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CAMILA PINHEIRO DE ALMEIDA
PAPEL DO ESTRESSE OXIDATIVO INDUZIDO POR
GLUTAMATO NA DISFUNÇÃO COLINÉRGICA NO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO VISANDO A OBTENÇÃO DO
GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (BIOFÍSICA)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Ciências da Saúde
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
2008
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Almeida, Camila
Papel do Estresse Oxidativo Induzido por Glutamato na Disfunção
Colinérgica no Sistema Nervoso Central / Camila Pinheiro de Almeida. – Rio de
Janeiro: UFRJ / IBCCF, 2008.
xvii, 128 f.: il. ; 31 cm
Orientadores: Fernando Garcia de Mello e Nilson Nunes Tavares
Dissertação (mestrado) – UFRJ, IBCCF, Programa de Pós-graduação em
Ciências Biológicas (Biofísica), 2008.
Referências Bibliográfica: f. 110-128
1. Glutamato. 2. Estresse Oxidativo. 3. Colina Acetiltransferase. 5.
Espécies Reativas de Oxigênio. 4. Óxido Nítrico. 5. Óxido Nítrico Sintase. 6.
Biofísica – Tese. I. De Mello, Fernando Garcia. II. Nunes-Tavares, Nilson. III.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, IBCCF, Programa de Pós-graduação
em Ciências Biológicas, Biofísica. IV. Título.
ii
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UFRJ
Papel do Estresse Oxidativo Induzido por Glutamato na Disfunção Colinérgica no
Sistema Nervoso Central
CAMILA PINHEIRO DE ALMEIDA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas (Biofísica), IBCCF, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Ciências
Biológicas (Biofísica).
Orientadores: Fernando Garcia de Mello
Nilson Nunes Tavares
Rio de Janeiro
Fevereiro/2008
iii
FOLHA DE APROVAÇÃO
CAMILA PINHEIRO DE ALMEIDA
Papel do Estresse Oxidativo Induzido por Glutamato na Disfunção Colinérgica no
Sistema Nervoso Central
Rio de Janeiro, 12 de Fevereiro de 2008
__________________________________________
(Dr. Fernando Garcia de Mello, IBCCF, UFRJ)
__________________________________________
(Dr. Marcus Fernandes de Oliveira, IBqM, UFRJ)
__________________________________________
(Dr
a
. Flávia Carvalho Alcântara Gomes, PCM, UFRJ)
__________________________________________
(Dr. Marcelo Felippe Santiago, IBCCF, UFRJ)
__________________________________________
(Dr
a
. Jennifer Lowe, IBCCF, UFRJ)
iv
Projeto desenvolvido no Laboratório de Neuroquímica sob orientação do Prof. Dr.
Fernando Garcia de Mello e Prof. Dr. Nilson Nunes Tavares. O laboratório é integrante
do Programa de Neurobiologia do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, IBCCF, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. A bolsa de mestrado foi concedida pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além da
verba concedida pelo próprio CNPq, projeto contou com o apoio financeiro do Programa
de Apoio a Núcleos de Excelência (PRONEX), Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
de Janeiro (FAPERJ).
v
“Aprender sem pensar é tempo perdido.”
Confúcio
vi
Dedico esse trabalho aos meus pais que foram os
primeiros a acreditar que eu era capaz. À eles que
primeiramente me fizeram crer que tudo seria possível
e proporcionaram tudo para que esse sonho se
realizasse: o amor, o carinho, o apoio e todo suporte
necessário. Deles também vieram o exemplo de que a
determinação faz planos se realizarem e as correções
que me transformaram no que sou hoje.
vii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus pela vida e por ao longo dela ter me dado oportunidades que me
fizeram chegar até aqui. Pela força nos momentos de fraqueza, pelo ânimo quando eu
achava que não seria possível dar mais um passo, por ter colocado ao meu lado as
pessoas certas nos momentos certos para me darem um abraço, um sorriso, uma
palavra, para me oferecerem oportunidades e me incentivarem. Por ter provido as
condições necessárias para a realização desse sonho.
A minha mãe e amiga Idenir pelo amor e pelas palavras sábias que souberam me
encorajar quando parecia que já não seria possível chegar até aqui. E claro, pela super
ajuda com as referências. Você é essencial na minha vida!
Ao meu pai José Carlos pelo exemplo sempre presente. Por achar que eu sou muito
mais do que eu realmente sou e acreditar que eu seria capaz. Por me ensinar tantas
coisas e também se deixar aprender comigo. E claro, pelo suporte financeiro! Amo
muito você!
A minha irmã e amiga Cássia. Você é a melhor irmã do mundo e seu amor, carinho e
admiração foram fundamentais para que tudo desse certo. Sua compreensão nos
momentos de maior tensão seguidos pela descontração ao som do violão me ajudaram
a recarregar minhas baterias. Obrigada por mesmo longe estar sempre tão presente em
todos os momentos e circunstâncias da minha vida. Te amo!
Ao Davi meu namorado. Não tenho dúvida de que por ter você ao meu lado tudo foi
infinitamente mais fácil e agradável. Obrigada por me ouvir treinando apresentação de
seminários, “posters”, conferência, prévia, etc. Por tão calmamente me ouvir falando
sobre retina, glutamato, ChAT, anti-corpo. Pelo incentivo e admiração. Pela paciência e
compreensão. Tudo foi fundamental!
Ao meu orientador Fernando Mello por acreditar em mim e proporcionar essa
oportunidade para que eu chegasse até aqui. Seu exemplo profissional e científico
contribuiu muito para minha formação.
Ao meu co-orientador Nilson pelo apoio, incentivo, discussão de resultados e
contribuição com novas idéias. Pelos puxões de orelha que me fizeram crescer e
amadurecer. Pelos muitos chocolates (nacionais e importados) que adoçaram esses
dois anos de mestrado.
Ao Luís, meu aluno de Iniciação Científica que muito me ajudou e continua ajudando
com a parte experimental desse trabalho. Muito obrigada!
Aos demais professores dos Laboratórios de Neurobiologia da Retina e Neuroquímica.
Paty, você ótima, divertida e alegre; e não posso deixar de agradecer pelas muitas
caronas de ida e de volta do Fundão. Muito obrigada! Maria Christina, suas
contribuições científicas com sugestões, críticas e discussões foram de grande proveito.
viii
E obrigada também pela ajuda na correção da algumas coisas na tese. Nora, mesmo
em processo de aposentadoria não poderia deixar de reconhecer que trabalhar com
alguém tão brilhante e inteligente como você contribuiu para meu crescimento e
amadurecimento científico. E Ricardo, obrigada pela admiração e apoio; e também por
ter me dado a oportunidade de me sentir pela primeira vez uma professora.
Aos professores que aceitaram compor a banca de avaliação. Muito obrigada!
A Profª Jennifer Lowe, pela revisão da tese.
Ao Profº Marcus Oliveira por tão gentilmente não só ter cedido as alíquotas de DHE,
mas também por ter me ajudado com a realização e discussão dos experimentos.
A inesquecível galera da IMR: Ju, Ronning, Anine, Gui, Bigo, Ângelo, Nathália, Valdô,
Diméia, Vasti, Bruno, Jê, Sol, Carine, Alessandro, Helen, Giselle, Marquim, Mylena,
Talita, Fernando, Dedé, Sarinha... vocês são minha segunda família. Amo vocês!
A minha amiga Bia por tudo! Você continua sendo essencial na minha vida e é muito
bom dividir cada conquista com você! Poucas pessoas estão na minha vida há tanto
tempo como você. E eu sei que você continuará do me lado sempre que eu precisar. Te
amo!
Ao amigo que ganhei por tabela Eliezer. Suas conversas muito me ajudaram! Haja
paciência pra me ouvir e sabedoria pra tentar me aconselhar. Obrigada também pelas
gargalhadas e momentos de descontração. Você veio sem ser encomendado mas eu
aprendi a te amar.
A minha grande e louca família. Cada momento com vocês é único, divertido e especial.
Muito obrigada ao meu vô Quim, vó Eny e a todos tios, tias e primos. Um obrigado
especial a vó Erodina que não viveu tempo suficiente para ver esse sonho se realizar,
mas que sempre torceu muito por ele... você faz muita falta!
Aos meus amigos dos Laboratórios de Neuroquímica e Neurobiologia da Retina pelos
momentos de alegria dentro e fora do laboratório, pela companhia, pela ajuda com
experimentos e metodologia, discussão de resultados, novas sugestões e apoio.
Isabela, Cristiano, Renatinha, Gisele, Mário, Pedrinho, Ana Cláudia, Rose, Márcia,
Lívia, Clara... vocês são ótimos!
A galera mais chegada um obrigado especial. Cris, pelas muitas caronas regadas a
muita música, gargalhadas, desabafos e “conversas vãs”. Renatinha pelos esporros,
pela admiração, pelas consultas informais e consultoria médica. Bela, pela amizade,
conselhos, divertidas histórias e conversas em alguns momentos difíceis. Gi pela força,
admiração, incentivo, por torcer pela minha felicidade e realização; e claro, pelos
momentos inesquecíveis na cidade do aço. Você é ótima! E a todos vocês pelos nossos
momentos fora do lab... rodízios, Outback, Boomerang, o boliche que nunca rolou. Amo
vocês!
ix
Ao amigo Ronald pelo incentivo, pelo carinho, pela companhia, pelas horas de
conversas e experiências compartilhadas. Também pelos puxões de orelha e conselhos
que muito me ajudaram. Pelas figuras scanneadas, pelas aulas que me ajudou a
montar e pelos livros emprestados. Você me ajudou muito em tudo, obrigada!
A minha eterna turma Biomed 02. Em especial ao Eduardo que continua me aturando e
ouvindo e me incentivando a dar mais um passo. Obrigada por me dedicar tanto carinho
e atenção. E também a Lívia que dentre todos é a pessoa que mais diretamente
conviveu comigo me ajudando em muitos momentos sendo inclusive minha consultora
científica e pessoal.
A Nath por me aturar tão bem e conjugar a isso a sua amizade durante esse último ano.
Obrigada!
Aos demais amigos que fazem parte da minha vida e são inesquecíveis e
insubstituíveis. De longe ou de perto, de VR, Rio, BM, Palmas, Barbacena, Brasília,
EUA. Obrigada por estarem ao meu lado!
Por fim, a todos que conheço e que direta ou indiretamente contribuíram para a
realização desse trabalho e concretização dessa etapa. Aos funcionários da secretaria
de pós-graduação, colegas e amigos do IBCCF e aos professores do mestrado.
A todos, muito obrigada!
x
LISTA DE ABREVIATURAS
8-nitro-GMPc: 8-nitroguanosina 3´,5´-monofosfato cíclico
AAE: Aminoácido excitatório
ACh: Acetilcolina
AChE: Acetil colinesterase
AD: Doença de Alzheimer
ALS: Esclerose lateral amiotrófica
AMPA: Ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4isoxazolepropiônico
AMPc: Monofosfato de adenosina cíclico
Aβ: Beta amilóide
CAMKII: Cálcio-calmodulina cinase II
ChAT: Colina acetiltransferase
CHT1: Transportador de colina 1
CMF: Salina livre de cálcio e de magnésio
DAG: Diacilglicerol
DHE: Di-hidro-etidina
DNA: Ácido desoxirribonucléico
EAAT: Transportador de aminoácido excitatório
EDTA: Ácido diaminotetra-acético etileno
EFA: Ácido graxo essencial
eNOS: Óxido nítrico sintase endotelial
FCCP: Carbonil cianida 4-(trifluorometoxi)fenilhidrazone
GDH: Glutamato desidrogenase
GLAST: Transportador de glutamato e aspartato
GLU: Glatamato
GLT: Transportador de glutamato
GMPc: Monofosfato de guanosina cíclico
GSH: Glutationa reduzida
HEPES: Ácido 4-2-hidroxietil-1-piperazinoetanosulfônico
HIV: Vírus da imunodeficiência humana
xi
iNOS: Óxido nítrico sintase induzível
IP
3
: Inositol-1,4,5-trifosfato
KA: Cainato
L-NA: L-nitro-arginina
L-NAME: L-nitro-arginina-metil-éster
LTP: Potenciação de longa duração
MEM: Meio essencial mínimo
mGluR: Receptor metabotrópico glutamatérgico
NADPH: Nicotinamida adenina nucleotídeo fosfato
NMDA: N-metil-D-aspartato
nNOS: Óxido nítrico sintase neuronal
NO: Óxido nítrico
NOS: Óxido nítrico sintase
PD: Doença de Parkinson
PKA: Proteína cinase A
PKC: Proteína cinase C
PLC: Fosfolipase C
POPOP: 1,4-Bis(4-metil-5-fenil-2-oxazolil)benzeno
PPO: Óxido polipropileno
PUFA: Ácido graxo poliinsaturado
RNS: Espécies reativas de nitrogênio
ROS: Espécies reativas de oxigênio
SNC: Sistema nervoso central
VAChT: Transportador vesicular de acetilcolina
VGLUT: Transportador vesicular de glutamato
αKGDH: α-Cetoglutarato desidrogenase
xii
RESUMO
Glutamato (glu) é um aminoácido que age como principal neurotransmissor excitatório
no sistema nervoso central (SNC). Além de seu papel fisiológico, este pode exercer
efeitos prejudiciais sobre o sistema nervoso quando presente em quantidades elevadas,
levando a hiperexcitação do neurônio pós-sináptico. Esse processo conhecido como
excitotoxicidade tem sido associado a diversas doenças neurodegenerativas. Nesse
processo, o aumento da concentração intracelular de Ca
2+
desencadeia a produção
exagerada de espécies reativas de oxigênio (ROS) pela mitocôndria e aumento na
síntese de óxido nítrico (NO) pela enzima óxido nítrico sintase (NOS). Em neurônios
colinérgicos obtidos a partir de retina de embriões de ave de 9 dias e mantidos 4 dias
em cultura o tratamento crônico com glutamato 2 mM é capaz de induzir a produção de
ROS e também de inibir 60% da atividade da enzima colina acetiltransferase (ChAT).
Um outro aminoácido excitatório que age seletivamente sobre receptores do tipo
NMDA, o L-aspartato 100 μM, também foi capaz de promover a inibição da ChAT em
60%. Tanto a produção de radicais livres quanto a inibição da ChAT foram prevenidas
pelo tratamento com moléculas antioxidantes como a vitamina E 500 μM e a vitamina C
3 mM. O uso de inibidores da NOS (L-NAME (L-nitro-arginina-metil-ester) 5 mM e L-NA
(L-nitro-arginina) 10 mM) também foi capaz de prevenir a inibição da ChAT, sugerindo
envolvimento do NO no processo tóxico desencadeado pela hiperativação
glutamatérgica. Já a produção de ROS pela mitocôndria foi parcialmente prevenido pelo
uso do desacoplador mitocondrial FCCP 1 μM (Carbonil cianida 4-
(trifluorometoxi)fenilhidrazone), que exerceu efeito aditivo a proteção insuficiente de
uma concentração mais baixa de L-NAME (3 mM). A reação entre superóxido, uma das
espécies reativas de oxigênio, com o óxido nítrico leva à produção de peroxinitrito que
ao reagir com grupamentos SH de aminoácidos modifica-os e compromete o
funcionamento de proteínas e enzimas. O uso de uma molécula tiorredutora, a
glutationa reduzida (GSH) 10 mM também foi capaz de prevenir a inibição da ChAT. Em
conjunto, esses dados sugerem que esteja havendo a produção de ROS e NO que ao
reagirem levam à formação de peroxinitrito que age modificando a molécula da ChAT
inibindo sua capacidade catalítica. Por fim, observamos que ácidos graxos
poliinsaturados são capazes de exercer um efeito protetor sobre a inibição induzida pelo
glutamato. O ácido araquidônico 20 μM, ácido α-lonolênico 20 μM e o ácido linoleico 20
μM foram capazes de prevenir a perda da atividade da ChAT mantendo-a em níveis
semelhantes ao controle. Já os ácidos graxos monoinsaturados oléico 50 μM e
saturado esteárico 20 μM não foram capazes de exercer nenhum tipo de proteção.
Acredita-se que esse efeito seja devido à presença de duplas ligações na estrutura
desses ácidos graxos que agem como alvos moleculares para a ação de radicais livres,
protegendo assim a molécula da ChAT desses radicais reativos.
xiii
ABSTRACT
Glutamate (glu) is an amino acid that acts as the major excitatory neurotransmitter in the
central nervous system (CNS). In addition to its ubiquitous role, glutamate may exert
adverse effects on the functioning of the nervous system when present in excessive
amounts leading to a post-synaptic overstimulation. This process known as excitotoxicity
has been associated with several neurodegenerative diseases. One of the
consequences of glutamatergic receptors overactivation is an increase in the intracelular
Ca
2+
concentration that triggers processes such as the increase in reactive oxygen
species in the mitochondria and nitric oxide (NO) synthesis by the nitric oxide synthase
(NOS). In cholinergic neurons from avian embryonic 9 day-old retinas kept in vitro for 4
days, the chronic treatment with glutamate 2 mM ROS production and choline
acetyltransferase (ChAT) inhibition in 60%. Another excitatory amino acid that acts
selectively on the NMDA type of glutamatergic receptors, L-aspartate 100 μM, was also
able to promote inhibition of ChAT in 60%. Both the production of free radicals and the
inhibition of ChAT were prevented by co-treatment with antioxidant molecules such as
vitamin E (tocopherol) 500 μM and vitamin C (ascorbic acid) 3 mM. Another target of
increased intracelular Ca
2+
resulting from glutamatergic receptor overactivation is the
increased production of NO by the NOS enzyme. The use of NOS inhibitors (L-NAME
(L-nitro-arginina-metil-ester) 5 mM e L-NA (L-nitro-arginina) 10 mM) was also able to
prevent the inhibition of ChAT. The ROS production by mitochondria was partially
prevented by the mitochondrial uncoupling molecule FCCP 1 μM (Carbonil cianida 4-
(trifluorometoxi)fenilhidrazone), that exerts an addictive effect to the insufficient
protection of a lower L-NAME concentration (3 mM). The reaction of superoxide, one of
the reactive oxygen species, with nitric oxide leads to the production of peroxynitrite that
reacts with SH groups of amino acids modifying them and thus damaging the function of
proteins and enzymes. The use of a tiorreductant molecule, reduced glutathione (GSH)
10 mM was also able to act by preventing the inhibition of ChAT. Together, these data
suggest that there is the production of ROS and NO that react leading to formation of
peroxynitrite that acts modifying SH residues in the ChAT molecule inhibiting its catalytic
activity. Finally, we observed that polyunsaturated fatty acids are able to exert a
protective effect on the inhibition induced by glutamate. The arachdonic acid 20 μM, α-
linolenic acid 20 μM and linoleic acid 20 μM were able to prevent the loss of ChAT
activity, maintaining it in levels similar to control. In the other hand, the monounsaturated
oleic acid 50 μM and the saturated stearic acid 20 μM were not able to exert any kind of
protection to ChAT activity. It is believed that this effect is due to the presence of double
bonds in the structure of these fatty acids that act as molecular targets for the action of
free radicals, thereby protecting the ChAT molecule from these reactive radicals.
