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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Biológicas
Programa de Pós-graduação em Biologia Animal
Anatomia comparativa da vascularização e
conformação do trato gastrointestinal e morfometria
do ducto colédoco no gênero Pseudis
(Anura, Hylidae, Hylinae)
Essa dissertação é parte das
exigências para a obtenção do
título de Mestre em Biologia Animal.
Patrícia Souza Wanderley
Orientador: Prof. Dr. Antonio Sebben
Brasília, maio de 2008
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Livros Grátis
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Milhares de livros grátis para download.
À minha família.
Aos meus pais, Roberto e Flávia,
que mesmo não apresentando o menor
interesse nos anfíbios, sempre me
apoiaram e desejaram o meu sucesso.
À minha irmã Letícia,minha estagiária
honorária, pela ajuda nas dissecações e
conselhos de médica veterinária.
Ao meu namorado Daniel, pela constante
ajuda por todas as fases deste trabalho e
principalmente pelo seu amor que me
sustentou nos momentos difíceis.
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AGRADECIMENTOS
Aos professores Dr. Antonio Sebben, Dr. Hélio Silva e Dr. Osmindo Rodrigues
Pires Jr. pelo apoio, conselhos e acesso a bibliografia.
Aos alunos do LACV especialmente Mestre Leandro Ambrósio, Mestre Pedro
Ivo Molina Pellicano e futuro Mestre Thompson Tomatieli pelo apoio.
À turma de Biologia de Anfíbios 2/2005, Mariana Zatz, Lindomar, Elder, Zé
Roberto, Marília Lión, Jarbas Ten Caten, Luis André da Silva Couto e Flávio
Brandão pelo auxílio em coletas.
À Prof
a
. Dra. Rosana e ao técnico de laboratório Cleílson pelo empréstimo de
látex e auxílio na técnica.
Ao biólogo Dr. Adrian Antônio Garda pelo auxílio em coleta, fotografia e
conselhos.
Aos biólogos Vinícius Pereira e Gabriel Horta pelo auxílio em campo,
fotografia, laboratório e revisão do texto.
Ao médico Dr. Roberto Ferreira Wanderley e à psicóloga Dr
a
. Flávia Reis e
Souza Wanderley pela revisão do texto.
À médica veterinária Dr
a
. Letícia Souza Wanderley pelo auxílio em dissecações
e revisão do texto.
Ao biólogo Daniel Silva Diniz pelo auxílio em campo, revisão de texto e
elaboração do programa Treepy.
Todas as ilustrações e fotos são da autora exceto:
Figuras: 2 (D, F, G - I, M), 5 - 8 e 14 - 16.
1
ÍNDICE
RESUMO ......................................................................................................................... 3
Palavras-chave ............................................................................................................ 4
ABSTRACT ..................................................................................................................... 5
Keywords .................................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................... 7
Gênero Pseudis ............................................................................................................ 7
Caracteres alternativos .............................................................................................. 9
Objetivos gerais ........................................................................................................ 10
METODOLOGIA GERAL .......................................................................................... 11
Espécies amostradas ................................................................................................ 11
Coleta e empréstimo ................................................................................................ 11
Eutanásia ................................................................................................................... 12
Capítulo 1: ..................................................................................................................... 14
Vascularização do trato gastrointestinal no gênero Pseudis .................................. 14
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14
Descrição das árvores vasculares ....................................................................... 14
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares ... 15
METODOLOGIA ..................................................................................................... 17
Dissecação e injeção de corante .......................................................................... 17
Descrição das árvores vasculares ....................................................................... 17
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares ... 19
RESULTADOS .......................................................................................................... 24
Descrição das árvores vasculares ....................................................................... 24
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares ... 39
DISCUSSÃO.............................................................................................................. 41
Descrição das árvores vasculares ....................................................................... 41
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares ... 45
CONCLUSÕES ......................................................................................................... 47
Descrição das árvores vasculares ....................................................................... 47
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares ... 47
Capítulo 2: ..................................................................................................................... 48
Conformação gastrointestinal e ducto colédoco no gênero Pseudis ..................... 48
2
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 48
METODOLOGIA ..................................................................................................... 50
Conformação gastrointestinal e morfometria do ducto colédoco ................. 50
RESULTADOS .......................................................................................................... 53
Conformação gastrointestinal............................................................................. 53
Morfometria do ducto colédoco ......................................................................... 57
DISCUSSÃO.............................................................................................................. 59
Conformação gastrointestinal............................................................................. 59
Morfometria do ducto colédoco ......................................................................... 64
CONCLUSÕES ......................................................................................................... 65
Conformação gastrointestinal............................................................................. 65
Morfometria do ducto colédoco ......................................................................... 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 67
3
RESUMO
No primeiro capítulo são descritas as vascularizações arterial e venosa do
trato gastrointestinal de quatro espécies do gênero Pseudis e outras quatro
espécies de hilíneos, com dados das variações inter e intraespecíficas. Os
animais foram injetados com nanquim ou látex com corante após eutanásia e
sob solução salina. Os tratos gastrointestinais foram então retirados nos
espécimes fixados e analisados. As descrições vasculares se mostraram
semelhantes nas espécies analisadas, com pouca variação intraespecífica. No
entanto, houve muita variação em relação a descrições vasculares para outros
táxons encontradas na literatura.
Ainda no mesmo capítulo, foram feitas comparações entre as árvores
vasculares do trato gastrointestinal encontradas nesses animais. Nas análises
foram usados número de segmentos das árvores, maior ordem Strahler e índice
de assimetria. Esses dados foram comparados ainda com medidas de
comprimento rostro-cloacal (CRC) e sexo dos animais. Como resultado, foram
observadas nas árvores arteriais relações significativas entre mero de
segmentos, CRC e índice de assimetria. As árvores venosas não apresentaram
tais relações, talvez devido à maior variação encontrada no sistema venoso. Mas
tanto as árvores arteriais como venosas obedeceram à lei de Horton para
número de segmentos e, portanto, são consideradas auto-similares.
No segundo capítulo, foram descritos dois novos modelos de
conformação gastrointestinal em nove espécies do gênero Pseudis e quatro
4
outras espécies de hilíneos. Os dois modelos diferem do modelo conhecido para
anuros na posição do pâncreas em relação aos intestinos e dos ligamentos
mesentéricos. Apenas os espécimes de Pseudis caraya, Pseudis limellum e Pseudis
laevis e das espécies de hilíneos não pertencentes ao gênero Pseudis
apresentaram o modelo clássico descrito para anuros. Na filogenia, os
modelos de conformação gastrointestinal coincidiram com os clados das
espécies de rãs paradoxais, mas é necessário um estudo de mapeamento
filogenético.
No mesmo capítulo, foram analisadas as relações morfométricas entre o
comprimento do ducto colédoco (DC) e o CRC das mesmas espécies. As
análises estatísticas de regressão linear apontaram relações significativas entre
essas medidas para o grupo das espécies analisadas, mas não explicaram
discrepâncias entre o DC de espécimes de tamanho semelhante. Essas relações
podem representar uma sinapomorfia do gênero Pseudis. Também foi
encontrada uma relação significativa entre o DC e o CRC de três espécies com
conformações gastrointestinais distintas, onde as espécies com modelos novos
apresentaram relações semelhantes.
Palavras-chave
vascularização, trato gastrointestinal, ducto colédoco, Pseudis.
5
ABSTRACT
In the first chapter, the author describes the arterial and venous blood
supply of the gastrointestinal tract of four species from genus Pseudis and four
other species from Hylinae subfamily, including individual and species
variations. The specimens were injected with India Ink or dyed latex after
euthanasia procedure, and studied under saline solution. The gastrointestinal
tracts were then removed from the fixed specimens for analysis. The vascular
descriptions were similar to each other, with little individual variation.
However, there was a great amount of variation when these descriptions were
compared with those available in literature.
In the same chapter, comparisons were made between the vascular trees
that supply the gastrointestinal tract of the analyzed specimens. For the analysis
the following parameters were used: number of segments in the trees, biggest
Strahler order and tree asimetry index. These data were then compared with
measures of snot-vent length (SVL) and animal’s sex. As a result, significant
relations between number of segments, SVL and tree asimetry were found in
arterial trees. In venous trees there were no such relations, maybe due to a
greater variation found in the venous system. Both arterial and venous trees
follow the law of Horton for the number of segments and, thus, are considered
self-similar.
6
In the second chapter, two new models of gastrointestinal conformation
were described in nine species of the genus Pseudis and four other species of
the Hylinae subfamily. These two models differ from the known model for
anurans in the position of the pancreas in relation to the intestines and
mesenteric ligaments. The classic model was found only in specimens of Pseudis
caraya, Pseudis limellum e Pseudis laevis, and in specimens from the Hylinae
subfamily which don’t belong to the genus Pseudis. In phylogeny, the models
for gastrointestinal conformation coincided with the clades of the paradoxal
frog species, but a phylogenetic mapping study is necessary.
On the same chapter, the morfometric relations between the length of the
common bile duct (CBD) and the SVL of the same specimen were analyzed. The
statistical analysis of linear regression have shown significant relationship
between these measures for the group of the analyzed species, but did not
explain the differences between the CBD length of specimens of similar sizes.
These relations can represent a synapomorphy of the genus Pseudis. There were
also found a significant relationship between the CBD length and the SVL of
three species with distinct gastrointestinal conformation, while the species with
new models have presented similar relations.
Keywords
blood supply, gastrointestinal tract, common bile duct, Pseudis.
7
INTRODUÇÃO GERAL
Gênero Pseudis
O gênero Pseudis é composto por anfíbios anuros aquáticos e semi-
aquáticos de distribuição restrita à América do Sul e que habitam poças
temporárias ou permanentes onde haja grande quantidade de vegetação
aquática (Kwet, 2000; Brandão et al, 2003). A morfologia externa dessas espécies
é adaptada à vida aquática com características como: uma posição mais dorsal
dos olhos, a existência de polegares opositores (usados para agarrar na
vegetação aquática (Brandão et al, 2003)), membros posteriores robustos e
grandes membranas interdigitais que facilitam a propulsão do animal na água
(Duellman & Trueb, 1994). Ainda como característica singular do gênero, estes
animais possuem girinos que atingem tamanhos maiores que o dos adultos das
próprias espécies, tendo algumas dessas espécies os maiores girinos conhecidos
no mundo (Garman, 1877; Emerson, 1988). A relação incomum entre o maior
tamanho do girino e o tamanho dos adultos rende ao grupo o nome vulgar de
rãs paradoxais.
