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próprio conhecimento gramatical, que poderá entrar em sério conflito com a
tradição normativa (BAGNO, 2001: 58).
Observe-se que o autor utiliza a expressão variedades cultas devido aos
muitos problemas atribuídos, atualmente, ao conceito “norma culta”. Segundo
ele, o conceito de norma não é uniforme e, ressalta Bagno, se para os
lingüistas, norma culta é o conjunto de usos lingüísticos dos falantes cultos
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de um país, de uma região ou de uma cidade, norma culta é, logicamente, uma
variedade de língua que pode ser descrita, analisada e estudada. Não seria
demais assinalar com ele que a “norma culta” não coincide, necessariamente,
com a linguagem dos textos literários, com a “bela língua” (SAUSSURE,
1916: 13).
Bagno prefere chamar de “norma padrão”, o que, para os
tradicionalistas, é “norma culta” pois, para ele, a língua é um padrão ideal de
comportamento lingüístico que, supostamente, deveria ser seguido por todos
os falantes do idioma toda vez que vão usar a língua para falar ou escrever
(BAGNO, 2001: 39). Frente ao uso ambíguo, impregnado de conotações
ideológicas e preconceituosas, o autor sugere o abandono do temo “norma
culta”. Assim, quando se tomar por base o “falante culto”, deve-se falar em
variedades cultas (sempre no plural) “tendo em conta o uso já amplamente
consagrado do termo variedade na literatura sociolingüística” (idem,
ibidem). Bagno designa, portanto, através de norma padrão “o conjunto de
prescrições tradicionais veiculadas pelas gramáticas normativas, pela prática
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Bagno (2001) diz que a noção de falante culto pertence ao vocabulário da Sociolingüística e não deve ser
confundido com o uso mais amplo e corriqueiro dos adjetivos culto e inculto. Isto porque, para a
Sociolingüística, não há falante inculto, uma vez que todo falante está inevitavelmente inserido na cultura de
sua comunidade rural ou urbana. Trata-se de um conceito operacional que busca estabelecer critérios
objetivos para a realização de pesquisas. Muitas pessoas não têm formação universitária e nem por isso
deixam de ser cultas, no sentido mais corrente do termo, assim como, diz Bagno, alguns de nossos maiores
escritores não cursaram universidades.