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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
As práticas e os reflexos das novas experiências visuais,
eletrônicas e digitais nas gerações contemporâneas:
análise do Jornal Nacional – Edição das Eleições
Presidenciais 2006
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Comunicação
da Universidade Paulista – UNIP para
obtenção do título de mestre em
Comunicação.
Vanise de Barros Mellaci
São Paulo
2008
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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
As práticas e os reflexos das novas experiências visuais,
eletrônicas e digitais nas gerações contemporâneas:
análise do Jornal Nacional – Edição das Eleições
Presidenciais 2006
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Comunicação
da Universidade Paulista – UNIP para
obtenção do título de mestre em
Comunicação, sob orientação do Prof.
Dr. Antonio Adami.
Vanise de Barros Mellaci
São Paulo
2008
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Banca Examinadora
4
Mellaci, Vanise de Barros
As práticas e os reflexos das novas experiências visuais,
eletrônicas e digitais nas gerações contemporâneas: análise do
Jornal Nacional, edição das eleições presidenciais 2006 /
Vanise de Barros Mellaci. – São Paulo, 2008.
232 f.:il, color
Dissertação (mestrado) – Apresentada ao Instituto de
Ciências Humanas da Universidade Paulista, São Paulo, 2008.
Área de Concentração: Comunicação e Cultura Midiática
“Orientação: Antonio Adami”
1. Imagem digital. 2. Televisão. 3. Edição. 4. Montagem. 5.
Imagem eletrônica I. Título.
5
A minha mais recente sobrinha,
a pequena Lara.
Seja bem-vinda a este mundo de
tantos sabores e desabores.
6
Agradecimentos
Agradeço aos meus queridos pais, pelo apoio e amor incondicionais e
pelo eterno exemplo de perseverança. E por tantas obrigações que foram
postergadas em decorrência deste objetivo. Aos meus irmãos, sobrinhos e
cunhados, por acreditarem e sempre me apoiarem.
Ao meu professor, sócio e sempre amigo Paulo Sampaio, pelo exem-
plo eterno de caráter, paciência e companherismo.
Aos amigos e profissionais Adélia Giordano, Dôra Mendes, Edson
Gardin, Gaziela Azevedo, Lairtes Vidal, Liliana Barabino (in memoriam),
Marcia Pudelko, Marlise Toni, José Maurício Silva, Eduardo Weber. Coloca-
dos em ordem alfabética, pois cada um a seu modo teve grande importâcia
nesta etapa da minha vida.
Aos professores, funcionários e amigos da UNIP, em especial ao meu
orientador Antonio Adami, por ter possibilitado a construção e o aperfeiçoa-
mento deste trabalho. A CAPES pelo apoio prestado por meio da bolsa
concedida.
A amiga e revisora oficial Irene Incao, pela dedicação e pelo ótimo
trabalho realizado.
Por fim, a Deus, por mais essa experiência, e pela sorte de conviver
com pessoas que só me dão exemplos de coragem e superação.
7
Resumo
Os jovens de hoje são capazes de receber e processar muito mais
informações, simultaneamente e por diferentes meios. Nasceram num
ambiente em que a tecnologia é uma realidade, e estão inevitavelmente e
intimamente ligados a ela. Uma habilidade conquistada com a revolução
digital, tornando-os detentores hábeis das novas tecnologias.
As rotinas, os modismos, os ideais de vida, os excessos, a ausência
de limites, são as experências absorvidas pelo ritmo da vida midiatizada, e
estão constituindo formas culturais cada vez mais visuais, eletrônicas e
digitais. Analisaremos essas experiências promovidas pouco a pouco por um
meio de comunicação, provavelmente precursor e produtor dessas
mudanças, presente na vida desses jovens desde a infância e que manteve
com eles uma relação a que podemos chamar de familiar, e em plena era
digital continua propensa a ampliar suas potencialidades. Falamos da
televisão, meio que ainda visiona uma vida muito longa, sobretudo depois de
efetivar-se a mudança no modo de transmissão de dados – de analógica
para digital.
Trataremos o processo comunicativo, as suas práticas culturais e os
seus reflexos na incorporação dessas novas experiências e vivências,
considerando, unir a força ideológica, a percepção e a sensação estética e
técnica dessa mídia.
8
Focaremos nosso estudo na decupagem técnica do material
divulgado pelo Jornal Nacional, sobre o processo eleitoral brasileiro para
presidente da República em 2006. O Jornal Nacional, foi escolhido por ser
líder de audiência e longevidade no ar, além de um produto altamente
codificado, que edita, seleciona, decide e determina como contará aos
brasileiros fatos da realidade. A análise pretende perceber a percepção e o
entendimento factual da notícia pela geração contemporânea, habituada a
velocidade e a segmentação, considerando o grau de envolvimento da
prática usual da edição, mas especificamente da “montagem branca”,
elemento técnico que nem sempre é claramente detectado ou percebido
pelo olhar do telespectador tradicional.
Palavras-chave: Imagem eletrônica; Imagem digital; Televisão; Jornal
Nacional; Edição; Montagem branca
9
Abstract
Young people today are capable to absorb and process much more
information, simultaneously, and by different means. They were born in an
environment in which the technology is a reality, and therefore they are
intimately and inevitably linked to it. This is an ability which was acquired with
the technological revolution turning this new generation into successful users
and changing agents of this technology.
The routines, the life ideals, the excesses, lack of limits, are the
experiences absorbed by this new media-oriented life, which are constructing
cultural forms that are, at each stage, more visual, more electronic and more
digital.
We will analyze these experiences which are promoted little by little by
a communication media, probably itself a promoter of these changes, present
in the life of the youth people since puberty and which has maintained a
relation with them which we may call familiar, and that may even today may
amplify their potentials. We talk about the television, a media which will
probably live for a long time, specially if we consider the change from
analogical to digital.
We will deal with the communication process, its cultural practices and
its reflection on the incorporation of these new experiences, considering its
10
capability of unifying the ideological forces, the perception and aesthetical
and technical sensations if this media.
We will focus our study on the technical documentation of the 2006
presidential elections, which was run by Jornal Nacional. The Jornal Nacional
was chosen because of its longevity and leadership, and also because of its
high level of coding, editing, selection, determination of how its going to show
reality to Brazilians. The analyses intends to understand the perception and
factual reasoning by the present generation, considering ones familiarity to
edition This generation is used to factors such as velocity and segmentation,
more specifically to "white compilation", technical element which is not
always detected by the traditional viewer.
Key-words: electronic image, digital image, television, edition, White
compilation
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO…………………………..……………………………………… 14
CAPÍTULO 1: REFERENCIAIS TEÓRICOS …….……………………………23
1.1. A inquietação humana e a evolução da imagem……..……….…23
1.2. Falso ou verdadeiro……………..…………………………………..29
A presença dos elementos rituais e míticos
primitivos na comunicação e nas mídias contemporâneas
1.3. Os códigos da comunicação……………..…..………………….…36
As formas simbólicas criadas ou convencionadas pelo
homem para sua expressão, comunicação e interação
com outros homens
1.4. A desordem da ordem……………..…..………………………..…42
A organização social e política do homem
1.5. A cultura do “ECO” ……………..…..…………………..………..…46
A era da reprodutibilidade técnica à sociedade da imagem
12
1.6. Ritmo acelerado……………..…..……………..…………….…..…50
Uma nova experiência do corpo e da percepção do ser
humano. O consumo dos meios visuais, o excesso
de imagens impondo uma nova ordem aos nossos modos
de compreender e agir sobre o mundo
1.7. As novas experiências eletrônicas e digitais……………..…....…61
Tudo gira em torno do homem, o mundo está a seu dispor
CAPÍTULO 2 –– A MÍDIA TELEVISIVA……………..…..…………….…....…69
2.1. Televisão – a fantástica instituição criadora de sentido..………..69
A maior produtora de imagens eletrônicas enviadas
a distância, transmitidas com rapidez e constância
2.2. A televisão no Brasil……………..…..…..……………………...…..91
Padrão “Globo” de qualidade
2.3. Imagens e sons de todo o Brasil………………………….……..…99
Jornal Nacional – a luta contra o tempo
2.4. A produção e edição do telejornal……………..…..….……….…111
Escolha, recorte e interpretação da notícia
2.5. A “montagem branca” ……………..…..………………………..…120
A produção dos sentidos e a fabricação de notícias
13
2.6. Edições X eleições……………..…..…………………….……..…125
O espetáculo da edição – eleições presidenciais 2006
CAPÍTULO 3 –– METODOLOGIA
3.1. Metodologia utilizada…….…………………............……….....…133
3.2. Módulo 1…….…………………............……........................……134
3.2.1. Escolha do objeto de estudo…….………….......…...…134
3.2.2. Análise dos recursos técnicos…….…………...........…137
3.2.3. Análise do Módulo 1…….…………...................………145
3.3. Módulo 2…….…………………..................……..................……188
3.3.1. Coleta de dados…….…...................……….......………189
RESULTADOS E DISCUSSÃO............……...........................……190
CONSIDERAÇÕES FINAIS…….……………….........................……203
BIBLIOGRAFIA…….…….....................………..........................……211
LISTA DE FIGURAS…….…….....................….........................……218
ANEXOS…….……................................………..........................……222
14
INTRODUÇÃO
“Essa moçada de hoje não quer nada com nada.” Essa é uma das
frases mais ouvidas hoje, nas universidades e congressos. Assim destaca a
pedagoga Rosemary Roggero na palestra realizada para a SBPC
1
, com o
tema “Contradições na educação superior: o perfil do jovem
2
contemporâneo
e o discurso pedagógico”, e complementa, “os professores dizem que os
jovens são imaturos, irresponsáveis, não querem aprender, não se
dedicam”. Essa situação, esse estranhamento dos mestres com relação ao
comportamento e a aprendizagem dos jovens é foco hoje de muitas
preocupações no meio acadêmico e um dos motivos de estudarmos o
porquê dessa mudança, tão criticada nas academias.
1
Dados da palestra apresentada na SBPC – Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, em julho de 2006.
Rosemary Roggero é doutora em Educação com ênfase em História e Filosofia na PUC-SP.
2
Dado segundo a Unesco – juventude: etapa da vida que vai dos 14 aos 24 anos.
15
Como Roggero mesma questiona: “Será que o problema está mesmo com
os jovens?”
Paralelamente às frases citadas, ouvimos outras como, “eles
entendem tudo de tecnologia”, ou “eles fazem tudo ao mesmo tempo”. Os
jovens, de hoje, são capazes de receber e processar muito mais
informações, uma percepção que não podemos desconsiderar. Esses jovens
nasceram num ambiente em que a tecnologia é uma realidade, estão
inevitavelmente e intimamente ligados à tecnologia. Uma habilidade
conquistada com a revolução digital, “que é essencialmente a mescla do
texto, do som e da imagem” (Ramonet, apud Moraes, 2003, p. 244).
Esse é o perfil do complexo jovem contemporâneo, detentor hábil das
novas tecnologias, e com uma dificuldade de enquadramento aos métodos
tradicionais de ensino. Como jovens com tanta destreza com as novas
tecnologias e novos formatos digitais, e com tanta informação à sua
disposição, encontram inúmeras dificuldades no aprendizado tradicional?
As instituições educacionais buscam trabalhar com as novas mídias a
fim de minimizar esse problema, pois o jovem está antenado com a
linguagem midiática da velocidade e da segmentação. O que percebemos e
está cada vez mais difícil é estabelecer distinções entre o mundo da
educação, da comunicação e o da mídia. Ignacio Ramonet diz que “cada dia
existem menos fronteiras entre esses três setores”. Com o surgimento de
megagrupos de comunicação, é preciso refletir sobre o que isso significa,
16
pois “em tal contexto o que temos diante de nós não é o mundo da
informação apenas, mas um universo bem complexo”, e complementa
afirmando que, “passamos de um mundo do jornalismo para um mundo do
imediatismo, do instantaneísmo, não há tempo para estudar a informação. A
informação é feita cada vez mais de impressões, de sensações” (Ramonet,
apud Moraes, 2003, p. 247). Para Ramonet, da maneira como o define, “o
sistema midiático é o aparato ideológico da globalização. É o sistema que,
em certa medida, constitui o modo de inscrever, no disco rígido de nosso
cérebro, o programa para que aceitemos a globalização” (Ramonet, apud
Moraes, 2003, p. 246). Podemos concordar ou não, mas não podemos ficar
alheios às influências e às transformações nos campos da comunicação e
da cognição e, é talvez por aí, que possamos encontrar caminhos para
delinear o processo dessas mudanças. É uma geração ávida por emoção,
velocidade, novas tecnologias, e de percepção vista às vezes alheia, o
produto “real” dessas mudanças.
Um dos “vilões”, por assim dizer, dessa transformação e inquietude
atual dos jovens é a internet. Realmente a internet é causadora de grandes
mudanças na sociedade, com cerca de apenas uma década, esse fenômeno
tem se tornado cada vez mais popular e presente nos lares e instituições de
ensino, e vem sendo objeto de pesquisa em diversas áreas do
conhecimento. Porém, o objetivo deste projeto é analisar uma mudança
promovida um pouco antes desse fenômeno, no caso, por um outro meio de
17
comunicação presente desde a infância desses jovens e que manteve com
eles uma relação a que podemos chamar de familiar. Falamos da televisão,
e a consideramos importante nesse processo, por ser talvez a precursora na
mudança de comportamento aqui referida.
A televisão está presente na sociedade desde 1940, e no Brasil,
desde os anos 60, quando conquistou lugar de destaque nos lares,
tornando-se presente no cotidiano das pessoas. O jovem contemporâneo
conviveu com a televisão desde a infância, passou horas e horas diante de
sua tela. Foi entretido e “educado” por ela, e a vê como uma extensão de
seus olhos e ouvidos, além de aceita-lá como uma mediadora da realidade.
E o que vemos hoje é a TV, particularmente a TV aberta, em plena era
digital, com 97% de penetração
3
nos lares brasileiros e propensa a ampliar
suas potencialidades, visionando ainda uma vida muito longa ao meio,
sobretudo depois de efetivar-se a mudança no modo de transmissão de
dados – de analógica para digital.
Fundamentaremos a questão de como a comunicação se tornou
mediação, na compreensão do teórico Jesús Martín-Barbero, através de sua
obra Dos meios às mediações. Segundo o autor, “destruindo velhas certezas
e abrindo novas brechas, nos cofrontaram com a verdade cultural” (Martín-
3
Dado da publicação ofical do Grupo de Mídia de São Paulo – Mídia Dados 2007.
18
Barbero, 1997, p.16). Verdade essa que, no caso do Brasil, se depara com
fatos raciais, com as descontinuidades e deformações culturais, assim como
com os processos políticos. Trabalharemos com a visão dos meios
propriamente ditos, e de como eles se inserem na cultura e na relação da
sua linguagem específica. Para um melhor entendimento desse processo,
serão consideradas as estruturas tecnológicas e ritualísticas. Tecnológicas,
no que se refere o filósofo Walter Benjamin em A obra de arte na época de
suas técnicas de reprodução, ao considerar que a capacidade da tecnologia
não é somente de facilitar processos, tornar mais eficiente algo, mas
também de modificar a percepção. Como exemplo, “a fotografia é capaz de
ressaltar aspectos do original que escapam ao olho e são apenas passíveis
de serem apreendidos por uma objetiva que se desloque livremente a fim de
obter diversos ângulos de visão: graças a métodos como a ampliação ou a
desaceleração, pode-se atingir a realidades ignoradas pela visão natural”
(Benjamin, 1983, p. 7); e ritualísticas, considerando o trabalho do
antropólogo Gilbert Durand, As estruturas antropológicas do imaginário:
introdução à arquetipologia geral, no qual o autor classifica dinâmica e
estruturalmente as imagens, além de propor uma teoria sustentada no
“método crítico do mito”. Para Durand, o pensamento humano move-se
segundo quadros míticos – por todas as épocas e sociedades existem mitos
ocultos que orientam e modelam a vida humana. Sobre a construção das
estruturas simbólica, política e social humana trabalharemos com as visões
de Edgar Morin, Jürgen Habermas e Hannah Arendt, respectivamente pelas
19
obras Introdução ao pensamento complexo, Mudança estrutural da esfera
pública e A condição humana. Consideraremos também o pensamento de
Vilém Flusser, que se tornou conhecido como o filósofo das novas mídias,
quando afirma que “comunicação é um processo artificial. Baseia-se em
artifícios, descobertas, ferramentas e instrumentos, a saber, em símbolos
organizados em códigos” (Flusser, 2007, p.89). Consideraremos suas obras
a Filosofia da caixa preta: ensaios para a futura filosofia da fotografia e O
mundo codificado: uma filosofia do design e da comunicação. Destacamos
aqui que trabalharemos imagens no conceito de Norval Baitello Jr., por sua
obra A era da Iconofagia: ensaios de comunicação e cultura, quando as
considera não apenas visuais, “mas também acústicas, performáticas e
comportamentais, olfativas ou simplesmente mentais” (Baitello Jr., 2005, p.
29).
Além dessa abordagem teórica, analisaremos outro ponto importante,
o que considera a televisão como produtora da mudança da localização do
processamento de informação “de dentro dos nossos cérebros para ecrãs à
frente dos nossos olhos, em vez de por detrás” (Kerckhove, 1997, p. 34).
Essa é uma afirmação do teórico Derrick de Kerckhove em seu livro A pele
da cultura: uma investigação sobre a nova realidade eletrônica. Discípulo
dos estudos de Marshall McLuhan, sobre a era da escrita e a era da
televisão, descreve que:
20
ao nível cognitivo, a literacia alfabética tornou-se a fonte comum de
todas as referências sensoriais constitutivas da elaboração de sentido.
As pessoas alfabetizadas têm tendência a traduzir a sua experiência
sensorial em palavras e as suas respostas sensoriais em estruturas
verbais. Isso vem do seu hábito de traduzir cadeias de letras impressas
em imagens sensoriais para dar sentido ao que lêem. Hoje, o novo
’senso comum‘ é o processo digital. Via digitalização, todas as fontes de
informação, incluindo fenómenos materiais e processos naturais,
incluindo as nossas simulações sensoriais – em sistemas de realidade
virtual por exemplo – estão homogeneizados em cadeias seqüenciais de
0 e 1. (...) A eletricidade começa onde ficou o alfabeto. É por isso que
estamos mais uma vez a experimentar a emoção e ansiedade da
aceleração (Kerckhove, 1997, p. 122).
Kerckhove sugere que as características que marcam essa fronteira
descrevem também extensões neurológicas e psicológicas, que têm impacto
direto sobre o sistema nervoso, agem sobre os estímulos e as emoções. Por
essa seara, versaremos com Walter Benjamin, tendo por base seus escritos
sobre um novo sensorium – as novas formas de perceber, sentir, ouvir e ver
– , em sua obra já referenciada. E completaremos com a visão de Giovanni
Sartori, considerando seu livro Homo videns: televisão e pós-pensamento,
que contribui ao projeto, relacionando a vivência da geração contemporânea,
que se formou basicamente através das leis do espetáculo e das telas da
televisão, para uma nova forma de percepção. Percepção essa capaz de
receber e processar muito mais informações, ao mesmo tempo e por
21
diversos e diferentes meios. Além da mensagem profunda do meio, como já
percebia McLuhan, por exemplo, criado pela seqüência dos movimentos de
uma câmera, da ênfase de uma tomada, dos cortes ou closes dados a uma
cena, gerando uma nova leitura, um novo entendimento. Estudaremos, para
analisar o processo descrito acima, a produção do case “Eleições 2006, para
Presidente da República”, veiculado pelo Jornal Nacional, programa da
televisão brasileira, líder de audiência desde que foi ao ar pela primeira vez
em setembro de 1969
4
. Considerado herdeiro de uma tradição e criador de
uma nova linguagem jornalística. “A notícia faz história”, assim é intitulado o
projeto editorial da Central Globo de Comunicações sobre a trajetória desse
produto, que é o primeiro telejornal em rede, sintonizado até hoje por sete
dos dez
4
aparelhos de televisão ligados no país. “Um fenômeno, raro – se
não único em termos mundiais –, tanto pela longevidade do programa como
pela permanente liderança de audiência”
4
. Creditando a confiança e a
qualidade nas informações como a única explicação para seu sucesso. A
informação veiculada pela televisão sempre foi um assunto polêmico. A
televisão permite pouco espaço para o pensamento crítico, e por
conseqüência nenhuma reflexão. Paul Virilio, considera a televisão “nociva”
(Virilio, apud Machado, 2000, p. 127). As notícias, os programas, toda a
4
Dados da publicação: Jornal Nacional – a notícia faz história / Memória Globo.
22
programação sempre foi apresentada ao telespectador de maneira
superficial ou espetacularizada. O predomínio da imagem próprio da mídia
televisiva é um dos motivos para essa característica, e sua programação
organizada, previsível confere ao espectador uma sensação de controle. A
televisão é um produto que desperta à afetividade do público, cria hábitos e
imposições, de como vestir, portar, falar, além dos horários ditados por sua
programação diária. Considerada um poderoso meio de comunicação de
massa, a televisão sempre teve papel-chave e influenciador nas relações da
sociedade moderna. O objetivo deste estudo é ir além dessas características
e questionar como a “forma” narrada através principalmente da imagem, dos
recursos técnicos e dos elementos da linguagem digital podem ter
provocado, e ainda estar provocando, mudanças na percepção do espaço e
no entendimento das novas gerações. Os efeitos do meio à exposição e à
cognição diante do “vídeo” ainda são solos férteis para os estudiosos.
Pensar a cultura televisiva implica conhecer a razão e a forma como a
televisão nos fascina para além do nosso consciente, e os sentidos como
instâncias autônomas, passíveis de afetação a partir do tipo, da intensidade
e da freqüência de estímulos que os confrontem. Será investigado o
percurso dessas mudanças com a intenção de incentivar outros
pesquisadores a somar esforços no reconhecimento desta nova leitura. Se
para melhor ou pior, não é a questão, o importante é o processo, destacado
no “Dicionário Aurélio” como, “seqüência de estado de um sistema que se
transforma; evolução”.
23
CAPÍTULO 1 –– REFERENCIAIS TEÓRICOS
1.1. A inquietação humana e a evolução da imagem
O homem vive num mundo pautado pela imposição estética, das
repetições, do tempo acelerado e sincronizado das imagens. Numa espécie
de mitologia contemporânea que o envolve num êxtase imagético.
No dicionário “Aurélio”, a palavra imagem, é descrita como a
representação mental de um objeto ou um produto da imaginação,
consciente ou inconsciente. E o imaginário, o conjunto de símbolos e
atributos de um povo, assim como aquilo que é obra da imaginação, sendo a
imaginação a faculdade de evocar, formar imagens de objetos já percebidos,
como também da fantasia e do devaneio. É uma seara complexa e vista por
diversas óticas diferentes e até mesmo conflitantes. Na ótica do antropólogo
24
Gilbert Durand, “o imaginário não só se manifestou como atividade que
transforma o mundo, como imaginação criadora, mas sobretudo como
transformação eufêmica do mundo, como intellectus sanctus, como
ordenança do ser às ordens do melhor” (Durand, 2002, p. 432). Para
Durand, o dinamismo do imaginário confere-lhe uma essência e uma
realidade próprias. O imaginário é formado a partir de vivências, lembranças
e percepções passadas e, por isso, passível de ser modificado por novas
experiências. Durand parte de uma concepção simbólica da imaginação, que
implora o semantismo e a significação das imagens, que contém de alguma
forma o seu sentido. Para ele, o imaginário “aparece-nos como o grande
denominador fundamental onde se vêm encontrar todas as criações do
pensamento humano”. É o “conjunto das imagens e relações de imagens
que constitui o capital pensado do homo sapiens (Durand, 2002, p. 18).
Para o pensador Edgar Morin, o dar sentido ou atribuir significados e
intencionalidade às coisas, é a “brecha antropológica” no desenvolvimento
da humanidade. Ela emerge na “consciência” que surge no homo sapiens,
quando passa a “se perceber” no mundo, na sua relação com seu corpo e
com as suas emoções. E é no despertar da consciência da “morte”, o
epicentro desta brecha. Quando da percepção da sua existência finita, surge
o mistério, a angústia, a inquietação que acompanhará eternamente a
espécie humana. Segundo esse autor, o homem passa da objetividade,
quando reconhece a morte, para a subjetividade, quando a considera uma
25
transmortalidade, uma crença na existência de uma transformação. E é essa
“relação de uma consciência de transformações, de uma consciência de
imposições, de uma consciência do tempo, que indica no sapiens a
emergência de um grau mais complexo e de uma quantidade nova do
conhecimento consciente” (Morin, 1988, p. 94). É na consciência da morte
que se percebe um progresso no conhecimento objetivo e concreto da
humanidade. O homo sapiens é atingido por essa consciência, e tudo nos
indica que ele não só a recusa como também a rejeita, e resolve transpô-la
através de mitos e ritos (Morin, 1988, p. 93).
Recuaremos no tempo, nos primeiros sinais de consciência humana
deixados pelo homo sapiens. Sepulturas e túmulos que datam de mais de 45
mil anos sugerem a existência de cerimônias fúnebres em ritos de
passagem. São corpos em posições fetais, deitados sobre o leito de flores e
acompanhados de armas, alimentos, como também de adornos, pinturas e
decorações; sinais de que podem ter valor de proteção e de sorte, que
podemos considerar um conhecimento subjetivo, simbólico, mas também
ligados à força da magia e dos ritos e na crença no renascimento. A hipótese
da existência de uma crença no renascimento sob a forma do duplo e das
cerimônias fúnebres provém do fato de ser esta a crença fundamental da
humanidade em relação ao além, pois se encontra em todas as sociedades
arcaicas conhecidas, além de constituir a base de todas as crenças
ulteriores (Morin, 1988, p. 94).
26
Para compreender melhor a magia e o simbolismo do homem,
precisamos abordar inicialmente o desdobramento da sombra, do duplo e da
imagem. Para o sapiens, todo objeto passou a ter uma dupla existência, e é
através do grafismo, do sinal, do símbolo, que o objeto adquire a existência
mental, mesmo fora da sua presença. A negação da verdade, do não aceitar
a morte é a sombra, e tudo que é construído com base na negação dessa
verdade é o duplo. A imagem contém a presença do “duplo”, do ser
representado, o que permite ao homem, através dos ritos de evocação e
possessão da imagem, agir sobre esse ser. O mito do duplo opera a
racionalização que pode explicar ao mesmo tempo a presença e a ausência
na imagem. O imaginário irrompe na percepção do real, e o mito irrompe na
visão do mundo. “Os mitos são idéias em estado nascente e o imaginário é a
infância da consciência” (Alain, apud Durand, p. 21).
Os ritos da morte exprimem, reabsorvem e exorcizam o traumatismo
provocado pela idéia do nada, e a imagem representa esse nada. Portanto,
o que o grafismo, a pintura rupreste nos revela é a ligação imaginária com o
mundo. São as imagens mentais que invadem o mundo exterior. O mito e a
magia são como uma organização ideológica e prática, da ligação imaginária
com o mundo. Da sombra nasce a imagem, assim como da morte nasce o
retrato da pessoa morta, a “imago”. A imagem surge do vácuo deixado pelos
mortos. A imagem faz presente uma ausência, desenvolve um “meio” pelo
qual vivos podem recordar os mortos. Assim, o homem vai construindo
27
imagens e rituais no distanciamento do que realmente ele é, e vai se
afastando da essência passando a construir duplos e alimentando as
sombras.
Junto do aparecimento do homem imaginário surge o homem
imaginante, que através de símbolos e imagens busca uma resposta aos
seus anseios. É a natureza simbólico-cultural do homem, termo proposto por
Edgar Morin para designar a união do homo sapiens ao homo demens,
passando a se constituir o primeiro capítulo da história da aprendizagem e
do predomínio da imagem. Como relata Norval Baitello Jr., “das
representações de representações, ilustrações de ilustrações, realidades
cada vez mais distantes, abstratas e descarnadas de interioridades, vazias
ou ocas, fantasmas de aparição súbita e efêmera, que serão
sucessivamente substituídos por mais fantasmas, como uma imagem
sucede a outra, infinitamente, sem nunca levar a algo que não seja também
uma imagem” (Baitello Jr., 2005, p. 48).
Retornando a teoria de Durand, a imaginação humana representa
simbolicamente essa angústia humana. E diante da finitude e da certeza da
morte, o homem cria imagens que triunfam sobre ela. Em princípio, o
pensamento lógico não está separado da imagem. A imagem seria portadora
de um sentido cativo da significação imaginária, um sentido figurado,
constituindo um signo intrinsecamente motivado, ou seja: um símbolo. O
simbolismo é cronológico e ontologicamente anterior a qualquer significância
28
audiovisual; a sua estruturação está na raiz de qualquer pensamento
(Durand, 2002, p. 432). Os símbolos são aspectos vivos de nossa psique,
são sinais preciosos da nossa existência, é como se cada indivíduo se
voltasse ao que de mais subjetivo tem em si, fonte da sua existência e de
sua vida. Então, é no plano do próprio símbolo que se assegura uma certa
universalidade nas intenções da linguagem. É esse “sentido”, esse grande
semantismo do imaginário, a matriz original da qual todo pensamento
racionalizado se desenvolve, ou ainda, que a percepção e a imaginação são
dualidades semânticas existentes na imagem, e se encontram fortemente
arraigadas no pensamento ocidental. Para Durand, a imaginação “é
dinamismo organizador, e esse dinamismo organizador é fator de homo-
geneidade na representação. Muito longe de ser faculdade de “formar”
imagens, a imaginação é potência dinâmica que “deforma” as cópias
pragmáticas fornecidas pela percepção” (Durand, 2002, p. 30).
Para Vilém Flusser, também a “imaginação é a capacidade de fazer e
decifrar imagens” (Flusser, 2002, p.7). Sendo assim, o imaginário é, no
fundo, o símbolo de todo o pensamento, da percepção produtora e
decifradora de imagens, a apercepção de um “sentido” intelectual; a
expansão acelerada e o fechamento crescente no universo das imagens. “A
imaginação é um dos modos pelos quais a consciência apreende o mundo e
o elabora. (...) O imaginário de um indivíduo ou grupo de indivíduos não é
irreal: é ‘apenas’ a representação que esse indivíduo ou grupo faz de si
29
mesmo e de suas relações de existência no mundo” (Teixeira, apud Novaes,
1991, p. 110).
1.2. Falso ou verdadeiro
A presença dos elementos rituais e míticos primitivos na
comunicação e nas mídias contemporâneas
Os rituais míticos primitivos são repetidos muitas vezes na
comunicação e nas mídias contemporâneas, como uma retroalimentação
entre os imaginários cultural e midiático. Nas palavras da pesquisadora
Malena S. Contrera, “o espaço midiático é o novo locus social
contemporâneo, e daí compreende-se que conteúdos da cultura tais como
as práticas rituais também se tornem presentes no espaço da mídia”
(Contrera, 2005, p. 115).
