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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOI
´
AS
INSTITUTO DE MATEM
´
ATICA E ESTAT
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ISTICA
Classifica¸ao das Superf´ıcies de Revolu¸ao Tipo Delaunay Completas
por
Luiz Gustavo Alves de Souza
Orientador: Prof. Dr. Romildo da Silva Pina
Disserta¸ao de Mestrado em Matem´atica
Goiˆania, Goi´as
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOI
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AS
INSTITUTO DE MATEM
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ATICA E ESTAT
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ISTICA
COORDENAC¸
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AO EM MATEM
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ATICA
Classifica¸ao das Superf´ıcies de Revolu¸ao Tipo Delaunay Completas
por
Luiz Gustavo Alves de Souza
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Area de Concentra¸ao : Geometria e Topologia
Orientador: Prof. Dr. Romildo da Silva Pina
Disserta¸ao submetida `a Banca Examinadora designada pelo Conselho Diretor do
Instituto de Matem´atica e Estat´ıstica da Universidade Federal de Goi´as, como parte dos
requisitos necess´arios `a obten¸ao do grau de Mestre em Matem´atica.
Goiˆania, Goi´as
2008
`
A minha noiva Daniella
Aos meus pais Jorge e Otenevira
Agradecimentos
Ao criador por ter tido a coragem de entregar seu ´unico filho por amor `a esp´ecie
humana e por Ele ter aceitado esta miss˜ao ao dura e ´ardua. Sempre devemos louvar e
agradecer a Deus e compreender que ao somos deste mundo.
Ao Prof. Dr. Romildo da Silva Pina, pela amizade, paciˆencia e dedica¸ao que foram
indispens´aveis para a concretiza¸ao desta disserta¸ao.
Aos meus pais, Jorge Luiz de Souza e Otenevira Alves de Souza que sempre acredi-
taram em meu potencial.
`
A minha noiva Daniella Artiaga que tanto me ensina por sua maneira de ser.
`
As minhas irm˜as Narliane Alves de Souza e Jacimara Alves de Souza, que tanto aprendi
e aprendo com suas personalidades.
Aos fundadores das Casas de Estudantes Universit´arios que tanto lutaram pela causa
estudante.
Ao professor Jos´e Hil´ario da Cruz, pela aten¸ao e paciˆencia durante a constru¸ao deste
trabalho.
Aos colegas Jo˜ao Lopes Cardoso Filho, Vitor Braga, Gleisson Santana, Alexsander
Sampaio Tib´erio e principalmente a arcio Lemes que sempre auxiliaram nos momentos
dif´ıceis.
Enfim, a todos, que contribu´ıram de maneira direta ou indireta para a realiza¸ao deste
trabalho.
Sum´ario
Resumo 2
Abstract 3
Introdu¸ao 4
1 Preliminares 6
1.1 Superf´ıcies Regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Superf´ıcies Completas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.3 Princ´ıpio do aximo para Superf´ıcies Especiais Weingarten . . . . . . . . 19
2 Superf´ıcies de Rota¸ao com Curvatura M´edia Constante 21
2.1 As Roulettes das onicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.1 A roulette da par´abola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.2 Roulettes em rela¸ao a uma reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.3 A Ondul´aria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.1.4 A Noaria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.1.5 A Curvatura edia do Caten´oide, Ondul´oide e do Nooide . . . . . 40
2.1.6 Superf´ıcies de Rota¸ao com Curvatura edia Constante . . . . . . 42
3 Classifica¸ao das Superf´ıcies de Rota¸c˜ao Completas Tipo Delaunay 47
3.1 Condi¸oes para Existˆencia de Superf´ıcies
de Rota¸ao Tipo Delaunay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.2 Superf´ıcies de Rota¸ao Tipo Delaunay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Conclus˜ao 65
Referˆencias Bibliogr´aficas 66
1
Resumo
Nesta disserta¸ao estudamos os artigos The Surfaces of Delaunay, de Eells, James, e
Classification des Surfaces de Type Delaunay, de Ricardo Sa Earp e Eric Toubiana.
Baseado no primeiro trabalho classificamos as superf´ıcies de rota¸ao de curvatura edia
constante conhecidas como superf´ıcies de Delaunay. Utilizando o segundo trabalho apre-
sentamos um estudo sobre superf´ıcies especiais de Weingarten, cuja curvatura m´edia e
Gaussiana satisfazem a rela¸ao H = f(H
2
K), onde f uma fun¸ao el´ıptica de classe C
1
.
Classificamos as superf´ıcies de rota¸ao completas, satisfazendo `a rela¸ao de Weingarten.
Elas ao conhecidas como superf´ıcies Tipo Delaunay.
2
Abstract
In this dissertation we have studied the articles The Surfaces of Delaunay, by James Eells,
and Classification des Surfaces de Type Delaunay, by Ricardo Sa Earp and Eric Toubiana.
Based on the first work we have classified the surfaces of revolution of constant mean
curvature known as surfaces of Delaunay. By using the second one we have looked at
special surfaces of Weingarten, whose mean and gaussian curvatures satisfies the relation
H = f(H
2
K), where f is an elliptic function of class C
1
. We have classified the
complete surfaces of revolution, that satisfies the Weingarten relation. They are known
as surfaces of Delaunay Type.
3
Introdu¸ao
Superf´ıcies de rota¸ao em R
3
ao as superf´ıcies que ao invariantes por rota¸oes em R
3
,
ou seja, por rota¸oes em rela¸ao a uma dada reta. Seu estudo se reduz ao estudo da curva
geratriz, isto ´e, a curva descrita pela intersec¸ao da superf´ıcie com um plano que contenha
o eixo de rota¸ao.
Em 1827, o matem´atico alem˜ao Gauss definiu a curvatura Gaussiana K, de uma
superf´ıcie de R
3
, por K = λ
1
λ
2
, onde λ
1
e λ
2
ao as curvaturas principais da superf´ıcie.
Depois de alguns anos, em 1831, a matem´atica francesa Sophie Germain introduziu a
defini¸ao de curvatura edia H, por H =
λ
1
+ λ
2
2
, ao estudar um problema relacionado
com vibra¸oes de uma membrana.
A curvatura Gaussiana teve maior influˆencia no meio matem´atico, enquanto a cur-
vatura m´edia ficou esquecida, voltando `a tona em 1951, com Hopf, despertando uma
quantidade consider´avel de geˆometras para o estudo da mesma, principalmente das su-
perf´ıcies com curvatura edia constante (H cmc).
Os exemplos mais simples de superf´ıcie H cmc ao o plano (H = 0), a esfera de raio
r em R
3
H = ±
1
r
, e o cilindro circular reto de raio r
H =
1
2r
.
O primeiro matem´atico a encontrar superf´ıcies H cmc (H = 0), al´em dos acima
citados, foi o francˆes C. Delaunay, em 1841, o mesmo mostrou que a curva plana descrita
por um dos fo cos de uma onica, quando esta rola sobre uma reta, sem deslizar, gera uma
superf´ıcie de revolu¸ao H cmc, al´em disso, mostrou que toda superf´ıcie de revolu¸ao H
cmc ´e obtida dessa maneira. Estas superf´ıcies ao chamadas de Caten´oide (considerando
a par´abola), Ondul´oide (considerando a elipse) e Nooide (considerando a hip´erbole).
As superf´ıcies de curvatura edia constante, H cmc, tamb´em englobam as superf´ıcies
4
5
m´ınimas, H = 0.
Mais de um eculo depois, N. Kapouleas [?] em (1990), construiu outros exemplos de
superf´ıcies propriamente mergulhadas, de topologia finita e de curvatura edia constante.
Em [?] os autores estudaram uma superf´ıcie M, retirando a hip´otese de curvatura
m´edia constante H cmc e colocando uma rela¸ao entre a curvatura m´edia H = H(N)
e a curvatura de Gauss K satisfazendo a forma:
H = f(H
2
K),
onde f ´e uma fun¸ao de classe C
1
no intervalo [0, ). Al´em disso, f tem que verificar `a
rela¸ao:
t [0, ), 4t(f
(t))
2
< 1.
Neste caso, diremos que f ´e uma fun¸ao el´ıptica e M ´e chamada superf´ıcie especial caso,
verifique `as rela¸oes acima.
Quando f(0) = 0, a teoria de superf´ıcies especiais possuem princ´ıpios e propriedades
equivalentes `a teoria de superf´ıcies com curvatura m´edia constante ao nula, e diremos
que M ´e uma superf´ıcie especial tipo curvatura m´edia constante ou simplesmente que
M ´e uma superf´ıcie especial. Mais ainda, se M ´e uma superf´ıcie de revolu¸ao completa
diremos que M ´e uma superf´ıcie do tipo Delaunay.
Nosso trabalho foi divido nas seguintes etapas.
No Cap´ıtulo 1, apresentamos os principais resultados sobre curvas e superf´ıcies que
ser˜ao usados nos demais cap´ıtulos. Estudamos a primeira e segunda forma fundamental
de uma dada superf´ıcie, terminando este cap´ıtulo com o alculo das curvaturas principais,
curvatura edia e gaussiana de uma dada superf´ıcie de revolu¸ao.
No Cap´ıtulo 2, estudamos superf´ıcie de revolu¸ao com curvatura m´edia constante e
nosso principal objetivo foi classificar as superf´ıcies de Delaunay.
Com o Cap´ıtulo 3, encerramos nosso trabalho fazendo um estudo detalhado de su-
perf´ıcies especiais de Weingarten completas de revolu¸ao tipo curvatura edia constante,
mostrando resultados gerais de existˆencia e unicidade de superf´ıcies tipo Delaunay. No
Teorema 3.1 provamos a existˆencia de uma tal superf´ıcie, onde a curva que gera a su-
perf´ıcie ´e uma curva peri´odica de per´ıodo 2x
0
. Finalmente no Teorema 3.2 provamos que
toda superf´ıcie de revolu¸ao completa tipo Delaunay ´e do tipo da obtida no Teorema 3.1.
Cap´ıtulo 1
Preliminares
Apresentaremos neste cap´ıtulo algumas defini¸oes e propriedades de Geometria Diferencial
de Curvas e Superf´ıcies, as quais utilizaremos sem maiores detalhes no decorrer de nosso
trabalho. As demonstra¸oes e explica¸oes podem ser encontradas em [?], [?] e [?].
1.1 Superf´ıcies Regulares
Nesta se¸ao introduzimos a no¸ao de uma superf´ıcie regular em R
3
. Podemos dizer que uma
superf´ıcie regular em R
3
´e obtida tomando peda¸cos do plano, deformando-os e colando-os
entre si, de tal modo que a figura resultante ao apresente pontas, arestas ou auto-
intersec¸oes e que tenha sentido falar em plano tangente nos pontos desta superf´ıcie. A
id´eia ´e definir um conjunto que seja, em certo sentido, bi-dimensional e que seja tamb´em
suficientemente suave de forma que as no¸oes usuais do alculo possam ser estendidas a
um tal conjunto.
Defini¸ao 1.1. Um subconjunto S R
3
´e uma superf´ıcie regular se, para cada P S,
existe uma vizinhan¸ca V de P em R
3
e uma aplicao X : U V S, de um aberto
U de R
2
sobre V S R
3
tal que
1. X ´e diferenci´avel. Isto significa que se escrevemos
X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)), (u, v) U,
as fun¸oes x(u, v), y(u, v), z(u, v) em derivadas parciais cont´ınuas de todas as ordens em
U.
6
7
