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MARIA DE LOURDES CARVALHO NETA
EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA ATUAL E ANÁLISE AMBIENTAL
DA FOZ DO RIO JAGUARIBE/CE
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Geografia da Universidade Federal do
Ceará obrigatório para a obtenção do título de
mestre, área de concentração: Dinâmica
territorial e ambiental.
Profa. Dra. Vanda de Claudino Sales.
FORTALEZA
2007
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Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Ana Cristina Azevedo U. Melo CRB-3/572
C326e Carvalho Neta, Maria de Lourdes
Evolução geomorfológica atual e análise ambiental da foz do rio Jaguaribe,
Ceará / Maria de Lourdes Carvalho Neta.
123f., il. color. enc.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2007.
Área de Concentração: Dinâmica Territorial e Ambiental
Orientadora: Profa. Dra. Vanda Carneiro de Claudino Sales
1.Geomorfologia costeira 2. Desembocadura fluvial 3. Sensoriamento remoto
I.Sales, Vanda Carneiro de Claudino (orient.) II. Universidade Federal do Ceará
Pós-Graduação em Geografia III. Título
CDD 910
MARIA DE LOURDES CARVALHO NETA
EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA ATUAL E ANÁLISE AMBIENTAL DA FOZ DO
RIO JAGUARIBE/CE
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Geografia da Universidade Federal do
Ceará obrigatório para a obtenção do título de
mestre, área de concentração: Dinâmica
territorial e ambiental.
CONTEITO OBTIDO: APROVADA NOTA: 10
DISSERTAÇÃO DEFENDIDA EM 30/ 07/ 2007
Banca Examinadora:
A D. Fátima e Sr. Edvando meus pais,
Layla Cristina, minha paixão...
Aos inúmeros Anjos da Guarda,
sempre (ou quase) de plantão.
AGRADECIMENTOS
A efetivação desta pesquisa é resultado de muito trabalho, dedicação, sacrifícios e
“boas energias” despendidas por mim e por um grupo de pessoasmuito importantes,
que merecem meus agradecimentos.
Agradeço à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior),
pelo suporte financeiro parcial a essa pesquisa, sem o qual seria mais dolorosa a
execução.
Ao Programa de Mestrado em Geografia, na pessoa do Coordenador Professor
Eustógio Wanderley Correia Dantas, que em muitos momentos transcendeu este
cargo”, cedendo seus ouvidos para as minhas lamentações, e conselhos para a minha
superação.
À Professora Vanda de Claudino-Sales, minha SUPER querida orientadora e
coordenadora do Laboratório de Geomorfologia Ambiental Costeira e Continental –
LAGECO. Pelos ensinamentos, confiança, força, puxões de orelhas (por vezes
necessários) e vontade INIGUALÁVEL de produzir ciência, repassados ao longo dos
cinco anos de trabalho, meu muito, MUITO obrigada!
Agradeço aos professores que aceitaram gentilmente participar da banca. À professora
Marta Celina Linhares Sales e Elias Nunes por todas as contribuições desde o exame
de qualificação, e ao professor Luis Parente Maia, pelos dados fornecidos e por
encontrar um espaço na sua, concorrida, agenda.
Aos professores Mateo Rodríguez (Universidade de Havana, Cuba) e Edson Vicente
(UFC), pela força e pela disponibilidade constante em ajudar-me, pelas indicações de
leituras e empréstimos de materiais. Ao professor Jean-Pierre Peulvast (Universidade de
Sorbonne, Paris) pelas dicas e pelo apoio no trabalho de campo. À Andréa Panizza pela
atenção dispensada, pelas leituras e tentativas em me acalmar nessa reta final.
Aos funcionários e pessoasque compõem o Departamento, por entenderem minhas
perturbações nesses seis anos de convivência, agradeço-os no nome do meu
conterrâneo Evaldo Maia, D. Mazé, D. Sandra, Sr. Aldir e da “Tia” Denise.
De maneira muito atenciosa, agradeço a ajuda de uma pessoinha muito especial, sem a
qual esse trabalho simplesmente não teria sido realizado o mais que professor Paulo
Thiers! Obrigadíssima pelos dias “ganhos” em insistir que eu seria capaz de executar o
trabalho, pela dedicação, paciência, carinho, pelo ombro e ouvidos, amizade e energia
SUPER positiva!
Ao LAGECO, grupo de pesquisa ARRASANTE, ao qual me orgulho de integrar!
Agradeço desde a acolhida na pessoa de Alex Pires (meu “para sempre” monitor). À
Elizangela Batista e Geísa Silveira (companheiras desde o princípio), Marcelo Moura-Fé,
Anatarino Torres, Mônica Virna Pinheiro e Rúbson Maia agradeço-os pelos materiais,
dados, artigos, gráficos e pelas palavras sempre tão importantes, principalmente, na
fase final.
Agradeço ainda, às “almas penadas” do Laboratório de Cartografia Digital, no nome de
Francisco Mendes (Chicão), pelos momentos divididos na fase de elaboração dos
produtos cartográficos.
Ao melhor grupo PET do Brasil, o PET Geografia UFC, o qual fui integrante no período
da graduação. De maneira especial agradeço às meninas Ana Karina Holanda, Bruna
Delfino e Mariana Bezerra –, que tantas vezes escutaram e acreditaram no “... um dia
seremos todas recompensadas...”, obrigada pela divisão das angústias e pela amizade!
À professora Ivaine Tonini, por desvendar o mundo enigmático dos “Doutores”, pelo
carinho e confiança. Aos muitos que conviveram comigo neste espaço e contribuíram
para o meu crescimento. Agradeço à garotada do grupo atual nos nomes de Auricélio
Gois, Silmara Quinto e João Paulo Matias, e ainda aos amigos do INTERPET Ceará:
André Luis, Rafael, Henrique Barros, Aracelly, Elydiana, Felipe, Mickaelle, Diego,
Sandro, Veriana, pelos momentos de alegria e de aprendizado.
Agradeço à amiga Geísa Silveira do Nascimento: pelos momentos alegres
compartilhados e outros, não tão bacanas. Por me dizer “não”, mesmo quando eu queria
escutar “sim”. Pelo companheirismo, pela trajetória dividida, pelo imensurável e
importantíssimo incentivo... Obrigada amiga!
Aos amigos e Geógrafos: Carlos Henrique Lopes, Jader Santos, Albaniza Fernandes,
Maíra Gomes, Kenia Diógenes, Melanie Georgevicth, Rodrigo Lucena, pelas aventuras
geográficas (ou o tão geográficas), pelos ensinamentos, por sempre (ou quase
sempre) atenderem aos meus chamados, pela boa energia, pelas conversas produtivas,
pelos ouvidos, pelos conselhos, pelo carinho e zelo!
Às pessoas super queridas, que mesmo de longe, e cada um a seu modo, torceram,
enviaram vibrações positivas e contribuíram (muitas vezes cobrando) para a finalização
desta dissertação. Agradeço a Arlene Nascimento, Ana Lira, Augusto Copque, e a todos
os filhinhosqueridos, da época do movimento estudantil, espalhados pelo Nordeste,
por se fazerem presentes mesmo a quilôôôôômetros de distância!
Por último, agradeço a minha grande e QUERIDA família, meu alicerce, que mesmo
sem entender direito o que este trabalho significa, acreditaram que era importante, e
contribuíram para a sua efetivação.
Aos meus pais Edvando (o Branco) e Fátima, que forneceram muito carinho, muita
confiança e muuuuitas orações. Agradeço a meus irmãos, no nome de Bandeira (o
caçula), com quem dividi, mais de perto, momentos difíceis e alegres. Agradeço ainda,
Elizangela, sua esposa, que de minha companheira de Universidade, passou a fazer
parte da minha querida família. Às crianças Pedro Felipe e Layla Cristina (talvez a que
mais sofreu nessa etapa), agradeço por ter, pelo menos tentado entender, a minha
ausência nos últimos meses.
À meu primo-irmão, Jorge de Lima, agradeço por tudo, de coração! Por ser companheiro
de todas as horas, pela tranqüilidade, por sempre dar um “jeitinho” pra me ajudar e
pelas tantas vezes que teve que repetir “... relaxa garota”!
Ao meu tio super querido, João Eudes de Oliveira, responsável por minha vinda à
Fortaleza, agradeço por toda confiança depositada, pelos incentivos, pelas palavras,
pelo carinho conjunto com o de Amélia (sua esposa) transformando-se em meus
segundos pais. À Karla Loureto e Mayara de Lima “minhas” pequena-grandes, agradeço
o carinho, a força, a garra e o inúmeros momentos de descontração e boas rizadas!
Obrigada a todas as pessoinhas que de alguma maneira contribuíram para a realização
deste trabalho.
RESUMO
Esta dissertação apresenta uma análise das feições geomorfológicas e um
diagnóstico do quadro ambiental da desembocadura do rio Jaguaribe, o recurso
hídrico de maior abrangência e importância no Estado do Ceará. São consideradas
a planície fluvial, a faixa de praia, os campos de dunas móveis e de dunas fixas, a
planície flúvio-marinha e os tabuleiros costeiros. O recorte temporal analisado expõe
cerca de quarenta anos de evolução são trabalhados os anos de 1968, 1988 e
2004. Os objetivos são apresentar as mudanças geomorfológicas e ambientais
ocorridas entre esse período. As análises dessas alterações foram realizadas
através da interpretação visual de fotografias aéreas na escala de 1:70.000 do ano
de 1968, fotografias aéreas na escala de 1:32.500 do ano de 1988 e imagens do
satélite SPOT 5 e Quickbird, datadas do ano de 2004. As bacias hidrográficas se
comportam enquanto sistemas abertos, ou seja, com trocas de matéria e energia,
desse modo, qualquer interferência indica respostas em algum ponto do sistema. As
feições geomorfológicas da foz do rio Jaguaribe são o resultado da dinâmica fluvial,
da dinâmica litorânea e de maneira mais recente, no entanto, não menos eficaz, da
dinâmica imposta pelos seres humanos que ao longo do tempo moldam e
transformam tais feições. O regime hidrológico deste curso d’água, bem como de
todo o Estado, condicionado principalmente pela irregularidade das chuvas e pelas
condições geológicas das áreas onde se situam as diversas bacias hidrográficas, é
do tipo intermitente. Ao longo de seu curso, várias são as obras instaladas em seu
leito, na maioria barragens, na tentativa de perenização. Desde a década de 1980
com a abertura da válvula do açude Óros, o rio possui 2/3 do curso perenizado – são
mais de 300 km, atingindo cerca de 23 municípios. Atualmente são mais de 50
barragens de grande, médio e pequeno porte. Tais construções implicam em
consideráveis alterações nas características naturais do recurso hídrico. O
barramento do fluxo natural do rio, no alto, médio e/ou baixo cursos, inserido na
política de gestão das águas do Estado, alterou consideravelmente sua vazão na
foz, que no início do século XX era de 200 m³/s, para menos de 40 m³/s nos dias
atuais. No entanto, as modificações não cessam por aí, não é apenas água que é
barrada, há também a interrupção do fluxo de sedimentos, o que acarreta em
alterações sedimentológicas e geomorfológicas. Associada a este processo de
açudagem a partir da década de 1990, a atividade da carcinicultura se instala nesse
ambiente, de forma indiscriminada, acarretando também alterações geomorfológicas
e mudanças no quadro ambiental. As áreas ocupadas por manguezais e apicuns
variaram de maneira considerável, além de a planície litorânea da área, de maneira
geral, apresentar-se uma tendência à erosão na margem esquerda da foz do rio
Jaguaribe e acumulação em sua margem direita.
PALAVRAS CHAVE: Geomorfologia costeira, desembocadura fluvial, sensoriamento
remoto.
RESUMEN
Esta disertación presenta un análisis de las formas geomorfológicas y una diagnosis
del cuadro de lo ambiente de la desembocadura del río Jaguaribe, el recurso hídrico
de más grande amplitud y importancia en el Estado de Ceará. Se consideran la
llanura fluvial, la faja playera, los campos de dunas movibles y de dunas fijas, la
llanura flúvio-maina y los tableros costeros. El recorte temporal analizado expone
aproximadamente cuarenta os de evolución son trabajados los años de 1968,
1988 y 2004. Los objetivos son presentar los cambios geomorfológicos y
ambientales ocurridos entre ese período. Los análisis de esas alteraciones fueron
cumplidos através de la interpretación visual de fotografías aereas en la escala de
1:70.000 del año de 1968, fotografias areas en la escala de 1:32.500 del año de
1988 y las imágenes del satélite SPOT 5 y Quickbird, datado del año de 2004. Las
cuencas hidrograficas se comportan como sistemas abiertos, con cambios de la
materia y energía, de este modo, cualquier interferencia indica respuestas en um
cierto punto del sistema. Las formas geomorfológicas de la desembocadura del río
Jaguaribe son el resultado de la dinámica fluvial, la dinámica costera y de manera
más reciente, sin embargo, no menos eficaz, de la dinámica impuesta por los seres
humanos, que a lo largo del tiempo moldean y transforman tales formas. El régimen
hidrológico de este curso de agua, así como de todo el Estado, condicionados
principalmente por la irregularidad de las lluvias y por las condiciones geológicas de
las áreas donde son localizados las varias cuencas hidrográficas, es del tipo
intermitente. A lo largo del curso fluvial, varias son las obras instaladas, en la
mayoría de las presas, en el esfuerzo del perenização. Desde la década de 1980
con la apertura de la válvula del azud Óros, el río posee 2/3 del curso perenizado
son más de 300 km, mientras alcanzando aproximadamente 23 distritos municipales.
Ahora son más de 50 azud de grande, media y pequeña carga. Tales construcciones
implican en alteraciones considerables en las características naturales del recurso
hídrico. El presamento del flujo natural del río, en el alto, el medio y/o bajo cursos,
insertados en la política de gestión de las aguas del Estado, modificaron
considerablemente la desague en el estuario, que al principio del siglo XX eran de
200 m³/s, para menos de 40 m³/s en los días actuales. Sin embargo, las
modificaciones no cesan para allí, no es sólo agua que se obstruye, hay también la
interrupción del flujo de sedimentos, qué carreta en el alteraciones sedimentológicas
y geomorfológicas. Asociado a este proceso de presamento, el arranque en la
década de 1990, de la actividad del carcinicultura establecida de una manera
indistinta, también carreteando alteraciones geomorfológicas y cambios en el cuadro
ambiental. Las áreas ocupadas para el crecimiento de mangles y apicuns variaron
de una manera considerable, además la llanura costera del área, de una manera
general, presenta una tendencia a la erosión en el margen izquierdo de la
desembocadura del río Jaguaribe y acumulación en el margen correcto.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Capítulo
01
Pág.
Figura 01: Mapa de localização da área de pesquisa – foz do rio Jaguaribe/Ce. 21
Figura 02: Esboço geológico da foz do rio Jaguaribe/Ce. 23
Figura 03: Localização dos postos de coleta de dados. Em destaque os postos
localizados na área de pesquisa.
27
Figura 04: Carta hipsométrica da grande bacia do rio Jaguaribe/Ceará. 29
Figura 05: Principais espécies de mangue que ocorrem no estado do Ceará e sua
distribuição geral em relação ao gradiente de marés.
31
Capítulo 02
Figura 06: Modelo sistêmico do funcionamento da paisagem. 36
Figura 07: Organograma da elaboração do mapa de evolução geomorfológica atual e
análise ambiental da foz do rio Jaguaribe/Ceará.
45
Capítulo 03
Figura 08: Localização, orientação, extensão e largura da zona costeira cearense. 50
Figura 09: Localização da Bacia Potiguar. 52
Capítulo 04
Figura 10: Margem direita foz do rio Jaguaribe, extensa faixa de praia e pós-praia,
delimitada em direção ao continente por duna frontal.
58
Figura 11: Flecha litorânea localizada na margem esquerda da desembocadura
fluvial do rio Jaguaribe.
59
Figura 12: Planície de deflação na margem direita da desembocadura fluvial do
Jaguaribe/Ceará.
60
Figura 13: Rebdou visualizado na margem direita da foz do rio Jaguaribe. 61
Figura 14: Na figura
A
vê-se uma duna de precipitação no contato com o manguezal
do rio Jaguaribe. A figura B apresenta Sandsheets recobrindo dunas fixas mais
antigas no campo de dunas localizados nas proximidades da desembocadura fluvial
do rio Jaguaribe.
62
Figura 15: Ocorrência de lagoas na planície de deflação, margem direita da
desembocadura fluvial do rio Jaguaribe.
63
Figura 16: Linha de falésias ativas nas proximidades do Pontal de Maceió, margem
esquerda foz do rio Jaguaribe.
64
Figura 17: Pontal de Maceió, falésia ativa trabalhada em arenitos da Formação
Tibau.
64
Figura 18: Planície flúvio-marinha ocupada por manguezal, na margem direita do rio
Jaguaribe.
66
Figura 19: Gamboas e canais de marés, integrantes importantes do ecossistema
manguezal, visualizados na Ilha Grande, margem direita da foz do rio Jaguaribe. A
seta vermelha indica gamboas e a azul, canal de maré.
67
Figura 20: Vista aérea das ilhas flúvio-marinhas do Pinto e do Caldeireiro,
desembocadura fluvial do Jaguaribe/Ceará.
68
Figura 21: Paredão fluvial trabalhado em sedimentos da Formação Barreiras,
margem esquerda do rio Jaguaribe, município de Fortim.
69
Figura 22: Pedra do Chapéu, Formação Tibau trabalhada pelo rio Jaguaribe, em sua
margem esquerda, município de Fortim.
70
Figura 23: Linha de paleofalésia trabalhada em sedimentos da Formação Barreiras,
localidade de Maceió, Fortim proximidades ma margem esquerda da foz do rio
Jaguaribe. À frente da paleofalésia evolui uma planície litorânea moderna.
70
Figura 24: Presença de seixos de quartzo, caracterizando as paleofalésias da
localidade de Maceió, Fortim proximidades da margem esquerda da foz do rio
Jaguaribe.
71
Figura 25: Foto imagem: espacialização das feições naturais da área de pesquisa -
foz do rio Jaguaribe/Ce.
72
Capítulo 05
Figura 26: Fotografia aérea do DSG, datadas de 1968. A figura
A
com a coloração
original e a B após tratamento de cores permitindo individualizar as unidades com
mais facilidade e melhor exatidão.
76
Figura 27: Mapa de unidades geoambientais da foz do rio Jaguaribe/Ce (1968). 78
Figura 28: Imagens aéreas datadas de 1988, faixa 14 D (16, 17, 18), base para a
elaboração do Mapa de Unidades do mesmo ano.
79
Figura 29: Mapa de unidades geoambientais da foz do rio Jaguaribe/Ce (1988). 80
Figura 30: Imagens de satélite do ano de 2004. A figura
A
foi capturada pelo satélite
Quickbird, por apresentar grande riqueza de detalhes, foi imprescindível na
delimitação das áreas de manguezais. A figura B é do satélite SPOT 5, permitiu uma
visão geral da área.
82
Figura 31: Mapa de unidades geoambientais da foz do rio Jaguaribe/Ce (2007). 84
Capítulo 06
Figura 32: Evolução da planície litorânea. Nota-se uma progradação na margem
direita e na margem esquerda uma erosão sobretudo das flechas litorâneas.
93
Figura 33: Migração das dunas móveis sobre a planície flúvio-marinha do rio
Jaguaribe, em sua margem direita, sufocando as áreas de manguezais e sobre as
dunas fixas, recobrindo-as.
96
Figura 34: Campo de dunas móveis na margem direita da foz do rio Jaguaribe
migrando sobre a planície flúvio-marinha, sufocando as áreas de manguezais.
98
Figura 35: Evolução da planície flúvio-marinha ocupada por manguezais na foz do rio
Jaguaribe. Destacam-se as áreas em que a vegetação de mangue sofreu expansão
e redução.
99
Figura 36: Observa-se a presença de diferentes gerações de vegetação de mangue
no estuário do rio Jaguaribe. A seta vermelha indica geração de mangue mais antiga,
a seta amarela, geração mais jovem.
100
Figura 37: Manguezal na margem esquerda da foz do rio Jaguaribe sendo
desestruturados pela ação das ondas.
101
Figura 38: Áreas de manguezal na margem direita da foz do rio Jaguaribe,
comunidade do Cumbe, atualmente ocupada por viveiros de camarão.
101
Figura 39: Áreas de manguezal desmatadas para a implantação da atividade de
carcinicultura na margem direita da foz do rio Jaguaribe, na comunidade do Cumbe.
103
Figura 40: Imagens dos açudes Castanhão e Óros. Ambos localizados na bacia do
rio Jaguaribe em seu médio e alto curso, respectivamente, esses reservatórios
correspondem aos de maiores dimensões do estado do Ceará.
105
Figura 41: Evolução das ilhas fluviais do Pinto e do Caldeireiro, município de Fortim,
na planície flúvio-marinha do rio Jaguaribe.
106
Figura 42: Vegetação de mangue se desenvolvendo sob entulhos na ilha do Pinto,
município de Fortim, planície flúvio-marinha do rio Jaguaribe.
107
Figuras 43: Mapa de evolução geomorfológica atual e análise ambiental da foz do rio
Jaguaribe, Ceará.
109
LISTA DE GRÁFICOS
Capítulo 01
Pág.
Gráfico 01: Variação Pluviométrica entre os anos de 1962 e 1985 para os postos dos
Municípios de Aracati e Fortim.
25
Gráfico 02: Variação Pluviométrica mensal, entre os anos de 1962 e 1985 para os
postos dos Municípios de Aracati e Fortim.
25
Capítulo 05
Gráfico 03: Evolução da planície litorânea na margem direita da foz do rio Jaguaribe,
indicando a área ocupada por faixas de praia, flechas litorâneas e dunas móveis.
85
Gráfico 04: Evolução da planície litorânea posicionada na margem esquerda da foz
do rio Jaguaribe.
86
Gráfico 05: Evolução das dunas fixas. 86
Gráfico 06: Evolução das áreas de manguezais.
87
Gráfico 07: Evolução das áreas da planície flúvio-marinha ocupadas por salgado e
apicuns.
88
Gráfico 08: Evolução das áreas da planície flúvio-marinha ocupadas por salgado e
apicuns.
