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Esther Angélica Coelho Costa
COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS NA MIGRÂNEA
COM E SEM ABUSO DE MEDICAÇÕES ANALGÉSICAS
Dissertação apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais como pré-requisito para obtenção do
Título de Mestre em Clínica Médica
Belo Horizonte
2007
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II
Esther Angélica Coelho Costa
COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS NA MIGRÂNEA
COM E SEM ABUSO DE MEDICAÇÕES ANALGÉSICAS
Dissertação apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais como pré-requisito para obtenção do
Título de Mestre em Clínica Médica
Orientador: Prof. Dr. António Lúcio Teixeira Jr.
Belo Horizonte
2007
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III
Costa, Esther Angélica Coelho.
C837c Comorbidades psiquiátricas na migrânea com e sem abuso de medicações
analgésicas [manuscrito] / Esther Angélica Coelho Costa.
– 2007.
101f., enc. : il., tabs.
Orientador: Antônio Lúcio Teixeira Júnior.
Área de concentração: Neuropsiquiatria.
Linha de pesquisa: Transtornos Neuropsiquiátricos e Cefaléia.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Medicina.
Bibliografia: f. 62-74.
Apêndices: f. ii-xvii
Anexos: f. 75-84.
1. Enxaqueca – Teses. 2. Cefaia – Teses. 3. Psiquiatria – Teses.
4. Medicamentos – Abuso – Teses. 5. Medicamentos – Utilização – Teses.
6. Analgésicos – Teses. 8. Qualidade de vida – Teses. 9. Teixeira Júnior,
Antônio Lúcio. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina.
III. Título.
NLM: WL 342
IV
REITOR:
PROFESSOR RONALDO TADÊU PENA
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO:
JAIME ARTURO RAMIREZ
DIRETOR DA FACULDADE DE MEDICINA:
PROF. FRANCISCO JOSÉ PENNA
COORDENADOR DO CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO:
PROF. CARLOS FARIA SANTOS AMARAL
COLEGIADO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA:
PROF. CARLOS FARIA AMARAL (COORDENADOR)
PROFª. MARIA DA CONSOLAÇÃO VIEIRA MOREIRA (SUBCOORDENADORA)
PROF. ANTÔNIO CARLOS MARTINS GUEDES
PROF. MARCUS VINÍCIUS DE MELO ANDRADE
PROF. NILTON ALVES DE REZENDE
PROFª. SUELY MEIRELES REZENDE
ELIZABETE ROSÁRIA DE MIRANDA (REPRESENTANTE DISCENTE)
V
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Antônio Lúcio Teixeira Jr., pelo exemplo de profissionalismo, pela
disponibilidade, amizade e paciência.
Aos colegas do ambulatório de Cefaléias, Rodrigo, Ariovaldo, Juliana, Fidel, Mel da
Costa, Felipe Galvão, Luiz, João, Fred e Monique, pelo apoio e cumplicidade.
Aos contemporâneos do mestrado em Clínica Médica, Arthur Krummer e Mariana
Ybarra, pela inspiração, incentivo e amizade.
Ao Dr. Fabio Rocha pelos primeiros ensinamentos em psiquiatria e pela honra em
compor a banca de avaliação de minha dissertação.
Ao meu Léo, pelo amor, carinho, admiração, respeito e cumplicidade.
Aos colegas de Acadepol, pelo amadurecimento durante o longo período de
convivência.
Aos meus pais e irmãos, pelo alicerce e amor incondicionais, mesmo à distância. Aos
meus tios e primos em Minas, em especial, tia Mila, tio Toca, Solange e Vivian pelo
carinho e colo constantes. Aos “tios” Ricardo, Rocke e Paulinho pelo apoio inicial e
exemplos de integridade.
.
VI
“Mestre, depois de Pai, é o nome mais nobre e
mais doce que um homem pode dar a outro”
Edmondo D’Amicis (1846-1908)
VII
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS....................................................................................................IX
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................XI
LISTA DE ABREVIAÇÕES.........................................................................................XII
RESUMO.....................................................................................................................XIV
SUMMARY.................................................................................................................XVI
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
1.1. A CLÍNICA DA MIGRÂNEA........................................................................2
1.2. TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS E CEFALÉIA.....................................3
1.3. ABUSO DE MEDICAÇÕES E MIGRÂNEA................................................9
2. COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS E MIGRÂNEA............................................15
2.1. PERSONALIDADE MIGRANOSA...........................................................15
2.1.1. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE E
MIGRÂNEA....................................................................................................................15
2.2. TRANSTORNOS DEPRESSIVOS E MIGRÂNEA....................................16
2.3. TRANSTORNOS ANSIOSOS E MIGRÂNEA...........................................17
2.4. SUICÍDIO E MIGRÂNEA...........................................................................18
2.5. CEFALÉIA ATRIBUÍDA A TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS...........19
2.6. SOMATIZAÇÃO E MIGRÂNEA...............................................................20
3. OBJETIVOS................................................................................................................22
3.1.OBJETIVO GERAL.......................................................................................22
3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS.........................................................................22
4. CASUÍSTICA E MÉTODOS......................................................................................23
4.1. DELINEAMENTO DO ESTUDO...............................................................23
4.1.1. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO...................................................................23
VIII
4.1.2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO..................................................................23
4.2. INSTRUMENTOS.......................................................................................24
4.2.1. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA........................24
4.2.2. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA
CEFALÉIA......................................................................................................................28
4.2.3. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE
VIDA...............................................................................................................................30
4.3. PROCEDIMENTOS.....................................................................................32
4.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA...........................................................................33
5. RESULTADOS...........................................................................................................35
5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA.......................................................36
5.2. FREQUÊNCIA DE TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS NOS
PACIENTES COM MIGRÂNEA AVALIADOS..........................................................41
5.3. ESCORES DAS ESCALAS UTILIZADAS NOS GRUPOS DE
MIGRÂNEA COM ABUSO E SEM ABUSO DE MEDICAÇÕES ANALGÉSICAS..44
5.4. APLICABILIDADE DO BDI E HAM-D NA MIGRÂNEA.......................47
6. DISCUSSÃO...............................................................................................................50
7. CONCLUSÕES...........................................................................................................60
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................62
9. ANEXOS.....................................................................................................................75
IX
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Estudos na população geral que investigaram presença de transtornos
psiquiátricos na migrânea
TABELA 2: Estudos na população clínica que investigaram presença de transtornos
psiquiátricos na migrânea
TABELA 3: Estudos que investigaram presença de transtornos psiquiátricos na
migrânea associada a abuso de medicações analgésicas
TABELA 4: Características sócio-demográficas da população com migrânea estudada
TABELA 5: Características clínicas da população com migrânea estudada
TABELA 6: Comorbidades clínicas na população estudada (N=70)
TABELA 7: Comparação das variáveis sócio-demográficas entre pacientes com e sem
abuso de medicações analgésicas
TABELA 8: Comparação das características clínicas entre pacientes com ou sem abuso
de medicações analgésicas
TABELA 9: Freqüência de transtornos psiquiátricos nos pacientes com migrânea
TABELA 10: Comparação da freqüência de transtornos psiquiátricos nos pacientes com
migrânea com e sem abuso de medicações analgésicas
TABELA 11: Comparação entre os escores das escalas de avaliação de sintomas
ansiosos e depressivos entre pacientes com migrânea com e sem abuso de medicações
analgésicas (N=70)
TABELA 12: Comparação dos escores dos questionários de avaliação do impacto e
incapacidade da cefaléia entre pacientes com migrânea com e sem abuso de medicações
analgésicas (N=70)
X
TABELA 13: Comparação dos escores do questionário de avaliação de qualidade de
vida (Short form 36 itens) entre pacientes com migrânea com e sem abuso de
medicações analgésicas (n=70)
TABELA 14: Concordância entre o diagnóstico de transtorno depressivo pelo MINI-
Plus e o ponto de corte do Inventário de Depressão de Beck em 18.
XI
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Receiver operating characteristic curve (curva ROC) do Inventário de
Depressão de Beck, com o ponto de corte ótimo assinalado (13)
FIGURA 2: Correlação entre os escores do Inventário de Depressão de Beck e da Escala
de Depressão de Hamilton pelo método de Spearman
FIGURA 3: Receiver operating characteristic curve (curva ROC) da Escala de
Depressão de Hamilton, com o ponto de corte ótimo assinalado (16)
XII
LISTA DE ABREVIAÇÕES
DSM-IV - Diagnostic and Statistical Manual of mental disorders- 4
th
Edition
CID-10 - International Classification of Disorders-10
th
Edition
IHS-II - International Headache Society-2nd Edition
MINI-Plus - Mini-International Neuropsychiatric Interview – plus version
APA - American Psychiatric Association
ECA - Epidemiology Catchment Area
HUNT - Nord-Trondelag health study
HADAS – Headache and Anxiety–Depressive Disorder Comorbidity
RDC - Research Diagnostic Criteria
DIS - Diagnostic Interview Schedule
SPIKE - Social Consequences for Epidemiology
CIDI - Composite International Diagnostic Interview
SCID - Structured Clinical Interview for DSM
PRIME-MD- Primary Care Evaluation of Mental Disorders
GDS-S- Geriatric Depression Scale short form
BDI - Beck Depression Inventory
HAM-D - Hamilton Depression Scale
HAM-A - Hamilton Anxiety Scale
HAD - Hospital Anxiety and Depression Scale
HADS-A - Hospital Anxiety Scale
HADS-D - Hospital Depression Scale
XIII
MADRS - Montgomery-Asberg Depression Rating Scale
STAI - State-Trait Anxiety Inventory
SF-12 - The Medical Outcomes Study Health Status Questionnaire- 12 Item
Short Form
SF-36 - The Medical Outcomes Study Health Status Questionnaire- 36 Item
Short Fom)
MIDAS - Migraine Disability Assessment Score
HIT-6 - Headache Impact Test -version 6
SADS - Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia
FHRDC - Family History Research Diagnostic Criteria
OMS - Organização Mundial de Saúde
DPM - Desvio-padrão na média
TAG - Transtorno de ansiedade generalizada
TOC - Transtorno obsessivo-compulsivo
MT - Migrânea transformada
CCD - Cefaléia crônica diária
CTT - Cefaléia tipo tensional
CTTC - Cefaléia tipo tensional crônica
XIV
RESUMO
COSTA, Esther Angélica. Transtornos psiquiátricos na migrânea com e sem
abuso de medicações analgésicas. Belo Horizonte, 2007. Dissertação (Mestrado).
Faculdade de Medicina. Universidade Federal de Minas Gerais.
Dez a 15% da população geral sofre de migrânea e uma parte desses indivíduos
abusa de medicações analgésicas. Comorbidades psiquiátricas são bem documentadas
entre migranosos e geralmente estão associadas a maior impacto e pior qualidade de
vida, pobre resposta ao tratamento, pior prognóstico e aumento dos custos médicos.
Os objetivos deste estudo são verificar a prevalência de transtornos psiquiátricos
em pacientes que são acompanhados no ambulatório de Cefaléias do Serviço de
Neurologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avaliar o impacto dessas
doenças na qualidade de vida dessa população e possíveis variáveis clínicas e sócio-
demográficas associadas. Ainda, comparar um grupo de pacientes com migrânea e
abuso de medicações analgésicas com migranosos que não abusam de medicações
analgésicas.
Foi realizado um estudo de corte transversal em que se realizou entrevista
psiquiátrica estruturada em 70 pacientes que preenchiam critérios da Sociedade
Internacional de Cefaléias (2004) para migrânea (idade média (± DPM) de 35,5 anos (±
11,50; H/M: 4/66). Foram utilizados o MINI-Plus para diagnosticar os transtornos
psiquiátricos do eixo I, as escalas BDI, HAD, HAM-A, HAM-D e MADRS como
instrumentos de avaliação psicopatológica, e HIT, MIDAS e SF-36 para avaliar o
impacto e a qualidade de vida nestes pacientes. Amostra foi dividida em dois grupos: 32
migranosos com abuso de analgésicos (45,7%) e 38 migranosos sem abuso de
analgésicos (54,3%). Transtornos psiquiátricos foram diagnosticados em 57 pacientes
XV
(81,4%): Vinte e oito pacientes (87,5%) no grupo migrânea com abuso de analgésicos e
em 29 pacientes (76,3%) no grupo sem abuso de analgésicos (p=0,23). Apenas o
transtorno de somatização foi mais prevalente nos migranosos com abuso de
analgésicos (n=6; 18,8%) do que nos migranosos sem abuso (n=1; 2,6%) (p< 0,05). Não
foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos comparados
com as escalas utilizadas, exceto para MIDAS que apresentou maiores escores no grupo
com abuso do que no grupo sem abuso de analgésicos (p<0,005), o que sugere um
maior impacto da cefaléia neste grupo.
O estudo mostra uma freqüência elevada de transtornos psiquiátricos em
pacientes com migrânea e a presença do abuso de medicações analgésicas não parece
aumentar essa prevalência. No entanto, pacientes que abusam de analgésicos
apresentaram maior impacto sentido pela cefaléia, medido através do MIDAS.
Palavras-chave: Migrânea, abuso de medicação, comorbidade psiquiátrica, qualidade
de vida.
XVI
SUMMARY
COSTA, Esther Angélica. Psychiatric comorbidity in migraine with and without
analgesic medication overuse. Belo Horizonte, 2007. Dissertation (Master). Medicine
College. Federal University of Minas Gerais.
Ten to 15 per cent of the general population suffer from migraine and a certain
percentage of these individuals will develop medication overuse. Psychiatric
comorbidity has been consistent observed in migraineurs and generally increase the
impact of headache and decrease quality of life, leading to worst therapeutic response,
poor prognosis and increasing medical costs.
The objectives of the present study are to verify the prevalence of psychiatric
disorders in patients seen at the Headache‘s Center of Department of Neurology at
Federal University of Minas Gerais, Belo Horizonte, Brazil and to evaluate the impact
of these disorders in quality of life of this population and to assess possible clinical and
socio-demographic associated variables. We also compared patients with migraine with
or without analgesic medication overuse.
A cross-sectional study was performed including structured psychiatric
interview in 70 individuals with migraine according to International Headache Society
(mean age (± SD) 35.5 years-old (±11.50); H/M: 4/64). Mini-Plus was used for
psychiatric diagnoses axis I, and BDI, HAD, HAM-D, HAM-A MADRS were the
psychopathologic tools used, while HIT, MIDAS, SF-36 were used to evaluate the
impact and quality of life. These individuals were divided into two groups: 32
migraineurs plus analgesic overuse (45.7%) and 38 migraineurs without analgesic
overuse (54.3%). Psychiatric disorders were diagnostic in 57 patients (81.4%); 87.5%
those with analgesics overuse group and 76.3 % without analgesic overuse group
XVII
(p=0.23). Only somatization disorder was more prevalent in migraine plus analgesic
overuse group (n=6; 18.8%) than in migraineurs without analgesic overuse (n=1; 2.6%)
(p< 0.05). No statistical differences between groups assessed by scale scores, except for
MIDAS, with higher scores in migraine plus analgesic overuse group than those
migraineurs without analgesic overuse (p<0.05), indicating highest headache’s impact
in that group.
This study emphasizes that high frequency of psychiatric disorders in patients
with migraine and the analgesic overuse shouldn’t have increased this prevalence.
Nevertheless, migraineurs with analgesic overuse got a higher impact of headache,
assessed by MIDAS.
Key-words: Migraine, medication overuse, psychiatric comorbidity, quality of life.
1
1. INTRODUÇÃO
A migrânea, conhecida como enxaqueca, é uma das formas mais comuns de
cefaléia primária, com prevalência estimada em torno de
15% da população geral,
afetando três vezes mais mulheres do que homens
[1]. O pico de prevalência em
mulheres ocorre entre os 25 a 34 anos de idade (31%), enquanto a mais baixa
prevalência é verificada em homens dos 55 aos 64 anos (9%) [2]. No Brasil não
existem dados epidemiológicos de estudos populacionais, mas acredita-se que a
prevalência de migrânea seja semelhante a dados americanos [3].
A migrânea é classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a
19ª causa de incapacidade para o trabalho [4]. Atinge mais de 30 milhões de pessoas nos
Estados Unidos, gerando gastos de mais de 13 bilhões de dólares por ano devido à
ausência ou interferência no trabalho [5,6].
O impacto na qualidade de vida, bem como
a diminuição da capacidade laborativa e de lazer provocados pela migrânea são fatores
bem conhecidos e amplamente descritos na literatura [7]. No Brasil, um estudo mostrou
que, numa empresa particular, mais de US$ 126,00 eram gastos anualmente para cada
trabalhador com migrânea [8] e, em outro estudo brasileiro, realizado por Bigal e
colaboradores, os custos hospitalares com a cefaléia levantados em um período de três
meses chegaram à cifra de R$144.391,21, sendo R$115,14 por paciente, (gastos com
exames laboratoriais, atendimento ambulatorial, internação e custos cirúrgicos) [9],
demonstrando o alto custo sócio-econômico da migrânea.
2
1.1. A CLÍNICA DA MIGRÂNEA
A migrânea, definida pelos critérios da 2ª. Edição da Classificação Internacional
de Cefaléias (IHS-II) [10], é caracterizada por episódios recorrentes de dor cabeça que
duram de 4 a 72 horas, tem caráter pulsátil/latejante, localização unilateral, intensidade
moderada a grave e piora com atividade física habitual. É freqüentemente acompanhada
por fotofobia, fonobia e/ou náuseas e vômitos. Em alguns casos são precedidas por, ou
associadas com sintomas neurológicos (visuais, sensitivos, disfasia e paresias)
denominados aura.
Muitos pacientes com migrânea desenvolverão cefaléias de ocorrência diária ou
quase diária (dor mais de 15 dias ao mês por pelo menos três meses), denominada
migrânea transformada, que representam um tipo de cefaléia crônica diária (CCD),
termo proposto por Silberstein e colaboradores [11].
A ausência de critérios
diagnósticos bem definidos e de estudos longitudinais são os principais motivos para a
não inclusão deste grupo de cefaléias na classificação da IHS-II [10]. A migrânea
transformada é apontada, em vários relatos, como uma das formas mais freqüentes de
apresentação da CCD, afetando 4% dos migranosos, correspondendo a
aproximadamente 30% dos pacientes tratados em clínicas especializadas [12,13].
