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MÁRCIO WEISSHEIMER LAURIA
AVALIAÇÃO DOS LÍPIDES SÉRICOS
EM PACIENTES SUBMETIDOS A
TRANSPLANTE DE RIM-PÂNCREAS
OU PÂNCREAS ISOLADO E COM
ENXERTOS FUNCIONANTES
Faculdade de Medicina
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil
2007
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1
AVALIAÇÃO DOS LÍPIDES SÉRICOS
EM PACIENTES SUBMETIDOS A
TRANSPLANTE DE RIM-PÂNCREAS
OU PÂNCREAS ISOLADO E COM
ENXERTOS FUNCIONANTES
Dissertação apresentada no Programa de Pós-
Graduação de Clínica Médica da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre.
Área de concentração: Clínica Médica
Orientador: Prof. Dr. Antônio Ribeiro de Oliveira
Júnior
Co-Orientadora: Profa. Dra. Ângela Maria Quintão
Lana
Faculdade de Medicina
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil
2007
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Dr. Ronaldo Tadeu Pena
Pró-Reitor da Pós-graduação
Prof. Dr. Jaime Arturo Ramirez
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Dr. Carlos Alberto Pereira Tavares
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor
Prof. Dr. Francisco José Penna
Vice-Diretor
Prof. Dr. Tarcizo Afonso Nunes
Coordenador do Centro de Pós-graduação
Prof. Dr. Carlos Faria Santos Amaral
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA
Chefe do Departamento
Prof. Dr. Dirceu Bartolomeu Greco
Coordenador do Programa de Pós-graduação
Prof. Dr. Carlos Faria Santos Amaral
COLEGIADO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Dr. Carlos Faria Amaral (Coordenador)
Profª.Dr
a
. Maria da Consolação Vieira Moreira (Subcoordenadora)
Prof. Dr. Antônio Carlos Martins Guedes
Prof. Dr. Marcus Vinícius de Melo Andrade
Prof. Dr. Nilton Alves de Rezende
Profª .Dr
a
. Suely Meireles Rezende
Representante Discente: Elizabete Rosária de Miranda
3
Aos meus familiares, em especial: minha esposa,
Patrícia; minha mãe, Wania; meu pai, Márcio e
meu irmão, Marcelo; pelo amor, companheirismo,
incentivo, suporte e amizade.
4
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Antônio Ribeiro Oliveira Júnior, meu orientador, pelo total apoio,
amizade e exemplo profissional.
À Professora Ângela Maria Quintão Lana, minha co-orientadora, por todo o
suporte de conhecimento estatístico e metodológico.
Aos colegas da Unidade de Transplantes do Hospital Felício Rocho, por
tornarem este trabalho viável.
Aos colegas do Laboratório de Pesquisas em Endocrinologia da Faculdade de
Medicina UFMG, pelas discussões que muito acrescentaram a este trabalho.
Aos colegas do Serviço de Endocrinologia do Hospital Felício Rocho, pelo
incentivo e cooperação.
5
RESUMO
Fundamentação: O transplante de pâncreas, quando bem sucedido, restaura o
controle glicêmico em pacientes diabéticos com falência endócrina
pancreática.O transplante duplo rim-pâncreas propicia também a resolução da
insuficiência renal crônica. Esses procedimentos, todavia, requerem o uso
prolongado de drogas imunossupressoras. Todos esses são fatores que podem
modificar o perfil lipídico desses pacientes.
Objetivo: Estudar o perfil lipídico (colesterol total-CT, triglicérides-TG, colesterol
da lipoproteína de alta densidade-HDL-c, colesterol da lipoproteína de baixa
densidade-LDL-c e colesterol não HDL-NHDL-c) de pacientes com transplante
duplo rim-pâncreas (TDRP) ou a transplante de pâncreas isolado (TPI)
funcionantes, comparando-se os dados obtidos após um ano (T1) e dois anos
(T2) do transplante com aqueles do pré-operatório (T0).
Método: Os pacientes foram submetidos ao transplante no Hospital Felício
Rocho entre 2002 e 2005. Foram excluídos aqueles que apresentaram
diabetes após o transplante, creatinina sérica superior a 2mg/dl ou aqueles que
utilizaram drogas hipolipemiantes ou hipoglicemiantes. Todos os pacientes
seguiram protocolo de imunossupressão incluindo, inicialmente, tacrolimus,
micofenolato mofetil e glico-corticóide. Todavia, no momento da análise, cerca
de 20% não estavam mais em uso de glico-corticóide. Alternativamente, 5%
estavam em uso de sirolimus. Os lípides séricos, expressos em média ± erro
padrão, foram analisados utilizando-se o teste t de Student pareado,
considerando p<0,05 como significância estatística.
Resultados: Foram incluídos 62 pacientes submetidos a TDRP (45% mulheres
e 55% homens, idade média de 36,6±9,5 anos) e 17, a TPI (47% mulheres e 53
% homens, idade média de 34,8±9,9 anos). 53 pacientes completaram dois
anos de seguimento, sendo 42 com TDRP e 11 com TPI. As médias dos lípides
do grupo com TDRP em T1 foram menores que em T0, com exceção do HDL-
c. (CT= 208,1±7,5 x 176,4±5,0 mg/dl, p=0,0002; TG=142,0±8,0 x 110,8±7,6
mg/dl, p=0,003; LDL-c=131,1±6,8 x 106,7±4,6 mg/dl, p=0,0004; NHDL-
c=161,4±7,0 x 129,0±4,8 mg/dl, p=0,0002; HDL-c=46,5±8,4 x 46,8±1,1 mg/dl,
p=0,75). Resultados semelhantes foram observados quando se compararam os
dados dos pacientes com TDRP em T2 em relação a T0. (CT=215,5±9,6 x
169,9±5,3 mg/dl, p=0,0001; TG=153,5±9,4 x 102,3±15,2 mg/dl, p=0,01; LDL-
c=136,9±9,2 x 100,3±4,1 mg/dl, p=0,0002; NHDL-c=170,3±9,1 x 121,9±5,3
mg/dl, p=0,0001; HDL-c=47,1±1,4 x 49,1±1,7 mg/dl, p=0,1). Não houve
diferenças significativas entre os dados de T1 e T2 no TDRP. No grupo com
TPI, as médias dos lípides ricos em T1 foram similares àquelas em T0, com
exceção de queda nos níveis de HDL-c após o transplante. (CT=196,9±6,6 x
182,2±13,4 mg/dl, p=0,29; TG= 93,5± 13,4 x 92,4±9,9 mg/dl, p=0,94; LDL-
c=125,7±6,0 x 114,6±12,2 mg/dl, p=0,34; NHDL-c=144,6±7,5 x 133,1±13,6
mg/dl, p=0,4; HDL-c=52,6±2,7 x 49,0±1,7 mg/dl, p=0,04). Quando se
compararam os dados dos pacientes com TPI em T2 e T0, não foram
encontradas diferenças significativas. (CT=197,3 ± 9,0 x 187,0±15,0 mg/dl,
p=0,86; TG=90,3±8,5 x 91,9±11,4 mg/dl, p=0,86; LDL-c=127,2±8,9 x
117,3±13,6 mg/dl, p=0,35; NHDL-c=145,5±10,0 x 137,5±15,3 mg/dl, p=0,45;
HDL-c=52,3±3,0 x 50,2±2,5 mg/dl, p=0,27). Da mesma forma, não foram
encontradas diferenças significativas entre T1 e T2.
6
Conclusões: No seguimento de dois anos de pacientes com TDRP
funcionantes, observou-se melhora dos lípides séricos quando comparados
com os dados pré-operatórios. No entanto, no seguimento dos pacientes com
TPI funcionantes, a única alteração observada nos lipídes séricos foi uma
queda transitória no nível sérico de HDL-c.
Palavras-Chave: Transplante de Pâncreas Isolado, Transplante Rim-Pâncreas,
Metabolismo Lipídico.
7
ABSTRACT
Background: Pancreas transplantation, when successful, restores glycemic
control in diabetic patients with endocrine pancreatic failure. Pancreas-kidney
transplantation also provides solution to chronic renal insufficiency. However,
these proceedings require chronic use of immunosuppressive drugs. These are
all factors that can modify the lipid profile of those patients.
Objective: Study the lipid profile (total cholesterol-TC, triglycerides-TG, high
density lipoprotein cholesterol-HDL-c, low density lipoprotein cholesterol-LDL-c
and non HDL cholesterol-NHDLC) of patients with functioning pancreas-kidney
transplantation (PKT) or isolated pancreas transplantation (IPT), comparing
data from one year (T1) and two years after transplantation (T2) to those at
preoperatory (T0).
Methods: Patients were submitted to transplantation at Felicio Rocho Hospital
between 2002 and 2005. Patients with new onset diabetes after transplantation,
patients with serum creatinine above 2 mg/dl and those in use of hypolipidemic
or hypoglycemic drugs were excluded. All patients initially received the same
immunosuppression protocol, based in the use of tacrolimus plus mophetil
micophenolate and glucocorticoid. However, at the moment of analyze, almost
20% were not using glucocorticoid anymore. Alternatively, 5% were in use of
sirolimus. Serum lipids, expressed in mean ± standard error, were analyzed
using paired t. Student and a maximum p<0,05 was taken as significant.
Results: 62 patients with PKT (45% female, 55% male, age=36.6±9.5 years)
and 17 with IPT (47% female, 53 % male, age=34.8±9.9 years) were included.
53 patients (42 with PKT and 11 with IPT) completed two years of follow-up.
Mean serum lipid levels of PKT group at T1 were lower than those at T0, except
HDL-c. (TC= 208.1±7.5 x 176.4±5.0 mg/dl, p=0,0002; TG=142.0±8.0 x
110.8±7.6 mg/dl, p=0,003; LDL-c=131.1±6.8 x 106.7±4.6 mg/dl, p=0,0004;
NHDL-c=161.4±7.0 x 129.0±4.8 mg/dl, p=0,0002; HDL-c=46.5±8.4 x 46.8±1.1
mg/dl, p=0,75). Similar results were found when data at T2 were compared to
T0 in PKT group. (TC=215.5±9.6 x 169.9±5.3 mg/dl, p=0,0001; TG=153.5±9.4 x
102.3±15.2 mg/dl, p=0,01; LDL-c=136.9±9.2 x 100.3±4.1 mg/dl, p=0,0002;
NHDL-c=170.3±9.1 x 121.9±5.3 mg/dl, p=0,0001; HDL-c=47.1±1.4 x 49.1±1.7
mg/dl, p=0,1). There weren’t any differences between data from T1 to T2. In IPT
group, mean serum lipids of patients at T1 were similar to those at
preoperatory, except lower HDL-c after transplantation. (TC=196.9±6.6 mg/dl x
182.2±13.4, p=0,29; TG= 93.5± 13.4 x 92.4±9.9 mg/dl, p=0,94; LDL-
c=125.7±6.0 x 114.6±12.2 mg/dl, p=0,34; NHDL-c=144.6±7.5 x 133.1±13.6
mg/dl, p=0,4; HDL-c=52.6±2.7 x 49.0±1.7 mg/dl, p=0,04). When data were
compared between T0 and T2, there weren’t any differences. (TC=197,3 ± 9,0 x
187,0±15,0 mg/dl, p=0,86; TG=90,3±8,5 x 91,9±11,4 mg/dl, p=0,86; LDL-
c=127,2±8,9 x 117,3±13,6 mg/dl, p=0,35; NHDL-c=145,5±10,0 x 137,5±15,3
mg/dl, p=0,45; HDL-c=52,3±3,0 x 50,2±2,5 mg/dl, p=0,27). Also in this group,
there weren’t any differences between data from T1 to T2.
Conclusion: On the two year follow-up of patients with functioning PKT,
improvements in the serum lipids after transplantation were observed. However,
the only difference seen in the lipid profile of patients submitted to IPT was a
transitory fall in HDL-c. Serum lipids remained stable between one and two
years of follow-up in both groups.
8
Key words: Pancreas-Kidney Transplantation, Isolated Pancreas
Transplantation, Lipid Metabolism.
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ATP III Adult Treatment Panel III
CT Colesterol Total
DM Diabetes Mellitus
DM 1 Diabetes Mellitus Tipo 1
DM 2 Diabetes Mellitus Tipo 2
HAS Hipertensão Arterial Sistêmica
HDL Lipoproteína de Alta Densidade
HDL-c Colesterol HDL
HFR Hospital Felício Rocho
IMC Índice de Massa Corporal
IRC Insuficiência Renal Crônica
IPTR International Pancreas Transplant Registry
LDL Lipoproteína de baixa densidade
LDL-c Colesterol LDL
NCEP National Cholesterol Education Program
NIH National Institute of Health
NHDL-c Colesterol Não HDL
p Probabilidade
QM Quilomicrons
T0 Período Pré Transplante
T1 Após Um Ano de Transplante
T2 Após Dois Anos de Transplante
TDRP Transplante Duplo Rim Pâncreas
10
TG Triglicérides
TIP Transplante de Ilhotas Pancreáticas
TPAR Transplante de Pâncreas Após Rim
TPI Transplante de Pâncreas Isolado
TX Transplante
UT-HFR Unidade de Transplantes do Hospital Felício Rocho
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
VLDL Lipoproteína de muito baixa densidade
VLDL-c Colesterol VLDL
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes Submetidos
a Transplante de Rim-Pâncreas antes e após um ano de
Procedimento...............................................................................................
42
Figura 2: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes
Submetidos a Transplante de Pâncreas Isolado antes e após um ano de
Procedimento...............................................................................................
43
Figura 3: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes Submetidos
a Transplante de Rim-Pâncreas antes e após um e dois anos de
Procedimento...............................................................................................
44
Figura 4: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes Submetidos
a Transplante de Pâncreas Isolado antes e após um e dois anos de
Procedimento...............................................................................................
45
Figura 5: Modificações Percentuais no Intervalo de Dois Anos em
Pacientes Submetidos a Transplante Rim-Pâncreas..................................
47
Figura 6: Modificações Percentuais no Intervalo de Dois Anos em
Pacientes Submetidos a Transplante de Pâncreas Isolado........................
48
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Características dos Pacientes no Período Pré-Operatório.......... 40
Tabela 2: Comparação dos Lípides ricos Pré-Operatórios entre TPI e
TDRP............................................................................................................
41
Tabela 3: Evolução da Função Renal em Pacientes com Transplante
Duplo Rim-Pâncreas no Intervalo de Dois Anos.........................................
49
Tabela 4: Evolução da Função Renal em Pacientes com Transplante de
Pâncreas Isolado Durante o Intervalo de Dois Anos...................................
49
Tabela 5: Evolução do Peso em Pacientes com Transplante Duplo Rim-
Pâncreas Durante o Intervalo de Dois Anos...............................................
50
Tabela 6: Evolução do Peso em Pacientes com Transplante de Pâncreas
Isolado Durante o Intervalo de Dois Anos....................................................
51
Tabela 7: Freqüência (%) de Hipertensão Arterial Sistêmica, Uso de
Diuréticos e de Beta-Bloqueadores em Pacientes Submetidos a
Transplante Rim-Pâncreas Durante o Período de Dois Anos.......................
52
Tabela 8: Freqüência (%) de Hipertensão Arterial Sistêmica, Uso de
Diuréticos e de Beta-Bloqueadores em Pacientes Submetidos a
Transplante de Pâncreas Isolado Durante o Período de Dois
Anos................................................................................................................
53
Tabela 9: Comparação da Freqüência (%) do Uso de Imunossupressores
entre T1 e T2 e entre TDRP e TPI.................................................................
54
Tabela 10: Planilha de Comparação T1 x T0 para TDRP.............................. 77
Tabela 11: Planilha de Comparação T1 x T0 para TPI................................
79
Tabela 12: Planilha de Comparação T2 x T0 para TDRP............................ 80
13
Tabela 13: Planilha de Comparação T1 x T0 para TPI................................ 81
Tabela 14: Planilha de Comparação T2 x T1 para TDRP............................ 82
Tabela 15: Planilha de Comparação T2 x T1 para TPI................................ 83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Fatores Influentes nos Lipídes Séricos em Estudos
Comparativos de Pacientes com Transplante de Pâncreas......................
24
Quadro 2: Principais Estudos Comparativos dos Lípides Séricos em
Pacientes Transplantados de Pâncreas.....................................................
25
Quadro 3: Significância Estatística e Variação Percentual dos Lípides
Séricos de Pacientes Submetidos a TDRP ou TPI em Comparação com
os Dados Pré-Transplante...........................................................................
27
14
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO..................................................................................... 1
2- REVISÃO DA LITERATURA............................................................... 4
2.1 Transplante de Pâncreas............................................................. 4
2.1.1 Histórico...................................................................................
4
2.1.2 Tipos........................................................................................ 5
2.1.2.1 Quanto ao(s) órgão(s) transplantado(s)................................ 5
2.1.2.1.1 Transplante Duplo Rim-Pâncreas (TDRP)......................... 5
2.1.2.1.2 Transplante de Pâncreas Após Rim (TPAR)..................... 6
2.1.2.1.3 Transplante de Pâncreas Isolado (TPI)............................... 6
2.1.2.1.4 Transplante de Ilhotas Pancreáticas (TIP)......................... 6
2.1.2.2 Quanto ao tipo de doador..................................................... 7
2.1.2.3 Quanto a drenagem exócrina............................................... 8
2.1.2.4 Quanto a drenagem endócrina............................................. 9
2.1.3 Esquemas de Imunossupressão.............................................. 10
2.1.4 Epidemiologia.......................................................................... 12
2.2 Metabolismo Lipídico.....................................................................
13
2.2.1Lípides e lipoproteínas plasmáticas ...................................... 13
2.2.2 Avaliação laboratorial............................................................ 15
2.2.3 Critérios para diagnóstico das Dislipidemias......................... 16
2.3 Transplante de Pâncreas e Metabolismo Lipídico........................ 17
2.3.1 Fatores de influência no período pré-transplante..................... 17
2.3.2 Fatores de influência no período pós-transplante .................... 18
2.3.2.1 Fatores benéficos.................................................................. 18
15
2.3.2.2 Imunossupressores................................................................ 19
2.3.2.3 Outros fatores após transplante............................................. 21
2.3.3 Estudos sobre o metabolismo lipídico e o transplante de
pâncreas...............