88
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Capítulo
01
Pág.
Tabela 01: Dados do balanço hídrico e índice de aridez da área de estudo, postos
Aracati e Fortim.
27
Capítulo 05
Tabela 02: Unidades e subunidades geoambientais da desembocadura fluvial do
Jaguaribe que sofreram alterações entre os anos de 1968 1988 2004.
Apresentam-se em porcentagem (%) os valores dessas variações.
89
Capítulo 06
Quadro 01: Quadro de ocorrência de secas entre a década de 1960 e 1990 no
Estado do Ceará.
95
LISTA DE ABREVIATURAS
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
COGERH – Companhia e Gestão dos Recursos Hídricos
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra as Secas
ENG – Encontro Nacional de Geógrafos
FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
GPS – Sistema de Posicionamento Global
HRV – High Resolution Visible
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDACE – Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará
INCRA – Instituto de Recursos Agrários
INPE – Instituto de Pesquisas Espaciais
IPLANCE – Fundação Instituto de Planejamento do Ceará
LABOMAR – Instituto de Ciências do Mar
LAGECO – Laboratório de Geomorfologia Ambiental Costeira e Continental
PCD – Plataforma de Coleta de Dados
PET – Programa de Educação Tutorial
PDSFN – Programa de Desenvolvimento do Sistema Fundiário Nacional
SAD 69 – South America Datum 1969
SEMACE – Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Estado do Ceará
SBGFA – Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada
SIG – Sistema de Informação de Geográfica
SINAGEO – Simpósio Nacional de Geomorfologia
UECE – Universidade Estadual do Ceará
UFC – Universidade Federal do Cea
UNEP – Programa Ambiental das Nações Unidas
UTM – Universal Transverso de Mercator
ZCIT – Zona de Convergência Intertropical
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE QUADROS E TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO
15
1. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA
20
1
.1. Localização e acesso
20
1
.2. C
ondicionantes g
eoambienta
is da área
20
1.2.1. Condições geológicas e geomorfológicas 22
1.2.2.Contexto hidroclimático 24
1.2.3.Características pedológicas e recobrimento vegetacional 30
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
35
2
.
1
.
Procedimentos técnicos
38
2.1.1. Levantamento bibliográfico e cartográfico 38
2.1.2. Levantamento de campo 39
2.1.3. Manipulação das bases cartográficas 40
3. ASPECTOS MORFOEVOLUTIVOS DA MARGEM CONTINENTAL DO
ESTADO DO CEARÁ
47
3
.1. Gênese e caracterização da zona costeira cearense
47
3
.2. Formação da Bacia Potiguar
51
3
.3. Evolução do médio e
baixo curso do rio Jaguaribe
52
4. COMPARTIMENTAÇÃO DAS UNIDADES GEOAMBIENTAIS NA ÁREA DE
PESQUISA
57
4
.1. Planície litorânea
57
4
.2. Ambiente
e
stuarino
65
4
.3. Tabuleiros costeiros
68
5. ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA FOZ DO RIO JAGUARIBE
74
5
.1. Interpretação das Imagens
75
5.1.1. Fotografia aérea de 1968 75
5.1.2. Fotografia aérea de 1988 77
5.1.3. Imagens de Satélite de 2004 81
5
.2.
Interpretação dos Produtos Cartográficos
83
5.2.1. Planície litorânea 85
5.2.1.1. Faixa de praia 85
5.2.1.2. Dunas fixas 86
5.2.2. Planície flúvio-marinha 87
6. A FOZ DO RIO JAGUARIBE NOS ÚLTIMOS 40 ANOS
91
6
.1. Agentes responsáveis pelas alterações ambientais
93
6.1.1. Planície litorânea 93
6.1.2. Planície flúvio-marinha 98
7. A FOZ DO RIO JAGUARIBE: CONSIDERAÇÕES FINAIS
111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
117
INTRODUÇÃO
A importância dada aos recursos hídricos é notada muito tempo pela
humanidade, tanto em função da ocupação social de suas margens, como através
da pesca, do transporte e do equilíbrio no ambiente que os rios produzem. Nos
últimos três séculos, porém, as atividades humanas têm aumentado a sua influência
sobre as bacias de drenagem, bem como sobre os seus canais fluviais constituintes
(GUERRA & CUNHA, 1994).
No caso cearense, a configuração da rede hidrográfica foi muito
importante no processo de ocupação e povoamento do Estado, sendo o Rio
Jaguaribe, o maior rio do Estado, por sua extensão e importância, o que maior papel
desempenhou. Girão (1994) escreve que a ocupação da Capitania do Ceará se deu
a partir do litoral para o interior, sendo o vale do Jaguaribe, a porta de entrada de
sesmeiros que vinham do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco à procura de
pastagens naturais e águas, e a área de penetração mais importante. As margens
do rio Jaguaribe foram, então, sendo ocupadas por currais de gado, surgindo os
primeiros sítios e fazendas que, posteriormente, deram origem aos primeiros
municípios do baixo Jaguaribe (CAVALCANTE, 2001).
O Estado do Ceará, localizado na região nordeste do Brasil, apresenta-se
drenado por diversos cursos d’água. São onze regiões hidrográficas, divididas pelo
Plano Estadual de Recursos Hídricos de 1992, como unidade de planejamento, a
saber: Acaraú, Aracatiaçu, Curu, Coreaú, Bacias Metropolitanas, Banabuiú, Baixo
Jaguaribe, Médio Jaguaribe, Alto Jaguaribe, Poti e Salgado (COGERH, 2002).
Uma bacia hidrográfica apresenta características geoambientais
específicas, formando uma unidade natural indissociável. É um sistema complexo,
dado o número de elementos e variáveis envolvidas, no qual a relação mútua entre
componentes estruturais possibilita a análise integrada do seu meio ambiente,
permitindo uma apurada avaliação dos aspectos físicos, econômicos e sociais
(NASCIMENTO, 2003). Integram uma visão conjunta do comportamento das
condições naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas, uma vez que
mudanças significativas, em qualquer segmento dessas unidades, podem gerar
alterações, efeitos e/ou impactos à jusante e nos fluxos energético de saída
(descarga, cargas sólidas e dissolvida) (CUNHA & GUERRA, 1998).
Os rios são sistemas naturais de água doce, com canais definidos e fluxo
permanente ou sazonal em direção a um oceano, lago ou outro rio. O regime
hidrológico dos cursos d’água do Estado do Ceará, condicionado, principalmente,
pela irregularidade das chuvas e pelas condições geológicas das áreas onde se
situam as diversas bacias hidrográficas em sua configuração natural, com domínio
de rochas cristalinas, é do tipo intermitente (IPLANCE, 1997).
A açudagem como solução para os problemas de deficiência hídrica no
Ceará, sempre se apresentou como uma das mais utilizadas. Por um lado, possui
papel fundamental no controle de cheias, especialmente no baixo Jaguaribe, onde a
situação foi bem crítica em termos de inundação, bem como no abastecimento de
cidades e, conseqüentemente, na luta contra a seca. Por outro, a falta do
planejamento ambiental diante de tal intervenção intensifica, ainda mais, os danos
ambientais, principalmente quando a situação de equilíbrio torna-se comprometida
(CAVALCANTE, 2001).
Mais recentemente, o uso e ocupação nas regiões estuarinas tiveram um
grande aumento devido à sua importância econômica para a população litorânea.
Em vários países com clima tropical, as atividades de carcinicultura e crescimento
urbano aparecem como fatores antrópicos mais relevantes para a modificação dos
processos naturais envolvidos na evolução dos manguezais. Entretanto, fenômenos
naturais também estão envolvidos, tais como a migração de dunas e de barras
litorâneas em curto prazo, a flutuação relativa do nível do mar ou as modificações
climáticas em longo prazo. Estes fatores atuando de forma individual ou em
conjunto, podem alterar de forma significativa os ecossistemas costeiros
(MONTEIRO, 2005).
Pesquisas acerca dos impactos de obras de engenharia (BORBOLETO,
2001; MENESCAL et al, 2001; ANDRADE, 2002; MARINS et al, 2003; LACERDA,
2003, entre outros) em cursos fluviais, apontam para desequilíbrios na dinâmica
natural. Cunha e Guerra (1998) apontam que o comportamento da descarga e da
carga sólida dos rios tem se modificado pela participação antrópica diretamente nos
canais, através de obras de engenharia e, indiretamente, através das atividades
humanas desenvolvidas nas bacias hidrográficas.
Na década de 1960, a atuação humana ao longo do curso fluvial do rio
Jaguaribe se manifestava de maneira ainda regular, sem grandes obras de
engenharia. Na década de 1980, dois terços do curso do rio se encontravam
perenizados, pela ação dos açudes Óros e Banabuiú. No ano de 2004, o rio
encontra-se completamente controlado pelo açude Castanhão, o maior reservatório
de água do Estado, além da prática da carcinicultura ao longo do estuário.
O açude Óros está localizado no município homônimo, na sub-bacia do
alto Jaguaribe. Sua construção foi iniciada em 1958 e finalizada quatro anos depois
(1962). Apresenta capacidade para acumular 1,94 bilhões de m³, sendo sua vazão
regularizada de 20,40 m³/s. O açude Padre Cícero o “Castanhão” –, foi construído
pelo Governo Federal, através do DNOCS, em parceria com o Governo do Estado
do Ceará. Tem capacidade para acumular 6,7 bilhões de de água e se propõe a
aumentar a vazão regularizada do Rio Jaguaribe de 22 para 57 m³/s (COGERH,
2003).
O objetivo geral do presente trabalho é, portanto, traçar a evolução
geomorfológica atual e analisar o quadro ambiental da desembocadura fluvial do rio
Jaguaribe, o recurso hídrico de maior abrangência e importância no Estado do
Ceará, a partir da verificação dos desequilíbrios causados por essas alterações:
barragens e carcinicultura, sobretudo no baixo curso e na desembocadura do rio
Jaguaribe. Como objetivos específicos podem ser apontados:
Identificar e mapear as principais unidades de paisagem da foz do rio
Jaguaribe para cada período temporal proposto, representando-as
cartograficamente;
Efetuar o cruzamento de informações destas unidades, a fim de
identificar as alterações ocorridas no período de análise;
Analisar as modificações de forma integrada, visando conhecer as
principais alterações sócio-ambientais, definindo os agentes responsáveis
por tais modificações.
A pesquisa utiliza o sensoriamento remoto como técnica, que representa
recurso capaz de fornecer informações acerca da superfície da terra obtidas à
distância. Esta técnica vem revolucionando o mundo acadêmico e científico, e
apresentou resultados satisfatórios em trabalhos semelhantes, a saber: Lima, 2004;
Kampel & Amaral, 2004; Monteiro, 2005; Kampel et al, 2005, dentre outros.
Analisou-se a área de pesquisa através da interpretação de fotografias
áreas na escala de 1:70.000 do ano de 1968 e na escala de 1:32.500 do ano de
1988, além de imagens do satélite SPOT 5 e Quickbird II do ano de 2004. São trinta
e seis anos em análise direta. Os procedimentos de tratamento e interpretações das
bases cartográficas foram executados nos softwares Microstation SE e o Image
Analyst.
A presente pesquisa apoiou-se em trabalhos desenvolvidos anteriormente
na área, a citar Maia (1993), Oliveira (1995), Morais (1995), Cavalcante (2001), Elias
et al (2002), Maia (2005), Pinheiro et al (2006), LABOMAR (2006), dentre outros, e
estrutura-se da seguinte maneira:
No capítulo 1 tem-se a localização e caracterização geral da área
estudada, onde se inclui considerações em relação aos aspectos geológicos,
geomorfológicos, pedológicos, hidroclimáticos e no tocante às formações vegetais. O
capítulo 2 apresenta os passos da pesquisa, as estratégias adotadas, o material,
bem como os procedimentos utilizados na elaboração da dissertação.
Pensando nos aspectos morfoevolutivos da margem continental do estado
do Ceará, no capítulo 3 aponta-se a gênese da zona costeira cearense, além da
caracterização geomorfológica do setor leste, vinculadas à formação da bacia
sedimentar Potiguar e do médio e baixo curso do Rio Jaguaribe. Entendida esta
realidade mais ampla, ou seja, a zona costeira do estado do Ceará, com cerca de
573 km de extensão entre os estados do Rio Grande do Norte e Piauí. O capítulo 4
apresenta a compartimentação das unidades geoambientais da área de pesquisa.
O capítulo 5 trata das análises espaço-temporais efetuadas sobre as
fotografias aéreas e imagens de satélite para a caracterização da foz do rio
Jaguaribe. São mostrados os elementos das análises de cada período que
subsidiaram a identificação das unidades geoambientais apresentadas
anteriormente. Apresentam-se os mapas de unidades de cada período, além da
evolução destas unidades, proporcionadas através do cruzamento dos produtos
cartográficos. No capítulo 6, são discutidos os processos que podem ter direcionado
esta evolução, sendo divididos em dois grupos: os agentes naturais e os agentes
sociais. Apresenta-se ainda, o mapa de evolução geomorfológica atual da foz do rio
Jaguaribe.
No último capítulo (capítulo 7), as considerações finais contêm
comentários em relação ao futuro desta desembocadura fluvial e encerram este
trabalho, que não tem a pretensão de esgotar as discussões acerca do tema. Em
seguida, apresentamos as referências bibliográficas, que contêm todos os trabalhos
que nos auxiliaram na elaboração desse documento.
1. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
1.1. LOCALIZAÇÃO E ACESSO
Situada no setor leste do litoral do Estado do Ceará, mais precisamente a
sudeste de Fortaleza, a foz do rio Jaguaribe corresponde à desembocadura do
recurso hídrico mais importante do Estado. A bacia do rio homônimo ocupa
aproximadamente 48% do território estadual, apresentando cerca de 74.000 km² de
área e uma extensão de 610 km, desde a Serra da Joaninha, no município de Tauá,
onde se encontram as nascentes (sudoeste do Estado), até o município de Fortim (a
norte), onde deságua no oceano Atlântico (RADAM BRASIL, 1981).
Por se tratar de uma pesquisa que enfoca a evolução de um elemento
natural - a foz do rio -, o perímetro não obedece necessariamente à divisão política
municipal. Trata-se de um recorte geomorfológico de aproximadamente 100 km²,
estando seus vértices localizados entre as latitudes 4°23’ e 30’ sul e longitudes
37°49’ e 37°43’ oeste (figura 01).
O acesso à área é efetuado pela rodovia estadual CE-040, também
conhecida como Via Litorânea, até o quilômetro de número 110, acesso ao
município de Fortim. A partir de então, se prossegue, em via secundária, até o
distrito de Maceió. Alternativa de acesso ocorre através da CE-040 até o município
de Aracati e, em seguida, através de via secundária pela praia de Canoa Quebrada.
Grosso modo, os limites oeste e leste são, respectivamente, os distritos de pontal de
Maceió, município de Fortim e Canoa Quebrada, distrito de Aracati. O limite norte é o
Oceano Atlântico e sul a sede do município de Aracati.
1.2. CONDICIONANTES GEOAMBIENTAIS DA ÁREA
A análise geoambiental tem como finalidade caracterizar os sistemas
físico-sociais de uma dada área. Esta caracterização é fundamental para a
compreensão dos diferentes componentes ambientais e das suas inter-relações.
É definida de acordo com as características geológicas e geomorfológicas, das
condições climáticas e hidrográficas, tipos de solos e de formações vegetacionais,
além das potencialidades naturais e limites de uso.
Nesse sentido, apresentam-se as características geoambientais e,
posteriormente (capitulo 05), será mostrada a compartimentação das unidades
geoambientais existentes na área de pesquisa.
1.2.1. Condições Geológicas e Geomorfológicas
No âmbito regional, nosso recorte de estudo integra a margem continental
passiva transformante do Nordeste do Brasil (MATOS, 2000; CLAUDINO SALES,
2002; PEULVAST E CLAUDINO SALES, 2006), em seu setor setentrional. Na área
têm-se a presença de três unidades morfoestruturais, sendo elas, em ordem
decrescente de importância em termos espaciais: o domínio litorâneo e costeiro, o
domínio das superfícies de aplainamento e o domínio dos platôs sedimentares.
O domínio litorâneo e costeiro é formado por depósitos sedimentares
cenozóicos que sustentam os relevos mais recentes (morfologias submersas da
plataforma continental, estuários, falésias, pontas litorâneas, campos de dunas,
flechas litorâneas, lagoas interdunares, tabuleiros costeiros modelados na Formação
Tércio-quaternária Barreiras). No caso particular tratamos do estuário do rio
Jaguaribe e das formas litorâneas e costeiras adjacentes que delimitam a área de
estudo. O domínio das superfícies aplainadas é representado por pedimentos pré-
quaternários modelados em rochas pré-cambrianas. No setor de estudo e nas áreas
adjacentes, ocorrem superfícies de aplainamentos cretáceas e terciárias, limitando a
área ao sul. O domínio dos platôs sedimentares é representado por bacias
sedimentares formadas por rochas paleo-mesozóicas e capeadas por cuesta e/ou
chapada. No setor em tela, tem-se a bacia sedimentar/chapada do Apodi,
mesozóica, delimitando o setor de estudos a leste.
Tratando da área ocupada pela bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, tem-se
a maior parte da drenagem no alto curso talhada em rochas pré-cambrianas,
caracterizadas por relevo relativamente acidentado e por formações superficiais
pedológicas representadas por solos rasos e pouco permeáveis. No médio curso, o
Jaguaribe disseca rochas pré-cambrianas a oeste e as formações cretáceas da
Bacia Potiguar a leste. No baixo curso, o rio escoa sobre depósitos sedimentares
cenozóicos da Formação Barreiras.
Na área de pesquisa, a geologia está representada, basicamente, pelos
sedimentos Tércio-quaternários da Formação Barreiras e manchas isoladas da
Formação Tibau (de idade e litologia coincidente à Formação Barreiras), e pelas
areias holocênicas dos aluviões, faixas de praia e campos de dunas (figura 02). Nas
adjacências da foz do rio encontram-se ainda as rochas sedimentares cretáceas do
Grupo Apodi e o embasamento cristalino relativo ao pré-cambriano.
Fonte: Adaptado de CPRM, 2003.
Figura 02: Esboço geológico da área de pesquisa, foz do rio Jaguaribe/CE.
Cronologicamente, as unidades lito-estratigráficas presentes na área,
encontram-se posicionadas desde o Plioceno (período Terciário: Formação Barreiras
e Tibau) até o Holoceno (período Quaternário: os depósitos eólicos e litorâneos, e os
depósitos aluvionares).
Tratando da litologia, - os dados são baseados em RADAM BRASIL
(1981); IPLANCE (1997) e CPRM (2003) - a Formação Barreiras é constituído por
sedimentos areno-argilosos, pouco litificados, de coloração avermelhada, creme ou
amarelada. Sua granulação varia entre fina e média, contendo intercalações de
níveis conglomératicos.
A Formação Tibau repousa diretamente sobre a Formação Jandaíra na
bacia Potiguar, aflorando como paredão fluvial na margem esquerda do baixo curso
do Jaguaribe próximo a cidade de Fortim, e, ainda, na localidade de Maceió, na
forma de falésias ativas, constituindo a formação geológica do Pontal.
Litologicamente compreende arenitos médios a conglomératicos, com tons variando
do verde amarelado a creme, mal selecionados, duros e friáveis, contendo quartzo e
feldspato (CASTELO BRANCO, 1996).
Os depósitos da planície litorânea representam unidade constituída por
sedimentos inconsolidados que formam as faixas de praias, flechas litorâneas e
acumulações dunares que se distribuem continuamente e de forma paralela à linha
de costa. Os sedimentos desta unidade são representados por areias
esbranquiçadas, de granulação fina a média, bem selecionadas, composta por grãos
de quartzo.
Os depósitos aluviais são formados por sedimentos de origem fluvial,
influenciados pela ação marinha, de períodos recentes, representados,
principalmente, por argilas, areias e cascalhos.
1.2.2. Contexto Hidroclimático
O clima regional é semi-árido, apresentando irregularidades pluviométricas
temporo-espacial. O regime pluviométrico da região é do tipo tropical com estação
de chuvas concentradas em cinco meses consecutivos. No litoral ocorrem chuvas
mais abundantes que ultrapassam anualmente 900 a 1000 mm. Para o interior,
um decréscimo sensível das chuvas e os valores ficam abaixo de 700 mm anuais
(SOUZA, 2002).
Geralmente a estação chuvosa tem início no mês de janeiro, com
máximas ocorrendo no mês de março. O trimestre mais chuvoso é o de
fevereiro/abril, correspondendo a 59,2% da totalidade. No semestre de janeiro a
junho este índice supera 93%, enquanto que no segundo semestre, verifica-se uma
queda progressiva das precipitações (MAIA, 1993).
A concentração das chuvas no estado do Ceará sofre a influência direta
da Zona de Convergência Intertropical ZCIT, principal sistema atmosférico
Variação Pluviométrica 1962/1985
Postos Aracati e Fortim
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
196
2
1964
1
96
6
196
8
1970
19
7
2
1974
1976
1
97
8
1980
19
8
2
1
98
4
Análise temporal
Precipitação em mm
Posto Aracati Posto Fortim
Variação pluviométrica ao longo do ano
Postos Aracati e Fortim
0
50
100
150
200
250
300
350
Janeiro
Fev
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Outubro
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m
br
o
D
e
z
e
m
br
o
Precipitação em m m
Posto Aracati Posto Fortim
causador da precipitação. A ZCIT se forma na confluência dos ventos alísios de NE
e SE, onde ocorre a ascendência do ar, formação de nebulosidade e muita chuva.
Tal zona se localiza próxima à linha do Equador e, no transcorrer do ano, migra para
os hemisférios Norte e Sul, atingindo sua posição mais meridional no verão/outono,
quando ocorrem as maiores chuvas no Estado, período chamado popularmente de
inverno (ZANELLA, 2005).
Fazendo uma análise do comportamento das precipitações na área de
pesquisa para o período de 1962 a 1985 (BRASlL, 1990), apresentam-se as
variações anuais para os postos Aracati e Fortim (gráfico 01). Tem-se a média anual
em torno de 1.238 mm. Analisando essa variação no decorrer de cada ano, para o
mesmo período, observamos a existência de uma quadra úmida, situada entre os
meses de janeiro a julho. Nessa quadra chuvosa, ocorrem quase 93% das chuvas
de cada ano (gráfico 02).