O gênero Pseudis é parte da subfamília Hylinae da família Hylidae,
família que agrupa a grande maioria dos anfíbios anuros conhecidos
vulgarmente como pererecas (Faivovich et al, 2005). São onze as espécies do
gênero: Pseudis bolbodactyla Lutz 1925, Pseudis boliviana Gallardo 1961, Pseudis
caraya Gallardo 1964, Pseudis cardosoi Kwet 2000, Pseudis fusca Garman 1883,
Pseudis laevis Parker 1935, Pseudis limellum Cope 1862, Pseudis minuta Günter
8
1858, Pseudis paradoxa Linnaeus 1758, Pseudis platensis Gallardo 1961 e Pseudis
tocantins Caramaschi & Cruz 1998 (Frost, 2007). Segundo recentes filogenias, as
espécies de rãs paradoxais se dividem em três clados, como pode ser observado
na Figura 1 (Aguiar Jr. et al, 2007; Garda & Cannatella, 2007).
Figura 1. Árvore filogenética da tribo Dendropsophini com destaque para as espécies
do gênero Pseudis e seus três clados (adaptado de Faivovich et al, 2005 e Aguiar Jr. et al,
2007).
9
Caracteres alternativos
Atualmente, existe uma forte tendência a se realizar estudos filogenéticos
incluindo dados moleculares ou tão somente com eles, pois essas novas técnicas
tendem a oferecer um número maior de caracteres do que as técnicas
tradicionais (Faivovich et al, 2005). No entanto, não são todos os trabalhos que
estabelecem relações conclusivas entre os táxons analisados. O que nos leva a
crer que a descrição de caracteres alternativos e a sua utilização em trabalhos de
filogenia podem auxiliar na construção de hipóteses ou resolução de hipóteses
de relação de parentesco mal resolvidas.
Em relação aos caracteres alternativos de morfologia em anfíbios,
foram feitos trabalhos com a ultra-estrutura de espermatozóides (Garda et al,
2004), caracteres larvais de pigmentação e topologia da veia caudal em girinos
(Haas, 2003), neuroanatomia e morfologia espermática (Wake, 1993), entre
outros. Faivovich et al (2005) usaram uma combinação de caracteres para
determinar relações filogenéticas dentro do gênero Scinax que incluía
pigmentação testicular, pigmentação externa de girinos e eixo de dobramento
do intestino larval. No entanto, caracteres alternativos, principalmente de
anatomia visceral, ainda são raramente usados em estudos filogenéticos.
Como todos os anfíbios, o grupo das rãs paradoxais carece de estudos em
morfologia interna de adultos e larvas. Devido à morfologia externa conservada
do grupo, acreditamos que o aumento do conhecimento sobre caracteres
alternativos possibilitará, além de uma melhor percepção das relações
filogenéticas, uma maior compreensão das questões fisiológicas, ecológicas e
10
ontogenéticas inerentes à incomum estratégia de desenvolvimento do gênero
Pseudis.
Objetivos gerais
1. Descrever a vascularização do trato gastrointestinal de quatro espécies do
gênero Pseudis (Pseudis tocantins, Pseudis fusca, Pseudis bolbodactyla e Pseudis
caraya) e quatro espécies da subfamília Hylinae (Scinax fuscovarius,
Dendropsophus minutus, Trachycephalus venulosus e Hypsiboas albopunctatus),
além das suas variações inter e intraespecíficas.
2. Apresentar uma descrição topológica e uma comparação quantitativa das
árvores vasculares arteriais e venosas do trato gastrointestinal das mesmas
espécies citadas no ítem 1, exceto Pseudis fusca.
3. Descrever e comparar as conformações gastrointestinais encontradas em
nove espécies do gênero Pseudis (P. tocantins, P. fusca, P. bolbodactyla, P.
platensis, P. caraya, P. limellum, P. laevis, P. cardosoi e P. minuta) e quatro
espécies da subfamília Hylinae (Scinax fuscovarius, Dendropsophus minutus,
Trachycephalus venulosus e Hypsiboas albopunctatus).
4. Apresentar uma morfometria comparada do ducto colédoco das espécies
citadas no ítem 3.
11
METODOLOGIA GERAL
Espécies amostradas
No gênero Pseudis foram amostradas todas as espécies, exceto Pseudis
boliviana e Pseudis paradoxa. A princípio, todas as espécies do gênero tinham
sido coletadas até uma recente mudança taxonômica (Aguiar Jr et al, 2007).
Seguindo a mais recente filogenia de Hylidae (Faivovich et al, 2005), foram
amostradas espécies de três tribos da subfamília Hylinae que ocorrem no
Distrito Federal. Da tribo Cophomantini foram coletados exemplares de
Hypsiboas albopunctatus e da tribo Lophiohylini um exemplar de Trachycephalus
venulosus. na tribo Dendropsophini (Figura 1) que agrupa os neros Pseudis,
Dendropsophus, Scinax, Xenohyla, Sphaenorhynchus e a espécie Scarthyla goinorum,
só não foram amostrados os três últimos.
Coleta e empréstimo
Sob as licenças de coleta de material biológico de números 045/07
IBAMA/RAN e 092/07 ICMBio/RAN, foram coletados dez indivíduos
adultos de Pseudis bolbodactyla no município de Flores de Goiás-GO e cinco em
Buritizeiros-MG, dezenove indivíduos de Pseudis tocantins em Britânia-GO, três
em Aruanã-GO, um em Formoso do Araguaia-TO e um em Sandolândia-TO.
Vinte e sete espécimes de Pseudis caraya foram coletados no município de
Aruanã-GO e dois em Britânia-GO. Em Araçuaí-MG foram coletados quatro
espécimes de Pseudis fusca. em Brasília-DF, foram coletados seis indivíduos
12
de Dendropsophus minutus, seis de Hypsiboas albopunctatus e três de Scinax
fuscovarius.
Após a eutanásia e o procedimento de dissecação, todos esses espécimes
foram fixados em formalina 4%, tombados e depositados na Coleção do
Laboratório de Anatomia Comparativa dos Vertebrados (LACV-UnB). Para
complementar a amostra, foram utilizados dois exemplares adultos de cada
uma das seguintes espécies: Pseudis platensis e Pseudis laevis (LACV-UnB),
Pseudis cardosoi, Pseudis minuta e Pseudis limellum (Coleção Herpetológica da
Universidade de Brasília - CHUnB). Foi utilizado, ainda, um espécime de
Trachycephalus venulosus procedente de Monte Alegre-GO (Anexo e Figura 2).
Eutanásia
Os animais foram eutanasiados por sobredose dos anestésicos Cloridrato
de Bupivacaína (Neocaína® 0,5%) ou Cloridrato de Lidocaína (Xylestesin® 2%),
ambos sem vasoconstritor, em volumes de 0,1 a 0,5 ml por via intracraniana.
Em animais muito pequenos, ao invés da anestesia por via intracraniada, foi
aplicada lidocaína em gel 2% no abdômen. Para garantir o coma irreversível e a
ausência de sofrimento para o animal, foi efetuada também dupla secção da
medula espinhal, conforme recomendado na Resolução n
o
714 do Conselho
Federal de Medicina Veterinária e pela Associação Americana de Médicos
Veterinários (AVMA Panel on Euthanasia, 2001; CFMV, 2002). O procedimento
descrito acima foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética no Uso Animal
da Universidade de Brasília (UNBDOC n 9835/2007).
13
Figura 2. Fotos das espécies do gênero Pseudis e de outros hilíneos analisados nesse
trabalho. Legenda: A Pseudis tocantins, B Pseudis fusca, C Pseudis bolbodactyla, D
Pseudis platensis, E Pseudis caraya, F Pseudis limellum, G Pseudis laevis, H Pseudis
cardosoi, I Pseudis minuta, J Scinax fuscovarius, K Dendropsophus minutus, L
Trachycephalus venulosus, M Hypsiboas albopunctatus. Fotos: D, F e G a I de Adrian
Antônio Garda e M de Gabriel Horta.
D E
G H
A
B
F
I
C
J K L M
14
Capítulo 1:
Vascularização do trato gastrointestinal no gênero
Pseudis
INTRODUÇÃO
Descrição das árvores vasculares
As descrições do sistema circulatório, assim como todos os trabalhos em
anatomia visceral dos anuros, são antigas e abordam poucas espécies. O livro
“The Anatomy of The Frog” escrito por Alexander Ecker, médico alemão, e
traduzido para o inglês em 1889, é a grande referência em anatomia de anfíbios
e a obra mais citada. Nele é descrita toda a anatomia de Rana esculenta e Rana
temporaria, duas s européias usadas na época em experimentos fisiológicos.
Até hoje, algumas das descrições contidas neste livro são generalizadas para
todas as espécies de anfíbios.
Posteriormente a essa publicação, morfologias vasculares gerais foram
apresentadas para Xenopus laevis (Millard, 1941) e Leiopelma hochstetteri
(Stephenson & Elsie, 1947). Além de usar espécies de anfíbios que não ocorrem
no Brasil, esses estudos possuem outras semelhanças: da vascularização do
canal alimentar são descritos apenas os maiores vasos e nenhuma variação
intraespecífica é apresentada. A vascularização do trato gastrointestinal de Bufo
15
bufo foi descrita por Pác, Krahulec & Merta (1973) e nela foram feitos alguns
comentários quanto à variação, mas pouco detalhados.
Naomi Millard (1942), pouco depois de descrever a vascularização de
Xenopus laevis, relatou anomalias e variações dos vasos dessa espécie, mas
apenas como estudos de caso, sem apresentar porcentagem de ocorrência para
as características descritas. Ichimura et al (2001) descreveram a distribuição e
ramificação da artéria mesentérica cranial de Lithobates catesbeianus, com
detalhes e ênfase na variação individual. No entanto, novamente, nenhuma
comparação quantitativa foi feita nesse trabalho, apesar de todas as árvores dos
dez espécimes analisados serem apresentadas.
No presente capítulo, descrevemos a vascularização do trato
gastrointestinal de quatro espécies do gênero Pseudis e de quatro espécies
próximas da subfamília Hylinae, detalhando os menores vasos e relatando suas
variações inter e intraespecíficas. Porcentagens das ocorrências de
características vasculares também são informadas.
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares
Estruturas arbóreas ou bifurcadas são freqüentemente encontradas na
Natureza, desde o formato de rios até a distribuição de capilares em tecidos
animais. Estudos dessas estruturas envolvem a descrição topológica;
comparações morfométricas; comparações entre árvores reais e modelos
digitais; estudos de variabilidade, de desenvolvimento e das implicações da
forma na função. Trabalhos como estes foram feitos em diversas áreas como
16
hidrologia e botânica (Pelletier & Turcotte, 2000), astogenia (Sánchez et al, 2003),
neurologia (Van Pelt & Schierwagen, 2004) e angiologia (Marxen & Henkelman,
2003; Stéphanou et al, 2005).
As descrições topológicas são a base de todos os estudos com árvores
vasculares. Comparações puramente topológicas podem determinar, por
exemplo, que as árvores com um grande número de bifurcações podem possuir
um sistema melhor de controle de fluxo de sangue ou que a heterogeneidade de
fluxo regional pode não ser explicada pela variação topológica dos vasos no
tecido, mas pelas necessidades metabólicas das células desse último (Karch et al,
2003).