.....................................................................................
22
3-OBJETIVOS.......................................................................................... 28
3.1 Primário....................................................................................... 28
3.2 Secundários................................................................................. 28
4-MÉTODO.............................................................................................. 29
4.1 População do estudo................................................................... 29
4.2 Protocolo de imunossupressão....................................................
29
4.3 Planejamento ............................................................................... 30
4.3.1 Delineamento do estudo...........................................................
30
4.3.2 Coleta de dados......................................................................... 30
4.3.3 Captação de pacientes para o estudo....................................... 31
4.4 Aspectos éticos............................................................................. 32
4.5 Cálculo amostral........................................................................... 32
4.6 Critérios de inclusão..................................................................... 33
4.7 Critérios de exclusão.................................................................... 33
4.8 Perdas e população final do estudo............................................. 34
4.9 Métodos de análises clínicas.......................................................
4.10 Métodos de análises químicas...................................................
35
35
4.10.1 Determinação da glicose e creatinina plasmáticas ................ 36
4.10.3 Determinação dos lípides séricos............................................ 36
4.11 Tratamento estatístico................................................................ 37
16
5-RESULTADOS............................................... ...................................... 39
5.1 Características dos pacientes antes do transplante de
pâncreas....................................................................................................
39
5.2 Comparação dos lípides séricos................................................... 42
5.2.1 Comparação T1 x T0..................................................................
42
5.2.2 Comparação T2 x T0..................................................................
44
5.2.3 Comparação T2 x T1..................................................................
46
5.2.4 Modificações percentuais após o transplante............................ 46
5.3 Modificações de co-variáveis após o transplante......................... 48
5.3.1Função renal............................................................................... 48
5.3.2
Alteração do peso corporal........................................................
50
5.3.3 Alteração na freqüência de hipertensão arterial sistêmica, uso
de diuréticos e beta-bloqueadores...........................................................
51
5.3.4 Uso de imunossupressores........................................................
53
6-DISCUSSÃO.......................................................................................... 55
6.1 Diferenças entre TDRP e TPI anteriores ao transplante.............. 55
6.2 Alterações dos lípides séricos após TDRP................................... 55
6.3 Alterações dos lípides séricos após TPI....................................... 60
6.4 Limitações do estudo.................................................................... 62
6.5 Considerações Finais....................................................................
63
7-CONCLUSÕES...................................................................................... 65
8-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................
66
9- ANEXOS............................................................................................... 74
17
1- INTRODUÇÃO
O termo Diabetes Mellitus (DM) aplica-se a um grupo de distúrbios
metabólicos diversos, caracterizado, bioquimicamente, por hiperglicemia
crônica e, clinicamente, pelo desenvolvimento a longo prazo de complicações
microvasculares (microangiopatia diabética). Apresenta-se como uma doença
crônica de elevada morbi-mortalidade, sobretudo cardio-vascular. O DM tipo 1
(DM 1) é um tipo de diabetes causado pela destruição das células beta das
ilhotas pancreáticas, com deficiência grave na secreção de insulina. Em 95%
das vezes possui etiologia auto-imune e em 5% possui causas não identificada
(idiopática). Os pacientes geralmente são propensos a ceto-acidose e
requerem tratamento com insulina. O DM tipo 2 (DM 2), por sua vez, é a forma
mais prevalente de diabetes, sendo uma doença heterogênea, caracterizada
pela associação de defeitos na ação da insulina com a disfunção da lula
beta pancreática (THE EXPERT COMMITTEE ON THE DIAGNOSIS AND
CLASSIFICATION OF DIABETES MELLITUS,1997).
Os pacientes portadores de DM possuem risco de morte por doença
cardíaca isquêmica semelhante ao de pacientes que apresentaram um
evento coronariano prévio, sendo recomendada prevenção secundária para
esse grupo de pacientes (HAFFNER, 1998; GRUNDY, 1999).
As alterações dos lípides ricos se relacionam ao desenvolvimento de
doença isquêmica do coração (WILSON, 1998). O tratamento com drogas
hipo-lipemiantes diminui o risco de eventos coronarianos (RUBINS, 1999 e
SACKS, 2000). Pelo fato dos diabéticos serem considerados pacientes
candidatos à prevenção secundária para esses eventos, recomendam-se
controle estrito dos seus lípides séricos (NATIONAL CHOLESTEROL
18
EDUCATION PROGRAM EXPERT PANEL ON DETECTION, EVALUATION
AND TREATMENT OF HIGH BLOOD CHOLESTEROL IN ADULTS - ADULT
TREATMENT PANEL III, 2002).
A melhora do controle glicêmico do paciente com DM1 é capaz de prevenir,
retardar ou estabilizar as complicações crônicas micro-vasculares (THE
DIABETES CONTROL AND COMPLICATIONS TRIAL RESEARCH GROUP,
1993) e também traz benefícios a longo prazo na diminuição de eventos
cardio-vasculares (THE DIABETES CONTROL AND COMPLICATIONS TRIAL
RESEARCH GROUP/EPIDEMIOLOGY OF DIABETES INTERVENTIONS AND
COMPLICATIONS GROUP, 2005). Todavia, o tratamento intensivo do DM1
utilizado nesses estudos, com múltiplas injeções de insulina ou bomba de
infusão subcutânea de insulina, aumentou a freqüência e a gravidade dos
episódios de hipoglicemia e promoveu ganho de peso nos pacientes, além de
baixa aderência ao tratamento a longo prazo.
O transplante de pâncreas representa uma alternativa para o controle
intensivo da glicemia em pacientes com DM1 e naqueles com DM2 e falência
pancreática comprovada. Requer, todavia, o uso prolongado de drogas
imunossupressoras, para prevenção de rejeição, com efeitos colaterais
importantes. A grande discussão do tema é a respeito do risco versus
benefício quando comparado ao tratamento conservador do DM. A melhora da
técnica cirúrgica e o surgimento de novos esquemas imunossupressores vêm
repercutindo de maneira positiva, causando diminuição nas taxas de perda de
enxertos (GRUESSNER, A.C., 2005). Como conseqüência, aumenta-se a
probabilidade do surgimento das alterações metabólicas decorrentes do uso
prolongado dos imunossupressores. O reconhecimento precoce dessas
19
alterações é fundamental e ainda se discute qual a melhor forma de
diagnóstico e tratamento (LARSEN, 2004).
Os pacientes submetidos a transplante de pâncreas, ainda que bem
sucedido, estão sob risco de desenvolver doenças cardio-vasculares,
sobretudo isquêmicas. Essas doenças são as principais responsáveis pela
morbi-mortalidade desses pacientes no seguimento a longo prazo,
ressaltando-se, então, a importância do controle pós-operatório dos fatores de
risco, como os lípides séricos. (NÓRDEN, 2004)
A prevalência de dislipidemias após os transplantes em geral é elevada,
acometendo, por exemplo, mais de 60% dos pacientes com transplantes renais
(ONG, 1994). Em transplante de pâncreas ainda existem poucos dados sobre
a sua freqüência, sobretudo após a introdução de novos esquemas de
imunossupressão com, teoricamente, menores efeitos deletérios quando
comparados a esquemas anteriores (LARSEN, 2004). Diversos fatores podem
influenciar na evolução dos lípides séricos após o transplante, destacando-se o
tipo de transplante, a população estudada, os níveis basais dos lípides, a idade
e o peso dos pacientes, o esquema imunossupressor utilizado, as
complicações pós-operatórias e o funcionamento dos órgãos transplantados.
(KOBASHIGAWA, 1997).
Uma maneira de se balancear o risco x benefício dos transplantes de
pâncreas sobre o risco de doenças cardio-vasculares nesses pacientes é
analisar a evolução dos lípides após o transplante (LARSEN, 1992).
Com o presente estudo, especificamente planejado para se avaliar a
evolução dos lípides séricos de pacientes submetidos a transplante de rim-
pâncreas ou pâncreas isolado funcionantes, questiona-se qual é o resultado
20
final da multiplicidade de fatores influentes no metabolismo lipídico desses
pacientes. Houve melhora, piora ou, até mesmo, estabilidade dos lípides após
os transplantes de pâncreas?
2- REVISÃO DA LITERATURA
2.1 O Transplante de Pâncreas
2.1.1 Histórico
Antes mesmo da descoberta da insulina, havia relatos que relacionavam o
DM com disfunção pancreática. Em 1893, foi realizado o enxerto de três
fragmentos do pâncreas de uma ovelha no sub-cutâneo de um menino com
ceto-acidose diabética. O receptor sobreviveu apenas três dias, falecendo de
ceto-acidose (WUILLIAMS, 1894). O primeiro transplante bem sucedido é
datado de 1966, na Universidade de Minnesota nos Estados Unidos da
América (KELLY, 1967). Todavia, pelas deficiências técnicas e
medicamentosas da época, os resultados não foram favoráveis, com o
falecimento da paciente cerca de cinco meses após o transplante e em uso de
insulina exógena. Dentre os transplantes realizados entre 1966 e 1990, a
sobrevida de um ano do enxerto pancreático foi de 25% (SUTHERLAND,
1995). No início da cada de 90, a introdução de novos imunossupressores
(sobretudo os inibidores da Calcineurina), a padronização das técnicas
operatórias e o uso de soluções de preservação dos órgãos levaram a
considerável melhora dos resultados dos transplantes pancreáticos,
propiciando também expansão do número de centros transplantadores pelo
mundo (SUDAN, 2000; GRUESSNER, A.C., 2005). No Brasil, os transplantes
pancreáticos começaram a ser realizados ainda na década de 1990 no Rio
21
Grande do Sul e em São Paulo (MIRANDA, 1995 e PEROSA, 1999), embora
tenham se intensificado na década atual. O primeiro transplante de pâncreas
do Hospital Felício Rocho (HFR) foi realizado em 2001, sendo esse o único
centro mineiro a realizá-lo até o ano de 2005, quando o Hospital das Clinicas
da UFMG realizou o seu primeiro transplante de pâncreas.
2.1.2 Tipos
2.1.2.1 Quanto ao(s) órgão (s) transplantado (s)
2.1.2.1.1 Transplante Duplo Rim Pâncreas (TDRP)
Realizam-se os transplantes, renal e pancreático, em um mesmo
procedimento cirúrgico. Deve ser considerado como alternativa para todo
paciente diabético com comprovada falência pancreática em que se planeje
realizar um transplante renal. A adição do enxerto pancreático não piora a
sobrevida do paciente, pode aumentar o tempo de sobrevida do enxerto renal
e melhora a qualidade de vida do paciente, restaurando a normo-glicemia
(ROBERTSON, 2000). Deve-se considerar, no entanto, que o TDRP, quando
comparado ao transplante renal isolado, apresenta tempo operatório maior,
exige o uso de esquema imunossupressor com doses mais elevadas e, ainda,
existe uma menor experiência dos centros transplantadores. Para os pacientes
com risco cirúrgico aumentado, pacientes acima dos 60 anos ou pacientes
obesos é considerado mais prudente a indicação do transplante renal isolado
(PAVLAKIS, 2007).
22
2.1.2.1.2 Transplante de Pâncreas Após Rim (TPAR)
Realiza-se esse tipo de transplante em pacientes diabéticos, com
comprovada falência pancreática, que foram submetidos previamente ao
transplante renal, que se encontrem com função renal estável e que estejam
evoluindo com labilidade glicêmica (ROBERTSON, 2000).
2.1.2.1.3 Transplante de Pâncreas Isolado (TPI)
É o tipo de transplante mais controverso. Realiza-se esse procedimento em
pacientes com função renal estável (geralmente com clearence de creatinina
superior a 60 ml/min) no intuito exclusivo de controle do DM em pacientes com
falência pancreática comprovada. Na ausência de indicações para o
transplante renal, o transplante pancreático somente deve ser considerado nas
seguintes situações: 1) história de freqüentes e graves episódios de
descontrole glicêmico (hiperglicemias, hipoglicemias com perda de consciência
e cetoacidoses), necessitando de cuidados médicos, 2) problemas clínicos e
emocionais com a terapia insulínica exógena, graves o suficiente para
causarem incapacidades, 3) falência consistente do manejo com insulina
exógena em prevenir ou estabilizar as complicações do diabetes. Recomenda-
se que a indicação do TPI seja feita, discutindo-se cada caso em seus
aspectos particulares (ROBERTSON, 2000).
2.1.2.1.4 Transplante de Ilhotas Pancreáticas (TIP)
Representa o transplante apenas do componente endócrino do pâncreas,
que produz a insulina. Quando comparado com o transplante de órgão total, o
seu procedimento é bem mais simples, podendo inclusive ser realizado através
23
de punção venosa. Além disso, preconizam-se esquemas com
imunossupressores em doses mais baixas e muitas vezes sem o uso
concomitante de glico-corticóides. Geralmente são implantadas no fígado.
Todavia, existe uma série de dificuldades que ainda têm limitado o seu sucesso
(ROBERTSON, 2004). A primeira dificuldade relaciona-se ao número de
doadores, que para que se atinja um número suficiente de ilhotas faz-se
necessário um pool de ilhotas oriundas de vários doadores. Outro problema
enfrentado é a alta sensibilidade das ilhotas à destruição auto-imune ou tóxica
por medicamentos imunossupressores, o que tem produzido taxas de
sobrevida do enxerto em um ano inferiores se comparadas ao transplante de
órgão total (PAVLAKIS, 2007). Ainda é considerado um procedimento
experimental (ROBERTSON, 2000).
2.1.2.2 Quanto ao tipo de doador
O doador do transplante pode ser um paciente com morte encefálica, onde é
retirado o pâncreas por inteiro, ou, por questões técnicas, apenas o corpo e a
cauda do pâncreas. Esse é o tipo de doador mais utilizado em todo o mundo.
O transplante de pâncreas também pode ser realizado, utilizando-se doador
vivo relacionado com compatibilidade de antígenos-HLA, onde é realizada
hemi-pancreatectomia distal. As vantagens desse procedimento são o menor
risco de rejeição em virtude da maior semelhança antigênica e a melhor
programação do ato cirúrgico, minimizando-se o tempo de isquemia fria do
órgão a ser transplantado. Todavia, esse é um procedimento ainda pouco
utilizado, tendo sido realizados pouco mais de 150 transplantes desse tipo no
mundo todo. Atualmente, indica-se esse procedimento somente se o receptor
24
apresenta um painel de antígenos reativos muito positivo, limitando o
transplante cadavérico, ou se o mesmo não puder receber doses elevadas de
imunossupressores, ou ainda no caso de possuir um irmão gêmeo idêntico não
diabético (GRUESSNER, 2004).
2.1.2.3 Quanto à drenagem exócrina
O local de drenagem do ducto pancreático é uma das variáveis técnicas do
transplante de pâncreas. Fisiologicamente, esse ducto drena as secreções
exócrinas do pâncreas para o duodeno. Todavia, no transplante de pâncreas
isso representaria uma complexidade cirúrgica. Na denominada drenagem
vesical, o ducto pancreático drena para a bexiga. A dosagem das enzimas
pancreáticas na urina, em particular a amilase, pode ser utilizada como
marcador de rejeição do órgão, o que é particularmente interessante para o
acompanhamento do TPI. A drenagem intestinal é um outro tipo de técnica,
quando então o ducto pancreático é conectado ao intestino delgado. Na
drenagem vesical, ocorre perda considerável de bicarbonato de sódio e de
maior volume de líquido pela urina. As repercussões dessas perdas são a
acidose metabólica e a hipotensão arterial. Na drenagem intestinal, isso
geralmente não ocorre, pela maior reabsorção de líquidos. A drenagem
intestinal é tecnicamente mais complexa, sendo realizada geralmente em
centros com experiência acumulada em transplantes pancreáticos. Não
diferenças entre as duas no que concerne a sobrevida do enxerto pancreático
(MAI, 2006). A drenagem vesical está associada a maior número de
complicações urológicas, metabólicas e infecções oportunistas. A drenagem
intestinal se relaciona a maior incidência de hipertensão arterial e infecções
25
intra-abdominais. Em relação ao metabolismo lipídico não são descritas
alterações relacionadas ao tipo de drenagem. Em uma revisão baseada em
evidências científicas, Demartines e colaboradores recomendam o uso da
drenagem intestinal como primeira escolha (DEMARTINES, 2005).
2.1.2.4 Quanto à drenagem endócrina
A drenagem venosa do enxerto pancreático transplantado pode ser feita
através da conexão das veias esplênica e mesentérica superior à veia ilíaca
comum ou externa interna ou ao sistema porta do receptor. A drenagem para o
sistema porta é mais fisiológica, pois mimetiza o que acontece no indivíduo
normal. Através da drenagem para a veia ilíaca, a insulina produzida pelo
enxerto entra na circulação sistêmica sem passagem pela circulação porta.