Fonte: BRASIL, 1990.
Gráfico 01: Variação Pluviométrica entre os anos de 1962 e 1985 para os postos dos Municípios de
Aracati e Fortim.
Fonte: BRASIL, 1990.
Gráfico 02: Variação Pluviométrica mensal, entre os anos de 1962 e 1985 para os postos dos
Municípios de Aracati e Fortim.
O regime térmico da região é caracterizado, basicamente, por
temperaturas elevadas e amplitudes térmicas reduzidas. A temperatura média anual
é de 26 °C, com variações não ultrapassando 5 °C (MAIA, 1998). A pouca variação
das temperaturas deve-se ao caráter tropical da região e a sua proximidade da linha
do Equador.
O regime eólico no litoral do estado é controlado basicamente pelos
alísios, os quais atingem a costa, provindos do quadrante E. No primeiro semestre
do ano, predominam os alísios de NE, no segundo semestre, um domínio dos
alísios de SE, eles sopram a velocidades que podem variar entre 4 m/s (alísios de
NE sobretudo) e 7m/s, respectivamente (MAIA, 1998). Os alísios de SE, mais
intensos que os de NE, têm também menor umidade e são, assim, os mais
importantes para a geomorfologia costeira do Ceará, pois mobilizam uma maior
quantidade de sedimentos durante o período em que predominam, orientando a
direção de migração das dunas (PINHEIRO e SALES, 2007).
No Estado do Ceará, os ventos se apresentam enquanto um dos
elementos climáticos mais importantes. Têm velocidades médias de 5,5 m/s,
dominando os alísios de SE, E e NE (CLAUDINO SALES, 2002). Estes são
naturalmente impulsionadores de sedimentos para edificação de dunas, utilizando
estoques sedimentares das zonas de estirâncio, de berma e das praias.
Pinheiro e Sales (2007) propuseram um perfil climatológico para o litoral
cearense a partir do método de balanço hídrico de Thornthwaite & Mather, o qual é
fundamentado na constatação empírica do ciclo hidrológico. A idéia original do
método compara a quantidade de água recebida pelo ambiente através das chuvas
com a quantidade perdida pela evapotranspiração. O sistema de Thornthwaite é
aplicado a partir de variáveis facilmente disponíveis, tais como: temperatura,
precipitação pluviométrica, graus de latitude e tempo/hora de luz solar (Nimer e
Brandão, 1985).
O índice de aridez, calculado através do quociente da média anual de
precipitação em relação ao potencial anual de evapotranspiração (TSOAR e ARENS,
2003) para o litoral cearense de maneira geral, apresentou característica de climas
úmidos, com índice médio de 0.70. Dos vinte e quatro postos espalhados ao longo
do litoral cearense, apenas nove possuem índice igual ou inferior a 0.65 (PINHEIRO
e SALES, 2007), intervalo que define terras secas (TSOAR e ARENS, 2003).
Levando em consideração os dois postos existentes na área estudada -
Aracati e Fortim (Figura 03), verifica-se que o de Fortim, mais próximo do litoral,
indicou índice de aridez igual a 0.80, enquanto Aracati apresenta o valor de 0.54
(Tabela 01). Dessa forma, percebe-se a influência do mar no controle climático, que
determina a existência de área úmida nas suas proximidades, e a existência de área
seca no interior do Estado, a apenas 8 km (distância aproximada de um posto a
outro).
Fonte: Adaptado de IPLANCE (1989).
Figura 03: Localização dos postos de coleta de dados. Em destaque a localização dos postos na área
de pesquisa.
Fonte: PINHEIRO e SALES, 2007.
Tabela 01: Dados do balanço hídrico e índice de aridez da área de estudo, postos Aracati e Fortim.
BALANÇO HÍDRICO E INDICE DE ARIDEZ
Posto/ Município
Precipitação
(mm)
ETP
(mm)
ETR
(mm)
EXC
(mm)
DEF
(mm)
P/PET
Fortim/ Fortim
1396.3
1727
1020
376
707
0.80
Aracati/ Aracati 933.9 1725 848 86 877 0.54
Legenda:
Evapotranspiração potencial (ETP)
Evapotranspiração real (ETR)
Excedente hídrico (EXC)
Déficit hídrico (DEF)
Índice de Aridez (P/PET)
Do ponto de vista da dinâmica litorânea, tem-se que as ondas têm direção
dominante E/SE, com altura média significativa de 1,1 m. Dominam as ondas tipo
sea”, formadas no local, com ocorrências, sobretudo entre dezembro e março das
ondas do tipo swell”, formadas no hemisfério Norte (MAIA, 1998). As ondas,
associadas às variações de marés, são responsáveis pela escultura das formas
litorâneas, notadamente das falésias, ambientes em processo natural de recuo pela
erosão (MORAIS, 1996).
As correntes de deriva litorânea são responsáveis pela manutenção do
equilíbrio dinâmico das praias, como verdadeiros rios de areia que se locomovem
suavemente na zona litorânea. A corrente longitudinal ou deriva litorânea, possui
velocidade média da ordem de 0,5 m/s e realiza um transporte dominante de leste
em direção a oeste (MAIA, 1998). O regime de marés é mesotidal, ou seja, com
marés altas não muito elevadas. As marés são semidiurnas, isto é, duas marés altas
por dia, com amplitude de marés da ordem de 3,7m e média de marés altas de 2,7m
(e.g. MAIA, 1998).
Tratando da hidrografia, tem-se que a grande bacia hidrográfica do Rio
Jaguaribe (figura 04), reúne cinco das onze bacias do Ceará. São elas a bacia do
Alto Jaguaribe com cerca de 24.538 km², a do Banabuiú com 19.810 km² de área, a
do Salgado com 12.216 km², a do Médio Jaguaribe com 10.509 km² e a do Baixo
Jaguaribe com aproximadamente 12.216 km² de área (COGERH, 2003).
Tratando da classificação geométrica dos padrões de drenagem, o rio
Jaguaribe é predominantemente dendrítico ou arborescente, isto é, apresenta
desenvolvimento semelhante à configuração de ramos de uma árvore. No entanto,
podem ser encontrados também os padrões paralelos (fluxos d’água fluindo quase
paralelamente uns aos outros) e retangulares (caracterizados pelo reticulado
ortogonal), dentre outros (IPLANCE, 1997).
Como principais afluentes destacam-se os rios Banabuiú, Palhano e
Riacho do Sangue na margem esquerda. Na margem direita, os principais são os
rios Salgado e Cariús; todos os demais são de pequena a média extensão (GATTO,
1999).
Fonte: Betárd, 2005.
Figura 04: Carta hipsométrica da grande bacia do rio Jaguaribe/Ceará.
1.2.3. Características Pedológicas e Recobrimento Vegetal
Com relação aos solos do Estado do Ceará, a distribuição está
estreitamente relacionada com a compartimentação geomorfológica. Tratando da
cobertura vegetal do estado percebe-se que, igualmente aos solos, ela apresenta-se
bastante degradada e em grande parte destituídas das condições originais.
Vale ressaltar que o quadro pedológico apresentado a seguir, se baseia
na compartimentação apresentada por Souza (2000) e Pereira & Silva (2005). As
classes de solos estão de acordo com o estabelecido pelo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos, publicado pela EMBRAPA (1999).
Na área, de acordo com a compartimentação geomorfológica, têm-se na
planície litorânea, os neossolos quartzarênicos. São solos muito profundos,
excessivamente drenados, ácidos e com fertilidade natural muito baixa. Seu uso
limita-se pela acidez excessiva, a susceptibilidade à erosão e a baixa retenção de
umidade, estando associados às feições de praia, campos de dunas móveis, campo
de dunas fixas e paleodunas e à planície flúvio-marinha.
Os glacís de deposição costeiros e inferiores, ou seja, os tabuleiros
costeiros arenosos e areno-argilosos estão associados, respectivamente, aos
neossolos quartzênicos e aos argissolos vermelho-amarelos distróficos e latossolos
amarelos distróficos. Os argissolos vermelho-amarelos são solos variando de rasos
a profundo. Apresentam textura média ou argilosa, moderadamente ou
imperfeitamente drenados, com fertilidade natural de média a baixa. Os latossolos
são solos muito profundos, bem drenados, apresentam textura arenosa ou areno-
argilosa, com fertilidade natural variando de média a baixa (PEREIRA e SILVA,
2005).
A planície fluvial é representada pela planície aluvial do baixo curso do rio
Jaguaribe, onde se apresenta associação de neossolos flúvicos, planossolos e
vertissolos. Os neossolos flúvicos são solos profundos, mal drenados, muito ácidos,
textura indiscriminada e fertilidade natural muito baixa (PEREIRA E SILVA, 2005).
Suas limitações de uso vinculam-se ao excesso de água, à salinização, à drenagem
imperfeita e às inundações. Os planossolos são rasos a moderadamente profundos,
mal drenados, com textura também indiscriminada e fertilidade natural média à baixa
com problema de sais. os vertissolos são solos rasos, mal drenados, textura
argilosa e fertilidade natural alta. As suas limitações de uso estão conectadas com a
imperfeição na drenagem, à baixa permeabilidade e a susceptibilidade à erosão
(SOUZA, 2000).
A Chapada do Apodi, vinculada aos planaltos sedimentares tabuliformes e
cuestiformes, apresenta uma associação de cambissolos eutróficos, latossolos
vermelho-amarelos eutróficos e distróficos e afloramentos rochosos. Os cambissolos
são rasos a moderadamente profundos, com textura argilosa, apresentam-se bem
drenados, e fertilidade natural alta. Os afloramentos rochosos caracterizam-se por
rochas nuas ou muito pouco alteradas e são impraticáveis para o uso agrícola
(SOUZA, 2000).
Apresentado as principais classes pedológicas da área, devemos lembrar
que no estado do Ceará, de modo geral, as atividades sociais, dentro de um
processo histórico de ocupação, contribuíram de maneira significativa para essa
descaracterização das condições naturais. Ressalta-se que as marcas dessas
atividades também são sentidas nas formações vegetacionais.
Sabe-se que a vegetação reflete-se na composição da paisagem através
de sua interação com os demais componentes naturais, como o clima, os solos, as
rochas, o relevo e os recursos hídricos (PEREIRA & SILVA, 2005). No Ceará, as
formações vegetacionais m uma distribuição que obedece a uma zonalidade
(SOUZA, 2000). Da faixa litorânea em direção ao interior, as formações ocorrem em
faixas sucessivas e alongadas, com direção predominantemente paralela.
A descrição das espécies obedece à classificação proposta em trabalhos
anteriores (RADAM BRASIL, 1981; MAIA, 1993; SOUZA, 2000; PEREIRA e SILVA,
2005), estando os nomes científicos de acordo com Silva (1998) e Gatto (1999).
A unidade de vegetação pioneira psamófila estende-se ao longo do litoral
do Estado, nos ambientes de pós-praia e dunas móveis, onde há o predomínio de
terrenos arenosos. Faz parte dessa unidade espécies herbáceas e gramíneas, tendo
destaque, a salsa (Ipomea assarifolia), a salsa de praia (Ipomoea pes-caprae), o
pinheirinho da praia (Remirea marítima), entre outros. Essas espécies são de
elevada importância, pois atuam como obstáculos no transporte eólico das areias.
A vegetação subperenefólia de dunas desenvolve-se pelas superfícies das
dunas mais antigas e estabilizadas que, anteriormente, foram colonizadas pela
vegetação pioneira. As espécies são predominantemente arbustivas e possuem um
caráter subperenifólio. Tal vegetação possui papel fundamental na estabilização do
relevo, diminuindo o avanço dos sedimentos dunares para o interior. Entre os
arbustos mais característicos dessa unidade vegetacional destacam-se o cajueiro
(Anacardium occidentale), juazeiro (Zizyphus joazeiro), goiabinha (Psidium sp.),
murici (Byrsonima sp.), angélica (Guettarda angélica), dentre outros.
A vegetação de mangue estende-se pelas áreas de inundação das
planícies flúvio-marinhas, correspondentes ao ecossistema denominado manguezal.
São poucas espécies que, em conjunto, abastecem a base nutritiva deste produtivo
ambiente (POR, 2004). Segundo Monteiro (2005), as principais espécies de
vegetação que ocorrem, são a Rhizophora mangle, Avicennias schaueriana e
germinans, Laguncularia racemosa, e Conocarpus erectus (figura 05).
Fonte: MONTEIRO, 2005.
Figura 05: Principais espécies de mangue que ocorrem no estado do Ceará e sua distribuição geral
em relação ao gradiente de marés.
A classificação que se segue está de acordo com Lima (2004) e Monteiro
(2005), e os nomes científicos apoiados em Por (2004).
A Rhizophora mangle, também conhecida como “mangue vermelho”, é
caracterizado pelas raízes aéreas (rizóforos) com sistema radicular que partem do
tronco e ramos em formato de arcos que atinge o solo, o que permite uma maior
sustentação em solos pouco consolidados.
O gênero Avicennia apresenta duas espécies ocorrentes no litoral
cearense, as schaueriana e germinans. Popularmente chamada de mangue seriba,
siriuba ou canoé é a mais alta das árvores do mangue. Pode alcançar uma altura
média de 11 metros com tronco de 20 centímetros de diâmetro.
A Laguncularia racemosa conhecida pelos ribeiros de mangue branco, é a
arvore de menor porte entre as árvores do mangue. Seus ramos são frequentemente
submersos na maré alta, prefere solos mais arenosos.
A Conocarpus eretus conhecida como mangue tinteiro, botão ou ratinho. É
a espécie que habita a porção mais alta do perfil de maré. É encontrada nas frações
mais arenosas e topograficamente mais elevada do leito do rio. Tal vegetação
funciona como uma eficiente proteção das margens das desembocaduras fluviais,
diminuindo a erosão, retraindo o avanço das dunas e assumindo papel fundamental
na proteção de inúmeras espécies de moluscos, crustáceos, peixes e aves.
A vegetação de várzea estende-se ao longo dos médios e baixos cursos
das bacias fluviais, assim como em margens de lagoas. um predomínio de um
estrato mais elevado ocupado por carnaubeiras (Copernicia cerifera), sendo muitas
vezes acompanhada por árvores e arbustos. No estrato arbustivo-arbóreo são
encontradas espécies como o marmeleiro (Croton sp.), a jurema (Mimosa tenuiflorar)
e o mufumbo (Combretum leprosum), entre outros.
A vegetação subcaducifólia de tabuleiro estende-se por praticamente todo
o tabuleiro costeiro do estado do Ceará. um predomínio de espécies arbóreas,
porém acompanhadas de um estrato arbustivo e outro herbáceo. É representada por
espécies como jenipapo bravo (Tacayena sp.), juazeiro (Zizyphus joazeiro),
mandacaru (Cereus sp.), pau ferro (Cássia ramiflola), ameixa (Ximenia americana),
angélica (Guettarda sp.), imbaúba (Cecropia sp.), cajueiro (Anacardium occidentale)
e croata (Bromélia sp.)
O conhecimento das características geoambientais torna-se indispensável
para a compreensão do funcionamento do recorte ambiental em questão. A
pesquisa lança um olhar sobre o conjunto de unidades ambientais que compõem a
desembocadura fluvial do rio Jaguaribe. Tais unidades fazem parte de um conjunto
maior que é a zona costeira cearense, de seu setor leste, que evolui ao longo do
tempo geológico. Dessa maneira, o entendimento da formação e evolução dessas
estruturas se apresenta imprescindíveis para posteriormente realizar uma análise
destas unidades geoambientais (ver capítulo 5).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
O enfoque dos estudos realizados na desembocadura do Rio Jaguaribe
tem como um dos pontos primordiais a caracterização da base físico-natural da foz e
sua evolução recente aproximadamente dos últimos 40 anos. A identificação,
definição, caracterização e evolução das unidades ambientais associadas a esse
domínio natural são indispensáveis.
O suporte teórico-metodológico se na “análise geossistêmica”, tendo
suas raízes na Teoria Geral dos Sistemas TSG (PENTEADO, 1980). O critério
fundamental da análise geossistêmica é o de considerar as relações mútuas entre os
componentes de um sistema visando analisar o estado de inter-relações e
interdependências entre o sistema natural e humano, procurando definir a
sensibilidade e a resistência do ambiente. A justificativa do apoio em tal metodologia,
no caso de nossa pesquisa, dá-se pelo fato de tratar-se da análise espaço-temporal
do ambiente natural, composto de diferentes variáveis que vêm se modificando, quer
seja espontaneamente, quer seja sobre os efeitos diretos e indiretos da ação do ser
humano ao longo deste período.
Segundo Troppmair (1989), a TGS foi inicialmente desenvolvida nos
Estados Unidos da América EUA e usada por R. Defay na termodinâmica e, mais
tarde, aplicada à biologia por Ludwig Von Bertalanfy. A partir da década de 1960 ela
vem sendo bastante difundida.
A concepção sistêmica consiste em uma abordagem na qual, qualquer
diversidade da realidade estudada (objetos, propriedades, fenômenos, relações,
problemas, situações, entre outros) pode-se considerar como uma unidade regulada
em um ou outro grau que se manifesta mediante algumas categorias sistêmicas, tais
como: estrutura, elemento, meio, relações (RODRIGUEZ et al, 2004).
A figura 06 mostra um modelo sistêmico de funcionamento da paisagem,
com entrada e saída de energia, matéria e informação podendo, assim, o sistema
ser definido como o conjunto de elementos que desempenham relação entre si, e
que formam uma determinada unidade e integridade (RODRIGUEZ et al, 2004).
Para Tricart (1977), sistema é um conjunto de fenômenos que se
processam mediante fluxos de matéria e energia. Esses fluxos originam relações de
dependência mútua entre os fenômenos. O conceito de sistema é um dos recursos
mais recomendáveis atualmente para que se possa estudar o meio ambiente,
através de um procedimento dialético entre a necessidade da análise e a
necessidade inversa de uma visão de conjunto.
O sistema é um todo complexo, único, organizado, formado pelo conjunto
ou combinação de objetos ou partes. Não se trata de algo estático e sim dinâmico,
devido ao metabolismo de suas partes interelacionadas em um todo integral
(RODRIGUEZ et al, 2004).
Sotchava (1977) afirma que o geossistema é a expressão dos fenômenos
naturais e do potencial ecológico de um determinado espaço, no qual há uma
exploração biológica, podendo influenciar também os fatores sociais e econômicos
na estrutura e expressão espacial.
Segundo o mesmo autor, a paisagem é
um conjunto que, para ser
conhecido, deve ser parcelado, e que esse conjunto não se reconstitui a partir tão
somente da união das partes. Para a paisagem ser compreendida, deve haver a
inter-relação e interdependência entre as mesmas partes que
a
integram.
Bertrand (1969) conceituou geossistema como um tipo de sistema aberto,
hierarquicamente organizado, formado pela combinação dinâmica e dialética, dos
fatores abióticos, bióticos e antrópicos. Assim, o geossistema seria o resultado da
combinação dinâmica de um potencial ecológico (geomorfologia, clima, hidrografia),
de uma condição de exploração biológica natural, (vegetação, solo, fauna) e de
atividades sociais.
A análise sistêmica propicia o conhecimento de cada elemento que
compõe o meio natural, ao mesmo tempo em que possibilita a interpretação das
inter-relações entre as partes do todo. O papel do pesquisador é identificar e/ou
Fonte: RODRIGUEZ et al, 2004.
Figura 06: Modelo sistêmico do funcionamento da paisagem.
reconhecer os resultados das conexões entre esses componentes, por mais
complexos que eles possam se apresentar para, assim, chegar à totalidade
composta pelas partes (VIDAL, 2006).
Bertrand (1969), Sotchava (1977), Tricart (1977), Christofoletti (1979),
Troppmair (1989), Rodriguez et al (2004), entre outros autores, desenvolveram
estudos integrados da paisagem, tendo como fundamentação teórico-metodológica
a TGS direcionada para estudos geossistêmicos e geoambientais, em que o
geossistema é um conceito territorial, uma unidade espacial que pode ser delimitada
e analisada em determinada escala.
De maneira ampla, são considerados diferentes tipos de sistemas: 1)
isolados, que realizam trocas com o ambiente no qual se acham instalados (estes
são os mais raros); 2) não isolados fechados, que trocam apenas energia e, 3) não
isolados abertos (mais comuns), que trocam matéria e energia com o meio
circundante (PENTEADO, 1980; CLAUDINO-SALES, 2004).
As bacias hidrográficas podem ser consideradas sistemas abertos, em
termos de inputs de energia, oriundos da precipitação, e dos outputs, relacionados à
água e sedimentos oriundos da erosão fluvial e das encostas existentes no âmbito
das bacias (GUERRA & MENDONÇA, 2004). Nosso “sistema”, ou seja, a
desembocadura do rio Jaguaribe, caracteriza-se enquanto aberto, com entrada -
input”, armazenamento e saída –output” de matéria e energia, representada,
sobretudo, pelas marés e sedimentos transportados e depositados.
Na presente pesquisa, a teoria sistêmica contribui como base teórica
resultando na elaboração de uma evolução geomorfológica e análise ambiental da
desembocadura do rio Jaguaribe, procurando-se obter a interdisciplinaridade numa
visão de síntese no conjunto do espaço geográfico em estudo. Realizam-se mais
uma análise ambiental, ou seja, um estudo dos elementos naturais da paisagem,
associado às formas de uso e ocupação do solo, que uma análise sistêmica pura, na
qual seriam necessários procedimentos quantitativos para a mensuração dos inputs
e outputs.
2.1. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS
Para a realização desta pesquisa adotou-se a estratégia de dividi-la em
dois momentos. Primeiramente foram buscados os documentos bibliográficos e
cartográficos e, posteriormente, realizou-se o tratamento destes documentos, bem
como os levantamentos de campo. Apresentam-se aqui todos os passos
necessários, os materiais utilizados e os procedimentos na manipulação da base de
dados.