Dos existentes para a análise topológica de árvores, o método de Horton-
Strahler de ordenamento de segmentos (região entre dois pontos de bifurcação
sucessivos) é o mais usado para estudos vasculares (Yen et al, 1983; Koller et al,
1987). Originalmente criado para o estudo de afluentes de rios, o método é
usado em adição a dados morfométricos na descrição de árvores vasculares
usadas em análises fisiológicas.
Ainda nessa linha, um método preciso para comparação fina de árvores é
o índice de assimetria, que muitos anos é usado para analisar ramificações
dendríticas de neurônios (Van Pelt & Uylings, 1999; Van Pelt & Schierwagen,
2004). Mas apesar de demonstrar resultados consistentes, aparentemente nunca
foi usado para comparar estruturas vasculares.
Neste trabalho, apresentaremos uma descrição topológica e uma
comparação quantitativa das árvores vasculares do trato gastrointestinal,
17
incluindo ordenamento de segmentos, cálculo de índice de assimetria e
comparação entre espécies do gênero Pseudis e outras espécies de hilíneos.
METODOLOGIA
Dissecação e injeção de corante
Logo após a eutanásia, os animais foram mantidos em solução salina
isotônica para anfíbios (NaCl 0,65%) para dissecação sob lupa
estereomicroscópica (Olympus SZ40 40x e Tecnival SQF-F 80x), segundo o
método de microdissecação a fresco (Sebben, 2007). Foi injetada em todo o
sistema circulatório a tinta nanquim ou o látex líquido (Altamira LTDA)
adicionado à corante vermelho (Corante Xadrez - SHERWIN WILLIANS
BRASIL). A injeção que preencheu todo o sistema circulatório se deu pela veia
abdominal em animais grandes (30,05mm a 71,75mm) e através do ventrículo
em animais pequenos (11,90mm a 24,68mm). Os tratos gastrointestinais foram
retirados do espécime para melhor visualização das estruturas.
Descrição das árvores vasculares
Os tratos gastrointestinais dos espécimes injetados e fixados (Tabela 1)
foram retirados e observados submersos em água destilada sob lupa, para
aliviar o peso dos órgãos uns sobre os outros e facilitar a visualização dos vasos.
Na análise foram feitos desenhos esquemáticos das árvores vasculares do trato
gastrointestinals, arterial e venosa, e registros fotográficos digitais através das
18
objetivas da lupa estereomicroscópica, utilizando uma máquina fotográfica
digital modelo Nikon Coolpix L1. Os dados vasculares foram compilados em
tabelas para posterior análise das variações intra e interespecíficas e das
relações entre os vasos.
Ao longo do trabalho foi constatado que a tinta nanquim não preenche
muito bem vasos mais calibrosos e, como não coagula, extravasa se algum vaso
for rompido no animal fixado. Logo, optou-se apenas pelo uso do látex e o uso
da solução salina se tornou então mais importante, pois fez com que o látex
emergisse e impediu que esse encobrisse os órgãos abdominais e coagulasse
sobre eles.
Tabela 1. Relação do número de indivíduos por espécies que foi usado em cada etapa
do trabalho. Legenda: A Descrição das árvores vasculares, B Comparação
quantitativa das árvores vasculares, C Descrição da conformação gastrointestinal, D
Morfometria do ducto colédoco.
TOTAL
A
B
C
D
21
8
3
6
21
4
4
0
3
4
15
8
3
8
13
2
0
0
2
2
29
10
4
26
29
2
0
0
2
2
2
0
0
2
2
2
0
0
2
2
2
0
0
2
2
3
3
3
3
2
6
4
3
6
5
1
1
1
1
1
6
3
3
6
3
19
Injeções incompletas foram freqüentes, em parte devido a variações do
efeito anestésico nos espécimes. Animais de tamanho e peso semelhantes,
injetados com a mesma quantidade de anestésico, tiveram respostas cardíacas
diferentes: alguns apresentando batimento cardíaco baixo demais na
dissecação, ou mesmo nenhum, o que dificultou o fluxo do látex. Além disso,
em animais pequenos, a injeção deu-se com certa dificuldade, que alguns
ventrículos mediam aproximadamente 1,7mm.
Desta forma, para oito indivíduos de P. tocantins injetados, apenas três
apresentaram árvores completas o suficiente para os estudos comparativos. A
relação de espécimes injetados e adequados para comparação em outras
espécies se deu da seguinte forma: P. fusca (três injetados, nenhum adequado),
P. bolbodactyla (oito injetados, três adequados), P. caraya (vinte e quatro
injetados, quatro adequados), S. fuscovarius (três injetados, três adequados), D.
minutus (cinco injetados, três adequados), T. venulosus (um injetado, um
adequado), H. albopunctatus (três injetados, três adequados).
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares
Para a análise quantitativa, foram mapeadas as árvores formadas pela
distribuição da artéria mesentérica cranial (AMCr) e da veia mesentérica direita
(VMD), os vasos analisados que apresentaram maior rede, e foram
desconsiderados os vasos conectados ao baço. Assumiu-se que todas as árvores
vasculares, quando analisadas em detalhe, são binárias (possuem apenas
bifurcações).
20
Os desenhos feitos durante a dissecação foram transformados em
esquemas de árvores binárias no programa Tulip (Auber, 2003), um software
livre criado para facilitar a visualização e análise de árvores e redes. No mesmo
programa foi também calculado o número de segmentos de cada árvore e a
ordem de cada segmento segundo o método de ordenamento de Strahler.
O método de Strahler funciona da seguinte maneira: todo segmento
terminal recebe ordem 1; a junção de dois segmentos de ordem n origem a
um segmento de ordem n+1; e a junção de um segmento n e outro de ordem n-1
ou menos dá origem a um segmento de ordem n (Yekutieli & Mandelbrot, 1994;
Nash, 2005). Os segmentos de ordem 1 foram determinados como sendo os
segmentos que tocam o órgão, e as bifurcações seguintes foram ignoradas.
Além disso, atribuiu-se uma notação para regiões de anastomose de vasos: esta
conexão entre vasos foi cortada logo após o primeiro segmento de ordem
Strahler 1, ficando assim apenas dois segmentos terminais (Figura 3).
As árvores vasculares foram então ordenadas segundo o método de
Horton (Rothnie et al, 2006), o que é feito após a ordenação dos segmentos
segundo Strahler. Neste método, substitui-se as ordens da maior seqüência de
segmentos pela maior ordem existente nessa seqüência (Figura 4). Esta regra é
então aplicada a todos as outras seqüências.
21
Figura 3. Árvore esquemática da artéria mesentérica cranial de um indivíduo de
Hypsiboas albopunctatus gerada no programa Tulip. Os quadrados representam os nós
da árvore binária (região de bifurcação, com exceção dos quadrados vermelhos). As
cores dos quadrados representam a ordem Strahler do segmento logo acima do nó,
sendo a legenda: vermelho - ordem 1, verde ordem 2, azul escuro ordem 3, amarelo
ordem 4, azul claro ordem 5.
22
A
B
Figura 4. Esquema de ordenação de árvores binárias: A método de Strahler, B
método de Horton. Os números representam as ordens de cada segmento e N
i
é o
número de segmentos de ordem i. Figura adaptada de Rothnie et al (2006).
Para comparação, ainda foi testado se os dados se adequavam à lei
Horton para número de segmentos (Pidwirny, 2006; Rothnie et al, 2006). Essa lei
diz que: se a razão (R
S
) entre o número de segmentos de ordem i (N
i
) e a
própria ordem i for constante para todas as ordens, então a árvore é auto-
similar ou fractal. Uma estrutura é dita auto-similar quando pode ser dividida
em partes e cada uma das partes é semelhante à estrutura original. O teste da lei
de Horton foi aplicado tanto para a ordenação de Horton, como para a de
Strahler, e R
S
foi obtido pela inclinação da reta da regressão linear entre Log de
N
i
e i (Koller et al, 1987; Lapia, Marchiafava & Colantuoni, 2008).
23
Em complementação, foi utilizado um índice de assimetria criado para
analisar árvores formadas pelas ramificações dendríticas de neurônios (Van Pelt
& Uylings, 1999; Van Pelt & Schierwagen, 2004). Este índice de assimetria (A
t
)
de uma dada árvore α
n
com n segmentos terminais e n-1 pontos de bifurcação, é
calculado pelo somatório das assimetrias das partições dessa árvore (A
p
), onde r
e s são os números de segmentos terminais (direitos e esquerdos) de cada
partição. A
p
(1,1) = 0 por definição.
,
=
+ 2
Desta forma, o índice de assimetria (A
t
) de uma dada árvore α
n
é
calculado pela seguinte equação, onde j é o número de cada bifurcação em uma
seqüência. A
t
= 0 para toda árvore completamente simétrica e tende a 1
conforme aumenta o grau de assimetria.
=
1
1
1
=1
(
,
)
Para aplicar a ordenação de Horton, testar a lei de número de segmentos
desse e calcular os índices de assimetria foi usado um segundo programa
chamado Treepy (Diniz & Wanderley, 2008). Este programa foi criado na
linguagem Phyton especialmente para este estudo. Para as análises estatísticas
foram usados a planilha eletrônica Excel (Microsoft®) e o programa estatístico
24
GraphPad Prism 5. O primeiro para cálculo de média, mediana, desvio padrão
e transformação logarítmica e o segundo para cálculo da regressão linear. O
comprimento rostro-cloacal (medido com paquímetro de precisão 0,01mm) e o
sexo dos espécimes também foram investigados para a análise de relação com a
complexidade das árvores vasculares. Para as análises, os dados de número de
segmentos, índice de assimetria e comprimento rostro-cloacal foram log
transformados (base 10).
RESULTADOS
Descrição das árvores vasculares
Para a descrição vascular os animais foram divididos em três grupos:
Grupo A - Pseudis bolbodactyla, Pseudis tocantins e Pseudis fusca; Grupo B - Pseudis
caraya; Grupo C - Dendropsophus minutus, Scinax fuscovarius, Hypsiboas
albopunctatus e Trachycephalus venulosus. As Figuras 5 e 6 apresentam esquemas
ilustrativos das vascularização do trato gastrointestinal arterial e venosa,
respectivamente. As Tabelas 2, 3 e 4 apresentam os dados vasculares coletados
para cada indivíduo analisado. A descrição a seguir apresenta as relações entre
os vasos, a área que esses irrigam ou drenam e as suas variações intra e
interespecíficas.
25
GRUPO A
Vascularização arterial do trato gastrointestinal
1. Artéria celíaco-mesentérica (ACM)
Irriga estômago, baço, pâncreas, fígado, intestino delgado e grosso. Em
todos os casos se origina na junção dos arcos aórticos e se bifurca em
artéria celíaca e artéria do trato gastrointestinal cranial.
a. Artéria celíaca (AC)
Irriga estômago, pâncreas (pelas artérias gástricas) e fígado. Em
15,0% dos casos emitiu um ramo extra para o pâncreas, sendo dois
casos em P. bolbodactyla e um em P. tocantins.
i. Artéria gástrica dorsal (AGD)
Irriga a face dorsal do estômago. Em 100,0% dos espécimes
lançou ramos para o dorso do pâncreas.
ii. Artéria gástrica ventral(AGV)
Irriga a face ventral do estômago. Em 20,0% dos casos
emitiu um ramo para o pâncreas antes dar origem à artéria
hepática (dois P. bolbodactyla, um P. tocantins e um P. fusca)
e em 30,0% dos casos emitiu ramos para o pâncreas após
esta bifurcação (um P. bolbodactyla, quatro P. tocantins e dois
P. fusca).
1. Artéria hepática (AH)
Irriga o fígado.