Com isso, não ocorre a primeira passagem desse hormônio pelo fígado, onde
ele normalmente seria parcialmente metabolizado. O resultado é o aumento
de sua concentração plasmática. A drenagem para a circulação sistêmica é
tecnicamente mais fácil de ser realizada e a maioria dos centros possui maior
experiência com esse tipo de drenagem. Além disso, ela é a única que permite
a conexão do enxerto à bexiga, para drenagem exócrina vesical. Em termos de
sobrevida do enxerto, parecem não haver diferenças entre os tipos de
drenagens (MAI, 2006). Os efeitos no metabolismo lipídeo da hiperinsulinemia
prolongada são controversos (MAI, 2006). A maioria dos estudos que
compararam esses tipos de drenagem apresenta fatores de confusão, como as
doses dos imunossupressores. Hughes e colaboradores demonstraram
diferenças nas composições das lipoproteínas quando se comparavam os dois
26
tipos de drenagens, particularmente uma queda do conteúdo de Apo B nas
partículas de VLDL e LDL e queda no colesterol livre em pacientes submetidos
a drenagem portal (HUGHES, 1995). Todavia, a dose dos imunossupressores
e o nível de creatinina rica não foram iguais entre os grupos (LARSEN,
2004). Lo e colaboradores não encontraram diferenças quando compararam os
lípides séricos em jejum de acordo com o tipo de drenagem endócrina (LO,
2001). Petruzzo e colaboradores encontraram níveis de colesterol LDL e
triglicérides mais baixos nos pacientes submetidos a transplante com
drenagem endócrina sistêmica (PETRUZZO, 2004).
2.1.3 Esquemas de Imunossupressão
O princípio da terapia imunossupressora para o transplante de pâncreas é o
mesmo dos outros transplantes de órgãos sólidos, ou seja, usar o esquema
mais efetivo e menos tóxico possível. Todavia, por causa da grande
imunogenicidade do transplante de pâncreas, particularmente do TPI, a
quantidade cumulativa de imunossupressores necessária é maior quando
comparada com a dos transplantes de coração, rim e fígado (GRUESSNER
RW, 2005). Além disso, o risco de rejeição pancreática varia de acordo com o
tipo de transplante, sendo mais elevada no TPI, seguida pelo TPAR e mais
baixa no TDRP (GRUESSNER AC, 2005). Como conseqüência, o esquema
imunossupressor de indução e manutenção varia de acordo com o tipo de
transplante.
Os primeiros transplantes foram realizados com esquema imunossupressor
que consistia no uso de azatioprina, prednisona em doses elevadas (dose
inicial de 150 mg/dia) e irradiação com cobalto
60
no intuito de suprimir a função
27
exócrina do ncreas. O objetivo da irradiação não foi atingido e ainda
propiciou o surgimento de fístulas pancreáticas, tendo sido logo abandonada
(SUTHERLAND, 2004). Sutherland e colaboradores (2001), relatando a
experiência da Universidade de Minnesota entre dezembro de 1966 a março
de 2000, dividiu em 5 fases a terapia imunossupressora, com progressiva
melhora dos resultados dos transplantes: fase 0- histórica (1966-1973), fase 1-
transição para ciclosporina (1978-1986), fase 2- esquema triplice ciclosporina +
azatioprina + glico-corticóide (1986-1994), fase 3- terapia com tacrolimus +
micofenolato mofetil + glico-corticóide (1994-1998), fase 4- uso de terapia de
indução com anticorpos monoclonais (1998-2000).
Demartines e colaboradores concluíram em sua revisão que a escolha da
terapia imunossupressora é a chave para o sucesso do transplante de
pâncreas e que, com base nas evidências atuais, ela deve incluir terapia de
indução com anticorpos mono ou policlonais, seguida do uso de um inibidor de
calcineurina (ciclosporina ou tacrolimus) associado a um derivado do
micofenolato (mofetil ou sódico) e glico-corticóide (DEMARTINES, 2005).
Existe uma crescente preocupação com os efeitos adversos do uso
prolongado desses medicamentos. Além da imunossupressão, glico-
corticóides e inibidores da calcineurina são drogas capazes de causar
hiperglicemia, por ações inibitórias na secreção de insulina, por resistência
periférica a ação da insulina e por toxidade direta à célula beta pancreática
(DAVIDSON, 2003). Além disso, os inibidores da calcineurina são drogas
potencialmente nefrotóxicas (FIORETTO, 1995). Estratégias mais recentes
visam diminuir o tempo de uso de glico-corticóide, sendo que alguns trabalhos
demonstraram eficácia e segurança com a sua retirada após os primeiros
28
meses do transplante e manutenção com tacrolimus e micofenolato mofetil
(MALAISE, 2005). No entanto, essa estratégia requer a manutenção de níveis
mais elevados de tacrolimus, com potenciais riscos de toxidade renal e
pancreática (SCHIMED, 2006). Outro imunossupressor mais recentemente
utilizado é o sirolimus. Esse medicamento pertence a uma nova classe de
agentes imunossupressores, não sendo considerado um inibidor de
calcineurina. Existem poucos estudos relativos a seu uso no transplante de
pâncreas. Pode ser utilizado em associação com o tacrolimus (McALISTER,
2000), visando a diminuição de sua dose ou então substituir o micofenolato
(HAVRDOVA, 2005). Além disso, tem sido proposto o seu uso em terapias de
manutenção sem o uso de inibidores de calcineurina (SCHIMED, 2006).
2.1.4 Epidemiologia
O International Pancreas and Islet Transplant Registry (IPTR), fundado em
1980, fornece dados sobre o transplante de pâncreas no mundo. Em sua
última publicação, foram relatados mais de 23 mil transplantes de pâncreas
entre dezembro de 1966 a dezembro de 2004 (GRUESSNER, A.C., 2005).
Desse total de transplantes, cerca de 17 mil foram realizados nos Estados
Unidos da América e os 6 mil restantes, no resto do mundo. O TDRP
correspondeu a cerca de 71% dos casos, seguido pelo TPAR com cerca de
21% e, por fim, o TPI, com 8%. Historicamente, vêm ocorrendo um aumento
proporcional do número desse último procedimento.
Considerando apenas os casos norte-americanos realizados entre 2000 e
2004, a sobrevida do enxerto pancreático após um ano foi de cerca de 85%
para o TDRP, 78% para o TPAR e 76% para o TPI. A drenagem exócrina
29
intestinal foi a mais utilizada para todos os tipos de transplantes pancreáticos
nesse período- 81% no TDRP; 67%, no TPAR e 56%, no TPI. Dos casos de
drenagem entérica, cerca de 30% realizou drenagem venosa portal. Utilizando-
se modelos estatísticos de análise multi-variada, o fator mais influente na
sobrevida do paciente foi a funcionalidade do(s) órgão(s) transplantado(s), com
exceção do TPI, onde ocorreu a menor taxa de mortalidade dos pacientes.
Pacientes acima dos 45 anos apresentaram mortalidade mais elevada quando
comparados com os mais jovens, embora tenham apresentado taxas de
rejeição menores. Nesse período estudado, o esquema imunossupressor de
manutenção com tacrolimus + micofenolato foi o esquema de escolha em dois
terços dos casos, em todos os tipos de transplantes. Cerca de 10% dos
pacientes utilizou sirolimus, em esquemas variados.
Analisando-se os casos realizados fora dos Estados Unidos, percebe-se um
predomínio absoluto do TDRP, correspondendo a cerca de 90% dos casos. A
maioria dos casos (cerca de 90%) é proveniente de centros europeus. Vale
ressaltar que esses dados são relatados de maneira voluntária e, portanto,
podem sofrer uma série de vieses, como a sub-notificação.
2.2 Metabolismo Lipídico
2.2.1 Lípides e as Lipoproteínas Plasmáticas
O colesterol é uma substância lipídica que está presente nas membranas
celulares e é precursora dos sais biliares e dos hormônios esteróides. O
colesterol também é componente fundamental da placa aterosclerótica em
artérias, substrato anátomo-patológico das doenças vasculares isquêmicas. O
colesterol circula no sangue através de partículas distintas constituídas de
30
lípides e proteínas e denominadas lipoproteínas. As três principais classes de
lipoproteínas encontradas no plasma de um indivíduo em jejum são as
lipoproteínas de baixa densidade (LDL), as lipoproteínas de alta densidade
(HDL) e as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL). O conteúdo de
colesterol de LDL (LDL-c) corresponde a cerca de 70% de todo o colesterol
total circulante no plasma (CT). Por isso, é considerado o alvo principal da
terapia da hipercolesterolemia (NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION
PROGRAM EXPERT PANEL ON DETECTION, EVALUATION AND
TREATMENT OF HIGH BLOOD CHOLESTEROL IN ADULTS - ADULT
TREATMENT PANEL III, 2002). O conteúdo de colesterol das partículas HDL
(HDL-c) corresponde a cerca de 20% do CT. O HDL é considerado uma
partícula protetora contra a formação da placa aterosclerótica, sendo a
responsável pelo transporte reverso do colesterol ao fígado. O restante do
colesterol plasmático circula em partículas de VLDL (VLDL-c), ricas em
triglicérides, e em partículas remanescentes do metabolismo de outras
lipoproteínas.
Os triglicérides (TG) são sustâncias lipídicas cuja função básica é o
armazenamento de energia. Concentram-se em vários tecidos, sobretudo o
adiposo e no fígado. No plasma sanguíneo, eles são transportados também
por proteínas, sobretudo quilomicrons (QM) e VLDL. O acúmulo plasmático de
TG pode ser visto em uma série de distúrbios metabólicos e pode acarretar,
nos casos mais graves, quadros de pancreatite, hepatite e neuropatias. Os TG
influenciam de maneira indireta o metabolismo do colesterol plasmático,
tornando as lipoproteínas mais aterogênicas e diminuindo os níveis de HDL-c.
Em pacientes com hipertrigliceridemia, orienta-se analisar o valor do CT
31
diminuído do valor do HDL-c. Essa medida é chamada de colesterol não HDL
(NHDL-c) e permite estimar a repercussão do aumento das partículas ricas em
TG no metabolismo do colesterol. Em pacientes que o apresentam
hipertrigliceridemia, o valor de NHDL-c correlaciona-se diretamente ao valor de
LDL-c.
2.2.2 Avaliação Laboratorial
Em geral, utilizam-se como parâmetros do metabolismo lipídeo as dosagens
dos lípides e lipoproteínas plasmáticas. Dosa-se de rotina a concentração
sérica de CT e TG, além da dosagem de HDL-c através de métodos imuno-
enzimáticos. O método considerado de referência para dosagem de LDL-c é a
β quantificação (BACHORIK, 1997). Todavia, esse procedimento requer ultra-
centrifugação das amostras, o que o torna inviável para a maioria dos
laboratórios de rotina. Como alternativa, os laboratórios utilizam uma
estimativa do LDL-c calculado pela rmula de Friedewald (FRIEDEWALD,
1972). Nessa fórmula, a estimativa de LDL-c é obtida subtraindo-se do valor do
CT o valor de HDL-c mais um quinto do valor de TG. Embora conveniente, o
uso dessa fórmula sofre restrições importantes em determinadas situações.
Não se recomenda o seu uso quando o valor de TG for superior a 400 mg/dl,
quando a amostra tiver a presença de QM ou quando o paciente for portador
de disbeta-lipoproteinemia (CORDOVA, 2004). Em pacientes diabéticos e em
portadores de insuficiência renal crônica, alguns estudos atestam a
confiabilidade do uso da fórmula, quando comparada com a dosagem direta de
LDL-c (WINOCOUR, 1989 e JOHNSON, 1997).
32
Alguns cuidados devem ser tomados para obtenção de uma análise mais
confiável do perfil lipídico, tais como jejum de 12 horas, abstinência alcoólica
por 72 horas e a realização da dosagem na ausência de enfermidades agudas.
Os coeficientes de variação intra-individual considerados aceitáveis em
determinações próximas, em um mesmo laboratório, são 5% para CT, 10%
para HDL-c e 20% para TG (SANTOS, 2006).
2.2.3 Critérios Para Diagnóstico de Dislipidemias
A terceira publicação do Painel de Experts na Detecção, Avaliação e
Tratamento do Colesterol Sérico Elevado em adultos (ATP III) realizada pelo
Programa Nacional de Educação em Colesterol (NCEP) do Instituto Nacional
de Saúde dos Estados Unidos da América (NIH) consiste em uma referência
internacional para a abordagem diagnóstica e terapêutica das dislipidemias em
adultos (NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION PROGRAM EXPERT
PANEL ON DETECTION, EVALUATION AND TREATMENT OF HIGH BLOOD
CHOLESTEROL IN ADULTS - ADULT TREATMENT PANEL III, 2002). Ela
enfatiza o LDL-c como alvo terapêutico primário na abordagem das
dislipidemias, além de propor níveis desejáveis de LDL-c de acordo com os
outros fatores de risco do paciente para doença coronariana. Os pacientes
diabéticos são considerados nesse painel como equivalentes de pacientes com
história prévia de doença coronariana, sendo candidatos à prevenção
secundária. Por isso, os níveis recomendados de LDL-c são mais baixos,
devendo ser inferiores a 100 mg/dl. O painel também propõe níveis desejados
para CT inferiores a 200 mg/dl; para TG, inferiores a 150 mg/dl e para HDL-c,
superiores a 40 mg/dl. Sempre que houver hipertrigliceridemia, recomenda-se
33
como segundo alvo terapêutico o cálculo do NHDL-c, sendo seu alvo 130
mg/dl.
Mais recentemente, avaliando-se os mais recentes estudos no assunto,
Grundy e colaboradores sugeriram diminuir os níveis-alvo do LDL-c para 70
mg/dl em pacientes com risco cardio-vascular muito elevado, definido pela
presença de história prévia de coronariopatia somada a mais um equivalente
de doença coronariana (GRUNDY, 2004).
Recomenda-se que diabéticos transplantados de pâncreas, pelo seu risco
cardio-vascular aumentado, permaneçam com os alvos terapêuticos para o
tratamento das dislipidemias como quaisquer outros diabéticos (LARSEN,
2004).
2.3 Transplante de Pâncreas e Metabolismo Lipídico
2.3.1 Fatores de Influência no Período Pré-Transplante
Os níveis circulantes dos lípides séricos são dependentes de níveis normais
de insulina plasmática e de sua ação. Quando pacientes portadores de DM1
apresentam glicemia controlada com múltiplas injeções de insulina, os níveis
de LDL-c, em geral, não estão elevados; os níveis de TG geralmente são
baixos ou normais e o HDL-c é alto (HOWARD, 1987). O controle moderado da
glicemia está associado apenas a discreta elevação do LDL-c e de TG e a
pequenas mudanças no HDL-C. O descontrole do DM eleva TG por aumento
de sua produção hepática aliada à diminuição da atividade da lipase
lipoprotéica. Como conseqüência, ocorre queda dos níveis de HDL-c
(REAVEN, 1989). Em pacientes portadores de nefropatia com proteinúria
maciça, ocorre outro tipo de dislipidemia (MALLOY, 2001). Geralmente ocorre
34
aumento de LDL-c devido ao aumento da síntese hepática de proteínas, para
se tentar compensar a sua perda urinária. Em situações de níveis muito baixos
de albumina sérica, ocorre também aumento de TG. Quando a função renal
deteriora, ocorre aumento de TG e queda de HDL-c. (GRUTZMACHER, 1988).
Os pacientes candidatos a TDRP geralmente são portadores de DM1
descontrolado e com nefropatia avançada. Por sua vez, o paciente candidato a
TPI, por definição, apresenta descontrole glicêmico e, muitas vezes, a
síndrome nefrótica da nefropatia diabética. Pelo exposto, percebe-se que
esses pacientes possuem risco aumentado para alterações lipídicas na
avaliação pré-transplante. Além disso, muitos desses pacientes estão em uso
de medicamentos capazes de causar dislipidemia secundária, como diuréticos
e beta-bloqueadores (LARDINOIS, 1988). Hughes e colaboradores , estudando
a composição das lipoproteínas em pacientes candidatos a transplante renal e/
ou pancreático, concluíram que o paciente com DM1 sem IRC, em geral, o
apresenta alterações nas lipoproteínas plasmáticas dosadas rotineiramente,
os portadores de DM1 associado a IRC apresentam uma alteração significativa
de CT, TG e HDL-c (HUGHES, 1994). Estima-se que cerca de 60% dos
pacientes candidatos a transplante de rim ou rim pâncreas apresentem
hipercolesterolemia definida como colesterol total superior a 240 mg/dl.
(BOSTOM, 2002).
2.3.2 Fatores de Influência no Período Pós-Transplante
2.3.2.1 Fatores Benéficos
O transplante de pâncreas bem sucedido restaura o bom controle glicêmico
do indivíduo. Além disso, observa-se resolução da IRC nos pacientes
35
submetidos a transplante renal. Pacientes submetidos ao TDRP, comparados
a pacientes submetidos ao transplante renal isolado, apresentam melhora
significativa do controle pressórico e diminição da utilização de drogas anti-
hipertensivas (ELLIOT, 2001). O efeito benéfico do TPI sobre a nefropatia
diabética tem sido relatado em algumas ries com poucos casos. Fioretto e
colaboradores relataram reversão da nefropatia em biópsias de oito pacientes
após 10 anos do transplante (FIORETTO, 1988). Coppelli e colaboradores
descreveram os casos de seis pacientes com melhora clínica e laboratorial da
síndrome nefrótica em um seguimento de 3 a 36 meses (COPPELLI, 2006).