Um
levantamento realizado no ambulatório de cefaléias da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) no segundo semestre de 2005 mostrou que a migrânea era o diagnóstico
em 79,2% dos pacientes atendidos e a CCD representava 39,6% desta população [13].
Um estudo realizado no Brasil por Galego e colaboradores [14] comparou as
características clínicas da migrânea episódica com a migrânea transformada, entre 40
pacientes de cada grupo. Foi aplicado o Inventário de Depressão de Beck (BDI) para
comparar o grau de sintomatologia depressiva entre estes dois grupos e também com um
terceiro grupo de 40 pacientes sem cefaléia (controle). As mulheres foram maioria nos
3
três grupos (migrânea episódica: 82,5%, migrânea transformada: 95% e 92,5% no
controle). A idade na primeira consulta foi semelhante nos 3 grupos, porém a idade de
início das crises migranosas foi significantemente menor na migrânea transformada. O
uso excessivo de medicações analgésicas foi encontrado em 67,5% dos pacientes do
grupo migrânea transformada. Não foram encontradas diferenças significativas em
relação aos escores médios do BDI entre grupos com migrânea transformada [média
(SD) 37,1 (10,3) e episódica - 37.3 (10.3)] (p=0,12).
1.2. TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS E CEFALÉIA
Pesquisas clínicas e epidemiológicas têm confirmado a alta prevalência de
transtornos psiquiátricos comórbidos entre migranosos, bem como na migrânea
associada a abuso de medicação e na CCD [15]. O termo comorbidade refere-se à
associação entre duas ou mais condições maior do que seria esperado para ocorrerem ao
acaso.
A importância das comorbidades psiquiátricas nas cefaléias tem sido reconhecida
há longa data [16] e entre as comorbidades, os transtornos de humor e de ansiedade são
os mais estudados (Tabela 1 e 2). Os índices de comorbidade variam conforme a
metodologia e amostra selecionada e estudos realizados em centros terciários tendem a
encontrar maiores prevalências [12]. Quando comparados com indivíduos sem cefaléia,
migranosos têm entre quatro a cinco vezes mais chance de sofrer de depressão maior,
distimia e transtorno bipolar [19], três a 10 vezes mais chance de ter transtorno do
pânico; quatro a 5 vezes mais chance de sofrer de transtorno de ansiedade generalizada
(TAG); cinco vezes mais risco de ter transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) [17].
Migranosos têm maiores taxas de tentativas de suicídio que pacientes sem migrânea, e
ainda duas vezes mais risco de abuso ou dependência de álcool e drogas ilícitas [19].
4
TABELA 1: Estudos na população geral que investigaram presença de transtornos
psiquiátricos na migrânea
Autor (es) Amostra e
Delineamento do
Estudo
Instrumentos de
avaliação
Resultados
Merikangas
et al
1990
[17]
Estudo prospectivo.
Acompanhamento de
457 indivíduos com
migrânea (225H/ 232M)
em Zurique, Suíça
Diagnóstico
psiquiátrico dado
pelos critérios DSM-
III e DSM-IIIR
através de entrevista
diagnóstica
estruturada: SPIKE
Este foi o primeiro estudo
populacional demonstrando
forte associação entre
migrânea e transtornos.
psiquiátricos (RR de 2,2 para
depressão, 5,3 para TAG e 2,4
para fobia simples nos
pacientes com migrânea).
Breslau et
al 1991
[18]
Estudo transversal e
retrospectivo tipo caso-
controle (migrânea x
sem cefaléia) de 1007
indivíduos com idade
entre 21-30 anos em
Detroit, EUA
Diagnóstico
psiquiátrico dado
pelos critérios DSM-
IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: DIS
Migranosos tiveram grande
risco de sofrer de transtornos
ansiosos e afetivos,
principalmente na migrânea
com aura. OR para tentativa de
suicídio foi de 3,0 na migrânea
com aura. Depressão e
ansiedade coexistiram em 30%
dos pacientes com migrânea.
Breslau et
al 1993
[19]
Estudo prospectivo, de
14 meses, tipo caso-
controle (migrânea x
sem cefaléia) de 1007
indivíduos com idade
entre 21-30 anos em
Detroit, EUA
Diagnóstico
psiquiátrico dado
pelos critérios DSM-
IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: DIS
Migrânea foi fator preditivo
para primeiro episódio de
depressão e transtorno do
pânico durante o período de
acompanhamento.
Breslau et
al 1994
[20]
Estudo prospectivo, de
3,5 anos, tipo caso-
controle (migrânea x
sem cefaléia) de 1007
indivíduos com idade
entre 21-30 anos em
Detroit, EUA
Diagnóstico
psiquiátrico dado
pelos critérios DSM-
IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: DIS
RR de depressão associada
com migrânea prévia foi
semelhante ao risco relativo de
migrânea no grupo com
depressão prévia.
Merikangas
et al 1993,
1994
[21,22]
Estudo prospectivo
(1979-1988) e
transversal (1988), tipo
caso-controle (migrânea
x CTT x sem cefaléia).
Acompanhamento de
379 indivíduos em
Zurique, Suíça
Diagnóstico
psiquiátrico dado
pelos critérios DSM-
III e DSM-IIIR
através de entrevista
diagnóstica
estruturada: SPIKE
Depressão breve recorrente,
transtorno do pânico, fobia e
TAG foram mais freqüentes no
grupo com migrânea do que
nos grupos sem cefaléia e
CTT.
Nenhuma diferença entre os
grupos para depressão atual,
hipomania e para abuso de
álcool e drogas.
5
TABELA 1: Estudos na população geral que investigaram presença de transtornos
psiquiátricos na migrânea (Continuação)
Autor (es) Amostra e
Delineamento do
Estudo
Instrumentos de
avaliação
Resultados
Wang et al
1999
[23]
Estudo transversal
(migrânea x sem
cefaléia) de 1421 idosos
com idade acima de
65anos
Diagnóstico psiquiátrico
não acessado pelos
critérios DSM-IV por
entrevista estruturada.
Escala utilizada para
diagnóstico de
depressão: GDS-S
Associação entre migrânea e
depressão encontrada pelos
escores elevados da GDS-S.
Lipton et
al 2000
[24]
Estudo transversal
(migrânea x sem
cefaléia) de 768
indivíduos identificados
através de entrevista
telefônica
computadorizada
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada PRIME-MD
Escala utilizada para
avaliar qualidade de
vida: SF-12
Depressão foi significativa-
mente mais freqüente no
grupo com migrânea do que
no grupo sem cefaléia.
Migrânea e depressão foram
independentemente
associadas com diminuição
na qualidade de vida.
Swartz et
al 2000
[25]
Estudo coorte (ECA),
prospectivo de13 anos, e
transversal (migrânea x
sem cefaléia) de 1343
indivíduos em
Baltimore, EUA
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: DIS
Associação significativa
entre migrânea e depressão
(RR = 3,1), transtorno do
pânico e fobia.
Presença de fobia foi
preditor para inicio de
migrânea.
Breslau et
al 2000
[26]
Estudo transversal e
retrospectivo tipo caso
controle (migrânea x
outras cefaléias não
migranosas x sem
cefaléia) de 1696
indivíduos com idade
média 40±8 [25-55] em
Detroit, EUA
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV através de
entrevista diagnóstica
estruturada: CIDI
Depressão foi três vezes
mais freqüente na migrânea
(40,7%) e em outras
cefaléias (35,8%), mas não
em pacientes sem cefaléia.
Associação bidirecional foi
encontrada pra migrânea e
depressão.
Breslau et
al 2001
[27]
Estudo transversal e
retrospectivo tipo caso
controle (migrânea x
outras cefaléias não
migranosas x sem
cefaléia) de 1696
indivíduos em Detroit,
EUA
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSMIV através de
entrevista diagnóstica
estruturada: CIDI
Transtorno do pânico foi
significativamente associado
com migrânea (OR=3,7) e
outras cefaléias (OR=3,0),
mas não com pacientes sem
cefaléia. Associação
bidirecional encontrada para
todos os tipos de cefaléias e
transtorno do pânico.
6
TABELA 1: Estudos na população geral que investigaram presença de transtornos
psiquiátricos na migrânea (continuação)
Autor (es) Amostra e
Delineamento do
Estudo
Instrumentos de
avaliação
Resultados
Zwart et al
2004
[28]
Estudo HUNT (Nord-
Trondelag Health Study)
Estudo transversal
(migrânea x outras
cefaléias não
migranosas) de 50.000
indivíduos na Noruega
Diagnóstico
psiquiátrico não
acessado pelos critérios
DSM-IV por entrevista
estruturada
Escalas utilizadas para
diagnóstico de
depressão e ansiedade:
HADS-D e HADS-A
Risco de depressão foi
maior na migrânea
(OR=1,9) e em outras
cefaléias (OR=2,2) do que
em indivíduos sem cefaléia.
Associação linear da maior
prevalência de depressão
com aumento da freqüência
de cefaléia (p<0,001).
McWilliams
et al 2004
[29]
Estudo transversal
(artrite x migrânea x dor
lombar) em 3.032
indivíduos com idade
entre 25-74 anos, EUA
Diagnóstico
psiquiátrico acessado
pelos critérios DSM-
IIIR por entrevista
estruturada: CIDI-SF
Prevalência de depressão foi
de 28,5% na migrânea e de
12,3% em pessoas sem
migrânea (OR 2,8) e de
TAG foi de 9,1% na
migrânea e 2,5% em
indivíduos sem migrânea
(OR 3,9) (p<0,001).
Patel et al
2004
[30]
Estudo transversal
(migrânea x provável
migrânea x sem cefaléia)
de 8.579 indivíduos com
idade entre 18-55anos,
identificados através de
entrevista telefônica
computadorizada
Diagnóstico
psiquiátrico acessado
pelos critérios DSM
através de entrevista
diagnóstica: PRIME-
MD.
Escalas utilizadas: SF-
12, MIDAS.
Prevalência de depressão foi
28,1 na migrânea; 19,5 na
provável migrânea; 10,3
para grupo sem cefaléia (IC
95%).
Abreviações: DSM=Diagnostic and Statistic Manual for Mental Disorders (Version III, III-
Review, IV), SPIKE= Social Consequences for Epidemiology, DIS= Diagnostic Interview
Schedule, RR= risco relativo, OR=odds ratio, CTT= Cefaléia tipo tensional, TAG=Transtorno
de ansiedade generalizada, GDS-S=Geriatric Depression Scale, PRIME-MD= Primary Care
Evaluation of Mental Disorders, CIDI=Composite International Diagnostic Interview; HADS-
D=Escala hospitalar de depressão, HADS-A= Escala hospitalar de ansiedade, CIDI-SF=
Composite International Diagnostic Interview Short Form ,SF-12= Short form 12 itens,
MIDAS=Migraine Disability Assessment, IC=intervalo de confiança, MINI= Mini-International
Neuropsychiatry Interview.
7
TABELA 2: Estudos em populações clínicas que investigaram presença de
transtornos psiquiátricos na migrânea
Autor (es) Amostra e
Delineamento do
Estudo
Instrumentos de
avaliação
Resultados
Merikangas
et al 1993
[21]
Estudo transversal
avaliando história
familiar de migrânea em
90 pacientes e seus 277
probandos x 61
controles e seus 179
parentes de 1º. Grau.
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV através de
entrevistas diagnósticas
estruturada: SADS para
probandos e FHRDC
para parentes.
Nenhuma associação
encontrada entre migrânea
nos probandos e transtornos
afetivos/ ansiosos nos
parentes, nem entre
transtornos afetivos/
ansiosos nos probandos e
migrânea nos parentes.
Devlen et
al 1994
[32]
Estudo transversal de
600 migranosos
acompanhados em
clínicas de cefaléia x 87
migranosos da
população geral com
idade entre 18-65 anos
Diagnóstico psiquiátrico
não acessado pelos
critérios DSMIV por
entrevista estruturada.
Escala utilizada para o
diagnóstico de depres-
são e ansiedade: HAD
Sem diferença significativa
entre os grupos, ao menos
em termos de gravidade nos
escores de ansiedade e
depressão. 50% dos
indivíduos tinham ansiedade
e 20% tinham depressão.
Marazziti
et al 1995
[33]
Estudo transversal
(migrânea com ou sem
aura x CTT) de 73
pacientes ambulatoriais
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: SCID
Sem diferença entre os
grupos para qualquer
transtorno psiquiátrico.
O transtorno atual mais
freqüente entre os grupos foi
T. pânico e TAG.
Guidetti et
al 1998
[34]
Estudo prospectivo de 8
anos e transversal
(migrânea x CTT) de
100 adolescentes
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: SCID
Comorbidade psiquiátrica na
1ª. entrevista foi fator
preditivo de pior prognóstico
da cefaléia na 2ª.entrevista
Verri et al
1998
[35]
Estudo transversal
(migrânea x outras
cefaléias CCD com ou
sem ataques de
migrânea x dor lombar)
de 88 pacientes
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: SCID
Fobia, T. somatização e
história prévia de T. humor
isolados foram mais
freqüentes em migranosos
que nas outras cefaléias
CCD.
90% dos CCD apresentavam
algum transtorno
psiquiátrico à época da
avaliação.
Transtorno atual de
ansiedade e de humor foram
mais freqüentes nas CCD
que no grupo com migrânea.
8
TABELA 2: Estudos em populações clínicas que investigaram presença de
transtornos psiquiátricos na migrânea (continuação)
Autor (es) Amostra e
Delineamento do
Estudo
Instrumentos de
avaliação
Resultados
Juang et al
2000
[36]
Estudo transversal
(CTTC x
migrânea transformada)
de 331 indivíduos (152
pacientes com migrânea
transformada x 92
pacientes com CTTC e 7
com outras CCD).
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV através de
entrevista diagnóstica
estruturada: MINI e
Critérios de Silberstein
para CCD
78% dos migranosos
apresentavam alguma co-
morbidade psiquiátrica (57%
depressão, 30% pânico, 11%
distimia, 8% TAG). Dos
74% que sofriam de CTTC,
51% apresentavam
depressão, 22% pânico, 8%
distimia e 1% TAG.
Nenhuma diferença entre os
grupos para prevalência de
depressão (p=0,062).
Mercante
et al 2005
[38]
Estudo descritivo,
transversal de 70
pacientes com migrânea
crônica (critérios de
Silberstein);
Hospital Albert Einstein
São Paulo - Brasil.
Diagnóstico psiquiátrico
não acessado pelos
critérios DSMIV por
entrevista estruturada.
Escala utilizada para o
diagnóstico de
depressão: BDI
BDI variou de 4-55, média
(± DP) 21 (± 10.7). Algum
grau de depressão apareceu
em 85,8% dos casos.
Escores mais elevados do
BDI foram mais freqüentes
em pacientes com
fibromialgia associada.
Corchs et
al 2006
[39]
Estudo descritivo,
transversal de 56
pacientes (51M/ 5H),
idade média 41.69±11
com migrânea crônica
(critérios de Silberstein);
Hospital Albert Einstein
São Paulo - Brasil.
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV através de
entrevista diagnóstica
estruturada: SCID I
Escalas utilizadas:
MIDAS, HAM-D,
HAM-A, BDI, STAI,
Escala impacto visual
0-100
87,5% da amostra tinham
alguma comorbidade
psiquiátrica, 75% para ao
menos um transtorno
ansioso e 60,7% para
condições fóbicas em algum
momento da vida. Os
escores de ansiedade e
humor foram maiores entre
os fóbicos.
Beghi et al
2007
[31]
Estudo HADAS
(Headache and anxiety
depressive disorder
comorbidity)
Estudo transversal
(migrânea x CTT x
migrânea associada
CTT) de 374 indivíduos
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV através de
entrevista diagnóstica
estruturada: MINI
(investigou apenas t.
ansiosos e depressivos)
Comorbidade psiquiátrica
foi detectada em 49 (14,6%)
pacientes (10,9% migrânea;
12,8% CTT; 21,4% na
migrânea associada à CTT).
Transtorno do pânico foi
encontrado em 12,7, 5,5 and
14,2 respectivamente, e
transtorno obsessivo-
compulsivo em 2,3, 1,1 and
9,4% (p=0.009)
9
Abreviações: DSM = Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders (Version III, III-
Review, IV), SADS = Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia, FHRDC = Family
History Research Diagnostic Criteria, HAD= Hospital Anxiety and Depression Scale, SCID=
Structured Clinical Interview for DSM-IV, T.= transtorno, TAG= transtorno de ansiedade
generalizada, CTT= cefaléia tipo tensional, CTTC= cefaléia tipo tensional crônica, CCD=
cefaléia crônica diária, MINI= Mini-International Neuropsychiatry Interview, BDI= Beck
Depression Inventory, HAM-D= Hamilton Depression Scale, HAM-A= Hamilton Anxiety scale,
STAI= State-Trait Anxiety Inventory.
1.3. ABUSO DE MEDICACÃO E MIGRÂNEA
Pacientes com migrânea utilizam freqüentemente medicações sintomáticas para
cefaléia, como analgésicos simples, antiinflamatórios não-esteróides (AINE’s),
derivados de ergotamina, triptanos e até narcóticos para interromper as crises de dor e
alguns pacientes o fazem de forma abusiva, evoluindo para cefaléia por abuso de
medicações [40]. A IHS-II permite o diagnóstico de cefaléia por abuso de medicação
quando a cefaléia está presente por mais de 15 dias por mês associada a uso abusivo e
regular de uma ou mais drogas usadas para tratamento agudo ou sintomático da cefaléia
(por mais de três meses); quando a cefaléia apareceu ou piorou acentuadamente durante
o uso excessivo da medicação e quando a cefaléia desaparece ou reassume seu padrão
prévio dentro de dois meses após a interrupção das medicações analgésicas [10]. O
consumo de analgésicos costuma ser mais intenso quanto maior é a freqüência e a
intensidade da dor, e o uso abusivo e recorrente de analgésicos pode ser um fator
preditivo de cronificação da dor [15, 41].
