a palavra alemã para amigo, então ele poderia desconhecer o nome de quem Freud visitou,
mas associar a um ‘amigo’, que por casualidade é o mesmo nome. Quanto ao pesadelo,
poderia Herr P. saber que Jones havia publicado sua monografia? Freud afirma que sim,
pois Herr P. possuía livros da editora que publicou o trabalho de Ernest Jones e, assim, ter
visto o título. Quanto ao nome Vorsicht: Freud afirma que poderia ter dito ao paciente que
estava esperando a visita de um médico vindo da Inglaterra. Supõe, mesmo que pouco
provavelmente, tenha dito o nome do Doutor Forsyth e, assim, associado ao nome da
família do romance. Contudo, e este é o ponto que, de fato, interessa neste sub-tópico,
Freud cogita a possibilidade de Herr P., ao chegar, tenha observado “um especial estado de
excitação”
227
nele, mesmo sem o próprio Freud ter percebido e então tirou sua própria
conclusão: de que o tal estrangeiro havia chegado. Mais adiante, Freud comenta a respeito
de um possível meio arcaico de comunicação. Aponta que os insetos se comunicam através
de uma transmissão psíquica direta
228
. Supõe-se que os humanos também se comunicavam
desta forma, e com a evolução filogenética, o método foi substituído pelo
“método melhor de dar informações com o auxílio de sinais captados pelos
órgãos dos sentidos. O método anterior, contudo, poderia ter persistido nos
bastidores e ainda ser capaz de se pôr em ação sob determinadas condições – por
exemplo, em multidões de pessoas apaixonadamente excitadas. Tudo isso ainda é
incerto e pleno de enigmas não solucionados, não há, porém, razão para temê-
lo”
229
.
Este caso reforça a hipótese da transmissão de algo inconsciente via ato-falho, já
mencionado anteriormente, mas acrescenta um dado novo, algo, também inconsciente, que
pode ser transmitido através da expressão corporal. Lembremos que Freud afirma ter sido
possível ter “deixado escapar um certo ar de excitação” e que podemos receber informações
através dos órgãos dos sentidos. Algum gesto, o modo de olhar, o tom de voz, alguma
expressão percebida inconscientemente por Herr P. pode ter sido transmitida, também
inconscientemente por Freud, através de seu próprio corpo. Os pensamentos inconscientes
de Freud podem ter “tomado forma”, via significantes, através de seu corpo. Parece-me que
o significante cola no corpo, materializa-se no gesto, no olhar, no tocar ...
227
Idem, p.59. Idem, p.50. O grifo é meu.
228
Refere-se, aqui, ao método telepático.
229
FREUD,S. “Sonhos e ocultismo”, ESB, p.61. FREUD, S. “Sueño y ocultismo”, AE, p.51.