científica das áreas de química, mecânica, fisiologia, óptica e eletricidade. Surgiu,
assim, o cinematógrafo cuja originalidade se constituiu no relacionamento da
técnica do registro e da projeção das imagens em movimento. Uma base social
permitia o investimento de tempo e dinheiro nesse tipo de experiência voltada
não só para o desenvolvimento científico, mas igualmente pela percepção de que
esse instrumento de exploração da curiosidade pública teria grande retorno
econômico. A junção da ciência, da magia e dos interesses econômicos gerou o
cinema, um signo e um emblema do imaginário da modernidade, o dispositivo
construído para materializar e reproduzir artificialmente o imaginário cultural. E,
desde seu nascimento, o cinema se configura em duas correntes estéticas
paralelas: por um lado os irmãos Lumiére
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, produtores de filmes curtos que
retratavam a realidade - documentária, um realismo absoluto – e por outro lado, o
mágico Georges Méliès, que viu no cinema nova fonte de ilusão com
possibilidade de manipulação do material filmado - ficção - o irrealismo absoluto
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.
Considerando essas duas correntes estéticas, assumimos que o diretor Bernardo
Bertolucci, embora sem se desvencilhar do realismo documental, apresenta
maior aproximação com Méliès no filme Os Sonhadores. Mas há outras divisões
das correntes estéticas do cinema. Truffaut declara que as considerações
estéticas o preocupam.
“Acredito, por exemplo, que há dois tipos de cinema: a corrente
Lumière e a corrente Delluc. Lumière inventou o cinema para filmar a
natureza das ações,
L’Arroseur arrosé
. Delluc, que era romancista e
crítico, pensou que se podia usar essa invenção para filmar idéias, ou ações,
com um significado que ultrapassasse as evidências, e que o cinema podia
também flertar de vez em quando com as outras artes. O que veio a seguir?
Foi a história do cinema, com a corrente Lumière sendo ilustrada por
Griffith, Chaplin, Stroheim, Flaherty, Gance, Vigo, Renoir, Rosselini e,
5Louis e Auguste Lumière (1864-1948) inventaram o cinematógrafo na França e registraram o
invento em 1895. Produziram mais de 2000 filmes.
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Georges Mélies (1861-1938), mágico criador do cinema espetáculo. Realizou perto de mil filmes,
fazendo uso de uma série de recursos para representação da fantasia e concretização dos
sonhos.