26
Figura 5. Esquema apenas ilustrativo da vascularização arterial do trato
gastrointestinal (não corresponde a um espécime). Legenda: AO arcos aórticos, AAD
artéria aorta dorsal, AC artéria celíaca, ACM artéria celíaco-do trato
gastrointestinal, AE artéria esplênica, AGD artéria gástrica dorsal, AGV artéria
gástrica ventral, AH artéria hepática, AIC artérias ilíacas comuns, AMCa artéria
do trato gastrointestinal caudal, AMCr artéria do trato gastrointestinal cranial, B
baço, P pâncreas, RDU ramo duodenal da AMCr, RID ramos da AMCr para o
intestino delgado (exceto duodeno), RIG ramo da AMCr para o intestino grosso.
Bifurcações da AMCr: 1, 2 e 3.
27
Figura 6. Esquema apenas ilustrativo da vascularização venosa do trato
gastrointestinal (não corresponde a um espécime). Legenda: B baço, RID ramos da
VMD para o intestino delgado, RIG ramos da VMD para o intestino grosso, VGCr
veia gástrica cranial, VGD veia gástrica dorsal, VGV veia gástrica ventral, VMD
veia do trato gastrointestinal direita, VME veia do trato gastrointestinal esquerda,
VPH veia porta-hepática, P - pâncreas.
28
b. Artéria do trato gastrointestinal cranial (AMCr)
Irriga baço, intestino delgado e intestino grosso.
i. Artéria esplênica (AE)
Irriga o baço. Em todos os P. bolbodactyla e P. fusca, a AE foi
a primeira bifurcação da AMCr. Em um indivíduo de P.
tocantins a AE se originou do ramo duodenal da AMCr e
em outro se originou da AC.
A seguir descrição dos ramos originados pelas bifurcações da
AMCr (ignorando-se a AE).
i. Primeira bifurcação: ramo duodenal
Todos as três espécies apresentaram o ramo duodenal
como primeiro ramo da AMCr.
ii. Segunda e terceira bifurcações
Em P. bolbodactyla (87,5%) e P.fusca, a segunda bifurcação
da AMCr deu origem a um ramo que se dirige à porção
ileal e jejunal do intestino delgado e a terceira bifurcação
deu origem a um ramo para as mesmas regiões do
intestino delgado e outro para o intestino grosso (ver
Figura 3). Já em P. tocantins, a segunda bifurcação da
AMCr acontece da mesma forma que nas outras duas
espécies, mas não existe uma terceira bifurcação que
emita grandes ramos.
29
2. Artéria mesentérica caudal (AMCa)
Irriga a porção final do intestino grosso e reto. É uma artéria muito
pequena e de difícil visualização principalmente se a injeção de látex não
tiver sido perfeita ou se o espécime for uma fêmea em estado
reprodutivo. Neste grupo, a AMCa não foi encontrada em 35,0% dos
animais analisados (três P. bolbodactyla, um P. tocantins e três P. fusca). É
possível que nesses casos a AMCa tenha origem em porções mais
caudais das artérias ilíacas comuns direita e esquerda ou em outras
áreas, pois esta parece ser muito variável quando à sua origem. Nos 13
espécimes em que foi visualizada, a AMCa teve origem na região da
bifurcação da artéria aorta dorsal em artérias ilíacas comuns direita e
esquerda (46,2%); em uma porção mais anterior da artéria aorta dorsal
(30,8%); ou na artéria ilíaca comum direita (23,1%). Em 55,0% dos
espécimes a AMCa emitiu ramos para o rim esquerdo e em 45,0% para o
rim direito.
Vascularização venosa do trato gastrointestinal
1. Veia porta-hepática (VPH)
Drena estômago, baço, pâncreas, intestino delgado e grosso. São quatro
as principais tributárias da VPH que se conectam em diferentes
configurações:
a. Veia mesentérica esquerda (VME)
Drena a região duodenal.
30
b. Veia mesentérica direita (VMD)
Drena baço, as regiões ileal e jejunal do intestino delgado e o
intestino grosso. Em 35,0% dos animais foi encontrada uma
tributária de VMD que drenava o sangue da parte anterior do
estômago, a veia gástrica cranial (três P. bolbodactyla e três P.
tocantins). Trata-se de um vaso fino na maioria das vezes, que
pode não ter sido preenchido por látex ou nanquim ou ter sido
rompido em outros espécimes.
c. Veia gástrica ventral (VGV)
Drena a face ventral do estômago. A VGV foi encontrada como
tributária direta de VPH (80,0%) ou tributária de VME (15,0% dos
casos, sendo todos em P. tocantins).
d. Veia gástrica dorsal (VGD)
Drena a face dorsal do estômago. Foi tributária de VME em 40,0%
das vezes (três P. bolbodactyla, três P.tocantins, dois P. fusca), de
VMD em 30,0% (um P. bolbodactyla, três P. tocantins, dois P. fusca) e
em um indivíduo de P. tocantins foi tributária direta da VPH.
Como a conexão de VGD com as outras veias acontece dentro do
tecido pancreático, em 25,0% dos casos essa conexão não pode ser
visualizada (três P. bolbodactyla e um P. tocantins).
GRUPO B
Vascularização arterial do trato gastrointestinal
31
1. Artéria celíaco-mesentérica (ACM)
Irriga estômago, baço, pâncreas, fígado, intestino delgado e grosso. Em
todos os casos se origina na junção dos arcos aórticos e se bifurca em
artéria celíaca e artéria mesentérica cranial.
a. Artéria celíaca (AC)
Irriga estômago, pâncreas e fígado. Em nenhum espécime esta
artéria emitiu ramos para o pâncreas.
i. Artéria gástrica dorsal (AGD)
Irriga a face dorsal do estômago. Em todos os casos lançou
ramos para o dorso do pâncreas.
ii. Artéria gástrica ventral (AGV)
Irriga a face ventral do estômago. Em 20,0% das vezes
emite um ramo para o pâncreas antes de dar origem à
artéria hepática, e em 30,0% emite ramos para o pâncreas
após está bifurcação.
1. Artéria hepática (AH)
Irriga o fígado através do pâncreas.
b. Artéria mesentérica cranial (AMCr)
Irriga baço, intestino delgado e intestino grosso.
i. Artéria esplênica (AE)
Irriga o baço. Originou-se na primeira bifurcação da AMCr
(70,0%), do ramo duodenal da AMCr (20,0%) ou da AC
(10,0%).
32
A seguir descrição dos ramos originados pelas bifurcações da
AMCr (ignorando-se a AE).
i. Primeira bifurcação: ramo duodenal
Todos os espécimes apresentaram o ramo duodenal como
primeiro ramo da AMCr.
ii. Segunda e terceira bifurcações
Em todos os espécimes a segunda bifurcação da AMCr
deu origem a um ramo que se dirige ao intestino delgado,
e a terceira bifurcação deu origem a um ramo para o
intestino delgado e outro para o intestino grosso.
2. Artéria mesentérica caudal (AMCa)
Irriga a porção final do intestino grosso e reto. A AMCa teve origem na
região de bifurcação da artéria aorta dorsal nas artérias ilíacas comuns
direita e esquerda (30,0%), em uma porção mais anterior da artéria aorta
dorsal (40,0%), na artéria ilíaca comum direita (20,0%) ou na artéria ilíaca
comum esquerda (10,0%). Em 40,0% dos espécimes a AMCa emitiu
ramos para o rim esquerdo e também em 40,0% deles para o rim direito.
Vascularização venosa do trato gastrointestinal
1. Veia porta-hepática (VPH)
Drena estômago, baço, pâncreas, intestino delgado e grosso. São quatro
as principais tributárias da VPH que se conectam em diferentes
configurações:
a. Veia mesentérica esquerda (VME)
33
Drena a região duodenal.
b. Veia mesentérica direita (VMD)
Drena baço, intestino delgado e grosso.
c. Veia gástrica ventral (VGV)
Drena a face ventral do estômago. A VGV foi encontrada como
tributária direta da VPH (70,0%) ou tributária da VME (30,0%).
d. Veia gástrica dorsal (VGD)
Drena a face dorsal do estômago. Foi tributária da VME em 60,0%
das vezes, da VMD em 30,0% das vezes e em um indivíduo foi
tributária direta da VPH. Não foi encontrada a veia gástrica
cranial (VGCr) em nenhum espécime.
GRUPO C
Vascularização arterial do trato gastrointestinal
1. Artéria celíaco-mesentérica (ACM)
Irriga estômago, baço, pâncreas, fígado, intestino delgado e grosso. Em
todos os casos se origina na junção dos arcos aórticos e se bifurca em
artéria celíaca e artéria do trato gastrointestinal cranial.
a. Artéria celíaca (AC)
Irriga estômago, pâncreas e fígado. Em nenhum espécime esta
artéria emitiu ramos para o pâncreas.
i. Artéria gástrica dorsal (AGD)
34
Irriga a face dorsal do estômago. Lançou ramos para o
dorso do pâncreas em todas as espécies, menos em T.
venulosus.
ii. Artéria gástrica ventral (AGV)
Irriga a face ventral do estômago. Emitiu um ramo para o
pâncreas antes de dar origem à artéria hepática em apenas
dois indivíduos (50,0%) de D. minutus. Em 72,7% das vezes
emitiu ramos para o pâncreas após esta bifurcação (dois
indivíduos de D. minutus, dois de S. fuscovarius, o único de
T. venulosus e três de H. albopuctatus).
1. Artéria hepática (AH)
Irriga o fígado através do pâncreas.
b. Artéria mesentérica cranial (AMCr)
Irriga baço, intestino delgado e intestino grosso.
i. Artéria esplênica (AE)
Irriga o baço. Originou-se na primeira bifurcação da AMCr
em 63,6% dos espécimes (um D. minutus, o único de T.
venulosus e dois H. albopunctatus). O restante se originou do
ramo duodenal da AMCr.
A seguir descrição dos ramos originados pelas bifurcações da
AMCr (ignorando-se a AE).
i. Primeira bifurcação: ramo duodenal
35
Todos os espécimes apresentaram o ramo duodenal como
primeiro ramo da AMCr.
ii. Segunda e terceira bifurcações
Em todos os indivíduos de D. minutus e T. venulosus a
segunda bifurcação da AMCr deu origem a um ramo que
se dirige ao intestino delgado e a terceira bifurcação deu
origem a um ramo para o intestino delgado e outro para o
intestino grosso. em S. fuscovarius e H. albopuctatus, a
segunda bifurcação da AMCr acontece da mesma forma
que nas outras duas espécies, mas não existe uma terceira
bifurcação que emita grandes ramos.