Trataremos o mito sob ótica das sociedades arcaicas – como história
verdadeira, altamente preciosa, sagrada e significativa, pois a acepção usual
do termo o entende como ficção, invenção ou ilusão.
O mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve
lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos ’começos’”, assim
descreve Mircea Eliade, e complementa, “graças aos feitos dos seres
sobrenaturais, uma realidade passou a existir, quer seja a realidade total,
o Cosmo, quer apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um
30
comportamento, uma instituição. É sempre, portanto, a narração de uma
‘criação’: descreve-se como uma coisa que foi produzida, como começou
a existir. O mito só fala daquilo que realmente aconteceu, daquilo que se
manifestou plenamente.” (Eliade, 1989, p. 12)
Conforme Eliade, o mito da origem da morte também é verdadeiro,
pois a mortalidade do homem o prova. Vários povos transmitem os
ensinamentos dos antepassados como modelos a serem seguidos em
cerimônias e rituais. Os mitos sagrados ensinam-lhes as histórias primordiais
e tudo o que se relaciona com sua existência e com o seu modo de existir no
Cosmo. O mito é uma representação coletiva, transmitida através de várias
gerações. Conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas, o
que equivale a adquirir sobre eles um poder mágico, graças ao qual se
consegue dominá-los. Sendo assim, a história narrada pelo mito constitui um
“conhecimento”. O essencial é conhecer os mitos, não só porque fornecem
uma explicação acerca do mundo, mas por serem capazes de repetir o que
deuses ou antepassados viveram. Para o homem arcaico, aquilo que se
passou pode ser “vivenciado” através dos ritos. O mito é uma forma de
preservar e representar valores.
31
O psicanalista Carl Gustav Jung define mito como a “conscientização
dos arquétipos
5
do inconsciente coletivo, quer dizer, um elo entre o
consciente e o inconsciente coletivo, bem como as formas através das quais
o inconsciente se manifesta”; inconsciente coletivo ou mitologema, como a
herança das vivências das gerações anteriores, a soma dos elementos
antigos transmitidos pela tradição, não importando a época ou o lugar onde
tenham vivido; mitema, como as unidades constitutivas desses elementos; e
mitologia, como sendo o “movimento” desse material, algo estável e mutável
simultaneamente, sujeito, portanto, a transformações. “Os conteúdos do
inconsciente pessoal são aquisições da existência individual, ao passo que
conteúdos do insconsciente coletivo são arquétipos que existem sempre e a
priori” (Jung, apud Morin, 1988, p. 96).
É também a partir dos arquétipos que Durand propõe uma
classificação das imagens. Uma metodologia sustentada no mito, a
mitodologia, disposta em duas formas de análise: a mitocrítica e a
mitanálise.
A mitanálise é o termo que mais nos interessa, pois trata de um
método de análise científica dos mitos, que tenta apreender como eles se
5
Arquétipo, do grego arkhetypo (Dicionário Houaiss - archétupon), etimologicamente, significa modelo primitivo,
idéias inatas. Para Jung, são matrizes universais do inconsciente coletivo, que comandam e controlam os nossos
sonhos e nossos mitos.
32
relacionam com os momentos históricos, com os grupos e com as relações
sociais. Para Durand, a mitanálise não permite a formação de novos mitos,
mas admite um grande número de variantes de mitos clássicos, numa
dinâmica cultural que pressupõe que os mitos desapareçam e ressurjam ad
eternum, ou seja, por detrás dos grandes movimentos históricos, houve e há
uma arrumação de símbolos e mitos constituintes, que representam os
desejos da humanidade, pois os mitos motivam os fatos históricos.
O mito comunica. Assim, entende-se a retomada do mito pelos meios
de comunicação contemporâneos. O que Michel Maffesoli chama de
“reencantamento do mundo”.
É o reencantamento pós-moderno, pelo viés da imagem, do mito, da
alegoria, e explica, o mito “restaura o equilíbrio perdido, ao reinvestir as
estruturas arcaicas que se acreditava ultrapassadas e ao recriar as
mitologias que irão servir de liame social. Graças a elas, as sociedades
revêem e assim recuperam uma parte de si mesmas, das quais tinham
sido frustradas por uma modernidade essencialmente racionalista
(Maffesoli, 1995, p. 41).
O que ocorre é que as narrativas míticas convivem com outras
esferas do conhecimento, mesmo com as instâncias racionais. O
desenvolvimento científico ou tecnológico ganhou a significação simbólica,
33
mas faltaram elementos lúdicos e de sonho para promover uma função
agregadora contemporânea.
Podemos perceber o caráter universal da mitologia, ou seja, a
repetição de temas, de enredos, de costumes, semelhanças evidentes
apesar das enormes distâncias que separam as nações e povos no espaço
e no tempo. A partir daqui, veremos a mitologia nas grandes civilizações
históricas. Estudaremostmais específicamente a mitologia grega, por sua
racionalidade e sua significação simbólica, base histórica da Civilização
Ocidental, da qual se formularam as explicações de ordem natural e social e
dos aspectos da condição e comunicação humanas.
Os gregos antigos possuíam um intelecto racional, uma mente lógica
por excelência. É por esse pensamento lógico que se forma a concepção do
mundo, e se estabelecem a partir daí regras de conduta, como a filosofia e
as teorias científicas. E é na adaptação dos mitos às necessidades desta
razão que se alimentam as ideologias políticas. Através da substância
mitológica se estabelecem as leis da estabilidade e da confiança. Era
evidente para a racionalidade grega que o Sol nascia a partir de uma força
intrínseca a ele e ao universo, e não como resultado das ações humanas. A
civilização grega incorporou conceitos dos povos arcaicos para sua
mitologia, na tentativa de explicar o mundo e o homem que formam a com-
plexidade do real. O Chaos, vazio que prescedia a criação do mundo, cede
lugar aos conceitos de ordem do mundo Kosmos, e da natureza Physis, e
34
assim reina uma natureza lógica, previsível e estável. Os gregos passam a
humanizar o mundo natural e sobrenatural e a valorizar, dar confiança e
esperança ao homem mortal. Seus deuses eram feitos à imagem e
semelhança do homem e dotados de fraquezas e desejos humanos.
A primeira fase do universo, conforme Junito de S. Brandão, envolve
a história do Chaos de onde saíram, além de Tártaro, o local mais profundo
das entranhas da terra, abaixo dos próprios infernos, Eros, deus do amor, e
Géia (Terra), que gerou Urano, o qual deu nascimento aos deuses. Na
mitologia grega, não foram os deuses que criaram o Universo, mas o
Universo que criou os deuses. A primeira geração começa com Urano (Céu),
que se une a Géia (Terra), dando origem à numerosa descendência: Titãs,
Titânidas, Ciclopes, Hecatonquiros e outros como Crono (Tempo), Musa,
Erínia, etc. Também de origem divina, surgiram mortais como os gigantes e
divindades secundárias que não moravam no Olimpo, como as Ninfas. A
primeira geração divina se encerra com Afrodite após uma longa e
importante descendência nascida de Urano e Géia. A segunda geração
divina relata Crono e seus descendentes, que, após se casar com sua irmã
Réia, deu origem a Héstia, Hera, Deméter, Hades, Posídon ou Poseidon e
Zeus. A terceira geração divina aborda Zeus e sua luta pelo poder. Quando
atingiu a idade adulta, Zeus iniciou uma longa e terrível luta contra seu pai
Cronos e seus tios, os Titãs. Terminada a luta, três grandes deuses
receberam por sorteio seus respectivos domínios: Zeus obteve o céu,
35
Poseidon, o mar, e Hades, o mundo subterrâneo. Mas a supremacia do
universo pertencia a Zeus, que passou a ser considerado o deus do céu e
controlador dos raios, o pai dos deuses e dos homens.
Esses deuses moravam no Olimpo, em um pico de 3 mil metros de
altura no norte da Grécia, e se diferenciavam dos homens por se alimentar
de néctar e ambrosia, o que lhes dava e conservava a imortalidade.
Perfaziam um total de doze deuses: Zeus e seus irmãos, Poseidon e Hades,
sua irmã Hestia, e Hera, sua esposa legítima, protetora das esposas do
amor legítimo, embora ciumenta, vingativa e violenta; vivia irritada pela
infidelidade de Zeus, que teve inúmeros casos e filhos. com deusas e
mortais, sendo um de seus filhos Héracles – Hércules do latim –, com
Alcmena. Também moravam no Olimpo Ares, deus da guerra e filho de Zeus
e Hera, além de outros filhos e filhas, como Atená ou Atenas, filha de Zeus
com sua primeira esposa Métis; Apolo, filho de Zeus com a divindade
oriental Leto; Afrodite, filha de Zeus com Dione; Hermes, filho de Zeus e
Maia; Artemis, irmã de Apolo e Hefestos, outro filho de Zeus e Hera, mas
fruto de uma união sem amor, pois veio ao mundo por cólera e desafio de
Hera ao esposo, que o gerou sozinha. Quase todas as divindades eram
capazes tanto do bem como do mal, pois às vezes enganavam os homens e
os induziam ao erro (Brandão, 1986, p. 225).
A importância do mito é que ele fornece modelos para o
comportamento humano e, por isso mesmo, confere significado e valor à
36
existência. Compreender a estrutura e a função dos mitos nas sociedades,
além de explicar uma etapa na história do pensamento humano, também
explica melhor uma categoria dos nossos contemporâneos (Eliade, 1989, p.
10). O que interessa sobretudo é compreender a causa e a justificação dos
excessos, e reconhecê-los como fatos humanos, fatos de cultura e da
criação do espírito.
1. 3. Os códigos da comunicação
As formas simbólicas criadas ou convencionadas pelo homem
para sua expressão, comunicação e interação com outros homens
O mito, então, tem a tarefa de mediar, de instaurar o contato entre o
estranho e o já conhecido. Ele organiza objetos cotidianos, representa
conflitos de valores com significados contemporâneos. Pela ação de
mediador, leva os símbolos à harmonia, indicando uma solução lógica na
construção do significado. Utilizamos a imagem para simbolizar, para fazer
com que sejamos reconhecidos como indivíduos. Assim, a necessidade de
usar signos para a comunicação sempre foi intrínseca ao homem, desde as
imagens nascidas supostamente nas cavernas da pré-história, vindas da
percepção humana, do sonho e do devaneio; a palavra que conta a origem
do mundo, das coisas e da vida, de seus heróis e seus feitos.
Para Flusser, “os homens comunicam-se uns com os outros de uma
maneira não ‘natural’. A comunicação humana é um processo artificial.
37
Baseia-se em artifícios, descobertas, ferramentas e instrumentos, a saber,
em símbolos organizados em códigos” (Flusser, 2007, p. 89).
O símbolo, o mito e a linguagem nascem como estruturas complexas
imaginativas, compondo o ritual, que define o caráter social de todo o
processo comunicativo, ou seja, o processo de sociabilização representado
pela raiz “comum” presente nas palavras comunidade, comunhão e
comunicação. Vale ressalvar que não utilizamos o termo linguagem aqui nos
refererindo à verbal, como é o caso das línguas naturais. Esse é apenas um
dos tipos de linguagem, consideraremos as linguagens como formas
simbólicas criadas ou convencionadas pelo homem para sua expressão,
comunicação e interação com outros homens.
Flusser resume, “a comunicação humana aparece aqui com o
propósito de promover o esquecimento da falta de sentido e da solidão de
uma vida para a morte, a fim de tornar a vida vivível. Esse propósito busca
alcançar a comunicação, na medida em que estebelece um mundo
codificado, ou seja, um mundo construído a partir de símbolos ordenados, no
qual se representam as informações adquiridas” (Flusser, 2007, p. 96).
Destacamos assim comunicação, nas palavras de Muniz Sodré: “Troca de
informações (estímulos, imagens, símbolos, mensagens) possibilitada por
um conjunto de regras explícitas ou implícitas, a que chamaremos de código.
Código que estabelece uma comunicação entre emissor e receptor, portanto,
um sistema de signos cujo seu funcionamento repousa sobre um certo
38
número de regras e de correções” (Muniz, 2002, p. 12). Constituímos
processos sígnicos, ao olhar dos outros, na medida em que utilizamos nosso
corpo para a expressão, seja por adornos, pela gestualidade, pela moda,
assim como recorremos a múltiplos códigos para as interações
comunicacionais mediadas por diversas tecnologias, desde a escrita até os
mais sofisticados mecanismos digitais. Comunicação é um universo de
signos, símbolos, mensagens, figurações, imagens, idéias, que nos
designam coisas, estados de fato, fenômenos, problemas, mas que, por isso
mesmo, são os mediadores necessários nas relações dos homens entre si,
com a sociedade e com o mundo. Assim, a linguagem não pode ser
encarada apenas como instrumento de comunicação, mas sim, como
espaço de uma organização do mundo. A cultura.
Na visão de Edgar Morin, a cultura só se desenvolve na e pela
sociosfera. E explica, vivemos em três reinos que fazem parte da nossa vida
como nós fazemos parte da deles: a psicosfera, a sociosfera e a noosfera.
São reinos noosféricos que se associam, se repelem, se misturam em
simbiose. A noosfera, é como um meio, um sentido mediador do termo, que
se interpõe entre o homem e o mundo exterior para se comunicar com ele. É
o meio condutor do conhecimento humano. É um universo extremamente
rico e denso de mitos, lendas, espíritos, deuses, saberes. O universo dos
seres antropomorfos, povoado de entidades, “seres de espírito”. Essa esfera
simbólica-mítica-mágica se desenvolveu por milhares de anos pré-históricos,
39
habitada por seres objetivos dotados de um poder de auto-organização e de
auto-reprodução e de uma relativa autonomia. A psicosfera é a esfera dos
espíritos/cérebros individuais. É a fonte das representações, do imaginário,
do sonho, do pensamento. Os espíritos/cérebros dão consistência e
realidade às suas representações, aos seus sonhos, mitos e crenças. Mas é
na sociosfera que se elabora a substância espiritual que vai formar os “seres
de espírito”, onde se torna possível a concretização dos mitos, das idéias e
das doutrinas. Morin destaca que parece haver uma ruptura ontológica entre
o reino dos deuses e o das idéias, entre os mitos e as teorias. Os deuses,
sob o ângulo da psicologia humana, são as projeções dos nossos desejos e
dos nossos temores que transcendentalizam os deuses. No ângulo
noológico, são os deuses que se auto-transcendentalizam a partir da energia
psíquica que eles vão buscar nos nossos desejos e temores. Assim,
produtos dos espíritos/cérebros no seio de uma cultura, eles se retroagem
de maneira dominadora sobre esses espíritos/cérebros e sobre essa cultura.
As idéias, e mais amplamente os sistemas de idéias (teorias, doutrinas,
ideologias), parecem ter apenas uma realidade instrumental. São utensílios
que servem para interpretar o real e que podem ser insuficientes ou
ilusórios.
Como exemplo, Morin descreve a ideologia extremamente
instrumentalizada por Marx, fazendo dela um artifício que permitiu às classes
dominantes mascararem seus interesses ou a sua autoridade com
40
proposições aparentemente nobres e universais. A partir daí, somos os
servidores das idéias que nos servem. Como por um deus, podemos viver e
morrer por uma idéia. E o mesmo poder que anima o mito se pode introduzir
na ideologia ou na fé. Um conceito é aparentemente desprovido de qualquer
qualidade biomorfa e antropomorfa, mas, na realidade, pode adquirí-las;
assim, o capitalismo e o comunismo puderam tornar-se seres dotados de
pensamentos e estratégias. Puderam adquirir um poder sobre-humano de
Titãs ou de Deuses. Da mesma forma, a Providência se introduziu
furtivamente na Razão do Iluminismo, e o materialismo científico tornou-se a
grande religião de salvação do século XX. Adiante teceremos mais
detalhadamente sobre o que as idéias servem, ou a que servem, ao homem
civilizado contemporâneo.
Apesar desses artifícios, que são utilizados pela mídia até os dias
atuais, Morin considera que o estreitamento contemporâneo não diminuiu
em nada a espessura da noosfera, considerando que “as idéias, e mais
amplamente, as coisas do espírito, nascem dos próprios espíritos em
condições socioculturais que determinam as suas características e as suas
formas, como produtos e instrumentos de conhecimento” (Morin, 1995, p.
95). O que vale refletir que o desenvolvimento dos saberes científico e
técnico progride aquém do universo imaginário da literatura, do romance, do
cinema e da televisão. Por toda a parte a noosfera se expande e se torna
mais espessa, e seu crescimento e desenvolvimento garantem uma
41
comunicação cada vez mais ampla e rica. Mas, ao mesmo tempo, essa
proliferação noosférica acentua a separação entre o mundo humano e a
natureza, ou mesmo entre humanos e humanos. A noosfera não é apenas o
meio condutor/mensageiro do conhecimento humano, ela também faz efeito
como um nevoeiro, uma tela entre o mundo e a cultura que avança rodeada
de nuvens. Assim Morin destaca um paradoxo fundamental, “o que nos
permite comunicar, é, ao mesmo tempo, o que nos impede de comunicar”
(Morin, 1995, p. 103).
Enfim, a trindade psico-sócio-noosférica está imersa e englobada na
natureza (biosfera) e no Cosmo. Não são apenas o indivíduo e a sociedade
que operam transações com o mundo; a própria noosfera está aberta ao
mundo e dialoga com ele: os mitos e as idéias exploram o mundo, viajam
pelo mundo, cultivam-no, e, finalmente, elaboram as visões, as imagens e as
concepções do mundo. Os seres de espírito multiplicam-se através das mil
redes de comunicação humana, através do discurso, da escrita, da imagem
ou da doutrina, e até mesmo da educação. O poder duplicador/multiplicador
da imprensa, do filme, da televisão, aumentou e continua aumentando o
potencial reprodutor dos seres de espírito e dos seus constituintes.
42
1. 4. A desordem da ordem
A organização social e política do homem
É a partir das práticas rituais que podemos testemunhar o valor
gregário da espécie humana, o fortalecimento dos vínculos, de modo a
reforçar a sua sociabilidade. Para Hanna Arendt, pensadora política, “o
homem é, por natureza, político, isto é social” (Arendt, 2000, p. 32).
As grandes civilizações marcaram profundamente a evolução da
cultura ocidental, principalmente a civilização grega, reponsável pela
formação da concepção de mundo e do estabelecimento de normas de
conduta. E também pelo estabelecimento da noosfera de Morin, dos seres
logomorfos, e dos sistemas de idéias. Esse mesmo pensamento racional e
organizacional se delineava na estrutura política, dividida nas esferas pública
e privada. A esfera privada era constituída pela casa (oikia) e pela família. A
casa era espaço privado. A esfera familiar era sagrada e inviolável. A família
estava vinculada ao lar, e este, fortemente ligado à terra; estabelecendo-se,
portanto, uma estreita relação entre o solo e a família. O lugar lhe pertencia,
era sua propriedade, onde os membros da família deveriam nascer e morrer.
O homem, chefe da família, tinha como tarefa a manutenção, ou seja, seu
labor era o suprimento de alimentos. Ser o provedor dava-lhe o poder, a
autoridade, acima de todas as atividades exercidas no lar (pater familias), e
somente era transmitido ao filho primogênito. Esse poder era ilimitado, as
normas da lei não se aplicavam ao espaço privado. O relacionamento com
43
os familiares e o tratamento com os escravos se perpetuavam pela
necessidade de sobrevivência, e a força e a violência, os meios de subjugar
essa necessidade. Assim, o chefe da família reinava também sobre seus
escravos. A família era o centro da mais severa desigualdade. Dentro da
esfera da família, a liberdade não existia, daí a palavra “privado”, a vida
privada, do verbo privar, significando domesticar, domar. À mulher
destinavam-se outras atividades, dentre elas: supervisionar os escravos,
receber, distribuir, cuidar dos alimentos e dos filhos e estar apta e resistente
para o parto.
A esfera pública (polis) se diferenciava da família pelo fato de
somente conhecer “iguais”. Era a esfera da liberdade, onde o chefe da
família era considerado livre na medida em que tinha a possibilidade de
deixar o lar e ingressar na esfera política, onde todos eram iguais. Ser livre
significava ao mesmo tempo não estar sujeito às necessidades da vida nem
ao comando de outro, e também não comandar. Presupõe-se, então, que
“iguais” não eram dominantes nem dominados – o ser político, o viver numa
polis, significava que tudo era decidido mediante palavras e persuasão, e
não pela força ou violência. O surgimento da cidade-estado significava que o
homem recebera, além da sua vida privada, uma espécie de segunda vida, o
seu bios politikos, a esfera pública. De todas as atividades necessárias e
presentes nas comunidades humanas, somente duas eram consideradas
políticas e constituintes do bios politikos: a ação (praxis) e o discurso (lexis).
44
Os espaços públicos no mundo antigo, ágoras, eram lugares por excelência
da discussão, de debates de idéias entre os cidadãos, propício ao diálogo e
à oralidade.
Na versão atualizada da estrutura contemporânea, o poder
patrimonial, o negócio de família, ainda é perpetuado – sete ou oito grupos
econômicos, hoje, controlam os principais meios de comunicação –, e isso
se estabelece principalmente na televisão. Também percebemos a ágora na
versão “eletrônica”, simulando a antiga polis. Candidatos à Presidência da
República, antes sem a mídia televisiva, faziam suas campanhas pelas
cidades do país, hoje passeiam pelos programas de televisão e só depois
vão às cidades, complementar seu trabalho. A grande conquista do espaço
público, dos “iguais”, proposto na era grega, perdeu todo o seu sentido; ele
foi imediatamente ocupado por uma luta de interesses – de todos os
interesses, menos os gerais, os da coletividade. O mundo criado pelos
meios de comunicação de massa ainda é esfera pública, pelo menos assim
aparenta, porém a integridade da esfera privada, que ela garante, é ilusória.
O espaço famíliar é visto hoje como refúgio, para o qual o indivíduo se retira
quando está saturado do público, recolhendo-se à sua “privacidade”, ou seja,
o “privado” é agora algo mais relacionado à intimidade. Hanna Arendt diz
que “o homem necessita viver junto, e que a ação é prerrogativa deste
homem”. A ação é a única atividade que não pode sequer ser imaginada fora
45
da sociedade dos homens, mas depende inteiramente da constante
presença de outros, uma necessidade básica da natureza do homem.
Hoje a televisão coabita essa necessidade, ela transmite a sensação
de coletividade, de comunhão entre as pessoas. Na realidade, os indivíduos
permanecem isolados, espalhados pelas mais distintas cidades, regiões,
estados e países, sendo virtualmente “unificados” pela mídia, unidos pela
vontade de “ligação” instaurada pelo simples fato de estar-junto. Ela substitui
os espaços físicos, como um lugar social, um lugar onde as coisas
acontecem, mas as pessoas não exercem qualquer interlocução umas com
as outras.
A consciência, a imaginação e a imagem são questões que dizem
respeito à própria sobrevivência da condição humana. Como diz Malena
Segura Contrera, somos sistemas vivos, por isso abertos, relacionais e
interdependentes e sujeitos a constantes interferências ambientais (naturais
e sociais). “Precisamos de uma enorme quantidade e variedade de vínculos
biofisioquímicos para viver, e de quantidade e variedade maiores ainda de
vínculos sociais para continuarmos vivos”. Vínculos portanto, são a matéria-
prima de toda a comunicação humana, “as veias por onde circulam
informações, e que garantem a sobrevivência do indivíduo e do grupo”
(Malena, 2002, p. 40).
46
1. 5. A cultura do “ECO”
A era da reprodutibilidade técnica à sociedade da imagem
Eco distrai Hera, dando cobertura às traições amorosas do rei do
Olimpo. Hera descobre o acordo entre a ninfa Eco e Zeus e a castiga. Tira-
lhe o dom do Logos, da palavra, do verbo, condenando-a a repetir somente
os últimos sons das palavras que ouve. Eco apaixonada por Narciso, o mais
belo dos jovens, procura chamar sua atenção, mas, devido ao castigo que
lhe foi imposto Narciso ouve apenas o eco de sua própria fala. No mito
grego, Narciso diante do espelho, contempla sua própria imagem e
transforma a ninfa em apenas seu eco. Nega a percepção de sua presença
como medida defensiva; rejeição por um outro duplo: o da sua voz, na ninfa
Eco, acentuando-se simbolicamente desse modo o privilégio do “ver” sobre o
“ouvir” (Brandão, 2002, p. 177).
Esse privilégio do “ver”, observado no mito arcaico da ninfa Eco, se
dará com muita ênfase, ou melhor predominância, a partir do séc. XVIII, com
a evolução das técnicas de reprodução. As imagens produzidas
artesanalmente na Grécia antiga tinham apenas valor de utensílios,
educativo ou mítico, um “fazer” artístico. Ao adquirirem o “valor” estético, as
pinturas e as imagens esculpidas ou entalhadas passam a ter valor de obras
de arte. São consideradas únicas quando feitas por um determinado artista
em determinada circunstância, que jamais se repetirá. Na leitura de Walter
Benjamin, a obra de arte precisa sustentar valores como os da unicidade,
47
singularidade e autenticidade. Tais valores são entendidos como ritualísticos
e, portanto, valores de culto. Mas com a evolução tecnológica, as técnicas
de reprodução se aprimoram, e a reprodutibilidade da obra é inevitável. Para
Benjamin, com a reprodutibilidade técnica a obra de arte adquire uma nova
qualidade; apesar de se tornar acessível a mais pessoas, ela perde sua
“aura”, seu valor de culto e passa a ter novo valor, o “valor de consumo”.
Para falar da sociedade de consumo, iniciaremos a partir da trajetória
de construção do espaço público na idade Média européia, considerando o
pensamento de Jürgen Habermas. Diferentemente da estrutura grega antiga,
aqui as esferas “privada” e “pública” se fundem, passando a se rearranjar as
ordens política, social e jurídica. Nesse momento, a propriedade ainda é o
centro de todas as relações de dominação. As terras (feudos) pertencem à
nobreza feudal, formada por senhores, cavaleiros, condes, duques e
viscondes. É a época da dominação fundiária, e quem possue a terra detém
o poder. Os homens livres, os vassalos, não exercem qualquer espécie de
decisão política, apenas oferecem fidelidade e trabalho ao senhor feudal em
troca de proteção e de um lugar no sistema de produção.
O sistema feudal se decompõe no final do século XVIII, encerrando-
se a transição entre feudalismo e capitalismo, da fase de acumulação
primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a
produção. O lucro obtido nas trocas de mercadorias torna-se condição de
admissão à vida pública. A recompensa monetária, assim como a admiração
48
pública, passa a ser usada e consumida, o status passa a satisfazer uma
necessidade da vaidade individual.
Com o enfraquecimento da nobreza feudal, torna-se viável a
associação entre os nobres de maior prestígio regional e a classe
responsável pelo comércio, a burguesia. Com o surgimento desta nova
classe, surgem também outras formas de organização, como a esfera
literária. Estabelecimentos públicos, chamados de coffee houses, são
criados com a intenção de levar um número cada vez maior de pessoas a ter
acesso aos bens culturais. É curioso que o raciocínio das pessoas privadas,
até então, não era mera ideologia: os salões, os clubes e as associações de
leitura não estavam subordinados ao ciclo da produção e do consumo. Isso,
no entanto, ocorreu por pouco tempo, pois as instituições perceberam um
espaço fértil para comercialização dos bens culturais. O que antes
assegurava a reunião do público voltado para a leitura dos almanaques, das
revistas de poesia, das revistas literárias familiares, dá lugar às revistas
ilustradas de propaganda, que crescem numa proporção inversa à sua
complexidade. A cultura perde seu caráter de formador de um público
pensante e passa à construção de um público passivo. A imprensa, passa a
alterar significativamente a maneira pela qual o homem desenvolve e
preserva sua cultura.
Por volta do final do século XVIII, o continente europeu se rende à
forma “americana” de imprensa de massas, a padronização. É a cultura
49
pronta para consumo que cada vez mais se desvia para o consumo
impessoal de estímulos destinados a distrair. As leitura de romance e da
correspondência, ocupações privadas, estão sendo desativadas,
desestimuladas, enquanto pré-requisito para participar da esfera pública
literariamente midiatizada. É nesse contexto que a cultura de massa se
desenvolve, promovendo como necessidade a leitura da imprensa de fim-de-
semana, das revistas ilustradas, dos jornais sensacionalistas. A crescente
proliferação dessa necessidade faz com que a leitura de livros diminua
rapidamente .
O consumo de cultura cria novos atrativos, reprimindo em maior ou
menor escala as formas clássicas da produção literária. A proliferação das
imagens fixas, da reprodutibilidade técnica, das fotografias, dos cartões-
postais, por exemplo, passam a transmitir uma espécie de experiência que
não acumula, princípio inverso da cultura. A tecnologia difundiu-se
rapidamente por toda a Europa, na substituição das ferramentas pelas
máquinas, do modo de produção doméstico pelo sistema de fábricas, da
energia humana pela energia motriz. É a Revolução Industrial, a qual
veremos mais detalhadamente adiante. O consumo cultural é facilitado e
ampliado com as novas tecnologias, numa “remodelação de todo um
território no qual sinais e imagens, efetivamente apartados de um referente,
circulam e proliferam”. (Crary, apud Gunning, 2001, p. 42)
50
1.6. Ritmo acelerado
Uma nova experiência do corpo e da percepção do ser humano.
O consumo dos meios visuais, o excesso de imagens impondo uma
nova ordem aos nossos modos de compreender e agir sobre o mundo
Retomando a leitura benjaminiana sobre a “aura”, que a considerava
o fragmento mais atacado na reprodutibilidade técnica, pois o valor de culto
exigia um único observador, ou seja, a massa de indivíduos, o sujeito
coletivo não conseguiria o mínimo de concentração que a aura exigia. A este
momento único, observador e obra, Benjamin chama de hic et nunc, ou “aqui
e agora”. A distância estabelecida entre a realidade do público e aquela na
qual a obra está inserida confere-lhe uma posição privilegiada, tornando-a
inatingível. Nas palavras de Benjamin, “o que caracteriza a autenticidade de
uma coisa é tudo aquilo que ela contém e é originalmente transmissível,
desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico"
(Benjamin, 1983, p. 8). Para Flusser, a diferença é a seguinte: “Imagens pré-
modernas são produtos de artífices (‘obras de arte’), obras pós-modernas
são produtos da tecnologia” (Flusser, 2007, p. 129).
