52
p.213). A personagem Jorge, configurada como escultor, remete ao homem do
trabalho artesanal, a aura do único da arte, anterior à reprodutibilidade técnica.
Usamos como referência conceitual de símbolo a visão exposta por Benjamin em
A origem do drama barroco alemão (1984), que redunda implicitamente em seus
textos sobre Baudelaire e a modernidade³. O símbolo pode ser entendido como uma
aplicação estética sobre a obra a partir do romantismo, que o vê como uma extensão
valorativa da visão clássica de obra de arte, embora reproposta por conceitos
atuantes no imaginário ideológico-burguês. Para Benjamin, o romantismo traz para o
universo estético um “(...) conceito de símbolo que exceto no nome nada tem em
comum com o conceito autêntico” (BENJAMIN, 1984, p. 181). Assim, “(...) numa obra
de arte a ‘manifestação’ de uma ‘idéia’ é caracterizada como um ‘símbolo’”
(BENJAMIN, 1984, p. 182). Parte desta utilização obedece a um predicado formal
para a configuração “(...) desse indivíduo perfeito, desse belo indivíduo, (que)
coincide com o círculo ‘simbólico’” (BENJAMIN, 1984, p. 182).
Benjamin vê como afirmação clássica do símbolo um modo de exclusão por “(...)
denunciar a alegoria vendo nela um modo de ilustração, e não uma forma de
expressão” (BENJAMIN, 1984, p. 184). Cita Creuzer como exemplo da essência do
símbolo, visão partilhada pelos românticos: “(...) o momentâneo, o total, o insondável
quanto à origem, e o necessário”, o que se traduz na concisão, fundamentalmente
contrária à temporalidade corrosiva da alegoria: “A medida temporal da experiência
simbólica é o instante místico, no qual o símbolo recebe o sentido em seu interior
oculto e por assim dizer, verdejante” (apud BENJAMIN, 1984, p. 181).
Para isso, Benjamin opera uma diferenciação que implica tanto a visão histórica
quanto a estética:
(...) no símbolo, com a transfiguração do declínio, o rosto metamorfoseado
da natureza se revela fugazmente à luz da salvação, a alegoria mostra ao
observador a facies hippocratica da história como protopaisagem
petrificada. (BENJAMIN, 1984, p. 188).
É desta maneira que o símbolo reveste-se de uma textura transcendente e
concisa, de modo a efetuar a expressão de um humano clássico, simétrico em sua
________________________________________
3. A visão benjaminiana tem como proposta revelar o caráter convencional do símbolo. Uma
concepção de um todo diferente da visão arquetípica de Jung ou mesmo da semiótica de Pierce. Aqui
parece atender a uma “(...) oposição ao ideal de eternidade que o símbolo encarna” (GAGNEBIN,
2004, p.31), ou em termos de linguagem: “(...) a imediaticidade do símbolo corresponde a uma feliz
evidência do sentido, revelação da transcendência na nossa linguagem humana, graças à inspiração
do poeta” (GAGNEBIN, 2004, p.34).