2.3.2.2 Imunossupressores
A maioria dos imunossupressores utilizados de rotina: glico-corticóide,
tacrolimus, ciclosporina e sirolimus; pode trazer efeitos adversos para o perfil
lipídico desses pacientes, sobretudo em indivíduos com predisposição genética
a dislipidemias (LARSEN, 2004). Os fatores de risco mais importantes para o
desenvolvimento dessas dislipidemias o idade mais avançada, sexo
masculino, presença de obesidade, diabetes, alterações da função renal ou
proteinúria, história de dislipidemia antes do transplante e esquema
imunossupressor utilizado (KOBASHIGAWA, 1997 e FELLSTROM, 2000).
Diferenças genéticas também contribuem para essa susceptibilidade.
Balakrishnan e colaboradores encontraram associação entre presença do
genótipo E4 de um ou mais alelos para a apoproteína E e níveis mais baixos
de HDL-c com TG mais elevados após o transplante de pâncreas.
(BALAKRISHNAN, 2002).
36
O efeito deletério do uso prolongado dos glico-corticóides é multi-fatorial.
Eles induzem resistência à insulina, promovem ganho de peso, aumentam a
produção hepática de TG, diminuem a concentração sérica de HDL-c e elevam
os níveis de CT e de LDL-c. A dose cumulativa de glico-corticóides parece ser
o fator de risco mais importante para o desenvolvimento de dislipidemia após o
transplante (MILLER, 2002). A sua retirada do esquema imunossupressor,
após os primeiros meses do transplante, é aventada como benéfica para o
metabolismo lipídico. Mark e colaboradores , analisando retrospectivamente os
dados de 112 pacientes submetidos a transplante de pâncreas, evidenciaram
níveis mais baixos de CT após um ano de transplante no grupo de pacientes
(25%) que não estava em uso de glico-corticóide (MARK, 2005). Kahl e
colaboradores, no entanto, analisando os dados de 32 pacientes após um ano
de TDRP, não perceberam diferenças quando compararam os lípides dos
pacientes que não estavam usando glico-corticóides (72% dos casos) com os
dos pacientes que estavam em uso de baixas doses de prednisona (KAHL,
2001).
A ciclosporina pode causar alterações nos lípides séricos ao se ligar a
receptores de LDL-c e alterar sua atividade, podendo também diminuir a
síntese de ácidos biliares (DONAHOO, 1998). O tacrolimus também pode
apresentar efeito deletério para o metabolismo lipídico. Todavia, a maioria dos
estudos que compararam o uso do tacrolimus com a ciclosporina evidenciou
resultados mais favoráveis nos lípides ricos do grupo que usou tacrolimus
(HENLEY, 1995; BURKE, 1998; McCUNE, 1998; MALAISE, 2005 b;
VINCENTI, 2007). No entanto, Woodside e colaboradores relataram melhora
de função renal, todavia sem melhora nos lípides séricos quando era feita a
37
conversão de ciclosporina para tacrolimus (WOODSIDE, 2005). Geralmente,
os esquemas que utilizam tacrolimus permitem o uso seguro de doses
menores de glico-corticóide, o que pode atuar como fator de confusão
(MILLER, 2002).
O uso de sirolimus tem sido associado ao maior aumento dos níveis de CT e
TG em transplantados renais quando comparado com outros esquemas de
imunossupressão, sendo que pacientes diabéticos podem ser mais
susceptíveis a essa dislipidemia induzida por sirolimus (GONWA, 2003 ;
CHUEK, 2003).
Os agentes com menor impacto no metabolismo lipídico são a azatioprina e
o micofenolato (SHAPIRO, 1999 e MILLER, 2002).
2.3.2.3 Outros Fatores Após o Transplante
Os pacientes transplantados podem apresentar ganho de peso após o
transplante, o que pode influenciar o metabolismo lipídico (GONEYA, 1992). A
causa desse aumento de peso é multifatorial, destacando-se o uso de glico-
corticóide, o controle do DM e a resolução da insuficiência renal crônica (IRC).
A mudança do padrão alimentar também pode contribuir para o ganho de peso
e para as alterações lipídicas, uma vez que o paciente aumenta a ingestão de
calorias, gorduras saturadas e carboidratos (HUGHES, 1995). Todavia,
Markowski e colaboradores, estudando o diário alimentar de 11 pacientes
antes e após 6 meses do transplante, não encontraram alterações
significativas no total de calorias ingeridas e na percentagem de gordura
saturada da dieta (MARKOWSKI, 1996).
38
Embora seja um assunto controverso, a hiperinsulinemia dos pacientes
transplantados de pâncreas pode alterar a composição das lipoproteínas
plasmáticas. Foger e colaboradores demonstraram um aumento da atividade
plasmática da lipase lipoprotéica e conseqüente enriquecimento do conteúdo
de colesterol não esterificado das partículas de LDL-c e HDL-c em 14
pacientes submetidos a TDRP, quando comparados a pacientes não
diabéticos e submetidos a transplante renal e a indivíduos saudáveis (FOGER,
1996). O significado dessas alterações ainda não é conhecido.
Os pacientes submetidos a TPI podem apresentar piora da função renal
após o transplante, sobretudo pelo uso prolongado de imunossupressores com
potencial nefrotoxicidade. Essa piora pode contribuir para alterações
desfavoráveis no metabolismo lipídico (HENLEY, 1999).
Smith e colaboradores demonstraram que dentre os pacientes submetidos a
TDRP, somente aqueles que apresentavam normo-glicemia e funcionamento
normal dos enxertos obtiveram melhora dos lipídes ricos após o transplante
(SMITH, 1992).
2.3.3 Estudos Sobre o Metabolismo Lipídico e o Transplante de Pâncreas
Conforme podemos observar, múltiplas variáveis podem influenciar os
lípides séricos antes e após o transplante de pâncreas (Quadro 1), dificultando
a interpretação dos resultados dos estudos e, por vezes, produzindo resultados
discrepantes entre os mesmos.
Analisando os trabalhos sobre o assunto, percebe-se que grande parte deles
não objetivou primariamente a avaliação do metabolismo lipídico e quase sua
totalidade foi observacional. Muitos estudos o compararam os dados pré-
39
transplante com aqueles após o transplante, mas apenas descreveram os
resultados obtidos após o procedimento. Além disso, os estudos utilizaram
métodos diversos, incluindo diferentes critérios de exclusão e incluindo
pacientes em uso de drogas hipolipemiantes durante o estudo. Os dados de
pacientes que apresentaram rejeição ou óbito não foram incluídos na maioria
dos estudos.
O quadro 2 compila uma série de estudos que compararam os lípides séricos
antes e depois do transplante e demonstra as diversidades existentes entre
eles.
40
Quadro 1: Fatores Influentes nos Lipídes Séricos em Estudos Comparativos
de Pacientes com Transplantes de Pâncreas.
Antes do Transplante Após o Transplante
DM descontrolado Controle DM +
IRC (TDRP) Melhora da IRC (TDRP) +
Síndrome Nefrótica Melhora da Síndrome Nefrótica ? +
Hipertensão Melhora da Hipertensão +
Medicamentos Imunossupressores -
Ganho de Peso -
Hiperinsulinemia ? -
Piora da Função Renal (TPAR e TPI) -
DM, Diabetes Mellitus; IRC, Insuficiência Renal Crônica; TDRP, Transplante
Duplo Rim Pâncreas; TPAR, Transplante Pâncreas Após Rim; TPI,
Transplante de Pâncreas Isolado; ?, efeito questionável; +, efeito positivo; -,
efeito negativo.
41
Quadro 2: Principais Estudos Comparativos dos Lípides Séricos em Pacientes
Transplantados de Pâncreas.
Referência
País N
Tipo
TX
Inibidor
Calcineurina
Tempo de
Seguimento
Drenagem
DAFOE,
1987
EUA 6 TDRP Ciclosporina 6 meses Sistêmica
LARSEN,
1992
EUA 30 TDRP Ciclosporina 2 anos Sistêmica
BURKE,
1995
EUA 24 TDRP Ambos 1 ano Sistêmica
HENLEY,
1995
EUA 15 TPI Tacrolimus 2 anos Sistêmica
HUGHES,
1995
EUA 31 TDRP Ciclosporina 1 ano Ambas
HENLEY,
1999
EUA 21 TPI Ciclosporina 2 anos Sistêmica
NANKIVELL,
2000
Austrália
82 TDRP Tacrolimus 5 anos Sistêmica
SUDAN,
2000
EUA 61 TDRP Ambos 5 anos Sistêmica
McCULEY,
2001
EUA 150 TDRP Tacrolimus 5 anos Sistêmica
COPPELLI,
2003
Itália 13 TPI Tacrolimus 6 meses Portal
BOGGI,
2005
EUA 38 TPI Tacrolimus 3 anos Portal
COPPELLI,
2005
Itália 32 TPI Tacrolimus 1 ano Portal
GONZÁLEZ-
POSADA,
2005
Espanha 9 TDRP Tacrolimus 6 meses Sistêmica
TAMAJÓN,
2005
Espanha 13 TDRP Tacrolimus 1 ano Sistêmica
EUA, Estados Unidos da América; N, Número de Pacientes; TX,Transplante de
Pâncreas; TDRP, Transplante Duplo Rim Pâncreas; TPI, Transplante de
Pâncreas Isolado.
42
Através do quadro 2, nota-se que houve modificação do esquema
imunossupressor a partir de 2000, quando o tacrolimus tornou-se o inibidor de
calcineurina mais utilizado. Além disso, nota-se a expansão do transplante de
pâncreas pelo mundo com a inclusão de estudos oriundos de centros não
norte-americanos.
A maioria dos estudos com TDRP descreveu evolução favorável do perfil
lipídico após o transplante, com melhora ou estabilidade dos lípides séricos.
(Quadro 3). A melhora de TG foi descrita na quase totalidade dos estudos, com
exceção do trabalho de Hughes e colaboradores (1995). Nesse estudo, houve
um ganho de peso considerável na maioria dos pacientes, em média 10%, o
que pode ter contribuído para o resultado discrepante. O CT apresentou
resposta variável, sendo que alguns estudos mostraram queda significativa e
outros não. O LDL-c, quando descrito, geralmente foi calculado utilizando-se a
fórmula de Friedewald e geralmente acompanhou o resultado do CT, pois o
HDL-c em geral pouco se modificou. Alguns autores, entretanto, não
descreveram o LDL-c, considerando que a fórmula não foi validada para esse
tipo de paciente (LARSEN 1992).
Em relação ao TPI, os resultados dos estudos foram bastante diversos,
tendo sido descritas melhora, piora ou estabilidade dos lípides séricos (Quadro
3). O estudo de Henley e colaboradores (1999) destacou-se por demonstrar
piora do perfil lipídico, com significativa elevação de TG. Nesse estudo houve,
entretanto, significativa piora da função renal dos pacientes. Coppelli e
colaboradores (2003), utilizando tacrolimus, doses mais baixas de glico-
corticóide e sem piora da função renal, descreveram um perfil lipídico favorável
com queda de CT e LDL-c, sem alterações significativas de TG.
43
Quadro 3: Significância Estatística e Variação Percentual dos Lípides Séricos
de Pacientes Submetidos a TDRP ou TPI em Comparação com os Dados Pré-
Transplante.
N
Tipo
TX
CT (%) TG (%)
HDL-c
(%)
LDL-c
(%)
DAFOE,
1987
6 TDRP NS 31 X X
LARSEN,
1992
30 TDRP NS 22 23 X
BURKE,
1995
24 TDRP 27 50 NS NS
HENLEY,
1995
15 TPI NS NS NS NS
HUGHES,
1995
31 TDRP NS NS NS X
HENLEY,
1999
21 TPI NS 31 12 NS
NANKIVELL,
2000
82 TDRP NS 20 X X
SUDAN,
2000
61 TDRP 18 X X X
McCULEY,
2001
150 TDRP 15 40 X X
COPPELLI,
2003
13 TPI 20 NS NS 28
BOGGI,
2005
38 TPI 20 X X 20
COPPELLI,
2005
32 TPI 12 NS NS 13
GONZÁLEZ-
POSADA,
2005
9 TDRP NS 32 NS NS
TAMAJÓN,
2005
13 TDRP NS 44 NS NS
N, Número de Pacientes; TX, Transplante de Pâncreas; NS= Sem Diferença
Estatística (p>0,05); X= Variável Não Descrita no Estudo; CT, Colesterol Total;
TG, Triglicérides; HDL-c, Colesterol HDL; LDL-c, Colesterol LDL; TDRP,
Transplante Duplo Rim Pâncreas; TPI, Transplante de Pâncreas Isolado.
.
44
OBJETIVOS
3.1 PRIMÁRIO
Avaliar o impacto do TDRP e do TPI, com enxertos funcionantes, nos
lípides séricos (CT, TG, HDL-c, LDL-c e NHDL-c), comparando os dados
obtidos após um e dois anos do procedimento, com aqueles anteriores
ao transplante.
3.2 SECUNDÁRIOS
Descrever as diferenças observadas anteriormente ao transplante entre
o grupo de pacientes submetidos a TDRP e o grupo submetido a TPI.
Comparar os resultados dos lípides séricos obtidos após um ano, com
aqueles após dois anos de transplante.
Comparar os dados relativos à função renal, ao peso corporal, à
freqüência de hipertensão arterial sistêmica e ao uso de diuréticos e
beta-bloqueadores após um e dois anos do procedimento, com aqueles
anteriores ao transplante.
45
4- MÉTODOS
4.1 População do Estudo
Os indivíduos da pesquisa foram submetidos a TDRP ou TPI em Belo
Horizonte, no HFR, entre os anos de 2002 e 2005.
Esses pacientes foram operados pelo mesmo cirurgião principal e receberam
assistência no pré, peri e s operatório pela mesma equipe da Unidade de
Transplante do hospital (UT-HFR), composta por três cirurgiões gerais, dois
nefrologistas, um endocrinologista, duas enfermeiras, uma psicóloga e uma
nutricionista.
Em todos os transplantes apresentaram foi realizada drenagem venosa para
a veia ilíaca, portanto para a circulação sistêmica. A drenagem exócrina foi
variável, tendo sido utilizadas tanto a vesical como a entérica.
4.2 Protocolo de Imunossupressão
Todos os pacientes foram inicialmente submetidos ao mesmo protocolo de
imunossupressão. Eles receberam terapia de indução nos primeiros sete dias
com timoglobulina. A seguir, foram mantidos em terapia com tacrolimus,
micofenolato (mofetil ou sódico) e prednisona. A dose do glico-corticóide foi
sendo escalonadamente reduzida até 2,5 mg/dia e, em casos selecionados, foi
suspensa após 6 meses do transplante. A dose de tacrolimus foi ajustada de
acordo com a sua dosagem sérica, procurando-se manter níveis séricos entre
10 a 15 ng/ml nos primeiros três meses e a seguir entre 5 a 10 ng/ml.
Excepcionalmente, foi introduzido o sirolimus em alguns pacientes. As
principais indicações para o seu uso foram a intolerância ao micofenolato,
sobretudo devido a sintomas gastro-intestinais e a substituição do tacrolimus
46
em casos de toxicidade renal. O monitoramento da função renal, através da
dosagem plasmática de uréia e creatinina; a dosagem da glicemia, da lipase e
da amilase foram utilizados como parâmetros para o diagnóstico de rejeição.
Além disso, nos casos em que se utilizou a drenagem vesical, foi dosada a
amilase em urina de 24 horas.
4.3 Planejamento do Ensaio
4.3.1 Delineamento do Estudo
Trata-se de um estudo observacional e que utiliza dados clínicos e
laboratoriais dos pacientes que foram transplantados de pâncreas no HFR.
Foram analisados dados em três momentos distintos: a) período pré-operatório
(T0)= lípides obtidos no máximo 6 meses antes do transplante, b) período após
um ano de transplante (T1)= lípides obtidos no máximo 3 meses após o
paciente ter completado um ano de transplante, c) período após dois anos de
transplante (T2)= lípides obtidos no máximo 3 meses após o paciente ter
completado dois anos de transplante.
Esses dados foram analisados comparando-se as variações intra-individuais
ocorridas durante esse período de observação.
4.3.2 Coleta de Dados
A coleta de dados para esta pesquisa foi feita pelo endocrinologista da UT-
HFR. Foi criado um protocolo de avaliação dos pacientes para esta pesquisa,
sendo preenchido para os três momentos de análise de cada paciente (ANEXO
I). Os dados foram colhidos durante a avaliação endocrinológica entre abril de
2004 a julho de 2006.
47
4.3.3 Captação de Pacientes para o Estudo
Optou-se por incluir no estudo somente pacientes em seguimento periódico
na UT-HFR. Rotineiramente esses pacientes foram avaliados semanalmente
nos primeiros dois a três meses após o transplante, mensalmente após esse
período até terem completado um ano de transplante; quando então passam a
ser avaliados a cada dois a três meses.
Foi feita uma pré seleção de pacientes através de análise do banco de dados
da unidade. A seguir foi feita uma lista de pacientes candidatos à pesquisa e
entregue à secretária do serviço. Durante as consultas periódicas, a secretária
sinalizava ao médico assistente sobre os possíveis candidatos. O médico,
durante sua consulta de rotina, explicava a pesquisa ao paciente e solicitava a
assinatura do termo de consentimento livre esclarecido para que seus dados
pudessem ser incluídos. Era então preenchido o protocolo de pesquisa,
utilizando-se dados clínicos e laboratoriais atuais obtidos durante a entrevista.
