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carne do Estado moderno” (MARX, 2005: 151). Marx
se pergunta se existe ou não, na Alemanha, a possibilidade positiva de emancipação. Uma
resposta positiva ao problema estaria, segundo Marx,
Na formação de uma classe que tenha cadeias radicais, de uma classe na sociedade civil que não seja
uma classe da sociedade civil, de um estamento que seja a dissolução de todos os estamentos, de uma
esfera que possua caráter universal porque seus sofrimentos são universais e que não exige uma
reparação particular porque o mal que lhe é feito não é um mal particular, mas o mal em geral, que já
não possa exigir um título histórico, mas apenas o título humano; de uma esfera que não se oponha a
conseqüências particulares, mas que se oponha totalmente aos pressupostos do sistema político alemão;
por fim, de uma esfera que não pode emancipar-se a si mesma nem se emancipar de todas as outras
esferas da sociedade sem emancipá-las a todas – o que é, em suma, a perda total da humanidade,
portanto, só pode redimir-se a si mesma por uma redenção total do homem. A dissolução da sociedade,
como classe particular, é o proletariado (MARX, 2005: 155-156).
Na Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, Marx interpreta o parágrafo 262 dos PDF
de Hegel
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, afirmando que o que serve de mediação para a relação entre o Estado, a família e
a sociedade civil são as circunstâncias, o arbítrio e a escolha própria da determinação, e que,
A razão do Estado nada tem a ver, portanto, com a divisão da matéria do Estado em família e sociedade
civil. O Estado provém delas de um modo inconsciente e arbitrário. Família e sociedade civil aparecem
como o escuro fundo natural donde se acende a luz do Estado. Sob a matéria do estado estão as funções
do estado, bem entendido, família e sociedade civil, na medida em que elas formam partes do Estado,
em que participam do estado como tal. [...] A família e a sociedade civil são apreendidas como esferas
conceituais do Estado (MARX, 2005: 29).
É nesse lugar, segundo Marx, que aparece o misticismo lógico, panteísta hegeliano.
Ou seja, a especulação hegeliana apresenta a família e a sociedade civil como momentos
secundários em relação ao Estado. Marx coloca em evidência não só a família e a sociedade
civil na composição do Estado, bem como as coloca como “força motriz”, fazendo a si
mesmas Estado. Mais uma vez, a especulação hegeliana mostra, segundo Marx, que
O sujeito é, aqui, ‘a necessidade na realidade’, a ‘Idéia em si mesma’; o predicado é a disposição
política e a constituição política. Em linguagem clara: a disposição política é a substância subjetiva do
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“A Ideía efetivamente real, o espírito que se divide a si próprio, como em sua finitude, nas duas esferas ideais
do seu conceito, a família e a sociedade civil-burguesa, a fim de ser, a partir da idealidae dessas esferas,
espírito real-efetivo infinito para si, reparte nessas esferas o material da sua realidade efetiva finita, os
indivíduos enquanto multidão, de modo que essa repartição aparece, no singular, mediada pelas
circunstâncias, pelo arbítrio e pela escolha própria da sua destinação” (HEGEL, PDF, § 262).