Acredita-se que este uso excessivo de analgésicos induza a evolução crônica da
cefaléia de duas formas: diminuindo o limiar da dor e reduzindo a eficácia do
tratamento profilático. Assim, a CCD dos pacientes que ingerem analgésicos
10
diariamente parece ser sustentada pelo uso crônico dessas drogas e a interrupção das
mesmas resulta em melhora da dor [42]. Fatores psicológicos que podem contribuir para
o abuso de medicações incluem: a crença de que as drogas são a única solução para o
problema da cefaléia; o medo antecipatório de ter dor (pânico de dor ou cefalofobia);
dificuldade em tolerar o desconforto; síndromes clínicas do eixo I e transtornos de
personalidade do eixo II [43].
A associação com transtornos psiquiátricos parece ser mais forte entre
migranosos que abusam de medicações do que naqueles sem história de abuso (Tabela
3). Alguns trabalhos sugerem ainda que a comorbidade psiquiátrica exerça um papel
significativo na transformação da migrânea para cefaléia por abuso de medicação
analgésica [47], considerando-se que transtornos psiquiátricos precedem freqüentemente
o início do abuso de analgésicos e contribuem para a transformação da migrânea
episódica para cefaléia crônica e diária [49]. Entretanto, a própria incerteza quanto à
seqüência temporal da instalação da CCD e do início do abuso de analgésicos interfere
na definição se a comorbidade psiquiátrica seria um fator de risco para a piora da
freqüência de cefaléia (seguida pelo abuso de analgésicos) ou um fator de risco para o
abuso de medicações (seguido pela piora da freqüência e intensidade da dor).
Discute-se ainda se o uso excessivo de analgésicos estaria associado ao uso de
outras substâncias psicoativas, como álcool e drogas ilícitas. Essa associação seria
considerada pelo fato de a migrânea por abuso ser parte do espectro dos transtornos
aditivos [47].
11
TABELA 3: Estudos que investigaram presença de transtornos psiquiátricos na
migrânea associada a abuso de medicações analgésicas
Autor (es) Amostra e
Delineamento do
Estudo
Instrumentos de
avaliação
Resultados
Schnider et
al 1995
[44]
Estudo transversal
(28 pacientes com
migrânea com e sem
abuso de medicações e
35 pacientes com CTT)
Diagnóstico psiquiátrico
não acessado pelos
critérios DSM-IV
através de entrevista
diagnóstica. Escala
utilizada: MMPI (teste
de personalidade), CFF
Em relação ao MMPI não
houve diferenças entre
pacientes com e sem abuso
de medicações. Pacientes
com migrânea e abuso de
medicações tiveram menores
valores na CFF que pacientes
com migrânea sem abuso de
medicações.
Mitsikostas
et al
1999
[45]
Estudo transversal
(migrânea x sem
cefaléia x outras
cefaléias) de 470 casos
x 150 controles
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV sem entrevista
diagnóstica estruturada.
Escalas utilizadas:
HAM-A e HAM-D
Todos os tipos de cefaléia
tinham maiores escores de
HAM-A e HAM-D do que
controles, mas sem diferença
entre migrânea ou outras
cefaléias não migranosa.
Depressão foi 2 vezes mais
freqüente no grupo CCD
com abuso de medicações
(ponto de corte nas escalas
>16).
Radat et al
1999
[46]
Estudo clínico
transversal (migrânea
sem abuso x migrânea
com abuso de
medicações) de 68
pacientes (mulheres
constituíam 88,2% da
amostra)
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IIIR através de
entrevista diagnóstica
estruturada: MINI
Escala utilizada: HAD
T.depressivo atual (OR=8,7),
t. pânico, fobia social atual
(OR=10,1) foram mais
prevalentes nos migranosos
com abuso. Sem diferença
significativa entre casos e
controles para hipocondria,
uso de álcool e drogas, T.
alimentar e T. psicóticos
Radat et al
2005
[47]
Estudo transversal, tipo
caso-controle (migrânea
sem abuso x migrânea
com abuso de
medicações) de 82
pacientes
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV através de
entrevista diagnóstica
estruturada: MINI
Escala utilizada: FISC
(história familiar)
OR=4,5 para transtornos do
humor, OR= 5,95 para
ansiedade, OR= 7,6 para
abuso de psicoativos no
grupo migrânea com abuso
de medicações.
Não encontrado associação
familiar, exceto para uso de
álcool e drogas.
12
TABELA 3: Estudos que investigaram presença de transtornos psiquiátricos na
migrânea associada a abuso de medicações (continuação)
Autor
(es)
Amostra e
Delineamento do Estudo
Instrumentos de
avaliação
Resultados
Atasoy et
al 2005
[48]
Estudo transversal
(58 pacientes com
migrânea episódica
associada a abuso de
medicações x 31
pacientes com migrânea
com abuso associada à
CTTE x 31 pacientes com
CTTC sem abuso de
medicações)
Diagnóstico psiquiátrico
dado pelos critérios
DSM-IV através de
entrevista diagnóstica
estruturada: SCID-CV e
SCID-II.
Escala utilizada: BDI
Distúrbios do humor foram
significativamente mais
prevalentes no grupo
migrânea por abuso mais
CTTE. Escores médios de
depressão foram maiores
nesse grupo que nos
pacientes com CTTC sem
abuso de medicações.
Abreviações: CTT= cefaléia tipo tensional, DSM= Diagnostic and Statistic Manual of Mental
Disorders (Version III, III-Review, IV), MMPI= Minnesota Multiphasic Personality Inventory,
CFF= Critical Flicker frequency, HAM-A= Hamilton Depression Inventory Scale, HAM-D=
Hamilton Depression Inventory Scale, MINI= Mini-International Neuropsychiatry Interview,
HAD= Hospital Anxiety and Depression Scale, SCID- CV= Structured Clinical Interview for
DSM-IV, SCID II= Structured Clinical Interview for DSM-IV version 2 for personality
disorders, BDI= Beck Depression inventory.
Ressalta-se o estudo de Radat e colaboradores, que realizou a comparação entre
41 pacientes com migrânea com abuso de medicações e 41 pacientes com migrânea sem
abuso de analgésicos, avaliando os transtornos psiquiátricos de acordo com os critérios
da Associação Americana de Psiquiatria do Diagnostic and Satistical Manual of Mental
Disorders (DSM-IV) [50] a partir do Mini International Neuropsychiatric Interview
(MINI) [51]. Maior prevalência de comorbidade psiquiátrica foi encontrada entre o
grupo migrânea com abuso, e risco maior para transtornos do humor, ansiedade e uso de
substâncias psicoativas (OR= 4,5%, 5,9%, 7,6%, respectivamente) em relação ao grupo
migrânea sem abuso de medicações [47].
Outro estudo importante investigando a comorbidade psiquiátrica como
importante fator associado à transformação da cefaléia episódica em migrânea e cefaléia
13
por abuso de medicação foi feito por Atasoy e colaboradores [48]. Estes autores
comparam 58 pacientes com migrânea episódica e abuso, 31 pacientes migrânea com
abuso associada à cefaléia tipo tensional episódica (CTTE) e 31 pacientes com cefaléia
tipo tensional crônica (CTTC) sem abuso de medicação. Empregaram instrumentos
diagnósticos validados para fazer o diagnóstico psiquiátrico, como a versão clínica do
Structured Clinical Interview for DSM-IV (SCID- CV) e versão 2 para transtornos de
personalidade (SCID-II) [52-55], escalas de Beck para Ansiedade [56-58]
e BDI
[59,60]. A probabilidade de ter algum transtorno psiquiátrico foi de 68% no grupo
migrânea com abuso associada à CTTE, 54% no grupo migrânea episódica com abuso e
de 35% no grupo CTTC sem abuso de medicação [48]. Transtornos do humor foram
significativamente mais prevalentes no grupo migrânea com abuso associada à CTTE, e
os escores médios de depressão foram maiores neste grupo que naqueles pacientes com
CTTC sem abuso de medicação. Distúrbio de personalidade obsessivo-compulsivo
(definido como padrão disfuncional de preocupação com organização, perfeccionismo,
controle interpessoal e mental) foi o mais comum transtorno de personalidade e
estatisticamente mais significativo no grupo migrânea com abuso do que no grupo
CTTC sem abuso [48].
A exata natureza da relação entre migrânea e transtornos psiquiátricos não está
clara. Estudos sugerem que elas possam dividir aspectos etiopatogênicos,
epidemiológicos e de resposta ao tratamento [52]. Acredita-se que tanto as cefaléias,
como os transtornos de humor sejam considerados doenças poligênicas multifatoriais
[61], e que mutações genéticas poderiam estar implicadas na fisiopatologia destas
doenças [62,63]. Estudos epidemiológicos têm demonstrado que pacientes com história
familiar positiva para migrânea exibem um risco hereditário maior [61]. Existem fortes
evidências do papel da serotonina na fisiopatogenia da migrânea e dos transtornos de
14
humor [67]. Por exemplo, alguns trabalhos mostraram que a existência de um
polimorfismo de deleção de 44 pares de bases na região promotora do gene 5HTT
(5HTTLPR) estaria relacionada com uma reduzida atividade de transcrição do gene e
baixa atividade de recaptação da serotonina [64,65]. A freqüência deste polimorfismo
funcional é maior tanto em pacientes com migrânea [66], como em pacientes com
transtornos de humor [41,65].
Por outro lado, transtornos psiquiátricos e outras síndromes de dores crônicas
podem se apresentar juntos sem compartilhar o mesmo mecanismo fisiopatológico.
Existem estudos mostrando que o sistema endógeno de analgesia no grupo de pacientes
com CCD é alterado e defeituoso [44, 68-72] e estudos experimentais que sugerem que
o uso crônico de analgésicos poderia alterar o sistema serotoninérgico central [73,74].
Outros estudos relatam que a tensão muscular é maior em pacientes com dores crônicas
e depressão associada e que pacientes deprimidos supervalorizam os sintomas médicos
[75,76].
15
2. COMORBIDADE PSIQUIÁTRICA E MIGRÂNEA
2.1. PERSONALIDADE MIGRANOSA
Uma das primeiras pesquisas que chamou a atenção para uma possível
associação entre migrânea e transtornos psiquiátricos foi realizada por Wolf em 1937,
quando descreveu a “personalidade migranosa”. Nesta, os adultos com migrânea foram
caracterizados como obsessivos, tímidos, obedientes e tinham traços rígidos e
inflexíveis de personalidade [77]. O conceito associado a esse traço de personalidade foi
posteriormente abandonado, mas, na época, alertou para a necessidade de investigação
da correlação entre cefaléias e fatores psicológicos envolvidos em sua gênese e/ou
manutenção e, desde então, o assunto vem sendo extensamente pesquisado [78].
2.1.1. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE E
MIGRÂNEA
O transtorno de personalidade borderline ou limítrofe é caracterizado por um
padrão invasivo de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e
afetos, bem como acentuada impulsividade, que começa no início da vida adulta e está
presente em uma variedade de contextos, indicado por cinco (ou mais) dos seguintes
critérios: esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado; um padrão de
relacionamentos interpessoais instáveis e intensos; perturbação da identidade:
instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self;
impulsividade (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção
imprudente, comer compulsivamente); recorrência de comportamento, gestos ou
ameaças suicidas ou de comportamento auto-mutilante; instabilidade afetiva devido à
acentuada reatividade do humor (por ex., episódios de intensa disforia, irritabilidade ou
ansiedade geralmente durando algumas horas e apenas raramente alguns dias);
16
sentimentos crônicos de vazio; raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a
raiva; ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou graves sintomas
dissociativos [50].
O transtorno de personalidade limítrofe parece ser mais freqüente entre
migranosos e estes pacientes podem apresentar características clínicas diferentes dos
pacientes com migrânea isolada. Um recente estudo demonstrou que pacientes com
transtorno de personalidade limítrofe coexistente com migrânea tinham mais chance de
ter cefaléias mais persistentes, maior incapacidade relacionada à cefaléia, menor
probabilidade de responder a terapias farmacológicas e maior propensão a abusar de
medicações analgésicas [79].
2.2. TRANSTORNOS DEPRESSIVOS E MIGRÂNEA
A depressão maior atinge 30% ou mais da população migranosa e pouco mais de
10% da população geral, isto é, migranosos têm risco cerca de três vezes maior de sofrer
de depressão do que pacientes sem cefaléia, sugerindo a existência de possíveis
mecanismos patogênicos comuns [26, 80].
No estudo longitudinal de Breslau e colaboradores, comorbidade depressiva foi
investigada em três grupos populacionais, incluindo 536 pacientes com migrânea, 162
indivíduos com outro tipo de cefaléia e 586 controles sem cefaléia. A amostra foi
selecionada aleatoriamente de uma população de 4.765 indivíduos com idades entre 25
e 55 anos. A prevalência de depressão ao longo da vida no grupo de migranosos foi de
40,7%, de 35,8% entre os pacientes com outras cefaléias e apenas 16,0% no grupo
controle [26]. Em outro trabalho, Merikangas e colaboradores [22] observaram elevadas
taxas de prevalência ao logo de um ano de vários transtornos psiquiátricos em
17
migranosos comparados com controles, obtendo um risco relativo de 3,1 para depressão
no grupo com migrânea.
Existem várias similaridades clínicas e epidemiológicas entre a migrânea e
depressão maior. Ambos ocorrem principalmente em adultos jovens e têm prevalências
equivalentes na população geral. Com relação ao gênero, as mulheres têm mais chances
que os homens de desenvolverem ao longo da vida tanto migrânea (24% em mulheres x
9% em homens), como depressão maior (24% em mulheres x 13% em homens) [20].
Do ponto de vista clínico, a natureza paroxística dos ataques de migrânea e dos
episódios depressivos, os modos similares de evolução e a resposta ao tratamento com
agentes antidepressivos de ação serotoninérgica suportariam a hipótese de que elas
dividiriam mecanismos patogênicos comuns [81,43].
A associação entre migrânea e depressão está, portanto, bem estabelecida e é
demonstrada em estudos epidemiológicos e clínicos [43]. Ressalta-se que a
comorbidade parece ser ainda maior nos pacientes que buscam tratamento,
especialmente em serviços especializados [34].
2.3. TRANSTORNOS ANSIOSOS E MIGRÂNEA
Os transtornos ansiosos são mais prevalentes entre indivíduos com migrânea que
entre a população geral. Pelo menos dois estudos prospectivos populacionais
confirmaram a relação entre migrânea e transtornos ansiosos, como ansiedade
generalizada, fobia, transtorno de pânico e transtorno obsessivo-compulsivo [17, 20,82].
Breslau e colaboradores encontraram prevalência de TAG e fobia duas vezes
maior nos pacientes com migrânea em relação a controles sem dor de cabeça. Ainda, a
prevalência de transtorno do pânico foi cinco vezes maior e do transtorno obsessivo-
compulsivo, quatro vezes maior entre os migranosos [82]. Em outro estudo prospectivo
18
populacional, a associação entre migrânea e TAG foi maior que a observada para
transtornos do humor com risco relativo de 5,3 (95% CI 1,8-15,8) [17].
A relação entre migrânea e transtorno do pânico também foi relatada em outros
trabalhos [19, 83]. Ressalta-se o estudo que avaliou a associação entre migrânea e
transtorno do pânico numa amostra populacional da área de Detroit, nos Estados
Unidos, em que a razão de chances (OR) de migrânea estar associada ao transtorno do
pânico, após ajuste por gênero e história de depressão, era de 3,7 (95% CI 2,2-6,2). No
entanto, o OR para o transtorno do pânico estar associado a outras cefaléias graves foi
similar ao encontrado para migrânea: 3,0 (95% CI 1,5-5,8). Esse dado indica que a
comorbidade de transtorno do pânico não seria específica para migrânea, mas incluiria
outros tipos de cefaléia de igual intensidade [27].
Sabe-se que a co-ocorrência de depressão e ansiedade é comum na prática
clínica, sendo ambas freqüentemente encontradas em pacientes migranosos. De nota,
Breslau e colaboradores demonstraram que a combinação de transtornos ansiosos e
migrânea aumentavam as chances de o paciente desenvolver depressão [18].
2.4. SUICÍDIO E MIGRÂNEA
Alguns trabalhos que investigaram a associação de migrânea e transtornos
psiquiátricos também estudaram suas relações com pensamentos suicidas e tentativas de
auto-extermínio. Breslau observou que pessoas com migrânea apresentavam taxas
maiores de suicídio do que pessoas sem migrânea [18]. Mesmo após ajuste para efeitos
da depressão, abuso de substâncias psicoativas e outros sintomas psiquiátricos,
pacientes com migrânea com aura exibiam três vezes mais tentativas de auto-extermínio
que pacientes sem migrânea [18].
19
Em outro estudo, indivíduos com migrânea relataram mais freqüentemente
tentativas de suicídio durante a vida, quando comparados com pessoas sem história de
migrânea [19].
Além disso, os que apresentavam depressão e migrânea apresentaram
taxas maiores de tentativas de auto-extermínio do que os que tinham depressão isolada:
31,8% e 16,5%, respectivamente. A associação tentativa de auto-extermínio e depressão
pareceu ser mais específica para migrânea com aura [19].
Postula-se que anormalidades no sistema serotoninérgico poderiam explicar a
co-ocorrência de depressão, suicídio e migrânea [84]. Vários trabalhos demonstraram
hipofunção serotonérgica na depressão, embora a causa dessa disfunção ainda não tenha
sido determinada [67,85]. Por outro lado, mudanças nos níveis circulatórios de
serotonina e de seus metabólitos durante os ataques de migrânea, a capacidade de
agentes liberadores de serotonina desencadearem crises e a eficácia de certas drogas
com ação nos receptores de serotonina no tratamento da migrânea são sinais indiretos
do envolvimento deste neurotransmissor na fisiopatologia da migrânea [42,85].
A
ativação de regiões encefálicas ricas em serotonina, como o núcleo dorsal da rafe e a
substância cinzenta periaquedutal, parece ocorrer espontaneamente durante crises de
migrânea, indicando a possível existência de uma área “geradora da migrânea” [42].