Para dados anteriores aos da entrevista, utilizaram-se informações obtidas dos
prontuários dos pacientes. Nesses casos, era solicitado aos pacientes que
trouxessem, para a próxima consulta, os exames prévios para confirmação de
dados dos prontuários. Para esta pesquisa, nenhum exame adicional foi
necessário, além dos exames periódicos realizados de rotina no seguimento
desses pacientes.
48
4.4 Aspectos Éticos
Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre esclarecido.
(ANEXO II).
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
do Hospital Felício Rocho (Protocolo: 124-04, aprovado em dezembro de 2004)
e da Universidade Federal de Minas Gerais (Protocolo: ETIC 587-04, aprovado
em fevereiro de 2005) (ANEXO IV).
4.5 Cálculo Amostral
Foi feito cálculo da amostra de acordo com o intervalo de confiança da média
(SAMPAIO, 2002), utilizando-se como base os dados do estudo de Henley e
colaboradores (HENLEY, 1999). Considerando-se as quatro variáveis-resposta
do estudo, permitindo-se uma variação de 15% em torno da média, a amostra
mínima seria de 16 pacientes para análise do CT; 62, para TG; 8, para HDL-c e
34, para LDL-c.
O presente estudo utilizou um número de pacientes acima do valor mínimo
pelo fato de ser uma pesquisa inócua para o paciente e sem custos adicionais
para a instituição.
49
4.6 Critérios de Inclusão
Pacientes submetidos a TDRP ou TPI entre os anos de 2002 e 2005,
que completaram um ano de transplante com enxerto pancreático
funcionante, que não estava em uso de insulina e/ou medicamentos
secretagogos de insulina após o transplante de pâncreas e que não
apresentavam critérios de diabetes após o transplante, definido por:
Glicemia de jejum >125 ou duas horas após 75 gramas de dextrosol
>199 mg/dl. (THE EXPERT COMMITTEE ON THE DIAGNOSIS AND
CLASSIFICATION OF DIABETES MELLITUS, 1997).
4.7 Critérios de Exclusão
Dados de prontuários incompletos ou duvidosos.
Uso de drogas que interfiram no metabolismo lipídico antes ou após o
transplante, com exceção dos imunossupressores, diuréticos e beta-
bloqueadores.
Uso de estatinas ou qualquer outro tipo de droga hipolipemiante, antes
ou após o transplante.
Insuficiência renal avançada após o transplante, definida por:
creatinina serica > 2,0 mg/dl ou clearence de creatinina <30 ml/min.
Hipotiroidismo descontrolado, definido por TSH concomitante a
dosagem dos lípides séricos maior que > 5 µUI/ml.
Lípides avaliados na vigência de enfermidades agudas ou com
passado recente (menos de seis semanas) de internação hospitalar.
Uso de metformina ou glitazonas
Transplante de Pâncreas Após Rim.
50
4.8 Perdas e Amostra Final do Estudo
Durante período compreendido entre 2002-2005, foram realizados 201
transplantes de pâncreas no HFR, sendo 143 TDRP, 48 TPI e 10 TPAR. 48
pacientes não foram acompanhados no pós-operatório, ou porque faleceram no
peri-operatório ou porque apresentaram rejeição do órgão e sofreram retirada
do órgão transplantado ainda durante o período de internação hospitalar.
Foram avaliados, portanto, os dados de 153 pacientes, sendo 105 TDRP, 42
TPI e 6 TPAR.
Dos dados de 153 pacientes transplantados de pâncreas em seguimento no
HFR, 113 preencheram o critério de inclusão adotado como definição de
enxerto pancreático funcionante, sendo 88 com TDRP e 25 com TPI.
Em relação aos 88 pacientes com TDRP funcionantes, 26 foram excluídos:
por ainda não terem completado um ano de seguimento após o transplante no
momento da coleta de dados (17), por apresentarem dados insuficientes no
prontuário (7), hipotiroidismo descontrolado (1) e clearence de creatinina < 30
ml-min (1). Portanto, foram incluídos os dados de 62 pacientes. Desse grupo,
20 pacientes foram excluídos da análise do segundo ano: por ainda não terem
completado dois anos (17), pelo uso de estatina (1) e clearence de creatinina <
30 ml/min (2).
Dos 25 pacientes com TPI funcionante, foram excluídos 8 pelos seguintes
motivos: por ainda não terem completado um ano de seguimento após o
transplante no momento da coleta de dados (2), pelo uso de estatinas (3,
sendo 2 antes do transplante e 1 após o transplante) , ou apresentarem
clearence de creatinina < 30 ml/min (2) ou dados insuficientes no prontuário
(1). Portanto, foram incluídos os dados de 17 pacientes. Desse grupo, 6
51
pacientes foram excluídos da análise do segundo ano após o transplante pelos
seguintes motivos: por ainda não terem completado dois anos (3), por ter
apresentado rejeição do enxerto entre um e dois anos (1), pelo uso de estatina
(1) e por ter clearence de creatinina < 30 ml/min (1).
A população final para esse estudo, por tudo acima exposto, foi de 79
pacientes, sendo 62 pacientes com TDRP e 17 com TPI. A análise de segundo
ano após o transplante foi feita com os 53 pacientes, sendo 42 com TDRP e 11
com TPI.
4.9 Métodos de Análises Clínicas
A definição da presença de hipertensão arterial sistêmica foi feita pela
medida de pressão arterial do paciente assentado > 130 x 85 mmHg ou pela
história do uso de medicamentos anti-hipertensivos (CHOBANIAN, 2003).
A medida do peso corporal foi feita durante as consultas, utilizando-se
balança de precisão da marca Filizola
®
. Para os pacientes em diálise, não foi
feita a distinção de acordo com o fato do paciente ter feito ou não a hemo-
diálise no dia da consulta. O índice de massa corporal foi obtido através da
razão entre o peso corporal em Kg e o quadrado da altura em m
2
.
4.10 Métodos de Análises Químicas
Seguindo o protocolo desta pesquisa (ANEXO I), os exames laboratoriais
analisados foram a dosagem da glicemia e creatinina plasmáticas e as
dosagens dos lípides. O Clearence de Creatinina foi calculado a partir da
creatinina sérica, utilizando-se a fórmula de Cockcroft (COCKCROFT, 1976).
52
4.10.1 Determinação da Glicose e Creatinina Plasmáticas
A glicose plasmática foi determinada pelo todo de glicose-oxidase,
utilizando-se amostras em duplicatas, com equipamento semi-automático
(LABTEST DIAGNÓSTICA, BRASIL).
A creatinina sérica foi determinada pelo método cinético colorimétrico,
utilizando o ácido pícrico como reagente em equipamento semi-automático
(LABTEST DIAGNÓSTICA, BRASIL).
4.10.2 Determinação dos Lípides Séricos
Foram dosados TG, CT e HDL-c por método enzimático colorimétrico com
equipamento semi-automático (LABTEST DIAGNÓSTICA, BRASIL). Os TG
foram mensurados a partir de uma quinineimina formada pela ação de enzimas
como a lipase lipoprotéica. O HDL-c foi determinado no sobrenadante após o
tratamento da amostra com ácido fosfofungístico e cloreto de magnésio, que
precipitam seletiva e quantitativamente as VLDL-c e LDL-c. A dosagem de CT
foi feita pela mensuração de uma quinidina formada pelos ésteres de colesterol
com a ajuda da colesterol estearase, da colesterol oxidase e da peroxidase.
Por meio da equação de Friedewald puderam-se calcular os níveis de LDL-c e
VLDL-c, somente nos pacientes que apresentaram TG com níveis inferiores a
400mg/dl (FRIEDEWALD,1972). O NHDL-c foi calculado, subtraindo-se o valor
do HDL-c do valor do CT. O laboratório do HFR utiliza as recomendações do
Painel de Padronização Laboratorial do NCEP. O erro total analítico sugerido
para um intervalo de confiança de 95% é de 8,9% para CT, 13% para o HDL-c
e 15% para TG (NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION PROGRAM
EXPERT PANEL ON DETECTION, EVALUATION AND TREATMENT OF
53
HIGH BLOOD CHOLESTEROL IN ADULTS - ADULT TREATMENT PANEL III,
2002).
4.11 Tratamento estatístico
As variáveis deste estudo foram: CT, TG, HDL-c, LDL-c e NHDL-c. Todas
estas, quantitativas contínuas, foram descritas utilizando-se média e erro-
padrão, após verificação de sua distribuição normal.
As co-variáveis quantitativas do estudo foram: idade, peso, índice de massa
corporal (IMC), creatinina e clearence de creatinina. Estas também foram
descritas utilizando-se média e erro-padrão, após verificação de sua
distribuição normal.
As co-variáveis categóricas do estudo foram descritas utilizando-se as
categorias do protocolo de avaliação dos pacientes (ANEXO I).
A comparação entre variáveis categóricas foi feita utilizando-se o teste do
Qui-Quadrado (χ
2
).
As comparações das variáveis quantitativas entre tipos diferentes de
transplante foram realizadas apenas no período pré-transplante, utilizando-se o
teste t. de Student para amostras independentes.
A comparação dos resultados das variáveis quantitativas de cada paciente,
obtidos antes, após um e dois anos de transplante (T1 x T0, T2 x T0 e T2 x T1)
foi feita utilizando-se o teste t. de Student para amostras dependentes.
Foi feita, também, uma comparação em T0 e T1 entre o grupo que completou
dois anos e o grupo total de pacientes, utilizando o teste t. de Student para
amostras independentes e o teste do (χ
2
), confirmando que o sub-grupo que
completou dois anos era uma amostra representativa do total de pacientes.
54
Foi testado o princípio da homocedasticidade entre as variáveis a serem
estudadas, sendo que, quando essa condição não foi observada, foi realizado o
teste para amostras heterocedásticas.
Em todas essas comparações foi tomado, no máximo, o valor p<0,05 como
índice de significância estatística.
Para análises desses resultados foi criado um banco de dados utilizando-se o
programa Microsoft Office Excel 2003
®
e a seguir analisados utilizando-se os
programas estatísticos SAS 9.0
®
e BioESTAT 3.0
®
.
55
5-RESULTADOS
5.1 Características dos Pacientes Antes do Transplante de Pâncreas
A Tab.1 sumariza os principais dados coletados em T0. Existiam diferenças
significativas entre os pacientes que receberam TDRP e aqueles que
receberam TPI nas variáveis analisadas.
Na comparação TDRP x TPI, os pacientes com TPI possuiam melhor função
renal, avaliada pelo clearence de creatinina e pela dosagem de creatinina
sérica. Vale ressaltar, no entanto, que dois terços desses pacientes
apresentavam sinais de nefropatia diabética no exame de urina de 24 horas,
sendo que 6 pacientes (35,3%) apresentavam proteinúria. Os pacientes com
TDRP possuiam menor peso e IMC. A freqüência de hipertensão arterial
sistêmica foi maior nos que receberam TDRP, assim como o uso de diuréticos
e beta-bloqueadores. Não houve diferenças significativas entre esses dois
grupos quanto a idade, distribuição por sexo, tempo de diabetes e tipo de
drenagem exócrina dos pâncreas transplantados.
56
Tabela 1: Características dos Pacientes no Período Pré-Operatório.
Variável
Transplante de
Pâncreas Isolado (n=17)
Transplante Rim-
Pâncreas (n=62)
p
Idade (anos)
x
± SE
34,88 ± 2,4 36,66 ± 1,21 NS
Sexo (%)
F= 47,06
M= 52,94
F= 45,16
M= 54,84
NS
Tempo Diabetes
(anos- %)
< 15 = 11,76
15-30 = 76,47
> 30 = 11,76
< 15 = 12,90
15-30 = 70,97
> 30 = 16,13
NS
Nefropatia Diabética
(%)
Não= 29,40
Microalbuminúria=35,30
Proteinúria= 35,30
Terminal= 100
NA
Tempo de Hemodiálise
(anos- %)
Não Fez = 100
Não Fez= 30,65
< 1 = 22,58
> 1 = 46,77
NA
Hipertensão
Arterial (%)
Sim= 17,65
Não= 82,35
Sim= 93,55
Não= 6,45
0,00001
Uso de
Beta-Bloqueador (%)
Não= 100
Sim= 16,13
Não= 83,87
NA
Uso de Diuréticos
(%)
Sim= 11,76
Não= 88,24
Sim= 62,90
Não= 37,10
0,0005
Tipo de Drenagem
Exócrina (%)
Vesical= 58,82
Intestinal= 41,18
Vesical= 40,32
Intestinal= 59,68
NS
Peso (Kg)
x
± SE
63,34 ± 3,15 57,30 ± 1,43 0,048
IMC (Kg-m2)
x
± SE
23,42 ± 0,61 21,42 ± 0,35 0,006
Creatinina (mg-dl)
x
± SE
0,97± 0,05 6,57 ± 0,36
0,00001
Clearence de
Creatinina(ml-min)
x
± SE
91,82 ± 5,57 15,21 ± 0,90
0,00001
NS, sem significância estatística; NA, não se aplica por não haver variação dentro de um dos
grupos; IMC, Índice de Massa Corporal;
x
± SE, média ± erro-padrão; n, número de pacientes;
F, sexo feminino; M, sexo masculino; p, probabilidade.
Testes estatísticos utilizados: teste t. de Student para amostras independentes e teste do (χ
2
)
57
Em relação aos lípides séricos basais, percebe-se que os pacientes com
TDRP, quando comparados aos com TPI, apresentavam níveis superiores de
TG (142,08 ± 8,70 versus 93,52 ± 13,45 mg-dl, p= 0,004) e inferiores de HDL-c
(46,53 ± 1,06 versus 52,36 ± 2,71 mg-dl, p=0,001). Não foram encontradas
diferenças em relação à CT, LDL-c e NHDL-c entre os grupos na avaliação
basal (Tabela 2).
Tabela 2: Comparação dos Lípides Séricos Pré Operatórios entre TPI e TDRP
Variável
Transplante de
Pâncreas Isolado (n=17)
Transplante Rim-
Pâncreas (n=62)
p
CT (mg-dl)
x
± SE
196,94 ± 6,64 208,18 ± 7,53 NS
TG (mg-dl)
x
± SE
93,52 ± 13,45 142,08 ± 8,70 0,004
HDL-c (mg-dl)
x
± SE
52,36 ± 2,71 46,53 ± 1,06 0,01
LDL- c (mg-dl)
x
± SE
125,70 ± 6,08 131,19 ± 6,86 NS
NHDL-c (mg-dl)
x
± SE
144,64 ± 7,54 161,46 ± 7,05 NS
TPI, transplante isolado de pâncreas; TDRP, transplante duplo rim-pâncreas; NS, sem
significância estatística; CT, Colesterol Total; TG, Triglicérides; HDL-c, colesterol HDL; LDL-c,
colesterol LDL; NHDL-c, colesterol não HDL;
x
± SE, média ± erro-padrão; n, número de
pacientes; p, probabilidade.
Testes estatísticos utilizados: teste t. de Student para amostras independentes e teste do (χ
2
)
58
5.2 Comparação dos Lípides Séricos
5.2.1 Comparação T1 x T0
Para o TDRP, as médias dos lípides séricos dos pacientes que completaram
um ano (n=62) foram menores que as anteriores ao procedimento, com
exceção do HDL-c: CT= 208,1±7,5 versus 176,4±5,0 mg/dl, p=0,0002;
TG=142,0±8,0 versus 110,8±7,6 mg/dl, p=0,003; LDL-c=131,1±6,8 versus
106,7±4,6 mg/dl, p=0,0004; NHDL-c=161,4±7,0 versus 129,0±4,8 mg/dl,
p=0,0002; HDL-c=46,5±1,064 versus 46,8±1 mg/dl ,p=0,75 (Figura 1).
Figura 1: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes Submetidos a
Transplante de Rim-Pâncreas antes e após um ano de procedimento(n=62).
CT, Colesterol Total; TG, Triglicérides; HDL-c, Colesterol HDL; LDL-c, Colesterol LDL; NHDL-c,
Colesterol Não HDL; T0, Antes do Transplante; T1, Após um ano de transplante; p,probabilidade;
**, *** - p < 0,01 e p < 0,001, respectivamente na comparação da variável em T1 x T0
Testes estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes
***
** ***
0
50
100
150
200
250
CT TG HDL-c LDL-c NHDL-c
mg/dl
T0
T1
***
59
Não foram encontradas diferenças significativas quando se compararam as
médias dos lípides ricos dos pacientes com transplante de pâncreas isolado
que completaram um ano (n=17) com aquelas anteriores ao transplante, com
exceção de queda nos níveis de HDL-c após o transplante: Colesterol
total=196,9±6,6 versus 182,2±13,4 mg/dl, p=0,29; Triglicérides= 93,5± 13,4
versus 92,4±9,9 mg/dl, p=0,94; LDL-c=125,7±6,0 versus 114,6±12,2 mg/dl,
p=0,34; Não HDL-c=144,6±7,5 versus 133,1±13,6 mg/dl, p=0,4; HDL-
c=52,6±2,7 versus 49,0±1,7 mg/dl, p=0,04 (Figura 2).
Figura 2: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes Submetidos a Transplante
de Pâncreas Isolado antes e após um ano de Procedimento (n=17).