2. X ´e um homeomorfismo. Como X ´e cont´ınua pela Condi¸ao 1, isto significa que X
tem inversa X
1
: V S U que ´e cont´ınua.
3. Para todo q U, a diferencial dX
q
: R
2
R
3
´e injetiva.
A aplica¸ao X ´e chamada uma parametriza¸ao ou um sistema de coordenadas locais
numa vizinhan¸ca de P . A vizinhan¸ca V S de P em S ´e chamada uma vizinhan¸ca
coordenada.
A defini¸ao acima merece alguns coment´arios. Primeiramente porque definimos uma
superf´ıcie como um subconjunto S de R
3
, e ao como uma aplica¸ao. Conseguimos isso
cobrindo S com tra¸cos de parametriza¸oes satisfazendo `as Condi¸oes 1, 2 e 3.
A Condi¸ao 1 ´e bastante natural se esperamos fazer alguma geometria diferencial
sobre S. A injetividade na Condi¸ao 2 tem por objetivo excluir a possibilidade de auto-
intersec¸oes em superf´ıcies regulares. A continuidade da inversa na Condi¸ao 2 tem um
prop´osito mais sutil. No momento, diremos apenas que esta condi¸ao ´e essencial para
provar que certos objetos definidos em termos de uma parametriza¸ao ao dependem desta
parametriza¸ao, mas apenas do pr´oprio conjunto S. Finalmente, a Condi¸ao 3 garante a
existˆencia de um plano tangente em todos os pontos de S.
Em seguida apresentaremos alguns exemplos de superf´ıcies regulares.
Exemplo 1.1. O cilindro circular reto de equa¸ao x
2
+ y
2
= r
2
´e uma superf´ıcie regular
que pode ser parametrizado por X(u, v) = (r cos u, r sin u, v), com (u, v) R
2
e r > 0.
Figura 1.1: Parte de um cilindro
8
Exemplo 1.2. A esfera S
2
´e uma superf´ıcie regular, onde
X(u, v) = (cos u sin v, sin u sin v, cos v),
com (u, v) (0, 2π) ×(0, π) ´e uma parametriza¸ao que cobre S
2
menos um meridiano.
Figura 1.2: Esfera
Exemplo 1.3. Seja α(u) = (f(u), 0, g(u)), u I R uma curva regular tal que g
(u) = 0
para todo u do intervalo I. Ent˜ao a superf´ıcie obtida pela rota¸ao de α(u) em torno do eixo
z ´e uma superf´ıcie regular parametrizada por X(u, v) = (f(u) cos v, f(u) sin v, g(u)), v
R.
Figura 1.3: Superf´ıcie rotacionada
Exemplo 1.4. Considere a elice dada por α(u) = (cos u, sin u, au). Por cada ponto da
h´elice, trace uma reta paralela ao plano xy e que intercepta o eixo Oz. A superf´ıcie gerada
por essas retas ´e chamada de helic´oide. Uma parametriza¸ao do helic´oide ´e dada por:
X(u, v) = (v cos u, v sin u, au), 0 < u < 2π, −∞ < v < .
9
X aplica uma faixa aberta de largura 2π do plano uv sobre a parte do helic´oide que
corresponde a uma rota¸ao de 2π ao longo da h´elice.
Figura 1.4: helic´oide
Exemplo 1.5. Consideramos superf´ıcies obtidas pela rota¸ao do ˆangulo v em torno do
eixo z seguida da eleva¸ao de δv da curva (2 + cos u, 0, sin u). Uma parametriza¸ao para
tal superf´ıcie ´e X(u, v) = ((2 + cos u) cos v, (2 + cos u) sin v, sin u + δv), (u, v) R
2
, onde
δ ´e um umero real. Observamos que se δ = 0, a parametriza¸ao X(u, v) descreve o toro
obtido pela rota¸ao do c´ırculo no plano xOz de raio 1 e centro (0, 2, 0).
Figura 1.5: toro e elice de um toro
Ae aqui, tratamos as superf´ıcies sob o ponto de vista da diferenciabilidade. Agora
come¸caremos o estudo de outras estruturas geom´etricas associadas a uma superf´ıcie.
Talvez a mais importante delas seja a primeira forma fundamental, que passamos a des-
crever agora.
10
O produto interno natural em R
3
, induz em cada plano tangente T
p
S, de uma superf´ıcie
regular S, um produto interno, que indicaremos por ,
p
. Se w
1
, w
2
T
p
S R
3
, ent˜ao
w
1
, w
2
p
´e igual ao produto interno de w
1
e w
2
, como vetores em R
3
. A esse produto
interno, que ´e uma forma bilinear sim´etrica (isto ´e, w
1
, w
2
p
= w
2
, w
1
p
e w
1
, w
2
p
´e
linear em w
1
e w
2
), corresponde uma forma quadr´atica I
p
: T
p
S R dada por
I
p
(w) = w, w
p
= |w|
2
0. (1.1)
Defini¸ao 1.2. A forma quadr´atica I
p
em T
p
S definida por (1.1), ´e chamada a primeira
forma fundamental da superf´ıcie regular S R
3
em p S.
Deste modo, a primeira forma fundamental ´e meramente a express˜ao de como a su-
perf´ıcie S herda o produto interno natural do R
3
. Geometricamente, como veremos em
breve, a primeira forma fundamental nos possibilita fazer medidas sobre a superf´ıcie (com-
primentos de curvas, ˆangulos de vetores tangentes, ´areas de regi˜oes), sem fazer men¸ao
ao espa¸co ambiente R
3
, onde est´a a superf´ıcie.
Vamos agora expressar a primeira forma fundamental na base X
u
, X
v
associada a uma
parametriza¸ao X(u, v) em p. Como um vetor tangente w T
p
S ´e o vetor tangente a
uma curva parametrizada α(t) = X(u(t), v(t)), t (, ), com p = α(0) = X(u
0
, v
0
),
obtemos
I
p
(α
(0)) = α
(0), α
(0)
p
= X
u
u
+ X
v
v
, X
u
u
+ X
v
v
p
= X
u
, X
u
p
(u
)
2
+ 2X
u
, X
v
p
u
v
+ X
v
, X
v
p
(v
)
2
= E(u
)
2
+ 2F u
v
+ G(v
)
2
,
onde os valores das fun¸oes envolvidas ao calculados em t = 0, e
E(u
0
, v
0
) = X
u
, X
u
p
F (u
0
, v
0
) = X
u
, X
v
p
G(u
0
, v
0
) = X
v
, X
v
p
,
ao os coeficientes da primeira forma fundamental na base X
u
, X
v
de T
p
S.
Fazendo p variar na vizinhan¸ca coordenada correspondente a (X
u
, X
v
), obtemos fun¸oes
E(u, v), F (u, v), G(u, v), que ao diferenci´aveis nessa vizinhan¸ca.
11
De agora em diante, omitiremos o ´ındice p na indica¸ao do produto interno ,
p
ou da
forma quadr´atica I
p
, quando for claro pelo contexto a que ponto nos referimos.
Para ilustrarmos o que falamos acima considere o seguinte exemplo.
Exemplo 1.6. Sejam V = {(θ, ϕ); 0 < θ < π, 0 < ϕ < 2π} e X : V R
3
dada por
X(θ, ϕ ) = (sin θ cos ϕ, sin θ sin ϕ, cos θ).
Observamos que
X
θ
(θ, ϕ) = (cos θ cos ϕ, cos θ sin ϕ, sin θ),
X
ϕ
(θ, ϕ) = (sin θ sin ϕ, sin θ cos ϕ, 0).
Logo,
E(θ, ϕ) = X
θ
, X
θ
= 1
F (θ , ϕ) = X
θ
, X
ϕ
= 0
G(θ, ϕ) = X
ϕ
, X
ϕ
= sin
2
(θ).
Portanto, se w ´e um vetor tangente `a esfera unit´aria em um ponto X(θ, ϕ), dado na base
associada a X(θ, ϕ) por
w = aX
θ
+ bXϕ,
ent˜ao o quadrado do odulo de w ´e dado por
|w|
2
= I(w) = Ea
2
+ 2F ab + Gb
2
= a
2
+ b
2
sin
2
θ.
Agora iremos discutir em que sentido, e quando, ´e poss´ıvel orientar uma superf´ıcie.
Intuitivamente, como cada ponto p de uma superf´ıcie regular S tem um plano tangente
T
p
S, a escolha de uma orienta¸ao de T
p
S induz uma orienta¸ao numa vizinhan¸ca de p, isto
´e, a no¸ao de movimento positivo ao longo de curvas fechadas suficientemente pequenas
em torno de cada ponto da vizinhan¸ca. Caso seja poss´ıvel fazer essa escolha para cada
p S de forma que na interse¸ao de quaisquer duas vizinhan¸cas as orienta¸oes coincidam,
enao dizemos que S ´e orient´avel. Caso contr´ario, dizemos que S ´e ao-orient´avel.
Vamos precisar essas id´eias. Fixada uma parametriza¸ao X(u, v) de uma vizinhan¸ca
de um ponto p de uma superf´ıcie regular S, determinamos uma orienta¸ao do plano
12
tangente T
p
S, a saber, a orienta¸ao associada `a base ordenada X
u
, X
v
. Se p pertence a
uma vizinhan¸ca coordenada de uma outra parametriza¸ao X(u, v), a nova base X
u
, X
v
´e
expressa em termos da primeira por
X
u
= X
u
u
u
+ X
v
v
u
,
X
v
= X
u
u
v
+ X
v
v
v
,
onde u = u(u, v) e v = v(u, v) ao as express˜oes da mudan¸ca de coordenadas. As bases
X
u
, X
v
e X
u
, X
v
determinam, portanto, a mesma orienta¸ao de T
p
S se, e somente se, o
Jacobiano
(u, v)
(u, v)
da mudan¸ca de coordenadas ´e positivo.
Defini¸ao 1.3. Uma superf´ıcie regular S ´e orient´avel, se for poss´ıvel cobr´ı-la com uma
fam´ılia de vizinhan¸cas coordenadas, de tal modo que se um ponto p S pertence a duas
vizinhan¸cas dessa fam´ılia, ent˜ao a mudan¸ca de coordenadas tem Jacobiano positivo em
p. A escolha de uma tal fam´ılia ´e chamada uma orienta¸ao de S, e S, neste caso, diz-
se orientada. Se uma tal escolha ao ´e poss´ıvel, a superf´ıcie ´e ao-orient´avel. Se S ´e
orientada, uma parametriza¸ao (local) X ´e compat´ıvel com a orienta¸ao de S se, juntando
X `a fam´ılia de parametriza¸oes dada pela orienta¸ao, obt´em-se ainda uma (logo, a mesma)
orienta¸ao de S.
Conem chamar de campo diferenci´avel de vetores normais em um aberto U S, a
uma aplica¸ao diferenci´avel N : U R
3
, que associa a cada q U um vetor normal
unit´ario N(q) R
3
a S em q.
Proposi¸ao 1.1. Uma superf´ıcie regular S R
3
´e orient´avel se, e somente se, existe um
campo diferenci´avel N : S R
3
de vetores normais em S.
Proposi¸ao 1.2. Se uma superf´ıcie regular ´e dada por S = (x, y, z) R
3
; f(x, y, z) = a,
onde f : U R
3
R ´e diferenci´avel e a ´e um valor regular de f , ent˜ao S ´e orient´avel.
Orienta¸ao certamente ao ´e uma propriedade local de uma superf´ıcie regular. Local-
mente, toda superf´ıcie regular ´e difeomorfa a um conjunto aberto do plano e, portanto,
orienavel. Orienta¸ao ´e uma propriedade global, no sentido de envolver toda a superf´ıcie.
13
A aplica¸ao utilizada na defini¸ao seguinte mostra que conseguimos relacionar vetores
de um plano tangente com vetores de outro plano tangente. Todos os detalhes poder˜ao
ser encontrados em [?], (p´ag 158 `a 165). Em seguida definiremos a aplica¸ao normal de
Gauss:
Defini¸ao 1.4. A aplicao de Gauss N : S R
3
S
2
em rela¸ao a uma dada
parametriza¸ao X : U R
2
S num ponto p ´e definida por
N(u, v) =
X
u
(u, v) X
v
(u, v)
|X
u
(u, v) X
v
(u, v)|
=
X
u
X
v
|X
u
X
v
|
.
O fato de dN
p
: T
p
S T
p
S ser uma aplica¸ao linear auto-adjunta nos permite
associar a dN
p
uma forma quadr´atica Q em T
p
S, dada por Q(v) = dN
p
(v), v, v T
p
S.
Para obter uma interpreta¸ao geom´etrica desta forma quadr´atica, precisamos de algumas
defini¸oes. Por motivos que se tornar˜ao claros depois, usaremos a forma quadr´atica Q.
Defini¸ao 1.5. A forma quadr´atica II
p
, definida em T
p
S por II
p
(v) = −dN
p
(v), v ´e
chamada a segunda forma fundamental de S em p.
Defini¸ao 1.6. Seja C uma curva regular em S passando por p S, k a curvatura de
C em p, e cos θ = n, N, onde n ´e o vetor normal a C e N ´e o vetor normal a S em p.
O n´umero k
n
= k cos θ ´e chamado a curvatura normal de C S em p.
Noutras palavras, k
n
´e o comprimento da proje¸ao do vetor kn sobre a normal `a
superf´ıcie em p, com um sinal dado pela orienta¸ao N de S em p. A curvatura normal de
C ao depende da orienta¸ao de C, mas troca de sinal com uma mudan¸ca de orienta¸ao
da superf´ıcie.
Para dar uma interpreta¸ao da segunda forma fundamental II
p
, considere uma curva
regular C S parametrizada por α(s), onde s ´e o comprimento de arco de C, com
α(0) = p. Se indicarmos por N(s) a restri¸ao do vetor normal N `a curva α(s), teremos
N(s), α
(s) = 0, donde
N(s), α