2. Artéria do trato gastrointestinal caudal (AMCa)
Irriga a porção final do intestino grosso e reto. É uma artéria muito
pequena, de difícil visualização e não foi encontrada em um indivíduo
de S. fuscovarius e outro de H. albopunctatus por serem ambos fêmeas em
estado reprodutivo, com ovários de tamanho bastante aumentado e
porções dilatadas no final dos ovidutos. É possível que, nesses casos, a
AMCa tenha origem em porções mais caudais das artérias ilíacas comuns
direita e esquerda ou em outras áreas, pois esta parece ser muito variável
quando à sua origem. A AMCa teve origem na região de bifurcação da
artéria aorta dorsal nas artérias ilíacas comuns direita e esquerda (36,3%)
ou em uma porção mais anterior da artéria aorta dorsal (45,5%). Em
36
18,2% dos casos a AMCa emitiu ramos para o rim esquerdo, mas em
nenhum emitiu ramos para o rim direito.
Vascularização venosa do trato gastrointestinal
1. Veia porta-hepática (VPH)
Drena estômago, baço, pâncreas, intestino delgado e grosso. São quatro
as principais tributárias da VPH que se conectam em diferentes
configurações:
a. Veia mesentérica esquerda (VME)
Drena a região duodenal.
b. Veia mesentérica direita (VMD)
Drena baço, intestino delgado e grosso.
c. Veia gástrica ventral (VGV)
Drena a face ventral do estômago. A VGV foi encontrada como
tributária direta da VPH (72,7%) ou tributária da VME (18,2%).
Em um indivíduo de S. fuscovarius ela não foi visualizada porque
o látex não preencheu nenhuma veia deste animal.
d. Veia gástrica dorsal (VGD)
Drena a face dorsal do estômago. Foi tributária da VME em 18,2%
das vezes e da VMD em 63,6% das vezes. A veia gástrica cranial
(VGCr) não foi encontrada em nenhum espécime. Em um
indivíduo de D. minutus e em outro de S. fuscovarius a VGD não
foi visualizada, ambas as vezes por mau preenchimento do látex.
37
Tabela 2. Características da vascularização do trato gastrointestinal analisadas e seus
estados.
CARACTERÍSTICA
ESTADOS
A. Derivação da artéria celíaco-mesentérica:
0: Da região da junção dos arcos aórticos.
1: Do arco aórtico esquerdo (Ecker, 1889; Millard,
1941)
B. Ramificações da artéria celíaca para o Pâncreas:
0: Não.
1: Sim.
C. Ramificações da artéria gástrica ventral (AGV)
para o Pâncreas (antes da bifurcação em artéria
hepática - AH):
0: Não.
1: Sim.
D. Ramificações da AGV para o Pâncreas (depois
da bifurcação da AH):
0: Não.
1: Sim.
E. Ramificações da artéria gástrica dorsal para o
Pâncreas:
0: Não.
1: Sim.
F. Derivação da artéria esplênica (AE):
0: Da artérica mesentérica cranial (AMCr).
1: De um ramo da AMCr.
2: Da artéria celíaca.
G. Ignorando-se a AE, a primeira bifurcação da
AMCr lança um ramo para a região do duodeno:
0: Não.
1: Sim.
H. Ignorando-se a AE, a segunda bifurcação da
AMCr lança:
0: Um ramo para o intestino delgado e um para o
intestino grosso.
1: Dois ramos para o intestino delgado e um para
o intestino grosso.
I. Derivação da artéria mesentérica caudal
(AMCa):
0: Na região de bifurcação da artéria aorta dorsal
(AAD) em artérias ilíacas comuns.
1: Na AAD, fora da região de bifurcação.
2: Na artéria ilíaca comum direita.
3: Na artéria ilíaca comum esquerda.
J. Ramificações da AMCa para o Rim Esquerdo:
0: Não emite ramos.
1: Emite ramos.
K. Ramificações da AMCa para o Rim Direito:
0: Não emite ramos.
1: Emite ramos.
L. A veia mesentérica direita (VMD) além de
receber tributárias do IG e baço:
0: Não recebe tributárias do intestino delgado.
1: Recebe.
M. A veia gástrica ventral (VGV) é tributária da:
0: Veia porta-hepática (VPH).
1: Veia mesentérica esquerda (VME).
N. A veia gástrica dorsal (VGD) é tributária da:
0: VPH.
1: Veia mesentérica direita (VMD).
2: VME.
O. Possui veia gástrica cranial:
0: Não.
1: Sim.
38
Tabela 3. Estados das características vasculares (A O) apresentados por cada
espécime das quatro espécies analisadas dentro do gênero Pseudis. As características
vasculares estão descritas na Tabela 2. O ponto de interrogação representa informação
ausente.
Espécime
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
O
Pseudis Tocantins
AS 2595
0
0
0
0
1
1
1
0
0
1
0
1
0
2
0
AS 2599
0
0
0
1
1
0
1
0
1
1
1
1
1
2
0
AS 2600
0
0
0
0
1
0
1
0
?
?
?
1
0
2
1
AS 2604
0
0
0
0
1
0
1
0
0
1
1
1
0
1
0
AS 2605
0
1
0
1
1
0
1
0
2
1
1
1
0
?
0
AS 2655
0
0
0
1
1
2
1
0
0
1
0
1
1
1
1
AS 2656
0
0
0
0
1
0
1
0
0
1
1
1
1
1
1
AS 2657
0
0
1
1
1
0
1
0
2
1
1
1
0
0
1
Pseudis fusca
AS 2601
0
0
0
1
1
0
1
1
0
0
0
1
0
2
0
AS 2602
0
0
1
1
1
0
1
1
?
?
?
1
0
1
0
AS 2603
0
0
0
0
1
0
1
1
?
?
?
1
0
2
0
AS 2606
0
0
0
0
1
0
1
1
?
?
?
1
0
1
0
Pseudis bolbodactyla
AS 2594
0
0
0
0
1
0
1
1
0
1
1
1
0
?
1
AS 2623
0
0
1
0
1
0
1
1
2
1
1
1
0
?
0
AS 2624
0
0
0
0
1
0
1
1
1
1
1
1
0
2
0
AS 2625
0
0
0
0
1
0
1
?
1
1
1
1
0
?
0
AS 2626
0
1
0
1
1
0
1
1
?
?
?
1
0
2
0
AS 2627
0
0
0
0
1
0
1
1
?
?
?
1
0
?
1
AS 2628
0
0
0
0
1
0
1
1
1
0
0
1
0
2
1
AS 2629
0
1
1
0
1
0
1
1
?
?
?
1
0
1
0
Pseudis caraya
AS 2643
0
0
0
0
1
0
1
1
2
1
1
1
0
0
0
AS 2644
0
0
0
0
1
0
1
1
2
1
0
1
0
1
0
AS 2646
0
0
0
0
1
0
1
1
1
1
1
1
0
2
0
AS 2647
0
0
0
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
0
AS 2648
0
0
0
0
1
0
1
1
0
0
0
1
0
2
0
AS 2649
0
0
0
1
1
2
1
1
3
0
1
1
1
2
0
AS 2650
0
0
1
0
1
0
1
1
0
0
0
1
0
2
0
AS 2651
0
0
1
0
1
1
1
1
1
0
0
1
0
2
0
AS 2652
0
0
0
1
1
0
1
1
1
0
0
1
0
1
0
AS 2653
0
0
0
0
1
0
1
1
0
0
0
1
1
2
0
39
Tabela 3 continuação.
Espécime
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
O
Scinax fuscovarius
AS 2654
0
0
0
0
1
1
1
1
1
0
0
1
0
2
0
AS 2667
0
0
0
1
1
1
1
1
1
0
0
1
?
?
?
AS 2668
0
0
0
1
1
1
1
1
?
?
?
1
0
1
0
Dendropsophus minutus
AS 2658
0
0
0
1
1
1
1
0
0
0
0
1
0
?
0
AS 2659
0
0
1
0
1
1
1
0
1
0
0
1
0
1
0
AS 2661
0
0
1
0
1
0
1
0
0
1
0
1
0
1
0
AS 2662
0
0
0
1
1
1
1
0
0
0
0
1
0
1
0
Trachycephalus venulosus
AS 2672
0
0
0
1
0
0
1
0
1
1
0
1
1
1
0
Hypsiboas albopunctatus
AS 2664
0
0
0
1
1
0
1
1
0
0
0
1
1
2
0
AS 2665
0
0
0
1
1
1
1
1
?
?
?
1
0
1
0
AS 2666
0
0
0
1
1
0
1
1
1
0
0
1
0
1
0
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares
Em todas as árvores vasculares analisadas, tanto da AMCr ou quanto da
VMD, apresentaram a ordem Strahler de seu primeiro segmento como ordem 4
ou 5 (Tabela 4). Em duas espécies os resultados das ordens Strahler foram
uniformes, com todas as árvores de S. fuscovarius apresentando a maior ordem
Strahler como 5, assim como todas as árvores arteriais de P. tocantins, e todas as
árvores venosas de P. tocantins com a maior ordem sendo 4. Tanto em fêmeas
quanto em machos, as árvores arteriais foram na maioria de ordem 5 e nas
venosas a maioria foi de ordem 4. Mas não houve relação entre a ordem
Strahler e CRC nas espécies (Tabelas 5 e 6).
40
O número de segmentos em cada árvore variou bastante, de 39 a 147 nas
árvores arteriais e de 27 a 143 nas árvores venosas. A regressão linear apontou
que não uma relação significativa entre o número de segmentos e o CRC em
árvores venosas (P=0,7066, R
2
=0,0085), mas em arteriais (P=0,0262,
R
2
=0,2458). Não houve relação entre o sexo e o número de segmentos, mas as
duas maiores árvores foram observadas em um macho de P. tocantins e outro de
P. bolbodactyla.
O índice de assimetria apresentou uma relação significativa com o CRC
nas árvores arteriais (P=0,0206, R
2
=0,2636), mas não nas árvores venosas
(P=0,3042, R
2
=0,0619). a relação entre o índice e o número de segmentos foi
significativa em árvores arteriais (P=0,0008, R
2
=0,4749) e novamente não-
significativa para árvores venosas (P=0,5229, R
2
=0,0244) ver Tabela 5.
A distribuição do número de segmentos para cada ordem (N
i
) em relação
às ordens de Strahler e Horton (i) obedeceu à lei de Horton nas árvores arteriais
e venosas (Figura 7). As razões (R
S
) entre o número de segmentos para cada
ordem e as ordens de Strahler e Horton foram para as árvores venosas: 0,496
(Strahler) e 0,815 (Horton). Para as árvores arteriais foram de 0,495 para as
ordens de Strahler e 0,794 para as de Horton. As regressões lineares para o
número de segmentos e as ordens apontaram relações significativas tanto para
árvores arteriais quanto venosas (Tabela 5).