2.5. CEFALÉIA ATRIBUÍDA A TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS
Na última revisão da ICHS-II, consta um item provisório em que a dor de
cabeça está relacionada a transtornos psiquiátricos [10]. As únicas categorias incluídas
neste item são raros casos no qual uma cefaléia ocorre no contexto de uma doença
psiquiátrica que é reconhecida por manifestar-se sintomaticamente por cefaléia Por
exemplo, um esquizofrênico relata uma cefaléia associada a delírio paranóide de que um
equipamento eletrônico teria sido implantado em sua cabeça. Ainda, a dor de cabeça
20
como manifestação de um transtorno de somatização. A classificação apresenta, então,
critérios para duas formas de cefaléia: cefaléia atribuída a transtornos psicóticos e
cefaléia atribuída a transtorno de somatização, ambas classificadas como cefaléias
secundárias. Essas cefaléias podem ou não apresentar os comemorativos da migrânea ou
apresentar-se com sintomatologia atípica [10].
Ressalta-se, no entanto, que a maioria das cefaléias que ocorre em associação
com transtornos psiquiátricos não está causalmente relacionada com estes, mas são
condições comórbidas, talvez refletindo um substrato biológico comum, como discutido
anteriormente. O ICHS-II reconhece que existem circunstâncias em que a dor de cabeça
pode ocorrer associada a um transtorno psiquiátrico, levando clínicos e pesquisadores a
questionarem se o sintoma poderia ser melhor explicado como atribuído a esses
transtornos. Estariam incluídos nessas circunstâncias a depressão maior, o transtorno de
pânico, o transtorno de ansiedade generalizada, entre outros [10].
2.6.SOMATIZAÇÃO E MIGRÂNEA
Queixas somáticas são comuns entre pessoas ansiosas, como taquicardia,
dispnéia, desconforto gastrointestinal, dor muscular. A cefaléia pode ser parte dessas
manifestações somáticas inespecíficas.
Os transtornos somatoformes incluem o transtorno de somatização, transtorno
conversivo, hipocondria e transtorno doloroso somatoforme [50]. No transtorno
doloroso somatoforme, fatores psicológicos são julgados como tendo papel relevante na
instalação, exacerbação ou manutenção de um tipo de dor, que pode ser cefaléia. No
transtorno de somatização, vários sintomas somáticos inexplicáveis são freqüentemente
relatados, incluindo sintomas dolorosos, gastrointestinais, cardiovasculares,
respiratórios, neurológicos, urinários. No entanto, transtornos somatoformes são
21
raramente enfocados em estudos clínicos e epidemiológicos [87].
Em dois estudos recentes de comorbidades em centros terciários de dor de
cabeça, 6 a 22% dos pacientes com cefaléia preenchiam critérios diagnósticos para o
transtorno de somatização [35,88]. Curiosamente, os dois estudos observaram os
transtornos igualmente distribuídos entre homens e mulheres. Entretanto, nenhum deles
avaliou abuso de medicações analgésicas como fator relacionado.
O presente trabalho se justifica em virtude da elevada prevalência de transtornos
psiquiátricos entre migranosos, especialmente entre aqueles que procuram tratamento
em clínicas de cefaléia. Ainda, por estas comorbidades psiquiátricas constituírem num
complicador do tratamento das cefaléias, piorando o prognóstico e aumentando o
impacto na qualidade de vida dos sofredores. O papel do uso abusivo de analgésicos na
evolução da migrânea e no maior impacto relacionado às crises de dor é também pouco
investigado. Além disso, faltam na literatura uma análise das propriedades
psicométricas dos instrumentos mais freqüentemente utilizados para avaliar transtornos
depressivos na migrânea, a saber, o BDI e HAM-D.
22
3. OBJETIVOS
3.1. OBJETIVO GERAL
3.1.1. Verificar a freqüência de transtornos psiquiátricos em pacientes com
migrânea no Ambulatório de Cefaléias do Serviço de Neurologia do Hospital das
Clínicas da UFMG.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
3.2.1 Caracterizar a amostra de pacientes com migrânea no que tange a dados
sócio-demográficos e clínicos e comparar esses dados entre os pacientes com e sem
abuso de analgésicos.
3.2.2 Verificar a freqüência de transtornos psiquiátricos em pacientes com
migrânea que abusam de medicações analgésicas e comparar com migranosos que não
têm história de abuso.
3.2.3. Analisar as propriedades psicométricas dos instrumentos utilizados para
avaliar sintomas depressivos nesta população.
23
4. CASUÍSTICA E MÉTODOS
4.1. DELINEAMENTO DO ESTUDO
No período de março a dezembro de 2006, todos pacientes de ambos os gêneros
que estavam em acompanhamento no Ambulatório de Cefaléias do Serviço de
Neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG com diagnóstico de migrânea dado pelo
neurologista foram convidados a participar do estudo (recém ingressos e os que já
estavam em acompanhamento). Foi realizado um estudo transversal em que 70
pacientes com diagnóstico de migrânea foram submetidos a exame psiquiátrico com a
psiquiatra responsável pelo estudo. As entrevistas duravam em média uma hora. Este
estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (processo nº. ETIC
0385/2005).
4.1.1. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
- Ter entre 18 e 65 anos;
- Diagnóstico de migrânea pelo IHS-II;
- Exame neurológico normal;
- Ausência de dor de cabeça no dia da avaliação;
- Ausência de doenças clínicas graves (transplantados ou pacientes oncológicos
em tratamento).
- Assinar o termo de consentimento livre e esclarecido para participação na
pesquisa.
4.1.2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
- Idade menor que 18 anos;
- Presença de cefaléias secundárias,
- Diagnóstico de retardo mental ou demência pelos critérios do DSM-IV
(pacientes foram submetidos a avaliação neuropsicológica com psicóloga do serviço) .
24
4.2. INSTRUMENTOS
4.2.1. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA
4.2.1.1. MINI-INTERNATIONAL NEUROPSYCHIATRY INTERVIEW
(MINI-PLUS) BRAZILIAN VERSION 5.0.0
O MINI-Plus é uma versão mais detalhada do Mini-International
Neuropsychiatry Interview (MINI) [51] e constitui em uma entrevista diagnóstica breve
(30 minutos), padronizada e estruturada, utilizada para identificar ao longo da vida, na
clínica e em pesquisas em psiquiatria, transtornos psiquiátricos do eixo I do DSM-IV e
da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID-
10) [51,89]. O MINI-Plus explora sistematicamente todos os critérios de inclusão e de
exclusão e a cronologia (data do início e duração dos transtornos, número de episódios)
de 23 categorias diagnósticas do DSM-IV [89]. Uma das seções do MINI-Plus é
também destinada a avaliar a presença de ideação suicida no paciente.
4.2.1.2. ESCALA DE DEPRESSÃO DE HAMILTON (HAM-D)
A Escala de Depressão de Hamilton (HAM-D) foi desenvolvida há mais de 40
anos, porém mantém sua posição de escala para depressão mais utilizada mundialmente
[90]. A versão inicial possui 21 itens [90], tendo-se proposto, posteriormente, uma
simplificação para 17
itens [91] em virtude da pequena ocorrência dos últimos quatro
itens da escala original, a saber, variação diurna, sintomas de desrealização
/despersonalização, sintomas paranóides e sintomas obsessivo-compulsivos. Outra
versão também proposta pelo autor possui 24 itens e inclui, além dos 21 itens originais,
questões sobre desamparo, desesperança e baixa auto-estima, somando um total de 78
pontos. A HAM-D mostrou possuir boas propriedades psicométricas, validade e
confiabilidade na depressão [92].
25
Dois estudos brasileiros utilizaram a HAM-D como instrumento para avaliar a
gravidade da depressão em pacientes com cefaléia. Um deles avaliou pacientes com
migrânea associada a fobias, encontrando maiores escores do HAM-D nestes pacientes
do que naqueles com migrânea sem fobias associadas [39]. Em outro, pacientes
atendidos num ambulatório de cefaléia de uma faculdade de medicina do interior de São
Paulo foram avaliados, e o HAM-D foi inadequadamente utilizado como instrumento
para diagnóstico de depressão, encontrando elevada prevalência de depressão nessa
população [93]. Nenhum estudo brasileiro validou o instrumento ou verificou suas
propriedades psicométricas na população com migrânea.
Sugerem-se, na literatura, alguns pontos de corte [94] para a identificação de
quadros depressivos que mostraram, em diversos estudos, sensibilidade, especificidade
e valores preditivos positivo e negativo aceitáveis. No nosso estudo, optamos por
utilizar a HAM-D, versão de 21 itens, como instrumento destinado a avaliar a gravidade
do transtorno depressivo, seguindo-se a proposta original do autor, e também avaliar
suas propriedades psicométricas.
4.2.1.3. INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK (BDI)
O BDI (Beck Depression Inventory) é a escala de auto-avaliação de sintomas
depressivos mais amplamente utilizada, tanto em pesquisa como na clínica, tendo sido
traduzido para vários idiomas e validado em diferentes países [95].
A escala original consiste de 21 itens, incluindo sintomas e atitudes, cuja
intensidade varia de 0 a 3 com um escore máximo de 63. Os itens referem-se à tristeza,
pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa, sensação de
punição, auto-depreciação, auto-acusações, idéias suicidas, crises de choro,
irritabilidade, retração social, indecisão, distorção da imagem corporal, inibição para o
26
trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de peso, preocupação
somática, diminuição de libido. Apesar de o BDI valorizar categorias de sintomas
cognitivos e vegetativos, estudos que avaliaram suas propriedades psicométricas em
pacientes populações clínicas mostraram que tais itens não modificam o número de
casos de depressão diagnosticados [96]. Dessa forma, a supressão de questões relativas
à capacidade de trabalho, concentração, capacidade de tomar decisões e fadiga não seria
necessária.
Há várias propostas de diferentes pontos de corte para distinguir os níveis de
depressão utilizando o BDI [97]. De acordo com o critério de pontos de corte do Center
for Cognitive Therapy, os escores são classificados como: menor que 10 = sem
depressão ou depressão mínima; de 10 a 18 = depressão leve a moderada; de 19 a 29 =
depressão moderada a grave e de 30 a 63 = depressão grave [97]. Entretanto, ressalta-se
que os pontos de corte dependem das características dos pacientes e do propósito dado
ao instrumento.
Magnusson e Becker [98], aplicando o BDI em 50 pacientes com migrânea
episódica e 37 com migrânea transformada, não acharam diferenças significativas nos
escores entre os grupos. Entretanto, encontraram que 29,7% dos pacientes com
migrânea transformada apresentavam maior porcentagem de depressão moderada a
grave (BDI entre 16-34) comparada com apenas 18% dos pacientes com migrânea
episódica.
No presente estudo, o BDI foi utilizado como forma de quantificar a
sintomatologia depressiva e não como instrumento diagnóstico.
27
4.2.1.4. ESCALA HOSPITALAR DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO (HAD)
A escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) compõe-se de duas
subescalas, para ansiedade e depressão, com sete itens e um máximo de 21 pontos cada.
Este instrumento foi primariamente desenvolvido para ser aplicado em pacientes de
serviços não psiquiátricos de um hospital geral [99]. Nesta escala, sintomas vegetativos
que podem ocorrer em doenças físicas foram evitados e o conceito de depressão centra-
se na noção de anedonia. A versão em português foi validada por Botega e
colaboradores [100]. A HAD destina-se à detecção de graus leves de transtornos
afetivos em ambientes não psiquiátricos e possui, ainda, como vantagem, o fato de ser
curta e rapidamente preenchida, podendo ser uma alternativa para o BDI na
quantificação e identificação de sintomas depressivos [32].
Ressalta-se que no presente trabalho a HAD foi utilizada não como instrumento
diagnóstico, mas como forma de quantificar a sintomatologia ansiosa-depressiva,
somando a pontuação das duas escalas.
4.2.1.5 ESCALA DE DEPRESSÃO DE MONTGOMERY-ASBERG
(MADRS)
A Escala de Depressão de Montgomery-Asberg (MADRS) [101] foi elaborada a
partir da administração da Escala de Avaliação Psicopatológica Resumida em 106
pacientes com diagnóstico de doença depressiva primária na Inglaterra e na Suécia.
A MADRS difere da HAM-D pelo fato de não incluir sintomas somáticos ou
psicomotores. Apesar disso, avalia os principais sintomas do transtorno depressivo
como tristeza, redução do sono, lassidão, pessimismo e pensamentos suicidas. Seus
itens incluem aspectos biológicos, cognitivos, afetivos e comportamentais, abrangendo
todos os sintomas essenciais da depressão. Sua validade tem sido demonstrada pela alta
28
correlação com a HAM-D [92] e por diversos estudos que mostram que a escala é válida
e confiável quando aplicada por entrevistador clínico [102].
4.2.1.6 ESCALA DE ANSIEDADE DE HAMILTON (HAM-A)
A Escala de Ansiedade de Hamilton (HAM-A) [103], com 14 itens, é o
instrumento de avaliação psiquiátrica utilizado, neste estudo, para avaliar a intensidade
dos sintomas ansiosos. Sete dos itens da escala se referem a sintomas somáticos e, os
outros sete, a sintomas psíquicos. Ressalta-se, contudo, que o diagnóstico sindrômico
baseou-se na entrevista psiquiátrica do MINI-Plus, e que a HAM-A foi utilizado apenas
para quantificar e avaliar a sintomatologia ansiosa.
4.2.2. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA CEFALÉIA
4.2.2.1. MIGRAINE IMPACT DISABILITY ACESSMENT SCALE
(MIDAS)
O Migraine Impact Disability Assessment Scale (MIDAS) [104] é um
instrumento validado, traduzido para o português, desenhado para quantificar a
incapacidade causada pela cefaléia num período prévio de 3 meses. O MIDAS é
relativamente fácil de ser administrado em ambientes clínicos e pode ser utilizado como
indicador de gravidade da cefaléia [105], embora o período de recordação de 3 meses
seja muito longo como medida de avaliação clínica.
O escore do MIDAS é baseado em 5 questões sobre incapacidade abordadas em
três domínios de atividade: as perguntas 1, 3 e 5 questionam o número de dias de faltas
na escola, trabalho ou atividade regular por causa da dor de cabeça. As perguntas 2 e 4
acessam o número adicional de dias com diminuição significativa do desempenho ou
limitação nas atividades habituais devido à cefaléia. O escore total do MIDAS é obtido
29
pela soma nas cinco questões da resposta de dias perdidos devido à cefaléia. Este escore
pode algumas vezes ser maior que o número real de dias perdidos devido à
possibilidade de os dias serem contados em mais de um domínio. O resultado é
categorizado em 4 níveis de gravidade: nível I= 0-5 (definido como incapacidade
mínima ou infrequente), nível II = 6-10 (incapacidade média ou infrequente), nível III
=11-20 (incapacidade moderada), nível IV =21 ou mais (incapacidade grave).
Rasmussen [106], na Dinamarca, mostrou que são perdidos, em média, de 0,8 a
1,6 dias de trabalho por ano pelos homens e 1,1 a 3,8 dias pelas mulheres devido a
crises de migrânea. Stewart e colaboradores [107], nos Estados Unidos, mostraram que
50% das mulheres migranosas perdem três dias ou mais por ano e 31% perdem seis dias
ou mais. Para os homens, 30% dos migranosos perdem três dias ou mais e 17% perdem
seis dias ou mais. Muitos migranosos vão trabalhar mesmo estando em crise de cefaléia
(por medo de perder o emprego ou fator semelhante) e apresentam, assim, produtividade
reduzida. Cull e Miecevioch [108], na Inglaterra, mostraram que 80% dos migranosos
passaram algum tempo no trabalho quando em crise de migrânea nos últimos 12 meses
avaliados. Vale lembrar que a redução de produtividade também aparece entre as crises
de cefaléia, pois os sintomas associados à crise de dor podem perdurar. Os custos para a
sociedade são baseados em índices econômicos e extrapolados para a população de
migranosos estimada nos estudos de prevalência de cefaléia.
4.2.2.2 HEADACHE IMPACT TEST (HIT-6)
O Teste de Impacto da Cefaléia, versão 6 (“Headache Impact Test; HIT-6”) é
uma ferramenta usada para medir o impacto que as dores de cabeça têm na capacidade
laborativa, nos estudos, tarefas de casa e em situações sociais [109]. O HIT-6 mede o
impacto da cefaléia através de 6 questões que incluem a gravidade da dor, perda de
30
trabalho e atividades sociais, cansaço, alterações cognitivas e do humor. Cada questão é
quantificada numa escala de 5 pontos e o resultado é a soma dessas questões que
refletem o grau do impacto da cefaléia: pequeno ou nenhum impacto de 36-49, algum
impacto de 50 a 55, impacto acentuado de 56-59 e impacto muito grave acima de 60.
Estudos mostram que o HIT-6 é um instrumento confiável e pode ser usado para
quantificar o impacto da migrânea e adequar o tratamento de acordo com a gravidade da
doença [110,111]. Ainda, resultados do HIT-6 foram diretamente relacionados com
relatos de horas perdidas de produtividade no trabalho devido à dor de cabeça [111].
Embora muitos pacientes avaliados no nosso estudo estivessem desempregados
ou afastados do trabalho, o MIDAS e HIT foram utilizados, considerando os dias
perdidos em atividades domésticas ou outras atividades regulares.
4.2.3. INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA
4.2.3.1 MEDICAL OUTCOME STUDY SHORT-FORM 36 ITEM SURVEY
(SF-36)
The Medical Outcomes Study Short Form-36 (SF-36) [112] é um instrumento
genérico de avaliação de qualidade de vida em saúde de fácil administração e
compreensão, traduzido para o português e validado por Ciconelli e colaboradores
[113]. É um questionário multidimensional formado por 36 itens englobados em 8
escalas que avaliam: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde,
vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental .Apresenta um escore
de 0 a 100 para cada subescala, no qual zero corresponde ao pior estado e 100 ao melhor
estado [114].
O SF-36 tem sido extensivamente utilizado em pesquisas para avaliar a
qualidade de vida de pacientes com dores crônicas, incluindo cefaléias [115-118] e em
31
clínicas de especialidades [116, 118-122]. Entretanto, pacientes que são vistos por
especialistas representam menos de 5% dos sofredores de migrânea [123, 124]. Ainda,
estes pacientes tendem a ter mais doenças graves, crises mais freqüentes e mais doenças
comórbidas [125]. Consequentemente, estudos realizados em centros de cuidados
especializados podem não estimar acuradamente o impacto da migrânea na população
geral [116, 126].