(s) = −N
(s), α
(s).
14
Portanto,
II
p
(α
(0)) = −dN
p
(α
(0)), α
(0)
= −N
(0), α
(0)
= N(0), α

(0)
= N, kn
p
= k
n
(p).
Em outras palavras, o valor da segunda forma fundamental II
p
num vetor unit´ario
v T
p
S ´e igual `a curvatura normal de uma curva regular passando por p e tangente a v.
Em particular, obtivemos o seguinte resultado.
Proposi¸ao 1.3. (Meusnier) Todas as curvas de uma superf´ıcie S que em, num ponto
p S, a mesma reta tangente em, neste ponto, a mesma curvatura normal.
Voltemos `a aplica¸ao linear dN
p
. A cada p S existe uma base ortonormal {e
1
, e
2
}
de T
p
S, tal que dN
p
(e
1
) = λ
1
e
1
, dN
p
(e
2
) = λ
2
e
2
. Al´em disso, λ
1
e λ
2
(λ
1
λ
2
) ao
o aximo e o m´ınimo da segunda forma fundamental II
p
restrita ao c´ırculo unit´ario de
T
p
S. Isto ´e, ao os valores extremos da curvatura normal em p. Com isso,
Defini¸ao 1.7. O aximo da curvatura normal λ
1
e o m´ınimo da curvatura normal λ
2
,
ao chamados curvaturas principais em p; as diroes correspondentes, isto ´e, as diroes
dadas pelos auto-vetores e
1
e e
2
ao chamadas diroes principais em p.
O conhecimento das curvaturas principais em p permite calcular facilmente a curvatura
normal segundo uma dire¸ao dada de T
p
S. Com efeito, se v T
p
S e |v| = 1, como e
1
e e
2
formam uma base ortonormal de T
p
S, temos
v = e
1
cos θ + e
2
sin θ,
onde θ ´e o ˆangulo de e
1
a v na orienta¸ao de T
p
S. A curvatura normal k
n
na dire¸ao de
v ´e dada por
k
n
= II
p
(v) = −dN
p
(v), v
= −dN
p
(e
1
cos θ + e
2
sin θ), (e
1
cos θ + e
2
sin θ)
= e
1
λ
1
cos θ + e
2
λ
2
sin θ, e
1
cos θ + e
2
sin θ
= λ
1
cos
2
θ + λ
2
sin
2
θ.
15
Esta ´ultima express˜ao ´e conhecida classicamente sob o nome de ormula de Euler. Em
verdade, ela ´e simplesmente a express˜ao da Segunda Forma Fundamental na base e
1
, e
2
.
Seja X(u, v) uma parametriza¸ao em um ponto p S de uma superf´ıcie S, e seja
α(t) = X(u(t), v(t)) uma curva parametrizada em S , com α
0
= p. Para simplificar a
nota¸ao, convencionaremos que todas as fun¸oes que aparecem abaixo indicam seus valores
no ponto p.
O vetor tangente a α(t) em p ´e α
(t) = X
u
u
(t) + X
v
v
(t) e
dN(α
(t)) = N
(u(t), v(t)) = N
u
u
+ N
v
v
.
Como N
u
e N
v
pertencem a T
p
S, podemos escrever
N
u
= a
11
X
u
+ a
21
X
v
N
u
= a
12
X
u
+ a
22
X
v
,
e portanto,
dN(α
) = (a
11
u
+ a
12
v
)X
u
+ (a
21
u
+ a
22
v
)X
v
.
Logo, a express˜ao da Segunda Forma Fundamental na base X
u
, X
v
´e dada por
II
p
(α
) = −dN(α
), α
= N
u
u
+ N
v
v
, X
u
u
+ X
v
v
= e(u
)
2
+ 2fu
v
+ g(v
)
2
onde
e = X
uu
, N = −X
u
, N
u
f = X
uv
, N = −X
u
, N
u
g = X
vv
, N = X
vv
, N
v
,
ao os coeficientes da Segunda Forma Fundamental.
Sem mais comenarios podemos enunciar a seguinte defini¸ao que ser´a de grande valia
para a pr´oxima se¸ao.
16
Defini¸ao 1.8. Seja p S e seja dN
p
: T
p
S T
p
S a diferencial da aplicao de Gauss.
O determinante de dN
p
´e chamado a curvatura Gaussiana K de S em p. O negativo
da metade do trco de dN
p
´e chamado a curvatura m´edia de S em p. Em termos das
curvaturas principais λ
1
e λ
2
, podemos escrever
K = λ
1
λ
2
e H =
1
2
(λ
1
+ λ
2
).
Em um sistema de coordenadas X(u, v), e a curvatura edia H e a curvatura Gaus-
siana K ao dadas por:
H =
gE 2fF + eG
2(EG F
2
)
(1.2)
e
K =
eg f
2
EG F
2
, (1.3)
onde
E = X
u
, X
u
F = X
u
, X
v
G = X
v
, X
v
,
(1.4)
ao os coeficientes da Primeira Forma Fundamental.
Exemplo 1.7. As curvaturas edia e gaussiana do cilindro circular reto, com parametriza¸ao
dada por X(u, v) = (r cos u, r sin u, v) ao H =
1
2r
e K = 0.
Encerraremos esta se¸ao com um exemplo onde iremos calcular as curvaturas princi-
pais, curvatura m´edia e curvatura Gaussiana de uma superf´ıcie de rota¸ao. Para efeito
de contas iremos considerar o eixo z como o eixo de rota¸ao, embora na pr´oxima se¸ao o
eixo de rota¸ao considerado ´e o x.
Exemplo 1.8. Superf´ıcies de Rota¸ao: Considere a superf´ıcie de rota¸ao parametrizada
por:
X(u, v) = (ϕ(v) cos u, ϕ(v) sin u, ψ(v)), 0 < u < 2π, a < v < b, ϕ(v) > 0.
Os coeficientes da primeira forma fundamental ao dados por
E = ϕ
2
, F = 0, G = (ϕ
)
2
+ (ψ
)
2
.
17
Conv´em supor que a curva geratriz ´e parametrizada pelo comprimento de arco, isto ´e, que
(ϕ
)
2
+ (ψ
)
2
= G = 1.
O alculo dos coeficientes da Segunda Forma Fundamental ´e simples e fornece
e = ϕψ
, f = 0, g = ψ
ϕ

ψ

ϕ
.
Logo,
K =
ψ
(ψ
ϕ

ψ

ϕ
)
ϕ
.
Conv´em exibir ainda uma outra express˜ao para a curvatura Gaussiana. Diferenciando
(ϕ
)
2
+ (ψ
)
2
= 1, obtemos ϕ
ϕ

= ψ
ψ

. Assim,
K =
ψ
(ψ
ϕ

ψ

ϕ
)
ϕ
=
(ψ
)
2
ϕ

+ (ϕ
)
2
ϕ

ϕ
=
ϕ

ϕ
. (1.5)
A equa¸ao (1.5) ´e uma express˜ao conveniente para a curvatura Gaussiana de uma
superf´ıcie de rota¸ao. Ela pode ser usada, por exemplo, para determinar as superf´ıcies de
rota¸ao com curvatura Gaussiana constante.
Para o alculo das curvaturas principais, faremos primeiro uma observa¸ao geral: se
a parametriza¸ao de uma superf´ıcie regular ´e tal que F = f = 0, ent˜ao as curvaturas
principais ao dadas por
e
E
e
g
G
. De fato, nesse caso, a curvatura Gaussiana e a curvatura
m´edia ao dadas por
K =
eg
EG
, H =
1
2
eG + gE
EG
.
Nossa afirma¸ao decorre imediatamente do fato de K ser o produto e 2H a soma das
curvaturas principais.
Assim, as curvaturas principais de uma superf´ıcie de rota¸ao ao dadas por
λ
1
=
e
E
=
ψ
ϕ
ϕ
2
=
ψ
ϕ
e
λ
2
=
g
G
= ψ
ϕ