O mundo do homem é o mundo da percepção, do corpo, sua forma
primária de conhecimento, de como ele sintoniza o mundo. A sensorialidade
funciona como uma informação, suscitando emoções, evocando lembranças
e provocando condutas. Podemos salientar a defesa de Benjamin com
relação aos sentidos de proximidade e da necessidade do corpo estar no
51
mesmo espaço e tempo do objeto. Relembramos o que registramos
anteriormente sobre a necessidade da consciência do ser, do existir e da
percepção dos seus sentidos, que faz do homem um ser intenso com
relação consigo próprio, com os outros, na relação com o grupo, na
sociedade e na comunicação. Walter Benjamin fala sobre um novo
sensorium, sobre as novas formas de perceber, sentir, ouvir e especialmente
do ver. Cada sentido é um mundo absolutamente incomunicável com os
outros sentidos, mas que, no entanto, “constrói algo que, pela sua estrutura,
se abre de imediato para o mundo dos outros sentidos e com eles constitui
um único Ser” (Merleau-Ponty, apud Novaes, 1991, p. 85). Sobre todos os
sentidos do corpo que percebe o mundo, o olhar se destaca como um órgão
extraordinariamente preciso para o sentir. É pelo olhar que o sujeito
reconhece e é reconhecido socialmente.
Para o pensador da comunicação Harry Pross, toda comunicação ou
todo processo comunicativo começa e termina no corpo. Ele propõe uma
classificação no sistema de mediação, na mídia [ Medium = “médium” ou
“mídia”]. A palavra “mídia” vem do latim “medium” (no plural: “media”), que
significa “meio”; espaço intermediário. Atualmente o termo “mídia” está
diretamente associado aos meios de comunicação de massa, mas a
existência da mídia os antecede. Pross a divide em três: mídia primária,
mídia secundária e mídia terciária. E explica, “na mídia primária juntam-se
conhecimentos especiais em uma pessoa. O orador deve dominar gestua-
52
lidade e mímica (…) o mensageiro deve saber correr, cavalgar ou dirigir e
garantir assim a transmissão da sua mensagem (…) Toda comunicação
humana começa na mídia primária, na qual os participantes individuais se
encontrem cara a cara e imediatamente presentes com seu corpo; toda
comunicação humana retornará a este ponto” (Pross, apud Baitello Jr., 2005,
p. 80). O corpo é o primeiro meio de comunicação e vinculação do homem
com o próprio homem. O corpo se desdobra em mil linguagens, “as
linguagens dos sinais e dos indícios se transformam em complexas
linguagens de gestos, micro e macrogestos, elaboração e encadeamento de
sons, em linguagem verbal, em complexos dialetos posturais e
comportamentais, em símbolos e complexos símbolos que, por sua vez, se
ordenam em grandes complexos culturais” (Baitello Jr., 2005, p. 62).
Resumindo, é com o corpo que nos comunicamos presencialmente,
compartilhando um mesmo espaço e dividindo o mesmo tempo. É a
comunicação do cara a cara, do corpo a corpo, a comunicação direta da
mídia primária, que exige o tempo e o espaço do aqui e agora. A mensagem
vai de um corpo a outro(s) corpo(s) sem o auxilio de suportes extras. O
corpo é uma mídia muito rica e complexa. Pode existir uma intensa troca de
informações quando dois corpos se encontram, resultado de um processo de
comunicação efetivado por inúmeros vínculos, linguagens realizadas através
dos sentidos de distância (audição e olfato) e dos sentidos de proximidade
(olfato, paladar e tato). A enorme quantidade de músculos e suas possibi-
53
lidades de movimento, as posições, os gestos, podem gerar uma infinidade
de significados. Mas como dito, o corpo tem suas limitações, que exigem dos
corpos envolvidos no processo estar presentes ao mesmo tempo no mesmo
espaço, é assim uma mídia presencial. E o homem necessita mais,
necessita se apropriar, fazer parte de um tempo e de um espaço de uma
vida. Necessita conferir sentido ao tempo dessa vida. A imaginação, as
memórias das vivências corporais ou espirituais, os mitos, as crenças, as
experiências são, como vimos, atos geradores de vínculos, e assim, quando
as imagens passam a portar valores, elas sustentam os vínculos entre o
homem e suas raízes culturais e históricas. “É com o corpo, gerando vín-
culos, que alguém se apropria de seu próprio espaço e de seu próprio tempo
de vida, compartilhando-os com outros sujeitos. Mas é aí, no estabele-
cimento de vínculos, materiais ou simbólicos, que se inicia a apropriação do
espaço e do tempo de vida de outros” (Baitello Jr., 2005, p. 71).
A importância de vínculos para o homem, como visto no imaginário
cultural, também se estabelece na organização social. A sociedade precisa
contar com essa relação, e utiliza como suporte os códigos partilhados.
“Todo código é um corpo que precisa de meios eficientes (concretos ou
virtuais) por onde transitar, confirmando e fortalecendo sua validez”
(Contrera, 2002, p. 48).
É evidente o avanço na relação do homem consigo mesmo, e com o
vazio causado por sua ausência, que faz crescer as fronteiras do seu
54
imaginário com relação aos símbolos. O homem, que vivencia esse avanço,
essa evolução, busca marcar sua presença com registros em objetos mais
duradouros que o próprio corpo. Suas mensagens passam a ser transmitidas
e eternizadas, emitidas por sinais de um corpo a outro, através dos mais
diversos suportes, como pedra, madeira, couro ou a própria pele. Pross
classifica esse avanço como mídia secundária, ou seja, “aqueles meios de
comunicação que transportam a mensagem ao receptor sem que este
necessite de um aparato para captar seu significado, portanto são mídias
secundárias a imagem, a escrita, o impresso, a gravura, a fotografia, assim
como seus desdobramentos, a carta, o panfleto, o livro, a revista, o jornal
(…)” (Pross, apud Baitello Jr., 2005, p. 81). A mídia secundária independe da
presença física, pois é uma extensão do corpo comunicador (da mídia
primária). “Usando um objeto para transmitir seus sinais, sua informação, o
homem consegue criar a presença na ausência, conseguindo perpetuar-se
no tempo, criando um tempo virtualmente infinito” (Baitello Jr., 2005, p. 33).
A mídia secundária é aquela que se utiliza do meio analógico como
suporte para comunicação. Importante notar que nesse nível de mediação já
é visível uma alteração na percepção, tanto de tempo quanto de espaço,
daquilo que é a representação trazida pela mídia. Destacamos aqui a
proposta de Martín-Barbero, de pensar os processos de comunicação desde
as suas mediações. É a partir da mídia secundária que percebemos uma
evidente expansão das fronteiras do imaginário humano, inaugurando a
55
permanência e a sobrevivência simbólica após a presença do corpo. Com a
escrita e com as imagens gravadas sobre suportes duráveis, o homem se
impõe sobre a morte – sua mais poderosa adversária – e seu tempo
irreversível, vencendo-a simbolicamente.
Mas a mídia secundária não elimina a mídia primária, pois quem
produziu os sinais nos objetos externos foram corpos. A imagem agora é
bidimensional, abstrai uma dimensão do corpo, e por isso não traz tudo
consigo, precisa ser decodificada. A mídia secundária inaugura um novo
tempo da decifração, e sua transportabilidade no espaço é a sua limitação.
Voltando a Benjamin, e ao seu tempo de contemplação e de
concentração, entendemos que esse se faz necessário também na escrita.
O tempo “lento” da leitura permite cifrar e decifrar enigmas. “O tempo lento
da escrita não apenas permite a reflexão mas também a retrospecção. E,
com isso, abre as portas para uma outra escrita, a escrita da história”
(Baitello Jr., 2005, p. 82). Assim o desenvolvimento e o processo evolutivo
da humanidade passam a ser registrados em livros, revistas e jornais.
Antes de conhecer a mídia terciária, que se caracteriza pela
aceleração do tempo e das sincronizações sociais, vamos retomar a
estrutura social do homem, a divisão social do trabalho e o desenvolvimento
social e tecnológico. Continuando na Europa, pois essa se constitui como
um ponto de referência obrigatório nessa evolução, entraremos agora na
modernidade, processo que nasce na Europa e apesar de seguir diferentes
56
direções, e divergir com relação ao resto do mundo, especialmente em seus
primórdios, passa a convergir à medida que avança a globalização.
Uma série de transformações e ocorrências passa a dinamizar as
experiências humanas, caracterizando esse novo processo. Entre elas, as
descobertas científicas, tecnológicas e a industrialização da produção. As
pessoas passaram a modificar a percepção, tanto de si próprias quanto do
seu lugar no mundo. Para compreender a concepção de modernidade, com
seus inúmeros efeitos sobre o ritmo da vida cotidiana, destacamos a visão
de Marshall Berman, que a divide em três fases. A primeira se inicia no
século XVI e vai até o fim do século XVIII, quando as pessoas estavam
apenas começando a experimentar a vida moderna. Nas palavras de
Berman, “elas tateiam, desesperadamente mas em estado de semicegueira,
no encalço de um vocabulário adequado; tem pouco ou nenhum senso de
um público ou comunidade moderna”. A segunda fase começa com a
Revolução Francesa e não chega até o final do século XIX. Do ponto de
vista econômico, caracteriza-se pela Revolução Industrial, percebida como
um colapso das experiências anteriores de espaço e tempo. As cidades
crescem do dia para a noite, proliferam o tráfego urbano, as fábricas
automatizadas, a distribuição das mercadorias produzidas em massa e as
sucessivas tecnologias de meios de transporte e comunicação. É um
enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, um processo de
transformação acompanhado por uma notável evolução tecnológica. Esse
57
processo industrializador e as lutas organizadas da classe operária é o que
leva à abertura política do sistema. A vida política começa a se
democratizar, as pessoas partilham a experiência de viver em uma era
revolucionária, uma era que desencadeia explosivas convulsões em todos
os níveis da vida, pessoal, social e política, mas ao mesmo tempo ainda se
lembram do que é viver, material e espiritualmente. E Berman diz: “É um
mundo que não chega a ser moderno por inteiro. É dessa profunda
dicotomia, dessa sensação de viver em dois mundos simultaneamente, que
emerge e se desdobra a idéia de modernismo e modernização” (Berman,
1987, p. 16).
“Esse novo cenário, organizado segundo as necessidades de
circulação, é emblemático das mudanças perceptivas e ambientais que
definem a experiência da modernidade: um novo domínio sobre os
pequenos incrementos do tempo; um desmoronamento das distâncias e uma
nova experiência do corpo e da percepção do ser humano, moldada pela
viagem e as novas velocidades e por novos potenciais de perigo”
(Schivelbusch, apud Gunning, 2001, p. 40) .
A velocidade dessa transformação industrial fez com que ela
parecesse mágica. Esse novo arranjo da produção se mostrava capaz de
fazer qualquer coisa a partir de qualquer coisa, sem o esforço da atividade
manual, pois agora pela linha de produção cada trabalhador podia
desempenhar apenas uma tarefa. A visão moderna da vida apóia-se no
58
dinheiro. “Com a circulação moderna de moeda, a fotografia aboliu as
barreiras de espaço e transformou objetos em simulacros transportáveis”,
fazendo parte de um novo sistema de troca, em que “o prórpio corpo
pareceu sido abolido, tornado imaterial, por meio da fantasmagoria da
fotografia fixa e em movimento”. “(...) O corpo tornou-se uma imagem
transportável e totalmente adaptável aos sistemas de circulação e
mobilidade que a modernidade exigia” (Gunning, 2001, p. 43).
A terceira e última fase começa no século XX e vai até 1945, quando
o processo se expande, atingindo espetaculares triunfos na arte e no
pensamento. “A medida que se expande, o público moderno se multiplica em
uma multidão de fragmentos” (Berman, 1987, p. 17). É uma fase de crise e
transição, onde o ritmo das transformações sociais e tecnológicas é cada
vez mais veloz. É a partir da segunda metade do século que a humanidade
mais acumula conhecimentos e mais acelera os processo de transformações
sociais. Os futuristas, um grupo de artistas italianos, compartilhavam do
entusiasmo da tecnologia, acreditavam que a construção de uma nova
sociedade poderia ocorrer apenas se os cidadãos sacrificassem sua
individualidade pelo bem do todo, abraçavam tudo aquilo que enaltecia as
inovações tecnológicas e as mecanizações e censuravam tudo que se
relacionasse à tradição. A tecnologia diminui tempos e distâncias, definiu e
redefiniu novos cenários a cada instante, e o progresso e a decadência
caminharam lado a lado. A moderna humanidade viu-se em meio a uma
59
enorme ausência e um vazio de valores e, ao mesmo tempo, em meio a uma
desconcertante abundância de possibilidades. “Não é só o ritmo afogueado,
sua vibrante energia, sua riqueza imaginativa, mas também sua rápida e
brusca mudança de tom e inflexão, sua prontidão em voltar-se contra si
mesma em um largo espectro de vozes harmônicas ou dissonantes e
distender-se para além de sua capacidade na direção de um espectro
sempre cada vez mais amplo, na tentativa de expressar e agarrar um mundo
onde tudo está impregnado de seu contrário, um mundo onde ‘tudo o que é
sólido desmancha no ar’”, assim descreveu Berman sobre o homem mo-
derno, recuperando e valorizando a frase de Marx (Berman, 1987, p. 22).
Na Modernidade do século XX, instala-se o império tecnocientífico,
que leva ao destronamento da ciência pela tecnologia. Um novo modo de
produzir conhecimento vem ao mundo, com laboratórios em rede, com a
fusão da ciência com a indústria, e com a normatização do trabalho
intelectual. É a troca das incertezas do saber empírico e das substâncias da
natureza pelos artifícios da tecnologia. Nunca o sonho da humanidade, da
conquista do Cosmo infinito à imortalidade, tinha ido tão longe. Nunca se
tinha produzido tanto conhecimento, nunca a técnica tinha sido tão pródiga e
tão grande em seu raio de ação e nunca tanta tecnologia tinha sido colocada
à disposição do homem, de tal modo, domesticada e banal, que se instalou
com facilidade nos lares e escritórios. Uma grande transformação da relação
do ser humano com o mundo, causada pelo avanço tecnológico.
60
Surgem as máquinas como o telégrafo, o telefone, o cinema, o rádio e
a TV. A Era da Comunicação de Massa, dos veículos de massa eletrônicos,
dos aparelhos transistorizados e miniaturizados, passa a fazer parte do
nosso cotidiano, tornando-se um dos fatos mais significativos e importantes
da vida moderna.
Aqui retomanos a classificação do sistema de mediação proposto por
Pross, considerando agora a mídia terciária, “aqueles meios de comunicação
que não podem funcionar sem aparelhos, tanto do lado do emissor quanto
do lado do receptor” (Pross, apud Baitello Jr., 2005, p. 82).
A mídia terciária nada mais é que um meio eletrificado, onde são
necessários dois suportes para realizar a ligação entre dois indivíduos, e
para superar as dificuldades e os obstáculos das longas distâncias. Hoje em
dia, com o avanço do digital, a mídia terciária vem se tornando cada vez
mais tecnológica, dado os investimentos e desenvolvimentos nessa área.
Significa que, virtualmente, a mídia terciária conta cada vez mais com novas
possibilidades, novos recursos e, conseqüentemente, com novos problemas.
À medida que possibilita ir mais longe e mais rápido, através da mídia em
suporte digital, e se perdurar por mais tempo, temos nas pontas da
comunicação o corpo humano que continua limitado fisicamente ao tempo e
ao espaço presentes. Citamos Benjamin considerando a capacidade da
tecnologia, não apenas de facilitar processos e tornar algo mais eficiente,
mas também de modificar a percepção, e isto é importantíssimo para o
61
acompanhamento do nosso estudo, considerando um dos mais dramáticos
diagnósticos do mundo mdiático de que “o conceito de progresso nos fez
cegos para o apocalipse. Nossos olhos ficaram anestesiados, como uma
‘fadiga se instala no olhar que já não vê o que avista, já não enxerga o que
vê, já não anima o que enxerga’. Fatigado o grande sentido de alerta,
tornam-se os corpos presas fáceis dos monstros de luz e passam a ser
devorados pelas imagens” (Anders, apud Baitello Jr., 2005, p. 19/20).
Dentre as inumeráveis descobertas tecnológicas que marcaram o
século XX, a televisão é certamente uma das que influenciaram mais
extensa e profundamente o comportamento social. Antes de nos
aprofundarmos na mídia eletrônica, mais especificamente na mídia de
destaque da era moderna e foco deste trabalho, no caso a televisão, vamos
analisar as mudanças na relação homem e novas tecnologias que será o
habitat perfeito para o desenvolvimento desse meio.
1.7. As novas experiências eletrônicas e digitais
Tudo gira em torno do homem, o mundo está a seu dispor
Antes da era moderna todas as coisas do mundo, pelo menos para a
maioria dos homens, lhe pareciam ou estavam muito distante. Na relação
moderna, essa sensação muda. As coisas lhe parecem próximas, e mais do
que isso, elas estão em posição de serem usadas e aproveitadas. Essa é a
sensação que o homem tem da era moderna, de proximidade, de que o
62
mundo está a seu dispor, tudo gira em torno de si. O telefone, a lâmpada
elétrica, o telégrafo, os transportes enfim, as novas tecnologias, passam a
ser os novos mediadores, formadores de valores e padrões, afetando
diretamente a vida individual e a vida social desse homem. Como descreveu
Marshall Berman, “ser moderno é encontrar-se em um ambiente que
promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e
transformação das coisas em redor” (Berman, 1987, p. 15). E é essa
promessa de aventura e de mudanças o atrativo principal da era moderna,
onde a industrialização passa a gerar os novos modos e fontes de trabalho,
atraindo uma multidão em direção aos centros urbanos. A especialização é
imposta como norma de produtividade, cabendo ao homem apenas agir
mecanicamente, visando atingir sua meta de produção. “Cada homem é
parte incompleta do todo, cada pessoa deve se ater tão-somente à sua
função para que o todo funcione” (Baitello, 2005, p. 52).
O consumo dos meios visuais, assim como o excesso de imagens
imposto pela modernidade, gera uma nova ordem aos nossos modos de
compreender e agir sobre o mundo, novos espaços políticos e sociais se
formam, modificando as classes populares qualitativamente e
quantitativamente. A grande maioria da população passa a ser incorporada à
sociedade, rompendo todas as fronteiras geográficas, raciais, de classes e
de nacionalidade. Surgi à massa e o homem de massa, uma multidão
unificada, que em nome desse progresso modifica e padroniza hábitos,
transformando não só a forma de vida, mas também o modo de pensar do
63
homem. “Uma enorme massa de pessoas semelhantes e iguais, que
incansavelmente giram sobre si mesmas com o objetivo de poder dar-se
pequenos prazeres vulgares com que satisfazem suas almas” (Martín-
Barbero, 1997, p. 45).
Para Berman, apesar da modernidade “unir” a espécie humana, essa
“é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela despeja a todos
num turbilhão de permanente desintegração e mudanças, de luta e
contradição, de ambigüidade e angústia” (Berman, 1987, p.15). A
desunidade referenciada por Berman se reflete na nova configuração social,
onde o povo deixa de ser povo e passa a ser classe. E, o “modo de
existência destas é a turbulência: um modo de comportamento no qual aflora
à superfície fazendo-se visível a ‘alma coletiva’ da massa” (La Bon, apud
Martín-Barbero, 1997, p. 47).
Esse modo de comportamento que o psicólogo La Bon descreve, se
forma a partir das novas sensações que vive o homem da sociedade
moderna. Martín-Barbero o explica da seguinte maneira:
É um fenômeno psicológico pelo qual os indivíduos, por mais diferente
que seja seu modo de vida, suas ocupações ou seu caráter, estão
dotados de uma alma coletiva que lhes faz comportar--se de maneira
completamente distinta de como faria cada indivíduo isoladamente. Alma
cuja formação é possível só no descenso, na regressão até um estado
primitivo, no qual as inibições morais desaparecem e a afetividade e o
64
instinto passam a dominar, pondo a ‘massa psicológica’ à mercê da
sugestão e do contágio” (Martín-Barbero, 1997, p. 47).
Por tais colocações de La Bon e de Martín-Barbero, podemos
perceber que o homem de massa vive a partir, e em função, da massa,
padronizando suas perspectivas, seus sonhos, aspirações e ações. Uma
sociedade funcionalista, maquínica. Nas palavras de Norval Baitello Jr., uma
sociedade entômica (do grego entomon: dividido, partido), que “trouxe
consigo também o projeto da reprodutibilidade, repartindo indivíduos,
dilacerando existências e corpos, acelerando fluxos, reduzindo
complexidades, dividindo e especializando o trabalho, introduzindo a
repetição exaustiva de gestos, de movimentos, de padrões, de atitudes, de
modelos, de idéias” (Baitello, 2005, p.52).
La Bon diz também, que a chave para operar o poder sobre a
sugestionabilidade da massa encontra-se na “constituição das crenças que
em sua configuração ‘religiosa’ permitem detectar os dispositivos de seu
funcionamento: o mito que as une é o líder que celebra os mitos” (La Bon
apud Martín-Barbero, 1997, p. 48). Sendo assim, como visto no capítulo
anterior, o mito dá sentido e fornece modelos para o comportamento
coletivo, e, somado às características da massificação, se contrapõe o
individualismo à submissão do coletivo. Resumindo, a inércia, a indiferença,
a passividade características que surgirão na massa não são efeitos de
nenhum poder, mas do modo próprio de ser da massa. Esse comportamento
65
coletivo da massa e bem explorado pela mídia, influenciando e formando
opiniões. No espaço da comunicação, essa massa é chamada de público e
suas crenças de opinião.
Nesse novo cenário em que o homem é o centro das atenções, tudo
muda, seu estilo de vida, suas perspectivas, sua forma de ver e de entender
o mundo. A vida moderna amplia e acelera este mundo, modifica a
percepção deste homem exposto às suas invenções e inovações, suas
máquinas, suas facilidades e padrões.
Benjamin aponta estas modificações e dá um exemplo, destacando
as reações sentidas pelo público diante da projeção das primeiras imagens
cinematográficas no início do século XIX. Hoje esse frenesí é vivenciado por
qualquer pessoa no tráfego das grandes cidades. Assim ele afirma que “a
massa é motriz de um novo modo ‘positivo’ de percepção cujos dispositivos
estariam na dispersão, na imagem múltipla e na montagem”. Também para
McLuhan fica claro que o homem moderno sofreu modificações em suas
relações pessoais e com o outro, e conseqüentemente na sua organização
social. McLuhan aponta o desenvolvimento da tipografia como o grande
transformador da lógica e do pensamento ocidental, afirmando o fim da era
Gutenberg. Na teoria de McLuhan, os meios são extensões do homem e
seus efeitos estão relacionados à maneira como estes atuam sobre a
percepção humana, a partir de suas especificidades técnicas, ou seja, as
mudanças de escala, cadência ou de padrão que o meio provoca nos
66
hábitos perceptivos, ampliando e acelerando processos já existentes. Na
célebre frase “o meio é a mensagem”, McLuhan sintetiza o que observou em
suas pesquisas com relação a essas mudanças ocorridas na percepção do
homem diante das novas tecnologias.
Para explicar sua pesquisa, McLuhan dividiu a história em três
etapas, a tribalização, a destribalização e a retribalização. Na tribalização os
homens utilizavam a comunicação oral e por isso viviam num sistema
gregário, ligados aos problemas da pequena aldeia onde habitavam, como a
forma que se constituía a estrutura social e política da Grécia antiga, vista
anteriormente. Essas civilizações eram baseadas na cultura oral e
manuscrita, das crenças e dos mitos, e assim consideradas sistemas
abertos, pois funcionavam por meio de relações abstratas, tais como da
troca e da cooperação. Já com o surgimento das primeiras técnicas, como a
da reprodutibilidade e da imprensa, os homens entram na destribalização,
onde a escrita tipográfica, o livro, a leitura linear, a uniformidade e o discurso
organizado levam-no a novas preocupações e relações. Nessa fase o
homem não pensa apenas na sua aldeia, mas amplia suas relações com
povos vizinhos, modificando seu modo de ver, pensar e se relacionar com
eles. É nesse período que as tecnologias passam a ser utilizadas como
extensões do homem, e a literatura e as artes tornam-se bens de consumo.
A era da alfabetização fez do indivíduo esclarecido um sistema fechado. De
acordo com Marques de Melo:
67
"O aparecimento da escrita significava potencialmente a acessibilidade
de todos os indivíduos aos bens culturais das comunidades e, conse-
qüentemente, ameaçava a desarticulação dos sistemas de mundo. Daí o
cuidado com que os governantes cercaram a difusão da escrita,
tornando-a privilégio de um reduzido número de pessoas, que passa-
riam a constituir castas de letrado.". (Marques de Melo, 1976, p. 11)
A produção em massa se estabelece e as transmissões de
informação passam a ser feitas em larga escala, mas seu uso se faz
individualmente, através da leitura e da palavra impressa, por exemplo.
Baseados na afirmação de McLuhan de que a palavra impressa possibilitou
a explosão da nossa consciência, e a leitura linear foi à formadora da
organicidade do pensamento, podemos concluir que a falta ou a pouca
leitura acaba por não formar esse pensamento “lógico”, necessário para a
elaboração de um pensamento que tenha certa ordem e coerência, pelo
menos não da forma equacionada por McLuhan.
Nesse imenso turbilhão de novas percepções, se inicia o isolamento
do sentido da vista com relação aos demais sentidos, e que veremos mais
detalhadamente adiante. Por fim, a etapa da retribalização, em que o ho-
mem passa a conhecer os temas e os problemas não só dos povos próxi-
mos mais do mundo todo, o que McLuhan denominou de “aldeia global”.
E aqui começamos a analisar o foco do nosso trabalho, a televisão.
Como já dissemos, a imagem está ligada à história da civilização, mas é
68
com a televisão que ela ganha literalmente o mundo. E é por meio da
televisão que a grande maioria dos brasileiros se informa e cristaliza as
percepções sobre o mundo. Através dela o brasileiro não apenas atribui
sentido ao que acontece como também encontra uma fonte inesgotável de
modelos e identificações .
69
CAPÍTULO 2 –– A mídia televisiva
2.1. Televisão
A fantástica instituição criadora de sentido
Transmissão do mundo todo para o mundo todo. Recepção no
aconchego do lar, programação organizada e previsível, que confere ao
espectador uma sensação de estar no controle, entretenimento e
informação, sem a necessidade de muitos conhecimentos ou instrução.
Assim é a televisão. A maior produtora de imagens eletrônicas enviadas
a distância, transmitidas com rapidez e constância.
McLuhan estava certo em sua previsão quanto à televisão – com
pouco mais de 70 anos, ela foi totalmente incorporada ao cotidiano de
milhões de pessoas, pescrevendo um hábito hoje, de certa forma, banal.
Desde o início de sua fabricação em massa, a partir dos anos 50, a TV
70
tornou-se um novo locus social, o que lhe garante lugar de destaque nos
lares mundiais até os dias atuais. Construiu uma forma de relacionamento
social baseado na “visão à distância” e, ainda, induziu a nova forma de ver,
de falar, de trocar e governar a sociedade contemporânea.
Mas afinal, o que é televisão?
“Tele” (distante), do grego, e “visione” (visão), do latim. Tecnologia de
telecomunicação que permite a transmissão instantânea de imagem e som,
assim a define o Dicionário Aurélio. As primeiras transmissôes oficiais da
televisão datam de 1935 a 1940, em países como Alemanha, França,
Inglaterra, Rússia e Estados Unidos, porém são cortadas durante a Segunda
Guerra Mundial, sendo mantidas apenas pela Alemanha – os demais países
retomam suas transmissões só a partir de 1945. No Brasil, a primeira
transmissão em circuito fechado se deu em 1939, na Feira Internacional de
Amostras no Rio de Janeiro. Mas é em 1950 que se inaugura, em São
Paulo, a TV Tupi (PRF-3TV, canal 3, razão social Rádio e Televisão
Difusora), pertencente ao dono dos Diários Associados, o jornalista Assis
Chateaubriand Bandeira de Mello. A história da televisão, no entanto, inicia-
se mesmo no século XIX e deve sua existência a grandes descobertas de
matemáticos, químicos e físicos, como Jakob Berzelius, que descobriu o
Selênio em 1817, e que em 1873 teria comprovada por Willoughby Smith a
sua propriedade de transformar energia luminosa em energia elétrica. Como
Alexander Bain que, em 1842, inventou a primeira máquina de transmissão
71
de imagem a distância – a transmissão telegráfica, o fac-símile (fax). Como
Paul Nipkow, que inventou um disco com orifícos em espiral capaz de
subdividir a imagem de objetos em pequenos elementos e reagrupá-los
depois para formar novamente essa imagem. Como Julius Elster e Getiel,
que em 1892 inventaram a célula fotoelétrica, e como Arbwehnelt e Boris
Rosing, que em 1906 desenvolveram um sistema que empregava a
exploração mecânica de espelhos somada a um tubo de raios catódicos,
radiações onde os elétrons emergem do pólo negativo de um eletrodo,
chamado cátodo, e se propagam na forma de um feixe de partículas
negativas ou feixe de elétrons acelerados. Foi a partir de várias dessas
descobertas, como o sistema mecânico, por exemplo, que se fez possível as
primeiras transmissões a distância, transmitindo inicialmente contornos de
objetos e logo depois fisionomias de pessoas. Em 1926, John Logie Baird,
contratado pela BBC, inicia as primeiras transmissões experimentais de voz
e imagem. E, em 1935, Wladimir Zworykin encabeça a equipe convidada
pela RCA para produzir o primeiro tubo de televisão, orticon, com padrão de
definição de 30 linhas, que seria fabricado em série a partir de 1945.
Resultado de tudo isso: imagens captadas por câmeras e decompostas em
sinais elétricos são enviadas a um centro eletrônico – um aparelho que
modula as ondas em um oscilador – em forma de ondas por uma grande
antena transmissora e encaminhados a um aparelho receptor, que faz o
sentido contrário, desfaz os sinais, recompondo-os na sua posição original,
reproduzindo na tela a imagem transmitida. O dispositivo utilizava-se de
72
pontinhos, em vez de linhas, conseguindo desenhar a imagem inteira a cada
1/25 de segundo. No início, as transmissões eram feitas através de grandes
antenas, em linha reta, detalhe que dificultava o envio da imagem a países
distantes, devido à curvatura do globo. Só em 1962 foi possível realizar a
primeira transmissão via satélite através do Telstar, satélite artificial lançado
pela NASA nos Estados Unidos. A decolagem mesmo viria após a Segunda
Guerra Mundial, quando finalmente as tecnologias de consumo foram
integradas à vida cotidiana. É o inicio do que McLuhan chamou de a
“Narcose de Narciso”, o tecnofetichismo, uma necessidade de consumir os
melhores e mais sofisticados sistemas tecnológicos.