2.1.1. Levantamento Bibliográfico e Cartográfico
Os primeiros passos da pesquisa deram-se na busca de materiais
disponíveis em pesquisas anteriores: monografias, dissertações, teses, artigos e
livros relacionados à desembocadura fluvial do Jaguaribe e ao baixo curso do
referido recurso fluvial. Bem como sobre zona a costeira cearense e as feições
geomorfológicas do seu setor leste.
As buscas efetivaram-se, inicialmente, em levantamento pela internet nas
bibliotecas vinculadas à Universidade Federal do Ceará: biblioteca central do Centro
de Ciências e Tecnologia, pós-graduação em Engenharia Ambiental, a do Centro de
Ciências Agrárias, bem como a do Instituto de Ciências do Mar LABOMAR.
Continuando na busca pelas Bibliotecas da UFC, também foram consultadas as
bibliotecas internas dos Laboratórios do Departamento de Geografia, a saber:
Laboratório de Geomorfologia Ambiental Costeira e Continental LAGECO,
Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos e biblioteca do Programa de
Educação Tutorial – PET.
Na Internet, utilizando o site de busca Google Acadêmico, verificou-se a
disponibilidade de artigos científicos acerca da temática desejada. Anais impressos e
digitais de Congressos especializados, tais como, Encontro Nacional de Geógrafos –
ENG, Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada SBGFA, Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto SBSR, entre outros, também foram
procurados.
Contou-se, ainda, com a indicação e disponibilidade de
materiais/documentos do arquivo pessoal de alguns professores vinculados, ou não,
ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFC. Nos domínios extra-
universitários, foram freqüentadas as bibliotecas do Departamento Nacional de
Obras Contras as Secas – DNOCS Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do
Estado do Ceará COGERH, Secretaria Estadual do Meio Ambiente SEMACE e
Companhia de Levantamento de Recursos Minerais – CPRM.
A coleta por produtos cartográficos foi efetuada em departamentos de
Cartografia de diversos órgãos públicos da esfera estadual e federal e em
segmentos da própria universidade. Nas tentativas junto as Secretaria Estadual do
Meio Ambiente SEMACE, Companhia de Levantamento de Recursos Minerais
CPRM, Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Cea
COGERH, ao Instituto de Agricultura do Estado do Ceará IDACE, Instituto de
Recursos Agrários INCRA e Instituto de Ciências do Mar LABOMAR foram
levantadas cartas, mapas, fotografias reas, imagens de satélite e informações em
banco de dados que subsidiaram a pesquisa.
2.1.2. Levantamento de Campo
Posterior à coleta de materiais bibliográficos e cartográficos, iniciou-se o
trabalhos com as bases cartográficas para a elaboração dos mapas de unidades
geoambientais. Para a finalização com êxito desta etapa, efetuou-se trabalho de
campo na área de pesquisa com a colaboração da Profa. Dra. Vanda de Claudino
Sales UFC (orientadora) e do Prof. Dr. Jean Pierre Peulvast, além do Doutorando
Julien Quiret (Universidade de Paris-Sorbonne IV).
Realizaram-se observações e anotações acerca das unidades
geoambientais identificadas, além de registros fotográficos. Dentre as atividades
desenvolvidas nesta etapa destacam-se:
1. Percurso de barco pelo rio Jaguaribe, objetivando identificar as áreas
onde ocorreu aumento de manguezal e ilhas fluviais;
2. Visita ao Pontal de Maceió, no sentido de avaliar esta feição
geomorfológica e conferir a linha de paleofalésia identificada na imagem
Quickbird;
3. Percurso efetuado com bugre sobre o campo de dunas móveis, desde
Canoa Quebrada à foz do rio Jaguaribe;
4. Visita a viveiros de camarão localizados na planície flúvio-marinha do
rio Jaguaribe, na comunidade do Cumbe (Aracati).
2.1.3. Manipulação das Bases Cartográfica
Para a efetivação do tipo de trabalho proposto, ou seja, onde o uso de
equipamentos de tecnologia é necessário, a existência de um lugar com infra-
estrutura básica é indispensável. Utilizou-se a estrutura física do laboratório de
Cartografia Digital do departamento de Geografia da UFC, coordenado pelo
professor Paulo Thiers, compreendendo computadores Pentium 4, scanner de mesa
A3 e os softwares Microstation SE e Image Analyst, para produção das informações
espaciais da pesquisa.
A escolha dos produtos cartográficos para uso deu-se pela disponibilidade
dos mesmos:
Imagens do satélite Quickbird II, com resolução espacial de 60 cm,
datadas de 2004, cedidas pela Superintendência Estadual do Meio
Ambiente do Estado do Ceará – SEMACE;
Imagem do satélite SPOT 5, com resolução espacial 10m, datado do
ano de 2004, igualmente de posse da SEMACE;
Fotografias aéreas, na escala 1:32.500 do ano de 1988, pertencentes
ao acervo do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará - IDACE;
Fotografias aéreas, na escala 1:70.000, Cruzeiro do Sul, 1968,
adquiridas junto à Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais –
CPRM;
Carta topográfica, escala 1:100.000, referente à folha Parajuru, DSG
I
SUDENE, 1972;
Mapa Geológico e Geomorfológico do Estado do Ceará, na escala
1:500.000, CPRM, 2003, em meio digital;
CD Brasil visto do Espaço produzido pela EMBRAPA datado de 2003;
No intuito de facilitar a compreensão das análises, bem como divulgar os
procedimentos adotados e para que estes sirvam de base para futuros trabalhos, os
parágrafos a seguir mostram os passos com o tratamento das bases cartográficas.
O processamento digital das imagens e posterior produção de informações
espaciais concretizaram-se embasados na técnica de Sensoriamento Remoto. Essa
técnica permite obter informações da superfície da terra à distância, ou seja, obtém
informações sobre objetos através de dados coletados por instrumentos que não
estejam em contato físico com os objetos investigados (FUCKS et al, 2004). É uma
tecnologia que está revolucionando o mundo acadêmico e cnico no tocante ao
planejamento e gestão do espaço geográfico. Os avanços na área de
Sensoriamento Remoto com o desenvolvimento e lançamento de sensores, tanto por
plataformas de programas espaciais existentes como por projetos inéditos,
marcaram a última década do século XX (ZANARDI et al, 2005).
Atualmente, existem sensores de alto desempenho no que se refere às
resoluções espacial, espectral e temporal. Esses novos sensores vieram a
complementar o registro dos recursos naturais e do meio ambiente terrestre, desde a
escala regional até o nível de detalhe.
O Quickbird é o sensor mais recente, capaz de capturar imagens da Terra
com resolução espacial de alta resolução. O satélite foi lançado em outubro de 2001,
e tem por objetivo dar suporte às aplicações de gerenciamento urbano ou rural,
avaliação de riscos ambientais, levantamentos cadastrais ou mapeamentos em
escala de detalhe, dentre outros mais específicos. O sistema é composto por três
bandas multiespectrais, com resolução espacial de 2,6 metros e mais uma banda
pancromática que reduz o tamanho do pixel, unidade mínima que compõe a
imagem, a 0,6 metros (MONTEIRO, 2005).
As imagens desse satélite que correspondem à área de pesquisa foram
fundamentais para o início dos trabalhos. As imagens pertencentes aos arquivos da
SEMACE se encontravam georreferenciadas, ou seja, posicionadas corretamente
sobre a superfície terrestre. Sobre este tema, Casa Nova et al (2005) coloca que:
Em sensoriamento remoto, muitas vezes a análise comparativa de imagens
multitemporais, ou a combinação entre imagens de diferentes sensores
sobre uma mesma área, ou ainda a justaposição de imagens se faz
necessária. Nesses casos, é preciso assegurar que os pixels das imagens
a serem trabalhadas sejam referentes à mesma área no terreno. Portanto,
antes de se combinar/comparar duas imagens de uma mesma área, é
necessário que ambas estejam perfeitamente registradas entre si. Por
registro de imagens entende-se como o processo que envolve a
superposição de uma mesma cena que aparece em duas ou mais imagens
distintas, tal que os pontos correspondentes nestas imagens coincidam
espacialmente (CASA NOVA et al, 2005).
O sensoriamento remoto permite uma visão sintética do problema, além
de possibilitar o resgate de dados, identificando feições de interesse. Por outro lado,
o SIG Sistemas de Informações Geográficas permite a interação de dados de
variadas fontes: imagens, fotografias e dados de campo (LIMA, 2004). Neste
trabalho, contou-se com produtos adquiridos por diferentes mecanismos: fotografias
aéreas em escalas variadas, imagens de diferentes sensores com resoluções
espaciais diferenciadas. Assim, efetuou-se o processo de georreferenciamento ou
registro de imagens.
Primeiramente fez-se necessária a escolha de pontos de controle, ou seja,
locais que oferecem uma feição física perfeitamente identificável, tais como
intersecções de estradas e de rios, represas, dentre outros. A obtenção das
coordenadas desses pontos pode ser realizada em campo a partir de levantamentos
topográficos ou GPS Global Positioning System ou, ainda, por meio de mesas
digitalizadoras, outras imagens ou mapas analógicos ou digitais georreferenciados
(FUCKS et al, 2004).
Optou-se pelo uso da imagem do Quickbird que apresenta grande número
de detalhes e encontrava-se tratada. Serviu de base para o registro das outras
imagens e fotografias aéreas obtidas em meio analógico e digitalizadas através de
scanner de mesa.
Na escolha dos pontos de controle, foram selecionadas feições artificiais,
tais como cruzamentos de estradas, cantos de cercas, entre outras. Por ser uma
área de ambiente natural intensamente dinâmico, uma escolha equivocada poderia
levar a interpretações errôneas.
No software Microstation SE, plataforma Image Analyst, utilizando-se de
modelo matemático apropriado, foi efetuado o georreferenciamento das imagens
fotográficas correspondentes aos anos de 1968 e 1988, além da checagem em
relação à imagem captada pelo satélite SPOT 5, do ano de 2004.
O sistema SPOT é um programa espacial francês. O primeiro satélite da
série SPOT, o SPOT 1, foi lançado em fevereiro de 1985. A velocidade orbital é
sincronizada com o movimento de rotação da Terra, de forma que a mesma área
possa ser imageada a intervalos de 26 dias. Os sensores HRV foram planejados
para operar em dois modos: No modo pancromático, que corresponde à observação
da cena numa ampla faixa do espectro eletromagnético, permitindo uma resolução
espacial de 10 x 10 metros (pixel). No modo multiespectral, corresponde à
observação da cena em 3 faixas estritas do espectro, com resolução espacial de 20
x 20 metros (MONTEIRO, 2005).
Segundo Casa Nova et al (2005), uma imagem digital é uma matriz
multidimensional que representa uma cena. Os índices das linhas e colunas da
matriz da imagem digital identificam as coordenadas espaciais X e Y de cada
elemento da área imageada no terreno (pixel) e o valor numérico de cada elemento
da matriz identifica o brilho daquela área. Esta forma de representação numérica das
imagens permite a aplicação de uma grande variedade de técnicas e análises de
processamento digital para tratamento dos dados contidos em cada imagem. Tal
forma de representação é conhecida como raster.
O passo seguinte da pesquisa foi converter essas representações
matriciais do espaço geográfico para o formato vetorial representado por pontos,
linhas e polígonos. Cuidadosamente realizaram-se interpretação visual das imagens.
Na efetuação desses trabalhos adotou-se o sistema de projeção cartográfica UTM
Universal Transverso de Mercator, referenciado ao datum geodésico horizontal
SAD69 South American Datum 1969, referências oficiais para a cartografia em
âmbito nacional.
Entende-se projeção cartográfica como um conjunto de métodos usados
na representação da superfície terrestre, segundo o qual cada ponto da Terra
corresponde a um ponto da carta e um processo sistemático de transformar partes
da Terra esférica para que sejam representadas em uma superfície plana mantendo
as relações espaciais (CASA NOVA et al, 2005). É um procedimento obtido pelo
uso de Geometria e, mais comumente, por meio de fórmulas matemáticas. A
correspondência entre os pontos da superfície terrestre e a sua representação,
constitui o problema fundamental da cartografia, pois impossibilita uma solução
perfeita, ou seja, uma projeção livre de deformações. Tentando minimizar as
distorções, diferentes técnicas de representação são aplicadas no sentido de se
alcançar resultados que possuam propriedades favoráveis para um propósito
específico (FREITAS, 2004).
Como todo sistema de projeção cartográfico, o Sistema Universal
Transverso de Mercator UTM tem suas especificações. Trata-se de uma projeção
cilíndrica, conforme, de acordo com os princípios de Mercator-Gauss, com uma
rotação de 90º do eixo do cilindro, de maneira a ficar contido no plano do equador
(transversa).
As imagens obtidas por sensoriamento remoto apresentam elementos
básicos de análise e interpretação (FLORENZANO, 2002), a partir dos quais se
extraem informações de objetos, áreas, ou fenômenos, são eles: tonalidade/cor,
textura, tamanho, forma, sombra, altura, padrão e localização (CRUZ, 1981).
Na interpretação visual das imagens no presente trabalho, levou-se em
consideração, principalmente, tonalidade, textura e forma dos pixels para a geração
dos polígonos representativos de cada unidade identificável, ou seja, área do leito do
rio Jaguaribe, faixa praial e dunas veis, planície flúvio-marinha, além das feições
humanizadas e formas de uso (vias de acesso, estradas e ocupação humana,
propriamente ditas).
O procedimento de vetorização foi realizado para cada período de análise,
isto é, anos de 1968, 1988 e 2004. Apresentam-se mapas das unidades
geoambientais de cada período e, posteriormente, apresentam-se mapas over lays,
ou seja, produzidos a partir da sobreposição dos contornos dos mapas de diferentes
anos.
As etapas técnicas descritas permitiram a caracterização da foz, bem
como a identificação do conjunto de alterações geomorfológicas e ambientais ao
longo das últimas quatro décadas, objetivo central de nosso trabalho. A figura 07
oferece um organograma dos procedimentos adotados, e aqui apresentados, na
elaboração do mapa de evolução geomorfológica atual e análise ambiental da área
de estudo proposta.
Base Cartográfica – 1968
Fotografia Aérea
1:70.000
Base Cartográfica – 1988
Fotografias Aéreas
1:
32
.
5
00
Base Cartográfica – 2004
Imagem Satélite SPOT 5 e
Quickbird
Interpretação Cartográfica
Mapa de Unidades
Geoambientais
1968
Mapa de Unidades
Geoambientais
1988
Mapa de Unidades
Geoambientais
2007
1968
198
8
2007
MAPA DE EVOLUÇÃO GEO
MORFOLÓGICA ATUAL
E ANÁLISE AMBIENTAL
DA FOZ DO RIO JAGUARIBE
S
U
P
E
R
P
O
S
I
Ç
Ã
O
Checagem de
Campo
Adaptado de Oliveira & Nunes, 2005.
Figura 07: Organograma da Elaboração do Mapa de Evolução Geomorfológica atual e Análise
Ambiental da Foz do rio Jaguaribe/Ceará.
3. ASPECTOS MORFOEVOLUTIVOS DA MARGEM CONTINENTAL DO ESTADO
DO CEARÁ
O objetivo desse capítulo é traçar um perfil de formação e evolução da
margem continental cearense, domínio natural onde se situa nossa área de
pesquisa, dando ênfase ao setor leste, representados por dois elementos
morfoestruturais de grande relevância no nosso setor, que são a bacia Potiguar e o
baixo curso do rio Jaguaribe.
3.1. GÊNESE E CARACTERIZAÇÃO DA ZONA COSTEIRA CEARENSE
Ao se falar na gênese da zona costeira deve-se remeter, inicialmente, à
tectônica de placas. Na literatura são apresentados quatro megaeventos de fusão e
quatro de fissão de placas tectônicas, com formação e destruição de áreas
oceânicas (BRITO NEVES, 1999). No entanto, dois desses eventos são mais
importantes para o que hoje geologicamente conhecemos como plataforma
brasileira, especialmente para o Nordeste, onde se encontra o estado do Ceará: a
aglutinação do megacontinente Panótia e a divisão do megacontinente Pangea.
cerca de 550 milhões de anos (550 Ma), foi formada na atual
plataforma sul-americana, incluindo setores do Ceará, uma cadeia de montanhas - a
cadeia Transbrasiliana ou Brasiliana, que cortava o Brasil e o atual território
cearense com orientação NE/SW (CABY et al, 1995). Tal formação se em
resposta ao choque de placas continentais, ou seja, a aglutinação do
megacontinente Panótia (BRITO NEVES, 1999).
O cenário contava com litosfera espessa, relevo bastante elevado, muito
material à disposição do intemperismo, das ações climáticas, da erosão, ou seja, dos
agentes externos. Como resultado, tivemos que por volta de 100 Ma depois estava
destruída a cadeia montanhosa Brasiliana, e os sedimentos oriundos desta
morfoestrutura ocupando as áreas mais rebaixadas. Assim, 435 Ma (Siluriano)
temos a formação da bacia sedimentar do Parnaíba. Por processos tectônicos
houve posterior soerguimento da bacia no Cretáceo, dando origem ao
planalto/cuesta da Ibiapaba. Por ser relevo elevado, passou a ocorrer a
disponibilidade de sedimentos, o ciclo se repetindo (intemperismo, erosão). Como
conseqüência, ocorreu o recuo da cuesta (CLAUDINO SALES, 2002).
O megacontinente Panótia foi, na seqüência, dividido, e, por volta de 250
Ma, ocorreu a junção do megacontinente Pangea (BRITO NEVES, 1999). Milhões de
anos passam e, por volta de 120 Ma, a “calmaria tectônica” (ALMEIDA et al, 2000)
para o Estado do Ceará cessa. Temos a quebra do megacontinente Pangea, dando
origem ao oceano Atlântico e à zona costeira cearense. Ela surge, não com as
características atuais. A zona costeira cearense surge cristalina (CLAUDINO SALES,
2005).
A expansão do oceano Atlântico prossegue. Com o passar do tempo
geológico, um aumento da densidade das rochas que compõem a crosta
oceânica. Essa variação na densidade indica um acréscimo em seu peso, fazendo
com que a crosta oceânica sofra uma pequena subsidência. Pelo fato das crostas
continentais e oceânicas estarem acopladas, a borda continental também sofre esse
leve efeito de subsidência (BOILLOT, 1990). Em resposta a esse processo, ocorreu
durante o Terciário, um suave soerguimento do interior do continente (efeito
semelhante ao que ocorre com uma gangorra). Tal processo é chamado de flexura
marginal (PEULVAST & CLAUDINO SALES, 2004).
Esta configuração, com o interior elevado, caracteriza uma grande
disponibilidade de material. Associado com longos períodos de intemperização e
erosão controlados por diferentes condições climáticas, houve a deposição da
“Formação Barreiras”. De acordo com Meireles (2002), o clima que possibilitou a
deposição da Formação Barreiras, durante o período Mioceno-Plioceno, era semi-
árido com alternâncias de períodos de chuvas esporádicas e catastróficas, o que
propiciou a remoção dos sedimentos até a plataforma continental atual.
A Formação Barreiras corresponde, portanto, a depósitos de granulometria
arenosa à argilosa que foram depositados ao longo da borda do continente entre o
Mioceno e o Pleistoceno (ARAÍ, 2005). Eles recobrem toda a extensão do litoral
cearense, com larguras variáveis, transformando uma área cristalina em sedimentar
(CLAUDINO-SALES, 2005).
Ao final dessa deposição, outros mecanismos entraram em ação. Os
períodos glaciais e interglaciais intensamente presentes no Quaternário,
caracterizando regressões e transgressões marinhas (e.g. MEIRELLES, 2002),
respectivamente, possibilitaram modificações intensas nesse depósito.
A ocorrência dessas flutuações no nível do mar (transgressões e
regressões), segundo SUGUIO (1985) associa-se a diferentes aspectos, tais como
modificações no relevo oceânico e alterações no volume das águas oceânicas
durante as glaciações e os intervalos interglaciais. Condicionado às alterações dos
níveis continentais, ele cita a deformação do geóide continental e movimentos
isostáticos, movimentos tectônicos, formação ou desaparecimento das calotas
polares e regressão e transgressão sobre as plataformas continentais e zonas
costeiras. Surge uma série de formas de relevo no litoral cearense em função
desses episódios, tais como falésias ativas e inativas, planícies litorâneas, lagoas
costeiras e campos de dunas de idades variadas.
São vários os agentes atuais que interferem na dinâmica dessas formas
litorâneas, bem como nas formas mais recentes. Alguns são de caráter ativo (ventos,
ondas, correntes, marés, fluxos fluviais) e outros, passivos (cobertura vegetal,
morfologia litorânea, depósitos geológicos). Como resultado, tem-se no Ceará 573
quilômetros de extensão de zona litorânea - desde Icapuí (Praia de Tibau, no
extremo leste, no limite com o Estado do Rio Grande do Norte) a Barroquinha (Praia
de Bitupitá, no extremo oeste, no limite com o Estado do Piauí) – que se apresentam
extremamente ricos no que concerne a feições geomorfológicas (SOUZA, 2000).
Com efeito, ocorrem praias, pontas litorâneas, falésias, cordões de beachrocks,
dunas, lagoas e lagunas, flechas barreiras e litorâneas, planícies flúvio-marinhas e
planícies litorâneas. Tal diversidade de paisagens naturais permite definir a
existência de não apenas um, mas de vários litorais cearenses (CLAUDINO SALES,
2005).
A extensão da zona costeira cearense (figura 08) é claramente definida
pelas divisas políticas com os estados vizinhos. O mesmo não ocorre com a largura,
tomada a partir do nível das praias em direção ao continente. As formas recentes
não ultrapassam, em geral de 4 a 6 km, tendo como limite os campos de dunas
fixas. As formas e materiais herdados das fases evolutivas mais antigas, como os
depósitos Barreiras, apresentam largura de a90 km entre Icapuí e o setor leste de
Fortaleza, aproximadamente de 15 km na Região Metropolitana de Fortaleza RMF
e de 50 a 60 km em direção a oeste (CLAUDINO SALES, 2005).
FONTE: Adaptado de CLAUDINO-SALES, 2002.
Figura 08: Localização, orientação, extensão e largura da zona costeira cearense.
As variações também estão representadas na orientação da linha de
costa: ela dispõe-se, grosso modo, SE-NW entre Icapuí e Itarema, ESE-WNW entre
Itarema e Jericoacoara e ENE-WSW entre Jericoacoara e Barroquinha.