ψ

ϕ
,
da´ı, a curvatura m´edia de uma tal superf´ıcie ´e
H =
1
2
ψ
+ ϕ(ψ
ϕ

ψ

ϕ
)
ϕ
.
18
1.2 Superf´ıcies Completas
O objetivo desta se¸ao ´e introduzir o conceito de superf´ıcies completas.
Defini¸ao 1.9. Uma superf´ıcie regular (conexa) S ´e chamada estend´ıvel, se existe uma
superf´ıcie regular (conexa) S, tal que S S como um subconjunto pr´oprio. Se ao existe
uma tal S, S ´e chamada ao-estend´ıvel.
Infelizmente, a classe de superf´ıcies ao-estend´ıveis ´e muito grande para permitir re-
sultados interessantes. Uma hip´otese mais adequada ´e dada pela
Defini¸ao 1.10. Uma superf´ıcie regular S ´e denominada completa quando para qualquer
ponto P R, qualquer geoesica parametrizada γ : [0, ) S de S, come¸cando em
P = γ
0
, pode ser estendida numa geod´esica parametrizada γ : R S, definida sobre
toda a reta real R.
O plano ´e evidentemente uma superf´ıcie completa. O cone menos o ertice ao ´e uma
superf´ıcie completa, pois quando estendemos suficientemente uma geratriz (que ´e uma
geod´esica) atingimos o v´ertice, que ao pertence `a superf´ıcie. A esfera ´e uma superf´ıcie
completa, pois as geod´esicas parametrizadas (cujos tra¸cos ao os grandes c´ırculos da
esfera) podem ser definidas para qualquer valor real. O cilindro tamb´em ´e uma superf´ıcie
completa pois as suas geod´esicas ao c´ırculos, retas e elices, que est˜ao definidas para
todos os valores reais.
Por outro lado, uma superf´ıcie S P, obtida ao removermos um ponto P de uma
superf´ıcie completa S, ao ´e completa. De fato, alguma geod´esica γ de S deve passar
por P. Tomando um ponto Q, pr´oximo a P em γ, existe uma geoesica parametrizada de
S P que come¸ca em Q e ao pode ser estendida at´e P. Assim, uma esfera menos um
ponto e um cilindro menos um ponto ao ao superf´ıcies completas.
Proposi¸ao 1.4. Uma superf´ıcie completa S ´e ao-estend´ıvel.
19
1.3 Princ´ıpio do aximo para Superf´ıcies Especiais
Weingarten
O Princ´ıpio do aximo para superf´ıcies com curvatura edia constante foi generalizado
em [?] para para Superf´ıcies Especiais Weingarten, conforme descreveremos a seguir:
Teorema 1.1. Suponha M
1
e M
2
superf´ıcies de classe C
2
em R
3
, dadas como gr´aficos de
fun¸oes u, v : R
2
R. Suponha que o plano tangente de ambas M
1
e M
2
encontram-
se no ponto (x, y, z), isto ´e, T
xyz
M
1
= T
xyz
M
2
para z = u(x, y) = v(x, y), (x, y) . Seja
H(N
1
) e H(N
2
) as fun¸oes curvatura de u e v com respeito aos normais unit´arios N
1
e
N
2
que coincidem em (x, y, z). Seja K
i
, a curvatura Gaussiana de M
i
, i = 1, 2. Suponha
que M
i
satisfaz
H(N
i
) = f((H
i
)
2
K
i
), i = 1, 2,
para f satisfazendo
4t(f
(t))
2
< 1.
Se u v pr´oximo de (x, y) ent˜ao M
1
= M
2
pr´oximo de (x, y, z), isto ´e u = v na vizinhan¸ca
de (x, y).
A demonstra¸ao deste resultado ´e encontrada em [?].
No Cap´ıtulo 3 precisaremos garantir a existˆencia de solu¸ao local de uma equa¸ao
diferencial de segunda ordem. Para isto consideremos o conceito de fun¸ao lipschitziana,
a seguir.
Uma aplica¸ao f : R × R
n
R
n
chama-se lipschitziana em relativamente `a
segunda vari´avel ou, simplesmente, lipschitziana, se existe uma constante K tal que:
|f(t, x) f(t, y)| K|x y|,
para todo (t, x), (t, y) Ω; K chama-se constante de Lipschitz de f .
A aplica¸ao f diz-se localmente lipschitziana em , se cada ( t
0
, x
0
) tem uma vizinhan¸ca
V = V (t
0
, x
0
) tal que f|V ´e lipschitziana em V.
Lembremos a seguir o Lema da Contra¸ao e, principalmente, um corol´ario deste que
ser´a usado na demonstra¸ao do Teorema de Picard.
20
Lema 1.1. (Lema de Contrao) Sejam (X, d) um espco etrico completo e F : X
X uma contrao, isto ´e, d(F (x), F(y)) Kd(x, y), 0 K < 1. Existe um ´unico ponto
fixo P , por F, isto ´e F (P ) = P. Mais ainda, P ´e um atrator de F, isto ´e, F
n
(x) P
quando n , para todo x X. F
n
(x) ´e definido por F (F
n1
(x)).
Corol´ario 1.1. Seja X um espco etrico completo. Se F : X X ´e cont´ınua e, para
algum m, F
m
´e uma contrao, ent˜ao existe um ´unico ponto P fixo por F. Mais ainda, P
´e um atrator de F.
Teorema 1.2. Seja f cont´ınua e lipschitziana em = I
a
×B
b
, onde I
a
= {t; |tT
0
| a},
B
b
= {x; |xx
0
| b}. Se |f| M em , existe uma ´unica solu¸ao da equa¸ao diferencial
x
= f(t, x), x (t
0
) = x
0
em I
α
= min
a,
b
M
.
Cap´ıtulo 2
Superf´ıcies de Rota¸c˜ao com
Curvatura M´edia Constante
Superf´ıcies de rota¸ao ao as superf´ıcies que ao invariantes por uma fam´ılia `a um parˆametro
de rota¸oes em R
3
, ou seja, por rota¸oes em rela¸ao a uma dada reta. Seu estudo se reduz
ao estudo da curva geratriz, isto ´e, a curva descrita pela intersec¸ao da superf´ıcie com um
plano que contenha o eixo de rota¸ao.
Figura 2.1: Superf´ıcie de rota¸ao com geratriz α
Em 1827 o matem´atico alem˜ao Gauss definiu a curvatura Gaussiana K, de uma su-
perf´ıcie de R
3
, por K = λ
1
λ
2
, onde λ
1
e λ
2
ao as curvaturas principais da superf´ıcie.
Depois de alguns anos, em 1831, a matem´atica francesa Sophie Germain introduziu a
defini¸ao de curvatura edia H, por H =
λ
1
+ λ
2
2
, ao estudar um problema relacionado
com vibra¸oes de uma membrana.
A curvatura Gaussiana teve maior influˆencia no meio matem´atico, enquanto a cur-
21
22
vatura m´edia ficou esquecida, voltando com grande for¸ca em 1951, com Hopf, despertando
uma quantidade consider´avel de geˆometras para o estudo da mesma, principalmente das
superf´ıcies com curvatura edia constante (H cmc).
Os exemplos mais simples de superf´ıcies H cmc ao o plano (H = 0), a esfera de
raio r em R
3
H =
1
r
e o cilindro circular reto de raio r
H =
1
2r
.
O primeiro matem´atico a encontrar superf´ıcies H cmc (H = 0), al´em dos acima
citados, foi o francˆes C. Delaunay. Em 1841, ele mostrou que a curva plana descrita
por um dos focos de uma onica quando esta rola sobre uma reta, sem deslizar, gera
uma superf´ıcie de rota¸ao H cmc. Al´em disso, mostrou que toda superf´ıcie de rota¸ao
H cmc ´e obtida dessa maneira. Estas superf´ıcies obtidas pelas roulettes (definiremos a
seguir) de uma onica ao chamadas de Caten´oide (considerando a par´abola), Ondul´oide
(considerando a el´ıpse), e Nooide (considerando a hip´erbole). As superf´ıcies de curvatura
m´edia constante, H cmc, tamb´em englobam as superf´ıcies m´ınimas, H = 0.
O Teorema de C. Delaunay caracteriza as superf´ıcies de rota¸ao H cmc.
Para isso ele utiliza o conceito de Roulettes de uma onica.
Defini¸ao 2.1. Roulette ´e a curva descrita pelo foco de uma onica quando esta rola
sobre uma reta tangente sem deslizar.
O objetivo principal deste cap´ıtulo ´e provar o seguinte teorema:
Teorema 2.1. (Delaunay) Uma superf´ıcie rotacional de curvatura edia constante ´e
obtida pela rota¸ao da roulette de uma onica.
A demonstra¸ao apresentada se baseia no artigo de Eells [ ?] e segue as seguintes etapas:
1
o
) descrever as roulettes das onicas;
2
o
) calcular as curvaturas edias das superf´ıcies obtidas pela rota¸ao destas curvas;
3
o
) via express˜ao da curvatura edia, demonstrar que a curva geratriz de uma superf´ıcie
de rota¸ao de curvatura m´edia constante ao-nula satisfaz `as equa¸oes das roulettes
da elipse ou da hip´erbole.
23
2.1 As Roulettes das onicas
Come¸caremos obtendo a roullete da par´abola por ser uma figura de acil manipula¸ao e
vis˜ao geom´etrica.
2.1.1 A roulette da par´abola
Uma par´abola de foco F e reta diretriz r ´e o conjunto de pontos K R
2
tais que
dist(K, F ) = dist(K, r). O ponto V , da par´abola com a menor distˆancia a r ´e denomi-
nado o ertice da par´abola. V est´a na reta perpendicular a r que conem o foco F da
par´abola, pois a reta que ´e perpendicular a r e passa por F ´e a que a a menor distˆancia
entre F e a diretriz e portanto, a menor distˆancia entre a par´abola e a diretriz.
Figura 2.2: Par´abola com foco F = (0, c)
Tomando o sistema de coordenadas cartesianas (x, y), em que V = (0, 0) e o eixo x ´e
paralelo `a reta diretriz, sejam F = (0, c) o foco e y = c a reta diretriz. A equa¸ao da
par´abola ´e:
y =
x
2
4c
. (2.1)
Defini¸ao 2.2. A roulette do foco F em rela¸ao a uma reta tangente `a par´abola ´e a
trajet´oria que F descreve enquanto a par´abola rola sobre esta reta sem deslizar.
O objetivo desta se¸ao ´e mostrar que esta roulette ´e uma caten´aria. Para tal vamos
mostrar dois Lemas que mostram uma rela¸ao surpreendente entre a reta tangente num
dado ponto, o eixo x e a reta que passa pelo foco da par´abola interceptando a reta tangente
no eixo x.
24
Lema 2.1. Sejam t a reta tangente `a par´abola y =
x
2
4c
, em um ponto K =
x
0
,
(x
0
)
2
4c
,
e P o ponto de interseao de t com o eixo x. Ent˜ao P =
x
0
2
, 0
.
Demonstra¸ao: A equa¸ao de t ´e y =
x
0
2c
x
(x
0
)
2
4c
. Logo, para y = 0, temos
P =
x
0
2
, 0
.
Para determinar a coordenada y da roulette, encontraremos um ponto P
de t tal que
P
F seja perpendicular a t.
Lema 2.2. Com a nota¸ao do Lema 2.1, F P ´e perpendicular `a reta t.
Demonstra¸ao: Sejam m o coeficiente angular da reta que passa por F = (0, c)
e P =
x
0
2
, e m
o co eficiente angular de t. Basta mostrar que m.m
= 1. Como
m =
2c
x
0
e m
=
x
0
2c
, segue, m.m
=
2c
x
0
.
x
0
2c
= 1. Logo F P ´e perpendicular `a t.
A Figura (2.3) representa dois instantes diferentes em que a par´abola rola sem deslizar
sobre o eixo x, que ´e a reta tangente do ertice.
O primeiro instante representa o momento inicial do movimento em que a par´abola
´e tangente ao eixo x em V = (0, 0) e o foco est´a em F = (0, c) e est´a representada tamb´em
a reta tangente t em K.
O segundo instante representa o momento em que a par´abola rolou at´e o ponto K,
agora representado por
K, ´e tangente ao eixo x.
F
V
K
P
F
~
P
~
K
~
Figura 2.3: Par´abola rolando
25
No pr´oximo lema encontraremos as equa¸oes para as coordenadas da roulette da
par´abola.
Lema 2.3. Uma parametriza¸ao em coordenadas cartesianas da roulette da par´abola de
equa¸ao y =
x
2
4c
´e
β(x) =
x
0
1 +
r
2
4c
2
dr
x
2
1 +
x
2
4c
2
, c
1 +
x
2
4c
2
. (2.2)
Demonstra¸ao: A par´abola de equa¸ao y =
x
2
4c
pode ser parametrizada por α(x) =
x,
x
2
4c
. Pelo Lema (2.2), temos que P =
x
2
, 0
. Logo |P F | =
c
2
+
x
2
4
= c
1 +
x
2
4c
2
.
Analisando o instante em que o ponto K =
x,
x
2
4c
´e tangente ao eixo x, as coordenadas
do foco (agora representado por
F ) ao dadas por (|V
P |, |
P
F |) = (|V
P |, |P F |). Ora,
usando a Figura (2.3) temos,
|V
P | = |V
K| |
P
K|,
onde |V
K| ´e o comprimento do arco da par´abola de 0 at´e x. Ou seja
|V
K| =
x
0
|α
(r)|dr =
x
0
1 +
r
2
4c
2
dr.
Por outro lado,
|P K| =
x
x
2
2
+
x
2
4c
2
=
x
2
1 +
x
2
4c
2
.
Logo,
|V
P | =
x
0
1 +
r
2
4c
2
dr
x
2
1 +
x
2
4c
2
.
Lema 2.4. Seja α(s) = (x(s), y(s)) a reparametriza¸ao por comprimento de arco da
roulette da par´abola, dada por β(x) = (x(x), y(x)), do Lema (2.3). Ent˜ao
dx
ds
=
c
y(s)
. (2.3)
26
Demonstra¸ao: Como
x(x) =
x
0
1 +
r
2
4c
2
dr
x
2
1 +
x
2
4c
2
e
y(x) = c
1 +
x
2
4c
2
,
calculando a derivada de x(x) e de y(x), temos
x
(x) =
1 +
x
2
4c
2
1/2
1
2
1 +
x
2
4c
2
1/2
2x
2
16c
2
1 +
x
2
4c
2
1/2
=
1
2
1 +
x
2
4c
2
1/2
e
y
(x) = c
2x
8c
2
1 +
x
2
4c
2
1/2
=
x
4c
1 +
x
2
4c
2
1/2
.
Logo,
x
(x)
2
+ y
(x)
2
=
1
4
1 +
x
2
4c
2
1
+
x
2
16c
2
1 +
x
2
4c
2
1
=
1
4
.
Como o parˆametro comprimento de arco s de β ´e dado por
s(x) =
x
0
|β
(r)|dr =
x
0
x
(r)
2
+ y
(r)
2
dr,
temos
ds
dx
=
x
(x)
2
+ y
(x)
2
.
Logo,
dx
ds
=
1
x
(x(s))
2
+ y
(x(s))
2
= 2.
Assim, usando a regra da cadeia, obtemos
dx
ds
=
dx
dx
dx
ds
=
1
2
1 +
x(s)
2
4c
2
1/2
.2 =
c
y(x(s))
=
c
y(s)
.
A seguir, veremos um resultado que nos diz qual ´e a roullete de uma par´abola.
Proposi¸ao 2.1. A roulette da par´abola de equa¸ao y =
x
2
4c
´e a caten´aria de equa¸ao
y = c cosh
x
c
.
27
Demonstra¸ao: Pela equa¸ao (2.3)
dx
ds
=
c
y(s)
. Como β(x(s)) = β(s) ´e regular,
temos que a roulette da par´abola ´e (localmente) o gr´afico de uma fun¸ao (x, y(x)). Al´em
disso,
ds
dx
=
1 +
dy
dx
2
1/2
= 0, portanto,
dx
ds
=
1 +
dy
dx
2
1/2
.
Usando (2.3) obtemos,
1 +
dy
dx
2
1/2
=
c
y
. (2.4)
Da´ı,
1 +
dy
dx
2
=
y
2
c
2
,
logo,
dy
dx
=
y
2
c
2
c
2
,
ou seja,
dy
y
2
c
2
=
1
c
dx,
que ´e igual a
dy
y
2
c
2
=
x
c
+ d.
Fazendo y = c cosh v, temos que dy = c sinh v dv. Assim,
c sinh v
c
2
cosh
2
v c
2
dv =
x
c
+ d
v =
x
c
+ d.
Como
y
c
= cosh v, temos que v = arccosh
y
c
. Logo,
arccosh
y
c
=
x
c
+ d.
Da´ı,
y
c
= cosh
x
c
+ d
.
28
Logo,
y(x) = c cosh
±
x
c
+ d
Considerando y(0) = c, resulta que
c = y(0) = c cosh
0
c
+ d
,
que implica em
1 = cosh d,
portanto
d = 0.
Como a fun¸ao y = cosh ´e uma par, obtemos
y(x) = c cosh
±
x
c
= c cosh
x
c
.
29
1.5
1.3
1.1
1.4
1.2
1.0
1.00.50.0−0.5−1.0
Figura 2.4: caten´aria, c=1
2.1.2 Roulettes em rela¸ao a uma reta
A subse¸ao anterior ´e a motivao desta subse¸ao. Determinaremos propriedades ´uteis
das roulettes em rela¸ao a uma reta as quais ser˜ao de fundamental importˆancia para as
pr´oximas se¸oes.
Defini¸ao 2.3. A roulette de um ponto F associado a curva C em rela¸ao a uma reta
tangente `a C ´e a trajet´oria descrita por F enquanto C rola sobre esta reta tangente sem
deslizar.
A pr´oxima proposi¸ao ser´a de fundamental importˆancia para demonstra¸ao dos pr´oximos
resultados.
Proposi¸ao 2.2. Seja C uma curva regular com curvatura que ao se anula e F um
ponto que ao pertence a C, com β a roulette de F associado a C em rela¸ao a uma reta
30
tangente `a C e
F um ponto de β,
K o ponto de contato de C com o eixo x(nesse instante).
Ent˜ao a roulette de F em rela¸ao `a reta tangente de C ´e uma curva regular. Aem disso,
a reta normal a roulette em
F passa por
K; ou seja, o segmento
F
K ´e perpendicular `a
reta tangente `a roulette em
F .
Demonstra¸ao: Consideramos a roulette de F = (x
0
, y
0
) associada `a curva C
parametrizada por α(s), onde s ´e o parˆametro comprimento de arco da curva C.
A Figura 2.5 representa dois instantes diferentes.
No primeiro instante, antes de C come¸car a rolar, est˜ao indicados o ponto F =
(x
0
, y
0
), a reta t tangente a C em K = α(s), o ponto P t, tal que F P t e os vetores
tangente e normal `a C (α
(s) = α
e n(s) = n).
O segundo momento representa o instante em que C rolou sobro o eixo x, sem
deslizar, at´e o ponto K (agora representado por
K) ser tangente ao eixo x.
F
V
K
P
n(s)
a´(s)
F
~
P
~
K
~
Figura 2.5: Uma roulette
Esta demonstra¸ao ser´a feita em trˆes etapas:
1) determinaremos o vetor
F K;
2) determinaremos uma parametriza¸ao β(s) para a roulette;
3) calcularemos
F
K, α
(s)
, concluindo a demonstra¸ao.
Suponhamos C orientada, de tal modo que o vetor normal unit´ario n(s) em K = α(s)
aponte para “dentro”(veja figura (2.5)).
Temos
F K =
F K, α
α
+
F K, n
n = |P K|α
|P F |n.
31
No segundo instante, C rolou at´e K ser tangente ao eixo x (K agora representado por
K). Nesse instante os vetores (1, 0) e (0, 1) desempenham o papel de vetores tangente e
normal, respectivamente, `a C em
K e
F
K =
F K, α
,
F K, n
= (|P K|, |P F |).
As coordenadas de
F = (x, y) ao dadas por
x = |V
K| |
P
K| = |V
K| |P K|
y = |
P
F | = |PF |,
(2.5)
onde |V
K| ´e igual ao comprimento de arco de C entre V = α(0) e K = α(s). Logo
|V
K| = s, pois s ´e o parˆametro comprimento de arco de C. Como
|P K| =
F K, α
e
|P F | = −
F K, n,
uma parametriza¸ao da roulette de F ´e
β(s) = (s
F K, α
, −
F K, n). (2.6)
O vetor
F K = α(s) F , da´ı,
d
ds
F K = α
. Assim o vetor tangente de β(s) ´e
β
(s) =
1
d
ds
F K, α
,
d
ds
F K, n
=
1

d
ds
F K, α
+
F K, α

,
d
ds
F K, n
+
F K, n
=
1
α
, α
+
F K, α

, −α
, n+
F K, n
=
−
F K, α

, −
F K, n
= κ
−
F K, n,
F K, α
= κ(±|P F |, ±|P K|),
pois pela ormula de Frenet, α