A televisão se desenvolve rapidamente, surgem as imagens coloridas,
no sistema NTSC, e ocorrem lançamentos de outros satélites, que
garantiriam as transmissões para o mundo todo, e ao mesmo tempo. O
sistema NTSC (National Televivion System Committee) foi criado para
colocar cor no sistema preto-e-branco existente, mas com a preocupação de
basear nele sua criação, pois já existiam cerca de 10 milhões de aparelhos
em preto-e-branco. O que surgiu foi um sistema fundamentado na utilização
dos níveis de luminância ou qualidade refletida, capacidade física de
distribuição da luz, ou seja, a claridade que vemos depende da situação
total, dos processos ótico e fisiológico dos olhos e do sistema nervoso, além
da capacidade física do objeto de absorver e refletir a luz que recebe,
acrecidos da cronomância, ou seja, a decomposição da luz branca em três
73
cores primárias, na proporção de 30% de vermelho (red), 59% de verde
(green) e 11% de azul (blue), formando o sistema que ficaria conhecido
como RGB, de adição de cores. Se observarmos de perto a tela da
televisão, podemos perceber minúsculos pontinhos vermelhos, verdes e
azuis, que ao longe nossos olhos misturam e podemos ver a imagem por
inteiro e colorida.
Sendo assim, a imagem televisiva se resume a pontos luminosos que
correm a tela, enquanto variam sua intensidade e seus valores cromáticos.
Isso significa que em cada fração de tempo não existe propriamente uma
imagem na tela, mas um único pixel, um ponto elementar de informação de
luz. A imagem completa não existe mais no espaço, mas na varredura
completa da tela, portanto no tempo. Analisaremos, agora, as características
desse meio, analisando as conseqüências que a televisão é capaz de
produzir através do olhar e das dimensões do tempo e do espaço, pois
essas são as primeiras dimensões afetadas nesta relação midiática.
E por falar em tempo, devemos necessariamente também falar de
espaço. O porquê está na Teoria da Relatividade Geral, desenvolvida por
Einstein em 1915, segundo a qual todo evento ocorrido na natureza, seja
uma bola caindo ao chão ou a explosão de uma estrela, deve ser
caracterizado pela sua posição no espaço-tempo quadridimensional, melhor
dizendo, três espaciais (norte-sul, leste-oeste, acima-abaixo) e uma tempo-
ral. Portanto, um ponto no espaço-tempo é descrito por quatro números, três
74
para a sua posição e um relacionado ao instante em que o evento ocorre. No
caso da imagem fixa, era necessário o esforço de se abstrair duas dessas
quatro dimensões, conservando apenas a dimensão do plano. Na imagem
eletrônica, subtraiu-se a única dimensão restante, não ocupando mais
nenhuma dimensão no espaço. Quando a exploramos, não o fazemos de
modo global, mas por fixações sucessivas que duram alguns décimos de
segundo cada uma e se limitam estritamente às partes da imagem mais
providas de informação. Jacques Aumont descreve: “Não há varredura
regular da imagem do alto para baixo, nem da esquerda para a direita; não
há esquema visual de conjunto, mas ao contrário, várias fixações muito
próximas em cada região densamente informativa” (Aumont, 1995, p. 60).
A imagem eletrônica não é mais a imagem fixa, que exige o tempo lento
da leitura e da decifração, nem mesmo o da leitura tradicional ocidental da
esquerda para a direita. Como diria Vilém Flusser, “o pensamento oficial do
Ocidente expressava-se muito mais por meio de linhas escritas do que de
superfícies (...) As linhas escritas impõem ao pensamento uma estrutura
específica na medida em que representam o mundo por meio dos
significados de uma seqüência de pontos (...). Recentemente surgiram
novos canais de articulação de pensamento (como filmes e TV), e o
pensamento ocidental está aproveitando cada vez mais esses novos meios”
(Flusser, 2007, p.110).
75
A imagem, como dito no capítulo anterior, é uma das formas mais antigas
de expressão da cultura humana e se manifesta com a função sígnica. A
imagem é um signo, e, como todo signo, representa, registra, está no lugar
de alguma coisa que não é ele próprio, e sim seu duplo. Segundo Gombrich,
representa aspectos do mundo visível, mas não é simples réplica, é
transformação visual a ser interpretada por seu observador, ou seja, não é
signo pronto. (apud Santaella, 2005, p. 41).
Para Gombrich, o espectador tem um papel extremamente ativo na
construção visual, no reconhecimento, no emprego dos esquemas da
rememoração, na junção de um com a outra para a construção de uma visão
coerente do conjunto da imagem. “É ele quem faz a imagem” (Gombrich,
apud Aumont, 1995, p. 90).
E é assim a imagem da TV, necessita da participação do usuário para
formá-la – são milhões de pontos luminosos na tela, e o olho humano
seleciona apenas alguns . Como diz McLuhan, “com a TV, o espectador é a
tela” (McLuhan, 1972, p. 351).
Santaella destaca a dualidade semântica da imagem que se encontra
arraigada no pensamento ocidental, a percepção e a imaginação. Uma
descreve a imagem direta perceptível ou até mesmo existente, a outra
contém a imagem mental, que na ausência de estímulos visuais pode ser
evocada. Na leitura da Gestalt, que estuda fenômenos perceptuais
humanos, especialmente a visão, Santaella analisa que no campo visual as
76
figuras são percebidas em sua totalidade como formas. As totalidades
aparecem como algo que é mais do que o somatório de suas partes. Esse
processo é determinado pelas leis da forma, que podem ser explicadas do
seguinte modo: a figura se distingue de sua base como uma forma
relativamente fechada; na percepção, encontramos a tendência de
interpretarmos a forma aberta antes da fechada ou de preencher a
interrupção por linhas, que nomeamos como lei da continuidade; noutro
caso, tendemos a unir, segundo o princípio da menor distância, os
elementos visuais em grupos ou figuras, o que chamamos de lei da
proximidade; há também o caso dos elementos iguais – interpretados mais
facilmente do que grupos –, que são considerados pela lei da igualdade; e
também a simetria, que fortalece a impressão da qualidade em uma
proporção equilibrada, formal. Só através da percepção da totalidade é que
o cérebro pode de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um
conceito. Como diria o pensador Rudolf Arnheim, “a percepção visual não
opera com a fidelidade de uma câmera, que registra tudo imparcialmente.
(...) Ver significa captar algumas características proeminentes dos objetos
(...) não apenas pelos civilizados ocidentais, que podem ser suspeitos por
estarem de acordo com o propósito dessa ‘linguagem de signos´, mas
também por bebês, selvagens e animais” (Arnheim, 1904, p. 36). Apesar de
formas não possuírem significado conceitual concreto, elas podem como
invariantes visuais do campo visual ser interpretadas como unidades
semióticas autônomas. Nenhum padrão visual existe somente em si mesmo,
77
ou seja, toda forma é a forma de algum conteúdo. A percepção da forma não
é apenas um processo de recepção, mas de coordenação entre o que é
percebido e as formas já internalizadas. É, no sentido da relação, um
processo semiótico, age por meio de signos de experiências do coletivo.
(Santaella, 2005, p. 36 e 45). Arnheim complementa: “A visão atua no
material bruto da experiência criando um esquema correlato de formas
gerais, que são aplicáveis não somente a um caso individual concreto, mas
a um número indeterminado de outros casos semelhantes também”
(Arnheim, 1904, p. 39).
Longe de ser um registro mecânico de elementos sensórios, a visão
prova ser uma apreensão verdadeiramente criadora da realidade –
imaginativa, inventiva e perspicaz da mente humana.
O ato de ver de todo homem antecipa de um modo modesto a
capacidade, tão admirada no artista, de produzir padrões que
validamente interpretam a experiência por meio da forma organizada. O
ver é compreender.” (Arnheim, 1904, p. 39)
Santaella extrai uma conclusão fundamental para a pecepção da
imagem. “Onde quer que o ser humano ponha seu olhar, este ato estará
irremediavelmente impregnado de temporalidade” (Santaella, 2005, p. 87).
Essa temporalidade nasce do cruzamento de um sujeito receptor com o
78
objeto percebido, e se constrói pela percepção. Perceber não é, então, um
fenômeno instantâneo, pois o processamento da informação, que está
envolvido no ato perceptivo, se desenvolve no tempo.
A percepção visual é o processamento, em etapas sucessivas, de uma
informação que nos chega por intermédio da luz que entra em nossos
olhos. Como toda informação, esta é codificada – em um sentido que
não é o da semiologia: os códigos são, aqui, regras de transformação
naturais (nem arbitrárias, nem convencionais) que determinan a
atividade nervosa em função da informação contida na luz.” (Aumont,
1995, p. 22)
A imagem na televisão é apenas um ponto. Quanto mais pontos, mais
detalhes percebemos na imagem. A televisão brasileira trabalha com o
sistema americano (M), que utiliza 525 linhas para formar uma imagem, o
frame, que são 30 quadros parados para cada 1 segundo de movimento.
Imagens são superfícies que pretendem representar algo que, quase
sempre, se encontra lá fora no espaço e no tempo. Essa relação da imagem
com o tempo se constitui gradualmente na história. Como descrito no
capítulo anterior, inicialmente as imagens pictóricas dependiam de um
referente, mas aos poucos foram se libertando, buscando não mais
obrigações figurativas, e sim qualidades sensíveis dos seus materiais, como
cor, luz, textura, massa, brilho, proporções, volumes e especialmente ritmo.
79
Já as imagens fixas, aquelas definidas por Flusser, como as produzidas por
aparelhos, se caracterizam como prolongamentos dos órgãos dos sentidos,
simulando o órgão que prolongam. A referência é a ordem fundadora da
fotografia, e a fotografia é o seu exemplar mais bem acabado, é a imagem
com o tempo aprisionado e congelado. Na passagem da câmera fotográfica
e cinematográfica para a câmera eletrônica, deixou-se a ocupação da
superfície do quadro visual da imagem para o tempo da imagem, para a
transposição de uma duração sobre um espaço. Para Arlindo Machado, “a
imagem eletrônica é sempre e necessariamente uma anamorfose
cronotópica, de onde advém sua extraordinária capacidade de metamorfose”
(Santaella, 2005, p. 94). Explica-se: anamorfose é a manipulação da sua
integridade formal, de interferências no seus parâmetros e valores de
intensidade, altura e duração. A duração e o ritmo é que constituem o
verdadeiro sistema nervoso central das imagens em movimento. No caso do
cinema há um estímulo luminoso descontínuo, que dá a impressão de
continuidade e a ilusão de movimento interno à imagem, pois de fato “o
cinema se utiliza de imagens fixas, projetadas em uma tela com certa
cadência regular” (Aumont, 1993, pag. 51). Já o vídeo trabalha concre-
tamente com o movimento, com essa relação espaço-tempo.
“[A imagem videográfica] que as lentes refratam é projetada numa
superfície foto-sensível reticulada (target), cuja capacidade para conduzir
eletricidade varia de acordo com a quantidade de luz que incide sobre
80
cada um de seus pontos. Dessa forma, ao ser varrida pelo feixe de
elétrons, a luminosidade da imagem em qualquer ponto é traduzida em
amplitude de um sinal elétrico, de modo que cada ponto ou retícula do
espaço bidimensional é convertido em nível de voltagem de um impulso
elétrico na seqüência temporal. À medida que a intensidade luminosa da
imagem varia de um ponto ao outro da linha de varredura, a amplitude
do sinal se modifica de forma sincronizada. Assim, uma imagem
projetada no suporte fotocondutor é traduzida em mudanças na voltagem
de um sinal elétrico durante o tempo necessário para fazer o seu
esquadrinhamento completo.” (Machado, 1988, pag. 41)
O espaço não tem realidade objetiva, a não ser como disposição dos
objetos que percebemos nele. E o tempo existe enquanto sucessão de
eventos e é qualificado de três formas: fisiológico, biológico e lógico. No
tempo fisiológico, perceber não é um fenômeno instantâneo, mesmo que
aparentemente imperceptíve há sempre uma duração envolvida na recepção
e no processamento de estímulos pelos órgãos sensórios e pelo cérebro. No
tempo biológico a evolução natural da espécie humana, conta com a
capacidade inata do homem de apreender o sentido imediato de padrões de
espaço e tempo. Usamos os sentidos para encontrar medidas confiáveis de
intervalos de tempo, distâncias especiais e suas diversas relações, mas não
apenas percebemos objetos no tempo e no espaço, mas os percebemos
dentro de esquemas lógicos, onde criamos símbolos para os objetos, para o
espaço e para o tempo. A capacidade simbólica do homem transcende o
81
espaço e o tempo biológicos, criando novos padrões, os padrões de
significados. O tempo lógico é uma das mais complexas teorias da
percepção. Foi a que se desenvolveu dentro dos esquemas lógicos da
semiótica, inserida na filosofia científica de Charles Sanders Peirce. De
acordo com Pierce, também são três elementos envolvidos nesse processo
perceptivo: o percepto, os sentidos e o automatismo.
O percepto, comumente chamado de estímulo, é o elemento de
compulsão e insistência na percepção. “Esse elemento corresponde à
teimosia com que o percepto, ou aquilo que está fora de nós, apresentando-
se à porta dos sentidos, insiste na sua singularidade, compelindo-nos a
atentar para ele”, porém ele é mudo. (Santaella, 2005, p. 86)
Os sentidos. Assim que os feixes de perceptos os atingem, são
imediatamente convertidos em percipuum, algo como um filtro que o percebe
e determina como será apresentado, como será traduzido, considerando os
limites e os sensores que são impostos. Por exemplo, como qualidade de
sentir. O sentimento, a consciência de quem percebe, está em estado de
disponibilidade, está desarmado. Outra forma é a de choque, quando atinge
os sentidos de forma supreendente, exige nossa atenção com menor ou
maior brutalidade.
E o automatismo, ou seja, através dos hábitos, da interpretação, é que
serão convertidos em julgamento de percepção. E só através deste
julgamento podem ser identificados e seus estímulos reconhecidos.
82
Outros elementos de temporalidade e de antecipação podem também
diferenciar a percepção, como a duração e a intensidade dos níveis de
sentimento e de surpresa, assim como a memória, que são chamados de
ponecipuum e de antecipuum, e estão inclusos em todo ato perceptivo
(Santaella, 2005, p. 86). Também Gombrich em sua célebre obra L’Arte et
l’illusion, propos a expressão de “papel (ou parte) do expectador” (beholder’s
share) para designar o conjunto dos atos perceptivos e psíquicos pelos
quais, ao percebê-la e ao compreendê-la, o espectador faz existir a imagem”
(Aumont, 1995, p. 86).
”Espaço e tempo tocam inevitavelmente na própria concepção que se
tem do visível, do visual e da relação de um com o outro que é a
percepção.” (Aumont, 1995, p. 52)
Nos processos televisivos devem ser considerados também o tempo da
emissão e o tempo da recepção, pois o enunciado televisivo nasce do
contraste entre o continuum do real que a câmera registra e os cortes nesse
continuum que a produção e a edição executam. A montagem do aqui e
agora, recortando a continuidade do presente torna-se ferramenta para esse
processo, considerando a escolha de cenas e a duração no ar, entre outros
recursos que só tendem a aumentar, se considerarmos o número de
câmeras utilizadas na cobertura de um evento.
83
Por menor que seja aparentemente a percepção, há sempre uma
duração envolvida na recepção e no processamento de estímulos pelos
orgãos sensórios e pelo cérebro, sendo até possível “quantificar as durações
exigidas por diversos processos neurológicos, tais como reação dos
receptores retinianos, excitação do córtex etc.” (Santaella, 2005, p.85).
Kerckhove participou de uma experiência com os irmãos Steven e Rob
Kline, através da qual se mediam as reações físicas da televisão sobre o
corpo. Assim, o próprio Kerckhove pôde comprovar que o sistema
neuromuscular segue constantemente as imagens no vídeo, mesmo que a
mente divague ocasionalmente. Diz ele:
Tudo isto é involuntário devido à nossa programação biológica
ancestral: o sistema nervoso autônomo dos mamíferos mais evoluídos
está treinado para responder a qualquer alteração perceptível no
ambiente que seja relevante para a sobrevivência. Estamos
condicionados para responder involuntariamente a qualquer tipo de
estímulo, interno ou externo, com o que, em fisiopsicologia se chama
Reacção Orientadora (RO).” (Kerckhove, 1997, p. 40)
Kerckhove ressalta que a mídia televisiva realmente não é relevante a
nossa sobrevivência, principalmente com relação a seu conteúdo, mas
destaca que o principal efeito da televisão não se dá pelo conteúdo e sim
pelo próprio meio, ou seja, pelos constantes feixes de elétrons que ficam
84
piscando na tela, como afirmava McLuhan. Esses feixes provocam as
sucessões chamadas de Reações Orientadoras (RO). Ficamos expostos a
elas e às mudanças e aos cortes rápidos feitos na imagem, que chamam
nossa atenção mas não nos satisfazem, não concedem o tempo necessário
a uma resposta, a um tempo de consciência completo. A teórica Hertha
Sturm afirma que a mente demora pelo menos meio segundo para produzir
uma resposta correta a um estímulo complexo (Sturm, apud Kerckhove,
1997, p. 41). A televisão, com sua frenética forma de transmissão e a
intenção de manter atento o telespectador, para que não adormeça ou mude
de canal, acaba por impedi-lo de formar respostas cognitivas completas.
Herbert Krugman, também citado por Kerckhove, sugere uma teoria
interessante: de que as crianças em frente da televisão não olhariam para as
coisas da forma considerada normal, a leitura tradicional ocidental da
esquerda para a direita. Em vez de usarem os olhos seqüencialmente, como
se tivessem sido treinadas pela escrita, sugeriu que lançariam "olhadelas
rápidas”, por várias vezes, como se tivessem reunindo uma imagem para dar
sentido à página (Krugman, apud Kerckhove, 1997, p. 47). Uma espécie de
varredura da área, capaz de exercer um importante impacto cognitivo na
criança, a qual, em vez de explorar textos para criar e armazenar imagens,
passa a produzir generalizações a partir de fragmentos dispersos e assim
reconstituir o objeto da visão. McLuhan também relata uma situação
parecida acerca de crianças: “Procuram levar para a página impressa os
85
imperativos da total envolvência sensória da imagem da TV” (McLuhan,
1972, p. 346). Na matéria “O cérebro devassado”, publicada na revista
Veja
6
, pesquisas chamadas de Neuromarketing relatam a maneira como o
cérebro responde a estímulos externos e testam, por exemplo, a
receptividade do espectador a trailers de filmes. Outros dados interessantes
citados na matéria são com relação a região cerebral responsável pelo
aprendizado, pela organização e pelo comportamento. No caso do
aprendizado a região cerebral se desenvolve até os 5 anos de idade, e há
um crescimento na região frontal do cérebro, entre os 3 e 6 anos, região
especializada em organizar e planejar novos comportamentos. Os lobos
frontais crescem entre os 10 e 12 anos, sendo que as conexões que não
foram feitas até essa idade não serão estabelecidas nunca mais. Essa parte
do cérebro é responsável pelo controle dos impulsos, pelos julgamentos e
pelo temperamento. As fibras nervosas que ligam o lado direito ao esquerdo
do cérebro continuam a crescer até os 20 anos de idade. Essa estrutura
responde pela inteligência e autoconsciência e evolui até a maturidade. Essa
fase é fundamental para determinar habilidades que o cérebro desenvolverá
por toda a vida. Esses dados são interessantes, e a própria matéria ressalta
que tais técnicas estão ajudando os pesquisadores a entender melhor a
6
Matéria publicada em 04 de agosto de 2004, na revista Veja, edição 1865, ano 37, nº 31, p. 124 a 133.
86
relação entre a estrutura cerebral, as funções neuronais e o comportamento
humano, reforçando a relevância do envolvimento da televisão em fases
importantes do desenvolvimento do jovem, pois, na maioria dos casos, o
acesso a ela se dá antes mesmo de as crianças terem visto um livro ou de
saberem falar. Se por olhadelas rápidas, por varredura ou de qualquer outra
maneira, não é a questão, de fato o que importa é compreender que
mudanças na cognição, no entendimento e no comportamento desses
jovens, se fazem diante do meio. McLuhan foi pioneiro ao reconhecer que os
sistemas eletrônicos de informação, como a TV, são ambientes vivos e
alteram nossos sentimentos e sensibilidade, principalmente quando não
estamos prestando atenção a eles.
A televisão tem uma complexa relação com o funcionamento do
nossos olhos e de nosso corpo. McLuhan considera a TV, acima de tudo,
uma extensão do sentido do tato, “que envolve a máxima inter-relação de
todos os sentidos (...). A forma em mosaico da TV exige a participação e o
envolvimento em profundidade de todo o ser, como faz o sentido do tato”
(McLuhan, 1972, p. 375).
A imagem da TV exige que, a cada instante, ‘fechemos’ os espaços da
trama por meio de uma participação convulsiva e sensorial que é
profundamente cinética e tátil, porque a tatilidade é a inter-relação dos
87
sentidos, mais do que o contato isolado da pele e do objeto.” (McLuhan,
1972, p.352)
Se ficarmos atentos, poderemos perceber como somos sensíveis a
esse domínio, e o desdobramento disso são respostas inconscientes dos
nossos sentidos que são incorporadas naturalmente. E assim são as
tecnologias elétricas, e em especial a televisão – dominam e fascinam
silenciosamente todos os sentidos. “Basta observar um telespectador e seu
espaço, em uma sala de televisão, o contorno e a profundidade são
alterados, perde-se o domínio do olhar: História, pensamento, expressão,
tudo converge para um ponto fixo e luminoso” (Santaella, 2005, p. 85). Fatos
como a eliminação da profundidade da imagem, o estreitamento do quadro
de visão e a constituição do predomínio dos quadros fechados são
características marcantes e influenciadoras do meio que vão lentamente
sendo incorporadas.
Outro fato que devemos considerar é o tempo dedicado a assistir
televisão. Quando nos sentamos para assistir a um programa, não fazemos
mais nada durante esse tempo a não ser olhar. Isso causa problemas mais
sérios do que pode parecer. Como diz Baitello, “o processo civilizatório da
humanidade, e como parte dele o processo educacional, é um processo de
‘sedação’” (Baitello, 2005, p. 36). Baitello se refere à “sedação” como o ato
de sedar, acalmar, que vem de “sedere”, mesma raiz latina do verbo sentar,
assim como quase todas as palavras relacionadas ao ato de sentar e aos
88
objetos usados para isso – cadeira, assento, sela. A proximidade etimológica
e semântica das duas palavras não é mera casualidade, diz Baitello. Quando
nos deparamos com alguém nervoso, a primeira coisa a se fazer é sentar ou
mandar sentar. E, observe, colocamos nossos filhos sentados desde
pequenos em frente da televisão, para distraí-los ou acalmá-los. Baitello
afirma “quando sentamos o corpo, sentamos também a nossa base
comunicativa” e mais “um pensamento sentado significa um agir
acomodado, conformado e amansado, incapaz de sequer decifrar o mundo
ao seu redor e menos capaz ainda de atuar de modo transformador”
(Baitello, 2005, p. 37). Esse processo de sedação, defendido por Baitello,
encontra na televisão um poderoso aliado. Em estudo
7
recente, realizado
pelo site do canal Cartoon Network, com crianças de 7 a 15 anos, constatou-
se a fascinação pela tecnologia e a doação de 3 horas diárias diante da
televisão. E com relação a leitura, os únicos livros lembrados por elas foram
os da série “Harry Potter”. Isso nos leva a questionar o tempo dedicado a
essa prática. No caso de pessoas adultas, ainda é possível alegar que seja
uma forma de repouso após o trabalho, mas no caso de crianças e jovens,
pode ter outro significado.
7
Dados da pesquisa KIDS EXPERTS, sobre o aspectos do universo infantil, como hábitos e comportamento, uso
de novas tecnologias, e sobre a percepção que as crianças têm de si mesmas e do mundo, realizada pelo Cartoon
Network, líder de audiência na TV por assinatura do Brasil. Fonte: Pesquisa CN.com.br/Base: Crianças 7-15 anos
(1.113) 2006. http://www.fundamento.com.br/site/release.asp?tipo=0&id=1519 22/10/07
89
Estamos caminhando para uma sociedade que, por banir os traços e as
marcas do tempo, por banir o envelhecimento, a lentidão, por
desvalorizar e por fim também banir a proximidade, oferece às criancas,
jovens e adolescentes um horizonte obscurecido pelas excessivas luzes
dos holofotes de um falso presente, um presente in effigie, sem
corporeidade, sem presença, um presente sem vida e sem surpresas.”
(Baitello, 2005, p. 30)
Não podemos negar que a televisão se tornou um hábito na vida
moderna, um grande produto da cultura de massa, um feito da indústria
cultural. Apenas para pontuar, o termo indústria cultural foi utilizado pela
primeira vez pelos filósofos alemães Theodor W. Adorno e Max Horkheimer,
da Escola de Frankfurt em 1947. Adorno e Horkheimer tentavam mostrar
como essa indústria realizava uma verdadeira manipulação das
consciências, mas não versaremos por esse assunto, pois não é intenção do
projeto em questão. Pontuamos apenas para somar a leitura que McLuhan
fez com relação à nova sociedade, que começava a viver a era da implosão
da informação, ou seja, da informação complexa, que se manifesta em
mosaico, descontínua e simultaneamente, características da indústria
cultural e dos meios midiáticos.
O que significa que neles não apenas se reproduz ideologia, mas
também se faz e refaz a cultura das maiorias, não somente se
comercializam formatos, mas recriam-se as narrativas nas quais se
90
entrelaça o imaginário mercantil com a memória coletiva.” (Martín-
Barbero apud Moraes, 2003, p. 62-63)
A comunicação midiática e os novos processos de produção
estabeleceram vínculos e ligações entre as diversas práticas sociais,
delimitando os novos campos simbólicos e a nova territorialidade, tornando
pública a vida pública e formatando a vida cotidiana. Esse enquadramento
do indivíduo pela mídia se inicia com a imprensa, em que a “forma” de os
jornais apresentarem o mundo é a forma de torná-lo consumível. Mas é com
a televisão que esse enquadramento se fortalece, atingindo um número
muito maior de pessoas, uma espécie de janela aberta para o mundo, uma
extensão dos nossos olhos e ouvidos, que nos leva até os locais dos fatos e
da notícia, possibilitando conhecer lugares e pessoas que não seriam vistos
de outra maneira. A TV é considerada um poderoso meio de comunicação
de massa, com papel-chave e influenciador nas relações da sociedade
moderna e no modo de viver e pensar de adultos e crianças. Passou a
divertir, a entreter, a informar, a formatar valores, hábitos, crenças e códigos
de comportamento no mundo todo.
Grande parte do poder sedutor da televisão vem da ‘ilusão de
cordialidade’ que o veículo propicia. Basta ligar o aparelho (…) e a sala
de casa, antes imersa na mais profunda solidão, será invadida por
imagens, vozes e sons do mundo, (…). O telespectador mantém uma
91
relação ‘onanística’ com essas imagens, tanto no sentido de projetar
suas fantasias em ídolos (artistas, cantores, galãs de novela etc.) quanto
no de experimentar o gozo da participação nos eventos, sem contudo se
expor ao acaso e correr qualquer risco real.” (Eco apud Arbex Jr., 2001,
p. 50)
O que podemos considerar até aqui, por tudo que foi apresentado, é
que a televisão não é apenas um formador de ideologias ou um mero
esquema técnico de transmissão de imagens, mas a ponta de um sistema
complexo e articulado com todas as instâncias políticas e sociais.
2.2. A televisão no Brasil
Padrão “Globo” de qualidade
Na América Latina, em especial no Brasil, a televisão tem papel
importantíssimo, faz parte decisiva do modo como percebemos e agimos.
Vivemos e fomos formados num país em que o espaço público foi totalmente
dominado pela TV. Cinco horas, quatro minutos e vinte e três segundos foi o
impressionante tempo diário que o brasileiro passou em frente da TV em
2005. São dados fornecidos pela pesquisa Ibope
8
realizada em 2006, a qual
8
Dados do “Mídia Dados 2007”, publicação anual do Grupo de Mídia São Paulo, que disponibiliza informações
sobre o cenário atual e futuro do mercado publicitário e de mídia.
92
afirma também, apesar de os mais jovens aderirem às novas tecnologias,
que a televisão brasileira resiste a esse confronto, sendo consumida
simultaneamente. A televisão brasileira destaca-se entre os meios de
comunicação de massa, e o que vemos hoje é essa TV, particularmente a
TV aberta, com cerca de 97% de penetração
8
nos lares brasileiros. E,
considerando a atual era digital propensa a ampliar suas potencialidades,
visionando ainda uma vida muito longa ao meio, sobretudo depois de
efetivar-se a mudança no modo de transmissão de dados – de analógica
para digital.
No Brasil a televisão detém mais de 60% do faturamento do mercado
8
comunicacional e mantém sua posição privilegiada e relevante na
comunicação de massa. Apesar da disputa atual com meios mais
segmentados, como a internet, a televisão tem preservado a sua
participação. O meio ainda é muito eficaz no mercado brasileiro, e,
considerando a atual emergência das classes DE ao mercado de consumo,
beneficiadas pela política do governo e pela mudança no tipo de
transmissão, os bons ventos ainda continuarão soprando. Assim se
mostraram confiantes executivos das seis maiores redes brasileiras de
televisão, em matéria publicada no Mídia Dados 2007.
A mídia televisiva brasileira tem uma ampla divulgação, uma enorme
penetração nos lares, sendo poucas as regiões do país sem acesso a ela. A
televisão brasileira é considerada uma televisão de qualidade internacional,
93
comparada à boa TV paga de muitos países. Ela está colada aos
acontecimentos e ações do cotidiano, passando a determinar padrões de
comportamento e convivência, ditados, por exemplo, pela hora do
Fantástico, do Jornal Nacional, ou da novela das oito. E, em se tratando
desses produtos da televisão brasileira não se pode deixar de falar da Rede
Globo, pois estudaremos à frente um produto dessa emissora líder em
audiência no jornalismo brasileiro. Analisaremos sua edição, a qual torna o
produto televisivo ainda mais segmentado. Como a seqüência dos
movimentos criada por uma câmera ou os cortes dados a uma cena, por
exemplo.
A TV Globo teve sua concessão outorgada no governo do presidente
Juscelino Kubitschek, em 26 de abril de 1965. Iniciou as suas transmissões
pelo canal 4, TV Globo do Rio de Janeiro, dando o pontapé inicial para a
formação da Rede Globo de Televisão. Pioneira nas transmissões ao vivo,
internacionais e via satélite, além da implantação em 1972 da TV em cores,
imprimiu desde o início um novo conceito de qualidade à televisão brasileira.