A existência de vários litorais cearenses permite a compartimentação de
diferentes domínios, a saber: os domínios Jaguaribe, Choró, Baturité, Jaibaras e
Chaval (CLAUDINO SALES, 2002). Cada um desses domínios tem particularidades
e dinâmica própria.
Do ponto de vista estrutural, a área de pesquisa corresponde ao domínio
geomorfológico Jaguaribe (CLAUDINO SALES, 2002, 2005), que se estende desde
Icapuí/Itaiçaba aAracati/Fortim e corresponde à área deprimida e subsidente do
antigo rift intracontinental cretáceo e atual bacia sedimentar do Apodi (ver item 4.2).
Corresponde, portanto, à área da bacia Potiguar e de suas vizinhanças,
principalmente organizado em torno de materiais sedimentares recentes
(cenozóicos) e mais antigos (cretáceos). Nesse compartimento, longo tempo
subsidente (em particular na área da bacia Potiguar), materiais sedimentares
estiveram sempre ao alcance dos agentes da dinâmica litorânea, e é onde se situam
as falésias ativas e inativas mais desenvolvidas da região (alturas de 5 a 25 m),
tendo, por conseqüência, praias mais estreitas e campos de dunas menos
desenvolvidos. O embasamento não aflora ao longo do litoral, mas a planura da
zona costeira e áreas adjacentes são interrompidas pela presença de inselbergs
dispersos (Cascavel, Beberibe, Itaiçaba). Dois deles, de idade cretácea (pré-
cenomaniana) estão em vias de exumação em relação aos sedimentos da Chapada
do Apodi/bacia Potiguar nas suas porções voltadas para o oceano (Itaiçaba).
3.2. FORMAÇÃO DA BACIA POTIGUAR
A gênese e evolução de uma bacia sedimentar, definida segundo Guerra
& Guerra (1997) enquanto uma depressão com detritos carregados das áreas
circunjacentes está ligada à atividade tectônica, bem como ao ambiente climático na
qual ela se encontra. O regime tectônico define o substrato geológico e a atuação
climática promove o desgaste gradual da crosta, seguido de deposição e diagênese
(e.g. GUERRA & GUERRA, 1997; MAIA, 2005).
A bacia Potiguar localiza-se na porção oriental do Nordeste brasileiro,
abrangendo parte do território do estado do Rio Grande do Norte e do Ceará. Limita-
se ao sul, leste e oeste com rochas do embasamento cristalino e ao norte com o
oceano Atlântico (figura 09). É a mais oriental das bacias da margem continental
equatorial, estando geneticamente relacionada a uma série de bacias neocomianas
intracontinentais que compõem o sistema de riftes cretáceos do Nordeste brasileiro
durante a separação do Pangea e formação do oceano Atlântico (MATOS, 1992).
Segundo Souza et al (2002), são 38.000 km² de extensão, sendo 16.000
km² imersos no oceano atlântico indo até a isóbata de 200 metros. Dentre as
formações constituintes da Bacia Potiguar, as únicas que afloram no território
cearense, constituindo o Grupo Apodi, são as formações Açu e Jandaíra.
A formação da Bacia Potiguar dá-se com o processo de separação do
megacontinente Pangea, a tafrogênese que originou o Atlântico Sul. O NE do Brasil
funcionou como um ferrolho, um elo que unia os dois continentes, o que hoje
conhecemos como América do Sul e África (MATOS, 1999). Segundo Matos (2000),
essa separação se deu em três etapas:
Fonte: MAIA, 2005.
Figura 09: Localização da Bacia Potiguar
A primeira etapa, dando seguimento à abertura em direção ao norte do
segmento sul do Atlântico Sul, a qual iniciou ainda no final do Jurássico,
corresponde ao processo de rifting intracontinental no Nordeste brasileiro, com
formação de diversos rifts cretáceos no Neocomiano (140 Ma), dentre eles o rift
Potiguar.
No entanto, tais rifts não evoluíram, pois entrou em curso a segunda etapa
de evolução da margem continental do Nordeste, que teve lugar no Barremiano (130
Ma). Os rifts intracontinentais foram abortados e subsidiram termicamente, em
função do que ocorre na transformação dessas estruturas em bacias sedimentares
no caso, passagem do rift neocomiano Apodi para a bacia sedimentar pos-
neocomiana Potiguar.
A terceira etapa corresponde a processos que entre o Aptiano e o Albiano
(120Ma-100Ma) deram origem, de maneira transformante (sem rifts, correspondendo
a um deslizamento de uma placa perante a outra), à abertura do Atlântico Equatorial,
que interceptou o continente com direção grosseiramente leste-oeste, segmentando
a bacia Potiguar em duas porções essa estrutura passou então a contar com um
segmento antigo, neocomiano, chamado de bacia onshore e de um segmento novo,
transformante, denominado bacia offshore (MATOS, 2000; CLAUDINO SALES,
2002).
A bacia Potiguar está preenchida, portanto, por sedimentos depositados
desde o Cretáceo inferior até o recente. No nosso estudo, apenas o segmento distal
da bacia onshore será objeto de análise.
3.3. EVOLUÇÃO DO MÉDIO E BAIXO CURSO DO RIO JAGUARIBE
É sabido que durante o período Quaternário mudanças climáticas se
estabeleceram, fazendo o nível da água do mar se elevar em períodos quentes
(transgressões) deixando, assim, os climas costeiros mais úmidos, e recuar em
períodos frios (regressão), deixando os climas mais secos. Tais alterações imprimem
mudanças significativas nos condicionantes evolutivos das paisagens (MEIRELES,
2001).
O avanço e recuo da linha de costa, aliados às ações (erosão, transporte,
sedimentação, decomposição, desagregação) dos agentes morfológicos (flúvio-
marinhos, ondas, marés, correntes marinhas, vento, gravidade) associados aos
efeitos das mudanças climáticas deixaram, como resultados, extensas planícies
costeiras no litoral Brasileiro (e.g. MEIRELES, 2001), bem como planícies aluviais
nos baixos cursos dos rios.
Os estudos geomorfológicos de evolução de bacias de drenagem e
formação de áreas de deposição fluvial assumem grande relevância, tendo em vista
que são as planícies fluviais os ambientes interioranos, sobretudo no semi-árido
nordestino, os mais valorizados em função de suas potencialidades naturais quanto
à ocupação e à exploração dos recursos existentes (MAIA, 2005). Dessa forma,
ocorre elevada pressão sobre esses ambientes.
O baixo vale do Jaguaribe compõe parte de todo um conjunto que é
resultado de processos que ocorrem a centenas de quilômetros à montante. Os
sedimentos que compõem esta micro-região têm sua origem no alto e médio curso
do rio, principalmente, bem como de suas sub-bacias do rio Salgado e Banabuiú.
Através da erosão de rochas pré-existentes que sofreram intemperização,
o material desagregado é transportado por processos areolares e depositados nos
leitos fluviais. O baixo Jaguaribe é receptor de todo o deflúvio das sub-bacias à
montante, que equivalem a uma área que corresponde à metade do Estado do
Ceará. De acordo com Cavalcante (2001), a contribuição no que diz respeito à
descarga sólida que o rio Jaguaribe fornece ao baixo curso é da ordem de 43.770
t/ano, sendo cerca de 1.484 toneladas no período de estiagem e 42.286 toneladas
no período chuvoso (valores encontrados para o período de 1999 - 2000).
O rio Jaguaribe disseca a vertente oeste da bacia potiguar no seu médio
curso, de forma a produzir um recuo das camadas sedimentares, do qual resulta um
relevo tabular do tipo chapada, com características suavemente cuestiformes, dado
o mergulho das camadas da bacia sedimentar em direção ao oceano atlântico.
A partir dessa dissecação, ocorre uma escarpa do tipo front de cuesta, que
se acha voltada para o estado do Ceará, a leste, delimitada pela depressão
periférica criada pelo vale do rio Jaguaribe. A altitudedia da escarpa que delimita
o front da cuesta/chapada do Apodi é da ordem de 100m. A projeção da
continuidade pretérita dessa escarpa, em direção a oeste, indica que as camadas
sedimentares que delimitam o topo da bacia do Apodi o arenito Açu na base e o
calcário Jandaíra como camada superior - se estendiam por vários quilômetros
dentro do território cearense, recobrindo a superfície de aplainamento cretácea que
se desenvolvem no período pós-rift no contato com a fossa do Apodi (CLAUDINO-
SALES, 2002).
Tal indicação topogeomorfológica evidencia que o rio Jaguaribe produziu o
recuo de muitos quilômetros do front da cuesta em direção a leste, desde o início da
sua atividade geomorfológica até os dias atuais. Considerando o predomínio,
sobretudo de climas secos a partir do Cretáceo no Nordeste brasileiro (PEULVAST E
CLAUDINO SALES, 2006), pode-se supor que tal erosão foi realizada de forma lenta
ao longo do tempo geológico. Dessa forma, considera-se que o rio Jaguaribe vem
realizando seu trabalho de esculturação da borda oeste da bacia do Apodi durante
longo intervalo de tempo (CLAUDINO SALES, 2002), - possivelmente desde o
Terciário, talvez mesmo desde o início desse período. Trata-se, portanto, de um rio
que tem importância geomorfológica extrema na esculturação da paisagem pretérita
de toda a parte setentrional leste do Estado do Ceará, incluindo a zona costeira, com
episódios de migração de sua foz ao longo do Quaternário (MAIA, 1993; CLAUDINO
SALES, 2002).
Os episódios de migração da foz do rio Jaguaribe ao longo do Quaternário
são explicados de acordo com a variação do nível do mar.
Maia (1993) escreve que nos processos transgressivos, a velocidade de
elevação do nível do mar ocorre de forma irregular, produzindo diversos níveis de
terraços na plataforma continental, cuja origem estaria associada a períodos de
estabilização do nível do mar.
Segundo Bittencourt et al (1979), no Quaternário, o nível do mar atingiu
sua elevação máxima - em torno de 5m - 5,1 ka A.P. Esse evento erodiu e
afogou durante seu ápice a planície pleistocênica. Dessa maneira, a rede de
drenagem que havia se instalado sobre a plataforma e sobre os terraços marinhos
pleistocênicos, favorecida pela acentuada descida do nível de base do estágio
anterior com nível de mar baixo, foi afogada, da mesma maneira que os vales
escavados anteriormente. O vale do rio Jaguaribe foi, nesta ocasião, também
invadido pelo mar, formando um amplo terraço com 5 m de altitude que se prolonga
paralelo ao curso atual do rio até as proximidades da cidade de ltaiçaba (MAIA,
1993).
Em algum momento do Holoceno, a desembocadura do rio Jaguaribe
localizava-se próximo à praia de Canoa Quebrada, fato atestado pela presença de
uma linha de beach rocks (MAIA, 1993). Gradativamente, durante a regressão que
ocorreu após 5,1 ka, a foz do rio começou a migrar para NW, empurrado pela deriva
litorânea e por dunas móveis. O nível do mar teria subido novamente por volta de 2,6
ka, seguido de nova regressão (BITTENCOURT et al, 1979), fatos que teriam
acelerado o processo de migração na direção da foz atual (MAIA, 1993).
4. COMPARTIMENTAÇÃO DAS UNIDADES GEOAMBIENTAIS NA ÁREA DE
PESQUISA
A partir da concepção sistêmica, foi designado o conjunto dos
componentes, processos e sistemas do meio ambiente físico na área de estudo.
Cada sistema é dotado de potencialidades e limitações de usos específicos dos
recursos: são as chamadas unidades geoambientais, apresentadas neste capítulo.
O contexto geoambiental (capítulo 2) serviu de base na compartimentação
geoambiental apresentada a seguir, visto que, tais unidades são diferenciadas uma
das outras de acordo com as características geológico-geomorfológicas, o contexto
hidroclimático e os aspectos pedológicos e de cobertura vegetal.
As unidades geoambientais ou geoecológicas são caracterizadas por uma
determinada interação entre os componentes naturais e possuem uma
homogeneidade relativa de suas propriedades naturais (RODRIGUEZ et al, 2004). O
“Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Ceará” (CEARÁ, 2006), define
unidade geoambiental enquanto porção do território com elevado grau de
similaridade entre as características físicas e bióticas, podendo abranger diversos
tipos de ecossistemas com interações funcionais e forte interdependência.
O recorte geomorfológico aqui apresentado, ou seja, o estuário do rio
Jaguaribe, apresenta um conjunto de feições geoambientais. Além do ambiente
estuarino em si e sua planície flúvio-marinha com os manguezais, na área são
encontradas as seguintes unidades geoambientais: a planície litorânea e suas
subunidades (faixa de praia e pós-praia, superfície de deflação, campos de dunas
atuais e subatuais, paleofalésia, falésias atuais, flechas litorâneas) e os tabuleiros
costeiros.
4.1. PLANÍCIE LITORÂNEA
De forma geral, no Estado do Ceará, a planície litorânea apresenta
morfogênese subordinada a processos de acumulação e erosão. As formas de
relevo mais típicas dessa unidade ao longo de toda a zona costeira do Ceasão: a
praia, o pós-praia, dunas atuais e subatuais, falésias, sistemas lacustres, “beach
rocks” (rochas de praia), barras litorâneas, além da existência de afloramentos do
embasamento cristalino. Ao longo do processo evolutivo, as planícies litorâneas
foram e continuam sendo modeladas pela ação dos ventos, correntes, marés e
ondas (CLAUDINO SALES, 2002; VIDAL 2006).
A faixa de praia ou estirâncio representa a porção de terra coberta e
descoberta periodicamente pelas águas, acrescidas das faixas subseqüentes de
material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o limite onde
se inicie a vegetação natural ou, em sua ausência, onde comece outro elemento
(CEARÁ, 2006). Esse outro elemento é o s-praia ou berma - porção horizontal
mais ao continente constituído por material arenoso e formado pela ação das ondas
e em condições do nível do mar atual. Em geral, no nosso estado, apresenta-se
bastante estreita e margeando toda a faixa de praia (MAIA, 1993).
Na área de pesquisa, na margem direita da foz do rio Jaguaribe nota-se
uma extensa faixa de praia desde Canoa Quebrada à desembocadura do rio
Jaguaribe. São definidas as faixas de praia e berma (figura 10). A ocupação nesse
trecho é praticamente inexistente, conservando assim suas características naturais
(figura 25).
Figura 10: Margem direita foz do rio Jaguaribe, extensa faixa de praia e pós-praia, delimitada em
direção ao continente por duna frontal.
Dispostas paralelamente às praias em vários trechos do litoral cearense
encontram-se as barreiras. São formadas pela energia das ondas, sendo necessário
para isto, grande suprimento de areias e lugar de acomodação. De acordo com a
tipologia (CLAUDINO-SALES, 2002), podem ser classificadas enquanto ilhas
barreiras, cordões litorâneos, duplas flechas fluviais e flechas litorâneas. Na área de
estudo, elas ocorrem na forma de flechas litorâneas (figura 11).
No caso destas feições vinculadas à foz do rio Jaguaribe (figura 25),
observa-se que a energia derivada das correntes fluviais é quase nula devido aos
barramentos, assim os depósitos são caracteristicamente controlados pelas
correntes e ondas (CEARÁ, 2006).
Figura 11: Flecha litorânea localizada na margem esquerda da desembocadura fluvial do rio
Jaguaribe.
Em direção ao continente, a partir do berma e aa base dos campos de
dunas, ocorre a planície de deflação (figura 12). São superfícies planas e
horizontais, ou ligeiramente inclinadas, que trabalhadas pelo vento fornecem
sedimentos para a edificação das dunas (CEARÁ, 2006).
Com efeito, as planícies de deflação formam superfícies alongadas e
relativamente extensas e planas (CEARÁ, 2006). Esta planície vai sendo erodida e
rebaixada pelo vento, até atingir as proximidades do nível do lençol de água.
Figura 12: Planície de deflação na margem direita da desembocadura fluvial do Jaguaribe/Ceará.
As dunas são depósitos de sedimentos tipo areia, acumulados pelo vento
(agente único). Para a sua formação é fundamental que a velocidade do vento e a
disponibilidade de areias praiais de granulometria fina sejam adequadas para o
transporte lico (MUEHE, 1994). Para o seu desenvolvimento, é necessário que as
areias de porções secas das praias sejam sopradas em direção ao continente a
que a energia do vento se dissipe ou uma barreira física, por exemplo, a vegetação,
cause a deposição dos grãos de areia (HESP, 2002).
As grandes famílias de formas dunares no Estado do Cea são as
móveis, fixas, semifixas e as formas de deflação (CLAUDINO SALES, 2002).
As dunas móveis não apresentam cobertura vegetal, ou ocorrem em sua
superfície apenas espécies pioneiras e de pequeno porte. São instáveis e
migratórias. Podem ser classificadas em: dunas longitudinais (dispostas
paralelamente ao vento principal, que tem direção preponderante de E SE);
barcanas (com formato de croissant com os braços voltados ao vento); parabólicas
(forma de croissant com braços contrários ao vento); dunas de arraste ou “trailing
dunes (são traços de migração de dunas); barcanóides transversais (ocorrem em
conjunto); e os lençóis de areia ou os sandsheets” (acumulações de areia livre sem
forma definida).
As dunas semifixas, apresentam certo grau de estabilidade mais possuem
dinâmica. Podem ser dunas frontais, que representam as primeiras dunas que se
formam a partir da faixa de praia (figura 09) e preserva a antepraia do processo
erosivo; as nebkas, que são montículos cobertos por vegetação psamófila na
planície costeira e, as parabólicas, que possuem o frontmais ou menos móvel e
braços semifixos, contam com presença de lagoas entre dunas nas áreas de
deflação.
As dunas fixas são os depósitos que não possuem dinâmica. São os
depósitos eólicos recobertos por vegetação de porte arbóreo/arbustivo, sem forma
definida, pois a cobertura vegetal e solo mascaram as formas. São dunas inativas,
paleoformas, que representam a maior parcela das dunas do Ceará. Ocorrem ainda
as parabólicas hairpin, em formato de grampo de cabelo, que se acredita que devam
evoluir a partir de dunas parabólicas semifixas e blowouts.
As dunas desempenham um papel ambiental importante, pois são
formadas por sedimentos bem classificados, areias finas a médias, criando assim
um alto grau de permeabilidade, permitindo a infiltração e o abastecimento do lençol
freático. Além disso, essas formas fornecem sedimentos para a zona costeira e
litorânea, construindo um balanço sedimentar fundamental, que a falta de
sedimento leva à erosão e o excesso de sedimentos ao assoreamento. Assim, as
dunas vêm equilibrar essa dinâmica.
A margem direita da desembocadura do rio Jaguaribe possui o campo de
dunas móveis contínuo mais expressivo do estado do Ceará. São observadas
barcanóides, shansheets, dunas de precipitação (isto é, dunas transgressivas, que
migram recobrindo qualquer obstáculo no terreno), rebdous (figura 13), - morro
dunar vegetalizado esculpido pela deflação (CLAUDINO-SALES, 2002) e as dunas
frontais (ver figura 10).
Figura 13: Rebdou visualizado na margem direita da foz do rio Jaguaribe.
Podem ser definidas duas gerações de dunas (figura 25). Uma mais
recente que está em atividade migratória, se precipitando sobre as áreas de
manguezal (figura 14 A) e avançando sobre uma geração mais antiga,
estabilizada (figura 14B).
Esses depósitos licos integram a “Área de Proteção Ambiental de
Canoa Quebrada”. A APA é uma Unidade de Conservação UC. A UC de Canoa
Quebrada está incluída na categoria de Unidade de Uso Sustentável, nas quais é
permitido o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais, em
compatibilidade com a conservação da natureza.
As Unidades de Conservação são definidas enquanto espaço territorial e
seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes. São legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, aos quais se
aplicam garantias adequadas de proteção (definição dada pela Lei nº. 9.985, de 18
de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza - SNUC).
Figura 14: Na figura A vê-se uma duna de precipitação no contato com o manguezal do rio Jaguaribe.
Á figura B apresenta Sandsheets recobrindo dunas fixas mais antigas no campo de dunas localizados
nas proximidades da desembocadura fluvial do rio Jaguaribe.
A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa. Possui certo
grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou
culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade
biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso
dos recursos naturais (SNUC, 2000).
A APA de Canoa Quebrada é uma das 59 (cinqüenta e nove) UC’s
distribuídas pelo estado do Ceará (SEMACE, 2007). A administração desta APA é
de responsabilidade municipal, tendo sido criada pela Lei 40/98 de 20 de março
de 1998, com uma área de 4000 ha, localizando-se a nordeste do município de
Aracati. Abrange unidades do ecossistema costeiro e do complexo vegetacional
litorâneo.
Outra feição bem marcante no litoral do estado são as lagoas, as quais
podem ser classificadas em litorâneas ou lagunas (formadas por água marinha) e
costeiras (compostas pela interação das águas continentais fluviais e freáticas)
(CLAUDINO SALES, 2002). Na área elas estão representadas na planície de
deflação. Nestas superfícies predomina a remoção de sedimentos pelos processos
eólicos e o afloramento do lençol freático nas depressões de deflação.
Neste estágio, a umidade, que pode ascender, inclusive, por capilaridade
(figura 15), acaba por impedir a continuidade da migração dos sedimentos. Em
outros setores, o lençol freático garante a existência de lagoas que tendem a serem
intermitentes.
Figura 15: Ocorrência de lagoas na planície de deflação, margem direita da desembocadura fluvial do
rio Jaguaribe.
O recorte geomorfológico estudado apresenta ainda uma linha de falésias
ativas (figura 25), modeladas em sedimentos atuais de praias e dunas na margem
esquerda do rio, próximo da sua desembocadura (figura 16). Ocorre, ainda, uma
ponta litorânea: o Pontal de Maceió (figura 25), no qual foram modeladas falésias
ativas (figura 17).
