Uma das formas de o orador – em nosso caso, o enunciador do anúncio – criar ou
confirmar a comunhão com o auditório e, portanto, torná-lo mais simpático a aderir à
mensagem racional do modelo apolíneo, é valer-se de referências à cultura, à
tradição, a um passado comum com ele. Esse processo é conhecido como “alusão”.
(...) é nos chamados anúncios de oportunidade que a alusão tem seu poder
ampliado, já que “aumenta o prestígio do orador”, de acordo com Perelman e
Tyteca. (...) a maioria dos anúncios de oportunidade são criados juntamente a
partir de um fato que acaba de suceder – e, assim, está mais presente na
memória das pessoas -, ao qual a sua posição aludirá (CARRASCOZA, 2004, p.
61-62, grifo meu).
Outras normas usadas no texto apolíneo são as que indicam o lugar de quantidade e o
de qualidade. Segundo o autor, uma coisa é melhor do que outra por meio de argumentos que
demonstram essa diferença em quantidade e o de qualidade enfatiza a posição de “único” ao
objeto, opondo-se à posição de “vulgar”. Há ainda os argumentos mais comuns como os de
superação que valorizam o uso de hipérboles; as comparações; a valorização do inferior, que
engrandece tudo que aparenta ser insignificante. Por fim, há de se ter atenção ao tema, que
remete ao que é abstrato; à figura, que remete ao que é concreto e, atenção especial, à rede
semântica, seleção do léxico por analogia dos significados “palavra-puxa-palavra”, causando
um fenômeno conhecido por isotopia.
Para Carrascoza (2004), o discurso dionisíaco
é adotado preferencialmente para defender valores tradicionais, valores já
aceitos, que não suscitam polêmica. Não é por acaso que a maior parte dos
anúncios concebidos sob esse formato é de produtos já há muito conhecidos do
público, ou de marcas absolutas – que dominam seu segmento de mercado e estão no
top of mind -, revelando-nos ser uma estratégia voltada para aumentar a adesão
do que é admitido e não mais controverso. (…) Os anúncios dessa variante vão
buscar influenciar o público contando histórias. É uma estratégia poderosa de
persuasão, sobretudo quando o neurologista e escritor Oliver Sacks nos lembra que
“cada um de nós é uma história de vida, uma narrativa íntima – cuja continuidade,
cujo sentido é a nossa vida. (…) As histórias são constitutivas da identidade
individual do homem, mas se cada um permanecesse apenas identificado com sua
narrativa não haveria vida social nem cultura humana. Por meio da linguagem,
precisamente da narrativa estruturante, os homens passam a compartilhar sua
individualidade e também as identidades coletivas (CARRASCOZA, 2004, p. 85-
87).