= κn e n
= κα
, onde κ ´e a curvatura de C em α(s).
Portanto,
F
K, F
(s) = κ(−|P K|.|PF | + |(P F )|(−|PK|)) = 0,
32
o que conclui a demonstra¸ao. A afirma¸ao de que a roulette ´e uma curva regular ´e
resultado imediato da equa¸ao β
(s) = κ(−|P F |, −|P K|), pois κ = 0.
Observao 2.1: Na demonstra¸ao da Proposi¸ao 2.2, para deduzirmos uma equa¸ao
para β(s) utilizamos a hip´otese de que a reta t, tangente `a C, tem inclina¸ao positiva
(figura 2.5). No entanto, se t tivesse inclina¸ao negativa, com a mesma escolha de orien-
ta¸ao em C, obter´ıamos a mesma parametriza¸ao β(s) para a roulette.
Observao 2.2: A Proposi¸ao 2.2 foi demonstrada sob a hip´otese de que a curvatura
de C ao se anula, o que garante que a trajet´oria de F ´e uma curva regular.
Corol´ario 2.1. Seja γ(s) = (x( s), y(s)) a reparametriza¸ao de β(s) pelo parˆametro com-
primento de arco s. Ent˜ao, com a mesma nota¸ao da Proposi¸ao 2.2,
|
F
K| = ±|
P
F |
dx
ds
1
= ±y(s)
dx
ds
1
, (2.7)
onde
K ´e o ponto de contato de C com o eixo x.
Demonstra¸ao: Com efeito, como visto na proposi¸ao anterior,
β
(s) = κ(−|P F |, −|P K|) = κ(|P F |, |P K|), logo
|β
(s)| = |κ|
|P F |
2
+ |P K|
2
= |κ||F K|.
Por hip´otese, κ = 0, da´ı
β
(s)
|β
(s)|
= ±
|P F |
|F K|
,
|P K|
|F K|
.
Como γ
(s) = (x(s), y(s)) ´e a reparametriza¸ao pelo comprimento, enao
dx
ds
= ±
|P F |
|F K|
= ±
y(s)
|F K|
.
2.1.3 A Ondul´aria
Nesta se¸ao faremos um estudo da ondul´aria. A Proposi¸ao (2.4) ´e a parte central e aqui
alguns resultados ser˜ao admitidos e usados sem prova, bem como alguns alculos ser˜ao
omitidos.
33
A elipse de focos F
1
= (c, 0) e F
2
= (c, 0) ´e o conjunto dos pontos K R
2
tais que
a soma dos comprimentos dos raios focais ´e constante, ou seja
|F
1
K|+ |F
2
K| = 2a > 0, onde a > c ´e o comprimento do semi-eixo maior, e b =
a
2
c
2
o comprimento do semi-eixo menor.
Sabemos que, α(t) = (a cos(t), b sin(t)), t R ´e a curva cujo tra¸co ´e a elipse de equa¸ao
x
2
a
2
+
y
2
b
2
= 1 e sua curvatura ´e K(t) =
ab
(a
2
sin
2
(t) + b
2
cos
2
(t))
3
/2
. Por esta afirma¸ao e
pela Proposi¸ao (2.2) segue imediatamente que
F
1
F
2
K
O
b
-a
-b
a
Figura 2.6: elipse
Proposi¸ao 2.3. A roulette de um dos focos de uma elipse (ondul´aria) em rela¸ao a uma
reta tangente ´e uma curva regular.
Analogamente ao caso da par´abola, faremos uso de propriedades da tangente t, para
deduzir uma equa¸ao para a ondul´aria.
Proposi¸ao 2.4. Seja β(s) = (x(s), y(s)) a parametriza¸ao da ondul´aria pelo compri-
mento de arco. Ent˜ao a fun¸ao coordenada x(s) satisfaz
dx
ds
= ±
y(s)
2
+ b
2
2ay(s)
, (2.8)
sendo “a”o semi-eixo maior e “b”o semi-eixo menor da elipse.
Demonstra¸ao: Vamos considerar a elipse de centro O e semi-eixos maior e menor
dados por a e b. Consideramos ainda o c´ırculo de centro O e raio a. Relativamente `a
elipse e o c´ırculo, temos
34
1) O ˆangulo formado pelos raios focais e a tangente t ao iguais (figura 2.7);
2) Os pontos
P
1
e
P
2
de intersec¸ao de
t
com o c´ırculo de centro
O
e raio
a
, ao tais
que P
1
F
1
t e P
2
F
2
t;
3) |P
1
F
1
|.|P
2
F
2
| = b
2
.
As duas ´ultimas propriedades ao menos conhecidas, por isso as admitiremos. Na figura
2.8, consideramos a trajet´oria do foco F
2
da elipse enquanto ela rola sem deslizar sobre o
eixo x.
Os triˆangulos F
1
P
1
K e F
2
P
2
K ao semelhantes. Logo
|P
1
F
1
|
|P
2
F
2
|
=
|F
1
K|
|F
2
K|
. (2.9)
Manipulando (2.9), e usando 3) temos
|P
1
F
1
|
|P
2
F
2
|
=
|P
1
F
1
|.|P
2
F
2
|
(|P
2
F
2
|)
2
=
b
2
(|P
2
F
2
|)
2
.
35
Figura 2.7: Segmentos ortogonais na elipse
F
1
O
F
2
P
1
K
1
P
1
X
Figura 2.8: Elipse rolando
Al´em disso,
|F
1
K|
|F
2
K|
=
|F
1
K| + |F
2
K|
|F
2
K|
|F
2
K|
|F
2
K|
=
2a
|F
2
K|
1,
e, portanto,
b
2
(|P
2
F
2
|)
2
=
2a
|F
2
K|
1. (2.10)
Pela Proposi¸ao 2.3 a roulette de uma elipse ´e uma curva regular e portanto admite
parametriza¸ao pelo comprimento de arco. O segmento |P
2
F
2
|´e a coordenada y da roulette
da elipse e pelo Corol´ario 2.1,
|F
2
K| = ±y(s)
dx
ds
1
que, ao ser substitu´ıda em (2.10), a
b
2
y
2
(s)
= ±
2a
y(s)
dx
ds
1
, (2.11)
36
sendo s o parˆametro comprimento de arco da roulette. Enao
dx
ds
= ±
y(s)
2
+ b
2
2ay(s)
,
o que demonstra a proposi¸ao. Esta ´ultima equa¸ao possui solu¸ao em termos de fun¸oes
el´ıpticas.
Observao 2.3: Considera¸oes sobre a equa¸ao
dx
ds
= ±
y(s)
2
+ b
2
2ay(s)
.
a) no caso em que a = b a elipse ´e um c´ırculo de raio a e focos F
1
= F
2
e a roulette se
reduz a uma reta da forma y = a;
b) no caso limite b = 0 isto ´e,
lim
b0
dx
ds
= ±
y(s)
2a
a elipse degenera-se em um segmento de reta de comprimento 2a, e F
2
em um dos extremos
do segmento. Nesse caso, a roulette ´e constitu´ıda por semi-c´ırculos de raio 2a.
2.1.4 A Noaria
Por fim faremos estudo da noaria, e neste caso a Proposi¸ao 2.6 ´e o ponto central desta
se¸ao. Tamb´em, aqui ao apresentaremos todas as contas e alguns resultados ser˜ao aceitos.
Defini¸ao 2.4. A Hip´erbole de focos F
1
e F
2
´e o conjunto dos pontos K do plano tais
que
|F
1
K| |F
2
K| = ±2a; (2.12)
em que a < c. Sendo a o semi-eixo transverso e b =
c
2
a
2
o semi-eixo conjugado. Os
segmentos |F
1
K| e |F
2
K| ao denominados raios focais.
37
F
1
F
2
O
Figura 2.9: Hip´erbole de focos F
1
, F
2
, centrada na origem
Pela Proposi¸ao (2.2) temos que:
Proposi¸ao 2.5. A roulette de um dos focos de uma hip´erbole (noaria) em rela¸ao a
uma reta tangente ´e uma curva regular.
Analogamente aos casos da par´abola e da elipse, faremos uso de propriedades da
tangente
t
, para deduzir uma equa¸ao para a noaria.
Proposi¸ao 2.6. Seja β(s) = (x(s), y(s)) a parametriza¸ao da noaria pelo comprimento
de arco. Ent˜ao
dx
ds
= ±
y(s)
2
b
2
2ay(s)
, (2.13)
sendo a e b os semi-eixos transverso e conjugado da hip´erbole.
Demonstra¸ao: Em rela¸ao a hip´erbole de semi-eixos a e b, centro O e focos F
1
e F
2
temos:
1) seja t a reta tangente `a hip´erbole em K, ent˜ao t ´e a bissetriz do ˆangulo determinado
pelos raios focais.
38
F
1
F
2
P
1
P
2
O
Figura 2.10: Segmentos ortogonais na hip´erbole
39
F
1
F
2
P
1
P
2
O
K
Figura 2.11: Hip´erbole rolando
2) t intercepta o c´ırculo de raio a e centro O, em pontos P
1
e P
2
tais que P
1
F
1
t e
P
2
F
2
t;
3) |P
1
F
1
|.|P
2
F
2
| = b
2
.
Na figura (2.11), consideramos a trajet´oria do foco F
2
enquanto a hip´erbole rola sobre
o eixo x.
Como P
2
KP
1
= P
1
KF
2
e F
1
P
1
K = K
P
2
F
2
=
π
2
, observamos que os triˆangulos F
1
KP
1
e F
2
KP
2
ao semelhantes (trˆes ˆangulos iguais), logo
|P
1
F
1
|
|P
2
F
2
|
=
|F
1
K|
|F
2
K|
. (2.14)
Manipulando (2.14) temos,
|P
1
F
1
|
|P
2
F
2
|
=
|P
1
F
1
|.|P
2
F
2
|
|P
2
F
2
|
2
=
b
2
|P
2
F
2
|
2
.
Al´em disso,
|F
1
K|
|F
2
K|
=
|F
1
K| |F
2
K|
|F
2
K|
+
|F
2
K|
|F
2
K|
= ±
2a
|F
2
K|
+ 1.
40
Portanto
b
2
|P
2
F
2
|
2
= ±
2a
|F
2
K|
+ 1. (2.15)
Pela Proposi¸ao 2.5 a roulette da hip´erbole ´e uma curva regular. Pelo Corol´ario 2.1
|F
2
K| = ±y(s)
dx
ds
1
que, ao ser substitu´ıda em (2.15), mostra que a equa¸ao da
roulette de F
2
satisfaz
b
2
y
2
(s)
= ±
2a
y(s)
dx
ds
+ 1, (2.16)
sendo s o parˆametro comprimento de arco da roulette.
Enao,
dx
ds
= ±
y
2
(s) b
2
2ay(s)
,
o que demonstra a proposi¸ao.
Novamente, a equa¸ao anterior possui solu¸ao em termos de fun¸oes el´ıpticas.
X
Figura 2.12: Noaria
2.1.5 A Curvatura edia do Caten´oide, Ondul´oide e do Nooide
Nesta se¸ao realizaremos o alculo das curvaturas edias das superf´ıcies obtidas pela
rota¸ao das roulettes: a caten´aria, a ondul´aria e a noaria, que originam o caten´oide, o
ondul´oide e o nooide, respectivamente. Em seguida, na pr´oxima se¸ao iremos fazer a
volta do Teorema de Delaunay assim mostraremos o objetivo deste cap´ıtulo.
No Cap´ıtulo 1, observamos que uma superf´ıcie de rota¸ao pode ser parametrizada por
X(u, v) = (x(u), y(u)cosv, y(u)senv), e que a express˜ao da curvatura edia ´e dada por
H =
x

(u)y
(u) x
(u)y

(u)
[x
(u)
2
+ y
(u)
2
]
3/2
x
(u)
y(u)[x
(u)
2
+ y
(u)
2
]
1/2
41
ou
H = x

(s)y
(s) x
(s)y

(s)
x
(s)
y(s)
, (2.17)
se a curva geratriz da superf´ıcie est´a parametrizada pelo comprimento de arco.
Lema 2.5. Se a curva geratriz de uma superf´ıcie de rota¸ao com eixo de rota¸ao x est´a
parametrizada pelo comprimento de arco s e x
(s) = f(y(s)), ent˜ao
H =
1
2
f
(y) +
f(y)
y
. (2.18)
Demonstra¸ao: Se x
(s) ´e como acima, enao
y
(s) = ±(1 f
2
(y))
1/2
o que nos a,
y

= ±(1 f
2
(z))
1/2
ff
y
= f(y)f
(y),
enquanto que
x

= f
(y)y
nos a
x

y
= f
(y)(y
)
2
= f
(y)(1 f
2
(y)).
Enao, pela equa¸ao (2.17),
H =
1
2
f
2
(y)f
(y) + f
(y)(1 f
2
(y)) +
f(y)
y
=
1
2
f
(y) +
f(y)
y
.
Pela equa¸ao (2.3)
dx
ds
=
c
y
, por (2.9)
dx
ds
= ±
y
2
+ b
2
2ay
, de (2.14)
dx
ds
= ±
y
2
b
2
2ay
e
por (2.19) calculamos H das superf´ıcies obtidas pela rota¸ao das roulettes das onicas,
respectivamente:
Caten´oide Se f(y) =
c
y
, ent˜ao
H =
1
2
c
y
2
+
c
y
2
= 0.
Pelos alculos acima, a curvatura edia do caten´oide ´e H = 0, portanto o caten´oide ´e
uma superf´ıcie m´ınima observando que a ´unica superf´ıcie m´ınima de rota¸ao (Teorema de
42
Catalan).
Ondul´oide, Cilindro e Esfera Se f(y) = ±
y
2
+ b
2
2ay
, ent˜ao
H =
1
2
±
4ay
2
(y
2
+ b
2
)2a
4a
2
y
2
±
y
2
+ b
2
2ay
2
= ±
1
2a
.
Nooide Se f(y) = ±
y
2
b
2
2ay
,
H =
1
2
±
4ay
2
(y
2
b
2
)2a
4a
2
y
2
±
y
2
b
2
2ay
2
= ±
1
2a
.
2.1.6 Superf´ıcies de Rota¸ao com Curvatura edia Constante
Nesta se¸ao vamos estudar uma sup erf´ıcie rotacional S de curvatura edia diferente de
zero e verificar que esta superf´ıcie satisfaz as mesmas condi¸oes do Ondul´oide e Nooide.
Pelo que vimos anteriormente, se uma superf´ıcie rotacional S com curva geratriz
parametrizada pelo comprimento de arco (x(s), y(s), 0) satisfaz
dx
ds
= ±
y(s)
2
± b
2
2ay(s)
,
para constantes a e b, enao a curvatura m´edia de S ´e ao nula.
Proposi¸ao 2.7. Uma superf´ıcie rotacional S possui curvatura edia constante H = 0
se, e somente se, a curva geratriz de S satisfaz
y
2
± 2ay
dx
ds
± b
2
= 0, (2.19)
onde a e b ao constantes.
Demonstra¸ao: Como S ´e uma superf´ıcie parametrizada regular podemos supor que
localmente a sua curva geratriz ´e o gr´afico de uma fun¸ao, isto ´e, sua curva geratriz pode
ser parametrizada por (x, ˜y(x), 0). Logo,
H =
1
2
˜y

(x)
(1 + ˜y
2
)
3/2
1
˜y(x)(1 + ˜y
(x)
2
)
1/2
. (2.20)
43
Como S ´e de curvatura edia constante, escrevemos H =
1
2a
> 0. Logo
˜y

(x)
(1 + ˜y
(x)
2
)
3/2
1
˜y(x)(1 + ˜y
(x)
2
)
1/2
=
1
a
equivalentemente
a
˜y

(x) (1 + ˜y
(x)
2
)
˜y(x)(1 + ˜y
(x)
2
)
3/2
= 1,
ou seja,
a
˜y

(x) (1 + ˜y
(x)
2
)
(1 + ˜y
(x)
2
)
3/2
˜y(x) = 0 .
Multiplicando ambos os membros desta ´ultima express˜ao por 2˜y
(x), obtemos
2a˜y
(x)
˜y

(x) (1 + ˜y
(x)
2
)
(1 + ˜y
(x)
2
)
3/2
2˜y
(x)˜y(x) = 0. (2.21)
A express˜ao (2.21), pode ser integrada em x. E assim,
2a˜y(x)
(1 + ˜y
(x)
2
)
1/2
˜y(x)
2
= ±b
2
, (2.22)
sendo b
2
uma constante. Agora, reparametrizando pelo comprimento de arco
s =
x
0
1 + ˜y
(t)
2
dt, obtemos
2ay(s)
dx
ds
y(s)
2
= ±b
2
, (2.23)
pois
dx
ds
= (1 + ˜y
(x)
2
)
1/2
. Isolando
dx
ds
em (2.23), resulta em
dx
ds
=
y(s)
2
± b
2
2ay(s)
.
Considerando tamb´em o caso a < 0, obtemos
dx
ds
= ±
y(s)
2
± b
2
2ay(s)
.
Considerando, tamb´em, o caso em que H = 0, e a tomando a curva geratriz da superf´ıcie
parametrizada pelo comprimento de arco, obtemos
H =
1
2
˜y

