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de produção. A ampliação substancial do conceito de máquina permite a Morin
definir o átomo, os homens, as estrelas como máquinas. Máquina é toda a instância
criadora; a linguagem é máquina, o estado é máquina. As máquinas caracterizam-se
por “interações, reações, transações, retroações geram as organizações
fundamentais que povoam nosso universo, átomos e estrelas” (MORIN, 2003, p.
197). São bilhões de seres, chama a atenção Morin, não junções de elementos fixos,
organizações em repouso; estão em atividade permanente.
A idéia de produção, tornada prisioneira de sua conotação tecnoeconômica,
se tornou contrária á idéia de criação. Ora, é preciso restituir ao termo
produção seu significado pleno e diverso. Produzir, que significa
fundamentalmente, como acabamos de lembrar, conduzir ao ser ou à
existência, pode significar alternativamente: causar, determinar, ser a fonte
de, engendrar, criar. O termo produção guarda em seu significado o caráter
genésico das interações criadoras. Assim, as estrelas e os seres vivos são
seres poiéticos (eu usarei o termo poiésis toda vez que darei uma
conotação criadora ao termo produção): eles produzem ser e existência a
partir de materiais brutos. A geração de um ser por um outro ser é a forma
biológica final da poesia (MORIN, 2003, p. 200).
Para se acessar o pensamento tecnológico de Edgar Morin é fundamental ter-
se em mente a noção de máquina apresentada pelo autor (a qual já se fez menção
anteriormente), isto é, dispositivos responsáveis pela criação/produção que elevam
as potencialidades de realização das tarefas, diferentemente da noção de máquina
que tende naturalmente reduzir ao modelo da racionalidade. As máquinas
automatizadas, funcionalizadas, purgada de todas as desordens constituem-se num
dos desdobramentos possíveis do processo de desenvolvimento industrial.
O que é uma máquina? Podemos e devemos considerar nossas máquinas
artificiais como instrumentos fabricados (pelo homem, pela sociedade) e
cumprindo operações mecânicas. Dissociamos geralmente esses dois
traços, remetendo a máquina-instrumento ao homo faber e à sociedade
industrial e a máquina-mecânica à pratica do engenheiro. O átomo é um
quase-turbilhão particular. Tudo é turbulência, fluxo, chamas, colisões no
sol. Tudo está em ação no sol. A terra gira, convulsiona-se, racha-se,
endurece, amolece, umecta-se, seca, os fundos marinhos viram montanhas
niveladas e se tornam fundos marinhos; a superfície é regada, irrigada por
águas correntes, cingidas de ventos ascendentes, descendentes,
turbulentos, e toda vida que se imobiliza sobre esta terra vira cadáver. (...).
Os sóis são maquinas formidáveis ao mesmo tempo precisas, motrizes e
criadoras. Eles produzem átomos pesados, quer dizer, organizações
complexas, e irradiações, ou seja, alimento da vida. Resumindo, tudo o que
no cosmos é ordem e organização, tudo o que ainda produz mais ordem e
organização tem por fonte um sol (MORIN, 2003, pp.197-98).