xiv
ÍNDICE
1.0 – INTRODUÇÃO.......................................................................................................18
1.1 – Glutamato..........................................................................................................18
1.2 – Receptores Glutamatérgicos.............................................................................23
1.2.1 – Receptores Metabotrópicos..............................................................23
1.2.2 – Receptores Ionotrópicos...................................................................25
1.2.2.1 – Receptores do tipo AMPA...........................................................26
1.2.2.2 – Receptores do tipo Cainato (KA)................................................28
1.2.2.3 – Receptores do tipo NMDA..........................................................28
1.3 – Acetilcolina........................................................................................................33
1.4 – Receptores Colinérgicos...................................................................................35
1.4.1 – Receptores Nicotínicos..........................................................................35
1.4.2 – Receptores Muscarínicos......................................................................36
1.5 – Glutamato e Excitotoxicidade............................................................................37
1.6 – Estresse Oxidativo e Radicais Livres................................................................40
1.6.1 – Radical Superóxido................................................................................42
1.6.2 – Peróxido de Hidrogênio.........................................................................43
1.6.3 – Radical Hidroxila....................................................................................43
1.6.4 – Óxido Nítrico..........................................................................................44
1.6.5 – Radical Peroxinitrito...............................................................................45
1.7 – Estresse Oxidativo e Doenças Neurodegenerativas.........................................48
1.8 – Enzimas e Moléculas Antioxidantes..................................................................51
xv
1.9 – Doença de Alzheimer e Disfunção Colinérgica.................................................55
1.10 – A Retina como modelo de estudo...................................................................57
1.10.1 – A Problemática.....................................................................................60
2.0 – OBJETIVOS...........................................................................................................64
3.0 – MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................65
3.1 – Cultura de Neurônios Retinianos......................................................................65
3.1.1 – Animais utilizados..................................................................................65
3.1.2 – Preparo de culturas em monocamada...................................................65
3.1.3 – Manutenção das culturas em monocamada..........................................66
3.1.4 – Troca de meio........................................................................................66
3.1.5 – Incubação das culturas em monocamada com fármacos......................66
3.2 – Dosagem da atividade enzimática da Colina Acetiltransferase (ChAT)............67
3.2.1 – Obtenção da enzima ChAT....................................................................67
3.2.2 – Ensaio enzimático..................................................................................68
3.2.3 – Determinação da Atividade Específica da Enzima................................71
3.3 – Dosagem de Proteína.......................................................................................71
3.4 – Estatística..........................................................................................................71
3.5 – Detecção da Produção de Espécies Reativas de Oxigênio..............................71
4.0 – RESULTADOS.......................................................................................................73
4.1 – Tratamento crônico com glutamato induz a produção de radicais livres..........73
xvi
4.2 – Agentes redutores são capazes de prevenir a inibição da ChAT induzida por
Glutamato..................................................................................................................75
4.3 – Desacopladores mitocondriais e inibidores da NOS protegem a ChAT da
inibição induzida pelo glutamato................................................................................81
4.4 – Efeito de Tiorredutores sobre a inibição enzimática da ChAT..........................85
4.5 – Efeito protetor de ácidos graxos polinsaturados (PUFAs)................................87
5.0 – DISCUSSÃO..........................................................................................................93
6.0 – CONCLUSÕES......................................................................................................91
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................110
xvii
1.0 – INTRODUÇÃO
1.1 – Glutamato
O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central
(SNC) tendo uma ampla distribuição e estando presente nos mais diversos tipos
neuronais. A primeira evidência de que o glutamato pode agir como neurotransmissor
veio da observação de que em baixas concentrações, tanto a isoforma D- quanto a L-
era capaz de excitar neurônios do sistema nervoso central (Curtis e Watkins,1961;
Curtis e Johnston, 1974). Décadas de pesquisa demonstraram que sua ação es
relacionada a processos fisiológicos fundamentais para a sobrevivência, tais como
cognição (Zikopoulos e Barbas, 2007), memória, aprendizado (Miyamoto, 2006), dor
(Wu et al., 2007; Schkeryantz et al., 2007; Bleakman et al., 2006) e transdução do sinal
luminoso na retina (Kolb, 2003). Além de ser o neurotransmissor liberado pelos
fotorreceptores, também medeia a transmissão sináptica de células bipolares e de
ganglionares (Yang, 2004). Durante o desenvolvimento modula processos como
migração celular (Manent e Represa, 2007), formação e maturação sináptica (Craig e
Kang, 2007), proliferação, diferenciação e sobrevivência de células-tronco (Melchiorri et
al., 2007).
O glutamato é um aminoácido não essencial que não atravessa a barreira
hematoencefálica. Ele é sintetizado a partir de intermediários do metabolismo da glicose
e de outros precursores (Fonnun, 1984; Platt, 2007). Um de seus precursores é o α-
cetoglutarato. Este recebe um grupamento amino de um outro aminoácido como, por
exemplo, a alanina através da ação de transaminases gerando, assim, o glutamato.
Este, por sua vez, pode ser reconvertido a α-cetoglutarato pela ação da enzima
18
glutamato desidrogenase (GDH). Um outro precursor da síntese do ácido glutâmico é a
glutamina, sintetizada em células gliais a partir do próprio glutamato que foi recaptado
da fenda sináptica (Figura 1). (Hassel et al., 1997; Hassel et al., 2003; Hassel e
Dingledine, 2006).
Figura 1 – Vias de síntese do glutamato. Esse aminoácido pode ser sintetizado a partir do
α
-
cetoglutarato através da ação de aminotransferases. A enzima glutamato desidrogenase (GDH) é
responsável pela reconversão de glutamato a α-cetoglutarato. O glutamato captado por células
gliais é convertido a glutamina e esta ao ser devolvida ao neurônio por ação de transportadores
pode ser novamente convertida a glutamato. Além disso o glutamato é o aminoácido precursor
utilizado na síntese de GABA e de glutationa (Modificado de Hassel e Dingledine, 2006).
A exemplo de outros neurotransmissores, uma vez sintetizado, o glutamato é
armazenado em vesículas sinápticas, o que ocorre por meio de transportadores
vesiculares de glutamato (VGLUTs) em um processo dependente de gradiente
eletroquímico. (Moriyama e Yamamoto, 2004; Takamori, 2006).
19
Após ser armazenado em vesículas, o glutamato é liberado na fenda sináptica
através de uma exocitose dependente de Ca
2+
. Quando estimuladas, as células
neuronais se despolarizam deflagrando um potencial de ação que se propaga ao longo
do axônio ate chegar ao terminal pré-sináptico. Nessa região há canais de Ca
2+
dependentes de voltagem que se abrem diante de um estímulo despolarizante (Dietrich
et al., 2003). O influxo de Ca
2+
permite o atracamento da vesícula com a membrana
plasmática e posterior fusão das mesmas. Abre-se, então, um poro pelo qual o
glutamato é liberado. (Wang e Tang, 2006; Platt, 2007).
O processo de exocitose do glutamato na fenda sináptica é controlado por uma
série de receptores presentes na membrana do terminal pré-sináptico (Sanchez-Pietro
et al., 1996; Anderson e Swanson, 2000). Esses receptores não são somente os
glutamatérgicos (metabotrópicos do Grupo II e III), mas também os colinérgicos
(nicotínicos e muscarínicos), receptores de adenosina (A1), k-opióides, receptores
gabaérgicos (GABA
B
), receptores para colecistocinina e neuropeptídeo Y (Y2)
(Sanchez-Pietro et al.; 1996 Platt, 2007).
Além da liberação sináptica clássica por exocitose, acredita-se que o glutamato
possa ser liberado através de heterotrocadores e transportadores de cistina (sistema X
c
-
) (Baker et al., 2002a e b) ou ainda por reversão de transporte que ocorre em situações
de despolarização característica de condições patológicas, como na isquemia cerebral
(Choi e Rothman, 1990; Camacho e Massieu, 2006).
Não são somente os neurônios, mas as células gliais também são capazes de
liberar glutamato tanto em condições fisiológicas quanto patológicas (Attwell, 1994;
Vesce et al., 2007; Malarkey e Parpura, 2007). Essas células se utilizam de diferentes
mecanismos para promover essa liberação. 1. Realizam, assim como os neurônios,
20
exocitose dependente de Ca
2+
(Parpura et al., 1994; Parpura et al., 2004); 2. Liberam
glutamato por operação reversa de transportadores presentes na membrana plasmática
(Parpura et al., 2004). Esse processo é característico de condições patológicas, como
por exemplo, a isquemia (Szatkowski et al., 1990); 3. Antiporte de cistina – glutamato no
sistema X
c
-
(Warr et al., 1999); 4. Liberação através de receptores purinérgicos
ionotrópicos (Duan et al., 2003); 5. Através da abertura de canais iônicos induzida pela
turgência do astrócito quando em meio hipotônico (Kimelberg et al., 1990); 6. Através
de conexons funcionais não pareados (hemicanais) presentes na superfície celular (Ye
et al., 2003).
Após ser liberado na fenda sináptica o glutamato irá agir em receptores
presentes na membrana plasmática dos terminais pós-sinápticos (Dingledine et al.,
1999a; Platt, 2007) A ação do glutamato na fenda sináptica é interrompida
principalmente pela sua recaptação mediada por transportadores presentes nas
terminações nervosas e astrócitos vizinhos (Platt, 2007). Essa recaptação é mediada
por transportadores de aminoácidos excitatórios (EAATs 1 – 5) e é dependente de Na
+
(Shigeri et al., 2004). Desses cinco transportadores de aminoácidos excitatórios dois
estão presentes em células da glia: EAAT-1 (GLAST) e EAAT-2 (GLT-1). Os outros três
tipos de transportadores são expressos em células neuronais, sendo que o EAAT-5 se
encontra no terminal pré-sináptico e os EAAT-3 e EAAT-4 se encontram no terminal
pós-sináptico (Shigeri et al., 2004).
O glutamato captado pelos astrócitos pode seguir duas diferentes vias
metabólicas. Ele pode ser convertido em glutamina pela ação da glutamina sintase, ou
ser metabolisado a α-cetoglutarato pela glutamato oxaloacetato transaminase ou pela
21
glutamato desidrogenase (Platt, 2007). Tanto a glutamina quanto o α-cetoglutarato são
transportados para fora das células gliais e reciclados de volta aos neurônios, que os
reconvertem a glutamato (Platt, 2007; Shigeri et al., 2004). A glutamina e o α-
cetoglutarato atuam, portanto, como reservatório de transmissor inativo sob o controle
regulador dos astrócitos, que atuam devolvendo o glutamato numa forma inócua para
reabastecer os neurônios (Figura 2) (Attwell, 1994; Hertz, 2006).
Figura 2 – Metabolismo do glutamato. O glutamato é sintetizado e estocado em vesículas
sinápticas nas terminações nervosas. A conversão de glutamina a glutamato envolve a
ação enzimática da glutaminase (3) presente na mitocôndria. O glutamato é também
formado por um processo de transaminação (1). Após sintetizado, o glutamato é
armazenado em altas concentrações dentro de vesículas sinápticas. Em seguida, ele é,
então, liberado na fenda sináptica. Sua recaptação para dentro de células glias ocorre
através de transportadores de glutamato 1 (GLT-1) e transportadores de glutamato e
aspartato (GLAST). Uma vez internalizado em células gliais, ele é interconvertido a
glutamina (2). A glutamina é então devolvida ao terminal nervoso, onde irá participar da
reposição dos estoques de glutamato. Alguns terminais glutamatérgicos possuem o
carreador de aminoácidos excitatórios 1 (EAAT-1) que recapta glutamato diretamente.
(Modificado de Dingledine e McBain, 1999b)
22
1.2 – Receptores Glutamatérgicos
Os receptores glutamatérgicos estão divididos em duas grandes classes:
receptores metabotrópicos e receptores ionotrópicos. De maneira geral, os
metabotrópicos são aqueles acoplados a uma proteína G intracelular cuja atividade
desencadeia a ativação de uma cascata de sinalização intracelular. Já os ionotrópicos
são proteínas transmembranas que formam canais e, uma vez ativados, se abrem
permitindo a entrada de íons. Um pouco da estrutura e função desses receptores será
detalhado a seguir.
1.2.1 – Receptores Metabotrópicos
Receptores glutamatérgicos metabotrópicos (mGluRs) compõem uma classe de
receptores acoplados, através de proteína G, à enzimas citoplasmáticas. Os genes para
esses receptores codificam proteínas que atravessam sete vezes a membrana e
possuem a porção N-terminal exposta para o meio extracelular (Platt, 2007). Oito
diferentes tipos desse receptor já foram clonados e nomeados de mGluR1 a mGluR8.
Estes são agrupados em três classes funcionais baseando-se na homologia da
seqüência de aminoácidos que os compõem, no agonista farmacológico e na via de
transdução de sinal à qual ele está acoplado. O grupo I abriga os receptores mGluR1 e
mGluR5, o Grupo II é composto pelos receptores mGluR2 e mGluR3 e o Grupo III
agrega os receptores mGluR4, mGluR6, mGluR7 e mGluR8 (Figura 3) (Kew e Kemp,
2005).
23
Figura 3 – Famílias das subunidades moleculares dos receptores glutamatérgicos
(Modificado de Hassel e Dingledine, 2006)
A classificação de receptores glutamatérgicos metabotrópicos em três grupos
está diretamente ligado ao mecanismo de transdução de sinal ao qual ele está
acoplado. Receptores do Grupo I estão ligados via proteína G a fosfolipase C (PLC) que
quebra fosfatidilinositol-4,5-bifosfato em diacilglicerol (DAG) e inositol-1,4,5-trifosfato
(IP3). Esse aumento tem como conseqüência direta à liberação de Ca
2+
a partir de
estoques intracelulares como o retículo, aumentando assim, a concentração intracelular
desse íon. Uma outra conseqüência da ativação da PLC é a síntese de diacilglicerol
(DAG), um ativador da Proteína Cinase C (PKC). Já os receptores do Grupo II e III
quando ativados, promovem via proteína G a inibição da adenilato ciclase, responsável
pela síntese de AMPc; ou seja, a ativação desses receptores diminui a concentração
intracelular de AMPc (Kew e Kemp, 2005). Receptores do Grupo III podem ainda inibir a
atividade da guanilato ciclase, diminuindo a concentração de GMPc (para revisão ver
Coutinho e Knöpfel, 2002).
24
Os receptores metabotrópicos podem também modular o funcionamento de uma
variedade de canais iônicos presentes tanto no terminal pré-sináptico quanto pós-
sináptico. Isso ocorre através da interação direta da subunidade βγ da proteína G com
porções intracelulares dos canais iônicos. A ativação das três classes de receptores
inibe canais de Ca
2+
dependente de voltagem do tipo L, enquanto a ativação dos
receptores dos Grupos I e II inibe canais de Ca
2+
dependente de voltagem do tipo N.
Dessa forma, os receptores metabotrópicos também atuam modulando a excitação
neuronal (Kew e Kemp, 2005). A ativação de receptores metabotrópicos no terminal
pré-sináptico pode ainda regular a liberação de glutamato na fenda sináptica (Sánchez-
Pietro et al., 1996; Platt, 2007).
Com exceção do mGluR6, que é específico da retina, todos os receptores
metabotrópicos são expressos nas demais regiões do SNC de mamíferos, tanto em
células gliais quanto neuronais com alguns membros apresentando um padrão de
expressão espacial e temporal particulares (Kew e Kemp, 2005). Os mGluRs também
estão expressos na periferia modulando a resposta do sistema nociceptivo (Bhave et
al., 2001; Walker et al., 2001). Em geral os receptores do grupo I estão localizados pos-
sinapticamente, enquanto os receptores do Grupo II e III são predominantemente pre-
sinápticos (Kew e Kemp, 2005).
1.2.2 – Receptores Ionotrópicos
Receptores ionotrópicos são proteínas transmembranas que formam canais
iônicos e possuem um sítio de ligação a agonistas específicos. São estruturas tetra ou
25
pentaméricas formadas a partir de mais de um tipo de subunidade funcional (Platt,
2007).
A abertura dos canais iônicos ocorre mediante a interação de um agonista
específico com seu sítio de ligação no receptor ionotrópico. Essa ligação promove uma
alteração conformacional na estrutura do receptor levando a uma abertura do poro do
canal. Uma vez aberto, ocorre a passagem de íons a favor do gradiente de
concentração (Dingledine et al., 1999a; Koles, et al., 2001).
Os receptores glutamatérgicos ionotrópicos são classificados em três grupos,
nomeados de acordo com o agonista específico ao qual se ligam para promover a
abertura do canal: N-metil-D-aspartato (NMDA), α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxasol
(AMPA) e cainato (KA) (Platt, 2007). Cada um dos tipos de receptores é formado por
subunidades pertencentes a diferentes famílias. A clonagem desses receptores revelou
em mamíferos a existência de mais de 16 genes responsáveis pela codificação das
subunidades de um receptor ionotrópico. Estas subunidades estão agrupadas em seis
famílias que estão diretamente envolvidas com a formação dos receptores funcionais,
conforme mostrado na Figura 3 (Dingledine et al., 1999a; Kew e Kemp, 2005).
1.2.2.1 – Receptores do tipo AMPA
Os receptores do tipo AMPA são formados por diferentes combinações das
subunidades GluR1-4, os quais se reúnem para formar estruturas tetraméricas (Kew e
Kemp, 2005). Eles estão amplamente distribuídos ao longo do sistema nervoso central,
26
entretanto, apresentam diferentes densidades nas diversas regiões do cérebro (Platt,
2007).
Cada receptor possui dois sítios de ligação para o agonista e sua ativação está
envolvida com a geração de um potencial pós sináptico excitatório rápido.
Fisiologicamente ele é ativado por glutamato e de maneira geral é permeável aos íons
Na
+
e Ca
2+
(Köles, et al., 2001). Entretanto, sabe-se que receptores do tipo AMPA, que
carecem da subunidade GluR2 exibem permeabilidade muito maior ao Ca
2+
(Kew e
Kemp, 2005). Essa característica da subunidade GluR2 de ser impermeável ao Ca
2+
é
devida a presença de um resíduo de arginina em um sítio crítico no poro do receptor.
Nas outras subunidades esse mesmo sítio é ocupado por uma glutamina (Seeburg e
Hartner, 2003).
Não é somente a presença da subunidade GluR2 que é capaz de regular a
função do receptor; suas subunidades podem sofrer alterações pos-transcricionais tanto
de cinases quanto de fosfatases (Dingledine et al., 1999a). Os dados relacionando os
efeitos dessas enzimas sobre o nível de ativação do receptor são contraditórios. Alguns
trabalhos mostram que a função do receptor do tipo AMPA pode ser potencializada pela
PKA, PKC e calcio-calmodulina cinase II (CAMKII) (Moss e Smart, 1996; Greengard, et
al., 1991; Wang at al., 1994). Entretanto, outros autores mostram que a fosforilação por
PKC reduz o tempo de abertura do canal enquanto outros observam que a mesma não
é alterada por atividade dessa cinase (Sigel e Baur, 1988). Outros dados mostram ainda
que a inibição de fosfatases também aumenta a corrente induzida por AMPA (Köles et
al., 2001).
27
1.2.2.2 – Receptores do tipo Cainato (KA)
Os receptores do tipo cainato são formados pela combinação das subunidades
GluR5 a GluR7 com as KA-1 e 2 que se agrupam em tetrâmeros formando, assim,
diversos tipos de receptores funcionalmente diferentes. O arranjo das diferentes
subunidades pode dar origem tanto a estruturas homoméricas quanto heteroméricas
(Kew e Kemp, 2005). Assim como os receptores do tipo AMPA, cada receptor KA
possui dois sítios de ligação para o agonista e também estão envolvidos na geração de
um potencial pós-sinaptico excitatório rápido e apresentam ampla distribuição no
sistema nervoso central (Dingledine et al., 1999a).
Alterações pós-transcricionais decorrentes da atividade de cinases (CAMKII) e
fosfatases (calcineurina) também são capazes de modular a função dos receptores do
tipo cainato. A estimulação de receptores do tipo NMDA em baixas freqüências é capaz
de induzir uma diminuição na atividade dos receptores cainato dependente de
calcineurina. Após o término do estímulo, a função do canal é recuperada em um
processo dependente de CAMKII (Ghetti e Heinemann, 2000). Esses dados
demonstram como em um curto período de tempo a atividade do canal pode ser
modulada em resposta a um estímulo externo.
1.2.2.3 – Receptores do tipo NMDA
Os receptores NMDA são os mais detalhadamente estudados. Estes exibem
propriedades farmacológicas e estruturais, que se acredita, possam desempenhar um
papel em mecanismos fisiológicos como, por exemplo, formação de LTP (Miyamoto,
28
2006). Os receptores NMDA são formados pelas subunidades NR1, NR2A, NR2B,
NR2C, NR2D, NR3A e NR3B, que são distintas das subunidades dos outros receptores
e se reúnem formando estruturas pentaméricas (Dingledine et al., 1999a; Kew e Kemp,
2005). Assim como os outros receptores, diferentes combinações de subunidades
produzem receptores funcionalmente diferentes. Para a formação de receptores
funcionais, é indispensável a presença da subunidade NR1, enquanto que, a inclusão
das subunidades NR2A-D e NR3A-B é capaz de regular a função do canal (Dingledine
et al., 1999a; Köles et al., 2001). A inclusão da subunidade NR3 reduz o tempo de
abertura e a condutância do canal e também diminui a densidade de espinhas em
neurônios corticais (Kew e Kemp, 2005).
