Fotografia Panorâmica 69
Classificação de imagens
Classificação quando à necessidade da imagem: A imagem (esta imagem) é necessária?
O excesso de fotografias que nos devora
O tempo gasto para se ver uma imagem
talvez devesse ser proporcional ao tempo e
trabalho necessário para a produção da
imagem. A viagem de férias que produz
8000 fotografias, sugere que estas
fotografias possam ser vistas em alguns
minutos. Ficaremos com as imagens que
nos marcam. No padrão atual da
tecnologia, que permite produção superior
a 200 fotografias por dia, faz com que o
trabalho de fazer uma boa fotografia seja
trocado pelo trabalho da procura entre as
fotografias prontas, entre milhares de
fotografias que estão à disposição.
Esta profusão de imagens é problemática.
Cláudio de Moura Casto, no texto
Sociedade Interativa (CASTRO, 2007),
compara como era feita a fotografia por
Marc Ferrez no fim do século XIX, sobre
chapas de vidro, e a situação atual em que
200 fotografias/dia/fotógrafo é uma
situação normal. Para Cláudio de Moura
Castro, a vida toda não é mais reflexão e
escolha, e passa a ser uma questão de
tentativa e erro.
Substituímos pela iteração (ou seja, pela
ação reiterada de tentativa e erro) uma
busca rigorosa e reflexiva da solução
técnica ou estética. Tentamos até acertar.
Não pensamos muito, vamos fazendo
profusamente, na esperança de topar com
alguma coisa boa. É a "arte lotérica".Se
não der certo, tenta-se novamente. Sempre
houve busca iterativa e nem tudo hoje em
nossa sociedade é feito por esse método (e
bendito seja o computador em que
escrevo!). Mas os avanços tecnológicos e o
espírito dos tempos tiveram como efeito
aumentar a busca de soluções por esse
caminho, substituindo-se o foco, o
raciocínio, a concentração e a elaboração
intelectual.
Ao lado disso, o excesso de imagens a que
nos associamos, leva à iconofagia impura
que nos fala o Professor Norval Baitello.
Segundo Baitello, na iconofagia,
devoramos as imagens. Na iconofagia
impura, são as imagens que nos devoram.
Ao devorar as imagens, se não somos
capazes de digestão, de incorporar a
imagem, nós e que nos transformamos na
imagem. (BAITELLO, 2005:97).
Esta “Iconofagia” leva à perda de nós
mesmos junto com a perda de significado
das imagens, que se esgotam e nos
esgotam. Esta situação exige, e ao mesmo
tempo impede, uma organização. E a
organização poderia servir até para
esconder a imagem, dentro de um arquivo
organizado, para que ela não esteja sempre
presente. De forma semelhante ao que era
feito com as imagens de devoção, nas
igrejas (BELTING, 1996:183), em que se
guardavam as imagens para serem
mostradas apenas nas festas específicas de
cada santo, preservando a força da
imagem, de forma que a imagem não se
desgastasse pelo convívio, nem nos
consuma como nos conta Hans Belting em
seu livro ‘Likeness and Presence.’