Solomon e colaboradores [116] mostraram que migranosos sentem mais dor
e têm mais restrições em suas atividades diárias que pacientes com depressão,
diabéticos, hipertensos e portadores de lombalgias. Osterhaus e colaboradores [127],
utilizando-se do SF - 36, avaliaram uma amostra de 845 indivíduos, dentre migranosos,
população geral e portadores de doenças crônicas (depressão, artrite reumatóide,
diabetes tipo II e hipertensão arterial), e constataram que migranosos possuíam maior
comprometimento que os diabéticos em quase todos os aspectos da escala, maior
comprometimento em dor, aspectos emocionais, saúde geral e aspectos sociais do que
os portadores de artrite. Mostraram ainda que a qualidade de vida dos migranosos estava
comprometida mesmo entre as crises.
32
4.3. PROCEDIMENTOS
Foi realizado um estudo descritivo do tipo transversal em que foram avaliados
70 pacientes com migrânea que estavam em acompanhamento no ambulatório de
Cefaléias do Serviço de Neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG. O diagnóstico
de migrânea foi pelo neurologista, sendo baseado nos critérios da segunda edição da
Sociedade Internacional de Cefaléia (IHS-II). História de abuso de medicações
analgésicas, definido como uso associado de dois ou mais tipos de analgésicos numa
freqüência maior que três vezes por semana, foi investigada pelo neurologista em
formulário próprio (Procefaléia). Os pacientes foram avaliados no período de março a
dezembro de 2006, sendo convidados para avaliação todos aqueles com diagnóstico de
migrânea no período, desde os recém-ingressos até os que faziam parte do serviço em
qualquer momento. A pesquisadora responsável pelas avaliações psiquiátricas
compareceu semanalmente ao ambulatório de cefaléias do HC-UFMG.
Foram coletados dados sobre as características sócio-demográficas do
participante (idade, gênero, escolaridade, estado civil, ocupação atual, duração e
freqüência de ataques de dor de cabeça, uso de medicamentos, doenças clínicas e
outros) e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. A amostra foi dividida
em dois grupos: aqueles que sofriam de migrânea e que tinham história de abuso de
medicações analgésicas (N= 32) e aqueles que tinham migrânea sem historia de abuso
de medicações analgésicas (N=38).
A avaliação psiquiátrica de todos os pacientes foi realizada pela mesma
investigadora, a qual foi treinada pelo Prof. Dr. Antônio Lúcio Teixeira para aplicação
das escalas específicas e do MINI-Plus. Foram registrados todos os transtornos para os
quais os pacientes preencheram critérios, de acordo com esse instrumento. HAM-D,
HAM-A, BDI, HAD e MADRS foram as escalas usadas no estudo por possuírem
33
características diferentes. O MIDAS, HIT e SF-36 foram aplicados pela mesma
psiquiatra para avaliar o impacto da incapacidade das dores de cabeça e o impacto na
qualidade de vida.
Não foram realizados testes estatísticos para verificar a confiabilidade entre
examinadores, uma vez que uma mesma pesquisadora realizou todas as entrevistas
psiquiátricas e aplicou todas as escalas e um neurologista realizou os diagnósticos da
cefaléia tipo migrânea.
4.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Inicialmente foi feita uma análise descritiva das variáveisnero, idade, estado
civil, ocupacional e escolaridade. Para as variáveis nominais foi feita uma tabela de
distribuição de freqüências. Os resultados das variáveis contínuas são apresentados sob
a forma de médias ± desvio padrão ou medianas e faixa de variação. As variáveis
categóricas foram expressas como proporções. Para correlação das variáveis ordinais,
foi utilizado o teste de correlação de Spearman.
A correlação entre as escalas BDI e HAM-D e a concordância entre o resultado
da escala BDI categorizada em com e sem depressão (ponto de corte 18) e o resultado
da avaliação psiquiátrica de acordo com o MINI-Plus foram avaliadas por meio do
coeficiente de correlação de Pearson.
Para comparar os resultados das escalas (variáveis contínuas) entre os grupos
com abuso de medicações analgésicas e sem abuso, inicialmente foi feita uma análise
descritiva para cada um dos grupos. Em seguida, foi utilizado o teste U de Mann-
Whitney para variáveis de distribuição não-normal.
34
Para testar a associação entre as variáveis categóricas, foi utilizado o teste qui-
quadrado χ
2
de Pearson, ou teste exato de Fisher (quando o numero de eventos era
menor que 5), comparando os resultados da avaliação MINI-Plus entre os grupos com e
sem abuso de medicações analgésicas.
O escore ótimo para maior sensibilidade ou especificidade do BDI e do HAM-D
na triagem ou diagnóstico de transtornos depressivos foram calculados através da
Receiver Operating Characteristic Curve (curva ROC).
Todas as análises foram realizadas utilizando-se o Statistical Package for Social
Sciences (SPSS versão 15.0), um programa estatístico para Windows. Um valor de p
bilateral menor que 0,05 (nível de 5% de significância) foi adotado como nível de
significância estatística para todos os testes.
35
5. RESULTADOS
Inicialmente são apresentados os dados referentes ao grupo avaliado no
Ambulatório de Cefaléias no período de estudo, com caracterização da amostra,
incluindo dados sócio-demográficos e clínicos. Ainda, são apresentadas
comparativamente as características sócio-demográficas e clínicas do grupo de
pacientes com migrânea associada a abuso de analgésicos e de pacientes com migrânea
sem abuso. Compararam-se escores de todas as escalas utilizadas nos grupos com e sem
abuso de analgésicos.
Posteriormente, verificaremos a freqüência de transtornos psiquiátricos nessa
população de acordo com o MINI-Plus. Finalmente, são apresentados o estudo do
desempenho do BDI como instrumento diagnóstico, em comparação com o diagnóstico
de transtornos depressivos pela entrevista estruturada (MINI-Plus) e sua correlação com
a HAM-D. Em seguida, são mostrados os dados da análise das propriedades
psicométricas do BDI e da HAM-D.
5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DO AMBULATÓRIO DE CEFALÉIA
As características sócio-demográficas referentes a gênero, idade, estado civil,
situação trabalhista e escolaridade dos pacientes avaliados são exibidas na tabela 4.
36
TABELA 4: Características sócio-demográficas da população com migrânea
estudada
Pacientes (N=70)
Característica
N ou
Média ± DPM
Proporção (%) ou
Mediana (faixa)
Gênero
Masculino 4 5,7
Feminino 66 94,3
Idade
35,6 ± 11,5 35,5 [18-63]
Estado civil
Solteiro 20 28,5%
Casado/união estável 42 60,0%
Separado/divorciado 7 10,0%
Viúvo 1 1,5%
Estado ocupacional
Não trabalha 30 42,9%
Trabalha 40 57,1%
Escolaridade
Menor que 3 anos 9 12,9%
4-7anos 22 31,4%
8-11 anos
32 45,7%
12 ou mais anos
7 10,0%
N= número de pacientes; DPM= desvio-padrão da média.
A amostra constituiu-se de 70 pacientes. A grande maioria é do sexo feminino
(94,3%). A idade variou entre 18 e 63 anos (mediana 35,5 anos). Do total, 60% eram
casados ou tinham união estável, 45,7% referiram escolaridade entre 8 a 11anos e
57,14% trabalhavam.
A seguir, variáveis clínicas da amostra são apresentadas na tabela 5 sob a forma
de média, desvio-padrão, mediana e faixa de variação.
37
TABELA 5: Características clínicas da população com migrânea estudada
Pacientes (N=70)
Característica
N ou
Média ± DPM
Proporção (%) ou
Mediana (faixa)
Tempo de doença
Menos de 1 ano 11 15,7
Entre 1-5 anos 25 35,7
Entre 6-9 anos 6 8,6
Mais 10 anos 28 40,0
CCD
Sim 44 37,1%
Não 26 62,9%
Abuso de medicação
Com abuso de analgésicos 32 45,7%
Sem abuso de analgésicos 38 54,3%
História familiar de cefaléia
Sim 50 71,4%
Não 20 28,6%
Piora menstrual da migrânea
Sim 36 61,8%
Não 22 38,2%
Não se aplica*
12 _
N= número de pacientes; DPM= desvio-padrão da média, CCD= cefaléia crônica diária.
* Não se aplica para a população masculina e para mulheres no climatério.
A maioria dos pacientes informou ter mais de 10 anos de cefaléia (40%) e
62,9% apresentavam mais que 4 crises de dor de cabeça por semana (CCD). Cinqüenta
e quatro por cento da amostra não abusavam de medicação analgésica durante as crises.
Dos pacientes avaliados, cinqüenta (71,4%) relataram história familiar para cefaléia.
Piora menstrual da migrânea foi observada na maioria dos casos (61,8%).
As comorbidades clínicas encontradas são descritas na tabela 6.
38
TABELA 6: Comorbidades clínicas na população estudada (n=70)
Comorbidades clínicas Freqüência %
Sem comorbidade 33 47,1
Hipertensão 9 12,8
Epilepsia 5 7,1
Fibromialgia 5 7,1
Tireoidopatia 2 2,8
Diabetes mellitus 2 2,8
Artrite reumatóide 1 1,4
Lupus 1 1,4
Parkinson 1 1,4
Asma 1 1,4
Gravidez* 3 4,3
Outras de menor relevância na cefaléia-Vitiligo (2),
esclerose tuberosa (1), psoríase (2), nefrite (1), fistula
liquórica (1)
7 10,0
*Gravidez incluída nesta categoria pela importância clínica.
A Tabela 6 mostra que 52,9% da amostra apresentava alguma comorbidade
clínica. Hipertensão arterial foi a mais prevalente (12,8%), seguida de epilepsia (7,1%),
fibromialgia (7,1%), diabetes mellitus (2,8%) e tireoidopatia (2,8%). Três pacientes
estavam grávidas na época das avaliações e foram incluídas nesta tabela pela relevância
clínica.
A tabela 7 compara as características sócio-demográficas entre pacientes que
apresentavam abuso de medicações analgésicas durantes as crises de dor, e o grupo que
não apresentava abuso de medicações analgésicas.
39
TABELA 7: Comparação das variáveis sócio-demográficas entre pacientes com e
sem abuso de medicações analgésicas
Pacientes (n=70)
Característica
Migrânea com abuso
N (Proporção - %) ou
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Migrânea sem abuso
N (Proporção - %) ou
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Valor-p*
Sexo
Masculino 1 (3,0%) 3 (8,0%)
Feminino 31 (97,0%) 35 (92,0%)
0,62
Idade
35,1 ± 12,0
35,0 [18-63]
36,1 ± 11,2
37,0 [18-58]
0,66**
Ocupação
Não trabalha 15 (46,9%) 15 (39,5%)
Trabalha 17 (53,1%) 23 (60,5%)
0,53
Estado civil
Casado/união estável 16 (50,0%) 26 (68,5%)
Solteiro 12 (37,5%) 8 (21,0%)
Separado/divorciado 3 (9,4%) 4 (10,5%)
Viúvo 1 (3,1%) 0(0%)
0,28
Escolaridade
Menos que 3anos 5 (15,6%) 4 (10,5%)
4-7anos 10 (31,3%) 12 (31,6%)
8-11anos 14 (43,8%) 18 (47,4%)
12 ou mais anos 3 (9,3%) 4 (10,5%)
0,98
N= número de pacientes; DPM= desvio-padrão da média.
* Teste Qui-quadrado de Pearson ou Teste exato de Fisher quando número de eventos era menor que 5.
**Teste não-paramétrico Mann-Whitney
A Tabela 7 mostra que o houve diferença estatisticamente significativa quanto
às características sócio-demográficas (sexo, idade, estado civil, situação trabalhista e
escolaridade) entre os grupos analisados.
A Tabela 8 compara as características clínicas entre os grupos com e sem abuso
de medicações analgésicas em tratamento no Ambulatório de Cefaléia.
40
TABELA 8: Comparação das características clínicas entre pacientes com ou sem
abuso de medicações analgésicas
Pacientes (n=70)
Característica
Migrânea com abuso
(n=32)
N (Proporção - %) ou
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Migrânea sem abuso
(n=38)
N (Proporção - %) ou
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Valor-p*
Tempo evolução
Menos de 1 ano 3 (9,3%) 8 (21,0%)
Entre 1-5 anos 14 (46,8%) 11 (29,0%)
Entre 6-9 anos 3 (9,3%) 3 (7,9%)
Mais 10 anos 12 (40,6%) 16 (42,1%)
0,43
CCD
Sim 32 (100%) 12 (31,6%)
Não 0 (0%) 26 (68,4%)
<0,001
Comorbidade clínica
Não 15 (46,9%) 18 (47,4%)
Sim 17 (53,1%) 20 (52,6%)
0,90
História familiar
Sim 23 (72,0%) 27 (71,0%)
Não 9 (28,0%) 11 (29,0%)
0,58
Piora menstrual
Sim 14 (43,8%) 22 (73,7%)
Não 12 (56,2%) 10 (26,3%)
0,25
N= número de pacientes; DPM= desvio-padrão da média , CCD= cefaléia crônica diária
* Teste Qui-quadrado de Pearson ou Teste exato de Fisher quando número de eventos era menor que 5.
Observamos na tabela 8 que não há diferenças entre os grupos de pacientes com e
sem abuso de medicações analgésicas no que se refere ao tempo de doença, presença de
comorbidades clínicas, história familiar de cefaléia ou piora menstrual da dor.
41
Todos pacientes avaliados do grupo que abusavam de analgésicos (n=32)
apresentavam cefaléia crônica diária, enquanto que a maioria do grupo que não abusava
de medicações não apresentava cefaléia crônica diária (n=26/ 68,4%).
5.2. FREQUÊNCIA DE TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS NOS PACIENTES
COM MIGRÂNEA AVALIADOS
A tabela 9 mostra a freqüência de alguns transtornos psiquiátricos nos pacientes
com migrânea estudados.
TABELA 9: Freqüência de transtornos psiquiátricos nos pacientes com migrânea
Pacientes (N=70)
Transtorno Psiquiátrico
N Proporção (%)
Algum Transtorno Psiquiátrico 57 81,4
Transtornos do humor
32 45,7
Depressão atual 22 31,4
Distimia 15 21,4
Transtorno afetivo bipolar
4 5,7
Transtornos ansiosos
40 57,1
Transtorno do pânico 1 1,4
Fobia especifica 27 38,6
Transtorno de ansiedade generalizada 21 30,0
Transtorno obsessivo-compulsivo
16 22,9
Transtorno alimentar 6 8,6
Abuso de álcool 2 2,9
Transtorno de somatização 7 10,0
Transtorno de ajustamento 5 7,1
Ideação suicida 17 24,3
A tabela 9 mostra que algum transtorno psiquiátrico estava presente em 81,4%
dos indivíduos avaliados. Desses, o transtorno psiquiátrico mais freqüente foi fobia
42
específica, com prevalência de 38,6% nessa amostra. Observa-se, na tabela 9, uma
elevada prevalência de transtornos de humor entre os pacientes avaliados (45,7%). A
depressão maior foi o diagnóstico em 31,4% dos casos e a distimia, em 21,4% dos
casos. Quatro pacientes (5,7%) apresentaram diagnóstico de transtorno afetivo bipolar.
Ideação suicida foi observada em 24,3% da população estudada (n=17).
Os transtornos ansiosos (transtorno do pânico, fobia específica, transtorno de
ansiedade generalizada), por sua vez, foram diagnosticados em mais de 57% da amostra
(n=40), sendo a fobia específica o quadro mais freqüente (38,6%) seguido pelo
transtorno de ansiedade generalizada (30%). Apenas um paciente preencheu critérios
para transtorno do pânico. Houve superposição de sintomas clínicos nessa categoria
diagnóstica, sendo comum um mesmo paciente apresentar mais de um transtorno
ansioso.
O transtorno obsessivo-compulsivo foi diagnosticado em 22,9% da população
avaliada (n=16) e transtorno alimentar (bulimia ou anorexia) em 6 pacientes (8,6%). O
abuso de álcool esteve presente em apenas 2 pacientes (2,9%), enquanto transtorno de
somatização foi encontrado em 7 mulheres (10%). Transtorno de ajustamento
encontrado em 7,1% (n=5) dos casos.
A tabela 10 mostra comparativamente a prevalência dos transtornos psiquiátricos
entre pacientes com migrânea associada ou não a abuso de medicações analgésicas.
43
TABELA 10: Comparação da freqüência de transtornos psiquiátricos nos
pacientes com migrânea com e sem abuso de medicações analgésicas
Pacientes (N=70)
Transtorno Psiquiátrico
Migrânea com
abuso (n=32)
N (%)
Migrânea sem
abuso (n=38)
N (%)
Valor de p*
Algum Transtorno Psiquiátrico 28 (87,5) 29 (76,3) 0,23
Transtornos do humor
15 (46,9) 17 (44,7) 0,85
Depressão atual 11 (35,5) 11 (28,9) 0,56
Distimia 6 (18,8) 9 (23,7) 0,61
Transtorno afetivo bipolar
2 (6,3) 2 (5,3) 0,99
Transtornos ansiosos
21 (52,5) 19 (47,5) 0,19
Transtorno do pânico 1 (3,1) 0 (0,0) 0,46
Fobia simples 15 (46,9) 12 (31,6) 0,19
Transtorno de ansiedade
generalizada
12 (35,7) 9 (23,7) 0,21
Transtorno obsessivo-
compulsivo
8 (25,0) 8 (21,1) 0,69
Transtorno alimentar 2 (6,3) 4 (10,5) 0,68
Abuso de álcool 0 (0,0) 2 (5,3) 0,49
Transtorno de somatização 6 (18,8) 1 (2,6)
0,042
Transtorno de ajustamento 1 (3,1) 4 (10,5) 0,37
Ideação suicida 7 (21,9) 10 (26,3) 0,67
N= número de pacientes; DPM= desvio-padrão da média.
* Teste Qui-quadrado de Pearson ou Teste exato de Fisher quando número de eventos era menor que 5.
Quando os pacientes são categorizados em grupos com e sem abuso de
medicações analgésicas, há diferença estatisticamente significativa apenas para o
transtorno de somatização, cuja prevalência entre os pacientes com abuso de medicação
(18,8%) é bem mais elevada que entre os pacientes sem abuso (2,6%) [p<0,05].