Foi fundada e dirigida pelo empresário Roberto Marinho até sua morte em
2003. Hoje, o Sistema Globo de Rádio, Editora e TV Globo é dirigido pelos
filhos João Roberto, Roberto Irineu e José Roberto Marinho.
Em 1967 Roberto Marinho assinou um contrato de colaboração entre
a Globo e o grupo Time-Life, que na época recebeu severas críticas, pois
parecia ir contra a lei brasileira, na medida em que dava a uma empresa
94
estrangeira direitos em uma empresa nacional de comunicação. Questão
que não se relaciona ao nosso trabalho, mas que foi o embrião da futura
rede de TV, através do progresso técnico alcançado pela emissora,
tornando-se um poderoso instrumento de comunicação de massa e de
formação de opinião pública em nosso país. Hoje disponta como líder
nacional e tem reconhecida projeção internacional, apresentando uma
programação diversificada com noticiários, programas semanais,
minisséries, programas infantis, novelas entre outros, que se tornaram
recordistas em audiência e referências emblemáticas que ditam modas,
influenciam hábitos, costumes, linguagem e comportamentos.
Nesses 44 anos de Rede Globo, somaram-se ao progresso do
sistema de afiliação de emissoras, 5 emissoras próprias e 112 afiliadas –
121 entre geradoras e emissoras, tornando-a o único veículo de
comunicação presente em todo o território nacional, com redações
completas e bem equipadas. Além de usar das melhores agências de
notícias, garantindo uma ampla cobertura nacional e internacional, está no ar
24 horas por dia, pois a maior parte da sua programação é criada e realizada
nos seus estudios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Hoje, exporta para
mais de 130 países em todos os continentes, pois construiu um acervo na
dramartugia, além de shows, entretenimento, documentários e do
jormalismo,
95
Com uma atração após a outra, horário previsto e institucionalizado,
foi a estratégia da TV que condicionou o público à sua programação. A
verticalidade diária e a horizontalidade semanal da programação, estratégia
creditada ao profissional José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, na
época Superintendente de Produção, Programação, Engenharia e
Jornalismo da Rede Globo, deu à emissora a fidelidade e o
comprometimento do público.
Podemos perceber a rememoração dos conteúdos míticos, dos
rituais, nas práticas televisivas. Os rituais sempre apaziguaram a ansiedade
humana, e a mídia televisiva confere ao espectador essa espécie de
sensação de controle simbólico. A cadência rotineira, o hábito, a
previsibilidade, o padrão ou modelo a ser seguido dão a sensação de
acolhimemto e de domínio. Uma espécie de socialização em que a televisão
se apropria do imaginário já instalado na sociedade desde os seus
primórdios.
O ritual que permite a cada indivíduo ocupar seu lugar biológico,
comportamental e emocional no interior do grupo e serve também de
cimento para o corpo social, que, graças a ele, permanece unido e
funciona ‘como um único homem’. Nesse nível de organização do ser
vivo, o ritual é uma conduta que tem por efeito estimular a biologia dos
indivíduos e sincronizar os grupos.” (Cyrulnik, apud Contrera, 2005, p.
115)
96
O ritual televisivo de programação organizada e previsível estabelece
padrões de organização, gera uma permanente sensação de controle e de
participação, confere uma enorme significação ao espectador e ao seu
grupo. Mediação que não se faz apenas com um conjunto de técnicas de
difusão, mas também com a susgestionabilidade de modelos de significação,
modelos como o da família, de cidadania, de aspiração social, hábitos e
costumes, tornando a televisão o novo locus social contemporâneo. Pois o
fato é que a modernidade produz diferença, exclusão e marginalização como
destacou Berman, e as instituições modernas, como a televisão criam
mecanismos de superação e realização do eu. São comunidades de
ocasião, construídas em torno de eventos, ídolos ou modas. Significação
aparece portanto como um modo de sobreviver, de uma possibilidade de
romper a exclusão da sociedade moderna. A esfera midiática se viabiliza e
legitima a partir do uso recorrente desses elementos do ritual.
Essa significação, essa sensação de controle é que facilita a adesão
aos conteúdos, a aceitação e a legitimação da informação veiculada.
A seguir uma entrevista dada pelo “Boni” à revista Senhor:
Para habituá-lo (o público) a ver nosso canal, precisamos colocar no ar
um produto que você e o mercado estejam dispostos a consumir. E você
e o mercado têm de confiar que, assim que aquele produto acabar, vai
ser substituído por outro que mereça igual confiança. (...) O
telespectador fica habituado a ver televisão porque passa a ter afeto por
97
ela. (...) O segredo da televisão está em como criar o hábito.” (Revista
Senhor, 25 de julho de1980)
Esses conteúdos míticos que se rarefazem na sociedade, se
reconstroem e se fortalecem nas mídias, e o hábito de ver e seguir a
programação televisiva, inserem o público numa constante sensação de
participação e construção. Essa cotidianidade do meio se utiliza de
mecanismos semióticos de repetição de temas comerciais, de arquétipos, de
mitos e ritos que compõem o imaginário público, coletivo.
A televisão pretende representar, ou na verdade, simular fluxos
sociais portadores de decisões centrais políticas ou econômicas. Produtos
culturais televisivos são simulacros. Imagens e sons simulam o real, se
tornam reais devido à sua identificação com a oralidade da fala, com a
simultaneidade dos tempos do espectador e das imagens, continuidade e
seqüencialidade sem retorno, onde, como vemos hoje, o espectador não
suporta mais seqüências lentas, os episódios precisam suceder rapidamente
uns aos outros. A “Narcose de Narciso” de McLuhan, a necessidade de
consumir sistemas tecnológicos, cada vez melhores e mais sofisticados, pois
sem eles nos sentimos limitados e inadequados.
Essa permanente exposição e necessidade de mudança frenética das
imagens, que se mostram em demasia, com rapidez e sem parar, sem
tempo de serem observadas, analisadas, é a situação a qual o jovem
98
contemporâneo está exposto. A imagem do vídeo é um fragmento do
universo, de um fluxo contínuo, é a imagem do mundo que chega pronta,
sem a possibilidade de contemplação e reflexão.
Assistimos à TV com uma atenção dispersa, sem concentração, apenas
deixando que aquele fluxo ininterrupto nos atravesse. A televisão é este
contínuo de imagens, em que o telejornal se confunde com o anúncio de
pasta de dentes, que é semelhante à novela, que se mistura com a
trasmissão de futebol. Os programas mal se distinguem uns dos outros.
O espetáculo consiste na própria seqüência, cada vez mais vertiginosa,
de imagens.” (Peixoto, 1986, p. 180)
Neste texto de Nelson Brissac Peixoto, encontra-se o aprofundamento
de nosso trabalho. Que os meios tecnológicos, e mais especificamente a
televisão, introduzem nas relações humanas mudanças de padrão, ou seja,
configuram e controlam a percepção dando nova forma às ações e
associações humanas, foi o que podemos ver até agora. Mas é a seqüência
vertiginosa, a avalanche de imagens em permanente exposição, que se
mostra em demasia e cada vez mais rápida, sem parar, que veremos mais
detalhadamente. Um novo modo, uma nova relação, que renega qualquer
vestígio de duração e de continuidade, calcada na intermitência, na falta de
profundidade, dificultando a reflexão e educando para a dispersão, levando à
impaciência, à ânsia de evasão, ao zapping. Uma busca frenética, que não
99
se sabe a que, uma postura inconsciente em face do fluxo e dos cortes e
edições incessantes que sofrem as imagens televisivas.
E é a partir desse fluxo contínuo de imagens que se confundem, se
hegemonizam, dessa atenção dispersa, que torna indiferente até mesmo o
fato de o programa ser ao vivo ou gravado, que salientamos não se tratar de
mera coincidência a programação, por exemplo, de um noticiário entre duas
novelas. Aqui focamos mais nosso projeto, destacando o produto televisivo
da Rede Globo que se encaixa em tal programação, o “Jornal Nacional”.
2.3. Imagens e sons de todo o Brasil
Jornal Nacional – a luta contra o tempo
Primeiro telejornal em rede nacional, marca o início da TV Globo
como uma rede de emissoras afiliadas por todo o país quando entra no ar
pela primeira vez em 1969. Herdeiro de uma tradição e criador de uma nova
linguagem jornalística, credita à confiança e à qualidade a explicação para
seu sucesso. “A notícia faz história”, assim é intitulado o projeto editorial da
Central Globo de Comunicações sobre a trajetória desse produto, que é o
primeiro telejornal em rede, sintonizado até hoje por sete dos dez aparelhos
100
de televisão ligados no país
9
. “Um fenômeno raro – se não único em termos
mundiais –, tanto pela longevidade do programa como pela permanente
liderança de audiência”
9
.
As frases “O JN, presente na vida de milhões de brasileiros, é fator de
integração cultural. Leva informação aos quatro cantos do país, registra os
momentos mais importantes de nossa história há 35 anos”, e “Como um
espelho vivo, não apenas reflete a nossa imagem, mas contribui
decisivamente para a formação de uma consciência, de um sentido
compartilhado do que somos, podemos e devemos ser como povo, cultura e
nação”, respectivamente de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do
Brasil, e Viviane Senna, do Instituto Ayrton Senna, destacadas do livro
“Jornal Nacional – a notícia faz história”, ilustram e elevam a importância do
estudo desse telejornal, que edita, seleciona, decide e determina como
contará aos brasileiros fatos da realidade.
Vamos conhecer primeiramente a trajetória deste produto.
Apresentado inicialmente por Hilton Gomes e Cid Moreira, registra antes
mesmo de ir ao ar fatos e coberturas marcantes que ganhariam
definitivamente a simpatia e a audiência da população, como a transmissão
ao vivo da enchente de 1966 no Rio de Janeiro, tragédia que abalou os
9
Dados da publicação: Jornal Nacional – a notícia faz história / Memória Globo
101
cariocas. Nesse episódio, a Globo não se limitou a mostrar os fatos,
promoveu também uma ampla campanha comunitária, conquistando e se
transformando na voz que lutava pela recuperação da comunidade do Rio de
Janeiro. Também garantiria a liderança na audiência na cidade de São Paulo
com as primeiras transmissões via satélite, um novo sistema que permitia
assistir ao vivo acontecimentos internacionais, como a chegada do homem à
Lua. Uma das coberturas de destaque dos pimeiros anos do Jornal Nacional
foi a do desabamento do elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro em
1971. Até às 16 horas não havia imagens da tragédia, e quando começaram
a chegar, o próprio Armando Nogueira, diretor do Jornalismo, ajudou a editá-
las na moviola, enquanto o editor Edson Ribeiro preparava os textos. Por
sua dimensão dramática, o fato se transformou em comoção nacional.
Figura 1. Cid Moreira e Hilton Gomes na bancada do Jornal Nacional (década de 1970).
“O Jornal Nacional da Rede Globo, um serviço de notícias integrando
o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagem e som de todo o Brasil”.
Frase de Hilton Gomes, na primeira apresentação do Jornal Nacional, no dia
102
1.º de setembro de 1969. Começava assim o primeiro telejornal transmitido
em rede nacional no Brasil. A equipe que o produziu imaginava a família
reunida na sala recebendo as informações do país inteiro, e por isso o
produto era mais coloquial, mais próximo do telespectador, diferente do
rádio, em que o narrador se exaltava, falava mais alto, como se procurasse o
ouvinte por todos os cantos da casa. Ao final da primeira transmissão Cid
Moreira se despediu: “É o Brasil ao vivo aí na sua casa”. E emendou com
um “boa noite”, saudação que se tornaria inconfundível e viria a se repetir
por todas as suas transmissões. Entre os recursos técnicos disponíveis à
época, já se encontrava o videoteipe (VT), porém essa tecnologia era
utilizada apenas na dramaturgia e no entretenimento. No jornalismo o
suporte técnico utilizado era o do cinema, filme de 16mm, pois não existia
ainda o videoteipe portátil.
Os equipamentos de gravação eram muito pesados, sem agilidade
para as reportagens de rua, e as câmeras não registravam o som ambiente.
Mas logo chegariam as câmeras menores, mais leves e com a vantagem de
gravar imagens e registrar os sons, permitindo ao repórter aparecer nas
matérias, dando maior credibilidade ao noticiário. O teleprompter foi outra
novidade – situado logo abaixo da câmera, projeta em letreiros o texto para
o locutor. Com esse recurso, o apresentador lia com mais naturalidade e
olhava direto para o telespectador, reforçando o clima coloquial, como se o
apresentador estivesse na sala de casa conversando com quem está
assistindo. No início, ninguém sabia direito como funcionava, os técnicos
103
esqueceram de colocar os espelhos, que faziam com que o texto fosse
projetado, na altura dos olhos do locutor, e assim o projetavam no alto,
deixando os olhos de quem estava lendo aparecerem brancos para o
telespectador.
Utilizando o slogan “A notícia unindo seis milhões de brasileiros”, o
Jornal Nacional entrou no ar com apenas 15 minutos de duração. Exibia na
sua abertura imagens de acontecimentos e personalidades importantes no
país. Sua logomarca era composta do logotipo “JN” ao lado do globo
terrestre com seus hemisférios, como símbolo. O cenário era formado por
um fundo azul com letras do telejornal em amarelo.
Em 1971 ocorreu a primeira mudança de apresentadores, no lugar de
Hilton Gomes entrou Ronaldo Rosas, que saiu no ano seguinte. Assumindo
Sérgio Chapelin, que ficaria ao lado de Cid Moreira até 1983. No ano
seguinte, o slogan do programa passaria a ser “Três anos de liderança
integrando o Brasil através da notícia”. A vinheta ganhou mais dinamismo e
exibia os créditos com os nomes dos profissionais envolvidos, abandonando
as cenas documentais.
104
Figura 2. Cid Moreira e Sérgio Chapelin / logotipo Jornal Nacional.
Sendo um telejornal exibido em rede para todo o país, foi criado um
conceito de noticiário nacional, ou seja, um guia de hierarquização das
notícias. As matérias deveriam ser de interesse geral e não regionais ou
particularistas. Os assuntos tinham de chamar a atenção tanto do
telespectador de Manaus quanto do de Curitiba. Era necessário não
superdimensionar uma região em detrimento da outra. Num país continental
com tantas diferenças regionais, era uma tarefa difícil. Na implantação da
televisão colorida, também alguns fatos marcantes. Empolgados com a
novidade, os apresentadores ousavam nas cores e nas padronagens dos
ternos. Cid Moreira lembra que chegou a usar paletós verdes, cor-de-
abóbora e quadriculados. Mas em 1975 a direção de jornalismo designou um
profissional especializado para escolher as roupas que os locutores e
repórteres deveriam usar para aparecer na tela. Também o texto do Jornal
Nacional sofreu padronizações. apesar de buscar sempre um tom coloquial
e de fácil entendimento, percebeu-se que os textos estavam sendo
reduzidos à sua expressão mais simples, banalizando o idioma e
105
empobrecendo a linguagem. Armando Nogueira trouxe sua experiência da
imprensa escrita e criou uma campanha de valorização da palavra, com um
pequeno manual que trazia algumas regras sobre como escrever para
televisão. A maioria dos profissionais da época era oriunda da imprensa
escrita, e o telejornalismo ainda era visto com muito preconceito no próprio
meio jornalístico.
Em 1976, já com sua sede em São Paulo, devido a um grande
incêndio no prédio da TV Globo no Rio de Janeiro, o Jornal Nacional, assim
como toda a emissora, passava por um processo de profissionalização. Foi
publicado um livreto chamado “Encontros de Jornalismo”, como o objetivo de
sistematizar, divulgar e documentar as experiências dos profissionais da
Central Globo de Jornalismo. Data também deste ano a mudança de
equipamentos – das câmeras de 16mm do cinema para os equipamentos
eletrônicos, os ENG (Eletronic News Gathering). Devido a este fato, o
jornalismo narrativo do telejornalismo norte-americano, apoiado na
performance de vídeo dos repórteres, tornou-se padrão dominante no país.
Com a nova tecnologia, o repórter, pouco visto antes, passou não só a ir ao
local dos acontecimentos e apurar as informações, mas também a fazer o
texto, e, ele mesmo apresentar. Esse novo sistema exigia mais em
improvisação, memorização e reflexão sobre o conteúdo e o texto. Isso
levou à criação de um curso com o objetivo de dar aos profissionais
informações básicas sobre como segurar um microfone, evitar gesticulação
excessiva, moderar as reações fisionômicas e colocar a voz. No final da
106
década, o Jornal Nacional já estava consolidado e definitivamente
incorporado aos hábitos dos brasileiros.
Figura 3. Novos equipamentos.
Em 1979 foi feito um concurso entre cenógrafos e designers da
emissora, com o objetivo de criar um novo visual para o Jornal Nacional.
Venceu Hans Donner, que tinha como inspiração a fascinação pelo espaço,
e com a intenção de dar a ilusão de uma grande dimensão colocou o
logotipo “JN” em perspectiva ao fundo, além de uma nova parede com dois
monitores de cada lado, o que possibilitava o jogo de câmeras e a maior
movimentação dos apresentadores. Esse cenário ficou no ar por apenas
dois anos, sofrendo outras modificações – ganhou uma nova bancada e um
mapa mundi ao fundo, em relevo. O logo também sofreu alterações,
deixando de ter a marca da Rede Globo integrada às letras “JN”. A vinheta
de abertura acompanhou a evolução, sofrendo modificações de 1981 a
1982, e em 1983 foi ao ar a primeira vinheta feita com recursos de
computação gráfica. Era um globo flutuando na tela, de onde saíam diversos
“JNs”. O conceito visual era de que o globo em gomos flutuantes vindo na
107
direção do telespectador criasse a sensação da notícia vindo de todas as
partes do mundo.
Em janeiro de 1983, o jornalismo da Rede Globo foi divivido em dois
setores, o comunitário e o de rede. Armando Nogueira decidiu-se pela
separação numa tendência natural de organização do jornalismo, pois a
cobertura local pouco tinha a ver com a nacional. Surgem os telejornais
locais, como RJTV, SPTV, MGTV, NETV e DFTV.
Paralelamente a essa mudança, a Central Globo de Jornalismo
decide investir no aperfeiçoamento das afiliadas. A intenção era levar o
padrão de qualidade Globo para que todos pudessem participar do Jornal
Nacional. Assim, inicia-se uma série de ações, desde aulas práticas de
reportagem, edição de imagens e cinegrafia, cursos de textos, locução e
postura, noções sobre o formato dos telejornais, equipamento, e o uso do
Centro de Documentação, na itenção de criar um padrão de qualidade no
jornalismo. Em 1974 a fonoaudióloga Glória Beuttenmüller foi contratada
para uniformizar a fala de repórteres e locutores espalhados pelo país, para
amenizar os sotaques regionais. Ficou acertado que a pronúncia-padrão do
português falado no Brasil seria a do Rio de Janeiro, com algumas
restrições, como os “esses” e “erres”, que deveriam ser amenizados.
Em 1984 a dupla de apresentadores do Jornal Nacional era formada
por Celso Freitas e Cid Moreira. O volume de reportagens ofertadas pelas
novas filiais passou a ser muito grande, sendo necessário uma seleção mais
criteriosa, e em 1985 nasciam as editorias especializadas. Inicialmente eram
108
quatro: Brasil, Política, Economia e Internacional e a Divisão de Esportes.
Em 1989, foi criada a editoria de Ciência e Tecnologia, com a intenção de
diversificar os temas tratados pelo telejornal. No mesmo ano o telespectador
pôde observar uma série de mudanças. A começar pela saída de Celso
Freitas e o retorno de Sérgio Chapelin ao lado de Cid Moreira. Um novo
cenário, ou melhor dois novos cenários, um fixo e um móvel foram criados.
O fixo, também criação de Hans Donner, era uma mesa de acrílico com ares
futuristas, iluminada por luz neon vermelha, onde ficavam os locutores. O
cenário móvel, criado pela equipe de arte da Central Globo de Jornalismo,
era composto de desenhos feitos no computador. Essas imagens
acompanhavam toda a tela ao fundo do apresentador e davam tratamento
visual particular a cada reportagem. Mais de 50 novos selos foram criados
para ilustrar assuntos relacionados às editorias. Essa fase também é
marcada por uma maior utilização das imagens produzidas por computação
gráfica, que eram inseridas através do chromakey
10
.
Figura 4. Novo cenário com ares futuristas / logotipo Jornal Nacional.
10
A técnica isola imagem de atores ou objetos pela eliminação do fundo original da cena por uma tela azul.
109
A vinheta, no ar desde 1983, manteve-se a mesma, apenas foi refeita
em computação gráfica, o que garantiu uma maior definição à imagem. A
vinheta musical ganhou novo arranjo, criado pelo maestro Aluísio Didier. Em
abril de 1990, houve mudanças substanciais na Central Globo de
Jornalismo. Os diretores Armando Nogueira e Alice-Maria, responsáveis pelo
Jornal Nacional desde sua estréia, deixaram seus cargos. Assumiu o
comando Alberico de Souza Cruz. Surgem as novidades desta fase: um
quadro com a previsão do tempo, em 1991, o uso da reconstituição dos
fatos, em forma de desenhos ou de gravações com atores, em 1992, além
de uma orientação mais investigativa e de se aproximar mais do público, na
produção de matérias ligadas à comunidade, ao direito do cidadão e a
comportamento de modo geral.
O Jornal Nacional nunca teve sua audiência ameaçada, porém em
1991, enfrentou concorrência da novela infantil Carrossel, exibida no mesmo
horário pelo SBT, emissora concorrente. Tal fato levou a diretoria do Jornal
Nacional a cometer excessos, no caso, com muitas matérias sobre violência
no noticiário. Pautamos aqui a necessidade da busca e manutenção dos
índices de audiência no telejornalismo.
110
Em 1995, o jornalista Evandro Carlos de Andrade assume a direção
da Central Globo de Jornalismo no lugar de Alberico de Souza Cruz. Realiza
algumas mudanças técnicas, como o recursos do contraplano
11
durante
entrevistas e recorre menos ao stand up
12
. Em 1996 a dupla de apresenta-
dores Cid Moreira e Sérgio Chapelin foi substituida pelos jornalistas William
Bonner e Lillian Witte Fibe, decisão que buscava dar maior credibilidade às
notícias e dinamizar as coberturas, sendo agora apresentadas por jornalistas
profissionais envolvidos na produção. O cenário também sofre novas
alterações, o azul e as linhas sinuosas são mantidas, mas o telejornal deixou
o estúdio tradicional para ser apresentado de dentro da redação. A bancada
dos apresentadores foi totalmente modificada e transferida para um
mezanino, a três metros e meio de altura do chão. A idéia era transformá-la
em área de trabalho dos jornalistas, com um monitor e um computador. Na
abertura do telejornal, uma grua passou a mostrar as atividades da redação,
passeando, lentamente, no sentido da bancada. Nesse movimento entram
em cena sete painéis de 12 metros de largura presos ao teto que, no final,
formam um grande planisfério estilizado, com o Brasil no centro. Todas as
11
Em geral o entrevistado dava as respostas com a câmera fechada nele e, em seguida, o repórter fazia as
perguntas, gravando e regravando quantas vezes achasse necesssário para que, quando fosse editado, tudo
saísse perfeito. Isso, às vezes soava um pouco artificial. Na mudança o pingue-pongue da entrevista foi respeitado,
gravando-se exatamente a seqüência em que ela acontecia, com o repórter perguntando e o entrevistado
respondendo.
12
Quando o repórter fala em primeiro plano sobre um fato que acontece em segundo plano.
111
mudanças vieram acompanhadas de inovações tecnológicas, como as
ilustrações que passaram a ser projetadas por um refletor, em vez de
inseridas por chromakey. E o Jornal Nacional passou a contar com o sistema
closed caption, tecnologia que permite legendar tudo o que é dito no
telejornal. Em 1998 novamente é alterada a apresentação do Jornal
Nacional. Fátima Bernardes assume no lugar de Lillian Witte Fibe, e William
Bonner passa a acumular as funções de âncora e editor-chefe do telejornal.
A dupla de jornalistas permanece até os dias atuais.
Figura 5. Lilian Witte Fibe e William Bonner. Figura 6. William Bonner e Fátima Bernardes.
2.4. A produção e edição do telejornal
Escolha, recorte e interpretação da notícia
A estrutura de um telejornal quase não difere nas emissoras, todas
têm um interesse comum, mostrar a notícia da melhor forma possível. O
telejornal nasce na ”pauta”, em que são apuradas todas as informações
recebidas, cresce nas mãos da chefia de reportagem, ganha a definição
exata na edição de texto, imagem e mensagem auditiva. O editor-chefe
112
organiza as notícias pela força, impacto e ação que elas exercem sobre o
telespectador.
É realmente muito delicada a tarefa de edição de entrevistas,
depoimentos e discursos. No corre-corre do fechamento do telejornal, o
editor pode comprometer moralmente o nosso trabalho. Basta selecionar
uma fala sem respeitar o conjunto das idéias expostas pela pessoa
noticiada. Nesse caso, estamos cometendo um abuso que repugna a
nossa consciência profissional. Recomendo, pois, que os editores
tenham extremo cuidado ao cortar uma fala. Se sentir que o trecho
pinçado altera a essência do pensamento do autor, o editor deve fazer
um texto resumindo a totalidade da fala para ser lido pelo narrador. É
preferível arquivar ou jogar no lixo a fala a exibir uma versão adulterada
de alguém que, na melhor boa-fé, nos deu uma entrevista ou nos deixou
gravar seu depoimento.” (memorando de Armando Nogueira, em 30 de
novembro de 1980, a todos editores de texto e imagem da CGJ)
O editor-chefe também é responsável pela preparação do Espelho
13
.
As matérias selecionadas na pauta aparecerem no espelho por retrancas,
como um nome ou apelido que o assunto ganha durante toda a sua
13
Estrutura de um noticiário. Sintetiza a organização do telejornal em blocos, a ordem das matérias em cada bloco,
bem como dos intervalos comerciais, das chamadas e do encerramento. (ver anexo 1).
113
produção. Logo que chega à redação, o editor-chefe se reúne com o chefe
de reportagem para saber da produção do dia, momento em que são
levantados temas, fatos, locações etc. Desse encontro nasce a primeira
previsão, o pré-espelho do que pode ser levado ao ar. No Jornal Nacional, o
espelho é feito por William Bonner junto com Ali Khamel, mas Bonner é o
gatekeeper, aquele que percebe os valores das notícias e as seleciona. A
reunião de pauta é feita através de um canal de voz, pelo qual todos os
editores do Jornal Nacional, de todas as praças da emissora, participam em
uma hora pré-determinada. Através dessa comunicação chegam sugestões
de matérias que podem fazer parte do noticiário do dia. Outras reuniões vão
se suceder até a exibição do telejornal, que se altera progressivamente,
sempre que necessário. Ao longo desse trabalho, alguns assuntos podem
“cair” (sair da pauta daquela edição) e matérias frias ou factuais podem
tomar proporções além do esperado. A partir do que está sendo produzido,
na rua e na redação, é que o editor-chefe determina como se pode mostrar e
contar a notícia. A relação e a ordem de entrada das matérias aparecem no
espelho, que mostra as divisões por blocos, a previsão dos comerciais, as
chamadas e o encerramento. Os blocos são organizados por afinidade de
notícia, ou conforme as matérias vão sendo liberadas pela edição – feita na
chamada ilha de edição, por um radialista, um técnico em vídeo e um
jornalista, com supervisão dos editores de texto e imagem. Os cortes são
feitos em função das palavras e das cenas que interessam e do tempo que
ocuparão no telejornal. As imagens selecionadas são cobertas pelas
114
sonoras, pela voz em off
14
e pela passagem, uma espécie de respiro dado
pela fala do repórter.
Mostrar a notícia implica em fazer um programa com escalada, blocos
bem definidos, passagens de blocos com bastante apelo e confiar na
sensibilidade e experiência dos jornalistas e técnicos envolvidos na
produção. Na montagem técnica estão incluídas as rotinas produtivas do
telejornal. É o momento em que a notícia é fabricada. A edição de um
telejornal atende a leis próprias, além das específicas e técnicas envolvidas
na montagem, e segue leis como censuras internas, externas e as
internalizadas. A decisão sobre o que vai ser noticiado muda em função da
época, dos interesses econômicos e políticos e da linha desenvolvida pelo
telejornal.
O público do telejornal é diversificado e cada assunto tem o tempo
certo para ser contado. A televisão precisa passar a informação dentro de
um tempo determinado, o texto deve ter uma natureza superficial, sucinta,
não permitindo profundidade na notícia, a forma longa provoca a dispersão,
“as notícias são escritas para serem ‘ouvidas’ e não ‘lidas’, porque não há
releitura. As palavras devem ser mais simples e as frases mais curtas” (in
14
É a gravação feita sem a imagem de quem fala. Ela narra, acrescenta informações, descreve, mas as imagens
são as das matérias, acompanhadas da voz do locutor ou do jornalista.
115
Novaes, apud Arnt, 1991, p. 170,171 e 175). A mensagem é momentânea,
instantânea e tem hora certa para ser vista e ouvida. O telejornalista conta e
mostra a notícia de olho no relógio. O tempo é a medida da televisão, e a
média de tempo ideal de uma notícia no telejornalismo é de
aproximadamente um minuto.
Cinco minutos, é tudo que se têm para mostrar o mundo aos brasileiros.
Em média três filmes de 1min20 e duas notas de cinqüenta segundos,
por exemplo, é o que cabe ao bloco internacional. Ilustrado com texto,
mapas, slides, ou radiofotos, para facilitar, pois “as notícias devem ser
entendidas, no principal, por quem não dispõe de informações
suplementares, pois a maioria não irá lê-las no dia seguinte, no jornal
por exemplo.” (in Novaes, apud Arnt, 1991, p. 175)
Essas são palavras de Ricardo Arnt, que foi durante cinco anos editor
de notícias internacionais do Jornal Nacional. Para ele “o indivíduo é alvo e
resultado”. E relembrando, a mente demora pelo menos meio segundo para
produzir uma resposta correta a um estímulo complexo, o que reforça a
busca incessante dos profissionais pela atenção do telespectador. Cada
segundo é importante, pois o mesmo divide a atenção com tudo à sua volta.
É necessário saber aproveitar o ”instante“ de atenção dado à notícia, pois
qualquer dispersão pode levá-lo a mudar de canal.