(x)
(1 + ˜y
(x)
2
)
3/2
1
˜y(x)(1 + ˜y
(x)
2
)
1/2
.
44
Fazendo H = 0 em (2.20), obtemos
˜y

(x)
1 + ˜y
(x)
2
=
1
˜y(x)
.
Definindo u(x) = ˜y
(x), obtemos ˜y

(x) =
du
dx
=
du
d˜y
˜y
(x) =
du
d˜y
u. Substituindo este
resultado na ´ultima equa¸ao, obtemos
du
d˜y
u
1 + ˜u
2
=
1
˜y
,
que possui y = c(1+u
2
) como solu¸ao, onde c = 0 ´e uma constante. Da´ı ˜y
=
y
c
2
1,
cuja solu¸ao ´e y = ccosh
x
c
+ ˜c
, ou seja, a caten´aria. Reciprocamente, se a curva gera-
triz de uma superf´ıcie rotacional S satisfaz (2.20), ou ´e uma caten´aria, pelos alculos da
se¸ao anterior conclu´ımos que S possui curvatura edia constante.
Teorema 2.2. (Delaunay) Uma superf´ıcie rotacional de curvatura edia constante ´e
obtida pela rota¸ao da roulette de uma onica.
Demonstra¸ao: Pela Proposi¸ao (2.7) a curva geratriz de S satisfaz
y
2
± 2ay
dx
ds
± b
2
= 0, ()
onde a e b ao constantes. As superf´ıcies rotacionais cujas geratrizes satisfazem (*) ao as
geradas pelas roulettes das onicas como visto nas Proposi¸oes 2.1, 2.4, 2.6. Concluindo
assim a prova do Teorema de Delaunay.
As superf´ıcies rotacionais de curvatura edia constante ao nula ao ditas Superf´ıcies
de Delaunay.
45
Figura 2.13: As roulettes de Delaunay
46
Figura 2.14: As superf´ıcies de Delaunay com H = 0
Cap´ıtulo 3
Classifica¸c˜ao das Superf´ıcies de
Rota¸c˜ao Completas Tipo Delaunay
3.1 Condi¸oes para Existˆencia de Superf´ıcies
de Rota¸ao Tipo Delaunay
No eculo passado, mais precisamente no ano de (1841), C. Delaunay [?] descobriu e
classificou as sup erf´ıcies de rota¸ao com curvatura edia constante. Mais de um eculo
depois, (1990) N. Kapouleas [?] construiu outros exemplos de superf´ıcies propriamente
mergulhadas, de topologia finita e de curvatura edia constante. Ricardo e Toubiana
consideraram superf´ıcies M de classe C
2
R
3
orienaveis por um campo de vetores
normais unit´arios N em que a curvatura m´edia H = H(N) e a curvatura de Gauss K
satisfazem uma rela¸ao da forma:
H = f(H
2
K), (3.1)
onde f ´e uma fun¸ao de classe C
1
no intervalo [0, ). Supomos ainda que f verifica a
rela¸ao:
t [0, ), 4t(f
(t))
2
< 1. (3.2)
Neste caso, diremos que f ´e uma fun¸ao el´ıptica. Se uma superf´ıcie M satisfaz a rela¸ao
(3.1), onde f ´e uma fun¸ao el´ıptica, diremos que M ´e uma superf´ıcie especial. Al´em disso,
diremos que M est´a dentro da classe de f.
47
48
Quando f(0) = 0 a teoria de superf´ıcies especiais possuem princ´ıpios e propriedades
equivalentes `a teoria de superf´ıcies com curvatura m´edia constante ao nula. Por exemplo,
as superf´ıcies especiais satisfazem o seguinte princ´ıpio do aximo (ver [?]). Consideremos
duas superf´ıcies M
1
e M
2
tangentes num ponto interior P com M
1
acima de M
2
numa
vizinhan¸ca de P . Supomos que M
1
e M
2
verificam a mesma rela¸ao 3.1 em rela¸ao
a mesma fun¸ao el´ıptica f, e com a mesma orienta¸ao normal N, nestas condi¸oes as
superf´ıcies ao iguais numa vizinhan¸ca de P .
Quando f(0) = 0 diremos que M ´e uma superf´ıcie especial tipo curvatura edia
constante ou simplesmente que M ´e uma superf´ıcie especial. Mais ainda, se M ´e uma
superf´ıcie de rota¸ao completa diremos que M ´e uma superf´ıcie do tipo Delaunay.
As superf´ıcies especiais completas de rota¸ao verificando
2aH + K = b, com a, b > 0,
foram tratadas em [?]. Podemos enunciar teoremas do tipo Hopf [?], ou Alexandrov [?],
para as superf´ıcies especiais. Se M ´e uma superf´ıcie especial compacta sem bordo imersa
em R
3
do mesmo tipo topol´ogico que a esfera, enao M ´e necessariamente a esfera de raio
1
| f(0) |
, ver [?]. Ainda mais, Meeks mostra que a ´unica superf´ıcie especial compacta e
mergulhada ´e a esfera na classe de f, considerando a esfera de raio
1
| f(0) |
. Existe outro
resultado falando de superf´ıcies especiais que ´e an´alogo ao resultado de uma superf´ıcie
com curvatura m´edia constante.
Se M ´e uma superf´ıcie especial completa com curvatura de Gauss identicamente nula,
M ter´a que ser um cilindro reto.
Neste cap´ıtulo faremos o estudo detalhado das superf´ıcies Tipo Delaunay.
Nosso objetivo ´e mostrar que existe uma ´unica superf´ıcie de rota¸ao Tipo Delaunay.
No Teorema 3.1 provaremos a existˆencia de uma superf´ıcie de rota¸ao completa Tipo
Delaunay, onde a curva que gera a superf´ıcie ´e uma curva peri´odica. Finalmente no
Teorema 3.2 provaremos que toda superf´ıcie de rota¸ao completa tipo Delaunay ´e do tipo
da obtida no Teorema 3.1.
Todas as superf´ıcies consider´aveis ser˜ao em cada caso conexas e de classe C
2
. Lembre-
mos que suporemos sempre que a fun¸ao f ´e el´ıptica, ou seja que f verifica a desigualdade
49
(3.2), igualmente f(0) = 0, o caso f(0) = 0 a foi tratado pelos autores em [?](ver tamb´em
[?]). Igualmente todas as superf´ıcies de rota¸ao ter˜ao sempre eixo x como central.
Consideremos inicialmente a seguinte defini¸ao:
Defini¸ao 3.1. Chamaremos F a fun¸ao definida por:
F (α, β, δ) =
δ
2(1 + β
2
)
3
2
1
2α(1 + β
2
)
1
2
f
δ
2(1 + β
2
)
3
2
+
1
2α(1 + β
2
)
1
2
2
,
onde α > 0, β R e δ R.
Observamos que como f ´e el´ıptica, para todo α
0
> 0, β
0
R, δ
0
R temos
F
δ
(α
0
, β
0
, δ
0
) > 0. De fato,
F
δ
=
1
2C
3
2
f
δ
2C
3
2
+
1
2αC
1
2
2
2
δ
2C
3
2
+
1
2αC
1
2
1
2(1 + β
2
)
3
2
=
1
2(1 + β
2
)
3
2
(1 f
(t
2
)2t) > 0,
onde C = 1 + β
2
e t =
δ
2(1 + β
2
)
3
2
+
1
2α(1 + β
2
)
1
2
.
Em consequˆencia, F ´e estritamente crescente com respeito a terceira vari´avel.
Para fixar as nota¸oes provaremos o seguinte Lema.
Lema 3.1. Seja y : (a, b) (0, ) uma fun¸ao estritamente positiva de classe C
2
. Seja
M a superf´ıcie obtida pela rota¸ao do gr´afico de y com respeito ao eixo x. Sejam λ
1
, λ
2
e H respectivamente as curvatura principais e a curvatura edia de M calculada com re-
speito ao campo de vetores normal N de M apontado na dirao oposta ao eixo de rota¸ao,
o eixo dos x (chamaremos este campo de campo normal exterior). Nestas condi¸oes temos:
λ
1
=
y

(1 + (y
)
2
)
3
2
e λ
2
=
cos(θ)
y
=
1
y(1 + (y
)
2
)
1
2
,
onde θ ´e o ˆangulo que faz o eixo x com a tangente do gr´afico de y,
π
2
θ
π
2
.
Em consequˆencia M ´e uma superf´ıcie especial (isto ´e, satisfaz H(N) = f(H
2
K)) se, e
50
somente se, y verifica a equa¸ao diferencial.
y

2(1 + (y
)
2
)
3
2
1
2y(1 + (y
)
2
)
1
2
= f
y

2(1 + (y
)
2
)
3
2
+
1
2y(1 + (y
)
2
)
1
2
2
, (3.3)
ou seja F (y, y
, y

) = 0.
O Lema 3.1 ´e uma simples consequˆencia das propriedades de superf´ıcie de rota¸ao.
Demonstra¸ao: Seja ψ(x, θ) = (x, y(x) cos(θ), y(x) sin(θ)), a < x < b, 0 θ 2π, uma
parametriza¸ao do gr´afico de y em torno do eixo x. Nestas condi¸oes temos:
ψ
x
= (1, y
(x) cos(θ), y
(x) sin(θ)),
ψ
θ
= (0, y(x) sin(θ), y(x) cos(θ)),
ψ
xx
= (0, y
(x) cos(θ), y

(x) sin(θ)),
ψ
θθ
= (0, y
(x) cos(θ), y(x) sin(θ )),
ψ
= (0, y
(x) sin(θ), y
(x) cos(θ)).
Como
EG F
2
=| ψ
x
ψ
θ
|; E = ψ
x
, ψ
x
;
F = ψ
x
, ψ
θ
; G = ψ
θ
, ψ
θ
;
e =
(ψ
x
, ψ
θ
, ψ
xx
)
| ψ
x
ψ
θ
|
; f =
(ψ
x
, ψ
θ
, ψ
)
| ψ
x
ψ
θ
|
e g =
(ψ
x
, ψ
θ
, ψ
θθ
)
| ψ
x
ψ
θ
|
,
com (ψ
x
, ψ
θ
, ψ
) representando o determinante, segue que:
e =
y

(1 + (y
)
2
)
1
2
; f = 0; g =
y
(1 + (y
)
2
)
1
2
;
E = 1 + (y
)
2
; F = 0 e G = y
2
.
Ora, como M ´e uma superf´ıcie de rota¸ao temos que:
λ
1
=
e
E
=
y

(1 + (y
)
2
)
3
2
e
51
λ
2
=
g
G
=
cos(θ)
y
=
1
y(1 + (y
)
2
)
1
2
.
Para mostrarmos que y satisfaz a equa¸ao (3.3) basta substituir λ
1
e λ
2
em H = f(H
2
K).
Observao 1: No Lema 3.1, λ
1
´e uma das curvaturas principais da superf´ıcie de
rota¸ao M, ´e igualmente a curvatura do gr´afico de y, ou seja a curva que descreve M.
Por conven¸ao ao longo deste trabalho, se M ´e uma superf´ıcie de rota¸ao, λ
1
ser´a sempre
a curvatura da curva que descreve M e λ
2
a outra curvatura principal de M. Al´em disso
as curvaturas principais ser˜ao sempre calculadas com a mesma orienta¸ao normal que foi
adotada no Lema 3.1, a menos que seja mencionado o contr´ario.
Corol´ario 3.1. Nas hip´oteses do Lema 3.1, se o gr´afico de y possui um ponto horizontal,
ou seja, se existe x
0
R, tal que y
(x
0
) = 0, o gr´afico de y ´e sim´etrico com respeito ao
reta vertical x = x
0
. Em consequˆencia a superf´ıcie de rota¸ao M gerada pelo gr´afico de y
´e sim´etrico com respeito ao plano vertical x = x
0
.
Demonstra¸ao: O Teorema da Fun¸ao Impl´ıcita e a observao seguinte `a Defini¸ao
3.1 mostram que pr´oximo de x
0
a equa¸ao 3.3 ´e equivalente a dizer que y ´e solu¸ao
de uma equa¸ao diferencial de segunda ordem. De fato, F (y(x
0
), y
(x
0
), y

(x
0
)) = 0 e
F ´e crescente com respeito a terceira vari´avel, logo existe uma vizinhan¸ca U do ponto
(y(x
0
), 0) em R
2
, de uma vizinhan¸ca V de y

(x
0
) em R e de uma ´unica fun¸ao h de classe
C
1
de U em V verificando:
h(y(x
0
), 0) = y

(x
0
) e (α, β) U, δ V, F (α , β, δ) = 0 δ = h(α, β).
Consideremos a equa¸ao diferencial
y

= h(y, y
), com y(x
0
) = τ e y
(x
0
) = 0. (3.4)
Conclu´ımos observando que a fun¸ao z(x) = y(2x
0
x) ´e solu¸ao da mesma equa¸ao
diferencial com as mesmas condi¸oes iniciais. De fato, z(x
0
) = y(2x
0
x
0
) = y(x
0
);
z
(x
0
) = y
(2x
0
x
0
) = y
(x
0
) = 0; z

