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Para Iser, desta forma, o estético não pode ser identificado nem com o
molde extrapolado, nem como o efeito dos sentidos sobre o objeto, nem com as
novas formas de conceber, perceber e imaginar. Para o autor, o estético é então a
intermediação, qualificado como oscilação, que é uma das marcas do estético atual.
Essa oscilação gera uma tal expansão que ativa todo um modo diferenciado do
sujeito visualizar o mundo. Essa ativação é efetuada por todos os sentidos humanos
mais ou menos simultaneamente e direcionada aos objetos esteticamente
imaginados. Há, então, a oscilação, intermediação, pois, ao mesmo tempo em que
as formas não se fixam em um sentido, utilizam todos os sentidos ativados e estes
realimentam o circuito do perceber, conceber e imaginar
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.
Então, esse processo de oscilação rompe com a idéia clássica de escolha
entre bem ou mal, certo ou errado, feio ou bonito. Provoca um rompimento deste
padrão e traz a opção de uma terceira possibilidade, a ambigüidade. Para Eco, esta
ambigüidade não está na visão da dúvida, mas sim, em uma opção dialética e
dialógica. O sujeito receptor “cria” o seu modelo. Produz uma estética vivida. Vivida
pelo sujeito em seu contexto histórico. É uma experiência da terceira voz, onde o
sujeito vê o todo contemporâneo, numa perspectiva estética, desconcentrado,
distraído, como aponta Benjamin. E, nessa estética, desconcentrado, os sentidos
encontram-se submersos numa imensidade de sensações, que provêm também
desse contexto contemporâneo imerso em tecnologia e midiático.
Neste aspecto, nos aproximamos de Calabrese e Eco quando, os dois, ao
abordarem a questão da repetição, apresentam a tchené e a velocidade como o
motivador da transformação estética. Podemos pensar várias imagens com atração
visual desconectada, com lacunas, onde o sujeito é forçado a completá-las através
da apreensão cognitiva, mas sempre com a predisposição de “evocar a idéia da
insuperável excelência daquilo que é oferecido”
220
. Com essas produções, observa
Iser, o estético hoje revela a prioridade da embalagem sobre o produto, pois
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Para o autor, essa formação estética pode ser observada nos atuais anúncios publicitários
televisivos. O produto é apresentado através de uma imagem, mas de uma forma com que o
espectador não a perceba apenas como um objeto, mas sim, mantida à distância da própria visão e
inibindo o fechamento da “gestalt perceptual”, estimula-o a “atos de ideação”, levando-o a conceber o
que é proposto, embora não apresentado. Assim, o conceber ganha fruição quando a imaginação é
ativada e esta, sozinha, pode formar a intenção a ser comunicada. Por exemplo, são anúncios que,
através da velocidade e da fragmentação, fazem com que as imagens sejam reconfiguradas em
contornos rápidos, levando o espectador a questionar o que o produto possui realmente para ele.
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ISER, Wolfgang. Op. cit., p. 43.