116
Existem alguns recursos que o telejornalismo usa para chamar e
prender a atenção do telespectador. Este recebe a notícia como se ela
estivesse sendo contada apenas para ele. A câmera é posicionada com
enquadramento fechado, uma forma de realçar os detalhes, valorizar os
gestos, como se o apresentador estivesse em uma conversa com o
telespectador, o que acaba por despertar a emoção mais facilmente. A
câmera fechada no apresentador cria a impressão de olho no olho, da
conversa intimista, e sugere cumplicidade. O suposto “diálogo" toca com
maior facilidade o telespectador, que passa a se sentir cúmplice e
testemunha privilegiada de um momento de emoção. Outro recurso é a
criação de um personagem na notícia, a intenção é dar legitimidade à
história contada. O telespectador se identifica com a notícia “humanizada”, o
que facilita o entendimento da informação. As chamadas do telejornal são
programadas para atraí-lo, e esse compromisso aparece na “escalada”, logo
no primeiro bloco do telejornal. A “escalada” existe exatamente para segurar
o telespectador na poltrona e fazer com que ele aguarde o telejornal. Uma
Escalada bem-feita torna o telespectador uma presa fácil até o final do
programa. São frases fortes e manchetadas das principais notícias do dia. E
muitas vezes a imagem dessa notícia é o grande apelo do telejornal. Hoje no
117
Jornal Nacional essa tarefa é de Fátima Bernardes. As manchetes editadas
por ela são inseridas como teaser
15
, e podem ser dadas, por exemplo, com
a imagem e o texto com narração do apresentador; ou o repórter, diante da
câmera, dando uma informação de impacto sobre a matéria que ele cobriu;
também pode ser a fala de alguém envolvido na notícia, no caso uma
pequena frase com bastante impacto; ou até mesmo a imagem com o
próprio som – uma bomba explodindo, por exemplo.
O jogo da expectativa é mantido nas “passagens de bloco”, que
chamam as notícias fortes do próximo bloco, fazendo com que o
telespectador não mude de canal durante os comerciais. As notícias no
telejornal podem ser dadas de diferentes formas:
Da forma mais simples, a “nota pelada”, também conhecida como
“nota no locutor”, “nota ao vivo” ou “nota simples”, consiste na notícia falada
pelo apresentador sem a presença de imagens, ou por não tê-las ou porque
não podem por algum motivo ser usadas; por exemplo, por problemas
técnicos, ou até mesmo para se ajustarem ao ritmo ou ao tempo do
telejornal.
15
É uma chamada curta, feita com a intenção de despertar a atenção e a curiosidade do telespectador, para a
notícia que será dada posteriormente no telejornal.
118
Na “nota coberta”, a notícia tem imagens, e o texto é falado pelo
apresentador. É a forma dada às notícias que não têm peso para ocupar um
espaço maior dentro do telejornal. As imagens, nesse caso, podem ter sido
feitas por cinegrafistas amadores, ou apenas pelo cinegrafista profissional
enviado ao local do acontecimento – no Jornal Nacional este profissional é
considerado cinegrafista-repórter.
A “lapada” é o efeito técnico em que a imagem vai sendo retirada da
tela ao mesmo tempo em que outra vai aparecendo, uma espécie de folhear
de páginas. Geralmente, é utilizada na reunião de algumas notícias que
podem ser levadas ao telespectador com imagens e texto, mas de forma
resumida, em uma ou duas frases. Muitas vezes é usada como vinheta entre
as notícias.
O “boletim”, “stand-up” ou “flash”, é a notícia contada pelo repórter no
local do acontecimento ou que tenha relação com ele. O boletim geralmente
é usado nas “entradas ao vivo”, embora possa ser gravado também. A
“entrada ao vivo”, também chamada de “link, procura estabelecer sinais de
áudio e vídeo para a notícia ser mostrada em tempo real, de qualquer lugar
do mundo. O repórter fala ao vivo e passa ao telespectador a sensação de
estar participando do acontecimento. O “vídeo fone” também marca
presença cada vez mais forte no telejornalismo, assim como as
“reconstituições”, usadas principalmente nos locais onde o uso de
equipamentos se torna difícil e perigoso.
119
A “reportagem” é notícia contada e mostrada pelo repórter no local do
acontecimento. Neste caso, gravada e editada depois. São escolhidos textos
e imagens do material gravado pela equipe de reportagem, de maneira que
o telespectador receba a notícia de forma clara, com princípio, meio e fim. A
edição é feita pelo editor de texto, é a forma mais valorizada, abrangente e
complexa de se levar a notícia ao telespectador. Algumas regras, como não
mostrar nomes que caracterizem segmentos do mercado em geral
(supermercados, farmácias, ou mesmo marcas de produtos etc.), são
determinadas para evitar qualquer publicidade que possa conflitar com os
patrocinadores do programa.
E, finalizando, a “nota pé”, texto que vai complementar e finalizar a
notícia que acabou de ser apresentada ao telespectador. Ela é sempre
falada pelo apresentador.
Figura 7. Ilha de edição.
120
O telejornal é colocado no ar na sala de edição. As atividades são
comandadas e coordenadas pelo diretor de TV, que está sempre em contato
com os câmeras, os locutores e o departamento responsável pelas
inserções das gravações em vídeo, já previamente preparadas na ilha de
edição. É ele quem dispara o telejornal.
2.5. A “montagem branca”
A produção dos sentidos e a fabricação de notícias
A montagem tem um papel relevante no cinema, no teatro e na
televisão, e sua presença se faz sentir no telejornal. Montagem é uma
questão de instrumentalidade, de recursos técnicos, que compreende entre
outras coisas a edição de imagens e de palavras, de cortes e de colagens,
além da criatividade do profissional na decisão do que deve ser cortado – aí
está, em grande parte, a arte de montar o que vai ser visto no vídeo.
Imagem, corte e tempo fazem o telejornalismo. As exigências de tempo,
espaço, tamanho, ordenação nos blocos e agendamento da pauta obrigam
muitas vezes que, mesmo sabendo que não foi exatamente assim, seja
mostrado assim.
O Jornal Nacional é um produto com todos os quesitos de um
espetáculo:
121
Padronizado, pois segue regras na fala, no texto e na imagem
construídas como vimos no decorrer da sua história.
Rigidamente codificado, pois se utiliza de imagens, sons, gravações
em fitas, filmes, materiais de arquivo, fotografias, mapas, textos, locuções,
depoimentos, músicas e ruídos para o seu show, além do aparato técnico,
como as tomadas de planos, closes ou cortes, utilizado na edição.
Tais recursos já o credenciariam para análise em nosso trabalho,
porém destacamos a montagem branca, como a descreve e nomeia Maria
Izabel Oliveira Szpacenkopf em seu livro “O Olhar do Poder”.
O poder de olhar e de fazer olhar dá poder ao olhar que decide,
seleciona, monta, corta, edita o que irá ao ar”. (Szpacenkopf, 2003, p.16)
A notícia é fruto da montagem que inclui a escolha do fato, do
assunto, do que dele vai ser aproveitado, da oportunidade exata para sua
divulgação, atendendo portanto a determinados parâmetros técnicos e
editoriais. A presença da montagem na produção de notícias se verifica
mesmo nas que são transmitidas “ao vivo”. Operações técnicas são
necessárias com o compromisso de valorizar jornalisticamente o trabalho
dos cinegrafistas e repórteres. Mas, se na edição se enfatizam mais
determinados aspectos do que outros, como tomadas em certos ângulos,
close e iluminação, caracteriza-se a “montagem branca”, que interfere e
produz uma outra cena para o telespectador.
122
A montagem técnica é inerente a qualquer telejornal, o problema é
que esses elementos técnicos nem sempre são claramente detectados ou
percebidos. São de certa forma invisíveis e transparentes ao olhar do
telespectador. Os dispositivos da “montagem branca” podem ser usados
como estratégias de forma consciente e premeditados, ou até mesmo
automatizados, camuflados pela rotina do habitus; ou são de ordem do
insconsciente.
Mesmo uma transmissão “ao vivo” não escapa. O ângulo das
tomadas, a iluminação, os destaques e o foco, a escolha da câmera, o
tempo determinado a uma ação, por exemplo, são elementos da montagem,
e podem sofrer a “montagem branca”. Para Szpacenkopf, construir notícia
implica em estratégias da montagem, tais como: renegação, leis próprias,
pulsão de dominação, sedução, dessubjetivação, cenário e contrato.
“Renegação” dá-se com relação à temporalidade ou mesmo aos
detalhes do acontecido. As técnicas de edição, como cortes de colagens,
narração com os verbos no tempo presente, ou mesmo a montagem das
falas, fazem parte dos critérios a serem seguidos e constroem uma notícia
que, ao ser apresentada, funciona como se estivesse acontecendo no “aqui
e agora”, no seu momento de apresentação.
“Leis próprias”, são critérios fundamentais para decidir que fato é mais
favorável para ser transformado em notícia, como será divulgada, como será
construída, quando irá ou não ao ar.
123
‘Pulsão de dominação” refere-se às manifestações de poder, o
simples fato de sofrerem tratamento antes de sua divulgação demonstra o
poder inserido nesse processo. Colocar luz sobre pessoas e acontecimentos
pode conferir-lhes importância positiva ou até mesmo negativa.
“Sedução” tem papel fudamental na apresentação do que o
espectador quer e não quer. Essa relação é da ordem do imaginário, do
coletivo, da dependência, e atinge várias pessoas ao mesmo tempo. Os
espectadores estão sujeitos à fascinação, seja pela imagem, seja pela
narração. No caso da imagem pelo olhar, no telejornal o olhar é colocado
sobre pessoas e fatos escolhidos, mostrando o que o espectador deve olhar,
oferecendo-lhe algo para ser olhado, algo que foi decidido que precisa ser
olhado e com os ingredientes que prendam esse olhar. Na narração, se
desperta o interesse pela entonação da voz, pela maior dramaticidade da
narração, pela construção de enunciados que incluam palavras que chamem
a atenção.
Na ‘Dessubjetivação“, a distância que a tela propicia favorece a
sensação de proteção e de anonimato, levando à passividade e à
impotência.
Do “Cenário”, fazem parte os apresentadores, suas roupas, o horário,
as vinhetas, a hierarquização das notícias em relação às outras, além da
própria cena da informação. Geralmente são cenários frios, assépticos e
neutros, auxiliados por tons das cores cinza e azul, que destacam o
124
apresentador e fazem uma diferenciação entre estúdios e informação com
imagem. O apresentador é fundamental e guarda carcterísticas que vão
desde uma postura de sedução, que busca transmitir segurança e confiança
por meio de sua imagem, até a relação da voz e do olhar com o
telespectador, com quem fala, dominando a atualidade espetacular,
cadenciando-a, possibilitando a mudança rápida de um assunto para outro,
sem deixar que a apresentação perca seu ritmo. Os textos são lidos com a
ajuda do teleprompter dando a impressão de que o apresentador se dirige
ao espectador.
E o “Contrato”. Os produtores de telejornal são ao mesmo tempo os
que executam ordens e os que fabricam um programa. Todo telejornal é um
produto fabricado por funcionários de uma engrenagem maior, que são
ímbuídos da obrigação do cumprimento de suas tarefas, executam-nas,
seguindo e sofrendo pressões e exigências, das quais nem sempre se dão
conta, mas estão à mercê da aceitação do público, de quem depende a
continuação da tarefa. O telejornal é sedutoramente oferecido como um
objeto desinteressado, neutro, imparcial e, portanto, digno de credibilidade.
“O poder de atrair a atenção do espectador precisa conter atribuições que
podem ser assim sintetizadas: quem sabe sou eu; você precisa saber o que
eu sei; você precisa saber que quem sabe sou eu.” (Szpacenkopf, 2003,
p.218)
125
Montagem branca, então, é aquela que participa de um discurso
telejornalístico e que, sem aparecer, interfere na sua produção. Fácil,
portanto, inferir ao poder de um telejornal, não apenas seu conteúdo, mas o
que se mostra, como e quanto se mostra.
2.6. Edições X eleições
O espetáculo da edição – eleições presidenciais 2006
Mais ele contempla, menos ele vive; mais ele aceita se reconhecer nas
imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende sua
própria existência e seu próprio desejo.” (Debord, 1997, p. 16)
O Jornal Nacional registra alguns casos polêmicos de edição, como o
das eleições presidenciais de 1989. Aqui focaremos mais nossa proposta de
estudo, pois acreditamos unir neste momento a força ideológica, a
percepção e a sensação estética e técnica da mídia televisiva, a informação,
visão de mundo, a produção e edição da notícia no telejornal, e a construção
e sensação da opinião pública no processo eleitoral, além da importância do
fato na educação e cultura de um país.
Veremos a trajetória e a divulgação do Jornal Nacional da Rede
Globo, sobre as eleições brasileiras para presidente da República a partir
das eleições de 1989. E decuparemos o material divulgado no processo
126
eleitoral de 2006, para analisar a edição e detectar o grau de envolvimento
desta prática na percepção e no entendimento do jovem brasileiro.
Eleições presidenciais de 1989 – a edição que provocou polêmicas.
Entre o primeiro e o segundo turno da eleição, houve dois debates
entre os candidatos do PRN, Fernando Collor, e do PT, Luiz Inácio Lula da
Silva. O primeiro, no dia 03 de dezembro, transmitido dos estúdios da TV
Manchete, no Rio de Janeiro, e o segundo, no dia 14 de dezembro, dos
estúdios da TV Bandeirantes em São Paulo. Os dois debates foram
transmitidos por um pool formado pelas quatro principais emissoras de
televisão do país: Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT. No dia seguinte,
dia 15 de dezembro, o Jornal Nacional apresentou uma edição do último
debate. Essa edição causou grande polêmica, pois foi acusada de favorecer
o candidato do PRN, tanto na seleção dos momentos como no tempo dado a
cada candidato. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), então vice-
presidente de operações da Rede Globo, numa matéria publicada pela
“Folha de S. Paulo”, no dia 17, disse que a CGJ cometera um erro de
avaliação e fizera uma edição favorável a Collor. A orientação da direção da
empresa era para que os dois recebessem um tratamento igual, cobrir os
fatos, sem tomar partido e com o cuidado de dar tempo igual aos candidatos.
Justamente o que não acontecera no compacto do Jornal Nacional, que
refletiu, com uma pitada de exagero, a superioridade de Collor sobre Lula.
Boni disse também que não acreditava que a edição do Jornal Nacional
127
tivesse influenciado de forma decisiva as eleições. Isso porque, segundo o
Ibope, a audiência total do debate (somadas todas as emissoras que
compunham o pool) fora de 66 pontos, maior do que a do Jornal Nacional,
com 61 pontos. Então, para Boni, mais gente viu o debate do que viu a
edição. Outra opinião que destacamos é a de João Roberto Marinho, quando
disse: “Um debate de duas horas de duração em cinco ou seis minutos, sem
cometer injustiças, é praticamente impossível”.
Nas eleições de 1994 e 1998, não aconteceram debates, devido a
divergências entre os candidatos. Em 2002, quando eles se realizaram, a TV
Globo já havia consolidado a decisão de não mais editar debates políticos,
limitando-se a apresentá-los na íntegra e “ao vivo”. Defendiam agora um
plano mais ambicioso. A grande idéia que se seguiria, não só na Globo mas
nas outras emissoras também, era trazer os candidatos à Presidência da
República para entrevistas no telejornal. No plano de cobertura para futuras
eleições seriam feitas estrevistas para esmiuçar os programas de governo
de cada candidato e discutir as contradições de cada candidatura, como
também uma matéria de acompanhamento diário das atividades de todos os
candidatos no dia-a-dia da campanha com tempos iguais a todos. As
pesquisas eleitorais, contratadas ao Ibope seriam mensais, se
comprometendo a divulgar com igual destaque todas as outras pesquisas
feitas pelos institutos credenciados como o Datafolha e o Vox Populi. Por
fim, seriam feitos dois debates, um no primeiro turno e outro no segundo,
128
caso houvesse. A primeira rodada de entrevistas dos candidatos aconteceu
entre os dias 8 e 11 de julho. A primeira foi com os quatro candidatos e a
seqüência definida por sorteio. Os candidatos foram sabatinados por dez
minutos, pelos apresentadores do Jornal Nacional, que seguiram regras
previamente negociadas com as equipes dos candidatos. Foi esboçado um
roteiro de perguntas e realizado um levantamento sobre as possíveis
repostas, réplicas e tréplicas de cada candidato. Houve a segunda rodada,
com ordem das entrevistas também definida por sorteio, entre os dias 23 e
26 de setembro. Os candidatos tiveram 20 minutos para expor suas idéias e
responder perguntas feitas pelos apresentadores e pelo público, via internet.
No dia 03 de outubro, foi realizado um debate entre os quatro principais
candidatos, exibido ao vivo. Teve duração de aproximadamente duas horas
e foi dividido em cinco blocos. No dia seguinte, o Jornal Nacional apresentou
uma reportagem sobre os bastidores do encontro, nenhum trecho do debate
foi exibido. No dia 07 de outubro, 99% das urnas em todo os país já tinham
sido apuradas. De acordo com os números, dois candidatos disputariam o
segundo turno. A partir do dia 08 de outubro, o Jornal Nacional passou a
acompanhar o dia-a-dia da campanha dos dois candidatos. Nos dias 17 e
18, os dois candidatos deram entrevistas ao vivo, com cerca de cinco
minutos de duração, diretamente das cidades onde estavam. Dia 25 de
outubro, foi ao ar o último debate entre os candidatos. O modelo do encontro
foi baseado nas campanhas presidenciais norte-americanas. Uma espécie
de arena foi projetada, onde os candidatos podiam se movimentar livremente
129
e seus movimentos eram capturados por várias câmeras. O debate foi “ao
vivo” com cerca de duas horas de duração e também dividido em cinco
blocos. Os bastidores do encontro foram mostrados no dia seguinte, quando
também foram divulgados os últimos números da pesquisa Ibope
encomendada pela Rede Globo e realizada logo após o debate. De acordo
com o Ibope, Lula teria 62% dos votos válidos, enquanto Serra, 38%. No dia
28 de outubro, inicia-se um Jornal Nacional especial, com o presidente eleito
sentado ao lado dos apresentadores. Em 1.º de janeiro assumia a
Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Figura 8. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na bancada do Jornal Nacional.
A eleição de 2006, prenunciava a continuação do modelo vitorioso de
cobertura de 2002. No dia 24 de julho de 2006 a Central Globo de
Jornalismo apresentou o cronograma da cobertura das Eleições 2006
16
. Do
16
Dados: http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2006/07/24/imprensa7903.shtml
130
mês de julho até um possível segundo turno em outubro, a emissora contará
com entrevistas nos telejornais e com debates entre os candidatos à
presidência. Os jornalistas William Bonner, Fátima Bernardes e Pedro Bial e
o diretor executivo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, apresentaram
o plano de cobertura do Jornal Nacional, com destaque para a “Caravana
JN”, uma caravana especial, que irá percorrer as cinco regiões do país,
mostrando a repercussão das eleições em diversas cidades.
“As reportagens serão sobre a nação. A Caravana nos dará a
oportunidade de percorrer o país, perguntando à população o que ela deseja
do Brasil. Um motorhome foi caracterizado pelo departamento de Arte da
Central Globo de Jornalismo e instalado o sistema fly away, que permitirá a
transmissão via satélite de qualquer ponto do Brasil. Com 12 m de
comprimento, 2,20 m de altura interna e 2,40 m de largura de carroceria, o
motorhome foi adaptado às necessidades de uma redação. E essa redação
itinerante é fruto da revolução digital que vivemos. Poderemos transmitir as
matérias de qualquer lugar do país, o que dá um sabor de aventura e vai ao
encontro do que queremos: uma cobertura que não seja burocratizada”,
explicou Pedro Bial, que fará reportagens para a série Desejos do Brasil,
exibida pelo Jornal Nacional de segunda a sábado, a partir do dia 31 de julho
de 2006.
131
Figura 9. Caravana JN - Motorhome e o sistema fly away.
A cada quinze dias, às segundas-feiras, também a partir do dia 31 de
julho, os jornalistas William Bonner e Fátima Bernardes se revezarão para
encontrar a equipe e apresentar parte do telejornal pelo Brasil. “Além das
ancoragens nos diversos estados, também vamos produzir reportagens
traçando o perfil da região, nas quais usaremos, por exemplo, os dados
estatísticos do IBGE, de 1985 a 2004”, contou William Bonner. “Repórteres
das emissoras e das afiliadas da TV Globo também vão participar
ativamente dessa cobertura”, complementou Fátima Bernardes.
O diretor executivo da CGJ, Ali Kamel, explicou que a equipe está
trabalhando no esquema de cobertura das eleições desde fevereiro, tendo
feito reuniões com representantes de vários partidos. Kamel detalhou as
demais ações da cobertura, que contará com entrevistas nos telejornais e
debates com os candidatos à presidência. A primeira rodada de entrevistas
com esse candidatos vai acontecer no Jornal Nacional entre os dias 07 e 10
de agosto. A ordem das entrevistas, que foi definida através de sorteio, é a
132
seguinte: na segunda-feira, dia 07, Geraldo Alckmin; na terça-feira, dia 08,
Heloísa Helena; na quarta-feira, dia 09, Cristovam Buarque; e na quinta-
feira, dia 10, Lula. Os debates das Eleições 2006 acontecerão no final de
setembro. No dia 28, quinta-feira, a TV Globo vai exibir o debate com os
candidatos à presidência. Caso haja segundo turno, os candidatos à
presidência voltam a participar de debate no dia 27 de outubro, na sexta-
feira. A emissora definiu um formato diferente para este último debate, com
inovações tecnológicas, como um videowall, uma parede formada por telas
de TV, e a interatividade dos debatedores com eleitores. Os candidatos em
vez de serem questionados por jornalistas, desta vez seriam questionados
diretamente por eleitores, selecionados antes do debate pelo Ibope, entre 80
eleitores indecisos. Nos três primeiros blocos serão feitas oito perguntas por
sorteio, e os temas apresentados serão decididos pelos eleitores indecisos.
Apenas no último bloco, os candidatos podem fazer perguntas um ao outro.
O debate terá a duração de duas horas e será mediado foi William Bonner.
Apenas a arena será similar à das eleições de 2002, permitindo aos
candidatos se deslocar enquanto falam.
No próximo capítulo iniciaremos a análise do material produzido pelo
Jornal Nacional durante o processo eleitoral para presidente da República
2006. Serão investigadas 12 horas gravadas no período de 27/07/2006 a
28/09/2006.
133
CAPÍTULO III –– METODOLOGIA
3.1. Metodologia utilizada
Foram realizados dois métodos de pesquisas, um comparativo e outro
quantitativo. O comparativo foi utilizado no estudo da produção do telejornal
Jornal Nacional, na divulgação do processo eleitoral para presidente do
Brasil em 2006. E o quantitativo foi utilizado como método experimental para
coleta de dados, análise e tratamento estatístico de um questionário aplicado
a jovens de 17 a 21 anos.
A análise comparativa é detalhada no Módulo 1, monitorando a
visibilidade, valência das matérias, enquadramento, edição e divulgação das
campanhas do primeiro turno, entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e
Geraldo Alkimin. A intenção é averiguar se a edição jornalística adotada
cumpre os requisitos de imparcialidade ou se caracteriza quesitos da
montagem branca.
134
A análise quantitativa se desenrola no Módulo 2, avaliando a escolha,
percepção, credibilidade dos jovens quanto ao meio mais utilizado para se
informar e a influência na leitura e entendimento das informações
veiculadas.
O objetivo da pesquisa é a reflexão dos dados obtidos nas análises
descritas acima e o confronto com os dados teóricos abordados nos
capítulos anteriores, objetivando compreender a atuação das novas
tecnologias, principalmente da televisão, na percepção e no entendimento
dos jovens contemporâneos.
3.2. Módulo 1
3.2.1. Escolha do objeto de estudo
Na escolha do objeto foram considerados: o papel que o objeto
exercia na promoção de idéias e valores perante o interesse público; o seu
elevado e permanente nível de audiência, em média 35 pontos; conforme
dados Ibope, para cada ponto são cerca de 54,4 mil domicílios, ou seja 1,6
milhões de lares conectados, além da sua produção técnica, que segue
normas de edição rigorosamente padronizadas, como vimos anteriormente.
O Jornal Nacional foi escolhido sem muitos concorrentes. Devido ao
seu padrão “global”, de qualidade técnica perfeita e esmero nas coberturas
jornalísticas; seu horário de exibição classificado como horário “nobre”, das
20h15min às 21h05min; e a sua veiculação, de segunda a sábado,
praticamente diária.
135
O Jornal Nacional é composto por quatro ou cinco blocos, e em
média, apresentam de três a sete matérias. No levantamento realizado
durante a pesquisa, a média foi de 4,3 matérias distribuídas em blocos de
aproximadamente 5’:28’’. As notícias são apresentadas através de diversos
formatos jornalísticos, como vimos anteriormente: nota simples ou pelada,
nota coberta, reportagem, vivos e entrevistas. Procuramos definir um case
do telejornal, que tivesse um começo, meio e fim, num período de média
duração, para creditar à análise uma uniformidade. Foi escolhida a
divulgação do processo eleitoral para Presidente da República 2006, pois
estava na pauta anual do telejornal, possuia tema de forte impacto social e
econômico, e o trabalho de divulgação mobilizava grande parte da equipe do
telejornal.
As gravações manuais foram realizadas a partir do dia 27 de julho de
2006, seguindo o cronograma apresentado pela emissora para o Jornal
Nacional:
Dia Evento
27 de julho – quinta-feira Apresentação do motorhome da Caravana JN
28 de julho – sexta-feira Caravana JN parte em direção à região Sul
04 de agosto sexta-feira Jornal Nacional é parcialmente apresentado da região
Sudeste
07 de agosto segunda-feira Entrevista com o candidato à Presidência Geraldo
Alckmin
08 de agosto terça-feira Entrevista com a candidata à Presidência Heloísa
Helena
136
09 de agosto quarta-feira Entrevista com o candidato à Presidência Cristovam
Buarque
10 de agosto – quinta-feira Entrevista com o candidato à Presidência Lula
12 de setembro – terça-feira Jornal Nacional é parcialmente apresentado da região
Nordeste.
13 de setembro quarta-feira Excepcionalmente, em função da maior quantidade de
estados da região, o Jornal Nacional é mais uma vez
apresentado parcialmente da região Nordeste
23 de setembro – sábado Jornal Nacional é parcialmente apresentado da região
Norte
25 de setembro – segunda-feira Jornal Nacional é parcialmente apresentado da região
Centro-Oeste
28 de setembro quinta-feira Debate dos candidatos à Presidência no primeiro turno
das Eleições 2006
30 de setembro – sábado Jornal Nacional é parcialmente apresentado do Distrito
Federal (Brasília) e exibe a última matéria da série
Desejos do Brasil, encerrando a Caravana JN
01 de outubro – domingo Primeiro turno das Eleições 2006
16 de outubro – segunda-feira Segundo turno, entrevista com um dos candidatos à
Presidência no Jornal Nacional
17 de outubro – terça-feira Segundo turno, entrevista com o outro candidato à
Presidência no Jornal Nacional
27 de outubro – sexta-feira Segundo turno, debate com candidatos à Presidência
das Eleições 2006
29 de outubro – domingo Segundo turno das Eleições 2006
137
As gravações manuais foram encerradas no dia 28 de setembro de
2006. A decupagem foi direcionada ao material publicado para os candidatos
Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alkimin, os mais fortes concorrentes ao
cargo. Os dias analisados foram determinados por duas situações: aleatória;
e por importância na transmissão, ou seja, divulgação das pesquisas de
institutos credenciados como Ibope e Datafolha, nas entrevistas com os
candidatos e no dia do debate final.
Mês 07/2006 – Dias 27 e 28.
Mês 08/2006 – Dias 3, 4, 5, 7, 10.
Mês 09/2006 – Dias 12, 15, 23, 25, 27, 28.
Temas que concorreram com a divulgação da campanha eleitoral:
Jogos Panamericanos
CPI – máfia das ambulâncias
Taça Libertadores
Criança Esperança
Campeonato Mundial de Basquete
3.2.2. Análise dos recursos técnicos.
Foram decupadas e analisadas cerca de 12 horas de material
gravado digitalmente seguindo as especificações abaixo:
1. Tempo de exposição
2. Espaço
3. Ângulos de câmeras
138
4. Ordenação de bloco
5. Passagem de bloco
6. Cortes
7. Closes
8. Tomadas de plano
9. Iluminação
10. Qualidade da imagem
11. Locuções
12. Escalada
13. Efeitos técnicos
14. Lapada
A linguagem audiovisual se viabiliza através da utilização de três
equipamentos: a câmera, a iluminação e o áudio. A decupagem, minutagem
e análise técnica do material gravado pretende analisá-los considerando o
glossário de recursos e especificações técnicas descritos abaixo. (WATTS,
1990, p. 267-275)
Animação: simulação de movimento através da filmagem, mudando a
posição do objeto quadro a quadro.
Áudio: designa o som; usado em contraste com o vídeo.
Backlight: serve para destacar os personagens e objetos principais do
fundo do cenário.
BG: música de fundo.
139
Cena muda: cena tomada sem a gravação de som direto.
Cromakey: substituição parcial de uma imagem eletrônica com material
proveniente de outra fonte.
Ciclorama: fundo de estúdio atrás de cenário podendo ser feito de madeira,
pano ou alvenaria. Quando os cantos são arredondados, chama-se de fundo
infinito.
Contraluz: luz que vem de trás para separar o entrevistado do cenário de
fundo.
Corte brusco: é o corte que interrompe a continuidade de tempo, espaço ou
ação; em telejornalísmo chama-se de corte brusco a deixa final de uma
entrevista cujo o áuido termina exatamente junto com a imagem.
Corte intermediário: cena usada para evitar o corte brusco, geralmente de
alguma coisa relacionada, mas não vista na cena principal.
Cruzar o eixo: reverter o fluxo da ação em cenas sucessivas, confundindo o
público quanto ao sentido de direção.
Efeitos Sonoros: ruídos gravados que não são músicas nem fala.
Efeitos Visuais:
Fusão ou dissolve: é um efeito visual onde uma imagem vai
desaparecendo aos poucos, ao mesmo tempo que a outra vai surgindo.
Usado para pequenas alterações temporais e/ou rápidas mudanças de
cenário; também pode servir para interligar planos de uma mesma cena.
140
Tela dividida (split screen): serve para interligar acontecimentos
simultâneos, porém separados pela distância, por exemplo, uma conversa
telefônica.
Fade: indica longas passagens de tempo e/ou mudanças muito
bruscas de cenário; é a clareação ou escurecimento total de uma imagem.
Fade in ou Clareação: é o aparecimento gradual da imagem a partir
de uma tela completamente escura.
Fade out: é o escurecimento da imagem que vai desaparecendo, até
que a tela escureça totalmente.
Wipe: transição entre planos, em que uma superfície negra varre a
tela, cobrindo-a totalmente. Pode ser horizontal, vertical, em barras,
quadrangular ou circular.
Externa: qualquer filmagem ou gravação ao ar livre.