44
5.3. ESCORES DAS ESCALAS UTILIZADAS NOS GRUPOS DE MIGRÂNEA
COM E SEM ABUSO DE MEDICAÇÕES ANALGÉSICAS
As próximas tabelas mostram comparativamente os escores das escalas
utilizadas ente os grupos de migranosos com e sem abuso de medicações analgésicas.
A tabela 11 apresenta os escores dos instrumentos utilizados para avaliação de
sintomas ansiosos e depressivos e compara esses valores entre os grupos com e sem
abuso de analgésicos.
TABELA 11: Comparação entre os escores das escalas de avaliação de sintomas
ansiosos e depressivos entre pacientes com migrânea com e sem abuso de
medicações analgésicas (N=70)
Instrumentos utilizados
Migrânea com abuso
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Migrânea sem abuso
Média ± DPM Mediana
[faixa]
Valor de p*
BDI
16,7 ± 11,0
16,0 [0-39,0]
15,6 ± 11,6
15,0 [0-43]
0,60
HAD
17,9 ± 9,8
18,5 [0-33]
16,3 ± 8,1
18,5 [2-34]
0,32
HAM-A
11,9 ± 7,9
9,5 [1-32]
11,5 ± 8,4
10,5 [0-33]
0,74
HAM-D
14,9 ± 9,0
14,0 [2-33]
12,4 ± 8,5
11,5 [0-32]
0,27
MADRS
16,2 ± 9,5
16,0 [0-31]
14,2 ± 10,4
17,0 [0-41]
0,43
N= número de pacientes; DPM= desvio-padrão da média. * Teste U de Mann-Whitney.
BDI= Inventário de Depressão de Beck; HAD= Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão;
HAM-A: Escala de Ansiedade de Hamilton; HAM-D= Escala de Depressão de Hamilton;
MADRS= Escala de Depressão de Montgomery-Asberg;
45
Observamos na tabela 11 que não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos em relação aos escores nas diferentes escalas que avaliam
gravidade dos sintomas ansiosos e depressivos.
A tabela 12 apresenta os escores obtidos nos questionários empregados para avaliar
impacto da cefaléia nos grupos com e sem abuso de analgésicos.
TABELA 12: Comparação dos escores dos questionários de avaliação do impacto e
incapacidade da cefaléia entre pacientes com migrânea com e sem abuso de
medicações analgésicas (N=70)
Instrumentos utilizados
Migrânea com abuso
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Migrânea sem abuso
Média ± DPM Mediana
[faixa]
Valor de p*
HIT
64,7 ± 6,3
64,6 [51-77]
61,6 ± 9,5
64,0 [44-76]
0,29
MIDAS
47,9 ± 38,1
37,0 [0-120]
26,7 ± 37,9
11,0 [0-180]
0,005
*Teste U de Mann-Whitney.
HIT= Teste do impacto da cefaléia, MIDAS = Migraine Impact Disability Scale
Percebe-se que há diferença estatisticamente significativa entre os grupos apenas
para a escala MIDAS. Os pacientes com abuso de medicações analgésicas apresentaram
escores bem mais elevados (mediana 37) que os sem abuso (mediana 11), mostrando
que o impacto da cefaléia, medido por este instrumento, é maior nos pacientes que
abusam de analgésicos.
A tabela 13 apresenta os escores encontrados no questionário SF-36, separados
em subitens, que avaliaram a qualidade de vida nos pacientes com e sem abuso de
medicações analgésicas.
46
TABELA 13: Comparação dos escores do questionário de avaliação de qualidade
de vida (Short form 36 itens) entre pacientes com migrânea com e sem abuso de
medicações analgésicas (N=70)
Subescalas do SF-36
Migrânea com abuso
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Migrânea sem abuso
Média ± DPM
Mediana [faixa]
Valor de p*
Capacidade Funcional
69,1 ± 20,7
70,0 [20-110]
68,0 ± 26,4
75,0 [10-100]
0,82
Aspectos Físicos
35,7 ± 39,9
25,0 [0-100]
42,4 ± 42,2
25,0 [0-100]
0,47
Dor
41,9 ± 19,8
41,5 [10-84]
44,0 ± 24,8
41,0 [0-100]
0,96
Estado Geral de Saúde
57,5 ± 27,1
55,0 [5,0-100]
58,8 ± 27,3
67,0 [5,0-100]
0,80
Vitalidade
43,7 ± 26,3
45,0 [0-90]
44,2 ± 29,2
40,0 [0-100]
0,99
Aspectos Sociais
49,8 ± 34,2
56,5 [0-100]
49,0 ± 31,8
50,0 [0-100]
0,87
Aspectos Emocionais
32,1 ± 42,1
32,1 [0-100]
34,4 ± 42,1
34,4 [0-100]
0,74
Saúde Mental
45,3 ± 26,6
44,0 [8-88,0]
48,0 ± 27,3
40,0 [8-96,0]
0,65
N= número de pacientes; DPM= desvio-padrão da média; * Teste U de Mann-Whitney;
SF-36= short form 36 itens (questionário de qualidade de vida)
Observa-se na tabela 13 que não há diferença estatisticamente significativa em
nenhum dos itens do SF-36 entre os grupos avaliados. Entretanto, os dois grupos
apresentam baixos escores em todos subitens do SF-36, principalmente nos aspectos
físicos, dor e aspectos emocionais, indicando maior impacto da migrânea nesses
domínios.
47
5.4. APLICABILIDADE DO BDI E DA HAM-D NA AVALIAÇÃO DE
SINTOMAS DEPRESSIVOS EM PACIENTES COM MIGRÂNEA
A tabela 14 exibe a comparação entre indivíduos com pontuações no BDI igual
ou acima de 18, ponto de corte sugerido por estudos internacionais para este
instrumento [96]. O BDI neste ponto apresenta sensibilidade de 52%, especificidade de
77%.
TABELA 14: Concordância entre diagnóstico de transtorno de humor pelo MINI-
Plus e ponto de corte do Inventário de Depressão de Beck em 18
Migrânea com
depressão
Migrânea sem
depressão
Total
BDI < 18 13 28 41
BDI 18 19 10 29
Total 32 38 70
Sensibilidade = 0,52; Especificidade = 0,77
A Tabela 14 mostra que ocorreram 47 (19+28) pares concordantes no total de 70
pacientes avaliados pelos dois métodos, o que equivale a 67,1% da amostra.
FIGURA 1: Receiver operating characteristic curve (curva ROC) do Inventário de
Depressão de Beck (BDI), com o ponto de corte ótimo assinalado (>13).
BDI
0
20 40 60 80 100
100-Specificity
100
80
60
40
20
0
Sensitivity
48
Na figura 1, observamos o traçado da curva ROC (Receiver Operating
Characteristic curve) do BDI para o diagnóstico de depressão (episódio depressivo e/ou
distimia). O ponto de corte ótimo calculado é 13. (Sensibilidade = 0,91; Especificidade
= 0,60; Valor Preditivo Positivo = 0,81; Valor Preditivo Negativo=0,74).
A análise da curva ROC do BDI indica que o ponto de corte em 13 (igual ou
acima deste valor) representa dicotomização ótima entre deprimidos e não deprimidos
(sensibilidade de 91,0%, especificidade de 60,0%). A área sob a curva foi de 0,80
(intervalo de confiança de 95%: 0,70-0,89) indicando boa propriedade discriminativa do
instrumento (figura 1).
Houve boa correlação entre os instrumentos BDI e HAM-D (coeficiente de
correlação de Spearman= 0,718 (valor-p<0,001), como mostra a figura 2.
FIGURA 2: Correlação entre os escores do Inventário de Depressão de Beck (BDI)
e da Escala de Depressão de Hamilton (HAM-D) pelo método de Spearman
r= 0,718 (valor-p<0,001)
0 10 20 30 40 50
0
5
10
15
20
25
30
35
BDI
HAM-D
49
FIGURA 3: Receiver operating characteristic curve (curva ROC) do HAM-D, com o
ponto de corte ótimo assinalado (>16).
HAMD
0
20 40 60 80 100
100-Specificity
100
80
60
40
20
0
Sensitivity
A análise da curva ROC do HAM-D indica que o ponto de corte ótimo calculado
em 16 (igual ou acima deste valor) e representa dicotomização ótima entre deprimidos e
não deprimidos (Sensibilidade = 0,86; Especificidade = 0,87). A área sob a curva foi de
0,90 (intervalo de confiança de 95%: 0,80-0,96) indicando boa propriedade
discriminativa do instrumento (figura 3).
50
6. DISCUSSÃO
Este estudo transversal é o primeiro realizado no Ambulatório de Cefaléia da
UFMG que avalia comorbidade psiquiátrica com a proposta de caracterizar o perfil dos
pacientes com migrânea que fazem parte do serviço, averiguar a prevalência de
transtornos psiquiátricos e o impacto na qualidade de vida desta população. A descrição
da amostra do estudo foi semelhante aos dados apresentados pela literatura com relação
à faixa etária e o maior predomínio do gênero feminino. Nossa população incluiu
pacientes adultos jovens, cuja idade variou entre 18 e 63 anos (média 35,6; mediana
35,5) e as mulheres constituíram a grande maioria da amostra (94,3%). Como esses são
também os dados encontrados na literatura, por exemplo, num estudo com desenho
semelhante realizado por Radat e colaboradores, em que as mulheres representavam
88,2% da população estudada [46], pode-se supor que esta parcela da população é a que
mais se queixa de dor e aquela que mais procura tratamento. Contudo, a obtenção de
resultados mais conclusivos exigiria uma comparação entre essas características dos
pacientes com cefaléia e a população sem dor de cabeça.
A maior parte dos entrevistados era casada ou tinha união estável (60%). Dos
pacientes estudados, grande parte não estava em pleno gozo de suas atividades
profissionais (43%), o que pode refletir a incapacidade provocada pela doença e
enfatizar o caráter limitante da dor [5,6].
Nossa amostra foi composta por 70 pacientes com migrânea sendo 32 pacientes
(45,7%) com abuso de medicações analgésicas e 38 (54,3%) sem abuso. Todos os
pacientes do grupo migrânea com abuso de analgésicos (N=32) foram diagnosticados
pelo neurologista como tendo cefaléia crônica diária, dado relacionado com a literatura,
que defende que o consumo de analgésicos é maior quanto mais freqüente é a dor [15,
41]. A maioria daqueles que não abusavam de analgésicos (N=26) não apresentavam
51
CCD, enquanto 12 pacientes do grupo sem abuso de analgésicos tinham diagnóstico de
CCD. Como nosso estudo foi descritivo e transversal, não foi possível correlacionar se
o início do abuso precedia a cronicidade da dor.
Com relação ao tempo de evolução da cefaléia, a maioria dos pacientes referiu
ter dor de cabeça há mais de 10 anos (n=28; 40%), e uma grande parte (n=25, 35,7%)
referiu ter iniciado as crises de cefaléia entre 1 a 5 anos antes da avaliação, refletindo a
cronicidade da cefaléia em nossa população. Entretanto, não foram observadas
diferenças estatisticamente significativas quando comparamos o tempo de doença entre
os grupos que abusavam e os que não abusavam de medicações analgésicas.
Um dado relevante foi que 71,4% da amosta (n=50) referiu ter história familiar
de cefaléia, dado semelhante ao encontrado por um estudo brasileiro, no qual 63,8% da
população com migrânea apresentava história familiar positiva para cefaléia [128].
Estudos falham em caracterizar um modo de transmissão gênica [129] ou mesmo uma
clara evidência de validade fenotípica [130].
Ao se investigar os transtornos psiquiátricos nesta população, foi relevante o
resultado de que a maioria dos pacientes apresentou algum transtorno psiquiátrico
(n=57, 81,4%) quando investigados a partir da entrevista diagnóstica do MINI–Plus.
Este dado foi muito semelhante ao encontrado por um estudo brasileiro realizado por
Corchs e colaboradores no Ambulatório de Cefaléias do Hospital Albert Einstein- SP,
utilizando-se do Structured Clinical Interview for DSM-IV (SCID I). Este estudo
encontrou em 87,5% (n=49) da população com migrânea avaliada a presença de
critérios para alguma comorbidade psiquiátrica [39]. Grande parte da nossa amostra (N=
44, 62,9%) apresentou dois ou mais diagnósticos psiquiátricos quando submetidos à
aplicação do MINI-Plus. Isso sugere não apenas que esta é uma população pouco
investigada do ponto de vista psiquiátrico, como também aponta para a relevância de
52
mais estudos diagnósticos, pois este é um dado que provavelmente interfere no
adequado controle da cefaléia. Os resultados referentes aos transtornos afetivos
confirmaram a elevada freqüência de depressão, ansiedade e fobias nessa população. A
depressão maior foi o diagnóstico em 31,4% dos casos e a distimia, em 21,4%. Juntos,
esses transtornos estiveram presentes em 45,7% dos pacientes. No estudo de Corchs e
colaboradores [39], a depressão maior foi diagnosticada em 28,6% da população clínica,
dado semelhante ao encontrado em nosso estudo.
Os dados relativos aos transtornos ansiosos mostraram elevada ocorrência
desses nessa população [82,131]. Concordando com o estudo de Corchs e colaboradores
realizado em São Paulo [39] e com outros relatos da literatura [131], encontramos uma
elevada freqüência de fobia específica na população avaliada (n=27; 38,6%). Transtorno
de ansiedade generalizada ocorreu em 30% dos pacientes. Avaliados de forma conjunta,
algum transtorno ansioso foi observado em 57,1% da amostra devido à sobreposição
diagnóstica. No estudo de Corchs, algum transtorno ansioso esteve presente em 75% da
população, sendo o TAG diagnosticado em 44,6% dos casos [39]. Alta prevalência de
TAG também foi relatada no estudo longitudinal de Merikangas [17], no qual o risco
relativo para TAG foi de 5,3 nos indivíduos com migrânea. Pelo fato de nossa avaliação
ter sido transversal, o risco relativo para TAG não pode ser calculado.
Verificou-se na nossa amostra uma baixa prevalência de transtorno de pânico,
em que apenas um paciente (1,4%) apresentava esse transtorno. Coincidentemente, no
estudo brasileiro de Corchs, transtorno do pânico foi diagnosticado somente em um
paciente (1,8%). Esses resultados contradizem os achados da literatura, que mostram
uma forte associação entre migrânea e transtorno de pânico [19, 21]. Isto pode ter
ocorrido devido ao caráter aleatório da amostra, em que os pacientes foram
encaminhados para avaliação em diferentes momentos de acompanhamento.
53
Vale ressaltar que na maioria dos estudos prévios, os pacientes são submetidos à
avaliação do humor a partir de escalas, como BDI [38], HAD [28,32] ou HAM-D [44].
Essas escalas, no entanto, apenas identificam a intensidade de sintomas e não
evidenciam um diagnóstico psiquiátrico adequado, o que pode favorecer resultados
falso-positivos e falso-negativos.
Transtorno afetivo bipolar (TAB) foi diagnosticado em 4 indivíduos (5,7%),
sendo que 3 destes estavam na fase depressiva na época da avaliação e um em fase
mista. Esta prevalência foi concordante com os dados da literatura que indicam uma
prevalência para TAB de 6,8% na migrânea [131] e também foi próxima àquela relatada
por Merikangas e colaboradores em 1990 [17] que encontrou diagnóstico de TAB em
8,8% dos 61 migranosos avaliados comparados com apenas 3,3% dos 396 indivíduos
sem migrânea (OR 2,9%). Transtorno alimentar (bulimia ou anorexia nervosa) foi
encontrado em 8,6% da população (n=6), prevalência considerada elevada pela autora.
Entretanto, faltam na literatura dados atuai sobre prevalência de transtorno alimentar na
migrânea para uma comparação adequada.
Outro dado relevante foi diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
em 16 pacientes (22,9%). Num estudo realizado por Breslau e colaboradores [82], o
TOC foi quatro vezes mais prevalente entre migranosos do que entre pacientes sem
cefaléia. Como nosso estudo não comparou pacientes sem cefaléia e não foi prospectivo
como o realizado por Breslau, esta análise fica prejudicada. Ainda, a maioria dos
estudos de comorbidade, investiga transtornos depressivos e ansiosos, e não inclui
avaliação do TOC nestas categorias, e as escalas que avaliam sintomas obsessivos são
instrumentos pouco utilizados na população com migrânea.
Com relação ao alto índice de ideação suicida nesta amostra (n= 17; 24,3%),
pode-se entender que, por se tratar de uma população que sofre de dor há muitos anos e
54
vem buscando, com apoio de inúmeros instrumentos e técnicas terapêuticas, o alívio de
seu quadro álgico, quando isto não é alcançado, apresenta resposta de “pouca vontade
de viver”, o que corrobora com estudos de baixa qualidade de vida nesta população
[8,105]. Ainda, devido à seletividade da amostra de um centro terciário, e por ser esta
uma população que apresenta uma concomitância de transtornos psiquiátricos, este é um
dado que pode ser evidenciado em um ou em vários destes transtornos [36].
Abuso de álcool e outras substâncias psicoativas foram diagnosticados em
apenas dois pacientes do grupo migrânea sem abuso de analgésicos (2,9%), dado que
contradiz o achado de Radat e colaboradores [47], em que o odds ratio para abuso de
álcool e substâncias psicoativas nos migranosos com abuso de analgésicos foi de 7,6 no
seu estudo. Entretanto, Stwart [1] e Merikangas [21] não encontraram esta relação
(n=4).
Radat e colaboradores [45] apontaram para a maior incidência de transtornos
psiquiátricos entre migranosos que abusavam cronicamente de medicações analgésicas
comparados com pacientes sem história de abuso. Interessante notar em nosso estudo,
que quando os pacientes foram categorizados pela presença de transtorno de ansiedade
generalizada sobreposta ao diagnóstico de algum transtorno do humor (distimia ou
depressão atual), encontramos uma tendência para apresentar uma diferença
significativa entre o grupo migrânea com abuso de analgésicos (n=10; 31,2%) em
relação ao grupo migrânea sem abuso de medicações (n=5; 13,6%) (p= 0,066).