Os receptores NMDA podem ser considerados os mais bem regulados de todos
os receptores ionotrópicos glutamatérgicos. Existem nada menos do que seis sítios
para ligantes endógenos que influenciam a probabilidade de abertura do canal. Desses,
os dois mais importantes são os sítios de ligação do agonista glutamato e do co-
agonista glicina. Esses sítios estão presentes respectivamente nas subunidades NR2 e
NR1 (Hirai et al., 1996; Laube et al., 1997). Portanto, o mínimo necessário para a
formação de um receptor NMDA funcional é um tetrâmero de subunidades NR1 e NR2.
A concentração de glicina necessária é baixa em relação à concentração geralmente
presente no cérebro, sugerindo que ela pode atuar como constante fator permissivo
para os efeitos do glutamato mediado pelo receptor de NMDA, mais do que como
mecanismo regulador (Dingledine et al., 1999a). No entanto, estudos mostraram que
um outro ligante pode ocupar o sítio da glicina promovendo a abertura do receptor
NMDA. Este ligante é a D-serina, que se mostrou três vezes mais potente que a glicina
no processo de ativação do canal (Matsui et al., 1995). Há também um sítio regulatório
29
ao qual se ligam poliaminas que também está envolvido na ativação do receptor (Bowie
e Mayer, 1995; Mori e Mishina 1995).
Existem também sítios inibitórios que reconhecem íons Mg
2+
, Zn
2+
e H
+
,
envolvidos no bloqueio do influxo iônico (Köles, 2001). Uma grande variedade de
antagonistas competitivos é capaz de inibir completamente a ativação do canal, ao
passo que antagonistas competitivos no sítio da glicina inibem indiretamente a ação do
glutamato. (Kew e Kemp, 2005).
Um importante mecanismo de inibição de receptores NMDA é mediado pelo Mg
2+
extracelular. Esse cátion encontra-se bloqueando o poro do receptor quando a
membrana apresenta potencial de repouso. Para sua liberação é necessário que haja
uma pré-despolarização que ocorre através do influxo de íons pelos outros tipos de
receptores glutamatérgicos ionotrópicos. Mediante a essa variação de voltagem ocorre
uma pequena mudança conformacional na estrutura do canal e assim o íon Mg
2+
pode
ser liberado (Dingledine et al., 1999a; Köles et al., 2001).
Outro fator de importante inibição alostérica da ativação do receptor de NMDA é
o pH. A freqüência de abertura do canal é reduzida pelo aumento da concentração de
prótons no meio extracelular além de um limiar fisiológico até o limite de pH 6.0. Abaixo
desse pH a ativação de receptores NMDA é suprimida quase completamente. A
ocupação de sítios de ligação de poliaminas atenua o bloqueio causado por prótons,
potencializando a ativação de receptores NMDA em condições de pH ácido. Entretanto,
em grandes concentrações, as poliaminas atuam em um sítio extracelular para produzir
um bloqueio dependente de voltagem do canal iônico, inibindo assim, a ativação do
receptor (Dingledine et al., 1999a).
30
Além desses mecanismos de regulação apresentados acima, os receptores
NMDA também são sensíveis a modulações por cinases e fosfatases. Uma dessas
enzimas moduladoras é CAMKII, capaz de interagir com o domínio C-terminal da
subunidade NR1. Essa interação causa inativação do receptor, levando a uma redução
da freqüência, assim como do tempo de abertura do canal. (Dingledine et al.,1999a;
Köles et al., 2001). A fosforilação do receptor NMDA por PKA e PKC geram dados
controversos que variam de nenhum efeito observado a uma potencialização da
atividade do canal. Entretanto, a maioria dos estudos revela que a atividade dessas
cinases está relacionada com aumento do tempo de abertura do receptor e diminuição
da afinidade do poro do canal pelo Mg
2+
(Dingledine et al.,1999a; Köles et al., 2001).
Além disso, tanto fosfatases serina/treonina (calcineurina) quanto fosfatases de tirosina
são capazes de inativar receptores NMDA (Dingledine et al.,1999a; Köles et al., 2001).
Isso sugere que o balanço entre a atividade de cinases e fosfatases regulam a função
do receptor NMDA.
Por fim, a Figura 4 resume a função e a resposta intracelular gerada mediante a
ativação das 6 diferentes classes de receptores glutamatérgicos. Dentro da classe de
receptores ionotrópicos está representado os receptores do tipo NMDA, permeável a
Na
+
e Ca
2+
e cuja ativação requer a ligação do agonista glutamato e co-agonista glicina
assim como a liberação do íon Mg
2+
que se encontra bloqueando o canal. Já os
receptores não-NMDA englobam os receptores do tipo AMPA e KA permeáveis ao Na
+
e em menor escala ao Ca
2+
. Esses receptores são ativados pelo glutamato e seus
agonistas específicos, não sendo necessária a ligação de um co-agonista. A Figura
mostra, ainda, os receptores metabotrópicos, que, apesar de serem classificados em
três grupos foram representados esquematicamente em apenas dois. O grupo I que se
31
encontra acoplado a proteína G que ativa fosfolipase C e levando ao aumento dos
níveis de IP3 e DAG. E o grupo II, que no esquema esta representando os receptores
dos grupos II e III que se acoplam a proteína G inibitória diminuindo a atividade da
enzima adenilato ciclase. Dessa forma, a ativção dessa classe de receptores leva a
redução dos níveis intracelulares de AMPc.
Figura 4 – Esquema dos quatro tipos de receptores glutamatérgicos, seus principais
antagonistas e reguladores e seus mecanismos de ação. (Dingledine e McBain, 1999b).
32
1.3 – Acetilcolina
O sisitema colinérgico é um dos mais importantes sistemas de
neurotransmissores modulatórios não somente no cérebro mas em todo sistema
nervoso. A acetilcolina (ACh) foi o primeiro neurotransmissor a ser descrito em 1921 por
Loewi (ver Bennett, 2000) e desde então vem sendo atribuída a diversas funções como
sinalização na junção neuro-muscular, mediação das ações do sistema nervoso
autônomo parassimpático (Racké, et al., 2006), além de ser importante no controle do
fluxo sanguíneo cerebral, atividade cortical, ciclo sono-vigília (Schliebs e Arendt, 2006),
memória, aprendizado e diversos processos cognitivos no sistema nervoso central
(Sarter e Bruno, 2000). Na retina está presente em células do tipo amácrinas
controlando respostas seletivas para direção do movimento do sinal luminoso (Spira et
al., 1987).
A síntese de acetilcolina se dá a partir de colina e acetil-coenzima A (Acetil-CoA)
numa reação catalisada pela enzima colina-acetiltransferase (ChAT), segundo o
esquema da Figura 5 (Wu e Hersh, 1994). O acetil CoA utilizado na síntese de
acetilcolina provém do piruvato formado a partir da glicose na reação de glicólise e pelo
menos metade da colina utilizada no processo de síntese provém da reciclagem da ACh
que foi liberada e hidrolisada a colina pela ação de colinesterases. Uma outra fonte de
colina é a quebra da fosfatidilcolina, que pode ser estimulada pela ACh liberada
localmente. A captação dessa colina ocorre rapidamente através de transportadores
(CHT1), presentes na terminal pré-sináptico (Racke et al., 2006). O plasma sanguíneo
também é um importante fornecedor de colina; todos os tecidos são capazes de captá-
33
la a partir do plasma, entretanto, esse processo ocorre com maior afinidade nos
neurônios colinérgicos periféricos. Já os neurônios centrais não são capazes de captar
a colina plasmática, uma vez que esta não atravessa a barreira hematoencefálica
(Taylor e Brown, 2006). Sabe-se, porém, que a capacidade de captação de colina do
meio extracelular é limitante na síntese de acetilcolina (Racke et al., 2006).
Acetil CoA + Colina Acetilcolina + Coenzima A
Figura 5 – Esquema de síntese da acetilcolina (ACh)
catalisada pela enzima Colina Acetiltransferase (ChAT).
ChAT
Uma vez sintetizada, a ACh é armazenada em vesículas sinápticas para, então,
ser liberada por exocitose. Essa internalização ocorre através de transportadores
específicos denominados transportadores vesiculares de acetilcolina (VAChT). O
transporte de ACh para dentro das vesículas é dependente de uma bomba de H
+
-
ATPase. O contra-transporte de próton permite que a vesícula permaneça isosmótica e
eletricamente neutra (Sarter e Parikh, 2005).
A liberação de acetilcolina, assim como de outros neurotransmissores, é
dependente da despolarização do terminal pré-sináptico. O desencadeamento de um
potencial de ação no soma do neurônio e propagação do mesmo pelo axônio, chega ao
terminal pré-sináptico abrindo canais de Ca
2+
dependentes de voltagem. A entrada de
Ca
2+
permite a fusão da vesícula sináptica com a membrana e conseqüente exocitose
da acetilcolina (Sarter e Parikh, 2005). A liberação de ACh é regulada por mediadores,
34
que incluem a própria ACh liberada que atua sobre receptores pré-sinápticos. Uma vez
liberada, a ACh ira agir também sobre receptores colinérgicos presentes no terminal
pós-sináptico. O que limita a ação da acetilcolina na fenda sináptica é ação de enzimas
acetilcolinesterases (AChE), que hidrolisam a acetilcolina a acetato e colina,
disponibilizando assim, substrato para re-síntese do transmissor (Sarter e Parikh, 2005).
1.4 – Receptores Colinérgicos
1.4.1 – Receptores Nicotínicos
Os receptores nicotínicos são canais iônicos ativados por ligantes e sua ativação
causa o influxo de íons positivos, resultando na despolarização da membrana. Eles são
formados por cinco subunidades que se agrupam compondo estruturas homoméricas
ou heteroméricas (Racke et al., 2006). Já foram clonados e identificados 17 membros
das quatro diferentes famílias de subunidades. A família da subunidade α com 10
membros (α
1-10
), da subunidade β com 4 (β
1-4
) e as famílias γ, ε e δ com apenas um
membro cada (Cordero-Euraskin et al., 2000; Sgard et al, 2002). Para a formação de
um receptor funcional é necessário que haja pelo menos duas subunidades α e uma
subunidade β, ou então, cinco subunidades α
7
, caracterizando um receptor homomérico
(Racke et al., 2006). Os diferentes receptores nicotínicos formados a partir de
combinações das diversas subunidades possuem diferentes propriedades
farmacológicas e biofísicas, e podem ser divididos em três classes: muscular,
ganglionar e do sistema nervoso central. Como o próprio nome já diz, os receptores
musculares estão localizados na junção neuromuscular esquelética; os ganglionares
35
nos gânglios autônomos do sistema nervoso parassimpático; e os do SNC em diversas
regiões do cérebro. Todos eles de maneira geral são permeáveis aos íons Na
+
e K
+
,
com exceção da estrutura (α
7
)
5
que permite o influxo de Ca
2+
. Esse receptor é expresso
exclusivamente no sistema nervoso central (Cordero-Euraskin et al., 2000).
1.4.2 – Receptores Muscarínicos
Receptores colinérgicos muscarínicos são receptores que se encontram
acoplados, via proteína G, a enzimas efetoras de uma cascata de sinalização
intracelular. A clonagem gênica revelou a existência de cinco diferentes tipos de
receptores muscarínicos, classificados de M
1
a M
5
(Racke et al., 2006; Caulfield e
Birdsall, 1998). Esses receptores estão distribuídos ao longo do sistema nervoso
central, músculos esqueléticos, lisos e órgãos inervados pelo sistema nervoso
parassimpático. O único que não é expresso no SNC é o receptor do tipo M
3
, este é
exclusivo de glândulas e músculo liso (Rang et al., 2003). Os receptores muscarínicos
de número ímpar estão acopladas a Fosfolipase C (PLC), ou seja, sua ativação
aumenta os níveis de IP3 e DAG no meio intracelular. Já os receptores de número par
estão acoplados via proteína G inibitória a enzima adenilato ciclase, ou seja, sua
ativação diminui os níveis intracelulares de AMP
c
. Além disso, a subunidade βγ da
proteína G pode modular a abertura de canais de K
+
a fim de controlar a excitabilidade
da célula (Racke et al., 2006).
36
1.5 – Glutamato e Excitotoxicidade
O glutamato e outros aminoácidos excitatórios podem agir como excitotoxinas,
especialmente quando o metabolismo energético está comprometido. Esse papel tóxico
dos aminoácidos excitatórios foi primeiramente descrito na década de 1970, quando
esses agentes eram administrados oralmente a animais em desenvolvimento.
Observou-se então, uma aguda neurodegeneração em áreas não protegidas pela
barreira hematoencefálica, principalmente no núcleo arqueado do hipotálamo (Burde et
al., 1971). Os mecanismos que induzem essa neurodegeneração são divergentes, e a
ativação de todas as classes de receptores ionotrópicos glutamatérgicos estão
envolvidos nesse processo (Michaelis, 2008; Halliwell, 2006).
A neurotoxicidade glutamatérgica ou excitotoxicidade, como é conhecida, está
diretamente ligada a hiperativação dos receptores ionotrópicos, e consequente,
aumento do influxo de Ca
2+
. O principal receptor envolvido nesse processo é o NMDA,
embora os receptores não-NMDA e canais de Ca
2+
dependentes de voltagem também
tenham participação na excitotoxicidade (Loureiro-dos-Santos et al., 2001; Camacho e
Massieu, 2006) que está relacionada com diversas condições patológicas. (Halliwell,
2006; Camacho e Massieu, 2006; Malarkey e Parpura, 2007).
Uma das patologias caracterizadas pela excitotoxicidade é a isquemia cerebral.
Para o bom funcionamento do cérebro é necessário o constante suprimento de oxigênio
e de sangue. Quando a demanda energética cerebral não é completamente satisfeita,
devido a uma interrupção total ou parcial do fluxo sanguíneo, ocorre a isquemia
cerebral. Ela é caracterizada por uma lesão focal e por uma perda neuronal ao redor da
área da lesão (Camacho e Massieu, 2006; Malarkey e Parpura, 2007). Diversos
37
modelos animais de isquemia cerebral têm sido utilizados para investigar a causa da
morte neuronal, que ocorre em duas etapas. Primeiro, quando o fluxo sanguíneo é
interrompido, neurônios sem suprimento de oxigênio sofrem necrose. O rompimento
dessas células leva ao extravasamento do conteúdo intracelular que inclui, dentre
outras substâncias, íons K
+
e glutamato (Camacho e Massieu, 2006; Malarkey e
Parpura, 2007). O aumento da concentração extracelular de K
+
faz os transportadores
de aminoácidos excitatórios gliais operarem de forma inversa liberando, assim, ainda
mais glutamato (Malarkey e Parpura, 2007). É consenso na literatura que a
excitotoxicidade glutamatérgica é a principal causa de morte na isquemia e em outras
patologias (Halliwell, 2006; Camacho e Massieu, 2006; Malarkey e Parpura, 2007).
O aumento da concentração do Ca
2+
intracelular leva a um completo desbalanço
da homeostase celular. Ele ativa diversas vias enzimáticas envolvidas na morte celular,
tais como lipases, proteases, fosfatases e nucleases. Diversos mecanismos se somam
a esse processo, incluindo a produção e liberação de espécies reativas de oxigênio (do
inglês Reactive Oxygen Species (ROS)) a partir da mitocôndria (Atlante et al., 2001;
Anatoly et al., 2004; Da-Silva et al., 2004). Paralelamente, a cadeia transportadora de
elétrons é inibida pelo aumento do potencial de membrana mitocondrial e a célula entra
em acidose láctica (Halliwell, 2006; Camacho e Massieu, 2006). O Ca
2+
também ativa a
enzima óxido nítrico sintase, responsável pela síntese de óxido nítrico. Este é um gás
que se difunde facilmente pela membrana e além de ter um papel fisiológico como
neurotransmissor e vasodilatador, é considerado um radical livre. (Dawson et al., 1991;
para revisão Miersch e Mutus, 2005). A reação de ROS, especialmente superóxido,
com óxido nítrico forma peroxinitrito uma outra molécula altamente reativa. Um terceiro
alvo do Ca
2+
é a fosfolipase A
2
. Essa enzima tem como alvo fosfolipídeos de membrana
38
e o produto de sua catálise é o ácido araquidônico capaz de iniciar uma reação em
cadeia de peroxidação lipídica que pode também ser inicializada por outros radicais
livres. Isso resulta em perda da fluidez da membrana e de sua capacidade de impedir a
livre passagem de substâncias hidrofóbicas entre os meios intra e extracelular (Haliwell,
2006). Juntas, todas essas alterações caracterizam um estado de estresse oxidativo
onde há ou uma super produção de radicais livres ou uma depleção dos mecanismos
antioxidantes intrínsecos a célula. O estresse oxidativo induzido por glutamato é
demonstrado na Figura 6.
Figura 6 – Excitoxidade glutamatérgica. Hiperativação de receptores glutamatérgicos
induzindo estresse oxidativo. (Modificado de Dingledine e McBain, 1999b).
39
1.6 – Estresse Oxidativo e Radicais Livres
Um dos processos mais destrutivos do sistema nervoso central é uma
conseqüência direta de um dos aspectos do ambiente onde a maioria das espécies
vive. Este meio cria uma atmosfera constituída de 20% de oxigênio (O
2
), que é
altamente destrutivo devido ao potencial oxidativo dessas moléculas. Como,
obviamente, organismos aeróbicos não podem sobreviver na ausência de O
2
, o seu uso
inevitável muitas vezes leva a uma lenta degeneração celular (Reiter et al, 1995). Essa
necessidade de oxigênio conjugada ao seu poder oxidativo deram origem ao paradoxo
do oxigênio (Halliwell and Gutteridge, 1984), uma vez que as propriedades destrutivas
do O
2
e seus derivados podem ser responsáveis por muitos aspectos no processo do
envelhecimento (Harman, 1980, 1991; Poeggeler et al., 1993; Reiter et al, 1997a),
assim como por uma variedade de aspectos clínicos relatados durante a senescência
(Freeman e Crapo, 1982; Kehrer, 1993; Klaunig et al., 1997), incluindo muitas doenças
do SNC relacionadas à idade (Halliwell, 2006).
Para sobreviver em um ambiente oxidativo, o que ocorre com a maioria das
espécies, elas precisam estar equipadas com ferramentas moleculares necessárias ao
combate de pelo menos alguns dos efeitos destrutivos de um ambiente rico em O
2
.
Felizmente, os organismos possuem e tem a sua disposição moléculas conhecidas
como antioxidantes, que os ajudam a resistir a oxidação (Reiter, 1995; Halliwell, 2006).
Entretanto, com o avançar da idade ou quando os organismos são expostos a toxinas
e/ou agentes geradores de radicais livres, esse complexo sistema de defesa
antioxidante pode não estar apto a cumprir com seu objetivo, gerando assim doenças e
40
sinais do envelhecimento (Abramov et al., 2004a; Canevari et al., 2004b; Halliwell,
2006; Reynolds et al., 2007).
Cerca de 90% do oxigênio que entra nas células humanas é utilizado para
produção de energia pela citocromo oxidase mitocondrial. Durante esse processo, 4
eletrons (e
-
) são adicionados a cada molécula de O
2
resultando na formação de duas
moléculas de água.