CT, Colesterol Total; TG, Triglicérides; HDL-c, Colesterol HDL; LDL-c, Colesterol LDL; NHDL-c,
Colesterol Não HDL; T0, Antes do Transplante; T1, Após um ano de transplante;
p,probabilidade; *, p < 0,05, na comparação da variável em T1 x T0
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes
*
0
50
100
150
200
250
CT
TG HDL-c
LDL-c
NHDL-c
mg/dl
T0
T1
60
5.2.2 Comparação T2 X T0
Diferenças semelhantes às encontradas na comparação T1 x T0 foram
observadas em pacientes com TDRP quando comparados os dados no
segundo ano (n=42) em relação aos dados desses pacientes nos pré-
operatórios: CT=215,5±9,6 versus 169,9±5,3 mg/dl, p=0,0001; TG=153,5±9,4
versus 102,3±15,2 mg/dl, p=0,01; LDL-c=136,9±9,2 versus 100,3±4,1 mg/dl,
p=0,0002; NHDL-c=170,3±9,1 versus 121,9±5,3 mg/dl, p=0,0001; HDL-
c=47,1±1,4 versus 49,1±1,7 mg/dl, p=0,1 (Figura 3).
Figura 3: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes Submetidos a Transplante
de Rim-Pâncreas antes e após um e dois anos de Procedimento (n=42).
CT, Colesterol Total; TG, Triglicérides; HDL-c, Colesterol HDL; LDL-c, Colesterol LDL; NHDL-c,
Colesterol Não HDL; T0, Antes do Transplante; T1, Após um ano de transplante; T2, Após dois
anos de transplante; p, probabilidade; **, *** p < 0,01 e p < 0,001, respectivamente
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
0
50
100
150
200
250
CT TG
HDL-c
LDL-c
NHDL-c
T0
T1
T2
*
***
***
**
**
***
***
***
***
mg/dl
61
Quando se compararam os dados dos pacientes com TPI no segundo ano
(n=11) em relação aos seus dados pré-operatórios não foram encontradas
diferenças significativas, inclusive para HDL-c. CT=197,3 ± 9,0 x 187,0±15,0
mg/dl, p=0,86; TG=90,3±8,5 x 91,9±11,4 mg/dl, p=0,86; LDL-c=127,2±8,9 x
117,3±13,6 mg/dl, p=0,35; NHDL-c=145,5±10,0 x 137,5±15,3 mg/dl, p=0,45;
HDL-c=52,3±3,0 x 50,2±2,5 mg/dl, p=0,27 (Figura 4).
Figura 4: Comparação entre os Lípides Séricos de Pacientes Submetidos a Transplante
de Pãncreas Isolado antes e após um e dois anos de Procedimento (n=11).
CT, Colesterol Total; TG, Triglicérides; HDL-c, Colesterol HDL; LDL-c, Colesterol LDL; NHDL-c,
Colesterol Não HDL; T0, Antes do Transplante; T1, Após um ano de transplante; T2, Após dois
anos de transplante; p, probabilidade. (p>0,05 para todas as comparações)
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
0
50
100
150
200
250
CT
TG
HDL-c
LDL-c
NHDL-c
T0
T1
T2
mg/dl
62
5.2.3 Comparação T1 X T2
Não foram encontradas diferenças significativas entre os lípides obtidos após
o primeiro e o segundo ano de transplante no grupo de pacientes com TDRP
(n=42) que completou dois anos de seguimento: CT=176,95±6,32 x 169,9±5,3
mg/dl, p=0,22; TG=110,28±8,52 x 102,3±15,2 mg/dl, p=1; LDL-c=106,11±5,85 x
100,3±4,1 mg/dl, p=0,34; NHDL-c=128,16±5,98 x 121,9±5,3 mg/dl, p=0,35;
HDL-c=47,8±1,45 x 49,1±1,7 mg/dl, p=0,45 (Figura 3). Da mesma forma, não
foram encontradas diferenças significativas entre os lípides obtidos após o
primeiro e o segundo ano no grupo de pacientes com TPI que completou dois
anos de seguimento (n=11): CT=175,81± 13,54 x 187,0±15,0 mg/dl, p=1;
TG=85,63±7,51 x 91,9±11,4 mg/dl, p=0,96; LDL-c=109,03±12,42 x 117,3±13,6
mg/dl, p=0,55; NHDL-c=126,18±12,63 x 137,5±15,3 mg/dl, p=0,25; HDL-
c=49,63±2,26 x 50,2±2,5 mg/dl, p=0,33 (Figura 4).
5.2.4 Modificações Percentuais Após o Transplante
A Figura 5 mostra as diminuições percentuais médias dos lípides séricos
após o TDRP. Em relação a T0, houve redução de cerca de 15% de CT, 22%
de TG, 19% de LDL-c e 20% de NHDL-c em T1, enquanto que em T2 as
reduções foram de , respectivamente, cerca de 19% de CT, 33% de TG, 27%
de LDL-c e 29% de NHDL-c em T2 . Esta figura também mostra as discretas
variações de HDL-c, com aumento de cerca de 0,5 % em T1 e 3 % em T2.
63
Figura 5: Modificações Percentuais no Intervalo de Dois Anos em Pacientes Submetidos
a Transplante Rim-Pâncreas.
CT, Colesterol Total; TG, Triglicérides; HDL-c, Colesterol HDL; LDL-c, Colesterol LDL; NHDL-c,
Colesterol Não HDL; T0, Antes do Transplante; T1, Após um ano de transplante; T2, Após dois
anos de transplante; p,probabilidade; **, *** p < 0,01 e p < 0,001, respectivamente na
comparação da variável em T1 x T0 e T2 x T0.
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
A Figura 6 mostra, por outro lado, as pequenas variações observadas
durante o estudo no grupo de pacientes com TPI. Em relação a T0, houve
redução de cerca de 7% de CT, 1% de TG, 7% de HDL-c, 9% de LDL-c e 8%
de NHDL-c em T1 e de cerca de 5% de CT, 8% de LDL-c, 5% de NHDL-c, 4%
de HDL-c e aumento de 2% de TG em T2.
-35
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
T1
T2
CT TG
HDL-c
LDL-c
NHL-c
***
***
**
**
***
***
***
***
%
64
Figura 6: Modificações Percentuais no Intervalo de Dois Anos em Pacientes
Submetidos a Transplante de Pâncreas Isolado.
CT, Colesterol Total; TG, Triglicérides; HDL-c, Colesterol HDL; LDL-c, Colesterol LDL; NHDL-c,
Colesterol Não HDL; T0, Antes do Transplante; T1, Após um ano de transplante; T2, Após dois anos de
transplante; p, probabilidade; * p<0,05 na comparação da variável em T1 x T0.
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
5.3 Modificações de Co-Variáveis após o Transplante
5.3.1 Função Renal
Ocorreu melhora da função renal após o transplante em pacientes que foram
submetidos a TDRP. Não há diferenças em relação ao primeiro e segundo ano
de seguimento nesse grupo (Tabela 3).
Em relação aos pacientes que realizaram TPI, ocorreu piora da função renal
no primeiro ano após o transplante. o diferenças em relação ao primeiro
e segundo ano de seguimento nesse grupo (Tabela 4).
-30
-25
-20
-15
-10
-5
10
5
15
20
25
30
T1
T2
CT
TG
HDL
-
c
LDL
-
c
NHDL
-
c
*
%
65
Tabela 3: Evolução da Função Renal em Pacientes com Transplante Rim-
Pâncreas no Intervalo de Dois Anos.
Variável T0 T1
T2
Creatinina (mg/dl)
x
± SE
6,57 ± 0,36
1,11 ± 0,04
#
1,10 ± 0,05
#
Clearence de
Creatinina(ml/min)
x
± SE
15,21 ± 0,90
76,07 ± 5,31
#
73,62 ± 3,44
#
#, p< 0,05 para comparações T1 x T0 e T2 x T0
x
± SE, média ± erro-padrão; T0, período pré-operatório; T1, após um ano de transplante; T2,
após dois anos de transplante; p, probabilidade.
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
Tabela 4: Evolução da Função Renal em Pacientes com Transplante de
Pâncreas Isolado Durante o Intervalo de Dois Anos.
Variável
T0 T1 T2
Creatinina (mg/dl)
x
± SE
0,97± 0,05
1,11 ± 0,05
#
1,10 ± 0,08
#
Clearence de
Creatinina(ml/min)
x
± SE
91,82± 5,57
75,41±5,31
#
81,11±6,88
#
#, p< 0,05 para comparações T1 x T0 e T2 x T0.
x
± SE, média ± erro-padrão; T0, período pré-operatório; T1, após um ano de transplante; T2,
após dois anos de transplante; p, probabilidade.
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
66
5.3.2 Alterações do Peso
Os pacientes submetidos a TDRP apresentaram ganho de peso após o
primeiro ano de transplante o que se manteve após dois anos, refletindo
inclusive sobre o IMC (Tabela 5).
Tabela 5: Evolução do Peso em Pacientes com Transplante Duplo Rim-
Pâncreas Durante o Intervalo de Dois Anos.
Variável
T0
T1 T 2
Peso (kg)
x
± SE
57,30 ± 1,43
60,29 ± 1,58
#
60,59 ± 1,62
#
IMC (Kg-m
2
)
x
± SE
21,42 ± 0,35
22,54 ± 0,37
#
22,59 ± 0,41
#
#, p< 0,05 para comparações T1 x T0 e T2 x T0.
x
± SE, média ± erro-padrão; IMC, índice de massa corporal; T0, período pré-operatório;
T1, após um ano de transplante; T2, após dois anos de transplante; p, probabilidade.
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
Os pacientes submetidos a TPI, ao contrário, apresentaram perda de peso na
avaliação após um ano de transplante, mas não após o segundo ano,
indicando uma recuperação do mesmo. Essas alterações foram discretas e não
refletiram em alterações no IMC (Tabela 6).
67
Tabela 6: Evolução do Peso em Pacientes com Transplante de Pâncreas
Isolado Durante o Intervalo de Dois Anos.
Variável
T0
T1 T 2
Peso (kg)
x
± SE
63,34 ± 3,15
60,68 ± 3,23
#
63,4 ± 3,44
IMC (Kg/m
2
)
x
± SE
23,42 ± 0,61
22,48 ± 0,65
23,49 ± 0,69
#, p< 0,05 para comparações T1 x T0 e T2 x T0
x
± SE, média ± erro-padrão; IMC, índice de massa corporal; T0, período pré-operatório; T1,
após um ano de transplante; T2, após dois anos de transplante; p, probabilidade.
Teste estatístico utilizado: teste t. de Student para amostras dependentes para as variáveis em
T1 x T0, T2 x T0 e T1 x T2.
5.3.3 Alterações da Freqüência de Hipertensão Arterial Sistêmica, Uso
de Diuréticos e de Beta-Bloqueadores
Os pacientes com TDRP apresentaram redução na freqüência de hipertensão
arterial sistêmica e do uso de diuréticos quando comparados os dados de um e
dois anos após o transplante aos dados pré-operatórios. Não houve alterações
quanto ao uso de beta-bloqueadores. Não houve quaisquer diferenças quando
se comparou o primeiro ao segundo ano de avaliação após o transplante
(Tabela 7).
68
Tabela 7: Freqüência (%) de Hipertensão Arterial Sistêmica, Uso de Diuréticos
e de Beta-Bloqueadores em Pacientes Submetidos a Transplante Rim-
Pâncreas Durante o Período de Dois Anos.
Variável (%)
T0
T1 T 2
HAS
93,55
27,42
#
35,71
#
Uso de Beta
Bloqueadores
16,13
14,52
14,29
Uso de Diuréticos
61,9
4,84
#
4,76
#
#, p< 0,05 para comparações T1 x T0 e T2 x T0.
T0, período pré-operatório; T1, após um ano de transplante; T2, após dois anos de transplante;
HAS, hipertensão arterial sistêmica; p, probabilidade.
Teste estatístico utilizado: teste do (χ
2
)
Em relação aos pacientes submetidos à TPI, não se perceberam diferenças
quanto à freqüência de hipertensão durante o período de dois anos. Os testes
estatísticos para o uso de beta-bloqueadores e diuréticos neste grupo não
foram aplicados em virtude do fato de que, em alguns momentos, 100% dos
indivíduos não usavam esses medicamentos, portanto, não ocorrendo variação
alguma. (Tabela 8).
69
Tabela 8: Freqüência (%) de Hipertensão Arterial Sistêmica, Uso de Diuréticos
e de Beta-Bloqueadores em Pacientes Submetidos a Transplante de Pâncreas
Isolado Durante o Período de Dois Anos.
Variável (%)
T0
T1 T 2
HAS
17,65
11,76
11,76
Uso de Beta
Bloqueadores
0
5,88
0
Uso de Diuréticos
11,76
0 0
T0, período pré-operatório; T1, após um ano de transplante; T2, após dois anos de
transplante; HAS, hipertensão arterial sistêmica; p; probabilidade; p> 0,05 para todas as
comparações.
Teste estatístico utilizado: teste do (χ
2
)
5.3.4 Uso de Imunossupressores
Embora todos os pacientes tenham sido inicialmente submetidos ao mesmo
protocolo de imunossupressão, ocorreram modificações durante o período do
estudo. As principais modificações foram a suspensão do glico-corticóide e a
troca do micofenolato ou tacrolimus por sirolimus, geralmente devido a efeitos
colaterais importantes. Quando se compararam os grupos de pacientes, não
foram observadas diferenças significativas nas percentagens de uso de
imunossupressores entre T1 e T2 e entre TDRP e TPI (Tabela 9). Vale
ressaltar, no entanto, que não foram analisadas as doses de cada
imunossupressor neste estudo.
70
Tabela 9: Comparação da Freqüência (%) do Uso de Imunossupressores entre
T1 e T2 e entre TDRP e TPI.
Variável (% )
Ano
TPI
TDRP
T 1 82,35
79,03
Glico-
Corticóide
T 2
72,73
61,09
T 1
100
95,16
Tacrolimus
T 2
81,82
90,48
T 1
88,24
88,71
Micofenolato
T 2
90,91
90,48
T 1
11,76
16,13
Sirolimus
T 2
27,27
19,05
T1, Após um ano de transplante; T2, Após dois anos de transplante; TDRP, transplante duplo
rim-pâncreas; TPI, transplante de pâncreas isolado; p, probabilidade.
p> 0,05 para todas as comparações entre T1 e T2
Teste estatístico utilizado: teste do (χ
2
)
71
6- DISCUSSÃO
6.1 Diferenças entre TDRP e TPI Anteriores ao Transplante
O presente estudo evidenciou diferenças significativas entre a evolução dos
lípides séricos de pacientes submetidos a TDRP e aqueles submetidos a TPI.
existiam, entretanto, diferenças nos lípides ricos entre esses grupos de
pacientes no período pré-operatório, determinando que a análise dos dados
evolutivos fosse feita separada pelo tipo de transplante. Os pacientes com
TDRP apresentavam níveis mais elevados de TG e menores de HDL-c quando
comparados aos com TPI. Por outro lado, não foram percebidas diferenças
significativas de CT e LDL-c entre esses grupos antes do transplante. Os
pacientes com TDRP, em contraste com aqueles com TPI, estavam sob as
influências da IRC, da uremia e, muitas vezes, da terapia dialítica no
metabolismo lipídico. A hipertrigliceridemia e a diminuição de HDL-c são as
principais alterações lipídicas descritas em pacientes portadores de IRC
avançada, sendo encontradas em até 70% dos casos, enquanto que a
hipercolesterolemia ocorre em cerca de 25% (CHAN, 1981). Portanto, as
diferenças dos lípides basais do presente estudo foram condizentes com as
alterações lipídicas relacionadas a IRC mais freqüentes.
6.2 Alterações dos Lípides Séricos Após o TDRP
No seguimento de dois anos de pacientes submetidos a TDRP com enxertos
funcionantes, observou-se melhora global dos lípides séricos quando
comparados com os dados pré-operatórios, resultado este observado após
um ano do procedimento. Para esse grupo de pacientes, os efeitos benéficos
72
da resolução da IRC e da melhora do controle glicêmico sobre o metabolismo
lipídico superaram os efeitos adversos do uso crônico de imunossupressores.
Ocorreu diminuição dos níveis de CT. Esses achado não foi observado em
alguns outros estudos (DAFOE, 1987; LARSEN, 1992; HUGHES, 1995;
NANKIVELL, 2000). A explicação para um resultado mais favorável no
presente estudo foi a adoção de um esquema imunossupressor com menor
efeito deletério ao metabolismo lipídico. Os estudos mais antigos utilizaram a
ciclosporina como base da imunossupressão, além do uso de glico-corticóides
em doses elevadas. Utilizando-se um esquema imunossupressor que incluía
tacrolimus e glico-corticóide na grande maioria dos casos, os efeitos adversos
do uso crônico dos imunossupressores sobre o metabolismo lipídico foram
menos pronunciados, algo também observado por McCauley e colaboradores,
analisando retrospectivamente os dados de 150 pacientes submetidos a TDRP
na Universidade de Pittsburgh em um seguimento de 5 anos (McCAULEY,
2001).
A estabilidade do HDL-c observada durante o estudo aliada à diminuição do
CT representa um indicativo de melhora global do perfil lipídico desses
pacientes. Consequentemente, a relação CT/HDL-c e o NHDL-c também
diminuem. Não foi percebida a elevação do HDL-c, descrita no estudo de
Larsen e colaboradores (LARSEN, 1992) e que geralmente acompanha a
diminuição de TG. Entretanto, outros autores também não encontraram
alterações nos níveis de HDL-c após TDRP, a despeito de diminuição de TG
(BURKE, 1995; GONZÁLEZ-POSADA, 2005; TAMAJÓN, 2005). Atribuem-se
essas discrepâncias aos diferentes níveis basais de TG e HDL-c e aos
diferentes esquemas imunossupressores utilizados entre os estudos.