41
DISCUSSÃO
Descrição das árvores vasculares
As quatro espécies do gênero Pseudis e outras quatro de hilíneos
apresentaram uma vascularização do trato gastrointestinal com poucas
variações e com as suas descrições coincidindo na maioria das características
analisadas. Os vasos que apresentaram grande variação foram em geral de
pequeno calibre e de importância limitada para o sistema. Devido à relativa
homogeneidade das características vasculares encontradas nas espécies
analisadas, as descrições produzidas podem ser comparadas a outras descrições
encontradas na literatura como um grupo.
Em um estudo da vascularização arterial do trato gastrointestinal de Bufo
bufo, Pác, Krahulec & Merta (1973) descreveram uma organização dos vasos
arteriais bastante semelhante a encontrada nas espécies analisadas no presente
trabalho. No entanto, a descrição de B. bufo não detalha os ramos da artéria
mesentérica cranial (AMCr) nem suas origens, mas é possível perceber que são
vários os ramos para o intestino delgado e existe um principal ramo para o
intestino grosso.
Em um estudo da vascularização arterial do trato gastrointestinal de Bufo
bufo, Pác, Krahulec & Merta (1973) descreveram uma organização dos vasos
arteriais bastante semelhante a encontrada nas espécies analisadas no presente
trabalho. No entanto, a descrição de B. bufo não detalha os ramos da artéria
mesentérica cranial (AMCr) nem suas origens, mas é possível perceber que são
42
vários os ramos para o intestino delgado e existe um principal ramo para o
intestino grosso.
Ichimura et al (2001) relataram a ramificação da AMCr de dez indivíduos
de Lithobates catesbeianus, sendo esta descrição também bastante semelhante. A
única diferença é que em L. catesbeianus o primeiro ramo da AMCr (ignorando-
se a artéria esplênica) não se destina ao duodeno e sim ao intestino grosso.
Todo o sistema circulatório de Xenopus laevis foi descrito por Naomi
Millard (1941). Nesse trabalho foram encontrados nos indivíduos de X. laevis
dois ramos intestinais derivados da artéria celíaca-mesentérica (ACM) - ambos
irrigando o intestino delgado, sendo que o primeiro também irrigava o baço e o
intestino grosso e uma artéria celíaca. Essa descrição difere do encontrado nas
espécies de rãs paradoxais e outros hilíneos, pois neles a ACM se divide em
artéria celíaca e artéria mesentérica cranial.
na vascularização venosa, X. laevis se difere das espécies analisadas
porque seu estômago é drenado por um par de veias gástricas tributárias de um
ramo venoso que se dirige para o lobo esquerdo do fígado e não possui nome.
Nas espécies do gênero Pseudis e nas outras espécies de hilíneos a única veia
que drena todo o sangue do trato gastrointestinal é a porta-hepática.
A descrição da vascularização arterial e venosa do trato gastrointestinal
de Leiopelma hochstetteri (Stephenson & Elsie, 1947) concorda em grande parte
com a descrição das espécies analisadas nesse trabalho. A diferença é que a
artéria celíaca emite um ramo para o duodeno e a AMCr não o faz, como ocorre
nas espécies de rãs paradoxais e outros hilíneos.
43
Tabela 4. Relação dos dados quantitativos das árvores vasculares analisadas. Arterial
se refere às árvores da artéria mesentérica cranial (AMCr) e Venosa às árvores da veia
mesentérica direita (VMD). Legenda: IA índice de assimetria, CRC comprimento
rostro-cloacal (em milímetros), Sg mero de segmentos, St ordem Strahler do
primeiro segmento. Os traços representam dados ausentes.
ARTERIAL
VENOSA
CÓDIGO
St
Sg
IA
St
Sg
IA
CRC
SEXO
Pseudis tocantins
AS 2655
5
63
0.1813
4
37
0.4854
55,16
MACHO
AS 2656
5
111
0.2787
4
143
0.453
47,45
MACHO
AS 2657
5
89
0.3245
4
39
0.4159
60,67
FÊMEA
Pseudis bolbodactyla
AS 2626
5
85
0.3368
5
57
0.4708
34,88
FÊMEA
AS 2627
5
147
0.2646
4
53
0.2044
30,51
MACHO
AS 2628
4
85
0.3487
5
101
0.2562
30,05
MACHO
Pseudis caraya
AS 2648
5
65
0.1148
4
51
0.3445
15,77
MACHO
AS 2649
4
53
0.1753
4
55
0.2529
16,51
MACHO
AS 2651
5
39
0.0351
5
67
0.1184
15,13
MACHO
AS 2652
5
55
0.0581
5
77
0.2077
16,64
FÊMEA
Scinax fuscovarius
AS 2654
5
55
0.0768
5
77
0.1862
38,06
MACHO
AS 2667
5
85
0.2211
-
-
-
41,45
MACHO
AS 2668
5
57
0.1112
5
67
0.2576
36,22
FÊMEA
Dendropsophus minutus
AS 2659
4
39
0.0942
5
49
0.1848
24,68
MACHO
AS 2661
5
43
0.073
4
27
0.1859
22,7
MACHO
AS 2662
4
47
0.1505
4
59
0.1582
21,99
MACHO
Trachycephalus venulosus
AS 2672
5
97
0.1244
4
91
0.2539
58,64
FÊMEA
Hypsiboas albopunctatus
AS 2664
5
73
0.2601
5
43
0.0738
55,95
MACHO
AS 2665
4
59
0.2732
4
51
0.2582
64,32
FÊMEA
AS 2666
5
103
0.2154
4
35
0.1103
53,67
FÊMEA
44
Arterial
0 1 2 3 4 5 6
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
Ordem Strahler
No. de Segmentos
Arterial
0 1 2 3 4 5 6
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
Ordem Horton
No. de Segmentos
Venosa
0 1 2 3 4 5 6
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
Ordem Strahler
No. de Segmentos
Venosa
0 1 2 3 4 5 6
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
Ordem Horton
No. de Segmentos
Figura 7. Gráfico de relação entre o número de segmentos em cada ordem (em escala
logarítmica de base 10) e as ordens de Strahler e Horton, para as árvores vasculares
arteriais e venosas. A linha cheia representa a regressão linear dos dados e a linha
interrompida o intervalo de confiança. Gráficos criados pelo programa GraphPad
Prism 5.
45
Tabela 5. Valores da regressão linear entre os dados vasculares e de comprimento
rostro-cloacal (CRC) para as árvores arteriais e venosas. Legenda: IA índice de
assimetria da árvore (em escala logarítmica de base 10), Sg número de segmentos (em
escala logarítmica de base 10), Ordem S ordens de Strahler para os segmentos,
Ordem H - ordens de Horton para os segmentos.
Regressão linear
Dados
R quadrado
P
Sg Arterial x CRC
0,24580
0,02620
Sg Venosa x CRC
0,00855
0,70660
Sg Arterial x IA Arterial
0,47490
0,00080
Sg Venosa x IA Venosa
0,02442
0,52290
IA Arterial x CRC
0,26360
0,02060
IA Venosa x CRC
0,06195
0,30420
Sg Arterial x Ordem S
0,87350
< 0,0001
Sg Venosa x Ordem S
0,77800
< 0,0001
Sg Arterial x Ordem H
0,37510
< 0,0001
Sg Venosa x Ordem H
0,24140
< 0,0001
As diferenças encontradas entre os dados do presente trabalho e estudos
existentes na literatura provavelmente se devem a diferenças nos hábitos dessas
espécies ou ao fato de se tratar de espécies de grupos distantes
filogeneticamente. A análise de outras espécies pode contribuir para o
entendimento dessas relações.
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares
A vascularização do trato gastrointestinal nas espécies do gênero Pseudis
e em outros hilíneos demonstrou ser bastante variável no seu número de
segmentos, assim como o descrito para Lithobates catesbeianus (Ichimura et al,
2001). O número de segmentos variou bastante entre espécimes de mesmo
46
tamanho ou sexo, tanto dentro de uma mesma espécie quanto entre elas. Assim
é provável que a variação das árvores vasculares seja apenas fruto da variação
individual ou que dependa de outros fatores não abordados aqui.
Nas árvores arteriais, as relações entre CRC e número de segmentos,
CRC e índice de assimetria e número de segmentos e índice de assimetria foram
todas significativas. Essas relações não foram significativas em árvores venosas
provavelmente porque essas árvores são inconstantes. A maioria das variações
descritas para o sistema vascular são encontradas em árvores venosas
(O'Donoghue, 1935).
As razões entre número de segmentos e ordens das árvores vasculares
descritas apontam que essas são auto-similares conforme a lei de Horton. Mas
estudos posteriores de avaliação de dimensões fractais podem contribuir para
essa conclusão. Estudos morfométricos mais detalhados, incluindo medidas de
diâmetro e comprimento dos segmentos, também podem contribuir para a
compreensão da construção das árvores vasculares do trato gastrointestinal em
anuros. Além disso, a análise da ontogenia pode avaliar se o número de
segmentos encontrado nos adultos se modifica durante a idade adulta ou é
conseqüência da fase larval.
47
CONCLUSÕES
Descrição das árvores vasculares
A vascularização do trato gastrointestinal das rãs paradoxais varia muito
pouco entre as espécies analisadas, o que pode corroborar a monofilia do
grupo. As características vasculares com maior variação foram a
derivação da AE, a derivação da AMCa, ramificações da AMCr para os
rins e as tributárias gástricas da VMD e VME.
As variações intra e interespecíficas nas outras espécies de hilíneos
também foram discretas, mas o pequeno número de indivíduos
observados em cada espécie pode mascarar os resultados das variações
vasculares.
Em relação às descrições encontradas na literatura, a variação entre
espécies foi maior talvez por se tratar de espécies de grupos distantes
filogeneticamente.
Descrição topológica e comparação quantitativa das árvores vasculares
As árvores vasculares do trato gastrointestinal apresentam, em alguns
casos, relações positivas com o tamanho e o sexo dos animais, o que pode
ser pouco interessantes para a reconstrução filogenética. São observadas
nas árvores arteriais relações significativas entre o número de segmentos,
o índice de assimetria e o CRC. Segundo o teste da lei de Horton, as
árvores encontradas são auto-similares.
48
Capítulo 2:
Conformação gastrointestinal e ducto colédoco no
gênero Pseudis
INTRODUÇÃO
A anatomia do sistema digestório dos anuros foi descrita por Ecker
(1889) para duas espécies de rãs européias sendo, até hoje, usada como modelo
para a configuração do trato gastrointestinal e órgãos associados. Segundo essa
descrição, o sistema digestório é dividido em esôfago, estômago, intestino
delgado, intestino grosso e reto. As transições esôfago-estômago e estômago-
duodeno são delimitadas pelos esfíncteres cárdico e pilórico (Figura 8). A
transição intestino delgado intestino grosso nunca foi nomeada, mas também
possui um esfíncter que chamaremos aqui de íleo-cólico (Figura 9). O intestino
delgado ainda se divide em duodeno, jejuno e íleo, com seus limites sendo
definidos não por uma linha, mas por uma região de transição de mucosas no
lúmen intestinal.