O
2
+ 4H
+
+ 4e
-
2H
2
O
O problema é que esses elétrons são adicionados um de cada vez e entre a redução
total do O
2
a H
2
O formam-se espécies intermediárias que são altamente reativas. Essas
são as chamadas espécies reativas de oxigênio (ROS). (Halliwell, 1992; Halliwell,
2006). Uma parte de todo oxigênio internalizado pela célula, forma espécies de O
2
parcialmente reduzidas; isso em condições normais (Reiter, 1995). Algumas dessas
espécies contêm um elétron não pareado sendo conhecidos como radicais livres. A
própria molécula de oxigênio diatômico, O
2
, é caracterizada como um radical livre, uma
vez que ela possui dois elétrons não pareados, cada um localizado em um orbital
diferente, mas ambos possuindo um mesmo número de spin. Devido a esse spin
paralelo dos elétrons não pareados, O
2
por si só possui uma baixa reatividade, em
contraste com outros radicais livres que podem ser altamente reativos. Portanto, a
reação do oxigênio com espécies não radicais é altamente limitada pelo fator de
restrição do spin (Halliwell, 2006).
Dentro de um sistema biológico, a acepção de elétrons um de cada vez pelo O
2
,
resulta nos seguintes intermediários:
41
O
2
+
e-
radical anion superóxido (O
2
-
)
O
2
-
+
e-
peróxido de hidrogênio (H
2
O
2
)
H
2
O
2
+
e-
radical hidroxila (
OH)
OH +
e-
água (H
2
O)
Esses intermediários possuem diferentes graus de reatividade com espécies não
radicais e uma de suas fontes é a cadeia transportadora de elétrons na mitocôndria
além de enzimas como a NDPH oxidase e também o retículo endoplasmático (Nohl e
Hegner, 1978; Sohal, 1997). Alguns dos principais radicais serão descritos a seguir,
entretanto, esses não são os únicos radicais livres produzidos intracelularmente
(Halliwell, 2006).
1.6.1 – Radical Superóxido
A adição de um único elétron ao O
2
gera O
2
-
que possui um único elétron não
pareado. Em ambiente aquoso, O
2
-
não reage facilmente com alvos biológicos; ele é
capaz de inativar poucas enzimas diretamente (Halliwell, 1992). Em solução, O
2
-
geralmente existe em equilíbrio com o radical hidroperoxila (HO
2
-
). Em condições de
acidose tecidual esse equilíbrio tende a ser deslocado favorecendo a formação de HO
2
-
.
Este é muito mais lipossolúvel e é de longe um agente oxidante mais poderoso que o
O
2
-
(Halliwell, 1992).
Uma importante enzima antioxidante presente em tecidos humanos é a
Superóxido Dismutase (SOD). Esta age convertendo O
2
-
à H
2
O
2
. Além dela, outras
enzimas agem gerando H
2
O
2
, incluindo L-aminoácido oxidase, glicolato oxidase e
monoamino oxidase (Halliwell, 1992).
42
1.6.2 – Peróxido de Hidrogênio
Peróxido de hidrogênio (H
2
O
2
), por si só, não é um radical (não possui um elétron
desemparelhado) e por isso não é especialmente tóxico, a menos que se encontre em
altas concentrações dentro da célula. Essa molécula se difunde facilmente pelas
membranas celulares e pode, portanto, se distribuir para sítios distantes de onde foi
gerada (Reiter, 1995). Essas moléculas podem ser removidas das células humanas por
diversos tipos de enzimas: catalases, glutationa-peroxidases, peroxidases, tiorredoxinas
peroxidases e perirredoxinas, sendo que no cérebro a ação da segunda é mais
importante. A catálise da reação de H
2
O
2
com a glutationa reduzida (GSH) gera duas
glutationas ligadas por uma ponte dissulfeto. Essa molécula pode ser reconvertida a
GSH pela ação da enzima glutationa redutase (Halliwell, 2006). Recentemente, uma
outra classe de enzimas, as peroxiredoxinas, foi descrita como importante no processo
de remoção de H
2
O
2
e de peróxidos orgânicos. (Rhee et al., 2005).
1.6.3 – Radical Hidroxila
O peróxido de hidrogênio pode também ser reduzido a radicais hidroxilas (°OH)
quando na presença de metais como o Fe
2+
e Cu
+
, em processo conhecido como
reação de Fenton (Imlay et al., 1988; Halliwell e Gutteridge, 1990; Yamasaki e Piette,
1991).
O radical hidroxila provavelmente não é a única espécie destrutiva formada
durante a reação de Fenton (Bielski, 1991), mas a sua formação é bem documentada
assim como a sua habilidade em oxidar moléculas adjacentes. (Halliwell e Gutteridge,
1989). Uma vez produzido,
OH é capaz de reagir com qualquer molécula localizada
43
poucos ângstroms do lugar onde este é formado.
OH rapidamente danifica DNA
nuclear e mitocondrial, lipídeos de membrana e também carboidratos. Dentre esses
processos oxidativos, a peroxidação de lipídeos, que pode ser iniciada por
OH assim
como por outros radicais (Reiter, 1995). Este processo consiste na oxidação de lipídeos
de membranas com a conseqüente formação de radicais peroxilas. Uma vez inicializado
ele se autopropaga ao longo de cadeias de ácidos graxos. Durante o processo de
decomposição de lipídeos, uma série de produtos tóxicos é gerada. Isso inclui
hidroperóxido de lipídeos e radicais peroxilas (Halliwell, 2006).
1.6.4 – Óxido Nítrico
O óxido nítrico (NO) é uma molécula com papel ambíguo. Em condições
fisiológicas normais ele possui um importante papel como molécula mensageira
neuronal (Dawson et al., 1992). Entretanto, quando sua concentração intracelular
aumenta, atingindo níveis anormais, ele inicia uma cascata tóxica de eventos que levam
a morte neuronal (Richter e Schweizer, 2002; Boje, 2004; Miersch e Mutus, 2005). Seus
papeis fisiológicos podem ser observados nos sistemas: imunológico, renal, endócrino,
respiratório e reprodutor (Boje, 2004). No SNC ele exerce um importante papel como
mensageiro retrógrado durante a formação de LTP (potenciação de longa duração) (Qiu
e Knopfel, 2007). Alguns trabalhos defendem o papel protetor do óxido nítrico durante o
estresse oxidativo, entretanto, a grande maioria dos resultados apontam para essa
molécula como um agente tóxico (Boje, 2004).
O óxido nítrico é sintetizado a partir de L-arginina pela enzima óxido nítrico
sintase (NOS) que apresenta três isoformas diferentes: a endotelial (eNOS) e a
44
neuronal (nNOS), que são as isoformas constitutivas e, também, a isoforma induzível
(iNOS). As isoformas constitutivas possuem atividade dependente de Ca
2+
, logo,
respondem positivamente ao aumento do Ca
2+
intracelular. Já a isoforma induzível
depende de um agente estressor externo como, por exemplo, a inflamação, para ser
expressa (Boje, 2004).
A toxicidade do óxido nítrico durante o estresse oxidativo é devida tanto a sua
capacidade de oxidar resíduos tióis (SH) de proteínas e enzimas quanto à possibilidade
de formar outras espécies reativas, conhecidas como espécies reativas de nitrogênio
(do inglês “Reactive Nitrogen Species” (RNS)). O óxido nítrico reage tanto com o
oxigênio quanto com o radical superóxido no processo de formação das RNS que,
também, oxidam resíduos SH dos aminoácidos que constituem as proteínas (Miersch e
Mutus, 2005).
Um outro alvo do óxido nítrico enquanto molécula reativa é o monofosfato de
guanosina cíclica (GMPc). Essa molécula é nitrada pelo óxido nítrico formando o
composto 8-nitroguanosina 3´,5´-monofosfato cíclico (8-nitro-GMPc) que é capaz de
reagir com grupamentos SH presentes em aminoácidos de proteínas e enzimas numa
reação caracterizada como S-guanilação que foi identificada como uma nova
modificação pós-traducional. Moléculas protéicas e enzimáticas que sofrem essa
reação têm o seu funcionamento fisiológico comprometido (Sawa et al., 2007).
1.6.5 – Peroxinitrito
Uma das RNS mais bem estudadas é o peroxinitrito (ONOO
-
), formado a partir
da reação do óxido nítrico com o radical superóxido. Mesmo sendo uma molécula
45
simples, ONOO
-
é extremamente reativa. Sua toxicidade se deve a sua habilidade em
diretamente nitrar e hidroxilar anéis aromáticos de resíduos de aminoácidos, reagir com
sulfidrilas, com resíduos zinco-tiolatos assim como com lipídeos de membrana,
proteínas e DNA (Radi et al., 1999a e b; Trujilo e Radi, 2002; Radi, et al., 2002; Boje,
2004; Reynolds et al., 2007). Essa atividade ubíqua faz do peroxinitrito uma molécula
que pode ter efeitos devastadores na fisiologia e viabilidade neuronal.
Alguns estudos revelam que o peroxinitrito é uma molécula altamente reativa
capaz de induzir mudanças em proteínas, através da oxidação de resíduos de cisteína,
metionina e triptofano, assim como através da nitração ou nitrosação desses mesmos
resíduos (Pryor e Squadrito, 1995; Radi et al., 2001; Reynolds et al., 2007). Na reação
de nitração um grupamento -NO
2
é transferido para resíduos de aminoácidos
específicos, assim como ocorre na conversão de tirosina em 3-nitrotirosina (Bertelett et
al., 1997). Os radicais peroxinitrito são responsáveis também pela reação de S-
nitrosação, capaz de interconverter resíduos de cisteína em S-nitrosocisteína. A
formação da ligação S-nitrosocisteína é geralmente reversível, enquanto, a ligação 3-
nitrotirosina é bastante estável (Kluge et al., 1997). Não é somente o peroxinitrito que é
capaz de nitrar ou nitrosar moléculas protéicas, acredita-se que o próprio óxido nítrico
seja capaz de reagir com resíduos -SH de aminoácidos específicos. (Miersch e Mutus,
2005).
A interação de radicais peroxinitrito com diversas enzimas é capaz de inativá-las
ou de reduzir a sua atividade enzimática. Essa alteração se deve possivelmente à
formação de resíduos 3-nitrotirosina e S-nitrosocisteína principalmente no sítio catalítico
da enzima ou em algum domínio de regulação alostérica.
46
A inativação da NOS por peroxinitrito pode significar um feedback negativo de
regulação vital (Huhmer et al., 1996; Huhmer et al., 1997). O radical peroxinitrito pode
também inativar uma série de outras enzimas, tais como colina acetiltransferase
(Gaudry-Talarmain et al., 1997) α1-antiproteinase (Whiteman and Halliwell, 1997),
caspase (Smutzer, 2001), succinato desidrogenase (Balabandi et al., 1999), glutamina
sintetase (Berlett et al., 1997), gliceraldeido-3-fosfato desidrogenase (Souza e Radi,
1998), Ca
2+
-ATPase do retículo sarcoplasmático (Viner et al., 1996), creatina cinase
mitocondrial (Stachowiak et al., 1998), tirosina hidroxilase (Ara et al., 1998), Mn
2+
superóxido dismutase (Yamakura et al., 1998), glutationa redutase (Francescutti et al.,
1996), complexo I da respiração mitocondrial (Brown e Borutaite, 2004) e citocromo
oxidase (Heales et al., 1999; Cassina e Radi, 1996). Surpreendentemente, modificações
causadas por peroxinitrito podem levar a ativação de algumas enzimas, tais como
ciclooxigenase (Salvemini, 1997) e poli ADP sintetase (Szabados et al., 1999). Tanto a
ativação quanto a inativação de enzimas se deve provavelmente a formação de 3-
nitrotirosina.
Entretanto, a formação de S-nitrosocisteína, muito menos estável que 3-
nitrocisteína, por S-nitrosação, pode também apresentar um efeito inibitório na atividade
de certas enzimas, incluindo gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (Molina et al., 1993)
e caspase-3 (Haendeler et al., 1997). S-nitrosação pode também afetar proteínas como
albumina, glutationa e hemoglobina (Lander, 1997), mostrando assim a importância
fisiológica desse processo.
47
1.7 – Estresse Oxidativo e Doenças Neurodegenerativas
As várias doenças neurodegenerativas possuem diferentes sintomas e
acometem áreas distintas do cérebro. Tais patologias não serão abordadas com
detalhe, entretanto, será focado o que elas possuem em comum: disfunção
mitocondrial, aumento do dano oxidativo, presença de agregados protéicos e
envolvimento da excitotoxicidade como mediador de morte neuronal (Beal, 1995;
Bartlett e Stadtman; 1997).
O aumento da produção de radicais livres está relacionado com os efeitos
deletérios e sintomatologia de diversas patologias neurodegenerativas: Doença de
Parkinson (PD), Doença de Alzheimer (AD), esclerose lateral amiotrófica (ALS),
demência associada ao HIV (Reynolds et al. 2007), isquemia cerebral (Camacho e
Massieu, 2006; Malarkey e Parpura, 2007), Doença de Huntington (Browne et al.,
1999), ataxia de Freidreich (Trushina e McMurray, 2007) e Doença do Prion
(Unterberger et al., 2005). O mecanismo exato como o estresse oxidativo se inicia em
cada uma dessas patologias ainda é incerto, mas sabe-se que em algumas delas como,
por exemplo, isquemia cerebral e Alzheimer, o mesmo está associado a
excitotoxicidade glutamatérgica (Malarkey e Parpura, 2007; De Felice et al., 2007).
Outra característica em comum entre essas doenças é o aumento da produção de ROS
e NO e também a presença de proteínas oxidadas e nitradas (Halliwell, 2006). Algumas
condições patológicas podem também estar sendo mediadas pela formação de
peroxinitrito. Essa relação foi observada em patologias como Mal de Parkinson, Mal de
Alzheimer, Doença de Huntington, hipertensão, esclerose múltipla e miocardite
48
autoimune (Hensley et al., 1998; Pacher et al., 2007). A patogenicidade dessas doenças
pode, no mínimo, estar parcialmente ligada a formação de 3-nitrotirosina, que tem sido
usada como um marcador do efeito do estresse oxidativo mediado por peroxinitrito
sobre enzimas e proteínas. Algumas das principais características relacionadas ao
estresse oxidativo de algumas patologias estão resumidas na Tabela 1.
49
Doença de Parkinson Doença de Alzheimer ALS
Disfunção Mitocondrial
Inibição do Complexo I
e da αKGDH (α-
cetoglutarato
desidrogenase)
Inibição do Complexo
IV, da αKGDH e da
piruvato
desidrogenase.
Hiperfosforilação da
tau prejudica a
mitocôndria.
Inibição do Complexo I
e do Complrexo IV
Agregação Protéica
Anormal
Corpúsculo de Lewy Placas amilóides,
depósitos de
oligômeros de
amilóides,
emaranhados
neurofibrilares
Agregados contendo
ubiquitina,
neurofilamentos,
dorfina. Agregados de
SOD causados por
mutações nessa
enzima.
Mudanças Metabólicas
Mais ferro na
substância nigra
Acúmulo de ferro nas
placas
Depósito de ferro nos
neurônios em
degeneração
Dano Oxidativo e
Nitrativo
Substância nigra revela
níves reduzidos de
GSH e aumento dos
níveis de peróxido de
lipídeos, dano de
ácidos ribonucléicos,
proteínas carboniladas,
3-nitrotirosina, cisteinil-
DOPA e cisteinil-
dopamina.
Aumento do dano de
ácidos nucléicos e
ribonucléicos, dos
níveis de proteínas
carboniladas, 3-
nitrotirosina. Placas
contem proteínas
glicosiladas, oxidadas
e nitradas.
Aumento do dano em
ácidos ribonucléicos,
presença de proteínas
carboniladas, produtos
de glicoxidação e 3-
nitrotirosina na medula
espinhal.
Ataxia de Freidreich
Doença de
Huntington
Doença do Príon
Disfunção Mitocondrial
Frataxina é uma
proteína Fe-S
mitocondrial. Inibição
do Complexo I, II, III e
aconitase.
Inibição do Complexo II
e III. Huntingtina
mutada pode se ligar a
mitocondria
Inibição mitocondrial
Agregação Protéica
Anormal
Frataxina agrega no
núcleo
Agregados contendo
huntingtina, ubiquitina,
Hsps e subunidadas
proteasomicas.
Agregação anormal de
proteínas príon.
Mudanças Metabólicas
Acredita-se que o ‘Fe
catalítico’ esteja
aumentado.
Depósito de ferro nas
lesões.
Aumento do ferro nas
áreas afetadas.
Dano Oxidativo e
Nitrativo
Dano a ácidos
nucléicos e
ribonucléicos.
Dano a ácidos
ribonucléicos. Aumento
da peroxidação e
formação de
nitrotirosina
Aumento da formação
de nitrotirosina.
Tabela 1 – Algumas doenças neurodegenerativas e suas relações com o estresse oxidativo.
(Adaptado de Halliwell, 2006)
50
1.8 – Enzimas e Moléculas Antioxidantes
A produção de radicais livres é um resultado do metabolismo celular e ocorre
mesmo em células jovens e sadias. Sabe-se que uma fração todo oxigênio que entra na
célula é parcialmente reduzida a ROS durante a fosforilação oxidativa (Reiter, 1995). A
fim de limitar o potencial oxidativo dessas moléculas a célula dispõe de mecanimos
antioxidantes, enzimáticos ou não, intrínsecos a ela. Uma das enzimas envolvidas no
processo de redução de radicais livres é a superóxido dismutase (SOD). Esta age
reduzindo a molécula de superóxido (O
2
-
) a peróxido de hidrogênio (H
2
O
2
). Apesar de
ser menos reativo que o superóxido, o peróxido de hidrogênio também oferece dano
oxidativo a célula uma vez que pode ser espontaneamente convertido a radical hidroxila
(
OH), que é uma molécula altamente reativa. O peróxido de hidrogênio, portanto, pode
ser removido das células através da ação de duas enzimas. A catalase, que promove a
quebra de H
2
O
2
a H
2
O e O
2
e a glutationa-peroxidase, que ao reagir com o H
2
O
2
gera
duas glutationas ligadas por uma ponte dissulfeto que é novamente reduzida pela ação
da glutationa redutase. (Figura 7) (Halliwell, 1992; Halliwell, 2006).
51
Figura 7 – Esquema do mecanismo de ação das principais enzimas antioxidantes celulares
que agem limitando o potencial oxidativo de ROS.
(http://www.sigmaaldrich.com/img/assets/5942/Superoxide-Dismutase.gif)
Além dos mecanismos intrínsecos a célula, o uso de compostos antioxidantes
exógenos tem sido uma excelente ferramenta de combate à produção de radicais livres
e ao estresse oxidativo, sendo utilizados inclusive como suplemento alimentar, embora
a suplementação seja controversa. Duas dessas moléculas são de especial interesse
para esse estudo: vitamina E (tocoferol) e vitamina C (ácido ascórbico). A vitamina E é
uma molécula hidrofóbica e, portanto, atravessa facilmente a membrana das células
assim como a barreia hematoencefálica. Devido a sua natureza lipídica, a ação dessa
molécula é restrita a regiões próximas a membrana plasmática e em domínios
lipoprotéicos. Ela é conhecida por ser um excelente redutor do radical peroxila
bloqueando reações de peroxidação em cadeia. De maneira geral ela aumenta o
52
potencial redutor da célula diminuindo, assim, os danos do estresse oxidativo (Traber e
Atkinson, 2007; Azzi, 2007).
A vitamina C é uma molécula hidrofílica e está presente em grande quantidade
em diversos alimentos, principalmente naqueles de origem vegetal. Sua absorção e
entrada nas células ocorrem através de transportadores específicos em um processo
dependente de energia. Uma vez dentro da célula a vitamina C age como um redutor de
espécies oxidadas diminuindo seu poder de reação. Uma vez oxidada, ela pode ser
novamente reduzida e reciclada a sua conformação inicial através da ação de enzimas
celulares. Portanto, a vitamina C tem sido largamente utilizada em estudos na tentativa
de reduzir os efeitos deletérios do estresse oxidativo (Linster et al., 2007).
Além da vitamina C e da vitamina E outras moléculas com ação antioxidante tem
sido utilizadas até mesmo como suplemento alimentar na tentativa de melhorar e até
mesmo prevenir quadros patológicos. Estudos recentes mostraram um papel
neuroprotetor e antioxidativo para ácidos graxos essenciais (EFAs) (Lauritzen et al.,
2000; Kawasaki et al, 2002, Wang et al, 2006, Ahmad et al, 2006). Essas moléculas não
são sintetizadas no organismo e, portanto precisam ser ingeridas na alimentação.