(x
0
) = y

(2x
0
x
0
) = y

(x
0
) = h(y, y
). Por fim
´e so notar que z(x) satisfaz a equa¸ao (3.3).
O seguinte resultado, caracteriza a esfera de raio
1
| f(0) |
como sendo a ´unica superf´ıcie
especial (relativamente `a f) de rota¸ao com um ponto umb´ılico.
52
Lema 3.2. Consideremos uma superf´ıcie especial de rota¸ao M, se M possui um ponto
umb´ılico ent˜ao M ´e obrigatoriamente parte de uma esfera de raio
1
| f(0) |
. Em con-
sequˆencia, se M ao ´e uma superf´ıcie esf´erica, a fun¸ao (λ
1
λ
2
) ao ´e nula e tem um
sinal constante em M.
Demonstra¸ao: Suponhamos para come¸car que M possui um ponto umb´ılico P fora
do eixo de rota¸ao, isto ´e, o eixo x. Seja γ a curva plana que gera M e passa por P .
Notamos que a tangente de γ em P ao ´e ortogonal ao eixo de rota¸ao caso contr´ario, a
curvatura principal λ
2
(P ) de M em P ser´a nula e do fato que P ´e um ponto umb´ılico a
outra curvatura principal λ
1
(P ) ser´a igualmente nula. Da´ı f(0) = 0, o que contradiz a
hip´otese f (0) = 0.
Deduzimos disto que pr´oximo de P a curva γ ´e o gr´afico de uma fun¸ao y de x e para
uma transla¸ao podemos supor que P ´e um ponto de abscissa 0, ou seja P = (0, y(0)).
Como no Corol´ario 3.1, e utilizando o Teorema da Fun¸ao Impl´ıcita, podemos mostrar
que, pr´oximo de x = 0, y ´e a solu¸ao de uma equa¸ao diferencial de segunda ordem,
ϕ

= h(ϕ, ϕ
), com as condi¸oes iniciais ϕ(0) = y(0) e ϕ
(0) = y
(0). Al´em disso, a
hip´otese λ
1
(P ) = λ
2
(P ) implica que o centro de curvatura Q de γ em P se encontra no
eixo dos x, tal que a distˆancia de P a Q ´e igual ao raio de curvatura de γ em P, que
´e
1
| λ
1
(P ) |
. Finalmente, do fato que M ´e uma superf´ıcie especial e que P ´e um ponto
umb´ılico deduzimos que:
λ
1
(P ) = λ
2
(P ) = f(0).
Isto nos permite concluir que a fun¸ao z(x) cuja gr´afico ´e a semi-circunferˆencia orto-
gonal ao eixo x de centro Q e raio r =
1
| λ
1
(P ) |
=
1
| f(0) |
´e solu¸ao da mesma equa¸ao
diferencial y com as mesmas condi¸oes iniciais no ponto x = 0, sendo assim M ´e esf´erica.
Supomos agora que M possui um ponto umb´ılico P no eixo dos x. Chamaremos de
novo γ a curva plana que gera M passando por P . Como supomos M de classe C
2
, γ
ter´a que ser perpendicular ao eixo x no ponto P . O mesmo tipo de racioc´ınio aplicado
anteriormente mostra enao que M ´e esf´erica.
Observao: O Lema 3.2 mostra que se M ´e uma superf´ıcie especial de rota¸ao ao
esf´erica enao M ao possui pontos umb´ılicos. Em consequˆencia, se γ ´e a curva plana que
53
gera M, todo ponto de γ ter´a seu centro fora do eixo x.
Lema 3.3. Seja M uma superf´ıcie especial de rota¸ao ao-esf´erica gerada pelo gr´afico de
uma fun¸ao y de classe C
2
definida em um intervalo (a, b), −∞ a < b . Sejam λ
1
e λ
2
as curvaturas principais de M calculadas com respeito ao campo normal exterior, ou
seja, no sentido oposto ao eixo de rota¸ao. Ent˜ao temos que:
x (a, b), λ
2
(x) =
y
y
(λ
1
λ
2
).
Em consequˆencia, se y
possui um sinal constante ent˜ao as fun¸oes λ
1
e λ
2
ao estrita-
mente mon´otonas no intervalo (a, b) com sentido de crescimento oposto.
Demonstra¸ao: Como
λ
2
=
1
y(1 + (y
)
2
)
1
2
, segue que
λ
2
(x) =
y
(1 + (y
)
2
)
1
2
y
2
(1 + (y
)
2
)
+
2yy
y

2(1 + (y
)
2
)
1
2
(y
2
(1 + (y
)
2
))
,
ou seja,
λ
2
(x) =
y
y
1
y(1 + (y
)
2
)
1
2
+
y

(1 + (y
)
2
)
3
2
,
o que implica em
λ
2
(x) =
y
y
1
y(1 + (y
)
2
)
1
2
+
y

(1 + (y
)
2
)
3
2
=
y
y
(λ
1
λ
2
).
O ´unico ponto ao trivial `a mostrar ´e que λ
1
(x) e λ
2
(x) ao igualmente mon´otonas
com sentido de crescimento oposto. Para isso ´e suficiente mostrar que λ
1
(x) possui sinal
oposto ao de λ
2
(x) para todo x em (a, b). Utilizando o fato que M ´e uma superf´ıcie
especial temos que:
x (a, b),
λ
1
(x)
2
+
λ
2
(x)
2
= f
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
2
.
Derivando a ´ultima igualdade obtemos:
λ
1
(x)
2
+
λ
2
(x)
2
= f
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
2
2
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
,
54
logo, temos que:
λ
1
(x)
2
+
λ
2
(x)
2
=
f
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
2
2
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
.
Como f ´e el´ıptica temos:
λ
1
(x)
2
+
λ
2
(x)
2
<
λ
1
(x)
2
λ
2
(x)
2
,
logo,
|λ
1
(x) + λ
2
(x)| < |λ
1
(x) λ
2
(x)|. Portanto, λ
1
(x) tem sinal oposto ao de λ
2
(x).
Podemos agora enunciar as condi¸oes necess´arias para a existˆencia de superf´ıcies es-
peciais.
Proposi¸ao 3.1. Suponha que existe uma superf´ıcie especial M completa de rota¸ao e
mergulhada tal que a curva geratriz γ possui um m´ınimo local em um ponto (0, τ), τ > 0.
Nestas condi¸oes a curva γ ´e um gr´afico que est´a acima do eixo de rota¸ao. Aem disso,
f e τ verificam necessariamente:
(a)
1
2τ
f
1
2τ
2
0;
(b) lim
t+
(t f(t
2
)) >
1
τ
;
(c) lim
t→−∞
(t f(t
2
)) < 0;
(d) f(0) < 0, e a rela¸ao (a) ´e uma igualdade se, e somente se, M ´e o cilindro especial
da classe.
Demonstra¸ao: Suponhamos que uma tal superf´ıcie M existe. Chamaremos γ a
curva plana que gera M. Por hip´otese γ tem um m´ınimo local no ponto (0, τ) com τ > 0.
Vamos come¸car mostrando que γ ´e um gr´afico. Supomos o contr´ario, γ possui um ponto
P
1
onde a tangente ´e vertical, ou seja perpendicular ao eixo dos x. Como γ ´e sim´etrica
com respeito a reta x = 0 (ver Corol´ario 3.1 ), podemos supor que x
1
abscissa de P
1
´e
positiva, x
1
> 0. Suporemos igualmente que P
1
´e um primeiro ponto vertical de abscissa
55
positiva. Observemos que se γ possu´ısse um outro ponto horizontal (x
0
, y
0
), x
0
> 0, entre
o m´ınimo P = (0, τ) e o ponto P
1
, a curva γ ser´a igualmente sim´etrica com respeito a
reta vertical x = x
0
(Ver Corol´ario 3.1 ). Desse fato γ seria um gr´afico no eixo dos x e
ao teria ponto vertical, o que contradiz a existˆencia de P
1
. Deduzimos ent˜ao que entre
os ponto P e P
1
, γ ´e o gr´afico de uma fun¸ao estritamente crescente e convexa.
Observamos igualmente que no ponto P
1
a curvatura principal λ
2
de M correspondente
a dire¸ao perpendicular `a γ ´e nula visto que a tangente de γ neste ponto ´e ortogonal ao
eixo dos x (ver Lema 3.1 ). As duas observoes precedentes mostraram que no ponto P
1
a curvatura λ
1
de γ ´e estritamente positiva visto que temos em cada ponto de γ
λ
1
2
+
λ
2
2
= f
λ
1
2
+
λ
2
2
2
,
com f (0) = 0.
Desse fato, a curva γ ´e tangente de um lado da reta x = x
1
. Observamos que γ ao
pode mais interceptar o eixo x = 0 depois de P
1
. Com efeito, supomos por outro lado que
esta intersec¸ao se desse com um ˆangulo reto, γ seria uma curva de Jordan mergulhada
gerando uma superf´ıcie especial compacta e mergulhada de grau 1 o que, como mostra o
Princ´ıpio do aximo isto ´e absurdo. Por outro lado, se esta intersec¸ao ao se faz com
um ˆangulo reto, γ ao seria mergulhada (visto que γ ´e sim´etrica com respeito ao eixo
x = 0), que mostra a afirma¸ao. Al´em disso γ ao pode ter ponto horizontal depois P
1
entre os sentidos x = x
1
e x = 0, caso contr´ario, γ seria sim´etrico com respeito a vertical
passando por este novo ponto e ao ser´a enao mergulhada. Sai dessas observoes que
a ´unica possibilidade ´e que γ possui outro ponto vertical P
2
depois de P
1
com x
2
< x
1
,
onde x
2
´e a abscissa de P
2
. Supomos que P
2
´e o primeiro ponto vertical de γ depois de P
1
.
A curva γ ser´a, entre esses dois pontos, o gr´afico de uma fun¸ao estritamente mon´otona
ainda assim o Lema 3.3 mostra que entre esses dois pontos a curvatura principal λ
2
´e uma
fun¸ao estritamente mon´otona. Chegar´ıamos assim a uma contradi¸ao visto que, como a
observamos a curvatura λ
2
´e nula em cada ponto vertical.
Mostramos enao que γ ao possui ponto vertical e desse fato ´e o gr´afico de uma fun¸ao
y. Nos resta observar que o caso seguinte ´e igualmente imposs´ıvel:
lim
xX
y(x) = +,
56
com 0 < X +. Caso contr´ario, ter´ıamos
lim
xX
λ
1
(x) = lim
xX
λ
2
(x) = 0,
assim f(0) = 0, o que ´e falso. Por consequˆencia, γ ´e um gr´afico que est´a acima do eixo
de rota¸ao.
Mostraremos agora as rela¸oes (a) (d). A curva γ ´e um gr´afico de uma fun¸ao y(x)
de classe C
2
definida em R verificando F(y, y
, y

) = 0 (ver Lema 3.1 ). Em particular
para x = 0 teremos:
F (τ, 0, y

(0)) = 0.
Relembremos que como x = 0 ´e um m´ınimo local de y, a curvatura de γ perto de
x = 0 ´e direcionada para cima, ou seja que y

(x) 0 para x perto de zero. Utilizando o
fato que F (α, β, δ) ´e uma fun¸ao estritamente crescente com respeito a ´ultima vari´avel δ,
deduzimos que F (τ, 0, 0) 0, ou seja
1
2τ
f
1
2τ
2
0,
o que mostra (a). Mostraremos a desigualdade (b). Conservando τ e observando que a
igualdade F (τ, 0, y

(0)) = 0 ´e equivalente a:
y

(0)
2
+
1
2τ
f
y

(0)
2
+
1
2τ
2
=
1
τ
,
ou seja,
1
τ
= t
0
f (t
2
0
), onde t
0
=
y

(0)
2
+
1
2τ
. Desta maneira temos t
0
> 0 e utilizando
o fato que a fun¸ao h
1
(t) = t f (t
2
) ´e estritamente crescente (visto que f ´e el´ıptica)
obtemos:
lim
t+
(t f(t
2
)) >
1
τ
,
e (b) est´a demonstrado. Temos ainda que
lim
t→−∞
(t f(t
2
)) = lim
t+
(t f(t
2
)),
e utilizando o fato que a fun¸ao h
1
(t) = t + f(t
2
) ´e estritamente crescente conclu´ımos:
lim
t→−∞
(t f(t
2
)) <
1
2τ
f
1
2τ
2
< 0,
57
onde temos a desigualdade (c).
Mostraremos a ´ultima desigualdade (d). Para isto observamos que γ tem necessari-
amente um ponto de inflex˜ao Q depois do m´ınimo P. No ponto Q temos λ
1
(x) = 0 e assim
λ
2
2
f
λ
2
2
2
= 0,
com λ
2
< 0.
Utilizando o fato que a fun¸ao h
1
(t) = t f(t
2
) ´e estritamente crescente conclu´ımos
f(0) < 0. Supomos para terminar que o m´ınimo local τ de γ satisfa¸ca a igualdade:
1
2τ
f
1
2τ
2
= 0. (3.5)
Neste caso a fun¸ao constante ϕ(x) = τ ´e solu¸ao da equa¸ao (3.3) e deduzimos que
o cilindro C de raio τ em torno do eixo dos x ´e uma superf´ıcie especial (com respeito a
f). Desse fato as fun¸oes y e ϕ satisfazem a mesma equa¸ao diferencial com as mesmas
condi¸oes iniciais no ponto x = 0. Conclu´ımos que estas fun¸oes ao iguais perto de x = 0
e para uma vizinhan¸ca temos, M = C. De maneira inversa se M ´e cilindro mostramos
como anteriormente que seu raio r, tem que satisfazer a igualdade (3.5). Conclu´ımos a´ı
que o m´ınimo local τ de M satisfaz (3.5) se, e somente se, M ´e um cilindro.
Observao 3: Consideremos uma fun¸ao el´ıptica f verificando:
f(0) < 0 e lim
t→−∞
(t f(t
2
)) < 0.
Neste caso do fato que a fun¸ao h
1
(t) = t f((t)
2
) ´e estritamente crescente e al´em
disso:
h
1
(0) = f(0) > 0 e lim
t→−∞
(h
1
(t)) < 0,
conclu´ımos que existe um ´unico real positivo r, r > 0, verificando h
1
1
2r
= 0, ou seja,
1
2r
f
1
2r
2
= 0.
58
Desse fato ao existe al´em de um ´unico cilindro reto esp ecial e seu raio ´e inteiramente
determinado pela igualdade anterior. Isto mostra, usando a Proposi¸ao 3.1, que existe
uma superf´ıcie especial completa de rota¸ao, mergulhada, gerada por uma curva que
possui um m´ınimo local se, e somente se, existe um cilindro reto especial. Al´em disso,
utilizando o fato que a fun¸ao h
1
´e estritamente crescente, ao importando qual m´ınimo
local τ de uma tal superf´ıcie satisfazendo a desigualdade τ r, com igualdade se, e
somente se, esta superf´ıcie ´e um cilindro de raio r.
Podemos agora mostrar a existˆencia de ondul´oides especiais sob certas condi¸oes sobre
f.
3.2 Superf´ıcies de Rota¸ao Tipo Delaunay
Teorema 3.1. (Existˆencia de ondul´oides especiais) Seja f uma fun¸ao el´ıptica
satisfazendo:
f(0) < 0 e lim
t→−∞
(t f(t
2
)) < 0.
Seja τ > 0 um umero real verificando:
lim
t+
(t f(t
2
)) >
1
τ
e
1
2τ
f
1
2τ
2
< 0.
Nestas condi¸oes, existe uma ´unica superf´ıcie especial de rota¸ao O
τ
, completa e mergu-
lhada, tal que a curva geratriz γ
τ
´e o gr´afico de uma fun¸ao y
τ
de classe C
2
definida em
R, com um m´ınimo τ em 0. Al´em disso, γ
τ
´e uma curva geometricamente an´aloga aos
ondul´oides de Delaunay, mais precisamente existe um real T
τ
> 0 tal que:
a) x R, y
τ
(x + T
τ
) = y
τ
(x);
b) γ
τ
´e sim´etrica com respeito as retas x = 0 e x =
T
τ
2
;
c) entre 0 e
T
τ
2
a fun¸ao y
τ
´e estritamente crescente com um aximo R
τ
em
T
τ
2
;
d) entre 0 e
T
τ
2
a curva γ
τ
tem um ´unico ponto de inflex˜ao x
τ
;
59
e) o ponto de inflex˜ao x
τ
e o aximo R
τ
verificam:
0 < y
τ
(x
τ
) < r e r < R
τ
<
1
f(0)
,
onde, r ´e o raio do ´unico cilindro especial e
1
f(0)
´e o raio da ´unica esfera especial
relativamente a f.
Demonstra¸ao: Iremos construir a curva γ
τ
. As condi¸oes em τ implicam a desigual-
dade seguinte
F (τ, 0, 0) =
1
2τ
f
1
2τ
2
< 0.
Al´em disso,
lim
δ+
F (τ, 0, δ) = lim
δ+
δ
2
1
2τ
f
δ
2
1
2τ
2