De forma geral, todo o trato gastrointestinal é ancorado na face dorsal da
cavidade abdominal por um dobramento do peritônio que envolve a artéria
aorta dorsal e passa entre os rins, dando origem ao trato gastrointestinal.
Estômago e duodeno se alinham paralelamente, conectados pelo ligamento
gastro-duodenal que inclui o pâncreas, mas é interrompido por uma grande
lacuna circular próxima à região pilórica (Francis, 1934). Um segundo ligamento
pequeno e firme, o hepato-duodenal, mantém a conexão entre o duodeno e a
49
fissura portal do fígado, por onde passa a veia porta-hepática e o pâncreas se
liga ao fígado. Outros dobramentos do peritônio ainda ligam o trato
gastrointestinal aos pulmões e pericárdio. De fato, este modelo de conformação
intestinal coincide com o descrito para Lithobates catesbeianus (Ichimura et al,
2001) e o observado em Leptodactylus fuscus, Rhinella schineideri, Dermatonotus
mulleri e Brachycephalus sp (observação pessoal da autora).
Segundo Ecker, o pâncreas lança sucos biliares e pancreáticos no
duodeno através de um curto ducto colédoco ou ducto comum, que une os
ductos vindos do fígado, vesícula biliar e pâncreas. A região onde os ductos
biliares e pancreáticos se fundem foi descrita para cinco gêneros de anfíbios por
Dornesco, Santa & Zaharia (1965). Os ductos se encontram na parede intestinal
em Bombina e Pelobates, entre o pâncreas e o duodeno em Bufo e Hyla e ainda
dentro do pâncreas em Rana. Mas todos esses ductos colédocos foram descritos
como sendo de tamanho pequeno em relação ao pâncreas.
Não existem dados na literatura sobre o trato gastrointestinal de rãs
paradoxais. Desta forma, apresentamos aqui a descrição das conformações
intestinais encontradas e uma comparação morfométrica do ducto colédoco em
nove espécies de rãs paradoxais e quatro de outros hilíneos.
50
METODOLOGIA
Conformação gastrointestinal e morfometria do ducto colédoco
Nove das onze espécies de paradoxais mais quatro espécies de outros
hilíneos (Tabela1) foram analisados quanto à forma do trato gastrointestinal,
posição dos esfícteres cárdico, pilórico e íleo-cólico, localização do final do
duodeno (região de transição de mucosa) e as conexões de ligamentos e do trato
gastrointestinal ao trato. Desenhos esquemáticos e fotos do trato
gastrointestinal foram feitos para posterior comparação entre indivíduos e
espécies.
A análise do ducto colédoco consistiu apenas na comparação
morfométrica entre o comprimento deste ducto e o comprimento rostro-cloacal
dos espécimes. Ambas as medidas foram feitas por paquímetro digital (precisão
0,01mm), mas a medida precisa do ducto colédoco exigiu a observação dos
espécimes sob lupa. O comprimento do ducto foi analisado desde o ponto onde
ele emerge do tecido pancreático até onde se conecta ao duodeno.
Para as análises estatísticas foram usados a planilha eletrônica Excel
(Microsoft®) e o programa estatístico GraphPad Prism 5. O primeiro para
cálculo de média, mediana, desvio padrão e transformação logarítmica e o
segundo para cálculo da regressão linear. Para as análises, os dados de
comprimento rostro-cloacal e comprimento do ducto colédoco foram log
transformados (base 10).
51
A
B
Figura 8. Esquemas dos modelos básico de conformação gastrointestinal de anfíbios
anuros. A Rana sp. adaptado de Ecker (1889), B Lithobates catesbeianus adaptado de
Duellman & Trueb (1994). Legenda: B baço, DC ducto colédoco, DU duodeno, EC
esfíncter cárdico, EIC esfíncter íleo-cólico, EP esfíncter pilórico, ES esôfago, ET
estômago, F fígado, ID intestino delgado, IG intestino grosso, P pâncreas, VB
vesícula biliar.
52
Figura 9. Imagens da transição entre o intestino delgado e o intestino grosso com
ambos os intestinos abertos e com os lúmens expostos. A foto B mostra o detalhe do
esfíncter íleo-cólico. Legenda: EIC esfíncter ileo-cólico, IL íleo, IG intestino grosso.
Imagens de um indivíduo de Pseudis tocantins.
53
RESULTADOS
Conformação gastrointestinal
As conformações encontradas nas três espécies do clado 2 do gênero
Pseudis (Figura 1) e em todas as quatro espécies de outros hilíneos observados
concordaram perfeitamente com o modelo descrito por Ecker, que será
chamado aqui de modelo A (Figuras 9A). As espécies componentes dos clados 1
e 3 amostradas nesse trabalho apresentaram dois novos modelos de
conformação gastrointestinal, que chamaremos de modelos B e C.
O modelo B foi observado nas espécies Pseudis bolbodactyla e P. platensis.
Neste modelo o pâncreas se encontra entre o estômago e a porção intestinal
formada por jejuno e íleo, sustentado pelos ligamentos gastro-entérico e hepato-
entérico (Figura10B). O ducto colédoco que deixa o pâncreas em direção ao
duodeno é nesse modelo maior ou igual que o comprimento do próprio
pâncreas.
O modelo C foi encontrado nas espécies P. cardosoi, P. minuta, P. tocatins e
P. fusca, onde o pâncreas ainda ligado à face ventral do estômago, só está ligado
ao resto do trato através do trato gastrointestinal (Figura 10B). Mesmo assim, o
pâncreas ainda se liga ao fígado pelo ligamento hepato-pancreático (Figura 11).
O intestino grosso é a região intestinal mais próxima do pâncreas, mas ambos
estão separados por inúmeros vasos mesentéricos.
54
A1
A2
B
C
Figura 10. Esquemas dos três modelos de conformação gastrointestinal encontrados em
Hylinae com destaque para as divisões do trato. A1 Pseudis caraya, A2 Hypsiboas
albopunctatus, B - Pseudis bolbodactyla, C Pseudis tocantins. Legenda: DC ducto
colédoco, DU duodeno, ES esôfago, ET estômago, IG intestino grosso, JI jejuno
e íleo, P pâncreas.
55
Figura 11. Ligamentos do trato gastrointestinal. Legenda: DU duodeno, ET
estômago, F fígado, GE ligamento gastro-entérico, HD ligamento hepato-
duodenal, HE ligamento hepato-entérico, IG intestino grosso, JI jejuno e íleo, Ls
ligamentos filamentosos, P pâncreas, VB vesícula Biliar. Fotos: 1, 3 e 4 - Pseudis
bolbodactyla, 2 - Hypsiboas albopunctatus.
56
Figura 12. Vascularização do trato gastrointestinal e do mesentério de Pseudis tocantins
injetado com látex. Fotos: A visão geral, B detalhe das membranas mesentéricas
envolvendo o ramo duodenal da artéria mesentérica cranial e dos pequenos vasos que
irrigam estas membranas. Legenda: B baço, ET estômago, IG intestino grosso, MF
região onde as membranas mesentéricas estão fundidas, MS região onde as
membranas mesentéricas estão separadas, P pâncreas.
57
Em P. tocantins e P. bolbodactyla, foi observado que o trato gastrointestinal
é constituído por duas camadas de membrana que se fundem quanto mais
próximas dos intestinos e incluem os grandes vasos mesentéricos. Essas
membranas são vascularizadas, irrigadas e drenadas pelos grandes vasos, e nas
regiões onde não se fundem são conectadas por inúmeros e pequenos
ligamentos filamentosos (Figura 12). Também nessas duas espécies e em P.
caraya não foi observada transição de mucosa entre o jejuno e íleo.
Morfometria do ducto colédoco
O comprimento dos ductos colédocos (DC) variou bastante entre as
espécies analisadas (Figura 13). O maior comprimento de ducto colédoco
(14,43mm) foi medido em um indivíduo de P. tocantins com 60,67mm de
comprimento rostro-cloacal (CRC) e o menor (0,20mm) em um indivíduo de H.
albopunctatus com 57,27mm. No entanto, o menor espécime com 11,90mm de
CRC, apresentou um ducto colédoco de 0,42mm (P. caraya). As espécies do
clado 2 do gênero Pseudis apresentaram as menores médias de CRC e também
comprimentos reduzidos de DC. nas espécies do clado 3 de Pseudis foram
observados os maiores DC (Tabela 6).
A relação entre as medidas de DC e CRC com todas as espécies
analisadas foi significativa em regressão linear (P < 0,0001, R
2
= 0,5675) (Figura
14). Retirando-se as outras espécies de hilíneos, a relação entre DC e CRC das
espécies de Pseudis foi ainda mais significativa em regressão linear (P < 0,0001,
R
2
= 0,9503) (Figura 15).
58
A1
A2
B1
B2
Figura 13. Esquemas e fotos de dois tamanhos de ducto colédoco. A1 e B1: esquemas
do trato gastrointestinal e vascularização do trato gastrointestinal, sendo as regiões
hachuradas a representação das veias do trato gastrointestinals e as regiões negras a
representação dos ductos colédocos (Pseudis tocantins e Pseudis caraya respectivamente).
A2 e B2 são fotos do ducto colédoco, sendo a legenda: DC ducto colédoco, DU
duodeno, ET estômago e P pâncreas (Pseudis bolbodactyla e Hypsiboas albopunctatus
respectivamente).
59
Analizando apenas as três espécies com maior número de indivíduos, P.
tocantins, P. bolbodactyla e P. caraya, a relação entre CRC e DC para cada uma
delas foi significativa com (P < 0,0001, R
2
= 0,6500)(P = 0,0004, R
2
= 0,6980) e (P
= 0,0002, R
2
= 0,4080), respectivamente (Figura 16). Em uma análise de
semelhança das regressões lineares das três espécies, a diferença entre as
inclinações das retas não foi significativa (P = 0,7763), mas a diferença entre as
elevações dessas retas foi extremamente significativa (P < 0,0001). No entanto,
as retas de P. tocantins e P. bolbodactyla foram claramente mais semelhantes entre
si do que quando comparadas à reta de P. caraya. Como essas três espécies
também apresentavam os três modelos de conformação gastrointestinal, é
possível inferir que as relações entre DC e CRC das espécies com os modelos de
conformação B e C sejam semelhantes.
DISCUSSÃO
Conformação gastrointestinal
A descrição de dois novos modelos de conformação gastrointestinal para
anfíbios reforça a idéia de que ainda muito que se descrever na anatomia
desses animais. Apesar deste estudo não envolver a morfometria das áreas do
trato gastrointestinal, ficou claro que estes modelos diferem do modelo
proposto por Ecker (1889). Além disso, a descrição das membranas que
ancoram todo o trato sustenta que este é um sistema estável e que essas
60
configurações se manteriam mesmo com a plasticidade normal dos tratos
gastrointestinais dos anfíbios.