Essas podem ser classificadas de acordo com o nível de insaturação em sua estrutura:
1. poliinsaturadas, mais de uma dupla ligação. 2. monoinsaturada, uma única dupla
ligação. 3. saturada, ausência de dupla ligação. A maior parte dos estudos da literatura
relata que os ácidos graxos capazes de conferir neuroproteção são os poliinsaturados.
Ainda não se sabe exatamente qual o mecanismo responsável por essa neuroproteção,
mas acredita-se que as duplas ligações presentes na estrutura desses ácidos graxos
atuem como alvo para os radicais livres, protegendo assim as moléculas de enzimas e
proteínas do ataque desses radicais (Chen e Bazan, 2005; King et al., 2006; Bazan,
53
2007). Outros dados revelam que um dos ácidos graxos poliinsaturados, o ácido
araquidônico, é capaz de impedir a elevação do Ca
2+
intracelular (Sergeeva et al., 2005)
e ativar canais de K
+
(Lauritizen et al., 2000). Entretanto, a despeito do mecanismo de
ação dessas moléculas, cada vez mais o número de insaturações em sua estrutura vem
sendo correlacionado com sua capacidade de conferir neuroproteção.
A seguir, na Figura 8 alguns dos principais ácidos graxos utilizados neste estudo.
Oleic
Oleico
Linoléico
α
-Linolênico
A
raquidônico
Esteárico
Figura 8 – Alguns dos principais ácidos graxos utilizados neste estudo.
54
1.9 – Doença de Alzheimer e Disfunção Colinérgica
A patologia de Alzheimer é uma doença que se caracteriza histopatologicamente
pelo acúmulo de placas senis no meio extracelular e pela formação de emaranhados
neurofibrilares no meio intracelular. A formação das placas senis é o resultado da
agregação de peptídeos beta-amilóides (Aβ
1-40
e Aβ
1-42
). Esses peptídeos são formados
a partir do processamento incorreto da proteína precursora do amilóide (APP), que se
encontra inserida na membrana de várias células do organismo, e quando processada
corretamente forma peptídeos solúveis (APP
s
) que não oferecem risco à saúde. Em
contraste, os peptídeos Aβ se agregam formando fibrilas e se depositando nos
neurônios (Pearce, 2000). Ainda não se sabe ao certo o que leva ao aumento do
processamento incorreto da APP, entretanto, acredita-se que existam duas
possibilidades para explicação desse fato. Uma seria a de que as enzimas envolvidas
no processamento do APP (secretases) passariam a gerar, de forma anômala, maior
teor de Aβ
1-42.
A outra seria que, devido a um aumento da expressão de APP em
células cerebrais, o próprio processamento natural de APP geraria teores aumentados
de Aβ que se depositariam no tecido (Selkoe, 1999, Harper e Landsbury,1997). Durante
muito tempo acreditou-se que a forma fibrilar dos peptídeos Aβ era a responsável pela
toxicidade e morte neuronal. Entretanto, estudos recentes demonstram que a forma
oligomérica desses peptídeos é a real causa da morte celular (De Felice et al., 2007;
Ferreira et al., 2007; Walsh e Selkoe, 2007).
Uma outra característica da doença de Alzheimer é a formação de emaranhados
neurofibrilares devido a uma hiperfosforilação da proteína tau. Tau é uma proteína
associada a microtúbulos e sua fosforilação leva a desestabilização da rede de
55
filamentos protéicos que compõem o citoesqueleto. Como conseqüência, essas
proteínas se agregam caracterizando assim os emaranhados intracelulares (Pearce,
2000). Essas duas características histopatológicas da Doença de Alzheimer foram
observadas nos estudos pioneiros de Alois Alzheimer de 1907 (ver Pearce, 2000).
Funcionalmente, a patologia de Alzheimer é caracterizada, inicialmente, por uma
degeneração de neurônios colinérgicos, principalmente daqueles localizados no núcleo
basal de Meynert. Associada a essa neurodegeneração observa-se também uma perda
de atividade da enzima colina acetiltransferase (ChAT) e redução dos ensaios de
ligação a receptores nicotínicos e muscarínicos. Esses dados sugerem uma associação
entre hipofunção colinérgica e o déficit cognitivo e alterações de memória observadas
em pacientes acometidos por essa doença (Cummings e Back, 1998; Schliebs e Arendt,
2006). Em conjunto, essas observações deram origem a hipótese colinérgica da
disfunção de memória na senescência e na doença de Alzheimer (ver Bartus, 2000).
A degeneração principalmente de neurônios colinérgicos na doença de
Alzheimer é um fato. Mas o que estaria causando essa neurodegeneração? Décadas
de pesquisas se dedicaram a responder essa questão que ainda não foi totalmente
elucidada. Dados recentes revelam que oligômeros do peptídeo Aβ são capazes de
interagir com receptores do tipo NMDA induzindo a produção de radicais livres e
conseqüente morte de neurônios corticais em cultura (De Felice et al, 2007). Como já
foi descrito anteriormente a hiperativação de receptores NMDA levam ao grande influxo
de Ca
2+
e conseqüente produção de ROS e RNS que causam grandes danos à célula.
Um outro trabalho mostra esse mesmo tipo de receptor mediando o efeito de Aβ sobre
a perda de sinapses (Shankar et al, 2007). Esses dados apontam para a ativação de
56
receptores do tipo NMDA por Aβ como a causa dos efeitos deletérios da doença de
Alzheimer. Além disso, os peptídeos Aβ são capazes de induzir a liberação excessiva
de glutamato (Noda et al., 1999).
1.10 – A Retina como modelo de estudo
A retina é uma das partes do sistema nervoso central responsável pela
informação visual. É um tecido de pouca espessura que forma a camada mais interna
de olho (Figura 9). Esta estrutura possui a mesma origem embrionária que o cérebro,
sendo, portanto, parte integrante do Sistema Nervoso Central (SNC), possuindo,
inclusive, barreira hematoencefálica. (Kolb, 2003).
57
Figura 9 - Diagrama do olho humano mostrando suas diferentes estruturas. Sua camada mais
importante, a retina, está esquematizada mostrando suas diferentes camadas e tipos celulares.
(Modificado de Kolb, 2003)
O tecido retiniano se apresenta estratificado em diferentes camadas, sendo três
de corpos celulares intercaladas por duas de contatos sinápticos ou plexos. A camada
mais externa é a camada de fotorreceptores ou camada nuclear externa (CNE), que
como o próprio nome já diz, abriga o segmento externo dos fotorreceptores e seus
corpos celulares. Abaixo da camada nuclear externa se encontra a camada plexiforme
externa (CPE), formada pelos contatos sinápticos entre fotorreceptores e as células que
formam a camada nuclear interna (CNI). A terceira e última camada de corpos celulares
é formada pelas células ganglionares (camada de células ganglionares – CCG), cujos
contatos sinápticos com axônios provenientes da CNI compreendem a camada
plexiforme externa (Kolb, 1994). Nessa camada há também a presença de células
amácrinas deslocadas. Diferentes tipos de células estão inseridos nos diversos estratos
da retina: foterreceptores na CNE, bipolares, interplexiformes, horizontais e amácrinas
na CNI e na CCG, células ganglionares na CCG e células de Müller (gliais) ao longo
das diferentes camadas. Estas foram descritas no trabalho pioneiro de Ramón y Cajal
em 1893.
As células amácrinas são os neurônios retinianos que apresentam a maior
diversidade morfológica e de neurotransmissores expressos, sendo por essa razão as
células mais estudadas da retina (Morgan, 1991; McNeil e Masland, 1998). Recebem
aferências de células bipolares e de outras células amácrinas e passam esta
informação para outras células amácrinas, bipolares e para células ganglionares.
Apesar de simples, se comparado às demais estruturas do SNC, a retina
expressa a maquinaria de síntese, armazenamento e liberação dos mais diversos
neurotransmissores, assim como os receptores aos quais estes se ligam. (Morgan,
1991; McNeil, e Massland, 1998; Yang, 2004; Shen, 2006). Essa riqueza de sistemas
58
de neurotransmissores faz da retina um tecido interessante para estudo das interações
sinápticas (Figura 10). Além disso, é um tecido de localização anatômica favorável. Na
galinha, em particular, possui fácil acesso durante todos os estágios de
desenvolvimento, garantindo uma preparação rápida e livre de contaminação por outras
estruturas.
CCG
CNE
CPI
CPE
EP
Glutamato As
p
artato
Taurina
Melatonina
GABA Dopamina
Glutamato
CNI
Nos últimos anos o nosso grupo tem utilizado neurônios colinérgicos
provenientes de retina de ave em cultura como instrumento de estudo da diferenciação
desse fenótipo neuronal (De Mello et al., 1990). A retina possui entre as células
amácrinas uma subpopulação de células colinérgicas (Loureiro-dos-Santos, 2002) que
A
A
c
c
e
e
t
t
i
i
l
l
c
c
o
o
l
l
i
i
n
n
a
a
Glicina
Dopamina
Serotonina
Adrenalina
NPY
Encefalina
VIP
LHRH
Glucagon
CCK
Taurina
Substância P
Óxido Nítrico
Aspartato
Neurotensina
GABA
Somatostatina
Figura 10 - Esquema de neurotransmissores nas diferentes camadas da retina de aves.
Destaque para as células glutamatérgicas e colinérgicas de especial interesse para nosso estudo.
EP: epitélio pigmentado; CNE: camada muclear externa; CPE: camada plexiforme externa; CNI:
camada nuclear interna; CPI: camada plexiforme interna; CCG: camada de células ganglionares.
Desenhado por Guimarães, M.Z.P.
59
representam cerca de 5% da população total dos neurônios retinianos (Puro et al.,
1977). Em trabalhos anteriores esse mesmo modelo foi utilizado para estudos
envolvendo a dinâmica de formação de sinapses colinérgicas neuro-muscular (Puro et
al., 1977).
1.10.1 – A Problemática
Vários modelos experimentais têm sido procurados para auxiliar no entendimento
da biologia celular de disfunções envolvendo neurônios colinérgicos semelhantes às
observadas em pacientes com doença de Alzheimer. Estudos prévios revelaram que os
neurônios colinérgicos retinianos são sensíveis à ação excitotóxica do glutamato.
Avaliar o efeito do glutamato no sistema colinérgico se torna interessante, uma vez que
Aβ é capaz de induzir a liberação desse neurotransmissor tanto por células neuronais
quanto por células glias interferindo com a sua homeostase no meio extracelular
(Arrieta e Tapia, 1995; Reiter et al., 1995; Louzada et. al. 2001; Bobich et al., 2004;
Vesce et al., 2007). Em 2001, Loureiro-dos-Santos mostrou que o tratamento de
neurônios em cultura com aminoácidos excitatórios era capaz de inibir a atividade
ChAT, e que, quanto maior o tempo de incubação, maior é a inibição enzimática. Essa
perda de atividade não era devida a uma degradação da molécula da enzima, uma vez
que dados de western blot não revelaram alterações nos níveis da molécula da enzima,
nem a morte de neurônios colinérgicos em cultura, já que a captação de colina in vitro
pelas células tratadas com glutamato permanecia inalterada. Portanto, o tratamento
crônico com glutamato era capaz de inibir a atividade da ChAT sem promover a morte
dos neurônios em cultura. Uma vez inibida a atividade catalítica dessa enzima não era
60
possível reverter esse efeito com a adição de nenhum tipo de molécula antioxidante.
Somente após nove dias após a retirada do agente excitotóxico a ChAT desses
neurônios colinérgicos voltavam a apresentar atividade catalítica em níveis semelhantes
ao controle, sugerindo que seria necessário a síntese de novo da molécula da enzima.
Esses dados indicam que alterações pós-traducionais irreversíveis estejam ocorrendo
na molécula da enzima causando sua inativação. (Loureiro-dos-Santos et al., 2001).
Os estudos realizados por Loureiro-dos-Santos (2001) revelaram que todas as
classes de receptores glutamatérgicos capazes de comprometer a homeostase do Ca
2+
estão envolvidos com o processo de inibição da ChAT, inclusive receptores
metabotrópicos do grupo I. O efeito de inibição só era completamente bloqueado
quando o experimento era realizado na presença de antagonistas específicos para
receptores do tipo NMDA, não-NMDA e metabotrópicos do grupo I. Embora o efeito de
inibição fosse mediado majoritariamente pelos receptores ionotrópicos, a participação
do receptor metabotrópico não pode ser excluída. Outro dado interessante revela que
quando o tratamento era feito na ausência de Ca
2+
ou na presença de um quelante
desse íon a inibição da ChAT era completamente prevenida. Portanto, esses dados
sugerem que independente do tipo de receptor glutamatérgico ativado, para que ocorra
inibição da ChAT é necessário que haja aumento da concentração intracelular de Ca
2+
.
Uma vez que foi demonstrado que o tratamento crônico com glutamato é capaz
de inibir irreversivelmente a ChAT tornou-se interessante verificar se peptídoes
análogos ao Aβ, produzido na doença de Alzheimer, eram capazes de promover uma
disfunção colinérgica nesses neurônios retinianos em cultura. Observou-se, então, que
a incubação com o peptídeo Aβ
25-35
(análogo sintético ao produzido na patologia de
61
Alzheimer) também era capaz de promover a inibição da ChAT e que esse efeito é
dependente da ativação de todas as classes de receptores glutamatérgicos. Esses
resultados corroboram com dados da literatura que, conforme já foi descrito, relatam
não somente o aumento induzido por Aβ da liberação de glutamato pelo terminal pré-
sináptico como também a ativação de receptores do tipo NMDA diretamente por esses
peptídeos amiloidogênicos (Ferreira et al.,2007), fortalecendo ainda mais a correlação
entre ativação de receptores NMDA e os efeitos deletérios da doença de Alzheimer.
Nas condições de cultivo utilizadas nesses experimentos, os neurônios
retinianos, por razões ainda desconhecidas, são refratários aos efeitos tóxicos de
glutamato e seus agonistas, no que diz respeito à morte celular (Loureiro dos Santos
2000). Portanto, estamos utilizando essa propriedade de resistência neuronal ao
glutamato e seus agonistas para tentar identificar quais os mecanismos que levam à
diminuição da atividade da ChAT por aminoácidos excitatórios (AAEs), uma vez que
este efeito não é devido a uma destruição de neurônios colinérgicos.
Acredita-se que a ativação crônica de receptores glutamatérgicos, aumento do
Ca
2+
intracelular e conseqüente geração de radicais livres sejam os principais
responsáveis pela inativação da ChAT. É provável que esses radicais livres estejam
oxidando resíduos de aminoácidos importantes para a atividade catalítica da enzima.
Alguns trabalhos na literatura descrevem claramente o efeito do radical peroxinitrito e
conseqüente formação de 3-nitrotirosina na modulação da atividade da ChAT (Morot et
al., 1997 e Guermonprez et al., 2001). Como a ativação crônica de receptores
glutamatérgicos leva a produção de radicais livres diversos, incluindo peroxinitrito,
62
torna-se interessante investigar se essas espécies reativas são responsáveis pela
inativação da ChAT em neurônios colinérgicos retinianos induzida por glutamato.
63
2.0 – OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo verificar se o tratamento crônico de
neurônios retinianos com o neurotransmissor glutamato é capaz de induzir um estado
de estresse oxidativo nessas células, e se a conseqüente produção de radicais livres é
a responsável pela perda de atividade enzimática da colina acetiltransferase. Para isso,
propomos os seguintes objetivos específicos:
Aferir a produção de radicais livres durante o tratamento com glutamato,
utilizando-se de sondas fluorescentes.
Verificar se o tratamento com compostos antioxidantes tais como, (vitamina E e
vitamina C) é capaz de proteger a molécula da ChAT da inibição induzida pelo
glutamato e outros aminoácidos excitatórios.
Observar se uso de desacopladores mitocondriais e inibidores da enzima óxido
nítrico sintase são capazes de prevenir o efeito inibitório do glutamato sobre a
atividade da ChAT.
Verificar se tiorredutores são capazes de exercer um efeito protetor sobre a
excitotoxicidade glutamatérgica.
Testar se ácidos graxos poliinsaturados possuem um efeito neuroprotetor.
64
3.0 – MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 – Cultura de Neurônios Retinianos
3.1.1 – Animais utilizados
Foram utilizados ovos de galinha da raça White Leghorn obtidos de uma granja
local (Rio de Janeiro) em diferentes idades, os embriões foram estagiados de acordo
com Hambúrguer e Hamilton (1951). Os protocolos experimentais de obtenção de
retinas foram aprovados pela Comissão de Avaliação do Uso de Animais em Pesquisa
(CAUAP) do IBCCFº.
3.1.2 – Preparo de culturas em monocamada
Os embriões de galinha de nove dias (E9) eram sacrificados por decapitação,
seus olhos eram retirados e suas retinas dissecadas, na presença de meio livre de
cálcio e magnésio (CMF), em ambiente estéril. O tecido era então incubado a 37°C na
presença de tripsina 0,05% por dez minutos. Após este período, realizava-se uma
rápida centrifugação (500 g. 1 min.) para a retirada do excesso de tripsina. O
sobrenadante era descartado e procedia-se à dissociação mecânica das células em 5
mL de meio de cultura MEM comercial da GIBCO acrescido de soro fetal bovino 5% e
bicarbonato de sódio 20 mM. Acrescentava-se MEM para um volume final de maneira
que a suspensão de células apresentasse a diluição de aproximadamente 10 x 10
6
células/mL.
65
3.1.3 - Manutenção das culturas em monocamadas
As placas eram incubadas a 37°C em atmosfera umidificada contendo 95% de ar
e 5% de CO
2
.
3.1.4 – Troca de Meio
O meio da cultura era totalmente trocado no dia seguinte e novamente trocado
após dois dias. A cada troca utilizava-se o mesmo meio e a mesma concentração de
soro (MEM + 5% soro fetal bovino).
3.1.5 – Incubação das culturas em monocamada com fármacos
Todos os agentes utilizados eram adicionados após a manutenção das células
três dias em cultura, em concentrações finais de acordo com o quadro que se segue. A
incubação com os fármacos era feita em meio MEM acrescidos de bicarbonato de sódio
a 20 mM, HEPES a 30 mM e sem a adição de soro. Durante a incubação as células
eram mantidas em estufa umidificada a 37ºC contendo 95% de ar e 5% de CO
2
durante
17 horas. As soluções de vitamina C e vitamina E eram preparadas no dia, sendo que o
primeiro em água e o segundo em DMSO.
Fármaco Função Concentração Final
Glutamato Aminoácido Excitatório
1 mM / 2 mM
L-Aspartato Aminoácido Excitatório
200 – 250
μ
M
L-nitro-arginina-metil-ester
(L-NAME)
Inibidor do Oxido Nítrico
Sintase
3 mM / 5 mM
L-nitro-arginina (L-NA)
Inibidor do Oxido Nítrico
Sintase
10 mM
66
Vitamina C Agente Redutor
1 – 3 mM
Vitamina E Agente Redutor
100 – 500
μ
M
Carbonil cianida ρ-
trifluorometoxifenilhidrazone
(FCCP)
Desacoplador
Mitocondrial
1
μ
M
Glutationa Reduzida (GSH) Agente Tioredutor
10 mM
Ácido Linoléico
Ácido Graxo
Polinsaturado
20
μ
M
Ácido α-Linolênico
Ácido Graxo
Polinsaturado
20
μ
M
Ácido Aracdônico
Ácido Graxo
Polinsaturado
20
μ
M
Ácido Oléico
Ácido Graxo
Monoinsaturado
20 e 50
μ
M
Ácido Esteárico Ácido Graxo Saturado
20
μ
M
Ácido Laurico Ácido Graxo Saturado
20
μ
M
3.2 – Dosagem da atividade enzimática da Colina
Acetiltransferase (ChAT)
3.2.1 – Obtenção da enzima ChAT
Ao término da incubação as células da cultura em monocamada eram lavadas
três vezes com CMF a 37ºC e, logo após, a cada poço era adicionado 100 μL da
solução de extração. As placas de cultura eram mantidas sob agitação durante 30
minutos. Após esse período, cada poço era raspado com o auxílio de uma ponteira e o
homogenato das células era transferido para tubos de ensaio previamente siliconizados
67
e mantido em gelo. Em seguida o conteúdo desse tubo era usado para determinação da
atividade enzimática da ChAT.
