interação do sujeito com o meio em que está inserido. Do mesmo modo, há que se
admitir que tais elementos tomam proporções consideráveis nas formas de conceber o
ensino e a aprendizagem atualmente, especialmente se pensarmos na perspectiva
construtivista
39
de educação.
Fernando Becker (2003), em um estudo sobre as concepções de ensino e
aprendizagem de professores, realizado com diversos docentes em diferentes cidades do
estado do Rio Grande do Sul, relata uma realidade de compreensões que indicam uma
postura empirista
40
de conceber a construção do conhecimento. Na análise de suas
entrevistas, o pesquisador traz excertos que traduzem um ensino que, majoritariamente,
pensa a educação na sua forma mais elementar de relacionar-se com o mundo:
copiando-o, repetindo-o, imitando-o (BECKER, p.334).
A pesquisa de Becker é lembrada aqui, pois, ao serem questionados sobre o
conceito de experiência, os professores também revelaram sua forma de compreender o
ensino, a aprendizagem, os alunos e os seus papéis como profissionais da educação.
Além disso, a base fundamentadora de toda a análise dos “textos” de Becker está na
epistemologia de Jean Piaget, a qual, sem querer fazer generalizações, parece ter
confluência com aquilo que Dewey defendeu em seus escritos
41
. No entanto, o espaço
desta dissertação não permite que se entre em detalhes ou se faça aprofundamentos
sobre essa questão. Sinaliza-se, mesmo assim, uma possibilidade futura de estudo,
39
“Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e que, especificamente
o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado – é sempre um leque de
possibilidades que podem ou não ser realizadas. É construído pela interação do indivíduo com o meio
físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais [...] entendemos que
construtivismo na educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do
pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com o sistema educacional que
teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a escola, que consiste em fazer
repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir
da realidade vivida por alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já
construído (“acervo cultural da humanidade”)” (BECKER, 2001, p. 72-73). Alguns dos principais nomes
de estudiosos que defendem esta corrente de pensamento são: Jean Piaget (1896-1980), Lev Vigotski
(1896-1934), Henri Wallon (1879-1962), etc.
40
Na visão empirista de educação: “o indivíduo, ao nascer, nada tem em termos de conhecimento: é uma
folha de papel em branco; é tabula rasa. É assim o sujeito da visão epistemológica desse professor: uma
folha de papel em branco. Então, de onde vêm o seu conhecimento (conteúdo) e sua capacidade de
conhecer (estrutura)? Vem do meio físico e social” (BECKER, 2001, p.16-17).
41
Para sinalizar esta possibilidade, vale citar a compreensão de conhecimento piagetiana, nas palavras de
Becker: “O conhecimento, melhor dito, suas estruturas ou suas condições a priori de todo conhecer, não é
dado nem na bagagem hereditária nem nas estruturas dos objetos: é construído, na sua forma e no seu
conteúdo, por um processo de interação radical entre o sujeito e o meio, processo ativado pela ação do
sujeito, mas de forma nenhuma independente da estimulação do meio. O que se quer dizer é que o meio,
por si só, não se constitui “estímulo”. E o sujeito, por si só, não se constitui “sujeito” sem a mediação do
meio; físico e social. É nesta direção que vai a concepção piagetiana de aprendizagem: sem a
aprendizagem o desenvolvimento é bloqueado, mas só a aprendizagem não faz o desenvolvimento. O
desenvolvimento é a condição prévia da aprendizagem; a aprendizagem, por sua vez, é a condição do
avanço do desenvolvimento” (BECKER, 2003, p. 25).
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