ou seja,
lim
δ+
F (τ, 0, δ) =
1
τ
+ lim
δ+
(t f(t
2
)) >
1
τ
+
1
τ
= 0,
onde colocamos t =
δ
2
+
1
2τ
. Deduzimos que existe um ´unico real positivo, τ

> 0,
verificando:
F (τ, 0, τ

) = 0.
Podemos ent˜ao aplicar o Teorema da Fun¸ao Impl´ıcita e obter assim a existˆencia de
uma vizinhan¸ca U do ponto (τ, 0) em R
2
, de uma vizinhan¸ca V de τ

em R e de uma
´unica fun¸ao h de classe C
1
em U em V verificando:
h(τ, 0) = τ

e (α, β) U, δ V, F(α, β, δ) = 0 δ = h(α, β).
Consideremos a equa¸ao diferencial
y

= h(y, y
), com y(0) = τ e y
(0) = 0. (3.6)
O Teorema de Picard afirma que existe uma ´unica solu¸ao y
τ
desta equa¸ao, ela ´e
definida num intervalo da forma (x
1
, x
1
), com x
1
> 0. Observemos que (0, τ) ´e um
m´ınimo local de y
τ
visto que y

τ
(0) = τ

> 0. Al´em disso, pelo Corol´ario 3.1 temos que
60
y
τ
´e sim´etrico com respeito a reta x = 0. Iremos agora prolongar y
τ
depois de x
1
, por
simetria prolongaremos da mesma forma antes de x
1
.
Supomos que a derivada y
τ
se anula entre 0 e x
1
e chamaremos x
0
o primeiro zero
de y
τ
. Desse fato, γ
τ
, o gr´afico de y
τ
, ´e sim´etrico com respeito a reta x = x
0
e utilizando
a primeira simetria o gr´afico de y
τ
pode ser prolongado numa curva completa usando a
transla¸ao horizontal do vetor (2x
0
, 0). A fun¸ao y
τ
pode ser ent˜ao expandida na reta R
toda numa fun¸ao peri´odica de per´ıodo (2x
0
). Observamos, al´em disso, que entre 0 e x
0
a derivada y
τ
´e estritamente positiva, assim y
τ
tem um aximo em x = x
0
. Observamos
igualmente que γ
τ
ter´a que possuir necessariamente um ponto de inflex˜ao entre 0 e x
0
,
e como a fun¸ao y
τ
´e mon´otona neste intervalo, a curvatura λ
1
de y
τ
´e estritamente
mon´otona (ver Lema 3.3 ). Conclu´ımos da´ı que γ
τ
tem um ´unico ponto de inflex˜ao entre
0 e x
0
e assim, fazendo T
τ
= 2x
0
, a curva y
τ
possui todas as propriedades de ( a) (d)
indicadas no enunciado do Teorema 3.1, com exce¸ao das desigualdades (e) a respeito do
aximo R
τ
e do ponto de inflex˜ao x
τ
de y
τ
que mostraremos no fim da demonstra¸ao.
´
E suficiente enao mostrar que y
τ
possui um zero num outro ponto que ao seja o zero.
Para isso suponhamos que y
τ
(x) > 0 para todo x entre 0 e x
1
. Suponhamos, al´em disso,
que y

τ
(x) > 0 entre 0 e x
1
. Nesse caso y
τ
e y
τ
ao estritamente crescente, positivos, e
possuindo enao um limite positivo em x
1
que chamaremos respectivamente y
1
e y
1
. Como
y
τ
´e solu¸ao de (3.6), ela verificar´a igualmente a igualdade equivalente:
1
2(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
=
y

τ
2(1 + (y
τ
)
2
)
3
2
+
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
f
y

τ
2(1 + (y
τ
)
2
)
3
2
+
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
2
,
ou seja,
1
2(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
= h
1
(t), colocando t =
y

τ
2(1 + (y
τ
)
2
)
3
2
+
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
e
h
1
(t) = t f(t
2
). Utilizando o fato que t ´e positivo e que h
1
(t) ´e uma fun¸ao crescente
obtemos:
x (0, x
1
),
1
2(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
> h
1
(0) = f(0) > 0.
Deduzimos que os limites de y
τ
e y
τ
em x
1
ao finitos. Observamos que por con-
tinuidade, e do fato que F ´e crescente com respeito a ´ultima vari´avel, esses limites verifi-
61
cam:
F (y
1
, y
1
, 0) =
1
2y
1
(1 + (y
1
)
2
)
1
2
f
1
2y
1
(1 + (y
1
)
2
)
1
2
2
0.
Temos ainda,
lim
δ+
F (y
1
, y
1
, δ) = lim
δ+
(t f(t
2
)) + lim
xx
1
λ
2
(x).
Como a fun¸ao y
τ
´e crescente, a curvatura principal λ
2
(x) ´e estritamente crescente
(ver Lema 3.3 ) e conclu´ımos usando as hip´oteses sobre τ que
lim
δ+
F (y
1
, y
1
, δ) > 0.
Deduzimos do que passou, que existe um ´unico real positivo y

1
0, verificando
F (y
1
, y
1
, y

1
) = 0 e como anteriormente utilizando o Teorema da Fun¸ao Impl´ıcita podemos
estender y
τ
al´em de x
1
, at´e um real x
2
, com x
1
< x
2
.
Observemos agora que ao podemos estender y
τ
em (0, ) com as derivadas y
τ
e y

τ
estritamente positivas, caso contr´ario ter´ıamos:
lim
x+
(y
τ
(x)) = +.
Desse fato as curvaturas principais λ
1
e λ
2
da superf´ıcie especial O
τ
gerada pela revo-
lu¸ao do gr´afico de y
τ
tender´a a zero e f satisfar´a f(0) = 0, o que ´e falso.
Se y
τ
´e estritamente positivo percorrendo a extens˜ao de y
τ
, os resultados anteriores
nos mostram que devemos ter um ponto x
τ
, x
τ
> x
1
onde a segunda derivada se anula,
y

(x
τ
) = 0. Desse fato a curvatura λ
1
de γ
τ
se anula tamb´em. Observamos que temos:
x (0, x
τ
), y
τ
(x) > 0 e λ
1
(x) > 0 > λ
2
(x).
Deste fato, o Lema 3.3 permite concluir que a curvatura λ
1
(x) ´e uma fun¸ao estri-
tamente decrescente enquanto que y
τ
(x) ´e estritamente positivo. Deduzimos enao que
depois de x = x
τ
a curvatura λ
1
(x) ´e estritamente negativa da mesma forma que para a
fun¸ao y

τ
(x). Com os mesmos argumentos utilizados anteriormente mostraremos que y
τ
62
pode ser estendida sobre R. Al´em disso, utilizando o fato que λ
1
(x) ´e estritamente decres-
cente, enquanto que y
τ
(x) ´e positivo, podemos mostrar que y
τ
(x) ter´a de ter um outro
zero. Por consequˆencia conclu´ımos como no come¸co que γ
τ
, o gr´afico de y
τ
, possui as pro-
priedades (a)-(d) enunciadas. Agora o resta mostrar as desigualdades (e) considerando
o ponto de inflex˜ao y
τ
(x
τ
) e o aximo R
τ
de y
τ
.
No ponto x = x
τ
temos λ
1
= 0, a fun¸ao y
τ
verificar´a ent˜ao:
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
(x
τ
) f
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
2
(x
τ
)
= 0.
Al´em disso,
h
2
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
(x
τ
)
= 0,
com
h
2
(t) = t + f(t
2
).
Como a fun¸ao h
2
(t) ´e estritamente crescente e h
2
1
2r
= 0, conclu´ımos que
1
2r
=
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
(x
τ
), e assim:
y
τ
(x
τ
) < r.
No p onto de aximo, ou seja para x =
T
2
, temos F
R
τ
, 0, y

τ
T
2

= 0. Temos
ainda y

τ
T
2
< 0, e deduzimos que F (R
τ
, 0, 0) > 0, ou seja h
2
1
2R
τ
< 0.
Como anteriormente, do fato que a fun¸ao h
2
´e estritamente crescente e que
h
2
1
2r
= 0, conclu´ımos:
r < R
τ
.
Supomos para terminar que temos:
1
f(0)
R
τ
,
ou seja,
f(0)
1
y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
T
τ
2
.
63
Observemos que temos no ponto x = 0:
1
τ
=
1
y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
(0) > f(0),
visto que,
1
τ
1
2τ
f
1
2τ
2
> f(0).
Desse fato por continuidade existe um real x
0
0,
T
τ
2
tal que:
1
y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
(x
0
) = f(0).
Observemos para concluir que a fun¸ao W (a, b) = a + b f((a b)
2
) ´e estritamente
crescente com respeito as duas vari´aveis a e b, visto que f ´e uma fun¸ao el´ıptica. Ob-
servemos que temos:
W
1
2y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
1
2
(x
0
),
1
2y
τ
(1 + y
τ
)
2
)
1
2
(x
0
)
= 0.
Deduzimos necessariamente que:
y

τ
y
τ
(1 + (y
τ
)
2
)
3
2
(x
0
) = f(0),
e deste fato (x
0
, y
τ
(x
0
)) ´e um ponto umb´ılico de O
τ
o que ´e um absurdo, visto que O
τ
ao
´e esf´erico (ver Lema 3.2 ). Agora mostraremos a propriedade (e).
A unicidade de O
τ
proem da unicidade de solu¸oes de equa¸oes diferenciais com as
condi¸oes iniciais dadas.
Finalmente podemos enunciar um resultado de classifica¸ao para as superf´ıcies espe-
ciais Tipo Delaunay.
Teorema 3.2. (Classificao dos ondul´oides especiais) Seja f uma fun¸ao el´ıptica
e seja M uma superf´ıcie especial completa, mergulhada e de rota¸ao ao-esf´erica. Nessas
condi¸oes, M ´e necessariamente um dos ondul´oides especiais O
τ
dadas pelo Teorema 3.1.
Demonstra¸ao: Seja γ a curva plana que gera M. Observamos que γ ao pode cortar
o eixo de rota¸ao, o eixo dos x. Com efeito, esta intersec¸ao deveria ser ortogonal visto que
64
M ´e de classe C
2
, mais neste caso o princ´ıpio do aximo a respeito das superf´ıcies especiais
mostram que M ´e esf´erica, o que ´e falso. Podemos enao supor que γ se encontra no semi-
plano (x, y), y > 0. Observemos que usando a Proposi¸ao 3.1 e o Teorema 3.1 ´e suficiente
mostrar que γ possui um m´ınimo local. Supomos o contr´ario. Os mesmos argumentos
utilizados na Proposi¸ao 3.1 mostrariam que γ possuem um arco que ´e um gr´afico e que
converge decrescentemente a uma dire¸ao horizontal. Este arco ter´a ent˜ao que possuir
pontos onde a curvatura λ
1
´e positiva. Pelo Lema 3.3 temos que λ
1
´e crescente neste
arco, o que contradiz o fato que este arco assintota uma dire¸ao, concluindo a prova.
Conclus˜ao
Nesta disserta¸ao, observamos que para provar a existˆencia e unicidade de uma superf´ıcie
completa Tipo Delaunay foi necess´ario entender o Teorema de Delaunay, arios conceitos
que envolvem o estudo de curvas em R
3
e superf´ıcies de rota¸ao.
Nosso principal resultado foi conseguir provar a existˆencia de uma sup erf´ıcie de rota¸ao
que satisfizesse uma rela¸ao entre curvatura m´edia H = H(N) e a curvatura Gaussiana
K da seguinte forma:
H = f(H
2
K),
onde f ´e uma fun¸ao de classe C
1
no intervalo [0, ) e, al´em disso, vamos supor igual-
mente que f verifica a rela¸ao:
t [0, ), 4t(f
(t))
2
< 1.
A constru¸ao de superf´ıcies no Espa¸co Euclidiano satisfazendo certas propriedades
especiais ´e de grande interesse para o desenvolvimento da geometria e continua sendo
estudado por arios pesquisadores nos dias atuais.
65
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