3.2.2 – Ensaio enzimático
Soluções Utilizadas:
Solução de Extração
Soluto Concentração
EDTA 10 mM
Eserina
200 μM
Triton X-100 0,5%
Cloreto de Sódio (NaCl) 7 mM
Fosfato de Sódio (NaPO
4
) 1 mM
Solução Substrato
Soluto Concentração
EDTA 40 mM
Eserina
200 μM
Acetil CoA 2 mM
Colina 40mM
NaCl 1 M
NaPO
4
160 mM
68
Solução Branco
Soluto Concentração
EDTA 10 mM
Eserina
200 μM
Triton X-100 0,5%
Solução Kalignost
Reagente Concentração
Tetrafenilborato de Sódio 5 mg/mL
Acetonitrila 1 L
Solução Cintiladora
Reagente Quantidade
PPO 4,0 g
POPOP 0,1 g
Tolueno 1 L
A dosagem da atividade ChAT era realizada segundo o método de Fonnun
(1975), utilizando [
3
H]-Acetil CoA comercial da Amersham (0,1 μCi/tubo) como
substrato. A atividade enzimática era medida em pH 7,4 a 37ºC. Em cada tubo de
dosagem era adicionado 10 μL de solução substratro, 0,1 μCi de [
3
H]-Acetil CoA e 20
69
μL da amostra homogeneizada em solução de extração, contendo aproximadamente 30
μg de proteína. Procurava-se manter o intervalo de 15 segundos entre um tubo e outro
durante a adição de cada amostra. Ao final da adição de todas as soluções cada tubo
continha os seguintes reagentes, nas concentrações finais: Cloreto de Sódio (NaCl),
250 mM; Tampão Fosfato de Sódio (NaPO
4
), 40 mM; Cloreto de Colina, 10 mM; EDTA,
10 mM, Sulfato de Eserina 50 μM, Triton X-100, 0,125% e 0,1 μCi de [
3
H]-Acetil CoA.
Como controle da reação (solução-branco), utlizava-se somente EDTA 10 mM com
Triton X-100 0,125% e eserina 50 μM.
O ensaio enzimático era realizado em banho-maria a 37ºC durante 15 minutos.
Após esse período, a reação era com 5 mL de EDTA a 10 mM respeitando-se os
intervalos de 30 seg. O conteúdo era, então, transferido para outro tudo previamente
siliconizado. Em seguida, colocava-se 2 mL de solução Kalignost, agitando-se
levemente por 20 segundos. A seguir, o conteúdo do tubo era vertido para um “vial”
contendo 10 ml de solução cintiladora. Agitava-se novamente e esperava-se até que se
formassem duas fases. A solução Kalignost separava o [
3
H]-AcCoA da [
3
H]-ACh
formada permitindo que somente esta última fosse contada na leitura de radioatividade.
Dessa forma, somente a radioatividade da [
3
H] ACh formada seria contada. Os “vials”
eram, então, levados ao aparelho de cintilação líquida Packard (Modelo 1600 TR) para
contagem da [
3
H] ACh.
3.2.3 – Determinação da Atividade Específica da Enzima
As contagens do branco eram descontadas das contagens das amostras. Em
seguida, esse valor era dividido pela atividade específica do substrato radioativo usado,
70
pela quantidade de minutos que durou a reação (15) e pela quantidade de proteína
contida em cada tubo (pelo método descrito a seguir). Dessa maneira se obtinha a
atividade específica da enzima em pmoles por minuto por miligrama de proteína que
variava entre 1.500 e 2.000 pmoles de ACh/min/mg de proteína.
3.3 – Dosagem de Proteína
A dosagem de proteína foi realizada segundo método de Lowry e colaboradores
(1951) utilizando albumina bovina 0,1% como padrão.
3.4 - Estatística
Todos os experimentos eram realizados utilizando de 4 – 6 culturas (n)
independentes e o ensaio em cada experimento era realizado em duplicata. As análises
estatísticas dos gráficos eram realizadas utilizando o “software” GraphPad Prism 4.0.
Os testes One-way ANOVA e Bonferroni eram utilizados para comparar a média dos
resultados obtidos em cada tratamento. Os dados são apresentados como porcentagem
da média de (n) experimentos mais ou menos erro padrão (SEM). As diferenças
encontradas eram consideradas negativas quando p>0,05.
3.5 – Detecção da Produção de Espécies Reativas
A produção de espécies reativas era detectada utilizando-se a sonda
fluorescente Dihidroetidina (DHE). Ao fim do período de 17 horas de incubação o meio
71
das culturas era aspirado e um novo meio (MEM, Na
2
HCO
3
20 mM, HEPES 30 mM)
acrescido de DHE 10 μM era adicionado. As células eram novamente incubadas em
estufa umidificada a 37ºC, 95% de ar e 5% de CO
2
por 30 minutos. Após esse período,
o meio contende DHE era aspirado e adicionava-se meio novo as células (MEM,
Na
2
HCO
3
20 mM, HEPES 30 mM). As células eram, então, observadas em um
microscópio de fluorescência; excitação 535 nm e emissão 610 nm. As imagens eram
adquiridas utilizando-se o “software” FluoView.
72
4.0 – RESULTADOS
4.1 – Tratamento crônico com glutamato induz a produção de
espécies reativas
O aumento da produção de radicais livres como resultado da ativação de
receptores glutamatérgicos com conseqüente aumento do Ca
2+
intracelular, desbalanço
da homeostase mitocondrial e ativação de enzimas pró-oxidativas é algo muito bem
caracterizado na literatura (Kahlert et al, 2005; Halliwell, 2006 Malarkey e Parpura,
2007; Platt, 2007). Nosso primeiro objetivo foi, portanto, caracterizar se o tratamento
crônico com glutamato é capaz de induzir a produção de radicais livres em culturas
primárias de retina de galinha em monocamada. Para isso, usamos dihidroetidina
(DHE), uma sonda fluorescente que permeia facilmente células vivas. Essa sonda é
reduzida principalmente pelas espécies reativas de oxigênio (ROS) transformando-se
em etidina que se intercala no DNA e fluoresce quando excitada pelo comprimento de
535 nm. Após 17 horas na presença de glutamato 2 mM as células foram incubadas por
30 minutos com DHE 10 μM. Em seguida o meio contendo DHE foi trocado e as células
foram analisadas em microscópio de fluorescência. Primeiramente analisamos a
produção de radicais livres induzida pelo glutamato 2 mM e a capacidade de um agente
redutor, vitamina E 500 μM, em prevenir esse efeito. O efeito antioxidante da vitamina
E tem sido amplamente divulgado na literatura e por isso o testamos em nosso sistema
(Traber e Atkinson, 2007). As fotos foram obtidas de campos aleatórios em cada
condição experimental (Figura 11).
73
A
B
C
D
Figura 11 – Produção de ROS induzida por Glu 2 mM. A. Controle; B. Células tratadas com
Glu por 16 horas; C. Efeito do vitamina E 500 μM na produção de ROS; D. Efeito protetor
do vitamina E 500μM sobre a produção de ROS induzida por Glu 2 mM. A’, B’, C’ e D’ –
imagens em campo claro dos campos correspondentes.
74
O tratamento crônico com glutamato 2 mM por 17 horas induziu um aumento na
produção de ROS (Figura 11 B) quando comparado com o controle (Figura 11 A).
Apesar da sonda DHE ser sensível principalmente à ação de ROS, não podemos
excluir a possibilidade de outros tipos de radicais livres estarem sendo produzidos a
partir da superativação de receptores glutamatérgicos. A exposição das culturas a
vitamina E na concentração de 500 μM reduziu, quase que completamente, a produção
de ROS (Figura 11 D). Os dados sugerem que esse agente antioxidante está sendo
oxidado no lugar da DHE, impedindo sua incorporação ao DNA da célula. É possível
que, assim como a vitamina E protegeu a molécula de DHE, ela aja também protegendo
biomoléculas do dano oxidativo provocado pelos radicais livres.
4.2 – Agentes redutores são capazes de prevenir a inibição da
ChAT induzida por glutamato
Estudar o efeito tóxico do glutamato sobre o sistema colinérgico se torna muito
interessante uma vez que a excitotoxicidade tem sido revelada como a principal causa
da morte de neurônios colinérgicos na doença de Alzheimer (Schliebs e Arendt, 2006).
Entretanto, no cérebro, os neurônios colinérgicos se resumem a interneurônios e
neurônios de projeção, o que dificulta muito o seu estudo. Diante disso, o uso da retina
como modelo não somente do sistema colinérgico, mas também dos demais sistemas
de neurotransmissores, se torna interessante. Na retina, os únicos neurônios de
projeção são as células ganglionares, cujos axônios formam o nervo óptico (Kolb,
2003). Os neurônios colinérgicos são uma subpopulação de células amácrinas e seus
contatos sinápticos estão restritos a outros neurônios retinianos (Spira et al., 1987).
75
Além disso, culturas primárias de neurônios retinianos desenvolvem muitas
propriedades do tecido intacto, incluindo o fenótipo colinérgico (De Mello et al., 1990).
Estudos preliminares do nosso laboratório (Loureiro-dos-Santos, dados não publicados)
mostraram que a atividade da ChAT de neurônios em cultura apresentam um pico por
volta do 13º dia embrionário (E13) e que após esse período ela decai atingindo valores
muito baixos. Por essa razão, para os experimentos com ChAT, as culturas foram
preparadas com embriões de 9 dias (E9) e mantidas 4 dias em cultura. Dessa forma, no
dia da experiência elas tinham a idade correspondente a 13 dias.
Primeiramente fomos verificar se substâncias antioxidantes eram capazes de
prevenir a inibição da ChAT induzida pelo glutamato e outros agonistas glutamatérgicos
(Loureiro-dos-Santos, 2001). O primeiro agente redutor a ser testado foi a Vitamina E
que já havia sido demonstrado ser um bom antioxidante nos experimentos anteriores
(vide Fig. 11). A vitamina E, 500 μM, foi adicionada 30 minutos antes da adição do
glutamato 2 mM e, então, as células permaneceram 17 horas na presença de ambos os
reagentes. Após esse período elas foram submetidas ao protocolo de dosagem da
atividade da ChAT. Conforme observamos na Figura 12, assim como preveniu a
formação de ROS, a vitamina E foi capaz de proteger a atividade da ChAT da inibição
induzida pelo glutamato.
76
C
o
n
t
ro
l
e
Gl
u
2
mM
M
μ
Vit E
5
00
V
it
E
+
Gl
u
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figura 12 - Efeito da Vitamina E 500
μ
M sobre a ação do Glutamato 2 mM. A vitamina E foi
adicionado à cultura 30 min antes do início do tratamento com o glutamato e se mostrou
eficiente em prevenir o efeito de inibição da ChAT induzida por glutamato. (n = 4).*p < 0,001
entre Glu 2 mM e as outras condi
ç
ões.
Em seguida testamos um segundo agente antioxidante, o vitamina C, cujo efeito
redutor é amplamente estudado e utilizado em biossistemas (Tariq, 2007). Embora
tenha apresentado um efeito menor do que o da vitamina E, o vitamina C 3mM
promoveu proteção significativa da inibição da enzima provocada pelo tratamento
crônico com glutamato. (Figura 13)
77
Con
t
r
o
le
Glu
2
m
M
Ac
.
Asc
3 mM
G
l
u
+ Ac
.
Asc
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figura 13 - Efeito da vitamina C 3 mM sobre a ação do Glutamato 2 mM. Vitamina C
adicionado à cultura 30 min antes do início do tratamento com o glutamato. (n = 4). *p <
0,001 entre Glu 2 mM e as demais condições.
Em 1998, Kubrusly et al. demonstraram que tanto L quanto D-aspartato eram
igualmente capazes de ativar receptores do tipo NMDA, mas não outros tipos de
receptores ionotrópicos de glutamato, em culturas de retina de galinha. Assim,
decidimos verificar se o tratamento crônico com esse aminoácido excitatório (L-
aspartato somente) mimetizaria o efeito inibitório do glutamato na atividade da ChAT.
Fizemos, então, uma curva dose resposta mostrando a ação do L-aspartato na
atividade catalítica dessa enzima (Figura 14). Em concentrações micromolares (a partir
de 100 μM), o L-aspartato foi capaz de promover uma inibição da ChAT tão significativa
quanto a causada pelo glutamato, evidenciando assim, que embora a ativação de todas
as classes de receptores glutamatérgicos esteja envolvida na indução do estresse
oxidativo e inibição enzimática, receptores ionotrópicos do tipo NMDA desempenham
um papel majoritário nesse processo.
78
Atividade da ChAT
10 100 1000
0
50
100
150
200
250
[L-aspartato] (μM)
pmols ACh / min / mg ptn
Figura 14 – Curva dose resposta do efeito do L-Aspartato na atividade da ChAT
Se a ativação de uma mesma classe de receptores (NMDA) por diferentes
aminoácidos é capaz de causar um mesmo efeito inibitório, então mecanismos de
proteção semelhantes podem ser usados para prevenir a perda de atividade enzimática.
Portanto, testamos se os mesmos agentes antioxidantes, que já haviam sido utilizados
contra o efeito do glutamato, eram capazes de proteger contra a ação inibitória do L-
aspartato. Utilizamos primeiramente o vitamina C (Figura 15) e em seguida a vitamina E
(Figura 16).
79
Co
n
tro
le
M
μ
L-
As
p
1
0
0
Ac
.
As
c
.
3
m
M
L-
As
p
+ Ac
.
As
c
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figura 15 – Efeito do Ácido Ascórbico 3 mM sobre a ação do L-aspartato 100
μ
M. As
culturas foram expostas ao ácido ascórbico 30 min antes da adição do L-aspartato. (n
= 4). *p<0,001 entre L-Asp 100
μ
M e as demais condições.
Co
n
trole
L-A
s
p.250
µ
M
Vit
.
E 500
µ
M
L
-Asp.
+
Vit
.
E
0
25
50
75
100
*
*
Atividade ChAT
% Controle
Figura 16 - Efeito da vitamina E sobre a ação do L-aspartato 250
μ
M. Vitamina E
foi adicionada 30 min antes do início da incubação com L-aspartato. (n = 6).
*p<0,001 entre L-Asp 250
μ
M e as demais condições.
80
O tratamento com agentes redutores (vitamina C e vitamina E), protegeu a
atividade catalítica da ChAT da inibição causada pelos aminoácidos excitatórios
glutamato e L-aspartato assim como também protegeu contra o efeito prejudicial do
glutamato. Esses dados sugerem que o tratamento crônico com aminoácidos
excitatórios leva ao aumento dos níveis intracelulares de ROS e possivelmente de
outros radicais livres. Estes são reduzidos pelos agentes antioxidantes adicionados ao
sistema e uma vez reduzidos são incapazes de oxidar aminoácidos de proteínas e
enzimas.
4.3 – Desacopladores mitocondriais e inibidores da NOS
protegem a ChAT da inibição induzida pelo glutamato
O uso de compostos antioxidantes foi capaz de proteger a molécula da ChAT da
ação de radicais livres, entretanto não foi possível detectar quais são essas espécies
reativas. Sabemos que duas grandes fontes de radicais livres durante o estresse
oxidativo são a mitocôndria e a enzima óxido nítrico sintase (NOS) (Halliwell, 2006). A
mitocôndria é responsável pela geração das espécies reativas de oxigênio (ROS) que
“vazam” ao longo da cadeia transportadora de elétrons. O uso de substâncias que
formam poros na membrana interna da mitocôndria e desfazem o gradiente de prótons
formado no espaço intermembranar reduz o fluxo de elétrons ao longo da cadeia
transportadora de elétrons e a conseqüente formação de ROS (Cannon et al., 2006).
Uma das substâncias amplamente usada com esse objetivo é o FCCP. Testamos,
portanto, essa substância no nosso sistema a fim de verificar se ela teria algum efeito
protetor na inibição da ChAT, uma vez que ela é capaz de dispersar o gradiente
81
eletroquímico de prótons e por conseguinte prevenir a formação de ROS. O FCCP foi
usado na concentração de 1 μM e embora seu efeito protetor na inibição do glutamato
não tenha sido significativa, podemos observar que ele tende a diminuir o dano
excitotóxico sobre a ChAT (Figura 17). Concentrações maiores do que a usada nos
experimentos mostrados nas figuras levaram à morte neuronal.
Co
n
t
ro
l
e
G
lu 2 mM
M
μ
F
C
C
P
1
FCCP + Glu
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figura 17 – Efeito do FCCP 1
μ
M sobre a ação do glutamato na atividade
catalítica da ChAT. O FCCP foi adicionado à cultura 30 min antes do início do
tratamento com o glutamato. (n = 4). *p<0,05 entre Glu 2 mM e Controle e
FCCP 1
μ
M. Não há diferença significativa entre Glu 2 mM e FCCP + Glu.
Uma outra fonte de radicais livres é a enzima NOS que sintetiza óxido nítrico
(NO) uma molécula altamente reativa. A atividade das isoformas constitutivas da NOS
(eNOS e nNOS) é diretamente influenciada por Ca
2+
, enquanto que a síntese da
isoforma induzível (iNOS) depende de um agente estressor externo como, por exemplo,
a inflamação (Boje, 2004). Para verificar se a ativação de receptores glutamatérgicos
está induzindo a síntese de NO em nosso sistema, utilizamos compostos análogos à
82
arginina (L-NAME e L-NA) que competem pelo sítio catalítico da NOS e assim inibem a
produção de óxido nítrico. Verificamos o efeito dessas substâncias na inibição da ChAT
começando pelo L-NAME e verificamos que a partir de 3 mM, este composto exerce
uma proteção que ainda não é total. Aumentando sua concentração para 5 mM o L-
NAME passou a exercer uma proteção bem próxima de 100% (Figura 18). Testamos
um outro inibidor da NOS, a L-nitro-arginina (L-NA) na concentração de 10 mM. De
modo semelhante ao L-NAME, esse outro análogo da arginina também protegeu a
atividade catalítica da ChAT da inibição glutamatérgica (Figura 19). Esses dados
sugerem que a ativação de NOS é um processo crítico na inibição da ChAT induzida
pela excitotoxidade glutamatérgica.
C
o
ntrole
Glu 1 mM
G
l
u
+
L-NA
M
E
3 mM
G
l
u
+
L
-
N
AM
E
5 mM
L
-NAM
E
5
m
M
0
25
50
75
100
*
**
Atividade ChAT
% Controle
83
Figura 18 – Efeito do L-NAME 3mM e 5mM sobre a ação do glutamato na
atividade catalítica da ChAT. As culturas foram incubadas com L-NAME 30
min antes da adição do glutamato. Na concentração de 5mM o L-NAME foi
capaz de prevenir a inibição da ChAT induzida por glutamato. (n = 8).
*p<0,001 entre Glu 1 mM e Controle, Glu + L-NAME 5 mM e L-NAME 5 mM.
Não há diferença significativa entre Glu 1 mM e Glu + L-NAME 3 mM.
**p<0,05 entre Glu + L-NAME 3 mM e Controle, Glu + L-NAME 5 mM e L-
NAME 5 mM.
Co
n
trol
G
l
u
1
mM
L
-
NA 1
0
mM
GL
U
+ L-
NA
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figura 19 – Efeito da L-NA 10mM sobre a ação do glutamato na atividade
catalítica da ChAT. A L-NA foi adicionada 30 min antes do início da
incubação com o glutamato. (n = 6). *p<0,001 entre Glu 1 mM e todas as
demais condições.
Conforme já mostramos, os tratamentos com FCCP 1 μM e L-NAME 3 mM não
possuem um efeito significativo na proteção da ChAT. Nos perguntamos, então, se
adicionando um efeito ao outro conseguiríamos uma proteção significativa. Com esse
experimento, observamos que os efeitos incompletos do FCCP e de uma baixa
concentração de L-NAME (3 mM) se somam exercendo a proteção esperada (Figura
20). Assim, demonstramos que tanto a produção de ROS quanto a produção de NO
estão envolvidas com perda de atividade da ChAT.
