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busca por agradar, e tudo isto é o oposto de civilidade, que pressupõe qualquer coisa de
coercitivo [...]” (HOLANDA, 1995:147). O coercitivo diz respeito ao controle das pulsões,
ato necessário na vida social, ou seja, não se dominar pelas paixões, pelos desejos. Podemos,
neste caso, pensar no substrato pulsional de atitudes como o fanatismo religioso, o
totalitarismo comunitário, o racismo, o nacionalismo e a guerra, todas formas monstruosas de
realização de desejos.
Para Sergio Buarque de Holanda, os valores personalistas dominam a vida privada,
como é o caso da propensão para o emprego de diminutivos, mencionado por ele. Assim, a
terminação “inho”, serve para nos familiarizar com as pessoas e os objetos, e, ao mesmo
tempo, para coloca-las em evidência. Esta é uma maneira de faze-los mais acessíveis aos
sentidos e também de aproxima-los do universo dos sentimentos. Esta prática de acrescentar a
terminação “inho”, e o emprego de diminutivos se manifesta no cotidiano em momentos
específicos, por exemplo, quando observamos uma boa parte dos nomes dos jogadores de
futebol. Sérgio Buarque de Holanda aponta para a importância que se atribui à intimidade e ao
familiar nas relações e esta questão também se relaciona com a tendência para a omissão do
nome de família no tratamento social, pois, em regra é o nome individual, de batismo que
prevalece no Brasil.
Gilberto Freyre também chama a atenção para este aspecto, quando afirma que os
nomes próprios foram os que mais se amaciaram entre nós, “perdendo a solenidade,
dissolvendo-se deliciosamente na boca dos escravos”, deste modo, “Antonias ficaram
Dondons, Toninhas, Totonhas; as Teresas, Tetés, os Manuéis, Nezinhos, Mandus, Manés; os
Franciscos, Chico, Chiquinho...” (FREYRE, 2005:414). Este amaciamento, segundo Freyre
relaciona-se ao contato com o africano e, neste caso, a linguagem infantil também se
amoleceu no contato com a ama negra. Freyre acrescenta que algumas palavras, consideradas
duras, quando pronunciadas pelos portugueses se amaciaram no Brasil por influência da boca
africana, por exemplo, o “dói dos grandes tornou-se o dodói dos meninos” (FREYRE,
2005:414). Além disso, a língua falada deixou de ser dividida entre casa-grande e senzala na
aliança entre a ama negra e o menino branco, da mucama com a sinhá-moça, do sinhozinho
com o moleque. Freyre comenta sobre vocábulos que subiram com os moleques e as negras,
das senzalas para as casas-grandes. Como por exemplo: dengo, cafuné, mulambo, caçula,
quitute, mandinga, moleque, camundongo, cafajeste, quibebe, batuque, mocotó, vatapá,
caruru, jiló, quindim, mugunzá, berimbau, tanga, cachimbo, candomblé. Assim, muito
brasileiro prefere dizer moleque ao invés de garoto ou molambo ao invés de trapo - “são