Entretanto, a presença do abuso de analgésicos no nosso estudo não foi fator de risco
para maior prevalência dos principais transtornos psiquiátricos nesta população. Apenas
o transtorno de somatização foi mais prevalente no grupo com abuso de medicações
(p<0,05) quando os pacientes foram comparados em relação à prevalência de
transtornos psiquiátricos na migrânea com abuso e sem abuso de medicações
55
analgésicas.
No estudo de Maizels e colaboradores, sintomas somáticos foram mais
comuns em pacientes com migrânea e CCD [87], o que consolida o presente achado,
considerando que em nossa amostra, todos os pacientes que abusavam de analgésicos
apresentavam CCD. Em dois estudos de comorbidades em centros de dor de cabeça
terciários, 6 a 22% dos pacientes com cefaléia preenchiam critérios diagnósticos para o
transtorno de somatização [35,88]. Entretanto, estes estudos não investigaram
associação do transtorno com abuso de medicações.
Poderíamos pressupor que a
migrânea seria um sintoma do transtorno de somatização nesse grupo, e que, o fato
destes pacientes serem freqüentemente poliqueixosos, de apresentarem medo
antecipatório de ter dor e pela dificuldade em tolerar o desconforto, os levaria a abusar
das medicações analgésicas, talvez pela crença de que as drogas seriam a única solução
para o problema da cefaléia. No entanto, mais estudos são necessários para investigar
essa hipótese.
Quanto ao impacto na qualidade de vida, bem como a diminuição das
capacidades laborativa e de lazer, provocados pela migrânea, esses são fatores bem
conhecidos e amplamente descritos na literatura. Em estudo de prevalência nos EUA
realizado por Lipton e colaboradores [5] foi avaliado o grau de diminuição das
capacidades provocado pela migrânea: nenhum (12%); leve ou moderado, (51,3%);
intenso (35,5%); não sabem (1%). Portanto, 86,8% dos pacientes pesquisados tinham
diminuição das capacidades devido à migrânea. Em nosso estudo, a aferição dos itens
de qualidade de vida pelo HIT-6, mostrou impacto grave da cefaléia nos dois grupos
analisados (escores médios maiores que 60), embora, sem diferença estatística entre os
pacientes com ou sem abuso de analgésicos.
Classicamente, migranosos têm significativas limitações na qualidade de vida em
relação à população saudável [132]. Mesmo quando comparados a pacientes com outras
56
condições crônicas, como artrose e diabetes, os migranosos obtiveram os piores escores,
juntamente com os portadores de depressão [133]. Essa limitação que extrapola os
limites da crise de dor também fica evidente em nossos dados. Nos dois grupos de
pacientes avaliados, os baixos escores do SF-36 refletem que a migrânea diminui
significativamente a qualidade de vida não somente durante os ataques, como também
nos períodos intercríticos. O SF-36 demonstrou que os pacientes se sentem
prejudicados pela migrânea, independente de apresentarem ou não abuso de medicações
analgésicas. Verificamos que os aspectos físicos, emocionais e a dor representaram os
mais baixos escores do SF-36, sendo os fatores de maior interferência na qualidade de
vida desses pacientes. Entretanto, não avaliamos o SF-36 após ajuste para ausência de
transtornos psiquiátricos, o que pode ter exacerbado o impacto real causado pela
migrânea sem comorbidade.
O impacto causado pelas cefaléias, principalmente migrânea, está longe de ser
desprezível [2,5]. Isto se deve à freqüência relativamente elevada e ao caráter crônico da
dor. Em um levantamento telefônico realizado no Canadá entre 1573 adultos, 59%
tinham pelo menos um membro na residência com cefaléia. Metade dos migranosos
interrompiam sua atividade devido à dor e um terço necessitavam de repouso,
correspondendo, no Canadá, a cerca de 7 milhões de dias de trabalho perdidos por ano
[134]. Na Inglaterra, entre 476 funcionários de um centro de pesquisa e comércio na
área de indústria química, 27,4% dos migranosos disseram que a dor interferia com a
sua produtividade pelo menos moderadamente, e 63% consideraram que havia alguma
interferência, mas menos importante [133]. No nosso estudo, observamos através do
MIDAS que os pacientes que abusam de medicação analgésica sentiam maior prejuízo
causado pela migrânea, mesmo com igual prevalência de transtornos psiquiátricos entre
os grupos. Isso pode ter ocorrido pelo fato de todos pacientes avaliados que abusavam
57
de analgésicos apresentavam dor de cabeça com freqüência quase diária (mais que 4
crises de dor por semana) e talvez com crises mais intensas, sentindo maior impacto
pela dor nas atividades diárias.
A análise dos resultados obtidos a partir do uso de escalas para ansiedade e
depressão nos pacientes com migrânea, evidenciou que a mediana de todos os escores
foi elevada, confirmando a alta prevalência de sintomas ansiosos e depressivos nessa
população clínica. Pacientes migranosos com e sem abuso não mostraram diferenças
estatísticas nos escores dessas escalas.
Cabe discutir a utilização do BDI como meio de avaliação dos sintomas
depressivos nos pacientes com migrânea. O BDI em sua versão 21 itens mostrou-se um
bom instrumento de avaliação, rápido e de fácil aplicação, que não exige treinamento
prévio e possui sensibilidade e especificidade aceitáveis (sensibilidade de 91,0%,
especificidade de 59,6%) no ponto de corte de 13. No entanto, ao se comparar a
freqüência de depressão pelo MINI-Plus com a presença de depressão pela BDI, com
ponto de corte de 18 como a literatura recomenda para a população geral [97], pôde-se
verificar que, entre os 32 pacientes com episódio depressivo ou distímico, apenas 19
apresentaram depressão pelo BDI; Pode-se supor que o uso da escala evidencia indícios
de depressão nesta população, assim como, por ser um instrumento simples e de auto-
preenchimento, pode fazer parte do protocolo de qualquer profissional clínico, para que
sejam evidenciados sintomas depressivos e realizado tratamento adequado.
A HAM-D foi proposta originalmente como ferramenta para avaliar gravidade
de sintomas depressivos e por esse motivo não é recomendável empregá-la como
instrumento diagnóstico. No nosso estudo, a HAM-D apresentou boa sensibilidade (S=
0,86) e especificidade (E= 0,87) para diagnóstico de depressão, além de ter apresentado
boa concordância com o BDI avaliada através do método de Sperman.
58
A utilização de instrumentos como a HAD pode sugerir a presença de
transtornos de humor que poderiam passar despercebidos, pois nesta escala não estão
presentes sintomas confundidores comuns em doenças clínicas e depressão, tais como:
fadiga, perda do apetite, alterações do sono, entre outras. Por se tratar de um
instrumento de auto-avaliação, o indivíduo, de forma deliberada, pode exacerbar ou
negar sintomas, enfatizando apenas os traços socialmente aceitos, o que pode favorecer
a obtenção de respostas que não correspondam à realidade apresentada pela população
estudada. Além disso, fatores culturais e sociais podem contribuir para a compreensão e
o significado, tendo em vista os termos que a compõem [97]. Todavia, este instrumento
pode ser uma alternativa ao uso do BDI em centros terciários de cefaléia por ter a
vantagem de rastrear sintomas subjetivos mais específicos para a depressão,
demonstrando, em seu resultado final, a necessidade ou não do uso de instrumentos
diagnósticos adequados na identificação e condução do tratamento desses pacientes.
Ressalta-se que o presente estudo tem evidentes limitações metodológicas. O
pequeno número de pacientes examinados, o predomínio desproporcionalmente maior
do gênero feminino e a ausência de grupos controles mais adequados, sejam eles de
pacientes sem migrânea ou portadores de outras cefaléias, dificulta a comparação. As
características dos pacientes com cefaléia em acompanhamento ambulatorial num
centro de referência não representam as características de migranosos da população
geral e pode constituir num viés de seleção da população, apesar da vantagem de haver
uma maior acurácia do diagnóstico de migrânea. Todos os pacientes, após serem
encaminhados pelo neurologista, foram examinados pela mesma pesquisadora, que
estava ciente de dados clínicos do paciente, o que pode ter constituído outro viés. Além
disso, há as limitações inerentes aos instrumentos utilizados nessa pesquisa. Para
eliminar essas limitações e fazer interpretações mais generalizadas, são necessários
59
estudos epidemiológicos baseados na população geral e com amostras mais
representativas.
Algumas implicações deste estudo para a clínica e a pesquisa futuras devem ser
salientadas. Os trabalhos encontrados na literatura não têm uma metodologia única, e
alguns discutem ao mesmo tempo transtornos depressivos, ansiosos e transtornos de
personalidade, dificultando a comparação. Outros abordam mudanças nos quadros
depressivos e ansiosos com a cronificação da cefaléia ou a melhora pós-tratamento.
Diferentes critérios diagnósticos e limitações de método dificultam o estudo dos
mecanismos de comorbidade da migrânea. Mais estudos são necessários para a
sistematização da abordagem diagnóstica, tratamentos medicamentosos, abordagem
psicoterápica e prognóstico dos pacientes com migrânea e comorbidades psiquiátricas.
Do ponto de vista clínico, foi relevante o achado da elevada prevalência de transtornos
psiquiátricos nessa população, contribuindo para a melhor condução desses pacientes
em nosso serviço.
60
7. CONCLUSÕES
A freqüência de transtornos psiquiátricos em pacientes com migrânea é elevada;
Fobia específica foi o diagnóstico mais freqüente na população avaliada (38,6%),
seguido pela depressão maior (31,4%), transtorno de ansiedade generalizada
(30%) e distimia (21%);
Apenas o transtorno de somatização foi mais prevalente entre os migranosos que
abusavam de analgésicos em relação aos que não abusavam de analgésicos;
As mulheres foram maioria da população estudada (94,3%) e a idade média
(±DPM) foi de 35,5 (±11,5). História familiar e piora menstrual foram
relacionadas com migrânea. Estado civil casado/ união estável, escolaridade entre
8-11 anos e situação ocupacional ativa foram mais freqüentes em nossa população;
Não houve associação entre características clínicas ou sócio-demográficas e abuso
de medicações analgésicas em pacientes com migrânea, exceto pelo impacto da
dor avaliado pelo MIDAS;
Impacto da dor na capacidade laborativa avaliado pelo MIDAS foi maior no grupo
com abuso, devido a maior freqüência da cefaléia e não pela presença do
transtorno psiquiátrico;
O impacto da migrânea entre os indivíduos avaliados é alto, como mostra os altos
escores do HIT-6 (>60), que representam incapacidade grave nos dois grupos
avaliados;
Itens que avaliaram aspectos físicos, emocionais e dor no questionário de
qualidade de vida utilizado (SF-36) mostraram menores escores e, portanto, maior
prejuízo nesses domínios;
61
O Inventário de Depressão de Beck na versão de 21 itens e com ponto de corte de
13 e a Escala de depressão de Hamilton mostraram ser bons instrumentos para a
identificação de transtornos depressivos em pacientes com migrânea;
Não encontramos maior prevalência de transtornos psiquiátricos em pacientes com
migrânea associada a abuso de medicações analgésicas, dado que sugere que a
presença das comorbidades psiquiátricas não fosse considerada fator de risco para
abuso de medicações.
62
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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75
9. ANEXOS
9.1. ANEXO 1
No. ______DATA DO EXAME:___/___/____ EXAMINADOR:_______________
01. Nome: _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 02. Registro: _ _ _ _ _ _ _ _ _
End: ___________________________________________________ Telefone:_______________
03. Sexo: [ 1 ] Masculino [ 2 ] Feminino [ 9 ] NR
04. Idade: ___ ___ anos DN:----/ ----/ --------
05. Ocupação:[ 1 ] Não trabalha [ 2 ] Trabalha [ 3 ]Aposentado [ 9 ] NR
06. Estado Civil:[ 1 ]Casado/consensual [ 2 ]Solteiro [ 3 ]Separado/Divorciado [ 4 ]Viúvo [ 9 ]NR
07. Escolaridade:[ 1 ]Nenhuma [ 2 ]1-3 anos [ 3 ]4-7 anos [ 4 ]8-11 anos [ 5 ]12 ou + anos [ 9
]NR
08. Religião:[ 1 ] Não tem [ 2 ] Católica [ 3 ] Evangélica [ 4 ] Outra? __________________ [ 9 ]NR
09. Renda mensal: R$_____________Reais ./ Salarios mínimo: ________________
10. Encaminhado por: [ 1 ] Demanda espontânea [ 2 ]Clínico [ 3 ]Neurologista [ 4 ]Oftalmologista
[ 5 ] Otorrino [ 8 ] Outro? Especificar: ___________________________ [ 9 ] NR
11. Diagnóstico principal
Especificar: IHS:_______________________________ [ 9 ] NR
12. Diagnóstico clínico
[ 1] Alcoolismo [ 2 ]Diabetes mellitus [ 3 ]Hipertensão (HAS) [ 4 ]Hipotireoidismo
[ 5 ]Tabagismo [ 6 ]Depressão [ 8] Outro? Especificar:___________________ [ 9 ] NR
13-Medicamentos clínicos em uso
[ 1 ] Antihipertensivos Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 2 ] Insulina/ hipoglicemiantes Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 3 ] Reposição Hormonal (horm fem)/CO Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 4 ] ISRS (Inibidor seletivo recaptação serotonina) Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 5 ] Anti-inflamatórios não esteróides Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 6 ] Terapia para dislipidemia Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 7 ] Corticóide Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 8 ] outros? Especificar:______________________ [ 9 ] NR
14. Dependência química: Especificar: ________________________________
15. Tempo de evolução da cefaléia[ 1 ] < 1 ano [ 2 ] 1 – 5 anos [ 3 ] 6 – 9 anos [ 4 ] > 10 anos
[ 8 ] não sabe [ 9 ] NR
16. Freqüência de episódios de cefaléia: [ 1 ] < 1 crise/sem [ 2 ] 1-4 crises/ sem [ 3 ] 4-7 crises/ sem
[ 4 ] diária [ 8 ] não sabe [ 9 ] NR
17. Piora menstrual? [ 1 ] sim [ 2 ] Não [ 9 ] NR
18-historia familiar de cefaléia
? [ 1 ] sim [ 2 ] Não [ 9 ] NR
76
19. Medicamentos em uso nas crises:
[ 1 ] AINH (naproxeno, AAS) Dose;___________________ [ 9 ] NR
[2 ] Derivados Ergot Dose:________________________ [ 9 ] NR
[ 3 ] Triptanos Dose:________________________ [ 9 ] NR
[ 4 ] Paracetamol Dose:________________________ [ 9 ] NR
[ 8 ] Outro? Especificar:_____________________ [ 9 ] NR
20- Tratamento profilático de cefaléia:
[ 1 ] Antidepressivo triciclicos Dose:___________________ [ 9 ]NR
[ 2 ] Bloqueador de canal de cálcio (Verapamil) Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 3 ] Beta bloqueadores (propanolol) Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 4 ] Anticonvulsivantes (valproato) Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 5 ] Inibidor seletivo recaptação serotonina Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 6 ] Corticóide Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 7 ] Antipsicóticos Dose:___________________ [ 9 ] NR
[ 8 ] outro? Especificar: ________________________
[ 9 ] NR
21- outras medicações em
uso:______________________________________________________________
Protocolo de Conclusão da Entrevista Psiquiátrica
Nome:____________________________ No._______
Diagnóstico MINI:
1. ________________________________________________________________
2. ________________________________________________________________
3. ________________________________________________________________
4. ________________________________________________________________
Qualificação dos sintomas Depressivos:
5 6 7 8 9 10 11 - Ideação suicida C1 C2 C3 C4 C5
OBSrelatadas:________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________
Qualificação dos sintomas ansiosos: TAG
5 6 7 8 9 10 11
Pontuação nas escalas:
SF36:
MIDAS: ___________ HIT: ________
HAM-D 17:_______ HAM-D21________MADRS:_______
HAM-A:_______ HAD:_________ BDI:________
77
9.2.ANEXO 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Comorbidades Psiquiátricas em Cefaléias primárias e correlação com
polimorfismo do gene transportador de serotonina
Introdução: Você esta sendo convidado a participar desta pesquisa clínica: é
importante que você leia e compreenda a seguinte explicação sobre os procedimentos
propostos. Esta declaração descreve o objetivo, procedimentos, benefícios e riscos do
estudo, e o seu direito de sair do estudo a qualquer momento. Nenhuma garantia ou
promessa pode ser feita sobre o resultado do estudo. Estas informações estão sendo
dadas para esclarecer quaisquer dúvidas sobre a pesquisa proposta, antes de obter o
seu consentimento.
Objetivo: O objetivo deste estudo é avaliar a prevalência de distúrbios psiquiátricos
entre os pacientes que apresentam critérios diagnósticos para cefaléia tipo tensional e
/ou migrânea e que estão em tratamento no ambulatório de cefaléia do serviço de
neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG, para posteriormente compará-la com a
prevalência de transtornos psiquiátricos em pacientes sem cefaléia. Se os questionários
aplicados identificarem presença de sintomas psiquiátricos, seu médico assistente será
comunicado pelo pesquisador sobre o resultado para que possa avaliar adequadamente
os sintomas e o diagnóstico.
Resumo: A cefaléia é uma condição comum, que causa grande prejuízo na vida dos que
dela sofrem. Diversos estudos têm observado a presença de comorbidades psiquiátricas
em pacientes com cefaléia, especialmente depressão e distúrbios de ansiedade. A
qualidade de vida dos pacientes com cefaléia não é afetada apenas pelas características
da dor (freqüência, duração, gravidade), mas também pelo prejuízo causado pela
cefaléia associada a um transtorno mental. O reconhecimento da coexistência de
transtornos psiquiátricos e cefaléias podem nos ajudar a fazer a melhor escolha do
tratamento profilático e das crises agudas de dor, bem como melhorar a qualidade de
vida dos pacientes.
Procedimentos: Este estudo irá consistir de uma entrevista inicial para coletarmos
algumas informações sobre dados sócio-demográficos (idade, sexo, escolaridade,
emprego), sobre severidade da dor, freqüência de ataques de dor de cabeça, uso de
medicamentos, doenças clínica, etc. Nesta consulta os pacientes serão avaliados
clinicamente por um neurologista e aqueles pacientes portadores de CM ou CTT serão
selecionados para o estudo e encaminhados para uma psiquiatra que aplicará diversos
questionários para avaliação da presença ou ausência de transtornos psiquiátricos.