O fato de o gênero Pseudis possuir três configurações diferentes para o
trato gastrointestinal pode ser explicado pelo seu desenvolvimento incomum.
Os enormes girinos desse gênero são freqüentemente comparados com casos de
gigantismo relatados em outros anfíbios, onde girinos com disfunções
hormonais crescem bem mais que o tamanho normal de suas espécies (Rot-
Nikcevic & Wassersug, 2003). De fato, algumas características de morfologia
externa de girinos com gigantismo, como cauda bem musculosa, se assemelham
às dos girinos de rãs paradoxais. Portanto, é válido deduzir que as
características de morfologia visceral também possam ser semelhantes, como o
intestino menos enovelado de gigantes de Xenopus laevis (Rot-Nikcevic &
Wassersug, 2004).
A forma do intestino de girinos pode determinar a configuração
encontrada em adultos. Kemp (1951) concluiu que os fatores responsáveis pelo
grau de enovelamento de intestino de girinos são: estabelecimento de circulação
vitelina no embrião, regulação da pressão hidrostática no trato intestinal e no
celoma, e restrição do espaço da cavidade celômica. Segundo esse trabalho, o
enovelamento é resultado do crescimento do intestino em uma cavidade restrita
ao longo do desenvolvimento. Para que o intestino fique perfeitamente
enovelado, a cavidade abdominal precisa ser restrita. Alongamentos da
cavidade em qualquer sentido dão origem a tratos intestinais retos ou com
apenas uma volta.
61
Tabela 6. Relação do comprimento do ducto colédoco e do comprimento rostro-cloacal
por espécie. Todas as medidas estão em milímetros. Para Trachycephalus venulosus são
apresentadas as medidas reais de um indivíduo.
DUCTO COLÉDOCO
COMPRIMENTO
ROSTRO-CLOACAL
ESPÉCIE
MÉDIA
MEDIANA
DESVIO
MÉDIA
MEDIANA
DESVIO
Pseudis tocantins
8,37
8,20
2,23
47,54
46,33
7,89
Pseudis fusca
6,50
6,40
0,67
40,22
38,93
3,34
Pseudis bolbodactyla
5,48
5,62
1,67
38,31
37,02
5,88
Pseudis platensis
6,39
6,39
1,97
50,50
50,50
1,09
Pseudis caraya
0,59
0,55
0,16
16,01
16,15
1,62
Pseudis limmelum
1,46
1,46
0,37
18,42
18,42
16,90
Pseudis laevis
0,91
0,91
0,11
17,66
17,66
1,07
Pseudis cardosoi
3,87
3,87
0,72
25,79
25,79
34,94
Pseudis minuta
2,04
2,04
0,18
30,37
30,37
6,47
Scinax fuscovarius
0,92
0,92
0,01
38,84
38,84
3,70
Dendropsophus minutus
0,53
0,51
0,10
22,98
23,03
1,74
Hypsiboas albopunctatus
0,50
0,40
0,37
55,52
56,13
7,78
Trachycephalus venulosus
1,09
58,64
Figura 14. Relação entre comprimento do ducto colédoco (DC) e comprimento rostro-
cloacal (CRC) das nove espécies do gênero Pseudis e outras quatro espécies de hilíneos
analisadas nesse trabalho (P<0,0001, R
2
=0,5675). A linha representa a regressão linear
dos dois grupos juntos e a linha interrompida o intervalo de confiança. Todas as
medidas foram log-transformadas (base 10). Gráfico criado pelo programa GraphPad
Prism 5.
62
Além do padrão de enovelamento, o intestino também pode variar no padrão
de regressão das áreas intestinais. Foi descrito para Lithobates catesbeianus que,
durante a metamorfose, as áreas intestinais regridem na mesma proporção, mas
não há evidências que isso ocorra em todas as espécies de anfíbios (Pretty,
Naito & Wassersug, 1995). Na mesma linha, durante o desenvolvimento, a
própria membrana do trato gastrointestinal pode se ajustar para formar uma
configuração gastrointestinal modificada. É sabido que ao mesmo tempo em
que o intestino sofre mudanças radicais durante o desenvolvimento dos
anfíbios, o trato gastrointestinal se estica, contrai e desenvolve lacunas para se
adequar às mudanças do trato (Sugimoto et al, 1986).
A distribuição da ocorrência dos três modelos de configuração intestinal
na filogenia do gênero Pseudis também merece destaque. Excluindo-se o clado 2
do gênero, que apresentou o modelo de configuração de Ecker (1889), todas as
outras espécies estão em um grupo considerado monofilético nas primeiras
hipóteses filogenéticas publicadas (Barg, 2003). No entanto, são necessários
estudos de mapeamento filogenético para compreender como os modelos de
conformação gastrointestinal evoluíram nesse grupo.
Estudos em anatomia de girinos e ontogenia nas rãs paradoxais podem
esclarecer a existência de conformações intestinais diversas. A morfometria
intestinal comparativa de adultos também pode ajudar a esclarecer o formato
diferenciado de intestinos que ocorre apenas em Pseudis.
63
Figura 15. Dispersão das medidas de comprimento do ducto colédoco (DC) e
comprimento rostro-cloacal (CRC) das nove espécies do gênero Pseudis analisadas
nesse trabalho. Todas as medidas foram log-transformadas (base 10). Gráfico criado
pelo programa GraphPad Prism 5.
1.2 1.4 1.6 1.8 2.0
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
P. bolbodactyla
P. caraya
P. tocantins
log CRC
log DC
Figura 16. Relação entre DC e CRC em três espécies de Pseudis: Pseudis bolbodactyla
(P=0,0004, R
2
=0,698), Pseudis caraya (P=0,0002, R
2
=0,408) e Pseudis tocantins (P<0,0001,
R
2
=0,650). A linha contínua representa a regressão linear dos grupos e a linha
interrompida o intervalo de confiança. Todas as medidas foram log-transformadas
(base 10). Gráfico criado pelo programa GraphPad Prism 5.
64
Morfometria do ducto colédoco
As espécies do gênero Pseudis possuem três modelos diferentes de
configuração gastrointestinal, onde as distâncias entre o pâncreas e o duodeno
aumentam gradualmente do modelo A ao C. Desta forma, a distância entre o
ponto onde o ducto colédoco deixa o tecido pancreático até onde esse se funde à
parede do duodeno, também aumenta. Como era esperado, foi observada uma
diferença estatística nas relações das medidas de DC e CRC para os diferentes
modelos de conformação gastrointestinal, apesar de discreta. Análises
morfométricas de DC e CRC em um maior número de indivíduos e também
com um maior número de espécie podem esclarecer essas relações.
A relação significativa entre DC e CRC no conjunto das espécies
analisadas pode representar uma sinapomorfia para esse grupo (Figura 14).
Mesmo assim, permaneceram diferenças que não foram explicadas, como a
grande diferença no comprimento do ducto colédoco em animais de tamanho
semelhante: H. albopunctatus DC = 0,56mm, CRC = 54,99mm e P. tocantins
DC = 10,60mm, CRC = 54,27mm. Estudos complementares de ontogenia e
morfometria de outras estruturas viscerais podem ajudar na explicação dessas
discrepâncias.
65
CONCLUSÕES
Conformação gastrointestinal
As espécies do gênero Pseudis apresentaram três modelos de
conformação gastrointestinal, sendo as principais diferenças entre eles a
posição do pâncreas em relação aos intestinos e a posição e a conexão
dos ligamentos do trato gastrointestinal.
Nas espécies do clado 2 de Pseudis foi observado o modelo clássico para
conformação gastrointestinal nos anfíbios (Ecker, 1889).
No clado 1 foi descrita uma nova conformação, onde apenas a membrana
do trato gastrointestinal liga o pâncreas aos intestinos e a região
intestinal mais próxima do pâncreas é o intestino grosso. Esta
conformação também foi encontrada em P. tocantins e P. fusca, do clado 3.
Para as espécies restantes do clado 3 foi descrita uma segunda nova
configuração gastrointestinal. Desta vez, o pâncreas é observado alojado
entre o estômago e a região jejuno-íleo do intestino delgado, ancorado
pelo ligamento gastro-entérico.
Morfometria do ducto colédoco
As relações entre as medidas de comprimento de ducto colédoco (DC) e
comprimento rostro-cloacal (CRC) foram significativas para o conjunto
das espécies analisadas, o que pode representar uma sinapomorfia para o
grupo.
66
As regressões analisadas entre medidas de CRC e DC nessas espécies não
explicaram algumas discrepâncias encontradas nas medidas. Estudos
mais aprofundados são necessários. Estudos complementares de
ontogenia e morfometria de outras estruturas viscerais são sugeridos.
Foi observada uma diferença estatística discreta nas relações das
medidas de DC e CRC para os diferentes modelos de conformação
gastrointestinal. Esse fato sugere que as espécies com modelos de
conformação B e C, onde o pâncreas está mais distante do duodeno,
tenham ducto colédocos maiores. Análises morfométricas de DC e CRC
em um maior número de indivíduos e também com um maior número
de espécie podem esclarecer essas relações.
67
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70
ANEXO
EXEMPLARES EXAMINADOS
AS Coleção do Laboratório de Anatomia Comparativa dos Vertebrados da
Universidade de Brasília.
CHUNB Coleção Herpetológica da Universidade de Brasília.
Pseudis tocantins Aruanã, GO: AS 2655 a AS 2657. Britânia, GO: AS 2607 a AS
2614, AS 2591, AS 2592, AS 2595 a AS 2600. Formoso do Araguaia, TO: AS 2604.
Sandolândia, TO: AS 2605.
Pseudis fusca Araçuaí, MG: AS 2601 a AS 2603, AS 2606.
Pseudis bolbodactyla Buritizeiro, MG: AS 2615 a AS 2617, AS 2623, AS 2624.
Flores de Goiás, GO: AS 2590, AS 2593, AS 2594, AS 2625 a AS 2629.
Pseudis platensis Cuiabá, MT: AS 0590. Poconé, MT: AS 2340.
Pseudis caraya Aruanã, GO: AS 2620 a AS 2622, AS 2630 a AS 2653. Britânia,
GO: AS 2618, AS 2619.
Pseudis limellum Corumbá, MS: CHUNB 42781, CHUNB 42786.
Pseudis laevis Rio Negro, AM: AS 2583, AS 2584.
Pseudis cardosoi Jaquirana, RS: CHUNB 35096, CHUNB 35106.
Pseudis minuta Porto Alegre, RS: CHUNB 34867, CHUNB 34871.
Scinax fuscovarius Brasília, DF: AS 2654, AS 2667, AS 2668.
Dendropsophus minutus Brasília, DF: AS 2658 a AS 2663.
Trachycephalus venulosus Monte Alegre, GO: AS 2672.
Hypsiboas albopunctatus Brasília, DF: AS 2664 a AS 2666, AS 2669 a AS 2671.
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