizes podiam gerar.
Assim, segundo a imprensa, como o submundo do meretrício era constituído
por diversos tipos de criminosos, alto consumo de drogas e álcool, além de relações
sociais violentas, o fim de vida dessas mulheres não poderia ser outro senão o de terem
um destino “cruel”. Para o periódico A noite:
A meretriz Frida foi entregue aos pensamentos e tristezas que refletiam a todo instante a vida
infernal e miserável a que se submetia, impelida de certo, pelos rigores de um destino mau.
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O jornal acima, como tantos outros, buscavam explicar que tais mulheres
naturalmente teriam um destino trágico, pois suas vidas eram repletas de “vícios”, o que
reforçava a idéia de inadequação social aos padrões de comportamentos considerados
civilizados da época. Alessandra Martinez
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adverte que os ideais de civilização não se
restringiam somente ao desenvolvimento material e industrial do país, mas também à
moralidade, aos bons costumes, moderação e controle dos impulsos, abrangendo então o
que era definido como “cortesia” ou “civilidade”. As prostitutas eram representadas,
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Vale notar que nas notícias de jornais sobre os homicídios de meretrizes poucas vezes encontramos
referências de caráter elogioso às prostitutas. Mas devemos destacar que podemos encontrar referências
simpáticas a algumas meretrizes em outros tipos de fontes, tais como nos casos de suicídios, como foi a
morte da meretriz Jamara Werner relatado pelo jornal O Paiz. Segundo o jornal, “ Jamara Werner,
polonesa, de 19 anos, residente no Rio de Janeiro há dois anos, muito meiga, insinuante e graciosa, e por
esta razão muito requisitada por todos... matou-se com um tiro no ouvido no quarto da pensão”, O Paiz
(14 de maio de 1914). Podemos perceber que o suicídio podia ser visto pela imprensa como uma maneira
da meretriz buscar a redenção, pois o ato de morrer voluntariamente representava a procura desta mulher
de se libertar de seus pecados e vícios. Por isso, talvez nestes casos as meretrizes fossem bem vistas pelos
jornais. Além disso, existiam, como bem expõe Margareth Rago, referências elogiosas às prostitutas
estrangeiras uma vez que estas desempenharam uma função “civilizadora” na sociedade brasileira do
período da Belle Époque. A autora assinala que muitos romances e depoimentos destacam essa dimensão
da vida dos bordéis e cabarés, onde tais prostitutas, experientes e viajadas, ensinavam regras sofisticadas
de conduta aos paulistanos deslumbrados com as conquistas da modernidade e com o progresso.
Juntamente com a venda do prazer, o mundo da prostituição destilava práticas eróticas, sexuais e sociais
mais refinadas, já que aí se praticavam formas de sociabilidade referenciadas pelos padrões da cultura
européia.Sobre as imagens positivas construídas em torno da prostituição, ver as obras de Margareth
Rago, Os prazeres da noite. Op.cit e Imagens da prostituição na Belle Époque paulistana. Cadernos
Pagu, n.1, 1993,pp.31-44.
16
“ Nua e morta!: estirada na cama, a mulher tinha os braços sobre o peito”, A noite, (19 de janeiro de
1925), 3.
17
Martinez, Alessandra Frota. Educar e instruir. A instrução popular na corte imperial, 1870 a
1889.Dissertação de mestrado, UFF, 1997.