Será coletada uma amostra de sangue de cada paciente num laboratório especializado
para posterior análise genética.
Critérios de inclusão: idade acima de 18 anos; exame neurológico normal; exames
complementares (quando necessários) normais, incluindo tomografia computadorizada
ou ressonância magnética do encéfalo; preenchimento dos critérios diagnósticos para
CTT ou CM conforme IHS, ausência de outras cefaléias primárias ou secundárias,
ausência de doenças clinicas graves (colagenoses, transplantados ou pacientes
oncológicos em tratamento).
78
Benefícios: Não haverá benefício pessoal da sua participação na pesquisa.
Confidencialidade: Os registros de sua participação neste estudo serão mantidos
confidencialmente até onde é permitido por lei e todas as informações estarão restritas à
equipe responsável pelo projeto. No entanto, o pesquisador e sob certas circunstâncias,
o Comitê de Ética em Pesquisa/UFMG, poderão verificar e ter acesso aos dados
confidenciais que o identificam pelo nome. Qualquer publicação dos dados não o
identificará. Ao assinar este formulário de consentimento, você autoriza o pesquisador
a fornecer seus registros médicos para o Comitê de Ética em Pesquisa/UFMG.
Desligamento: A sua participação neste estudo é voluntária e sua recusa em participar
ou seu desligamento do estudo não envolverá penalidades ou perda de benefícios aos
quais você tem direito. Você poderá cessar sua participação a qualquer momento sem
afetar seu acompanhamento médico em andamento.
Compensação: Você não receberá qualquer compensação financeira por sua
participação no estudo.
Emergência / contato com a Comissão de Ética: Durante o estudo, se você tiver
qualquer dúvida ou apresentar qualquer problema médico, contate a Dra. Esther
Angélica Costa no telefone 9132-7744 ou a Comissão de Ética no telefone 3248-9364,
ou a secretaria do Ambulatório de Cefaléia: 3248-9540
Consentimento: Li e entendi as informações precedentes. Tive a oportunidade de
fazer perguntas e todas as minhas dúvidas foram respondidas a contento. Este
formulário está sendo assinado voluntariamente por mim, indicando o meu
consentimento para participar do estudo, até que eu decida o contrário.
Belo Horizonte, _____ de ___________________ de ______.
Assinatura do paciente________________________________
Assinatura da testemunha ________________________________
Assinatura do pesquisador________________________________
79
9.3 ANEXO 3: Banco de dados do grupo migrânea com abuso de analgésicos (n=32)
Legenda:
Sexo: 1= masculino, 2=feminino
Idade em anos
Abuso de analgésicos: 1= com abuso, 2= sem abuso
Ocupação: 1= não trabalha, 2=trabalha
Estado civil: 1= casado/consensual, 2=solteiro, 3= separado/divorciado, 4= viúvo
Escolaridade: 1=0-3 anos, 2=4-7anos, 3=5-8anos, 4=8-11anos, 5=12 ou mais anos de estudo
Tempo de evolução da cefaléia: 1= <1 ano, 2=1-5anos, 3=5-9anos, 4= >10anos de crises de
cefaléia
Piora menstrual da migrânea: 0= Não se aplica aos homens e mulheres climatério, 1=sim, 2=não
História familiar de cefaléia: 1= sim, 2= não
Registro sexo idade
Abuso
analges CCD
Ocu-
pação
Estado
civil
Escola-
ridade
tempo de
evolução
Piora
menstrual
História
familiar
1
2 20 1 1 1 1 4 2 1 1
2
2 38 1 1 1 1 3 2 1 1
3
2 23 1 1 1 1 4 2 2 1
4
2 55 1 1 2 3 2 3 2 1
5
2 56 1 1 1 3 2 4 2 1
6
2 36 1 1 2 2 3 3 2 1
7
2 38 1 1 2 1 4 2 1 1
8
2 22 1 1 2 2 4 2 2 1
9
2 38 1 1 1 1 1 4 0 1
10
2 35 1 1 2 1 4 2 1 1
11
2 27 1 1 1 2 3 4 1 1
12
2 38 1 1 2 2 4 3 2 1
13
2 52 1 1 1 4 2 4 1 2
14
2 34 1 1 2 1 5 2 1 1
15
2 35 1 1 2 1 4 2 2 1
16
2 30 1 1 1 1 3 2 1 2
17
2 18 1 1 1 2 4 1 2 1
18
2 30 1 1 2 1 3 2 2 1
19
2 51 1 1 1 2 4 4 0 1
20
1 19 1 1 2 2 5 2 0 1
21
2 51 1 1 1 2 4 2 2 2
22
2 37 1 1 1 3 3 4 0 1
23
2 38 1 1 2 1 4 4 1 1
24
2 23 1 1 1 1 3 4 0 2
25
2 27 1 1 1 2 4 2 1 2
26
2 37 1 1 1 1 3 4 1 1
27
2 33 1 1 2 1 2 1 2 2
28
2 20 1 1 2 2 3 4 1 2
29
2 63 1 1 2 2 4 4 0 1
30
2 49 1 1 2 1 3 1 2 2
31
2 24 1 1 2 1 4 2 1 1
32
2 27 1 1 2 2 5 4 1 2
80
ANEXO 3: Banco de dados do grupo migrânea com abuso de analgésicos -Continuação
Registro
CF
SF36
AF
SF36
DOR
SF36
EGS
SF36
VIT
SF36
AS
SF36
AE
SF36
SM
SF36 BDI HAD HAMD HAMA MIDAS HIT
1
65 50 62 55 50 63 100 56 11 14 5 5 52 61
2
60 0 42 40 20 13 0 32 25 27 28 14 100 66
3
60 75 21 55 9 38 0 64 16 14 7 8 118 68
4
45 0 31 5 0 9 0 8 22 27 25 22 105 74
5
9 9 9 9 9 50 9 9 27 27 25 24 9 9
6
75 50 40 32 40 63 100 16 20 30 18 10 9 9
7
85 75 10 87 75 13 67 72 1 0 2 1 20 63
8
80 0 62 37 35 9 0 24 35 27 31 24 50 77
9
9 9 9 9 9 6 9 9 8 8 17 19 9 9
10
45 25 31 47 20 50 0 40 24 23 9 8 30 64
11
70 0 20 5 20 13 0 36 14 19 17 18 80 71
12
70 100 52 87 10 100 0 12 24 31 24 23 5 52
13
60 100 72 70 90 63 100 72 5 3 9 8 11 68
14
100 50 51 77 80 63 0 60 14 17 7 5 6 59
15
90 0 40 82 60 0 0 80 13 8 12 12 0 67
16
55 0 10 30 10 100 0 16 39 33 33 32 90 67
17
90 100 62 97 75 9 100 88 0 0 2 2 17 51
18
9 9 9 9 9 63 9 9 35 30 15 14 9 9
19
40 0 20 47 45 75 0 52 11 19 15 15 53 71
20
90 0 42 92 75 9 67 84 2 7 12 8 25 64
21
9 9 9 9 9 13 9 9 1 3 2 1 9 9
22
55 0 10 30 15 68 0 16 29 24 28 18 120 62
23
70 0 51 57 55 38 100 88 10 8 3 3 52 62
24
80 0 41 30 20 100 0 16 21 26 12 5 23 71
25
95 75 51 52 55 0 33 32 7 15 15 6 15 60
26
35 25 51 52 10 100 0 12 9 30 27 22 25 68
27
95 100 72 87 65 63 100 68 11 16 17 7 95 69
28
80 25 31 87 50 50 33 48 18 16 13 9 37 62
29
60 0 41 62 55 13 33 56 20 18 13 11 22 60
30
65 50 51 77 30 0 0 24 25 22 13 9 55 55
31
20 0 21 30 35 100 0 20 30 23 18 12 85 72
32
100 100 84 100 85 75 67 76 0 9 3 5 1 62
Legenda:
SF36= Short form 36 itens (questionário de qualidade de vida), CF= Capacidade funcional, AS=
aspectos físicos, Dor, EGS= estado geral de saúde, VIT=vitalidade, AS= aspectos sociais, AE=
aspectos emocionais, SM= saúde mental
BDI= Inventário de Depressão de Beck,
HAMA= Escala de ansiedade de Hamilton,
HAMD= Escala de depressão de Hamilton,
HAD= escala Hospitalar de ansiedade e depressão,
HIT= Headache Impact Test,
MIDAS= Migraine Impact Disability Assessment Scale
81
ANEXO 3. Banco de dados do grupo migrânea com abuso de analgésicos –Continuação
Registro TAB Suicídio TDC Somat Talim Dist Fobia Depres TOC TP TAG TA Álcool Tpsiq
1 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
2
0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1
3
0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
4
0 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 1
5
0 3 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 1
6
0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 1 0 0 1
7
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
8
0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 1 0 0 1
9
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 1
10
0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 1 0 0 1
11
0 3 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
12
0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 1 0 0 1
13
0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
14
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
15
0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1
16
0 1 0 1 0 0 0 1 0 0 1 0 0 1
17
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
18
1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1
19
0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 0 0 1
20
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
21
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
22
1 0 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 0 1
23
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
24
0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
25
0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
26
0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 1
27
0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0 0 1
28
0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 0 1
29
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
30
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1
31
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
32
0 0 0 0 0 0 1 5 0 0 0 0 0 1
Legenda:
0=sem transtorno, 1= presença de transtorno,
TAB= transtorno afetivo bipolar,
Suicídio= ideação suicida,
TDC= transtorno dismórfico corporal,
Somat= Transtono de somatização,
Talim= Transtono alimentar (bulimia ou anorexia),
Dist= distimia,
Fobia= fobia específica,
Depres= depressão atual,
TOC= transtorno obssessivo-compulsivo,
TP= transtorno do pânico,
TAG= transtorno de ansiedade generalizada,
TA= transtorno de ajustamento,
Álcool= abuso de álcool,
Tpsiq= transtorno psiquiátrico.
82
9.4. ANEXO 4: Banco de dados do grupo migrânea sem abuso de analgésicos (n=38)
Legenda:
Sexo: 1= masculino, 2=feminino
Idade em anos
Abuso de analgésicos: 1= sem abuso, 2= com abuso
Ocupação: 1= não trabalha, 2=trabalha
Estado civil: 1= casado/consensual, 2=solteiro, 3= separado/divorciado, 4= viúvo
Escolaridade: 1=0-3 anos, 2=4-7anos, 3=5-8anos, 4=8-11anos, 5=12 ou mais anos de estudo
Tempo de evolução: 1=<1 ano, 2=1-5anos, 3=5-9anos, 4=>10anos de crises de cefaléia, Piora
menstrual da migrânea: 0= Não se aplica aos homens e mulheres climatério, 1=sim, 2=não
História familiar de cefaléia: 1= sim, 2= não
Registro sexo idade
Abuso
analges CCD
Ocu-
pação
Estado
civil
Escola-
ridade
tempo de
evolução
Piora
menstrual
História
familiar
33
2 19 2 1 1 1 3 2 1 1
34
1 37 2 1 2 1 4 4 0 2
35
2 20 2 1 2 1 4 1 1 2
36
2 25 2 1 2 1 4 1 1 2
37
2 22 2 1 1 1 4 1 1 1
38
2 35 2 1 2 1 5 2 1 1
39
2 55 2 1 1 1 3 4 2 2
40
2 47 2 1 2 3 4 4 0 1
41
2 58 2 1 1 1 3 4 2 1
42
2 49 2 1 1 3 3 2 0 1
43
2 37 2 1 2 1 3 9 1 1
44
2 34 2 0 2 2 3 2 1 1
45
2 46 2 0 1 1 4 4 1 2
46
2 26 2 0 1 1 3 2 1 1
47
2 23 2 0 1 1 5 4 1 1
48
1 46 2 0 2 1 2 2 0 2
49
2 23 2 0 1 2 4 2 1 1
50
2 24 2 0 2 1 4 1 1 1
51
2 44 2 0 2 1 1 2 2 1
52
2 30 2 0 2 1 4 1 1 2
53
1 21 2 0 2 2 4 4 0 1
54
2 47 2 0 2 3 4 3 1 1
55
2 39 2 0 1 1 4 9 1 1
56
2 37 2 0 2 1 2 4 2 2
57
2 39 2 0 2 1 4 4 1 1
58
2 41 2 0 1 1 3 4 1 1
59
2 33 2 0 1 1 3 4 2 1
60
2 47 2 0 2 2 3 1 1 1
61
2 18 2 0 1 2 4 2 1 1
62
2 23 2 0 2 1 4 2 0 1
63
2 38 2 0 2 2 3 1 2 1
64
2 29 2 0 2 2 5 3 1 1
65
2 35 2 0 2 1 4 4 2 1
66
2 56 2 0 2 3 4 1 2 1
67
2 48 2 0 2 1 2 4 1 2
68
2 40 1 0 1 2 4 3 2 2
69
2 34 9 0 2 1 5 9 2 2
70
2 46 2 1 1 1 3 4 1 1
83
ANEXO 4: Banco de dados do grupo migrânea sem abuso de analgésicos- Continuação
Registro
CF
SF36
AF
SF36
DOR
SF36
EGS
SF36
VIT
SF36
AS
SF36
AE
SF36
SM
SF36
BDI HAD
HAM
D
HAM
A
HIT MIDAS
33
60 25 31 20 5 75 0 16 7 10 3 7
70 90
34
90 100 100 62 75 38 0 56 12 13 19 13
54 18
35
80 0 20 45 15 50 0 36 16 20 9 11
65 11
36
95 50 20 72 20 9 33 40 15 8 6 16
66 19
37
9 9 9 9 9 25 9 9 19 18 17 15
55 10
38
20 0 20 35 0 100 0 24 39 26 15 18
76 90
39
100 25 51 82 90 25 33 84 7 5 7 5
50 14
40
95 50 51 87 40 13 67 32 16 23 14 15
60 16
41
45 0 30 52 20 0 0 12 6 20 12 8
52 4
42
10 0 0 5 0 9 0 8 43 24 29 32
69 108
43
9 9 9 9 9 13 9 9 35 34 27 28
99
44
90 0 31 10 30 63 0 48 20 18 12 13
69 180
45
65 25 31 67 40 13 0 64 10 13 6 5
74 6
46
75 0 74 82 95 50 33 72 13 20 22 19
55 0
47
80 100 51 87 70 63 0 80 0 7 2 4
64 11
48
40 25 30 57 35 50 0 36 16 20 8 19
68 10
49
70 25 20 35 35 100 67 40 15 24 15 26
71 15
50
65 0 52 77 45 13 0 32 23 13 5 8
65 9
51
25 0 21 50 25 38 0 28 15 25 33 27
65 27
52
45 0 41 62 30 100 0 24 23 21 18 23
76 60
53
100 75 100 100 100 88 100 96 19 26 14 17
65 8
54
60 100 62 92 75 9 0 60 27 22 5 4
53 41
55
9 9 9 9 9 100 9 9 3 15 4 6
99
56
80 100 61 72 85 75 100 88 4 5 4 7
51 2
57
100 0 62 17 55 38 34 64 5 12 16 7
44 8
58
80 100 62 82 60 0 34 56 14 21 19 20
44 19
59
75 100 51 30 20 10 100 20 27 19 10 9
62 0
60
90 100 41 11 10 38 100 10 3 3 0 2
52 6
61
60 75 41 45 35 25 0 36 37 25 21 18
56 20
62
45 100 72 72 50 13 33 36 24 22 14 13
61 0
63
25 0 10 32 0 50 0 13 34 26 21 25
76 0
64
25 0 10 87 70 50 100 96 1 6 9 9
64 33
65
85 75 30 67 40 62 100 60 8 13 4 2
66 10
66
100 25 62 87 45 100 100 88 2 7 2 1
70 47
67
85 100 84 92 85 9 100 92 2 6 3 6
49 3
68
9 9 9 9 9 9 9 9 5 2 0 0
44 2
69
9 9 9 9 9 9 9 5 5 1 2
72 35
70
85 25 30 67 60 63 0 36 22 22 11 12
63 10
Legenda:
SF36= Short form 36 itens (questionário de qualidade de vida), CF= Capacidade funcional, AS=
aspectos físicos, Dor, EGS= estado geral de saúde, VIT=vitalidade, AS= aspectos sociais, AE=
aspectos emocionais, SM= saúde mental
BDI= Inventário de Depressão de Beck,HAMA= Escala de ansiedade de Hamilton, HAMD=
Escala de depressão de Hamilton, HAD= escala Hospitalar de ansiedade e depressão,
HIT= Headache Impact Test, MIDAS= Migraine Impact Disability Assessment Scale
84
ANEXO 4: Banco de dados do grupo migrânea sem abuso de analgésicos- Continuação
Registro TAB Suic
ídio
TDC Somat Talim Distm Fobia Depr TOC TP TAG TA Álcool Tpsiq
33
0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 0 0 1
34
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
35
0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 1
36
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1
37
0 3 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
38
0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
39
0 3 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
40
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
41
0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1
42
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
43
1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1
44
1 1 0 0 1 0 0 1 1 0 1 0 0 1
45
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
46
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
47
0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 0 1
48
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
49
0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 1
50
0 1 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1
51
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
52
0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 1
53
0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1
54
0 0 1 0 0 1 0 1 1 0 0 0 0 1
55
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1
56
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
57
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
58
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1
59
0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1
60
0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 1
61
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
62
0 2 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1
63
0 3 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 1
64
0 3 0 0 1 1 0 1 1 0 0 0 1 1
65
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
66
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
67
0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
68
0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 1
69
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
70
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Legenda:
0=sem transtorno, 1= presença de transtorno,
TAB= transtorno afetivo bipolar, Suicídio= ideação suicida,
TDC= transtorno dismórfico corporal, Somat= Transtono de somatização,
Talim= Transtono alimentar (bulimia ou anorexia), Dist= distimia, Fobia= fobia específica,
Depres= depressão atual, TOC= transtorno obssessivo-compulsivo,
TP= transtorno do pânico, TAG= transtorno de ansiedade generalizada,
TA= transtorno de ajustamento, Álcool= abuso de álcool,
Tpsiq= transtorno psiquiátrico.
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