73
Os TG foram os lípides mais sensíveis às modificações acarretadas pelo
TDRP no metabolismo lipídico, apresentando as maiores quedas em termos
percentuais. A diminuição do TG é descrita em praticamente todos os estudos
analisados. A magnitude dessa diminuição foi semelhante a de outros estudos
(McCULEY, 2001; GONZÁLEZ-POSADA, 2005; TAMAJÓN, 2005).
O LDL-c apresentou diminuição dia de cerca de 30% durante o estudo. A
redução de LDL-c foi um reflexo da queda de CT e TG com estabilidade de
HDL-c, tendo em vista que ele foi calculado. Sendo o LDL-c o principal alvo na
avaliação dos lípides ricos, essa redução observada é considerada o
resultado mais significativo do estudo. Interessantemente, esse percentual de
redução foi semelhante ao observado em terapias com estatinas em uma meta-
análise que concluiu que esse tipo de medicamento foi capaz de reduzir em a
incidência de eventos cardio-vasculares (GORDON, 2000).
O presente estudo também demonstrou a estabilidade dos lípides séricos
entre T1 e T2 descrita anteriormente em estudos semelhantes (ONG, 1994;
McCAULEY, 2001). A semelhança dos lípides nesses dois momentos é reflexo
da estabilidade clínica dos pacientes após o primeiro ano do transplante bem
sucedido. Ocorreram poucas mudanças no esquema de imunossupressores e
poucos pacientes foram retirados do estudo por perda de enxerto ou
complicações clínicas após um ano de transplante, reforçando a hipótese de
que passado o primeiro ano de transplante as complicações decorrentes do
mesmo diminuem significativamente (McCAULEY, 2001).
Os resultados de melhora da função renal observados nos pacientes com
TDRP eram previsíveis, à medida que se compararam dados de pacientes com
IRC e que posteriormente estavam com transplantes renais funcionantes.
74
Como conseqüência, os efeitos adversos da uremia sobre o metabolismo
lipídico desapareceram. Outros fatores que poderiam interferir de modo
negativo nos lípides séricos também se modificaram após a melhora da função
renal, sendo observada diminuição na frequência de HAS de cerca de 90 para
cerca de 30% e diminuição no uso de diuréticos de cerca de 60 para cerca de
5%. Diversas outras variáveis podem afetar o curso da HAS após o TDRP,
destacando o tipo de drenagem exócrina, a escolha do esquema
imunossupressor e o tempo de HAS, todavia a resolução da IRC merece
destaque (LARSEN, 2004). Naf e colaboradores relataram queda da freqüência
de HAS de 88% para 49% em 146 pacientes submetidos ao TDRP, em
seguimento médio de cerca de 5 anos (NAF, 2003). Fiorina e colaboradores,
em estudo de quatro anos de evolução, notaram semelhante queda da
freqüência de HAS após transplante em 42 pacientes com TDRP e 28 com
transplante renal isolado (FIORINA, 2000). Entretanto, Elliot e colaboradores,
comparando 111 pacientes DM1 submetidos a TDRP (97 receberam drenagem
vesical) com 28 pacientes submetidos a transplante renal isolado em um
seguimento de 18 meses, descreveram queda da freqüência de HAS somente
no grupo submetido a TDRP, sugerindo que o controle do diabetes e de suas
complicações também podem influenciar na melhora da HAS após o TDRP
(ELLIOT, 2001).
A melhora do controle glicêmico alcançada com a presença de um enxerto
pancreático funcionante é evidente nesse grupo de pacientes, pois os mesmos
já não possuíam mais os critérios para DM de acordo com suas glicemias (THE
EXPERT COMMITTEE ON THE DIAGNOSIS AND CLASSIFICATION OF
DIABETES MELLITUS, 1997). A melhora do controle glicêmico influencia
75
positivamente o metabolismo lipídico de pacientes diabéticos (HOWARD,
1987). Para se ter a real dimensão de sua contribuição para os resultados do
presente estudo, deveria se ter um grupo de diabéticos com IRC, com as
mesmas características dos pacientes do estudo, sendo submetidos a
transplante renal isolado. Na UT-HFR, o transplante renal isolado em pacientes
com DM1 somente é realizado em casos excepcionais, sobretudo em pacientes
com risco cirúrgico aumentado. Essa é uma dificuldade também encontrada na
literatura quando se compara esses dois tipos de procedimento. Os pacientes
com DM1 que recebem transplante renal isolado geralmente possuem maior
risco cirúrgico, ou recebem órgãos com maior tempo de isquemia, ou, ainda,
são transplantados em centros com pouca experiência em transplantes
pancreáticos (LARSEN, 2004). Larsen e colaboradores compararam dados em
um mesmo serviço, todavia em épocas diferentes, encontrando efeitos
favoráveis ao TDRP, ocorrendo queda de CT e TG somente nesse grupo
(LARSEN, 1992b). Biesenbach e colaboradores, comparando dados de
pacientes transplantados em serviços diferentes, descreveram níveis mais
baixos de TG no grupo TDRP, com níveis semelhantes de CT (BIESENBACH,
2000). Fiorina e colaboradores, comparando dados entre pacientes que
receberam TDRP e aqueles que receberam somente o transplante renal devido
a alterações macroscópicas no pâncreas do doador ou aqueles que
apresentaram perda precoce do enxerto pancreático, também encontraram
resultados semelhantes ao de Biesenbach e colaboradores (FIORINA, 2001).
Os pacientes submetidos a TDRP ganharam em média cerca de 3 kg durante
o estudo, sendo esse ganho já percebido em T1. O ganho de peso que ocorreu
no estudo ainda manteve o IMC médio na faixa considerada normal. Os
76
estudos que abordaram essa variável mostram resultados discordantes.
Hughes e colaboradores descreveram aumento importante de peso, em média
8 kg, tanto em pacientes submetidos à TDRP como a transplante renal isolado
(HUGHES, 1994). Todavia, outros estudos mostraram ganhos discretos, cerca
de 0 a 1 kg ano, após TDRP (MARKOWSKI, 1996; NANKIVELL, 2000).
Ressalta-se que as doses dos imunossupressores e glico-corticóides utilizadas
nos estudos foram diferentes.
6.3 Alterações dos Lípides Séricos Após o TPI
No seguimento de dois anos de pacientes submetidos ao TPI, percebeu-se
estabilidade dos lípides séricos, sendo a diminuição no nível médio de HDL-c
em T1 a única modificação encontrada. Essa alteração ficou bem próxima do
valor de significância estatística adotado no estudo, com um p=0,045. Esse
achado não foi relatado previamente na literatura em relação aos transplantes
pancreáticos. relato semelhante, todavia com maior magnitude, em
pacientes transplantados de coração, sendo relacionada ao uso dos
imunossupressores, sobretudo dos glico-corticóides, acarretando insulino-
resistência (BALLANTYNE, 1992). Quando se analisam os dados dos
pacientes que completaram dois anos de seguimento, essa queda não foi
percebida, sugerindo transitoriedade desse processo. O fato dessa alteração
não ter sido observada nos pacientes com TDRP pode estar relacionada ao
fato desse grupo ter partido de um nível basal médio de HDL-c inferior quando
comparado aos pacientes com TPI.
Traçando-se um paralelo com os dados do grupo de TDRP, percebe-se que
os resultados de evolução dos lípides séricos de pacientes com TPI durante o
77
estudo foram diferentes. Este último grupo não obteve os benefícios da
melhora da função renal. Apesar do perfil lipídico não apresentar melhora
nesse grupo de pacientes, é notável o fato de que também não houve piora do
mesmo, a despeito dos pacientes terem sido submetidos a tratamento crônico
com imunossupressores potencialmente nocivos ao metabolismo lipídico. A
estabilidade dos lípides séricos dos pacientes submetidos a TPI sugere a
existência de equilíbrio entre os fatores que pioram e melhoram os lípides
séricos após o transplante, fortalecendo a idéia que o controle glicêmico
influencia positivamente o metabolismo lipídico. Assim como no grupo de
TDRP, não ocorreram alterações significativas nos lípides entre T1 e T2,
retratando a estabilidade que ocorre no perfil lipídico durante esse período de
análise.
Os resultados do presente estudo são discordantes daqueles de Henley e
colaboradores que descreveram aumento dos pides séricos, sobretudo TG e
HDL-c, após o TPI (HENLEY, 1999). Nesse estudo, no entanto, houve
expressiva piora da função renal e ganho de peso após o TPI, atribuídos ao
esquema imunossupressor com ciclosporina. Em um estudo mais recente e
utilizando o tacrolimus, Coppelli e colaboradores relataram estabilidade de TG
e HDL-c após TPI (COPPELLI, 2003).
No presente estudo, a despeito de terem sido excluídos os pacientes com
disfunção renal avançada após o transplante, ocorreu piora relativa da função
renal no grupo de pacientes com TPI. Essa piora da função renal é atribuída
aos efeitos nefrotóxicos dos inibidores de calcineurina. Sutherland e
colaboradores, analisando os dados de 233 pacientes submetidos ao TPI na
Universidade de Minesota, observaram que 15,4% necessitaram de um
78
posterior transplante renal (SUTHERLAND, 2001). Stratta e colaboradores
descreveram queda de cerca de 25% do clearence de creatinina em pacientes
em uso de inibidores de calcineurina, sendo essa importante questão a ser
considerada no momento da indicação do TPI (STRATTA, 1993).
Em relação à evolução do peso nos pacientes submetidos a TPI, houve
perda de peso no primeiro ano após o transplante, podendo estar relacionada a
complicações clínicas ocorridas, como re-internações, infecções oportunistas e
novos procedimentos cirúrgicos, que são freqüentes no primeiro ano após o
transplante (LARSEN, 2004). Essa perda de peso não foi percebida no grupo
com TDRP, pois estes pacientes apresentavam um peso médio inferior aos
com TPI no pré-operatório, sobretudo pelo estado consuptivo da IRC. Com a
maior estabilidade clínica dos pacientes, ocorreu recuperação desse peso, que
ao final do estudo foi semelhante ao inicial. Henley e colaboradores, utilizando
esquema de imunossupressão com ciclosporina, relataram aumento de IMC
(HENLEY, 1999). Por outro lado, Coppelli e colaboradores observaram
manutenção do peso em pacientes após TPI, utilizando o tacrolimus
(COPPELLI, 2003). Os esquemas de imunossupressão com tacrolimus
permitem o uso de menores doses de glico-corticóide, promovendo alterações
de peso mais discretas e consequentemente menor influência no metabolismo
lipídico.
6.4 Limitações do Estudo
O presente estudo apresenta algumas limitações inerentes ao fato de ser um
estudo observacional, não se podendo controlar todas as co-variáveis. Um
exemplo dessa limitação foram as variações ao esquema imunossupressor
79
padrão em alguns poucos casos durante o estudo. Além disso, as doses dos
imunossupressores utilizadas não foram analisadas, tomando-se do princípio
de que todos os pacientes estavam com as doses de acordo com o protocolo
de imunossupressão adotado no HFR.
Outro problema observado foi a conduta frente aos exames laboratoriais
alterados. A recomendação para o achado de um perfil lipídico alterado é de se
repetir o exame num intervalo entre 1 e 8 semanas e verificar se houve
variações maiores do que as variações intra-individuais permitidas, reduzindo
assim a variabilidade entre ensaios e aumentando a precisão diagnóstica
(SANTOS, 2006). Frequentemente não foi tomada essa conduta, sobretudo no
período pré-operatório. Optou-se por incluir neste estudo apenas o último perfil
lipídico anterior ao transplante e o primeiro perfil lipídico obtido após o paciente
ter completado um e dois anos de transplante.
A última consideração a respeito de limitações do estudo se refere ao número
de pacientes com TPI incluídos no estudo. Embora a proporção entre TDRP e
TPI esteja de acordo com o que acontece normalmente na UT-HFR e em
vários outros centros, o número absoluto de pacientes ainda foi pequeno.
6.5 Considerações Finais
Após análise do presente estudo, percebe-se ainda a necessidade de novos
estudos no campo do metabolismo lipídico e transplante pancreático.
Com relação ao TDRP, é necessário um estudo comparando a evolução
desses pacientes com um grupo semelhante que foi submetido apenas a
transplante renal isolado. Idealmente deveria haver uma randomização de
modo que a chance do indivíduo ser submetido a cada um desses transplantes
80
fosse a mesma. Todavia, do ponto de vista ético, esse seria um trabalho
questionável, tendo em vista os outros benefícios da adição do transplante
pancreático ao procedimento.
O estudo do perfil lipídico em pacientes com TPI possui um número maior de
lacunas a serem preenchidas. Uma questão crucial é a inclusão de um maior
número de pacientes no estudo, na tentativa de se minimizar o grande número
de co-variáveis existentes.
Existe ainda a possibilidade da realização de estudos comparativos entre
esquemas imunossupressores, sobretudo com a inclusão de um maior número
de pacientes com esquemas mais novos, que utilizam o sirolimus e a retirada
precoce de glico-corticóides.
Por fim, são necessários estudos que analisem desfechos clínicos, ou seja,
morbi-mortalidade cardio-vascular, de acordo com a prevalência das alterações
nos lípides séricos desses pacientes e a capacidade do seu tratamento
medicamentoso com drogas hipolipemiantes em preveni-los.
81
7.0 – CONCLUSÕES
No seguimento de dois anos de pacientes submetidos a transplante rim-
pâncreas com enxertos funcionantes, observou-se melhora dos lípides séricos
quando comparados com os dados pré-operatórios, com diminuição de CT, TG,
LDL-c, NHDL-c e estabilidade de HDL-c, resultado este observado após um
ano do procedimento.
No seguimento de dois anos de pacientes submetidos a transplante de
pâncreas isolado, observou-se estabilidade dos lípides séricos quando
comparados com os dados pré-operatórios, sendo uma transitória diminuição
de HDL-c no primeiro ano após o transplante, a única alteração significativa
observada durante o estudo.
Os pacientes submetidos a transplante rim-pâncreas apresentavam no
período pré-operatório níveis de TG mais elevados e níveis de HDL-c mais
baixos em relação aos pacientes submetidos a transplante de pâncreas
isolado.
Não houve alterações significativas em ambos os grupos de pacientes entre
os lípides séricos obtidos após um e dois anos de transplante.
82
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.
90
ANEXO I – Protocolo de Avaliação dos Pacientes
(Preencher uma folha para cada tempo de transplante= T0, T1 e T2)
Número do Paciente=
Tipo Transplante = 1-Isolado 2-Rim-Pâncreas
Tempo de Transplante em anos = 0 (Pré) 1 2
Idade em anos=
Sexo: 1-fem 2-masc
Tempo de DM em anos= 1- <15 2- 15-30 3- >30
Tempo HD em meses= 0- não 1- < 3 2- 3-12 3- >12
Hipertensão Arterial= 1- sim 2- não
Uso de Beta-bloqueador = 1-sim 2-não
Uso de Diuréticos= 1-sim 2-não
Drenagem exócrina= 1- vesical 2- intestinal
Peso em Kg =
IMC em Kg-m
2
=
Glicemia de Jejum em mg-dl=
Creatinina sérica em mg-dl=
Clearence de Creatinina Calculado em ml-min=
Colesterol total em mg-dl =
Triglicérides em mg-dl=
HDL-colesterol em mg-dl=
LDL-colesterol em mg-dl=
Colesterol Não HDL em mg-dl=
Uso de Corticoide= 1- sim 2- não
Uso de Tacrolimus= 1- sim 2- não
Uso de Sirolimus= 1- sim 2 –não
Uso de Micofenolato= 1- sim 2 -não
Outros medicamentos em uso:
91
ANEXO II – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
TÍTULO DA PESQUISA:AVALIAÇÃO DO METABOLISMO GLICÊMICO, LIPÍDICO E
FUNÇÃO RENAL EM PACIENTES TRANSPLANTADOS DE PÂNCREAS COM
ENXERTO FUNCIONANTE
PESQUISADORES RESPONSÁVEIS: DR. MÁRCIO WEISSHEIMER LAURIA
DR. ANTÔNIO RIBEIRO OLIVEIRA JR.
O transplante de pâncreas ainda é considerado um procedimento novo e
ainda existem muitas dúvidas a seu respeito. O esclarecimento dessas vidas
pode ajudar na indicação de novos transplantes e no acompanhamento dos
pacientes que foram transplantados.
Estamos convidando pacientes como você, que recebeu transplante de
pâncreas, a participar de uma nova pesquisa.
O objetivo dessa pesquisa é estudar possíveis alterações de glicose e
de gorduras em seu sangue, além de avaliar como está o funcionamento de
seus rins.
Para isso estamos fazendo uma consulta ao seu prontuário, avaliando exames
que você realizou recentemente e os comparando com os exames que você
fizera antes do transplante.Colheremos, também, dados a respeito de sua
idade, sexo, profissão, tempo de diabetes e complicações do diabetes, data e
tipo de transplante realizado, medicamentos em uso e complicações que
ocorreram após o seu transplante.
Esses dados serão analisados em conjunto com os de outros pacientes
posteriormente e está prevista sua publicação em revista médica científica. Seu
nome e seus dados pessoais serão mantidos em sigilo durante toda a
pesquisa.
Não há riscos para você, tendo em vista que a pesquisa envolve
apenas a coleta de dados do seu prontuário e sua identidade não será
revelada.
Sua participação é voluntária.
Em caso de recusa em participar do estudo, você continuará
recebendo a mesma assistência que recebe normalmente.
Participando do estudo, você não obterá nenhum benefício adicional
em relação aos pacientes que não aceitarem participar do estudo.