Iluminação: fontes luminosas são classificadas de acordo com a função e
posição em cena. A câmera deve ficar entre a fonte luminosa e a cena, de
modo que a objetiva aponte para o objeto principal, distribuindo
homogeneamente a luz e iluminando todos os pontos do quadro.
Luz artificial: fornece nível de iluminação adequada à gravação de
cenas que possuem luz solar insuficiente.
Luz-chave (key light): também chamada luz-fonte (source light) ou
luz principal (main light), fornece a luz básica da cena.
Luz dura (hard source): produz muita sombra, uma sombra nítida.
Luz mista: mistura de luz do dia com luz artificial.
141
Luz principal: produz sombras intensas quando a fonte de luz é dura;
é usada para iluminar completamente o cenário.
Luz secundária, luz complementar ou luz de enchimento (fill
light): deve ser uma luz suave com metade da potência da luz principal.
Luz suave (soft source): produz sombras tênues, suaves e sem
sombras.
Lux: é o mínimo de iluminação que uma câmera pode registrar.
Legenda: letreiro em um slide ou cartão.
Locação: qualquer local fora do estúdio.
Locução: narração do programa geralmente ad libitum nos programas
esportivos.
Mix: transição gradual de uma cena para outra.
Mixagem: superposição, sobreposição ou sobreimpressão de imagens
diferentes que aparecem simultaneamente, uma sobre a outra, produzindo
como efeito visual um dissolve incompleto.
Movimentos de câmera (ou eixo): feitos com as lentes da objetiva.
Panorâmica (PAN): é o movimento em que a câmera gira ao redor
de um eixo imaginário qualquer, sem se deslocar, mostrando paisagem ou
cenário.
Travelling (trav): é o deslocamento da câmera em qualquer direção.
142
Grua: é o mecanismo que possibilita o deslocamento da câmera,
filmando ou gravando o cenário com movimentos verticais ou horizontais
variados.
Dolly: permite o deslocamento horizontal, sem que haja trepidações
na imagem.
Steadicam: é um equipamento mais sofisticado, que, mantém a
estabilidade da câmera durante a movimentação do operador, através de
mecanismos giroscópicos.
Planos: é o segmento de imagem contínua compreendida entre dois cortes,
isto é, a imagem registrada durante o intervalo quando a câmera está ligada,
gravando uma cena. Em termos de planos para TV ou vídeo, o plano é
classificado de acordo com o tamanho da figura humana ou de um objeto
dentro de um quadro.
Grande plano geral (GPG): descreve o cenário. É um plano com
ângulo de visão muito aberto, sendo impossível perceber a ação ou
identificar os personagens, apresentando grande quantidade de pormenores
e necessitando de maior tempo para projeção (8 a 12 segundos). Na TV, o
grande plano geral permite um ângulo maior de visão do estúdio.
Plano geral (PG): apresenta um ângulo de visão menor que o GPG.
Nele se percebe a figura humana, mas é difícil reconhecer as personagens e
a ação. Caracteriza-se como um plano descritivo, servindo para mostrar a
posição dos personagens em cena (5 a 9 segundos). Na TV, o plano geral
(PG) mostra o personagem de corpo inteiro.
143
Plano médio (PM): tem como objetivo enquadrar o personagem em
toda sua altura. Sua função é narrativa, pois a ação tem maior impacto na
totalidade da imagem (3 a 7 segundos.) Na TV, ele mostra o ator da cintura
para cima. Os olhos do personagem ficam a 2/3 da altura do quadro.
Meio primeiro plano (MPP): Tomada de cena confortável, que corta
logo abaixo dos ombros. Enquadramento-padrão para as entrevistas de TV.
Plano americano (PA): enquadra os personagens acima do joelho ou
abaixo da cintura e privilegia a ação em relação ao cenário (3 a 7 segundos).
Plano conjunto (PC): apresenta personagem ou grupo de pessoas
no cenário e permite reconhecer atores e movimentação em cena. A ação
não é visualizada nos mínimos detalhes, tendo um caráter descritivo e
narrativo, com tendência maior para a descrição (4 a 8 segundos). Na TV, o
plano conjunto é aquele que corta o personagem na altura dos joelhos ou
pouco acima.
Primeiro plano (PP): é o enquadramento que corta o personagem na
altura do busto. É um plano de caráter psicológico, pois se percebe o estado
emocional dos atores e a direção dos olhares, havendo pequena quantidade
de detalhes no quadro (2 a 6 segundos). Na TV, o primeiro plano tem o
mesmo enquadramento do cinema, sendo utilizado em diálogos ou
entrevistas. Os olhos ficam a 2/3 da altura do quadro.
Primeiríssimo plano (PPP): é aquele em que o rosto ou parte do
rosto ocupa toda a tela. A ação não é percebida, dando-se atenção ao lado
emocional transmitido pela expressão facial do ator. É um plano de função
144
indicativa (1 a 3 segundos). Na TV, o primeiríssimo plano também mostra a
cabeça do ator, apresentando certo impacto visual. Os olhos ficam a 2/3 da
altura do quadro.
Plano detalhe (PD): é aquele que destaca pormenores do rosto ou
do corpo do personagem, sendo uma imagem de forte impacto visual e
emocional. É um plano de função indicativa. Devido às dimensões
exageradas da imagem, necessita de tempo reduzido para a identificação
dos objetos em cena (1 ou 2 segundos). Na TV, o plano detalhe (PD)
também mostra parte do rosto. Deve ser usado moderadamente nos
programas convencionais e é muito freqüente em vídeos publicitários.
Primeiro plano ou close (PP): é a cena que mostra a cabeça inteira
da pessoa, do colarinho ou gola para cima.
Velocidade da imagem: existem três tipos de efeitos: câmera lenta, câmera
rápida e congelamento.
Câmera lenta (slow motion): é utilizada para intensificar a ação
dramática ou mostrar detalhes do movimento que seriam impossíveis de
visualizar.
Câmera rápida (quick motion): é usada para provocar risos.
Congelamento (freeze): serve para chamar atenção do espectador
para um detalhe importante do movimento (gestos, olhares, objetos) ou para
simular a exibição de fotografias.
145
3.2.3. Análise do Módulo 1
Dia 27/07– quinta-feira (Dia dos candidatos)
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 10
1. Tempo de exposição: 1’:11”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (3), inferior (1), lateral (3)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (12)
7. Close: frontal (2)
8. Tomadas de plano: GPG, PG, PA, PC, PP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: não houve
146
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 11
1. Tempo de exposição: 0’:58”
2. Espaço: 2.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: externas abertas
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (8)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: GPG
9. Iluminação: luz natural
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão) / ilustração fixa (texto e imagem)
147
14. Lapada: não houve
Dia 28/07 - sexta-feira (Dia dos candidatos)
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 12
1. Tempo de exposição: 1’:49”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (1), superior (1)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (14)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: GPG, PG, PA, PC, PP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
148
14. Lapada: não houve
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 13
1. Tempo de exposição: 1’ 45”
2. Espaço: 2.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (2), lateral (5)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (14)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PA, PG, MPP, PC
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
149
14. Lapada: não houve
Dia 03/08 – quinta-feira (Dia dos candidatos)
Divulgação pelo TSE do número de candidatos às eleições por partido, num
total de 19.619 para os cargos de presidente, governador, senador,
deputado estadual e federal.
PMDB = 1.334
PDT = 1.330
PT = 1.207
PSDB = 1.155
PRB = 103
Figura 14
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 15
1. Tempo de exposição: 0’:52”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (2), inferior (1)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: Nota Coberta (CPI – máfia das ambulâncias)
150
6. Cortes: intermediários (9)
7. Close: lateral (1)
8. Tomadas de plano: PG, PM, PP, PPP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 16
1. Tempo de exposição: 0’:49”
2. Espaço: 5.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (4)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota coberta (CPI – máfia das ambulâncias)
151
6. Cortes: intermediários (10)
7. Closes: lateral (3) / frontal (2)
8. Tomadas de plano: PA, PG, MPP, PC, PPP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Dia 04/08 –- sexta-feira (Pesquisa Ibope / Dia dos candidatos)
Pesquisa Ibope para o primeiro turno, feita com 2.002 eleitores em 142
municípios, entre os dias 28/07 e 31/07/2006.
Figura 17
152
Simulação para o segundo turno
Presidência – 2.º turno
Lula: 48 – 50 (48/52)
Alkimin: 39 – 36 (34/38)
Figura 18
Avaliação do Governo Aprovação do Governo
Figura 19 Figura 20
Avaliação Aprovação
Bom/Ótimo – 40% Aprovam – 55%
Regular – 40% Não aprovam – 36%
Ruim/Péssimo – 19% Não souberam/Não opinaram – 9%
Não souberam/Não opinaram – 1%
153
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 21
1. Tempo de exposição: 0’:44”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (9)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota coberta (Eleições 2006 / Pesquisa Ibope)
6. Cortes: intermediários (12)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PA, PG, MPP, PC
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: nota pelada (Pesquisa Ibope)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
154
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 22
1. Tempo de exposição: 0’:46”
2. Espaço: 2.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (5)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota coberta (Eleições 2006 / Pesquisa Ibope)
6. Cortes: intermediários (9)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PA, PG, MPP, PC
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: nota pelada (Pesquisa Ibope)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
155
Dia 05/08 – sábado (Dia dos candidatos)
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 23
1. Tempo de exposição: 0’:51”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (2), lateral (5)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (12)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PA, PG, MPP, PC
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
156
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 24
1. Tempo de exposição: 0’:49”
2. Espaço: 2.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (3), lateral (4)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (12)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PA, PG, MPP, PC
157
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo (passagem) e locução off com letreiro e nota pé
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Dia 07/08 – segunda-feira (Dia dos candidatos e Entrevista)
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
1. Tempo de exposição: 0’:02”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: não houveram
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos e Entrevista)
6. Cortes: intermediários (0)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: não houve
9. Iluminação: não houve
10. Qualidade da imagem: –
11. Locuções: nota pelada (candidato não teve atividades de campanha
eleitoral)
158
12. Escalada: nota coberta
Figura 25
13. Efeitos técnicos: não houve
14. Lapada: não houve
Candidato: Geraldo Alkimin (Entrevista)
159
Figura 26
1. Tempo de exposição: 11’:30”
2. Espaço: bloco total
3. Ângulos de câmeras: frontal, laterais – direita e esquerda
4. Ordenação de bloco: 4.º bloco (final)
5. Passagem de bloco: nota coberta (Eleições 2006 / Entrevista)
160
6. Cortes: bruscos (40)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano:
MPP = 5’:24”
MPP = 0’:35”
PA = 1’:16”
PC = 1’:17”
Figura 27
9. Iluminação: luz artificial / luz suave (soft source)
10. Qualidade da imagem: gravação estúdio
11. Locuções: áudio estúdio e com letreiro
12. Escalada: nota coberta
Figura 28
13. Efeitos técnicos: vinheta, fusão, câmera out
14. Lapada: não houve
161
Dia 10/08 – quinta-feira (Pesquisa Ibope / Dia dos candidatos / Entrevista)
Nova Pesquisa Ibope para o primeiro turno – foram pesquisados 2002
eleitores de 142 municípios nos dias 07/8 a 09/08/2006.
Presidência – 1º turno
Lula: 44 – 44 – 46 (44/48)
Alkimin: 27 – 25 – 21 (19/23)
Figura 29
Simulação para o segundo turno Avaliação do Governo
Figura 30 Figura 31
Presidência – 2º turno Avaliação do Governo
Lula - 48 – 50 – 51 (49/53) Bom/Ótimo – 40% - 41%
Alkimin - 39 – 36 – 33 (31/35) Regular – 40% - 35%
Ruim/Péssimo – 19% - 22%
Não souberam/ – 1% - 1%
Não opinaram
162
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 32
1. Tempo de exposição: 0’:44”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (3), lateral (2), traseiro (1)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (pesquisa Ibope)
6. Cortes: intermediários (11)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PM, MPP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota coberta (Entrevista)
Figura 33
163
13. Efeitos técnicos: vinheta com ilustração / transição gradual de uma cena
para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva (Entrevista)
164
165
166
Figura 34
1. Tempo de exposição: 12’:11”
2. Espaço: bloco total
3. Ângulos de câmeras: frontal (39), lateral (17), traseiro (2)
4. Ordenação de bloco: 4.º bloco (final)
5. Passagem de bloco: nota coberta (Eleições 2006 / Entrevista)
Figura 35
6. Cortes: bruscos (88)
7. Closes: não houveram
8. Tomadas de plano:
MPP = 7’:46” PA = 0’:11”
PC = 1’:26”
Figura 36
9. Iluminação: luz artificial / luz suave (soft source)
167
10. Qualidade da imagem: gravação locação
11. Locuções: áudio estúdio e com letreiro
12. Escalada: nota coberta
Figura 37
13. Efeitos técnicos: vinheta, fusão
14. Lapada: não houve
Dia 12/09 – terça-feira (Pesquisa Datafolha / Dia dos candidatos)
Nova Pesquisa Datafolha para o primeiro turno – foram entrevistados 3.817
eleitores de 217 municípios nos dias 11/09 e 12/09/2006.
Presidência – 1.º turno
Lula: 49 – 50 – 51 – 50 (48/52)
Alkimin:- 25 – 27 – 27 – 28 (26/30)
Figura 38
168
Simulação para o segundo turno
Presidência – 2.º turno
Lula: 55 – 55 – 55 – 55 (53/57)
Alkimin: 36 – 37 – 37 – 38 (36/40)
Figura 39
Avaliação do Governo
Avaliação
Bom/Ótimo – 48% - 48% - 46%
Regular – 36% - 33% - 35%
Ruim/ – 16% - 18% - 18%
Péssimo
Figura 40
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 41
1. Tempo de exposição: 0’:38”
169
2. Espaço: 2.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (3)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Pesquisa Datafolha)
6. Cortes: intermediários (9)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PM, PA
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota pelada (Pesquisa Datafolha)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: entre candidatos
Candidato Luiz Inácio Lula da Silva
1. Tempo de exposição: 0’:02”.
2. Espaço: 3.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: não houve
4. Ordenação de bloco: 3º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Pesquisa Datafolha)
6. Cortes: intermediários (0)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: não houve
170
9. Iluminação: não houve
10. Qualidade da imagem: --
11. Locuções: nota pelada (candidato não teve atividades de campanha
eleitoral)
12. Escalada: nota pelada (Pesquisa Datafolha)
13. Efeitos técnicos: não houve
14. Lapada: não houve
Dia 15/09 – sexta-feira (Pesquisa Ibope / Dia dos candidatos)
Nova Pesquisa Ibope para o primeiro turno – foram entrevistados 2.002
eleitores de 141 municípios nos dias 09/09 a 11/09/2006.
Presidência – 1.º turno
Lula: 49 – 48 – 48 – 50 (48/52)
Alkimin: 22 – 25 – 27 – 29 (27/31)
Figura 42
171
Simulação para o segundo turno
Presidência – 2.º turno
Lula: 54 – 51 – 51 – 53 (51/55)
Alkimin: 32 – 36 – 37 – 37 (35/39)
Figura 43
Avaliação do Governo
Bom/Ótimo – 43% - 46% - 49%
Regular – 38% - 35% - 33%
Ruim/ – 18% - 19% - 16%
Péssimo
Figura 44
Aprovação do Governo
Aprovam – 58% - 59% - 62%
Desaprovam – 34% - 34% - 32%
Não souberam – 7% - 6% - 6%
Não opinaram
Figura 45
172
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 46
1. Tempo de exposição: 0’:17”
2. Espaço: 3.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (2), lateral 2, traseiro (1)
4. Ordenação de bloco: 4.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (pesquisa Ibope)
6. Cortes: intermediários (8)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PG, PM
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota pelada (Pesquisa Ibope – Eleições 2006)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: entre candidatos
173
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 47
1. Tempo de exposição: 0’:17”
2. Espaço: 4.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (1), traseiro (3)
4. Ordenação de bloco: 4.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Pesquisa Ibope)
6. Cortes: intermediários (8)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: GPG, PM, MPP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota pelada (Pesquisa Ibope – Eleições 2006)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: entre candidatos
174
Dia 23/09 – sábado (Dia dos candidatos / Pesquisas Ibope e Datafolha)
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 48
1. Tempo de exposição: 0’:45”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (3), lateral (3), traseiro (1)
4. Ordenação de bloco: 1º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Pesquisas Ibope e Datafolha)
6. Cortes: intermediários (10)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: MPP, PM, PA
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota pelada (Pesquisas: Ibope/ Datafolha - Eleições 2006)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
175
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 49
1. Tempo de exposição: 0’:57”
2. Espaço: 4.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (2), lateral (5)
4. Ordenação de bloco: 1º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Pesquisas Ibope e Datafolha)
6. Cortes: intermediários (10)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: GPG, PM, PA
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota pelada (Pesquisas Ibope/ Datafolha - Eleições 2006)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
176
Pesquisas Ibope e Datafolha.
Nova pesquisa Ibope para o primeiro turno – foram entrevistados 2.002
eleitores de 141 municípios nos dias 20/09 a 22/09/2006.
Presidência – 1º turno
Lula: 48 – 50 – 49 – 47 (45/49)
Alkimin: 27 – 29 – 30 – 33 (31/35)
Figura 50
Simulação para o segundo turno
Presidência – 2º turno
Lula: 51 – 53 – 52 – 50 (48/52)
Alkimin: 37 – 37 – 37 – 41 (39/43)
Figura 51
Pesquisa Datafolha para o primeiro turno – foram entrevistados 4.319
eleitores de 210 municípios no dia 22/09/2006.
177
Presidência – 1º turno
Lula: 51 – 50 – 50 – 49 (47/51)
Alkimin: 27 – 28 – 29 – 31 (29/33)
Figura 52
Simulação para o segundo turno
Presidência – 2º turno
Lula: 55 – 55 – 55 – 54 (52/56)
Alkimin: 37 – 38 – 38 – 39 (37/41)
Figura 53
Dia 25/09 – segunda-feira (Dia dos candidatos)
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 54
178
1. Tempo de exposição: 0’:9”
2. Espaço: 3.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (4)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (9)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: GPG, PA
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 55
1. Tempo de exposição: 0’:14”
2. Espaço: 4.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (2)
179
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Dia dos candidatos)
6. Cortes: intermediários (5)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: GPG, PM
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: não houve
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Dia 27/09 – quarta-feira (Dia dos candidatos / Pesquisas Ibope e Datafolha)
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 56
1. Tempo de exposição: 0’:42”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (1), lateral (2)
4. Ordenação de bloco: 2.º bloco
180
5. Passagem de bloco: nota pelada (Pesquisa Ibope e Datafolha, Eleições
2006)
6. Cortes: intermediários (5)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: GPG, MPP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota pelada (Pesquisas Ibope e Datafolha)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 57
1. Tempo de exposição: 0’:40”
2. Espaço: 3.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (2), lateral (5)
181
4. Ordenação de bloco: 2.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Pesquisa Ibope e Datafolha, Eleições
2006)
6. Cortes: intermediários (9)
7. Close: frontal (1)
8. Tomadas de plano: PP, MPP, PM
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota pelada (Pesquisas Ibope e Datafolha)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: não houve
Pesquisa Ibope para o primeiro turno – foram entrevistados 3.010 eleitores
de 200 municípios nos dias 25/09 e 26/09/2006.
Presidência – 1º turno
Lula: 50 – 49 – 47 – 48 (46/50)
Alkimin: 29 – 30 – 33 – 32 (30/34)
Figura 58
182
Votos válidos
Votos válidos
Lula – 53%
Alkimin – 35%
Figura 59
Simulação segundo turno
Presidência – 2º turno
Lula: 53 – 52 – 50 – 52 (50/54)
Alkimin: 37 – 37 – 41 – 40 (38/42)
Figura 60
Avaliação do governo
Avaliação
Bom/Ótimo – 43% - 43% - 44%
Regular – 37% - 36% - 35%
Ruim/ – 19% - 20% - 21%
Péssimo
Não souberam – 1% - 1% - 1%
Figura 61
183
Pesquisa Datafolha para o primeiro turno – foram entrevistados 7.528
eleitores de 368 municípios no dia 27/09/2006.
Presidência – 1º turno
Lula: 50 – 50 – 49 – 498 (47/51)
Alkimin: 28 – 29 – 31 – 33 (31/35)
Figura 62
Votos válidos
Votos válidos
Lula – 53%
Alkimin – 35%
Figura 63
Simulação segundo turno
Presidência – 2º turno
Lula: 55 – 55 – 54 – 52 (50/54)
Alkimin: 38 – 38 – 39 – 41 (39/43)
Figura 64
184
Avaliação do governo
Avaliação
Bom/Ótimo – 48% - 46% - 47%
Regular – 34% - 34% - 34%
Ruim/ – 18% - 18% - 17%
Péssimo
Não souberam – 1% - 1% - 1%
Figura 65
Dia 28/09 – quinta-feira (Dia dos candidatos / Debate)
Candidato: Luiz Inácio Lula da Silva
Figura 66
1. Tempo de exposição: 0’:37”
2. Espaço: 1.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (2), lateral (1), traseiro (1)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Caravana JN)
6. Cortes: intermediários (7)
7. Close: não houve
8. Tomadas de plano: PA, PM
185
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota coberta
Figura 67
(Eleições 2006, Perfil do eleitor brasileiro, Debate com os principais
candidatos à Presidência)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: passagem para o próximo candidato
Candidato: Geraldo Alkimin
Figura 68
1. Tempo de exposição: 0’:40”
2. Espaço: 2.º candidato a ser apresentado
3. Ângulos de câmeras: frontal (3), lateral (1)
4. Ordenação de bloco: 3.º bloco
5. Passagem de bloco: nota pelada (Caravana JN)
6. Cortes: intermediários (13)
7. Close: lateral (1)
186
8. Tomadas de plano: PA, PM, PPP
9. Iluminação: luz mista
10. Qualidade da imagem: gravação externa
11. Locuções: áudio externo e locução off
12. Escalada: nota coberta
Figura 69
(Eleições 2006, Perfil do eleitor brasileiro, Debate com os principais
candidatos à Presidência)
13. Efeitos técnicos: transição gradual de uma cena para outra (fusão)
14. Lapada: passagem para o próximo candidato
O primeiro bloco deste Jornal Nacional foi destinado á posição da
emissora com referência à ausência, ao último debate entre os candidatos,
de Luiz Inácio Lula da Silva. Na nota dada por William Bonner foi destacado
o lamento da emissora por só ter sido informada às 19 horas, praticamente 2
horas antes do evento, e anunciava a realização com apenas os demais
candidatos.
.
Figura 70
187
O segundo bloco contou com uma matéria sobre o perfil dos eleitores
brasileiros.
Foram destacados números que se somam à nossa pesquisa, tais
como:
O último bloco foi destinado a uma matéria especial (2’:9”) sobre os
preparativos, as pessoas envolvidas e a construção do cenário para o
debate.
3 milhões de
eleitores tem entre
16 e 17 anos
115 milhõs entre
18 e 69 anos
8,3 milhões são
analfabetos
35% não
concluiram o
primeiro grau
Figura 71
188
Figura 72
3.3. Módulo 2
Foram coletadas 111 amostras. Destas 47 consultas foram da escola
particular e 64 da escola pública. O público-alvo foram jovens entre 17 e 21
anos, secundaristas e universitários, de classes sociais A/A e B/C,
residentes no estado de São Paulo. O questionário (anexo 2) foi elaborado
com o intuito de coletar informações sobre a predileção ou automação dos
jovens na busca de informação na mídia televisiva. Foi formatado com
questões fechadas e abertas, 13 de livre escolha e 3 dissertativas,
totalizando 16. Os jovens foram convidados e orientados por
professores/colaboradores a participar da pesquisa de iniciativa acadêmica.
189
Foram consideradas as variáveis: idade, sexo, data e inciais, descatando-se
a não obrigatoriedade do nome completo.
3.3.1. Coleta e tabulação de dados
Das 16 questões, 15 foram tabuladas (anexo 3) seguindo critério
quantitativo. As questões consideraram as variáveis pública e particular, os
meios de comuinicação, freqüência, tempo, assuntos, jornalistas, confiança
e credibilidade. A última questão foi dedicada a comentários livres.
190
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Módulo 1
Os dados levantados e analisados neste módulo se refletiram da
seguinte forma:
No parâmetro “tempo de exposição”: foi constatado 20:48” dedicados
ao candidato Geraldo Alkimin e 20:22” ao candidato Luiz Inácio Lula da
Silva, isso considerando a soma total do período analisado. Tomando-se por
base o tempo dia-a-dia, as maiores diferenças se deram no dia 27/07/06 e
23/09/06, respectivamente por 0:13”, (1:11” dedicados ao candidato Alkimin
e 0:58” ao candidato Lula) e 0:12” (0:45” dedicados ao candidato Alkimin e
0:57” ao candidato Lula); os demais dias não ultrapassaram 0:3”. Devemos
considerar pelo mesmo período a ausência por dois dias da divulgação de
material do candidato Lula. O motivo alegado é a não realização de
campanha por parte do mesmo. Nestes dias 07/08/2006 e 12/09/06, tivemos
respectivamente 11:30” e 0:38” dedicados ao candidato Alkimin, contra 0:02”
gastos em uma nota pelada dedicada ao candidato Lula. Destacando-se que
o mesmo dia 07/08 foi dedicado a entrevista com candidato Alkimin. O
191
tempo dado a entrevista do candidado Lula foi de 12:11”, 0:41” a mais que o
concorrente. O que podemos perceber, apesar da falta de divulgação em
alguns dias a um dos candidatos e das pequenas diferenças acusadas, é um
grau de equilíbrio no tempo dado à visibilidade e à valência das matérias.
No material tabulado para “espaço”, a classificação de entrada no ar
constatou-se uma predileção ao candidato Lula, que obteve sete entradas
em primeiro lugar, contra três do candidato Alkimin. Para Alkimin, ficaram
reservados cinco segundos lugares contra um de lula. E no terceiro lugar
computamos uma entrada para Alkimin, contra três de Lula. No quarto lugar
se processaram três entradas para Alkimin contra duas de Lula. E no quinto
lugar foi computada uma entrada de Alkimin e nenhuma de Lula.
Na tabulação do parâmetro “ângulos de câmera”, duas formas foram
consideradas: a soma total de cada ângulo no período e os ângulos
utilizados nos dias das entrevistas. O que constatamos foi uma
predominância do ângulo lateral para Alkimin, com uma grande diferença
para o frontal; foram cerca de 60 tomadas contra 27. O ângulo traseiro e o
inferior também foram utilizados, mas com tomadas bem menores, 7 e uma
respectivamente. Em relação ao candidato Lula, o ângulo mais utilizado
também foi o lateral, mas seguido muito de perto pelo frontal, 48 e 47
respectivamente. Outros ângulos também foram percebidos na divulgação
do candidato Lula: foram 5 ângulos traseiros, um inferior e um superior. Nas
entrevistas os posicionamentos foram bem antagônicos: 34 tomadas do
ângulo frontal, 17 do ângulo lateral e 2 do ângulo traseiro para o candidato
192
Lula, contra 2 do ângulo frontal, 23 do lateral e 8 do traseiro para o candidato
Alkimin. Destacamos aqui uma grande divergência nas tomadas dos ângulos
dadas a cada candidato.
No parâmetro “ordenação dos blocos”, os candidatos foram
enquadrados numa matéria especial, que o Jornal Nacional chamou de o Dia
dos Candidatos. Nela, o terceiro bloco praticamente ficou reservado para
este fim. Foram percebidas as inserções nos dias 27/07, 28/07, 03/08, 04/08,
05/08, 12/09, 25/09 e 28/9. Houve pequenas mudanças, como no dia 15/09,
em que a inserção foi no 4.º bloco, no dia 23/09, no primeiro e dia 27/09, no
segundo bloco. Nos dias 07 e 10/08 o Dia dos candidatos também foi no
terceiro bloco, mas esses dias contaram com uma inserção especial no
quarto e último bloco, a Entrevista. Cada candidato foi entrevistado
individualmente durante todo o bloco. O dia 07/08 foi dedicado à entrevista
do candidato Geraldo Alkimin e o dia 10/08 à do candidato Luiz Inácio Lula
da Silva. Nos dias onde foram apresentados os dados das pesquisas Ibope
e Datafolha, percebemos um posicionamento intercalado. Dias 04/08, 10/08,
12/09 e 15/09, as inserções foram feitas antes da apresentação do Dia dos
Candidatos. Nos dias 23/09 e 27/09, as inserções ocorreram após a
apresentação dos mesmos. Não percebemos nenhum posiconamento
abusivo, as inserções no período analisado foram divulgadas de forma
igualitária.
No parâmetro ”passagem de bloco”, evidenciou-se praticamente em
todos os dias a nota pelada, seja na chamada das Eleições 2006, do Dia dos
193
Candidatos, das Pesquisas Ibope e Datafolha e da Caravana JN. A Nota
Coberta foi utilizada nos dias das entrevistas, em algumas divulgações de
pesquisas, e no escândalo que dominou a mídia no processo eleitora – a
CPI da máfia das ambulâncias.
Na tabulação referente aos “cortes”, os dados encontrados durante O
Dia dos candidatos não sofreram grandes diferenças. A quantidade de
cortes registrados não ultrapassou a quantidade de seis quebras, percebida
no dia 28/09. A maior diferença se deu nos dias destinados às entrevistas,
em que o candidato Lula obteve 88 cortes contra 40 do candidato Alkimin.
No total dos dias avaliados, o material editado do candidato Lula sofreu 182
cortes contra 162 do candidato Alkimin.
No parâmetro “close” dado aos candidatos, pudemos perceber pouca
utilização do recurso. Foram evidenciados cinco closes frontais e três
laterais para o candidato Alkimin, nos dias 27/07, 03/08 e 27/09, contra
apenas um close lateral no dia 03/08 para o candidato Lula.
Na tabulação das “tomadas de plano” foram observadas imagens
registradas pelos planos GPG, PG, PC, PP, PA, MPP, PM e PPP. Os planos
mais utilizados foram os PA e MPP, com 17 e 13 registros respectivamente –
seguidos dos planos PM com 12 registros, PC com 10, PG com 9, GPG com
8, PP com 4 e PPP com 3 registros. Basicamente, o que se percebe é uma
utilização de tomadas de cenas mais confortáveis, objetivando enquadrar os
candidatos acima do joelho ou logo abaixo dos ombros.
194
No parâmetro “iluminação”, a luz mista foi a mais utilizada, devido ao
fato de maioria das filmagens ocorrer em ambientes abertos, com luz natural
e em ambientes fechados com, luz artificial. Apenas nos dias das
entrevistas, feitas no estúdio, a luz artificial foi utilizada e pode ser atenuada
por uma luz de contraste mais suave que reduziu a possibilidade de
sombras.