As pontas litorâneas são protuberâncias em direção ao mar. No Ceará,
elas podem ser cristalinas, como por exemplo, a ponta do Iguape, Mucuripe, Pecém
e Jericoacoara, representantes de locais de ruptura do Gondwana (CLAUDINO
SALES, 2005). Podem ser ainda sedimentares, modeladas na Formação Barreiras,
na Formação Tibau e em beachrocks. Temos o exemplo do Pontal do Maceió
(Formação Tibau), além das pontas da Taíba, Paracuru, Lagoinha, Camocim
(Formação Barreiras). O pontal do Maceió representa, portanto, o único afloramento
em área litorânea da Formação Tibau no Estado do Ceará.
Figura 16: Linha de falésias ativas nas proximidades do Pontal de Maceió, margem esquerda foz do
rio Jaguaribe.
Figura 17: Pontal de Maceió, falésia ativa trabalhada em arenitos da Formação Tibau.
4.2. AMBIENTE ESTUARINO
É constituído pelo próprio canal do rio e pela vegetação que ocorre em
ambos os lados do canal. Neste ambiente, ainda estão incluídos bancos de areia e
ilhas, planície de inundação flúvio-marinha, afluentes, gamboas e meandros
abandonados com lagoas (CEARÁ, 2006).
Os estuários compreendem ecossistemas de grande produtividade
ecológica e econômica, os quais vêm na atualidade passando por modificações na
sua composição geográfica natural (MENEZES et al, 2003). São corpos de água
costeiros semi-fechados, com livre comunicação com o mar, onde a água salgada se
mistura com a água doce do rio.
Os estuários são conectados ao oceano por um canal principal e
caracterizam-se pela presença da ação da maré por toda sua extensão. Por isso
mesmo este termo é derivado da palavra
latina aestus
e
aestuarium
que são,
respectivamente, o nominativo e o genitivo relativos à maré (MORAIS, 1996). Eles
se estendem da foz do rio, ou de uma indentação na costa, ao limite máximo de
influência
da
maré, dividindo o seu curso em três partes o baixo estuário, que é a
região dominada por água do mar; o médio estuário, quando mistura das águas;
e o alto estuário, quando domina a água doce, mas sujeito à influência da maré (e.g.
MORAIS, 1996).
Alguns dos estuários atuais podem a transformarem-se em deltas,
dependendo da taxa de sedimentação que possuam. Apenas os que encontram
águas costeiras sob ação intensa de marés e ondas suficientemente capazes de
dispersar os sedimentos permanecem, de fato, como estuários. Dependendo da
amplitude da maré e da descarga do rio, fatores essenciais que determinam aque
ponto a maré pode penetrar à montante, os estuários se classificam em três tipos
principais: são os de cunha salina, os parcialmente misturados e os bem misturados
(MORAIS, 1996).
Entendida muito mais que como a parte terminal de um rio, ou o encontro
do rio com o oceano, o sistema estuarino associa unidades geoambientais de
extrema importância - trata-se da planície flúvio-marinha ocupada por manguezais
(figura 18) e por salgados e/ou apicuns.
A planície flúvio-marinha é a superfície plana de um estuário, que se situa
entre o nível médio da maré baixa de sizígia e o nível médio de maré alta equinocial
(MELLO, 2005; CEARÁ, 2006).
As porções mais baixas são cobertas, pelo menos duas vezes por dia, por
água salgada, por estarem situadas entre as marés baixa e alta, e o formadas por
solo tipicamente argiloso, rico em matéria orgânica e mostram-se ocupadas pelos
mangues. As áreas topograficamente mais elevadas que as dos manguezais e que
são atingidas pelas águas marinhas apenas duas vezes no período de um mês,
durante as marés de sizígia, o reconhecidas com “salgados” ou apicuns. Estas
duas áreas compõem uma unidade geoambiental denominada de planície flúvio-
marinha (LEAL, 2003).
Figura 18: Planície flúvio-marinha ocupada por manguezal, na margem direita do rio Jaguaribe.
Dessa maneira, as áreas ocupadas por apicum são alagadas
periodicamente pelas oscilações de maré, que deixam sobre seu solo arenoso um
tapete de fitoplâncton (algas e bactérias), que atuam como início da cadeia alimentar
que mantém todo o ecossistema. O apicum quase não tem vegetação, no entanto,
ele evolui e é tomado por vegetação de mangue na dinâmica que move as relações
entre os componentes do ecossistema manguezal. Apresenta-se ainda como uma
formação de transição entre o manguezal e ecossistemas adjacentes (MELLO, 2005;
CEARÁ, 2006).
De acordo com a Resolução nº. 303/2002, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), o ecossistema manguezal é um "ecossistema litorâneo que
ocorre em terrenos baixos, sujeitos a ação das marés, formado por vazas lodosas
recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural
conhecida como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de
regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre
os estados do Amapá e Santa Catarina" (MELLO, 2005).
Diversos trabalhos (a citar: SILVA, 1993; MELLO, 2005) destacam
diversas funções do manguezal, entre elas, cita-se: fonte de detritos (matéria
orgânica) para as águas costeiras adjacentes, constituindo a base da cadeia trófica
de espécies de importância econômica e/ou ecológica; área de abrigo, reprodução,
desenvolvimento e alimentação de espécies marinhas, estuarinas, límnicas e
terrestres; pontos de pouso (alimentação e repouso) para diversas espécies de aves
migratórias, ao longo de suas rotas de migração; manutenção da diversidade
biológica da região costeira; proteção da linha de costa, evitando erosão da mesma
e assoreamento dos corpos d’água adjacentes; controlador de vazão e prevenção
de inundações e proteção contra tempestades.
Integrando esse ecossistema e desempenhando importantes papéis
somam-se as gamboas, os canais de marés e os bancos de areia (figura 19).
Figura 19: Gamboas e canais de marés, integrantes importantes do ecossistema manguezal,
visualizados na Ilha Grande, margem direita da foz do rio Jaguaribe. A seta vermelha indica gamboas
e a azul, canal de maré.
As gamboas correspondem a canais estreitos distribuídos em grande
quantidade dentro do bosque de mangue, responsáveis pela distribuição e
processamento de nutrientes que fornecem a base para a cadeia alimentar do
ecossistema (MELLO, 2005). Os canais de marés são canais mais largos,
distribuídos ao longo do estuário e entre os componentes do manguezal. Conduzem
as sementes da vegetação de mangue e os nutrientes produzidos ao longo do
ecossistema, orientando sua expansão. Os bancos de areias são um volume móvel
de sedimentos entre os canais de maré e as gamboas, que pode evoluir para áreas
de apicuns e, conseqüentemente, para bosques de mangue (CEARÁ, 2006).
Ilhas flúvio-marinhas também integram a planície flúvio-marinha estudada
trata-se das ilhas do Pinto e do Caldeireiro (figura 20), situadas a
aproximadamente 7 km da foz do rio, e que juntas ocupam uma área de 23,5 km². A
origem dessas ilhas pode estar ligada à própria sedimentação flúvio-marinha.
Apresentam-se colonizadas por denso manguezal (figura 25). Ocorrem ainda bancos
de areia, na forma de volume móvel de sedimentos entre os canais de maré e as
gamboas, que podem evoluir para áreas de apicuns e, conseqüentemente, para
bosques de mangue.
Figura 20: Vista aérea das ilhas flúvio-marinhas do Pinto e do Caldeireiro, desembocadura fluvial do
Jaguaribe/Ceará.
4.3. TABULEIROS COSTEIROS
Tratando das formas presentes na faixa costeira, os tabuleiros costeiros
possuem morfologia plana, na forma de um glacís suavemente inclinado em direção
ao mar, na ordem de (SOUZA, 1988). Cobertos por mata de tabuleiros sofrem
ação dos canais fluviais que dissecam o depósito e criam desníveis que quebram a
sua horizontalidade (SOUZA, 2002).
Os tabuleiros costeiros se dispõem da planície litorânea em direção ao
interior do continente, constituídos por sedimentos Tércio-quartenários da Formação
Barreiras. Podem penetrar até cerca de 40 km, em média, para o interior do
continente, segundo Souza (1988).
Na margem esquerda do rio Jaguaribe, as cotas dos tabuleiros costeiros
variam de 25 a 32 metros, formando um paredão quase contínuo desde as
proximidades da desembocadura até Aracati (figura 21).
Esse paredão fluvial resulta da dissecação da Formação Barreiras pela
ação fluvial exercida pelo rio Jaguaribe (figura 25), e sofre ainda a abrasão
produzida por ondas que se formam nos períodos de marés altas. A ocorrência
desse paredão na margem esquerda do rio é testemunho da migração permanente
do curso fluvial em direção a oeste ao longo do Quaternário, de forma a solapar a
base do afloramento da Formação Barreiras no contato com as águas.
Figura 21: Paredão fluvial trabalhado em sedimentos da Formação Barreiras, margem esquerda do
rio Jaguaribe, município de Fortim.
A sede do município de Fortim situa-se sobre os tabuleiros costeiros que
constituem a porção mediana da margem esquerda do estuário do rio Jaguaribe. No
entanto, próximo à foz deste corpo hídrico, sua porção inferior expõem rochas de
natureza arenítica, consolidadas, pertencentes à Formação Tibau (figura 22 e 25)
(CEARÁ, 2006).
Na zona litorânea a Formação Barreira é comumente trabalhada na forma
de falésias, que são formadas pela ação erosiva das ondas sobre formações
geológicas com níveis topográficos mais elevados que as praias atuais, e que
recuam formando escarpas. Podem ser consideradas vivas ou mortas, conforme a
erosão marinha esteja atuando ou não (CEARÁ, 2006). No processo de recuo as
falésias deixam à frente plataformas de abrasão que testemunham o seu relevo.
Figura 22: Pedra do Chapéu, Formação Tibau trabalhada pelo rio Jaguaribe, em sua margem
esquerda, município de Fortim.
Na área de estudo os sedimentos da Formação Barreiras são trabalhados
na forma de falésias inativas ou mortas (figura 23 e 25). Assim como plataformas de
abrasão e planícies litorâneas, as falésias resultam diretamente das mudanças do
nível do mar.
Figura 23: Linha de paleofalésia trabalhada em sedimentos da Formação Barreiras, localidade de
Maceió, Fortimproximidades ma margem esquerda da foz do rio Jaguaribe. À frente da paleofalésia
evolui uma planície litorânea moderna.
Se a observação das paleofalésias incidisse apenas no elemento
coloração, poderia haver um erro, levando a interpretar essas feições enquanto
paleodunas, fato que, com efeito, tem ocorrido sistematicamente na produção
científica e técnica local. No entanto, uma análise mais detalhada mostra a presença
de grãos de quartzo com granulometria variando de seixos a cascalhos (figura 24),
negando a formação desta feição apenas por trabalho eólico.
Figura 24: Presença de seixos de quartzo, caracterizando as paleofalésias da localidade de Maceió,
Fortim – proximidades da margem esquerda da foz do rio Jaguaribe.
5. ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA FOZ DO RIO JAGUARIBE
Na perspectiva de avaliar temporalmente o comportamento das unidades
geoambientais existentes na desembocadura fluvial do rio Jaguaribe, utilizamos
modernas técnicas de sensoriamento remoto para a confecção de cartas temáticas e
produção de informações geográficas. Através de fotografias aéreas e imagens de
satélites, buscamos a análise espaço temporal do recorte geomorfológico proposto
a foz do rio Jaguaribe. A escolha dos períodos de análise deu-se tanto pela
disponibilidade de material, quanto por se tratar de períodos que marcam o avanço
das ações humanas nos sistemas naturais.
O ano de 1968 é apresentado com base no vôo aerofotogramétrico
executado pelos Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul S.A., na escala de
1:70.000, além de mapa da DSG-SUDENE, na escala de 1:100.000 datado de 1972,
gerado a partir dessas fotografias. O produto utilizado foi conseguido junto aos
arquivos da CPRM, com codificação 1816, em meio analógico.
O ano de 1988 baseia-se no vôo aerofotogramétrico realizado pelo
Programa de Desenvolvimento do Sistema Fundiário Nacional PDSFN, na escala
de 1:32.500. O material do ano em questão foi fornecido pelo IDACE, também em
meio analógico, sendo utilizadas as fotografias aéreas da faixa 14 D (16, 17 e 18),
com medidas 23x23cm.
Para a análise contemporânea foram utilizadas imagens do satélite SPOT
5, com resolução espacial de 10m e imagens captadas pelo Quickbird, com
resolução espacial de 0,60 m, ambas datadas de 2004 e cedidas pela SEMACE. A
checagem de campo, realizada no ano em curso, permitiu identificar o
comportamento das unidades definidas pela classificação adotada na pesquisa.
Como resultado, foram gerados produtos cartográficos na escala de
1:50.000 para cada período em análise (1968, 1988 e 2007). Esses produtos foram
interpretados e, com o cruzamento destas informações, finalizou-se com a
confecção de um mapa, de mesma escala, correspondente à síntese da evolução
geomorfológica da área no período proposto, que compreende 40 anos,
aproximadamente.
5.1. INTERPRETAÇÃO DAS IMAGENS
5.1.2. Fotografia Aérea 1968
No intuito de facilitar a fotointerpretação do período citado, optou-se em
realizar tratamento na fotografia aérea, efetuando-se realce de contrastes e
alteração nas cores (figuras 26A e 26B).
As respostas foram melhores na composição colorida, de tal forma que a
interpretação foi realizada a partir dessa base colorida, representada pela figura
26B. As águas oceânicas apresentam coloração verde azulado, clareando-se à
medida que se aproxima da faixa litorânea. Tal variação decorre da diminuição da
profundidade e do aumento na quantidade de sedimentos em suspensão próximo à
linha de costa. As águas do curso do rio Jaguaribe apresentam coloração
semelhante.
As zonas de praias assumem cores que variam de branco, com areias
livres e secas, ao rosa claro, quando o sedimento apresenta alguma umidade ou
acha-se ainda sob influência das marés. Os campos de dunas móveis igualmente
são marcados por tons claros, variando do branco ao rosa claro, devido à presença
de areias inconsolidadas e ausência de vegetação. As áreas de deflação, com
lagoas e/ou vegetação rasteira, mostram coloração verde acinzentada.
As dunas mais antigas o encontradas mais afastadas da linha de costa,
identificadas por uma mescla de pixels de tom verde médio e branco, com
rugosidade.
Utilizando essa composição os tipos de cobertura vegetal estão mais bem
diferenciados, com as áreas de planície flúvio-marinha ocupada por manguezais em
verde escuro, com rugosidade. As áreas em tons verdes mais claros foram
classificadas em planície flúvio-marinha ocupada por salgados e apicuns, não
apresentando rugosidade, freqüentemente bordejada por uma estreita faixa de
manguezais densos.
A identificação do limite das áreas de tabuleiros, bem como da localização
dos núcleos urbanos foi auxiliada pela consulta ao mapa topológico da escala de
1:100.000 da SUDENE, datado de 1972, originado a partir da análise dessa mesma
imagem, além de mapas da área produzidos em pesquisas anteriores.
Figura 26: Fotografia aérea do DSG, datadas de 1968. A figura A com a coloração original e a B após tratamento de cores permitindo individualizar
as unidades com mais facilidade e melhor exatidão.
Com base na interpretação aqui apresentada, gerou-se o mapa de unidades
geoambientais do ano de 1968, na escala de 1:50.000 (figura 27), contendo as
unidades identificáveis: faixa de praia, flechas litorâneas e dunas veis; áreas de
deflação com lagoas; dunas fixas; planície flúvio-marinha ocupada por manguezal;
apicum e salgado; tabuleiros costeiros.
5.1.3. Fotografia Aérea 1988
As fotografias aéreas datadas do ano de 1988 sofreram o mesmo processo
que as de 1968, no entanto, a tentativa de realce das unidades, com a mudança nos
tons de cores, não apresentou o mesmo sucesso, optando-se por efetivar a análise
e interpretação nos tons de cinza (figura 28).
A pequena porção lateral da área em estudo não coberta pela faixa de
fotografias aéreas foi cartografada com base nas imagens do satélite TM Landsat,
datada de 1982. Essa atitude, tomada com o intuito de padronizar o tamanho do
recorte geomorfológico estudado, não interferiu nos resultados das interpretações.
Os recursos hídricos: águas oceânicas, rio Jaguaribe e lagoas, apresentam
coloração de cinza médio, com textura lisa, ou seja, sem rugosidade.
As faixas de praia, as flechas litorâneas e os campos de dunas veis
assumem tons que variam de branco, quando com areia livre e seca, a tons de cinza
bastante claro, quando há alguma umidade.
As dunas fixas são identificadas por uma mescla de pixels em tons cinza e
branca, apresentando rugosidade, onde os pontos cinza indicam a vegetação
existente na duna que, livre de vegetação, apresentaria tons tendendo ao branco.
Áreas de deflação com lagoas apresentam coloração variando do cinza
escura, por vezes, tendendo ao negro a cinza médio. A perfeita identificação entre
esta unidade e o manguezal, dá-se pelo fato de as áreas de deflação apresentar
textura lisa.
A planície flúvio-marinha, ocupada por vegetação de manguezal é
identificada pela coloração cinza bastante escura, tendendo a negro, com textura
rugosa. As áreas de salgados e apicuns são identificadas por sua textura lisa e
coloração cinza médio. As áreas de tabuleiros bordejam toda a margem esquerda do
rio Jaguaribe, obedecendo à mesma classificação do período anterior (1968).
Figura 28: Imagens aéreas datadas de 1988, faixa 14 D (16, 17, 18), base para a
elaboração do Mapa de Unidades do mesmo ano.
Com base na interpretação visual das feições foi elaborado o mapa de
unidades geoambientais do ano de 1988 (figura 29).
5.1.4. Imagens de Satélite 2004
Esse período de análise contou com a disponibilidade de produtos obtidos
por sensores de alta resolução, tratam-se das imagens de satélite. O
georreferenciamento/registro das demais imagens e o tratamento digital foram
efetuados a partir da imagem do satélite quickbird, com resolução espacial de 60 cm
(figura 30A).
A interpretação da imagem de alta resolução possibilitou a identificação dos
limites de zonas urbanas, do uso e ocupação do solo, da caracterização dos
manguezais, permitindo, também, a visualização das feições marinhas submersas
rasas.
A interpretação da imagem possibilitou a demarcação das áreas ocupadas
por vegetação de manguezal, apresentada com coloração verde-escura, com
rugosidade, sendo as áreas de apicuns e salgados identificadas pela coloração
verde mais clara tendendo, muitas vezes, ao marrom, com textura lisa. Outra
contribuição da imagem Quickbird diz respeito à delimitação das áreas de planície
flúvio-marinha ocupada por carcinicultura, através da identificação das feições
retangulares, características dos viveiros de camarões, associada à coloração
escura da reflectância da água.
Pela riqueza de detalhes apresentados, também foi possível a identificação
da linha que define a paleofalésia, localizada à margem esquerda da foz do rio
Jaguaribe, bem como o Pontal de Maceió, feições que não foram identificadas nas
imagens utilizadas para a interpretação correspondente aos demais períodos.
A imagem SPOT 5 (figura 30B), resolução de 10m foi utilizada na
identificação geral das unidades geoambientais na contemporaneidade. As faixas de
praia, as flechas litorâneas e os campos de dunas móveis foram identificados pela
coloração branca. Os tons esbranquiçados, mesclados à coloração rosa, foram
atribuídos às áreas de deflação com a ocorrência de lagoas.
A pluma de sedimentos da deriva litorânea, bem como os sedimentos em
suspensão, nessa composição colorida RGB, é bem marcada pelo tom tendendo ao
violeta. Nas porções mais distantes da linha de praia predomina o azul escuro, tons
Figura 30: Imagens de satélite do ano de 2004. A figura A foi capturada pelo satélite Quickbird, por apresentar grande riqueza de detalhes, foi imprescindível
na delimitação das áreas de manguezais. A figura B satélite SPOT 5, permitiu uma visão geral da área.
violeta nas proximidades do litoral e nas proximidades das ilhas fluviais, onde
aporte de sedimentos denotando, assim, a pouca profundidade nessas áreas.
A presença de nuvens em alguns pontos, o permitiu a análise completa
das áreas de planície flúvio-marinha ocupada por manguezais e carcinicultura,
sendo essa análise complementada pela imagem do satélite Quickbird.
Apresentados as bases cartográficas do ano de 2004 para a elaboração do
mapa de unidades geoambientais, é oferecido o retrato da desembocadura do rio
Jaguaribe na contemporaneidade (Figura 31), o qual possui informações
complementares adquiridas pela checagem em campo realizado no ano de 2007.
5.2. INTERPRETAÇÃO DOS PRODUTOS CARTOGRÁFICOS
Os sistemas naturais apresentam dinâmica própria e espontaneamente
passam por processos evolutivos. Quando as características naturais desses
sistemas, as unidades geoambientais, são preservadas, em resposta têm-se uma
harmonia natural do ambiente, um equilíbrio entre os elementos existentes. A
intervenção humana desordenada afeta a evolução natural da paisagem.
Aqui apresentamos o conjunto das transformações geoambientais
verificadas na área de pesquisa ao longo dos últimos 40 anos, a partir do
cruzamento das informações dos mapas de unidades dos respectivos anos 1968,
1988 e 2007. Primeiramente mostram-se as alterações referentes a cada
unidade/subunidade por meio de gráficos, na perspectiva de facilitar a compreensão
e, posteriormente, têm-se a síntese dessas alterações.
Os elementos que apresentaram maiores modificações ao longo dos 40
anos de análise foram as subunidades que integram a planície litorânea, a saber:
faixa de praia, flechas litorâneas, campos de dunas móveis, campos de dunas fixas
e a planície flúvio-marinha. Os tabuleiros costeiros, pelo caráter menos dinâmico,
não apresentaram modificações consideráveis. A seguir, detalhamos as
modificações identificadas em cada uma das subunidades que compõem a planície
litorânea:
5.2.1. Planície litorânea
5.2.1.1. Faixa de Praia
A análise dos produtos cartográficos obtidos na pesquisa indica que a
faixa de praia apresentou uma alteração considerável ao longo dos últimos quarenta
anos. O comportamento dessa subunidade difere, ainda, pela posição a barlamar ou
a sotamar da foz.
Assim é que na margem direita, na área de faixa de praia, é constatada
progradação significante, um acréscimo de quase 4 km² de deposição de material, o
que representa aproximadamente 20% de aumento de área. Em 1968, a área
ocupada por essa subunidade era de 21 km², passando para 26 Km² em 1988 e, em
2004, para uma área total de 25 Km² (gráfico 03).