84
Controle
G
lu
2 m
M
M
μ
Glu
+
FCC
P
1
G
LU +
L-N
AME 3 m
M
Glu +
FCCP +
L
-
N
AME 3 mM
0
25
50
75
100
*
**
**
Atividade ChAT
% Controle
Figura 20 – Efeito do L-NAME 3mM e do FCCP 1
μ
M sobre a ação do
glutamato na atividade catalítica da ChAT. O L-NAME e o FCCP foram
adicionados 30 min antes do início da incubação com o glutamato e foram
eficientes em prevenir a inibição da ChAT. (n = 4 ). *p<0,001 entre Glu 2 mM
e Controle e Glu + FCCP + L-NAME 3 mM. **p<0,05 entre Glu + FCCP 1
μ
M
e Controle e Glu + FCCP + L-NAME 3mM. **p<0,05 entre Glu + L-NAME 3
mM e Controle e Glu + FCCP + L-NAME 3 mM. Não há diferença significativa
entre Glu 2 mM e Glu + FCCP 1
μ
M e Glu + L-NAME 3 mM
4.4 – Efeito de Tiorredutores sobre a inibição enzimática da
ChAT
A reação de superóxido, uma das espécies reativas de oxigênio, com o óxido
nítrico é a responsável pela formação de um outro radical livre, o peroxinitrito. Essa
espécie reativa é capaz de nitrar ou nitrosar resíduos SH de aminoácidos presentes em
proteínas e enzimas. Reações de nitração ou nitrosação causam alterações
conformacionais capazes muitas vezes de inativar ou reduzir a atividade catalítica de
85
enzimas. Alguns agentes conhecidos como tiorredutores reduzem especificamente
esses grupamentos SH, protegendo-os da ação de peroxinitritos. Para verificar se uma
possível formação de peroxinitrito a partir de superóxido e óxido nítrico estaria
interagindo com a molécula da ChAT, inativando-a, utilizamos a glutationa reduzida
(GSH) como tiorredutor. Essa substância é formada pelos aminoácidos cisteína-
glutamato-glicina e é produzido endogenamente na célula. Entretanto, em condições de
estresse oxidativo a concentração de glutationa intracelular se encontra diminuída
(Halliwell, 2006). O uso de uma concentração elevada de GSH (10 mM) protegeu
totalmente a molécula da ChAT contra o efeito inibitório do glutamato (Figura 21)
sugerindo que os radicais livres formados estão de alguma forma oxidando os
grupamentos SH da molécula da ChAT ainda que não seja o peroxinitrito o responsável
por esse efeito.
Co
n
tr
o
le
Glu 2 mM
G
SH
1
0
m
M
Glu
+
G
S
H
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figura 21 – Efeito do GSH 10mM sobre a ação do glutamato na atividade
catalítica da ChAT. A glutationa foi adicionada à cultura 30 min antes do
início da incubação com o glutamato e foi eficiente em prevenir a inibição da
ChAT. (n = 6). *p<0,01 entre Glu 2 mM e as demais condições.
86
4.5 – Efeito protetor de ácidos graxos polinsaturados (PUFAs)
Estudos recentes tem atribuído aos ácidos graxos um papel neuroprotetor e
antioxidante (Lauritzen et al., 2000; Kawasaki et al, 2002, Wang et al, 2006, Ahmad et
al, 2006). Embora ainda não se saiba exatamente qual o mecanismo envolvido nessa
proteção, cada vez mais esse efeito tem sido correlacionado ao nível de insaturação da
molécula de ácido graxo. Com base nos dados apresentados na literatura (Chen e
Bazan, 2005; King et al., 2006; Bazan, 2007), resolvemos verificar se ácidos graxos
essenciais exerciam no nosso sistema uma proteção dependente da presença de
insaturações. Portanto, utilizamos pelo menos um de cada grupo de ácidos graxos.
Primeiramente testamos os ácidos graxos polinsaturados, começando pelo ácido
araquidônico que possui em sua estrutura quatro insaturações. Fizemos inicialmente
uma curva dose-resposta para verificar se o ácido araquidônico exercia efeito protetor
na inibição da ChAT e em qual concentração esse efeito era melhor observado.
Utilizamos três concentrações diferentes (5μM, 10μM e 20μM) e vimos que a 20μM
esse ácido graxo exercia um efeito de proteção total sobre a perda de atividade
catalítica induzida pelo glutamato (Figura 22 e Figura 23). A partir de então, 20μM
passou a ser a concentração utilizada nos testes com os demais ácidos graxos.
87
0 5 10 15 20 25
0
20
40
60
80
100
Controle
Glu 2 mM
AA + Glu
[AA] μM + Glu 2 mM
Atividade da ChAT
% do Controle
Figura 22 – Efeito dose-dependente do AA na inibição da ChAT induzida por glutamato. As
células foram expostas a diferentes concentrações de AA por 30 minutos antes do tratamento
com glutamato 1mM. As células foram incubadas durante 17 horas. Tratamento com AA
20μM foi capaz de prevenir totalmente a inibição induzida por glutamato. (n = 6)
88
Control
e
Gl
u
1
mM
M
μ
Ac.
A
raqu
i
n
ic
o
2
0
A
c.
A
raq
ui
d
.
+
G
l
u
t
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figure 23 – Efeito do ácido araquidônico (20 µM) na inibição da ChAT. Culturas mistas foram
expostas ao ácido araquidônico por 30 min antes da adição do glutamato e foi eficiente em
prevenir a inibição da atividade da ChAT induzida por glutamato. (n = 4). *p<0,001entre Glu 1
mM e as demais condições.
Um outro ácido graxo polinsaturado contendo três insaturações em sua estrutura,
o ácido α-linolênico 20 μM também foi utilizado. De maneira semelhante ao que foi
observado com o ácido araquidônico, o α-linolênico também exerceu o efeito protetor
esperado (Figura 24). Um terceiro ácido graxo polinsaturado contendo duas
insaturações, o ácido linoléico, exerceu o mesmo efeito de proteção no nosso sistema
(Figura 25).
89
Figura 24 - Efeito do ácido α-linolênico (20 µM) na inibição da ChAT. Culturas mistas foram expostas
ao ácido α-linolênico por 30 min antes da adição do glutamato e foi eficiente em prevenir a inibição da
atividade da ChAT induzida por glutamato. (n = 5). *p<0,001 entre Glu 1 mM e as outras condições.
Control
e
Glu 1 mM
-
Li
nol
e
nico 20
µM
α
-Linol
e
ni
c
o +
Gl
u
α
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
90
Co
n
t
r
o
l
e
G
lu
1
m
M
M
μ
Linoleic
o
2
0
L
i
nol + Glu
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Diante do efeito protetor apresentado pelos ácidos graxos polinsaturados
resolvemos verificar qual seria a ação de ácidos graxos monoinsaturados (ácido oléico)
e ácidos graxos saturados (ácido esteárico). Nos experimentos com o ácido oleico,
testamos concentrações de 20 μM (dado não mostrado) e 50 μM e não observamos
qualquer efeito protetor para este ácido monoinsaturado. Para o ácido esteárico
utilizamos a concentração de 20 μM e conforme podemos observar, este não exerceu
efeito algum sobre a perda da atividade catalítica da ChAT induzida pelo glutamato
(figuras 26 e 27).
Figura 25 - Efeito do ácido linoléico (20 µM) na inibição da ChAT. Culturas mistas foram expostas ao
ácido linoleico por 30 min antes da adição do glutamate e foi eficiente em prevenir a inibição da
atividade da ChAT induzida por glutamato. (n = 5). *p<0,001 entre Glu 1mM e todas as outras
condições.
91
Co
n
trole
G
l
u
1
m
M
Á
c
id
o
Olei
c
o 50 µM
Ac. Olei
c
o + Glu
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
Figure 26 - Efeito do ácido oleico (20 µM) na inibição da ChAT. Culturas mistas foram expostas ao
ácido oleico por 30 min antes da adição do glutamato e não foi eficiente em prevenir a inibição da
atividade da ChAT induzida por glutamato. (n = 5). *p<0,001 entre Glu 1 mM e as demais condições.
Co
n
tro
l
e
Gl
u
1
mM
Ácido Esteárico 20 µM
Ácido Es
t
ea
r
ico
+ Glu
0
25
50
75
100
*
Atividade ChAT
% Controle
92
Figure 27 - Efeito do Ácido Esteárico (20 µM) na inibição da ChAT. Culturas mistas foram expostas
ao Ácido Esteárico por 30 min antes da adição do glutamato e não foi eficiente em prevenir a inibição
da atividade da ChAT induzida por glutamato. (n = 5). *p<0,001entre Glu 1 mM e Controle e Ácido
Esteárico 20
μ
M. Não há diferen
ç
a si
g
nificativa entre Glu 1 mM e Ácido Esteárico.
Os nossos dados mostram um efeito protetor de ácidos graxos essenciais
dependente da presença de insaturações em suas estruturas. Com o que foi
apresentado nesse estudo não podemos afirmar nada sobre o mecanismo de ação
exercido por ácidos graxos polinsaturados na proteção contra o estresse oxidativo. Há
possibilidade dos ácidos graxos poliinsaturados estarem agindo diretamente como
moléculas antioxidantes, ou seja, reduzindo os radicais livres produzidos na célula, esta
capacidade seria conferida a eles pela presença de duplas ligações em sua estrutura,
pois somente observamos que a presença de duas ou mais insaturações na estrutura
do ácido graxo é importante para que essa proteção ocorra.
5.0 – DISCUSSÃO
A ativação de receptores glutamatérgicos em um terminal pós sináptico gera uma
série de respostas intracelulares, como a ativação de vias de segundos mensageiros e
a passagem de íons do meio extra para o intracelular. A mudança conformacional de
receptores ionotrópicos, especificamente do tipo NMDA, permite a entrada dentre
outros íons do cátion Ca
2+
. A ativação prolongada desses receptores resulta em um
influxo exacerbado de Ca
2+
, o que é altamente prejudicial para a homeostase celular,
levando à produção de radicais livres caracterizando um estado de estresse oxidativo.
O Ca
2+
é capaz de ativar diretamente lípases, proteases, fosfatases e nucleases assim
como de comprometer o funcionamento mitocondrial levando à produção de espécies
93
reativas de oxigênio. Dentre as enzimas pró-oxidativas de maior relevância ativadas
pelo Ca
2+
podemos citar a óxido nítrico sintase e a fosfolipase A
2
. Respectivamente,
essas enzimas estão envolvidas na produção de óxido nítrico e no processo de
peroxidação lipídica (Camacho e Massieu, 2006). O aumento dos níveis de radicais
livres está diretamente relacionado a sinais de envelhecimento, senescência e perda
neuronal. Eles agem danificando ácidos nucléicos, proteínas, enzimas e lipídeos e em
geral seus efeitos são irreversíveis. Esse aumento exacerbado tem sido intimamente
correlacionado com condições patológicas não só no sistema nervoso (Halliwell, 2006 e
Reynolds et al., 2007), mas também no sistema cardiovascular (Pennathur e Heinecke,
2007; Schnabel e Blankenberg, 2007), em câncer (Laviano et al., 2007; Martinez-
Sanchez e Giuliani, 2007).
Em 2001, Loureiro-dos-Santos demonstrou que a ativação de receptores
ionotrópicos glutamatérgicos, tanto pelo próprio glutamato quanto pelo agonista seletivo
cainato, inibe a atividade da enzima colina acetiltransferase (ChAT). Dados
complementares revelaram que essa perda de atividade catalítica não é devido à
degradação da molécula enzimática e nem à morte de neurônios colinérgicos durante o
tratamento. Por outro lado, observou-se que uma vez que a ChAT encontrava-se inibida
eram necessários cerca de nove dias para que os neurônios colinérgicos mantidos em
cultura recuperassem a atividade catalítica inicial da ChAT. Em conjunto, esses dados
sugerem que embora os neurônios retinianos colinérgicos em cultura sejam refratários à
morte induzida por excitotoxicidade, esse processo é capaz de causar alterações pós-
traducionais ainda não detectadas na molécula da ChAT que são incapazes de serem
revertidas por mecanismos intrínsecos à célula. Portanto, para que haja recuperação da
atividade enzimática é necessária a síntese de novo da molécula. Esse efeito deletério
94
da ativação de receptores ionotrópicos glutamatérgicos sobre a ChAT pode ser
correlacionado com a doença de Alzheimer, onde há uma estreita relação entre a
excitotoxicidade dos peptídeos Aβ e uma inicial disfunção de neurônios colinérgicos
seguida pela sua morte (Obrenovitch et al., 2000; Doraiswamy, 2003; De Felice, 2007).
Essa perda é a grande responsável pelos quadros de demência apresentados na
patologia de Alzheimer (Schliebs e Arendt, 2006). Apesar da neurodegenaração
colinérgica acometer principalmente neurônios corticais e os experimentos realizados
por Loureiro-dos-Santos em 2001 terem sido feitos em neurônios retinianos, esse
trabalho nos permite observar os mecanismos intracelulares e bioquímicos envolvidos
na inativação da ChAT a partir de estimulação glutamatérgica. Primeiramente, foi
observado que essa inativação é dependente de todas as classes de receptores
glutamatérgicos; já que a proteção total contra o efeito inibitório do glutamato só era
obtida na presença de antagonistas tanto ionotrópicos quanto metabotrópicos. Foi
demonstrado também que a captação de colina encontra-se inalterada assim como os
níveis protéicos da molécula da ChAT. Esses dados somam-se ao fato de que eram
necessários nove dias para que os neurônios colinérgicos em cultura recuperassem
100% da atividade da ChAT após a retirada do cainato, sugerindo que a perda de
atividade da ChAT é devido a alterações pos-traducionais irreversíveis, possivelmente
nitração, ocorridas na molécula da enzima (Loureiro-dos-Santos et al., 2001).
Com o objetivo de investigar os efeitos intracelulares do tratamento crônico com
glutamato e uma possível causa para a inativação da ChAT, primeiramente estudamos
a produção de espécies reativas com o auxílio de uma sonda fluorescente, a
dihidroetidina (DHE). Essa sonda é oxidada por ROS, principalmente peróxido, se
95
transformando em etidina, podendo assim se intercalar no DNA e fluorescer quando
estimuladas por luz em um comprimento de onda específico (535 nm) (Budd et al.,
1997). A produção de ROS a partir da ativação de receptores glutamatérgicos,
principalmente do tipo NMDA, já é bem documenta na literatura (Obrenovitch et al.,
2000, Doraiswamy, 2003; Camacho e Massieu, 2006; De Felice et al., 2007). Sabe-se
que esse efeito é dependente da elevação do Ca
2+
intracelular que age na mitocôndria
(Camacho e Massieu, 2006; Monsalve et al., 2007). Corroborando diversos dados da
literatura, nossos resultados mostram que a ativação de receptores glutamatérgicos é
capaz de induzir o aumento da produção de ROS. É interessante notar que o
antioxidante vitamina E reduziu a intensidade da fluorescência para níveis semelhantes
ao controle. Esse antioxidante, por ser lipofílico, é descrito na literatura como tendo
ação preferencial nas proximidades da membrana plasmática reduzindo radicais livres
resultantes da peroxidação lipídica (Traber e Atkinson, 2007; Azzi, 2007). Entretanto,
através dos experimentos com DHE, nossos dados revelaram que ação da vitamina E
foi capaz de reduzir espécies reativas de oxigênio. Com base nos resultados obtidos,
não podemos afirmar, mas acreditamos que a vitamina E, como molécula antioxidante,
é oxidada pelos radicais livres protegendo a molécula de DHE da ação dos ROS. Dessa
forma esta não é convertida em etidina e por isso não pode se intercalar no DNA e ser
detectada por fluorescência. Se a vitamina E exerce esse efeito protetor sobre a DHE,
nos perguntamos se ele e outros compostos antioxidantes não apresentariam o mesmo
efeito protetor sobre a molécula da ChAT.
Dois compostos antioxidantes têm sido usados, sobretudo como suplemento
alimentar, no combate ao estresse oxidativo característico de algumas doenças: a
vitamina E (tocoferel) e o vitamina C (ácido ascórbico) (Duarte e Lunec, 2005; Linster,
96
Van Schaftingen, 2007; Mustacich et al., 2007). A vitamina C é o principal antioxidante
solúvel em água e está presente em alimentos de origem vegetal. Ela é transportada
através de co-transportadores dependentes de Na
+
presentes na membrana plasmática
e uma vez dentro da célula age como um potente antioxiante reduzindo espécies
reativas em geral (Linster, Van Schaftingen, 2007). Conforme demonstrado por
Loureiro-dos-Santos (2001) o tratamento crônico com glutamato inibe a atividade da
ChAT de neurônios retinianos em cultura. Nossos dados demonstraram que o uso tanto
de vitamina C quanto de vitamina E foi eficiente em prevenir esse efeito inibitório,
sugerindo que a perda de atividade da ChAT seja devida à ação de radicais livres que
oxidam a molécula da enzima, inibindo-a. Os diferentes tecidos humanos possuem
diversos mecanismos antioxidantes que podem ser enzimáticos ou não (Halliwell,
2006). O exacerbamento de radicais livres dentro da célula está diretamente ligado à
depleção desses mecanismos. Portanto, a adição de substâncias antioxidantes pode
ser importante no combate aos efeitos do estresse oxidativo. Esses antioxidantes,
vitamina C e vitamina E, quando em contato com radicais livres, são capazes de reduzi-
los, tornando-os menos reativos. Dessa forma, esse efeito redutor de determinadas
substâncias protege a célula e seus componentes das agressões provocadas pela ação
de radicais livres. Esse efeito protetor tornou-se evidente quando neurônios em cultura
foram tratados simultaneamente com aminoácidos excitatórios e um agente
antioxidante (acido ascórbico ou vitamina E). Neste caso, a atividade da ChAT foi
mantida próxima aos níveis controle. Um outro aminoácido excitatório, D- e L-aspartato,
é capaz de ativar seletivamente receptores do tipo NMDA (Kubrusly et al., 1998). O uso
deste aminoácido se mostrou eficiente em induzir a inibição enzimática da ChAT,
sugerindo que a ativação do receptor NMDA tem uma importante participação no
97
processo de inibição da ChAT induzida por glutamato. Loureiro-dos-Santos et al.
demonstrou que todas as classes de receptores glutamatérgicos estão envolvidas
nesse processo. Entretanto, na presença de um quelante de Ca
2+
a inibição da ChAT
não ocorre independente de qual seja o agonista glutamatérgico usado. Portanto, a
inativação da ChAT induzida por glutamato depende mais do desbalanço da
homeostase do Ca
2+
do que propriamente qual tipo de receptor ionotrópico está sendo
ativado.
Em decorrência da hiperativação de receptores NMDA e aumento da
concentração de Ca
2+
, diversos eventos intracelulares pró-oxidativos podem ser
observados. Um deles é o comprometimento da função mitocondrial, levando ao
aumento da produção de ROS. Promover o desacoplamento mitocondrial tem sido uma
das tentativas de prevenir a formação dessas espécies reativas (Cannon et al, 2006)
sendo que existem proteínas responsáveis por este processo. Entretanto, durante o
estresse oxidativo esse desacoplamento se mostra ineficaz. Um desacoplador exógeno
largamente utilizado é o FCCP (Carbonil cianida p-trifluorometoxifenilhidrazone) (Da-
Silva et al, 2004). Esse composto, assim como outros desacopladores, forma poros na
membrana interna da mitocôndria desfazendo o gradiente de prótons fisiologicamente
formado no espaço intermembranar. Esse gradiente é o resultado da passagem de
elétrons ao longo da cadeia transportadora de elétrons e é a força motriz para a síntese
de ATP pelo complexo F1-F0 ATP Sintase. Portanto o uso de desacopladores, ao
impedir o funcionamento da ATP Sintase, paralisa toda a fosforilação oxidativa. Como a
produção de ROS ocorre a partir de moléculas de oxigênio parcialmente reduzidas que
“vazam” durante a fosforilação oxidativa, o desacoplamento mitocodrial leva também a
uma redução da produção desses radicais livres. Entretanto, como a produção de ATP
98
fica comprometida, o uso do FCCP não é indicado para tratamentos prolongados de
neurônios em cultura. Em nosso estudo o tratamento com esse reagente foi realizado
durante 6 horas de incubação. Acima da concentração utilizada nos nossos
experimentos foi observado que os neurônios em cultura morriam (dados não
mostrados). Durante 6 horas de tratamento na concentração de 1 μM o FCCP não
induziu a morte das células. Entretanto, apesar de apresentar um pequeno efeito
protetor o mesmo não foi significativo. Provavelmente a concentração de 1 μM não foi
suficiente para induzir a morte nem o total desacoplamento mitocondrial.