No parâmetro “qualidade da imagem” ressaltamos que apesar da
utilização de tecnologia de ponta, a maioria das imagens foi capturada em
ambiente externo, o que prejudica o total controle da qualidade. Já as
imagens capturadas em locações e no estúdio, como no caso das
entrevistas, apresentam recursos de excelente qualidade. Aqui destacamos,
apesar de não fazer parte da análise, que a locação utilizada na Entrevista
do candidato Lula se diferenciou das demais. A entrevista aconteceu na
biblioteca do palácio presidencial e as demais na bancada do telejornal. O
esclarecimento dado pela emissora foi fez relação à agenda apertada do
candidato.
No parâmetro “locuções” foi evidenciado o uso de áudio externo e de
estúdio, assim como locução em off. Não houve utilização de sons
(sonoplastia) nem BG.
No parâmetro “escalada” percebemos o uso de notas peladas e
cobertas. As pesquisas foram manchetadas pela nota pelada, e as
entrevistas e o debate pela nota coberta.
195
No parâmetro “efeitos técnicos” foram utilizadas vinhetas de abertura
de quadros como o Dia dos Candidatos e Eleições 2006. Nas transições de
cenas, apenas o recurso fusão foi utilizado de forma bem gradual, de uma
cena para outra. Esse recurso foi muito utilizado nas divulgações das
pesquisas, nas tabelas feitas por animação, câmera lenta (slow motion) e
congelamento (freeze).
O parâmetro “lapada” foi pouco utilizado, apenas nos dias 12, 15 e
28/09 no Dia dos Candidatos.
Módulo 2
Os dados foram coletados por meio de questionário (anexo 2),
aplicado nos dias: 04/09/2006 para 39 jovens (escola pública), 05/09/2006
para 25 jovens (escola pública) e 11/09/2006 para 47 jovens (escola
particular). Totalizando 111 jovens entre 17 e 21 anos.
Na questão n.º 1, relativa aos meios de comunicação considerados
mais eficientes na transmissão da informação, obtivemos valores
significativos para a TV aberta. Na escola pública, 62% dos jovens a
consideram eficiente, já a escola particular somou 49% para a TV, que é
seguida de perto pela internet, com 45%. A internet não alcança níveis tão
similares na escola pública, em que apenas 25% dos jovens a consideram
eficiente. O jornal também marcou um número expressivo, alcançando 18%
na escola pública e na 11% na escola particular. Os outros meios, como
rádio e revista, não ultrapassaram os 8%.
196
Quando perguntado por quais meios de comunicação esse jovem
costuma se informar com mais freqüência (questão n.º 2), obtivemos para a
TV aberta 84% de jovens na escola pública contra 47% da escola particular.
Esses valores se invertem quando o meio é a internet, onde 71% dos jovens
são da escola particular contra 39% da escola pública. O jornal continua
pontuando alto, 49% pelos jovens da escola pública contra 12% da escola
particular. Os outros meios, como rádio e revista, não ultrapassaram 15%.
Com relação aos assuntos de interesse ou informações que eles
procuram nesses meios o contraste foi expressivo (questão n.º 3). Os jovens
da escola pública mantêm o seu maior nível de interesse, cerca de 49%, em
nenhum assunto específico, e valores nivelados em assuntos como esporte
(28%), noticiário policial (25%), economia (20%), política (18%), manchetes
sensacionalistas (13%) e outros (20%). Já os jovens da escola particular
buscam expressivamente o esporte, com cerca de 59%, seguido pela
economia (35%), política e manchetes sensacionalistas (27%), noticiário
policial (12%) e outros (18%).
Quando questionados sobre os telejornais e de que forma eles
contribuem para formar sua opinião (questão n.º 4), 80% dos jovens da
escola particular consideram que eles contribuem um pouco, 10%
consideram que eles contribuem muito e 8% acreditam que eles não
contribuem em nada. Na escola pública, os jovens tiveram valores
semelhantes, 67% consideram que eles contribuem um pouco, 21%
197
consideram que eles contribuem muito e 12% acreditam que eles não
contribuem em nada.
Com relação à freqüência que eles assistem aos telejornais diários
(questão n.º 5), foram constatados os níveis mais altos na freqüência de 3 a
4 dias semanais, 41% na escola particular e 31% para a escola pública. Já
assistem os telejornais todos os dias, cerca de 39% dos jovens da escola
pública contra 14% na escola particular. De 5 a 6 dias por semana, 22% são
jovens da escola particular e 15% da escola pública. De 1 a 2 dias por
semana, 16% são da escola pública e 14% da escola particular. Com menos
de 1 dia por semana, os valores chegaram a 5% na escola pública e 4% na
escola particular.
Quando o tema foi a compreensão da informação e sua relação com
o tempo dado às notícias nos telejornais (questão n.º 6), 64% dos jovens da
escola pública consideraram-no mais ou menos suficiente, assim como 53%
dos jovens da escola particular; 41% dos jovens da escola particular e 28%
da escola pública consideram suficientes; e apenas 8% dos jovens da escola
pública e 6% da escola particular não o consideram suficiente.
Quando solicitado aos jovens três pontos positivos do telejornal
(questão n.º 7), obtivemos resultados como: informar, prevenir, alertar,
comunicar, conhecimento, atualidades, confiança, ponto de vista, clareza,
aprendizado, compreensão, rapidez, cultura, opinião pública, atualização,
diversidade, idéias, sabedoria, entre outros. Esses pontos foram catalogados
e classificados em cinco itens: informação, horário, variedades e resumo.
198
Após esse processo os mesmos foram tabulados para uma possível reflexão
nas considerações. Sendo assim encontramos valores: como 95% dos
alunos da escola pública e 88% dos alunos da escola particular destacaram
pontos relacionados à informação; 84% dos jovens da escola pública e 65%
da escola particular relacionaram pontos sobre variedades; e 75% dos
jovens da escola pública e 63% da escola particular relacionaram temas
sobre resumo. Pontos relacionados a horário marcaram 20% na escola
particular e não pontuaram na escola pública.
Quando o tema abordado foi confiança nas informações divulgadas
nos telejornais (questão n.º 8), evidenciaram-se valores como: 69% dos
jovens da escola particular e 67% dos jovens da escola pública creditam
confiança às informações divulgadas pelo Jornal Nacional, valores que
podemos julgar como altos. O Jornal da Record registrou credibilidade para
41% dos jovens da escola privada e para 39% dos jovens da escola pública.
Valores bem menores foram registrados pelos demais concorrentes, SBT
Brasil registrou 20% de credibilidade para os jovens da escola particular e
30% para os jovens da escola pública. O Rede TV! News registrou
credibilidade com 22% dos jovens da escola particular e 10% dos jovens da
escola pública.
Na questão n.º 9, dirigida à imparcialidade do telejornal, 59% dos
jovens da escola particular e 28% da escola pública demonstraram ter
crebilidade no produto. Já 27% dos jovens da escola particular e 18% da
escola pública acreditam mais ou menos nesta imparcialidade e 35% dos
199
jovens da escola particular e 20% da escola pública não acreditam nessa
imparcialidade.
Na questão n.º 10 foi abordado o grau de credibilidade em alguns
jornalistas, âncoras de telejornais. A questão apresentava o jornalista pelo
nome, sem nenhuma referência ou vínculo com o telejornal que apresenta.
O maior valor de crediblidade foi dado a William Bonner, tanto na escola
pública como na particular: foram registrados cerca de 66% dos jovens da
escola pública e 55% dos da escola particular, considerando o dado
percentual de 71% a 100% de credibilidade. O segundo lugar foi dado a
Fátima Bernades, que somou 62% dos jovens da escola pública e 43% dos
da escola particular. Ana Paula Padrão também garantiu valores
expressivos, com 51% dos jovens da escola pública e 47% da escola
particular. Marcelo Rezende registrou credibilidade de 18% com jovens da
escola pública e 8% com jovens da escola particular; e Celso Freitas, 15%
dos jovens da escola pública e 4% dos da escola particular.
Quando o foco da questão foi dirigido às eleições e à possibilidade de
os meios de comunicação auxiliarem na escolha dos candidatos (questão n.º
11), os jovens, cerca de 57% dos da escola particular e 42,6% dos da escola
pública, consideraram que às vezes buscam essa informação. Foram
registrados 44, 3 % dos jovens da escola pública e 29% dos jovens da
escola particular, que afirmaram que esses meios os auxiliam nessa busca;
14, 3% dos jovens da escola particular e 13,1% dos jovens da escola pública
consideraram nunca obter esse auxílio através dos meios de comunicação.
200
Na questão n.º 12, relacionada à forma que o telejornal auxilia na
escolha dos candidatos, cerca de 57% dos jovens da escola pública e 55%
dos jovens da escola particular consideraram que é principalmente através
das matérias publicadas; já 12% dos jovens da escola pública e 20% dos da
escola particular consideram que são as pesquisas eleitorais as
responsáveis; e 23% dos jovens da escola pública e 18% dos jovens da
escola particular consideram os comentários.
Na questão da informação melhor compreendida pela TV, a soma das
formas verbais e imagéticas alcançou o maior percentual (questão n.º 13),
determinada por cerca de 89% dos jovens da escola pública e 82% dos da
escola particular. Já, separadamente, o uso da imagem é melhor
compreendido para 14% dos jovens da escola particular e 3% dos da escola
pública, e a forma verbal para 8% dos jovens da escola públca e 4% dos
jovens da escola particular.
Na questão n.º 14, sobre a confiabilidade das imagens transmitidas
pela tv, os valores mais expressivos se posicionaram na relação 36 a 70%,
em que cerca de 71% dos jovens da escola pública e 57% dos jovens da
escola particular depositaram seus votos. Na relação 71 a 100%, foram
cerca de 33% dos jovens da escola particular e 16% dos jovens da escola
pública. E de 0 a 35%, foram 13% dos jovens da escola pública e 10% dos
jovens da escola particular.
Na questão n.º 15, quando questionados sobre a lembrança de um
fato marcante noticiado pelo telejornal, foram descritos, por exemplo: o
201
ataque às torres gêmeas (World Trade Center), ataques do PCC, sequestro
da filha do empresário Silvio Santos, o Tsunami, o escândalo do Mensalão e
dos Sanguessugas, a morte de Ayrton Senna, entre outros. Esse fatos foram
coletados, tabulados e classificados como Atentados/Guerras, Homicídios,
Política e Vários.
A última questão foi aberta a comentários, porém o espaço foi pouco
utilizado. Abaixo alguns exemplos.
Os telejornais são ferramentas fortes de
informação. O problema é a falta de
‘profundidade’ desenvolvida em cada tema, que
juntamente com a parcialidade colabo-ram para
conduzir as massas.”
(Escola particular, 21 anos, sexo masculino)
Os noticiários de hoje são muito importante para
nós, principalmente na época de eleição que
ajuda nos ajudar a formar a opinião sobre o
candidato eleito” .
(Escola pública, 17 anos, sexo feminino)
Os políticos só prometem e iludem a população
com promessas que jamais cumprirão. Com isso
as pessoas iludidas por eles jogam seu voto no
‘lixo’ nesses corruptos que só querem estorquir os
cofres públicos e só pensam em si.”
(Escola pública, 17 anos, sexo masculino)
202
Esses candidatos de prefeitos é uma conversa
furada na época da eleição os telejornais mostra
que o prefeito visitou alguns lugares, fez isso, fez
aquilo, mais quando ele é eleito faz quase
P...nenhuma só é coca-cola só agita. .”
(Escola pública, 17 anos, sexo masculino)
A televisão passa muito conteúdo bom, mas
devemos ter um olhar crítico das notícias, para
saber se tudo que esta passando é verdade ou
não, se a notícia foi passada pela metade,
deixando assim, que o público acredita só naquilo
que foi passado.”
(Escola pública, 17 anos, sexo feminino)
O telejornal é um meio de comunicação eficiente
pois nos transmite informação e conhecimento,
apesar de às vezes nos transmitir mentiras, ainda
é um meio de contribuição para a formação de
oiniões..”
(Escola pública, 17 anos, sexo feminino)
203
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A informação veiculada pela televisão sempre foi um assunto
polêmico, seja pelo seu conteúdo, seja por questões ideológicas. As
notícias, os programas, toda a programação sempre foi apresentada ao
telespectador de maneira superficial ou espetacularizada e muito criticada.
Paul Virilio a considera “nociva” (Virilio, apud Machado, 2000, p. 127). Mas
realmente o que nos motivou a pesquisar a televisão foi o predomínio da
imagem e a influência do meio na percepção do espaço e tempo, na
cognição e no entendimento das novas gerações, fascinadas pela
tecnologia.
Na investigação empreendida ao projeto, essas características e os
avanços tecnológicos foram analisados dedicadamente. Uma série de
autores e textos foram estudados, e o que se pôde constatar é que apesar
de apoiados em diferentes correntes científicas, todos construíram seu
aparato crítico a partir de uma consciência moldada pela cultura letrada. E
isso se deve à base de formação, tanto dos pesquisadores como dos
pesquisados, que traduziam suas referências sensoriais em palavras, e as
204
suas respostas sensoriais em estruturas verbais. Os estudos sobre a
imagem ao longo da história da cultura nos possibilitou observar esse
processo, experiências e vivências humanas transformadas pela era da
escrita.
Com as descobertas científicas, tecnológicas e da industrialização,
iniciou-se a era da eletricidade. Novas sensações e reações modificaram
extensa e profundamente o comportamento social, e um dos meios
tecnológicos advindos dessas é o vídeo, que efetivou novas percepções,
repletas de emoção, aceleração e ansiedade.
Ao iniciar o projeto buscávamos entender como a tecnologia, mas
especificamente a televisão, tão presente no dia-a-dia dos jovens desde a
infância, poderia ser precursora dessa transição sistemática da lógica
tradicional da linguagem escrita para a eletrônica e posteriormente para a
digital. A especulação partia do príncipio de que esta geração, hoje jovens
entre 17 e 22 anos, ávidos e com tanta destreza com as tecnologias, tinham
sido educados e alfabetizados por esse sistema, antes mesmo de
aprenderem a ler.
Com as pesquisas, constatamos que as tecnologias audiovisuais
hipnotizam, envolvem, alteram sentimentos e sensibilidades, agem sobre os
estímulos e até provocam reações físicas, ativando o sistema neuromuscular
mesmo sem a atenção dirigida. Vimos também que na televisão a imagem
completa não existe mais, são milhões de feixes luminosos, dos quais o olho
205
humano – numa espécie de varredura completa da tela – seleciona apenas
alguns para formá-la. Imagens que se replicam e se multiplicam numa
anamorfose constante de intensidade, de valor cromático, de altura e
duração. Um ritmo frenético que compete avidamente pela atenção do olhar,
em que os programas mal se distinguem uns dos outros e a seqüência, a
intermitência, cada vez mais vertigionosa, renegam qualquer vestígio de
duração e de continuidade.
A expericiência, a emoção e a ansiedade da aceleração vivida por essa
geração, é latente e facilmente perceptível nas mudanças, ou melhor, nas
novas formas de perceber, sentir, ouvir e ver desses jovens. Experiências e
vivências traduzidas numa capacidade de receber e processar muito mais
informações, simultaneamente e por diferentes meios. Essa geração vive
sobre o peso da transformação, adquiriu a linguagem midiática da
velocidade, da segmentação, mas também a da falta de profundidade. E
com ela, a impaciência, a dificuldade de reflexão, que promove a ânsia de
evasão e à dispersão. Uma postura inconsciente adquirida mediante o fluxo
vertiginoso da linguagem midiática.
O jovem de hoje vive a emergência da tecnologia, e, para o
reconhecimento dessa nova leitura, nossa proposta se voltou à
compreensão do jovem e de sua relação informacional com a televisão. E
mais, de que modo se refletem nessa relação os recursos técnicos e os
elementos da linguagem digital, como cortes e interferências nos
206
parâmetros, e valores de intensidade, e manipulações na integridade formal.
Na metodologia comparativa utilizada na análise técnica, os dados que mais
sobressaíram foram os da relação tempo e corte de cena. No bloco das
entrevistas, pudemos observar no tempo de 12:11”, dedicado a um dos
entrevistados, 88 cortes de cenas, comparadamente ao tempo dado ao outro
candidato, 11:30”; foram observados 40 cortes, ou seja, com apenas 0:41”
de diferença no tempo, foram realizados 48 cortes de cenas a mais. Na
relação ângulos de câmera constatamos uma grande divergência nas
tomadas: foram cerca de 34 tomadas frontais contra apenas duas. Esses
valores significativos acabaram sendo direcionados a um mesmo candidato,
não podemos e nem queremos levantar a hipótese de que esses resultados
possam ter influenciado os jovens na escolha dos candidatos, porém é dado
conclusivo que os estímulos foram comparativamente mais velozes e em
maior quantidade a apenas um dos candidatos, caracterizando-se a
montagem branca. Os dados aqui levantados sobre os recursos passíveis de
afetação, como a intensidade e a freqüência dos estímulos, podem a
posteriori colaborar com pesquisas que visem à recepção. Abrimos aqui uma
oportunidade para que sejam confrontados por outros pesquisadores. Com
relação a metodologia quantitativa, o percebido foi que a televisão aberta
ainda desponta como meio mais eficiente e mais utilizado na busca da
informação. Na escola pública, 83% dos jovens disseram buscar informação
na televisão e 39% na internet. Já na escola particular esses valores se
invertem, 71% buscam na internet e 47% na televisão. O que ressalta a
207
diferença de oportunidades em nosso país, relacionadas ao acesso à
tecnologia.
Também se obtiveram valores significativos, como: 111% dos jovens das
escolas pesquisadas consideram a televisão a mais eficiente e 70% dos
votos foram dados à internet. A freqüência também pontuou alto, foram
cerca de 131% para a TV e 110% para a internet. Ainda ficou evidenciada a
freqüência no dado relativo aos dias da semana dedicados a assistir ao
telejornal: 76% dos jovens determinaram de três a quatro dias; e 53%, todos
os dias. Aqui percebemos nesta pequena amostragem, como o ato de
asssitir à televisão alcança valores representativos. Ver e seguir a progra-
mação televisiva tornou-se hábito na era contemporânea, principalmente na
cultura brasileira. Vínculo que fornece constantemente a sensação de
participação e realização. E destacamos nesse aspecto que a TV em plena
era digital, apesar de não ter sido incluída em nossa pesquisa, devido à
recente entrada no país, deverá num futuro próximo fornecer e ser a base de
novas experiências e vivências que, com certeza, modificarão esse quadro.
Outro valor significativo foi o percebido na relação de confiança nas
informações visuais: as imagens divulgadas pelos telejornais são confiáveis
para 128% dos jovens, dado que nos situa no valor significativo da imagem
como informação.
Exemplos de “pontos positivos” destacados pelos entrevistados sobre
o telejornal:
208
Transmitem notícias nacionais e internacionais,
nos deixando sempre informados. Transmitem
notícias confiáveis, por usarem imagens verídicas
nas transmissões.Fazem pesquisa para mostrar a
opinião da população brasileira.
(Escola pública, 17 anos, sexo feminino)
Informações rápidas e precisas. As informações
são acompanhadas por imagens e tabelas que
auxiliam no entendimento.
(Escola particular, 19 anos, sexo masculino)
Os pesquisadores modernos concordam que para se produzir
conhecimento é preciso que o fato se apresente em toda a sua
complexibilidade. Passado todo o processo, a nossa investigação nos
permite destacar que a vertigem da comunicação midiática que, para muitos
dificulta a capacidade de assimilação dos conteúdos, para o jovem
contemporânreo não existe. Essa geração está acostumada a dividir a
atenção; assimila com facilidade vários estímulos, e todos ao mesmo tempo,
movimentando-se com destreza na complexidade das redes informatizadas.
Realmente não veremos mais as conquistas do tempo lento da era da
escrita, não veremos mais os nexos e as conexões que estávamos
acostumados. Estamos em meio a uma transformação, como tantas outras
que percorremos nessa pesquisa. A percepção das próximas gerações é um
eterno zapping numa busca constante, relação de visibilidade e
subjetividade. Um tempo veloz de estímulos aguçados para novas
209
sensações, ou apenas mais um tempo. Cada época tem seus efeitos de
realidade, e essas formas expressivas da contemporaneidade apontam para
uma nova era, com a necessidade de novos parâmetros de leitura por parte
do sujeito receptor e do emissor. Martín-Barbero diz que o “jovem
experimenta uma empatia cognitiva feita de uma grande facilidade na
relação com as tecnologias audiovisuais e informáticas e de uma
cumplicidade expressiva: com seus relatos e imagens, suas sonoridades,
fragmentações e velocidades, nos quais eles encontram seu idioma e seu
ritmo”. Para Barbero as culturas letradas estão ligadas à lingua e ao
território, enquanto que as eletrônicas, audiovisuais, musicais ultrapassam
esses limites, produzindo novas comunidades que respondem a novos
modos de perceber e de narrar a identidade. (Martín-Barbero, apud Moraes,
2003, p. 66).
Não podemos negar, somos resultado e parte integrante de uma
cultura que privilegiou a percepção visual como fonte principal de
conhecimento. Então, o que vemos à frente? Apenas sistemas
homogeneizados, códigos binários e seqüenciais de zero e um?
A questão é “para que lado olhamos?”. Assim como o zero e o um,
que habilitam e desabilitam a passagem de eletricidade, a dualidade existe e
se completa. Na filosofia taoística tudo tem dois lados, o esquerdo e o
direito, o certo e o errado, o feminino e o masculino, o preto e o branco, o dia
210
e a noite, o bem e o mal. Tudo é yin e yang, princípios complementares que
se transformam no movimento natural da vida.
Iniciamos esta pesquisa baseada na cultura ocidental e a terminamos
com a filosofia oriental. Destacamos Villém Flusser, que previa esse
encontro. E assim o disse:
Agora essas duas atitudes excludentes entre si podem (ou
devem) fundir-se uma na outra. Elas já produziram diversos
códigos novos (os códigos dos computadores), que conectam os
dois lados do abismo. E de sua fusão podem surgir uma ciência e
uma tecnologia inclassificáveis, cujos produtos estão desenhados
com um espírito que não se enquadra nas antigas categorias”.
(Flusser, 2007, p. 213)
211
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218
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Cid Moreira e Hilton Gomes na bancada
do Jornal Nacional (década de 1970)..........................................................101
Figura 2. Cid Moreira e Sérgio Chapelin / logotipo Jornal Nacional...........104
Figura 3. Novos equipamentos...................................................................106
Figura 4. Novo cenário com ares futuristas / logotipo Jornal Nacional.......108
Figura 5. Lilian Witte Fibe e William Bonner…………………...…………....111
Figura 6. William Bonner e Fátima Bernardes ...........................................111
Figura 7. Ilha de edição..............................................................................119
Figura 8. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva
na bancada do Jornal Nacional...................................................................129
Figura 9. Caravana JN - Motorhome e o sistema fly away.........................131
Figura 10. Dia dos candidatos – (27/07) – Geraldo Alkimin ......................145
Figura 11. Dia dos candidatos – (27/07) – Luiz Inácio Lula da Silva..........146
Figura 12. Dia dos candidatos – (28/07) – Luiz Inácio Lula da Silva..........147
Figura 13. Dia dos candidatos – (28/07) – Geraldo Alkimin.......................148
Figura 14. Divulgação pelo TSE do número de candidatos as eleições
por partido, para os cargos de Presidente, Governador, Senador,
Deputado Estadual e Federal – (03/08) ......................................................149
Figura 15. Dia dos candidatos – (03/08) – Luiz Inácio Lula da Silva..........149
Figura 16. Dia dos candidatos – (03/08) – Geraldo Alkimin.......................150
Figura 17. Pesquisa Ibope - Primeiro turno – (04/08).................................151
219
Figura 18. Pesquisa Ibope –
Simulação do segundo turno – (04/08) .......................................................152
Figura 19. Pesquisa Ibope - Avaliação do Governo – (04/08)....................152
Figura 20. Pesquisa Ibope - Aprovação do Governo – (04/08)..................152
Figura 21. Dia dos candidatos – (04/08) – Luiz Inácio Lula da Silva..........153
Figura 22. Dia dos candidatos – (04/08) – Geraldo Alkimin.......................154
Figura 23. Dia dos candidatos – (05/08) –
Luiz Inácio Lula da Silva..............................................................................155
Figura 24. Dia dos candidatos – (05/08) – Geraldo Alkimin.......................156
Figura 25. Dia dos candidatos – (07/08) – Luiz Inácio Lula da Silva..........158
Figura 26. Entrevista com o candidato Geraldo Alkimin – (07/08).......158/159
Figura 27. Tomadas de plano: candidato Geraldo Alkimin – (07/08)..........160
Figura 28. Escalada: Nota Coberta com o candidato
Geraldo Alkimin – (07/08)............................................................................160
Figura 29. Pesquisa Ibope - Primeiro turno – (10/08).................................161
Figura 30. Pesquisa Ibope - Simulação
do segundo turno – (10/08).........................................................................161
Figura 31. Pesquisa Ibope - Avaliação do Governo – (10/08)....................161
Figura 32. Dia dos candidatos – (10/08) – Geraldo Alkimin.......................162
Figura 33. Escalada com Nota Coberta – (10/08)......................................162
Figura 34. Entrevista com o candidato Luiz Inácio
Lula da Silva – (10/08)............................................................163/164/165/166
Figura 35. Passagem de bloco: Nota Coberta – (10/08)............................166
220
Figura 36. Tomadas de plano: candidato Luiz Inácio
Lula da Silva – (10/08).................................................................................166
Figura 37. Escalada: Nota Coberta com o candidato
Luiz Inácio Lula da Silva – (10/08)...............................................................167
Figura 38. Pesquisa Datafolha - Primeiro turno – (12/08)..........................167
Figura 39. Pesquisa Datafolha - Simulação do segundo turno – (12/08)...168
Figura 40. Pesquisa Datafolha - Avaliação do Governo–(12/08)................168
Figura 41. Dia dos candidatos – (12/08) – Geraldo Alkimin......................168
Figura 42. Pesquisa Ibope - Primeiro turno – (15/09).................................170
Figura 43. Pesquisa Ibope - Simulação do segundo turno – (15/09)..........171
Figura 44. Pesquisa Ibope - Avaliação do Governo – (15/09)....................171
Figura 45. Pesquisa Ibope - Aprovação do Governo – (15/09)..................171
Figura 46. Dia dos candidatos – (15/09) –Luiz Inácio Lula da Silva...........172
Figura 47. Dia dos candidatos – (15/09) – Geraldo Alkimin.......................173
Figura 48. Dia dos candidatos – (23/09) – Geraldo Alkimin.......................174
Figura 49. Dia dos candidatos – (23/09) –Luiz Inácio Lula da Silva...........175
Figura 50. Pesquisa Ibope - Primeiro turno – (23/09).................................176
Figura 51. Pesquisa Ibope - Simulação do segundo turno– (23/09)...........176
Figura 52. Pesquisa Datafolha - Primeiro turno – (23/09)..........................177
Figura 53. Pesquisa Datafolha - Simulação do segundo turno – (23/09)...177
Figura 54. Dia dos candidatos – (25/09) – Luiz Inácio Lula da Silva..........177
Figura 55. Dia dos candidatos – (25/09/2006) – Geraldo Alkimin..............178
Figura 56. Dia dos candidatos – (27/09) –Luiz Inácio Lula da Silva...........179
221
Figura 57. Dia dos candidatos – (27/09) – Geraldo Alkimin.......................180
Figura 58. Pesquisa Ibope - Primeiro turno – (27/09).................................181
Figura 59. Pesquisa Ibope – Votos válidos – (27/09).................................182
Figura 60. Pesquisa Ibope - Simulação do segundo turno– (27/09)...........182
Figura 61. Pesquisa Ibope - Avaliação do Governo – (27/09)....................182
Figura 62. Pesquisa Datafolha - Primeiro turno – (27/09)..........................183
Figura 63. Pesquisa Datafolha – Votos válidos – (27/09)...........................183
Figura 64. Pesquisa Datafolha - Simulação do segundo turno – (27/09)...183
Figura 65. Pesquisa Datafolha - Avaliação do Governo– (27/09)...............184
Figura 66. Dia dos candidatos – (28/09) –Luiz Inácio Lula da Silva...........184
Figura 67. Escalada: Nota Coberta – Debate – (28/09)..............................185
Figura 68. Dia dos candidatos – (28/09) – Geraldo Alkimin......................185
Figura 69. Escalada: Nota Coberta – Debate – (28/09)..............................186
Figura 70. Nota dada por William Bonner com referência a ausência
do candidato Luiz Inácio Lula da Silva ao debate – (28/09)........................186
Figura 71. Perfil dos eleitores brasileiros – (28/09)....................................187
Figura 72. Preparativos para o debate – (28/09).................................187/188
222
ANEXOS
Anexo 1 - Espelho
Anexo 2 - Módulo II – pesquisa (frente)
223
Anexo 2 - Módulo II – pesquisa (verso)
224
Anexo 2 - Módulo II – tabulação da pesquisa
Questão nº 1.
Qual destes meios de comunicação você considera ma
transmissão da informação
4%
49%
8%
18 %
45%
4%
25%
62%
2%
2%
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Questão nº 2
Por quais meios de comunicação vo costuma se in
com mais frequência?
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4%
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Particular
Pública
225
Questão nº 3
Quais assuntos ou informações você procura nesses meios?
59%
27%
35%
12%
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Pública
Questão nº 4
Os telejornais contribuem para formar a sua
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Pública
226
Questão nº 5
Com que frequêcia vo assiste telejornais diários?
14 %
22%
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14 %
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39%
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Questão nº 6
O tempo dado as nocias é suficiente para a compreensão
da informação?
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Pública
227
Questão nº 7
Descreva três pontos positivos do telejornal
20%
65%
63%
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Questão nº 8
Qual o grau de confiaa nas informações publ
nos telejornais - Jornal Nacional -
69%
39%
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0%
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228
Qual o grau de confiaa nas informações
nos telejornais - Rede TV News
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Pública
Qual o grau de confiaa nas informações publica
telejornais - SBT Brasil?
20%
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Pública
Questão nº 9
Você acredita na imparcialidade do telejor
59%
27%
35%
28%
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20%
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Pública
229
Questão nº 10
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47%
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Qual o grau de confiabilidade nos jornalistas?
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Qual o grau de confiabilidade nos jornalistas?
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Pública
230
Questão nº 11
Os meios de comunicação te auxiliam na escolh
candidatos às eleições?
29%
57%
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Questão nº 12
Nas eleões, em que o telejornal te orient
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231
Questão nº 13
A informação na TV, é melhor compreen
4%
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8%
3%
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Questão nº 14
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232
Questão nº 15
De qual fato marcante noticiado pelo telejornal vo
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59%
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