Na margem esquerda do rio, ao contrário, é constatada a ocorrência de
processo erosivo: cerca de 5 Km² de depósitos quaternários foram perdidos, fato que
representa um decréscimo da ordem de 16%. Com efeito, no ano de 1968 a área
ocupada era de 18 km²; diminuindo para 15 Km² em 1988 e, em 2004 ocupando
área de 13 Km² (gráfico 04). A erosão incidiu, sobretudo, na destruição de flechas
litorâneas.
0
5
10
15
20
25
30
Análise Temporal
1968
1988
2004
Evolução da planície litorânea – margem
direita da foz
Gráfico 03: Evolução da planície litorânea na margem direita da foz do rio Jaguaribe,
indicando a área ocupada por faixas de praia, flechas litorâneas e dunas móveis.
5.2.1.2. Dunas Fixas
Em relação à subunidade dunas fixas, que se situam mais ao interior do
continente, a análise espaco-temporal realizada, indica a ocorrência de um
decréscimo total da ordem de quase 60%. Entre os anos de 1968 e 1988 a
diminuição foi superior a 50%; no ano 1968 a área era de 14 Km², passando a
7,7Km² no ano de 1988. Entre 1988 e 2004, a diminuição foi de 2 Km², passando a
área a ocupar 5,7 Km² (gráfico 05).
0
5
10
15
Alise Temporal
1968
1988
2004
Evolução das dunas fixas
Gráfico 05: Evolução das dunas fixas.
0
5
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20
Análise Temporal
1968
1988
2004
Evolução da planície litorânea – margem esquerda da foz
Gráfico 04: Evolução da planície litorânea posicionada na margem esquerda da foz do
rio Jaguaribe.
5.2.2. Planície Flúvio-marinha
A unidade geoambiental da planície flúvio-marinha foi dividida em duas
subunidades, sendo a primeira ocupada por manguezais e a segunda por salgado e
apicuns.
As áreas de planície flúvio-marinha ocupadas por manguezais no decorrer
dos 40 anos de análise apresentaram modificações. No ano de 1968, essa unidade
geoambiental ocupava uma área de cerca de 5 Km². Para o ano de 1988, tem-se um
crescimento, indo a área medir, aproximadamente, 7,3 Km². No entanto, no ano de
2004 detectou-se um decréscimo, passando essa subunidade a ocupar 6 Km² de
área (gráfico 06).
Tratando esses números em índices percentuais, temos entre os vinte
primeiros anos de análise um crescimento de aproximadamente 36,28%. Para os
anos restantes (1988 2004), um decréscimo de cerca 15,58%. Na análise do
recorte temporal por completo, ou seja, dos quarenta anos (1968 2004), o
manguezal apresentou um aumento de aproximadamente 13%.
O aumento das áreas de manguezal no primeiro recorte apresentado é
vinculado ao aumento das ilhas flúvio-marinhas do Pinto e do Caldeireiro, uma das
áreas dessa subunidade que sofreu maior alteração durante o período analisado.
Como pode ser observado no gráfico 07, para a Ilha do Pinto temos as
dimensões: 6,5 Km²; 7,4 Km²; 7,5 Km²; respectivamente, para os anos de 1968,
1988 e 2004. Para os mesmos anos temos a Ilha do Caldeireiro ocupando 11 Km²;
13,5 Km²; e, 16 Km² de área.
0
2
4
6
8
Análise Temporal
1968
1988
2004
Evolução dos Manguezais
Gráfico 06: Evolução das áreas de manguezais.
0
5
10
15
20
1968 1988 2004
Ilha do Pinto
Ilha do
Caldeireiro
Evolução das ilhas flúvio
-
marinhas
Em termos percentuais, conjuntamente, as ilhas sofreram acréscimo de
mais de 35% em suas áreas para o período de 1968 a 2004. O processo se
apresenta mais intenso entre 1968 e 1988 com cerca de 20% de aumento, para o
período restante o acréscimo é de 12%.
Na análise das fotografias aéreas, essas áreas são apresentadas
claramente enquanto áreas de expansão de tal unidade. A diminuição entre os anos
de 1988 e 2004 é de aproximadamente 15%, e atinge o manguezal como um todo.
Analisando os resultados referentes à planície flúvio-marinha ocupadas
por apicuns e salgado, têm-se essas unidades no ano de 1968 apresentando uma
área de cerca de 8 Km², diminuindo para 7,4 Km² no ano de 1988, chegando a 6,7
Km² no ano de 2004. Tal variação é ilustrada no gráfico 08.
6
6,5
7
7,5
8
Análise Te m poral
1968
1988
2004
Evolução dos
salgados e/ou apicuns
Gráfico 08: Evolução das áreas da planície flúvio-marinha ocupadas por salgado e apicuns.
Gráfico 07: Evolução das áreas das ilhas flúvio-marinhas.
Nota-se uma diminuição da área de apicuns para os primeiros períodos da
ordem de 7,5%. A análise das imagens mostra que houve uma expansão do
manguezal nas áreas anteriormente ocupadas pela subunidade apicum, para o
período de 1968 a 1988. No entanto, a redução mais acentuada das áreas de
apicuns se apresenta para o período mais recente, de 1988 para 2004, sendo da
ordem de 10%.
A tabela 02 reúne as áreas ocupadas por cada unidade e subunidade, em
cada um dos anos analisados, fundindo assim o conjunto de alterações das feições
geoambientais da desembocadura fluvial do Jaguaribe.
VARIAÇÃO DAS ÁREAS DAS UNIDADES GEOAMBIENTAIS DA FOZ DO RIO JAGUARIBE/CE
UNIDADE
SUBUNIDADE
ANOS
1968
1988
2004
VARIAÇÃO
(%)
Planície
litorânea
Faixa de praia - margem direita
Á
R
E
A
(Km²)
21 26 25 20%
Faixa de praia - margem esquerda 18 15 13 16%
Dunas Fixas 14 7,7 5,7 60%
Planície
flúvio-
marinha
Manguezal 5 7,3 6 13%
Salgado e apicuns 8 7,4 6,7 10%
Ilhas flúvio-marinhas 17,5 20,9 23,5
35%
Acréscimo
Decréscimo
Tabela 02: Unidades e subunidades geoambientais da desembocadura fluvial do Jaguaribe que
sofreram alterações entre os anos de 1968 1988 2004. Apresentam-se em porcentagem (%) os
valores dessas variações.
6. A FOZ DO RIO JAGUARIBE NOS ÚLTIMOS 40 ANOS
Sabemos que um sistema natural tem uma dinâmica tal que uma alteração
em um dado segmento implica em alterações em outros segmentos ou no todo.
Dependendo do grau de interferência, tais respostas podem ser lentas e graduais,
ou serem instantâneas.
A desembocadura fluvial do rio Jaguaribe, objeto de estudo, é um
subsistema de um sistema maior, a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Sendo
assim, qualquer interferência ao longo da mesma pode acarretar respostas, também,
em nosso subsistema.
A evolução das formas de relevo originada nos ambientes fluviais está
relacionada aos processos de sedimentação e erosão. Quando ocorrem
naturalmente, são vistos como processos dinâmicos pertinentes à própria formação
das paisagens. Entretanto, quando são acelerados por fatores antrópicos, como
ocorre em grande parte dos casos, resultam na degradação do meio físico. O que
ocorre é que dificilmente essa degradação é compensada a tempo pelos processos
naturais, causando, muitas vezes, situações difíceis de recomposição
(CAVALCANTE, 2001).
De maneira geral, no conjunto da fachada costeira, pode ser observada
uma grande variedade de impactos. Ocupação e exploração de dunas, mineração,
obras marítimas, loteamentos, barragens, entre outros. Tais impactos interferem, por
exemplo, na dinâmica natural de transporte e acumulação de sedimentos.
O equilíbrio da dinâmica costeira depende da manutenção do aporte de
material na linha de costa. As principais fontes de material podem ser consideradas
de duas formas: as fontes primárias e as fontes secundárias. As fontes primárias de
material é
o sistema de drenagem oriundo das terras interiores, onde os rios são os
componentes principais. Ocorrem, ainda, terras firmes e afloramentos de depósitos
terrestres ao largo
. As fo
ntes secundárias que são criadas ao longo do tempo pelos
sedimentos oriundos das fontes primárias, são as praias, dunas e depósitos do
largo (MORAIS, 1996).
A zona costeira é caracterizada como um ambiente bastante frágil devido
à sua complexa dinâmica ambiental. Com freqüência, os agentes litorâneos têm
parâmetros de atuação variáveis que, na maioria das vezes, estão em equilíbrio. Os
riscos associados à dinâmica costeira se fazem sentir pelo modelado do litoral em
função da ação de alguns desses agentes (correntes, ondas, marés) e pela atuação
dos ventos que constroem ou destroem ambientes litorâneos, como praias, dunas e
falésias (e.g. MORAIS, 1996).
Em resposta ao desequilíbrio da dinâmica ambiental, de maneira geral,
notam-se, no conjunto da zona costeira, os processos de progradação e de erosão.
O processo de progradação acontece quando um excesso de sedimentos, ou
seja, quando a proporção de deposição de sedimentos é maior que a de retirada.
Contrariamente, a erosão costeira tem início quando o material erodido é
levado da linha de costa em maior proporção do que é depositado. Esta razão
remoção-deposição é o fator relevante nos processos de erosão costeira. Pode ser
classificada em dois tipos principais: a erosão natural e a erosão induzida pelo
homem.
Do ponto de vista de distância da linha de praia, vários fatores podem
causar a erosão de ordem social. Atividades como construção de barragens em
rios, mineração ou dragagem de areias e cascalhos do leito dos rios, alteração do
sistema de drenagem, são atividades cruciais. Acrescente-se a isto atividades na
própria praia como desmatamento, práticas de agricultura, dragagem e mineração
de areias e cascalhos, construção na faixa de estirâncio, disposição de lixo sólido e
aterros, dentre as principais. Ocorrem, ainda, atividades na área litorânea
submersa, próximo da praia, como a mineração do fundo de areia e cascalho ou
algas calcárias, construções, estabilização de braços de mar (MORAIS, 1996).
Na área de pesquisa, diversas alterações geomorfológicas e ambientais
foram detectadas ao longo dos últimos anos, como indicado no capítulo anterior.
Nesse item, analisamos os agentes responsáveis por tais alterações, a saber:
6.1. AGENTES RESPONSÁVEIS PELAS ALTERAÇÕES AMBIENTAIS
6.1.1. Planície litorânea
A análise da faixa de praia do entorno da foz do rio Jaguaribe ao longo
dos anos 1968/1988/2004 (figura 32), confirmou os resultados obtidos por
Cavalcante (2001), que trabalhou com fotografias aéreas de 1958, 1988 e 1993 e
imagens de satélite do ano de 1996, os quais indicaram que na margem direita da
foz do rio Jaguaribe ocorre progradação e, na margem esquerda, processo de
erosão.
Figura 32: Evolução da planície litorânea. Nota-se uma progradação na margem direita e na margem
esquerda uma erosão sobretudo das flechas litorâneas.
Escala 1:
300
.
0
00
3 km 0 3 km 6 km
Evolução da Planície litorânea (1968 - 2004)
Planície litorânea
Dunas fixas
Salgados e/ou apicuns
Manguezais
Carcinicultura
Tabuleiros
Áreas inundáveis
Recursos Hídricos
Erosão
Acumulação
Fonte: CARVALHO-NETA, 2007: Mapas de Unidades Geoambientais (1968, 1988, 2004).
1968
19
8
8
2004
A
C
A evolução da margem direita da desembocadura fluvial apresenta
formação de flechas litorâneas que foram, posteriormente, acopladas à linha de
praia, caracterizando, assim, o ambiente de engorda da linha de costa.
Esse aspecto de engorda é entendido como um processo natural. Os
sedimentos que alimentam este segmento da faixa de praia e são responsáveis por
essa progradação são, principalmente, oriundos da erosão das falésias de Icapuí,
situadas a leste e a barlamar da área de pesquisa.
A disposição dessas flechas litorâneas da maneira apresentada mostra
uma supremacia da dinâmica litorânea em relação à dinâmica fluvial. Com efeito, as
flechas litorâneas são relevos que dependem, sobretudo, da energia das ondas.
Claudino-Sales (2002, 2005) escreve que para a formação dessa feição
geomorfológica em desembocaduras fluviais é necessário pouca energia fluvial,
além de espaços de acomodação dos sedimentos.
Na margem esquerda da foz, contrariamente, o processo erosivo é
destaque, o que indica haver ou carência de sedimentos, ou ampliação da dinâmica
flúvio-marinha nesse setor. Tais fatores podem ser resultantes de processos tanto
naturais quanto sociais.
Do ponto de vista natural, a migração do rio em direção a oeste vem
ampliando a energia erosiva na margem esquerda do rio. Além disso, a carência de
sedimentos, possível responsável pela ampliação de erosão da faixa de praia, pode
resultar diretamente da característica de irregularidade das precipitações.
Com efeito, Carvalho (1994) aponta que cerca de 70% a 90% dos
sedimentos transportados pelos cursos d’água ocorre em função das fortes
precipitações. Mais especificamente no caso do Jaguaribe que, do ponto de vista
natural, é intermitente, sem poder de escoamento próprio devido, essencialmente, às
limitações climáticas. Pode-se dizer que 98% dos sedimentos que transitam no seu
leito são transportados nesse período de grandes precipitações (CAVALVANTE,
2001).
Nesse contexto, coloca-se como importante a análise do quadro natural da
área no decorrer do tempo estudado, principalmente no que concerne ao
comportamento das precipitações. Baseado em Zanella (2005), é apresentado o
quadro 01, contendo a duração dos anos de seca ocorrida a partir da década de 60
e até o fim da década de 90 do século XX, para todo o estado do Ceará.
Ao tratar especificamente da área de pesquisa, os dados de pluviometria
(BRASIL, 1990) entre os anos de 1962 e 1985 para os postos dos Municípios de
Aracati e Fortim, indicam que nos anos de 1966, 1969, 1970, 1978, 1979, 1980 e
1983 as médias de precipitações foram inferiores a 700 mm. A baixa precipitação ao
longo dessa segunda metade do culo XX coloca-se, pois, como uma possível
explicação para a margem esquerda do rio ter sofrido um processo de erosão.
Comparativamente, o primeiro período de análise (1968/1988) se
caracteriza enquanto mais seco que o período posterior (observar quadro 01). Essa
diferenciação também emite respostas no comportamento do campo de dunas
móveis.
Anos Secos
Duração seca
(anos)
Anos Secos
Duração seca
(anos)
1961/1962 2 1979/83 5
1966 1 1987 1
1970 1 1990 1
1972 1 1992/93 2
1976 1 1997/98 2
Fonte: Zanella, 2005.
Quadro 01: Quadro de ocorrência de secas entre a década de 1960 e 1990 no Estado do Ceará.
A figura 33 apresenta como se comportam o campo de dunas móveis
localizado na margem direita da foz. Observemos o quadro de migração nos
diferentes períodos.
Maia (1998) e Pinheiro & Sales (2007) afirmam que a distinção de dois
períodos anuais, um chuvoso no primeiro semestre do ano, e um seco, no segundo
semestre, tra também diferenças na dinâmica costeira, ao mobilizar uma maior
quantidade de sedimentos nos períodos mais secos. Nesse período também vão
atuar, mais efetivamente, os ventos alísios de SE que caracterizam de maneira geral
a direção de migração dos corpos dunares no Ceará.
1968
A
19
8
8
B
2004
C
Dunas Móveis migrando sobre dunas fixas e planície flúvio-marinha (1968 -2004)
Fonte: CARVALHO-NETA, 2007: Mapas de Unidades Geoambientais (1968, 1988, 2004).
Dunas Móveis
Dunas fixas
Salgados e/ou apicuns
Manguezais
Carcinicultura
Áreas inundáveis
Recursos Hídricos
Direção do avanço
das dunas móveis.
Escala 1:
85
.
0
00
0,85km 0 0,85km 1,7km
C
Áreas de evidência do
avanço das dunas móveis.
Figura 33: Migração das dunas móveis sobre a planície flúvio-marinha do rio Jaguaribe, em sua
margem direita, sufocando as áreas de manguezais e sobre as dunas fixas, recobrindo-as.
O vento apresenta uma evolução inversa ao da precipitação. Durante o
segundo semestre vão dominar os alísios de SE, que são mais intensos que os de
NE. Estes, por terem menos umidade, são os mais importantes para a geomorfologia
costeira do Estado (CLAUDINO-SALES, 2002), ao mobilizar uma maior quantidade
de sedimentos durante o período em que predominam, orientando, assim, a direção
de migração das dunas.
Nessa gica, Tsoar & Arens (2003), apontam as precipitações dias
anuais baixas, ventos muito fortes e freqüentes e a intensa interferência humana,
como os fatores que vão influenciar no crescimento de vegetação em dunas e sua
conseqüente mobilidade.
O déficit hídrico (diferença entre a evapotranspiração potencial, EP e a
evapotranspiração real, ER), pode estar relacionado à mobilidade das dunas e sua
escassa colonização pela vegetação (PINHEIRO & SALES, 2007), pois períodos
com baixas precipitações se estendendo por mais tempo e as altas temperaturas,
também vão influenciar essa baixa umidade na área, colaborando, assim, para a
permanência de areias mais secas nos campos de dunas.
Esta análise (figura 33 – principalmente das áreas de evidência do avanço
das dunas móveis sobre as dunas fixas), vinculadas ao quadro 01 e aos gráficos 01
e 02 (capítulo 2, página 24), indica que o processo migratório acha-se vinculado aos
aspectos naturais, no caso, às baixas taxas de precipitação. Com efeito, a migração
foi mais intensa no período entre 1968 e 1988, período este caracterizado enquanto
mais seco que o período entre 1988 e 2004.
Como citado, a análise do gráfico 03 (capitulo 6, página 84), apresenta
um decréscimo de cerca de 60% das dunas fixas. Percebe-se que antes de
desaparecerem do ambiente, as dunas fixas estão, na verdade, sendo
gradativamente recobertas pelas dunas móveis, que tiveram ampliado o seu
processo de migração em função da ocorrência de anos seguidos de baixa
precipitação. A menor diminuição da umidade inibe a colonização de vegetação e
deixam as areias secas mais susceptíveis à deflação.
No primeiro período (1968-1988), a redução das dunas fixas foi superior a
50%. Para o ano de 1988 tem-se uma área 14 Km² ocupada por esta subunidade,
decrescendo a 7,7 Km² em 1988. Para o ano de 2004, a área diminui para 5,7 Km²,
variação bem menor que a apresentada anteriormente, de apenas 2 Km².
Essa migração também emite respostas relacionadas ao comportamento
do manguezal. Maia (1998) estimou uma taxa de migração de dunas de 6 a 10
metros por ano para o litoral cearense. Este avanço das dunas sobre a margem
direita ocorre bem perto da planície flúvio-marinha, e as areias eólicas estão
sufocando o manguezal (figura 34).
Do ponto de vista social, Morais (1996) aponta algumas atividades que
podem interferir na dinâmica natural das praias e dos campos dunares, levando-os à
degradação e ainda à emissão de respostas às unidades geoambientais
circundantes. Dentre tais atividades, ressalta-se a ocupação e exploração
indiscriminada para usos diversos, além do desmatamento, da mineração e do
turismo não ecológico.
No caso da área de pesquisa, tais atividades não se apresentam de forma
tão preocupante, pois o campo de dunas da área integra a APA de Canoa
Quebrada estando, assim, protegida legalmente. No entanto, o uso das dunas,
embora praticamente restrito ao uso turístico com os passeios de buggies, pode
causar destruição e degradação acelerada da vegetação, promovendo impactos
negativos do ponto de vista fisiográfico. Tal fato parece ampliar o processo de
migração das dunas móveis sobre as dunas fixas e a vegetação de manguezal.
Fotos: CARVALHO-NETA, 2007.
Figura 34: Campo de dunas móveis na margem direita da foz do rio Jaguaribe migrando sobre a
planície flúvio-marinha, sufocando as áreas de manguezais.
6.1.2. Planície flúvio-marinha
Prosseguindo a análise das alterações nas unidades geoambientais,
partimos para a apresentação da evolução da planície flúvio-marinha ocupada por
manguezal (figura 35).
Figura 35: Evolução da planície flúvio-marinha ocupada por manguezais na foz do rio Jaguaribe.
Destacam-se as áreas em que a vegetação de mangue sofreu expansão e redução.
A análise das fotografias aéreas mostrou, de maneira geral, um
crescimento da área ocupada por manguezais ao longo dos anos. Do ponto de vista
natural, indica-se que as áreas de crescimento de depósitos sedimentares,
ocupados por mangue no estuário do rio Jaguaribe, parecem ser resultante do
sistema de deposição de sedimentos oriundos da erosão das flechas litorâneas e
dos sedimentos da Formação Barreiras (paredão fluvial) que foram e estão sendo
dissecados à margem esquerda.
O material inconsolidado é retrabalhado pelo rio até que se forme um
banco de areia, o qual, submetido às oscilações de marés, permite a colonização
Fonte: CARVALHO-NETA, 2007: Mapas de Unidades Geoambientais (1968, 1988, 2004).
Evolução da Planície Flúvio-marinha ocupada por manguezal (1968 -2004)
1968
19
8
8
2004
A
B
Escala 1:
100.000
Acréscimo
Decréscimo
1 km 0 1 km 2 km
Planície litorânea
Dunas fixas
Salgados e/ou apicuns
Manguezais
Carcinicultura
Tabuleiros
Áreas inundáveis
Recursos Hídricos
pela vegetação de mangue ao ponto de aumentar a sua área de ocorrência. No
contato com as ilhas fluviais, esses sedimentos são acrescidos às suas margens,
parcialmente explicando também a ampliação dessas subunidades geoambientais.
O crescimento destas feições, resultado das análises nas imagens, foi
constatado pelos trabalhos de campo realizados na área de pesquisa. Observou-se
a presença de diferentes gerações de mangue (figura 36), localizados nas áreas de
expansão (figura 35).
Fotos: CARVALHO-NETA, 2007.