92
Eu, ---------------------------------------, portador do RG: ------------------
-----
afirmo que estou de acordo com a pesquisa de dados referentes a minha
glicose, minhas gorduras no sangue e o funcionamento de meus rins em
meu prontuário. Fui informado sobre a forma como a pesquisa sefeita e
sobre o fato de minha participação ser voluntária e sem riscos para minha
pessoa. As minhas dúvidas foram esclarecidas e a preservação do sigilo de
minha identidade me foi garantida. Por isso, abaixo assino:
Data:
Unidade de Transplantes Hospital Felício Rocho
Avenida do Contorno 9530. Barro Preto
Belo Horizonte-MG. CEP: 30110908
Telefone: (31)- 33397179
Comitê de Ética em Pesquisa Científica do Hospital Felício Rocho
Rua Timbiras 3642 sala 803. Barro Preto
Belo Horizonte-MG. CEP= 30140062
Telefone: (31)- 32953795
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais
Prédio da Reitoria- 7
o
andar – sala 7018- Campus- Pampulha- UFMG
Belo Horizonte- MG .
Telefone: (31)- 34994592
93
Anexo III- Planilhas dos Dados Utilizados
Tabela 10: Comparação T1 x T0 para TDRP (figura 1, 62 pacientes)
Pacientes
CT-
T0
CT-
T1
TG-
T0
TG-
T1
HDL
T0
HDL
T1
LDL
T0
LDL
T1
NHDL
T0
NHDL
T1
RP1 200 172 78 128 54 61 130 85 146 111
RP2 181 176 109 150 38 41 121 97 143 135
RP3 228 136 269 91 40 41 134 79 229 97
RP4 213 124 89 88 41 41 154 65 172 84
RP5 195 173 95 80 46 48 130 111 149 125
RP6 248 173 117 83 48 41 177 115 200 132
RP7 165 160 109 74 68 60 75 85 97 100
RP8 184 188 46 54 42 41 113 62 132 75
RP9 227 228 91 56 50 51 159 166 177 177
RP10 366 191 146 96 57 54 286 118 309 137
RP11 203 211 81 95 39 42 148 150 164 169
RP12 237 251 195 78 46 45 142 190 191 205
RP13 281 141 170 126 40 32 206 74 241 96
RP14 215 205 113 56 64 66 128 128 151 139
RP15 104 134 199 47 31 39 33 85 73 95
RP16 166 114 214 77 34 32 89 67 180 82
RP17 216 190 181 191 41 40 132 112 175 151
RP18 315 194 205 96 40 41 234 134 275 153
RP19 138 136 87 117 42 44 79 69 96 92
RP20 209 170 102 118 50 52 132 95 159 118
RP21 178 159 256 71 41 49 86 96 215 110
RP22 231 164 263 164 47 60 131 92 216 104
RP23 205 237 115 91 61 55 121 164 144 182
RP24 149 158 136 130 44 47 78 85 105 111
RP25 188 186 165 53 54 58 101 117 134 128
RP26 161 155 83 71 46 47 98 94 115 108
RP27 221 183 239 148 39 37 134 116 182 146
RP28 164 182 90 80 38 58 95 108 126 124
RP29 301 233 131 131 50 51 220 156 249 182
RP30 284 137 101 67 48 49 216 73 236 90
RP31 176 248 256 320 37 34 88 150 139 214
RP32 198 178 213 92 42 63 113 97 156 86
RP33 203 78 120 37 64 41 115 30 90 82
RP34 167 161 158 154 45 48 90 82 122 113
RP35 158 134 92 47 56 50 84 72 102 82
RP36 157 130 96 64 37 35 101 82 120 95
RP37 195 169 109 55 35 30 138 128 159 139
RP38 311 200 131 104 42 40 243 139 263 160
RP39 124 185 91 225 35 27 71 122 89 158
RP40 98 135 66 327 32 31 53 39 66 104
94
TDRP, transplante duplo rim-pâncreas; RP, pacientes submetidos a TDRP; CT, colesterol total;
TG, triglicérides; HDL-c, colesterol HDL; LDL-c; colesterol LDL; NHDL-c, colesterol não HDL,
T0, antes do transplante; T1, após um ano de transplante;
x
, média aritmética; SE; erro
padrão.
RP41 230 188 156 114 55 56 144 79 175 132
RP42 278 161 141 74 47 42 203 104 231 119
RP43 142 181 23 164 45 47 92 101 97 134
RP44 200 179 275 230 54 40 91 93 146 139
RP45 173 144 90 175 42 40 113 69 131 104
RP46 171 183 124 99 37 38 109 125 134 145
RP47 187 180 34 73 46 45 134 120 141 135
RP48 207 164 88 60 61 60 128 92 146 104
RP49 165 188 80 209 41 42 108 104 124 146
RP50 234 268 85 82 52 55 165 197 182 213
RP51 166 197 192 117 42 44 86 129 124 154
RP52 297 137 163 95 43 47 221 75 254 90
RP53 316 159 226 100 40 47 141 92 186 112
RP54 138 175 91 116 46 51 74 100 92 124
RP55 128 114 207 106 52 55 35 38 76 59
RP56 193 265 49 96 62 62 121 184 131 203
RP57 328 237 225 240 54 45 229 143 274 192
RP58 249 173 175 48 47 44 167 120 202 129
RP59 195 263 148 126 55 62 110 178 140 201
RP60 245 222 262 104 51 60 142 141 193 162
RP61 161 163 121 108 53 53 84 75 108 110
RP62 344 191 196 92 46 44 259 129 298 147
x
208,1 176,4 142 110,8 46,5 46,8 131,1 106,7 161,4 129
SE
7,5 5 8 7,6 1,1 1,1 6,8 4,6 7 4,8
95
Tabela 11: Comparação T1 x T0 para TPI (figura 2, 17 pacientes)
Pacientes
CT-
T0
CT-
T1
TG-
T0
TG-
T1
HDL
T0
HDL
T1
LDL
T0
LDL
T1
NHDL
T0
NHDL
T1
ISO1 174 126 59 81 49 53 113 57 125 73
ISO2 205 158 70 53 70 52 121 95 135 106
ISO3 196 339 97 227 42 40 134 253 154 299
ISO4 184 188 46 54 42 41 132 136 142 147
ISO5 195 224 55 63 49 49 135 162 146 175
ISO6 207 104 139 69 42 41 137 49 165 63
ISO7 221 212 92 69 52 49 150 149 169 163
ISO8 240 172 137 129 43 41 170 105 203 131
ISO9 174 191 95 105 62 60 93 110 112 131
ISO10 196 192 64 62 47 52 136 128 149 140
ISO11 176 190 49 94 70 56 96 115 106 134
ISO12 230 255 105 120 52 55 157 176 178 200
ISO13 209 166 65 74 72 55 124 96 137 111
ISO14 158 137 80 89 38 38 96 81 120 99
ISO15 238 155 280 99 44 43 138 92 194 112
ISO16 205 165 95 91 65 61 133 86 140 104
ISO17 140 124 62 92 56 48 72 58 84 76
x
196,9 182,2 93,5 92,4 52,6 49 125,7 114,6 144,6 133,1
SE
6,6 13,4 13,4 9,9 2,7 1,7 6 12,2 7,5 13,6
TPI, transplante isolado de pâncreas; ISO, pacientes submetidos a TPI; CT, colesterol total;
TG, triglicérides; HDL-c, colesterol HDL; LDL-c; colesterol LDL; NHDL-c, colesterol não HDL,
T0, antes do transplante; T1, após um ano de transplante;
x
, média aritmética; SE; erro
padrão.
96
Tabela 12: Comparação T2 x T0 para TDRP (figura 3, 42 pacientes)
Pacientes
CT-
T0
CT-
T2
TG-
T0
TG-
T2
HDL
T0
HDL
T2
LDL
T0
LDL
T2
NHDL
T0
NHDL
T2
RP1 200 178 78 98 54 67 130 98 146 111
RP2 181 166 109 96 38 42 121 105 143 124
RP3 228 155 269 80 40 41 134 98 229 114
RP4 213 122 89 127 41 41 154 56 172 81
RP5 195 182 95 74 46 51 130 116 149 131
RP6 248 164 117 78 48 42 177 115 200 122
RP7 165 147 109 38 68 66 75 73 97 81
RP10 366 167 146 70 57 51 286 102 309 116
RP11 203 248 81 175 39 49 148 164 164 199
RP12 237 129 195 67 46 37 142 79 191 92
RP13 281 116 170 109 40 28 206 66 241 88
RP14 215 187 113 40 64 70 128 109 151 147
RP15 104 142 199 28 31 43 33 93 73 99
RP16 166 108 214 56 34 29 89 67 180 79
RP17 216 202 181 157 41 43 132 128 175 159
RP18 315 176 205 66 40 40 234 123 275 136
RP21 178 167 256 41 41 48 86 110 215 119
RP22 231 177 263 177 47 55 131 107 216 122
RP23 205 213 115 80 61 59 121 138 144 154
RP24 149 148 136 176 44 49 78 89 105 99
RP26 161 155 83 69 46 48 98 93 115 107
RP28 164 177 90 34 38 52 95 118 126 124
RP29 301 163 131 37 50 55 220 97 249 126
RP32 198 155 213 70 42 61 113 80 156 94
RP33 203 120 120 38 64 47 115 65 90 86
RP34 167 157 158 124 45 46 90 86 122 111
RP38 311 182 131 90 42 39 243 132 263 143
RP40 98 249 66 340 32 30 53 91 66 219
RP41 230 165 156 60 55 73 144 76 175 92
RP42 278 235 141 184 47 44 203 154 231 191
RP44 200 209 275 288 54 41 91 110 146 168
RP45 173 133 90 90 42 40 113 75 131 93
RP46 171 175 124 89 37 39 109 118 134 136
RP48 207 150 88 75 61 65 128 60 146 85
RP51 166 157 192 75 42 43 86 75 124 113
RP52 297 141 163 57 43 48 221 81 254 93
RP55 128 120 207 80 52 58 35 46 76 62
RP56 193 226 49 99 62 65 121 141 131 161
RP57 328 202 225 167 54 50 229 119 274 152
RP59 195 208 148 87 55 60 110 130 140 148
RP60 245 190 262 64 51 62 142 115 193 128
RP62 344 175 196 51 46 46 259 119 298 129
x
215,5 169,9 153,5 102,3 47,1 49,1 136,9 100,3 170,3 121,9
SE
9,6 5,3 9,4 15,2 1,4 1,7 9,2 4,1 9,1 5,3
97
TDRP, transplante duplo rim-pâncreas; RP, pacientes submetidos a TDRP; CT, colesterol total;
TG, triglicérides; HDL-c, colesterol HDL; LDL-c; colesterol LDL; NHDL-c, colesterol não HDL,
T0, antes do transplante; T2, após dois anos de transplante;
x
, média aritmética; SE; erro
padrão. (os números de pacientes que não apareceram são os daqueles que não completaram
dois anos de seguimento)
Tabela 13: Comparação T2 x T0 para TPI (figura 3, 11pacientes)
Pacientes
CT-
T0
CT-
T2
TG-
T0
TG-
T2
HDL
T0
HDL
T2
LDL
T0
LDL
T2
NHDL
T0
NHDL
T2
ISO2 205 163 70 65 70 51 121 99 135 112
ISO5 195 217 55 131 49 47 135 144 146 170
ISO6 207 256 139 157 42 40 137 185 165 216
ISO7 221 205 92 88 52 51 150 136 169 163
ISO8 240 201 137 140 43 42 170 131 203 159
ISO9 174 192 95 69 62 63 93 115 112 129
ISO10 196 136 64 60 47 51 136 64 149 85
ISO12 230 254 105 121 52 54 157 176 178 200
ISO14 158 139 80 50 38 38 96 89 120 101
ISO16 205 199 95 73 65 64 133 120 140 135
ISO17 140 95 62 57 56 52 72 32 84 43
x
197,3 187 90,3 91,9 52,3 50,2 127,2 117,3 145,5 137,5
SE
9 15 8,5 11,4 3 2,5 8,9 13,6 10 15,3
TPI, transplante isolado de pâncreas; ISO, pacientes submetidos a TPI; CT, colesterol total;
TG, triglicérides; HDL-c, colesterol HDL; LDL-c; colesterol LDL; NHDL-c, colesterol não HDL,
T0, antes do transplante; T2, após dois anos de transplante;
x
, média aritmética; SE; erro
padrão (os números de pacientes que não apareceram são os daqueles que não completaram
dois anos de seguimento).
98
Tabela 14: Comparação T2 x T1 para TDRP (figura 3, 42 pacientes)
Pacientes
CT-
T1
CT-
T2
TG-
T1
TG-
T2
HDL
T1
HDL
T2
LDL
T1
LDL
T2
NHDL
T1
NHDL
T2
RP1 172 178 128 98 61 67 85 98 111 111
RP2 176 166 150 96 41 42 97 105 135 124
RP3 136 155 91 80 41 41 79 98 97 114
RP4 124 122 88 127 41 41 65 56 84 81
RP5 173 182 80 74 48 51 111 116 125 131
RP6 173 164 83 78 41 42 115 115 132 122
RP7 160 147 74 38 60 66 85 73 100 81
RP10 191 167 96 70 54 51 118 102 137 116
RP11 211 248 95 175 42 49 150 164 169 199
RP12 251 129 78 67 45 37 190 79 205 92
RP13 141 116 126 109 32 28 74 66 96 88
RP14 205 187 56 40 66 70 128 109 139 147
RP15 134 142 47 28 39 43 85 93 95 99
RP16 114 108 77 56 32 29 67 67 82 79
RP17 190 202 191 157 40 43 112 128 151 159
RP18 194 176 96 66 41 40 134 123 153 136
RP21 159 167 71 41 49 48 96 110 151 159
RP22 164 177 164 177 60 55 92 107 153 136
RP23 237 213 91 80 55 59 164 138 110 119
RP24 158 148 130 176 47 49 85 89 104 122
RP26 155 155 71 69 47 48 94 93 182 154
RP28 182 177 80 34 58 52 108 118 111 99
RP29 233 163 131 37 51 55 156 97 108 107
RP32 178 155 92 70 63 61 97 80 124 124
RP33 78 120 37 38 41 47 30 65 182 126
RP34 161 157 154 124 48 46 82 86 86 94
RP38 200 182 104 90 40 39 139 132 160 143
RP40 135 249 327 340 31 30 39 91 104 219
RP41 188 165 114 60 56 73 79 76 132 92
RP42 161 235 74 184 42 44 104 154 119 191
RP44 179 209 230 288 40 41 93 110 139 168
RP45 144 133 175 90 40 40 69 75 104 93
RP46 183 175 99 89 38 39 125 118 145 136
RP48 164 150 60 75 60 65 92 60 104 85
RP51 197 157 117 75 44 43 129 75 154 113
RP52 137 141 95 57 47 48 75 81 90 93
RP55 114 120 106 80 55 58 38 46 59 62
RP56 265 226 96 99 62 65 184 141 203 161
RP57 237 202 240 167 45 50 143 119 192 152
RP59 263 208 126 87 62 60 178 130 201 148
RP60 222 190 104 64 60 62 141 115 162 128
RP62 191 175 92 51 44 46 129 119 147 129
x
176,4 169,9 110,8 102,3 46,8 49,1 106,7 100,3 129 121,9
SE
5 5,3 7,6 15,2 1,1 1,7 4,6 4,1 4,9 5,3
99
TDRP, transplante duplo rim-pâncreas; RP, pacientes submetidos a TDRP; CT, colesterol total;
TG, triglicérides; HDL-c, colesterol HDL; LDL-c; colesterol LDL; NHDL-c, colesterol não HDL,
T1, após um ano de transplante; T2, após dois anos de transplante;
x
, média aritmética; SE;
erro padrão. (os números de pacientes que não apareceram são os daqueles que não
completaram dois anos de seguimento)
Tabela 15: Comparação T2 x T1 para TPI (figura 4, 11 pacientes)
Pacientes
CT-
T1
CT-
T2
TG-
T1
TG-
T2
HDL
T1
HDL
T2
LDL
T1
LDL
T2
NHDL
T1
NHDL
T2
ISO2 158 163 53 65 52 51 95 99 106 112
ISO5 224 217 63 131 49 47 162 144 175 170
ISO6 104 256 69 157 41 40 49 185 63 216
ISO7 212 205 69 88 49 51 149 136 163 163
ISO8 172 201 129 140 41 42 105 131 131 159
ISO9 191 192 105 69 60 63 110 115 131 129
ISO10 192 136 62 60 52 51 128 64 140 85
ISO12 255 254 120 121 55 54 176 176 200 200
ISO14 137 139 89 50 38 38 81 89 99 101
ISO16 165 199 91 73 61 64 86 120 104 135
ISO17 124 95 92 57 48 52 58 32 76 43
x
182,2 187 92,4 91,9 49 50,2 114,6 117,3 133,2 137,5
SE
13,4 15 9,9 11,4 1,8 2,5 12,3 13,6 13,6 15,3
TPI, transplante isolado de pâncreas; ISO, pacientes submetidos a TPI; CT, colesterol total;
TG, triglicérides; HDL-c, colesterol HDL; LDL-c; colesterol LDL; NHDL-c, colesterol não HDL,
T1, após um ano de transplante; T2, após dois anos de transplante;
x
, média aritmética; SE;
erro padrão (os números de pacientes que não apareceram são os daqueles que não
completaram dois anos de seguimento).
100
Anexo IV- Cartas de Aprovação nos Comitês de Ética em pesquisa
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