Uma outra fonte de radicais livres é a enzima óxido nítrico sintase (NOS).
Existem três diferentes isoformas dessa enzima: as isoformas neuronal (nNOS) e
endotelial (eNOS), constitutivamente expressas nas células e ativadas em resposta ao
aumento do Ca
2+
intracelular e uma terceira (iNOS) cuja expressão é induzida por
agressores externos e cuja atividade é independente de Ca
2+
(Barger e Basile, 2001).
No processo de ativação das isoformas constitutivas, o Ca
2+
se liga a calmodulina
formando o complexo Ca
2+
/calmodulina que por sua vez promove a ativação de enzima.
A presença de eNOS e nNOS já foi detectada nos mais diversos tipos neuronais e na
retina elas estão expressas em células horizontais, amácrinas, ganglionares,
fotorreceptores e também em células de Müller (Cudeiro e Rivadulla, 1999). A isoforma
nNOS se encontra funcionalmente acoplada ao receptor NMDA através da proteína de
densidade pós-sináptica PSD-95 (Aarts e Tymianski, 2003). O bloqueio dessa interação
entre nNOS (isoforma neuronal) e PSD-95 é capaz de reduzir a produção de óxido
nítrico ativada por Ca
2+
. Ou seja, mesmo que a concentração intracelular desse íon
esteja elevada, nNOS não será ativada levando à produção excessiva de NO
(Jaffrey et
99
al., 1998; Sattler et al., 1999). Essa enzima ainda pode ser regulada negativamente por
ação da cinase dependente de Ca
2+
/calmodulina (CaMKII) também ancorada a PSD-95
(Rameau et al., 2004; Yan et al., 2004). Assim sendo, em condições fisiológicas, a
toxicidade mediada por NO é controlada pelo balanço entre a ativação da nNOS
induzida pelo Ca
2+
e sua inibição dependente da CaMKII. Por ser um gás e se difundir
facilmente pela membrana das células, em geral o seu papel fisiológico é agir como
mensageiro entre células diferentes sem a necessidade de ativação de um receptor.
Em condições patológicas a produção excessiva de NO tem sido associada a
danos no DNA, disfunção mitocondrial, oxidação e modificação de proteínas,
peroxidação lipídica dentre outras características comuns a doenças
neurodegenerativas como, por exemplo, esclerose lateral amiotrófica, Alzheimer,
Huntington, Parkinson e isquemia cerebral (Boje, 2004). Além de causar a morte
neuronal, o aumento da produção de NO após injeções de glutamato e cainato
intrahipocampais também é capaz de levar à quebra da barreira hematoencefálica
(Parathath et al., 2006; Parathath et al., 2007). Na retina, experimentos com ratos
mantidos sob iluminação contínua resultaram em uma intensa degeneração de
fotorreceptores dependente do NO. Interessante é que a isoforma responsável pelo
aumento do NO nessa condição não foi a isoforma neuronal, mas sim a induzível, cuja
síntese em geral ocorre em resposta a citocinas e estímulos pro-inflamatórios externos
(Piehl et al.,2007). Desde a descoberta do óxido nítrico, estudos vêm tentando
determinar se há uma diferença funcional entre o óxido nítrico produzido pelas
isoformas constitutivas e aquele produzido pela isoforma induzível. Os resultados
sugerem que tanto a nNOS quanto a eNOS são capazes de produzir somente
quantidades pmolares de óxido nítrico que está envolvido unicamente em processos de
100
sinalização celular. Já o óxido nítrico produzido pela isoforma induzível atinge
concentrações μmolares e sua ação está relacionada a processos citotóxicos (Moncada
et al., 1997).
No sistema nervoso central a expressão da isoforma induzível é bem
caracterizada em células gliais, tanto astrócitos quanto microglia. Em ambos tipos
celulares a indução de iNOS ocorre em resposta a sinais inflamatórios com IL-1β, LPS e
IFNγ + TNFα. Esses fatores são liberados como conseqüência da morte neuronal
característica de doenças como esclerose múltipla, Parkinson e Alzheimer e são
ativadores de células do sistema imune que agem no processo da inflamação. Na
doença de Alzheimer o acúmlo de Aβ por si só é capaz de induzir a expressão de iNOS
na microglia (Vincent et al., 1998), ou seja, não é necessária a liberação de fatores pro-
inflamatórios. Em astrócitos a indução de iNOS também está associada a citocinas pró-
inflamatórias, produtos virais e bacterianos e toxinas como, por exemplo, o peptídeo Aβ.
Diferentes vias de sinalização intracelular tem sido associadas à ativação de fatores de
transcrição envolvidos com a expressão de iNOS. A primeira delas é a via da JAK-
STAT, cujos diferentes tipos de receptores JAK são diretamente ativados por citocinas.
Nessa via, a ativação do receptor leva à fosforilação e dimerização de STAT que se liga
à região promotora do gene de iNOS levando à sua transcrição. Um outra via envolvida
na indução da expressão da iNOS é a via das MAP cinases (ERK1/2, p38 e JNK), que
também estão envolvidas com a ativação de fatores de transcrição que promovem a
síntese de iNOS. Uma terceira possibilidade é uma via envolvida com a ativação da
enzima pro-oxidativa NADPH oxidase e conseqüente geração de ROS. Essa enzima
está presente na membrana das células e quando ativada por Ca
2+
leva à formação de
101
superóxido e peróxido de hidrogênio. Acredita-se que as espécies reativas de oxigênio
geradas a partir da NADPH oxidase estejam envolvidas com a ativação de uma via de
sinalização intracelular que leva à síntese de iNOS (Saha e Pahan, 2006a; Saha e
Pahan 2006b). Em neurônios a expressão induzida de iNOS também foi detectada
associada a citocinas pró-inflamatórias como LPS, IFNγ, TNF-α, IL1-β (Heneka e
Feinstein, 2001). Análises de cérebros acometidos pela doença de Alzheimer também
apresentaram imonureatividade para iNOS em células neuronais (Lee et al., 1999). Em
cérebros de pacientes acometidos por esclerose múltipla também foi possível detectar a
presença de iNOS em células gliais (Olezak et al., 1998). Portanto, a expressão de
iNOS é um processo correlacionado a doenças neurodegenerativas e inflamações no
sistema nervoso, sendo encontrada em diversos tipo de células neurais: microglia,
astrócitos e neurônios.
Em nossos estudos, a inibição da ChAT como conseqüência do tratamento
crônico de neurônios retinianos com glutamato mostrou-se ser dependente da ativação
da NOS. O óxido nítrico é sintetizado por essa enzima a partir do aminoácido arginina.
Portanto, o uso de análogos da arginina como, por exemplo, L-nitro-arginina (L-NA) ou
L-nitro-arginina-metil-ester (L-NAME) é capaz de inibir a síntese de NO. Em nossos
experimentos o uso dessas substâncias foi capaz de proteger totalmente a atividade de
ChAT da inibição induzida por glutamato, sugerindo que o óxido nítrico é um mediador
importante desse processo. A ativação de receptores glutamatérgicos leva à síntese de
NO e este por sua vez age como um radical livre participando da inibição da ChAT.
Dados preliminares e ainda não conclusivos e, por isso não apresentados nesse
trabalho, revelam que o tratamento crônico com glutamato é capaz de induzir o
102
aumento da produção de NO em cultura mista de retina. O ensaio da atividade
enzimática revela um aumento de cinco vezes na atividade independente de Ca
2+
após
o tratamento com glutamato. Já a atividade dependente de Ca
2+
permanece inalterada.
Esses dados sugerem que no nosso sistema de estudo durante o estresse oxidativo
induzido pelo glutamato esteja havendo indução da expressão de iNOS. Entretanto,
não podemos afirmar em qual tipo celular esta síntese de iNOS está ocorrendo.
Em nosso estudo, o tratamento com o desacoplador mitocondrial FCCP não foi
suficiente para proteger a ChAT da inibição induzida pelo glutamato. Porém, o uso
concomitante de L-NAME 3 mM e FCCP 1 μM, que sozinhos não preveniram
completamente a inibição da ChAT, revelou um efeito de proteção total. Esse dado
sugere que tanto ROS quanto NO são responsáveis pela inibição enzimática
observada.
A reação de NO com superóxido, uma das espécies reativas de oxigênio, forma
um radical livre altamente reativo, o peroxinitrito (Halliwell, 2006). Como o óxido nítrico é
um gás que atravessa facilmente membranas biológicas, acredita-se que o principal
local de formação de peroxinitrito seja a mitocôndria. O óxido nítrico atravessa a
membrana mitocondrial, reage com o superóxido, forma peroxinitrito e este por também
se difundir facilmente através de membranas agiria modificando tanto proteínas e
enzimas mitocondriais quanto aquelas presentes no citoplasma (Radi et al., 2002a; Radi
et al., 2002b). Entretanto, há estudos revelando a formação de peroxinitrito a partir da
reação do superóxido proveniente da NADPH oxidase com óxido nítrico sintetizado pela
iNOS (Li et al., 2005). Esses radicais peroxinitrito podem agir nitrando e hidroxilando
anéis aromáticos de resíduos de aminoácidos, reagindo com sulfidrilas, com resíduos
103
zinco-tiolatos assim como também lipídeos, proteínas e DNA. Duas reações específicas
são conhecidas na literatura por inativar enzimas: nitração e S-nitrosação. A nitração
adiciona de forma irreversível um grupamento nitro a alguns aminoácidos específicos
formando, por exemplo, 3-nitrotirosina. Já a S-nitrosação tem como conseqüência a
formação de S-nitrocisteína que pode ser revertida por agentes tioredutores, ou seja,
que reduzem especificamente grupamentos SH dos aminoácidos. Essas reações de
nitração e nitrosação causam alterações conformacionais em proteínas e enzimas que
muitas vezes tem como conseqüência a sua inativação (Reynolds et al, 2007). Dentre
os diversos alvos moleculares do peroxinitrito podemos citar enzimas da cadeia
transportadoras de elétrons na mitocôndria (Brown e Borutaite, 2004) e a própria
molécula da ChAT (Guermonprez et al., 2001).
A glutationa reduzida (GSH) é uma molécula antioxidante endógena importante
que age reduzindo especificamente resíduos tióis. Ela é formada pelos aminoácidos
glutamato, cisteína e glicina em uma reação em cadeia envolvendo as enzimas γ-
glutamilcisteína-sintetase que promove a reação do glutamato com a cisteína, e a
glutationa sintetase que adiciona ao composto um resíduo de glicina. Uma vez oxidada,
a glutationa se liga a outra glutationa oxidada formando o composto GSSG, ligado por
uma ponte dissulfeto. O composto GSSG pode ser reconvertido a GSH pela ação da
enzima glutationa redutase (Halliwell, 2006). Ou seja, mesmo quando se encontra na
forma oxidada a glutationa não oferece riscos oxidativos para a célula. Além de ser
sintetizada na célula a administração exógena de GSH se mostra eficiente contra os
danos das espécies reativas de nitrogênio, uma vez que existem na membrana das
células transportadores de oligopeptídeos conhecidos com OATPs ou OPTs que
carream GSH (Ballatori et al., 2005; Tsay et al., 2007). Portanto, é possível afirmar que
104
a glutationa reduzida adicionada ao nosso sistema durante o tratamento crônico com
glutamato está agindo intracelularmente reduzindo os resíduos SH de proteínas e
enzimas, protegendo-os da ação de peroxinitrito e outras espécies reativas de
nitrogênio. Em nosso estudo não analisamos a produção de peroxinitrito, mas podemos
afirmar que, de alguma maneira, o aumento da produção de NO e ROS está envolvido
com a nitração ou nitrosação de grupamentos SH na molécula da ChAT, já que o
tratamento com GSH preveniu a inibição desta enzima induzida pelo glutamato.
Até o presente momento, nossos dados indicam que a ativação crônica de
receptores ionotrópicos glutamatérgicos, principalmente do tipo NMDA, permite um
influxo de Ca
2+
que age na mitocôndria levando ao aumento da produção de ROS e
ativando a enzima óxido nítrico sintase elevando a produção de NO. Juntos, NO e ROS
agem inibindo a enzima ChAT, sugerindo formação de peroxinitrito. A interação deste
ou de outras espécies reativas de nitrogênio com resíduos SH da ChAT seria, então, a
responsável por sua inibição através da formação de 3-nitrotirosina ou S-nitrosocisteína.
Uma nova classe de moléculas tem mostrado eficiente neuroproteção contra o
estresse oxidativo e morte celular característicos de doenças neurodegenerativas.
Estas são os ácidos graxos essenciais (EFAs), principalmente os poliinsaturados
(PUFAs). Essas moléculas são importantes na função e estrutura cerebral e como o
organismo não é capaz de sintetizá-las elas necessitam ser supridas através da
ingestão alimentar, com a vantagem de cruzarem facilmente a barreira
hematoencefálica. Os ácidos graxos podem classificados de acordo com a presença de
insaturações, ou seja, duplas ligações entre carbonos em sua estrutura. Eles podem ser
saturados, não possuindo insaturações, monoinsaturados, possuindo uma única
insaturação e poliinsaturados possuindo duas ou mais duplas ligações ao longo de sua
105
cadeia de carbonos (Yehuda et al., 2005). Há estudos revelando que uma dieta rica em
ácidos graxos poliinsaturados pode estar associada a benefícios para a memória (Frais,
2007; Kotani et al., 2006), com o tratamento de desordens psiquiátricas como
depressão e ansiedade (Severus, 2006) e também com a melhora das funções
cognitivas em indivíduos normais (Fontani et al., 2005). Ainda não se sabe de que
maneira os ácidos graxos são capazes de promover essas melhoras, mas acredita-se
que seus efeitos estejam relacionados à presença de insaturações em suas estruturas.
Dois trabalhos mostram claramente a diferença entre o uso de ácidos graxos
poliinsaturados e saturados. O primeiro deles revela o efeito benéfico de PUFAs (ácido
docosahexaenóico e ácido docosapentaenóico) tanto sobre a toxicidade do peptídeo
Aβ quanto sobre o nível de fosforilação da proteína tau, que são duas características da
doença de Alzheimer (Green et al., 2007). O segundo, mostra que o tratamento com
ácidos graxos saturados (ácido palmítico e ácido esteárico) é capaz de induzir a
fosforilação da tau em culturas de neurônios corticais de rato (Patil e Chan, 2005). Um
outro PUFA, o ácido araquidônico teve um efeito neuroprotetor contra o estresse
oxidativo em fatias de hipocampo de rato (Wang et al., 2006) e também contra a
neurotoxicidade glutamatérgica em células ganglionares da retina (Kawasaki et al.,
2002). O ácido α-linolênico também tem se mostrado eficiente na proteção contra o
estresse oxidativo e morte neuronal em cérebros isquêmicos (Heurteaux et al., 2006)
assim como contra a excitotoxicidade induzida por NMDA em cultura de neurônios
corticiais (Joo e Park, 2003).
O mecanismo através do qual PUFAs conferem neuroproteção contra estresse
oxidativo e morte neuronal ainda não está bem elucidado. Experimentos mostram que o
106
tratamento com ácido araquidônico é capaz de impedir uma elevação excessiva da
concentração intracelular do Ca
2+
em astrócitos evitando, assim, as conseqüências
deletérias desse aumento (Sergeeva et al., 2005). Entretanto, ainda não foi
caracterizado como o ácido araquidônico é capaz de bloquear essa variação. Outros
dados mostram que esse ácido graxo é capaz de ativar canais de K
+
bloqueando, dessa
forma, a excitabilidade da transmissão glutamatérgica em células granulares (Lauritizen
et al., 2000). Há ainda a possibilidade dos ácidos graxos poliinsaturados estarem
agindo diretamente como moléculas antioxidantes, ou seja, reduzindo os radicais livres
produzidos na célula, capacidade que seria conferida a eles pela presença de duplas
ligações em sua estrutura (Sarsilmaz et al., 2003). Estudos recentes mostram ainda que
uma molécula sintética derivada do ácido docosahexaenóico (DHA), a neuroprotectina
D1 é capaz de promover neuroproteção bloqueando enzimas e a síntese de genes pró-
apoptóticos e induzindo a expressão de genes envolvidos com a sobrevida celular
(Bazan, 2006).
Corroborando o que é apresentado na literatura, nossos dados demonstram mais
uma vez o efeito protetor de ácidos graxos poliinsaturados. Cinco diferentes ácidos
graxos foram testados e somente aqueles com duas ou mais insaturações (ácido
araquidônico, ácido α-linolênico, ácido linoléico) foram capazes de conferir proteção
contra a inibição da atividade da ChAT induzida por glutamato. Os ácidos graxos
monoinsaturado e saturado (ácido oléico e ácido esteárico) não foram capazes de
reproduzir esse efeito. Apesar de não termos investigado o mecanismo de ação dos
ácidos graxos poliinsaturados, os nossos experimentos revelam claramente que o efeito
protetor dessas moléculas está na presença de duplas ligações em suas estruturas.
107
Perspectivas futuras visam investigar se o mecanismo de ação dos ácidos graxos
consiste em prevenir a formação de radicais livres na célula, através de experimentos
com a sonda fluorescente para radicais livres DHE. Pretendemos ainda verificar se há
formação de nitro-tirosina na molécula da ChAT e se essa é a alteração responsável
pela perda de atividade enzimática. É interessante também investigar se há alteração
na atividade da NOS, se há indução da expressão de iNOS e qual tipo celular é
responsável majoritariamente pelo aumento da produção do NO.
108
6.0 - CONCLUSÕES
Com os dados apresentados até então podemos concluir que o tratamento
crônico com glutamato é capaz de induzir o aumento da produção de radicais livres;
efeito que é prevenido com o tratamento com o antioxidante vitamina E. O tratamento
com glutamato também é responsável pelo aumento da produção de NO pela óxido
nítrico sintase e de ROS pela mitocôndria (Figuras 18, 19 e 20), caracterizando um
estado de estresse oxidativo. Mostramos também que os efeitos inibitórios da
hiperativação de receptores glutamatérgicos sobre a inativação da ChAT são
bloqueados por substâncias antioxidantes como a vitamina C e a vitamina E e também
por ácidos graxos poliinsaturados. Diante dos resultados obtidos concluímos nosso
trabalho propondo um mecanismo de ação para o glutamato conforme o ilustrado na
Figura 28. O aumento do Ca
2+
intracelular leva ao aumento da produção de ROS pela
mitocôndria e da síntese de NO pela NOS. A reação de superóxido com NO leva a
formação de peroxinitrito que age inibindo a atividade da ChAT através de nitração ou
nitrosação da molécula da enzima.
109
Figura 28 – Modelo proposto para o mecanismo de inibição da ChAT induzido pela ativação crônica
de receptores glutamtérgicos. A entrada de grande quantidade de Ca
2+
compromete a homeostase
celular levando ao aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) pela mitocôndria e
de óxido nítrico pela enzima óxido nítrico sintase. A possível reação de superóxido com óxido nítrico
leva a formação de peroxinitrito que pode estar agindo nitrando ou nitrosando a ChAT e assim
comprometendo a sua atividade catalítica. A Figura mostra ainda os pontos de proteção discutidos ao
longo desse trabalho: 1. Desacoplador mitocondrial diminuindo a produção de ROS. 2. Antioxidantes
reuzindo radicais livres em geral. 3. Análogos de L-arginina bloquenado a síntese de NO. 4. GSH
reduzindo o peroxinitrito.
110
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