Figura 36: Observa-se a presença de diferentes gerações de vegetação de mangue no estuário do rio
Jaguaribe. A seta vermelha indica geração de mangue mais antiga, a seta amarela, geração mais
jovem.
As áreas onde se constatou o decréscimo desta subunidade vinculam-se,
do ponto de vista natural, à ação das ondas nas áreas (figura 37) localizadas mais
próximas do litoral e, do ponto de vista social, à atividade de carcinicultura (figura
38), localizadas mais no interior da planície flúvio-marinha.
Foto: CARVALHO-NETA, 2007.
Figura 37: Manguezal na margem esquerda da foz do rio Jaguaribe sendo desestruturados pela ação
das ondas.
Foto: CARVALHO-NETA, 2007.
Figura 38: Áreas de manguezal na margem direita da foz do rio Jaguaribe, comunidade do Cumbe,
atualmente ocupada por viveiros de camarão.
Em relação ao apicum, verificou-se uma diminuição de, aproximadamente,
15% das suas áreas, no recorte que vai do ano de 1988 a 2004. Tal fato parece
vincular-se, do ponto de vista natural, ao contínuo crescimento das ilhas fluviais e da
ampliação da área de manguezal. Do ponto de vista social, o crescimento das áreas
ocupadas por manguezal e a diminuição da extensão dos apicuns parece estar
associado à atividade de criação de camarão em viveiros (carcinicultura) e às
barragens instaladas ao longo do leito do rio.
A atividade de criação de camarão em viveiros apresenta sua explosão na
década de 1990. Atualmente, a carcinicultura responde por 99% das exportações
de camarão do Brasil. De 3,6 mil toneladas em 1997, a produção do setor saltou
para 75,9 mil toneladas em 2004, segundo a Associação Brasileira de Criadores de
Camarão (ABCC). A região Nordeste é responsável por 92% da produção, sendo os
principais estados produtores, pela ordem, Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia,
Pernambuco, Paraíba e Piauí (MONTEIRO, 2005).
Esses dados são comprovados, tanto pela análise de relatórios sócio-
econômicos, quanto aparecem claramente na interpretação das imagens de satélite.
Assim é que a área do ecossistema manguezal, devastada para a implantação
desse tipo de atividade (figura 39) na área de pesquisa é de 10 Km². Esse valor
equivale a, aproximadamente, 17% da área atual de planície flúvio-marinha ocupada
por vegetação de manguezal.
Entre os impactos da carcinicultura no ecossistema manguezal estão: a
modificação do fluxo das marés; redução e extinção de hábitats de numerosas
espécies; extinção de áreas de mariscagem, pesca e captura de caranguejos;
expulsão de pescadores de seus locais de trabalho; proibição de acesso às áreas de
pesca e de coleta de caranguejos e mariscos; contaminação de água destinada ao
consumo humano; disseminação de doenças entre os crustáceos; destruição da
paisagem e conflitos de terra decorrentes da privatização de terras da União
(terrenos de Marinha e terras devolutas), além de danos cumulativos ao longo das
bacias hidrográficas onde se situam as fazendas (LIMA, 2004; MELLO, 2005).
Além da carcinicultura, algumas atividades localizadas no interior podem
funcionar como agente de impactos na zona costeira, induzidos pela ação do
homem. Entre elas, dá-se destaque às barragens. Estas são construídas com a
finalidade de criação de reservatórios, de irrigação, de geração de energia elétrica,
de controle de enchentes (MORAIS, 1996).
O rio Jaguaribe é marcado, atualmente, por um grande número de açudes
públicos e particulares, dentre os quais 49 são monitorados pela COGERH, que
regula periodicamente a liberação de água necessária ao abastecimento das
cidades à jusante dos açudes (CAVALCANTE, 2001).
A gestão dos recursos hídricos por comitês de bacias tem levado a uma
crescente sustentabilidade no uso desses recursos. No entanto, ainda não são
abordados, na esfera desses comitês, os impactos potenciais causados na zona
costeira por atividades antrópicas localizadas à montante, incluindo sua evolução
nos próximos séculos (MARINS et al, 2003).
Foto: CARVALHO-NETA, 2007.
Figura 39: Áreas de manguezal desmatadas para a implantação da atividade de carcinicultura na
margem direita da foz do rio Jaguaribe, na comunidade do Cumbe.
O controle de fluxo fluvial por barragens para abastecimento de água
resulta, via de regra, em uma diminuição significativa do fluxo fluvial à jusante,
particularmente em períodos de estiagem. Tal situação leva à concentração de
substâncias presentes na água e ao desequilíbrio entre erosão e sedimentação ao
longo do curso do rio e, principalmente, em sua região estuarina. Além de
salinização de águas superficiais e subterrâneas (LACERDA, 2003), fato que tende
a ampliar a presença do ecossistema manguezal.
Estudos sobre a bacia do rio Jaguaribe (CAVALCANTE, 2001; MARINS et
al, 2003; LACERDA, 2003; LACERDA et al, 2006), confirmam que a construção de
barragens e açudes, a retirada de água para agricultura irrigada, para a
carcinicultura e para o abastecimento humano, associado a um decréscimo de até
20% na pluviosidade anual nos últimos 40 anos, resultaram na redução da descarga
fluvial média anual de cerca de 200 m³/s no início do século XX para menos de 40
m³/s atualmente, e na redução da taxa de transporte de sedimentos para valores
menores a 2 t/km²/ano. Ora, os rios funcionam como uma fonte de suprimento de
sedimentos para as regiões costeiros e o efeito da barragem reduz o suprimento de
sedimentos na praia. Tal situação explica, em parte, a erosão verificada no setor de
praia à esquerda da desembocadura do rio, como salientado anteriormente.
Na bacia do rio Jaguaribe está localizado alguns dos maiores açudes do
Nordeste, como o Orós e Arrojado Lisboa (Banabuiú) que, juntos, liberam,
atualmente 13.000 l/s, sendo os principais responsáveis pela perenização de todo o
restante do vale do Jaguaribe (CAVALCANTE, 2001). Mais recentemente, associa-
se a este quadro o açude Padre Cícero, também chamado de Açude Castanhão,
inaugurado em 2002, com capacidade de 6,7 bilhões de m³/s (figura 40).
Por conta da ação das barragens dispersas ao longo da bacia do rio
Jaguaribe, as influências da maré são sentidas até o município de Itaiçaba, onde
ocorre o último barramento (PINHEIRO et al, 2006). Esse barramento se enquadra
na ótica do Governo estadual de o desperdiçar água doce “para adoçar o mar”,
deixando com que praticamente toda a dinâmica estuarina seja subordinada à
hidrodinâmica marinha. O aumento da demanda antrópica de água associada à
diminuição de pluviosidade, prevista nos modelos climáticos globais, deverá
maximizar os impactos dessas barragens sobre a região costeira no futuro próximo
(LACERDA, 2003). E qualquer extração de sedimentos do leito dos rios resultará no
aumento do decréscimo de sedimentos que seriam transportados até o litoral e,
conseqüentemente, no crescimento da erosão
à
jusante (MORAIS, 1996).
Grande parte dos efeitos danosos resultado do barramento dos rios ocorre
de maneira muito lenta, ou seja, em longo prazo, podendo ser controlados através
de planejamento e manejo adequado, conceitos que ainda necessitam ser
difundidos dentro da política da açudagem (CAVALCANTE, 2001).
Fonte: COGERH, 2005.
Figura 40: Imagens dos udes Castanhão e Óros. Ambos localizados na bacia do rio Jaguaribe em
seu médio e alto curso, respectivamente, esses reservatórios correspondem aos de maiores
dimensões do estado do Ceará.
A vazão da barragem de Itaiçaba é controlada pelos agentes climáticos,
sendo que no período chuvoso chega até 200/s, variando com a carga de
pluviometria recebida pela bacia. No período de estiagem a vazão é nula ou quase
nula, já que a cota de sangria não é ultrapassada (PINHEIRO et al, 2006).
O efeito dessas atividades é notado, também, nas ilhas flúvio-marinhas
(figura 41). Verifica-se um acréscimo considerável, caracterizando essas áreas
também enquanto áreas de expansão de manguezais. A diminuição da vazão do rio
implica em não transporte do material de carga sólida aportada ao leito.
Com efeito, o fato do recurso hídrico em questão não apresentar força o
suficiente para transportar sedimentos, faz com que o depósito aconteça no interior,
expandindo assim as áreas de ilhas fluviais. Associada ao aumento dessas ilhas
fluviais também se vincula a expansão das áreas de manguezais. O gráfico 06
(capítulo 06, página 86) apresenta acréscimo de mais de 35% nessas áreas ao
longo dos quase quarenta anos.
1968
A
1988
B
2004
C
Fonte: CARVALHO-NETA, 2007: Mapas de Unidades Geoambientais (1968, 1988, 2004).
As ilhas flúvio-marinhas do Pinto e do Caldeireiro, no município de Fortim,
distam cerca de 7 km da faixa de praia, do oceano atlântico. O acúmulo desse
material a esta distância mostra a incompetência desse recurso no transporte de
sedimentos. Como a força exercida pelas ondas, corrente e marés é elevada, a
dinâmica litorânea mostra-se superior à energia exercida pela dinâmica fluvial. Isso
parece significar que mesmo havendo uma diminuição considerável do montante de
sedimentos que alcançam a desembocadura do rio em função das barragens, o
pouco de sedimentos que atinge ao seu leito na foz não é transportado, produzindo
assoreamento localizado, ou resultando, ainda, na dispersão do material por ação
das correntes de marés e ondas, fato que explica o crescimento da área ocupada
por manguezal.
Figura 41: Evolução das ilhas flúvio-marinhas do Pinto e do Caldeireiro, município de Fortim, na
planície flúvio-marinha do rio Jaguaribe.
Nesses setores de acréscimo são encontradas diferentes gerações de
mangue (figura 35). Evidenciando a dinâmica deste ecossistema e a capacidade do
Evolução das Ilhas Flúvio-marinhas (1968 -2004)
Dunas Móveis/Flecha litorânea
Dunas fixas
Salgados e/ou apicuns
Manguezais
Tabuleiros
Recursos Hídricos
A
Escala 1:
62. 5
00
625 m 0 625m 1250m
mesmo em adequar-se à inconstância do ambiente, constatou-se na ilha do Pinto,
município de Fortim, o manguezal desenvolvendo-se sob entulhos e sobras de
materiais da construção civil (figura 42).
Fotos: CARVALHO-NETA, 2007.
Figura 42: Vegetação de mangue se desenvolvendo sob entulhos na ilha do Pinto, município de
Fortim, planície flúvio-marinha do rio Jaguaribe.
Os resultados apresentados referentes à expansão de áreas ocupadas por
manguezal negam o discurso de muitos empresários envolvidos com a atividade de
criação de camarão em cativeiros, que dizem que nada pode ser feito por esse
ambiente depois de sua alteração. Por outro lado, a expansão de manguezal, não
indica haver um equilíbrio ambiental. Na verdade, ao novo ver, isto está longe de
ocorrer.
Devemos na verdade, nos remeter às alterações ocorridas na
desembocadura fluvial do rio Jaguaribe, como respostas do sistema, às quais
possuem efeito do tipo “dominó” - cada modificação acarreta outra modificação -,
que condiciona outra resposta. As alterações estão, assim, associadas em forma de
cadeia.
A síntese dessas alterações ao longo dos 40 anos de análise da
desembocadura fluvial do rio Jaguaribe é apresentada na figura 43, intitulada “Mapa
de evolução geomorfológica atual e análise ambiental da foz do rio Jaguaribe”,
gerada a partir do cruzamento dos mapas de cada ano analisado.
7. A FOZ DO RIO JAGUARIBE: CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até meados do século XX os mecanismos naturais atuantes no estuário do
Rio Jaguaribe não foram muito alterados em razão de atividades sociais. Mudanças
de caráter cio-ambiental passaram a ocorrer, sobretudo, ao longo das últimas
décadas, de forma a modificar o padrão normal de funcionamento natural do
sistema, implicando na ocorrência de processos de degradação ambiental.
O rio Jaguaribe representa um importante elemento natural da paisagem e
do território cearense. As atividades econômicas e sociais que se desenvolvem
atualmente no seu médio e baixo curso e no entorno de sua foz sobretudo a
agricultura irrigada, as atividades de carcinicultura, o barramento do curso fluvial
para efeito de controle de enchentes e abastecimento de água, para fim industrial e
urbano, ampliam essa importância, transformando esse espaço em lócus de atenção
privilegiada por parte dos agentes de produção do espaço geográfico local, nacional
e internacional. Tal atenção fica evidente através do projeto do Governo Federal,
em curso, de transposição das águas do Rio São Francisco, a partir do Estado da
Bahia, para essa bacia fluvial, na perspectiva, sobretudo, de ampliar as práticas de
irrigação voltadas para a produção agrícola destinada a abastecer o mercado
internacional de frutas tropicais e fornecer água para atividades industriais, como
aquelas associadas ao Porto do Pecém, no litoral central do Ceará.
Um elemento fundamental dessas mudanças ambientais introduzidas nos
últimos anos foi a construção da ‘mega-barragem’ Castanhão, na cada de 1990,
no médio curso do rio Jaguaribe. O Castanhão teve por objetivo principal, controlar
as cheias no baixo curso do Jaguaribe e, nesse sentido, obteve sucesso. Com
efeito, os dramas associados às enchentes durante a quadra invernosa
desapareceram do cotidiano das populações ribeirinhas que habitam o médio e
baixo curso do Jaguaribe, e outras práticas de uso das margens fluviais, como
associadas à agricultura irrigada, tiveram incentivos, a partir de então.
No entanto, novas situações surgiram como a diminuição do transporte de
sedimentos e da carga sólida e de fundo do curso fluvial, além da eliminação do
fluxo de água doce a partir da barragem de Itaiçaba, situado 40 km à montante da
foz. A principal alteração ambiental produzida por essas novas situações
corresponde ao aumento da salinidade do rio a montante e a instalação de
processos de progradação à margem direita da foz do rio.
O presente trabalho teve a pretensão de pautar essas mudanças sociais e
naturais presentes na foz do Jaguaribe ao longo das últimas cadas, com o
objetivo de ressaltar a problemática ambiental resultante dessas atividades sociais e
econômicas, como forma de sugerir o quadro ambiental para o futuro. Dessa análise,
resultaram diferentes mapas geoambientais, elaborados a partir do uso de um
conjunto de técnicas associadas ao sensoriamento remoto. Esse instrumento
técnico, utilizado a partir da manipulação de fotografias aéreas e imagens de
satélite, mostrou-se bastante eficiente no desenvolvimento dos mapas produzidos e
trabalhados, contendo informações em escala de 1:50.000. Portanto, com um grau
de detalhamento capaz de permitir a apreensão das principais mudanças ambientais
presentes na foz do rio.
A análise desses materiais, realizada para um período de
aproximadamente 40 anos, incidiu sobre o comportamento das unidades
geoambientais e feições geomorfológicas existentes na desembocadura fluvial do rio
Jaguaribe, e permitiu efetuar a análise da evolução da planície litorânea, que
confirma hipóteses de trabalhos anteriores, no sentido de externar que os períodos
de estiagem prolongados, que naturalmente ocorrem na bacia do Rio Jaguaribe,
associado às interferências causadas pelos barramentos, acabaram por
proporcionar erosão dos cordões arenosos do tipo flechas litorâneas que existiam
acoplados à margem direita do rio. Assim, na margem esquerda da desembocadura
fluvial, destaca-se um acentuado processo de erosão.
Com efeito, as mudanças periódicas no regime de precipitações, assim
como a diminuição no aporte de sedimentos produzidos pelo barramento do fluxo
fluvial, promoveram a formação de diversos bancos arenosos no entorno da foz
por diminuição da competência fluvial - e por toda a antepraia da margem direita.
Tais depósitos causaram mudanças na morfologia de fundo, as quais
desencadearam um processo de refração de ondas no local, promovendo o
surgimento de processos erosivos na margem esquerda.
Nesse sentido, parece haver uma tendência à migração permanente da
foz do rio Jaguaribe em direção a oeste. Essa migração mostra-se relativamente
contida nos setores estuarinos a montante da foz, dada a presença de afloramentos
da Formação Barreiras e da Formação Tibau na forma de paredão fluvial ao longo
da margem esquerda, os quais impõem resistência à deriva do leito fluvial. No
entanto, o avanço em direção à margem esquerda parece indicar tendência à
continuidade, considerando que, além da erosão das flechas litorâneas, ocorre ainda
atualmente a completa desestruturação da faixa de manguezal ali instalada, com
erosão da faixa de praia associada e assoreamento da área ocupada por vegetação,
fato que evidencia a invasão desse segmento de ecossistema pelas ondas e pelas
correntes de marés que se formam na entrada do estuário.
Outra mudança significativa no meio estuarino resultante das formas de
uso e ocupação do vale do Jaguaribe é associada às áreas da planície flúvio-
marinha ocupadas por manguezal. Com efeito, tais segmentos sofreram, no local de
pesquisa, um acréscimo de aproximadamente 13% em sua área ao longo dos
quarenta anos de análise. Parte desse acréscimo corresponde às áreas de
crescimento da ilhas flúvio-marinhas, as quais sofreram um aumento superior a 30%.
Esta expansão das áreas de manguezal é, algum tempo, comemorada
por grupos de carcinicultores e alguns órgãos públicos ambientais. No entanto, o
conhecimento acerca das questões da dinâmica e dos processos de degradação
ambiental leva a considerar que a situação não permite comemorações, nem
tampouco chancela apoio às práticas associadas à carcinicultura.
Sabe-se que o ecossistema manguezal é constituído de feições como
áreas de salgado e bancos de areias que acabam por evoluir e podem continuar
evoluindo, até permitir a sua colonização por vegetação de mangue. A ausência de
transporte de sedimentos, em função da diminuição da competência do rio ao longo
das últimas décadas, assim como a distribuição pela ação das ondas e correntes de
marés dos sedimentos oriundos da erosão das flechas litorâneas parecem ter
propiciado a ampliação da formação de bancos de areia no leito, bem como a
progradação das praias das ilhas flúvio-marinhas, de maneira a aumentar a
possibilidade de ampliação da colonização desses depósitos pela vegetação de
manguezal. Nesses termos, essa expansão das áreas ocupadas por manguezal está
longe de significar equilíbrio ambiental.
Com efeito, as áreas de manguezal que passaram por processo de
expansão, entre os anos de 1968 e 1988, são o resultado da regeneração de
apicuns. Contrariamente, a diminuição das áreas ocupadas por manguezal,
constatada entre 1988 e 2004, é resultado direto da intensificação das atividades de
carcinicultura no Estado, em especial no recorte estudado. Com efeito, para a
instalação dessa atividade, o manguezal é desmatado e as áreas ocupadas
anteriormente pela vegetação natural passaram a ser ocupadas por viveiros de
camarão, implicando, portanto, em diminuição da biodiversidade e em
empobrecimento das cadeias alimentares que se estabelecem no ecossistema
manguezal. A degradação da qualidade das águas fluviais, também, é subproduto
da prática de criação de camarão em cativeiro, tal qual vem sendo realizada no
Estado e na área de pesquisa.
Essa oscilação das áreas ocupadas por manguezais e apicuns parece ser
uma resposta direta às interferências humanas que se verificam mais no interior da
bacia de drenagem, sobretudo associadas ao barramento do recurso hídrico, no
caso particular do rio Jaguaribe, que desde a década de 80 o seu regime natural
vem sendo afetado pela instalação de barragens, de forma a diminuir a sua
competência fluvial.
Nesse tocante, coloca-se o fato de aumento da salinidade das águas do
recurso hídrico, em função da construção das barragens. As barragens retêm as
águas doces e, dessa forma, permitem que a água do mar avance no estuário,
ampliando a salinidade na planície fluvial, sendo responsável pelo aumento da área
de manguezal. Nota-se isto na foz do rio Jaguaribe, ou seja, a expansão do
manguezal é notada exatamente para montante, em direção ao interior do rio.
Assim sendo, o que parece está ocorrendo na verdade, é o sufocamento
do ecossistema fluvial de água doce pelo ecossistema flúvio-marinho. Tal fato atesta
a ocorrência de um processo de degradação ambiental acelerada. Dessa maneira,
não há, a nosso ver, motivos para comemorações por parte da sociedade, pois os
manguezais não vêm exatamente passando por processo de crescimento em função
de equilíbrio ambiental, mas ao contrário: o rio é que está morrendo, com ampliação
do setor de estuário.
Com base nesses resultados e nos conhecimentos adquiridos ao longo da
pesquisa, salientamos ser imprescindível, para o uso adequado da região da foz do
rio Jaguaribe, uma análise da dinâmica costeira, bem como um freio nas atividades
de carcinicultura e na instalação de barragens. Uma avaliação real dos custos-
benefício dessas atividades e os riscos ambientais para o estuário, como um todo,
deveria então ser realizado, com urgência. Pois os ambientes naturais vêm sendo
indiscriminadamente utilizados para atividades econômicas diversas sem que sejam
levados, efetivamente em consideração os impactos ambientais resultantes dessas
atividades. O momento atual indica, no entanto, a necessidade de precaução, pois a
que tudo indica, vivencia-se um período de crise ecológica, com previsão de
aquecimento global, derretimento de calotas de gelo e conseqüente subida do nível
do mar, fatos que poderão ampliar e maximizar, de maneira ainda não
compreendida, os impactos das alterações em curso.
Assim, concluímos que as modificações geomorfológicas atuais e no
quadro ambiental da desembocadura fluvial do rio Jaguaribe, nos últimos 40 anos,
são resultados de problemas ligados, tanto ao quadro natural do rio e de seus
afluentes, quanto ao uso inadequado do recurso hídrico, contribuindo,
significativamente, para o comportamento ambiental encontrado na área.
Doravante deve-se cumprir o preconizado pelos órgãos nacionais e
estaduais voltados para a defesa do meio ambiente. Estes recomendam o
desenvolvimento sustentável, o qual agrega atividades econômicas com justiça
social e preservação ambiental. Tal modelo de desenvolvimento econômico deve, na
verdade, ser implementado em qualquer meio, quer sejam rios, estuários,
manguezais, praias, dunas, serras ou sertões.
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